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TEMAS DE DIREITO E ECONOMIA

SÉRIE PERSPECTIVAS JURÍDICAS DO DESENVOLVIMENTO


Nº 6 | Ano 2017

TEMAS DE DIREITO E ECONOMIA

Organizadores

Yanko Marcius de Alencar Xavier


Fabrício Germano Alves
Patrícia Borba Vilar Guimarães
Luiz Felipe Monteiro Seixas
Cristiane de Figueiredo Pinheiro

Edição do Autor

Natal, 2017
Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Temas de direito e economia / Yanko Marcius de Alencar Xavier... [et al] (Orgs.). – Natal, RN:
UFRN, 2017.
311 p. – (Série perspectivas jurídicas do desenvolvimento ; n. 6).

ISBN 97885-919439-2-1

1. Direito. 2. Economia. 3. Desenvolvimento. I. Xavier, Yanko Marcius de Alencar. II.


Alves, Fabrício Germano. III. Guimarães, Patrícia Borba Vilar. IV. Seixas, Luiz Felipe Monteiro.
V. Pinheiro, Cristiane de Fugueiredo. VI. Título.

RN/BS/CCSA CDU 34.330

As opiniões externadas nas contribuições deste livro são de exclusiva responsabilidade de seus autores.
SUMÁRIO

Incentivos fiscais, desenvolvimento econômico e redução das


desigualdades sociais e regionais: uma abordagem sob a perspectiva
da Análise Econômica do Direito............................................................13

Luiz Felipe Monteiro Seixas


Yanko Marcius de Alencar Xavier

O princípio do poluidor-pagador: dos modelos econômicos a um


princípio ambiental universal.....................................................................31

Roberto Muhájir Rahnemay Rabbani

Dinâmica das regras econômicas e jurídicas nos contratos


de concessões de serviços públicos......................................................65

André Castro Carvalho

Megaeventos: entre o direito e desenvolvimento e o


desenvolvimento legal..................................................................................89

Túlio de Medeiros Jales


A proteção contratual ao consumidor e o sistema
financeiro..................................................................................109

Rafaela de Souza Nóbrega

Direitos de propriedade intelectual e a economia da obtenção de lucros


da inovação tecnológica: as contribuições de David Teece................123

Pablo Georges Cícero Fraga Leurquin


Fabiano Teodoro de Rezende Lara

Teoria dos jogos aplicada à guerra fiscal: restrição no


poder de barganha dos estados decorrente da influência
normativa..................................................................................141

Roberto Gomes de Albuquerque Melo Júnior

Análise da utilização do marketing de guerrilha e de


emboscada como estratégia para superar a concorrência nos
megaeventos...............................................................................165

Fabrício Germano Alves


Patrícia Monteiro

A tributação como fator para a redução das desigualdades


sociais e regionais......................................................................................183

Luiz Dias Martins Filho


Daniel Rocha Chaves
A contratação integrada no Regime Diferenciado de Contratação:
inadequação da teoria da imprevisão como critério para o reequilíbrio
econômico financeiro do contrato.........................................................197

Marcos Antônio Rios da Nóbrega

A política nacional sobre mudança do clima à luz da lei n.º 12.187/09:


aspectos jurídicos e de governança..........................................................239

Raquel Araújo Lima

A teoria do enriquecimento sem causa como impeditivo da


proteçãoao consumidor: uma análise econômica do
Direito......................................................................................................255

Rafael Jubette Pinheiro


Samuel Max Gabbay

Aquisições de controle de sociedades anônimas de capital aberta e


regulação do mercado de valores mobiliários: o caso das poison pills
brasileiras......................................................................................................279

Fabrício Germano Alves


Thiago de Lucena Motta
Yanko Marcius de Alencar Xavier
Direitos de propriedade intelectual e a economia da
obtenção de lucros da inovação tecnológica: as
contribuições de David Teece

Pablo Georges Cícero Fraga Leurquin


Fabiano Teodoro de Rezende Lara

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Em 1986, David Teece publicou o artigo Profiting from technological


innovation: Implications for integration, collaboration, licensing and public policy,
que contribuiu significativamente para o estudo dos impactos das inovações
tecnológicas1 no mercado. A sua análise da gestão da inovação colaborou na
construção de concepções mais realistas da firma, contrapondo-se e aprimorando
as perspectivas teóricas mais tradicionais.
Como reconhecimento da importância dessa pesquisa, em 2006, a
Research Policy, revista na qual foi publicada o referido trabalho, organizou uma
edição especial de comemoração dos 20 anos de sua publicação. A relevância
daquele artigo se confirma ao saber que, em julho de 2006, ele era o mais citado dos
que já foram publicados pela revista, com um total de 681 citações naquela época.

1 Uma inovação só é completada quando existe transação comercial do novo produto, sistema de
processo ou artefato. De acordo com a literatura neo-schumpeteriana, esse conceito se difere da
invenção, que é uma ideia, esboço ou modelo de um novo ou melhorado artefato, produto ou sistema
(não há o requisito da transação comercial nesse caso). FREEMAN, Chris e SOETE, Luc. A economia
da inovação industrial. Campinas: Editora da Unicamp, 2008, p. 26.

