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tessitura do texto literário “de uma forma tão exata e real” (AUERBACH, 2004, p. 408),
escritores no exílio dá notícias, documenta na/ pela literatura o mundo em que vive.
Nesse aspecto, cabe lembrar que a expressão literatura de testemunho “nos últimos
anos [...] remete sempre a uma relação entre literatura e violência” (MARCO, 2004, p.
45).
média, o que representa uma ruptura na regra de estilos clássica, logo uma mistura de
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no domínio do quotidiano, este circunscrito numa época determinada, constituem
historicismo influi na literatura do exílio espanhol de tal forma que cabe ressaltar o seu
papel, uma vez que para Auerbach consiste no “fundamento estético para o realismo
(MARCO, 2004, p. 45). A literatura como arte mimética num período de extrema
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Assim como qualquer língua pode promover “um sentido de comunhão”
publicados em Cuadernos Americanos, Max Aub descreve uma cena em que dois
“Germinie Lacerteux”, Auerbach adverte que “não há nenhuma forma de desgraça que
seja demasiado baixa para ser representada sic literariamente” (AUERBACH, 2004, p.
445).
responsável pela conversão do alemão numa língua utilitária. Nota portanto que,
comunidades de peregrinos. Para ele, “uma língua em que se pode escrever o Horst
Wessel Lied está pronta para dotar o inferno de um idioma pátrio” (STEINER, 1988, p.
137). O discurso humano é assim infiltrado por uma realidade aterrorizante, além de
corrompido. A linguagem passa a ser uma arma de manipulação política que opera em
níveis de realidade porque a fraude, o falseio pode ocorrer sempre que for conveniente
como em Stendhal.
O franquismo expulsa do país tais dissidentes que, por sua vez, mantêm o
vínculo com a coletividade espanhola por meio da sua produção intelectual. Às vezes,
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entretanto, as que se verificam aqui são de outra natureza: alguns exilados
acerca da realidade espanhola. Llorens observa que uma das constantes na vida
deles é “la esperanza del retorno a la patria” (LLORENS, 2006, p. 106), “la única
esperanza que lo[s] sostiene en la vida” (LLORENS, 2006, p. 110). Uma perda
contrabalançado por tal promessa, espera. Essa obsessão pode selecionar uma
A força, portanto, que mantém esse vínculo afetivo é a mesma que projeta
uma pátria idealizada, exercendo sobre a vida do exilado uma influência, muitas
vezes, maior que a exercida sobre a vida dos espanhóis que continuaram vivendo na
Espanha peninsular, assim, “la patria suele ser para el desterrado la imagen de todos
los bienes” (LLORENS, 2006, p. 122), de forma que essa idealização provoque
equívocos e desvios. Esse grupo, que no México constitui uma comunidade de cultura,
que o exílio não se transforma num problema para todos os escritores exilados e ainda
Aub defende que não haveria outra literatura possível senão a dedicada a refletir o
repetición del mal, [la gente] acaba por aceptar estas situaciones de hecho como
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questão, logo a literatura desnuda tal realidade. Além disso, a linguagem tampouco é
trabalhada com vistas a subterfúgios políticos, como no caso dos representantes dos
regimes fascistas.
substrato literário. Está claro que algum leitor poderia, seguindo outra abordagem, não
considerar o contexto social, entretanto, é necessário destacar que essa literatura não
cultural, coletiva, capaz de indicar uma consciência de época. Assim como para o
filólogo alemão, o importante para nós não é discutir a realidade verdadeira, pois o
histórica dos escritores envolvidos. O discurso literário, sustentado por uma retórica da
tal relação é identitária pois vincula o grupo a uma problematização comum. Nesse
sobre a literatura, uma vez que, segundo o filósofo, como somos parte do mundo, que
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que adaptemos a representação à mudança. Assim, a produção cultural tende a refletir
que, vale reiterar, o realismo será tão mais real quanto mais penetrar no domínio do
sério e do quotidiano.
O homem como ser social vive num momento histórico determinado, sendo
grupo de escritores referido concebe a sua obra como um inevitável meio de reflexão
pátrio, por isso, devido à relação dele com o mundo, o mesmo atribui à literatura a
Referências
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AUB, Max. Una faceta de nuestro tiempo. Cuadernos Americanos, n. 1, 1952.
SAID, Edward. Reflexões sobre o exílio. In: Reflexões sobre o exílio. São Paulo:
STEINER, George. O milagre vazio. In: Linguagem e silêncio: ensaios sobre a crise da
palavra. Tradução de G. Stuart e F. Rajabally. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
Nota
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Impressa na sobrecapa em edições anteriores.
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