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RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 7 n.

4 Out/Dez 2002, 75-95

Potencial de Reuso de Água no Brasil


Agricultura, Industria, Municípios, Recarga de Aqüíferos
Ivanildo Hespanhol
USP – São Paulo - ivanhes@usp.br

Artigo convidado. Aprovado em setembro.

RESUMO
Nas regiões áridas e semi-áridas, a água se tornou um fator limitante para o desenvolvimento urbano, industrial e agrícola. Mesmo áreas
com recursos hídricos abundantes, mas insuficientes para atender à demandas elevadas, experimentam conflitos de uso e sofrem restrições de
consumo que afetam o desenvolvimento econômico e a qualidade de vida. Nessas condições, reuso e conservação passaram a ser as palavras chave
em termos de gestão, em regiões com baixa disponibilidade ou insuficiência de recursos hídricos.
O reuso de água encontra, no Brasil, uma gama significativa de aplicações potenciais. O uso de efluentes tratados na agricultura, nas áreas
urbanas, particularmente, para fins não potáveis, no atendimento da demanda industrial e na recarga artificial de aqüíferos, se constitui em
instrumento poderoso para restaurar o equilíbrio entre oferta e demanda de água em diversas regiões brasileiras.
Cabe entretanto, institucionalizar, regulamentar e promover o reuso de água no Brasil, fazendo com que a prática se desenvolva de acordo
com princípios técnicos adequados, seja economicamente viável, socialmente aceita, e segura, em termos de preservação ambiental e de proteção dos
grupos de riscos envolvidos.
Palavras-chave: reuso; Brasil; usos.

INTRODUÇÃO demonstração de vontade política, direcionada para a insti-


tucionalização do reuso. A “Conferência Interparlamentar
A Agenda 21 (1994) dedicou importância especial ao sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente” realizada em
reuso, recomendando aos países participantes da ECO, à Brasília, em dezembro de 1992, recomendou, sob o item
implementação de políticas de gestão dirigidas para o uso e Conservação e Gestão de Recursos para o Desenvolvimen-
reciclagem de efluentes, integrando proteção da saúde públi- to (Paragrafo 64/B), que se envidasse esforços, em nível
ca de grupos de risco, com práticas ambientais adequadas. nacional, para “institucionalizar a reciclagem e reuso sem-
No Capítulo 21 – “Gestão ambientalmente adequada pre que possível e promover o tratamento e a disposição
de resíduos líquidos e sólidos”, Área Programática B – “Ma- de esgotos, de maneira a não poluir o meio ambiente”.
ximizando o reuso e a reciclagem ambientalmente adequa-
das”, estabeleceu, como objetivos básicos: “vitalizar e ampli- NECESSIDADE DE REUSO
ar os sistemas nacionais de reuso e reciclagem de resíduos”,
e “tornar disponível informações, tecnologia e instrumentos
Nas regiões áridas e semi-áridas, a água se tornou um
de gestão apropriados para encorajar e tornar operacional,
fator limitante para o desenvolvimento urbano, industrial e
sistemas de reciclagem e uso de águas residuárias”.
agrícola. Planejadores e entidades gestoras de recursos hídri-
A prática de uso de águas residuárias também é asso- cos, procuram, continuadamente, novas fontes de recursos
ciada, e suportiva, às seguintes áreas programáticas incluí- para complementar a pequena disponibilidade hídrica ainda
das no capítulo 14 – “Promovendo a agricultura sustentada disponível. No polígono das secas do nosso nordeste, a
e o desenvolvimento rural”, capítulo 18 – “Proteção da dimensão do problema é ressaltada por um anseio, que já
qualidade das fontes de águas de abastecimento – Aplica- existe há 75 anos, para a transposição do rio São Francisco,
ção de métodos adequados para o desenvolvimento, gestão visando o atendimento da demanda dos Estados não ripari-
e uso dos recursos hídricos”, visando a disponibilidade de anos, da região semi-árida, situados ao norte e a leste de sua
água “para a produção sustentada de alimentos e desenvol- bacia de drenagem. Diversos países do oriente médio, onde
vimento rural sustentado” e “para a proteção dos recursos a precipitação média oscila entre 100 e 200 mm por ano,
hídricos, qualidade da água e dos ecosistemas aquáticos”, e dependem de alguns poucos rios perenes e pequenos reser-
no capítulo 30, “Fortalecimento do papel do comércio e da vatórios de água subterrânea, geralmente localizados em
indústria”. regiões montanhosas, de dificil acesso. A água potável é
Embora não exista, no Brasil, nenhuma legislação re- proporcionada através de sistemas de desalinização da água
lativa, e nenhuma menção tenha sido feita sobre o tema na do mar e, devido a impossibilidade de manter uma agricultu-
nova Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei n o.9.433 ra irrigada, mais de 50% da demanda de alimentos é satisfei-
de 8 de janeiro de 1997), já se dispõe de uma primeira ta através da importação de produtos alimentícios básicos.

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O fenômeno da escassez não é, entretanto, atributo esquematicamente, os tipos básicos de usos potenciais de
exclusivo das regiões áridas e semi-áridas. Muitas regiões esgotos tratados, que podem ser implementados, tanto em
com recursos hídricos abundantes, mas insuficientes para áreas urbanas como em áreas rurais (Hespanhol, 1997).
satisfazer demandas excessivamente elevadas, também
experimentam conflitos de usos e sofrem restrições de
consumo, que afetam o desenvolvimento econômico e a Usos urbanos
qualidade de vida. A bacia do Alto Tietê, que abriga uma
população superior a 15 milhões de habitantes e um dos No setor urbano, o potencial de reuso de efluentes é
maiores complexos industriais do mundo, dispõe, pela sua muito amplo e diversificado. Entretanto, usos que dema-
condição característica de manancial de cabeceira, vazões dam água com qualidade elevada, requerem sitemas de
insuficientes para a demanda da Região Metropolitana de tratamento e de controle avançados, podendo levar a cus-
São Paulo e municípios circunvizinhos. Esta condição, tem tos incompatíveis com os benefícios correspondentes. De
levado à busca incessante de recursos hídricos complemen- uma maneira geral, esgotos tratados podem, no contexto
tares de bacias vizinhas, que trazem, como consequência urbano, ser utilizados para fins potáveis e não potáveis.
direta, aumentos consideráveis de custo, além dos eviden-
tes problemas legais e político-institucionais associados.
Esta prática tende a se tornar cada vez mais restritiva, face
Usos urbanos para fins potáveis
à conscientização popular, arregimentação de entidades de
classe e ao desenvolvimento institucional dos comitês de A presença de organismos patogênicos e de compos-
bacias afetadas pela perda de recursos hídricos valiosos. tos orgânicos sintéticos na grande maioria dos efluentes
Nessas condições, o conceito de “substituição de disponíveis para reuso, principalmente naqueles oriundos
fontes”, se mostra como a alternativa mais plausível para de estações de tratamento de esgotos de grandes conurba-
satisfazer a demandas menos restritivas, liberando as ções com polos industriais expressivos, classifica o reuso
águas de melhor qualidade para usos mais nóbres, como potável como uma alternativa associada a riscos muito
o abastecimento doméstico. Em 1985, o Conselho Eco- elevados, tornando-o praticamente inaceitável. Além disso,
nômico e Social das Nações Unidas (United Nations, os custos dos sistemas de tratamento avançados que seriam
1958), estabeleceu uma política de gestão para áreas ca- necessários, levariam à inviabilidade econômico-financeira
rentes de recursos hídricos, que suporta este conceito: “a do abastecimento público, não havendo, ainda, face às
não ser que exista grande disponibilidade, nenhuma água considerações anteriormente efetuadas, garantia de prote-
de boa qualidade deve ser utilizada para usos que toleram ção adequada da saúde pública dos consumidores.
águas de qualidade inferior”. Entretanto, caso seja imprescindível implementar
As águas de qualidade inferior, tais como esgotos, reuso urbano para fins potáveis, devem ser obedecidos os
particularmente os de origem doméstica, águas de drena- seguintes critérios básicos:
gem agrícola e águas salobras, devem, sempre que possível,
ser consideradas como fontes alternativas para usos menos Utilizar apenas sistemas de reuso indireto
restritivos. O uso de tecnologias apropriadas para o desen-
volvimento dessas fontes, se constitue hoje, em conjunção
A Organização Mundial da Saúde não recomenda o
com a melhoria da eficiência do uso e o controle da de-
reuso direto, visualizado como a conecção direta dos eflu-
manda, na estratégia básica para a solução do problema da
entes de uma estação de tratamento de esgotos a uma
falta universal de água.
estação de tratamento de águas e, em seguida, ao sistema
de distribuição.
FORMAS POTENCIAIS DE REUSO Como reuso indireto, se compreende a diluição dos
esgotos, após tratamento, em um corpo hídrico (lago, reser-
Através do ciclo hidrológico a água se constitue em vatório ou aquífero subterrâneo), no qual, após tempos de
um recurso renovável. Quando reciclada através de siste- detenção relativamente longos, é efetuada a captação, segui-
mas naturais, é um recurso limpo e seguro que é, através da da de tratamento adequado e posterior distribuição.
atividade antrópica, deteriorada a níveis diferentes de polu- O conceito de reuso indireto implica, evidentemente,
ição. Entretanto, uma vez poluída, a água pode ser recupe- que o corpo receptor intermediário, seja um corpo hídrico
rada e reusada para fins benéficos diversos. A qualidade da não poluido, para, através de diluição adequada, reduzir a
água utilizada e o objeto específico do reuso, estabelecerão carga poluidora a níveis aceitáveis. A prática do reuso para
os níveis de tratamento recomendados, os critérios de fins potáveis, como efetuada em São Paulo, na qual a água
segurança a serem adotados e os custos de capital, opera- do reservatório Billings, poluída por efluentes domésticos e
ção e manutenção associados. As possibilidades e formas industriais é revertida, sem nenhum tratamento, para o
potenciais de reuso dependem, evidentemente, de caracte- reservatório Guarapiranga, que também se encontra poluí-
rísticas, condições e fatores locais, tais como decisão políti- do por esgotos domésticos e por elevadas concentrações
ca, esquemas institucionais, disponibilidade técnica e fato- de cobre, utilizado para o controle de algas, não se classifi-
res econômicos, sociais e culturais. A Figura 1 apresenta, ca, portanto, como reuso indireto.

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Figura 1. Formas potenciais de reuso de água (Hespanhol, 1997).