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SÉRIE PERSPECTIVAS JURÍDICAS DO DESENVOLVIMENTO

Isso se deve à perspectiva interdisciplinar que o autor conferiu à abordagem do


tema da inovação, o que acabou garantindo uma dimensão mais ampla do assunto2.
Nesse contexto, o presente artigo tem como objetivo analisar as
contribuições e a atualidade do artigo de David Teece de 1986, especialmente
no que tange ao debate relacionado aos direitos de propriedade intelectual. Foi
realizada pesquisa teórica que se ancora no diálogo entre o artigo da década de
oitenta e alguns autores que publicaram na edição especial da Research Policy de
2006 (vol. 35, nº 8), dentre eles o próprio Teece.
O presente trabalho foi, portanto, dividido em duas seções. Na primeira,
serão abordados os principais aspectos do artigo de 1986, evidenciando, sobretudo,
a visão do autor sobre a importância dos ativos complementares na obtenção de
lucros com a inovação e sua interface com os regimes de apropriabilidade. Na
segunda, fundamentalmente a partir dos artigos de Gary Pisano, Giovani Dosi,
Luigi Marengo, Corrado Pasquali e Richard Nelson publicados na Research Policy,
vol. 35, nº 8, (2006), serão expostas as conclusões destes autores e de outros no
que tange à aplicação da teoria Profiting from Innovation (PFI) sobre os regimes
de apropriabilidade, sob a luz das mudanças contemporâneas na natureza da
propriedade intelectual.

2 O ARCABOUÇO TEÓRICO DA PFI PARA DEFINIR QUEM OBTÉM


LUCRO COM A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

O artigo de David Teece (1986) apresenta os seguintes itens: introdução;


descrição do fenômeno a ser estudado; exposição das formas de lucrar com
a inovação, ou seja, a definição dos “blocos de construção básicos”; estudo das
implicações dos conceitos desenvolvidos para a lucratividade; esboço das questões
relacionadas aos canais estratégicos; reflexões sobre as implicações dos conceitos
para pesquisa e desenvolvimento, estrutura da indústria e políticas de comércio; e,
finalmente, suas conclusões.

2 CHESBROUGH, Henry; BIRKINSHAW, Julian; TEUBAL, Morris. Introduction to the Research


Policy 20th anniversary special issue of the publication of “Profiting from Innovation” by David J.
Teece. Research Policy, v. 35, n. 8, 2006, p. 1091.

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TEMAS DE DIREITO & ECONOMIA

2.1 OS BLOCOS DE CONSTRUÇÃO BÁSICOS DE SUA TEORIA

A proposta do artigo Profiting from technological innovation: Implications


for integration, collaboration, licensing and public policy, de David Teece (1986), foi
explicar por qual motivo as firmas que lançam a inovação no mercado podem perder
na obtenção de lucros daquelas que são seguidoras. O autor traz como exemplo
a empresa Electrical Musical Industries (EMI), que teve inicialmente sucesso com
seu scanner CAT. Entretanto, após seis meses do lançamento do seu produto no
mercado, ela perdeu a liderança e, após oito anos, saiu completamente do negócio
de scanners CT. Além desse caso, o autor destaca a situação da RC Cola, que foi a
primeira a introduzir refrigerante em lata e o diet cola, mas perdeu a obtenção de
significativas vantagens de sua inovação pela entrada quase imediata da Coca Cola
e da Pepsi3.
Para entender esse fenômeno, David Teece identifica três blocos básicos
de construção de sua teoria: o regime de apropriabilidade, o paradigma do projeto
dominante e os ativos complementares.
O regime de apropriabilidade é o conjunto de fatores ambientais,
sem contar a firma e a estrutura de mercado, que conferem a capacidade do
inovador de se apropriar dos lucros gerados por uma inovação. Destaca-se que o
conhecimento tácito é mais difícil de transmitir, uma vez que ele é mais complicado
para ser articulado, a não ser nos casos em que haja know-how. O conhecimento
codificado, por sua vez, é mais fácil de repassar e, por via de consequência, é mais
exposto à espionagem industrial. Nesse contexto, o autor afirma que o regime de
apropriabilidade será rígido quando a tecnologia for relativamente fácil de proteger
e será fraco quando a tecnologia é quase impossível de proteger4.
O paradigma do projeto dominante relaciona-se à maturidade científica
e à unificação dos padrões nos quais a “ciência normal” será conduzida. Nesse
sentido, o estágio paradigmático começa quando um corpo de teorias passa a ser
aceito cientificamente. Segundo o autor, quando o projeto dominante se revela, a
concorrência muda do projeto para o preço, de maneira que a competição se dá em
uma outra dimensão de variáveis. Isso decorre da necessidade de abaixar os custos
unitários com economias de escala e aprendizado, com vistas a utilizar com mais
ênfase o capital especializado.

3 TEECE, David J. Profiting from technological innovation: Implications for integration,


collaboration, licensing and public policy. Research Policy, v. 15, n. 6, 1986, p. 286.
4 Ibid., p. 287.

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SÉRIE PERSPECTIVAS JURÍDICAS DO DESENVOLVIMENTO

Os ativos complementares são aqueles exigidos para a obtenção do mínimo


custo de produção e distribuição, que variam em três modalidades de acordo com
a sua especialização em relação à inovação. Em outras palavras, para Maria Tereza
Leopardi Mello, são o conjunto de ativos e capacitações necessários para que a
firma explore comercialmente uma invenção5. Se ela não tiver controle dos mesmos
poderá correr o risco de perder parcela dos ganhos para os competidores. O primeiro
tipo deles, os genéricos, são aqueles que têm propósitos gerais e não precisam se
adequar à inovação específica. O segundo, os especializados, são decorrentes de
uma dependência unilateral entre inovação e o ativo complementar. O terceiro e
último, os co-especializados, são os caracterizados por dependência bilateral.
A partir desses conceitos, passa-se à articulação que o autor explora entre
eles para entender as implicações para a lucratividade e, consequentemente, nas
formas de acesso aos ativos complementares.

