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02: A urbanização no …
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126.02
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126
126.00
Biblioteca Pública de
Seattle
entre pirâmide e vulcão
Igor Guatelli
126.01
Alvenaria alternativa
A obra do arquiteto
Vitor Lotufo
Shanghai Edite Galote R.
Foto Flavio Coddou Carranza e Ricardo
Carranza
O crescimento econômico é uma preocupação central em nossa sociedade e um
126.03
processo tido atualmente como inexorável. Contudo, paira entre a maioria de
Arquitetura residencial
nós uma visão da economia como uma espécie de abstração, algo imaterial,
moderna em João Pessoa
que se produz em alguma esfera “macroscópica,” para além dos contextos
nos anos de 1970
cotidianos da atividade econômica, quase como se produzida no ar e
Ricardo Ferreira de
viabilizada em qualquer condição física. Nada pode ser mais equivocado que
Araújo, Nelci Tinem e
a visão da economia como imaterial. A economia é, antes, produzida em
Marcio Cotrim Cunha
condições profundamente materiais e localizadas. Mas quais seriam essas
condições? O objetivo deste texto é mostrar o papel estratégico da cidade, 126.04
como locus da produção e cenário da inovação e do consumo, para o Un acercamiento al
desenvolvimento socioeconômico. Este artigo argumentará que temos falhado fenómeno de la
em reconhecer que as dinâmicas econômicas são profundamente dependentes de cuartería en el reparto
estruturas urbanas. Temos, assim, falhado em preparar nosso país Vista Alegre de
suficientemente rápido e na escala necessária para o crescimento anunciado Santiago de Cuba
e buscado por uma infinidade de atores – um crescimento de resto esperado Ana Bárbara Sagué
pelo mundo: há uma expectativa internacional em relação ao Brasil como Camps, Elvio Martínez
economia emergente e novo ator de peso nas decisões e na estabilidade Sánchez e María Teresa
socioeconômica mundial. Para tanto, este artigo problematizará a questão Muñoz Castillo
através de uma breve discussão de casos recentes na Brasil e China, que
126.05
atravessam processos de desenvolvimento econômico ancorados em processos de
Modernidade e
urbanização, a fim de evidenciar a mútua influência entre a base material
primitivismo na
da cidade com o crescimento econômico. Em seguida, tecerá uma análise das
arquitetura de Mato
cidades como o suporte e expressão das interações da economia – de resto
Grosso
possíveis em função das estruturas que se estendem desde o interior do país
Confrontos da segunda
e do interior de nossas cidades até suas portas de exportação – além de
metade do século 20
importantes formas de investimento e consumo internos.
Ricardo Silveira Castor
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infraestrutura baseada em urbanização é maior do que em outros países. Além Mandrake e Miss Simpson
disso, a China se transforma de um país largamente rural para um país moram no Rio
urbanizado em grande escala, e o faz com conhecimento de experiências de o olhar norte-americano
outros países, bem como com recursos aparentemente inéditos. Nesse sentido, construindo e
o Brasil passa por uma transformação da base de sua economia na indústria singularizando a
da agricultura para a de manufatura, serviços e informação, disputando com capital carioca em dois
a China e outros atores o papel de produtor e exportador. Soma-se a isto o filmes nacionais
fato do país asiático possuir grande liquidez de capital, disponível pelo Leo Name
planejamento central do governo, que permite grande mobilização. Mantendo
126.08
essas diferenças fundamentais como pano de fundo, vemos que o crescimento
Áreas Verdes: um
econômico chinês é fortemente ancorado no investimento em infraestruturas
elemento chave para a
que incluem desde a mobilidade do trabalhador (acaba-se de inaugurar na
sustentabilidade urbana
China o trem mais rápido do mundo) ao apoio logístico para a produção e
A abordagem do Projeto
trocas econômicas (3). A urbanização é tida ainda como um dos ajustes
GreenKeys
estruturais para reduzir a dependência da China em relação a sua demanda
Carlos Smaniotto Costa
externa e sua dependência das exportações (4). Entre os itens da estratégia
chinesa de crescimento estão o enorme investimento em capacidade logística 126.09
para a mobilidade da produção – a “hiper-mobilidade” (auto-estradas e o La conservación del
sistema ferroviário, que tiveram 70% mais recursos em 2009 que no ano sistema religioso del
