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Direito Comercial - Capa.

pdf 1 28/05/2015 12:21:04

1ª edição
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Direito Comercial
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DIREITO COMERCIAL

autor
GEORGE WILTON TOLEDO

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2015
Conselho editorial  solange moura; roberto paes; gladis linhares; karen bortoloti;
jessamine thaize sartorello salvini

Autor do original  george wilton toledo

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  gladis linhares

Coordenação de produção EaD  karen fernanda bortoloti

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  george wilton toledo

Imagem de capa  vladek | dreamstime.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

T649d Toledo, George


Direito comercial / George Toledo
Rio de Janeiro : SESES, 2015.
176 p. : il.

isbn: 978-85-60923-53-3

1. Sociedade empresarial. 2. Contratos empresariais. 3. Falência e recuperação


judicial. 4. Título de crédito e relação de consumo. I. SESES. II. Estácio.
cdd 346.07

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 11

1. O Direito e a Empresa 13
Objetivos 14
1.1  A moral e o Direito. Teoria dos Círculos Concêntricos.
Direito Objetivo e Direito Subjetivo. 15
1.1.1  A organização do Estado e os Ramos de
Direito Público e do Direito Privado 16
1.1.2  O ordenamento Jurídico e as Fontes do Direito 17
1.1.3  Integração da Norma Jurídica 19
1.1.3.1 Analogia 20
1.1.3.2  Equidade 20
1.1.3.3  Princípios gerais do direito 21
1.1.4  Ramos do Direito 21
1.1.4.1  Direito constitucional e administrativo 22
1.1.4.2  Direito econômico, financeiro e tributário 24
1.1.4.3  Direito penal e processual 26
1.1.4.4  Direito da seguridade social 28
1.1.4.5  Direito Civil 29
1.1.4.6  Direito do trabalho 29
1.2  Direito Empresarial ou Direito Comercial? 30
1.2.1  Teoria da Empresa e Conceito de Empresário 31
1.2.2  Obrigações do Empresário 32
1.2.3  Pressupostos para atividade regular do empresário 32
1.2.4  Escrituração dos Livros Contábeis 34
1.2.5  O Código Civil Brasileiro e as atividades excluídas
do contexto empresarial 36
Atividades 37
Reflexão 37
Referências bibliográficas 38
2. Estabelecimento Empresarial, Nome Empresarial,
Personalidade Jurídica. Direito Societário, dos
Atos Constitutivos da Sociedade e dos Agentes
Societários 39

Objetivos 40
2.1  Estabelecimento empresarial e a atividade da empresa 41
2.1.1  Nome Empresarial 42
2.1.2  Personalidade Jurídica 42
2.1.2.1  Dos direitos da personalidade 43
2.1.3  Pessoa Física e Pessoa Jurídica 44
2.1.4  As empresas e o problema da personalidade jurídica 46
2.1.5  Estrutura do direito societário no sistema jurídico brasileiro 48
2.1.5.1  Os requisitos de validade 48
2.1.5.2  Os elementos específicos 49
2.1.5.3  As cláusulas contratuais 49
2.1.5.4  A forma 49
2.2  Atribuições dos Sócios 50
2.2.1  Participação nos lucros e nas perdas 50
2.2.2  Atribuições dos Administradores da Sociedade 51
2.2.3  Elementos de validade do contrato social 52
2.2.3.1  A pluralidade de sócios 53
2.2.3.2  A constituição de capital social 53
2.2.4  Diferença entre sócio e administrador da sociedade 54
2.2.5  Responsabilidade do sócio e do administrador. 55
2.2.5.1  Da administração da sociedade 56
2.2.6  Direitos e deveres dos sócios 56
2.2.6.1  Os direitos patrimoniais 57
2.2.6.2  Os direitos políticos 57
2.2.6.3  Direito de fiscalização 58
2.2.6.4  Direito de retirada 59
2.2.6.5  Direito de preferência 59
2.2.6.6  Responsabilidade do sócio e do administrador. 59
Atividades 60
Reflexão 61
Referências bibliográficas 62
3. Das sociedades Empresariais:
A Sociedade Limitada e a Sociedade Anônima. 63

Objetivos 64
3.1  As sociedades empresariais e o Código Civil de 2002 65
3.1.1  Efeitos da personalização das sociedades 66
3.1.2  Início e término da personalização das sociedades 66
3.1.3  As sociedades personificadas e não personificadas 68
3.1.4  As sociedades simples 69
3.1.5  As sociedades não personificadas: comum e
em conta de participação 69
3.1.6  As sociedades quanto a sua forma de constituição 71
3.2  A sociedade limitada e a sociedade anônima 72
3.2.1  Órgãos da Sociedade Limitada 73
3.2.1.1  As obrigações dos sócios da sociedade limitada 75
3.2.1.1.1  Dever de integralização do capital social 75
3.2.1.1.2  Responsabilidade subsidiária dos sócios 77
3.2.1.1.3  Dever de lealdade 77
3.2.1.2  Participação dos sócios na sociedade limitada 78
3.2.1.2.1  Participação nos resultados sociais 78
3.2.1.2.2  Fiscalização da gestão da sociedade 79
3.2.1.2.3  Contribuição para as deliberações sociais 79
3.2.1.2.4  Retirada da sociedade 80
3.2.1.2.5  Direito de preferência 80
3.2.1.3  Das deliberações dos sócios 80
3.2.1.4  Da administração da sociedade limitada 84
3.2.2  Órgãos da Sociedade Anônima 85
3.2.2.1  A assembleia-geral 86
3.2.2.2  O conselho de administração 87
3.2.2.3  Da administração da sociedade anônima 89
3.2.2.4  Do conselho fiscal da sociedade anônima 90
Atividades 92
Reflexão 93
Referências bibliográficas 93
4. Relações de Consumo e Títulos de Crédito 95

Objetivos 97
4.1  Conceito de consumidor 98
4.1.1  Conceito de fornecedor, produto e serviço 98
4.1.2  Política nacional das relações de consumo 99
4.1.2.1  Proteção à vida, saúde e segurança 99
4.1.2.2  Educação e divulgação sobre o
consumo adequado dos produtos 100
4.1.2.3  Direito de informação 100
4.1.2.4  Publicidade enganosa e abusiva 101
4.1.2.5  Cláusulas contratuais abusivas 101
4.1.2.6  Direito à indenização 102
4.1.2.7  Acesso à Justiça 102
4.1.2.8  Inversão do ônus da prova 103
4.1.2.9  Prestação dos serviços públicos 103
4.1.3  Responsabilidade pelo fato do produto e do serviço 103
4.1.4  Responsabilidade por vício do produto 105
4.1.5  Responsabilidade pelo vício do serviço 108
4.1.6  Da decadência e prescrição 108
4.1.7  Prescrição quanto à reparação de danos 109
4.1.8  Desconsideração da personalidade jurídica 109
4.1.9  Das práticas comerciais 110
4.1.10  Da oferta 110
4.1.10.1  Requisitos da oferta 112
4.1.10.2  Da responsabilidade do fornecedor 112
4.1.10.3  Da oferta de componentes e
peças de reposição de produtos importados 112
4.1.10.4  Da oferta ou venda por telefone ou reembolso postal 113
4.1.10.5  Da responsabilidade solidária 114
4.1.10.6  Da recusa do cumprimento à oferta,
apresentação ou publicidade 114
4.1.11  Da oferta e da publicidade e
as cláusulas abusivas no contrato de consumo 115
4.1.11.1  Efeitos da publicidade enganosa ou abusiva 116
4.1.11.2  Das cláusulas abusivas 117
4.1.11.3  Renúncia ao direito de indenização por
benfeitoras necessárias 117
4.1.12  Práticas abusivas 118
4.1.12.1  Venda casada 118
4.1.12.2  Recusa de atendimento às demandas 119
4.1.12.3  Entrega de produto ou serviço sem solicitação prévia 119
4.1.12.4  Abuso diante da fraqueza e ignorância do consumidor 120
4.1.12.5  Vantagem excessiva 120
4.1.12.6  Serviços sem orçamento e autorização do consumidor 121
4.1.12.7  Informação depreciativa 121
4.1.12.8  Da Cobrança de dívidas 122
4.2  Atributos dos títulos de créditos 122
4.2.1  Princípios gerais dos títulos de crédito 123
4.2.2  Classificação dos títulos de crédito: 124
4.2.3  Letra de Câmbio 125
4.2.4  O endosso 128
4.2.5  O aval 129
4.2.6  O pagamento da letra de câmbio 129
4.2.7  O protesto 130
4.2.8  A ação cambial 130
4.2.9  A Nota Promissória 131
4.2.10  O Cheque 132
4.2.11  A Duplicata 135
Atividades 138
Reflexão 138
Referências bibliográficas 139

5. Contratos empresariais, Recuperação Judicial,


Extrajudicial e Falência da Empresa. 141

Objetivos 142
5.1  Princípios dos contratos 143
5.1.1  Classificação dos contratos empresariais 143
5.1.1.1  Contratos Bilaterais ou Unilaterais 143
5.1.1.2  Contratos gratuitos e onerosos 143

7
5.1.1.3  Contratos comutativos e aleatórios 144
5.1.1.4  Contratos típicos e atípicos – nominados e inominados 144
5.1.1.5  Contratos consensuais e reais 145
5.1.1.6  Contratos solenes e não solenes 145
5.1.1.7  Contratos principais e acessórios 146
5.1.1.8  Contrato de execução imediata ou continuada 146
5.1.1.9  Contrato por prazo determinado ou indeterminado 147
5.1.1.10  Contratos individuais e coletivos 147
5.1.1.11  Contrato definitivo e preliminar 147
5.1.2  Modalidades dos contratos empresariais 147
5.1.2.1  Da Fiança 148
5.1.2.2  Do mandato 148
5.1.2.3  Características do Mandato 149
5.1.2.4  Da responsabilidade das partes 149
5.1.2.5  Das obrigações do mandatário 150
5.1.2.6  Das obrigações do mandante 150
5.1.2.7  Da extinção do mandato 151
5.1.2.8  Franquia ou “Franchising” 151
5.1.2.9  Obrigações das partes 151
5.1.2.9.1 Franqueador 151
5.1.2.9.2 Franqueado 153
5.1.2.10 Características 153
5.1.2.11  Extinção da Franquia 153
5.1.2.12  Arrendamento mercantil (leasing) 154
5.1.2.13 Características 155
5.1.2.14  Espécies de arrendamento mercantil 155
5.1.2.15  Obrigação das partes 155
5.1.2.16  Extinção do Arrendamento mercantil 156
5.1.2.17  Alienação Fiduciária 156
5.1.2.18 Características 157
5.1.2.19  Direitos e obrigações das partes 157
5.1.2.20  Seguro 159
5.1.2.21  Dos riscos 159
5.1.2.22  Espécies de seguro 160
5.1.2.23  Seguro de dano 160
5.1.2.24  Seguro de pessoa 161

8
5.1.3  Outros Contratos Empresariais 162
5.1.3.1  Compra e Venda Mercantil 163
5.1.3.2  Contrato de agência ou de representação comercial 163
5.1.3.3  Contrato de Distribuição 164
5.1.3.4  Contrato de Comissão Mercantil 164
5.1.3.5  Contrato de Mútuo 164
5.2  Recuperação judicial 165
5.2.1  Atores envolvidos no processo de recuperação judicial 168
5.2.2  Recuperação extrajudicial 169
5.3  Falência 170
Atividades 171
Reflexão 171
Referências bibliográficas 172

Gabarito 172

9
10
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),

O Direito é único, porém estudado em diversas disciplinas que se formam de


acordo com os fatos sociais que as envolvem. Importante dizer que tais fatos so-
ciais, para adentrarem para o universo do Direito, necessitam ter por característica
o fato de possuírem uma importância para a sociedade.
Por exemplo, se voltarmos cem anos da história de nosso país, dificilmente va-
mos encontrar legislação que trate de Direito Ambiental. Certamente, por que as
questões ambientais não eram relevantes à sociedade do início do século XX. No en-
tanto, a cada dia a preocupação com a preservação do meio ambiente ganha maior
proporção, fazendo com que o Direito se ocupe com este fato social.
Da mesma maneira, as empresas possuem um importante significado na atuali-
dade. São as maiores empregadoras, as maiores contribuintes para o fisco, a ativida-
de que produz todos os bens e serviços que necessitamos consumir, sem contar que
representam o motor da economia, fazendo circular riquezas em nossa sociedade.
Não poderia ser diferente! O Direito também busca regular as atividades em-
presariais, nos seus mais diversos aspectos, como as sociedades empresárias, os
contratos empresariais, os títulos de crédito, as marcas e patentes e até mesmo as
questões que envolvem as empresas em crise, ou seja, os processos de falência e de
recuperação de empresa.
Dentre tais temas, elegemos o estudo das sociedades empresariais e das rela-
ções de consumo para serem objetos de nossos estudos. É fato que das microem-
presas às multinacionais, as mesmas se estruturam juridicamente na forma de
sociedades empresárias, seja na forma de uma limitada ou na qualidade de uma
sociedade anônima. Além disso, se mostra imprescindível que o aluno compreen-
da o conceito de relação de consumo, os direitos do consumidor, frente às práticas
abusivas cometidas pelo fornecedor e, os aspectos referentes à oferta de produtos e
serviços previstos no Código de Defesa do Consumidor.

Bons estudos!

11
1
O Direito e a
Empresa
Este primeiro capítulo intitulado “O Direito e a Empresa” foi dedicado para cui-
dar de conceitos imprescindíveis para aqueles que pretendem estudar o Direito
Comercial. Nele vamos compreender o conceito de direito e os ramos que com-
põem as ciências jurídicas.
Não se trata de um capítulo eminentemente teórico, pois são fundamentos
básicos para entendermos a disciplina e que serão aliados a conteúdos práticos
também.
Antes de estudarmos especificamente o Direito Comercial e suas principais
normas, objetivo inclusive desta disciplina, é primordial neste capítulo se apo-
derar do conceito de direito e os seus ramos inerentes.
Também abordaremos neste capítulo o conceito de empresário segundo o
Código Civil Brasileiro que, tratou de dedicar um artigo específico buscando
a sua conceituação daí a relevância deste instituto e também de sua conceitu-
ação. Distinguiremos duas figuras que exercem as atividades empresariais: o
empresário individual e a sociedade empresária. Por último abordaremos as
obrigações-gerais dos empresários, que são a inscrição de sua atividade na
Junta Comercial e a realização da escrituração mercantil e dos levantamentos
contábeis.

OBJETIVOS
Por meio do estudo do presente capítulo, você estará apto a compreender os seguintes con-
ceitos:

•  Ordem Jurídica Vigente;


•  Resolução de conflitos quando aparentemente inexistem normas jurídicas;
•  Ramos de Direito Público e de Direito Privado e suas implicações nas relações jurídicas;

14 • capítulo 1
1.1  A moral e o Direito. Teoria dos Círculos
Concêntricos. Direito Objetivo e Direito Subjetivo.

O Direito se distingue da Moral em razão da coercibilidade, ou seja, a prerroga-


tiva que o Estado dispõe de empregar a força necessária para assegurar o cum-
primento de uma determinada norma jurídica.
Já a norma moral é incompatível com o emprego da força. Por exemplo, se
um seguidor de uma determinada religião deixa de comparecer aos seus cultos
ele não poderá sofrer nenhum tipo de punição previsto na ordem jurídica vi-
gente – apenas aquela prevista pelo seu grupo religioso, porém, se este mesmo
indivíduo matar alguém, lhe será imposto restrição ao seu direito de ir e vir em
decorrência de uma sanção penal pela prática que incorreu (COTRIM, 2008).
Portanto, podemos dizer que as normas morais são mais abrangentes do
que as normas do direito, sendo o seu principal traço distintivo - a obrigato-
riedade das normas jurídicas face as suas respectivas sanções se comparadas
com as normas morais. As figuras abaixo nos auxiliam a compreender melhor a
relação entre o Direito e a Moral.

Moral
Direito

Moral e Direito

Todavia, alguns juristas observam que não são todas as normas que pos-
suem conteúdo moral, a exemplo das normas técnicas que determinam a velo-
cidade máxima a transitar numa via pública, a uma velocidade máxima permiti-
da de 60 km. Essa norma poderia instituir como velocidade máxima permitida
80 km e não há nelas conteúdo moral inserido.

capítulo 1 • 15
Com efeito, concluem que o Direito possui normas morais e normas que es-
tão desprovidas de conteúdo moral, sendo que os círculos abaixo representam
melhor a relação existente entre o Direito e a Moral.

O Direito se submete também a outras duas classificações – Direito objeti-


vo e Direito subjetivo. O direito objetivo se refere ao agrupamento de normas
que devem ser observadas por todos aqueles que vivem em sociedade, ou seja,
são as normas de um modo geral e que uma vez violadas geram consequências
jurídicas.
Ex: as normas que compõem o Código Civil Brasileiro.
O direito subjetivo, por sua vez, são as normas que o indivíduo deverá invo-
car para defender seus interesses segundo e como determina a Lei.
Ex: As normas que conduzem os processos a exemplo do Código de Processo
Civil.

1.1.1  A organização do Estado e os Ramos de Direito Público e do


Direito Privado

O direito Nacional pode ser dividido em Público e Privado. O primeiro retrata


uma organização do Estado, regida por normas de ordem pública, ou seja, nor-
mas que não podem ser alteradas pela simples vontade das partes. Temos, por
exemplo, que a obrigação de pagar determinado tributo é considerada norma
de ordem pública.
As normas de ordem privada ou do direito privado envolvem as relações en-
tre particulares, por exemplo, normas contratuais oriundas da manifestação
da vontade dos interessados. Assim, o Direito Privado é o que diz respeito aos
interesses dos cidadãos no relacionamento recíproco e às normas contratuais
utilizadas entre particulares, manifestando a vontade das partes e vigorando
como lei entre os contratantes.

16 • capítulo 1
1.1.2  O ordenamento Jurídico e as Fontes do Direito

Antes de estudarmos especificamente o Novo Código Civil, é de suma impor-


tância, analisarmos, as fontes do direito.
A expressão “fonte” tem o signi-
©© TOM SCHMUCKER | DREAMSTIME.COM

ficado de nascente, ou seja, o local


onde brota algo. Então, a utilização
da expressão “fontes do direito”,
nada mais é do que a determinação
da origem do direito.
As fontes podem ser classifica-
das em diretas e indiretas. As fontes
diretas ou imediatas enquadram-se
a lei e o costume. Já as fontes indire-
tas ou mediatas elencam-se a analo-
gia e os princípios gerais do direito.
Abaixo da Constituição, existem
as leis ordinárias, como: o Código
Civil, que trata de direitos e obriga-
ções, de contratos, de regras sobre
família e sucessões, sobre coisas; leis sobre organização de sociedades, como a
Lei das Sociedades por Ações (Lei n. 6.404/76); sobre benefícios da Previdência
Social (Lei n. 8.213/91), etc. (MARTINS, 2008).

Qual o conceito de Lei?


Lei em sentido formal é a norma emanada do Estado, e tem caráter imperativo. Lei em
sentido material é a disposição imperativa, que tem caráter geral, contendo regra de
direito positivo.

Quanto à natureza, as leis podem ser classificadas em materiais e instru-


mentais ou processuais. As leis materiais regulam os direitos das pessoas,
como o direito ao casamento, à filiação, ao contrato de trabalho e aos direitos
trabalhistas, etc. As leis instrumentais ou processuais são o meio que a pessoa
tem para fazer valer seu direito material, que são os Códigos de Processo Civil
(CPC), Código de Processo Penal (CPP) e outras normas (MARTINS, 2008).

capítulo 1 • 17
©© TOM SCHMUCKER | DREAMSTIME.COM
©© ANDREY BURMAKIN | DREAMSTIME.COM

O costume é a norma jurídica que não


faz parte da legislação. É criado esponta-
neamente pela sociedade, sendo produ-
zido por uma prática geral, constante e
reiterada. A aplicação do costume varia
conforme o ramo do Direito. Em Direito
Comercial, o costume tem considerável
importância, já no Direito Penal, o cos-
tume, com força de lei, é radicalmente
proibido. Segundo o Código Penal, não
há crime sem lei anterior que o defina
(COTRIM, 2008).
Por outro lado, a doutrina, a jurisprudência e a equidade são consideradas
fontes auxiliares de interpretação do direito.
A doutrina – a lição dos doutos – é fonte secundária do Direito. De forma
ampla, a investigação doutrinária exerce, atualmente, sua ação na elaboração
do Direito Positivo da seguinte maneira (PINHO, NASCIMENTO, 2004):

•  como base justificativa e interpretativa do texto legal;


•  como fonte supletiva das deficiências e omissões do texto legal;

18 • capítulo 1
•  como solução das questões para as quais a lei não fornece elementos;
•  como repositório de princípios que não podem ser submetidos à lei escri-
ta pela própria natureza.

A jurisprudência consiste no modo pelo qual os tribunais se orientam na solução


das diferentes questões. Expressa-se por meio das sentenças e acórdãos proferidos
nas demandas. Essas decisões, quando tomadas em determinado sentido, passam
a ser invocadas como precedentes a serem seguidos (PINHO, NASCIMENTO, 2004).
Já a equidade é o processo por meio do qual o intérprete/juiz pode solucio-
nar o caso utilizando-se de seus valores de Justiça.
Há na doutrina nacional quem adote a classificação de fonte material do
direito, ou seja, é representado pelas relações da própria sociedade que os for-
nece alguns elementos como: materiais (psicológico, filosófico) e históricos
(retrata a conduta do homem no tempo).
Enfim, a teoria das fontes do direito é um instrumento de suma importância
para regular o aparecimento contínuo e plural das normas de comportamento.

1.1.3  Integração da Norma Jurídica

O processo de integração das normas jurídicas está relacionado à ideia de que


é impossível que o legislador preveja, por mais cauteloso que ele seja, todos os
fatos e acontecimentos da vida real que devem merecer proteção do Direito.
É possível que ao tentar solucionar determinado caso, o juiz não encon-
tre no ordenamento jurídico lei específica que possibilite pôr fim ao conflito.
Neste caso, deverá o magistrado se valer dos meios de integração da norma jurí-
dica, quais sejam: a analogia, a equidade e os princípios gerais do direito.
As lacunas podem ser de várias espécies: voluntárias, quando a inexistência
de normas é proposital pelo legislador, e involuntárias, quando o legislador efe-
tivamente não previu a situação. Por vezes, essa omissão é absolutamente clara
e manifesta; às vezes, o sistema apresenta normas que apenas aparentemente
se aplicam. Em outras oportunidades, a integração faz-se necessária porque as
disposições legais se chocam, são contraditórias, ocorrendo as chamadas anti-
nomias (VENOSA, 2008).

capítulo 1 • 19
1.1.3.1  Analogia

Analogia consiste na utilização de uma norma para resolver um caso semelhan-


te àquele para o qual foi especificamente criada.
A Analogia não é um meio de interpretação da norma jurídica, mas de pre-
encher as lacunas deixadas pelo legislador. Consiste na utilização de uma regra
semelhante para o caso em exame (MARTINS, 2008).