2.2 AS IMPLICAÇÕES PARA A LUCRATIVIDADE E AS ESTRATÉGIAS


DE ACESSO AOS ATIVOS COMPLEMENTARES

Nos casos de regime de apropriabilidade rígido, ou seja, nas situações nas


quais as patentes ou direitos autorais realmente são capazes de proteger a inovação,
o inovador tendencialmente estará seguro de que poderá traduzir a sua inovação
em valor de mercado por algum tempo. Isso vale inclusive nos casos em que haja
dependência de outra firma para ter acesso aos ativos complementares.
De acordo com David Teece, nos casos em que os ativos são genéricos,
o inovador pode licenciar a sua tecnologia, sendo um ambiente viável para firmas
especializadas em P&D. Por outro lado, se os ativos forem especializados ou co-
especializados, ele pode achar mais confiável integrá-los. Na situação descrita,
quando o inovador coloca no mercado um produto com projeto errado, mas com
um conceito sólido, ainda na fase pré-paradigmática, ele terá tempo necessário para
adequar o projeto6.
Nas situações em que a apropriabilidade é fraca, ou seja, as situações mais
comuns, os inovadores têm que se voltar às estratégias de negócio se objetivarem
posição superior no processo competitivo. Nesses casos, durante a fase pré-

5 MELLO, Maria Tereza Leopardi. Propriedade Intelectual e Concorrência. Revista Brasileira de


Inovação, 8 (2), 2009, p. 384.
6 TEECE, David J. Profiting from technological innovation: Implications for integration,
collaboration, licensing and public policy. Research Policy, v. 15, n. 6, 1986, p. 290.

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TEMAS DE DIREITO & ECONOMIA

paradigmática, os ativos complementares não se destacam muito e, como foi dito,


a concorrência volta-se a tentar identificar qual será o projeto dominante. Dessa
forma, é problemático quando a firma, nessa etapa, apresenta apenas um projeto,
ou, em outras palavras, há vantagem clara da firma quando, existem múltiplos
protótipos7.
Isto posto, quando se trata da fase paradigmática nos regimes de
apropriabilidade fraco, os ativos complementares são essenciais na dinâmica
concorrencial. Dessa maneira, o autor afirma que, quando a competição se volta
ao preço e à tecnologia principal é fácil de imitar, o sucesso comercial depende
das condições e termos de acesso aos ativos complementares. Em especial, os
ativos especializados e coespecializados, pois envolvem alto risco para a parte
que faz o investimento específico. Assim sendo, as empresas que dominam
ativos especializados, como canais de distribuição ou capacidade de manufatura
especializada, por exemplo, posicionam-se de maneira vantajosa no mercado. Os
ativos genéricos, por sua vez, sempre estarão disponíveis em uma indústria e, se não
estiverem, não representam irreversibilidades significativas.
Dessa maneira, o acesso a esses ativos é central no debate de apropriação
dos lucros da inovação. Dentre as possibilidades, têm-se dois extremos, o primeiro
é integrar complemente o acesso a eles e o segundo é por via contratual. A solução
contratual tem como vantagem a desnecessidade de investimento na linha de frente
para construir ou adquirir esses ativos, o que acaba reduzindo os riscos. Além disso,
como ocorreu com a Microsoft e a IBM, essas relações contratuais podem aumentar
a credibilidade do inovador, ainda mais quando ele for relativamente desconhecido
e o parceiro contratual for firma estabelecida no mercado, como era a IBM8.
Os riscos das soluções contratuais são relevantes, especialmente ao
inovador, pois será difícil conseguir que os fornecedores realizem compromissos
irreversíveis que são dependentes do sucesso da inovação. Sendo assim, se por um
lado o inovador tenderá a exagerar o valor da inovação, por outro o fornecedor
buscará assimilar a tecnologia, se ela for bem-sucedida.

7 O autor ilustra essa situação com o fato de nenhum produtor de carro a vapor ter sobrevivido ao
surgimento dos motores de combustão. TEECE, David J. Profiting from technological innovation:
Implications for integration, collaboration, licensing and public policy. Research Policy, v. 15, n. 6,
1986, p. 291.
8 TEECE, David J. Profiting from technological innovation: Implications for integration,
collaboration, licensing and public policy. Research Policy, v. 15, n. 6, 1986, p. 293.

