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páginas 9 a 11
INSUMOS e técnicas de manejo agroecológico. páginas 12 a 26
AGROecologia
Saberes e práticas
m guia rápido
U
para desenvolver
a agroecologia em
comunidades rurais
FAMÍLIAS que mudaram do fumo para a agroecologia. páginas 30 a 37
O Cepagro é uma Organização
Não-Governamental de
Florianópolis, formada
pro agrônomos, biólogos,
educadores e comunicadores.
Desde 1990, o Cepagro trabalha
pela promoção da agricultura
ecológica no campo e na
cidade. Fazemos parte da Rede
Ecovida de Agroecologia.
CEPAGRO
Centro de Estudos e Promoção
da Agricultura de Grupo
www.cepagro.org.br
www.facebook.com/cepagro
cepagro@cepagro.org.br
(48) 3334-3176
Florianópolis, SC – Brasil
Através de cursos e
oficinas, o projeto Cepagro/
FRBL busca capacitar os
agricultores com técnicas
e práticas de manejo
agroecológico. Na foto, os
participantes da oficina sobre
canteiros elevados realizada
na propriedade da família
Luders, em Major Gercino.
AGROecologia
Saberes e práticas
BUSCANDO
alternativas
I
A experiência ncentivar a diversificação da fumicultu-
do Cepagro na ra e a agroecologia não é a mesma coi-
sa que “ser contra o fumo”. Mas é uma
diversificação
medida necessária se lembrarmos que o
agroecológica Brasil assinou um acordo com outros 180
da fumicultura países chamado Convenção-Quadro para
o Controle do Tabaco, que pretende di-
minuir os efeitos negativos do cigarro na
saúde das pessoas. Caindo o consumo de
cigarros no mundo, a demanda pela produ-
ção de fumo também vai diminuir. Por isso,
essa Convenção fala sobre o incentivo a
atividades econômicas alternativas para
Agroecologia:
Saberes e práticas 5
Agricultores,
agrônomos e
representantes do
poder público visitam a
propriedade da família
Cognacco, em Leoberto
Leal. Os Cognacco
trocaram o cultivo de
200 mil pés de fumo
pela agroecologia.
AGROECOLOGIA?
Diversidade: é comum ver
nos canteiros agroecológicos
diversos tipos de verduras
e legumes plantados juntos,
em cooperação. A produção
diversificada diminui a dependência
do agricultor em relação a apenas
uma ou duas safras e aumenta
a quantidade de seres vivos na
propriedade, contribuindo para a
saúde dos cultivos. Além disso,
é importante que os canais de
comercialização da produção
também sejam diversificados.
“
Parece que o
mundo se abriu..
A gente começou a
ver tudo de maneira
diferente.. O que
a gente achava
que só conseguia
com veneno, viu
que não precisava
daquilo. Também
aprendemos a
conviver com a
natureza.”
Amasilda Grah,
agricultora
agroecológica do
Grupo Rio Cristina
da Rede Ecovida
de Agroecologia,
Joinville (SC).
Os
herbicidas
matam as
plantas não
desejadas
por algum
tempo. Mas
logo elas ficam
resistentes a esses
produtos, exigindo o
uso de mais venenos.
O solo
descoberto
fica exposto ao
sol e à chuva,
perde umidade e
sofre erosão.
Agroecologia:
Saberes e práticas 11
SOLO DA AGROECOLOGIA
A cobertura (viva ou morta)
protege o solo da chuva e do sol
e evita a erosão. Além disso:
ajuda a reter a umidade;
manter o solo estruturado,
solto e fofo e com uma
temperatura boa para o
desenvolvimento das plantas.
Também abafa o crescimento de
ervas espontâneas (os “inços”).
A presença de minhocas,
tatuzinhos e larvas indica um
solo saudável. Junto com
estes bichinhos, moram
as bactérias e fungos que
ajudam a decompor a matéria
orgânica, fundamental para
que as plantas consigam
absorver os nutrientes.
Também colaboram no
controle de doenças, pois
mantêm o equilíbrio ecológico.
12
Agroecologia
na prática
Nas próximas
páginas, vamos
apresentar
algumas
técnicas de manejo
Agroecológico A agricultora Salete Stolarczk, de Major Gercino,
mostra ao agrônomo Guilherme Gomes seu cultivo
para manter de verduras em canteiro elevado. Antes cultivada
com fumo, agora a propriedade é certificada pela
a fertilidade Rede Ecovida. A família produz uvas, verduras,raízes
e tubérculos utilizando técnicas da agroecologia e
dos solos, da agricultura biodinâmica, como a compostagem, a
adubação verde, o controle biológico de pragas e o uso
aproveitar os de inseticidas e fungicidas naturais.
resíduos das
propriedades e O que é controle biológico?
