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2012
0
PAULO SERGIO DOS SANTOS
JOÃO PESSOA – PB
2012
1
S237e Santos, Paulo Sergio dos.
106f. : il.
_________________________________
Prof. Dr. Marcos Ayalla
(AVALIADOR)
(PPGS - UFPB)
___________________________________
Prof. Dr. Marco Aurélio Paz
(AVALIADOR)
(PPGA - UFPB)
______________________________
Profª. Drª. Tereza Correia da Nóbrega Queiroz
(Orientadora)
(PPGS - UFPB)
3
AGRADECIMENTOS
Assim agradeço a Deus que nos momentos de grande dificuldade sempre esteve
ao meu lado, agradeço a minha família especialmente aos meus pais que superaram as
dificuldades para me manterem na universidade. Sou muito agradecido aos professores
e funcionários do Departamento de Ciências Sociais que estiveram presentes nesta
minha caminhada especialmente a professora Tereza Queiróz que me orientou neste
trabalho, aos grafiteiros e pixadores que me receberam muito bem sempre sendo
cordiais comigo, e para finalizar agradeço aos meus amigos que seja nas salas de aulas
ou então nas mesas dos bares estiveram ali comigo. Muito Obrigado a todos.
4
“Deixa, deixa, deixa, eu dizer o que penso dessa
vida, preciso demais desabafar” (refrão da
música Desabafo de Marcelo D2)
5
RESUMO
A cidade de João Pessoa vem passando por intenso processo de urbanização nos últimos
20 anos, que é acompanhado por transformações sociais, políticas, econômicas,
culturais e artísticas. Nesse contexto surgem novas formas de expressão e de
comunicação que desenvolvem códigos, signos, símbolos e culturas próprias, a exemplo
da pixação e do grafitti. Este trabalho estudou a origem e expansão destas práticas no
espaço público da cidade analisando os sujeitos que as desenvolvem, suas formas de
atuação na cidade, o sentido que atribuem a essas práticas e às suas produções. Trata-se
de uma pesquisa qualitativa, com inspiração etnográfica, que também coletou
informações através da internet. A pesquisa demonstrou a origem comum dessas
manifestações, seus conflitos, tensões e diferenciações internas e as mudanças
decorrentes do contato com novos atores sociais e do reconhecimento do grafitti como
manifestação artística e da estigmatização da pixação como vandalismo.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO – 7
CONSIDERAÇÕES FINAIS – 94
BIBLIOGRAFIA – 97
APÊNDICE - 101
7
INTRODUÇÃO
8
sociais participam a todo instante, querendo eles ou não, seja com gestos, com seu
olhar, com seu silencio, e até mesmo com sua ausência. (WINSKIN, 1981).
Principalmente nos trajetos que percorremos cotidianamente, é possível notar uma
enorme variedade de mensagens que nos são passadas. É aquilo que Massimo
Canevacci (1997) vai chamar de polifonia urbana onde existe uma multiplicidade de
vozes autônomas que se juntam, se isolam ou então se opõem umas as outras formando
um grande caldeirão de signos. Neste caldeirão vão aparecer determinadas formas de
difusão de ideias que tomam para si o espaço alheio, elas se apropriam de outros
suportes para passarem as suas mensagens.
1
A grafia utilizada neste trabalho para a definição desta manifestação é distinta da grafia oficial (Grafite),
isto porque tratei de utilizar a grafia do mesmo modo que os próprios agentes a utilizam, o que será
melhor abordado no decorrer do texto.
2
Além destas duas também Existem outras formas de intervenção como: o Lambe-lambe: desenhos,
poemas, manifestos e colagens fotocopiadas em grande número, que são colados sobre paredes e outros
suportes. Além da mensagem do lambe-lambe em si, a combinação de vários em um conjunto cria um
universo específico de significados. O lambe-lambe é também chamado de cartaz ou colagem. Suas
mensagens são altamente críticas, líricas ou politizadas. Stencil: recorte em negativo em folha de papel ou
poliéster, que é colocado contra a parede a ser marcada. O papel e a parede (mediante os recortes)
recebem um jato de tinta (spray monocromático), deixando a marca (o desenho) como um carimbo.
Sticker: adesivos de pequenas proporções criados em série ou não pelos artistas de rua, colados em placas
de sinalização, lixeiras, portas de garagem e outros suportes. geralmente em metal.
9
regras como, por exemplo, classificar e determinar locais para a exposição da arte. Estas
regulamentações tem sido alvo de diversos movimentos que passam a propagar uma
onda que busca os “espaços livres” e públicos, como é o caso da música, da pintura, do
teatro, do esporte, entre outros. (RAMOS, 1994)
No livro O que é Graffiti, Celso Gitahy utiliza a definição dada por Mauricio
Villaça que foi um dos pioneiros do Graffiti no Brasil, onde este diz que o graffiti vem a
ser os rabiscos, gravações que são realizadas em bancos de praça, carteiras de sala de
aula, banheiros e até mesmos os riscos que fazemos quando se está no telefone.
Percebe-se nesta definição que ele enxerga o graffiti muito próximo à ideia de pichação
atual e que esta é algo que costumamos fazer cotidianamente de forma consciente ou
não. (GITAHY, 1999).
As definições das duas manifestações são muito próximas, elas são práticas
irmãs, uma surge da outra, estas formas de expressão possuem as suas aproximações e
seus distanciamentos, ambas vão interferir no espaço, subvertendo valores, elas são
10
espontâneas gratuitas e efêmeras, a pichação enfoca a escrita, e o graffiti é proveniente
das artes plásticas. Gitahy nos diz que se elas fossem um estilo musical o graffiti se
enquadraria em algo parecido com o hip-hop, o rock, a new wave, a pop, music,já a
pichação se assemelharia com um estilo mais próximo do punk, trash metal, ou rap
pesado. (GITAHY 1999)
Os tipos de graffiti e pichação que são os alvos de pesquisa deste trabalho não
são os que são feitos esporádica e aleatoriamente, mas sim os que são feitos
constantemente, podendo ser considerados como praticas regulares de determinados
grupos que formam um movimento de intervenção urbana, sendo esta “intromissão” na
paisagem da urbe um ato consciente de um individuo ou de um grupo que atua sobre
determinado espaço dando-lhe um novo significado, uma nova representação.
(BARBOSA, 1984; SOUZA, 2007)
Nos últimos 15 anos a capital paraibana tem visto a pratica destas duas
atividades se difundirem, o graffiti ganhou um status de arte e boa parte da sociedade
brasileira passou a enxergá-lo com bons olhos. Recentemente após os anos 2000 passou
a ser utilizado por agentes governamentais, representantes do poder público, empresas
privadas, como em pinturas feitas em praças e viadutos na cidade de João Pessoa. A
pichação também se tornou algo mais comum na paisagem urbana da cidade, em locais
como a orla e a região central da cidade é possível notar uma gama de mensagens
inseridas.
Este trabalho tem em vista analisar como funcionam estas formas de intervenção
na cidade de João Pessoa enfocando os aspectos de sua origem neste município, assim
como também focalizando como os praticantes destas atividades veem aquilo que é feito
por eles, qual o sentido eles dão a estas intervenções, como os grupos agem dentro da
cidade quais os seus conflitos e laços de sociabilidade, bem como também as
peculiaridades de apropriação e comunicação no meio urbano.
11
segundo momento relatarei como se deu o processo de pesquisa e as dificuldades
enfrentadas por mim, e as soluções encontradas para superá-las. Após isto em um
terceiro momento farei uma exposição mais histórica, mostrando como surge e se
expande o graffiti e a pichação ao redor do mundo, bem como também mostrarei
algumas características gerais destas manifestações. No quarto capitulo analisarei mais
especificamente nas manifestações presentes na capital paraibana. As formas de
manifestações especificas e compartilhadas da pixação e do graffiti, e como estas
intervenções se contrapõem a certos padrões artísticos, de apropriação e uso dos espaço
entre outros aspectos sociológicos.
12
CAPITULO 1 – GRAFFITI E PIXAÇÃO: TRANSGRESSÃO E
COMUNICAÇÃO NOS MUROS DA CIDADE.
Desde a minha infância existe um cantor que me encanta com suas músicas,
Adoniran Barbosa, que escreveu e interpretou clássicos do samba como Saudosa
Maloca, Trem das Onze, Viaduto Santa Efigenia e tantos outros. Fazem-se presente na
maioria de suas canções elementos da vida citadina, que na época deste compositor
estavam em transformação, e em processo de ebulição não visto anteriormente no
Brasil, em toda a história. Assim como ele, artistas (não só da musica, como também da
poesia, literatura, e da arte) enxergam a cidade como a sua grande inspiração. Caetano
Veloso nos disse em uma das suas músicas mais famosas que uma sensação tomava
conta do seu coração quando ele estava em uma das inúmeras esquinas de São Paulo.
As cidades são algo que fascina esses artistas seja pelas transformações que a todo o
momento promove, seja pela sua complexidade e caos que acaba por atrair a admiração.
Atualmente temos múltiplas visões que nos falam sobre como interpretar e o que
esperar da cidade. Mas o que é uma cidade, e como defini-la? Esta definição vai além de
se pensar apenas em um conglomerado de pessoas, vai além da sua demografia, a cidade
será definida pela sua estrutura arquitetônica (ruas, praças, casa, edifícios, etc.), pelos
serviços oferecidos (comércio, indústria, administração política, etc.), pelas relações
sociais (relações de sociabilidade, divisões na organização do trabalho, entre outras). A
idéia de cidade é algo complexo, pois ela engloba uma série de características e formas
3
Segundo a ONU-HABITAT IN: Urbanización para El desarrollo humano. Políticas para um mundo de
ciudades. 2009.
13
que não são apenas exteriores, são também algumas características internas que irão
definir certo espaço como sendo uma cidade. Giulio Carlo Argan a define da seguinte
maneira:
14
Outra dimensão é a política, morar numa cidade requer o mínimo de contato, de
convívio coletivo, e isto remete a uma série de regulações e condutas que devemos
seguir, como por exemplo, respeitar os sinais de trânsito, seguir a fila no banco, e tantas
outras ações que geram certa ordem e definem alguns dos nossos movimentos dentro
deste contexto urbano. A cidade também é um mercado. Este movimento magnético de
atrair, de aglomerar as pessoas promove uma potencialização da capacidade produtiva e
com isto se intensifica a divisão do trabalho e os indivíduos produzem e trocam
mercadorias. Este movimento de aglutinar pessoas diferentes em um espaço “limitado”
constitui também o mercado.
15
urbana. As características de urbanização citadas por Rolnik se intensificam na capital
paraibana passando esta vir a ser um polo urbano4.
A capital paraibana é uma das mais antigas cidades brasileiras, ela surge no dia 5
de agosto de 1585, já possuindo desde o seu inicio um estatuto que a rege. Diferente de
outras cidades litorâneas a sua formação vai ocorrer a partir de uma colina situada a
margem direita do Rio Sanhauá, ou seja, ela surge e se expande do centro próximo ao
rio e cresce, em direção ao mar. No inicio a sua função principal era o exercício de
funções administrativas, mas com o decorrer do tempo e devido a sua localização se
torna também um centro comercial (CAMPOS, 2010).
João Pessoa possuía no ano de 1808 cerca de 3.000 habitantes, este número vai
saltar para 18.000 no ano de 1900, e 34.000 habitantes em 1940. Até o inicio do século
XIX, a capital paraibana possuía uma população preponderante de militares,
administradores e religiosos. Devido a expansão do comercio brasileiro (após as
segunda metade do século XIX) ela passa por um processo de crescimento populacional
e aumenta a diversificação de seus habitantes. Seu caráter rural começa se modificar o
que provoca uma mudança das estruturas urbanas.
4
Este fenômeno é algo que acaba por atingir todo o nordeste brasileiro, tem-se uma modificação na
estrutura econômica da região nordeste, surgindo novos centros de desenvolvimento proporcionando uma
reconfiguração regional, onde antes se tinha apenas as grandes capitais como Recife, Salvador, Fortaleza,
vão surgir outros pólos como é o caso do complexo mineiro-metalurgico de Carajás, o pólo agro-
industrial em Petrolina-Juazeiro, a zona de fruticultura no Rio Grande do Norte. (OLIVEIRA; JANUZZI,
2005)
16
século seguinte que se processam modificações urbanas e um crescimento
populacional que acabam por transformar o caráter rural da pequena cidade.
Este período marca também a separação entre a Igreja e o Estado, refletindo-
se na reordenação dos espaços públicos e na tessitura da cidade, com a
construção de ruas e praças subordinadas agora às intenções de maior
circulação e acessibilidade (CAMPOS, 2010, p. 34)
5
Segundo dados do censo de 2010.
17
Todo este processo de urbanização por qual vem passando (principalmente nos
últimos vinte anos) a capital paraibana faz vir à tona novas formas de relações
econômicas, sociais, culturais e artísticas e é neste meio no qual passam a ocorrer novas
formas de relacionamento urbano com outros indivíduos e também com o próprio meio
urbano que os cerca, surgindo determinados grupos e manifestações que anteriormente
não se faziam presentes ou então que estavam “adormecidas” na cidade de João Pessoa.
Surgem assim grupos juvenis urbanos com identidades e culturas específicas, próprios
dos cenários urbanos contemporâneos, muitos dos quais se constroem em estreita
vinculação com os territórios da cidade. São exemplos desses grupos os skatistas, os
anarco punks, os rappers6 e também os grupos de pixação e de graffiti. Estas últimas
modalidades ja haviam ocorrido anteriormente na cidade, embora com outras
conotações. Mas é sobretudo a partir dos anos 2000 que se observa a expansão destas
atividades, que marcam presença em diversos espaços da capital.
6
A respeito destes grupos se destacam os trabalhos acerca de grupos juvenis que surgem ou se expandem
nos últimos 20 anos aqui em João Pessoa, trabalhos como os de Yuriallis Bastos “Cotidianizando a
Utopia: um estudo sobre a organização das atividades culturais e político-sociais dos Anarco-punks em
João Pessoa” (2008). Claudiovan Silva “Do Lazer a Profissão: Um estudo sobre o processo de
esportivização do skate em João Pessoa” (2010). Cleiton Ribeiro “Modos de Ser no RAP de João Pessoa”
(2011).