1.1.3.2  Equidade

A equidade é o processo por meio do qual o intérprete/juiz pode solucionar o


caso utilizando-se de seus valores de Justiça.
É um poder de que dispõe o juiz para decidir o caso concreto dentro dos
mais elevados princípios jurídicos e morais, ditando às vezes decisões que se-
jam contrárias a todo o Direito formalmente constituído, mas intrinsecamente
justas e recomendadas pelo senso comum. Aristóteles observa o fato de que as
normas jurídicas são necessariamente gerais e as circunstâncias de cada caso
são particulares; mostra que a possibilidade de estabelecer previamente nor-
mas adequadas a todas as futuras variações e hipóteses da prática excede a ca-
pacidade de inteligência humana. Em consequência, a rígida aplicação fria do
texto legal poderá em determinado caso conduzir a uma situação que não é a
desejada. Quando isto ocorrer, o magistrado deverá exercitar o poder de decidir
pela equidade, se a lei positiva o autorizar a fazer uso desse processo de integra-
ção (PINHO, NASCIMENTO, 2004).
©© RAYMOND SHUMELIOV | DREAMSTIME.COM

20 • capítulo 1
1.1.3.3  Princípios gerais do direito

São as regras oriundas da lógica natural das coisas e do ser humano, as quais
acabam por auxiliar o juiz no momento de decidir determinado caso concreto.
Temos como princípios gerais do direito:
I. o princípio do respeito à dignidade da pessoa humana, hoje encontrado
até mesmo na Constituição (art. 1º, III), como um dos objetivos da República
Federativa do Brasil, como um Estado Democrático de Direito (MARTINS,
2008);
II. segundo o artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal, “são invioláveis
a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o di-
reito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”;
III. princípio da função social, que consiste em regular a vida humana na
sociedade estabelecendo regras de conduta que devem ser respeitadas por to-
dos (MARTINS, 2008);
IV. princípio da boa-fé, que pressupõe lealdade entre as partes em uma re-
lação jurídica;
V. princípio da segurança jurídica, que envolve a necessidade da manu-
tenção das relações jurídicas (MARTINS, 2008);
VI. princípio do contraditório e da ampla defesa, que consiste no direito,
de ambas as partes, em um processo judicial, serem ouvidas e se defenderem,
com todos os meios de prova em direito admitidos.
O juiz por força de seu dever de imparcialidade coloca-se entre as partes,
mas equidistantes delas: ouvindo uma, não pode deixar de ouvir a outra; so-
mente assim se dará a ambas a possibilidade de expor suas razões, de apresen-
tar suas provas, de influir sobre o vencimento do juiz. Somente pela soma da
parcialidade das partes (uma representando a tese e a outra, a antítese) o juiz
pode corporificar a síntese, em um processo dialético (DINAMARCO, 2008).

1.1.4  Ramos do Direito

Veremos que o Direito Público pode ser dividido da seguinte forma: Direito
Constitucional, Administrativo, Econômico, Financeiro, Tributário, Da Seguri-
dade Social e Processual (Trabalhista, Civil, Penal).

capítulo 1 • 21
1.1.4.1  Direito constitucional e administrativo

O direito constitucional pode ser compreendido como um ramo do direito


público que estuda as regras estruturais do Estado, relativas à organização po-
lítico-estatal, definindo o regime político, a forma de Estado e delimitando a
relação do Estado e o povo por meio do reconhecimento de garantias e direitos
fundamentais.
Vale lembrar, o direito constitucional é a esfera da ordenação estatal que
se relaciona intimamente com os demais ramos do direito, coordenando-os e
traçando sua base estrutural. Da mesma forma, o direito constitucional é con-
siderado o marco inicial de todo direito do Estado.
Já a expressão Constituição possui vários sentidos. Assim, em sentido lógi-
co-jurídico, a Constituição é a norma hipotética fundamental. Essa concepção
jurídica positiva é o conjunto de normas que regulam a criação de outras nor-
mas, ou seja, é a lei em seu mais alto grau (KELSEN, 1962).

O que significa constituição?


Chama-se Constituição o complexo de regras que determinam a estrutura e o funcio-
namento dos poderes públicos e asseguram a liberdade dos cidadãos. É a lei funda-
mental de um país, anterior e posterior a todas as outras: fixa as relações recíprocas
entre governantes e governados e não pode ser modificada senão pelos meios excep-
cionais indicados no próprio texto ou por uma revolução triunfante (PINHO, NASCI-
MENTO, 2004).

A primeira Lei Magna brasileira foi a Constituição de 25 de março de 1824,


denominada de Constituição Política do Império do Brasil. A segunda foi a
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de fevereiro de
1891. A terceira foi a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil,
de 16 de julho de 1934. A quarta foi a Norma Magna editada por ocasião do
golpe de Getúlio Vargas e a instituição do Estado Novo, em 10 de novembro de
1937, denominada Constituição dos Estados Unidos do Brasil (MARTNS, 2008).

22 • capítulo 1
©© WIKIMEDIA

A quinta foi a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de janeiro


de 1967, foi editada por ocasião do regime militar e do golpe militar de 1964.
A Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969, não é exatamente
uma Constituição, mas uma emenda constitucional. Na prática, acaba sen-
do uma Constituição, pois alterou toda a Constituição de 1967. A última é a
Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Foi
inspirada, em parte, nas Constituições portuguesa e italiana e no que havia de
mais moderno na época (MARTINS, 2008).
O Estado é o principal objeto do direito constitucional. A noção jurídica de
Estado apóia-se em quatro elementos básicos: território, povo, governo e soberania.
O direito administrativo, por sua vez, mantém relações concretas com o direi-
to constitucional, pois atua junto aos agentes, os órgãos e as pessoas jurídicas ad-
ministrativas, que de alguma forma atuam ou fazem parte da administração pú-
blica, e ainda às atividades de natureza pública, referentes à atuação do Estado.
Nesse sentido, o conceito que permanece no tempo sobre direito adminis-
trativo e que embasou as demais obras doutrinárias brasileiras, é do autor Hely
Lopes Meirelles. Segundo o autor, o direito administrativo “sintetiza-se no con-
junto harmônico de princípios jurídicos que regem as atividades públicas ten-
dentes a realizar concreta, direita e imediatamente os fins desejados pelo Estado”
(MEIRELLES, 1991).

capítulo 1 • 23
CONEXÃO
Para maiores informações com relação à Constituição Federal, o estudante poderá acessar
o site www.stf.jus.br onde encontramos todas as normas existentes na Constituição Federal
e nas Constituições dos Estados.

Note que a esse ramo do direito público cumpre a função de atuar nas for-
mas de relacionamento entre os particulares e a administração pública.

1.1.4.2  Direito econômico, financeiro e tributário

O direito econômico é considerado um ramo do direito público que estuda o


conjunto de regras, princípios e instituições que visam à intervenção do Estado
no domínio econômico.
Referida intervenção tem, por sua vez, a finalidade de regular o mercado de
forma direta ou indireta. A primeira ocorre, por exemplo, quando o Estado se
utiliza de sociedades de economia mista e das empresas públicas para reali-
zação de seus fins. Já a intervenção indireta pode ser notada quando o Estado
apoia a atividade econômica dos particulares.

CONEXÃO
Para maiores informações com relação ao Direito Financeiro, o estudante poderá acessar
o site www.planalto.gov.br, onde encontramos todas as normas existentes na Constituição
Federal e nas Constituições dos Estados.

O Direito Financeiro é um ramo autônomo da ciência do direito, conforme


se verifica no inciso I, do artigo 24 da Constituição Federal, e é representado por
um conjunto de princípios e regras que buscam regular a atividade financeira
do Estado. Entre as atividades que o Estado desenvolve, tutelando necessidades
públicas, algumas são essenciais (segurança pública, prestação jurídica, etc.)
outras complementares, protegendo outros itens (secundários), exercidas atra-
vés de concessionárias.

24 • capítulo 1
A finalidade da atividade financeira é a realização dos serviços públicos e o
atendimento das necessidades públicas, ou seja, as necessidades coletivas en-
campadas pelo poder político, inseridas no ordenamento jurídico. Logo, a ativi-
dade financeira encontra-se pautada em três necessidades públicas principais:
prestação de serviço, exercício do poder de polícia e intervenção econômica.
Outros temas como a lei de responsabilidade fiscal (lei complementar n.
101 de 04 de maio de 2000) e os precatórios também são analisados pelo direito
financeiro.

O que significa Direito Tributário?


A doutrina jurídica tributária é rica nos conceitos de tributo, contudo, cabe aqui trazer-
mos a definição da lei, regulamentada no art. 3º do Código Tributário Nacional, senão
vejamos: “Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor
nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobra-
da mediante atividade administrativa plenamente vinculada”.

O último ramo do direito deste item é o direito tributário, que pode ser con-
siderado como um conjunto de princípios e regras que regem o poder fiscal
do Estado, representado pela instituição, arrecadação e fiscalização de tributos
devidos pelos indivíduos ao governo.
Note-se ainda, que tributo é o gênero dos quais são espécies os impostos, as
taxas, as contribuições de melhoria. Há autores nacionais que entendem que
os empréstimos compulsórios e as contribuições de melhorias, embora inte-
grantes da categoria taxas e impostos, também se enquadram como espécies
do gênero tributo.
A relação tributária tem seus marcos estruturais regulados pela Constituição,
que ao mesmo tempo outorga ao Estado o direito de instituir e arrecadar tribu-
tos (veja o art. 145 da Constituição), assim como limita este direito (no art. 150,
por exemplo) e cerca o contribuinte de garantias contra os excessos tributários,
infelizmente tão comuns.

capítulo 1 • 25
1.1.4.3  Direito penal e processual

O Direito Penal é o ramo do direito público que regula o poder punitivo do Esta-
do, bem como as normas jurídicas que ligam o crime à pena, disciplinando as
relações jurídicas daí resultantes.
O princípio base do Direito Penal
©© WIKIMEDIA

chamado de Reserva Legal é retratado no


artigo 5º, inciso XXXIX, da Constituição
Federal, “não há crime sem lei anterior
que o defina, nem pena sem prévia co-
minação legal”. Outros princípios nos
informam que a lei penal é irretroativa,
contudo poderá retroagir para beneficiar
o réu. Tal princípio assegura que nin-
guém seja punido por fato atípico. Típico
é o fato que se molda a conduta descrita
na lei penal. Daí decorre que o conjunto
de normas penais incriminadoras é taxa-
tivo e não exemplificativo.
O Direito Penal é o principal instru-
mento dos governos autoritários, na ins-
tauração e manutenção de regimes antide-
mocráticos. Por esta razão, a Constituição de 1988, preocupada em evitar que se
repitam no Brasil as atrozes desumanidades testemunhadas durante o período da
Ditadura Militar, consignou uma série de garantias penais em favor do indivíduo.
Outro ponto estudado pelo Direito Penal refere-se ao crime consumado e
tentado. De forma bem simples, é consumado o crime quando estão presentes
todos os elementos de sua definição legal (O criminoso passa pelas seguintes
etapas cogitação, preparação, execução e consumação). Por outro lado, o crime
é tentado quando o agente percorre toda a trajetória do crime até a execução,
e, uma vez iniciada a execução, não se consuma o resultado típico (crime) “por
razões alheias à vontade do agente”, ou seja, não ocorre o resultado.
Ainda, a infração penal pode ser praticada de forma dolosa, ou seja, o agente
pratica a conduta buscando alcançar o resultado criminoso, há intenção crimi-
nosa, ou culposa, isto é, quando o agente não tem intenção do resultado crimi-
noso, mas, o mesmo ocorre, em razão de negligência, imprudência ou imperícia.

26 • capítulo 1
Por fim, o direito processual é o ramo do direito público que regula as ativi-
dades do poder judiciário e das partes em conflito no decorrer do processo judi-
cial. Pode ser dividido em Direito Processual Civil, Processual Penal, Processual
do Trabalho e Processual Militar.
Dentre as várias formas de so-
©© WIKIMEDIA

luções dos conflitos, o processo se


apresenta como um instrumen-
to para a resolução imparcial dos
conflitos que se verificam na vida
social, composto, por três sujeitos:
o autor e o réu nos pólos contras-
tantes da relação processual, como
sujeitos parciais; e, como sujeito
imparcial, o juiz representando o
interesse coletivo orientado para a justa resolução do litígio. No entanto, não se
esgotou o rol de sujeitos processuais: órgãos auxiliares da justiça, intervenção
de terceiros, advogado.
Inserido na Organização judiciária brasileira verificamos que são órgãos do
Poder Judiciário:
a) supremo tribunal federal;
b) superior tribunal de justiça;
c) tribunal superior do trabalho, os tribunais e juízes do trabalho;
d) tribunais regionais federais e juízes federais;
e) tribunais e juízes eleitorais;
f) tribunais e juízes militares.
g) tribunais e juízes dos estados, do distrito federal e dos territórios.
©© GUSTAVO TOLEDO | DREAMSTIME.COM

capítulo 1 • 27
1.1.4.4  Direito da seguridade social

O Direito da Seguridade Social representa o conjunto de princípios e normas,


que têm por objetivo estabelecer um sistema de garantias aos indivíduos contra
atos que dificultem ou impeçam o provimento de suas necessidades básicas,
como direito à saúde, assistência social e a previdência social.
A Seguridade Social, dessa forma, divide-se em três grandes áreas:
Previdência Social, Saúde e Assistência Social. A fruição das prestações da
Previdência é condicionada ao pagamento de contribuições sociais, requisito
inexistente quanto à Saúde e à Assistência Social, cujos benefícios e serviços
podem ser gozados sem necessidade de qualquer contribuição específica.
©© WIKIMEDIA

Divide-se o Direito Privado em: Direito Civil, Comercial e do Trabalho. É im-


portante destacar que alguns autores consideram o Direito do Trabalho como
pertencente à categoria do Direito Público.

28 • capítulo 1
1.1.4.5  Direito Civil

O mais antigo ramo do Direito, “o Direito Civil disciplina as relações jurídicas


concernentes às pessoas, aos bens e a suas relações”. (VENOSA, p. 96)
Tradicionalmente considerado o príncipe entre os ramos do Direito, o
Direito Civil avistou sua majestade ruir por força da afirmação, cabal no século
XX, da supremacia da Constituição e do Direito Constitucional. Não obstante,
não perde sua enorme importância em razão da extensão de sua incidência so-
bre a vida cotidiana.
É no Direito Civil que vamos encontrar a regulamentação atinente ao status
da pessoa natural com seus direitos da personalidade, à pessoa jurídica, a seus
bens e domicílio, aos fatos jurídicos, seus requisitos, efeitos, defeitos e prova,
às obrigações em geral, entre elas os contratos, às coisas, bens, objeto de posse,
propriedade e outros direitos reais, às relações de família, como casamento e
parentesco, e às sucessões. O Direito Civil cobre eventos, que se estendem des-
de antes do nascimento da pessoa (na proteção do nascituro) até depois de sua
morte (na destinação de seu patrimônio).

Qual o conceito de Direito Civil?


O direito civil é o ramo do direito privado que rege as relações entre os particulares,
disciplinando a vida das pessoas desde a concepção até a morte, regulamentando as
relações de família e patrimoniais no âmbito da sociedade.

1.1.4.6  Direito do trabalho

O Direito do Trabalho é o ramo da ciência do direito que disciplina as normas,


as instituições jurídicas e os princípios que inerentes às relações de trabalho
subordinado, determinam os seus sujeitos e as organizações destinadas à pro-
teção desse trabalho em sua estrutura e atividade.
Atualmente, o mais importante texto legal trabalhista do Brasil é a CLT, em
que se encontra reunida a maioria das leis, antes esparsas, sobre a matéria tra-
balhista (DOWER, 2005).

capítulo 1 • 29
CONEXÃO
Para maiores informações com relação ao Direito do Trabalho, o estudante poderá acessar
o site www.tst.gov.br, onde encontramos atos e instruções normativas referentes à relação
entre empregado e empregador.

1.2  Direito Empresarial ou Direito Comercial?


O Direito Empresarial tem por objeto
©© BOWIE15 | DREAMSTIME.COM

a atividade comercial em geral, ati-


nando, portanto, a uma realidade alta-
mente complexa e dinâmica.
Muito se tem debatido sobre as de-
nominações que os autores atribuem
para denominar esse ramo do direito
privado.
Para alguns, a nomenclatura direi-
to comercial não é capaz de exprimir
o conteúdo do objeto de estudo desse
ramo do direito, pois existem ativida-
des econômicas que estão inseridas neste ramo do direito e que vão além dos
comerciantes, tais como: indústrias, bancos, prestadores de serviços, etc..
Não é sem razão que, alguns juristas renomados sugerem a adoção da no-
menclatura Direito Empresarial por expressar melhor os seus objetivos.

Para maiores informações consultar o artigo http://www.tribunalarbitralfortaleza.com.


br/direito_empresarial.html, onde o autor explana muito a diferença histórica entre di-
reito empresarial e direito comercial

30 • capítulo 1
1.2.1  Teoria da Empresa e Conceito de Empresário

Uma das grandes inovações trazidas pelo novo Código Civil Brasileiro é a ado-
ção da teoria da empresa, também conhecida como teoria subjetivista ou teoria
italiana, em homenagem ao Código Italiano de 1943, que primeiramente ado-
tou esta sistematização.
A teoria da empresa é tida como uma evolução legislativa, pois é sucessora
da teoria francesa dos atos de comércio. Em nosso ordenamento jurídico atual,
a empresa encontra abrigo no texto legal do artigo 9661 do Código Civil.
Como bem observado pelos doutrinadores, o legislador pátrio não definiu
expressamente o termo empresa, optando por conceituar o empresário. Porém,
interpretando o referido texto legal, podemos extrair o significado de atividade
empresarial.
Deste modo, atividade empresarial é toda atividade econômica organizada
para a produção de bens, circulação de bens ou prestação de serviços.

Organização dos fatores


de produção:
- capital
- bens
- mão-de-obra
- tecnologia

O primeiro elemento de destaque é a expressão “atividade econômica”. Isto


significa que empresa é uma atividade lucrativa, ou seja, uma atividade que
produz lucros2, e estes são utilizados para remunerar o capital aplicado de pes-
soas que investiram no empreendimento.
É importante frisar que desenvolver atividade econômica é da própria natu-
reza das sociedades, pois nenhuma outra razão influencia o ânimo de manter
a atividade empresarial. Mas as sociedades podem ser simples ou empresárias,
portanto o fato de desenvolver uma atividade econômica não enseja a uma pes-
soa jurídica o status de empresária.

1  Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a
circulação de bens ou de serviços.
2  É o ganho financeiro produzido pela diferença entre a somatória de recursos financeiros obtidos no mercado e
as despesas oriundas da atividade.

capítulo 1 • 31
Necessariamente, as sociedades devem dedicar-se a uma atividade de cará-
ter organizacional dos fatores produtivos. Isto significa que é preciso reunir ca-
pital, bens, mão de obra e tecnologia e dar a estes elementos uma organização
para atingir a sua finalidade de mercado.
Por último, a sociedade empresária, por meio de sua atividade econômica
organizada, servirá o mercado com a produção de bens (indústria), a circulação
de bens (comércio) ou a prestação de serviços.

1.2.2  Obrigações do Empresário

Todo empresário ou sociedade empresária, diariamente, deve cumprir inúme-


ras obrigações civis, trabalhistas, previdenciárias e tributárias. Assim, fazem
parte da rotina financeira dos empresários o pagamento de fornecedores, os
financiamentos bancários, os salários, as contribuições previdenciárias e os
demais tributos.
No entanto, as obrigações gerais dos empresários não tratam dos compro-
missos do cotidiano do empresário, e sim do cumprimento de alguns deveres
estabelecidos pela lei para que esteja na condição de “empresário regular”.
As obrigações gerais dos empresários estão previstas no Código Civil
Brasileiro e são as seguintes: inscrição na Junta Comercial, escrituração e le-
vantamento das demonstrações contábeis.

1.2.3  Pressupostos para atividade regular do empresário

O artigo 967 do Código Civil Brasileiro diz ser obrigatória a inscrição do empre-
sário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do
início de sua atividade.
A legislação sempre exige o registro público para os atos da vida civil mais
importantes, em razão de sua repercussão jurídica. Assim, é obrigatório o regis-
tro do nascimento, do casamento, do óbito, da propriedade imobiliária, dentre
outros. O efeito maior em manter o registro público de determinados atos ou
fatos é o de tornar públicos e acessíveis os dados mantidos em registro.
Da mesma maneira, o exercício de uma atividade empresarial é de grande
repercussão jurídica e, em virtude disso, o Código Civil exige o registro prévio
do empresário ou da sociedade empresária, antes do início da exploração de
empresa.

