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Textos de Apoio
Cristina Caldeira
A grande maioria dos exercı́cios presentes nestes
textos de apoio foram recolhidos de folhas práticas
elaboradas ao longo dos anos por vários docentes
do Departamento de Matemática da FCTUC.
Índice
1 Cálculo diferencial em Rn 1
1.1 Algumas noções topológicas em Rn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.1 Produto interno. Norma e distância euclidianas . . . . . . . . . . . 1
1.1.2 Bolas abertas e fechadas. Pontos interiores, fronteiros, de acumulação,
isolados, exteriores e aderentes. Vizinhança de um ponto. Conjuntos
abertos, conjuntos fechados e conjuntos limitados . . . . . . . . . . 3
1.1.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2 Funções reais de várias variáveis reais (parte 1) . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2.1 Definições básicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2.2 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.2.3 Limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.2.5 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.2.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.2.7 Derivação parcial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.2.8 Teorema de Schwarz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.2.9 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.2.10 Funções diferenciáveis e diferencial de uma função . . . . . . . . . . 34
1.2.11 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
1.2.12 Derivação de funções compostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
1.2.13 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
1.2.14 Derivadas direccionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
1.2.15 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
1.3 Funções vectoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
1.3.1 Limites, continuidade e matriz Jacobiana . . . . . . . . . . . . . . . 53
1.3.2 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
1.3.3 Curvas no espaço. Recta tangente a uma curva no espaço, plano
tangente e recta normal a uma superfı́cie . . . . . . . . . . . . . . . 59
1.3.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
1.3.5 Teorema da função inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
1.3.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
1.4 Funções reais de várias variáveis reais (parte 2) . . . . . . . . . . . . . . . 68
1.4.1 Teorema da função implı́cita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
1.4.2 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
1.4.3 Fórmula de Taylor para funções reais de 2 variáveis reais . . . . . . 73
i
1.4.4 Extremos. Extremos condicionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
1.4.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Bibliografia 157
Capı́tulo 1
Cálculo diferencial em Rn
{(x1 , x2 , . . . , xn ) : xi ∈ R , i = 1, 2, . . . , n} .
x + y = (x1 + y1 , x2 + y2 , . . . , xn + yn )
e
λx = (λx1 , λx2 , . . . , λxn ) .
A base canónica de Rn é a base constituı́da pelos vectores e1 , e2 , . . . , en , onde
i
↓
ei = (0, . . . , 0, 1 , 0, . . . , 0) , i = 1, 2, . . . , n .
1
2 Textos de Apoio de Análise Matemática III
O espaço vectorial real Rn com este produto interno e esta norma é o espaço euclidiano
de dimensão n.
Recorde-se, de Álgebra Linear, que num espaço vectorial real,V , com um produto in-
√
terno < , > e uma norma definida por kvk = < v, v > são válidas as desigualdades:
v v
Xn u n u n
uX 2 uX
xi yi ≤ t xi t y2 , i ∀(x1 , . . . , xn ), (y1 , . . . , yn ) ∈ Rn (1.1)
i=1 i=1 i=1
(desigualdade de Cauchy-Schwarz) ;
v v v
u n u n u n
uX uX uX
t (xi + yi )2 ≤ t x2i + t yi2 , ∀(x1 , . . . , xn ), (y1 , . . . , yn ) ∈ Rn (1.2)
i=1 i=1 i=1
(desigualdade triangular) ;
v v v
u n uXn u n
u X u uX
t (xi − yi )2 ≥ t x 2
− t yi2 , ∀(x1 , . . . , xn ), (y1 , . . . , yn ) ∈ Rn . (1.3)
i
i=1 i=1 i=1
Fig. 1.1.1
Fig. 1.1.2
Seja n um inteiro positivo. Vamos definir duas noções que generalizam os conceitos de
intervalo aberto e intervalo fechado de R.
Chama-se bola aberta de centro em a ∈ Rn e raio δ ∈ R+ ao conjunto
B(a, δ) = {x ∈ Rn : d(a, x) ≤ δ} .
Exemplo 1.1.1
(1) Em R,
B(a, δ) = {x ∈ R : |x − a| < δ} =]a − δ, a + δ[
e
B(a, δ) = {x ∈ R : |x − a| ≤ δ} = [a − δ, a + δ] .
Fig. 1.1.3
(3) Em R3 a bola aberta de centro em a e raio δ é a esfera, sem a superfı́cie esférica que
a delimita, de centro em a e raio δ. A bola fechada de centro em a e raio δ é a esfera
de centro em a e raio δ.
Seja S um subconjunto de Rn .
Um ponto a ∈ S diz-se um ponto interior de S se existe uma bola aberta de centro em
a e contida em S, isto é, se
∃δ ∈ R+ : B(a, δ) ⊆ S .
O interior de S é o conjunto dos pontos interiores de S e representa-se por int(S). Se
a é um ponto interior de S diz-se também que S é uma vizinhança de a.
Um ponto a ∈ Rn diz-se um ponto fronteiro de S se qualquer bola aberta de Rn centrada
em a intersecta (isto é, tem intersecção não vazia com) S e o complementar de S,
Rn \S = {x ∈ Rn : x 6∈ S} .
A fronteira de S é o conjunto dos pontos fronteiros de S e representa-se por f r(S).
Um ponto a ∈ Rn diz-se um ponto de acumulação de S se toda a bola aberta centrada
em a contém pontos de S distintos de a, isto é,
∀δ ∈ R+ (B(a, δ) \ {a}) ∩ S 6= ∅ .
Cristina Caldeira 5
É válido o resultado:
∀δ ∈ R+ B(a, δ) ∩ S 6= ∅ .
Exemplo 1.1.2
Fig. 1.1.4
6 Textos de Apoio de Análise Matemática III
(3) Seja
1
S3 = ,0 :n∈N .
n
O interior de S3 é o conjunto vazio porque qualquer vizinhança de um número racional
contém números irracionais. Vejamos que (0, 0) é um ponto de acumulação (aliás o
único) de S3 . Seja δ > 0 qualquer. Considere-se n ∈ N tal que n > 1/δ. Então
r
1
1 1
, 0 − (0, 0)
= = <δ
n
n 2 n
Seja S um subconjunto S de Rn .
S diz-se um conjunto aberto se S coincide com o seu interior, isto é, int(S) = S.
S diz-se um conjunto fechado se S contém a sua fronteira, isto é, f r(S) ⊆ S.
S diz-se um conjunto limitado se existe uma bola aberta de Rn que contém S.
Prova-se que
(i) S é fechado;
(ii) Rn \S é aberto;
(iii) S = S.
Exemplo 1.1.3
(2) O conjunto S1 = [2, 4[∪{5} ⊆ R não é aberto nem fechado. S1 é limitado. Por exemplo
S1 ⊂]1, 6[.
Cristina Caldeira 7
1.1.3 Exercı́cios
1. Verifique se cada um dos seguintes conjuntos é ou não vizinhança dos pontos P
indicados:
S2 = {(x, y) ∈ R2 : xy 6= 0} ;
xy
S3 = {(x, y) ∈ R2 : y−x2
∈ R ou xy = 0} ;
2x
S4 = {(x, y) ∈ R2 : 4−x2 −y 2
∈ R ou x = 0} .
f : D ⊆ Rn −→ R
(x1 , x2 , . . . , xn ) 7−→ f (x1 , x2 , . . . , xn )
ou
f : D ⊆ Rn −→ R
x 7−→ f (x) .
8 Textos de Apoio de Análise Matemática III
Exemplo 1.2.1 Seja f a função real de duas variáveis reais definida por f (x, y) = x 2 + y 2 .
O domı́nio de f é R2 , o contradomı́nio é R+
0 e o gráfico é
Fig. 1.2.1
ln(|xy| + 1)
Exemplo 1.2.2 O domı́nio da função real de 2 variáveis reais f (x, y) = 50 é
x2 + y 2 + 1
R2 . Qual o contradomı́nio ? Como obter uma representação gráfica do gráfico de f ?
Podemos usar um programa de computador. Na figura 1.2.2 tem-se uma representação
gráfica da porção de superfı́cie
Fig. 1.2.2
Cristina Caldeira 9
Geralmente não é fácil representar graficamente uma função real de 2 variáveis reais,
isto é, representar em R3 o gráfico da função e as representações obtidas com programas de
computador nem sempre têm a precisão desejada. É por vezes útil recorrer às chamadas
curvas de nı́vel da função que numa imagem a duas dimensões permitem obter informação
sobre o gráfico da função.
Considere-se a função real de 2 variáveis reais f : D ⊆ R2 −→ R Para k
.
(x, y) 7−→ f (x, y)
pertencente ao contradomı́nio de f a curva de nı́vel de f de valor k é a projecção ortogonal,
sobre o plano XOY , da intersecção do plano de equação z = k com o gráfico de f , isto é,
com a superfı́cie de equação z = f (x, y).
Analiticamente a curva de nı́vel de f de valor k é {(x, y) ∈ D : f (x, y) = k}.
Fig. 1.2.3
Na figura 1.2.4 estão representadas as curvas de nı́vel de valores 2,5, 5 e 7,5 da função do
exemplo 1.2.2, obtidas com o programa de computador “Mathematica”. Verifica-se ainda
facilmente que a curva de nı́vel de valor 0 dessa função é constituı́da pela união dos eixos
dos XX e dos Y Y .
Fig. 1.2.4
10 Textos de Apoio de Análise Matemática III
{((x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 = k} ,
ou seja:
o ponto (0, 0, 0) se k = 0; √
a superfı́cie esférica de centro (0, 0, 0) e raio k se k > 0.
1.2.2 Exercı́cios
1. Descreva geometricamente o domı́nio das seguintes funções :
xy
(a) f (x, y) = ;
y − 2x
√
x+1
(b) f (x, y) = p ;
1 − x2 − y 2
(c) f (x, y) = ln (xy);
x3
(d) f (x, y) = + arcsin (y + 3);
3p
(e) f (x, y, z) = 4 − x2 − y 2 − z 2 ;
s
x2 + y 2 + 2x
(f) f (x, y) = ;
x2 + y 2 − 2x
(g) f (x, y) = ln[x ln (y − x2 )];
(h) f (x, y) = ln [(16 − x2 − y 2 )(x2 + y 2 − 4)];
(i) f (x, y, z) = h(x) + h(y) + h(z), onde h é uma função real de variável real com
domı́nio [0, π/2];
sin(x4 + y 6 )
se x > 0
(j) f (x, y) = x4 + y 6 .