Na natureza, qualquer animal, fungo ou bactéria
pode ter ou se tornar o inimigo natural de outro.
também para As técnicas de controle biológico aproveitam
estas inimizades entre os seres vivos para
fazer o controle reduzir a incidência de pragas e doenças na
agricultura. Um exemplo é a lagarta do cartucho
biológico de que ataca as plantações de milho, e que pode
ser combatida com uma bactéria chamada
insetos, fungos Bacillus thuringiensis (vendida como o produto
Dipel). O controle biológico ajuda, então, a
e doenças. reduzir o uso de agrotóxicos.
Agroecologia:
Saberes e práticas 13
Como montar um
canteiro elevado
Escolha
uma área que
possa ser irrigada
g
e mais plana.
O canteiro pode
ter 1,20m
de largura e
comprimento
variável,
permitindo até 4
O agrônomo Guilherme Gomes (abaixado) linhas de cultivos.
dá instruções para a construção de um canteiro
elevado de hortaliças durante oficina do projeto
Cepagro/FRBL realizada na propriedade da família
1 Bfeita
ase do canteiro:
com matéria
de Vilmar e Helena Luders, em Major Gercino. orgânica verde
(vegetação roçada
Canteiros
ou acamada).
elevados
(esterco ou cama
de aviário).
3 Espalhar
composto
(Re)construindo um solo saudável orgânico (quase
terra preta).
A 4 Cpapel
técnica dos canteiros elevados consiste obrir com
na construção de um ambiente favorável pardo, que
ajuda a manter
para o cultivo de hortaliças em locais a umidade.
onde o solo perdeu fertilidade ou ficou muito
compactado. Os canteiros elevados ajudam 5 Fcobrindo
inalizar
com
na reposição de matéria orgânica do solo, palhada seca.
aumentando sua fertilidade. A reposição da
matéria orgânica, com o uso de esterco, pa- 6 Pronto! O
lhada e composto, é o primeiro passo para a canteiro já pode
receber as
recuperação de solos degradados. mudas.
14
Adubação
Verde
Mantendo o solo
cultivado e sadio
P
roteção dos solos e
reposição da
matéria orgânica:
esses são apenas alguns
dos benefícios do uso da
adubação verde. Essa
prática agrícola consiste Após dois anos usando a adubação
no plantio alternado verde, o fumicultor Tiago Eger (à
direita), melhorou sua produção e
entre culturas de reduziu o uso de herbicidas.
interesse econômico e
outras para preservar Alguns benefícios
ou melhorar a da adubação verde
fertilidade do solo. As ornece cobertura e proteção
F
contra a chuva e o sol, evitando
plantas de adubação ressecamento e erosão;
verde podem ser de eduz a população de fungos,
R
ciclo curto ou longo. bactérias e nematóides indesejados;
Depois de acamadas ou iminui a infestação por plantas
D
espontâneas (inços);
roçadas, são mantidas
elhora a estrutura do solo,
M
como cobertura de que fica mais solto e fofo;
solo, possibilitando o roporciona um ambiente equilibrado
P
plantio direto. para o crescimento de plantas sadias.
Agroecologia:
Saberes e práticas 15
Compostagem
Transformando
C
omo vimos anteriormente, a autonomia na
produção de insumos é um dos princípios
resíduos em da Agroecologia. Isso quer dizer que os
Alguns resultados
do Pastoreio Voisin:
elhoria da qualidade do solo e da
M
capacidade de suporte da pastagem;
desenvolvido na França e que está umento da produtividade e
A
animais mais saudáveis;
baseado na divisão do pasto em
piquetes ou parcelas. Esse manejo iminuição dos custos de
D
produção, pois dispensa-se o uso
da pastagem em piquetes busca de ração como suplemento;
melhorar a captação da luz do sol nimais mais calmos e dóceis, pois
A
pela vegetação, aumentando a pro- estão convivendo mais com os
dução e a qualidade da pastagem donos, comendo um pasto de maior
qualidade e sendo menos atacados
disponível para os animais. por carrapatos, vermes e moscas.
20
A divisão da 3
Rendimento
pastagem segue animais de maior exigência
alimentar (lactação/ terminação),
algumas leis devem pastorear o maior e
melhor pasto. Os rendimentos
serão máximos se a vaca
s piquetes possibilitam que o
O não permanecer por mais de
gado tenha forragem sempre um dia no mesmo piquete.
fresca e que o solo e a
vegetação recuperem-se.
