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Saneamento

Básico para
Gestores Públicos
Saneamento
Básico para
Gestores Públicos

Brasília, 2009
Diretoria da CNM

CONSELHO DIRETOR

Presidente Paulo Ziulkoski Famurs – Mariana Pimentel/RS


1o Vice-presidente João Guerino Balestrassi Amunes – Colatina/ES
2o Vice-presidente Luiz Benes Leocádio de Araujo Femurn – Lajes/RN
3o Vice-presidente Pedro Ferreira de Souza AMM – Jauru/MT
4o Vice-presidente Valtenis Lino da Silva ATM – Santa Fé do Araguaia/TO
1o Secretário Vicente de Paula Souza Guedes Aemerj – Valença/RJ
2o Secretário Rubens Germano Costa Famup – Picuí/PB
1o Tesoureiro Joarez Lima Henrichs AMP – Barracão/PR
2o Tesoureiro Gilmar Alves Da Silva FMM – Quirinópolis/GO

CONSELHO DE REPRESENTANTES REGIONAIS

Titular Região Norte Jair Aguiar Souto Manaquiri/AM


Suplente Região Norte Rildo Gomes de Oliveira Tartarugalzinho/AP
Titular Região Sul Glademir Aroldi Saldanha Marinho/RS
Suplente Região Sul Mauri Heinrich Ibirubá/RS
Titular Região Sudeste David Loureiro Coelho São Fidélis/RJ
Suplente Região Sudeste Elbio Trevisan Cesário Lange/SP
Titular Região Nordeste Renilde Bulhôes Santana do Ipanema/AL
Suplente Região Nordeste Eliene Leite Araújo Brasileiro General Sampaio/CE
Titular Região Centro-Oeste Simone Nassar Tebet Três Lagoas/MS
Suplente Região Centro-Oeste Abelardo Vaz Inhumas/GO

CONSELHO FISCAL

Titular Helder Zahluth Barbalho Famep – Ananindeua/PA


Titular Luís Coelho da Luz Filho APPM – Paulistana/PI
Titular Orlando Santiago UPB – Santo Estevão/BA
1o Suplente Evandro Bazzo Assomasul – Jardim/MD
2o Suplente Liberato Rocha Caldeira APM – Valentim Gentil/SP
3o Suplente Jose Maria Bessa de Oliveira Ameap – Porto Grande/AP
Saneamento Básico
para Gestores Públicos
Qualquer parte desta publicação poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.
Copyright © 2009. Confederação Nacional de Municípios.

Impresso no Brasil.

Coordenação Técnica
Jeconias Rosendo da Silva Júnior

Textos
Engo Adalberto Joaquim Mendes

Revisão
Keila Mariana de A. Oliveira

Editoração e projeto gráfico


Themaz Comunicação Ltda.

Ficha Catalográfica

Confederação Nacional dos Municípios – CNM

Saneamento Básico para Gestores Públicos / Confederação Nacional dos Municípios. – Brasília/DF : CNM,
2009.

260 p.

I – Saneamento básico. II – História do Saneamento. III – Formulação da política Municipal de Saneamento.


IV – Modelos de Gestão de Saneamento. V – Consórcios Públicos. I. Título: Saneamento Básico para Gestores Públicos.

Todos os direitos reservados à:

Confederação Nacional de Municípios – CNM


SCRS 505, Bloco C, Lote 1 – 3o andar – Brasília/DF – CEP: 70350-530
Tel.: (61) 2101-6000 – Fax: (61) 2101-6008
E-mail: atendimento@cnm.org.br
Sumário
Carta do Presidente........................................................................................... 9

1 História do Saneamento............................................................................... 11
1.1 Ao longo do tempo.................................................................... 11
1.2 No Brasil................................................................................... 17

2 Lei Nacional do Saneamento Básico – LNSP Lei No 11.445/2007............. 21


2.1 Conceitos................................................................................... 21
2.2 Abrangência.............................................................................. 23
2.3 Princípios.................................................................................. 27
2.4 Exercício da titularidade........................................................... 28
2.5 Regulação.................................................................................. 36
2.6 Aspectos econômicos e sociais................................................. 38
2.7 Aspectos técnicos...................................................................... 41
2.8 Controle social.......................................................................... 42
2.9 Política Federal de Saneamento Básico – Plansab.................... 42

3 Formulação da Política Pública de Saneamento Básico............................ 47


3.1 Plano Municipal de Saneamento............................................... 47
3.2 Diferença entre plano e projeto................................................. 49
3.3 Níveis de participação............................................................... 50
3.4 Metodologia.............................................................................. 54
3.5 Diagnóstico............................................................................... 58
3.6 Planejamento........................................................................... 151
3.7 Conferência Municipal e Conversão do Plano em Lei........... 157

4 Modelos de Gestão...................................................................................... 165


4.1 Conceito.................................................................................. 165
4.2 Autarquias............................................................................... 167
4.3 Outras formas de gestão.......................................................... 174
4.4 Regulação................................................................................ 177
4.5 Estrutura Tarifária................................................................... 179

5 Consórcios públicos.................................................................................... 186


5.1 Considerações Gerais.............................................................. 186
5.2 Cooperação X Consórcios X Prestação de Serviços............... 188
5.3 Constituição de Consórcios..................................................... 191
5.4 Gestão Financeira e de Pessoal............................................... 194

6 Referências ................................................................................................. 197

Anexos
Anexo 1 Lei No 11.445/2007......................................................... 200
Anexo 2 Lei No 11.107/2005......................................................... 228
Anexo 3 Decreto No 6.017/2007................................................... 238
Carta do Presidente
Nas duas últimas décadas, o saneamento no Brasil careceu de planejamen-
to sistemático, associado à indefinição de políticas e programas que efetivamen-
te trouxessem respostas às demandas sociais. Em consequência, o saneamento
como ação socioeconômica de caráter coletivo nunca alcançou níveis estáveis
de institucionalização, resultando em uma realidade extremamente precária, não
apenas dos indicadores de salubridade ambiental, mas também nos fatores que
caracterizam as expressões econômicas, financeiras, organizacionais, gerenciais
e tecnológicas desse setor de atividade humana do País.
Em um país gigantesco, de contrastes acentuados, torna-se necessária uma
estrutura técnico-administrativa, que, além de competência técnica, acene com
providências e atrativos concretos para desencadear um processo de participação
do Município na prestação dos serviços de interesse local. Entre os atrativos a
serem utilizados há de se priorizar a aplicação de recursos e a intermediação na
consolidação de proposta de desenvolvimento institucional-local provedoras de
autossuficiência – administrativa, financeira – e, consequentemente, da autogestão.
Este modelo descentralizado de atuação fundamenta-se na premissa de que
quanto mais próximo o prestador de serviços e o poder decisório estiverem do
usuário, tanto mais eficiente e acessível se torna o serviço prestado, estimulando
e facilitando a participação comunitária na eleição de prioridades e no controle,
exercido pela sociedade, sobre o órgão público.
Cerca de um terço do total dos Municípios brasileiros tem os seus serviços
de água e esgotos gerenciados diretamente, sendo nos demais o serviço conce-
dido pelo Município às Companhias Estaduais, ou da Iniciativa Privada. Em
ambos os casos, os serviços apresentam carências gerenciais e financeiras. Na
maioria dos casos não existem projetos ou o mínimo planejamento. As amplia-
ções, quando necessárias, são realizadas de forma duvidosa, sem garantia de que

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os recursos investidos irão atingir os objetivos.
Essa situação se deve primordialmente às quase duas décadas em que o
setor ficou carente de regulamentação, em que a competência pela realização
dos serviços se transformou em questão jurídica, e as fontes de financiamento
para o setor secaram, uma vez que não havia segurança jurídica para qualquer
investimento.
Com isso, criaram-se as diversas distorções que desafiam a capacidade de
gestão dos atuais responsáveis pelo serviço de saneamento, a recuperação de 20
anos de falta de planejamento, como forma de buscar financiamento para investir
em modernização, ampliação e adequação dos sistemas de saneamento a uma
nova realidade demográfica, ambiental e legal em que vivemos.
Não se pode negar que Lei no 11.445, promulgada em 5 de janeiro de 2007
e vigente desde 22 de fevereiro de 2007, contribuiu efetivamente para a mini-
mização dos problemas citados, transferindo para os Municípios a formulação
da política de saneamento básico e outras competências, mas o imobilismo do
governo federal perante alguns setores que tentam impedir a edição do Decre-
to Regulamentar da Lei tem proporcionado elevados prejuízos aos Municípios,
pois com esse quadro referencial básico da situação atual não há segurança jurí-
dica suficiente para estabelecimento das políticas municipais de saneamento em
função das pressões exercidas por outras instâncias.
Assim, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) busca por meio da
edição deste material e da realização de seminários em todo o País conscientizar
e apoiar os Gestores Municipais a se utilizarem do novo marco regulatório do
saneamento, da forma mais adequada, para a árdua tarefa de recuperar o tempo
perdido e atender às demandas da população nesse setor da gestão pública que é
imprescindível para a melhoria das condições de vida de nossa população.

Atenciosamente,
Paulo Ziulkoski
Presidente da CNM

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1 História do Saneamento
1.1 Ao longo do tempo

A história do Saneamento remonta a muitos séculos antes da Era Cristã e


está sempre relacionada ao surgimento e ao crescimento das cidades. No proces-
so de formação das cidades, é sempre possível verificar a presença de um curso
de água em sua paisagem. Em suas múltiplas atividades, o homem precisa da
água, para suprir suas necessidades básicas, principalmente, como alimento e
para o afastamento de seus dejetos.
Há milênios antes de Cristo, os chineses e os japoneses utilizavam filtração
por capilaridade para obter água. A água é mencionada nos textos bíblicos por
Efézios, 5:26, Ezequiel, 14:22 e 36:25, Levítico, 6:27, Samuel, 21:41 e São João,
13:5, Samuel, 26:11, São Marcos, 14:13, Reis, 20:20, Jeremias, 5:4.
Durante a Idade Antiga, até o séc. V d.C, haviam crenças e mitos relacio-
nados com a água, sugerindo uma visão mágico-religiosa. Os primeiros escritos
da humanidade, por meio dos Sumérios, surgiram com as primeiras instruções
para irrigação dos terraços.
O Nilo era originado da união entre Osíris e Ísis, da qual nasceu o menino-
Deus, Hórus, que obrigou o oceano a recuar deixando nas margens o lodo alu-
vial que adubava as plantações. O fluxo do Nilo era controlado por dispositivo
administrativo, gerindo as partes a montante e jusante e projetando os níveis de
água durante os períodos anuais. Técnicas importantes foram desenvolvidas para
a irrigação, tais como a construção de diques; canalizações exteriores e subter-
râneas.

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Tem-se notícia de que existiam coletores de esgoto em Nipur (Babilônia)
desde 3.750 a.C. O primeiro sistema público de abastecimento de água, o aque-
duto de Jerwan, foi construído na Assíria em 691 a.C. Os grandes aquedutos
romanos foram construídos em várias partes do mundo, a partir de 312 a.C. No
ano 70 a.C., Sextus Julius Frontinus foi nomeado Superintendente de Águas de
Roma.
Há registros que no Vale do Indo (3.200 a.C) existia o abastecimento de
água e os sistemas de drenagem que contavam com ruas dotadas de canais de
esgoto cobertos por tijolos, casas com banheiras e privadas lançando nos canais.
No palácio do faraó Keóps, o uso de tubos de cobre e documentos em sânscrito
(2.000 a.C) aconselhavam o acondicionamento da água em vasos de cobre, ex-
posição ao sol, filtragem em carvão, areia ou cascalho, imersão de barra de ferro
aquecida.
A interpretação do mundo baseada na observação da natureza (batizada
depois de visão “hipocráticonaturalista”) ocorre a partir do século VII a.C. Se-
gundo a Escola de Mileto (Tales de Mileto – 625?/558 a.C), os rios eram alimen-
tados pela água do mar, a qual ascendia por meio da destilação provocada pelo
fogo interior das rochas ou pelo refluxo capilar da água.
A preocupação com a qualidade da água surge por meio de Platão (427-
347 a.C), quando afirmou que “qualquer um que tenha corrompido a água de
outrem [...] além de reparar o prejuízo será obrigado a limpar a fonte [...]”. Já
Aristóteles (384-322 a.C) especulava acerca das correlações entre a água das
chuvas e os lençóis subterrâneos, e que os rios se originariam da água das chuvas
e da umidade do ar das cavernas.
A construção dos aquedutos permitia o transporte da água de muito longe
até chegarem a grandes reservatórios que descarregavam em outros menores,
com vazões controladas por comportas, de modo que privilegiava, primeiramen-

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te, as fontes públicas, depois os banhos e finalmente os lares dos ricos.
Possivelmente em razão da destruição causada pelo paludismo (malária)
no Lácio, com destruição de 53 populações inteiras tenha contribuído com a
compreensão dos gestores públicos do processo saúde-doença e sua relação com
o abastecimento de água e o afastamento das águas servidas. No século I a.C
Marcus Terentius Varro especulava que “havia vida nos lugares patanosos de pe-
quenos animais que não podem ser percebidos pelos olhos e penetram no corpo
pela boca e narinas, causando graves desordens”.
Na Idade Média, compreendida entre o século V d.C até século XV d.C,
com a queda do Império Romano no Ocidente, o escravagismo romano passa a
ceder lugar nas regiões da Gália, Bretanha, Germânia, Espanha, Portugal a novas
organizações socioeconômicas que se consolidaram no sistema feudal.
Nesse período, a água é entendida como elemento vital, também, para o
desenvolvimento econômico, sendo registrado em 1086, na Inglaterra, pouco
mais de 5.600 rodas d’água e moinhos projetados para fornecer força motriz
nas atividades de transformação (moagem, tecelagem, tinturaria, curtimento) de
propriedade dos senhores feudais (média de 1 para 50 famílias).
O abastecimento de água por meio da captação direta de rios, afastando-se
das práticas romanas de captar a longas distâncias trouxe um retrocesso consi-
derável do ponto de vista sanitário. O baixo consumo de água acarretou graves
consequências à saúde pública.
As crises econômicas, políticas e religiosas orientaram a construção de
muralhas e fossos ao redor das cidades. Provavelmente com a queda de Roma e
as novas organizações sociais, o conhecimento ficou arquivado nos indevassá-
veis mosteiros religiosos nos séculos seguintes.
No texto “De Aqvis vrbis Romae”, de Frontinus, descoberto por Gian Fran-
cesco Poggio, somente em 1425, há os seus ensinamentos de hidráulica, sanea-

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mento e gestão indisponíveis durante toda a Idade Média. A titularidade sobre a
água é redefinida e se fragmenta nas mãos da aristocracia laica e dos eclesiastas.
A água deixa de ser um recurso público, gerenciado pelo governo como foi na
Roma Republicana e na Imperial mantidas coletivamente pelos cidadãos, sendo
que parte do consumo diário de uma família era garantida por meio da compra
de água transportada pelos “carregadores”.
A maior parte da população escavava os seus poços no interior das casas,
mas a presença de fossas e estercos animais em suas proximidades contamina-
vam quase todas essas fontes de água, contribuindo para o avanço das doenças.
O período foi marcado por grandes epidemias. No século XIV, metade da popu-
lação da Europa foi infectada e na Índia, 1896, houve a morte de 10 milhões de
pessoas em 12 anos, com a, ainda hoje, não erradicada cólera, lepra e tifo.
Na Idade Moderna (1453 – 1789) surge a visão experimentalista a partir da
decadência da visão naturalista, sendo Paracelso (1493-1543) um dos impulso-
res da nova concepção do conceito de saúde-doença, percebendo a relação entre
doenças e ocupação profissional – tuberculose fibróide dos mineiros.
Além do livro de Frontinus, foram também traduzidos os livros de Vitrú-
vio, em 1673, e aperfeiçoou-se, entre 1630 e 1660, bombas e seu rendimento.
Neste período, desenvolveu-se a metodologia da medição de velocidades de es-
coamentos e das vazões e se estabelece que os rios, as fontes e as águas subter-
râneas eram formadas pelas chuvas.
O modelo de abastecimento de água baseado na aristocracia laica e nos
eclesiásticos estava em falência. Em Paris, final do século XV, controlava-se
a distribuição de água por meio de canalizações e uma dezena de fontes, sob
a vigilância da municipalidade. A fabricação de tubos de ferro fundido (1664):
possibilitaria um incremento considerável na distribuição de água canalizada.
Na Idade Contemporânea, de 1789 até os dias atuais, a revolução termo-

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dinâmica, possibilitada pela máquina a vapor (1764) incentiva a aceleração do
processo produtivo, causando um forte impacto socioeconômico e ambiental. O
texto francês mais antigo a respeito do combate à poluição das águas (1829) pre-
via a punição com multa ou prisão a quem atirasse nas águas drogas e produtos
que provocassem o envenenamento ou a destruição dos peixes.
A partir de meados do século XIX inicia-se a implantação do saneamento,
bem como da administração e legislação destes e de outros serviços públicos. Na
Inglaterra há a introdução do sistema de rede de esgotos transferindo as águas
servidas aos cursos d’água. Os resíduos industriais foram os primeiros a serem
incluídos na lei britânica de controle de poluição das águas (1833).
O desenvolvimento de grandes centros industriais passa a ser atração das
populações das zonas rurais, que passaram a viver em péssimas condições de
habitação e de trabalho, apresentando Índices de mortalidade e doenças que au-
mentaram consideravelmente.
A visão higienista torna-se dominante no século XIX e início do século
XX. Na França, implanta-se a “medicina urbana”, que objetivava sanear os espa-
ços das cidades, disciplinando a localização dos cemitérios e hospitais, arejando
as ruas e as construções públicas e isolando áreas “miasmáticas”.
Com o surgimento das origens da política nacional de saúde na Inglaterra
(século XVIII), uma das questões centrais era aumentar a riqueza e o poder na-
cionais, sendo reservado à indústria um dos principais meios para atingir a tão
almejada prosperidade e o trabalho um dos fatores de produção mais importante.
Por doença ou por morte, em razão da propagação de doenças por veicu-
lação hídrica, representava fortes prejuízos à economia, trazendo como conse-
quência a redução de produtividade. Ao iniciar o século XIX, métodos utilizados
para o estudo de problemas sociais da saúde eram o empirismo racional e a ob-
servação crítica e, a partir de 1820, surgindo a análise estatística.

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O renascimento da relação entre saneamento e saúde pública é verificado
nos estudos de Edwin Chadwick que fornecem a base para o desenvolvimento
das relações entre saneamento e saúde (publicação, em 1842, do relatório “The
Sanitary Conditions of the Labouring Population of Great Britain”, propondo
ações de saneamento do meio como a drenagem de áreas pantanosas).
Não cabia mais intervir apenas sobre o corpo do indivíduo, haja vista que
as doenças vinham de fora, sendo necessário agir sobre o “corpo social”. A medi-
cina se faz coletiva para combater a doença de forma mais eficaz. Não se tratava
de combater a doença já instalada no indivíduo, mas de evitá-la (o objeto da ação
médica passa a ser a prevenção).
Estudo clássico de epidemiologia, realizado por John Snow, em 1854 sobre
a transmissão da cólera, é o início de uma nova fase na análise das condições de
saúde e doença dos grupos humanos. Snow combate a teoria dos miasmas como
a única explicação para as epidemias, antecipando em uma década a formulação
da teoria dos germes por Pasteur; e a identificação do Cholera vibrio, por Koch.
Ao final do século XIX e início do século XX, com os avanços da micro-
biologia, assiste-se a um novo deslocamento na compreensão do processo saúde-
doença. No sentido de individualizar as ações preventivas e curativas, responsa-
biliza-se o doente pela contaminação, sendo instaurada a “polícia sanitária”, com
a finalidade de controlar os focos de contaminação nas cidades.
A prevenção das doenças e sua cura pela imunização por meio de cam-
panhas de vacinação trouxeram, também, um abrandamento quanto à continui-
dade consistente do saneamento do meio. Somente em meados do século XX
começam a surgir as teorias que se opunham ao modelo unicausal das doenças,
buscando na associação de vários fatores a explicação para elas.
Nos dias atuais, cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo não têm acesso à
água potável, 2 bilhões de pessoas em todo o mundo (de um total de 9,3 bilhões)

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sofrerão com a escassez de água potável até meados do século, caso persista a
“inércia dos dirigentes” em adotar políticas para preservar e recuperar os re-
cursos hídricos. Cerca de 6 mil crianças morrem diariamente devido a doenças
ligadas à água insalubre e a um saneamento e higiene deficientes. Cerca de 80%
de todas as doenças no mundo ainda se relacionam com o controle inadequado
da água.

1.2 No Brasil

A história do Saneamento no Brasil pode ser dividida em oito fases. A


primeira se dá com Estácio de Sá, 61 anos depois do início do domínio de Por-
tugal (1500), no Rio de Janeiro, quando manda escavar o primeiro poço para
abastecimento de água de uma cidade. Em 1673, no Rio de Janeiro, era dado
início às obras e, em 1723, surgiu o primeiro aqueduto transportando águas do
rio Carioca, atualmente conhecido como os Arcos da Lapa (Ilustração 1.2), em
direção ao chafariz.

ILUSTRAÇÃO 1.2 – ARCOS DA LAPA (Rio de Janeiro)

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Na cidade de São Paulo, o primeiro chafariz data de 1744 (em 1842, havia
na cidade quatro chafarizes). Em 1746, eram construídas e inauguradas linhas
adutoras para os conventos de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, e na Luz, em São
Paulo. De modo geral, pode-se afirmar que no período colonial as ações de sane-
amento eram definidas com as soluções individuais. Resumiam-se à drenagem
dos terrenos e à instalação de chafarizes, em algumas cidades.
A segunda fase ocorre em meados do século XIX e início do século XX,
quando ocorre a organização dos serviços, e as províncias entregaram as conces-
sões às companhias estrangeiras, principalmente inglesas. Entre 1857 e 1877,
o governo de São Paulo, após a assinatura de contrato com a empresa Achilles
Martin D’Éstudens, constrói o primeiro sistema de abastecimento de água en-
canada. O de Porto Alegre (RS) foi concluído em 1861, e o da cidade do Rio de
Janeiro, construído por Antônio Gabrielli, em 1876, com a invenção do Decan-
tador Dortmund é a pioneira na inauguração em nível mundial de uma Estação
de Tratamento de Água (ETA), com seis Filtros Rápidos de Pressão Ar/Água.
O início do século XX é considerado a origem da terceira fase, em que se
começa a vincular o saneamento a seus recursos. Basicamente em decorrência
da insatisfação geral da população em função da péssima qualidade dos serviços
prestados pelas empresas estrangeiras ocorre a estatização dos serviços;
A partir dos anos 1940 se inicia a comercialização dos serviços. Nesse
período, os orçamentos do saneamento são destacados do orçamento geral das
cidades. Surgem autarquias e mecanismos de financiamento para abastecimento
de água, que se apresenta como principal característica da quarta fase, com forte
influência do Serviço Especial de Saúde Pública – Sesp, que, após a 2ª Guerra
Mundial, passou a ser denominada Fundação Sesp, antecessora da Fundação
Nacional de Saúde – Funasa, com excelentes serviços prestados aos Municípios
brasileiros.

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A quinta fase está consubstanciada no período 1950 a 1960 em que são
criadas as empresas de economia mista, com destacada participação dos emprés-
timos do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, que previa o reem-
bolso dos recursos financeiros via tarifas, exigindo autonomia cada vez maior
das companhias..
Com o Regime Militar surge a sexta fase sendo, em 1971, instituído o
Plano Nacional de Saneamento (Planasa). Neste período, foram consolidados
os valores que surgiram nos anos 1950, ou seja, autonomia e autossustentação
por meio das tarifas e financiamentos baseados em recursos retornáveis. Houve
extrema concentração de decisões, com imposições das companhias estaduais
sobre os serviços municipais e uma separação radical das instituições que cuida-
vam da saúde no Brasil e as que planejam o Saneamento.
Por intermédio do Decreto-Lei 949 de 13 de outubro de 1969, o Banco
Nacional de Habitação (BNH) foi autorizado a aplicar, nas operações de finan-
ciamento para o saneamento, além de seus próprios recursos, os do Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Desde a extinção do BNH, em 1986, e a falência do Planasa, que caracte-
riza a sétima fase, o setor de saneamento viveu um “vazio institucional” enfren-
tando, até bem pouco tempo, o desafio de superá-lo. Em 1991, a Câmara Federal
inicia os debates com a tramitação do PLC 199, o qual dispõe sobre a Política
Nacional de Saneamento, seus Instrumentos e dá outras Providências.
Após 4 anos de ampla discussão com entidades que representavam os di-
ferentes segmentos da área e de sua aprovação pelas duas casas legislativas do
Congresso Nacional, o PLC 199 foi vetado integralmente sob a justificativa do
governo federal de que ele era incompatível com a Lei das Concessões, num
momento em que se discutia a participação direta da iniciativa privada na admi-
nistração dos serviços de saneamento.

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Confederação Nacional de Municípios – CNM
Essa estratégia de privatização ficou configurada no Projeto de Lei do Sena-
do No 266/1996, cuja ementa era a seguinte: “estabelece diretrizes para o exercício
do poder concedente e para o inter-relacionamento entre União, Estados, Distrito
Federal e Municípios em matéria de serviços públicos de Saneamento e dá outras
providências”. O PLS 266 buscava ainda transferir a titularidade dos serviços para
os Estados, nas regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e micro-regiões.
Outra iniciativa nesse sentido ocorreu quando o governo federal encami-
nhou, em regime de urgência constitucional, o PL 4.147/2001, que também bus-
cava tomar a titularidade dos serviços de saneamento dos Municípios e abria
caminho para a privatização do setor. Todas essas tentativas foram frustradas
pela iniciativa do movimento municipalista brasileiro que impediu a aprovação
dos projetos no Congresso Nacional e batalhou pelo arquivamento definitivo de
tais propostas.
A oitava fase da história do saneamento, no País, é marcada por intensa
luta dos Municípios pela titularidade desses serviços, incluindo longas batalhas
judiciais dos Municípios com as Companhias Estaduais, e a definição de um
marco regulatório para o setor. Assim sendo, em 5 de janeiro de 2007 foi sancio-
nada a Lei Federal no 11.445, também conhecida como a Lei Nacional do Sane-
amento Básico – LNSB, que passou a ter vigência a partir de 22 de fevereiro do
mesmo ano, considerada como fundamento mais importante para a organização
e desenvolvimento do saneamento no Brasil.

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2 Lei Nacional do
Saneamento Básico – LNSB
Lei No 11.445/2007
2.1 Conceitos

No âmbito da Lei no 11.445/2007, entende-se como planejamento o desen-


volvimento das atividades atinentes à identificação, qualificação, quantificação,
organização e orientação de todas as ações, públicas e privadas, por meio das
quais um serviço público deve ser prestado ou colocado à disposição de forma
adequada.
A regulação deve ser entendida como todo e qualquer ato, normativo ou
não, que discipline ou organize um determinado serviço público, incluindo suas
características, padrões de qualidade, impacto socioambiental, direitos e obri-
gações dos usuários e dos responsáveis por sua oferta ou prestação e fixação e
revisão do valor de tarifas e outros preços públicos.
As atividades de acompanhamento, monitoramento, controle ou avaliação,
no sentido de garantir a utilização, efetiva ou potencial, do serviço público, são
consideradas como fiscalização.
Por organização do serviço público de saneamento básico entende-se as
atividades de regulação com o objetivo de definir e articular os recursos mate-
riais, humanos e técnicos necessários à adequada prestação de serviço, atendidas
as premissas do planejamento.
Não constitui serviço público a ação de saneamento executada por meio de

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soluções individuais, desde que o usuário não dependa de terceiros para operar
os serviços, bem como as ações e os serviços de saneamento básico de responsa-
bilidade privada, incluindo o manejo de resíduos de responsabilidade do gerador.
Entende-se como prestação de serviço público de saneamento básico a ati-
vidade, acompanhada ou não de execução de obra, com objetivo de permitir aos
usuários o acesso a serviço público de saneamento básico com características e
padrões de qualidade determinados pela regulação e por contrato de concessão
ou de programa.
O conjunto de mecanismos e procedimentos que garantem à sociedade
informações, representações técnicas e participações nos processos de formu-
lação de políticas, de planejamento e de avaliação relacionados aos serviços
públicos de saneamento básico é identificado como sendo a definição de con-
trole social.
É considerado prestador de serviço público o órgão ou entidade, inclusi-
ve empresa, do titular, ao qual a lei tenha previsto a competência de prestar o
serviço público, ou ao qual o titular tenha delegado a prestação dos serviços por
meio de contrato. É enquadrada como prestação regionalizada aquela em que um
único prestador atende a dois ou mais titulares, em determinado âmbito territo-
rial, com uniformidade de fiscalização e regulação dos serviços, inclusive de sua
remuneração e com compatibilidade de planejamento.
Denomina-se gestão aliada à associação voluntária de entes federados, por
convênio de cooperação ou consórcio público, conforme disposto no art. 241 da
Constituição.
A universalização corresponde a ampliação progressiva dos serviços de
saneamento básico objetivando o acesso de todos os domicílios ocupados e dos
locais de trabalho e de convivência social em um determinado território. O ser-
viço público de saneamento básico é considerado universalizado em um territó-

22 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
rio quando assegura o atendimento, no mínimo, das necessidades básicas vitais,
sanitárias e higiênicas, de todas as pessoas, independentemente de sua condição
socioeconômica, em todos os domicílios e locais de trabalho e de convivência
social, com promoção do uso racional dos recursos naturais.
O instrumento econômico de política social, para garantir a universali-
zação do acesso ao saneamento básico, especialmente para populações e loca-
lidades de baixa renda é o que se entende por subsídios. Os subsídios podem
ser classificados como diretos (destinados a usuários determinados), indiretos
(destinados ao prestador dos serviços), internos (quando os recursos forem ar-
recadados e aplicados no âmbito territorial de determinado titular) ou cruzados
ou entre localidades (quando os recursos forem aplicados em âmbito territorial
diferente do arrecadado, nos termos de gestão associada de serviços públicos).
Caracteriza-se como projetos associados aos serviços públicos de sanea-
mento básico os desenvolvidos em caráter acessório ou correlato à prestação dos
serviços, capazes de gerar benefícios sociais, ambientais ou econômicos adicio-
nais, dentre eles:
• o fornecimento de água bruta para outros usos não sujeitos à regula-
ção do titular, comprovado o não-prejuízo aos serviços públicos de
abastecimento de água;
• o aproveitamento de água de reuso;
• o aproveitamento do lodo resultante de tratamento de água ou de
esgoto sanitário;
• o aproveitamento dos materiais integrantes dos resíduos sólidos por
meio de reuso ou reciclagem;
• o aproveitamento de energia de qualquer fonte potencial vinculada
aos serviços, inclusive do biogás resultante de tratamento de esgoto
sanitário ou de tratamento ou disposição final de resíduos sólidos.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 23


Confederação Nacional de Municípios – CNM
São identificadas como localidades de pequeno porte as vilas, aglomera-
dos rurais, povoados, núcleos, lugarejos e aldeias, assim definidos pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
A comunicação dirigida a usuário determinado, inclusive por meio de
mensagem em documento de cobrança pela prestação dos serviços é definida
como aviso. Aquela dirigida a usuários e ao regulador, inclusive por meio de vei-
culação em mídia impressa ou eletrônica é considerada como comunicação, e a
correspondência específica dirigida ao usuário de serviço de saneamento básico
com objetivo de comunicar a interrupção do abastecimento de água é intitulada
notificação.

2.2 Abrangência

A Lei Nacional de Saneamento Básico – LNSB, Lei no 11.445/2007, esta-


belece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para sua política fede-
ral. A lei em questão foi sancionada no dia 5 de janeiro de 2007 e começou a ter
vigência a partir do dia 22 de fevereiro do mesmo ano.
No âmbito de aplicação da lei, considera-se saneamento básico o conjunto
de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de:

• abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infraes-


truturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água
potável, desde a capação até as ligações prediais e respectivos ins-
trumentos de medição;
• esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infraestruturas
e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e dispo-

24 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
sição final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações pre-
diais até o seu lançamento final no meio ambiente;
• limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades,
infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, trans-
bordo, tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário
da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas;
• drenagem e manejo das águas pluviais urbanas: conjunto de ativida-
des, infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana
de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amorte-
cimento de vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas
pluviais drenadas nas áreas urbanas.
Consideram-se serviços públicos de abastecimento de água os serviços
constituídos por uma ou mais de uma das seguintes atividades:
• captação;
• adução de água bruta;
• tratamento de água;
• adução de água tratada;
• reservação;
• distribuição de água, inclusive ligação predial e medição.
São os serviços públicos de esgotamento sanitário aqueles constituídos por
uma ou mais de uma das seguintes atividades:
• coleta, inclusive ligação predial;
• transporte;
• tratamento;
• disposição final de esgotos sanitários, inclusive dos lodos originários
da operação de unidades de tratamento e de fossas sépticas.
São definidos, segundo a lei, os serviços públicos de manejo de resíduos

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 25


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sólidos a coleta e transbordo o transporte, a triagem para fins de reutilização ou
reciclagem, o tratamento, inclusive por compostagem e a disposição final dos
resíduos domésticos e dos originários:
• de outras atividades com características de quantidade e qualidade
similares aos resíduos domésticos;
• da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas;
• de outras atividades que venham a ser consideradas resíduos sólidos
urbanos por normas do titular.
Consideram-se também serviços de manejo de resíduos sólidos:
• Os serviços de varrição, capina, roçada, poda e atividades correlatas
em vias e logradouros públicos;
• Outros serviços constituídos por atividades pertinentes à limpeza pú-
blica urbana, dentre eles:
a) o asseio de túneis, escadarias, monumentos, abrigos e sanitários
públicos;
b) a raspagem e a remoção de terra, areia e quaisquer materiais de-
positados pelas águas pluviais em logradouros públicos;
c) a desobstrução e limpeza de bueiros, bocas-de-lobo e correlatos;
d) a limpeza de logradouros públicos onde se realizem feiras públi-
cas e outros eventos de acesso aberto ao público.
De acordo com os termos de norma legal de regulação, os resíduos origi-
nários de determinadas atividades comerciais, industriais e de serviços podem
ser considerados resíduos sólidos urbanos.
Os serviços públicos de manejo das águas pluviais urbanas são os consti-
tuídos por uma ou mais de uma das seguintes atividades:
• drenagem urbana;
• transporte;

26 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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• detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias; e
• tratamento e disposição final.

2.3 Princípios

Nos termos da lei vigente os serviços públicos de saneamento básico pos-


suem natureza essencial e devem ser prestados com base nos seguintes princí-
pios fundamentais:
• universalização do acesso;
• integralidade, compreendida como o conjunto de todas as ativida-
des e componentes de cada um dos diversos serviços de saneamento
básico, propiciando à população o acesso na conformidade de suas
necessidades e maximizando a eficácia das ações e dos resultados;
• abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e
manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde
pública e à proteção do meio ambiente;
• disponibilidade, em todas as áreas urbanas, de serviços de drenagem
e de manejo das águas pluviais adequados à saúde pública e à segu-
rança da vida e do patrimônio público e privado;

• adoção de métodos, técnicas e processos que considerem as peculia-


ridades locais e regionais;
• articulação com as políticas de desenvolvimento urbano e regional,
de habitação, de combate à pobreza e de sua erradicação, de prote-
ção ambiental, de promoção da saúde e outras de relevante interesse
social voltadas para a melhoria da qualidade de vida, para as quais o

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 27


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saneamento básico seja fator determinante;
• eficiência e sustentabilidade econômica;
• utilização de tecnologias apropriadas, considerando a capacidade de
pagamento dos usuários e a adoção de soluções graduais e progres-
sivas;
• transparência das ações, baseada em sistemas de informações e pro-
cessos decisórios institucionalizados;
• controle social;
• segurança, qualidade e regularidade;
• integração das infraestruturas e serviços com a gestão eficiente dos
recursos hídricos.

2.4 Exercício da Titularidade

Todos os Municípios que não estão inseridos em regiões metropolitanas


são os legítimos titulares dos serviços de saneamento. A definição da titularidade
dos Municípios pertencentes às regiões metropolitanas depende de decisão do
Supremo Tribunal Federal que analisa duas ADIN (Ação Direta de Inconstitu-
cionalidade).
Segundo a lei vigente, os contratos e os convênios firmados até a data de re-
ferência 13/2/1995 e com vencimento após 31/12/2008 NÃO podem ser PROR-
ROGADOS e aqueles cujo vencimento esteja compreendido entre 22/2/2007 e
31/12/2008 PODEM ser PRORROGADOS até 30/6/2009.
Os casos de inexistência de contratos ou convênios, de instrumentos por
prazo indeterminado ou nulo, bem como com prazo de vigência expirado antes
de 22/2/2007 e outras formas de prestação precária a prestação de serviços na

28 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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situação atual é permitida até 31/12/2010.
Os contratos de concessão firmados entre 14/2/1995 e 06/4/2005
e os contratos de programa assinados a partir de 7/4/2005 deverão obe-
decer às datas de vencimento estipuladas nos respectivos instrumen-
tos, e a prorrogação da vigência depende do atendimento dos requisitos
do art. 11, caput e incisos, da Lei no 11.445/2007.
O artigo 9o, da LNSB, estabelece que o titular dos serviços deva formular
a respectiva política pública de saneamento básico, devendo, para tanto:
• elaborar os planos de saneamento básico, nos termos da Lei;
• prestar diretamente ou autorizar a delegação dos serviços e definir
o ente responsável pela sua regulação e fiscalização, bem como os
procedimentos de sua atuação;
• adotar parâmetros para a garantia do atendimento essencial à saúde
pública, inclusive quanto ao volume mínimo per capita de água para
abastecimento público observado as normas nacionais relativas à po-
tabilidade da água;
• fixar os direitos e os deveres dos usuários;
• estabelecer mecanismos de controle social;
• estabelecer sistema de informações sobre os serviços, articulado
com o Sistema Nacional de Informações em Saneamento;
• intervir e retomar a operação dos serviços delegados, por indicação
da entidade reguladora, nos casos e condições previstos em lei e nos
documentos contratuais.
É de fundamental importância que o Gestor Público atente para a impor-
tância do artigo 9o da Lei no 11.445/2007, que estabelece a responsabilidade pela
formulação da política de saneamento ao seu titular, portanto, tal responsabili-
dade é indelegável.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 29


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Durante a vigência do Plano Nacional de Saneamento – Planasa, criado
no início da década de 1970, o BNH centralizava e geria os recursos do Sistema
Financeiro do Saneamento – SFS, elaborava suas normas, coordenava sua ope-
ração, aprovava os programas estaduais de investimentos, analisava os estudos
de viabilidade técnica, estudos tarifários e fiscalizava as Companhias Estaduais
de Saneamento.
Entendia-se como saneamento básico, os sistemas de abastecimento de
água e esgotos sanitários. As Companhias Estaduais foram criadas para viabili-
zar as obras de saneamento nos grandes centros urbanos, principalmente, as ca-
pitais brasileiras, em função do vertiginoso crescimento populacional em torno
desses aglomerados urbanos. Cerca de 80% da população já vivia nas cidades.
No modelo de gestão então vigente, os Municípios onde os gestores muni-
cipais se mostravam incompetentes para gerir o setor de saneamento concediam
os serviços às Companhias Estaduais. Como os Municípios de pequeno e médio
porte apresentavam características de boa operação (custos operacionais reduzi-
dos) e exigiam baixos investimentos passaram a ser verdadeiros sustentáculos
das recém-criadas Companhias. Nesse período os Municípios, além de perderem
a administração de seus sistemas de saneamento, eram obrigados a custear algu-
mas obras de expansão, que não interessavam às Estaduais.
Com a falência do Planasa, que não conseguiu cumprir os seus objetivos,
e a extinção do BNH, em meados dos anos 1980, criou-se um vazio institucional
ocupado pelas Companhias Estaduais que passaram a planejar, regular e operar
os sistemas de saneamento trazendo, como consequência, algumas disputas judi-
ciais de grande proporção, entre as prefeituras e as Companhias Estaduais.
Essa situação está bem definida no artigo 10 que estabelece

30 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
A prestação de serviços públicos de saneamento básico por en-
tidade que não integre a administração do titular depende da
celebração de contrato, sendo vedada a sua disciplina mediante
convênios, termos de parceria ou outros instrumentos de natureza
precária.

De acordo com o artigo 11, os contratos que tenham por objeto a prestação
de serviços públicos de saneamento básico são válidos desde que se comprove:
• a existência de plano de saneamento básico;
• a existência de estudo comprovando a viabilidade técnica e econô-
mico-financeira da prestação universal e integral dos serviços, nos
termos do respectivo plano de saneamento básico;
• a existência de normas de regulação que prevejam os meios para o
cumprimento das diretrizes da Lei no 11.445/2007, incluindo a desig-
nação da entidade de regulação e de fiscalização;
• a realização prévia de audiência e de consulta pública sobre o edital
de licitação, no caso de concessão e sobre a minuta do contrato.
Ademais, os planos de investimentos e os projetos relativos ao contrato
deverão ser compatíveis com o respectivo plano de saneamento básico e nos
casos de serviços prestados, mediante contratos de concessão ou de programa,
deverão prever:
• a autorização para a contratação dos serviços, indicando os respecti-
vos prazos e a área a ser atendida;
• a inclusão, no contrato, das metas progressivas e graduais de expan-
são dos serviços, de qualidade, de eficiência e de uso racional da
água, da energia e de outros recursos naturais, em conformidade com
os serviços a serem prestados;
• as prioridades de ação, compatíveis com as metas estabelecidas;

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 31


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• as condições de sustentabilidade e equilíbrio econômico-financeiro
da prestação dos serviços, em regime de eficiência, incluindo:
• o sistema de cobrança e a composição de taxas e tarifas;
• a sistemática de reajustes e de revisões de taxas e tarifas;
• a política de subsídios;
• mecanismos de controle social nas atividades de planejamento, re-
gulação e fiscalização dos serviços;
• as hipóteses de intervenção e de retomada dos serviços.
O parágrafo 3o do artigo 11 define que

Os contratos não poderão conter cláusulas que prejudiquem as ati-


vidades de regulação e de fiscalização ou o acesso às informações
sobre os serviços contratados.

Nos serviços públicos de saneamento básico em que mais de um presta-


dor execute atividade interdependente com outra, a relação entre elas deverá
ser regulada por contrato e haverá entidade única encarregada das funções de
regulação e de fiscalização.
A entidade de regulação definirá, pelo menos:
• as normas técnicas relativas à qualidade, à quantidade e à regulari-
dade dos serviços prestados aos usuários e entre os diferentes pres-
tadores envolvidos;
• as normas econômicas e financeiras relativas às tarifas, aos subsídios
e aos pagamentos por serviços prestados aos usuários e entre os di-
ferentes prestadores envolvidos;
• a garantia de pagamento de serviços prestados entre os diferentes
prestadores dos serviços;
• os mecanismos de pagamento de diferenças relativas a inadimple-

32 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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mento dos usuários, perdas comerciais e físicas e outros créditos de-
vidos, quando for o caso;
• o sistema contábil específico para os prestadores que atuem em mais
de um Município.
O contrato a ser celebrado entre os prestadores de serviços deverá conter
cláusulas que estabeleçam pelo menos:
• as atividades ou insumos contratados;
• as condições e as garantias recíprocas de fornecimento e de aces-
so às atividades ou insumos;
• o prazo de vigência, compatível com as necessidades de amorti-
zação de investimentos, e as hipóteses de sua prorrogação;
• os procedimentos para a implantação, ampliação, melhoria e ges-
tão operacional das atividades;
• as regras para a fixação, o reajuste e a revisão das taxas, tarifas e
outros preços públicos aplicáveis ao contrato;
• as condições e as garantias de pagamento;
• os direitos e deveres sub-rogados ou os que autorizam a sub-ro-
gação;
• as hipóteses de extinção, inadmitida a alteração e a rescisão
administrativas unilaterais;
• as penalidades a que estão sujeitas as partes em caso de inadim-
plemento;
• a designação do órgão ou entidade responsável pela regulação e
fiscalização das atividades ou insumos contratados.
No artigo 13 tem-se:

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 33


Confederação Nacional de Municípios – CNM
Os entes da Federação, isoladamente ou reunidos em consórcios
públicos, poderão instituir fundos, aos quais poderão ser destina-
das, entre outros recursos, parcelas das receitas dos serviços, com a
finalidade de custear, na conformidade do disposto nos respectivos
planos de saneamento básico, a universalização dos serviços públi-
cos de saneamento básico.

No parágrafo único acrescenta-se:

 Os recursos dos fundos a que se refere o caput deste artigo pode-
rão ser utilizados como fontes ou garantias em operações de crédito
para financiamento dos investimentos necessários à universalização
dos serviços públicos de saneamento básico.