32 • capítulo 1
No Brasil, os registros públicos mercantis são realizados pelas Juntas
Comerciais dos estados, e estas são coordenadas pelo Departamento Nacional
de Registro de Comércio (DNRC).
As Juntas Comerciais executam três espécies de registro: a matrícula dos au-
xiliares das empresas (leiloeiros, tradutores públicos, armazém-geral), autenti-
cação da escrituração empresarial, o registro dos empresários e das sociedades
empresárias.
Segundo o art. 968 do Código civil, a inscrição do empresário se fará me-
diante requerimento que contenha: nome, nacionalidade, domicílio, estado
civil e, se casado, o regime de bens do empresário; a firma, com a respectiva
assinatura autógrafa; o capital; o objeto e a sede da empresa.
Com o deferimento do registro pela Junta Comercial, a inscrição será to-
mada por termo no livro próprio e obedecerá a número de ordem contínuo
para todos os empresários inscritos. À margem da inscrição do empresário, e
com as mesmas formalidades, serão averbadas quaisquer modificações nela
ocorrentes
O empresário que constituir um estabelecimento secundário deverá aver-
bar a existência desta filial na Junta Comercial da respectiva sede. Do mesmo
modo, se instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à jurisdição de
outra Junta Comercial, nesta deverá também inscrevê-la, com a prova da inscri-
ção originária.
É importante abordar as consequências jurídicas pela falta do registro do
empresário ou da sociedade empresária perante a Junta Comercial. Sendo um
empresário irregular, ou seja, sem registro, não poderá obter seus cadastros
perante os órgãos públicos, tais como Receita Federal (CNPJ), Secretaria da
Fazenda Estadual (inscrição estadual) ou Secretaria da Fazenda Municipal (ins-
crição municipal).
Também terá como consequência o impedimento para requerer a falência
de outro empresário, solicitar perante o Poder Judiciário a sua recuperação de
empresa e outras responsabilidades jurídicas em virtude de sua irregularidade.

capítulo 1 • 33
1.2.4  Escrituração dos Livros Contábeis

A escrituração é a atividade de registrar informações relativas a movimentações


financeiras e patrimoniais do empresário. Trata-se de uma atividade já pratica-
da desde o desenvolvimento do próprio comércio, pela sociedade humana, em
virtude de ser um mecanismo próprio para o controle gerencial da atividade
econômica.
©© MEDIOIMAGES / PHOTODISC / GETTY IMAGES

Assim, desde os primórdios da


atividade econômica comercial, os
comerciantes faziam uso de livros,
denominados diários, para con-
trolar seu negócio, assim como
obter informações a respeito do
resultado positivo ou negativo do
empreendimento.
Em virtude da riqueza de in-
formações encontradas nos livros
dos comerciantes, estes começaram a utilizar suas anotações como meio de
prova, sempre que solicitado para a realização de prestação de contas. Da mes-
ma forma, o Estado, com o seu poder de tributar, também se interessou pelos
livros dos comerciantes para exercer sua atividade fiscalizatória sobre as ativi-
dades comerciais.
Portanto, na atualidade, os livros que registram a escrituração empresarial
possuem três finalidades, conforme estas foram surgindo no decorrer da his-
tória: gerencial, documental e fiscalizatória. Com base nesta importância, os
empresários possuem a obrigação de manterem a escrituração de sua atividade
econômica.
O artigo 1.179 do Código Civil Brasileiro determina que “o empresário e a
sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, me-
canizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em corres-
pondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço
patrimonial e o de resultado econômico.”
O texto legal acima estabelece, em um único momento, duas obrigações dos
empresários e das sociedades empresárias: a escrituração dos livros e a realiza-
ção periódica das demonstrações contábeis.

34 • capítulo 1
Os livros de escrituração são:
•  Livros Fiscais
1. Registro de Compras
2. Registro de Inventário
3. LALUR – Livro de Apuração do Lucro Real do Imposto de Renda
4. Registro de entradas ICMS-IPI
5. Registro de saídas ICMS-IPI
6. Registro de apuração IPI-ICMS

•  Livros Contábeis
1. Livro Razão
2. Livro Diário

•  Livros do Direito Privado


1. Registros de Duplicatas
2. Livros Societários
3. Livros da Socidade Empresáriais

Além desses, é possível encontrar exigências legais de ordem previdenciária


e do Direito do Trabalho, tais como livro de registro de empregado, livro de ins-
peção do trabalho, dentre outros.
Entretanto, o Direito Empresarial cuida apenas da obrigação de manter a escritu-
ração de um livro, ou seja, o livro Diário. O artigo 1.180 do Código Civil tem a seguinte
redação: “além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode
ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.”
No Diário serão lançadas, com individuação, clareza e caracterização do do-
cumento respectivo, dia a dia, por escrita direta ou reprodução, todas as opera-
ções relativas ao exercício da empresa.
A escrituração do Diário será feita em idioma e moeda corrente nacionais
e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos
em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as
margens, e ficará sob a responsabilidade de contabilista legalmente habilita-
do, salvo se nenhum houver na localidade.
Admite-se a escrituração resumida do Diário, com totais que não excedam
o período de trinta dias, relativamente a contas cujas operações sejam numero-
sas ou realizadas fora da sede do estabelecimento, desde que utilizados livros

capítulo 1 • 35
auxiliares regularmente autenticados, para registro individualizado, e conser-
vados os documentos que permitam a sua perfeita verificação.
Também serão lançados no Diário o balanço patrimonial e o de resultado
econômico, devendo ambos ser assinados por técnico em Ciências Contábeis
legalmente habilitado e pelo empresário ou sociedade empresária.
O livro Diário, juridicamente, é o maior instrumento de provas em favor ou
contra o empresário que o escriturou. Assim, este poderá utilizar sua escritura-
ção para fazer prova contra outro empresário ou, então, o Diário será utilizado
para a realização de provas periciais contábeis, em processos de falência, recu-
peração de empresa, prestação de contas e dissolução de sociedade.
Para estar regularmente escriturado, o livro Diário depende de estar autenti-
cado pela Junta Comercial, segundo o artigo 1.182 do Código Civil. A falta de es-
crituração ou a sua irregularidade poderá acarretar diversas responsabilidades
jurídicas, dentre as quais a presunção de veracidade dos fatos alegados e que
não se encontram escriturados até mesmo a tipificação de crime falimentar.

1.2.5  O Código Civil Brasileiro e as atividades excluídas do contexto


empresarial

Após analisarmos o caput do artigo 966 do Código Civil Brasileiro, vamos dedi-
car nossa atenção ao que disciplina o seu parágrafo único:

Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica,


literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa.
©© ERIC SIMARD | DREAMSTIME.COM

Da leitura desse dispositivo podemos concluir


que o artigo 966 do Código Civil Brasileiro (através
de seu parágrafo único) não presta a qualificação
de empresário a determinados agentes econômicos
como por exemplo:
a) profissional intelectual (profissional liberal);
b) sociedade simples; c) exercente de atividade ru-
ral; d) cooperativas.

36 • capítulo 1
Com efeito, não são todos os agentes econômicos que são abrangidos pelo
conceito de empresário estabelecido no artigo 966 do Código Civil Brasileiro.

ATIVIDADES
01. Qual o conceito de Direito?

02. Explique qual a diferença entre o direito público e privado.

03. Você seria capaz de, com as suas palavras, explicar o objeto de estudo do direito finan-
ceiro, econômico e tributário?

REFLEXÃO
O Direito Empresarial, por meio da figura das sociedades empresárias, possibilitou uma segu-
rança jurídica àqueles que desejam investir em alguma atividade econômica.
Tal segurança encoraja quem pretende exercer atividade empresarial, pois o risco do
negócio, que é natural em qualquer economia, pode ser minimizado com a constituição de
sociedades que tenham por característica adotar o critério da responsabilidade limitada dos
sócios para com as obrigações geradas pela empresa.
No entanto, é perfeitamente imaginável que este escudo protetor pode também ser utili-
zado como um mecanismo pernicioso, possibilitando aqueles que pretendem aplicar fraudes
no mercado, valendo-se de uma sociedade empresária.
O atual Código Civil, assim como outras legislações anteriores, previu esta situação e
adotou o mecanismo jurídico da desconsideração da personalidade jurídica das sociedades.
Assim, caso seja provado que sócios abusaram da personalidade jurídica de uma sociedade,
criando para esta obrigações a fim de enriquecerem e valendo-se do manto protetor da
responsabilidade limitada, eles poderão ter seus patrimônios particulares afetados por tais
obrigações, por determinação do Poder Judiciário.

capítulo 1 • 37
LEITURA
ALMEIDA Jr., Jesualdo Eduardo de. O direito de empresa no novo Código Civil. Revista Síntese de
direito civil e processual civil, n. 19,ano IV, set-out., p. 131-144. Porto Alegre: Síntese, 2002.
ALMEIDA, Betyna Ribeiro de. Aspectos da teoria jurídica da empresa. Revista de Direito Mercantil.
São Paulo, v.119, p.236-254. jul./set., 2000.
ASQUINI, Alberto. Perfis da empresa. Trad. Fábio Konder Comparato. Revista de Direito Mercantil.
São Paulo, v. 104, pp. 109-126. out./dez., 1996.
BULGARELLI, Waldirio. A teoria jurídica da empresa. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1985.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima. 2 ed. São Paulo: RT,
1977.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 29. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.

38 • capítulo 1
2
Estabelecimento
Empresarial, Nome
Empresarial,
Personalidade Jurídica.
Direito Societário, dos
Atos Constitutivos
da Sociedade e dos
Agentes Societários
Este capítulo ocupa-se do estudo das sociedades contratuais.Muito embora
as sociedades anônimas não sejam classificadas como sociedades contratu-
ais, o fato é que a maioria das sociedades constituídas no Brasil está estrutu-
rada na forma contratual, em especial destaque para as sociedades limitadas.
Portanto, em virtude deste fato, julgamos ser fundamental realizar um estudo
mais aprofundado sobre a estrutura jurídica e o funcionamento das socieda-
des contratuais.
Além disso, as noções que teremos neste capítulo serão importantes para
compreender as sociedades institucionais, como são as sociedade anônimas,
por meio da análise de suas distinções.

OBJETIVOS
Este capítulo tem por finalidade apresentar os elementos que compõem as sociedades empre-
sárias contratuais; como é constituída juridicamente uma sociedade empresária contratual e os
direitos básicos de sócios.
A importância deste levantamento é visualizarmos quais são os pilares de sustentação de uma
sociedade, além de possibilitar na prática, que tenhamos noção das principais cláusulas a se-
rem negociadas ao elaborar um contrato ou um estatuto social.

40 • capítulo 2
2.1  Estabelecimento empresarial e a
atividade da empresa
©© PAVEL LOSEVSKY | DREAMSTIME.COM

Segundo o Código Civil Brasileiro, através de seu artigo 1.142, compreende-se


por estabelecimento o conjunto de bens organizados para atividade da empre-
sa, podendo ser executado por empresário ou até mesmo por sociedade em-
presária (Mamede, 2009). São as seguintes ilações que podem ser extraídas do
referido artigo pelas lições de Mamede (2009 p. 257): “fica claro, portanto, que
(1) estabelecimento e (2) empresa são conceitos distintos, que não se confun-
dem. O estabelecimento serve de exercício da empresa (...) e a empresa, aqui, é
considerada pelos bens (coisas e direitos) que a compõem”.
Quanto aos elementos formadores do estabelecimento empresarial, embo-
ra não haja um consenso entre os juristas, em linhas gerais pode-se dizer que é
ele composto tanto por elementos materiais (ou corpóreos) e também por ele-
mentos imateriais (incorpóreos) (Coelho, 2008). Os elementos corpóreos são
abrangidos pelo mobiliário, utensílios, máquinas, veículos, estoque, etc...,ou
seja, todo o arsenal de bens que o empresário ou a sociedade empresarial se
utiliza para propiciar a sua atividade empresarial de forma organizada.
Em relação aos elementos incorpóreos pode-se mencionar os bens indus-
triais, desenhos industriais, marca registrada, patentes de invenção, nome em-
presarial e o próprio ponto que se refere ao local onde a sociedade empresarial
exerce sua atividade econômica.

capítulo 2 • 41
2.1.1  Nome Empresarial

O Código Civil determina que o nome empresarial é aquele adotado para o


exercício da empresa, equiparando-se ao nome empresarial a denominação
das sociedades simples, das associações e fundações. É o que estabelece o arti-
go 1155 do Código Civil Brasileiro:

Considera-se nome empresarial a firma ou a denominação adotada, de conformidade


com este Capítulo, para o exercício de empresa. Parágrafo único. Equipara-se ao nome
empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a denominação das sociedades simples,
associações e fundações.

Importante destacar que o nome em-


presarial deve contemplar algumas exigên-
cias impostas pela legislação, como por
exemplo o artigo 1.156 do CC:
O empresário opera sob firma constitu-
ída por seu nome, completo ou abreviado,
©© ALMAGAMI | DREAMSTIME.COM

aditando-lhe, se quiser, designação mais


precisa da sua pessoa ou do gênero de
atividade.
Caso se trate de uma sociedade empre-
sarial limitada a lei faz a seguinte exigên-
cias junto ao artigo 1158:

Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação, integradas pela palavra final
"limitada" ou a sua abreviatura.

2.1.2  Personalidade Jurídica

A personalidade jurídica é a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair


obrigações.

42 • capítulo 2
Segundo o artigo 2º do Código Civil, a personalidade jurídica inicia-se com
o nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do
nascituro.

O que significa nascituro?


Nascituro é o ser humano já concebido, que ainda permanece no ventre materno. Antes
do nascimento com vida, o nascituro não detém personalidade jurídica. Como, porém, é
provável que nasça com vida, o Direito Civil, antecipadamente, tratou de preservar seus
interesses futuros (COTRIM, 2008).

Vários dispositivos do Código Civil protegem o nascituro, tais como:

“Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal.”
“Art. 1609, parágrafo único. O reconhecimento do filho havido fora do casamento pode
preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar
descendentes.”
“Art. 1779. Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e
não tendo o poder familiar”.

2.1.2.1  Dos direitos da personalidade

Segundo o artigo 11 do Código Civil, com exceção dos casos previstos em lei, os
direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o
seu exercício sofrer limitação voluntária.
Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e
reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei (art.
12, CC/02). Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer esta medi-
da, o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até
o quarto grau (parágrafo único).
Diante disso, qualquer cidadão que sofrer danos referentes à sua personali-
dade, nome ou intimidade, poderá pleitear judicialmente, a reparação dos da-
nos, materiais ou morais.
Com relação ao corpo, salvo por exigência médica, é proibido o ato de disposição

capítulo 2 • 43
©© FALKO MATTE | DREAMSTIME.COM

do mesmo, quando importar diminuição


permanente da integridade física, ou con-
trariar os bons costumes (art. 13, CC/02).
Vale ressaltar que, depois da morte, é
permitida a disposição gratuita do corpo,
para fins científicos ou altruísticos.
Também, ninguém poderá ser cons-
trangido a submeter-se, com risco de vida,
a tratamento ou a intervenção cirúrgica
(art. 15, CC/02). Ex: deve ser respeitado o
direito do paciente de autodeterminar a
escolha de tratamento médico que seja,
mais adequado às suas convicções, inclu-
sive, as de natureza religiosa. Portanto,
nenhum tratamento médico poderá ser imposto ao paciente sem que tenha sido
discutido e aprovado por este seja qual for a sua natureza. Isto está de acordo com o
princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, que se sobrepõe, inclusi-
ve, às próprias normas do Código Civil Brasileiro.
Com relação ao nome da pessoa, o mesmo não poderá ser empregado por
outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo pú-
blico, ainda quando não haja intenção difamatória (art. 17, CC/02). Também,
sem autorização não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial
(art. 18, CC/02).

2.1.3  Pessoa Física e Pessoa Jurídica

A pessoa jurídica nasce a partir da necessidade de personalizar o grupo de pes-


soas, dando-lhe personalidade própria para que possa realizar seus fins. Nessa
linha de raciocínio a pessoa jurídica pode ser conceituada como sendo um gru-
po humano, criado pela lei e que possui personalidade jurídica própria.
Desse modo, a vontade humana, a observância dos requisitos da lei para
sua criação e a licitude do seu objeto formam os pressupostos básicos para o
surgimento e a existência da pessoa jurídica.
A expressão pessoa jurídica serve para designar as empresas, instituições e
entidades que também são capazes de assumir direitos e obrigações. Elas serão
representadas, nos atos da vida jurídica, pelos seus diretores ou por quem os
respectivos estatutos designarem (COTRIM, 2008).

44 • capítulo 2
As pessoas jurídicas podem ser de direito público externo ou interno e de
direito privado.
As de direito público interno são divididas da seguinte forma:
a) União;
b) Estados;
c) Distrito Federal;
d) Municípios;
e) Autarquias;
f) Associações públicas e
g) outras entidades de caráter público criadas por lei.
©© WIKIMEDIA

Já as pessoas jurídicas de direito público externo são consideradas os es-


tados estrangeiros e as pessoas que forem regidas pelo direito internacional
público, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização dos
Estados Americanos (OEA) e outras.

capítulo 2 • 45
Por outro lado, são de Direito Privado: as associações, as sociedades, as fun-
dações, as organizações religiosas e os partidos políticos.
Segundo o artigo 53 do Código Civil, constituem-se as associações pela
união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.
É Importante ressaltar que começa a existência legal das pessoas jurídicas
de Direito Privado com a inscrição de seus contratos, atos constitutivos, esta-
tutos ou compromissos em seu registro peculiar, regulado por lei especial. E,
termina a existência da pessoa jurídica por sua dissolução ou extinção.

CONEXÃO
Para maiores informações com relação à legislação pertinente às pessoas jurídicas de direito
privado ou informações quanto aos requisitos necessários à abertura de uma empresa, o
estudante poderá acessar o site www.receita.fazenda.gov.br

2.1.4  As empresas e o problema da


personalidade jurídica

O Direito permitiu que entes não humanos tam-


bém viessem a ter personalidade jurídica, como é
o caso das sociedades empresariais. Mas e as em-
presas possuem personalidade jurídica? Vamos
ver a conclusão de Grossi (2014) ao citar vários
estudos sobre esse tema:

O ser humano é pessoa natural exatamente por sua condição de ser humano. Leciona
MAMEDE, contudo, que não se confundem ser humano com pessoa, porquanto aquele
é um “conceito biológico, ao passo que o conceito de pessoa, para o Direito, indica o
sujeito com capacidade de titularizar direitos e deveres” (MAMEDE, 2004, p. 59).Em
relação às pessoas jurídicas, ensina o mesmo MAMEDE que o Direito cunhou, a partir
de previsão legal, “o artifício de se permitir que o traje ou véu da personalidade jurídica
fosse atribuído a entes não humanos” (MAMEDE, 2004, p. 61). A personalidade civil da

46 • capítulo 2
pessoa natural inicia-se com o nascimento com vida (art. 2º, do CC). A existência legal
da pessoa jurídica com a inscrição dos seus atos constitutivos no órgão público respec-
tivo (arts. 45 e 1.150, ambos do CC/02).O art. 44 do Código Civil traz o rol das pesso-
as jurídicas de direito privado existentes entre nós. Encontram-se arroladas, em seus
6 (seis) incisos: (I) associações, (II) sociedades, (III) fundações, (IV) partidos políticos,
(V) entidades religiosas e a novel (VI) EIRELI (empresa individual de responsabilidade
limitada). Embora seja certo que aludidas hipóteses sejam meramente exemplificativas
(Jornada III STJ 144), não menos certo é que para ser pessoa jurídica é fundamen-
tal que o Direito confira, expressamente, tal qualificação (por todos: NERY JÚNIOR e
NERY, 2008, p. 199, item 3).Assim, a personalidade dos entes de existência ideal (cf.
TEIXEIRA DE FREITAS) – as pessoas jurídicas – decorre de um reconhecimento do
Ordenamento, é dizer, somente será pessoa jurídica a figura expressamente enunciada
como tal pelo Direito Positivo. Vale, de logo, um parêntese. A empresa não está arrolada
no art. 44 do CC/02. “A propósito”, observa ROCHA FILHO (2004, p. 55), “o novo Có-
digo Civil, a exemplo do anterior, ao definir as pessoas jurídicas de direito privado (art.
44), ali não incluiu as “empresas””. Enfim, existem duas pessoas, dois sujeitos de direito:
(i) a pessoa natural e (ii) a pessoa jurídica. E mais. Somente será pessoa jurídica o ente
ao qual o Direito expressamente outorgar tal qualificação.
Arremata o autor:
Não se desconhece o uso atécnico do vocábulo “empresa” por todos os lados. Mes-
mo no ambiente forense, os protagonistas do direito utilizam-no sem rigor científico.
A personalidade jurídica é um atributo legal. As pessoas jurídicas de direito privado
estão elencadas no art. 44 do Código Civil, em rol apenas exemplificativo, é verdade.
No entanto, conforme demonstrado, essa etiqueta – de pessoa jurídica – depende de
expressa previsão legal. Empresa, para o Direito, é a atividade econômica organizada
para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. É que o que se depreende
do art. 966, do CC/02. Empresa não tem personalidade jurídica, não é uma pessoa
jurídica. Não se lhe outorgou tal característica. Nesse sentido, o monótono magis-
tério doutrinário suso anotado. São sujeitos dessa atividade: (i) empresário individu-
al (pessoa natural; art. 966); (ii) sociedade empresária (pessoa jurídica, conforme art.
44, II, CC; e art. 982, CC); e, finalmente, a EIRELI (pessoa jurídica, conforme o art.
44, VI, CC; e art. 980-A, CC). Assim, a empresa pode ser explorada por uma pes-
soa física (empresário) ou por pessoas jurídicas (sociedade empresária ou EIRELI).
Portanto, empresa é a ATIVIDADE explorada pelo empresário, seja individual, socie-
dade ou EIRELI. Não tem CNPJ, não contrata e não pode ser parte em processo!

capítulo 2 • 47
2.1.5  Estrutura do direito societário no sistema jurídico brasileiro

As sociedades empresárias são ficções jurídicas, pois não possuem vida pró-
pria, a não ser a sua própria personalidade que o Direito lhes atribui. Para tanto,
faz-se necessária a reunião de vários elementos para que o propósito de duas ou
mais pessoas se transforme juridicamente na constituição de uma sociedade.

2.1.5.1  Os requisitos de validade


©© GEORGE DOYLE / STOCKBYTE / GETTY IMAGES

De início, devemos observar que a constituição de


uma sociedade tem a natureza de um negócio ju-
rídico1. Portanto, é indispensável que os primei-
ros elementos a serem identificados para consti-
tuir uma sociedade são aqueles previstos no art.
104 do Código Civil, ou seja, (I) agente capaz, (II)
objeto lícito, determinado ou determinável, e (III)
forma prescrita ou não defesa em lei.
Porém, antes de adentrarmos nos requisi-
tos de validade contidos no art. 104 do Código
Civil, convém aprofundar um pouco mais
a afirmação de que “a constituição de uma sociedade tem a natureza de um
negócio jurídico”.
Como ensina o Direito Civil, o negócio jurídico consiste em um acordo de
vontades para adquirir, modificar ou extinguir direitos e obrigações de ordem
civil. Desse modo, o termo “vontades” pressupõe a existência, no mínimo, de
duas pessoas.
Esse particular será tratado em um item específico chamado pluralidade
de partes, que é um elemento especial presente na formação de uma socieda-
de empresária. Mas é importante entender que a sociedade é, primeiramente,
um encontro de duas ou mais pessoas que possuem interesses convergentes
e que vão unir esforços e recursos para desenvolver, em união, uma atividade
empresarial.
Outro elemento fundamental e não contido no art. 104 do Código Civil é
a vontade, ou seja, a manifestação livre de uma intenção, sendo que qualquer
defeito relativo à expressão da vontade poderá anular o negócio jurídico.