√
y + 1 − x se x ≤ 0
Cristina Caldeira 11
1.2.3 Limites
Sejam f : D ⊆ Rn −→ R , a = (a1 , a2 , . . . , an ) um ponto de acumulação de D e
x 7−→ f (x)
L ∈ R. Diz-se que L é o limite de f quando x tende para a ou o limite de f no ponto a, e
escreve-se
se
∀ε > 0 ∃δ > 0 : (0 < kx − ak < δ ∧ x ∈ D) ⇒ |f (x) − L| < ε . (1.4)
Observação 1.2.2
(1) O facto de se impôr em (1.4) que 0 < kx − ak faz com que possa existir o limite de f
quando x tende para a sem que f esteja definida em a (exemplo 1.2.5) ou, no caso
de f estar definida em a, o valor de f em a não interessa para o cálculo do limite.
Isto é, nesta definição de limite de f quando x tende para a não interessa o que se
passa em a. Para realçar este facto por vezes escreve-se
lim f (x) = L
x→a
x 6= a
(2) O motivo de se definir o limite de f quando x tende para a apenas para pontos a
pertencentes ao derivado de D é que se a não é ponto de acumulação de D então
qualquer número real L verifica (1.4). De facto, se a 6∈ D 0 , então existe um número
real δ > 0 tal que
{a} se a ∈ D
B(a, δ) ∩ D = .
∅ se a 6∈ D
Então
{x ∈ D : 0 < kx − ak < δ} = ∅
e portanto quaisquer que sejam L ∈ R e ε > 0 a afirmação de que |f (x) − L| < ε
para todo o x pertencente a {x ∈ D : 0 < kx − ak < δ} é verdadeira.
De modo intuitivo se a 6∈ D 0 existe uma bola aberta centrada em a que não contém
pontos de D distintos de a e portanto “não é possı́vel fazer x tender para a por pontos
distintos de a”.
Exemplo 1.2.5 Considere-se a função real de duas variáveis reais cuja expressão analı́tica
é
2x3
f (x, y) = 2 .
x + y2
O domı́nio de f é D = R2 \ {(0, 0)}. O ponto (0, 0) não pertence a D mas é um ponto
de acumulação de D. Verifique-se ainda que existe o limite de f quando (x, y) tende para
(0, 0) e que esse limite é zero.
12 Textos de Apoio de Análise Matemática III
Ora
2x3 x2
|f (x, y)| = 2 = 2|x|
x2 + y 2 ,
x + y2
e uma vez que, para (x, y) ∈ R2 \ {(0, 0)}, x2 ≤ x2 + y 2 , tem-se que
x2
x2 + y 2 ≤ 1
e portanto
x2 p
|f (x, y)| = 2|x| 2 ≤ 2|x| ≤ 2 x2 + y 2 = 2k(x, y) − (0, 0)k .
x + y2
Assim, para todo o ε > 0 existe δ = ε/2 > 0 verificando (1.5) e portanto
2x3
lim = 0.
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
Uma questão que se coloca naturalmente é a de saber se é possı́vel que dois números
reais distintos L1 e L2 verifiquem simultaneamente (1.4). Provaremos que não.
f : D ⊆ Rn −→ R
x 7−→ f (x) .
Provou-se assim que |L1 − L2 | < ε para todo o ε ∈ R+ . Uma vez que |L1 − L2 | ∈ R+
0
conclui-se que |L1 − L2 | = 0, ou seja, L1 = L2 .
Fig. 1.2.5
Claro que se existe o lim f (x, y), todos os limites trajectoriais (no ponto a) devem
(x,y)→(a1 ,a2 )
existir e ser iguais.
Esta noção de limite trajectorial pode ser formalizada definindo o conceito de limite
segundo um conjunto.
Sejam f : D ⊆ Rn → R, A um subconjunto de D e a ∈ A0 . Diz-se que L ∈ R é o limite
de f quando x tende para a no conjunto A e escreve-se
lim f (x) = L ,
x→a
x∈A
se
∀ε > 0 ∃δ > 0 : (0 < kx − ak < δ ∧ x ∈ A) ⇒ |f (x) − L| < ε . (1.8)
Este conceito será muito útil na prática para se concluir que um dado limite não existe,
uma vez que é válido o resultado:
14 Textos de Apoio de Análise Matemática III
f : R2 \ {(0, 0)} −→ R
x4 .
(x, y) 7−→ y4 +(y−x) 2
Seja A = {(x, y) ∈ R2 \ {(0, 0)} : y = x}. Isto é, A obtém-se da recta de equação y = x
retirando-lhe o ponto (0, 0). O ponto (0, 0) é um ponto de acumulação de A.
x4 x4
lim f (x, y) = lim = lim = 1.
(x, y) → (0, 0) (x, y) → (0, 0) y 4 + (y − x)2 x→0 x4 + 0
(x, y) ∈ A y=x
x4
lim f (x, y) = lim
(x, y) → (0, 0) (x, y) → (0, 0) y 4 + (y − x)2
(x, y) ∈ B y = x2
x4
= lim
x→0 x8 + (x2 − x)2
x2
= lim 6 = 0.
x→0 x + x2 − 2x + 1
conclui-se que não existe o limite de f quando (x, y) tende para (0, 0).
da função com uma semi-recta com origem no ponto em causa, isto é, a trajectória é uma
semi-recta com origem no ponto onde se pretende calcular o limite.
Sendo a = (a1 , a2 , a3 ) ∈ R3 e ~v = (v1 , v2 , v3 ) ∈ R3 \ {0}, a recta de R3 que passa por a
e tem a direcção de ~v é
{a + t~v : t ∈ R} = {(a1 + tv1 , a2 + tv2 , a3 + tv3 ) : t ∈ R} .
A semi-recta com origem em a e que tem a direcção e o sentido de ~v é
{a + t~v : t ∈ R+ +
0 } = {(a1 + tv1 , a2 + tv2 , a3 + tv3 ) : t ∈ R0 } .
(tv1 )2 (tv2 )2
lim+ f (a + t~v ) = lim+
t→0 t→0 (tv1 )6 + 2(tv2 )3
tv 2 v 2
= lim+ 3 6 1 2 3
t→0 t v1 + 2v2
= 0.
Existem todos os limites direccionais de f no ponto (0, 0) e são todos iguais a zero. No
entanto não existe o limite de f no ponto (0, 0). De facto, se se calcular o limite de f
quando (x, y) tende para (0, 0) segundo a parábola de equação y = x2 obtém-se
x2 y 2 x6 1
lim 6 3
= lim 6 6
= 6= 0 ,
(x, y) → (0, 0) x + 2y x→0 x + 2x 3
y = x2
concluindo-se da proposição 1.2.2 que não existe o limite de f no ponto (0, 0).
Nas três proposições seguintes serão enunciadas algumas propriedades dos limites.
f : D −→ R
.
x 7−→ α
|f (x) − α| = |α − α| = 0 < ε .
j=1
Sendo δ = ε, para x ∈ D tal que 0 < kx − ak < δ tem-se então |Pi (x) − ai | < ε.
f + g : Df ∩ Dg −→ R
x 7−→ f (x) + g(x) .
α f : Df −→ R
x 7−→ α f (x) .
O produto de f e g é a função
f g : Df ∩ Dg −→ R
x 7−→ f (x) g(x) .
O quociente de f e g é a função
f
: {x ∈ Df ∩ Dg : g(x) 6= 0} −→ R
g
f (x)
x 7−→ .
g(x)
f
4. Se lim g(x) 6= 0, existe o limite de no ponto a e
x→a g
lim f (x)
f
lim (x) = x→a .
x→a g lim g(x)
x→a
e
√
(0 < kx − ak < δ2 ∧ x ∈ Dg ) =⇒ |g(x) − L2 | < ε.
Seja δ = min{δ1 , δ2 }.
Para x ∈ Df ∩ Dg tal que 0 < kx − ak < δ tem-se
√ √
|(f (x) − L1 )(g(x) − L2 ) − 0| = |(f (x) − L1 )||(g(x) − L2 )| < ε ε = ε.
Assim,
lim [(f (x) − L1 )(g(x) − L2 )] = 0 .
x→a
Analogamente
lim (g(x) − L2 ) = 0 .
x→a
lim (f (x)g(x) − L1 L2 ) =
x→a
Assim,
|g(x) − L2 | = |L2 − g(x)| ≥ |L2 | − |g(x)| , ∀x ∈ Dg
e portanto
1
(0 < kx − ak < δ1 ∧ x ∈ Dg ) =⇒ |g(x)| > |L2 | .
2
Por outro lado existe também δ2 > 0 tal que
1
(0 < kx − ak < δ2 ∧ x ∈ Dg ) =⇒ |g(x) − L2 | < |L2 |2 ε .
2
Sendo δ = min{δ1 , δ2 }, para x ∈ Dg tal que 0 < kx − ak < δ,
1
1
1 |L2 − g(x)| 2
|L2 |2 ε
−
g(x) L2 = < 1 = ε.
|L2 ||g(x)| 2
|L2 |2
20 Textos de Apoio de Análise Matemática III
1.2.4 Exercı́cios
1. Prove, usando a definição, que lim f (x, y) = L, sendo
(x,y)→a
x2
(a) lim ;
(x,y)→(1,2) x2 + y 2
sin x 2
(b) lim √ ln + (yz) 3 ;
(x,y,z)→(π/2,1/ 2,1/2) 2
2xy
(c) lim ;
(x,y)→(1,−1) (x + y)2
x4 − 4y 4
(d) lim ;
(x,y)→(0,0) 2x2 + 4y 2
xy − 2x − y + 2
(e) lim .
(x,y)→(1,3) (x − 1)(y 2 − 4y + 4)
3. Usando trajectórias convenientes tire conclusões sobre a existência dos seguintes lim-
ites
x2 xy(x2 − y 2 )
(a) lim ; (b) lim ;
(x,y)→(0,0) x2 + y 2 (x,y)→(0,0) x4 + y 4
2xy − 2y xy(x − y)
(c) lim ; (d) lim ;
(x,y)→(1,0) (x − 1)2 + y 2 (x,y)→(0,0) x2 + y 4
xy 4 (x − 1)yz
(e) lim ; (f) lim .
(x,y)→(0,0) x3 + y 6 (x,y,z)→(1,0,0) (x − 1)3 + y 3 + z 3
4. Demonstre a proposição 1.2.2.
8. Mostre que
2 1 2 3x2 y
(a) lim (x + 2y ) sin = 0; (b) lim = 0;
(x,y)→(0,0) xy (x,y)→(0,0) x2 + 2y 2
x2 + xy − y 2 3x2 sin y
(c) lim p = 0; (d) lim = 0.
