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Aliados Estratégicos:

Orçamento público,
Legislativo e Comunicação
Três eixos estratégicos para incidência
nas políticas públicas

Parceiros:
Assembléia Legislativa de Minas Gerais – Comissão de Participação Popular
Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Minas Gerais
Ministério Público de Minas Gerais
Editora O Lutador
Orçamento público,
Legislativo e Comunicação
Três eixos estratégicos para incidência
nas políticas públicas
Sumário

Apresentação 4
3

Introdução 36
Compreendendo conceitos | 6

Orçamento 13
3
Orçamento público e cidadania | 13
Ciclo orçamentário | 19
O Plano Plurianual | 27
Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO | 34
A Lei Orçamentária Anual – LOA | 41
Análise da execução orçamentária | 47

Legislativo 51
3

Legislativos: sua importância e seu papel nas democracias | 51


Municípios: espaço de atuação participativa | 54

Comunicação 62
3
Mídia e Democracia | 62
Jornalismo e agenda social | 79
Construindo um diálogo com a imprensa | 86

Aliados Estratégicos e Parceiros 98


3

Ficha técnica 100


Apresentação
É com forte expectativa de contribuir para a transformação nos indicadores de desigualdades que marcam
a realidade brasileira que as instituições realizadoras do Projeto Novas Alianças apresentam este guia de
conceitos e orientações para a incidência em orçamento público, incluindo aspectos específicos associa-
dos ao processo legislativo e à comunicação social.

Esta publicação reflete nossa crença de que a melhoria dos processos de deliberação e de controle de
políticas públicas – acompanhada de uma comunicação eficaz acerca dos temas presentes nas agendas dos
vários conselhos – representará um impacto positivo na consolidação dos mecanismos democráticos e,
consequentemente, na vida de milhões de cidadãos e cidadãs, especialmente das novas gerações.

Além da prioridade absoluta das crianças e adolescentes nos projetos de desenvolvimento sócio-eco-
nômico-cultural e da valorização dos conselhos como espaços de formulação e avaliação das políticas pú-
blicas, o Projeto Novas Alianças está ancorado nos seguintes princípios éticos e políticos:

 A ampliação e o fortalecimento da participação da sociedade civil organizada nos processos de planeja-


mento e controle da gestão pública.

 A construção de um trabalho articulado e cooperado entre as diversas instâncias do poder público e


entre os setores público e privado.

 A formulação e a avaliação de políticas, tendo como base diagnósticos da realidade.

Acreditamos fortemente que uma postura pró-ativa e articulada em seu relacionamento com as insti-
tuições democráticas assegura aos indivíduos e organizações engajados na promoção e defesa dos direitos
da criança e do adolescente condições de impulsionar o desenvolvimento de uma nova cultura política em
nosso país, com conseqüentes avanços nos indicadores sociais.

Atuação qualificada
Somar-se ao processo decisório relativo às políticas públicas sociais requer conhecimento acerca das
principais demandas da população e dos possíveis caminhos para respondê-las com eficiência, eficácia
e efetividade. Para isso, três eixos estratégicos de ação podem – e devem – ser considerados: o monitora-
mento sistemático do orçamento público, a atuação política junto ao Poder Legislativo e o diálogo produ-
tivo com os meios de comunicação.

A partir de uma linguagem objetiva, o presente guia traz conceitos e procedimentos relacionados a es-
sas três estratégias de atuação. Nesse sentido, os conteúdos apresentados ao longo das próximas páginas
buscam incentivar, entre os diferentes atores sociais, boas práticas de incidência política e ação coletiva. A
idéia é oferecer aos conselheiros e lideranças sociais instrumentos que os auxiliem em suas intervenções
na esfera pública, contribuindo para seu conhecimento diante das demandas sociais, bem como ampliar
sua capacidade de comunicação com a sociedade.

Se ao por em prática as orientações aqui contidas surgirem dúvidas ou forem constatadas eventuais la-
cunas, entre em contato conosco (veja contato da Oficina de Imagens na página98). A contribuição de todos
será de grande importância para o aprimoramento deste material. Envie suas sugestões e ajude a escrever
uma outra história de atenção pública a crianças e adolescentes em Minas Gerais.

Boa leitura!
Orçamento público, legislativo e comunicação | Compreendendo conceitos

1
[ Introdução ]


Compreendendo
conceitos
Controle social e incidência política são expressões que já fazem par-
te do vocabulário de boa parte dos cidadãos e cidadãs do país. E essa
não é uma conquista recente: faz quase trinta anos que a idéia de mo-
nitoramento das políticas públicas pela sociedade passou a ser uma
realidade do universo político brasileiro. Desde a promulgação da
Constituição Federal, em 1988, a população do Brasil passou a dispor
de uma série de diretrizes que garantem sua participação direta no
controle das ações governamentais.

A construção desse processo participativo não surgiu, porém, de um


dia para o outro – é resultado da histórica luta dos movimentos sociais
brasileiros e, de certa forma, da própria consolidação dos valores da
democracia em todo o mundo. Por isso, antes de abordarmos propria-
mente os temas centrais desta publicação, é importante compreender-
mos alguns conceitos relevantes para nossa atuação no controle social
das políticas públicas, das esferas de poder e da mídia.

No transcorrer da história, a humanidade buscou organizar sua ex-


periência política e social por meio de idéias que explicassem o poder,
o controle, o conflito, o bem comum, ou seja, as dimensões presentes
nas relações políticas. Estado, democracia, sociedade civil, cidadania e
incidência política são palavras que expressam as conquistas e dilemas
da humanidade na busca de uma gestão melhor e cada vez mais demo-
crática das sociedades.

Ao conhecermos esses conceitos – que serão descritos nas próximas


páginas –, compreendemos que a política é o campo pelo qual pode-
mos transformar a realidade. Aprendemos que apenas com participa-
ção podemos interferir nos caminhos de nossa cidade, de nosso país e
do mundo. Percebemos que para exercer a participação não basta votar
ou reclamar daquilo que não concordamos na atitude de nossos gover-
nantes, é necessário, sobretudo, atuar efetivamente na formulação e no
monitoramento das decisões políticas.
Compreendendo conceitos | Orçamento público, legislativo e comunicação

Estado tivo. No Brasil, esse poder está


nas mãos do Congresso Nacional,
O conceito de Estado refere-se
formado pela Câmara dos Depu-
ao conjunto das instituições que
tados e pelo Senado Federal. No
formam a organização político-
âmbito dos municípios, esse pa-
administrativa de um povo ou de
pel é desempenhado pelas câma-
uma nação: o governo, as forças
ras municipais de vereadores.
armadas, as escolas públicas, a Não perca
polícia, os tribunais, as câmaras
legislativas, etc. A existência do
Judiciário de vista
É responsável por aplicar as leis
Estado está condicionada, portan-
que garantem os direitos indivi- Conselhos de políticas públicas
to, a um domínio territorial que,
duais. Fazem parte do Poder Ju- – como os conselhos dos direitos
por sua vez, envolve leis, tradições,
diciário: os Tribunais de Justiça da criança e do adolescentes, os
moeda e língua comuns a um mes- de assistência social e os de edu- 
(Federal, Estadual, Militar, Elei-
mo grupo populacional (povo). cação, por exemplo – são espaços
toral, do Trabalho) e os Superio- legítimos de que a sociedade civil
O governo é a instituição res- res (os Supremos Tribunais). dispõe para incidir politicamente no
ponsável pela gestão do Estado âmbito das ações governamentais.
– podendo se organizar de várias Mediador de Ou seja, para exercer seu poder de
formas: monarquias, oligarquias conflitos acompanhar a produção dos repre-
sentantes eleitos, de dialogar com a
ou democracias, por exemplo. Para alguns pensadores, o Estado estrutura das prefeituras e câmaras
Muitas vezes, costuma-se con- também pode ser considerado municipais, de deliberar sobre as
fundir Estado com governo. A di- como um mediador de conflitos. verbas em diferentes áreas de polí-
ferença é que o governo – mesmo Sob esse ponto de vista, os se- ticas públicas, de propor e influen-
sendo uma das peças principais res humanos se encontrariam, a ciar as leis e a administração das ci-
dades. Os conteúdos apresentados
– é somente uma parte do Esta- princípio, em um “estado de na- nesta publicação procuram contri-
do. Este, engloba outros setores, tureza”, ou seja, seriam comple- buir para o fortalecimento desses
além de envolver todos os níveis tamente livres e com o único de- papéis, reforçando o diálogo dos
de governo – federal, estadual e ver de sobreviver, prevalecendo conselheiros, principalmente, em
municipal – e todas as atividades nesse contexto relações regidas três campos da democracia: o Orça-
mento Público; o Poder Legislativo;
a eles ligadas. pela “lei do mais forte”. Entre- e a Mídia.
tanto, como nenhum ser huma-
Em uma sociedade democráti- no tem força suficiente para ga-
ca como a nossa, o Estado é quem rantir por si só o seu bem-estar,
concentra o poder em relação a ele acaba tendo que estabelecer
três atividades essenciais: legislar, acordos com outros indivíduos,
julgar e executar (ou administrar). de forma a construir uma coe-
Daí os três poderes da República, xistência pacífica.
independentes e reciprocamente
fiscalizadores entre si: Dito de outra forma, poderí-
amos entender que, a partir de
Executivo um determinado momento, os
É o poder responsável por exe- obstáculos à sobrevivência no
cutar as leis e gerir as políticas estado de natureza ultrapassam
públicas. A Presidência da Re- as possibilidades de cada pessoa,
pública, os ministérios e as au- obrigando-as a agir em conjunto.
tarquias são órgãos do Executi- Da competição natural, passa-se
vo Federal. Da mesma forma, as então para a cooperação, criada
prefeituras e as secretarias inte- a partir do pacto entre os mem-
gram o Executivo Municipal. bros de uma comunidade ou so-
ciedade. Nesse contrato, cada
Legislativo ser humano abdicaria de parte
É o poder que elabora as leis e que de sua autonomia individual em
fiscaliza os atos do Poder Execu- benefício da estabilidade da vida
Orçamento público, legislativo e comunicação | Compreendendo conceitos

em comum. Com isso, torna-se necessário que agir e ter voz de mando; auto-
sua segurança e suas liberdades – que passam a ridade; governo de um país, de
receber o nome de “direitos” – sejam garantidas um Estado, etc”. Como dimen-
por uma entidade única, que monopolizará o uso são central da política, o poder
da força: o Estado. está relacionado ao acúmulo de
recursos por um indivíduo ou
Aparelho de dominação um grupo e a capacidade de usá-
Há uma outra linha de pensamento segundo a qual A vida em los, característica que permitiria
o conceito de Estado nasce com o advento da pro- sociedade a uma pessoa determinar o(s)
priedade privada. Em determinado momento da significa o comportamento(s) de outra(s).
história, a posse da terra e o excedente de produção compartilha-
teriam criado as condições para a apropriação, por mento de Nesse contexto, vale destacar
parte de um único grupo, daquilo que até então era demandas, que a relação de poder político
 considerado de toda a comunidade. É nesse con- estabelece-se de diversas for-
costumes e
texto que surge a noção de propriedade privada, e propósitos, mas, a partir de uma clara dife-
com ela, a diferenciação de classes sociais (ricos e bem como a renciação entre as funções e as
pobres; empresários e trabalhadores, etc). luta dos dife- representações reconhecidas na
rentes inte- sociedade. Os próprios concei-
Dessa maneira, em um mundo dividido entre resses exis- tos revelam essas diferenças: go-
os que detêm riqueza e poder e aqueles que não tentes entre vernantes e governados; Estado
os possuem, o Estado passa a ser o instrumento os indivíduos e cidadãos; soberanos e súditos;
de controle de uma classe sobre a outra. Ou seja, autoridade e obediência, etc. Em
para os defensores dessa visão, o Estado surge síntese, tais diferenciações po-
para proteger a posse da propriedade privada pela deriam ser pensadas a partir de
classe dominante e engendrar, a um só tempo, uma grande divisão entre dois
mecanismos de manutenção tanto da proprieda- espaços centrais: a sociedade
de quanto do poder. Nessa visão, os exércitos e a política e a sociedade civil.
própria lei representam mecanismos de domina-
ção e controle da sociedade.
Democracia
A idéia de cidadão e de cidadania
Sociedade e Poder teve diferentes versões no trans-
correr da história. Da Grécia
Entende-se por sociedade o conjunto de pessoas
Antiga aos dias atuais existiram
vivendo de forma organizada em uma comuni-
muitas maneiras de pensar quais
dade. Em uma visão mais abrangente, podemos
são os direitos e como eles de-
pensar a sociedade como um coletivo de cidadãos
vem ser exercidos pelas pessoas.
de um país, governados por instituições que dão
Na maioria delas, a relação com
vida e constituem o Estado.
o regime de governo conheci-
A vida em sociedade significa o comparti- do como democracia é a base e a
lhamento de preocupações, de demandas, de condição para o seu exercício.
costumes, de propósitos, bem como a luta dos
diferentes interesses existentes entre os indiví- Uma das primeiras definições
duos. Dessa forma, mesmo sendo derivada da ne- de democracia de que se tem no-
cessidade de cooperação entre as pessoas, a vida tícia foi formulada por Aristóte-
em sociedade também envolve conflito e disputa les (384/322 a.c.), ao estabelecer
pelo poder. as três possíveis formas de gover-
no. Democracia seria o governo
Esse é um aspecto importante de nossas re- de todos os cidadãos, ou seja, de
flexões. Poder e política são duas palavras cujos todos aqueles que têm direitos,
significados estão inter-relacionados. Segundo em contraposição à monarquia,
o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, poder que é o governo de um só, e à oli-
representa “o direito ou capacidade de decidir, garquia, quando apenas alguns
Compreendendo conceitos | Orçamento público, legislativo e comunicação

cidadãos estão no poder. das por candidatos e candidatas Não perca


representantes de toda a popu-
O primeiro modelo de de- lação. Por prever a participação de vista
mocracia – o da Grécia Antiga de todos na escolha dos repre-
– se formalizava na Ágora (praça sentantes – isso para o caso dos Na seção que abordará temas rela-
pública), tinha na palavra (ar- poderes Executivo e Legislativo –, cionados à Comunicação parte do
debate sobre o conceito de demo-
gumentos) e na persuasão seus esta forma também foi chamada cracia é retomado, com o objetivo
instrumentos mais importantes. de democracia representativa. de refletir sobre o papel da mídia
Ficou conhecido por isso como nas sociedades democráticas.
democracia direta. Entretanto, As democracias representati-
era uma sociedade excludente, vas são definidas por um conjunto
porque apenas homens livres, de regras, observadas pelos que
adultos, gregos e proprietários estão autorizados a tomar deci-
eram considerados cidadãos. As sões em nome de todos, com base 
mulheres e os demais estavam em procedimentos previamente
excluídos da democracia grega. estabelecidos pela Constituição e Grupos
pelo conjunto da legislação de um de direitos
A idéia de democracia ficou determinado país. Nesse sentido,
muito tempo esquecida na histó- só pode haver governo democrá- Direitos políticos – são aqueles que
ria das nações, até ser retomada tico se forem estabelecidos limites dizem respeito à participação dos
pelos inventores do federalis- invioláveis das liberdades indivi- cidadãos no governo de sua socie-
mo norte-americano, no século duais, principalmente, no que diz dade, têm relação com questões
como direito de votar e de participar
XVIII. Combinando a divisão dos respeito aos direitos civis e polí-
de entidades e órgãos de represen-
poderes do Estado (Executivo, Le- ticos – incluindo-se aí o direito à tação popular, como os conselhos.
gislativo e Judiciário) e a noção de participação. É importante dizer Direitos civis – são aqueles que
“soberania popular” – segundo a que o exercício da cidadania nas asseguram a vida, a liberdade, a
qual “todo poder emana do povo” democracias modernas envolve igualdade e a manifestação de pen-
– eles inventaram um regime po- grupos distintos de direitos: civis, samentos e movimentos das pes-
lítico que também chamaram de políticos, sociais, econômicos e soas que integram uma sociedade
regida por leis.
república (palavra que vem da ex- culturais (veja nota ao lado).
Direitos sociais – são aqueles que
pressão em latim res publica, que garantem condições de vida e tra-
quer dizer coisa pública). balho aos cidadãos de uma socie-

Na prática, a democracia se Sociedade civil dade – como educação, saúde e


trabalho.
constitui em um modo de go- O termo sociedade civil expressa Direitos econômicos – têm relação
verno que pressupõe alguns ele- a natureza associativa que mar- com o direito à alimentação – a es-
mentos fundamentais: a parti- ca as experiências humanas, ou tar livre da fome –, o direito a um
seja, a cooperação entre homens padrão de vida mínimo, como ves-
cipação dos cidadãos no poder; tuário e moradia.
a negociação como forma de to- e mulheres na busca por orga-
nizar sua vida social. O conceito Direitos culturais – constituem o di-
mada de decisões na definição reito a participar da vida cultural e
das leis e da sua aplicação, bem surge, portanto, como contrapo- de beneficiar-se do progresso cien-
como nas decisões concernentes sição à idéia de sociedade políti- tífico, assim como o direito das mi-
ao orçamento público; e o reco- ca, que abrange o grupo de pes- norias étnicas e raciais, de gênero,
nhecimento dos direitos e deve- soas que integra o Estado. Nesse orientação sexual, etc.

res dos membros da sociedade. sentido, poderíamos dizer que


a sociedade civil é a esfera das
relações entre pessoas, grupos,
Modelo classes sociais, que acontecem à
representativo margem das relações estatais.
Nas democracias atuais, os cargos
de governos devem ser preenchi- Em outras palavras, a Socieda-
dos a partir de um processo elei- de Civil é retratada como o terreno
toral, possibilitando que as vagas dos conflitos econômicos, ideoló-
existentes possam ser preenchi- gicos, sociais e religiosos, os quais
Orçamento público, legislativo e comunicação | Compreendendo conceitos

o Estado tem a seu cargo resolver, trato social que cria o Estado. esfera não-política (não-estatal).
intervindo como mediador ou su- Nessa concepção, a existência da Podemos observar neste momen-
primindo-os. Nesse sentido, pode sociedade civil é uma pré-condi- to duas visões de sociedade civil:
ser ainda entendida como a base ção do Estado. Isso significa dizer uma identificada como sociedade
de onde partem as solicitações às que antes do Estado existiam di- burguesa, ou seja, na qual ocorre
quais o sistema político está cha- versas formas de associação que a diferenciação entre burgueses
mado a responder. É também o os indivíduos construíam entre (exploradores) e proletariado
espaço das várias formas de mobi- si para a satisfação de seus mais (explorados); outra é a visão de
lização, de associação e de organi- variados interesses. sociedade civil como antítese ou
zação das forças sociais. oposição ao Estado.
Diferentes olhares
A história do conceito de so- A partir do século XIX, a expres- A esses múltiplos significados
ciedade civil está marcada, como são passa a designar uma oposição atribuídos à noção de sociedade
10 já vimos, pela efetivação do con- entre a esfera política (estatal) e civil, soma-se ainda o entendi-

Na trilha da Constituição

No Brasil, é a Constituição Federal que define as diretrizes e os mecanismos destinados ao exercício do con-
trole social, ratificados e regulamentados por leis editadas a partir dela – como o Estatuto da Criança e do
Adolescente, por exemplo, que traz os conselhos como espaços controladores da política. Por essa razão, se
quisermos qualificar nossa incidência sobre as políticas e as instituições públicas, é fundamental conhecer e
dominar os princípios e orientações jurídicas presentes em nossa Constituição. A democratização do poder
passa pela formulação e pelo uso efetivo das leis.

Podemos identificar na Carta Magna, um conjunto de garantias para o efetivo exercício do controle social:

 A Constituição brasileira garante a possibilidade da ação popular. Esse tipo de ação pode ser requisitada ao
Poder Judiciário por qualquer brasileiro, a fim de proteger o patrimônio público, histórico e cultural, do
meio ambiente e da moralidade administrativa, diante de um ato lesivo imoral ou ilegal.

 A ação civil pública é mais ampla que a ação popular, pois além do patrimônio público ou social, também
permite que os cidadãos entrem na justiça para defender outros direitos coletivos ou difusos. Quem pro-
põe a ação pública é o Ministério Público ou, então, as associações juridicamente constituídas.

 A Constituição estimulou o aumento de políticas públicas. Formadas por um conjunto de diretrizes, ga-
rantidas por lei, que possibilitam a promoção e a garantia dos direitos do cidadão. Numa sociedade verda-
deiramente democrática, os cidadãos participam ativamente na definição e, principalmente, do acompa-
nhamento da implantação de políticas públicas.

 A Constituição de 1988 representou grandes conquistas na defesa de causas difusas no Brasil. Direitos
difusos são aqueles que defendem interesses em que não é possível identificar a quantidade de pessoas
beneficiadas com sua aplicação. São direitos que se baseiam em causas de interesses de todos, como a
defesa dos direitos das crianças e adolescentes ou das mulheres, por exemplo.

Outras leis e decretos federais também estimulam e garantem o controle cidadão como, por exemplo, o
Estatuto das Cidades:

 Estatuto das Cidades – Lei Federal 10.257/01 – “a política urbana deve ser exercida com gestão democrática por
meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na
formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano”.
Compreendendo conceitos | Orçamento público, legislativo e comunicação

mento que vincula o conceito ao Nesse sentido, podemos


associativismo na vida cotidiana, dizer que a idéia de controle
aos regimes democráticos e à ga- social traduz a capacidade da
rantia da civilidade. sociedade em acompanhar e
fiscalizar as ações governamen-
Nos dias de hoje, duas im- tais e a gestão do bem público.
portantes formas de caracteri- A partir do exercício do contro-
zar a sociedade civil podem ser le social, é possível envolver os Mobilização
destacadas: a primeira estaria cidadãos no processo de defini-
relacionada à noção, já citada an- ção, implementação e avaliação
teriormente, de oposição ao Esta- da ação pública – processo ao “O horizonte ético é o que dá sen-
do; a segunda diz respeito a uma qual damos o nome de incidên- tido a um processo de mobilização.
divisão tripartite das relações so- cia política. Mobilizar é convocar vontades para
ciais, que poderiam ser divididas atuar na busca de um propósito co- 11
mum, sob uma interpretação e um
em três setores distintos – Es- Tais termos, portanto, dizem sentido também compartilhados.”
tado (primeiro setor); Mercado respeito a uma ação política de
Bernardo Toro e Nizia Werneck
(segundo setor); Sociedade Civil garantia e defesa de direitos em
(terceiro setor). um sentido público, que tem
origem na sociedade civil orga-
Para a primeira tendência, nizada e não no Estado.
sociedade civil é o campo das vá-
rias formas de mobilizações, as- Nos últimos anos, a socie-
sociações e organizações de for- dade brasileira passou a se or-
ças sociais, que se desenvolvem ganizar por meio de conselhos
à margem das relações de poder municipais e comitês populares
Fique
que caracterizam as instituições – abrangendo os mais variados por dentro
estatais. De acordo com a segunda temas e setores, como direitos
tendência, sociedade civil é consi- da criança e do adolescente, as- Na esfera do Estado, o termo inci-
derada como um “terceiro setor”, sistência social, educação, saú- dência política refere-se a ações
voltadas para o Legislativo, Execu-
em contraste com o mercado e o de, entre outros – deixando para
tivo e Judiciário.
Estado, e refere-se a uma esfera o Poder Público a função de me- Para além do Estado, a incidência po-
específica de ação, a das entidades diar e fiscalizar as relações entre lítica refere-se também a ações volta-
não-governamentais (indepen- o espaço público e o privado. Por das para a sociedade, a exemplo da
dentes da burocracia estatal) e sem isso, quando falamos em con- incidência política junto à mídia.
fins lucrativos (independentes dos trole social, uma das primeiras
interesses do mercado). referências que nos vêm à cabe-
ça diz respeito às iniciativas de
participação popular que ocor-
Controle social rem no âmbito dos municípios,
e incidência principalmente, por eles cons-
tituírem a esfera pública mais
política próxima da comunidade.
Controle social e incidência
política são conceitos que ca- Vale lembrar, no entanto,
minham no mesmo rumo. En- que essa importante atuação não
quanto o controle social volta-se pode estar dirigida apenas aos
mais para o acompanhamento e poderes do Estado (Executivo,
fiscalização de políticas públi- Legislativo, Judiciário). Ela pre-
cas, a idéia de incidência política cisa, igualmente, dirigir-se aos
envolve ações de formulação de partidos políticos e às organiza-
legislação e de políticas públi- ções da sociedade civil, recupe-
cas, além de também conter es- rando os poderes existentes no
ses elementos. âmbito não estatal.
Orçamento público e cidadania | Orçamento público, legislativo e comunicação

1
[ Orçamento Público ]

Orçamento público 13

e cidadania
O orçamento público tem tudo a ver com nosso dia-a-dia. Grande parte das
receitas governamentais, ou seja, do dinheiro que o governo arrecada, sai
do nosso bolso, direta ou indiretamente. Quando compramos pãezinhos
ou arroz, pagamos a conta de luz ou de água, por exemplo, repassamos uma
parcela do que ganhamos para o governo em forma de impostos indiretos,
isto é, impostos que estão embutidos no preço das mercadorias e das tari-
fas de serviços públicos. Há também impostos diretos, como o imposto de
Não perca renda, pago por milhões de pessoas quando recebem o salário mensal ou
quando prestam serviços para alguma empresa ou para outra pessoa.
de vista
É com o dinheiro que esperam receber de impostos, contribuições e
Nas próximas páginas, vamos en- taxas que os governos estimam e definem seus gastos todos os anos.
tender por que o orçamento públi-
co é um importante instrumento de
decisão política; de planejamento; Uma parte dos recursos é gasta em nosso benefício, pois, de uma
de transparência governamental e forma ou de outra, direta ou indiretamente, todos/as nós somos usu-
controle social; de democracia; de ários/as dos serviços prestados e das obras construídas pelo governo,
distribuição de renda e justiça so- seja a canalização de um córrego na periferia, seja a modernização de
cial. Também vamos saber por que
o acesso à informação é imprescin-
um aeroporto, a abertura de novas vagas na creche do bairro, a contra-
dível para a democratização do pro- tação de mais atendentes para postos do INSS.
cesso orçamentário.
O orçamento público é fundamental. Sua importância não é apenas
econômica, mas principalmente política e social. Ou seja, é nele que
é decidido quais obras serão prioritárias, qual promessa de campanha
será cumprida, qual reivindicação popular será atendida.

O que é o orçamento público


Depois de ampla negociação, o orçamento público se transforma num
conjunto de documentos legais em que os governos (federal, estadual e
municipal) deixam claro como pretendem gastar os recursos arrecada-
dos com os impostos, contribuições sociais e outras fontes de receita,
pagos pela população.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Orçamento público e cidadania

 Todo município tem seu orça- dar famílias de baixa renda


mento próprio; estados têm o ou aumentar o salário dos(as)
orçamento estadual; e no ní- professores(as), por exemplo,
vel federal há o orçamento da se não estiver autorizado pelo
União. A elaboração do orça- orçamento a aplicar recursos
Orçamento ao mento é obrigatória. Todos os nessas áreas.
alcance anos os chefes do Poder Exe-
Os conteúdos relativos ao tema orça- cutivo (prefeitos, governado- Decisão política
mento foram baseados na publicação res e presidente da Repúbli- Algumas pessoas querem mais
Orçamento público a seu alcance, rea- ca) devem fazer a proposta creches, mais universidades,
lizado pelo Inesc com apoio da Avina de orçamento e enviá-la para melhores salários para os(as)
e Ford Foundation. Disponível no site:
discussão e votação na Câ- professores(as). Outras desejam
www.inesc.org.br
mara Municipal; na Assem- transporte escolar passando bem
14 bléia Legislativa, no âmbito pertinho da casa delas, mais es-
do estado; e no Congresso paços de lazer, posto de saúde com
Nacional, quando se tratar da médicos(as) nos finais de semana.
esfera federal. O resultado é Muitas querem criar empregos,
uma lei – a Lei Orçamentária baratear o preço dos remédios.
– que autoriza o Executivo a Para outras, é prioritário reduzir
gastar os recursos arrecada- impostos e investir na área social.
dos para manter a adminis-
tração, pagar os credores e Ou seja, os interesses são di-
fazer investimentos. ferentes e até conflitantes. O que
é prioritário para uns pode ser
 Na lei do orçamento são estima- supérfluo para outros. Ao ela-
das todas as receitas e fixadas as borarem o orçamento, os gover-
despesas para o ano seguinte. nantes fazem escolhas políticas,
Em 2006, os governantes fi- isto é, definem as prioridades de
zeram o orçamento de 2007; governo, que vão muito além de
em 2007, devem elaborar o de questões sociais. As decisões en-
2008; em 2008, vão fazer o de volvem grupos de interesse com
2009; e assim sucessivamente. os quais os governantes têm com-
promissos dentro e fora do país.
 O orçamento demonstra o
programa de trabalho de to- Por isso, a sociedade deve ficar
dos os órgãos e entidades da atenta às decisões sobre os recur-
administração pública. Tudo sos públicos, intervindo no pro-
aquilo que o governo pode- cesso orçamentário para defender
rá gastar deve estar descrito suas demandas e propostas.
na Lei Orçamentária: salá-
rio dos (as) funcionários(as) Planejamento
públicos(as); pagamento de Mais do que um documento de
dívidas, pensões e aposen- receitas e despesas, o orçamento
tadorias; programas sociais, é um programa de trabalho, com
como a construção de escolas metas e objetivos a serem alcan-
e postos de saúde; construção çados. Ao elaborar o orçamento,
de estradas; etc. o governo faz uma estimativa de
arrecadação e de gastos para ga-
 Os gastos que não estiverem rantir, entre outras coisas, que
previstos não poderão ser re- os serviços e as obras em anda-
alizados. Nenhum governo mento tenham continuidade ao
pode construir uma escola longo do ano e para que não haja
ou um centro esportivo, aju- cortes repentinos em programas
Orçamento público e cidadania | Orçamento público, legislativo e comunicação

sociais ou atrasos no pagamento de boa qualidade, isso já é outra


de aposentados e pensionistas, história, que também pode ser
por exemplo. analisada no orçamento.

Distribuição de renda/ Ao priorizar os gastos com o


justiça social pagamento dos juros das dívi-
O orçamento público funciona das interna e externa, o governo
como redistribuidor de renda faz uma escolha política. E isso OCA
quando tira recursos de vários significa que a fatia da receita
setores da sociedade e os aplica que poderia ser aplicada para
em outros, para gerar desenvol- garantir mais justiça social será A Fundação Abrinq, o Fundo das
vimento, criar empregos, com- menor. O modelo de política Nações Unidas para a Infância (Uni-
bater a pobreza e tornar o país econômica é, portanto, uma es- cef ) e o Instituto de Estudos Socio-
menos injusto socialmente. Mas colha política com implicações econômicos vêm desenvolvendo, 15
desde 2003, uma metodologia que
essa escolha política depende, e na capacidade dos governos de permite fazer o monitoramento or-
muito, de organização e pressão promoverem distribuição de çamentário do conjunto de ações
da sociedade, pois melhorar a renda e justiça social. destinadas à melhoria da qualidade
distribuição de renda e garantir de vida de crianças e adolescentes.
Chamada de Orçamento Criança e
a justiça social significa, em mui- Decisão democrática
Adolescente (OCA), a ferramenta
tos casos, contrariar interesses de Em um regime democrático, ne- possibilita obter – nas três esferas
grupos e setores poderosos. nhum governante pode decidir de governo – informações relevan-
sozinho em que gastar os recur- tes sobre a definição e aplicação
Assim, quando o governo de- sos públicos. Ele também não dos recursos governamentais desti-
cide aplicar uma fatia maior dos nados à efetivação dos direitos de
pode optar sozinho pelo aumento
meninas e meninas.
recursos em benefício de uma de impostos para arrecadar mais Para saber mais detalhadamen-
parcela da sociedade, dizemos e pôr em prática o plano de go- te como funciona a Metodologia
que o gasto está sendo focaliza- verno que divulgou na sua cam- OCA, acesse o link www.orcamen-
do. Mas se toda a população pode panha eleitoral. Essas decisões tocrianca.org.br, que disponibiliza
ser potencialmente beneficia- a publicação De Olho no Orçamen-
envolvem o Executivo e o Legis-
to Criança – Atuando para Priori-
da pelos gastos públicos, então lativo. Só depois que o orçamen- zar a Criança e o Adolescente no
o gasto é universal. O gasto com to estiver devidamente aprovado Orçamento Público. O documento
educação, por exemplo, é uni- pelo Legislativo é que os órgãos explica o funcionamento do OCA e
versal. Todas as pessoas, ricas e as entidades da administração aborda ações concretas para que a
e pobres, podem ter acesso à sociedade possa exercer o controle
pública passarão a realizar seu
social dos gastos públicos.
educação pública. Se a educação trabalho e a aplicar os recursos
chega a todos os lugares e se é naquilo que foi previsto.

Autoriza, mas não obriga


Se o orçamento de sua cidade prevê a aplicação de R$ 2 milhões na construção de um pronto-socorro, por
exemplo, a prefeitura não poderá gastar R$ 2,1 milhões nessa obra. Contudo, poderá aplicar apenas R$ 1
milhão ou R$ 500 mil e até nem fazer o pronto-socorro. Isso ocorre porque o orçamento público tem cará-
ter autorizativo e não obrigatório, ou seja, a prefeitura não é obrigada a fazer tudo o que está determinado
na Lei Orçamentária, só não pode fazer aquilo que não está previsto.

Assim, incluir uma reivindicação no orçamento de sua cidade não é garantia de que a obra sairá do
papel. Isso também ocorre nos municípios, estados e no país. Por causa desse caráter autorizativo, muitas
vezes os(as) chefes do poder executivo (prefeitos(as), governadores(as) e presidente), que podem sim-
plesmente não gastar a dotação orçamentária, usam o orçamento como “moeda de troca”, liberando verbas
ou aprovando a execução de obras de interesse de vereadores(as), deputados(as) estaduais, deputados(as)
federais e senadores(as) em troca de apoio aos projetos governamentais.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Orçamento público e cidadania

Há vários momentos da ela- o desvio de dinheiro público.


boração da Lei Orçamentária em Isso é, como vimos, o que cha-
que a população pode participar, mamos de “controle social”.
visando influenciar em que e
como os recursos devem ser gas- Força de lei
tos. Alguns municípios, como Nenhum governante pode au-
Todas as pessoas podem e Belo Horizonte (MG), Porto mentar despesas, gastar mais do
devem ter acesso aos nú- Alegre (RS) e João Pessoa (PB), que está previsto na Lei Orça-
meros do orçamento e saber já viveram a experiência de ela- mentária ou criar novos impostos
para onde vai o dinheiro que borar os chamados “orçamen- para o pagamento de suas contas
os governantes arrecadam tos participativos”. sem autorização do Legislativo.

Transparência governamental Apesar de ser uma lei, o orça-


16 e controle social mento é apenas autorizativo, ou
O orçamento – seja municipal, seja, ele não obriga o governo a
estadual ou federal – é público. aplicar todos os recursos reser-
Todas as pessoas podem e devem vados para uma obra, um pro-
ter acesso a seus números e saber grama ou uma atividade.
para onde vai o dinheiro que os
governantes arrecadam. Esse di- Enfim, incluir uma reivin-
nheiro pertence não a um grupo dicação no orçamento de sua
de pessoas, mas a todos(as) nós. cidade não é garantia de que a
obra sairá do papel. Isso também
Além de conhecer o conte- ocorre nos estados e no país.
údo do orçamento e de se or-
ganizar para participar de sua Acesso à informação
elaboração, a população pode e Esse direito é imprescindível
deve acompanhar sua execução para que haja democratização do
(a aplicação dos recursos), evi- processo orçamentário, parti-
tando o descumprimento da Lei cipação da sociedade e controle
Orçamentária, o desperdício e social. Sem acesso à informação,

Direito à informação
Qualquer cidadão ou cidadã pode ter acesso aos dados orçamentários da união, do estado e do município.
Quando esses dados não estão disponíveis na internet ou em outro meio, é preciso entrar em contato com a
Secretaria Estadual ou Municipal de Planejamento (ou o órgão responsável pela elaboração do orçamento)
para se informar sobre a modalidade de consulta – a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) garante esse di-
reito. Muitas vezes, no entanto, é necessário fazer muita pressão política para se ter acesso às informações
necessárias à participação e ao controle social.

