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21/11/2017 Da série "Julgamentos Históricos": Escola Base, a condenação que não veio pelo judiciário

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Terça-feira, 21 de novembro de 2017

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Diego Bayer e Bel Aquino

Quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Da série “Julgamentos Históricos”:


Escola Base, a condenação que não
veio pelo judiciário RECENTES

      Desideologizar a “ideologia de
gênero”
212 21 de novembro de 2017

Na Coluna Julgamento Históricos Política Pública sem amor:


fazendo sofrer as ...
Por Diego Bayer e Bel Aquino 21 de novembro de 2017

O que os defensores do (racista)


William Waac...
Caso da Escola Base, Aclimação, São Paulo (1994) 21 de novembro de 2017

Racismo não é opinião, é crime


e o Pondé não ...
O caso começa em 1992, quando Cida comprara o estabelecimento em plena 21 de novembro de 2017

decadência, com apenas 17 alunos, e todos prestes a cancelar a matrícula.


Matéria do Justi cando é tema
Apenas dois anos após a compra, já contando com 72 alunos, os proprietários
de questão em ...
planejavam mais investimentos, reformas e compras de equipamentos para o 21 de novembro de 2017

local.
Lei que trata processo
Antes de adquirirem a escolinha, Ayres (Icushiro Shimada) trabalhou como administrativo do Banc...
17 de novembro de 2017
datilógrafo e, posteriormente, devido a pouca procura dos serviços de
datilogra a com o passar dos anos, comprou uma máquina de Xerox e duas Relatório denuncia violações de medidas
máquinas copiadoras de plantas de engenharia. A esposa Cida (Maria caute...

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21/11/2017 Da série "Julgamentos Históricos": Escola Base, a condenação que não veio pelo judiciário
17 de novembro de 2017
Aparecida Shimada) era formada em letras e tinha o magistério como vocação.
Ribeiro (2000) conta que, no início dos anos 90, Cida resolveu montar um "Não pense em crise, trabalhe":
negócio próprio e, para inteirar o capital, chamou a prima Paula Milhin de capitalismo e...
17 de novembro de 2017
Monteiro Alvarenga, que contou com a ajuda do marido Maurício de Monteiro
Alvarenga. 'Nunca aceitaremos o golpe de
Estado militar ...
Ayres, marido de Cida, costumava sair do trabalho e ir direto para a Escola de 17 de novembro de 2017

Educação Infantil Base, ajudar a esposa com a hora da saída das crianças, que
Novos 'milionários' via Justiça
costumavam chamar de “horário de rush”. O atencioso marido auxiliava com
ganharam R$ 9...
toda aquela coisa de atender a campainha, colocar a mochila nas costas, 17 de novembro de 2017

lancheiras nos ombros das crianças e entregá-las aos pais. Conforme narrado
por Ribeiro (2000, p. 12), algumas crianças nem queriam voltar para casa e
“faziam manha para esticar o horário de aula”. LIVROS JUSTIFICANDO

Paula já havia trabalhado com Cida antes, dava aulas em uma escola infantil
que a prima era diretora, foi quando surgiu a ideia de trabalhar por conta
própria e constituírem uma sociedade. Ribeiro (2000, p. 16-17) revela que “em
setembro de 1992, interessaram-se por uma oferta de uma escolinha na
Aclimação” e “como a escola estava em franca decadência, o preço não era
ruim”, “fecharam negócio”.

Na sociedade das primas, Cida tomava conta da parte administrativa e Paula


era responsável pela parte pedagógica. As duas trabalharam duro,
“levantaram uma edícula nos fundos, transformaram a casa modesta em um
sobradinho de dois andares, cimentaram todo o quintal e construíram
banheiros externos (RIBEIRO, 2000, p. 17).

Não foi uma tarefa fácil erguer aquela precária escola que haviam comprado.
STALKING
Parte dos serviços era feita pelos próprios casais nas horas vagas. Durante dois
R$ 69,90
anos não conheceram descanso nos sábados, domingos e feriados. Ainda assim
foi necessário recorrer a algum crédito e pagarem prestações. No começo de
1994, as últimas obras estavam prontas. O sacrifício poderia ter valido a pena,
pois em menos de dois anos o número de alunos havia saltado de 17 para 72.

Só que a sorte da Escola Base começou a mudar dois dias antes, numa noite de
sábado, 26 de março de 1994 (RIBEIRO, 2000, p. 17).