(x,y)→(0,0) x2 + y 2 (x,y)→(0,0) x2 + 2y 2
9. Determine o domı́nio das seguintes funções e estude a existência de limite nos pontos
a indicados.
x2
(a) f (x, y) = em a = (0, 0);
x2 + y 2
x2 y 2
(b) f (x, y) = em a = (0, 0);
x2 + y 2
2xy
se (x, y) 6= (0, 0)
x2 + y2
(c) f (x, y) = em a = (0, 0) ;
0 se (x, y) = (0, 0)
x2 − y 2
(d) f (x, y) = em a = (−1, 1);
x+y
2
x − y2
se x 6= −y
(e) f (x, y) = x+y em a = (−1, 1) ;
0 se x = −y
x2 − 2xy + y 2
(f) f (x, y) = em a = (−1, 1);
x2 y − y 3
x2 y 2
(g) f (x, y) = em a = (0, 0);
x2 y 2 + (y − x)2
xy
x2 + y 2 se (x, y) 6= (0, 0)
(h) f (x, y) = em a = (0, 0) ;
1 se (x, y) = (0, 0)
22 Textos de Apoio de Análise Matemática III
x2 yz
(i) f (x, y, z) = em a = (0, 0, 0);
x8 + y 4 + z 2
x se x = y
(j) f (x, y) = em a = (1, 1) ;
x2 se x 6= y
x |y|
(k) f (x, y) = em a = (0, 0);
|x| + |y|
|y| |y|
2 e − x2 se x 6= 0
(l) f (x, y) = x em a = (0, 0) .
0 se x = 0
1.2.5 Continuidade
Sejam f : D ⊆ Rn → R uma função real de n variáveis reais e a ∈ D. Se a é um ponto de
acumulação de D, diz-se que f é contı́nua em a se existe o limite de f em a e esse limite é
igual a f (a).
Se a é um ponto isolado de D, por definição, f é contı́nua em a.
Verifica-se facilmente que:
Proposição 1.2.7 A função f é contı́nua em a ∈ D se e só se
fi : D i ⊆ R → R , i = 1, 2, . . . , n .
Usando estas n funções define-se uma função real de n variáveis reais de domı́nio
D = D1 × D2 × · · · × Dn = {(x1 , x2 , . . . , xn ) : xi ∈ Di , i = 1, 2, . . . , n} ,
do seguinte modo:
f : D ⊆ Rn −→ R
(x1 , x2 , . . . , xn ) 7−→ f1 (x1 )f2 (x2 ) · · · fn (xn ) .
Cristina Caldeira 23
Exemplo 1.2.8 Usando a proposição anterior conclui-se facilmente que a função definida
por
x sin x cos z
f (x, y, z) =
ey
é contı́nua em R3 .
Casos importantes de funções contı́nuas no seu domı́nio são as funções polinomiais, isto
é, as funções f : D ⊆ Rn → R em que f (x1 , . . . , xn ) é uma soma finita de parcelas do tipo
α xk11 xk22 · · · xknn com α ∈ R e ki ∈ N0 , para i = 1, . . . , n.
Também as funções racionais (funções que são o quociente de duas funções polinomiais)
são contı́nuas no seu domı́nio.
xy − x2
f (x, y) =
x2 − y 2
é uma função racional e portanto é contı́nua no seu domı́nio, que é
{(x, y) ∈ R2 : x 6= y e x 6= −y} .
Demonstração: Seja ε > 0, qualquer. Sendo g contı́nua em f (a), existe δ1 > 0 tal que
Então,
x2 + y 2
f (x, y) = 4
x + y4
Cristina Caldeira 25
é uma função racional e portanto é contı́nua no seu domı́nio que é R2 \{(0, 0)}. Além disso,
f (x, y) > 0 para todo o (x, y) ∈ R2 \ {(0, 0)}. Pode então considerar-se a função definida
por 2
x + y2
g(x, y) = ln
x4 + y 4
e a proposição anterior permite-nos concluir que g é contı́nua em R2 \ {(0, 0)}.
Exemplo 1.2.11 Deste corolário e do exemplo 1.2.9 conclui-se que o domı́nio de con-
tinuidade da função
xy − x2
f (x, y) = 2
x − y2
é
{(x, y) ∈ R2 : x 6= y e x 6= −y} .
1.2.6 Exercı́cios
1. Sejam f : A ⊆ Rn → R e g : B ⊆ R → R duas funções com f (A) ⊆ B e seja a
um ponto de acumulação de A. Suponha-se que lim f (x) = b, em que b é um ponto
x→a
de acumulação de B, e que lim g(y) = L. Prove que lim (g ◦ f ) (x) = L, se uma das
y→b x→a
condições seguintes for verificada:
2. Calcule os limites indicados, depois de escrever cada uma das funções como com-
posição de duas:
ln(1 − x2 − y 2 )
(a) lim ;
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
x2 + y 2
(b) lim p ;
(x,y)→(0,0) x2 + y 2 + 1 − 1
sin(xy)
(c) lim .
(x,y)→(2,0) xy
3. Determine o domı́nio de continuidade das funções definidas por:
2
x + y 2 se x2 + y 2 ≤ 1
(a) f (x, y) = ;
0 se x2 + y 2 > 1
26 Textos de Apoio de Análise Matemática III
3x2 y
se (x, y) 6= (0, 0)
(b) f (x, y) = x2 + y 2 ;
0 se (x, y) = (0, 0)
(c) As funções dos exercı́cios 9 (c), (d), (e), (f), (g), (j) e (l) da secção 1.2.4;
y
e x se x 6= 0
(d) f (x, y) = ;
2y se x = 0
1 + x2 se y = 0
(e) f (x, y) = 1 + y2 se x = 0 ;
0 se x 6= 0 e y 6= 0
xy 2
se x < y 2
(f) f (x, y) = x2 + y 4 ;
0 se x ≥ y 2
x+y se xy = 0
(g) f (x, y) = .
0 se xy 6= 0
Fig. 1.2.6
f (x0 , y0 + h) − f (x0 , y0 )
lim .
h→0 h
Esta derivada parcial representa-se por
∂f
(x0 , y0 ) ou fy (x0 , y0 ) . (1.12)
∂y
28 Textos de Apoio de Análise Matemática III
∂f f (1 + h, 1) − f (1, 1)
(1, 1) = lim
∂x h→0 h
f (1 + h, 1) − f (1, 1)
= lim
h→0 h
h 6= 0
(1 + h)1 − 13
= lim
h→0 h
h
= lim
h→0 h
= 1.
Por outro lado,
f (2 + h, 2) − f (2, 2) (2 + h)2 − 8
lim = lim
h→0 h h→0 h
−4 + 2h
= lim
h→0 h
e este limite não existe, concluindo-se que não existe a derivada parcial de f em ordem a
x em (2, 2).
Cristina Caldeira 29
Fazendo variar o ponto (x0 , y0 ) definem-se duas novas funções reais de duas variáveis
reais a que se chama derivadas parciais de 1a ordem de f :
∂f f (x + h, y) − f (x, y)
(x, y) = fx (x, y) = lim ;
∂x h→0 h
∂f f (x, y + h) − f (x, y)
(x, y) = fy (x, y) lim .
∂y h→0 h
Cada uma destas funções só está definida nos pontos (x, y) do domı́nio de f onde existe
o limite considerado.
∂f ∂f
Sendo e funções reais de 2 variáveis reais podem considerar-se as suas derivadas
∂x ∂y
parciais . Obtêm-se assim as derivadas parciais de 2a ordem de f :
∂2f ∂ ∂f
2
= também representada por (fx )x = fx2 ;
∂x ∂x ∂x
∂2f ∂ ∂f
= também representada por (fx )y = fxy ;
∂y∂x ∂y ∂x
∂2f ∂ ∂f
= também representada por (fy )x = fyx ;
∂x∂y ∂x ∂y
∂2f ∂ ∂f
2
= também representada por (fy )y = fy2 .
∂y ∂y ∂y
fy (x0 + h, y0 ) − fy (x0 , y0 )
lim (1.13)
h→0 h
e que é igual a fxy (x0 , y0 ).
Seja h 6= 0 suficientemente pequeno, em módulo, (isto é, h suficientemente próximo de
zero) para que (x0 + h, y0 ) ∈ B. Então
fy (x0 + h, y0 ) − fy (x0 , y0 ) =
Uma vez que x1 ∈]x0 , x0 + h[ verifica-se facilmente que (x1 , y0 + k), (x1 , y0 ) ∈ B. Então,
por hipótese existem os limites
f (x1 + `, y0 + k) − f (x1 , y0 + k) f (x1 + `, y0 ) − f (x1 , y0 )
lim e lim ,
`→0 ` `→0 `
e são iguais, respectivamente, a fx (x1 , y0 + k) e fx (x1 , y0 ).
Assim,
ϕk (x1 + `) − ϕk (x1 )
lim = fx (x1 , y0 + k) − fx (x1 , y0 )
`→0 `
e portanto ϕk é derivável em ]x0 , x0 + h[. Então é também contı́nua em ]x0 , x0 + h[.
Analogamente
ϕk (x0 + `) − ϕk (x0 )
lim+ = fx (x0 , y0 + k) − fx (x0 , y0 ) .
`→0 `
Então
ϕk (x0 + `) − ϕk (x0 )
lim ([ϕk (x0 + `) − ϕk (x0 )] = lim+ `
`→0+ `→0 `
= 0 × [fx (x0 , y0 + k) − fx (x0 , y0 )] = 0 ,
concluindo-se que
lim ϕk (x0 + `) = ϕk (x0 ) .
`→0+
Assim ϕk é contı́nua em x0 . Do modo semelhante prova-se que é contı́nua em x0 + h.
O teorema do valor médio garante a existência de c ∈]x0 , x0 + h[ tal que
ϕk (x0 + h) − ϕk (x0 ) = h ϕk 0 (c) .
Mas sendo c um elemento do intervalo ]x0 , x0 + h[, existe t ∈]0, 1[ tal que c = x0 + th.
Então
ϕk (x0 + h) − ϕk (x0 ) = h [fx (x0 + th, y0 + k) − fx (x0 + th, y0 )] .
Provou-se assim que, para h tal que (x0 + h, y0 ) ∈ B, existe t ∈]0, 1[ tal que
h [fx (x0 + th, y0 + k) − fx (x0 + th, y0 )]
fy (x0 + h, y0 ) − fy (x0 , y0 ) = lim
k→0 k
fx (x0 + th, y0 + k) − fx (x0 + th, y0 )
= h lim
k→0 k
= hfxy (x0 + th, y0 ) .
Assim, o limite (1.13) é igual a
lim fxy (x0 + th, y0 ) ,
h→0
que por sua vez é igual a fxy (x0 , y0 ), porque fxy é contı́nua em (x0 , y0 ).