Veja o que diz a lei:


LRF – “Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação,
inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias;
as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o
Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos.

Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante incentivo à participação popular
e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e de discussão dos planos, lei de
diretrizes orçamentárias e orçamentos.”
Orçamento público e cidadania | Orçamento público, legislativo e comunicação

torna-se impossível monitorar e


controlar os gastos públicos.
Princípios
orçamentários
As bases do orçamento da O orçamento público – em to-
União, dos estados e dos muni- dos os níveis: federal, estadual
cípios devem estar disponíveis ou municipal – obedece a um
a toda a população, inclusive na conjunto de normas chamadas
Na seção sobre Comunica-
internet. Na União e em alguns de “princípios orçamentários”. ção iremos abordar outros
estados esse processo já ocorre. Esses princípios constam na ângulos da discussão sobre
Porém, muitos estados e muni- Lei 4.320, de 1964, que esta- acesso à informação nas
cípios ainda não disponibilizam belece as regras gerais para a sociedades democráticas
esses dados na internet, para que elaboração e o controle do orça-
cidadãos e cidadãs possam ter mento da União, dos estados e
conhecimento deles. dos municípios. 17

Valores em disputa, despesas obrigatórias


e despesas discricionárias
Os números do orçamento são tão grandes que muitas vezes é difícil imaginar o que representa tanto
dinheiro. Veja, por exemplo, o orçamento da União aprovado em 2006: o valor ficou em R$
1.660.772.285.176,00. Isso mesmo! Mais de um trilhão e 600 bilhões de reais.
No entanto, quase a metade de todo esse dinheiro – R$ 823.231.812.710,00, ou seja, mais de 800 bilhões
de reais – servirá para a rolagem de títulos da dívida pública, que é a emissão de novos títulos públicos com
o exclusivo propósito de realizar o pagamento de títulos anteriormente emitidos. Com o total de recursos
do orçamento, seria possível construir aproximadamente 83 milhões de casas populares, de três quartos,
sala, cozinha, banheiro, área de serviço e quintal murado, ao custo de R$ 20 mil cada uma. Seriam tantas
casas que o governo poderia, por exemplo, dar uma moradia nova para todos os brasileiros do sexo mascu-
lino contados pelo IBGE no Censo de 2000.

Todos esses recursos, no entanto, não são usados para uma única despesa. Eles existem para cobrir
todos os gastos de órgãos e entidades da administração pública. Há dois tipos de despesa em qualquer or-
çamento público: as obrigatórias e as discricionárias.

Despesas obrigatórias
Despesas obrigatórias são aquelas previstas em lei, ou seja, representam um gasto vinculado a determi-
nado fim. A maioria dos recursos já está comprometida com essas despesas obrigatórias, como salários
dos(as) funcionários(as) públicos(as); aposentadorias, pensões e benefícios da previdência social; o fun-
cionamento de escolas e hospitais; repasses obrigatórios para estados e municípios; e, principalmente, o
refinanciamento, os juros e a amortização das dívidas externa e interna.

Algumas despesas com políticas sociais – como saúde, educação e previdência – constam na relação
das despesas obrigatórias. E lá estão como resultado de muita luta, dos movimentos e da sociedade civil
organizada. Luta para que esses gastos, essenciais para garantir direitos básicos de cidadãos e cidadãs, não
estejam condicionados às escolhas políticas dos governantes.

Despesas discricionárias
Despesas discricionárias são aquelas em que o governo pode aplicar os recursos como quiser. No entanto, com
tantas despesas obrigatórias, sobra pouco para destinar as novas obras ou para aumentar o número de pessoas
atendidas pelos programas sociais, por exemplo. O recurso que “sobra” para aplicar – menos de 1/4 do orçamen-
to federal, nos últimos anos – é motivo de muitas disputas entre diferentes interesses, muitas vezes opostos.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Orçamento público e cidadania

Unidade Legalidade
Determina que cada cidade, esta- O orçamento anual precisa se
do ou a União tenham um único transformar em lei. Do contrá-
orçamento. Nenhum governante rio, não terá validade. Por isso,
pode elaborar mais de um orça- deve ser elaborado conforme al-
mento para o mesmo período. De gumas normas legais: o Executi-
acordo com essa regra, a estima- vo elabora o Projeto de Lei Orça-
tiva de receitas e a fixação de des- mentária Anual de acordo com a
A Lei Orçamentária precisa
pesas devem ser simultâneas (a
ser amplamente divulgada, Lei de Diretrizes Orçamentárias
para permitir que qualquer arrecadação e os gastos ocorrem (LDO) e o Plano Plurianual (PPA)
cidadão ou cidadã conheça ao mesmo tempo, ao longo de um
e o envia para o Legislativo, que
seu conteúdo e saiba como ano) e fazer parte de um só con-
discute, propõe emendas e vota o
são empregados os recursos junto de documentos.
18 projeto. Depois de aprovado pelo
arrecadados por meio de Legislativo, o Projeto de Lei Or-
impostos e contribuições, Universalidade
Todas as receitas e todas as des- çamentária Anual retorna para
pagos pela sociedade, e por sanção do chefe do Executivo e
outras fontes de receita pesas devem ser incluídas na Lei
Orçamentária. Nenhuma previ- publicação no Diário Oficial.
são de arrecadação ou de gasto
deve ser feita “por fora” do orça- Publicidade
mento. Isso é válido para todos os Como o próprio nome diz, o or-
órgãos e entidades da adminis- çamento é público. A Lei Orça-
tração pública direta ou indireta. mentária precisa ser amplamente
Toda e qualquer instituição pú- divulgada, para permitir que qual-
blica que receba recursos orça- quer cidadão ou cidadã conheça
mentários ou que gerencie recur- seu conteúdo e saiba como são
sos públicos deve ser incluída no empregados os recursos arrecada-
orçamento, com suas respectivas dos por meio de impostos e con-
dotações orçamentárias (verbas), tribuições, pagos pela sociedade, e
para o período de um ano. por outras fontes de receita.

Anualidade O orçamento do governo fe-


A Lei Orçamentária tem um deral deve ser publicado no Diá-
“prazo de validade”, ou seja, o rio Oficial da União (DOU) assim
orçamento fica em vigor por um que for sancionado (aprovado)
período limitado. No Brasil, o pelo presidente da República.
princípio da anualidade esta- Os orçamentos do Distrito Fe-
belece que o orçamento público
deral, dos estados e das grandes
deve vigorar por um ano ou um
cidades também devem ser pu-
exercício financeiro, que se ini-
cia em 1o de janeiro e se encerra blicados nos respectivos diários
em 31 de dezembro. No ano se- oficiais. Já aquelas prefeituras de
guinte, deve entrar em vigor uma cidades pequenas, que não pos-
nova Lei Orçamentária. suem jornal próprio ou internet
para assegurar a publicidade da
Exclusividade lei, podem afixar a Lei Orçamen-
De acordo com esta regra, a Lei tária até na porta da prefeitura.
Orçamentária deve conter ape-
nas matéria financeira, isto é, não Equilíbrio
pode abordar nenhum assunto que Esse princípio determina que as
não esteja relacionado com a pre- despesas fixadas sejam correspon-
visão de receitas e com a fixação de dentes ao valor das receitas esti-
despesas para o ano seguinte. madas para determinado ano.
Ciclo orçamentário | Orçamento público, legislativo e comunicação

2
[ Orçamento Público ]
19

Ciclo orçamentário
Três leis compõem o ciclo orçamentário: o Plano Plurianual, a Lei de
Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual. O papel dessas
leis é integrar as atividades de planejamento e orçamento para asse-
gurar o sucesso da ação governamental – nos municípios, nos estados
e no país.

Também chamado de ciclo integrado de planejamento e orçamen-


to, o ciclo orçamentário corresponde a um período de quatro anos, que
tem início com a elaboração do Plano Plurianual (PPA) e se encerra
com o julgamento da última prestação de contas do poder Executivo,
pelo poder Legislativo.

É um processo dinâmico e contínuo, com várias etapas articuladas


entre si, por meio das quais sucessivos orçamentos são discutidos, ela-
borados, aprovados, executados, avaliados e julgados.

As leis orçamentárias
As três leis que regem o ciclo orçamentário – Plano Plurianual (PPA),
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual
(LOA) – são estreitamente ligadas entre si, compatíveis e harmônicas.
Elas formam um sistema integrado de planejamento e orçamento, re-
conhecido na Constituição Federal, que deve ser adotado pelos muni-
cípios, pelos estados e pela União.
A elaboração do projeto de lei do PPA, da LDO e da LOA cabe exclu-
sivamente ao Executivo. Em nenhuma esfera o Poder Legislativo pode
propor tais leis. No âmbito municipal, por exemplo, apenas o prefeito
pode apresentar à Câmara Municipal os projetos de PPA, LDO e LOA.
Os vereadores não apresentam tais projetos, mas podem modificá-los,
por meio de emendas, quando estes são enviados ao Legislativo para
discussão e votação.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Ciclo orçamentário

O Ministério Público não Lei Orçamentária


discute, não vota nem aprova o Anual
orçamento. Porém, é chamado É nessa lei que o governo demons-
para intervir legal e penalmente tra todas as receitas e despesas para
quando qualquer irregularidade o ano seguinte. No caso da União,
é constatada pelos órgãos de con- a Lei Orçamentária é composta
trole interno, externo ou social. de três esferas: fiscal, seguridade
Não perca social e investimento das estatais.
de vista Vale ressaltar que os controles Esse conjunto de documentos que
oficial e social ocorrem quando o formam o orçamento obedece ao
Nas próximas páginas, iremos orçamento está em execução. O princípio da unidade e possibilita
abordar mais detalhadamente cada controle oficial pode ser inter- uma visão completa dos recursos e
uma das três leis orçamentárias no ou externo. O interno é feito das despesas governamentais:
20 mencionadas pelos órgãos da administração
direta – no caso da União, os Mi-  O orçamento da seguridade
nistérios, o externo é feito pelo social abrange todos os órgãos
legislativo, com o auxílio do tri- e entidades envolvidos nas
bunal de contas. Já o controle so- ações relativas à saúde, à pre-
Controle oficial cial é feito pela sociedade. vidência e à assistência social.
e controle social
Plano Plurianual  O orçamento de investimento
Os controles oficial e social ocorrem É o planejamento de longo prazo. das empresas estatais corres-
quando o orçamento está em exe- Define as estratégias, diretrizes ponde a despesas com obras
cução. O controle oficial pode ser e equipamentos. As demais
e metas do governo por um perí-
interno ou externo. O interno é fei-
to pelos órgãos da Administração odo de quatro anos. É elaborado despesas, como salário de
Direta – no caso dos municípios, no primeiro ano de mandato do funcionários(as) e manuten-
por exemplo, esse papel caberia às prefeito, governador ou presi- ção de atividades das estatais,
secretarias municipais. Por outro dente e vigora até o primeiro ano não são previstas na Lei Orça-
lado, o controle externo é feito pelo mentária – elas estão incluí-
de mandato do próximo gover-
Legislativo, com o auxílio do Tribu-
nal de Contas. Já o controle social é nante, de forma a garantir a con- das apenas na contabilidade
o processo de monitoramento con- tinuidade administrativa. das próprias estatais.
duzido pela sociedade (esse assun-
to é abordado na página 11) Em 2003, por exemplo, o pre-  O orçamento fiscal abrange
sidente e os governadores eleitos todos os outros órgãos e en-
em 2002 elaboraram o PPA para tidades não incluídos nos de-
o período de 2004 a 2007. Em mais orçamentos.
2005, os prefeitos eleitos em
2004 elaboraram o PPA que vai
vigorar entre 2006 e 2009. Etapas do ciclo
Lei de Diretrizes orçamentário
O ciclo orçamentário é composto
Orçamentárias de diversas etapas que se relacio-
Essa lei define as metas e prio-
nam, se completam e se repetem
ridades do governo, ou seja, as
continuamente.
obras e serviços mais impor-
tantes a serem realizados no Esses passos são semelhantes
ano seguinte. A LDO estabelece na União, nos estados e nos mu-
as regras que deverão ser ob- nicípios. As diferenças podem
servadas na formulação do Pro- estar nas datas-limite de cada um
jeto de Lei Orçamentária Anual deles. Os prazos dos estados são
pelo Poder Executivo e na sua definidos na Constituição Estadu-
discussão, votação e aprovação, al e no regimento interno da As-
pelo Legislativo. sembléia Legislativa. Já os prazos
Ciclo orçamentário | Orçamento público, legislativo e comunicação

dos municípios são estabelecidos Em Minas Gerais, por exem-


na Lei Orgânica do Município e plo, esse prazo se estende até
no regimento interno da Câma- 15 de maio.
ra Municipal.
3 - Os membros do Legislativo
Ciclo orçamentário é diferente têm até o encerramento da
de processo orçamentário. O ciclo primeira parte da sessão le-
corresponde à tramitação das leis gislativa (15 de julho, no caso Fique
orçamentárias – no Brasil, repete- de Minas Gerais) para exami- por dentro
se a cada quatro anos, sendo que nar, modificar e votar o pro-
algumas etapas repetem-se todos jeto de LDO. Do contrário, o Tudo o que está indicado na Lei
os anos. Já o processo diz respeito recesso pode ser suspenso até de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
ao papel de cada poder no orça- que a LDO seja aprovada. também deve estar presente na Lei
mento público: como o orçamento Orçamentária Anual (LOA), mas nem 21
tudo o que é previsto na LOA está,
é elaborado, discutido e aprovado 4 - O poder Executivo formula a necessariamente, na LDO. Mas, não
e como a execução de suas ações é proposta de Lei Orçamentária se deve esquecer que as definições
fiscalizada e avaliada. Anual de acordo com o PPA e a da LDO e da LOA devem ser contem-
LDO. A elaboração da proposta pladas pelo Plano Plurianual (PPA).
Passo-a-passo orçamentária começa no início
do ano e é concluída depois da
1 - O ciclo orçamentário tem início aprovação da LDO. Na União, o
com a elaboração da proposta presidente tem até 31 de agos-
do Plano Plurianual (PPA) pelo to para encaminhar o proje-
poder Executivo. Isso ocorre to ao Congresso Nacional. O
no primeiro ano de governo governador de Minas Gerais,
do presidente, governador ou por exemplo, tem até o dia 30
prefeito recém-empossado ou de setembro para encaminhar
reeleito. Nos governos federal para a Assembléia Legislativa.
e nos estados, o chefe do Exe-
cutivo deve encaminhar o pro- 5 - O poder Legislativo deve exa-
jeto de lei do PPA ao Legislativo minar, modificar e votar o
até 31 de agosto. Os membros projeto de LOA até o encer-
do Legislativo discutem, apre- ramento da sessão legislativa,
sentam emendas e votam o pro- em 15 de dezembro. Caso con-
jeto de lei do PPA até o encerra- trário o recesso é suspenso até
mento da sessão legislativa. Na que a votação seja concluída.
União e nos estados, este prazo
termina em 15 de dezembro. Se 6 - Os órgãos e entidades da ad-
até essa data o PPA não for vo- ministração pública executam
tado, o recesso é suspenso e os seus orçamentos, estando su-
parlamentares continuam em jeitos à fiscalização e ao contro-
atividade até concluir a votação. le interno do respectivo poder.
Assim como ao controle exter-
2 - Com base no PPA, o Executivo no (Poder Legislativo, Tribunal
formula a proposta da Lei de de Contas e sociedade).
Diretrizes Orçamentárias, de-
finindo prioridades e metas de 7 - Até 30 dias após a publicação
governo. Os governantes re- da LOA, o Executivo estabe-
cém-empossados baseiam-se lece o cronograma mensal de
no PPA elaborado pelo governo desembolso e a programação
anterior. Na União, o projeto financeira, de acordo com as
de LDO deve ser enviado ao determinações da Lei de Res-
Legislativo até o dia 15 de abril. ponsabilidade Fiscal.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Ciclo orçamentário

8 - A cada dois meses, o Executivo reavalia as esti- 14 - O Legislativo julga as contas


mativas de receitas e despesas, para verificar se apresentadas pelo Executivo.
a meta fiscal será cumprida. Se necessário, para No âmbito da União, não há
cumprir a meta, os poderes (Legislativo, Execu- prazo fixado.
tivo e Judiciário) reduzem temporariamente os
limites para a realização de despesas. Esta redu- 15 - O Executivo divulga relatório
ção é chamada de “contingenciamento”, ou seja, de avaliação da execução PPA.
cortes de gastos previstos (veja página 49). Geralmente nos três primei-
O ciclo or-
çamentário ros meses do ano.
9 - Conforme determina a Constituição Federal, 30 corresponde
dias após o final de cada bimestre, o Executivo à tramitação 16 - As etapas de 3 a 16 re-
deve divulgar um relatório resumido da execu- das leis or- petem-se por outros três
ção orçamentária (gastos do governo). çamentárias. anos consecutivos.
22
No Brasil,
10 - De acordo com determinações da Lei de Res- repete-se a 17 -No quarto ano, o processo
ponsabilidade Fiscal, os três poderes divulgam cada quatro recomeça com a elaboração
anos, sendo de um novo PPA.
relatório de gestão fiscal 30 dias após o final
de cada quadrimestre. Isso permite comparar que algumas
etapas repe-
a despesa com pessoal e o montante da dívida
pública com os limites previstos na legislação. tem-se todos O processo
os anos orçamentário
11 - Após o encerramento do exercício financeiro (31 Cada poder tem papel específi-
de dezembro), o Executivo elabora os balanços e co no processo orçamentário. Ao
os demonstrativos contábeis gerais (de todos os Executivo cabe elaborar os proje-
órgãos e entidades da administração pública). tos de lei e executá-los. Ao Legis-
Cada poder – Executivo, Legislativo e Judiciário - lativo compete discutir, propor
elabora sua prestação de contas separadamente. emendas, aprovar as propostas
orçamentárias e depois julgar as
12 - O Executivo apresenta suas contas do ano contas apresentadas pelos(as) che-
anterior ao Legislativo no máximo 60 dias fes do Executivo – prefeitos(as) ,
após a abertura da sessão legislativa, que tem governadores(as) e presidente da
início em 15 de fevereiro, no caso da União. República. Um poder não pode se
intrometer na tarefa do outro.
13 - O Tribunal de Contas emite parecer prévio so-
bre as contas do Executivo e dos demais Pode- Há órgãos encarregados da
res. Normalmente, isso ocorre em até 60 dias fiscalização e do julgamento das
após o recebimento das contas pelo tribunal. contas, como os Legislativos e os

Lei de Responsabilidade Fiscal

A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), aprovada em 2000, é um código de conduta para os(as)
administradores(as) públicos(as) de todos os poderes e esferas de governo. Entre outras determinações, a
LRF fixa limites para despesas com pessoal e para a dívida pública e proíbe a criação de despesas de duração
continuada (mais de dois anos) sem que haja uma fonte segura de receitas.

A Lei de Responsabilidade Fiscal é um respaldo jurídico ao modelo econômico vigente no país há


mais de dez anos. Seu conteúdo é dirigido ao ajuste das contas de cada ente governamental (União,
estados e municípios). A LRF não trata do desenvolvimento social, do combate às desigualdades ou do
atendimento às necessidades da população. O que importa é se a conta entre receita e despesa fecha de
modo favorável ao pagamento dos juros e compromissos firmados pelos governos com seus credores.
Ciclo orçamentário | Orçamento público, legislativo e comunicação

Tribunais de Contas. Os cidadãos O chefe do poder Executivo


também têm obrigações e direi- conta com uma equipe de asses-
tos no processo orçamentário. É soria política e técnica para de-
questão de se preparar para par- finir a proposta de orçamento.
ticipar, expondo suas propostas Por isso, é importante que esses
e reivindicações. assessores conheçam a realida-
de econômica e social do país,
Elaboração do do estado ou do município. Eles Não perca
projeto de lei precisam saber de onde vem a de vista
Essa tarefa é de competência receita, como calcular a arreca-
exclusiva do Executivo. Ainda dação e como distribuir os re- Na seção sobre o Legislativo, mais
não há normas específicas para cursos de acordo com as deman- a frente, vamos entender melhor os
a elaboração do PPA e da LDO, das de cada área, os objetivos e as mecanismos de funcionamento des-
pois a Constituição Federal, que metas governamentais. sa esfera de poder, especialmente 23
no âmbito dos municípios.
criou estes instrumentos, deter-
minou que as regras fossem fixa- Discussão e votação
das numa lei complementar. Até A Constituição determina que as
hoje, no entanto, tal lei não foi propostas de PPA, LDO e LOA se-
votada pelo Congresso Nacional. jam analisadas, discutidas e vota-
das pelo Congresso Nacional, no
Essa lei complementar tam- caso da União; pela Assembléia
bém substituirá a Lei 4.320, de Legislativa, na esfera dos estados;
1964, que estabelece as normas e pela Câmara Municipal, no âm-
para a elaboração da Lei Orça- bito dos municípios. Em todas as
mentária Anual em todos os âm- casas do Legislativo, a proposta é
bitos governamentais: munici- primeiramente analisada por uma
pal, estadual e federal. comissão de parlamentas e depois
apreciada por todo o plenário.
Na União, o processo é dirigi-
do pela Secretaria de Orçamento Os parlamentares podem apre-
Federal (SOF), com base no le- sentar emendas ao projeto origi-
vantamento enviado por todos os nal, individual ou coletivamen-
ministérios, que apontam as ne- te. No caso da LOA, eles podem
cessidades de gastos de cada área modificar a alocação de recursos
sob sua responsabilidade. Cabe à e alterar a dotação orçamentária
SOF, órgão ligado ao Minsitério (verba) prevista para cada órgão
do Planejamento, compatibilizar ou entidade pública, por exemplo.
a demanda por recursos com o
total da receita que o governo es- No entanto, qualquer altera-
pera arrecadar. ção precisa obedecer a algumas
regras, entre as quais:
Ao elaborar a proposta, a SOF
leva em conta uma série de pa-  Não aumentar o total de des-
râmetros, como a expectativa pesas previsto no orçamento.
de crescimento do PIB, a média
cambial, a previsão de receita, as  Ao incluir nova despesa ou au-
metas de inflação e o montante do mentar despesa já prevista, in-
refinanciamento da dívida públi- dicar os recursos a serem can-
ca, repassados pelo ministério da celados de outra programação
Fazenda. Os poderes Legislativo para cobrir o novo gasto.
e Judiciário também enviam suas
propostas à SOF para serem inte-  Ser compatível com as dispo-
gradas no orçamento geral. sições do PPA e da LDO.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Ciclo orçamentário

Ciclo Orçamentário - União


PPA LDO LOA
Prazos Responsável Prazos Responsável Prazos Responsável

31 de agosto do
15 de abril de todos 31 de agosto de to-
Elaboração primeiro ano de Executivo Executivo Executivo
os anos. dos os anos.
mandato.
Discussão/
Até 15 de dezembro. Legislativo Até 30 de junho. Legislativo Até 15 de dezembro. Legislativo
votação
Durante os últimos LOA e o ano
Ministérios, Ministérios, se-
3 anos de um go- Durante a elabora- seguinte.Ministé- 1o de janeiro a 31 de
secretarias e cretarias e outros
Execução verno e o primeiro ção da LOA e o ano rios, secretarias e dezembro do ano
outros órgãos do órgãos do Exe-
ano do governo seguinte. outros órgãos do seguinte.
Executivo cutivo
seguinte. Executivo
Interno, durante a Ministérios, Interno, durante a Ministérios, Le- Interno, durante a Ministérios, Le-
24 Avaliação e execução. Externo, Legislativo, Tri- execução. Externo, gislativo, Tribunal execução. Externo, gislativo, Tribunal
controle durante e após o fim bunal de Contas, durante e após o de Contas, socie- durante e após o da de Contas, socie-
da execução. sociedade civil. fim da execução. dade civil fim execução. dade civil.

Ciclo orçamentário – Minas Gerais


PPA LDO LOA
Prazos Responsável Prazos Responsável Prazos Responsável

31 de agosto do
15 de maio de 30 de setembro de
Elaboração primeiro ano de Executivo Executivo Executivo
todos os anos. todos os anos.
mandato.
Discussão/ Até 15 de dezem-
Até 15 de dezembro. Legislativo Até 15 de julho. Legislativo Legislativo
votação bro.
Durante os úl-
timos 3 anos de Secretarias e Durante a elabo- Secretarias e 1o de janeiro a 31 Secretarias e
Execução um governo e o outros órgãos do ração da LOA e o outros órgãos de dezembro do outros órgãos do
primeiro ano do Executivo ano seguinte. do Executivo ano seguinte. Executivo
governo seguinte.
Interno, durante
Interno, durante Secretarias, Secretarias, Le- Interno, durante a Secretarias,
a execução. Ex-
Avaliação e a execução. Exter- Legislativo, Tri- gislativo, Tribu- execução. Externo, Legislativo, Tri-
terno, durante
controle no, durante e após bunal de Contas, nal de Contas, durante e após o bunal de Contas,
e após o fim da
o fim da execução. sociedade civil. sociedade civil da fim execução. sociedade civil.
execução.

E no seu município, como é o ciclo orçamentário? Busque as informações e preencha o quadro:

Ciclo orçamentário – “Seu Município”


PPA LDO LOA
Prazos Responsável Prazos Responsável Prazos Responsável

Elaboração

Discussão/
votação

Execução

Avaliação e
controle
Ciclo orçamentário | Orçamento público, legislativo e comunicação

 Respeitar os limites de valor o governo reavalia a estimativa


para as emendas individuais. de receita e reduz o limite au-
torizado de despesas para cum-
 É proibido cancelar despesas prir a meta fiscal (o quanto se
com pessoal, benefícios da espera gastar a menos do que o
previdência, transferências total arrecadado).
constitucionais, juros e amor-
tização da dívida pública. Avaliação e controle Fique
Como vimos nas etapas do ciclo por dentro
Após a aprovação do Legisla- orçamentário, os órgãos e en-
tivo, a proposta volta ao Execu- tidades que executam os orça- As emendas são instrumentos por
tivo para sanção (aprovação) ou mentos estão sujeitos à fiscali- meio das quais os parlamentares
veto às emendas incluídas pe- zação por órgãos internos e ex- podem modificar projetos de lei. As
los parlamentares. Neste caso, emendas ao orçamento ocorrem, 25
ternos. Eles devem prestar con- muitas vezes, graças à mobilização
o veto é apreciado pelo Legis- ta de suas realizações e gastos da sociedade civil, que pressiona
lativo, podendo ser aprovado periodicamente. Essa prestação os integrantes do Legislativo a des-
ou derrubado. de contas deve ser pública, isto tinar mais verbas para as políticas
públicas sociais.
é, acessível a todo e qualquer
Execução cidadão e não apenas aos órgãos
Essa prática, normalmente, traz
enorme ganho social, pois possi-
orçamentária e de fiscalização e controle do bilita a locação de recursos para o
financeira próprio governo. enfrentamento das demanda que a
Depois que a LOA é publicada no sociedade julga mais importantes.
Diário Oficial e passa a valer, os Assim a decisão sobre o que é ou
Após o encerramento de cada não prioritário não fica apenas nas
órgãos e entidades da adminis- exercício, o chefe do Executivo mãos do governo.
tração pública começam a execu- deve apresentar um balanço ge-
tar o orçamento, ou seja, passam ral das receitas arrecadadas, das
a realizar as atividades progra- ações e das despesas executadas
madas e a aplicar o dinheiro de ao longo do ano. Essa prestação
suas dotações orçamentárias (a
de contas é analisada pelo Legis-
verba anual de cada um).
lativo e pelo Tribunal de Contas
(da União, do estado ou do mu-
Para isso, cada órgão público
nicípio) e deve ser do conhe-
elabora um cronograma de de-
cimento de todos os cidadãos e
sembolso, isto é, o programa, as
cidadãs. Na mesma época, o go-
despesas e a liberação de dinhei-
ro para as unidades envolvidas verno deve apresentar o relató-
na execução das ações. Assim, o rio anual de avaliação do PPA.
governo ajusta o ritmo de exe-
cução do orçamento ao fluxo dos Participação popular
recursos, mantém o equilíbrio no processo
entre receita e despesa, garante orçamentário
verba em tempo hábil às unida- É preciso estar atento(a) o tempo
des administrativas, com vistas a todo. Os cidadãos e cidadãs po-
melhorar a execução de seu pro- dem participar da definição e da
grama de trabalho. discussão das políticas públicas,
interferindo na elaboração das
Os órgãos e entidades da ad- leis orçamentárias com suas rei-
ministração pública devem se- vindicações e propostas. Pode-
guir à risca o que está determi- se atuar junto ao Executivo, que
nado na lei, não gastando nada elabora a proposta; junto ao Le-
além do estipulado para cada gislativo, que discute, modifica
programa ou atividade. Mui- e aprova as leis orçamentárias; e
tas vezes, no meio do caminho, aos próprios órgãos de controle
Orçamento público, legislativo e comunicação | Ciclo orçamentário

e fiscalização. Também é impor- 2 - No primeiro semestre de


tante articular parcerias na pró- todos os anos, quando é ela-
pria sociedade civil para fortale- borada a Lei de Diretrizes
cer a luta política. A participação Orçamentárias, que con-
popular deve ser permanente tém as metas e prioridades
ao longo de todo o ano, mas há de cada governo. O prazo da
momentos que são decisivos no União para enviar a proposta
processo orçamentário: de LDO ao Congresso Nacio-
A participação popular deve
ser permanente ao longo de nal é 15 de abril. O prazo dos
todo o ano, mas há momen- 1 - No primeiro ano de mandato municípios está estabeleci-
tos que são decisivos no do novo prefeito, governador do na Lei Orgânica Munici-
processo orçamentário ou presidente da República, pal e no regimento interno
quando é elaborado o PPA. da Câmara Municipal. O dos
26 Como vimos, o Plano Plu- estados é determinado pela
rianual define a estratégia de Constituição Estadual e pelo
médio prazo para o municí- regimento interno da As-
pio, estado ou país e vigora sembléia Legislativa.
por quatro anos. É preciso
ficar atento aos prazos de sua 3 - Especialmente, no segundo
cidade ou de seu estado. Na semestre, quando o Projeto
União, o prazo para o Execu- de Lei Orçamentária é con-
tivo apresentar o projeto de cluído e enviado pelo Execu-
PPA ao Congresso Nacional é tivo ao Legislativo para dis-
31 de agosto. cussão, emendas e votação.

Conselhos no circuito
Para ter uma atuação eficiente, eficaz e efetiva no ciclo orçamentário no que diz respeito à afirmação do
princípio da prioridade absoluta para crianças e adolescentes, sugere-se aos conselhos de gestão pública
(direitos da criança e do adolescente, assistência social, educação, segurança alimentar, saúde, etc) os se-
guintes passos:
1º passo - Identificar junto aos conselhos tutelares, instituições, escolas, centros de saúde, associações
comunitárias, universidades, nas conferências, etc., as potencialidades e demandas em relação aos pro-
gramas e serviços que compõem as políticas básicas, assistenciais, de proteção especial e de garantia.
2º Passo - Elaborar um Plano de Ação coerente com esse diagnóstico.
3º Passo - Apresentar formalmente esse Plano ao órgão de planejamento do Poder Executivo para
sua assimilação no Plano Plurianual e nas Leis Orçamentárias.
4º Passo - Acompanhar e intervir nas discussões e votações do Plano Plurianual (PPA) e das Leis Orça-
mentárias (LDO e LOA), junto ao Poder Legislativo.
5º Passo - Analisar as informações da execução orçamentária nas reuniões dos conselhos, junto com os
conselhos Tutelares, propondo correções, suplementações, de acordo com o plano de ação.
6º Passo - Conferir se as metas previstas no PPA e LOA foram atingidas e se foram suficientes para resolver
os problemas.
7º Passo - Divulgar as informações decorrentes desse processo para os integrantes do movimento de
defesa dos direitos da criança e do adolescente e para a sociedade, por meio dos veículos de comunicação.
8º Passo - Reformular o Plano de Ação, em função da avaliação.
O Plano Plurianual | Orçamento público, legislativo e comunicação

3
[ Orçamento Público ]
27

O Plano Plurianual
O Plano Plurianual (PPA) é um instrumento de planejamento estra-
tégico de longo prazo, previsto na Constituição de 1988, por meio do
qual o Poder Executivo – federal, estadual ou municipal – estabele-
ce diretrizes, objetivos e metas para os quatro anos seguintes. O PPA
rege a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária
Anual (LOA). É no PPA que o governo deixa claro se vai ou não cum-
Fique prir as promessas feitas na campanha eleitoral, isto é, demonstra suas
por dentro políticas e prioridades.

A elaboração do PPA é uma das primeiras preocupações do chefe


Ao elaborar o PPA, o governo deci-
de sobre os investimentos mais im- do executivo logo após a posse. Em 2003, o presidente e os gover-
portantes para atender ao projeto nadores eleitos em 2002 deram prosseguimento ao PPA 2000-2003,
de desenvolvimento que considera elaborado por seus antecessores. Os prefeitos eleitos em 2004 e em-
adequado para o município, para o
estado ou para o país. Ele é o car- possados no início de 2005 deram continuidade ao PPA 2002-2005,
ro-chefe do orçamento. Nenhuma elaborado no governo anterior. Ou seja, ao elaborar o PPA, o governo
ação orçamentária pode acontecer decide sobre os investimentos mais importantes para atender ao pro-
se não estiver prevista no PPA.
jeto de desenvolvimento que considera mais adequado para o muni-
cípio, o estado ou o país.

Da mesma forma, o PPA que o presidente e os governadores fize-


ram no primeiro ano de governo (2003) vai vigorar de 2004 a 2007.
O PPA que os prefeitos elaboraram em 2005 terá validade de 2006 a
2009. Essa regra é válida também caso o governante sela reeleito, ou
seja, como chefe do Executivo, ele é obrigado a fazer um novo PPA no
primeiro ano de seu segundo mandato.

Os objetivos do PPA
Entre os objetivos do Plano Plurianual, podemos incluir:

 Organizar, em programas, as ações e os projetos que resultem em


bens e serviços para atender às demandas da sociedade.
Orçamento público, legislativo e comunicação | O Plano Plurianual

 Estabelecer a relação entre os Primeira regra:


programas a serem desenvol- conhecer a realidade
vidos e a orientação estraté- Para elaborar o PPA do mu-
gica de governo. nicípio, do estado ou do país,
um governo precisa conhecer a
 Integrar ações desenvolvi- fundo a realidade econômica e
das pela União, pelo estado social em questão. Só com es-
Fique e município. sas informações ele é capaz de
por dentro avaliar e decidir os setores ou
 Estabelecer, quando necessá- regiões que devem ser tratados
O PPA precisa ser claro, objetivo e rio, a regionalização de metas com prioridade.
racional, isto é, tem de dizer com
e gastos governamentais.
todas as letras o que o governo pre- Também é preciso obser-
28 tende fazer no período de quatro var cuidadosamente as questões
anos, por que pretende fazer, como  Orientar a alocação de recur-
vai fazer, que recursos estima dis-
ambientais, científico-tecnoló-
sos nos orçamentos anuais de
por e que resultados espera alcan- gicas, político-institucionais e
forma compatível com as me- de infra-estrutura, entre outras,
çar. Devem estar previstas no PPA
todas as ações de governo que vão tas e receitas. para identificar as carências e os
constar na LDO e na LOA. problemas que deverão ser en-
 Dar transparência à aplicação frentados e para planejar a es-
dos recursos públicos. tratégia de desenvolvimento em
todos os aspectos.

