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Linguagens

Diagnóstico
Alfredo José MansurI

Admite-se que o diagnóstico seja etapa nuclear do exame Há autores que, estudando o tema, se perguntaram: é neces-
médico e do tratamento de pacientes. O diagnóstico é um sário o diagnóstico? Admitindo que nenhuma lógica diagnós-
processo complexo do pensamento humano para discernir em tica seja completa e consiga alcançar toda a complexidade do
meio a dados, hipóteses e possibilidades e, na maioria das ve- processo, e apesar das limitações do conhecimento, foi obser-
zes, não redutível a simplificações. Por outro lado, a simpli- vado que não podemos atuar como médicos sem este recurso.
ficação operacional abrangente de muitas ações disseminou-se O processo diagnóstico segue critérios lógicos. Esses critérios
em nossa contemporaneidade hiperpragmática e às vezes re- podem variar de acordo com paciente, doença, conhecimen-
quintadamente técnica (felizmente!). Muitas simplificações que to disponível, modelo lógico escolhido de análise etc. Quando
aconteceram, inclusive no âmbito médico, são necessárias, bem médicos se deparam com situações clínicas nas quais são neces-
fundamentadas, precisas, eficientes e contribuíram para que sárias decisões sem que o equacionamento lógico do diagnósti-
processos inadequadamente lentos, trabalhosos e de custo ele- co seja possível, recorrem à heurística.3
vado se tornassem anacrônicos e fossem substituídos. As etapas nas quais se fundamenta o processo diagnóstico
Por outro lado, pode-se ser levado à impressão de que a sim- podem ser entendidas como método do pensar. Em sendo mé-
plificação também atingiu o processo diagnóstico médico de todo, etimologicamente significa caminho, que por sua vez sig-
modo geral, fazendo com que ele pudesse ser relegado a teórico nifica orientação, tão mais importante quanto menos definida
e não prático — preciosismo do modo de pensar do passado re- é a situação com a qual se depara.
moto e superado, com importância diminuída, inclusive quan- Algumas situações cotidianas têm sido estimulantes para re-
to ao fato de ser etapa necessária para o tratamento. fletir sobre o processo diagnóstico, algumas mais antigas, outras
Essas reflexões fazem parte da prática médica e foram reaviva- mais atuais.
das recentemente graças a um artigo interessante intitulado “tri- Exames – há uma licença de linguagem que ocorre às vezes,
vialização do diagnóstico”.1 Segundo os autores, contribuíram quando médicos são indagados sobre diagnóstico do paciente.
para a trivialização do diagnóstico: a) a necessidade do empre- A resposta pode ser: aguardamos os exames. Depreende-se que
go de termos que sejam compatíveis com os critérios de fontes os exames é que farão o diagnóstico. Na verdade, o enunciado
pagadoras; b) a pressão por rapidez com primazia operacional e está demais reduzido, a ponto de perder conteúdo. Os exames
econômica, não necessariamente clínica; c) os prontuários mé- trarão dados que serão analisados pelo médico à luz dos dados
dicos orientados por problemas sem incluir o diagnóstico; d) o clínicos e poderão permitir o diagnóstico. Em outras palavras
diagnóstico presuntivo reproduzido posteriormente como diag- o diagnóstico não é do exame, mas é do médico. Atualmente,
nóstico estabelecido. laboratórios clínicos enfatizam este detalhe nas páginas de re-
O conceito de diagnóstico em Medicina é de uma amplitu- sultados dos seus exames.
de admirável, condizente com a própria Medicina, reconhecido Já houve a aspiração de fazer “todos os exames” – check up
em fontes não especificamente dirigidas ao público médico.2 geral – como se isso fosse o procedimento mais seguro, pois re-
O conceito de diagnóstico inclui tanto o processo mobilizado velaria diagnósticos e permitiria prevenção e tratamento de do-
quanto a conclusão alcançada no processo e abrange: a) o pro- enças incipientes. Em algumas ocasiões esta postura poderia ser
cesso ativo de pensamento e a arte de usar o método científico entendida até como um sonho de consumo, o que não deixa de
para elucidar os problemas da pessoa doente; b) a obtenção de ter suas implicações clínicas e econômicas. Os dados obtidos em
todos os dados necessários; c) a avaliação crítica de todos os da- diferentes estudos demonstraram que não é bem assim e, mais
dos obtidos de diferentes fontes e com o emprego de diferentes recentemente, já foi incorporada a livros de texto de Medicina a
métodos; d) o fato de ser uma arte viva baseada na ciência bem lista de exames que não são recomendados em indivíduos hígi-
fundamentada; e) o fato de desenvolver-se sobre conhecimen- dos e assintomáticos da população geral.4 Mais recente é a preo-
tos de anatomia, fisiologia, patologia, de causalidade, de lesões cupação quanto a achados incidentais nos exames de imagem5-7
anatômicas e alterações funcionais que convergem na doença; até mesmo em voluntários “normais” de pesquisas.8
f ) a formulação de hipóteses possíveis; g) a conclusão do pro- Como o número de exames potencialmente disponíveis é
cesso, chegando propriamente ao diagnóstico. grande, e é impossível que os pacientes façam “todos os exa-
I
Livre-docente em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Diretor da Unidade Clínica de Ambulatório do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas (HC).

