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1ª edição
C
Direito Comercial
M
CM
MY
CY
CMY
K
DIREITO COMERCIAL
autor
GEORGE WILTON TOLEDO
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
Conselho editorial solange moura; roberto paes; gladis linhares; karen bortoloti;
jessamine thaize sartorello salvini
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
isbn: 978-85-60923-53-3
Prefácio 11
1. O Direito e a Empresa 13
Objetivos 14
1.1 A moral e o Direito. Teoria dos Círculos Concêntricos.
Direito Objetivo e Direito Subjetivo. 15
1.1.1 A organização do Estado e os Ramos de
Direito Público e do Direito Privado 16
1.1.2 O ordenamento Jurídico e as Fontes do Direito 17
1.1.3 Integração da Norma Jurídica 19
1.1.3.1 Analogia 20
1.1.3.2 Equidade 20
1.1.3.3 Princípios gerais do direito 21
1.1.4 Ramos do Direito 21
1.1.4.1 Direito constitucional e administrativo 22
1.1.4.2 Direito econômico, financeiro e tributário 24
1.1.4.3 Direito penal e processual 26
1.1.4.4 Direito da seguridade social 28
1.1.4.5 Direito Civil 29
1.1.4.6 Direito do trabalho 29
1.2 Direito Empresarial ou Direito Comercial? 30
1.2.1 Teoria da Empresa e Conceito de Empresário 31
1.2.2 Obrigações do Empresário 32
1.2.3 Pressupostos para atividade regular do empresário 32
1.2.4 Escrituração dos Livros Contábeis 34
1.2.5 O Código Civil Brasileiro e as atividades excluídas
do contexto empresarial 36
Atividades 37
Reflexão 37
Referências bibliográficas 38
2. Estabelecimento Empresarial, Nome Empresarial,
Personalidade Jurídica. Direito Societário, dos
Atos Constitutivos da Sociedade e dos Agentes
Societários 39
Objetivos 40
2.1 Estabelecimento empresarial e a atividade da empresa 41
2.1.1 Nome Empresarial 42
2.1.2 Personalidade Jurídica 42
2.1.2.1 Dos direitos da personalidade 43
2.1.3 Pessoa Física e Pessoa Jurídica 44
2.1.4 As empresas e o problema da personalidade jurídica 46
2.1.5 Estrutura do direito societário no sistema jurídico brasileiro 48
2.1.5.1 Os requisitos de validade 48
2.1.5.2 Os elementos específicos 49
2.1.5.3 As cláusulas contratuais 49
2.1.5.4 A forma 49
2.2 Atribuições dos Sócios 50
2.2.1 Participação nos lucros e nas perdas 50
2.2.2 Atribuições dos Administradores da Sociedade 51
2.2.3 Elementos de validade do contrato social 52
2.2.3.1 A pluralidade de sócios 53
2.2.3.2 A constituição de capital social 53
2.2.4 Diferença entre sócio e administrador da sociedade 54
2.2.5 Responsabilidade do sócio e do administrador. 55
2.2.5.1 Da administração da sociedade 56
2.2.6 Direitos e deveres dos sócios 56
2.2.6.1 Os direitos patrimoniais 57
2.2.6.2 Os direitos políticos 57
2.2.6.3 Direito de fiscalização 58
2.2.6.4 Direito de retirada 59
2.2.6.5 Direito de preferência 59
2.2.6.6 Responsabilidade do sócio e do administrador. 59
Atividades 60
Reflexão 61
Referências bibliográficas 62
3. Das sociedades Empresariais:
A Sociedade Limitada e a Sociedade Anônima. 63
Objetivos 64
3.1 As sociedades empresariais e o Código Civil de 2002 65
3.1.1 Efeitos da personalização das sociedades 66
3.1.2 Início e término da personalização das sociedades 66
3.1.3 As sociedades personificadas e não personificadas 68
3.1.4 As sociedades simples 69
3.1.5 As sociedades não personificadas: comum e
em conta de participação 69
3.1.6 As sociedades quanto a sua forma de constituição 71
3.2 A sociedade limitada e a sociedade anônima 72
3.2.1 Órgãos da Sociedade Limitada 73
3.2.1.1 As obrigações dos sócios da sociedade limitada 75
3.2.1.1.1 Dever de integralização do capital social 75
3.2.1.1.2 Responsabilidade subsidiária dos sócios 77
3.2.1.1.3 Dever de lealdade 77
3.2.1.2 Participação dos sócios na sociedade limitada 78
3.2.1.2.1 Participação nos resultados sociais 78
3.2.1.2.2 Fiscalização da gestão da sociedade 79
3.2.1.2.3 Contribuição para as deliberações sociais 79
3.2.1.2.4 Retirada da sociedade 80
3.2.1.2.5 Direito de preferência 80
3.2.1.3 Das deliberações dos sócios 80
3.2.1.4 Da administração da sociedade limitada 84
3.2.2 Órgãos da Sociedade Anônima 85
3.2.2.1 A assembleia-geral 86
3.2.2.2 O conselho de administração 87
3.2.2.3 Da administração da sociedade anônima 89
3.2.2.4 Do conselho fiscal da sociedade anônima 90
Atividades 92
Reflexão 93
Referências bibliográficas 93
4. Relações de Consumo e Títulos de Crédito 95
Objetivos 97
4.1 Conceito de consumidor 98
4.1.1 Conceito de fornecedor, produto e serviço 98
4.1.2 Política nacional das relações de consumo 99
4.1.2.1 Proteção à vida, saúde e segurança 99
4.1.2.2 Educação e divulgação sobre o
consumo adequado dos produtos 100
4.1.2.3 Direito de informação 100
4.1.2.4 Publicidade enganosa e abusiva 101
4.1.2.5 Cláusulas contratuais abusivas 101
4.1.2.6 Direito à indenização 102
4.1.2.7 Acesso à Justiça 102
4.1.2.8 Inversão do ônus da prova 103
4.1.2.9 Prestação dos serviços públicos 103
4.1.3 Responsabilidade pelo fato do produto e do serviço 103
4.1.4 Responsabilidade por vício do produto 105
4.1.5 Responsabilidade pelo vício do serviço 108
4.1.6 Da decadência e prescrição 108
4.1.7 Prescrição quanto à reparação de danos 109
4.1.8 Desconsideração da personalidade jurídica 109
4.1.9 Das práticas comerciais 110
4.1.10 Da oferta 110
4.1.10.1 Requisitos da oferta 112
4.1.10.2 Da responsabilidade do fornecedor 112
4.1.10.3 Da oferta de componentes e
peças de reposição de produtos importados 112
4.1.10.4 Da oferta ou venda por telefone ou reembolso postal 113
4.1.10.5 Da responsabilidade solidária 114
4.1.10.6 Da recusa do cumprimento à oferta,
apresentação ou publicidade 114
4.1.11 Da oferta e da publicidade e
as cláusulas abusivas no contrato de consumo 115
4.1.11.1 Efeitos da publicidade enganosa ou abusiva 116
4.1.11.2 Das cláusulas abusivas 117
4.1.11.3 Renúncia ao direito de indenização por
benfeitoras necessárias 117
4.1.12 Práticas abusivas 118
4.1.12.1 Venda casada 118
4.1.12.2 Recusa de atendimento às demandas 119
4.1.12.3 Entrega de produto ou serviço sem solicitação prévia 119
4.1.12.4 Abuso diante da fraqueza e ignorância do consumidor 120
4.1.12.5 Vantagem excessiva 120
4.1.12.6 Serviços sem orçamento e autorização do consumidor 121
4.1.12.7 Informação depreciativa 121
4.1.12.8 Da Cobrança de dívidas 122
4.2 Atributos dos títulos de créditos 122
4.2.1 Princípios gerais dos títulos de crédito 123
4.2.2 Classificação dos títulos de crédito: 124
4.2.3 Letra de Câmbio 125
4.2.4 O endosso 128
4.2.5 O aval 129
4.2.6 O pagamento da letra de câmbio 129
4.2.7 O protesto 130
4.2.8 A ação cambial 130
4.2.9 A Nota Promissória 131
4.2.10 O Cheque 132
4.2.11 A Duplicata 135
Atividades 138
Reflexão 138
Referências bibliográficas 139
Objetivos 142
5.1 Princípios dos contratos 143
5.1.1 Classificação dos contratos empresariais 143
5.1.1.1 Contratos Bilaterais ou Unilaterais 143
5.1.1.2 Contratos gratuitos e onerosos 143
7
5.1.1.3 Contratos comutativos e aleatórios 144
5.1.1.4 Contratos típicos e atípicos – nominados e inominados 144
5.1.1.5 Contratos consensuais e reais 145
5.1.1.6 Contratos solenes e não solenes 145
5.1.1.7 Contratos principais e acessórios 146
5.1.1.8 Contrato de execução imediata ou continuada 146
5.1.1.9 Contrato por prazo determinado ou indeterminado 147
5.1.1.10 Contratos individuais e coletivos 147
5.1.1.11 Contrato definitivo e preliminar 147
5.1.2 Modalidades dos contratos empresariais 147
5.1.2.1 Da Fiança 148
5.1.2.2 Do mandato 148
5.1.2.3 Características do Mandato 149
5.1.2.4 Da responsabilidade das partes 149
5.1.2.5 Das obrigações do mandatário 150
5.1.2.6 Das obrigações do mandante 150
5.1.2.7 Da extinção do mandato 151
5.1.2.8 Franquia ou “Franchising” 151
5.1.2.9 Obrigações das partes 151
5.1.2.9.1 Franqueador 151
5.1.2.9.2 Franqueado 153
5.1.2.10 Características 153
5.1.2.11 Extinção da Franquia 153
5.1.2.12 Arrendamento mercantil (leasing) 154
5.1.2.13 Características 155
5.1.2.14 Espécies de arrendamento mercantil 155
5.1.2.15 Obrigação das partes 155
5.1.2.16 Extinção do Arrendamento mercantil 156
5.1.2.17 Alienação Fiduciária 156
5.1.2.18 Características 157
5.1.2.19 Direitos e obrigações das partes 157
5.1.2.20 Seguro 159
5.1.2.21 Dos riscos 159
5.1.2.22 Espécies de seguro 160
5.1.2.23 Seguro de dano 160
5.1.2.24 Seguro de pessoa 161
8
5.1.3 Outros Contratos Empresariais 162
5.1.3.1 Compra e Venda Mercantil 163
5.1.3.2 Contrato de agência ou de representação comercial 163
5.1.3.3 Contrato de Distribuição 164
5.1.3.4 Contrato de Comissão Mercantil 164
5.1.3.5 Contrato de Mútuo 164
5.2 Recuperação judicial 165
5.2.1 Atores envolvidos no processo de recuperação judicial 168
5.2.2 Recuperação extrajudicial 169
5.3 Falência 170
Atividades 171
Reflexão 171
Referências bibliográficas 172
Gabarito 172
9
10
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
11
1
O Direito e a
Empresa
Este primeiro capítulo intitulado “O Direito e a Empresa” foi dedicado para cui-
dar de conceitos imprescindíveis para aqueles que pretendem estudar o Direito
Comercial. Nele vamos compreender o conceito de direito e os ramos que com-
põem as ciências jurídicas.
Não se trata de um capítulo eminentemente teórico, pois são fundamentos
básicos para entendermos a disciplina e que serão aliados a conteúdos práticos
também.
Antes de estudarmos especificamente o Direito Comercial e suas principais
normas, objetivo inclusive desta disciplina, é primordial neste capítulo se apo-
derar do conceito de direito e os seus ramos inerentes.
Também abordaremos neste capítulo o conceito de empresário segundo o
Código Civil Brasileiro que, tratou de dedicar um artigo específico buscando
a sua conceituação daí a relevância deste instituto e também de sua conceitu-
ação. Distinguiremos duas figuras que exercem as atividades empresariais: o
empresário individual e a sociedade empresária. Por último abordaremos as
obrigações-gerais dos empresários, que são a inscrição de sua atividade na
Junta Comercial e a realização da escrituração mercantil e dos levantamentos
contábeis.
OBJETIVOS
Por meio do estudo do presente capítulo, você estará apto a compreender os seguintes con-
ceitos:
14 • capítulo 1
1.1 A moral e o Direito. Teoria dos Círculos
Concêntricos. Direito Objetivo e Direito Subjetivo.
Moral
Direito
Moral e Direito
Todavia, alguns juristas observam que não são todas as normas que pos-
suem conteúdo moral, a exemplo das normas técnicas que determinam a velo-
cidade máxima a transitar numa via pública, a uma velocidade máxima permiti-
da de 60 km. Essa norma poderia instituir como velocidade máxima permitida
80 km e não há nelas conteúdo moral inserido.
capítulo 1 • 15
Com efeito, concluem que o Direito possui normas morais e normas que es-
tão desprovidas de conteúdo moral, sendo que os círculos abaixo representam
melhor a relação existente entre o Direito e a Moral.
16 • capítulo 1
1.1.2 O ordenamento Jurídico e as Fontes do Direito
capítulo 1 • 17
©© TOM SCHMUCKER | DREAMSTIME.COM
©© ANDREY BURMAKIN | DREAMSTIME.COM
18 • capítulo 1
• como solução das questões para as quais a lei não fornece elementos;
• como repositório de princípios que não podem ser submetidos à lei escri-
ta pela própria natureza.
capítulo 1 • 19
1.1.3.1 Analogia
1.1.3.2 Equidade
20 • capítulo 1
1.1.3.3 Princípios gerais do direito
São as regras oriundas da lógica natural das coisas e do ser humano, as quais
acabam por auxiliar o juiz no momento de decidir determinado caso concreto.
Temos como princípios gerais do direito:
I. o princípio do respeito à dignidade da pessoa humana, hoje encontrado
até mesmo na Constituição (art. 1º, III), como um dos objetivos da República
Federativa do Brasil, como um Estado Democrático de Direito (MARTINS,
2008);
II. segundo o artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal, “são invioláveis
a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o di-
reito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”;
III. princípio da função social, que consiste em regular a vida humana na
sociedade estabelecendo regras de conduta que devem ser respeitadas por to-
dos (MARTINS, 2008);
IV. princípio da boa-fé, que pressupõe lealdade entre as partes em uma re-
lação jurídica;
V. princípio da segurança jurídica, que envolve a necessidade da manu-
tenção das relações jurídicas (MARTINS, 2008);
VI. princípio do contraditório e da ampla defesa, que consiste no direito,
de ambas as partes, em um processo judicial, serem ouvidas e se defenderem,
com todos os meios de prova em direito admitidos.
O juiz por força de seu dever de imparcialidade coloca-se entre as partes,
mas equidistantes delas: ouvindo uma, não pode deixar de ouvir a outra; so-
mente assim se dará a ambas a possibilidade de expor suas razões, de apresen-
tar suas provas, de influir sobre o vencimento do juiz. Somente pela soma da
parcialidade das partes (uma representando a tese e a outra, a antítese) o juiz
pode corporificar a síntese, em um processo dialético (DINAMARCO, 2008).
Veremos que o Direito Público pode ser dividido da seguinte forma: Direito
Constitucional, Administrativo, Econômico, Financeiro, Tributário, Da Seguri-
dade Social e Processual (Trabalhista, Civil, Penal).
capítulo 1 • 21
1.1.4.1 Direito constitucional e administrativo
22 • capítulo 1
©© WIKIMEDIA
capítulo 1 • 23
CONEXÃO
Para maiores informações com relação à Constituição Federal, o estudante poderá acessar
o site www.stf.jus.br onde encontramos todas as normas existentes na Constituição Federal
e nas Constituições dos Estados.
Note que a esse ramo do direito público cumpre a função de atuar nas for-
mas de relacionamento entre os particulares e a administração pública.
CONEXÃO
Para maiores informações com relação ao Direito Financeiro, o estudante poderá acessar
o site www.planalto.gov.br, onde encontramos todas as normas existentes na Constituição
Federal e nas Constituições dos Estados.
24 • capítulo 1
A finalidade da atividade financeira é a realização dos serviços públicos e o
atendimento das necessidades públicas, ou seja, as necessidades coletivas en-
campadas pelo poder político, inseridas no ordenamento jurídico. Logo, a ativi-
dade financeira encontra-se pautada em três necessidades públicas principais:
prestação de serviço, exercício do poder de polícia e intervenção econômica.
Outros temas como a lei de responsabilidade fiscal (lei complementar n.
101 de 04 de maio de 2000) e os precatórios também são analisados pelo direito
financeiro.
O último ramo do direito deste item é o direito tributário, que pode ser con-
siderado como um conjunto de princípios e regras que regem o poder fiscal
do Estado, representado pela instituição, arrecadação e fiscalização de tributos
devidos pelos indivíduos ao governo.
Note-se ainda, que tributo é o gênero dos quais são espécies os impostos, as
taxas, as contribuições de melhoria. Há autores nacionais que entendem que
os empréstimos compulsórios e as contribuições de melhorias, embora inte-
grantes da categoria taxas e impostos, também se enquadram como espécies
do gênero tributo.