1  Negócio jurídico é um acordo de vontades capaz de criar, modificar ou extinguir direitos e obrigações na ordem
civil.

48 • capítulo 2
No estudo de sociedades, a vontade está contida em um elemento especí-
fico denominado affectio societatis, expressão que significa a intenção de se
associar em sociedade.

2.1.5.2  Os elementos específicos

Com os requisitos de validade que todo o negócio jurídico deve pos-


suir, a constituição de uma sociedade deve atender a alguns outros re-
quisitos específicos, quais sejam: I) pluralidade de sócios, II) constitui-
ção de capital social, III) affectio societatis e IV) participação no lucro e
nas perdas.

2.1.5.3  As cláusulas contratuais

O contrato social, como qualquer contrato, é considerado um ato único, mas


seu conteúdo é desdobrado em cláusulas ou preceitos menores e específicos a
cada interesse ajustado entre as partes.
As cláusulas encontradas em um contrato social são divididas em: essen-
ciais, as quais são indispensáveis ao arquivamento na Junta Comercial, e as
acidentais, que correspondem às negociações específicas feitas pelos sócios de
uma sociedade em particular.
Deve-se ressaltar que o contrato social que não possuir as cláusu-
las essenciais não será inscrito nas Juntas Comerciais, que se guiam pelo
art. 53, III, do Decreto no 1.800/96, o qual regulamentou a Lei no 8.934,
de 18 de novembro de 1994, que dispõe sobre o Registro Público de Empresas
Mercantis e Atividades Afins.

2.1.5.4  A forma

Segundo o art. 997 do Código Civil, a sociedade constitui-se mediante contra-


to escrito, particular ou público. Assim, entendemos que a forma correta é por
instrumento público ou particular. O contrato social por instrumento público
se dá por meio de escritura pública lavrada por oficial de notas, que reduz a ter-
mo a vontade manifestada pelos sócios.

capítulo 2 • 49
É imprescindível esclarecer que a condição de validade do registro do ato
constitutivo depende do visto de um advogado, conforme previsto no art. 1o, §
2o, da Lei no 8.906/94.
Apesar de entendermos ser correta a forma escrita, por instrumento públi-
co ou particular, o art. 987 do Código Civil empresta validade perante terceiros
a sociedade de fato, não sendo necessária a exibição de prova escrita para pro-
var a sua existência.

2.2  Atribuições dos Sócios


Affectio societatis é uma expressão latina que significa a intenção de se associar
em sociedade, ou seja, a vontade dos sócios em formar e manter uma socieda-
de. Como observa Fábio Ulhoa Coelho:

A utilidade do conceito de affectio societatis é pequena. Serve de referência ao des-


fazimento do vínculo societário, por desentendimento entre os sócios, no tocante à
condução dos negócios sociais, repartição dos sucessos ou responsabilização pelos
fracassos da empresa. Quando se diz ter ocorrido a quebra da affectio, isso significa
que os sócios não estão mais motivados o suficiente para manterem os laços societá-
rios que haviam estabelecido.

2.2.1  Participação nos lucros e nas perdas

O art. 1.008 do Código Civil diz ser “nula a estipulação contratual que exclua
qualquer sócio de participar dos lucros e das perdas”. A participação nos resul-
tados sociais é o principal motivo para qualquer pessoa se unir a outras, numa
sociedade empresária, pois o fim maior é explorarem uma atividade empresa-
rial para remunerar o capital investido para sua constituição.
A participação nos resultados e nas perdas é diretamente proporcio-
nal à quantidade com que cada sócio participou na formação do capital
social. Com relação à participação nos resultados, estes serão distribu-
ídos anualmente entre os sócios, após deliberação, ocorrendo casos de

50 • capítulo 2
distribuição obrigatória de parte dos resultados sociais de um exercício
(art. 202 da Lei no 6.404/762).
Com relação às perdas, todos os sócios deverão responder subsidiariamente
às obrigações da sociedade, quando não restar patrimônio social para respon-
der pelas obrigações contraídas pela sociedade. Como já vimos, esta respon-
sabilidade subsidiária poderá ser ilimitada ou limitada, sendo esta restringida
proporcionalmente ao capital investido pelo sócio.

2.2.2  Atribuições dos Administradores da Sociedade

Os administradores são aqueles que conduzem as atividades empresariais de-


senvolvidas pela sociedade. São os representantes legais para os atos judiciais
e extrajudiciais.
Uma grande novidade trazida pelo Código Civil, com relação às sociedades
limitadas, é a possibilidade de uma pessoa não sócia participar de sua adminis-
tração. Assim, conforme o disposto no art. 1.0603, a administração poderá ser
realizada por uma ou por mais pessoas, sócias ou não, designadas no contrato
social ou em ato separado.
Contudo, para a sociedade ser administrada por não sócio, é necessária ex-
pressa autorização no contrato social.
O contrato social deve mencionar se a administração é atribuída a mais de
uma pessoa e se elas têm poderes individuais de representação, em virtude de
as sociedades que se dedicam a atividades de maior envergadura necessitarem
de uma administração complexa e com maior grau de profissionalismo. Em vis-
ta disto, a administração da sociedade limitada encaminha-se a uma repartição
em áreas especializadas da gestão empresarial, a ser exercida por sócios e pro-
fissionais contratados.
2  Art. 202. Os acionistas têm direito de receber como dividendo obrigatório, em cada exercício, a parcela dos lucros
estabelecida no estatuto ou, se este for omisso, a importância determinada de acordo com as seguintes normas:
I - metade do lucro líquido do exercício diminuído ou acrescido dos seguintes valores:
a) importância destinada à constituição da reserva legal (art. 193); e
b) importância destinada à formação da reserva para contingências (art. 195) e reversão da mesma reserva formada
em exercícios anteriores;
II - o pagamento do dividendo determinado nos termos do inciso I poderá ser limitado ao montante do lucro líquido do
exercício que tiver sido realizado, desde que a diferença seja registrada como reserva de lucros a realizar (art. 197);
III - os lucros registrados na reserva de lucros a realizar, quando realizados e se não tiverem sido absorvidos
por prejuízos em exercícios subsequentes, deverão ser acrescidos ao primeiro dividendo declarado após a
realização.
3  Art. 1060. A sociedade limitada é administrada por uma ou por mais pessoas designadas no contrato social ou
em ato separado.
Parágrafo único. A administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende de pleno direito aos que
posteriormente adquiram essa qualidade.

capítulo 2 • 51
O mandato do administrador pode ser por prazo determinado ou não, de-
vendo o contrato social ou o ato de nomeação definir a respeito do termo.
Quando o administrador for designado em ato separado, este será investido
no cargo mediante termo de posse no livro de atas da administração, que deve-
rá ser assinado no prazo máximo de trinta dias de sua designação, sob pena de
se tornar sem efeito.
Depois de investido, o administrador deverá requerer, no prazo de 10 dias,
a averbação de sua nomeação na Junta Comercial, mencionando identificação,
qualificação, data da nomeação e prazo de gestão (art. 1.062)4.

2.2.3  Elementos de validade do contrato social

O referido texto legal estabelece que o contrato social deve conter as seguintes
cláusulas:

•  o tipo de sociedade mercantil adotado;


•  a declaração precisa e detalhada do objeto social;
•  o capital da sociedade mercantil, a forma e o prazo de sua integralização,
o quinhão de cada sócio, bem como a responsabilidade dos sócios;
•  o nome por extenso e a qualificação dos sócios procuradores, represen-
tantes e administradores, compreendendo: para pessoa física, nacionalida-
de, estado civil, profissão, domicílio e residência, documento de identidade,
seu número e órgão expedidor e número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas (CPF), dispensada a indicação deste último no caso de brasileiro ou es-
trangeiro domiciliado no exterior; para pessoa jurídica, nome empresarial, en-
dereço completo e, se sediada no País, o Número de Identificação do Registro
de Empresas (NIRE) ou do Cartório competente e o número de inscrição no
Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas (CNPJ);
•  o nome empresarial, o município da sede, com endereço completo, e
foro, bem como os endereços completos das filiais declaradas;
•  o prazo de duração da sociedade mercantil e a data de encerramento de
seu exercício social, quando não coincidente com o ano civil.

4  Art. 1062. O administrador designado em ato separado investir-se-á no cargo mediante termo de posse no livro
de atas da administração.
§ 1o Se o termo não for assinado nos trinta dias seguintes à designação, esta se tornará sem efeito.
§ 2o Nos dez dias seguintes ao da investidura, deve o administrador requerer seja averbada sua nomeação no
registro competente, mencionando o seu nome, nacionalidade, estado civil, residência, com exibição de documento
de identidade, o ato e a data da nomeação e o prazo de gestão.

52 • capítulo 2
Coelho (2010) observa, em sua obra, que o art. 997 e o art. 1.054 do Código Civil
não têm servido de orientação dos órgãos de registro mercantil. Decerto, as Juntas
Comerciais ainda seguem o estabelecido no art. 53, III, do Decreto no 1.800/96.
Apesar desse posicionamento, entendemos ser importante que o contrato
social estabeleça os poderes e as atribuições dos administradores, como previs-
to no art. 9975, VI, do Código Civil.

2.2.3.1  A pluralidade de sócios

O Direito brasileiro tem como regra não admitir a sociedade unipessoal. As-
sim, a sociedade empresária deve ser formada pelo envolvimento jurídico de
pelo menos duas pessoas. Este entendimento é deduzido do próprio art. 981
do Código Civil, ao dizer que “celebram contrato de sociedade as pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício
de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados” (grifamos).
Entretanto, o próprio ordenamento jurídico permite algumas. Apenas
para citar, é permitida a unipessoalidade das subsidiárias integrais
(art. 251 da Lei no 6.404/76) e casos de unipessoalidade incidental temporária
nas sociedades limitadas (art. 1033, IV, do Código Civil) e nas sociedades anô-
nimas (art. 206, I, d, da Lei no 6.404/76).

2.2.3.2  A constituição de capital social

Por sua vez, a constituição de capital social significa a somatória das contri-
buições econômicas dos sócios para a formação da sociedade, podendo este
aporte, dependendo do tipo social, ser em dinheiro, bens, direitos e serviços.

5  Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas
estipuladas pelas partes, mencionará:
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a
denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis
de avaliação pecuniária;
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.
Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do
contrato.

capítulo 2 • 53
Necessariamente, todo sócio tem a obrigação de participar econo-
micamente da formação do capital social para participar de uma socie-
dade. Assim, deve o sócio se obrigar a contribuir com uma parte do ca-
pital social, ato este que denominamos tecnicamente de subscrição de
capital, e cumprir com sua obrigação de expressão econômica, ao entregar
ou fazer algo, o que também denominamos tecnicamente de integralização
de capital.
Assim, a subscrição de capital se dá, ao formar uma sociedade, com a
obrigação contida nos seus atos constitutivos e assumida por um sócio.
Posteriormente, a integralização ocorre com o cumprimento da obrigação as-
sumida ao subscrever o capital social.
A integralização do capital social, em geral, não necessita ser totalmente in-
tegralizado no início de suas atividades, podendo ser realizada a prazo, confor-
me prevê o art. 10046 do Código Civil.
É importante destacar que o capital social é dividido em partes, as quais
denominamos quotas ou ações. A divisão é realizada para medir o grau de par-
ticipação de cada sócio em direitos e obrigações perante a sociedade. Este me-
canismo deve existir porque os sócios não precisam contribuir igualmente com
a formação do capital social. Portanto, em uma escala medida por quotas ou
ações subscritas, os sócios terão maior ou menor participação na sociedade,
conforme o número de unidades do capital social titularizadas.

2.2.4  Diferença entre sócio e administrador da sociedade

Não se pode confundir juridicamente as pessoas do sócio com a do adminis-


trador da sociedade empresarial, eis que muito bem delimitada está a sua di-
ferenciação perante o direito societário. É através de seu administrador que a
sociedade empresarial irá praticar atos da vida civil.
Com maestria é a definição da figura do administrador apresentada por
Mamede (2009):

(...) a quem cumpre igualmente a representação da sociedade; cuida-se de uma pessoa


natural nomeada no contrato social, ou segundo as regras do contrato social, mas em

6  Art. 1004. Os sócios são obrigados, na forma e no prazo previstos, às contribuições estabelecidas no contrato
social, e aquele que deixar de fazê-lo, nos trinta dias seguintes ao da notificação pela sociedade, responderá perante
esta pelo dano emergente da mora.

54 • capítulo 2
documento apartado. Seus poderes e suas atribuições também estarão dispostos
no contrato social devidamente registrado, tornando-se, por isso, públicos: consul-
tando o registro, qualquer pessoa pode saber quem é o administrador e represen-
tante da sociedade, quais são as suas atribuições e poderes. Atenção: não podem
ser administradores de sociedade aqueles que estão impedidos de empresariar.

Já os sócios tratam-se de um grupo de pessoas que buscam a remuneração


do investimento que fizeram junto a formação de um capital, recebendo, por
isso, a titularidade de frações ideais de seu patrimônio.
Assim, podemos concluir que o sócio nem sempre é o administrador de
uma sociedade empresarial e, por outro lado, nem todo administrador de uma
sociedade empresarial necessariamente precisará ser sócio.

2.2.5  Responsabilidade do sócio e do administrador.

Vimos em aula que as sociedades devidamente constituídas adquirem persona-


lidade tornando-se sujeito de direito com aptidão genérica para adquirir direitos
e contrair obrigações.

©© KHZ / DREAMSTIME.COM
Porém, por força da lei, todos os
sócios têm responsabilidade subsi-
diária com relação às obrigações da
sociedade. Este preceito está contido
no art. 1.0247 do Código Civil e no art.
5968 do Código de Processo Civil.
A responsabilidade subsidiária
dos sócios importa em:
responder pelas obrigações da sociedade depois de exaurido o patrimônio
social (art. 1.024 do Código Civil);
valer-se do benefício de ordem, indicando bens livres e desembaraçados da
sociedade para serem executados (art. 596 do Código de Processo Civil).

7  Art. 596. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade senão nos casos previstos
em lei; o sócio, demandado pelo pagamento da dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro excutidos os bens da
sociedade.
8  Art. 1024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois
de executados os bens sociais.

capítulo 2 • 55
No entanto, dependendo da espécie societária com que uma sociedade foi
constituída, seus sócios poderão ter sua responsabilidade subsidiária limitada
ou ilimitada.
As sociedades em nome coletivo são consideradas sociedades de respon-
sabilidade ilimitada, pois seus sócios poderão ter todo o seu patrimônio par-
ticular alcançado, em um processo de execução contra uma sociedade a qual
pertence, se esta não possuir patrimônio suficiente para solver sua obrigação.
Já os sócios de sociedades constituídas na forma de limitada e anônima te-
rão suas responsabilidades subsidiárias limitadas a um determinado valor, não
comprometendo a totalidade de seu patrimônio particular.
Por fim, as sociedades em comandita são consideradas mistas, pois pos-
suem alguns sócios com responsabilidade ilimitada e outros com responsabili-
dade limitada a um determinado valor.

2.2.5.1  Da administração da sociedade

Anote-se que a função do administrador na sociedade requer desempenho


com muita idoneidade, diligência e preparo. É isso que se extrai das observa-
ções de Mamede (2009 p.73):

“Os administradores respondem perante a sociedade e os terceiros prejudicados pelos


danos resultantes de atos dolosos (ato ilícito consciente) e culposos (ato negligente ou
imprudente)), praticados no desempenho de suas funções; havendo mais de um, essa
responsabilidade é solidária. O dever do exercício da administração com honestidade,
cuidado e operosidade assume, por tal ângulo,uma faceta nova, permitindo acionar o
administrador que não o respeita. Essa atuação ética e moral inclui o dever de abster-se
de participar dos negócios e das deliberações sobre qualquer operação de interesse
contrário ao da sociedade, sob pena de, não só de responsabilidade civil, mas de ser
afastado motivadamente da função e, eventualmente, até ser excluído da sociedade”.

2.2.6  Direitos e deveres dos sócios

Em princípio, acreditamos que o sócio possui apenas o direito de participar dos


resultados financeiros da sociedade de que participa. Mas todos os sócios, in-
dependentemente do tipo da sociedade, possuem:

56 • capítulo 2
•  direitos patrimoniais;
•  direitos políticos;
•  direito de fiscalizar a administração da sociedade;
•  direito de retirada; e
•  direito de preferência.

2.2.6.1  Os direitos patrimoniais

Toda sociedade, ao iniciar a sua atividade empresarial, conta ape-


nas com o capital social que, contabilmente, é considerado um passi-
vo. Com o decorrer do exercício da atividade, que tem por finalidade úl-
tima gerar lucros, a sociedade passa a conquistar ativos que integrarão o
patrimônio social.
Após um exercício social9, os lucros acumulados no período terão seu des-
tino decidido pelos sócios. Comumente, estes recursos financeiros são distri-
buídos proporcionalmente aos sócios. Porém, podem ser convertidos em ativo
imobilizado, por meio de aquisição de bens que integrarão o patrimônio social.
Assim, os direitos patrimoniais de sócio podem ser considerados:

•  o recebimento de parte dos lucros acumulados em um exercício social;


•  a participação no patrimônio social, quando ocorrer extinção da socieda-
de, dissolução parcial ou retirada do sócio ou, nas sociedades anônimas, trans-
formação de ações ordinárias ou preferenciais em ações de fruição.

Tanto a participação nos lucros do exercício como a participação no patri-


mônio social serão proporcionais ao investimento realizado pelo sócio ao par-
ticipar do capital social.

2.2.6.2  Os direitos políticos

A sociedade, como toda pessoa jurídica, é uma entidade meramente ju-


rídica, pois não possui existência física. Porém, dotadas de personali-
dade jurídica, as sociedades exercem a atividade à qual está destina-
da, adquirindo direitos e contraindo obrigações, ou seja, praticando
negócios jurídicos.

9  Exercício social é o período correspondente a um ano

capítulo 2 • 57
Sabemos que os negócios jurídicos são atos de vontade. Como uma socieda-
de não possui vontade própria, compete aos seus representantes decidir sem-
pre por lograr os fins sociais.
Das decisões tomadas para a consecução dos fins a que se destina a socieda-
de, algumas são tomadas pelo seu corpo diretivo, ou seja, aqueles que cuidam
diretamente da administração social.
No entanto, outras decisões, pela repercussão causada aos interesses da so-
ciedade, necessitam de ser tomadas por meio do consenso entre todos os só-
cios, através de um órgão social denominado assembleia.
Os direitos políticos de sócio se referem justamente na faculdade de este
participar ativamente nas decisões em favor da sociedade, com relação aos as-
suntos que merecem tratamento em assembleia.
Vale lembrar que os direitos políticos atribuídos ao sócio são regra, sen-
do que, especificamente às sociedades anônimas, cabe a exceção, quando a
lei permite à companhia emitir ações sem direito a voto, as chamadas ações
preferenciais.

2.2.6.3  Direito de fiscalização

Em uma sociedade com a presença de poucos sócios, geralmente estes partici-


pam da sociedade não apenas como investidores, mas como administradores
e colaboradores diretos, portanto interados de todos os acontecimentos de in-
teresse da sociedade.
Em outras sociedades, devido ao grande número de sócios e à complexida-
de de sua atividade empresarial, podemos observar a presença de sócios admi-
nistradores, aqueles que, além de integrarem o quadro social, participam de
órgãos administrativos, como o conselho de administração e a diretoria.
Outros, menos interessados em participar ativamente da administração
da sociedade, permanecem apenas como investidores. Pelo fato de estes não
estarem diretamente ligados à administração da sociedade, é-lhes garantido o
direito de fiscalização, que ocorre de duas maneiras: diretamente, quando os
administradores devem prestar contas de sua gestão em assembleia-geral ordi-
nária, e indiretamente, por meio de órgão social denominado conselho fiscal.

58 • capítulo 2
2.2.6.4  Direito de retirada

O direito de retirada possui tratamento constitucional, pois o art. 5o, XX, da


Constituição Federal estabelece que “ninguém poderá ser compelido a asso-
ciar-se ou a permanecer associado”.
Vimos em aula anterior que a constituição de uma sociedade empresária é
um ato de vontade, em que duas ou mais pessoas resolvem se unir para a explo-
ração em conjunto de uma atividade empresarial. Da mesma forma, o sócio que
não deseja mais participar da sociedade tem, como alternativa, negociar a sua
participação ou retirar-se do quadro social.
Assim, por ato unilateral de sua vontade, o sócio tem o direito de retirar-se
do quadro social, ato denominado “recesso” ou “dissidência”, provocando o
desligamento dos vínculos que os unem aos demais sócios e à sociedade.
O direito de retirada, por provocar alterações na sociedade, precisa ser exer-
cido mediante o preenchimento de algumas condições que variam conforme o
tipo societário.

2.2.6.5  Direito de preferência

O aumento está ligado ao aumento de capital social. Assim, uma sociedade já


existente que queira aumentar seu capital social poderá emitir novas quotas ou
ações para serem subscritas e integralizadas.
O direito de preferência é justamente a predileção dada aos sócios a subs-
creverem as novas quotas ou ações emitidas em razão do aumento do capital
social, antes de serem oferecidas a terceiros.

2.2.6.6  Responsabilidade do sócio e do administrador.

Vimos em aula que as sociedades devidamente constituídas adquirem perso-


nalidade tornando-se sujeito de direito com aptidão genérica para adquirir di-
reitos e contrair obrigações.
Porém, por força da lei, todos os sócios têm responsabilidade sub-
sidiária com relação às obrigações da sociedade. Este preceito está

capítulo 2 • 59
contido no art. 1.02410 do Código Civil e no art. 59611 do Código de
Processo Civil.
A responsabilidade subsidiária dos sócios importa em:
responder pelas obrigações da sociedade depois de exaurido o patrimônio
social (art. 1.024 do Código Civil);
valer-se do benefício de ordem, indicando bens livres e desembaraçados da
sociedade para serem executados (art. 596 do Código de Processo Civil).
No entanto, dependendo da espécie societária com que uma sociedade foi
constituída, seus sócios poderão ter sua responsabilidade subsidiária limitada
ou ilimitada.
As sociedades em nome coletivo são consideradas sociedades de respon-
sabilidade ilimitada, pois seus sócios poderão ter todo o seu patrimônio par-
ticular alcançado, em um processo de execução contra uma sociedade a qual
pertence, se esta não possuir patrimônio suficiente para solver sua obrigação.
Já os sócios de sociedades constituídas na forma de limitada e anônima te-
rão suas responsabilidades subsidiárias limitadas a um determinado valor, não
comprometendo a totalidade de seu patrimônio particular.
Por fim, as sociedades em comandita são consideradas mistas, pois pos-
suem alguns sócios com responsabilidade ilimitada e outros com responsabili-
dade limitada a um determinado valor.

ATIVIDADES
01. Assinale a alternativa correta.
a) Capital social é o montante de recursos financeiros a serem distribuídos pelos sócios na
forma de dividendos.
b) O patrimônio da sociedade é resultante da soma das entradas realizadas pelos sócios
ao constituírem a pessoa jurídica.
c) Sociedade empresária é a pessoa jurídica de direito privado que tem por objeto social a
exploração de empresa.
d) As sociedades adquirem personalidade ao se cadastrarem perante a Secretaria da Re-
ceita Federal.
10  Art. 596. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade senão nos casos previstos
em lei; o sócio, demandado pelo pagamento da dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro excutidos os bens da
sociedade.
11  Art. 1024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois
de executados os bens sociais.

60 • capítulo 2
02. O que é dispensável para a constituição de uma sociedade empresária?
a) Contribuição econômica para a formação do capital social.
b) Contrato ou estatuto social.
c) Pessoas maiores e capazes.
d) A definição da atividade empresarial a ser exercida pela sociedade.

03. Não constitui elemento do contrato de sociedade referido no Código Civil:


a) o exercício de atividade econômica.
b) a partilha dos resultados.
c) a contribuição dos sócios consistente apenas em bens.
d) a affectio societatis.

REFLEXÃO
Muitas vezes nos deparamos com conflitos

©© KHZ / DREAMSTIME.COM
entre sócios de uma determinada socie-
dade empresária e, ao buscar a solução
mediante a interpretação das cláusulas
do contrato social, chega-se à conclusão
de que o negócio jurídico celebrado entre
os mesmos não possui previsão contratual
para aquela determinada situação.
É prática comum, no cotidiano das
empresas, a realização dos contratos sociais escritos a partir de um modelo, até mesmo
encontrado em páginas da internet.
Contudo, percebemos que cada item de um contrato social diz respeito a um ponto fun-
damental que poderá ser questionado futuramente entre os sócios. Daí a importância de se
ter o conhecimento de como é formado o conteúdo de um contrato social, para estabelecer
os direitos e as obrigações entre os sócios que sejam adequados ao negócio a que estão
dando início.

capítulo 2 • 61
LEITURA
ALMEIDA, Amador Paes. Manual das sociedades comerciais: direito de empresa. 18. Ed. São
Paulo: Saraiva, 2010.
BULGARELLI, Waldirio. Questões de direito societário. São Paulo: RT, 1998.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 29. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2.
GROSSI, Julio. A empresa tem personalidade jurídica?. Jus Navigandi, Teresina, ano 19, n. 4080, 2
set. 2014. Disponível em:<http://jus.com.br/artigos/29414>. Acesso em: 18 fev. 2015.
MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. 4a ed. São Paulo: Atlas, 2009.

62 • capítulo 2
3
Das sociedades
Empresariais:
A Sociedade
Limitada e a
Sociedade Anônima.
As sociedades limitadas são o tipo societário mais encontrado nas ativida-
des empresariais. Isto se dá por dois motivos: a grande vantagem oferecida
aos sócios, que possuem responsabilidade subsidiária limitada ao valor do
investimento feito à formação do capital social, e o fato de terem estas uma
estruturação jurídica de menor complexidade, comparada à das sociedades
anônimas.
Já o surgimento das sociedades anônimas está ligado ao período histórico
marcado pela política colonialista, que visava à conquista e à manutenção de
colônias, além do comércio ultramarino. Para viabilizar as chamadas expe-
dições marítimas, foi necessária a formação de grandes capitais por meio da
aliança entre o Estado e os particulares. Foram formadas poderosas sociedades
que detinham até mesmo poderes políticos recebidos por carta real, com a fina-
lidade de facilitar as relações diplomáticas com outros reinos.
Desse modo, reunindo tais sociedades vultosas quantias de capital, empre-
endiam em suas atividades colonizadoras altamente lucrativas, que chegavam
a remunerar o capital investido por seus sócios a uma taxa de 19% ao ano. Vale
ressaltar outro fato histórico na Revolução Industrial do século XIX, as socie-
dades anônimas também foram os grandes mecanismos viabilizadores para
a criação da grande indústria, permitindo juridicamente o aporte de capitais
para a expansão da produção industrial.

OBJETIVOS
O presente capítulo tem por finalidade apresentar as principais características das socieda-
des limitadas, os direitos e as obrigações dos quotistas e os órgãos sociais das sociedades
limitadas.
No que tange às sociedades anônimas, apresentar ao aluno as sua principais caracterís-
ticas, a forma de sua constituição e os seus órgãos sociais.

64 • capítulo 3
3.1  As sociedades empresariais e o Código
Civil de 2002

As pessoas, instituto jurídico pertencente ao Direito Civil, são defini-


das como sendo todo ente que possui capacidade de direito1. Das en-
tidades aptas a serem titulares de direitos e obrigações previstas
pelo Novo Código Civil, podemos classificá-las em pessoas físicas e
pessoas jurídicas.
É considerada pessoa física todo o ser humano que tenha nascido com
vida. Por sua vez, a pessoa jurídica, nada mais é que uma abstração do
Direito que, positivamente, empresta personalidade jurídica a uma coletivida-
de humana organizada para uma finalidade pública ou privada.
O Código Civil trata as pessoas jurídicas como sendo de direito público (ar-
tigo 412) e de direito privado (artigo 443). Podemos verificar, portanto, no con-
teúdo do artigo 44 do Diploma Civil, que as sociedades são classificadas como
pessoas jurídicas de direito privado.
As sociedades se destacam das demais pessoas jurídicas de direito privado
por serem formadas por um grupo de pessoas com fins econômicos. Assim, o
que aproxima os sócios é unicamente o objetivo de fazerem dinheiro por meio
da exploração em conjunto de uma atividade econômica.

1  Capacidade de direito é a aptidão atribuída a um ente de adquirir direitos e contrair obrigações na ordem civil.
2  Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:
I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações.
Parágrafo único. As disposições concernentes às associações aplicam-se, subsidiariamente, às sociedades que são
objeto do Livro II da Parte Especial deste Código.

3  Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:


I - a União;
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III - os Municípios;
IV - as autarquias;
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura
de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código.

capítulo 3 • 65
3.1.1  Efeitos da personalização das sociedades

Ao formar uma sociedade empresária, por meio da união da vontade de seus só-
cios em desenvolver em conjunto uma atividade empresarial, a consequência
mais importante que surge é o descerramento de sua personalidade jurídica.
Conforme o ensinamento de Requião (2010), adquirindo personalidade ju-
rídica, diversas consequências úteis:

•  a sociedade passa a ser uma entidade autônoma com legitimidade contra-


tual, responsabilidade patrimonial e legitimidade processual;
•  a sociedade possui individualidade, isolando-se da vida particular dos só-
cios que a compõem, sendo que os efeitos do exercício de sua atividade não
comprometem direta e pessoalmente o seu quadro social;
•  a sociedade adquire autonomia patrimonial, não confundindo, portanto,
com o patrimônio particular de seus sócios; e
•  a constituição da sociedade é flexível, com possibilidade de modificar sua
estrutura jurídica, econômica e administrativa.

É válido, ainda, destacar que, como bem observou Requião (2010): numa evo-
lução do conceito de personalidade jurídica, o legislador a reconhece como sujei-
to ativo de delito penal, como se vê na Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que
tutela o meio ambiente, art. 3o, ao estabelecer que “as pessoas jurídicas serão res-
ponsáveis administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta lei, nos
casos em que a infração seja cometida conforme o disposto nesta lei, nos casos
em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou con-
tratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade”.

3.1.2  Início e término da personalização das sociedades

Como os seres vivos, as sociedades têm seu tempo de nascer, de produzir e de


morrer. Mas, pelo fato de não possuírem vida biológica, pois não passam de
uma abstração do direito, sua existência tem seus termos especificamente pre-
vistos no Código Civil.

66 • capítulo 3
Segundo seu art. 454, a personalidade jurídica de uma sociedade se inicia
com o registro do respectivo ato constitutivo do órgão próprio. Portanto, por ser
uma sociedade empresária, a partir do registro do contrato ou estatuto social
na Junta Comercial, inicia-se sua existência legal.
É importante indagar: qual a data exata que marca o início da personalidade
jurídica de uma sociedade? O art. 1.1515 do Código Civil tem a resposta. Vejamos:

•  será a data da lavratura do ato constitutivo, se apresentados no prazo de


trinta dias os documentos necessários ao registro, contado da referida data;
•  será a data da concessão do registro, se apresentados os documentos ne-
cessários ao registro após trinta dias da data da lavratura do ato constitutivo.

O término da personalidade jurídica da sociedade ocorre por um procedi-


mento denominado dissolução. Há dois regimes dissolutórios diferentes:

•  regulado pela Lei no 6.404/76, em seus arts. 206 e seguintes, a ser aplicado
às sociedades institucionais;
•  regulado pelo Código Civil, em seus arts. 1.033 a 1.038 para as sociedades
contratuais.

Segundo o art. 1033 do Código Civil, dissolver-se-á a sociedade quando ocorrer:


•  o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição
de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por
tempo indeterminado;
•  o consenso unânime dos sócios;
•  a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo
indeterminado;
•  a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oi-
tenta dias;
•  a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.

4  Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no
respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se
no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por
defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.
5  Art. 1151. O registro dos atos sujeitos à formalidade exigida no artigo antecedente será requerido pela pessoa
obrigada em lei e, no caso de omissão ou demora, pelo sócio ou por qualquer interessado.

capítulo 3 • 67
Por sua vez, o art. 206 da Lei das Sociedades Anônimas estabelece que dis-
solvem a companhia:
•  de pleno direito:

1. pelo término do prazo de duração;


2. nos casos previstos no estatuto;
3. por deliberação da assembleia-geral (artigo 136, X);
4. pela existência de um único acionista, verificada em assembleia-geral
ordinária, se o mínimo de dois não for reconstituído até a do ano seguinte, res-
salvado o disposto no artigo 251;
5. pela extinção, na forma da lei, da autorização para funcionar;

•  por decisão judicial:

1. quando anulada a sua constituição, em ação proposta por qualquer


acionista;
2. quando provado que não pode preencher o seu fim, em ação proposta
por acionistas que representem 5% (cinco por cento) ou mais do capital social;
3. em caso de falência, na forma prevista na respectiva lei;
4. por decisão de autoridade administrativa competente, nos casos e na
forma, previstos em lei especial.
O procedimento de dissolução de sociedade, dada a sua complexidade, será
objeto de estudo de aula a ser ministrada apenas para esta finalidade. Mas, em
síntese, a extinção de sociedade por dissolução compreende três fases:

•  a dissolução-ato, ou seja, o ato judicial ou extrajudicial que motiva a extin-


ção da sociedade;
•  a liquidação, fase esta que compreende a solução de todas as pendências
da sociedade; e
•  partilha, quando o acervo da sociedade será distribuído entre os sócios.

3.1.3  As sociedades personificadas e não personificadas

O Direito Societário, entendido como um capítulo do Direito Empresarial, desti-


na-se ao estudo das sociedades empresárias. Para tanto, neste curso será aborda-
da a teoria geral das sociedades (personalização, classificação, desconsideração

68 • capítulo 3
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da personalidade, direitos de sócio, etc), assim como as espécies de sociedades


empresárias, aprofundando em cada uma delas o estudo sobre suas estruturas
e, por fim, as relações entre sociedades.
As sociedades personificadas tem sua previsão legal estabelecida junto aos
artigos 997 a 1101 do Código Civil Brasileiro, adquirindo sua personalidade ju-
rídica após arquivar seus atos constitutivos no registro competente.
Já as sociedades não personificadas tem sua previsão estabelecida entre os
artigos 986 a 996 do Código Civil Brasileiro, e são aquelas cujos atos constituti-
vos não são levados a registro.

3.1.4  As sociedades simples

As sociedades simples tem sua existência reconhecida em nosso ordenamento


jurídico seguindo as regras estabelecidas pelos artigos 997 à 1038 do Código
Civil Brasileiro, explorando seu objeto social de forma não empresarial. Assim,
na consecução de seus objetivos não se utiliza dos fatores de produção.

3.1.5  As sociedades não personificadas: comum e em conta de


participação

A sociedade em conta de participação tem previsão legal no artigo 991 do Códi-


go Civil de 2002 e não possui personalidade jurídica. Os seus sócios integrantes
estão divididos em duas classes: sócio ostensivo - aquele que exerce a atividade

capítulo 3 • 69
constitutiva do objeto social e se obriga perante terceiros. Já o sócio participan-
te apenas participa sobre o resultado do negócio. Merece destaque a sua prin-
cipal vantagem de ser desprovida de formalidades como o registro de seu ato
constitutivo em razão de não possuir personalidade jurídica. As ações desse
modelo social se desdobram apenas sobre a pessoa do sócio ostensivo, que em
seu próprio nome e sob sua responsabilidade única se obriga perante terceiros.
Aos sócios participantes – outrora chamados de ocultos – caberá as respectivas
participações nos resultados correspondentes. É a conclusão que se chega ao
procedermos a leitura dos artigos 991 a 996 do Código Civil Brasileiro:

Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto


social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua
própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspon-
dentes. Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e,
exclusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social. Art.
992. A constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer
formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito. Art. 993. O contrato so-
cial produz efeito somente entre os sócios, e a eventual inscrição de seu instrumento
em qualquer registro não confere personalidade jurídica à sociedade. Parágrafo úni-
co. Sem prejuízo do direito de fiscalizar a gestão dos negócios sociais, o sócio partici-
pante não pode tomar parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob pena
de responder solidariamente com este pelas obrigações em que intervier. Art. 994. A
contribuição do sócio participante constitui, com a do sócio ostensivo, patrimônio es-
pecial, objeto da conta de participação relativa aos negócios sociais. § 1o A especia-
lização patrimonial somente produz efeitos em relação aos sócios. § 2o A falência do
sócio ostensivo acarreta a dissolução da sociedade e a liquidação da respectiva conta,
cujo saldo constituirá crédito quirografário. § 3o Falindo o sócio participante, o contrato
social fica sujeito às normas que regulam os efeitos da falência nos contratos bilaterais
do falido. Art. 995. Salvo estipulação em contrário, o sócio ostensivo não pode admitir
novo sócio sem o consentimento expresso dos demais. Art. 996. Aplica-se à sociedade
em conta de participação, subsidiariamente e no que com ela for compatível, o disposto
para a sociedade simples, e a sua liquidação rege-se pelas normas relativas à presta-
ção de contas, na forma da lei processual. Parágrafo único. Havendo mais de um só-
cio ostensivo, as respectivas contas serão prestadas e julgadas no mesmo processo.

70 • capítulo 3
As sociedades em comum, por sua vez, desempenham suas funções e pra-
ticam seus atos desprovidas de qualquer forma de organização que a Lei deter-
mina, ou seja, não há o arquivamento dos seus atos constitutivos nos órgãos
competentes embora venha praticando os seus atos em nosso meio. É o que se
depreende através das leituras dos artigos 986 a 990 do Código Civil Brasileiro:

Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto
por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente
e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples. Art. 987. Os
sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a
existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo. Art. 988.
Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titula-
res em comum. Art. 989. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados
por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá
eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer. Art. 990. Todos os sócios
respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício
de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade.

3.1.6  As sociedades quanto a sua forma de constituição

Este critério classificatório está relacionado ao regime de constituição e disso-


lução de uma sociedade.
As sociedades contratuais são constituídas mediante um contrato firmado
entre os sócios, denominado contrato social. Nele, os sócios imbuídos de uma
mesma finalidade, convergem suas vontades através da celebração de um con-
trato. Em decorrência, todos os princípios de ordem contratual possuem apli-
cabilidade no ato constitutivo desta sociedade.
O contrato social deve estar preenchido dos requisitos dispostos nos art. 46
e art. 496 do Código Civil, mas é livre a estipulação de outras cláusulas que tam-
bém regularão a sociedade. Neste instrumento contratual, devem estar presen-
tes todos os sócios que assumirão obrigações entre si.
Pertencem a esta classificação as sociedades simples, em nome coletivo, em
comandita simples e limitada.

capítulo 3 • 71
CONEXÃO
Como exemplo, para conhecer o estatuto social da Petrobras (Petróleo Brasileiro S/A),
acesse: http://ouvidoria.petrobras.com.br/objects%2Ffiles%2F2006-04%2F205_256_
Estatuto_Social_da_Petrobras.pdf

As sociedades institucionais, representadas pelas sociedades anônimas,


as sociedades em comandita por ações e as cooperativas, são aquelas cujo
ato constitutivo, denominado estatuto social, não é considerado de natureza
contratual.
O estatuto social, também representa um conjunto de normas que regem a
sociedade, mas não é considerado um contrato por não representar obrigações
que tenham sido contraídas entre os sócios.
Deste modo, a diferença entre as sociedades contratuais e as institucionais
é que estas destacam mais a figura da instituição da pessoa jurídica que as pes-
soas que as integram. Mas, o efeito jurídico relevante está na aplicabilidade ou
não, do regime do direito contratual às relações entre os sócios.

3.2  A sociedade limitada e a sociedade


anônima

Ao fazermos um levantamento das atividades empresariais ocorridas na eco-


nomia nacional, logo poderemos verificar que o nosso mercado é composto
basicamente de pequenas e médias empresas que, com a pujança das grandes
empresas que coexistem em menor proporção, sustentam economicamente o
nosso país.
Adentrando nas estruturas jurídicas destas pequenas e médias em-
presas, verificaremos que são sociedades de pessoas constituídas sob o
molde das sociedades limitadas. Portanto, há de ser concluído que este
tipo societário é o de maior ocorrência no cenário econômico-jurídico
do país.

72 • capítulo 3
Questiona-se a razão deste fenômeno jurídico. A resposta é simples, ou seja,
é a própria razão que fez o sistema jurídico conceber as sociedades limitadas.
Como se percebe em sua origem histórica, a preocupação de seus estudiosos
era justamente criar uma sociedade de pessoas dotada de mecanismo de limi-
tação da responsabilidade de seus sócios para com as obrigações sociais, mas
que não fosse revestida de formalidades e procedimentos burocráticos como os
encontrados nas sociedades por ações.
Desse modo, a razão da grande difusão das sociedades limitadas está justa-
mente em sua estrutura de menor rigor, somado o grande fato de protegerem o
patrimônio particular dos sócios em situações de insolvência da sociedade de
que participam.
Já as sociedades anônimas são destinadas para as atividades econômicas
de maior vulto e complexidade, porque a sua constituição ser seguida de maior
formalidade.

3.2.1  Órgãos da Sociedade Limitada

Vimos que as sociedades limitadas são o tipo societário de maior presença em


nossa economia, em razão da limitação da responsabilidade de seus sócios pe-
las obrigações sociais e sua estrutura sem excessos de formalidades.
Devemos também destacar outros elementos jurídicos caracterizadores
das sociedades limitadas. Assim, podemos destacar sua natureza contratual.
Porém, quanto ao grau de dependência da sociedade em relação às qualidades
subjetivas dos sócios, atualmente são classificadas como híbridas, pois podem
ser caracterizadas como de pessoas e de capital, conforme estipulado entre os
sócios no contrato social.
Já analisamos, anteriormente, que a sociedade contratual é aquela constitu-
ída mediante um contrato firmado entre os sócios. Por meio do contrato social,
os sócios comungam da mesma finalidade, somando suas vontades em desen-
volver uma atividade empresarial.
O contrato social das sociedades limitadas deve prever o conteúdo estabele-
cido no artigo 997 do Código Civil, como prevê o artigo 1.054 do mesmo diploma
civil. É importante destacar que, no intuito de proteger os interesses da minoria,
o contrato social deverá observar regras de ordem pública que estão dispostos ao
longo do capítulo específico das sociedades limitadas no Código Civil.

capítulo 3 • 73
Quanto à sua hibridez relacionada ao caráter personalístico ou capi-
talista da sociedade, sua definição fica a cargo dos sócios, ao decidirem
em contrato social sobre: I) a cessão das quotas, II) a penhorabilidade
das quotas, III) o destino das quotas no caso de falecimento dos sócios e,
IV) o destino da sociedade no caso de retirada de um dos sócios.
Com relação à cessão das quotas sociais, segundo o art. 10571 do Código
Civil, o contrato social poderá estabelecer o grau de dependência da sociedade
em relação às qualidades subjetivas dos sócios, ao prescrever que, se não hou-
ver estipulação específica do contrato, o sócio poderá ceder sua quota, total ou
parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros,
ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do
capital social.
A possibilidade de a penhora recair sobre quotas sociais está prevista no art.
1026 do Código Civil. A lei atribuiu, neste particular, um caráter personalístico
às quotas, pois não permitiu que o credor do sócio as leve a leilão ou as adjudi-
que, evitando, assim, a entrada de estranho noquadro social.
Entretanto, o parágrafo único adotou mecanismo mais difícil, ao permitir
que o credor do sócio promova a liquidação de suas quotas, com a apuração dos
haveres que ela representa, ou seja, o caminho permitido é a dissolução parcial
da sociedade.
O art. 1.028 do Código Civil dispõe sobre o falecimento do sócio, fato este
que, se não houver estipulação em contrário, resultará, em regra, na liquidação
das quotas do falecido, caso os sócios remanescentes não entrem em compo-
sição com os herdeiros ou então não optem pela dissolução total da sociedade.
Por fim, a retirada de um sócio cuja presença possui importância e depen-
dência para o bom andamento da sociedade pode gerar a dissolução da socie-
dade, caso os demais sócios decidam como tal, conforme diz o art. 1.0292 do
Código Civil.

1  Art. 1057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio,
independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um
quarto do capital social.
2  Art. 1029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se da sociedade; se de
prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de sessenta dias; se de
prazo determinado, provando judicialmente justa causa.
Parágrafo único. Nos trinta dias subsequentes à notificação, podem os demais sócios optar pela dissolução da
sociedade.

74 • capítulo 3
3.2.1.1  As obrigações dos sócios da sociedade limitada

As obrigações dos sócios são assuntos de grande importância, uma vez que, ao
integrarem o quadro social de uma sociedade limitada, assumem deveres para
com a sociedade e também para com os sócios. Dentre as obrigações a serem
abordadas na presente aula, destacamos o estudo da responsabilidade pelas
obrigações sociais, que é o fator primordial da grande utilização deste modelo
societário. Também trataremos dos deveres de integralização do capital social
e de lealdade com a sociedade.

3.2.1.1.1  Dever de integralização do capital social


Toda sociedade, para iniciar suas atividades de ordem empresarial, necessita
de elementos materiais suficientes para sua viabilização. Como ainda não pos-
sui recursos próprios, faz-se necessário que seus sócios contribuam com capi-
tal ou com bens para servir de suporte inicial para a atividade da sociedade.
Assim, a somatória dos recursos entregues à sociedade é chamada de capi-
tal social ou de capital inicial. Percebe-se, então, que a primeira obrigação as-
sumida pelos sócios é justamente contribuir para a formação do capital social.
Esta obrigação se dá nas negociações entre os sócios na constituição da so-
ciedade, ou seja, está inserida como uma cláusula no contrato social. Vejamos
um exemplo:

O capital da sociedade é de R$ 90.000,00 (noventa mil reais) totalmente integralizado,


dividido em 90.000 (noventa mil) quotas, no valor de R$1,00 (um real) cada uma, subs-
critas e integralizadas entre os sócios da seguinte forma:
FERNANDO PESSOA.....45.000 quotas......................R$ 45.000,00
LUÍS DE CAMÕES.............45.000 quotas.......................R$ 45.000,00

O ato de assumir certa quantia expressa monetariamente que será utilizada


para a formação do capital social é denominado subscrição. Assim, no exemplo
acima, Fernando Pessoa subscreveu 45.000 quotas de capital, ou seja, assumiu
a obrigação de contribuir com R$ 45.000,00, em bens ou em espécie, para for-
mar o capital social da sociedade a ser constituída.

capítulo 3 • 75
É importante lembrar que a subscrição de cada sócio servirá de medida para
a atribuição de seus respectivos direitos e demais obrigações sociais, como
prescreve o art. 1.007 do Código Civil. Portanto, devemos partir da totalidade
do capital social, que deverá ser dividido em unidades de valor, denominadas
quotas. Numa escala móvel, aquele sócio que reunir o maior número de quotas
terá, proporcionalmente, a maior participação societária.
Utilizando o exemplo acima, Fernando Pessoa subscreveu 45.000 quotas,
portanto participa da sociedade em uma proporção equivalente a 50 %.
Enquanto o ato de subscrever significa assumir a obrigação de contribuir
para a formação do capital social, o seu cumprimento é denominado integra-
lização de capital. Desse modo, ao integralizar capital, o sócio está cumprindo
sua obrigação de entregar certa quantia de dinheiro ou bens assumida ao subs-
crever quotas da sociedade.
A obrigação de integralização das quotas subscritas em sociedades limita-
das está tratada no art. 1.0043 e no art. 1.0584, ambos do Código Civil, sendo que
somente poderá ser realizada em entrega de dinheiro, vedada, portanto, a inte-
gralização em serviços como dispõe o art. 1.055, § 2o, do referido diploma legal.
A propósito, a não integralização de capital subscrito possui um tratamen-
to específico pelo Código Civil. O sócio que não cumpre com sua obrigação
de integralizar nos termos estabelecidos no contrato social é tido como sócio
remisso.
O art. 1004 do Código Civil estabelece que o sócio remisso deverá respon-
der pelo dano emergente da mora, independentemente da natureza de sua
contribuição. Por certo, se o contrato for revestido dos requisitos legais para
torná-lo título executivo extrajudicial, é possível ação de execução da obrigação
de fazer. Caso contrário, a cobrança judicial dos danos dependerá de ação de
conhecimento.
Por outra via, também há a possibilidade de os sócios deliberarem pela expul-
são do sócio remisso, conforme prescreve o art. 1.004, parágrafo único, do Código
3  Art. 1004. Os sócios são obrigados, na forma e no prazo previstos, às contribuições estabelecidas no contrato
social, e aquele que deixar de fazê-lo, nos trinta dias seguintes ao da notificação pela sociedade, responderá perante
esta pelo dano emergente da mora.
Parágrafo único. Verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios preferir, à indenização, a exclusão do sócio
remisso, ou reduzir-lhe a quota ao montante já realizado, aplicando-se, em ambos os casos, o disposto no § 1o do
art. 1.031.
4  Art. 1058. Não integralizada a quota de sócio remisso, os outros sócios podem, sem prejuízo do disposto
no art. 1.004 e seu parágrafo único, tomá-la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o primitivo titular e
devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais
as despesas.

76 • capítulo 3
Civil, devolvendo a este as entradas realizadas com o desconto de juros de mora,
cláusula penal expressamente estabelecida em contrato e demais despesas.

3.2.1.1.2  Responsabilidade subsidiária dos sócios


Como já visto em aula anterior, a sociedade, ao se personificar juridicamente
com o arquivamento de seus atos constitutivos na Junta Comercial, passa a ter
legitimidade negocial e processual autônoma, bem como patrimônio próprio e
distinto dos sócios que a compõem.
Apesar deste efeito específico da personalização da sociedade, a regra é que
todos os sócios respondem subsidiariamente pelas obrigações da sociedade.
Ou seja, a sociedade é a principal responsável pelas obrigações assumidas pe-
los seus representantes; porém, na falta de patrimônio suficiente para atender
suas obrigações, busca-se a responsabilidade subsidiária dos sócios perante as
obrigações originalmente da pessoa jurídica de que participa.
Em se tratando de sociedade limitada, esta não foge à regra da responsabi-
lidade subsidiária de seus sócios, contudo é lícito pactuar no contrato social
a limitação da responsabilidade de seus sócios, ou seja, determinar um valor
(valor das quotas subscritas) máximo para a contribuição dos sócios pelo insu-
cesso da sociedade de que participam.

3.2.1.1.3  Dever de lealdade


A sociedade é, pela própria razão de sua existência, uma confluência de interesses
e esforços para a consecução de um fim comum, qual seja, a obtenção de lucros me-
diante a exploração de uma atividade empresarial estabelecida como objeto social.
Desse modo, os sócios devem colaborar para o sucesso do empreendimento
comum. Uma colaboração ativa, participando direta ou indiretamente da ges-
tão da atividade social, bem como passivamente, abstendo-se de praticar atos
que prejudiquem os interesses sociais.
A deslealdade do sócio pode gerar a expulsão deste do quadro social da so-
ciedade (art. 1.0305 do Código Civil). Segundo Fábio Ulhoa Coelho (2002), a ex-
pulsão é tida como uma espécie de rescisão contratual por culpa de uma das
partes, mas com alguns aspectos específicos, quais sejam:

5  Art. 1030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído judicialmente,
mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações ou, ainda, por
incapacidade superveniente.
Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o sócio declarado falido, ou aquele cuja quota tenha
sido liquidada nos termos do parágrafo único do art. 1.026.

capítulo 3 • 77
a) o contrato social se rescinde em relação a uma das partes, mas não são
afetados os outros vínculos plurilaterais dele decorrentes;
b) o sócio expulso tem direito, conforme a causa da expulsão, à restituição
das suas entradas ou ao reembolso da participação societária; e
c) a rescisão pode ser extrajudicial.

3.2.1.2  Participação dos sócios na sociedade limitada

Todo sócio participa da sociedade por meio do exercício de direitos que recebe
ao subscrever parte do capital social. Os direitos que o sócio titulariza são: a)
participar do resultado social, b) fiscalizar a gestão da sociedade, c) contribuir
para as deliberações sociais, d) direito de retirada, e) direito de preferência.

3.2.1.2.1  Participação nos resultados sociais


A sociedade limitada, ao desenvolver uma atividade econômica, busca a forma-
ção do lucro para atingir sua finalidade maior, que é a remuneração do capital
investido pelos sócios.
Assim, o resultado da atividade social tem como finalidade única retribuir
o aporte de capital realizado pelos sócios, os quais devem receber indistinta-
mente, seja na forma de dividendos ou na forma de participação do patrimônio
líquido da sociedade em dissolução.
O art. 1.0086 do Código Civil dispõe que é nula cláusula contratual que ex-
clua qualquer sócio de participar dos lucros e das perdas, inclusive podendo
este sócio cobrar judicialmente pelo lucro não recebido.
Deve-se observar, ainda, se o contrato social tem a Lei das Sociedades
Anônimas como legislação supletiva. Neste caso, a sociedade deverá distribuir,
obrigatoriamente, metade do lucro líquido ajustado, apurado no final do exer-
cício, conforme prevê o art. 212 da LSA.
No entanto, se a sociedade for regida apenas pelo Código Civil, a
distribuição dos lucros será decidida pela maioria societária, caso o
contrato social não tenha fixado nenhum percentual mínimo para
os dividendos.

6  Art. 1008. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos lucros e das perdas.

78 • capítulo 3
3.2.1.2.2  Fiscalização da gestão da sociedade
A fiscalização da administração da sociedade é realizada direta e indiretamente
pelos sócios. De forma direta, os sócios contam com as prerrogativas dos arts.
1.020 e 1.021 do Código Civil.
O art. 1.020 determina que os administradores deverão prestar contas de
sua gestão, no final de cada exercício social, apresentando em assembleia-geral
ordinária as demonstrações contábeis para aprovação.
Por sua vez, o art. 1.021 cuida do direito do sócio ao acesso aos livros e aos
documentos para fiscalização, bem como de examinar o estado do caixa e da
carteira da sociedade. A única ressalva que poderá ocorrer é a possibilidade de
o contrato social definir época própria para a realização de tal procedimento
fiscalizatório.
Indiretamente, os sócios fiscalizam a administração por meio de órgão es-
pecífico denominado Conselho Fiscal, cujas atribuições estão definidas nos
arts. de 1.066 a 1.070 do Código Civil.
O Conselho Fiscal é um órgão de presença facultativa nas sociedades limita-
das e é composto por, no mínimo, três membros e seus respectivos suplentes,
sócios ou não, eleitos em assembleia ordinária para apreciar as contas dos ad-
ministradores e deliberar sobre o balanço patrimonial e o resultado econômico.

3.2.1.2.3  Contribuição para as deliberações sociais


As sociedades possuem personalidade apenas no âmbito jurídico, pois não têm
existência física. Por consequência disso, em razão de não possuir vontade pró-
pria como um ser humano, a formação de suas decisões, bem como a execução
destas, depende de atuação de seus órgãos sociais.
Neste sentido, as decisões poderão ser tomadas pelas assembleias, cujas
atribuições exclusivas estão prescritas no art. 1.0717 do Código Civil, as-
sim como pela Diretoria, cuja atribuição é residual àquelas previstas para as
assembleias.
7  rt. 1071. Dependem da deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas na lei ou no contrato:
I - a aprovação das contas da administração;
II - a designação dos administradores, quando feita em ato separado;
III - a destituição dos administradores;
IV - o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato;
V - a modificação do contrato social;
VI - a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação;
VII - a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas;
VIII - o pedido de recuperação judicial.

capítulo 3 • 79
Portanto, é direito de sócio votar nas assembleias sobre as atividades e os
destinos da sociedade, conforme as regras definidas pelo Código Civil.

3.2.1.2.4  Retirada da sociedade


É garantia fundamental prevista no art. 5º da Constituição Federal a plena li-
berdade de associação para fins lícitos, assim como o direito de ninguém se ver
compelido a associar-se ou a permanecer associado.
Por consequência dessa garantia fundamental, o sócio que não deseja mais par-
ticipar da sociedade tem duas alternativas: a) negociar suas quotas para substituir
sua participação ou b) retirar-se da sociedade por ato unilateralidade de vontade.
Haverá, em decorrência desse direito de retirada, uma dissolução parcial da
sociedade, com a consequente redução do capital social, sendo que o sócio re-
tirante terá direito ao valor equivalente às suas quotas. Em se tratando de socie-
dade contratual por prazo indeterminado, qualquer sócio poderá retirar-se da
sociedade mediante notificação aos demais sócios, no mínimo com sessenta
dias de antecedência, conforme previsão expressa no art. 1.029 do Código Civil.

3.2.1.2.5  Direito de preferência


Esse direito se refere à preferência do sócio na subscrição de quotas ou na aqui-
sição de quotas de outros sócios, em detrimento de terceiros estranhos ao qua-
dro social.
O objetivo desse direito é a manutenção da participação societária.

3.2.1.3  Das deliberações dos sócios

Ao disciplinar as deliberações dos sócios na sociedade limitada, o art. 1.071 do


Código Civil declinou as matérias que, necessariamente, serão objeto de apre-
ciação pelos integrantes da sociedade. São elas:

•  a aprovação das contas da administração;


•  a designação dos administradores, quando feita em ato separado;
•  a destituição dos administradores;
•  o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato;
•  a modificação do contrato social;
•  a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do es-
tado de liquidação;

80 • capítulo 3
•  a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas;
•  o pedido de recuperação judicial.
As deliberações dos sócios são tomadas em reunião ou assembleia, confor-
me previsto no contrato social. O divisor de águas é o número de integrantes
da sociedade, uma vez que o art. 1.072 8do Código Civil exige a instalação de
assembleia se a sociedade possui mais de dez sócios.
A distinção entre as duas modalidades previstas na legislação permite que
o contrato social disponha sobre periodicidade, forma de convocação, quorum
exigido para instalação, realização e registro da reunião de sócios, pois as as-
sembleias devem observar os rituais específicos definidos no Código Civil.
As reuniões ou assembleias deverão ser convocadas, ordinariamente, pelos
administradores e, extraordinariamente (art. 1.073):

•  por sócio, quando os administradores retardarem a convocação por mais


de sessenta dias;
•  por titulares de mais de 1/5 do capital social, quando não atendido, no
prazo de oito dias, pedido de convocação fundamentado, com indicação das
matérias a ser tratadas;
•  pelo Conselho Fiscal, se a administração retardar por mais de trinta dias
sua convocação anual; e
•  pelo Conselho Fiscal, sempre que ocorrer motivos graves
e urgentes.

A assembleia deve ser convocada por meio de anúncios publicados por três ve-
zes na imprensa oficial e em jornal de grande circulação, com antecedência míni-
ma de oito dias da data da primeira publicação convocatória (art. 1.152, § 3o).

8  Art. 1072. As deliberações dos sócios, obedecido o disposto no art. 1.010, serão tomadas em reunião ou
em assembleia, conforme previsto no contrato social, devendo ser convocadas pelos administradores nos casos
previstos em lei ou no contrato.
§ 1o A deliberação em assembleia será obrigatória se o número dos sócios for superior a dez.
§ 2o Dispensam-se as formalidades de convocação previstas no § 3o do art. 1.152, quando todos os sócios
comparecerem ou se declararem, por escrito, cientes do local, data, hora e ordem do dia.
§ 3o A reunião ou a assembleia tornam-se dispensáveis quando todos os sócios decidem, por escrito, sobre a matéria
que seria objeto delas.
§ 4o No caso do inciso VIII do artigo antecedente, os administradores, se houver urgência e com autorização de
titulares de mais da metade do capital social, podem requerer concordata preventiva.
§ 5o As deliberações tomadas em conformidade com a lei e o contrato vinculam todos os sócios, ainda que ausentes
ou dissidentes.
§ 6o Aplica-se às reuniões dos sócios, nos casos omissos no contrato, o disposto na presente Seção sobre a
assembleia.

capítulo 3 • 81
Contudo, será possível ocorrer a dispensa das tais formalidades se todos os
sócios comparecerem ou se declararem, por escrito, cientes do local, dia, hora
e ordem do dia (art. 1.072, § 2o)
Destacamos também que a assembleia ou a reunião poderão ser substituí-
das por documento escrito que explicite a deliberação adotada, desde que assi-
nado pela totalidade dos sócios (art. 1.072, § 3o).
Especificamente às assembleias, somente poderão ser instaladas em primeira
convocação se tiver a presença mínima de 3/4 do capital social e, em segunda con-
vocação e posteriores, com a presença de qualquer número de sócios (art. 1.074).
Os sócios podem se fazer presentes por advogado ou outro sócio, desde que ou-
torguem poderes mediante mandato com a indicação dos atos autorizados. Este
instrumento de mandato deverá ser registrado juntamente com a ata de assembleia,
conforme prevê o art. 1.074, § 1o. Entretanto, o sócio não poderá se fazer representa-
do em assembleia cujo assunto em pauta tenha relação direta com sua pessoa (§ 2o).
As deliberações tomadas pelos sócios deverão ser registradas no livro de
atas, que será acompanhado da assinatura dos sócios em número necessário
para a validade das decisões.
É importante salientar que as decisões tomadas e que estejam em confor-
midade com a lei e o contrato social vinculam todos os sócios, mesmo que dis-
sidentes da deliberação adotada. Entretanto, havendo decisão que contrarie lei
ou contrato, responderão ilimitadamente pelas obrigações aqueles que expres-
samente as aprovaram (art. 1.080).
A cópia da ata deverá ser encaminhada, em prazo de vinte dias, para que seja
arquivada e averbada (art. 1.0759).
O artigo 1.078 do Código Civil determina que deverá ser realizada uma as-
sembleia, ao menos uma vez por ano, nos quatro meses seguintes ao término
do exercício social, com o objetivo de:

9  Art. 1075. A assembleia será presidida e secretariada por sócios escolhidos entre os presentes.
§ 1o Dos trabalhos e deliberações será lavrada, no livro de atas da assembleia, ata assinada pelos membros da
mesa e por sócios participantes da reunião, quantos bastem à validade das deliberações, mas sem prejuízo dos que
queiram assiná-la.
§ 2o Cópia da ata autenticada pelos administradores, ou pela mesa, será, nos vinte dias subsequentes à reunião,
apresentada ao Registro Público de Empresas Mercantis para arquivamento e averbação.
§ 3o Ao sócio que a solicitar será entregue cópia autenticada da ata.

82 • capítulo 3
•  tomar as contas dos administradores e deliberar sobre o balanço patrimo-
nial e o de resultado econômico;
•  designar administradores, quando for o caso;
•  tratar de qualquer outro assunto constante da ordem do dia.

Essa assembleia é denominada ordinária ou anual e tem como objetivos


maiores a aprovação das contas da administração e a destinação dos lucros
acumulados do exercício. Assim, compete aos administradores, até trinta dias
antes da data marcada para a assembleia, disponibilizar o balanço patrimonial
e o de resultado econômico, por escrito e com a prova do respectivo recebimen-
to, aos sócios que não exerçam a administração (art. 1.078, § 1o).
As deliberações tomadas em assembleia, em geral, são válidas desde que
decididas pela maioria dos sócios presentes. Porém, conforme a relevância do
tema, alguns assuntos têm quorum específico de aprovação. Assim, segue a ta-
bela para destacar.

3/4 DO CAPITAL 2/3 DO CAPITAL MAIORIA MAIORIA DOS


UNANIMIDADE
SOCIAL SOCIAL ABSOLUTA PRESENTES
Aprovação de Aprovação de Designação dos
administrador não administrador não administradores Aprovação das
Modificação do
sócio, se o capital sócio, se o capital sócios, quando contas da adminsi-
contrato social
não estiver todo social estiver todo feita em ato tração
(art. 1.076, I)
integralizado integralizado separado (art. 1.076, III)
(art. 1.061) (art. 1.061) (art. 1.076, II)
Incorporação, Nomeação e
Dissolução de Destituição de
fusão, dissolução destituição dos
sociedade, se por administrador Destituição dos
da sociedade ou liquidantes e jul-
prazo determinado sócio nomeado administradores
cessação do es- gamento de suas
(arts. 1.087, 1.044 no contrato social (art. 1.076, II)
tado de liquidação contas
e 1.033, II) (art. 1.063, § 1o)
(art. 1.076, I) (art. 1.076, III)
Remuneração Demais casos pre-
dos administrado- vistos em lei ou no
res, quando não contrato, se este
estabelecido em não exigir maioria
contrato mais elevada
(art. 1.76, II) (art. 1.076, III)
Dissolução da
sociedade, se por
prazo indetermina-
do (art. 1.033, III)
Expulsão de sócio
minoritário
(art. 1.085)

capítulo 3 • 83
3.2.1.4  Da administração da sociedade limitada

Os administradores são aqueles que conduzem as atividades empresariais


desenvolvidas pela sociedade. São os representantes legais para os atos judi-
ciais e extrajudiciais.
Conforme já estudado anteriormente, porém, convém relembrar, uma
grande novidade trazida pelo Código Civil, com relação às sociedades limita-
das, é a possibilidade de uma pessoa não sócia participar de sua administração.
Assim, conforme o disposto no art. 1.06010, a administração poderá ser realiza-
da por uma ou por mais pessoas, sócias ou não, designadas no contrato social
ou em ato separado.
Contudo, para a sociedade ser administrada por não sócio, é necessária ex-
pressa autorização no contrato social.
O contrato social deve mencionar se a administração é atribuída a mais de
uma pessoa e se elas têm poderes individuais de representação, em virtude de
as sociedades que se dedicam a atividades de maior envergadura necessitarem
de uma administração complexa e com maior grau de profissionalismo. Em vis-
ta disto, a administração da sociedade limitada encaminha-se a uma repartição
em áreas especializadas da gestão empresarial, a ser exercida por sócios e pro-
fissionais contratados.
O mandato do administrador pode ser por prazo determinado ou não, de-
vendo o contrato social ou o ato de nomeação definir a respeito do termo.
Quando o administrador for designado em ato separado, este será investido
no cargo mediante termo de posse no livro de atas da administração, que deve-
rá ser assinado no prazo máximo de trinta dias de sua designação, sob pena de
se tornar sem efeito.
Depois de investido, o administrador deverá requerer, no prazo de 10 dias,
a averbação de sua nomeação na Junta Comercial, mencionando identificação,
qualificação, data da nomeação e prazo de gestão (art. 1.06211).

10  Art. 1060. A sociedade limitada é administrada por uma ou por mais pessoas designadas no contrato social ou
em ato separado.
Parágrafo único. A administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende de pleno direito aos que
posteriormente adquiram essa qualidade.
11  Art. 1062. O administrador designado em ato separado investir-se-á no cargo mediante termo de posse no livro
de atas da administração.
§ 1o Se o termo não for assinado nos trinta dias seguintes à designação, esta se tornará sem efeito.