Utilizar exclusivamente esgotos domésticos mentados, devem possuir unidades de tratamento suple-
mentares, além daquelas teóricamente necessárias. Por
Devido à impossibilidade de identificar adequada- exemplo, quando se visualisa a necessidade do emprego de
mente a enorme quantidade de compostos de alto risco, ozona com o objetivo de efetuar a oxidação de micropolu-
particularmente micro-poluentes orgânicos, presentes em entes orgânicos, pode-se, também, acrescentar sistemas de
efluentes líquidos industriais, mananciais que recebem, ou carvão ativado, que operariam como uma segunda barreira,
receberam, durante periodos prolongados, esses efluentes, para atingir o mesmo objetivo. É recomendável, quando
são, “a priori”, desqualificados para a prática de reuso para possível, reter os esgotos já tratados, em aquíferos subter-
fins potáveis. O reuso, para fins potáveis, só pode ser râneos, por períodos prolongados, antes de se encaminhar
praticado, tendo como matéria prima básica, esgotos exclu- a água para abastecimento público.
sivamente domésticos. No caso da República da Namíbia, antes referido, es-
Na República da Namíbia por exemplo, que vem tra- gotos exclusivamente domésticos, coletados na cidade de
tando esgotos exclusivamente domésticos para fins potáveis, Windhoek, são inicialmente tratados na Gammams Sewage
os esgotos industriais são coletados em rede separada e Treatment Works, que consta de grades, caixas de areia,
tratados independentemente (Van der Merwe, Peters & decantadores primários e sistema de lodos ativados, seguido
Menge, 1994). Além disso, um controle intensivo é efetuado de lagoas de maturação. O efluente da estação de Gammams
pela municipalidade, para evitar a descarga, mesmo acidental, é encaminhado à Goreangab Reclamation Plant, para a fase
de efluentes industriais ou compostos químicos de qualquer de potabilização dos efluentes domésticos tratados. Esta
espécie, no sistema de coleta de esgotos domésticos. estação consta de pré-ozonização, coagulação-floculação em
primeiro estágio, flotação com ar dissolvido, adsorção em
carvão ativado em pó, coagulação-floculação em segundo
Empregar barreiras múltiplas nos sistemas de estágio, sedimentação, filtros rápidos de areia, ozonização,
tratamento remoção de ar e reciclagem de ozona, adsorção em carvão
ativado granular, cloração ao breakpoint, correção de pH com
Os elevados riscos associados à utilização de esgotos, cal e armazenamento da água potável em lençol freático, por
mesmo domésticos, para fins potáveis, exigem cuidados longos períodos, de onde é, posteriormente, removida atra-
especiais para assegurar proteção efetiva e permanente dos vés de poços de recuperação e introduzida no sistema de
consumidores. Os sistemas de tratamento a serem imple- abastecimento público de Windhoek.

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Esse sistema vem operando desde outubro de 1968, e tes secundários para diversas finalidades. Em Fukuoka,
os estudos epidemiológicos realizados até o presente, de- uma cidade com aproximadamente 1,2 milhões de habitan-
monstraram que as doenças transmissíveis prevalentes no tes, situada no sudoeste do Japão, diversos setores operam
país (doenças diarréicas e Hepatite A) não são associadas à com rede dupla de distribuição de água, uma das quais com
água reciclada, que abastece a cidade. esgotos domésticos tratados em nível terciário (lodos ati-
vados, desinfecção com cloro em primeiro estágio, filtra-
ção, ozonização, desinfecção com cloro em segundo está-
Adquirir aceitação pública e assumir as gio), para uso em descarga de toaletes em edificios
responsabilidades pelo empreendimento residenciais. Esse efluente tratado é também utilizado para
outros fins, incluindo irrigação de árvores em áreas urba-
Os programas de reuso para fins potáveis devem ser, nas, para lavagem de gases, e alguns usos industriais, tais
desde a fase de planejamento, motivo de ampla divulgação como resfriamento e desodorização (Sano & Miura, 1990).
e discussão com todos os setores da população concernen- Diversas outras cidades do Japão, entre as quais Ooita,
te. Para a implementação, deve haver aceitação pública da Aomori e Tokio, estão fazendo uso de esgotos tratados ou
proposta de reuso. Por outro lado, as responsabilidades de outras águas de baixa qualidade, para fins urbanos não
técnica, financeira e moral, que cabem às entidades encar- potáveis, proporcionando uma economia significativa dos
regadas do planejamento, implementação e gestão do sis- escassos recursos hídricos localmente disponíveis (Narumi,
tema de reuso, devem ser explicitamente reconhecidas e 1987, Gonohe, 1987, Matzusaki, 1987).
assumidas.

Usos industriais
Usos urbanos para fins não potáveis
Os custos elevados da água industrial associados às
Os usos urbanos não potáveis envolvem riscos me- demandas crescentes, têm levado as indústrias a avaliar as
nores e devem ser considerados como a primeira opção de possibilidades internas de reuso e a considerar ofertas das
reuso na área urbana. Entretanto, cuidados especiais de- companhias de saneamento para a compra de efluentes
vem ser tomados quando ocorrre contato direto do públi- tratados, a preços inferiores aos da água potável dos siste-
co com gramados de parques, jardins, hotéis, áreas turísti-
mas públicos de abastecimento. A “água de utilidade”
cas e campos de esporte. Os maiores potenciais de reuso
produzida através de tratamento de efluentes secundários e
são os que empregam esgotos tratados para:
distribuída por adutoras que servem um agrupamento
significativo de indústrias, constitue-se, atualmente, em um
· irrigação de parques e jardins públicos, centros espor- grande atrativo para abastecimento industrial a custos
tivos, campos de futebol, quadras de golfe, jardins de razoáveis. Em algumas áreas da região metropolitana de
escolas e universidades, gramados, árvores e arbustos São Paulo, o custo da água posta à disposição da indústria
decorativos ao longo de avenidas e rodovias; está em torno de oito reais por metro cúbico, enquanto
· irrigação de áreas ajardinadas ao redor de edifícios que a água de utilidades apresenta um custo marginal por
públicos, residenciais e industriais; metro cúbico pouco superior a quatro reais. Este custo
· reserva de proteção contra incêndios; varia, evidentemente, com as condições locais, tanto em
· controle de poeira em movimentos de terra, etc.; termo dos níveis de tratamento adicionais necessários,
· sistemas decorativos aquáticos tais como fontes e como aqueles relativos aos sistemas de distribuição. A
chafarizes, espelhos e quedas d’água; proximidade de estações de tratamento de esgotos às áreas
· descarga sanitária em banheiros públicos e em edifí- de grande concentração industrial contribui para a viabili-
cios comerciais e industriais; zação de programas de reuso industrial, uma vez que per-
· lavagem de trens e ônibus públicos. mite adutoras e custos unitários de tratamento menores.
Os usos industriais que apresentam possibilidade de
Os problemas associados ao reuso urbano não potá- serem viabilizados em áreas de concentração industrial
vel são, principalmente, os custos elevados de sistemas significativa são basicamente os seguintes:
duplos de distribuição, dificuldades operacionais e riscos
potenciais de ocorrência de conexões cruzadas. Os custos, · torres de resfriamento como água de make-up;
entretanto, devem ser considerados em relação aos benefí- · caldeiras;
cios de conservar água potável e de, eventualmente, adiar
· construção civil, incluindo preparação e cura de con-
ou eliminar a necessidade de desenvolvimento de novos
creto, e para compactação do solo;
mananciais, para abastecimento público.
Diversos países da Europa, assim como os países in- · irrigação de áreas verdes de instalações industriais,
dustrializados da Ásia, localizados em regiões de escassez lavagens de pisos e alguns tipos de peças, principal-
de água, exercem, extensivamente, a prática de reuso urba- mente na industria mecânica;
no não potável. Entre esses, o Japão vem utilizando efluen- · processos industriais.

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Dentro do critério de estabelecer prioridades para Recarga de aqüíferos


usos que já possuam demanda imediata e que não exijam
niveis elevados de tratamento, é recomendável concentrar Aqüíferos subterrâneos são, em níveis diversos, rea-
a fase inicial do programa de reuso industrial, em torres de limentados através de zonas ou áreas de recarga, ou dire-
resfriamento. tamente, através de irrigação ou precipitações, o que, even-
Esgotos domésticos tratados têm sido amplamente tualmente, pode resultar em poluição de suas águas. A
utilizados como água de resfriamento em sistemas com e engenharia de recursos hídricos desenvolveu, com a finali-
sem recirculação. Os esgotos apresentam uma pequena dade de aumentar a disponibilidade de água e, eventual-
desvantagem em relação às águas naturais, pelo fato de mente, de resolver problemas localizados, a tecnologia de
possuirem temperatura um pouco mais elevada. Em com- recarga artificial, utilizando efluentes adequadamente trata-
pensação, a oscilação de temperatura é muito menor nos dos (Crook et al., 1992, Idelovitch, Michail & Medy, 1984).
esgotos domésticos do que em águas naturais. Esta modalidade de recarga de aqüíferos é direciona-
Embora corresponda a apenas 17% da demanda de da para os seguintes objetivos:
água não potável pelas indústrias, o uso de efluentes se-
cundários tratados, em sistemas de refrigeração, tem a · proporcionar tratamento adicional de efluentes;
vantagem de requerer qualidade independente do tipo de · aumentar a disponibilidade de água em aqüíferos po-
indústria, e a de atender, ainda, a outros usos menos restri- táveis ou não potáveis;
tivos, tais como lavagem de pisos e equipamentos, e como
· proporcionar reservatórios de água para uso futuro;
água de processo em industrias mecânicas e metalúrgicas.
Alem disso, a qualidade de água adequada para resfriamen- · prevenir subsidência do solo;
to de sistemas semi-abertos, é compativel com outros usos · prevenir a intrusão de cunha salina, em aqüíferos cos-
urbanos, não potáveis, tais como irrigação de parques e teiros.
jardins, lavagem de vias públicas, construção civil, forma-
ção de lagos para algumas modalidades de recreação e para A infiltração e percolação de efluentes tratados se be-
efeitos paisagísticos. Os sistemas de tratamento para reuso neficia da capacidade natural de biodegradação e filtração
em unidades de refrigeração semi-abertos, por exemplo, dos solos, proporcionando um tratamento in situ e permi-
são relativamente simples, devendo produzir efluentes tindo, em função do tipo de efluente considerado, dos
capazes de evitar corrosão ou formação de depósitos, métodos de recarga, de condições hidrogeológicas e dos
crescimento de microrganismos, formação excessiva de usos previstos, eliminar a necessidade de sistemas de tra-
escuma e deslignificação de torres de resfriamento, cons- tamento avançados. A recarga contribui para a perda de
truídas em madeira. Outras industrias, que podem ser identidade entre efluentes tratados e a água subterrânea,
consideradas nas fases posteriores na implementação de reduzindo o impacto psicológico do reuso para fins bené-
um programa metropolitano de reuso, incluem água para ficos diversos.
produção de vapor, para lavagem de gases de chaminés, e Alem disso, os aqüíferos subterrâneos se constituem
para processos industriais específicos, tais como manufatu- em reservatórios naturais e em elementos de transporte de
ra de papel e papelão, indústria têxtil, de material plástico e efluentes tratados. Alguns usos de água, que apresentam
produtos químicos, petroquímicas, cortumes, construção demanda sazonal, requerem grandes reservatórios para ar-
civil, etc. Essas modalidades de reuso, envolvem sistemas mazenamento ou métodos alternativos de descargas nos
de tratamento avançados e demandam, consequentemente, períodos de baixa demanda. Esses reservatórios, além de
níveis de investimento elevados. demandarem grandes áreas de instalações e de serem inviá-
Reuso e conservação devem, também, ser estimula- veis economicamente, estão associados a perdas por evapo-
dos nas próprias indústrias, através de utilização de proces- ração, blooms de algas e deterioração da qualidade das águas
so industriais e de sistemas de lavagem com baixo consu- que armazenam. Os reservatórios subterrâneos operam
mo de água, assim como em estações de tratamento de como sistemas de distribuição naturais, eliminando os custos
água para abastecimento público, através da recuperação e relativos às instalações de transporte de efluentes tratados.
reuso das águas de lavagem de filtros e de decantadores. A subsidência de solos, definida como “movimento
Na Região Metropolitana de São Paulo existe um para baixo ou afundamento do solo causado pela perda de
grande potencial para uso de efluentes das estações de suporte subjacente” se constitui em problema relevante em
tratamento de esgotos em operação, para fins industriais. A áreas onde ocorre excessivo bombeamento de aqüíferos.
estação de tratamento de esgotos de Barueri poderia abas- O bombeamento excessivo de água subterrânea de
tecer, com efluentes tratados, uma área industrial relativa- aqüíferos adjacentes a áreas costeiras pode provocar a
mente importante, distribuida em Baruerí, Carapicuiba, intrusão de água salina, tornando-os inadequados como
Osasco, e o setor industrial, ao longo do Rio Cotia, nas fontes de água potável ou para outros usos que não tole-
imediações da rodovia Raposo Tavares. Da mesma manei- ram salinidade elevada. Baterias de poços de injeção são
ra, a estação de Suzano poderia abastecer indústrias con- construídos em áreas críticas, criando barreiras para evitar
centradas nas regiões de Poá, Suzano e, eventualmente, de a intrusão salina. Efluentes tratados são injetados nos aqüí-
Itaquaquecetuba e Mogí das Cruzes. feros confinados, estabelecendo um gradiente hidráulico

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no sentido do mar, que previne a penetração de água sal- Tabela 1. Qualidade da água no TSA de Phoenix,
gada no aqüífero. Arizona (Crites, 1985).