Elaboração e Para conhecer o município, o


estado ou o país, o governo pre-
gestão do PPA cisa de indicadores (dados es-
O PPA é muito mais do que tatísticos) sobre essas localida-
um documento elaborado para des: população, renda média das
cumprir exigências constitu- famílias, índice de desemprego,
cionais. Por isso, é necessário acesso ao saneamento básico,
que este instrumento estabele- condição das estradas, ameaças
ça a compatibilidade, todos os ao meio ambiente, produção
anos, entre as diretrizes estra- agrícola, entre outros. Também
tégicas do governo, os recursos precisa conhecer os progra-
mas e ações em andamento, as
disponíveis e a capacidade ope-
potencialidades do município,
racional das entidades e dos ór-
estado ou país, os recursos dis-
gãos públicos que vão executar
poníveis e as possibilidades de
os programas previstos. articulação com outras esferas
de governo.
O PPA rege as Leis de Dire-
trizes Orçamentárias (LDOs) e
É esse conhecimento da re-
as Leis Orçamentárias Anuais
alidade que vai fornecer ele-
(LOAs), por isso é necessário mentos para a definição da base
que estas leis estejam integra- estratégica e dos objetivos e me-
das ao PPA e sejam compatíveis tas do PPA, assim como o cor-
com ele. respondente direcionamento de
recursos para atingi-los.
Para ter validade, o PPA pre-
cisa virar lei. A proposta deve Ou seja, essa definição é uma
ser elaborada pelo Executivo e escolha não só técnica, mas an-
enviado ao Legislativo para dis- tes de tudo, política. Daí a im-
cussão e votação portância da participação popu-
O Plano Plurianual | Orçamento público, legislativo e comunicação

lar no processo de elaboração e Nos âmbitos estadual e munici-


discussão do PPA, a fim de ga- pal, o que é considerado priori-
rantir que políticas e demandas dade também difere de governo
consideradas essenciais pela para governo.
sociedade possam constar no
plano de governo. Como vimos, a elaboração
do PPA é de exclusividade do
Os conselhos de gestão pú- Executivo, devendo ser realiza-
A população precisa estar
blica que tratam de políticas da no primeiro ano de cada go- atenta aos prazos para que
voltadas para crianças e adoles- verno. Até agora, a população possa participar dos pro-
centes devem ter muito bem or- tem sido chamada a participar cessos de elaboração e dis-
ganizadas as informações sobre desse processo em apenas al- cussão do PPA e demais leis
o que está sendo desenvolvido guns estados ou municípios. orçamentárias
e o que precisa ser feito e apre- 29
sentar formalmente ao Executi- Na maioria dos estados e mu-
vo e ao Legislativo essas infor- nicípios, no entanto, o Executi-
mações, dentro dos prazos, para vo faz o projeto e a população só
que elas sejam assimiladas pelas toma conhecimento quando a
leis orçamentárias. É assim que proposta é enviada ao Legislativo
os conselhos participam do pla- para discussão e votação. Mui-
nejamento público e exercem tas vezes, no entanto, nem isso
parte de sua função deliberativa ocorre: o Legislativo não dispo-
de políticas. nibiliza a consulta ao projeto de
lei. Por isso, a população precisa
estar atenta aos prazos para que
A construção possa participar dos processos
de elaboração e discussão do PPA
do PPA e demais leis orçamentárias.
Depois de elaborar a base estra-
tégica do PPA, o Executivo deve As emendas são instrumen-
definir os mega-objetivos gover- tos por meio dos quais os par-
namentais, determinando quais lamentares podem modificar
prioridades e demandas do país, projetos de leis. As emendas
do estado ou do município vão ao orçamento ocorrem, muitas
ser atendidas e quais resultados vezes, graças à mobilização da
espera obter. sociedade civil que pressiona
os integrantes do Legislativo
Essa decisão está profunda- a destinar mais verbas para as
mente ligada ao projeto de de- políticas públicas sociais.
senvolvimento de cada gover-
nante, pois o que é prioridade A fase de discussão e vota-
para aquele que está no poder ção é um dos momentos em que
não é necessariamente priori- a sociedade pode se organizar
dade para quem o antecedeu ou para interferir no trabalho dos
para quem irá lhe suceder. No parlamentares, solicitar au-
âmbito da União, um governo diências públicas, apresentar
pode pensar em fortalecer a eco- emendas ao PPA e defender suas
nomia popular; outro, em valo- prioridades e demandas.
rizar e incentivar as exportações.
Para um, a prioridade pode ser Depois de aprovado pelo Le-
o aproveitamento de hidrovias gislativo e sancionado pelo Exe-
e ferrovias; para outro, a cons- cutivo, o Plano Plurianual deve
trução de estradas, por exemplo. vigorar por quatro anos.
Orçamento público, legislativo e comunicação | O Plano Plurianual

Esse período inclui a im- Programa é uma série de


plantação do Plano, o monito- ações articuladas, voltadas para
ramento de suas ações, a ava- a solução de problemas e para
liação dos resultados obtidos o atendimento das deman-
e do processo utilizado para das de determinada popula-
alcançá-los e as revisões peri- ção beneficiada.
ódicas. Tais revisões têm o ob-
jetivo de adequar o PPA a mu- Cada programa é desenvolvi-
danças conjunturais externas do com propósito específico, que
ou internas e de excluir, incluir deve estar bem claro no PPA.
ou alterar programas, quan-
do necessário. Além da definição de objeti-
vos, o programa deve estabelecer
30
pelo menos um indicador que
A organização quantifique, em dois momentos,
a situação que se deseja modifi-
do PPA car: antes da execução do PPA e
O Plano Plurianual difere de ci- após seu término.
dade para cidade, de estado para
estado, de governo para gover- No caso do programa Brasil
no. Alguns são mais completos, Escolarizado, por exemplo, al-
expondo de forma detalhada o guns dos indicadores são:
planejamento para o período de
quatro anos. Outros, especial-  Taxa de freqüência à escola de
mente nos pequenos municí-
crianças de 4 a 6 anos.
pios, muitas vezes são apenas um
rol de ações que o governo pre-
 Número médio de séries con-
tende executar.
cluídas pela população de 15 a
17 anos.
Basicamente o PPA é com-
posto de:
Assim, algumas metas do Bra-
 Introdução – em que é rela- sil Escolarizado são:
tada a situação socioeconô-
 Elevar de 65,6% (situação an-
mica do município, do esta-
do ou do país. tes da execução do PPA) para
100% (ao término do PPA) a
 Seção de objetivos, diretrizes taxa de freqüência à escola de
e metas de governo. crianças entre 4 e 6 anos;
Por exemplo
 Seção com a apresentação dos  Elevar de 6,7 para 10,7 o nú-
programas, com seus objeti- mero médio de séries con-
Veja este exemplo retirado do PPA vos, indicadores e valor glo- cluídas por jovens entre 15 e
2004-2007 do governo federal. bal, além da descrição de suas 17 anos.
ações, com metas a alcançar e
PROGRAMA OBJETIVO(S) valores a alocar no período. Com base no programa são
definidas as ações (atividades,
Garantir o acesso e a
permanência de todas Os programas projetos e operações especiais)
Brasil as crianças e adoles- O Plano Plurianual é constituido necessárias para atingir o obje-
Escolarizado centes na Educação
por um conjunto de programas, tivo desejado, especificando os
Básica, com melhoria
de qualidade. por meio dos quais os governos recursos, as metas e unidades
buscam atingir os objetivos esta- orçamentárias responsáveis por
belecidos no próprio PPA. sua realização.
O Plano Plurianual | Orçamento público, legislativo e comunicação

Apenas os programas pre-


vistos no PPA podem receber
A receita
recursos nos orçamentos anuais orçamentária
ou ser priorizados na Lei de Di- Os programas e ações previstos
retrizes Orçamentárias. no Plano Plurianual são finan-
ciados tanto por recursos orça-
As ações mentários quanto extra-orça-
Já vimos que, para atingir seus mentários. Isso ocorre ao longo
de quatro anos, que é o período Apenas os programas
objetivos, o programa se des- previstos no PPA podem
dobra em ações e estas, por de vigência de cada PPA.
receber recursos nos orça-
sua vez, são compostas de ati- mentos anuais ou ser prio-
vidades, projetos e opera- Recursos rizados na Lei de Diretrizes
ções especiais. orçamentários Orçamentárias
São recursos próprios dos go- 31
vernos federal, estadual e mu-
Atividades
nicipal, oriundos de impostos,
São as ações destinadas a for-
taxas, contribuições e outras
necer produtos (bens e servi-
fontes de receita. São utilizados
ços) para a sociedade de modo
para custear as despesas públi-
contínuo e permanente. Como
cas. Normalmente, cada PPA
por exemplo: vigilância sani-
apresenta uma estimativa global
tária de produtos, conserva- de recursos para os quatro anos
ção de estradas, compra de li- de vigência. O detalhamento
vros escolares. ano a ano desses recursos é fei-
to na Lei Orçamentária Anual
Projetos (LOA), documento no qual os
São ações novas, executadas governos especificam quanto
em períodos definidos, limita- esperam arrecadar e quanto vão
dos no tempo, das quais resulta aplicar em cada programa e ação
um produto que irá contribuir a serem executados num deter-
para aperfeiçoar ou expandir a minado ano.
atuação do governo. Como por
exemplo: construção de mora-  No caso da União, os recursos
dias na área rural; moderniza- orçamentários são resultado
ção das escolas. da arrecadação dos seguintes
impostos: Imposto de Renda
Operações especiais (IR), Imposto sobre Produtos
Correspondem a ações que não Industrializados (IPI), con-
geram produtos nem represen- tribuições previdenciárias e
tam prestação de serviços. Como sobre movimentação finan-
por exemplo: pagamento das ceira, como a CPMF, entre
despesas com juros e amortiza- outros.
ção da dívida, transferências, in-
denizações, pagamento de apo-  No caso dos estados, entre
sentadorias de servidores(as) as fontes de recursos estão
públicos(as). o Imposto sobre Circula-
ção de Mercadorias e Ser-
Para cada atividade, cada viços (ICMS) e o Imposto
projeto e cada operação especial, sobre Veículos Automoto-
o PPA deve definir a meta a ser res (IPVA).
atingida e estimar o montante
de recursos necessário para que  Já os recursos municipais
isso ocorra. são provenientes do Imposto
Orçamento público, legislativo e comunicação | O Plano Plurianual

Territorial e Predial Urbano o dinheiro repassado será gasto,


(IPTU), do Imposto sobre são os auxílios, as subvenções e
Serviços (ISS) e de repasses as contribuições, entre outras.
do estado e do governo fede-
ral, por exemplo. Auxílios
São as transferências a outras es-
Recursos extra- feras da Federação ou a entida-
orçamentários des privadas sem fins lucrativos,
São recursos que não estão ex-
destinadas à realização de obras,
pressos nos orçamentos anuais
à aquisição de equipamentos e a
nem pertencem diretamente à
União, aos estados ou aos mu- outras despesas de capital, como
nicípios, mas são utilizados a compra de imóveis.
32 para financiar as políticas pú-
blicas previstas no PPA. Esses Subvenções
recursos são provenientes de São as transferências destina-
agências e instituições nacio- das a cobrir despesas de custeio
nais e internacionais de fo- (gastos com manutenção/ope-
mento, como o Banco Mundial; ração de serviços, com pessoal,
o FMI; o Banco Nacional de material de consumo, encargos,
Desenvolvimento Econômico etc.) da instituição beneficiada.
e Social (BNDES); o Banco do A principal modalidade de sub-
Brasil; a Caixa Econômica Fe- venção é a social, encaminhada
deral (CEF); o Fundo de Ampa- exclusivamente a instituições
ro ao Trabalhador (FAT).
privadas sem fins lucrativos que
A CEF, por exemplo, financia prestam serviços assistenciais,
moradias para a população de médicos e culturais para a po-
baixa renda e com isso contribui pulação. Recebem este tipo de
para diminuir o déficit habita- transferência instituições como
cional no país, como propõe o as Santas Casas de Misericórdia,
PPA. O Banco do Brasil oferece por exemplo.
crédito para produtores rurais e
com isso aumenta a produtivida- Contribuições
de agrícola nacional. Correspondem às demais trans-
ferências. Denomina-se “con-
Descentralizações e tribuição de capital’ quando au-
transferências torizadas em lei específica e des- Por exemplo
Nem todas as ações que os go- tinadas a despesas de capital; e
vernos estão autorizados a rea- “contribuição corrente” quando
lizar são executadas diretamen- • Uma parte dos impostos fede-
direcionadas a despesas de cus-
te por eles. Boa parte é realizada rais, como o IPI e o IR, recolhidos
teio da entidade beneficiada. pela União, é transferida para os
indiretamente por outras esfe-
ras da federação e por entidades estados (21,5%) e para os muni-
privadas, para as quais o gover- Transferências obrigatórias cípios (22,5%). Essas transferên-
cias constituem o FPE e o FPM.
no transfere parte dos recursos Previstas na Constituição, as
previstos no orçamento. transferências obrigatórias (tam- • Uma parcela do ICMS, imposto
bém denominadas “transferên- arrecadado pelo estado, é repas-
Existem dois tipos de transfe- cias constitucionais”) consistem sada para os municípios (25%).
rência: obrigatória e voluntária. em repasses de uma parcela da
receita tributária arrecadada por
As modalidades de transfe- uma esfera de governo para outra
rências, isto é, as formas como esfera de governo.
O Plano Plurianual | Orçamento público, legislativo e comunicação

Vinculações Incondicionais - Em geral,


O orçamento brasileiro é rígido. essas transferências servem
Uma de suas principais caracte- para promover a equalização
rísticas é o alto grau de vincula- fiscal, isto é, uma distribui-
ções, que atrelam grande parte ção de renda mais igual entre
das receitas a fins específicos. os entes da Federação (estados
e municípios).
As principais vinculações
Uma das principais carac-
compreendem transferências As unidades de governo be- terísticas do orçamento
da União para estados e municí- neficiadas por esse tipo de trans- brasileiro é o alto grau de
pios; transferências dos estados ferência têm total liberdade de vinculações, que atrelam
para municípios e desses para a decidir onde e como aplicar os grande parte das receitas a
União; transferências para enti- recursos recebidos. fins específicos
dades com e sem fins lucrativos, 33
entre outras. Condicionais - estabelecidas
ano a ano, por ocasião da defi-
O orçamento de todas as es- nição do orçamento. Por isso,
feras de governo possui vincula- geralmente são orientados de
ções. Por exemplo: todos os anos, acordo com conveniências mo-
a União, os estados e os municí- mentâneas, como atendimento a
pios são obrigados a aplicar um
pressões e acordos políticos.
percentual definido do total de
suas receitas em educação. As po-
Para que o repasse de recur-
líticas atendidas por vinculações
sos seja efetivado, o recebedor
não podem ser alvo de contin-
deve cumprir uma série de exi-
genciamento (limitação de gas-
gências e restrições – a chamada
tos) e seus recursos não podem
“contrapartida de dispêndio”. A
ser destinados a outra finalidade.
contrapartida significa que, para
cada montante “X” recebido, a
Transferências Voluntárias
Essas transferências são autori- unidade de governo beneficiada
zadas na Lei Orçamentária Anual, deve aplicar um montante “Y”
de acordo com as determinações de recursos próprios na mes-
da Lei de Diretrizes Orçamentá- ma finalidade.
rias. Nesse caso, uma esfera de
governo transfere recursos do As incondicionais são nor-
seu orçamento para o orçamen- malmente estabelecidas por
to de outra esfera de governo. normas constitucionais ou le-
gais, o que lhes dão maior per-
As transferências voluntá- manência e previsibilidade, ao
rias podem ser incondicionais passo que as condicionais são
ou condicionais. A principal di- estabelecidas ano a ano, quan-
ferença entre as incondicionais do da definição do orçamento,
e as condicionais diz respeito pautadas mais de acordo com
à constância, à obrigatorieda- conveniências momentâneas
de de repartição de receitas e – como atendimento a pressões
à contrapartida. e acordos políticos.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO

4
[ Orçamento Público ]

34
Lei de Diretrizes
Orçamentárias – LDO
Ano a ano, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) define as priori-
dades e metas a serem atingidas por meio da execução dos programas e
ações previstos no Plano Plurianual. Para que isso ocorra, entre outras
diretrizes, a LDO estabelece as regras que deverão orientar a elabora-
ção da Lei Orçamentária Anual.

A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) é uma lei anual em que


os governos federal, estadual e municipal estabelecem as prioridades e
metas da administração pública para o ano seguinte.

Na LDO, são especificados os programas e ações governamentais


prioritários a serem executados e a meta física (quantificada) a ser
atingida até o final do ano subseqüente. Em 2005, por exemplo, foi
aprovada a LDO-2006, com as regras para o orçamento de 2006. Essas
diretrizes devem ser seguidas ao pé da letra por todos os envolvidos no
processo orçamentário.

Além de ser um instrumento de integração entre o Plano Plurianual


e a LOA, a LDO cumpre as seguintes funções:

 Dispõe sobre alterações na legislação tributária e sobre concessões


de benefícios tributários.

 Estabelece a política de aplicação das agências financeiras de fo-


mento (instituições que financiam projetos de desenvolvimento),
como a Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional de Desenvolvi-
mento Econômico e Social (BNDES).

 Estabelece metas fiscais; critérios para reduzir as autorizações de


despesas (contingenciamento); forma de utilização da reserva de
contingência; condições para transferência de recursos para enti-
dades públicas e privadas.
Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO | Orçamento público, legislativo e comunicação

 Define as regras para a ad- para os estados e municípios são Fique


missão de pessoal, concessão estabelecidos na Constituição
de vantagem ou aumento de Estadual, na Lei Orgânica Muni-
por dentro
remuneração, criação de car- cipal e no regimento interno da
gos públicos, etc. Câmara Municipal. A LDO foi concebida pela Constitui-
ção de 1988 não só para integrar
planejamento e orçamento, mas
O Projeto de LDO é elaborado O Legislativo deve discutir, para tornar efetiva a atuação do
pelo Poder Executivo e deve ser propor emendas e votar o Proje- Poder Legislativo na definição dos
encaminhado ao Legislativo até to de LDO até o encerramento da programas e ações prioritários, não
15 de abril de cada ano, no caso primeira parte da sessão legisla- deixando essa tarefa apenas nas
da União e até 15 de maio, no tiva (30 de junho e 15 de julho), mãos do Poder Executivo.
caso de Minas Gerais. Os prazos nos casos da União e de Minas,

35

Construindo as emendas

A sociedade deve ficar atenta aos prazos de tramitação


da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Quando o projeto da cooperação com os municípios no desen-
da LDO estiver em discussão no Legislativo, a popula- volvimento do Serviço Sentinela
ção pode solicitar a realização de audiências públicas
para debater o conteúdo desta lei com os parlamen-  Meta Física: 109 municípios
tares. Também pode propor emendas no sentido de
alterar o texto da lei, inserir programas ou aumentar  Prioridade, Programa, Ação, Produto: Pro-
metas físicas que julgue importantes e necessárias no grama 0622 – Inclusão Social de Famílias
anexo de metas e prioridades, ou ainda, de impedir o Vulnerabilizadas
contingenciamento em determinados programas. P4469 Combate à Violência e Exploração Se-
xual contra Crianças e Adolescentes
Na hora de propor uma emenda é importante
lembrar que ela precisa ser compatível com o Plano  Justificativa: A ação de conscientizar a popu-
Plurianual (PPA). Confira, no exemplo, os principais lação e estruturar um sistema de acolhimento
itens que devem constar em uma emenda à LDO: de denúncias de violência e exploração sexual
contra crianças e adolescentes, formulada pelo
 Título (ementa) Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do
Adolescente e desenvolvida pelo Governo de
 Objetivo/Meta Minas, no período 2003-2005, conseguiu bons
resultados que precisam ser consolidados por
 Meta física meio do fortalecimento da rede de atendimen-
to aos casos que são encaminhados pelo Disque
 Prioridade, Programa, Ação (da forma como Direitos Humanos, Conselhos Tutelares e Pro-
está no PPA) motorias Públicas. O Serviço de enfrentamento
à violência e exploração sexual contra crianças
 Justificativa (convincente e bem fundamentada) e adolescentes Sentinela está implantado em
109 municípios e está assegurado por convênio
Veja este exemplo: com o Governo Federal. A ação esperada do Go-
verno Estadual é a de supervisão e capacitação
 Título: Incluir a Ação Combate à Violência e Ex- de profissionais para atender crianças, adoles-
ploração Sexual contra Crianças e Adolescentes centes e seus familiares.
Fonte: Emenda apresentada pela Frente de Defesa dos Direitos da
 Objetivo: Combater a violência e exploração Criança e do Adolescente de Minas Gerais ao projeto de LDO 2007
sexual contra crianças e adolescentes, por meio (votada em 2006).
Orçamento público, legislativo e comunicação | Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO

respectivamente. Se isso não for importante a atenção ao anexo


feito, o recesso é suspenso até de metas e prioridades do proje-
que o projeto seja votado. to de lei de diretrizes orçamen-
tárias. É nele que se encontram
Após aprovado pelo Legisla- as ações que o Executivo deve
tivo, o Projeto de LDO é encami- priorizar na elaboração do or-
nhado ao Executivo para sanção. çamento. Esse anexo precisa ser
Fique Em caso de veto, este é analisa- analisado e, se for o caso, com-
por dentro do pelo Legislativo, podendo ser plementado por meio de emen-
mantido ou derrubado. A LDO só das que deixem claras as priori-
Receitas financeiras passa a vigorar depois de publica- dades (o que, quanto e para que)
São decorrentes de empréstimos da no respectivo Diário Oficial. definidas pelos conselhos.
que o governo obtém junto aos
36 bancos, investidores ou outros en- Estrutura e organização
tes da Federação. As demais recei-
tas são chamadas de receitas não- As diretrizes dos orçamentos
A LDO determina o que o Pro-
financeiras.
orçamentárias jeto de Lei Orçamentária Anual
No sistema integrado de planeja- deve conter, como deve estar or-
Despesas financeiras
São aquelas efetuadas com os juros mento e orçamento em vigor no ganizado e como deve ser apre-
e amortização da dívida. As demais Brasil, a LDO é um instrumento de sentado pelo Poder Executivo
despesas são chamadas de não-fi- ligação entre o plano estratégico ao Legislativo.
nanceiras. de longo prazo, representado pelo
PPA, e o plano operacional, repre- Nesse aspecto, a LDO funciona
sentado pelos orçamentos anuais. como uma verdadeira cartilha para
Assim, a LDO traz uma série os envolvidos no processo orça-
de normas para a elaboração, a mentário, pois explica o que é um
organização e a execução da LOA. programa, ação, atividade ou pro-
Essas normas são um verdadeiro jeto; especifica como identificar o
bê-á-bá, para que os envolvidos que é orçamento fiscal, da segu-
no processo orçamentário não ridade social ou de investimentos
tenham nenhum tipo de dúvida das estatais, informa quais são os
sobre a estrutura e o conteúdo do tipos de receita e despesa de uma
orçamento anual. LOA, os anexos de metas fiscais e
de riscos fiscais, etc.
Metas e prioridades
A LDO define as estratégias, as A LDO também determina os
metas e prioridades da adminis- componentes de uma LOA, como:
tração pública. No anexo de me- mensagem do chefe do Executivo;
tas e prioridades, o governo de- análise da conjuntura socioeco-
termina que programas e ações nômica; o próprio texto da lei; es-
têm precedência na alocação dos pecificação de receitas (indicando
recursos no Projeto de LOA, isto as fontes de recursos) e despesas
é, os que estão em primeiro lu- (indicando onde será gasto cada
gar na fila para receber verbas no centavo do orçamento); o orça-
ano seguinte. Nesse anexo tam- mento de investimento das em-
bém são estabelecidas as metas presas públicas nas quais a União,
a serem alcançadas por meio da os municípios ou os estados dete-
execução dos programas e ações. nham a maioria das ações.

Para a incidência dos conselhos Elaboração e execução


e movimentos organizados em do orçamento
torno dos direitos da criança e Além de definir metas e priori-
do adolescente é especialmente dades, a LDO determina, ponto
Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO | Orçamento público, legislativo e comunicação

a ponto, como devem ser a ela- isto é, a maneira como deve


boração e a execução do orça- ser detalhada a programa-
mento do ano seguinte. Entre as ção de trabalho das unida-
regras, estão: des orçamentárias.

 Elaboração de demonstrati-  A autonomia dos poderes Le-


vos para dar transparência à gislativo, Judiciário e do Mi-
situação financeira do gover- nistério Público para elabo-
Para a incidência dos conse-
no, como os demonstrativos rarem o próprio orçamento. lhos e movimentos organi-
da dívida pública e dos gastos zados em torno dos direitos
com saúde e educação. Dívida Pública da infância e da adolescên-
A LDO fixa os limites para refi- cia é importante a atenção
 Critérios para início de no- nanciamento, juros e encargos ao anexo de metas e priori-
vos projetos, após o adequado da dívida dos municípios, dos 37
dades do projeto de lei de
atendimento dos que estão estados e da União. diretrizes orçamentárias
em andamento.
O refinanciamento corres-
 Critérios para contingencia- ponde ao pagamento do principal
mento financeiro e de dota- da dívida, atualizado monetaria-
ções, isto é, redução de gas- mente, com recursos originários
tos. Isso ocorre quando a evo- da emissão de títulos da dívida
lução da receita compromete pública, ou seja, por meio de no-
os resultados orçamentários vos empréstimos. Os juros e en-
pretendidos ou não confirma cargos representam as parcelas
a previsão inicial. que deverão ser pagas, mas que
não serão abatidas do principal,
 Regras para avaliar a eficiên- pois correspondem ao “custo” da
cia das ações desenvolvidas. dívida, isto é, a vantagem finan-
ceira de quem fez o empréstimo
 Condições para transferência para o governo.
de recursos a entidades pú-
blicas e privadas. Para limitar o aumento da dí-
vida e impedir que o problema
 Condições complementares seja empurrado para os gover-
para transferências voluntá- nos seguintes, a LDO estipula o
rias entre a União e as demais resultado primário de cada or-
esferas de governo. çamento, isto é, o resultado das
receitas não-financeiras (im-
 Especificações das ações no postos, transferências, entre
orçamento, para facilitar o outras) depois que forem pagas
controle do Poder Legislati- as despesas não-financeiras
vo, dos tribunais de contas e (pessoal, obras, equipamentos,
da sociedade sobre a aplica- manutenção e outros), isto é,
ção dos recursos públicos. É sem considerar o pagamento dos
o caso da ação “Aquisição de juros e encargos de dívidas. Este
alimentos da agricultura fa- resultado quando positivo é de-
miliar”, que diz quantas to- nominado “superávit primário”
neladas serão compradas, de e, em geral, vem sendo utilizado
quem serão compradas e para para pagar os juros e a amortiza-
quem serão distribuídas. ção da dívida.

 A organização visual e a con- No decorrer da execução do


dição da despesa e da receita, orçamento geralmente o gover-
Orçamento público, legislativo e comunicação | Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO

no também tem adotado o con- do Brasil, a Caixa Econômica


tingenciamento com o objetivo Federal, o Banco Nacional de
de economizar recursos para o Desenvolvimento Econômico
pagamento da dívida. Assim, o e Social (BNDES), o Banco do
governo deixa de gastar com os Nordeste, o Banco da Amazô-
programas que atendem as ne- nia, entre outros. A LDO esti-
cessidades urgentes da popula- pula diretrizes genéricas para
ção (esse tema é melhor explicado essas agências.
no tópico “Corte de gastos”, na
Despesa total com página 49). Alterações na
pessoal e encargos legislação tributária
Limite (% da Despesas com pessoal Qualquer alteração na legisla-
Esfera
receita corrente
líquida)
e encargos ção tributária, que represente
38 A LDO determina regras para a concessão ou a ampliação de
União 50% o cálculo de despesas e limites benefícios de natureza finan-
Estados e com pessoal e encargos em to- ceira ou patrimonial, acarre-
Distrito 60% das as esferas governamentais tando renúncia de receita por
Federal
(União, estados e municípios) e parte da União, dos estados e
Municípios 60% para todos os poderes (Executi- dos municípios deve ser ex-
vo, Legislativo e Judiciário). pressa na LDO. Do contrário,
não terá validade.
Nesse e em outros aspectos,
a LDO anda de mãos dadas com Assim, a LDO estabelece uma
a Lei de Responsabilidade Fis- série de regras para a concessão de
cal, que definiu limites para as incentivos ou benefícios tributá-
despesas com pessoal e com en- rios (caso da redução ou isenção de
cargos sociais, conforme a tabe- impostos para determinado grupo
la ao lado. de contribuintes, por exemplo):

Enquanto a despesa com pes-  Determinar o período de vigên-


soal for superior a 95% do limi- cia do incentivo ou benefício.
te, é proibido fazer novas con-
Por exemplo tratações ou dar aumentos sa-  Cancelar despesas de va-
lariais. Nos últimos 180 dias de lor equivalente pelo mes-
um governo também é proibido mo período.
Na LDO de 2006, a diretriz da Caixa contratar ou aumentar salários.
Econômica Federal é a “redução do  Informar de onde virá a re-
déficit habitacional e melhoria nas Agências financeiras ceita adicional para compen-
condições de vida das populações de fomento sar a perda.
carentes, via financiamentos a proje-
tos habitacionais de interesse social,
Já sabemos que os recursos das
projetos de investimentos em sane- agências financeiras de fomento Anexo de metas fiscais
amento básico e desenvolvimento (instituições que financiam pro- As metas fiscais são metas para
da infra-estrutura urbana e rural”. jetos de desenvolvimento) são receitas, despesas, resultado
recursos extra-orçamentários. nominal, resultado primário e
Isso significa que estes recur- dívida pública. Seus valores são
sos não deverão constar na Lei fixados para um período de três
Orçamentária Anual, mas serão exercícios financeiros e constam
utilizados diretamente por essas de um documento da LDO deno-
agências para financiar progra- minado Anexo de Metas Fiscais.
mas e ações expressos no PPA. A cada exercício, as metas são re-
vistas para assegurar o equilíbrio
As agências financeiras ofi- financeiro da União, dos estados
ciais de fomento são o Banco e dos municípios.
Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO | Orçamento público, legislativo e comunicação

As metas de receitas correspondem ao que o governo. São os casos de ações


governo estima arrecadar; as metas de despesas judiciais contra o município, o
fixam o que o governo poderá gastar no período. O estado e a União e de proces-
resultado primário corresponde à diferença entre sos (coletivos, individuais e de
as receitas não-financeiras e as despesas não-fi- empresas) contra a União de-
nanceiras realizadas no período. Já o resultado vido à indexação e ao controle
nominal corresponde à receita menos a despesa de preços adotados durante os
incluindo o pagamento de juros e encargos de dí- planos de estabilização econô-
A LDO es-
vidas. Além disso, no anexo de metas fiscais o go- tabelece, mica – Plano Cruzado e Plano
verno avalia, entre outros aspectos: entre outros Collor, por exemplo. Se perder
parâmetros, as ações, o governo é obrigado
 Os valores relativos a despesas, receitas, re- a pagar estas contas não pre-
regras para
sultados nominal e primário e montante de transferên- vistas no orçamento.
dívida pública. 39
cias de recur-
sos orçamen-
 As metas físicas do exercício anterior. tários para
entidades
Aspectos da LDO
 A situação financeira e atuarial do regime de Na análise de uma LDO, preci-
públicas e samos ficar atentos a diversos
previdência, isto é, as projeções do governo privadas
entre o que vai arrecadar em contribuições e aspectos dessa lei, que estabe-
gastar em pagamento de benefícios, aposen- lece os parâmetros para a ela-
tadorias e pensões. boração da Lei Orçamentária do
ano seguinte.
 A estimativa e compensação de renúncia de Entre esses parâmetros es-
receitas. tão as transferências para enti-
dades públicas ou privadas sem
 O aumento de despesas de duração continua- fins lucrativos; a política geral do
da, isto é, que se prolongam por mais de dois funcionalismo público; as regras
anos, como salários. para a inclusão de novos proje-
tos, para projetos em andamento
Anexo de riscos fiscais e a conservação do patrimônio
Neste anexo, incluído em toda LDO como deter- público; e os critérios para a re-
mina a Lei de Responsabilidade Fiscal, o governo núncia de receita.
faz uma avaliação dos riscos que podem afetar o
equilíbrio das contas públicas e indica as provi- Transferências
dências necessárias caso isso aconteça. Os riscos para entidades
fiscais são divididos em duas categorias: orça- públicas e privadas
mentários e de dívida. A LDO estabelece regras para
transferências de recursos or-
 Os riscos orçamentários dizem respeito à pos- çamentários para entidades
sibilidade de as receitas e despesas previstas públicas e privadas (em geral,
no orçamento não se confirmarem, isto é, a apenas as entidades sem fins
receita ser menor do que o estimado e/ou a lucrativos podem receber re-
despesa ser maior do que a fixada na Lei Orça- cursos públicos). Há várias
mentária Anual. modalidades de transferência,
como subvenções, auxílios e
 Os riscos de dívida são aqueles decorrentes da contribuições.
administração da dívida e de passivos contin-
gentes. O primeiro está relacionado a variações A LDO 2006 da União exige
das taxas de juros e de câmbio, que afetam dire- que o governo publique e divul-
tamente o montante da dívida pública e o valor gue “as normas para concessão
dos juros a serem pagos pelo governo. O segundo de subvenções sociais, auxílios
refere-se a dívidas ainda não reconhecidas pelo e contribuições correntes, de-
Orçamento público, legislativo e comunicação | Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO

finindo, entre outros aspectos,  Formulação de plano de car- incrementar a atividade econô-
os critérios de habilitação e se- reira, cargos e salários dos mica, etc.
leção das entidades beneficiá- servidores públicos de cada
rias, de alocação de recursos e o poder e esfera de governo. Há diversos tipos de renún-
prazo do benefício”. De acordo cia de receita, como anistia, re-
com a LDO, essas normas de-  Definição do regime de pre- missão, subsídio, concessão de
vem prever o cancelamento das vidência dos servidores pú- isenções, alteração de alíquota
transferências, caso os recur- blicos. ou modificação da base de cálcu-
sos sejam desviados para ou- lo dos impostos (desde que im-
tras finalidades.  Contratação de servidores plique redução de receita), etc.
temporários para atender às
Política geral necessidades de emergência. Conforme estabelece a Lei de
de pessoal Responsabilidade Fiscal, ao optar
40 Além de definir limites para as A LDO estabelece também pela renúncia de receita, o gover-
despesas com pessoal e encar- as condições para a inclusão no deve apresentar na LDO:
gos sociais, a LDO estabelece as de novos projetos na Lei Or-
regras para admissão e plano de çamentária Anual, levando  A estimativa do impacto or-
carreira de funcionários públi- em conta a necessidade de dar çamentário-financeiro no
cos no ano seguinte. continuidade aos projetos em exercício em que a renúncia
andamento e de realizar despe- tiver início e nos dois exercí-
Isso quer dizer que a política sas com a manutenção do pa- cios seguintes.
geral de pessoal deve se subme- trimônio público.
ter às regras da LDO. Como já  A demonstração de que a re-
sabemos, essas normas estão em Dessa forma, institui regras núncia foi considerada na
sintonia com a Lei de Respon- para evitar a paralisação de obras, estimativa de receita da LOA
sabilidade Fiscal – o código de o descaso com a deterioração de e que não afetará as metas fis-
conduta que estabelece critérios prédios pertencentes ao patrimô- cais previstas.
para a aplicação do dinheiro pú- nio público e evita que o gover-
blico pelos governantes. nante inicie novas obras quando  A indicação de medidas de
há obras ainda inacabadas. compensação no exercício
Entre as determinações da em que iniciar sua vigên-
LDO sobre a política geral de Renúncia de receita cia e nos dois exercícios se-
pessoal, estão: A LDO define os critérios para guintes, isto é, informar de
a renúncia de receita, isto é, onde virá a receita adicional
 Realização de concursos pú- as maneiras como um governo para anular a perda com a
blicos para preenchimento pode abrir mão de parte do que renúncia. Somente após a
de vagas existentes, criadas e poderia arrecadar, com o objeti- implementação de medidas
ou que surgirem no decorrer vo de atender às reivindicações de compensação a renúncia
do exercício. de determinados grupos sociais, entrará em vigor.

De olho nos prazos

A sociedade deve ficar atenta aos prazos de tramitação da Lei de Diretrizes Orçamentárias. quando o proje-
to de LDO estiver em discussão no legislativo, a população pode:

 Solicitar a realização de audiências públicas para debater o conteúdo dessa lei com os parlamentares.

 Propor emendas para alterar o texto da Lei, inserir programas ou aumentar metas físicas consideradas
importantes e necessárias no anexo de metas e prioridades ou, ainda, impedir o contingenciamento em
determinados programas.
A Lei Orçamentária Anual – LOA | Orçamento público, legislativo e comunicação

5
[ Orçamento Público ]

A Lei Orçamentária 41

Anual – LOA
A Lei Orçamentária Anual (LOA) contém a estimativa de receitas e a
previsão de despesas anuais de cada esfera de governo – federal, esta-
dual e municipal. Elaborada de acordo com a Lei de Diretrizes Orça-
mentárias (LDO) e o Plano Plurianual (PPA), essa lei expressa a política
econômico-financeira e o programa de trabalho governamental.