84 • capítulo 3
3.2.2  Órgãos da Sociedade Anônima

O funcionamento de uma sociedade anônima depende da existência de órgãos


que a administrem e a representem, bem como que tomem decisões em favor
dos interesses sociais. Assim, a sociedade se faz presente por intermédio dos
órgãos sociais, que são compostos por membros, acionistas ou não.
Portanto, o direito adotou a teoria organicista, a qual estabelece que os ór-
gãos sociais devem ser estruturados de forma democrática para expressar a
vontade da sociedade anônima. Estes são constituídos em três categorias:

•  Órgão de deliberação: expressa a vontade da sociedade;


•  Órgão de execução: realiza a vontade social;
•  Órgão de controle: fiscaliza a fiel execução da vontade social.

Assim, a sociedade anônima é composta de quatro órgãos principais, cada


qual com suas funções específicas de deliberação, execução e controle:

•  Assembleia-geral;
•  Conselho de administração;
•  Diretoria; e
•  Conselho fiscal.

Esses órgãos estão previstos na Lei no 6.404/76; no entanto, nada impede


que o estatuto social preveja a existência de outros órgãos auxiliares nas ativi-
dades administrativas e de fiscalização.
É certo que uma sociedade anônima se desdobra em outros órgãos, tais
como gerências, chefias, coordenadorias e outros. Esse fracionamento da ad-
ministração da sociedade visa a uma divisão organizada do trabalho, tendo
como critérios redução de custos, racionalidade do fluxo de informações, agili-
dade no processo decisório e outros que são objetos de estudo das teorias orga-
nicistas da ciência da administração de empresas.
Todavia, a divisão da sociedade anônima, em seu sentido jurídico definido
pela Lei no 6.404/76, tem em vista o atendimento de formalidades relacionadas
à validade e à eficácia dos atos da sociedade.
§ 2o Nos dez dias seguintes ao da investidura, deve o administrador requerer seja averbada sua nomeação no
registro competente, mencionando o seu nome, nacionalidade, estado civil, residência, com exibição de documento
de identidade, o ato e a data da nomeação e o prazo de gestão.

capítulo 3 • 85
Deste modo, a lei objetiva estabelecer a existência, bem como seu funciona-
mento, apenas dos quatro órgãos acima citados, ou seja, a assembleia-geral, o
conselho de administração, a diretoria e o conselho fiscal.
Tais órgãos serão mais bem abordados durante este tópico ao nos dedicar-
mos ao estudo de cada órgão.

3.2.2.1  A assembleia-geral

A assembleia-geral é tida como o órgão supremo da sociedade anônima, pelo


fato de ter caráter exclusivamente deliberativo e constituído pela reunião de to-
dos os acionistas com ou sem direito a voto.
O art. 121 da Lei no 6.404/76 estabelece que “a assembleia-geral, convocada
e instalada de acordo com a lei e o estatuto, tem poderes para decidir todos
os negócios relativos ao objeto da companhia e tomar as resoluções que julgar
convenientes à sua defesa e ao seu desenvolvimento.”
Pelo teor do art. 121, entendemos que a assembleia-geral tem a atribuição
para decidir sobre todos os assuntos de interesse social, levando em conta,
sempre, a consecução dos melhores negócios para atingir o objetivo em que a
sociedade foi constituída.
Muitas decisões que fazem parte do cotidiano da sociedade anônima são to-
madas pelos seus órgãos executivos, os quais possuem poderes limitados para
tal fim. São decisões que necessitam de agilidade e conhecimento técnico da
direção executiva.
Porém, outras decisões dependem necessariamente de deliberação em as-
sembleia-geral. Determina o art. 122 da Lei no 6.404/76 que compete privativa-
mente à assembleia-geral:

•  reformar o estatuto social;


•  eleger ou destituir, a qualquer tempo, os administradores e fiscais da
companhia, ressalvado o disposto no inciso II do art. 142;
•  tomar, anualmente, as contas dos administradores e deliberar sobre as
demonstrações financeiras por eles apresentadas;
•  autorizar a emissão de debêntures, ressalvado o disposto no
§ 1o do art. 59;
•  suspender o exercício dos direitos do acionista (art. 120);
•  deliberar sobre a avaliação de bens com que o acionista concorrer para a
formação do capital social;

86 • capítulo 3
•  autorizar a emissão de partes beneficiárias;
•  deliberar sobre transformação, fusão, incorporação e cisão da compa-
nhia, sua dissolução e liquidação, eleger e destituir liquidantes e julgar-lhes as
contas; e
•  autorizar os administradores a confessar falência e requerer recuperação
judicial da empresa.

3.2.2.2  O conselho de administração

Fábio Ulhoa Coelho (2010) ensina que a tecnologia jurídica distingue dois sis-
temas de estrutura da sociedade anônima: o monista e o dualista. No sistema
monista, compete exclusivamente aos acionistas a fiscalização e a supervisão
dos executivos encarregados de organizar a empresa e representar legalmente
a pessoa jurídica.
Por sua vez, o sistema dualista, adota a existência de um órgão intermediá-
rio entre a assembleia e a diretoria, qual seja, o conselho de administração. Este
tem por objetivo exercer concorrentemente as atribuições da assembleia-geral.
O Direito Brasileiro, após 1976, adotou o sistema dualista de organização
da sociedade anônima, porém a obrigatoriedade da existência do conselho de
administração somente aplica-se às sociedades de capital aberto, às sociedades
com capital autorizado e às sociedades de economia mista, sendo facultativa
para as demais companhias.
O conselho de administração é órgão de caráter deliberativo, cuja função é
agilizar o processo decisório de uma companhia, proporcionando rapidez no
enfrentamento de assuntos de maior relevância.
Não se trata de esvaziar a função da assembleia-geral, que é mantida como
órgão supremo da sociedade, mas de dar a este órgão os poderes de fiscalização
da gestão dos diretores executivos e deliberar limitadamente sobre determina-
dos assuntos sociais.
O artigo 142 da Lei das Sociedades Anônimas estabelece que o conselho de
administração possui as seguintes atribuições:

•  fixar a orientação-geral dos negócios da companhia;


•  eleger e destituir os diretores da companhia e fixar-lhes as atribuições,
observado o que a respeito dispuser o estatuto;

capítulo 3 • 87
•  fiscalizar a gestão dos diretores, examinar, a qualquer tempo, os livros e
os papéis da companhia, solicitar informações sobre contratos celebrados ou
em via de celebração, e quaisquer outros atos;
•  convocar a assembleia-geral quando julgar conveniente, ou no caso do
artigo 132;
•  manifestar-se sobre o relatório da administração e as contas
da diretoria;
•  manifestar-se previamente sobre atos ou contratos, quando o estatuto as-
sim o exigir;
•  deliberar, quando autorizado pelo estatuto, sobre a emissão de ações ou
de bônus de subscrição;
•  autorizar, se o estatuto não dispuser em contrário, a alienação de bens
do ativo permanente, a constituição de ônus reais e a prestação de garantias a
obrigações de terceiros;
•  escolher e destituir os auditores independentes, se houver.

Serão arquivadas no registro do comércio e publicadas as atas das reuniões


do conselho de administração que contiverem deliberação destinada a produ-
zir efeitos perante terceiros.
Os membros do Conselho de Administração são aqueles indivíduos eleitos
para ocupar tal posição pelos acionistas da companhia. O art. 140 da Lei no
6.404/76 dispõe que o Conselho de Administração será composto por, no mí-
nimo, três membros, eleitos pela assembleia-geral e por ela destituíveis a qual-
quer tempo, devendo o estatuto estabelecer:

•  o número de conselheiros, ou o máximo e mínimo permitidos, e o proces-


so de escolha e substituição do presidente do conselho pela assembleia ou pelo
próprio conselho;
•  o modo de substituição dos conselheiros;
•  o prazo de gestão, que não poderá ser superior a três anos, permitida a
reeleição;
•  as normas sobre convocação, instalação e funcionamento do conselho,
que deliberará por maioria de votos, podendo o estatuto estabelecer quorum
qualificado para certas deliberações, desde que especifique as matérias.
O artigo 146 da Lei no 6.404/76 regra que o exercício do cargo de conselheiro é
privativo dos acionistas pessoas naturais, mas, conforme disposição expressa no

88 • capítulo 3
parágrafo único do artigo 140, é possível que o estatuto preveja a participação de re-
presentantes dos empregados, escolhidos pelo voto destes, em eleição direta, orga-
nizada pela empresa, em conjunto com as entidades sindicais que os representem.
O estatuto pode, ainda, prever que até o máximo de um terço dos conselhei-
ros ocupe simultaneamente cargos na diretoria da companhia.

3.2.2.3  Da administração da sociedade anônima

Como estabelecido no artigo 138 da Lei no 6.404/76, a administração compete


aos membros de dois órgãos da estrutura societária: a diretoria e o conselho de
administração.
A diretoria é o órgão executivo da sociedade anônima. De presença obrigató-
ria, tem por atribuição dirigir a empresa e, externamente, manifestar a vontade
da pessoa jurídica nos atos e negócios de interesse social.
Os diretores de sociedade anônima são aquelas pessoas eleitas para tal pelo
Conselho de Administração, quando este órgão existir, ou, na sua falta, pela
assembleia-geral.
Neste sentido dispõe o artigo 143 de Lei no 6.404/76 que a diretoria será
composta por 2 (dois) ou mais diretores, eleitos e destituíveis a qualquer tempo
pelo Conselho de Administração, ou, se inexistente, pela assembleia-geral, de-
vendo o estatuto estabelecer:
•  o número de diretores, ou o máximo e o mínimo permitidos;
•  o modo de sua substituição;
•  o prazo de gestão, que não será superior a 3 (três) anos, permitida a
reeleição;
•  as atribuições e os poderes de cada diretor.
Rubens Requião afirma que, atualmente, longe do tradicional sistema de
empresa e empresário, as atividades empresárias modernas são administradas
por diretores ou gerentes que exercem um papel de mero instrumento ou peça
da máquina de produzir riquezas e gerar dividendos.
Neste sistema, as pessoas que ocupam cargos de diretores dominam cada
vez mais a civilização industrial e tecnocrática de nossos dias. Sem participar
do capital da sociedade, ou apenas na condição de acionista minoritário, é sim-
plesmente administrador, uma espécie de gestor sem propriedade.
Muito interessante é a observação do referido autor que, sem esgotar o as-
sunto, chama a atenção para um problema de ordem jurídica:

capítulo 3 • 89
Essa questão tem sido objeto de profundas análises sociais e éticas nos Estados Unidos.
Inquéritos ali são feitos, inclusive por congregações religiosas. Um deles, relatado por
Childs e Cater, levou seus autores a analisar o comportamento do executivo, no comen-
tário amargo de que “o homem de negócios norte-americano, no limiar da Idade de Ouro
de nossa expansão econômica, parece haver perdido a noção de sua própria finalidade”.
É uma peça da máquina de fabricar carros. O moderno gerente é, na verdade, uma vitória
da classe média, o qual não sente nem tem compromissos, a não ser com a empresa que
dirige. A isso leva o imoralismo de sua atuação, de que são exemplos os escândalos apu-
rados pelo Congresso americano, pela prática de subornos promovidos pelos dirigentes
das grandes empresas, como foi revelado em 1975.

Requião (2010)

O que mais chama a atenção quanto ao problema levantado por este comer-
cialista é que este fato pode ser a gênese do insucesso financeiro ou da quebra
fraudulenta de uma empresa, pois, alienados de outros interesses de ordem
social, os tecnocratas que gerem as sociedades podem conduzir as atividades
sociais para outras finalidades que não seja a efetivação da função social da
companhia.

3.2.2.4  Do conselho fiscal da sociedade anônima

O conselho fiscal é órgão de assessoramento da assembleia-geral na vo-


tação de matérias atinentes à regularidade dos atos de administração
da sociedade. Portanto, é responsável pela fiscalização dos atos dos ad-
ministradores e pela verificação do cumprimento de seus deveres legais
e estatutários.
Sua existência é obrigatória nas sociedades anônimas, mas seu funciona-
mento é facultativo. O Conselho Fiscal será composto de no mínimo três e no
máximo, cinco membros, e suplentes em igual número, acionistas ou não, elei-
tos pela assembleia-geral.
Segundo o art. 162 da Lei no 6.404/76, somente podem ser eleitas para o
Conselho Fiscal pessoas naturais, residentes no país, diplomadas em curso
de nível universitário, ou que tenham exercido, por prazo mínimo de três
anos, cargo de administrador de empresa ou de conselheiro fiscal.

90 • capítulo 3
Quando o funcionamento não for permanente, será instalado pela assem-
bleia-geral a pedido de acionistas que representem, no mínimo, um décimo
das ações com direito a voto, ou 5% (cinco por cento) das ações sem direito a
voto, e cada período de seu funcionamento terminará na primeira assembleia-
geral ordinária após a sua instalação.
Pelas suas características, compete ao Conselho Fiscal:

•  fiscalizar, por qualquer de seus membros, os atos dos administradores e


verificar o cumprimento dos seus deveres legais e estatutários;
•  opinar sobre o relatório anual da administração, fazendo constar do seu
parecer as informações complementares que julgar necessárias ou úteis à deli-
beração da assembleia-geral;
•  opinar sobre as propostas dos órgãos da administração a serem submeti-
das à assembleia-geral, relativas à modificação do capital social, emissão de de-
bêntures ou bônus de subscrição, planos de investimento ou orçamentos de ca-
pital, distribuição de dividendos, transformação, incorporação, fusão ou cisão;
•  denunciar, por qualquer de seus membros, aos órgãos de administração
e, se estes não tomarem as providências necessárias para a proteção dos inte-
resses da companhia, à assembleia-geral, os erros, fraudes ou crimes que des-
cobrirem, e sugerir providências úteis à companhia;
•  convocar a assembleia-geral ordinária, se os órgãos da administração re-
tardarem por mais de um mês essa convocação, e a extraordinária, sempre que
ocorrerem motivos graves ou urgentes, incluindo na agenda das assembleias as
matérias que considerarem necessárias;
•  analisar, ao menos trimestralmente, o balancete e as demais demonstra-
ções financeiras elaboradas periodicamente pela companhia;
•  examinar as demonstrações financeiras de exercício social e sobre elas
opinar;
•  exercer essas atribuições, durante a liquidação, tendo em vista as disposi-
ções especiais que a regulam.
Os membros do conselho fiscal têm os mesmos deveres dos administrado-
res e respondem pelos danos resultantes de omissão no cumprimento de seus
deveres e de atos praticados com culpa ou dolo, ou com violação da lei ou do
estatuto.

capítulo 3 • 91
ATIVIDADES
01. Na sociedade de responsabilidade limitada, frente às obrigações assumidas no desem-
penho regular de suas atividades, (172o Concurso de ingresso da magistratura – TJSP)
a) a responsabilidade do adiministrador é ilimitada.
b) a responsabilidade da sociedade é limitada às obrigações assumidas.
c) a responsabilidade dos sócios é limitada às obrigações assumidas.
d) a responsabilidade dos sócios é ilimitada.

02. O administrador das sociedades limitadas pode ser nomeado no contrato social ou por ato
separado. Uma das consequências dessa distinção é que o administrador nomeado em contrato:
a) deve ser sócio.
b) tem poderes irrevogáveis.
c) depende de quorum de nomeação diferenciado.
d) prescinde de autorização dos sócios para a prática de atos.

03. São órgãos das companhias:


a) a presidência, a diretoria, a gerência e o conselho de representação.
b) a presidência, a gerência, o conselho fiscal e o conselho diretor.
c) a Assembleia Geral, a presidência, o conselho diretor e a gerência administrativa.
d) a Assembleia Geral, o conselho de administração, o conselho fiscal e a diretoria.

04. De acordo com a Lei das Sociedades Anônimas, a administração da companhia compe-
tirá, conforme dispuser o Estatuto, ao
a) Conselho de Administração e à Diretoria, ou somente à Diretoria.
b) Presidente, à Diretoria e às Gerências Administrativas ou Financeiras.
c) Conselho Fiscal, ao Conselho de Administração e à Diretoria Administrativa e Financeira.
d) Presidente, ao Conselho de Administração, ao Conselho Fiscal e à Auditoria.

REFLEXÃO
Certa vez, ouvi um grande economista dizer o seguinte: “a economia se mede não pelo núme-
ro de sociedades limitadas, e sim pelo número de companhias abertas”.
Após refletir sobre o assunto, cheguei à mesma conclusão.

92 • capítulo 3
Ao pesquisar as grandes economias da atualidade, percebemos que estas têm como
presença marcante um forte mercado de capitais, com inúmeras companhias participando
com seus títulos nos negócios. Ou seja, as companhias utilizam como sua principal fonte de
financiamento os recursos diretos dos investidores que acreditam e aplicam seu dinheiro no
mercado de capitais. Com isso, estas empresas captam recursos financeiros aos menores
custos possíveis, pois não há as instituições financeiras como intermediárias do capital. Há
uma década, o nosso mercado de capitais passou por uma reformulação, ao aderir ao con-
ceito de governança corporativa. O resultado é que vemos que, atualmente, grandes grupos
empresariais abriram capital na Bolsa de Valores, levantando recursos e investindo bilhões
de reais em novos empreendimentos. Mais empregos, maior geração de riquezas, mais pes-
quisas e muito mais resultados que formam um círculo virtuoso em nossa economia. Estava
certo Antônio Vicente Golfeto.

LEITURA
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 29. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2.
CORREA-LIMA, Osmar Brina. Sociedade anônima. 3 ed. rev. e atual. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 29. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2.
CORREA-LIMA, Osmar Brina. Sociedade anônima. 3 ed. rev. e atual. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.

capítulo 3 • 93
94 • capítulo 3
4
Relações de
Consumo e Títulos
de Crédito
A Lei 8078/90 introduziu o Código de Defesa do Consumidor
O Brasil foi signatário de alguns tratados e convenções para a implantação
de um sistema que viesse ao encontro dos anseios preconizados na época - a
compreensão de que o consumidor é a parte mais fraca desta relação de consu-
mo e que precisa proteção especial por parte da legislação.
Após a promulgação da Constituição federal de 1988, foi lançado base para
o nascimento do Código de Defesa do Consumidor.
Neste capítulo, estudaremos os conceitos de consumidor e fornecedor, e
os direitos básicos do consumidor. Também veremos que a publicidade é um
meio legal para captação de clientes, mas que deve ser exercitada nos termos em
que a Lei disciplina. Também veremos as práticas abusivas mais comuns sem
levar o assunto a exaustão e que podem gerar transtornos aos futuros gestores.
Com isso em mente, o aluno será capaz de compreender o conceito de rela-
ção de consumo; os direitos do consumidor, frente às práticas abusivas come-
tidas pelo fornecedor e, os aspectos referentes à oferta de produtos e serviços
previstos no Código de Defesa do Consumidor.
Outro tema reservado para este capítulo são os títulos de créditos. Crédito
é uma palavra que exprime confiança, e procede da expressão “crer”, acreditar
em algo ou em alguém.
O crédito, no sentido financeiro, significa dispor a um tomador, recursos
financeiros para fazer frente a despesas, investimentos, financiar a compra de
bens, etc. O crédito existe para facilitar a vida das pessoas, das empresas e até
mesmo do Estado, possibilitando aqueles que em certos momentos não dispõe
de recursos financeiros suficientes para as suas necessidades presentes, ter à
disposição para fazer frente a despesas, aquisição de bens e serviços, dentre
outras precisões.
Como a utilização de crédito se dá por uma relação jurídica pessoal, os títu-
los de crédito são os documentos que comprovam esta relação, demonstrando
a existência de um direito de crédito (credor) contra o tomador do recurso fi-
nanceiro (devedor).
Veremos neste capítulo que os títulos de crédito, mais que um simples do-
cumento, são revestidos de princípios próprios que garantem a sua circulação
com segurança.

96 • capítulo 4
OBJETIVOS
Por meio do estudo do presente capítulo, você estará apto a: identificar os cuidados que devem
ser observados ao se colocar um título de crédito em circulação e, também, as implicações
inerentes ao tratamento diferenciado que a Lei reserva aos consumidores assunto corriqueiro
no cotidiano de todos os gestores.

capítulo 4 • 97
4.1  Conceito de consumidor
O Código de Defesa do Consumidor deve ser aplicado em toda relação de con-
sumo, em que temos, em um dos polos da relação, o fornecedor, e no outro polo
da relação, o consumidor final do produto.
Toda relação de consumo envolve três pontos principais (FILOMENO, 2007):
1. Envolve basicamente duas partes bem definidas: de um lado o adqui-
rente de um produto ou serviço (consumidor); de outro, o fornecedor ou vende-
dor de um serviço ou produto (produtor/fornecedor);
2. Destina-se à satisfação de uma necessidade privada do consumidor;
3. O consumidor não dispondo por si só, de controle sobre a produção de
bens de consumo ou prestação de serviços que lhe são destinados, arrisca-se
a submeter-se ao poder e condições dos produtores daqueles mesmos bens e
serviços.

4.1.1  Conceito de fornecedor, produto e serviço

Segundo o artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8078/90),


fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou es-
trangeira, bem como os entes despersonalizados que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, expor-
tação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
Produto pode ser conceituado, como qualquer bem, móvel ou imóvel, mate-
rial ou imaterial (parágrafo 1º, art. 3º, CDC) e serviço, como qualquer atividade
fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de na-
tureza bancária, de crédito e secundária, salvo as decorrentes das relações de
caráter trabalhista (parágrafo 1º, art. 3º, CDC).
Fornecedor é não apenas quem produz ou fabrica, industrial ou artesanal-
mente, em estabelecimentos industriais centralizados ou não, como também
quem vende, ou seja, comercializa produtos nos milhares e milhões de pontos
de venda espalhados por todo o território. Nesse ponto, portanto, a definição
de fornecedor se distancia da de consumidor, pois, enquanto este há de ser
o destinatário final, tal exigência já não se verifica quanto ao fornecedor, que
pode ser o fabricante originário, o intermediário ou o comerciante, bastando
que faça disso sua profissão ou atividade principal. Fornecedor é, pois, tanto
aquele que fornece bens e serviços ao consumidor como aquele que o faz para o

98 • capítulo 4
intermediário ou comerciante, porquanto o produtor originário também deve
ser responsabilizado pelo produto que lança no mercado de consumo (CDC,
art. 18) (ALMEIDA, 2009).

CONEXÃO
Para maiores informações referentes às relações de consumo, consulte o site www.procon.sp.go.
br, o qual contém uma série de informações referentes ao Código de Defesa do Consumidor.