anterior); a mobilidade e distribuição regional da população, prevendo o siglo 18 en la ciudad
consumo interno; o crescimento das cidades de porte médio e vantagens histórica de Santiago
comparativas, ancorando-se o modelo econômico na interiorização da de Cuba
indústria através de estímulos como logística, mão de obra e incentivos Salvaguarda del
fiscais; o desenvolvimento acelerado das infraestruturas do país tendo como patrimonio cultural
base um modelo de conurbação; e, finalmente, o pacote de vantagens sociais Nancy Amparo Giraudy
para novos moradores urbanos oriundos de migração setorial rural para a Rodríguez e Flora de
economia urbana: a China se prepara para receber 10 milhões de novos Los Ágeles Morcate
cidadãos (5). Esses argumentos, contudo, não implicam que nosso país não Labrada
tenha a necessidade de investir em logística e infraestrutura. O Brasil
126.10
passa por transformação da base de sua economia na indústria da agricultura
La Escuela Taller “Ugo
para a de manufatura, serviços e informação, disputando com a China e
Luisi” para la
outros atores o papel de produtor e exportador. Os necessários recursos
conservación del
definidos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) são, contudo,
patrimonio del centro
proporcionalmente mais modestos (6). Finalmente, esses recursos vêm sendo
histórico de Santiago
distribuídos em infinidades de projetos individuais, demandados por
de Cuba
prefeituras e, portanto, com grande penetração nas realidades locais, mas
Niria Mercedes González
sem ligação a estratégias conjuntas de tratamento da estrutura urbana e de
Enrique
preparação das cidades e regiões metropolitanas, prevendo sua capilarização
nas cidades de médio e pequeno porte, como estruturas para o crescimento 126.11
econômico. Uma relevante exceção é o modelo de produção industrial de alta Sobre a inutilidade e a
tecnologia em escala regional em São Paulo, baseado em redes de cidades de desnecessidade da
porte médio e pequeno, fortemente interligadas, contando com infraestrutura arquitetura
de circulação e transporte iguais ou melhores às do primeiro mundo. Nesse Luiz Felipe da Cunha e
sistema, o papel da capital São Paulo foi redefinido, permitindo que a Silva
falta de infraestrutura material da cidade não seja impeditiva ao
funcionamento do sistema maior.
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do grau de proximidade entre suas localizações. A economia em geral, e a
organização dos agentes de produção em particular, precisam da cidade: a
relação entre o “hardware” da cidade e o “software” das interações
econômicas se coloca como um problema fundamental no desempenho econômico.
Esse é o caso, sobretudo quando a organização da produção se descentraliza
entre e dentro de setores, envolvendo redes de produção conjunta, incluindo
tanto indústrias de manufatura, de maior impacto regional e metropolitano,
quanto às indústrias de serviço e informação, de maior impacto intraurbano
– ambos envolvendo crescente aglomeração. É através das estruturas da
cidade e suas ligações a outras cidades e regiões que as ações e interações
dos agentes se materializam: elas são condições para a economia auto-
organizar-se com certo grau de eficiência – uma economia produzida, mesmo
em suas amarras globais, fundamentalmente na escala das conexões locais e
regionais (7). Aqui, claramente, a acessibilidade construída através de
redes viárias é um item central para aumentar o potencial de contato entre
atores e reduzir seus custos e tempo de transporte – itens de
produtividade. Em outras palavras, os potenciais de interação estão
manifestos na própria espacialidade dos padrões urbanos, e nos diferentes
graus de estruturação de suas redes viárias. A eficiência econômica da
estrutura física da cidade e da região depende da sua capacidade de
permitir ligações de produção e interação entre firmas e entre setores,
como redes de agentes complementares de produção posicionados em diferentes
localizações (8). A mediação da estrutura urbana é fortemente presente nas
relações entre os diferentes tipos de atores:
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atividades de produção e consumo no espaço: a aglomeração passa a ser
desvantajosa. Isso pode ocorrer por competição, dificuldades de
compartilhar mercados de trabalhadores ou consumidores, e sobretudo pelas
dificuldades impostas pelos volumes de ações econômicas fragilmente
suportadas por estruturas espaciais. É o caso com as redes viárias de baixa
distributividade das cidades brasileiras e nas regiões metropolitanas.