Métodos de recarga artificial de aqüíferos


(Light, 2000)
Variáveis Efluente Amostras do
Há dois métodos básicos para se processar a recarga secundário aqüífero
de aqüíferos (Figura 2): (mg/l) (mg/l)

· poços de injeção; Sólidos Dissolvidos Totais 750 790


· infiltração superficial utilizando bacias ou canais de
infiltração. Sólidos Suspensos 11 1
Amônia 16 0,1
A recarga através de poços de injeção requer a cons-
trução de poços projetados especificamente para esta fina- Nitrato 0,5 5,3
lidade, estendendo-se através da camada insaturada até o
aqüífero. Os custos envolvidos são significativamente Nitrogênio orgânico 1,5 0,1
elevados tanto no que se refere à construção do poço
quanto em relação aos níveis de tratamento necessários Fosfato 5,5 0,4
para a proteção da qualidade de água do aqüífero.
Fluoreto 1,2 0,7
Entretanto, onde condições hidrogeológicas permi-
tem, a recarga efetuada em instalações superficiais de infil- Boro 0,6 0,6
tração, tais como bacias ou canais de infiltração, pode-se
obter níveis de tratamento consideráveis, devido ao movi- DBO 12 1
mento dos efluentes através do solo, camada insaturada e
no próprio aqüífero. Este é o sistema designado Tratamen- TOC 12 1,9
to Solo Aqüífero, ou TSA, que vem sendo empregado com
Zinco 0,19 0,03
sucesso em diversas partes do mundo (Região do Dan em
Israel, Chipre, Estados Unidos nos Estados de Arizona, Cobre 0,12 0,016
California, Nevada, etc.) (Bouwer & Rice, 1989, Bouwer,
1991, Foster, Galé & Hespanhol, 1994, Hespanhol, 1993, Cádmio 0,008 0,007
Tucson Water, 1988, Tucson Water, 1999). A Tabela 1
(Crites, 1985) mostra os resultados obtidos no sistema TSA Chumbo 0,082 0,066
de Phoenix, Arizona, cuja bacia de infiltração foi construí-
Coliformes Fecais/100 ml (a) 3500 0,3
da no leito do Salt River. Dados do sistema TSA para
reuso agrícola, que opera na Região do Dan, comprovam a Vírus, ufp/100 ml(b) 2118 1
elevada eficiência na remoção de compostos e íons especí-
ficos, prejudiciais às culturas irrigadas com as águas bom-
beadas do aqüífero, alimentado artificialmente com esgotos
tratados (Hespanhol, 1993).
Os custos associados aos sistemas TSA são, em mé-
(a)Efluente após cloração; (b)Efluente sem cloração.
dia, inferiores a 40% dos custos de sistemas de tratamento
convencionais equivalentes, operando na superfície.
Os sistemas TSA proporcionam níveis de tratamento
elevados em termos de compostos orgânicos (remoção de
DBO, DQO, CODT), organismos patogênicos (coliformes
tratados através do sistema TSA. As condições considera-
fecais, criptosporídeos, giardia e vírus) e compostos inor-
das ideais são associadas aos seguintes fatores:
gânicos (nitrogênio e metais pesados) (Hafer, Arnold,
Lansey and Chipello, 2001, Arnold and Quanrud, 1998).
· solos permeáveis com taxas de infiltração razoáveis;
Possibilidade de empregar o sistema TSA (City
of Tucson’s 2001, Tucson Water & Malcolm · camada insaturada com espessura suficiente para es-
Pirnie, 1999, City of Scottsdale 2000, Van tocar o volume de recarga necessário;
Genuchten, 1980) · ausência de camadas impermeáveis que causem ex-
cessiva acumulação dos volumes infiltrados antes de
Algumas condições hidrogeológicas são favoráveis atingir o aqüífero;
para permitir a recarga artificial de esgotos domésticos

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· distribuição granulométrica na camada insaturada su- taxa de crescimento também caiu de 0,7% para 0,4%
perior que suporte a prática do sistema TSA; (World Bank, 1990, FAO, 1987 e 1988).
· coeficientes de transmissividade que não causem re- Durante as duas últimas décadas, o uso de esgotos
tenção excessiva de água no aqüífero; para irrigação de culturas aumentou, significativamente,
devido aos seguintes fatores (Hespanhol, 1994).
· aqüífero não confinado.

Os parâmetros locais que devem ser caracterizados pa- · dificuldade crescente de identificar fontes alternativas
ra dar suporte ao projeto de recarga são basicamente os de águas para irrigação;
seguintes: tipos de solos, perfil litológico da camada insatu- · custo elevado de fertilizantes;
rada e do aqüífero, níveis de água, gradiente regional, locação · a segurança de que os riscos de saúde pública e im-
e volumes estimados da recarga natural, características de pactos sobre o solo são mínimos, se as precauções
poços e bombeamentos existentes, parâmetros do aqüífero adequadas são efetivamente tomadas;
(transmissividade e vazão específica), características de qua- · os custos elevados dos sistemas de tratamento, neces-
lidade da água do aqüífero em termos dos principais cations sários para descarga de efluentes em corpos receptores;
e anions, poluição existente ou potencial oriunda de aterros
· a aceitação sócio-cultural da prática do reuso agrícola;
ou quaisquer outras fontes e quaisquer outros contaminantes
do solo, que possam ser lixiviados durante a recarga. · o reconhecimento, pelos orgãos gestores de recursos
A recarga artificial de aqüíferos poderá vir a se consti- hídricos, do valor intrínseco da prática.
tuir em benefício duplo a alguns municípios que utilizam
aqüíferos subterrâneos para abastecimento público. A Estima-se que, na região do Alto Tietê, a jusante do
crescente redução da recarga natural, devido ao aumento Reservatório de Ponte Nova, até às imediações de Guaru-
significativo da impermeabilização do solo urbano, vem lhos, poder-se-ia, com o atendimento da demanda agrícola
causando o abaixamento de níveis freáticos em áreas de através dos esgotos coletados dos munícipios da região,
grande demanda. A possibilidade de recarga artificial com dispor de aproximadamente três metros cúbicos por se-
esgotos tratados, através do sistema TSA, poderia, alem de gundo adicionais, de água de boa qualidade, para abasteci-
permitir a disposição adequada de efluentes domésticos, mento público.
contribuir para a manutenção dos níveis freáticos, facili- Na região da influência da ETE Suzano, por exem-
tando, assim, também o abastecimento público. plo, existe uma grande área de uso agrícola, irrigada com
água de qualidade elevada. Esta área se concentra, particu-
larmente ao longo do Rio Taiaçupeba e dista, aproxima-
Usos agrícolas damente, oito quilômetros da ETE Suzano. É muito pro-
vável, entretanto, que a elevada concentração de efluentes
Face às grandes vazões envolvidas, (chegando a até industriais recebidos na ETE Suzano, torne os seus efluen-
80% do uso consuntivo, em alguns países), especial aten- tes incompatíveis para o reuso agrícola.
ção deve ser atribuída ao reuso para fíns agricolas. No A aplicação de esgotos no solo é uma forma efetiva de
Brasil esta porcentagem chega muito próxima a 70%, de- controle da poluição e uma alternativa viável para aumentar
vendo merecer a atenção dos tomadores de decisão, quan- a disponibilidade hídrica em regiões áridas e semi-áridas. Os
do forem decididas as prioridades para reuso. maiores benefícios dessa forma de reuso, são os associados
A agricultura depende, atualmente, de suprimento de aos aspectos econômicos, ambientais e de saúde pública.
água em um nível tal que a sustentabilidade da produção de
alimentos não poderá ser mantida, sem o desenvolvimento
de novas fontes de suprimento e a gestão adequada dos Benefícios econômicos do reuso agrícola
recursos hídricos convencionais. Esta condição crítica é (Forero, 1993)
fundamentada no fato de que o aumento da produção, não
pode mais ser efetuado através da mera expansão de terra Os benefícios econômicos são auferidos graças ao
cultivada. Com poucas exceções, tais como áreas significa- aumento da área cultivada e ao aumento da produtividade
tivas do nordeste brasileiro, que vêm sendo recuperadas agrícola, os quais são mais significativos em áreas onde se
para uso agrícola, a terra arável, em nível mundial, se apro- depende apenas de irrigação natural, proporcionada pelas
xima muito rapidamente de seus limites de expansão. A águas de chuvas. Um exemplo notável de recuperação
Índia já explorou praticamente 100% de seus recursos de econômica, associada à disponibilidade de esgotos para
solo arável, enquanto que Bangladesh dispõe de apenas 3% irrigação é o caso do Vale de Mesquital, no México, onde a
para expansão lateral. O Paquistão, as Filipinas e a Tailan- renda agrícola aumentou de quase zero no início do século,
dia, ainda têm um potencial de expansão de aproximada- quando os esgotos da cidade do México foram postos à
mente 20%. A taxa global de expansão de terra arável disposição da região, até aproximadamente quatro milhões
diminuiu de 0,4% durante a década 1970-1979 para 0,2%, de dólares americanos por hectare, em 1990.
durante o período 1980-1987. Nos países em vias de de- Estudos efetuados em diversos países demonstraram
senvolvimento e em estágio de industrialização acelerada, a que a produtividade agrícola aumenta significativamente

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Potencial de Reuso de Água no Brasil - Agricultura, Industria, Municípios, Recarga de Aqüíferos

Tabela 2. Aumento da produtividade agrícola (ton/ha/ano) possibilitada pela irrigação com esgotos domésticos
(Shende, 1985).