1.2.9 Exercı́cios
1. Usando a definição de derivada parcial, determine
possui derivadas parciais em (0, 0), embora seja descontı́nua nesse ponto.
6. Uma função f (x, y) diz-se harmónica se verificar a equação seguinte, dita equação de
Laplace,
∂2f ∂2f
+ =0.
∂x2 ∂y 2
Prove que as seguintes funções são harmónicas:
y
(a) f (x, y) = arctg ( x ) ;
p
(b) f (x, y) = ln( x2 + y 2 ) .
7. Sejam u(x, y) e v(x, y) duas funções com derivadas de 2a ordem contı́nuas. Prove
que, se
ux (x, y) = vy (x, y)
,
uy (x, y) = −vx (x, y)
então u é uma função harmónica.
2 2
8. Sendo w(x, y) = cos(x − y) + ln(x + y) prove que ∂ w2 − ∂ w2 = 0 .
∂x ∂y
9. Calcule todas as derivadas de 3a ordem da função definida por z(x, y) = ln(x2 + y 2 ) .
10. Utilizando o Teorema de Schwarz, mostre que não existe nenhuma função f : R 2 → R
∂f ∂f
tal que = xy 2 + 1 e = y2 .
∂x ∂y
xy 2
se x 6= −y
11. Considere a função f : R2 → R definida por f (x, y) = x+y .
0 se x = −y
Calcule fy (x, 0), fx (0, y) e mostre que fxy (0, 0) 6= fyx (0, 0).
f : D ⊆ R2 −→ R
(x, y) 7−→ f (x, y)
Cristina Caldeira 35
Fig. 1.2.7
Assim, para ∆x, ∆y tais que (x0 + ∆x, y0 + ∆y) ∈ B existe c ∈]x0 , x0 + ∆x[ (se ∆x ≥ 0),
ou c ∈]x0 + ∆x, x0 [ (se ∆x < 0) tal que
e portanto
lim ε1 (∆x, ∆y) = 0 .
(∆x,∆y)→(0,0)
Os recı́procos dos dois resultados anteriores são falsos. Pode acontecer que f seja
diferenciável em (x0 , y0 ) sem que nenhuma das derivadas parciais fx e fy seja contı́nua em
(x0 , y0 ). É o que se passa com a função do exemplo seguinte no ponto (0, 0).
f : R2 −→ R
2
1
x sin x
se x 6= 0
(x, y) 7−→ y 2 sin y1 se x = 0 e y 6= 0
0 se x = y = 0.
e este limite é zero se y é da forma 1/(kπ), com k ∈ Z \ {0}, e não existe nos restantes
casos.
Se x = y = 0,
f (0 + h, 0) − f (0, 0) h2 sin h1 − 0
lim = lim
h→0 h h→0
h
1
= lim h sin
h→0 h
= 0,
38 Textos de Apoio de Análise Matemática III
e
1 1
2x sin x
− cos x
se x 6= 0
fx (x, y) = 0 se x = 0 e y = 1/(kπ) , k ∈ Z \ {0}
0 se (x, y) = (0, 0) .
De modo análogo conclui-se que o domı́nio de fy é R2 e
(
2y sin y1 − cos y1 se x = 0 e y 6= 0
fy (x, y) =
0 nos restantes casos .
2 1
(∆x) sin ∆x
se ∆x 6= 0
1
f (0 + ∆x, 0 + ∆y) − f (0, 0) = f (∆x, ∆y) = (∆y)2 sin ∆y se ∆x = 0 e ∆y 6= 0 .
0 se ∆x = ∆y = 0
e portanto
lim f (x0 + ∆x, y0 + ∆y) = f (x0 , y0 ) .
(∆x,∆y)→(0,0)
concluindo-se que f não é contı́nua em (0, 0) e portanto da proposição 1.2.12 resulta que
f não é diferenciável em (0, 0).
Seja f uma função diferenciável em (x0 , y0 ). Seja B uma bola aberta centrada em
(x0 , y0 ) para a qual se verifica (1.15).
Considere-se z = f (x, y) e designem-se os acréscimos das variáveis independentes por
dx e dy. O diferencial total em (x0 , y0 ) da variável dependente, z (ou da função f ), é
com ε1 , ε2 , . . . , εn funções de (∆x1 , ∆x2 , . . . , ∆xn ) que têm por limite zero quando
(∆x1 , ∆x2 , . . . , ∆xn ) tende para (0, 0, . . . , 0).
Tal como para funções reais de 2 variáveis reais são válidos os resultados:
Cristina Caldeira 41
Xn
0 ∂f 0
du(x ) = (x ) dxi .
i=1
∂xi
1.2.11 Exercı́cios
1. Usando a definição, verifique se são diferenciáveis as seguintes funções nos pontos
dados:
sin(xy − y)
se (x, y) 6= (1, 0)
(x − 1)2 + y 2
(c) f (x, y) = no ponto (1, 0) ;
2 se (x, y) = (1, 0)
√
(d) f (x, y, z) = cos(y x2 + z 2 ) , no ponto (0, 1, 0) .
3. Determine, caso exista, o diferencial total das funções seguintes nos pontos indicados:
4. Usando diferenciais, calcule o valor aproximado das seguintes funções nos pontos
dados:
6. Uma caixa sem tampa vai ser construı́da com madeira de 0.5cm de espessura. O
comprimento interno deve ter 70cm, a largura interna 40cm e a altura interna 35cm.
Use o conceito de diferencial para calcular a quantidade aproximada de madeira que
será utilizada na construção da caixa.
Demonstração:
Faremos a demonstração apenas para n = 2. Pretende calcular-se
g(t0 + h) − g(t0 )
lim .
h→0 h
Considerem-se as funções de h, ∆x1 = x1 (t0 + h) − x1 (t0 ) e ∆x2 = x2 (t0 + h) − x2 (t0 ), e
designem-se x1 (t0 ) por x01 e x2 (t0 ) por x02 .
Então
g(t0 + h) − g(t0 ) = f (x1 (t0 + h), x2 (t0 + h)) − f (x1 (t0 ), x2 (t0 ))
= f (x1 (t0 ) + ∆x1 , x2 (t0 ) + ∆x2 ) − f (x1 (t0 ), x2 (t0 ))
= f (x01 + ∆x1 , x02 + ∆x2 ) − f (x01 , x02 ) .
A função f é diferenciável em x0 = (x01 , x02 ) logo existe uma bola aberta B centrada em x0
tal que para (x01 + ∆x1 , x02 + ∆x2 ) ∈ B,
∂f 0 ∂f 0
f (x01 + ∆x1 , x02 + ∆x2 ) − f (x01 , x02 ) = ∆x1 (x ) + ∆x2 (x ) +
∂x1 ∂x2
∆x1 ε1 (∆x1 , ∆x2 ) + ∆x2 ε2 (∆x1 , ∆x2 ) ,
onde ε1 e ε2 tendem para 0 quando (∆x1 , ∆x2 ) tende para (0, 0).
Como h → 0 pode escolher-se h suficientemente pequeno de modo a que (x01 + ∆x1 , x02 +
∆x2 ) pertença a B. Observe-se que isto é possı́vel porque as funções x1 (t) e x2 (t) são
contı́nuas em t0 logo
Assim,
∂f 0 ∂f 0
g(t0 + h) − g(t0 ) = ∆x1 (x ) + ∆x2 (x ) +
∂x1 ∂x2
∆x1 ε1 (∆x1 , ∆x2 ) + ∆x2 ε2 (∆x1 , ∆x2 ) .
Definam-se as funções
εi (∆x1 , ∆x2 ) se (∆x1 , ∆x2 ) 6= (0, 0)
ηi (∆x1 , ∆x2 ) = , i = 1, 2 .
0 se (∆x1 , ∆x2 ) = (0, 0)
Quando h → 0, (∆x1 , ∆x2 ) → (0, 0) logo limh→0 ηi = 0, para i = 1, 2. Por outro lado,
∆xi xi (t0 + h) − xi (t0 ) dxi
lim = lim = (t0 ) , i = 1, 2 .
h→0 h h→0 h dt
Então
g(t0 + h) − g(t0 ) ∂f 0 dx1 ∂f 0 dx2
lim = (x ) (t0 ) + (x ) (t0 ) .
h→0 h ∂x1 dt ∂x2 dt
Exemplo 1.2.18 Suponha-se que f (x1 , x2 ) = x21 x2 + ex2 , x1 (t) = sin t e x2 (t) = cos t. A
função composta é dada por g(t) = f (sin t, cos t). Usando a regra da cadeia obtém-se:
∂f d ∂f d
g 0 (t) = (sin t, cos t) (sin t) + (sin t, cos t) (cos t)
∂x1 dt ∂x2 dt
2 cos t
= (2 sin t cos t) cos t + sin t + e (− sin t) .
Se r > 1, tem-se o resultado:
Proposição 1.2.16 (Regra da cadeia)
Seja f (x1 , x2 , . . . , xn ) uma função real nas n variáveis reais x1 , x2 , . . . , xn . Suponha-se que
existem as derivadas parciais de 1a ordem das funções
x1 = x1 (t1 , t2 , . . . , tr ), x2 = x2 (t1 , t2 , . . . , tr ) . . . , xn = xn (t1 , t2 , . . . , tr ) ,
no ponto t0 = (t01 , t02 , . . . , t0r ). Suponha-se ainda que f é diferenciável em
x0 = (x1 (t01 , t02 , . . . , t0r ), x2 (t01 , t02 , . . . , t0r ), . . . , xn (t01 , t02 , . . . , t0r )) .
Então existem as derivadas parciais de 1a ordem da função
h(t1 , t2 , . . . , tr ) = f (x1 (t1 , t2 , . . . , tr ), x2 (t1 , t2 , . . . , tr ), . . . , xn (t1 , t2 , . . . , tr ))
em t0 e são dadas por
X ∂f n
∂h 0 ∂xi 0
(t ) = (x0 ) (t ) .
∂tj i=1
∂xi ∂tj
∂z ∂z 3 ∂x ∂z 3 ∂y
(3, 4) = ( , 1) (3, 4) + ( , 1) (3, 4)
∂v ∂x 4 ∂v ∂y 4 ∂v
2
−3 x
= [2x ln y] × + 3 × (−2)
x = 34 16 y x= 4
y=1 y=1
9
= − .
8
1.2.13 Exercı́cios
x = √ 3t2
1. Calcule du sendo u = ln (sin x
y) e .
dt y = 1 + t2
∂u ∂u 2 xy 2 x = s2 t
2. Calcule e sendo u = x e + y sin(xy) e .
∂s ∂t y = s et
y2 1 + ln y) , prove que y z + x2 z = y 2 .