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mes”, o processo diagnóstico conduzido pelo médico ainda é a nicos e científicos consistentes, contribuem para garantir o pa-
melhor opção. drão de prática e evitar flutuações e riscos ao sabor de fatores
Algoritmos – algoritmos foram incorporados aos textos mé- nem sempre cientificamente ou clinicamente fundamentados.
dicos, inclusive a livros-texto de medicina. Eles servem como Ainda que possamos ter também um protocolo diagnóstico, ele
orientação e são úteis. Tão ubíquos são que se pode ter a fal- não substitui a natureza da abrangência do processo, principal-
sa impressão de que o complexo conjunto de ações que opera mente no paciente individual.
no processo diagnóstico tenha sido substituído por algoritmos. Obrigatoriedade – a obrigatoriedade de um diagnóstico
Ainda assim, há necessidade de “diagnosticar” em qual algorit- pode ser criada por fontes pagadoras que exigem o diagnóstico
mo um paciente individual deve ser alocado, e isto nem sempre para autorizar procedimentos.
é simples. No sítio do The Medical Algorithm Project disponível A obrigatoriedade também pode ser determinada pela infor-
na internet há referência a 13.500 algoritmos.9 Outra caracterís- matização dos registros. Alguns itens considerados obrigatórios
tica dos algoritmos é categorizar decisões mesmo quando a pro- (diagnóstico de acordo com uma determinada classificação) po-
babilidade do diagnóstico avaliado é uma variável contínua.10 dem ser criados, com o pressuposto de garantirem informação
Diretrizes (ou guidelines) – as diretrizes trazem uma reunião mínima. Isso pode fazer com que a opção de diagnóstico tenha
de dados e conhecimento selecionados por um grupo de pro- que ser feita, caso contrário o processo de cuidar do paciente
fissionais. Bastaria seguir a diretriz para simplificar o processo não pode prosseguir, pois o computador bloqueia a próxima
diagnóstico. passagem. Esta ocorrência cria a necessidade de intervenções no
Mas também é intrínseco à dinâmica da ciência médica processo informatizado, que nem sempre é rápida.
que sempre há hiatos de conhecimento, resultados inconclu- Problemas – o diagnóstico significa que os diferentes sinto-
sivos de pesquisa e não suficientemente avaliados no longo mas reunidos se relacionam entre si de um determinado modo.1
prazo. Por isso, ainda que reúna todo o conhecimento dispo- Assim, o mesmo conjunto de sintomas e sinais (ou de proble-
nível, não é possível abarcá-lo por completo, dirimir todas as mas) podem ter relações completamente diferentes entre si. Es-
perguntas que sempre renascem com os pacientes e com novos sas relações entre si definem e ao mesmo tempo são definidas
conhecimentos. pelo diagnóstico.
Vale lembrar que, na seção introdutória de diretrizes, há a Setorização – os médicos têm discernimento para decidir o
observação que alerta que os dados ali reunidos são disponibi- que pode ser feito com base em cada método utilizado, com a
lizados para ajudar em decisões de acordo com os dados cien- finalidade de retirar o máximo de informação possível. Assim,
tíficos disponíveis, mas que as decisões com os pacientes são podemos ter um diagnóstico ao final da história clínica, ao fi-
mais bem feitas pelo seu médico com base no conhecimento do nal do exame físico, o diagnóstico radiográfico, eletrocardio-
paciente obtido por meio do exame clínico. gráfico, ultrassonográfico, diagnóstico laboratorial, diagnóstico
Outro aspecto relevante é que, de modo geral, as diretrizes anatomopatológico, diagnóstico cirúrgico, entre outros, tantos
usam linguagem cuidadosa, e quando há situações que permi- quantos métodos pudéssemos utilizar em favor do paciente.
tem a dúvida, mencionam os fundamentos disponíveis para que Prudentemente, muitas leituras de exames por computador tra-
o próprio leitor faça o seu julgamento. Às vezes esse cuidado das zem a advertência: “necessita revisão por um médico”. Em al-
diretrizes, de não serem tão diretivas, pode passar despercebido; gum momento haverá a necessidade do diagnóstico do quadro
o fato de um estudo estar citado não quer dizer que seu re- clínico do paciente.
sultado esteja necessariamente endossado, pois pode carecer de Checklist ou lista de verificação – método adotado para que
tempo mais longo de observação para ser consolidado. mesmo pessoas experientes previnam a ocorrência de falhas de
Incertezas – um aspecto interessante do diagnóstico é que memória ou atenção em processos complexos. O método foi ado-
frequentemente ele se acompanha de grau de incerteza. Recen- tado em hospitais,13 mas não substitui o processo diagnóstico.
temente, uma médica residente comentou que, no hospital no Pode haver a tendência de transformar critérios de diagnós-
qual treinava, era difícil lidar com a incerteza no diagnóstico. tico com seus respectivos valores ponderais em checklist – mas
Salientou também que seria interessante que algumas expres- ainda assim não é apropriado, pois muitos sintomas e sinais são
sões de desconforto não fossem diagnosticadas como doenças superponíveis a diferentes diagnósticos, e o checklist não faz o
e que algumas incertezas permanecessem até esclarecimento discernimento entre um diagnóstico e outro. O discernimento
apropriado.11 necessário reclama a participação do médico.
Situações limítrofes – existem muitas situações de limites Assim, finalizamos as reflexões sobre o processo diagnóstico.
imprecisos na prática clínica. Esse aspecto foi enfatizado recen- A evolução da ciência médica e as características mais recentes
temente como parte importante da Medicina.12. O processo da prática não diminuíram a importância do diagnóstico. Pelo
diagnóstico médico tem recursos para lidar com as situações contrário: em meio ao maior número de dados e informações,
limítrofes, incluindo o tempo de observação. há necessidade de análises muito judiciosas de tal modo que o
Protocolos – os protocolos trouxeram várias contribuições processo diagnóstico permanece nuclear à prática médica e ao
para a prática médica. Quando fundamentados em dados clí- cuidado de pacientes.

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Data de entrada: 23/3/2010
Publishing Group; 1995. p. 59-99.
Data da última modificação: 23/3/2010
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