A relação tributária tem seus marcos estruturais regulados pela Constituição,
que ao mesmo tempo outorga ao Estado o direito de instituir e arrecadar tribu-
tos (veja o art. 145 da Constituição), assim como limita este direito (no art. 150,
por exemplo) e cerca o contribuinte de garantias contra os excessos tributários,
infelizmente tão comuns.
capítulo 1 • 25
1.1.4.3 Direito penal e processual
O Direito Penal é o ramo do direito público que regula o poder punitivo do Esta-
do, bem como as normas jurídicas que ligam o crime à pena, disciplinando as
relações jurídicas daí resultantes.
O princípio base do Direito Penal
©© WIKIMEDIA
26 • capítulo 1
Por fim, o direito processual é o ramo do direito público que regula as ativi-
dades do poder judiciário e das partes em conflito no decorrer do processo judi-
cial. Pode ser dividido em Direito Processual Civil, Processual Penal, Processual
do Trabalho e Processual Militar.
Dentre as várias formas de so-
©© WIKIMEDIA
capítulo 1 • 27
1.1.4.4 Direito da seguridade social
28 • capítulo 1
1.1.4.5 Direito Civil
capítulo 1 • 29
CONEXÃO
Para maiores informações com relação ao Direito do Trabalho, o estudante poderá acessar
o site www.tst.gov.br, onde encontramos atos e instruções normativas referentes à relação
entre empregado e empregador.
30 • capítulo 1
1.2.1 Teoria da Empresa e Conceito de Empresário
Uma das grandes inovações trazidas pelo novo Código Civil Brasileiro é a ado-
ção da teoria da empresa, também conhecida como teoria subjetivista ou teoria
italiana, em homenagem ao Código Italiano de 1943, que primeiramente ado-
tou esta sistematização.
A teoria da empresa é tida como uma evolução legislativa, pois é sucessora
da teoria francesa dos atos de comércio. Em nosso ordenamento jurídico atual,
a empresa encontra abrigo no texto legal do artigo 9661 do Código Civil.
Como bem observado pelos doutrinadores, o legislador pátrio não definiu
expressamente o termo empresa, optando por conceituar o empresário. Porém,
interpretando o referido texto legal, podemos extrair o significado de atividade
empresarial.
Deste modo, atividade empresarial é toda atividade econômica organizada
para a produção de bens, circulação de bens ou prestação de serviços.
1 Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a
circulação de bens ou de serviços.
2 É o ganho financeiro produzido pela diferença entre a somatória de recursos financeiros obtidos no mercado e
as despesas oriundas da atividade.
capítulo 1 • 31
Necessariamente, as sociedades devem dedicar-se a uma atividade de cará-
ter organizacional dos fatores produtivos. Isto significa que é preciso reunir ca-
pital, bens, mão de obra e tecnologia e dar a estes elementos uma organização
para atingir a sua finalidade de mercado.
Por último, a sociedade empresária, por meio de sua atividade econômica
organizada, servirá o mercado com a produção de bens (indústria), a circulação
de bens (comércio) ou a prestação de serviços.
O artigo 967 do Código Civil Brasileiro diz ser obrigatória a inscrição do empre-
sário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do
início de sua atividade.
A legislação sempre exige o registro público para os atos da vida civil mais
importantes, em razão de sua repercussão jurídica. Assim, é obrigatório o regis-
tro do nascimento, do casamento, do óbito, da propriedade imobiliária, dentre
outros. O efeito maior em manter o registro público de determinados atos ou
fatos é o de tornar públicos e acessíveis os dados mantidos em registro.
Da mesma maneira, o exercício de uma atividade empresarial é de grande
repercussão jurídica e, em virtude disso, o Código Civil exige o registro prévio
do empresário ou da sociedade empresária, antes do início da exploração de
empresa.
32 • capítulo 1
No Brasil, os registros públicos mercantis são realizados pelas Juntas
Comerciais dos estados, e estas são coordenadas pelo Departamento Nacional
de Registro de Comércio (DNRC).
As Juntas Comerciais executam três espécies de registro: a matrícula dos au-
xiliares das empresas (leiloeiros, tradutores públicos, armazém-geral), autenti-
cação da escrituração empresarial, o registro dos empresários e das sociedades
empresárias.
Segundo o art. 968 do Código civil, a inscrição do empresário se fará me-
diante requerimento que contenha: nome, nacionalidade, domicílio, estado
civil e, se casado, o regime de bens do empresário; a firma, com a respectiva
assinatura autógrafa; o capital; o objeto e a sede da empresa.
Com o deferimento do registro pela Junta Comercial, a inscrição será to-
mada por termo no livro próprio e obedecerá a número de ordem contínuo
para todos os empresários inscritos. À margem da inscrição do empresário, e
com as mesmas formalidades, serão averbadas quaisquer modificações nela
ocorrentes
O empresário que constituir um estabelecimento secundário deverá aver-
bar a existência desta filial na Junta Comercial da respectiva sede. Do mesmo
modo, se instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à jurisdição de
outra Junta Comercial, nesta deverá também inscrevê-la, com a prova da inscri-
ção originária.
É importante abordar as consequências jurídicas pela falta do registro do
empresário ou da sociedade empresária perante a Junta Comercial. Sendo um
empresário irregular, ou seja, sem registro, não poderá obter seus cadastros
perante os órgãos públicos, tais como Receita Federal (CNPJ), Secretaria da
Fazenda Estadual (inscrição estadual) ou Secretaria da Fazenda Municipal (ins-
crição municipal).
Também terá como consequência o impedimento para requerer a falência
de outro empresário, solicitar perante o Poder Judiciário a sua recuperação de
empresa e outras responsabilidades jurídicas em virtude de sua irregularidade.
capítulo 1 • 33
1.2.4 Escrituração dos Livros Contábeis
34 • capítulo 1
Os livros de escrituração são:
• Livros Fiscais
1. Registro de Compras
2. Registro de Inventário
3. LALUR – Livro de Apuração do Lucro Real do Imposto de Renda
4. Registro de entradas ICMS-IPI
5. Registro de saídas ICMS-IPI
6. Registro de apuração IPI-ICMS
• Livros Contábeis
1. Livro Razão
2. Livro Diário
capítulo 1 • 35
auxiliares regularmente autenticados, para registro individualizado, e conser-
vados os documentos que permitam a sua perfeita verificação.
Também serão lançados no Diário o balanço patrimonial e o de resultado
econômico, devendo ambos ser assinados por técnico em Ciências Contábeis
legalmente habilitado e pelo empresário ou sociedade empresária.
O livro Diário, juridicamente, é o maior instrumento de provas em favor ou
contra o empresário que o escriturou. Assim, este poderá utilizar sua escritura-
ção para fazer prova contra outro empresário ou, então, o Diário será utilizado
para a realização de provas periciais contábeis, em processos de falência, recu-
peração de empresa, prestação de contas e dissolução de sociedade.
Para estar regularmente escriturado, o livro Diário depende de estar autenti-
cado pela Junta Comercial, segundo o artigo 1.182 do Código Civil. A falta de es-
crituração ou a sua irregularidade poderá acarretar diversas responsabilidades
jurídicas, dentre as quais a presunção de veracidade dos fatos alegados e que
não se encontram escriturados até mesmo a tipificação de crime falimentar.
Após analisarmos o caput do artigo 966 do Código Civil Brasileiro, vamos dedi-
car nossa atenção ao que disciplina o seu parágrafo único:
36 • capítulo 1
Com efeito, não são todos os agentes econômicos que são abrangidos pelo
conceito de empresário estabelecido no artigo 966 do Código Civil Brasileiro.
ATIVIDADES
01. Qual o conceito de Direito?
03. Você seria capaz de, com as suas palavras, explicar o objeto de estudo do direito finan-
ceiro, econômico e tributário?
REFLEXÃO
O Direito Empresarial, por meio da figura das sociedades empresárias, possibilitou uma segu-
rança jurídica àqueles que desejam investir em alguma atividade econômica.
Tal segurança encoraja quem pretende exercer atividade empresarial, pois o risco do
negócio, que é natural em qualquer economia, pode ser minimizado com a constituição de
sociedades que tenham por característica adotar o critério da responsabilidade limitada dos
sócios para com as obrigações geradas pela empresa.
No entanto, é perfeitamente imaginável que este escudo protetor pode também ser utili-
zado como um mecanismo pernicioso, possibilitando aqueles que pretendem aplicar fraudes
no mercado, valendo-se de uma sociedade empresária.
O atual Código Civil, assim como outras legislações anteriores, previu esta situação e
adotou o mecanismo jurídico da desconsideração da personalidade jurídica das sociedades.
Assim, caso seja provado que sócios abusaram da personalidade jurídica de uma sociedade,
criando para esta obrigações a fim de enriquecerem e valendo-se do manto protetor da
responsabilidade limitada, eles poderão ter seus patrimônios particulares afetados por tais
obrigações, por determinação do Poder Judiciário.
capítulo 1 • 37
LEITURA
ALMEIDA Jr., Jesualdo Eduardo de. O direito de empresa no novo Código Civil. Revista Síntese de
direito civil e processual civil, n. 19,ano IV, set-out., p. 131-144. Porto Alegre: Síntese, 2002.
ALMEIDA, Betyna Ribeiro de. Aspectos da teoria jurídica da empresa. Revista de Direito Mercantil.
São Paulo, v.119, p.236-254. jul./set., 2000.
ASQUINI, Alberto. Perfis da empresa. Trad. Fábio Konder Comparato. Revista de Direito Mercantil.
São Paulo, v. 104, pp. 109-126. out./dez., 1996.
BULGARELLI, Waldirio. A teoria jurídica da empresa. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1985.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima. 2 ed. São Paulo: RT,
1977.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 29. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
38 • capítulo 1
2
Estabelecimento
Empresarial, Nome
Empresarial,
Personalidade Jurídica.
Direito Societário, dos
Atos Constitutivos
da Sociedade e dos
Agentes Societários
Este capítulo ocupa-se do estudo das sociedades contratuais.Muito embora
as sociedades anônimas não sejam classificadas como sociedades contratu-
ais, o fato é que a maioria das sociedades constituídas no Brasil está estrutu-
rada na forma contratual, em especial destaque para as sociedades limitadas.
Portanto, em virtude deste fato, julgamos ser fundamental realizar um estudo
mais aprofundado sobre a estrutura jurídica e o funcionamento das socieda-
des contratuais.
Além disso, as noções que teremos neste capítulo serão importantes para
compreender as sociedades institucionais, como são as sociedade anônimas,
por meio da análise de suas distinções.
OBJETIVOS
Este capítulo tem por finalidade apresentar os elementos que compõem as sociedades empre-
sárias contratuais; como é constituída juridicamente uma sociedade empresária contratual e os
direitos básicos de sócios.
A importância deste levantamento é visualizarmos quais são os pilares de sustentação de uma
sociedade, além de possibilitar na prática, que tenhamos noção das principais cláusulas a se-
rem negociadas ao elaborar um contrato ou um estatuto social.
40 • capítulo 2
2.1 Estabelecimento empresarial e a
atividade da empresa
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capítulo 2 • 41
2.1.1 Nome Empresarial
Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação, integradas pela palavra final
"limitada" ou a sua abreviatura.
42 • capítulo 2
Segundo o artigo 2º do Código Civil, a personalidade jurídica inicia-se com
o nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do
nascituro.
“Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal.”
“Art. 1609, parágrafo único. O reconhecimento do filho havido fora do casamento pode
preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar
descendentes.”
“Art. 1779. Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e
não tendo o poder familiar”.
Segundo o artigo 11 do Código Civil, com exceção dos casos previstos em lei, os
direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o
seu exercício sofrer limitação voluntária.
Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e
reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei (art.
12, CC/02). Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer esta medi-
da, o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até
o quarto grau (parágrafo único).
Diante disso, qualquer cidadão que sofrer danos referentes à sua personali-
dade, nome ou intimidade, poderá pleitear judicialmente, a reparação dos da-
nos, materiais ou morais.
Com relação ao corpo, salvo por exigência médica, é proibido o ato de disposição
capítulo 2 • 43
©© FALKO MATTE | DREAMSTIME.COM
44 • capítulo 2
As pessoas jurídicas podem ser de direito público externo ou interno e de
direito privado.
As de direito público interno são divididas da seguinte forma:
a) União;
b) Estados;
c) Distrito Federal;
d) Municípios;
e) Autarquias;
f) Associações públicas e
g) outras entidades de caráter público criadas por lei.
©© WIKIMEDIA
capítulo 2 • 45
Por outro lado, são de Direito Privado: as associações, as sociedades, as fun-
dações, as organizações religiosas e os partidos políticos.
Segundo o artigo 53 do Código Civil, constituem-se as associações pela
união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.
É Importante ressaltar que começa a existência legal das pessoas jurídicas
de Direito Privado com a inscrição de seus contratos, atos constitutivos, esta-
tutos ou compromissos em seu registro peculiar, regulado por lei especial. E,
termina a existência da pessoa jurídica por sua dissolução ou extinção.
CONEXÃO
Para maiores informações com relação à legislação pertinente às pessoas jurídicas de direito
privado ou informações quanto aos requisitos necessários à abertura de uma empresa, o
estudante poderá acessar o site www.receita.fazenda.gov.br
O ser humano é pessoa natural exatamente por sua condição de ser humano. Leciona
MAMEDE, contudo, que não se confundem ser humano com pessoa, porquanto aquele
é um “conceito biológico, ao passo que o conceito de pessoa, para o Direito, indica o
sujeito com capacidade de titularizar direitos e deveres” (MAMEDE, 2004, p. 59).Em
relação às pessoas jurídicas, ensina o mesmo MAMEDE que o Direito cunhou, a partir
de previsão legal, “o artifício de se permitir que o traje ou véu da personalidade jurídica
fosse atribuído a entes não humanos” (MAMEDE, 2004, p. 61). A personalidade civil da
46 • capítulo 2
pessoa natural inicia-se com o nascimento com vida (art. 2º, do CC). A existência legal
da pessoa jurídica com a inscrição dos seus atos constitutivos no órgão público respec-
tivo (arts. 45 e 1.150, ambos do CC/02).O art. 44 do Código Civil traz o rol das pesso-
as jurídicas de direito privado existentes entre nós. Encontram-se arroladas, em seus
6 (seis) incisos: (I) associações, (II) sociedades, (III) fundações, (IV) partidos políticos,
(V) entidades religiosas e a novel (VI) EIRELI (empresa individual de responsabilidade
limitada). Embora seja certo que aludidas hipóteses sejam meramente exemplificativas
(Jornada III STJ 144), não menos certo é que para ser pessoa jurídica é fundamen-
tal que o Direito confira, expressamente, tal qualificação (por todos: NERY JÚNIOR e
NERY, 2008, p. 199, item 3).Assim, a personalidade dos entes de existência ideal (cf.
TEIXEIRA DE FREITAS) – as pessoas jurídicas – decorre de um reconhecimento do
Ordenamento, é dizer, somente será pessoa jurídica a figura expressamente enunciada
como tal pelo Direito Positivo. Vale, de logo, um parêntese. A empresa não está arrolada
no art. 44 do CC/02. “A propósito”, observa ROCHA FILHO (2004, p. 55), “o novo Có-
digo Civil, a exemplo do anterior, ao definir as pessoas jurídicas de direito privado (art.
44), ali não incluiu as “empresas””. Enfim, existem duas pessoas, dois sujeitos de direito:
(i) a pessoa natural e (ii) a pessoa jurídica. E mais. Somente será pessoa jurídica o ente
ao qual o Direito expressamente outorgar tal qualificação.
Arremata o autor:
Não se desconhece o uso atécnico do vocábulo “empresa” por todos os lados. Mes-
mo no ambiente forense, os protagonistas do direito utilizam-no sem rigor científico.
A personalidade jurídica é um atributo legal. As pessoas jurídicas de direito privado
estão elencadas no art. 44 do Código Civil, em rol apenas exemplificativo, é verdade.
No entanto, conforme demonstrado, essa etiqueta – de pessoa jurídica – depende de
expressa previsão legal. Empresa, para o Direito, é a atividade econômica organizada
para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. É que o que se depreende
do art. 966, do CC/02. Empresa não tem personalidade jurídica, não é uma pessoa
jurídica. Não se lhe outorgou tal característica. Nesse sentido, o monótono magis-
tério doutrinário suso anotado. São sujeitos dessa atividade: (i) empresário individu-
al (pessoa natural; art. 966); (ii) sociedade empresária (pessoa jurídica, conforme art.
44, II, CC; e art. 982, CC); e, finalmente, a EIRELI (pessoa jurídica, conforme o art.
44, VI, CC; e art. 980-A, CC). Assim, a empresa pode ser explorada por uma pes-
soa física (empresário) ou por pessoas jurídicas (sociedade empresária ou EIRELI).