A prestação de serviços públicos de saneamento básico observará plano,


que poderá ser específico para cada serviço, o qual abrangerá, no mínimo:
• diagnóstico da situação e de seus impactos nas condições de vida,
utilizando sistema de indicadores sanitários, epidemiológicos, am-
bientais e socioeconômicos e apontando as causas das deficiências
detectadas;
• objetivos e metas de curto, médio e longo prazos para a universa-
lização, admitidas soluções graduais e progressivas, observando a
compatibilidade com os demais planos setoriais;
• programas, projetos e ações necessárias para atingir os objetivos e
as metas, de modo compatível com os respectivos planos plurianuais
e com outros planos governamentais correlatos, identificando possí-
veis fontes de financiamento;
• ações para emergências e contingências;
• mecanismos e procedimentos para a avaliação sistemática da

34 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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eficiência e eficácia das ações programadas.
Acrescente-se o seguinte:
• os planos de saneamento básico deverão ser editados pelos titulares,
podendo ser elaborados com base em estudos fornecidos pelos pres-
tadores de cada serviço;
• a consolidação e a compatibilização dos planos específicos de cada
serviço serão efetuadas pelos respectivos titulares;
• os planos de saneamento básico deverão ser compatíveis com os pla-
nos das bacias hidrográficas em que estiverem inseridos;
• os planos de saneamento básico serão revistos periodicamente, em
prazo não superior a 4 (quatro) anos, anteriormente à elaboração do
Plano Plurianual;
• será assegurada ampla divulgação das propostas dos planos de sane-
amento básico e dos estudos que as fundamentem, inclusive com a
realização de audiências ou consultas públicas;
• a delegação de serviço de saneamento básico não dispensa o cumpri-
mento pelo prestador do respectivo plano de saneamento básico em
vigor à época da delegação;
• quando envolverem serviços regionalizados, os planos de saneamen-
to básico devem ser editados em conformidade com o estabelecido
no art. 14 da Lei em questão;
• exceto quando regional, o plano de saneamento básico deverá englo-
bar integralmente o território do ente da Federação que o elaborou.
• incumbe à entidade reguladora e fiscalizadora dos serviços a verifi-
cação do cumprimento dos planos de saneamento por parte dos pres-
tadores de serviços, na forma das disposições legais, regulamentares
e contratuais.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 35


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2.5 Regulação

O exercício da função de regulação deverá atender o seguinte:


• independência decisória, incluindo autonomia administrativa, orça-
mentária e financeira da entidade reguladora;
• transparência, tecnicidade, celeridade e objetividade das decisões.
São objetivos da regulação:
• estabelecer padrões e normas para a adequada prestação dos serviços
e para a satisfação dos usuários;
• garantir o cumprimento das condições e metas estabelecidas;
• prevenir e reprimir o abuso do poder econômico, ressalvada a com-
petência dos órgãos integrantes do sistema nacional de defesa da
concorrência;
• definir tarifas que assegurem tanto o equilíbrio econômico e finan-
ceiro dos contratos como a modicidade tarifária, mediante mecanis-
mos que induzam a eficiência e a eficácia dos serviços e que permi-
tam a apropriação social dos ganhos de produtividade.
A entidade reguladora editará normas relativas às dimensões técnica, eco-
nômica e social de prestação dos serviços, que abrangerão, pelo menos, os se-
guintes aspectos:
• padrões e indicadores de qualidade da prestação dos serviços;
• requisitos operacionais e de manutenção dos sistemas;
• as metas progressivas de expansão e de qualidade dos serviços e os
respectivos prazos;
• regime, estrutura e níveis tarifários, bem como os procedimentos e
prazos de sua fixação, reajuste e revisão;
• medição, faturamento e cobrança de serviços;

36 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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• monitoramento dos custos;
• avaliação da eficiência e eficácia dos serviços prestados;
• plano de contas e mecanismos de informação, auditoria e certifica-
ção;
• subsídios tarifários e não tarifários;
• padrões de atendimento ao público e mecanismos de participação e
informação;
• medidas de contingências e de emergências, inclusive racionamento;
Complementarmente é importante observar o seguinte:
• a regulação de serviços públicos de saneamento básico poderá ser
delegada pelos titulares a qualquer entidade reguladora constituída
dentro dos limites do respectivo Estado, explicitando, no ato de de-
legação da regulação, a forma de atuação e a abrangência das ativi-
dades a serem desempenhadas pelas partes envolvidas;
• as normas de regulação deverão fixar prazo para os prestadores de
serviços comunicarem aos usuários as providências adotadas em
face de queixas ou de reclamações relativas aos serviços;
• as entidades fiscalizadoras deverão receber e se manifestar conclu-
sivamente sobre as reclamações que, a juízo do interessado, não te-
nham sido suficientemente atendidas pelos prestadores dos serviços;
• em caso de gestão associada ou prestação regionalizada dos serviços,
os titulares poderão adotar os mesmos critérios econômicos, sociais
e técnicos da regulação em toda a área de abrangência da associação
ou da prestação;
• os prestadores de serviços públicos de saneamento básico deverão
fornecer à entidade reguladora todos os dados e informações neces-
sárias para o desempenho de suas atividades, na forma das normas

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 37


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legais, regulamentares e contratuais;
• compreendem-se nas atividades de regulação dos serviços de sanea-
mento básico a interpretação e a fixação de critérios para a fiel exe-
cução dos contratos, dos serviços e para a correta administração de
subsídios;
• deverá ser assegurada publicidade aos relatórios, estudos, decisões
e instrumentos equivalentes que se refiram à regulação ou à fiscali-
zação dos serviços, bem como aos direitos e deveres dos usuários e
prestadores, a eles podendo ter acesso qualquer do povo, indepen-
dentemente da existência de interesse direto.
No artigo 27 assegura-se:

aos usuários de serviços públicos de saneamento básico, na forma


das normas legais, regulamentares e contratuais:
I – Amplo acesso a informações sobre os serviços prestados;
II – Prévio conhecimento dos seus direitos e deveres e das penali-
dades a que podem estar sujeitos;
III – Acesso a manual de prestação do serviço e de atendimento
ao usuário, elaborado pelo prestador e aprovado pela respectiva
entidade de regulação;
IV – Acesso a relatório periódico sobre a qualidade da prestação
dos serviços.

2.6 Aspectos econômicos e sociais

Sob o ponto de vista dos aspectos econômicos e sociais, os serviços pú-


blicos de saneamento básico deverão ter sustentabilidade econômico-financeira
assegurada, sempre que possível, mediante remuneração pela cobrança dos ser-

38 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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viços, preferencialmente na forma de tarifas e outros preços públicos para abas-
tecimento de água e esgotamento sanitário.
Para os serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos, a
sustentabilidade deve ser garantida por taxas ou tarifas e outros preços públicos,
em conformidade com o regime de prestação do serviço ou de suas atividades.
Para o manejo de águas pluviais urbanas: na forma de tributos, inclusive taxas,
em conformidade com o regime de prestação do serviço ou de suas atividades.
A instituição de tarifas, preços públicos e taxas para os serviços de sanea-
mento básico observará as seguintes diretrizes:
• prioridade para atendimento das funções essenciais relacionadas à
saúde pública;
• ampliação do acesso dos cidadãos e localidades de baixa renda aos
serviços;
• geração dos recursos necessários para realização dos investimentos,
objetivando o cumprimento das metas e objetivos do serviço;
• inibição do consumo supérfluo e do desperdício de recursos;
• recuperação dos custos incorridos na prestação do serviço, em regi-
me de eficiência;
• remuneração adequada do capital investido pelos prestadores dos
serviços;
• estímulo ao uso de tecnologias modernas e eficientes, compatíveis
com os níveis exigidos de qualidade, continuidade e segurança na
prestação dos serviços;
• incentivo à eficiência dos prestadores dos serviços.
Os reajustes de tarifas de serviços públicos de saneamento básico estão
previstos no artigo 37, em que se determina que sejam realizados no interva-
lo mínimo de 12 meses. As revisões tarifárias (artigo 38) compreenderão a

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 39


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reavaliação das condições da prestação dos serviços e das tarifas praticadas e
poderão ser:
• periódicas, objetivando a distribuição dos ganhos de produtividade
com os usuários e a reavaliação das condições de mercado;
• extraordinárias, quando se verificar a ocorrência de fatos não pre-
vistos no contrato, fora do controle do prestador dos serviços, que
alterem o seu equilíbrio econômico-financeiro.
As taxas ou tarifas decorrentes da prestação de serviço público de limpeza
urbana e de manejo de resíduos sólidos urbanos devem levar em conta a adequa-
da destinação dos resíduos coletados e poderão considerar:
• o nível de renda da população da área atendida;
• as características dos lotes urbanos e as áreas que podem ser neles
edificadas;
• o peso ou o volume médio coletado por habitante ou por domicílio.
A cobrança pela prestação do serviço público de drenagem e manejo de
águas pluviais urbanas deve levar em conta, em cada lote urbano, os porcentuais
de impermeabilização e a existência de dispositivos de amortecimento ou de
retenção de água de chuva, bem como poderá considerar:
• o nível de renda da população da área atendida;
• as características dos lotes urbanos e as áreas que podem ser neles
edificadas.
Os serviços poderão ser interrompidos pelo prestador nas seguintes
hipóteses:
• situações de emergência que atinjam a segurança de pessoas e bens;
• necessidade de efetuar reparos, modificações ou melhorias de qual-
quer natureza nos sistemas;
• negativa do usuário em permitir a instalação de dispositivo de leitura

40 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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de água consumida, após ter sido previamente notificado a respeito;
• manipulação indevida de qualquer tubulação, medidor ou outra ins-
talação do prestador, por parte do usuário; e
• inadimplemento do usuário do serviço de abastecimento de água, do
pagamento das tarifas, após ter sido formalmente notificado.
A suspensão dos serviços, prevista na Lei no 11.445/2007, deverá ser pre-
cedida de prévio aviso ao usuário, não inferior a 30 (trinta) dias da data pre-
vista para a suspensão. A interrupção ou a restrição do fornecimento de água
por inadimplência a estabelecimentos de saúde, a instituições educacionais e de
internação coletiva de pessoas e a usuário residencial de baixa renda beneficiário
de tarifa social deverá obedecer a prazos e critérios que preservem condições
mínimas de manutenção da saúde das pessoas atingidas.

2.7 Aspectos técnicos

A prestação dos serviços atenderá a requisitos mínimos de qualidade, in-


cluindo a regularidade, a continuidade e aqueles relativos aos produtos ofereci-
dos, ao atendimento dos usuários e às condições operacionais e de manutenção
dos sistemas, de acordo com as normas regulamentares e contratuais.
Ressalvadas as disposições em contrário, das normas do titular, da enti-
dade de regulação e de meio ambiente, toda edificação permanente urbana será
conectada às redes públicas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário
disponíveis e sujeitando o usuário ao pagamento das tarifas e de outros preços
públicos decorrentes da conexão e do uso desses serviços.
Na ausência de redes públicas de saneamento básico, serão admitidas so-
luções individuais de abastecimento de água e de afastamento e destinação final

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 41


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dos esgotos sanitários, observadas as normas editadas pela entidade reguladora
e pelos órgãos responsáveis pelas políticas ambiental, sanitária e de recursos
hídricos. A instalação hidráulica predial ligada à rede pública de abastecimento
de água não poderá ser também alimentada por outras fontes, conforme estabe-
lecido no § 2o do artigo 45 da Lei no 11.445/2007.

2.8 Controle social

O controle social dos serviços públicos de saneamento básico poderá in-


cluir a participação de órgãos colegiados de caráter consultivo, estaduais, do
Distrito Federal e municipais, assegurada a representação:
• dos titulares dos serviços;
• de órgãos governamentais relacionados ao setor de saneamento bá-
sico;
• dos prestadores de serviços públicos de saneamento básico;
• dos usuários de serviços de saneamento básico;
• de entidades técnicas, organizações da sociedade civil e de defesa do
consumidor relacionadas ao setor de saneamento básico.

2.9 Política Federal de Saneamento Básico – Plansab

O Plano Nacional de Saneamento – Plansab é um instrumento fundamental


de implementação da Política Federal de Saneamento Básico expressa nas dire-
trizes e nos instrumentos da Lei 11.445/2007, que considera aspectos relevantes
da transversalidade e interdependência com as questões relativas ao desenvolvi-

42 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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mento urbano e, também, com as política públicas de saúde, recursos hídricos,
mobilidade e transporte urbano, habitação e meio ambiente para a melhoria da
salubridade ambiental e da qualidade de vida.
O artigo 48 indica as diretrizes dessa política em torno dos seguintes pontos:
• prioridade para as ações que promovam a equidade social e territo-
rial no acesso ao saneamento básico;
• aplicação dos recursos financeiros por ela administrados de modo que
promovaa o desenvolvimento sustentável, a eficiência e a eficácia;
• estímulo ao estabelecimento de adequada regulação dos serviços;
• utilização de indicadores epidemiológicos e de desenvolvimento so-
cial no planejamento, implementação e avaliação das suas ações de
saneamento básico;
• melhoria da qualidade de vida e das condições ambientais e de saúde
pública;
• colaboração para o desenvolvimento urbano e regional;
• garantia de meios adequados para o atendimento da população ru-
ral dispersa, inclusive mediante a utilização de soluções compatíveis
com suas características econômicas e sociais peculiares;
• fomento ao desenvolvimento científico e tecnológico, à adoção de
tecnologias apropriadas e à difusão dos conhecimentos gerados;
• adoção de critérios objetivos de elegibilidade e prioridade, levan-
do em consideração fatores como nível de renda e cobertura, grau
de urbanização, concentração populacional, disponibilidade hídrica,
riscos sanitários, epidemiológicos e ambientais;
• adoção da bacia hidrográfica como unidade de referência para o pla-
nejamento de suas ações;

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 43


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• estímulo à implementação de infraestruturas e serviços comuns a
Municípios, mediante mecanismos de cooperação entre entes fede-
rados.
O artigo 49 define os objetivos da Política Federal de Saneamento Básico
relacionados aos seguintes aspectos:
• contribuir para o desenvolvimento nacional, a redução das desigual-
dades regionais, a geração de emprego e de renda e a inclusão social;
• priorizar planos, programas e projetos que visem à implantação e
ampliação dos serviços e ações de saneamento básico nas áreas ocu-
padas por populações de baixa renda;
• proporcionar condições adequadas de salubridade ambiental aos po-
vos indígenas e outras populações tradicionais, com soluções com-
patíveis com suas características socioculturais;
• oferecer condições adequadas de salubridade ambiental às popula-
ções rurais e de pequenos núcleos urbanos isolados;
• assegurar que a aplicação dos recursos financeiros administrados
pelo Poder Público segundo critérios de promoção da salubridade
ambiental, de maximização da relação benefício-custo e de maior
retorno social;
• incentivar adoção de mecanismos de planejamento, regulação e fis-
calização da prestação dos serviços de saneamento básico;
• promover alternativas de gestão que viabilizem a autossustentação
econômica e financeira dos serviços de saneamento básico, com ên-
fase na cooperação federativa;
• promover o desenvolvimento institucional do saneamento básico,
estabelecendo meios para a unidade e articulação das ações dos dife-
rentes agentes, bem como do desenvolvimento de sua organização,

44 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
capacidade técnica, gerencial, financeira e de recursos humanos,
contempladas as especificidades locais;
• fomentar o desenvolvimento científico e tecnológico, a adoção de
tecnologias apropriadas e a difusão dos conhecimentos gerados de
interesse para o saneamento básico;
• minimizar os impactos ambientais relacionados à implantação e de-
senvolvimento das ações, obras e serviços de saneamento básico e
assegurar que sejam executadas de acordo com as normas relativas
à proteção do meio ambiente, ao uso e ocupação do solo e à saúde.

A alocação de recursos públicos federais e os financiamentos com re-


cursos da União ou com recursos geridos ou operados por órgãos ou entida-
des da União serão feitos em conformidade com as diretrizes e os objetivos
estabelecidos nos arts. 48 e 49 da Lei Nacional de Saneamento Básico e com
os planos de saneamento básico e condicionados:

• ao alcance de índices mínimos de desempenho do prestador na ges-


tão técnica, econômica e financeira dos serviços, bem como, na efi-
ciência e eficácia dos serviços, ao longo da vida útil do empreendi-
mento;
• à adequada operação e manutenção dos empreendimentos anterior-
mente financiados.
• O artigo 52 define o conteúdo, a abrangência e os objetivos do Plan-
sab, que deverá conter:
• os objetivos e as metas nacionais e regionalizadas, de curto, médio e
longo prazos, para a universalização dos serviços de saneamento bá-
sico e o alcance de níveis crescentes de saneamento básico no terri-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 45


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tório nacional, observando a compatibilidade com os demais planos
e políticas públicas da União;
• as diretrizes e as orientações para o equacionamento dos condicio-
nantes de natureza políticoinstitucional, legal e jurídica, econômico-
financeira, administrativa, cultural e tecnológica com impacto na
consecução das metas e objetivos estabelecidos;
• a proposição de programas, projetos e ações necessários para atingir
os objetivos e as metas da Política Federal de Saneamento Básico,
com identificação das respectivas fontes de financiamento;
• as diretrizes para o planejamento das ações de saneamento básico em
áreas de especial interesse turístico;
• os procedimentos para a avaliação sistemática da eficiência e eficá-
cia das ações executadas.

Os planos devem ser elaborados com horizonte de 20 (vinte) anos, avalia-


dos anualmente e revisados a cada 4 (quatro) anos, preferencialmente em perío-
dos coincidentes com os de vigência dos planos plurianuais.
O artigo 53 institui o Sistema Nacional de Informações em Saneamento
Básico – Sinisa, com os seguintes objetivos:
• coletar e sistematizar dados relativos às condições da prestação dos
serviços públicos de saneamento básico;
• disponibilizar estatísticas, indicadores e outras informações relevan-
tes para a caracterização da demanda e da oferta de serviços públicos
de saneamento básico;
• permitir e facilitar o monitoramento e a avaliação da eficiência e da
eficácia da prestação dos serviços de saneamento básico.

46 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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3 Formulação da Política
Pública de Saneamento
Básico
3.1 Plano Municipal de Saneamento Básico

De acordo com o artigo 9o, da Lei no 11.445/2007 cabe exclusivamente


ao titular a formulação da política pública de saneamento básico, devendo, para
tanto:
• elaborar os planos de saneamento básico, nos termos da Lei;
• prestar diretamente ou autorizar a delegação dos serviços e definir
o ente responsável pela sua regulação e fiscalização, bem como os
procedimentos de sua atuação;
• adotar parâmetros para a garantia do atendimento essencial à saúde
pública, inclusive quanto ao volume mínimo per capita de água para
abastecimento público observado as normas nacionais relativas à po-
tabilidade da água;
• fixar os direitos e os deveres dos usuários;
• estabelecer mecanismos de controle social;
• estabelecer sistema de informações sobre os serviços, articulado
com o Sistema Nacional de Informações em Saneamento;
• intervir e retomar a operação dos serviços delegados, por indicação
da entidade reguladora, nos casos e condições previstos em lei e nos
documentos contratuais.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 47


Confederação Nacional de Municípios – CNM
No artigo 19 a LNSB estabelece que o plano de saneamento possa ser es-
pecífico para cada serviço, abrangendo, no mínimo, o seguinte:
• diagnóstico da situação e de seus impactos nas condições de vida,
utilizando sistema de indicadores sanitários, epidemiológicos, am-
bientais e socioeconômicos e apontando as causas das deficiências
detectadas;
• objetivos e metas de curto, médio e longo prazo para a universa-
lização, admitidas soluções graduais e progressivas, observando a
compatibilidade com os demais planos setoriais;
• programas, projetos e ações necessárias para atin-
gir os objetivos e as metas, de modo compatível com
os respectivos planos plurianuais e com outros planos
governamentais correlatos, identificando possíveis fontes de finan-
ciamento;
• ações para emergências e contingências;
• mecanismos e procedimentos para a avaliação sistemática da efici-
ência e eficácia das ações programadas.
Em função dos artigos citados conclui-se que a formulação da política
pública de saneamento básico é de extrema importância não sendo concebível
a elaboração do plano de saneamento nos moldes de um projeto. Portanto, dada
a configuração complexa dos planos não basta ao Município a contratação de
empresas de consultoria de engenharia. Essas empresas podem e devem ser con-
tratadas apenas para elaboração de estudos específicos como apoio na facilitação
das tomadas de decisão.

48 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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3.2 Diferença entre plano e projeto

Embora no Brasil tenham sido desenvolvidas várias experiências em pla-


nejamento de ações para saneamento, vale lembrar que o descaso com o plane-
jamento nas últimas décadas não pode ser entendido com regra, mas como uma
exceção a qual mostra o esvaziamento das atividades do saneamento.
A prática do planejamento é pouco difundida, com muito caminho a trilhar
para que se torne rotina. Nos últimos 30 anos tem sido comum a ideia de elabo-
ração de projetos o que caracteriza o descompasso na compreensão do sentido do
planejamento, cuja palavra nem sempre tem sido empregada da melhor forma.
Existe grande proximidade entre os conceitos de plano e projeto com am-
bos abordando a ideia de apontar para o futuro; entretanto, uma das acepções
para projeto está vinculada à arquitetura, que tem o significado de plano geral de
uma edificação, mais no sentido de detalhe. Nesse contexto, costuma-se empre-
gar o termo plano pensando no projeto com os seus detalhes.
Outra confusão rotineira surge quando se aborda a questão dos pontos di-
nâmicos envolvidos no planejamento. O cenário ideal para o planejamento é
aquele em que a situação atual está totalmente equacionada havendo preocupa-
ção, apenas, em encontrar respostas para as necessidades e demandas do futuro.
Assim sendo, o planejamento deve abordar não só a dinâmica de ocupação futu-
ra, como também contemplar o atendimento às necessidades atuais.
A velocidade e as características do processo de urbanização no Brasil tem
representado um desafio constante na implementação da infraestrutura sanitária,
sendo reduzidas as experiências acumuladas, no sentido de se utilizar ativamente
a oferta adequada e estratégica dos sistemas de saneamento.
A tarefa de desenvolvimento de um plano municipal de saneamento esbar-
ra em obstáculos importantes, intrínsecos da própria natureza do planejamento,

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 49


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que tem como objetivo o cenário de longo prazo e a necessidade de sua reava-
liação ao longo do tempo, com o seu redirecionamento. A visão de longo prazo
extrapola o período de uma gestão, tornando importante que essa questão seja
incorporada por toda a sociedade.

3.3 Níveis de participação

As formas de participação da sociedade são múltiplas e a sua definição é


revestida de grande importância, oferecendo legitimidade ao processo. O objeti-
vo da participação cidadã é conseguir o envolvimento da comunidade na tomada
de decisões que vão estabelecer a configuração dos serviços de saneamento do
Município.
A experiência tem demonstrado que os resultados são excelentes nos Mu-
nicípios onde a participação da sociedade tem ocorrido efetivamente, na elabo-
ração dos planos municipais de saneamento, mas é importante alertar que a par-
ticipação da sociedade não deve ocorrer de modo descontrolado, que conduza a
uma série de frustrações desnecessárias. Para tanto, sugere-se três modos básicos
de participação, indicadas a seguir.
• direta por meio de apresentações, debates, pesquisas e qualquer
meio que seja utilizado para expressar as opiniões individuais ou
coletivas;
• em fases determinadas por meio de sugestões ou alegações, apresen-
tadas de forma escrita;
• por intermédio de grupos de trabalho.
A capacidade municipal para a elaboração do plano de saneamen-
to será tanto maior quanto mais o Município estiver articulado com os

50 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
demais Municípios da microrregião e iniciar o seu processo de plane-
jamento a partir da sua vocação regional e da divisão de papéis, entre
outros pontos.
Essa articulação, não só potencializa a solução de problemas comuns e
qualifica os resultados, como permite a otimização dos recursos no processo
de elaboração do plano. O ordenamento jurídico brasileiro, atualmente, permite
aos Municípios, principalmente aqueles de pequeno e médio porte determinadas
soluções que viabilizam a administração e operação dos serviços de saneamento
de forma econômica e eficiente.
O planejamento fundamentado na participação ampla da sociedade garan-
te a legitimidade do processo, garantindo ao gestor municipal a tranquilidade
para administração do setor, mas exige alguns cuidados para obtenção de pleno
sucesso, tais como:
• visão renovadora do Poder Público para o compartilhamento do po-
der com os diferentes segmentos sociais;
• nova organização da administração pública, com eficiência, transpa-
rência e flexibilidade de procedimentos;
• instituição dos canais de participação, com a implementação de pro-
cessos contínuos, integrados e descentralizados;
• estabelecimento de regras claras para a participação em todo o pro-
cesso, com fóruns consultivos e deliberativos, canais permanentes e
temporários, momentos de abertura e discussão, bem como os mo-
mentos de sistematização;
• firmeza e transparência do Grupo de Trabalho, de tal sorte a assegurar
que todos tenham direito à voz, como condição de credibilidade para
evolução do processo, garantindo o afloramento dos interesses diver-
gentes, explicitando os conflitos, construindo-se a partir daí o pacto;

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 51


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• produção de informações da realidade urbana, em linguagem simples
e transparente, permitindo a democratização ao acesso à informação.
O planejamento dos serviços de saneamento tem por finalidade a valori-
zação, a proteção e a gestão equilibrada dos recursos ambientais, assegurando
a sua harmonização com o desenvolvimento local e setorial por meio da eco-
nomia do seu emprego e racionalização dos seus usos. Assim sendo, um Plano
de Saneamento deve procurar atender a princípios básicos, os quais deverão ser
discutidos e acordados com a sociedade.
Alguns princípios fundamentais são sugeridos para discussão:
• sempre que existam riscos de efeitos adversos graves ou irreversíveis
para o ambiente, em geral, e para os recursos hídricos em particular,
não deverá ser utilizado o argumento de existência de lacunas cien-
tíficas ou de conhecimentos para justificar o adiamento das medidas
eficazes para evitar as degradações ambientais;
• será sempre preferível adotar medidas preventivas que impeçam a
ocorrência de efeitos ambientais adversos ou irreversíveis a que re-
correr, mais tarde, a medidas corretivas desses mesmos efeitos;
• a política de saneamento, em geral, não deve ser balizada pelos ní-
veis mínimos aceitáveis de proteção dos recursos;
• na resolução dos problemas ambientais, em geral, e dos recursos hí-
dricos, em particular, designadamente no que diz respeito ao trata-
mento das águas residuais, deverão ser adotadas as melhores tecno-
logias disponíveis;
• usuário-pagador, que engloba o princípio do poluidor-pagador, será
objetivo primordial da política de saneamento;
• as estratégias a adotar deverão obedecer a princípios de eficiência
econômica, isto é, as estratégias devem ser selecionadas de modo

52 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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que maximize os benefícios líquidos, devendo a seleção das solu-
ções, adotadas para resolver um determinado problema, ser baseada
em critérios de custo-benefício;
• as decisões deverão ser tomadas pelos órgãos da administração mu-
nicipal que estão em melhores condições para fazê-las, em função da
natureza dos problemas e das consequências das decisões;
• na gestão do sistema de saneamento municipal dever-se-á procurar
alcançar uma justa distribuição dos custos e dos benefícios das deci-
sões tomadas pelos agentes;
• na gestão do sistema de saneamento deverão ser respeitados os prin-
cípios da solidariedade e da coesão, não devendo a gestão integrada
do sistema de saneamento contribuir para criar ou agravar assime-
trias sociais ou administrativas;
• na formulação das metas deverão ser criadas as condições para que
os diferentes grupos e setores de usuários (grupos de defesa do am-
biente, comunidade científica e público em geral), por meio das res-
pectivas organizações representativas, possam formular e exprimir
as suas opiniões, que deverão ser devidamente consideradas nas de-
cisões a tomar;
• no planejamento e na gestão do sistema de saneamento municipal,
as medidas e ações adotadas devem ser flexíveis, permitindo o ajus-
tamento adaptativo das soluções a situações futuras incertas (da evo-
lução dos sistemas naturais e da evolução dos diferentes setores de
atividades econômicas);
• deve-se assegurar que os diversos agentes envolvidos, públicos e
privados, tenham a capacidade para implementar as medidas e as
ações adotadas;

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 53


Confederação Nacional de Municípios – CNM
• globalidade, baseando-se numa abordagem conjunta e interligada
dos aspectos técnicos, econômicos, ambientais e institucionais.
• racionalidade, visando à otimização da exploração das várias fontes
de água e o atendimento das várias necessidades, articulando a de-
manda e a oferta e salvaguardando a preservação quantitativa e qua-
litativa dos recursos hídricos, bem como uma aplicação econômica
dos recursos financeiros;
• o planejamento dos sistemas não deve ser elaborado de maneira
compartimentada, deve-se levar em consideração a interdependên-
cia desses sistemas para garantir a salubridade ambiental da cidade.
Além dos aspectos sanitários, devem ser considerados também as-
pectos tecnológicos e de gestão, o que garante a sustentabilidade de
funcionamento desses sistemas;
• participação, envolvendo agentes econômicos e as populações dire-
tamente interessadas, visando a obter o consenso de todas as partes
envolvidas;
• ação estratégica, dando respostas imediatas diante da informação
disponível.

3.4 Metodologia

A metodologia para a elaboração do Plano de Saneamento baseia-se nas


Etapas apresentadas a seguir e Fases. As Etapas indicam um roteiro a ser segui-
do desde o início ao final da criação do Plano, enquanto as Fases se referem aos
procedimentos necessários a construção dos planos. A 1ª Etapa, Fundamentos,
cujo responsável é o Grupo Executivo, deve desenvolver as seguintes atividades:

54 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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• definir diretrizes e conceitos básicos, com orientações gerais e espe-
cíficas para cada órgão relacionado com o saneamento básico;
• discutir as diretrizes do Plano em reunião pública do Grupo Consul-
tivo com participação dos diversos setores da sociedade;
• levantar a situação atual, identificando as carências e determinando
a demanda reprimida;
• realizar prognóstico com avaliação das condições atuais e dos indi-
cadores e, também, a projeção para o horizonte proposto pelo Plano,
considerado o Plano diretor Urbano, caso exista;
• definir horizonte do plano;
• elaborar diagnóstico, definindo os serviços públicos de interesse e
outras atividades correlatas (como gestão dos resíduos da construção
civil, resíduos de serviços de saúde, controle de vetores e gestão de
recursos hídricos e proteção de mananciais);
• definir estrutura do plano como diagnóstico, objetivos e metas de
curto, médio e longo prazo para universalização do atendimento,
bem como programas, projetos e ações necessárias para atingir obje-
tivos e metas, além de ações para emergência e contingência.
As Propostas devem ser desenvolvidas na 2ª Etapa, sob a responsabilidade
dos Grupos Executivo e Consultivo, consistindo no seguinte:
• apresentar as conclusões da primeira etapa do Grupo Executivo em
reunião pública para crítica e encaminhamento de propostas;
• realizar proposições contemplando os seguintes itens:
a) diretrizes para a ação municipal (obras, serviços e gestão dos
serviços de saneamento ambiental);
b) estrutura administrativa para a gestão do Plano e definição de
competências;

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 55


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c) sistema de avaliação permanente e integrado ao sistema de
planejamento municipal;
d) prioridades de investimentos com orientação para o cronograma
de implantação;
• discutir as proposições em reuniões públicas do Grupo Executivo;
• realizar reunião pública final (Seminário Final) para discussão do re-
latório e encaminhamento do Plano ao Conselho Municipal de Saú-
de ou de Saneamento, caso exista, e ao Poder Legislativo Municipal.
Na 3ª Etapa, Aprovação, a cargo dos Grupos Executivo e Consultivo, estão
previstas as seguintes atividades:
• discussão pelo Conselho Municipal de Saúde ou de Saneamento e
pelo Poder Legislativo Municipal.
• aprovação pelo Conselho Municipal de Saúde ou Saneamento, pelo
Poder Legislativo Municipal e sanção da Lei pelo Prefeito Municipal.
A Institucionalização prevista na 4ª Etapa deve desenvolver, sob a respon-
sabilidade dos Grupos Executivo e Consultivo, o seguinte:
• elaboração de Resoluções do Conselho ou Decretos Regulamenta-
dores;
• realização das alterações administrativas necessárias para imple-
mentação do Plano;
• realização de previsões orçamentárias.
• Na 5ª Etapa, Implementação, a cargo do Poder Público, estão
previstas duas atividades:
• implementação das ações propostas no Plano;
• gestão do plano de saneamento/indicadores.
A 6ª Etapa consiste na Avaliação de Resultados que o Poder Público deve-
rá obter por meio de Mecanismos e procedimentos para avaliação da eficiência e

56 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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da eficácia das ações programadas. O tempo de duração para elaboração do Pla-
no está estimado, no máximo, em 8 (oito) meses, que deverá ser aprovado pelo
Conselho Municipal da Saúde e/ou de Saneamento ou outro existente, contendo
os elementos básicos para a operacionalização da política e o planejamento das
ações de saneamento básico do Município, planos de investimentos, metas dos
serviços, definição de prioridades, recursos e outros.
Segundo a Lei no 11.445/2007, o Plano deverá ser revisado de 4 em 4
anos, de forma articulada com as políticas municipais de saúde, meio ambiente,
recursos hídricos, desenvolvimento urbano e rural e de habitação, entre outras.
As experiências desenvolvidas pelos Municípios que tem tradição na elaboração
de Planos Municipais de Saneamento têm demonstrado que a revisão dos Planos
deve ser realizada a cada 2 anos.
O Plano deve informar como, quando, com quem, com que recursos será
implementado, quais as ações e quais os mecanismos de controle e de avaliação
serão utilizados. Deve, também, refletir as necessidades e os anseios da popu-
lação local, devendo, para tanto, resultar de um planejamento democrático e
participativo para que ele atinja sua função social.
Para subsidiar a elaboração do Plano é importante a estruturação de um
Sistema de Informações que deverá ser alimentado com dados sobre as condi-
ções dos serviços de saneamento. O sistema deverá considerar o perfil epidemio-
lógico da população e indicadores socioambientais, incluindo nível de renda da
população e os indicadores de salubridade ambiental.
Este sistema poderá fornecer informações para elaboração de diagnósticos
da realidade, planejamento e avaliação das ações. Assim, torna-se necessário a
garantia do acesso às informações contidas neste sistema a todos os órgãos, enti-
dades da sociedade civil e população em geral, de forma que ele se constitua em
um instrumento de cidadania.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 57


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3.5 Diagnóstico

3.5.1 Aspectos Gerais

De um modo geral, o diagnóstico consiste na identificação e na caracte-


rização dos diversos problemas, a partir dos sintomas observados, procurando,
caso a caso, identificar as respectivas causas. A identificação destes problemas,
a sua gravidade e extensão deverão permitir hierarquizá-los de acordo com a
sua importância para que, em fase posterior, prioridades sejam definidas e inter-
venções sejam hierarquizadas. A primeira atividade da fase do diagnóstico é a
realização da pesquisa de satisfação dos usuários.
O processo para conhecimento de uma realidade deve ser sistematizado,
levando-se em consideração aspectos técnicos e sociais. Para a execução do
diagnóstico, recomenda-se a formação de um Grupo de Trabalho envolvendo
representantes de todos os órgãos do Município que tem algum tipo de relação
com o setor de saneamento, tais como:
• autarquias ou departamentos ligados ao saneamento ou empresas
concessionárias de serviços de água e de esgoto, bem como as encar-
regadas de coleta de resíduos sólidos e operação de aterro sanitário;
• secretarias Municipais da área de componentes urbanos, tais como:
Obras de Infraestrutura Urbana, Habitação, Transportes e Meio Am-
biente;
• secretarias municipais de administração e finanças, entre elas: Plane-
jamento, Finanças e Regulação Urbana;
• secretarias municipais da área social, principalmente, Saúde, Cultu-
ra, Educação e Assistência Social;
• instituições de ensino e pesquisa, se possível, Universidades,

58 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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Escolas, Centros de Educação Profissionalizantes;
• sociedade civil organizada; e
• outras.
Os Grupos de Trabalho podem ser constituídos por um Grupo Executivo –
GE e por um Grupo Consultivo – GC. O Grupo Executivo será composto por con-
sultores e técnicos da Autarquia de Saneamento e das Secretariais Municipais que
tenham interfaces com saneamento, por representantes da sociedade civil, bem
como por professores, pesquisadores e estudantes universitários.
As atribuições do GE são as seguintes:
• acompanhar o diagnóstico da situação dos serviços de saneamento
básico do Município;
• avaliar estudos, projetos e planos existentes referentes ao saneamen-
to e com outros que tenha relação com este;
• propor ações para implementação ou melhoria dos serviços de sane-
amento básico do ponto de vista técnico e institucional.
O GC é concebido como uma instância formada por representantes (au-
toridades e/ou técnicos) das instituições do Poder Público municipal, estadual
e federal relacionadas com o saneamento básico. Além dessas representações, o
Grupo deverá contar com os membros do Conselho Municipal de Saneamento,
de Saúde, de Meio Ambiente, caso existam, e de representantes de organizações
da Sociedade Civil.
O GC deve-se responsabilizar pelas seguintes atribuições:
• discutir e avaliar, mensalmente, o trabalho produzido pelo Grupo
executivo;
• criticar e sugerir alternativas, caso necessário, auxiliando o trabalho
do Grupo Executivo na elaboração do Plano;
• avaliar o andamento dos trabalhos do ponto de vista da sua viabilida-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 59


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de técnica, operacional, financeira, social, ambiental e institucional,
buscando promover a integração das ações de saneamento.

3.5.2 Abastecimento de Água

• Manancial
Define-se como manancial toda fonte de água utilizada para abastecimento
doméstico, comercial, industrial e outros fins. De maneira geral, quanto à ori-
gem, os mananciais são classificados em mananciais de superfície e subterrâneo.
O manancial superficial é considerado como toda parte de um manancial que
escoa na superfície terrestre, compreendendo os córregos, ribeirões, rios, lagos
e reservatórios artificiais.
As precipitações atmosféricas, logo que atingem o solo, podem se arma-
zenar nas depressões do terreno, nos lagos e represas, ou alimentar os cursos
d’água de uma bacia hidrográfica, se transformando em escoamento superficial
e a outra parcela se infiltra no solo. A bacia hidrográfica é uma área da superfície
terrestre, drenada por um determinado curso d’água e limitada perifericamente
pelo divisor de águas, como pode ser visualizado na Ilustração 3.5.2.1.
Os principais problemas com os mananciais de superfície se referem a sua
proteção, principalmente a partir da ocupação indevida das margens dos cur-
sos d’água, lançamento de efluentes sanitários, contaminação com defensivos
e produtos agrícolas, bem como, ausência da mata ciliar. Na Ilustração 3.5.2.2
pode-se observar um manancial de superfície onde se nota em detalhe a precária
proteção com a mata ciliar e o assoreamento.

60 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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ILUSTRAÇÃO 3.5.2.1 – BACIA HIDROGRÁFICA

Fonte: Castro, 1997

ILUSTRAÇÃO 3.5.2.2 – MANANCIAL COM PROTEÇÃO INADEQUADA

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 61


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O manancial subterrâneo é a parte do manancial que se encontra totalmen-
te abaixo da superfície terrestre, compreendendo os lençóis freático e profundo,
tendo sua captação feita pelos poços rasos ou profundos, galerias de infiltração
ou pelo aproveitamento das nascentes. Águas meteóricas compreendem a água
existente na natureza na forma de chuva, neve ou granizo.
A escolha do manancial pode ser considerada como uma das mais impor-
tantes decisões na implantação de um sistema de abastecimento de água, qual-
quer que seja de caráter individual ou coletivo. Havendo mais de uma opção, sua
definição deverá levar em conta os critérios a seguir.
Primeiramente é indispensável a realização prévia de análises de compo-
nentes orgânicos, inorgânicos e bacteriológicos das águas do manancial, para
verificação dos teores de substâncias prejudiciais, atendendo o que dispõe a le-
gislação vigente. O segundo critério se refere à vazão mínima do manancial,
necessária para atender à demanda por um determinado período de anos.
O terceiro se refere à análise do manancial subterrâneo que pode exigir
tratamento mais simples, desde que bem protegido, apresentando menor proba-
bilidade de contaminação. Entre os mananciais que exigem apenas desinfecção
incluem-se apenas algumas águas subterrâneas e certas águas de superfície bem
protegidas, sujeitas a baixo grau de contaminação.
Como quarto critério pode-se sugerir os mananciais que exigem tratamento
simplificado que compreendem as águas de mananciais protegidos, com baixos
teores de cor e turbidez, sujeitas apenas à filtração lenta e desinfecção. Os manan-
ciais que exigem tratamento convencional compreendendo, basicamente, as águas
de superfície, com turbidez elevada, que requerem tratamento com coagulação,
floculação, decantação, filtração e desinfecção, caracterizam o quinto critério.
O clima, hidrologia, geologia, morfologia, usos do solo e outros interferem
diretamente na qualidade da água de uma bacia hidrográfica, que consequen-

62 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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temente exigem na operação dos sistemas de abastecimento de água o conhe-
cimento da relação causa–efeito, principalmente ao desenvolvimento de algas,
havendo muitas relações, diretas e indiretas, entre eutrofização e a operação de
sistemas de abastecimento.
Em razão do aumento da concentração de nutrientes no manancial há o
florescimento de algas que pode acarretar diretamente os seguintes efeitos na
qualidade da água:
a) aumento da matéria orgânica particulada;
b) incremento de substâncias orgânicas dissolvidas que podem gerar
sabor e odor à água, ser um dos fatores da formação de compostos
organo-clorados, aumentar a cor, possibilitar o crescimento de bac-
térias na ETA, bem como na distribuição e colaborar com o aumento
do processo de corrosão;
c) acréscimo do pH e suas flutuações diárias;
d) pode liberar o sulfeto de hidrogênio, amônia, ferro, manganês, fós-
foro e outros componentes em função da diminuição do teor de oxi-
gênio próximo ao sedimento;
Em relação à operação da ETA e das unidades de reservação e distribuição
as alterações citadas podem ocasionar os seguintes efeitos diretos ou indiretos:
a) no que se refere à coagulação há aumento de coagulante e de alcali-
nizante para correção do pH de coagulação;
b) os flocos resultantes ficam leves, havendo necessidade do emprego
de polímero na condição de auxiliar do processo de floculação para
evitar a flotação;
c) diminui a eficiência da remoção de flocos no decantador, ocasionan-
do em decorrência o aumento da turbidez;
d) aumento da quantidade de água na lavagem dos filtros em conse-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 63


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quência da obstrução do meio filtrante com a redução da duração da
carreira de filtração;
e) devido à presença de matéria orgânica e amônia, diminuição da efi-
ciência da desinfecção, e em razão da potencialidade de formação
de compostos organo-clorados há o aumento do consumo de cloro;
f) no sistema de distribuição existe a possibilidade de crescimento de
bactérias em função da matéria orgânica, ocorrência de problemas
com sabor e odor, bem como aumento da deposição de ferro e man-
ganês nas tubulações.
Em decorrência do que foi exposto, os efeitos nos usuários de sistemas de
abastecimento de água estão associados à presença de compostos potencialmen-
te tóxicos e carcinogênicos, de sabor, de odor, corrosão das tubulações, danos a
roupas e aparelhos sanitários, bem como custos adicionais em tratamentos espe-
cíficos.
As algas azuis, algas cianofíceas ou cianobactérias, não podem ser consi-
deradas nem como algas nem como bactérias comuns. São microorganismos com
características celulares procariontes, ou seja, bactérias sem membrana nuclear,
porém com um sistema fotossintetizante semelhante ao das algas (vegetais euca-
riontes), são bactérias fotossintetizantes. Existe uma confusão na nomenclatura
destes seres, pois a princípio pensou tratar-se de algas unicelulares, Posterior-
mente os estudos demonstraram que elas possuem características de bactérias.

64 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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ILUSTRAÇÃO 3.5.2.3: CIANOBACTÉRIA

As cianobactérias podem viver em diversos ambientes e condições extre-


mas como em águas de fontes termais, com temperatura de aproximadamente
74ºC ou em lagos antárticos com temperaturas próximas a 0ºC, outras resistem
à alta salinidade até em períodos de seca. Algumas formas são terrestres, vivem
sobre rochas ou solo úmido, estas podem ser importantes fixadoras do nitrogênio
atmosférico, sendo essenciais para algumas plantas.
As cianobactérias podem produzir gosto e odor desagradável na água e de-
sequilibrar os ecossistemas aquáticos. O mais grave é que algumas cianobacté-
rias são capazes de liberar toxinas, que não podem ser retiradas pelos sistemas de
tratamento de água tradicionais e nem pela fervura, que podem ser neurotoxinas
ou hepatotoxinas. Originalmente estas toxinas são uma defesa contra devorado-
res de algas, mas, com a proliferação das cianobactérias nos mananciais de água
potável das cidades, estas passaram a ser uma grande dificuldade nas ETA’s.
As cianobactérias podem ser encontradas na forma unicelular, como nos
gêneros Synechococcus e Aphanothece ou em colônias de seres unicelulares

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 65


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como Microcystis, Gomphospheria, Merispmopedium ou, ainda, apresentarem
as células organizadas em forma de filamentos, como Oscillatoria, Planktothrix,
Anabaena, Cylindrospermopsis, Nostoc. Quando testadas pelo método de co-
loração de Gram, comportam-se como bactérias Gram-negativas, com isso de-
monstram que possuem paredes celulares pouco permeáveis aos antibióticos.
A coloração das cianobactérias pode ser explicada por meio da presença
dos pigmentos clorofila-A (verde), carotenóides (amarelo-laranja), ficocianina
(azul) e a ficoeritrina (vermelho). Todos estes pigmentos atuam na captação de
luz para a fotossíntese. Algumas espécies podem apresentar mais de um tipo de
pigmento, isso explica a existência de cianobactérias das mais variadas cores.
As cianobactérias são microrganismos autotróficos e a fotossíntese é seu
principal meio para obtenção de energia e manutenção metabólica. Seus proces-
sos vitais requerem somente água, dióxido de carbono, substâncias inorgânicas
e luz. A reprodução das cianobactérias não coloniais é assexuada, as formas fila-
mentosas podem reproduzir-se assexuadamente e algumas espécies de colônias
filamentosas são capazes de produzir esporos resistentes, os acinetos, que, ao se
destacarem, originam novas colônias filamentosas.
Tomando-se como base os estudos promovidos em mananciais de água
potável, percebemos que os motivos principais para o aumento da incidência de
cianobactérias são:
a) o aumento anormal da quantidade de componentes nitrogenados e
fosfatados na água. As cianobactérias têm três elementos que limi-
tam o seu crescimento são: o Nitrogênio, o Oxigênio e o Fósforo;
b) o aumento da matéria orgânica favorece o aumento da quantidade
de microrganismos decompositores livres na água e nos sedimentos,
que acabam consumindo o oxigênio dissolvido na água, favorecendo
com isso a atividade fotossintética das cianobactérias. Além disso,

66 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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nos meios anaeróbicos, a disponibilidade das formas inorgânicas de
nitrogênio e fósforo aumenta, facilitando as grandes infestações.
 Os seres humanos em contato direto com a água contendo florescimentos
de cianobactérias tóxicas, em atividades de recreio ou por sua ingestão, podem
se contaminar podendo acarretar doenças do tipo rinite, conjuntivite, dispneia,
dermatites, quadros de gastroenterite com diarreia, náuseas, vômitos, cólicas ab-
dominais e febre ou hepatite com aneroxia, entre outras.
A remoção de produtos metabólicos das algas pode ocorrer da seguinte
forma:
c) oxidação;
d) extração por meio de aeração; e
e) adsorção em carvão ativado em pó.
A aplicação de algicidas, particularmente em lagos, é recomendada para o
controle de florescimento de algas. O sulfato de cobre pode ser utilizado, mas há
toxidade do cobre nos demais organismos vivos, o que obriga a dosagem desse
produto por meio de ensaios de laboratório.