Duas mães, Lúcia Eiko Tanoue e Cléa Parente de Carvalho, se dirigiram à 6ª


Delegacia de Polícia, na zona sul de São Paulo e “prestaram queixa” contra
três casais que trabalhavam na Escola de Educação Infantil Base, localizada no
bairro da Aclimação, em São Paulo.

Tudo começou quando Fábio, um dos alunos, com quatro anos de idade na
época, ao brincar na cama com sua mãe, Lúcia Eiko Tanouse, sentou em cima
de sua barriga, começou a se movimentar e disse “o homem faz assim com a
mulher” (RIBEIRO, 2000, p. 20). A mãe, surpresa com o comportamento do
menino, lhe questionou onde aprendera aquilo. Inicialmente, o infante não República de Curitiba – Por
quis responder, disse que era coisa do videogame. Lúcia começou a pressionar que Lula?
o marido para ver se ele havia levado o garoto a algum local inapropriado, mas R$ 49,90

a resposta foi negativa. A genitora continuou insistindo com a criança. Nas


palavras de Alex Ribeiro (2000, p. 20):

Lúcia voltou ao quarto. Ninguém presenciou a inquirição, mas o fato é que ela
saiu de lá dizendo que o menino revelara barbaridades. A ta pornográ ca, ele
a teria visto na casa de Rodrigo, um coleguinha da Escola Base. Um lugar com
porão verde, jardim na lateral, muitos quartos, cama redonda e aparelho de
televisão no alto.

Seria levado a essa casa por uma perua Kombi, dirigida por Shimada – o Ayres,
marido da proprietária da escolinha. Fábio teria sido beijado na boca por uma
mulher de traços orientais, e o beijo fotografado por três homens: José
Fontana, Roberto Carlos e Saulo, pai do Rodrigo. Maurício – marido de Paula,
sócia da escolinha – teria agredido o pequeno a tapas. Uma mulher de traços

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orientais faria com que ele virasse de bruços para passar mertiolate em suas
O que é discriminação?
nádegas. Ardia muito, foi o que o garoto disse à mãe. E uma mulher e um
R$ 49,90
homem cariam “colados” na frente dele. Outros coleguinhas teriam
participado da orgia: Iracema, Rodrigo e Cibele.

Lúcia conhecia a mãe de Cibele, Cléa Parente de Carvalho, e lhe contou sobre os
relatos de Fábio. Desesperada, Cléa foi conversar com a lha, que teria lhe
contado tudo, mas, da mesma forma como ocorreu com Lúcia e Fábio,
ninguém presenciou a conversa. A menina teria contado horrores, coisas
absurdas, dentre as quais “que teria sido introduzido em seu ânus um objeto
esquisito, que ela não sabia descrever”, que “assistia a lmes de mulheres
peladas e era fotografada nua” e que “os tios cavam sem roupas e deitavam
em cima dela” (RIBEIRO, 2000, p. 23).

Segundo as mães, o casal Maria Aparecida Shimada e Icushiro Shimada,


conhecido como Ayres, donos da escola, promovia orgias sexuais com as
crianças na casa de Saulo e Mara, pais de um dos alunos. Também, a sócia de
A Maioridade Penal nos
Maria Aparecida, Paula, e o motorista da kombi, Maurício Alvarenga, que Debates Parlamentares
levava as crianças para casa, estariam envolvidos. R$ 59,90

O delegado responsável pelo caso, Edélcio Lemos, encaminhou as crianças ao


IML (pois apresentavam assaduras causadas pela forma de se sentar e pelo
tempo de trocar a fralda) e obteve um mandado de busca e apreensão para o
apartamento de Saulo e Mara.

Como NADA FOI ENCONTRADO na residência do casal, as mães se


“indignaram” e acionaram a Rede Globo, foi aí que o caso Base começou para
valer.

Ribeiro (2000) menciona que na semana anterior ao incidente, o delegado


Edélson Lemos teria discutido com o jornal Diário Popular, devido a um lme
fotográ co arbitrariamente apreendido pela autoridade policial. Entretanto,
no momento em que chegou à delegacia o caso da Escola Base, Lemos teria
telefonado para o editor do Diário, Paulo Breitenvieser, passando as
informações com exclusividade, como forma de se redimir pela tal
arbitrariedade da apreensão. Conforme refere o auto (2000, p. 34), Lemos
“disse que tinha um caso bom, de violência sexual envolvendo crianças de
quatro anos”.