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SÉRIE PERSPECTIVAS JURÍDICAS DO DESENVOLVIMENTO

O acesso aos ativos complementares por intermédio da integração


se justifica quando o inovador estiver apto a capturar os benefícios de spillover,
decorrentes do aumento da demanda de ativos complementares vinculados àquela
inovação. Sendo assim, quando o regime de apropriabilidade for fraca, os inovadores
necessitam definir o grau de importância dos ativos complementares de maneira
que a integração se justifica quando eles forem críticos.
Dessa maneira, quando os inovadores criam produtos que possuem
uma fraca proteção da propriedade intelectual, mas que necessitam de capacidades
especializadas complementares, maior é a tendência de eles manejarem a tecnologia
no intuito de obter maior vantagem comercial, no lugar de vê-la ganhar mercado
por intermédio dos imitadores.
Em consonância com o exposto, no entendimento de Maria Tereza
Leopardi Mello, a patente sobre um novo produto não garante, por si só,
vantagem competitiva ou posição de monopólio. Na realidade, ela colabora com a
perpetuação da vantagem já obtida, pois dificulta a difusão da inovação originária9.
A autora frisa ainda que os efeitos dos direitos de propriedade intelectual mudam
de acordo com o setor em análise, conforme as características do mercado e dos
fatores relacionados à tecnologia10.
David Teece afirma ainda que, no mundo real, as decisões são mistas;
envolvem combinações judiciosas de integração e contratação. Ele utiliza como
exemplo a convergência das tecnologias de computação e telecomunicação, uma
vez que as firmas nessas indústrias perceberam que faltam capacitações técnicas
necessárias umas às outras.
No artigo em questão, fez-se análise dos casos do scanner CAT, do IBM
PC e da NutraSweet. Entretanto, não é objetivo do presente trabalho retomar esses
pontos. Passa-se agora ao refinamento da teoria que foi proposto pelo próprio
David Teece em seu artigo de 2006.

9 MELLO, Maria Tereza Leopardi. Propriedade Intelectual e Concorrência. Revista Brasileira de


Inovação, 8 (2), 2009, p. 387.
10 A literatura de pesquisas empíricas que questiona as patentes enquanto mecanismo perfeito de
apropriação é vasta. Richard Nelson afirma que as patentes são efetivas em duas indústrias, a de
composição química e a de aparelhos. NELSON, Richard. What is “commercial” and what is “public”
about technology, and what should be? ROSENBERG, N.; LANDAU, R.; MOWERY, D (Org.)
Technology and the wealth of nations. Stanford: Stanford University Press, 1992. Ver também: LEVIN,
R.; KLEVORICK, A.; NELSON, R.; WINTER, S. Appropriating the returns from industrial
research and development. Brookings papers on economic activity, v. 3, 1987.

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TEMAS DE DIREITO & ECONOMIA

2.3 O REFINAMENTO DA TEORIA PROPOSTO POR DAVID TEECE

Os objetivos do artigo de David Teece, Reflections on “Profiting from


Innovation”, publicado em 2006, são apresentar o quadro teórico do artigo de
1986, identificar e revisar os fundamentos dessa teoria. Com isso, ele pretendeu
reconhecer as suas contribuições, mas também propor alguns avanços da mesma.
Inicialmente, o autor afirma que teoria schumpeteriana da firma
compreende que a grande empresa, por ter significativa parcela de mercado, é
mais apta a capturar os lucros provenientes da inovação. Entretanto, Schumpeter
não explorou os motivos pelos quais isso ocorre. Como sequência dessa tradição
de pensamento, vários trabalhos posteriores se propuseram a realizar estudos
empíricos que se restringiam à fixação da estrutura de mercado como proxy de
poder de mercado. Dessa forma, a relação entre estrutura de mercado e inovação se
manteve nos moldes propostos pelo autor11.
Diante disso, David Teece considera que a teoria da obtenção de lucros
da inovação tecnológica (PFI) representa uma quebra da tradição da organização
industrial. Isso decorre do fato dela trabalhar com a hipótese de que o sucesso
da inovação está mais relacionado à estrutura de ativos complementares, à
administração das decisões no tempo de entrada no mercado e das estruturas
contratuais empregadas para acessar os ativos complementares, do que precisamente
da cota de mercado do inovador.
David Teece afirma que o seu interesse não foi entender os fundamentos
do sucesso do inovador, mas sim a capacidade dele capturar ou não parcelas
significativas do lucro disponível a partir de uma inovação.
A partir disso, pode-se identificar a sua obra dentro da tradição neo-
schumpeteriana, na medida em que critica, a partir de uma releitura da obra de
Schumpeter, alguns fundamentos ortodoxos da economia. Uma das principais
revisões é no próprio conceito de concorrência, que deve deixar de ser vista como
um mecanismo de mercado via preços, nem como um conjunto de precondições
estruturais e comportamentais que viabilizam equilíbrio competitivo e nem como
um processo de ajustamento, de maneira a eliminar desvios de uma trajetória de
equilíbrio. Conforme Mario Possas identifica, a concorrência deve ser entendida
como um processo de apropriação privada de lucros das firmas envolvias, que não

