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1. INTRODUÇÃO
Devido ao elevado número de edifícios afectados pela cristalização de sais solúveis, bem
como à gravidade e complexidade dos mecanismos que lhe estão subjacentes, têm-se
realizado numerosos estudos e projectos de investigação sobre o assunto, envolvendo
especialidades diversas (química, física, engenharia, geologia e outras). Não obstante,
apesar dos muitos avanços conseguidos, não foram ainda totalmente compreendidos
vários aspectos importantes deste tipo de degradação, tanto a nível da micro como da
macro escala. Muito por esta razão, não é frequentemente possível adoptar estratégias
adequadas de prevenção e de mitigação [2, 3].
Os sais solúveis estão presentes nos materiais de construção sob a forma de soluções
aquosas que migram na rede porosa. Admite-se que, em geral, a sua cristalização decorre
de processos evaporativos, embora as variações de temperatura possam também ter
influência para alguns tipos de sais. A cristalização pode ocorrer na superfície do material,
formando-se eflorescências, ou no interior dos poros, o que dá origem a subflorescências.
As subflorescências introduzem tensões internas, que podem originar a desintegração do
material. As eflorescências não causam danos mecânicos mas a sua presença pode
constituir por si só uma degradação, com consequências a nível, por exemplo, da estética
ou da salubridade do edifício. Os sais podem também, independentemente de formarem
eflorescências ou subflorescências, originar ou agravar os problemas de humidade [7, 8].
A degradação por sais requer, pois, a presença simultânea de sais solúveis e água nos
poros dos materiais, bem como condições ambientes favoráveis à cristalização. É um
processo bastante complexo, cuja patologia se esquematiza na Fig. 1.
Degradação por
cristalização de sais
Tipos de danos:
- Eflorescências
- Desintegração do material
- Problemas de humidade
Sinais Anomalias
Legenda:
A secagem dos materiais porosos a partir do estado de saturação tem duas fases principais
[13, por exemplo], que se representam na Fig. 3. Na primeira fase, o teor de água do
material é elevado, havendo continuidade da fase líquida, e a frente de evaporação está
localizada na superfície do material. Com o progressivo decréscimo do teor de humidade,
a certa altura o fluxo líquido deixa de ser suficiente para compensar a procura evaporativa.
Em consequência, a frente húmida recua para dentro do material, iniciando-se a segunda
fase de secagem.
1ª Fase 2ª Fase
Legenda:
Transporte Transporte
Material Material de líquido de vapor
seco húmido
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Materiais
Utilizou-se um reboco tradicional de cimento e cal aérea, composto por uma camada de
aderência e uma camada de base com traços volumétricos de 1:1:6 e 1:3:12 (cimento
pozolânico tipo IV: cal aérea hidratada em pó LUSICAL : areia do rio Tejo) e aplicadas
com espessuras de cerca de 5 mm e 20 mm, respectivamente. O suporte de tijolo foi
obtido a partir de um tijolo maciço Holandês, do qual se cortaram pequenos blocos com
cerca de 20 mm de espessura. A argamassa de cal aérea tem traço volumétrico de
1:1,5:1,5 (cal aérea hidratada em pó LUSICAL : areia do rio Tejo : areia amarela de
Corroios). Nos provetes, utilizaram-se bases desta argamassa com 30 mm de espessura,
que foram previamente moldadas para o efeito.
Na Fig. 4 apresenta-se uma vista lateral dos dois tipos de provetes. Estes provetes têm
dimensões planas de cerca de 50 mm x 50 mm e foram lateralmente selados com uma
resina epoxi transparente. A face inferior dos provetes de reboco sobre argamassa de cal
foi, tal como se pode observar, protegida com tecido de algodão para evitar perda de
material, durante a absorção de liquido e o manuseamento dos provetes. Este cuidado foi
necessário pelo facto de a argamassa de cal, que visa aproximar as argamassas originais
das construções antigas, ter resistência mecânica bastante baixa.
Figura 4 - Provetes de reboco sobre tijolo (esquerda) ou sobre argamassa de cal (direita)
O ensaio de cristalização foi realizado com soluções aquosas de cloreto de sódio (NaCl) e
sulfato de sódio (Na2SO4) com concentração (ponderal) de 10%. Realizou-se também um
ensaio semelhante, utilizando apenas água pura, que serviu como referência.
