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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES - CCTA


DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO (DECOM)

JULIANA RODRIGUES DE MIRANDA

ESTEREOTIPAÇÃO DOS HOMOSSEXUAIS PELA MÍDIA CINEMATOGRÁFICA


BRASILEIRA: UM ESTUDO DE CASO ACERCA DO FILME “CRÔ”

JOÃO PESSOA
2016
JULIANA RODRIGUES DE MIRANDA

ESTEREOTIPAÇÃO DOS HOMOSSEXUAIS PELA MÍDIA CINEMATOGRÁFICA


BRASILEIRA: UM ESTUDO DE CASO ACERCA DO FILME “CRÔ”

Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso


de Rádio e TV da Universidade Federal da
Paraíba como requisito parcial para a
conclusão da disciplina de Pesquisa
Aplicada a Comunicação, sob orientação do
Prof. Carlos Cartaxo.

JOÃO PESSOA
2016
SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO..................................................................................................04
2 PROBLEMATIZAÇÃO............................................................................................04
3 JUSTIFICATIVA......................................................................................................06
4 OBJETIVOS............................................................................................................07
4.1 OBJETIVO GERAL...............................................................................................07
4.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS................................................................................07
5 OBJETO DE ESTUDO............................................................................................08
5.1 A TRAJETÓRIA DO HOMOSSEXUAL NO CINEMA BRASILEIRO.....................08
5.2 A TEORIA QUEER E O BINARISMO DE GÊNERO NA MÍDIA
CINEMATOGRÁFICA.................................................................................................10
5.3 ESTEREÓTIPOS E A MANUTENÇÃO DO CONSERVADORISMO BRASILEIRO
....................................................................................................................................12
6 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO....................................................................14
7 CRONOGRAMA......................................................................................................13
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................15
4

1 APRESENTAÇÃO

O debate em torno dos direitos civis de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis


(LGBT) vêm ganhando cada vez maior visibilidade nos espaços públicos, através de
debates entre políticos, propostas legislativas e demais ações dos movimentos
sociais. Durante as campanhas presidenciais de 2014, casamento civil igualitário foi
um tópico amplamente discutido entre os presidenciáveis, porém adoção de crianças
por casais homoafetivos, a criminalização da homofobia e a implementação do
Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos LGBT são algumas
das outras demandas dos movimentos LGBT.
Os veículos de comunicação, que podem ser instrumentos de defesa dos
direitos humanos e da cidadania, têm, neste sentido, um papel importante na
construção de uma sociedade mais justa e plural, ao debater e dar visibilidade à
agenda LGBT. E isso não pode ser trabalhado apenas pelo conteúdo jornalístico,
mas também na construção do imaginário, no entretenimento.
A representação da população LGBT no entretenimento é importante para dar
visibilidade e agendar a discussão na sociedade. Entretanto, observamos que esta
representatividade pode ser uma faca de dois gumes quando a obra traz
personagens caricatos e estereotipados, que reiteram e difundem preconceito sobre
a população.
Um dos maiores sucessos de bilheteria no Brasil em 2014, o filme ‘Crô’, traz
como personagem principal um homossexual, que dá o nome à obra. Interpretado
por Marcelo Serrado, Crô representa uma figura caricata e gay.
Neste trabalho, nós propomos uma análise da construção do personagem Crô
e como ele apenas reitera uma imagem prejudicial à população gay (aqui o termo
está se referindo exclusivamente aos homens homossexuais), porque contribui para
a perpetuação de estereótipos e ocasiona a manutenção do preconceito e
discriminação.

2 PROBLEMATIZAÇÃO

A definição das estratégias comunicativas, responsáveis pela circulação de


informações geradas na sociedade, consiste na principal ferramenta dos grandes
veículos midiáticos para a criação e reforço de representações que irão constituir
5

discursos de hegemonia. Diante da fonte de pluralidade de perspectivas sobre a vida