• Captação
De acordo com o manancial a ser aproveitado, podem ser utilizadas as
seguintes formas de captação: superfície de coleta (água de chuva), caixa de
tomada (nascente de encosta), galeria filtrante (fundo de vales), poço escavado
(lençol freático), poço tubular profundo (lençol subterrâneo), tomada direta de
rios, lagos e açudes (mananciais de superfície). Na Ilustração 3.5.2.4 pode ser
visualizada as várias formas de captação.
A tomada de água de um manancial de superfície é um tipo de captação
de uso generalizado no aproveitamento de pequenos cursos d’água, que visa
somente a elevar o nível de água, sendo que a vazão do rio deve ser superior à

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 67


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vazão máxima de adução, pois a barragem não tem função de acumular água.
A captação em mananciais de superfície pode ser do seguinte tipo: barragem de
nível, tomada direta com proteção, poço de tomada, canal de derivação, torre de
tomada e tomada de água flutuante.

ILUSTRAÇÃO 3.5.2.4 – TIPOS DE CAPTAÇÃO

Na Ilustração 3.5.2.5, observa-se uma barragem de nível de uma captação


de água bruta bem operada.

68 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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ILUSTRAÇÃO 3.5.2.5 – BARRAGEM DE NÍVEL – CAPTAÇÃO BEM OPERADA

Na Ilustração 3.5.2.6 tem-se uma captação flutuante e na 3.5.2.7 uma to-


mada de água bruta em torre.

ILUSTRAÇÃO 3.5.2.6 – CAPTAÇÃO FLUTUANTE

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 69


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ILUSTRAÇÃO 3.5.2.7 – CAPTAÇÃO EM TORRE

Em relação às captações do manancial subterrâneo, por meio de poços,


há que se ter muitos cuidados, pois a ausência de proteção sanitária poderá
comprometer a qualidade da água distribuída.

• Adução
Adutora é o conjunto de tubulações, peças especiais e obras de arte, dis-
postas entre: captação e a estação de tratamento de água (ETA), captação e o
reservatório de distribuição, captação e a rede de distribuição, ETA e o reservató-
rio de distribuição, ETA e a rede de distribuição. A tubulação que deriva de uma
adutora indo alimentar um setor qualquer da área a ser abastecida é denominada
subadutora.
As adutoras se classificam de acordo com a natureza da água transportada
(água bruta ou água tratada), de acordo com a energia utilizada para o escoa-
mento da água (por gravidade, recalque ou mista), de acordo com o modo de
escoamento e de acordo com a vazão de dimensionamento. Os problemas mais
comuns nas adutoras, como na maioria das tubulações em ferro fundido, refe-
rem-se ao aumento da rugosidade com consequente diminuição da capacidade

70 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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de veiculação, ou seja, aumento da perda de carga.
Na Ilustração 3.5.2.8 é possível visualizar uma adutora de água bruta em
tubulação de ferro fundido.

ILUSTRAÇÃO 3.5.2.8 – ADUTORA DE ÁGUA BRUTA

• Estações Elevatórias
As estações elevatórias são instalações destinadas a transportar e elevar
a água bruta ou tratada. Podem apresentar em sua forma, dependendo de seu
objetivo e importância, variações as mais diversas. Tem como principais usos a
captação de água de mananciais de superfície ou poços, ou, ainda, o aumento da
pressão nas redes, conhecidos como “boosters”, o que não é recomendável sob
o ponto de vista técnico.
Na Ilustração 3.5.2.9, adiante, pode-se visualizar uma edificação projetada
e construída para funcionar como estação elevatória de água bruta. Na Ilustra-
ção 3.5.2.10 podem ser observadas, em detalhes, as tubulações de sucção (com
diâmetros variáveis – não recomendado tecnicamente) que estão conectadas às
bombas.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 71


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ILUSTRAÇÃO 3.5.2.9 – ESTAÇÃO ELEVATÓRIA DE ÁGUA BRUTA

ILUSTRAÇÃO 3.5.2.10 – TUBULAÇÕES DE SUCÇÃO

Normalmente motores elétricos são acoplados às bombas hidráulicas que


veiculam a água, bruta ou tratada, para pontos com cotas topográficas mais al-
tas. Os conjuntos elevatórios (motor + bomba) de sistemas de abastecimento de
água são, em média, de grande dimensão, necessitando de ponte rolante para

72 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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sua manipulação, pois apresentam peso elevado não suportável em condições de
segurança pelos transportadores, eletricistas e mecânicos.
Na Ilustração 3.5.2.11 mostra-se em detalhe o espaço destinado à ponte ro-
lante, da estação elevatória de água bruta, sobre os pilares que não foi instalada.
Na Ilustração 3.5.2.12, adiante, se vê em detalhes os conjuntos elevatórios novos
que substituíram os antigos (equipamentos obsoletos com alto nível de consumo
de energia elétrica) no programa de eficiência energética, que teve como obje-
tivo a redução do custo do item energia elétrica cujo valor é representativo nos
sistemas de abastecimento de água.

ILUSTRAÇÃO 3.5.2.11 – ESPAÇO PARA PONTE ROLANTE SOBRE OS PILARES

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 73


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ILUSTRAÇÃO 3.5.2.12 – NOVOS CONJUNTOS ELEVATÓRIOS
PARA REDUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

As tubulações que saem das bombas são denominadas barriletes e sua dis-
posição é de fundamental importância para que o sistema funcione em regime de
eficiência. Outro fator relevante para reduzir perdas de água se refere à manuten-
ção preventiva para se evitar vazamentos como o que é mostrado na Ilustração
3.5.2.13.
O fenômeno mais importante no processo de veiculação da água por
intermédio dos conjuntos elevatórios se refere à produção dos transientes hi-
dráulicos, conhecido, também, como golpe de aríete, que se formam no inte-
rior das tubulações, nem sempre objeto das atenções e cuidados dos dirigen-
tes e das equipes de operação e manutenção, podendo acarretar acidentes
de grande monta.

74 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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ILUSTRAÇÃO 3.5.2.13 – VAZAMENTO DE ÁGUA – MANUTENÇÃO DEFICIENTE

Com o objetivo de eliminação ou minimização dos transientes hidráulicos,


são instaladas algumas estruturas como, entre outras, tanques de amortização
constante – TAU, ou equipamentos como as válvulas antecipadoras de ondas. Na
Ilustração 3.5.2.14 é mostrada uma válvula antecipadora de onda desativada por
medida de contenção de despesas.

ILUSTRAÇÃO 3.5.2.14 – VÁLVULA ANTECIPADORA DE ONDA DESATIVADA

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 75


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Como se pode observar na Ilustração 3.5.2.9, a edificação é antiga, mas
com espaço suficiente para abrigar os equipamentos de uma estação elevatória,
entretanto deficiente em relação à falta de uma ponte rolante, mostrada 3.2.5.11
e de acesso adequado para veículos, no que se refere à carga e descarga, pois está
obstruída por algumas caixas que foram construídas no local.
Mesmo com as deficiências apontadas no processo de diagnóstico, a esta-
ção elevatória de água bruta pode ser aproveitada no novo sistema. Assim sendo,
quando da elaboração do diagnóstico é de suma importância que se faça o apro-
veitamento ao máximo das unidades existentes; entretanto, as unidades criadas
de improviso e em condições precárias de uso devem ser eliminadas e estudadas
outras soluções como, por exemplo, a estação elevatória improvisada, com os
cabos no terreno, sem proteção, colocando em risco as pessoas que transitam
pelo local, conforme pode ser observado na Ilustração 3.5.2.15.

ILUSTRAÇÃO 3.5.2.15 – ESTAÇÃO ELEVATÓRIA IMPROVISADA – CABOS NO


TERRENO

• Estação de Tratamento de Água – ETA


A qualidade físico-química e bacteriológica da água obtida no manancial

76 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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é quem define o tipo de tratamento, necessário para atender aos padrões de pota-
bilidade estabelecidos pela Portaria no 518/2004, do Ministério da Saúde, a fim
de que se torne adequada ao consumo humano. Em média as águas de superfície
são as que mais necessitam de tratamento, pois se apresentam com qualidades
físicas e bacteriológicas impróprias. Exceção deve ser feita às águas de nascen-
tes que, com uma simples proteção das cabeceiras e cloração, podem ser, muitas
vezes, consumidas sem perigo.
As águas de grandes rios, embora não satisfazendo pelo seu aspecto físico,
podem ser relativamente satisfatórias, sob o ponto de vista químico e bacterio-
lógico, quando captadas ou colhidas em locais do rio menos sujeitos à contami-
nação. Portanto, a definição da necessidade ou do método de tratamento a ser
implantado, deve obedecer à classificação das águas estabelecidas pela legisla-
ção em vigor.
De modo geral, a qualidade das águas de superfície varia ao longo do tem-
po, de acordo com a época do ano e o regime das chuvas. A variação da qualida-
de da água dos grandes rios é mais lenta que a dos pequenos rios, cuja turbidez,
por exemplo, pode variar entre largos limites e em curto espaço de tempo. Até a
qualidade da água de lagos artificiais ou naturais varia com o decorrer do tempo.
Nem toda água pode ser utilizada, pois cada método de tratamento tem
eficiência limitada. Sendo a poluição muito alta, a água tratada poderá não ser
ainda satisfatória. Assim, por exemplo, não é possível, nem prático, tratar água
de esgotos por métodos convencionais, a ponto de torná-la potável.
A operação inadequada da ETA, por um projeto mal concebido ou por de-
ficiência da equipe técnica, é fator preponderante que interfere na qualidade da
água a ser distribuída à população. Em determinadas situações a água provenien-
te do manancial subterrâneo poderá chegar à superfície com temperaturas altas,
e teores de ferro, manganês e flúor, inadequados ao consumo humano, havendo

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 77


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necessidade de tratamento específico. Na Ilustração 3.5.2.16 são apresentadas as
instalações de resfriamento de um poço artesiano com profundidade superior a
mil metros.

ILUSTRAÇÃO 3.5.2.16 – CAPTAÇÃO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA COM TORRE DE


RESFRIAMENTO

A conservação das instalações físicas da ETA também deve ser fator de


constante preocupação, pois pode contribuir para a redução das perdas de água
que podem ocorrer por meio da estrutura, como se pode observar o mal estado
das paredes da ETA mostrada nas Ilustrações 3.5.2.17 e 3.5.2.18, com vazamen-
tos aparentes.

78 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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ILUSTRAÇÃO 3.5.2.17 – PAREDES DA ETA COM VAZAMENTOS

É fundamental para a boa operação de uma ETA um laboratório bem equi-


pado de tal sorte que os operadores tenham os resultados das análises rapidamen-
te para orientação dos procedimentos de tratamento que devem ser aplicados. Na
Ilustração 3.5.2.19 pode-se visualizar uma das salas de um laboratório mediana-
mente bem equipado.

ILUSTRAÇÃO 3.5.2.18 – PAREDES DA ETA COM VAZAMENTOS

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 79


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ILUSTRAÇÃO 3.5.2.19 – LABORATÓRIO DE UMA ETA

As estações de tratamento de água convencionais de ciclo completo são


constituídas de câmara de chegada de água bruta, calha Parshall, floculador, de-
cantador e filtros. Todo o processo de tratamento químico e preparação da água
para decantação e filtração compreendem três fases distintas: mistura rápida que
consiste na adição dos compostos químicos ou reagentes e sua dispersão unifor-
me na água, a formação de flocos e desenvolvimento ou condicionamento dos
flocos.
A coagulação é um processo químico que visa a aglomerar impurezas que
se encontram em suspensões finas, em estado coloidal, em partículas sólidas que
possam ser removidas por decantação e/ou filtração. As partículas se agregam
constituindo formações gelatinosas inconsistentes, denominadas flocos. Os flo-
cos iniciais são formados rapidamente e a eles aderem às partículas.
A primeira fase do processo pode ser efetuada no dispositivo de medição
de vazão da ETA (normalmente calha Parshall) ou em câmaras especiais deno-
minadas câmaras de mistura rápida, com agitadores mecânicos. A fase seguinte

80 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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se realiza em câmaras de agitação lenta ou floculadores. Esses floculadores po-
dem ser hidráulicos (chicanas com movimento horizontal ou vertical da água) ou
mecanizados (de eixo vertical ou de eixo horizontal)
A água devidamente floculada é transferida para o decantador, onde é re-
alizado um processo dinâmico de separação das partículas sólidas suspensas na
água (em flocos). Os flocos mais pesados que a água tenderão ir para o fundo
do decantador, verificando-se a separação. Ao ser diminuída a velocidade de
escoamento das águas ficam reduzidos os efeitos da turbulência, facilitando a
deposição dessas partículas. Na Ilustração 3.5.2.20, observa-se o decantador de
uma ETA mal operada, principalmente, pela ausência de raspador de fundo, com
flocos indevidamente flutuando.

ILUSTRAÇÃO 3.5.2.20 – DECANTADOR COM FLOCOS FLUTUANTES

A filtração da água como processo de purificação consiste em fazê-la atra-


vessar as camadas porosas que irão reter as impurezas que não foram retidas no
decantador. Na Ilustração 3.5.2.21 visualiza-se uma ETA de ciclo completo com
boa operação.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 81


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ILUSTRAÇÃO 3.5.2.21 – ETA CONVENCIONAL DE CICLO COMPLETO

• Reservatórios
Os reservatórios de distribuição são unidades destinadas a compensar as
variações horárias de vazão e a garantir a alimentação da rede de distribuição
em casos de emergência, fornecendo a água necessária e a pressão suficiente na
rede. Dependendo de sua configuração e localização em relação à rede, podem
ser classificados em elevados, enterrados, semienterrados e apoiados.
Os materiais normalmente utilizados na sua construção, em função de suas
características básicas, são alvenaria de pedra, concreto armado, chapa metálica
e outros materiais. Os reservatórios de distribuição são dimensionados para fun-
cionar como volantes da distribuição, atendendo à variação horária do consumo,
assegurar uma reserva de água para combate a incêndios, manter uma reserva
para atender condições de emergência, atender à demanda no caso de interrup-
ções de energia elétrica nas unidades de bombeamento de água e manutenção de
pressões na rede de distribuição.
Visando às ocasiões de limpeza interna ou reparos, é conveniente que os
reservatórios tenham pelo menos dois compartimentos, evitando-se, dessa for-

82 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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ma, a interrupção do fornecimento de água nessas oportunidades. As canaliza-
ções de entrada de água no reservatório devem ser individualizadas, uma para
cada compartimento, providas de registros para isolamento da unidade. As mes-
mas recomendações devem ser observadas para as tubulações de saída.
Os reservatórios devem ser dotados de extravasores (sem válvulas) de
água, sendo um para cada compartimento, previstos de tal forma que possam
descarregar, excepcionalmente, por falha do dispositivo de controle de nível, o
volume excedente nas canalizações de descarga. Além dos extravasores, os re-
servatórios devem ser dotados de tubulações para descarga que serão acionados
durante a sua limpeza, uma para compartimento. Os reservatórios devem ser
operados com os indicadores diretos do nível de água e/ou sistema de indicação
a distância, que permitirão o controle dos volumes armazenados, bem como pre-
ventivo contra a perda d’água por extravasamentos.
As aberturas destinadas à inspeção do reservatório devem estar convenien-
temente localizadas e protegidas contra a possibilidade de poluição. As tampas
devem recobrir, no mínimo, 5 cm de um rebordo de 15 cm ou mais de altura, a
ser deixado saliente no contorno da abertura de inspeção para impedir a infiltra-
ção de águas externas. As escadas de acesso devem oferecer segurança para os
operadores, com guardacorpo, degraus e quando necessários patamares interme-
diários convenientemente estudados.
Para evitar o desenvolvimento de algas no seu interior, os reservatórios
devem impedir, ao máximo, a penetração da iluminação natural. A garantia da
estanqueidade dos reservatórios de concreto deve ser garantida com a impermea-
bilização de suas paredes. Em relação aos reservatórios construídos em estrutura
metálica, é fundamental a manutenção preventiva com tratamento específico de
tal maneira que seja evitado o processo de corrosão.
A providência mais importante para evitar pressões diferenciais perigosas

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 83


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na estrutura dos reservatórios é o bom funcionamento dos dispositivos de venti-
lação. Em termos de segurança em relação à navegação aérea, quando necessá-
rio, é obrigatória a sinalização das torres. Nas Ilustrações 3.5.2.22 e 3.5.2.23 é
possível a visualização do mau estado de conservação de um reservatório apoiado.

ILUSTRAÇÃO 3.5.2.22– RESERVATÓRIO SEM MANUTENÇÃO

ILUSTRAÇÃO 3.5.2.23 – RESERVATÓRIO SEM MANUTENÇÃO

• Rede de Distribuição
A rede de distribuição de água é a unidade do sistema que conduz a água
para os pontos de consumo, sendo constituída por um conjunto de tubulações e
peças dispostas convenientemente a fim de garantir o abastecimento das unida-
des componentes da localidade abastecida.

84 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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Os condutos formadores da rede de distribuição se classificam em prin-
cipais e secundários. Os condutos principais se referem àqueles de maior diâ-
metro, responsáveis pela alimentação dos condutos secundários. Os condutos
secundários, geralmente de menor diâmetro, são encarregados do abastecimento
direto dos pontos de consumo.
A rede de distribuição de água deve ser projetada, construída e operada
para funcionar ininterruptamente, com pressão adequada em qualquer ponto da
rede. A qualidade da água distribuída pela rede deve ter a sua qualidade de tal
modo a atender à legislação vigente, tal como a Portaria 518, do Ministério da
Saúde, em particular na obediência ao cronograma das análises físico-quimicas
e bacteriológicas.
Os registros e os dispositivos de descarga devem ser estrategicamente ins-
talados na rede de distribuição para possibilitar as manobras quando da neces-
sidade de reparos, descargas e outras intervenções que se mostrem necessárias.
Em determinadas situações, principalmente, em pontos baixos é importante a
instalação de registros para descargas para limpeza periódica da rede, sem inter-
rupções prejudiciais ao abastecimento.
Deve-se evitar, sempre que possível, a existência de pontas secas na rede,
mantendo-se as condições sanitárias e as possibilidades de contaminação, du-
rante a execução de reparos, substituições, remanejamentos e prolongamentos.
Após o assentamento de novas tubulações e de reparos nas linhas existentes,
deve-se cuidar da desinfecção das tubulações. Após a aplicação dessa solução,
devem-se preencher as tubulações com água limpa para em seguida descarregá-
la. Essa operação necessita de controle de exames bacteriológicos.
Os problemas mais comuns da rede de distribuição de água se referem aos
vazamentos invisíveis, que não afloram à superfície, principalmente em função
do excesso de pressão, idade da rede e os ramais das ligações prediais, que con-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 85


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tribuem em grande escala com os índices de perda de água.
Recomenda-se que as redes de distribuição funcionem em função de uma
setorização bem planejada com dispositivos de controle de vazão (macromedi-
dores), que permita o balanço hídrico na distribuição, e medidores de consumo
nas ligações prediais (Hidrômetros) para determinação do consumo a ser fatu-
rado.

• Controle e Redução de Perdas de Água


Conceituam-se perdas de água como toda perda real ou aparente de água
ou todo o consumo não autorizado que determina aumento do custo do funcio-
namento ou que impeça a realização plena da receita operacional. As perdas apa-
rentes de água, ou não físicas, consistem nos consumos não autorizados (roubos)
e/ou na imprecisão dos medidores de vazão dos sistemas de macromedição e
micromedição (hidrômetros).
As perdas reais de água consistem todas as perdas físicas de água ocasio-
nadas por vazamentos e rompimentos, superficiais ou subterrâneos, em redes e
ramais ou, ainda, de vazamentos e extravasamentos em reservatórios. No Brasil,
o índice médio de perdas é da ordem de 40% (índice muito superior às recomen-
dações internacionais). As causas fundamentais das perdas de água , quando há
consumo de água autorizado e faturado, são a inexistência de hidrometração, as
deficiências nas práticas/rotinas comerciais, a falta de monitoramento e o contro-
le sistematizado dos consumos medidos e faturados.
Quando o consumo é autorizado e não faturado, as causas se referem a
deficiências nas prática/rotinas comerciais, falta de medição e/ou faturamento de
água comercializada em caminhões pipa, desatualização do cadastro comercial,
ligações não cadastradas, falta de contabilização dos volumes vendidos, falta
de quantificação e contabilização dos volumes utilizados nas atividades ope-

86 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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racionais, naqueles destinados ao abastecimento emergencial e ao atendimento
comunitário (chafarizes/ lavanderias, etc.).
As perdas não aparentes, por meio de consumo não autorizado, referem-se
às ligações clandestinas, fraudes (by pass, violação de hidrômetros e/ou qualquer
outro tipo de violação na ligação ativa ou inativa) e roubo de água em hidrantes
ou em quaisquer outros pontos do sistema da rede de distribuição, tais como: cai-
xas de manobras, descargas, ventosas, tomadas de pressão, reservatórios, entre
outros. Na Ilustração 3.5.2.24, nota-se um armário de um prestador de serviço
com hidrômetros fraudados ou violados.

ILUSTRAÇÃO 3.5.2.24 – HIDRÔMETROS VIOLADOS

As deficiências da medição podem ser resumidas na ausência ou impre-


cisão dos macromedidores, má qualidade dos medidores, submedição, dimen-
sionamento inadequado do medidor, inexistência de macromedição, estimativas
incorretas, inconsistências nos sistemas de informações e mão de obra não qua-
lificada.
A imprecisão da medição ocorre, principalmente, pela má qualidade da
manutenção da rede, inexistência de uma política eficiente de manutenção e

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 87


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substituição de hidrômetros e a inexistência de uma política para quantificação
dos volumes operacionais. Na Ilustração 3.5.2.25, pode-se observar um cavalete
de uma ligação predial com hidrômetro (sem abrigo, exposto ao tempo) inclina-
do, que acarreta como consequência submedição elevada.

ILUSTRAÇÃO 3.5.2.25 – HIDRÔMETRO INCLINADO

É fundamental que o sistema de distribuição, conforme mencionado, seja


devidamente setorizado, dotado com os equipamentos que permitam a realização
do balanço hídrico e planejado de tal sorte que as pressões, máximas e mínimas,
na rede sejam aquelas preconizadas pelas normas brasileiras. Para o controle e
redução das perdas de água, sugerem-se os seguintes equipamentos:
a) adaptador para manômetro;
b) aparelho medidor de corrente CC-CA, tensão VCC-VCA, fator
de potencia e etc.;
c) cabo infravermelho (aquisição de dados dos loggers);
d) calibre ou galgador, comprimento útil 1.200 mm;
e) data logger (pulsos ou digital), com saída via infravermelho;

88 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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f) geofone eletrônico sem filtro;
g) data logger de diferencial de pressão (vazão), com saída infra-
vermelho;
h) data logger de pressão, com saída em infravermelho;
i) detector de rede;
j) geofone eletrônico com filtros;
k) geofone mecânico;
l) balança de peso morto (aferição manômetros);
m) gerador de pulso (detecção de ligações clandestinas);
n) haste de escuta;
o) haste de perfuração;
p) líquido pitométrico, densidade 2,90 (tetrabrometano);
q) registro de derivação 1” (1 polegada) para pitometria (tap);
r) líquido pitométrico mercúrio;
s) líquido pitométrico, densidade 1,60 (tetracloreto de carbono);
t) registrador gráfico de pressão;
u) registrador gráfico de pressão;
v) registrador gráfico de vazão (célula bourton);
x) máquina Müller (perfuração e instalação de taps em tubulações
em carga);
Além dos equipamentos citados deve ser adquirido o que se sugere a
seguir:
a) notebook tipo Pentium IV c/ 512 Mb, RAM 2,8 GHz;
b) par de mangueiras para pitometria (completas com estrangula-
dores e presilhas);
c) tubos U, em vidro pirex;
d) macromedidor tipo Woltman DN 50 mm com saída pulsada;

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 89


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e) macromedidor tipo Woltman DN 75 mm com saída pulsada;
f) tubo Pitot do tipo Cole, comprimento útil 1.200 mm.

3.5.3 Esgotamento Sanitário

• Noções Básicas
O esgoto doméstico é aquele que provem principalmente de residências,
estabelecimentos comerciais, instituições ou quaisquer edificações que dispõem
de instalações de banheiros, lavanderias e cozinhas. Compõem-se essencialmen-
te da água de banho, excretas, papel higiênico, restos de comida, sabão, deter-
gentes e águas de lavagem.
As fezes humanas compõem-se de restos alimentares ou dos próprios ali-
mentos não transformados pela digestão, integrando-se as albuminas, as gordu-
ras, os hidratos de carbono e as proteínas. Os sais e uma infinidade de microorga-
nismos também estão presentes. Na urina, são eliminadas algumas substâncias,
como a ureia, resultantes das transformações químicas (metabolismo) de com-
postos nitrogenados (proteínas).
As fezes e principalmente a urina contêm grande porcentagem de água,
além de matéria orgânica e inorgânica. Nas fezes, está cerca de 20% de matéria
orgânica, enquanto na urina, 2,5%. Os micro-organismos eliminados nas fezes
humanas são de diversos tipos, sendo os coliformes (Escherichia coli, Aerobac-
ter aerogenes e o Aerobacter cloacae) estão presentes em grande quantidade,
podendo atingir um bilhão por grama de fezes.
As principais características físicas ligadas aos esgotos domésticos são:
a) matéria sólida: os esgotos domésticos contêm aproximadamente 99,9% de
água e, apenas, 0,1% de sólidos. É em razão desse porcentual de 0,1% de
sólidos que ocorrem os problemas de poluição das águas, trazendo a neces-

90 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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sidade de se tratar os esgotos;
b) temperatura: a temperatura do esgoto é, em geral, pouco superior à das
águas de abastecimento. A velocidade de decomposição do esgoto é pro-
porcional ao aumento da temperatura;
c) odor: os odores característicos do esgoto são causados pelos gases forma-
dos no processo de decomposição, assim, o odor de mofo, típico do esgoto
fresco, é razoavelmente suportável, e o odor de ovo podre, insuportável, é
típico do esgoto velho ou séptico, em virtude da presença de gás sulfídrico;
d) cor e turbidez: a cor e turbidez indicam de imediato o estado de decompo-
sição do esgoto. A tonalidade acinzentada acompanhada de alguma turbi-
dez é típica do esgoto fresco e a cor preta é típica do esgoto velho;
e) variação de vazão: a variação de vazão do efluente de um sistema de esgoto
doméstico é em função dos costumes dos habitantes. A vazão doméstica
do esgoto é calculada em função do consumo médio diário de água de um
indivíduo. Estima-se que, para cada 100 litros de água consumida, são lan-
çados aproximadamente 80 litros de esgoto na rede coletora, ou seja, 80%.
As principais características químicas dos esgotos domésticos são:
a) matéria orgânica: cerca de 70% dos sólidos no esgoto são de origem orgâ-
nica, geralmente esses compostos orgânicos são uma combinação de car-
bono, hidrogênio e oxigênio e, algumas vezes, com nitrogênio. Os grupos
de substâncias orgânicas nos esgotos são constituídos por: compostos de
proteínas (40% a 60%), carboidratos (25% a 50%), gorduras e óleos (10%)
e ureia, sulfatans, fenóis, etc.
b) matéria inorgânica: nos esgotos, a matéria inorgânica é formada principal-
mente pela presença de areia e de substâncias minerais dissolvidas.
As principais características biológicas do esgoto doméstico são:
a) micro-organismos de águas residuais: os principais organismos encontra-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 91


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dos nos esgotos são: as bactérias, os fungos, os protozoários, os vírus e
as algas. Deste grupo as bactérias são as mais importantes, pois são res-
ponsáveis pela decomposição e estabilização da matéria orgânica, tanto na
natureza como nas estações de tratamento;
b) indicadores de poluição: há vários organismos cuja presença em um corpo
d’água indica uma forma qualquer de poluição. Para indicar, no entanto, a
poluição de origem humana usa-se adotar os organismos do grupo colifor-
me como indicadores. As bactérias coliformes são típicas do intestino do
homem e de outros animais de sangue quente (mamíferos) e, por estarem
presentes nas fezes humanas (100 a 400 bilhões de coliformes/hab. x dia) e
de simples determinação, são adotadas como referência para indicar e me-
dir a grandeza da poluição. Seria demasiadamente trabalhosa e antieconô-
mica a realização de análises para determinação da presença de patogêni-
cos no esgoto; ao invés disso, determina-se a presença de coliformes e, por
segurança, age-se como se os patogênicos também estivessem presentes.
À medida que as comunidades e a concentração humana tornam-se maio-
res, as soluções individuais para remoção e o destino do esgoto doméstico evo-
luíram e deram lugar às soluções de caráter coletivo denominado sistema de
esgotos.
Os esgotos são classificados conforme o tipo, como segue:
a) esgotos domésticos: incluem as águas contendo matéria fecal e as águas
servidas, resultantes de banho e de lavagem de utensílios e roupas;
b) esgotos industriais: compreendem os resíduos orgânicos, de indústria de
alimentos, matadouros, etc.; as águas residuárias agressivas, procedentes
de indústrias de metais, etc.; as águas residuárias procedentes de indústrias
de cerâmica, água de refrigeração, etc.;
c) águas pluviais: são as águas procedentes das chuvas;

92 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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d) água de infiltração: são as águas do subsolo que se introduzem na rede.
Os tipos de sistemas de esgotos são os seguintes:
a) sistema unitário: consiste na coleta de águas pluviais, dos esgotos domés-
ticos e dos despejos industriais em um único coletor. Além do benefício de
permitir a implantação de um único sistema, é vantajoso quando for previs-
to o lançamento do esgoto bruto, sem inconveniente em um corpo receptor
próximo. No dimensionamento do sistema devem ser previstas as precipi-
tações máximas com período de recorrência, geralmente entre 5 e 10 anos.
Como desvantagem, apresenta custo de implantação elevado e problemas
de deposições de material nos coletores por ocasião da estiagem. Quanto
ao tratamento, o custo de implantação é também elevado tendo em vista
que a estação deve ser projetada com capacidade máxima que, no sistema
unitário, ocorre durante as chuvas. Igualmente, a operação é prejudicada
pela brusca variação da vazão na época das chuvas, afetando do mesmo
modo a qualidade do efluente;
b) sistema separador absoluto: nesse sistema, o esgoto doméstico e o indus-
trial ficam completamente separados do esgoto pluvial. É o sistema ado-
tado no Brasil. O custo de implantação é menor que o do sistema anterior;
c) sistema misto: a rede é projetada para receber o esgoto sanitário e mais
uma parcela das águas pluviais. A coleta dessa parcela varia de um país
para outro. Em alguns países colhem-se apenas as águas dos telhados; em
outros, um dispositivo colocado nas bocas de lobo recolhe as águas das
chuvas mínimas e limita a contribuição das chuvas de grande intensidade.

• Unidades Constituintes
O sistema público convencional é constituído das seguintes unidades:

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 93


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a) ramal predial: são os ramais que transportam os esgotos das casas até a
rede pública de coleta;
b) coletor de esgoto: recebem os esgotos das casas e outras edificações, trans-
portando-os aos coletores-tronco;
c) coletor-tronco: tubulação da rede coletora que recebe apenas contribuição
de esgoto de outros coletores;
d) interceptor: os interceptores correm nos fundos de vale, margeando cursos
d’água ou canais. São responsáveis pelo transporte dos esgotos gerados
na sub-bacia, evitando que estes sejam lançados nos corpos d’água. Ge-
ralmente possuem diâmetros maiores que o coletor-tronco em função de
maior vazão;
e) emissário: são similares aos interceptores, diferenciando apenas por não
receber contribuição ao longo do percurso;
f) poços de visita (PV): são câmaras cuja finalidade é permitir a inspeção e a
limpeza da rede. Os locais mais indicados para sua instalação são o início
da rede, mudanças de direção, declividade, diâmetro ou material, nas jun-
ções e em trechos longos. Nos trechos longos, a distância entre PVs deve
ser limitada pelo alcance dos equipamentos de desobstrução;
g) elevatória: quando as profundidades das tubulações tornam-se demasia-
damente elevadas, quer em razão da baixa declividade do terreno, quer
em razão da necessidade de se transpor uma elevação, torna-se necessário
bombear os esgotos para um nível mais elevado. A partir desse ponto, os
esgotos podem voltar a fluir por gravidade;
h) estação de Tratamento de Esgotos (ETE): a finalidade da ETE é a de re-
mover os poluentes dos esgotos, os quais viriam causar uma deterioração
da qualidade dos cursos d’água. Um sistema de esgotamento sanitário só
pode ser considerado completo se incluir a etapa de tratamento. A Estação

94 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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de Tratamento de Esgoto (ETE) pode dispor de alguns dos seguintes itens,
ou todos eles: grade, desarenador, sedimentação primária, estabilização
aeróbica, filtro biológico ou de percolação, lodos ativados, sedimentação
secundária, digestor de lodo, secagem de lodo, desinfecção do efluente;
i) disposição final: após o tratamento, os esgotos podem ser lançados ao
corpo d’água receptor ou, eventualmente, aplicados no solo. Em ambos
os casos, há de se levarem em conta os poluentes eventualmente ainda
presentes nos esgotos tratados, especialmente organismos patogênicos e
metais pesados. As tubulações que transportam estes esgotos são também
denominadas emissário.

• Sistema Condominial
O sistema condominial de esgotos é uma solução eficiente e econômica
para esgotamento sanitário desenvolvida no Brasil na década de 1980. Este mo-
delo se apoia, fundamentalmente, na combinação da participação comunitária
com a tecnologia apropriada. Esse sistema proporciona uma economia de até
65% em relação ao sistema convencional de esgotamento, graças às menores
extensão e profundidade da rede coletora e à concepção de microssistemas des-
centralizados de tratamento.
O nome Sistema Condominial é em função de se agregar o quarteirão ur-
bano com a participação comunitária, formando o condomínio, semelhante ao
que ocorre em um edifício de apartamentos (vertical); dele se distingue, todavia,
por ser informal quanto à sua organização e por ser horizontal do ponto de vista
físico.
Desse modo, a rede coletora básica ou pública apenas tangencia o quar-
teirão-condomínio ao invés de circundá-lo como no sistema convencional. As
edificações são conectadas a essa rede pública por meio de ligação coletiva ao

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 95


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nível do condomínio (Ramal condominial), cuja localização, manutenção e, às
vezes, a execução é acordada coletivamente, no âmbito de cada condomínio e
com o prestador do serviço, a partir de um esquema de divisão de responsabili-
dade entre a comunidade interessada e o Poder Público.
O sistema condominial é constituído das seguintes unidades:
a) ramal condominial: rede coletora que reúne os efluentes das casas que
compõem um condomínio e pode ser de passeio, quando o ramal condomi-
nial passa fora do lote, no passeio diante deste a aproximadamente 0,70 m
de distância do muro, de fundo de lote quando o ramal condominial passa
por dentro do lote. Esta é a alternativa de menor custo, pois desta maneira
é possível esgotar todas as faces de um conjunto com o mesmo ramal e de
jardim: quando o ramal condominial passar dentro do lote, porém na sua
frente;
b) rede básica: rede coletora que reúne os efluentes da última caixa de inspe-
ção de cada condomínio, passando pelo passeio ou pela rua;
c) unidade de tratamento: a cada microssistema corresponde uma estação
para tratamento dos esgotos, que pode ser o tanque séptico com filtros
anaeróbios e de areia.

• Tratamento de Esgotos Sanitários


As lagoas de estabilização são o mais simples método de tratamento de
esgotos existentes. São construídas por meio de escavação no terreno natural,
cercado de taludes de terra ou revestido com placas de concreto. Geralmente,
têm a forma retangular ou quadrada.
As lagoas de estabilização podem ser classificadas em quatro diferentes
tipos:
a) lagoas anaeróbias: possuem a finalidade de oxidar compostos orgânicos

96 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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complexos antes do tratamento com lagoas facultativas ou aeradas. As la-
goas anaeróbias não dependem da ação fotossintética das algas, podendo
assim ser construídas com profundidades maiores que as outras, variando
de 2 m a 5 m. São projetadas sempre que possível associada a lagoas facul-
tativas ou aeradas;
b) lagoas facultativas: o seu funcionamento é por intermédio da ação de algas
e bactérias sob a influência da luz solar (fotossíntese). A matéria orgâni-
ca contida nos despejos é estabilizada, parte transformando-se em matéria
mais estável na forma de células de algas e parte em produtos inorgânicos
finais que saem com efluente. Estas lagoas são chamadas de facultativas
graças às condições aeróbias mantidas na superfície, liberando oxigênio, e
graças às anaeróbias mantidas na parte inferior onde a matéria orgânica é
sedimentada. Têm profundidade variando de 1 m a 2,5 m e áreas relativa-
mente grandes;
c) lagoas de maturação: a sua principal finalidade é a redução de coliformes
fecais, contidos nos despejos de esgotos. São construídas sempre depois do
tratamento completo de uma lagoa facultativa ou outro tipo de tratamento
convencional. Com adequado dimensionamento, é possível conseguir ín-
dices elevados de remoção de coliformes, garantindo assim uma eficiência
muito boa. As profundidades normalmente adotadas são iguais às das la-
goas facultativas;
d) lagoas aeróbias ou de alta taxa: têm como principal aplicação a cultura
colheita de algas. São projetadas para o tratamento de águas residuárias
decantadas. Constituem um poderoso método para produção de proteínas,
sendo de 100 a 1.000 vezes mais produtivas que a agricultura convencio-
nal. É aconselhável o seu uso, para tratamento de esgoto, quando houver
a viabilidade do reaproveitamento da produção das algas. A sua operação

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 97


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exige pessoal capaz e o seu uso é restrito. A profundidade média é de 0,3
m a 0,5 m.
A Ilustração 3.5.3.1 apresenta um sistema de tratamento de esgotos, por
meio de lagoas, bem operado.

ILUSTRAÇÃO 3.5.3.1 – SISTEMA DE LAGOAS BEM OPERADO

As lagoas aeradas mecanicamente são idênticas às lagoas de estabilização,


com uma única diferença: são providas de aeradores mecânicos de superfície
instalados em colunas de concreto ou do tipo flutuantes e também de difusores.
A profundidade varia de 3 m a 5 m. O esgoto bruto é lançado diretamente na la-
goa depois de passar por um tratamento preliminar (caixa de areia). Funcionam
como um tanque de aeração no qual os aeradores artificiais substituem a oxida-
ção por meio das algas nas lagoas de estabilização.
A área para construção é inferior às das lagoas de estabilização em virtude
da profundidade e do tempo de detenção para a estabilização da matéria orgâni-
ca, que também é menor. Há necessidade de energia elétrica para funcionamento
desses aeradores. Podem ser classificadas em três diferentes tipos:

98 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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a) aeróbia com mistura completa;
b) aerada facultativa;
c) aerada com aeração prolongada.
As mais usadas são as duas primeiras em função do menor custo de im-
plantação e operação, bem como menor sofisticação em sua operação, mas não
significa que o custo operacional seja nulo para as dos itens “a” e “b”, pois há
necessidade de cuidados ao longo do tempo para que não haja deterioração das
instalações.
As caixas de areia ou desarenadores são unidades destinadas a reter areia
e outros minerais inertes e pesados que se encontram nas águas de esgoto (en-
tulhos, seixo, partículas de metal, carvão, etc.). Esses materiais provêm de lava-
gem, enxurradas, infiltrações, águas residuárias das indústrias, etc. Têm como
principal emprego a proteção dos conjuntos elevatórios, evitando abrasões, sedi-
mentos incrustáveis nas canalizações e em partes componentes das ETEs, como
decantadores, digestores, filtros, tanques de aeração, etc.
Ainda que apresentem variações em certos detalhes, os processos de lodos
ativados consistem essencialmente da agitação de uma mistura de águas residu-
árias com certo volume de lodo biologicamente ativo, mantido em suspensão por
uma aeração adequada e durante um tempo necessário para converter uma por-
ção biodegradável daqueles resíduos ao estado inorgânico, enquanto o remanes-
cente é convertido em lodo adicional. Tal lodo é separado por uma decantação
secundária e, em grande parte, é retornado ao processo, sendo a quantidade em
excesso disposta pelos meios usuais (digestão).
Os lodos ativados consistem de agregados floculentos de micro-organis-
mos, materiais orgânicos e inorgânicos. Os micro-organismos considerados in-
cluem bactérias, fungos, protozoários e metazoários como rotíferos, larvas de
insetos e certos vermes. Todos eles se relacionam por uma cadeia de alimen-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 99


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tação: bactérias e fungos decompõem o material orgânico complexo e por essa
atividade se multiplicam servindo de alimento aos protozoários, os quais, por
sua vez, são consumidos pelos metazoários que também podem se alimentar
diretamente de bactérias, fungos e mesmo de fragmentos maiores dos flocos de
lodos ativados.
O processo envolve então um estágio de aeração seguido por uma sepa-
ração de sólidos da qual o lodo obtido é recirculado para se misturar ao esgoto.
Na etapa de aeração, ocorre uma rápida adsorção e floculação dos materiais or-
gânicos dissolvidos e em suspensão coloidal. Ocorre ainda uma oxidação pro-
gressiva e uma síntese dos compostos orgânicos adsorvidos e daqueles que são
continuamente removidos da solução. Finalmente, oxidação e dispersão das par-
tículas de lodo com o prosseguimento da aeração.
O processo dos lodos ativados é o mais versátil dos processos biológicos
de tratamento. Pode produzir um efluente com concentração de matéria orgânica
variando de muito alta a muito baixa. Historicamente, foi desenvolvido a partir de
1913 na Inglaterra e permaneceu sem sofrer grandes alterações por quase trinta
anos. Quando começaram as mudanças, elas foram provocadas mais pelos opera-
dores das estações, ao tentarem solucionar problemas especiais, que propriamente
por engenheiros envolvidos em projetos ou pesquisas. Com o avanço da tecno-
logia, entretanto, começaram os grupos de pesquisa a trazer sua contribuição em
termos de modificações básicas no processo.
Muitas modificações do processo de lodos ativados têm sido desenvolvidas
nos últimos anos, mas apenas duas variações básicas devem ser consideradas:
a) sistema convencional, no qual absorção, floculação e síntese são al-
cançadas em um estágio;
b) sistema de estabilização por contato, no qual a oxidação e a síntese
do material orgânico removido ocorrem em um tanque de aeração
separado.

100 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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Na ilustração 3.5.3.2 é possível a visualização de uma estação de tratamen-
to de esgotos de lodos ativados.

ILUSTRAÇÃO 3.5.3.2 – ETE LODOS ATIVADOS BEM OPERADA

No sistema Uasb Biofiltro Aerado, as seguintes unidades compõem o flu-


xograma de tratamento da ETE:
a) pré-tratamento: grade média (limpeza manual, situada na estação
elevatória);
b) tratamento primário: reator anaeróbio de fluxo ascendente (Uasb);
c) tratamento secundário: biofiltros aerados submersos;
d) desidratação do lodo: leitos de secagem;
e) bombeamento.
O esgoto gradeado é encaminhado à estação de recalque, onde será bom-
beado para o reator Uasb. A estação elevatória também receberá o lodo de lava-
gem dos biofiltros aerados submersos, na ocasião em que estes reatores forem
submetidos à lavagem do meio granular. O lodo será bombeado para o reator
Uasb, junto ao esgoto pré-tratado.
O desarenador objetiva à redução do acúmulo de material inerte nos rea-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 101


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tores biológicos. Será instalado um desarenador do tipo canal com limpeza ma-
nual, situado no alto do reator Uasb. Vertedores triangulares serão instalados na
saída do desarenador, objetivando o controle de nível d’água e a distribuição
vazões para alimentação do reator Uasb. A areia será removida periodicamente
do desarenador, sendo acondicionada em caçambas e encaminhadas para aterro
sanitário.
O reator Uasb consiste em um fluxo ascendente de esgotos por meio de
um leito de lodo biológico denso e de elevada atividade metabólica anaeróbia.
O perfil de sólidos no reator varia de muito denso e com partículas granulares de
elevada capacidade de sedimentação próximas ao fundo (leito de lodo), até um
lodo mais disperso e leve, próximo ao topo do reator (manta de lodo). Um dos
princípios fundamentais do processo é a sua capacidade em desenvolver uma
biomassa de grande atividade no reator. Essa biomassa pode se apresentar em
flocos ou em grânulos (1 mm a 5 mm de tamanho).
O cultivo de um lodo anaeróbio de boa qualidade é conseguido por meio
de um processo cuidadoso de partida, durante o qual a seleção da biomassa é im-
posta, permitindo que o lodo mais leve, de má qualidade, seja arrastado para fora
do sistema, ao mesmo tempo em que o lodo de boa qualidade é retido. O lodo
mais denso, normalmente, se desenvolve junto ao fundo do reator e apresenta
uma concentração de sólidos totais da ordem de 40 g a 100 g SST/l. Usualmen-
te, não se utiliza qualquer dispositivo mecânico de mistura, uma vez que estes
parecem ter um efeito adverso na agregação do lodo, e, consequentemente, na
formação de grânulos.
As eficiências de remoção da matéria orgânica costumam se situar na faixa
de 70% a 80% (DBO5), o que, em alguns casos, pode inviabilizar o lançamento
direto dos efluentes tratados no corpo receptor. Por este motivo, embora o Uasb
seja um reator que inclua amplas vantagens, principalmente no que diz respeito

102 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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a requisitos de área, simplicidade de operação, projeto e manutenção e redução
média de matéria orgânica, é bastante importante que seja incluída uma etapa de
pós-tratamento para esse processo.
Portanto, na ETE o reator Uasb realizará o tratamento primário, sendo
inserido no circuito de tratamento logo após o pré-tratamento. O Uasb será cons-
truído em aço carbono protegido contra a corrosão. A digestão do lodo de lava-
gem dos biofiltros será realizada nesta unidade.
Os Biofiltros aerados submersos são reatores biológicos à base de culturas
de micro-organismos fixas sobre camada de suporte imóvel. Na prática, um bio-
filtro é constituído por um tanque preenchido com um material poroso, por meio
do qual a água residuária e o ar fluem permanentemente. Na quase totalidade
dos processos existentes, o meio poroso é mantido sob total imersão pelo fluxo
hidráulico, caracterizando os biofiltros como reatores trifásicos compostos por:
a) fase sólida: constituída pelo meio suporte e pelas colônias de micro-or-
ganismos que nele se desenvolvem sob a forma de um filme biológico
(biofilme);
b) fase líquida: composta pelo líquido em permanente escoamento através do
meio poroso;
c) fase gasosa: formada pela aeração artificial e, em reduzida escala, pelos
gases subprodutos da atividade biológica no reator.
A característica principal do processo é a sua capacidade de realizar, no
mesmo reator, a remoção de compostos orgânicos solúveis e de partículas em
suspensão presentes no esgoto. A fase sólida, além de servir de meio suporte para
as colônias bacterianas depuradoras, constitui-se em um eficaz meio filtrante.
Lavagens periódicas são necessárias para eliminação do excesso de bio-
massa acumulada, mantendo as perdas de carga hidráulica através do meio po-
roso em níveis aceitáveis. A lavagem do BF é uma operação, compreendendo

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 103


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a interrupção total da alimentação com esgoto e diversas descargas hidráulicas
sequenciais de ar e água de lavagem (retro-lavagem).
A função dos BFs será a de garantir o polimento do efluente anaeróbio
dos Uasb. Este processo de tratamento é capaz de produzir um efluente de exce-
lente qualidade, sem a necessidade de uma etapa complementar de clarificação.
A DBO5 e uma fração do nitrogênio amoniacal remanescentes dos Uasb serão
oxidadas por meio da grande atividade do biofilme aeróbio. Em consequência
da grande concentração de biomassa ativa, os reatores serão extremamente com-
pactos. Os BFs também serão construídos em aço carbono.