Os provetes foram previamente secos em estufa ventilada a 60ºC. Após arrefecerem numa
sala condicionada a 20ºC e 50% HR, foram sujeitos a ciclos de absorção / secagem, de
acordo com o seguinte procedimento:
Para obter o perfil de distribuição de sal, o provete é primeiro dividido em camadas. Para
o tijolo foi possível usar uma serra de corte. Neste caso, a distância entre cortes foi
tipicamente de 5mm, correspondendo a perda de material a uma espessura de cerca de 2 a
3 mm por corte. Para as argamassas (de reboco e do suporte de cal aérea) não foi possível
utilizar a serra pois a baixa resistência mecânica do material e a presença de grãos de areia
de dimensão significativa originava a desagregação do material. Nestes casos, a divisão
em camadas foi conseguida por lixagem, efectuando a desagregação controlada e
progressiva da argamassa.
O teor de sal das várias camadas é avaliado com base no método do teor de humidade
higroscópica (HMC - do Inglês “hygroscopic moisture content”). Este método é o objecto
de uma Especificação LNEC [15] que se encontra em preparação na presente data
(Novembro de 2009), mas que provavelmente estará já publicada aquando da realização
do congresso da APFAC, em Março de 2010.
O HMC é o teor de humidade que o material adquire em condições de equilíbrio, por
sorção de humidade do ar ou por desorção, quando sujeito a um ambiente com
determinada temperatura e HR. O HMC é directamente proporcional ao teor de sal [15,
16, 17]. Por esta razão, o teor de sal de um conjunto de amostras pode ser expresso, em
termos relativos, através do seu HMC.
3. RESULTADOS
Os resultados obtidos nos ensaios de cristalização apresentam-se nas Figs. 5 a 11 e nas
Tabelas II e III.
O comportamento dos vários provetes de cada grupo foi de facto similar, não só no que
diz respeito ao tipo e momento de ocorrência da degradação, como também à quantidade
de sal introduzido e à taxa de secagem, como se vê na Tabela 3 e nas Figs. 9 a 11,
respectivamente. As Figs. 9 e 10 referem-se aos valores médios obtidos para cada grupo
de provetes, enquanto a Fig. 10 inclui os valores individuais dos provetes de reboco sobre
argamassa de cal testados com Na2SO4.
O reboco sobre argamassa de cal testado com Na2SO4 foi, de facto, uma excepção. Apesar
de o teor de sal (Tabela 3) e a taxa de secagem (Fig. 10) serem semelhantes para os três
provetes do grupo, só se observou degradação num dos provetes. O perfil de distribuição
de sal deste provete foi obtido, como previsto, ao fim de cinco ciclos. Contudo, devido ao
diferente comportamento, optou-se por prolongar o ensaio para os outros dois provetes,
que, no entanto, continuaram a não apresentar degradação visível, tendo os seus perfis de
distribuição de sal sido determinados no final. Não obstante as diferenças, conclui-se que
a distribuição de sal é também aqui semelhante para os três provetes do grupo, revelando
os perfis comportamento de acumulação em todos os casos (Fig. 8).
2
Provete LS6 – 5 ciclos, 2249 g/m NaCl
10
reboco
20
(mm)
salpico
Provete LS6 30
tijolo
40
50
0 50 100 150 200
HMC 95% (%)
2
Provete 13 – 5 ciclos, 2112 g/m NaCl
Distância ao topo do provete
0
Provete 13
10
reboco
20
(mm)
salpico
30
40 argamassa
de cal
50
56
0 50 100 150 200
HMC 95% (%)
Figura 6 - Reboco sobre argamassa de cal com NaCl: danos e distribuição de sal
2
Provete LS12 – 5 ciclos, 2351 g/m Na2SO4
Distância ao topo do provete
10
reboco
20
(mm)
salpico
30
tijolo
40
Provete LS12 50
0 10 20 30 40 50 60
HMC 95% (%)
(mm)
30
argamassa
40 de cal
50
55
0 10 20 30 40 50 60
HMC 95% (%)
2 2
Provete 16 – 7 ciclos, 3429 g/m Na2SO4 Provete 15 – 9 ciclos, 5090 g/m Na2SO4
Distância ao topo do provete
salpico
30 30
argamassa argamassa
40
40 de cal de cal
50
50
52 56
0 10 20 30 40 50 60 0 10 20 30 40 50 60
HMC 95% (%) HMC 95% (%)
Figura 8 - Reboco sobre argamassa de cal com Na2SO4: danos e distribuição de sal
15
10
0
0 10 20 30 40
Tempo (semanas)
15
10
0
0 10 20 30 40
Tempo (semanas)
15
10
0
0 10 20 30 40
Tempo (semanas)
Os provetes testados apenas com água mostram, como seria de esperar, um HMC
desprezável e nenhuma degradação (Fig. 12). Os provetes de reboco sobre tijolo foram
sujeitos a mais do que cinco ciclos porque os testes com água foram utilizados também
para avaliar a estabilidade das condições ambientes. De facto, a deposição de sal induz
variações na taxa de secagem, o que não acontece com a água. Contudo, sendo a secagem
mais rápida para a água, a realização de cinco ciclos não foi considerada suficiente.
