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Camões
(1525? – 1580)
Sobre a Obra e os Sonetos – Camões

Sabemos que a obra lírica camoniana,


póstuma(1595), chama-se Rimas. Em vida,
Camões só publicou três poemas. Um historiador
contemporâneo, Diogo de Couto, que conheceu
Camões em Moçambique (preso por dívidas)
conta-nos que sua produção fora-lhe roubada.
Chamar-se-ia Parnaso de Luís de Camões. Por
isso a sua obra lírica é póstuma e não muito
confiável. As edições, desde a primeira, vêm
acrescidas de apócrifos. A de 1598, tinha 240
poemas; a de 1779, 501 e a de 1860, 595
poemas. Edições modernas, como a de Hernâni Cidade registram381 poemas; a do
Professor Salgado Júnior, 409.
Parte dela é constituída pelos sonetos (204 em Hernâni e 211 em
Salgado). Recordemos que o soneto corresponde a uma forma poética fixa, de 14
versos, geralmente decassílabos, divididos em dois blocos: um de 8 versos,
correspondente a duas quadras (ou quartetos), e outro de 6 versos, correspondente
a dois tercetos. As rimas são 3 para as quadras (disposições possíveis: ABBA
AABB ou ABAB) e outras 2 ou 3 para os tercetos (disposições mais freqüentes:
CDC DCD ou CDE CDE).
Quanto à estrutura argumentativa (ou seja, a maneira como o pensamento
é exposto), muitas vezes, no soneto clássico, o tema é apresentado na primeira
quadra, desenvolvido ou contrastado na segunda quadra e no primeiro terceto, e
levado a uma conclusão no segundo terceto. Mas os tipos de organização das
idéias, no soneto, são muito variáveis.

De maneira geral os sonetos camonianos apresentam as seguintes


características:

 Constituído de versos decassílabos (Medida Nova), sobretudo


acentuados nas sílabas pares;
 Influência do Renascimento italiano, principalmente da poesia de
Petrarca; trata-se do doce estilo novo trazido por Sá de Miranda, em
1527;

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 Racionalismo: embora a maioria de seus sonetos sejam lírico-
amorosos, percebe-se que o poeta não se abandona ao fluxo
emocional ou sentimental. Comunica-nos antes um pensamento do
que um sentimento sobre o Amor e a Mulher. Contém-se nos limites
do equilíbrio e da harmonia.
 Universalismo: o poeta atenua os impulsos do “eu”, quer dizer, de sua
vida subjetiva, particular, em favor de uma visão impessoal ou
objetiva e universal, que pressupõe absolutos de beleza, de bem e de
verdade. Por isso, interessa-lhe mais a Mulher que a mulher (ou esta
como reflexo daquele), mais o Amor que o amor (ou este como
reflexo daquele).
 Maior complexidade frasal, mais investimento intelectual do que a
média dos poemas de “medida velha”;
 Tema predominante: drama do amor e da saudade. A amada é vista
com elevação e virtude (neoplatonismo), mas sem esconder uma
vibração sensual;
 Outros temas: o desconcerto do mundo (tema social); a
transitoriedade do mundo e da existência e o ideal de perfeição
(neoplatonismo);
 Fontes predominantes: o platonismo, a nostalgia bíblica e a mitologia
pagã;
 Figuras predominantes: a metáfora (imaginação), a antítese (dialética)
e o hipérbato ou inversão (técnica de composição).
 Estilo: além do clássico, a influência maneirista (pré-Barroco): as
antíteses, o pessimismo e a temática do efêmero. Na verdade, grande
parte de seus sonetos são mais maneiristas do que clássicos.

Exercícios:

01. Assinale a alternativa incorreta a respeito do Renascimento:

a) O Renascimento foi conseqüência de um conjunto de causas econômicas,


políticas, sociais, religiosas e culturais que substituíram o sistema de vida feudal;
b) O que caracteriza fortemente a Renascença literária é a volta dos modelos
gregos e latinos;
c) Nasce o Classicismo, caracterizado pela rigidez da disciplina de composição;
são leis, princípios, modelos que orientam os literatos;
d) O Renascimento, no campo artístico, chamou-se Classicismo, isto é, os gregos
e latinos são considerados de classe;
e) A poesia clássica é acompanhada da música, como nos tempos trovadorescos,
por isso, podemos afirmar que a arte clássica restaura o princípio da melopéia.