social, tais estratégias, ao invés de potencializa-las, permitem de igual modo, a
tipificação de realidades e a propagação de estereótipos associados aos grupos e
indivíduos submetidos à condição de desigualdade em uma dada ordem social.
Tendo a centralidade da comunicação como força mediadora da nossa
experiência, são cabíveis as reflexões acerca de como a mídia, seja em suas
expressões televisivas ou cinematográficas, tem condicionado uma construção de
sentidos em torno das minorias. No contexto da sexualidade, as relações
homossexuais têm sido amplamente associadas ao entretenimento humorístico,
onde a sátira comumente acoberta tramas afetivas “características” da
heteronormatividade. Contudo, devido a expressiva retomada dos questionamentos
sobre as políticas de identidade trazida pelas constantes discussões do movimento
LGBT nas redes sociais e mídias alternativas, como os meios de comunicação em
massa tem abordado a construção de atuais personagens homoafetivos? Estariam
esses personagens permitindo reprodução dos estereótipos em torno da
homossexualidade ou facilitando sua reorganização e superação de estigmas no
diálogo com os espectadores?
Tais questões podem ser abordadas através da tentativa de análise sobre a
construção e imersão de personagens homoafetivos em atuais produções do
audiovisual brasileiro. Como ressalta BESSA (2007), a proposta de construção de
uma cena envolve uma territorialidade afetiva e política, a qual permitiria
problematizar a economia erótica envolvida, percebendo seu alcance de crítica e
deslocamento da heteronormatividade.
Sob esta perspectiva, o presente projeto se dispõe a discutir a construção
do personagem “Crô” do filme homônimo, pontuando o contexto da presença de
estereótipos associados à homoafetividade. Em vista de sua expressividade no
cinema brasileiro, com uma das maiores bilheterias, faz-se pertinente uma análise
de sua repercussão no imaginário brasileiro acerca da homossexualidade.
De acordo com o que foi visto, algumas questões podem ser levantadas,
como “Em que essa representação errônea dos homossexuais pode implicar?”,
“Como os aparatos midiáticos podem reforçar preconceitos?”, “O que poderia ser
feito para mudar esta realidade?”, entre outras.
6

3 JUSTIFICATIVA

Obras que reforçam estereótipos de homossexuais se tornam um desserviço


na construção de uma sociedade justa e plural. Ao reiterar características
amplamente preconceituosas, a ficção pode se tornar uma ferramenta para difusão
da discriminação. Nesta pesquisa, buscamos analisar a construção do personagem
Crô, do filme homônimo. A proposta de pesquisa busca mostrar como o estereótipo
limita a definição a certo número de características que podem ou não fazer parte da
personalidade, do modo de vida e de como é recebido pela sociedade. Mostrando
assim como isso pode acarretar em pontos negativos para o movimento LGBT. No
filme a ser analisado encontramos uma presença muito forte de um estereótipo
caricato e dependente do personagem.
O objetivo é questionar esse estereótipo na cultura a partir desse filme
popular. Crô virou um sucesso e foi muito aceito pelos telespectadores 1. Mas por
quê? Porque o preconceito vende. Na mídia ele é um personagem aceito, mas
vivemos em um país onde a homofobia, que ainda não é criminalizada, matou 216
pessoas apenas no ano de 2014 e 312 no ano de 2013 2, a perpetuação de um
estereótipo negativo já enraizado na cultura brasileira pela mídia é preocupante. A
homofobia caracteriza-se como um instrumento de humilhação, exclusão, violência e
principalmente de ódio que desumaniza o ser com o objetivo de torna-lo diferente,
não de um bom jeito.
No filme, Crô, é retratado com características femininas identificadas pelo
espectador como aspectos do espectro feminino, e, considerados em uma
sociedade misógina, binária e heteronormativa, como algo pejorativo para homens
binários. Com a perpetuação dessas características todo e qualquer homem com
feições “afeminadas” que não sigam o padrão social imposto ligado à masculinidade
estão sujeitos ao rótulo de homossexual, sendo assim também ficando sujeitos a
sofrer com as práticas homofóbicas pelas vertentes mais conservadoras dos seus
respectivos núcleos sociais e familiares.

1 Disponível em: http://cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2013/12/02/cro-estreia-em-primeiro-lugar-


nas-bilheterias-brasileiras.htm Acesso em: 22 fev 2015
2 Disponível em: http://oglobo.globo.com/brasil/no-brasil-homofobia-matou-ao-menos-216-em-2014-

14087682 Acesso em: 20 fev 2015


7

O homossexual é frequentemente estereotipado, tanto social como


cientificamente. Como se os homossexuais fossem todos iguais, tivessem
as mesmas profissões, interesses, educação, estilo de vida, personalidade
e aparência física. Não é comum alguém se referir a uma pessoa como “ele
é heterossexual”, a não ser que esteja sendo discutida a sua orientação
sexual. Entretanto, “ele é homossexual”, “bicha”, são expressões que se
ouvem para descrever um indivíduo. Esta classificação limita o
homossexual como ser humano, enquadrando-o dentro de um estereotipo,
esquecendo-se de que ele é gente e pode ser alto, baixo, gordo, magro,
forte, fraco, bonito, feio, extrovertido, introvertido, rico, pobre, ilustre,
analfabeto, inteligente, burro, avarento, generoso [...] (SUPLICY, 1987, p.
266)

O fato é que existe uma necessidade urgente de lidar de uma maneira menos
comercial e mais realista e honesta com a homossexualidade na ficção, tal qual é
possível ver em filmes como Madame Satã (2001) de Karim Aïnouz, Hoje Eu Quero
Voltar Sozinho (2014) de Daniel Ribeiro de modo a utilizar tais mecanismos para
extinguir preconceitos institucionalizados e reconhecer a igualdade sexual e de
gênero, tanto no âmbito pessoal, quanto no social.

4 OBJETIVOS

4.1 Objetivo geral

Entender os estereótipos que permeiam o universo do personagem “Crô” do


filme homônimo e observar como a representatividade dos homossexuais nas
produções cinematográficas podem afetar de forma negativa a concepção de
realidade dos espectadores.

4.2 Objetivos Específicos

- Traçar a trajetória dos homossexuais na história do cinema brasileiro.


- Desconstruir a imagem do “homossexual padrão”.
- Analisar como o conservadorismo heteronormativo da sociedade implica na
perpetuação do estereótipo pela mídia cinematográfica.
8

- Estudar a perpetuação do estereótipo e como ele atua diretamente como meio de


propagação da homofobia.

5 OBJETO DE ESTUDO

5.1 A Trajetória do Homossexual no Cinema Brasileiro

A mídia tem um papel importante na construção do entendimento da


homossexualidade a partir do momento em que ela desenvolve filmes contendo
informações voltadas a esse tema. No discurso sobre a sexualidade humana sempre
existiu um vazio e um silêncio a respeito, se estuda o tema, mas é pouco discutido
na sociedade e nos principais meios de veiculação midiáticos.
O cinema tendo sua função no âmbito dos meios da comunicação de massa
retratou e a ainda retrata a sexualidade humana de forma proibida, como um tabu.
Filmes que abordam a temática heterossexual, o afeto entre um homem e uma
mulher, são retratados no cotidiano de forma natural, evidenciando o “normal”. Os
beijos, carícias e afagos entre um casal heterossexual são vistos pela sociedade
como a representação de um amor puro, correto e natural, enquanto no universo
homossexual, tudo isso é encontrado de maneira distorcida e camuflada. O discurso
homossexual no cinema parece estar ligado a padrões e questões de cunho moral
religioso já enraizado na cultura do brasileiro e isso inibe uma propagação maior do
tema.
A imagem do homossexual veiculada nas grandes produções
cinematográficas é quase sempre abordada de modo a relacioná-lo a um humor
barato ou ao submundo da prostituição e das drogas e isso desencadeia na
inverdade de que todo homossexual está subordinado a tais características. No
tocante ao humor, entretanto, sabe-se que o mesmo é utilizado não para dar
visibilidade à causa homossexual, mas para ridicularizar e marginalizar a minoria
retratada, influenciando o público a rir e se divertir ao ver um homossexual andando
na rua, por exemplo, fazendo-o de chacota, ou seja, tal mecanismo serve para não
mais do que fomentar um preconceito latente na população. BUCCI (2002) destaca:

É quase impossível encontrar algum [programa ou filme humorístico] que


não se baseie em escarnecer os pobres, os analfabetos, os negros, os
9

homossexuais etc. O mecanismo parece ser o mesmo dos melhores filmes


cômicos: o espectador é chamado a rir daquilo que o envergonha e que o
machuca. A questão é que, nos programas da nossa TV, o espectador não
ri para redimir o personagem que se debate em seu ridículo, mas para
reiterar a opressão que pesa contra esse mesmo personagem. [...] É por
isso que, diante da TV, ri dos negros, quem não é negro, ri dos gays, quem
não é gay, ri dos pobres, quem não é pobre (ou pensa que não é). Ri deles
quem quer proclamar, às gargalhadas, jamais será como eles. É o riso
como recusa e chibatada.

A inclusão dos personagens homossexuais nas produções cinematográficas


brasileira teve seu início em 1923 com o lançamento do filme Aníbal quer Casar
que conta com a direção de Luiz de Barros, conforme aponta MORENO (2001) que
também afirma que o cinema brasileiro retrata o homossexual como um sujeito
alienado politicamente. Moreno catalogou 127 e analisou 67 filmes brasileiros que
foram exibidos entre 1923 e 1996, nos quais aparecem personagens homossexuais.
O autor concluiu que em 60% das obras analisadas, os personagens vêm de classe
média baixa, possuem comportamento agressivo e, frequentemente, usam um
gestual feminino exacerbado.
De acordo com GOIS (2002) que se baseou em uma pesquisa realizada por
Antonio Moreno, existiram três períodos principais de construção de representações
dos homossexuais no cinema brasileiro. O primeiro período, que vai de 1920 a 1960,
foi marcado por uma invisibilidade total e comentando essa questão ele afirma:

As referências ao homossexualismo, até então, eram poucas, a não ser


pela estética de alguns filmes, ou momentos indiciais de sua presença […]
O tema era tão tabu que nem mesmo se permitia ao público imaginar tal tipo
de comportamento. Era como se o homossexualismo não existisse.

O segundo período, iniciado nos anos 60 foi marcado por uma maior leva de
filmes que abordaram o assunto, mas mesmo assim sem centraliza-lo. Temos como
exemplo um dos primeiros filmes brasileiros que sugere a existência de um
personagem homossexual assumido dado como evidência o seu contexto, O
Menino e o Vento (1966) de Carlos Hugo Christensen que conta a história de um
homem (Ênio Gonçalves) acusado de ter assassinado um adolescente (Luis
Fernando Ianelli) com quem mantinha uma misteriosa amizade íntima que era má
10

vista pela população da cidade. O terceiro período, iniciado nos anos 70 é onde
ocorre o boom ao redor da temática, porém, é nesse mesmo período que surge o
modelo do “homossexual padrão” retradado como a “bicha louca”.
No terceiro período, entre 1970 e 1979 foram lançados aproximadamente
sessenta filmes, e já nos anos 80, foram em torno de quarenta e quatro, segundo o
levantamento feito por Moreno. Temos vários títulos que, hoje em dia, são
considerados filmes cults pelos fãs de cinema, como por exemplo, Rainha Diaba
(1974) de Antônio Carlos da Fontoura; O Casamento (1975) de Arnaldo Jabor; Nos
Embalos de Ipanema (1978) de Antônio Calmon; Giselle (1980) de Victor di Mello;
Pixote (1980) de Hector Babenco; O Beijo no Asfalto (1980) de Bruno Barreto; O
Beijo da Mulher-Aranha (1985) de Hector Babenco e inúmeros outros.
Todos esses títulos e produções araram terreno para a enorme quantidade de
filmes sobre esse tema que são produzidos nos dias de hoje. Fora das grandes
produções existe a vertente dos filmes independentes. Tais filmes abordam o tema
de uma maneira mais séria, explorando a psique da personagem e tratando a
realidade crua tal como é. No início do século XX começaram a criar espaço e
ganhar público e notoriedade; temos como exemplo, Madame Satã (2002) e Praia
do Futuro (2014) ambos de Karim Aïnouz; Do Começo ao Fim (2009) de Aluísio
Abranches; Elvis e Madona (2010) de Marcelo Laffite; Flores Raras (2013) de
Bruo Barreto; Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014) de Daniel Ribeiro; e o
premiado Tatuagem (2013) de Hilton Lacerda, que foi eleito o melhor filme pelo
Festival de Cinema de Gramado em 2013.3

5.2 A Teoria Queer e o Binarismo de Gênero na Mídia Cinematográfica

Até meados dos anos 90 o termo “queer” era na melhor das hipóteses usado
como uma gíria pela comunidade LGBT, e na pior delas, um termo pejorativo
utilizado para atacar os homossexuais pelas vertentes mais conservadoras da
sociedade americana. Esse termo, que “pode ser traduzido por estranho, talvez
ridículo, excêntrico, raro, extraordinário” (LOURO, 2004, p. 38), foi incorporado e
apropriado de uma forma positiva pelo meio acadêmico norte-americano que passou