18
1.2 - COMUNICAÇÕES URBANAS
Todavia este leque de “melodias” que estão ao nosso redor, será por cada um
sentido de forma distinta de acordo com a história, o gosto, ou o interesse individual,
19
pode se escolher ir a determinado local pela rua A, ao invés de utilizar a rua B, esta
escolha estará sujeita, como já foi dito, a história de vida, ao gosto ou interesse de cada
um. A preferência pela rua A pode acontecer porque esta vem ocasionar alguma
lembrança boa, ou então por achar ser esta mais aconchegante, pode ser simplesmente
por que ela vem ser a alternativa mais rápida para determinado destino, a escolha vai
advir por motivos distintos que serão considerados de forma individual.
A urbe é um grande museu a céu aberto, é uma enorme tela preenchida com: a
arquitetura, as esculturas e bustos, os painéis e pinturas que vêem compor o seu cenário,
cada uma destas obras vem nos transmitir algo. A arquitetura de um edifício antigo pode
nos indicar a forma de vida das pessoas que o habitam (ou habitavam), bem como uma
escultura ou um busto pode vir a retratar algo histórico. Cada pessoa terá uma afinidade
distinta com esses elementos, alguns passarão e nem os notarão, outros contemplarão o
ponto de vista estético, outros ainda se direcionarão para os fatores históricos e sociais
que estas obras remetem.
20
fundamental importância, pois é nela que se situam certos instrumentos que irão dar o
aval e proferir todo um discurso sobre determinada obra. Consideramos que certas
pessoas possuem competência e autoridade para definir o que se classifica como arte ou
não e qual o valor das obras, estas pessoas são as que chamamos de críticos de arte, o
historiador de arte, o perito, o conservador de museu, entre outros, que tem a função de
proferir um discurso legitimando ou negando a classificação de algo enquanto arte.
Além de definir o que entra ou não dentro do “conceito” estes especialistas também vão
delimitar uma hierarquia entre as obras, eles se valem de critérios muito diversos e em
alguns casos pouco precisos para a realização de seus julgamentos o que ocasiona
interpretações distintas sobre determinada obra. A cultura moderna possui outro
mecanismo que vai atuar como definidor que também regula esta categorização
artística, eles são os locais e instituições onde a arte pode manifestar-se, os museus,
galerias, cinema, salas de concerto, o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, etc. que servem como “deposito” para as obras, somente ali elas serão
reconhecidas e legitimadas.
Assim que o trabalho é executado, eles se vêem, tal como qualquer outro
trabalhador, separados do produto do seu esforço. Seus bens e serviços são
postos à venda e são 'as vicissitudes da competição e as flutuações do
mercado', mais do que qualquer intrínseca verdade, beleza ou valor – ou, no
caso, qualquer falta de beleza ou valor -, que determinarão seu destino. Marx
não espera que grandes idéias e obras abortem por falta de mercado: a
moderna burguesia é notavelmente habilidosa em extrair lucro de qualquer
pensamento. O que ocorrerá, em vez disso, é que processos e produtos
criativos serão usados e transformados de modo a pasmar e horrorizar seus
criadores. Porém, os criadores serão incapazes de opor resistência, pois
necessitarão vender sua força de trabalho para continuar vivendo.
(BERMAN, 1986, p. 114)
21
Este é um fenômeno que não ocorre de forma generalizada felizmente, apesar
das injunções do mercado, a sociedade moderna possibilita a emergência, ás vezes das
vanguardas que rompem com gostos estéticos anteriores e iniciam outros7; como
aconteceu, por exemplo, com Picasso, Matisse, Paul Klee, Gaudi, entre outros.
Outra característica é que a arte não vem a ser apenas inerente a cidade, mas
também a constitui; olhemos as artes visuais, a pintura mais especificamente, as telas
por muitos anos tiveram um sentido religioso representando algo sacro, transcendente,
bem como também se voltavam para uma imitação da natureza. No decorrer do
processo histórico isto se modifica, a “consciência artística” se sobrepõe passa-se a
pintar a sociedade, a cidade em si como todos os seus benefícios e malefícios, os artistas
retratam muito bem as transformações ocorridas dentro das cidades, o artista deixa de
somente produzir “na” cidade e passa a produzir “para” e “sobre” a cidade.
7
É certo que muitos destes movimentos de vanguarda com o tempo acabaram sendo “cooptados”. Se
tornando o estilo, o gosto, aquilo que está na moda, ou seja, se transformaram naquilo que eles
combatiam. Entretanto é valido as transformações que estes vieram a promover abrindo novas fronteiras,
alargando o debate sobre certos parâmetros e regras a serem seguidos na sociedade.
8
Alusão ao conto de Edgar Allan Poe, “O Homem da Multidão”.
22
provocação é o que se chama ready-made (que vem a ser objetos fabricados em séries,
mas desviados das funções primitivas pela sua instalação numa galeria, em um museu),
ele se vale de uma negação da arte, uma crítica a concepção de arte para (re)utilizar um
objeto lhe dando esta característica que antes não lhe era auferida. Outros movimentos
de vanguarda surgiram pregando uma ruptura com o tradicionalismo das artes e
consequentemente promovendo novas formas de se expressar, temos o surgimento dos
movimentos modernistas: o futurismo, o expressionismo, o cubismo, o dadaísmo e o
surrealismo e posteriormente a pop’art. Se voltando contra todo um discurso que tende a
querer a classificar, o que tem valor artístico ou não (COLI, 1997). As cidades com seus
signos, marcas e grafismos dos anúncios de rua vão substituir as paisagens
impressionistas. Através da apropriação de fragmentos da realidade urbana, como textos
tipográficos, jornais, partituras musicais, embalagens, bilhetes de metrô, os pintores
cubistas introduzem a palavra em suas colagens. A seguir, esses artistas começam a
pintar as palavras sobre a tela, porém mantendo suas características tipográficas.
(VENEROSO, 2006). O graffiti e a pixação também irão (re)utilizar os espaços, para ali
inserirem as sua produção só que diferente destas manifestações artísticas modernistas
eles não terão em vista ser reconhecido diretamente como arte, como um novo modelo
estético que surge para suprimir outro já existente.
23
identificar duas formas de contracultura. A utilização do termo contracultura pode vir a
explicitar ao conjunto de movimentos de contestação da juventude que marcaram a
década de 60 (exemplos: o movimento hippie, o rock, flower power, os panteras negras,
as movimentações nas universidades, etc.); estes movimentos possuíam forte espírito de
contestação, de insatisfação, de experiência, se buscava uma outra realidade, um outro
modo de vida, percebe-se assim que este é um acontecimento especifico àquela época,
situado na história já que alguns destes movimentos mesmo existindo hoje eles não
possuem o mesmo sentido e o vigor de antes. Estes são realmente aquilo que chamamos
de movimentos contraculturais. A outra forma a qual o termo é utilizado vem referir-se
a uma coisa mais geral, mais abstrata, certo espírito, um modo de contestação, de
embate da ordem vigente, que tem uma característica diferente de oposição as formas
tradicionais. É uma postura ou posição de critica radical frente a uma cultura
convencional, é uma forma que surge de tempos em tempos contestando a ordem social
e chocando a sociedade, são agentes que passam a produzir um novo sentido, uma nova
interpretação da vida, uma cultura “transgressora”. A contracultura marcou uma
renovação no campo da política, deixa se de lado uma oposição que enfoca o conflito de
forma político-social, para uma posição onde os conflitos não se darão no campo da
política e sim nos campos comunicacionais e metropolitanos, são incorporados
atravessamentos corporais, espaciais, linguísticos onde se caracteriza o irregular, o
incontível, o imaterial (CANEVACCI, 2005).
24
“desordenada”, se propondo a inovar as formas de comunicação deixando de lado certos
códigos estáticos. Produzindo um significado próprio destes códigos, ou seja,
produzindo aquilo que Canevacci vai denominar de cultura extrema:
Assim antes de ver como funciona essa cultura extrema na cidade de João
Pessoa observemos a metodologia utilizada neste trabalho bem como também uma
rápida explanação de como vem surgir e quais são as semelhanças e diferenças entre o
graffiti e a pixação.
25
CAPITULO 2 – Reaprendendo a olhar os muros.
26
imigração subia vertiginosamente, em 1840 a população era de 4.470 habitantes,
cinquenta anos depois em 1890 esses números eram de 1 milhão e cem mil, já em 1930
chegou-se a 3 milhões e meio de habitantes. (COULON, 1995)
O que tinham diante dos olhos era o vertiginoso crescimento de Chicago, nos
anos vinte, a partir de correntes migratórias, com a correspondente sequela de
problemas que tal fenômeno acarretava. As mudanças eram rápidas, os
grupos que disputavam os espaços eram heterogêneos e a competição, feroz.
(MAGNANI, p. 7, 1996)
Para abordar temas como estes e não cair na armadilha de ver a pesquisa se
tornar algo próximo a uma reportagem jornalística foi necessário desenvolver outra
forma de se fazer pesquisa na cidade, foi a partir desta questão que se passa a utilizar
métodos antropológicos (como por exemplo, os mesmo utilizados por Malinowski em
sua pesquisa com os trobiandeses) para se fazer pesquisa urbana, como etnógrafos
urbanos eles passam a utilizar fontes documentais, entrevistas, testemunhos, observação
participativa.
Evidentemente, uma tal concepção da pesquisa viria a induzir técnicas
particulares de pesquisa de campo, agrupadas sob o titulo de sociologia
qualitativa. Por um lado, seriam utilizados documentos pessoais, tais como
autobiografias, a correspondência particular, os diários e os relatos feitos
27
pelos próprios indivíduos de que tratava a pesquisa; por outro lado, o trabalho
de campo que os pesquisadores de Chicago chamavam também de estudos de
caso, baseado em diversas técnicas como a observação, a entrevista o
testemunho, ou, ainda o que foi chamado de observação participativa.
(COULON, p. 82, 1995)
28
buscaria caso se estudasse outra sociedade, ou seja, é preciso ver em nós mesmos aquilo
que é “diferente” e que cabe ser pesquisado.
O problema é, então, o de tirar a capa de membro de uma classe e de um
grupo social especifico para poder [como pesquisador] estranhar alguma
regra social familiar e assim descobrir (ou recolocar, como fazem as crianças
quando perguntam os “porquês”) o exótico no que está petrificado dentro de
nós pela reificação e pelos mecanismos de legitimação. (DA MATA, 1978, p.
28)
29
conquistam as ruas com performances. Assim também as imagens, livres dos
recintos fechados, seletivos – como igrejas, museus ou galerias -, são
expostas diretamente nas ruas da cidade. (RAMOS, 1994, P. 29).
9
Mesmo utilizando neste trecho o termo “tribos urbanas”, Magnani no artigo: “Tribos Urbanas: Metáfora
ou Categoria”. Ele irá recriminar a utilização indiscriminada deste termo.
30
No intuito de se buscar algum entendimento acerca de como funciona a “cultura
extrema10” da pixação é que se originou esta pesquisa, realizada entre os anos de 2010 e
2011, embora já há algum tempo o pensamento sobre esta já vinha sendo realizado.
Apesar de nunca ter sido pixador (pelo menos não em paredes) desde pequeno vivi em
regiões onde a predominância deste fenômeno era algo que se fazia comum, cheguei a
possuir alguns amigos que eram praticantes eles me contavam algumas de suas
historias, mas neste momento isto era algo que não me interessava muito, até porque as
ciências sociais não se faziam naquele momento presentes em minha vida.
Quando já estava cursando a graduação em ciências sociais no ano de 2006
participei de um congresso na cidade do Rio de Janeiro, e em determinado momento
dentro do ônibus quando este se deslocava, em uma parada em semáforo vermelho
observei da janela a parede da entrada de uma comunidade que possuía a seguinte
inscrição “Adeus L7 fique na paz, que nois vai vingar você, assinado L11”.
No principio uma das dificuldades que eu tinha era de conseguir algum material
bibliográfico que tratasse do tema, mesmo sendo manifestações que ocorrem já há
alguns anos nas grandes cidades brasileiras existem poucos estudos – isto se comparado
a outras manifestações urbanas – que versam sobre estas atividades principalmente no
campo das ciências sociais. A bibliografia que enfoca estas manifestações vem se
10
Culturas extremas são àquelas que se movimentam de maneira desordenada nos espaços
comunicacionais das metrópoles e escolhem inovar os códigos de forma conflitiva. Modificando os
significados estáticos. Produzindo significados alterados.
31
originar em boa parte de outros campos do saber como os estudos que direcionam para
o campo da comunicação, da arte, da arquitetura. É bom salientar que existe atualmente
dentro do campo das ciências sociais um acréscimo nos estudos que tem em vista o
grafite e a pixação como temática de pesquisa. Assim eu me propus a analisar estas duas
manifestações a partir de um enfoque sociológico que nos mostre como são as relações
de seus membros entre si, como as duas interagem e divergem, como é a relação delas
com a sociedade e de que forma atuam dentro do espaço urbano.
Como um agente inserido no meio do espaço urbano, posso dizer que a pesquisa
não transcorreu de forma totalmente neutra – neutralidade tão enfatizada por Durkheim
– uma das vertentes das ciências sociais afirma que deve existir uma distancia mínima
que garanta ao pesquisador meios de chegar a uma objetividade em seu trabalho, é
necessário que se faça uma pesquisa tomando o cuidado com certos envolvimentos que
venham a obscurecer ou deformar as conclusões, a pesquisa deveria ser algo que
ocorreria com uma “oposição” pesquisado X pesquisador onde estes dois mundos não
se cruzariam, só assim o pesquisador seria capaz de enxergar de forma imparcial a
realidade do objeto pesquisado.
No meu ponto de vista esta neutralidade tão enfatizada por alguns pesquisadores
é algo praticamente impossível dentro de um estudo que abarca a sociedade onde o
pesquisador está inserido, a forma metodológica a se seguir deve ser algo onde o
individuo venha reconhecer que na sua escolha sempre vai estar envolvido algum juízo
de valor, assim o pesquisador tem que estar consciente que não é nenhuma escolha
neutra, sempre vai existir valores implícitos. Quando tratamos do fenômeno urbano sob
o prisma de uma única ciência, jamais este vai ser possível de ser plenamente
apreendido (Lefebvre, 2004) - assim como Weber - irá nos dizer que sempre se deixa
um resíduo, sempre existirá algo que escapa aos olhos do investigador, a união de
diversas ciências vem a ser aquilo que melhor se aproxime de uma compreensão deste
fenômeno urbano.