11 TEECE, David J. Reflections on “Profiting from Innovation”. Research Policy, v. 35, n. 8, 2006,
p. 1132.

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SÉRIE PERSPECTIVAS JURÍDICAS DO DESENVOLVIMENTO

tem como pressuposto nenhuma posição de equilíbrio. O desequilíbrio é, portanto,


a norma que resulta dos esforços deliberados e generalizados de diferenciação entre
os agentes econômicos para obter lucros monopolísticos12.
Em seu artigo de 2006, David Teece propõe alguns refinamentos, que se
traduzem em reformulações nos fluxogramas do artigo de 1986. Dentre eles, pode-
se destacar que hoje muitas tecnologias são sistêmicas e sua comercialização exige a
reunião de tecnologias complementares, bem como de patentes complementares.
Além disso, em 1986 houve um relativo descaso com a questão da
infraestrutura de suporte, ou seja, não se deu a devida atenção aos impactos de
novas instituições, leis e da provisão de ativos complementares que podem ser
necessários para que certas inovações sejam desenvolvidas. O autor cita o caso da
Bell Laboratories, que foi pioneira na tecnologia de celulares e que ela poderia
não ter alcançado êxito se o Governo Federal não tivesse viabilizado espectro
eletromagnético de transporte de sinais sem fio13.
Por fim, o ele indica que a maior fraqueza da teoria é a ausência
de profundidade na análise da importância de como o modelo de negócios foi
delineado. A arquitetura do produto ou serviços e o modelo de negócios são
importantes porque definem de que maneira a empresa agrega valor aos clientes e
os seduz.
Dessa maneira, em resumo, ele entende que é crucial a análise dos
seguintes questionamentos: (1) que tecnologias e recursos estão sendo incorporado
no produto e serviço? (2) como as receitas e estrutura de custos de uma empresa
são “desenhadas” e se necessário “redesenhadas” para satisfazer as necessidades
dos clientes? (3) que maneira as tecnologias produzidas são montadas; (4) qual a
identidade dos segmentos de mercado em questão? (5) quais mecanismos e maneiras
pelos quais o valor da inovação será capturado? Ou seja, coloca-se em evidência a
capacidade da empresa em criar, ajustar e remodelar os modelos de negócios são
importantes para o seu sucesso.
A partir desses apontamentos, parte-se para a opinião de outros autores
sobre a importância do artigo de 1986, evidenciando aqueles que problematizam

12 POSSAS, Mario Luiz. Eficiência seletiva: uma Perspectiva Neo-Schumpeteriana Evolucionária


sobre Questões Econômicas Normativas. Revista de Economia Política, v. 24, n. 1 (93), 2004, p. 90.
13 TEECE, David J. Reflections on “Profiting from Innovation”. Research Policy, v. 35, n. 8, 2006,
p. 1140.

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TEMAS DE DIREITO & ECONOMIA

a contemporânea natureza da propriedade intelectual e os novos desafios que essa


situação coloca.

3 A ATUALIDADE DA PFI A PARTIR DA ANÁLISE DAS


MUDANÇAS CONTEPORÂNEAS NA NATUREZA DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL

Gary Pisano, Giovani Dosi, Luigi Marengo, Corrado Pasquali e Richard


Nelson, dentre outros, também publicam no volume 35, nº 8, da Research Policy,
interessantes reflexões a partir do artigo seminal de Teece.

3.1 A MANUTENÇÃO DO QUADRO FÁTICO: OS INOVADORES


NEM SEMPRE OBTÉM OS LUCROS SUBSTANCIAIS DE SUA
INOVAÇÃO

Gary Pisano publicou o artigo Profiting from innovations and the


intellectual property revolution, no vol. 35, nº 8, da Research Policy de 2006, e trouxe
importantes apontamentos sobre a PFI e a natureza da propriedade intelectual na
atualidade. Um dos seus principais pontos é construir o argumento que o regime
de apropriabilidade, nos dias de hoje, é produto de estratégias conscientes da firma
e não são dados pelo ambiente externo, ou seja, não é mais exógeno, como ocorria
quando artigo de David Teece foi publicado na década de 1980.
Segundo o autor, fenômenos como software open source e formas de
partilha deliberada de propriedade intelectual estão sendo cada vez mais utilizada
com fins lucrativos pelas empresas. O que recoloca no centro do debate o impacto
da proteção da propriedade intelectual na velocidade e direção da inovação.
Entretanto, o autor defende que o fenômeno descrito pela PFI continua
existindo. O que se percebe, por exemplo, no fato da primeira geração de fabricantes
de computadores ter desaparecido do mercado. A própria IBM, que não foi a
primeira a se lançar, recentemente saiu desse mercado, vendendo o negócio de
computadores à empresa chinesa Lenova. Outro caso é o da Apple, que inventou a
interface gráfica do usuário, mas foi a Microsoft Windows que dominou o mercado
de computadores. Além disso, a Merck que foi a pioneira nos medicamentos de
diminuição de colesterol (Zocor), mas foi a Pfizer que alcançou a posição dominante
no mercado com o Lipitor. O autor ainda cita os casos da Excite e Lycos que foram

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SÉRIE PERSPECTIVAS JURÍDICAS DO DESENVOLVIMENTO

os primeiros reais mecanismos de procura na internet, mas eles perderam para o


Yahoo, que em seguida deu lugar ao Google14.
Dessa maneira, o que se percebe é que a manutenção da estratégia de
chegar primeiro no mercado, que vem desde a década de 1970, continua tendo o
seu sucesso vinculado ao acesso de ativos complementares especializados, sobretudo
nos regimes de fraca apropriabilidade. Por outro lado, como já foi dito, reafirma-se
a constatação que nos casos em que a apropriabilidade é rígida, com uma estreita
faixa de capacidades a empresa consegue capturar os retornos, o que confere a
possibilidade da empresa se especializar. Para compreender a atualidade da PFI, faz-
se necessário averiguar como a propriedade intelectual está inserida na economia
contemporânea e, para isso, é preciso entender os impactos da “digitalização”.

3.2 O IMPACTO DA “DIGITALIZAÇÃO” NA LÓGICA DA


PROPRIEDADE INTELECTUAL

Um dos mais importantes fatores que remodelam as condições da


concorrência no domínio da inovação é o impacto da “digitalização”. Esse
fenômeno está relacionado ao que ocorreu ao longo da última década em que
vários produtos (telefones, câmeras, televisores, sistemas de música, distribuição
de música, entretenimento etc.) deixaram de se basear em tecnologias mecânicas,
ópticas e analógicos e foram transformadas através da aplicação das tecnologias
digitais15.
Além de mudar a tecnologia de produtos, esse processo teve dois
impactos críticos sobre a paisagem da inovação. Primeiro, ele alterou o local da
inovação, pois mais funcionalidades são incorporadas em chips, ou seja, a inovação
ocorre cada vez mais nos componentes digitais do sistema. Nesse sentido, conforme
Gary Pisano aduz, cada vez mais, o sistema é o chip e o chip é o sistema. Em
segundo lugar, como a chave da propriedade intelectual se desloca para o sistema de
chip, a distribuição das rendas de inovação se afasta de produtos finais tradicionais
para os inovadores em chips. Isso aconteceu inicialmente nos computadores com
a emergência dos padrões do Windows e Microsoft, mas continuou em outros
mercados como televisores, celulares e câmeras digitais.

14 PISANO, Gary. Profiting from innovations and the intellectual property revolution. Research
Policy, v. 35, n. 8, 2006, p. 1123.
15 Ibid., p. 1127.

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TEMAS DE DIREITO & ECONOMIA

Diante disso, o autor afirma que o quadro teórico proposto pela PFI
ainda permite considerar o tipo de estratégias que pode ou não ser apropriadas no
contexto da “digitalização”. Antes dela, a concorrência de inovação centrava-se em
torno do alto nível de projeto de sistema. Sendo assim, produtores inovavam com a
criação de projetos originais a partir da combinação de componentes proprietários
e não proprietários. Nesses contextos, os sistemas podiam ser compreendidos por
engenharia reversa e as rendas acabavam fluindo horizontalmente. Como maiores
funcionalidades deslocadas para os chips, as empresas fornecedoras dessa tecnologia,
frequentemente especializadas, como a Intel ou Qualcom, capturaram uma parte
crescente das rendas da inovação no nível do sistema.
Pode-se concluir, então, que os chips (com o software incluso) tornaram-
se o principal ativo coespecializado da atualidade. Dada a natureza dessa tecnologia,
esses projetos podem ser bem protegidos por patentes, o que influenciou fortemente
para os produtores do sistema não capturarem mais as rendas da inovação. De
acordo com a lógica da PFI, a melhor alternativa para o produtor de sistema, nesse
caso, é investir em outros ativos coespecializados, como marketing e distribuição.
Foi exatamente esse movimento que ocorreu na indústria de computadores,
como nos casos da Dell e da Microsoft que ganharam o controle do retorno dos
computadores, enquanto outros produtores se reduziram a fornecer produtos de
base. Entretanto, só a Dell conseguiu manter os seus altos lucros, o que se deve ao
sucesso da sua estratégia de distribuição.
Diante desse contexto, o autor acrescenta o raciocínio que os regimes
de apropriabilidade não são mais determinados de maneira exógena, dada a
confluência de forças legais e da própria tecnologia. Pelo contrário, ele sugere que
eles são influenciados pelos comportamentos e estratégias das próprias empresas,
de maneira endógena. O que leva, em alguns casos, as empresas a tomarem suas
posições em ativos complementares como dados e, em seguida, tentar moldar o
regime apropriabilidade para otimizar o valor desses ativos. Para confirmar a sua
hipótese, o autor utiliza dois exemplos, o campo da genomics e dos softwares de
código aberto.
No que tange ao primeiro campo, Gary Pisano afirma que, em setembro
de 1994, a Merck anunciou que iria criar um banco de dados de sequência de
gene humano, para ser disponibilizado em domínio público, em colaboração com
a Universidade de Washington. O objetivo declarado deste esforço foi estimular a
investigação biomédica. Além desse argumento altruísta, é importante destacar que

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SÉRIE PERSPECTIVAS JURÍDICAS DO DESENVOLVIMENTO

há um motivo estratégico por trás dessa atitude, qual seja, prevenir a privatização
de genes que possam bloquear pesquisas futuras16.
Em essência, a Merck visava a manter o regime de apropriabilidade
“frouxo”. Em discussões sobre estratégia IP, geralmente se entende que empresas
privadas sempre desejam um regime apropriabilidade “apertado”. No entanto, visto
através das lentes da teoria de ativos complementares e da PFI, identificam-se falhas
nesta lógica. Uma empresa com muito fortes ativos complementares “a jusante”
pode ter fortes incentivos estratégicos para tornar fraca a proteção de propriedade
intelectual “a montante”, objetivando impedir o afastamento de oportunidades. Isso
decorre de conclusão já apresentada, o valor dos ativos complementares aumenta
quando o regime de apropriabilidade é fraco.
O campo dos softwares de código aberto refere-se ao desenvolvimento de
software com o código fonte disponível publicamente. O objetivo é possibilitar que
outros desenvolvedores colaborem na construção deles, como ocorre com a Linux
e Apache, que são as mais conhecidas, apesar de existir diversos outros exemplos.
O desenvolvimento de software tradicional seguiu o modelo que se vê
em outras indústrias: após a inovação, faz-se tudo que for possível para proteger os
projetos da imitação, seja através de mecanismos legais (direitos autorais e patentes)
ou mesmo por sigilo (recusando a tornar o código fonte disponível). Com os
códigos abertos, a lógica é oposta, pois diversos desenvolvedores contribuem com
o código, que pode ser usado livremente. Em síntese, essa lógica permite criar uma
base compartilhada de tecnologia.
A emergência da Linux, que segue essa lógica, representa claramente
uma ameaça ao negócio de sistema operacional do servidor da Windows. Apesar
disso, algumas empresas, como a IBM, abraçaram a ideia de código aberto e
tem a promovido. Nesse sentido, descobrir como as empresas respondem a essa
estratégia, em parte, depende da posição delas quanto aos ativos coespecializados.
Um enfraquecimento do regime apropriação através do aparecimento de sistemas
operacionais de código aberto pode ser benéfico a empresas com fortes posições de
ativos como aplicativos, hardware e serviços, por exemplo.
Ou seja, como o sistema operacional do servidor torna-se uma mercadoria,
o locus da captura de valor nos turnos da cadeia de inovação para baixo, “a jusante”.
Portanto, pode ser do interesse de empresas com posições fortes em ativos