5. Sendo z = 2 + φ( x y x
1
6. Considere a função h definida por h(x, y) = f , onde f é uma função
x2 + y 2
real de variável real diferenciável. Se g(u, v) = h(x(u, v), y(u, v)) e x(u, v) = u cos v,
y(u, v) = u sin v,
∂g
(a) verifique que (u, v) = 0;
∂v
∂g
(b) calcule (1, 0), sabendo que f 0 (1) = 2.
∂u
7. A função f (u, v, w) é diferenciável e as suas derivadas satisfazem
fu (α, α, β) = fv (α, α, β) = αβ
fw (α, α, β) = α2 − β 2 .
2.Determine as derivadas parciais de 2a ordem das funções f (u, v) nos seguintes casos:
(a) Calcule as derivadas parciais de 1a¯ ordem de F em função das derivadas parciais
de g;
(b) Sabendo que g e as suas derivadas satisfazem as seguintes relações
g(0, β) = 2β
∂2F
guv (0, β) = gu (0, β)gv (0, β) = β, mostre que (0, 1) = 1.
∂y∂x
i
↓
ebi = (0, . . . , 0, 1 , 0, . . . , 0) , i = 1, 2, . . . , n
Cristina Caldeira 47
(usa-se o sı́mbolo b em vez de ~ para enfatizar que se trata de um vector unitário, isto é,
um vector com norma 1) tem-se
f : D ⊆ R2 −→ R
(x, y) 7−→ f (x, y)
Fig. 1.2.8
Fig. 1.2.9
−−−→
f (x0 + hu1 , y0 + hu2 ) − f (x0 , y0 ) k P h Qh k
lim = lim− .
h→0− h h→0 h
−−−→
b tem norma 1 e h < 0, h = −khb
Uma vez que u uk = −kP0 Qh k e portanto
−−−→ −−−→
k P h Qh k k P h Qh k
lim
h→0− h
= lim− −−−→ = − h→0
h→0 −kP0 Qh k
lim− tg αh .
Fig. 1.2.10
Cristina Caldeira 49
−−−→
f (x0 + hu1 , y0 + hu2 ) − f (x0 , y0 ) −kPh Qh k
lim = lim+ .
h→0+ h h→0 h
−−−→
Neste caso h = khbuk = kP0 Qh k e portanto
−−−→ −−−→
−kPh Qh k −kPh Qh k
lim = lim+ −−−→ = − lim+ tg αh .
h→0+ h h→0 k P 0 Qh k h→0
Se a função
f : D ⊆ Rn −→ R
(x1 , x2 , . . . , xn ) 7−→ f (x1 , x2 , . . . , xn )
admite todas as derivadas parciais de 1a ordem em x0 = (x01 , x02 , . . . , x0n ) ∈ D, define-se o
vector gradiente de f em x0 ,
0 ∂f 0 ∂f 0 ∂f 0
∇f (x ) = (x ), (x ), . . . , (x ) .
∂x1 ∂x2 ∂xn
Este vector pode também ser designado por grad f (x0 ).
No caso da função ser diferenciável em x0 , ponto interior de D, as derivadas direccionais
de f em x0 podem ser calculadas facilmente usando a proposição seguinte.
Demonstração: Considere-se a função real de uma variável real definida num intervalo
aberto centrado em 0 por
xi : h 7→ x0i + hvi , i = 1, 2, . . . , n
50 Textos de Apoio de Análise Matemática III
f (x01 + hv1 , x02 + hv2 , . . . , x0n + hvn ) − f (x01 , x02 , . . . , x0n ) g(h) − g(0)
lim = lim = g 0 (0) .
h→0 h h→0 h
Assim, existe a derivada direccional de f em x0 segundo ~v e
Xn
0 0 ∂f 0
D~v f (x ) = g (0) = (x ) vi .
i=1
∂xi
onde θ designa o ângulo entre ∇f (x0 ) e ub. Uma vez que −1 ≤ cos θ ≤ 1, o máximo é
k∇f (x )k e é atingido quando cos θ = 1, ou seja, quando θ = 0 e portanto ∇f (x0 ) e u
0
b têm
a mesma direcção e o mesmo sentido.
1.2.15 Exercı́cios
1. Usando a definição , calcule as derivadas direccionais das funções seguintes nos pontos
P0 dados e segundo o vector ~v indicado.
̂
(a) f (x, y) = ex tg y + 2x2 y ; P0 = (0, π √ı̂
4 ) ; ~v = − 2 + 2 .
√
2̂
(a) Calcule Dv̂ f (0, 0) , onde ~v = − √ı̂ + √ .
5 5
5. Seja f : R2 → R uma função tal que fx (0, 0) = fy (0, 0) = 0 . Sabendo que, para um
dado vector unitário û do plano, Dû f (0, 0) = 3, prove que f não é diferenciável em
(0, 0).
6. Determine os vectores ~v , não nulos, para os quais existe D~v f (P0 ), sendo
52 Textos de Apoio de Análise Matemática III
p
(a) f (x, y) = x2 + y 2 , P0 = (0, 0);
p
(b) f (x, y) = |xy| , P0 = (0, 0);
2
xy se y ≥ 0
(c) f (x, y) = , P0 = (0, 0).
x3 se y < 0
7. Seja f : R2 → R definida por f (x, y) = x2 + y 2 cos x . Indique todos os vectores
unitários v̂ onde a derivada direccional atinge os seguintes valores:
8. Num mapa topográfico de uma região montanhosa, faça coincidir a Rosa dos Ventos
com o referencial ortonormado usual XOY , por forma a que o semi-eixo positivo OY
tenha a “direcção Norte”. A altitude em cada ponto (x, y) representado no mapa é
dada, em metros, pela função h(x, y) = 3000 − 2x2 − y 2 . Suponha que um alpinista
se encontra no ponto (30,-20), sobre a curva de nı́vel de valor 800 da função h.
Exemplo 1.3.1
f : R2 \ {(0, 0)} −→ R
3
x 3y 2
(x, y) 7−→ , ,x − y
x2 + y 2 x2 + y 2
é uma função vectorial de 2 variáveis reais.
se
∀ε > 0 ∃δ > 0 : (0 < kx − akn < δ ∧ x ∈ D) ⇒ kf (x) − bkm < ε . (1.22)
Se a ∈ D é um ponto de acumulação de D, diz-se que fé contı́nua em a se existe o
limite de f quando x tende para a e este limite é igual a f (a). Se a é um ponto isolado de
D, por definição, f é contı́nua em a.
Na prática o cálculo de limites e o estudo da continuidade de uma função f : D ⊆
R → Rm reduz-se ao cálculo de limites e ao estudo da continuidade de m funções reais de n
n
f3 : R2 \ {(0, 0)} −→ R
e .
(x, y) 7−→ x − y
f : D ⊆ Rn −→ Rm
,
x 7−→ f (x) = (f1 (x), f2 (x), . . . , fm (x))
Fixe-se i ∈ {1, 2, . . . , m}. Seja ε > 0, qualquer. De (1.23) conclui-se que existe δ > 0 tal
que
(0 < kx − akn < δ ∧ x ∈ D) ⇒ kf (x) − bkm < ε .
Mas
v
uX
u m
kf (x) − bkm = t (fj (x) − bj )2
j=1
≥ |fi (x) − bi |
e portanto
(0 < kx − akn < δ ∧ x ∈ D) ⇒ |fi (x) − bi | < ε ,
concluindo-se que
lim fi (x) = bi .
x→a
Seja δ = min{δ1 , δ2 , . . . , δm }.
Para funções vectoriais são válidos resultados análogos aos das proposições 1.2.6 (partes
1. e 2.), 1.2.8 (para a soma de funções) e 1.2.10:
∂fi
À matriz m × n, presente na igualdade (1.25), que na linha i, coluna j tem (a),
∂xj
chama-se matriz Jacobiana de f no ponto a e representa-se por Jf (a). Se m = 1, Jf (a) =
∇f (a)t .
f : R2 −→ R2
.
(x, y) 7−→ (x2 y, cos(xy))
f1 : R2 −→ R f2 : R2 −→ R
e .
(x, y) 7−→ x2 y (x, y) 7−→ cos(xy)
Cristina Caldeira 57
f : A ⊆ Rn −→ Rm
x = (x1 , . . . , xn ) 7−→ (f1 (x), f2 (x), . . . , fm (x))
g : B ⊆ Rm −→ Rk
y = (y1 , . . . , ym ) 7−→ (g1 (y), g2 (y), . . . , gk (y))
duas funções vectoriais tais que f (A) ⊆ B. Pode considerar-se a função composta
g ◦ f : A ⊆ Rn −→ Rk
.
x 7−→ g(f (x)) = (g1 (f (x)), g2 (f (x)), . . . , gk (f (x)))
hi : A ⊆ Rn −→ R
, i = 1, 2, . . . , k .
x 7−→ gi (f (x)) = (gi ◦ f )(x)
X ∂gi m
∂hi ∂f`
(a) = (f (a)) (a) , i = 1, 2, . . . , k, j = 1, 2, . . . , n .
∂xj `=1
∂y` ∂xj
Uma vez que f e g são diferenciáveis nos respectivos domı́nios, da proposição anterior
obtém-se
1.3.2 Exercı́cios
1. Considere o campo de vectores definido por
p
2 2 1 3x2 y 2 2
f (x, y) = (x + 2y ) sin , 2 + 1, x + y .
xy x + 2y 2
3. Seja ~u = 3ı̂ − 5̂. Determine D~u g(π, −2, 1) e D~u ϕ(0, π4 , π4 ) sendo g e ϕ as funções
definidas no exercı́cio anterior.
f : R2 −→ R3
.
(x, y) 7−→ (x + y 2 , xy, ey )
f : R3 −→ R2 e g : R2 −→ R3
(x, y, z) 7−→ (x + y 2 , xy 2 z) (s, t) 7−→ (s2 + t, st, et ) .
~r : [a, b] ⊆ R −→ R3
t 7−→ ~r(t) = (r1 (t), r2 (t), r3 (t))
= r1 (t)ı̂ + r2 (t)̂ + r3 (t)k̂ ,
Fig. 1.3.1
As equações
x = r1 (t)
y = r2 (t) , t ∈ [a, b]
z = r3 (t)
dizem-se equações paramétricas de C.