Irrigação efetuada Trigo 8 anos* Feijão 5 anos* Arroz 7 anos* Batata 4 anos* Algodão 3 anos*
com
Esgoto bruto 3,34 0,90 2,97 23,11 2,56
Efluente primário 3,45 0,87 2,94 20,78 2,30
Efluente de lagoa 3,45 0,78 2,98 22,31 2,41
de estabilização
Água + NPK 2,70 0,72 2,03 17,16 1,70
*Número de anos para cálculo da produtividade média.

em sistemas de irrigação com esgotos adequadamente · evita a descarga de esgotos em corpos de água;
administrados. A Tabela 2 mostra os resultados experimen- · preserva recursos subterrâneos, principalmente em
tais efetuados em Nagpur, India, pelo Instituto Nacional áreas onde a utilização excessiva de aquíferos pro-
de Pesquisas de Engenharia Ambiental (NEERI), que voca intrusão de cunha salina ou subsidência de
investigou os efeitos da irrigação com esgotos, sobre as terrenos;
culturas produzidas (Shende, 1985).
· permite a conservação do solo, através da acumula-
Efluentes de sistemas convencionais de tratamento,
ção de “humus” e aumenta a resistência à erosão;
tais como lodos ativados, têm uma concentração típica de
15 mg/litro de N total e 3 mg/litro de P total, proporcio- · contribui, principalmente em países em desenvolvi-
nando, portanto, às taxas usuais de irrigação em zonas mento, para o aumento da produção de alimentos, e-
semi-áridas (aproximadamente dois metros por ano), uma levando, assim os níveis de saúde, qualidade de vida e
aplicação de N e P de 300 e 60 kg/ha/ano, respectivamen- condições sociais de populações associadas aos es-
te. Essa aplicação de nutrientes reduz, substancialmente, quemas de reuso;
ou mesmo elimina, a necessidade do emprego de fertilizan-
tes comerciais. Além dos nutrientes (e dos micronutrientes, Apesar disso, alguns efeitos detrimentais podem o-
não disponíves em fertilizantes sintéticos), a aplicação de correr em associação com o uso de esgotos na irrigação.
esgotos proporciona a adição de matéria orgânica, que age Um efeito potencialmente negativo é a poluição, particu-
como um condicionador do solo, aumentando a sua capa- larmente por nitratos, de aquíferos subterrâneos, utilizados
cidade de reter água (WHO, 1989). para abastecimento de água. Isso ocorre quando uma ca-
O aumento de produtividade não é, entretanto, o ú- mada insaturada, altamente porosa se situa sobre o aqüífe-
nico benefício, uma vez que se torna possível ampliar a ro, permitindo a percolação de nitratos. Entretanto, ocor-
área irrigada e, quando as condições climáticas permitem, rendo uma camada profunda e homogenea, capaz de reter
efetuar colheitas múltiplas, praticamente ao longo de todo nitratos, a possibilidade de contaminação é bastante pe-
o ano (Bartone, Arlosoroff, 1987). quena. A assimilação de nitrogênio pelas culturas, reduz a
A prática de aqüicultura fertilizada com esgotos ou ex- possibilidade de contaminação por nitrato, mas isso de-
creta também representa uma fonte de receita substancial pende das taxas de assimilação pelas plantas e das taxas de
em diversos países, entre os quais Bangladesh, India, Indo- aplicação de esgotos no solo.
nésia e Perú. O sistema de lagoas, operando há muitas déca- O acúmulo de contaminantes químicos no solo é ou-
das em Calcutá, é o maior sistema existente atualmente,
tro efeito negativo que pode ocorrer. Dependendo das
utilizando apenas esgotos, como fonte de alimentos para a
características dos esgotos, a prática da irrigação por lon-
produção de peixes. Dados de 1987 (Edwards, 1992), indi-
cam uma área total de lagoas com aproximadamente 3.000 gos períodos, pode levar à acumulação de compostos tóxi-
hectares, e uma produção anual entre 4 e 9 ton/hectare, que cos, orgânicos e inorgânicos, e ao aumento significativo de
supre quase que exclusivamente o mercado local. Outros salinidade, em camadas insaturadas. Para evitar essa possi-
elementos sobre os benefícios econômicos da aqüicultura bilidade, a irrigação deve ser efetuada com esgotos de
fertilizada com excreta ou esgotos, podem ser encontrados origem predominantemente doméstica. A necessidade de
na literatura especializada (Bartone, 1985, Bartone, Moscoso um sistema adequado de drenagem, deve ser também
and Nava, 1990, Ikramullah, 1994). considerada, visando minimizar o processo de salinização
de solos irrigados com esgotos. Da mesma maneira, a
aplicação de esgotos por períodos muito longos, pode levar
Benefícios ambientais e à saúde pública à criação de habitats, propícios à proliferação de vetores
transmissores de doenças, tais como mosquitos e algumas
Sistemas de reuso adequadamente planejados e admi- espécies de caramujos. Nesse caso, devem ser empregadas
nistrados, trazem melhorias ambientais e de condições de técnicas integradas de controle de vetores, para proteger os
saúde, entre as quais: grupos de risco correspondentes.

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RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 7 n.4 Out/Dez 2002, 75-95

Estratégias para planejamento · critérios adotados para avaliar as alternativas de reuso


propostas;
O uso de esgotos, particularmente no setor agrícola, · escolha de estratégias de uso único ou uso múltiplo
se constitue em um importante elemento das políticas e dos esgotos;
estratégias de gestão de recursos hídricos. Muitos países, · provisões gerenciais e organizacionais estabelecidas,
situados em regiões áridas e semi-áridas, tais como os do para administrar os esgotos, e para selecionar e im-
norte da África e do oriente médio, consideram esgotos e plementar o plano de reuso;
águas de baixa qualidade, como parte integrante dos recur- · importância dada às considerações de saúde pública,
sos hídricos nacionais, equacionando a sua utilização junto e os riscos correspondentes;
a seus sistemas de gestão, urbanos e rurais. Uma política · nível de apreciação da possibilidade de estabeleci-
criteriosa de reuso, transforma a problemática poluidora e mento de um recurso florestal, através de irrigação
agressiva dos esgotos, em um recurso econômico e ambi- com os esgotos disponíveis.
entalmente seguro.
No Brasil, os governos estaduais e federais deveriam A adoção de uma mistura de estratégias para o uso
iniciar, imediatamente, processos de gestão para estabele- dos esgotos, traz a vantagem de permitir maior flexibilida-
cer bases politicas, legais e institucionais para o reuso, de, maior segurança econômica e melhor eficiência do uso
tanto em relação aos aspectos associados diretamente ao dos esgotos disponíveis ao longo do ano, enquanto que a
uso de afluentes, como aos planos estaduais ou nacionais estratégia de uso único, pode levar a sobras sazonais, que
de recursos hídricos. Linhas de responsabilidade e princí- são, normalmente, condenadas à disposição improdutiva.
pios de alocação de custos, devem ser estabelecidos entre
os diversos setores envolvidos, ou seja, companhias res-
ponsáveis pela coleta e tratamento de esgotos, os usuários As dimensões legais e regulatórias
que se beneficiarão dos sistemas de reuso, e o Estado, ao
qual compete o suprimento adequado de água, a proteção O uso de esgotos, principalmente para a irrigação de
do meio ambiente e da saúde pública. Em adição, e para culturas, é associado aos dois aspectos legais seguintes:
assegurar a sustentabilidade, deve ser dada atenção ade-
quada aos aspectos organizacionais, institucionais e sócio- · estabelecimento de um status legal para os esgotos, e a
culturais do reuso. delineação de um regime legal para a sua utilização.
O planejamento de programas e projetos de reuso Essa nova condição deve levar: ao desenvolvimento
requer uma análise sistemática dos fatores básicos interve- de uma nova legislação ou à complementação de le-
nientes. Na Tabela 3, é apresentada uma matriz sistemática, gislação existente, estabelecendo normas, padrões e
para apoiar a caracterização de condições básicas e a identi- códigos de prática, associados ao reuso; à criação de
ficação de possibilidades e limitações, orientando a fase de uma nova instituição ou delegação de poderes a uma
planejamento dos projetos de reuso (Biswas, 1988). instituição existente; à atribuição de competências às
As medidas de controle governamentais, sobre siste- agências locais e nacionais, associadas ao setor, e as
mas de uso de esgotos na agricultura, serão efetivamente bases para o inter-relacionamento e cooperação mú-
aplicadas, se for efetuada uma escolha cuidadosa das áreas tua entre elas;
e os tipos de culturas que podem ser irrigadas com esgotos. · garantir os direitos dos usuários, principalmente com
A decisão de disponibilizar efluentes tratados para fazen- relação ao acesso e apropriação dos esgotos, incluin-
deiros, com o objetivo de promover irrigação irrestrita, do a regulamentação pública de seus usos. A legisla-
elimina as vantagens de poder definir os locais adequados, ção deve incluir, também, a posse da terra, sem a qual
escolher as técnicas de irrigação apropriadas, estabelecer as os direitos sobre o uso dos esgotos não teriam ne-
culturas permitidas, e de controlar os riscos sobre a saúde e nhum valor.
os impactos ambientais. A maior segurança contra riscos
de saúde e impactos ambientais adversos, é conseguida
A delineação de um regime legal para o uso de esgo-
através da imposição da seleção e restrição de culturas, em
tos deve considerar os aspectos seguintes (WHO, 1990):
áreas não abertas ao acesso do público em geral.
De uma maneira geral, os procedimentos adotados na
preparação de planos para irrigação com esgotos, são simi- · a definição do que é esgoto;
lares àqueles utilizados para a maioria das formas de plane- · a quem pertence os esgotos;
jamento da utilização de recursos hídricos, isto é, de acor- · um sistema de licenciamento para uso de esgotos;
do com as oportunidades, características das demandas · proteção de outros usuários, que possam ser, adver-
locais, e as principais dimensões físicas, econômicas e samente afetados, pela diminuição de vazões de re-
sociais da área de projeto. torno, aos mananciais que utilizam;
O sucesso de planos de reuso, depende da maneira e · restrições, visando a proteção do meio ambiente e da
profundidade com que as ações e atitudes seguintes, forem saúde pública, com relação ao uso planejado para os
efetivamente implementadas: esgotos, condições de tratamento e qualidade final

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Potencial de Reuso de Água no Brasil - Agricultura, Industria, Municípios, Recarga de Aqüíferos

Tabela 3. Matriz para análise de projetos de irrigação com esgotos (Biswas, 1988).

Natureza do problema
· Quais os volumes de esgotos produzidos e qual é a distribuição sazonal?
· Onde os esgotos serão produzidos?
· Quais são as características dos esgotos que serão produzidos?
· Quais são as alternativas de disposição possíveis?
Viabilidade legal
· Que usos se pode fazer dos esgotos, de acordo com a legislação existente, se disponível?
· Se não existem legislações estaduais ou federais, que usos se pode fazer dos esgotos dentro das diretrizes da Organização Mundial da Sa-
úde (OMS) e da Organização para Alimentos e Agricultura (FAO)?
· Quais são os direitos dos usuários dos recursos hídricos e como esses poderiam vir a ser afetados pelo reuso?
Viabilidade Técnica
· A qualidade dos esgotos tratados disponíveis é adequada para irrigação restrita ou irrestrita?
· Quanto de terra está disponível ou é necessária para os projetos de irrigação?
· Quais são as características do solo nesta terra?
· Quais são as práticas de uso da terra? Elas podem ser modificadas?
· Que tipos de culturas podem ser consideradas?
· A demanda de água pelas culturas é compatível com a variação sazonal dos esgotos disponíveis?
· Que técnicas de irrigação serão utilizadas?
· Se a possibilidade de recarga de aqüíferos é uma das possibilidades para o uso dos esgotos, as características hidrogeológicas são adequa-
das?
· Qual seria o impacto dessa recarga na qualidade das águas subterrâneas?
· Existem problemas adicionais de saúde ou de meio ambiente, que necessitam ser considerados?
Viabilidade política e social
· Quais foram, no passado, as reações políticas a problemas de saúde e ambientais que, eventualmente tenham ocorrido em possível cone-
xão com o uso de esgotos?
· Qual é a percepção pública da prática do uso de esgotos?
· Qual é a atitude de grupos de influência em áreas onde esgotos têm possibilidade de serem utilizados?
· Quais são os benefícios potenciais do reuso para a comunidade?
· Quais são os riscos potenciais?
Viabilidade econômica
· Quais são os custos de capital envolvidos?
· Quais são os custos de operação e manutenção?
· Qual é o valor da taxa de retorno?
· Quais são os custos de implantação dos sistemas de agricultura irrigada com esgotos, isto é, custos de transporte de água para a área de
plantio, instalação de equipamentos de irrigação, infraestrutura, etc?
· Quais são os benefícios do sistema de irrigação com esgotos?
· Qual é a relação custo/benefício do projeto de irrigação com esgotos?
Viabilidade operacional
· São os recursos humanos e a capacidade operacional locais adequados para as atividades de operação e manutenção dos sistemas de tra-
tamento, irrigação, recarga de aqüíferos, operação agrícola e controle de aspectos de saúde e meio ambiente?
· Caso contrário, quais são os programas de treinamento que devem ser implementados?

