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Mônica Heydrich 1
André Luis Marques da Silveira 2
Tatiana Laschuk 3
Carla Giuliano Pantoja4
Resumo
O presente artigo relata uma pesquisa acerca da história do campo acadêmico do Design
de Superfície no estado do Rio Grande do Sul. A abordagem metodológica é qualitativa,
de caráter descritivo e interpretativo, adotando-se como procedimento a pesquisa
bibliográfica. O estudo tem como objetivo identificar a trajetória acadêmica da
especialidade organizada em décadas, a partir dos anos 70. As conclusões preliminares
permitem inferir os resultados positivos da inserção do Design de Superfície,
influenciando na solidificação da especialidade como campo de conhecimento e nas
ofertas da disciplina nos cursos de Artes e Design das IES do estado em questão.
Palavras-chave: Ensino do Design; Design de Superfície; História do Design de Superfície.
Abstract
The present study is a research on the history of the academic field of the Surface
Design (SD) in Rio Grande do Sul (RGS), Brazil. The methodological approach is
qualitative with a descriptive and interpretative character and it is a bibliographic
search. The study aims to identify the academic career specialty organized into decades
from the 70s. The preliminary conclusions may lead to infer the positive results of
Surface Design insertion, which influences the solidification of SD as a field of knowledge
and offerings of discipline in Arts and Design courses in High Education Institutions the
state of RGS.
Keywords: Teaching Design; Surface Design; Surface Design history.
A Trajetória Histórica do Campo Acadêmico do Design de Superfície no Estado do Rio Grande do Sul
1. Introdução
Este artigo relata uma pesquisa acerca da trajetória histórica do Design de Superfície
(DS) no estado do Rio Grande do Sul (RS), focando no campo acadêmico. Ela é de caráter
descritivo e interpretativo, e adotou como procedimento metodológico a pesquisa
bibliográfica. Através do estudo, buscou-se conhecer as diferentes abordagens
científicas que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a constituição do campo
de conhecimento do DS. Para tanto, utilizou-se como principais fontes de informação os
autores: Ana Maria Albani de Carvalho, Ana Norogrando, Eduardo de Souza Xavier,
Evelise Anicet Rüthschilling, Lucy Niemeyer, Rafael Cardoso, Raquel Barcelos de Souza,
Renata Oliveira Teixeira de Freitas, Renata Rubim, além de dados das Instituições de
ensino superior da região pesquisada.
Aborda-se, no corpo do texto, o histórico da especialidade, a formação do
campo de conhecimento e a oferta de disciplinas em Instituições de Ensino Superior
(IES). Os dados levantados foram organizados por décadas, a saber: Década de 70 - as
origens do campo de conhecimento; Década de 80 - a escolha e utilização da
denominação; Década de 90 - plantando o campo de conhecimento; Anos 2000 - o
reconhecimento como especialidade do Design; e complementando, Segunda Década
dos Anos 2000 – apontando a abrangência da especialidade.
Parte-se do pressuposto que o DS está cada vez mais presente na vida das
pessoas. No passado, as superfícies eram raras e predominavam principalmente em
pinturas, tapeçarias e vitrais. Hoje, elas estão presentes, por exemplo, nas telas de
televisão, nos cartazes e nas páginas de revistas ilustradas. Segundo Flusser (2007),
alguns dos motivos para tanto, são: a possibilidade de sua aplicação em uma variedade
de meios de comunicação visuais e o desenvolvimento de novas tecnologias de
produção e comunicação. Comparando-as ao passado, as superfícies “não equivaliam
em quantidade nem em importância às superfícies que agora nos circundam. Portanto,
não era tão urgente como hoje que se entendesse o papel que desempenhavam na vida
humana” (FLUSSER, 2007, p. 102).
Hoje, por sua vez, existe um vasto campo para se refletir sobre as possibilidades
de interferências nas superfícies, principalmente aquelas intencionais no tratamento
consciente dos produtos. De acordo com Flusser (2007), a superfície é uma das formas
de fazer leitura ou interpretação do mundo. Segundo o autor, existem duas formas para
tanto, o “pensamento-em-linhas” e o “pensamento-em-superfície”.
O “pensamento-em-linhas” possui uma estrutura de interpretação
mais rígida que a estrutura sugerida pelo “pensamento em
superfície”. Nele, é necessário seguir o texto se quisermos captar sua
mensagem. Já, no “pensamento em superfície” deve-se “apreender a
imagem primeiro e depois tentar decompô-la” (FLUSSER, 2007, p.