Fique A LOA é uma lei em que os governos – federal, estadual e municipal


– demonstram a estimativa de receita e a previsão de despesas para o
por dentro ano seguinte. Todas as receitas públicas (inclusive suas fontes) devem
estar discriminadas na LOA. Da mesma forma, nenhum gasto poderá
Orçamento Fiscal – Destina-se aos ser efetuado por qualquer entidade ou órgão público sem que os recur-
gastos dos três Poderes, fundos,
órgãos e entidades da adminis-
sos estejam devidamente previstos na LOA.
tração direta e indireta, inclusive
fundações instituídas e mantidas É na LOA que o governo evidencia seu programa de trabalho e a po-
pelo Poder Público. Envolve todas lítica econômico-financeira do município, do estado ou do país. Ao
as áreas da administração pública,
exceto saúde, assistência social e
elaborar a proposta de Lei Orçamentária, o Executivo decide como e
previdência social. onde vai aplicar os recursos públicos. É nessa hora que o prefeito, o
governador e o presidente definem que promessas de campanha serão
Orçamento da Seguridade Social atendidas no próximo ano.
– Compreende as áreas de Saúde,
Assistência Social e Previdência
Social. Abrange todas as entidades A política econômico-financeira estabelece as diretrizes defini-
e órgãos vinculados a essas áreas, das pelo governo que incidem na economia, como por exemplo as-
da administração direta e indire- segurar o controle das finanças públicas, a estabilidade da moeda e
ta, bem como fundos e fundações a credibilidade junto aos investidores. Na União, é comandada pelo
instituídos e mantidos pelo Poder
Público. Ministério da Fazenda e pelo Banco Central. Nos últimos anos, a po-
lítica econômica adotada pelo governo é caracterizada pela priori-
Orçamento de Investimentos das dade no controle da inflação principalmente através da política de
Empresas Estatais – Demonstra o juros altos. Essa política tem implicado na necessidade de geração
investimento de empresas em que
o Poder Público detenha, direta ou de superávits primários como forma de equacionar o problema da
indiretamente, a maioria do capital dívida do governo. O resultado dessa escolha de política econômi-
social com direito a voto. ca tem sido cortes nas áreas sociais, poucos investimentos e baixo
crescimento econômico.
Orçamento público, legislativo e comunicação | A Lei Orçamentária Anual – LOA

O Projeto de Lei Orçamen- presente na LOA é chamado de Pressão


tária Anual (PLOA) é elaborado “dotação orçamentária” ou “ru-
pelo Executivo de acordo com brica orçamentária”. política
os parâmetros estabelecidos na
Lei de Diretrizes Orçamentá- Essas rubricas são alocadas e Enquanto o projeto de LOA está
rias (LDO) e com as priorida- detalhadas por órgãos da admi- sendo elaborado pelo Executivo, a
população deve intervir por meio de
des definidas no Plano Pluria- nistração pública, sendo executa- pressão política, como solicitação
nual (PPA). A LOA compreende das por Unidades Orçamentárias, de audiências públicas, para defen-
o orçamento fiscal, da segu- que nada mais são do que as ins- der suas propostas. Quando o proje-
ridade e de investimento das tâncias de governo responsáveis to de LOA está em discussão no Le-
empresas estatais. pela realização do gasto público. gislativo, a população pode propor
emendas para assegurar recursos
para programas de seu interesse.
O PLOA deve ser enviado A estrutura dos gastos pre-
42 pelo Poder Executivo de cada sentes na LOA, dada pela Funcio-
nível de governo ao Poder Le- nal-Programática apresentam:
gislativo até 31 de agosto de cada Função, Subfunção, Programa
ano ou de acordo com determi- e Ação. Também são detalhados
nações da Constituição Esta- as fontes dos recursos e como se
dual e do regimento interno da dará a despesa.
Assembléia Legislativa, no caso
dos estados, e da Lei Orgânica Função
Municipal e do regimento in- Representa o maior nível de
terno da Câmara Municipal, no agregação das diversas áreas de
caso dos municípios. despesa que competem ao setor
público. Deve-se adotar como Por exemplo
No Legislativo, a proposta Função aquela que é típica ou
é analisada por uma comissão principal do órgão. Exemplo:
parlamentar, recebe emendas Função - Saúde As ações da Secretaria de Saúde são
alocadas na função “Saúde”, mas
(modificações individuais ou podem constar na subfunção “Previ-
coletivas) e é votada em plená- Subfunção dencia do Regime Estatutário” como
rio. Depois de aprovada pelos Representa uma subdivisão da é o caso do pagamento dos aposen-
parlamentares, é encaminhada função, visando agregar deter- tados da secretaria, ou na subfunção
ao chefe do Executivo para ser “Atenção Básica”, caso da constru-
minado subconjunto de despe-
ção de centro de saúde.
sancionada e entrar em vigor no sas e identificar a natureza bá-
ano seguinte. sica das ações que se distribuem
em torno das funções.
Quando o chefe do Executi-
vo não concorda com as modi- A dotação de um órgão, via
ficações feitas pelo Legislativo de regra, será classificada em
no Projeto de Lei Orçamentária uma única função, ao passo que
Anual, ele pode vetar os artigos a subfunção será escolhida de
alterados. Nesse caso, o veto é acordo com a especificidade
analisado pelo Legislativo, que de cada ação.
pode aceitá-lo ou derrubá-lo.
Os Programas e as ações já
Conceitos da foram explicados no Capítu-
estrutura lo que abordou o PPA. Mais
orçamentária adiante serão abordadas as
A LOA é denominada de “Fun- fontes de recursos, que são as
cional-Programática” porque se receitas que originam o gas-
baseia em funções e programas to, e os tipos de despesa, que
de governo, de acordo com a Lei indicam como esse gasto vai
4.320/64. Cada item de gasto ser realizado.
A Lei Orçamentária Anual – LOA | Orçamento público, legislativo e comunicação

A LOA apresenta as metas Classificam-se em diversos Fique


físicas (quantidades) e as me- tipos e origens, como:
tas financeiras (recursos) para
por dentro
cada item de gasto que o gover- Receitas tributárias
no pretende realizar. Essas me- Resultantes de impostos, taxas, A LOA destaca do previsto no PPA
o que deve ser realizado no período
tas tem que estar de acordo com multas de origem tributária (por de um ano e obedece as priorida-
o PPA e também deve estar de atraso no imposto de renda, por des e regras definidas na LDO. Es-
acordo com as diretrizes conti- exemplo), entre outras. ses instrumentos caminham juntos.
das na LDO. Como vimos, a LOA não pode ter
ações que não foram previstas no
Receitas de PPA, nem desobedecer à LDO.
contribuições
Receitas Provenientes de contribuições
e despesas previdenciárias, sobre movi-
mentação financeira, como a
43
Já sabemos que a Lei Orçamen-
tária Anual especifica todas as Contribuição Provisória so-
receitas e todas as despesas de bre Movimentação Financei-
cada esfera de governo – muni- ra (CPMF).
cipal, estadual ou federal – pelo
período de um ano. Receitas patrimoniais
Oriundas de aluguéis, aplica-
ções financeiras, licenciamen-
 As receitas correspondem a
to (concessão) para exploração
todos os recursos que entram
de serviços públicos por par-
nos cofres públicos por meio
ticulares (caso do transpor-
de contribuições, impostos
te coletivo).
pagos pela sociedade, em-
préstimos e outras fontes.
Receitas agropecuárias
 As despesas correspondem Resultam de explorações agro-
a todos os gastos do governo pecuárias, envolvendo produção
autorizados na Lei Orçamen- própria e atividades de transfor-
tária para cobrir custos com mação agropecuária.
a execução de serviços pú-
blicos, amortização da dívida Receitas industriais
pública, aumento de patri- Provenientes de atividades pró-
mônio, entre outros. prias, exploradas diretamente,
como extração e transformação
As receitas são classificadas mineral.
de acordo com suas fontes, divi-
dindo-se em receitas correntes Receitas de serviços
e receitas de capital. As despe- Obtidas com a prestação de ser-
sas também se classificam em viços, como transporte, ilumi-
despesas correntes e despesas nação e comunicação.
de capital.
Transferências correntes
Receitas correntes Oriundas de repasses da União
São aquelas que não alteram o para os estados e destes para os
patrimônio duradouro do mu- municípios, por exemplo.
nicípio, estado ou país, pois se
esgotam no decorrer da execu- Receitas de capital
ção orçamentária (são arreca- São aquelas que alteram o patrimô-
dadas e aplicadas no período de nio duradouro do município, do
um ano). estado ou do país. Compreendem:
Orçamento público, legislativo e comunicação | A Lei Orçamentária Anual – LOA

Operações de crédito Tais despesas estão classifi-


Correspondem a empréstimos e cadas em:
financiamentos obtidos junto a
entidades estatais ou privadas, Despesas de custeio
externas ou internas. São as dotações destinadas à ma-
nutenção/operação de serviços
Alienação de bens públicos, às despesas com pesso-
A Lei Orçamentária Anual Decorrente da venda de bens al, material de consumo, com ser-
especifica todas as recei- móveis e imóveis. viços de terceiros e com encargos,
tas e todas as despesas de ao pagamento de juros e encargos
cada esfera de governo Transferências de capital de dívidas, dentre outros.
Correspondem aos recursos
Transferências correntes
44 obtidos por intermédio de con-
São os repasses (constitucionais ou
vênios firmados com entidades
autorizados na LOA) da União para
públicas ou particulares, rece-
estados e municípios e dos estados
bimentos de juros e amortização para os municípios; das transfe-
de dívidas, entre outras. rências a instituições públicas ou
privadas e a pessoas; e do paga-
Natureza mento de juros da dívida pública.
da Despesa
As despesas orçamentárias obe- Despesas de capital
decem a seguinte classificação: Compreendem os gastos de
transferências e aplicações di-
Grupo de despesa retas, investimentos, inversões
Demonstra que se destina a des- financeiras e abatimento da dí-
pesa (pessoal, juros, investi- vida, entre outros.
mentos, entre outros).
Investimentos
Modalidade de Despesa São as dotações destinadas a obras
Indica se o gasto será feito pelo e instalações; aquisição de imóveis,
próprio governo ou transfe- equipamentos e material perma-
rido para outra esfera de go- nente; constituição ou aumento de
verno ou instituição privada capital de empresas industriais ou
para ser executado de mo- agrícolas; cumprimento de sen-
do descentralizado tenças judiciais, entre outros.

Elemento de Despesa Inversões financeiras


Correspondem às dotações des-
Detalha como se dá esse gasto,
tinadas à aquisição de bens imó-
seja através do pagamento de di-
veis ou móveis; constituição ou
árias, compra de equipamentos, aumento de capital de empresas
dentre outros. comerciais, bancárias, finan-
ceiras ou de seguros; concessão
Despesas correntes de empréstimos; entre outros.
Compreendem os gastos relati-
vos às obrigações ligadas à ma- Transferências de capital
nutenção da máquina pública, Correspondem a auxílios e contri-
desde que não representem a buições a instituições e fundos pú-
ampliação dos serviços presta- blicos e privados; amortizações da
dos ou a expansão das atividades dívida pública; transferências in-
governamentais. tragovernamentais; entre outros.
A Lei Orçamentária Anual – LOA | Orçamento público, legislativo e comunicação

Votação fora até que este seja votado e sancio-


nado e passe a vigorar.
do Prazo
A Lei Orçamentária Anual vigo- Algumas Leis de Diretrizes
ra por um exercício financeiro, Orçamentárias autorizam a uti-
que se inicia em 1o de janeiro e lização provisória dos recursos
se encerra em 31 de dezembro. de forma genérica, normal-
Por isso, deve ser aprovada num mente um duodécimo (1/12)
ano para entrar em vigor no ano As despesas que não con-
do total do orçamento por mês tarem com autorização
seguinte. Em 2006, foi votada a até a aprovação da LOA. Ou- específica não podem ser
LOA de 2007. Em 2007, é votada tras, mais rígidas, autorizam a realizadas até que a Lei do
a LOA de 2008. execução orçamentária apenas Orçamento seja sancionada
para atender alguns tipos de
Nem sempre, porém, o poder despesa considerados inadi- 45
Legislativo consegue apreciar e áveis, como transferências
votar o projeto enviado pelo po- constitucionais, pagamento de
der Executivo dentro do prazo pessoal e de juros e encargos
constitucional – o encerramen- de dívidas. Assim, as despesas
to da sessão legislativa: 15 de que não contarem com autori-
dezembro, no caso da União. O zação específica não podem ser
prazo dos estados é estabelecido realizadas até que a Lei do Or-
na Constituição Estadual e no re- çamento seja sancionada.
gimento interno da Assembléia
Legislativa; e o dos municípios, Enquanto o orçamento não
na Lei Orgânica Municipal e no for votado em seu município,
regimento interno da Câmara por exemplo, o prefeito não po-
Municipal. derá dar início a uma nova obra,
como o calçamento das ruas de
Em todas as esferas de governo, um bairro da periferia, mesmo
o Legislativo não entra em recesso que os recursos fiquem “para-
até a aprovação do orçamento, mas dos” no caixa da prefeitura.
a Constituição não diz o que acon-
tecerá se a lei não for sancionada Por isso, é importante
até 31 de dezembro (como sabe- acompanhar de perto o pro-
mos, a LOA deve entrar em vigor cesso de discussão e votação
em 1o de janeiro). da Lei Orçamentária. Além de
defender os interesses da co-
Execução letividade, a participação po-
provisória pular pode contribuir para que
Por isso, diversas Leis de Dire- o orçamento seja votado den-
trizes Orçamentárias (LDO) têm tro do prazo e garantir recur-
estabelecido regras para a exe- sos para políticas considera-
cução provisória do orçamento das prioritárias.
Orçamento público, legislativo e comunicação | A Lei Orçamentária Anual – LOA

Execução Orçamentária

O acompanhamento da execução orçamentária é feito com base na LOA. A tabela abaixo mostra as colunas
da execução financeira tais como apresentadas nos orçamentos das três esferas de governo: federal, esta-
dual e municipal.

Lei após vetos Créditos adicionais ± lei + créditos


(dotação inicial) remanejamentos (autorizado) empenhado liquidado valores pagos
(A) (B) (C)=(A)+(B) (D) (E) (F)

46

(A) Dotação Inicial – Lei após Vetos


Consiste no montante de recursos orçamentários alocados na LOA publicada para uma deter-
minada rubrica orçamentária, ou seja, a Lei sancionada após os vetos do executivo. Os dados re-
lativos à dotação inicial permanecem constantes ao longo do ano. É possível, no entanto, haver
uma dotação inicial igual a zero, isto se dá quando se faz necessária uma ação de governo após a
publicação da Lei Orçamentária Anual. Esse valor vai constar no orçamento a partir da coluna
de Créditos Adicionais.

(B) Créditos Adicionais


Representam instrumentos de ajuste orçamentário em relação às autorizações de despesas não com-
putadas ou insuficientemente dotadas na lei orçamentária. Tem por finalidade realizar ajustes ocor-
ridos na mudança de rumo das políticas públicas, variações de preço de mercado dos bens e serviços
a serem adquiridos pelo governo, ou ainda, situações emergenciais inesperadas e imprevisíveis. São
classificados em Crédito Suplementar, Crédito Especial e Crédito Extraordinário. Esses créditos se-
rão detalhados mais adiante.

(C) Dotação Autorizada – Lei mais/menos Créditos


Consiste na Dotação Inicial mais as variações (para maior ou para menor) ocorridas no montante de
recursos de uma determinada dotação orçamentária ao longo do exercício. Assim, é possível que a
ação de uma unidade orçamentária tenha sua dotação aumentada em função de um maior ingresso
de receita global, ou ainda, ser reduzida devido à abertura de crédito extraordinário em favor de um
outro órgão.

(D) Empenhado
O empenho é uma das fases da realização da despesa. Significa que a administração pública se com-
promete em reservar um determinado recurso para cobrir despesas com aquisição de bens ou ser-
viços prestados, portanto é uma garantia para o credor de que existe respaldo orçamentário para a
referida despesa.

(E) Liquidado
A liquidação consiste na fase seguinte a do empenho e representa o reconhecimento por parte da
administração pública que o bem foi entregue ou que o serviço foi prestado.

(F) Valores Pagos


É a fase de pagamento de bem/serviço adquirido ou prestado. Nessa fase, a administração pública
está quitando seu débito. Vale ressaltar que quando há disponibilidade financeira para a despesa,
essa fase é realizada concomitantemente com a liquidação.
Análise da execução orçamentária | Orçamento público, legislativo e comunicação

6
[ Orçamento Público ]

Análise da 47

execução orçamentária
Para o acompanhamento da execução orçamentária emprega-se a re-
lação Liquidado (E) sobre Autorizado (C), por indicar quanto do gasto
planejado teve o serviço prestado ou bem adquirido. Essa relação for-
nece o nível de eficiência do governo.

Outra análise da execução orçamentária que pode ser efetuada é por


meio da relação Dotação Inicial (A) a fim de verificar a variação no mon-
tante de recursos destinados às ações selecionadas através dos anos.
Por exemplo, com o intuito de priorizar ou cumprir metas, o governo
pode alocar mais recursos financeiros em um ano do que em outro em
determinada ação, havendo a necessidade de se calcular a proporção de
aumento ou diminuição da destinação orçamentária voltada a esta ação
no período de tempo selecionado. Esse tipo de análise pode ser efetua-
do a partir da publicação da Lei Orçamentária Anual.

Alterações na LOA
Durante a execução do orçamento, a LOA pode sofrer alterações sempre
que for constatada a necessidade de aumentar a verba de determinadas
ações ou de incluir ação ou despesa não prevista inicialmente.
Essas alterações são feitas por meio de leis de créditos adicionais
ou decreto de abertura de créditos suplementares. Os créditos adicio-
nais são um instrumento de ajuste orçamentário, para cobrir despe-
sas não previstas ou com previsão insuficiente na Lei Orçamentária.
Eles podem ser utilizados para fazer frente a: eventuais mudanças de
rumo das políticas públicas; variações de preço dos bens e serviços a
serem adquiridos pelo governo; situações emergenciais, inesperadas
e imprevisíveis.

O Poder Executivo tem que submeter ao Legislativo projeto de lei


de crédito adicional. Deve-se sempre indicar a fonte de recursos que
ampara as novas despesas.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Análise da execução orçamentária

Os créditos adicionais devem justificar e indi- Nesse caso, a despesa é ime-


car, na exposição de motivos, as conseqüências dos diatamente autorizada. Depois,
cancelamentos de dotações propostas sobre a exe- são feitos ajustes na LOA para
cução das atividades, dos projetos, das operações incluir essa despesa não prevista
especiais e dos respectivos subtítulos e metas. inicialmente.

As fontes de recursos para


Crédito suplementar a abertura dos Créditos Suple-
É um reforço na dotação orçamentária já existen- A LOA pode mentar ou Especial podem advir
te na LOA. É aberto quando os créditos orçamen- sofrer alte- do superávit financeiro apurado
tários são ou se tornam insuficientes. rações sem- no orçamento do exercício ante-
pre que for rior; do excesso de arrecadação;
Vamos supor que a LOA de seu município des- constatada a da anulação parcial ou total de
tine R$1 milhão para a construção de um centro necessidade dotações orçamentárias; ou ain-
48 esportivo, mas, no decorrer da obra, a prefeitu- de aumentar da, do produto de operações de
ra descubra que este recurso não será suficiente. a verba de crédito que a legislação permita
Nesse caso, o prefeito pode apresentar à Câmara de determinadas ao Poder Executivo realizar.
Vereadores um projeto de lei de crédito adicional. ações ou de
Isso pode acontecer também no orçamento federal incluir ação No caso dos Créditos Especial
e no orçamento dos estados. ou despesa e Extraordinário, se a lei de auto-
não prevista rização do crédito for promulga-
Para facilitar essas modificações, a Constitui- inicialmente da nos últimos quatro meses do
ção permite que a própria LOA dê autorização, exercício corrente, poderá ser re-
limitada, para que o Executivo não precise enca- aberto no exercício seguinte, nos
minhar projeto de lei ao Legislativo para reforçar limites do seu saldo, sendo incor-
dotações constantes no orçamento. A LOA auto- porado ao orçamento do exercício
riza o Executivo a baixar um decreto para abrir financeiro subseqüente.
créditos suplementares.
Fontes de recursos
No entanto, a abertura de crédito suplementar Ao abrir crédito adicional (exceto
depende da existência prévia de recursos. o extraordinário), o governo deve
indicar previamente os recursos
disponíveis para cobrir os novos
Crédito especial gastos. Os recursos para a aber-
Esse tipo de crédito destina-se à cobertura de
tura dos créditos suplementar ou
novas despesas, incluídas na LOA depois que o
especial podem advir do superávit
orçamento já está em execução. financeiro apurado no orçamento
do exercício anterior; do exces-
Se no seu município o governo decidir canali- so de arrecadação; da anulação
zar um córrego, por exemplo, e essa despesa não parcial ou total de dotações or-
estiver prevista na LOA, ele deve apresentar um çamentárias; ou, ainda, das ope-
projeto de crédito adicional ao Legislativo, que vai rações de crédito que a legislação
votar este pedido de alteração. Por isso, o Executivo permitir ao Executivo realizar.
precisa justificar a necessidade da obra e informar
de onde virão os recursos para a nova despesa. Muitas vezes, o Executivo re-
duz ou deixa de realizar determi-
Crédito extraordinário nadas despesas fixadas na LOA
É destinado a atender despesas urgentes e impre- para liberar verbas para outra
visíveis, como ocorre nos casos de guerra e calami- despesa, isto é, ele tira recrusos
dade pública, por exemplo. Por sua característica de uma ação e aplica em outra.
de urgência, é aberto por decreto do chefe do poder Em alguns casos, pode-se usar a
Executivo (ou por medida provisória, no caso da reserva de contingência.
União). Sua abertura, ao contrário dos créditos su-
plementar e especial, pode ser feita sem que o Execu- O superávit financeiro do
tivo indique previamente de onde virão os recursos. exercício anterior correspon-
Análise da execução orçamentária | Orçamento público, legislativo e comunicação

de à sobra de caixa do governo, Reserva de Assim, os órgãos e institui-


ou seja, recursos que não estão contingência ções que recebem dotações orça-
comprometidos com nenhu- Esse mecanismo consiste na re- mentárias são obrigados a aper-
ma despesa de acordo com o serva de uma verba na Lei Orça- tar o cinto e a fazer economia,
balanço final do ano anterior. mentária Anual, sem destinação pois o poder Executivo diminui
específica. É uma “poupança” ou impede a liberação de ver-
O excesso de arrecadação ocor- obrigatória cujos recursos po-
re quando, no decorrer do ano, bas previstas para cada um. Essa
dem ser utilizados para a cober- redução de gastos é chamada de
novas estimativas indicam que a tura de despesas não previstas
receita será maior do que a pre- contingenciamento.
– via abertura de créditos adi-
vista inicialmente na LOA. Como cionais –, especialmente em
já vimos, as despesas devem ser O Contingenciamento é expe-
caso de guerra ou calamida- dido via Decreto pelo Poder Execu-
iguais às receitas. Se a receita au- de pública.
menta, haverá “sobra” de recursos tivo, isto é, não passa por discussão 49
para reforçar as dotações ou in- e aprovação no legislativo. O poder
Na prática, porém, os recur-
cluir novas despesas na LOA. sos da reserva de contingên- regulamentar do Decreto de Con-
cia têm servido para cumprir tingenciamento está nos Arts. 8º
Se ocorrer o contrário, ou as metas de superávit primário e 9º da LRF. Tais dispositivos im-
seja, se novas estimativas indi- – a economia que o governo faz põem à execução orçamentária a
carem que a receita será menor todos os anos para pagar juros e obrigatoriedade de observar a ne-
do que a prevista inicialmente, amortizações da dívida pública. cessidade de “poupança” obriga-
deve-se adotar medidas de re- tória para a cobertura de despesas
dução de despesas.
não previstas, ou aumentar a meta
As operações de crédito são Corte de resultado primário (receita me-
empréstimos, financiamentos de gastos nos despesa antes do pagamento
e outras formas que os gover- Como sabemos, o orçamento é dos juros) prevista na LDO.
nos utilizam para obter recursos elaborado com base em estima-
imediatamente e devolvê-los tivas de arrecadação. Quando a Também deve estar presente
depois, pagando juros. Para fazer arrecadação não corresponde no Decreto de Contingenciamen-
esses empréstimos, o Executivo à esperada ou para cumprir a to a exposição de motivos. Isto é,
precisa de autorização do Legis- meta de superávit primário tor- os motivos e critérios que levaram
lativo e ainda deve obedecer a na-se necessário limitar a exe- o poder executivo a realizar o con-
uma série de exigências legais. cução orçamentária. tingenciamento.

Participação cidadã
É extremamente importante a participação popular no processo de elaboração das leis orçamentárias
no executivo e de discussão no legislativo. A sociedade tem que ficar atenta aos prazos para inserir suas
demandas políticas e necessidades na agenda governamental.

As ações de monitoramento do gasto público promovem o controle social, capaz de identificar desvios,
falta de prioridade e responsabilidade na execução do gasto público. Constatadas irregularidades a popula-
ção pode buscar parceiros como o Ministério Público e o Tribunal de Contas para investigar as denúncias e
responsabilizar o poder público.

Para tanto, o acesso às informações orçamentárias é condição necessária para um efetivo controle social
permitindo uma ação mais qualificada da população.

Lembrem-se: o orçamento é dinheiro público, de todos nós, que escolhemos um representante nas
eleições para administrá-lo. Nosso papel de fiscalização do gasto é muito importante. O papel da população
é fundamental no processo de democratização do orçamento público.
Legislativos: sua importância e seu papel nas democracias | Orçamento público, legislativo e comunicação

1
[Legislativo]

Legislativos: 51

sua importância e seu papel nas democracias

Em uma sociedade democrática como a nossa, o Estado é quem con-


centra o poder em relação às atividades de legislar, julgar e execu-
tar. Embora governar (Executivo) e julgar/aplicar as leis (Judiciário)
sejam tarefas indispensáveis à plena realização da democracia, é o
Legislativo a esfera que mais demanda prontidão da sociedade para
realizar sua missão.

Isso porque os legisladores têm algumas funções fundamentais:


representar o povo,os estados e municípios (por meio dos senadores,
deputados e vereadores eleitos), compartilhar a formulação e aprova-
ção das políticas públicas, mediar conflitos sociais, além de fiscalizar a
aplicação dos recursos públicos, entre outras ações.

Uma das maneiras de entender a importância dos poderes legisla-


tivos nas democracias modernas é pensar nos parlamentos (Congresso
Nacional, assembléias legislativas e câmaras de vereadores) como o lo-
cal onde as sociedades resolvem seus conflitos. Por definição, é nessa
instância onde os interesses dos diferentes segmentos são negociados
publicamente com o objetivo de chegar a um acordo comum.

Dessa forma, o Legislativo se configura como o espaço do confronto


e da luta argumentativa, na qual os representantes de diferentes grupos
sociais, econômicos, políticos e culturais debatem antes de votar cada
uma das proposições. Tomada a decisão pela maioria, as minorias aca-
tam, portanto, os resultados.

Fiscalizar o fiscalizador
Em sua atuação, o Legislativo considera permanentemente duas
instâncias: a sociedade – visto que deve trabalhar na direção de suas
expectativas – e os poderes executivos (prefeituras, governos de es-
tados e Presidência da República), que se constituem no objeto de
sua fiscalização.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Legislativos: sua importância e seu papel nas democracias

Mas, se o Legislativo é fisca- cia, o espaço da criação, do que


lizador do governo, quem fis- está por ser inventado. Por essa
caliza os fiscalizadores? Se essa razão, a sociedade deve empres-
esfera de poder exerce uma es- tar sua criatividade aos legisla-
pécie de auditoria permanente dores que, presos a regimentos
dos recursos públicos, quem e normas – e, por vezes, dis-
audita os auditores? tantes da população – não con-
Participação seguem responder plenamente
de todos Essas e outras questões apon- às demandas da população, se
tam a importância da presença, do ocupando, não raro, de disputas
Por se sentirem despreparadas, preparo e da prontidão da socie- corporativas, cargos nos gover-
muitas pessoas evitam participar dade no exercício de acompanhar nos e interesses pessoais.
da vida política. Esse é um perigoso a atuação legislativa. Ao fiscali-
52 equívoco. Todos os cidadãos pos-
suem autoridade para incidir em
zar os fiscalizadores, a população Incidência no
políticas públicas, pois suas con-
também se dá conta das carências Legislativo
tribuições partem de necessidades e do que poderia ser garantido em A Constituição Federal de 1988
reais. Se repararmos bem, via de lei – e principalmente nos orça- liquidou com o monopólio da
regra, a classe política raramente mentos – para a melhoria da qua- iniciativa legislativa por parte do
faz uso de serviços e equipamen- lidade de vida nas áreas de educa- Estado e da sociedade política.
tos públicos. Em geral, não andam
de ônibus, seus filhos não estudam
ção, saúde, habitação, transporte Desde então, a sociedade civil
em escolas municipais ou estadu- público, etc. pode, por garantia legal, parti-
ais, possuem seguro de saúde em cipar na iniciativa de leis, além
redes privadas, passam férias no Com relação à importante con- de formular ela própria o que lhe
exterior, etc. Por isso, vale pensar: tribuição que a comunidade pode parece justo, em todos os assun-
quem está mais habilitado a apon-
tar os problemas e as deficiências
oferecer no dia-a-dia do proces- tos e esferas de poder.
que afetam a qualidade de vida so legislativo, vale lembrar ainda
da população? que a sociedade política (Estado, Essa atuação junto ao legisla-
agentes e funcionários públicos) tivo é possível por meio de me-
só pode exercer suas atividades canismos diversos, tais como leis
dentro da lei ou do que esta de- de iniciativa popular, ouvidorias
termina. Já a sociedade civil, por do eleitor, orçamentos participa-
outro lado, pode fazer tudo o que tivos, sugestões às Comissões de
a lei não proíbe. Participação Popular, apresenta-
ção de queixas ou reivindicação às
Em outras palavras, o espaço comissões, assim como requeri-
da sociedade civil é, por excelên- mento de audiência pública com

Transformar necessidades em realidade


É no trato diário das demandas parlamentares que os legisladores podem perceber a necessidade de novas
leis ou aperfeiçoamento das que já existem, tarefas que não somente podem como devem realizar.

Nesse sentido, o Poder Legislativo tem a capacidade de formular e de vetar proposições – atuação que
garante uma interlocução tanto com o governo quanto com a comunidade. Além disso, cabe a essa esfera de
poder consolidar as leis, isto é, adequá-las ou readequá-las quando não representam mais as expectativas
da sociedade.

Entretanto, para atuar como facilitadores na transformação dos anseios da população em realidade, os
legisladores precisam conhecer a fundo o conjunto das leis existentes, isto é, os marcos regulatórios nas
diferentes áreas de políticas públicas. Só assim podem encampar propostas ou justificar tecnicamente as
que julgam improcedentes.
Legislativos: sua importância e seu papel nas democracias | Orçamento público, legislativo e comunicação

representantes dos setores orga- Portanto, lembre-se: ao


nizados da sociedade para debate se organizar e compreender o
de temas específicos. funcionamento dos três pode-
res em uma democracia, a so-
Fazer uso desses instrumen- ciedade tem condições de dia-
tos se justifica não apenas pela logar com os legisladores, co-
saudável prática da cidadania e brar, criticar e colaborar com a
do espírito público, mas também classe política. A isso se chama, Não perca
pelo que já advertiu o pensador como vimos, incidir em políti- de vista
Montesquieu, formulador da teo- cas públicas, uma forma efetiva
ria dos três poderes: “... A expe- de participação. Uma das importantes atividades de
riência eterna (a história) atesta incidência política na esfera munici-
que todo homem que detêm o Cultura do favor pal está relacionada ao controle da
poder tende a abusar do mesmo”. É certo que os desafios para es- atuação das Câmaras de Vereado- 53
res. A função do Poder Legislativo
tabelecer uma postura de diá- é, além de legislar, fiscalizar o Poder
Muitas vezes, entretanto, por logo e controle social junto ao Executivo. Todos os cidadãos podem
dificuldade de acesso às infor- Legislativo são grandes. Prin- e devem acompanhar o que fazem
mações sobre os trabalhos dos cipalmente, por que há indi- os representantes nas Câmaras. É
representantes políticos, acaba- isso que iremos abordar nas próxi-
víduos ou grupos que exercem
mas páginas.
mos por negligenciar a respon- poder de pressão por meio de
sabilidade de acompanhar nos- mecanismos não-institucio-
sos legisladores. Assim, mesmo nais, acabando por reforçar
com o direito – e com diversos elementos conservadores e an-
instrumentos para exercê-lo tidemocráticos da política bra-
–, não atuamos no debate junto sileira, como o clientelismo.
àqueles que, efetivamente, de-
cidem o presente e o futuro da Um exemplo é o que costu-
cidade, do estado e do País. Por mamos chamar de “cultura do
isso, lembremos outro pensador favor”. Ou seja, situações em que
político que questionava: Qual o os eleitores estabelecem com
preço que se paga por não gostar seus representantes uma relação
de política? Ser governado pelos em que estes são cobrados para
que gostam, respondia pronta- realizar alguma forma de ação
mente Jean Jacques Rousseau, a política, oferecendo em troca
quem se atribui essa afirmação. seu próprio voto.

Caminhos para participar

 Lei de Iniciativa Popular – garante que qualquer cidadão possa apresentar projetos à Câmara. As pro-
postas devem ser assinadas por, pelo menos, 5% dos eleitores e podem tratar de questões gerais ou
relativas à Lei Orgânica do município (Constituição municipal). O projeto de lei de iniciativa popular
tem a mesma tramitação dos demais, integrando a numeração geral das proposições autônomas.

 Comissões de Legislação Participativa ou de Participação Popular – recebem sugestões de associa-


ções e órgãos de classe, sindicatos e entidades da sociedade civil para transformá-las em projeto de lei
de autoria da Comissão, simplificando o acesso dos cidadãos ao sistema de produção das leis.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Municípios: espaço de atuação participativa

2
[ Legislativo ]

54 Municípios:
espaço de atuação participativa

Vivemos, transitamos, pagamos impostos e utilizamos serviços urbanos


– tais como escolas, postos de saúde, bibliotecas, praças, etc – dentro de
um município. Assim, podemos dizer que a cidade é o primeiro palco
no qual as tarefas de democratização do poder ocorrem. Nela, cidadãos
e cidadãs se revelam concretamente como eleitores, consumidores e
contribuintes. Assim, é no âmbito dos municípios que os indivíduos
podem exigir os seus direitos e fiscalizar a atuação do Estado.

Como sabemos, o Estado brasileiro é formado por três níveis de go-


verno – o federal, o estadual e o municipal. Cada uma dessas esferas
possui representantes eleitos para o exercício do Poder Executivo e do
Legislativo. No caso dos municípios, tais poderes são representados
pela prefeitura e pela câmara municipal – órgão que se configura como
a assembléia de representantes dos cidadãos daquela cidade.

Segundo a Carta Magna brasileira de 1988, compete às câma-


ras municipais:

 Fiscalizar as contas do município.

 Elaborar a Lei Orgânica.

 Organizar as funções internas para legislar e fiscalizar.

 Nomear logradouros, elaborar leis ordinárias ou apreciar aquelas


cuja iniciativa é prerrogativa do Executivo.

