ALT....

•"•••"'"

, CONTRAK/
DESTRUiÇÃO:

Presidente da República

JOSE SARNEY
'ALTERNATIVE~TO,/

Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia

DESTRUCTIONt'

RENATO BAYMA ARCHER DA SILVA

SCIENCEOP'

'Governador do Estado do Pará

HÉLIO MOTA GUEIROS THEMEBÊNGÔKRE.,

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CRODOWALDO PAVAN (Presidente)

Diretoria: JOSE DUARTE DE ARAÚJO (Vice-Presidente),

ADRIAN RICARDO LEVINSON, JOSE NILO TAVARES
FELIZARDO PENALVA DA SILVA, EUSTÁQUIO GALVÂO
DA SILVA (Diretores)
Museu Paraense Emílio Goeldi
Diretoria: GUILHERME M. DE LA PENHA (Diretor Geral)
ADELIA DE O. RODRIGUES (Vice-Diretora de Pesquisas)
CELSO MARTINS PINTO (Vice-Diretor Executivo)
Departamento de Museologia

DENISE CARDOSO HAMU (Chefe)

GOELDI;
Ministério da CiêllCia e Thcno1ógia.•
Núcleo de Etnobiologia
Conselho Nacional de
DARREL ADDISON POSEY (Coordenador)
Désenvolvimento Científico e 'IecnoJóltico,c
MUSEU PARAJ!:,"'NSEEMI1tO G0ELDt
Belétn-Pará-Brasil. Agosto, 1987. I
 1I ACIÊNCIA dos mêbêngôkre, alternativas con-l

tra a destruição. Belém, Museu Paraense I

I Emílio Goeldi, 1987. p.69

I
I 1. Etn~biologia - Brasil 2. M;êbêngôkre - Go-

I rotire-Indios-Brasil L HAMU, Denise Cardo-

SO 11. Exposições Científicas m. Museus

'1I CienU/ieos.
CDD - 301.2581

ISBN 85-7098-002-7 CDU - 572 (81)

.
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, ,lrta~o, 'éonsciência ecológic/

I
fi
@Direitos de cópia/Copyright 1987
por/by MCT/CNPq/Museu Goeldi
Caixa Postal/P.O. Box 399
Belém, Pará, Brasil.66000
sÓíne)l~e, ~urg, " ,quan,qu ali~!m,,~~~,no,ss(
,conlíecm1en raclon~l U.qlá mtUlçao "
da:'naWreut nã0-1inear dê n()Sso ,meio/
ambiente; Ta~sagedoriá intuitivá é
cal'act~ístiea das culturas tradicionaiS,
náo ~etradàs,es~eialmente as ,/ ,
cultura~dosíndiós americanos, epi i'
ql:fe a,Vida' foi organizadá em torno dê
Uma'conBciênciaaltamenw refinadá d9/
m,eío arnbiel1te7
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'Frit1~f ~ápl'a ' , " ,
em (yPOllto dvmutaçqo' (19&;, J).39
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.~OJtJ~c9RJE#1I/;/

/111 Ii IIIIII 1/ /

• APRESENTAÇÃO! FOREWORD 6
DENISE CARDOSO HAMU
• PROJETO DA EXPOSIÇÃO/EXHIBIT. PROJECT 9

• A CIENCIA DOS MEBENGOKRE:

ALTERNATIVAS CONTRA A DESTRUIÇÃO/ 12
ALTERNATIVES TO DESTRUCTION:
SCIENCE OF THE MÊBÊNGÓKRE
DARREL ADDISON POSEY, Ph.D.
Colaborações de: ELAINE ELISABETSKY, D.Se.;

ANTHONY B. ANDERSON, Ph.D.; MÁRCIO CAMPOS, D.Se.;

ADÉLIA DE O. RODRIGUES, D.Se. e GUILHERME M. DE LA PENHA, Ph.D.

• REFERENCIASI REFERENCES 35
• BIBLIOGRAFIA SELECIONADA ADICIONAL! 36
ADDITIONAL SELECTED BIBLIOGRAPHY
• MAPA DE WCALIZAÇÃO! LOCATION MAP 39

• TEXTOS SELECIONADOS E RELAÇÃO _

DAS PEÇAS QUE INTEGRAM AEXPOSIÇAO/ 40
SELECTED TEXTS AND OBJECTS ENUMERATION
TO ACCOMPANY THE EXHIBIT

• GWSSARIO/GLOSSARY 66

• PLANTA DA EXPOSIÇÃO/EXHIBIT FLOOR 68

• PESQUISADORES PARTICIPANTES DO PROJETO KAYAPÓ/ 69
Exposição montada pelo Departamento de Museologia
RESEARCH TEAM OF THE KAYAPÓ PROJECT
do Museu Paraense Emílio Goeldi/CNPq/MCT

Pavilhão Ferreira Penna mocinha)

Belém, Agosto 1987/1988

"


DENISE CARDOSO HAMÚ
Chefe, Departamento de Museologia
MPEG/CNPq/MCT
Aexposição"A Ciência dos mébêngôkre: al­
ternativas c0ntra a destruição"marca, dupla ede­
finitivamente,o início de uma nova fase para a
museologia (lO Museu Paraense Emílio Goeldi.
Montada no Pavilhão Ferreira Penna, ela as­
sinala desde logo um primeiro marco. A"RocÍ­
nha", sede primeira do Museu na gestão de
GOELDI, passou por uma reforma integral em
suas instalações, restaurada sua estrutura, adap­
tada para receber qualquer modalidade de ex­
posições temporárias. Valendo-se de moderno
mobiliário museográfico, adquirido com base na
sua versatilidade e condições climáticas da re­
gião, teve o Departamento de Museologia
(DMU) a oportunidade de demonstrar maturi­
dade e seriedade no trato com as questões mu­
.seológicas contemporâneas.
Esse fato cresce de importância quando se
constata a enorme dificuldade de se desenvolver
uma atividade museológica dinâmica e eficaz
em um museu científico, de tradição centená­
ria como instituto de investigações, na região
amazônica. Esta categoria de museu, embora de
origem tão antiga quanto os museus de arte, ra-
Discussão do projeto da e.~poslção por Denise Hamú e Daml POse)'. Ca.qa de Guerrelro-Gorotire.
6 Exhibit prQject discussion with Denise Hamú and Darre! Posey at the warrior's house-Gorotíre.
ramente recebeu a atenção devida por parte da
museologia ao ser considerada extradomínio
culturaL Embora a ação museológica em gerál
opere consistentemente como um grande labo­
/ ratório, quando restrita aos interesses científi­
DENISE CARDOSO HAMÚ cos, inexistem teorias respaldando novos
Head, Departament 0/ Museology experimentos e é sempre um eterno descobrir.
MPEGICNPqlMCT Nessa busca, a adoção de técnicas museográfi­
cas específicas, a incorporação de elementos de
The exhibit Alternatives to Destruction: apoio atraentes esintonizados com oavanço tec­
Science of the Mebêngôkre represents a double nológico corrente, a afinidade com a variada ti·
and definite begínning of a new phase for museo­ pologia própria do acervo do Goeldi foram todos
logy at Museu Paraense Emílio Goeldi. parâmetros aferidores de nossa contribuição ao
On display at the Ferreira Penna Pavilon, repasse do conhecimento científico à comu­
it sets,at once a mark. The "Rocinha'; the muse­ nidade,
um 's first headquarters at the time of E. GO ELDI Aexposição tem por base resultados parciais
has gone througl! a total refurbíshing, having its de um projeto de investigação científica multi·
structure adapted to house any kind of tempo­ disciplinar, levando-nos a concebê-la de manei­
rary exhibít. Using modem museum equipment, ra integrada como um corpo coerente de
acquiredfor its versatility and adjustment to c/i· conhecimentos no espírito da integração homem­
matic conditions of the region, the Department meio, objeto da etnobiologia. Aseleção das pe­
of Museology (DMU) had the opportunity to ças expostas ultrapassou o critério da estética
show maturity and seriousness in dealing with ou da beleza plástica, indo além, buscando com
contemporary questions in museology for elas retratar prioritariamente as ligações esta­
science. belecidas nos mitos e crenças dos triébêngôkre
Such fact has a paramount importonce when entre omundo simbólico e real. Oobjeto de es­
one considers the enourmous difficulty for one tudos não é o homem mebêngôkre em si mas,
to develop efficient and dynamic museological centrado nele, o estreito relacionamento que
in a science museum with over a hun° mantém com o seu meio de sustentação; essa
dred years of tradition in investígatíons in Ama. dialética é que buscamos refletir. Expomos ape­
zonia. This kind of museum, though its origin is as nas uma diminuta parcela desse conhecimento
old as art'museums, seldom recived due attention enciclopédico construído por milhões e recolhi­
do por uns poucos. Não importa quão pequena
ela oseja, já se presta a lições ao mundo "civili­
zado" que devasta permanentemente ao pro­
gredir.
"
Esta mostra não seria possível se baseada
tão somente em dados cientificos publicados ou
coletados epeças de acervo; exigiu de fato a par­
ticipação dos próprios detentores do conhecimen­
to: cientistas e indígenas. Avida na aldeia teve
de ser captada do ponto de vista cultural e não
com oespírito de sinalizar oexótico. Discutiu-se
o projeto da exposição na "Casa de Guerreiro"
em Gorotire, os capitães KANHONK KAYAPÚ e
TOTOt KAYAPÚ eseus principais,lideres vieram
ao Goeldi, KWYRAKA KAYAPÚ e família
integraram-se ao Departamento Museologia por
dois meses eserviram como consultores perma­
nentes sobre detalhes da mostra.
7
from museology for being considered outside of
cultural dominion. Although museological aetion
in general worksconsistentlyasa large laboratory,
when restrieted to scientific interests, there are
no theories supporting new experiments and it
always beeomes a permanent discovering pro-­
cesso In this search, the adoption of specifie mu­
seological techniques, the incorporation of
attractive and syncronized supporting elements
with current technological advancements, the
conformity with the varied typology ofthe GoeI·
collection, ali of these were measuring pa·
rameters ofour contribution to pass on scientific
knowledge to the community.
The exhibit is based on partial results of a
multidísciplinary project of scientific investiga­
tion, leading us to conceive it in an integrated
way as a coherent body of knowledge in the spi­
rit of the integration man·environment, the ob·
jective of Ethnobiology. The selectíon of the
displayed objects went beyond esthetics criteria
or of plastie beauty, mostly seeking to reprodu·
ce established links of Mêbêngôkre creeds and
myths between the real and symbolic world. The
objective of the study is the Mêbêngôkre man
himself and, based on him, the c/ose relations·
hip he maintains with his supporting system;
that is the logical argumentation we try to reflect
upon. On display is only a small part of such
encyc/opedic knowledge formed by mil/íons and
collected by afew. It does not matter how small
it is, since it already teaches lessons to the "ci·
vilized" world which permanently devastates
while it progresses.
This exhibit would not be possible if it were
only based on published or collected scientific in·
formation and pieces of a collection; it deman­
ded, infact, the participation ofthe people who
holds the knowledge themselves: indians and
scientists. Life in the village had to be captured
from its cultural point of view, and not with the
spirit of pin pointing the exotic. The project of
the exhibit was discussed in the "Casa de Guer­
reiro'; in Gorotire; captains KANHONK KAYA·
PÓ, TOTOÍ KAYAPÓ and their main leaders
came to Goeldi; KWYRAKA KAYAPÓ and fa­
mily beca me a part ofthe Departament of Mu­
seology for two months and worked as
permanent consultants regarding detai!s of the
exhibition.

Aexposição não é fruto único de um pleno
entrosamento entre pesquisadores. técnicos do
DMU e a própria comumdade Kayapó-Gorotire.
Desde sua concepção à sua concretização, viu­
se repetir a descida do Céu à Terra pelos mebên­
gókre: amarraram-se muitas fitas e cordas de
vários tamanhos, cordões, cintos e colares, for­
mando uma corda forte osuficiente para supor­
tar a todos os que por ela ousaram descer e nos
acompanhar neste empreendimento. Chegamos
a este mundo novo dá museologia do Goeldi ape­
sar da temerária ação de ventos fortes de des­
crença e dos maus presságios sobre a incerteza
do destino. Acorda continua estendida, ao con­
trário da lenda, para que os que ficaram não se
tornem estrelas mas desçam e se integrem ao
objetivo de difundir amplamente conhecimentos
cjentíficos hóje restritos a uns po~cos. Os resul­ dissemination of scientific knowledge, today res­
tados científicos, no dizer de LEON*, "são per­
feitamente explicáveis museologicamente, pois
são produtos integrantes da humanidade, mani­
festantes de um estado de coisas, de um grau de
desenvolvimento humano que pode ser interpre­
tado e compreendido pela mente humana. Inici­
ar a educação científica corno parte da cultura é scientific education as apart oJ eulture is a task COLABORAÇÃO CIENTIFICA ESPECIAL/ SPECIAL SCIENTIFIC
tarefa que a museología tem que enfrentar...
, LEÓN, A. El museo. Teoria, praxis y utopia. E á. Cátedra,
Madri, 1986, p. 145.
8 RUBEN TAVARES DE MOURA - MPEG
~@(TÓ / IEW.,/I;/;
EX7·~!BI7~'ct'// /1 Ii 1/'
The exhibit is not just a product of a perlect
adjustment among researchers, technical staff
I/i/ / / / / / 1
of the Department of Museology and 01 the
Kayapó-Gorotire community itself, Since it was
conceived and until it was completed, one could
see repeated the rerurn of the Mebêngôkre des­
/ I /
cending from the sky to the Earth; many ribbons
and ropes of various lengths, strings, belts and COORDENAÇÃO GERAL E CONCEPÇÃO MUSEOGRÁFICA
collars were tied formíng a rope sufficiently BÁSICA I GENERAL COORDINATION AND BASIC MUSEOWGICAL
strong to h01d ali those who dared to descend and CONCEPTION
join this undertaking. We arrived at this new DENISE CARDOSO HAMú
world of Museology at Goeldi despite the teme­ Chefe, Departamento de Museologia/MPEG
rity of strong winds of discredit and i/l-omnen HEAD, DEPARTMENT OF MUSEOLOGYIMPEG
about he uncertainty of destiny. The rope is sull
dangling, eontrary to the tale, so that those who COORDENAÇÃO CIENTIFICA I SCIENTIFIC COORDINATION
stayed do not turn into stars but can descend and DARREL ADDISON POSEY
integrate themselves to the objectives of a wide Coordenador, Núcleo de Etnobiologia/MPEG
COORDENATOR, NUCLEUS OF ETHNOBIOWGY/MPEG
tricted to only a few. Scientific knowledge, aceor­ COMIT~ CIENTíFICO I SCIENTIFIC COMMITTEE
ding to LEÓN, "18 perfectly explainable ELAINE ELlSABETSKY, D. Se. - U{<'Pa
museologically, since they are part of mankind, ANTHONY BENNE'IT ANDERSON, Ph. D, - MPEG
manifesting a state of things, of a degree of hu­ MÁRCIO D'OLNE CAMPOS, D, Sc. - UNICAMP
man development that can be interpreted and ANNE LINE GÊLY, D.E.A.. MPEG
understood by the the human race. Th initiate WILLIAM L. OVERAL, Ph, D. - MPEG
that Museology has to face..." COLLABORATION
ADÊLIA DE OLIVEIRA RODRIGUES, D. Se. - MPEG
GUILHERME MARCOS DE LA PENHA, Ph. D. - MPEG e LNCC
EQUIPE DE MONTAGEM DA EXPOSIÇÃO I TEAM RESPONSIBLE
FOR ASSEMBLING THE EXHIBIT
lVELISE DE SOUZA RODRIGUES, Museóloga . MPEG
JORGE HENRIQUE FRENSEL, Museólogo - MPEG
MARIA DO CARMO VALENTE, Museóloga - MPEG
ROSILDA DE FÁTIMA VASCO, Técnico - MPEG
PEDRO POMPEI FILIZZOLA OLIVA, Engenheiro· MPEG
ANTONIO CA,RLOS MONTEIRO FERREIRA, Técnico ­
MPEG
KURAKA KAYAPÚ, TAPI KAYAPÚ, TÁKÁK KAYAPú, 'I'ÔTN
KAYAPÚ - Comunidade Gorotire/PA
FLÁVIO MACEDO DE ANDRADE FILHO, Arquiteto ­
SECULT
MARIA DO SOCORRO SALGADO PINTO, Estagiária ­
SECULT
CARLOTA CRISTINA DA SILVA BRITO, Estagiária ­
SECULT
CARMOSINA MARIA CALLIARI BAHIA, Estagiária .
MPEG
SELEÇÃO DE PEÇAS I SELECTION OF PIECES
DARREL ADDISON POSEY, lVELISE DE SOUZA RODRI­
GUES, JORGE HENRIQUE FRENSEL, MARIA DO CAR·
MO VALENTE, MARIA DAS GRAÇAS SANTANA DA SILVA,
9
DESENHOS E PINTURAS/DRAWINGS AND PAINTINGS IRENICE ALVES RODRIGUES· CPATU/EMBRAPA

GUILHERME PAULO LEITE - MPEG ORLANDO JOS~ CARVALHO DE MOURA, L.Doe.. D. Ffsica/UFPa

FOTOS/PHOTOGRAPHIES
DARREL ADDISON POSEY - MPEG
CARTAZ E COMPOSIÇÃO DOS TEXTOS I POSTER AND
TEXTS COMPOSITION
LUCIANO OLIVEIRA -SECULT
APOIO ADMINISTRATIVO I ADMINISTRATIVE SUPPORT
HELENA GOMES DE ÁNDRADE, Assistente Administrativo - MPEG
APOIO COMPUTACIONAL I COMPUTATIONAL SUPPORT
PAULO CABRAL FILHO, Analista de Sistemas - MPEG
WAGNER VIEIRA LEO, Programador Analista· LNCC
SERVIÇOS DE MARCENARIA I CARP ENTRY PATROCÍNIOS CATALOGO I CATALOGUE SPONSORSHIP
JOS~ PEREIRA DA SILVA - MPEG
JOS~ LUIZ RODRIGUES DA SILVA - MPEG
BENEDITO MENDES DA SILVA - MPEG
Eletrobrás ~, Centrais Elétricas Brasileiras SA

[!Jm~[!J
SERVIÇOS DE PINTURA I PAINTING SERVICES
CARLOS JOS~ DA SILVA - MPEG .J... Eletronorte
OSVALDO FRAZÃO FURTADO - MPEG Consórcio Nacional de Engenheiros Consultores S.A.
:t n CentraIs Elétricas do Norte do BraSil SA
CLóVIS DO VALE MORAES - MPEG

~
SERVIÇOS DE ELETRICIDADE I ELECTRICIAN SERVICES
ROSENO FERREIRA MARTINS - MPEG
DATILOGRAFIA I TYPING

*
IRANEIDE SOUZA SILVA - MPEG
MARIA DO SOCORRO O. MENEZES - MPEG
REVISÃO DOS TEXTOS/ TEXTS REVISION WWF
WALTER ALVES NEVES, D.8c.. MPEG (exposíçãoJj(EXHIBIT)
LAÍS ISABEL ZUMERO DE PINHO - MPEG (exposição e catálogo)1
Souza Cruz WORLD WILDLIFE FOUNDATIONS - WWF-US

(EXHIBIT AND GATALOGUE)

MARIA IRACEMA GONZALES MPEG (exposiçãolj(EXHIBIT)
AGRADECIMENTOS I ACKNOWLEDGEMENTS
DR. ADRIAN RICARDO LEVINSON, DIRETOR DE PLANEJAMENTO E GESTÃO/CNPq
Director of Management and planninglCNPq
DR. JADER FONTENELLE BARBALHO, EX-GOVERNADOR DO ESTADO DO PARA
Former Governor of the State of Pará
CAPITÃES TOTOt E KANHONK KAYAPÓ, COMUNIDADE GOROTIRE/PA CATÁLOGO/CATALOG UE
Gorotire Community/Pa EDITOR I EDITOR
ANTONIO CARLOS DE ALBUQUERQUE DOS SANTOS, TRADUÇÃO DOS TEXTOS DENISE CARDOSO HAMÚ
Translation of text into english, M. Se.. MPEG
CRIAÇÃO E ARTE-FINAL/ CREATION AND ART
INSTITUTO DE PESQUISAS ESPACIAIS· INPE/MCT
MENDES PUBLICIDADE, BE~M
SECRETARIA DA CULTURA DO ESTADO DO PARA - SECULT