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02. Assinale a alternativa incorreta sobre o Renascimento:
a) O Renascimento designa o período de grandes transformações
políticas, econômicas e culturais que caracterizam a Europa de
meados do século XV até fins do século XVI;
b) A Igreja teve de enfrentar a Reforma protestante, liderada por
Martinho Lutero. Essa Reforma fortalecia a classe média, pois
exaltava a atividade comercial e justificava a obtenção de lucros. Por
isso, foi apoiada pela burguesia, detentora do poder econômico;
c) Copérnico divulga a teoria heliocêntrica, que identifica o sol como
centro do universo, e Galileu comprova o duplo movimento da terra;
d) A ampliação dos limites da terra conhecida, o enfrentamento de
dificuldades em mares “nunca dantes navegados”, o contato com
povos longínquos e a descoberta de novas culturas acabam por gerar
na sociedade da época uma nova concepção de homem e de universo;
e) A religiosidade medieval ainda atendia ao espírito do homem
renascentista, pois a vida terrena ainda era vista como uma
“passagem” em que o indivíduo se prepara para ganhar o céu.

03. Assinale a alternativa errada sobre o Renascimento artístico:


a) O Renascimento artístico marca-se por uma explosão de vida e
confiança na graça divina (teocentrismo);
b) A arte desse período vai voltar-se para o passado: a Antigüidade
clássica;
c) A cultura greco-latina vai ser considerada fonte de inspiração e
modelo de civilização;
d) A arquitetura e escultura inspiram-se em obras da Antigüidade; a
pintura recebe influência da arquitetura e principalmente da escultura;
há um grande interesse pelo nu e pela mitologia;
e) O Renascimento artístico (Classicismo) começou em Portugal, em
1527, quando Sá de Miranda retorna da Itália, trazendo novas idéias a
respeito da arte ( a Medida Nova ).

04. Assinale a alternativa incorreta sobre o Classicismo:


a) Racionalismo: A razão e a liberdade de pensar e agir sustentavam a
cultura clássica. Daí o predomínio da razão sobre o sentimento.
b) Universalismso: Expressão de verdades universais, absolutas e
eternas, desprezando os assuntos de caráter individual, particular ou
relativo;
c) Ausência da Mitologia: Para simbolizar emoções, sentimentos e
atitudes humanas, os clássicos valeram-se dos santos medievais e
cristãos;

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d) Antropocentrismo: Interesse e valorização do ser humano.
Preocupação com a vida terrena, com a natureza e com a aventura,
uma vez que o homem é a medida de todas as coisas, o centro do
mundo;
e) Neoplatonismo: O conceito de amor prende-se ao amor idealizado,
não-carnal, que ultrapassa o limite do plano físico e situa-se no plano
ideal.

Paradoxo e Universalidade no Amor

O eu-lírico, nos poemas de medida nova de Camões, exprime sobretudo


uma saudade que se interroga insistentemente a si mesma. Aquilo que o poeta
sente não se separa, portanto, daquilo que ele pensa. Mas como sentir e o pensar
são movimentos antagônicos, porque o sentir deseja e o pensar limita, o resultado
na prática textual só pode ser um acúmulo de contradições e paradoxos:

Amor é um fogo que arde sem se ver, É um não querer mais que bem-
querer;
É ferida que dói e não se sente; É um andar solitário entre a gente;
É um contentamento descontente; É nunca contentar-se de contente;
É dor que desatina sem doer. É cuidar que se ganha em se perder.

Note-se que Camões aí só está falando da amada por extensão; na


verdade, o que ele diz está universalizado, vale para todos. Tendo conhecido a
experiência do amor, Camões sabe que este só pode dar num beco sem saída:

É querer estar preso por vontade, Mas como causar pode seu favor
É servir a quem vence o vencedor, Nos corações humanos amizade,
É ter com quem nos mata lealdade. Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Beco sem saída, paradoxo, contradições e indefinições são o que podemos


encontrar no texto abaixo. Trata-se do mais belo soneto em língua portuguesa, na
opinião de Machado de Assis:

Busque Amor novas artes, novo engenho


Pera matar-me, e novas esquivanças
Que não pode tirar-me as esperanças
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!


Vede que perigosas seguranças!

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Que não tempo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas conquanto não pode haver desgosto


Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal que mata e não se vê;

Que dias há que na alma me tem posto


Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei por quê.

