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ENTREVISTA: FENRIZ
(DARKTHRONE)
25 anos da gravação de Soulside Journey
In Discos
Estar entre os reis do black metal do início dos anos 90 não basta. É pouco para
uma banda como o Darkthrone. Para saber mais de clássicos como
Transilvanian Hunger ou Under a Funeral Moon, você com certeza vai encontrar
várias entrevistas espalhadas pela internet. Mas a gente queria falar de um
disco rico, emblemático e peça única na carreira dos caras: o Soulside Journey.
Uma das resenhas da época dizia “don’t start here if you’re trying to get
into Darkthrone, that is the message”. Essa advertência estava errada, muito
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errada. É exatamente esse disco, e toda sua história, que faz com que a gente
entenda o movimento da banda em direção ao black metal e, mais recentemente,
ao estilo mais cru e tradicional com pitadas de metal punk.
Em 2015 faz 25 anos que a banda entrou em estúdio para gravar uma coleção de
músicas intrincadas e que em quase nada se relaciona com o que eles vieram a
fazer depois disso. A abordagem minimalista e os riffs sombrios e técnicos
resultaram nesse primogênito de gênio forte, que até hoje divide opiniões.
Para nós, não teria jeito melhor de brindar esse feito do que trocar uma ideia
com um dos caras responsáveis por essa obra-prima. A gente falou com o Fenriz,
baterista, compositor e fundador de uma das melhores bandas do mundo. Sim,
do mundo. Parece exagero, né? Deve ser. Mas é que uma banda como o
Darkthrone é feita de exageros criativos, na atitude e na convicção de criar obras
que re itam o respeito que ela tem pela sua música.
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Sounds Like Us: Como era a Noruega e como andava sua vida quando você
gravou o Soulside Journey?
Fenriz: Na verdade, eu sinto que era assim como hoje. Acabávamos de sair de
uma monótona década de 80 aqui. Havia música, mas era um país muito jovem
musicalmente falando. Não acontecia muita coisa ao vivo se compararmos com
os dias atuais (Oslo é uma das cidades musicais mais movimentadas do mundo
e a Noruega é um dos países mais movimentados com seus festivais
constantes). Como país, a gente precisava de muito incentivo e, levando em
conta todo o espírito provocativo do black metal, o sucesso dele acabou
ajudando a Noruega a se tornar uma nação musical.
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Mas a vida era liberal por aqui. A geração irônica estava prestes a sair de cena
(agora, me parece que uma mistura de ironia e não-ironia é melhor) e também
tínhamos acabado de sair da Guerra Fria – de 1988 até o comecinho de 1990,
nosso lugar de ensaios era um abrigo antibomba que cava sob uma leira de
estacionamentos. Por causa da Guerra Fria, tínhamos que levar todo o
equipamento para baixo e transportá-lo para um alojamento a cada ensaio, haha.
Um saco, mas esse é apenas um dos detalhes de como se preparar para a guerra.
Minha vida era ótima, uma vez que meu único objetivo na vida era conseguir
assinar com uma gravadora. Eu não estava muito interessado em tocar ao vivo e,
quando criança, não cheguei a sonhar muito com os palcos, só em fazer discos.
Eu sempre fui e serei uma pessoa de DISCOS, não uma pessoa de shows. E eu
descobri o underground no comecinho de 1987 e, desde então, era o que eu fazia
na época do Soulside (eu meio que dei uma parada do underground de 1991 a
2004, mas não completamente), que era, naturalmente, trocar cartas e música
com o underground mundial, que era a nossa internet antes da internet.
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Em 90, eu comprei quase nada de death metal (embora tenha sido o estilo que a
gente dominava na época). Nós começamos a car retrô com todas as coisas
primitivas que estávamos escutando, com Black Sabbath, Bathory e Celtic Frost,
e passou a ser lógico sair do death metal mais técnico e tocar de uma forma
mais primitiva no início de 91.
Sounds: Aqui no Brasil era difícil conseguir discos novos. Sem internet, os discos
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lançados na época chegavam pra gente com meses, às vezes anos, de atraso.
Escutei [Vina] o Soulside Journey por volta de 1991, em uma ta K7 gravada que
comprei aqui. Como era pra vocês na Noruega? O acesso era mais fácil ou tão
difícil quanto?