32
De um modo mais geral, mas mais dramaticamente para quem estuda sua
própria sociedade, coloca-se o problema [...] enfrentar seus limites de um
homem de uma cultura ou de uma classe, segmento ou grupo social. Seja
como participante do todo mais abrangente, seja como membro de uma de
suas partes, sua visão de mundo estará marcada e, de alguma maneira,
comprometida. (VELHO, 1980, p. 17).
Entretanto é preciso ter em mente que nem tudo que é familiar pode vir a ser
algo conhecido, retornando a questão de Da Mata quando ele nos diz que devemos
observar o familiar como exótico é preciso perceber até qual ponto esta familiaridade é
algo real, muitas vezes nos deparamos com coisas que estão na nossa frente, no nosso
dia a dia, só que muitas dessas coisas apesar de serem familiares são quase totalmente
desconhecidas, não sabemos o seu funcionamento, as suas regras, os seus costumes, ou
seja, não nos colocamos no lugar do outro e muitas vezes usamos pré-noções a respeito
desta familiaridade.
Desta forma me sinto habituado, com aquilo que me cerca cotidianamente, mas a
minha concepção a respeito de como agem os atores é algo superficial, sendo necessário
um desapego a certas noções, passando a ter de enxergar de forma distinta, agora com
um olhar muito mais atento o meu dia a dia, e também aquilo que está ao meu redor,
pois observando o cotidiano como algo que se faz presente na vida social é que será
possível apreender certas tensões, conflitos, ideologias, e etc. (VELHO, 1978; PAIS,
2003).
33
melhor as praticas sociais e os usos não tão habituais que determinados grupos sociais
podem vir a inferir em certo local. Como nos mostra Magnani:
Foi exatamente isto que se deu comigo nesta pesquisa, desde o seu inicio passei
a reavaliar os meus itinerários cotidianos, os trajetos por mim percorridos foram
melhores observados, passei a fixar um olhar mais atencioso sobre a cidade, e
especificamente sobre os muros e as imagens que a compõem. Foi necessário um
exercício de distanciamento, uma transformação em uma espécie de estrangeiro, em um
turista que passa a enxergar a cidade como se fosse a primeira vez que estivesse nela,
observando-a como uma cidade alheia ao meu cotidiano.
34
para enfrentar as situações de campo e os processos de estranhamento e de
familiarização.
Muitos estudiosos tiveram o seu cotidiano como pano de fundo para as suas
investigações e assim acabaram por nos propiciar uma gama de formas e métodos de se
erigir um saber urbano, entre estas investigações se destacam os trabalhos sociológicos
realizados entre as primeiras décadas do século passado na cidade de Chicago, a Escola
de Chicago (já explanada antes) se valendo de uma aproximação com o método
etnográfico nos mostrou uma maneira de se fazer pesquisas sociológicas, utilizando um
conjunto de técnicas que são denominadas de métodos qualitativos.
35
Recentemente, passando pelo local desta intervenção, vi que a parede na qual eles
fizeram as suas obras agora foi recoberta pelo propaganda de uma loja de construção.
O método da entrevista aberta também foi muito utilizado, esta é uma técnica
onde acaba por acontecer uma comunicação mais interativa entre o pesquisador e o seu
informante e ela pode ocorrer a partir da proposição de um tema geral, como no caso de
uma entrevista temática onde o informante vai se focar em um único tema, e este é dado
pelo pesquisador de maneira direta ou indireta, a entrevista também pode ser concebida
por meio de tópicos, onde um tema que é dividido em diversos tópicos e o pesquisador
vai inserindo estes de forma gradual no decorrer da entrevista, Perseu Abramo nos
mostra bem isso, ele diz:
Foi por meio destas entrevistas tópicas que percebi certas especificidades que se
fazem presentes no graffiti e na pixação, isto porque o fato dos informantes não estarem
presos apenas a temas específicos possibilitou que as entrevistas transcorressem para
outros caminhos os quais eu não tinha imaginado antes, sendo isto uma experiência
positiva. Esta metodologia da entrevista aberta acabou sendo a ferramenta principal
utilizada nesta pesquisa, mas esta possuiu outra característica que foi a de entender a
trajetória destes agentes no campo de suas atividades artísticas, transgressoras e ou
marginalizadas. Assim não tendo apenas em vista saber o funcionamento destas duas
manifestações também busquei historicizar como elas começaram e quais foram os seus
precursores, de que maneira estes agentes se inserem neste meio, assim posso dizer que
36
as entrevistas se articularam tendo em vistas duas modalidades, entrevistas temáticas e
narrativas de trajetórias individuais dentro das manifestações estudadas.
Os contatos com os graffiteiros ora foram feitos por meio do telefone, ou então
pela internet, que se mostrou uma ferramenta bastante interessante para a pesquisa,
porque por meio dela foi possível analisar blogs, fotologs, e paginas de relacionamentos
dos praticantes do graffiti onde é possível encontrar um material muito interessante com
as produções deles.
37
e também aos meus e-mails. A única explicação foi dada de forma breve por meio de
um site de relacionamentos, onde ele apenas mandou uma mensagem dizendo que não
dava mais para rolar a entrevista porque naquele momento era “sujeira”. Tentei
persuadi-lo a reconsiderar e também busquei saber o porquê de ser “sujeira” mas após
isso nenhuma outra resposta me foi dada.
Tive que retornar a etapa zero em busca de um novo informante, foi nesse
momento que passei a utilizar mais enfaticamente os sites de relacionamentos, neles se
encontram comunidades de pixadores e foi por meio destas que consegui outros
contatos, mas estes contatos não se sentiram a vontade para ter um encontro face a face
comigo, assim realizei as entrevistas e obtive as informações sobre a prática da pixação
por meio da rede mundial de computadores (internet). No principio confesso que fiquei
um pouco desconfiado se a utilização deste meio seria eficiente, e até mesmo se este
método teria uma validade metodológica, com o tempo eu percebi a eficiência desta
ferramenta e como ela pode (e deve) ser mais bem aproveitada nas pesquisas, como bem
afirma Rita Amaral:
38
situados até mesmo em continentes distintos. Isto nos mostra (e eu me arrisco a afirmar
que potencializa) uma heterogeneidade de sujeitos. Assim por meio desta rede são
repassados ao restante do mundo diversos costumes, estilos, hábitos, etc.; ou seja, uma
série de manifestações culturais (DORNELLES, 2004).
É sabido que a utilização desta ferramenta é algo que deve ser mais bem
debatido e discutido dentro das ciências sociais, pois ele incidirá algumas novas
percepções sobre certos conceitos, como o de campo, de entrada e saída do campo, entre
outros, além da discussão sobre a interação entre o pesquisador e o seu objeto de estudo.
Já que para certas pessoas este tipo de pesquisa não traz consigo a percepção direta a
respeito do objeto, é claro que certos aspectos que poderiam ser notados em uma
pesquisa face a face não existem de forma tão direta quando se utiliza a internet como
ferramenta, mas estes mesmo aspectos não são perdidos totalmente, na verdade eles são
“reinventados”.
Nas entrevistas feitas com os pixadores via MSN em muitos momentos foi
possível perceber certos sentimentos passados por eles mesmos, seja na forma como
eles respondiam ou então por meio de determinados símbolos que se fazem presentes no
meio virtual e que exprimem determinadas emoções11. No meio virtual os indivíduos
“falam”, “escrevem”, “gritam”, “choram”, ou seja, por meio de uma “conversa teclada”
tem-se distintas maneiras deles exprimirem as suas emoções. Isto ocasiona uma nova
articulação entre a forma de linguagem oral, e a forma de linguagem escrita (GARBIN,
2003). Rita Amaral diz o seguinte a respeito disso:
11
Na linguagem virtual da internet foram desenvolvidos certos códigos que expressam as emoções,
sentimentos, etc. Estes são chamados de emoctions que pode ser representados em algumas ocasiões por
imagens, ou então com uma combinação de teclas como nos casos de: :-) que representa uma pessoa
sorrindo, :-p uma pessoa mostrando a lingua, :-( pessoa triste).
39
internautas chamam de emoticons (ícones de emoção), que constituem
verdadeira pontuação nos textos da Internet. Ri-se, faz-se ironias, zanga-se,
fica-se envergonhado, chateado, cansado e chora-se por escrito. Enviam-se
flores virtuais, chocolates, músicas, poesias ou também vírus quando as
coisas "vão muito mal" entre as pessoas. (AMARAL, 2001, p. 06)
A pesquisa mesmo sendo via internet teve que ter um cuidado, ainda mais após a
experiência mal sucedida que já havia ocorrido, sempre busquei um cuidado, tentando
colocar certas questões mais delicadas na hora certa, pois se perdesse a confiança isto
poderia prejudicar a pesquisa, mas isto é algo que não só acontece no campo virtual
como em qualquer outro campo, ainda mais quando o objeto de estudo é algo
“marginal”.
40
Ao todo foram feitas 11 entrevistas, onde sete eram graffiteiros e quatro são
pixadores, entre estes últimos a faixa etária variava entre os 15 aos 18 anos, já com os
graffiteiros a idade era maior encontrando-se jovens a partir de 18 até pessoas com mais
de 30 anos de idade. Os entrevistados são de diversas regiões da cidade como Bessa,
Torre, Castelo Branco, Mangabeira. Tanto na pixação quanto no graffiti encontram-se
pessoas que estão há mais tempo na atividade como também foram feitas entrevistas
com alguns que entraram há pouco tempo.
Alguns deles ficaram curiosos em relação como era esta pesquisa e buscaram
saber o seu significado, quais eram as minhas pretensões, o do porque de escolher este
tema. Em certos momentos, no decorrer de algumas entrevistas ocorria uma inversão, o
entrevistado passava a me recobrir de uma série de perguntas, mas nada que
atrapalhasse o transcorrer da entrevista e da pesquisa, em outro momento um dos
grafiteiros e também alguns pixadores falaram na intenção de fazer um vídeo contando
a historia destas manifestações em João Pessoa, eu me coloquei a disposição para ajudá-
los no que estiver ao meu alcance, inclusive para todos enviarei esta dissertação, pois do
meu ponto de vista não cabe a um cientista social apenas se aproximar de determinado
objeto colher as informações e depois não disponibilizar os resultados,
independentemente de estes serem favoráveis ou não aos pesquisados.
41
CAPITULO 3 - HISTORIA DO GRAFFITI E DA PICHAÇÃO
42
No caso da pichação a origem do termo é algo que ainda não se chegou a uma
conclusão satisfatória, mas na maioria dos casos lê-se a palavra pichação em conjunção
com algo sujo e poluído visualmente, uma das explicações da origem do termo vai nos
falar que ele se origina no elemento complementar pich-, do inglês pitche (piche, breu);
este elemento se desenvolveu desde o século XVII. Atualmente surgiu o verbo pichar
(que junta pich + ar), palavra que se originou no Brasil, o termo pichar á algo
aparentemente nativo brasileiro. A língua inglesa refere-se a pichação com o termo
Graffiti. (CALÓ, 2005)
Ambas as manifestações (graffiti e pichação) possuem uma gênese única, elas
nascem e se desenvolvem juntas, na verdade é na segunda metade do século XX que
elas se “separam” passando cada uma delas a possuir certas características distintas e a
partir daí serem vista como duas manifestações distintas. Foi a partir do surgimento da
tinta aerossol que estas atividades se expandem. A tinta spray vai dar uma maior
mobilidade e rapidez aos indivíduos propiciando que as intervenções sejam feitas de
forma mais discreta e rápida.
A década de 60 foi marcante devido a uma grande efervescência cultural,
política e social que se espalhou ao redor do mundo, neste período irão surgir diversos
movimentos mundo afora, que vão questionar e criticar as guerras imperialistas, o
totalitarismo, a massificação da sociedade industrial, e os tabus culturais e morais.
As soluções para determinados “problemas sociais” deixam de serem buscadas
somente na esfera técnica, elas agora dizem respeito à esfera política que deve propor
mudanças sociais e culturais. O ponto culminante dessas manifestações foi em maio de
68 na cidade de Paris (França) onde estudantes universitários e secundaristas ocuparam
as ruas e as universidades reivindicando reformulações nos métodos de ensino e nos
currículos, além de criticarem as consequências do capitalismo mundo afora, uma das
formas de protesto foi a utilização de intervenções em muros da capital francesa.
Entretanto um ano antes na cidade de Brighton, na Inglaterra um dos seus
moradores John Upton acabou sendo detido pela policia local devido a uma
performance que se baseava em um recital de poesia e na criação de uma pintura mural
de caráter hedonista, utópica, composto por adornos florais com namorados, feitos em
cores vibrantes. A repercussão desta apreensão veio fazer com que surgissem outras
iniciativas, que acabaram por originar um movimento de pintura mural comunitária no
Reino Unido. Esta forma de intervenção que utiliza a pintura mural passou a ser
43
utilizada na Grã-Bretanha como uma maneira de organização e fortalecimento das
comunidades. (KNAUSS, 2001)
Este tipo de manifestação atravessa o Canal da Mancha e um ano depois é
utilizada pelos jovens franceses nos protestos. As paredes e monumentos se tornam
neste momento um importante meio de propagação destes protestos surgem inscrições
que remetem a palavras de ordem como: “Abaixo a sociedade de consumo”, protesto:
“A humanidade só será feliz quando o ultimo capitalista for enforcado com as tripas do
último esquerdista”, foram possíveis também perceber palavras de amor: “Camaradas,
o amor também se faz na faculdade de Ciências”, e palavras de tom humorístico: “Eu
tinha alguma coisa a dizer, mas não sei o quê”.