Exercícios:
01. O poema acima é de “medida velha” ou “medida nova”? Por quê?
02. O poema acima é um soneto. Qual seu esquema de rimas?
03. Assinale a alternativa errada:
a) O poema pode ser dividido em duas partes: 1 a – os dois quartetos: o
sujeito-lírico diz que,em seu estado desesperado, nenhum mal pode piorar
sua situação; 2a – os dois tercetos: apesar de tudo, amor ainda lhe reserva
um mal indefinível;
b) Os versos “Olhai de que esperanças me mantenho!” e “Vede que
perigosas seguranças!” contêm ironia carregada de amargura;
c) O sentido dos versos 7-8 é que quem está no meio do mar bravo, sem
nenhum barco ou navio (“lenho”), não pode temer nenhuma virada da
sorte que piore sua situação;
d) O poema se encerra com uma engenhosa definição do Amor: “Um não sei
quê, que nasce não sei onde, / Vem não sei como e dói não sei por quê.”;
e) Os dois versos finais do poema são uma explicação do “mal que mata e
não se vê”.

04. Numa expressão do verso 6 há uma antítese que forma um oxímoro


(paradoxo), pois uma das palavras dela se refere à outra, contradizendo-a De que
expressão se trata?

05. (Fuvest) – Na Lírica de Camões:


a) o metro usado para a composição dos sonetos é a redondilha maior;
b) encontram-se sonetos, odes sátiras e autos;
c) cantar a Pátria é o centro das preocupações;
d) encontra-se uma fonte de inspiração de muitos poetas brasileiros do
século XX:
e) a Mulher é vista em seus aspectos físicos, despojada de
espiritualidade.

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06. Considere as seguintes afirmações sobre a lírica de Camões:
I. Embora tenha sido o maior mestre, em Portugal, do novo estilo
renascentista, elaborado na “medida nova”, compôs também
numerosos poemas em formas tradicionais, na chamada “medida
velha” ;
II. Encontram-se em seus poemas amargas reflexões sobre o destino,
o sentido da experiência e a desproporção entre os valores e os
fatos;
III. Seus poemas amorosos são marcados pela espiritualização da
mulher, que neles aparece despojada de qualquer atributo
sensorial e, portanto, despida de qualquer sensualidade.
Quanto a essas afirmações, deve-se concluir que está(ão) correta(s):

a) todas; b) apenas a I; c) apenas a II; d) I e II,


apenas; e) II e III,apenas.
Real Vs. Ideal, Tempo vs. Eternidade

A essência do amor é volúvel. A razão é que o tempo não permite que


nada fique como é:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,


Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,


Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem ( se algum houve...), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,


Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,


Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Neoplatonismo e “Reminiscência” Amorosa

Antes de vir ao mundo, diz Platão, olhamos o que há de mais belo e mais
verdadeiro, lá no outro mundo. Ao começarmos nossa vida, vamos

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insensivelmente esquecendo aquela perfeição já vista em outra vida. Porque o que
existe aqui neste mundo é tudo cópia imperfeita daquele outro mundo em que
estávamos antes de nascer. Isso explica a razão de acharmos belas algumas coisas.
É que nós já vimos uma beleza muito maior e dela temos uma certa
“reminiscência”(vaga lembrança). Enfim, este mundo é apenas uma sombra
imitativa daquele outro. A amada, que partiu para esse “mundo das idéias e
formas eternas”, também se torna objeto de elevação e saudade:

Alma minha gentil, que te partiste E se vires que pode merecer-te


Tão cedo desta vida, descontente, Alguma coisa a dor que me ficou
Repousa lá no Céu eternamente Da mágoa sem remédio de perder-te,
E viva eu cá na terra sempre triste.
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
E se lá no assento etéreo, onde subiste, Que tão cedo de cá me leve a ver-te
Memória desta vida se consente, Quão cedo de meus olhos te levou.
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

O que há de neoplatônico neste soneto é principalmente uma espécie de


sublimação eternizadora da amada, a partir da morte, do abandono deste mundo.
Enfim, para o platonismo, abandonar o mundo dos sentidos já é conquistar um
pouco do mundo da verdade. A morte representa, portanto, uma espécie de
purificação. O elemento da “reminiscência” está sugerido às avessas: Camões
supõe a possibilidade de que a amada se lembre dele, lá no “assento etéreo”.

O Desconcerto do mundo

As loucuras e contrastes do amor se reproduzem também na esfera das


outras relações humanas e em parte são a causa delas. Enfim, se não há justiça no
amor, não há justiça cósmica (incluindo, obviamente, a social). Nada está bem
distribuído, e a dor parece uma constante, que cada vez mais aguça as suas garras.
O tema do “desconcerto do mundo”, que aparece também nas redondilhas, tem um
bom exemplo neste final de soneto, já visto:

“E, afora este mudar-se cada dia,


Outra mudança faz do mor espanto:
Que não se muda já como soía...”

Alternância de Hebraísmo e Paganismo

Em Camões, nós encontramos muitas alusões ou influências de dois


sistemas culturais antigos, de espírito até certo ponto antagônico. Um vem da

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Bíblia (sobretudo do Antigo Testamento), outro vem da mitologia grega. Camões
não se preocupa com as divergências ideológicas de uma e outra. Está interessado
na sugestão erótica e amorosa, como nestas passagens tiradas do Gênesis,
XXIX,25:

Sete anos de pastor Jacó servia Vendo o triste pastor que com enganos
Labão, pai de Raquel, serrana bela; Lhe fora assim negada a sua pastora,
Mas não servia ao pai, servia a ela, Como se a não tivera merecida,
Que ela só por prêmio pretendia.
Começa de servir outros sete anos,
Os dias, na esperança de um só dia Dizendo: -- Mais servira, se não fora
Passava, contentando-se com vê-la; Pera tão longo amor tão curta a vida!
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Como vimos, para Platão a verdadeira realidade reside no mundo das


idéias, e o mundo sensível se afigura apenas um aglomerado de sombras vagas,
lembranças do outro; e “o amor é um ser intermediário entre os deuses e os
mortais. Ele nos inspira o desejo de ter sempre o bem; sua ação é uma geração que
garante aos mortais a imortalidade que lhes é possível” (Introdução a O Banquete,
de Platão). Observe os dois últimos versos de Jacó: “Mais servira, se não fora /
Para tão longo amor tão curta a vida!”. “É que seu amor tanscendia o plano
histórico em que vivia e projetava-se para uma zona ideal, infensa à astúcia e à
malícia de Labão: Jacó teria sua amada custasse o que custasse, pois o sentimento
não era da carne mas do espírito, e este participava da esfera inteligível onde
assiste, ao ver de Platão, a realidade de tudo; vivia somente para e pelo amor, e a
servidão podia atingir-lhe o corpo, nunca a alma, que gozava de plenitude em
razão do sentimento que o ligava a Raquel; a rigor, servia a ela, a si próprio ou ao
Amor, não a Labão; por isso, servia resignado e contente.”

Ou ainda nestas, de forte sugestão pagã (greco-latina):

Num bosque que das Ninfas se habitava,


Sibela, Ninfa linda, andava um dia;
E, subida nua árvore sombria,
As amarelas flores apanhava.

Cupido, que ali sempre costumava


A vir passar a sesta à sombra fria,
Num ramo o arco e setas que trazia,
Antes que adormecesse, pendurava.

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A Ninfa, como idôneo tempo vira
Pera tamanha empresa, não dilata,
Mas com as armas foge ao Moço esquivo.

As setas traz nos olhos, com que tira.


-- Ó pastores! fugi, que a todos mata,
Senão a mi(m), que de matar-me vivo!

Princípio da Imitação (Mimesis)

O Classicismo impõe “a aceitação de modelos preexistentes à elaboração


da obra de arte, sejam eles os escritores greco-latinos, sejam os modernos que lhes
seguiram as pegadas. E o acatamento de moldes pressupunha, inclusive, o
empréstimo de versos inteiros ou de temas. Em troca, exigia-se que o poeta
imitador instilasse originalidade, o “engenho e arte” de que fala Camões, na
substância poética recebida de fora”.
Assim, o soneto camoniano que começa com o verso “Sete anos de pastor
Jacó servia” ter-se-ia inspirado no soneto de Petrarca que se inicia com o verso
“Per Rachel ho servito e non per Lia”, e no Gênesis, XXIX, 25. O soneto “Um
mover de olhos, brando e piedoso”, deve ter-se calcado no de Petrarca que começa
com o seguinte verso: “Grazie ch’a poch’l Ciel largo destina”. O mesmo ocorre
com o soneto “Transforma-se o amador na cousa amada, “ , conforme Petrarca,
“L’amante nell’amato si trasforma”; o Alma minha gentil, que te partiste”,
também em Petrarca: “Questa anima gentil che si diparte” e “Anima bella, da
quel nodo sciolta.”

Sobre Dinamene

Segundo a tradição, Dinamente, a famosa amante chinesa de Camões,


morreu afogada. NOs Lusíadas há uma referência à passagem do naufrágio,
quando o poeta fala em “canto molhado”. Colocado entre salvar Dinamene ou a
sua obra (20 anos de trabalho!), para a glória da língua portuguesa, acaba salvando
a epopeia. No entanto, graves sofrimentos abalaram o poeta. Derivado desse
episódio encontramos vários sonetos a ela dedicados. O mais famoso já vimos
acima. Aquele que começa com o verso – “Alma minha gentil, que te partiste “.
Abaixo veremos mais dois textos:

Texto 01

Quando de minhas mágoas a comprida


Maginação os olhos me adormece,
Em sonhos aquela alma me aparece

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Que pera mim foi sonho nesta vida.

Lá nua soïdade, onde estendida


A vista pelo campo desfalece,
Corro pera ela, e ela então parece
Que mais de mim se alonga, compelida.

Brado: -- Não me fujais, sombra benigna!—


Ela, os olhos em mim, cum brando pejo,
Como quem diz que já não pode ser,

Torna a fugir-me. E eu, gritando: -- Dina...—


Antes que diga -- ...mene!,acordo, e vejo
Que nem um breve engano posso ter.

Texto 02

Cara minha inimiga, em cuja mão


Pôs meus contentamentos a ventura,
Faltou-te a ti na terra sepultura,
Porque me falte a mim consolação.

Eternamente as águas lograrão


A tua peregrina formosura,
Mas enquanto me a mim a vida dura
Sempre viva em minh’alma te acharão.

E se os meus rudos versos podem tanto


Que possam prometer-te longa história
Daquele amor tão puro e verdadeiro.

Celebrada serás sempre em meu canto,


Porque enquanto no mundo houver memória
Será minha escritura teu letreiro.

01. Os versos do texto 02 são de “medida nova” ou de “medida velha”? Explique,


fazendo a divisão das sílabas métricas dos dois primeiros versos e
classificando o seu metro.

02. O poema corresponde a um modelo poético (chamado “forma fixa”) muito


utilizado desde o Renascimento. De que se trata? Por quê?

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03. Logo no início do poema há uma antítese. Qual é ela? Explique-a

04. Há no texto algo que permita concluir que a amada a que o poeta se dirige
tenha morrido afogada? Por quê?

05. No fim da segunda quadra, o poeta promete guardar para sempre a memória
da amada morta. Nos tercetos ele desenvolve essa afirmação e, aí , introduz
um novo elemento: o tema da perenidade da poesia (um tema freqüente na
obra dos poetas clássicos, desde a antigüidade). Como se relaciona o tema da
perenidade da poesia com o tema da amada morta?

06. Como se relaciona o tema do soneto acima com os seguintes versos de


Píndaro: “ Mais tempo que os feitos vive a Palavra, / o que quer que seja que
a língua, pelo favor / das Graças, retira da profundeza da mente.”
(“Nemea” – IV, 6-8)
a) o eu-lírico confia na imortalidade de seus versos, que guardarão para
sempre a memória da amada;
b) as águas possuirão eternamente a beleza da musa inspiradora morta;
c) a mulher a quem o poeta ama viverá em sua alma enquanto ele viver;
d) o destino pôs os contentamentos do eu-lírico nas mãos de uma inimiga;
e) a ausência de sepultura para aquela a quem o texto se refere é a causa do
desconsolo do poeta.

07 Leia o excerto abaixo:


“Transforma-se o amador na coisa amada
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.”

Assinale a alternativa incorreta:

a) O agente do primeiro verso é o amador e o paciente é a coisa amada;


b) O verbo que expressa a fusão entre agente e paciente é transforma-se;
c) Após a identificação o eu-lírico considera-se satisfeito: “Não tenho,
logo, mais que desejar.”;
d) O quarteto transcrito apresenta um estrutura lógica: os dois primeiros
versos constituem a premissa que explica a conclusão exposta no
terceiro verso;
e) Não há nenhuma influência platônica, no texto acima, pois o amor é
expresso através de uma atitude emocional e não racional.

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Antologia:

Aquela triste e leda madrugada,


Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada


Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se de ua outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio.


Que de uns e de outros olhos derivadas,
Se acrescentaram em grande e largo rio.

