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Revue franco-brésilienne de géographie / Revista franco-brasilera de geografia

30 | 2017 :
Número 30
Sinteses

De frontier até pós-frontier:


regiões pioneiras no Brasil
dentro do processo de
transformação espaço-temporal
e sócio-ecológico
De la frontier à post-frontier: les régions pionnières au Brésil dans le processus de transformation spatio-
temporel et socio-écologique
From frontier to post-frontier: pioneer regions in Brazil within the process of spatio-temporal and socio-
ecological transformation

MARTIN COY, MICHAEL KLINGLER ET GERD KOHLHEPP

Résumés
Português Français English
Se existe uma região mundial na qual o frontier pertence às grandes narrativas espaço-
temporais e assim às disciplinas importantes de pesquisa histórica, de ciências sociais e
sobretudo de geografia, são sem dúvida as Américas. Até porque, a exploração através da
colonização após a independência dos países da América Latina, sobretudo na Argentina, no
Chile, no Paraguai e também no Brasil tornou-se o instrumento essencial da povoação,
colonização, segurança geoestratégica e valorização econômica dos supostos espaços vazios de
assentamentos e de população do hinterland. Enquanto que o foco regional do frontier agrário
brasileiro concentrava-se no Sul até meados do séc. XX, as regiões pioneiras deslocaram-se em
seguida e sucessivamente até as extensas periferias do Centro-Oeste e da Amazônia. Hoje está
claro que o mito original das “historias bem sucedidas” do frontier não mais pode ser
reproduzido sob as atuais condições gerais contraditórias de globalização e global change, de
discursos de sustentabilidade e de desenvolvimento regional, entre lógicas de mercado e
governança de meio ambiente. Neste contexto, os três estudos de caso deste trabalho
representam fases diferentes de desenvolvimento de frontier e do processo de deslocamento
das regiões pioneiras brasileiras. Condições gerais individuais e vias diferentes de
desenvolvimentos marcam o seu processo espaço-temporal, deixando, no entanto, reconhecer
ligações com a história migratória dos atores e suas redes interregionais, existentes até hoje. O
objetivo é analisar as condições gerais dos frontiers no sentido do conceito do ciclo de vida e
avaliar, sob perspectiva histórica, as possibilidades de mudanças do desenvolvimento regional.

S'il y a des régions du monde où la frontière appartient aux grands récits spatio-temporels et
donc aux disciplines importantes de la recherche historique, aux sciences sociales et surtout à
la géographie, ce sont sans aucun doute les Amériques. Ne serait-ce que parce que
l'exploitation, par la colonisation, après l'indépendance des pays d'Amérique latine,
notamment l'Argentine, le Chili, le Paraguay et le Brésil est devenue l'outil indispensable
d'occupation, colonisation, sécurité géostratégique et mise en valeur économique des espaces
supposés vides et de peuplement de l'arrière-pays. Bien que l'avancée de la frontière agricole
brésilienne se soit concentrée dans le Sud jusqu'au milieu du siècle. XX, les régions pionnières
se sont ensuite progressivement déplacées jusqu'aux vastes étendues du Centre-Ouest et de
l'Amazonie. Il est clair qu'aujourd'hui le mythe d'origine des «histoires de succès» de la
frontière ne peut plus être rejoué dans les actuelles conditions contradictoires entre la
mondialisation et le changement global, les discours de durabilité et de développement
régional, entre les principes du marché et de gouvernance de l'environnement. Dans ce
contexte, les trois études de cas de ce travail représentent différentes étapes du processus de
développement de la frontière et de déplacement des régions pionnières brésiliennes. Des
conditions générales individualisées et différents modes de développements marquent leur
processus spatio-temporel, laissant toutefois apparaître des liens avec l'histoire migratoire des
acteurs et de leurs réseaux interrégionaux, existants jusqu'à aujourd'hui. L'objectif est
d'analyser les conditions générales des frontières au sens de cycle de vie et d'évaluer, dans une
perspective historique, les possibilités de changement du développement régional.

If there exists a world region, where the frontier constitutes one of the large socio-temporal
narratives and hence also an important field of inquiry in history, social sciences and
particularly geography, then it is the Americas. This holds particularly true inasmuch as the
incorporation of land through settler colonisation after Latin American countries’
independence – mainly in Argentina, Chile, Paraguay and Brazil – became one of the key
instruments for opening up and developing areas, for geostrategic securing, and for economic
valorisation of hinterland spaces discursively framed as free of settlements and populations.
Until the mid-20th century the regional focus of Brazilian agro- frontiers had been on
Southern Brazil. Afterwards, frontier regions gradually moved towards the wide peripheries of
the Middle West and the Amazon region. Today it becomes clear that the founding myth of
frontier “success stories” is not reproducible under the contradictory framework conditions of
globalization and global change, of sustainability and regional development discourses, or
between market logics and environmental governance. The three case studies analysed in this
contribution represent different phases of frontier development and of the spatial shift in
Brazilian frontier regions. Individual framework conditions and different development paths
mark their socio-spatial development; nevertheless, connections are visible in what concerns
the migration history of actors and the interregional networks that exist up to the present day.
The goal of the paper is 1) to analyse the framework conditions of frontier development by
applying the lifecycle approach, and 2) to assess the possibilities of identifying tipping points
in regional development through an historical perspective.

Entrées d’index
Index de mots-clés : Frontière, Post-Frontière (?), Changement socio-économique et
territorial, Transformation socio-écologique
Index by keywords : Frontier, Post-Frontier, Socio-Economic and Territorial Change, Socio-
Ecological Transformation
Index géographique : Norte do Paraná, Norte do Mato Grosso, Sudoeste do Pará
Índice de palavras-chaves : Fronteira, Pós-Fronteira, Mudança socioeconômica e territorial,
Transformação Sócio-ecológica

Texte intégral
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Crédits : Hervé Théry 2009

Frontier: uma temática “clássica” da


geografia “revisited”
1 Será que já não se terá dito tudo sobre o frontier? Às temáticas clássicas da geografia
pertencem, sem dúvida, a ocupação com as regiões pioneiras, as frentes pioneiras, as
áreas de exploração da terra nos limites dos assentamentos, isto é, a “borda” entre
ecúmeno e anecúmeno ou outras quaisquer designações sinônimas que se possa adotar
para os fenômenos sociais, sócio-econômicos, culturais e sobretudo espaciais do
frontier. Já em 1931, o geógrafo norteamericano Isaiah Bowman apresentou uma
comparação das regiões pioneiras do mundo (Bowman, 1931). Se existe uma região no
mundo à qual o tema do frontier pertença às grandes narrativas espaço-temporais e
assim às importantes disciplinas de pesquisa histórica, das ciências sociais e sobretudo
geográfica – são pois as Américas. Seguindo os conhecimentos e as idéias
concepcionais do historiador norteamericano Frederick Jackson Turner (cf. resumido
em Turner, 1920), o frontier, na verdade, moveu a exploração sucessiva do oeste dos
Estados Unidos durante o séc. XIX para o centro da história da identidade da América
do Norte, avançando com isso a um topoi essencial da “formação da nação”
norteamericana.
2 Mesmo que o fenômeno frontier seja especialmente emblemático para a América do
Norte, pode ser visto de modo geral como um dos processos espaço-temporais
determinantes do séc. XIX, como Jürgen Osterhammel, historiador global alemão
comprova impressionantemente em uma recomendável sinopse (Osterhammel, 2009,
p. 465 ss). Especialmente marcante nas regiões alvo de além mar das grandes levas de
emigração européia de então, sobretudo as mais variadas regiões da América Latina
tornam-se foco de regiões frontier durante o séc. XIX paralelamente à Africa do Sul,
Austrália e Nova Zelândia. Até porque, a exploração de terras por colonização, depois
da independência dos países da América Latina, sobretudo na Argentina, no Chile, no
Paraguai e também no Brasil tornou-se intrumento essencial de povoamento,
exploração, “asseguramento” geoestratégico, “valorização” dos supostos espaços vazios
de assentamentos e população do hinterland. Somente suposto esvaziamento devido às
regiões mencionadas em seguida, deveriam ser cada vez mais marginalizadas pelo
avanço frontier - semelhante ao ocorrido na América do Norte - na Argentina, partes da
Pampa, regiões das matas tropicais do norte, o Chaco como também a Patagônia,
extensas regiões ao sul do Chile, matas do Paraguai e nas montanhas do Sul do Brasil
próximas ao litoral e demais regiões que eram áreas de povoamento e de recuo dos
povos indígenas. Apesar disso (ou em parte até por isso) o fenômeno frontier mereceu
conotação predominantemente positiva sendo incorporado na “narrativa de fundação”
das jovens nações semelhante como na América do Norte, e ao mesmo tempo
totalmente diferente devido aos contextos históricos específicos (para comparação dos
frontiers nas Américas do Norte e do Sul, existem inúmeros estudos, cf. resumido em
Hennessy, 1978).
3 Justamente a geografia de idioma alemão ocupou-se de forma muito intensa, variada
e nas mais diferentes regiões do fenômeno das frentes pioneiras nos países
latinoamericanos, baseado principalmente na colonização agrária durante o séc. XX. É
possível reconhecer claramente “genealogias” científicas em estudos sobre frontiers
partindo-se de trabalhos competentes e comparativamente antigos. Assim Wilhelmy
(1940, 1949), inspirado por Oskar Schmieder, tratou minuciosamente dos processos de
colonização, das técnicas de uso da terra e das formas de vida em geral nas áreas
pioneiras dos países do Cono-Sur, sobretudo no Paraguai. Seguindo sua tradição,
existem, entre outros, Brücher (1968) sobre a colonização das florestas tropicais do
leste da Colombia como também estudos de Borsdorf sobre o espaço periférico Aisén
no sul do Chile (Borsdorf, 1987). Quanto à exploração das planícies do leste boliviano
através de colonização agrária, Monheim (1965, 1977) e em seguida Schoop (1970)
realizaram abrangentes pesquisas. Sandner (1961) dedicou-se aos estudos da
colonização agrária na Costa Rica.
4 Com relação ao Brasil, vemos sobretudo os trabalhos sobre geografia agrária de
Waibel (p.ex. 1949, 1955b) sobre exploração de terras e colonização nas regiões do sul
do Brasil, povoadas por imigrantes alemães e italianos como ponto de partida de uma
“tradição de pesquisa” na geografia de lingua alemã – que Waibel, mais tarde,
complementou, em forma de síntese, com estudos comparativos sobre as zonas
pioneiras em diversas partes do Brasil (Waibel, 1955a). Os trabalhos de Waibel no
chamado “Project M”, do governo dos EUA, durante seu exílio nos Estados Unidos
podem ser vistos como pesquisa “precursora”, sobre zonas pioneiras e orientadas pela
prática. Neste projeto foram analisados a identificação das regiões despovoadas da
América Central, a situação frontier e possíveis potenciais de assentamentos para
refugiados europeus depois da segunda guerra mundial (Kohlhepp, 2013; Bell, 2016).
5 Gottfried Pfeifer, discípulo de Waibel, deu continuidade à pesquisa no sul do Brasil
sob perspectiva da geografia cultural e com base em próprios trabalhos anteriores em
estudo comparativo com os frontiers norteamericanos (Pfeifer, 1935, 1973).
Paralelamente a estas interpretações com orientação mais histórico-geográficas, Pfeifer
ocupa-se pela primeira vez também com conceitos de novas zonas pioneiras no centro-
oeste brasileiro (Pfeifer, 1966), recém surgidos naquela época. A tradição de Waibel e
Pfeifer de uma pesquisa de geografia de povoamento, econômica e social sobre regiões
pioneiras no Brasil, foi seguida sobretudo por Gerd Kohlhepp em seu trabalho de livre
docência sobre o frontier do café no Norte do Paraná, primeiramente no sul do Brasil
(Kohlhepp, 1975) e, a partir de meados dos anos de 1970, seus trabalhos focalizaram os
mais recentes e - talvez os últimos? - frontiers brasileiros na Amazônia (p.ex.
Kohlhepp, 1976 b). Estes estudos foram seguidos por Martin Coy com trabalhos sobre
as regiões pioneiras amazônicas dos anos de 1970 e 1980 em Rondônia e no norte de
Mato Grosso (Coy, 1988, Coy & Lücker, 1993). A “conclusão” de até então dessa
“genealogia” científica - por assim dizer na “quinta geração” - são os trabalhos ainda em
andamento de Michael Klingler nas regiões de frontiers no sudoeste paraense ao longo
da Estrada Cuiabá-Santarém (cf., por ex. Coy & Klingler, 2011 e Klingler & Coy, 2013).
Destas três últimas fases sobre estudos de frontiers resultam os estudos de caso da
contribuição ora apresentada.
6 De autoria de Leo Waibel (1955a, p. 391-392) provém uma das mais distintas
tentativas de definição de frente pioneira ou zona pioneira para todos que se ocuparam
com o fenômeno frontier : “ De uma zona pioneira, em geral, só falamos quando,
súbitamente, por uma causa qualquer, a expansão da agricultura se acelera, quando
uma espécie de febre toma a população das imediações mais ou menos próximas e se
inicia o afluxo de uma forte corrente humana. Em outras palavras: quando a agricultura
e o povoamento provocam o que os americanos denominam em sua linguagem
comercial um boom ou rush. Então, os preços das terras elevam-se vertiginosamente,
as matas são derrubadas, ruas e casas são construídas, povoados e cidades saltam da
terra quase da noite para o dia, e um espírito de arrojo e de otimismo invade toda a
população”.
7 Até hoje, entretanto, é discutido o que significam frontiers e como devem ser
interpretados (cf. especialmente Osterhammel, 2009, p. 465 ss). O fenômeno frontier
deve ser designado como uma fase do desenvolvimento regional, limitada em espaço e
tempo, que depende de certas condições, em especial do comparávelmente “fácil”
acesso a recursos (no contexto dos frontiers marcados pela agricultura sobretudo o
recurso terra) como também a migração de atores, que viam nos frontiers “espaços de
possibilidades sonhadas” (Osterhammel). Por um lado frontiers podem ser dirigidos
pelo Estado ou também por atores privados (companhias de colonização, serrarias,
companhias de mineração) e com isso podem ser formados por regras
institucionalizadas de alocação de terras e do acesso a recursos como também à base da
expansão da infraestrutura (por ex. construção de estradas) ou, por outro lado,
descontrolado, isto é, espontaneamente através da dinâmica da migração com
regulamentos informais correspondentes de acesso aos recursos (por ex. através de
apropriação de terras “devolutas“).
8 “Limitações” espaciais e temporais de frontiers não são sempre fáceis. A dinâmica
espaço- temporal é especialmente marcante expressando-se, por exemplo, na intensa
transformação da “natureza” em “paisagem cultural” com migração de atores estranhos
à região e ligada a um baixo grau de consolidação das estruturas regionais econômicas,
de povoamento e sociais. Nisto, o início de uma fase de frontier é, na maioria das vezes,
fácil de ser determinada e muitas vezes associável a eventos ou constelações
temporalmente definíveis. Seu “fim” ou o começo de uma “transição” – aqui sobretudo
a questão do “para onde” – é por sua vez, de natureza muito mais complexa. Frontiers
são muitas vezes vistos como espaços “permeáveis” e fases de alta mobilidade social.
Inúmeras histórias bem sucedidas comprovam a - suposta – maleabilidade das relações
sociais nas regiões pioneiras. Neste contexto, frontiers são muitas vezes estilizados
como transições espaço-temporais de “regiões selvagens“ à “civilização”, ao mesmo
tempo “mistificados” como “espaços da liberdade” além dos “grilhões” do passado e
“estilizados” como “locais do destino” de importância nacional. Isto tudo é parte dos
componentes essenciais de um “mito frontier”, enraizado no novo, no começo, na
dinâmica e no “poderoso” das frentes pioneiras.
9 Entretanto, isto é certamente só um lado da medalha frontier. Basicamente deve se
concordar com a “cuidadosa” definição sobre frontier, de Osterhammel: “frontier é as
vezes um estado de longa continuidade mas, em princípio, um estado volátil de alta
fragilidade social” (Osterhammel, 2009, p. 471). Neste contexto, a questão é
interessante até onde pode ser observado um elevado grau de “hibridez” socio-cultural
(no sentido da criação do “novo”) na formação, na consolidação e, conforme o caso, na
sobreposição de espaços sociais sob condições do frontier ou talvez a realização do
modelo cultural “hegemonial” (no sentido da reprodução de comportamentos
“trazidos” até a orientação em idéias dominantes de “civilização”). Ao contrário do mito
do frontier continuamente reproduzido por ideólogos, aproveitadores mas também
pelos atingidos, vencedores e perdedores do frontier são realmente fáceis de distinguir,
pois situações frontier são sempre ligadas a processos de exclusão e de
deslocamento.”Vítimas” são repetidamente aqueles que são “avassalados” pela
dinâmica do frontier, indígenas ou outros grupos populacionais tradicionais da fase
pré- frontier, mas também os próprios atores do frontier, com pouco capital ou aqueles
que não podem ou não querem se “adaptar”. Será que não é assim de qualquer maneira
que no final frontiers nada mais são do que “pontas de lança”, tendencialmente
excluidos dos dominantes modos de vida e de economia, sendo assim veículos da
“colonização” das últimas periferias no interesse do capitalismo? Neste sentido, a
interpretação de frontiers seria muito menos “nichos do possível”, e muito mais forma
para a imposição de estruturas hegemônicas e de interesses. Os debates brasileiros dos
anos de 1970 e 1980 quanto à função das frentes pioneiras, isto é, da fronteira
agrícola, orientam-se fortemente na base do modelo de interpretação neo-marxista (cf.
resumido em Coy, 1988, p.18 ss).
10 Estes são somente alguns aspectos que influenciam a percepção geográfica dos
frontiers, isto é, que modificaram a pesquisa geográfica sobre os frontiers no percurso
das últimas décadas. Clássico na pesquisa geográfica sobre frontiers são modelos de
interpretação de geografia de povoamento (processos de exploração, gênese de
povoamento, localização, formas e mudanças de colonização etc), de geografia
econômica (base econômica com relação à produção, isto é, extração, produtos
dominantes, relação entre subsistência e orientação pelo mercado, grandes e pequenos
empreendimentos) e/ou de geografia de povoamento e social (por ex. migração e
emigração, estrutura e dinâmica étnica-demográfica, formação, diferenciação e
sobreposição de espaços sociais, constelações de atores, modelos de percepção e de
ação). Provavelmente de recente data, um modelo de interpretação de geografia política
encontra o seu conteúdo nos fundamentos e no significado geopolítico como também
nas condições de constituição política do frontier e sobretudo no sentido político-
ecológico dentro das constelações de conflito do frontier como battlefield of interests
(ligado por.ex. a constelações de interesses as mais diferentes, entre place-based e non-
place- based-actors).
11 Em situações semelhantes, os contextos de interpretação político-econômicos
questionam o relacionamento de poder no frontier que se manifestam na forma
desigual do direito de posse, nas condições e formas de apropriação de terras e de
recursos, entre outros também na relação entre modo de produção rural e capitalista e
de processos de deslocamento resultantes de desigualdades. Nos últimos anos, a
pesquisa geográfica sobre frontier achou novas formas de interpretação sobretudo na
pesquisa homem-meio ambiente, como conceituada em princípios integrativos na
forma teórica-metódica. Neste sentido, trata-se do entendimento dos fundamentos
para o modelo do uso da terra e mudança do uso da terra, desmatamento, suas causas e
consequências, graus de vulnerabilidade, isto é, potenciais de resiliência, capacidade de
adaptação o que, finalmente é de importância para os “sistemas de conhecimento”,
específicos dos frontiers. Resumindo, um quadro de interpretação deste tipo objetiva
uma compreensão mais profunda sobre as relações de natureza na sociedade dos
frontiers. Aparentemente longe da perspectiva homem-meio ambiente sobre a temática
de frontier está o modelo de interpretação pós-estruturalista de frontier, no qual a
revelação e o entendimento dos discursos frontier e suas funções como também a
interpretação do conteúdo “simbólico” específico de frontier aparecem em primeiro
plano – assim, frontier como “construto” sócio- político e materializado espacialmente.
12 Além disso, as interpretações de frontier estão ligadas fundamentalmente com o
posicionamento nos grandes debates políticos da teoria de desenvolvimento e social
como global. Sob o ponto de vista da teoria de modernização, os frontiers deixam-se
parecer como “ponta de lança” da modernização sob o fundamento de estruturas
dualistas entre tradicionalidade e modernidade, no sentido da idéia de
desenvolvimento linear-evolucionária com forte orientação de crescimento. Grande
parte das interpretações sobre frontiers acima mencionadas e tradicionais mas até hoje
influentes, devem ser atribuídas a este pensamento. Em contrapartida, sob o ponto de
vista da teoria da dependência, frontiers são expressão de sociedades “estruturais-
heterogêneas” em duplo sentido: por um lado são representados no poderoso grupo de
atores dos frontiers e instrumento essencial de uma incorporação funcional da periferia
em um tipo de produção capitalista orientado pelo centro com o objetivo do aumento
de valor e extração de recursos. E por outro lado tornam-se, por sua vez, locais de
repressão e deslocamento de problemas sobre a função social de válvula do frontier e
para locais de nova marginalização através da reprodução – até aumento de
desigualdades sociais e conflitos sócio-espaciais. No contexto destas funções do
frontier, muito contraditórias, as cidades pioneiras, que nos debates sobre frontiers
tiveram pouca atenção, desempenham papel especialmente importante. Uma
interpretação de frontier na base da teoria da dependência teve grande importância na
discussão brasileira o que se entende perfeitamente (por assim dizer, a representante
do debate rico em facetas sobre frontiers no Brasil, a falecida geógrafa Bertha K. Becker
cujos abrangentes trabalhos devem ser aqui mencionados; (cf. obra completa em
Vieira, 2015).
13 Em anos recentes, regiões pioneiras são crescentemente incorporadas como frontier
de recursos por seus potenciais (biodiversidade, terras, matérias primas, energia) em
redes regionais-globais sendo envolvidas cada vez mais em debates concepcionais sobre
globalização e global change. Entendendo-se os concretos efeitos espaciais de
globalização no sentido de um desenvolvimento fragmentado (cf. Scholz, 2006), muitas
vezes então, os frontiers refletem tipos de regiões paralelas, de confrontos e também
muitas vezes de sobreposição conflituosa de “locais globalizados” de um lado e “restos
do mundo banidos” por outro. Isto faz com que questões de scale e das
interdependências das escalas mereçam significância cada vez maior para a
interpretação da questão frontier: Como por exemplo, interesses regionais externos
e/ou discursos globais influenciam opções de ações e processos regionais ou locais?
Enquanto que há algumas décadas os acontecimentos nas áreas pioneiras tinham lugar
além dos interesses do público (nacional ou até internacional), assim a opinião pública
hoje está sempre presente como resultado de uma rede cada vez mais estreita de
informações nos mais variados níveis e escalas. Desmatamento, repressão de indígenas,
destruição de recursos, massacre a posseiros, assassinatos de ativistas alcançavam os
debates públicos em tempo real e consequentemente os debates políticos.
“Antimundos” entre visão externa para os frontiers e sua própria visão interior são
muitas vezes a consequência que não necessariamente facilitam o alcance de soluções
de problemas. Com toda a sua contrariedade entre potenciais de recursos e dinâmica
econômica por um lado, instabilidade social e destruição ecológica por outro, os
frontiers caíram na disputa pelo global change, mudança de clima causada pelo
homem, assim como a globalização. Com isso, estão no foco dos debates de alternativas
sustentáveis e aproximações a soluções, sejam estas as perspectivas para o
fortalecimento de circuitos econômicos regionais e cadeias de valor acrescentado (no
contexto brasileiro podem ser mencionados os Arranjos Produtivos Locais),
possibilidades da troca “justa” entre os níveis de escala ou mesmo questões da
integração dos frontiers em princípios inovativos da governança de meio ambiente,
tanto ao nível global como local/ regional (conceitos novos de proteção etc). Essas
perspectivas certamente serão relevantes no futuro na percepção geográfica sobre
frontiers. Mas elas somente poderão alcançar relevância se determinarem as complexas
constelações sócio-econômicas e sobretudo sócio-ecológicas dos frontiers, oriundas das
específicas condições natureza-sociedade dos frontiers e estes - por assim dizer,
reassociados - e redeterminados para o novo, adicionar conhecimentos
correspondentes no pensamento sobre cenários de transformação sócio-ecológica e a
sua viabilidade. A pesquisa geográfica sobre frontiers oferece, em suas tradições,
conceitos diversos e experiências regionais-empíricas, possibilidades de comparação da
apresentação de continuidade e descontinuidade e, por final e sobretudo, a
possibilidade do aprendizado mútuo. Estas experiências de um fenômeno espaço-
temporal são caracterizadas pela dinâmica, fragilidade, volatilidade e transições. As
seguintes exposições devem ser compreendidas neste sentido.