CONSTRUTORA MIRANDA SOBRINHO

FOTOS I PHOTOS
GABRIEL ZELLANI - PROCOLORISP
DARREL A. POSEY
IMPRESSÃO I PRINTING
GRÁFICA UNIDA, S. PAULO
TIRAGEM I NUMBER OF COPIES ISSUED:3.000
11
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/ / / I. OF;-TIfi
Ii III IV?Im1III I
DARRELL A. POSEY et al/i.
Coordenador do Núcleo de Etnobiologia
MPEG/CNPq/MCl'
INTRODUÇÃO:
A Bacia Amazônica compreende a maior
área de florestas tropicais úmidas do mundo,
abrangendo mais de 650 milhões de hectares. No
entanto, sua extinção, face ao desmatamento, es­
tá ocorrendo a uma velocidade alarmante. É cal­
culado que uma parte significativa do inventário
natural de organismos biológicos terá desapare­
cido antes mesmo que deles se possam fazer
apenas descrições básicas (GOTTLIEB,
Aextinção é apenas um dos devastadores
impactos ecológicos do desmatamento. Aerosão
origina ocírculo vicioso da compactação do so­
lo, da destruição do ciclo nutriente, e da inunda­
ção; logo, resulta a poluição da água com a~
mudanças associadas à opacidade e ao pHque re­
duz ou elimina a vida aquática. Odesmatamen­
to generalizado também pode significar
alteração no regime de chuvas, eameaçar ode­
licado equilíbrio de dióxido de carbono na atmos­
fera. Já foi demonstrado que os ecossistemas de
floresta tropical são muito frágeis e, se aitera­
dos, sujeitos a um colapso. Esse colapso é mui­
tas vezes irreversível e contribui para a
crescente ameaça de empobrecimento global do
solo (BARBIRA-SCAZZOCHIO, 1980; MORAN,
1983; KOHLHEPP&SCHRADER, 1987).
Amaior tragédia da Amazônia talvez seja
a humana. Os caboclos, com poucas exceções,
são ignorados pelos estudos amazônicos,como se
fossem criaturas desprovidas de qualquer cultu­
ra. No entanto, sofreram oimpacto do desenvol­
vimento, foram expulsos de suas terras como
"posseiros" e forçados à dependência nas fave­
las e cidades. Os ameríndios refletem claramen­
te o trágico custo humano do desenvolvimento
amazônico (DAVIS, 1977). Apopulação indígena
brasileira caiu de cerca de 8 milhões, desde a
época dos primeiros contatos, para menos de
20.000,e,apenas neste século, pelo menos 87 gru­
pamentos indígenas extinguiram-se somente no
Brasil (RIBEIRO, 1970). . European contact, to less than 200,000 today.
12
FiÉ. / / I!
DARRELL A. POSEY et alli.
Jramawr, Nuc1eus of Ethnobiology
MPEGICNPq/MCr
INTRODUCTION:
The Amazon Basin contains the /argest con­
tinuous area of humid tropical forests in the
world, totaling more than 650 míllion hectares.
The destruction ofthis vast but little understood
region 18 accelerating at alarming rates due to
deforestation. It 18 estimated that a significant
portion of the animal and plant spedes of Ama­
will disappear even before basic bi%gi­
cal descriptions can be made (GOTTLIEB, 1981).
Extinction is but one of the devastating eco­
impacts of deforestation. Eros/on associa­
with deforestation tríggers a vicious cycle of
soil compaction, nutrient leaching, and loss of
water·retaining capacity of the soí/s, the /atter
often resulting in further erosion and icreased
floodíng. Streams and rivers become polluted as
a result of increased water turbidity reducing or
eliminating populations of aquatic organisms.
Widespread deforestation can also bring about
changes in rainfall patterns and tne de/icate ba­
lance of carbon dioxide in the atmosphere. Tro­
pical forest ecosystems are famous for their
"fragility" and are subject to degradation when
disturbed; such degradation may well be irre­
versible, contributing to the growing threat of
global soU impoverishment (BARBIRA­
SCAZZOCHIO, 1980; MORAN, 1983; KOHLHEPP
& SCHRADER, 1987).
Perhaps the greatest tragedy in Amazonia
is the human one. Peasants ("caboclos"), with
exceptions, are ignored in Amazonian studies
as thougt they were devoid of any culture what­
soever. Expelled from their lands as squatters
("posseiros"), they are fOl'ced into poverty and
dependency of sprawling slutns ("favelas"), whe­
Te they pay the price of "development': Amerin­
dians reflect clearly the tragic human costs of
Amazonian development (DAVIS, 1977). Brazi­
lian lndian populations have declined from ap­
proximately eight mil/ion, at the time ofthe first
Eighty-seven Amerindian groups have become
extinct during this century in Brazil alone (RI­
bcrron
Com a dizimação de cada grupo 'indígena, o
mundo perde milênios de conhecimento acumu­
lado sobre a vida e a adaptação aos ecossistemas
tropicais. Essas informações preciosas são igno­
radas sem a menor reflexão: a marcha do de­
senvolvimento não pode esperar sequer para
descobrir o que está a ponto de destruir.
Os índios sobreviveram na Amazônia por mi­
lênios. Seu conhecimento de ecossistemas, as re­
lações planta-homem-animal e a manipulação
dos recursos naturais desenvolveram-se através
de incontáveis gerações, fruto de tentativas e de
experiência acumulada. É incrivelmente peque­
no oconhecimento que nossos cientistas têm so­
bre a percepção indígena da ecologia e da
utilização de recursos naturais, mas a ciência
ocidental, atualmente, deveria ser sofisticada o
bastante para tratar com sucesso essas questões,
gerando as soluções de que muito necessitam
(POSEY, 1983).
Culturas indígenas oferecem uma fonte rica
e inaproveitada de informações sobre os recur­
sos naturais da bacia amazônica. Se oconheci­
mento dos povos indígenas puder ser
transmutado ao know how tecnológico moder­
terá sido descoberto, então, um novo cami­
para um desenvolvimento ecologicamente
sadio da Amazônia.
Da mesma forma, se a civilização tecnoló­
gica começar a compreender a riqueza e com­
plexidade do conhecimento indígena, os índios
poderão ser igualados a qualquer ser humano,
e não apenas aparecerem como notas exóticas
ao pé de página da história. Isso, argumenta-se,
éuma "ponte ideológica" pela qual os índios po­
derão 'p'rosperar em uma moderna sociedade
multi-etnica com a dignidade que precisam e o
respeito que merecem.
1. OS MÊBÊNGÔKRE E O PROJETO
KAYAPÓ.
Atodos os grupos tribais Kayapó é comum
a autodenominação mebêngôkre (povo do olho
d'água), da família lingüística Jê. O"Projeto Ka­
yapó" envolve a colaboração, no estudo desse p0­
vo e de sua ciência popular, de mais de duas
dezenas de pesquisadores em dIversas especia.
lidades e filiados a uma variedade de institui­
ções, dentre as quais predomina o Museu
Goeldí/CNPq/MCT. Onúcleo base de pesquisa
de campo se situa na aldeia Gorotire, no rio Fres­
tributário do Xingu, no Sul do Pará, cerca de
km a oeste de Redenção, na latitude sul de
7°51' e longitude de 51°08'.
With the decimation of each indigenou$
group, the world loses thousands of years of ao­
cumulated knowledge of adaptation to tropical
ecosystems. Sueh precíous information is over­
looked without the least consideration: the rapid
pace of economic development cannot be halted
even long enough to take note of what it is about
to destroy.
Ameríndian cultures offer a rich and untap.
ped source ofinformation on the natural resour­
ces of the Amazonian Basin (POSEY, 1983).
Transformation of this knowledge into modem
technological know-how can open new perspecti­
ves for ecologically sound development in Ama­
zonia. By the same token, recognition of the
value ofindigenous knowledge by our civilization
would permit Indians to be seen as major intet­
lectual contributors to humanity, rather than me­
re exotic footnotes to the pages of history Qooks.
This recognition cou/d provide an Hideological
bridge" through which Amerindians can prosper
in a modem, multi-ethnic society with the dig­
they need and the respect they deserve.
L THE MÊBÊNGÓKRE AN THE KAYAPÓ
PROJECT
All groups within the Kayap6 nation call
themselves the Mebêilgôkre ("people of the wa­
ter '8 source") and speak a language ofthe J êfa­
mily of languages. The"Kayapó Project': a mul­
tídisciplinary study ofthese people and
sciences, has evolved during the last five years
with the collaboration of more than twenty re­
searchers in numerous fields o/ expertise and af­
filíated with various institutions, foretnogt among
which is the Museu Goeldi-CNPq-MCT. The field
research base is located in the village of Goroti­
re, on the Fresco River, a tributary ofthe Xingu
River in southern Pará State, about 60 míles west
of the frontíer town of Redenção (7° 51'5,51° 8'W).
13

2. PRELIMINARES.
Os estudos do conhecimento ecológico de
grupos indí~enas (etnobiologia) são freqüente­
mente consIderados pouco relevantes à cultura
ocidental, porque as populações aborígenes são
esparsas. Contudo, estimativas recentes sugerem
que onúmero dessas populações tem sido extre­
mamente subestimado. Dados arqueológicos e
geográficos parecem confirmar os relatos histó­
ricos, dando conta da existência de grandes cen­
tros populacionais em todos os ambientes da
Amazônia: várzea, terra firme e savanas (DE­
NEVAN, 1976. SMITH, 1980).
As doenças européias atingiram esses cen­
tros com uma velocidade inimaginável, e tive­
ram efeitos devastadores nas populações
aborígenes. São comuns os registros de taxas de
mortalidade tão altas quanto 80 a 85% em uma
única epidemia virótica. Ocontato inicial com
os mebêngôkre foi realizado, principalmente,
porque os índios estavam demasiadamente en­
fraquecidos pela doença para poder resistir aos
"brancos". Oprimeiro grupo mebêngôkre conta­
tado declinou de 350 para 85 durante os seis pri­
meiros meses posteriores a esse contato inicial
em 1936 (VERSWIJVER, 1985).
Os efeitos sociais e culturais de tal devasta­
ção têm sido subestimados pelos estudiosos. Re­
latórios de testemunhas visuais em um
"primeiro contato" são aceitos como represen­
tativos do verdadeiro estado aborígene dos gru­
pos. Na verdade, entretanto, as doenças
chegaram bem à frente dos primeiros observa­
dores. Foi feita uma detalhada tipologia de con­
tato para ilustrar os diversos mecanismos sociais
e culturais pelos quais as doenças foram disse­
minadas na Amazônia através do comércio, dos
ataques, da guerra ede expedições antes de qual­
quer contato direto (POSEY, 1987, no 'prelo).
Apresença humana nem sempre e necessá­
ria para a transmissão de doenças, artigos de
comércio - como peles, penas, objetos, insetos
eanimais-também servem como vetores ereser­
vatórios de doenças como a malária, a febre
amarela, o tifo e a peste bubônica.
14
2. PRELIMINARY CONSIDERATlONS
The study of biological knowledge held by
Amerindians (ethnobiology) has customarily
been considered irrelevant to the Western world
because aboriginal populations were thought to
have been'sparse and scattered. Recent investi­
gations, however, suggest that these populations
have been grossly underestimated. Archaeologi­
cal and geographical data confirm historical ac­
counts of the existence of large population
centers in all Amazonian environments: vár­
zea (river floodplain) ,and terra firme (upland
forest~) and savannas (DENEVAN, 1976; SMI­
TH, 1980).
European diseases struck Amerindian popu­
lations with unimaginable speed and devastation.
Mortality rates as high as 80 to 85% were com­
mon during a single viral epidemic. The Mebên­
gôkre experienced their initial direct contact with
Europeans mostly as a result of being too wea­
kened by disease to resist sueh a meeting. The
Gorotire Mêbêngôkre group declinedfrom 350 in­
dividuais to 85 during the first six months follo­
wing initial contact in 1936 (VERSWIJVER,
1985).
The socio-cultural effects of such devastation
have been underestimated by scholars. Contem­
porary reports of initial direct contact are usualy
accepted as revealing the true state of aborigi­
nal groups. European and African diseases, ho- .
wever, may have arrived long before the first
observers. A detailed typology of first contact
was made to illustrate the various manners by
which diseases were disseminated in the Ama­
zon through trading, raids, wars and expeditions
before any direct European contact took place
(POSEY, 1987 in press). Human presence is not
always necessary for the transmission of disea­
se: trading articles - sueh as skins, feathers, or­
namental objects, insects and other animais ­
also serve as vectors and hosts of diseases such
as malaria, yellow fever, typhus and plague.
Uma extensa rede de comércio aborígene es­
tava em atividade ligando as terras baixas ama­
zônicas com as civilizações do planalto andino
nas épocas pré-colombianas. Essas rotas ser­
viam como uma rede de transmissão de doen­
ças bacterianas e viróticas facilmente
transportáveis para odistante interior, muito an­
tes do primeiro contato face a face com os euro­
peus. Oprimeiro branco a visitar os mebêngôkre,
por exemplo, achou-os já de posse de roupas eu­
ropéias, armas, contas de vidro, machados, pa­
nelas e de doenças européias.
Parece, portanto, que os estudos com base
nos documentos etnohistóricos precisam ser rea­
valiados à luz de uma compreensão mais sofis­
ticada da natureza do "contato" ecorrespondente
transmissão de doenças devastadoras. Se,por um
lado,as estimativas quanto às populações aborí­
genes continuam a fornecer números maiores,
cresce também a relevância dos sistemas indí c
genas de conhecimento ecológico para a moder­
na planificação do desenvolvimento.
3. LIÇÕES DOS MEBÊNGÔKRE.
Oconhecimento do índio mebêngôkre é um
sistema integrado de crenças e práticas. Existe
muita informação compartilhada em uma aldeia
mebêngôkre, apesar de haver também muitos
especialistas. Há especialistas em solos, em plan­
tas, animais, colbeitas, remédios e rituais. Mas
todo mebêngôkre acredita, homem ou mulher,
que tem a habilidade para sobreviver sozinho, na
floresta, indefinidamente. Esta crença dá uma
grande segurança pessoal eestá interligada à vi­
da diária. É difícil transmitir uma completa vi­
são ecológica mebêngôkre, porque isso se passa
dentro de uma rede profundamente intrincada
de pressuposições culturais. Este estudo se pro­
põe ser prático etrata das categorias facilmen­
te delineáveis do conhecimento indígena que
sugerem novos campos de pesquisa para a ciên­
cia ocidental.
An extensive aboriginal trade network link~
ed cultures of the Amazonian lowlands with those
of the Andes during pre-Colombian times. Such
routes servedas a transmission linkJor viral and
bacterial diseases to be transported into the dis­
tant interior long before thefirst face-ta-face Con­
tact with Europeans. In facto the first white man
to visit the Mebêngôkre found them already to
have European clothes, weapons, glass beads,
axes, pans and diseases.
Scholars need to reevaluate seriously these
studies based on ethnohistorical documents in
the light of a more sophisticated understanding
ofthe nature of "contact" and the corresponding
transmission of epidemic diseases. As numeri·
cal estimates of Amerindian populations at the
time of discovery continue to increase, indige­
nous systems of ecologicQl knowledge are beco­
ming increasingly relevant to modern
development planning.
3. LESSONS FROM THE MEBÊNGÔKRE.
The knowledge of the Mebêngôkre Indians is
an integrated system of beliefs and practices.
Much generally shared information is ta be found
in a Mebêngôkre village, in addition to the specia­
lized knowledge held by afew. There are specia­
lists in soi/s, plants, animais, crops, medicines
and rituais. Each and every Mebêngôkre believes
that he or she has the ability to survive alone in
the forestfor an indefinite time. Such a beliefen­
genders a strong sense of personal security and
is interwoven into daily life.
A complete Mebêngôkre view of nature is dif­
ficult to convey because of its underlying cultu­
ral complexity. This exhibition, therefore, has the
practical goal of presenting identifiable catego­
ries of indigenous knowledge. These categories
indicate new research directions for Western
science and alternatives to the destruction of
Amazonian.
15