O encarregado pela cobertura do caso foi o repórter Antônio Carlos Silveira dos
Santos, que chegou ao local na hora em que o delegado Primante estava no
prédio para fazer a busca. Quando o delegado saiu da escola e deu a primeira
entrevista, “a rmou que a polícia tinha apenas uma denúncia, que até ali não
havia prova nenhuma e que tudo precisava ser mais investigado” (RIBEIRO,
2000, p. 35).

Pro ssionalmente, Antônio Carlos cou um tanto desapontado com a busca na


escola, pois não havia qualquer indício concreto da existência do crime. O
repórter conversou com Ayres, que, conforme a narrativa de Ribeiro (2000, p.
36), lhe disse: “se vocês publicarem uma matéria dessas vão destruir a vida da
gente”.

O jornalista (2000, p. 36) coloca que:

“ O dono da escola foi pego de surpresa, mas não se encontrou nada que
provasse qualquer ligação com um suposto crime. Ninguém poderia ir
para a cadeia, nem pro agrante nem por prisão temporária.

Chegou à redação por volta das oito horas da noite e foi direto conversar
com o editor Breitenvierser.

– Como é? A matéria é boa?

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– Está redonda, tem fotos de todo mundo, mas não tem prova nenhuma
contra a escola.

Editor e repórter conversaram mais um pouco sobre o que poderia ser a


manchete do dia. “Se a gente desse a matéria, a gente ferrava o
japonês”, conta Antônio Carlos. “Mas se a gente não desse e saísse
publicado em outros jornais, quem estava ferrado era a gente.”

– Faço a matéria?


– Faz, mas não pega pesado.

Ainda naquele mesmo dia, o repórter da Rede Globo Valmir Salaro chegou ao
distrito a m de que a polícia buscasse os quatro proprietários da escola
(Ayres, Cida, Paula e Maurício) para inquirições informais. Os quatro suspeitos
referem que sofreram uma espécie de sessão de pressão psicológica. Paula
a rma, ainda, que a pressão não foi apenas psicológica, pois alega ter sido
agredida por policiais, conforme revela Ribeiro (2000). Todos negaram
envolvimento no suposto crime e só foram liberados pelo repórter às 23 horas.

O inquérito passou a tramitar sob a responsabilidade do delegado Edélson


Lemos. A surpresa do dia foi o recebimento de um telex do IML, adiantando os
resultados do exame de corpo de delito realizado nas crianças: “referente ao
laudo nº. 6.254/94 do menor F.J.T Chang, BO 1827/94, informamos que é
positivo para a prática de atos libidinosos. Dra. Eliete Pacheco, setor de
sexologia, IML, sede” (RIBEIRO, 2000, p. 41).

Bastou aquela informação para que todos os jornais já tomassem


conhecimento sobre o caso. Tamanha foi a repercussão que “nesse mesmo dia,
o Jornal Nacional, da Rede Globo, soltou a notícia, sem a versão dos acusados”,
mas “o repórter da Globo não assumia as denúncias como verdadeiras e
apenas narrava o fato de um inquérito policial ter sido aberto para apurar
possível abuso sexual” (RIBEIRO, 2000, p. 43). E várias foram as manchetes do
dia 30 de março informando sobre o caso, mas todos os jornais mantiveram
parcialidade naquele momento, agindo tecnicamente de forma correta, já que
apenas expuseram a informação sobre as acusações.

A partir daí, o delegado deu início a uma série de declarações à mídia, o que
levou a opinião pública a classi car essas seis pessoas – Maria Aparecida,
Ayres, Paula, Maurício, Saulo e Mara – como culpados por pedo lia. Ademais,
como nada de grande impacto estava acontecendo na época, raros os jornais
que não trouxeram a Escola Base como manchete. Eles foram acusados de
drogar os alunos, fotografá-los nus e de terem feito todo o tipo de
perversidades com as crianças. Foram presos, fotografados, expostos na mídia
antes de conclusas as investigações sobre o possível fato criminoso.

O Jornal Nacional chegou a sugerir o “consumo de drogas” e a “contaminação


pelo vírus da AIDS”, enquanto a Folha da Tarde noticiava: “Perua carregava
crianças para orgia”… o Notícias Populares estampou em sua capa o título:
“kombi era motel na escolinha do sexo”.

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Vários veículos da imprensa noticiaram o fato, sendo a Escola Base depredada


pela população e os suspeitos tiveram que se esconder para não serem
linchados.

A mídia utilizou do sensacionalismo, explorando o sofrimento das mães das


vítimas, entrevistas com crianças de quatro anos, perdendo completamente a
preocupação com a ética e a presunção de inocência. Surgiram tantas
denúncias, que o relator da CPI da Prostituição Infanto Juvenil na época pediu
a quebra do sigilo bancário das contas dos suspeitos, as quais foram
investigadas. Deve-se esclarecer que os suspeitos não tinham nem prestado
depoimento para a polícia.

Diante do rumo que o caso estava tomando, os suspeitos concederam


entrevista para a imprensa. Dois dias depois, o delegado do caso solicitou a
apresentação dos suspeitos para que prestassem depoimento. Somente Saulo e

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Mara foram à delegacia, quando tiveram a prisão temporária decretada pelo


juiz corregedor, qual posteriormente foi revogada. Em razão dos fatos, o
inquérito foi encaminhado para outra delegacia de polícia.

O sensacionalismo da imprensa era tanto, que fez com que o novo delegado
cometesse dois grandes erros, onde, além de errar o número da casa (era nº 23
e não o nº 93), prendeu um americano chamado Richard O sensacionalismo da
imprensa era tanto, que fez com que o novo delegado cometesse dois grandes
erros, onde, além de errar o número da casa (era nº 23 e não o nº 93), prendeu
um americano chamado Richard, qual não possuía ligação qualquer com o caso
e que foi solto somente nove dias depois., qual não possuía ligação qualquer
com o caso e que foi solto somente nove dias depois. Os menores chegaram a
ser levados à casa de Richard para um possível “reconhecimento do local” e,
pelo simples fato da lha de Cléa ter querido brincar com uma abelhinha de
pelúcia que estava na residência, foi o su ciente para dizerem que ela estaria
identi cando o local. Daí, foi um pulo para a imprensa noticiar:

“Alunos da Escola Base reconhecem a casa do americano” (O Estadão) / “Criança


liga americano a abuso de escola” (Folha). No dia 13 de abril, após a prisão do
americano e depois de tanta repercussão, foi esclarecido que ele sequer
conhecia os “culpados” pelo caso da Escola Base…

As notícias trazidas pela imprensa eram absurdas. A matéria apresentada pelo


jornal O Estado de S. Paulo, visivelmente sem crédito, foi a seguinte:

“ […] A mulher (mãe de R.) contou ter recebido um folheto de uma outra
escola. Ao ver o papel, seu lho perguntou o que era aquilo, e, ao
responder, o menino indagou: “Será que esta escola dá aula de educação
especial como a minha?” A mãe quis saber como era a aula. R.
respondeu que uma professora, de nome Célia, o obrigou a tirar a roupa,
tocou nele, enquanto o beijava. Ele contou que um “tio” ajudou na aula.
(RIBEIRO, 2000, p. 57).

Marcelo Godoy, da Folha de S. Paulo, trazia mais detalhes à notícia:


“(…) A mãe perguntou para o lho (C.) que aulas eram essas. O menino
disse: ‘a tia Célia pegava meu pipi e beijava e dizia que era para ele car


grande como o do tio’” (RIBEIRO, 2000, p. 57).

Foi aí que os acusados resolveram expor a sua versão dos fatos e falar com a
imprensa, a nal de contas, pior a situação deles não poderia car.  Ribeiro
(2000, p. 71) conta que “o jornalista Florestan Fernandes Jr., então da Rede
Cultura, recebeu um telefonema de um amigo arquiteto”, refere que “era um
presente de páscoa: uma entrevista com os acusados no caso da Escola Base, as
pessoas mais cobiçadas pela imprensa naquele nal de semana prolongado”.

O arquiteto era amigo de Paula, a conhecia desde pequena, ligou para marcar
uma entrevista com os suspeitos, à exceção de Maurício, que achou arriscado
voltar de Espírito Santo para São Paulo. Com a matéria produzida, “pela
primeira vez se trazia o outro lado” (RIBEIRO, 2000, p. 72). O autor (2000)
sinala que Florestan levou ao ar uma reportagem equilibrada, sem
julgamentos, abordagem que foi fundamental na formação da opinião de
outros jornalistas, que, a partir de então, sentiram-se no direito de conversar
com os acusados.