Regiões pioneiras no Brasil e seus


deslocamentos espaço-temporais
14 Os anos 20 do séc. XIX representam uma virada na história da exploração agrária e
do desenvolvimento da colonização no Brasil. O país conseguiu sua independência
estabelecendo-se como império. Povoação e “asseguramento” do território, produção
de gêneros alimentícios e desenvolvimento econômico nas regiões até então pouco
exploradas, passam a ser tarefas de significado nacional. Com o apoio de D. Leopoldina,
arquiduquesa austríaca e esposa do primeiro imperador brasileiro, é feito recrutamento
dirigido de europeus, iniciado principalmente com emigrantes alemães. Este
povoamento realizado pelo Estado e mais tarde por empresas privadas de colonização
nas regiões de florestas de clima mais temperado no Sul do Brasil foi tido como
estratégia apropriada dos objetivos específicos da fixação de uma classe social agrária,
até então quase não existente no país (cf. Kohlhepp, 2015). Regiões alvo são
primeiramente as regiões poupadas na fase de expansão de latifúndios durante a
colonização portuguêsa – áreas das florestas à beira da Serra Gaúcha no Rio Grande do
Sul (as colonias mais antigas de São Leopoldo e Santa Cruz do Sul são bons exemplos
para tal) e, mais tarde a parte leste de Santa Catarina. Sobretudo colonos de
descendência italiana chegam à região numa segunda leva de imigração a partir de 1875
e se estabelecem nas proximidades das antigas colonias, dando início à exploração no
interior do planalto gaúcho. O aumento da população e a divisão real nas colonias da
primeira geração fizeram com que depois de algumas décadas fossem exploradas novas
regiões para colonização, tanto para imigrantes novos das mais diversas regiões
européias mas, sobretudo para os descendentes da primeira geração de colonos.
15 No final do séx. XIX e início do séc. XX deu-se o primeiro ciclo de deslocamentos do
frontier no Sul do Brasil, principalmente em direção às regiões do Alto Uruguai no
noroeste do Rio Grande do Sul, a chamada colônia nova e na sequência, para o oeste do
atual Estado de Santa Catarina (fig.1). Os princípios mudam pouco: geralmente eram
cedidas parcelas, normalmente como lotes (“Waldhufen”) com, 20 a 50 hectares,
explorados por roças no sistema primitivo de rotação de terras para o plantio de
géneros alimentícios e os primeiros cash crops (por ex. fumo), combinado com a
criação de suínos para a produção da banha cujo longo prazo de validade era
apropriado para o mercado.
16 Fig. 1: Deslocamento das regiões de frentes pioneiras no Brasil
17 Estas áreas-alvo da colonização européia e áreas de origem do processo de
deslocamento das regiões pioneiras brasileiras tinham naturalmente abandonado há
muito sua fase pioneira, estando agora “consolidadas”, tendo passado por processos de
diferenciação econômica, estratificação social e processos de mistura demográfica.
Povoamentos pioneiros tornaram-se grandes cidades, no entanto, a origem dos
frontiers do séc. XIX e início do séc. XX desempenham papel importante para a
identidade regional e a autopercepção de muitos habitantes – certamente no sentido do
“mito do frontier”, descrito acima. No decorrer dos processos de consolidação e
sequente deslocamento das regiões pioneiras, algumas regiões- alvo da migração de até
então tornaram-se regiões principais da emigração: das “antigas regiões de
colonização”, a colônia velha para as novas regiões de colonização, a colônia nova e,
mais adiante para o oeste de Santa Catarina e oeste do Estado do Paraná. Os motivos
para esta tendência de deslocamento permanecem semelhantes através de gerações:
aumento da população, divisão real, fracionamento das propriedades, exaustão da
fertilidade dos solos, pressão sobre as reservas de terras, falta de chances na
competição com os exitosos, riscos de endividamento, procura por perspectivas em
regiões de mata ainda não exploradas. Vendedores de terras ou também a propaganda
estatal de projetos de colonização tem então jogo fácil.
18 O foco regional dos frontiers agrários brasileiros, que no séc. XIX até o início do séc.
XX era o Rio Grande do Sul, deslocou-se para o Paraná a partir da primeira metade até
meados do séc. XX (vide fig. 1 e cf detalhada no próximo estudo de caso). Aqui há o
encontro de dois movimentos frontier: de um lado vindo do sul, o deslocamento do
frontier de pequenos colonos de origem européia e, do outro, o avanço da expansão do
plantio do café, sobretudo de São Paulo para o Norte do Paraná, cujos motivos sócio-
demográficos e sócio-culturais são de natureza diversa (cf. casos de estudos seguintes).
19 Aos anos de 1930 e 1940, no tempo do chamado Estado Novo sob o ditador Getúlio
Vargas, é conferida nova dinâmica do deslocamento da frente pioneira. Com o anúncio
da chamada Marcha para Oeste, Vargas declara a exploração do interior do país além
das regiões centrais do Brasil nas proximidades do litoral como tarefa nacional. O
ponto de referência histórica passa a ser as marchas de conquista dos chamados
bandeirantes que, desde o séc. XVII avançavam para o hinterland. Com este discurso, o
ditador fortalece o mito do frontier como suposta essência do “genuinamente
brasileiro”. Os discursos correspondentes “materializam- se” na expanção da
infraestrutura e na implementação de colonias estatais, sobretudo nas partes sul da
região do Centro Oeste, vistas como continuidade das regiões de colonização no sul
brasileiro.
20 A segunda metade do séc. XX é principalmente marcada pelo deslocamento das
regiões pioneiras para as distantes periferias do Centro Oeste e da Amazônia (fig. 1).
Anteriormente limitado no máximo como frontiers de recursos, em forma de ciclos e
localmente (fases da extração de ouro e diamantes desde o séc. XVIII no Centro Oeste,
a fase da extração da borracha na virada do séx. XX na Amazônia) ou aproveitado como
regiões de latifúndios com economia extremamente extensiva, os governos militares
veem, a partir dos anos de 1960, uma suposta alternativa para uma reforma agrária sob
o lema “terra sem homens para homens sem terra”, sobretudo na colonização agrária
nas fronteiras do povoamento nas florestas tropicais da Amazônia. Uma reforma
agrária urgentemente necessária com mudanças de estruturas, mais adequada para
contrapor o contraste de latifundio-minifundio, oriundo do tempo colonial, mas
também o automatismo do deslocamento da frente pioneira não estava prevista na
estratégia da “modernização conservadora” dos governos militares brasileiros.
21 Em compensação, foi usada explicitamente como “função-válvula” do frontier.
Condição decisiva para esta estratégia foi, além da atribuição de terras, sobretudo a
extensão das obras de infraestrutura. Novas rodovias sul-norte, de acordo com as novas
diretrizes de deslocamento e expansão dos novos frontiers tornaram-se primeiramente
projetos estatais e privados para pequenos colonos e tolerados pelo Estado, isto é, até
com incentivos e estruturas de grandes propriedades. Mais tarde e de forma crescente
foram caracterizadas como fazendas de economia moderna e orientadas pelas cadeias
globais de valor acrescentado (cf. mais detalhado nos estudos a seguir).
22 Na mudança para o séc. XXI, as regiões pioneiras brasileiras aparecem sob aspecto
diferente. A imigração interregional para a periferia diminuiu claramente. Processos de
migração interregional, isto é, sobretudo entre as regiões pioneiras de diferentes épocas
na Amazônia e do Centro Oeste substituíram as migrações de longa distância. Em
particular, as condições da constituição dos frontiers mudaram, estando em crescente
conflito entre a dinâmica regional de exploração por um lado e tentativas de
regulamentação orientada pelo meio ambiente e a sustentabilidade por outro (cf. de
estudos de caso detalhados a seguir).
23 Os seguintes estudos de caso representam cada um, diferentes fases de
desenvolvimento de frontier e do processo de deslocamento das regiões pioneiras
brasileiras. Para cada exemplo condições individuais e vias de desenvolvimento são
importantes. Não obstante, existe uma série de interligações. As mais evidentes
resultam das histórias de migração dos atores e de redes interregionais, nas quais estão
envolvidas. Com as histórias de migração, o mito das “histórias bem sucedidas” do
frontier se desloca e se reproduz estando fortemente ligado com “o ponto de partida”
Paraná, como no estudo de caso seguinte.

Norte do Paraná: história exitosa de


um frontier do café
24 Ao contrário do frontier “clássico” do café em São Paulo, que a partir de meados do
séc. XIX e na primeira metade do séc. XX se estendia em grande parte na base de
fazendas de café à margem da linha férrea para o noroeste (Milliet, 1941; Monbeig,
1952; França, 1956), a zona pioneira do norte do Paraná assumiu posição especial
segundo condições naturais espaciais, tamanho das propriedades, desenvolvimento de
mercado global como também pela dinâmica social e regional.
25 Devido à crise econômica mundial e à proibição estatal de plantio novo nas regiões
do café em São Paulo, marcadas pela superprodução e queda de preços, o norte do
Paraná nos anos de 1920 ainda não era de interesse dos fazendeiros de café de São
Paulo. No Paraná, o foco econômico concentrava-se na região da capital Curitiba. O
Norte do Estado, coberto com floresta tropical e isolado do acesso rodoviário também
não tinha despertado o interesse econômico das elites tradicionais paranaenses.
Quando, em 1919, o governo do Paraná começou com as vendas das extensas terras
estatais, havia pouco interesse das companhias privadas de colonização. Entretanto,
especuladores de terra com influência política, com concessões dúbias de terra e títulos
falsificados de propriedade haviam se apossado ilegalmente de terras de grandes
dimensões (grilos). Estes grileiros reivindicaram mais do que um quarto da área
estatal.
26 Nesta situação, a companhia britânica “Brazil Plantations Syndicate Ltd.” (Londres)
que mantinha plantações de algodão no Sudão anglo-egípcio (Gezira-Scheme),
planejava comprar terras no Norte do Paraná para plantar algodão. Depois de
tentativas fracassadas, a companhia privada britânica optou, em 1925, por um grande
projeto de colonização. O sub-contratado Cia.Terras Norte do Paraná (CTNP), com
matriz em São Paulo (o financiamento foi assumido pela Paraná Plantations Ltd. em
Londres) adquiriu ca. de 12.500 km² de floresta tropical a oeste do Rio Tibagí por preço
muito moderado (0,20 US-$/ha) que mais tarde foi expandido de 725 km² para o
sudoeste (Gleba Cruzeiro) (Kohlhepp, 1975).
27 Ao contrário das práticas de colonização estatal ou privada adotadas na época (por
vezes até mais recentes) no Brasil, a CTNP tinha a tarefa de executar a aquisição de
terras, conduzir a exploração da terra, recrutar colonos e venda de terras, o que foi
realizado com os maiores cuidados. A compra de terras foi executada de maneira
exemplar (Loeb Caldenhof, 1997) depois de exames intensos do potencial natural,
especialmente da terra roxa muito fértil das camadas mesozóicas de lava (Trapp) e das
condições morfológicas favoráveis, com encostas rasas, fracamente arredondadas e
vastas áreas planas sobre as divisoras das águas localizadas numa altitude propícia,
livre de malária.
28 De importância fundamental foi a regulamentação da questão de propriedade. Toda
e qualquer reivindicação a direitos de propriedade, também as dos grileiros e intrusos
foram compradas, muitas vezes até de diversos supostos proprietários. Com isso e antes
da valorização das terras pelo plantio posterior do café, todos os direitos de
propriedade foram passados à companhia de colonização a condições financeiras ainda
favoráveis. A especulação de terras largamente difundida em outros projetos no Paraná
e acompanhada de violentos conflitos de interesse pôde ser evitada.

Fase 1: Projeto-Modelo de colonização na “terra


de expectativa do café”
29 O ciclo frontier até mais ou menos 1945 pode ser designado como a fase de preparo e
espera pelo desenvolvimento mais rápido do plantio do café. O fundamento do projeto
da CTNP, com exceção de algumas propriedades maiores, era a venda de terras de
tamanhos pequenos e médios (12-48 ha). Quando, no final dos anos de 1930 surgiram
as primeiras plantações do café, o tamanho da propriedade era novidade em toda a
região e na economia cafeeira brasileira da época. No Norte do Paraná a familia
proprietária marcou a paisagem agrária, empregando uma ou duas famílias de
trabalhadores. Londrina, cidade pioneira e fundada em 1930 foi a primeira matriz
regional da CTNP.
30 A venda das parcelas e a exploração das áreas do projeto foram realizadas de forma
exemplar. Preços de terra relativamente baixos (no início 7-8 US-$/ha) e condições
favoráveis de pagamentos em prestações para os compradores com concessão de
hipotecas possibilitaram a garantia de atribuição do título de propriedade, o mais
tardar em quatro anos. Do total de mais de 50.000 compradores de terras da CTNP,
7.400 estavam registrados até 1941 sendo que 50% eram brasileiros como também
imigrantes oriundos de mais de 20 países – entre eles emigrantes alemães vítimas de
perseguição política, rassista e religiosa (fundação da povoação Rolândia). Entre os
migrantes encontravam-se muitos arrendatários ou meeiros do plantio do café em São
Paulo, muitas vezes descendentes de trabalhadores italianos de plantações, que haviam
começado como “formadores” nas plantações do café no Norte do Paraná. Proprietários
de plantações de café luso-brasileiros de São Paulo hesitaram muito tempo em comprar
terras no Norte do Paraná devido à crise do café. De qualquer maneira, o tamanho das
parcelas em terras da CTNP não era interessante para eles.
31 A agrimensura foi exemplarmente organizada pela CTNP. A todos os compradores de
terras foi garantida, por contrato, uma ligação viária bem construida que passava sobre
o espigão da divisória das águas como o acesso à água. A distribuição de lotes em faixas
largas do sistema Waldhufen possibilitou a todos os proprietários partes iguais com
condições naturais idênticas dos terrenos facilitando a agrimensura e a fixação do valor
da terra (fig. 2). Isto foi de especial importância pois o plantio do café concentrou-se
nos longos espigões da divisória das águas e nas partes altas e médias das encostas das
parcelas. A parte inferior dos declives foi aproveitada para o plantio de géneros
alimentícios e frutos e para a construção de casas e galpões. Nas áreas dos vales,
ameaçadas por congestionamento de ar frio e esporádicas geadas nos meses de julho e
agosto, foram criados pastos. A mata de galeria, ao longo dos cursos das águas foi
poupada enquanto outras áreas florestais foram devastadas.
32 Fig. 2: Estrutura agrária na região cafeeira da CMNP (Gleba Cianorte, Jussara)

33 Na classificação hierárquica das povoações, planejada sistematicamente notava-se a


bem sucedida coordenação do modelo de colonização, exploração dos meios de
transporte com linha férrea própria e integração de povoações urbanas nas frentes
pioneiras. Ao longo do eixo leste-oeste, formado por ferrovia e rodovias na linha
divisória das águas foram criados centros urbanos a cada 80-100 km: Londrina (1930),
Maringá (1947), Cianorte (1953) e Umuarama (1955). As cidades da CTNP, ao contrário
de vastas partes do frontier paulistano e do resto do Norte do Paraná, foram
implementadas segundo planejamento. Enquanto Londrina ainda apresentava o
sistema de xadrez, as cidades posteriormente formadas foram planejadas na base de
modernos conhecimentos de planejamento urbano incluindo elementos de radial e
semicirculares para maior flexibilidade da planta. Em Maringá, cuja fundação começou
com a instalação de um aeroporto na floresta tropical, a área básica comparada com
Londrina, aumentou em um quádruplo (Kohlhepp, 1975).
34 A cada 12-17 km foram criados pequenos centros urbanos com função de mercado e
de fornecimento que tiveram desenvolvimento bem sucedido pela alta densidade
populacional, tornando-se mais tarde sedes de municípios, no âmbito da estrutura
político-administrativa do Estado. Na zona rural, os patrimônios serviam de
localidades centrais de categoria mais baixa para o suprimento mais básico da
população rural que mais tarde também passaram a ser sedes de municípios ou de
distritos.
35 Para o financiamento de guerra em 1944, a CTNP foi vendida no âmbito da
liquidação de bens britânicos no exterior. Os compradores, um grupo paulista de
empresários e banqueiros certamente viam a colonização como financiamento
lucrativo. A nova companhia brasileira recebeu novo nome em 1951 chamando-se então
de Cia. Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP). Para o desenvolvimento da região foi
de suma importância a Companhia continuar a contar com diretrizes rígidas e normas
de qualidade do projeto britânico de outrora depois da nacionalização das atividades da
CMNP.

Fase 2: Globalização do frontier do café e boom


do café
36 Esta fase de desenvolvimento do frontier começou depois do fim da segunda guerra
mundial (1945-1965) quando o consumo do café aumentou em todo o mundo,
principalmente na Europa. Depois que, até 1945, o avanço do frontier do café tinha
sido relativamente lento no Norte do Paraná, um boom inesperado do café no Brasil
concentrou-se nesta região. Em São Paulo, o rendimento do café havia diminuido
drasticamente devido à exaustão dos solos. A economia cafeeira, orientada pelo
mercado mundial com plantações em fase ideal de produção fêz surgir um dos frontiers
mais dinâmicos no Brasil, no Norte do Paraná, absorvendo assim todas as reservas de
terras disponíveis em 15-20 anos (fig. 3). Uma forte migração interna, composta por
colonos, arrendatários e trabalhadores rurais, atraídos também pela propaganda
promissora da CMNP (Rosaneli, 2013) espalhou-se pela região. As terras roxas,
extremamente férteis e presentes em mais de 70% das propriedades em terras da
CMNP garantiam condições ideais para mais de 50 anos de produção de café.
37 Fig. 3: Expansão máxima do frontier do café no Norte do Paraná 1962-64

38 Grande parte das terras da CMNP com solos de terra roxa foi explorada até 1950
numa altitude entre 400 e 850 m s.n.m., favorável para o plantio da Coffea arabica na
periferia dos trópicos. 39% das terras da CMNP foram vendidas de 1945 a 1950
(Nicholls, 1970) com aumento drástico da infraestrutura (até 1950: 3.000 km de
estradas). O avanço específico do frontier do café considerava o ciclo de vegetação da
planta do café. Depois das extensas queimadas – as madeiras nobres eram vendidas,
quando possível, antes das queimadas – as sementes do café eram colocadas em covas
nas terras parcialmente limpas e as mudas eram utilizadas somente mais tarde. Entre
as fileiras das jovens plantas do café eram plantados milho, feijão e arroz seco até a
primeira colheita do café depois de quatro anos com o objetivo do fornecimento de
gêneros alimentícios. Rápidas queimadas das florestas era condição para o plantio do
café. O “tempo de espera” até a primeira colheita exigia determinada base de capital.
39 Um aspecto especial da estrutura social do frontier do café era o empreiteiro
(também chamado de formador), um sub-empresário especializado que realizava a
primeira implementação do plantio do café para o proprietário e cuidava da plantação
até a fase de produção. Os contratos entre o proprietário e o empreiteiro eram fixados
entre quatro e seis anos. Com duração mais longa de contrato, as condições prévias do
proprietário reduziam-se e as do empreiteiro aumentavam. A forma de contrato
adotada em propriedades de médio e grande porte dava aos proprietários a
possibilidade de iniciar o plantio do café com menos capital. No final do contrato, o
proprietário ficava com a plantação produtiva de café. Em contra-partida, as plantas
intermediárias dos tres primeiros anos pertenciam ao empreiteiro e, conforme
contrato, a primeira até a terceira colheita do café a partir do quarto ano. Com o lucro
da venda do café, o empreiteiro podia adquirir terras também para seus filhos no
avanço da frente pioneira (fig. 4). A exploração das zonas pioneiras do noroeste do
Paraná foi realizada principalmente por esta camada social.
40 Fig. 4: Mobilidade social e espacial segundo grupos e classes sociais no cultivo do
café no Norte do Paraná

41 Uma certa transparência social, extremamente rara na hierarquia rural do Brasil


caracterizou o desenvolvimento das plantações do café no Norte do Paraná. A
mobilidade social dos empreiteiros expandiu a classe média na área rural. Com o
avanço do frontier para o oeste, pequenos arrendatários e trabalhadores rurais que
tinham contratos de trabalho aproveitavam a possibilidade de ascensão social, quase
sempre inatingível para os volantes do Nordeste que eram recrutados para a colheita do
café.
42 Entre o Rio Pirapó e Rio Ivaí, uma faixa estreita de povoamento avançou até a região
de Paranavaí (C. Bernardes, 1953). Com isso o frontier do café deslocou-se, no início
dos anos de 1950, para fora das terras do CMNP na região dos solos de areia solta de
arenito caiuá com fertilidade muito mais baixa, presente em quase todo o noroeste. Em
1950, as terras da CMNP eram 100% mais caras do que o resto das terras, em 1960 o
preço já tinha aumentado em 150% (Katzman, 1978). Entre 1940 e 1950, a população
no Norte do Paraná quintuplicou e de 1950 a 1960 foi registrado um crescimento de 1,3
milhões de pessoas (populacão rural: 78%).
43 Depois que a construção da linha férrea própria da CMNP atrasou devido à
nacionalização, surgiram as chamadas cidades boca de sertão (entre outras, Apucarana
1948) nas estações finais provisórias que eram o ponto de distribuição da população de
chegada. Quando, em 1954, a ferrovia chegou a Maringá, o trânsito de caminhões e
ônibus já tinha significância maior. Assim, os finais das estradas asfaltadas tornaram-se
cidades boca de sertão. Os terrenos urbanos avaliados de acordo com a sua
funcionalidade eram muito cobiçados. Um ano após a fundação de Maringá os preços
dos terrenos aumentaram em um cêntuplo. Três anos depois, em 1950, já havia 1.200
casas de moradias, 320 lojas, 75 pequenas indústrias e comércios, quatro filiais de
bancos, três hospitais e duas escolas com 1.200 alunos, quatro clubes esportivos e oito
igrejas. O aeroporto tinha uma pista de 1.600 m com diversos vôos semanais regionais
e para São Paulo.
44 Os altos rendimentos das plantações de café iniciaram sua melhor fase de produção
no final dos anos de 1940 obtendo grandes lucros. Já em 1950, dois terços dos bancos
do Paraná estavam situados no Norte do Estado. 20 anos depois da fundação de
Londrina, o volume de negócios do Banco do Brasil em Londrina ocupava o quarto
lugar no Brasil, depois do Rio de Janeiro, São Paulo e Santos.
45 De 1951 a 1955, a CMNP fundou 22 cidades pioneiras. Até 1970 surgiram, ao total, 62
cidades sobre terras da CMNP, das quais 35 eram sede de municípios e 27 sedes de
distritos. Os nomes das cidades fundadas em todo o Norte do Paraná mostraram o
otimismo e espírito pioneiro de todos os participantes: Bela Vista do Paraíso, Terra
Rica, Pérola, Diamante do Norte, Bom Sucesso, Nova Esperança entre outras.
46 A década de 1950 e 1960 foi marcada pela expansão extremamente rápida do frontier
do Norte Novo (hoje: Norte Central) para o Norte Novíssimo (hoje: Noroeste) no qual
uma série de companhias de colonização menores mantinham suas atividades. Sem
ponderar riscos ecológicos a respeito da qualidade dos solos arenosos ou também as
zonas periféricas do sul da região ameaçadas por geadas, plantações de café sem
adubagem foram expandidas ao máximo tendo em vista os bons rendimentos iniciais e
os altos preços do café (fig. 5). Mesmo geadas fracas com consequente perda de safra
eram levadas em consideração pois, entre os anos de geadas, as colheitas alcançavam
valores récordes. O espírito especulativo venceu a análise crítica da sustentabilidade na
plantação do café.
47 Fig. 5: Fases do deslocamento da frente pioneira e origem dos colonizadores na
região cafeeira no Norte do Paraná em 1970
48 No Norte do Paraná, o número de plantas do café passou de 61 milhões (1942) para
233 milhões (1950); de 695 milhões (1953) a 1,3 bilhões (1963). A área de plantio do
café chegou a 17.000 km² e a produção nos anos de boa safra alcançou 21 milhões de
sacas (a 60 kg) de café cru. O Norte do Paraná alcançou quase 60% da produção do
Brasil e em meados dos anos de 1960, a produção do café arabica foi de 30% da
produção mundial. Empresas multinacionais que dirigiam o marketing exerceram forte
pressão sobre os atores para a expansão do plantio na frente pioneira. No início dos
anos de 1960, 74% das propriedades agrícolas possuiam plantações de café até então e
quase sempre sem uso de fertilizantes. As plantações de café atingiam, em média, mais
de 80% de toda a área da propriedade. Três quartos de todos os empreendimentos
eram propriedades menores (segundo o IBC: até 16.000 plantas de café; 29% do todo),
22% de tamanho médio (até 64.000; 37% ) e somente 4% de grandes propriedades (>
64.000; 34%), que também mantinham instalações para processamento (Kohlhepp,
1975, p. 109).
49 Nos anos de 1950, às margens do Rio Piquirí, no limiar sul das plantações do café a
24º lat. sul deu-se o encontro de duas formações agrárias e tipos de frontier marcados
por diferentes grupos de populações, formas de economia e objetivos de produção
(Kohlhepp, 1976a). (fig. 5).

1. O avanço para o Sul do plantio tropical de café, em áreas devastadas e


orientado pelo mercado mundial dos atores luso-brasileiros de São Paulo, Minas
Gerais e Nordeste do Brasil, como também e sobretudo dos descendentes de
italianos - trabalhadores de plantações de São Paulo.
2. O frontier do avanço para o Norte da agricultura de rotação de terras nas
florestas no oeste do Paraná com colonos teuto- e ítalo-brasileiros do Rio
Grande do Sul e de Santa Catarina com plantações de milho, feijão e mandioca e
engorda de suinos.

Fase 3: Restrições estatais nas plantações de


café e a procura de alternativas cash crop
50 Em meados dos anos de 1960, a superprodução do café, a observância da quota de
exportação (40% da exportação mundial) e a queda de preços no mercado mundial
obrigaram a imposição de medidas radicais de restrições estatais. No foco estava a
diminuição conveniente da área de plantio de café e não a destruição do produto final
como antigamente em São Paulo. Neste contexo, o IBC elaborou programas de
erradicação com a finalidade de eliminar plantas ameaçadas por geadas e não lucrativas
– sobretudo as plantadas em solos arenosos – pagando uma indenização para cada
planta de café arrancada. Como a expansão do cultivo em 1970 mostra, a área foi
somente reduzida em um sexto, especialmente no noroeste.
51 Ao mesmo tempo, a dependência da região de uma só monocultura deveria ser
reduzida e dado impulso à diversificação do uso da terra. Embora o Estado tivesse
instituído diretrizes para evitar a rápida transição para a criação de gado bovino que
exigia pouca mão-de-obra, os atores ainda tinham esperança em obter bons lucros com
o plantio de café.
52 As frequentes geadas (1969, 1975, 1979, 1981) – muitas vezes em apenas uma noite
(-3º até - 5ºC) provocando a ausência de safra de até três anos ou mesmo a perda total
do plantio. Isto fez com que a partir de meados dos anos de 1970 tenha findado
definitivamente o ciclo do café, dando início à mudança do uso da terra. Mesmo que
após a forte geada de 1969, a maioria dos plantadores de café ainda acreditassem em
dar prosseguimento ao plantio – pelos menos em parte, otimizado e com algumas
inovações (novas espécies, fertilizantes, plantio paralelo a declives) mais uma forte
geada em 1975 acabou com as perspectivas. Na zona dos solos de terra roxa do Norte
Novo, a fase da cultura duradoura de café teria podido durar pelo menos 60 a 70 anos
devido às condições favoráveis dos solos e procedimento adequado se não fosse o fator
clima, isto é, as geadas e consequentes riscos econômicos que levaram à renúncia do
plantio de café com exceção de poucos “nichos ecológicos”. Começou então uma fase de
transição na busca agitada de alternativas de cash crops orientados para a exportação.

Fase 4: Mudança de estrutura agrária e


disparidades regionais de uso da terra na fase
pós-café
53 A partir de 1978 não havia mais concessão de créditos para plantio de café no Paraná.
Este fato acelerou a recém iniciada mudança de estrutura agrária. Áreas favoráveis à
mecanização, a estratégia de crescimento acentuado da “revolução verde” no âmbito do
modelo brasileiro de desenvolvimento econômico orientado pela exportação, intensa
mecanização, alto input de equipamentos como razoáveis créditos agrários levaram à
modernização conservadora da agricultura. Os altos preços da soja no mercado
mundial levaram à rápida expansão das áreas de plantio e ao aumento das exportações
para o mercado europeu de ração animal. À monocultura de café seguiu a rotação de
culturas de soja, trigo e milho. Esta mudança na estrutura agrícola concentrou-se
principalmente em antigas terras da CMNP de solos de terra roxa.
54 Depois de curta fase intermediária do plantio do algodão em terras arenosas
exauridas do Noroeste, deu-se uma passagem abrupta para a economia de pasto que
exigia pouca mão de obra e oferecia bons preços de carne tornando-se financeiramente
interessante, mesmo que por algum tempo. Na fase do pós-café o tamanho das
propriedades aumentou e o número de propriedades diminuiu em um têrço. Muitos
proprietários de terras contratavam administradores para a criação do gado ou
vendiam suas terras.
55 A fig. 6 mostra o desenvolvimento discrepante quanto à qualidade dos solos e à
aptidão de mecanização em uma análise cronológica do uso da terra. Enquanto que no
Norte Novo a mudança estrutural mostra um claro alinhamento para a diversificação
(região de Maringá: área cultivada 1960: café 72%, culturas anuais 10%; 1982/83: 11% e
55%), o Noroeste mostrou extrema tendência para o pasto (região de Paranavaí 1960:
café 60%, pasto 29%; 1982/83: café 11%, pasto 82%). No Norte do Paraná, a quota do
plantio de café na área cultivada que era de 62% (1960), diminuiu para 10% (1982/83)
e, devido aos crescentes riscos de geadas em 2015, restou apenas 3,4% da área máxima
de plantio anterior.
56 Fig. 6: Mudança da estrutura agrária no Norte do Paraná 1960 – 1982/83

57 Depois da mudança agrária estrutural, o Norte Novo apresentou, na maior parte, uso
da terra diversificado e condições sociais relativamente boas. Em parte, os atores da
agricultura modernizada eram proprietários de plantações de café de médio porte e
dispunham de capital assim como fazendeiros do oeste do Paraná ou do Rio Grande do
Sul que haviam iniciado o plantio de soja e de trigo dez anos mais cedo. Quase sempre
as pequenas propriedades eram vendidas a bons preços, arrendadas ou anexadas a
outras propriedades maiores. Com isso surgiu a repressão das pequenas propriedades e
das de médio porte que tinham formado a “espinha dorsal” social no Norte Novo. O
tamanho mínimo de propriedades lucrativas é hoje de 150 a 200 ha. Com base nas
condições naturais favoráveis e tecnologia agrária moderna (plantio direto, rotação de
culturas adequadas, entre outras), as propriedades puderam se adaptar às novas
condições de economia de mercado. O absentismo dos proprietários de terras
aumentou consideravelmente. Muitos proprietários de antigas propriedades com
plantio de café mudaram-se para os centros urbanos regionais onde, muitas vezes, a
geração seguinte exercia as profissões de advogados, médicos, arquitetos ou agentes
imobiliários.
58 A mudança estrutural da agricultura provocou graves consequências sociais para a
mão de obra rural. Ao contrário do plantio de café, a agricultura altamente mecanizada
e sobretudo a criação de gado necessitavam de pouca mão de obra. Nos anos de 1970 e
1980 foi registrado desemprego rural catastrófico. De 1970 a 1990, a população rural no
Norte do Paraná diminuiu em 57%, nos anos de 1970-80, para quase um milhão de
pessoas (Kohlhepp, 1989). Alguns municípios passaram por um esvaziamento quase
que total e perderam até 90% de sua população, verificado também em pequenas
povoações com função central.
59 Como a frente pioneira no Norte do Paraná havia alcançado as fronteiras do Estado,
deu-se primeiramente a emigração de pessoas que buscavam terras e de trabalhadores
rurais para as regiões periféricas vizinhas de Mato Grosso do Sul (Iguatemi) - o novo
Estado depois da separação do Estado de Mato Grosso em 1977 - como também para as
florestas subtropicais do leste paraguaio onde as tentativas de plantio de café no
planalto do Amambay haviam fracassado por causa de geadas. Entre 1972 e 1981,
320.000 migrantes do Norte e do Oeste do Paraná e do Rio Grande do Sul (Kohlhepp,
1984) estavam envolvidos na exploração dos Departamentos paraguaios de Amambay,
Canendiyu e Alto Paraná.
60 No começo de 1970, as áreas alvo da emigração eram especialmente os projetos de
colonização em Rondônia, como no Cerradão de Mato Grosso, onde companhias de
colonização do Paraná (Sinop entre outras) tinham dado início a um dinâmico
desenvolvimento. Neste contexto e no final do plantio do café, sobretudo no Norte
Novíssimo, foram recrutados inúmeros antigos arrendatários ou donos de pequenas
propriedades e minifúndios como colonos dando-lhes expectativa de obtenção de
propriedades maiores (cf. estudo de caso seguinte). Na fase inicial, o plantio de café
(coffea robusta) foi incentivado com know how paranaense o que não foi levado
adiante devido a baixa fertilidade do solo e altos preços de transporte (Coy & Lücker,
1993). Capital, modelo de colonização e fundadores de cidades (Rosaneli, 2013), assim
como o espírito pioneiro de líderes e colonos do Norte do Paraná encontraram novas
perspectivas em Mato Grosso. A venda de terrenos nas cidades pioneiras, de rápido
crescimento, mostrou-se lucrativa (Coy, 1990) para as companhias de colonização.
61 Depois do final do ciclo do café, grandes partes do Norte Novíssimo mostravam
indícios de “hollow frontier” (James, 1938), conhecida de São Paulo, isto é, solos
exauridos, diminuição da produção agrícola, degradação das áreas de plantio por
erosão, mudança para economia de pasto e perda dramática de população. O ciclo
econômico floresta-café-pasto, de 50 a 60 anos e conhecido em São Paulo, foi
encurtado para menos de 20 anos na região dos solos arenosos no Noroeste do Paraná
(Margolis, 1972). As geadas certamente contribuíram para a mudança da estrutura
agrícola, tendo ambas iniciado quase ao mesmo tempo. Nos últimos 15 anos, o
agrobusiness do plantio da cana-de-açúcar e processamento industrial no âmbito do
programa do etanol do governo que, no início era altamente subvencionado (Kohlhepp,
2014), causou nova mudança de estruturas. A cana-de-açúcar era plantada em áreas de
pastos no Noroeste do Estado onde havia menor probabilidade de geadas e modernos
métodos de plantio (plantio direto, intensa fertilização, controle de erosão). 55% da
área cultivada com cana-de-açúcar no Paraná (2015: 670.000 ha) existem hoje nessa
região.
62 Os grandes centros urbanos eram, cada vez mais, alvo do êxodo rural. No Norte do
Paraná, a percentagem da população urbana em todas as partes da região era de mais
de 85% em 2010. As antigas cidades pioneiras de Londrina (2010: 507.000 habitantes)
e Maringá (2010: 360.000) lucraram pelo afluxo de proprietários de terras, portadores
de considerável capital bem como com a migração interurbana fazendo com que
expandissem intensamente seu equipamento funcional e processamento industrial de
produtos agrícolas. Grande parte dos lucros pelo boom do café foi aplicado no Norte
Novo, cujos centros regionais também atraíam capital externo tornando-se as cidades
mais importantes do Paraná, depois da capital Curitiba. Com a migração de
trabalhadores rurais demitidos e que estavam à procura de novas chances de trabalho,
surgiram bairros marginalizados na periferia das cidades.
63 O Norte do Paraná, na periferia tropical, foi ligado ao “antigo” Paraná no começo dos
anos de 1960 com estradas asfaltadas e ligação direta da linha férrea (Nicholls, 1970). O
Porto paranaense de Paranaguá ultrapassou a influência do seu concorrente, o Porto de
Santos como líder na exportação de café. Depois do final do abrangente plantio do café,
a soja conseguiu se impor como primeiro produto de exportação na agricultura
modernizada, tanto no Norte Novo como na área subtropical do oeste do Paraná.
64 O ciclo do café significou a total devastação da floresta tropical do Norte do Paraná. A
legislação florestal, que antigamente previa 25% da área da propriedade como reserva
florestal, não foi respeitada no tempo do boom do café e os resultantes problemas de
meio ambiente foram igualmente ignorados. A extensão e rapidez das queimadas de
49.000 km² em 23 anos (1937-1960) (Kohlhepp, 1990) ultrapassaram os dados de São
Paulo nos decênios da virada dos séculos XIX e XX. No Norte Novíssimo foi devastada
grande parte das áreas florestais ainda existentes nos vales dos Rios Ivaí e Piquirí nos
anos de 1960 (fig. 5).
65 A economia cafeeira no Norte do Paraná trouxe – surpreendente no Brasil – “the rise
of a rural middle class in a frontier society” (Willems, 1972), até hoje existente no
Norte Novo do Paraná perdendo significância no desenvolvimento operacional da
agricultura moderna nos setores das propriedades de pequeno e médio porte.
66 O decurso espaço-temporal do ciclo do frontier do café levou à derrubada das
últimas florestas tropicais não-amazônicas no Norte do Paraná, findando com isso a
frente pioneira de café que avançou dinamicamente durante 130 anos, do Rio de
Janeiro através de São Paulo para o Paraná. Os consequentes efeitos sócio-ecológicos
da monocultura de café fizeram surgir expectativas com projetos de colonização
estatais e privados nas novas zonas pioneiras em Rondônia, Mato Grosso e na
Amazônia central. A globalização orientada pelos cash crops que foi realizada com
considerável mão-de-obra durante o plantio de café, segue hoje em grandes
propriedades altamente mecanizadas e pouca mão de obra, tendo o boom da soja como
modelo.

O Norte de Mato Grosso: um frontier é


“orientado” por cadeias globais de
valor
67 Se existiu uma região no Brasil que tenha mudado seu perfil através de influência da
globalização nas últimas décadas então só pode ser o Centro Oeste. Até meados dos
anos de 1960 a maioria das subregiões do Centro Oeste (oficialmente: os Estados de
Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal de Brasília) era
pertinentemente chamada de interior, de hinterland. Nos vastos Campos cerrados
persistiram, durante gerações, latifúndios com pecuária extensiva e pequenos
campesinatos orientados pela subsistência e lugares que viviam da extração manual de
diamantes ou ouro, em parte desde o séc. XVIII. Grandes partes do Centro Oeste
encontravam-se, durante gerações, em quase completo isolamento devido às enormes
distâncias e à falta de meios de transporte. Estando longe dos centros do país
desenvolveram um ritmo próprio de vida provincial. Esta situação mudou
fundamentalmente na segunda metade do séc. XX. Sob o governo de Getúlio Vargas
nos anos de 1930 e 40 já estava sendo dada maior atenção ao hinterland brasileiro,
manifestada nos discursos políticos e nas medidas de planejamento. No
desenvolvimento e integração do interior, o ditador via sua missão política de
renovação do Estado, o chamado “Estado Novo”, como componente essencial.
Especialmente para tal, ele fundou uma agência de desenvolvimento, a Fundação
Brasil Central, com o objetivo de expandir a infraestrutura e dar impulsos ao
desenvolvimento. Assim teve início a fase de formação dos mais variados frontiers (cf.
visão geral Coy & Lücker, 1993).
68 Um impulso decisivo para a integração e desenvolvimento do Centro Oeste foi
marcado na passagem para os anos de 1960 com o planejamento e construção da nova
capital Brasília sob condução de Juscelino Kubitschek, intransigente quanto ao ideal de
modernização (“50 anos em 5”) cunhado com a sua presidência. Mesmo que durante
muito tempo tenha havido dúvidas se a nova capital poderia refletir os prometidos
impulsos de desenvolvimento regional, nos últimos 50 anos ficou bem claro que a
realização de Brasília seria o início dos processos mais profundos e dinâmicos de
desenvolvimento regional pelos quais o país já tenha passado. Depois da tomada do
poder pelos militares em 1964, Brasilia serviu de ponto de partida para a integração
geoestratégica e exploração sócio-econômica das periferias. Rodovias foram
construídas florestas e cerrados adentro e significaram o fim do longo tempo de
isolamento e estagnação para a maioria das subregiões. Com as novas rodovias, o
interior foi povoado com gente a procura de terras, colonos, latifundiários, investidores,
mas também caçadores de sorte e aventureiros. Os projetos das rodovias mais
importantes que atravessavam o Centro Oeste foram a rodovia de Brasília-Belém que
marcou a fase de exploração então iniciada em meados dos anos de 1960, as rodovias
de Brasília-Cuiabá-Porto Velho, Cuiabá-Santarém e a rodovia Barra do Garças-Marabá:
eixos de rodovias, todos orientados na direção sul - norte, que permitiam a
incorporação das regiões periféricas no espaço central do Brasil.
69 A exploração da infraestrutura foi a condição para a “valorização” das extensas áreas
do Cerrado. As reservas de terras para a agricultura de grandes propriedades eram seu
principal potencial, seja a pecuária extensiva que se alastrou sobretudo nas áreas em
transicão para às subsequentes florestas tropicais ao norte ou a agricultura
modernizada, mecanizada, com consistente capital e de pouca absorção de mão de
obra. Este é hoje a base da “historia bem sucedida” do Centro Oeste sendo a região ideal
da “modernização conservadora” do setor agrário brasileiro, que pode ser avaliada
como a versão brasileira da revolução verde. Depois de cultivo adequado e êxitos na
adaptação, a soja que estava à disposição a partir de 1980 para grandes partes do
Centro Oeste, especialmente para Mato Grosso, o Estado de maior área dessa Grande
Região, transformou de uma vez o interior, isolado há centenas de anos, em um
protótipo de um “local globalizado”. Plantações de soja e, entrementes também de
milho e de algodão formam hoje a monótona paisagem cultural em muitas regiões do
Centro Oeste até onde se pode enxergar. Cidades respeitáveis que, de todo, foram
fundadas há 40 anos atrás como povoamentos pioneiros em projetos de colonização
estão hoje alinhadas como colar de pérolas ao longo das rodovias. Já de longe elas
podem ser reconhecidas por seus enormes armazéns e instalações de secagem de soja,
que com seu boom econômico são o novo símbolo materializado na paisagem cultural.
Entrementes, algumas dessas novas cidades pertencem aos municípios mais prósperos
do Brasil.
70 Mas este é somente um lado da medalha, pois quem lucra com o êxito econômico? O
agrobusiness cada vez mais concentrado está, entrementes, na mão de poucos -
corporações nacionais, sobretudo multinacionais - e um grupo bem sucedido de
fazendeiros que migraram, há poucas décadas atrás, do sul do Brasil para o Centro
Oeste revolvendo totalmente a cultura regional e as elites locais por seu êxito
econômico. O boom econômico regional sempre foi extremamente exclusivo sob o
ponto de vista social e comparavelmente modesto quanto à amplitude da eficácia nos
efeitos significantes de empregos. Além disso, o exito econômico é altamente frágil.
Tudo é regulado pelo preço das commodities comercializadas nas bolsas de valores em
Chicago e outras partes do mundo – dependendo do desenvolvimento dos preços dos
insumos (máquinas rurais, sementes, fertilizantes e pesticidas) e do desenvolvimento
absolutamente decisivo dos custos de transporte que, apesar de toda a aceleração, as
grandes distâncias ainda são a desvantagem decisiva da localização do Centro Oeste.

Mato Grosso: condições gerais


71 Desde os anos de 1970, Mato Grosso pode ser visto como protótipo do boom do
desenvolvimento regional no Centro Oeste brasileiro. Correntes de migração
rapidamente crescentes em diferentes partes, muitas vezes ainda não exploradas desse
Estado com ca. De $$$ km², contribuíram para a formação de frentes pioneiras,
diferentes em suas estruturas econômicas internas, em atores predominantes ou
também segundo sua forma de surgimento (exploração planejada ou espontânea,
estatal ou privada) (cf. Coy & Lücker, 1993). Ao mesmo tempo, os centros urbanos
como a capital Cuiabá e novos povoamentos pioneiros, passaram por enorme
crescimento populacional e aumento de significância, até agora desconhecidos (cf. Coy,
1990, 1997). No mais recente Censo brasileiro em 2010, o Estado, que em 1970 contava
com 600.000 habitantes, aumentou para 3 milhões.
72 Especialmente o Norte de Mato Grosso que em grande parte pertence à paisagem
natural da Amazônia, desenvolveu-se a um dos espaços pioneiros mais dinâmicos.
Sobretudo as regiões na influência das grandes rodovias BR-163 Cuiabá-Santarém e
BR-158 Barra do Garças- Marabá, ambas construídas durante os anos de 1970, são as
mais afetadas pelo boom do desenvolvimento. Ao contrário das áreas de povoamentos
ao longo da Transamazônica ou em Rondônia, o norte de Mato Grosso pode ser
considerado um modelo exemplar de exploração econômica privada de frontier. Por
um lado, a região tornou-se a área principal de difusão de grandes propriedades de
economia pecuária e de pastos nas florestas devastadas que usufruiam de incentivos
fiscais. Por outro, a partir de meados dos anos de 1970 foram implementados uma série
de projetos de colonização privada, instalados por firmas do sul do Brasil e explorados
por colonos, igualmente sulistas (por ex. os maiores projetos de colonização Alta
Floresta, Sinop, Sorriso como Canarana e Água Boa na região de Araguaia, cf. Coy &
Lücker, 1993). Até o final dos anos 1980 e segundo informações do INCRA, foram
vendidos mais de três milhões de hectares de terras dos então 85 projetos de
colonização privada em Mato Grosso, divididos em ca. de 18.000 parcelas e operados
por mais de 50 companhias de colonização, na maioria oriundas do Sul e do Sudeste
(cf. Coy & Lücker, 1996). Além do mais, inúmeros migrantes sem terra, principalmente
oriundos dos Estados do Nordeste, marchavam em direção ao Norte de Mato Grosso na
procura de chances de sobrevivência. Por fim, esta região pouco povoada e habitada
somente por grupos indígenas até o início dos anos 1970, apresenta hoje diversas
formas de economia moderna de extração, na qual de um lado a extração da madeira
em algumas regiões de pequenos colonos (sobretudo na região Sinop) alcançou grande
importância nas últimas décadas do séc. XX e por outro, a extração de ouro nas regiões
fronteiriças com o Pará (sobretudo na região Peixoto de Azevedo e Alta Floresta)
cresceu chegando a ser o fator econômico dominante, pelo menos por algum tempo (cf.
Coy & Lücker, 1993).
73 Sobretudo a partir dos anos de 1980, o norte de Mato Grosso foi marcado tanto pela
economia regional como pelo espaço sócio-econômico e sobretudo pela expansão do
plantio da soja, modernizado e orientado pelo mercado mundial. No Brasil, o boom da
soja teve início nos anos de 1960 e 70 primeiramente no sul do Brasil, apoderando-se
sucessivamente das regiões do Centro Oeste nos últimos 30 anos. Assim, antigas
regiões periféricas do interior, especialmente o norte de Mato Grosso, ascenderam, em
apenas alguns anos, ao grupo lider das regiões de produção de soja, não somente no
Brasil como em toda a América do Sul (cf. Blumenschein, 2001). O mais recente Censo
agrário do Brasil do ano de 2006 mostra uma produção de soja em Mato Grosso de 11
milhões de toneladas, o que correspondeu a mais de 26% da produção nacional.
Entrementes, sobretudo a agricultura modernizada nos chapadões (as regiões de
planaltos) dos Campos cerrados define a paisagem. Em geral, os fazendeiros da soja
administram propriedades com algumas centenas de hectares de área cultivada. Desta
forma surgiram ilhas de modernização em crescente expansão na forma de enclaves
subrasileiras, espaços de inclusão que, como “regiões vencedoras” marcam,
entrementes, decisivamente a economia e a sociedade de Mato Grosso. Em 1966, foi
plantada soja em 2 milhões de hectares em Mato Grosso, no ano de colheita de 2014/15
já se contava com 9 milhões de hectares. No entanto, os custos ecológicos e sociais
(transformação da paisagem, erosão, poluição das águas etc.) desse boom
extraordinário são enormes.
74 Nas regiões de soja em Mato Grosso, especialmente dinâmicas, as estruturas
relativas ao tamanho das propriedades diferenciam-se claramente das estruturas das
regiões de produção do sul do Brasil pela supremacia de grandes propriedades
altamente mecanizadas. Correspondentemente menor é a absorção de mão-de-obra
que, no caso de Mato Grosso representa 2% dos empregados na agricultura, embora
80% da área cultivada desse Estado seja determinada pelo plantio de soja. A
problemática agrária-social é assim revelada por esse extraordinário boom de
desenvolvimento.
75 Nos últimos anos, o plantio da soja expande-se cada vez mais para o noroeste nas
periferias da Amazônia como no Nordeste do Brasil (a chamada região MATO-PIBA,
formada pelos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Esta expansão em
forma de ciclos do plantio de soja está ligada aos seguintes fatores:

disponibilidade de grandes reservas de terras;


condições favoráveis para o arroteamento e mecanização (baixa energia de
relevo, solos de fácil manejo);
cultura de novas espécies, adaptadas à situação climática;
preços bem mais baixos de terra, comparados aos do sul do Brasil;
imigração de fazendeiros do sul do Brasil que, com a venda de suas
propriedades puderam comprar muitas vezes mais terras nas novas regiões de
plantio;
introdução do processo de plantio direto que conta com o uso mais intenso de
pesticidas (Glifosato, o chamado produto roundup) e as correspondentes
sementes genericamente modificadas (roundup ready, RR-soja).

76 Hoje, o Norte de Mato Grosso e sua complexa estrutura econômica e social, é


testemunho da típica e alta dinâmica do desenvolvimento regional de todos os
frontiers, tendo também enfrentado inúmeros conflitos no âmbito do acesso a terra e
uso de recursos. Neste contexto deve ser alertado para o deslocamento violento das
populações indígenas para poucas áreas de recuo e a sua dizimação - por vezes até
exterminação quando da exploração das frentes pioneiras no Norte de Mato Grosso. Da
mesma forma e como consequência do curso de desenvolvimento, o Norte de Mato
Grosso é uma das regiões amazônicas com a maior percentagem de desmatamento da
floresta tropical tornando-se assim um dos focos do conflito ecológico e da política
ambiental na destruição dos ecossistemas da Amazônia (cf. problemática geral:
Kohlhepp & Coy, 2010).

O estudo de caso Sinop


77 O estudo de caso Sinop situa-se na zona transitória entre os Campos cerrados e as
florestas tropicais da Amazônia (cf. fig. 8). É um dos mais antigos e maiores
empreendimentos de colonização no Norte de Mato Grosso. Foi iniciado na passagem
dos anos de 1960 a 70 com grandes compras de terras por Enio Pipino, proprietário da
empresa Colonizadora Sinop que, desde os anos de 1950 e 60 já tinha obtido
experiência no business de colonização no Norte do Paraná. Assim, o nome Sinop pode
ser explicado como abreviatura de Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná.
Sobretudo nos anos de 1970 e início dos anos de 1980, a firma vendeu ca. de 650.000
hectares de terra, num total de 6.200 parcelas individuais com tamanho médio de 100
ha a pequenos colonos e arrendatários que antes tinham plantado café nas suas regiões
de origem no Paraná. Avaliações próprias da documentação da empresa de colonização
mostram que os ca. de 1.000 vendedores de terras que trabalhavam para a
Colonizadora Sinop durante os anos de 1970, concentraram conscientemente suas
atividades no Norte e no Oeste do Paraná, portanto, em regiões que, naquela época,
passaram por profundas modificações estruturais agro-sociais (crise do plantio do café,
expansão do plantio modernizado de soja), provocando assim intensos processos de
deslocamento nas regiões rurais (fig. 7). Finalmente, os corretores vendiam muitas
vezes as terras nas regiões de povoamento do Norte de Mato Grosso às mesmas famílias
para as quais já haviam vendido terras no Paraná há décadas atrás. Isto mostra
claramente que a colonização privada no Norte de Mato Grosso pode ser chamada de
negócio lucrativo com as consequências agro-sociais da modernização conservadora
nos espaços rurais do sul do Brasil.
78 Fig. 7: Locais dos vendedores de terras da Colonizadora Sinop nos anos de 1970

79 No entanto, o contexto da “mudança dos sistemas de produção agrária –


concentração de terras – expulsão da agricultura” que discorre principalmente de
maneira cíclica e que acompanhou o processo da “modernização conservadora” do
setor agrário nas regiões do sul do Brasil não finalizou nas regiões de colonização
privada. Isto pode ser verificado no final dos anos de 1980, isto é, 15 anos após o
assentamento dos primeiros colonos, em um grau de ocupação real muito baixo de 40 a
50% de todas as parcelas na Gleba Celeste (a região rural da Colonizadora Sinop). Este
grau de ocupação relativo às parcelas individuais diminuiu ainda mais nos últimos anos
podendo ser ligado aos diferentes ciclos da mudança do uso da terra, cada um
conectado a abrangentes mudanças sócio-espaciais. Hoje, pelo menos quatro destes
ciclos da mudança do uso da terra podem ser enfatizados: Ciclo 1: No decorrer dos
anos de 1970, a empresa de colonização propagou sobretudo as supostas condições
favoráveis para o plantio de café em Mato Grosso – o que foi apoiado pelos bancos que
colocaram créditos à disposição. Com isto, a “história bem sucedida” das regiões de
origem dos colonos do sul brasileiro (cf. estudo de caso Paraná) deveria, de certa forma,
ser “imitada”. Muitos colonos plantaram café com financiamento externo (na maioria
dos casos ente 5 e 20 ha de coffea robusta). No entanto, logo depois tornou-se evidente
que o prometido êxito não foi alcançado devido a baixa fertilidade do solo e por motivos
econômicos (preços, dificuldades de comercialização, etc.). Muitos colonos tiveram que
vender suas terras para, entre outros, liquidar seus compromissos bancários. A
consequência desta primeira crise agrária na região de Sinop foi a forte migração para
as novas cidades pioneiras.
80 Ciclo 2: No início dos anos de 1980, esperou-se êxito contínuo de uma subsidiária
da Sinop, a fábrica Sinop Agroquímica, fundada com apoio estatal que deveria produzir
álcool à base de mandioca. Os colonos deveriam produzir a “matéria prima” mandioca
por fomento de créditos correspondentes de bancos locais. Com isso os colonos foram
praticamente obrigados a plantar mandioca pois naquele tempo não havia créditos para
outras culturas. A situação de monopólio da fábrica de álcool levou, adicionalmente, a
uma dependência total dos colonos. Preços baixos, altos custos de mão-de-obra e riscos
no plantio fizeram com que muitos colonos desistissem e mudassem para as cidades
pioneiras ou voltassem para o sul do Brasil.
81 Ciclo 3: As crises agro-sociais dos anos de 1970 e 80 aqui descritas fizeram com que
a produção agrária na região de Sinop, nos quase vinte anos seguintes fosse retraída a
segundo plano pela extração madeireira. Já em 1988 contava-se com ca. de 250
serrarias na cidade Sinop e nos seus arredores e com 8.000 empregados, com certeza
mais do que no mesmo tempo na agricultura (cf. Coy & Lücker, 1993). Diante tal
situação, Sinop desenvolveu-se a um dos centros mais importantes de serrarias de toda
a região amazônica (cf. Huber, 2015). Quase todas as serrarias, entre estas,
empreendimentos com mais de 400 empregados, provinham do sul ou do sudeste
brasileiro. Alguns deles, como comum no desenvolvimento do frontier, chegaram à
região junto com os primeiros colonos, isto é, recrutados por companhia de colonização
(cf. Oliveira, 2011). Os dominantes entrelaçamentos com o sul do Brasil podem também
ser documentados pelo fato de que a madeira era fornecida quase que exclusivamente
para a indústria de móveis e de construção daquela região. Nos últimos anos,
principalmente depois do ano de 2005, a crise do setor madeireiro é evidente. Hoje em
dia, a paralização de inúmeras serrarias e terrenos baldios chamam a atenção na cidade
de Sinop. Os últimos levantamentos (inclusive levantamentos pessoais em 2011)
mostram que existem muito menos do que a metade das serrarias dos anos de 1980 e
90 (cf. também Huber, 2015). Quase inexistente são as laminadoras, igualmente as
chamadas colônias, simples casas de operários no terreno das fábricas. Um dos motivos
da crise é o esgotamento das reservas de madeiras: as áreas de derrubadas de árvores
encontram-se cada vez mais distantes das serrarias (até 100 km ou mais). Por outro
lado, o setor de extração da madeira, no qual inúmeras serrarias trabalhavam à
margem da legalidade ou mesmo ilegalmente tornaram-se cada vez mais alvo de
ataques devido à política orientada pela limitação de desmatamento, proteção de
recursos e sustentabilidade do primeiro Governo do Presidente Lula. Durante a
Operação Curupira, a grande busca realizada pela repartição de meio ambiente e pela
policia federal no ano de 2005, atividades de inúmeras fábricas foram suspendidas na
região e muitos empresários desistiram definitivamente de suas atividades - emigrando
ou mudando sua área de trabalho.
82 Ciclo 4: Hoje em dia o agrobusiness globalizado à base de plantações de soja de
médias e grandes propriedades que antes já havia se apossado de grandes partes das
regiões do Cerrado de Mato Grosso (como por exemplo do sul do Sinop ao longo da
rodovia BR-163, as regiões nos arredores de Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e
Sorriso) determina também o zona rural da Gleba Celeste. Diante às favoráveis
condições para oleaginosas no mercado mundial, determinado cada vez mais pela
crescente demanda chinesa e menos pela demanda européia, a rotação de culturas de
soja como plantio principal e o milho como plantação intermediária oferecem melhores
lucros para os fazendeiros embora os altos custos de transporte sejam a grande
desvantagem da localização das regiões de produção matogrossenses. Em tempos de
desenvolvimento favorável do preço do “complexo soja-milho”, até pastos de criação
bovina são substituídos pela agricultura mecanizada e globalizada. Novos sistemas de
produção, sobretudo a aplicação de sementes geneticamente modificadas juntamente
com o método de plantio direto são, entrementes, encontradas não somente em
grandes fazendas mas também em propriedades de médio porte e predominantemente
na região Sinop como consequência da colonização privada. No entanto, no decorrer
dos últimos anos as fazendas aumentaram consideravelmente pela expansão do
agrobusiness e por compras e arrendamentos. Assim restou pouco do passado rural
original do projeto de colonização. Pela concentração de propriedades houve um
despovoamento do espaço rural, manter a infraestrutura de abastecimento rural não
mais vale a pena pois muitas propriedades podem ser operadas diretamente das
cidades. Segundo opinião de muitos observadores locais, estas tendências também
poderão ser mantidas no futuro, desde que haja condições de mercado favoráveis. A
“competição de deslocamento” entre agricultura moderna e pecuária poderá ter
continuidade. Cada vez mais a criação de gado deslocada avançou para as florestas
tropicais da Amazônia. Por outro lado existem esforços no sentido da “inserção” do uso
de pastos na estabelecida rotação de culturas soja-milho como terceira fase de
combinação da agricultura moderna com a criação de gado para com isso aumentar
ainda mais o valor acrescentado. Isto acontece paralelamente à tendência, observada há
anos, de diversificar as cadeias de valor regionais através da instalação de grandes
aviários ou através da difusão de grandes feedlots, na maioria das vezes com ligação
direta de fazendas de engorda de gado com matadouros, no sentido de aumentar o
valor acrescentado regional. A tudo isto está associada a crescente “capitalização” da
agricultura regional a qual nem todos podem acompanhar, sobretudo as “propriedades
de famílias de colonos”, que um dia formavam o grupo alvo das atividades de
colonização e que, entrementes, foram substituídos por “empreendedores agrários”
como o grupo de atores mais importante.
83 As consequências e efeitos de acoplamento da descrita mudança estrutural da
economia regional em forma cíclica podem ser observados facilmente não só no espaço
rural mas também na área urbana de Sinop. Isto é, por um lado, a diminuição e
desaparecimento gradual do setor de serrarias, visível nas ruínas das fábricas e terrenos
baldios e, por outro, a dominância nítidamente evidente do agrobusiness com enormes
silos e instalações de processamento das corporações nacionais (Amaggi) e
transnacionais (Bunge, ADM, Cargill). Além disso, existe um crescente setor de
prestação de serviços urbanos com inúmeras concessionárias de máquinas agrícolas,
caminhões e automóveis, de comércio de agroquímicos, firmas de consultoria, bancos
etc. que se beneficia basicamente da favorável conjuntura da agricultura modernizada
tornando-se parte essencial da cadeia de valor local e regional. Com base nesta cadeia
de valor local e regional cada vez mais diferenciada do agrobusiness globalizado, o
relacionamento rural-urbano passou por clara mudança. Cada vez mais, o espaço rural
preenche somente a função do “espaço de produção” como descrito, mas na realidade,
cada vez menos a de “espaço vital”. Para os fazendeiros e suas familias, a cidade
desenvolveu-se a uma verdadeira “central de controle” da economia regional. A cidade
é o local onde também os fazendeiros podem resolver grande parte das suas atividades
cotidianas: negociações com traders que muitas vezes oferecem packages completos do
complexo soja- milho, com consultores, transportadoras e outros prestadores de
serviços, negócios bancários, etc. Isto fez com que cada vez mais fazendeiros
preferissem viver na cidade – não somente por motivos de conveniência, mas também
por considerações de gestão deixando a fazenda sob custódia de administradores e
empregados. Nisto há diversas implicações de natureza funcional e sócio-espaciais. A
cidade Sinop, depois de mais de 40 anos de sua fundação, e com mais de 100.000
habitantes, é hoje realmente um centro regional, contando com comércio urbano
fortemente diferenciado e oferta estruturada de saúde e educação. Entremente, a
cidade conta com 4 universidades (duas estatais e duas privadas) com mais de
84 5.000 estudantes sendo que disciplinas do setor agrário, naturalmente, são as mais
procuradas. Sob o ponto de vista sócio-espacial, o “êxito” da antiga cidade pioneira é
nítida nos, entrementes, 4 condomínios fechados (Flamboyant, Mondrian, Carpe
Diem, Portal da Mata) que gozam de grande popularidade, tanto junto às elites
urbanas do meio político e do setor de prestação de serviços como junto aos fazendeiros
bem sucedidos, pois afinal eles possibilitam a cópia de um estilo de vida das grandes
metrópoles. O “sucesso do urbano” também é visível na Colonizadora Sinop que antes
negociava com a venda de parcelas rurais aos imigrantes e transformou-se em uma
firma imobiliária “totalmente normal” cujas atividades concentram-se exclusivamente
no espaço urbano, em Sinop e em outras partes do país.
85 Sinop não é mais, de nenhuma forma, aquela cidade pioneira de tempos idos. Será
que por isso ela terá se tornado uma cidade brasileira “normal”? Sob a perspectiva dos
seus habitantes, a cidade é tida como uma das “metrópoles do futuro” do país. Para
eles, dinâmica de crescimento e êxito econômico são ainda expressão e resultado do
“espírito pioneiro” que marcou os discursos do frontier no Brasil e alhures em todas as
épocas. Nisto, muitas vezes o aspecto da fragmentação sócio-espacial da realidade
cotidiana é negligenciado já tendo atingido também a cidade Sinop com formas de
marginalização, como conhecido em todas as cidades brasileiras.

Sudoeste do Pará: da frente pioneira


ao pós-frontier?
86 No foco da heterogeneidade das interdependências espaciais e sociais, deve ser
referida a definição de Osterhammel (2009, p.465) sobre o frontier como “fronteira
móvel de exploração de recursos”. Neste contexto, o frontier é perceptível como um
artefato espacial novo, não consolidado que, sob perspectiva espaço-temporal
encontra-se numa alta dinâmica de mudança como símbolo da extração e uso de
recursos. Este cenário pode ser transferido de maneira exemplar ao desenvolvimento
do frontier no sudoeste do Pará que, essencialmente, é resultado de processos iniciados
com a construção da BR-163 (Cuiabá-Santarém) deslocando- se até hoje e
sucessivamente de Mato Grosso para o Pará (fig. 8). No sentido da definição de Tsing
(2003, p.5100): “A frontier is an edge of space and time: a zone of not yet - not yet
mapped, “not yet” regulated. It is a zone of unmapping: even in its planning, a
frontier is imagined as unplanned” – a parte paraense da rodovia BR-163 é vista como
um dos frontiers mais dinâmicos do Brasil quando se trata da questão da regulação.
Para esta região, a fase da ditadura militar (1964-1985) também foi especialmente
decisiva, pois tanto o Estado como os grupos de investidores e de migrantes
esforçaram-se em derrubar terras devolutas não reguladas, desbravá-las, extrair seus
recursos e valorizá-las no sentido da teoria da modernização, isto é, acrescentar-lhes
valor (Castro, 2008; Coy & Klingler, 2011; Coy & Klingler, 2014a; Fearnside, 2007;
Torres et al., 2005). Entretanto o desenvolvimento regional nesta seção da rodovia
paraense se diferencia em muitos aspectos dos citados estudos de caso no sul e Centro
Oeste do Brasil - o que finalmente pode ser atribuído à ocupação territorial muito mais
livre e de maior área.
87 Fig. 8: Forças motrizes do desenvolvimento regional na BR-163
88 No sentido dos fatores clássicos push-and-pull das características de decisão,
relevantes na migração, o fator terra é, até hoje, o motivo mais importante para
investimentos na região do sudoeste do Pará especialmente quanto à disponibilidade de
terras e preço do solo. Sob este aspecto, e pelo menos a nível discursivo, esta parte da
seção da BR-163 ainda é marcada pelo mito inalterado de potencial de desenvolvimento
regional e simboliza esperança de êxito econômico e social para os colonos. O “mito dos
espaços vazios” (Becker et al., 1990, p.10) é nada mais do que um resto persistente dos
planos geoestratégicos de ocupação dos anos de 1970, que motiva(ou) sobretudo
colonos do sul do Brasil a avançar cada vez mais para as reservas de terra ao norte da
BR-163. O processo da exploração de terra baseia-se no decreto Nº 1.164/71 que, em
1971, habilitou o Estado a administrar e fazer uso das terras devolutas para o fomento
da segurança nacional e para o desenvolvimento econômico ao longo de todas as novas
rodovias na Amazônia e aproveitá-las para a colonização agrária. Ao contrário da
Tansamazônica, situada mais ao norte e marcada por projetos integrados de
colonização para o uso de terras por pequenos colonos, o Plano de Integração Nacional
(PIN) no sudoeste do Pará fomentou sobretudo a ocupação de terras orientada pela
especulação e pela subvenção de créditos. A demarcação espacial das reservas de terras
foi estabelecida numa área de 100 km dos dois lados da rodovia (Torres et al., 2005,
p.90) na qual cada colono pioneiro tinha direito legal de propriedade de no máximo
3.000 ha (1967), ou seja 2.500 ha (1988). Sob pressão da Bancada Ruralista, a
Constituição foi adaptada em 1988 no sentido de fortalecer a função das reservas de
terras como patrimônio estatal para a defesa das fronteiras do país como também para
o fortalecimento das instalações militares, das redes de comunicação estatais e para a
proteção dos ecossistemas naturais, dos espaços vitais e culturais indígenas. Com isto
foi atribuído ao Estado, o direito de desapropriar terras que não satisfaziam sua
“função social” e redesigná-las conforme o Plano de Reforma Agrária para exploração
agrária.

Desenvolvimento regional no sudoeste do Pará


(Novo Progresso)
89 Para o entendimento do desenvolvimento sócio-espacial no sudoeste do Pará, é
relevante considerar a influência dos colonos oriundos predominantemente do sul do
Brasil (Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina). Eles representam a chegada do
“novo”, que se expressa na forma de diferentes identidades culturais (sobretudo o perfil
gaúcho), estilos de vida e percepção do meio ambiente como de novas lógicas e práticas
da valorização da natureza. Estes fatores externos influenciam decisivamente a
incorporação do frontier desencadeando muitas associações narrativas “para fora”:
degradação ecológica e destruição, conflitos sócio- rurais e processos de expulsão, posse
ilegal e especulação de terra, “heróis”, “bandidos” e “vítimas” do frontier (Hoelle 2015).
Embora o município Novo Progresso tivesse sido originariamente definido para o uso
da lavoura, o boom de ouro atraiu primeiramente enormes correntes de migração e
investimentos na infraestrutura para o sudoeste do Pará no início dos anos de 1980.
Durante muito tempo, o garimpo era tido como fator econômico propulsor até que a
queda do preço do ouro quase significou o fim do boom no início dos anos de 1990. A
emergente criação de gado e a extração seletiva de madeira substituíram o ouro como
fator econômico dominante. Nos ciclos seguintes do desenvolvimento do frontier, a
pecuária extensiva estabeleceu-se principalmente nas grandes áreas arroteadas e em
grande parte ainda não regulamentadas, ao longo da BR-163 (vide fase II e III da fig. 9).
Juntamente com o anúncio do alargamento do corredor de exportação BR-163, o boom
da soja, entre 2000 e 2004 em Mato Grosso, influenciou o deslocamento das dinâmicas
de desmatamento em direção ao norte alcançando seu apogeu histórico no ano de 2004
(739,50 km², cf. INPE, 2015) (cf. Arima et al., 2011; Barona et al., 2010; Richards et al.,
2012). Ao mesmo tempo, o Brasil chegou a ser o maior produtor e exportador de carne
bovina, sendo que mais de 80% da expansão espacial do rebanho bovino brasileiro
ocorreu na Amazônia (Bowman et al., 2012). Esta tendência também foi constatada em
Novo Progresso, onde o número do gado bovino aumentou em 500% entre os anos de
2000 e 2014 (2000:101.810; 2014: 612.704), enquanto hoje chega a 1.180.000 na área
de Novo Progresso (sudoeste do Pará: inclusive regiões de pastos adjacentes aos
municípios de Altamira, Itaituba e Jacareacanga) (dados foram elaborados através a
campanha anuária de vacinação contra a febre aftosa pela Adepará, 2014). Ao mesmo
tempo esta situação esclarece como a enorme demanda nacional e global de carne de
boi influencia a expansão das áreas de pasto servindo indiretamente como força
mortriz do desmatamento (McAlpine et al., 2009; Smeraldi & May, 2008; Walker et al.,
2009). Sobretudo no Pará, a situação da pecuária se caracteriza pelo uso extensivo
(densidade de gado no pasto em Novo Progresso: <1 boi/ha) e degradações substanciais
nas áreas de pastos da era pioneira. Acresce ainda que há alguns anos, o fenômeno da
rápida disseminação espacial da “morte súbita” da gramínea pioneira Brachiaria
brizantha apresenta-se como novo problema para os pecuaristas. Iniciativas atuais de
manejo da regeneração de pastos degradados - como estratégia de intensificação local é
propagado como modelo de agricultura integrada de criação de gado bovino e lavoura
com plantas para ração animal e plantas úteis (soja, milho, arroz) - sinalizando uma
eventual virada de tendências no futuro. Outrossim, o dispendioso manejo de pastos
requer acesso a créditos agrícolas que, na maioria das vezes, é negado aos agricultores
locais devido à situação onipresente da falta de títulos de terra e infrações ambientais
(Assunção et al., 2013b; Assunção et al., 2013a). Da mesma forma a implementação
rentável de inovações tecnológicas e organizacionais fracassa muitas vezes pelo know
how inexistente dos agricultores ou seja, pela falta de consultoria agro-técnica (Barreto
& Silva, 2012; Diniz et al., 2013).

