Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Resumo: O artigo trata das condições de trabalho dos indígenas artesãos das
oficinas do Colégio Santo Alexandre (Belém do Pará), nos séculos
XVII e XVIII. Apresenta as suas técnicas, os seus materiais e os
processos criativos que deram vida e expressão à imaginária
jesuítica amazônica. Ensaio algumas respostas às perguntas: Que
sociedade influiu sobre a fantasia dos artistas que confeccionaram
estas obras? Quem eram estes artistas? Em que condições
trabalharam? Qual seu método de trabalho? Em que ocasiões estes
objetos foram mostrados? Entre as fontes de informação
analisadas contam-se as correspondências e as crônicas dos padres
jesuítas João Felipe Bettendorff e João Daniel.
Palavras-Chave: Jesuítas, Arte Mestiça, Amazônia.
Abstract: This paper reflects upon the work conditions of the indigenous
craftsmen in the workshops of Colégio Santo Alexandre (Belém
do Pará - Amazon) during the seventeenth and eighteenth
centuries. It focuses on their techniques, materials and creative
processes that gave life and expression to a jesuitic imaginary in the
amazon basin. I essay some answers to these questions: Which
society inspired the imagination of these indigenous artists that
made these arts? Who were these artists? What were their work
conditions? What was their work procedure? What were the
occasions that these objects were presented? The sources
Materiais de Construção
A cobertura das casas mais frequente em Belém na segunda metade do
século XVII era a “palha de pindoba” ou as “palmas de umbussu ou ubussu”.
Por volta de 1631, o frei Cristóvão de Lisboa comprovava que no
Maranhão e Pará a pindoba (usa o nome pindobaite) cobria as casas do
moradores além de servir a outras finalidades 14. Em 1654, o padre
António Vieira observava que ao chegar à aldeia de Mocajuba, próxima a
Cametá, encontrara os índios protestando por serem forçados a procurar
pindoba e guardar com elas as folhas de tabaco de “certa personagem”
importante na aldeia15. Bernardo Pereira de Berredo governador e
primeiro historiador oficial do Maranhão e Grão-Pará relatava que entre
1718 e 1722 os habitantes de Belém, São Luiz, Vigia, Caeté, Cametá e
outros povoados portugueses cobriam suas casas com pindoba tal como
já faziam os primeiros conquistadores da região 16. E poderíamos
multiplicar os exemplos.
Telhas no lugar de “palhas de pindoba” ou de “palmas de umbussu ou buçu”,
faziam os telhados; pedra e cal ao lado das “taipas de pilão”, das “taipas de
mão”, da palha, das varas, dos cipós, das argilas, dos seixos, dos cavacos
primitivos. Com o emprego desses materiais de maior resistência, a nova
construção do Colégio de Santo Alexandre e da Igreja de São Francisco
O juiz de ofício era aquele que velava pela função (officium) dentro de
um corpo social. A palavra “ofício”, no trecho citado, não possui apenas o
sentido de “cargo”, mas inclui também a definição da atividade ou
necessidade humana, que se efetua num contexto prático. Consideravam-
se habilidosos apenas quando os índios estavam nas missões dos padres
ou quando estavam a serviço dos moradores brancos, natural
prolongamento da ideia de perfectibilidade dentro do discurso colonial
sobre o trabalho dos índios. Para João Daniel, em seu próprio meio os
índios nada faziam. Ele escreve: “(...) entre si e nos seus matos não usam,
Trabalho e Preguiça
Sem dúvida, as habilidades manuais dos índios do Grão-Pará
impressionaram muito João Daniel. Porém, ele mesmo aponta um
elemento que lhe parecia insuportável: a preguiça dos índios. Este era,
ainda, o principal obstáculo para a realização dos trabalhos artesanais nas
missões. Obstáculo também para a disciplina do trabalho. Segundo ele,
um verdadeiro “vício”. Por isto, depois de demorados elogios à sua
destreza e habilidades quase espetaculares, o jesuíta lançava o anátema:
“Tem porém um senão, que muito os deslustra, e desacredita, e é a grande
preguiça, que os acompanha; de que nasce, que podendo fazer em suas
povoações, e casas muitas curiosidades nos seus respectivos ofícios, nada
fazem senão quando são mandados, ou muito rogados.”30