Fenriz: Bem, eu comprei os dois primeiros do Sepultura do próprio Max no m de
86, por meio da DEATHVINE, uma coluna de meia página da revista Kerrang. Era
como um mini fanzine. Os discos chegaram um ano depois, junto com uma carta
de pedido de desculpas do Max. Ele também enviou o disco novo, em reparação
ao meu tempo de espera. Era o Schizophrenia, um dos meus discos favoritos de
thrash até hoje.
Eu pude comprar os Sarcófago por mail order. Isso era tudo que eu tinha, porque
aqui a distribuição era fraca na época e, na verdade, sempre foi assim, pelo
menos para freaks do underground como eu. Você poderia ter trocado tas do
Darkthrone. Nós trocamos tas com coisas da América do Sul. Era comum ter
demos de lugares exóticos (como a Noruega, para vocês) em 88, 89. De qualquer
forma, depois de 87 eu quase não comprava discos de metal nas lojas mais, as
coisas de que eu gostava eram muito underground. Mas eu podia comprar
alguns discos, claro.
Sounds: Consegue se lembrar de alguma banda que você conheceu nas famosas
trocas de tas e que acompanha até hoje?
Fenriz: Haha, de pelo menos uma centena!!! Eu não sou como os velhos caras do
metal dos anos 80 que, logo depois do sucesso do primeiro disco, se esqueceram
do lugar de onde vieram… eu dedico pouquíssima parte do meu tempo
promovendo a minha própria banda, e grande parte divulgando a música de
OUTRAS PESSOAS. Grátis [ele escreveu a palavra em português].
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ano de 1990. Nós fomos uma das primeiras bandas de metal retrô, mesmo sem
ter essa intenção. Na verdade, ninguém havia usado o termo RETRÔ até então.
Sounds: Vocês não se identi cavam mais com aqueles timbres registrados na
gravação?
Fenriz: A gente não queria ser associado com um gênero que vinha cando
polido demais. Eu tinha o som underground no meu sangue. Mas também pelo
que a gente tinha escutado.
Sounds: O quanto a gravação desse disco foi importante para que vocês se
encontrassem como banda?
Fenriz: Não foi. A gente não tinha muito tempo e o que nós queríamos era o
estúdio local Creative Studios, mas ele era muito caro naquela época. Nós não
queríamos soar como as outras bandas polidas de death metal, mas sentimos
que não tínhamos escolha. O Sunlight Studios era seguro e barato e nós
pudemos contar com a ajuda dos nossos amigos do Entombed, então foi uma
bela viagem e tudo mais. Mas nós aprendemos que não vamos mais abrir
concessões, se não precisarmos. E sempre tentaremos atingir um som mais
ORGÂNICO. Não plástico.
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Sounds: Na época, vocês caram felizes com o resultado? E hoje, ele te agrada?
Mudaria alguma coisa?
Fenriz: Provavelmente é o disco que eu mais escutei, porque ele é o primeiro.
Mas eu continuo não gostando do som. Eu poderia sonhar e sonhar em como ele
soaria se tivesse o som do Mob Rules, do Black Sabbath, ou da segunda demo do
Nocturnus, que é o que a gente teria feito se tivesse 25.000 Kr [coroas – moeda da
Noruega, Suécia…] para ir ao Creative Studio (que ca a 900 metros de onde eu
estou sentado). A gente só tinha 10.000 kr, então tivemos que ir ao Sunlight.
Sounds: Já era intencional uma sonoridade mais death metal sueco mesmo
antes de vocês decidirem gravar o disco na Suécia ou foi uma in uência do
ambiente mesmo?