−→
O ponto A da curva C tal que OA = ~r(a) é o ponto inicial da curva e o ponto B tal
−−→
OB = ~r(b) é o ponto final. Para simplificar a linguagem muitas vezes confundiremos o
−→
ponto P da curva tal que OP = ~r(t) com o vector ~r(t) aplicado na origem e do qual P é
a extremidade. Assim, abreviadamente diz-se que ~r(a) é o ponto inicial e ~r(b) é o ponto
final. A multiplicidade de um ponto P da curva C é o cardinal do conjunto
−→
{t ∈ [a, b] : ~r(t) = OP } .
60 Textos de Apoio de Análise Matemática III
Ao longo deste curso uma curva no espaço não será vista meramente como um conjunto
de pontos. Uma curva tem um sentido, um ponto inicial, um ponto final, e cada ponto da
curva tem uma multiplicidade.
Vejamos alguns exemplos.
O ponto inicial é (0, 0, 0), o ponto final é (2π, 0, 2π) e todos os pontos têm multiplicidade
1.
Fig. 1.3.2
O ponto inicial e o ponto final coincidem com (1, 0, 0). Todos os pontos de C têm
multiplicidade 1, com excepção do ponto (1, 0, 0) que tem multiplicidade 2. As equações
x = cos(2t)
y = sin(2t) , t ∈ [0, π]
z=0
não é C, porque neste caso todos os pontos têm multiplicidade 2, com excepção do ponto
(1, 0, 0) que tem multiplicidade 3.
Cristina Caldeira 61
não é C, porque esta curva tem ponto inicial (0, 1, 0) e o ponto inicial de C é (1, 0, 0).
~r : [a, b] ⊆ R −→ R3
t 7−→ ~r(t) = (r1 (t), r2 (t), r3 (t))
Fig. 1.3.3
62 Textos de Apoio de Análise Matemática III
Fig. 1.3.4
Cristina Caldeira 63
Seja então C uma curva do espaço que está contida na superfı́cie S e que contem P0 .
Seja
~r : [a, b] ⊆ R −→ R3
t 7−→ ~r(t) = (r1 (t), r2 (t), r3 (t))
−−→
uma função vectorial que parametriza C e suponha-se que ~r(t0 ) = OP0 (t0 ∈ [a, b]), que
~r(t) é diferenciável em t0 e que ~r 0 (t0 ) 6= 0. Uma vez que a curva C está contida na superfı́cie
S tem-se
f (r1 (t), r2 (t), r3 (t)) = k , ∀t ∈ [a, b] .
Derivando ambos os membros em ordem a t em t0 (regra da cadeia) obtém-se
são equações paramétricas da recta normal a S em P0 , concluindo-se que essa recta coincide
com o eixo dos ZZ.
Uma equção cartesiana do plano tangente a S em P0 é
Estamos agora na posse dos conhecimentos necessários para obter uma interpretação
geométrica do diferencial total de uma função real de 2 variáveis reais.
Seja f (x, y) uma função real de 2 variáveis reais de domı́nio D e diferenciável em
(x0 , y0 ) ∈ int(D). Considere-se uma variável dependente z = f (x, y) e designem-se por dx
e dy os acréscimos das variáveis independentes x e y. Recorde-se que o diferencial total
em (x0 , y0 ) da variável dependente z é dz = fx (x0 , y0 ) dx + fy (x0 , y0 ) dy.
Considere-se a porção de superfı́cie
e portanto a equação
x1 = x0 + dx ;
y1 = y0 + dy ;
z1 = z0 + fx (x0 , y0 ) dx + fy (x0 , y0 ) dy = z0 + dz .
Fig. 1.3.5
Cristina Caldeira 65
Sendo f diferenciável em (x0 , y0 ), (∆z − dz) → 0 quando (dx, dy) → (0, 0) e assim para
(x0 + dx, y0 + dy) suficientemente próximo de (x0 , y0 ) esta aproximação é boa. Assim, se f
é diferenciável em (x0 , y0 ), numa vizinhança de (x0 , y0 ) pode aproximar-se a superfı́cie S
(i.e. o gráfico de f ) pelo plano tangente a S em P0 = (x0 , y0 , f (x0 , y0 )).
1.3.4 Exercı́cios
1. Determine uma equação da recta tangente à curva C com equações paramétricas
dadas, no ponto P0 indicado.
x = cos t
(a) C : y = 2 sin t , t ∈ [0, 2π]; P0 = (−1, 0, π);
z=t
x = t2
(b) C : y=2 , t ∈ [0, 2]; P0 = (1, 2, −1).
z = −t3
2. Determine a equação do plano tangente às seguintes superfı́cies nos pontos indicados:
5. Prove que toda a recta normal a uma esfera passa no seu centro.
x2 + y 2 − z 2 − 2x = 0 .
Teorema 1.3.1 Sejam f uma função real de uma variável real de classe C 1 e ]a, b[ um
intervalo real tal que
f 0 (x) 6= 0 , ∀x ∈]a, b[ .
Então f é uma bijecção de ]a, b[ sobre um intervalo ]α, β[ e portanto é invertı́vel em ]a, b[.
Isto é, existe uma função g :]α, β[→]a, b[ tal que
(g ◦ f )(x) = x , ∀x ∈]a, b[
(f ◦ g)(y) = y , ∀y ∈]α, β[ .
(A função g nestas condições diz-se a função inversa de f em ]a, b[). Mais, g é de classe
C 1 em ]α, β[ e
1
g 0 (f (x)) = 0 , ∀x ∈]a, b[ .
f (x)
(i) a ∈ A e f (a) ∈ B;
não garante que a função f seja invertı́vel em B(a, δ), como se comprova através do exemplo
seguinte.
f : R2 −→ R2
.
(x, y) 7−→ (ex cos y, ex sin y)
Assim,
det Jf (x, y) 6= 0 , ∀(x, y) ∈ B((0, 2π), 2π) .
No entanto f (0, π/2) = (0, 1) = f (0, 5π/2) e portanto f não é invertı́vel em B((0, 2π), 2π),
porque não é injectiva em B((0, 2π), 2π).
f : R2 −→ R2
.
(x, y) 7−→ (exy , 2x − 2y)
Por exemplo, det Jf (0, 1) = −2 6= 0 e aplicando o teorema da função inversa conclui-se que
f é invertı́vel numa vizinhança de (0, 1). Designando por g a função que é a inversa de f
nessa vizinhança de (0, 1), tem-se ainda que
−1
−1 1 0 1 0
Jg (1, −2) = Jg (f (0, 1)) = Jf (0, 1) = = .
2 −2 1 −1/2
68 Textos de Apoio de Análise Matemática III
1.3.6 Exercı́cios
1. Mostre que a função vectorial definida por f (x, y, z) = (x2 − y 2 , xy, ez ) é invertı́vel
numa vizinhança de qualquer ponto (x0 , y0 , z0 ) ∈ R3 tal que x20 +y02 6= 0 e determine a
matriz Jacobiana, no ponto (1, 0, 1), da função g que é a inversa de f numa vizinhança
de (1, 0, 0).
Vejamos agora que a mesma equação não define implicitamente y como função de x em
qualquer vizinhança de (1, 0). Suponha-se que existem I intervalo real aberto contendo 1 e
f : I → R tais que f (1) = 0 e x2 + f (x)2 − 1 = 0, para todo o x ∈ I. Sendo I um intervalo
aberto e 1 um elemento de I, existe 0 < δ < 2 tal que 1 + δ ∈ I. Assim,
(i)
f ∈ C 1 (I) ;
f (x0 ) = y0 ;
F (x, f (x)) = 0 , ∀x ∈ I .
df Fx (x1 , f (x1 ))
(x1 ) = − .
dx Fy (x1 , f (x1 ))
g : D ⊆ R2 −→ R2
.
(x, y) 7−→ (x, F (x, y))
(u, v) = (g ◦ h)(u, v) = g(h1 (u, v), h2 (u, v)) = (h1 (u, v), F (h1 (u, v), h2 (u, v)))
e portanto
h1 (u, v) = u
.
F (h1 (u, v), h2 (u, v)) = v
Provou-se assim que
F (u, h2 (u, v)) = v , ∀(u, v) ∈ A2 . (1.31)
Atendendo à definição de g obtém-se que g(x0 , y0 ) = (x0 , F (x0 , y0 )) = (x0 , 0). Por outro
lado g(x0 , y0 ) ∈ A2 e este conjunto é aberto. Assim, existe δ > 0 tal que B((x0 , 0), δ) ⊆ A2 .
Seja I =]x0 − δ, x0 + δ[ e considere-se a função
f : I → R
.
x 7→ h2 (x, 0)
Uma vez que F é de classe C 1 em B pode concluir-se que F é diferenciável em (x1 , f (x1 )).
Por outro lado f é de classe C 1 em I e portanto é diferenciável em x1 . Pode então aplicar-se
a regra da cadeia para derivar ambos os membros da igualdade F (x, f (x)) = 0 em ordem
a x no ponto x1 , obtendo-se
dx df
Fx (x1 , f (x1 )) (x1 ) + Fy (x1 , f (x1 )) (x1 ) = 0 .
dx dx
Assim, se Fy (x1 , f (x1 )) 6= 0, obtém-se
df Fx (x1 , f (x1 ))
(x1 ) = − .
dx Fy (x1 , f (x1 ))
1.4.2 Exercı́cios
1. Mostre que a equação x2 + y 2 − z 2 − xy = 0 define z como função implı́cita de x e y
numa vizinhança do ponto (1, 1, 1) e calcule ∂z (1, 1) e ∂z (1, 1) .
∂x ∂y
y z
2. Suponha que a equação f ( x , x ) = 0 define z como função implı́cita de x e y nas
condições do teorema da função implı́cita. Mostre que então x ∂z + y ∂z = z .
∂x ∂y
5. Seja f (θ) uma função com derivada contı́nua, para todo o θ ∈ R, e tal que f (1) = e+2.
2
(a) Prove que a equação z2 + exy = f ( x
y ) define z como função implı́cita de x e y
numa vizinhança do ponto (1, 1, −2).
∂z ∂z
(b) Prove que x +y = e.
∂x ∂y (1,1)
(a) Prove que a equação (z +f (x, y))(z +f (y, x)) = 1 define z como função implı́cita
de x e y numa vizinhança do ponto (1, 2, 1).
(b) Calcule zx (1, 2) .
7. Determine uma relação do tipo F (x, y, z) = 0 que defina z como função implı́cita de
x e y, com domı́nio R2 , e satisfazendo
4x3 y
∂z = 2
∂x 3z + 1
.
z(1, y) = y
(a) Mostre que a equação dada define z como função implı́cita de x e y numa
vizinhança do ponto (3, −3, 1).
2
(b) Calcule ∂z (3, −3) , ∂z (3, −3) e ∂ z (3, −3).