dos esgotos tratados, e condições para a localização poluição ambiental, e a legislação relativa ao abaste-
de estações de tratamento de esgotos; cimento de água e coleta de esgotos, incluindo as ins-
· alocação de custos e estabelecimento de tarifas para tituições responsáveis.
os esgotos;
· mecanismos de aplicação de leis e regulamentos; Em nível operacional, as ações regulatórias são apli-
cadas através de diretrizes, normas ou padrões e códigos de
· disposição de lodos gerados nos sistemas de trata-
prática, que possuem as seguintes características:
mento de esgotos;
· delegação de poderes a uma instituição, ou criação de
uma nova instituição, ou elaboração de arranjos institu- Diretrizes
cionais para a administração da legislação sobre reuso;
· a interface entre o regime legal estabelecido para reu- Uma das múltiplas funções da Organização Mundial
so, e o regime legal para a gestão de recursos hídricos, da Saúde é a de propor regulações e de fazer recomenda-
principalmente a legislação sobre água e controle da ções relativas a assuntos internacionais de saúde pública e

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RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 7 n.4 Out/Dez 2002, 75-95

de saúde ambiental (WHO, 1990). As diretrizes para o uso lidade das culturas, a manutenção da capacidade produtiva
seguro de esgotos, produzidas como parte dessa função, do solo, assim como a proteção do meio ambiente e da
são baseadas em pesquisas científicas e estudos epidemio- saúde dos consumidores. Essas variáveis são, principal-
lógicos, proporcionando informação básica e orientação mente, os sólidos dissolvidos totais, a condutividade elétri-
para a tomada de decisões que envolvem riscos à saúde ca, o índice de adsorção de sódio, ions específicos, elemen-
pública e ao meio ambiente. tos traço e metais pesados. Uma discussão dos aspectos
Diretrizes não são estabelecidas com a finalidade de químicos associados à irrigação, particularmente com esgo-
aplicação direta e absoluta em todos os países. Elas são de tos, é encontrada na literatura especializada (FAO, 1985,
natureza meramente orientativa, direcionadas para o esta- Chang, Page, Asano and Hespanhol, 1995).
belecimento de uma base de riscos aceitáveis e, como tal,
proporcionam uma referência comum, para o estabeleci-
mento de normas e padrões, em nível nacional (Hespanhol Padrões e códigos de prática
and Prost, 1994).
O Grupo Científico sobre Diretrizes para o Uso de Padrões são imposições legais promulgados através de
Esgotos em Agricultura e Aqüicultura, reunido em Genebra, leis, regulamentos, ou posturas técnicas. São estabelecidos
Suíça, em 1989, estabeleceu os critérios básicos para a prote- em nível nacional, adaptando diretrizes às prioridades e
ção dos grupos de risco, associados a esquemas de reuso levando em consideração as limitações e características téc-
agrícola e recomendou as diretrizes mostradas na Tabela 4. nicas, econômicas, sociais e culturais locais. São estabeleci-
Esses critérios e diretrizes, foram estabelecidos com base em dos pela autoridade nacional competente, adotando critérios
um longo processo técnico e científico preparatório e na de risco/benefício. Significa que padrões assim produzidos,
evidência epidemiológica, disponível até então. não se baseiam meramente em características relativas à
O uso de esgotos para fertilizar lagoas para a produção saúde ou ao meio ambiente, mas integram uma base ampla
de peixes, está associado a um grande número de infecções de aspectos e consequências econômicas e sociais. Em qual-
causados for organismos patogênicos, incluindo a invasão da quer época, os padrões podem ser alterados ou complemen-
carne por bactérias e alta concentração microbiana no trato tados, sempre que novas evidências científicas ou novas
digestivo e no fluido intra-peritonial dos peixes. tecnologias se tornarem disponíveis, ou em resposta às
Devido à pequena disponibilidade de dados disponí- mudanças de prioridades e tendências nacionais.
veis, tanto experimentais como de campo, relativos a efei- Em muitos países, os padrões são complementados
tos sobre a saúde, da aqüicultura fertilizada com esgotos ou por códigos de prática, que proporcionam orientação para
excreta, o Grupo Científico recomendou as seguintes dire- a construção, operação, manutenção e monitoramento de
trizes preliminares: sistemas de reuso.
Assim como os padrões, os códigos de prática devem
· média geométrica inferior a 10 3 coliformes fecais por ser elaborados de acordo com as condições locais, mas os
100 ml nas lagoas, para prevenir a invasão de bacté- seguintes elementos básicos são frequentemente incluídos:
rias na carne dos peixes. O mesmo valor diretriz, de-
ve ser mantido em lagoas nas quais se produzem ve- · culturas permitidas sob a política de seleção e restri-
getais aquáticos comestiveis (macrófitas), uma vez ção de culturas;
que esses são, em alguns países, comidos crus. Essa · tratamento dos esgotos e qualidade do efluente
concentração pode ser obtida, abastecendo as lagoas tratado;
com esgotos tratados, com concentrações máximas · sistema de distribuição de esgotos para irrigação;
de 103 a 104 coliformes fecais por 100 ml, assumindo-
· metodologia de irrigação;
se que a diluição na propria lagoa seja de uma ordem
de magnitude; · operação e manutenção;
· ausência total de ovos de trematodos, para evitar in- · controle da exposição humana;
fecção por helmintos tais como clonorchiasis, fascia- · monitoramento e vigilância;
lopsis e schistomiasis. Esta condição pode ser obtida · relatórios;
através de tratamento em lagoas de estabilização em · sistema tarifário;
série, pois ovos desses helmintos são facilmente re- · multas e penalidades;
movidos por sedimentação;
· manter padrões elevados de higiene durante a limpe-
za dos peixes, antes do cozimento, evitando a conta- Aspectos institucionais
minação da carne pelo liquido intra-peritoneal.
Os sistemas de reuso, estabelecidos a nível nacional,
As características químicas dos efluentes utilizados envolvem a responsabilidade de diversos ministérios. Para
para irrigação, são também de grande importância. Diver- uma operação adequada e minimização de conflitos admi-
sos parâmetros químicos são extremamente importantes nistrativos, os seguintes ministérios devem ser integrados,
para a agricultura, no que concerne a produtividade e qua- desde a fase de planejamento:

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Potencial de Reuso de Água no Brasil - Agricultura, Industria, Municípios, Recarga de Aqüíferos

Tabela 4. Diretrizes microbiológicas recomendadas para uso de esgotos na agricultura* (WHO, 1989).

Categoria Condições de reuso Grupos de Nematodos Coliformes Sistema de tratamento


risco intestinais(1) fecais recomendado para atingir a
(No.ovos/litro)(2) (No./100 ml)(3) qualidade microbiológica
A Irrigação de culturas a serem Operários, ?1 ? 1000 Lagoas de estabilização em
ingeridas cruas, campos consumidores, série ou tratamento
esportivos, parques público equivalente
públicos(4)
B Irrigação de cereais, culturas Operários ?1 n.a. Retenção em lagoas de
industriais, forragem, pastos estabilização por 8 a 10 dias
e árvores(5) ou remoção equivalente de
helmintos e coliformes fecais
C Irrigação localizada de Nenhum n. a. n. a. Pré-tratamento requerido pela
culturas da categoria B, se técnica de irrigação aplicada,
não ocorrer exposição de mas não menos do que
trabalhadores e do público tratamento primário
* Em casos específicos, fatores epidemiológicos, socio-culturais ou ambientais devem ser levados em consideração e essas diretrizes
modificadas de acordo; (1) Ascaris, Trichuris, Necator americans e Ancilostomus duodenalis; (2) Média aritmética durante o período de
irrigação; (3) Média geométrica durante o período de irrigação; (4) Um valor diretriz mais restritivo (200 coliformes fecais por 100 ml) é
apropriado para gramados públicos, tais como os de hotéis, com os quais o público tenha contato direto; (5) No caso de árvores
frutíferas, a irrigação deve cessar duas semanas antes dos frutos serem colhidos, e frutos não devem ser colhidos do chão. Irrigação por
sistemas de aspersores não deve ser utilizada.

· Agricultura – planejamento e coordenação geral do (agricultura ou recursos hídricos), que assumiria a respon-
projeto; gestão das terras pertencente ao governo; sabilidade pelo desenvolvimento do setor e pelo planeja-
instalação e operação da infra-estrutura de irrigação; mento e gestão do empreendimento. A responsabilidade
controle do mercado. desses comitês inter-agências estaria associada à implemen-
· Recursos Hídricos – integração dos projetos de reuso tação das seguintes atividades básicas:
no planejamento e gestão de recursos hídricos, em
nível nacional. · desenvolver uma política national ou regional para
· Fazenda e Planejamento – avaliação econômico- reuso e administrar a sua implementação;
financeira dos projetos, análises de custo/benefício, · definir as competências inerentes a cada ministério,
financiamento, estabelecimento de critérios para sub- secretarias estaduais e agências envolvidas, e os arran-
sídios, etc. jos para a colaboração mútua;
· Saúde – vigilância da qualidade do efluente tratado, · analisar e avaliar os projetos de reuso propostos,
de acordo com os padrões estabelecidos; proteção da principalmente sob o ponto de vista de saúde pública
saúde dos grupos de risco e vigilância da ocorrência e meio ambiente;
de doenças associadas ao sistema de reuso; responsa- · coordenar a promoção e a aplicação da legislação na-
bilidade pela área de controle de exposição humana, cional e os correspondentes códigos de prática;
promovendo vacinação, controle de anemia e doen- · estabelecer uma política de desenvolvimento de re-
ças diarréicas, e educação sanitária. cursos humanos para o setor.
· Obras públicas e companhias de água e saneamento –
coleta e tratamento de esgotos. Em países que contam com uma administração fede-
ral, os arranjos para colaboração inter-agências, são ainda
De acordo com condições nacionais específicas, ou- mais importantes em níveis regionais ou estaduais. En-
tros ministérios e entidades, públicas ou privadas, tais quanto a estrutura geral das políticas de reuso e os padrões
como os do meio ambiente, de desenvolvimento rural, são definidos em nível nacional, os comitês regionais ou
cooperativas rurais, etc., poderão ser envolvidos nas fases estaduais se encarregariam de sua interpretação e adapta-
de projeto e operação de esquemas de reuso agrícola. ção, levando em conta as características e condições locais.
Os países que pretendem institucionalizar atividades No México por exemplo, que possue uma das maio-
de reuso, se beneficiarão enormemente com a criação de res áreas agrícolas irrigadas com esgotos do mundo
um corpo executivo, com as características de um comitê (156.000 hectares, com planos para expandir para um total
técnico, integrado pelos ministérios ou secretárias compe- de 237.000 hectares, abrangendo 17 distritos de irrigação,
tentes, e sob a égide de um ministério ou secretaria líder em seis Estados), a Comissão Nacional de Águas, CNA,

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RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 7 n.4 Out/Dez 2002, 75-95

vinculada ao Ministério de Agricultura e Recursos Hídri- Os custos, benefícios e recuperação de custos, em sis-
cos, administra os recursos hídricos do país e, como tal, é a temas de reuso agrícola, possuem as seguintes característi-
instituição encarregada pelo planejamento, administração e cas básicas:
controle de todos os sistemas de reuso de água, em nível
nacional (CNA, 1993). Outras entidades governamentais
tais como o Ministério da Saúde, o Ministério de Desen- Custos
volvimento Urbano e Ecologia e o Ministério de Desen-
volvimento Social, também participam, de acordo com os Os seguintes custos devem ser considerados em pro-
interesses específicos de seus campos de atividades. Em jetos de reuso em irrigação (Papadopoulos, 1990):
nível regional, os governos estaduais também se integram
na administração de sistemas locais. No Vale de Mesquital, · custos de sistemas de tratamento, incluindo a área e
por exemplo, o Estado de Hidalgo colabora com as agên- preparação do terreno, projetos, serviços de engenha-
cias locais do CNA para a operação e manutenção dos ria, construção, materiais e equipamentos;
distritos de irrigação e para atividades de monitoramento, · custos de irrigação, incluindo os sistemas de transpor-
vigilância e ações legais. No Vale de Mesquital, ocorre te, reservação e de distribuição de esgotos;
ainda, participação muito forte do setor privado, adminis- · custos de campo, associados com o desenvolvimento
trando pequenas unidades de irrigação integradas em sis- institucional das fazendas, incluindo instalações e
temas cooperativos. treinamento, medidas para proteção da saúde e insta-
Embora possa vir a desenvolver-se legislação nacional lações sanitárias para os trabalhadores;
relativa a reuso, é pouco provável que, no Brasil, se estabele- · custos de operação e manutenção, incluindo custos
ça um projeto único em nível nacional, devido às nossas adicionais de energia, mão de obra, roupas especiais
dimensões geográficas e características regionais distintas. para os trabalhadores, complementação de fertilizan-
Nas condições brasileiras, os projetos de reuso deverão ter tes, se necessário, custos de administração e de overhe-
ad, testes e monitoramento.
dimensões estaduais ou municipais, com as respectivas se-
cretarias efetuando as atividades de planejamento e gestão,
suportadas pelas companhias estaduais de saneamento, no Apenas custos marginais devem ser incluídos na ava-
que tange à coleta e tratamento de esgotos. Da mesma ma- liação financeira. Por exemplo, apenas os custos adicionais,
neira que em nível federal, as secretarias da agricultura, pla- necessários para atingir os padrões locais de efluentes para
nejamento, obras, meio ambiente, etc., deverão integrar a reuso, devem ser considerados. Os custos associados a
estrutura organizacional e gerencial dos planos e projetos de sistemas de tratamento para proteção ambiental (que deve-
reuso regionais, cabendo, (como deveria acontecer também riam ser implementados, independentemente do reuso)
com os sistemas públicos de abastecimento de água potável), não devem ser levados em consideração na avaliação eco-
às secretarias de saúde fazer o controle de qualidade dos nômica. Da mesma maneira, os custos de irrigação, de
efluentes utilizados para irrigação. implantação e desenvolvimento institucional das fazendas a
serem considerados, são unicamente os associados ao uso
de esgotos, isto é, aqueles que podem ocorrer em adição
Aspectos econômicos e financeiros aos eventuais custos inferidos pelo uso de qualquer outra
fonte convencional de água.
A avaliação econômica dos projetos de reuso, deve
ser baseada nos custos incrementais e nos benefícios pro- Benefícios
porcionados pelo empreendimento. Uma metodologia
adotada em diversos projetos, é a de ajustar os custos
Não há dificuldade para a avaliação dos benefícios di-
marginais e os benefícios ao valor presente, a uma taxa de
retos. Em sistemas de agricultura ou aqüicultura, eles po-
desconto real e projetar o sistema de maneira que a relação
dem ser estimados diretamente em termos de aumento da
benefício/custo seja superior à unidade. Outra possibilida-
produtividade ou da produção, economia no uso de fertili-
de é a de determinar a taxa interna de retorno do projeto, e
zantes comerciais, economia no uso de água, etc. Por outro
de verificar se esta é competitiva (Forero, 1993).
lado, os benefícios indiretos são difíceis de ser adequada-
A avaliação financeira pode ser efetuada, por compa-
mente quantificados.
ração, com um dos seguintes possíveis cenários, cada um
Entre os muitos benefícios indiretos que atraem a a-
dos quais configurado com diferentes custos e benefícios:
tenção dos avaliadores econômicos e tomadores de deci-
são, capazes de visualizar as vantagens ambientais, de saú-
· ausência de agricultura; de e sociais do reuso agrícola, estão os seguintes:
· agricultura sem irrigação (apenas água de chuva);
· irrigação com água de fonte alternativa, sem aplicação · aumento do nível nutricional das populações mais po-
de fertilizantes; bres, através do aumento da produção de alimentos;
· irrigação com água de fonte alternativa, com aplica- · aumento da disponibilidade de empregos e assenta-
ção de fertilizantes. mentos populacionais nas áreas rurais;

87
Potencial de Reuso de Água no Brasil - Agricultura, Industria, Municípios, Recarga de Aqüíferos

· redução de danos ao meio ambiente; Na maioria dos países, entretanto, não há objeção
· proteção de recursos subterrâneos contra depleção; cultural ao uso de esgotos, principalmente tratados. O uso
· proteção dos recursos de água de boa qualidade con- de esgotos é, normalmente bem aceito, onde outras fontes
tra a poluição; de água não são facilmente disponíveis, ou por razões
econômicas.
· controle da erosão, redução da desertificação, etc.
A prática do reuso agricola é adotada em diversos pa-
íses Islâmicos, uma vez demonstrada que as impurezas
Os benefícios indiretos são “elementos não monetá- (najassa), foram removidas. Isso acontece, entretanto, mais
rios” e, infelizmente, não são levados em consideração na por razões econômicas do que por preferência cultural. De
avaliação econômica de projetos de reuso. Entretanto, as acordo com os éditos do Alcorão, a prática do reuso pode
melhorias ambientais motivadas pelo reuso, principalmente ser aceita do ponto de vista religioso, somente se a água
em termos de preservação de recursos hídricos, e o incen- impura é transformada em água pura (tahur) através dos
tivo proporcionado para a construção de sistemas de coleta métodos seguintes: auto-purificação, adição de água pura
de esgotos urbanos, são extremamente relevantes. Esse em quantidade suficiente para diluir as impurezas, remoção
beneficios são tão importantes, que tornam meramente das impurezas pela passagem do tempo e remoção das
subsidiárias as análises de custo/benefício como elemento impurezas por efeitos físicos (Farroq and Ansari, 1983).
de decisão para a implementação de projetos de reuso, Devido à grande variabilidade de crenças culturais,
principalmente em países em desenvolvimento, ou em dogmas religiosos, e do comportamento humano em geral,
rápido estágio de industrialização, como é o caso do Brasil. a aceitação ou rejeição da prática de reuso em uma deter-
minada cultura, não implica em sua aceitação ou rejeição
Recuperação de custos de maneira indiscriminada. Um levantamento completo do
contexto sócio-cultural e crenças religiosas locais é sempre
A adoção de uma política tarifária adequada, é de fun- necessario, como etapa preliminar para a implantação de
damental importância para a sustentabilidade de sistemas de projetos de reuso (Cross, 1985).
reuso. A base de custos incrementais, que aloca apenas os
custos marginais associados ao reuso, é um critério aceitável Informação e participação pública
em países em desenvolvimento, onde os projetos de reuso
são considerados como benefícios sociais. A cobrança, na
forma de taxas ou tarifas, baseada nos volumes de esgotos Para uma ampla aceitação de projetos de reuso, é de
tratados distribuídos, é utilizada em muitos países. Quando importância fundamental envolver ativamente o público,
os volumes são muito grandes, e a rede de distribuição cobre desde a fase de planejamento, até a implementação defini-
áreas muito extensas, servindo um número muito grande de tiva do projeto.
usuários, como é o caso do Vale do Mesquital, no México, Esse relacionamento deve ser iniciado nas primeiras
onde a cobrança é efetuada por meio de taxas, em função fases do empreendimento, através de contatos com os
das áreas individuais irrigadas. usuários potenciais, da formação de um comitê consultivo
Subsidiar sistemas de reuso pode ser necessário, nos e da realização de seminários para discutir possíveis moda-
estágios iniciais de implantação dos sistemas, principalmen- lidades de reuso. A troca contínua de informações, entre os
te quando os custos associados são muito elevados. Essa representantes do público e as autoridades garante que a
possibilidade poderá encorajar o interesse dos agricultores, adoção de um determinado programa de reuso atenderá às
despertado pela permissão de utilizar esgotos tratados. De verdadeiras necessidades dos usuários, assim como os
maneira a determinar a necessidade de suporte governa- objetivos comunitários associados à saúde, segurança e
mental para o esquema de recuperação de custos, é neces- meio ambiente.
sário investigar a capacidade e o interesse dos agricultores A aceitação de sistemas de reuso, depende do nível de
em pagar pelos serviços. A melhor maneira de exercer a sucesso com o qual as agências governamentais conseguem
cobrança é através da imposição das taxas e/ou tarifas, comunicar-se com o público alvo: uma idéia clara e comple-
imediatamente após o término da colheita. ta do programa que se pretende implementar; um conheci-
mento adequado da qualidade dos esgotos tratados, e de
como ele será utilizado; confiabilidade na capacidade de
A influência religiosa e sócio-cultural gestão da agência encarregada dos serviços e na adequabili-
dade dos sistemas de tratamento propostos; certeza de que o
A aceitação pública do uso de esgotos na agricultura e sistema envolve riscos mínimos de saúde e de degradação
aqüicultura é influenciada por fatores religiosos e sócio- ambiental e segurança na sustentabilidade do abastecimento
culturais. Nas Américas, África e Europa, por exemplo, há e na adequabilidade dos esgotos tratados para os tipos de
uma forte objeção ao uso de excreta como fertilizante, cultura estabelecidos nos programas de reuso.
enquanto que em algumas partes da Ásia, notadamente na A Tabela 5 sugere uma série de mecanismos para
China, Japão e Indonésia, a prática é efetuada regularmente contatar, educar e informar o público, durante as diversas
e considerada como econômica e ambientalmente reco- fases de implementação de programas de reuso (Crook,
mendável. Ammermman, Okun and Matthews, 1992).