3.1. Etnoecologia.
A classificação indígena de ecossistemas
oferece importantes ensinamentos sobre a diver­
sidade de recursos naturais e sua distribuição.
Adiscriminação desses ecossistemas - unida­
des horizontais e verticais de classificação ­
permitem aos cientistas inferir os interrelacío­
namentos entre componentes de sistemas natu­
rais, os quais caracterizam, segundo a ciência
popular, certa uniformidade dentro da diversida­
de (POSEY, 1986).
Estudos de ecossistemas na classificação
mêbêngôkre da abelha Melipona oferecem infor­
mações úteis sobre a repartição de nichos e/ou
a exclusividade de habitat entre diferentes espé­
cies de abelhas sem ferrão. Complexos "co­
evolutivos" são também freqüentemente reco­
nhecidos por povos nativos, e incluem intrinca­
dos relacionamentos entre ecossistemas e as
suas plantas indicadoras e animais associados.
Aconstrução de "ilhas florestais" no campo­
cerrado mostra até que ponto os rnêbêngôkre p0­
dem criar e manipular microambientes dentro
epor entre os ecossistemas para incrementar a
diversidade biológica. Semelhante engenharia
ecológica requer reconhecimento da fertilidade
do solo, propriedades microclimáticas e prefe­
rências por variedades de plantas, assim como
considerações sobre os interrelacíonamentos que
se estabelecem entre componentes de uma co­
munidade ecológica criada pelo homem. Os
"apêtê" (ilhas de vegetação criadas no cerrado)
bem-sucedidos resultam não apenas do conhe­
cimento de propriedades imedIatas - edáficas
ebiológicas - como também dos relacionamen­
tos que se modificam, a longo prazo, na medida
em que essas "ilhas florestais" crescem e ama­
durecem. Já que inúmeras plantas são intencio­
nalmente cultivadas para atrair animais úteis,
aumenta a complexidade do problema de mani­
pulação. Neste sentido, os apêtê são tratados, ao
mesmo tempo, como unidades 'agroflorestais e
como reservas de caça (A!\1)ERSON&POSEY,
1986). .
16
3.1. Etbnoecology.
lndigenous classifications ofecosystems can
provide important insights into the diversity of
natural resources and their distribution. The dis­
crimination of ecological communities alfows
scientists to infer interrelationships which reveal
repeating patterns within the overall environ­
mental complexity (POSEY, 1986).
Ecological studies of stingless bees based on
Mebêngôkre classificatíon offer useful insights
about the dívísion of nesting sítes and floral re­
sources among these highly regarded insects. Co­
biological complexes are also fre­
quently recognized by na tive peoples and inclu­
de intricate relationships among soils, their
indicator p/ants, and associated animais.
The creation offorest "islands'; termed "apê­
tê", in tropical savannas demonstrates to what ex­
tent the Mêbêngôkre can alter and manage
ecosystems to increase biological diversity. Such
ecological engineering requires detailed know­
ledge of soU fertility, microclimatic variations
and species' niches, as well as the interrelations­
hips among species which are introduced into
these human-made communities. The success­
''apêtê'' results not only from knowledge
mediate soi! and biological properties, but also
from the long-term relationships that change as
these "forest islan.ds" become established an.d in­
crease in density and height. Because numerous
plants are intentionally cultivated to attract ga­
me animais, the complexity of management in­
creases. In this sense, the ''apêtê'' must be viewed
as both agroforestry plots and hunting reserves
(ANDERSON & POSEY,
Os mêbêngôkre falam, com freqüência, em
plantas "ômbiqwa-ô-toro';ou plantas"boas-ami­
gas ': Estão conscientes de que algumas espé­
cies se desenvolvem com maior vigor quando
plantadas em conjunto com certas outras varie­
dades, ao passo que associações sem essas ca­
racterísticas inibem ocrescimento.
Esses agrupamentos sinergéticos incluem,
muitas vezes, dezenas de plantas, erequerem
padrões complexos de cultivo. Tais associa­
ções são descritas em termos de "energia
de plantas". Assim sendo, uma plantação mebên­
gôkre é feita mediante a associação cuidadosa
de diferentes "energias e personalidades de plan­
tas", análoga, por assim dizer, à combinação de
cores a que um artista recorre para produzir
uma obra de arte. As combinações energéticas
conhecidas pelos indígenas podem, portanto, ser
equiparadas a princípios ecológicos que permi­
tem entender, do ponto de vista da ciência oci­
dental, a lógica subjacente à manipulação
mêbêngôkre.
Semelhantes exemplos nos levam a concluir
que é lícito produzir inventários de plantas eani­
mais úteis conjuntamente com um levantamen­
to mais sofisticado do zoneamento ecológico e da
istribuição de recursos naturais. Tais evidên­
cias permitirão a planejadores de uma política
agrícola na Amazônia selecionar espécies nati­
vas úteis, melhor adaptadas à região do que as
que requerem oemprego de altas taxas de ener­
gia eaditivos químicos para oseu cultivo. O co­
nhecimento indigena de solos e das variações
microclimáticas, combinado com padrões de uso
da terra, podem oferecer, em conseqüência, al­
ternativas aos sistemas de monocultura, alta­
mente dispendiosos e ecologicamente
destrutivos, que predominam atualmente
(KERR&POSEY, 1984).
The Miíbêngõkre frequently speak of
"ômbiqwa-ô-toro" plants, or those p/ants which
are "good friends" or "good neighbors" to one
another. The Indians are aware of some species
combinations that develop more vigorously when
planted together. Such synergetic groups often in­
c/ude dozens of plant species, require complex
cultivation patterns, and are characterized in
terms of "plant energy': Thus, a MebêngÔkre gar­
den is created by careful combinations of diffe­
rent "plant energies", just as an artist blends
colors to produce a work of àrt. Planting practi­
ces bllsed on plant energies can be analyzed ao­
cording to scientific methodology, which allows
us to understand, from the view point of Western
science, the underlying logic of Mebêngôkre ma­
nagement.
Similar examples lead us to conc1ude that it
i8 worthwhile to conduct inventories of useful
and animais together with detai!ed sur­
ecological zonation and natural resour­
Results of such surveys will allow
agricultural planners to select useful Amazonian
plant species which are better adapted to the re­
gion than imported ones, which require intensi­
ve labor or chemical fertilizers and pesticides for
their successful cultivation. Amerindian know­
ledge of soils and microclimatic variations, cou­
pled with patterns of land use, can provide
alternatives to the prevailing one-crop systems
which are both extremely expensive and ecolo­
gically destructive (KERR & POSEY, 1984).
17
 oconhecimento mebêngôkre da formação e
desenvolvimento dos apêtê contribui, analoga­
mente, ao entendimento dos processos de flores­
tamento e de recuperação florestal em áreas
devastadas, que ameaçam a integridade das flo­
restas tropicais. É provável que evidências se­
melhantes sejam descobertas entre outros
grupos amazônicos, quando forem sistematica­
mente estudados, segundo a abordagem etnobio­
lógica multidisciplinar adotada no caso
Projeto Kayapó.
Amampulação a longo prazo, tanto no que
diz respeito aos recursos da flora como da fau­
na, representa, igualmente, uma alternativa aos
limitados modelos de florestamento e agroflores­
tamento ou à criação de gado atualmente em vi­
gor em grandes extensões da Amazônia
brasileira. Tudo indica que plantas eanimais na­
tivos podem vir a ser conservados eexplorados
num sistema integrado de manipulação seme­
lhante ao que os índios vêm praticando há sécu­
los (POSEY, 1985),
Finalmente, oaspecto mais esotérico dos re­
lacionamentos sinergéticos de plantas que carac­
terizam a manipulação do solo pelos
mebêngôkre, pode oferecer explicações alterna­
tivas para as relações ecológicas que se estabe­
lecem entre certas espécies e variedades de
plantas. As práticas designadas como "amigos
que crescem juntos" pelos mebêngôkre podem,
efetivamente, revolucionar a agricultura amazô­
nica, substituindo monoculturas.
18
Mi!bêngôkre experience in the formation and
development of "apêtê" has a counterpart in in­
digenous understanding offorest growth and re­
forestation of ravaged areas. Once
systematically studied, similar forest manage­
ment practices will most likely appear wides­
pread among other Indian groups.
The long-term management offorest savaM­
nas, with regard to bothfloral andfaunal resour­
ces, also represents an alternativa to the limited
development models offered by timber extrac­
tion, agriculture, and cattle ranching which cur­
prevail throughout large areas of the
Amazon. Native animal and plant spe­
cies can be simultaneously uti/ized and conser­
ved, lf indigenous integrated management
principies are adopted (POSEY, 1985).
Finally, subtle synergetic relationships
among plants, which are recognized by the Me­
bêngõkre in their management practices may pro­
vide new insight concerning ecologícal
interactions among certain species and varieties
of plants. Diversified planting of "Ômbiqwa-ô-toro"
species known by the Mebêngôkre to grow well to­
gether may effectively revolutionize modern
Amazonian agriculture that depends upon costly
and unstable monocultures.
3.2. Etnopedologia.
Carecemos, como se sabe, de conhecimen­
tos acurados sobre as variantes regionais e mi­
I
crorregionais de tipos e qualidades de solo. Um
exame preliminar da taxonomia do solo mebên­
revela suas sofisticadas distinções verti­
cais e horizontais baseadas na textura, cor,
capacidade de drenagem, friabilidade, etc. As
qualidades de solo são freqüentemente correla­
cionadas a espécies de plantas indicadoras, que
permitem aos índios predizer os componentes re­
sultantes da flora efauna dos ecossistemas. Ca­
da tipo de solo é manipulado de modo diverso,
segundo suas características específicas, sendo
cultivado com variedades de plantas úteis, tidas
como as mais adequadas.
Os índios modificam osolo utilizando diver­
sos tipos de cobertura vegetal, que afetam a umi­
dade e a temperatura. Para isso, empregam
troncos, folhas, palha e casca de árvores. Às ve­
zes,enchem buracos com matéria orgânica, tal
como detritos e cinza, produzindo bolsões alta­
mente concentrados de solo fértil. Folhas de ba­
naneira maduras, espigas de milho, palha de
arroz eoutros materiais orgânicos são empilha­
dos - e, às vezes, queimados em partes sele­
cionadas dos campos para criar adicionais
variações microzonais.
Os mebêngôkre discriminam dezenas de ti­
pos de cinzas de plantas.Crêem que cada uma de­
las possui propriedades específicas adequadas
a determinadas culturas. A cinza de plantas
constitui, inclusive, o mais importante compo­
nente fertilizador em todos os aspectos de agri­
cultura indígena.
3.2. Ethnopedology
There is stil! need of specific knowledge
about the regional and local variations in soi!
types and qualities. A preliminary survey ofMê­
bêngôkre soi! taxonomy shows sophisticated ho­
rizontal and vertical distinctians based on
texture, color, drainage qualities, friability, and
stTatification. Soi! qualities are frequently rela­
ted to indicator plant species that allow [ndians
to predictfloral and faunal components associa­
ted with specific soU types, each of which is ma­
naged differently according to individual
characteristics.
Localized modifications in soils are made by
the Indians using different types of ground co­
ver (which affect moisrure, shading and tempe­
rature), such as vegetation, 10gs, leaves, straw
and bark. Roles are sometimes filled with orga­
nic matter, refuse, and ash to produce highly con­
centrated pockets of rich soil. OId banana leaves,
stalks, rice straw, and other organic matter are
piled (and sometimes burned) in selected parts
offields to create additionallocal variations.
The Mebêngôkre have dozens of types of plant
ash, each of which is said to have certa!n quali­
ties preferred by specific cultivars. Plant ash is
an important component in ali aspects of indige­
naus agriculture.
19
 Todos esses processos evários outros a se­
rem estudados em detalhe atestam até que
ponto os índios modificam eenriquecem seus s0­
los. sabe-se que a famosa "terra preta dos índios
da Amazônia" é extremamente fértil. Ela con·
tém artefatos que comprovam a ocupação indi­
gena, mas pouco se sabe a respeito de sua
formação e por que razão é considerada como
resultado desse processo histórico. Entretanto,
como sobrevivem inúmeros grupos indígenas
que, a exemplo dos mebêngôkre, continuam a
manipular os solos a fim de melhorar sua pro­
dutividade, esses enigmas podem vir a ser decio
frados. Análises da composição dos campos onde
vivem os mebêngôkre sugerem que os solos cul·
tivados melhoram de qualidade mediante ouso
e a sua manipulação <HECHT & POSEY, 1987).
Como se vê, a pesquisa etnopedológica ofe·
rece informações preciosas sobre a qualidade e
de solos localizados, bem como so­
bre plantas e animais associados a variados ti­
solo. Diante da ausência de dados
Clennncos detalhados sobre a maior parte das
terras da Amazônia, a manipulação de solos em
escala, além de impedir sua identificação
acurada, prejudica a produtividade, reco­
nhecidamente menor que a potencial. Nestas
condições, o manejo indígena da cobertura flo­
restal e a fertilização com coberturas de palha,
matéria orgânica e cinzas, oferecem alternati­
vas à situação dominante. Só assim será possí­
vel criar sistemas agrícolas modernos na
Amazônia que melhorem os solos ao invés de
degradá-los.
20
These practices, and many others that are
yet to be studied in detai!, attest to the degree
to which Indians modify, and even enrich, their
soi/s. The famous anthropogenic 80ils ("terra
preta dos índios"), formed through Indian occu­
pation, are known to be extremely rich and wi­
de spread {lrtifàcts of indigenous presence in
Amazonia, but little 18 known oftheir formation
because they have been considered to resultfrom
historical practices that are no
There are, however, numerous
ke the Mebênllôkre that continue to
il to improve fertility and productivity.
of Mebêngôkre fields show that agricultural soils
improve through use and management in índi­
genous hands (HECHT & POSEY, 1987).
From ethnopedological research, therefore,
one can leam more about localized soil qualities
and distribution, as well as the plants and ani­
mais associated with varíous soi! types. Since de­
tailed scientific data are lacking for most of
Amazonia, largescale management of$oils is too
generalized and productivity much lower than
potentia/. Indigenous use of ground cover, mulch,
organic matter and ash, ofier altematives to this
situation. Imagine modem agricultural systems
in Amazonia that succeeded in improving, rather
than degrading, sai/s.
3.3. Etnozoologia.
Os índios observam todos os aspectos de
comportamento animal: acasalamento, nidifica­
ção, alimentação, caça, relacionamento pre­
sa/predador, hábitos diurnos e noturnos, etc.
Transmitem esses .ensinamentos às novas gera­
ções, em parte, criando bichos de estimação nas
aldeias. Para isso, a criança é estimulada a
padrões de comportamento ede die­
espécie e, até mesmo, de um indiví­
duo em particular, uma vez que, segundo alegam,
os animais também têm "personalidade pró­
pria". Os mebêngôkre, tal como outras tribos, es­
tudam, conscientemente, a anatomia animal,
dando especial atenção ao conteúdo estomacal.
Considerando-se as lacunas do conhecimento
zoológico da Amazônia mesmo em relação a pa­
drões alimentares básicos, os biólogos muito têm
a aprender com os caçadores indígenas.
Oacurado conhecimento do comportamen­
to dos insetos é igualmente explorado pelos me­
bêngôkre no controle das pragas de roças. Há o
emprego bem sucedido das formigas Azteca spp.
pelos índios que, deliberadamente, espalham
seus ninhos em áreas infestadas por saúvas (Atta
sPpJ. Segundo os mebêngôkre, ogênero Azteca
um odor que repele a espécie de formiga
destrutiva. Da mesma forma, plantas com nec­
tários extraflorais são cultivadas, ou permite­
se que vicejem na roça porque atraem as formi­
gas benéficas, ajudando na proteção dos plantios
contra as pragas. Vespas parasitas preferem fa­
zer seus ninhos em certos ti~s de bananeira. Os
mebêngôkre plantam uma 'cercadura" circular
com essas bananeiras para proteger seus culti­
vos. Como se vê, o conhecimento do comporta­
mento dos insetos constitui um fator importante
nos sistemas de controle natural, porém delibe­
rado, da agricultura indigena (OVERAL&PO­
SEY, 1987).
3.3. Etbnozoology
etc. They teach these lessons
to theír children partly through the rearing of
pets in the village. Children are encouraged to
learn the behavior patterns and feeding habits
of different animal species that are considered
to have their own "personalities': Like other tri­
bes, the Mebênllôkre conscientiously study animal
anatomy, giving special attention to stomach con­
tents of game animais. Considering how little is
known about the zoology ofAmazonian animais,
even in relation to basie feeding patterns, bioto­
gists have much to learn from indigenous
hunters.
A precise knowledge ofinsect behavior Is uti­
lized by the Mébêngôkre in tlte contraI of agricul­
tural pests. For example, nests of ants of the
genus Azteca are deliberately placed bv the In­
dians in fwrdens and onfruit trees
leaf-cutting ants (Atta
to the Mebêngôkre, the Azteca ants have an odor
which reoels the leaf-cutter ants. In the same
Indians cultivate several plants con­
l-floral nectaries, ofien on the leaves
or stems, which attract predatory ants to serve
as "bodyguards" for the planto Several species
of predatory wasps nest preferentially under the
leaves of banana trees which the Indians plant
to form a living wall around their fields. Thus,
knowledge of insect behavior is an important as­
pect in the manipulation of the natural biologi­
cal control of agricultural pests (OVERAL &
POSEY, 1987).
21
 As taxonomias porulares podem vir a dar
uma ajuda inestimáve aos cientistas ao compa­
rar os conceitos indígenas com as classificações
biológicas. Nove espécies de abelhas sem ferrão
foram "descobertas" através da análise siste­
mática das categorias de insetos sociais discri­
minadas pelo mebêngôkre (POSEY&CAMAR­
GO,l985).
Como se vê, os estudos etnozoológicos podem
oferecer aos cientistas informações básicas so­
bre as espécies esua dístribuição. Provêem tam­
bém o conhecimento dos padrões de
comportamento animal esua aplicação prática.
Tais evidências podem ser utilIzadas com oob­
de desenvolver estratégias na manipula­
ção de animais, servindo, ao mesmo tempo, de
base para modelos de controle integrado de pra­
gas, ambos extremamente necessários no trópi­
co úmido.
22
Folk taxonomies can help Western scientists 3.4. Etnomedicina e Etnofarmac%gia.
through comparison with our systems of plant Uma das áreas mais produtivas da pesqui­
and animal classi/ication. Nine new species of sa etnobiológica é a referente à etnofarmacolo­
stingless bees have been "discovered" through gia. As plantas indígenas forneceram à indústria
the systematic analysis of the Mebêngôkre cate­ farmacêutica uma grande quantidade de drogas
gories of social insects (POSEY & CAMARGO, úteis. Estudos mais intensos nesse campo, foca­
1985). lizando plantas/animais e preparações nativas,
Ethnozoological studies can provide seien­ bem como modos de administração eposologia,
tists with basic information about the relations­ podem contribuir para enriquecê-la mais ainda.
hips of animal species and their distributions, São também importantes, na coleta de dados em
animal behavior, and the practical aspects of ani­ campo, as informações sobre as partes das plan­
mallore. This knowledge can be used as a basis tas utilizadas no preparo de remédios, oecossis­
for rearing native animais and for developing tema preferido, as variações sazonais, as
biological control programs, both importantfor diferenças de solo, etc. Todos esses fatores podem fluence amounts of pharmacologically-active in­
the humid tropics. modificar a quantidade equalidade dos compo­
nentes presentes nas espécies. Nessas condições,
sua inclusão em futuras pesquisas etnofarmaco­
lógicas aumentará consideravelmente a precisão
dos dados e das interpretações, gerando melho­
res hipóteses de trabalho em laboratório
(ELISABETSKY&POSEY, 1987).
Os estudos de etnofarmacologia não só p0­
dem levar a descobertas de novas drogas como
indicar fontes locais adicionais de componentes
já conhecidos. Isto é extremamente importante
em países como oBrasil, onde a importação de
medicamentos torna o seu custo exorbitante e
tem sérias conseqüências sociais ena economia
como um todo.
3.4 Ethnomedicine and Ethnopharmacology.
One of the most productive areas 01 ethno­
biologica/ research is ethnopharmacology.
Plants used medicinally by native peoples are a
prime source of useful drugs for the pharmaco­
logical industry. Intensive study of indigenous
plant and animal preparations, as well as their
modes of administratíon, can enrich these fields
of research. Data on the parts of the plants which
are used in medicines, the ecological preferen­
ees ofthese plants, the seasonal cycle oftheir flo­
wering and fruiting, and the soils in which they
grow are also important since these lactors in­
gredients in the harvested p/ants. The inclusion
of these data in ethnopharmacological studies
can lead directly to more productive laboratory
research (ELISABETSKY & POSEY, 1987).
Not only can ethnopharmacological studies
contribute to the discovery of unknown drugs, but
also of new, local sources 01 known pharmaceu­
ticals. Thís is especially important for countries
like Brazil where the importation of medicines
often makes their costs exorbitant. thereby cau­
sing social and economic problems.
23

Aetnofarmacologia deveria ser associada à
etnomedicina para tornar-se, realmente, eficíen-
quanto à aplicação prática. Inclusive porque,
sem uma compreensão efetiva dos conceitos in­
dígenas de saúde e doença, as terapias popula­
res podem ser inadequadamente testadas nos
laboratórios.
Os m~bêngôkre classificam mais de 50 tipos
de diarréia/disenteria, cada qual tratada com re­
médios específicos. Sugere-se que a pesquisa so­
bre categorias de doenças determinadas pela
medicina popular pode ajudar a esclarecer os
a~entes causais que complicam oquadro da diar­
reia e da disenteria. Corno se sabe, são essas as .
causas mais importantes de mortalidade infan­
til na Amazônia (ELISABETSKY&POSEY,
1987b).
Para avaliar esses tratamentos nativos éne­
cessário compreender as variedades da doença
e, em função disso, elaborar testes eprocedimen­
tos de seleção. Freqüentemente, médicos eetno­
farmacólogos esquecem que, como todos os
fenômenos, as categorias de doença não são uni­
versais, e,sim, social e etnicamente classifíca­
das. Muitas vezes, como no caso mébêngôkre, as
categorias de doenças são mais elaboradas ede­
3.5. Etnobotânica.
Ethnopharmacology should be coupled wíth es de plantas
ethnomedicine to be truly effective. Without an Novas espécies e variedad
dem ser descobertas através da comparação dos
understanding of indigenous concepts of disea­ com os desen­
and curing, folh medicine s cannot be properly sistemas de classificação popular
se
volvidos pela botânica. Considerando-se que as
tested in the laboratory.(ELISABETSKY & PO­
SEY, 1987b) suggest how research into two Mebên· taxonomias nativas são freqüentemente basea­
das em características diferentes das ocidentais,
gôkre folR. disease categories can advance
knowledge of symptoms that complicate diarr· é possível que emerjam semelhanças e diferen­
com relação aos critérios indígenas que nor­
hea and dysentery, which remain the major kil­ ças
humid tropics. The Mebêngô kre classify malmen te passaria m despercebidos. Uma
lers in the
over 50 type8 of diarrhea/dysentery, each of classificações mebêngôkre de plantas, por exem­
plo, se fundamenta nas propriedades farmaco­
which i8 treated with specific medicines. To eva­
luate these folR. cures, one must understo nd the lógicas que apresentam, isto é, que tipo de
doença podem curar. As familias indígenas de
varieties ofthe disorder 80 as to elaborate scree­
ningltesting procedures. Ethnoph armaco/ ogists plantas são formadas, portanto, segundo crité­
rios diferentes dos grupamentos botânicos, mor­
and physicians frequently forget that disease ca­
tegories are, like all intellectually perceive d phe­ fologicamente determinados. No entanto,
nomena, socially classified and not universa l: coincide m, freqüent emente, com as famílias
conhecidas cientificamente. Abase química, to­
categories, as in the Mêbêngôkre case, are
ten,.more elaborate and detailed than their Wes­ mada como critérios de classificação, é,em si
mesma, de grande interesse científico,gerando'
tem counterparts.
Ethnoph armacol ogy and ethnome dicíne a disciplin a denomin ada quimiota xonomia
famílias de plantas mebêngôkre podem, portan­
can, therefore, help scientists understand more
about diseases, their symptoms and differential to, fornecer dados comparativos à classificação
ad­ vegetal. . phasize the importance of numerous plants (in­
treatments. New medicai preparations and
ditional sources of existing ones are important Além da descoberta de plantas medicinais,
a etnobotânica pode investigar novos usos para
3.5 Etbnobotany
p0­
New species and varieties of planta have
been discovered by comparing folk and botanl­
cal classific ation systems. Since native taxono­
may be based on dífferent features than
mies
Western ones, unperceived similarities and dif­
ferences may emerge. Mêbêngôkre plant classi­
fication, for example, is based on each plant's
pharmacological properties (that Is, for which
das diseases they can serve as a cure), with
p/ant categories cutting across morpho/ogically_
based botanical groupings. Nevertheless, these
taxonomies often exhibit a high degree of corre­
lation with Western botanical classification. The
chemical basis for this classification is in itself
an interesting scientific problem for researchers.
In addition to the discovery of medicinal
re­ p/ants, ethnobotany can likewise establish new
uses for known species and document the utili­
zation ofunknown species. KERR et a/. (1978),
example, point to the potential and importan­
. As
ce of cupá (Cissus gongylodes), an edible domesti­
cate known only to the Mebêngôkre and some of
theil' Jê re/atives. KERR & POSEY (1987) em­
cluding COSlus wormingil) used by the Mêbêngôkre
as naturalfertilizers, pesticides, and growth stl­

talhadas para o curandeiro do que para os nos­ results of folh medical studies. Detailed analy­
sis of medicinal plant selection, preparation, and espécies conhecidas e detalhar oemprego de es­ mulants. KERR (1986) has likewlse pointed to the

sos médicos. pécies desconhecidas. Cupá (Cissus gongylodes), importance of lndians in the genetic manipula­

Aetnofarmacologia e a etnomedicina p0- administration by folk specialists can lead to im­

dem, portanto, ajudar os cientistas a compreen­
der melhor as moléstias e seus sintomas, bem
como a validade de tratamentos diferenciais, em
regiões específicas. Novos preparados farmacêu­
proved efficiency in pharmacological screening exemplo, mostra sua potenCialidade eimpor­ tion and improvement of many plant varieties.
corno uma planta comestível domestica­
and testing procedures.
da, que apenas os mebêngôkre e outros grupos
da família lingüística Jê conhecem. Numerosas
plantas são usadas pelos m~bêngôkre como fer­

ticos efontes adicionais às existentes podem tor­ tilizantes naturais, pesticidas eestimulantes de

nar mais acessíveis os tratamentos advindos da crescimento. Os índíos efetuam uma importan­
medicina popular e ocidental. te manipulação genética para a melhoria de mui­
Aanálise mais detalhada da seleção, prepa­ tas varIedades de plantas úteis.
ro e administração de plantas medicinais por

parte de especialistas em medicina popular, p0­

de levar à seleção de plantas e análises farma­

coló~icas mais eficientes na busca de novos

medicamentos. Amesma análise é essencial à

introdução de programas de assistência médica

para essas populações.