∂x ∂y ∂x∂y
9. Sejam f , g e h funções diferenciáveis. Sabendo que a relação f [g(xy, zx)] = 0 define
implicitamente z = h(x, y), prove que
∂z ∂z
x −y = −z .
∂x ∂y
(a) Prove que numa vizinhança de (1, 1/2, 2/e) esta equação define x como função
implı́cita de y e z.
∂x 1 2 ∂2x 1 2
(b) Calcule , e , .
∂y 2 e ∂z∂y 2 e
1 2 1 m
f (x0 + u1 , y0 + u2 ) = f (x0 , y0 ) + D~u f (x0 , y0 ) + D~u f (x0 , y0 ) + · · · + D f (x0 , y0 )
2! m! ~u
1
+ Dm+1 f (x0 + θu1 , y0 + θu2 ) , com θ ∈]0, 1[ . (1.32)
(m + 1)! ~u
Pode pois definir-se uma função real de uma variável real por
ϕ : I −→ R
t 7−→ f (x0 + tu1 , y0 + tu2 ) ,
74 Textos de Apoio de Análise Matemática III
r r
sendo I = − , .
k~uk k~uk
Para t ∈ I, usando a regra da cadeia, obtém-se
d d
ϕ0 (t) = fx (x0 + tu1 , y0 + tu2 ) (x0 + tu1 ) + fy (x0 + tu1 , y0 + tu2 ) (y0 + tu2 )
dt dt
= fx (x0 + tu1 , y0 + tu2 )u1 + fy (x0 + tu1 , y0 + tu2 )u2
= h∇f (x0 + tu1 , y0 + tu2 ), ~ui
= D~u f (x0 + tu1 , y0 + tu2 ) .
e que ϕ é de classe C m+1 em I. Uma vez que (x0 + u1 , y0 + u2 ) ∈ B, k~uk = d((x0 , y0 ), (x0 +
u1 , y0 + u2 )) < r. Então 1 ∈ I. Obviamente também 0 ∈ I. A fórmula de MacLaurin para
a função ϕ permite obter
1 (2) 1 (m) 1
ϕ(1) = ϕ(0) + ϕ0 (0) + ϕ (0) + · · · + ϕ (0) + ϕ(m+1) (θ) ,
2! m! (m + 1)!
Observação 1.4.1 A fórmula (1.32) costuma ser designada por fórmula de Taylor de
ordem m de f em torno de (x0 , y0 ).
À soma
1 2 1 m
f (x0 , y0 ) + D~u f (x0 , y0 ) + D~u f (x0 , y0 ) + · · · + D f (x0 , y0 )
2! m! ~u
chama-se expansão de Taylor de ordem m de f em torno de (x0 , y0 ), e a
1
Dm+1 f (x0 + θu1 , y0 + θu2 )
(m + 1)! ~u
Lema 1.4.1 Seja f uma função de classe C p num aberto de R2 , D. Para (x0 , y0 ) ∈ D,
λ ∈ R, ~v = (v1 , v2 ) ∈ R2 e k = 1, 2, . . . , p tem-se
k k k
Dλ~v f (x0 , y0 ) = λ D~v f (x0 , y0 ) .
Cristina Caldeira 75
= λk Dk f (x0 , y0 ) .
~v
Por uma questão de simplificar a notação representaremos, no que se segue, o versor
de um vector ~v 6= ~0 por vb. Isto é,
1
vb = ~v .
k~v k
Observação 1.4.2 O resto da fórmula de Taylor pode ser escrito de outra forma. Para
f , (x0 , y0 ) e ~u = (u1 , u2 ) ∈ R2 \ {~0} nas condições do teorema de Taylor defina-se
X
m+1
m+1
um+1−k uk2
∂ m+1 f
1
α(u1 , u2 ) = (x0 + θ(u1 , u2 )u1 , y0 + θ(u1 , u2 )u2 )
k (u21 + u22 )
m+1
2 ∂xm+1−k ∂y k
k=0
∂ m+1 f
− m+1−k k (x0 , y0 ) .
∂x ∂y
Para cada k,
" #2
um+1−k
1 uk2
m+1 ≤1
(u21 + u22 ) 2
e portanto a função
um+1−k
1 uk2
(u1 , u2 ) 7→ m+1
(u21 + u22 ) 2
é limitada.
Por outro lado, sendo f de classe C m+1 numa vizinhança de (x0 , y0 ) e θ(u1 , u2 ) ∈]0, 1[,
∂ m+1 f ∂ m+1 f
lim (x0 + θ(u1 , u2 )u1 , y0 + θ(u1 , u2 )u2 ) − m+1−k k (x0 , y0 ) = 0 .
(u1 ,u2 )→(0,0) ∂xm+1−k ∂y k ∂x ∂y
Então
lim α(~u) = 0 .
u→~0
~
1 k~ukm+1 m+1
Dm+1 f (x0 + θ(~u)u1 , y0 + θ(~u)u2 ) = D f (x0 + θ(~u)u1 , y0 + θ(~u)u2 )
(m + 1)! ~u (m + 1)! u b
k~ukm+1 h m+1 i
= D f (x0 , y0 ) + α(~u) ,
(m + 1)! u
b
Observação 1.4.3 Para funções reais de n > 2 variáveis reais definem-se as derivadas
direccionais de ordem superior à primeira da mesma maneira que para funções reais de 2
variáveis e é também válido o teorema de Taylor.
f : D ⊆ Rn −→ R
(x1 , x2 , . . . , xn ) 7−→ f (x1 , x2 , . . . , xn )
∀x ∈ D , f (x) ≥ f (a) .
∀x ∈ D , f (x) ≤ f (a) .
Veremos primeiro como determinar os pontos extremantes (caso existam) que pertencem
ao interior do domı́nio da função. As condições necessárias para a existência de um extremo
local num ponto interior do domı́nio, dadas na proposição seguinte, são conhecidas como
condições de 1a ordem ou de estacionaridade.
Exemplo 1.4.4 Vejamos que o ponto (0, 0) é um ponto crı́tico da função f (x, y) = x 3 −2y 3 ,
definida em R2 , mas não é um ponto extremante.
fx (0, 0) = 3x2 (0,0) = 0 e fy (0, 0) = −6y 2 (0,0) = 0 ,
e portanto toda a bola aberta centrada em (0, 0) contém pontos onde f assume valores
estritamente inferiores a f (0, 0) e contém pontos onde f assume valores estritamente su-
periores a f (0, 0).
Z
z=x 3-2y 3
O
Y
X
Fig. 1.4.1
Como saber se um dado ponto crı́tico é um ponto extremante? Claro que se pode tentar
fazer o estudo directo da natureza do ponto, como no exemplo anterior, mas, regra geral,
esse estudo não é simples.
Observe-se que se a é um ponto crı́tico situado no interior do domı́nio da função e se
esta for diferenciável em a, para qualquer vector ~v ∈ Rn ,
D E
D~v f (a) = h∇f (a), ~v i = ~0, ~v = 0 .
(b) Se m é par e D m f (a) > 0 para todo o ~v ∈ Rn \ {~0} então f tem um mı́nimo local em
~v
a;
(c) Se m é par e D m f (a) < 0 para todo o ~v ∈ Rn \ {~0} então f tem um máximo local em
~v
a;
(d) Se m é par e existem ~u, ~v ∈ Rn tais que D m f (a) < 0 e D m f (a) > 0 então a não é
~v ~u
extremante para f ;
m−1
X 1 k
f (a1 + λv1 , a2 + λv2 ) − f (a1 , a2 ) = D f (a1 , a2 ) +
k=0
k! λ~v
1 m
D f (a1 + θλv1 , a2 + θλv2 )
m! λ~v
λm k~v km m
= Dvb f (a1 + θλv1 , a2 + θλv2 ) , (1.33)
m!
com θ ∈]0, 1[ .
Então para 0 < λ < δ, D m f (a1 + θλv1 , a2 + θλv2 ) tem o sinal de D m f (a1 , a2 ) e portanto
vb vb
de (1.33) conclui-se que o mesmo acontece com f (a1 + θλv1 , a2 + θλv2 ) − f (a1 , a2 ).
e
0 < λ < δ2 ⇒ f (a1 + λu1 , a2 + λu2 ) < f (a1 , a2 ) .
Seja B((a1 , a2 ), r0 ) uma qualquer bola aberta centrada em (a1 , a2 ) e considerem-se
0 0
0 r 0 r
δ1 = min , δ1 , δ2 = min , δ2 , 0 < λ1 < δ10 , e 0 < λ2 < δ20 .
k~v k k~uk
As derivadas parciais de f de segunda ordem são fx2 = 2, fxy = fyx = −14y e fy2 =
−14x + 120y 2 .
Assim, da proposição 1.2.19 conclui-se que, para ~v = (v1 , v2 ),
D~v2 f (0, 0) = fx2 (0, 0)v12 + 2fxy (0, 0)v1 v2 + fy2 (0, 0)v22 = 2v12 .
D~v3 f (0, 0) = fx3 (0, 0) × 0 + 3fx2 y (0, 0) × 0 + 3fxy2 (0, 0) × 0 + fy3 (0, 0) × v23 = 0
e
D~v4 f (0, 0) = fy4 (0, 0)v24 = 240v24 > 0 .
Cristina Caldeira 83
Está-se no caso (e3) e nada se pode concluir. Terá de se estudar directamente a natureza
do ponto.
Observe-se que f (x, y) = (x − 5y 2 )(x − 2y 2 ).
x − 5y 2 = 0 e x − 2y 2 = 0 são as equações de 2 parábolas de vértice na origem e que só
se intersectam precisamente na origem.
Fig. 1.4.2
Assim, em qualquer vizinhança de (0, 0) existe um ponto, P1 = (x1 , y1 ), situado entre as
2 parábolas, isto é, tal que 2y12 < x1 < 5y12 . E f (x1 , y1 ) = (x1 −5y12 )(x1 −2y12 ) < 0 = f (0, 0).
Em qualquer vizinhança de (0, 0) existe também um ponto, P2 = (x2 , 0), com x2 6= 0.
E f (x2 , 0) = x22 > 0.
Conclui-se assim que (0, 0) não é extremante e que f não tem extremos locais.
Exemplo 1.4.6 Consideremos a função f (x, y, z) = xy+x2 +y 2 +z 2 . As derivadas parciais
de 1a ordem de f são fx = y + 2x, fy = x + 2y e fz = 2z, concluindo-se facilmente que
(0, 0, 0) é o único ponto crı́tico de f .
Neste exemplo temos uma função de 3 variáveis e portanto já não se pode usar a
proposição 1.2.19 para calcular as derivadas direccionais de ordem superior à primeira.
