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1 – Preliminarmente:
Esta semana, o Supremo Tribunal Federal de nossa pós-democracia decidiu que
a oferta de Ensino Religioso na modalidade confessional não contradiz o
princípio do Estado Laico, tão caro à republicas e aos sistemas representativos
a partir do século XIX. Preliminarmente, embora não seja da área do direito, e
lendo trechos dos votos dos vetustos magistrados, pareceu-me que a aprovação
desta modalidade de oferta de educação religiosa nas públicas refletiu a
confusão existente na sociedade a respeito de temas como laicidade do Estado,
o ensino de religião e interferência (indevida) das instituições religiosas na esfera
pública.
2 – O início da polêmica:
Quanto ao papel da imprensa na cobertura deste fato, ela presta um desserviço
novamente. E nenhum momento recente se colocou como este tema chegou ao
Supremo. Parece até que surgiu no STF como água que vaza do cano e começa
a brotar na parede. Em 2000 se aprovou uma Lei prevendo Ensino Religioso
confessional nas escolas estaduais fluminenses. A emenda que propôs a lei era
de um deputado católico de viés conservador, Carlos Dias, a época no PPB
(atual PP), que, sob as bênçãos do então Cardeal-Arcebispo Eugênio Sales,
articulou com a bancada evangélica – a maior parte ligada à Igreja Universal do
Reino de Deus (IURD) – a aprovação da lei na ALERJ. Lei semelhante, no Brasil,
apenas no estado da Bahia.
Em 2003, Carlos Minc, que era deputado estadual pelo PT, apresenta um projeto
de lei que sustaria a lei de Carlos Dias e instituiria uma outra modalidade para o
Ensino Religioso. A lei foi aprovada, mas vetada pela governadora Rosinha
Garotinho ao mesmo tempo em que o governo estadual lançara um edital para
concurso público de docentes do Ensino Religioso, na modalidade confessional.
A partir daí uma ação de inconstitucionalidade foi aberta pelo mandato do
deputado, iniciando um debate público e por todas as instâncias do poder
judiciário até chegar no STF. Essa arqueologia do debate da confessionalidade
do Ensino Religioso ganhou amplitude nacional graças as controvérsias
provocadas pelo legislativo estadual, a partir de uma agenda conservadora de
duas confissões cristãs do Rio de Janeiro. Diga-se que o material disponibilizado
a respeito deste componente curricular na CNBB indicava uma outra modalidade
de Ensino Religioso.
A decepção foi tamanha pelo que foi feito por aquelas pessoas, da forma como
feita que, associada com a percepção nítida que o Rio de Janeiro era um lugar
muito resistente a mudanças que rompessem com a modalidade confessional de
Ensino Religioso, que me fez desistir de pesquisar religião e ensino religioso.
Dali em diante resolvi me qualificar como sociólogo e docente da educação
básica e nunca mais escrevi nada ou procurei participar, fora do âmbito da escola
onde atuava, de algo sobre Ensino Religioso.
Dessa forma, no terreno movediço da educação católica constatei
empiricamente muitas coisas que fariam Jesus agir como fez com os vendilhões
do templo. Muito carreirismo, muita gente oportunista, mas intelectualmente
limitada e desonesta. Geralmente, pessoas muito preparadas ficam pouco tempo
nas instituições de ensino. Eu talvez seja uma exceção à regra. Certamente
porque a escola religiosa em que leciono também era uma exceção quando
comparada a maioria das escolas similares do Rio de Janeiro.
4 – Laicidade do Estado:
Ora, se pensarmos em termos na escola pública a partir da ideia de laicidade,
ficará evidente que ensino confessional não faz o menor sentido em uma
instituição pública de ensino. Muita gente confunde laicidade com defesa da
liberdade e/ou respeito às diferenças. Na verdade, o Estado laico se caracteriza
pela autonomia e pelo caráter público da sua administração. O exercício do
poder civil não pode estar sujeito a condicionamentos de uma determinada
religião ou instituição religiosa, por melhores que sejam suas intenções. Trata-
se de uma expressão da pluralidade características de uma sociedade industrial
contemporânea. De respeito as liberdades individuais que, no campo religioso,
inclusive deve garantir inclusive o direito de não crer. Então, como podemos
admitir que, nos espaços escolares, se ofereça uma disciplina que não possibilita
a convivência com a diversidade? E mais, traz para a sala de aula conteúdos
catequéticos, com base em uma teologia específica, seja qual for a sua matriz
religiosa.
Obviamente, isso não significa abolir os símbolos religiosos que se encontram
no espaço público, ou de iniciarmos uma campanha de perseguição às crenças.
Também não se trata de remover a presença do sagrado nas ruas, dos nomes
das cidades como insinuou que seria o voto do ministro Gilmar Mendes. A
venalidade de um argumento tão bisonho não poderia nunca partir de um juiz da
mais alta corte de justiça desse país. Se fosse dessa forma, cairíamos no
laicismo e na defesa de uma Estado ateu, o que não é o caso, por que tal forma
de estado é também confessional.
Todavia, há duas décadas pelo menos se constituiu uma outra abordagem para
o Ensino Religioso, que não é nem confessional, tampouco ecumênica – que
também não cabe na escola pública, porque não se trata de ação pastoral das
igreja cristãs e nem de promover conteúdos relacionados aos “valores
humanos”, coisa que deveria ser de toda instituição escolar. Essa nova
modalidade tem perfil acadêmico e não está fundamentada na Teologia Cristã,
mas sim nas Ciências da Religião. Estas compõem um campo de pesquisa
reconhecido e presente em pelo menos 5 universidades públicas brasileiras em
todas as regiões do país. Em todas operam pesquisas sobre essa modalidade
fenomenológica de Ensino Religioso. E ainda temos pesquisas sérias
desenvolvidas no campo acadêmico da educação.
BIBLIOGRAFIA:
BRASIL. MEC, Leis de Diretrizes de Base da Educação Nacional – Lei 9.394/96. São
Paulo, Saraiva,1996.
CUNHA, Luiz Antônio, Educação. Estado e democracia no Brasil, São Paulo, Cortez,
Niterói, Editora da Universidade Federal Fluminense, Brasília, Flacso do Brasil, 2a ed.,
1995.