3Disponível em: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/festival-de-cinema-de-


gramado/2013/noticia/2013/08/pernambucano-tatuagem-e-eleito-o-melhor-filme-no-festival-de-
gramado.html Acesso em: 20 fev 2015
11

a trata-lo como um novo campo de pesquisa formado a partir de discussões e


diálogos entre diversas concepções filosóficas, teorias, ideologias e ideias, tendo
como o protagonismo do estudo investigar “o que é normal” em termos de gênero e
sexualidade, queer passou a significar “opor-se contra a oposição”, venha ela de
onde vier. Seu alvo principal é, obviamente, a heteronormatividade compulsória da
sociedade ocidental. SEIDMAN (1995), pesquisador e teórico queer diz:

“Os/as teóricos/as queer constituem um agrupamento diverso que mostra


importantes desacordos e divergências. Não obstante, eles/elas
compartilham alguns compromissos amplos – em particular, apoiam-se
fortemente na teoria pós-estruturalista francesa e na desconstrução como
um método de crítica literária e social; põem em ação, de forma decisiva,
categorias e perspectivas psicanalíticas; são favoráveis a uma estratégia
descentradora ou desconstrutiva que escapa das proposições sociais e
políticas programáticas positivas; imaginam o social como um texto a ser
interpretado e criticado com o propósito de contestar os conhecimentos e as
hierarquias sociais dominantes.”

A teoria queer é uma teoria de gênero cuja principal afirmação é a de que o


binarismo de gênero4 não existe e que a sexualidade e a identidade de gênero é
uma construção social complexa, modelada e reinventada constantemente por
subjetividades atuantes, não havendo papeis sexuais biologicamente determinados,
mas sim, imposições socioculturais sobre os corpos, formando a noção de gênero.
Ela também afirma que as identidades são múltiplas e se combinam e que qualquer
construção identitária específica é instável e excludente uma vez que implica no
silenciamento de outros estilos de vida. SEIDMAN (1996) afirma que:

As identidades são, em parte, formas de controle social uma vez que


distinguem populações normais e desviantes, reprimem a diferença e
impõem avaliações normalizantes relativamente aos desejos.

Com isso dito, temos o binarismo de gênero que é o que atualmente impera
na mídia brasileira. A representação do homem exclusivamente homem e da mulher

4É a classificação do sexo e do gênero em duas formas distintas, opostas e desconectadas de


masculino e feminino; homem e mulher. O termo descreve um sistema no qual a sociedade divide as
pessoas entre homem e mulher, e determina para elas papeis sociais de gênero, identidades de
gênero e atributos.
12

exclusivamente mulher (os cisgêneros5 ) nas produções cinematográficas, vai contra


a teoria queer e falha ao tentar interpretar os inúmeros gêneros existentes como a
própria teoria atesta existir, e existe. A existência de identificações não-binárias6,
além de essencialmente contestadoras, nos leva a inúmeros e poderosos
questionamentos quanto à estrutura de gênero que ‘rege’ a sociedade. Nenhuma
‘performance de gênero’7 é perfeita. Se a pessoa escolhe um gênero que com o
qual mais se identifica e que é mais próximo daquilo que o mesmo sente que é
enquanto ser pensante na sociedade, se as noções de gênero aprisionam nossos
corpos e limitam nossa subjetividade, e se nem pessoas transexuais 8 são
completamente e perfeitamente beneficiadas por essas noções de gênero, por que
elas existem? A falta da representatividade das inúmeras identidades existentes na
grande mídia cinematográfica e em toda mass media é nocivo, tal quanto à
estereotipação das mesmas.

5.3 Estereótipos e a Manutenção do Conservadorismo Brasileiro

Durante o processo de aculturação, o ser humano é submetido a normas


permeadas pelo senso comum, onde as mesmas são fundamentadas em
parâmetros de caráter conservador. O que dificulta a desconstrução de tais
paradigmas, no entanto, é a necessidade de se reafirmar como parte integrante da
sociedade dominante, por este motivo, a maior parcela da população é reprodutora
de preceitos patriarcais, homofóbicos e racistas, já o conjunto de pessoas que fazem
contraponto a este tipo de comportamento é conhecido como outsiders9.
Dessa perspectiva, é possível deduzir que para atender a uma demanda da
plateia dominante, alguns cineastas optam, a fim de agradar tal plateia, por fazer uso
de artifícios como o humor baseado em estereótipos por ser facilmente digerido,
aceito e reproduzido pela mesma. Tal comportamento traz prejuízos, pois a partir do