Espaço solene e “casa do povo”


Seja por sua origem (ato régio), pelo tradicional “coronelismo” (cultu-
ra do poder local) ou pela suposta separação entre sociedade política e
sociedade civil, historicamente as Câmaras se constituíram como um
espaço solene, isto é, um local onde se promulgam atos de governo.
Municípios: espaço de atuação participativa | Orçamento público, legislativo e comunicação

De fato, trata-se de um espaço Numa lógica simples, mas não Entenda


diferenciado, pois sabemos que sistemática, é o discurso o prin-
sua atuação – fazer leis e fiscalizar cipal instrumento utilizado para
o funcionamento
o governo – tem conseqüências acirrar ou diminuir essa contra-
e impacto em todo o município. dição. Há a linguagem que afasta O trabalho das Câmaras Municipais
Por outro lado, as casas de leis ou é dividido em duas tarefas princi-
(Vossa Excelência, nobre verea- pais: uma é a função administrati-
parlamentos municipais se cons- dor, etc.) e a que chama (a cama- va, outra a parlamentar.
tituem também como “casa do radagem, a informalidade, etc.). Trabalho administrativo – caracte-
povo”, em seu sentido autêntico riza-se pelas funções de contabili-
e popular. Isso porque as câma- dade, gestão de recursos humanos,
ras são a representação de um dos
poderes da República – que é, por
O papel cuidado e incremento da infra-es-
trutura, além do protocolo da rela-
definição, a ordem do que é públi- do vereador ção entre poderes, da população
com a Casa e outros procedimentos
co e, portanto, do que é de todos. O vereador exerce duas funções 55
de relação com o público interno
principais: fiscalizar as ações da e externo.
Assim, as câmaras abrigam prefeitura e legislar. Essa segun- Trabalho parlamentar – consiste na
duas concepções com algum grau da atividade implica em analisar manutenção do fluxo de projetos.
de contradição, o espaço solene e votar projetos de lei apresenta- Todo processo legislativo passa por
dos pelos próprios parlamenta- um rito, que vai da apresentação de
(celebração, pompa e oficialidade) um projeto de lei à sua aprovação. As
e o espaço do povo (acesso simples res, pelo Executivo (prefeitura) atividades parlamentares também
e familiar). Esta, que não deixa de ou pela sociedade civil. envolvem o expediente, os registros
ser uma outra dicotomia, pode ser técnicos, passando por subsecreta-
utilizada pela própria classe polí- Como parte de seu mandato, rias, comissões e votações.
tica com habilidade, ora para afas- o parlamentar pode exercer suas
tar, ora para atrair a população. funções também fora das salas do

Um pouco de história
A história das câmaras municipais no Brasil começa em 1532, quando São Vicente – localizada onde hoje
é o estado de São Paulo – é elevada à categoria de vila. De fato, durante todo o período do Brasil Colônia,
somente as localidades que tinham o estatuto de vila possuíam câmaras municipais, condição atribuída
pelo Reino de Portugal mediante ato régio. Nesta época, as câmaras municipais exerciam um número bem
maior de funções do que atualmente. Eram as responsáveis pela coleta de impostos, por regular o exercício
de profissões e ofícios, regular o comércio, cuidar da preservação do patrimônio público, criar e gerenciar
prisões, ou seja, uma gama de atividades referentes aos três campos da administração pública.

Com a Independência do Brasil, a autonomia de que gozavam as câmaras municipais é drasticamente


diminuída. O império centraliza a administração pública por meio da Constituição de 1824. A duração da
legislatura é fixada em quatro anos e o vereador mais votado assumia a presidência da câmara, visto que até
então não havia a figura do “prefeito”.

Com a Proclamação da República, as câmaras municipais são dissolvidas e os governos estaduais nomea-
vam os membros do “conselho de intendência”. Em 1905, cria-se a figura do “intendente”, que permanecerá
até 1930 com o início da Era Vargas. Com a Revolução de 1930 criam-se as prefeituras, às quais serão atribu-
ídas as funções executivas dos municípios. Assim, as câmaras municipais passaram a ter especificamente o
papel de casa legislativa.
Durante o Estado Novo, entre 1937 e 1945, as câmaras municipais são fechadas novamente, e o poder le-
gislativo dos municípios é extinto. Com a restauração da democracia em 1945, as câmaras municipais são rea-
bertas e começam a tomar a forma que atualmente possuem. O formato da câmara municipal que conhecemos
hoje, portanto, começou a se desenhar com a Constituição Brasileira de 1946, que inaugurou a atual série de
mandatos, ou legislaturas.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Municípios: espaço de atuação participativa

Legislativo – como, por exemplo,  Legislar sobre assuntos de


visitando comunidades ou mesmo competência do Estado ou
participando de discussões sobre da União
temas municipais em eventos fora
da câmara. Em grande parte do
tempo, entretanto, os vereado-
res trabalham nos gabinetes, nas A estrutura
comissões técnicas ou em plená-
rio – onde é apreciada e votada
de uma câmara
a maioria dos projetos que po- municipal
dem virar leis. Via de regra, um organogra-
ma padrão de câmaras munici-
Do ponto de vista estrito da
pais prevê:
Constituição Federal, o verea-
56 dor pode:  Mesa Diretora.

 Aprovar, emendar ou rejei-  Advocacia e Assessorias – de


tar o projeto de orçamento do informática, de comunica-
município, que é de iniciativa ção institucional, de polícia
do Executivo. militar.

 Definir de que forma o solo  Secretarias Gerais, Parla-


urbano deve ser ocupado: mentar e Administrativas.
altura dos prédios, uso resi-
dencial ou comercial,etc.  Comissões Permanentes.

 Fiscalizar permanentemente  Espaços para atividades di-


atos do governo – acompanhar versificadas (encontros de
e denunciar irregularidades comissões, sessões solenes,
da administração municipal audiências públicas, impren-
ao Tribunal de Contas e ao sa, plenário, etc).
Ministério Público. Exemplo:
acompanhar o resultado das Presidência ou
licitações, empenho e paga- Mesa Diretora
mento das firmas contrata- Formada por lideranças parti-
das; acompanhar como o di- dárias, é o órgão da câmara res-
nheiro é aplicado e verificar a ponsável por organizar os pro-
qualidade dos serviços. cedimentos de trabalhos (rito Regimento interno
parlamentar), fazendo cum-
 Criar normas gerais sobre con- prir a cada encontro (sessão) o Conjunto de normas que rege, dis-
cessão de serviços públicos. regimento interno. A presidên- ciplina e regulamenta o funciona-
cia tem também como atribui- mento de uma casa legislativa.
 Conceder títulos e homena- ção a gestão da casa legislativa,
gens aos cidadãos e cidadãs ou seja, criar cargos e funções,
do município. realizar serviços internos, ma-
nutenção do espaço, entre outras
E o vereador não pode: funções administrativas. Ela é
responsável ainda por encami-
 Alterar a estrutura adminis- nhar a contabilidade da Casa ao
trativa da prefeitura. Tribunal de Contas do Estado.
Anualmente a mesa diretora é
 Gerar despesa pública fora do substituída, por meio de acordos
orçamento. políticos e por votação, realizada
no início de cada ano.
Municípios: espaço de atuação participativa | Orçamento público, legislativo e comunicação

Comissões extraordinárias, que não estão


Embora habitualmente siga um envolvidas diretamente com o
padrão, a composição das co- processo legislativo. Veja al-
missões de uma câmara muni- guns exemplos:
cipal é definida pelo regimen-
to interno de cada Casa. Há as  Comissões Parlamentares
comissões de caráter técnico de Inquérito (CPI) – espaço
– cuja função é estudar e emitir e instrumento para a função Tramitação
pareceres sobre questões espe- fiscalizadora dos vereadores. dos projetos
cíficas – e as de caráter político, Possuem função investigativa,
ou de mérito, que analisam a não punitiva. Para instaurar Por definição, a tramitação é o cum-
pertinência dos projetos. uma CPI há um trâmite legal: primento das etapas de um processo
a decisão precisa ser aprova- no Legislativo. Ao entrar no rito par-
Uma composição bastante da em plenário e um pedido lamentar, todos os Projetos de Lei 57
são encaminhados primeiramente à
usual é: formal (com um número mí- CCJ, que irá opinar sobre o aspecto
nimo de assinaturas) deve ser constitucional, legal e regimental da
 Comissão de Constituição e apresentado à Mesa Diretora. proposição. Em seguida, o PL deve
Justiça (CCJ). Além disso, é preciso que haja passar pela comissão técnica relati-
composição partidária, aspec- va ao assunto (um projeto sobre me-
renda escolar, por exemplo, poderia
 Comissão de Finanças e Or- to também regulado pelo regi- ser encaminhado à Comissão de
çamento (CFO). mento interno. Educação e Cultura). As comissões
têm prazo para emitir parecer, e em
 Comissão de Política Urbana,  Comissões temporárias – são casos de regime de urgência esse
Metropolitana e Meio Am- comissões para estudo de prazo pode ser reduzido.
biente (CPUMMA). questões específicas ou re-
presentação.
 Comissão de Administração
Pública (ADM).  Comissões extraordinárias
– por exemplo: de Defesa dos
 Comissão de Trânsito, Trans- Direitos Humanos e Cidada-
porte e Atividade Econômica nia; de Apoio ao Desenvolvi-
(ECON). mento do Turismo, do Lazer e
da Gastronomia; da Juventu-
 Comissão de Educação, Cul- de; de Defesa dos Direitos da
tura e Esportes (EDUC). Criança e do Adolescente; do
Idoso; de Segurança Pública;
 Comissão de Saúde, Promoção da Mulher
Social e Trabalho(SAÚDE).
 Comissão de Legislação Par-
Além de fazer a análise técni- ticipativa – instâncias nas
ca e legislativa dos projetos que quais a sociedade, através de
chegam até elas, as comissões uma pessoa jurídica que pode
podem realizar audiências pú- ser uma associação, pode fa-
blicas, receber pedidos e recla- zer sugestões de leis e subme-
mações da comunidade ou ainda ter à apreciação parlamentar.
convocar secretários municipais
para dar esclarecimentos, entre Plenário, debates e
outras coisas. votações
O plenário é o espaço onde se
Outras comissões realizam as sessões ordinárias e
Além das comissões perma- extraordinárias, em que se regis-
nentes, as câmaras podem con- tram os discursos públicos e a vo-
tar com as chamadas comissões tação dos projetos de lei. Nesses
Orçamento público, legislativo e comunicação | Municípios: espaço de atuação participativa

espaços, há uma área destinada Resolução (PRs). A única ex-


a representantes da população, ceção é quando o projeto de
para que possam acompanhar os resolução trata de denominar
debates e decisões apresentadas. salas da câmara.
Essa participação é importante
porque, embora nem todos os  Projetos de baixo impacto – são
projetos passem pelo plenário, é aqueles que concedem títulos
Em uma câmara pode haver
comissões permanentes e nele que se dá a “ação dramáti- e honrarias. Dão nomes a lo-
temporárias. As primeiras ca”, isto é, a parte mais vistosa do gradouros (ruas, praças, ave-
são as estabelecidas em exercício legislativo, e no qual a nidas etc.) e a prédios públicos
regimento interno. As tem- população pode testemunhar em (escolas e postos de saúde, por
porárias se dividem em CPI hora e local determinado o tra- exemplo), além de datas come-
e especiais balho de seus representantes. morativas de âmbito restrito a
58 pequenas comunidades ou de
Projeto de Lei âmbito municipal.
São propostas escritas e articula-
das que se submetem à aprecia- Fluxograma de
ção do plenário, para discussão e tramitação de um
votação. Após sanção do chefe do projeto
Executivo, viram lei. A tramitação de um projeto se ini-
cia com a apresentação da proposta
Tipos em plenária, durante uma sessão
 Projetos de Lei (PLs). ordinária, em atividade conheci-
da como “leitura de papéis”. Uma
 Projetos de Decreto Legisla- vez apresentado publicamente em
tivo (PDLs). sessão aberta, o documento deve
ser publicado no Diário Oficial.
 Projetos de Emenda à Lei Or-
gânica (PLOs). Na seqüência, a proposta deve
ser avaliada quanto à sua consti-
 Projetos de Resolução (PRs). tucionalidade, devendo ser enca-
minhada à Comissão de Consti-
 Projetos de Iniciativa Popular tuição e Justiça. Sem impeditivos
(PIPs). legais, o projeto é avaliado pelos
parlamentares pela sua inten-
Origem cionalidade, viabilidade e im-
 Vindos do Executivo. portância, por meio das comis-
sões que avaliam o mérito de ca-
 Nascidos no próprio Legislativo. da proposta.

 Vindos da sociedade. Passando pelo Legislativo,


resta ainda a análise do Execu-
Quanto à natureza tivo para promulgação. Sendo
 Projetos de políticas públicas validado pelo Poder Executivo,
– são os que definem ou aju- o projeto de lei entra na pauta
dam a compor políticas pú- para apreciação em plenário –
blicas, tendo, portanto, al- onde é votado em dois turnos ou
gum impacto na qualidade de único. A proposição ainda pode
vida dos cidadãos. Incluem- passar por emendas dos par-
se nessa categoria alguns lamentares, de acordo comas
Projetos de Lei (PLs) e todos negociações e debates ocorridos
Projetos de Emenda à Lei Or- em plenário. Mesmo aprovado
gânica (PLOs) e Projetos de pela, o projeto ainda pode so-
Municípios: espaço de atuação participativa | Orçamento público, legislativo e comunicação

frer vetos do Executivo. Neste incidir sobre elas – é acom-


caso, retorna ao plenário. panhar a proposta e a execu-
ção orçamentária da área de
Vejamos no quadro abaixo o seu interesse. A construção
fluxograma de um projeto de lei. de uma estrutura mínima
de controle social em par-
lamentos deve associar as Projetos de lei são pro-
Algumas duas tarefas. postas que se submetem à
reflexões  Não há indicadores confiá-
apreciação do plenário, para
discussão e votação. Após
para debate veis para se aferir a qualida- sanção do chefe do Executi-
Como vimos, é fundamental de do trabalho de fiscalização vo, viram lei
que todos os cidadãos e cidadãs dos vereadores sobre o Poder
estejam envolvidos no acompa- Executivo. 59
nhamento e discussão das ativi-
dades do Legislativo, especial-  Fique atento: o número de
mente o municipal, já que essa leis apresentadas ou aprova-
é a esfera que cuida diretamente das por um vereador não pode
de vários aspectos práticos da ser indicador de qualidade de
vida da população. Veja algumas seu mandato.
dicas práticas para isso:
 Conhecer os marcos regula-
 Mais importante que acom- tórios é obrigação legislativa
panhar a produção quan- e virtude cidadã. O legislador
titativa de leis – ou mesmo deve conhecer a área para a
Orçamento público, legislativo e comunicação | Municípios: espaço de atuação participativa

qual legisla, o que seria uma comissão na câmara de


boa idéia também para os sua cidade.
conselhos municipais. Para
começar, um roteiro básico • Ter acesso ao Diário Ofi-
deve incluir: cial. Lembrando que sua
consulta deve ser facili-
• Ter acesso à Lei Orgânica tada pelo município. Por
do Município. isso, é importante que
Fique atento: o número de
leis apresentadas ou apro- exemplares estejam dis-
vadas por um vereador não • Obter o regimento interno poníveis nas bibliotecas
pode ser indicador de quali- da câmara da cidade. públicas e demais órgão da
dade de seu mandato administração municipal.
• Averiguar quais comis-
60 sões técnicas estão pre- • Possuir exemplar da Cons-
vistas no regimento e em tituição Federal.
funcionamento.
 Algumas perguntas po-
• Saber sobre a existência dem ajudar:
de comissões municipais
ou Frente Parlamentar • Qual o orçamento da câ-
de Defesa dos Direitos da mara de minha cidade?
Criança e do Adolescente,
bem como quem as com- • Quanto ganha um vereador
põe e a periodicidade das e com que benefícios conta?
reuniões.
• Existe em meu município
• Investigar se existe uma uma Ouvidoria da Câmara
Comissão de Legislação Municipal? E do Execu-
Participativa ou de Parti- tivo? E uma Ouvidoria do
cipação Popular. Não ha- Eleitor? Quantos Proje-
vendo, pro­cure um parla- tos de Iniciativa Popular
mentar de sua confiança (PIPs) a câmara de mi-
e sugira que ele propo- nha cidade já aprovou?
nha a constituição dessa Ou rejeitou?
Orçamento público, legislativo e comunicação | Mídia e Democracia

1
[ Comunicação ]
62

Mídia e Democracia
Você já deve ter ouvido falar que vivemos hoje na chamada “Sociedade
da Informação”. Mas já parou para pensar o porquê? Nunca em outro
momento da história foi possível acessar tantas informações, tão ra-
pidamente e através de meios, veículos e formas tão diversas. Alguns
especialistas arriscam afirmar que 80% do que sabemos é resultado do
que vemos e/ou ouvimos na mídia, tamanha é a influência dos meios de
comunicação em nossas vidas.

A mídia muda a forma como nos relacionamos com as pessoas e


como aprendemos. No livro Mídia, Educação e Cidadania, de Pedri-
nho A. Guareschi e Osvaldo Biz, há um dado que chama atenção: no
Ocidente, os adultos ficam de 25 a 30 horas por semana na frente da
tevê. Sem contar o tempo gasto com jornais, revistas, internet e ou-
tros meios de comunicação.

Diante dessa verdadeira explosão de informações, o maior desafio é,


sem dúvida, saber lidar com os diferentes conteúdos informativos com
os quais temos contato diariamente – afinal, a informação por si só, não
basta. É preciso saber transformá-la em conhecimento, para que este
passe a agregar algum tipo de valor para as pessoas.

É nesse contexto que se insere a discussão apontada no título desta


seção: a co-relação entre o papel da mídia e a consolidação da demo-
cracia. Nos últimos séculos, a atuação dos meios de comunicação pas-
sou a estar fortemente conectada aos processos de efetivação dos mo-
delos democráticos de governo. Exatamente por isso, a existência de
meios livres de informação e expressão tornou-se, na história recente,
um dos principais fundamentos para a existência das democracias.

Não é a toa que muitos estudiosos do assunto passaram a defender a


idéia de que, mais do que um ator relevante das democracias, a mídia re-
presentaria um quarto poder – em uma referência aos três poderes da Re-
pública: Executivo, Legislativo e Judiciário. Tamanha relevância atribuída
Mídia e Democracia | Orçamento público, legislativo e comunicação

aos meios de comunicação estaria relacionada, em e ex-presidente do Brasil, Er-


grande parte, à potencial função social que eles de- nesto Geisel, afirmar, em pleno
sempenham hoje nas sociedades. Dentre esses pos- regime militar, que o país vivia
síveis papéis exercidos, poderíamos destacar o seu uma “democracia relativa”.
dever de levar informações contextualizadas para a
população, a capacidade de influenciar a definição De maneira geral, duas defini-
dos temas prioritários da agenda pública e a atuação Especialistas ções de democracia tornaram-se
no monitoramento e no controle social dos atores afirmam que mais freqüentes no debate entre
políticos. Mas será que a mídia, de maneira geral, 80% do que os teóricos do tema. A primeira
tem cumprido adequadamente esses papéis? sabemos é delas – a de democracia delibera-
resultado do tiva – defende que em um regime
Para começarmos a apontar possíveis respos- que vemos democrático deve haver o “livre
tas para tal questão, torna-se necessário enten- e/ou ouvimos debate entre iguais”, ou seja, a
der o atual cenário dos meios de comunicação existência de uma esfera pública 63
na mídia
no Brasil, conhecendo, ainda que brevemente, na qual os indivíduos que repre-
os mecanismos públicos de que dispomos hoje sentem os diferentes grupos so-
para regular suas atividades. Da mesma forma, ciais possam estabelecer, de ma-
esta publicação procura refletir sobre os princi- neira igualitária, uma comunica-
pais elementos que formam uma atuação social- ção face-a-face na hora de tomar
mente responsável da mídia – especificamente, as decisões políticas necessárias.
de uma de suas manifestações mais relevantes: a
Imprensa (ou Jornalismo). Por fim, procuramos Já a outra definição – a de de-
trazer uma série de orientações que podem servir mocracia participativa – preocu-
como referência para qualificar o diálogo entre pa-se centralmente com a forma-
os atores sociais e os profissionais da imprensa. ção de pessoas capazes de atuar
São sugestões e dicas práticas a serem levadas em diretamente na definição das
conta no momento de se estabelecer uma relação questões coletivas. Num contexto
com os jornalistas e veículos de comunicação. ideal, cidadãos e cidadãs comuns
passariam a assumir as rédeas da
vida pública, tomando parte dire-
Conceitos e teorias sobre tamente na tomada de decisões e
também na execução das políticas
Democracia públicas. Segundo os defenso-
Já afirmamos ao longo desta publicação que não res dessa forma de democracia,
existe apenas um único modelo de governo demo- tal participação é viabilizada por
crático. Desde o surgimento da idéia de democracia, meio da implementação de me-
na Grécia Antiga – onde todos os cidadãos livres (ho- canismos democráticos na vida
mens adultos e não-estrangeiros) podiam expressar cotidiana, como associações de
suas opiniões na Ágora (praça pública) e participar bairro, escolas e conselhos deli-
das decisões coletivas –, até os dias de hoje, vários berativos. Como afirma a cien-
adjetivos foram utilizados para qualificar esse regi- tista política inglesa, Carole Pa-
me político: democracias liberais, representativas, teman, uma das teóricas desse
social democracia são alguns exemplos. modelo, “quanto mais o cidadão
participa, mais ele se torna capa-
Na história recente, podemos dizer que foi citado para fazê-lo”.
apenas após a Segunda Guerra Mundial que o
conceito de Democracia alcançou um certo grau Para compreendermos me-
de consenso ao redor do mundo. No entanto, lhor essas questões, vale a pena
nesse período, diferentes experiências e modelos voltarmos, em parte, às discus-
passaram a serem denominadas como democra- sões sobre os conceitos de De-
cias – sendo que muitas vezes, inclusive, tais ex- mocracia. Mesmo que em alguns
periências iam contra os preceitos mais comuns a momentos estejamos retomando
essa forma de governo. Exemplo disso é o general questões já abordadas anterior-
Orçamento público, legislativo e comunicação | Mídia e Democracia

mente, isso será importante para ampliar o nível de informação da


podermos entender as conexões população não teria, portanto, no
entre tais conceitos e a atuação âmbito das reflexões desse teóri-
dos meios de comunicação nos co, relevância para a consolidação
dias de hoje. do regime democrático.

Visões Schumpeter diagnostica a apa-


Referências contemporâneas tia da população nos processos
para o debate A partir do século XX, os meios eleitorais, característica que se-
de comunicação tornaram-se gundo ele se traduziria, por exem-
Parte das reflexões sobre Demo- peças-chave no debate político plo, na falta de lembrança dos ci-
cracia e Comunicação, abordadas e democrático e, nesse contexto, dadãos em relação a quais políti-
nesta seção, foram baseadas na surgiram novas teorias e estu- cos receberam seus votos. Por essa
64 publicação Mídia e Políticas Públi- diosos preocupados em entender visão, portanto, a eleição teria um
cas de Comunicação, produzida
pela ANDI com o apoio da Fundação o papel que desempenhavam. caráter meramente ritual, já que
Ford. A íntegra do documento pode os eleitores não estão preocupa-
ser acessada na página eletrônica Mas no início desse processo, a dos com as questões públicas e em
www.andi.org.br/_pdfs/midia_ppc.pdf . percepção da centralidade da im- fazer uma escolha consciente.
prensa para a democracia ainda
não estava clara para a maior parte O pensador austríaco termina
dos pensadores que se dedicavam defendendo um modelo bastante
ao estudo desse sistema de go- restrito de democracia. Para ele,
verno. Na opinião do economista quanto mais interferência externa
austríaco Joseph Schumpeter, au- e participação popular, menos go-
tor que produziu uma ampla revi- vernabilidade. A democracia ser-
são das diferentes concepções de viria, então, como um instrumento
democracia, o povo teria uma su- para legitimar os governos, e não
posta incapacidade de se autogo- para que houvesse verdadeira-
vernar e também de acompanhar mente a soberania ou participação
sistematicamente a atuação dos popular – isto porque a atividade
governantes eleitos. A presença de do governo demandaria compe-
meios de comunicação capazes de tências próprias e exclusivas.

Da tradição oral à internet


Desde os primórdios da humanidade, a linguagem oral sempre foi o meio de comunicação responsável
por transmitir, de geração a geração, as histórias, costumes, tradições e valores. O membro mais velho do
grupo era muito respeitado, porque tinha mais conhecimento e informações. Porém, com sua morte, uma
parte da história daquele grupo ia embora.

A criação do alfabeto possibilitou que esses conteúdos pudessem ser “guardados” para sempre. Porém,
poucos eram os exemplares dos manuscritos, já que tinham que ser feitos um a um. Dando um salto no tem-
po, chegamos à metade do século XV, em que a descoberta da prensa, pelo alemão Gutemberg, possibilitou
a impressão de livros – como os conhecemos hoje – em larga escala. Essa invenção revolucionou o acesso, a
produção e a distribuição da informação, possibilitando uma maior socialização do conhecimento.

A partir do século XIX, com o fortalecimento da imprensa, a mídia já passa a ser observada mais siste-
maticamente como protagonista do processo democrático. O surgimento do rádio – que teve seu apogeu
nas décadas de 1940 e 1950 – e da televisão ampliaram o impacto da comunicação nas sociedades democrá-
ticas. O surgimento da internet contribuiu para ampliar ainda mais esse impacto, derrubando fronteiras e
modificando nossa noção de espaço, distância e tempo.
Mídia e Democracia | Orçamento público, legislativo e comunicação

Informação terística ainda distante de nossa


para todos realidade, visto que boa parte dos
A partir das análises de Schumpe- meios de comunicação de massa
ter surgem novas teorias, como as – e por conseqüência, as mensa-
do cientista político norte-ameri- gens que transmitem – ainda está
cano Robert Dahl. Ao contrário do concentrada nas mãos de poucos.
pensador austríaco, Dahl defende
a possibilidade dos cidadãos par- Por fim, vale a pena citar as Não perca
ticiparem das atividades políticas, reflexões de outro cientista po- de vista
assumindo o controle sobre seus lítico, o italiano Giovanni Sarto-
líderes, que, por sua vez, devem ri. Para ele, a competição entre Nas próximas páginas, vamos en-
prestar contas de seus atos. os diferentes atores do mercado tender porque a comunicação é um
de comunicação seria suficien- direito do cidadão; como funciona
Para o autor norte-america- te, por si só, para assegurar uma a regulação dos meios de comuni- 65
cação; as concessões públicas de
no – que nesse ponto concorda maior diversidade de opiniões emissoras de rádio e tevê; o relacio-
com Schumpeter – o processo no debate público. Sartori é um namento entre fontes e jornalistas;
inicial da vida democrática é a dos poucos estudiosos da demo- o papel social do jornalismo, entre
disputa eleitoral. Dahl, entre- cracia que aborda diretamente a outros aspectos.
tanto, aprofunda essa idéia, ao importância dos meios de comu-
afirmar que, para fazerem suas nicação na construção da opinião
escolhas, os cidadãos precisam pública, elemento fundamental
de um mínimo de informações nos processos democráticos.
sobre as forças políticas que es-
tão em disputa. Mais ainda! Ele Por outro lado, para o pensador
acredita que as informações e/ou italiano, a exposição muito pro-
o acesso a elas deve ser garantido longada a tais meios poderia gerar
a todos, sem distinção. É nesse um impacto negativo na vida de-
contexto que entrariam os meios mocrática. Na sua opinião, a tevê,
de comunicação. Na visão desse em especial, pode favorecer a re-
autor, entretanto, todos teriam dução da capacidade de compre-
o mesmo nível de acesso às in- ensão e discussão da sociedade em
formações – ou seja, Dahl ainda relação a conceitos mais abstratos
não fala do contexto real que ob- – como os relacionados à própria
servamos hoje, mas sim de um Democracia, por exemplo.
cenário ideal, no qual qualquer
cidadão ou cidadã pode acessar
todo tipo de informação pública. A mídia no
Importância da contexto
pluralidade democrático
Contemporâneo de Robert Dahl, Independentemente da defini-
o economista norte-americano ção adotada para o conceito de
Antony Downs levanta algumas democracia, já deve estar claro o
questões com relação à influên- o papel central que os meios de
cia dos meios de comunicação de comunicação desempenham nos
massa no processo político. Ele sistemas democráticos. Tal rele-
sugere que para que um sistema de vância passou a ser reconhecida,
informações seja racional e abra a principalmente, a partir do movi-
possibilidade de acesso igualitário mento internacional de defesa dos
às informações, é necessário que direitos humanos, que estabelecia
os meios de comunicação de mas- a liberdade de expressão e a liber-
sa sejam veículos plurais e com dade de imprensa como direitos
conteúdos diversificados. Carac- fundamentais de todas as pessoas.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Mídia e Democracia

Vale ressaltar, contudo, que a dedicado à Comunicação Social


importância da opinião pública, (sobre a legislação brasileira, leia
da liberdade de expressão e, de texto na página 77).
maneira mais abrangente, das
comunicações, é tão antiga quan- Já no final do século XX, com
to a própria discussão acerca da o grande espaço que os meios de
democracia, ainda que em outros comunicação passaram a ocupar
Ranking tempos a mídia não contasse com nos diversos países, novos estu-
da liberdade a mesma relevância de hoje. Na dos começaram a apontar a re-
Antiguidade, por exemplo, o fi- lação entre mídia e democracia.
No levantamento de 2006 da Free- lósofo grego Platão, no clássico A Exemplo disso é o surgimento
dom House, que analisa o contexto República, já falava em “opinião de metodologias específicas
de 2005, o Brasil está na 85ª posi- pública”. E em 1644, o parlamen- que procuram analisar a rela-
66 ção, entre as nações consideradas tar inglês John Milton fez o pri- ção entre o nível de liberdade
“parcialmente livres” (atrás de paí-
ses como Chile, Costa Rica, Espanha
meiro discurso moderno acerca de imprensa das nações e o seu
e Portugal) da liberdade de imprensa. grau de desenvolvimento de-
mocrático. A título de ilustra-
Mas foi principalmente a ção, poderíamos citar o ranking
partir dos séculos XIX e XX criado pela ONG norte-ameri-
– com o fortalecimento da im- cana Freedom House, divulgado
prensa e, posteriormente, com anualmente em todo o mundo
o surgimento do rádio e da tevê (veja nota ao lado).
– que a defesa desses direitos
ganhou força. Documentos in- Ótica de direitos
ternacionais, como a Conven- Se lermos com atenção o artigo
ção Interamericana de Direitos 19 da Declaração Universal dos
Humanos e a Declaração Uni- Direitos Humanos, percebere-
versal dos Direitos Humanos, e mos a menção a dois direitos. O
nacionais, como a Constituição primeiro é o direito à informa-
Federal de 1988, passaram a de- ção, que significa ser bem in-
finir a liberdade de expressão formado e ter a possibilidade de
e a de imprensa como direitos buscar informação livremente e
básicos. No caso da Carta Magna em qualquer lugar. O segundo é
brasileira, além de haver essa o direito à comunicação, ou seja,
defesa, há um capítulo inteiro a garantia de que todos os indi-

Liberdade de expressão na letra da lei


Declaração Universal dos Direitos Humanos – artigo 19º
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão; este direito inclui a liberdade de, sem
interferências, ter opiniões e de procurar, receber e difundir informações e idéias por qualquer meios,
independentemente de fronteiras.

Convenção Interamericana de Direitos Humanos – artigo 13º


Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Este direito compreende a liberdade de
buscar, receber e difundir informações e idéias de toda natureza, sem consideração de fronteiras, já seja ver-
balmente ou por escrito, ou de forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua eleição.

Constituição Federal – artigo 5º


(...)IX – É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente-
mente de censura ou licença. (...)
Mídia e Democracia | Orçamento público, legislativo e comunicação

víduos possam expressar livre- uma sociedade democrática, a li-


mente suas idéias e opiniões. berdade de expressão não pode ser
entendida apenas como uma liber-
Quando falamos no direito a dade negativa, pela qual “ninguém
manifestar livremente idéias e opi- me proíbe de falar”. Ao contrário,
niões, podemos imaginar diferen- essa é uma liberdade que precisa
tes formas de exercê-lo: discursar ser associada ao direito positivo de
em praça pública – como faziam participação na esfera pública. Ou Fique
os gregos na Ágora –, fazer uma seja, diferente do que ocorre em por dentro
passeata, publicar um manifesto, regimes autoritários de governo –
escrever um artigo em um jornal como a ditadura militar vivida pelo A essa altura de nossas reflexões,
ou conceder uma entrevista a uma Brasil algumas décadas atrás–, no é importante que esteja clara uma
emissora de tevê são alguns dos qual torna-se necessário lutar pelo diferença fundamental: quando
exemplos que poderíamos citar. direito de se manifestar, em uma usamos a expressão “meios de co- 67
municação”, estamos nos referindo
democracia isso não basta. É preci- ao seu sentido mais amplo, ou seja,
Não resta dúvida, contudo, que so assegurar também que os indi- levando em conta mídias como o rá-
há uma clara diferença entre ex- víduos tenham condições – econô- dio, o cinema, a televisão, os jornais
pressar nossas idéias em um banco micas, sociais, políticas e técnicas impressos, a Internet, entre outros.
de praça e conceder uma entrevista – de serem produtores e difusores Entretanto, quando nos referimos à
Imprensa – ou ao Jornalismo – isso
no horário nobre da televisão. Mí- de suas próprias informações. envolve somente os espaços ou
dias como o rádio, a tevê e os jor- veículos noticiosos – radiofônicos,
nais impressos são inclusive deno- Controle televisivos, impressos ou de inter-
minadas meios de comunicação de democrático net –, responsáveis por produzir e
massa, exatamente por consegui- A partir dessa perspectiva, fe- divulgar notícias e informações re-
levantes para a sociedade.
rem abranger um grande volume nômenos como a concentração A principal diferença que precisa
de pessoas. Nos dias de hoje, com – nas mãos de poucos grupos ficar clara nesse contexo, portanto,
a existência de grandes grupos em- – da capacidade de difundir in- diz respeito aos tipos de conteú-
presariais de comunicação – mui- formações devem ser encarados do. A título de ilustração, podemos
tos deles de caráter multinacional como uma ameaça tão impor- apontar três categorias mais co-
muns de conteúdo midiático: de
– já é possível “falar”, simultanea- tante à liberdade de expressão entretenimento (filmes, novelas,
mente, para bilhões de pessoas. A quanto a censura governamen- desenho animado, revista em qua-
transmissão da Copa do Mundo de tal. No entanto, diferente do que drinhos, programas de humor, etc),
Futebol é um dos exemplos mais se observa em uma ditadura, na publicitários; e jornalísticos.
reconhecidos dessa abrangência. qual o controle tem um caráter
autoritário, as sociedades de-
Diante de tal contexto, o di- mocráticas passaram a consti-
reito humano à comunicação tuir mecanismos legítimos de
acaba por se tornar desigual, já regulação dos meios de comu-
que apenas um número limitado nicação, de forma a assegurar
de pessoas – no caso, aqueles que um equilíbirio no exercício da
detém a propriedade de meios de liberdade de expressão.
comunicação de massa – conse-
gue efetivamente manifestar as Dessa maneira, como define
suas idéias e opiniões de forma a ANDI no documento Mídia e
ampla perante a sociedade. Com Políticas Públicas de Comunica-
isso, um dos potenciais proble- ção, produzido em parceria com
mas enfrentados pelas demo- a Fundação Ford, “se um dos ob-
cracias passa a ser a ausência, jetivos do controle da proprie-
no debate público, de uma maior dade e do conteúdo dos meios de
pluralidade de vozes. comunicação é garantir que a sua
função primordial – a consolida-
Tendo em vista esses limites, ção do sistema democrático – se
fica mais fácil entender que, em dê da melhor forma imaginável,
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a regulação desses meios pode e tório democrático dos meios de Estado Proprietário
deve incluir instrumentos que comunicação, de modo a garan-  Disponibiliza à população
permitam uma maior pluralida- tir essa necessária diversidade espaços como bibliotecas e
de de vozes”. de vozes no debate público. Em centros de documentação.
síntese, poderíamos apontar três
Existem várias maneiras de diferentes formas do Estado as-  É o gestor do espectro ele-
se construir um sistema regula- sumir essa função: tromagnético, considera-

Diferentes regulações
68 Até o final do século XIX só havia preocupação com re- nicação. No entanto, seu proprietário estará sujeito
gulação da mídia impressa, o único meio de comunica- a outras legislações nacionais – Lei de Imprensa,
ção de massa que existia na época. A partir do século XX, Código Penal, Estatuto da Criança e do Adolescen-
porém, com o surgimento do rádio e, mais tarde da tele- te, entre outras – que definem regras para questões
visão, uma nova questão entra na pauta das discussões: como, por exemplo, uso da imagem, danos morais e
o uso do espectro eletromagnético. É através dele que as exposição pública de processos judiciais (veja mais
rádios e tevês operam, fazendo uso de suas ondas. sobre legislação no Brasil na página 77).