Portanto, empresa é a ATIVIDADE explorada pelo empresário, seja individual, socie-
dade ou EIRELI. Não tem CNPJ, não contrata e não pode ser parte em processo!
capítulo 2 • 47
2.1.5 Estrutura do direito societário no sistema jurídico brasileiro
As sociedades empresárias são ficções jurídicas, pois não possuem vida pró-
pria, a não ser a sua própria personalidade que o Direito lhes atribui. Para tanto,
faz-se necessária a reunião de vários elementos para que o propósito de duas ou
mais pessoas se transforme juridicamente na constituição de uma sociedade.
1 Negócio jurídico é um acordo de vontades capaz de criar, modificar ou extinguir direitos e obrigações na ordem
civil.
48 • capítulo 2
No estudo de sociedades, a vontade está contida em um elemento especí-
fico denominado affectio societatis, expressão que significa a intenção de se
associar em sociedade.
2.1.5.4 A forma
capítulo 2 • 49
É imprescindível esclarecer que a condição de validade do registro do ato
constitutivo depende do visto de um advogado, conforme previsto no art. 1o, §
2o, da Lei no 8.906/94.
Apesar de entendermos ser correta a forma escrita, por instrumento públi-
co ou particular, o art. 987 do Código Civil empresta validade perante terceiros
a sociedade de fato, não sendo necessária a exibição de prova escrita para pro-
var a sua existência.
O art. 1.008 do Código Civil diz ser “nula a estipulação contratual que exclua
qualquer sócio de participar dos lucros e das perdas”. A participação nos resul-
tados sociais é o principal motivo para qualquer pessoa se unir a outras, numa
sociedade empresária, pois o fim maior é explorarem uma atividade empresa-
rial para remunerar o capital investido para sua constituição.
A participação nos resultados e nas perdas é diretamente proporcio-
nal à quantidade com que cada sócio participou na formação do capital
social. Com relação à participação nos resultados, estes serão distribu-
ídos anualmente entre os sócios, após deliberação, ocorrendo casos de
50 • capítulo 2
distribuição obrigatória de parte dos resultados sociais de um exercício
(art. 202 da Lei no 6.404/762).
Com relação às perdas, todos os sócios deverão responder subsidiariamente
às obrigações da sociedade, quando não restar patrimônio social para respon-
der pelas obrigações contraídas pela sociedade. Como já vimos, esta respon-
sabilidade subsidiária poderá ser ilimitada ou limitada, sendo esta restringida
proporcionalmente ao capital investido pelo sócio.
capítulo 2 • 51
O mandato do administrador pode ser por prazo determinado ou não, de-
vendo o contrato social ou o ato de nomeação definir a respeito do termo.
Quando o administrador for designado em ato separado, este será investido
no cargo mediante termo de posse no livro de atas da administração, que deve-
rá ser assinado no prazo máximo de trinta dias de sua designação, sob pena de
se tornar sem efeito.
Depois de investido, o administrador deverá requerer, no prazo de 10 dias,
a averbação de sua nomeação na Junta Comercial, mencionando identificação,
qualificação, data da nomeação e prazo de gestão (art. 1.062)4.
O referido texto legal estabelece que o contrato social deve conter as seguintes
cláusulas:
4 Art. 1062. O administrador designado em ato separado investir-se-á no cargo mediante termo de posse no livro
de atas da administração.
§ 1o Se o termo não for assinado nos trinta dias seguintes à designação, esta se tornará sem efeito.
§ 2o Nos dez dias seguintes ao da investidura, deve o administrador requerer seja averbada sua nomeação no
registro competente, mencionando o seu nome, nacionalidade, estado civil, residência, com exibição de documento
de identidade, o ato e a data da nomeação e o prazo de gestão.
52 • capítulo 2
Coelho (2010) observa, em sua obra, que o art. 997 e o art. 1.054 do Código Civil
não têm servido de orientação dos órgãos de registro mercantil. Decerto, as Juntas
Comerciais ainda seguem o estabelecido no art. 53, III, do Decreto no 1.800/96.
Apesar desse posicionamento, entendemos ser importante que o contrato
social estabeleça os poderes e as atribuições dos administradores, como previs-
to no art. 9975, VI, do Código Civil.
O Direito brasileiro tem como regra não admitir a sociedade unipessoal. As-
sim, a sociedade empresária deve ser formada pelo envolvimento jurídico de
pelo menos duas pessoas. Este entendimento é deduzido do próprio art. 981
do Código Civil, ao dizer que “celebram contrato de sociedade as pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício
de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados” (grifamos).
Entretanto, o próprio ordenamento jurídico permite algumas. Apenas
para citar, é permitida a unipessoalidade das subsidiárias integrais
(art. 251 da Lei no 6.404/76) e casos de unipessoalidade incidental temporária
nas sociedades limitadas (art. 1033, IV, do Código Civil) e nas sociedades anô-
nimas (art. 206, I, d, da Lei no 6.404/76).
Por sua vez, a constituição de capital social significa a somatória das contri-
buições econômicas dos sócios para a formação da sociedade, podendo este
aporte, dependendo do tipo social, ser em dinheiro, bens, direitos e serviços.
5 Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas
estipuladas pelas partes, mencionará:
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a
denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis
de avaliação pecuniária;
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.
Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do
contrato.
capítulo 2 • 53
Necessariamente, todo sócio tem a obrigação de participar econo-
micamente da formação do capital social para participar de uma socie-
dade. Assim, deve o sócio se obrigar a contribuir com uma parte do ca-
pital social, ato este que denominamos tecnicamente de subscrição de
capital, e cumprir com sua obrigação de expressão econômica, ao entregar
ou fazer algo, o que também denominamos tecnicamente de integralização
de capital.
Assim, a subscrição de capital se dá, ao formar uma sociedade, com a
obrigação contida nos seus atos constitutivos e assumida por um sócio.
Posteriormente, a integralização ocorre com o cumprimento da obrigação as-
sumida ao subscrever o capital social.
A integralização do capital social, em geral, não necessita ser totalmente in-
tegralizado no início de suas atividades, podendo ser realizada a prazo, confor-
me prevê o art. 10046 do Código Civil.
É importante destacar que o capital social é dividido em partes, as quais
denominamos quotas ou ações. A divisão é realizada para medir o grau de par-
ticipação de cada sócio em direitos e obrigações perante a sociedade. Este me-
canismo deve existir porque os sócios não precisam contribuir igualmente com
a formação do capital social. Portanto, em uma escala medida por quotas ou
ações subscritas, os sócios terão maior ou menor participação na sociedade,
conforme o número de unidades do capital social titularizadas.
6 Art. 1004. Os sócios são obrigados, na forma e no prazo previstos, às contribuições estabelecidas no contrato
social, e aquele que deixar de fazê-lo, nos trinta dias seguintes ao da notificação pela sociedade, responderá perante
esta pelo dano emergente da mora.
54 • capítulo 2
documento apartado. Seus poderes e suas atribuições também estarão dispostos
no contrato social devidamente registrado, tornando-se, por isso, públicos: consul-
tando o registro, qualquer pessoa pode saber quem é o administrador e represen-
tante da sociedade, quais são as suas atribuições e poderes. Atenção: não podem
ser administradores de sociedade aqueles que estão impedidos de empresariar.
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Porém, por força da lei, todos os
sócios têm responsabilidade subsi-
diária com relação às obrigações da
sociedade. Este preceito está contido
no art. 1.0247 do Código Civil e no art.
5968 do Código de Processo Civil.
A responsabilidade subsidiária
dos sócios importa em:
responder pelas obrigações da sociedade depois de exaurido o patrimônio
social (art. 1.024 do Código Civil);
valer-se do benefício de ordem, indicando bens livres e desembaraçados da
sociedade para serem executados (art. 596 do Código de Processo Civil).
7 Art. 596. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade senão nos casos previstos
em lei; o sócio, demandado pelo pagamento da dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro excutidos os bens da
sociedade.
8 Art. 1024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois
de executados os bens sociais.
capítulo 2 • 55
No entanto, dependendo da espécie societária com que uma sociedade foi
constituída, seus sócios poderão ter sua responsabilidade subsidiária limitada
ou ilimitada.
As sociedades em nome coletivo são consideradas sociedades de respon-
sabilidade ilimitada, pois seus sócios poderão ter todo o seu patrimônio par-
ticular alcançado, em um processo de execução contra uma sociedade a qual
pertence, se esta não possuir patrimônio suficiente para solver sua obrigação.
Já os sócios de sociedades constituídas na forma de limitada e anônima te-
rão suas responsabilidades subsidiárias limitadas a um determinado valor, não
comprometendo a totalidade de seu patrimônio particular.
Por fim, as sociedades em comandita são consideradas mistas, pois pos-
suem alguns sócios com responsabilidade ilimitada e outros com responsabili-
dade limitada a um determinado valor.
56 • capítulo 2
• direitos patrimoniais;
• direitos políticos;
• direito de fiscalizar a administração da sociedade;
• direito de retirada; e
• direito de preferência.
capítulo 2 • 57
Sabemos que os negócios jurídicos são atos de vontade. Como uma socieda-
de não possui vontade própria, compete aos seus representantes decidir sem-
pre por lograr os fins sociais.
Das decisões tomadas para a consecução dos fins a que se destina a socieda-
de, algumas são tomadas pelo seu corpo diretivo, ou seja, aqueles que cuidam
diretamente da administração social.
No entanto, outras decisões, pela repercussão causada aos interesses da so-
ciedade, necessitam de ser tomadas por meio do consenso entre todos os só-
cios, através de um órgão social denominado assembleia.
Os direitos políticos de sócio se referem justamente na faculdade de este
participar ativamente nas decisões em favor da sociedade, com relação aos as-
suntos que merecem tratamento em assembleia.
Vale lembrar que os direitos políticos atribuídos ao sócio são regra, sen-
do que, especificamente às sociedades anônimas, cabe a exceção, quando a
lei permite à companhia emitir ações sem direito a voto, as chamadas ações
preferenciais.
58 • capítulo 2
2.2.6.4 Direito de retirada
capítulo 2 • 59
contido no art. 1.02410 do Código Civil e no art. 59611 do Código de
Processo Civil.
A responsabilidade subsidiária dos sócios importa em:
responder pelas obrigações da sociedade depois de exaurido o patrimônio
social (art. 1.024 do Código Civil);
valer-se do benefício de ordem, indicando bens livres e desembaraçados da
sociedade para serem executados (art. 596 do Código de Processo Civil).
No entanto, dependendo da espécie societária com que uma sociedade foi
constituída, seus sócios poderão ter sua responsabilidade subsidiária limitada
ou ilimitada.
As sociedades em nome coletivo são consideradas sociedades de respon-
sabilidade ilimitada, pois seus sócios poderão ter todo o seu patrimônio par-
ticular alcançado, em um processo de execução contra uma sociedade a qual
pertence, se esta não possuir patrimônio suficiente para solver sua obrigação.
Já os sócios de sociedades constituídas na forma de limitada e anônima te-
rão suas responsabilidades subsidiárias limitadas a um determinado valor, não
comprometendo a totalidade de seu patrimônio particular.
Por fim, as sociedades em comandita são consideradas mistas, pois pos-
suem alguns sócios com responsabilidade ilimitada e outros com responsabili-
dade limitada a um determinado valor.
ATIVIDADES
01. Assinale a alternativa correta.
a) Capital social é o montante de recursos financeiros a serem distribuídos pelos sócios na
forma de dividendos.
b) O patrimônio da sociedade é resultante da soma das entradas realizadas pelos sócios
ao constituírem a pessoa jurídica.
c) Sociedade empresária é a pessoa jurídica de direito privado que tem por objeto social a
exploração de empresa.
d) As sociedades adquirem personalidade ao se cadastrarem perante a Secretaria da Re-
ceita Federal.
10 Art. 596. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade senão nos casos previstos
em lei; o sócio, demandado pelo pagamento da dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro excutidos os bens da
sociedade.
11 Art. 1024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois
de executados os bens sociais.
60 • capítulo 2
02. O que é dispensável para a constituição de uma sociedade empresária?
a) Contribuição econômica para a formação do capital social.
b) Contrato ou estatuto social.
c) Pessoas maiores e capazes.
d) A definição da atividade empresarial a ser exercida pela sociedade.
REFLEXÃO
Muitas vezes nos deparamos com conflitos
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entre sócios de uma determinada socie-
dade empresária e, ao buscar a solução
mediante a interpretação das cláusulas
do contrato social, chega-se à conclusão
de que o negócio jurídico celebrado entre
os mesmos não possui previsão contratual
para aquela determinada situação.
É prática comum, no cotidiano das
empresas, a realização dos contratos sociais escritos a partir de um modelo, até mesmo
encontrado em páginas da internet.
Contudo, percebemos que cada item de um contrato social diz respeito a um ponto fun-
damental que poderá ser questionado futuramente entre os sócios. Daí a importância de se
ter o conhecimento de como é formado o conteúdo de um contrato social, para estabelecer
os direitos e as obrigações entre os sócios que sejam adequados ao negócio a que estão
dando início.
capítulo 2 • 61
LEITURA
ALMEIDA, Amador Paes. Manual das sociedades comerciais: direito de empresa. 18. Ed. São
Paulo: Saraiva, 2010.
BULGARELLI, Waldirio. Questões de direito societário. São Paulo: RT, 1998.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 29. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2.
GROSSI, Julio. A empresa tem personalidade jurídica?. Jus Navigandi, Teresina, ano 19, n. 4080, 2
set. 2014. Disponível em:<http://jus.com.br/artigos/29414>. Acesso em: 18 fev. 2015.
MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. 4a ed. São Paulo: Atlas, 2009.
62 • capítulo 2
3
Das sociedades
Empresariais:
A Sociedade
Limitada e a
Sociedade Anônima.
As sociedades limitadas são o tipo societário mais encontrado nas ativida-
des empresariais. Isto se dá por dois motivos: a grande vantagem oferecida
aos sócios, que possuem responsabilidade subsidiária limitada ao valor do
investimento feito à formação do capital social, e o fato de terem estas uma
estruturação jurídica de menor complexidade, comparada à das sociedades
anônimas.
Já o surgimento das sociedades anônimas está ligado ao período histórico
marcado pela política colonialista, que visava à conquista e à manutenção de
colônias, além do comércio ultramarino. Para viabilizar as chamadas expe-
dições marítimas, foi necessária a formação de grandes capitais por meio da
aliança entre o Estado e os particulares. Foram formadas poderosas sociedades
que detinham até mesmo poderes políticos recebidos por carta real, com a fina-
lidade de facilitar as relações diplomáticas com outros reinos.
Desse modo, reunindo tais sociedades vultosas quantias de capital, empre-
endiam em suas atividades colonizadoras altamente lucrativas, que chegavam
a remunerar o capital investido por seus sócios a uma taxa de 19% ao ano. Vale
ressaltar outro fato histórico na Revolução Industrial do século XIX, as socie-
dades anônimas também foram os grandes mecanismos viabilizadores para
a criação da grande indústria, permitindo juridicamente o aporte de capitais
para a expansão da produção industrial.
OBJETIVOS
O presente capítulo tem por finalidade apresentar as principais características das socieda-
des limitadas, os direitos e as obrigações dos quotistas e os órgãos sociais das sociedades
limitadas.
No que tange às sociedades anônimas, apresentar ao aluno as sua principais caracterís-
ticas, a forma de sua constituição e os seus órgãos sociais.
64 • capítulo 3
3.1 As sociedades empresariais e o Código
Civil de 2002
1 Capacidade de direito é a aptidão atribuída a um ente de adquirir direitos e contrair obrigações na ordem civil.
2 Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:
I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações.
Parágrafo único. As disposições concernentes às associações aplicam-se, subsidiariamente, às sociedades que são
objeto do Livro II da Parte Especial deste Código.
capítulo 3 • 65
3.1.1 Efeitos da personalização das sociedades
Ao formar uma sociedade empresária, por meio da união da vontade de seus só-
cios em desenvolver em conjunto uma atividade empresarial, a consequência
mais importante que surge é o descerramento de sua personalidade jurídica.
Conforme o ensinamento de Requião (2010), adquirindo personalidade ju-
rídica, diversas consequências úteis:
É válido, ainda, destacar que, como bem observou Requião (2010): numa evo-
lução do conceito de personalidade jurídica, o legislador a reconhece como sujei-
to ativo de delito penal, como se vê na Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que
tutela o meio ambiente, art. 3o, ao estabelecer que “as pessoas jurídicas serão res-
ponsáveis administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta lei, nos
casos em que a infração seja cometida conforme o disposto nesta lei, nos casos
em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou con-
tratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade”.
66 • capítulo 3
Segundo seu art. 454, a personalidade jurídica de uma sociedade se inicia
com o registro do respectivo ato constitutivo do órgão próprio. Portanto, por ser
uma sociedade empresária, a partir do registro do contrato ou estatuto social
na Junta Comercial, inicia-se sua existência legal.
É importante indagar: qual a data exata que marca o início da personalidade
jurídica de uma sociedade? O art. 1.1515 do Código Civil tem a resposta. Vejamos:
• regulado pela Lei no 6.404/76, em seus arts. 206 e seguintes, a ser aplicado
às sociedades institucionais;
• regulado pelo Código Civil, em seus arts. 1.033 a 1.038 para as sociedades
contratuais.
