Fisiologia do desenvolvimento e crescimento puberal
A puberdade, segundo a OMS é a faixa etária dos 10 aos 20 anos, sendo o desenvolvimento puberal parte dela, representando para o ser humano o início da capacidade reprodutiva com duração de 2 a 4 anos. O que dispara o processo de puberdade ainda não é totalmente conhecido, porém, está relacionado a reativação do eixo hipotálamo-hipófise, onde os neurônios hipotalâmicos reiniciam a secreção de GnRH. Sua secreção leva a consequente liberação dos hormônios gonadotróficos: LH e FSH. Há quatro hipóteses prováveis para o início da puberdade: uma hipótese afirma que o eixo hipotálamo-hipófise seria mais sensível ao feedback negativo dos esteroides. Outra acredita haver um mecanismo neural responsável pela inibição e sua supressão dispararia a puberdade. As outras duas dizem que, esse início estaria relacionado com a ativação de vias estimuladoras e a outra que estaria relacionada a hormônios liberados (leptina, melatonina, endorfina, peptídeo Y, óxido nítrico e kisspeptina) Apesar da puberdade ser geneticamente programada, outros fatores influenciam esse processo: climáticos, socioeconômicos, hormonais, psicossociais e nutricionais. O desenvolvimento sexual em classes de menor nível socioeconômico ocorre de forma tarde em comparação com níveis mais elevados. Efeitos da testosterona no homem A produção e secreção de testosterona mediada pelos hormônios FSH e LH com a ativação da secreção de GnRH após o início da puberdade, desencadeia uma série de alterações responsáveis pelas características secundárias do homem. O GnRH é produzido no núcleo arqueado do hipotálamo através de secreção pulsátil a cada 1 a 3 horas. O LH promove a secreção de testosterona pelas células de Leydig nos testículos. Já o FSH se liga às células de Sertoli para essas células cresçam e produzam substâncias espermatogênicas, assim como a testosterona participa diretamente nesse papel, sendo a espermatogênese mediada por esses dois hormônios. A testosterona promove o crescimento de pêlos pelo corpo com um padrão específico: no púbis, seguindo superiormente até o tórax, face, axilas e outros locais menos frequentes (costas). Também aumenta a quantidade de pêlos em locais já existentes como braços e pernas. Ao contrário, em indivíduos com determinado padrão genético, a testosterona é responsável pela queda do cabelo no topo da cabeça. Esse hormônio promove também a hipertrofia da mucosa e alargamento laríngeo, levando a típica voz masculina do adulto, mais grossa. Além disso, pode promover o espessamento da pele e a atividade de glândulas sebáceas, as quais podem se manifestar na formação de acnes, característica dessa fase. Outra característica é o aumento da formação de proteínas no corpo, que também leva ao aumento da massa muscular. A testosterona aumenta a deposição de cálcio nos ossos, provocando o seu alargamento. É responsável pela pelve masculina característica (mais ovoide) em relação a da mulher, inclusive em sua ausência, a pelve masculina possui formato arredondado. O crescimento ósseo longitudinal é característica da testosterona, porém, essa também acelera a ossificação da placa epifisária, impedindo a continuidade do crescimento. A taxa metabólica basal também aumenta, em cerca de 15%, provavelmente relacionado ao aumento no anabolismo proteico. A quantidade de hemácias também aumenta de 15 a 20% por decorrência do aumento do metabolismo e não da secreção de eritropoietina, por exemplo. A atividade celular da testosterona começa com sua entrada da célula e conversão em di-hidrotestosterona pela 5alfa-redutase, então se associa a proteína plasmática e entra no núcleo, onde estimula a transcrição do DNA.
Ação estrogênica na mulher
A partir da puberdade, os estrogênios irão estimular o aumento da genitália externa e pequenos lábios, e deposito de gordura no monte pubiano e nos grandes lábios. Atuam no epitélio vaginal, passando de cúbico simples para estratificado pavimentoso. O tamanho do útero aumenta 2 a 3 vezes, sendo ainda mais importante o desenvolvimento do endométrio, responsável pela preparação do ambiente para nidação do embrião todos os meses no ciclo menstrual. Estimula também as tubas uterinas, principalmente glândulas secretoras de muco e as células ciliadas. Nas mamas, o estrogênio será responsável pelo desenvolvimento do estroma e do sistema ductal. Além de aumentar o depósito de gordura. Porém, não exerce atividade sobre a maturação da mama. Assim como a testosterona, ele vai atuar nos esqueletos aumentando a deposição de cálcio, ativando o fator inibidor da osteoclastogênese. Sua diminuição na menopausa favorece o desenvolvimento da osteoporose pela maior atividade osteoclástica, diminuição da matriz óssea e menor deposição de cálcio. Também como a testosterona, aumenta o anabolismo proteico, metabolismo corporal e também aumentam o depósito de gordura. Sua atividade na pele acontece tornando-a mais macia e lisa, porém, menos que na criança. Atua também na retenção de sódio de água, mas esse efeito só é acentuado na gravidez pela grande quantidade desse hormônio que é liberada.