25
24
 As práticas mebêngôkre de plantio e trans­
plante - dentro epor entre muitos ecossistemas
indicam em que medida a presença humana
modificou as paISagens da Amazônia. Extensas
plantações de árvores frutíferas, assim como as
já citadas "ilhas florestais" criadas por eles no
campo-cerrado, obrigam os biólogos a reavalia­
rem o que tem sido considerado, muitas vezes
apressada eerroneamente, como "paisagens na­
turais" amazônicas. Sem levar em conta a his­
tória da presença humana em determinada área,
é impossível interpretar os resultados de pesqui­
sas biológicas efetuadas na região (ANDERSON
& POSEY, 1987).
Adependência dos mebêngôkre do uso de
inúmeras plantas, que poderíamos chamar
"semidomesticadas", combinada à proliferação
intencional dessas ao longo de trilhas, clareiras
na mata e antigos campos de cultivo, deve levar
os biólogos a reexaminarem conceitos já consa­
grados, tais como os de domesticação, agricul­
tura e manipulação de plantas. É bem provável
que os processos de domesticação, tidos, com fre­
qüência, como históricos, ainda estejam ocorren­
do entre grupos indígenas, tal como se verifica
no caso dos mebêngôkre (POSEY, 1983).
Nessas condições, os estudos de etnobotâni­
ca não se aplicam apenas à discriminação de
plantas úteis, podendo vir a constituir uma fer­
ramenta da maior valia na descoberta de novas
espécies, bem como das propriedades químicas
de famílias de plantas. As mudanças genéticas
percebidas pelos especialistas indígenas tam­
bém podem ser úteis à compreensão dos desen­
volvimentos que ocorreram e continuam
ocorrendo no caso de certas plantas e seus ma­
nipuladores humanos, inclusive oprocesso de do­
mesticação (KERR, 1986),
26
Mebêngôkre practices of planting and trans­
planting within and between many ecological
communities indicate the degree to which índi­
genous presence has modified ecosystems in
Amazonia. Extensive plantations offruit and nut
trees (such as Brazíl nuts, açaí, piqui, genipap,
cumaru, cacao. cashew, bacaba, and íngá), as
well as "forest islands" (apêtê) created in savan­
nas, compel scientists to re-evaluate what have
been erroneously considered "natural"
Amazonian landscapes. Biologists must begin to
consider the history of human presence in an
area before beginning to interpret results of cur­
rent research.
Mebêngôkre reliance upon many "semi·
domesticated" plants, combined wíth their inten­
tional proliferation of these along the sides of
traíls, in forest openings and old fields, also for­
ces biologists to re-examine existing concepts of
domestication, agriculturB, and plant manage­
ment. Certainly the processes of domestication,
frequently assumed to be historical, are stil! oc­
curring in indigenous groups like the Mebêngôkre.
Thus ethnobotany is not only useful in provi­
ding inventories of useful plants, but can also be
an important tool in discovering new species and
the chemical properties ofplant families. Gene­
tic changes perceived by indigenous specialists
can also be helpful in understanding co­
evolutionary relationships, such as historical and
contemporary processes of domestication.
3.6. Etnoagronomia e Agroflorestamento.
As pesquisas em torno das práticas agríco­
las indígenas resultaram em valiosas informa­
ções a respeito do controle de pragas, que
dispensam oemprego de aditivos químicos alta­
mente onerosos etóxicos. Utilizando predadores
naturais insetos, pássaros e quadrúpedes _
assim como inseticidas e fertilizantes naturais,
a agricultura indígena oferece soluções de bai­
xo custo por requererem pouca energia. Outro
fator-chave no controle natural de pragas pare­
ce ser o Liso generalizado de "colheitas­
armadilhas" dentro e nos perímetros das roças.
Uma manipulação cuidadosa da erosão, drena­
gem, sombra, umidade e temperatura é igual­
mente fator crucial responsável pelo êxito dos
cultivos mebêngôkre. "Corredores naturais"
mantidos entre as roças mebêngôkre servem co­
mo reservas biológicas que, ao mesmo tempo,
protegem epreservam a diversidade de espécies,
efacilitam orestabelecimento dos componentes
da floresta e da fauna durante a seqüência de flo­
restamento natural.
Caso o termo "agricultura" possa ser apli­
cado à manipulação mebêngôkre de planta.s do­
mesticadas e semidomesticadas, pode-se dizer
que a horticultura indígena começa com uma
clareira aberta na mata,na qual são introduzi­
das espécies úteis, e acaba numa floresta ama­
durecida de recursos concentrados. Ociclo se
repete quando as velhas capoeiras, tornadas flo­
restas secundárias, elevam-se e envelhecem em
demasia, deixando de produzir eficientemente,
sendo novamente desmatadas. Os terrenos agri­
culturáveis são projetados para produzir,ao lon­
go desse ciclo de reflorestamento, incluindo
chamarizes para atrair espécies de fauna,
constituindo-se assim, também, em terrenos de
caça.
3.6. Etbnoagriculture and Agroforestry
Research into indigenous agriculture has re­
sulted'in valuable information about control of
pests without cost/y chemicalllprays and addi­
tives. Reliance upon natural predators, as well
as use of natural insecticides and fertilizers, ma­
ke indigenous agriculture both inexpensive and
energy efficient. Intercropping of cultivars ap­
pears to be another key factor in natural control,
as does the extenllive use of "trap crops" wíthin
and at the margins ofplots. Careful management
of erosion, drainage, shade, humidity and tem­
perature are also keys to successful Mêbêngôkre
agriculture. "Natural corridors" maintained bet­
ween Mêbêngôkrefields serve as biological reser­
ves that maintain species diversity, while
facilitating the re-establishment of plants and
animaIs during forest regeneration. Agricultu­
ral plots are also designed to be productive
throughout this reforestation cycle, that also in­
cludes the attraction of game species to produ­
ce hunting grounds.
When applying the restrictive term "agricul­
ture" to Mebêngôkre management of domestica­
ted and semi-domesticated plants, one must
consider that indigenous agriculture begins with
a forest opening into which useful species are in­
troduced and ends with a mature forest of con­
centrated resources, including game animais.
The cycle is repeated when the old-field forests
become too high and dense for efficient produc­
tion and are cleared again.
27

Outras estratégias de manipulação a longo
prazo compreendem as que maximizam a pro­
dução de lenha. Os mebêngôkre têm uma elabo­
rada ciência de tratamento díferencial das
espécies úteis. Ela inclui programas de corte sa­
zonal, podas, preferência pela extração vertical
de cascas, escolha de tamanho de galho ou tron­
co, decisões sobre oponto de maturação e capa­
cidade de secagem; Alenha éuma das principais
fontes de combustível na maior parte do mundo
e, com a escassez prevista de combustíveis fós­
seis, tornar-se-á mais importante,à medida que
aumentar o crescimento populacionaL
No caso da Amazônia, uma das necessida­
des mais urgentes é a de implementar a mani­
pulação integrada florestal!agrícola, de modo a
incluir recursos de flora efauna, mas com oex­
tremo cuidado de salvaguardar oecossistema.
28
Other long·term management strategies in­
c/ude maximizing firewood production. Firewood
i8 a major fuel source in most ofthe world and,
with the predicted shortages of fossi! fuels. will
undoubtedly become more important as popula­
tion increases. The Mêbêngôkre practice differen­
tial management ofusefu! species that includes:
seasonal cutting schedules, pruning techniques,
vertical extraction preferences, limb or trunk si­
ze choices, decisions on the maturation ooint. and
the drying capabilities.
One ofthe most urgent modifications needed
Amazonia is the implementation of integra­
ted agricultural andforest management, which
would include both plant and animal resources
and not be destructive to the local environment.
Indigenous systems, like those of the Miibêngôk­
re, have functioned successfully for millennia and
offer many ldeas for the successful implemen­
tation of diversified and sustainable resource
management models.
3.7. Etnoastronomia.
Uma nova visão do conhecimento sobre os
astros tem surgido nas últimas décadas com os
estudos dos vestígios de populações desapareci­
das,através de pinturas rupestres e alinhamen.
to de construçôes, marcos ou janelas dirigidas
para osol e outros astros.~m.suas várias posi­
ções durante o ano.
Além desses estudos em arqueoastronomia,
os cientistas têm se surpreendido com oextraor­
dinário conhecimento dos índios sobre fenôme­
nos celestes e com a maneira pela qual o
cotidiano, a arquitetura das aldeias, as organi­
zações sociais, os rituais e a mitologia são im­
pregnados de conceitos sobre espaço e tempo
gerados a partir da observação atenta dos astros.
Com os mêbêngôkre as pesquIsas em etnoas­
tronomia têm revelado uma complexa correla­
ção entre as posiçôes sazonais de constelações
estelares eas manifestaçôes temporais do meio
ambiente, como por exemplo: alteraçôes do ní­
vel das águas dos rios, padrões de pluviosidade,
florações, frutificações e comportamento ani­
maI. Aesses "relógios" das estações, se incor­
poram também os diferentes rituais próprios de
certas épocas do ano. É importante notar que na
mitologia, sobretudo com relação aos mitos de
origem ecriação, freqüentemente são encontra­
das relações consistentes correlatas de eventos
astronômicos observados.
Para oetnobiólogo, a etnoastronomia ofere­
ce um método útil para a integração de dados
biológicos ede comportamento com todas as fa­
ses da vida social ecerimonial. Isso é facilmen­
te verificado no calendário ecológico dos
mebéngôkre.
3.7. Etbnoastronomy
New perspectives onfolh learning about the
skies have come from studying archeological
remnants of extinct populatiol18, especia!ly their
rock paintings, the alignment of their buildings
and monuments, and windows or sighting aids
which point to the sun or other stars at special
times of the year.
Besides these studies in archaeoastronomy,
scientists are often amazed by the extensiva
knowledge of celestial phenomena shown by con­
temporary Indians. This knowledge i8 embedded
in the day-to-day life ofthese people, in the orien­
tation and architecture of their vil/ages, their so­
cial organization, their mythology, and their
ceremonial cycle. All ofthese may be linked with
the movements of stars, the moon, and planets
to produce an astronomical calendar.
The Mebêngôkre relate changes in ri ver sta­
ges, rainfall patterns, flowering sequences, and
animal behavior to changes in stellar positions.
Agricultural cycles are likewise marked by ce­
lestial movements. For the ethnobiologist, eth­
noastronomy of/er$ a useful model for the
integration of biological and behavioral data with
ali phases of social and ceremonial
29
4. PROBLEMAS TEÓRICOS E PRÁTICOS.
Idéias e correlacionamentos complexos são
expressos, muitas vezes, através de códigos aI·
tamente simbólicos do mito e do ritual. Tais sím­
bolos só podem ser decodificados quando se
convive e se participa da vida de uma socieda­
de indígena durante um extenso período de
tempo.
Os mebêngôkre, por exemplo, reconhecem
duas entidades mitológicas que ilustram a ma­
neira pela qual crenças podem funcionar com
conceitos ecológicos. Uma delas é Bepkororoti,
espírito de um antigo xamã (pajé) inJustamen­
te morto pelos companheiros de tribo, quando
reivindicava seu direito hereditário a certas par·
tes de uma anta. Seu espírito manifesta-se, atual-
sob a forma de chuva, raios e perigosas
tades que podem matar pessoas ou des·
colheitas. Fica írado quando companheíros
não repartem a caça; o temor à sua vingança
compele os mebêngôkre a serem generosos e a
partilharem-na. Para aplacar a ira de Bepkoro­
roti,Os mebêngôkre deixam de saciar seu apeti­
te por mel, largando nas colméias porções dele,
do pólen e favos. Disso resulta que algumas es­
pécies de abelhas sem ferrão voltam às colméias
coletadas e restabelecem suas colônias. Assim,
a crença em Bepkororoti ajuda a conservar e
manipular colônias de abelhas para assegurar
a continuidade da
OMry-kaàk é
sume a forma de um
raquê medindo, na concepção dos mebêngôkre,
uns vinte metros comprimento e vivendo em
poços profundos. a mais temida de todas as
criaturas sobrenaturais, uma vez que suposta­
mente pode matar, com sua poderosa descarga
elétrica, a uma distância de mais de 500 metros.
Os índios crêem que ele se alimenta de piabi­
nhas. Por isso, sempre que os mebêngôkre vêem
bandos de peixes em desova ou de piabinhas
afastam-se da área por temor a Mry-kaàk. Este
costume tem a função de proteger esses peixes
que constituem oelemento básico da cadeia ali­
mentar aquática dos rios.
As características de Bepkororoti ede
kaàk são mais elaboradas do que as aqui apre­
sentadas. É de se assinalar que nem sempre é
possível descobrir funções ecológicas nos mitos;
entretanto, esses exemplos são citados para en·
corajar opesquisador a filtrar, através dos sím­
bolos, manifestações práticas das crenças
populares.
30
4. THEORETlCAL AND PRACTICAL PROBLEMS
Ideas and complex interrelationships are so­
metimes expressed in the highly codífied and
symbolic forms of myth and ritual. These ideas
cun only be understood when one lives and par­
ticipates in an Indian society for some lenght of
time.
The Mebêngôkre recognize, for example, two
mythological entities that illustrate how beliefs
can function as ecological concepts. One 1s Bep.
kororoti, which is the spirit of an andent shaman
unjustly killed by fellowtribesmen while seeking
his hereditary share of tapir meat afier a hunt.
His spirit now manifests itselfin the form of rain,
lightning, and dangerous storms, which can kill
people or destroy crops. He becomes angry when
people do not share, and fear of his vengeance
compeIs the Mêbêngôkre to be generous. To pia­
cate Bepkororoti, Indians cater to his penchantfor
leaving behind a portion of honey, pol­
and brood in raidead hives. As a result of this
practice, some species of stingless bees return
to disrurbed hives and re-establish colonies.
Thus, belief in Bepkororoti serves to AMM~'A
bee colonies and ensure continued
ducHon.
The Mry.kaák is another entíty that takes the
form of an electric eel-like animal, 20 or more
meters in length, that Uves in deep pools of wa·
ter. It is the most feared of ali creatures, since
it is reported to kill with its powerful electric
shockfrom a distance of 500 meters. It is thought .
to subsist on minnows and, whenever the Mébên·
gokre see schools of spawning fish or minnows,
they stay clear of the area for fear of the Mry·
kaák. This practíce serves to protect the mi"",,,"o
which are the basic element of the
web of the river.
Characteristics of Bepkaroroti and the Mry·
kaák are more elaborate than presented here. It
is not always possible to discover such ecologi­
calfunctions in myth, yet these examples are of­
fered to encourage the researcher to look beyond
the practical manifestations of folk
5. ALTERNATIVAS CONTRA A DESTRUIÇÃO.
Oesboço geral acima descrito sugere várias
áreas de pesquisa baseado nos modelos de eco­
logia índlgena na Bacia Amazônica. Apesar da
maioria das sociedades indígenas já estarem ex­
tintas, eas remanescentes encontrarem-se frente
a uma iminente destruição, ainda há tempo de
proteger esses povos esalvar oconhecimento so­
bre a Amazônia através dos sobreviventes des­
sas sociedades. As pesquisas devem proceder,
com a máxima urgência e cometi­
que com o desaparecimento de ca·
grupo indígena o mundo perde toda uma
riqueza de milênios em adaptações humanas e
experiências acumuladas.
Contudo, oconhecimento científico de siste­
mas ecológicos indígenas está ainda num está­
gio bastante preliminar, embora já existam
claras lições a serem aprendidas com os índios
amazônicos. Baseado no que já foi aprendido
com os índios mebêngôkre, as recomendações a
seguír podem ser feitas para um programa de
desenvolvimento mais ecológico da Amazônia:
l. Reconhecimento de ecossistemas especí·
e variações em comunidades bióticas as­
sociadas a tipos de solo, juntamente com
adaptações encontradas na
2. Maior atenção às plantas nativas que são
melhor adaptadas às condições do clima e do
solo da Amazônia;
S. ALTERNATIVES 10 DESTRUCTION
This general survey suggests various areas
of research based on an indigenous model 01 na·
rural resource management. Although many In­
dian societies have become extinct, and those
that survive are faced with imminent destruc·
tion, there is still time to protect existing groups
and to save their knowledge ofthe Amazon. Re·
search should be conducted with muximum ur­
gency and dedication since, wíth the
disappearance of each Indian group, the world
loses the wealth of knowledge of human experien­
ce and adaptation accumulated over millenia.
,,~, mtific understanding of indieenous
management is
even though it is clear that lessons can be lear­
ned Irom Amazonian Indians. The knowledge we
have obtained to date from the Mébêngõkre In­
dians suggests some genéral recommendations
concerning economic development and environ·
mental conservation in Amazonia:
1- Differences in biotic communities asso­
ciated with varying soíl types should be taken in­
to account, along with the associated adaptations
of agriculture to these soil types;
2 - Greater attention should be placed on na·
tive plant species, whích are better adapted to
Amazonian climatic and soU conditions and are
more resistant or tolerant to pests and diseases
than imported erops;
31