Neste mesmo período, no outro lado do oceano atlântico, nos Estados Unidos
estas manifestações também começavam a se fazer presentes nos cenários das cidades,
primeiramente foram os subúrbios da Filadélfia, Chicago, Pensilvânia e posteriormente
Nova York onde negros e imigrantes latinos passaram a escrever nos muros, trens,
mêtros, e até mesmo em caminhões e ônibus as suas mensagens. No bojo dos
movimentos de defesas dos direitos civis a pintura que utilizava o muro como suporte se
tornou um instrumento politicamente orientado que se expandiu por todos os Estados
Unidos como nos mostra Paulo Knauss:
Em Chicago, no mesmo ano de 1967, o movimento anti-racista e de
afirmação da identidade afro-americana, Black Power, inaugurou uma pintura
mural coletiva resultado de uma intervenção de 21 artistas negros que
dividiram uma fachada, que foi intitulada Wall Of Respect. No mesmo ano,
do outro lado da rua, o mesmo movimento inaugurou o Wall Of Truth e,
posteriormente, na Episcopal Church surgiu depois o Wall Of Pride.
(KNAUSS, p. 334, 2001).
44
primeiras pessoas a inscreverem dessa forma nos muros foram Taki 183, Zephir,
Bárbara 62, Eva 62. (MACHADO, 2004; RAMOS, 1994, PEREIRA 2007, GITAHY,
1999). Isto porque essas acabaram tendo uma maior repercussão nos meios midiáticos,
mas sabe-se que já em 1967 a inscrição Julio 204 é apontada como obra originaria do
grafite em Nova York. (KNAUSS, 2001).
Juntamente com outras manifestações culturais que posteriormente se juntaram
ao graffiti e formaram o movimento Hip-Hop, esta manifestação passou a se espalhar
tão rapidamente pelo mundo quão intensamente foi o combate a sua pratica. Na
primavera de 1972 a imprensa se opõe denunciando o caráter predatório das inscrições
que naquele momento “bombardearam” toda a cidade, surgindo ai uma discussão
política visando formas de acabar com esta manifestação. ( KNAUSS, 2001; RAMOS,
1994)
Agora o grafite adquiria uma nova forma, e, a partir da cidade de Nova York, se
alastrou facilmente por diversas cidades do mundo. O grafite retorna a Europa – isto no
fim da década de 70 e inicio de 80. Neste período não são os movimentos estudantis que
passam a utilizar esta forma de expressão, e diferentemente do que acontecia nos
Estados Unidos também não é o Hip-Hop e sim são outros movimentos culturais que
irão utilizar essa forma de linguagem; os anarquistas, os punks aderem ao grafite e o
contrario também ocorre, o grafite adere ao punk e ao anarquismo, cidades como
Amsterdã, Londres, Paris e Berlim se tornam redutos destas manifestações e
consequentemente da arte de rua, surgem nomes como Speed Graphito12, Combas, Di
Rosa, entre outros que utilizam a “arte do spray” como um movimento de libertação,
12
Este, aliás, é uma figurar peculiar, pois se autodenominava como sendo o artista de rua mais rápido, nas
suas intervenções ele levava junto um relógio despertador onde cronometrava as suas ações, além disso,
utilizava um tradicional carrinho de supermercado para transportar as suas tintas.
45
utilizando os muros como armas para combater o abstracionismo, o concretismo, e
todos os ismos que permeavam o cenário artístico e circundavam pelas galerias e
museus. (LARA, 1996, SANTOS 2009)
A década de 80 foi, talvez, onde começou de forma mais enfática a ocorrer uma
separação entre graffiti e pichação, até então os dois não se diferenciavam, sendo
apreendidos como sendo uma coisa só, não havia fronteiras entre eles ambos eram
igualmente marginalizados e discriminados, vistos sem valor estético. Mas este
fenômeno que se espalhou inicialmente fazendo inscrições com spray, nos muros, trens,
metrôs, postes e tudo aquilo que pudessem servir de “base” para as tags (assinaturas)
por toda a cidade de Nova York, sofrem uma transformação, o caráter figurativo ganhou
espaço, a imagem e a policromia passam a ser predominante no graffiti. (SANTOS,
2009)
46
e galerias; passam a aglutinar esses “jovens pintores da rua” que agora utilizam uma
linguagem mais estética do que escrita, assim temos uma “institucionalização” do
graffiti. Surgem nomes que passarão a ser referencia no mundo todo; Jean-Michel
Basquiat, Keith Haring, Kenny Scharf se distanciam das tags e passam a elaborar algo
mais no sentido plástico, da livre figuração, De maneira meteórica este estilo cai nas
graças dos críticos artísticos, dos jornalistas e da população em geral que passa a
enxergar com um olhar diferenciado esta forma de grafitar mais figurativa, e que
carrega consigo elementos psicológicos e de estilos definidos. Assim os graffitis passam
a frequentar galerias e museus, passando por um processo de aceitação publica.
Dois nomes que devem ser destacados são os de: Jean-Michel Basquiat que no
inicio escrevia frases de impacto por toda a cidade de Nova York, ele possuía um estilo
irreverente e rebelde, infelizmente acabou falecendo em 1988 vitima de uma overdose
de heroína. Outro nome é o de Keith Haring, pode-se dizer que foi ele quem descobriu o
metrô, ele foi um dos primeiros a desenhar nestes espaços, com um giz branco e ele
fazia seus desenhos, que eram na sua maioria figuras simples de um boneco que possuía
uma cabeça redonda, outros desenhos que foram uma marca registrada sua eram os
labirintos, Haring - assim como Basquiat - também faleceu em 1990 só que vitima de
AIDS. Ambos viajaram por diversos lugares do mundo expondo seus trabalhos em
locais de grande renome mundial, inclusive Haring esteve no Brasil junto com Kenny
47
Scharf na Bienal de São Paulo de 1983 onde eles expuseram a sua arte. (GITAHY,
1999)
48
H”, “Oi Muro! Bi Olhei Gamei Gostei”, “Ah Ah Beija Me”, entre outras inscrições13
(RAMOS, 1994; GITAHY, 1999, PEREIRA, 2007).
O graffiti nesta época irá se valer da utilização do “estilo das máscaras”, que por
meio de moldes vazados (que são chamados de máscaras) onde são feitas às imagens
que serão grafitadas - um estilo muito parecido com o stencil - os principais nomes
deste estilo e que podem ser considerados como os precursores do graffiti que enfoca a
imagem no Brasil são: Alex Vallauri, Carlos Matuck, e Waldemar Zaidler que pintavam
personagens de quadrinhos pela cidade além de outros objetos, por exemplo a marca
registrada de Valluri era uma bota feminina, um frango assado entre outras, este artista
veio a falecer em 26 de março de 1987, e no dia seguinte seus amigos em sua
homenagem graffitaram o túnel da avenida paulista, a partir daí este dia ficou sendo o
Dia Nacional do graffiti. Os três Alex Valluri, Carlos Matuck, Waldemar Zaidler foram
no Brasil os primeiros grafiteiros a serem vistos como artistas e foram convidados a
expor suas obras em galeria e bienais, inclusive seus trabalhos estiveram presentes na
bienal de São Paulo em 1985. Nesta época com a expansão da atividade surgiram alguns
13
Alguns nomes que merecem ser destacados são os de Walter Silveira, Tadeu Jungle, Hudinilson Júnior,
que são os precursores desta atividade no país.
49
grupos de graffiteiros como o 3nós314 e o grupo Tupinãodá15, outro grupo de destaque
foi o grupo Aerosol (RAMOS, 1994, GITAHY, 1999).
O estilo das máscaras - que tem em Alex Vallauri seu grande expoente.
O estilo Americano – que é ligado ao movimento Hip-Hop
O Estilo a mão livre – que é baseado na forma de grafitar de Keith Haring, este
estilo foi muito executado no país pelo grupo Tupinãodá.
14
Composto por Hudinilson Júnior, Mario Ramiro, e Rafael França.
15
Formado por Jaime Prades, Milton Sogabe, Eduardo Duar, José Carratu, Cezar Teixeira (estes dois
últimos posteriormente deixaram o grupo) Carlos Delfino, Alberto Lima, Claudia Reis e Rui Amaral
(estes quatros entraram posteriormente).
16
Que é o grande referencial desta atividade no Brasil.
50
aumento substancial da prática na cidade, ocasionando em uma enxurrada de pixações
por toda a cidade; é nesta fase também que começa a haver uma diferença entre
pichação com CH e a pixação com X, mas isto é algo que será abordado em outro
momento.
Em uma terceira fase os pixadores passam a ousar mais, é neste momento que eles
passam a visar formas de burlar a segurança dos prédios e edifícios, sejam estes
públicos ou residenciais, a pichação nos “picos” passa a ser a mais valorizada e desejada
por seus praticantes, como nos fala Gitahy: “a pichação mais valorizada passa a ser
aquela feita nas condições mais adversas, como, por exemplo, prédios mais altos e
monumentos valorizados e bem visualizados” (p. 28, 1999).
A quarta e ultima fase é quando a pixação vai atingir o seu ápice, neste instante
aquela intervenção que provoca polemica, e que pode ser até mesmo alvo de veiculação
na mídia será a mais reconhecida e proporcionará ao seu autor um maior status sobre os
outros praticantes. Assim os locais de grande valor cultural, estético, e moral dentro do
cenário da urbe como foi o caso da Prefeitura de São Paulo, Memorial da América
Latina em São Paulo, o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, passam a ser perseguidos por
esses escritores urbanos. (GITAHY, 1999, CARVALHO, 2011).
A pixação atual pode ser entendida como algo onde essas quatro fases distintas
coexistem, pois existem características de todas elas presente nas manifestações atuais,
ou seja, se pode notar ao analisar a pixação contemporânea a permanência de
propriedades específicas destas diferentes fases. Outro fator a se notar é que os seus
membros buscam de forma incisiva fazer as suas inscrições, o que demonstra uma
competição intensa pelo espaço da cidade. (CARVALHO, 2011)
51
a pena mínima pode ser de seis meses quando o ato for realizado em depreciação de
monumentos e bens tombados em razão do seu valor artístico, arqueológico ou
histórico.
Com o passar dos anos o graffiti adquiriu um caráter de arte, e hoje em dia boa
parte da sociedade passou a ver esta intervenção com outros olhos. No ano passado
(2011) foi sancionada pela presidente Dilma Roussef uma nova lei que diferencia o
graffiti da pixação, e além disso proíbe a venda de tinta spray para menores de 18 anos
de idade17. Muitos dos seus praticantes ou enveredaram pelo caminho da arte, ou então
passaram a ministrar oficinas de graffiti. Estas oficinas, aliás, são utilizadas por
prefeituras e por ONGs como uma forma de converter jovens pixadores em grafiteiros,
combatendo assim a pichação. Ocorre um fenômeno interessante: a pixação acaba sendo
ainda mais marginalizada e o seu combate passa a ocorrer com a utilização da sua “arte
irmã” o graffiti (PEREIRA, 2007).
17
Fonte folha de São Paulo - http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/921118-sancionada-lei-que-libera-
grafite-e-proibe-spray-para-menor-de-18.shtml
18
Que teve em Giotto a sua principal figura, que decorou muitas igrejas e palácios utilizando esta técnica.
52
O Mural ou como os franceses chamam mur peint é outro tipo de intervenção
colorida que se faz presente dentro da cidade, só que diferentemente ela é apenas uma
intervenção e jamais uma transgressão, o mural é uma pintura em muro ou parede e tem
por característica tanto ser interno ou externo quanto ser publico ou privado, o seu
sentido é notoriamente político, educativo, decorativo, ele está a serviço de quem o
contrata, de quem paga por ele, ou seja, ele possui a característica de ser encomendado
pretendendo atingir a fins decorativos, ele tem a pretensão de ser monumental de ser
uma obra de arte durável e apreciada por todos, diferente do graffiti e da pixação. Desta
forma, a sua elaboração é muito mais detalhada, é feito uma espécie de estudo que tem
em vista um processo de escolha do material a ser utilizado, de observação do local
onde o artista irá analisar o meio ambiente ao redor do local e como este será afetado
por alterações climáticas e pelo tempo, (o grande nome do muralismo no Brasil foi Di
Cavalcanti que produziu diversos murais), assim o muralismo difere em muito das
pichações e do graffiti. (RAMOS, 1994, GITAHY, 1999)
53
busca sobrepujar estas normas, leis e regras. Diferente das manifestações autorizadas
elas não pretendem serem perpetuadas, ou seja, elas não se fixam, podem ser vistas
hoje, mas talvez não amanhã, a efemeridade é uma característica delas.
Já o graffiti não se mostra tão anárquico, como Maria Célia Ramos (1994) nos
fala ele é mais próximo de um “protesto branco”, já que não é sua intenção agredir o
urbano, e nem seus habitantes, ele busca chamar a atenção, para o descaso da cultura e
para que os espaços sejam mais bem aproveitados, assim ele irá interagir com o urbano,
mas sem agredi-lo, “restaurando-o”, os grafiteiros tem a preferência de que as
intervenções sejam feitas em locais maltratados, como fachadas de casas abandonadas,
terrenos baldios, percebe-se que diferente da pichação o seu suporte será outros como
prédios em demolição, túneis, ou seja, espaços negligenciados, jamais eles visam
teatros, igrejas, escolas recém restauradas. Ele enfatiza mais do que a pichação uma
qualidade estética, desenvolve uma linguagem mais elaborada com preocupações
artísticas. (RAMOS, 1994, GITAHY, 1999)
Os dois vão atuar no espaço urbano, e eles se valem de suportes muito parecidos
(em alguns casos o mesmo) só que enquanto um enfoca mais a letra, o outro se volta
54
para a imagem, enquanto um utiliza uma linguagem monocromática, o outro se vale de
uma variedade de cores, numa manifestação esta apenas o ato em si sem tantas
preocupações estéticas e com a forma ocorrendo de forma improvisada, outro prioriza a
qualidade estética como a intervenção ira se relacionar com o meio que à cerca, existe
uma espécie de planejamento, de reflexão acerca da obra a ser realizada. Interessante
que existe uma espécie de processo evolutivo, como o graffiti surge a partir da pichação
existe uma forma híbrida entre as duas manifestações são os chamados grapichos, ou
como é mais conhecido entre os praticantes os bombers, que seria a fase intermediaria
entre pichação e graffiti, são pichações mais coloridas, ou seja, são tags feitas com uma
letra que possui um formato mais elaborado e colorido. Assim conforme afirma Pereira
(2007): ... “enquanto o grafite advém das artes plásticas, a pichação é oriunda da escrita.