104-105).
Nesta perspectiva, o DS pode ser pensado do ponto de vista da linguagem,
comunicação e cultura. Pressupondo-se que o produto resultante do processo de Design
interfere nos signos/significados compartilhados pelos indivíduos e adotando-se as
palavras de Braida (2009, p. 3), entende-se que o Design é “uma forma simbólica, uma
forma de comunicação e uma lente para se apreender o mundo contemporâneo, [...] o
Design pode ser compreendido como um fenômeno de linguagem”. Corroborando com
esta ideia, Niemeyer (2003) pensa o Design como um fenômeno de cultura e
comunicação, que interfere nos signos e significados compartilhados. Desta forma, a
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Design Association (SDA), associação de artistas têxteis dos EUA (RÜTHSCHILLING, 2008;
SDA, 2011).
No Brasil, neste mesmo período, na UFSM5 uma equipe de docentes pesquisava
e experimentava propostas para o ensino na área do Design têxtil. Em 1975, com o
objetivo de atender demandas da indústria têxtil, foi criado o “Curso de Estamparia para
a Indústria Têxtil”. Este curso é considerado o primeiro da área no Brasil e na América
Latina, cujas origens datam de 1971, com trabalhos em estamparia em tecido dos
docentes da Universidade. Dez (10) anos depois, em decorrência deste trabalho, é
criado o Pólo Têxtil da UFSM, “um laboratório que permite o desenvolvimento de
estampas (criação, estampagem e fixação de tecidos)” (UFSM, 2004, não paginado;
NOROGRANDO, 1998; RÜTHSCHILLING, 2008).
A SDA buscou estabelecer uma definição inicial para a especialidade,
explicitando como seu principal foco de atuação o segmento têxtil e seu vínculo com as
tradições das artes têxteis. Para esta corrente de pensamento, o DS se “refere a
qualquer processo que proporcione estrutura, padronagem ou cor a uma fibra ou
tecido. Isso inclui fiação, feltragem, papelaria, tecelagem, trabalhos com nós e criação
em rede, tingimento, pintura, costura, corte, patchwork, impressão, quilting e
embelezamento”6 (SDA, 2014, não paginado, tradução nossa). Sua relação inicial com as
artes é clara, principalmente nas relações com os processos criativos.
Desta forma, revela-se no Brasil e no exterior a origem têxtil do Design de
Superfície e sua relação com as Artes. O setor têxtil estava em efervescência, “a década
de 70 nos EUA e no exterior anunciava uma renovação nos interesses em técnicas e
materiais de artesanato para a expressão pessoal e consciência estética, fomentando
programas nesse setor nas Universidades” (SDA, 2011, não paginado, tradução nossa).
No ano de 1977, a Professora Rose Lutzenberger7, do atual Instituto de Artes -
IA/UFRGS8, “desenvolve pesquisas com um grupo de alunas [...], que consistia na criação
de estampas para empresas” (RÜTHSCHILLING, 2008, p. 93). Dentre estas alunas9 estava
Evelise Anicet Rüthschilling10. Não é por acaso que Rüthschilling (2008, p. 63) considera
o DS “herdeiro da arte”, mas, também, por tratar da criação e de possuir liberdades
necessárias para tais processos.
5Universidade Federal de Santa Maria. Instituição de Ensino Superior localizada no centro geográfico do
estado do Rio Grande do Sul/Brasil.
6Trecho do portal (website) da SDA: “Surface Design refers to any process that gives structure, pattern, or
color to fiber & fabric. These include spinning, felting, papermaking, weaving, knotting, netting, looping,
dyeing, painting, stitching, cutting, piecing, printing, quilting, & embellishing”.
7Artista
Plástica e Escultora realizou estudos nos EUA e na Alemanha, conquistando prêmios internacionais e
nacionais na área.
8Institutode Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, antigo Instituto de Belas-Artes (IBA)
situado em Porto Alegre/RS.
9Outras alunas deste grupo: Carmen Ramos Collares e Dora Helena Thomé.
