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Introdução
jassem — nãocontestar,
se aventuravam talvez
fossem quais nemaso dese
fossem
cauções tomadas contra o seu exercício
deles era encarado como necessário, mas
como altamente como uma
arma que tentariam usar não menos contra os seus
súditos que contra os inimigos externos. Para
impedir que os membros mais fracos da
dade fossem pilhados por
fazia-se mister existisse um animal de presa mais
forte que os encarregados da guarda dos primeiros.
Como, porem, o rei dos abutres não seria menos
clinado a prear no rebanho que alguma das
menores, era manter-se numa per
pétua atitude de defesa contra o seu bico e as suas
garras. A finalidade, pois, dos patriotas consis
tia em pôr limites ao poder que ao governante se
toleraria exercesse sobre a comunidade. essa
limitação era o que entendiam por Foi
tentada de duas maneiras. Primeiro, pela obten
ção do reconhecimento de certas imunidades,
nhecidas por liberdades ou políticos, cuja
infração pelo governante se considerava quebra do
dever, tendo-se por justificada, então, uma resis
tência específica ou uma rebelião geral. Um se
gundo geralmente
no estabelecimento de freios pelos
quais o consentimento da comunidade, ou
algum
A 23
A
pois, do poder do governo sobre os
víduos nada perde da sua importância quando os
detentores do poder são regularmente
perante a comunidade — isto é, perante o parti
do mais forte no seio desta. Tal visão das coisas,
que se recomenda tanto à inteligência dos pensado
res como à inclinação daquelas importantes
ses sociedade européia a cujos interesses, reais ou
a democracia tem não
26 JOHN STUART MILL
júriasfora
xar alheias. Pelo mesmo aqueles
de consideração motivo, estados
podemos sociais
dei
atrasados nos quais o próprio grupo pode ser tido
como ainda na minoridade. São tão grandes as
dificuldades que surgem na via do progresso
espontâneo, que raramente se tem a possibilidade
A LIBERDADE 35
de escolher os meios para superá-las. E um go
vernante animado do espírito de aperfeiçoamen
to é justificado de usar quaisquer expedientes para
atingir um fim talvez de outra maneira
vel. despotismo é um modo legítimo de gover
no quando se lida com bárbaros, uma vez que se
vise o aperfeiçoamento destes, e os meios se jus
tifiquem pela sua eficiência atual na obtenção des
se resultado. princípio da liberdade não
aplicação a qualquer estado de coisas anterior ao
tempo em que a humanidade se tornou capaz de se
nutrir da discussão livre e igual. Até tal momen
to só lhe cabe a obediência cega a um Akbar ou
um Magno, se teve a fortuna de o encon
trar. Desde o instante, todavia, em que os ho
mens atingiram a capacidade de se orientarem
para o próprio aperfeiçoamento pela convicção ou
pela persuasão (instante já há bastante tempo al
cançado em todas as nações com que precisamos
preocupar-nos a coação, quer na forma di
reta, quer na de castigos ou penalidades por re
beldia, passou a ser como método de
consecução do próprio bem individual, sendo jus
apenas quando tem em mira a segurança
alheia.
firme eu que renuncio a qualquer
vantagem advinda para a minha argumentação da
idéia de direito abstrato, como algo independente
da utilidade. Eu encaro a utilidade como a úl
tima instância em tod questões éticas, mas
utilidade no seu mais largo sentido, a utilidade
baseada nos interesses permanentes do homem
ser progressivo. Esses interesses,
autorizam a sujeição da espontaneidade individual
36 JOHN
LIBERDADE
às religiões
igrejas ou seitas do
na passado, não
afirmativa doficaram
direito atrás das
de domi
nação espiritual. Particularmente, cujo
sistema social, o desenvolveu no seu
de Politique Positive", visa estabelecer (ainda
que preferindo os meios morais aos legais) um des
potismo da sociedade sobre o indivíduo que ul
trapassa, qualquer coisa sonhada no ideal políti
co do mais rígido puritano entre os filósofos an
tigos.
Aparte os dogmas peculiares e pensadores iso
lados, existe ainda, no mundo, em geral, uma in-
crescente a extender indevidamente os po
deres sociais sobre o e pela da opi
nião e pela força da lei. E, como a tendência de
todas as transformações que se estão operando no
mundo, é a sociedade e diminuir o po
der do indivíduo, essa usurpação não é dos peri
gos que propendam espontaneamente a desapare
cer, e sim a crescer formidavelmente cada vez mais.
A disposição dos homens, governantes, quer
concidadãos, para impor as suas próprias opiniões
ou inclinações, regras de conduta, aos outros,
é tão energicamente sustentada por alguns dos
melhores e dos sentimentos encon
na natureza humana, que quasi nunca se
contém a si mesma, a não ser por falta de poder.
A LIBERDADE 41
Da liberdade de pensamento e
discussão
seseu partido,
social. a sua
Quasi igreja,
se pode a sua seita, a sua clas
chamar,
de liberal ou de espírito largo àquele para quem
mundo significa algo tão compreensivo como o seu
país ou a sua época. E a sua fé na autoridade
letiva não se abala, em absoluto, por vir a saber
que outras seitas, classes e partidos
pensaram, e ainda boje pensam, o
contrário. Ele lança sobre o seu mundo a respon
sabilidade pela justeza de suas opiniões ante
outros mundos divergentes. E jamais o. perturba
que um mero
numerosos acidente
mundos seja tenha decidido
o objeto da suaqual desses
Como não o perturba que as mesmas que
fizeram anglicano em Londres, o poderiam ter fei
to budista ou em Contudo,
isso é tão por si mesmo quanto é certo que
as épocas não são mais infaliveis que os indivíduos
cada época tendo adotado muitas opiniões que
as époeas seguintes consideraram nãofalsas co
mo ainda e que muitas opiniões, agora
gerais, serão rejeitadas no futuro, como muitas,
outrora gerais, o foram no presente.