Dessa forma, a primeira valoriza a imagem e a segunda a palavra, a letra. Da interação
entre essas duas intervenções surgiram até formas híbridas, chamadas por alguns de
grapicho”. ( p. 228).
Dentro do que foi apresentado até o presente momento sobre graffiti e pichação,
a sua historia, a sua definição, nos deteremos no próximo capitulo a observar como
ocorre a pratica destas manifestações na cidade de João Pessoa como os atores
envolvidos enxergam esta atividade e quais são os aspectos sociológicos que se
apresentam nesta atividade na capital paraibana.
55
CAPITULO 4 – O GRAFFITI E A PIXAÇÃO EM JOÃO PESSOA
Da mesma maneira que ocorre com a pixação e o graffiti a nível nacional (vide
capitulo anterior), na Paraíba se dá mesma forma, é a partir do fim década de 80 e inicio
da década de 90 que começam a surgir certas intervenções que seriam os embriões
destas que observamos hoje em dia. Em um primeiro momento pessoas fazem isto de
forma individual e aleatória, alguns poucos grupos começam a se articular e
desenvolvem as atividades na maioria das vezes apenas nos próprios bairros onde
moram. Nos anos 2000 esta atividade se expande, diversos grupos surgem (alguns de
forma temporária outros de forma mais permanente). Fazendo um breve relato próprio
foi no final do ano de 1999 que me mudei para João Pessoa vindo de São Paulo e uma
característica que me chamou rapidamente a atenção foi o fato de a cidade ser “limpa”,
ou seja, eu não observava nas ruas e nos muros pixações e graffitis. Nestes 12 anos vi
como este cenário vem se modificando. Hoje é muito comum me deparar com alguma
intervenção deste tipo nos trajetos que faço no meu dia-a-dia. Este capítulo em primeiro
lugar vai mostrar de forma separada as características do graffti e da pixação em João
Pessoa, em um segundo momento será abordado ambas as manifestações mostrando as
suas aproximações e distanciamentos, e por fim como elas influenciam em novas
maneiras de se perceber a arte, comunicação e apropriação do espaço.
De acordo com os relatos obtidos nas entrevistas a capital paraibana vai ver o
surgimento do graffiti na década de 90. Encontramos nas falas dos 7 grafiteiros
entrevistados a citação de três pessoas que foram importantes para o desenvolvimento
do graffiti na capital paraibana que são GigaBrow, Shiko e Múmia. Esses personagens
em momentos distintos na história recente da cidade contribuíram para a propagação do
movimento. O primeiro deles é considerado o precursor desta atividade. Antes de
GigaBrow não encontramos relatos de outra pessoa praticando o graffiti na cidade de
56
João Pessoa como nos relata o grafiteiro Paul Klee19: O que eu sei assim começou, se
não me engano, começou em 1993 por ai até tem um cara tipo assim é um dos veterano
assim, e até hoje ele grafita, ele é tipo vovô. É GigaBrow. Ele é muito conhecido no
graffiti aqui em João Pessoa. Em João Pessoa ele é o cara conhecido pra caramba,
gente boa geral.
O próprio GigaBrow nos conta que a sua trajetória vai se iniciar por volta dos
anos de 1990, 1991 que foi quando começou a fazer algumas pichações pela cidade. Ele
já tinha gosto por desenhar desde sua infância. Em seu relato ele deixa claro que foi
influenciado desde pequeno por um irmão que sempre gostou de trabalhar com desenho.
Neste ambiente ele acabou ganhando gosto pela pratica do desenho já quando pequeno,
e este gosto ele passou a incorporar nas suas intervenções: Isso foi lá pra 91, 90 alguma
coisa assim. Em 91 eu comecei pichando. Ai eu já desenhava desde de criança que eu
vinha desenhando. Tem um irmão meu que faz. Hoje em dia ele faz escultura com vidro
tal. Ai o bicho já desenhava, ai eu cresci perto de uma pessoa que desenha, ai
consequentemente, ai toda criança gosta desenhar, de pintar, de tinta. Ai ele deve ter
instigado me estimulou, ai isso com uns 9 anos. Ai desde boy eu desenho, já vinha
desenhando na escola através dele, ai nas minhas pichações eu pegava e fazia uma
cabeça, ou então fazia um morcegão. Percebe-se que a partir de um gosto de infância e
influenciado pelo irmão ele com o tempo passa do espaço escolar, para o espaço da rua
onde ele encontra nos muros um bom suporte para as suas produções.
Como esta era uma pratica noturna, e que envolvia certo aspecto “marginal”,
este desenho de morcego além de ter relação a uma característica biológica desta
espécie de mamífero tinha também um sentido que conotava a noite. A pratica “furtiva”
19
Para preservar a identidade dos informantes, troquei os seus nomes originais por pseudônimos ligados a
artistas famosos. No caso dos grafiteiros foram usados os nomes de artistas modernos (Paulo Klee,
Picasso, Van Gogh, Tarsila do Amaral, Salvador Dali, Warhol, Duchamp). Quando me refiro aos
pixadores utilizei o nome de artistas pré-modernos (Leonardo da Vinci, Rafael, Michelagelo, Giotto). De
certa forma as produções dos grafiteiros e pixadores consultados nesta pesquisa se aproximam do estilo
usado por cada um desses grandes nomes da arte.
57
e silenciosa da pichação ocorria em um horário onde o fluxo de pessoas perambulando
pela rua era pequeno como nos mostra o próprio GigaBrow em sua fala: A gente tinha o
costume de sair umas 7 horas, seis e pouco, o horário quando todo mundo entra pra
jantar. Quando tem assalto. A maioria dos assaltos se você for ver é nesse horário
mesmo. Que já é uma parada criminosa mesmo né, que a gente ia pichar. Ai não vamo
pegar esse horário, que isso fica melhor. Marginal mesmo. Ai saia. Ai eu viajava nos
morcego porque é nessa hora que os morcegos saem, ta ligado, de noite. Ai sai o
morcego ai eu ficava desenhando. Ai a gente saia no horário dos morcegos eu ficava
olhando eles sair. Pegava e fazia esse morcego ou então fazia uma cabeça como se
fosse um pensador.
Percebe-se assim que o caminho de GigaBrow para o graffiti vai passar por estas
etapas onde ele tem a influência do seu irmão, onde a partir do emprego na oficina onde
pintava para-choques consegue no inicio o material necessário para as intervenções, e
20
Além do graffiti o movimento Hip-Hop é formado por mais três elementos que são o Rap, o Break, e a
discotecagem ou o DJ.
21
Um destes vídeos é possível encontrar no seguinte endereço da internet:
http://www.youtube.com/watch?v=fJw1TKE8QGE&context=C4e8fde1ADvjVQa1PpcFP9vlDSu_hrBf4
BXI7MqEapd9WtQxdXuK0=
58
por fim o movimento o Hip-Hop onde ele encontra um campo de ressonância
(principalmente no inicio) para as suas produções. Todos estes fatores contribuíram
para a formação do “artista” que ele é hoje em dia.
Shiko é um artista que expandiu muito os seus horizontes hoje em dia ele atua
como artista plástico, ilustrador, e quadrinista, já tendo participado de diversas
exposições pelo mundo. Entre os seus trabalhos se destaca o trabalho feito em forma de
HQ chamado Blue Note. Este trabalho lhe abriu as portas para participar de uma
homenagem para o quadrinista Mauricio de Souza no livro MSP 50. O que lhe rendeu
um convite do pai da turma da Monica para fazer parte do Graphic MSP, onde serão
publicadas edições contendo cada qual uma história completa produzida por ilustradores
com traços mais maduros. Algo distinto dos traços infantis que conhecemos. Shiko irá
abordar a história de Piteco, e este trabalho deve ser concluído neste ano de 2012.
59
cidade de João Pessoa onde intensifica a pratica do graffiti, e permanece nela até os dias
de hoje passando a viver da sua arte como ele mesmo relata: Desde de pequeno que eu
desenho e tal. Ai quando passei a morar em Recife. Que eu sou pernambucano, eu nasci
em Paudalho interior de Pernambuco. Ai quando mudei pra Recife eu conheci uma
galera La do graffiti e comecei a chegar junto e fazer. Inclusive fiz umas pixações na
época lá. Ai como profissão mesmo em torno de 6 a 7 anos. Dois anos foi só de
“maloqueiragem” e tal. Ai mudei para João Pessoa, ai conheci o resto da galera e
começou a rolar ainda mais aqui né. E ta rolando até hoje.
Ele conta também que no inicio, quando aqui chegou, não encontrava muitos
grafites nos muros. O que segundo ele tinha mais era os Bombers, que vem a ser uma
espécie hibrida que fica entre a pichação e o graffiti onde as Tags (nomes) são
produzidas de uma maneira mais estilizada, multicolorida. Onde as letras vão possuir
um formato “mais” elaborado. Como é possível ver na imagem abaixo:
BOMBER
No começo Mumia fazia estes bombers, segundo ele isto serviu como uma
forma de reunir a “galera”, a partir deste tipo de intervenção se começou a buscar uma
organização maior naquilo que era produzido nas paredes, “evoluindo” até o graffiti
como vemos hoje em dia: quando cheguei aqui quase não tinha graffiti, na verdade
tinha uns bombers, que a galera fazia. Ai tinha uns bombers, que bomber é a evolução
da pixação na verdade. A galera faz ainda sem autorização, mas é aquele estilo de letra
mais elaborado. Ai na época eu também comecei a fazer uns bombers com galera
60
tentando elaborar umas coisas a mais. Fui conhecendo a galera reunindo, organizamos
como produção, e fomos lá de pega a parede toda e fazer uma história com a galera. E
de lá pra cá a parada foi evoluindo. (Fala de Mumia)
Estas três figuras (GigaBrow, Shiko, e Mumia) podem ser consideradas figuras
primordiais para o surgimento do graffiti aqui em João Pessoa. E no início são os
principais graffiteiros da capital paraibana, foi a partir deles que as intervenções de
graffiti começam a se espargir, e se popularizar na capital paraibana. (SANTOS, 1999).
22
Estas são: LEGO, BOB, SIC, GIGABROW, CYBER, G2, ROSS, PATO, MUSEU, WITCH,
DEDOVERDE, BAIANO, THREK, MEIACOR, MUMIA, SHIKO, DERBY BLUE, DAYSE,
PERFECT.
61
A dificuldade de saber apenas olhando para os muros quantos grafiteiros existem
em João Pessoa decorre de alguns empecilhos. Um deles seria de saber que é realmente
daqui ou quem é de fora no cartaz do mutirão, eu sei que pelo menos um dos grafiteiros
é da cidade de Campina Grande. Outro ponto é utilização de Tags diferentes pelo
mesmo grafiteiro como é o caso de Shiko que também assina em algumas ocasiões
Derby Blue. Além disso, existe o fato de que algumas pessoas se dizem grafiteiros, mas
nem sempre são reconhecidas pelos outros. Esse reconhecimento depende de uma
atuação sistemática na arte. Afirma VAN GOGH que: Numa comunidade que tem lá
no Orkut, Grafiteiros de João Pessoa, se não me engano tem trezentos e poucos, agora
só que acontece o seguinte quem realmente faz acho que é dez por cento, quem
realmente faz é dez por cento tá entendendo, é que o pessoal assim tem uma oficina faz
uma artesinha ai se acha grafiteiro.
Mesmo sem saber um número exato de praticantes, pode-se dizer que este
movimento vem se expandindo não somente na capital, mas em todo o Estado. Esta
expansão acontece devido a certos fatores como: o trabalho realizado nos muros pelos
três expoentes desta atividade (GigaBrow, Shiko, e Mumia), que a partir destas
produções começam a desenvolver outras atividades remuneradas ligadas ao campo da
arte. O que atribuiu a este movimento um reconhecimento da sociedade paraibana
passou a ocorrer uma aceitação desta manifestação como sendo arte, acontecendo
inclusive algumas exposições que colocam o graffiti em destaque.
Outro fator é que começam a ser desenvolvidas oficinas de graffiti, assim como
também surgem o apoio e o “patrocínio” para que fossem feitas intervenções em locais
62
públicos como praças, escolas, viadutos, entre outros. O apoio a estas intervenções vem
em muitos casos do Estado ou da iniciativa privada. Um exemplo é uma campanha
contra o tabagismo realizada no ano de 2009 e 2010 onde a Secretaria Estadual de
Saúde (SES) e a Agencia Estadual de Vigilância Sanitária (AGEVISA) promoveram o I
e segundo II Festival de Grafitagem. Estes eventos tinham em vista o combate ao
tabagismo. Os grafiteiros faziam as suas produções com esta temática para concorrerem
a uma premiação dada por estes órgãos governamentais.
Não podemos dizer que foi um único fator que proporcionou a expansão atual
deste movimento, mas sim estas três características contribuíram – cada qual com seu
peso e especificidade – para que hoje em dia se encontre de forma mais efetiva estas
intervenções de graffiti em diversos lugares da cidade de João Pessoa.
63
desenhar. Gostei da arte do graffitie comecei a me interessar. E também com Van
Gogh: Minha história no graffiti se deu a partir assim que eu fiz uma oficina. Ai a
partir dessa oficina despertou assim o desejo de começar a grafitar. Ai eu comecei a
fazer graffiti na rua, simplesmente com pincel, lavável. Ai depois assim, com contato
com vários grafiteiros fui aprendendo técnicas novas até fazer o que eu to fazendo hoje.
Há também aqueles que entram por meio do convite dos que já estão há mais
tempo na atividade como é o caso de Tarsila do Amaral que nos diz o seguinte: bem,
tipo assim, eu sempre desenhei, fiz artesanato, ai muito tempo atrás, há muitos anos
atrás, assim uns dez, quase, oito anos atrás, a gente tava lá no centro, tava tendo
Centro em Cena, ai Ginaldo, e Leonardo que canta no, que cantava no Realidade Crua
eles estavam fazendo graffiti nesse tempo, quase ninguém em João Pessoa fazia, ai
vamos, vamos, vamos fazer um graffiti ali, a gente saiu pelo centro e eu fiz o meu
primeiro graffiti, ai passou muito tempo, ai nunca mais fiz, mas sempre pintando
parede mas em casa, ai passou um tempo e quando foi agora no final de 2007, ai
Ginaldo que é Gigabrow, é bem conhecido, ele ficou me chamando e me incentivando, e
Leonardo também continuou dizendo “vai que tu sabe fazer, não tem menina fazendo,
vai fazer, vai fazer”, ai eu: “eu tenho pena de gastar com esse material é muito caro
não sei o que”, Gigabrow fez uma oficina e disse “bora tem material” ai a gente foi e
ai eu comecei.