4 Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no
respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se
no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por
defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.
5 Art. 1151. O registro dos atos sujeitos à formalidade exigida no artigo antecedente será requerido pela pessoa
obrigada em lei e, no caso de omissão ou demora, pelo sócio ou por qualquer interessado.
capítulo 3 • 67
Por sua vez, o art. 206 da Lei das Sociedades Anônimas estabelece que dis-
solvem a companhia:
• de pleno direito:
68 • capítulo 3
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capítulo 3 • 69
constitutiva do objeto social e se obriga perante terceiros. Já o sócio participan-
te apenas participa sobre o resultado do negócio. Merece destaque a sua prin-
cipal vantagem de ser desprovida de formalidades como o registro de seu ato
constitutivo em razão de não possuir personalidade jurídica. As ações desse
modelo social se desdobram apenas sobre a pessoa do sócio ostensivo, que em
seu próprio nome e sob sua responsabilidade única se obriga perante terceiros.
Aos sócios participantes – outrora chamados de ocultos – caberá as respectivas
participações nos resultados correspondentes. É a conclusão que se chega ao
procedermos a leitura dos artigos 991 a 996 do Código Civil Brasileiro:
70 • capítulo 3
As sociedades em comum, por sua vez, desempenham suas funções e pra-
ticam seus atos desprovidas de qualquer forma de organização que a Lei deter-
mina, ou seja, não há o arquivamento dos seus atos constitutivos nos órgãos
competentes embora venha praticando os seus atos em nosso meio. É o que se
depreende através das leituras dos artigos 986 a 990 do Código Civil Brasileiro:
Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto
por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente
e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples. Art. 987. Os
sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a
existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo. Art. 988.
Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titula-
res em comum. Art. 989. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados
por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá
eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer. Art. 990. Todos os sócios
respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício
de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade.
capítulo 3 • 71
CONEXÃO
Como exemplo, para conhecer o estatuto social da Petrobras (Petróleo Brasileiro S/A),
acesse: http://ouvidoria.petrobras.com.br/objects%2Ffiles%2F2006-04%2F205_256_
Estatuto_Social_da_Petrobras.pdf
72 • capítulo 3
Questiona-se a razão deste fenômeno jurídico. A resposta é simples, ou seja,
é a própria razão que fez o sistema jurídico conceber as sociedades limitadas.
Como se percebe em sua origem histórica, a preocupação de seus estudiosos
era justamente criar uma sociedade de pessoas dotada de mecanismo de limi-
tação da responsabilidade de seus sócios para com as obrigações sociais, mas
que não fosse revestida de formalidades e procedimentos burocráticos como os
encontrados nas sociedades por ações.
Desse modo, a razão da grande difusão das sociedades limitadas está justa-
mente em sua estrutura de menor rigor, somado o grande fato de protegerem o
patrimônio particular dos sócios em situações de insolvência da sociedade de
que participam.
Já as sociedades anônimas são destinadas para as atividades econômicas
de maior vulto e complexidade, porque a sua constituição ser seguida de maior
formalidade.
capítulo 3 • 73
Quanto à sua hibridez relacionada ao caráter personalístico ou capi-
talista da sociedade, sua definição fica a cargo dos sócios, ao decidirem
em contrato social sobre: I) a cessão das quotas, II) a penhorabilidade
das quotas, III) o destino das quotas no caso de falecimento dos sócios e,
IV) o destino da sociedade no caso de retirada de um dos sócios.
Com relação à cessão das quotas sociais, segundo o art. 10571 do Código
Civil, o contrato social poderá estabelecer o grau de dependência da sociedade
em relação às qualidades subjetivas dos sócios, ao prescrever que, se não hou-
ver estipulação específica do contrato, o sócio poderá ceder sua quota, total ou
parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros,
ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do
capital social.
A possibilidade de a penhora recair sobre quotas sociais está prevista no art.
1026 do Código Civil. A lei atribuiu, neste particular, um caráter personalístico
às quotas, pois não permitiu que o credor do sócio as leve a leilão ou as adjudi-
que, evitando, assim, a entrada de estranho noquadro social.
Entretanto, o parágrafo único adotou mecanismo mais difícil, ao permitir
que o credor do sócio promova a liquidação de suas quotas, com a apuração dos
haveres que ela representa, ou seja, o caminho permitido é a dissolução parcial
da sociedade.
O art. 1.028 do Código Civil dispõe sobre o falecimento do sócio, fato este
que, se não houver estipulação em contrário, resultará, em regra, na liquidação
das quotas do falecido, caso os sócios remanescentes não entrem em compo-
sição com os herdeiros ou então não optem pela dissolução total da sociedade.
Por fim, a retirada de um sócio cuja presença possui importância e depen-
dência para o bom andamento da sociedade pode gerar a dissolução da socie-
dade, caso os demais sócios decidam como tal, conforme diz o art. 1.0292 do
Código Civil.
1 Art. 1057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio,
independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um
quarto do capital social.
2 Art. 1029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se da sociedade; se de
prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de sessenta dias; se de
prazo determinado, provando judicialmente justa causa.
Parágrafo único. Nos trinta dias subsequentes à notificação, podem os demais sócios optar pela dissolução da
sociedade.
74 • capítulo 3
3.2.1.1 As obrigações dos sócios da sociedade limitada
As obrigações dos sócios são assuntos de grande importância, uma vez que, ao
integrarem o quadro social de uma sociedade limitada, assumem deveres para
com a sociedade e também para com os sócios. Dentre as obrigações a serem
abordadas na presente aula, destacamos o estudo da responsabilidade pelas
obrigações sociais, que é o fator primordial da grande utilização deste modelo
societário. Também trataremos dos deveres de integralização do capital social
e de lealdade com a sociedade.
capítulo 3 • 75
É importante lembrar que a subscrição de cada sócio servirá de medida para
a atribuição de seus respectivos direitos e demais obrigações sociais, como
prescreve o art. 1.007 do Código Civil. Portanto, devemos partir da totalidade
do capital social, que deverá ser dividido em unidades de valor, denominadas
quotas. Numa escala móvel, aquele sócio que reunir o maior número de quotas
terá, proporcionalmente, a maior participação societária.
Utilizando o exemplo acima, Fernando Pessoa subscreveu 45.000 quotas,
portanto participa da sociedade em uma proporção equivalente a 50 %.
Enquanto o ato de subscrever significa assumir a obrigação de contribuir
para a formação do capital social, o seu cumprimento é denominado integra-
lização de capital. Desse modo, ao integralizar capital, o sócio está cumprindo
sua obrigação de entregar certa quantia de dinheiro ou bens assumida ao subs-
crever quotas da sociedade.
A obrigação de integralização das quotas subscritas em sociedades limita-
das está tratada no art. 1.0043 e no art. 1.0584, ambos do Código Civil, sendo que
somente poderá ser realizada em entrega de dinheiro, vedada, portanto, a inte-
gralização em serviços como dispõe o art. 1.055, § 2o, do referido diploma legal.
A propósito, a não integralização de capital subscrito possui um tratamen-
to específico pelo Código Civil. O sócio que não cumpre com sua obrigação
de integralizar nos termos estabelecidos no contrato social é tido como sócio
remisso.
O art. 1004 do Código Civil estabelece que o sócio remisso deverá respon-
der pelo dano emergente da mora, independentemente da natureza de sua
contribuição. Por certo, se o contrato for revestido dos requisitos legais para
torná-lo título executivo extrajudicial, é possível ação de execução da obrigação
de fazer. Caso contrário, a cobrança judicial dos danos dependerá de ação de
conhecimento.
Por outra via, também há a possibilidade de os sócios deliberarem pela expul-
são do sócio remisso, conforme prescreve o art. 1.004, parágrafo único, do Código
3 Art. 1004. Os sócios são obrigados, na forma e no prazo previstos, às contribuições estabelecidas no contrato
social, e aquele que deixar de fazê-lo, nos trinta dias seguintes ao da notificação pela sociedade, responderá perante
esta pelo dano emergente da mora.
Parágrafo único. Verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios preferir, à indenização, a exclusão do sócio
remisso, ou reduzir-lhe a quota ao montante já realizado, aplicando-se, em ambos os casos, o disposto no § 1o do
art. 1.031.
4 Art. 1058. Não integralizada a quota de sócio remisso, os outros sócios podem, sem prejuízo do disposto
no art. 1.004 e seu parágrafo único, tomá-la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o primitivo titular e
devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais
as despesas.
76 • capítulo 3
Civil, devolvendo a este as entradas realizadas com o desconto de juros de mora,
cláusula penal expressamente estabelecida em contrato e demais despesas.
5 Art. 1030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído judicialmente,
mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações ou, ainda, por
incapacidade superveniente.
Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o sócio declarado falido, ou aquele cuja quota tenha
sido liquidada nos termos do parágrafo único do art. 1.026.
capítulo 3 • 77
a) o contrato social se rescinde em relação a uma das partes, mas não são
afetados os outros vínculos plurilaterais dele decorrentes;
b) o sócio expulso tem direito, conforme a causa da expulsão, à restituição
das suas entradas ou ao reembolso da participação societária; e
c) a rescisão pode ser extrajudicial.
Todo sócio participa da sociedade por meio do exercício de direitos que recebe
ao subscrever parte do capital social. Os direitos que o sócio titulariza são: a)
participar do resultado social, b) fiscalizar a gestão da sociedade, c) contribuir
para as deliberações sociais, d) direito de retirada, e) direito de preferência.
6 Art. 1008. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos lucros e das perdas.
78 • capítulo 3
3.2.1.2.2 Fiscalização da gestão da sociedade
A fiscalização da administração da sociedade é realizada direta e indiretamente
pelos sócios. De forma direta, os sócios contam com as prerrogativas dos arts.
1.020 e 1.021 do Código Civil.
O art. 1.020 determina que os administradores deverão prestar contas de
sua gestão, no final de cada exercício social, apresentando em assembleia-geral
ordinária as demonstrações contábeis para aprovação.
Por sua vez, o art. 1.021 cuida do direito do sócio ao acesso aos livros e aos
documentos para fiscalização, bem como de examinar o estado do caixa e da
carteira da sociedade. A única ressalva que poderá ocorrer é a possibilidade de
o contrato social definir época própria para a realização de tal procedimento
fiscalizatório.
Indiretamente, os sócios fiscalizam a administração por meio de órgão es-
pecífico denominado Conselho Fiscal, cujas atribuições estão definidas nos
arts. de 1.066 a 1.070 do Código Civil.
O Conselho Fiscal é um órgão de presença facultativa nas sociedades limita-
das e é composto por, no mínimo, três membros e seus respectivos suplentes,
sócios ou não, eleitos em assembleia ordinária para apreciar as contas dos ad-
ministradores e deliberar sobre o balanço patrimonial e o resultado econômico.
capítulo 3 • 79
Portanto, é direito de sócio votar nas assembleias sobre as atividades e os
destinos da sociedade, conforme as regras definidas pelo Código Civil.
80 • capítulo 3
• a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas;
• o pedido de recuperação judicial.
As deliberações dos sócios são tomadas em reunião ou assembleia, confor-
me previsto no contrato social. O divisor de águas é o número de integrantes
da sociedade, uma vez que o art. 1.072 8do Código Civil exige a instalação de
assembleia se a sociedade possui mais de dez sócios.
A distinção entre as duas modalidades previstas na legislação permite que
o contrato social disponha sobre periodicidade, forma de convocação, quorum
exigido para instalação, realização e registro da reunião de sócios, pois as as-
sembleias devem observar os rituais específicos definidos no Código Civil.
As reuniões ou assembleias deverão ser convocadas, ordinariamente, pelos
administradores e, extraordinariamente (art. 1.073):
A assembleia deve ser convocada por meio de anúncios publicados por três ve-
zes na imprensa oficial e em jornal de grande circulação, com antecedência míni-
ma de oito dias da data da primeira publicação convocatória (art. 1.152, § 3o).
8 Art. 1072. As deliberações dos sócios, obedecido o disposto no art. 1.010, serão tomadas em reunião ou
em assembleia, conforme previsto no contrato social, devendo ser convocadas pelos administradores nos casos
previstos em lei ou no contrato.
§ 1o A deliberação em assembleia será obrigatória se o número dos sócios for superior a dez.
§ 2o Dispensam-se as formalidades de convocação previstas no § 3o do art. 1.152, quando todos os sócios
comparecerem ou se declararem, por escrito, cientes do local, data, hora e ordem do dia.
§ 3o A reunião ou a assembleia tornam-se dispensáveis quando todos os sócios decidem, por escrito, sobre a matéria
que seria objeto delas.
§ 4o No caso do inciso VIII do artigo antecedente, os administradores, se houver urgência e com autorização de
titulares de mais da metade do capital social, podem requerer concordata preventiva.
§ 5o As deliberações tomadas em conformidade com a lei e o contrato vinculam todos os sócios, ainda que ausentes
ou dissidentes.
§ 6o Aplica-se às reuniões dos sócios, nos casos omissos no contrato, o disposto na presente Seção sobre a
assembleia.
capítulo 3 • 81
Contudo, será possível ocorrer a dispensa das tais formalidades se todos os
sócios comparecerem ou se declararem, por escrito, cientes do local, dia, hora
e ordem do dia (art. 1.072, § 2o)
Destacamos também que a assembleia ou a reunião poderão ser substituí-
das por documento escrito que explicite a deliberação adotada, desde que assi-
nado pela totalidade dos sócios (art. 1.072, § 3o).
Especificamente às assembleias, somente poderão ser instaladas em primeira
convocação se tiver a presença mínima de 3/4 do capital social e, em segunda con-
vocação e posteriores, com a presença de qualquer número de sócios (art. 1.074).
Os sócios podem se fazer presentes por advogado ou outro sócio, desde que ou-
torguem poderes mediante mandato com a indicação dos atos autorizados. Este
instrumento de mandato deverá ser registrado juntamente com a ata de assembleia,
conforme prevê o art. 1.074, § 1o. Entretanto, o sócio não poderá se fazer representa-
do em assembleia cujo assunto em pauta tenha relação direta com sua pessoa (§ 2o).
As deliberações tomadas pelos sócios deverão ser registradas no livro de
atas, que será acompanhado da assinatura dos sócios em número necessário
para a validade das decisões.
É importante salientar que as decisões tomadas e que estejam em confor-
midade com a lei e o contrato social vinculam todos os sócios, mesmo que dis-
sidentes da deliberação adotada. Entretanto, havendo decisão que contrarie lei
ou contrato, responderão ilimitadamente pelas obrigações aqueles que expres-
samente as aprovaram (art. 1.080).
A cópia da ata deverá ser encaminhada, em prazo de vinte dias, para que seja
arquivada e averbada (art. 1.0759).
O artigo 1.078 do Código Civil determina que deverá ser realizada uma as-
sembleia, ao menos uma vez por ano, nos quatro meses seguintes ao término
do exercício social, com o objetivo de:
9 Art. 1075. A assembleia será presidida e secretariada por sócios escolhidos entre os presentes.
§ 1o Dos trabalhos e deliberações será lavrada, no livro de atas da assembleia, ata assinada pelos membros da
mesa e por sócios participantes da reunião, quantos bastem à validade das deliberações, mas sem prejuízo dos que
queiram assiná-la.
§ 2o Cópia da ata autenticada pelos administradores, ou pela mesa, será, nos vinte dias subsequentes à reunião,
apresentada ao Registro Público de Empresas Mercantis para arquivamento e averbação.
§ 3o Ao sócio que a solicitar será entregue cópia autenticada da ata.
82 • capítulo 3
• tomar as contas dos administradores e deliberar sobre o balanço patrimo-
nial e o de resultado econômico;
• designar administradores, quando for o caso;
• tratar de qualquer outro assunto constante da ordem do dia.
capítulo 3 • 83
3.2.1.4 Da administração da sociedade limitada
10 Art. 1060. A sociedade limitada é administrada por uma ou por mais pessoas designadas no contrato social ou
em ato separado.
Parágrafo único. A administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende de pleno direito aos que
posteriormente adquiram essa qualidade.
11 Art. 1062. O administrador designado em ato separado investir-se-á no cargo mediante termo de posse no livro
de atas da administração.
§ 1o Se o termo não for assinado nos trinta dias seguintes à designação, esta se tornará sem efeito.
84 • capítulo 3
3.2.2 Órgãos da Sociedade Anônima
• Assembleia-geral;
• Conselho de administração;
• Diretoria; e
• Conselho fiscal.
capítulo 3 • 85
Deste modo, a lei objetiva estabelecer a existência, bem como seu funciona-
mento, apenas dos quatro órgãos acima citados, ou seja, a assembleia-geral, o
conselho de administração, a diretoria e o conselho fiscal.
Tais órgãos serão mais bem abordados durante este tópico ao nos dedicar-
mos ao estudo de cada órgão.