A esse argumento talvez se objetasse o que se
segue. Quando se a
não arroga maior infalibilidade do que em
ato pública
çado sob o seu exclusivo critério e
discernimento é dado aos homens para
o usem. Porque possa ser usado erroneamente, de
ve-se que não o usem em absolutoQuan
do, pois, eles o que consideram
não pretendem que sejam isentos de erro, mas ape
nas cumprem o dever, que lhes incumbe, dese
gundo suanossas
segundo criteriosa convicção.porque
convicções Se nunca
podem ser erra
das, deixaríamos os nossos interesses descurados
não executaríamos nenhuma das nossas obrigações.
objeção à conduta em geral, pode
não ser válida em algum caso Os go-
LIBERDADE 47
da
sua verdade. Aoa contrário, éque
sobret
udo porque
reputam a
tão in
o conhecimento dela ou a crença nela.
Não pode haver discussão leal da questão da uti
se apenas se permite o emprego de tão vital
a uma das partes. E, de fato, quando
a lei ou o sentimento público interdizem a disputa
sobre a verdade de uma opinião, mostram precisa
mente a mesma intolerância para com a negativa
sua utilidade. mais que elas concedem é que
a opinião não seja de tão absoluta necessidade,
do sempre necessária, ou que se atenue a positiva
culpa que há em rejeitá-la.
Afim de ilustrar mais amplamente o mal que
existe em não darmos ouvido a opiniões as ter
nossa apreciação condenado, convirá limitar o
debate a um caso concreto. E eu escolho, de pre
os casos menos a mim, nos
quais o argumento contra a liberdade de opinião é
havido pelo mais forte, fundado que é, ao mesmo
tempo, na verdade e na utilidade. Suponhamos
que se impugna a crença em Deus ou numa condi
çãogeralmente
de ou aceit
algumas das doutrinas
as. Travar a batalha de
emtal ter
reno dá grande vantagem ao adversário
que lee poderá seguramente dizer (e muitos
54 JOHN STUART MILL
A 55
ja a "Apologia")
nenhum. que ele
Imoralidade, nãoser,
visto acreditava
por suasem
doutri
nas e ensinamentos, um "corruptor da
Há todo o fundamento para crer que dessas acusa
ções o tribunal honestamente o reconheceu culpado.
E o homem que provavelmente de todos os seus con
temporâneos mais merecera da humanidade, o tri
bunal o condenou a ser morto como um
56 JOHN STUART MILL
neração
te, das divindades
ele julgou seu deveraceitas. Comosegovernan
não deixar desfizesse"
a sociedade em pedaços. E não viu como, se se
rompessem os vínculos existentes, se poderiam
formar outros que restaurassem a unidade. A no
va religião visava abertamente a dissolução des
ses laços. Parecia, pois, que seu dever, a
que consistisse em adotar essa religião seria
Considerando, então, que a Marco Aurélio
a teologia cristã não aparentou ser verdadeira ou
de srcem considerando quão pouco crivei
lhe era essa estranha história de um Deus cruci
ficado, e que ele não podia prever que um siste
ma alicerçado inteiramente sobre bases que lhe pa
reciam tão fosse esse fator de re
novação que, depois de todos os golpes, provou, de
e governantes mais ilustres
e mais sob a inspiração de um solene
senso do dever, tiveram por lícita a perseguição
de Marco Aurélio ao cristianismo. Para o meu es
pírito, aí está um dos mais trágicos fatos de toda
a história. É um pensamento amargo o quão
diferente poderia ter sido o cristianismo no mun
do, se a fé cristã houvesse sido adotada como a
ligião do império sob os auspícios de Marco Au
rélio em lugar de Constantino. Seria, porem, in
justo para com ele, e falso, dizer que não
aproveitassem a Marco Aurélio, para legitimar a
sua perseguição ao cristianismo, todas as excusas
A LIBERDADE 59
impuneseo a assalto
pessoa e roubo
prova do contra do
fato depender qualquer outra
testemunho
de tal gente. A presunção em que isso funda
é a de que carece de valor o juramento de quem
crê numa condição futura, afirmativa indica
dora de muita de história que a
fazem, desde que ó historicamente verdadeiro te
rem sido infiéis de outras épocas, em grande pro
porção, homens de integridade e honra eminentes.
E não defenderia que tivesse a menor
idéia de quantas pessoas das de maior prestígio no
mundo, quer pelo talento quer pela virtude, são
conhecidas, ao menos na intimidade, como incré
dulas. Ademais, essa norma é suicida e derrue
porem menos
sombra. vigorosas,
A nossa e
intolerância com social
meramente a sua
não mata não desarraiga opiniões, mas
induz gente a disfarçá-las ou a abster-se de esfor
ços ativos por difundir. No nosso meio, as
niões heréticas não apresentam ganhos percepti-
A 67
ou perdem terreno em cada década ou
geração. espalham o fogo ao longe e ao
mas a lavrar sob as nos cír
culos estreitos de pessoas estudiosas e pensantes
nos quais se srcinaram, sem jamais a
iluminar os negócios humanos gerais com qual
quer luz, verdadeira ou ilusória. E, assim, apenas
prolongam um estado de coisas, que para alguns
espíritos é muito satisfatório, visto que, sem o de-
sagradavel processo de aprisionar ou multar, con
segue manter livres de perturbações exteriores
todas as opiniões dominantes, enquanto não inter
diz de forma absoluta o da razão por
parte dos dissidentes afligidos da moléstia de pen
sar. Um plano conveniente para haver paz no
mundo intelectual, e para conservar todas as coisas
bem direitinho como estão. Mas o preço pago por
essa espécie de pacificação das inteligências é o
sacrifício
gem moral.completo,
Um estadono de
espírito
coisashumano,
em que osdainte
cora
lectos mais e investigadores julgam conve
niente guardar para si os princípios e fundamen
tos gerais das suas convicções, e procuram adaptar
as suas conclusões o quanto possam, naquilo que
ao público, a premissas que intima
mente repelem, não pode os caracteres
abertos e intrépidos, e as inteligências lógicas e
sólidas, que adornaram antigamente o mundo
pensante. A espécie de homens com que se pode
contar
com nessecomum,
o lugar regime,ou
é aa de
dos puros conformistas
oportunistas para com
a verdade, cujos argumentos, em todas as matérias
importantes, visam o público, não sendo os que a
eles convenceram. Aqueles que escapam a essa
68 JOHN STUART MILL
ealtura
podemental
voltardeaque sejamgrandes
haver, capazes. Tem havido,
pensadores
numa atmosfera de escravidão mental gene
Mas nunca houve, e haverá,
numa tal atmosfera, um povo intelectualmente
ativo. Onde um haja aproximado transi
toriamente desse por ter abandonado,
tempo, o pavor da especulação
Onde haja uma convenção tácita de que não se
deve discutir princípios, onde se tenha por
da a discussão das questões mais importantes que
podem ocupar a humanidade, não é de esperar se
esse elevado nivel médio de atividade
mental que tornou tão alguns períodos da
história. Sempre que a controvérsia evitou os
assuntos suficientemente importantes para excitar
entusiasmo, o espírito popular permaneceu estag
nado, e não se verificou o impulso que eleva
70 JOHN MILL
com se
riedade, dos que por eles fazem o melhor que
dem. conhecê-los na forma
e mais persuasiva, sentir toda a força da difi
culdade que a verdadeira vista assunto encontra
74 JOHN MEL
se faz
buir-lhes os imaginá-los, e atri
mais fortes argumentos
advogado do diabo poderia maquinar.
supor que um inimigo da livre dis
cussão diga, para diminuir o vigor dessas conside
rações, que à em geral não é preciso
conhecer e compreender tudo que possa ser
A LIBERDADE 75
ou a favor das suas por filósofos
Que não é necessário aos comuns
poderem expor todas as adulterações e falácias de
antagonista engenhoso. Que basta haver sem
pre capaz de as responder, de modo a não
ficar sem refutação nada que possa desencaminhar
pessoas não instruidas. Esses espíritos
havendo aprendido os fundamentos óbvios das ver
dades a eles inculcadas, podem confiar na autori
dade quanto ao resto, e, cientes de que não pos
suem nem conhecimento nem talento para resolver
em todas as repousar na
segurança de que as que se apresentaram foram, ou
podem ser, respondidas pelos especialmente pre-
parados para a tarefa.
Concedendo a essa vista do assunto o máxi
mo que possa ser reivindicado pelos mais facil
mente satisfeitos com a soma de compreensão da
verdade que deve acompanhar a crença nela
ainda assim absolutamente não se enfraquece o ar
gumento em prol da liberdade de discussão. Por
que mesmo essa doutrina reconhece que a huma
nidade deve ter uma segurança racional de que
todas as foram satisfatoriamente res
pondidas. E como serão respondidas, se oque deve
ser respondido não é Ou como pode a res
posta ser tida por satisfatória, se não se dá aos
que objetam a oportunidade de mostrar que ela
não Se não o público, ao menos os filó
sofos e teólogos, a que cabe
des, devem com resolver
elas na as
suadificulda
mais embaraçosa. E isso não pode
sem que sejam livremente levantadas, e a luz
mais vantajosa que permitam. A Igreja Católica
76 JOHN STUART MILL
são as émais
certamente que ase doutrinas
questionadas, se particulares
de defender
mais vezes contra- adversários. Mestres e discí
pulos se põem a dormir no seu posto tão logo não
inimigo em campo.
Falando de uma maneira geral, isso é ainda
verdade a respeito de todas as doutrinas
nais — das de prudência e conhecimentovida
tantoquanto das de moral e religião. To
das as línguas e literaturas estão cheias de obser
vações gerais sobre a vida, sobre o que ela e
sobre como nela se conduzir — observações que
todos conhecem, que todos repetem, ou ouvem com
aquiescência, que são acolhidas corno e
de que, a mor parte das pessoas apreen
dem verdadeiramente o sentido, pela primeira vez,
A LIBERDADE 83
a geralmente de natureza
o torna realidade para elas. Quan
vezes, ao sofrer uma desgraça ou contrarieda
de imprevista, uma pessoa se lembra de algum
provérbio ou dito, familiar a ela toda a sua vi
da, cujo significado, se o houvesse sentido antes,
alguma vez, como
calamidade. o isso,
Há para sente de
agora,
fato, arazões
teria asalvo
mais da
da ausência de há muitas verdades cujo
pleno significado não pode ser vivamente perce
bido a experiência pessoal no-lo tenha
to presente. muito mais se compreenderia
dele, e essa compreensão se imprimiria muito
mais profundamente no espírito, se a houves
se precedido o costume do discutido, pró
e contra, por gente que o compreendia. A fatal
tendência humana para renunciar ao pensamen
to a respeito
a causa do dos
metade que seus
há muito
erros. não é duvidoso,
Foi feliz o é
tor contemporâneo que se referiu ao pro
fundo de uma opinião firmada".
Mas como pode-se perguntar — é a
cia de unanimidade uma condição imprecindivel
do conhecimento Faz-se mister que
uma parte dos homens persista no erro, para ha
a perceber vivamente a
Cessa uma crença de ser real e vital tão logo se
veja geralmente aceita, e jamais se compreende
e sente completamente uma proposição sem que
alguma a seu respeito Logo
que os homens hajam unanimemente aceito uma
verdade, perece ela dentro A finalidade
mais alta e o melhor resultado da inteligência aper-
84 JOHN STUART MILL
Nãoseafirmo
nidade tal coisa.
aperfeiçoe, À medida
o número que
das a
doutrinas não
mais discutidas ou postas em dúvida crescerá, e
o bem-estar humano quasi pode ser medido pelo
número e peso das verdades que atingiram o pon
to de não ser mais contest adas. A cessação de
séria controvérsia, numa questão após outra, é
um dos necessários da consolidação da
opinião consolidação tão salutarno caso de opi
niões verdadeiras quanto nociva no de errôneas.
Mas, ainda que esse gradual desaparecimento dos
claros
rio em na uniformidade
ambos os sentidosda do
opinião,
termo,seja
isto é, a um
tempo e não somos obri
gados a concluir daí que todos os seus efeitos de
vam benéficos. A perda de tão importante
auxílio à apreensão viva e inteligente da verda
de, qual seja o proporcionado pela necessidade de
explaná-la aos antagonistas, ou de defendê-la
contra eles, embora insuficiente para pesar mais
que o do seu reconhecimento,
não é um insignificante. Confesso
gostaria de ver, onde não é mais tal van
tagem, os condutores dos homens esforçando-se por
encontrar um sucedâneo para ela — alguma in
venção que as dificuldades do problema tão
presentes à dos homens como seriam se
A LIBERDADE 85
profundo
so mais da sua verdade. Existe,
ao envés de uma porem, um ca
das doutrinas
em conflito ser verdadeira e a outra falsa, par
tilham as duas entre si a verdade, e a opinião não-
conformista é necessitada para completar a ver
dade de que a doutrina aceita incorpora apenas
parte. As opiniões populares, sobre assuntos não
evidentes aos sentidos, são muitas vezes verdadei
ras, raras vezes, ou nunca, completamente
verdadeiras. São uma parte da verdade — às ve
zes parte maior, às vezes menor, mas sempre
exagerada, adulterada, e desligada das verdades
pelas quais se deve acompanhare limitar. As opi
niões heréticas, de outro lado, são, geralmente, al
gumas dessas verdades suprimidas ou negligencia
das, que quebram as cadeias que as prendem, e pro
curam reconciliar-se com a verdade contida na
88 JOHN STUART MILL
so, é
ser Cada
um desses modos de deriva a sua utilida
de das deficiências do outro. Mas é numa gran
de medida a oposição do outro que conserva cada
um dentro do
menos s limites da razão àe democracia
opiniões da sanidade. eAà
aristocracia, à propriedade e igualdade, à coo
peração e à competição, à luxúria e à abstinência,
à sociabilidade e à individualidade, à liberdade e
disciplina, e todos os outros permanentes anta
gonismos da vida prática, sejam exprimidos com
igual liberdade, e demonstrados e defendidos com
igual talento e energia, não haverá probabilidade
do ambos os elementos obterem o que lhe é
um prato da balança subirá na certa, e o outro
descerá.
cos A verdade,
da vida, é tanto no
s grandes
uma negócios
questão práti
de conciliar e
combinar contrastes que muito poucos o espí
rito suficientemente largo e imparcial para levar
a efeito esse ajustamento com correção apro
ximada. Torna-se preciso proceder a ele pelo
pero método de uma luta entre combatentes a pe
sob bandeiras hostis. Em qualquer das
grandes questões abertas há pouco enumeradas, se
uma das duas opiniões possue melhor título, não
meramente a ser tolerada, mas ainda a ser enco
rajada e protegida, é a que, no tempo e no lugar
dados, se acha eventualmente em minoria, Essa é
a opinião que, no minuto, representa os interes
ses negligenciados, a face do bem-estar humano que
se encontra em perigo de obter menos do que lhe
A LIBERDADE 91
compete. Eu sei que não existe, neste país,
ma intolerância de opiniões quanto a muitos
ses tópicos. Eles foram aduzidos para patentear,
por exemplos admitidos e variados, o uni
versal do fato de somente através da diversidade
de opiniões
humano, haver, no estado
probabilidade de jogopresente do todos
lícito para intelecto
os
aspectos da verdade. se acham pessoas que
pequeno areconhecimento
moderna na com
idéia de obrigação para moralidade
o público,
deriva-se de fontes gregas e romanas, não de cris
tãs. Como na moral privada, o que quer
que exista de magnanimidade, de elevação de es
pírito, de dignidade pessoal, mesmo o senso
honra, é derivado da parte puramente humana,
não religiosa, da nossa educação, e jamais poderia
ter surgido de um tipo de ética em que o único va
lor cabalmente reconhecido é o da
está mais longe do que eu, de pre
tender que esses defeitos sejam necessariamente
inerentes à ética cristã qualquer que seja a forma
por que ela se possa conceber. Ou que não haja
conciliação entre ela e os muitos requi
sitos de uma completa doutrina moral a que não
satisfaz. Muito menos eu insinuaria isso das dou
trinas e preceitos propriamente de Cristo.
Creio que os ditos Cristo evidenciam, tanto
quanto eu possa vê-lo, o que pretendiam que
eles não são com coisa alguma re
querida por uma moralidade que
é
ética, sem juntar-lhes tudo o
maior violência que linguagem
à sua é excelenteque
ema
que lhe feito os que tentado deduzir
deles um sistema prático qualquer de
Mas é perfeitamente com isso julgar
que eles conteem, e pretenderam conter, apenas
A LIBERDADE 95
suas
são opiniões à própria
que as custa.
suas Que os hom
pelaens não
mor
parte, são meias que a unidade de
nião, a não ser quando resulta se compararem,
da mais ampla e livre, opiniões opostas, não
é nem a diversidade mal, e
sim um bem, até que a humanidade seja muito
mais do que no presente, de reconhecer todos
os aspectos da eis princípios
aos modos de ação dos homens não menos que às
suas opiniões. Assim é enquanto a hu
manidade seja imperfeita, que haja diferentes opi
niões, assim o é que haja diferentes expe
riências de maneiras de vida, que se
livremente, salvo a injúria a outrem, às
de e que o mérito dos diversos modos
de vida seja praticamente provado, quando al
se julgue em condições de
104 JOHN MILL
pessoa cujosdadesejos
expressões própriae natureza
impulsos como
são autônomos —
a desenvol
veu e modificou a cultura — é dita de
Outra, cujos desejos e impulsos não possuem essa,
autonomia, não tem não o tem mais
que uma máquina a vapor. Se alem de
110 JOHN STUART MILL
8
112 JOHN MILL
(7) de Sterling.
114 MILL
si mesma,
fi,
Há uma maior plenitude vida na sua
e, quando mais vida nas unidades,
há mais vida no todo que delas se compõe. Não
se pode passar sem a necessária compressão, se se
visa impedir
reza hum os usurpar
ana de espécimes mais vigorosos
os direitos alheios. da
Masnatu
isso, ainda do ponto de vista do desenvolvimento
humano, encontra plena compensação. Os meios
de desenvolvimento que o indivíduo perde com o
se lhe impedir satisfaça as inclinações a prejudi
car os outros, são obtidos sobretudo à custa
desenvolvimento dos demais indivíduos. E mesmo
para ele próprio há uma completa compensação no
melhor desenvolvimento da parte social da sua
natureza, possibilitado pela restrição à parte egoís-
tica. Ser às rígidas normas da
respeito aos outros, desenvolve os sentimentos e
capacidades que por objeto o bem
Mas ser coarctado no que não afeta esse bem
alheio, e apenas é aos outros, nada
desenvolve de valioso, a não ser o vigor de
que a resistência à coerção revele. A aquiescên
cia a esta embota e entorpece toda a natureza.
Para a livre expansão da natureza de cada um, é
essencial que se permita a pessoas diferentes vive
rem vidas diferentes. Cada época fez-se digna
de nota para a posteridade na proporção em que
essa largueza de vistas nela se exercitou.
não produz seus ores tos
sob ele persiste a individualidade. E o
que quer individualidade é despo
tismo, qual o nome que se lhe dê, e ainda
A LI
BERDADE 115
9
128 JOHN" MILL
lhortemo-lo
te, que qualquer dos dois.
na China — Um exempltalento
de muito o frisan-
ademais, a certos respeitos, de muita
devido à rara sorte de contar, desde cedo, com um
conjunto particularmente feliz de costumes,
até de homens a que mesmo os euro
peus mais esclarecidos de conceder, com
tas restrições embora, o título de sábios e
fos. Ela é ainda, pela excelência do seu
aparelhamento para infundir, o quanto
em espírito da comunidade a melhor
agente
lização mais poderosoentre
da similitude que os
todos esses, da genera-
é o estabe
lecimento completo, neste e noutros paises livres,
da ascendência da opinião pública Estado.
Como as várias superioridades sociais, que habi-
as pessoas, acasteladas nelas, a desrespei-
a opinião da multidão, cedem ante o nivela-
mento, e como a resolução de resistir à vontade do
público, quando se sabe ter este positivamente uma
vontade, cada vez mais desaparece do espírito dos
políticos militantes, cessa de existir qualquer pon~
to deforça
quer apoiopor
social para o não-conf
si subsistente que, porormismo
si oposta—à qual-
do número, se interesse por tomar sob
a sua proteção opiniões e tendências em
com as do público.
A associação de todas essas causas
tão grande volume de influência hostisindi
vidualidade, que não se vê facilmente como possa
esta manter o terreno. A dificuldade crescerá, a
menos que se possa fazer sentir à parte inteligen-
te do povo o valor da individualidade — fazê-la
ver
para como é bom
melhor, mesmohajaque
diferenças mesmo
lhe pareçam paraque não
pior.
Se em qualquer tempo devem afirmar os direi-
tos da individualidade, devemos fazê-lo agora, eu-
quanto muito falta para se completar a
134 JOHN
su
a parte (a se fixar segundo algum
equitativo) nos labores e que se
defesa da sociedade ou dos seus membros
danos e Justifica-se que a
ciedade essas condições a todo o
que tentam furtar-se ao seu
to. Nem isso constitue tudo que à sociedade é
mitido fazer. Os atos de um indivíduo podem
a outro, ou faltar com a devida considera
ção ao bem-estar deste, sem irem ao ponto de
lar algum dos seus direitos estabelecidos. Nesse
caso, o ofensor pode ser punido pela
aindaque não pela lei. Desde que algum
setor da conduta de uma pessoa afete de maneira
nociva alheios, a jurisdição da
dade o alcança, e a questão de a interferência nes
se setor promover, ou não, o bem-estar geral, tor
na-se aberta à controvérsia. Tal problema, po
rem, não tem lugar quando a conduta de um indi
víduo não afeta interesses de outros ao seu lado,
não necessite a não ser que esses outros
o queiram (todos os interessad
os maiores e
da ordinária soma de Em todos es
ses casos, deve haver perfeita liberdade, e so
de praticar a ação e suportar as consequên
cias.
incompreensão dessa doutrina have
ria em supô-la uma doutrina de egoís
tica, que pretendesse nada terem os seres huma
nos com a conduta alheia, e não deverem interes
pelas boas ações e pelo bem-estar dos outros
salvo estando o próprio interesse envolvido.
esforço desinteressado por promover o bem alheio
necessita ser grandemente incrementado, e não por
A LIBERDADE 137
expresso
com severidade. cuidando
se apresenta, de agir
então,
uma acusada ante o nosso tribunal, e pede-se a nós
não apenas julgá-la, mas ainda, de uma forma ou
outra, executar a nossa sentença. outro caso,
não nos cabe nenhum sofrimento, sal
vo o que incidentalmente se siga do uso por nós
da mesma liberdade de condução dos nossos negó
cios que a ela concedemos nos seus.
Muitos recusarão admitir a distinção que
apontamos entre a parte da vida de que
10
144 JOHN STUART MILL
do ou no desprezo dos
pretender que necessite, ao lado de
poder de expedir ordens e impor obediência
nos assuntos pessoal dos
nos segundo todos os princípios
justiça e política, a decisão deve caber a quem
suportaráas consequências. Seria recorrer ao pior
meio, o que tenderia, mais que qualquer outra coisa,
a desacreditar e frustrar os melhores processos de
influenciar a conduta. Se naqueles que se
coagir à prudência ou à temperança houver do
terial de que se fazem os caracteres vigorosos
independentes, eles, infalivelmente, se rebelarão
contra o jugo. pessoa dessa espécie
rá jamais que os outros possuam o direito de a
trolar no que lhe concerne, como o de impe-
de ofendê-los no que concerne aeles. E
mente se vem
de coragem a considerar
desacatar umautoridade
uma tal sinal de espírito
fruto
usurpação, e fazer ostensivamente o contrário
to do que ela prescreve. Foi o caso do tipo
grosseria que sucedeu, na época de Carlos II, à fa
nática intolerância moral dos puritanos. Quanto ao
que se disse da necessidade de proteger a socieda
de contra o mau exemplo dado pelos viciosos ou le
vianos, é que o mau exemplo pode ter um
efeito pernicioso, sobretudo o mau exemplo de fa
zer impunemente injustiça aos outros. Estamos,
porem, falando da conduta que, sem fazer injusti
aos outros, se supõe causar grande dano ao pró
prio e eu não vejo como os que nesse
dano, possam julgar que o exemplo não tenha
ser, afinal, mais salutar que nocivo, desde que, se
exibe a má conduta, exibe, outrossim, as penosas e
A LIBERDADE 149
que
Nas interfere
questões de
de modo errado,
moralidade e emde
social, lugar errado.
dever para
com os outros, a opinião do público, isto é, de uma
maioria dominante, embora muitas vezes errada,
é natural que seja, ainda mais frequentemente, cer
ta, pois que, em tais questões, ele é solicitado a
gar apenas dos próprios interesses, da maneira por
que algum modo de conduta, se se lhe permitisse a
prática, o afetaria. Mas a opinião de semelhante
maioria, imposta como lei à minoria, em questões
de conduta estritamente individual, tanto pode ser
certa errada. Nesses casos, a opinião públi
ca, na melhor hipótese significa a opinião de algu
mas pessoas sobre o que é bom ou mau para outras
pessoas. Muito frequentemente, porem, nem mesmo
isso significa, pois o público passa com a
feita indiferença sobre o prazer ou a conveniência
daqueles cuja conduta censura, para só considerar
a preferência dele próprio. Muitos há que consi
deram uma injúria a si qualquer conduta de que
não gostem, e que com ela se magoam como se fos
se um ultrage aos seus sentimentos, da mesma for
ma por que se visto carolas que, acusados de
desrespeito
retrucam queaos sentimentos
estes religiosos dos
é que desrespeitam outros,
os sentimen
tos deles por persistirem no culto ou
credo que professam. Mas não há paridade entre o
150 JOHN MILL
eles setodos
primir esforçaram, com bastante
os divertimentos sucesso,
públicos, por su
e quasi
dos os especialmente a música, a dansa,
os jogos públicos, ou outras reuniões com propó
sitos e o teatro. Existem ainda neste
país grupos grandes de pessoas cujas noções mo
e religiosas condenam essas recreações.
como essas pessoas pertençam principalmente à
classe média, que é o poder dominante na
sente condição social e política do reino, é de
nenhum modo que pessoas desses sen
timentos venham, em algum momento, a dominar
uma maioria no
manescente da Legislativo.