• Condicionantes
Conforme mencionado anteriormente, o sistema de esgotamento sanitário
pode ocorrer por intermédio de soluções unidomiciliares (fossas sépticas segui-
das de infiltração no solo), soluções coletivas como redes mistas ou do tipo se-
parador absoluto. Neste último caso, o sistema é constituído basicamente por:
redes coletoras, interceptores e estações de tratamento. Portanto, se adotado o
sistema separador absoluto, deve-se verificar que não existam lançamentos de
esgoto industrial ou residencial na rede de drenagem natural ou construída.
Em decorrência das dificuldades operacionais, a localização de elevatórias
de esgoto deve ser cuidadosamente analisada, sendo inclusive fator de restrição
forte para a ocupação de determinadas áreas. Assim, interessa conhecer as cara-
cterísticas físicas e hidráulicas das redes; quantidade e localização dos intercep-
tores; e características das unidades de tratamento.
No sistema de esgotamento sanitário, o lançamento dos efluentes é o prin-
cipal condicionante para planejamento. Essa condição determina o tipo e o nível
de tratamento e sua localização. A disposição do lodo gerado no processo pode
ser fator importante na demanda por área. Outro aspecto que merece especial

104 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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atenção diz respeito aos locais de lançamento do esgoto tratado, ou não. Deve-
se verificar a qualidade dos esgotos lançados e a capacidade de autodepuração
desses corpos receptores.
Importante também é pleno conhecimento das características físicas e hi-
dráulicas das redes; quantidade e localização dos interceptores; e características
da ETE, custo de operação e de manutenção, adequação do modelo tecnológico
de engenharia e de gestão à realidade local.
De modo geral, observa-se que de todos os componentes do sistema do
esgotamento sanitário é o que apresenta maior carência. Nesse sentido, é rele-
vante identificar as áreas que não são atendidas e qual é o tipo de urbanização
que predomina nessas áreas sem cobertura.
Se a ocupação territorial for do tipo desordenada, sem planejamento (caso
típico de vilas, favelas e loteamentos clandestinos), o atendimento por formas
convencionais de esgotamento sanitário pode exigir ações conjuntas de urbani-
zação e/ou remoções e desapropriações.
Este tipo de urbanização apresenta maiores dificuldades para
a execução de obras convencionais devido, principalmente, aos fa-
tores referentes ao traçado e à largura de vielas e becos que mui-
tas vezes não permitem a implantação conjunta de rede de drenagem e
de esgotos.
A ocupação desordenada cria situações desfavoráveis, principalmente nos
fundos de vale em interior de quarteirão, ausência de pontos de lançamento,
formação de áreas de risco e etc. O dinamismo da ocupação dificulta o planeja-
mento de ações de médio e longo prazo; a ausência e/ou precariedade de infra-
estrutura urbana, muitas vezes executada pelos próprios moradores, na maioria
das vezes dificulta e encarece a implantação dos sistemas de esgoto sanitário.
adiante da grande monta de recursos a serem alocados para implantação de

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 105


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sistema de esgotamento sanitário e, por conseguinte, o grande período necessá-
rio para a sua implantação, faz-se necessário prever as condições intermediárias
para implantação de parte do sistema com todas as suas unidades, sem, no en-
tanto, permanecer parcialmente ocioso por um grande período. Nesse sentido, a
opção por sistemas descentralizados (com ou não posterior unificação) deve ser
sempre analisada.
Outra dificuldade encontrada nas áreas de vilas e favelas diz respeito à
manutenção dos sistemas. A ausência ou precariedade do sistema de coleta de
lixo, associada à falta de conscientização sanitária e ambiental da população se
constitui em grave problema para a vida útil das redes que passam a demandar
manutenção mais frequente.
Daí a importância de ação na comunidade para tal conscientização. Além
disso, os benefícios alcançados pela implantação de sistemas de esgotos ficam
minimizados em razão do elevado número de ligações domiciliares não execu-
tadas, por dificuldades técnicas e por falta de previsão deste serviço, quando da
implantação do sistema.
É fundamental um trabalho constante e de eficiente parceria entre a Ope-
radora dos Serviços e a Administração Municipal, o qual deve ser equacionado
tanto na concepção da rede coletora quanto na previsão do serviço de implanta-
ção e no estabelecimento de uma tarifa adequada no sentido de sensibilizar os
moradores dessas áreas para a importância de ligarem suas instalações domici-
liares ao sistema.

3.5.4 Sistema de Limpeza Urbana – Manejo de Resíduos Sólidos

• Generalidades
Os resíduos sólidos são materiais heterogêneos, (inertes, minerais e or-

106 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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gânicos) resultantes das atividades humanas e da natureza, os quais podem ser
parcialmente utilizados, gerando, entre outros aspectos, proteção à saúde pública
e economia de recursos naturais. Os resíduos sólidos constituem problemas sani-
tário, econômico e principalmente estético.
De modo geral, os resíduos sólidos são constituídos de substâncias:
a) facilmente degradáveis (FD): restos de comida, sobras de cozinha,
folhas, capim, cascas de frutas, animais mortos e excrementos;
b) moderadamente degradáveis (MD): papel, papelão e outros produtos
celulósicos;
c) dificilmente degradáveis (DD): trapo, couro, pano, madeira, borra-
cha, cabelo, pena de galinha, osso, plástico;
d) não degradáveis (ND): metal não ferroso, vidro, pedras, cinzas, ter-
ra, areia, cerâmica.
Sua composição varia de acordo com os hábitos e os costumes da po-
pulação, quantidade de habitantes, poder aquisitivo, variações sazonais, clima,
desenvolvimento, nível educacional, variando ainda para a mesma comunidade
com as estações do ano.
Os resíduos sólidos se classificam quanto à sua origem, da seguinte forma:
a) domiciliar;
b) comercial;
c) industrial;
d) serviços de saúde;
e) portos, aeroportos, terminais ferroviários e terminais rodoviários;
f) agrícola;
g) construção civil;
h) limpeza pública (logradouros, praias, feiras, eventos, etc.);
i) abatedouros de aves;

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 107


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j) matadouros;
k) estábulos.
As características físicas dos resíduos sólidos são as seguintes:
a) compressividade: é a redução do volume dos resíduos sólidos quan-
do submetidos a uma pressão (compactação);
b) teor de umidade: compreende a quantidade de água existente na
massa dos resíduos sólidos;
c) composição gravimétrica: determina a porcentagem de cada consti-
tuinte da massa de resíduos sólidos, proporcionalmente ao seu peso;
d) produção per capita: é a massa de resíduos sólidos produzida por
uma pessoa em um dia (kg/hab. x dia);
e) peso específico: é o peso dos resíduos sólidos em relação ao seu
volume.
Os resíduos sólidos, em geral, têm as seguintes características químicas:
a) poder calorífico: indica a quantidade de calor desprendida durante a
combustão de um quilo de resíduos sólidos;
b) teores de matéria orgânica: é o porcentual de cada constituinte da
matéria orgânica (cinzas, gorduras, macronutrientes, micronutrien-
tes, resíduos minerais, etc.);
c) relação carbono/nitrogênio: determina o grau de degradação da ma-
téria orgânica;
d) potencial de hidrogênio: é o teor de alcalinidade ou acidez da massa
de resíduos.
Quanto às características biológicas, os resíduos sólidos apresentam agen-
tes patogênicos e micro-organismos prejudiciais à saúde humana. Os resíduos
sólidos constituem problema sanitário de importância, quando não recebem os
cuidados convenientes. As medidas tomadas para a solução adequada do proble-

108 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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ma dos resíduos sólidos têm, sob o aspecto sanitário, objetivo comum a outras
medidas de saneamento: de prevenir e controlar doenças a eles relacionadas.
Além desse objetivo, visa-se ao efeito psicológico que uma comunidade
limpa exerce sobre os hábitos da população em geral, facilitando a instituição
de hábitos correlatos. Os resíduos sólidos constituem problema sanitário porque
favorecem a proliferação de vetores e roedores. Podem ser vetores mecânicos
de agentes etiológicos causadores de doenças, tais como: diarreias infecciosas,
amebíase, salmoneloses, helmintoses como ascaridíase, teníase e outras parasi-
toses, bouba, difteria, tracoma. Ademais servem, ainda, de criadouro e esconde-
rijo de ratos, animais esses envolvidos na transmissão da peste bubônica, leptos-
pirose e tifo murino.
As baratas que pousam e vivem nos resíduos sólidos onde encontram lí-
quidos fermentáveis têm importância sanitária muito relativa na transmissão de
doenças gastrointestinais, por meio de transporte mecânico de bactérias e para-
sitas das imundícies para os alimentos e pela eliminação de fezes infectadas. Po-
dem, ainda, transmitir doenças do trato respiratório e outras de contágio direto,
pelo mesmo processo.
É de notar-se também a possibilidade de contaminação do homem pelo
contato direto com os resíduos sólidos ou pela massa de água por estes poluídas.
Por serem fontes contínuas de micro-organismos patogênicos, tornam-se uma
ameaça real à sobrevivência do catador de resíduos sólidos. Os resíduos sólidos,
por disporem de água e alimento, são pontos de alimentação para animais, como
cães, aves, suínos, equinos e bovinos.
Prestam-se ainda os resíduos sólidos à perpetuação de certas parasitoses,
como as triquinoses, quando se faz o aproveitamento de restos de cozinha (car-
nes contaminadas) para a alimentação de porcos. Possibilita, ainda, a prolifera-
ção de mosquitos que se desenvolvem em pequenas quantidades de água acumu-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 109


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ladas em latas, vidros e outros recipientes abertos, comumente encontrados nos
monturos.
As vantagens econômicas da solução adequada para o problema dos resí-
duos sólidos podem ser encaradas como decorrência da solução dos problemas
de ordem sanitária, qual seja o aumento da vida média efetiva do homem, quer
pela redução da mortalidade, quer pela redução de doenças.
Quando os resíduos sólidos são dispostos de maneira inadequada, favore-
cem a proliferação de ratos que, além de serem transmissores de doenças e de
destruírem gêneros alimentícios e utensílios, podem causar incêndios provoca-
dos por danos às instalações elétricas.
A solução do problema constitui ganho para a comunidade. Eis porque
projetos e programas são desenvolvidos no sentido da recuperação econômica de
materiais recicláveis e orgânicos, encontrados nos resíduos sólidos.
Existem várias maneiras de acondicionar os resíduos sólidos, conforme
descrição a seguir:
a) resíduos domiciliares/comerciais: recipientes rígidos, recipientes
herméticos, sacos plásticos descartáveis e contêiner coletor ou in-
tercambiável;
b) resíduos de varrição: sacos plásticos descartáveis apropriados, con-
têiner coletor ou intercambiável, caixas subterrâneas, recipientes
basculantes – cestos, contêineres estacionários;
c) feiras livres e eventos: recipientes basculantes – cestos, contêineres
estacionários, tambores de 100/200 l, cestos coletores de calçadas;
d) entulhos: contêineres estacionários;
e) resíduos dos serviços de saúde: sacos plásticos confeccionados com
material incinerável para os resíduos comuns; recipientes feitos com
material incinerável como polietileno rígido, papelão ondulado ou

110 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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outro material com as mesmas características, para acondicionamen-
to dos resíduos infectantes;
f) outros (matadouros e estábulos): estes são coletados e transportados
para o destino final, ou acondicionados em contêineres estacionários.
As informações do Diagnóstico de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos
-– 2006, do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis), indicam
que a natureza jurídica dos órgãos gestores de manejo de resíduos sólidos é ma-
joritariamente realizada pela administração pública direta, secundada por autar-
quias e seguida por empresas públicas e sociedades de economia mista com ad-
ministração pública, conforme pode ser observado na Ilustração 3.5.4.1, adiante.

ILUSTRAÇÃO 3.5.4.1 – NATUREZA JÚRIDICA DOS GESTORES DE RS

• Coleta e Transporte
Sob o ponto de vista sanitário, a eficiência da coleta reduz os perigos de-
correntes de mau acondicionamento na fonte. O sistema de coleta deve ser bem
organizado a fim de produzir o maior rendimento possível e servir, pela sua

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 111


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pontualidade, de estímulo e exemplo para que a comunidade colabore. Esta par-
ticipação é importante para a solução do problema e consiste, principalmente, no
adequado acondicionamento dos resíduos sólidos e na colocação dos recipientes
em locais preestabelecidos.
Dado que o trabalho realizado pela equipe assume caráter de alta impor-
tância, tornando-se necessário que em seu treinamento sejam abordados princí-
pios de cidadania, cuidados ligados à conservação do equipamento e dos reci-
pientes, além dos imprescindíveis conhecimentos de ordem sanitária, sanadores
dos riscos potenciais causados pelos resíduos sólidos. Sob o aspecto econômico,
o planejamento e a organização de um bom sistema de coleta são fundamentais,
uma vez que esta fase varia, em média, 50% a 80%, e às vezes mais, do custo das
operações de limpeza, nos centros urbanos.
De modo geral. a coleta e o transporte devem garantir os seguintes requi-
sitos:
a) a universalidade do serviço prestado;
b) regularidade da coleta (periodicidade, frequência e horário);
c) periodicidade: os resíduos sólidos devem ser recolhidos em períodos
regulares;
d) frequência: é o intervalo entre uma coleta e a seguinte e deve ser o
mais curto possível;
e) horário: usualmente a coleta é feita durante o dia. No entanto, a cole-
ta noturna se mostra mais viável em áreas comerciais e outros locais
de intenso tráfego de pessoas e de veículos.
No que se refere à coleta e ao transporte dos resíduos sólidos, usa-se vários
tipos de veículos como lutocar, carroça de tração animal, caçamba convencional
do tipo prefeitura, caçamba do tipo basculante e caminhão com e sem compac-
tação, etc. O dimensionamento da coleta está ligado ao Plano de Gerenciamento

112 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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de Resíduos Sólidos no qual descreve as ações relativas ao manejo, sendo con-
templados a geração, a segregação, o acondicionamento, a coleta, o transporte
e a destinação final. Na Ilustração 3.5.4.2, são mostrados veículos adequados à
coleta de resíduos sólidos

ILUSTRAÇÃO 3.5.4.2 – VEÍCULOS COLETORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Programar e dimensionar são tarefas necessárias quando se detecta a ne-


cessidade de reformular os serviços existentes e quando se planeja ampliações
para locais não atendidos. Quando a coleta domiciliar é contratada pela prefei-
tura, cabe a ela o gerenciamento dos principais requisitos necessários à contem-
plação das etapas de coleta, transporte e disposição final.
As estações de transferência servem para limitar o percurso dos transpor-
tes coletores. São espaços físicos para armazenamento temporário dos resíduos
bastante utilizados em grandes centros urbanos, em que uma maior economia é
conseguida pelo transporte dos resíduos em veículos com capacidade de 40 m³ a
60 m³. As estações de transferência são classificadas da seguinte forma:

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 113


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a) quanto ao meio de transporte (após transferência.): rodoviário, ferrovi-
ário e hidroviário;
b) quanto ao modo de armazenagem: com fosso de acumulação e sem fos-
so;
c) quanto ao tratamento físico prévio: com sistema de redução de volume
e simples transferência.
De acordo com o Diagnóstico de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos
– 2006, do Snis, a população atendida com coleta de resíduos domiciliares, por
tipo de frequência, pode ser visualizada na Ilustração 3.5.4.3, a seguir.

A média da massa coletada de resíduos domiciliares e resíduos de limpeza


pública per capita em relação à população urbana, de acordo com o Snis/2006,
é mostrada na Ilustração 3.5.4.4.

ILUSTRAÇÃO 3.5.4.3 – POPULAÇÃO ATENDIDA POR COLETA DE RS

Fonte: Snis/2006

114 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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ILUSTRAÇÃO 3.5.4.4 – MÉDIA DA MASSA COLETADA

Fonte: Snis/2006

De acordo com o Snis/2006, o preço dos serviços, agrupando-se os valores


das terceirizações da coleta de resíduos domiciliares, segundo o porte dos Mu-
nicípios, são valores médios contratuais para a coleta terceirizada que variam de
R$ 59,88/t, para Municípios de pequeno porte, até R$ 64,24/t, para Municípios
grandes. A produtividade média do pessoal da coleta (coletadores e motoristas)
é de 2.735 Kg/empr. x dia, apresentando o valor máximo de 2.949 Kg/empr. x
dia para Municípios de grande porte e mínimo de 955 Kg/empr. x dia para Mu-
nicípios pequenos.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 115


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No quadro 3.5.4.1, a seguir, apresenta-se a distribuição de frota de coleta
de resíduos domiciliares e de limpeza urbana, por idade, segundo o prestador do
serviço, ou seja, pela prefeitura ou por empresa.

QUADRO 3.5.4.1 – IDADE DA FROTA DE COLETA DE RESÍDUOS

IDADE PREFEITURAS EMPRESAS


MENOS DE 5 ANOS 23,0 63,6
DE 5 A 10 ANOS 26,2 25,2
MAIS QUE 10 ANOS 50,8 11,2


A composição da frota de acordo com o tipo de veículo coletor pode ser
visualizada no quadro 3.5.4.2.

QUADRO 3.5.4.2 – COMPOSIÇÃO DA FROTA

VEÍCULO PORCENTAGEM
CAMINHÃO COMPACTADOR 44,0
CAMINHÃO BASCULANTE, BAÚ OU

CARROCERIA 46,7
CAMINHÃO POLIGUINDASTE (BROOK) 4,0
TRATOR AGRÍCOLA COM REBOQUE 3,5
TRAÇÃO ANIMAL 2,8

• Limpeza Pública
A limpeza pública é constituída das seguintes atividades:
a) varrição;
b) capinagem;
c) feiras;

116 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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d) eventos;
e) praias;
f) pintura de meio fio com cal;
g) cemitérios;
h) monumentos;
i) bueiros; e
j) córregos.
Varrição é o conjunto de procedimentos concernentes à limpeza manual
ou mecanizada que se desenvolve em vias e logradouros públicos, abrangendo
o arraste, o acondicionamento e o recolhimento ou a sucção dos resíduos comu-
mente presentes numa faixa de aproximadamente 1 metro de largura a partir das
sarjetas.
As informações do Snis/2006 indicam que as prefeituras são o agente
executor de maior presença na tarefa de varrição, chegando a 49,0% dos casos
em atuação exclusiva e mais 16,3% em atuação conjunta com empresas. Já as
empresas trabalham com exclusividade em 34,4% dos Municípios da amostra,
aos quais se somam os 16,3% em que atuam em conjunto com as prefeituras.
Como no caso da coleta de resíduos sólidos, a atuação exclusiva das pre-
feituras na varrição, embora presente em todas as faixas de porte populacional
cai fortemente com o crescimento do tamanho dos Municípios, dando lugar para
a atuação de empresas, quer exclusivamente, quer em conjunto com a prefeitura,
indicando uma junção dos dois serviços na trajetória de terceirização.
A terceirização dos serviços de varrição apresenta valores contratuais que
indicam valores médios de R$ 43,89 e R$ 44,10 por Km, para contratos sem e
com coleta dos resíduos, respectivamente, com uma dispersão muito alta nos
valores, em ambos os casos. A produtividade do pessoal da varrição (varredores)
apresenta como valor médio 1,0 Km/empr. x dia até 2 Km/empreg. x dia.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 117


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Capina é o conjunto de procedimentos concernentes ao corte, manual ou
mecanizado; ou à supressão, por agentes químicos, da cobertura vegetal rasteira
considerada prejudicial e que se desenvolve em vias e logradouros públicos, bem
como em áreas não edificadas, públicas ou privadas, abrangendo eventualmente a
remoção de suas raízes e incluindo a coleta dos resíduos resultantes.
Nos Municípios que realizam capina predomina largamente a capina ma-
nual (95,5%). A capina manual apresenta valores elevados, acima de 90%, para
todos os portes dos Municípios. Já a presença de capina mecânica está presente
em uma boa parcela de Municípios; no entanto, sem que se verifique tendência
associada ao porte do Município. A outra forma de capina é por meio da aplica-
ção de produtos químicos, com menor frequência.

• Reciclagem
Tanto quanto possível deve-se aprender a reduzir a quantidade dos resíduos
sólidos que se gera. É importante o entendimento de que a redução não implica
padrão de vida menos agradável. É simplesmente uma questão de reordenar
os materiais que usamos no dia-a-dia. Uma das formas de se tentar reduzir a
quantidade dos resíduos sólidos gerada é combatendo o desperdício de produtos
e alimentos consumidos.
O desperdício resulta em ônus para o Poder Público e para o contribuinte.
Sua redução significa diminuição nos custos, além de fator decisivo na preser-
vação dos recursos naturais. Menos lixo gerado também implicará estrutura de
coleta menor e redução de custos de disposição final.
Existem inúmeras formas de reutilizar os objetos, desde a utilização de
embalagens retornáveis até o reaproveitamento de embalagens descartáveis para
outros fins; isso são apenas alguns exemplos. A reciclagem consiste em uma série
de atividades e processos, industriais ou não, que permitem separar, recuperar e

118 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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transformar os materiais recicláveis componentes dos resíduos sólidos urbanos.
Essas atividades levam a ação de reintroduzir os resíduos no ciclo produtivo.
As etapas de reciclagem dos resíduos sólidos são:
a) separação e classificação dos diversos tipos de materiais (vidro,
papéis, plástico, metais);
b) processamento para obtenção de: fardos, materiais triturados, e/ou
produtos que receberam algum tipo de beneficiamento;
c) comercialização dos materiais na forma triturada, prensada ou pro-
dutos obtidos dos processos de reciclagem;
d) reutilização dos produtos e reaproveitamento em processos indus-
triais, como matérias-primas.
Sob a ótica do interesse empresarial pelo processo produtivo de tratamen-
to e transformação de resíduos, deve-se verificar a demanda, isto é, o mercado
consumidor é o grande determinante do que produzir, como produzir, quando e
quanto será produzido. Sem um mercado já existente, ou com perspectiva de ser
criado, não existe a filosofia empresarial.
A seguir apresentam-se alguns tópicos que devem ser considerados em
relação ao assunto em questão:
a) toda a produção deve ser definida e direcionada a partir de um mer-
cado;
b) reciclagem é um negócio e deve ser assim tratado. Devem-se encon-
trar as respostas para as seguintes indagações a respeito do que será
reciclado, tais como: qual o material? Quais são os custos? Como
transportar para a linha de produção? Onde armazenar?
c) o sistema deve utilizar técnicas de estudo de tempo impedindo diver-
sos tipos de desperdício, com a diminuição de custos com movimen-
tação, fabricação de produtos defeituosos e estoques, dando mais

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 119


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eficiência e economia às linhas de produção;
d) o arranjo físico do processo produtivo deve dispor os equipamentos
segundo o roteiro de produção;
e) os postos de trabalho em uma linha produtiva para a reciclagem
devem estar com equivalência em termos de carga de trabalho, ou
então haverá sobrecarga e consequentemente acúmulo (ou gargalo
produtivo);
f) planejamentos dos postos de trabalho devem incluir a sua flexibi-
lidade, autonomia e proximidade como fatores determinantes, pois
poderemos deslocar produtos e trabalhadores de acordo com as ne-
cessidades das linhas produtivas;
g) ainda no aspecto do planejamento da linha de produção, deve ser
dada ampla preferência a equipamentos pequenos, mais flexíveis (de
fácil movimentação) e fáceis em termos de manutenção preventiva;
h) como toda a produção é diretamente vinculada à demanda, os tem-
pos do processo devem adaptar-se perfeitamente a essas variações de
demanda em curto prazo.
Na Ilustração 3.5.4.5, observa-se as incidências de materiais recicláveis
recuperados por tipo de material, a seguir.

120 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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ILUSTRAÇÃO 3.5.4.5 – INCIDÊNCIAS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

No manejo dos resíduos sólidos, deve-se levar em conta que em-


bora a reciclagem deva ser meta, ela é pouco eficiente para garan-
tir que o ciclo de matéria seja alcançado. Isso significa que a área para dis-
posição final dos resíduos coletados ainda é fator muito importante.
O processo de reciclagem, por sua vez, também necessita de área significativa,
tendo peso considerável no planejamento.

• Tratamento de Resíduos Sólidos


A compostagem é um processo biológico, aeróbico e controlado, no qual
a matéria orgânica é convertida pela ação de micro-organismos já existentes ou
inoculados na massa de resíduo sólido, em composto orgânico. O teor de umida-
de dos resíduos sólidos situa-se entre 50% a 60%. Se for muito baixa, a atividade
biológica fica comprometida e se for muito alta a oxigenação é prejudicada e
ocorre a anaerobiose, surgindo consequentemente um líquido escuro de odor
desagradável, denominado chorume.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 121


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É necessária para a atividade biológica a degradação da matéria orgânica
de forma mais rápida, sem odores ruins e isso ocorre de duas maneiras: artificiais
(mecânicas) ou naturais (reviramentos). O ciclo de reviramento situa-se em mé-
dia duas vezes por semana durante os primeiros 60 dias.
O processo inicia-se à temperatura ambiente, aumentando gradativamente
à medida que a ação dos micro-organismos se intensifica. O valor da temperatura
ideal é de 55oC, devendo ser evitada a temperatura acima de 65oC por causarem a
eliminação dos micro-organismos estabilizadores, responsáveis pela degradação
dos resíduos orgânicos. A fase denominada termofílica é importante para a eli-
minação de micróbios patogênicos e sementes de erva daninhas, eventualmente
presente no material em compostagem. O final do processo caracteriza-se pela
presença de temperaturas mesofílicas, entre 30oC a 40oC.
Os aspectos técnicos para construção de uma área para compostagem con-
vencional são os apresentados a seguir:
a) declividade do terreno: 2% a 3%;
b) regularização do piso;
c) sistema de drenagem;
d) impermeabilização da área;
e) manter distância mínima de 500 m da periferia da cidade;
f) ventos predominantes da cidade para a usina;
g) infraestrutura necessária, água e energia elétrica;
h) o terreno deve estar a 2 m do nível mais alto do lençol freático.
A incineração é um processo de oxidação à alta temperatura, com a queima
dos gases entre 1.000oC a 1.450oC, no tempo de até quatro segundos, devendo
ocorrer em instalações bem projetadas e corretamente operadas, onde há a trans-
formação de materiais e a destruição dos micro-organismos dos resíduos sólidos,
visando, essencialmente, à redução do seu volume para 5% e, do seu peso, para

122 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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10% a 15% dos valores iniciais.
As escórias e as cinzas geradas no processo são totalmente inertes, deven-
do receber cuidados quanto ao acondicionamento, armazenamento, identifica-
ção, transporte e destinação final adequada. O nível de eficiência de destruição e
remoção no processo de incineração, por incineradores do tipo convencional, do
tipo rotativo, do tipo vertical e os de câmara, com as capacidades variando de 30
kg/hora a 1.300 kg/hora, não deve ser inferior a 99,99%.
A geração de dioxinas e furanos, derivados de reações em moléculas de
cloro expostas à grande pressão e temperatura, em ambientes cheios de matéria
orgânica, causam danos ao meio ambiente e ao homem. A disposição final dos
resíduos pode ser realizada em aterros que consistem no enterramento planejado
dos resíduos sólidos e controlados tecnicamente quando dos aspectos ambien-
tais, de modo a evitar a proliferação de vetores e roedores e outros riscos à saúde.
Cuidados especiais devem ser considerados quanto à localização dos ater-
ros, devendo-se evitar a proximidade de habitações, possibilidade de contami-
nação de água, distâncias, acesso ao local, obras de drenagem, planejamento
da própria operação e das sucessivas frentes a serem atacadas. Os aterros são
classificados da seguinte forma:
a) aterros de superfície;
b) aterros com depressões e ondulações;
c) método de rampa;
d) método de trincheira;
e) método da área; e
f) aterros em valas.
O aterro controlado é uma técnica de disposição de resíduos sólidos no
solo, visando à minimização dos impactos ambientais. Esse método utiliza al-
guns princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos, cobrindo-os

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 123


Confederação Nacional de Municípios – CNM
com uma camada de material inerte na conclusão de cada jornada de trabalho.
Este método de disposição produz poluição, porém de forma controlada,
geralmente, não dispõe de impermeabilização de base (podendo comprometer a
qualidade das águas subterrâneas), nem de sistemas de tratamento do percolado
(termo empregado para caracterizar a mistura entre o chorume e a água de chuva
que percola no aterro) e do biogás gerado.
O aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos é a técnica de disposição de
resíduos no solo, visando à minimização dos impactos ambientais, método este
que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos a menor
área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma
camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos meno-
res, se necessário. Na Ilustração 3.5.4.5 pode-se observar um aterro corretamente
operado, inclusive com a utilização de equipamento de compactação adequado,
o trator sobre esteira.

ILUSTRAÇÃO 3.5.4.5 – ATERRO SANITÁRIO BEM OPERADO

124 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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• Resíduos de Serviços de Saúde
Este serviço corresponde ao conjunto de procedimentos referentes ao reco-
lhimento de resíduos infectantes ou perfurocortantes gerados em estabelecimen-
tos de atenção à saúde (hospitais, clínicas, postos de saúde, clínicas veterinárias,
consultórios médicos e odontológicos, farmácias, laboratórios de análises clíni-
cas e demais estabelecimentos congêneres) e que, em função de suas caracterís-
ticas específicas, demandam a adoção de métodos e/ou procedimentos especiais
de acondicionamento, coleta, transporte, tratamento ou disposição final.
Para os serviços de saúde há procedimentos mínimos que orientam o ge-
renciamento e o tratamento de seus resíduos, com vistas a preservar a saúde pú-
blica e a qualidade de vida da população e do meio ambiente, os quais ratificam
que as ações preventivas são menos onerosas e mais eficazes para alcançar esses
objetivos.
Resoluções governamentais determinam que caberá aos estabelecimentos
de saúde em operação ou a serem implantados o gerenciamento dos resíduos
produzidos. O plano de gerenciamento, seguindo os critérios e padrões fixados
pelo órgão ambiental de cada Estado da federação é documento integrante do
processo de licenciamento ambiental.
O gerenciamento dos RSS constitui-se em um conjunto de procedimentos
de gestão, planejados e implementados a partir de bases científicas e técnicas,
normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e pro-
porcionar aos resíduos gerados um encaminhamento seguro, de forma eficiente,
visando à proteção dos trabalhadores, à preservação da saúde pública, dos recur-
sos naturais e do meio ambiente.
O gerenciamento deve abranger o planejamento de recursos físicos, recur-
sos materiais e a capacitação de recursos humanos envolvidos no manejo dos
RSS. Baseado nas características e no volume dos RSS gerados, um Plano de

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 125


Confederação Nacional de Municípios – CNM
Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) que estabeleça as
diretrizes de manejo dos RSS deve ser elaborado.
A disposição final dos RSS precisa ser realizada em aterro controlado ou
sanitário que será implantado (dependendo do caso) pelo projeto técnico que
siga rigorosamente a Norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas –
ABNT, que determina os procedimentos de apresentação de projetos tanto de
aterros controlados como de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos.
A massa de resíduos dos serviços de saúde coletada per capita, em relação
à população urbana, segundo os dados do Snis/2006, aponta como indicador mí-
nimo o total de 0,21 kg/1.000 hab. x dia e o máximo de 49,81 kg/1.000 hab. x dia,
resultando o valor médio igual a 6,45 kg/1.000 hab. x dia.

• Resíduos Sólidos da Construção Civil


A coleta diferenciada de resíduos sólidos da construção civil é o conjunto
de procedimentos referentes ao recolhimento de resíduos provenientes de cons-
truções, reformas, reparos e demolições de obras e os resíduos resultantes de es-
cavações e preparação de terrenos para implantação de edificações. Incluem-se
nesta categoria de resíduos: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos,
rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e componentes, argamassa, gesso,
telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica e outros,
classificados conforme normas da ABNT em classes A, B, C e D.
Em cerca de 64% dos Municípios brasileiros, a prefeitura executa – só
ou em conjunto com outros agentes – a coleta de Resíduos Sólidos da Cons-
trução Civil – RCD. Desses, contudo, somente em 14,5% o serviço é cobra-
do. Desagregando-se a execução da coleta de RCD por agente com atuação ex-
clusiva, tem-se ainda destaque para a prefeitura (34,1%) seguida de empresas
especializadas (17,0%). A combinação de todos os quatro agentes trabalhando

126 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
simultaneamente alcança 42,0% das respostas

• Informações Adicionais
Outro fator de grande importância é a interface entre a limpeza pública e
a comunidade local. O manejo de resíduos sólidos tem grande dependência da
boa aceitabilidade dos serviços pelos usuários, para que a limpeza pública possa
ser mais efetiva. Além disso, o fato de os resíduos sólidos urbanos terem valor
econômico deve ser considerado, pois existem pessoas que têm na “catação”
seu meio de vida. Dessa forma, cuidado especial precisa ser dado aos aspectos
sociais relacionados ao manejo dos resíduos sólidos.
As causas dos problemas mais frequentes no sistema de limpeza urbana
podem ser resumidamente identificadas da seguinte forma:
a) Presença de lixo nas vias:
– inexistência de coleta;
– sistema de coleta inapropriado para o local;
– coleta deficiente, frequência irregular;
– falta de campanha educativa;
– falta de fiscalização e aplicação da legislação municipal.
b) Presença de lixo nos corpos de água superficiais:
– inexistência de coleta;
– sistema de coleta inapropriado para o local;
– coleta deficiente, freqüência irregular;
– falta de campanha educativa;
– falta de fiscalização e aplicação da legislação municipal;
– falta ou tratamento inadequado do chorume gerado no local de dis-
posição final.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 127


Confederação Nacional de Municípios – CNM
c) Poluição dos corpos de água superficiais e subterrâneos:
– contaminação pelo chorume.
d) Incômodos em torno da área de disposição final:
– existência de lixão;
– localização inadequada com outras atividades;
– operação inadequada.
e) Deficiência na Gestão do Sistema:
– ausência de Organograma e de Plano Funcional;
– obsolescência e/ou inadequabilidade das estruturas e equipamentos;
– sistema operando de modo deficitário.
As soluções para os problemas mais frequentes no sistema de limpeza
urbana são as seguintes:
a) recuperação e ampliação das estruturas físicas e trocas de equipamentos;
b) modernização do modelo de gestão;
c) reavaliação do Plano Tarifário;
d) reforço da capacidade fiscalizadora dos órgãos competentes;

3.5.5 Drenagem Urbana

O sistema de drenagem se sobressai como um dos mais sensíveis dos pro-


blemas causados pela urbanização, tanto em razão das dificuldades de esgota-
mento das águas pluviais, quanto em razão da interferência com os demais sis-
temas de infraestrutura, além de que, com a retenção da água na superfície do
solo, surgem diversos problemas que afetam diretamente a qualidade de vida da
população.
O sistema de drenagem é o mais destacado no processo de expansão urba-
na, ou seja, o que mais facilmente comprova a sua ineficiência após as chuvas de

128 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
grande intensidade, acarretando transtornos à população, causando como conse-
quência inundações e alagamentos. Além disso, também propicia o aparecimen-
to de doenças como a leptospirose, diarreias, febre tifoide e a proliferação dos
mosquitos anofelinos, que podem disseminar a malária.
Assim sendo, essas águas devem ser drenadas por meio de um sistema que
permita o escoamento eficaz que possa sofrer adaptações, para atender à evolu-
ção urbanística ao longo do tempo.
No aspecto sanitário a drenagem visa principalmente à:
• desobstrução dos cursos d’água, dos igarapés e riachos, evitando
a formação de criadouros (formação de lagoas) combatendo, por
exemplo, a malária; e
• não-propagação de algumas doenças de veiculação hídrica.
Nesta atividade, objetiva-se a coleta das informações que indique a situa-
ção atual do Município no que diz respeito às enchentes urbanas e à drenagem
urbana para subsidiar, em uma etapa posterior, o desenvolvimento de ações e
alocação de recursos, a fim de mitigar os problemas causados pelas enchentes e
as deficiências do sistema de drenagem.
A urbanização de uma bacia se manifesta num acelerado processo de im-
permeabilização de sua superfície, como consequência, principalmente, pela
construção de prédios, pavimentação de ruas, calçadas e estacionamentos.
A impermeabilização do solo reduz a infiltração, aumentando o volume es-
coado superficialmente. Além da redução da infiltração, existem outros aspectos
que influenciam significativamente nas características “naturais” da infiltração
em áreas urbanas, como: presença de aterros, escavação, compactação e mistura
de materiais de diferente granulometria.
A incorporação de superfícies semipermeáveis e impermeáveis torna a su-
perfície do terreno mais lisa, o que aumenta a velocidade do escoamento. O

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 129


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armazenamento em depressões da superfície também é reduzido, aumentando
ainda mais o excedente da precipitação escoado superficialmente.
Existem outras circunstâncias que podem provocar enchentes por elevação
de nível, como por exemplo, o estrangulamento da seção de um curso d’água
devido à construção de pilares de pontes, represamentos ou remansos gerados
por barragens ou rios de maior porte, entre outras.
Após o processo de ocupação do solo, a resposta da bacia aos diferen-
tes tipos de chuva muda radicalmente. Nessas condições, ela é capaz de gerar
escoamento para os eventos mais frequentes (menos severos e mais intensos).
A proporção no aumento da vazão superficial é significativamente maior nos
eventos menos severos e de maior intensidade que nos eventos mais severos e
menos intensos.
É natural que essas novas características da bacia se refletem na distribui-
ção estatística das enchentes, aumentando a média anual, o coeficiente de varia-
ção da distribuição diminui e a declividade da curva vazão-tempo de retorno, e
tendam a diminuir.
As perdas por interceptação e evaporação são desprezíveis na escala de
tempo de um evento chuvoso numa bacia urbana, mas a evaporação tem efeito
significativo na recuperação do solo entre eventos. Na Ilustração 3.5.5 notam-se
as principais mudanças no comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfi-
ca em função da urbanização.
Outras alterações significativas decorrentes do processo de desenvolvi-
mento urbano na bacia são as mudanças no sistema de drenagem, materializadas
na construção de obras de microdrenagem e modificações substanciais na ma-
crodrenagem.
Esta última pode ser sintetizada pelo aumento da extensão dos canais ar-
tificiais, os arroios e córregos são retificados e sua superfície é frequentemente

130 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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revestida. Essas mudanças, em geral, aumentam a eficiência do escoamento, an-
tecipando o tempo de pico do hidrograma de escoamento superficial.
Existem situações em que a urbanização se apresenta com efeitos contrá-
rios aos mencionados, e não acontece um aumento na vazão de pico e/ou uma re-
dução no tempo de pico. Essas situações ocorrem quando a falta de manutenção
da rede de drenagem provoca o seu assoreamento. Com isso, consequentemente
sua eficiência hidráulica diminui.
O traçado inadequado de ruas e as construções que invadem o leito dos
rios geram alagamentos temporários, que reduzem a vazão de pico e retardam
o tempo de pico. É necessário destacar como impacto negativo da urbanização
não apenas as enchentes e o aumento do volume escoado superficialmente, mas
também outros impactos ambientais como a piora na qualidade das águas dos
córregos e arroios que atravessam a cidade. O aumento na produção de sedimen-
tos; a contaminação dos aquíferos; além das doenças de veiculação hídrica.
Assim, pode-se concluir que, do ponto de vista hidrológico, são três os
aspectos indesejáveis mais preocupantes derivados do fenômeno de ocupação
do solo:
• aumento considerável no volume e velocidade do escoamento su-
perficial;
• aumento na produção de sedimentos devido à erosão; e
• deterioração da qualidade das águas drenadas pelos esgotos pluviais.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 131


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ILUSTRAÇÃO 3.5.5 – MUDANÇAS HIDROLÓGICAS DECORRENTES DA
URBANIZAÇÃO

Para o manejo das águas pluviais, o grau de impermeabilização do solo é


fator de grande importância, influindo fortemente nas decisões tecnológicas a
serem adotadas para o bom desempenho desse sistema. Além disso, o respeito
pelas áreas naturais de escoamento minimiza os custos envolvidos na implanta-
ção das obras, podendo significar a viabilidade ou não de solução para algumas
situações.
Aspecto importante a ser considerado é o fator de risco, uma vez que o
fenômeno da precipitação é probabilístico. Diante disso, o planejamento deve
levar em conta que sempre há o risco de que as vazões previstas podem ser ul-
trapassadas.

132 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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Um sistema geral de drenagem urbana é constituído pelos sistemas de mi-
crodrenagem e macrodrenagem. A microdrenagem urbana é definida pelo siste-
ma de condutos pluviais em nível de rede primária urbana, que propicia a ocupa-
ção do espaço urbano ou periurbano por uma forma de assentamento, adaptando-
se ao sistema de circulação viária. Normalmente os sistemas de microdrenagem
são constituídos da seguinte forma:
• boca de lobo que são dispositivos para captação de águas pluviais,
localizados nas sarjetas;
• as sarjetas são elementos de drenagem das vias públicas, que cap-
tam as águas pluviais precipitadas nas vias públicas e que para elas
escoam;
• os poços de visita são dispositivos localizados em pontos conve-
nientes do sistema de galerias para permitem a mudança de direção,
mudança de declividade, mudança de diâmetro e limpeza das cana-
lizações;
• os tubos de ligações são canalizações destinadas a conduzir as águas
pluviais captadas nas bocas de lobo para a galeria ou para os poços
de visita; e
• os condutos são tubulações destinadas à condução das águas super-
ficiais coletadas.
O sistema de macrodrenagem é o conjunto de instalações formadas por ca-
nais naturais ou artificiais, galerias de grandes dimensões e estruturas auxiliares,
que tem por objetivo a melhoria das condições de escoamento de forma a atenuar
os problemas de erosões, assoreamento e inundações ao longo dos principais
talvegues (fundo de vale).
A macrodrenagem da zona urbana corresponde à rede de drenagem natural
pré-existente nos terrenos antes da ocupação, sendo consituída pelos igarapés,

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 133


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córregos, riachos e rios localizados nos talvegues e valas. Os canais são cursos
d’água artificiais destinados a conduzir água à superfície livre.
A topografia do terreno, a natureza do solo e o tipo de escoamento determi-
nam a forma da seção a serem adotadas, as inclinações de taludes e declividade
longitudinal dos canais. Apesar de independentes, as obras de macrodrenagem
mantêm um estreito relacionamento com o sistema de drenagem urbano, deven-
do, portanto ser projetadas conjuntamente para uma determinada área.
As intervenções nos sistemas de macrodrenagem consistem basicamente
em:
• retificação e/ou ampliação das seções de cursos naturais;
• construção de canais artificiais ou galerias de grandes dimensões;
• estruturas auxiliares para proteção contra erosões e assoreamento,
travessias e estações de bombeamento;
• Justifica-se a implantação ou a ampliação dos sistemas de macrodre-
nagem nos seguintes casos:
- saneamento de áreas alagadiças;
- ampliação da malha viária em vales ocupados;
• minimizar ou evitar o aumento de contribuição de sedimento pro-
vocado pelo desmatamento e manejo inadequado dos terrenos, lixos
lançados sobre os leitos; e
• ocupação dos leitos secundários de córregos.

Os tipos mais comuns de drenagem são os indicados a seguir:

• a superficial, que é mais adequada para os terrenos planos, com capa


superficial sustentável e subsolo rochoso ou argiloso impermeável,
impedindo o encharcamento do terreno, evitando a saturação prolon-

134 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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gada do solo e acelerando a passagem da água sem risco de erosão e
acumulação de lama no leito.
• a subterrânea tem como objetivo o rebaixamento do lençol freático
até o nível que favoreça o cultivo e a garantia da estabilidade das es-
tradas, bem como a segurança das construções. A drenagem subter-
rânea, utilizando valas, é aplicada nos casos em que não seja neces-
sário o rebaixamento do lençol freático mais que 1,5 m, isso porque
o volume de terra a ser removido será proporcional ao quadrado da
profundidade da vala.
• a vertical é utilizada em terrenos planos quase sem declive para que
a água drene, como nos pântanos e marisma. Estes terrenos possuem
uma capa superficial encharcada por existir abaixo dela uma camada
impermeável, impedindo, assim, a infiltração. Poder-se-á dar saída
às águas superficiais e subterrâneas, pelos poços verticais, preen-
chidos com pedras, cascalho ou areia grossa, protegendo assim, sua
estabilidade. Devem-se tomar precauções, em decorrência desse tipo
de drenagem, quanto ao risco de contaminação das águas subterrâ-
neas.
• a elevação mecânica (bombas) deve ser utilizada quando o nível da
água a ser bombeada é inferior ao nível do local destinado a receber
o líquido, uma vez que não há carga hidráulica no extremo inferior
da área a ser drenada e quando o lençol freático do terreno é elevado,
podendo-se substituir a rede de drenagem superficial por sistema de
poços, a partir do bombeamento para as valas coletoras.

A seguir são identificadas algumas intervenções para manutenção dos sis-


temas de macrodrenagem:

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 135


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• retificação de canais;
• limpeza manual;
• limpeza mecânica;
• desmatamento;
• aterro;
• construções de obras de arte;
• revestimento de canais.

3.5.6 Institucional

Em relação às características do prestador de serviços de saneamento bási-


co devem ser obtidas as seguintes informações:

• nome;
• data de constituição;
• serviços prestados;
• organograma;
• modelo de gestão se pública municipal ou estadual, privado, coope-
rativo, etc.;

No caso de concessão dos serviços de saneamento básico devem ser cole-


tadas as informações a seguir:

• identificação do concessionário;
• data de término da concessão;
• instrumento legal que regula a concessão (lei municipal, contrato de
operação, etc.);

136 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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• na hipótese de o prazo de concessão estar por expirar, ou quando não
existir instrumento legal adequado, esclarecer quais providências es-
tão sendo tomadas para a solução.

Do sistema de operação e manutenção é importante que se tenha conheci-


mento dos seguintes itens:

• capacidade de produção média e máxima dos sistemas;


• existência de cadastro técnico;
• existência de programas de controle operacional;
• diagnóstico de desempenho das unidades;
• custos individualizados de operação e manutenção dos sistemas.

Do sistema comercial deve-se saber em função de séries históricas dos 3


últimos anos o que segue:

• faturamento;
• produção;
• estimativas de volumes;
• economias atendidas, por categoria de uso;
• índice de Medição;
• índice de arrecadação (arrecadação/faturamento);
• descrição da política tarifária e estrutura tarifária vigente.

Em relação ao sistema financeiro, é importante que se tenha conhecimento


das séries históricas dos 3 últimos anos de:

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 137


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• receitas operacionais diretas, através das tarifas e indiretas, conside-
rando a venda de serviços, multas e etc.;
• receitas não operacionais tais como aplicações financeiras, vendas
de ativos e etc.;
• despesas de exploração com pessoal, energia elétrica, produtos quí-
micos, materiais, serviços de terceiros, serviços gerais, fiscais, ser-
viços da dívida;
• orçamento anual de custos e investimentos.

No cálculo dos custos locais de Municípios vinculados a Companhias Es-


taduais de Saneamento, os custos contabilizados de forma centralizada deverão
ser desagregados proporcionalmente à quantidade de ligações.
É importante do sistema administrativo o conhecimento referente aos re-
cursos humanos utilizados tais como: quantidade de empregados, divididos em
profissionais de nível superior, técnicos, operacionais, administrativos, terceiri-
zados, estagiários, bolsistas, existência de planos de capacitação e/ou demissão.
Além do que foi explicitado, são importantes para o diagnóstico institucio-
nal as seguintes informações:

• indicadores de gestão;
• índices de cobertura e continuidade dos serviços;
• qualidade;
• custos e tarifas;
• eficiência e produtividade.

No que concerne aos índices de atendimento dos sistemas de abastecimen-


to de água e esgotamento sanitário, o Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgo-

138 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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tos – 2007,do Snis revela que os maiores índices de cobertura se concentram nos
Estados de São Paulo e Distrito Federal, assim como os menores estão concen-
trados nos Estados do Norte e alguns do Nordeste. Para melhor visualização do
exposto, apresentam-se, a seguir, as Ilustrações 3.5.6.1 e 3.5.6.2.
O estudo “Dimensionamento da Necessidade de Investimentos para Uni-
versalização dos Serviços de Água e Esgotos no Brasil”, realizado pelo PMSS e
divulgado em 2003, apontou que o Brasil necessitava à época de R$ 178 bilhões
para universalizar os serviços de água e esgotos e fazer a reposição da infra-
estrutura existente de forma a assegurar atendimento contínuo e de qualidade.
Esse valor, atualizado para dezembro de 2007 com base no IPCA, é de R$ 268,8
bilhões. O Estudo considerou a demanda pelos serviços a partir do ano de 2001
com prazo máximo de universalização de 20 anos.

ILUSTRAÇÃO 3.5.6.1 – ÍNDICE DE COBERTURA DE ÁGUA

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 139


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ILUSTRAÇÃO 3.5.6.2 – ÍNDICE DE COBERTURA DE ESGOTOS

Investigando os dados da série histórica do Snis a partir de 2001, ou seja,


dos últimos 7 anos (2001 a 2007), e, cruzando com os resultados do Estudo, é
possível a seguinte conclusão:

• total investido, já atualizado pelo IPCA: R$ 28,6 bilhões;


• média anual dos investimentos nos últimos 7 anos: R$ 4,1 bilhões;
• saldo a investir para se alcançar a universalização: R$ 240,2 bilhões;
• quantidade de vezes que deve ocorrer o mesmo investimento médio
para se alcançar a universalização: 66 vezes.

140 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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Portanto, na hipótese de manter-se como média de investimentos anuais, o
valor médio verificado nos últimos 7 anos (R$ 4,1 bilhões) pode-se prever reais
dificuldades para se alcançar a tão desejada universalização dos serviços de água
e esgotos no Brasil, caso esse cenário não se altere.
O número de trabalhadores envolvidos diretamente com a prestação dos
serviços foi de 187,4 mil, incluídos nesse total os postos de trabalho próprios
dos prestadores de serviços igual a 127,8 mil e os que resultaram das atividades
terceirizadas. Observou-se um crescimento de aproximadamente 3,4% da força
de trabalho em 2007 comparativamente a 2006.
É de se considerar que, além desses postos de trabalho, a atividade de
prestação de serviços de água e esgotos gera empregos na indústria de materiais
e equipamentos, na execução de obras, na prestação de outros serviços de enge-
nharia e nas áreas de projetos e consultoria.
Com efeito, adotando como referência o Modelo de Geração de Emprego e
Renda do BNDES, que propõe uma taxa média de 530 empregos para cada R$ 10
milhões de aumento na produção da construção civil, pode-se estimar que o setor
saneamento brasileiro, no ano de 2007, ao investir cerca de R$ 4,2 bilhões, gerou,
aproximadamente, 224,6 mil empregos diretos, indiretos e de efeito renda.
A produtividade de pessoal total medida segundo a quantidade de liga-
ção ativa (água + esgotos) por pessoal total (próprios + terceiros) obteve, no
Snis/2007, o índice médio de 281,3 ligações/empregado em 2007. Nos presta-
dores regionais, o valor médio foi de 318,7 ligações/empregado, com valores
variando desde um mínimo de 80,87 ligações/empregado até o máximo de 491,8
ligações/empregado.
No que se refere aos dados do Snis em 2007, o valor médio das perdas
de faturamento para todo o conjunto de prestadores de serviços foi de 39,1%.
Observa-se uma redução em 0,7 ponto porcentual comparativamente a 2006 e o

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 141


Confederação Nacional de Municípios – CNM
retorno ao patamar verificado em 2005, quando o índice foi de 39,0%.
Alguns prestadores de serviços sinalizam frágeis condições técnico-ope-
racionais e de gestão dos serviços, indicando a necessidade de investimentos
na melhoria operacional e na reforma da gestão, de um lado; e o recomendável
não-investimento em novos sistemas de produção de água, de outro; pois, como
se sabe, ampliar a produção em um ambiente de elevadas perdas pode ter como
consequência perdas de água ainda maiores.
Para o indicador médio de todo o subconjunto de abrangência regional,
o índice atual (39,1%) apresentou melhora de 0,4 ponto porcentual em relação
ao do ano de 2006 (39,5%). Na Ilustração 3.5.6.3 pode-se observar o índice de
perdas no faturamento, por Estado brasileiro.

ILUSTRAÇÃO 3.5.6.3 – ÍNDICE DE PERDAS NO FATURAMENTO – SNIS/2007

142 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
Admitindo que 60% das perdas reais e aparentes são recuperáveis – em
outras palavras, reduzir as perdas aparentes ao patamar de 20,7 m³/s e as perdas
reais para o patamar de 49,8 m³/s –, então o ganho poderia chegar ao montante
de R$ 4,4 bilhões no ano. Este é um número avassalador, se considerarmos que
a demanda anual de investimentos em água e esgotos no País é avaliada proxima
de R$ 12 bilhões por ano para atingirmos a universalização em 20 anos.
As composições médias da despesa de exploração e da despesa total com
os serviços para os prestadores de serviços de abrangência regional e local, par-
ticipantes do Snis, no ano de referência – 2007, são mostradas nas Ilustrações
3.5.6.4 a 3.5.6.7, a seguir.
Observa-se que o peso das despesas de exploração na composição do custo
total dos serviços prestados por agentes de abrangência regional é inferior ao dos
prestadores locais. Enquanto nos primeiros o peso foi de 68,4%, nos segundos o
valor observado foi de 85,7%. Esse fato, em grande parte, é devido às menores
incidências dos custos referentes ao serviço da dívida e a DPA (depreciação,
provisão e amortização) nos prestadores de abrangência local. As incidências
menores decorrem do fato de que a maioria desses prestadores é organizada na
forma de autarquia, ou pertencem à administração pública direta, e conta, muitas
vezes, com recursos fiscais para investimentos.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 143


Confederação Nacional de Municípios – CNM
ILUSTRAÇÃO 3.5.6.4 – DESPESAS DE EXPLORAÇÃO – DEX – PRESTADORES
REGIONAIS

ILUSTRAÇÃO 3.5.6.5 – DESPESAS DE EXPLORAÇÃO – DEX – PRESTADORES


LOCAIS

144 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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ILUSTRAÇÃO 3.5.6.6– DESPESAS TOTAIS – DTS – PRESTADORES REGIONAIS

ILUSTRAÇÃO 3.5.6.7– DESPESAS TOTAIS – DTS – PRESTADORES LOCAIS

Como ocorre historicamente na série de dados do Snis, as despesas totais


com os serviços por m³ faturado, dos prestadores de abrangência regional em
2007 foram maiores que as correspondentes aos serviços locais, tanto no limite
inferior da faixa de variação quanto no superior.
Em termos de indicador médio, os prestadores regionais apresentaram um

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 145


Confederação Nacional de Municípios – CNM
resultado de R$ 1,99/m3 (3,1% maior que o valor de 2006 que foi R$ 1,93/m3) e,
entre os prestadores de serviços de abrangência local, este valor foi de R$ 1,23/
m3 (7,0% maior que o valor de 2006, R$ 1,15/m3).
Em termos de valor médio da tarifa média praticada, os prestadores regionais
apresentaram uma tarifa média de R$ 2,06/m3 (7,3% maior que o valor de 2006,
R$ 1,92/m3) e entre os prestadores de abrangência local essa tarifa foi de R$ 1,35/
m3 (7,1% maior que o valor de 2006, R$ 1,26/m3). Em ambos os casos o valor
médio da tarifa superou a inflação no período, medida pelo IPCA, 4,4%.
O montante das despesas fiscais e tributárias realizadas no ano de 2007 foi
de R$ 2,7 bilhões, 12,5% superior ao verificado em 2006, R$ 2,4 bilhões. Desse
montante, 92,6% foram despesas dos prestadores de serviços regionais (as com-
panhias estaduais).
A participação dessas despesas na receita operacional total, no caso dos
prestadores regionais, foi de aproximadamente 12,4%. Considerando os pres-
tadores de serviços locais e suas diferentes naturezas jurídico-administrativas,
observaram-se variações significativas na participação das despesas fiscais e tri-
butárias sobre receita operacional: 1,0% nas entidades de direito público; 11,8%
nas entidades de direito privado em que o sócio majoritário é o Poder Público; e
12,6% nas empresas privadas.
Tal situação, segundo conclusão do Snis/2007, em tese, pode justificar a
visão de especialistas do setor de saneamento, que consideram a organização
dos serviços em forma de autarquia como a melhor solução do ponto de vista fi-
nanceiro. De fato, o resultado confirma que, sobre os prestadores de serviços
organizados na forma de direito público, como é o caso das autarquias, há
uma baixa incidência de despesas fiscais e tributárias.
Na análise dos dados fornecidos ao Snis, em relação à qualidade dos ser-
viços, concluiu-se que apenas 34,7% dos Municípios brasileiros cumprem to-

146 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
talmente as exigências da Portaria no 518/2004, que estabelece os padrões de
qualidade da água para consumo humano. Do restante, 65,3% que não cum-
prem integralmente a citada Portaria, 63,9% cumprem parcialmente e 1,4% não
a cumprem. Em relação à aplicação de flúor na água, os dados do Snis indicam
que toda a água é fluoretada, atendendo plenamente à Portaria 518/2004, em
45,9% dos Municípios, e em 39,8% não existe fluoretação, ou seja, o índice é
igual a zero.
Em outra importante informação sobre qualidade dos serviços, com re-
lação à ocorrência de intermitência nos sistemas de abastecimento de água, foi
informado que não houve intermitência em 73,2% da quantidade de Municípios
para os quais a informação foi fornecida e que houve intermitência em 26,8%.
As intermitências totalizaram uma quantidade acumulada no ano de 55,6 mil
interrupções prolongadas, com uma duração total estimada de 328,5 mil horas
acumuladas no ano, tendo prejudicado 116,5 milhões de economias, também em
quantidade acumulada no ano.
Em relação à drenagem urbana estima-se que no Brasil cerca de 45 mi-
lhões de habitantes não dispõem desse serviço, correspondendo à necessidade de
implantação de 150.000 km de redes coletoras de águas pluviais.

3.5.7 Licença Ambiental

De acordo com a Resolução CONAMA no 237, de 19 de dezembro de


1997, são previstas as seguintes licenças ambientais:

• Licença Prévia (LP) – concedida na fase preliminar do planejamento


do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e con-
cepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requi-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 147


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sitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases
de sua implementação;
• Licença de Instalação (LI) – autoriza a instalação do empreendimen-
to ou atividade de acordo com as especificações constantes dos pla-
nos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de con-
trole ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo
determinante;
• Licença de Operação (LO) – autoriza a operação da atividade ou
empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que
consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental
e condicionantes determinados para a operação.

A Lei Nacional do Saneamento Básico – LNSB determina no caput do


artigo 44 que
o licenciamento ambiental de unidades de tratamento de esgotos sa-
nitários e de efluentes gerados nos processos de tratamento de água
considerará etapas de eficiência, a fim de alcançar progressivamente
os padrões estabelecidos pela legislação ambiental, em função da
capacidade de pagamento dos usuários.

O parágrafo 1o, do artigo 44, define que a autoridade ambiental competente


é responsável pelo estabelecimento dos procedimentos simplificados de licen-
ciamento em função do porte das unidades e dos impactos ambientais esperados,
bem como definição das metas progressivas para que a qualidade dos efluentes
de unidades de tratamento de esgotos sanitários atenda aos padrões das classes
dos corpos hídricos em que forem lançados, a partir dos níveis presentes de tra-
tamento e considerando a capacidade de pagamento das populações e usuários
envolvidos.

148 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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3.5.8 Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos

 A Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos é o ato administrativo


mediante o qual o Poder Público outorgante (União, Estado ou Distrito Federal)
faculta ao outorgado (requerente) o direito de uso de recurso hídrico, por prazo de-
terminado, nos termos e nas condições expressas no respectivo ato administrativo.
O ato administrativo utilizado pela Agência Nacional de Águas – ANA
para emissão das outorgas, como também para os demais atos normativos, é
a Resolução. A Resolução de outorga contém a identificação do outorgado, as
características técnicas e as condicionantes legais do uso da água autorizado. A
ANA publica no Diário Oficial da União somente o extrato da resolução conten-
do seu no, o nome do requerente, a validade da outorga, o Município, a finalidade
e o manancial de intervenção.
A outorga se faz necessária para que o Estado, na condição de gerencia-
dor dos recursos hídricos sob sua responsabilidade, realize a sua distribuição
observando a quantidade e qualidade adequados aos atuais e futuros usos, per-
mitindo ao administrador (outorgante) realizar o controle quali-quantitativo da
água, e ao usuário (requerente) a necessária autorização para implementação de
seus empreendimentos produtivos. É, também, um instrumento importante para
minimizar os conflitos entre os diversos usuários e evitar impactos ambientais
negativos aos corpos hídricos.
A Agência Nacional de Águas é a responsável pela emissão de outorgas de
direito de uso de recursos hídricos em corpos hídricos de domínio da União. Em
corpos hídricos de domínio dos Estados e do Distrito Federal, a solicitação de
outorga deve ser feita às respectivas autoridades outorgantes estaduais respon-
sáveis pelo gerenciamento dos recursos hídricos. Atualmente, 26 Unidades da
Federação possuem Legislações sobre Recursos Hídricos.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 149


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A derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo d’água
para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo pro-
dutivo, a extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo
de processo produtivo, o lançamento em corpo de água de esgotos e demais resí-
duos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte
ou disposição final, o uso de recursos hídricos com fins de aproveitamento dos
potenciais hidrelétricos e outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a
qualidade da água existente em um corpo de água estão sujeitos a outorga pelo
Poder Público, de acordo com o artigo 12 da Lei Federal no 9.433/1997.
Já o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de peque-
nos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural, as derivações, as capta-
ções e os lançamentos considerados insignificantes, tanto do ponto de vista de
vazão como de carga poluente e as acumulações de volumes de água considera-
das insignificantes independem de outorga de direito de uso de recursos hídricos.
Os serviços de limpeza e conservação de margens, incluindo dragagem,
desde que não alterem o regime, a quantidade ou qualidade da água existente
no corpo de água, as obras de travessia de corpos de água que não interferem na
quantidade, qualidade ou regime das águas, cujo cadastramento deve ser acom-
panhado de atestado da Capitania dos Portos quanto aos aspectos de compati-
bilidade com a navegação e os usos com vazões de captação máximas instantâ-
neas inferiores a 1,0 l/s ou 3,6m³/h, quando não houver deliberação diferente do
CNRH, não são objeto de outorga de direito de uso de recursos hídricos, mas são
obrigatoriamente passiveis de cadastro, em formulário específico da ANA.
A Resolução ANA no 707, de 21 de dezembro de 2004, regulamenta a for-
ma de solicitar a outorga. O requerente deve preencher os formulários de solici-
tação e enviá-los ao órgão competente. Durante o período de vigência da outorga
o requerente deverá manter em seu poder todos os documentos comprobatórios

150 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
das informações prestadas nos formulários de solicitação de outorga, compro-
metendo-se a disponibilizá-los, ao outorgante, a qualquer tempo, caso neces-
sário, ficando sujeito às penalidades legais em caso de inexpressão da verdade.

3.5.9 Relatório de Diagnóstico

Na parte final do Relatório de Diagnóstico devem constar as conclusões re-


ferentes aos itens técnicos, operacionais e institucionais dos sistemas existentes,
ressaltando os aspectos mais importantes e de maior impacto.

3.6 Planejamento

3.6.1 Características da Área de Planejamento

De acordo com a Lei no 11.445/2007, os serviços de saneamento básico de-


vem ser disponibilizados para o total da população do Município, ou seja, o pla-
nejamento deve considerar a sua universalização. Assim sendo, sob a ótica legal,
o plano deve contemplar com os serviços de saneamento a área urbana e rural.
O Plano Diretor Municipal é um instrumento de vital importância no auxí-
lio à definição das áreas características de planejamento, apontando os eixos de
desenvolvimento, perímetro urbano e outras definições de políticas públicas do
local, que deverão ser observadas no período de sua vigência.

3.6.2 Estimativa Populacional

As projeções populacionais deverão ser elaboradas com base nos censos

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 151


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demográficos oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,
cujos resultados deverão ser aferidos ou corrigidos utilizando-se:

• avaliações de projetos e outros estudos demográficos existentes;


• evolução da quantidade de habitações cadastradas na prefeitura mu-
nicipal ou Cia Concessionária de Energia Elétrica;
• contagem direta, por aerofotos, ou mapas aerofotogramétricos ca-
dastrais atuais e antigos de edificações.

Caso o Município tenha a afluência de população flutuante, ou temporária,


considerar sua influência no total da população para efeito de utilização dos servi-
ços de saneamento. O horizonte do estudo populacional deverá alcançar 20 anos.

3.6.3 Parâmetros de Planejamento

A definição dos parâmetros no planejamento dos serviços de saneamento


é de suma importância, principalmente no que se refere ao consumo per capita
de água, contribuição de esgotos e produção de resíduos domiciliares, que serão
utilizados no estudo das demandas.
O consumo per capita de água deverá ser elaborado, considerando a deman-
da efetiva, ou seja, o consumo acrescido das perdas, por meio de série histórica
mensal de, no mínimo, três anos, tomando-se como base o consumo das economias
micromedidas, exceto quando o índice de hidrometração não for significativo.
Na eventualidade da inexistência dessas informações ou informações con-
fiáveis do sistema em estudo, dever-se-á recorrer a informações de localidades
com características físicas e de tarifas similares, dotadas de micromedição. As
perdas de água consideradas nos estudos devem refletir as metas previstas no

152 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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desenvolvimento operacional, com índices decrescentes ao longo do período de
planejamento.
O nível de perdas de água admissível é da ordem de 25%, e os sistemas
com índices de perdas superior a 25% devem desenvolver plano de recuperação,
pois esse indicador é um limitante importante para obtenção de recursos junto
aos governos federal e estadual, bem como as instituições financeiras nacionais
e internacionais.
Em relação aos demais parâmetros utilizados nos sistemas de abasteci-
mento de água têm-se o coeficiente do dia de maior consumo (k1), adotado igual
a 1,2 e o da hora de maior consumo igual a 1,5. De acordo com as normas vigen-
tes adota-se como volume mínimo dos reservatórios de água o equivalente a 1/3
do dia de maior consumo.
Nos estudos realizados recentemente, tratou-se da hipótese dos volumes
dos reservatórios dos sistemas de abastecimento de água superiores ao mínimo
exigido pela Norma Brasileira (1/3 do dia de maior consumo), visando à redução
do componente dos custos referentes ao consumo de energia elétrica. Na atuali-
dade, o item energia elétrica tem grande representatividade nos custos operacio-
nais. A utilização dos equipamentos elétricos fora dos períodos de pico conduz a
relevante economia no item energia.
Em relação aos sistemas de esgotamento sanitário aplica-se para determi-
nação das vazões de contribuição o coeficiente de retorno água/esgoto (k3) que
normalmente é adotado igual a 0,80. Em relação à rede coletora, coletores-troco,
interceptores e outros componentes lineares são de suma importância o estudo
para estimativa da contribuição de infiltração.
Em relação à produção de resíduos, é importante que esse índice seja obti-
do por meio de pesagem. As médias de produção dos resíduos sólidos urbanos,
na América Latina, são as seguintes:

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 153


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• Resíduos Sólidos Urbanos – 0,9 kg/hab. x dia;
• Resíduos de Serviços de Saúde – 3 kg/leito. x dia; e
• Resíduos Perigosos – 0,5 /hab. x dia.

A média brasileira de resíduos de serviços de saúde é de 2,63 kg/leito. x


dia e as médias nacionais, de produção de resíduos domiciliares, por faixa de
população, são as seguintes:

• até 100.000 habitantes – 0,4 kg/hab. x dia;


• de 100.000 habitantes a 200.000 habitantes – 0,5 kg/hab. x dia;
• de 200.000 habitantes a 500.000 habitantes – 0,6 kg/hab. x dia; e
• acima de 500.000 habitantes – 0,7 kg/hab. x dia.

3.6.4 Redução e Controle de Perdas e Reuso de Água

No decorrer da elaboração do planejamento deverá ser dada atenção espe-


cial às ações de redução e controle de perdas e reuso de água. Os estudos deverão
se apoiar na identificação de ações que busquem o combate às perdas de água
nos sistemas, tanto as medidas coercitivas quanto as de cunho técnico-operacio-
nal, ou seja, definição de providências de caráter interno e as que se referem ao
interior dos domicílios.

Durante a elaboração do planejamento, deverão ser consideradas medidas


e estratégias abrangentes, adequadas às realidades locais, de forma a avaliar as
ações e custos, para atender às premissas de conservação e economia nos usos
das águas, envolvendo, no que couberem, os seguintes aspectos:

154 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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• política tarifária;
• custos de operação e manutenção do sistema na prestação de serviços;
• aumento da eficiência, detecção e eliminação de vazamentos;
• adoção de equipamentos de baixo consumo;
• reciclagem de águas servidas;
• utilização de água não potável para usos menos exigentes;
• campanhas de informação e educação; e,
• pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias e procedimentos.

3.6.5 Estudo das Alternativas

Deverão ser formuladas, nesta etapa, as alternativas técnicas considerando


as unidades dos sistemas existentes e sua integração com as soluções a serem
propostas. As alternativas formuladas deverão solucionar o problema de maneira
completa e integrada, baseando-se em conceitos de comprovada eficiência técni-
ca ou, caso sejam inovadores, que possam ter sua eficiência demonstrada.
No planejamento das unidades dos novos sistemas de saneamento básico
devem ser tratadas em termos de sua composição, suas características principais,
suas eficiências, suas restrições e aspectos condicionantes. Não deve haver pre-
ocupação com o dimensionamento, podendo ser utilizadas bases topográficas
existentes e utilização de índices para determinação de áreas de terrenos para
implantação das novas unidades.
A primeira alternativa deverá sempre considerar o aproveitamento máxi-
mo das unidades existentes por meio de melhorias e otimização do sistema, que
poderão resultar em expansão do atendimento, com investimento mínimo. De-
verão ser sempre realizadas análises comparativas das alternativas tecnológicas

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 155


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disponíveis para os diversos componentes dos sistemas que serão ampliados ou
melhorados.
Ênfase especial deve ser dada aos sistemas existentes a ser aproveitado,
como também nas expansões previstas, com respeito à recuperação e à substi-
tuição de unidades, equipamentos e redes obsoletos ou em estado adiantado de
deterioração, que coloquem em risco a saúde da população. Da mesma forma,
devem ser previstos equipamentos para medição e automação das unidades ope-
racionais.

3.6.6 Comparação e Seleção de Alternativas

Definidas as alternativas técnica e ambientalmente viáveis serão estima-


dos os custos de cada uma delas, considerando os relativos ao investimento e de
operação, sendo a energia elétrica apresentada, também, em termos econômicos.
A comparação das diferentes alternativas deverá ser realizada
por meio do cálculo do fluxo de caixa, a valor presente, dos custos
de investimento, operação e manutenção, não sendo considerados
os custos de depreciação e inflação, com taxa de desconto
de 12% ao ano, ao longo do período de planejamento.
Para efeito de comparação entre alternativas, na análise benefício x custo
deverão ser incluídos os custos dos terrenos, com valor de mercado, mesmo que
as áreas em questão tenham sido obtidas por doação, desapropriadas ou que já
sejam de propriedade do Prestador de Serviços, do Município, do Estado ou do
governo federal.
Será eleita como solução a ser adotada aquela alternativa que apresentar o
custo mínimo.

156 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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3.7 Conferência Municipal e Conversão do Plano em Lei

Os processos de planejamento e gestão participativos poderão ocorrer a


partir da organização e da condução das atividades de mobilização social. Na
implementação desse processo estão incluídos: conferências, seminários, con-
sultas públicas e encontros técnicos participativos para discussão de problemas
e soluções relativas ao saneamento básico.
A participação social permite obter informações que geralmente não estão
disponíveis nas fontes convencionais de consulta e que, por meio de técnicas
especiais e de profissionais experientes, são incorporadas ao Plano. Vale ressal-
tar que a participação da comunidade no desenvolvimento dos trabalhos tem o
potencial de torná-la agente efetivo da manutenção das diretrizes propostas.
Para que haja a gestão participativa, é indispensável que os vários atores
sociais intervenientes, sejam envolvidos durante toda a elaboração do Plano, iden-
tificando e sistematizando os interesses múltiplos, algumas vezes conflitantes.
Considerando que uma das condições básicas para a participação seja o
conhecimento claro e consistente do objeto de estudo, devem ser previstos me-
canismos permanentes de repasse de informações sobre os trabalhos propostos
e em desenvolvimento, estimulando a participação dos diversos atores estratégi-
cos durante todo o período de elaboração do Plano.
O envolvimento da sociedade no Plano de Saneamento Básico deve se de-
senvolver ao longo de todo o período de elaboração, por meio das conferências
e de outras ações. Deverá ser desenvolvido um plano de ação com os seguintes
objetivos:
• divulgar a elaboração do plano de Saneamento Básico;
• envolver a população na discussão das potencialidades e dos proble-
mas de salubridade e saneamento ambiental e suas implicações;

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 157


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• conscientizar a sociedade para a responsabilidade coletiva na preser-
vação e na conservação dos recursos hídricos;
• estimular os segmentos sociais a participarem do processo de gestão
ambiental.
Nessa fase deverá ser definido o conjunto de mecanismos e procedimentos
que garantam a participação efetiva da sociedade na discussão e elaboração do
Plano, devendo ser observado no mínimo:
• audiências e consultas públicas;
• divulgação dos estudos e propostas;
• criação de conselho popular com composição multidisciplinar e co-
ordenação compartilhada para promoção das seguintes ações:
a) regionalização do Município e identificação de atores regionais;
b) oficinas para escolha de delegados, capacitação passiva, concei-
tuação, visão da cidade cidadã e eixos temáticos;
c) seminários por eixo temático e sistematização de propostas, com
resgate das decisões do Plano Diretor Participativo;
d) referendo das proposições sistematizadas em audiências públicas.
O Município desenvolverá mecanismos sistematizados de envolvimento
da sociedade durante todo o processo de elaboração do plano e, em especial,
para as conferências. Este mecanismo deverá permitir buscar a participação da
sociedade na implementação das medidas que visem disciplinar e induzir o sane-
amento básico, estimular a criação de novos grupos representativos da sociedade
não organizada e implementar o processo de mobilização social para as fases
subsequentes da elaboração do plano. As formas de participação previstas são:

>> Encontro Preparatório para as Conferências

158 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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Como primeira atividade do estudo, o Município formulará um plano de
mobilização social, com a chamada para as conferências municipais, em que se
serão definidos os objetivos, as metas e o escopo do plano de mobilização, além
de cronogramas e principais atividades a serem implementadas ao longo do de-
senvolvimento do Plano de Saneamento Básico.

>> Seminários e encontros técnicos dos grupos temáticos para discussão

O Município estará programado para apoiar a equipe de desenvolvimento


do plano, que discutirá por meio de grupos temáticos os problemas levantados
nas Consultas Públicas. A equipe iniciará o processo de identificação de alter-
nativas para solucioná-los e recomendará ações a serem incorporadas ao Plano,
fortalecendo, assim, a interação entre a equipe técnica e os atores sociais.
O processo de mobilização social pode ser realizado em três momentos
distintos:

• 1o Momento

O primeiro momento tem como objetivos:


a) sensibilizar a comunidade para a participação no processo da con-
ferência e nas atividades previstas para elaboração do PMSB;
b) inserir os conteúdos referentes às questões do saneamento no Mu-
nicípio;
c) definir mediante metodologias democráticas grupos de represen-
tação (delegados).

Esses objetivos podem ser atingidos com a realização de plenárias e reu-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 159


Confederação Nacional de Municípios – CNM
niões com segmentos organizados da sociedade que servirão como encontros
preparatórios para a conferência final.
Nestes eventos podem ser utilizados como materiais didáticos: conjunto de
slides, contendo a temática, os objetivos, as atividades e o cronograma do processo
de realização da conferência; cartilhas informativas sobre a realidade dos serviços
de saneamento ambiental do Município; jornal informativo; revista temática; cole-
tânea de reportagens veiculadas em rádios e jornais locais; caderno de diagnósticos
e propostas; caderno de propostas em braile (caso seja necessário).
Os seguintes eventos compõem o 1o Momento:

– Plenárias

As plenárias são abertas ao público e podem ser utilizadas para introduzir


o tema e eleger os delegados da conferência. O número e os locais das plenárias
devem ser definidos considerando a divisão política-administrativa do Municí-
pio ou a divisão por bacia hidrográfica para que se possam escolher delegados
representantes de toda a área de abrangência do Plano. A escolha de delegados
representantes de todas as áreas do Município facilitará a construção dos diag-
nósticos e das propostas para soluções dos problemas locais.
A mobilização da sociedade para a participação das plenárias pode ser rea-
lizada utilizando instrumentos de comunicação de massa. Os materiais didáticos
e a exposição oral devem ser apresentados em linguagem acessível ao pessoal de
baixa escolaridade para que eles possam entender a mensagem passada e poder
tecer opiniões acerca do assunto abordado.
Nas plenárias devem ser apresentados os objetivos, as atividades previs-
tas nas plenárias e os critérios para eleição dos delegados com suas respectivas
atribuições. Os critérios e o sistema de eleição dos delegados (se manual ou

160 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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informatizado) devem ser definidos antecipadamente.
Vale ressaltar a necessidade de se estruturar a metodologia das plenárias,
mediante a construção de instrumentos didáticos com linguagem apropriada,
abordando os conteúdos sobre os serviços de saneamento básico existentes. Nas
plenárias, é indispensável a participação dos membros de fóruns participativos já
existentes, a exemplo do Conselho de Saúde, do conselho de Assistência Social
e Orçamento Participativo, entre outros atuantes no Município.

– Reuniões com Segmentos Organizados da Sociedade

Estas reuniões têm como objetivo sensibilizar os segmentos organizados


da sociedade (ONGs, entidades de profissionais de classes, de ensino, sindicais,
da iniciativa privada, do movimento popular; Poder Legislativo; Poder Executi-
vo e outros) para a participação nas atividades da Conferência, contribuindo nas
discussões e na elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico.
As reuniões podem ser realizadas considerando cada segmento de classe
ou agrupando-os para que se possa ter mais articulação. Nesta atividade, além da
exposição das informações que objetivem à sensibilização dos representantes,
faz-se necessário a apresentação dos objetivos da conferência, das atividades
previstas para a construção coletiva do PMSB e, também, deve ser definida a
indicação dos representantes dos segmentos presentes.

• 2o Momento

O segundo momento tem o objetivo de promover atividades de capacita-


ção dos delegados. Este momento é importante para a exposição dos problemas
e das potencialidades existentes no Município referente às questões que envol-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 161


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vem os serviços de saneamento básico e, também, para mostrar as interrelações
entre o saneamento básico e as demais áreas do conhecimento (Saúde Pública,
Meio Ambiente, Controle Urbano, Habitação e outras). Nesse segundo momen-
to, serão promovidos seminários, oficinas de capacitação, além da divulgação do
PMSA por meio de veículos de comunicação escrito e falado.

– Seminários

Serão abertos ao público em geral, com mesas sobre as temáticas que abor-
dam os serviços de saneamento básico à luz dos diagnósticos existentes sobre a
situação no Município.

– Oficinas de Capacitação

Servirá como momento de capacitação com todos os delegados eleitos nas


plenárias e reuniões com segmentos organizados da sociedade, assim como deve
prever metodologias participativas e criativas para construção de diagnósticos e
formulação de propostas para o enfrentamento das questões apresentadas. Serão
utilizados métodos criativos e participativos, tais como: pintura, construção de
painéis, visitas de campo, acervo fotográfico, etc. É interessante, também, consi-
derar meios de comunicação culturalmente utilizados no Município, tais como:
teatro de bonecos, cartilha com linguagem de cordel, etc.
Durante a oficina de capacitação, será elaborado um Jornal Informativo,
com reportagens sobre saneamento, os quais visam promover a participação de
atores sociais mais conscientizados no processo de formulação e discussão de
diagnósticos e propostas do Plano.

162 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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• 3o Momento

A terceira etapa de elaboração do Plano consiste em transformar em pro-


jeto de lei os temas, as propostas e as diretrizes que nortearão o setor de sanea-
mento básico no período de sua vigência. Assim sendo, o passo seguinte, após o
trabalho técnico se transformar em projeto de lei, será a passagem do documento
por duas validações políticas, a saber:

a) a primeira consistirá na realização de uma Conferência Municipal, com


participação dos delegados representando o Poder Público e os diversos
segmentos da sociedade civil, estes definidos por ocasião das reuniões
comunitárias;
b) a segunda ocorrerá na Câmara de Vereadores, que acolherá o Projeto de
Lei aprovado na Conferência Municipal para que seja discutido e apro-
vado. Após aprovação pelo Poder Legislativo haverá o encaminhamento
para sanção do prefeito e, em seguida, publicação quando entrará em
vigor.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 163


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164 Saneamento Básico para Gestores Públicosl
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4 Modelos de Gestão
4.1 Conceito

O conceito de serviços municipais de saneamento básico consiste no con-


junto de ações técnicas e administrativas destinadas a prover a população desses
serviços essenciais, sistematizando-se as ações em dois grupos diferenciados
pela sua natureza: atividades-fim e meio.
As atividades-fim agrupam as ações técnicas diretamente relacionadas
com os sistemas de abastecimento de água, de esgotamento sanitário, resíduos
sólidos e drenagem urbana, compreendendo, inclusive, manutenção, operação,
elaboração de projetos e execução de obras.
As atividades-meio estão relacionadas a procedimentos administrativos e
jurídicos que dão suporte para as atividades-fim. Envolvem os serviços de mo-
vimentação de pessoal, aquisição de bens e serviços, contabilidade, tesouraria,
secretaria, emissão e cobrança de tarifas, assessoria jurídica e demais tarefas
correlatas.
Além desses dois grupos, alguns prestadores de serviços executam outras
atividades, dentre as quais se destacam ações de proteção e recuperação do meio
ambiente, saneamento rural, educação sanitária, implantação de melhorias sa-
nitárias domiciliares, gerenciamento dos resíduos sólidos e drenagem urbana.
Geralmente são Municípios que atingiram boa organização institucional e sus-
tentação financeira, o que possibilita agregarem outras atividades.
A falta ou a insuficiência de serviços de saneamento é identificada como
um dos principais problemas urbanos. A ausência de planejamento, os déficits

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 165


Confederação Nacional de Municípios – CNM
de cobertura, os passivos sociais e ambientais, as dificuldades para obtenção de
recursos e as dificuldades políticas são questões que merecem um enfrentamento
objetivo e organizado.
A prática tem mostrado que a implantação desses serviços depende da
vontade política dos dirigentes municipais e, geralmente, pode ser realizada por
meio de soluções de baixo custo acessíveis à maioria dos Municípios. Em cada
Município, o problema deve ser bem dimensionado, política e tecnicamente.
Criar ou organizar um serviço municipal de saneamento básico significa,
antes de mais nada, definir o modelo de gestão e de sua organização administra-
tiva, constituir, formar e capacitar equipe técnica, bem como elaborar estudos,
projetos e planos de trabalho. Outra definição importante é estabelecer mecanis-
mos de financiamento em instância local.
São importantes fontes de financiamento as contribuições de melhorias
e os fundos municipais criados para execução de obras específicas. Os valores
arrecadados com a cobrança de tarifas de água e de esgoto devem cobrir os
custos com a operação e a manutenção dos sistemas e ainda, se possível, gerar
excedentes para investimentos.
Uma decisão política importante é a de se buscar legitimação social para o
fortalecimento institucional dos serviços. É preciso desenvolver um trabalho de
sustentação política, baseado na relação permanente com a sociedade local, com
a finalidade de manter o Poder Público em sintonia com as demandas da popu-
lação e fazer com que esta população compreenda a dimensão dos problemas de
saneamento do Município para participar da construção de uma política pública
para o setor.
Colocar à disposição da população bons serviços de abastecimento de água
e de esgotamento sanitário, manter os sistemas em bom estado de conservação e
funcionamento, prever e garantir as demandas futuras são obrigações do Poder

166 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
Público, que dependem essencialmente de cinco fatores considerados básicos:
• percepção da dimensão dos problemas de saneamento do Município;
• gerenciamento dos serviços, de forma organizada e eficiente;
• implementação de tarifas adequadas às necessidades dos serviços;
• efetivo controle social dos serviços; e
• continuidade administrativa com planejamento a médio e longo
prazo.

4. 2 Autarquias

4.2.1 Organização Administrativa

O primeiro passo para organizar os serviços de saneamento é esco-


lher o modelo de gestão mais apropriado à realidade local. Organizar sig-
nifica, formalmente, constituir uma entidade destinada a coordenar as ati-
vidades relacionadas à administração, operação, manutenção e expansão,
de modo que a prestação desses serviços seja feita de forma adequada,
atendendo aos requisitos legais e às demandas da população.
As formas de prestação de serviços públicos, qualquer que seja sua na-
tureza, podem ser por administração direta ou administração indireta. Na admi-
nistração direta, o Poder Público, ou seja, a prefeitura assume diretamente, por
intermédio dos seus órgãos, a prestação dos serviços, caracterizando uma gestão
centralizada.
Na administração direta, a gestão é feita por intermédio de um Departa-
mento Municipal, criado por uma lei de reorganização da administração pública.
O princípio fundamental é a distribuição das atividades entre os diversos seto-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 167


Confederação Nacional de Municípios – CNM
res que compõem o aparelho administrativo da prefeitura com a finalidade de
reduzir custos administrativos. As atividades-fim ficam sob a responsabilidade
do Departamento Municipal, órgão técnico especializado, criado especialmente
para executar essas funções.
As atividades-meio são distribuídas para setores já existentes na prefeitura.
Assim, a movimentação de pessoal, a aquisição de bens e serviços, contabilida-
de, assessoria jurídica e outras atividades ficam integradas às rotinas de setores
especializados que dão apoio às atividades do departamento.
As autarquias são entes administrativos autônomos, criados por lei especí-
fica, com personalidade jurídica de direito público, patrimônio próprio e atribui-
ções outorgadas na forma da lei, tendo como princípio fundamental a descentra-
lização. Diferentemente dos departamentos, possuem total autonomia jurídica,
administrativa e financeira, competindo-lhes em geral exercer todas as ativida-
des relacionadas à administração, à operação, à manutenção e à expansão dos
serviços.
Os serviços de saneamento são desmembrados da administração direta,
ou seja, do aparelho administrativo da prefeitura, e agrupados em uma autarquia
municipal com o objetivo de integrar, em um mesmo órgão, as atividades-fim
e as atividades-meio, de forma que torne mais eficiente o processo de gestão e
evite o compartilhamento de poderes, como ocorre na administração direta.
As autarquias são consideradas um prolongamento do Poder Público, por-
tanto conservam os mesmos privilégios, reservados aos entes públicos, tais como
imunidade de tributos e encargos, prescrição de dívidas passivas em cinco anos,
impenhorabilidade de bens e condições especiais em processos jurídicos, entre
outros. Por esta mesma razão, estão sujeitas aos mesmos processos de controle
da administração direta e são obrigadas a submeter suas contas e atos administra-
tivos ao Poder Executivo, à Câmara Municipal e aos Tribunais de Contas.

168 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
O modelo de estrutura que deve ser seguido em sua criação depende do porte
do Município, pois para Municípios de pequeno porte não tem sentido a concepção
de uma estrutura complexa, principalmente pela limitação de profissionais e custos
operacionais. Assim sendo, para um Município com população até 10.000 habitan-
tes o organograma da Ilustração 4.2.1.1 é o mais recomendável.

ILUSTRAÇÃO 4.2.1.1 – MUNICÍPIOS COM POPULAÇÃO ATÉ 10.000 HABITANTES

A estrutura funcional conta com dois níveis hierárquicos, sendo o primeiro


constituído pela Diretoria da Autarquia e o segundo por dois órgãos executivos:
a seção técnica, que será responsável pela operação, manutenção e expansão dos
sistemas de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza pública e re-
síduos sólidos, bem como pela drenagem urbana. A organização administrativa,
nesse caso, conta com um órgão de assessoria, vinculado à Diretoria, ao Contro-
le Interno, que será constituído pelos servidores da Autarquia.
Para os Municípios com população compreendida entre 10.000 habitantes
e 50.000 habitantes, o organograma mais recomendado é apresentado na Ilustra-
ção 4.2.1.2, a seguir

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 169


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ILUSTRAÇÃO 4.2.1.2 – MUNICÍPIOS COM POPULAÇÃO ENTRE 10.000 HAB. ATÉ
50.000 HAB.

Nessa estrutura funcional, há dois pontos hierárquicos que são constituí-


dos pela Diretoria da Autarquia e o segundo, por quatro órgãos executivos iden-
tificados a seguir:
• seção de água, esgoto e drenagem;
• seção de limpeza urbana e resíduos sólidos;
• seção de expansão; e
• seção administrativa e financeira.
A organização administrativa, nesse caso, também conta com um órgão de
assessoria, vinculado à Diretoria, ao Controle Interno, que será constituído pelos
servidores da Autarquia.
Para os Municípios com população compreendida entre 50.000 habitantes
e 1000.000 habitantes, o organograma funcional que melhor se aplica está indi-
cado na Ilustração 4.2.1.3. Nesse modelo há três níveis de hierarquia, o primeiro
formado pela Diretoria da Autarquia, o segundo por cinco Divisões e o terceiro
pelos Setores subordinados às Divisões. A segunda instância hierárquica é cons-
tituída pelas seguintes Divisões:
• água, esgoto e drenagem;
• limpeza urbana e resíduos sólidos;
• drenagem;
• expansão; e

170 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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• administrativa e financeira.
A organização administrativa, nesse caso, também conta com órgãos de
assessoria, vinculados à Diretoria, são eles: a Assessoria Jurídica, a Comissão
Permanente de Licitação, o Controle Interno e o Planejamento e Coordenação.

ILUSTRAÇÃO 4.2.1.3 – MUNICÍPIOS COM POPULAÇÃO ENTRE 50.000 HAB. ATÉ


100.000 HAB.

Na estrutura funcional apresentada na Ilustração 4.2.1.4, recomendada


para Municípios com população superior a 100.000 habitantes, há quatro pontos
hierárquicos. O primeiro é o Conselho Técnico-Administrativo, de natureza con-
sultiva e deliberativa, que se configura como primeiro grau hierárquico, ficando
a ele subordinada a Diretoria Executiva.
O segundo nível hierárquico é a Diretoria Executiva, que tem a si subor-
dinadas cinco Divisões a de Água e Esgotos, Drenagem, Expansão, Limpeza
Pública e Resíduos Sólidos, bem como, a Administrativa e Financeira. A cada
uma das Divisões estão vinculados os setores.
Estão também incorporados a essa estrutura funcional, como órgãos de
assessoria da Diretoria Executiva, a Assessoria Jurídica, a Comissão Permanente
de Licitação, o Controle Interno, o Planejamento e Coordenação, bem como os
Recursos Humanos e as Relações Públicas.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 171


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ILUSTRAÇÃO 4.2.1.4 – MUNICÍPIOS COM POPULAÇÃO SUPERIOR A 100.000
HABITANTES

4.2.2 Estruturação

Para a criação de uma Autarquia sugere-se a seguinte sequência:


• elaborar o Projeto de Lei de Criação da Autarquia como entidade
autárquica de direito público, da administração indireta;
• submeter à aprovação da Câmara Municipal;
• se a organização administrativa contiver em sua estrutura o Conse-
lho, estabelecer, por meio de decreto, o Regimento Interno do Con-
selho Técnico e Administrativo;
• estabelecer, por meio de decreto, o Regimento Interno da Autarquia,
que trata da organização administrativa, estrutura e competência dos
órgãos integrantes;
• estabelecer, por meio de Decreto, o Regulamento dos Serviços de

172 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
Saneamento, que dispõe sobre prestação dos serviços, a cobrança de
tarifas, etc.;
• submeter à aprovação da Câmara Municipal o Projeto de Lei que
institui o Plano de Classificação de Cargos e Salários da Autarquia,
que dispõe sobre o regime jurídico, provimento de cargos efetivos e
em comissão, vencimentos, vantagens e gratificações, etc.;
• submeter à aprovação da Câmara Municipal o Orçamento Programa
da Autarquia;
• nomear, por meio de decreto, os ocupantes de Cargos de Provimento
em Comissão, especificamente o de Diretor da Autarquia;
• realizar Concurso Público para provimento dos cargos efetivos cons-
tantes do quadro-geral de servidores da Autarquia;
• promover o treinamento dos servidores, tendo como objetivo a pre-
paração para execução de suas atribuições;
• instalar e abrir o escritório da Autarquia e demais dependências para
o início de suas atividades;
• proceder a inscrição da Autarquia no Cadastro Nacional de Pessoa
Jurídica (CNPJ) e, conforme exigência de cada estado, no Conselho
Regional de Química (CRQ), no Conselho Regional de Engenharia
(Crea), Arquitetura e Agronomia;
• nomear, por meio de Portaria do Diretor da Autarquia, os demais
membros da diretoria: chefes de Divisão, de Setor ou de Seções; e
• nomear, por meio de Portaria do Diretor da Autarquia, os membros
dos Órgãos de Assessoria: Núcleo de Planejamento e Coordenação,
Núcleo de Recursos Humanos e Relações Públicas, Assessoria Jurí-
dica, Comissão Permanente de Licitação e Controle Interno.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 173


Confederação Nacional de Municípios – CNM
A estruturação do quadro de pessoal é uma das fases mais importantes na
organização da Autarquia, levando-se em conta que:
• despesa com pessoal tem um peso significativo no custo dos servi-
ços. Consequentemente, influencia no valor das tarifas, no equilíbrio
financeiro da Autarquia e na sua capacidade de investimentos;
• serviços eficientes e eficazes exigem quadro de pessoal bem dimen-
sionado, boa capacitação profissional e política salarial adequada.
Essas duas premissas denotam a importância de se instituir uma política de
pessoal centrada na valorização dos funcionários. A maioria dos problemas que
ocorrem em um serviço é decorrente da falta de capacitação dos funcionários
ou também da falta de dedicação e de zelo no desempenho de suas atribuições.
Somam-se a esses alguns decorrentes de materiais, equipamentos, de outros re-
cursos ou de condições imprevistas.
Como exemplo, pode-se citar que é mais eficiente um modesto laboratório
para o controle da qualidade da água, a cargo de um laboratorista consciencioso
e competente, que o inverso, um laboratório dotado dos últimos recursos, sob a
responsabilidade de um laboratorista incompetente. Portanto, a organização da
estrutura de pessoal merece cuidados especiais.

4.3 Outras formas de gestão

O Gestor Público e a sociedade de forma geral, no momento da decisão


quanto ao modelo de gestão a ser adotado pelo Município, devem considerar a
determinação legal de que a prestação dos serviços deverá atender a requisitos
mínimos de qualidade, incluindo a regularidade, a continuidade e aqueles relati-
vos aos produtos oferecidos, ao atendimento dos usuários e às condições opera-

174 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
cionais e de manutenção dos sistemas, de acordo com as normas regulamentares
e contratuais, principalmente a tarifa a ser paga pela população.
Na administração indireta, o Poder Público transfere a execução dos servi-
ços para autarquias, para entidades paraestatais, instituídas sob a forma de em-
presas públicas ou sociedades de economia mista (Companhias Municipais), ou,
ainda, concede os serviços para as Empresas da Iniciativa Privada ou por meio
de contratos de programa. Os sistemas de saneamento são operados e admi-
nistrados pelas Companhias Estaduais, caracterizando, em todos os casos, uma
gestão descentralizada. O quadro 4.3, a seguir, apresenta alguns aspectos com-
parativos entre os modelos de gestão por departamentos, autarquias e empresas
de economia mista.

QUADRO 4.3 – QUADRO-COMPARATIVO


DEPARTAMENTOS versus AUTARQUIAS versus EMPRESAS

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 175


Confederação Nacional de Municípios – CNM
Além do que foi citado, o ordenamento jurídico brasileiro permite outras
formas de gestão como a livre associação entre as empresas da iniciativa privada
com as companhias estaduais, destas com os Municípios por meio das socieda-
des de fins específicos, consórcios públicos e outras.
A maior liberdade administrativa e financeira das companhias municipais
esbarra em um item muito importante que se refere à tributação, refletindo sobre
a determinação das tarifas, pois recai sobre as instituições organizadas sob a for-
ma de companhias e empresas privadas altos encargos tributários, o que já não
ocorre com as Autarquias, que são isentas.
Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – Snis
o montante das despesas fiscais e tributárias realizadas no ano de 2007 foi de
R$ 2,7 bilhões, valor 12,5% superior ao verificado em 2006, que foi de R$ 2,4
bilhões. Desse montante, 92,6% foram despesas dos prestadores de serviços re-
gionais, ou seja, as companhias estaduais.
A participação dessas despesas na receita operacional total, no caso dos
prestadores regionais, foi de aproximadamente de 12,4%. Considerando os pres-
tadores de serviços locais e suas diferentes naturezas jurídico-administrativas,
observaram-se variações significativas na participação das despesas fiscais e tri-
butárias sobre receita operacional: 1,0% nas entidades de direito público; 11,8%
nas entidades de direito privado em que o sócio majoritário é o Poder Público; e
12,6% nas empresas privadas.
Tal situação, em tese, pode justificar a visão de especialistas do setor de
saneamento, que consideram a organização dos serviços em forma de autarquia
como a melhor solução do ponto de vista financeiro. De fato, o resultado confir-
ma que, sobre os prestadores de serviços organizados na forma de direito públi-
co, como é o caso das autarquias, há uma baixa incidência de despesas fiscais e
tributárias.

176 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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4.4 Regulação

Conforme comentado, por imposição legal, o titular dos serviços deverá


formular a respectiva política pública de saneamento básico, com a elaboração
dos planos de saneamento básico e definir o ente responsável pela sua regulação
e fiscalização, bem como os procedimentos de sua atuação. O exercício da fun-
ção de regulação tem como princípios a independência decisória, incluindo au-
tonomia administrativa, orçamentária e financeira da entidade reguladora, bem
como transparência, tecnicidade, celeridade e objetividade das decisões.
São objetivos da regulação o estabelecimento de padrões e as normas para
a adequada prestação dos serviços e para a satisfação dos usuários, a garantia do
cumprimento das condições e das metas estabelecidas, a prevenção e repressão
ao abuso do poder econômico, ressalvada a competência dos órgãos integrantes
do sistema nacional de defesa da concorrência, bem como a definição das tarifas
que assegurem tanto o equilíbrio econômico e financeiro dos contratos como a
modicidade tarifária, mediante mecanismos que induzam a eficiência e a eficácia
dos serviços e que permitam a apropriação social dos ganhos de produtividade.
A entidade reguladora deve editar normas relativas às dimensões técnica,
econômica e social de prestação dos serviços, que contenham, pelo menos, os
padrões e os indicadores de qualidade da prestação dos serviços, os requisitos
operacionais e de manutenção dos sistemas, as metas progressivas de expansão
e de qualidade dos serviços e os respectivos prazos, o regime, estrutura e níveis
tarifários, bem como os procedimentos e os prazos de sua fixação, reajuste e
revisão, a medição, o faturamento e a cobrança de serviços, o monitoramento
dos custos, a avaliação da eficiência e a eficácia dos serviços prestados, o plano
de contas e os mecanismos de informação, auditoria e certificação, os subsídios
tarifários e não tarifários, os padrões de atendimento ao público e mecanismos

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 177


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de participação e informação, as medidas de contingências e de emergências,
inclusive racionamento;
Embora a legislação permita que a regulação de serviços públicos de sane-
amento básico possa ser delegada pelos titulares a qualquer entidade reguladora
constituída dentro dos limites do respectivo Estado, explicitando, no ato de de-
legação da regulação, a forma de atuação e a abrangência das atividades a serem
desempenhadas pelas partes envolvidas, não se recomenda a regulação por meio
das agências que estejam distantes do Município, ou que não sejam diretamente
comprometidas com os seus interesses e de sua região. A forma mais indicada
para o exercício da regulação, sob o aspecto econômico e de conhecimento es-
pecífico da realidade local, é a constituição de consórcios com finalidade regu-
latória.
A proximidade da regulação e fiscalização dos serviços de saneamento
atende à determinação legal de que as entidades fiscalizadoras deverão receber
e se manifestar conclusivamente sobre as reclamações que, a juízo do interessa-
do, não tenham sido suficientemente atendidas pelos prestadores dos serviços,
bem como cobrá-los quanto ao fornecimento de todos os dados e informações
necessários para o desempenho de suas atividades, na forma das normas legais,
regulamentares e contratuais. Incluem-se entre os dados e informações aquelas
produzidas por empresas ou profissionais contratados para executar serviços ou
fornecer materiais e equipamentos específicos.
Compreendem-se nas atividades de regulação dos serviços de saneamento
básico a interpretação e a fixação de critérios para a fiel execução dos contratos,
dos serviços e para a correta administração de subsídios. Deverá ser assegurada
publicidade aos relatórios, estudos, decisões e instrumentos equivalentes que
se refiram à regulação ou à fiscalização dos serviços, bem como aos direitos e
deveres dos usuários e prestadores, a eles podendo ter acesso qualquer do povo,

178 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
independentemente da existência de interesse direto.
A importância da regulação e fiscalização facilmente acessíveis aos usu-
ários se baseia no que estabelece a legislação que assegura aos usuários de ser-
viços públicos de saneamento básico, o amplo acesso a informações sobre os
serviços prestados, o prévio conhecimento dos seus direitos e deveres e das pe-
nalidades a que podem estar sujeitos e o acesso a manual de prestação do serviço
e de atendimento ao usuário, elaborado pelo prestador e aprovado pela respec-
tiva entidade de regulação, bem como o acesso a relatório periódico sobre a
qualidade da prestação dos serviços.

4.5 Estrutura Tarifária

De acordo com o que estabelece a Lei no 11.445/2007 os serviços de sanea-


mento devem ser implementados com recursos provenientes, preferencialmente,
da cobrança de tarifas, ao contrário de outras políticas, que têm suas fontes de
financiamento embasadas na arrecadação de impostos, como os setores saúde e
educação. Esse modelo de financiamento via cobrança de tarifas, está consolida-
do na maioria dos países.
Bancos de fomento e órgãos públicos impõem, como garantia da sustenta-
bilidade financeira, a aplicação de uma política tarifária condizente com o porte
do empréstimo solicitado. É uma tendência que se consolida, exigindo-se dos
Municípios a organização de seus serviços de saneamento, principalmente no
tocante aos sistemas tarifários.
Os sistemas de abastecimento de água permitem, com facilidade, medir
os consumos individuais, ou de pequenos grupos de consumidores, com a ins-
talação de hidrômetros. Isso possibilita identificar, de forma direta e rápida, as

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 179


Confederação Nacional de Municípios – CNM
diferentes demandas decorrentes da prestação do serviço, o que é fundamental
para o planejamento dos investimentos necessários.
Além disso, a cobrança torna-se mais justa – quem consome menos, paga
menos; quem consome mais, paga mais. Estabelecer tarifas apropriadas, de tal
sorte que garanta o equilíbrio econômico e financeiro da entidade prestadora
do serviço pode permitir a operação adequada dos sistemas e possibilitar sua
conservação e ampliação, considerando o perfil socioeconômico da população,
tornando-se, assim, um importante instrumento para o financiamento e a cons-
trução das políticas de Saneamento.
A cobrança pela prestação de um serviço público, pela instituição de taxa
está associada a serviços não quantificáveis, ou seja, não divisíveis, de utilização
obrigatória – portanto, de forma compulsória –, estando o serviço, por isso mes-
mo, sujeito a um regime tributário. São os casos dos serviços de limpeza urbana,
drenagem e iluminação pública.
A cobrança por meio de tarifa está associada a serviços de natureza indus-
trial, que podem ser fracionados por unidades, ou seja, corresponde à cobrança
por prestação de serviços quantificáveis. Por não serem de utilização obrigató-
ria, os serviços estão sujeitos a um regime contratual. É o caso dos serviços de
energia elétrica, telefonia, gás canalizado, correios e transportes. No Brasil, os
serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, tradicionalmente
são remunerados mediante a cobrança de tarifas.
Como tributo, a taxa está sujeita a uma legislação específica. A sua insti-
tuição é realizada por meio de lei, bem como a fixação de seu valor e os futuros
reajustes. De acordo com o princípio da anterioridade, a lei que institui a taxa, ou
reajusta seu valor, deve estar vigorando até o dia 31 de dezembro do ano anterior
ao que será cobrada ou majorada. Portanto, a instituição da taxa, bem como seus
futuros reajustes, depende da aprovação de lei na Câmara Municipal.

180 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
Já as tarifas, por estarem associadas a um regime contratual ou de preços,
são de competência da própria administração pública, que pode fixar e reajustar
os seus valores mediante autorização expressa na lei de criação da Autarquia, ou
por qualquer outro instrumento legal. Dessa forma, a Câmara Municipal aprova
a instituição das tarifas e autoriza o Poder Executivo a fixar seus valores, bem
como estabelecer os futuros reajustes. Apesar de a fixação das tarifas ser um
ato exclusivo do Executivo, entende-se que a sociedade deve participar de sua
formulação, reservando-se às câmaras municipais o papel de interlocutora do
processo.
De acordo com o artigo 29, da Lei no 11.445/2007, os serviços públicos de
saneamento básico terão a sua sustentabilidade econômico-financeira assegura-
da, sempre que possível, mediante remuneração com a cobrança dos serviços.
No caso dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário a co-
brança deve ser realizada, preferencialmente por meio de tarifas e outros preços
públicos.
Normalmente, as tarifas de esgotos sanitários têm como referência o vo-
lume de água consumido e medido por hidrômetro. Os usuários que se utilizam
de fonte própria de água e lançam no sistema público de esgotos os seus efluen-
tes sanitários tem esse serviço cobrado proporcionalmente ao volume explorado
nessas fontes por meio de micromedidor.
Nos serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos, a
lei vigente estabelece taxas ou tarifas e outros preços públicos, de acordo com o
regime de prestação do serviço ou de suas atividades. No caso do manejo de águas
pluviais urbanas, na forma de tributos, inclusive taxas.
A instituição das tarifas, dos preços públicos e das taxas para os serviços
de saneamento básico deverá observar as seguintes diretrizes:

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 181


Confederação Nacional de Municípios – CNM
• prioridade para atendimento das funções essenciais relacionadas à
saúde pública;
• ampliação do acesso dos cidadãos e das localidades de baixa renda
aos serviços;
• geração dos recursos necessários para realização dos investimentos,
objetivando o cumprimento das metas e dos objetivos do serviço;
• inibição do consumo supérfluo e do desperdício de recursos;
• recuperação dos custos incorridos na prestação do serviço, em regi-
me de eficiência;
• remuneração adequada do capital investido pelos prestadores dos
serviços;
• estímulo ao uso de tecnologias modernas e eficientes, compatíveis
com os níveis exigidos de qualidade, continuidade e segurança na
prestação dos serviços;
• incentivo à eficiência dos prestadores dos serviços.
As taxas ou tarifas decorrentes da prestação de serviço público de limpeza
urbana e de manejo de resíduos sólidos urbanos devem levar em conta a adequa-
da destinação dos resíduos coletados e poderão considerar:
• o nível de renda da população da área atendida;
• as características dos lotes urbanos e as áreas que podem ser neles
edificadas;
• o peso ou o volume médio coletado por habitante ou por domicílio.
O artigo 36 da Lei Nacional de Saneamento Básico – LNSB estabelece que
a cobrança pela prestação do serviço público de drenagem e manejo de águas
pluviais urbanas deve levar em conta, em cada lote urbano, os porcentuais de im-
permeabilização e a existência de dispositivos de amortecimento ou de retenção
de água de chuva, bem como poderá considerar:

182 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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• o nível de renda da população da área atendida;
• as características dos lotes urbanos e as áreas que podem ser neles
edificadas.
Prevê o dispositivo legal que os reajustes de tarifas de serviços públicos
de saneamento básico serão realizados observando-se o intervalo mínimo de 12
(doze) meses, de acordo com as normas legais, regulamentares e contratuais. As
revisões tarifárias compreenderão a reavaliação das condições da prestação dos
serviços e das tarifas praticadas e poderão ser:
• periódicas, objetivando a distribuição dos ganhos de produtividade
com os usuários e a reavaliação das condições de mercado;
• extraordinárias, quando se verificar a ocorrência de fatos não pre-
vistos no contrato, fora do controle do prestador dos serviços, que
alterem o seu equilíbrio econômico-financeiro.
As revisões tarifárias terão suas pautas definidas pelas respectivas entida-
des reguladoras, ouvidos os titulares, os usuários e os prestadores dos serviços.
Poderão ser estabelecidos mecanismos tarifários de indução à eficiência, inclu-
sive fatores de produtividade, assim como de antecipação de metas de expansão
e qualidade dos serviços.

As tarifas deverão se fixadas de forma clara e objetiva, devendo os reajus-


tes e as revisões ser tornados públicos com antecedência mínima de 30 (trinta)
dias com relação à sua aplicação. A fatura a ser encaminhada ao usuário final
deverá obedecer ao modelo estabelecido pela entidade reguladora, que definirá
os itens e os custos que deverão estar explicitados.
A LNSB prevê que os serviços poderão ser interrompidos pelo prestador
nas seguintes hipóteses:

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 183


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• situações de emergência que atinjam a segurança de pessoas e bens;
• necessidade de efetuar reparos, modificações ou melhorias de qual-
quer natureza nos sistemas;
• negativa do usuário em permitir a instalação de dispositivo de leitura
de água consumida, após ter sido previamente notificado a respeito;
• manipulação indevida de qualquer tubulação, medidor ou outra ins-
talação do prestador, por parte do usuário; e
• inadimplemento do usuário do serviço de abastecimento de água, do
pagamento das tarifas, após ter sido formalmente notificado.
Para a efetivação da interrupção do fornecimento dos serviços, há certos
cuidados que devem ser seguidos, tais como:
• as interrupções programadas serão previamente comunicadas ao re-
gulador e aos usuários;
• a suspensão dos serviços por recusa do usuário para instalação de
hidrômetro e por inadimplência será precedida de prévio aviso, não
inferior a 30 (trinta) dias da data prevista para a suspensão;
• a interrupção ou a restrição do fornecimento de água por inadim-
plência a estabelecimentos de saúde, a instituições educacionais e de
internação coletiva de pessoas e a usuário residencial de baixa renda
beneficiário de tarifa social deverá obedecer a prazos e critérios que
preservem condições mínimas de manutenção da saúde das pessoas
atingidas.

No artigo 45, da Lei no 11.445/2007 consta que

Ressalvadas as disposições em contrário das normas do titular, da


entidade de regulação e de meio ambiente, toda edificação perma-
nente urbana será conectada às redes públicas de abastecimento de

184 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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água e de esgotamento sanitário disponíveis e sujeita ao pagamento
das tarifas e de outros preços públicos decorrentes da conexão e do
uso desses serviços.

Na ausência de redes públicas de saneamento básico, serão admitidas so-


luções individuais de abastecimento de água e de afastamento e destinação final
dos esgotos sanitários, observadas as normas editadas pela entidade reguladora
e pelos órgãos responsáveis pelas políticas ambiental, sanitária e de recursos hí-
dricos. Determina, ainda, o § 2o do referido artigo que: “A instalação hidráulica
predial ligada à rede pública de abastecimento de água não poderá ser também
alimentada por outras fontes.”

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 185


Confederação Nacional de Municípios – CNM
5 Consórcios públicos
5.1 Considerações Gerais

Em um país de dimensões continentais, marcado por grandes desigual-


dades sociais e regionais e detentor de uma rica diversidade cultural e regional,
como o nosso, o caráter estratégico da organização federativa do Estado brasi-
leiro é o de constituir uma estrutura política e institucional de divisão territorial
do poder, que permita a articulação entre esferas de governo autônomas para a
realização de um empreendimento comum.
Os entes federativos sempre se ressentiram da fragilidade jurídica dos ins-
trumentos de cooperação federativa, sendo inúmeros os casos em que, por falta
de estatuto jurídico adequado, não prosperaram experiências significativas de
cooperação federativa. Em função do exposto, foi realizada insistente reivindi-
cação para edição de uma lei que disciplinasse os consórcios públicos e a gestão
associada de serviços públicos, reconhecendo nos consórcios a personalidade
jurídica.
O fortalecimento do federalismo brasileiro se deu com a redemocratização
do País que foi em grande parte impulsionado pelos governos subnacionais. Nes-
se sentido, a descentralização fiscal, administrativa e política do Brasil estiveram
intimamente associadas ao processo de democratização do País. Sob a ótica da
relação entre o Poder Público e a sociedade, a Constituição de 1988 colocou na
agenda política os temas da participação cidadã e do controle social na elabora-
ção e na implementação de políticas públicas.
O principal objetivo alcançado com a Lei dos Consórcios Públicos foi o

186 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
de complementar o desenho federativo brasileiro e aprimorar a organização da
federação, instrumentalizando e propiciando nova regulamentação à cooperação
horizontal e vertical entre as três esferas de governo, abrindo a possibilidade de
potencializar a intervenção do Poder Público e de otimizar e racionalizar a apli-
cação de recursos públicos na execução de atribuições que são compartilhadas.
É importante ressaltar que o Consórcio Público constitui antes de tudo,
um instrumento de cooperação federativa que possibilita maior articulação ins-
titucional, não se tratando da constituição de um quarto ente federativo, mas
disponibiliza aos entes federados um arranjo institucional, o qual possibilita uma
nova prática de pactuação e cooperação intergovernamental. Assim sendo, a Lei
11.107/2005, regulamentada pelo Decreto presidencial 6.017/2007 respeita a au-
tonomia e as competências de cada esfera de governo.
É inegável que o consórcio público dá maior segurança jurídica aos entes
Consorciados, pois fortalece o efeito de vinculação dos acordos de cooperação
intergovernamental e aumenta a contratualização entre os entes consorciados,
tanto no ato da formação, da extinção do consórcio, ou da retirada voluntária de
um ente consorciado, como na formalização das contribuições financeiras e das
responsabilidades assumidas.
É importante notar que o consórcio público e a gestão associada de ser-
viços públicos têm como principal característica a natureza voluntária, depen-
dendo, exclusivamente, da vontade de cada ente da Federação que, cumpridas
as suas obrigações, pode sair do consórcio ou da gestão no momento que bem
entender.
O referencial básico da Lei de Consórcios Públicos é o princípio da sub-
sidiariedade em que as instancias federativas mais amplas não devem assumir o
que as instancias federativas menores podem desenvolver, ou seja, não deve o
estado assumir aquilo que pode ser resolvido nos Municípios, nem pode a União

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 187


Confederação Nacional de Municípios – CNM
intervir no que pode ser melhor executado pelos estados e o Distrito Federal.
Os Municípios possuem grandes diferenças em sua capacidade econômica
e de gestão, que permite associar ao princípio da subsidiariedade o princípio
da cooperação, ou seja, pelo princípio da subsidiariedade a primazia da ação é
do Município, mas se este não possuir, isoladamente, as condições técnicas ou
econômicas para agir, cabe identificar se por intermédio da cooperação essas
insuficiências podem ser supridas.
O princípio da cooperação pode ser horizontal, de Município para Municí-
pio, de Estado para Estado, ou vertical, da União para os Estados e Municípios,
dos Estados para os Municípios. Assim sendo, a intervenção direta e executória
das instâncias centrais devem ser consideradas como último recurso a ser apli-
cado.
Os princípios citados reforçam as ações locais e regionais, permitindo que
as políticas públicas alcancem o cidadão em cada Município, incentivando a
utilização de estruturas administrativas dos Municípios, ao invés do Estado e da
União, que são mais caras e nem sempre eficientes e eficazes.

5.2 Cooperação X Corsórcio X Prestação de Serviços

O artigo 241 da Constituição – em função da redação dada pela Emenda


Constitucional no 19 – estabelece que

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios discipli-


narão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de co-
operação entre os entes federados, autorizando a gestão associada
de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de
encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos ser-
viços transferidos.

188 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
A gestão associada por meio de convênio de cooperação é muito mais
restrito que a gestão associada por consórcio público, por não gerar uma pessoa
jurídica, pois muitas funções estatais não podem ser delegadas ou transferidas
para o ambiente externo da Administração do titular. Não é lícito que um ente fe-
derativo , por intermédio de convênio de cooperação aliene, transfira ou permita
que outro exerça a titularidade de serviços públicos que lhe compete prover. Não
se admite que um ente federativo diminua as responsabilidades que a Constitui-
ção lhe outorgou.
Contrariamente ao que ocorre com o convênio de cooperação no consórcio
público a transferência de poderes inerentes à titularidade de serviços públicos
é o mesmo que a transferência desses poderes para uma autarquia criada pelo
próprio titular, pois o consórcio integra a administração indireta de todos os con-
sorciados. A gestão associada autorizada por consórcio possibilita a instituição
de agências reguladoras consorciais ou, ainda, a definição uniforme ou integrada
de tarifas para determinados serviços.
Além das atividades de planejamento, regulação e fiscalização, a gestão
associada pode ser ajustada para a prestação dos serviços públicos. Caso o
consórcio público venha a prestar os serviços, será necessário que o protocolo
de intenções (primeira providência para criação de um consórcio) preveja a
outorga dessa competência à entidade a ser criada e que o consórcio seja con-
tratado pelo titular de cada serviço. Exemplificando: se o consórcio é formado
por “n” Municípios, cada um dos Municípios integrantes terá um contrato com
o consórcio.
Ocorrendo a hipótese de que o Prestador de Serviços seja uma autarquia
ou empresa do ente federativo consorciado, ou que a gestão associada
tenha sido autorizada por convênio de cooperação, é necessário, também,
a celebração de um contrato de programa, previsto no artigo 13 da Lei de

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 189


Confederação Nacional de Municípios – CNM
Consórcios Públicos, que deve possuir cláusulas específicas, sob pena de não
possuir validade jurídica.
De forma geral, os entes federativos podem estabelecer uma gestão asso-
ciada de serviços públicos com um programa de trabalho que, mediante contra-
to, poderá ser executado por empresa, fundação ou autarquia da administração
indireta de qualquer um dos componentes do consórcio. Assim sendo, a situação
vigente por longos anos, onde era comum no saneamento básico, em que as
companhias estaduais celebravam sem licitação um contrato de concessão com
os Municípios se alterou e foi substituído por um novo modelo, regulado pela
Lei no 11.107/2005.
A Lei dos Consórcios Públicos estabeleceu tratamento específico para os
contratos de programa que, entre outros, prevê os seguintes aspectos:
• a sua celebração dispensa a licitação;
• a exigência de transparência da gestão econômica e financeira dos
serviços em relação a cada um de seus titulares;
• a manutenção do contrato, mesmo com a extinção do consórcio ou
do convênio de cooperação que autorizou a gestão associada;
• a proibição do contratado regular e da fiscalização dos serviços que
ele próprio presta, aumentando a eficiência pela separação técnica
entre as esferas de regulação e de prestação de serviços;
• a extinção automática do contrato caso o contratado deixe de in-
tegrar a administração indireta do ente da Federação que presta a
cooperação federativa.

190 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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5.3 Constituição de Consórcios

Para constituição de consórcios devem ser cumpridas três etapas, sendo a


primeira denominada Protocolo de Intenções, a segunda Ratificação e a terceira
elaboração do Estatuto. A União somente participará de consórcios públicos em
que também façam parte todos os Estados em cujos territórios estejam situados
os Municípios consorciados.
São cláusulas necessárias do protocolo de intenções, as quais deverão ser
publicadas na imprensa oficial, as seguintes:
• denominação, a finalidade, o prazo de duração e a sede do consórcio;
• a identificação dos entes da Federação consorciados;
• a indicação da área de atuação do consórcio;
• a previsão de que o consórcio público é associação pública ou pessoa
jurídica de direito privado sem fins econômicos;
• os critérios para, em assuntos de interesse comum, autorizar o con-
sórcio público a representar os entes da Federação consorciados pe-
rante outras esferas de governo;
• as normas de convocação e funcionamento da assembleia-geral, in-
clusive para a elaboração, aprovação e modificação dos estatutos do
consórcio público;
• a previsão de que a assembleia-geral é a instância máxima do con-
sórcio público e o número de votos para as suas deliberações;
• a forma de eleição e a duração do mandato do representante legal do
consórcio público que, obrigatoriamente, deverá ser Chefe do Poder
Executivo de ente da Federação consorciado;
• o número, as formas de provimento e a remuneração dos emprega-
dos públicos, bem como os casos de contratação por tempo determi-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 191


Confederação Nacional de Municípios – CNM
nado para atender à necessidade temporária de excepcional interesse
público;
• as condições para que o consórcio público celebre contrato de gestão
ou termo de parceria;
• a autorização para a gestão associada de serviços públicos, expli-
citando, as competências cujo exercício se transferiu ao consórcio
público, os serviços públicos objeto da gestão associada e a área em
que serão prestados bem como a autorização para licitar ou outorgar
concessão, permissão ou autorização da prestação dos serviços, as
condições a que deve obedecer ao contrato de programa, no caso
de a gestão associada envolver também a prestação de serviços por
órgão ou entidade de um dos entes da Federação consorciados e os
critérios técnicos para cálculo do valor das tarifas e de outros preços
públicos, bem como para seu reajuste ou revisão; e
• o direito de qualquer dos contratantes, quando adimplente com suas
obrigações, de exigir o pleno cumprimento das cláusulas do contrato
de consórcio público.
O contrato de consórcio público deverá ser celebrado com a ratificação,
mediante lei, do protocolo de intenções, ou seja, com a apreciação e aprovação
das respectivas Câmaras Municipais. O protocolo de intenções, depois de ratifi-
cado, altera a sua denominação para contrato de consórcio público, sem necessi-
dade de coleta de novas assinaturas. O contrato de consórcio público, caso assim
preveja cláusula, pode ser celebrado por apenas parte dos entes da Federação que
subscreveram o protocolo de intenções.
A ratificação pode ser realizada com reserva que, aceita pelos demais entes
subscritores, implicará consorciamento parcial ou condicional. Sendo realizada
após 2 anos da subscrição do protocolo de intenções, dependerá de homologação

192 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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da assembleia-geral do consórcio público, embora caiba lembrar que é dispen-
sado da ratificação o ente da Federação que, antes de subscrever o protocolo de
intenções, disciplinar por lei sua participação no consórcio público.
A terceira etapa, Estatuto, será realizada após as duas etapas anteriores,
com a convocação da assembleia-geral do consórcio público, que verificará a
ratificação do protocolo de intenções por parte de cada consorciado, que em se-
guida proclamará o consórcio constituído e na sequência a análise e a aprovação
do estatuto que deverá, na totalidade, obedecer ao contrato de consórcio público.
É recomendável, nessa oportunidade, que se efetue a eleição da primeira direto-
ria do consórcio.
Nenhum ente federativo pode ser obrigado a se consorciar ou a se man-
ter consorciado, pois o consorciamento depende de ato de vontade e qualquer
consorciado pode sair do consórcio público quando não mais lhe interessar, en-
tretanto sua retirada deve ser realizada respaldada por lei específica. Outro fato
relevante a ser considerado se refere às obrigações que foram assumidas no âm-
bito consorcial, que não se extinguem com a retirada do ente.
A extinção do consórcio público deverá obedecer às mesmas etapas de sua
constituição, ou seja, dependerá de decisão da assembléia-geral, que aprove o
instrumento de distrato que, como no caso do protocolo de intenções, deverá ser
ratificado por lei de cada um dos entes federativos consorciados. Esse procedi-
mento deve ser adotado, também, quando se desejar a alteração do contrato de
constituição do consórcio público.
Na hipótese de extinção do consórcio, os bens e os direitos pertencerão,
em condomínio, a todos os entes antes consorciados, comportando a partilha
amigável ou judicial. Quanto às obrigações, todos os entes serão solidariamente
responsáveis até que haja decisão que indique os responsáveis por cada uma
delas. Excluem-se dessas regras os bens, direitos, encargos e obrigações decor-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 193


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rentes de gestão associada de serviços públicos, que serão atribuídos aos titulares
dos serviços, isoladamente ou em condomínio. Em função do exposto, recomen-
da-se manter registros contábeis precisos e atualizados.

5.4 Gestão Financeira e de Pessoal

Os consorciados poderão fornecer recursos financeiros aos consórcios de


duas formas. A primeira por meio de fornecimento de bens ou a prestação de ser-
viços. De acordo com o artigo 2o, § 1o, Inciso III, da Lei de Consórcios Públicos
para esse tipo de contratação é dispensada a licitação. É importante ressaltar que
essa forma de envio de recursos financeiros é a preferencial, ou seja, o consór-
cio é remunerado pelos serviços que presta ou pelos bens que fornece, sendo
as despesas de cunho administrativo diluídas no valor do serviço ou do bem.
Evidentemente, a linha de comparação dos preços praticados deve ser aqueles
operados pelo mercado.
Na hipótese de que não seja possível a identificação do ente consorciado
beneficiário direto do serviço ou produto realizado pelo consórcio, é necessário
que seja celebrado o contrato de rateio, que possui regras próprias e que devem
ser rigorosamente cumpridas, sob pena de se incorrer em improbidade admi-
nistrativa. Alguns consórcios podem prestar serviços públicos remunerados por
taxa ou tarifas, pelo que serão mantidos. É licito que entes não consorciados
possam celebrar convênios com os consórcios, inclusive para transferência de
recursos.
No quadro próprio de pessoal do consórcio haverá apenas empregos públi-
cos, sejam em comissão, providos mediante nomeação do seu presidente, ou por
provimento efetivo, providos mediante concurso, mas nenhum deles terá direito
à estabilidade, sendo, sempre, regido pela Consolidação das Leis do Trabalho.

194 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
Isso se explica pelo fato de que o consórcio pode ser desconstituído a qualquer
tempo e com sua extinção não será possível identificar com qual ente individu-
almente há o vínculo.
É importante salientar que os empregos públicos e sua remuneração, assim
como os critérios para sua revisão, devem ser previstos no protocolo de inten-
ções. Os entes consorciados podem ceder servidores aos consórcios, sendo a
cessão uma solução válida quando certas funções do consórcio, no envolvimento
de prerrogativas administrativas, como o exercício do Poder de Polícia que só
podem ser exercidas por servidores com vínculo estatutário.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 195


Confederação Nacional de Municípios – CNM
196 Saneamento Básico para Gestores Públicosl
Confederação Nacional de Municípios – CNM
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Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2004.

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2003, 136 p.

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Disponível em: <http//www.lei.adv.br/conama01.htm>.

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Modernização do Setor de Saneamento. Brasília: Opas, 2005, 89 p.

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PROGRAMA DE MODERNIZAÇÃO DO SETOR SANEAMENTO. Sistema


Nacional de Informações sobre Saneamento: diagnóstico dos serviços de água e
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PROGRAMA DE MODERNIZAÇÃO DO SETOR SANEAMENTO. Sistema


Nacional de Informações sobre Saneamento: diagnóstico dos serviços de água e
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RIBEIRO, Wladimir António. Cooperação Federativa e a Lei de Consórcios


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Porto Alegre: Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 1995, 429 p.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 199


Confederação Nacional de Municípios – CNM
Anexo 1
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI No 11.445, DE 5 DE JANEIRO DE 2007.

Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis


nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666,
de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no
6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências.

O  PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional


decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Art. 1o  Esta Lei estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento
básico e para a política federal de saneamento básico.
Art. 2o  Os serviços públicos de saneamento básico serão prestados com
base nos seguintes princípios fundamentais:
I – universalização do acesso;
II – integralidade, compreendida como o conjunto de todas as ativida-
des e componentes de cada um dos diversos serviços de saneamento básico,
propiciando à população o acesso na conformidade de suas necessidades e
maximizando a eficácia das ações e resultados;

200 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
III – abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e
manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública
e à proteção do meio ambiente;
IV – disponibilidade, em todas as áreas urbanas, de serviços de drena-
gem e de manejo das águas pluviais adequados à saúde pública e à segurança
da vida e do patrimônio público e privado;
V – adoção de métodos, técnicas e processos que considerem as pecu-
liaridades locais e regionais;
VI – articulação com as políticas de desenvolvimento urbano e regional,
de habitação, de combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção am-
biental, de promoção da saúde e outras de relevante interesse social voltadas
para a melhoria da qualidade de vida, para as quais o saneamento básico seja
fator determinante;
VII – eficiência e sustentabilidade econômica;
VIII – utilização de tecnologias apropriadas, considerando a capacidade
de pagamento dos usuários e a adoção de soluções graduais e progressivas;
IX – transparência das ações, baseada em sistemas de informações e
processos decisórios institucionalizados;
X – controle social;
XI – segurança, qualidade e regularidade;
XII – integração das infraestruturas e serviços com a gestão eficiente dos
recursos hídricos.
Art. 3o  Para os efeitos desta Lei, considera-se:
I – saneamento básico: conjunto de serviços, infraestruturas e instalações
operacionais de:
a) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infraes-
truturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável,
desde a captação até as ligações prediais e respectivos instrumentos de me-
dição;

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 201


Confederação Nacional de Municípios – CNM
b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infraestruturas e
instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final
adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lança-
mento final no meio ambiente;
c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades,
infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo,
tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e
limpeza de logradouros e vias públicas;
d) drenagem e manejo das águas pluviais urbanas: conjunto de ativida-
des, infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas
pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões
de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas
urbanas;
II – gestão associada: associação voluntária de entes federados, por con-
vênio de cooperação ou consórcio público, conforme disposto no art. 241 da
Constituição Federal;
III – universalização: ampliação progressiva do acesso de todos os domi-
cílios ocupados ao saneamento básico;
IV – controle social: conjunto de mecanismos e procedimentos que ga-
rantem à sociedade informações, representações técnicas e participações nos
processos de formulação de políticas, de planejamento e de avaliação relacio-
nados aos serviços públicos de saneamento básico;
V – (VETADO);
VI – prestação regionalizada: aquela em que um único prestador atende
a 2 (dois) ou mais titulares;
VII – subsídios: instrumento econômico de política social para garantir a
universalização do acesso ao saneamento básico, especialmente para popula-
ções e localidades de baixa renda;
VIII – localidade de pequeno porte: vilas, aglomerados rurais, povoados,
núcleos, lugarejos e aldeias, assim definidos pela Fundação Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística – IBGE.

202 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
§ 1o  (VETADO).
§ 2o  (VETADO).
§ 3o  (VETADO).
Art. 4o  Os recursos hídricos não integram os serviços públicos de sane-
amento básico.
Parágrafo único.  A utilização de recursos hídricos na prestação de ser-
viços públicos de saneamento básico, inclusive para disposição ou diluição de
esgotos e outros resíduos líquidos, é sujeita a outorga de direito de uso, nos
termos da Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997, de seus regulamentos e das
legislações estaduais.
Art. 5o  Não constitui serviço público a ação de saneamento executada por
meio de soluções individuais, desde que o usuário não dependa de terceiros
para operar os serviços, bem como as ações e serviços de saneamento básico
de responsabilidade privada, incluindo o manejo de resíduos de responsabili-
dade do gerador.
Art. 6o  O lixo originário de atividades comerciais, industriais e de serviços
cuja responsabilidade pelo manejo não seja atribuída ao gerador pode, por de-
cisão do poder público, ser considerado resíduo sólido urbano.
Art. 7o  Para os efeitos desta Lei, o serviço público de limpeza urbana e
de manejo de resíduos sólidos urbanos é composto pelas seguintes atividades:
I – de coleta, transbordo e transporte dos resíduos relacionados na alínea
c do inciso I do caput do art. 3o desta Lei;
II – de triagem para fins de reúso ou reciclagem, de tratamento, inclusive
por compostagem, e de disposição final dos resíduos relacionados na alínea c
do inciso I do caput do art. 3o desta Lei;
III – de varrição, capina e poda de árvores em vias e logradouros públicos
e outros eventuais serviços pertinentes à limpeza pública urbana.
CAPÍTULO II
DO EXERCÍCIO DA TITULARIDADE
Art. 8o  Os titulares dos serviços públicos de saneamento básico poderão
delegar a organização, a regulação, a fiscalização e a prestação desses ser-
viços, nos termos do art. 241 da Constituição Federal e da Lei no 11.107, de 6

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 203


Confederação Nacional de Municípios – CNM
de abril de 2005.
Art. 9o  O titular dos serviços formulará a respectiva política pública de
saneamento básico, devendo, para tanto:
I – elaborar os planos de saneamento básico, nos termos desta Lei;
II – prestar diretamente ou autorizar a delegação dos serviços e definir o
ente responsável pela sua regulação e fiscalização, bem como os procedimen-
tos de sua atuação;
III – adotar parâmetros para a garantia do atendimento essencial à saúde
pública, inclusive quanto ao volume mínimo per capita de água para abaste-
cimento público, observadas as normas nacionais relativas à potabilidade da
água;
IV – fixar os direitos e os deveres dos usuários;
V – estabelecer mecanismos de controle social, nos termos do inciso IV
do caput do art. 3o desta Lei;
VI – estabelecer sistema de informações sobre os serviços, articulado
com o Sistema Nacional de Informações em Saneamento;
VII – intervir e retomar a operação dos serviços delegados, por indicação
da entidade reguladora, nos casos e condições previstos em lei e nos docu-
mentos contratuais.
Art. 10.  A prestação de serviços públicos de saneamento básico por enti-
dade que não integre a administração do titular depende da celebração de con-
trato, sendo vedada a sua disciplina mediante convênios, termos de parceria
ou outros instrumentos de natureza precária.
§ 1o  Excetuam-se do disposto no caput deste artigo:
I – os serviços públicos de saneamento básico cuja prestação o poder pú-
blico, nos termos de lei, autorizar para usuários organizados em cooperativas
ou associações, desde que se limitem a:
a) determinado condomínio;
b) localidade de pequeno porte, predominantemente ocupada por popu-
lação de baixa renda, onde outras formas de prestação apresentem custos de
operação e manutenção incompatíveis com a capacidade de pagamento dos
usuários;

204 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
II – os convênios e outros atos de delegação celebrados até o dia 6 de
abril de 2005.
§ 2o  A autorização prevista no inciso I do § 1o deste artigo deverá prever
a obrigação de transferir ao titular os bens vinculados aos serviços por meio de
termo específico, com os respectivos cadastros técnicos.
Art. 11.  São condições de validade dos contratos que tenham por objeto
a prestação de serviços públicos de saneamento básico:
I – a existência de plano de saneamento básico;
II – a existência de estudo comprovando a viabilidade técnica e econô-
mico-financeira da prestação universal e integral dos serviços, nos termos do
respectivo plano de saneamento básico;
III – a existência de normas de regulação que prevejam os meios para o
cumprimento das diretrizes desta Lei, incluindo a designação da entidade de
regulação e de fiscalização;
IV – a realização prévia de audiência e de consulta públicas sobre o edital
de licitação, no caso de concessão, e sobre a minuta do contrato.
§ 1o  Os planos de investimentos e os projetos relativos ao contrato deve-
rão ser compatíveis com o respectivo plano de saneamento básico.
§ 2o  Nos casos de serviços prestados mediante contratos de concessão
ou de programa, as normas previstas no inciso III do caput deste artigo deverão
prever:
I – a autorização para a contratação dos serviços, indicando os respecti-
vos prazos e a área a ser atendida;
II – a inclusão, no contrato, das metas progressivas e graduais de ex-
pansão dos serviços, de qualidade, de eficiência e de uso racional da água,
da energia e de outros recursos naturais, em conformidade com os serviços a
serem prestados;
III – as prioridades de ação, compatíveis com as metas estabelecidas;
IV – as condições de sustentabilidade e equilíbrio econômico-financeiro
da prestação dos serviços, em regime de eficiência, incluindo:
a) o sistema de cobrança e a composição de taxas e tarifas;
b) a sistemática de reajustes e de revisões de taxas e tarifas;

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 205


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c) a política de subsídios;
V – mecanismos de controle social nas atividades de planejamento, regu-
lação e fiscalização dos serviços;
VI – as hipóteses de intervenção e de retomada dos serviços.
§ 3o  Os contratos não poderão conter cláusulas que prejudiquem as ati-
vidades de regulação e de fiscalização ou o acesso às informações sobre os
serviços contratados.
§ 4o  Na prestação regionalizada, o disposto nos incisos I a IV do caput e
nos §§ 1o e 2o deste artigo poderá se referir ao conjunto de Municípios por ela
abrangidos.
Art. 12.  Nos serviços públicos de saneamento básico em que mais de um
prestador execute atividade interdependente com outra, a relação entre elas
deverá ser regulada por contrato e haverá entidade única encarregada das
funções de regulação e de fiscalização.
§ 1o  A entidade de regulação definirá, pelo menos:
I – as normas técnicas relativas à qualidade, quantidade e regularidade
dos serviços prestados aos usuários e entre os diferentes prestadores envol-
vidos;
II – as normas econômicas e financeiras relativas às tarifas, aos subsídios
e aos pagamentos por serviços prestados aos usuários e entre os diferentes
prestadores envolvidos;
III – a garantia de pagamento de serviços prestados entre os diferentes
prestadores dos serviços;
IV – os mecanismos de pagamento de diferenças relativas a inadimple-
mento dos usuários, perdas comerciais e físicas e outros créditos devidos,
quando for o caso;
V – o sistema contábil específico para os prestadores que atuem em mais
de um Município.
§ 2o  O contrato a ser celebrado entre os prestadores de serviços a que
se refere o caput deste artigo deverá conter cláusulas que estabeleçam pelo
menos:
I – as atividades ou insumos contratados;

206 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
II – as condições e garantias recíprocas de fornecimento e de acesso às
atividades ou insumos;
III – o prazo de vigência, compatível com as necessidades de amortiza-
ção de investimentos, e as hipóteses de sua prorrogação;
IV – os procedimentos para a implantação, ampliação, melhoria e gestão
operacional das atividades;
V – as regras para a fixação, o reajuste e a revisão das taxas, tarifas e
outros preços públicos aplicáveis ao contrato;
VI – as condições e garantias de pagamento;
VII – os direitos e deveres sub-rogados ou os que autorizam a sub-roga-
ção;
VIII – as hipóteses de extinção, inadmitida a alteração e a rescisão admi-
nistrativas unilaterais;
IX – as penalidades a que estão sujeitas as partes em caso de inadimple-
mento;
X – a designação do órgão ou entidade responsável pela regulação e
fiscalização das atividades ou insumos contratados.
§ 3o  Inclui-se entre as garantias previstas no inciso VI do § 2o deste arti-
go a obrigação do contratante de destacar, nos documentos de cobrança aos
usuários, o valor da remuneração dos serviços prestados pelo contratado e de
realizar a respectiva arrecadação e entrega dos valores arrecadados.
§ 4o  No caso de execução mediante concessão de atividades interdepen-
dentes a que se refere o caput deste artigo, deverão constar do correspondente
edital de licitação as regras e os valores das tarifas e outros preços públicos
a serem pagos aos demais prestadores, bem como a obrigação e a forma de
pagamento.
Art. 13.  Os entes da Federação, isoladamente ou reunidos em consórcios
públicos, poderão instituir fundos, aos quais poderão ser destinadas, entre ou-
tros recursos, parcelas das receitas dos serviços, com a finalidade de custear,
na conformidade do disposto nos respectivos planos de saneamento básico, a
universalização dos serviços públicos de saneamento básico.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 207


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Parágrafo único.  Os recursos dos fundos a que se refere o caput deste
artigo poderão ser utilizados como fontes ou garantias em operações de crédito
para financiamento dos investimentos necessários à universalização dos servi-
ços públicos de saneamento básico.
CAPÍTULO III
DA PRESTAÇÃO REGIONALIZADA DE SERVIÇOS PÚBLICOS DE
SANEAMENTO BÁSICO
Art. 14.  A prestação regionalizada de serviços públicos de saneamento
básico é caracterizada por:
I – um único prestador do serviço para vários Municípios, contíguos ou
não;
II – uniformidade de fiscalização e regulação dos serviços, inclusive de
sua remuneração;
III – compatibilidade de planejamento.
Art. 15.  Na prestação regionalizada de serviços públicos de saneamento
básico, as atividades de regulação e fiscalização poderão ser exercidas:
I – por órgão ou entidade de ente da Federação a que o titular tenha de-
legado o exercício dessas competências por meio de convênio de cooperação
entre entes da Federação, obedecido o disposto no art. 241 da Constituição
Federal;
II – por consórcio público de direito público integrado pelos titulares dos
serviços.
Parágrafo único.  No exercício das atividades de planejamento dos ser-
viços a que se refere o caput deste artigo, o titular poderá receber cooperação
técnica do respectivo Estado e basear-se em estudos fornecidos pelos presta-
dores.
Art. 16.  A prestação regionalizada de serviços públicos de saneamento
básico poderá ser realizada por:
I – órgão, autarquia, fundação de direito público, consórcio público, em-
presa pública ou sociedade de economia mista estadual, do Distrito Federal, ou
municipal, na forma da legislação;
II – empresa a que se tenham concedido os serviços.