Fenriz: Depois que o Sunlight teve um upgrade, assim como o Morrisound teve
também, os discos que eram gravados nesses estúdios começaram a soar todos
muito parecidos. Por isso, não importava de onde você vinha, você iria soar
como Morrisound ou Sunlight. Não tinha muito a ver com os países, mas sim,
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também havia algo do death metal sueco e americano. Se você analisar nossas
músicas, elas têm muito mais a ver com Autopsy, Nocturnus e Morbid Angel do
que com qualquer outra banda sueca. Eu vinha seguindo o Nihilist desde que o
Nick me escreveu querendo uma demo (era do Black Death, uma banda de merda
que eu tinha na época) no verão de 87. Ele não gostava da minha banda, claro,
mas mantivemos a troca de tas. Ele se tornou meu mentor no underground
porque ele tinha as demos mais fodas. Então, ele me enviou um ensaio do seu
novo projeto, Nihilist, e eu gostei pra caralho daquilo. Mas eles sempre tiveram
uma pegada diferente da nossa. A gente ia por um caminho mais técnico e
especial, mas ao mesmo tempo, dark.
Goatlord que a gente compôs depois. Era um disco muito bom, mas infelizmente
TAMBÉM não foi gravado no Creative Studio. Era uma maldição para o
Darkthrone death metal. Acho que até vendeu bem, não havia muitos discos de
death metal lançados na época. Se você é o PRIMEIRO, OU se você lança algo na
moda, o que aconteceu alguns anos depois, você normalmente vende mais.
Digamos que a gente estava no meio. De qualquer forma, o disco demorou tanto
pra sair que a gente já tinha lançado o Goatlord E começado a tocar black metal,
então virou coisa velha pra nós. Além disso, as músicas eram de 89/90. Não era
exatamente um material recente quando saiu, em 91. Se mais pessoas o
descobrem [o Soulside Journey], legal, mas elas precisam entender que nós não
queríamos aquela produção. Ouça a segunda demo do Nocturnus (NÃO o disco)
para entender que tipo de som a gente precisaria ter. Acho que foi bastante
normal escutá-lo aqui no “mundo ocidental”, haha.
Sounds: Algumas pessoas confundem in uência com referência e pra mim são
duas coisas diferentes. In uências são as bandas que moldaram o seu caráter
musical. São as bandas que estão no seu DNA. Referências podem ser bandas
novas ou antigas que te inspiram de alguma forma. É algo mais racional. Quais
bandas você citaria como in uências e quais foram referências pra vocês na
época?
Fenriz: Bem, a primeira coisa que você tem de vocal no álbum é “Lucifer!…
Master…” que eu cantei como um tributo ao sgundo disco do Possessed. O
Mallevs Malle carvm, do Pestilence, foi um disco importante pra gente, Celtic
Frost… tinha um riff de Celtic Frost lá. Muitas e muitas referências, e agora eu
tenho um leque eterno de referências que são boas para entender quais riffs são
ruins em qualquer época, e quais seriam legais a qualquer momento. Quanto às
in uências… eu diria que o “Soulside Journey” soaria muito diferente se a gente
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Sounds: Mesmo sendo colocado como um disco de death metal, antes de tudo,
estávamos diante de um disco de heavy metal. Enxergamos também muita coisa
da era Hell Awaits e alguma coisa dos primeiros discos do Voivod. Você concorda
que trazer esse tipo de in uência na bagagem pode ter contribuído para o
resultado rico das músicas, mesmo que essa in uência não seja tão na cara?
Fenriz: Os dois primeiros do Voivod… haha. Eu não tirava o RRROOOAAARRR da
minha cabeça. Eu comprei em 86 e nunca vendi. É sujo e caótico, e isso é genial,
mas eu pre ro o deaththrash caótico do Necrodeath, Death Yell ou Sodom da
fase Obsesses by Cruelty (Steamhammer version), mas o disco do Voivod pra
mim sempre foi o Killing Technology. Fui ter o War and Pain muito tempo
depois. O Hell Awaits in uenciou muito a gente e explodiu nossa cabeça quando
foi lançado. A gente conta no nosso livro…Ted e eu descobrimos esse disco no
Natal de 85, quando a gente se ligou que a música “Hell Awaits” SÓ tinha riff do
mal. A gente também tocava esse som pra se aquecer (pelo menos até o primeiro
refrão) muitas vezes em 88, haha. Bem, dizem que tudo acaba in uenciando
você. Eu não necessariamente concordo. Acho que tudo in uencia você a saber o
que NÃO fazer. Eu geralmente não sei o que quero com as músicas que eu crio,
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mas eu sei o que eu NÃO quero. A gente tinha uma grande bagagem por ter
escutado coisas pesadas dos anos 60, 70 e 80, então não fomos direto pro thrash,
pro death ou pro black, mas quando tocamos coisas de death e black, vimos que
de nitivamente queríamos fazer só aquilo. É que simplesmente a gente não
consegue copiar muito bem, então apenas nos deixamos levar pelas
coincidências. É o que parece.
