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da manhã
An o XXII • N º 5290• 03 / 0 4 / 2 0 1 8 • Ed it o r : Re f i na l d o C h i l e ngue
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Moçambique vai ultrapassar todos os ECONOMIA

Metical
recupera alguns

limites de dívida do FMI a partir de Julho

Moçambique vai furar, a
centavos em
relação ao USD
páG 3

partir de Julho, todos os negócios

cinco limites usados pelo
Fundo Monetário Interna-
IVA
cional (FMI) para avaliar a
acrescentado
Sustentabilidade da Dívida, de 14% para
reconhece o Governo nos 15% na África
documentos entregues nas do Sul
reuniões com os credores. páG 4
“No final de 2017, todos os
indicadores de Análise da sociedade
Sustentabilidade da Dívida
de Moçambique (excepto o
Advogados vão
rácio entre o serviço da dí- apoiar lista
vida e as exportações) esta- B a criar uma
vam acima do limite de pru- Ordem dos
dência para os países com Economistas
um ranking médio de Coun- páG 5
try Policy and Institutional
Assessment (CPIA)”, lê-se opinião
numa das páginas da apre-
sentação feita aos credores Uma piada
a 20 de Março, em Londres. sobre a nova
Logo abaixo, lê-se que “até... guerra fria
paG 2 pág 6

tiku 15!
Liberdade de
expressão
- R. Chilengue
páG 5

Moçambique vai ultrapassar todos os limites de dívida do FMI
De acordo com as regras internas do Fundo, os países que ultrapassem estes níveis
estão impossibilitados de receber ajuda financeira, o que torna ainda mais difícil a já de
si complicada situação económica de Moçambique
Moçambique vai furar, a par-
tir de Julho, todos os cinco
limites usados pelo Fundo
Monetário Internacional
(FMI) para avaliar a Sustenta-
bilidade da Dívida, reconhe-
ce o Governo nos documen-
tos entregues nas reuniões
com os credores.
“No final de 2017, todos os
indicadores de Análise da
Sustentabilidade da Dívida
de Moçambique (excepto o
rácio entre o serviço da dí-
vida e as exportações) esta-
vam acima do limite de pru-
dência para os países com
um ranking médio de Coun-
try Policy and Institutional
Assessment (CPIA)”, lê-se
numa das páginas da apre-
sentação feita aos credores a
20 de Março, em Londres.
Logo abaixo, lê-se que “até
20 de Março de 2018, Mo-
çambique tinha atrasos
nos pagamentos do Mo-
zam2023, MAM e Proindicus
[os títulos de dívida sobera-
na com maturidade a 2023
correio da manhã • abril 2018
economia & negócios
e os dois empréstimos con-
traídos de forma oculta por
duas empresas públicas com
garantias estatais] que che-
gavam a aproximadamente
636 milhões de dólares”,
o que faz com que todos os
cinco limites definidos pelo
FMI sejam ultrapassados.
De acordo com as regras in-
O ano de 2017
ternas do Fundo, os países
caracterizou-se
que ultrapassem estes ní-
veis estão impossibilitados
por uma
de receber ajuda financei-
tendência de
ra, o que torna ainda mais
difícil a já de si complicada
aumento de preços
situação económica de Mo-
de Janeiro a Abril
çambique.
Em causa estão os limites do
Valor Actual da Dívida face
ao PIB, às Exportações, às
Receitas, o Serviço da Dívida
face às Exportações e o Ser-
viço da Dívida comparado
com o valor das Receitas.
Até final do ano passado,
apenas o valor do Serviço da
Dívida face às Exportações
estava abaixo do limite de-
finido pelo Fundo, mas a al-
2
teração dos critérios a partir
de Julho faz com que este
valor ultrapasse o nível má-
ximo apontado pelo FMI.
A Lusa tentou obter escla-
recimentos do FMI sobre as
consequências concretas
desta alteração, mas sem su-
cesso até agora.
O Governo de Moçambique
propôs a 20 de Março aos
credores e investidores na
dívida pública um perdão de
50% da dívida atrasada, ou
seja, 318 dos 636 milhões
de dólares norte-america-
nos de dívida que já devia
ter sido paga.
De acordo com o documen-
to apresentado aos credores
em Londres, e a que a Lusa
previsão de tempo
terça quarta quinta
03 Abril 04 Abril 05 Abril
33º 23º 32º 23º 33º 24º
teve acesso, Moçambique
propõe um ‘haircut’ [perdão
de dívida] de 50% nos juros
passados e nas penalizações,
caso existam”, e alterações
às taxas de juro e à maturi-
dade da emissão de dívida,
cujo prazo inicial terminava
em 2020 e já foi alargado
para 2023 no final de 2016.
As diretrizes da reestrutu-
ração, lê-se no documento,
são “um cupão e taxas de
juro muito baixas até 2023,
uma taxa de juro ou cupão
para além de 2023 em ní-
veis moderados para lidar
com os constrangimentos
no serviço da dívida, um
‘haircut’ nos juros passa-
dos e capitalização do sal-
do, limitadas amortizações
até 2028 e oferta de paga-
mentos em moeda local aos
detentores nacionais da dí-
vida”.
Na prática, Moçambique sua-
viza as prestações da dívida
nos próximos anos e aceita
pagar mais no final do perío-
do, contando com as receitas
do gás natural, que deverão
entrar em força a partir da
próxima década.
Os credores rejeitaram esta
proposta inicial, e haverá no-
vas conversas à margem dos
Encontros da Primavera, que
decorrem em abril na sede
do FMI.
redacção & agências
CANAL DO TEMPO
sExtA sábado
06 Abril 07 Abril
FONTE
35º 24º 33º 24º
 correio da manhã • abril 2018