208 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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Art. 17.  O serviço regionalizado de saneamento básico poderá obedecer
a plano de saneamento básico elaborado para o conjunto de Municípios aten-
didos.
Art. 18.  Os prestadores que atuem em mais de um Município ou que
prestem serviços públicos de saneamento básico diferentes em um mesmo
Município manterão sistema contábil que permita registrar e demonstrar, sepa-
radamente, os custos e as receitas de cada serviço em cada um dos Municí-
pios atendidos e, se for o caso, no Distrito Federal.
Parágrafo único.  A entidade de regulação deverá instituir regras e crité-
rios de estruturação de sistema contábil e do respectivo plano de contas, de
modo a garantir que a apropriação e a distribuição de custos dos serviços este-
jam em conformidade com as diretrizes estabelecidas nesta Lei.

CAPÍTULO IV
DO PLANEJAMENTO
Art. 19.  A prestação de serviços públicos de saneamento básico obser-
vará plano, que poderá ser específico para cada serviço, o qual abrangerá, no
mínimo:
I – diagnóstico da situação e de seus impactos nas condições de vida,
utilizando sistema de indicadores sanitários, epidemiológicos, ambientais e so-
cioeconômicos e apontando as causas das deficiências detectadas;
II – objetivos e metas de curto, médio e longo prazos para a universaliza-
ção, admitidas soluções graduais e progressivas, observando a compatibilida-
de com os demais planos setoriais;
III – programas, projetos e ações necessárias para atingir os objetivos e
as metas, de modo compatível com os respectivos planos plurianuais e com
outros planos governamentais correlatos, identificando possíveis fontes de fi-
nanciamento;
IV – ações para emergências e contingências;
V – mecanismos e procedimentos para a avaliação sistemática da eficiên-
cia e eficácia das ações programadas.
§ 1o  Os planos de saneamento básico serão editados pelos titulares, po-
dendo ser elaborados com base em estudos fornecidos pelos prestadores de

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 209


Confederação Nacional de Municípios – CNM
cada serviço.
§ 2o  A consolidação e compatibilização dos planos específicos de cada
serviço serão efetuadas pelos respectivos titulares.
§ 3o  Os planos de saneamento básico deverão ser compatíveis com os
planos das bacias hidrográficas em que estiverem inseridos.
§ 4o  Os planos de saneamento básico serão revistos periodicamente,
em prazo não superior a 4 (quatro) anos, anteriormente à elaboração do Plano
Plurianual.
§ 5o  Será assegurada ampla divulgação das propostas dos planos de
saneamento básico e dos estudos que as fundamentem, inclusive com a reali-
zação de audiências ou consultas públicas.
§ 6o  A delegação de serviço de saneamento básico não dispensa o cum-
primento pelo prestador do respectivo plano de saneamento básico em vigor à
época da delegação.
§ 7o  Quando envolverem serviços regionalizados, os planos de sanea-
mento básico devem ser editados em conformidade com o estabelecido no art.
14 desta Lei.
§ 8o  Exceto quando regional, o plano de saneamento básico deverá en-
globar integralmente o território do ente da Federação que o elaborou.
Art. 20.  (VETADO).
Parágrafo único.  Incumbe à entidade reguladora e fiscalizadora dos ser-
viços a verificação do cumprimento dos planos de saneamento por parte dos
prestadores de serviços, na forma das disposições legais, regulamentares e
contratuais.
CAPÍTULO V
DA REGULAÇÃO
Art. 21.  O exercício da função de regulação atenderá aos seguintes prin-
cípios:
I – independência decisória, incluindo autonomia administrativa, orça-
mentária e financeira da entidade reguladora;
II – transparência, tecnicidade, celeridade e objetividade das decisões.

210 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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Art. 22.  São objetivos da regulação:
I – estabelecer padrões e normas para a adequada prestação dos servi-
ços e para a satisfação dos usuários;
II – garantir o cumprimento das condições e metas estabelecidas;
III – prevenir e reprimir o abuso do poder econômico, ressalvada a compe-
tência dos órgãos integrantes do sistema nacional de defesa da concorrência;
IV – definir tarifas que assegurem tanto o equilíbrio econômico e financei-
ro dos contratos como a modicidade tarifária, mediante mecanismos que indu-
zam a eficiência e eficácia dos serviços e que permitam a apropriação social
dos ganhos de produtividade.
Art. 23.  A entidade reguladora editará normas relativas às dimensões
técnica, econômica e social de prestação dos serviços, que abrangerão, pelo
menos, os seguintes aspectos:
I – padrões e indicadores de qualidade da prestação dos serviços;
II – requisitos operacionais e de manutenção dos sistemas;
III – as metas progressivas de expansão e de qualidade dos serviços e os
respectivos prazos;
IV – regime, estrutura e níveis tarifários, bem como os procedimentos e
prazos de sua fixação, reajuste e revisão;
V – medição, faturamento e cobrança de serviços;
VI – monitoramento dos custos;
VII – avaliação da eficiência e eficácia dos serviços prestados;
VIII – plano de contas e mecanismos de informação, auditoria e certifica-
ção;
IX – subsídios tarifários e não tarifários;
X – padrões de atendimento ao público e mecanismos de participação e
informação;
XI – medidas de contingências e de emergências, inclusive racionamento;
XII – (VETADO).

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 211


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§ 1o  A regulação de serviços públicos de saneamento básico poderá ser
delegada pelos titulares a qualquer entidade reguladora constituída dentro dos
limites do respectivo Estado, explicitando, no ato de delegação da regulação,
a forma de atuação e a abrangência das atividades a serem desempenhadas
pelas partes envolvidas.
§ 2o  As normas a que se refere o caput deste artigo fixarão prazo para os
prestadores de serviços comunicarem aos usuários as providências adotadas
em face de queixas ou de reclamações relativas aos serviços.
§ 3o  As entidades fiscalizadoras deverão receber e se manifestar conclu-
sivamente sobre as reclamações que, a juízo do interessado, não tenham sido
suficientemente atendidas pelos prestadores dos serviços.
Art. 24.  Em caso de gestão associada ou prestação regionalizada dos
serviços, os titulares poderão adotar os mesmos critérios econômicos, sociais
e técnicos da regulação em toda a área de abrangência da associação ou da
prestação.
Art. 25.  Os prestadores de serviços públicos de saneamento básico de-
verão fornecer à entidade reguladora todos os dados e informações neces-
sários para o desempenho de suas atividades, na forma das normas legais,
regulamentares e contratuais.
§ 1o  Incluem-se entre os dados e informações a que se refere o caput
deste artigo aquelas produzidas por empresas ou profissionais contratados
para executar serviços ou fornecer materiais e equipamentos específicos.
§ 2o  Compreendem-se nas atividades de regulação dos serviços de sane-
amento básico a interpretação e a fixação de critérios para a fiel execução dos
contratos, dos serviços e para a correta administração de subsídios.
Art. 26.  Deverá ser assegurado publicidade aos relatórios, estudos, deci-
sões e instrumentos equivalentes que se refiram à regulação ou à fiscalização
dos serviços, bem como aos direitos e deveres dos usuários e prestadores, a
eles podendo ter acesso qualquer do povo, independentemente da existência
de interesse direto.
§ 1o  Excluem-se do disposto no caput deste artigo os documentos consi-
derados sigilosos em razão de interesse público relevante, mediante prévia e
motivada decisão.

212 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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§ 2o  A publicidade a que se refere o caput deste artigo deverá se efetivar,
preferencialmente, por meio de sítio mantido na rede mundial de computadores
- internet.
Art. 27.  É assegurado aos usuários de serviços públicos de saneamento
básico, na forma das normas legais, regulamentares e contratuais:
I – amplo acesso a informações sobre os serviços prestados;
II – prévio conhecimento dos seus direitos e deveres e das penalidades a
que podem estar sujeitos;
III – acesso a manual de prestação do serviço e de atendimento ao usu-
ário, elaborado pelo prestador e aprovado pela respectiva entidade de regula-
ção;

IV – acesso a relatório periódico sobre a qualidade da prestação dos ser-


viços.
Art. 28.  (VETADO).

CAPÍTULO VI
DOS ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS
Art. 29.  Os serviços públicos de saneamento básico terão a sustentabili-
dade econômico-financeira assegurada, sempre que possível, mediante remu-
neração pela cobrança dos serviços:
I – de abastecimento de água e esgotamento sanitário: preferencialmente
na forma de tarifas e outros preços públicos, que poderão ser estabelecidos
para cada um dos serviços ou para ambos conjuntamente;
II – de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos: taxas ou
tarifas e outros preços públicos, em conformidade com o regime de prestação
do serviço ou de suas atividades;
III – de manejo de águas pluviais urbanas: na forma de tributos, inclusive
taxas, em conformidade com o regime de prestação do serviço ou de suas
atividades.
§ 1o  Observado o disposto nos incisos I a III do caput deste artigo, a ins-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 213


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tituição das tarifas, preços públicos e taxas para os serviços de saneamento
básico observará as seguintes diretrizes:
I – prioridade para atendimento das funções essenciais relacionadas à
saúde pública;
II – ampliação do acesso dos cidadãos e localidades de baixa renda aos
serviços;
III – geração dos recursos necessários para realização dos investimentos,
objetivando o cumprimento das metas e objetivos do serviço;
IV – inibição do consumo supérfluo e do desperdício de recursos;
V – recuperação dos custos incorridos na prestação do serviço, em regi-
me de eficiência;
VI – remuneração adequada do capital investido pelos prestadores dos
serviços;
VII – estímulo ao uso de tecnologias modernas e eficientes, compatíveis
com os níveis exigidos de qualidade, continuidade e segurança na prestação
dos serviços;
VIII – incentivo à eficiência dos prestadores dos serviços.
§ 2o  Poderão ser adotados subsídios tarifários e não tarifários para os
usuários e localidades que não tenham capacidade de pagamento ou escala
econômica suficiente para cobrir o custo integral dos serviços.
Art. 30.  Observado o disposto no art. 29 desta Lei, a estrutura de
remuneração e cobrança dos serviços públicos de saneamento básico poderá
levar em consideração os seguintes fatores:
I – categorias de usuários, distribuídas por faixas ou quantidades cres-
centes de utilização ou de consumo;
II – padrões de uso ou de qualidade requeridos;
III – quantidade mínima de consumo ou de utilização do serviço, visando à
garantia de objetivos sociais, como a preservação da saúde pública, o adequa-
do atendimento dos usuários de menor renda e a proteção do meio ambiente;
IV – custo mínimo necessário para disponibilidade do serviço em quanti-
dade e qualidade adequadas;

214 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
V – ciclos significativos de aumento da demanda dos serviços, em perío-
dos distintos; e
VI – capacidade de pagamento dos consumidores.
Art. 31.  Os subsídios necessários ao atendimento de usuários e localida-
des de baixa renda serão, dependendo das características dos beneficiários e
da origem dos recursos:
I – diretos, quando destinados a usuários determinados, ou indiretos,
quando destinados ao prestador dos serviços;
II – tarifários, quando integrarem a estrutura tarifária, ou fiscais, quando
decorrerem da alocação de recursos orçamentários, inclusive por meio de sub-
venções;
III – internos a cada titular ou entre localidades, nas hipóteses de gestão
associada e de prestação regional.
Art. 32.  (VETADO).
Art. 33.  (VETADO).
Art. 34.  (VETADO).
Art. 35.  As taxas ou tarifas decorrentes da prestação de serviço público
de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos urbanos devem levar em
conta a adequada destinação dos resíduos coletados e poderão considerar:
I – o nível de renda da população da área atendida;
II – as características dos lotes urbanos e as áreas que podem ser neles
edificadas;
III – o peso ou o volume médio coletado por habitante ou por domicílio.
Art. 36.  A cobrança pela prestação do serviço público de drenagem e
manejo de águas pluviais urbanas deve levar em conta, em cada lote urbano,
os percentuais de impermeabilização e a existência de dispositivos de amorte-
cimento ou de retenção de água de chuva, bem como poderá considerar:
I – o nível de renda da população da área atendida;
II – as características dos lotes urbanos e as áreas que podem ser neles
edificadas.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 215


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Art. 37.  Os reajustes de tarifas de serviços públicos de saneamento bási-
co serão realizados observando-se o intervalo mínimo de 12 (doze) meses, de
acordo com as normas legais, regulamentares e contratuais.
Art. 38.  As revisões tarifárias compreenderão a reavaliação das condi-
ções da prestação dos serviços e das tarifas praticadas e poderão ser:
I – periódicas, objetivando a distribuição dos ganhos de produtividade
com os usuários e a reavaliação das condições de mercado;
II – extraordinárias, quando se verificar a ocorrência de fatos não previs-
tos no contrato, fora do controle do prestador dos serviços, que alterem o seu
equilíbrio econômico-financeiro.
§ 1o  As revisões tarifárias terão suas pautas definidas pelas respectivas
entidades reguladoras, ouvidos os titulares, os usuários e os prestadores dos
serviços.
§ 2o  Poderão ser estabelecidos mecanismos tarifários de indução à efici-
ência, inclusive fatores de produtividade, assim como de antecipação de metas
de expansão e qualidade dos serviços.
§ 3o  Os fatores de produtividade poderão ser definidos com base em in-
dicadores de outras empresas do setor.
§ 4o  A entidade de regulação poderá autorizar o prestador de serviços a
repassar aos usuários custos e encargos tributários não previstos originalmen-
te e por ele não administrados, nos termos da Lei no 8.987, de 13 de fevereiro
de 1995.
Art. 39.  As tarifas serão fixadas de forma clara e objetiva, devendo os
reajustes e as revisões serem tornados públicos com antecedência mínima de
30 (trinta) dias com relação à sua aplicação.
Parágrafo único.  A fatura a ser entregue ao usuário final deverá obedecer
a modelo estabelecido pela entidade reguladora, que definirá os itens e custos
que deverão estar explicitados.
Art. 40.  Os serviços poderão ser interrompidos pelo prestador nas se-
guintes hipóteses:
I – situações de emergência que atinjam a segurança de pessoas e bens;
II – necessidade de efetuar reparos, modificações ou melhorias de qual-
quer natureza nos sistemas;

216 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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III – negativa do usuário em permitir a instalação de dispositivo de leitura
de água consumida, após ter sido previamente notificado a respeito;
IV – manipulação indevida de qualquer tubulação, medidor ou outra insta-
lação do prestador, por parte do usuário; e
V – inadimplemento do usuário do serviço de abastecimento de água, do
pagamento das tarifas, após ter sido formalmente notificado.
§ 1o  As interrupções programadas serão previamente comunicadas ao
regulador e aos usuários.
§ 2o  A suspensão dos serviços prevista nos incisos III e V do caput deste
artigo será precedida de prévio aviso ao usuário, não inferior a 30 (trinta) dias
da data prevista para a suspensão.
§ 3o  A interrupção ou a restrição do fornecimento de água por inadimplên-
cia a estabelecimentos de saúde, a instituições educacionais e de internação
coletiva de pessoas e a usuário residencial de baixa renda beneficiário de tarifa
social deverá obedecer a prazos e critérios que preservem condições mínimas
de manutenção da saúde das pessoas atingidas.
Art. 41.  Desde que previsto nas normas de regulação, grandes usuários
poderão negociar suas tarifas com o prestador dos serviços, mediante contrato
específico, ouvido previamente o regulador.
Art. 42.  Os valores investidos em bens reversíveis pelos prestadores
constituirão créditos perante o titular, a serem recuperados mediante a explo-
ração dos serviços, nos termos das normas regulamentares e contratuais e,
quando for o caso, observada a legislação pertinente às sociedades por ações.
§ 1o  Não gerarão crédito perante o titular os investimentos feitos sem
ônus para o prestador, tais como os decorrentes de exigência legal aplicável
à implantação de empreendimentos imobiliários e os provenientes de subven-
ções ou transferências fiscais voluntárias.
§ 2o  Os investimentos realizados, os valores amortizados, a depreciação
e os respectivos saldos serão anualmente auditados e certificados pela entida-
de reguladora.
§ 3o  Os créditos decorrentes de investimentos devidamente certificados
poderão constituir garantia de empréstimos aos delegatários, destinados exclu-
sivamente a investimentos nos sistemas de saneamento objeto do respectivo
contrato.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 217


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§ 4o  (VETADO).

CAPÍTULO VII
DOS ASPECTOS TÉCNICOS
Art. 43.  A prestação dos serviços atenderá a requisitos mínimos de quali-
dade, incluindo a regularidade, a continuidade e aqueles relativos aos produtos
oferecidos, ao atendimento dos usuários e às condições operacionais e de
manutenção dos sistemas, de acordo com as normas regulamentares e con-
tratuais.
Parágrafo único.  A União definirá parâmetros mínimos para a potabilida-
de da água.
Art. 44.  O licenciamento ambiental de unidades de tratamento de esgotos
sanitários e de efluentes gerados nos processos de tratamento de água con-
siderará etapas de eficiência, a fim de alcançar progressivamente os padrões
estabelecidos pela legislação ambiental, em função da capacidade de paga-
mento dos usuários.
§ 1o  A autoridade ambiental competente estabelecerá procedimentos
simplificados de licenciamento para as atividades a que se refere o caput deste
artigo, em função do porte das unidades e dos impactos ambientais esperados.
§ 2o  A autoridade ambiental competente estabelecerá metas progressi-
vas para que a qualidade dos efluentes de unidades de tratamento de esgotos
sanitários atenda aos padrões das classes dos corpos hídricos em que forem
lançados, a partir dos níveis presentes de tratamento e considerando a capaci-
dade de pagamento das populações e usuários envolvidos.
Art. 45.  Ressalvadas as disposições em contrário das normas do titular,
da entidade de regulação e de meio ambiente, toda edificação permanente
urbana será conectada às redes públicas de abastecimento de água e de es-
gotamento sanitário disponíveis e sujeita ao pagamento das tarifas e de outros
preços públicos decorrentes da conexão e do uso desses serviços.
§ 1o  Na ausência de redes públicas de saneamento básico, serão ad-
mitidas soluções individuais de abastecimento de água e de afastamento e
destinação final dos esgotos sanitários, observadas as normas editadas pela
entidade reguladora e pelos órgãos responsáveis pelas políticas ambiental, sa-
nitária e de recursos hídricos.

218 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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§ 2o  A instalação hidráulica predial ligada à rede pública de abastecimen-
to de água não poderá ser também alimentada por outras fontes.
Art. 46.  Em situação crítica de escassez ou contaminação de recursos
hídricos que obrigue à adoção de racionamento, declarada pela autoridade
gestora de recursos hídricos, o ente regulador poderá adotar mecanismos ta-
rifários de contingência, com objetivo de cobrir custos adicionais decorrentes,
garantindo o equilíbrio financeiro da prestação do serviço e a gestão da de-
manda.

CAPÍTULO VIII
DA PARTICIPAÇÃO DE ÓRGÃOS COLEGIADOS NO CONTROLE SO-
CIAL
Art. 47.  O controle social dos serviços públicos de saneamento básico
poderá incluir a participação de órgãos colegiados de caráter consultivo, esta-
duais, do Distrito Federal e municipais, assegurada a representação:
I – dos titulares dos serviços;
II – de órgãos governamentais relacionados ao setor de saneamento bá-
sico;
III – dos prestadores de serviços públicos de saneamento básico;
IV – dos usuários de serviços de saneamento básico;
V – de entidades técnicas, organizações da sociedade civil e de defesa do
consumidor relacionadas ao setor de saneamento básico.
§ 1o  As funções e competências dos órgãos colegiados a que se refere o
caput deste artigo poderão ser exercidas por órgãos colegiados já existentes,
com as devidas adaptações das leis que os criaram.
§ 2o  No caso da União, a participação a que se refere o caput deste artigo
será exercida nos termos da Medida Provisória no 2.220, de 4 de setembro de
2001, alterada pela Lei no 10.683, de 28 de maio de 2003.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 219


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CAPÍTULO IX
DA POLÍTICA FEDERAL DE SANEAMENTO BÁSICO
Art. 48.  A União, no estabelecimento de sua política de saneamento bá-
sico, observará as seguintes diretrizes:
I – prioridade para as ações que promovam a eqüidade social e territorial
no acesso ao saneamento básico;
II – aplicação dos recursos financeiros por ela administrados de modo a
promover o desenvolvimento sustentável, a eficiência e a eficácia;
III – estímulo ao estabelecimento de adequada regulação dos serviços;
IV – utilização de indicadores epidemiológicos e de desenvolvimento so-
cial no planejamento, implementação e avaliação das suas ações de sanea-
mento básico;
V – melhoria da qualidade de vida e das condições ambientais e de saúde
pública;
VI – colaboração para o desenvolvimento urbano e regional;
VII – garantia de meios adequados para o atendimento da população rural
dispersa, inclusive mediante a utilização de soluções compatíveis com suas
características econômicas e sociais peculiares;
VIII – fomento ao desenvolvimento científico e tecnológico, à adoção de
tecnologias apropriadas e à difusão dos conhecimentos gerados;
IX – adoção de critérios objetivos de elegibilidade e prioridade, levando
em consideração fatores como nível de renda e cobertura, grau de urbaniza-
ção, concentração populacional, disponibilidade hídrica, riscos sanitários, epi-
demiológicos e ambientais;
X – adoção da bacia hidrográfica como unidade de referência para o pla-
nejamento de suas ações;
XI – estímulo à implementação de infraestruturas e serviços comuns a
Municípios, mediante mecanismos de cooperação entre entes federados.
Parágrafo único.  As políticas e ações da União de desenvolvimento ur-
bano e regional, de habitação, de combate e erradicação da pobreza, de pro-
teção ambiental, de promoção da saúde e outras de relevante interesse social
voltadas para a melhoria da qualidade de vida devem considerar a necessária

220 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
articulação, inclusive no que se refere ao financiamento, com o saneamento
básico.
Art. 49.  São objetivos da Política Federal de Saneamento Básico:
I – contribuir para o desenvolvimento nacional, a redução das desigualda-
des regionais, a geração de emprego e de renda e a inclusão social;
II – priorizar planos, programas e projetos que visem à implantação e am-
pliação dos serviços e ações de saneamento básico nas áreas ocupadas por
populações de baixa renda;
III – proporcionar condições adequadas de salubridade ambiental aos po-
vos indígenas e outras populações tradicionais, com soluções compatíveis com
suas características socioculturais;
IV – proporcionar condições adequadas de salubridade ambiental às po-
pulações rurais e de pequenos núcleos urbanos isolados;
V – assegurar que a aplicação dos recursos financeiros administrados
pelo poder público dê-se segundo critérios de promoção da salubridade am-
biental, de maximização da relação benefício-custo e de maior retorno social;
VI – incentivar a adoção de mecanismos de planejamento, regulação e
fiscalização da prestação dos serviços de saneamento básico;
VII – promover alternativas de gestão que viabilizem a auto-sustentação
econômica e financeira dos serviços de saneamento básico, com ênfase na
cooperação federativa;
VIII – promover o desenvolvimento institucional do saneamento básico,
estabelecendo meios para a unidade e articulação das ações dos diferentes
agentes, bem como do desenvolvimento de sua organização, capacidade téc-
nica, gerencial, financeira e de recursos humanos, contempladas as especifi-
cidades locais;
IX – fomentar o desenvolvimento científico e tecnológico, a adoção de
tecnologias apropriadas e a difusão dos conhecimentos gerados de interesse
para o saneamento básico;
X – minimizar os impactos ambientais relacionados à implantação e de-
senvolvimento das ações, obras e serviços de saneamento básico e assegurar
que sejam executadas de acordo com as normas relativas à proteção do meio
ambiente, ao uso e ocupação do solo e à saúde.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 221


Confederação Nacional de Municípios – CNM
Art. 50.  A alocação de recursos públicos federais e os financiamentos
com recursos da União ou com recursos geridos ou operados por órgãos ou
entidades da União serão feitos em conformidade com as diretrizes e objetivos
estabelecidos nos arts. 48 e 49 desta Lei e com os planos de saneamento bá-
sico e condicionados:
I – ao alcance de índices mínimos de:
a) desempenho do prestador na gestão técnica, econômica e financeira
dos serviços;
b) eficiência e eficácia dos serviços, ao longo da vida útil do empreendi-
mento;
II – à adequada operação e manutenção dos empreendimentos anterior-
mente financiados com recursos mencionados no caput deste artigo.
§ 1o  Na aplicação de recursos não onerosos da União, será dado prio-
ridade às ações e empreendimentos que visem ao atendimento de usuários
ou Municípios que não tenham capacidade de pagamento compatível com a
auto-sustentação econômico-financeira dos serviços, vedada sua aplicação a
empreendimentos contratados de forma onerosa.
§ 2o  A União poderá instituir e orientar a execução de programas de
incentivo à execução de projetos de interesse social na área de saneamento
básico com participação de investidores privados, mediante operações estru-
turadas de financiamentos realizados com recursos de fundos privados de in-
vestimento, de capitalização ou de previdência complementar, em condições
compatíveis com a natureza essencial dos serviços públicos de saneamento
básico.
§ 3o  É vedada a aplicação de recursos orçamentários da União na admi-
nistração, operação e manutenção de serviços públicos de saneamento básico
não administrados por órgão ou entidade federal, salvo por prazo determinado
em situações de eminente risco à saúde pública e ao meio ambiente.
§ 4o  Os recursos não onerosos da União, para subvenção de ações de
saneamento básico promovidas pelos demais entes da Federação, serão sem-
pre transferidos para Municípios, o Distrito Federal ou Estados.
§ 5o  No fomento à melhoria de operadores públicos de serviços de sane-
amento básico, a União poderá conceder benefícios ou incentivos orçamentá-
rios, fiscais ou creditícios como contrapartida ao alcance de metas de desem-
penho operacional previamente estabelecidas.

222 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
§ 6o  A exigência prevista na alínea a do inciso I do caput deste artigo não
se aplica à destinação de recursos para programas de desenvolvimento institu-
cional do operador de serviços públicos de saneamento básico.
§ 7o (VETADO).
Art. 51.  O processo de elaboração e revisão dos planos de saneamento
básico deverá prever sua divulgação em conjunto com os estudos que os fun-
damentarem, o recebimento de sugestões e críticas por meio de consulta ou
audiência pública e, quando previsto na legislação do titular, análise e opinião
por órgão colegiado criado nos termos do art. 47 desta Lei.
Parágrafo único.  A divulgação das propostas dos planos de saneamento
básico e dos estudos que as fundamentarem dar-se-á por meio da disponi-
bilização integral de seu teor a todos os interessados, inclusive por meio da
internet e por audiência pública.
Art. 52.  A União elaborará, sob a coordenação do Ministério das Cidades:
I – o Plano Nacional de Saneamento Básico - PNSB que conterá:
a) os objetivos e metas nacionais e regionalizadas, de curto, médio e
longo prazos, para a universalização dos serviços de saneamento básico e
o alcance de níveis crescentes de saneamento básico no território nacional,
observando a compatibilidade com os demais planos e políticas públicas da
União;
b) as diretrizes e orientações para o equacionamento dos condicionantes
de natureza político-institucional, legal e jurídica, econômico-financeira, admi-
nistrativa, cultural e tecnológica com impacto na consecução das metas e ob-
jetivos estabelecidos;
c) a proposição de programas, projetos e ações necessários para atingir
os objetivos e as metas da Política Federal de Saneamento Básico, com iden-
tificação das respectivas fontes de financiamento;
d) as diretrizes para o planejamento das ações de saneamento básico em
áreas de especial interesse turístico;
e) os procedimentos para a avaliação sistemática da eficiência e eficácia
das ações executadas;
II – planos regionais de saneamento básico, elaborados e executados em
articulação com os Estados, Distrito Federal e Municípios envolvidos para as
regiões integradas de desenvolvimento econômico ou nas que haja a partici-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 223


Confederação Nacional de Municípios – CNM
pação de órgão ou entidade federal na prestação de serviço público de sane-
amento básico.
§ 1o  O PNSB deve:
I – abranger o abastecimento de água, o esgotamento sanitário, o manejo
de resíduos sólidos e o manejo de águas pluviais e outras ações de sanea-
mento básico de interesse para a melhoria da salubridade ambiental, incluindo
o provimento de banheiros e unidades hidrossanitárias para populações de
baixa renda;
II – tratar especificamente das ações da União relativas ao saneamento
básico nas áreas indígenas, nas reservas extrativistas da União e nas comuni-
dades quilombolas.
§ 2o  Os planos de que tratam os incisos I e II do caput deste artigo de-
vem ser elaborados com horizonte de 20 (vinte) anos, avaliados anualmente e
revisados a cada 4 (quatro) anos, preferencialmente em períodos coincidentes
com os de vigência dos planos plurianuais.
Art. 53.  Fica instituído o Sistema Nacional de Informações em Sanea-
mento Básico - SINISA, com os objetivos de:
I – coletar e sistematizar dados relativos às condições da prestação dos
serviços públicos de saneamento básico;
II – disponibilizar estatísticas, indicadores e outras informações relevan-
tes para a caracterização da demanda e da oferta de serviços públicos de
saneamento básico;
III – permitir e facilitar o monitoramento e avaliação da eficiência e da efi-
cácia da prestação dos serviços de saneamento básico.
§ 1o  As informações do Sinisa são públicas e acessíveis a todos, devendo
ser publicadas por meio da internet.
§ 2o  A União apoiará os titulares dos serviços a organizar sistemas de
informação em saneamento básico, em atendimento ao disposto no inciso VI
do caput do art. 9o desta Lei.

224 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
CAPÍTULO X
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 54. (VETADO).
Art. 55.  O § 5o do art. 2o da Lei no 6.766, de 19 de dezembro de 1979,
passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 2o  .........................................................................................
......................................................................................................
§ 5o  A infraestrutura básica dos parcelamentos é constituída pelos equi-
pamentos urbanos de escoamento das águas pluviais, iluminação pública, es-
gotamento sanitário, abastecimento de água potável, energia elétrica pública e
domiciliar e vias de circulação.
............................................................................................. ” (NR)
Art. 56.  (VETADO)
Art. 57.  O inciso XXVII do caput do art. 24 da Lei no 8.666, de 21 de junho
de 1993, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 24.  ............................................................................................
.........................................................................................................
XXVII – na contratação da coleta, processamento e comercialização de
resíduos sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis, em áreas com sistema de
coleta seletiva de lixo, efetuados por associações ou cooperativas formadas
exclusivamente por pessoas físicas de baixa renda reconhecidas pelo poder
público como catadores de materiais recicláveis, com o uso de equipamentos
compatíveis com as normas técnicas, ambientais e de saúde pública.
................................................................................................... ” (NR)
Art. 58.  O art. 42 da Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, passa a
vigorar com a seguinte redação:
“Art. 42.  ............................................................................................
§ 1o  Vencido o prazo mencionado no contrato ou ato de outorga, o ser-
viço poderá ser prestado por órgão ou entidade do poder concedente, ou dele-
gado a terceiros, mediante novo contrato.

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 225


Confederação Nacional de Municípios – CNM
.........................................................................................................
§ 3o  As concessões a que se refere o § 2o deste artigo, inclusive as que
não possuam instrumento que as formalize ou que possuam cláusula que pre-
veja prorrogação, terão validade máxima até o dia 31 de dezembro de 2010,
desde que, até o dia 30 de junho de 2009, tenham sido cumpridas, cumulativa-
mente, as seguintes condições:
I – levantamento mais amplo e retroativo possível dos elementos físi-
cos constituintes da infraestrutura de bens reversíveis e dos dados financei-
ros, contábeis e comerciais relativos à prestação dos serviços, em dimensão
necessária e suficiente para a realização do cálculo de eventual indenização
relativa aos investimentos ainda não amortizados pelas receitas emergentes
da concessão, observadas as disposições legais e contratuais que regulavam
a prestação do serviço ou a ela aplicáveis nos 20 (vinte) anos anteriores ao da
publicação desta Lei;
II – celebração de acordo entre o poder concedente e o concessionário
sobre os critérios e a forma de indenização de eventuais créditos remanescen-
tes de investimentos ainda não amortizados ou depreciados, apurados a partir
dos levantamentos referidos no inciso I deste parágrafo e auditados por institui-
ção especializada escolhida de comum acordo pelas partes; e
III – publicação na imprensa oficial de ato formal de autoridade do poder
concedente, autorizando a prestação precária dos serviços por prazo de até 6
(seis) meses, renovável até 31 de dezembro de 2008, mediante comprovação
do cumprimento do disposto nos incisos I e II deste parágrafo.
§ 4o  Não ocorrendo o acordo previsto no inciso II do § 3o deste artigo,
o cálculo da indenização de investimentos será feito com base nos critérios
previstos no instrumento de concessão antes celebrado ou, na omissão deste,
por avaliação de seu valor econômico ou reavaliação patrimonial, depreciação
e amortização de ativos imobilizados definidos pelas legislações fiscal e das
sociedades por ações, efetuada por empresa de auditoria independente esco-
lhida de comum acordo pelas partes.
§ 5o  No caso do § 4o deste artigo, o pagamento de eventual indenização
será realizado, mediante garantia real, por meio de 4 (quatro) parcelas anu-
ais, iguais e sucessivas, da parte ainda não amortizada de investimentos e de
outras indenizações relacionadas à prestação dos serviços, realizados com
capital próprio do concessionário ou de seu controlador, ou originários de ope-

226 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
rações de financiamento, ou obtidos mediante emissão de ações, debêntures
e outros títulos mobiliários, com a primeira parcela paga até o último dia útil do
exercício financeiro em que ocorrer a reversão.
§ 6o  Ocorrendo acordo, poderá a indenização de que trata o § 5o deste
artigo ser paga mediante receitas de novo contrato que venha a disciplinar a
prestação do serviço.” (NR)
Art. 59.  (VETADO).
Art. 60.  Revoga-se a Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978.

Brasília,  5 de  janeiro  de  2007; 186o da Independência e 119o da


República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Márcio Fortes de Almeida
Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto
Bernard Appy
Paulo Sérgio Oliveira Passos
Luiz Marinho
José Agenor Álvares da Silva
Fernando Rodrigues Lopes de Oliveira
Marina Silva

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 227


Confederação Nacional de Municípios – CNM
Anexo 2
Presidência da
República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI No 11.107, DE 6 DE ABRIL DE 2005.

Dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios públicos e dá


outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional


decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Esta Lei dispõe sobre normas gerais para a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios contratarem consórcios públicos para a realiza-
ção de objetivos de interesse comum e dá outras providências.
§ 1o O consórcio público constituirá associação pública ou pessoa jurídica
de direito privado.
§ 2o A União somente participará de consórcios públicos em que também
façam parte todos os Estados em cujos territórios estejam situados os Municí-
pios consorciados.
§ 3o Os consórcios públicos, na área de saúde, deverão obedecer aos
princípios, diretrizes e normas que regulam o Sistema Único de Saúde – SUS.
Art. 2o Os objetivos dos consórcios públicos serão determinados pelos
entes da Federação que se consorciarem, observados os limites constitucio-
nais.
§ 1o Para o cumprimento de seus objetivos, o consórcio público poderá:

228 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
I – firmar convênios, contratos, acordos de qualquer natureza, receber
auxílios, contribuições e subvenções sociais ou econômicas de outras entida-
des e órgãos do governo;
II – nos termos do contrato de consórcio de direito público, promover
desapropriações e instituir servidões nos termos de declaração de utilidade ou
necessidade pública, ou interesse social, realizada pelo Poder Público; e
III – ser contratado pela administração direta ou indireta dos entes da
Federação consorciados, dispensada a licitação.
§ 2o Os consórcios públicos poderão emitir documentos de cobrança e
exercer atividades de arrecadação de tarifas e outros preços públicos pela
prestação de serviços ou pelo uso ou outorga de uso de bens públicos por eles
administrados ou, mediante autorização específica, pelo ente da Federação
consorciado.
§ 3o Os consórcios públicos poderão outorgar concessão, permissão ou
autorização de obras ou serviços públicos mediante autorização prevista no
contrato de consórcio público, que deverá indicar de forma específica o objeto
da concessão, permissão ou autorização e as condições a que deverá atender,
observada a legislação de normas gerais em vigor.
Art. 3o O consórcio público será constituído por contrato cuja celebração
dependerá da prévia subscrição de protocolo de intenções.
Art. 4o São cláusulas necessárias do protocolo de intenções as que es-
tabeleçam:
I – a denominação, a finalidade, o prazo de duração e a sede do consór-
cio;
II – a identificação dos entes da Federação consorciados;
III – a indicação da área de atuação do consórcio;
IV – a previsão de que o consórcio público é associação pública ou pes-
soa jurídica de direito privado sem fins econômicos;
V – os critérios para, em assuntos de interesse comum, autorizar o con-
sórcio público a representar os entes da Federação consorciados perante ou-
tras esferas de governo;
VI – as normas de convocação e funcionamento da assembléia geral, in-
clusive para a elaboração, aprovação e modificação dos estatutos do consórcio

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 229


Confederação Nacional de Municípios – CNM
público;
VII – a previsão de que a assembléia geral é a instância máxima do con-
sórcio público e o número de votos para as suas deliberações;
VIII – a forma de eleição e a duração do mandato do representante legal
do consórcio público que, obrigatoriamente, deverá ser Chefe do Poder Execu-
tivo de ente da Federação consorciado;
IX – o número, as formas de provimento e a remuneração dos emprega-
dos públicos, bem como os casos de contratação por tempo determinado para
atender a necessidade temporária de excepcional interesse público;
X – as condições para que o consórcio público celebre contrato de gestão
ou termo de parceria;
XI – a autorização para a gestão associada de serviços públicos, explici-
tando:
a) as competências cujo exercício se transferiu ao consórcio público;
b) os serviços públicos objeto da gestão associada e a área em que serão
prestados;
c) a autorização para licitar ou outorgar concessão, permissão ou autori-
zação da prestação dos serviços;
d) as condições a que deve obedecer o contrato de programa, no caso
de a gestão associada envolver também a prestação de serviços por órgão ou
entidade de um dos entes da Federação consorciados;
e) os critérios técnicos para cálculo do valor das tarifas e de outros preços
públicos, bem como para seu reajuste ou revisão; e
XII – o direito de qualquer dos contratantes, quando adimplente com suas
obrigações, de exigir o pleno cumprimento das cláusulas do contrato de con-
sórcio público.
§ 1o Para os fins do inciso III do caput deste artigo, considera-se como
área de atuação do consórcio público, independentemente de figurar a União
como consorciada, a que corresponde à soma dos territórios:
I – dos Municípios, quando o consórcio público for constituído somente
por Municípios ou por um Estado e Municípios com territórios nele contidos;
II – dos Estados ou dos Estados e do Distrito Federal, quando o consórcio

230 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
público for, respectivamente, constituído por mais de 1 (um) Estado ou por 1
(um) ou mais Estados e o Distrito Federal;
III – (VETADO)
IV – dos Municípios e do Distrito Federal, quando o consórcio for consti-
tuído pelo Distrito Federal e os Municípios; e
V – (VETADO)
§ 2o O protocolo de intenções deve definir o número de votos que cada
ente da Federação consorciado possui na assembléia geral, sendo assegurado
1 (um) voto a cada ente consorciado.
§ 3o É nula a cláusula do contrato de consórcio que preveja determinadas
contribuições financeiras ou econômicas de ente da Federação ao consórcio
público, salvo a doação, destinação ou cessão do uso de bens móveis ou imó-
veis e as transferências ou cessões de direitos operadas por força de gestão
associada de serviços públicos.
§ 4o Os entes da Federação consorciados, ou os com eles conveniados,
poderão ceder-lhe servidores, na forma e condições da legislação de cada um.
§ 5o O protocolo de intenções deverá ser publicado na imprensa oficial.
Art. 5o O contrato de consórcio público será celebrado com a ratificação,
mediante lei, do protocolo de intenções.
§ 1o O contrato de consórcio público, caso assim preveja cláusula, pode
ser celebrado por apenas 1 (uma) parcela dos entes da Federação que subs-
creveram o protocolo de intenções.
§ 2o A ratificação pode ser realizada com reserva que, aceita pelos de-
mais entes subscritores, implicará consorciamento parcial ou condicional.
§ 3o A ratificação realizada após 2 (dois) anos da subscrição do protocolo
de intenções dependerá de homologação da assembléia geral do consórcio
público.
§ 4o É dispensado da ratificação prevista no caput deste artigo o ente da
Federação que, antes de subscrever o protocolo de intenções, disciplinar por
lei a sua participação no consórcio público.
Art. 6o O consórcio público adquirirá personalidade jurídica:

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 231


Confederação Nacional de Municípios – CNM
I – de direito público, no caso de constituir associação pública, mediante
a vigência das leis de ratificação do protocolo de intenções;
II – de direito privado, mediante o atendimento dos requisitos da legisla-
ção civil.
§ 1o O consórcio público com personalidade jurídica de direito público
integra a administração indireta de todos os entes da Federação consorciados.
§ 2o No caso de se revestir de personalidade jurídica de direito privado,
o consórcio público observará as normas de direito público no que concerne à
realização de licitação, celebração de contratos, prestação de contas e admis-
são de pessoal, que será regido pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT.
Art. 7o Os estatutos disporão sobre a organização e o funcionamento de
cada um dos órgãos constitutivos do consórcio público.
Art. 8o Os entes consorciados somente entregarão recursos ao consórcio
público mediante contrato de rateio.
§ 1o O contrato de rateio será formalizado em cada exercício financeiro e
seu prazo de vigência não será superior ao das dotações que o suportam, com
exceção dos contratos que tenham por objeto exclusivamente projetos consis-
tentes em programas e ações contemplados em plano plurianual ou a gestão
associada de serviços públicos custeados por tarifas ou outros preços públicos.
§ 2o É vedada a aplicação dos recursos entregues por meio de contrato
de rateio para o atendimento de despesas genéricas, inclusive transferências
ou operações de crédito.
§ 3o Os entes consorciados, isolados ou em conjunto, bem como o con-
sórcio público, são partes legítimas para exigir o cumprimento das obrigações
previstas no contrato de rateio.
§ 4o Com o objetivo de permitir o atendimento dos dispositivos da Lei
Complementar no 101, de 4 de maio de 2000, o consórcio público deve forne-
cer as informações necessárias para que sejam consolidadas, nas contas dos
entes consorciados, todas as despesas realizadas com os recursos entregues
em virtude de contrato de rateio, de forma que possam ser contabilizadas nas
contas de cada ente da Federação na conformidade dos elementos econômi-
cos e das atividades ou projetos atendidos.
       