Entre as características do estado da infraestrutura das cidades
brasileiras, destacam-se a lentidão na execução das obras de saneamento: os
processos de construção são pouco eficientes, impactando negativamente a
vida econômica de cidadãos e empresas; o alto custo das obras, que esgota
recursos potencialmente úteis para outras execuções; e finalmente obras
pensadas frequentemente pontualmente e não de modo estratégico e em
conjunto.
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distâncias maiores que impõe à cidade. A política habitacional deve
ser baseada em soluções eficazes e verdadeiramente sustentáveis, de
modo a evitar o urban sprawl..
notas
1
Título inspirado na matéria “L’urbanisation au coer des débates
économiques,” Le Monde, 22 de dezembro de 2009.
2
Essa seção foi debatida com o colega Romulo Krafta (PROPUR/UFRGS), em
conversa pessoal. Contudo, limitações na argumentação são de
responsabilidade do autor.
3
O governo chinês divulgou recentemente seu Plano de Estímulo, implementado
ao longo de dois anos, prevendo um investimento de 4 trilhões de yuans
(cerca de R$ 1 trilhão) distribuídos nos seguintes itens: (a) um trilhão e
meio de yuans (R$ 400 bilhões) em infraestrutura e urbanização (estradas de
ferro, redes de estradas, aeroportos e redes de eletricidade e água em
zonas urbanas; (b) um trilhão de yuans na reconstrução de áreas afetadas
pelos terremotos de 2008; (c) 400 bilhões em investimentos sociais; (d) 370
bilhões em redes de água, eletricidade e estradas em zonas rurais; (e) 370
bilhões em inovação econômica e transição setorial (modernização da
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economia e novas inserções da força de trabalho); (f) 210 bilhões em
tecnologias e processos de desenvolvimento sustentável; e (g) 150 bilhões
de yuans em saúde e educação. Tendo em vista a proporção entre os valores
investidos nestas diferentes áreas, esses números mostram a seriedade com
que a China tem enfrentado a questão urbana e o quão estrategicamente ela é
vista para a viabilização econômica daquele país.
4
YANG, Yao. (China Center for Economic Research) China Daily, 16 de Dezembro
2009.
5
Le Monde, 22 de dezembro de 2009.
6
Os recursos definidos pelo Programa de Aceleração do Crescimento tem um
total de R$ 503,9 bilhões distribuídos ao longo de 4 anos (de 2007 a 2010)
– ou cerca de 25% do investimento chinês ao ano. Destes, R$ 170,8 bilhões
serão investimentos sociais e urbanos (essencialmente em urbanização de
áreas precárias, saneamento básico e habitação, incluindo também metrôs e
trens urbanos), e R$ 58,3 bilhões em logística de transporte (construção e
ampliação de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias); R$ 274,8
bilhões em energia (geração e transmissão de energia elétrica, produção,
exploração e transporte de petróleo, gás natural e combustíveis
renováveis). Considerando que apenas parte dos investimentos sociais e
urbanos contempla a questão da infraestrutura produtiva da nossa economia,
pode-se dizer que a China investirá nessa área cerca de oito vezes mais ao
ano que o Brasil no mesmo período. Temos, contudo, o PAC2 em andamento e um
PAC3 sendo anunciado. Os dados dos valores do PAC estão disponíveis em
http://www.brasil.gov.br/pac/.