economia & negócios

Metical recupera alguns Ficha técniica

Primeiro jornal ilustrado transmitido por FAX, E-mail e entregue por estafeta no ende-

centavos em relação ao USD

reço desejado (só cidade de Maputo), de 2ª a 6ª-feira.
  Propriedade da SOJORNAL Sociedade Jornalística, Avenida Filipe Samuel Magaia,
528-3º Flat 6, Maputo Moçambique - C.P. 1756
website: www.correiodamanhamoz.comE-Mail: correiodamanha@tvcabo.co.mz /
redaccao@correiodamanhamoz.com / editor@correiodamanhamoz.com
A moeda moçambicana – O dios, na última semana, a Tel.: Redacção: 21305322/3 - Editor: 21305326 - Fax: 21305321/8; móvel: 841404040
Metical –, recuperou alguns 75,71 meticais, 10 centavos Os artigos de opinião inseridos nesta edição são da inteira responsabilidade dos respectivos autores e não
reflectem necessariamente o ponto de vista nem a linha editorial deste jornal.
centavos em relação ao de metical mais caro que na
dólar norte-americano pela semana anterior.
segunda semana consecu- A venda foi feita a 77,20
tiva, segundo as taxas de meticais por cada euro, nove
câmbio médias de referên- centavos mais caro.
cia do banco central. A média diária da cotação de
O dólar norte-americano compra do euro variou entre
(USD) é a moeda que serve 75,16 e 76,01 meticais, en-
de base de cálculo às taxas quanto a cotação de venda
de câmbio de referência oscilou entre 76,62 e 77,52
para as outras moedas em meticais.
Moçambique e a apreciação Taxas de câmbio médias de
aconteceu numa semana referência do euro em met-
mais curta, devido ao feri- icais
ado de Sexta-feira Santa. EURO compra venda
Oficialmente, durante a últi- 30/Mar (feriado)
ma semana, a moeda norte- 29/Mar 75,16 76,62
americana foi comprada em 28/Mar 75,67 77,18
Moçambique a 61,16 metic- 27/Mar 76,01 77,52
ais, 27 centavos de metical 26/Mar 75,99 77,48
mais barata que na semana média 75,71 77,20
anterior. Taxas de câmbio médias
A venda foi feita a 62,36 met- de referência do USD
icais por cada USD, menos 28 em meticais
centavos de metical. EURO compra venda
A média diária da cotação de 30/Mar (feriado)
compra do USD variou entre 29/Mar 61,03 62,22
61,03 e 61,31 meticais, en- 28/Mar 61,09 62,3
quanto a cotação de venda 27/Mar 61,2 62,42
oscilou entre 62,22 e 62,51 26/Mar 61,31 62,51
meticais. média 61,16 62,36
Por sua vez, o euro ficou foi
comprado, em termos mé- Fonte: Banco de Moçambique

3

IVA acrescentado de 14% Advogados vão apoiar
para 15% na África do Sul lista B a criar uma
Domingo de Páscoa o novo
Ordem dos Economistas
Entrou em vigor a partir de
Imposto de Valor Acrescen-
tado, (IVA) na África do Sul,
passando de 14% que vigo-
rava desde 1993 para 15%.
As organizações sociais acu-
sam o governo sul-africano
de punir os pobres para fe-
char o buraco financeiro pro-
vocado pela corrupção no
tempo de Jacob Zuma.
O novo imposto de valor
acrescentado foi anuncia-
do em Fevereiro passado
no Parlamento pelo então
contestado Ministro das Fi-
nanças, Malusi Gigaba, no-
meado por Jacob Zuma no
meio de muitos protestos
públicos e do poderoso sec-
tor económico-financeiro
sul-africanos.
É a primeira vez que o go-
verno do ANC faz o reajus-
tamento do Imposto de Va-
lor Acrescentado desde que
chegou ao poder em 1994.
Os seus parceiros sociais, in-
cluindo a Confederação dos
Sindicatos Laborais, conde-
nam o reajustamento do IVA
considerando que a medida
vai agravar o custo de vida
para a maioria da população
pobre.
Desemprego crescente
O sindicato dos mineiros
está preocupado com os
despedimentos. Algumas
companhias queixam-se dos
elevados custos de opera-
ção e descarregam a fúria
sobre a massa laboral, redu-
zindo efectivos.
Um membro da União Nacio-
nal dos Mineiros disse durante
a manifestação contra o de-
semprego acreditar que com
manifestações de rua a redu-
ção de mão-de-obra vai parar.
Apelou aos empregadores
para ouvirem a mensagem
correio da manhã • abril 2018
sociedade & negócios
da massa laboral. “Estamos
a dizer não à redução dos
trabalhadores”, disse fonte
do sector sindical mineiro.
O novo Ministro dos Recursos
Minerais e líder do Partido
Comunista, Blade Nzimande,
tem estado a contactar com
os gestores e trabalhadores
das minas com dificuldades
para travar o despedimento
dos mineiros.
Este mês, a companhia Even-
der Gold Mine, na província
do Limpopo, limítrofe com
Moçambique, vai despedir
1.722 mineiros, dos quais
137 são moçambicanos.
O Ministro Nzimande visi-
tou a companhia há cerca de
duas semanas para discutir
alternativas, mas tudo indi-
ca que o despedimento vai
mesmo prosseguir.
A Aliança Democrática (DA),
maior partido da oposição
no Parlamento, tentou sem
sucesso pressionar o gover-
no do ANC através de mar-
chas de rua para anular o
reajustamento do IVA.
Para a DA, o governo de Ciyrl
Ramaphosa quer pagar as
contas mal-paradas do an-
terior executivo de Jacob
Zuma.
O governo reconhece que o
reajustamento vai agravar
o custo de vida já elevado e
promete alargar a lista dos
produtos básicos isentos de
pagamento do IVA.
Mas o consumir assume o
fardo do novo IVA em ou-
tros produtos a partido des-
te Domingo de Páscoa.
É que as contas públicas do
governo estão no vermelho
por causa do enorme défice
fiscal e orçamental alargado
nos últimos anos de gover-
nação de Jacob Zuma.
THANGANI WA TIYANI,
CORRESPONDENTE NA ÁFRICA DO SUL
4
O bastonário Flávio Menete
garantiu apoio institucional
da Ordem dos Advogados
de Moçambique (OAM), na
criação de uma Ordem dos
Economistas de Moçambi-
que, um dos mais ambicio-
sos projectos da lista B, nas
eleições que vão decorrer
na AMECON, no próximo dia
10 de Abril.
Tal garantia foi dada no en-
contro que o bastonário da
OAM manteve, na passa-
da quinta-feira (29Mar18),
com o candidato a presi-
dente da direcção da lista
B da AMECON-Associação
Moçambicana dos Econo-
mistas.
Rodolfo Nogueira Dias dis-
se ter solicitado tal encon-
tro, para junto dos “mais
experientes, como os da
Ordem dos Advogados,
colher ensinamentos que
ajudem a associação que
pretendo liderar, nos próxi-
mos anos, a constituir, pela
primeira vez no nosso País
um mecanismo regulador
da actividade de econo-
mistas e gestores, através
do registo e certificação
profissional, como também
do exercício da acção disci-
plinar e de controlo sobre
os profissionais do nosso
ramo”.  já trabalhou para institui-
Flávio Menete mostrou-se
satisfeito por poder par-
tilhar a experiência dos
advogados junto da classe
profissional dos econo-
mistas e gestores, a quem
transmitiu um conjunto de
conhecimentos sócio-pro-
fissionais que ajudarão a
lista B a alcançar o seu de-
siderato.
“Sentimos o entusiasmo
desta lista B, a da Nova
AMECON, e achamos que é
nosso dever apoiar uma or-
ganização sócio-profissio-
nal, tão importante como
a dos economistas e ges-
tores. Disse ao candidato
Rodolfo Nogueira Dias que
este projecto irá implicar
um grande trabalho, mas
que poderá contar com o
nosso apoio”.
De igual modo, a lista B man-
teve já, com o mesmo objec-
tivo, contactos com a Ordem
dos Contabilistas, bem como
a dos Médicos.
Refira-se que a lista B é a
única concorrente que, na
sua composição de órgãos
sociais, inclui membros das
províncias e também a úni-
ca com representatividade
do género, pois tem 45% de
mulheres na equipa de ges-
tão.
O cabeça-de-lista, Rodolfo
Nogueira Dias, formado no
Brasil e na Inglaterra, é um
profissional bancário afecto
à banca de investimentos,
tendo igualmente experi-
ência em docência, nome-
adamente sobre Mercado
de Capitais, matéria que
ensinou na Universidade
Politécnica, na cidade de
Maputo. 
Na sua carreira profissional,
ções como o Banco Santan-
der, Prosper – Correctora de
Valores Mobiliários e Câm-
bio, no Brasil e na Bloom-
berg L.P., em Londres.
Foi finalista das Jornadas
Científicas Bancárias, or-
ganizadas pelo Banco de
Moçambique, iniciativa que
promove a pesquisa econó-
mica sobre a economia mo-
çambicana.
reDACÇÃO

Vice-PR de Angola elogia
finado responsável da UNITA
Almerindo Jaka Jamba, com sua esposa, no último dia da campanha
eleitoral para as eleições gerais de 26 de Setembro de 2017, em Luanda
O vice-Presidente da Repú-
blica de Angola, Bornito de
Sousa, comentou que o país
perdeu um dos “seus filhos
mais ilustres”, com a morte
do deputado e dirigente his-
tórico da UNITA Almerindo
Jaka Jamba, por doença, aos
69 anos de idade.
Na mensagem da Casa Civil
do Presidente da República,
remetida posteriormente
à media, Bornito de Sousa
- o Presidente João Louren-
ço encontra-se ausente do
país - escreve que “foi com
um sentimento de profunda
consternação” que a notícia
foi conhecida.
“Com este infausto aconte-
cimento, Angola perde um
dos seus filhos mais ilus-
tres, intelectual de rara es-
tirpe e incansável promotor
da concórdia e harmonia
entre os angolanos”, lê-se
na mensagem.
No texto, o vice-Presidente
da República transmite a
“esperança de que a socie-
dade valorize, na sua acção
quotidiana, o legado do na-
cionalista que parte prema-
turamente”.
Pela UNITA, Almerindo Jaka
Jamba foi um dos últimos ne-
gociadores angolanos vivos
do Acordo de Alvor, que an-
tecedeu a independência de
Angola, e morreu na madru-
gada de domingo (01 de Abril
de 2018), em Luanda, vítima
de acidente vascular cerebral.
A informação sobre a morte
de Jaka Jamba foi confirma-
correio da manhã • abril 2018
internacional & opinião
zexdikholdra@gmail.com
BOSSAmbicaNu
PENSAMENTO/(RE)
FLEXÃO/AFORISMO
O verdadeiro sonho com a
paz deve começar com
da pelo porta-voz da União
Nacional para a Indepen-
a extinção de exércitos;
dência de Angola (UNITA),
Alcides Sakala, que desta-
particularmente dentro
cou a “perda irreparável” de nós.
para o partido, o maior da
oposição angolana.
“Foi alguém com uma visão
muito bem elaborada sobre A mais sábia forma de
a reconciliação nacional e,
por excelência, um homem sonhar com um mundo
de diálogo, que procurava
constantemente os consen- melhor é investindo nos
sos. É uma perda irreparável
para o partido e para o país”, Homens: Um mundo
afirmou Alcides Sakala.
Formado em Filosofia pela melhor não se consegue
Universidade clássica de Lis-
boa, em Portugal, foi profes-
com riquezas materiais,
sor na Escola Técnica do Sei-
xal e no Liceu Nacional de
mas sim – com Homens
Oeiras. Militante activo da
UNITA em Lisboa, em 1972
melhores.
deixou a capital portuguesa
e partiu para a Suíça.
Em 1975 integrou, pela UNI-
TA, a equipa que negociou,
Ninguém é
no Algarve, os Acordos de suficientemente
Alvor com o Governo portu-
guês, de partilha do poder importante para que o
em Angola após a indepen-
dência, tendo integrado nes- tempo espere por ele.
se mesmo ano o Governo de
transição, como secretário
de Estado da Informação.
Actualmente era deputado Não se pode trabalhar
na Assembleia Nacional e
professor universitário em bem em conjunto
Luanda, depois de ter sido
vice-presidente do parla- sem se trabalhar bem
mento, entre 1997 e 2005,
e embaixador delegado per-
individualmente.
manente de Angola junto da
UNESCO, entre 2005 e 2008.
redacção
5