3. Uso de estratégias a longo prazo para ro­
ças velhas e capoeiras enriquecidas deixadas pa­
ra alqueive. Isto incluiria o uso de plantas
semidomesticadas e espécimes animais manipu­
láveis, bem como espécimes selvagens em um
esquema de manejo global, incluindo agricultu­
ra rotativa;
4. Limitação do tamanho das roças, a fim de
prevenir surtos epizoóticos de insetos e doenças,
reduzindo, deste modo, a dependência em pro­
dutos químicos de alto custo e ecologicamente
danosos;
5. Uso de "corredores naturais" entre as ro­
ças para servir de refúgios naturais para ani­
mais e plantas. Isso não somente preservaria a
diversidade biológica, mas também permitiria
um rápido reflorestamento e preservação de
ecossistemas, amazônicos.
Lições definitivas aprendidas com os índios
nos sugerem que a ciência deve relacionar suas
teorias relativas ao meio ambiente de maneira
a mostrar a relevância do equilíbrio ecológico
para todo equalquer indivíduo, conseqüentemen­
te dando a cada um uma parcela da tarefa de sua
conservação. Além disso, a auto-suficiência e a
independência das comunidades poderiam ser a
meta principal de todo projeto de desenvolvimen­
tendo a auto-suficiência por filosofia funda­
mental. Somente então, poderá o desenvol­
vimento prosseguir com sustentáveis benefícios
para a população como um todo,sem a destrui­
ção exploratória dos recursos para obenefício, a
curto prazo, de apenas alguns.
32
3 - Long-term management strategies
should be extended to tropical agriculture. Areas
left after the harvests of annual crops can be
employed for low-density plantations of trees and
other perennial crops, as well as for game ran­
ching. For this we will need to utilize pIant and
animal species now considered "wild", but which
are potentially manageable in a more holistic
scheme of agroforestry management;
4- Agricultura] fields should be both limi­
ted in size and isolated one from another as a
means of restricting outbreaks of insect pests
and plant diseases. In this manner, excessive re­
liance on expensive and ecologically disruptive
pesticides can be circumvented;
5 Natural forest corridors should be pre­
served between agricultural fields as refuges for
animaIs and plants, This not only will heIp to
maintain biological diversity, but will also faci­
litate a rapid regrowth of the forest after harvests
of annual crops, thereby preserving pollinators,
seed disperses, biological controI agents, and
micro-organisms which are important in the
recycling of nutrients and the formation of hu­
mus in the soil.
The lessons of the Mébêngôkre indicate that
each and every individual has a share of respon­
sibility for the conservation Df nature. Like the
Mêbêngôkre, we must come to utilize our natural
resource base without sacrificing local and re­
gional self-sufficiency and economic independen­
ce. Economic growth can then be allied with
sustainable benefits for the population as a who­
113, without the short-sighted and destructive mi­
suse of natural resources for the advantage of a
privileged few.
6. UMA DIREÇÃO NOVA.
Omaior empecilho continua sendo o parco
domínio científico de sistemas indígenas, que re­
presentam urna diversidade enorme da presen­
ça humana na Amazônia. As seguintes medidas
deveriam ser tomadas com urgência, para solu­
cionar a crise ecológica e social que ameaça o
trópico úmido:
1. Implementar programas de treinamento
para preparar biólogos e cientistas sociais capa­
citados a desenvolver pesquisas de campo que
visem, essencialmente, a problemas etnobio­
lógicos;
2. Inserir componentes etnobiológicos em fa­
dos os aspectos da pesquisa científica da natu­
reza amazônica, ou seja, que o uso e
conhecimento de espécies da flora e da fauna se
tornem dados de rotina, como o são a data da co­
leta, o local, o habitat, etc.;
3. Encorajar aformação de equipes interdis­
ciplinares, com orientação etnobiológica, como
denominador comum de pesquisas do tipo "cru­
zamento cultural";
4. Dar ênfase ao uso de plantas e animais na­
tivos em todos os projetos na Amazônia;
5. Realizar experimentos de laboratórios pa­
ra avaliar a eficácia e as potencialidades de es­
pécies nativas (potencial medicinal, valor
etc.);
6. Desenvolver projetos a longo prazo para
testar a eficácia das estratégias de manipula­
ção nativas e suas possibilidades de uso em lar­
ga escala, inclusive uso mecanizado.
Atendidas essas recomendações, a manipu­
lação continuada a longo prazo de recursos na­
turais nativos pode começar a gerar projetos não
apeuas na Amazônia, mas genuinamente ama­
zônicos. Isso exigirá mudanças substanciais na
política científica das instituições de pesquisa.
Amudança deve começar pelo tratamento a ser
aos índios, encarando-os não como proble­
mas a superar ou planificar, e,sim, corno parti­
cipantes ativos do processo, cujas idéias e
aspirações sejam integradas nas estratégias de
mudança, social e ecológica, a fim de torná-Ias
mais racionais.
6. NEW DIRECTIONS
The greatest obstacle to be overcome conti­
nues to be our meager scientific understanding
ofdiverse indigenous systems of natural resour­
ce management in the Amazon. Urgent measu­
res are needed to resolve the ecological and
social crises that threafen the humid tropics. The
Jollowing actions are suggested:
1 - Training programs should be instituted
for the preparation of biologists and social scien­
tists who can undertake field research centered.
in ethnobiological problems;
2 - Ethnobiological components should be
included all aspects of relevant research pro­
jects, so that the native or local use and know­
ledge of plant and animal species become
standard types of field data, Just as are the date
and locality of collection;
3- Interdisciplinary research teams with
ethnobiological orientation should be formed and
supported, since these teams are the common de­
nominator of "cross-cultural" research;
4 - Emphasis should be given to the native
use of plants and animais as an integral part of
all research undertaken in the Amazon;
5- Laboratory investigations should be con­
ducted to evaluate the potential and efficacy of
native species as medicines, foodstuffs, fibers,
building materiaIs, sources of raw materiaIs for
chemical manufactures, etc;
6 - Long-term research projects should be
instituted to test the effectiveness of native stra­
tegies for the management of biotic communi­
ties and their potential for large-scale, even
mechanized, production systems.
Once these recommendations have beenfol­
lowed, continuous native management practices
the sustained use of natural resources can be­
come the basis for development projects which
are not just located in the Amazon, but which are
truly Amazonian. This will entail substantial
changes in attitudes, approaches and govern­
mental policies. These changes should start with
how we view Indians, seeing them not as pro­
blems to development, but as active partícipants
in the planning processo Their ideas and aspira­
tions must be inc1uded in order to develop alter­
naUve models of development that are
ecologically and sociallv sound,
33

7. A PONTE IDEOLÓGICA.
Se OS índios participassem com liberdade e
integridade cultural em um mundo moderno,
multi-étnico etecnologicamente centrado,teriam
então que ser respeitados pela força e obra de
suas sociedades. OProjeto Kayapó tem procura·
do mostrar que oindígena da Amazônia éum va­
loroso recurso humano e uma fonte não
explorada de informação sobre oconhecimento
de r~ursos naturais.Os sistemas ecológicos eas
StudieS,Occasional loomen!: .4n ideological bridge to lhe future, Ciência
estratégias agrícolas indígenas oferecem novos
35(7): 877-94,'
modelos para o desenvolvimento científico da
Amazônia, sem a destruição irreversível que ca­
racteriza os atuais esforços. Se oconhecimento
do índio for levado a sério pela ciência moderna
cal forest ecosystems: The case af the Kayapó Indiana
e incorporado aos programas de pesquisa e de­
3: 1.19-158 "
senvolvimento, os índios serão valorizados pelo
POSEY, D. A.
que são: povos engenhosos, inteligentes e práti­
prática Em RIBEIHO,
cos, que sobreviveram com sucesso por milha·
vol. l, Petrópolis,
res de anos na Amazônia. Essa posição cria uma
"ponte ideológica" através da qual os povos in­
dígenas podem participar na construção de um
Brasil moderno, com a estima e o respeito que
merecem. Além do mais, é evidente que os po­
vos indígenas e seus sistemas de manejo ecoló­
notes 011 lhe classification and Knowleage
gico precisam ser protegidos para se
bees (Meliponinãe, Apidae, Hymenoptera I
desenvolverem com omáximo de liberdade atra­
Indians of Gorotire, Pará Brazil. Ann,
vés de processos estabelecidos por suas próprias
5418J: 247·274.
regras sociais eculturais, que em nossa ignorân­
cia mal começamos a apreciar e compreender.
N. J. H. 1980. Anthrosols and human
34
7. AN IDEOLOGlCAL BRIDGE BETWEEN
PEOPLES
If Indians are to participate with liberty and
cultural integrity in a modern, multi-ethnic, and
technologica! Brazil, they must be granted the
respect which their society merits. This exhibi­
tion, through data generated by the Kayapó Pro­
ject, seeks to demonstrate that the Amazonian
Indian is a va!uable human resource and an un­
derexploited source of knowledge concerning the
region's vast and varied natural resources. Mê·
bêngôkre ecological adaptations and agricultural
A. 1984, Os Kayapó e a natureza. Ciência
strategies offer new models for resource mana­
gement ofthe Amazon without incurring the ir­
reversíb!e destructíon of ecosystems which
characterizes present trends. lf indigenous ex­
perience were taken seriously by modern scien­
ce and incorporated into research and
development programs, then the Indians would
be recognized for what they truly are: adiligent,
inte1ligent, and practical peop!e who have adap­
ted successfully for thousands of years in the
Amazon. This position creates an "ideological
bridge" between cultures which would allow in­
digenous peoples to participate, with the respect
and esteem they deserve, in the construction of
a modern Brazil. Moreover, it is imperative that
Indians and their respective systems of ecologi­
cal management be protected so that they can
develop according to their own social and cultu­
ral rules which we, in our ignorance, have only
just begun to appreciate and understand.
I/ ~/ /./ / / //1 I I" I / lI'
· · JFlR~A}/~~tG~E~/111:
/ / / / / /1 / //;1 /1 1/
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e Natureza na Amazónia,Tübinger ('aM~.,nh;,,~hA
Número 95. Amesma prática é usada na bibliografia adicional.
Note: Thosepapers gel)erated by the Kayapó Pro.
E. ied.lI983. The Di1emma n1rt7nt'l;"'H1 De­
velopmenL Boulder. Colorado:
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York. 1. p.I. Baú 8. P.I. Gorotire 14. P. I. Ca teté
VERSWIJVER, G. 1978. Ahistória dos índios Kayapó.
2. p.I. Mékrãgnoti 9. PI. Kikretum 15. P.I. Bacajá
Rev. Atual. Indíg., 12: 9-16.
3. P.I. Pykany lO. PI. Kubêkrãkên
VERSWIJVER, G. 1978. Enquéte ethnographique chez
4. Iriri Novo 11. P.I. A-ukre Aldeias Isoladas
les Kayapó-Mekrangotí: Contribution à l'étude de la
5. P.I. Jarina 12. P.I. Kokraimôrrô 16. Karara'Õ
6. Xingú 13. P.l Karara'Õ 17. Py'rô
7. P.I. Kretire 18. Ngra-mrári
38 19. Pituiarô
39
111
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POPULAÇÓESINDÍGENAS
Em l.500, quando Cabral chegou ao Brasil, já en­
controu muitas populações que habitavam estas ter­
ras com níveis culturais bastante diversos daqueles a
que os europeus estavam habituados. São muito con­
trovertidas as avaliações da população indígena da
Amazônia, mas os cronistas da época relatam aldeias
muito grandes e densamente povoadas: os cálculos
mais conservadores as estimam em 5milhões de ín­
dios. APÓS os contatos com os europeus, as populações
nativas sofreram uma das devastações mais elevadas
da história humana, causada por doenças introduzidas
pelos brancos, guerras, escravidão e tentativas de
"civilizá-los" de formas consideradas apropriadas pe­
los seus "conquistadores",
Em média, a população índígena em todas as Amé­
ricas sofreu uma redução violenta: cerca de 85% de
sua população total. Este desastre biológico ecultural
aconteceu rapidamente,muitas vezes antes de os primei­
ros brancos chegarem para conhecer o gru~ porque
as doenças já tinham sído espalhadas pelo contato in­
tertribaL
Hoje em dia, sobrevivem apenas 200 mil índios, a
sua maioria (5ll%) na Amazônia. São faladas, aproxi­
madamente, 250 línguas e dialetos distintos.
Os grupos indígenas sobreviventes vivem disper­
sos pelo paIS ediferem em aspectos físicos e culturais.
Essas diferenças e as fortes pressões de nossa socie­
dade criam muitas dificuldades na caracterização do
"índio brasileiro".
dos índios mebêngôkre coletadas nos rios Fresco,
e Itacaíunas. Estado do Pará.! Collected objects
the mêbêngôkre groups at the Fresco, A raguaio ond
ltacaíunas rivers, State of Pará-Brazi!.
40
! , " , / , ", f" ", J ",'/,
EXHIBIf'* / / '
• "I' / ,; i
. principaiS e inclui grupos como os Kaigang, Xavante,
.l."
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AMERINDIAN PEOPLES
In 1500, when Cabral arrived in Braz/I, he found
many peoples inhabiting its lands with very different
cu/tures from those the Europeans were accustomed
to. Numerieal assessments Df Amerindian peoples in
Amazonía are very controversial, but chroniclers of
that time report large villages, higly pop.ulated; con­
servative estimates report such populations at 5 mil­
!íon. After the contact with Europear.s, native peoples
of the greatest catastro~hes in human his­
tory due to díseases introduced by the white man, wars,
slavery and attempts to "civilize" them in appropria­
te ways.
On the average, Ameríndian populations suffered
a drasUe reduction aeross the Americas that decima­
ted some 85% of their total populatíon. This biological
and cultural d/saster happened quickly, ofien before the
jirstwhite man metface-Iv-face with the,groüp, becau­
8e diseases had already been spread by intertribal
contact.
Today. less than 200 thousand Amerindians have
survived in Brazil, most of them (85%) in Amazonia.
There are some 250 different languages and dialeets
among the surviving groups.
These surviving Amerindian groups live dispersed
throughout the country and differ in physical and cul­
tural aspects. Such differences combined with strong
pressures fTom our society create many difficulties in
the charaeterization of the "Brazilian Indian':
/
o TRONCO LINGüíSTICO JÊ E OS GOROTlRE
Dentre os troncos lingüísticos, otronco Jê éum dos
Timbira, Canela, Gavião, Apinayé, Sherente, Bororó e
Kayapó, formando uma faixa ascendente desde Santa
Catarina até o Pará.
Esta exposição aborda a ciência dos Kayapó, au­
todenominados mebêngôkre ("povo do olho
d'água"), que habitam vasta área que se estende pe_
los Estados do Pará e Mato Grosso. Agrande nação
mebêngôkre écomposta por vários subgrupos totali­
zando uma população atual Superior a 3.000 indivíduos.
Apesar de ser hoje razoavelmente pequeno o núme­
ro desses índios, a influência histórica dos mebéngô­
kre ede outros povos indígenas, ao longo de séculos de
existência, especialmente no que diz respeito ao manejo
da natureza, deixou uma marca profunda. na própria
composição do ambiente da Amazônia.
Amaior aldeia da nacão milbêngôkre (Kayapó)
encontra-se no Posto Indígena Gorotire, oqual foi
criado em 1938 eserviu como base de atração para ou­
tros grupos àquela época ainda não contatados. Nele
vivem representantes de todos os subgrupos Goroti­
re, com uma população de mais de 630 pessoas.
OPosto está localizado na beira do rio Fresco, um
afluente do rio Xingu, em uma área de alta diversida­
de ecológica.
Vista tê.... de Gorotl~ Gorotire air view.
No mundo antigo dos mebêngôkre ,a noite não
existia, só a luz do dia. Alguns guerreiros foram bus­
car o escuro Com nhyby- riwãnh ("o dono da noite"),
que lhes deu um pouco de noite numa cabaça. A
oferta era para todos, não só aos guerreiros e aCOm­
panhada da recomendação de destampar acabaça ape­
nas ao chegar à aldeia. Querendo a noite só para si,
os guerreiros desobedeceram à instrução eda cabaça
saíram todos os perigos do mundo. Estes são simboli­
zados pelo escorpião, castigo para os egoístas.
Na sala escura, aprende-se mais sobre esse mun­
do e sobre a noite,
lHE GOROTIRE AND lHE GE LINGUISTIC S1DCi
Among the linguistie slvck, Ge ls ane of the mast
important, In it the Kaigang, Xavante, Tlmbira, Ca­
nela, GavMa, Apinayé, Sherente, Bororó and Kayapó,
form a band that aseends from Santa Catarina Iv Pará.
This exhiblt i8 about the sclence of the Kayapó, self­
dellominated Mi!bêngílkre ("peaple from the water's
source") who inhablt a vast area spreading across the
states of Pará and Mato Grosso. The great Mêbêngôkre
nation is formed by various sub-groups and at present
the total population is above 3,000. Although the num­
ber ofthese lndians ts relatively small today, the his­
torical influence of the Mebêngôkre and of other
Amerindian peoples, through centuries of existenee, es­
pecially in regard Iv the management of nature, has
left a profound mark on the compositioll of the Ama­
zonian environment.
The largest village of the Mebêngôkre (Kayapó) na­
tion is at the Goranre Indian Post which was created
in 1938 and had served Iv attraet other Ameríndian
groups not yet accountedfor at the time. There are re­
presentatives of all Gorotire sub-groups in the village,
a population of more than 630 people.
The Post lies on the Fresco River, a tributary oJ'
the Xingu River, in an area of hlgh ecologial diversity.
In the old world ofthe Mêbêngõkre the night did lIot
exist, just day/ight.
Some warriors went Iv nhyby-riwinh ("the King of
fhe Night") Iv get the dark, and he gave them a little
ofthe nightin a calabash. The of!er was to everybody,
not just to the warriors, and it was given them with the
instruction that the calabash should only be opened
upon arriving at the village. Wantíng the night just for
themselves, the warriors disobeyed the instructions and
out of the calabash came alI the dangers of the \\IOr/d.
These are symbolized by the scorpion, punishment Iv
the selfish.
In the darkened roam, one learns more about sueh
a world and about the night.
41