64
perdendo a sua força. Esta característica que vem desde o surgimento do graffiti começa
aos poucos a se modificar já é possível encontrar produções nas paredes onde são
assinados os “nome originais”.
Os que não atuam em nenhum grupo vão sair para pintar sozinhos. É certo que
muitos momentos eles atuam sós, mas em outros buscam atuar em conjunto, é o caso
dos mutirões. Estes são intervenções que acontecem de forma coletiva. Escolhem um
local grande (por exemplo, um muro grande) onde vão se reunir e cada um em seu
determinado espaço vai fazer a sua própria intervenção. Neste momento intensificam-se
as práticas de sociabilidade, pois eles se encontram, trocam experiências e técnicas
23
Formada por quatro membros.
24
Recentemente descobrir que foi fundado o “coletivo graffiti” pelo que pude apurar este tem como
objetivo buscar formas de conseguir material, espaços, e de reunir de forma “institucionalizada” os
grafiteiros, mas como ainda não apurei bem estas são apenas impressões a respeito deste coletivo.
65
artísticas. Estas intervenções são na maioria das vezes com um tema livre, mas existem
momentos em que se escolhe certo tema e todos vão produzir inspirado nele. Foi o que
aconteceu, por exemplo, na campanha contra o tabagismo.
66
BOMBER TROW-UP
67
desenho letra. Agora você vê um canto só com letra também é massa, mas depende da
estética da parada. Mas se você for andar uma cidade cheia de risco só letra, só letra,
aí não da não, porque tem coisa que eu nem entendo.
Quando falamos do inicio da pixação em João Pessoa fica difícil dizer quando se
deu o seu surgimento, mas assim como no restante do país ela vai começar a se
disseminar no final da década de 80 e inicio da década de 90. Como vimos, um dos
grafiteiros mais antigos (GigaBrow) vai começar pela pixação que, no inicio da década
de 90 era praticada por diversas pessoas na capital paraibana como relata o próprio
GigaBrow: Quando eu comecei foi pichando, tinha uns 16 anos, ai tinha uns bicho na
rua começaram a pichar, não massa e tal, tinha uma febre da porra na cidade de
pichação.
25
Como exemplo vide as matérias do Jornal como O Norte:
http://www.onorte.com.br/noticia/49498.html. E do Jornal da Paraíba:
http://jornaldaparaiba.com.br/noticia/76011_predios-sao-alvos-de-pichacao.
68
vandalismo eles deixam claros em suas falas que não são bandidos como é possível
notar nas fala de Giotto que diz o seguinte: Eu só pixo, não fumo maconha, nem
cocaína, nem bebo, só pixo. Não sou ladrão, traficante, nada, sou só pixador. E
também na fala de Rafael: Uma coisa que pode melhorar na pixação aqui em João
Pessoa é o Reconhecimento. Mostrar que o pixador não é bandido.
A partir dos anos 2000 a cara da cidade começa a se modificar e isto é refletido
com o aumento do número de pixações feitas nos muros da cidade. É cada vez mais
comum as pessoas se depararem com pixações nos caminhos que percorrem no dia a
dia. Hoje em dia é difícil dizer ao certo o número exato de pixadores, nem eles próprios
sabem ou tem uma idéia de quantos sejam, nas entrevistas foi dito que determinado
grupo o OMF (Os Malukos de Formosa) possuem cerca de 15 integrantes, em outro
momento é dito que este mesmo grupo possui 20 integrantes, já o integrante de um
outro grupo OMJ (Os Maiorais de Jampa) nos mostra em sua fala que é difícil delimitar
um número exato dentro do próprio grupo. Isto porque existe uma grande efemeridade
entre os próprios praticantes, eles por diversos motivos iniciam e abandonam a pixação
como nos fala RAFAEL: Tinham muitos, mais a maioria aposentou outros estão presos
e alguns morreram porque se envolveram com tráfico e roubo, outros dão role só de
vez em quando. No nosso dia a dia, analisando as fotos tiradas das pixações consegui
identificar 3226 nomes de pixadores. Em uma rede social existe uma comunidade
denominada pixadores de jampa com 168 membros participando dela.
26
Este são: SKIL, ALMA, TOCA, CORUJA, PANO, LOST, IOSH, GUGU, CISCO, ALIEN, PITU,
POLOF, SLIM, POSH, SLOK, PIRADO, PLUSH, SLIP, PENA, DONALD, ANEMIA, BOCA, ZEM,
SNOK, SNOT, KILL, KLESTOM, SNYF, SENA, ISCX, LIFE, D’MENOR.
69
residência e também na escola que são os “principais” espaços aglutinadores destes
jovens como nos fala Rafael: Comecei a admirar a pichação aos 10 anos, mais entrei
mesmo nela com 12. Já fazem 8 anos... Fui estudar em uma escola que tinha pichadores
e acabei me influenciando.
A escolha do nome (Tag) que será usado nas pixações é algo que varia e que não
segue nenhuma lógica uniforme. Existem casos onde alguma característica física acaba
sendo enaltecida como no caso de LEONARDO DA VINCI que explica o motivo do
seu apelido da seguinte maneira: rapaz eu comecei com Pingo27, porque o bicho disse
meu irmão tu é pequeno demais, não presta pra ta andando com a gente não e tal, ai eu
comecei botando Pingo fiz um desenho bonito, o bicho que fez pra mim meu irmão tu
faz assim...ai eu acabei botando Pingo. Mas existem casos onde a escolha do nome é
algo aleatório e ao acaso, como no caso de MICHELANGELO onde o seu nome foi
“herdado” de outra pessoa como ele nos diz: O cara que eu comecei assinava SONEK
ai ele falou vou mudar para SNOW28. Ai depois ele se arrependeu e voltou para
SONEK e falou porque tu não assina SNOW. Ai eu fiquei com SNOW. Ai pegou geral.
No caso de RAFAEL ele nos diz que escolheu o nome a colocar nas ruas vendo
televisão, interessante é que este nome é algo que vai ficar com os praticantes passando
estes a serem reconhecidos como um segundo nome: Não me lembro mas acho que vi
27
O apelido foi mudado para guardar a identidade do informante.
28
O apelido foi modificado para preservar a identidade do informante.
70
ele na TV. E a partir que você entra nessa vida ele se torna o seu segundo nome. Todo
mundo te chama assim depois disso.
Os pixadores vão atuar (em sua grande maioria) de forma coletiva, ou seja, os
pixadores além de colocarem as tags colocam também o nome do grupo do qual fazem
parte, nos dados levantados foi possível registrar o nome de 18 29 atuando em João
Pessoa. E nestes grupos existe uma hierarquia onde se tem lideranças, que são aqueles
pixadores que se destacam como relata GIOTTO: os mais foda é o líder, se Shady sair
do OMF ai o mais foda entra no lugar, e quem sai da OMF não entra mais e pra ser o
mais foda tem que pixar muito, em pico lá em cima, em cima de prédio e tals.
Dentro da cidade de João Pessoa estes grupos atuam em uma “luta” por espaço o
que acaba por ocasionar em alguns conflitos, certos grupos passam a rivalizar entre eles,
chegando a alguns casos esta rivalidade atingir as vias de fato, com agressões físicas
entre os membros de grupos distintos. Como nos relatou MICHELANGELO: Nossa
família tinha uma treta de vida e morte com outra família ai, a família acabou mas a
treta não. Já deu caso de justiça e tudo, julgamento e pa, por agressão, tentativa de
homicídio. Guerra punk. E também como nos disse DA VINCI: a gente conheceu uma
outra galera do Ernani ai foi criando uma rivalidade com esse negocio, ai de repente
em uns dois três anos ficou um negocio disputado, tinha uns certos bichos do Ernani,
uns certos bicho do Geisel, outros do funcionário III a gente aqui do II, e nenhum podia
fazer uma detona que cobrisse um cantinho da outra que ia dar em briga e tal, eu já fui
29
Estes são: PDT (Pixadores da Torre), OMJ (Os maiorais de Jampa), USPB (Us Paraíba), UPA (União
Psicopata da Ativa), F2 (Não consegui identificar o significado), CFC (Não consegui identificar o
significado), AP (Ativos da Praia), RDJ (Ratos de Jaguaribe), ASN (Altamente Sem Noção), PCM (Não
consegui identificar o significado), OLJ(Não consegui identificar o significado), OPG (Os Pragas),
OLV(Os Loukos do Valentina), CB (Comando Branco), CF (Crew Fantasma), LKS (Loukos), PRDS
(Pirados), OKD (O ultimo OKD quer dizer Okaida, fazendo referencia a organização criminosa que atua
mais especificamente em presídios da Paraíba. Como este foi um dos últimos registro feito não sei bem ao
certo o grau de participação de alguns pixadores nesta organização).
71
até perseguido... Ai começou a gerar briga, a gerar atrito, o bicho lá do Ernani quis
mata um figura meu.
Nesta disputa entre os grupos além de agressões físicas também existe um tipo
de agressão moral que se dá pelos muros da cidade, além da disputa que busca ver quem
faz mais intervenções existe um ato que entre eles é visto como uma grande ofensa. Este
ato é quando uma pixação é “atropelada” ou então se passa um risco sobre a pixação de
outro. Este ato é algo visto como uma “declaração de guerra” entre eles.
Estes grupos também agem em conjunto uns com os outros, pois se tem aqueles
que são vistos como “inimigos”, há ao mesmo tempo aqueles que são os “aliados”, que
atuam em conjunto, eles marcam de sair junto para os “role” e em determinados casos
vão atuar um na área do outro, esta união fortalece ambos os grupos para o caso de
acontecer possíveis conflitos como nos mostra a letra de uma musica feita pelos
pixadores no qual fala da união de dois grupos o UPA (Us Psicopatas da Ativa) e o
OLV (Os Loukos do Valentina) que diz: O bonde ta pesadão UPA mais OLV psico
louco meu irmão, to chegando na moral se os comédia30 bater de frente pode crer vai
passar mal...esse bonde é sinistro melhor tu se ligar se você vir bater de frente a chapa
vai esquentar...Por isso que eu considero UPA mais OLV se tu vir enfrentar a gente
30
Comédia aqui se refere a uma gíria que significa mais ou menos uma pessoa que não merece respeito,
sendo algo muito parecido com o significado de otário.
72
pode crer vai é correr... Tá ligado, né Mané, tem que respeitar esses bonde porque se
enfrentar é murro na boca31.
A união destes grupos não se restringe aos limites da cidade, ela se expande,
passando grupos de outras cidades e de outros Estados a atuarem em João Pessoa da
mesma forma que os grupos daqui da cidade vão ir atuar em outras localidades também
como é o caso de Campina Grande e Natal onde pixadores destes locais vem atuar em
conjunto com os que atuam aqui.
O estilo das pixações é algo individual cada um busca a sua forma, não se tem
padrões definidos, podemos dizer que alguns usam linhas mais suaves e arrendondadas,
enquanto outros se valem de um traçado mais “vigoroso” e rústico. Entretanto a forma
do traçado é algo que varia de forma individual e também temporal, isto porque não vão
estar preso sempre no mesmo modo de desenhar a sua Tag. Eles sempre buscam variar o
seu estilo de escrita. Como podemos ver nas imagens abaixo onde SKIL usa dois estilos
diferentes.
31
A musica está disponível no seguinte endereço eletrônico:
http://www.4shared.com/audio/uL3FT3tZ/MC_ACARA_UPAOLVDNVCImp3.html
73
prédios) também são vistos como possíveis alvos das intervenções. Isto ocasiona em
uma busca por reconhecimento entre eles. É como se eles por meio das pixações
buscassem uma “fama” neste meio. MICHELANGELO diz o seguinte a respeito
disso: Ah, basta se garantir, pegar altos pico louco. Lugares que quase ninguém
consegue pixar. Tem que ter um letreiro da hora e o mais importante de tudo ter
humildade. Saber respeitar.
Entre pixadores e grafiteiros a faixa etária será algo distinto no que diz respeito
aos graffiteiros temos uma faixa etária bem variada, até mesmo por conta das oficinas
ofertadas, temos adolescentes em uma das extremidades com seus 14, 15 anos, e em
outra ponta se têm adultos que já passaram dos trinta anos. Entretanto é importante
salientar que mesmo aqueles que já passaram dos trinta anos iniciaram na atividade na
sua juventude. No caso da pixação se observa que esta é uma atividade com uma
predominância juvenil, onde seus praticantes mais antigos são em sua maioria jovens de
18, 19, e 20 anos que entraram muito novos nesta atividade com 10, 11 anos de idade.
74
verdadeiros nomes, ou seja, eles se chamam por esses apelidos mesmo aqueles que são
próximos uns dos outros e conhecem os nomes originais se tratam pela Tag. A escolha
deste novo nome é algo que varia muito em alguns casos esta atrelada a uma
característica física, outros casos são escolhidos um apelido que lembre o nome
verdadeiro, ou então um apelido de infância, uma situação inusitada, enfim muitos são
os motivos descritos por eles.
32
Apesar de ser esta uma característica importante destas manifestações este trabalho não se propôs
analisar a questão do segredo dentro destes grupos. Em relação a este tema o trabalho de Angelina Duarte
(2010): A sociedade “secreta” de pichadores/as e grafiteiros/as em Campina Grande – PB. Mesmo
sendo feito em outro contexto faz uma excelente analise de como funciona o “segredo” nos grupos de
pichadores e grafiteiros.
75
devido a isto se não forem tomados os devidos cuidados acabamos por configura-las
como sendo uma coisa só.