comunidadeEstimará a porção re mo
que os sentimentos
rais e religiosos dos mais estritos calvinisi as e me
todistas regulem que diversões lhe serão permiti
Não desejaria, de um modo muito decisivo
que esses membros da sociedade,
piedosos, se ocupassem com os negócios
isso precisamente que se tem a dizer a todo gover
no e a todo público que pretendam não dever nin
gozar de prazeres que julgam ilícitos. Mas
se o princípio que funda essa pretensão for admi
tido, pode razoavelmente opor-se a que
seja levado à prática no sentido da maioria ou
outro poder preponderante no país. E todos de
vem estar prontos a se conformarem à idéia
república cristã, do tipo da dos
lonos da Nova Inglaterra, se uma profissão religio
sa semelhante à deles lograr êxito, algum dia,
A LIBERDADE 155
desaprovaçãosem
ses sejam, do povo. Embora
dúvida, muitorelatos como es
exagerados como
representação dos fatos existentes, o estado de coi
sas que descrevem é um. resultado, não somente
e mas ainda sen
timento democrático (12), combinado com a noção
de possuir o público um direito de veto a respeito
da por que os indivíduos gastam as suas ren
das. Ademais, basta supor uma difusão conside
de opiniões socialistas para poder tornar-se
degradante, aos olhos da maioria, possuir algo mais
que uma propriedade muito pequena, ou alguma
em princípios. é Aprópria
respondência parte depara
Lord fortalecer
Stanley nessa
as cor
espe
ranças nele pelos que sabem quão raro, in
felizmente, figuram na vida política qualidades
158 JOHN MILL
goria queVender
pertença. o ato bebidas
de ingerir bebidas
fermentadas é, fermentadas
todo
o caso, comerciar, e comerciar é um ato social.
Mas a infração que se lamenta, não é da
dade do vendedor, mas da do comprador e
desde que tanto faz o Estado
de beber vinho tornar-lhe, propositadamen
te, secretário, todavia, diz:
como cidadão, o direito de legislar
de os meus direitos sociais sejam invadidos pelo
ato social de outrem". E, agora, paraa definição
desses "direitos "Se existe algo que
vada os
co de bebidas direitosEle
fortes. sociais,
destróiesse algo
o meu é opri
direito tráfi
mário de segurança, por criar e estimular
temente a desordemsocial. Invade o meu direito
de igualdade, tirando proveito da criação de uma
miséria que sou taxado a suportar. o meu
SOBRE A LIBERDADE 159
a mesma necessidade
ser e reto quedea trabalhar a outras,
lei garanta pode
a cada um
a observância do costume pelos outros, suspen
dendo as mais importantes operações industriais
num dia especial. Mas essa justificação, fundada
no interesse direto que os demais em que
cada um observe a prática, não se aplica às
ções de própria escolha, em que uma pessoa possa
julgar adequado empregar o seu lazer. Nem vale,
no menor grau que seja, para as restrições legais
às diversões. É verdade que a diversão de alguns
importa no trabalho de mas o prazer, para
não dizer a recreação de muitos vale o
lho de uns poucos, desde que a ocupação
seja livremente escolhida e possa ser livremente
renunciada. Os operários teem toda a razão em
pensar que, se todos trabalhassem no domingo,
trabalho de sete dias teria de ser dado pelos salá
rios de seis mas já, se a grande massa das
atividades se suspende, o pequeno número que, em
bem da diversão alheia, deve ainda trabalhar,
um aumento proporcional dos
ademais, estes não são obrigados a entregar-se a
tais ocupações
se quer se preferem
um remédio,o poder-se-ia
ócio ao lucro, E, seno
achá-lo
estabelecimento, pelo costume, de um feriado em
outro dia da semana para essas classes
de pessoas. único fundamento, pois, com que é
defender as restrições às diversões
A LIBERDADE 161
gulamentos respeitantes —
totalmente aosembora
jogos ilícitos
todos devam
ter a liberdade de jogar na sua casa ou na
outrem, ou em algum lugar de reunião estabele
cido por suas e aberto apenas aos
sócios e suas visitas já as casas de tavolagem
públicas não devem permitidas. É verdade
A LIBERDADE 175
que eleaos
trária permite, mas interesses
melhores que, não obstante,
agente; julga
saber,con
por exemplo, se deveria tomar medidas que tor
nassem mais custosos os meios da embriaguez, ou
aumentar a dificuldade de os procurar limitando
12
176 JOHN MILL
aquelas
rada lhe cujo uso
parece alem de te
positivamenquantidade
nocivo. Amuito
pois, de estimulantes, até o ponto que produza
a
soma de renda (supondo que o Estado ca
reça de toda a renda que ela produza), não só é
como ainda merece ser aprovada.