MEKUTOM
o universo na concepção dos mebtingôkre é
composto de várias camadas (pyka) circulares so­
brepostas como um ninho de vespa (amjy). Opyka
onde hoje moram os mebêngôkre foi descoberto
por um caçador de uma camada superior, ao cavar um
buraco seguindo um tatu. Os antepassados desceram
então para esse pyka através do buraco, utilizando
um corQão de algodão. Nem todos tiveram coragem pa­
ra descer; as fogueiras dos que ficaram são hoje visí­
veis como estrelas no céu. Tendo descido ao centro da
camada inferior, construíram a primeira aldeia circu­
lar à imagem do buraco no céu e das camadas do ni­
nho de amjy.
O mekutom simboliza ouniverso dos meMn­
gôkre: acima estão as camadas do mundo superior.
As penas representam os raios do rosto do sol, as três
mais alongadas sendo onariz e os olhos, enquanto as
laterais retratam as orelhas. Avareta simboliza ocor­
dão utilizado pelos antepassados para descer a este
mundo. Aparte mais elevada do mekutom é circular;
central simboliza o centro do mundo
man:aUUIJ a localização da primeira aldeia. Ocami­
nho do sol nesse mundo é representado pela faixa ver­
melha, unindo onascente e opoente. Os braços da peça
indicam as orientações norte esul onde simbolicamen­
te se situam as roças.
01. Capacete de betume, pintado em vermelho e
branco. Enfeite de tala prendendo um cocar com ar­
mação de taboquinhas cobertas com fios de algodão
e penas de arara vermelha e azul e papagaio. Fabri­
cação euso masculino. Medida: 85cm de altura. Cole­
ção particular.
42
MEKUTOM
The Universe, accordíng to tlle perception Df the
Mebêngôkre, is formed hy various superimposed
lar layers (pyka) like a wasp's nest (amjy). The pyka whe­
re the Mebêngôkre live today, was discovered by a hunte,.
from an upper layer whíle he had been digging a hole
1l0wing an armadillo. Then their ancestors des­
into that pyka through the hole, using a cotton
rape. Not aH were bold enough to descend; the camp­
fires ofthose who stayed are today visible as the stars
in the sky. Having descended to the center ofthe /ower
layer, they hum the first circular village similar to the
/lole in the sky and to the layers oftfte nest ofthe amjy.
The miikutom symbolizes the universe ofthe Mébêngôk·
re: above it are the layers of the superior world. The
represent the rays from the face of the sun:
three more elongated ones are the nose and the
whereas the lateral ones represent the ears. The
symbolizes the rape used by their ancestors to des­
c€nd to their world. The highest part of the mêkulom
i8 circular; its central part 8ymbolizes the center ofthe
world indicating the location Df the first village. The
path of the sun in this world is represented by the red
band, joining sunrise and sunset. The arms of the pie­
ce indicate north and south where, symbolically, the
fields are located.
WAJANGA
Este vitrõ baseia-se em desenhos de autoria do ín­
dio Beptopup esimboliza omito da viagem de wa­
jal1ga (pajé) deste para o outro mundo. Acima, à
direita, está a separação do corpo (kà) e do espírito
(karõ) de uma pessoa. O karõ do wajanga viaja
para leste até alcançar a gigante teia de aranha. De
modo a poder ultrapassá-la, o kà deve converter-se em
um pombo e voar com força,para não ficar retido e
morrer na teia. Do outro lado da teia,há um vasto va­
zio completamente escuro. Somente as pessoas treina­
das para serem wajanga sabem que nessa ampla
escuridão há sempre um pontinho de luz semelhante
a uma pequena estrela. Mas, não se trata de uma es­
trela,e sim de um buraco,através do qual o karã p0­
de passar à outra dimensão. Nesse mundo, invisível
para as pessoas comuns, o wajanga depara-se com
vários níveis de energia, representados por cores. Aí
é que aprende os segredos da vida, da morte eda cura
de doenças. Descobre, então, que a morte é uma i1u"
são e que as doenças são energias estranhas que p0­
dem ser manipuladas nos enfermos. Antes de retornar
ao mundo dos vivos e dos seus parentes, onde deixou
seu corpo, o wajanga passa pela "aldeia dos mortos"
(situada a oeste e representada no vitrô por circulos
concêntricos) e pelo mundo dos espíritos perigosos (re­
presentado na forma do feroz animal mry-kaàkl.
Quando o karô reassume o seu kã, este ressuscita,
e a pessoa considerada morta ao longo do tempo des­
sa viagem, passa a ser chamada de wajanga, ou
grande pajé.
WAJANGA
This statned glass panel is based on drawings by
the lndian Beptopup and symbolizes the myth of the
journey ofthe wajanga (the shaman) to the other world.
Above at right, is represented the separation Df the body
(UI and the spirit (karo) of a person. The karo ofthe _
janga travell! east until it reaches the glont cobweb. 111
order to penetrate It, the kà must transform itself into
a pigeon and fly with sueh force that it does not beco­
me entrapped in the eobweb. 011 the other side of the
web there is a vast voíd of darkness. Only those who
are trained to be a waJaug. know that in such darkness
there is always a spot of light similar to a smaIl star.
However, the spot of /ight is not a star but a hole
which the karõ, call pass ínto the other dimen­
sion. In this world, invisible to ordinary people, the _
janga finds variou8 leveis Df energy, represented by
colors. There one learns the secrets of life, ofdeath and
of the cure for diseases. One then di8covers that death
is an iIlusion and that diseases are strange energies that
can be manipu!ated by the afflicted. Before returning
to the world of the living, that of his parents where he
had left his body, the waJauga through the "village of
the dead" (located to the west and represented in the
stained g/ass panel by concentric cirdes and into the
world of the evil spirits (represented by the figure of
the feracious animal mry·kaák), When the karo retakes
its kà, it is resurrected, and the person who had been
considered dead during the time of the journey then as­
sumes the name wajanga or great shaman.
43
 CALENDÁRIO ECOLÓGICO
Ao interagir com omeio em que vive, eatentando
para os fenômenos que ocorrem ao seu redor, oHomem
toma consciência daqueles que se repetem ano após
ano.
Esse ciclo de fenômenos terrestres e celestes
reflete-se em atividades sociais - pesca, agricultura,
caça, lazer e cerimoniais - gerando um conjunto de
indicadores de épocas do ano que possibílitam conse­
qüentemente a construção de calendários locais.
Em Gorotire, os mebêngôkre escolheram como
seus indicadores celestes de épocas do ano as posições
de certas kanhetire (estrelas) bem conhecidas
no kàikwa (céu). Aobservação das estrelas é feita
pouco antes de myt (sol) nascer.
Esses indicadores celestes, com seus aparecimen­
tos cíclicos, regulares e anuais, servem para referen­
ciar fenômenos de origem terrestres, como as chuvas.
Para os mebêngôkre, ocorrências contrárias á~
expectativas são atribuídas a irregularidades climá­
ticas, a agressões à natureza ou a desrespeito a nor mas
e cerimoniais.
ECOLOGlCAL CALENDAR
Interacting with the environment he lives in, man
»otices fhe phenomena around him, becoming aware
of the ones which occur year afier year.
Such cyc/es of terrestrial and celestial phenome­
na are rej1ected in social activities - fishing, agricul­
ture, hunting, leisure and ceremonies - which generate
a group of indicators of the times of the year which,
in turn, make possible the construction of local ca­
lendars.
In GoroUre, the Mêbêngôkre chose as their celestial
indicators of the year the positions of certain well­
known kanhetlre (stars) in the kàikwa (sky). The obser­
vation of stars was done just before the myt (sun) wauld
rise.
Such celestial indicators, and their cyclic appea­
ran~es, regular and annual, serve as reference to phe­
nomena of !errestrial origin, like the rain.
For the Mebêngôkre occurrences contrary to their
expectations are attributed to climatic irregularities,
actions against nature or disrespect of norms and
rituais.
O início do ano é marcado pelo cerimonial do
bemp, que se estende durante quatro luas: do surgi­
mento do bemp nhõ djà, -largas faixas coloridas
que partem do sol poente -, até a ocorrência das pri­
meiras chuvas. Ao final do cerimonial bemp, pode-se
ver no meio do céu, antes do sol nascer, o ngrót
ou punhado de cinzas, formado pelo aglome­
de sete estrelas, as Plêiades, situadas na conste­
lação de Touro.
Diferentes épocas do ano são acompanhadas da
realização de mêtõro, cerimoniais de caráter sazo­
nal e de grande importância na vivência e na identi­
dade social do grupo.
The beginning of new year is marked by the beç
ceremony which laslsfour moons: from the beginning
of the bemp nhô djà - wide colorjul rays which origi­
nate in the sunset -, untíl the occummce of the j1rst
rain. At the end of the bemp ceremonial one can see in
the middle of the sky, before sunrise, the ngrôt kti're. or
a handful of ashes formed by a cluster of seven stars,
the Pleiades, in the conste/lation Taurus.
Different seasons of the year are followed by the
mêtôrQ, seasonal ceremonies which have great impor­
tance in the social identity of the group as well as in
its daily life.

Festa de Kôkô, Kôk6 festivity,

02. Máscaras-vestimentas, cerimônias. Fabricação

euso masculino. Medidas: 1,60m e 1,47 de altura. S/No
03. Arco e flechas para pesca.

Calendário ecológico (festa do Bemp).

Ecological calendar (Bemp jestivity).
O meMngôkre inicia oseu ano no ngô ngrà
(vazante) com atividades agrícolas que se estendem
por quase todo ocalendário ecológico até a maturação
do milho. Segue-se operíodo da colheita e com a que­
da dos frutos silvestres os animais são atraídos,propi­
ciando a época de caça que coincide com o ngô tàm
(cheia). Em seguida,há um pequeno período de maior
atividade de lazer e convivência famíliar, ao fim do
qua~ com a queda do nível das águas do rio (vazan­
te), intensifica-se a atividade de pesca. Com a vazan­
te inicia-se um novo ano.
The Mcbêng'ôkre starts his year in the ngô ngrà (low
water season) with agricultura! activities stretchíng
throughout almost the entire ecologica! calendar un­
til the maturation of the com It is followed by the har­
vest períod and, with the fali of wild fruits, animais are
attracted, precipitating the Ílunting season which, in
turn, coincides with the ngô làm (high water season).
Then, there ís a short period of heíghtened leísure and
family activities which ends with the !owered water le­
vei in the river (dry season), when the fishing seasol1
is then intensified. Another l1ew year begins.

44
45
PERíoDO DA SECA
Esta sala representa operíodo seco do ano dcs
mebêngôkre,o m~x, ou "tempo bonito", que equivale
aproximadamente aos nossos meses de abríl a
setembro.
Este período tem início, quando o rio ainda man·
tém alto o nlvel das águas durante duas luas, com o
da festa da mandioca ( kwyra kangõ) e com o
ainda com a palha seca.
Durante a terceira lua (meses de junho/julho),
comeí;a-se a ver bemp nhõ djà (raioscoloridosl típicos
do verão, surgindo a partir do sol poente. Este evento
avisa aos índios que chegou a época para começar as
preparações para a festa do bemp.
Nestes meses,o nível das águas do rio começa a
o kubyt (guariba) gordo comeí;a a emagrecer
e a "cantar". Ocorrem as últimas colheitas de batata,
mandioca e banana e começam a se intensificar o
lazer eoconvívío social nas praias enas aldeias. com
grande dedicação às pinturas corporais. E é no final
dessa época que começam as preparações para as
puru metoro (festa das rocas).
Com o início do mês de agosto,o rio já está baixo
ngrà) com as praias grandes (pyka ti
e lIDas grandes ( apêtê ). Aparecem a flor do pente
(~TYti Medida: 40cm de altura. S/N.
macaco (akôrãtí l, a fruta da banana brava ou alecô­
nia (tyryti djô). ocanto do gavião real (kàikwa kam
djô), the singing ofthe royal hawk (kàikwa kam àk), the
àk l, a brocação das roças e a intensificação da pes­
ca que culmina no uso do timbó ( akrôre ).
Durante a lua seguinte (setembro l, termina a épo­
ca do cerimonial do bemp com a grande festa.
46
DRY SEASON
Tltis room represents the dry season 01 tlte Mêbên­ 04. Capacete com armação dupla de talas e cocar
gôkre, tlte mêx, or tlte "fair weather" which is equiva­de penas de papagaio e arara azul. Confeccionado por
lent to the months of Apri! tltrough September.
Such period begins when tlte river still maintains
its high water leveI through two moons, untíl the end
of the manioc festivities (kwyra kaugô) when the com
is stil! in its dry husk.
During tlte third moon (June-July) one begins to
Typical of summer.
see bemp nM djà (eolored rays).
makes its appearance at sunset. This event teUs Ame­
rindians that tlte time to start the preparations for the
celebration of the bemp has arrived.
tlte water levei in the river begins
In such montlts
to drop, the fat kubYt (Guariba, howler monkey) begins
to lose weight and to "sing': Tlte last harvest of pota­
and leisure and
toes, manioc and bananas oceur,
and víllages intensi/Y, witlt mento.
cial activities ofthe beaches
dedication to bady painting. And it is at the end
that the preparatton for the puro mêtoro
the fields) begins.
At the beginning 01 August the river is already
(ngô ngrà) revealing wide beaches (pyka ti lÍgrn) and lar­
ge islands (apêtê). Tlten appear the flower from the
"pente-de-macaeo" (literally "comb 01 the monkey
the bigonlafamily), the fruitfrom the wild banana
li. Brinco de taboca
clearing offields and the intensification offishing whiclt
culminates in the use of "timbó" (akrôre) - a woody vi­
ne, tlte bark cantaining a poison used to kill fish.
During the "ext moan (September) the periodfor
the Ceremony of the Bemp ends in a big party.
homem e usado por ambos os sexos. Medidas: l.00m
de comprimento e 70cm de largura. S/N.
05. Enfeite usado tanto no braço como atrás da ore­
lha. por ambos os sexos. Medida: 41cm de comprimen­
to. S/N.
06. Colar de miçangas, com pingente de unha de
it tamanduá , sementes e penas de arara azul. Usado por
ambos os sexM. Medida: 33cm de comprimento. SIN.
f17. Colar de miçangas, com pingente de conta bran­
ca, semente e dente de pOrco. Usado por ambos os se­
xos. Medida: 29cm de comprimento. S/N.
os, Enfeite dorsal de fio de algodão, com pingen­
tes de quelônio, miçangas contas brancas e sementes.
so­ Uso masculino e feminino. Medida: 30 cm de compri­
S/N.
09. Bandoleira de trançada com pingentes
miçangas, contas vermelhas e brancas,sementes e
de arara vermelhas. Trabalho masculino e uso
low Medida: 42cm de comprimento. MPEG _
13033.
10. Coifa de fios de envira trançados prenãendo pe_
'; of quenas penas de arara azul e mutum. Uso m.asculíno.
), coberto com fios de al­
godão e algodão puro. Pingentes de miçangas, semen­
tes e oluma~ de arara vermelha. Uso masculino.
de comprimento. MPEG - 99()3.
12. Colar de conchas, presas com fios de algodão,
arrematadas com fios vermelhos. Pingentes de miçan­
gas, contas brancas e sementes. Usado por ambos os
sexos. Medida: 22cm de comprimento. S/No
Braçadeira de fio de algodão (par l, com
tas de plumas de arara azul. Uso masculino.
Hcm de diâmetro. MPEG - 10440.
14. Cinto tecido de fios de
de unha de veado. Uso masculino.
comprimento, MPEG - 2208.
15. Flauta de taboca, com cinco orifícios, com en­
feites de fios de algodão e penas de arara vermelha e
Usada somente pelo tocador. Medida: 28cm de
comprimento. MPEG - 9930.
16. Brincos de madeira, usados por ambos os se­
xos, de crianças até a fase adulta. Medidas: 3cm, 4cm,
Sem, 6,5cm, B,5cm e l4cm de comprimento. S/No
47
 PERÍODO DA CHUVA RAINY PERIOD
17. Cocal' de penas de arara azul e vermelha. Su­

Terminado o cerimonial do bemp (início de ou­ Onee the bemp ceremonial is over (early October), porte circular de talas e fios de algodão com pingen­

tubro), a aldeia é invadida pelas mrum-krã-ti (saú­ the village is invaded by the mrum-krã-U (flying ants) tes de miçangas, sementes e plumas de arara

vas de asa),e, na beira do rio, surge a kaj krit kra and on the edge of the river appear the kaj krit kri vermelha. Usado na parte de trás da cabeça, preso ao

kamrek (flor do sarão) e as wewe jaM (borboletas kramrek, a flower called "flor do Barão" in Portuguese cocar. Uso masculino. Medidas do cocar: 1,14m de com.

brancas). Nas trilhas é vista ature ra (flor and the wewe jaká (white butterflies). On the trails one primento e 70cm de largura. Do SUporte: 14em de diâ­

amarela). can see the ture ri (yellow flower). metro. MPEG . 9904.
Aatividade de plantio, que já havia começado na The planting activity that had started during .the 18. Colar de fios de algodão e miçangas, com pin­

lua passada (setembro), termina aqui, e esse é tam­ last moon (September), ends. This is also the Period gentes em miçangas. Usado por crianças. Medida:

bém operíodo da festa da krukryt m~toro(anta). of the krukItt metoru (tapir). 21cm de comprimento. MPEG - 9919.
A atividade intensa da pesca chega ao fim na lua Tile intense fishing aetivity reaches an end in the 19. Bandoleira de sementes pretas, intercaladas

seguinte (novembro) com a busca do tracajá. Pouco next moon (November) with the seareh for the "tra­ com ossos. Confeccionada por homem e usada por

depois, pode-se notar, nas roças queimadas, o cresci­ cajá" (a species of freshwater turtle). Soon after, one crianças. Medida: 3&m de comprimento. MPEG _2209.

mento do plantio que foi feito no final do cerimonial do notices the sprouting of seeds planted in the burned 20. Bandoleira de fios de algodão, com pingentes

bemp. fields, at the end of the ceremonial of the bemp. miçangas e arrematadas com sementes e plumas

Três a quatro luas depois do bemp, quando o rio Three to four moons after the bemp, when the ri­ arara vermelha. Usada por mulher: Medida: 46cm

já apresenta a ngõ-tàm (água funda), tem início o ver already has the ngõ-tàm (deep water), thefeastof de comprimento. MPEG - 10453.
período da festa da kwyra kangô (mandioca), que the kwyra kangõ (maniac) begins, lasting for five 21. Cocar de palha, trançada, prendendo plumas

se estende por cinco luas até oinício do próximo verão. moons until the beginmng of summer. de arara vermelha, tendo ao centro uma pena de mu­

Omilho maduro aparece com penachos e é colhi­ After its tassels appear the ripened COrll is harves· tum. Uso masculino. Medidas: 31cm de comprimento

do juntamente com a melancia, o jerimum e ainda a ted along witll the watermelon, the pumpkín anlÍ lhe e 15cm de largura. S/No
banana. banana. 22. Colar de fios de algodão prendendo dentes de

No final das chuvas, os frutos da floresta como a At lhe end of the rainy season, fruits from macaco. Uso masculino. Medida: 27cm de comprimen­

bacaba, a castanha e outros caem. Com isso o maca­ resl such as the bacaba fruit, the Brazilnut ana to. MPEG • 2192.
co guariba está engordando e a caça é encontrada no fall. Then, lhe howler monkey i8 fattened for the hunt 23. Braçadeira (par J de fios de al~odào, com rose­

pé dessas árvores, pois come os frutos caídos. Caça­ which takes place beneath the trees where the howler t<1S de plumas de arara vermelha. Uso masClIlino. Me­

se mais o porcão, onça, tamanduá e gavião. has been eating the fallen fruits. Hunted animais in­ dida: 8cm de diâmetro. MPEG . 10433.
c/ude the wild boar, jaguar, ant-eater and the hawk. 24. Cocar de penas de arara vermelha, papagaio

ejapu. Uso masculino. Medidas: 3&m de comprimento

e 39cm de largura. S/No

25. Gravatá de fios de algodão e talas, prendendo

plumas de arara vermelha. Usado no pescoço pelos ho­

mens. Medida: 57cm de comprimento. MPEG _9481

26. Braçadeira (par) de fios de algodão, com rose­

tas de plumas de arara vermelha. Usada por ambos

os sexos. Medida: 6cm de diâmetro. MPEG. 9488.

27. Enfeite occipital de taboca, recoberto com fios

de algodão, prendendo pequenas penas de arara azul

e vermelha ena pena grande pequenas penas de japu.

Usada por
mento. S/Noambos os sexos. Medida: ncm de compri­

28. Enfeite de cabeça feito em madeira e tabocas

presas com fios de algodão e penas de japu earara ver­

melha introduzidas nas tabocas. Usado por homem.Me­

dida: 60cm de comprimento. MPEG _10477.

29. Cocar de penas de arara azul e garça, repre­

sentando opor-do-sol. Usado por ambos os sexos. Me­

didas: 1,30m de comprimento e 98cm de largura. SIN.