Como vimos nos relatos alguns grafiteiros vão se iniciar neste tipo de
intervenção a partir da pixação. Entretanto mesmo com essa experiência dos praticantes
a relação entre as duas manifestações transcorre de maneira dúbia, as posições de
pixadores e grafiteiros em relação à outra manifestação é algo diferenciado
individualmente não se tem um discurso determinante. Já que em ambos os lados
existem sujeitos que são contrários e a favor da outra manifestação. Como é o caso de
RAFAEL que diz o seguinte: Hoje em dia pra mim eles são um bando de otário,
porque eles se venderam pro governo e fazem campanha anti pichação, sem falar que
eles não respeita os muros chega e atropela por que na rua você tem que respeita. E no
lado dos grafiteiros o relato de TARSILA que tem a seguinte visão sobre a pixação:
Não curto, nunca gostei acho babaquice, tipo assim quer ficar famoso bota uma
melancia na cabeça, mas ai sai escrevendo pixando, não acho legal não.
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por que alguns deles vão enxergar a manifestação do graffiti como uma saída, bem
como relata MICHELANGELO: O graffiti é a saída da pichação. Eu acho moh da
hora. To começando no graffiti também. Já tem uns dois bombers meu por ai.
Esta visão de que ambos (pichação e graffiti) seriam a mesma coisa acabava por
ocasionar também em um preconceito e uma perseguição da parte da policia aos
grafiteiros fazendo com que a pratica fosse feita apenas no período da noite como
afirma SALVADOR DALI: Antigamente dava muito rolo com a policia, oxe
antigamente a gente saia pra pintar só podia ser a noite, chegava a noite era aquela
adrenalina, não podia vê uma viatura da policia que encostava na parede e mandava
parar o trabalho.
Em 26 de maio do ano passado a presidente Dilma sancionou uma lei que havia
sido aprovada na câmara dos deputados onde se diferencia a prática da pixação, da
77
prática do graffiti alterando a legislação anterior que tratava como equivalentes e com as
mesmas punições os atos de pichar e o de grafitar, além de também só permitir a venda
de tinta spray para maiores de 18 anos33. Na cidade de João Pessoa também foi
sancionada em fevereiro de 2012 a Lei nº 12.344 que como finalidade o combate a
pratica da pichação, e conscientização dos cidadãos dos “malefícios” desta prática. Um
dos pontos de destaque desta Lei é que ela fala em estimular e divulgar boas iniciativas
relacionadas com a promoção da qualidade visual, e para isto promover práticas
artísticas como o graffiti ou pintura contribuam para uma melhoria da qualidade visual
do ambiente urbano34. Assim notamos que esta lei também vai tratar do graffiti como
um “remédio” para combater a “pichação”.
Além disso, como já foi anteriormente dito, ocorreu uma expansão da atividade,
com as ações do Estado como oficinas e intervenções em praças passou-se a conhecer
melhor a atividade, outro fator que contribuiu foi o fato do graffiti passar a ser tema ou
então ter obras expostas em galerias e museus. Isto acabou por divulgar e lhe dar uma
conotação artística, não quer dizer que antes esta conotação não lhe era atribuída, mas as
exposições fazem com que a sociedade passe a enxergar o graffiti de outra forma como
nos diz TARSILA: é bom acontece que o pessoal começa a ver com bons olhos,
entendeu, o graffiti, começam a valorizar mais... respeitam mais.
Mesmo assim, hoje em dia quando se tem o “graffiti” dentro das galerias e dos
museus, ou seja, dentro dos locais que estipulam e definem o campo artístico, ele agirá
como um agente estrangeiro, ocorre uma apropriação destes locais, os grafiteiros se
inserem nestes espaços para transgredi-los, “difamá-los”, é apenas mais uma plataforma
para inserir suas produções mas nunca abandonando a sua origem que é a rua, isto fica
bem claro no relato de DUCHAMP: então isso é arte, isso é vandalismo, isso tem
valor, isso não tem valor, bom perdido ai nesse caldo restou as instituições e as
galerias, tentarem moldar em um formato que coubesse nas suas paredes, só que os
grafiteiros mantiveram o discurso de que não sou contra expor na sua galeria, eu quero
me apropriar de todos os espaços que eu puder me apropriar e isso vai da rua ao
museus, mas o fato, é muito comum o pensamento de que o grafiteiro pinta na rua como
se a rua fosse uma plataforma para ele chegar em um lugar melhor, em um lugar maior
33
Fonte: http://www.rapnacional.com.br/2010/index.php/noticias/a-presidenta-dilma-sanciona-lei-que-
diferencia-grafite-de-pichacao/
34
Fonte: http://www.cmjp.pb.gov.br/Noticia/4304_lei-municipal-institui-a-politica-municipal-contra-
pichacoes-no-municipio-de-joao-pessoa
78
que é a galeria, enquanto na verdade o artista ele ocupa o espaço da instituição, mas
ele não tem a menor intenção de sair da rua.
Nos últimos anos visitei algumas exposições na cidade que tinham o graffiti
como tema ou então com alguma obra em seu acervo, o que pude perceber é que quando
esta manifestação é colocada em um lugar como este ela fica isolada, individualizada,
não acontece um dialogo com as obras que estão ao seu lado, com a superfície que esta
inserida, a atmosfera silenciosa destes espaços, a forma como as pessoas circulam
observando-as, tudo isto afeta na percepção do publico, diferente do que acontece na rua
onde elas dialogam entre si, ela irá complementar ou então negar o meio ambiente que a
cerca, a forma de percepção destas é distinta, as pessoas passam em um corre-corre
diário, nunca se sabe onde se irá encontrar alguma obra pode se virar uma esquina e dar
de cara ela, os sons e a própria rua irão determinar uma atmosfera diferente da que se
tem nos espaços legitimados da arte.
79
Nós somos excluídos completamente. Eles não tentam entender a gente. O pixador
MICHELANGELO vai ainda mais fundo nesta questão enfocando um aspecto
“hipócrita" da sociedade que os marginaliza de um lado enquanto de outro legitima
certas produções como arte apenas por estas estarem em determinados locais
específicos. Ele diz o seguinte a respeito de como a sociedade encara a pixação: eles
nem enxergam, pra eles aqui num passa de um risco qualquer, que se resume em
marginalização, falta do que fazer, saca? Eles olham pra parede, num entendem, mas
quando eles vão numa galeria de arte, uma pa de arte sem fundamento, quadrados
dentro de quadrados, e formas métricas, eles param pra analisar só porque esta numa
galeria de arte, é a sociedade, é hipócrita, eles não se importam com o sentimento de
quem pixa ou não, para eles a gente não passa de marginal.
Estes sistemas peritos (que no caso desta análise se restringe ao campo artístico)
vão ser contrapostos por certas manifestações que redefinem parâmetros em vigor. O
graffiti e a pixação vão se direcionar contra todo um discurso determinante que tem em
vista classificar o que é ou não arte, ambas se valem de outro tipo de suporte (as ruas, os
muros), no qual este serve como uma forma mais rápida, fácil, e direta dos sujeitos
mostrarem as suas idéias, independente de qualquer classificação. Estas manifestações
atuam diretamente com a sociedade em geral, e cabe a esta vir a proferir qualquer forma
de classificação. Assim a pixação e o graffiti podem ser vistos como modos de
expressão artísticos alternativos que colocam em questão modelos consagrados gerando
uma polemica e levando a redefinições dos parâmetros dominantes.
80
A pixação e o graffiti criam outra forma de classificação do mundo, provocando
o debate entre os habitantes da cidade desta forma são as pessoas que nos seus trajetos
ao passarem por uma pixação, ou graffiti o interpretarão de maneira individual,
deixando de lado as pré-noções estabelecidas, assim elas próprias é que vão dizer se
certa intervenção é ou não arte. A respeito disso DUCHAMP nos diz o seguinte: o
mundo da arte é assim, ele tem uns pilares de sustentação, e o graffiti ele não se
sustenta em nenhum desses pilares, o curador não pode selecionar, porque a seleção já
tá feita, já tá na rua, o marchand, o cara que vende arte não pode vender aquilo, a
instituição não pode guardar, não pode vender, o publico também não sabe, como tem
a instituição ou o crítico para dizer se aquilo é arte, o público não sabe se é.
Um dos precursores da sociologia da arte Taine vai dizer que o artista vive em
“liberdade”, mas esta se subordina a determinadas condições e leis, nas quais o público
será uma força que atua sobre o artista. E aquilo que ele produz será aceito somente se
seguir certos padrões sociais. As intervenções feitas por pixadores e graffiteiros acabam
por quebrar esta lógica, já que em ambas as formas deles atuarem são expostas a sua
produção na rua, fazendo com que o publico seja “forçado” a vê-la, deixando de lado
quaisquer que seja os gostos coletivos. Do seu jeito eles questionam a propriedade da
paisagem urbana, o significado da arte, as relações de poder na cidade, possibilitando
um diálogo com a publicidade, com que é visto como feio, com tudo aquilo que se faz
presente no meio da urbe. É claro que como agentes que se inserem na sociedade eles
vão sofrer influencia desta, assim em algumas ocasiões vão compartilhar certos desejos
e aspirações que são provenientes do meio ambiente coletivo no qual também fazem
parte, só que a sua produção na maioria das vezes não se voltará para a coletividade e se
rebelará contra a sociedade que os moldou. Somente aqueles que estão no seu meio e
que compartilham os mesmo símbolos é que entenderão as produções, sendo assim
produzidos os chamados fatos anestéticos aonde nem sempre a arte vem ser a expressão
da sociedade na qual ela é produzida. Desta forma tanto o graffiti quanto a pixação ao
invés de serem moldados pela sociedade vão procurar influenciá-la, temos assim o
artista com o poder de comunicar aquilo que ele interpreta como sendo vontade coletiva
e quando ele assim o faz está operando sobre a sociedade. (BASTIDE, 1971;
FRANCASTEL, 1990)
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pintada, e nela exprimir para a população em geral as suas mensagens, bem como
mostrando a toda cidade que eles existem, e que estão circulando por ai. Eles buscam
romper de certa forma com a atitude blasé, já que primeiro eles próprios estão agindo
sobre a cidade e isto ocasiona que fiquem atentos a tudo aquilo que pode se apresentar
ao seu redor desde uma intervenção feita por outros bem como a escolha de um local
para se fazer uma nova intervenção, e no caso do graffiti eles acabam buscando formas
para estimular aqueles que passam cotidianamente pelos trajetos urbanos como nos
relata Paul Klee: Você pega uma parede ali, tem pessoas que tá mal e tal e passa todo
dia ali, e vê aquela parede suja, velha, cheia de lixo, ela acostumada a passar pela
aquela rua e vê a parede daquele jeito, e quando é no outro dia do nada aparece, tá
bem limpinho, a parede tá pintadinha o desenho tá lá feito e uma mensagem de graça
pra ela, pra ela se alegrar, pra ela pensar que nem tudo na vida tá perdido, tem algo
bom para oferecer o trabalho do graffiti.
Além disso os pixadores e grafiteiros nas suas intervenções vão passar o que
pensam sobre determinado tema, como por exemplo uma pixação que além da Tag e do
nome da Crew vai ter uma mensagem a respeito da lei da ficha limpa, uma poesia, uma
mensagem bíblica ou então,uma mensagem em outro idioma. Estes indivíduos seja por
meio figurativo ou então pela escrita se comunicam diretamente com a sociedade. Como
nos mostra as imagens abaixo:
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FOTO: PAULO SERGIO
FOTO: PAULO SERGIO
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apropria das redes sociais, tem-se uma substituição das obras por produtos e
consequentemente uma transformação das relações sociais, (LEFEBVRE, 1969;
FORTUNA, 2002; SANT’ANNA, 2003). É o surgimento da “sociedade urbana” como
ele nos diz:
Lefebvre nos diz que antes as cidades surgiam do universo do campo, e deste
ultimo é que se erigiam os seus preceitos morais e reguladores, na moderna cidade
industrializada isto é algo que será quebrado; os “valores rurais” da não abundancia, da
penúria, da privação aceita, das proibições, todos estes, serão rompidos e deixados de
lado, entretanto no mesmo bojo destes preceitos também se abandona aquilo que a
sociedade rural possuía de mais valioso que é a Festa.
É em cima disto que ele nos dirá que certos limites e mitos que são provenientes
das sociedades tradicionais podem (e em alguns casos devem) ser deixados escanteados,
mas na visão lefebvriana é preciso urgente ressuscitar a festa, é necessária que na
sociedade urbana seja devolvida esta liberdade, seja reavido o caráter lúdico e
descompromissado da vida que acabou sendo perdido. Para isso é preciso que se levante
a bandeira do direito a cidade.
Um direito no qual a sociedade urbana possa novamente ter uma vida que venha
romper com um cotidiano alienante que prende e suprime a capacidade criativa,
possibilitando uma nova abertura na vida social, onde o valor de uso se faça mais
presente, onde se tenha o direito à obra, a apropriação indiscriminada dos espaços.
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dando um sentido próprio nesta forma, transformando-a, pois, por exemplo, quando um
pixador ou um graffiteiro faz uma intervenção em um local abandonado, ou maculado
pela ação do tempo, ele segue uma lógica de “reavivamento” deste espaço, de
reinvenção, recriação daquele patrimônio, uma casa antiga em ruínas pode não servir
mais como moradia, mas pode assumir a forma uma nova função no meio urbano, seja
como um meio de transmissão de mensagens, um meio de comunicação, ou uma tela.