Na mesma noite da prisão, o jornalista Luís Nassif, da TV Bandeirantes, fez


uma declaração opinativa em defesa de direitos elementares dos suspeitos.
Reproduzindo as palavras de Nassif, Ribeiro (2000, p. 99-100) traz:

“ Bom, hoje eu não vou falar de economia, vou falar de um assunto que
me deixa doente. Toda a imprensa está há uma semana denunciando
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donos de escola que presumivelmente teriam cometido abuso sexual


contra crianças de quatro anos. Toda a cobertura se funda em opinião da
polícia. Está havendo um massacre. Mais que isso, está havendo um
linchamento. Se eles forem culpados, não é mais que merecido. E se não
forem? Uma leitura exaustiva de todos os jornais mostra o seguinte: não
há até agora nenhuma prova conclusiva de que a criança foi violentada
por adulto. Não há nenhuma prova conclusiva contra as pessoas que
estão sendo acusadas. Tem-se apenas a opinião de policiais que
ganharam notoriedade com denúncias e, se eventualmente se descobrir
que as denúncias são falsas, vão ter muita di culdade de admitir. Por
isso, a melhor fonte não é a polícia, neste momento. A imprensa deve as
pessoas que estão sendo massacradas, no mínimo, um direito de defesa,
de procurar versões fora da polícia. Repito: é possível que as pessoas
sejam culpadas. Mas é possível que sejam inocentes. E se forem


inocentes?

Aqui, Nassif faz uma crítica muito importante, e esse “clima” acabou
contaminando outras redações. A Folha da Tarde foi em busca de mais
informações, através da jornalista Marcela Matos, que conversou com o
presidente da Associação Paulista de Medicina, José Kanopolish, o qual
a rmou que o laudo era incerto, pois não havia como ter certeza de que houve
violência sexual; podia ser micose, vermes ou fezes duras (RIBEIRO, 2000). A
Folha de S. Paulo publicou declaração da coordenadora do Serviço de Advocacia
da Criança da OAB, Lia Junqueira, que “criticou o fato de o delegado ter ouvido
as crianças sem psicólogos” (RIBEIRO, 2000, p. 101).

Começaram a surgir provas da inocência dos envolvidos. No dia 22 de junho, o


delegado Gérson de Carvalho inocentou todos os envolvidos e os jornais
começaram suas retratações, focando nas verdadeiras vítimas do fato. Mas os
danos já estavam causados.

Até hoje, as
reais
vítimas
sofrem com
as
consequênc
ias do crime
que sim
cometeram
contra eles:
Ayres está
com dívidas
nanceiras,
sofre com
problemas
emocionais
e não
consegue
dormir à
noite,
enquanto sua esposa, Maria Aparecida, teve seu sonho exterminado por falsas
acusações.

Saulo e Mara Nunes também enfrentam problemas nanceiros pela


contratação de advogados… Paula e Maurício Alvarenga se divorciaram. Ele
sofreu com Síndrome do Pânico, tinha medo de sair à rua e, para encontrar seu
advogado, montava esquemas de disfarce por medo de ser reconhecido. Paula
foi morar com suas lhas na casa da mãe, está 60kg acima do peso, sofre de

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depressão e tem um emprego onde recebe salário mínimo… nunca mais


conseguiu emprego como professora – ninguém con a em uma suspeita de
abuso sexual infantil. Seu lho, durante todo o sensacionalismo da imprensa,
começou a comer com as mãos, pois soube que era assim que seus pais
comeriam quando fossem presos.

O delegado Edélcio tornou-se delegado titular e, segundo a fonte desta notícia,


dá aulas na academia de Polícia Civil… Richard Pedicini se viu livre das
acusações mas, ainda sim, se dedicou a provar sua inocência e angariou
inúmeras dívidas nanceiras.

As mães Cléa e Lúcia, aconselhadas pela psicóloga Walquiria Fonseca Duarte,


continuaram com o tratamento psicológico dos seus lhos, pois, de acordo
com a especialista, eles foram realmente vítimas de abuso sexual – também,
se não continuassem a a rmar suas “suspeitas”, poderiam responder por
denunciação caluniosa (art. 339 do nosso código repressor). O feitiço viraria
contra o feiticeiro…

No dia 28 de março de 2013, o valor da indenização que o Estado de São Paulo


deve aos seis envolvidos estava em R$ 457mil. O decreto que autorizou a
indenização de Paula foi assinado pelo governador de Mário Covas, em 1999…
com o seu falecimento em 2001, o decreto passou a ser questionado.