3.2.2.1 A assembleia-geral
86 • capítulo 3
• autorizar a emissão de partes beneficiárias;
• deliberar sobre transformação, fusão, incorporação e cisão da compa-
nhia, sua dissolução e liquidação, eleger e destituir liquidantes e julgar-lhes as
contas; e
• autorizar os administradores a confessar falência e requerer recuperação
judicial da empresa.
Fábio Ulhoa Coelho (2010) ensina que a tecnologia jurídica distingue dois sis-
temas de estrutura da sociedade anônima: o monista e o dualista. No sistema
monista, compete exclusivamente aos acionistas a fiscalização e a supervisão
dos executivos encarregados de organizar a empresa e representar legalmente
a pessoa jurídica.
Por sua vez, o sistema dualista, adota a existência de um órgão intermediá-
rio entre a assembleia e a diretoria, qual seja, o conselho de administração. Este
tem por objetivo exercer concorrentemente as atribuições da assembleia-geral.
O Direito Brasileiro, após 1976, adotou o sistema dualista de organização
da sociedade anônima, porém a obrigatoriedade da existência do conselho de
administração somente aplica-se às sociedades de capital aberto, às sociedades
com capital autorizado e às sociedades de economia mista, sendo facultativa
para as demais companhias.
O conselho de administração é órgão de caráter deliberativo, cuja função é
agilizar o processo decisório de uma companhia, proporcionando rapidez no
enfrentamento de assuntos de maior relevância.
Não se trata de esvaziar a função da assembleia-geral, que é mantida como
órgão supremo da sociedade, mas de dar a este órgão os poderes de fiscalização
da gestão dos diretores executivos e deliberar limitadamente sobre determina-
dos assuntos sociais.
O artigo 142 da Lei das Sociedades Anônimas estabelece que o conselho de
administração possui as seguintes atribuições:
capítulo 3 • 87
• fiscalizar a gestão dos diretores, examinar, a qualquer tempo, os livros e
os papéis da companhia, solicitar informações sobre contratos celebrados ou
em via de celebração, e quaisquer outros atos;
• convocar a assembleia-geral quando julgar conveniente, ou no caso do
artigo 132;
• manifestar-se sobre o relatório da administração e as contas
da diretoria;
• manifestar-se previamente sobre atos ou contratos, quando o estatuto as-
sim o exigir;
• deliberar, quando autorizado pelo estatuto, sobre a emissão de ações ou
de bônus de subscrição;
• autorizar, se o estatuto não dispuser em contrário, a alienação de bens
do ativo permanente, a constituição de ônus reais e a prestação de garantias a
obrigações de terceiros;
• escolher e destituir os auditores independentes, se houver.
88 • capítulo 3
parágrafo único do artigo 140, é possível que o estatuto preveja a participação de re-
presentantes dos empregados, escolhidos pelo voto destes, em eleição direta, orga-
nizada pela empresa, em conjunto com as entidades sindicais que os representem.
O estatuto pode, ainda, prever que até o máximo de um terço dos conselhei-
ros ocupe simultaneamente cargos na diretoria da companhia.
capítulo 3 • 89
Essa questão tem sido objeto de profundas análises sociais e éticas nos Estados Unidos.
Inquéritos ali são feitos, inclusive por congregações religiosas. Um deles, relatado por
Childs e Cater, levou seus autores a analisar o comportamento do executivo, no comen-
tário amargo de que “o homem de negócios norte-americano, no limiar da Idade de Ouro
de nossa expansão econômica, parece haver perdido a noção de sua própria finalidade”.
É uma peça da máquina de fabricar carros. O moderno gerente é, na verdade, uma vitória
da classe média, o qual não sente nem tem compromissos, a não ser com a empresa que
dirige. A isso leva o imoralismo de sua atuação, de que são exemplos os escândalos apu-
rados pelo Congresso americano, pela prática de subornos promovidos pelos dirigentes
das grandes empresas, como foi revelado em 1975.
Requião (2010)
O que mais chama a atenção quanto ao problema levantado por este comer-
cialista é que este fato pode ser a gênese do insucesso financeiro ou da quebra
fraudulenta de uma empresa, pois, alienados de outros interesses de ordem
social, os tecnocratas que gerem as sociedades podem conduzir as atividades
sociais para outras finalidades que não seja a efetivação da função social da
companhia.
90 • capítulo 3
Quando o funcionamento não for permanente, será instalado pela assem-
bleia-geral a pedido de acionistas que representem, no mínimo, um décimo
das ações com direito a voto, ou 5% (cinco por cento) das ações sem direito a
voto, e cada período de seu funcionamento terminará na primeira assembleia-
geral ordinária após a sua instalação.
Pelas suas características, compete ao Conselho Fiscal:
capítulo 3 • 91
ATIVIDADES
01. Na sociedade de responsabilidade limitada, frente às obrigações assumidas no desem-
penho regular de suas atividades, (172o Concurso de ingresso da magistratura – TJSP)
a) a responsabilidade do adiministrador é ilimitada.
b) a responsabilidade da sociedade é limitada às obrigações assumidas.
c) a responsabilidade dos sócios é limitada às obrigações assumidas.
d) a responsabilidade dos sócios é ilimitada.
02. O administrador das sociedades limitadas pode ser nomeado no contrato social ou por ato
separado. Uma das consequências dessa distinção é que o administrador nomeado em contrato:
a) deve ser sócio.
b) tem poderes irrevogáveis.
c) depende de quorum de nomeação diferenciado.
d) prescinde de autorização dos sócios para a prática de atos.
04. De acordo com a Lei das Sociedades Anônimas, a administração da companhia compe-
tirá, conforme dispuser o Estatuto, ao
a) Conselho de Administração e à Diretoria, ou somente à Diretoria.
b) Presidente, à Diretoria e às Gerências Administrativas ou Financeiras.
c) Conselho Fiscal, ao Conselho de Administração e à Diretoria Administrativa e Financeira.
d) Presidente, ao Conselho de Administração, ao Conselho Fiscal e à Auditoria.
REFLEXÃO
Certa vez, ouvi um grande economista dizer o seguinte: “a economia se mede não pelo núme-
ro de sociedades limitadas, e sim pelo número de companhias abertas”.
Após refletir sobre o assunto, cheguei à mesma conclusão.
92 • capítulo 3
Ao pesquisar as grandes economias da atualidade, percebemos que estas têm como
presença marcante um forte mercado de capitais, com inúmeras companhias participando
com seus títulos nos negócios. Ou seja, as companhias utilizam como sua principal fonte de
financiamento os recursos diretos dos investidores que acreditam e aplicam seu dinheiro no
mercado de capitais. Com isso, estas empresas captam recursos financeiros aos menores
custos possíveis, pois não há as instituições financeiras como intermediárias do capital. Há
uma década, o nosso mercado de capitais passou por uma reformulação, ao aderir ao con-
ceito de governança corporativa. O resultado é que vemos que, atualmente, grandes grupos
empresariais abriram capital na Bolsa de Valores, levantando recursos e investindo bilhões
de reais em novos empreendimentos. Mais empregos, maior geração de riquezas, mais pes-
quisas e muito mais resultados que formam um círculo virtuoso em nossa economia. Estava
certo Antônio Vicente Golfeto.
LEITURA
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 29. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2.
CORREA-LIMA, Osmar Brina. Sociedade anônima. 3 ed. rev. e atual. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 29. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2.
CORREA-LIMA, Osmar Brina. Sociedade anônima. 3 ed. rev. e atual. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.
capítulo 3 • 93
94 • capítulo 3
4
Relações de
Consumo e Títulos
de Crédito
A Lei 8078/90 introduziu o Código de Defesa do Consumidor
O Brasil foi signatário de alguns tratados e convenções para a implantação
de um sistema que viesse ao encontro dos anseios preconizados na época - a
compreensão de que o consumidor é a parte mais fraca desta relação de consu-
mo e que precisa proteção especial por parte da legislação.
Após a promulgação da Constituição federal de 1988, foi lançado base para
o nascimento do Código de Defesa do Consumidor.
Neste capítulo, estudaremos os conceitos de consumidor e fornecedor, e
os direitos básicos do consumidor. Também veremos que a publicidade é um
meio legal para captação de clientes, mas que deve ser exercitada nos termos em
que a Lei disciplina. Também veremos as práticas abusivas mais comuns sem
levar o assunto a exaustão e que podem gerar transtornos aos futuros gestores.
Com isso em mente, o aluno será capaz de compreender o conceito de rela-
ção de consumo; os direitos do consumidor, frente às práticas abusivas come-
tidas pelo fornecedor e, os aspectos referentes à oferta de produtos e serviços
previstos no Código de Defesa do Consumidor.
Outro tema reservado para este capítulo são os títulos de créditos. Crédito
é uma palavra que exprime confiança, e procede da expressão “crer”, acreditar
em algo ou em alguém.
O crédito, no sentido financeiro, significa dispor a um tomador, recursos
financeiros para fazer frente a despesas, investimentos, financiar a compra de
bens, etc. O crédito existe para facilitar a vida das pessoas, das empresas e até
mesmo do Estado, possibilitando aqueles que em certos momentos não dispõe
de recursos financeiros suficientes para as suas necessidades presentes, ter à
disposição para fazer frente a despesas, aquisição de bens e serviços, dentre
outras precisões.
Como a utilização de crédito se dá por uma relação jurídica pessoal, os títu-
los de crédito são os documentos que comprovam esta relação, demonstrando
a existência de um direito de crédito (credor) contra o tomador do recurso fi-
nanceiro (devedor).
Veremos neste capítulo que os títulos de crédito, mais que um simples do-
cumento, são revestidos de princípios próprios que garantem a sua circulação
com segurança.
96 • capítulo 4
OBJETIVOS
Por meio do estudo do presente capítulo, você estará apto a: identificar os cuidados que devem
ser observados ao se colocar um título de crédito em circulação e, também, as implicações
inerentes ao tratamento diferenciado que a Lei reserva aos consumidores assunto corriqueiro
no cotidiano de todos os gestores.
capítulo 4 • 97
4.1 Conceito de consumidor
O Código de Defesa do Consumidor deve ser aplicado em toda relação de con-
sumo, em que temos, em um dos polos da relação, o fornecedor, e no outro polo
da relação, o consumidor final do produto.
Toda relação de consumo envolve três pontos principais (FILOMENO, 2007):
1. Envolve basicamente duas partes bem definidas: de um lado o adqui-
rente de um produto ou serviço (consumidor); de outro, o fornecedor ou vende-
dor de um serviço ou produto (produtor/fornecedor);
2. Destina-se à satisfação de uma necessidade privada do consumidor;
3. O consumidor não dispondo por si só, de controle sobre a produção de
bens de consumo ou prestação de serviços que lhe são destinados, arrisca-se
a submeter-se ao poder e condições dos produtores daqueles mesmos bens e
serviços.
98 • capítulo 4
intermediário ou comerciante, porquanto o produtor originário também deve
ser responsabilizado pelo produto que lança no mercado de consumo (CDC,
art. 18) (ALMEIDA, 2009).
CONEXÃO
Para maiores informações referentes às relações de consumo, consulte o site www.procon.sp.go.
br, o qual contém uma série de informações referentes ao Código de Defesa do Consumidor.
capítulo 4 • 99
4.1.2.2 Educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos
100 • capítulo 4
4.1.2.4 Publicidade enganosa e abusiva
capítulo 4 • 101
4.1.2.6 Direito à indenização
Segundo o artigo 6º, inciso VI, do Código de Defesa do Consumidor, são direi-
tos básicos do consumidor a efetiva prevenção e reparação de danos patrimo-
niais e morais, individuais, coletivos e difusos.
É assegurado como direito do consumidor o ressarcimento do prejuízo so-
frido, seja patrimonial ou moral, individual, coletivo ou difuso, pois, do contrá-
rio, não haverá efetividade da tutela (ALMEIDA, 2009).
CONEXÃO
Para maiores informações sobre os Tribunais de Justiça e os direitos básicos do consumidor,
acesse o site ww.tj.sp.gov.br
102 • capítulo 4
4.1.2.8 Inversão do ônus da prova
Segundo o artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor são di-
reitos básicos do consumidor a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive
com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a crité-
rio do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo
as regras ordinárias de experiências.
capítulo 4 • 103
O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitima-
mente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, en-
tre as quais (parágrafo 1º, art. 12 do CDC):
I. sua apresentação;
II. o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III. a época em que foi colocado em circulação.
Vale ressaltar que o produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro
de melhor qualidade ter sido colocado no mercado (parágrafo 2º, art. 12, CDC).
Trata-se da chamada responsabilidade objetiva do empresário, frente ao
dano causado ao consumidor.
Consagrada a responsabilidade objetiva do fornecedor, não se perquire a
existência de culpa; sua ocorrência é irrelevante e sua verificação desnecessá-
ria, pois não há interferência na responsabilização. Para a reparação de danos,
no particular, basta a demonstração do evento danoso, do nexo causal e do
dano ressarcível e sua extensão (ALMEIDA, 2009).
No entanto, nos termos do parágrafo 3º, do artigo 12, do CDC, o fabricante, o
construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:
I. que não colocou o produto no mercado;
II. que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III. a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
104 • capítulo 4
centralizados ou descentralizados. Além da União, Estados, Municípios e
Distrito Federal, estão envolvidas as respectivas autarquias, fundações, socie-
dades de economia mista, empresas públicas, inclusive as concessionárias ou
permissionárias de serviços públicos (GRINOVER, 2007).
Todas essas entidades são obrigadas a fornecer serviços adequados, eficien-
tes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Por todo exposto, o ente público
não se furtará de reparar os danos causados aos administrados quando incorrer
nas práticas, tão frequentes, como as que decorrerem da (GRINOVER, 2007):
capítulo 4 • 105
São considerados vícios as características de qualidade ou quantidade que
tornem os produtos ou serviços impróprios ou inadequados ao consumo a que
se destinam e também que lhes diminuam o valor. Da mesma forma, são con-
siderados vícios os decorrentes da disparidade havida em relação às indicações
constantes do recipiente, embalagem, rotulagem, oferta ou mensagem publici-
tária (NUNES, 2009).
Os vícios, portanto, são aqueles problemas que, por exemplo (NUNES, 2009):
Fazem com que o produto não funcione adequadamente, como um liquidi-
ficador que não gire;
a) Fazem com que o produto funcione mal, como a televisão sem som, o
automóvel que “morre” toda hora, etc.;
b) Diminuam o valor do produto, como riscos na lataria do automóvel,
mancha no terno, etc.;
c) Não estejam de acordo com as informações, como o vidro de mel de 500
ml que só tem 400 ml; o saco de 5 Kg de açúcar que só tem 4,8 Kg; o caderno de
200 páginas que só tem 180, etc.;
d) Apresentem características com funcionamento insuficiente ou inade-
quado, como o serviço de desentupimento que no dia seguinte faz com que o
banheiro alague; o carpete que descola rapidamente; a parede mal pintada; o
extravio de bagagem no transporte aéreo, etc.
Não sendo o vício sanado no prazo máximo de 30 (trinta) dias, pode o con-
sumidor exigir, alternativamente e à sua escolha (parágrafo 1º, art. 18, do CDC):
I. a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas
condições de uso;
II. a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada,
sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III. o abatimento proporcional do preço.
106 • capítulo 4
afetarem os produtos industrializados essenciais, que não permitem dissocia-
ção de seus elementos, – vestimentas, calçados, alimentos, medicamentos,
bebidas de todo gênero, – não se oferece a oportunidade de saneamento, e o
consumidor pode imediatizar a tutela reparatória (GRINOVER, 2007).
Vale ressaltar ainda que, tendo o consumidor, optado pela substituição do produto por
outro da mesma espécie, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver
substituição por outro de marca ou modelo diversos, mediante complementação ou
restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo das demais opções do consu-
midor, previstas nos incisos II e III, do artigo 18 do CDC (parágrafo 4º, art. 18, do CDC).
capítulo 4 • 107
4.1.5 Responsabilidade pelo vício do serviço
São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que ra-
zoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam às normas
regulamentares de prestabilidade (parágrafo 2º, do art. 20, do CDC).
Seguramente, o índice de defectibilidade dos serviços prestados na socieda-
de de consumo é muito mais elevado que o dos produtos fornecidos. Somente
para destacar os aspectos multifacetários da prestação de serviços em econo-
mia de mercado, podemos lembrar, dentre outros: os serviços profissionais, de
todo gênero; os serviços da construção civil; agenciamento; transporte, arma-
zenamento e restauração de quaisquer bens móveis; decoração de ambientes;
diversões públicas; serviços de seguros; bancários, de créditos, etc (GRINOVER,
2007).
108 • capítulo 4
serviços de dedetização, por exemplo, não são duráveis, ao passo que os eletro-
domésticos, veículos automotores e os serviços de construção civil são duráveis
(GRINOVER, 2007).
Se houver um termo final de garantia, o que acontece é que o prazo para reclamar
continua o mesmo, mas dies a quo é postergado para o final do tempo de garantia
(NUNES, 2009).
capítulo 4 • 109
pliando-a (art. 28, parágrafos 2º e 5º) (ALMEIDA, 2009).