Uma piada sobre
a nova guerra fria
Herdeiros de uma literatura
carregada de drama e so-
frimento – de Dostoievski
a Tolstoi, entre outros –, os
russos têm demonstrado re-
centemente uma veia mais
humorística, usando ironia
para reagir a temas que difi-
cilmente poderiam ser mais
sérios: a vida e morte (de
espiões), a guerra (fria) e a
frágil paz diplomática
O assassinato de um ex-es-
pião russo, Sergei Skripal,
e da filha deste, por enve-
nenamento em Inglaterra,
provocou uma resposta for-
te. Mais de vinte países cul-
pam Moscovo pelo acto e já
expulsaram dezenas de di-
plomatas russos. O Kremlin
enviou para casa 23 diplo-
matas britânicos e semana
finda ameaçou ainda com
uma “resposta dura” às ex-
pulsões.
No entanto, há outro aspecto
da reacção russa que é deve-
ras preocupante. Várias em-
baixadas russas recorreram
ao Twitter para lançar uma
campanha que Theresa May
classificou de “sarcasmo,
desprezo e provocação”.
Olhando para os  tweets, é
dificil não concordar com a
primeira-ministra britânica.
Após os Estados Unidos te-
rem encerrado o consulado
em Seattle, a conta da diplo-
macia russa na rede social
correio da manhã • abril 2018
opinião
O Daesh veio trazer um iné- ajudando a colocar Donald
dito e urgente desafio para Trump na Casa Branca.
os líderes ocidentais em ter- Edward Lucas explica que
reno doméstico.
A guerra na Síria demons-
enquanto Putin parece es-
tar a usar diversos métodos
tra a fraca capacidade de
reacção organizada do eixo
agressivos para atingir os
objectivos, o Ocidente tem
atlântico face a uma tragédia menos margem de mano-
perguntou aos seguidores interminável. bra.
“qual é o consulado que Durante este período, Putin As possibilidades estão limi-
você fecharia, se pudesse fortaleceu a posição interna, tadas a pouco mais do que
decidir?”. seja pela via da repressão (o expulsar centenas de diplo-
A embaixada russa em Lon- assassinato do opositor Bo- matas para circunscrever, de
dres publicou uma foto de ris Nemtsov, em 2015, foi o certa forma, a capacidade
um termómetro enterrado incidente mais óbvio), ou do russa de obter informação
no gelo, acompanhada da uso da agressividade exter- ou de impor sanções.
seguinte piada: “a tempe- na, na Crimeia e na Ucrânia, Mais do que isso é difícil. E
ratura das relações russo- para fomentar o nacionalis- é por terem noção disso que,
-britânicas cai para -23, mo. provavelmente, estão a ofe-
mas nós não temos medo do Pelo meio terá conseguido recer aos russos que apoiam
clima frio”. ainda interferir nas eleições Putin tantos motivos para
A ironia é desconcertante, do velho inimigo, os Esta- dar uma boa gargalhada.
mas a mensagem não deixa dos Unidos, alegadamente SHRIKESH LAXMIDAS
margem para dúvidas – a
Rússia de Vladimir Putin
não tem, nem nunca teve, frase
receio de uma nova guerra
fria com o Ocidente. A soberba nunca desce de onde sobe, mas cai sempre
Há dez anos, no livro “A Nova de onde subiu
Guerra Fria:  a Rússia de Pu- - Francisco Quevedo (1580-1645), escritor
tin e a ameaça ao Ocidente”,
Edward Lucas argumentava
que o novo conflito não se
centra, ao contrário da guer-
ra fria original, em ideologia,
mas num desejo de obter
poder sobre o fornecimento
de energia ao Ocidente.
Na década seguinte, muitas
das previsões de Lucas vie-
ram a provar-se certeiras.
Putin viria a aproveitar-se da
distração dos inimigos. Os
Estados Unidos e a Europa
afundaram-se na maior crise
económica em várias déca-
das. O projecto europeu foi Av. Filipe Samuel Magaia, nº 582, 2º andar – 4. Contacto
Cel: 829380506 – 828277750
abalado pelas divisões entre
os países ricos e os pobres e, 06.30 – 18.00
logo a seguir, pelo Brexit.