2
Permanência
Quanto menos
1 tempo os animais
ficam em cada
Repouso piquete, melhor
Entre duas pastoreadas será a produção.
no mesmo piquete, há que Para gado de leite,
passar tempo suficiente para recomenda-se que
o pasto rebrotar, crescer
Para saber
os animais fiquem 1
e armazenar reservas nas mais sobre o dia em cada piquete,
raízes. Este tempo varia entre PRV, ligue nunca mais de 3.
30 e 55 dias, dependendo para o Para gado de corte
das condições do pasto, CEPAGRO este tempo pode
do clima e do solo. (48) 3334-3176. ser de até 3 dias.
s animais de menor
O
exigência alimentar
podem ocupar os piquetes
por onde os outros animais
passaram anteriormente.
Os piquetes
são separados
com cercas
elétricas.
Materiais Como os animais mudam de
como cercas, lugar todos os dias, carrapatos
palanques e e moscas têm seu ciclo
eletrificadores quebrado, diminuindo a
geram um incidência de doenças.
custo inicial de
investimento,
mas que pode
ser recuperado
com o
aumento da
produtividade
de leite e carne.
s animais de maior
O
exigência alimentar
ocupam os piquetes
de maior pastagem.
22
Controlar pragas ou
manejar desequilíbrios?
“ E o que eu faço com o
piolho da batata salsa, se
não posso usar veneno?”,
“naturais”, é também uma
outra forma de entender a
agricultura e a relação dos
“E o que eu faço com o inço humanos com o meio
no meio das verduras?”. ambiente. Assim, vários
Estas são perguntas agricultores e agricultoras
comuns entre os que fizeram a transição
agricultores e agricultoras agroecológica dizem que,
com os quais o Cepagro antes de tudo, tiveram que
trabalha. O que é natural: mudar a cabeça.
afinal de contas, são anos
e anos trabalhando com
agrotóxicos. Muitas vezes,
U ma dessas mudanças é
sobre a ideia de praga.
As lagartas, pulgões e
eles assumem que já se formigas que atormentam
acomodaram com o uso de os produtores já estavam ali
venenos e às vezes até antes daquela área virar
sofrem com sintomas de roça. A mesma coisa com
intoxicação, mas não as plantas espontâneas,
sabem como podem fazer chamadas de”ervas
para continuar na agricultura daninhas” ou “inços”. Estes
sem esses produtos. seres vivos fazem parte
bactérias ou nematoides,
bactérias)
fungos) e o meio Pa
P
Cultivos
s
at
vo
tó
óg
ambiente como
lti
ge
en
Cu
no
os
um triângulo.
s
AMBIENTE AMBIENTE
2. Misturar os
! dois líquidos,
mexendo sempre.
Importante!
Aplicar no início
da doença,
podendo ser
misturado 3. ara medir a acidez,
P
pegue uma faca de aço
com cinza e (não inox) e mergulhe a
confrei.Nunca parte da lâmina durante
pulverizar com 3 minutos na mistura. Se
sol quente. não escurecer, a calda está
Aplicar quando pronta. Caso contrário,
a temperatura adicione mais cal virgem.
estiver baixa. 4. Q
uando for aplicar adicione
Calda válida sempre uma colher de
por 03 dias. açúcar antes de pulverizar.
26 Adubo
Misturar 1 parte de manipueira
D urante a produção de
farinha de mandioca, a
prensagem da massa solta
repetindo a cada 05 dias.
Em tratamento de canteiro, regar o canteiro
com 2 litros de manipueira por metro
quadrado, 15 dias antes do plantio.
um líquido: a manipueira. Se Para controlar ácaros, insetos, pulgões,
jogada no solo ou rios, pode usar uma parte de manipueira e
uma parte de água, acrescentando
causar contaminação. Mas, 1% de açúcar mascavo.
na agricultura, pode ser um Fungicida (pinta preta)
preparado eficiente para Misturar 100ml de manipuera, 100ml de
controlar insetos e também água e 1 grama de farinha de trigo.
como fungicida e fertilizante. Aplicar sobre as plantas.
Defensivo
de pimenta
Contra vaquinha
e lagarta do
cartucho Preparo
Durante os intercâmbios
do Projeto Cepagro\FRBL em
tarinense através do Cepagro re- agosto de 2015, agricultores
sultou, em 2013, na abertura do visitaram propriedades e
agroindústrias ecológicas,
BOX DE PRODUTOS ORGÂNI- além do BOX 721 da
COS da CEASA, em São José (SC). Ceasa, o único de Santa
É o único naquele espaço que co- Catarina que comercializa
mercializa só alimentos orgânicos, só produtos orgânicos.