Daniel afirma que os nativos, mesmo sendo habituados ao regime de
trabalho intenso das missões e das casas dos portugueses, são acometidos
pelo “mal da preguiça”. Não podem desfazer-se deste mal, nem com a mais
firme atenção dos padres a vigiar-lhes o “tempo livre”. Nesta observação
confrontam-se duas concepções em choque sobre a noção de trabalho. A
concepção de trabalho expressa nos documentos regimentais e na
experiência missionária inaciana se definia como: a ausência relativa da
aleatoriedade; repetição; ordem; divisão; previsão; constância; fixação;
disciplina. Em uma palavra: civilização; ou em duas palavras, mais
precisamente: “civilização cristã”. Nenhum destes valores fazia parte do
cotidiano tribal entre os grupos Tupinambás, majoritariamente
empregados como escravos nas fazendas dos jesuítas. Um dos empecilhos
À Guisa de Conclusão
Os colégios e residências dos jesuítas foram, provavelmente, onde se
praticou pela primeira vez o artesanato urbano no Grão-Pará colonial. Na
hierarquia interna da Companhia de Jesus havia os padres, liderando o
trabalho religioso e intelectual, e os irmãos coadjutores, que desenvolviam
um processo de mestiçagem, Rio Negro (Brasil), séculos XVIII e XIX”, em: ADAMS,
Cristina; MURRIETA, Rui; NEVES, Walter (eds.). Sociedades caboclas amazônicas:
modernidade e invisibilidade. São Paulo: Annablume, 2006, pp. 67-80; GUZMÁN, Décio de
A. Guerras na Amazônia do século XVII: resistência indígena à colonização. Belém: Estudos
Amazônicos, 2012, pp. 32-38. Ver também: PACE, Richard. “Abuso científico do
termo 'caboclo'? Dúvidas de representação e autoridade”, in: Boletim do Museu Paraense
Emílio Goeldi - Ciênc. hum., Belém, v. 1, n. 3, pp. 79-92, dez. 2006; LIMA, Deborah de
M. “A construção histórica do termo caboclo: sobre estruturas e representações
sociais no meio rural amazônico”, em: Novos Cadernos NAEA, vol. 2, n. 2, dez. 1999,
pp. 5-32; PARKER, E. “Cabocloization: The Transformation of the Amerindian in
Amazonia, 1615-1800”, em: The Amazon Caboclo: Historical and Contemporary Perspectives.
Virginia: College of William and Mary, 1985.
5 ALDEN, D. “El Indio desechable en el Estado de Maranhão durante los siglos XVII
y XVIII”. em: América Indígena, vol. 45 (1985), pp. 427-446; SWEET, David G. The
Population of the Upper Amazon Valley: seventeenth and eighteenth centuries, M.A. thesis,
University of Wiscounsin, 1969; VIANNA, A. As Epidemias no Pará. Belém:
Universidade Federal do Pará, 1975 [1908]; NEVES, Tamyris N. “A ira de Deus e o
fogo que salta: a epidemia de bexigas no Estado do Maranhão (1695)”, in: Amazônica
– Revista de Antropologia, 5 (2): 344-361, 2013; SOUSA, Cláudia R. de. “As práticas
curativas na Amazônia Colonial: da cura da alma à cura do corpo (1707-1750)”, in:
Amazônica - Revista de Antropologia, 5 (2): 362-384, 2013; CHAMBOULEYRON, R. et al. “
‘Formidável contágio’: epidemias, trabalho e recrutamento na Amazônia colonial
(1660-1750)”, in: História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 18, n. 4, out.-
dez. 2011, pp. 987-1004.
6BETTENDORFF, João F. Crônica dos Padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão.
2ª. ed., Belém: SECULT, 1990, p. 22.
23 IDEM, IBIDEM.
24 GERBI, Antonello. La disputa del Nuovo Mondo: Storia di uma polemica (1750-1900).
Milano: Adelphi, 2000, pp. 37-39; PAGDEN, Anthony. The Fall of Natural Man. The
American Indian and the Origins of Comparative Ethnology. Massachussets: Cambridge
University Press, 1982, pp. 57-108; DUCHET, Michèlle. Anthropologie et histoire au siècle
des Lumières. Paris: Albin Michel, 1995, pp. 239-240, 332-334, 338-341, 419-420.
25 É do Pe. Antônio Vieira a analogia entre a natureza inconstante dos índios
amazônicos e a volubilidade da murta arbustiva, citada no “Sermão do Espírito
Santo”, pregado em São Luiz do Maranhão, na Igreja de N. S. da Luz, em 22 de junho
de 1657, por ocasião da partida dos padres da Companhia de Jesus em missão pelo
rio Amazonas. Os Conimbricenses, síntese da filosofia escolástica jesuítica, eram a fonte
principal de formação dos jesuítas e seus alunos nas Universidade portuguesas. Ver: