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Gilson Iannini1
volume com cerca de 900 páginas cuja leitura é indiscutivelmente difícil, Jacques
1966, Pierre Daix lhe pergunta o que ele pensa do estruturalismo e faz uma
Mas é curioso notar algumas datas que passam, no mais das vezes, desapercebidas.
Em 1966, a obra capital que transpõe o modelo linguístico para as ciência humanas
anos; o Discurso de Roma, texto fundamental que marca, por sua vez, a entrada de
Lacan neste cenário, estaria completando treze anos. Pelo menos para Lévi-Strauss e
Discurso de Roma de Lacan e O grau zero da escritura de Barthes são de 1953. Mais de
uma década separam estes momentos fundantes do que poderíamos chamar de boom
conselhos sobre estruturas, que é o tema deste nosso encontro. É possível que
venham a ocorrer erros, confusão, usos cada vez mais aproximativos desta noção, e
penso que logo vai haver um certo modismo em torno desta palavra. No meu caso é
diferente, pois emprego esse termo há muito tempo – desde o início de meu
ensino”3.
Um modismo, com efeito, é do que se trataria dentre em breve. No final dos anos
moda, não deixaria de colocar nas passarelas mais alguns modelos, do prêt-à-porter ao
Não é, portanto, sem razão que Lacan parece se irritar com a assimilação de seu
o estruturalismo não é uma bandeira, como também não é nenhuma de suas formas
de manchas que progridem por difusão. É por isto que sou finalmente oposto ao
emprego deste termo, do qual nada garante que ele não será desviado para os usos
do humanismo ‘pegajoso’” 4. O que não impede que, tomado dentro dos limites de
limites. O preço de sua expansão foi seu refluxo: ação e reação. A oração de Carlos
Drummond de Andrade expressa bastante bem esta inflação causada pelo boom do
quando Lacan afirma, por exemplo, “acabei de dizer a quais estruturas qualificadas e
verificáveis se refere o meu estruturalismo. Elas não são sem conexão com aquelas que
problemática definida por estes três termos e à sua interdependência: sujeito, ciência
para o exame das continuidades e rupturas de Lacan para com o estruturalismo tout-
o ponto de vista da estrutura é incompatível como uma teoria do sujeito, para Lacan
modelos epistemológicos para o inconsciente, Lacan irá opor uma teoria não-
estrutura é fundamental.
Ainda que a importância de uma teoria do sujeito para a Psicanálise nos pareça, pelo
menos depois de Lacan, bastante bem assentada, qual a relevância de uma teoria do
metafísica e deve ser desconstruída junto dela; para Louis Althusser (1918-1990), o
Wittgenstein (1889-1951), o sujeito está nos limites do mundo e acerca do que está
resposta de Gilles Deleuze (1925-1995), para quem o sujeito ‘é como uma dobra da
Deleuze acerca da necessidade de uma teoria do sujeito. Mas sua teoria se contrapõe
– ponto por ponto – a cada uma daquelas respostas. Badiou caracteriza a teoria
(3) o sujeito lacaniano não se refere a uma totalidade, ao contrário, ele exige uma
Se, por outro lado, Lacan precisasse responder aos filósofos que não consideram a
relevância de uma teoria do sujeito, talvez ele pudesse propor a Heidegger sua
fim de mostrar que o que é categoria da ideologia não é o sujeito, mas, ao contrário,
responder que concorda que o sujeito esteja no limite do mundo, isto é, no limite da
linguagem. Mas estando nesse limite, nessa fronteira, ficaria em contato com duas
extremidades. Assim, por um lado, uma teoria do significante seria suficiente para
descrever o sujeito em sua fronteira “interna”. Quanto ao que estaria fora dos
proposicional da linguagem.
Mas é preciso mostrar que esta teoria do sujeito está fortemente relacionada à
estrutura está pressuposto, ou melhor, está em ação, como diria Jacques-Alain Miller,
durante toda esta démarche. Na verdade, sem a estrutura talvez Lacan não pudesse
análise do texto que Lacan escreveu para criticar a concepção de estrutura defendida
negligenciaria, segundo Lacan, um modo de estrutura que, “por ser terceiro, não
estruturalismo aquilo que nos permite situar nossa experiência como o campo em
já que opera nela não como modelo teórico, mas como a máquina original que nela
significante na realidade onde ela se produz”. 9 No seminário sobre o Ato psicanalítico, Lacan
uma ‘estrutura aparente’ ou ‘empírica’; (ii) outra como “um sistema de relações entre
formações que não são diretamente observáveis”, isto é, uma ‘estrutura como
estrutura vista como um modelo teórico que se impõe a formações não diretamente
psicanalítica” estaria mais conforme a esta última estrutura. Para Lagache, “Freud
9 Idem, ibid.
10 LACAN, O ato psicanalítico, S: XV, 211 [13/03/1968].
11 LAGACHE, D., “La psychanalyse et la structure de la personnalité”, Œuvres IV, p. 192.
analítica no sentido mais amplo do termo e não uma construção puramente
artificial”12.
Mas uma interpretação personalista - como a que propõe Lagache - teria que superar
em admitir que a primeira tópica freudiana seria mais naturalista, dada sua inspiração
verve fisiológica de Freud. Tampouco hesita em assinalar que a segunda tópica, com
como a seguinte: “acontece com cada um dialogar consigo mesmo, e estes diálogos
vista fisiológico. Assim, seria preciso recusar qualquer interpretação que, por
como elemento, digamos, da natureza. Lagache recusa, com veemência este modelo:
concepção antropomórfica. Uma visão que também deve ser recusada, porquanto
Lagache chega a afirmar que “antes de existir nela mesma, por ela mesma e para ela
projetos, de atributos. (...) Isto é no fundo o que Freud nos legou dizendo que o
Supereu se formaria não tanto pela identificação com os pais, mas pela identificação
com a imagem idealizada pelos pais e com o supereu dos avós. O sistema supereu-
é, em grande parte, saber como este modelo se incorpora à existência individual” 15.
Mas isso, na visão de Lacan, não passa de uma coleção de truísmos, se não se
inconsciente da criança. Para Lacan, e não é difícil adivinhar, este meio só pode ser
a linguagem: “um pólo de atributos, eis o que é o sujeito antes de seu nascimento
(...) de atributos, isto é, de significantes mais ou menos ligados num discurso” 16. O
14 Idem, p. 199.
15 Idem, p. 200.
16 LACAN, J., Observação..., E: 659 [652].
fato de Lagache se apoiar na intersubjetividade mostra que “seu método não é
e a máquina.
dado, quer seja um ‘empirismo’ que tomasse a estrutura como algo diretamente
estrutura, vale insistir, uma saída seja ao naturalismo, seja ao psicologismo. Propõe então
uma estrutura, melhor, um modo da estrutura, que opera como máquina. Uma
natureza, acrescentaríamos.
outro significante”19. Mas o sujeito não é apenas isso. Para definir corretamente o
sujeito não podemos negligenciar uma das mais vivas contribuições de Freud - a
pulsão - e sua retomada por Lacan: o objeto a. O objeto a seria este objeto virtual,
paradoxal que faz com que uma parcela de nosso desejo continue insatisfeito
Freud’. Mas esta abordagem, apesar de necessária, não é suficiente. Não é suficiente
daquela teoria. Mas é necessária porque mostra, de uma maneira muito simples, que
Aquele “modo muito especial do sujeito” de que nos fala Lacan em A ciência e a
verdade comporta duas vertentes. Um sujeito definido, de um lado, por sua divisão e,
de outro lado, pelo lugar fundamental que o desejo, ou seu resto, o objeto a vem
e dialética do desejo no inconsciente freudiano (1960). Um deles pode ser derivado, como
outro significante”. A reversão desta definição nos apresenta pelo menos uma
separação do sujeito e seu ser. Do ponto de vista teórico, esta separação decorre da
Mas, afinal de contas, qual é a remarque, a observação, no singular, que Lacan quer
fazer a Lagache? Qual é a observação que ele faz nessa longa crítica e que pode
servir para nós, hoje? Talvez seja possível resumir mais ou menos assim o quadro:
Psicanálise com a psicologia... Desconheça (1) que é a estrutura quem põe em cena o
sujeito e (2) que quem fala pelo sujeito é o isso e você desconhecerá de onde isso fala.
desejo, o que se escreve: a (e que se não confunda o sujeito com sua máscara, para
se não pensar que a designa o outro especular ou, até mesmo, o eu do analista). Uma
posição ética.