10 Fundadora e Coordenadora do NDS-UFRGS (Núcleo de Design de Superfície da UFRGS), autora do
primeiro livro acadêmico específico de Design de Superfície do Brasil. Artista Plástica, Designer e Professora
na UFRGS na Graduação e Pós-graduação (Artes Visuais e Design). Pesquisas: “Design de Superfície:
integração entre Arte, Tecnologia e Indústria” – IA/UFRGS, também realiza pesquisas a partir da Empresa
Contextura, atelier onde desenvolve estudos sobre superfícies têxteis, conjugando as áreas das Artes,
Artesanato, Design, Moda e Sustentabilidade: http://www.contextura.art.br/.
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Para Xavier; Carvalho; Rüthschilling (2007, p. 2), o DS teve origem na Arte Têxtil
que se encontra, “[...] como uma das pioneiras no desenvolvimento de projetos de
produtos a serem executados pela indústria.” Ou seja, a atividade do DS já vem sendo
realizada há muito tempo, entretanto, ainda sem reconhecimento como uma atividade
independente, pois este é atual.
11Designer de Superfície, residente no sul do país desde a infância. Considerada uma das referências
profissionais do DS no Brasil. Sua vida foi marcada pela especialidade, principalmente, após a realização de
estudos (Prêmio: bolsa Fulbright) entre os anos de 1985 e1986 na Rhode Island School of Design – RISD
(Providence, EUA).
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como Desenho Industrial14. Porém, nesta época o DS como disciplina ainda não existia
na matriz curricular deste curso. A partir de 2009, a disciplina começa a ser oferecida de
forma obrigatória e compartilhada entre cinco cursos de Design da instituição, a saber:
bacharelado em Design, Curso Superior de Tecnologia (CST) em Design Gráfico, Curso
Superior de Tecnologia (CST) em Design de Interiores, Curso Superior de Tecnologia
(CST) em Design de Moda e Curso Superior de Tecnologia (CST) em Design de Produto.
Em 2014, a disciplina passa a ser ofertada como opcional para o curso de Arquitetura e
Urbanismo. (ULBRA, 2012).
Lembra-se que outro curso de Design foi iniciado também em 1988 no sul do
país, na UFSM, nesta data, denominado como Desenho Industrial, e igualmente
construindo história na área do Design nesta região. (COSSIO; CURTIS, 2009 apud
SOUZA, 2013).
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de pesquisa, propõe:
Investigações no âmbito teórico e/ou prático, das questões
referentes ao design e às suas relações com outras disciplinas, do
ponto de vista de sua representatividade dentro da cultural material.
Visa, também, sistematizar pesquisas e reflexões sobre o design de
superfície e a sua aplicabilidade, com ênfase nos processos criativos,
metodologias especificas e na produção manufaturada, semi-
industrial e nas novas tecnologias (DGP, 2015, não paginado).
As linhas de pesquisa do GPDeS possuem temáticas relacionadas às áreas da
sustentabilidade, tecnologias e materiais, cultura e sociedade.
16Registro
e informações básicas do Grupo de Pesquisa de DS na publicação do Diretório de Pesquisa da
UFSM, página 129: http://coral.ufsm.br/prpgp/images/diversos/diretorio_de_pesquisa_ufsm.pdf.
17Professorada UFSM desde 1990. Graduada em Artes Plástica, Especialista em Design para Estamparia e
Mestre em Engenharia de Produção pela UFSM. Coordenou e ministrou cursos na área do Design para
Estamparia Têxtil.
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3. Considerações Finais
O presente artigo relatou a história do campo acadêmico do DS no estado do RS.
Narrou-se os primórdios de seu nascedouro, os acontecimentos mais marcantes, sua
inserção nas Instituições de ensino superior até o seu reconhecimento como campo de
conhecimento e especialidade do Design.
Através do exposto, foi possível constatar o grande envolvimento da
comunidade acadêmica nas origens do DS no estado. Inicialmente, através Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Cabe ressaltar que na época o setor têxtil estava em plena efervescência, anunciando
uma demanda por renovação nos processos técnicos e criativos. Ainda, verificou-se que
o início como disciplina de DS ocorreu nos cursos de graduação na área das Artes, na
UFRGS e na UFSM, posteriormente integrando os currículos dos cursos de Design.
Ao longo das décadas seguintes, a especialidade ganhou cada vez mais solidez
teórica. Isto foi possível conferir através de seu reconhecimento como especialidade em
2005, apontando para a legitimação no campo acadêmico. Foi possível constatar a
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