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José Humberto Santos Almeida Júnior1*, Clarissa Coussirat Angrizani2, Frando Dani Rico
Amado1, Sandro Campos Amico2
RESUMO
Dentre os processos de fabricação de compósitos termorrígidos, o hand lay–up é uma das técnicas
mais frequentes devido à sua simplicidade e baixo custo. Um dos parâmetros que mais influenciam no
comportamento do material é a sua temperatura de cura. Com isso, o objetivo deste trabalho foi investigar
o efeito da temperatura de cura nas características de compósitos de fibra de vidro com resina poliéster.
Os compósitos foram laminados em um molde de vidro (duas placas) através do empilhamento de 8
lâminas de tecidos de fibra de vidro intercalados com resina. De acordo com os resultados de calorimetria
exploratória diferencial (DSC), a partir de 80 °C a reação de reticulação da resina foi considerada
completa. Já a resistência ao cisalhamento interlaminar (ILSS) apresentou uma tendência de crescimento
até 120 °C. Os compósitos curados entre 80 e 120 °C tiveram comportamento mecânico superior às outras
amostras.
Palavras–chave: Compósitos poliméricos, temperatura de cura, fibra de vidro, análise térmica,
análise mecânica.
ABSTRACT
Among the manufacturing process for thermoset composites, hand lay–up is one of the most
frequently used techniques due to its simplicity and low cost. One of the processing parameters that most
influence the behavior of the material is the curing temperature. Thus, the aim of this study was to
investigate the effect of the curing temperature on the characteristics of glass fiber reinforced polyester
composites. The composites were laminated using a glass mold (two plates) by alternating layers of glass
fiber cloths and resin. According to the differential scanning calorimetry (DSC) results, the cross–linking
reaction of the resin was considered complete for temperatures of at least 80 °C. The interlaminate shear
strength (ILSS) was found to increase up to 120 °C. In all, the composites cured between 80 and 120 °C
showed superior mechanical behavior.
Keywords: Polymer composites, curing temperature, glass fiber, thermal analysis, mechanical
analysis.
1. INTRODUÇÃO
Entre os processos de fabricação de materiais compósitos termorrígidos o processo de hand
lay–up (laminação manual) está entre os mais antigos, sendo usado até hoje. Este processo não
exige grandes investimentos em equipamento e, além disso, pode obter peças de geometria
complexa [1]. O processo de hand lay–up foi o mais utilizado na moldagem de compósitos com
resina poliéster em 2010, de acordo com a Associação Brasileira de Materiais Compósitos
(ABMACO), e este processo, juntamente com o spray–up, representam cerca de 54,8% do mercado
[2]. O processo de hand lay–up ocorre basicamente pela impregnação das fibras pela resina, o
empilhamento do reforço, e, por último, a cura da resina.
2. EXPERIMENTAL
2.1 Materiais. Foi utilizada fibra de vidro na forma de tecido bi–direcional, com gramatura
de 350 g/m2 da Owens Corning. Resina poliéster ortoftálica não–acelerada RESAPOL 8001,
fabricada pela empresa Reichold. O iniciador utilizado foi o PMEK V–50 (Peróxido de metil–etil–
cetona) e o desmoldante utilizado foi o PVA (ácido–polivinílico).
2.2 Manufatura dos compósitos. O método de fabricação dos compósitos foi a laminação
manual, ou hand–lay–up. Para a moldagem, foram utilizadas duas placas de vidro, com dimensões
50×50×4 mm. Primeiro, aplicou–se 3 camadas de desmoldante sobre as placas e preparou–se a
resina adicionando 2% em peso de iniciador e misturando manualmente por 2 min. Em seguida,
foram depositadas camadas intercaladas de fibra de vidro e resina, sendo que a compactação e a
distribuição da resina foi feita através de um rolo de lã. Os compósitos moldados seguiram para
estufa e submetidos a diferentes temperaturas de cura, a 40, 60, 80, 100, 120 e 140 °C, por 48 h. A
fração mássica de fibra de todos os compósitos foi mantida constante. Foi utilizado um dispositivo
de corte (Norton, modelo TT 200 EM) para obtenção das amostras, e posteriormente uma politriz
(Pantec, model Polipan–U) para controle dimensional das amostras.
2.3 Caracterização térmica. Para avaliar o comportamento de cura da resina poliéster, foi
realizada calorimetria exploratória diferencial (DSC) com fluxo de calor, em um equipamento da
TA Instruments, modelo Q20 V24.2, na faixa de temperatura entre 0 e 300 °C, sob atmosfera de N2
(vazão de 50 mL·min–1) e a uma taxa de aquecimento de 10 °C·min–1. Também foi realizada análise
termogravimétrica (TGA) dos compósitos em um equipamento 2050 TGA V5.4A da TA
Instruments, com faixa de temperatura de 20 a 1000 °C, taxa de aquecimento de 20 °C·min–1, sob
atmosfera de N2 com vazão de 90 mL·min–1, de acordo com a norma ASTM E1131.
O comportamento viscoelástico dos compósitos foi observado por análise dinâmico–
mecânica (DMA), em um equipamento 2980 DMA V1.7B da TA Instruments, solicitados em flexão
com suporte “single cantilever”. As amostras tinham dimensões de 35 × 17 × 3 mm e foram
ensaiadas nas seguintes condições experimentais: amplitude de deformação de 0,1%, frequência
fixa em 1 Hz e faixa de temperatura de 20 a 200 °C com rampa de aquecimento de 5 °C·min–1.
2.4 Caracterização mecânica. O grau de cura da resina poliéster também foi avaliado por
ensaio de dureza Barcol, em um durômetro Bareiss (modelo HPE). Os resultados foram
determinados seguindo a norma ASTM D2583, utilizando uma média de 20 medidas. Foi analisada
a resistência ao impacto Izod dos compósitos, utilizando um equipamento CEAST Italy (modelo
Impact II), conforme a norma ASTM D256, com pêndulo de 11 J e sem entalhe. Seis amostras nas
dimensões 60×12,7×3 mm foram ensaiadas para cada condição.
Foi realizado o ensaio de resistência ao cisalhamento interlaminar (ILSS) de 3 pontos, ou
“short beam”. As dimensões das amostras variaram de acordo com a sua espessura, de acordo com
as relações constantes da norma ASTM D2344M, ou seja: comprimento = 6×espessura, largura =
2×espessura. Foram utilizados 20 corpos–de–prova de cada família, a uma velocidade de 1,0
mm.min–1, em uma máquina de ensaios Universal EMIC DL30000, com célula de carga de 200 kN.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
T = 120 °C
-0,5 T = 140 °C
-1,0
-1,5
-2,0
-2,5
0 40 80 120 160 200 240 280
Temperatura (°C)
A termogravimetria derivada (DTG) apresenta os dados de uma maneira mais clara, onde a
área do pico da curva representa a variação da massa do material, e o pico representa a temperatura
em que a variação de massa é máxima no processo. Esta temperatura é de 441 °C para a amostra
curada a 140 e 449 °C para amostra curada a 40oC, sendo a taxa de perda de massa de 0,90 e de
0,45 %/°C para essas amostras, respectivamente.
0,0
100
0,2
90
0,4
DTG (%/°C)
Massa (%)
80 T = 40 °C
T = 140 °C
0,6
70
0,8
60 1,0
0 100 200 300 400 500 600 700
Temperatura (°C)
12000 2000
T = 40 °C
------- T = 140 °C
10000
Módulo de Armazenamento (MPa)
1500
6000 1000
4000
500
2000
0 0
20 40 60 80 100 120 140 160
Temperatura (°C)
Figura 3. Módulos de armazenamento e perda dos compósitos dos compósitos curados a 40 e 140 oC.
0,5
79,6 °C T = 40 °C
T = 140 °C
0,4 113,5 °C
0,3
Tan
0,2
0,1
0,0
20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
Temperatura (°C)
superfície em que é realizado o ensaio, pelo teor de fibra (que neste trabalho foi mantido
aproximadamente constante) e pela qualidade da moldagem. Embora tenha se tratado de um
processo de moldagem manual, todos os valores estiveram dentro do desvio numérico dos
resultados, ou seja, mesmo um grau de cura diferenciado e possíveis variações decorrentes da
moldagem manual não foi suficiente para alterar esta propriedade.
70
60
50
Dureza Barcol
40
30
20
10
0
40 °C 60 °C 80 °C 100 °C 120 °C 140 °C
justificado pelo aumento do grau de reticulação da resina, entretanto, acima de 120 °C é observado
um declínio na resistência que novamente pode ser atribuído ao início da degradação da resina.
280
240
Resistência ao impacto (kJ.m )
-2
200
160
120
80
40
0
40 °C 60 °C 80 °C 100 °C 120 °C 140 °C
24
20
16
ILSS (MPa)
12
0
40 °C 60 °C 80 °C 100 °C 120 °C 140 °C
4. CONCLUSÕES
Foi realizada a caracterização térmica e mecânica dos compósitos de fibra de vidro com
resina poliéster curados a diferentes temperaturas. Para uma análise detalhada da cura da resina, foi
realizada a análise de DSC de todas as amostras. Concluiu–se que os compósitos curados acima de
80 °C têm reação de reticulação completa, o que não foi observado para as amostras curadas a 40 e
60 °C. Observou–se que a fração volumétrica dos compósitos, através do TGA, foi de
aproximadamente 60%.
Os resultados de DMA mostraram um aumento da região vítrea para a amostra curada a 140
°C, em relação à amostra curada a 40 °C, comportamento similar foi observado pelo módulo de
armazenamento, sendo que a amostra curada a 140 oC foi superior até 130 °C, e acima desta, as
curvas tornam–se coincidentes devido à relaxação maior das moléculas, pois o material encontra–se
na região elástica. Através da tan concluiu–se que, com o aumento da temperatura de cura, houve
um aumento da Tg.
A dureza foi independente da temperatura de cura no intervalo estudado. Entretanto, para a
resistência ao cisalhamento interlaminar e ao impacto, a temperatura mais adequada foi de 100 °C,
pois antes disso não obteve–se uma cura completa, e, acima desta, pode ter havido um início de
degradação da resina.
REFERÊNCIAS
[1] Hancock SG, Potter KD, Compos. Part A–Appl. S., 37, 413 (2006)
[2] ABMACO: www.abmaco.org.br, acessado em 27 de setembro de 2011
[3] Gopal AK, Adali AS, Verijenk VE, Compos. Struct., 48, 99 (2000)
[4] Segoria F, Ferrer C, Salvador MD, Amigó V, Polym. Degrad. Stabil., 71, 179 (2001)
[5] Tran DH, Kroisová D, Louda P, Bortnovsky O, Bezucha P, J. Achiev. Mater. Manu. Eng., 37, 492
(2009)
[6] Meng Y, Simon SL, Thermochim Acta, 437, 179 (2005)
[7] López FF, Fernández FF, Álvarez AL, Méndez JB, Rev. Iberoam. Polim., 10(2), 95 (2009)
[8] Cassu SN, Felisberti MI, Quim. Nova. 28(2), 255 (2005)
[9] Monteiro SN, Rodriguez RJS, Lopes FPD, Soares BG, Revista Tecnologia em Metalúrgica, Materiais
e Mineração, 5(2), 111 (2008)
[10] Almeida Júnior, JHS, Angrizani CC, Amado FDR, Amico SC “Analysis of intralaminate hybrid
curaua/glass composite”. Em: Anais do Simposio Argentino de Polímeros (SAP), 2011. Bahía Blanca
(Argentina)
[11] Ahmed KS, Vijayarangan S. J. Mater. Process. Tech., 207, 330 (2008).