Como podemos perceber na imagem abaixo:
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“manifestação” efetiva, é combatida pelas forças repressivas, que comandam
o silencio e o esquecimento. (LEFEBVRE, p. 31, 2004)
Estes atores não vão apenas ficar sujeitos as formas e abstrações que a cidade
nos impõe, eles não se tornarão meros espectadores daquilo que ocorre ao seu redor,
eles rompem com um cotidiano que de certa forma os aliena, e suprimi a sua capacidade
criativa e comunicadora, como diz Lefebvre eles estabelecem o seu direito a cidade, o
direito a obra como participante desta, o direito a apropriação tomando para si os
espaços urbanos, deixando de ser meros espectadores para se tornarem atores. E de certa
forma esta apropriação é uma característica da cidade, só que acaba sendo esquecida
pelos cidadãos, ela se encontra adormecida esperando para que estes venham a construí-
la e transformá-la, como bem nos fala Henri-Pierre Jeudy:
Estas manifestações (hoje em dia muito mais a pixação do que graffiti) podem
ser vistas como algo vai vir a poluir e sujar o espaço urbano, elas são vistas como algo
que deixa a cidade feia, só que esta também é uma característica inerente a cidade, é o
que da certo “sabor” a cidade, e em muitas ocasiões este signo de feiúra acaba com o
tempo se tornando um símbolo da cidade, a feiúra acaba por fazer do olhar um refém,
ela transforma-se em um prazer estético, como nos mostra Jeudy:
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proveito tanto do que satisfaz os gostos dos cidadãos quanto do que suscita
sua repulsa. A feiúra faz do olhar um refém. Não se trata de um exercício
coletivo de relativismo consensual, que consiste em achar que o que agrada a
alguns pode desagradar a outros. A feiúra, valendo por si mesma, passa a
constituir um prazer estético. (JEUDY, p. 82, 2005)
Estes enclaves vêm a ser espaços privados, e que são de uso restrito, nem todo
mundo tem acesso aos seus interiores, a sua utilização é monitorada para residência,
consumo, lazer ou trabalho, eles são justificados por causa do sentimento de medo da
violência, ou seja, como uma forma de proteção, onde as classes médias e altas se
situam de forma confortável e segura dentro destes espaços, enquanto a rua, a esfera
pública é destinada as classes menos abastadas. E isto acaba por ocasionar em uma
mudança na estrutura social, pois eles isolam as classes sociais uma das outras, no
decorrer histórico sempre existiram barreiras que diferenciavam as classes, mas estas
(em sua maioria) eram principalmente simbólicas e não físicas, ou seja, elas podiam a
todo instante serem rompidas, modificadas, extintas, atualmente com estes novos
padrões de moradia as classes mais altas se isolam completamente das mais baixas,
deixando intransponível o abismo entre elas. Como bem salienta Caldeira:
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alguns mais restritos outros mais abertos), todos os tipos de enclaves
fortificados mantêm as mesmas características básicas. São propriedades
privadas para uso coletivo; são fisicamente isolados, seja por muros, espaços
vazios ou outros recursos arquitetônicos; estão voltados para dentro, e não
para a rua; são controlados por guardas armados e sistemas de segurança
privada que põem em prática regras de admissão e exclusão. Mais ainda, os
enclaves constituem arranjos muito flexíveis. Em virtude de seu tamanho, das
novas tecnologias de comunicação, da nova organização do trabalho e dos
sistemas de segurança, os enclaves de escritório e de comércio, por exemplo,
concentram tudo de que precisam dentro de um espaço privado e autônomo e
podem se localizar em quase qualquer parte, independentemente de seus
arredores.(CALDEIRA, p. 158, 1997)
35
PITU é a tag do pixador.
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consideradas de risco como uma maneira de saírem da mesmice, e marasmo que se faz
presente no cotidiano, como bem afirma Le Breton:
Se for encarado como um confronto deliberado a si mesmo, o risco deixa de
ser um elemento nefasto da existência, uma ameaça insidiosa e má da qual o
homem precisa fugir. Não é mais fonte de medo, de angústia, mas um
ingrediente para o desenvolvimento de si. Ele é, então, o fato de uma paixão
singular, de um gozo que se transforma em modo de vida. (LE BRETON,
p.37, 2010)
Este autor irá direcionar a sua analise para prática de atividades físicas e
desportivas de risco, entretanto a idéia que ele atribui a estas atividades pode se
expandir para outras atividades presentes na sociedade, é caso da pixação, que do
mesmo modo vai ter no risco de se fazer o proibido, de ser pego, a sua essência, é a
consciência do perigo, de se saber que esta exercendo uma atividade “proibida” que vai
mover o pixador, é isto que faz dele um transgressor. Alheio ao restante da sociedade,
estes agentes desfrutam do prazer que o ato proibido lhes concede, eles evocam uma
transgressão, mas esta é realizada em plena consciência do risco que correm. Na
contemporaneidade muitos agentes estão em busca de sensações, e emoções que sirvam
como substituto dos sentidos, o real vai se colocar no lugar do simbólico; a amplitude
dos sentimentos, a mistura de medo e prazer, que distinguem certas atividades, vai
instituir uma via de acesso, a uma versão mais propicia de si mesmo (LE BRETON,
2010). Como bem nos mostra LEONARDO DA VINCI: olha a loucura, vai ali tu faz
na parede daquele posto e tal aí eu digo ta massa, aí eu fiz e o bicho fez o dele, tá
massa, ficou legal, ficou legal, agora tu vai fazer sabe aonde, vai fazer lá na casa de
seu Mauro, seu Mauro era um coroa que morava lá na rua da minha casa, a gente
pegou e pá, ele me deu o jet sacudi lá fora, pulei o muro do cara e botei lá na parede do
beco PINGO, loucura do carai até porque ali ninguém ia vê, né... , ai deu aquela
emoção doida né, assim de ser pego lá, porque tava dentro da casa do cara, o bicho um
coroa podia até dar um tiro no cara ou coisa assim.
No caso do graffiti como é uma manifestação que acabou por se popularizar, e
hoje em dia se tem uma aceitação muito maior da sociedade, a questão referente ao risco
diminuiu bastante, mas isto era algo que se fazia presente antigamente como relata Paul
Klee: Antigamente dava muito rolo com a policia, oxe antigamente a gente saia pra
pintar só podia ser a noite, chegava a noite era aquela adrenalina, não podia vê uma
viatura da policia que encostava na parede e mandava parar o trabalho.
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Mesmo assim esta manifestação não deixou de ter as características de
apropriação e risco de antes, pois, em muitos momentos as artes são feitas sem previa
autorização dos proprietários: Para escolher o canto, velho, a gente... a gente procura,
as vezes rola uma autorização, as vezes o lugar tá abandonado, ou tá pixado, alguma
coisa, ai a gente vai e bota na tora. (Fala de PICASSO).
Gostaria agora de deixar um pouco de lado o graffiti e focar e uma característica
peculiar da pixação, que é a sua forma de associação; jovens que possuem uma
habilidade diferenciada com algum instrumento musical, ou em algum esporte, ou então
aqueles que são bons alunos na escola tendem a se juntarem em grupos onde os seus
integrantes possuem gostos muito semelhantes, as formas de associativismo juvenil na
maioria dos casos possuem objetivos primários de interação, que se funda em valores
nos quais temos um conjunto de praticas que se revertem no prestigio de seus
praticantes, e que servem como um meio de reforçar os laços de solidariedade. Aqueles
que são bons alunos se fecham em grupos que são apelidados de “nerds”, este vão
provavelmente possuir um interesse acadêmico extracurricular semelhante, e assim
participarão de eventos “nerds” onde vão entrar em contato e trocar idéias com outros
indivíduos que possuem os mesmo gostos. Outro exemplo é caso de jovens que gostam
de jogar futebol que irão atrás de combinarem jogos, as famosas “peladas”, onde nestas
é possível estabelecer contato com outros jogadores. (SOUZA, 2007)
No caso dos pixadores isto também irá acontecer, a coesão entre eles acaba por
se reforçar por causa da clandestinidade, da transgressão, assim eles constituem uma
rede de relacionamentos própria, e esta na maioria das vezes se inicia no âmbito escolar,
onde são feitos os primeiros contatos, com os mais velhos e também as primeiras
intervenções. Eles iniciam nas carteiras, as paredes, portas, e banheiros, do âmbito
escolar eles passam para as ruas menos movimentadas, para depois buscarem locais de
maior visibilidade e de difícil acesso como grandes avenidas e marquises. (SOUZA,
2007)
É bom salientar que hoje em dia a internet assumiu um papel importante no que
diz respeito às formas de associativismo, por meio de blogs, ou sites de relacionamentos
tem contribuído para que se formem e se fortaleçam formas de associativismo. No caso
da pixação estas ferramentas têm contribuído de forma interessante, pois elas funcionam
como um espaço aberto que complementa tudo o que se é produzido na rua, é como
uma arena livre onde circulam informações e se estabelecem fóruns. Atualmente as
comunidades virtuais possuem um papel importante nas maneiras como ocorre a
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sociabilidade, e servem como uma ferramenta que expande as redes de pixadores, pois
por meio delas é possível entrar em contato, e observar o que está sendo feito no próprio
ou em outros grupos, sejam estes da mesma cidade ou Estado, ou não, assim estas
comunidades contribuem para a expansão das redes, e conseqüentemente ajudam que se
propague a própria pixação.
No que diz respeito à manifestação estudada neste trabalho, se percebe uma
peculiaridade que acaba passando despercebida por muitos, quando iniciei esta pesquisa
tinha em vista observar como o fenômeno da pichação ocorre, o que pude perceber é
que existe uma diferença que não só se faz presente na forma de escrita, mas ela se
materializa também na forma como acontece a manifestação, ou seja, o que estou
dizendo é que existe uma diferença entre a PICHAÇÃO, e a PIXAÇÃO.
A pichação (com CH) se faz presente na sociedade há muitos anos, ela é uma
forma de comunicação utilizada por diversos grupos presentes na sociedade como
aqueles que se fazem presentes em manifestações coletivas, partidos políticos, entre
outros; esta manifestação é na maioria das vezes feita como algo pontual, e especifico,
por exemplo, no caso de uma estudante assassinada na cidade de João Pessoa, a frente
do local onde o acusado estudava foi pichada com mensagens que pediam justiça e o
chamavam de assassino, mais recentemente o valor da passagem de ônibus aumentou na
capital paraibana uma das formas de protesto encontrada pelos manifestantes contrários
foi inscrever nos muros que isso era um roubo. Assim desta forma se observa que na
pichação existe uma coesão apenas por causa de determinado fim, estes pichadores não
chegam a formar um grupo coeso de interventores urbanos, eles possuem outros fins
que se valem da pratica desta manifestação como uma ferramenta para se chegar a este
fim.
Já quando falamos da pixação (com X) se observa que é um grupo muito mais
coeso, onde existem laços muito mais estreitos entre os membros pertencentes aos
grupos, a forma de associações deles faz lembrar a gemeinnchft de Tonnies, onde na
vida social de conjunto prevalecem laços de afinidade, eles se entendem convivendo em
conjunto e ordenando de forma comum as suas vidas, as formas como os pixadores aqui
em João Pessoa denominam os grupos é chamando-os de família, eles estabelecem uma
forma de solidariedade forte, Machado da Silva (apud SOUZA, 1997) vai nos falar em
uma “sociabilidade delinquente”, que se refere ao fato que os resultados obtidos por
meio de uma atividade delinquente vão ser determinantes na formação de laços e na
reputação social do individuo, para ele esta maneira de sociabilidade os laços são
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efêmeros e as relações são transitórias, entretanto no caso dos pixadores esta segunda
parte não se fazem presentes, eles criam laços fortes e permanentes entre os seus pares
como nos mostra RAFAEL: Pra mim é um estilo de vida, vício que você tenta parar e
não consegue, e quando você para volta mais forte ainda. A pixação apaga, mais as
amizades que você consegue é para sempre e são amigos de verdade que você às vezes
confia nele mais que seu familiares, porque da porta pra rua é publico, é do POVO.
É dentro do contexto urbano que tanto os indivíduos praticantes da pixação,
quanto os do graffiti vão se comunicarem entre si, e entre os restante da sociedade, é por
meio dos muros alheios que eles transmitem as suas mensagens para toda a sociedade
pessoense, seja como é no caso do graffiti por meio da imagem figurativa, ou seja, por
meio de uma rabisco mais rústico como é caso da pixação, eles buscam formas de
democratizar, e de expansão da arte e dos meios de comunicação na cidade, é um
método informal que não se prende a regras, ou estilos que são previamente
estabelecidos pelo mercado, ou por alguma “autoridade competente”. Usando a
definição de Canevacci para certos grupos, pixadores e grafiteiros vão se movimentar de
maneira “desordenada” pela urbe, já que não é possível dizer com certeza onde eles
estão e se situam e quais os locais em que irão intervir. Se apropriando, renovando, ou
então criando novos espaços comunicacionais, eles ao mesmo tempo criam e recriam
(de forma conflitiva) códigos, símbolos e modos de enxergar o que se passa ao nosso
redor. Existe todo um rompimento com os significados estáticos das coisas, são
produzidos novos significados muito mais “livres” e “fuidos”. Assim se percebe que os
pixadores e o grafiteiros produzem realmente uma cultura extrema na cidade de João
Pessoa.
Além de expor todo um sentimento eles querem provar a sua existência, e ser
reconhecidos pelo restante da sociedade como nos mostra de maneira enfática o pixador
MICHELANGELO: pra mim pixador é o cara que enxerga na pixaçao a virtude de
uma vida sem fronteiras sem regra, é a uma utopia, é paz, é tranquilidade ta ligado? É
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adrenalina, satisfação, prazer. Se você for procurar isso tudo junto em algum lugar eu
duvido. Por isso me promove uma utopia. Me sinto bem. O pichador é aquele que
também protesta seus direitos e seus sentimentos. Se eu to com raiva vou pro muro e
escrachar alguém. Se eu to com raiva do governo, eu vou lá e acabo com a cara deles.
Só isso quem sabe eles possam NOS LER!.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta deste trabalho foi a de analisar algumas destas culturas que vem
acompanhando o recente processo de urbanização na cidade de João Pessoa.
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A pixação e o graffiti vão estar se inserindo de maneira “desordenada”, se
propondo a inovar as formas de comunicação, de apropriação, de perceber o que é ou
não arte deixando de lado certos códigos estáticos. Produzindo um significado próprio
destes códigos, ou seja, produzindo uma nova cultura, uma cultura extrema que
transforma significados estáticos, em significados móveis.
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sofrendo uma rejeição por boa parte da população que a encara como algo negativo, que
denigre e suja o espaço urbano.
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CCHLA – UFPB.
WIRTH, Louis. O Urbanismo como Modo de Vida. IN: VELHO, Otavio Guilherme.
O Fenômeno Urbano. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979
101
APÊNDICE – FOTOS
GRAFFITI
PIXAÇÃO
102
GRAFFITI GIGABROW
GRAFFITI SHIKO
103
GRAFFITI MUMIA
AEROGRAFIA
104
PIXAÇÃO COM IMAGEM
105
VÁRIAS PIXAÇÕES NO MESMO ESPAÇO
PIXAÇÃO E BOMBER
106
PIXAÇÃO COM MENSAGEM
PICHAÇÃO COM CH
107