Seja ~v = (v1 , v2 , v3 ) ∈ R3 \ {~0} e considere-se a função
g(x, y, z) = D~v f (x, y, z) = h∇f (x, y, z), ~v i = (y + 2x)v1 + (x + 2y)v2 + 2zv3 .
∇g(x, y, z) = (2v1 + v2 , v1 + 2v2 , 2v3 ) e portanto
D2 f (0, 0, 0) = D~v g(0, 0, 0) = h∇g(0, 0, 0), ~v i = 2v12 + v1 v2 + 2v22 + v1 v2 + 2v32
~v
= v12 + v22 + 2v32 + (v1 + v2 )2 > 0 .
f tem em (0, 0, 0) um mı́nimo local e esse mı́nimo é f (0, 0, 0) = 0.
Para funções de 2 variáveis e no caso de ser também m = 2 pode-se usar uma versão
simplificada do teorema anterior.
Sejam f : D ⊆ R2 −→ R, (x0 , y0 ) ∈ int(D) e f de classe C 2 numa vizinhança de (x0 , y0 ).
A matriz Hessiana de f em (x0 , y0 ) é a matriz
2
∂ f ∂2f
∂x2 (x0 , y0 ) ∂x∂y (x0 , y0 )
H(x0 , y0 ) =
2
.
∂ f 2
∂ f
(x0 , y0 ) (x 0 , y 0 )
∂y∂x ∂y 2
84 Textos de Apoio de Análise Matemática III
Uma vez que se está nas condições do teorema de Schwarz a matriz H(x0 , y0 ) é simétrica,
isto é, coincide com a sua transposta.
O Hessiano de f em (x0 , y0 ) é o determinante da matriz Hessiana,
∂2f
(1) Se ∆(x0 , y0 ) > 0 e (x0 , y0 ) > 0 então f tem em (x0 , y0 ) um mı́nimo local;
∂x2
∂2f
(2) Se ∆(x0 , y0 ) > 0 e (x0 , y0 ) < 0 então f tem em (x0 , y0 ) um máximo local;
∂x2
(3) Se ∆(x0 , y0 ) < 0 então (x0 , y0 ) não é ponto extremante para f .
Demonstração:
Partes (1) e (2):
Para λ ∈ R considere-se o vector ~u = (λ, 1) = λı̂ + ̂.
X2
2 2 ∂2f
D~u f (x0 , y0 ) = λ2−k 1k 2−k k (x0 , y0 )
k ∂x ∂y
k=0
∂2f 2 ∂2f ∂2f
= (x ,
0 0y )λ + 2λ (x ,
0 0y ) + (x0 , y0 ) . (1.36)
∂x2 ∂x∂y ∂y 2
∂2f
e portanto D 2 f (x0 , y0 ) é diferente de zero e tem o sinal de (x0 , y0 ).
~v ∂x2
Se v2 = 0 terá de ser v1 6= 0 e também (proposição 1.2.19)
∂2f
D~v2 f (x0 , y0 ) = v12 2 (x0 , y0 ) .
∂x
Cristina Caldeira 85
Está-se então em condições de aplicar o teorema anterior (parte (b) ou parte (c))
∂2f
concluindo-se que (x0 , y0 ) é um ponto minimizante de f se (x0 , y0 ) > 0 e que (x0 , y0 ) é
∂x2
2
∂ f
um ponto maximizante de f se (x0 , y0 ) < 0.
∂x2
Parte (3):
Tal como em (1) e (2), para λ ∈ R,
2 ∂2f
Dλı̂ + ̂ f (x0 , y0 ) tem o sinal de (x0 , y0 ) para λ ∈] − ∞, λ1 [∪]λ2 , +∞[
∂x2
e
2 ∂2f
Dλı̂ + ̂ f (x0 , y0 ) tem o sinal de − ∂x2
(x0 , y0 ) , para λ ∈]λ1 , λ2 [ .
Do teorema anterior conclui-se que (x0 , y0 ) não é extremante.
∂2f ∂2f
No caso de se ter (x 0 , y 0 ) = 0 e (x0 , y0 ) 6= 0 considerando vectores da forma
∂x2 ∂y 2
ı̂ + λ̂ chega-se à mesma conclusão.
∂2f ∂2f ∂2f
Se (x 0 , y 0 ) = (x 0 , y 0 ) = 0, por hipótese terá de ser (x0 , y0 ) 6= 0.
∂x2 ∂y 2 ∂x∂y
2 ∂2f 2
Se λ > 0, Dλı̂ + ̂ f (x ,
0 0y ) tem o sinal de (x0 , y0 ) e D−λı̂ − ̂ f (x0 , y0 ) tem o sinal
∂x∂y
contrário, concluindo-se também que (x0 , y0 ) não é ponto extremante.
e uma vez que fx2 (1, 1) < 0, conclui-se que (1, 1) é um ponto maximizante de f . Assim f
atinge um máximo local no ponto (1, 1) e esse máximo é f (1, 1) = e−2 .
86 Textos de Apoio de Análise Matemática III
f : D = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 ≤ 1} −→ R
.
(x, y) 7−→ 2x2 − 2y 2
Já sabemos como determinar os extremos locais que, eventualmente, f tenha no interior
de D. Falta ver como podemos averiguar da existência de extremos na fronteira de D que
é a curva de equação x2 + y 2 = 1.
Isto é um problema de extremos condicionados ou extremos ligados - determinação de
possı́veis pontos extremantes de uma função sujeitos a equações de ligação - que iremos
procurar resolver usando o método dos multiplicadores de Lagrange.
Suponha-se que se tem uma função
f : D ⊆ R2 −→ R
,
(x, y) 7−→ f (x, y)
C = {(x, y) ∈ R2 : g(x, y) = 0} ,
ou seja,
h∇g(x0 , y0 ), (1, ϕ0 (x0 ))i = 0 . (1.38)
Seja r o raio da bola aberta B. A função vectorial
I −→ R2
x 7−→ (x, ϕ(x))
Cristina Caldeira 87
é contı́nua em x0 porque as suas componentes são contı́nuas em x0 . Então existe δ > 0 tal
que
(x, ϕ(x)) ∈ C ⊆ D , ∀x ∈ I .
(x, ϕ(x)) ∈ B ∩ D , ∀x ∈ I 0 .
h : I 0 −→ R
.
x 7−→ f (x, ϕ(x))
Para todo o x ∈ I 0 ,
h(x) = f (x, ϕ(x)) ≤ f (x0 , y0 ) = h(x0 )
e portanto h tem um extremo em x0 . Uma vez que h é derivável em x0 (regra da cadeia)
terá de ser h0 (x0 ) = 0. Isto é,
0 = h0 (x0 )
= fx (x0 , y0 ) + fy (x0 , y0 )ϕ0 (x0 )
= h∇f (x0 , y0 ), (1, ϕ0 (x0 ))i . (1.39)
Observe-se que os vectores gradiente das funções que definem as equações de ligação são
(2x, 2y, 2z) e (1, 1, 1) sendo portanto linearmente independentes quando calculados em
qualquer ponto da circunferência dada.
2(λ1 − 1)x = −λ2
(2x, −2y, −2z) = λ1 (2x, 2y, 2z) + λ2 (1, 1, 1) 2(λ1 + 1)y = −λ2
x+y+z =0 ⇔ 2(λ1 + 1)z = −λ2 .
2
x + y2 + z2 = 1
x +y+z =0
2
x + y2 + z2 = 1
Se λ1 6= 1 e λ1 6= −1 obtém-se
−λ2
x = 2(λ1 −1)
x = 2(λ−λ 2
1 −1) x = 3λ4 2
y = −λ 2
−λ2
y = 2(λ1 +1)
y = −3λ 2
2(λ1 +1) 8
−λ2 −λ2 −3λ2
z = 2(λ1 +1) ⇔ z = 2(λ1 +1) ⇔ z= 8
x + y + z = 0
λ2 (−3λ1 + 1) = 0
λ1 = 13
2
2
x +y +z =1 2
x2 + y 2 + z 2 = 1 x2 + y 2 + z 2 = 1
Cristina Caldeira 91
√ √
6 6
x = x = −
3 √
√ 3
y = − √66
y = √66
⇔ z = − 66 ∨ z = 66 .
1 1
λ1 = 3√
λ1 = 3 √
4 6
λ2 = 9 λ2 = − 4 9 6
√ √ ! √ √ ! √ √ √ !
2 2 2 2 6 6 6
P1 = 0, − , , P2 = 0, ,− , P3 = ,− ,−
2 2 2 2 3 6 6
√ √ √ !
6 6 6
e P4 = − , , . Uma vez que f (P1 ) = f (P2 ) = −1 e f (P3 ) = f (P4 ) = 13 , conclui-
3 6 6
se, por aplicação do teorema de Weierstrass, que os valores extremos de f na circunferência
dada são −1 e 13 .
1.4.5 Exercı́cios
1. Determine os extremos das seguintes funções:
(e) f (x, y, z) = 4 − x2 ;
(f) f (x, y) = x2 + xy + y 2 + x − y + 1;
(i) f (x, y, z) = x3 − y 3 + z 3 ;
2. Seja F (x, y, z) = g(x2 + y 2 + z 2 ) onde g é uma função de classe C 1 com derivada não
nula em R.
(a) Supondo que g(1) = 0, verifique que a equação F (x, y, z) = 0 define, nas
condições do Teorema da Função Implı́cita, uma função x = h(y, z), numa
vizinhança do ponto (1, 0, 0).
(b) Averigue se (0, 0) é um ponto extremante de h.
(a) f (0, 0) = 1;
(b) f (0, 0) = −1.
2
4. Considere a seguinte equação , ez + x2 + y 2 − z2 = 1.
2
Nota: A equação ez − z2 − 1 = 0 tem uma única solução real, que é z = 0.
(d) f (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 ; x − y + z = 1;
2 2 x+y+z = 1
(e) f (x, y, z) = z − x − y ;
x2 + y 2 = 4.
Cristina Caldeira 93
7. De entre todos os paralelipı́pedos rectângulos em que a soma das medidas das arestas
é 12cm, qual é o que tem maior volume?
10. Uma dada empresa produz um certo artigo em 3 fábricas. Em cada uma delas
produzem-se x, y e z milhões de unidades do artigo, com despesa anual dada por
L(x, y, z) = 2(x2 + y 2 + z) + 500. No próximo ano comercial, a empresa vai produzir,
no total, quatro milhões de unidades de artigo. Sabendo que duas das fábricas
devem ter uma produção que satisfaça a restrição adicional x2 + y 2 = 2 (em milhões
de unidades), determine as quantidades x, y e z que cada fábrica deve produzir de
modo a minimizar a despesa anual.