Ela ouviu as palavras magoadas


Que puderam tornar o fogo frio
E dar descanso às almas condenas.

***

Transforma-se o amador na cousa amada,


Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,


Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semidéia,


Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim coa alma minha se conforma,

Está no pensamento como idéia;


E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.

***

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A fermosura desta fresca serra
E a sombra dos verdes castanheiros,
O manso caminhar destes ribeiros,
Donde toda a tristeza se desterra;

O rouco som do mar, a estranha terra,


O esconder do sol pelos outeiros,
O recolher dos gados derradeiros,
Das nuvens pelo ar a branda guerra;

Enfim, tudo o que a rara Natureza


Com tanta variedade nos ofrece,
Me está, se não te vejo, magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;


Sem ti, perpetuamente estou passando
Nas mores alegrias mor tristeza.

***

Ah! Minha Dinamene! Assim deixaste


Quem não deixara nunca de querer-te!
Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te!
Tão asinha esta vida desprezaste!

Como já para sempre te apartaste


De quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura Morte


Me deixou, que tão cedo o negro manto
Em teus olhos deitado consentiste!

Ó mar! Ó céu! ó minha escura sorte!


Que pena sentirei que valha tanto,
Que ainda tenha por pouco viver triste?

***

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Correm turvas as águas deste rio,
Que as do Céu e as do monte as enturbaram;
Os campos florescidos se secaram;
Intratável se fez o vale, e frio.

Passou o Verão, passou o ardente Estio;


Uas cousas por outras se trocaram;
Os fementidos Fados já deixaram
Do mundo o regimento ou desvario.

Tem o tempo sua ordem já sabida;


O mundo não; mas anda tão confuso,
Que parece que dele Deus se esquece.

Casos, opiniões, natura e uso


Fazem que nos pareça desta vida
Que não há nela mais que o que parece.

***

Julga-me a gente toda por perdido,


Vendo-me tão entregue a meu cuidado,
Andar sempre dos homens apartado,
E dos tratos humanos esquecido.

Mas eu, que tenho o mundo conhecido,


E quase que sobre ele ando dobrado,
Tenho por baixo, rústico, enganado,
Quem não é com meu mal engrandecido.

Vão revolvendo a terra, o mar e o vento,


Busquem riquezas, honras a outra gente,
Vencendo ferro, fogo, frio e calma;

Que eu só em humilde estado me contento


De trazer esculpido eternamente
Vosso fermoso gesto dentro na alma.

***

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Ao céu, à terra, ao vento sossegado,
Às ondas, que se estendem pela areia,
Aos peixes, que no mar o sono enfreia,
Ao noturno silêncio repousado,

O pescador Aônio, que, deitado


Onde co vento a água se meneia,
Chorando, o nome amado em vão nomeia,
Que não pode ser mais que nomeado.

Ondas – dizia – antes que Amor me mate,


Tornai-me a minha Ninfa, que tão cedo
Me fizestes à morte estar sujeita.

Ninguém lhe fala; o mar de longe bate;


Move-se brandamente o arvoredo;
Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.

***

O dia em que nasci moura e pereça,


Não o queira jamais o tempo dar;
Não torne mais ao Mundo, e, se tornar,
Eclipse nesse passo o Sol padeça.

A luz lhe falte, o Sol se lhe escureça,


Mostre o Mundo sinais de se acabar,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
A mãe ao próprio filho não conheça.

As pessoas pasmadas, de ignorantes,


As lágrimas no rosto, a cor perdida,
Cuidem que o Mundo já se destruiu.

Ó gente temerosa, não te espantes,


Que este dia deitou ao Mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu!

***

O tempo acaba o ano, o mês e a hora,


A força, a arte, a manha, a fortaleza;

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O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;

O tempo busca e acaba o onde mora


Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.

O tempo o claro dia torna escuro,


E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.

Mas de abrandar o tempo estou seguro


O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.

***

Um mover de olhos, brando e piedoso,


Sem ver de quê; um riso brando e honesto,
Quase forçado; um doce e humilde gesto,
De qualquer alegria duvidoso;

Um desejo quieto e vergonhoso;


Um repouso gravíssimo e modesto;
Uma pura bondade, manifesto
Indício da alma, limpo e gracioso;

Um encolhido ousar; uma brandura;


Um medo sem ter culpa; um ar sereno;
Um longo e obediente sofrimento:

Esta foi a celeste formosura


Da minha Circe, e o mágico veneno
Que pôde transformar meu pensamento.

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