16 PISANO, Gary. Profiting from innovations and the intellectual property revolution. Research
Policy, v. 35, n. 8, 2006, p. 1128.

134
TEMAS DE DIREITO & ECONOMIA

complementares para enfraquecer de forma proativa o regime de apropriabilidade


“a montante”17.

3.3 O AUMENTO DA QUANTIDADE DE PATENTES, O PROGRESSO


ECONÔMICO E OS REGIMES DE APROPRIABILIDADE

Uma preocupação presente na edição especial da Research Policy, vol.


35, nº 8, de 2006, é com o grande crescimento na quantidade de patentes e sua
relação com o avanço tecnológico. De acordo com dados trazidos por Giovani
Dosi, Luigi Marengo e Corrado Pasquali, entre 1988 a 2000, duplicou-se a
quantidade de pedidos de patentes de empresas americanas18. John H. Barton, ao
analisar esse quadro afirmou que curiosamente o número de advogados em direito
da propriedade intelectual aumentou mais rápido que a quantidade de inovação.
O autor estimou que, em 2000, se gastava em média 10 mil dólares para se obter
uma patente e cerca de 1,5 milhões por parte envolvida no processo em casos de
litígios19.
Giovani Dosi, Luigi Marengo e Corrado Pasquali levantam duas possíveis
justificativas para esse fenômeno. A primeira é que as patentes têm se tornado um
parâmetro para os investidores, mesmo antes do bem ser comercializado. A segunda
é que as patentes são consideradas como valor estratégico na medida em que podem
dissuadir a entrada de novos concorrentes20. Dessa maneira, os autores reafirmam
que as patentes são utilizadas com outras intenções que não obrigatoriamente se
vinculam com o retorno dos investimentos realizados para criar o novo produtor,
como se costuma argumentar21.

17 PISANO, Gary. Profiting from innovations and the intellectual property revolution. Research
Policy, v. 35, n. 8, 2006, p. 1129.
18 DOSI, Giovani; MARENGO, Luigi; PASQUALI, Corrado. How much should society fuel the
greed of innovators? On the relations between appropriability, opportunities and rates of innovation.
Research Policy, v. 35, n. 8, 2006, p. 1114.
19 BARTON, John. Intellectual Property Rights: Reforming the patent system.
Science. v. 287, n. 5460, 2000. Disponível em: <http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/
download?doi=10.1.1.384.9828&rep=rep1&type=pdf> Acesso em: 6 ago. 2015, p. 1.
20 DOSI, Giovani; MARENGO, Luigi; PASQUALI, Corrado. How much should society fuel the
greed of innovators? On the relations between appropriability, opportunities and rates of innovation.
Research Policy, v. 35, n. 8, 2006, p. 1115.
21 Ver também: KORTUM, S. e LERNER, J. Stronger protection or technological revolution: what
is behind the recent surge in patenting? Rochester Conference Series on Public Policy, 1998.

135
SÉRIE PERSPECTIVAS JURÍDICAS DO DESENVOLVIMENTO

Na edição especial de 2006, há também um artigo de Richard Nelson,


Reflections of David Teece’s “Profiting from technological innovation...”, no qual
ele também vai realizar algumas reflexões sobre a interface entre os regimes de
apropriabilidade, com ênfase na proteção dos direitos de propriedade intelectual,
e o progresso econômico. O seu objetivo é questionar até que ponto o regime de
apropriabilidade mais rígido leva um progresso de longo prazo a uma indústria ou
à economia como um todo.
Essas indagações dialogam com Eduardo da Motta e Albuquerque na
medida em que este afirma que os países mais distantes da fronteira tecnológica,
como é o caso do Brasil, teriam mais estímulos em legislações que valorizem a
difusão da tecnologia. Isso porque as inovações incrementais são importantes para
o avanço tecnológico é fundamental para países que busquem realizar processos de
catch up22.
Richard Nelson, em seu artigo citado, parte do pressuposto que as
empresas que inovam têm que acreditar que serão capazes de lucrar com isso.
Ademais, as empresas que têm a inovação como aspecto importante de sua estratégia
de longo prazo precisam ter uma média de lucro de tal nível que garanta sobreviver
à concorrência com empresas que não inovam. Entretanto, é preciso haver um
número de participantes no jogo para continuar com o progresso. Por essa razão,
o progresso sustentado requer que nenhuma empresa seja capaz de estabelecer o
controle sobre um vasto leque de tecnologias, de maneira forte o suficiente para
eliminar a totalidade dos seus concorrentes23.
Diante disso, o autor destaca que os custos sociais considerados para a
sociedade ter uma empresa com amplo controle duradouro sobre uma tecnologia
e sua aplicação, seja através de patentes ou dominação de um campo por outros
motivos, não devem ser entendidos como custos de perda de peso morto. Ele
propõe uma outra ótica sobre a situação, no sentindo de entender que os custos
provenientes da redução da capacidade dos concorrentes para ser inovadores
eficazes no mercado, bem como a grande probabilidade de que o controle de um
único agente, são prejudiciais porque inviabilizam ou dificultam a inovação a longo
prazo.

