Capítulo 2: Como atuam as psicoterapias: os agentes de mudança e as
principais estratégias e intervenções psicoterápicas.
Introdução
Neste capítulo será abordado as estratégias e intervenções
psicoterápicas utilizadas pelos diferentes métodos de psicoterapia: cognitivas (insight), comportamentais (aprendizagem), afetivas, ambientais ou sociais. As psicoterapias caracterizam-se pela atividade eminentemente colaborativa entre paciente e terapeuta. É um método que, em alguns casos, chega a ser o mais efetivo entre os dispostos, e um importante coadjuvante de outros métodos de tratamento, como os psicofármacos.
Fatores ou agentes de mudança em psicoterapia
Luborsky, ao explicar a ação psicoterapêutica, dividiu os fatores de
mudanças em dois grandes grupos: as técnicas utilizadas (englobam as diferentes intervenções do terapeuta, bem como a estruturação e condução das sessões); e a relação paciente-terapeuta (engloba os fenômenos de transferência, a aliança terapêutica e os aspectos reais da relação, bem como os fatores não-específicos).
Karasu sintetizou os agentes de mudanças nos seguintes itens:
experiência afetiva (clima favorável para expressão de emoções e realização da catarse); aumento das habilidades cognitivas (aquisição e integração de novos padrões de pensamentos e de percepção); regulação do comportamento (existência de um tipo de aprendizagem de controle de ações, hábitos e, consequentemente, mudanças de comportamento). Há de se incluir um novo item nessa proposta de Karasu, os fatores sociais, grupais e sistêmicos. A maioria das psicoterapias utilizam mais de um desses fatores.
Fatores de natureza cognitiva: psicoeducação, reestruturação
cognitiva e insight
Em todas as psicoterapias há um grau de ampliação das habilidades
cognitivas do paciente, através da aquisição e integração de novas percepções e correção das distorcidas, garantindo um aumento do autoconhecimento do paciente e da capacidade dele de ser introspectivo. A capacidade de ser introspectivo é uma condição importante para terapias, sendo um recurso valioso do qual as pessoas se utilizarão para resolver seus conflitos internos, e para perceber e avaliar de forma realista a realidade externa e capacitar-se a ter empatia com os outros.
A psicoeducação é utilizada para aumentar o conhecimento do paciente
sobre o transtorno, os sintomas e mecanismos envolvidos em sua origem e perpetuação. O segundo objetivo é familiarizar o paciente com o modelo de terapia, com os mecanismos e estratégias utilizadas para remover os sintomas e com a forma pela qual se dar essa remoção. Ela é realizada através de explicação do próprio terapeuta, e leituras ou consultas à internet destinadas ao paciente ou seus familiares.
A reestruturação cognitiva é utilizada para correção de distorções
cognitivas como forma de modificar o comportamento e as emoções. Espera-se mudanças nos pensamentos automáticos (pensamentos pré-conscientes, podendo ser realístico ou distorcido) e nas crenças subjacentes (estruturas cognitivas organizadas ao longo da vida, formando um campo coeso de afirmativas a respeito de si próprio, da realidade ou do futuro do paciente).
Insight (verdadeiro) é quando o paciente adquire consciência, pela
intuição, de suas motivações e sentimentos mais profundos. Tal conhecimento tem como consequência mudanças em aspectos de sua personalidade e em padrões de comportamento. É uma nova forma de perceber a natureza mais profunda das coisas. Ela é muito valorizada pelas psicoterapias de orientação analítica, e considerada o principal agente de mudança nestas psicoterapias.
O insight é obtido por meio de intervenções terapêuticas específicas,
sendo três intervenções típicas das psicoterapias: observação (o terapeuta chama a tenção para um comportamento, para um flash de uma emoção, tem como objetivo levar o paciente a uma relação colaborativa e a motivá-lo a explorar o significado de tais fatos); confrontações (tentativas de levar o paciente a derontar com algo que está evitando, em razão de emoções desagradáveis que podem ser trazidos a tona); interpretações (explanações feitas pelo terapeuta, propondo uma nova explicação de sintomas, emoções, pensamentos, comportamentos e motivações, até então desconhecida para o paciente, e tem como objetivo tornar conscientes conflitos envolvendo desejos, fantasias, impulsos, etc.)
Fatores comportamentais: aprendizagens
A mudança de comportamento é entendida como resultante de diversos
processos de aprendizagem e das leis que as regem oferecida pelo: condicionamento clássico (explica o comportamento como consequência de pareamento entre estímulos e emoções); condicionamento operante (condicionamento por meio de um reforço de algum tipo de comportamento); a aprendizagem social (as emoções podem ser aprendidas pela observação de outros indivíduos); e o fenômeno da habitação.
O terapeuta, seria assim, uma fonte de reforços. Embora o terapeuta evite
fazer sugestões, mostrar sinais de interesse por um tópico ou padrão de conduta pode ser percebido pelo paciente como gratificações transferenciais (reforçadores).
A Aprendizagem em um sentido mais amplo, Strupp afirma que mesmo
nas psicoterapias, o paciente aprende lições de vida. O terapeuta se apresenta como um “bom pai”, figura de autoridade, proporcionando ao paciente a oportunidade de aprender a viver construtivamente, interagindo socialmente de forma mais produtiva.