Mas, no início das restransmissões, não havia re- Já em relação aos veículos de radiodifusão (ca-
gulação, o que acabava gerando interferências nas fre- nais de tevê ou estações de rádio), além de terem
qüências, por causa do uso concomitante das ondas de cumprir tais legislações, é necessária ainda uma
dos rádios por militares, empresas privadas e rádio- concessão pública – uma autorização expedida pelo
amadores. Essa situação passou então a ser uma grande Congresso Nacional – para que possam operar.
preocupação dos governos. Além disso, não podemos
esquecer que o espectro eletromagnético é um recurso Os meios de comunicação eletrônicos, portanto,
público e finito, no qual podem operar apenas um nú- fazem parte do que chamamos de serviço público,
mero limitado de agentes – o que exige uma ordenação. categoria na qual estão também os serviços de forne-
cimento de água, de energia elétrica e de telefonia,
Para resolver o problema, os países começaram a por exemplo. Quando o serviço de telefonia não está
adotar diferentes modelos de concessão do espectro, sendo realizado de forma eficiente, o governo pode
aprimorando-os ao longo dos anos, acompanhando intervir para que ele seja regularizado. Da mesma
o próprio desenvolvimento tecnológico dos meios de forma deveria ocorrer com as emissoras de rádio e
comunicação. Na França, por exemplo, as concessões tevê. Quando não estivessem cumprindo seu papel
passaram a ser uma atribuição do próprio governo. Na de educar, entreter com qualidade e ética, além de
Inglaterra, um órgão público independente – a BBC – informar e disseminar a cultura - aspectos explici-
foi criado para gerenciar o espectro eletromagnético. tados pela legislação brasileira do setor -, deveriam
perder o direito à concessão, que para rádio é de 10
O Canadá optou por um sistema híbrido, no qual anos e, para tevê, 15 anos. Para que isso aconteça,
o espectro é dividido entre governo e setor privado. é preciso que dois quintos do Congresso Nacional
E, nos EUA, a opção foi pelo trusteeship, modelo pelo aprovem essa decisão. Apesar de prever um prazo
qual as empresas recebem concessões públicas do relativamente longo para as concessões, na prática
Estado, que apenas coordena o órgão regulador res- as renovações no Brasil são automáticas e não estão
ponsável por conceder as freqüências. vinculadas a uma avaliação do trabalho da emissora.

Experiência brasileira Vale destacar o que diz o jornalista Eugênio


No caso do Brasil, conforme estabelece nossa Cons- Bucci, atual presidente da Radiobrás: “O cidadão
tituição, qualquer cidadão pode ter um jornal ou re- é o dono das freqüências exploradas pelas em-
vista, não sendo preciso uma autorização do governo. presas. A freqüência pela qual são transmitidas
Isso significa que o Estado não define nenhum tipo de as ondas eletromagnéticas pertence ao povo e, em
controle sobre quem cria esse tipo de veículo de comu- nome dele, é concedida à empresa privada.”
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do internacionalmente um cimento de normas democráticas


bem público a ser adminis- – ainda hoje é freqüentemente
trado (veja quadro da página associado à censura no Brasil.
ao lado). Muitas vezes, para que fique claro
o sentido da palavra, costuma-se
 Possui emissoras de rádio e associar a ela o adjetivo “demo-
televisão, diretamente ex- crática”, para se deixar claro que
ploradas por órgãos estatais o objetivo de determinada políti- Fatores
específicos (veja quadro da ca regulatória não é o estabeleci- de risco
próxima página). mento de uma prática de censura
dos meios de comunicação. De acordo com o pesquisador e es-
Estado Promotor pecialista em Sociedade da Infor-
 Formula e implementa as polí- Regulação de infra- mação, Séan Ó Siochrú – fundador
ticas, os planos e as estratégias estrutura da CRIS (Communication Rights in
the Information Society) –, existem
69
públicas para o desenvolvimen- Um dos campos estratégicos no alguns fatores que podem colocar
to do setor de comunicações. processo regulatório dos meios em risco o pleno exercício do Direito
de comunicação diz respeito ao à Comunicação. Entre eles:
 Além disso, faz investimentos controle de sua propriedade e • A concentração da propriedade
na infra-estrutura e concede aos limites e responsabilidades da mídia.
• O interesse único na produção
incentivos e subvenções. impostos aos indivíduos e em- do lucro, via publicidade.
presas que atuam nesse setor. • A propriedade intelectual que
Estado Regulador Não é por acaso que o proces- fecha o acesso ao conhecimen-
 Fixa regras de instalação e so de construção de modelos de to e a sua democratização.
regulação nessa área sempre foi • As perspectivas neoliberais de
operação de infra-estruturas desenvolvimento das teleco-
e serviços, com o intuito de foco de disputa política entre in- municações e da Internet, que
que sejam eliminados os de- teresses públicos e privados. reforçam a exclusão digital.
sequilíbrios e as incertezas
prejudiciais aos investimen- Ao contrário do que o nome
tos e à atuação empresarial, sugere, a infra-estrutura aqui
assim como à ação das orga- mencionada não diz respeito a
nizações públicas. um tema exclusivamente técnico
ou tecnológico – envolvendo o
Nesse ponto, vale esclarecer suporte físico ou o equipamento
um equívoco que muitas vezes para que os conteúdos dos meios Não perca
ocorre quando está em debate o de comunicação sejam veicula-
controle das atividades da mídia. dos. Este debate têm implicações de vista
Diferente do que ocorria no perí- que também devem ser focaliza-
odo da ditadura, quando o gover- das sob o prisma da inclusão e Para melhor entendermos os pro-
no exercia a censura sobre aquilo da exclusão social. Afinal, não é cessos regulatórios, é necessário
estudá-los a partir de dois objetivos
que os meios de comunicação vei- possível pensar a comunicação principais, especialmente no caso do
culavam, no Estado democrático – o acesso a ela e sua promoção rádio e da tevê: a regulação de infra-
a palavra controle não é sinônimo – sem levar em conta que ela é estrutura e a regulação de conteúdo.
de censura. É recorrente a confu- um direito de todos. Nas próximas páginas passaremos a
são entre os dois termos, apesar abordar brevemente alguns dos me-
canismos regulatórios que podem
do Dicionário Houaiss da Língua O controle da atividade da ser utilizados para se atingir cada
Portuguesa, por exemplo, definir mídia envolve um cenário mar- um desses objetivos.
a palavra “controle” como sinô- cado por fortes interesses de
nimo de “regulação” – não por mercado, o que acaba favore-
outro motivo, geralmente fala-se cendo, em muitas situações, a
em “controle social”, “controle prevalência da busca por audi-
constitucional”, “controle demo- ência (e pelos lucros) em detri-
crático”. Até mesmo o termo “re- mento da promoção do direito à
gulação” – associado ao estabele- comunicação. É nesse contexto
Orçamento público, legislativo e comunicação | Mídia e Democracia

que a atuação do Estado ganha  Limites e controle da propriedade


A Constituição de 1988 esta- uma grande relevância. das empresas do setor – a comu-
belece a complementaridade nicação é hoje um grande ne-
dos sistemas público, priva- Para o doutor em Direito pela gócio e abrange um mercado
do e estatal de radiodifusão, Universidade de São Paulo, Ale- internacional. Um dos riscos
favorecendo a diversidade xandre Faraco, as regulação de mais evidentes nesse cenário
de atores nesse setor infra-estrutura no setor de comu- – o que pode ser observado
nicações não deve perder de vista inclusive no caso brasilei-
questões como o pluralismo e o ro, como discutiremos mais
desenvolvimento nacional. Nesse a frente – é a concentração
sentido, ele propõe que os seguin- da propriedade nas mãos de
tes aspectos sejam considerados: poucos grupos empresariais.

70

Sistemas complementares

Com o objetivo de estabelecer um cenário de-  Público-alvo: todos os segmentos


mocrático no campo da comunicação e permitir da população
que haja uma diversidade de atores nesse setor,  Financiamento: prioritariamente estatal,
a Constituição de 1988 estabelece a complemen- mas combinado com doações e apoios cul-
taridade dos sistemas público, privado e estatal turais. O financiamento estatal se daria por
de radiodifusão. Isso significa que o Brasil optou meio de fundos públicos e por vinculações fi-
por incentivar a coexistência desses três modelos,
xas de alíquotas de impostos, o que garantiria
possibilitando que haja uma diversidade de emis-
a independência desses veículos em relação
soras no âmbito da radiodifusão.
ao governo
O que ocorre na prática, porém, é uma grande  Exemplo: o modelo clássico de mídia públi-
concentração de meios no sistema privado e a quase ca apontado pelos especialistas é a emissora
inexistência do sistema público. Isso é ruim para a britânica BBC. No Brasil, poderíamos apon-
sociedade brasileira, porque se há grande volume de tar como exemplo desse tipo de mídia as tevês
concessões nas mãos da iniciativa privada, a comu- educativas – como a TV Cultura, de São Paulo,
nicação sofre maiores impactos dos interesses co- e a TVE do Rio de Janeiro –, as tevês e rádios
merciais. No entanto, o fato de contarmos com um
comunitárias, as tevês universitárias.
forte sistema privado não deve ser visto como algo
negativo. A questão central, nesse caso, é garantir a
existência de mecanismos democráticos de regula- Mídia Estatal
 Gestão: três poderes, no âmbito das três esfe-
ção – que assegurem que a mídia comercial respeite
as diretrizes legais. ras da Federação
 Conteúdo: interesse público e ações de cada
Por outro lado, é preciso equilibrar melhor a
um dos poderes
proporção do espaço ocupado por cada um dos três
sistemas e outorgar parte das concessões a organi-  Público-alvo: todos os segmentos da população
zações da sociedade civil, garantindo mecanismos
de financiamento. Vale apontar, nesse contexto, a  Financiamento: estatal
diferença entre o sistema estatal e o sistema públi-
co de comunicação.  Exemplo: Radiobrás, TV Justiça, TV Câmara,
TV Senado e Rádio Nacional são referências
Mídia pública de mídia estatal no Brasil.
 Gestão: sociedade civil organizada
 Conteúdo: plural e diverso, com finalidade Fonte: Direito de Comunicação na Sociedade da In-
pública formação (www.crisbrasil.org.br)
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A existência de monopólios e parentes – trata-se de um


(apenas um grupo toma conta problema histórico do setor
do mercado, sem concorrên- de comunicações no Brasil,
cia) ou oligopólio (há con- assim como de outros países,
corrência, mas poucos grupos que acaba transformando as
dominam o mercado) limita concessões públicas do siste-
a liberdade de expressão dos ma de radiodifusão em uma
diferentes atores sociais, ga- moeda de troca entre aliados Concentração
rantindo apenas a poucos o políticos. Isso, apesar de nos-
pleno exercício desse direito. sa legislação impedir que re-
presentantes políticos sejam De acordo com estudo realizado
 Definição de limites para evitar proprietários de emissoras de em 2002 pelo Instituto de Estu-
que um única grupo de comuni- tevê e de rádio. Nesse tipo de dos e Pesquisas em Comunicação
cação tenha abrangência sobre cenário, como não é novidade (EPCOM), no Brasil seis redes priva- 71
das de radiodifusão controlam, por
toda a audiência do país, em para quase ninguém, o uso po- meio de 138 grupos afiliados, ou-
um determinado setor – é o que lítico dos meios comunicação tros 668 veículos de comunicação.
acontece na Alemanha, por pode favorecer determinados Ou seja, grandes grupos empresa-
exemplo, onde as empresas grupos, criando uma situação riais são donos, ao mesmo tempo,
de radiodifusão (rádio e tevê) de desequilíbrio nos proces- de diferentes tipos de mídia. O que
é proibido em muitos países por ser
não podem atingir mais de sos democráticos, por exem- um perigo à pluralidade de vozes e,
30% da audiência. Lá, se uma plo, no caso das eleições. conseqüentemente, à democracia.
determinada empresa ultra-
passa esse limite fica impedi-  Incentivo à constituição de um
da de adquirir novas licenças amplo sistema público de comu-
na área de comunicação. nicação – cabe ao Congresso
Nacional hoje, no Brasil, con-
 Impedir a propriedade cruzada ceder o direito de instalação
entre companhias de radiodifu- rádios e tevê de caráter comu-
são e outros meios de comunica- nitário – ou seja, cuja abran-
ção – significa a propriedade, gência e audiência é restrita a
pelo mesmo grupo empresa- uma determinada comunidade
rial, de diferentes tipos de mí- – e educativas. Organizações
dia do setor de comunicações. sociais, associações de bairro
Por exemplo: tevê aberta, tevê e outros grupos organizados
por assinatura, rádio, revistas, podem solicitar esses tipos de
jornais e, mais recentemente, concessões. A ampliação desse
telefonia (fixa, celular e móvel, sistema público é, no entanto,
via satélite), provedores de in- uma antiga luta dos movimen-
ternet, transmissão de dados, tos dedicados à democratização
etc. No Brasil, ao contrário do da comunicação.
que ocorre em vários países,
é possível observar esse tipo Regulação de
de acumulação de proprie- conteúdo
dade por parte de alguns dos O acesso e o direito à informação,
principais conglomerados de como vimos, é uma das diretrizes
comunicações – muitos são fundamentais para a consolida-
donos de empresas de radio- ção da democracia. Nesse senti-
difusão (radio e televisão) e, do, qualquer política regulatória
ao mesmo tempo, de mídia dos meios de comunicação só
impressa (jornais e revistas). tem sentido se levar também em
consideração os impactos gera-
 Limite à propriedade de emis- dos na sociedade pelos diferen-
soras por parte de políticos tes conteúdos – filmes, novelas,
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Constituição documentários, entrevistas, pro- Atualmente, existem vários


gramas humorísticos, publicida- mecanismos, tanto no Brasil
Federal de etc – produzidos pela mídia. como em outros países, que per-
Controle, que como menciona- mitem ao Estado estabelecer um
Art. 54 - Os Deputados e Senadores mos anteriormente, não deve ser controle democrático dos con-
não poderão: confundido com censura. teúdos. A seguir passaremos a
I - desde a expedição do diploma:
a) Firmar ou manter contrato com descrever alguns dos principais
pessoa jurídica de direito público, Diferente do que ocorre na re- instrumentos existentes.
autarquia, empresa pública, socie- gulação de infra-estrutura, na qual
dade de economia mista ou empre- o Estado tem um papel preponde- Classificação indicativa
sa concessionária de serviço públi- rante, quando falamos de controle A classificação indicativa é uma
co, salvo quando o contrato obede-
cer a cláusulas uniformes. democrático do conteúdo entram política que tem como objetivo
(...) também em cena as próprias em- apontar quais conteúdos audio-
72 II – desde a posse: presas, as organizações da socie- visuais são apropriados ou ina-
a) ser proprietários, controladores dade civil e as universidades, entre propriados para crianças e ado-
ou diretores de empresa que goze outros atores. Essas diferentes atu- lescentes, de acordo com a sua
de favor decorrente de contrato
com pessoa jurídica de direito pú- ações têm especial relevância, na faixa etária. Todas as vezes que
blico, ou nela exercer função remu- medida em que um dos objetivos vamos ao cinema ou assistimos
nerada; centrais de se regular os conteúdos a um programa de televisão, ve-
O texto diz ainda que os mesmos da mídia é assegurar, entre outros mos a menção à qual faixa etária
poderão perder o cargo se infringi- aspectos, que os mesmos não este- aquela determinada produção
rem qualquer uma das proibições
estabelecidas no artigo anterior. jam violando os direitos humanos, não é recomendável – no início
especialmente de crianças e ado- dos programas é comum ler a
lescentes, e que a diversidade de frase: “Este programa é desa-
opiniões, culturas e realidades do conselhável para menores de 12
país esteja sendo retratada. anos”, por exemplo.

Ao contrário da lei
Em diversos momentos da história política brasileira, as concessões públicas de rádio e tevê serviram de
moeda de troca, em um claro exemplo de clientelismo. Pesquisa realizada pelo sociólogo Venício A. Lima
para o sítio Observatório da Imprensa levantou que em 2003, dos 51 membros da Comissão de Ciência,
Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados – responsável por fazer a análise dos
pedidos de outorga e renovação de concessões públicas de emissoras de radiodifusão – 16 eram sócios ou
diretores de 37 concessionárias.

E, na legislatura que se encerrou em 2006, pelo menos 51 deputados, dos 513, e 27 senadores, dos 81,
eram na época, sócios ou diretores de empresas concessionárias. Esse cenário – que em muito contraria as
determinações de nossa Constituição – nos ajuda a dimensionar a dificuldade em alterar algumas regras na
regulação dos meios de comunicação, a fim de torná-los mais democráticos.

Momento crítico
Na dissertação de mestrado A batalha invisível da Constituinte: interesses privados versus caráter público
da radiodifusão no Brasil, o jornalista Paulino Motter identificou que o governo José Sarney foi responsável
por 1.028 outorgas de concessões de rádio e tevê, de 1985 a 1988, quando as concessões deixam de ser uma
atribuição do Executivo e passam para a alçada do Congresso Nacional.

Outro dado que comprova o uso político das concessões é que nos últimos nove meses da Constituinte
foram distribuídas 539, ou 52%, das concessões. Um detalhe, porém, chama atenção: dos 91 constituintes
que receberam concessões de rádio e/ou tevê, 92,3% votaram a favor do presidencialismo e 90,1% a favor
do mandato de cinco anos, que fez com que Sarney ficasse um ano mais no poder.
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A Constituição Federal e o Es- claro ranço autoritário, de censura Fique


tatuto da Criança e do Adolescente e, logo, inconstitucional.
definem como responsabilidade
por dentro
do Poder Executivo o monitora- Regionalização
mento e a classificação das pro- O artigo 221 da Constituição Fede- No Brasil, um novo modelo de clas-
duções audiovisuais. Longe de sificação indicativa foi lançado em
ral estabelece a necessidade de re-
2006 pelo Ministério da Justiça. A
constituir-se como uma ameaça à gionalização da produção cultural, portaria 1.100 regulamenta o exercí-
liberdade de expressão, a classi- artística e jornalística, conforme cio da classificação de diversões pú-
ficação busca ser um aliado na ga- percentuais estabelecidos em lei. blicas, especialmente obras audio-
rantia do cumprimento do direito Essa foi uma das formas encon- visuais destinadas a cinema, vídeo,
à informação de qualidade, assim DVD, jogos eletrônicos, jogos de
tradas pelo Estado brasileiro para
interpretação (RPG) e congêneres. A
como na construção de uma socie- garantir que a diversidade cultural proposta é fruto de debates públicos
dade mais crítica e consciente. e as diferentes realidades do país com a participação de vários setores
estejam representadas nos meios da sociedade – como empresas, 73
Direito de resposta de comunicação. Contudo, obser- universidades, escolas, órgãos pú-
blicos e organizações da sociedade
Historicamente associado ao vando mais atentamente a pro-
civil organizada. Em 2007, o gover-
início do debate sobre a liberda- gramação oferecida pelas redes no federal divulgou outra portaria,
de de imprensa, o instrumento de rádio e tevê, podemos perceber passando a aplicar o novo sistema
do direito de resposta está presen- que o foco da produção ainda está, na classificação aos conteúdos de
te nas mais diversas legislações ao muito amplamente, centrado no tevê. Assim, as atrações são classifi-
cadas em livre ou não recomendado
redor do mundo. Há, basicamente, eixo Rio de Janeiro/São Paulo.
para menores de 10, 12, 14, 16 ou 18
duas categorias principais de di- anos; além do selo ER, destinado a
reito de resposta – anterior à vei- Em 1991, a deputada Jandira programas especialmente recomen-
culação de determinado conteúdo Feghali (PC do B/RJ), apresentou dados para crianças e adolescentes.
(ex ante) ou posterior (ex post), isto o Projeto de Lei nº 256/91 para
é, na seqüência da veiculação de regulamentar o inciso III do arti-
alguma afirmação/conteúdo que go constitucional que trata da re-
tenha ferido os direitos ou a re- gionalização da programação. Na
putação de alguém, por exemplo. proposta, a deputada sugere que
No caso do direito ex ante caberia, 30% da programação das emisso-
Para
principalmente, aos próprios jor- ras, veiculada entre 7h e 23h, de- saber mais
nalistas assegurar que no debate de verá ser composta por produções
um tema polêmico, seja garantida regionais, sendo 15% programas Para mais informações sobre classi-
a presença de opiniões divergente jornalísticos e 15% programas ficação indicativa, acesse a íntegra
nas reportagens – trata-se da regra que valorizem a cultura local. Em da publicação Classificação Indica-
básica do jornalismo: “sempre ou- tiva – Construindo a cidadania na
2004, passados 15 anos, o Proje- tela da tevê (Ministério da Justi-
vir o outro lado”. to de Lei foi aprovado na Câmara ça/ANDI/ Save The Children Suécia/
Já o direito de resposta poste- e encontra-se, desde outubro de Fundação Avina), disponível no site
rior à veiculação dos conteúdos é 2006, no Senado Federal, espe- da ANDI (www.andi.org.br):
uma medida que exige, geralmen- rando aprovação para virar lei.
te, a reclamação pela via judicial.
No caso do Brasil, a Constituição Direito de antena
de 1988 prevê o direito de resposta Mecanismo já implementado em
como pressuposto da liberdade de alguns países, o direito de antena
informação, abrangendo quais- tem como objetivo assegurar aos
quer veículos de comunicação diversos grupos sociais e políticos
social. A regulamentação desse – minorias, partidos e organizações
direito, contudo, ainda é feita pela da sociedade civil, por exemplo – a
Lei de Imprensa, que é de 1967, participação na programação das
fato que limita a plena utilização do emissoras de rádio e tevê. A partir
mecanismo. Isso porque essa lei desse recurso, as empresas seriam
foi sancionada durante o regime obrigadas a ceder um espaço de
militar e, por isso, apresenta um seus programas para a veiculação
Orçamento público, legislativo e comunicação | Mídia e Democracia

de produções realizadas por esses cidadãos e cidadãs. Na opinião como Suécia, Noruega e Bélgica a
diferentes atores sociais. do cientista político e professor propaganda de produtos infantis
da Universidade de Brasília, Luiz também é proibida, sob a justifi-
No Brasil, somente os partidos Felipe Miguel, esse é um setor cativa de que tais conteúdos con-
políticos têm efetivamente assegu- estratégico, que exige atenção, tribuem para incentivar o consu-
rado o direito de antena – o Horário sendo importante reconhecer mo precoce.
Eleitoral Gratuito é um exemplo –, que os efeitos da publicidade co-
pois são amparados pela legislação mercial sobre a sociedade, sobre Outro instrumento interes-
eleitoral. Esse espaço, entretanto, os padrões de comportamento e sante nessa área está relaciona-
muitas vezes é utilizado a serviço de sociabilidade e sobre a própria do à publicidade governamental.
candidaturas específicas, quando democracia são extremamen- Anualmente, os governos mu-
deveria servir para a apresentação te relevantes. nicipais, estaduais e federal in-
dos programas e propostas mais vestem um volume expressivo de
74 amplos dos partidos. O Brasil já reúne vários exem- recursos públicos com a veicula-
plos de controle dos conteúdos ção da publicidade oficial. É co-
Controle da publicidade publicitários, como acontece no mum nesses casos, no entanto,
A regulação da publicidade vei- caso das propagandas de cigarro, que os governos acabem optando
culada nos meios de comunica- que são proibidas no país, e de por veicular sua propaganda so-
ção é outro recurso importante bebidas com alto teor alcoólico, mente nos meios com os quais
de que os governos podem dis- que só podem ser exibidas en- tem uma relação politicamente
por para assegurar o direito de tre 21h e 6h. Em alguns países, amistosa. Nesse sentido, estabe-

A quem recorrer?

Combinados, a Constituição Federal, a Lei de Imprensa, a Lei da Ação Civil Pública e o Código de Defesa
do Consumidor são legislações que permitem – em termos jurídicos – aos cidadãos brasileiros proteger
os seus direitos perante a mídia, diz a procuradora da República Eugênia Fávero. Segundo ela, a essa lista
é possível acrescentar ainda o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que também trata da relação
infância/adolescência e mídia (veja mais informações sobre a legislação brasileira na página 77).

Estando, portanto, ancorada em leis, a quem a sociedade pode recorrer em situações de abusos da mí-
dia? Um dos órgãos mais atuantes no Brasil nessa área tem sido o Ministério Público, provocado em vários
momentos por setores da sociedade que se sentem desrespeitados pela maneira como a mídia veicula de-
terminados conteúdos.

Um caso exemplar foi o do movimento GLBTT (Gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e transgêneros)
que se sentia agredido com a representação de homossexuais em alguns programas humorísticos. Em
2005, o grupo recorreu ao MP contra o programa Tardes Quentes, do apresentadador João Kleber, veicula-
do na Rede TV.

Resultado? O programa saiu do ar e deu espaço a vários direitos de resposta que, na verdade, se trans-
formaram em um programa com título homônimo: Direito de Resposta. Produzido pela sociedade civil or-
ganizada por meio das entidades signatárias da ação, o programa foi veiculado durante várias semanas no
final de 2006 e representou uma importante conquistas no processo de regulação da mídia no país.

Defesa da sociedade
Não somente o Ministério Público pode agir nos casos de abusos da mídia. Outra maneira de pressio-
nar os meios de comunicação por qualidade é por meio de campanhas. Uma delas é a campanha “Quem
financia a baixaria, é contra a cidadania”, desenvolvida pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara
dos Deputados em parceria com organizações da sociedade civil. A iniciativa tem como objetivo pro-
mover o respeito aos direitos humanos e à dignidade do cidadão nos programas de televisão (para mais
informações: www.eticanatv.org.br).
Mídia e Democracia | Orçamento público, legislativo e comunicação

lecer mecanismos éticos de uso antiga em outras nações. O pri-


das verbas publicitárias, assegu- meiro jornal a contar com um
rando um processo democrático ombudsman foi o Yomiuri Shim-
na distribuição das mesmas re- bum, de Tóquio, em 1951. Já no
presenta um relevante mecanis- início da década de 1980 foi cria-
mo de regulação. da a Organization of News Om-
budsmen (Organização de Om-
E a imprensa budsmen de Imprensa), com o O que diz
com isso? objetivo de reunir profissionais a Constituição
Em função dos princípios da li- de vários países e compartilhar
berdade de expressão e, princi- experiências. Hoje, integram o Art. 5º - (...)
palmente, de imprensa, os conte- grupo mais de 60 desses jorna- V - é assegurado o direito de respos-
údos jornalísticos não estão sujei- listas, de todo o mundo. ta, proporcional ao agravo, além da
tos a políticas regulatórias como a indenização por dano material, mo- 75
ral ou à imagem; (...)
Classificação Indicativa. O que não A sociedade
impede que a imprensa não esteja como observatório
também sujeita aos processos de Nos últimos anos, tem crescido
controle social de sua atividade. no Brasil o número de organiza-
Além do direito de resposta, ci- ções e núcleos de estudo criados
tado anteriormente, e legislações com o objetivo de monitorar a
como a Lei de Imprensa, há outros atuação da imprensa e fomen-
recursos que podem ser utilizados tar o aprimoramento constan-
com esse objetivo. Entre eles, po- te da qualidade das mensagens
demos citar os observatórios de que a imprensa produz e veicu-
mídia e o de ombudsmsn. la. Um dos exemplos desse tipo
de iniciativa é o trabalho de-
Ombudsman senvolvido pela própria Agên- Não perca
Também conhecido como ouvi- cia de Notícias dos Direitos da de vista
dor – apesar de no jornalismo Infância – ANDI.
sua função ir além de estabelecer No próximo capítulo, vamos discutir
um canal de comunicação com Outras experiências nesse de forma mais aprofundada o papel
a sociedade –, esse profissio- sentido também vêm conseguin- social da imprensa e as principais
nal ainda é raro nas empresas do promover um debate crítico características do trabalho dos pro-
de comunicação brasileiras. Sua sobre atuação dos meios noticio- fissionais da notícia, bem como as
sos. Entre essas iniciativas, uma possíveis contribuições que esses
principal função é receber re- atores podem oferecer para a pro-
clamações e críticas do público das mais antigas é o Observató- moção dos direitos e do desenvol-
e analisar criticamente o mate- rio da Imprensa, que hoje possui vimento no país.
rial veiculado, expondo publi- um programa televisivo (veicu-
camente suas impressões. No lado na Rede Pública de TV) e um
caso de jornais, revistas e sites, programa de rádio (com trans-
isso geralmente é feito por meio missão em diversas emissoras) e
de uma coluna; no caso do rádio também um site (www.observato-
ou tevê, em um programa espe- riodaimprensa.com.br).
cífico. No Brasil, alguns dos ve-
ículos que possuem a figura do Assim como o Observatório
ombudsman são os jornais Folha da Imprensa, vale a pena citar
de S. Paulo (que foi pioneira no projetos como o SOS Impren-
país na criação desse serviço) e O sa e o Núcleo de Estudos so-
Povo, de Fortaleza, além de emis- bre Mídia e Política (NEMP),
soras como a TV Cultura. da Universidade de Brasília; o
Midiativa e a RioMídia; o Canal
Apesar de relativamente nova da Imprensa, entre outras ini-
em nosso país, a função é bem ciativas, que também discutem
Orçamento público, legislativo e comunicação | Mídia e Democracia

Criança e mídia sob a ótica do ECA

 Art. 17 – O direito ao respeito consiste na inviola- envolvido em ato infracional, ou qualquer ilus-
bilidade da integridade física, psíquica e moral da tração que lhe diga respeito ou se refira a atos
criança e do adolescente, abrangendo a preservação que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua
da imagem, da identidade, da autonomia, dos valo- identificarão, direta ou indiretamente.
res, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
§ 2° - Se o fato for praticado por órgão de im-
 Art. 71 – A criança e o adolescente têm direito a prensa ou emissora de rádio ou televisão, além
informação, cultura, lazer, esportes, diversões, es- da pena prevista neste artigo, a autoridade ju-
petáculos e produtos e serviços que respeitem sua diciária poderá determinar a apreensão da
76 condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. publicação ou a suspensão da programação da
emissora até por dois dias, bem como da publi-
 Art. 74 – O poder público, através do órgão compe-
cação do periódico até por dois números.
tente, regulará as diversões e espetáculos públicos,
informando sobre a natureza deles, as faixas etárias  Art. 253 – Anunciar peças teatrais, filmes
a que não se recomendem, locais e horários em que ou quaisquer representações ou espetácu-
sua apresentação se mostre inadequada. los, sem indicar os limites de idade a que
não se recomendem:
Parágrafo único – Os responsáveis pelas diver-
sões e espetáculos públicos deverão afixar, em Pena - multa de três a vinte salários de refe-
lugar visível e de fácil acesso, à entrada do local rência, duplicada em caso de reincidência,
de exibição, informação destacada sobre a natu- aplicável, separadamente, à casa de espetáculo
reza do espetáculo e a faixa etária especificada no e aos órgãos de divulgação ou publicidade.
certificado de classificação.
 Art. 254 – Transmitir, através de rádio ou te-
 Art. 75 – Toda criança ou adolescente terá acesso levisão, espetáculo em horário diverso do au-
às diversões e espetáculos públicos classificados torizado ou sem aviso de sua classificação:
como adequados à sua faixa etária.
Pena – multa de vinte a cem salários de referên-
Parágrafo único – As crianças menores de dez cia; duplicada em caso de reincidência a autori-
anos somente poderão ingressar e permanecer dade judiciária poderá determinar a suspensão
nos locais de apresentação ou exibição quando da programação da emissora por até dois dias.
acompanhadas dos pais ou responsável.
 Art. 255 – Exibir filme, trailer, peça, amostra
 Art. 76 – As emissoras de rádio e televisão somen- ou congênere classificado pelo órgão compe-
te exibirão, no horário recomendado para o público
tente como inadequado às crianças ou adoles-
infanto-juvenil, programas com finalidades edu-
centes admitidos ao espetáculo:
cativas, artísticas, culturais e informativas.
Pena – multa de vinte a cem salários de re-
Parágrafo único – Nenhum espetáculo será apre-
ferência; na reincidência, a autoridade po-
sentado ou anunciado sem aviso de sua classificação,
derá determinar a suspensão do espetáculo
antes de sua transmissão, apresentação ou exibição.
ou o fechamento do estabelecimento por até
 Art. 247 - Divulgar, total ou parcialmente, sem au- quinze dias.
torização devida, por qualquer meio de comunica-
ção, nome, ato ou documento de procedimento po-  Art. 256 – Vender ou locar a criança ou ado-
licial, administrativo ou judicial relativo a criança lescente fita de programação em vídeo, em
ou adolescente a que se atribua ato infracional. desacordo com a classificação atribuída pelo
órgão competente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência,
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. Pena – multa de três a vinte salários de refe-
rência; em caso de reincidência, a autoridade
§ 1° - Incorre na mesma pena quem exibe, total ou judiciária poderá determinar o fechamento do
parcialmente, fotografia de criança ou adolescente estabelecimento por até quinze dias.
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de forma crítica os conteúdos do com que o Estado brasileiro


da mídia. não implemente efetivamente
processos de democratização da
No final de 2005, foi criada a comunicação no país.
Rede Nacional de Observatórios
da Imprensa - RENOI, reunindo Atraso da lei
cerca de 18 instituições de 10 es- Diante desse quadro, apesar de
tados brasileiros, responsáveis já contar com um sistema de co-
Mais
hoje por 19 projetos. municação bem desenvolvido informações
– a recente discussão acerca da
implementação do sistema de • ANDI – www.andi.org.br
Entre a lei televisão digital é um exemplo • Observatório da Imprensa –

e a realidade disso –, o país ainda está mui-


to atrasado em relação a outras
www.observatoriodaimprensa.
com.br 77
Traçado esse breve cenário das • SOS Imprensa – www.unb.br/
diferentes políticas de regula- nações quando o assunto são os fac/sos
marcos legais. • Núcleo de Estudos sobre Mídia
ção dos meios de comunicação,
e Política – www.unb.br/ceam/
é importante refletirmos sobre o nemp
contexto brasileiro. Mesmo que Apesar da primeira trans- • Midiativa – www.midiativa.org.br
já tenhamos apontado algumas missão de rádio no Brasil ter • RioMídia – www.multirio.rj.gov.
das diretrizes legais existentes ocorrido em 1922, as legislações br/riomidia
iniciais do setor só foram cria- • Canal da Imprensa – www.ca-
no país nessa área, vale a pena
naldaimprensa.com.br
destacar as dificuldades que o das a partir do primeiro governo
país ainda enfrenta no âmbito de Getúlio Vargas (decretos nº
das legislações. 20.047, de 1931 e nº 21.111, de
1932). Com a expansão do rádio e
Por incrível que pareça, no
surgimento da tevê, foi promul- Para
gada em 1962 a Lei 4.117, conhe-
setor de telecomunicações e de
cida como o Código Brasileiro de
saber mais
imprensa, o Brasil ainda con-
Telecomunicações, aprovado sob
vive com leis da época da dita- Para conhecer um pouco mais so-
muita pressão de políticos e em-
dura. Não bastasse isso, o país bre a democratização dos meios
ainda não conta com uma legis- presários do setor. de comunicação e concessões pú-
lação consolidada que integre as blicas, acesse os seguintes endere-
diretrizes regulatórias dos di- Depois vieram ainda o decre- ços eletrônicos:
to-lei nº 236, de 1967, estabe- • Ministério da Comunicações
ferentes meios de comunicação www.mc.gov.br
de massa. Da mesma forma, a lecendo frágeis limites à posse
• Agência Nacional de Telecomu-
Constituição Federal, que trou- de emissoras de radiodifusão; o nicações – Anatel
xe avanços na regulação des- capítulo da Constituição de 1988 www.anatel.gov.br
se setor ao dedicar um de seus dedicado à comunicação; a Lei do • Fórum Nacional pela Democrati-
Cabo; o decreto 2108, de 1996, zação dos Meios de Comunica-
capítulos à comunicação, ainda ção (FNDC) www.fndc.org.br
tem vários artigos que não fo- com algumas inovações na área • Coletivo Brasil de Comunicação
ram regulamentados – notada- de radiodifusão comercial; a Social – Intervozes
mente, aqueles que se referem Lei Geral de Telecomunicações, www.intervozes.org.br
que não trata da radiodifusão; a • Campanha CRIS (Communication
à democratização dos meios
Rights in the Information Society
de comunicação, às conces- Lei das Rádios Comunitárias e,
– Direito de Comunicação na So-
sões públicas e à propriedade desde junho de 2006, o decreto ciedade da Informação)
dos meios. nº 5820 que trata da TV Digital. www.crisbrasil.org.br
Enfim, um emaranhado de leis e • Instituto de Estudos e Projetos
decretos, muitos dos quais sem em Comunicação – INDECS
As pressões dos próprios
www.indecs.org.br
meios de comunicação para que regulamentação, o que acaba
essa situação continue como está criando uma confusão regulató-
– já que isso favorece em grande ria no setor e a possibilidade de
parte as empresas – acaba fazen- uso político das concessões.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Mídia e Democracia

É importante ter em foco tam- a Anatel dividem diferentes atri- um marco regulador capaz de-
bém que, no Brasil, conforme buições no tocante à regulação consolidar a legislação existen-
apontado pela publicação Mídia e das comunicações”. te. Ele critica, porém, a idéia
Políticas Públicas de Comunica- de dar um aspecto meramente
ção, “hoje, pelo menos o Minis- Para o especialista Murilo técnico a esse debate, como ge-
tério das Comunicações, o Minis- César Ramos, professor da Uni- ralmente acontece, e afirma que
tério da Justiça, o Ministério da versidade de Brasília (UnB), é essa é uma discussão também de
Cultura,o Congresso Nacional e necessário que se promulgue cunho político.