30. Cocar de penas de arara vermelha e papagaio.

Uso masculino. Medidas: 37cm de comprimento e41cm
de largura. S/No

31 Bandoleira de fios de algodão, com pendente de

cabaça epingentes de sementes earara vermelha. Usa­

da por mulher: Medida: 56cm de comprimento.
MPEG· 8532.
32. Bandoleira de fios de algodão com pingentes de
sementes e penas de arara vermelha e japu. Usada por
mulher. Medida: 73cm de comprimento. MPEG _8669.
48
49
 33. Buzina de cabaça com haste de taboca, reco­
berto com palha e pingentes de plumas de arara ver­
melha. Usada por ambos os sexos. Medida: 71cm de
comprimento. MPEG - 1560.
34. Maracá de cabaça com desenhos lineares e geo­
métricos e pingentes de sementes, contas azuis e plu­
mas de arara vermelba. Uso masculino. Medida: 29cm
de comprimento. MPEG - 10189.
35. Buzina de taboca, com pingentes de fio de al­
e plumas de arara azul. Uso masculino. Medi­
3Scm de comprimento. S/No
36. Arcos e flechas usados na caça e para
abater pássaros.
50
ALDEIA ANTIGA
No começo deste século, a maioria dos mebên­
gôkre morava em uma grande aldeia denominada
pykatôti, compreendendo, possivelmente, uma p0­
pulação estimada em 6.000 ou mais habitantes. Esta
tinha a forma tradicional circular, compreendendo três
circunferênCias concêntricas de diâmetro médio supe­
rior a 1.050 metros. pykatôti era dirigida por dois
mêbenjadwyra rax (caciques "fortes") e nume­
roSOS miibenjad\llyra (caciques secundários). As
mulheres também possuíam uma organização bem es­
truturada com sua própria menire nM mêbên­
jadwyra ("capitã:') a cargo da organização das
atividades econômicas ligadas à agricultura.
Ao longo das duas primeiras décadas deste sécu­
lo. ocorreram muitas epidemias de "doenças dos bran­
cos". introduzidas indiretamente pelo contato com
índios já contaminados durante as lutas
prios brancos. Vestuários e outras mercadorias
levadas para pykatêti ajudaram a dissemiriar
enfermidades,e a população começou a ser dizimada.
Atensão entre os grupos se acirrou, levando, então, a
internas gue culminaram com a separação
que espalhou os mébêngôkre em várias direções,
gerando as atuais aldeias.
ANCIENT VILLAGE
At the beginning of this century, mos! of the me.
bêngõkre lived in a large village called Jlykatôli an es­
timated popu1ation of 6,000 or more inhabitants. lt had
the traditional circular shape, with three concentric cir­
cle8'of an average dia meter greater than 1,050 m. Pyka.
lôti was 100 by two mioonjadwYI1l ras ("strong" chiefs)
and numerous rnwenjadwYI1l (secondary chieIs).Women
also had a well-structured organization with their own
mênire nM mêbenjadwjTa (''female captain"jin charge
ofthe organization ofthe economic activities linked to
agriculture.
During the first two decades of this century, many
of "whíte man's díseases" occurred, intro­
indirectly by contact with Indians already con­
taminated during confrontations with white mano
C/othes and other objects taken to pyk.atóli he!ped to
disseminate diseases decimation of the population
had begun. Tension among the groups increased, lea­
ding to interna! disputes which culminated in the split
that sent the mebêngôkre in various directions, gene­
rating the present vi11ages.
51
 MODELO DA SEPARAÇÃO DAS ALDEIAS DOS MEBÊN· FOUNDlNG OF lHE NORTHERN MÊBÊNGÔXRE
GÔKRE NO NORTE VILLAGES BY FISSION 37. Bordunas
A. Aldeia principal intacta e organizada sob a di­ A. Main vil/age, /nfact and organized under the di· 38. Lanças
reção de chefes "fortes", com numerosos grupos mi­ recUon of "strong" chiefs, with numerous migrating
grantes (a, b, c, d, e, f, g) sob a liderança de subchefes. groups (a, b, c, d. e, f, g) under the leadership of sub­
chiefs.
G

F,\ t /'
Et-fD.-..s
D
/ '\,
C

B. A aldeia principal permanece constantemente B. The main village remains permanently occu­
ocupada. No entanto, alguns subgrupos formaram al­ pied. However. some sub-groups form separate villa­
deias separadas (a, c, el e retornam à aldeia ances­ ges (a, c, e), and Tetum to the ancestor vil/age only
tral apenas para fins cerimoniais. for ceremonial purposes.
G
F
'\
! I'd
EOt-+DHB Mi'lôro (eerimonial de caráter ,azoRal).
/ \Oc Mi'tôro (seasonal ceremoniesJ.

C. A aldeia principal é abandonada, exceto para C. The main vil/age is abandoned, except for pe­
reuniões periódicas de alguns subgrupos para fins ce­ r/odie meetings for ceremonial purposes of some sub­
rimoniais. groups.

f t
~,-j.
G
OA
I \
EOHI ,......08
\ I
1"."'\
Da Oc

D. Aaldeia ancestral é totalmente abandonada. Al­ D. The ancestor vil/age is totally abandoned. So­
guns subgrupos reúnem-se temporariamente em ou­ me sub-groups meet temporarily il1 other places, for
tros locais, para fins cerimoniais. ceremonial purposes.
G
FO ~A
.,.- t Guerreiro, Warrior .
EO {
. . -" '\
I Os
t
DO Oc

E. Os subgrupos das aldeias se dispersam e a hos­ E. The vil/age sub-groups disperse and mutual hos­
tilidade mútua impede reuniões. Ocorrem novas rup­ tilities hinder meetings. New ruptures occur (h, i. j, k,
turas (h, i, j, k, I, m). I, m).
H
G Q OI
'O
O 7/1
Ma AO ~J
"OE
loK' B°'»oK
DO O
c

52

53
 CONTAlOS CONTACTS
Quando os primeiros missionários e os funcioná­ When the first missionaries and agents of the old
por homem no dia do noiva· rios do antigo Serviço de Proteção aos Indíos (SPD, Indian P rotedion Service (SP I), which preceeded the
do. Medidas: 12cm de comprimento e 6,5cm de largu· antecessor da atual Fundação Nacional do Indio (Fu­ present National Indian Foundatlon (FUNAl), contac­
ra. MPEG . 2lB2. naDo contactaram com os Gorotire em 1936, os ted the Gorotire in 1936, the mêbêngôkre were already
40. Cachimbo de palha, usado por ambos os sexos. mebêngôkre já faziam uso de roupas e espingardas, using c10thes and rifles, but the communíty had been
Medida: 16cm de comprimento. MPEG . 9418. mas constituíam uma comunidade reduzida e enfra­ weakened an reduced in size by diseases. Afier six
Cocar de fios de algodão e penas de arara ver· quecida por enfermidades. APÓS seis meses de conta­ months of contact, only 85 Gorotire survived out 01 a
Uso masculino. Medidas: 26cm de comprimento to, dos 356 Gorotíre existentes sobreviveram tão total or 356. Measles and influenza were the main cau­
e 21cm de largura. MPEG - 1547. somente 85. Osarampo e a gripe foram as caus~ prin­
42. Brinco de contas brancas e miçangas (par). cipais dessa catástrofe biológico-cultural. Após tal "pa­ "nn"ifjt'ntion': the Gorotire
Usado por ambos os sexos. Este modelo não está mais cificação", a aldeia Gorotire passou a ser um "posto for other rebel
em uso. Medida: Sem de diâmetro. S/N. de atI"dção" para outros grupos rebeldes. mêbêngôkre acculturation developed
43. Tembetás (diversos). Usados no lábio inferior. A aculturação dos lnebêngôkre unti! 1983, when go!d prospectíng intensifiea
Medidas: 9,Sem, 7cm e 6,Sem de diâmetro. MPEG ­ mente até 1983, quando se intensificou a exploração Amerindian reservanon. From then on, the n"""nrmll'p
9939, 102.15 e 7080. ouro na reserva indigena. A operations and the explaitation
44. Batoques, usados pelos homens, no lóbulo da garimpos e a exploração de generated great financiaI profits for thE
orelha. Medidas: l4,Sem e 12,Sem de comprimento. lucros financeiros para os índios. The road came, and with it, trucks, dust, industria·
MPEG - 1641 e 1517. ela, caminhões, MPira mpr(,l'lti~ lized goods and urban problems. C/othes, rubber san·
45. Pulseira de palha (par). Usado por ambos os e os problemas daIs, watches, tape recorders, cameras, TVs, parabolic
sexos. Medida: 7cm de diâmetro. MPEG - 9423. deoorrl'lt'ha antennas, and the need to earn money for such artides
46. Pulseira de fios de buriti (par). Uso masculino followed. Then came the Church, school and the Army
na festa de noivado. Medida: Bem de diâmetro. MPEG resulting in the rupture of traditional knowledge, re·
- 12177. . quiring re!ationships with lawyers, the military, tra­
47. Testeira de tabocas cobertas com fios brancos e aemanaanao o desmen, bank clerks, bureaucrats and profiteers. With
epretos de algodão. Na parte superior, plumas de mu­ relacionamento com advogadOS, militares, comercian­ these things aI! happening in such a short time, each
tum e penas de arara vermelha. Pingentes com con­ tes, bancários, burocratas e aproveitadores. Com tudo day would bring cultural, economic or social shockfor
tas brancas e amarelas, sementes e miçangas. Uso isso ocorrendo em tão pouco tempo, a cada dia em ao.. Gorotire. In addition, it became necessary to defend,
masculino. Medidas: 3Sem de largura e 40cm de altu­ rotire ocorre um choque cultural, econômico e social. sometimes by force, their lands against invaders, p!a­
ra. S/N. Ademais, surgiu a necessidade de defender, às vezes ce miners ("garimpeiros"), ranchers, squatters ("pos­
48. Colar de fios de algodão, prendendo pequenas pela força, suas terras contra invasores, garimpeiros, seiros") and speculators. All ofthese are adding to the
placas de flandres. Uso masculino. fazendeiros, posseiros.e especuladores. Tudo isso se so­ destruction of the Amazonian forest surrounding the
comprimento. MPEG - 9276. ma à destruição da floresta amazônica, em torno da reservation at a pace faster than one can imagine due
49. Pente, com pingentes de sementes, contas ama­ reserva, num ritmo mais acelerado do que se possa to those above mentioned forces.
relas e miçangas. Confeccionado por homem e usado imaginar.
ambos os sexos. Medidas: lBem de lanrura e 13cm
lltura. MPEG - 13043.
50. Bandoleira de sementes

Medida: 70Cm de comprimento.

5!. Cinto de miçan! .

44cm de comprimento.

52. Pulseira de miçangas, usada por crianças. Me­

dida: Sem de diâmetro. S/No
53. Colar de miçangas e contas. Usado por ambos
os sexos. Medida: 40cm de comprimento. S/N.
54. Colar de concha e miçangas, usado por ambos
os sexos. Medida: soem de comprimento. MPEG -9921. MudanÇll CUIlUIII, Cultural charge.

55
54

DESTRUIÇÃO
AAmazônia é uma das regiões da Terra mais ri­
ca em diversidade biológica. No entanto, estima-se que
uma parte significativa dessas espécies pode entrar em
extinção antes,sequer,de virem a ser estudadas, mes­
mo que superficialmente, pelos cientistas. Ao acabar­
se com uma espécie, a humanidade perde o conheci­
mento de milhões de anos de seleção genética.
Lembre-se extinção é para sempre. Odesmatamento
desenfreado é acompanhado por erosão, poluição e al­
terações climáticas. Adestruição da Amazônia é trá­
gica não só para os brasileiros, mas para toda a
humanidade. Em última análise,são os índios os mais
afetados por essa brutalidade: a aceleração da velo­
cidade de desmatamento gera aumento na demanda
por mais terras, justamente as dos mêbêngôkre e
as de outros grupos indígenas.
CIÊNCIA DOS MEBÊNGÔKRE E ECOSSISTEMAS
Os mêbêngôkre classificam os seus recursos
naturais em diversos ecossistemas. Em cada ecossis­
tema percebido pelos índios, existe uma associação es­
pecífica de plantas eanimais. Profundos conhecedores
do comportamento animal, os mêbêngôkre sabem
as plantas que interessam a cada animal. Por
outro lado associam as diversas espécies de plantas as
variedades de solo. Cada ecossistema é, por conseguin­
te, uma unidade coesa de interações entre plantas, ani­
tipos de solo e o oróorio homem mebên-
Dentre os principais ecossistemas percebidos pe­
los índios estão: hapôt (campo-cerrado), bà (flores­
tas), hrãnh (serra), ngô kót (beira do rio) e epti
(mato fechado). Subcategorias dessas geram uma so­
fisticada Classificação ecológica. É importante notar
que,além desta classificação, os mêbêngôkre tam­
bém diferenciam os recursos dos ecossistemas em ní­
veis verticais. Reconhecem assim a diversidade
espacial da disponibilidade de recursos em diferentes
ecossistemas, por exemplo, que há recursos ao nível
das copas das árvores em certos tipos de florestas que
não se encontram em campo-cerrado e outras flores­
tas. Rios e lagos oferecem recursos diversos a cada ní­
vel de profundidade.
56
MODEW COGNITIVO COGNITIVE MOOEL
OESl'RUCTION
Os ecossistemas manipuladas pelos mêbêngôkre Ecosystems manipulated by the mibêngôk.re are
Amazonía is one of the regions having greatest bío­ não são classificados em unidades estanques, mas not classified in isolated units, but are graded on a con­
logícal díversity on Earth. However It ts estimated that segundo uma gradação contínua entre os pólos da bà tinuum between the poles of the bà (forest) and kap6t
a significant number of species can become endange­ (fJoresta) e kap6t (campo-cerrado). Como parte desse (sallanna land). As partofthis continuum onefinds the
red even before tney are studied, even superficially, by continuo encontram-se apªtê ("ilhas de floresta") apêtf (forest patches) created by the savanna Indians.
scientists. When a species becomes extinct, mankínd criadospelos índios no camPQ::Cerrado. As ibe (capoei­ The lhe (old fields or enriched secondary forest) link
loses the knowledge of mil/íons of years of genetic se­ ras elU'lquecidas ou roças velhas) ligam os apªtê à M, the apê/i to the bà, and it i8 in such transition zones
lection. Remember: extinclion is forever. Vncontrol­ e é nessas zonas de transição que QCorrem as pry that the pry (forest traHs) occur. Such trails are wide
led deforestadon is followed by erosion, pollution and Ilri lhas na floresta). Essas trilhas são suficientemen­ to permit the opening of clearings in
clímatic changes. Destruction ofAmazonia is tragic not te amplas a ponto de permitir a abertura de clareiras in the middle of the forest containing
justfor Brazílians, butfor all of mankind. In the long ou a formação de nichos no meio da floresta contendo savanna plants.
run, Indiana are the most affected by such brutality: plantas típicas de campo-cerrado. Entre kapôt e Between the kapôl and apêl~ occur ecosystems
the acceleration of the deforestation rate acoomparties ocorrem ecossistemas que, pela influência dos that, from the infiuence of the lndians, nave elements
the demand for more land, precisely that whích belongs reunem elementos de floresta com os de campo- of forest combined with savanna: trails in the kapõl
to the mebêngôkre and other Indian groups. trilhas no kapôt ladeadas por árvores - o sided by trees the pry kôl ; rocky ferrain alternated
pry kôt ; áreas rochosas com terra preta depositada with black soi! allowing typical species of forest and
entre as pedras, permitindo a criação de espécies savarma in the same t'cosystem the keQ pO li. Other
típicas de florestas e campo-cerrado no mesmo ecos­ managed areas include the bll krê li (clearin/(s), whe­
sistema - os klm po ti . Outras áreas manejadas in­ re domesticated plants can be cultivated in
cluem os bà krê ti (clareiras), onde plantas itself, besides the puro (fields) and kikre bunum (vil.
domesticadas podem ser cultivadas na própria floresta, lage home gardens). In their environmentaI systema.
além dos puru (roças) e hikre bunum (quintais nas tization the mebêngõkre seek to manage the
aldeias). Em sua sistematização do meio ambiente, os ecosystems to maximize biological diversíty and to
MÊBÊNGÔKRE SCIENCE AND ECOSVSTEMS mêbêngõkre procuram manipular os eco!,sistemas keep the animais and plants they appreciate the most
para maximizar a diversidade biológica e manter near them.
The miibêngôkre classify their natural resources withín próximos de si os animais e plantas que mais
various ecosystems. Each ecosystem ia perceived by apreciam.
the Indians to exist wíth a specific association of plants
and animais. Having a profound knowledge of animal
behavior, the mebêngôkre, know wÍlich plants attract
which animal. On the other hand, they associate seve­
ral species of plants with varieties of soils. Conse­
quent/y, each ecosystem is a harmonious union of
interactíons between plants, animais, types of soi! and
mebêngôkre man hímBe!f.
Tile most important ecosystems that are percei­
ved by the lndians are: kapôt (savanna land), ba (/0­
kninh (hil!s and mountains), ngô kôl (ríver bank)
êpli (densa forest). Sub-categories of these
rate a sophistícated ecologícal classification. It i8 im­
portant to note that besides this classificatíon, the
mêbêngôkre also differentiate ecosystem resources in
vertical leveIs. So, they recognize the spatial diversíty
Df resouree availability in different ecosystems sueh
as those found in the canopy of trees in certain
not found in savanna of other forests.
lakes also offer varíous resources at each depth
leveI.
57
APÊTÊ
ofogo tem sido tradicionalmente apontado como
a única forma de manejo praticado por grupos indíge­
nas nas imensas áreas de campo-cerrado no Brasil.
Nessas regiões, o fogo serve, basicamente, para lim­
par a vegetação e facilitar a caça.
Estudos recentes mostram que omanejo pelos me­
bêngôkre é bem mais complexo. Freqüentemente,
espécies úteis são coletadas para replantio próximo a
trilhas e acampamentos.
Nos kapot kein ("campos limpos") em volta da
aldeia de Gorotire, situam-se "ilhas" de vegetação le­
nhosa conhecidas como apêtê, contendo em seu con­
junto uma elevada concentração de plantas de usos
diversos, tais como: medicamentos, atrativos de caça,
alimentação, lenha, adubo, sombra.
Os índios exercem, ao que parece, um papel ativo
na formação e conservação dessas ilhas. Segundo in­
formantes, ,de um total de 120 espécies inventariadas
em dez apêtê, cerca de 75% dessas podem ter sido
resultado de plantio. Este processo se inicia com o
transporte de serapilheira e material orgânico obtidos
de termiteiros e formigueiros para locais abertos no
campo. Os plantios são feitos nesses montes de mate­
rial orgânico seja por sementes, estacas ou transpor­
te de mudas. A formação desses apêtê parece
facilitar a regeneração natural e a expansão das ilhas
de vegetação. Na época das queimadas do cerrado, fre­
qüentemente, protegem-se os apêtê, permitindo a
manutenção da vegetação manejada.
Os índios consideram que os apêtê se prestam
a aumentar a disponibilidade de recursos naturais nas
cercanias da aldeia, exercem papel estratégico em
eventuais ataques a esta, e propiciam sombra para
repouso.
As formas sutis de manejo de cerrado pelos mé­
bêngôkre parecem indicar que muitos dos ecossis­
temas até hoje considerados como "naturais" podem
haver sido profundamente alterados pela manipulação
por populações indígenas.
58
APÊTÊ
Fire has traditionally been designated as the sole
type of land use management practiced by Amerindian
groups in the vast interior of Brazil. In such regions,
fire is used primarily for c1earing vegetation and for
improving hunting conditions.
Reeent studies show that mêbengôkre manage­
ment is far more complexo Ofien, useful species are col­
lected to be replanted along trails and in villages.
In the kapot kein ("openfields") around the Goro­
tire vil/age, there are "patches" of woody vegetation
known as apêtê which hold a high coneentration of
plants having several uses such as: medicine, food,
wood, fertilize r, shade an game atractants.
The Indians it seems exert an active role in the for­
mation and eonservation of such patches. According to
informants, of a total of 120 inventoried species in ten
apêtê about 75% could have been planted. This process
starts with the transport of organic matter obtained
from termite nests and ant nests to open areas in the
field. Planting is done in these piles of organic mate­
rial using seeds or seedling transplants. The formation
of these apêtê seems to facilitate the natural regene­
ration and expansion of the forest patches. Dfien, at the
time of burning the savanna lands, the apêtê are pro­
tected a110wing for the manintenance of the managed
vegetation.
The Indians understand that the apêtê work to in­
crease the availability of natural resources in the sur­
rounding areas of the village, provinding cove'r for
ambushing enemies during attacks and provinding sha­
de for resting.
The subtle forms of management by the mebên­
gôkre seem to indicate that many of the ecosystems
considered as being "natural" up to now might have
been deeply altered by the manipulation done by Ame­
rindian populations.
TECNOWGIAS INDíGENAS AMEiUNDIAN TECHNOWGY
Oinventário das plantas e anímais coletados em The inventory of plants and animais collected in
Gorotire revelou que quase sua totalidade tem aplica­ Gorotire demonstrated that almost a11 of them have
ções úteis. Dentre estas destacam-se: alimentos para úseful applications. Among these, special mention
consumo humano e anímal, medícamentos, confecções should be made of: food for human and animal con­
de armas e peças de importância cerimonial e artesa­ sumption, medicines, construction of weapons and pie­
nal, condimentos, preservação de alimentos, montagem ces of ceremonial and hándicraft importance,
de armadilhas, fiação de algodão e trançado de fibras, condiments, food preservatives, setting up of traps, eot­
os quais se constituem em uma pequena amostra de ton spinning and fiber weaving, which represent but
versatilidade das técnicas tradicionais ou tecnologias a sma11 sample ofthe versatility oftraditional techni­
dos mebêngôkre. ques or Mêbêngôkre technologies.
55. Carimbos para pintura corporal. Usados
por ambos os sexos. Medidas: 17cm e
4cm de comprimento.
MPEG - 9292 e 10263.
56. Vaso de ouriço de castanha para colocar
as tintas. Usado por ambos os sexos. Me­
didas: 12cm de altura e 19cm de
diâmetro.
MPEG - 10214.
57. Casca de árvore "lixeira" (Coratella
Americana), de onde é retirada a tinta
preta que,misturada com genipapo,é usa­
da na pintura corporal. Medida: 15cm de.
comprImento.
MPEG - 10270.
58. Fusos, fabricados por homem e usados
por mulher. Medidas: 39cm e 41cm de
comprimento.
MPEG - 9430 e 10179.
59. Novelos de fios de algodão.
MPEG - 10386 e SIN.
60. Cinto de fios de algodão. Uso feminino.
Medida: 28cm de comprimento.
MPEG - 10285,
61. Tear para confecção de braçadeira, com
duas delas. Usado por ambos os sexos.
Medida: 34cm de comprimento
MPEG - 9934.
62. Instrumento musical, composto de duas
toras para marcar o ritmo das festas.
Uso masculino. Medidas: 35cm e 32cm
de comprimento.
MPEG - 10174.
63. Tubo de taboca para guardar a resina
usada na pintura da cabeça. Usado por
ambos os sexos. Medida: 16cm de com­
primento.
MPEG - 2158.
64. Cachimbos tubulares em madeira, usa­
dos por ambos os sexos. Medidas: 15cm e
17,5cm de comprimento.
MPEG - 9587 e 9588.
59
65.Abano, confecção e uso feminino. Medi­
das: 23cm de comprimento e 27cm de
largura.
MPEG 13037.
66. Cesto com tampa para guardar penas,
confecção e uso masculino. Medidas:
31cm de largura e 19cm de altura.
MPEG - 2155.
AS PI,ANTAS CURAM? DO PLANTS CURE?
Oestudo de plantas medicinais é importante,uma i8 important since
vez que pode servir para: on:
1) A descoberta de novos e melhores medicamentos; new better medicines;
2) O reconhecimento de novos usos para medicamen­ The dlscovery uses for medicines already
tos íá no mpr""rl,,· in market;
medicinais como fonte de 3) The dlscovery of medicinal plants as an altero
conhecidos e que são importa- native source Df already known medicines that are pre­
Brasil, permitindo assim uma economia de re­ sently being imported by Brazil, allowingfor significant
cursos financeiros à Nação; savíngs of foreign exchange to the nation;
4) Autilização das plantas medicinais ou de suas pre­ 4) The utilization of medicinal plants or their phar­
parações farmacêuticas simples (xarope, extratos,etc.) macological preparations (syrup, extracts, etc.) as low
como medicamentos de báixo custo. cost medicine.
AAmazônia é uma região prívilegiada para oes­ Amazonia is a
tudo de plantas medicinais, pois possui uma flora rica medicinal
e populações (índios e caboclos) conhecedoras do va­ latíons
lor medicinal das plantas. No entanto, oentendimento
sobre saúde, doenças e maneiras de tratamento varia
entre as culturas.
estudando-se conceitos de saúde e essence, by studyíng concepts of health of Ama­
das populações amazônicas pode-se gerar novas zonian populations one can generate new ideas for the
para a medicina, desenvolver remédios melhores e medicaI science, developing better and more accessi­
mais acessíveis para todos e, por outro lado, planejar ble medicines for the general population and, in addi·
a melhor maneira de levar nossa medicina para es­ tion, pIan the best way to bring our medicaI science
sas populações. to such populations.