Além disso, esse relacionamento proporciona a extinção (no qual uma
resposta condicionada diminui e se extingue caso a pessoa, de forma repetida, tenha contato com o estímulo condicionado sem a presença do estimulo incondicionado) ou a habituação (ocorre uma diminuição espontânea das respostas do organismo a um estímulo não-nocivo, quando permanece em contato o tempo necessário ou quando o contato com o referido estímulo é retido).
As técnicas comportamentais mais utilizadas são: exposição in vivo, na
imaginação., virtual, inundação; prevenção de rituais; modelação; contingencia de reforços; role-playing; reversão de hábitos; técnicas para solução de problemas. A exposição in vivo é considerada a principal contribuição da escola comportamental. Fatores inerentes à relação terapêutica: o vínculo afetivo e a aliança de trabalho, a identificação com o terapeuta, o apoio e a catarse.
É necessário que o terapeuta consiga estabelecer um bom vinculo com o
paciente e vice-versa, para que o terapeuta consiga ajudar o paciente. Para isso, é exigido do terapeuta qualidades pessoas como empatia, interesse genuíno e competência profissional, que ele seja um profissional interessado em falar com as pessoas e se preocupe e cuide dos outros. Essas e outras características pessoais facilitarão a criação do vínculo, sendo este indispensável para uma boa aliança de trabalho.
A identificação com a pessoa do terapeuta é um processo pelo qual o
indivíduo assimila um aspecto, propriedade, ou atributo do outro (terapeuta), e se transforma segundo o modelo dessa pessoa. É inevitável que o paciente internalize aspectos reais da pessoa do terapeuta, especialmente aqueles os quais ele se identifica. Assim, ele pode imitar em padrões mais superficiais como modo de falar ou vestir, ou em aspectos mais profundos, como formas de pensar e agir.
O apoio é inerente a uma boa relação terapêutica, sendo comum em todas
as psicoterapias. Ele corresponde à aceitação incondicional do paciente, podendo anular padrões de desânimo e mudar sua visão negativa em relação a si mesmo e ao futuro. Essa função pode ser entendida como um suporte com aspectos semelhantes ao de uma boa relação mãe-filho, condição indispensável para a internalização de aspectos positivos do terapeuta e para o desenvolvimento e estruturação do ego.
A catarse é uma experiencia psicológica de alívio da tensão e da
ansiedade através do ato de narrar ou repetir na conduta experiencias passadas. Todas as terapias provocam algum grau de mobilização afetiva, desbloqueando a expressão dos afetos, reduzindo resistências, desfazendo defesas. Esse desbloqueio torna possível a expressão catártica do material reprimido, podendo causar alívio intenso.
Fatores sociais, grupais ou sistêmicos
Varias terapias incluem os fatores sociais, familiar, grupais, etc. como possíveis influências em transtornos ou problemas emocionais. Assim, elaboraram estratégias para modificar o ambiente, utilizando tais influências para auxiliar o indivíduo no seu crescimento emocional e na superação de suas dificuldades.
O conceito central das terapias familiares é o reconhecimento da família
como sistema, no qual um membro influencia os demais e é por eles influenciado. Dessa maneira, a família passa a ser mais do que uma mera união de seus componentes. As terapias de casal preocupam-se, de forma semelhante, com as influencias que um individuo exerce sobre o outro, promovendo o seu crescimento ou seu bloqueio.
A terapia em grupo, valoriza o contexto grupal como fator de mudança,
assim, existem nesse contexto diversos mecanismos psicológicos que podem influenciar seus membros: identificação projetiva ou introjetiva com demais membros, comportamento imitativo, aprendizagem interpessoal, correção de percepções distorcidas por meio de uma visão realista, etc. Nessa terapia, podem ocorrer fatores típicos das terapias individuais como insight, fenômenos transferenciais, etc.
A terapia interpessoal valoriza o contexto social e procura alterá-lo como
forma de modificar os sintomas. Quatro áreas de problemas interpessoais são exploradas: perdas complicadas (lutas); transições de papéis ou mudanças de vida; disputa por papéis ou conflitos interpessoais; e déficits interpessoais. As intervenções terapêuticas são semelhantes às de outros modelos (catarse, exame de alternativas, confrontação, apoio, etc.).
Elementos comuns
Os elementos comuns a todas as psicoterapias são: relação profissional
que ocorre no contexto de uma relação interpessoal; para ter sucesso é indispensável um contexto terapêutico favorável; deve proporcionar uma oportunidade para o paciente expressar emoções, reviver e revisar experiencias passadas; são utilizadas intervenções específicas, coerentes com um modelo explicativo sobre a origem e a manutenção dos sintomas, com o propósito de eliminá-los. É possível um modelo único de terapia?
É possível se ela respeitar todos os fatores envolvidos em uma
psicoterapia: da pessoa do paciente, da pessoa do terapeuta, do tipo de par, das intervenções específicas utilizadas, dos ingredientes não específicos. Integrar esses fatores possibilitaria uma testagem de hipóteses e avaliar o peso relativo que cada um dos agentes tem para os resultados. Possibilitaria também uma melhor seleção dos pacientes, dos terapeutas e das técnicas. Mas esse modelo único que envolva todos esses e outros fatores tem sido uma tarefa que tem desafiado os pesquisadores.
Questões em aberto e perspectivas futuras
Inútil
Integração com as neurociências
Dentre as perspectivas futuras, um campo promissor é a integração das