Atividade da progesterona na mulher
Atura nas alterações do endométrio uterino durante o ciclo menstrual e secreção de muco nas tubas uterinas. Promove a maturação das mamas pela formação dos lóbulos e alvéolos a partir dos ductos já existentes. Características do desenvolvimento puberal (físico e psicossocial)
Na adolescência ocorre o período de intenso crescimento, chamado estirão. Esse
crescimento é não-linear e ocorre de forma diferente em meninos e meninas, também podendo variar com fatores ambientes como oferta de alimentação, exercícios e aspectos psicossociais, sendo sua vulnerabilidade a agravos externos bastante acentuada. A maior taxa de crescimento ocorre nos dois primeiros anos de vida, decrescendo durante a infância e voltando a aumentar no período puberal. Esses períodos são didaticamente divididos em Fase 1, 2 e 3. O estirão não ocorre de forma uniforma, começa no sentido distal- proximal, conferindo ao adolescente um aspecto desarmônico e desproporcional, que readquire ao final desse processo. Nesse período também ocorre o dimorfismo sexual, responsável pelas distintas formas masculinas e femininas. Nas meninas, ocorre maior depósito de gordura nas mamas e quadris. Nos meninos, ocorre o crescimento biacromial, associado ao desenvolvimento da musculatura. De forma geral, todos os tecidos do corpo se desenvolvem nessa fase, exceto o tecido linfoide e nervoso. A intensidade desse desenvolvimento é geneticamente determinada. A primeira manifestação puberal nas meninas é a telarca, já nos meninos é o aumento testicular. O desenvolvimento dessas características e sua sequência foi sistematizada por Tanner em 1962, variando numa escala de 1 a 5, para 3 tipos de desenvolvimento: mamário no sexo feminino (M), genital no sexo masculino (G) e pilosidade puberal em ambos os sexos (P). O estirão ocorre em fases diferentes da puberdade entre homens e mulheres. No sexo feminino, o estirão começa em M2, tem seu pico em M3 e decresce em M4. No sexo masculino, ocorre mais tardiamente, iniciando em M3 e tendo seu pico e decrescimento em M4. Isso justifica a maior estatura do homem, que permanece no período de crescimento pré-puberal por mais tempo, além do seu crescimento ser mais acentuado também (10 a 12cm/ano em comparação com o sexo feminino que é de 8 a 10cm/ano). A telarca ocorre em média aos 9,7 anos, já a menarca é um evento mais tardio, por volta dos 12,2 anos, no estágio M4 da classificação de Tanner. Isso quer dizer que começa num período de desaceleração do crescimento, ocorre apenas 4 a 6cm/ano após a menarca. A ejaculação também é um evento tardio no homem, podendo começar a se manifestar incialmente durante o sono (polução noturna). Nos homens pode ocorrer ainda a ginecomastia, que é o desenvolvimento da glândula mamária, devendo ser diferenciada da lipomastia ou adipomastia, que é apenas a deposição de gordura em púberes obesos.
Acompanhamento médico ao adolescente
O processo dinâmico da adolescência junto com as transformações corporais e seu novo papel na sociedade o leva a novas experiências testando atitudes e situações que podem colocar em ameaça a sua saúde, como por exemplo: acidentes, gravidez não planejada, DTS, drogas, distúrbios alimentares. A acolhida deve ser compreensiva, para que se sintam à vontade e valorizados. Além disso, deve-se procurar mecanismos e organização mais flexíveis, pois dada a essa etapa do desenvolvimento tendem a não respeitar horários e datas de agendamento. De acordo com a Associação Americana Médica, as visitas de rotina de adolescentes devem ser uma oportunidade para reforçar promoção à saúde, identificar jovens sujeitos a comportamentos de risco (distúrbios físicos e/ou emocionais), imunização adequada e desenvolvimento de vínculos para diálogo aberto sobre questões de saúde. Devem recebem esclarecimento sobre seu desenvolvimento e serem participantes ativos nas decisões aos seus cuidados de saúde. Deve ser abordado questões como álcool e trânsito, as vantagens da atividade física regular inclusive até como fator de socialização. Esclarecimentos sobre cuidado oral, hábitos nutricionais, práticas sexuais responsáveis e seguras (preservativo para evitar gravidez indesejada e DST). Os protocolos de controle de PA dizem que sua pressão deve ser aferida anualmente e os que tem história de hipercolesterolemia na família devem fazer dosagens de colesterol. O consumo de álcool, drogas/cigarro e as dificuldades escolares devem ser abordadas de forma criativa sem teor inquisitivo. Na entrevista deve se levar em conta a subjetividade de cada paciente, entendendo sua perspectiva sem julgamentos ou autoritarismo. É interessante que haja dois momentos na consulta, com e sem a família, para permitir que o adolescente expor sua percepção sobre o que está acontecendo, abordar assuntos sigilosos que o está preocupando. O profissional não deve se limitar a QP, deve investigar como ele está se sentindo com as mudanças que estão acontecendo, relacionamento com a família, namorados(as), formas de lazer, expectativas para o futuro. O sigilo da consulta é um direito e deve ser assegurado, dado pelo artigo 103 do código de ética médica (veda ao médico “relevar segredo profissional referente a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou responsáveis legais, desde que o menor tenha capacidade avaliar seu problema e conduzir-se por seus próprios meios de solucioná-lo, salvo quando a não revelação possa acarretar danos ao paciente”). A autora Ruzany em Atenção ao adolescente: considerações éticas e legais cita Saito (1999) que diz que “não deve ser esquecido que cada adolescente é único e que o respeito a essa individualidade deve permear a consulta”. Sempre que possível deve-se fazer o exame físico completo na primeira consulta (cáries, pele, mucosa, coluna vertebral, aparelho urinário etc.). Ao ser feito, é de bom senso que haja outro profissional para observação.