O efeito prático da adoção dessa teoria é que, ocorrendo os pressupostos
do art. 28 – abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilíci-
to ou violação dos estatutos ou contrato social, em detrimento do consumidor
– , o juiz pode desconsiderar a pessoa jurídica e responsabilizar civilmente o
sócio-gerente, o administrador, o sócio-majoritário, o acionista controlador,
etc., alcançando-lhe os respectivos patrimônios, adotando o mesmo procedi-
mento em caso de falência, estado de insolvência, encerramento ou inativida-
de de pessoa jurídica provocados por má administração e até genericamente
quando a personalidade jurídica for, de alguma forma, obstáculo ao ressarci-
mento de prejuízos causados aos consumidores (art. 28, caput, e parágrafo 5º)
(ALMEIDA, 2007).
Toda a imposição das responsabilidades aos dirigentes será feita quando a
pessoa jurídica causar danos aos consumidores através de atos iníquos e não
haverá limite ao grau de comprometimento dos capitais sociais das pessoas ju-
rídicas. Significa que quando houver dolo ou culpa que acarretem prejuízos,
desapareceu o sistema das responsabilidades limitadas dos sócios-gerentes
e dos sócios controladores, ainda que disso estivessem eles protegidos pelos
instrumentos dos estatutos ou contratos que erigem a “razão social” da pessoa
jurídica (GAMA, 2008).
4.1.10 Da oferta
110 • capítulo 4
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CONEXÃO
Para maiores informações sobre o Código de Defesa do Consumidor, acesse o site www.
planalto.gov.br. Lá o aluno encontrará além do CDC, outras leis esparsas referentes às rela-
ções de consumo.
capítulo 4 • 111
4.1.10.1 Requisitos da oferta
A regra básica nesse tema é que aquele que oferta está obrigado a cumprir a
obrigação nos termos propostos. É o chamado princípio da vinculação, aco-
lhido plenamente pelo CDC (art. 30). Da oferta, duas consequências derivam
para o fornecedor: (a) passa a integrar o contrato e (b) obriga ao cumprimento
da obrigação subjacente, porquanto a aceitação do consumidor aperfeiçoou o
círculo obrigacional e a relação de consumo (art. 30). Sem esquecer que o forne-
cedor é solidariamente responsável pelos atos de seus empregados, prepostos,
agentes ou representantes (art. 34) (ALMEIDA, 2009).
112 • capítulo 4
Não obstante, mesmo após cessar a produção ou importação do produto,
o fabricante (na fabricação), e o importador (na importação), ainda devem
cumprir o dever de assistência com peças e componentes. Só que tal obriga-
ção não é ad eternum. De duas, uma: a lei ou regulamento fixa um prazo máxi-
mo, ou o juiz, na sua carência, estabelece o período razoável de exigibilidade
do dever. Em todo caso, deve-se sempre levar em conta a vida útil do produto
(GRINOVER, 2007).
capítulo 4 • 113
4.1.10.5 Da responsabilidade solidária
114 • capítulo 4
uma fórmula ou design e lança seu produto no mercado com uma desconfor-
midade (de todo indesejada por ele), ainda assim é responsabilizado, havendo
dano.
Pupli
midor não se limitou ao regra-
mento das relações contratuais
cidade
Propa e
de consumo. A proteção do con-
sumidor tem início em momen-
to anterior ao da realização do
ganda
contrato de consumo. O legisla-
dor reconheceu, então, que a re-
lação de consumo não é apenas
a contratual. Ela surge, igual-
mente, por meio das técnicas
de estimulação do consumo,
quando, de fato, ainda sequer se
pode falar em verdadeiro consumo, e sim em expectativa de consumo. A pu-
blicidade, portanto, como a mais importante destas técnicas, recebeu especial
atenção no Código (GRINOVER, 2007).
Segundo o artigo 36 do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90),
a publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imedia-
tamente, a identifique como tal.
Essa regra praticamente repete a do art. 28 do Código Brasileiro de
Autorregulamentação Publicitária, segundo o qual o anúncio deve ser clara-
mente distinguido como tal, seja qual for a sua forma ou meio de veiculação
(SILVA, 2008).
É por isso que muitas publicidades, veiculadas em revistas e na televisão, contêm aviso
de que se trata de informe publicitário, a fim de que o público não confunda a publici-
dade com matéria jornalística. Objetiva-se com isso, proibir as publicidades clandestina
e subliminar (SILVA, 2008).
capítulo 4 • 115
O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços deve manter, em
seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, téc-
nicos e científicos que dão sustentação à mensagem (parágrafo único, art. 36,
CDC).
O parágrafo único do art. 36 traz o princípio da transparência da funda-
mentação da mensagem publicitária. O fornecedor tem ampla liberdade para
anunciar seus produtos ou serviços. Deve, contudo, fazê-lo sempre com base
em elementos fáticos e científicos: é sua fundamentação. De pouco adiantaria
exigir a fundamentação da mensagem publicitária (cuja carência está incluída
no conceito de publicidade enganosa) sem que se desse acesso aos consumido-
res. É esse dever que vem expresso no texto legal (GRINOVER, 2007).
CONEXÃO
Para maiores informações referentes às publicidades consideradas enganosas ou abusivas
pelo Código de Defesa do Consumidor, o aluno poderá acionar a Revista Jurídica Jusnave-
gandi, no site www.jus.uol.com.br, onde poderá encontrar vários artigos sobre o assunto.
116 • capítulo 4
A contrapropaganda passou a ser um dever iminente a quem divulgou o pro-
duto ou o serviço de forma enganosa ou abusiva ou que, de outra forma, deixou
de alertar acerca dos riscos que podem advir aos consumidores. A contrapro-
paganda deve ser veiculada da mesma forma e com a mesma força de como foi
difundido o produto (art. 60) (GAMA, 2008).
Não obstante, as publicidades abusiva e enganosa, geram ao fornecedor,
e, excepcionalmente, ao publicitário e ao meio de comunicação (art. 7º, pará-
grafo único, e, art. 25, parágrafo 1º, ambos do CDC), a obrigação solidária de
reparar os danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos, em
conformidade com o princípio da plena reparação dos danos (art. 6º, VI) e o
direito básico de proteção contra esse tipo de publicidade (art. 6º, IV, 1ª parte)
(SILVA, 2008).
Por fim, estabelece o inciso XVI, do artigo 51, do CDC, que são nulas de pleno
direito as cláusulas contratuais que possibilitem a renúncia do direito de inde-
nização por benfeitorias necessárias.
capítulo 4 • 117
São benfeitorias necessárias aquelas que têm por fim conservar o bem ou
evitar que se deteriore (art. 96, parágrafo 3º, do Código Civil).
Vale ressaltar que a nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contra-
to, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus
excessivo a qualquer das partes (parágrafo 2º, do art. 51, CDC).
Sem querer conduzir o tema a exaustão no que tange as práticas abusivas, elegemos
após análise perfunctória do artigo 39 e seus incisos, bem como artigo 42 do Código
de Defesa do Consumidor, alguns comportamentos dos fornecedores presentes em
nosso cotidiano e que devem ser evitados, para dar espaço a uma forma de gestão
ética e que prima pelo bom atendimento do consumidor e se evitem comportamen-
tos antijurídicos que possam trazer consequências desastrosas às corporações. No
dizer de Tupinambá Miguel Castro Nascimento, práticas abusivas “são práticas co-
merciais, nas relações de consumo, que ultrapassam a regularidade do exercício de
comércio e das relações entre fornecedor e consumidor” (ALMEIDA, 2009).
118 • capítulo 4
chamado “pacote” de viagem oferecido por operadoras e agências de viagem
não está proibido. Nem fazer ofertas do tipo “compre este e ganhe aquele”. O
que não pode o fornecedor fazer é impor a aquisição conjunta, ainda que o pre-
ço global seja mais barato que a aquisição individual, o que é comum nos “pa-
cotes” de viagem. Assim, se o consumidor quiser adquirir apenas um dos itens,
poderá fazê-lo pelo preço normal (NUNES, 2009).
Também é proibido ao fornecedor estabelecer limites quantitativos à venda
de produtos, sem justa causa. Cabe ao fornecedor, nesse sentido, demonstrar o
justo motivo a ensejar a limitação quantitativa, sendo que, isso poderá ocorrer,
por exemplo, em casos de estoques limitados, ou mesmo, diante de escassez de
determinado produto no mercado.
(...) enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou for-
necer qualquer serviço (...)
capítulo 4 • 119
fornecimento como mera amostra grátis, não cabendo qualquer pagamento ou
ressarcimento ao fornecedor, nem mesmo os decorrentes de transporte. É ato
cujo risco corre inteiramente por conta do fornecedor (GRINOVER, 2007).
120 • capítulo 4
Aliás tal como ocorre nas relações regidas pelo Código Civil, não é possível se admitir,
por exemplo, cláusulas potestativas ( aquelas que comportam apenas os interesses de
uma das partes, ao passo que a outra permanece como um mero expectador daquela
relação contratual) que promovem o desequilíbrio da relação contratual.
capítulo 4 • 121
4.1.12.8 Da Cobrança de dívidas
Artigo 42:
Ciente dos constantes abusos que se perpetravam nessa área, com ofensa
à dignidade do devedor, exposição a ridículo e utilização de práticas violentas
como ameaça e constrangimento, é que o legislador procurou restabelecer o
império do direito, ou, no dizer de um doutrinador, “o modo civilizado de se
cobrar”. Colima-se, como o tratamento legislativo da questão, fazer com que o
exercício regular do direito do credor se compreenda dentro dos limites legais,
não os extrapolando para atingir contornos abusivos. Não se procura obstar o
recebimento do crédito, o que era e continua a ser exercício regular de direito
(CC, art. 160, I), mas a utilização de métodos condenáveis e ofensivos à dignida-
de humana, que se procura extirpar do meio social (ALMEIDA, 2009).
Cabe ao Magistrado, nestes casos, analisar cada situação em específico, ou
seja, se a forma da cobrança efetuada pelo credor trouxe um constrangimento
ou expôs o devedor ao ridículo, sendo que, em caso positivo, cabe a este pleitear
indenização pelos danos morais sofridos, de acordo com o disposto no artigo
6o, inciso VI do Código de Defesa do Consumidor.
122 • capítulo 4
Em matéria de títulos de crédito, é célebre a definição de Vivante*, o qual
nos ensina que "título de crédito é um documento necessário para o exercício
do direito literal e autônomo nele mencionado". Esta definição coincide com
a adotada no art. 887 do Código Civil Brasileiro: "título de crédito, documen-
to necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente
produz efeito quando preencha os requisitos da lei.".
Com base na noção acima, podemos afirmar que títulos de crédito são ins-
trumentos representativos de obrigações pecuniárias (pagamento em dinheiro).
Vale ressaltar que uma obrigação pecuniária pode ser representada por diferen-
tes instrumentos jurídicos, como por exemplo, uma sentença judicial. Porém, os
títulos de crédito guardam em si, particularidades que os tornam especiais.
Os títulos de crédito distinguem dos demais documentos sob três aspectos:
(i) os títulos de crédito apenas representam relações de crédito, não podendo
documentar outras espécies de obrigação, tais como, de dar, de fazer ou de não
fazer; (ii) os títulos de crédito, por serem considerados títulos executivos extra-
judiciais*, segundo o artigo 585, I, do Código de Processo Civil, possuem uma
grande facilidade de cobrança do crédito em juízo e; (iii) os títulos de crédito
possuem atributos que facilitam sua negociabilidade, permitindo a circulação
do crédito que representa.
capítulo 4 • 123
A cartularidade significa que o título de crédito é um instrumento necessá-
rio para o exercício do direito, literal e autônomo, nele representado. Portanto,
ele se materializa numa cártula (papel-documento), e somente quem exibe a
cártula, no seu original, é considerado como seu possuidor, e como legítimo
titular do direito creditício pode pretender a satisfação das obrigações estabe-
lecidas no título, através do direito cambial.
Em síntese, pelo princípio da cartularidade exige que o credor do título de
crédito prove que se encontra na posse do documento para exercer o direito
nele mencionado.
A literalidade significa que o título é tido como literal, pois a sua essência
está exclusivamente vinculada ao teor do seu conteúdo, ou seja, só se leva em
consideração o que nele está contido, assim qualquer outra obrigação, embora
contida em um documento em separado, nele não se integra, produzindo-se,
desta forma, efeitos jurídicos somente os atos lançados no título de crédito.
Um bom exemplo a ser utilizado é o fato de uma pessoa pretender garantir a
dívida por aval, porém, o título não consta a assinatura deste pretenso avalista.
A garantia (aval) simplesmente não existe, pois não consta a assinatura do ga-
rantidor (avalista) no título.
Por fim, a autonomia estabelece que as obrigações estabelecidas no título
de crédito, constitui uma declaração autônoma do devedor, comprometendo-
se a pagar as obrigações nele estabelecidas, desvinculando-se, pois, do ato ou
negócio que lhe deu ensejo à sua criação. Por razoável, esta autonomia não se
opera em relação à causa de tais obrigações, mas em relação ao terceiro de boa-
fé, o qual possui um direito próprio que não lhe pode ser negado em razão das
relações existentes entre os seus antigos possuidores e o devedor.
124 • capítulo 4
– causais: estes títulos de crédito estão vinculados à sua origem, como, por
exemplo, a duplicata, a qual decorre da venda de mercadorias, considerada a
sua causa necessária.
capítulo 4 • 125
A letra de câmbio é uma espécie de título de crédito, que representa uma
declaração unilateral de vontade de uma pessoa (sacador), o qual firmará que
determinada pessoa (sacado) pagará, pura e simplesmente à outra (tomadora),
certa quantia num local e numa data.
Trata-se de um título de modelo livre ou não vinculado, de modo que, para
que a letra de câmbio tenha valor jurídico, a cártula deve conter os seguintes
elementos, conforme o artigo 1º, do anexo 1, do Decreto 57.663/66:
126 • capítulo 4
Assim, o sacador é quem dá a ordem de pagamento dirigida ao sacado para
que pague determinada quantia em favor do tomador. O saque é o ato da cria-
ção do título e, a partir disso, o tomador estará autorizado a procurar o sacado
para receber a quantia determinada na letra.
Especificamente na letra de câmbio, o saque produz um importante efei-
to, qual seja, o de vincular o sacador ao pagamento do título. A ordem, como
vimos, é para o sacado pagar; porém, se o sacado recusar a aceitar a ordem ou,
aceitando, deixa de pagar no vencimento, o tomador poderá cobrar o título do
próprio sacador.
No exemplo acima, caso Castro Alves, ao receber a ordem de José de Alencar,
a recusa ou, em aceitando, deixa de pagar Machado de Assis no vencimento,
este poderá cobrar o título do sacador, ou seja, de José de Alencar.
Como visto, o aceite na letra de câmbio não é uma obrigação, de modo que, o
sacado, ao ser procurado pelo tomador para informá-lo da ordem de pagamento,
apenas se vincula como devedor ao título se desejar, sendo ato livre de sua vontade.
O aceite será uma simples assinatura do sacado no anverso (frente) do títu-
lo. No exemplo, percebe-se claramente que Castro Alves aceitou a letra de câm-
bio, pois assinou no anverso do título.
Portanto, ao ser sacada uma letra de câmbio, haverá duas situações para o
tomador: (i) o título é aceito pelo sacado e o tomador deverá cobrar deste no ven-
cimento estipulado na cártula ou; (ii) ocorrendo a recusa do sacado, o tomador
poderá cobrar imediatamente o título do sacador. Isto porque o artigo 43, do ane-
xo 1, do Decreto 57.663/66, estabelece que o portador da letra poderá exercer o
direito de ação contra os endossantes, sacador e outros coobrigados, no venci-
mento se o pagamento não for efetuado pelo sacado ou, antes do vencimento, se
houver recusa total ou parcial de aceite, assim como a falência do sacado.
O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo a uma parte da im-
portância sacada (aceite limitativo) ou alterar as condições fixadas na cártula
(aceite modificativo). Em ambos os casos, o sacado fica obrigado nos termos
do seu aceite, mas se opera o vencimento antecipado da letra de câmbio, que
poderá ser cobrada de imediato do sacador.
Uma medida a ser adotada pelo sacador para evitar o vencimento antecipa-
do do título pela recusa de aceite é inserir a cláusula “não aceitável, sendo que
neste caso, o tomador somente poderá apresentar o título ao sacado na data do
vencimento. Do mesmo modo, é possível o sacador fixar um prazo futuro de
apresentação para aceite do sacado.
capítulo 4 • 127
Outra consideração importante é que o tomador possui o prazo de um ano
após o saque para apresentar o título para aceite do sacado e, ao ser apresenta-
do, o sacado tem o direito de pedir que lhe seja reapresentado no dia seguinte
(prazo de respiro), tempo este razoável para que faça consulta ou medite sobre
a conveniência de aceitar ou recusar o aceite.