A
rotina do agricultor Gilmar Cognacco é muito
diferente da época em que chegou a cultivar 200
mil pés de fumo na comunidade da Vargem dos
Bugres. Os Cognacco são exemplo de uma família que
conseguiu fazer a diversificação agroecológica, com
apoio do Cepagro e parceiros. Desde 2011 ele organiza
uma feira de produtos agroecológicos em Brusque,
comercializando verduras e frutas que ele e outras
famílias do seu grupo produzem. A família também
produz leite e uvas, além de participar ativamente no
grupo de agroecologia Semear Sementes para o
Futuro, com agricultores de Leoberto Leal, Imbuia e
Vidal Ramos (SC). Mas a transição do cultivo de
tabaco para o de alimentos orgânicos não foi de uma
hora para outra. Conheça como foi este processo.
“
Minha vida sempre foi no fumo. o mau pagamento das fumageiras
Trabalhava desde criança com o foi o estímulo para que, em 2011,
pai”. Criado na lavoura de tabaco Alcides resolvesse mudar para o
junto com seus 12 irmãos, o agri- cultivo de alimentos, após o ir-
cultor Alcides Vill chegou a ter 60 mão Antônio também abandonar
mil pés de fumo na sua proprie- a fumicultura e investir numa
dade, na comunidade do Rio Vea- agroindústria de conservas.
do, em Nova Trento. As longas “A gente até pensava em não
jornadas de trabalho durante a levar os filhos pro fumo, mas
colheita e secagem da produção e como ia fazer isso sozinho?”. A
Agroecologia:
Saberes e práticas 35
“
No fumo, eles pagam
o produto do jeito que
eles querem. Este ano
estão dando, depois
tira. Sempre foi assim,
e isso judia o pessoal.
É um ano de serviço
que a família investe
ali. Com a verdura é
diferente, a gente sabe
o preço que tá e nesse
preço é negociado.
Aí só depende de
nós trabalhar pra
produzir o montante.
E de uma coisa temos
certeza: estamos
participação nas reuniões de
grupo da Rede Ecovida foi deci- produzindo saúde.
siva nesse processo. Em 2012 a
família recebeu o certificado da Alcides Vill, ex-
Rede. Hoje, além de venderem fumicultor e agricultor
parte da produção para a agroin- agroecológico da
comunidade Rio Veado.
dústria, eles também fornecem Membro do grupo
verduras para o BOX 721 da Ce- Associada da Rede
asa e para mercados e restauran- Ecovida de Agroecologia.
tes de Nova Trento.
36
“
O fumo não dá tanto trabalho, mas depois vira tudo fumaça.
Plantar pra não comer, e virar fumaça, não tem graça, né? Já um
serviço bonito que nem eu faço, essa réstia de cebola, é a arte
do agricultor. E todo mundo pode fazer. Se eu fosse dizer pros
meus amigos, eu diria que fosse pros orgânicos porque não é um
bicho de 7 cabeças não. No convencional acaba tudo em despesa.
No orgânico eu mesmo faço o adubo, não tem que comprar. Tá
dando certo. E, plantando de tudo, não precisa tá comprando.
Agroecologia
de filha para pai
N
ascida numa família fu- para consumidores diretos, lojas
micultora, a jovem Dul- de produtos naturais e empórios
ciani Allein estudou Eco- de orgânicos e também para o
logia e, a partir daí, Programa de Aquisição de Ali-
estimulou o pai Adenísio a entrar mentos. Moradores de Imbuia,
no caminho da agroecologia. Dulciani e Adenísio coordenam o
“Quando ela me disse que em cin- grupo Semear Sementes para
co anos a propriedade teria que o Futuro da Rede Ecovida de
estar 100% orgânica, eu falei: Agroecologia, que em 2015 pro-
Isso não vai dar certo. Mas, três moveu o 9º Encontro do Núcleo
anos depois, eu já tinha com- Litoral Catarinense da Rede. “Às
pletado a transição”, conta o vezes eu brinco e falo que vou de-
agricultor, que hoje produz uma sistir, que agroecologia dá muito
variedade de frutas, verduras e trabalho. Mas eu acho que quem
tubérculos orgânicos, entregues experimenta o orgânico não vol-
no no BOX 721, na alimentação ta mais para o convencional”,
escolar local, na feira de Brusque, afirma Adenísio Allein.
Anotações
Agroecologia:
Saberes e práticas 39
Referências bibliográficas
• BARRADAS, C. A. de Almeida. “Uso da adubação verde”. Niterói:
Programa Rio Rural, 2010.