7
SASSEN, Saskia. The Global City. Princeton, University Press, 2001.
8
Um segundo item, que atua como condição para o primeiro, é a verificação do
quanto o sistema espacial atua no sentido de informar sobre as
possibilidades de interações e permitir tais interações com menos ou mais
eficiência em um sistema de agências e atividades ativo e interconectado.
9
RIGBY, David; ESSLETZBICHLER, Jürgen. “Agglomeration economies and
productivity difference in U.S. cities”, Journal of Economic Geography, n.
2, 2002, p. 407-432.
10
Nesse sentido, RIGBY e ESSLETZBICHLER (Op. cit.) fazem estimativas dos
efeitos positivos das externalidades de ligação sobre a produtividade de
agentes de produção, através da análise de matrizes de entrada-saída entre
firmas. Há efeitos positivos de tais ligações como externalidades
pecuniárias (custos ou benefícios de ações cujos efeitos se fazem sentir
através do mercado, como os impactos de uma nova indústria sobre custos de
outra), sob forma de economias de localização (benefícios econômicos
gerados pela aglomeração entre firmas internos à uma indústria particular)
e de economias de urbanização (benefícios econômicos gerados pela
aglomeração de diferentes tipos de firmas – externos à firmas e setores
econômicos individuais e internos a área urbana como um todo – NAKAMURA,
Ryohei. Changes in Agglomeration Economies and Linkage Externalities for
Japanese Urban Manufacturing Industries:1990 and 2000. RIETI Discussion
paper 2008). Ainda, tanto Marshall quanto Jacobs se referem ao valor da
diversidade urbana na qual as complementaridades na oferta de trabalho
podem reduzir o risco gerado por flutuações na economia (ROSENTHAL, Stuart;
STRANGE, William. “Evidence on the nature and sources of agglomeration
economies”, In: HENDERSON, J. V.;THISSE J.-F. (org). Handbook of Urban and
Regional Economics. New York, North Holland, n. 4, 2004, p. 2119-2171).
11
O percentual de demanda intermediária (trocas na economia da produção de
bens e serviços) em relação à demanda doméstica em todas as indústrias de
manufatura é, na média, em torno de 70% (NAKAMURA. Op. cit.).
12
FUJITA, Masahisa; THISSE, J-F. “New Economic Geography: An appraisal on the
occasion of Paul Krugman's 2008 Nobel Prize”, Regional Science and Urban
Economics, n. 39, 2009, p.109–119.
13
HARVEY, David. Social Justice and the City. Baltimore, John Hopkins
University Press, 1973.
14
KRAFTA, Romulo. “Urban convergence: morphology and attraction”, In
TIMMERMANS, H. (org). Decision Support Systems in Urban Planning. London,
E&FN Spon, 1997.
15
CINTRA, Marcos. “O custo dos congestionamentos em São Paulo”. São Paulo,
FGV, 2008. Veja ainda NETTO, Vinicius M. e SABOYA, Renato de T. “A urgência
do planejamento” em Arquitextos 125.2 (2010) – disponível em
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.125/3624
16
Empresas envolvidas na economia de serviços e informação também requerem a
vitruvius.com.br/revistas/read/…/3655 8/9
13/3/2011 arquitextos 126.02: A urbanização no …
mobilidade de atores em condição de troca e comunicação face-a-face
(SASSEN. Op. cit.).
17
FERNÁNDEZ-GALIANO, Luiz. “Arquitetura e Cidade em Tempos de Crise”.
Palestra inaugural 8º Seminário DOCOMO-Brasil, 1º de setembro de 2009.
sobre o autor
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