0 0
10 10 reboco
reboco
20 salpico
20
(mm)
(mm)
salpico
30
30 argamassa
tijolo 40
de cal
40
50
56
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
HMC 95% (%) HMC 95% (%)
4. DISCUSSÃO
Como há mais de 70 anos referido por Schaffer [18], o tipo de degradação pode ser mais
relevante do que a taxa a que esta ocorre. Neste sentido e no âmbito da degradação por
sais solúveis, o princípio de funcionamento (Fig. 2) é provavelmente a mais importante
característica dos rebocos. Isto porque a profundidade a que os sais se depositam
condiciona o tipo de danos e, consequentemente, a observância de requisitos funcionais
como a ausência de danos superficiais ou a ocorrência de cristalização na alvenaria.
O presente ensaio de cristalização indica que o tipo de suporte pode afectar muito o
comportamento dos rebocos. De facto, apresar de terem sido realizados cinco ciclos de
contaminação/secagem e introduzidas quantidades de sal similares, o reboco teve
comportamento de transporte (Fig. 2a) quando aplicado sobre tijolo (Figs. 5 e 7) e de
acumulação (Fig. 2b) quando aplicado sobre a argamassa de cal (Figs. 6 e 8).
Houve algumas diferenças associadas ao tipo de sal, que pode ser um importante factor de
influência [7, 8]. Foram, contudo, essencialmente diferenças a nível da durabilidade, ou
seja, do momento de ocorrência da degradação. É provável que alguma variação no tipo
de danos ocorridos, em particular o facto de com NaCl terem ocorrido fissuras no reboco
sobre tijolo, o que não aconteceu com Na2SO4, se deva em parte também ao facto de a
taxa de degradação ter sido mais lenta com este último sal.
As diferenças observadas entre os três provetes de reboco sobre argamassa de cal sujeitos
ao ensaio com Na2SO4 não tiveram também consequências ao nível da distribuição de sal,
ocorrendo comportamento de acumulação para todos os provetes, como se vê pelos perfis
de distribuição apresentados na Fig. 8.
Não é possível a comparação dos presentes resultados com outros pois, tanto quanto é do
conhecimento dos autores, não foram nunca realizados ensaios de cristalização deste tipo,
visando avaliar a influência de diferentes suportes no comportamento aos sais de rebocos.
O suporte é assim um factor externo que, juntamente com outros, como o tipo de sal [8], a
presença de revestimentos por pintura [9] ou as condições ambientes [7, por exemplo],
pode determinar o comportamento dos rebocos relativamente à acção dos sais solúveis.
A conclusão que decorre do presente e dos citados trabalhos, de que o comportamento aos
sais não é uma característica intrínseca dos rebocos, tem claras implicações para a prática.
Significa que a prescrição de rebocos para alvenarias com sais deve ter em conta as
características de cada construção. Isto aponta para a necessidade de serem feitos testes
preliminares abrangendo um leque alargado de situações específicas. Ou mesmo, quando
tal seja possível ou se justifique pelo valor da construção ou pelo custo da obra, para a
realização atempada de ensaios “in situ” na própria construção.
AGRADECIMENTOS
Os ensaios apresentados neste artigo foram efectuados no âmbito do projecto europeu de
investigação “COMPASS – Compatibility of plasters and renders with salt loaded
substrates in historic buildings” (refª EVK4-CT-2001-00047). Os autores agradecem o
auxílio na realização destes ensaios do Engº Miguel Abreu e dos técnicos do LNEC João
Júnior, João Ribeiro e José Costa.
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