4.2.4 O endosso
A letra de câmbio, por regra, é um título sacado com a cláusula “à ordem”. Esta
cláusula permite o titular negociar o seu crédito, transferindo-o para terceiro a
titularidade mediante endosso. Assim, endosso é ato cambiário com a finalida-
de de realizar a transferência do crédito representado por título com cláusula
“à ordem”. Na letra de câmbio, a cláusula “à ordem” já está implícita, pois so-
mente haverá impeditivo de endosso se contiver expressamente a clausula “não
à ordem”.
O credor que realiza a transferência do crédito é chamado de endossante e
o adquirente do crédito é chamado de endossatário. O endosso pode ser “em
branco” quando não identifica o endossatário e “em preto” quando o identifi-
ca. O endosso é feito através da simples assinatura do tomador no verso do títu-
lo. Aproveitando o exemplo acima de letra de câmbio, Machado de Assis, como
tomador do título, poderá transferir o seu crédito da seguinte forma:
Machado de Assis
128 • capítulo 4
identificou Carlos Drumont de Andrade como seu endossatário. Caso fosse um
endosso “em branco”, bastaria a simples assinatura de Machado de Assis no
verso da letra de câmbio.
O endosso produz dois efeitos: (i) transfere a titularidade do crédito do en-
dossante para o endossatário e (ii) vincula o endossante ao pagamento da le-
tra de câmbio, na condição de coobrigado, a não ser que o endosso tenha sido
dado com cláusula “sem garantia”.
Assim, ainda no exemplo que estamos trabalhando, caso o sacado Castro
Alves, não pague a letra de câmbio em 10 de dezembro de 2011, Carlos Drumont
de Andrade (endossatário) poderá exigir o crédito do próprio sacado, assim
como de José de Alencar (sacador) e de Machado de Assis (endossante), na con-
dição de coobrigados.
4.2.5 O aval
Para ser paga, a letra de câmbio deverá ser apresentada pelo credor ao sacado
para pagamento, no dia do vencimento ou, recaindo este num dia não-útil, no
primeiro dia útil seguinte.
Pelo efeito do princípio da cartularidade, o devedor que paga a letra de câm-
bio deve exigir que lhe seja entregue o título e, em virtude do princípio da lite-
ralidade, deve exigir que seja dado quitação na própria cártula. Quando ocorrer
o pagamento parcial, deverá ser anotado no título e este permanecerá na posse
do credor.
capítulo 4 • 129
4.2.7 O protesto
O protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a falta de aceite ou de paga-
mento de uma letra de câmbio. É ato formal de responsabilidade do portador
do título. O protesto por falta de aceite é extraído contra o sacador, que teve
recusada a sua ordem de pagamento. Já o protesto por falta de pagamento é
extraído contra o sacado, devedor principal do título.
CONEXÃO
Para conhecer a legislação que disciplina a atividade de protesto de títulos, acesse: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9492.htm.
Caso a letra de câmbio não for paga em seu vencimento, o credor poderá pro-
mover a execução judicial de seu crédito contra qualquer devedor do título. A
ação de execução deverá ser proposta:
130 • capítulo 4
I. em três anos a contar do vencimento, para a cobrança do devedor prin-
cipal e seu avalista;
II. em um ano a contar do protesto, para a cobrança dos coobrigados, ou
seja, contra o sacador, endossantes e respectivos avalistas; e
III. em seis meses a contar do pagamento, para o exercício de direito de
regresso por qualquer um dos coobrigados.
Nome:
Rio de Janeiro / RJ
capítulo 4 • 131
Quando a nota promissória é emitida, intervêm, necessariamente, duas pes-
soas: o emitente que é o devedor, e o beneficiário, que é o credor. Além destes,
sem as quais não haveria nota promissória, pode haver o avalista, que se obriga
com o emitente, solidariamente, ao pagamento do título e o endossatário.
A nota promissória está sujeita às mesmas normas aplicáveis às letras de
câmbios e, por conseqüência, os requisitos essenciais da nota promissória são
semelhantes aos da letra. São requisitos essenciais da Nota Promissória:
Cabe lembrar que, na falta de um dos requisitos supra, o título deixa de ser
nota promissória, isto é, deixa de ser um título de crédito.
O pagamento da promissória será feito no tempo indicado no próprio títu-
lo. Se não se determina o prazo para pagamento, entende-se que se trata de pro-
missória à vista. Como são aplicadas todas as disposições da letra de câmbio
à nota promissória, a prescrição é de três anos do credor contra o emitente e o
respectivo avalista e, de um ano, a ação contra o endossante.
4.2.10 O Cheque
CONEXÃO
Para maiores informações sobre o uso de cheque, acesse: http://www.febraban.org.br/ar-
quivo/servicos/dicasclientes/dicas3.asp
132 • capítulo 4
A lei que regula o cheque é a Lei nº 7.357/85, chamada Lei do Cheque. É uma
espécie de título de modelo vinculado, sendo que o cheque a ser utilizado é o
formulário que é emitido pelo próprio banco. Embora seja de natureza vincula-
da, a cártula de cheque deve conter os seguintes elementos:
capítulo 4 • 133
O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou em parte, por aval
prestado por terceiro, exceto o sacado (banco). O aval é lançado no cheque e ex-
prime-se pelas palavras ‘’por aval’’, ou fórmula equivalente, com a assinatura do
avalista. Considera-se como resultante da simples assinatura do avalista, aposta
no anverso do cheque, salvo quando se tratar da assinatura do emitente. O aval
deve indicar o avalizado. Na falta de indicação, considera-se avalizado o emitente.
O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da emissão,
no prazo de trinta dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago; e de
sessenta dias, quando emitido em outro lugar do País ou no exterior.
Durante o prazo de apresentação, o emitente pode fazer sustar o pagamen-
to, manifestando ao sacado, por escrito, oposição fundada em relevante ra-
zão de direito. Não cabe ao banco julgar da relevância da razão invocada pelo
oponente.
O emitente ou o portador podem cruzar o cheque, mediante a aposição de
dois traços paralelos no anverso do título. O cruzamento é geral se entre os dois
traços não houver nenhuma indicação ou existir apenas a indicação ‘’banco’’,
ou outra equivalente. O cruzamento é especial se entre os dois traços existir a
indicação do nome do banco.
O cheque com cruzamento geral só pode ser pago pelo sacado a banco ou a
cliente do sacado, mediante crédito em conta. O cheque com cruzamento espe-
cial só pode ser pago pelo sacado ao banco indicado, ou, se este for o sacado, a
cliente seu, mediante crédito em conta. Pode, entretanto, o banco designado
incumbir outro da cobrança.
O emitente, ainda, pode proibir que o cheque seja pago em dinheiro me-
diante a inscrição transversal, no anverso do título, da cláusula ‘’para ser cre-
ditado em conta’’, ou outra equivalente. Nesse caso, o sacado só pode proceder
a lançamento contábil (crédito em conta, transferência ou compensação), que
vale como pagamento. O depósito do cheque em conta de seu beneficiário dis-
pensa o respectivo endosso.
Prescrevem em seis meses, contados da expiração do prazo de apresenta-
ção, a ação de execução para a cobrança do cheque. Pode o portador promover
a execução do cheque contra o emitente e seu avalista e contra os endossantes e
seus avalistas, se o cheque apresentado em tempo hábil e a recusa de pagamen-
to é comprovada pelo protesto ou por declaração do sacado, escrita e datada so-
bre o cheque, com indicação do dia de apresentação, ou, ainda, por declaração
escrita e datada por câmara de compensação.
134 • capítulo 4
O credor do cheque sem fundos pode exigir do sacador a importância do
cheque não pago, somados de juros legais e correção monetária desde o dia da
apresentação, assim como as despesas que fez para o recebimento do crédito.
4.2.11 A Duplicata
capítulo 4 • 135
Observem um modelo de duplicata:
Endereço do vendedor:
Dados relativos ao CNPJ:
vendedor Inscr. Est.:
(logomarca)
Data de emissão:
VALOR DA Nº DE ORDEM DA
FATURA Nº VENCIMENTO
DUPLICATA DUPLICATA
NOME DO SACADO:
ENDEREÇO:
PRAÇA DE PAGAMENTO:
CNPJ:
INSCR. EST.:
VALOR POR
EXTENSO
Reconheço (emos) a exatição desta duplicata de VENDA MERCANTIL na importância acima
que pagarei (emos) a VENDEDOR ou à sua ordem na praça e vencimentos indicados.
Em
DATA DO ACEITE ASSINATURA DO SACADO
136 • capítulo 4
título ou em documento, em separado, com referência expressa à duplicata.
Constituirá, igualmente, prova de pagamento, total ou parcial, da duplicata, a
liquidação de cheque, a favor do estabelecimento endossatário, no qual conste,
no verso, que seu valor se destina a amortização ou liquidação da duplicata nele
caracterizada.
No pagamento da duplicata poderão ser deduzidos quaisquer créditos a favor
do devedor resultantes de devolução de mercadorias, diferenças de preço, enga-
nos, verificados, pagamentos por conta e outros motivos assemelhados, desde
que devidamente autorizados. Também é admissível reforma ou prorrogação do
prazo de vencimento, mediante declaração em separado ou nela escrita, assina-
da pelo vendedor ou endossatário, ou por representante com poderes especiais.
O pagamento da duplicata poderá ser assegurado por aval, sendo o avalista
equiparado àquele cujo nome indicar; na falta da indicação, àquele abaixo de
cuja firma lançar o comprador.
A duplicata é protestável por falta de aceite, de devolução ou de pagamento.
O protesto será tirado, conforme o caso, mediante apresentação da duplicata,
da triplicata, ou, ainda, por simples indicações do portador, na falta de devolu-
ção do título.
O protesto será tirado na praça de pagamento constante do título. O porta-
dor que não tirar o protesto da duplicata, em forma regular e dentro do prazo
de trinta dias, contado da data de seu vencimento, perderá o direito de regresso
contra os endossantes e respectivos avalistas.
A cobrança judicial de duplicata será efetuada através do processo de execu-
ção, mediante a comprovação em juízo pelo credor da existência:
capítulo 4 • 137
• contra endossante e seus avalistas, em um ano, contado da data do
protesto;
• de qualquer dos coobrigados contra os demais, em 1 um ano, contado da
data em que haja sido efetuado o pagamento do título.
CONEXÃO
Para maiores informações sobre a Lei Uniforme de Genebra acesse o site: http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D57663.htm. Sobre a Lei 7357/85 - Lei do cheque
consulte o site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7357.htm. E sobre a Lei 5474/68
- Duplicatas, consulte o site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5474.htm
ATIVIDADES
01. Qual a diferença entre publicidade enganosa e abusiva para o Código de Defesa do
Consumidor?
REFLEXÃO
As atividades empresariais exercidas pelas indústrias, comércios e pelas prestações de servi-
ços, tem como um dos principais suportes para seus negócios, o uso do crédito. Este crédito
normalmente decorre de operações de compra e venda a prazo, de empréstimos ou mesmo
pagamentos através de cheques. Para a representação formal dos referidos créditos são
utilizados documentos denominados de títulos de crédito.
Os títulos de crédito são de extrema utilidade para os negócios, pois promovem e faci-
litam a circulação de créditos e dos respectivos valores a estes inerentes, além de propiciar
segurança na circulação de valores.
138 • capítulo 4
LEITURA
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
MAMEDE, Gladson. Títulos de crédito; de acordo com o Novo Código civil Lei nº 10.406, de 10-1-
2002. São Paulo: Atlas, 2003.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
MAMEDE, Gladson. Títulos de crédito; de acordo com o Novo Código civil Lei nº 10.406, de 10-1-
2002. São Paulo: Atlas, 2003.
MARTINS, Fran. Títulos de crédito. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. v. 1.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 29. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
SANTOS, J. A. Penalva. Títulos de crédito e o Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
capítulo 4 • 139
140 • capítulo 4
5
Contratos
empresariais,
Recuperação
Judicial, Extrajudicial
e Falência da
Empresa.
Os contratos empresariais vêm ganhando destaque em nossa economia em
razão do crescente investimento de organizações, muitas, inclusive, de outros
países que enxergam o mercado brasileiro como excelente oportunidade de
crescimento com boa remuneração do capital que pretendem investir.
É importante aos gestores se preparem para gerenciarem as instituições e
atenderem esta demanda exigida pelo mercado.
Outro aspecto envolvido na gestão empresarial é a lucratividade (embo-
ra não deveria ser o único objetivo a ser atingido, pois outros valores também
devem acompanhar a lucratividade, como por exemplo, a responsabilidade
social empresarial), inegável o destaque que a ela deve ser dado no exercício
profissional.
Entretanto, nem sempre o investimento surte os resultados esperados dado
ao risco inerente a qualquer negócio. Daí a importância do profissional saber
dimensionar as ações empresariais que poderão ser desenvolvidas para a recu-
peração da saúde financeira daquele empreendimento, como por exemplo, a
recuperação judicial o que evidência a atualidade das temáticas que serão tra-
tadas neste capítulo.
OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é ministrar ao aluno conhecimentos teóricos e preliminares sobre os
contratos empresariais, recuperação judicial, extrajudicial e da falência para que, no desem-
penho de sua atividade profissional, tais conhecimentos possam habilitá-los a exercer com
domínio de conhecimento sobre o respectivo assunto, assim como desenvolver habilidade re-
lacionada à compreensão e utilização dos mecanismos jurídicos para uma gestão eficiente.
142 • capítulo 5
5.1 Princípios dos contratos
Segundo a nossa doutrina, temos alguns princípios considerados fundamen-
tais à formação dos contratos.
Apesar de existirem divergências entre autores quanto ao número de princí-
pios, podemos explicar a existência de 7 (sete) princípios considerados funda-
mentais à formação dos contratos.
capítulo 5 • 143
5.1.1.3 Contratos comutativos e aleatórios
144 • capítulo 5
Os contratos atípicos ou inominados são aqueles que não são disciplinados
expressamente pelo Código Civil, ou por lei extravagante, sendo, porém, permi-
tidos legalmente, desde que não contrariem a ordem pública, a moral e os bons
costumes, ante o princípio da autonomia da vontade (DINIZ, 2006).
Segundo o artigo 425 do Código Civil, “é lícito às partes estipular contratos
atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código”.
capítulo 5 • 145
5.1.1.7 Contratos principais e acessórios
146 • capítulo 5
Há também o contrato de execução diferida ou retardada. Neste tipo de con-
trato, a sua execução é acordada para um momento posterior à sua assinatura.
Tal ocorre na compra e venda, quando o pagamento ou a entrega da coisa é fixa-
do para outra data, que não a da realização da avença. Assim ocorre também na
venda com condição suspensiva (VENOSA, 2008).
No contrato por prazo determinado, há um prazo certo, fixo, para o seu térmi-
no, sendo que, no contrato por prazo indeterminado, não há um prazo fixo para
sua conclusão.
No contrato individual, ainda que tenhamos várias partes, as vontades são con-
sideradas individualmente, como em um contrato de compra e venda, locação,
dentre outros. No contrato coletivo, temos a vontade de um grupo de pessoas
que buscam a criação de normas, que irão presidir a criação de um contrato
individual. Temos como exemplo, os contratos coletivos de trabalho (VIANA,
2008).
O contrato definitivo tem por objeto, a criação de direitos e deveres para os con-
tratantes. Já o contrato preliminar, tem como objeto, a realização de um contra-
to definitivo (VIANA, 2008).
Segundo o artigo 481 do Código Civil, pelo contrato de compra e venda, um dos
contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-
lhe certo preço em dinheiro.
capítulo 5 • 147
Quanto à estrutura, a compra e venda é um contrato oneroso (porque ambas
as partes obtêm vantagem econômica), translativo (porque é instrumento para a
transferência e aquisição da propriedade), bilateral ou sinalagmático (prestações
correspectivas porque cada parte assume respectivamente obrigações) e geral-
mente comutativo (no momento de sua conclusão, as partes conhecem o conteúdo
de sua prestação) (VENOSA, 2004).
A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde
que as partes acordarem no objeto e no preço (art. 482, CC). Também, a compra
e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará sem efeito o
contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de concluir
contrato aleatório (art. 483, CC).
5.1.2.1 Da Fiança
Segundo o artigo 818 do Código Civil, pelo contrato de fiança, uma pessoa ga-
rante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não
a cumpra.
A fiança deve ser realizada por escrito, por instrumento público ou particu-
lar, no contrato principal, ou em separado (GONÇALVES, 2007), não se admi-
tindo, porém, qualquer interpretação extensiva.
5.1.2.2 Do mandato
148 • capítulo 5
deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação do outorgante
e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão
dos poderes conferidos (parágrafo primeiro).
Poderá ocorrer o substabelecimento, conforme disposto no artigo 655 do
Código Civil, podendo o mesmo ser com ou sem reserva de poderes.
O mandato pode ser realizado de forma expressa ou tácita, e ainda, verbal
ou escrito. Porém, não se admite mandato verbal, quando o ato deve ser cele-
brado por escrito.