5
Termo utilizado para se a concordância entre a identidade de gênero e o sexo biológico de um
indivíduo e o seu comportamento ou papel considerado socialmente aceito para esse sexo.
6
Todos os atributos que não se categorizam dentro do binário de gênero, ou seja, tudo que não é
exclusivamente e totalmente relacionado à mulheridade ou exclusivamente e totalmente relacionado
à hombridade.
7
Termo criado por Judith Butler que apresenta o gênero como uma realização performativa
compelida pela sanção social.
8
Contrário de cisgênero é um termo que afirma que a expressão de gênero e/ou identidade de
gênero de uma pessoa é diferente daquelas atribuídas ao gênero designado no nascimento.
9
É aquele que não se enquadra na sociedade, que vive à margem das convenções sociais e
determina seu próprio estilo de vida, através de suas crenças e valores.
13

momento em que os grupos marginalizados não estão a cargo de suas


representações fictícias, quase sempre são reforçados preconceitos e opressões,
mais especificamente no nosso campo de estudo, incita a homofobia, além da
planificação e homogeneização de toda a classe homossexual.

Como as “marcas do plural”, para usar a expressão de Memmi, projetam os


povos colonizados como “todos iguais”, qualquer comportamento negativo
de um membro da comunidade oprimida é imediatamente generalizado
como típico, algo que aponta para uma eterna essência negativa. As
representações, portanto, se tornam alegóricas: no discurso hegemônico,
todo papel subalterno é visto como uma sinédoque que resume uma
comunidade vasta, mas homogênea. (SHOHAT; STAM, 2006, p. 269)

Apesar da obviedade do fato de que um filme não necessariamente é a


representação da vida real, isso não invalida seus efeitos e impactos sobre o mundo.
Existe claramente, por exemplo, uma imposição vertical da heteronormatividade que
advém das mídias televisivas e cinematográficas. Logo, estamos lidando com um
problema real, levando em conta que muitos se perdem através da linha tênue entre
ficção e realidade e subconscientemente tomam como verdade absoluta aquilo que
absorvem da tela ou reafirmam “verdades” previamente institucionalizadas, o que
sugere, por exemplo, a explicação para a vasta aceitação do filme Crô (2013) pelo
público.

6 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

O presente projeto será construído por meio de estudo de caso, pois


concordamos quando YIN (2001, p.32 apud DUARTE; BARROS, (Orgs), 2006,
p.216) fala que essa é a “melhor estratégia quando se quer responder as questões
"como" e "porque" sobre um assunto específico a partir de pesquisas qualitativas.”

Nosso foco principal é investigar a estereotipação do homossexual no cinema


nacional e sua consequência sobre a sociedade. O trabalho será desenvolvido por
meio de análise fílmica, com destaque no longa-metragem Crô (2013) e
levantamento de dados bibliográficos e documentais.
14

7 CRONOGRAMA
15

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BESSA, Karla. Os festivais GLBT de cinema e as mudanças estético-políticas


na constituição da subjetividade. Em Cadernos Pagu, janeiro-junho de 2007.

BUCCI, Eugênio. Um humor casseta, sem dúvida. TV Folha, São Paulo, set. 2002.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/tvfolha/tv2909200202.htm>.
Acesso em: 21 fev. 2015.

BAGGIO, Adriana Tulio. O espetáculo semiótico da publicidade que não diz seu
nome: aspectos da temática homossexual na publicidade brasileira. João Pessoa,
2003.

DUARTE, Jorge; BARROS, Antônio (Orgs). Métodos e técnicas de pesquisa em


comunicação. São Paulo: Atlas, 2006.

GOIS, João Bôsco Hora. Homossexualidades projetadas. Revista Estudos


Feministas. Florianópolis, v. 10, n. 2, July 2002. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
026X2002000200020>. Acesso em: 22 fev 2015.

LOURO, Guacira Lopes. O corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria


queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

MORENO, Antônio. A personagem homossexual no cinema brasileiro.


FUNARTE/EDUFF, Rio de Janeiro, 2001.

SEIDMAN, Steven. Deconstructing queer theory, or the under-theorization of


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Cambridge: Cambridge UP, 1995.

SEIDMAN, Steve, Queer Theory. Sociology. Oxford: Blackwell, 1996.

SHOHAT, Ella; STAM, Robert. Crítica da imagem eurocêntrica. São Paulo: Csac
Naify, 2006.

SUPLICY, Marta. Conversando sobre sexo. 8ª ed. Petrópolis, 1987.

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