Sounds: Você não acha preguiçoso por parte da mídia classi car o Soulside
Journey como um disco de death metal, sendo que as temáticas black metal já
estavam presentes nesse álbum? Você o considera um disco de black metal
(pelas temáticas) ou death metal (pela sonoridade)?
Fenriz: Não. Acho que ele foi promovido como death metal, então o que a
imprensa poderia fazer? Ele tinha uma abordagem lírica mais obscura que era
tão satânica quanto espacial e até poética. Mas quanto isso pode ditar como uma
música deve ser classi cada? É death metal dark. O disco Goatlord é ainda mais.
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15/03/2018 Entrevista: Fenriz (Darkthrone) - Sounds Like Us
Sounds: Sobre tocar ao vivo, em uma das suas poucas entrevistas, o Quorton
disse que, sem tocar ao vivo, cada um poderia criar sua ideia de um show do
Bathory escutando os discos da banda, além de não querer arruinar suas
músicas por nada. No caso de vocês, mesmo tendo feito algumas poucas
apresentações, qual o motivo para não se apresentar ao vivo?
Fenriz: Eu poderia escrever uma série de livros sobre os motivos para não tocar
ao vivo. Eu já respondi incontáveis entrevistas sobre esses motivos. Então, eu
estou bem cansado disso. Sinto quase que a mesma coisa que o Quorton e eu
sempre me senti desse jeito, como expliquei no início da nossa conversa. Muitas
vezes eu estou desinteressado em ver as bandas ao vivo, pelos mesmos motivos.
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15/03/2018 Entrevista: Fenriz (Darkthrone) - Sounds Like Us
Sounds: Nós temos uma relação bem próxima com aquele death metal mais
ortodoxo de bandas como Immolation, Morbid Angel, Krisiun, Massacre e o
próprio Death. Você tem acompanhado as novas bandas do estilo? Pode indicar
algumas pra gente?
Fenriz: Tem cinco anos de BAND OF THE WEEK pra fazer isso. Eu não posso
voltar nas listas pra achar todas as bandas de death metal que eu recomendei
nesses 6 ou 7 anos. Eu acho que foram umas 70 bandas. Do Death, eu só gosto do
primeiro disco. Do Morbid Angel é mais o Abominations, Thy Kingdom Come e o
Altars of Madness, mas não curto muito o som desse disco. Do Massacre SÓ a
primeira e a segunda demos e uma ta de ensaio que um dos caras mandou
acidentalmente pra mim. Do Immolation eu só gosto da primeira demo, mas
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15/03/2018 Entrevista: Fenriz (Darkthrone) - Sounds Like Us
aquela demo é foda demais. Krisiun é ok, mas nada que eu continuei escutando.
Eu pre ro o Angel Corpse, do disco The Inexorable. Como o death metal veio do
thrash e o black metal também se misturou na época, essa é a sopa de onde eu
vim. Muitas vezes eu curto death metal misturado com black. Eu gosto do disco
mais recente do Embrace of Thorns [Darkness Impenetrable], não é lá muito
original, mas é bom e tem um vocal ótimo. Gosto mais de experimental como
Morbus Chron e um estilo grooveado como o Under the Church… eu odeio death
metal com blastbeat de máquina de escrever ou death metal scream-técnico-
espasmódico. Eu também gosto de death metal com conotações black, como o
Hic Iacet ou Khtoniiks Cerviiks ou qualquer categoria que elas se enquadrem,
haha.
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15/03/2018 Entrevista: Fenriz (Darkthrone) - Sounds Like Us
que nós estávamos escutando. Mas eu continuo gostando muito dos ensaios do
Dimmu de 93. Não tinha vocal, se me lembro bem, mas eu escutava muito e
sempre me dei bem com o Shagrath [vocalista do Dimmu Borgir]. Costumava
encontrá-lo na rua Elm. Na verdade, ele acabou de me mandar uma solicitação
de amizade no Facebook.
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