A
gem
gêneroa presença
em apreçodapeculiarmente,
coação policial, e lugares
visto do
que propí
cios, de modo especial, ao surgimento de ofensas
à sociedade. É, portanto, adequado confinar
venda de tais mercadorias (pelo menos, con
sumo no lugar) a pessoas de conhecida e garan
tida regular o horário de aber
tura e fechamento do modo conveniente à
pública, e cassar a licença se perturbações
da paz se verificam repetidamente com a conivên
cia ou pela incapacidade do dono, ou.se a casa se
torna ponto de reunião para se tramarem e pre
pararem atentados contra a lei. Não concebo que
se em princípio, qualquer outra restri
ção. Limitar, por exemplo, o número das casas de
cerveja e bebidas espirituosas, com o fim expresso
de torná-las de mais acesso, e de diminuir
as ocasiões de tentação, não apenas expõe todos a
uma inconveniência pelo fato de haver que
abusariam da facilidade, como ainda só é apro
priado a um estado social em que as classes tra
balhadoras são francamente tratadas como
ças ou selvagens, postas sob uma coerção
tiva para as adaptar à futura admissão aos
da liberdade. Não é por esse princípio
se governam as classes trabalhadoras em qualquer
país livre, e que dê à o
devido assentirá em que sejam elas assim
nadas, a não ser depois que se tenham esgotado
178 JOHN MILL
gem
gêneroa presença
em da coação policial,
peculiarmente, visto eque
lugares
propído
cios, de modo especial, ao surgimento de ofensas
à sociedade. É, portanto, adequado confinar
venda de tais mercadorias (pelo menos, con
sumo no lugar) a pessoas de conhecida egaran
tida regular o horário de aber
tura e fechamento do modo conveniente à vigi-
pública, e cassar a licença se perturbações
da paz se verificam repetidamente com a conivên
cia ou pela incapacidade do dono, ou se a casa se
torna ponto de reunião para se tramarem e pre
pararem atentados contra a lei. Não concebo que
se justifique, em princípio, qualquer outra restri
ção. Limitar, por exemplo, o número das casas de
cerveja e bebidas espirituosas, com o fim expresso
de torná-las de mais acesso, e de diminuir
as ocasiões de tentação, não apenas expõe
uma inconveniência pelo fato de haver alguns que
abusariam da facilidade, como ainda só é apro
priado a um estado social em que as classes tra
balhadoras são francamente tratadas crian
ças ou selvagens, postas sob uma coerção educa
tiva para as adaptar à futura admissão aos privi
légios da liberdade. Não é por esse princípio que
se governam as classes trabalhadoras em qualquer
país livre, e que dê à liberdade o valor
devido assentirá em que sejam elas assim
nadas, a não ser depois que se tenham esgotado
178 JOHN MILL
sentandoInstituto dos de
proj
eto Advogados
lei nesse do Rio, em
sentido, em 1907,
19 em 1908
29, pleiteou e, apre
a ins
tituição do divórcio no Brasil.
Das grandes potências, o divórcio a Inglaterra,
Estados Unidos, a União Soviética, a França, a Alemanha e
Japão; não o tem só a Itália, precisamentemenos adiantada das
sete. E só a Itália, a Espanha de Franco e o Brasil ó
Chile, o Paraguai e Costa Rica permanecem sem o instituto,
todo o mundo civilizado.
SOBRE A LIBERDADE 183
consequênciasao alcance
cientemente aqueles
paraqueserem,
estiverem
de alguma
maneira, afetados pelas ações dos novos
Quando comparamos estranho respeito cr- -
mens pela liberdade com a sua estranha falta de
classe de
rência questões relativas
governamental, aos embora
as quais, limites da
ligadas de
perto com o assunto deste ensaio, não pertencem
estritamente a ele. Há casos em que as razões
contra a interferência não versam sobre o princí
pio de a questão não é de restringir as
ações dos indivíduos, mas de pergun
ta-se se o governo deve fazer, ou provocar que se
faça, algo em benefício dos indivíduos, ao envés de
deixar que eles próprios o façam, individualmente
ou em associação voluntária.
As objeções à interferência governamental,
quando ela não envolve desrespeito à liberdade,
podem ser de três gêneros.
primeiro gênero é relativo a coisas mais
adequadas a serem feitas pelos indivíduos do que
pelo governo. Em geral, está mais em
condições de conduzir um negócio, ou de determi
nar como e por quem deva ser conduzido, do
os pessoalmente interessadosnele. Esse princípio
condena as interferências, outrora tão comuns, da
Legislatura, ou dos funcionários governamentais,
nos processos ordinários da indústria. Essa parte
do assunto, porem, foi suficientemente explanada
por autores de economia política, e não se rela
ciona particularmente com os princípios deste
ensaio.
A segunda objeção é ligada mais de perto com
o nosso assunto. Há muitos casos nos quais,
192
Esta não
como é a ocasião
aspectos de se nacional,
da edueação demorar nessas coisas
como consti
tuindo, na verdade, o treinamento peculiar de
cidadão, a parte prática da educação de
um povo livre, que o tira para fora do círculo es
treito do pessoal e familiar, e o
à compreensão dos coletivos, à -
de interesses coletivos — a
agir por motivos públicos e ea
a conduta por alvos que unem as pessoas, ao
de as isolarem umas das outras. Sem esses
tos e poderes, constituição livre não pode ser
preservada, como se exemplifica
pela natureza muito transitória
da liberdade política em nos quais ela
repousa sobre uma base suficiente de liberdades
locais. A administração dos negócios
locais pelas e dos grandes
A LIBERDADE 193
as associações
diversos, e uma voluntárias, ao contrário,
infinda variedade há ensaios
de experiência.
que o Estado pode utilmente fazer é tornar-se
um depósito central da resultante dos
muitos ensaios, e um ativo fator da sua circulação
e difusão. que lhe compete é habilitar cada
experimentador a se beneficiar das experiências
alheias, ao invés de não tolerar outras experiências
senão as próprias.
A terceira e mais eficaz razão para limitar a
interferência do governo é o grande perigo de lhe
aum
ção entar
que desnecessariame
se acrescente nte
às ojápoder. Todapelo
exercidas fun go
verno, difunde mais largamente a influência
sobre as esperanças e os temores, e converte, cada
vez mais, a parte mais ativa e do pú
blico em pingentes do governo, ou de algum par
tido que visa tornar-se governo. Se as estradas,
as ferrovias, os bancos, os escritórios de seguros,
as grandes sociedades anônimas, fossem ramos do
se, ademais, as corporações municipais e
os conselhos locais, com tudo que hoje recai sob a
sua alçada, se tornassem departamentos da admi
nistração se os empregados de todos esses
diversos empreendimentos fossem nomeados e pa
gos pelo governo, e deste dependessem para cada
ascensão na nem toda a liberdade de
194 JOHN STUART MILL