88
RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 7 n.4 Out/Dez 2002, 75-95

Monitoramento e avaliação Tabela 5. Mecanismos para a participação do público


(Crook, Ammermman, Okun and Matthews, 1992).
Conforme mencionado anteriormente, os projetos e
programas de reuso devem ser coordenados por comitês Objetivo Mecanismo
inter-agências, sob a égide de um ministério lider. Esta enti-
dade deve ser, também, encarregada de monitorar e avaliar o Educação e Artigos de jornais, programas de
desenvolvimento do projeto e deve ter a competência legal informação rádio e TV, palestras, visitas de
para exigir o atendimento da legislação correspondente. campo, exibições, programas
O monitoramento das atividades de projetos de reuso escolares, filmes, brochuras e
compreende dois tipos básicos: monitoramento para con- boletins, relatórios, cartas,
trole do processo e monitoramento legal. conferências.
O primeiro visa proporcionar dados para o controle e
otimização do sistema, de maneira a garantir desempenho Acompanhamento Reuniões públicas, audiências
adequado. Inclue o monitoramento das estações de trata- públicas, pesquisa de opnião e
mento, sistemas de distribuição e equipamentos de irrigação, questionários, programas de
aspectos ambientais (tais como salinização, águas de drena- perguntas e respostas.
gem, níveis do lençol freático, etc.), aspectos agrícolas (tais Interação e Seminários, grupos de trabalho
como produção e produtividade) e problemas de saúde (tais diálogo especiais, entrevistas, grupos
como o desenvolvimento de vetores de doença e problemas consultivos, contatos informais,
de saúde, associadas ao uso de esgotos). Além de proporcio- discussão em grupos.
nar elementos para o controle de todo o processo, este nível
de monitoramento gera informação para revisão e aperfeiço-
amento do projeto e para atividades de pesquisa e desenvol- leite originários de campos irrigados com esgotos, operá-
vimento. A responsabilidade deste tipo de monitoramento, rios agrícolas e suas famílias, manuseadores/ transportado-
cabe à agência encarregada da operação do sistema (por res de colheitas, e populações localizadas nas proximidades
exemplo, uma companhia estadual de saneamento), que seja de campos irrigados através de sistemas de aspersores.
parte integrante do comitê inter-agências. A saúde pública dos grupos de risco é protegida atra-
O monitoramento legal é necessário para a verifica- vés da aplicação de quatro medidas básicas: tratamento dos
ção do atendimento dos regulamentos estabelecidos na esgotos, seleção e restrição de culturas, técnicas de aplica-
legislação vigente de reuso, e não deve ser efetuado pela ção dos esgotos e controle da exposição humana.
mesma agência encarregada do monitoramento de contro-
le. A responsabilidade por esta fase do monitoramento, Tratamento dos esgotos - Os métodos de tratamento
deve ser outorgada a outra agência do comitê, que possua de esgotos foram, incialmente, concebidos como resposta
competência legal para exigir o atendimento aos padrões à preocupação pelos efeitos negativos causados pela des-
de qualidade, códigos de prática e outros elementos da carga de efluentes no meio ambiente. Os objetivos primá-
legislação pertinente. Esta responsabilidade é geralmente rios do tratamento eram a remoção de sólidos suspensos e
outorgada aos ministérios ou secretarias de saúde, uma vez flotáveis, a remoção de compostos orgânicos biodegradá-
que os problemas de saúde são de importância fundamen- veis e a remoção de organismos patogênicos. Em agosto
tal em sistemas de reuso. de 1973, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados
Para que atinjam seus objetivos básicos, os progra- Unidos publicou a definição de tratamento secundário,
mas de monitoramento devem ser efetivos em termos de incluindo três parâmetros característicos: DBO de 5 dias,
custos (apenas dados considerados necessários devem ser
sólidos suspensos e pH (Code of Federal Regulations,
coletados e analisados); ter cobertura adequada (monito-
1973). O padrão coliformes, que havia sido incluido na
rando apenas setores representativos do sistema); ser con-
versão original, foi exluido em julho de 1973 (Metcalff and
fiável (com amostragem representativa, análise acurada,
Eddy, 1979), provavelmente devido à preocupação com os
com controle de qualidade analítica adequada, processa-
mento apropriado dos dados e preparação de relatórios riscos ambientais e de saúde pública associados à desinfec-
concisos e eficientes) e; deve estar disponível a curto pra- ção através de compostos de cloro.
zo, de maneira a proporcionar aos responsáveis pela ope- Os critérios de tratamento para reuso agrícola são,
ração e aos tomadores de decisão, informações atualizadas, entretanto, distintos daqueles estabelecidos para a descarga
que permitam a adoção de medidas rápidas e seguras, de efluentes líquidos em corpos de água. É extremamente
principalmente em situações de emergência. benéfico que os efluentes tratados contenham concentra-
ções significativas de matéria orgânica e o máximo possível
dos nutrientes e micro-nutrientes contidos no esgoto bru-
Aspectos técnicos do reuso – medidas para to. Portanto, os critérios de tratamento para reuso agrícola
proteção dos grupos de risco devem ser associados à manutenção da DBO até um má-
ximo de aproximadamente 100 miligramas por litro, manu-
Os grupos de risco associados a sistemas de reuso a- tenção de nutrientes e eliminação de organismos patogêni-
grícola são os seguintes: consumidores de culturas, carne e cos em níveis estabelecidos pela legislação local, se

89
Potencial de Reuso de Água no Brasil - Agricultura, Industria, Municípios, Recarga de Aqüíferos

Tabela 6. Remoção de organismos patogênicos em sistemas de tratamento de esgotos


(Feachem, Bradley, Ganelick and Mara, 1983).

Tratamento Remoção (log10)


Bactérias Helmintos Virus Cistos
Sedimentação primária:
Simples 0-1 0-2 0-1 0-1
Com coagulantes 1-2 1 - 3 (f) 0-1 0-1
Lodos ativados(a) 0-2 0-2 0-1 0-1
Filtro biológico(a) 0-2 0-2 0-1 0-1
Lagoa aerada (b) 1-2 1-3 1-2 0-1
Valo de oxidação(a) 1-2 0-2 1-2 0-1
Desinfecção(c) 2 - 6(f) 0-1 0-4 0-3
Lagoa de estabilização(d) 1 - 6(f) 1 - 3(f) 1-4 1-4
Reservatórios de 1 - 6(f) 1 - 3(f) 1-4 1-4
acumulação(e)
(a) Incluído decantador secundário; (b) Incluída lagoa de sedimentação; (c) Cloração ou ozonização; (d) A eficiência depende do número de
unidades em série e outros fatores ambientais; (e) A eficiência depende do tempo de detenção; (f) Com projeto e operação adequados às
diretrizes para irrigação irrestrita podem ser atendidas.

disponível, ou de acordo com as diretrizes da Organização Tabela 7. Concentração de coliformes fecais em lagoas de
Mundial da Saúde (ver Tabela 4), em caso contrário. estabilização em série, com tempo de detenção de 25 dias
A Tabela 6 (Feachem, Bradley, Ganelick and Mara, (Mara, Pearson and Silva, 1963).
1983), sumariza a informação disponível sobre a remoção
de bactérias e helmintos presentes em esgotos domésticos Sistema de Número de Coliformes fecais
por diversos sistemas de tratamento, indicando onde as lagoas lagoas em série no efluente
diretrizes da Organização Mundial da Saúde, para irrigação (NMP/100 ml)
irrestrita (categoria A, na Tabela 4) podem ser atendidas.
Melbourne, 8 - 11 100
Esgotos brutos contêm de 107 a 109 coliformes por
Austrália
100 mililitros necessitando, portanto, serem tratados atra-
Extrabes, Brasil 5 30
vés de sistemas que permitam uma remoção de quatro a
seis unidades log10 para atingir as diretrizes para reuso Cogolin, França 3 100
irrestrito, o que pode ser obtido apenas através de desin- Amman, Jordania 9 30
fecção, lagoas de estabilização e reservatórios de acumula- Lima, Perú 5 100
ção. Nota-se, também, que a remoção de ovos de helmin- Tunis, Tunísia 4 200
tos, não pode ser atendida através de sistemas
convencionais de tratamento, tais como os sistemas de ser encontrado na literatura especializada (Hespanhol,
lodos ativados, filtros biológicos ou desinfecção. 1994, Metcalff and Eddy, 1979, Wegelin, 1997).
A análise da Tabela 6, leva a concluir que, em países
de clima predominantemente quente, como o Brasil, a Seleção e restrição de culturas - O tratamento, com-
tecnologia mais adequada para tratamento de efluentes pleto ou parcial dos esgotos, constitue-se na opção tecno-
para uso agrícola são as lagoas de estabilização (Mara, lógica de primeira escolha como medida protetora em
1976, Arthur, 1983). Lagoas em série constituídas por sistemas de reuso agrícola. Por outro lado é a que envolve
unidades anaeróbias, facultativas e de maturação, com os maiores custos, tanto de capital como de operação e
tempos de detenção hidráulicos médios de 10 a 30 dias manutenção. Deve-se, portanto, considerar alternativas
(dependendo da temperatura) podem ser projetadas para associadas a sistemas de tratamento simplificados. No Vale
atender às diretrizes da Organização Mundial da Saúde, do Mesquital, por exemplo, onde são utilizados aproxima-
tanto para coliformes fecais como para helmintos. damente 80 metros cúbicos por segundo de esgotos oriun-
As Tabelas 7 e 8 (Mara, Pearson and Silva, 1963, Ma- dos da cidade do México, o tratamento é proporcionado
ra and Silva, 1986), indicam a segurança com a qual lagoas apenas por reservatórios naturais de acumulação, localiza-
de estabilização em série atendem às diretrizes para reuso dos ao longo dos rios e canais que transportam e distribu-
irrestrito. A Tabela 8 mostra, também, as remoções signifi- em os esgotos às áreas irrigadas. Como medida protetora
cativas de DBO e sólidos suspensos proporcionados por complementar foi implementada uma política rígida de
sistemas de lagoas em série. seleção e restrição de culturas, estabelecendo aquelas que
Uma discussão mais ampla sobre a adequabilidade de podem ser irrigadas com esgotos e impondo sanções aos
sistemas de tratamento de esgotos para reuso agrícola pode agricultores que irrigam culturas proibidas.

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RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 7 n.4 Out/Dez 2002, 75-95

Tabela 8. Desempenho de um sistema de lagoas de estabilização em série no Nordeste do Brasil


(temperatura média de 26O C) (Mara and Silva, 1986).

Amostra Tempo de detenção DBO5 Sólidos suspensos Coliformes fecais Ovos de helmintos
coletada no: (dias) (mg/l) (mg/l) (NMP/100 ml) (ovos/litro)
Esgoto bruto - 240 305 4,6 x 107 804
Efluente da:
Lagoa anaeróbia 6,8 63 56 2,9 x 106 29
Lagoa facultativa 5,5 45 74 3,2 x 10 5 1
Lagoa de maturação 1 5,5 25 61 2,4 x 104 0
Lagoa de maturação 2 5,5 19 43 450 0
Lagoa de maturação 3 5,8 17 45 30 0