Na mira do zero deforestation


90 Uma virada no desenvolvimento regional da Amazônia, igualmente constatada em
Novo Progresso deu-se entre os anos de 2004 e 2005 quando as taxas de
desmatamento cairam drasticamente pela primeira vez (cf. fase III da fig. 9). Nos anos
seguintes, entre 2005 e 2014 esta taxa continuou a abaixar em 84% (INPE, 2015) como
consequência da combinação de diversos fatores. Paralelamente, a recessão econômica
e oscilações de preço de mercado, a mudança da política brasileira de meio ambiente
(estratégia desmatamento zero) é fortemente influenciada pelos discursos de
ecossistemas e proteção ao clima como também as resultantes intervenções de mercado
(moratória da soja e bovina) atribuindo-lhes especial significado (Assunção et al., 2012;
Barreto & Silva, 2009; Gibbs et al., 2014; Hargrave & Kis-Katos, 2013; Nepstad et al.,
2014; Soares-Filho et al., 2010). Neste sentido, a afirmação da Presidente Dilma
Rousseff: “It’s our effort to contribute to something that is crucial to humanity”
(Sustainable Development Summit New York, citado por Escobar, 2015) esclarece mais
do que nunca as ambições políticas da responsabilidade global do Brasil nas questões
do meio ambiente e do clima. O começo desta mudança de discurso motivado pela neo-
ecologia, em princípio, tem origem na conferência mundial do meio ambiente no Rio de
Janeiro (UNCED 1992) que dirigiu, pela primeira vez, os interesses públicos e políticos
ao contexto entre desmatamento das florestas tropicais e as mudanças globais de meio
ambiente colocando o princípio da sustentabilidade no centro das discussões sobre
estilos de desenvolvimento adaptados na Amazônia. Um exemplo de cooperação
bilateral que mereceu muita atenção é o “Programa Piloto Internacional para a
Proteção das Florestas Tropicais do Brasil”, realizado entre 1993 e 2009 (PPG-7) e,
desde 2008, o Plano para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (PAS).
91 Fig. 9: Modelo das fases de transformação sócio-ecológica do frontier

Hoje em dia, a devastação de florestas na Amazônia é mais intensamente discutida no


contexto das causas da mudança antropogénica do clima - não só no Brasil mas
principalmente pelo público internacional. O fato de que o Brasil, como poder de
comércio agrário global pertence ao grupo internacional dos top-emitentes nos setores
de uso da terra, mudança do uso da terra e silvicultura acentua a problemática do
frontier agrário. Em 2004, quando foi constatada a maior quota anual de
desmatamento, com uma área devastada de 27.772 km² fêz com que o Governo
introduzisse o Plano de Prevenção e Controle de Desmatamento na Amazônia
(PPCDAm) como mudança radical da ideia de desenvolvimento da Amazônia (GIZ et
al., 2011). Desde então, os hot spots de desmatamento estão no foco dos programas
nacionais de desenvolvimento regional cujas intenções são medidas para a
regulamentação de acesso à terra como o esclarecimento da problemática dos titulos de
propriedade, o zoneamento de uso da terra, o controle e o monitoramento da conversão
de terra e o fomento de atividades sustentáveis. Seguindo a estratégia internacional do
clima, o Governo apresentou o Plano Nacional para a Mudança do Clima em 2008
(PNMC) que prevê a diminuição do balanço nacional de emissões até o ano de 2020
pela redução de 0,7 gigatoneladas de CO₂-eq, no que deverão ser reduzidos 80% do
desmatamento no bioma da Amazônia como a redução de 40% no Cerrado (baseados
em taxas históricas de 1996 até 2005) (Scholz, 2010). Significantes estratégias políticas
deixam transparecer um “repensamento” da política brasileira de clima e energia,
embora não seja obrigado para tal tendo o Brasil assinado o Protocolo de Kyoto da
Convenção do Clima das Nações Unidas como país emergente. Ao mesmo tempo, a
inclusão de florestas no debate do mercado de carbono sinaliza mudança de posição da
política nacional nas negociações do clima. Neste contexto, negociações de clima foram
bloqueadas durante muitos anos. Somente o instrumento REDD[+] (do inglês
Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation [and the role of
conservation, sustainable management of forests and enhancement of forest carbon
stocks] in developing countries) conseguiu uma ligação entre a política de meio
ambiente e a economia desde a Conferência do Clima de Bali (COP 13, 2007) pela
criação de mercados específicos para bens monetarizados de meio ambiente e prestação
de serviços de ecossistemas (PES, Payments for Ecosystem Services).
92 Desta maneira, a integração do REDD[+] em acordos globais do clima cria um
sistema
93 internacional para a valorização e financiamento da floresta, isto é, da natureza como
uma nova mercadoria negociada como common (Helfrich & Heinrich-Böll-Stiftung,
2012). Commons devem ser entendidos como bens comuns ou bens de comunidade que
se expressam na forma de recursos naturais (materiais) e culturais, intelectuais
(imateriais). Regras de uso organizam acesso, uso e participação do common lands
(vide principalmente “Tragedy of the Commons” de Garrett Hardin) cujo significado
histórico de recursos naturais da comunidade são estendidos através de codes (idéias,
saber) do common do saber. Pelo menos na teoria, as atividades para a preservação e
proteção da floresta tornam-se economicamente rentáveis através desses mecanismos
de financiamento. Na prática, contudo, o acordo plurinacional relativo a objetivos
globais do clima mostrou-se ilusório (vide Fatheuer, 2014). Da mesma forma, a lógica
do “carbon offsetting” (Lovell et al., 2009), por pagamentos de compensação com carga
estável de emissões provenientes do norte global mostrou-se muito problemática. Sem
entrar detatalhadamente nos problemas da implementação REDD[+], este instrumento
levou numerosos governos, empresas e ONGs a fixar objetivos com prazos limitados e
normas para o alcance do zero-desmatamento de florestas. Neste sentido, o UN
Climate Summit COP21, realizado no final de 2015 mostrou entrementes, que o Brasil
não só desempenha papel essencial como mediador político entre países em
desenvolvimento e industriais. Como primeiro membro dos G20 fora dos G7, o Brasil
compromete-se com objetivos nacionais de clima que apoiem abrangente espectro de
medidas de mitigação, adaptação e de implementação, assim como uma visão
duradoura na transição de sistemas de energia para energias renováveis e
descarbonização da economia global.
94 Apesar dos nítidos progressos da governança de meio ambiente, a dinâmica do
processo de devastamento de florestas ainda não foi interrompida. Fearnside (2015)
adverte: “The battle for the Amazon is far from being won” e refere-se a aumentos
espaciais específicos de desmatamento desde 2014, estreitamente acoplados com a
posição debilitada da política brasileira de meio ambiente e com os contínuos
investimentos em projetos de infraestrutura. Neste contexto, a rodovia BR-163 é uma
região-chave para o debate sobre os fatores de influência de devastação na mira do
crescente significado das arenas globais orientadas pela exportação de matérias primas
agrícolas (Coy & Klingler, 2014b; DeFries et al., 2013; Fearnside, 2007; Rudel et al.,
2009; Verburg et al., 2014; Walker et al., 2009). Enquanto que as mudanças do uso da
terra nos primeiros ciclos do desenvolvimento do frontier foram principalmente
impulsionadas por projetos de infraestrutura (especialmente os das construções de
rodovias) e projetos subvencionados de colonizações agrárias estatais, privadas ou
espontâneos, as sinergias atuais entre os fatores de influência endógenos e exógenos
parecem muito mais complexas (Lambin & Meyfroidt 2010; Meyfroidt et al., 2013;
Pacheco, 2012; Rudel et al., 2009). As dinâmicas dos frontiers são então mais
fortemente modificadas por variáveis político-institucionais, econômicas e culturais
cujos processos de negociações são cada vez mais decididos a níveis de escalas
superiores desatrelando contextos de esclarecimentos locais e nacionais (Lambin &
Geist, 2006). Isto se torna visível pelo significado dos mecanismos de mercado
orientados pela exportação, cujas determinantes diretas mais importantes para a região
de estudos hoje são a expansão da monocultura mecanizada da soja, a pecuária
extensiva, projetos de infraestrutura da produção de energia (vide hidrelétrica Belo
Monte) e a extração mineral. Há muito exigido pelos pressure groups regionais do
agrobusiness, a conclusão do corredor de exportação e dos portos de carregamento
para cash crops, carne bovina, madeira e minerais (fig. 8) também passou a ser de
interesse internacional influenciando significantemente as pretensões quanto à
disponibilidade e apropriação da natureza (Dijck & Haak, 2006; Morton et al., 2006;
Vera Diaz et al., 2009; Walker et al., 2009). Com isso, os frontiers da Amazônia do séc.
XXI estão marcados como frontiers de recursos e mais do que nunca pela mudança dos
mecanismos de mercado e pela pressão pela incorporação global e uso de recursos sub-
terrestres, da floresta e da terra. Lógicas de expansão econômicas, estatais e privadas
transformam constantemente as “relações societais com a natureza” (Gesellschaftliche
Naturverhältnisse, cf. Görg, 1999) da Amazônia e, devido ao aumento de exposição,
suscitam vulnerabilidade social mais alta dos livelihoods rurais.
95 Uma situação que obriga fazendeiros locais a adotar repetidamente estratégias de uso
da terra orientadas pela exportação implicando a degradação sócio-ecológica contínua
como expressão do complexo entre desmatamento, práticas de valorização agrícola,
situação do direito de propriedade não esclarecida e especulação de terra. Na região
estudada no sudoeste do Pará, a ocupação da terra por desmatamento e pastoreio vale
até hoje como passo mais importante para a formação de propriedade privada de terras
nas regiões não consolidadas dos frontiers. Ao mesmo tempo parece existir até hoje o
suposto rumor das inesgotáveis reservas de matérias primas, de energia e de terras na
“frente especulativa de valorização” (Wienold, 2006, p. 45) e a incorporação informal
de terras virgens é principalmente fortalecida pelos baixos preços de terras e de custos
de manutenção. O processo da posse de terras exige, por assim dizer, um
“deslocamento da expansão do frontier” (Martins, 1996, p.41) que é acelerado por
invasões de terras dirigidas por especuladores, latifundiários e empresas. Como
consequência da economia de exploração resultam incessantemente processos de
deslocamento dentro (exemplo do mercado de trabalho sasonal) e fora do frontier
econômico. A distribuição espacial, isto é, o processo de territorialização neste caso
acontece de maneira extremamente desigual e é acompanhada de posse de terras difusa
e violenta (Peluso & Lund, 2011). Inúmeros conflitos abertos e cobertos resultam da
sobreposição de formações sócio- econômicas diferentes, cada qual com racionalidades
de ação e reivindicações de espaço próprias. Por longo tempo, o alto grau de
informalidade, a presença insuficiente da autoridade estatal como a falta de
capacidades institucionais para a execução do planejamento espacial criou condições
favoráveis para a constituição de redes ilegais e preservação do espaço de difícil
controle legal e policial. Uma “doutrina do medo” (Torres et al., 2005, p.290) foi
propositadamente suscitada por latifundiários e madeireiros. Os assassinatos não
esclarecidos de Bartolomeu Morais da Silva, conhecido como “Brasília” e chefe do
sindicato dos trabalhadores rurais em Castelo dos Sonhos e dos seus sucessores, são
exemplos conhecidos dentro das relações de poder muito assimétrico e clientelista
entre atores locais em violentos processos de negociação de posse de terras e de
proteção de propriedade de terra na BR-163 (Castro, 2005; 2008).

A transição ao pós-frontier
96 Para Novo Progresso o dilema do “progresso” reflete hoje, de forma exemplar, a
implementação de modelos orientados pela modernização sob consideração da
existência paralela de estratégias de sustentabilidade. Neste contexto, o papel do
governo é fortemente ambivalente. Por um lado e como reação à exigência da lobby
agrária pela enorme ampliação da infraestrutura e do fomento e instalação de polos de
desenvolvimento, o governo assumiu a função estratégica na exploração e valorização
capitalista do frontier da BR-163. Além disso, os fatores de influência econômica, de
politica de meio ambiente e institucionais concentram- se progressivamente no
processo de negociação de valorização da natureza que aparecem como reguladores na
forma de implementação das unidades de proteção, controle e monitoramento de posse
ilegal de terra e intervenções de mercado. Por outro lado, a questão ainda não
solucionada do acesso à terra e dos direitos de disponibilidade bloqueia o objetivo de
impedir, a longo prazo, o desmatamento ilegal e de atividades especulativas do
processo de tomada posse de terra mas também o de indicar alternativas econômicas
práticas. Assim pode ser constatado que as descritas dinâmicas do desenvolvimento do
frontier continuam a aguçar as contradições de interesses de valorização da natureza.
Acresce ainda que discursos supraregionais sobre devastação das florestas tropicais,
emissões CO₂, ameaça ao espaço vital indígena ou cadeias de valor sustentáveis
(exemplo TAC da pecuária sustentável) ganham cada vez mais significado no processo
de negociação do uso da terra no frontier. A nível local, os atores de Novo Progresso são
mais do que nunca incorporados simultaneamente nas lógicas globais das cadeias de
valor acrescentado internacionais por um lado e no discurso de sustentabilidade por
outro, não podendo, cada vez mais frequentemente, tomar decisões sobre ações de
forma independente e responsável devido aos direitos limitados de disponibilidade.
Além disso, pode ser verificada uma certa estigmatização discursiva dos habitantes de
Novo Progresso que não mais são vistos como “heróis” ou “vítimas” do frontier sendo,
outrossim, acusados de “bandidos” e “criminosos do meio ambiente” do bioma da
Amazônia. Assim, as constelações de atores e de conflitos diferenciaram-se
frequentemente nas últimas décadas no que diz respeito ao campo de tensões entre
interesses locais e regionais e influências globais, entre desenvolvimento regional
intensificado e esforços “sustentáveis” pela proteção do meio ambiente e do clima. Em
seguida à consolidação, as antigas frentes pioneiras da Amazônia continuam a se
transformar em novas fases do desenvolvimento do frontier que aqui deve ser chamada
de pós-frontier (vide fase IV e V da fig. 9).
97 Segundo Larsen (2015, p.2), o pós-frontier é descrito como “the host of new
regulatory technologies, practices and institutions that nominally close, yet more
accurately characterize and restructure, contemporary resource frontiers”. Esta
definição expande o entendimento de Browder et al. (2008) que, em sequência à
consolidação do frontier, identificam o pós-frontier como fase de ocupação neoliberal
de terra com grande percentagem de propriedade empresarial e fortes entrelaçamentos
internacionais no agrobusiness. A pesquisa brasileira sobre frontier dos anos de 1970 já
associava as lógicas de ações geoestratégicas do governo com a tese marxista da
chamada acumulação original continuada que é entendida como execução ou
reestruturação das relações capitalistas de propriedade e de produção (Martins, 1972;
Martins, 2012; Velho, 1972). Segundo este entendimento, a exploração e ocupação da
frente pioneira, apoiada pelo Estado é diretamente ligada à mobilidade espacial dos
colonos que, como instrumento da produção capitalista, incorporam espaços não-
capitalistas através de mecanismos orientados por uma economia de mercado. Sem
dúvida, as tardias estratégias de desapropriação, enclosure e de privatização de terras
manipulam em alta escala o mito individual do frontier, isto é, a imagem da potencial
criação de um “espaço livre de alternativas“ (Becker et al., 1990, p.17). A primeira fase
do desenvolvimento da frente pioneira é portanto interpretada como uma forma
ampliada de reprodução que, no decorrer da neoliberalização, é crescentemente
substituída pela acumulação através de desapropriação (cf. Harvey, 2004). Nisto, a
“doutrina do neoliberalismo” (vide Harvey, 2005, p.2) legitima a privatização forçada e
a subsequente mercantilização de recursos naturais como um processo que Noel
Castree chama de neoliberalização da natureza (2010a; 2010b). Sob esta perspectiva, o
fenômeno da globalização não somente influencia o aumento do capitalismo neoliberal
extensivo à periferia da Amazônia - no sentido do alargamento, aceleração e
modificação da acumulação de capital, ela associa igualmente a disponibilização de
infraestruturas territoriais abrangentes (vide Iniciativas sobre a Integração Regional da
América do Sul [IIRSA]) que, segundo Harvey (1982) servem à aceleração da circulação
de capital. Com isso fica claro que a produção capitalista, a reconfiguração e a
transformação de formas de organização territorial estão situadas cada vez mais em
processos de negociação de múltiplas escalas (cf. “Politics of scale”, Neumann, 2009).
Como resultado, nota-se uma reestruturação do Estado, que por um lado é influenciada
pelo redimensionamento espacial supranacional (influência externa de regulamentação
por atores internacionais – ONU, FMI, Banco Mundial, IPCC, etc.) e por outro lado,
pelo redimensionamento espacial subnacional (descentralização de áreas de
competência e deslocamento a nível estadual ou nível local- regional).
98 O pós-frontier deve ser visto igualmente como uma recontextualização da
governança do frontier tendo em vista a dinâmica da incorporação espacial como as
condições de constituição em forte processo de mutação dos entrelaçamentos locais-
globais de processos de negociação de acesso, uso e controle da terra. O conceito do
pós-frontier dirige, neste contexto, a mudança narrativa que a governança do frontier
discute entre exploração orientada pela modernização e valorização até modalidades de
proteção sócio-ecológicas do “desenvolvimento sustentável” (Larsen, 2015). Na fase do
pós-frontier, as florestas tropicais da Amazônia tornaram-se há muito “political
forests” (Vandergeest & Peluso, 2015, p.162) que mostram classificações detalhadas
entre categorias florestais produtivas e necessitadas de proteção, demarcadas em zonas
territoriais de uso. Para a área de influência da BR-163 devem ser citados
principalmente a primeira zona de desenvolvimento florestal– DFS (Distrito Florestal
Sustentável) e os planos de macro-zoneamento - ZEE (Zoneamento Ecológico-
Econômico da Zona Oeste do Estado do Pará) e o ZSEE (Zoneamento Sócio-econômico
e Ecológico de Mato Grosso) que representam os princípios territoriais de governança e
gestão de meio ambiente. Com isto, fica claro que crises ecológicas no exemplo de
devastação e degradação de florestas tropicais constituem áreas de problemas políticos,
não podendo ser vistas fora das relações de poder sociais e transnacionais (atuais
campos temáticos de ecologia política vide especialmente Bryant, 2015; Perreault et al.,
2015). O peso político-social considerado no processo decisório da avaliação e
demarcação de zonas “ecológicamente” relevantes reflete-se na quantidade de
programas de monitoramento com apoio estatal e internacional para desmatamento e
degradação das florestas tropicais na Amazônia (cf. PRODES, SAD, DETER, DEGRAD,
TerraClass).
99 Eles determinam, por fim, o estabelecimento espacial de hotspots para fiscalização,
controle e combate ao desmatamento ilegal (vide PPCDAm) marcando a base para
sanções por infrações meio-ambientais. Desta maneira, as áreas com altas taxas de
desmatamento e ocupação ilegal são registradas nas blacklists dos municípios
prioritários da Amazônia (Rocha et al., 2014). Isto suscitou inúmeros esforços que se
manifestaram prioritariamente em maior presença local de repartições governamentais
no combate ao desmatamento ilegal correspondendo assim ao primeiro objetivo do
programa estatal de controle de desmatamento PPCDAm. O êxito do “naming and
shaming policy” (Cisneros et al., 2015), ligado a restrições econômicas e acesso
limitado ao mercado é demonstrado pela diminuição de 26% de desmatamento ilegal
nas blacklists dos municípios. Mesmo que a dinâmica de desamatamento em Novo
Progresso tenha sido igualmente reduzida desde 2005 e registrada a mudança
discursiva da percepção local de meio ambiente e sustentabilidade, fomentada pela
política, Novo Progresso não compartilha, nem aproximadamente, a história bem
sucedida de Paragominas - o “porta estandarte” (inter)nacional (Aviz & Albagli, 2011;
Oliveira et al., 2012; Viana et al., 2012). A hesitante participação nos programas de
meio ambiente “sustentável” também documenta a reação local perante os restritivos
mecanismos estatais top-down que são representados através de ações dirigidas pelo
IBAMA, (command & control) no âmbito da PPCDAm. O resultado é o balanço de
1.650 embargos entre 2002-2014 e punições de meio ambiente que ameaça seriamente
a existência sócio-econômica de agricultores. Com isso, faltam os investimentos
necessários para a regeneração de pastos degradados por bloqueio de acesso aos
créditos agrários e a proibição de comércio com matadouros internacionais. Por isso, a
sociedade civil local de Novo Progresso critica os planos de estratégias alternativas de
desenvolvimento regional fazendo referência concreta às experiências negativas na
implementação dos objetivos de desenvolvimento fixados participativamente do Plano
para o Desenvolvimento Regional Sustentável da BR-163 e às baixas quotas de títulos
definitivos de propriedade de terra atribuídos no âmbito do contínuo programa para a
regulamentação de terras Terra Legal (Brito & Barreto, 2011; Schönenberg et al.,
2015). Neste contexto, as medidas baseadas em imagens de satélites de governança do
pós-frontier possuem igualmente um grande potencial em atiçar conflitos de meio
ambiente devido aos diferentes interesses de uso: “Yet such imagery, rather than
reducing the contentiousness of landscape change claims, actually reinforces it”
(Robbins, 2003, p.181).
100 Com referência ao modelo de fase de transformação sócio-ecológica do frontier (Fig.
9), Novo Progresso não pode ser associado como inteiramente consolidado, ou seja a
uma situação de estrutura resiliente duradoura pelo alcance de um “nível de produção e
organização diferenciado e competitivo” (Coy, 1992, p.107). Não obstante, as transições
observáveis na mira do pós-frontier refletem modelos potenciais de uma mudança
regional, nos quais tornam-se visíveis a intensa diminuição de desmatamento até o
crescimento de vegetação florestal como também processos de intensificação e
diversificação agrícola. Portanto, o pós-frontier apresenta uma série de estímulos, nos
quais não somente a mudança do uso da terra mas também o modo de vida
“sustentável” podem ser causados tanto no espaço rural como urbano, e o potencial dos
processos de transformação sócio-ecológica pode ser estendido.