O que diz a Constituição brasileira


78  Art. 220 – A manifestação do pensamento, a  Art. 221 – A produção e a programação das emis-
criação, a expressão e a informação, sob qual- soras de rádio e televisão atenderão aos seguin-
quer forma, processo ou veículo não sofrerão tes princípios:
qualquer restrição, observado o disposto nesta
Constituição. I) Preferência a finalidades educativas, artís-
ticas, culturais e informativas;
§ 1º – Nenhuma lei conterá dispositivo que possa
constituir embaraço à plena liberdade de infor- II) Promoção da cultura nacional e regional e
mação jornalística em qualquer veículo de co- estímulo à produção independente que objetive
municação social, observado o disposto no art. sua divulgação;
5º, IV, V, X, XIII e XIV.
III) Regionalização da produção cultural, ar-
§ 2º – É vedada toda e qualquer censura de natu- tística e jornalística, conforme percentuais
reza política, ideológica e artística. estabelecidos em lei;
§ 3º – Compete à lei federal: I – regular as di- IV) Respeito aos valores éticos e sociais da
versões e espetáculos públicos, cabendo ao pessoa e da família.
Poder Público informar sobre a natureza de-
les, as faixas etárias a que não se recomen-  Art. 223 – Compete ao Poder Executivo outor-
dem, locais e horários em que sua apresenta- gar e renovar concessão, permissão e autoriza-
ção se mostre inadequada; II - estabelecer os ção para o serviço de radiodifusão sonora e de
meios legais que garantam à pessoa e à famí- sons e imagens, observado o princípio da com-
lia a possibilidade de se defenderem de pro- plementaridade dos sistemas privado, público
gramas ou programações de rádio e televisão e estatal (...).
que contrariem o disposto no art. 221, bem
§ 2º – A não renovação da concessão ou per-
como da propaganda de produtos, práticas e
missão dependerá de aprovação de, no míni-
serviços que possam ser nocivos à saúde e ao
meio ambiente. mo, dois quintos do Congresso Nacional, em
votação nominal.
§ 4º – A propaganda comercial de tabaco, bebidas
alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias § 3º – O ato de outorga ou renovação somente
estará sujeita a restrições legais, nos termos do produzirá efeitos legais após deliberação do
inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sem- Congresso Nacional, na forma dos parágrafos
pre que necessário, advertência sobre os malefí- anteriores.
cios decorrentes de seu uso.
§ 4º – O cancelamento da concessão ou per-
§ 5º – Os meios de comunicação social não po- missão, antes de vencido o prazo, depende de
dem, direta ou indiretamente, ser objeto de mo- decisão judicial.
nopólio ou oligopólio.
§ 5º – O prazo da concessão ou permissão será
§ 6º – A publicação de veículo impresso de co- de dez anos para as emissoras de rádio e de
municação independe de licença de autoridade. quinze para as de televisão.
Jornalismo e agenda social | Orçamento público, legislativo e comunicação

2
[ Comunicação ]

Jornalismo e 79

agenda social
Nos primeiros capítulos dessa seção tratamos de mídia de forma mais
ampla, nos referindo à relação entre mídia e democracia, ao direito à
comunicação, à regulação democrática dos meios de comunicação, à
distância entre as leis e a realidade, entre outros aspectos. Neste capí-
tulo vamos nos concentrar em uma área da mídia ligada à informação e
uma das mais importantes para a sociedade: a imprensa.

Já vimos que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são fun-


damentais numa democracia, mas só recentemente a sociedade passou a ter
essa consciência e a oportunidade de conhecer seus direitos em relação à
comunicação. A invenção da prensa, em 1450, por Gutenberg, revolucionou
a maneira das pessoas se relacionarem umas com as outras, suas formas de
aprender, expressarem seus pontos de vista e compartilharem informações
e conhecimento. Com o surgimento das primeiras publicações impressas,
tornou-se possível que conteúdos que antes ficavam restritos a poucos privi-
legiados fossem socializados, simultaneamente, para um grande número de
pessoas. Era o início da era da comunicação de massa.

As novas perspectivas criadas pelo invento de Guternberg rapida-


mente chamaram a atenção dos donos do poder, que logo passaram a
estabelecer mecanismos de controle para a produção e distribuição das
informações. No século XVI, por exemplo, o rei Henrique VIII, da In-
glaterra, determinou que os livros só poderiam ser publicados no país
caso as editoras tivessem uma licença do governo britânico. O exemplo
histórico nos ajuda a perceber como, desde seus primórdios, os meios
de comunicação passaram a ocupar um lugar central na sociedade.

Com o surgimento dos primeiros jornais regulares de notícias, já no sé-


culo XVII, ficou evidente o forte impacto que esses veículos tinham na socie-
dade – notícias publicadas em jornais e boletins logo se tornavam tema de
conversa nas praças, bares e espaços públicos em geral. Isso revelava um dos
grandes poderes que a imprensa passou a deter em suas mãos: a capacidade
de influenciar nos assuntos discutidos pelos diferentes atores sociais.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Jornalismo e agenda social

Por O papel  Colocar temas relevantes na


agenda pública de debates,
exemplo da imprensa de forma plural – ou seja, a
Dando um salto no tempo e che- mídia não tem o poder de nos
Quando a imprensa divulga o pro- gando aos dias de hoje, não resta dizer “como” devemos pen-
cesso eleitoral para escolha dos dúvida que a imprensa continua sar, mas define sobre “o que”
conselheiros tutelares de um mu-
nicípio, orientando a população
a ocupar um espaço central nas devemos pensar.
sobre como participar – seja como sociedades democráticas. Se
candidato ou como eleitor –, ela focarmos nossas reflexões nos  Exercer controle social sobre os
está exercendo sua tarefa de levar impactos que os meios de comu- representantes do governo e as
informações contextualizadas para nicação geram (ou podem gerar) políticas públicas, assim como
a sociedade.
no âmbito das políticas públicas sobre os demais atores sociais.
– foco de nosso interesse – po-
80 deríamos apontar três caracte- Qualidade das
rísticas estratégicas: informações
Uma das importantes contri-
 Prover a sociedade com infor- buições que a imprensa pode
mação confiável e contextua- oferecer ao processo de con-
lizada – de forma a empoderar solidação das sociedades de-
cidadãos e cidadãs, que assim mocráticas está relacionado à
podem melhor conhecer seus divulgação de informações que,
direitos e passar a exigi-los. historicamente, sempre estive-

Mundo político
Não demorou muito para que a capacidade da imprensa de influenciar diretamente os diversos contextos sociais
fosse percebida e apropriada pelos atores do mundo político. Hoje em dia, não seria absurdo dizer que é impossível
exercer a política sem recorrer aos meios de comunicação. Não é recente o uso que os representantes políticos das
mais diferentes correntes ideológicas fazem da imprensa no momento de falar para seus representados.

Para entendermos a dimensão que os meios de comunicação de massa passaram a ter para os atores polí-
ticos, podemos citar cinco aspectos, apontados no documento Mídia e Políticas Públicas de Comunicação, que
explicam essa relevância:

 A mídia é a principal provedora de informações para que os cidadãos se situem no mundo social – é por
meio dela que um grande número de pessoas se informa sobre a atuação de seus candidatos e define o seu
voto, por exemplo.

 A mídia é a principal difusora dos discursos dos candidatos à liderança política – para falar com o maior número
de eleitores possível, uma das principais estratégias dos políticos é recorrer aos meios de comunicação.

 Em conjunto, os dois primeiros aspectos geram um terceiro: o fato de que boa parte da ação política se di-
rige à mídia – os políticos de hoje se valem de estratégias para garantir uma cobertura positiva da imprensa
em relação ao seu trabalho e, com isso, influenciar seus possíveis eleitores.

 Os meios desempenham um papel significativo nas trocas comunicativas no seio da própria elite política
– muitas vezes, o conflito e os diálogos entre políticos são travados propositalmente por meio da mídia,
com o objetivo quase sempre de ampliar a repercussão das diferentes posições.

 Por fim, a mídia, ao mesmo tempo em que interfere no processo de formulação da agenda pública debatida no dia-
a-dia, realiza a fiscalização (ou deveria realizar) dos atores do cenário político (função de “cão de guarda”).
Jornalismo e agenda social | Orçamento público, legislativo e comunicação

ram sob controle de um redu- jornalistas dificilmente conse- Por


zido número de privilegiados. guirão receber atenção da so-
Nesse sentido, os profissionais ciedade e, conseqüentemente,
exemplo
do jornalismo tem uma enorme dos decisores públicos. É a cha-
responsabilidade social: levar mada Teoria do Agendamen- É freqüente observarmos no Brasil
para todos os cidadãos e cidadãs a constante retomada de uma dis-
to (ou na expressão em inglês,
cussão que acontece desde a apro-
informações contextualizadas agenda-setting). vação do Estatuto da Criança e do
sobre as ações governamentais Adolescente: a redução da maio-
e sobre outras questões de inte- Essa talvez seja a característi- ridade penal. Muitos dos casos de
resse coletivo. ca da mídia mais comumente re- violência praticada por adolescen-
tes, quando recebem destaque na
conhecida pelas pessoas. Não é imprensa, acabam gerando, em
Muitas vezes, somente por novidade para ninguém quando meio à comoção pelo crime co-
meio da cobertura da impren- alguém diz que “o que não está na metido, a volta do debate sobre a
sa a população pode ter acesso a mídia não é importante”. Apesar idade penal. Como conseqüência, 81
informações sobre serviços de geralmente o assunto ganha for-
de conter um certo exagero, tal ça nos espaços políticos – como o
relevância pública, sobre os di- expressão é uma tradução popu- Congresso Nacional, por exemplo.
ferentes aspectos de um mesmo lar para o que dizem os estudio- Esse é um bom exemplo da capa-
tema, sobre direitos que possuem sos da teoria do agendamento. cidade de agendamento dos meios
e precisam ser buscados, entre de comunicação.
outros enfoques. Isso também é Reconhecer e entender tal
válido para outras esferas além da característica da imprensa é
governamental, como as ligadas um passo importante para que
ao direito de consumidor e à rela- os movimentos e organizações
ção entre indivíduos e empresas,
sociais pensem nos jornalistas
por exemplo.
como aliados estratégicos e não Jornalistas
como adversários. Estabelecer comprometidos
Dessa forma, quando a im-
um diálogo ético e construtivo
prensa publica matérias con-
com esses profissionais pode “Não estamos pedindo que os jor-
textualizadas, com um enfo-
contribuir para aumentar a vi- nalistas transformem-se em ativis-
que plural, abrindo espaço tas e comecem a acenar bandeiras,
sibilidade de temas e causas so-
para diferentes atores sociais mas eles não podem ser apenas
e trazendo orientações a seus ciais que normalmente recebem observadores passivos da miséria
leitores, ouvintes ou telespec- pouca atenção da sociedade. e da escassez a seu redor. Serão o
comprometimento e o profissiona-
tadores sobre um determinado
Vale destacar, no entanto, que lismo de bons jornalistas que asse-
assunto, pode contribuir dire- gurarão uma cobertura inteligente e
tamente para fortalecer a busca a presença de um assunto nas
aprofundada do desenvolvimento”.
das pessoas por seus direitos páginas de jornal, nos progra-
como cidadãs. mas de rádio ou na tela da tevê Kunda Dixit, editor-chefe do Ne-
não representa a única condição pali Times Mídia and Good Gover-
para que ele seja levado em con- nance (Unesco)
Agendamento
Outro papel relevante dos veí- sideração pelos governos e pelos
culos de imprensa diz respeito parlamentos. O trabalho de in-
à sua capacidade de influenciar cidência política, por exemplo,
a construção da agenda pública. também pode favorecer esse
Em outras palavras, isso signifi- processo. Da mesma forma, é ne-
ca dizer que os temas abordados cessário considerar que questões
pela mídia, via de regra, serão que afetam muito diretamente a
os temas priorizados pelos go- vida das pessoas – como saúde e
vernos – e pelos atores sociais e educação – sempre serão foco de
políticos de maneira geral – no atenção de governantes e parla-
momento de definir suas linhas mentares, independentemente
de atuação. Por outro lado, os de estarem ou não tão presentes
assuntos “esquecidos” pelos na imprensa.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Jornalismo e agenda social

Relevância Cão de guarda em que a qualidade do trabalho


jornalístico é questionada.
da imprensa Ao mesmo tempo em que in-
fluencia a construção da agenda
pública, a imprensa pode exer- Mas a quem cabe garantir um
“Entre um governo sem imprensa jornalismo de qualidade? Em
cer outra importante função:
e uma imprensa sem governo, não uma primeira resposta, muitos
tenho a menor dúvida em escolher fiscalizar a atuação do Estado e
a segunda alternativa”. da Administração Pública. Para diriam que às empresas de co-
diversos estudiosos da comuni- municação e a seus profissio-
Thomas Jefferson – um dos fundado- cação, a liberdade de imprensa nais. Isso sem dúvida é verdade,
res da democracia estadunidense. mas não apenas. Como uma ins-
assegura aos profissionais da
notícia uma voz independente tituição central para as demo-
e a capacidade de monitorar as cracias, o trabalho da imprensa
instituições públicas. exige a contribuição de diferen-
82 tes atores sociais, senão de toda a
Esse papel dos meios de co- sociedade. Por isso, mais do que
Por municação foi chamado pelos criticar, é necessário que cada
exemplo especialistas de “cão de guarda” um dos segmentos envolvidos
(ou watchdog, na expressão em exerça seu papel na qualificação
inglês). O termo indica o poten- do jornalismo.
No processo de formulação e exe-
cução das políticas e do orçamento
cial da mídia em alertar a socie-
público, a intervenção da imprensa dade sobre equívocos, e também No campo social, o fortaleci-
pode contribuir, entre outras possi- acertos, dos governos e de outras mento do bom jornalismo – ca-
bilidades, para que temas e vozes instituições públicas. paz de contribuir para a cidada-
historicamente relegadas ao segun- nia e para o desenvolvimento do
do plano – como mulheres, jovens
e indígenas – possam ser incluídas.
Nesse sentido, o acompa- país – exige, principalmente,
Os veículos têm a capacidade, por nhamento, não apenas do lança- um aprimoramento do diálogo
exemplo, de investigar casos de mento oficial de projetos, mas de entre gestores públicos, espe-
corrupção, revelando os impactos sua continuidade, da idoneidade cialistas, representantes dos
decorrentes dos recursos públicos em sua execução e de seus resul- movimentos sociais e os comu-
terem sido desviados – e o que
mudaria para a população caso re-
tados é – ou deveria ser – uma nicadores. Mais do que que-
almente fossem investidos em polí- das responsabilidades centrais rer converter esses profissio-
ticas sociais. dos jornalistas. nais em militantes das causas
que defendemos ou em meros
Garantias de um “instrumentos utilitários” para
jornalismo de transmissão das informações
qualidade que nos interessam, o relacio-
Não perca Apesar de toda a relevância que namento entre atores sociais e
tem nas sociedades democrá- jornalistas exige a construção
de vista ticas, os meios de comunicação de um diálogo ético e qualifica-
são também alvo de críticas e re- do. Afinal, todos temos respon-
No próximo capítulo, iremos abor- clamações de cidadãos e cidadãs sabilidades a cumprir. A seguir
dar algumas orientações e dicas im- procuramos apontar, de forma
insatisfeitos com sua atuação,
portantes no momento de planejar
nossas estratégias de comunicação geralmente em casos relaciona- sintética, os papéis de diferen-
e de mobilização dos profissionais dos aos conteúdos da tevê, como tes segmentos sociais:
da imprensa. vimos no capítulo anterior. A
imprensa, apesar de contar com Estado
uma maior credibilidade, muitas • Formular e implementar um
vezes também é um dos segmen- legislações consistentes para
tos da comunicação que tem sua regulação dos meios de co-
atuação criticada – casos de de- municação, tendo em vista a
núncias infundadas, ataques po- garantia da liberdade de ex-
líticos ou informações equivo- pressão e de imprensa e a de-
cadas são exemplos de situações finição de limites e responsa-
Jornalismo e agenda social | Orçamento público, legislativo e comunicação

bilidades para a atuação dos pessoal quanto pela forma-


diversos agentes. ção acadêmica.
 Assumir efetivamente um
 Ter ética nos investimentos re-
alizados em publicidade estatal. compromisso profissional e
ético na cobertura jornalística.
 Investir no fortalecimento
do sistema público
 Garantir em suas reporta- Foco
gens uma pluralidade de fon-
de comunicação.
tes de informação, de forma
na realidade
a fortalecer uma cobertura
 Garantir o pleno acesso à in- “Enquanto houver uma criança fora
mais contextualizada.
formação pública da escola, um jovem sem acesso à
qualificação profissional, um meni-
 Fomentar nas redações a práti-
Grupos de Comunicação no carregando uma enxada no lu- 83
ca do jornalismo investigativo. gar de um lápis para ajudar a famí-
 Assegurar condições de traba-
lia a comer, será papel da imprensa
lho justas para os jornalistas.  Investir permanentemente mostrar essa realidade e perguntar
em sua própria capacitação. se é isso o que queremos para nós.
 Apoiar e reconhecer os jorna- A resposta caberá a cada cidadão.
listas que cobrem temas sociais Mas a obrigação de contar essas
Entidades de classe e insti- histórias é nossa, jornalistas.”
e ligados ao desenvolvimento. tuições de aprimoramento
Luciana Constantino, Jornalista Amiga
profissional (Sindicatos,
da Criança, Folha de S. Paulo (Brasil)
 Estimular a prática do jorna- Associações, Federações,
lismo investigativo. Institutos, etc)
 Manter ativa a mobilização
 Oferecer oportunidades de pelos direitos trabalhistas.
qualificação profissional.
 Fiscalizar as empresas e incen-
 Garantir que a realidade lo- tivá-las a assegurar condições
cal também esteja em foco de trabalho que viabilizem um
no noticiário. jornalismo de qualidade.

 Assegurar o “direito  Possibilitar a constante capa-


de resposta”. citação dos jornalistas, ofere-
cendo oportunidades e pres-
 Instituir recursos como om- sionando as empresas a fazê-lo.
budsman, conselhos de lei-
tores, códigos de ética, entre Universidades
outros mecanismos de moni-  Incluir no currículo de gradu-
toramento do trabalho e ga- ação e pós-graduação em Co-
rantia da qualidade. municação e Jornalismo temas
sociais e do desenvolvimento.
 Implementar políticas de res-
ponsabilidade social corpora-  Promover estudos e pesquisas
tiva que também envolvam os sobre a interface entre Jorna-
departamentos de jornalismo. lismo e temáticas de cunho
social e de desenvolvimento.
 Atuar com transparência nas
relações com grupos políticos Sistemas de responsabiliza-
e/ou econômicos. ção da mídia (observatórios
de imprensa e outros)
Jornalistas  Monitorar regularmente o
 Ter consciência dos limites conteúdo editorial das em-
impostos tanto pela formação presas de comunicação.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Jornalismo e agenda social

Imprensa e desenvolvimento

Da mesma forma que mantém uma relação direta Infância e Adolescência


com os mecanismos que contribuem para a con- Quando observamos o debate sobre mídia e de-
solidação da democracia, a imprensa também de- senvolvimento a partir de um de nossos campos
sempenha um papel central quando estão em de- de interesse – os direitos de crianças e adoles-
bate as políticas de desenvolvimento de um país. Ao centes –, um exemplo chama a atenção: a contri-
observarmos o trabalho jornalístico a partir desta
buição oferecida pela imprensa brasileira a essa
perspectiva, fica claro porque seu impacto nas so-
agenda, a partir dos anos 1990. Desde a aprovação
ciedades contemporâneas vem sendo estudado,
cada vez mais, por especialistas de um novo campo do Estatuto da Criança e do Adolescente, a ativi-
84 dade jornalística passou a ocupar um papel cen-
de conhecimento, chamado de “comunicação para o
desenvolvimento”. tral tanto na disseminação dos princípios estabe-
lecidos pela nova legislação quanto na discussão
sobre os progressos e deficiências das políticas
Trata-se de um conceito abrangente, no qual
públicas direcionadas a essa população.
estão abrigadas as mais diversas manifestações co-
municacionais, quando buscam incidir em aspectos
sociais, culturais, econômicos e de sustentabilidade Essa constatação não significa que a cobertu-
ambiental, para citar alguns exemplos. Nesse sen- ra jornalística sobre infância e adolescência não
tido, pode-se afirmar que os níveis de democrati- continue apresentando limites ou equívocos.
zação e de liberdade de expressão e de imprensa de Mas o fato é que o interesse da imprensa sobre
uma nação são também fatores determinantes para a temática cresceu vertiginosamente – e com
seu processo de desenvolvimento. repercussões muito positivas. O registro deste
processo vem sendo feito, ano a ano, pelas me-
É o que afirma, por exemplo, o ex-presiden- todologias de monitoramento e análise de mídia
te do Banco Mundial, James D. Wolfensohn: “Uma
desenvolvidas pela ANDI – Agência de Notícias
imprensa livre não é um luxo. Ela está no núcleo do
desenvolvimento eqüitativo. Os meios podem expor dos Direitos da Infância.
a corrupção. Podem se manter vigilantes em relação
às políticas públicas, lançando luz sobre as ações go- Ao longo de 2004, por exemplo, 45 diários
vernamentais. E permitem às pessoas exprimir suas brasileiros acompanhados pela Agência publi-
diferentes opiniões sobre governança e reformas, caram 131.617 textos que abordavam central-
além de contribuir na construção dos consensos mente questões relativas ao público infanto-ju-
públicos necessários às mudanças”. venil. Dez anos antes (1996), haviam sido iden-
tificados somente 10.540 notícias, veiculadas
Não por outra razão, o indiano Amartya Sen, por esses mesmos jornais. Essa ampliação de
Prêmio Nobel de Economia e um dos formuladores mais de 1.000% no volume da cobertura sobre
do conceito de Desenvolvimento Humano, enfatiza: as questões prioritárias para os direitos das no-
“a liberdade de imprensa exige a nossa mais forte vas gerações é, por si só, um claro indicador de
defesa, entretanto a imprensa tem tanto obrigações que o assunto ganhou relevância na esfera pú-
quanto direitos. Na verdade, a liberdade de impren- blica. Mas vale destacar também avanços relati-
sa define ambos – um direito e um dever – e nós te-
vos ao foco temático: pautas da área de Educação
mos boas razões para lutar pelos dois”.
deixaram para trás a quinta posição, entre 20
Entre as funções que cabem à mídia, no âmbi- assuntos monitorados pela ANDI em 1996, para
to do desenvolvimento, vale relembrar aquelas que consolidar-se no topo da lista – colocação muito
abordamos anteriormente: produção de informa- mais adequada, convenhamos, no contexto de
ções contextualizadas no campo da cidadania; agen- um país que pretende enfrentar as desigualda-
damento dos temas sociais relevantes; e controle des sociais a partir de um modelo mais inclusivo
social das instituições públicas. de desenvolvimento.
Jornalismo e agenda social | Orçamento público, legislativo e comunicação

 Promover uma leitura crítica listas em relação aos temas e


da cobertura da imprensa. causas que defendem.

 Desenvolver metodologias  Constituir prêmios de jor-


capazes de fortalecer a cons- nalismo e outras estraté-
ciência do público, dos jor- gias de reconhecimento ao
nalistas e das empresas de bom jornalismo.
mídia em relação às questões Reconhecimento
centrais da agenda social. público
Sistema público e privado
de ensino básico
 Acompanharsistematicamen- No Brasil, diversas iniciativas buscam
 Integrar à grade curricular do
te os problemas estruturais reconhecer e estimular a produção
da mídia. ensino básico conteúdos/dis- de reportagens com foco no desen-
ciplinas relacionados à leitura volvimento social e humano. Meio 85
crítica dos meios de comuni- ambiente e educação, por exemplo,
Atores sociais (sociedade são temáticas de concursos como
civil, empresas, agências in- cação (educação para a mídia, o Prêmio Docol Ministério do Meio
ternacionais, especialistas) educomunicação, etc) Ambiente de Jornalismo e do Prêmio
 Ter transparência enquanto IGE de Jornalismo, desenvolvido pela
fonte de informação  Promover uma articulação Fundação Lemann.
Outro exemplo interessante é o diplo-
entre seus processos de en- ma Jornalista Amigo da Criança, conce-
 Ampliar e qualificar seu di- sino e extensão e o trabalho dido pela ANDI a profissionais de co-
álogo com os profissionais desenvolvido pelas organiza- municação com reconhecida atuação
da notícia ções da sociedade civil e por na cobertura qualificada de assuntos
relacionados ao desenvolvimento da
veículos de comunicação. infância e da juventude. Atualmente
 Atuar como um colaborador 326 profissionais de todo o Brasil são
para a produção de informa- diplomados – um reconhecimento ao
Cidadãos e cidadãs
ções qualificadas e não somen- exercício jornalístico que se referencia
 Formar e exercer uma leitura
te como relações públicas. nos princípios do Estatuto da Criança
crítica e consistente dos con- e do Adolescente.
 Ter pró-atividade em relação teúdos editoriais veiculados
aos espaços de opinião, pro- pelos meios de comunicação.
duzindo artigos e incentivan-
do outros atores a fazê-lo.  Manter uma constante intera-
ção com as redações, por meio
 Criar e oferecer oportunida- de cartas, e-mails, telefone-
des de qualificação aos jorna- mas e outros recursos.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Construindo um diálogo com a imprensa

3
[ Comunicação ]

86
Construindo um
diálogo com a imprensa
Ter visibilidade na imprensa é um dos caminhos para alcançar legiti-
midade perante a sociedade, é existir, ter voz e fortalecer a possibilidade
de atrair novos parceiros. Mais do que isso: é contribuir com informações
qualificadas para que a imprensa possa abordar de forma adequada os as-
suntos que impactam a sociedade como um todo, denunciando as questões
que afetam a realidade social e também apontando soluções para os pro-
Não perca blemas do País.
de vista
Instituições públicas, privadas e movimentos sociais já perceberam a
importância de fazer uma aproximação estratégica em relação aos veícu-
O entendimento sobre os conceitos
e características do trabalho desses
los de comunicação, fortalecendo o papel da sociedade civil como fonte de
profissionais pode contribuir dire- informação e ampliando sua influência sobre outros setores da sociedade.
tamente para que nossa incidência Por isso, muitos desses grupos vêm buscando, cada vez mais, compreender
sobre o Orçamento Público e sobre o os mecanismos de funcionamento da imprensa.
Legislativo seja potencializada e ga-
nhe maior repercussão na sociedade.
Como instituição que tem uma grande responsabilidade social e o dever
de colocar o interesse público em primeiro plano, a imprensa pode ser uma
parceira de grande relevância nas ações de incidência política e controles
social das políticas públicas. Para isso, além de conhecer mais de perto os
processos que envolvem a produção jornalística, é necessário também for-
mar uma visão crítica sobre o trabalho dos jornalistas, fomentando a partir
daí o diálogo e a colaboração com esses profissionais.

Um fator que não podemos perder de vista, entretanto, é que, por trás
da cobertura realizada por jornais, rádios, tevês e sites, existem muitas ve-
zes interesses legítimos (jornalísticos, comerciais, políticos, etc) das pró-
prias empresas de comunicação – tal questão precisa ser reconhecida e le-
vada em conta no momento de construirmos uma relação de parceria com
a imprensa. Da mesma forma, é preciso lembrar que a matéria-prima do
jornalismo é a notícia e é nelas que o trabalho dos jornalistas está focado
– nesse sentido, esses profissionais não devem ser vistos como meros ins-
trumentos para divulgação das nossas informações.
Construindo um diálogo com a imprensa | Orçamento público, legislativo e comunicação

Isso não impede, contudo, que bilização da imprensa. Da mesma Mídia


os assuntos que digam respeito à forma, vale lembrar que estabele-
atuação dos conselhos e ao contro- cer uma comunicação com a socie-
e conselhos
le social do orçamento e das políti- dade não depende apenas da par-
cas públicas, por exemplo, não se- ceria com a mídia. Há muitas si- Grande parte das orientações e su-
jam de interesse dos profissionais tuações, nas quais outros recursos gestões apontadas neste capítulo de
nossa publicação foram extraídas do
da notícia. Pelo contrário, para os de comunicação podem ser mais documento Mídia e Conselhos – um
jornalistas será certamente in- interessantes. É o que passaremos guia para encurtar a distância entre
teressante contar com o apoio de a tratar nas próximas páginas. Conselhos de Direitos, Conselhos Tu-
fontes de informação qualificadas telares e a sociedade, realizado pela
em temas como orçamento pú- Plano de ANDI e pelo Conselho Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente
blico, direitos humanos, políticas Comunicação: início (Conanda). O guia pode ser acessa-
sociais, infância e adolescência, do diálogo do em sua íntegra no endereço ele-
entre outros. E é aí que os conse- Uma importante estratégia para trônico www.oficinadeimagens.org. 87
lheiros e representantes dos mo- a construção de uma relação ética br, no link downloads.
vimentos sociais têm um relevante e profissional com a imprensa é a
papel a desempenhar. elaboração de um plano de comu-
nicação, documento que contém
Mas quais as possíveis estra- as metas que a instituição deseja
tégias para promover uma apro- alcançar na área de comunicação.
ximação profissional junto aos O plano de comunicação deve ser
meios de comunicação? Quais os entendido como a definição dos O que é
instrumentos de que podemos objetivos, metas e estratégias que notícia?
dispor para fazer chegar aos jor- a organização, no caso os conse-
nalistas as informações que julga- lhos, vão utilizar para obter a vi- Para a imprensa considerar que um
mos relevantes? Quais as posturas sibilidade de suas ações junto à fato pode virar notícia, existem al-
e atitudes que conselheiros e lide- mídia e à sociedade. guns critérios relevantes:
ranças sociais devem assumir para • Proximidade do fato com o pú-
blico leitor.
que se tornem fontes de informa- Em síntese, no processo de • Número de pessoas atingidas.
ção qualificadas? construção do plano deve-se bus- • Desdobramentos do fato;
car responder as seguintes ques- • Novidade, atualidade e curiosi-
O primeiro passo é certamente tões: Por que comunicar? Para que dade, entre outros.
a construção de um diálogo siste- comunicar? Com quem comu-
mático. Mas há algumas orienta- nicar? O que comunicar? Como
ções que podem ser úteis quando comunicar? Quem comunica?
construímos estratégias de mo- Qual(is) o(s) público(s)-alvo?