22 ALBUQUERQUE, E. M. Patentes segundo a abordagem neo-schumpeteriana: uma discussão


introdutória. Revista de Economia Política, v. 18, n. 4 (72), 1998, p. 80.
23 NELSON, Richard R. Reflections of David Teece’s “Profiting from technological innovation…”.
Research Policy, v. 35, n. 8, 2006, p. 1108.

136
TEMAS DE DIREITO & ECONOMIA

No mesmo sentido, propondo limites do sistema de patentes e de


proteção da propriedade intelectual, é de se observar também a proposta de Fabiano
Lara, em que se sugere alternativas jurídicas de visão do sistema vigente no Brasil24.
Também em igual sentido, mas com fundamentos mais amplos, voltados para macro
políticas de inovação e de proteção da propriedade intelectual, também se publicou
recentemente o “Law, Development and Innovation”, em que Giuseppe Bellantuono
e Fabiano Lara sustentam a existência de multiplicidade de contextos dos Estados
que ensejam a multiplicidade de conceitos de inovação e de desenvolvimento, e
apontam a necessidade de se pensar estrategicamente o regime de apropriabilidade
segundo a posição econômica e social ocupada por cada Estado25.
A preocupação de Richard Nelson, por sua vez, é com a concessão de
patentes sobre os resultados da investigação que são bastante mais “a montante”
de qualquer produto comercial ou processo de produção. Esse processo leva,
na verdade, à concessão da capacidade de controlar o acesso a entendimentos e
técnicas que fornecem os pontos de entrada para os esforços inventivos numa
ampla frente. No presente momento, esse tipo postura é proeminente em apenas
algumas áreas tecnológicas, com destaque aquelas baseadas em biologia. Mas, esse
tipo de comportamento pode ser replicado futuramente em outras áreas e isso é
bastante preocupante26.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos debates que surgiram após a publicação do artigo de David


Teece em 1986, evidencia-se que a sua teoria se mantém atualizada e muitas das
suas reflexões ainda são úteis para a compreensão da dinâmica da inovação na
atualidade. Não por acaso a Research Policy, v. 35, n. 8, de 2006, foi publicada em
homenagem à PFI, trazendo, como visto, importantes atualizações teóricas, que
confirmam a importância dessa teoria.
Nesse sentido, a partir do debate explorado por Gary Pisano, percebe-se
que o fenômeno da “digitalização” é fundamental para compreender a mudança

24 LARA, Fabiano Teodoro de R. Propriedade Intelectual: uma abordagem pela análise econômica do
Direito. Belo Horizonte: Del Rey, 2010
25 LARA, Fabiano Teodoro de R.; BELLANTUONO, Giuseppe. Introduction: Exploring Linkages.
In: BELLANTUONO, Giuseppe; LARA, Fabiano. (Org.). Law, Development and Innovation. 1. ed.
Cham: Springer, 2015, p. 1-14.
26 NELSON, Richard R. Reflections of David Teece’s “Profiting from technological innovation…”.
Research Policy, v. 35, n. 8, 2006, p.1109.

137
SÉRIE PERSPECTIVAS JURÍDICAS DO DESENVOLVIMENTO

ocorrida nos regimes de apropriabilidade. O que fica evidente, nos casos de


proteção de propriedade intelectual, que durante a década de 1980 eram ditos como
elementos externos e passaram a ser entendidos como fatores endógenos à própria
empresa, fruto de uma estratégia da mesma, que pode ser melhor compreendida se
utilizada a bagagem teórica da PFI.
Além disso, ainda no que diz respeito à propriedade intelectual, o
presente trabalho permitiu evidenciar a preocupação de Richard Nelson, Giovani
Dosi, Luigi Marengo, Corrado Pasquali com a necessidade de questionar até que
ponto ter um regime forte de propriedade intelectual colabora com o progresso
econômico. Isso se mostra ainda mais relevante ao reforçar a ideia de que a proteção
de direitos de propriedade intelectual é utilizada como forma de impedir o acesso a
técnicas que viabilizam maior desenvolvimento tecnológico.

138
REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, E. M. Patentes segundo a abordagem neo-schumpeteriana:


uma discussão introdutória. Revista de Economia Política, v. 18, n. 4 (72), 1998.

BARTON, John. Intellectual Property Rights: Reforming the patent system.


Science. V. 287, n. 5460, 2000. Disponível em: <http://citeseerx.ist.psu.edu/
viewdoc/download?doi=10.1.1.384.9828&rep=rep1&type=pdf> Acesso em: 6
ago. 2015.

BELLANTUONO, Giuseppe; LARA, Fabiano Teodoro de R. Introduction:


Exploring Linkages. In: BELLANTUONO, Giuseppe; LARA, Fabiano. (Org.).
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society fuel the greed of innovators? On the relations between appropriability,
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Editora da Unicamp, 2008.

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LARA, Fabiano Teodoro de R. Propriedade Intelectual: uma abordagem pela análise


econômica do Direito. Belo Horizonte: Del Rey, 2010.

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