232 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
§ 5o Poderá ser excluído do consórcio público, após prévia suspensão,
o ente consorciado que não consignar, em sua lei orçamentária ou em créditos
adicionais, as dotações suficientes para suportar as despesas assumidas por
meio de contrato de rateio.
Art. 9o A execução das receitas e despesas do consórcio público deverá
obedecer às normas de direito financeiro aplicáveis às entidades públicas.
Parágrafo único. O consórcio público está sujeito à fiscalização contábil,
operacional e patrimonial pelo Tribunal de Contas competente para apreciar as
contas do Chefe do Poder Executivo representante legal do consórcio, inclusi-
ve quanto à legalidade, legitimidade e economicidade das despesas, atos, con-
tratos e renúncia de receitas, sem prejuízo do controle externo a ser exercido
em razão de cada um dos contratos de rateio.
Art. 10. (VETADO)
Parágrafo único. Os agentes públicos incumbidos da gestão de consór-
cio não responderão pessoalmente pelas obrigações contraídas pelo consórcio
público, mas responderão pelos atos praticados em desconformidade com a lei
ou com as disposições dos respectivos estatutos.
Art. 11. A retirada do ente da Federação do consórcio público dependerá
de ato formal de seu representante na assembléia geral, na forma previamente
disciplinada por lei.
§ 1o Os bens destinados ao consórcio público pelo consorciado que se
retira somente serão revertidos ou retrocedidos no caso de expressa previsão
no contrato de consórcio público ou no instrumento de transferência ou de alie-
nação.
§ 2o A retirada ou a extinção do consórcio público não prejudicará as
obrigações já constituídas, inclusive os contratos de programa, cuja extinção
dependerá do prévio pagamento das indenizações eventualmente devidas.
Art. 12. A alteração ou a extinção de contrato de consórcio público de-
penderá de instrumento aprovado pela assembléia geral, ratificado mediante
lei por todos os entes consorciados.
§ 1o Os bens, direitos, encargos e obrigações decorrentes da gestão as-
sociada de serviços públicos custeados por tarifas ou outra espécie de preço
público serão atribuídos aos titulares dos respectivos serviços.
§ 2o Até que haja decisão que indique os responsáveis por cada obriga-

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 233


Confederação Nacional de Municípios – CNM
ção, os entes consorciados responderão solidariamente pelas obrigações re-
manescentes, garantindo o direito de regresso em face dos entes beneficiados
ou dos que deram causa à obrigação.
Art. 13. Deverão ser constituídas e reguladas por contrato de programa,
como condição de sua validade, as obrigações que um ente da Federação
constituir para com outro ente da Federação ou para com consórcio público
no âmbito de gestão associada em que haja a prestação de serviços públicos
ou a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal ou de bens
necessários à continuidade dos serviços transferidos.
§ 1o O contrato de programa deverá:
I – atender à legislação de concessões e permissões de serviços públi-
cos e, especialmente no que se refere ao cálculo de tarifas e de outros preços
públicos, à de regulação dos serviços a serem prestados; e
II – prever procedimentos que garantam a transparência da gestão eco-
nômica e financeira de cada serviço em relação a cada um de seus titulares.
§ 2o No caso de a gestão associada originar a transferência total ou par-
cial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos servi-
ços transferidos, o contrato de programa, sob pena de nulidade, deverá conter
cláusulas que estabeleçam:
I – os encargos transferidos e a responsabilidade subsidiária da entidade
que os transferiu;
II – as penalidades no caso de inadimplência em relação aos encargos
transferidos;
III – o momento de transferência dos serviços e os deveres relativos a
sua continuidade;
IV – a indicação de quem arcará com o ônus e os passivos do pessoal
transferido;
V – a identificação dos bens que terão apenas a sua gestão e adminis-
tração transferidas e o preço dos que sejam efetivamente alienados ao contra-
tado;
VI – o procedimento para o levantamento, cadastro e avaliação dos bens
reversíveis que vierem a ser amortizados mediante receitas de tarifas ou outras
emergentes da prestação dos serviços.

234 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
§ 3o É nula a cláusula de contrato de programa que atribuir ao contratado
o exercício dos poderes de planejamento, regulação e fiscalização dos servi-
ços por ele próprio prestados.
§ 4o O contrato de programa continuará vigente mesmo quando extinto o
consórcio público ou o convênio de cooperação que autorizou a gestão asso-
ciada de serviços públicos.
§ 5o Mediante previsão do contrato de consórcio público, ou de convênio
de cooperação, o contrato de programa poderá ser celebrado por entidades de
direito público ou privado que integrem a administração indireta de qualquer
dos entes da Federação consorciados ou conveniados.
§ 6o O contrato celebrado na forma prevista no § 5o deste artigo será
automaticamente extinto no caso de o contratado não mais integrar a adminis-
tração indireta do ente da Federação que autorizou a gestão associada de ser-
viços públicos por meio de consórcio público ou de convênio de cooperação.
        § 7o Excluem-se do previsto no caput deste artigo as obrigações cujo
descumprimento não acarrete qualquer ônus, inclusive financeiro, a ente da
Federação ou a consórcio público.
        Art. 14. A União poderá celebrar convênios com os consórcios públi-
cos, com o objetivo de viabilizar a descentralização e a prestação de políticas
públicas em escalas adequadas.
        Art. 15. No que não contrariar esta Lei, a organização e funciona-
mento dos consórcios públicos serão disciplinados pela legislação que rege as
associações civis.
        Art. 16. O inciso IV do art. 41 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de
2002 - Código Civil, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 41. ...................................................................................
................................................................................................
IV – as autarquias, inclusive as associações públicas;
........................................................................................” (NR)
        Art. 17. Os arts. 23, 24, 26 e 112 da Lei no 8.666, de 21 de junho de
1993, passam a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 23. ...................................................................................

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 235


Confederação Nacional de Municípios – CNM
................................................................................................
§ 8o No caso de consórcios públicos, aplicar-se-á o dobro dos valores
mencionados no caput deste artigo quando formado por até 3 (três) entes da
Federação, e o triplo, quando formado por maior número.” (NR)
“Art. 24. ...................................................................................
................................................................................................
XXVI – na celebração de contrato de programa com ente da Federação
ou com entidade de sua administração indireta, para a prestação de serviços
públicos de forma associada nos termos do autorizado em contrato de consór-
cio público ou em convênio de cooperação.
Parágrafo único. Os percentuais referidos nos incisos I e II do caput deste
artigo serão 20% (vinte por cento) para compras, obras e serviços contratados
por consórcios públicos, sociedade de economia mista, empresa pública e por
autarquia ou fundação qualificadas, na forma da lei, como Agências Executi-
vas.” (NR)
“Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2o e 4o do art. 17 e no inciso III e
seguintes do art. 24, as situações de inexigibilidade referidas no art. 25, neces-
sariamente justificadas, e o retardamento previsto no final do parágrafo único
do art. 8o desta Lei deverão ser comunicados, dentro de 3 (três) dias, à autori-
dade superior, para ratificação e publicação na imprensa oficial, no prazo de 5
(cinco) dias, como condição para a eficácia dos atos.
......................................................................................” (NR)
“Art. 112. ................................................................................
§ 1o Os consórcios públicos poderão realizar licitação da qual, nos termos
do edital, decorram contratos administrativos celebrados por órgãos ou entida-
des dos entes da Federação consorciados.
§ 2o É facultado à entidade interessada o acompanhamento da licitação e
da execução do contrato.” (NR)
        Art. 18. O art. 10 da Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992, passa a
vigorar acrescido dos seguintes incisos:
“Art. 10. ...................................................................................
................................................................................................

236 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a pres-
tação de serviços públicos por meio da gestão associada sem observar as
formalidades previstas na lei;
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e
prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na
lei.” (NR)
        Art. 19. O disposto nesta Lei não se aplica aos convênios de coo-
peração, contratos de programa para gestão associada de serviços públicos
ou instrumentos congêneres, que tenham sido celebrados anteriormente a sua
vigência.
        Art. 20. O Poder Executivo da União regulamentará o disposto nesta
Lei, inclusive as normas gerais de contabilidade pública que serão observadas
pelos consórcios públicos para que sua gestão financeira e orçamentária se
realize na conformidade dos pressupostos da responsabilidade fiscal.
        Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação

Brasília, 6 de abril de 2005; 184o da Independência e 117o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Márcio Thomaz Bastos
Antonio Palocci Filho
Humberto Sérgio Costa Lima
Nelson Machado
José Dirceu de Oliveira e Silva
 
 
 

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 237


Confederação Nacional de Municípios – CNM
Anexo 3
Presidência da
República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

DECRETO No 6.017, DE 17 DE JANEIRO DE 2007.

Regulamenta a Lei no 11.107, de 6 de abril de 2005, que dispõe sobre normas


gerais de contratação de consórcios públicos.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o


art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 20 da Lei
no 11.107, de 6 de abril de 2005,
DECRETA:

CAPÍTULO I
DO OBJETO E DAS DEFINIÇÕES
Art. 1o  Este Decreto estabelece normas para a execução da Lei no 11.107,
de 6 de abril de 2005.
Art. 2o Para os fins deste Decreto, consideram-se:
I - consórcio público: pessoa jurídica formada exclusivamente por entes da
Federação, na forma da Lei no 11.107, de 2005, para estabelecer relações de
cooperação federativa, inclusive a realização de objetivos de interesse comum,
constituída como associação pública, com personalidade jurídica de direito pú-

238 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
blico e natureza autárquica, ou como pessoa jurídica de direito privado sem fins
econômicos;
II - área de atuação do consórcio público: área correspondente à soma dos
seguintes territórios, independentemente de figurar a União como consorciada:
a) dos Municípios, quando o consórcio público for constituído somente por
Municípios ou por um Estado e Municípios com territórios nele contidos;
b) dos Estados ou dos Estados e do Distrito Federal, quando o consórcio
público for, respectivamente, constituído por mais de um Estado ou por um ou
mais Estados e o Distrito Federal; e
c) dos Municípios e do Distrito Federal, quando o consórcio for constituído
pelo Distrito Federal e Municípios.
III - protocolo de intenções: contrato preliminar que, ratificado pelos entes
da Federação interessados, converte-se em contrato de consórcio público;
IV - ratificação: aprovação pelo ente da Federação, mediante lei, do proto-
colo de intenções ou do ato de retirada do consórcio público;
V - reserva: ato pelo qual ente da Federação não ratifica, ou condiciona a
ratificação, de determinado dispositivo de protocolo de intenções;
VI  -  retirada: saída de ente da Federação de consórcio público, por ato
formal de sua vontade;
VII - contrato de rateio: contrato por meio do qual os entes consorciados
comprometem-se a fornecer recursos financeiros para a realização das despe-
sas do consórcio público;
VIII - convênio de cooperação entre entes federados: pacto firmado exclu-
sivamente por entes da Federação, com o objetivo de autorizar a gestão asso-
ciada de serviços públicos, desde que ratificado ou previamente disciplinado
por lei editada por cada um deles;
IX  -  gestão associada de serviços públicos: exercício das atividades de
planejamento, regulação ou fiscalização de serviços públicos por meio de con-
sórcio público ou de convênio de cooperação entre entes federados, acompa-
nhadas ou não da prestação de serviços públicos ou da transferência total ou
parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos
serviços transferidos;
X  -  planejamento: as atividades atinentes à identificação, qualificação,

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 239


Confederação Nacional de Municípios – CNM
quantificação, organização e orientação de todas as ações, públicas e priva-
das, por meio das quais um serviço público deve ser prestado ou colocado à
disposição de forma adequada;
XI - regulação: todo e qualquer ato, normativo ou não, que discipline ou or-
ganize um determinado serviço público, incluindo suas características, padrões
de qualidade, impacto sócio-ambiental, direitos e obrigações dos usuários e
dos responsáveis por sua oferta ou prestação e fixação e revisão do valor de
tarifas e outros preços públicos;
XII  -  fiscalização: atividades de acompanhamento, monitoramento, con-
trole ou avaliação, no sentido de garantir a utilização, efetiva ou potencial, do
serviço público;
XIII - prestação de serviço público em regime de gestão associada: exe-
cução, por meio de cooperação federativa, de toda e qualquer atividade ou
obra com o objetivo de permitir aos usuários o acesso a um serviço público
com características e padrões de qualidade determinados pela regulação ou
pelo contrato de programa, inclusive quando operada por transferência total ou
parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos
serviços transferidos;
XIV - serviço público: atividade ou comodidade material fruível diretamente
pelo usuário, que possa ser remunerado por meio de taxa ou preço público,
inclusive tarifa;
XV - titular de serviço público: ente da Federação a quem compete prover
o serviço público, especialmente por meio de planejamento, regulação, fiscali-
zação e prestação direta ou indireta;
XVI  -  contrato de programa: instrumento pelo qual devem ser constituí-
das e reguladas as obrigações que um ente da Federação, inclusive sua ad-
ministração indireta, tenha para com outro ente da Federação, ou para com
consórcio público, no âmbito da prestação de serviços públicos por meio de
cooperação federativa;
XVII - termo de parceria: instrumento passível de ser firmado entre con-
sórcio público e entidades qualificadas como Organizações da Sociedade Civil
de Interesse Público, destinado à formação de vínculo de cooperação entre as
partes para o fomento e a execução de atividades de interesse público previs-
tas no art. 3o da Lei no 9.790, de 23 de março de 1999; e
XVIII - contrato de gestão: instrumento firmado entre a administração pú-
blica e autarquia ou fundação qualificada como Agência Executiva, na forma do

240 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
art. 51 da Lei no 9.649, de 27 de maio de 1998, por meio do qual se estabele-
cem objetivos, metas e respectivos indicadores de desempenho da entidade,
bem como os recursos necessários e os critérios e instrumentos para a avalia-
ção do seu cumprimento. 
Parágrafo único.  A área de atuação do consórcio público mencionada no
inciso II do caput deste artigo refere-se exclusivamente aos territórios dos en-
tes da Federação que tenham ratificado por lei o protocolo de intenções.

CAPÍTULO II
DA CONSTITUIÇÃO DOS CONSÓRCIOS PÚBLICOS
Seção I
Dos Objetivos
Art.  3o   Observados os limites constitucionais e legais, os objetivos dos
consórcios públicos serão determinados pelos entes que se consorciarem, ad-
mitindo-se, entre outros, os seguintes:
I - a gestão associada de serviços públicos;
II - a prestação de serviços, inclusive de assistência técnica, a execução
de obras e o fornecimento de bens à administração direta ou indireta dos entes
consorciados;
III - o compartilhamento ou o uso em comum de instrumentos e equipa-
mentos, inclusive de gestão, de manutenção, de informática, de pessoal técni-
co e de procedimentos de licitação e de admissão de pessoal;
IV - a produção de informações ou de estudos técnicos;
V - a instituição e o funcionamento de escolas de governo ou de estabele-
cimentos congêneres;
VI  -  a promoção do uso racional dos recursos naturais e a proteção do
meio-ambiente;
VII - o exercício de funções no sistema de gerenciamento de recursos hí-
dricos que lhe tenham sido delegadas ou autorizadas;

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 241


Confederação Nacional de Municípios – CNM
VIII - o apoio e o fomento do intercâmbio de experiências e de informações
entre os entes consorciados;
IX - a gestão e a proteção de patrimônio urbanístico, paisagístico ou turís-
tico comum;
X - o planejamento, a gestão e a administração dos serviços e recursos
da previdência social dos servidores de qualquer dos entes da Federação que
integram o consórcio, vedado que os recursos arrecadados em um ente federa-
tivo sejam utilizados no pagamento de benefícios de segurados de outro ente,
de forma a atender o disposto no art. 1o, inciso V, da Lei no 9.717, de 1998;
XI - o fornecimento de assistência técnica, extensão, treinamento, pesqui-
sa e desenvolvimento urbano, rural e agrário;
XII  -  as ações e políticas de desenvolvimento urbano, sócio-econômico
local e regional; e
XIII - o exercício de competências pertencentes aos entes da Federação
nos termos de autorização ou delegação.
§ 1o  Os consórcios públicos poderão ter um ou mais objetivos e os entes
consorciados poderão se consorciar em relação a todos ou apenas a parcela
deles.
§ 2o  Os consórcios públicos, ou entidade a ele vinculada, poderão desen-
volver as ações e os serviços de saúde, obedecidos os princípios, diretrizes e
normas que regulam o Sistema Único de Saúde - SUS.
Seção II
Do Protocolo de Intenções
Art. 4o  A constituição de consórcio público dependerá da prévia celebra-
ção de protocolo de intenções subscrito pelos representantes legais dos entes
da Federação interessados.
Art. 5o  O protocolo de intenções, sob pena de nulidade, deverá conter, no
mínimo, cláusulas que estabeleçam:
I - a denominação, as finalidades, o prazo de duração e a sede do con-
sórcio público, admitindo-se a fixação de prazo indeterminado e a previsão de
alteração da sede mediante decisão da Assembléia Geral;
II - a identificação de cada um dos entes da Federação que podem vir a

242 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
integrar o consórcio público, podendo indicar prazo para que subscrevam o
protocolo de intenções;
III - a indicação da área de atuação do consórcio público;
IV - a previsão de que o consórcio público é associação pública, com per-
sonalidade jurídica de direito público e natureza autárquica, ou pessoa jurídica
de direito privado;
V - os critérios para, em assuntos de interesse comum, autorizar o consór-
cio público a representar os entes da Federação consorciados perante outras
esferas de governo;
VI - as normas de convocação e funcionamento da assembléia geral, in-
clusive para a elaboração, aprovação e modificação dos estatutos do consórcio
público;
VII - a previsão de que a assembléia geral é a instância máxima do consór-
cio público e o número de votos para as suas deliberações;
VIII - a forma de eleição e a duração do mandato do representante legal do
consórcio público que, obrigatoriamente, deverá ser Chefe do Poder Executivo
de ente da Federação consorciado;
IX - o número, as formas de provimento e a remuneração dos empregados
do consórcio público;
X - os casos de contratação por tempo determinado para atender a neces-
sidade temporária de excepcional interesse público;
XI - as condições para que o consórcio público celebre contrato de gestão,
nos termos da Lei no 9.649, de 1998, ou termo de parceria, na forma da Lei no
9.790, de 1999;
XII - a autorização para a gestão associada de serviço público, explicitan-
do:
a) competências cuja execução será transferida ao consórcio público;
b) os serviços públicos objeto da gestão associada e a área em que serão
prestados;
c) a autorização para licitar e contratar concessão, permissão ou autorizar
a prestação dos serviços;
d) as condições a que deve obedecer o contrato de programa, no caso de

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 243


Confederação Nacional de Municípios – CNM
nele figurar como contratante o consórcio público; e
e) os critérios técnicos de cálculo do valor das tarifas e de outros preços
públicos, bem como os critérios gerais a serem observados em seu reajuste ou
revisão;
XIII - o direito de qualquer dos contratantes, quando adimplentes com as
suas obrigações, de exigir o pleno cumprimento das cláusulas do contrato de
consórcio público.
§ 1o  O protocolo de intenções deve definir o número de votos que cada
ente da Federação consorciado possui na assembléia geral, sendo assegurado
a cada um ao menos um voto.
§ 2o  Admitir-se-á, à exceção da assembléia geral:
I - a participação de representantes da sociedade civil nos órgãos colegia-
dos do consórcio público;
II - que órgãos colegiados do consórcio público sejam compostos por re-
presentantes da sociedade civil ou por representantes apenas dos entes con-
sorciados diretamente interessados nas matérias de competência de tais ór-
gãos.
§ 3o  Os consórcios públicos deverão obedecer ao princípio da publicidade,
tornando públicas as decisões que digam respeito a terceiros e as de natureza
orçamentária, financeira ou contratual, inclusive as que digam respeito à ad-
missão de pessoal, bem como permitindo que qualquer do povo tenha acesso
a suas reuniões e aos documentos que produzir, salvo, nos termos da lei, os
considerados sigilosos por prévia e motivada decisão.
§ 4o  O mandato do representante legal do consórcio público será fixado
em um ou mais exercícios financeiros e cessará automaticamente no caso de
o eleito não mais ocupar a Chefia do Poder Executivo do ente da Federação
que representa na assembléia geral, hipótese em que será sucedido por quem
preencha essa condição.
§ 5o  Salvo previsão em contrário dos estatutos, o representante legal do
consórcio público, nos seus impedimentos ou na vacância, será substituído ou
sucedido por aquele que, nas mesmas hipóteses, o substituir ou o suceder na
Chefia do Poder Executivo.
§ 6o  É nula a cláusula do protocolo de intenções que preveja determinadas
contribuições financeiras ou econômicas de ente da Federação ao consórcio

244 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


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público, salvo a doação, destinação ou cessão do uso de bens móveis ou imó-
veis e as transferências ou cessões de direitos operadas por força de gestão
associada de serviços públicos.
§ 7o  O protocolo de intenções deverá ser publicado na imprensa oficial.
§ 8o  A publicação do protocolo de intenções poderá dar-se de forma re-
sumida, desde que a publicação indique o local e o sítio da rede mundial de
computadores - internet em que se poderá obter seu texto integral.
Seção III
Da Contratação
Art. 6o  O contrato de consórcio público será celebrado com a ratificação,
mediante lei, do protocolo de intenções.
§ 1o  A recusa ou demora na ratificação não poderá ser penalizada.
§ 2o  A ratificação pode ser realizada com reserva que deverá ser clara e
objetiva, preferencialmente vinculada à vigência de cláusula, parágrafo, inciso
ou alínea do protocolo de intenções, ou que imponha condições para a vigência
de qualquer desses dispositivos.
§  3o   Caso a lei mencionada no caput deste artigo preveja reservas, a
admissão do ente no consórcio público dependerá da aprovação de cada uma
das reservas pelos demais subscritores do protocolo de intenções ou, caso já
constituído o consórcio público, pela assembléia geral.
§ 4o  O contrato de consórcio público, caso assim esteja previsto no proto-
colo de intenções, poderá ser celebrado por apenas uma parcela dos seus sig-
natários, sem prejuízo de que os demais venham a integrá-lo posteriormente.
§ 5o  No caso previsto no § 4o deste artigo, a ratificação realizada após dois
anos da primeira subscrição do protocolo de intenções dependerá da homolo-
gação dos demais subscritores ou, caso já constituído o consórcio, de decisão
da assembléia geral.
§ 6o  Dependerá de alteração do contrato de consórcio público o ingresso
de ente da Federação não mencionado no protocolo de intenções como possí-
vel integrante do consórcio público.
§ 7o  É dispensável a ratificação prevista no caput deste artigo para o ente
da Federação que, antes de subscrever o protocolo de intenções, disciplinar
por lei a sua participação no consórcio público, de forma a poder assumir todas

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 245


Confederação Nacional de Municípios – CNM
as obrigações previstas no protocolo de intenções.
Seção IV
Da Personalidade Jurídica
Art. 7o  O consórcio público adquirirá personalidade jurídica:
I - de direito público, mediante a vigência das leis de ratificação do protocolo
de intenções; e
II - de direito privado, mediante o atendimento do previsto no inciso I e,
ainda, dos requisitos previstos na legislação civil.
§ 1o  Os consórcios públicos, ainda que revestidos de personalidade jurídi-
ca de direito privado, observarão as normas de direito público no que concerne
à realização de licitação, celebração de contratos, admissão de pessoal e à
prestação de contas.
§ 2o  Caso todos os subscritores do protocolo de intenções encontrem-se
na situação prevista no § 7o do art. 6o deste Decreto, o aperfeiçoamento do
contrato de consórcio público e a aquisição da personalidade jurídica pela as-
sociação pública dependerão apenas da publicação do protocolo de intenções.
§ 3o  Nas hipóteses de criação, fusão, incorporação ou desmembramen-
to que atinjam entes consorciados ou subscritores de protocolo de intenções,
os novos entes da Federação, salvo disposição em contrário do protocolo de
intenções, serão automaticamente tidos como consorciados ou subscritores.
Seção V
Dos Estatutos
Art.  8o   O consórcio público será organizado por estatutos cujas dispo-
sições, sob pena de nulidade, deverão atender a todas as cláusulas do seu
contrato constitutivo.
§ 1o  Os estatutos serão aprovados pela assembléia geral.
§ 2o  Com relação aos empregados públicos do consórcio público, os esta-
tutos poderão dispor sobre o exercício do poder disciplinar e regulamentar, as
atribuições administrativas, hierarquia, avaliação de eficiência, lotação, jornada
de trabalho e denominação dos cargos.

246 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
§ 3o  Os estatutos do consórcio público de direito público produzirão seus
efeitos mediante publicação na imprensa oficial no âmbito de cada ente con-
sorciado.
§ 4o  A publicação dos estatutos poderá dar-se de forma resumida, desde
que a publicação indique o local e o sítio da rede mundial de computadores - in-
ternet em que se poderá obter seu texto integral.

CAPÍTULO III
DA GESTÃO DOS CONSÓRCIOS PÚBLICOS
Seção I
Disposições Gerais
Art. 9o  Os entes da Federação consorciados respondem subsidiariamente
pelas obrigações do consórcio público.
Parágrafo único.  Os dirigentes do consórcio público responderão pessoal-
mente pelas obrigações por ele contraídas caso pratiquem atos em desconfor-
midade com a lei, os estatutos ou decisão da assembléia geral.
Art. 10.  Para cumprimento de suas finalidades, o consórcio público pode-
rá:
I - firmar convênios, contratos, acordos de qualquer natureza, receber au-
xílios, contribuições e subvenções sociais ou econômicas;
II - ser contratado pela administração direta ou indireta dos entes da Fede-
ração consorciados, dispensada a licitação; e
III - caso constituído sob a forma de associação pública, ou mediante pre-
visão em contrato de programa, promover desapropriações ou instituir servi-
dões nos termos de declaração de utilidade ou necessidade pública, ou de
interesse social.
Parágrafo único.  A contratação de operação de crédito por parte do con-
sórcio público se sujeita aos limites e condições próprios estabelecidos pelo
Senado Federal, de acordo com o disposto no art. 52, inciso VII, da Constitui-
ção.
Seção II

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 247


Confederação Nacional de Municípios – CNM
Do Regime Contábil e Financeiro
Art. 11.  A execução das receitas e das despesas do consórcio público de-
verá obedecer às normas de direito financeiro aplicáveis às entidades públicas.
Art. 12.  O consórcio público está sujeito à fiscalização contábil, operacio-
nal e patrimonial pelo Tribunal de Contas competente para apreciar as contas
do seu representante legal, inclusive quanto à legalidade, legitimidade e eco-
nomicidade das despesas, atos, contratos e renúncia de receitas, sem prejuízo
do controle externo a ser exercido em razão de cada um dos contratos que os
entes da Federação consorciados vierem a celebrar com o consórcio público.
Seção III
Do Contrato de Rateio
Art. 13.  Os entes consorciados somente entregarão recursos financeiros
ao consórcio público mediante contrato de rateio.
§ 1o  O contrato de rateio será formalizado em cada exercício financeiro,
com observância da legislação orçamentária e financeira do ente consorciado
contratante e depende da previsão de recursos orçamentários que suportem o
pagamento das obrigações contratadas.
§ 2o  Constitui ato de improbidade administrativa, nos termos do disposto
no art. 10, inciso XV, da Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992, celebrar contrato
de rateio sem suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as
formalidades previstas em Lei.
§  3o  As cláusulas do contrato de rateio não poderão conter disposição
tendente a afastar, ou dificultar a fiscalização exercida pelos órgãos de controle
interno e externo ou pela sociedade civil de qualquer dos entes da Federação
consorciados.
§ 4o  Os entes consorciados, isolados ou em conjunto, bem como o con-
sórcio público, são partes legítimas para exigir o cumprimento das obrigações
previstas no contrato de rateio.
Art. 14.  Havendo restrição na realização de despesas, de empenhos ou
de movimentação financeira, ou qualquer outra derivada das normas de direito
financeiro, o ente consorciado, mediante notificação escrita, deverá informá-la
ao consórcio público, apontando as medidas que tomou para regularizar a situ-
ação, de modo a garantir a contribuição prevista no contrato de rateio.
Parágrafo único.  A eventual impossibilidade de o ente consorciado cumprir

248 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
obrigação orçamentária e financeira estabelecida em contrato de rateio obriga
o consórcio público a adotar medidas para adaptar a execução orçamentária e
financeira aos novos limites.
Art. 15.  É vedada a aplicação dos recursos entregues por meio de contra-
to de rateio, inclusive os oriundos de transferências ou operações de crédito,
para o atendimento de despesas classificadas como genéricas.
§ 1o  Entende-se por despesa genérica aquela em que a execução orça-
mentária se faz com modalidade de aplicação indefinida.
§  2o   Não se considera como genérica as despesas de administração e
planejamento, desde que previamente classificadas por meio de aplicação das
normas de contabilidade pública.
Art. 16.  O prazo de vigência do contrato de rateio não será superior ao de
vigência das dotações que o suportam, com exceção dos que tenham por obje-
to exclusivamente projetos consistentes em programas e ações contemplados
em plano plurianual.
Art. 17.  Com o objetivo de permitir o atendimento dos dispositivos da Lei
Complementar no 101, de 4 de maio de 2000, o consórcio público deve forne-
cer as informações financeiras necessárias para que sejam consolidadas, nas
contas dos entes consorciados, todas as receitas e despesas realizadas, de
forma a que possam ser contabilizadas nas contas de cada ente da Federa-
ção na conformidade dos elementos econômicos e das atividades ou projetos
atendidos.
Seção IV
Da Contratação do Consórcio por Ente Consorciado
Art. 18.  O consórcio público poderá ser contratado por ente consorciado,
ou por entidade que integra a administração indireta deste último, sendo dis-
pensada a licitação nos termos do art. 2o, inciso III, da Lei no 11.107, de 2005.
Parágrafo único.  O contrato previsto no caput, preferencialmente, deverá
ser celebrado sempre quando o consórcio fornecer bens ou prestar serviços
para um determinado ente consorciado, de forma a impedir que sejam eles
custeados pelos demais.
Seção V
Das Licitações Compartilhadas

Saneamento Básico para Gestoes Públicos 249


Confederação Nacional de Municípios – CNM
Art. 19.  Os consórcios públicos, se constituídos para tal fim, podem reali-
zar licitação cujo edital preveja contratos a serem celebrados pela administra-
ção direta ou indireta dos entes da Federação consorciados, nos termos do §
1o do art. 112 da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993.
Seção VI
Da Concessão, Permissão ou Autorização de Serviços Públicos ou de
Uso de Bens Públicos
Art. 20.  Os consórcios públicos somente poderão outorgar concessão, per-
missão, autorização e contratar a prestação por meio de gestão associada de
obras ou de serviços públicos mediante:
I - obediência à legislação de normas gerais em vigor; e
II - autorização prevista no contrato de consórcio público.
§ 1o  A autorização mencionada no inciso II do caput deverá indicar o ob-
jeto da concessão, permissão ou autorização e as condições a que deverá
atender, inclusive metas de desempenho e os critérios para a fixação de tarifas
ou de outros preços públicos.
§  2o   Os consórcios públicos poderão emitir documentos de cobrança e
exercer atividades de arrecadação de tarifas e outros preços públicos pela
prestação de serviços ou pelo uso ou outorga de uso de bens públicos ou, no
caso de específica autorização, serviços ou bens de ente da Federação con-
sorciado.
Art. 21.  O consórcio público somente mediante licitação contratará con-
cessão, permissão ou autorizará a prestação de serviços públicos.
§ 1o  O disposto neste artigo aplica-se a todos os ajustes de natureza con-
tratual, independentemente de serem denominados como convênios, acordos
ou termos de cooperação ou de parceria.
§ 2o  O disposto neste artigo não se aplica ao contrato de programa, que
poderá ser contratado com dispensa de licitação conforme o art. 24, inciso
XXVI, da Lei no. 8.666, de 21 de junho de 1993.
Seção VII
Dos Servidores
Art. 22.  A criação de empregos públicos depende de previsão do contrato

250 Saneamento Básico para Gestores Públicosl


Confederação Nacional de Municípios – CNM
de consórcio público que lhe fixe a forma e os requisitos de provimento e a sua
respectiva remuneração, inclusive quanto aos adicionais, gratificações, e quais-
quer outras parcelas remuneratórias ou de caráter indenizatório.
Art. 23.  Os entes da Federação consorciados, ou os com eles convenia-
dos, poderão ceder-lhe servidores, na forma e condições da legislação de cada
um.
§ 1o  Os servidores cedidos permanecerão no seu regime originário, so-
mente lhe sendo concedidos adicionais ou gratificações nos termos e valores
previstos no contrato de consórcio público.
§ 2o  O pagamento de adicionais ou gratificações na forma prevista no §
1 deste artigo não configura vínculo novo do servidor cedido, inclusive para a
o

apuração de responsabilidade trabalhista ou previdenciária.


§ 3o  Na hipótese de o ente da Federação consorciado assumir o ônus da
cessão do servidor, tais pagamentos poderão ser contabilizados como créditos
hábeis para operar compensação com obrigações previstas no contrato de ra-
teio.

CAPÍTULO IV
DA RETIRADA E DA EXCLUSÃO DE ENTE CONSORCIADO
Seção I
Disposição Geral
Art. 24.  Nenhum ente da Federação poderá ser obrigado a se consorciar
ou a permanecer consorciado.
Seção II
Do Recesso
Art. 25.  A retirada do ente da Federação do consórcio público dependerá
de ato formal de seu representante na assembléia geral, na forma previamente
disciplinada por lei.
§ 1o  Os bens destinados ao consórcio público pelo consorciado que se
retira somente serão revertidos ou retrocedidos no caso de expressa previsão
do contrato de consórcio público ou do instrumento de transferência ou de alie-
nação.

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§ 2o  A retirada não prejudicará as obrigações já constituídas entre o con-
sorciado que se retira e o consórcio público.
§ 3o  A retirada de um ente da Federação do consórcio público constituído
por apenas dois entes implicará a extinção do consórcio.
Seção III
Da Exclusão
Art. 26.  A exclusão de ente consorciado só é admissível havendo justa
causa.
§  1o  Além das que sejam reconhecidas em procedimento específico, é
justa causa a não inclusão, pelo ente consorciado, em sua lei orçamentária ou
em créditos adicionais, de dotações suficientes para suportar as despesas que,
nos termos do orçamento do consórcio público, prevê-se devam ser assumidas
por meio de contrato de rateio.
§ 2o  A exclusão prevista no § 1o deste artigo somente ocorrerá após prévia
suspensão, período em que o ente consorciado poderá se reabilitar.
Art. 27.  A exclusão de consorciado exige processo administrativo onde lhe
seja assegurado o direito à ampla defesa e ao contraditório.
Art. 28.  Mediante previsão do contrato de consórcio público, poderá ser
dele excluído o ente que, sem autorização dos demais consorciados, subscre-
ver protocolo de intenções para constituição de outro consórcio com finalida-
des, a juízo da maioria da assembléia geral, iguais, assemelhadas ou incom-
patíveis.

CAPÍTULO V
DA ALTERAÇÃO E DA EXTINÇÃO DOS CONTRATOS DE CONSÓRCIO
PÚBLICO
Art. 29.  A alteração ou a extinção do contrato de consórcio público depen-
derá de instrumento aprovado pela assembléia geral, ratificado mediante lei
por todos os entes consorciados.
§ 1o  Em caso de extinção:
I - os bens, direitos, encargos e obrigações decorrentes da gestão associa-
da de serviços públicos custeados por tarifas ou outra espécie de preço público

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serão atribuídos aos titulares dos respectivos serviços;
II - até que haja decisão que indique os responsáveis por cada obrigação,
os entes consorciados responderão solidariamente pelas obrigações remanes-
centes, garantido o direito de regresso em face dos entes beneficiados ou dos
que deram causa à obrigação.
§ 2o  Com a extinção, o pessoal cedido ao consórcio público retornará aos
seus órgãos de origem, e os empregados públicos terão automaticamente res-
cindidos os seus contratos de trabalho com o consórcio.

CAPÍTULO VI
DO CONTRATO DE PROGRAMA
 Seção I
Das Disposições Preliminares
Art. 30.  Deverão ser constituídas e reguladas por contrato de programa,
como condição de sua validade, as obrigações contraídas por ente da Federa-
ção, inclusive entidades de sua administração indireta, que tenham por objeto a
prestação de serviços por meio de gestão associada ou a transferência total ou
parcial de encargos, serviços, pessoal ou de bens necessários à continuidade
dos serviços transferidos.
§ 1o  Para os fins deste artigo, considera-se prestação de serviço público
por meio de gestão associada aquela em que um ente da Federação, ou en-
tidade de sua administração indireta, coopere com outro ente da Federação
ou com consórcio público, independentemente da denominação que venha a
adotar, exceto quando a prestação se der por meio de contrato de concessão
de serviços públicos celebrado após regular licitação.
§ 2o  Constitui ato de improbidade administrativa, a partir de 7 de abril de
2005, celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação
de serviços públicos por meio de cooperação federativa sem a celebração de
contrato de programa, ou sem que sejam observadas outras formalidades pre-
vistas em lei, nos termos do disposto no art. 10, inciso XIV, da Lei no 8.429, de
1992.
§ 3o  Excluem-se do previsto neste artigo as obrigações cujo descumpri-
mento não acarrete qualquer ônus, inclusive financeiro, a ente da Federação
ou a consórcio público.

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Art. 31.  Caso previsto no contrato de consórcio público ou em convênio
de cooperação entre entes federados, admitir-se-á a celebração de contrato
de programa de ente da Federação ou de consórcio público com autarquia,
empresa pública ou sociedade de economia mista.
§  1o   Para fins do caput, a autarquia, empresa pública ou sociedade de
economia mista deverá integrar a administração indireta de ente da Federação
que, por meio de consórcio público ou de convênio de cooperação, autorizou a
gestão associada de serviço público.
§ 2o  O contrato celebrado na forma prevista no caput deste artigo será
automaticamente extinto no caso de o contratado não mais integrar a adminis-
tração indireta do ente da Federação que autorizou a gestão associada de ser-
viços públicos por meio de consórcio público ou de convênio de cooperação.
§ 3o  É lícito ao contratante, em caso de contrato de programa celebrado
com sociedade de economia mista ou com empresa pública, receber participa-
ção societária com o poder especial de impedir a alienação da empresa, a fim
de evitar que o contrato de programa seja extinto na conformidade do previsto
no § 2o deste artigo.
§ 4o  O convênio de cooperação não produzirá efeitos entre os entes da
Federação cooperantes que não o tenham disciplinado por lei.
Seção II
Da Dispensa de Licitação
Art.  32.   O contrato de programa poderá ser celebrado por dispensa de
licitação nos termos do art. 24, inciso XXVI, da Lei no 8.666, de 1993.
Parágrafo único.  O termo de dispensa de licitação e a minuta de contrato
de programa deverão ser previamente examinados e aprovados por assessoria
jurídica da Administração.
Seção III
Das Cláusulas Necessárias
Art. 33.  Os contratos de programa deverão, no que couber, atender à le-
gislação de concessões e permissões de serviços públicos e conter cláusulas
que estabeleçam:
I - o objeto, a área e o prazo da gestão associada de serviços públicos,
inclusive a operada por meio de transferência total ou parcial de encargos, ser-

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viços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços;
II - o modo, forma e condições de prestação dos serviços;
III - os critérios, indicadores, fórmulas e parâmetros definidores da quali-
dade dos serviços;
IV - o atendimento à legislação de regulação dos serviços objeto da gestão
associada, especialmente no que se refere à fixação, revisão e reajuste das
tarifas ou de outros preços públicos e, se necessário, as normas complemen-
tares a essa regulação;
V  -  procedimentos que garantam transparência da gestão econômica e
financeira de cada serviço em relação a cada um de seus titulares, especial-
mente de apuração de quanto foi arrecadado e investido nos territórios de cada
um deles, em relação a cada serviço sob regime de gestão associada de ser-
viço público;
VI - os direitos, garantias e obrigações do titular e do prestador, inclusive
os relacionados às previsíveis necessidades de futura alteração e expansão
dos serviços e conseqüente modernização, aperfeiçoamento e ampliação dos
equipamentos e instalações;
VII  -  os direitos e deveres dos usuários para obtenção e utilização dos
serviços;
VIII - a forma de fiscalização das instalações, dos equipamentos, dos mé-
todos e práticas de execução dos serviços, bem como a indicação dos órgãos
competentes para exercê-las;
IX - as penalidades contratuais e administrativas a que se sujeita o presta-
dor dos serviços, inclusive quando consórcio público, e sua forma de aplicação;
X - os casos de extinção;
XI - os bens reversíveis;
XII - os critérios para o cálculo e a forma de pagamento das indenizações
devidas ao prestador dos serviços, inclusive quando consórcio público, espe-
cialmente do valor dos bens reversíveis que não foram amortizados por tarifas
e outras receitas emergentes da prestação dos serviços;
XIII - a obrigatoriedade, forma e periodicidade da prestação de contas do
consórcio público ou outro prestador dos serviços, no que se refere à prestação
dos serviços por gestão associada de serviço público;

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XIV - a periodicidade em que os serviços serão fiscalizados por comissão
composta por representantes do titular do serviço, do contratado e dos usuá-
rios, de forma a cumprir o disposto no art. 30, parágrafo único, da Lei no 8.987,
de 13 de fevereiro de 1995;
XV - a exigência de publicação periódica das demonstrações financeiras
relativas à gestão associada, a qual deverá ser específica e segregada das
demais demonstrações do consórcio público ou do prestador de serviços; e
XVI - o foro e o modo amigável de solução das controvérsias contratuais.
§ 1o  No caso de transferência total ou parcial de encargos, serviços, pes-
soal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos, o contrato de
programa deverá conter também cláusulas que prevejam:
I - os encargos transferidos e a responsabilidade subsidiária do ente que
os transferiu;
II  -  as penalidades no caso de inadimplência em relação aos encargos
transferidos;
III - o momento de transferência dos serviços e os deveres relativos à sua
continuidade;
IV  -  a indicação de quem arcará com o ônus e os passivos do pessoal
transferido;
V - a identificação dos bens que terão apenas a sua gestão e administra-
ção transferidas e o preço dos que sejam efetivamente alienados ao prestador
dos serviços ou ao consórcio público; e
VI - o procedimento para o levantamento, cadastro e avaliação dos bens
reversíveis que vierem a ser amortizados mediante receitas de tarifas ou outras
emergentes da prestação dos serviços.
§  2o   O não pagamento da indenização prevista no inciso XII do caput,
inclusive quando houver controvérsia de seu valor, não impede o titular de re-
tomar os serviços ou adotar outras medidas para garantir a continuidade da
prestação adequada do serviço público.
§ 3o  É nula a cláusula de contrato de programa que atribuir ao contratado
o exercício dos poderes de planejamento, regulação e fiscalização dos servi-
ços por ele próprio prestados.
Seção IV

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Da Vigência e da Extinção
Art. 34.  O contrato de programa continuará vigente mesmo quando extinto
o contrato de consórcio público ou o convênio de cooperação que autorizou a
gestão associada de serviços públicos.
Art. 35.  A extinção do contrato de programa não prejudicará as obrigações
já constituídas e dependerá do prévio pagamento das indenizações eventual-
mente devidas.
CAPÍTULO VII
DAS NORMAS APLICÁVEIS À UNIÃO
Art. 36.  A União somente participará de consórcio público em que também
façam parte todos os Estados em cujos territórios estejam situados os Municí-
pios consorciados.
Art. 37.  Os órgãos e entidades federais concedentes darão preferência
às transferências voluntárias para Estados, Distrito Federal e Municípios cujas
ações sejam desenvolvidas por intermédio de consórcios públicos.
Art. 38.  Quando necessário para que sejam obtidas as escalas adequa-
das, a execução de programas federais de caráter local poderá ser delegada,
no todo ou em parte, mediante convênio, aos consórcios públicos.
Parágrafo único.  Os Estados e Municípios poderão executar, por meio de
consórcio público, ações ou programas a que sejam beneficiados por meio de
transferências voluntárias da União.
Art. 39.  A partir de 1o de janeiro de 2008 a União somente celebrará convê-
nios com consórcios públicos constituídos sob a forma de associação pública
ou que para essa forma tenham se convertido.
§ 1o  A celebração do convênio para a transferência de recursos da União
está condicionado a que cada um dos entes consorciados atenda às exigências
legais aplicáveis, sendo vedada sua celebração caso exista alguma inadim-
plência por parte de qualquer dos entes consorciados.
§ 2o  A comprovação do cumprimento das exigências para a realização de
transferências voluntárias ou celebração de convênios para transferência de recur-
sos financeiros, deverá ser feita por meio de extrato emitido pelo subsistema Ca-
dastro Único de Exigências para Transferências Voluntárias - Cauc, relativamente
à situação de cada um dos entes consorciados, ou por outro meio que venha a ser
estabelecido por instrução normativa da Secretaria do Tesouro Nacional.

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CAPÍTULO VIII
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 40.  Para que a gestão financeira e orçamentária dos consórcios públi-
cos se realize na conformidade dos pressupostos da responsabilidade fiscal, a
Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda:
I - disciplinará a realização de transferências voluntárias ou a celebração
de convênios de natureza financeira ou similar entre a União e os demais Entes
da Federação que envolvam ações desenvolvidas por consórcios públicos;
II - editará normas gerais de consolidação das contas dos consórcios pú-
blicos, incluindo:
a) critérios para que seu respectivo passivo seja distribuído aos entes con-
sorciados;
b) regras de regularidade fiscal a serem observadas pelos consórcios pú-
blicos.
Art. 41.  Os consórcios constituídos em desacordo com a Lei no 11.107,
de 2005, poderão ser transformados em consórcios públicos de direito públi-
co ou de direito privado, desde que atendidos os requisitos de celebração de
protocolo de intenções e de sua ratificação por lei de cada ente da Federação
consorciado.
Parágrafo  único.   Caso a transformação seja para consórcio público de
direito público, a eficácia da alteração estatutária não dependerá de sua inscri-
ção no registro civil das pessoas jurídicas.
Art. 42.  Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 17 de janeiro de 2007; 186o da Independência e 119o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Márcio Thomaz Bastos
Guido Mantega
José Agenor Álvares da Silva
Paulo Bernardo Silva
Marcio Fortes de Almeida}
Dilma Rousseff
Tarso Genro

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