Segundo o artigo 663 do Código Civil, sempre que o mandatário estipular negó-
cios expressamente em nome do mandante será este o único responsável. Po-
rém, o mandatário ficará pessoalmente obrigado, se agir no seu próprio nome,
ainda que o negócio seja de conta do mandante.
capítulo 5 • 149
O mandatário tem o direito de reter, do objeto da operação que lhe foi come-
tida, quanto baste para pagamento de tudo que lhe for devido em consequência
do mandato (art. 664, CC).
Para maiores informações sobre o Código Civil, o aluno poderá acessar o site www.pla-
nalto.gov.br, onde o mesmo encontrará na íntegra a Lei 10.406/02 (Novo Código Civil)
150 • capítulo 5
5.1.2.7 Da extinção do mandato
5.1.2.9.1 Franqueador
Em primeiro lugar, cabe ao franqueador, estabelecer a forma de instalação e
operação de sua marca e produtos, bem como tem a obrigação de prestar orien-
tações e assistências durante o prazo de duração do contrato.
capítulo 5 • 151
Essa orientação abrange: a) o contrato de engineering, pelo qual o franquea-
dor planeja e orienta a montagem do estabelecimento do franqueado; b) o ma-
nagement, relativo ao treinamento dos funcionários e à estruturação da admi-
nistração do negócio; c) o marketing, pertinente às técnicas de colocação dos
produtos ou serviços junto aos seus consumidores (GONÇALVES, 2007).
Segundo o artigo 3º da Lei n. 8.955/94, sempre que o franqueador tiver interes-
se na implantação de sistema de franquia empresarial, deverá fornecer ao interes-
sado em tornar-se franqueado uma circular de oferta de franquia, por escrito e em
linguagem clara e acessível, contendo obrigatoriamente as seguintes informações:
152 • capítulo 5
• informações claras quanto a taxas periódicas e outros valores a serem pagos
pelo franqueado ao franqueador ou a terceiros por este indicados, detalhando as res-
pectivas bases de cálculo e o que as mesmas remuneram ou o fim a que se destinam;
• relação completa de todos os franqueados, subfranqueados e subfran-
queadores da rede, bem como dos que se desligaram nos últimos doze meses,
com nome, endereço e telefone.
5.1.2.9.2 Franqueado
Quanto ao franqueado, cabe ao mesmo, arcar com os custos e despesas com a
instalação e operação do seu estabelecimento (GONÇALVES, 2007).
5.1.2.10 Características
capítulo 5 • 153
5.1.2.12 Arrendamento mercantil (leasing)
154 • capítulo 5
4. preço para opção de compra ou critério para sua fixação, quando for
estipulada esta cláusula.
5.1.2.13 Características
capítulo 5 • 155
5.1.2.16 Extinção do Arrendamento mercantil
156 • capítulo 5
Na alienação fiduciária em garantia, temos a transferência do domínio do
bem dado como garantia para o credor (fiduciário), que lhe tem a posse indire-
ta, ficando o devedor (fiduciante), com a posse direta. O domínio e posse indire-
ta da coisa funcionam como garantia do pagamento da obrigação a que acede.
Não se dá a tradição do objeto. O direito do adquirente, neste caso fiduciante,
resolve-se com a satisfação da dívida garantida (VIANA, 2008).
O bem, que se encontra na posse direta do fiduciante, é considerado uma
modalidade de garantia real, visto que, há um empréstimo e o bem é dado
como garantia do pagamento da dívida.
Segundo a Súmula 28 do Superior Tribunal de Justiça, o contrato de aliena-
ção fiduciária em garantia pode ter por objeto bem que já integrava o patrimô-
nio do devedor.
5.1.2.18 Características
Antes de vencida a dívida, o devedor, a suas expensas e risco, pode usar a coisa
segundo sua destinação, sendo obrigado, como depositário (art. 1363, CC):
• a empregar na guarda da coisa a diligência exigida por sua natureza;
• a entregá-la ao credor, se a dívida não for paga no vencimento.
capítulo 5 • 157
Não poderá o fiduciante (devedor), dispor do bem alienado, porque este não
mais lhe pertence, mas sim ao fiduciário. Tem também o fiduciante, o dever de
entregar o bem, no caso de inadimplemento da sua obrigação, sujeitando-se às
penas impostas ao depositário infiel (VIANA, 2008).
Vencida a dívida e não paga, fica o credor obrigado a vender, judicial ou ex-
trajudicialmente, a coisa a terceiros, a aplicar o preço no pagamento de seu cré-
dito, das despesas de cobrança e a entregar o saldo, se houver, ao devedor (art.
1364, CC). Quando, vendida a coisa, o produto não bastar para o pagamento da
dívida e das despesas de cobrança, continuará o devedor obrigado pelo restante
(art. 1366, CC).
Terá, porém, o fiduciante, direito ao saldo remanescente, após a venda do
bem e o pagamento das despesas, se houver.
Quanto ao fiduciário, cabe (VIANA, 2008):
a) respeitar o direito de uso regular do fiduciante;
b) restituir o domínio do bem gravado, após o pagamento do
financiamento;
c) responder por perdas e danos, quando se recusar a dar quitação;
d) exercer a posse indireta do bem e seu domínio;
e) reivindicar o bem alienado em caso de inadimplência do fiduciante.
f) Da busca e apreensão
158 • capítulo 5
5.1.2.20 Seguro
©© YULIYA BELENKOVA | DREAMSTIME.COM
capítulo 5 • 159
Não obstante, salvo disposição especial, o fato de se não ter verificado o ris-
co, em previsão do qual se faz o seguro, não exime o segurado de pagar o prêmio
(art. 764, CC).
Quanto às informações existentes no contrato de seguro, o segurado e o
segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a
mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circuns-
tâncias e declarações a ele concernentes (art. 765, CC).
Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou
omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa
do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio ven-
cido (art. 766, CC). Vale ressaltar, porém, que, neste caso, se a inexatidão ou
omissão nas declarações não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá
direito a resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do
prêmio (parágrafo único).
O segurado também perderá o direito à garantia se agravar intencionalmen-
te o risco objeto do contrato (art. 768, CC).
O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo in-
cidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de
perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé (art. 769, CC).
Quanto ao pagamento do prêmio, o segurador é obrigado a pagar em di-
nheiro o prejuízo resultante do risco assumido, salvo se convencionada a repo-
sição da coisa (art. 766, CC).
160 • capítulo 5
ou consequentes, como sejam os estragos ocasionados para evitar o sinistro,
minorar o dano, ou salvar a coisa (art. 779, CC).
Com relação ao seguro de coisas transportadas, a vigência da garantia co-
meça no momento em que são pelo transportador recebidas, cessando com a
sua entrega ao destinatário (art. 780, CC).
Não se inclui na garantia o sinistro provocado por vício intrínseco da coisa
segurada, não declarado pelo segurado (art. 784, CC). Entende-se por vício in-
trínseco o defeito próprio da coisa, que se não encontra normalmente em ou-
tras da mesma espécie (parágrafo primeiro).
Segundo o artigo 787 do Código Civil, no seguro de responsabilidade civil,
o segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado
a terceiro. Compreende a cobertura ao segurado pelas indenizações que ele
eventualmente seja obrigado a pagar por danos causados a terceiros, resul-
tantes de atos ilícitos, independentemente de ter ou não agido culposamente
(GONÇALVES, 2007).
capítulo 5 • 161
Vale destacar que, em qualquer hipótese, no seguro individual, o segurador
não terá ação para cobrar o prêmio vencido, cuja falta de pagamento, nos pra-
zos previstos, acarretará, conforme se estipular, a resolução do contrato com a
restituição da reserva já formada ou a redução do capital garantido proporcio-
nalmente ao prêmio pago (parágrafo único).
No seguro de vida para o caso de morte, é lícito estipular-se um prazo de
carência, durante o qual o segurador não responde pela ocorrência do sinistro
(art. 797, CC). No caso deste artigo, o segurador é obrigado a devolver ao benefi-
ciário o montante da reserva técnica já formada (parágrafo único).
Vale destacar que, o beneficiário não tem direito ao capital estipulado quan-
do o segurado se suicida nos primeiros dois anos de vigência inicial do contrato,
sendo, porém, devido o capital, em período superior a dois anos (art. 798, CC).
Neste caso, em relação ao seguro de acidentes pessoais, o suicídio ou mes-
mo a tentativa são riscos excluídos. Se o segurado tenta se suicidar, isso não é
considerado acidente, porque, não é evento externo à vontade dele. Por isso, o
segurado no seguro de acidentes pessoais não terá direito ao capital se sobre-
viver inválido; nem seus beneficiários, caso venha a falecer (COELHO, 2009).
O segurador não pode eximir-se ao pagamento do seguro, ainda que da apó-
lice conste a restrição, se a morte ou a incapacidade do segurado provier da uti-
lização de meio de transporte mais arriscado, da prestação de serviço militar, da
prática de esporte, ou de atos de humanidade em auxílio de outrem (art. 799, CC).
No seguro de vida o estipulante pode escolher livremente os beneficiários, pre-
terindo, se desejar, os próprios parentes em favor de terceiros sem qualquer pa-
rentesco, como pode também, não indicar qualquer pessoa (GONÇALVES, 2007).
Na falta, porém, de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se por qualquer
motivo não prevalecer a que for feita, o capital segurado será pago por metade
ao cônjuge não separado judicialmente e o restante aos herdeiros do segurado,
obedecida a ordem da vocação hereditária (art. 792, CC).
162 • capítulo 5
empresariais é bom registrar que há o debate acirrado para definir se os con-
tratos empresariais merecem uma teoria própria ou se submetem a teoria dos
contratos em geral. Não vamos nos alongar nesta discussão, porque é descabi-
da para os objetivos colimados neste trabalho.
Dito isso, passaremos a considerar breves noções além dos contratos em-
presariais já vistos, outras modalidades, sem a pretensão de querer levar a te-
mática a sua exaustão.
instrumento pelo qual uma das partes (representante comercial autônomo) se obriga, em
localidade delimitada, a obter pedidos de compra e venda de mercadorias fabricadas ou
comercializadas pela outra parte (representado ou preponente). Na representação comer-
cial, não há, em regra, vínculo societário e/ou empregatício entre o representado e o repre-
sentante comercial autônomo, sendo esta a principal característica desse tipo de contrato.
capítulo 5 • 163
5.1.3.3 Contrato de Distribuição
Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual e sem vínculos
de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a
realização de certos negócios, em zona determinada, caracterizando-se a distribuição
quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada. Parágrafo único. O
proponente pode conferir poderes ao agente para que este o represente na conclusão
dos contratos
O contrato de mutuo financeiro tem a sua previsão no artigo 586 do Código Ci-
vil Brasileiro, o qual prescreve:
164 • capítulo 5
No mutuo há a transferência efetiva da coisa fungível ( que pode ser substi-
tuída por outra da mesma espécie e em mesma quantidade) a ser restituída ao
mutuante na mesma quantidade e espécie a qual recebeu ( Nascimento, 2014).
capítulo 5 • 165
Logo em sua introdução o legislador preocupou-se em esclarecer quem es-
taria fora do seu alcance:
A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise eco-
nômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do
emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a pre-
servação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.”
166 • capítulo 5
Outrora havia instituto semelhante que procurava a plena recuperação das nossas em-
presas denominado por concordata, cuja legislação veio a ser revogada e sendo suce-
dida pelo instituto da recuperação judicial.
capítulo 5 • 167
§ 1o Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua subs-
tituição somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da
respectiva garantia. § 2o Nos créditos em moeda estrangeira, a variação cambial será
conservada como parâmetro de indexação da correspondente obrigação e só poderá
ser afastada se o credor titular do respectivo crédito aprovar expressamente previsão
diversa no plano de recuperação judicial.”
168 • capítulo 5
Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regu-
larmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos,
cumulativamente: I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença
transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; II – não ter, há menos de
5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; III – não ter, há menos de 8
(oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que
trata a Seção V deste Capítulo; IV – não ter sido condenado ou não ter, como adminis-
trador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta
Lei. § 1o A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente,
herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente. § 2o Tratando-se de exercí-
cio de atividade rural por pessoa jurídica, admite-se a comprovação do prazo estabelecido
no caput deste artigo por meio da Declaração de Informações Econômico-fiscais da Pes-
soa Jurídica - DIPJ que tenha sido entregue tempestivamente.
capítulo 5 • 169
5.3 Falência
Ocorre a falência quando o passivo da empresa é muito maior se comparado
ao seu ativo, e ainda, a preocupação necessária em assegurar condições e trata-
mento de igualdade entre os credores. É a conclusão que se extrai do magistério
de Mamede (2009, p. 472):
Quando não é possível manter a empresa, pois o seu passivo (as suas dívidas) supera - e
muito, normalmente - o seu ativo ( os seus bens e créditos), coloca-se um problema: com
o pouco que se tem, em contraste com o volume do que se deve, o que fazer? (...) Como se
não bastasse o problema de haver mais dívidas do que dinheiro para pagar, outros desafios
específicos decorrem dessa desproporção. Não se poderia permitir que os que fossem
mais ágeis na cobrança recebessem tudo e os que fossem mais lentos não recebessem
nada; se assim fosse, quem tem créditos vencidos levaria vantagem, sobre quem tem crédi-
tos por vencer ou que ainda precisa ver seus direitos reconhecidos pelo Judiciário.
Inadimplência injustificada: será decretada a falência do devedor que, sem relevante ra-
zão de direito, não paga no vencimento, obrigação liquida materializada em título ou títulos
executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários mínimos na data
do pedido de falência. Permite-se que credores diversos se reúnam em litisconsórcio a
fim de perfazer tal limite mínimo. Execução frustrada: o empresário ou sociedade empre-
sária que, executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia
à penhora bens suficientes dentro do prazo legal, terá sua falência decretada. Atos de
falência: há um rol de atos que, se forem praticados pelo devedor empresário, exceto se
fizerem parte do plano de recuperação judicial, dão margem ao pedido de falência.
170 • capítulo 5
a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou
fraudulento para realizar pagamentos;
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamen-
tos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de
seu ativo a terceiro, credor ou não;
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos
os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;
d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a
legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com
bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;
f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pa-
gar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do
local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recupera-
ção judicial.”
ATIVIDADES
01. Qual é a diferença entre a recuperação judicial e a recuperação extrajudicial?
REFLEXÃO
As atividades empresariais exercidas pela indústria, comércio e prestação de serviço têm
como principal suporte os contratos empresariais, tratando-se de um instituto muito pre-
sente na vida dos futuros gestores e que merecem detida atenção em qualquer cotidiano
profissional, principalmente, as suas novas modalidades (franquias, consórcios, etc...).
Por outro lado, a atividade empresarial é sempre de risco e em algumas circunstâncias
tem o amparo do Poder Público dada a sua inegável função social (maiores empregadores,
contribuintes e responsáveis pela produção de riqueza do País).
capítulo 5 • 171
Cada vez mais se espera do gestor preparo para lidar com circunstâncias inesperadas
desenvolvendo ações que busquem alternativas para recuperação da saúde financeira do
empreendimento - daí o papel da recuperação judicial, evitando-se o caminho tortuoso da
falência que reproduz efeitos danosos na vida de todos os atores envolvidos.
LEITURA
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
MAMEDE, Gladson. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2009.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 8 ed. São Paulo: Atlas, 2008, p. 419.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
MAMEDE, Gladson. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2009.
NASCIMENTO, João Pedro Barroso do . Acesso ao sitio em 13/02/2014: https://direitorio.fgv.br/
sites/direitorio.fgv.br/files/u100/contratos_empresariais_2014-2.pdf
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 29. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. v.
GABARITO
Capítulo 1
01. O Direito pode ser conceituado como um sistema de normas ou regras jurídicas que
traça aos homens determinadas formas de comportamento, conferindo-lhes possibilidades
de agir de acordo com estas normas.
02. O Direito Público consiste em um conjunto de normas referentes à organização do Estado.
São de direito público aquelas normas e atuações em que o Estado ou entidades públicas se
encontram presentes como tais, ou seja, exercendo seu poder. Do mesmo modo, as normas
de direito público podem regular ações dentro de um mesmo país, ou as relações do país com
indivíduos. Assim, o que caracteriza essas normas é a especial presença do poder estatal. Em
contrapartida, o Direito Privado representa as normas que regulam as relações entre pessoas.
Consiste em um conjunto de normas que envolvem os particulares, e as relações entre si.
172 • capítulo 5
03. Direito financeiro, em síntese, dispõe de um conjunto de normas referentes a utilização
do dinheiro público, ou seja, a atividade financeira do Estado. Direito Econômico é considera-
do um ramo do direito público, que dispõe sobre um conjunto de normas referentes à inter-
venção do Estado na economia. Direito Tributário, pode ser considerado como um conjunto
de princípios e normas, referentes à instituição, arrecadação e fiscalização dos tributos.
Capítulo 2
01. c
02. a
03. d
Capítulo 3
01. c
02. a
03. d
04. a
Capítulo 4
capítulo 5 • 173
Capítulo 5
174 • capítulo 5
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 175
ANOTAÇÕES
176 • capítulo 5