Dentro desse critério, as culturas permitidas são · por aspersores, fazendo com que o solo e as culturas
aquelas incluídas na categoria B (ver Tabela 3), na qual a sejam molhados de maneira semelhante ao que ocor-
proteção é necessária apenas para trabalhadores agrícolas, re durante chuvas;
ou seja, cereais, culturas industriais (algodão, sisal, etc.), · por irrigação sub-superficial, na qual apenas uma pe-
culturas alimentícias que sofrem processamento industrial quena porção do solo é molhada, mas permitindo a
como por exemplo as que são enlatadas, culturas forragei- saturação do sub-solo;
ras (alfafa, aveia forrageira, capim elefante, etc.), pastagens
· por irrigação localizada (gota a gota, exudação em
e árvores frutíferas. Alguns vegetais podem ser incluidos
mangueiras plásticas e bubbler), na qual a água é apli-
nessa categoria se não são ingeridos crus (tais como batatas
cada a cada planta, individualmente, e a uma taxa a-
e ervilhas) ou se crescem em estacas, bem acima do solo
justável.
(como alguns tipos de feijão, tomates e os “chilies”). Nesse
caso, é necessário assegurar que a irrigação não seja efetua-
da por sistemas de aspersores, que as culturas não sejam Cada um desses métodos de irrigação implica em di-
contaminadas por contato com o solo irrigado, e que a ferentes riscos de saúde pública para os grupos de risco,
manipulação desses alimentos não provoque riscos à saú- diferentes custos e diferentes eficiências no uso da água
de, antes do cozimento. aplicada. A Tabela 9 relaciona todos esses fatores e serve
como base para levantar os benefícios e custos associados
As políticas de seleção e restrição de culturas são efe-
a cada método de irrigação.
tivas quando:
Controle da exposição humana - Os métodos para
· a sociedade obedece às leis ou ocorre efetiva aplica-
minimizar a exposição humana se constituem em medidas
ção da legislação;
que devem ser implementadas pelas autoridades responsá-
· um orgão público controla a alocação dos esgotos veis pela operação e vigilância dos projetos de reuso e são
aos agricultores; estabelecidas em função dos grupos de risco.
· os projetos de irrigação são subordinados a uma ad- Essas medidas mitigadoras são as seguintes:
ministração central, forte e atuante;
· ocorre uma demanda adequada das culturas permi- · Operários rurais e suas famílias e manuseadores de
tidas dentro da política de seleção e restrição e que culturas:
essas sejam disponíveis no mercado, a preços aces- Os riscos potenciais são associados, principalmente,
síveis; às infecções parasitárias causadas por helmintos e as
· existe pequena pressão de mercado sobre as culturas medidas protetoras básicas são as seguintes:
excluídas na política de seleção e restrição (aquelas da
categoria A). · prover imunização contra febre tifóide e hepatite
A e B;
Técnicas de irrigação - A aplicação de esgotos tratados · prover quimioterapia, principalmente para infec-
pode ser efetuada através dos seguintes métodos básicos ções intensas de helmintos em crianças e controle
de irrigação: de anemia;
· prover instalações médicas adequadas para o tra-
· por inundação ou por canais laterais, molhando prati- tamento de doenças diarréicas;
camente toda a superfície do solo; · promover campanhas de educação sanitária;
· por sulcos, molhando apenas uma pequena parte da · estimular padrões elevados de higiene pessoal e
superfície do solo; alimentar;

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Potencial de Reuso de Água no Brasil - Agricultura, Industria, Municípios, Recarga de Aqüíferos

Tabela 9. Fatores que afetam a escolha do processo de irrigação e as medidas protetivas requeridas quando se
utiliza esgotos (Kandiah, 1994).

Método de irrigação Fatores que afetam a escolha Medidas protetivas necessárias


Inundação Menores custos; não é necessário Proteção completa para operários agrícolas,
nivelamento preciso do terreno. consumidores e manuseadores de culturas.
Sulcos Custo baixo; nivelamento pode ser Proteção para operários agrícolas; possivelmente
necessário. necessária para consumidores e manuseadores de
culturas.
Aspersores Eficiência média do uso da água; não há Algumas culturas da Categoria B, principalmente
necessidade de nivelamento. árvores frutíferas, são excluídas; distância mínima
de 100 metros de casas e estradas.
Sub-superficial ou localizada Custos elevados; elevada eficiência do Filtração para evitar entupimento de orifícios
uso da água; alta produtividade agrícola. (exceto no caso de irrigação por bubblers).

· exigir uso de calçados e de luvas apropriadas para ções legais e institucionais. Por outro lado, a experiência
reduzir a infeção por helmintos. tem demonstrado que a aplicação de medidas isoladas
proporciona proteção limitada aos grupos de risco. A
· Consumidores: política de restrição de culturas, por exemplo, protege os
consumidores mas proporciona pequena proteção aos
operários rurais e suas famílias. Da mesma maneira o con-
· cozer carne e vegetais e ferver o leite; trole da exposição humana tem se mostrado, pelas dificul-
· prover vigilância sanitária da carne, onde há risco de dades operacionais e culturais que implica, muito pouco
ocorrência de teníases (Taenia solium e T. saginata); efetivo, notadamente em termos de proteção de operários
· cessar a aplicação de esgotos pelo menos duas agrícolas.
semanas antes de liberar os plantéis nas pastagens, As medidas protetoras adequadas devem, portanto,
onde há risco de cisticercose (Cysticercosis bovis e C. ser aplicadas de maneira integrada e otimizada em função
cellulosae); das características específicas de cada projeto de reuso,
· cessar a irrigação de árvores frutíferas duas sema- procurando proporcionar, aos menores custos de capital e
nas antes da colheita e não permitir que frutas se- operacionais, o máximo de proteção aos grupos de risco
jam colhidas do chão; envolvidos.
· promover campanhas de educação sanitária;
· estimular padrões elevados de higiene pessoal e AÇÕES A SEREM DESENVOLVIDAS EM
alimentar; PROL DO REUSO NO BRASIL
· colocar sinais indicativos e de advertência ao lon-
go do perímetro das áreas irrigadas com esgotos. A incorporação da filosofia de reuso nos planos na-
cionais de gestão de recursos hídricos e desenvolvimento
· Populações vivendo nas proximidades dos campos agrícola, é de fundamental importância para regiões áridas
irrigados: e semi-áridas, e naquelas onde a demanda é precariamente
Não existe, até o presente, evidência epidemiológica satisfeita, através de transposição de água de bacias adja-
de que aerossóis originados na irrigação com asperso- centes. O reuso implica em redução de custos, principal-
res impliquem em riscos significativos de infecção. mente se é considerado em associação com novos projetos
Entretanto, visando proporcionar uma margem razo- de sistemas de tratamento, uma vez que os padrões de
ável de segurança e minimizar problemas de odor de- qualidade de efluentes, necessários para diversos tipos de
ve-se manter uma distância mínima de 100 metros uso, são menos restritivos do que os necessários para pro-
entre os campos irrigados e casas e estradas. teção ambiental.
O uso de esgotos tem sido praticado em muitas par-
Para os planejadores de sistemas de reuso agrícola o tes do mundo, por muitos séculos. Sempre que água de
tratamento dos esgotos se apresenta como a medida mais boa qualidade não é disponível, ou é dificil de ser obtida,
direta e visível, secundada apenas pela seleção e restrição águas de menor valor, tais como esgotos, águas de drena-
de culturas. Entretanto, ambas são relativamente difíceis de gem agrícola ou águas salobras, são, espontaneamente
serem implementadas de uma maneira completa, a primeira utilizadas, principalmente em agricultura e aqüicultura.
limitada por custos elevados e a segunda pela falta de mer- Infelizmente, essa forma de uso não institucionalizado, não
cados adequados para determinadas culturas e por restri- planejado e, as vezes, inconsciente, é realizada sem quais-

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RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 7 n.4 Out/Dez 2002, 75-95

quer considerações para com os aspectos de saúde, de são formulados com base em análises e avaliações econô-
meio ambiente e de práticas agrícolas adequadas. mico-financeiras e não possuem estruturas adequadas de
Embora ocorram manifestações de reuso agrícola não recuperação de custos.
planejado ou inconsciente em diversas regiões brasileiras, Embora possa não ser atribuição específica da ANA
inclusive em algumas regiões metropolitanas, a prática do promover e regulamentar as atividades de reuso de água no
reuso de água associada ao setor público ainda é extrema- Brasil, a sua ação coordenadora no setor permitiria a elabo-
mente incipiente no Brasil. Em alguns Estados do nordes- ração e implementação de projetos sustentáveis de reuso,
te, particularmente Rio Grande do Norte, Paraíba e Per- ajustados aos programas e objetivos de gerenciamento
nambuco alguns projetos foram implantados visando a integrado nas bacias hidrográficas nas quais esteja atuando.
irrigação de capim elefante com efluentes domésticos, sem Além disso, as atividades de reuso adequadamente coorde-
nenhum tratamento e sem nenhuma forma de proteção à nadas se constituiriam em elemento valioso para melhor
saúde pública dos grupos de risco envolvidos. utilizacão dos recursos hídricos disponíveis, controle da
Por outro lado o setor privado, particularmente o in- poluição e atenuacão do problema de seca em regiões
dustrial, vem, gradualmente se conscientizando de que a semi-áridas.
prática de reuso e reciclagem pode trazer benefícios signifi- Os elementos básicos para a promoção e regulamen-
cativos tanto no que concerne ao processamento industrial tação da prática sustentável de reuso de água no território
quanto em relação às águas de utilidades. As políticas tari- nacional, poderiam ser efetuados através das seguintes
fárias, praticadas pela maioria das companhias municipais e atividades:
estaduais de saneamento, assim como o advento e a im-
plementação das estruturas de outorga e cobrança, tanto na · estabelecer uma política de reuso, definindo obje-
tomada de água como na diluição dos despejos produzi- tivos e metas, tipos de reuso, áreas prioritárias e
dos, têm levado as indústrias a dedicarem especial atenção condições locais e/ou regionais para a implemen-
às novas tendências e tecnologias disponíveis para reuso e tação da prática;
reciclagem de efluentes. · propor estruturas institucionais para a promoção e
Torna-se necessário, portanto, estabelecer mecanis- gestão de programas e projetos de reuso a níveis na-
mos para institucionalizar, regulamentar e incentivar a cional, regionais e locais;
prática do reuso estimulando as que permanecem embrio- · estabelecer um arcabouço legal incluindo diretrizes,
nárias e promover o desenvolvimento daquelas que ainda padrões e códigos de prática;
não se iniciaram no Brasil.
· estabelecer um arcabouço regulatório, incluindo
A Agência Nacional de Águas – ANA, dentro de sua
atribuições, responsabilidades, incentivos e penali-
função básica de promover o desenvolvimento do Sistema
dades;
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos previsto
· definir os critérios de tratamento de efluentes para
no inciso XIX do art. 21 da Constituição e criado pela Lei
reuso e proposição de tecnologias adequadas para a
nº 9.433 de 8 de janeiro de 1997, tem competência para
prática em função de características climáticas, técni-
administrar, entre uma gama significativa de atribuições
cas e culturais regionais ou locais;
(relacionadas no Art. 4º, Capítulo II, Lei Nº 9.984 de 17 de
juho de 2000), os aspectos relativos às secas prolongadas, · estabelecer critérios para a avaliação econômico-
especialmente no nosso Nordeste e à crescente poluição financeira de programas e projetos de reuso;
dos cursos de água, no território nacional. · estabelecer normas e programas para informação, pa-
Uma política de reuso adequadamente elaborada e ra educação ambiental e para participação pública nos
implementada contribuiria substancialmente ao desenvol- programas e projetos de reuso;
vimento de ambos os temas: a seca, dispondo de volumes · estabelecer um sistema de monitoramento, avaliação
adicionais para o atendimento da demanda em períodos de e divulgação dos programas a níveis nacional, regio-
oferta reduzida, e a poluição, atenuada face à diversão de nais e locais.
descargas poluidoras para usos benéficos específicos de
cada região. Como não existe no Brasil, experiência em reuso
Atualmente, nenhuma forma de ordenação política, planejado e institucionalizado, é necessário implementar
institucional, legal ou regulatória orienta as atividades de projetos pilotos. Essas unidades experimentais, devem
reuso praticadas no território nacional. Os projetos cobrir todos os aspectos das diversas modalidades de
existentes são desvinculados de programas de controle de reuso, principalmente os relativos ao setor agrícola, e
poluição e de usos integrados de recursos hídricos nas deverão fornecer subsídios para o desenvolvimento de
bacias hidrográficas onde estão sendo implementados, não padrões e códigos de prática, adaptados às condições e
empregam tecnologia adequada para os tipos específicos de características nacionais. Uma vez concluída a fase expe-
reuso implementados e não incluem as salvaguardas neces- rimental, as unidades piloto serão transformadas em
sárias para preservação ambiental e proteção da saúde sistemas de demonstração, objetivando treinamento,
pública dos grupos de risco envolvidos. Alem disso, não pesquisa e o desenvolvimento do setor.

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Potencial de Reuso de Água no Brasil - Agricultura, Industria, Municípios, Recarga de Aqüíferos

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