Conclusão
101 Quais são então as igualdades e quais as diferenças entre os três casos de estudos que
apresentam cada qual, caráter emblemático do fenômeno frontier no Brasil em
diferentes épocas e em diferentes regiões com diferentes constelações políticas.
102 As ligações entre os três exemplos de casos são óbvias. Encontram-se numa sucessão
espaço- temporal do deslocamento das regiões pioneiras que, como apresentado no
início, pode valer como especialmente típico para o Brasil. Em todo caso, é atribuído
significado e função especiais ao Paraná, pois para grande parte dos colonos das regiões
de colonização do Norte de Mato Grosso, o Paraná é o seu lugar de origem e de
referência. Mesmo que para muitas familias de colonos, o Paraná (sobretudo o norte e,
em parte, o oeste) tenha sido “apenas” uma fase na longa história da migração por
etapas, realizada, em parte em uma só geração, estendeu-se às vezes por diversas
gerações. Assim, nas regiões de colonização no Norte de Mato Grosso, o Paraná
desempenha papel dominante por ser muitas vezes a última etapa da migração antes da
chegada. Redes de entrelaçamento familiares, sociais, culturais, mas sobretudo
econômicas de compra e venda são da maior importância. Empresas do Paraná fundam
filiais nas cidades pioneiras no norte matogrossense, serrarias concentram seu
fornecimento à indústria madeireira no sul do Brasil etc. A maioria das companhias de
colonização são oriundas do Paraná e especialmente neste Estado foram “recrutados” o
grupo alvo da colonização matogrossense, companhias de ônibus como por exemplo o
“Expresso Maringá” (sic!) que se “especializaram” no transporte entre as antigas e
novas regiões do frontier – distantes alguns mil quilômetros uma da outra -
contribuindo assim para redes duradouras do frontier. E o Paraná é sempre o exemplo
“bem-sucedido”, a região de sucesso e para muitos finalmente o “local da saudade”,
usado até como orientação de nomes para os novos povoados do frontier
matogrossense: Sinop, Nova Maringá e naturalmente todos os “locais da esperança”
como Nova Esperança, Novo Eldorado, Novo Horizonte do Norte, Terra Nova do Norte,
e assim por diante. Os últimos nomes mencionados mostram claramente a atitude de
esperança quanto ao “novo” no Norte”, um topos, de atratividade e histórias bem
sucedidas que não deixam de ser essenciais para o frontier. Isto tem continuidade
também no deslocamento da frente pioneira para o sudoeste do Pará, sendo que uma
lógica de entrelaçamento parecida se reproduz em Mato Grosso (sobretudo para a
região Sinop) – embora de forma mais fraca. Aqui, no frontier ao sudoeste paraense,
Novo Progresso torna-se o centro e o ponto crucial: “novo progresso” – o ”novo”
duplicado. Deste modo, o “espírito” da frente pioneira encrava-se na paisagem, como
caracterizado por Leo Waibel – comum nas três regiões de exemplo. Atualmente falar-
se-ia do poder do efeito de discursos apoiados pelo Estado e dirigidos por interesses
econômicos com fins de êxito em negócios e gravado profundamente como “mito da
frente pioneira” na “visão própria” dos atores no frontier, influenciando suas ações.
Isto traz consequências para a “relação societal com a natureza”, que marcam o frontier
constatado igualmente nas três regiões de exemplo. No final dos anos de 1980, a maior
serraria do Sinop cumprimentava seus visitantes no portão de entrada com a plaqueta
”transformamos a natureza em progresso”. Mesmo achando que se trata de cinismo
sem fim – o texto expressa a percepção dominante de sempre de “natureza” no frontier
como um recurso valorizado e com isso é legitimado de forma discursiva o que sempre
foi e o que continua a ser feito nos frontiers: Exploração – desmatamento –
“valorização”. O objetivo é a incorporação das antigas periferias na “via de
desenvolvimento” dominante sob as condições prevalecentes. Jürgen Osterhammel
refere-se ao historiador Immanuel Wallerstein que, neste sentido, interpreta o frontier
como “propagação irreversível de mercadorias e economia monetária e visão européia
de propriedade em “espaços remotos de além-mar” (Osterhammel, 2009, p. 470).
103 São as condições específicas sócio-naturais do frontier que também influenciam o
curso de desenvolvimento do tipo de ciclos de vida das regiões de frentes pioneiras –
como também os dos três exemplos aqui debatidos: introdução/ascensão -
diferenciação/maturidade - consolidação e/ou degradação/decadência. Naturalmente,
a adoção do modelo do ciclo de vida, introduzida e comprovada nas ciências
econômicas e na geografia econômica, corresponde muitas vezes a uma simplificação
rudimentar na aplicação concreta em casos individuais. Para a análise e entendimento
do desenvolvimento do frontier, no entanto, o pensamento do ciclo de vida oferece
vantagens: ele previne quanto à “ingenuidade” e na realidade a visão linear raramente
pertinente (a saber, positiva) que teria a tendência de subestimar conflitos de interesse
internos, disputas por recursos e o jogo desigual das relações de poder. Além disso, o
pensamento do ciclo de vida oferece a possibilidade de considerar mais fortemente
“pontos de virada” no decorrer das fases. Isto também está presente nos três exemplos
de caso: fases de cursos não lineares podem ser sempre constatadas e momentos de
transição da mesma forma, que poderiam significar mudança de direção no ciclo – sem
que com isso, no entanto, a direção já tenha sido determinada. O motivo desses
momentos pode ser, por exemplo, a modificação de condições econômicas gerais e
sobretudo políticas e significar sua mudança – para tal os exemplos de caso também
oferecem suficientes provas. O conceito do ciclo sugere sobretudo o pensamento do
dimensionamento temporal de um curso de ciclo nas suas mais variadas fases e
corresponde com isso ao caráter do frontier como um construto espaço-temporal.
Também sob este aspecto, uma consulta destes três exemplos de caso é esclarecedora -
parece que as condições temporais no qual um ciclo do frontier decorre, não importa de
que maneira, é encurtado durante o processo de deslocamento.
104 Mesmo com todas as semelhanças, diferenciações e, em parte, até nítidas diferenças
não passam desapercebidas. A conotação predominantemente positiva do “modelo
bem-sucedido” do Norte do Paraná (o estudo de caso correspondente mostra os
fundamentos específicos para esta conotação) somente pode ser reconhecida
parcialmente no caso do Norte de Mato Grosso. “Êxito” é cada vez mais reduzido a
sucesso econômico de uma “orientação” sem compromissos com a globalização na
forma do plantio de soja altamente mecanizada, orientada pelo mercado mundial. Um
modelo que proporciona riqueza aos fazendeiros e ao agrobusiness integrados no
complexo da soja – no entanto, às custas do empobrecimento substancial no sentido
sócio-ecológico atuando como exclusão agro-social. No sudoeste do Pará, a situação é
ainda mais séria – o que já se esboçava em Mato Grosso – isto é, a confrontação
explícita entre a expansão do frontier e custos sócio-ecológicos expressa-se claramente
por choque da visão própria e externa dos atores do frontier como “heróis” por um lado
e “bandidos” por outro. Os ritmos temporais da transformação interna dos três
frontiers descritos distinguem-se. No Norte de Mato Grosso, este processo de
transformação interna, econômica, agro-social e de estrutura dos povoados foi muito
mais acelerado do que no Paraná. Sobretudo a orientação à lógicas globais de mercado
em conexão com inovações técnicas agrárias (no-tillage-farming) fêz com que o
frontier, muito mais do que antes, fosse dirigido das cidades. O espaço rural torna-se
cada vez mais uma “máquina de produção”, perdendo frequentemente suas qualidades
de “espaço vital”. Sobretudo no sudoeste do Pará, as mudanças de orientação política e
perspectivas sociais alteradas são determinadas pelos grandes desafios do global
change e discursos correspondentes que influenciam decisivamente o ritmo do
frontier. Como provavelmente nunca visto antes e mais intensamente sob “a visão do
momento” do público nacional e internacional, a Amazônia – como no caso do exemplo
simbólico da BR-163 - cai nos conflitos, negociados em múltiplas escalas, entre
“desenvolvimento” por um lado (situado no contexto do desenvolvimento regional
orientado pela modernização, de ampliação da infraestrutura, produção de energia e da
extração de recursos) e “preservação” de outro (situada no contexto de esforços de
proteção de recursos, pelo respeito dos interesses de sobrevivência de populações
tradicionais, pelos desenvolvimentos alternativos no sentido da sustentabilidade).
Estas constelações modernas acompanham as constelações modificadas de atores
(paralelamente aos place- based-actors aparecem frequentemente non-place-based-
actors), com lógicas de ação alteradas e potenciais de conflitos modificados. O frontier
passa a ser um objeto (provavelmente menos diretamente um local) das negociações de
múltiplas escalas que influencia claramente processos internos colocando em questão a
identidade do frontier como tal. Nada, ou pelos menos muita coisa não é mais como
antigamente. O “modelo de êxito” Paraná fica para muitos como orientação e “local da
saudade” mesmo que nos anos de 1970 e 80 tenham tido que sair do suposto paraíso,
como consequência dos efeitos da política da “modernização conservadora”. Mesmo
que ainda exista forte orientação nos seus critérios de sucesso, o Paraná, no entanto,
não é mais reprodutível sob as condições contraditórias de globalização e do global
change, de discursos de desenvolvimento regional e de sustentabilidade, entre lógicas
de mercado e governança ambiental. Apesar da sua territorialidade explícita, os
frontiers também mostram crescentemente aspectos de aceleração e de perda do
conceito de espaço. Eles se modificaram, como mostra a comparação dos três exemplos
de caso. Sobretudo as condições sob as quais eles surgem e sob as quais eles tem que se
instalar também são outras. Neste ponto é importante continuar a desenvolver o
conceito do pós-frontier a um conceito analítico talvez até de orientado para ações.

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Pour citer cet article


Référence électronique
Martin Coy, Michael Klingler et Gerd Kohlhepp, « De frontier até pós-frontier: regiões pioneiras
no Brasil dentro do processo de transformação espaço-temporal e sócio-ecológico », Confins
[En ligne], 30 | 2017, mis en ligne le 20 février 2017, consulté le 02 avril 2018. URL :
http://journals.openedition.org/confins/11683 ; DOI : 10.4000/confins.11683

Cet article est cité par


Klingler, Michael. Richards, Peter D.. Ossner, Roman. (2018) Cattle vaccination
records question the impact of recent zero-deforestation agreements in the
Amazon. Regional Environmental Change, 18. DOI: 10.1007/s10113-017-1234-1

Auteurs
Martin Coy
Institut für Geographie, Universität Innsbruck, Martin.Coy@uibk.ac.at

Articles du même auteur


A interação rio-cidade e a revitalização urbana: experiências europeias e
perspectivas para a América Latina [Texte intégral]
Paru dans Confins, 18 | 2013
Michael Klingler
Institut für Geographie, Universität Innsbruck, michael.klingler@uibk.ac.at

Gerd Kohlhepp
Professor Emeritus, Geographisches Institut, Universität Tübingen, gerd.kohlhepp@t-online.de

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