Em primeira instância, uma juíza acolheu o argumento da advocacia do Estado


que a rmava que o decreto apenas signi cava que Covas havia mandado
veri car se havia débito com alguma vítima da Escola Base… como a ação foi
iniciada em 2004, dez anos após o incidente, ocorrera a prescrição e nada mais
poderia ser cobrado…

Icushiro e sua esposa, Maria Aparecida Shimada (falecida em 2007, devido a


um câncer), e Maurício Alvarenga já foram indenizados por vários meios de
comunicação após decisão do STF, mas ainda aguardam o montante a ser pago
pelo Estado. Segundo o advogado, o juiz deu uma sentença de cem salários
mínimos; ao recorrerem, chegou a cem mil reais cada um, mas o processo
chegou ao STJ e a indenização à R$ 250mil. Processo no STJ: REsp 351779.

A Rede Globo foi condenada a pagar cerca de R$ 1,35 milhão aos donos e o
motorista da Escola Base, porém, ingressou com recurso… a decisão da 7ª
Câmara de Direito Privado do TJ paulista foi unânime… segundo os
desembargadores “a atuação da imprensa deve se pautar pelo cuidado na
divulgação ou veiculação de fatos ofensivos à dignidade e aos direitos de
cidadania. Em março de 1994, a imprensa publicou reportagens sobre seis
pessoas que estariam envolvidas no abuso sexual de crianças, alunas da Escola
Base, localizada no Bairro da Aclimação, em São Paulo. Jornais, revistas,
emissoras de rádio e tevê basearam-se em “ouvir dizer” sem investigar o caso.
Quando foi descoberto, a escola já havia sido depredada, os donos estavam
falidos e eram ameaçados de morte em telefonemas anônimos.

Recentemente saíram outras condenações de outras emissoras de televisão.

Esse caso se tornou referência obrigatória nas discussões a respeito de ética no


jornalismo e poder da mídia, bem como nos cursos de Direito, nas cadeiras de
Constitucional, Penal e Processo Penal.

Diego Bayer é Advogado criminalista, Doutorando em Direito Penal, Professor de


Penal e Processo Penal da Católica de Santa Catarina e autor de obras jurídicas.

Bel Aquino é servidora pública federal, pós graduada em Direito e Processo Penal e
estudiosa de criminosos famosos e julgamentos históricos.

REFERÊNCIAS

Notícias R7

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Últimas notícias

Pragmatismo Político

RIBEIRO,  Alex.  Caso  Escola  Base:  Os  abusos  da  imprensa .  São  Paulo: 
Editora Ática, 2003.

MACHADO, Fernando da Silveira. Análise sobre garantismo penal e a sua


observância (ou não) pela mídia: um estudo de caso. Disponível em:
http://www.webartigos.com/artigos/analise-sobre-garantismo-penal-e-a-
sua-observancia-ou-nao-pela-midia-um-estudo-de-
caso/116122/#ixzz3LVTTaOD3

Quarta-feira, 10 de dezembro de 2014


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 CNJ propõe especialização da Osvaldo Ferreira de Melo e as

2 comentários Classificar por Mais antigos

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Valdirene Oliveira · Belém


Quem era celia.
Nao entendi quem foi o culpado
Curtir · Responder · 9 de março de 2017 18:16

Lucas Semim · Belo Horizonte


O Estado foi o culpado
Curtir · Responder · 1 · 2 de agosto de 2017 09:28

Fabrício Barcellos Aguirre · Analista de Suporte em Eletrosul


Lucas Semim Juntamente com alguns membros da imprensa. Todos
devidamente condenados.
Curtir · Responder · 25 de outubro de 2017 08:42

Fabrício Barcellos Aguirre · Analista de Suporte em Eletrosul


Pelo que entendi, Celia seria uma professora da escola. Não entendi foi porque
não foi indiciada.
Curtir · Responder · 25 de outubro de 2017 08:51

Fabrício Barcellos Aguirre · Analista de Suporte em Eletrosul


Agora, mais de 20 anos depois, está em tempo de conversar com Fábio Eiko Tanouse e
Cibele Parente de Carvalho. A mídia acabou ofuscando um possível crime e nunca
encontraram os culpados.
Curtir · Responder · 1 · 25 de outubro de 2017 08:44

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21/11/2017 Da série "Julgamentos Históricos": Escola Base, a condenação que não veio pelo judiciário

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