Informações sempre à mão


Se você quer atender bem a imprensa, lembre- tes e sobre o trabalho da imprensa nessa área. Entre
se que os jornalistas estão sempre correndo contra elas, podemos citar: Unicef, ANDI, Oficina de Ima-
o tempo e precisam de informações objetivas e com gens, Unesco, Conanda, Secretarias Estaduais e Mu-
credibilidade, por isso, tenha sempre dados à mão: nicipais, entre outras. Vale a pena ficar atento aos sites
pesquisas, diagnósticos, estatísticas sobre crianças, e informativos dessas organizações.
adolescentes, programas e políticas públicas. Com
isso, além de você contribuir para uma matéria mais Outra dica interessante é manter sempre por
contextualizada, sua instituição se qualificará para perto exemplares da Constituição Federal, do ECA
ser uma boa fonte. e demais legislações relacionadas à crianças e ado-
lescentes e à área social. Elas poderão ser úteis
Algumas organizações fazem pesquisas com regu- ao contextualizarmos informações repassadas
laridade e possuem dados sobre crianças e adolescen- aos jornalistas.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Construindo um diálogo com a imprensa

Parcerias Como exemplos de estratégias de comunicação, como boletins


podemos apontar o lançamento (pequenos informativos, geral-
na comunicação de um relatório sobre o monito- mente em poucas páginas) que
ramento da execução orçamentá- podem ser distribuídos dentro da
Há ainda outras duas parcerias inte- ria do município ou a divulgação instituição, para que as informa-
ressantes que sua instituição pode- de informações sobre problemas ções sejam socializadas da melhor
rá fazer na área de comunicação:
• ONGs que trabalham na perspec- relacionados à implementação de maneira possível.
tiva da democratização da infor- uma política pública. Mas é im-
mação e da qualificação do tra- portante ter sempre em mente Por fim, não esquecer um
balho jornalístico – podem contri- quais são, no âmbito das infor- ponto importante. O plano de co-
buir no trabalho de mobilização mações que estamos querendo municação tem que levar em con-
social e também servirem como
ponte entre a sua instituição e a compartilhar com a imprensa, as ta o orçamento da instituição e o
imprensa. Muitas dessas insti- questões que podem configurar que ela pode fazer na área de co-
88 tuições possuem também canais uma notícia. municação a partir dele. Ou seja,
próprios de comunicação – como não adianta pensar em fazer uma
sites, revistas e periódicos. No plano de comunicação, é revista mensal, se o orçamento
• Poder público – Recorrer à estru- importante também prever se só dá para um jornal mural que
tura do poder público, por meio a instituição contará com um pode, inclusive, ser mais eficien-
das assessorias de comunicação profissional (jornalista) para o te, dependendo do público que a
das prefeituras e governos de atendimento à imprensa ou uma instituição quer atingir.
estado e federal, pode ser outra comissão para essa área. Afinal,
alternativa. Os conselhos podem
solicitar este suporte. Para isso, se você pensa em convocar a Vários vozes, um
é importante que os conselhei- imprensa, é preciso que alguém mesmo discurso
ros estejam bem alinhados em a receba bem e tenha informa- Antes de procurar a imprensa ou
relação às posições que suas ções qualificadas e organizadas fazer algum trabalho de comuni-
instituições vão tomar diante de para dar, no menor espaço de cação com a comunidade, os in-
fatos polêmicos e garantam que,
em ações de controle social, as tempo possível. tegrantes do conselho ou entida-
notícias que envolvam denúncias de devem discutir sobre os dados
e críticas ao próprio Poder Exe- Caso a instituição não tenha que possuem e entrarem num
cutivo também sejam tornadas condições financeiras para con- consenso sobre os posiciona-
públicas. Utilizar esta estrutura tratar um jornalista, pode valer- mentos a serem tomados. É pre-
pode ser uma boa saída para os
conselhos, que muitas vezes não se da parceria com as universi- ciso que haja uma posição oficial
têm condições de montar uma dades e procurar um estagiário de todos, um discurso comum
assessoria, mas, sem dúvida, é de jornalismo. Nesse caso, é que deve se sobrepor às opiniões
importante estar atento, em vir- necessário que a instituição de pessoais. Ou seja, apenas a posi-
tude dos interesses envolvidos. ensino superior também dispo- ção oficial da instituição deve ser
nibilize um professor para su- divulgada para a imprensa.
pervisionar o estágio.
A realização de reuniões perió-
Definida a pessoa que vai dicas é um importante recurso
ficar em contato com a mídia, na hora de afinar o discurso,
é interessante estabelecer reu- pensar na melhor maneira de
niões periódicas com todos os repassar informações à impren-
setores da instituição, para ve- sa e dirimir quaisquer dúvidas
rificar possibilidades de pauta em relação a qual posição deve
para a imprensa e analisar como ser adotada.
está a visibilidade da instituição
e o impacto que tem gerado na Nesses encontros, vale a pena dis-
cobertura da imprensa. cutir as matérias recentemente
veiculadas sobre o tema infân-
Também é interessante, quan- cia/adolescência e a atitude que a
do o conselho tiver condições para instituição tomará diante daquele
isso, criar mecanismos internos fato. Vale também realizar capa-
Construindo um diálogo com a imprensa | Orçamento público, legislativo e comunicação

citações sobre temas como ECA, cial, no entanto, é importante Para


controle social, participação, etc, lembrar que, como se trata de
e estabelecer um contato perió- ações que muitas vezes envol-
saber mais
dico com atores ligados à sua ins- vem contextos e disputas políti-
tituição, com o objetivo de trocar cas, a fonte precisa ter credibi- Ao final desse capítulo você poderá
informações. Outra estratégia lidade, informações confiáveis encontrar um glossário com termos
e expressões usadas pelos jornalis-
relevante é definir quem na ins- e respaldo político da sua insti- tas para facilitar o seu diálogo com
tituição será responsável por falar tuição para ser reconhecida. a imprensa. Algumas dessas ex-
sobre uma determinada questão. pressões podem ser diferentes, de-
Por exemplo: no caso do conselho  É fundamental uma maior pendendo da região, mas a maioria
de direitos, qual será o conselhei- aproximação das fontes com se aplica a todo o país.
ro responsável por tratar de temas os formadores de opinião. As
que envolvam a relação entre o fontes devem ser mais pró-
conselho e o Poder Legislativo? ativas, pautando a mídia, Momentos 89
conversando com jornalistas estratégicos
Além disso, também é possível pessoalmente e chamando a
discutir como a sua instituição atenção para questões como a Como o processo de elaboração
divulgará determinados dados violação dos direitos de crian- e aprovação do orçamento tem,
que possui e que outras fontes ças e adolescentes, para os su- como vimos, etapas bem definidas,
poderá indicar aos jornalistas cessos e falhas na execução de isso pode facilitar o planejamento
dos momentos estratégicos de mo-
sobre o assunto em questão, para políticas públicas, para a ca- bilização dos jornalistas e comuni-
que as matérias produzidas pela rência de recursos orçamen- cadores. Ou seja, como já sabemos
imprensa sejam mais qualificadas tários para uma determinada de antemão que até o dia 15 de de-
e os jornalistas percebam que ação governamental. zembro o Legislativo precisa votar
nessa área ninguém trabalha o Plano Plurianual (PPA), o plano
de comunicação pode prever um
sozinho, mas em rede.  Procure manter uma lista de contato mais sistemático com a im-
endereços atualizada com prensa durante esse período, com o
nomes de profissionais de objetivo de repercutir as propostas
Relacionamento comunicação responsáveis que estejamos defendendo no PPA.
Por isso, vale estar atento ao calen-
produtivo pela cobertura da área social
e de outras áreas de interesse
dário do processo orçamentário no
A qualidade da cobertura jorna- momento de construir o plano.
do conselho.
lística sobre um tema não é res-
ponsabilidade só dos profissio-  É fundamental aproveitar e
nais de imprensa. As fontes têm identificar espaços apropria-
um papel fundamental nesse pro- dos para a divulgação das suas
cesso. Elas devem ter consciência informações, como colunas nos
de que a informação é um bem jornais impressos e programas
público e que, portanto, precisa de rádio e tevê. Meios de comu-
ser compartilhada com a socieda- nicação comunitários, jornais
de. A seguir, algumas orientações de bairro e até mesmo progra-
para que esses atores possam me- mas de cunho policialesco não
lhor desempenhar sua missão. devem ser desprezados.
 Qualquer pessoa pode, a prin-
cípio, ser uma fonte para a re-  Evite preconceito contra veí-
alização de uma matéria jor- culos pequenos e profissionais
nalística. Ou seja, mesmo não desconhecidos. Além de, às
sendo um gerente, presidente, vezes, eles conseguirem che-
diretor ou acadêmico, um cida- gar melhor ao público que você
dão pode ser considerado fonte quer atingir, há uma rotativi-
qualificada para ser ouvido por dade grande entre os jornalis-
um jornalista. Nas ações de in- tas. Esse mesmo profissional
cidência política e controle so- desconhecido pode estar ou-
Orçamento público, legislativo e comunicação | Construindo um diálogo com a imprensa

Arquivo tro dia em um grande veículo de soluções e divulgar boas


e será bom para você ter tido experiências realizadas. Essa
de notícias uma relação profissional e de também é uma maneira efi-
respeito com ele. ciente de dar transparência
É sempre bom que o conselho te- às atividades dos conselhos.
nha todas as matérias publicadas  O conselheiro deve ter o cui-
sobre seu trabalho ou sobre assun-
tos de seu interesse, guardadas de dado de, ao ocupar espaço nos  Independentemente de conce-
forma organizada. Isso vai forman- meios de comunicação, falar der ou não entrevista, sugerir
do a memória da instituição. Você em nome da instituição, evi- fontes de outras áreas para dar
pode criar pastas com os recortes tando a excessiva personaliza- informações complementa-
das matérias, identificando o jornal ção, que prejudica a institucio- res e manter bancos de dados
em que foram publicadas, o dia e a
página. Isso também pode ser feito nalização do órgão. atualizados online, quando há
com a gravação de programas e re- recursos para tanto, pode enri-
90 portagens de televisão ou rádio.  A fonte deve estar apta a con- quecer – e muito – a cobertura.
textualizar dados de acordo A internet pode ser um canal
É possível separar a pasta por jor- com a realidade de seu estado muito útil, desde que o conse-
nal, por tema ou por ano. Estabele-
ça um critério e siga-o. Os jornalis- ou município e oferecer mate- lho consiga manter um site com
tas que trabalham a comunicação rial diferenciado aos veículos informações atualizadas.
nas organizações costumam fazer de determinada região.
esse trabalho de clipagem (seleção  Reflexões por parte de quem
e recolhimento) das matérias e o  Entender de que forma seu atua na área são importantes.
produto final organizado é chama-
do clipping (veja mais no glossário, trabalho se articula com ou- As fontes devem dar retorno
na página 95). tras ações dirigidas à infância aos jornalistas quando hou-
e à adolescência ou às polí- ver equívocos nas matérias
ticas sociais, por exemplo, é e elogiar quando a cobertura
um requisito para ser uma boa for correta.
fonte da área. Portanto, é pre-
ciso conhecer temas como o  Nunca peça ao jornalista
Estatuto da Criança e do Ado- para ver o texto antes dele
lescente, o funcionamento do ser publicado. Parece que
Sistema de Garantia de Direi- você está desconfiando da
tos, o processo orçamentário e sua capacidade de escrever.
as etapas de realização de uma É possível, porém, se colo-
política pública. car à disposição para forne-
cer mais dados ou tirar dú-
 Aproveite o contato com o jor- vidas do jornalista na hora
nalista para fornecer informa- da edição. E sugerir algum
ções interessantes e indicações enfoque para a reportagem.
de fontes para outras matérias
na sua área.  Estimule que especialistas so-
bre o tema escrevam artigos e
 É recomendável que os con- dêem entrevistas. Quanto mais
selhos atuem para mudar o fontes qualificadas da área es-
foco da cobertura: do aten- tiverem presentes na mídia,
dimento de casos individu- mais informações os repórte-
ais para o acompanhamento res terão para fazerem novas
das atividades em que são matérias mais aprofundadas.
discutidas e avaliadas suas
ações e formuladas políticas  Ao programar um evento, fixe
para cada localidade. Dessa um horário para falar com a
forma, é possível chamar a imprensa, reservando tempo,
atenção para problemas exis- de preferência antes do início
tentes, mobilizar a cobrança das atividades.
Construindo um diálogo com a imprensa | Orçamento público, legislativo e comunicação

 A imprensa sempre faz maté- parte de seu banco de fontes e Impactos da


rias ligadas a eventos sazonais estão dispostos a serem con-
(procissões, festas religiosas, tactados pela imprensa.
comunicação
Carnaval, Páscoa, Natal...) e
datas significativas (Dia das Na hora da Se você conseguir fazer um bom tra-
Crianças, Dia Nacional de entrevista balho de comunicação, conseguirá:
• Dar visibilidade e transparência
Combate ao Abuso e à Explo-  É fundamental estar bem pre- às ações de sua instituição.
ração Sexual Infanto-Juvenil, parado para conceder uma • Tornará público o compromisso
aniversário do ECA). Procu- entrevista. Ao ser procurado, com o direito à comunicação e o
re fazer um calendário anual pergunte ao jornalista qual acesso da sociedade a informa-
desses eventos, identificando ções de qualidade.
será o assunto e, se possível,
• Conseguirá mais apoio da co-
aqueles nos quais você pode quais serão as perguntas. Essa munidade, de outras institui-
envolver sua instituição e con- noção sobre o teor da conver- ções e do governo, que verão a
vidar a imprensa. sa e sobre o veículo para o qual seriedade de suas ações. 91
ele trabalha é o ponto de parti- • Cumprirá um papel educativo de
 Os jornalistas chamam de fon- orientar a sociedade sobre os di-
da para uma boa preparação.
reitos de crianças e adolescentes.
tes oficiais aquelas ligadas ao • Possibilitará que as demandas
governo ou que são indicadas  Lembre-se que o fator tem- da sociedade civil em relação ao
pelas assessorias de imprensa. po deve ser levado em conta orçamento ganhem visibilidade.
sempre. Quando o jornalista • Conseguirá amplificar o debate
 A lei assegura aos jornalistas necessita de uma informação, sobre Projetos de Lei, de inte-
resse da instituição, que este-
o direito de manter o sigilo da normalmente não dispõe de jam tramitando no Legislativo.
fonte, ou seja, não revelar quem muito tempo para esperar.
lhes deu determinada informa- Por isso, procure responder
ção (ao que se denomina “in- logo. Caso não se sinta segu-
formação em off”). Isso é algo ro, informe ao profissional de
que você pode usar a seu favor, comunicação que não domi- Exposição da
caso seja fonte de uma matéria na aquele assunto específi- imagem
em que a denúncia que fizer co. Nesse caso, é importante
possa causar-lhe algum prejuí- indicar – como já apontamos Quando focalizar um fato que possa
zo. Mas é sempre melhor e mais anteriormente – outras fontes estigmatizar alguma criança e/ou
seguro não abusar do off. Anali- para a temática em questão. adolescente ou causar algum dano
se com cuidado o momento para de ordem psicológica ou moral a
dar uma informação utilizando  Vá para a entrevista prepa- ela, oriente o jornalista e o fotógra-
fo (se houver) com relação à prote-
essa prerrogativa e os riscos que rado para responder às mais ção da imagem e do nome dessa
você correrá. diversas perguntas, inclusi- criança e/ou adolescente. Mostre o
ve aquelas que são irônicas, que o ECA prevê como penalidade e
 Tenha um banco de fontes em mal-formuladas e até agres- informe-os sobre a importância de
sua instituição com o nome, sivas, às vezes (por exemplo: manter a dignidade e a privacidade
desse público.
contato, cargo e local de tra- “o senhor não acha que o Es-
balho de várias pessoas e/ou tatuto protege demais esses
de instituições que lidam delinqüentes juvenis?).
com o tema da infância/ado-
lescência e que podem dar  Esteja sempre com muitos
informações importantes e dados e material de consulta à
ricas para qualificar e con- mão, que podem ser úteis. Mas
textualizar uma matéria. Aos seja objetivo nas repostas e se
poucos, esse banco vai crescer houver algo que você não do-
e a parceria entre todos vai se mina, indique outras fontes.
ampliar, criando uma relação
de credibilidade. Lembre-se,  Evite usar termos muito técni-
porém, de perguntar a esses cos ou jargões, que são palavras
atores, se eles querem fazer conhecidas apenas por quem é
Orçamento público, legislativo e comunicação | Construindo um diálogo com a imprensa

O dia da área. Se não tiver outro jeito,  Se a entrevista for para rádio
use o termo, mas explique-o. ou tevê, procure falar deva-
seguinte gar e pronunciando bem as
 Nunca assuma um ar de su- palavras, para evitar confu-
No dia seguinte à entrevista, não perioridade durante as en- são e falta de entendimento
espere ver veiculada a íntegra do trevistas. Mesmo que você por parte do público. No caso
que você falou, afinal, a matéria
que o repórter produziu passa por seja um expert no assunto. específico do rádio, ao fechar
uma edição – que depende do espa- Isso pode atrapalhar o início a entrevista procure fazer um
ço ou tempo disponibilizados pelo de um diálogo que poderá resumo de tudo que disse e
veículo àquele determinado tema. O render frutos para você, para repetir algum dado mais im-
imediatismo e a pressa dos veículos o veículo de comunicação e portante, como número do
de comunicação em obter respos-
tas resultam, às vezes, na edição de para a sociedade. telefone ou endereço do site.
informações parciais, incompletas
92 e até descontextualizadas. É bom  Quando der entrevista sobre  No caso de entrevista coletiva,
ficar em permanente contato com políticas públicas, é importan- seja cauteloso! Só convoque
as redações. te deixar claro os responsáveis coletivas quando o assunto
Ocorrendo problema, procure dis- pelas ações, quem pode fisca- for realmente sério. A idéia
cutí-lo em primeiro lugar com o lizar, os prazos para execução é reunir o maior número de
jornalista que fez a matéria (evite ir e conclusão dos projetos e de repórteres que for possível,
logo a seu chefe), explicando o que onde vem os recursos públicos para dar informação a todos
não foi bem divulgado. É possível
enviar material com os dados e con-
ao mesmo tempo. É acon-
 Dê preferência a entrevis- selhável entregar a cada um
ceitos corretos, procurando manter
as portas abertas sempre. tas pessoais, nas quais você resumo do que será dito e al-
encontrará o repórter; as- guns dados ou estatísticas que
Erros e acertos sim os ruídos e problemas lhes serão úteis na edição.
No caso de equívocos grosseiros, de comunicação serão bem
que vão gerar problemas para a
imagem do conselho ou da criança menores que nas entrevis-  Durante a entrevista coletiva,
e do jovem citados na reportagem tas por telefone. quem convocou a imprensa
é preciso estar atento à Lei de Im- começa oferecendo algumas
prensa e estudar a possibilidade de  Quando for necessário falar informações principais sobre o
retratação no veículo de comunica- por telefone com algum re-
ção. Caso o conselho não disponha
tema, para só depois abrir para
de departamento jurídico, pode pe- pórter que você não conhece, as perguntas dos repórteres –
dir apoio nas organizações que ofe- porém, peça alguns minutos eles podem se inscrever antes
reçam serviços advocatícios. para retornar a ligação. Nesse e fazer a pergunta por ordem
intervalo, cheque a identida- de inscrição ou simplesmente
Por outro lado, se uma matéria fi- de de quem está do outro lado
cou boa, se foi além de suas expec- levantar a mão e o entrevistado
tativas, é simpático enviar uma cor- da linha e a publicação para a responder um a um.
respondência parabenizando. qual trabalha, além de apro-
veitar para deixar dados e  De acordo com o perfil do veí-
informações sobre o tema da culo para o qual você dará a en-
entrevista à mão. trevista, será possível aprofun-
dar-se mais no tema – ou não.
 No caso de entrevistas para a Por isso, é importante verificar
televisão, seja o mais objeti- bem o público desse veículo.
vo possível, caso contrário sua
fala poderá ser cortada e a parte
mais importante ficar de fora.
Procure olhar para a câmera e
Mídia alternativa:
para o repórter – afinal, você diálogo com a
está falando para o público tam- sociedade
bém. E, por fim, evite usar rou- Quando se fala de imprensa, não
pas listradas e com xadrez, que podemos pensar apenas na cha-
geram um efeito ruim no vídeo. mada Grande Mídia, formada por
Construindo um diálogo com a imprensa | Orçamento público, legislativo e comunicação

grandes redes de jornal, rádio e prias pessoas da comunidade,


televisão. Muitas vezes as cha- com estrutura simples e alcance
madas mídias alternativas conse- menor, mas público definido.
guem ter uma abrangência maior
sobre o público que queremos Jornais escolares – Feitos por
atingir. Quem trabalha com co- estudantes em suas escolas. Pode
municação nas organizações deve ser um veículo interessante para Muitas vezes, as chamadas
estar atento a essa questão. você divulgar mensagens ligadas mídias alternativas conse-
aos direitos das crianças e ado- guem ter uma abrangência
Se precisamos falar com uma lescentes de forma leve e criativa. maior sobre o público que
determinada comunidade sobre queremos atingir.
hábitos de higiene, por exemplo, Jornal mural – Pode ser usado
muitas vezes o melhor caminho para divulgar informações para o
pode ser procurar a rádio comuni- público interno (da instituição) e 93
tária. Nada impede que também se- externo (comunidade). É preciso
jam procurados veículos da Grande organizar as informações por se-
Mídia para reforçar a mobilização, ções e de maneira a facilitar a lei-
mas certamente nos meios comu- tura. Escolha um nome bem cria-
nitários você conseguirá maior es- tivo e procure um local adequado
paço e atenção para sua demanda. para colocar o mural, dependen-
do do público que se quer atingir.
Entre as possíveis mídias al- Você pode produzir o jornal mural
ternativas, podemos citar: a partir de um pedaço de cortiça
coberto por feltro e emoldurado
Rádios comunitárias – Pro- com madeira ou ainda usando
gramação produzida pelas pró- materiais reciclados.

Você conhece os profissionais de uma Redação?


Direção – É quem define a linha editorial do veí- Redatores – São aqueles que escrevem os textos
culo de comunicação. Ou seja, se o veículo é mais dos jornais, telejornais e informativos do rá-
voltado à política ou economia, por exemplo; se dio. Mas nem todos os veículos de comunicação
valoriza fatos mais sérios e de interesse público ou possuem redatores. O repórter muitas vezes faz
é mais sensacionalista. É também a responsável fi- o trabalho de buscar as informações e escrever
nal pelo que é veiculado ou publicado. o texto.
Chefia de Redação – Coordena o trabalho de todos Colaboradores – São profissionais (juristas,
os editores e decide – às vezes junto com a Direção médicos...) que escrevem periodicamente para
– quais os destaques do noticiário. O que é mais um jornal ou falam para uma emissora de rádio
importante e terá mais espaço. ou televisão sobre um assunto que dominam.
Editores – São os responsáveis pelas editorias, ou A relação deles com o veículo de comunicação,
seja, pelas seções do jornal, como Economia, Polí- varia muito. Podem ser empregados ou receber
tica, Esportes, Cultura. Eles chefiam os repórteres, apenas por colaboração.
redatores e fotógrafos e editam o material produzido Colunistas – Nem sempre são jornalistas, mas
por eles. Obs: Os jornais também possuem os sub- especialistas no assunto sobre os quais escrevem
editores, que ajudam os editores nesse trabalho. ou comentam. Possuem espaço fixo no jornal.
Repórteres – São os profissionais que vão em bus- Conselho Editorial – Órgão consultivo que
ca das informações, entrevistam as fontes e escre- define, junto com a Direção do veículo de co-
vem a primeira versão do texto. Quando o veículo municação, sua linha editorial. Dependen-
de comunicação possui redator, às vezes o texto do do do veículo, se reúnem periodicamente
repórter é retrabalhado por esse profissional, an- para discutirem sobre a qualidade do traba-
tes de ser enviado ao editor. lho jornalístico.
Orçamento público, legislativo e comunicação | Construindo um diálogo com a imprensa

Boletim impresso – Publi- como fazê-la e você os encontra na própria Internet,


cação da instituição com produ- gratuitamente. Lembre-se de não encher a página
ção periódica. Em geral, mensal. com muitas imagens, porque a torna pesada, lenta, na
Deve ser fruto da participação hora de ser acessada. Os textos devem ser curtos e in-
de todos, aberto a críticas e su- dicar outros links de parceiros, com informações mais
gestões. Como é um jornal, deve aprofundadas. Tenha sempre muitos dados e atualize
ter um editorial, com a posição O rádio pode periodicamente a página, para que se torne sempre
da instituição sobre os assuntos ser um exce- uma fonte de consulta. Não esqueça também de cadas-
que serão tratados ali, pelo me- lente meio trá-la nos sites de busca, como Google e o Cadê. Logo,
nos uma matéria central e um para comuni- quando alguém digitar “direitos da criança”, ela vai ser
expediente, espaço que contém car as inicia- uma das que vai aparecer.
o nome do jornalista responsável tivas e ações
(profissional obrigatório por lei, promovidas Outras alternativas de baixo custo são os sis-
94 sob pena de multa) e a equipe que temas de som, montados em carros ou bicicletas,
pelo conse-
o produz, além do nome da insti- lho, espe- postes e feiras, que podem ter programação gra-
tuição, endereço, telefone e a grá- cialmente em vada ou ao vivo; os varais, para divulgar informes
fica onde está sendo impresso. função de seu rápidos, de no máximo uma semana, em papéis
alcance em resistentes que são pendurados, como as roupas
Boletim eletrônico – Peque- todas as clas- em um varal, em locais estratégicos e a panfleta-
no jornal distribuído por e-mail ses sociais gem, com distribuição de folders, folhetos e ma-
para a rede de contatos ou dispo- teriais diversos de divulgação em locais de grande
nibilizado no site da instituição. circulação. É importante, neste caso, contar com
Para produzi-lo é bom levar em alguém preparado para responder perguntas do
conta um público de maior poder público sobre o trabalho da instituição.
aquisitivo ou que tenha acesso a
um computador – caso contrá- Além de todas essas possibilidades, não des-
rio, não funcionará. carte as palestras em escolas e associações comu-
nitárias, igrejas e clubes de serviço como Rotary,
Página na internet – Não é Lions e Maçonaria. Só procure deixar claro que
difícil produzir uma página e di- sua instituição não é vinculada diretamente a elas
vulgá-la na internet. Existem pro- – que estão sendo parceiras na luta pelos direitos
gramas ensinando passo a passo da criança e do adolescente.

Nas ondas do rádio

O rádio pode ser um excelente meio para comunicar Outros espaços


as iniciativas e ações promovidas pelo conselho, espe- Outra dica é articular com a direção da rádio a
cialmente em função de seu alcance em todas as clas- veiculação de spots (pequenos comerciais) sobre
ses sociais. Além disso, ele é muito ágil, sendo capaz temas sociais e de interesse público. Existem hoje
de informar quase ao mesmo tempo em que o fato está instituições que oferecem gratuitamente esse tipo
ocorrendo. Por isso, conquista tantos ouvintes. de conteúdo para o rádio, você pode pesquisar esse
tipo de iniciativa pela internet. Um exemplo é o
Quer mais uma vantagem? Ele tem várias horas de Unicef, que realiza o projeto Rádio pela Infância
programação diária e pode divulgar sua mensagem em (www.unicef.org/brazil/radio.htm)
programas diversos. Por isso, é bom ficar atento à pro-
gramação das emissoras e enviar notícias e sugestões O conselho pode também produzir o seu próprio
de pauta para aquela que tiverem o perfil adequado spot para rádio e realizar campanhas com o tema
para abordar os assuntos que você considera prioritá- social de sua preferência. Para isso, no entanto, é
rios. Lembre-se que os noticiários do rádio geralmen- necessário conseguir o apoio de um radialista ou
te vão ao ar nos horários de maior audiência. profissional especializado.
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Glossário

Artigo – Texto jornalístico que traz a interpretação distribuídas pela área de cobertura: Esportes,
ou opinião do autor sobre determinado assunto. Política, Economia, entre outras.
Não é de autoria exclusiva de jornalistas.
Editorial – Artigo publicado geralmente no pri-
Box – Texto complementar de uma reportagem, que meiro caderno de jornais ou revistas, que reflete
pode trazer informações como o perfil do persona- a linha editorial do veículo. A opinião da direção
gem enfocado ou esclarecer termos difíceis. do veículo sobre determinado assunto. Pode ha-
ver mais de um editorial por jornal.
Caderno – Conjunto de páginas que trata de assun-
tos (editorias) específicos ou ainda das reportagens Em off – Abreviatura de off the record, ou infor- 95
mais importantes de uma edição. mação confidencial dada por um entrevistado ao
jornalista, com a condição de não ser publicada.
Chamada – Informação resumida de um assunto,
localizada na primeira página de um jornal, revista Expediente – Espaço onde são publicados os
ou caderno, para atrair a leitura. No caso de telejor- nomes dos editores, endereços e telefones para
nais a chamada das matérias é feita pelo apresenta- contato com o veículo de comunicação.
dor, no início do telejornal.
Externa – Gravação fora do estúdio da tevê.
Clipping – Publicação que contém notícias veicu-
ladas nos meios de comunicação sobre determina- Gancho – Algum assunto que, geralmente, faz
do assunto, empresa ou pessoa. A matéria pode ser parte do interesse público, no qual o jornalista
recortada do próprio veículo impresso, tendo-se o se ampara para produzir e veicular determi-
cuidado de manter nome do veículo, editoria, pá- nada matéria. Também pode significar uma
gina e dia em que foi publicada. O clipping também informação coletada em alguma notícia e que
pode ser eletrônico, contendo em fitas de vídeo, pode gerar novas reportagens.
fitas cassetes, cds e/ou dvds as notícias veiculadas
em rádio e/ou tevê. Fechamento – Etapa de encerramento da pro-
dução dos noticiários, quando a edição é enviada
Cobertura – Captação de material (informações, para a gráfica ou está pronta para ser veiculada
entrevistas e fotos) sobre um fato, realizado pela nos jornais de rádios e tevês.
equipe de reportagem.
Intertítulo – Pequeno título colocado no meio do
Deadline – Prazo final para o fechamento de uma texto para separar uma parte importante da ma-
edição ou conclusão de uma reportagem. téria e dar leveza à diagramação.

Diagramação – Previsão do desenho gráfico de uma Ilha de edição – Conjunto de equipamentos ne-
página em que são mostrados tamanhos dos textos e cessários para a edição de um programa de rádio
a localização das fotos e ilustrações. e tevê.

Edição – Processo de acabamento do material in- Lauda – Folha padronizada para os textos das
formativo. Também se refere ao noticiário pronto reportagens. Com a edição eletrônica, as laudas
que será impresso nos jornais ou veiculado na tevê e quase não são mais usadas.
na emissora de rádio.
Legenda – Texto curto que explica uma foto
Editoria – As redações jornalísticas se dividem em ou ilustração.
editorias, setores que reúnem os jornalistas que
apuram, redigem e editam as notícias e informa- Lide – Introdução do texto jornalístico, que vem
ções que serão veiculadas em órgão da imprensa no primeiro parágrafo. Reúne o que há de mais
(jornal, rádio, tevê, internet...). As editorias são importante na notícia. Deve responder às per-
Orçamento público, legislativo e comunicação | Construindo um diálogo com a imprensa

Glossário

guntas básicas: Quem? O que? Quando? Onde? Retranca – Texto complementar da matéria prin-
Como? Por que? cipal. Também equivale ao nome dado a determi-
nada matéria, para que possa ser identificada por
Mailing - Relação das informações sobre veícu- todos os profissionais envolvidos em sua edição e
los de comunicação, com nomes, telefones, fax, e- veiculação.
mails, cargos e editorias dos jornalistas de jornais,
revistas, emissoras de rádio e tevê. Release – Texto de formato jornalístico, reali-
zado por jornalistas que trabalham nas asses-
Manchete – Título da principal reportagem do jor- sorias de imprensa, e distribuído para a im-
96 prensa, sobre o assunto ao qual se pretende dar
nal ou revista, publicado na primeira página. É tam-
divulgação. Respeita a linguagem dos diferen-
bém a principal reportagem de cada página.
tes veículos.
Matéria – Conteúdo de uma notícia ou reportagem.
Standard – Formato padrão dos jornais brasilei-
ros. Mede 54 x 33,5cm. O tamanho tablóide é a
Notícia – É o relato de um fato. Não é o fato pro-
metade do Standard.
priamente dito, mas o olhar, a interpretação de um
jornalista sobre o fato. Stand by – Reportagens que podem ser veicula-
das em qualquer época, sem preocupação com a
Olho – Texto curto e em destaque, localizado, ge- data. Também são chamadas de textos ou maté-
ralmente, entre as colunas do corpo da notícia, que rias de gaveta ou matérias frias.
ressalta algum aspecto importante da matéria.
Suíte – Texto jornalístico que desdobra uma no-
Pauta – Assuntos previstos na cobertura jornalística tícia já publicada no dia anterior em qualquer ór-
e que podem virar uma notícia. A pauta é um roteiro gão de imprensa.
que contém, inclusive, a indicação ou sugestão so-
bre como deve ser tratado o tema e as pessoas que Teleprompter ou TP – Guia para os apresentado-
podem ser entrevistadas. É captada pelo pauteiro res de telejornais; trata-se de um aparelho onde
(profissional que está sumindo das redações e seu passa o texto a ser lido durante o noticiário.
papel sendo assumido pelo editor) e discutida por
toda a equipe. Texto final – Matéria apurada, redigida, editada e
pronta para a publicação.
Pingue-Pongue – Forma de publicação de uma entre-
vista em que as perguntas e respostas são veiculadas. VT – Matéria de TV com a presença do repór-
ter. Um VT com reportagem editada tem as
imagens, a narração (off), o discurso indire-
Pirâmide invertida – Técnica de se estruturar um
to (fulano disse que) e o discurso direto (fala
texto de modo que as informações mais importantes
dos entrevistados).
sejam colocadas nas primeiras linhas (lide).
Fonte: Mídia e Conselhos _ um guia para encurtar a
Ponto eletrônico – Pequeno fone de ouvido usado distância entre Conselhos de Direito, Conselhos Tute-
entre os profissionais de tevê, que traz comunicação lares e sociedade.
direta entre seu portador e o controle mestre.

Reportagem – Ato de adquirir informações sobre


um assunto e transmiti-las ao público pelos notici-
ários. Se diferencia da notícia por ser o relato apro-
fundado de um fato, com ênfase nos porquês desse
fato e sua contextualização.
Aliados estratégicos

Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI)


A missão da ANDI é contribuir para a qualidade da informação pública em torno de temas relevantes da agenda social,
em especial àqueles voltados para a promoção e defesa dos direitos da infância e da adolescência. Um dos princí-
pios norteadores de suas ações é a crença em que a democratização e a qualidade da informação são elementos es-
senciais na construção de consciências e de um estado permanente de mobilização transformadora. Nesse senti-
do, busca estimular o diálogo pró-ativo, profissional e ético entre os atores da sociedade civil organizada e a mídia.

Telefone: (61) 2102.6508


E-mail: andi@andi.org.br
Site: www.andi.org.br

Instituto Ágora em Defesa do Eleitor e da Democracia


Entidade da sociedade civil sem fins lucrativos, sua missão é contribuir para o alargamento da cidadania através
do investimento em educação e incentivo à participação política com a implantação das Ouvidorias do Eleitor,
mecanismo de interferência na governabilidade. A entidade atua em duas frentes complementares de trabalho:
Responsabilidade Pública e Educação para a Cidadania. Em ambas, os programas se traduzem em serviço público,
investimento social e ativismo político suprapartidário, tendo como protagonista preferencial o público jovem.

Telefone: (11) 3898-0123 / (11) 3088-6787


E-mail: agora@agoranet.org.br
Site: www.institutoagora.org.br

Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC)


O Inesc tem como missão contribuir para o aprimoramento da democracia representativa e participativa
visando à garantia dos direitos humanos, mediante a articulação e o fortalecimento da sociedade civil para
influenciar os espaços de governança nacional e internacional. Nesse sentido, atua a partir de duas linhas
principais de ação: o fortalecimento da sociedade civil e a ampliação da participação social em espaços de
deliberação de políticas públicas. Em todas as suas publicações e intervenções sociais utiliza o instrumental
orçamentário como eixo central para o fortalecimento e a promoção da cidadania.

Telefone: (61) 3212-0200 /Fax: (61) 3212-0216


E-mail:protocoloinesc@inesc.org.br
Site: www.inesc.org.br

Fundação Vale do Rio Doce


Tem como missão contribuir para o desenvolvimento integrado, econômico, ambiental e social dos territó-
rios onde a Companhia Vale do Rio Doce atua, fortalecendo o capital social das comunidades e respeitando
as identidades culturais locais. Para isso, atua em parceria com a Companhia e empresas especializadas, de-
senvolvendo diagnósticos sócio-territoriais. A entidade norteia a sua atuação pelos seguintes valores: ética,
transparência, comprometimento, co-responsabilidade, accountability e respeito à diversidade.

Telefone: (21) 3814-6215


E-mail: lilian.neves@cvrd.com.br
Site: www.cvrd.com.br
Fundação Avina
Fundada em 1994, tem como missão contribuir para o desenvolvimento sustentável da América Latina,
incentivando a construção de laços de confiança e parcerias frutíferas entre líderes sociais e empresariais,
e articulando agendas de ação compartilhadas. Para isso, a entidade busca priorizar suas ações nas seguin-
tes áreas: eqüidade de oportunidades, governabilidade democrática e estado de direito, desenvolvimento
econômico sustentável, e conservação e gestão dos recursos naturais.

Telefone: (31) 3222 8806


E-mail: info.brasilsudestedf@avina.net
Site: www.avina.net

Instituto Telemig Celular


Fortalecer a prática da Responsabilidade Social na Telemig Celular, visando ao desenvolvimento das comu-
nidades no Estado de Minas Gerais.

Telefone: (31) 3259-4456 / Fax: (31) 3259-3805


Email: instituto@telemigcelular.com.br
Site: www.telemigcelular.com.br

Oficina de Imagens – Comunicação, Educação e Cultura


Tem como missão contribuir para o desenvolvimento humano e social, utilizando as tecnologias e as lin-
guagens da comunicação em processos educativos e na mobilização social.

Telefone (31) 3482.0217


E-mail: administracao@oficinadeimagens.org.br
Site: www.oficinadeimagens.org.br

Parceiros
Assembléia Legislativa de Minas Gerais – Comissão de Participação Popular e
Frente Parlamentar de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente
É parceira do Projeto Novas Alianças por entender que ele valoriza  e potencializa a participação
social nas ações legislativas.
 

Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Minas Gerais


É parceira do Projeto Novas Alianças por ele se somar às estratégias de articulação, formação e
mobilização desenvolvidas por esse fórum da sociedade civil.
 

Ministério Público de Minas Gerais


Apóia essa iniciativa pela sinergia proposta para a afirmação dos direitos da criança e do
adolescente, princípio comungado por essa instituição.
Ficha Técnica

Projeto Novas Alianças Textos


Orçamento*: Francisco Sadeck e Álvaro Gerin (Inesc)
Coordenação executiva Legislativo: Gilberto Palma e Paulo Malvasi
Oficina de Imagens – Comunicação e Educação (Instituto Ágora)
Comunicação**: Adriano Guerra (ANDI)
Coordenadora do projeto e Cristiane Parente
Gláucia Barros
* O conteúdo sobre Orçamento foi produzido com base
Aliados estratégicos na publicação O orçamento público a seu alcance, pro-
ANDI - Agência de Notícias dos Direitos da Infância duzida pelo Inesc, em parceria com a Fundação Avina e
Ágora em Defesa do Eleitor e da Democracia a Fundação Ford
Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC) ** O conteúdo sobre Comunicação teve como referência as
Fundação Avina publicações Mídia e Políticas Públicas de Comunicação,
Fundação Vale do Rio Doce produzida pela ANDI e Fundação Ford; e Mídia e Conselhos
Instituto Telemig Celular – um guia para encurtar a distância entre Conselhos de
Direitos, Conselhos Tutelares e a sociedade, produzido pela
Parceiros ANDI e pelo Conanda, em parceria com a Secretaria Espe-
Assembléia Legislativa de Minas Gerais – Comissão cial dos Direitos Humanos, Rede ANDI Brasil e Petrobras.
de Participação Popular e
Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do Projeto Gráfico e Diagramação
Adolescente de Minas Gerais André Nóbrega
Ministério Público de Minas Gerais
Editora O Lutador Foto
Martin Boose

Orçamento Público, Legislativo Tiragem


e Comunicação – Três eixos estratégicos 1000 exemplares
para incidência nas políticas públicas
Impressão
Supervisão Editorial Gráfica O Lutador
Veet Vivarta
A reprodução parcial ou integral do conteúdo dessa pu-
Edição blicação deve ser solicitada por escrito aos seus editores.
Adriano Guerra Serão facilitadas as autorizações de reprodução para
Marília Mundim fins educativos.
Aliados Estratégicos:

Orçamento público,
Legislativo e Comunicação
Três eixos estratégicos para incidência
nas políticas públicas

Parceiros:
Assembléia Legislativa de Minas Gerais – Comissão de Participação Popular
Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Minas Gerais
Ministério Público de Minas Gerais
Editora O Lutador

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