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Planllls medidnals, Medicinal planls.
60
61

SAÚDE. DOENÇA E SEUS AGENTES
Muitos mebêngôkre conhecem suas plantas medi·
cinais. Além desse conhecimento comum, os milbêngô.
kre têm dois tipos de especialistas em saúde:
- Os me kut~ pidja man, aqueles que conhecem
muitas plantas medicinais; são eles os primeiros a ge.
rem procurados pelos pacientes e são capazes de lidar
com as doenças que afetam apenas o kà sem a inter·
venção de espíritos.
Os wajanga, que são os especialistas no trato com
os espíritos. Cabe ao wajanga evitar que o espírito da
pessoa fique longe de seu corpo, reconhecer o espirito
ruim que o invadiu, expulsá·lo e ajudar o espírito ori·
a retornar ao seu corpo.
Para os m~Mng6kre,a saúde écaraterizada pelo
equilíbrio de todas as energias cósmicas. Oser huma­
no, para eles, é composto do kà,casca ou corpo, e do ka·
rõ, espírito. As doenças podem- se manifestar no corpo
ou no espírito.
O corpo pode ser afetado por animais (picadas,
mordidas, ferradas, etc.), por comidas estragadas (por­
co mal cozido, mandioca verde,etc.l, pela ingestão ex­
cessiva (muito mel, muito fumo, etc.), pelo contato com
ossos, pêlos, urina e fezes de animais. O espíríto pode
ser afetado por problemas sociais, ou atitudes que ve­
nham causar danos ao meio ambiente; estes são en·
tendidos como fontes de desequilíbrio e portanto fontes
de doenças.
A maioria das doenças tem onome do animal a elas
associado (wet kanê = doença de escorpião = ferrada
escorpião;amjô-kanê= doença de rato = o rato in­
a banana que ao ser ingerida causa d()j
kunum·/tanê =doença de capivara =as fezes de
vara causam coceira no corpo), descrevem osintoma
principal (mê·íngrà kanê::::; diarréia preta ;mê-tyk-djà=
fraqueza), ou tem onome de um animal cuja caracte­
rístIca lembra um sintoma da doença (kaprlHanê=
doença de jabuti reumatismo; pato kanê = doença de
tamanduá = vitiligo) .As plantas medicinais têm o no.
me da doenca que curam, restabelecendo oequilíbrio.
62
HEALTH, SICKNESS AND THEIR AGENTS
Many mêbêng6kre know their medicinal plants.
Besides their common knowledge, the mebêngôkre ha­
VEi two kinds of health specialists:
The me kutê marl, those who know many medici­
nal plants; they are the first sought by the patients and
are able to deal with diseases that affect only the ki,
without the intervention of spirlts.
The wajanga, who are specialists in dealing with
spirits. It is the waJanga who keeps the spiritofthe per­
son away from his body, who recognizes the evil spirit
that invaded him, and expels it enablíng the person's
original spirit to return to his body.
c·For the mébêngôkre, health is characterized by the
equilibrium of aU cosmic energies. For them, the hu·
man being is formed by the kà, shell or body, and by
the karii, spirit. Diseases can appear in the body or in
the
can be affected by animaIs
etc), by spoiledfoods (poorly cooked
manioc, etc), by excessive ingestion I
smoke, etc.) or by contac! with bones, hairs, urine, and
animalfeces. The spirít can be affected by social pro­
blems. or attitudes than might cause environmental da­
mage; these are understood as being sources of
disequiUbrium and, therefone, sources of sickness.
Most sicknesses have the name of the animal as­
sociated with it ( wet kanê scorpion disease scor­
sting; amjô·kanê :=: rat disease = the rat infects
banana which when eaten causes disease, kuniim­
kunê capybara disease capybarafeces causes the
skin to iteh); describe the main sympton associated
with it (me·ingrà kanê black diarrhea and mê-tyk­
djà = weakness) or have the name of an animal who·
se characteristics reflects or are reminiscent of the di·
sease (kaprã·kanê land turt/e disease = rheumatism,
pàt kanê= tamandua disease vitiligo).
have the name of the discas e they
cure, reestaOllshmg the equilibrium.
AGRICUUURA
1. SOLOS
Os solos são classificados pelos índios com base em
sua textura, cor, capacidade de drenagem, e friabili·
dade. Cada tipo é manipulado em função das varieda­
des de cultivo que a ele melhor se adaptam. Acobertura
vegetal épreservada cuidadosamente para manter con·
dições favoráveis de umidade e tem~ratura. Cinzas e
adubos naturais, bem como técnicas de aeração e com·
pactação, são utilizadas para aumentar a fertilidade,
2. ADUBOS. INSETICIDAS. CONTROLE NATURAL.
As roças dos mêb~ngôkre não demandam agentes
quimicos para fertilização nem pesticida. É utilizada
uma grande variedade de "remédios", que espantam
pragas enquanto estimulam o crescimento do plantio.
Aestratégia do plantar é fundamental: pequenas r0­
ças com mistura de plantios são mais adaptáveis ao
trópico úmido. Predadores naturais são atraídos para
dentro e próximo das roças para facilitar o "control~
natural" de pragas. Até a puru-no-kà (margem de ro.
ça) serve à germinação de plantas não.cultivadas que
agem como barreira ao ataque por pragas.
3. AGRICULTURA GERAL.
O sucesso da agricultura mebêngôkre reSide na di·
versidade do plantio. Em média, cada roça contém 54
variedades de plantas cultivadas:Cada variedade é ma·
nipulada diferentemente, em função de suas caracte­
rísticas e exigências ecológicas específicas. A seleção
genética das variedades, plantadas ao longo dos sécu­
los de experimentação, explica porque estes e outros Ín­
dios da Amazônia conseguiram um tesouro inestimável
de flora domesticada.
AGRÍCULTIJRE
1. SOILS
Soi/s are classified by the Indial'lll based on their
texture, color, drainage, qualiHes, and 'riability. Each
type i8 manipulated according to the cultivation variety
that is best adapted to it. Vegetation cover is carefully
preserved to maintainlavorable conditions Df mois/u·
re and temperature. Plant ash and natural fertilizers,
as well as techniques 01 aeration and compactation, are
used to increase fertility.
2. FERTILIZERS, PESTICIDES AND BIOWG:1·
CAL CONTROL
Mébêngôkre fields do no! demand chemical inputs
either offertilizers or pesticides. A wide variety of "me·
dicines" are used which keep lhe pests away while sli·
mulating plant growth. The plantlng strategy is Df
fundamental importance: small fields with mixed
plants are better adapted to humid tropics. Natural pre­
dators are attracted to the fields and the surrounding
aTea in order to provide "biological control" of pests.
Even the puru·no·kà (edge ofthe field) ís usedfor the
germination of non..çultivated plants that work as a buj.
fer against the attack of pests.
3. GENERAL AGRICULTURE.
The success of the mêbêngôkre agriculture rests
upon the díversity of planting. Each field containing,
on the average,54varietiesismanipulated differently;ac­
cording to its characteristics and specific ecological de­
mands. The genetic selection of varieties, planted
through centuries ofexperimentation, e-xplail'lll how the·
se and other AmazoníanAmerindians attained such an
immeasurable treasure of domesticated fiara.
63
 MANFJO DE WNGO PRAW LONG~ERMMANAGEMENT

67. Cesto cargueiro. Feito por homem e usa­ Pensar no futuro e manipular os recursos naturais Th thínk abaut the future and to manage natural
do por mulher. Medida: 37cm de altura. a longo prazo são características básicas da sistemA­ resourees for the long-term are basle charaeteristics
S/No tíca de manejo ecológico dos miíb~ngôkre.Plantam ár· ec%gieal management ofthe mebêngôkre. For
63. Depósito de cabaça para colocar semen· vores que frutificarão apenas para proveito de seus oftheir heirs they plant trees that will bear
teso Trabalho e uso feminino, Medida: herdeiros em uma ou duas gerações, como, por exem· fruíts withín one or two generatíons, sueI'! as the
18cm de altura. pio. a castanheira-do-Parã. Puru(roças) são converti· Castanha-da-Pará (Brazil nut). Puro (fields) are eon­
MPEG - 8076. das em ibe( capoeiras enriquecidas) pela plantação de verted Into ibe (enriched scrub vegetation) by planting
69. Conjunto de três cabaças para colocar espécies atrativas de animais, passando a funcionar co­ species to attraet game animals, therein becoming nun·
sementes. Usado por crianças. mo áreas de caça. Clareiras, trilhas e outras áreas de ting reserves. Clearings, trails and other management
MPEG - 10220. manejo servem como reservas de recursos genéticos, areas work as reserves of genetle resources, preser·
70. Cestos cargueiros. Feito por homem e preservando, e até estimulando, a diversidade bioló­ víng, and even stimulatíng, bíological diversit}'. Re·
usado por mulher. Medidas: 34,5cm de gica. Pesquisas na aldeia de Gorotire demonstram que seareh in the Gorotire village demonstrated that the
altura e 30Cm de altura. os miíb~ngôkre concentraram uma enorme variedade de mêbêngôkre planted an enormous variety of native and
S/N°s. plantas nativas e introduzidas. O ponto básico do ma· introduced plants. In essence, the basíe aspect of the
71. Tubo de taquara para carregar água. nejo indígena é, pois, a visão de longo prazo com ênfa­ Indian management is, therefore. a long·term perspee·
Uso feminino. Medida: 64,5cm de com­ se na preservação, e não na destruição dos recursos tive, with emphasís on preservation, and not on lhe des­
primento. nativos da Amazônia. truction of native resources of Amazonia,
MPEG 10212.
72. Depósito de cabaça, com tampa de palha
trançada para carregar sementes. Traba·
lho feito por ambos os sexos e uso femi·
nino. Medida: 12cm de altura.
MPEG - 8075.
73. Conjunto de ouriços de castanha, amar·
rados com envira, para serem transpor·
tados da mata para casa. Medida: 22cm
de comprimento.
MPEG - 2291.
74. Cesto cargueiro, usado por mulher. Medi·
da: 19Cm de altura.
MPEG- 9957.
75. Abano de uso feminino. Medidas: 23cm

de altura e 27cm de largura.

MPEG-2239.

76. Esteira. Uso feminino. Medidas: 67cm de

comprimento e 46cm de largura.
MPEG - 2282.
77. Tipiti. Trabalho masculino e uso femini·
no. Medida: 82cm de comprimento.
MPEG -9961.
78. Cuia, usada também para colocar ali·

mentos, feita por mulher. Medida: 22cm

de comprimento.

MPEG - 2243.

79. Cesto. Trabalho e uso masculino. Medi·

da: 18cm de altura.
MPEG 2047.
80. Amostra de cipó, usado como alimento,
assado e cozido, quando o mesmo está
novo. Medida: 3Gem de comprimento.
MPEG-9962.
81. Pilão e mão correspondente. Feito por
mulher. Medidas: pilão 3Gem de altura
e 22,5cm de diâmetro; mão - 1,16m de
comprimento.
S/No

64 65
 1,/,/,/1// 1/11
'bH~JJJJ1t~
! /

Puru-no-kà • margem de roça Thre ri - flor amarela

(edge of fields) (yellow fIower)
pry • trilhas na floresta ry..yti djô - fruta da banana brava
(forest traíls) (wild banana fruiO
Akôriti • flor do pente de macaco Kuniim·kaue • doença de capivara
pry klll • trilhas no campo-cerrado ladeadas por árvores Wajanga,. pajé
(monkey's comb flowerl (human disease associated with (trails in the savanna lined with trees) (shaman)
Akrore· timbó capybarasl Pyka - terra
(woody vine with poisonous barkl Kwrra kang() • sumo de mandioca Wet kanê - doença de escorpião
(earth) (sickness caused by the scorpions stingl
Amjô.kan6 • doença de rato (manioc or cassavajuice) Pyka ti ngrà - praias grandes
Me ingrà kanê • diarréia preta Wewe jaká - borboletas brancas
(human disease associaled with rats) (wide beachesl
Amjl • ninho de vespa ("black" diarrhea) (white butterfliesl
Pykatôti - aldeia onde moravam os Mêhengôkre no come­
(wasp's nestl Mébenjadwyra rax - caciques principais ço deste século
Apêtê • ilhas de vegetação no cerrado (head chlefs)
Mêhengôkre - "povo do olho d'água" Kayapó
(village where the Mêbengôkre Iived at the be­
(forest patches in savanna) of this century)
Bà • florestas (people fromtthe water's source and/or
(forestsl Kayaoo)

Bà mIl . clareiras Me kutê pidjà mari • conhecedores de plantas medicinais

(clearingsl (health specialísts who possess

Bemp • cerimonial do ano novo knowledge of medicai plantsl
(new year's ceremony) Mebênjadwyra - caciques secundários
Bemp nhô djà • raios coloridos (secondary chiefs)
(coloriu! rays) Menire nhõ mêhenjadwyra - capitã
Éptl • mato fechado (female chiefJ
Cdense forest) Mêlôro - cerimoniais de caráter sazonal
lhe • capoeiras enriquecidas ou roças velhas (seasonal ceremoniesl
(old fields or enriched secondary foresl) Mêkutom • capacete que simboliza o universo dos Mil­
Kã • corpo ou casca bêngôkre
(body or shell) (headdress which symbolizes the universe of
Kàikwa • céu the Mêbêngôkrel
(sky) Mêx - bom tempo
Kàikwa kam àk • gavião real (fair weather)
(harpyeagle) Mrum-krã-ti • saúvas de asa
Kaj krit kri kramrek· flor do sarão (Ieaf cutter ants)
(flower called "flor do sarão") Mry-kaàk - um animal feroz
Kanhetlre • estrelas (a ferocious animal)
(stars) Myt'. sol
Kapôt • campo serrado
(savanna) Ngô kôl • beira do rio
Kapôt keln • campos limpos (riverbank)
(open savannas) Ngõ tim • cheia
Kapri·kane • doença de jabuti (high water season)
(human disease associated wíth tortoíses) Ngrot k..yre - punhado de cinzas formado pelo aglome­
KafÕ • espírito rado de sete estrelas - Plêiades
(spiriO (handfu! of ashes represented by a clus­
Ken po ti • áreas rochosas com terra preta depositada ter of seven stars - lhe Plêiades)
entre as pedras Ngõ ngrà - vazante
(rocky areas havíng black soU deposited (low water season)
between the stones) NbybY·rewinb • o dono da noite
Kikre bonum - quintais nas aldeias (the "owner of the
(village home gardens) Pàt kanê • doença de tamanduá
Krành • serra (human disease associated with an­
(hills and mountaínsl teaters)
Krukyl metoro - anta Puru - roças
(tapir) (fieldsl
Kubyt • macaco guariba Puru metnro festa das roças
(howler monkey) (feast of the fields l

66
67
 CI~NCIA DOS MEaENGOKRE: ALTERNATIVAS CONTRA ~ DESTRLIG/iO
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INTRODUGÃO CALENDÁRIO ECOLOGICO
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íJ5/~'~~;~~h,
* DR. DARRELL ADDISON POSEY,
MPEG, Coordenador do Projeto
* DR. ALAN JENSEN,
UNICAMP (lingüística e etno~ornitologia)
:I< DRA. ANNE GÉLY,
MPEG (etno~agronomia e etnobotânica)
* DR. ANTHONY B. ANDERSON,
MPEG (etnobotânica e etnoecologia)
* SR. CARLOS FERREIRA,
MPEG (botânica)
* DR. DAVID C. OREN,
MPEG (etno-ornitologia)
:I< DRA. ELAINE ELISABETSKY,
UFPa e MPEG (etnofarmacologia)
:I< DR. EUGENE PARKER,
Univ. Maryland, E.u.A. (geografia)
'" DR. GERHARD GOTTSBERGER,
Instituto Botânico, Giessen, R.F.A. (etnobotânica)
* DRA. ISABEL MURPHY,
Univ. Pittsburgh, E.u.A. (lingüística e antropologia)
:I< SR. JOÃO CAMARGO,
USP Ribeirão Preto (etno-apicultura)
DR. KENT H. REDFORD,
:I<

Univ. Florida, E.D.A. (etno-~oologia)

* SR. MANOEL SANTA BRIGIDA,
MPEG (~oologia)
* DR. MAR CIO CAMPOS,
UNICAMP (etno-astronomia)
:I< DR. MIGUEL PETRERE,
UNICAMP (etno-idiologia)
* DRA. SUSAN HECTH,
Univ. California, Los Angeles, E.u.A. (etno-pedologia)
* SR. WAGNER ALAHADEF,
Lab. de Expressão Artística, São Luís, MA (artes-plásticas)
:I< DR. WARWICK E. KERR,
UFMA/UEMA, São Luís, MA (etno-agronomia)
:I< DR. WILLIAM L. OVERAL,
MPEG (etno-entomologia). 69