Vale ressaltar que todo fornecedor é um empresário, que desenvolve ativida-


de de oferecimento de bens ou serviços ao mercado.

4.1.2  Política nacional das relações de consumo

O artigo 6º, do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), traz os direitos


básicos do consumidor, os quais estudaremos neste capítulo, em tópicos próprios.

4.1.2.1  Proteção à vida, saúde e segurança

Segundo o artigo 6º, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor, são direitos


básicos do consumidor, a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos
provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados
perigosos ou nocivos.
Têm os consumidores e terceiros não envolvidos em dada relação de con-
sumo incontestável direito de não serem expostos a perigos que atinjam sua
incolumidade física, perigos tais representados por práticas condenáveis no
fornecimento de produtos e serviços (GRINOVER, 2007).

Adotou a nossa lei o princípio do RECALL, em que o fornecedor é obrigado a recolher


os produtos que se mostrem perigosos e deve efetivar a contrapropaganda quando
esta é feita de maneira indevida, em especial quanto aos riscos que podem ser acar-
retados pelos produtos e serviços. De outro modo, o Juiz pode, no interesse da saúde
pública ou da incolumidade pessoal dos consumidores, ordenar medidas frente aos
produtos nocivos ou perigosos (GAMA, 2008).

capítulo 4 • 99
4.1.2.2  Educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos

A educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços,


asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações, também
são direitos básicos do consumidor (art. 6º, II, CDC).
É primordial que o consumidor seja educado para o consumo, para que au-
mente o seu nível de consciência e possa enfrentar os percalços do mercado.
Educação formal é aquela incluída nos currículos escolares, e informal a que
deriva dos meios de comunicação social. Objetiva-se dotar o consumidor de co-
nhecimentos acerca da fruição adequada de bens e serviços, de tal sorte que
possa ele, sozinho, optar e decidir, exercendo já agora um outro direito, o de
liberdade de escolha entre os vários produtos e serviços de boa qualidade colo-
cados no mercado (ALMEIDA, 2009).

4.1.2.3  Direito de informação

Segundo o artigo 6º, inciso III, do Código de De-


©© JOANNE ZH / DREAMSTIME.COM

fesa do Consumidor, são direitos básicos do con-


sumidor a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação
correta de quantidade, características, composi-
ção, qualidade e preço, bem como sobre os riscos
que apresentem.
O fornecedor está obrigado a informar no ró-
tulo do produto, ou antes da realização do serviço,
todas as informações úteis e necessárias, a respeito
do produto ou serviço ofertado.
Todo o produto ou serviço ofertado deve estar acompanhado de folheto ex-
plicativo sobre a forma de se utilizar ou consumir, visando a não permitir erros
por parte do consumidor. Ao consumidor devem ser reveladas as formas cor-
retas de como fazer o consumo, sem que deixe de aproveitar todas as qualida-
des do que lhe é oferecido e sem que seja levado a uso inadequado. Os dizeres
devem ser impressos na língua nacional, com caracteres bem legíveis para não
ensejar confusão (GAMA, 2008).

100 • capítulo 4
4.1.2.4  Publicidade enganosa e abusiva

São direitos básicos do consumidor a proteção contra a publicidade enganosa


e abusiva, métodos comercias coercitivos ou desleais, bem como contra práti-
cas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços.
(art. 6º, IV, CDC).
A publicidade enganosa é aquela capaz de induzir o consumidor a erro, en-
quanto que a publicidade abusiva é aquela que agride os valores éticos e morais
de uma sociedade. Porém, estudaremos com maiores detalhes estes dois tipos
de publicidade, ainda neste capítulo, em um tópico próprio.

4.1.2.5  Cláusulas contratuais abusivas

Segundo o artigo 6º, inciso V, do Código de Defesa do Consumidor, são direi-


tos básicos do consumidor a modificação das cláusulas contratuais que estabe-
leçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos superve-
nientes que as tornem excessivamente onerosas.
Neste inciso, o legislador procurou defender o consumidor contra cláusulas
contratuais abusivas, que possam lhe trazer prejuízo de grande monta. Neste
sentido, o Código de Defesa do Consumidor, traz um capítulo próprio (capítu-
lo VI), quanto às cláusulas contratuais abusivas, em especial, em se tratando
dos chamados contratos de adesão, ou seja, aqueles contratos elaborados de
forma unilateral, em que o consumidor é obrigado a aderir às cláusulas contra-
tuais, sem a possibilidade de negociação quanto às mesmas. Ex.: Os contratos
bancários.
Além da informação que o contratante – fornecedor deve prestar ao con-
sumidor – contratante potencial (art. 46), prevê-se claramente a interpretação
mais favorável ao consumidor, na hipótese de cláusula obscura ou com vários
sentidos (art. 47). Fica ainda definitivamente consagrada entre nós a cláusula
rebus sic stantibus (revisão do contrato), implícita em qualquer contrato, so-
bretudo nos que impuserem ao consumidor obrigações iníquas ou excessiva-
mente onerosas (GRINOVER, 2007).

capítulo 4 • 101
4.1.2.6  Direito à indenização

Segundo o artigo 6º, inciso VI, do Código de Defesa do Consumidor, são direi-
tos básicos do consumidor a efetiva prevenção e reparação de danos patrimo-
niais e morais, individuais, coletivos e difusos.
É assegurado como direito do consumidor o ressarcimento do prejuízo so-
frido, seja patrimonial ou moral, individual, coletivo ou difuso, pois, do contrá-
rio, não haverá efetividade da tutela (ALMEIDA, 2009).

4.1.2.7  Acesso à Justiça


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São direitos básicos do consumidor o acesso aos ór-


gãos judiciários e administrativos com vistas à pre-
venção ou reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos ou difusos, assegurada a prote-
ção jurídica, administrativa e técnica aos necessita-
dos (art. 6º, VII, CDC).
Ao direito à indenização está diretamente ligado o
direito de acesso à Justiça e à Administração, vias nas
quais poderá ser pleiteado e obtido o respectivo res-
sarcimento. E nesse acesso à Justiça está incluída a
“facilitação da defesa de seus direitos”, ou seja, deve
o Estado remover os entraves ou criar mecanismos que torne mais fácil a defesa
do consumidor em juízo, certo de que a própria lei já indica dois desses meios:
a inversão do ônus da prova no processo civil, obedecidas as condições legais, e
a Assistência Judiciária (ALMEIDA, 2009)

CONEXÃO
Para maiores informações sobre os Tribunais de Justiça e os direitos básicos do consumidor,
acesse o site ww.tj.sp.gov.br

102 • capítulo 4
4.1.2.8  Inversão do ônus da prova

Segundo o artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor são di-
reitos básicos do consumidor a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive
com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a crité-
rio do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo
as regras ordinárias de experiências.

4.1.2.9  Prestação dos serviços públicos

Por fim, é um direito básico do consumidor também a adequada e eficaz pres-


tação dos serviços públicos em geral (art. 6º, X, CDC).
Quando aqui se tratou do conceito de fornecedor, ficou consignado que tam-
bém o Poder Público, como produtor de bens ou prestador de serviços, remune-
rados não mediante a atividade tributária em geral (impostos, taxas e contribui-
ções de melhoria), mas por tarifas ou “preço público”, se sujeitará às normas ora
estatuídas, em todos os sentidos e aspectos versados pelos dispositivos do novo
Código do Consumidor, sendo, aliás, categórico o seu art. 22 (GRINOVER, 2007).

4.1.3  Responsabilidade pelo fato do produto e do serviço

Segundo o artigo 12, do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8078/90),


o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador,
respondem independentemente da existência de culpa, pela reparação dos
danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabri-
cação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acon-
dicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua utilização e riscos.

O defeito é o vício acrescido de um problema extra, alguma coisa extrínseca ao produto


ou serviço, que causa um dano maior que simplesmente o mau funcionamento, o não
funcionamento, a quantidade errada, a perda do valor pago – já que o produto ou ser-
viço não cumpriram o fim ao qual se destinavam. O defeito causa, além desse dano do
vício, outro ou outros danos ao patrimônio jurídico material e/ou moral do consumidor
(NUNES, 2009).

capítulo 4 • 103
O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitima-
mente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, en-
tre as quais (parágrafo 1º, art. 12 do CDC):
I. sua apresentação;
II. o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III. a época em que foi colocado em circulação.

Vale ressaltar que o produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro
de melhor qualidade ter sido colocado no mercado (parágrafo 2º, art. 12, CDC).
Trata-se da chamada responsabilidade objetiva do empresário, frente ao
dano causado ao consumidor.
Consagrada a responsabilidade objetiva do fornecedor, não se perquire a
existência de culpa; sua ocorrência é irrelevante e sua verificação desnecessá-
ria, pois não há interferência na responsabilização. Para a reparação de danos,
no particular, basta a demonstração do evento danoso, do nexo causal e do
dano ressarcível e sua extensão (ALMEIDA, 2009).
No entanto, nos termos do parágrafo 3º, do artigo 12, do CDC, o fabricante, o
construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:
I. que não colocou o produto no mercado;
II. que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III. a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

O fornecedor de serviços, também responde independentemente da exis-


tência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por de-
feitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficien-
tes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos (art. 14, do CDC).
O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor
dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes,
entre as quais (parágrafo 1º, art. 14, CDC):
I. o modo de seu fornecimento;
II. o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III. a época em que foi fornecido.

A responsabilidade por danos do prestador de serviços não envolve so-


mente as empresas ligadas à iniciativa privada. O art. 22 do CDC estende essa
responsabilidade aos órgãos públicos, vale dizer, aos entes administrativos

104 • capítulo 4
centralizados ou descentralizados. Além da União, Estados, Municípios e
Distrito Federal, estão envolvidas as respectivas autarquias, fundações, socie-
dades de economia mista, empresas públicas, inclusive as concessionárias ou
permissionárias de serviços públicos (GRINOVER, 2007).
Todas essas entidades são obrigadas a fornecer serviços adequados, eficien-
tes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Por todo exposto, o ente público
não se furtará de reparar os danos causados aos administrados quando incorrer
nas práticas, tão frequentes, como as que decorrerem da (GRINOVER, 2007):

•  Paralisação dos serviços de transporte coletivo;


•  Suspensão dos serviços de comunicação;
•  Interrupção do fornecimento de energia elétrica; ou
•  Corte no fornecimento de água à população.

Não obstante, o fornecedor de serviços só não será responsabilizado quan-


do provar (parágrafo 3º, art. 14, CDC):
I. que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II. a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Com relação aos profissionais liberais, a responsabilidade dos mesmos


será apurada conforme a verificação da culpa (parágrafo 4º, art. 14, CDC), ou
seja, conforme reste comprovado que o profissional agiu com negligência, im-
prudência ou imperícia.

4.1.4  Responsabilidade por vício do produto

Segundo o artigo 18, do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8078/90),

“os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem soli-


dariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou ina-
dequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da
embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorren-
tes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas”.

capítulo 4 • 105
São considerados vícios as características de qualidade ou quantidade que
tornem os produtos ou serviços impróprios ou inadequados ao consumo a que
se destinam e também que lhes diminuam o valor. Da mesma forma, são con-
siderados vícios os decorrentes da disparidade havida em relação às indicações
constantes do recipiente, embalagem, rotulagem, oferta ou mensagem publici-
tária (NUNES, 2009).
Os vícios, portanto, são aqueles problemas que, por exemplo (NUNES, 2009):
Fazem com que o produto não funcione adequadamente, como um liquidi-
ficador que não gire;
a) Fazem com que o produto funcione mal, como a televisão sem som, o
automóvel que “morre” toda hora, etc.;
b) Diminuam o valor do produto, como riscos na lataria do automóvel,
mancha no terno, etc.;
c) Não estejam de acordo com as informações, como o vidro de mel de 500
ml que só tem 400 ml; o saco de 5 Kg de açúcar que só tem 4,8 Kg; o caderno de
200 páginas que só tem 180, etc.;
d) Apresentem características com funcionamento insuficiente ou inade-
quado, como o serviço de desentupimento que no dia seguinte faz com que o
banheiro alague; o carpete que descola rapidamente; a parede mal pintada; o
extravio de bagagem no transporte aéreo, etc.

Não sendo o vício sanado no prazo máximo de 30 (trinta) dias, pode o con-
sumidor exigir, alternativamente e à sua escolha (parágrafo 1º, art. 18, do CDC):
I. a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas
condições de uso;
II. a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada,
sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III. o abatimento proporcional do preço.

É bom frisar que o Código concedeu ao fornecedor de bens o direito de pro-


ceder ao saneamento de vícios capazes de afetar a qualidade do produto, no
prazo de 30 dias, contados da sua aquisição. Esse prazo legal de garantia de
saneamento, no entanto, somente deve ser observado em se tratando de produ-
tos industrializados agregados, vale dizer, que permitam a dissociação de seus
componentes, como é o caso dos eletrodomésticos, veículos de transporte,
computadores, armários de cozinha, copa ou dormitório. Se os mesmos vícios

106 • capítulo 4
afetarem os produtos industrializados essenciais, que não permitem dissocia-
ção de seus elementos, – vestimentas, calçados, alimentos, medicamentos,
bebidas de todo gênero, – não se oferece a oportunidade de saneamento, e o
consumidor pode imediatizar a tutela reparatória (GRINOVER, 2007).

Vale ressaltar ainda que, tendo o consumidor, optado pela substituição do produto por
outro da mesma espécie, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver
substituição por outro de marca ou modelo diversos, mediante complementação ou
restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo das demais opções do consu-
midor, previstas nos incisos II e III, do artigo 18 do CDC (parágrafo 4º, art. 18, do CDC).

Poderão as partes, também, convencionar a redução ou ampliação do prazo


de 30 dias para saneamento do defeito, não podendo ser inferior a 7 (sete) nem
superior a 180 (cento e oitenta) dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de pra-
zo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa
do consumidor (parágrafo 2º, do artigo 18, do CDC). Trata-se da chamada ga-
rantia contratual.
Porém, esta previsão da garantia contratual, não impede que o consumidor,
ao cabo de 30 dias legalmente previstos para reparação do vício, acione as alter-
nativas previstas no parágrafo 1º do art. 18, pleiteando a substituição do produ-
to, a restituição da quantia paga ou o abatimento do preço (GRINOVER, 2007).
No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o
consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente o
seu produtor (parágrafo 6º, art. 18 do CDC).
Nesse sentido, são impróprios ao uso e consumo (parágrafo 6º, do art. 18
do CDC):
I. os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
II. os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsifica-
dos, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda,
aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribui-
ção ou apresentação;
III. os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim
a que se destinam.

capítulo 4 • 107
4.1.5  Responsabilidade pelo vício do serviço

Segundo o artigo 20 do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8078/90), o


fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem im-
próprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles de-
correntes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem
publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente:
I. a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
II. a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada,
sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III. o abatimento proporcional do preço.

São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que ra-
zoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam às normas
regulamentares de prestabilidade (parágrafo 2º, do art. 20, do CDC).
Seguramente, o índice de defectibilidade dos serviços prestados na socieda-
de de consumo é muito mais elevado que o dos produtos fornecidos. Somente
para destacar os aspectos multifacetários da prestação de serviços em econo-
mia de mercado, podemos lembrar, dentre outros: os serviços profissionais, de
todo gênero; os serviços da construção civil; agenciamento; transporte, arma-
zenamento e restauração de quaisquer bens móveis; decoração de ambientes;
diversões públicas; serviços de seguros; bancários, de créditos, etc (GRINOVER,
2007).

4.1.6  Da decadência e prescrição

Segundo o artigo 26 do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8078/90), o


direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I. trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produto não
duráveis;
II. noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e produto
duráveis.

A qualificação dos produtos ou serviços como de consumo duráveis ou


não duráveis envolve a sua maior ou menor durabilidade, mensurada em ter-
mos de tempo de consumo. Assim, os produtos alimentares, de vestuário e os

108 • capítulo 4
serviços de dedetização, por exemplo, não são duráveis, ao passo que os eletro-
domésticos, veículos automotores e os serviços de construção civil são duráveis
(GRINOVER, 2007).

Se houver um termo final de garantia, o que acontece é que o prazo para reclamar
continua o mesmo, mas dies a quo é postergado para o final do tempo de garantia
(NUNES, 2009).

Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do pro-


duto ou do término da execução dos serviços (parágrafo 1º, do art. 26 do CDC).
Segundo o parágrafo 2º do artigo 26 do CDC, obstam a decadência: a recla-
mação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor
de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser
transmitida de forma inequívoca; e a instauração de inquérito civil, até o seu
encerramento.
Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em
que ficar evidenciado o defeito (parágrafo 3º, art. 26, CDC).

4.1.7  Prescrição quanto à reparação de danos

Segundo o artigo 27 do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8078/90), pres-


creve em 5 (cinco) anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato
do produto ou do serviço, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhe-
cimento do dano e de sua autoria.
Significa dizer que, enquanto o autor do dano não for revelado, não se inicia
a contagem prescricional. O mesmo ocorre com uma sequela física não desco-
berta depois do acidente (GAMA, 2008).

4.1.8  Desconsideração da personalidade jurídica

A constatação de que, muitas vezes, o consumidor se vê prejudicado por não


conseguir alcançar patrimonialmente o verdadeiro devedor, encoberto sob o
manto de empresas as mais diversas, o Código do Consumidor optou por ado-
tar integralmente a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, am-

capítulo 4 • 109
pliando-a (art. 28, parágrafos 2º e 5º) (ALMEIDA, 2009).
O efeito prático da adoção dessa teoria é que, ocorrendo os pressupostos
do art. 28 – abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilíci-
to ou violação dos estatutos ou contrato social, em detrimento do consumidor
– , o juiz pode desconsiderar a pessoa jurídica e responsabilizar civilmente o
sócio-gerente, o administrador, o sócio-majoritário, o acionista controlador,
etc., alcançando-lhe os respectivos patrimônios, adotando o mesmo procedi-
mento em caso de falência, estado de insolvência, encerramento ou inativida-
de de pessoa jurídica provocados por má administração e até genericamente
quando a personalidade jurídica for, de alguma forma, obstáculo ao ressarci-
mento de prejuízos causados aos consumidores (art. 28, caput, e parágrafo 5º)
(ALMEIDA, 2007).
Toda a imposição das responsabilidades aos dirigentes será feita quando a
pessoa jurídica causar danos aos consumidores através de atos iníquos e não
haverá limite ao grau de comprometimento dos capitais sociais das pessoas ju-
rídicas. Significa que quando houver dolo ou culpa que acarretem prejuízos,
desapareceu o sistema das responsabilidades limitadas dos sócios-gerentes
e dos sócios controladores, ainda que disso estivessem eles protegidos pelos
instrumentos dos estatutos ou contratos que erigem a “razão social” da pessoa
jurídica (GAMA, 2008).

4.1.9  Das práticas comerciais

Práticas comerciais são os procedimentos, mecanismos, métodos e técnicas


utilizadas pelos fornecedores para, mesmo indiretamente, fomentar, manter,
desenvolver e garantir a circulação de seus produtos e serviços até o destinatá-
rio final (GRINOVER, 2007).

4.1.10  Da oferta

As divulgações do produto ou do serviço, bem como das suas propriedades e


dos seus preços caracterizam a informação ou publicidade com o fim de atrair
os consumidores para adquiri-los. São as formas de divulgação ou informação
os anúncios veiculados por qualquer meio, as embalagens dotadas de modelos
ou figuras indutivas ao consumo, as bulas, ou invólucros, os manuais de ins-
trução e quaisquer tipos de prospectos que propaguem as propriedades ou as

110 • capítulo 4
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vantagens apresentadas pelo que é ofertado (GAMA, 2008).


Segundo o artigo 30 do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90),
toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qual-
quer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços ofereci-
dos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar
e integra o contrato que vier a ser celebrado.
Nesse sentido, a partir de 11 de março de 1991, toda oferta relativa a produ-
tos e serviços vincula o fornecedor ofertante, obrigando-o ao cumprimento do
que oferecer. Aliás, em caso de descumprimento da oferta, pode o consumidor,
inclusive, exigi-la do fornecedor por meio de execução específica, forçada, da
obrigação de fazer. E a característica marcante da oferta é dirigir-se a uma gama
indeterminada de consumidores (NUNES, 2009).

CONEXÃO
Para maiores informações sobre o Código de Defesa do Consumidor, acesse o site www.
planalto.gov.br. Lá o aluno encontrará além do CDC, outras leis esparsas referentes às rela-
ções de consumo.

Vale ressaltar que equiparam-se aos consumidores todas as pessoas deter-


mináveis ou não, expostas à publicidade, nos termos do artigo 29 do Código de
Defesa do Consumidor.

capítulo 4 • 111
4.1.10.1  Requisitos da oferta

Segundo o artigo 31 do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90),


a oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações
corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas carac-
terísticas, qualidade, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de vali-
dade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à
saúde e segurança dos consumidores.
Sendo a oferta o momento antecedente da conclusão do ato do consumo,
deve ser precisa e transparente o suficiente para que o consumidor, devidamente
informado, possa exercer o seu direito de livre escolha. Assim, as informações de-
vem ser verdadeiras e corretas, guardando correlação fática com as característi-
cas do produto ou serviço, redigidas em linguagem clara, lançadas em lugar e for-
ma visíveis. Além disso, devem ser escritas em língua portuguesa. Devem incluir
sobre os elementos que interessam ao consumidor para fazer sua escolha, como
características e dados técnicos (qualidade, quantidade, composição, preço, ga-
rantia, prazos de validade, origem, além de outros) e potencialidade danosa (ris-
cos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores) (ALMEIDA, 2009).

4.1.10.2  Da responsabilidade do fornecedor

A regra básica nesse tema é que aquele que oferta está obrigado a cumprir a
obrigação nos termos propostos. É o chamado princípio da vinculação, aco-
lhido plenamente pelo CDC (art. 30). Da oferta, duas consequências derivam
para o fornecedor: (a) passa a integrar o contrato e (b) obriga ao cumprimento
da obrigação subjacente, porquanto a aceitação do consumidor aperfeiçoou o
círculo obrigacional e a relação de consumo (art. 30). Sem esquecer que o forne-
cedor é solidariamente responsável pelos atos de seus empregados, prepostos,
agentes ou representantes (art. 34) (ALMEIDA, 2009).

4.1.10.3  Da oferta de componentes e peças de reposição de produtos importados

Segundo o artigo 32 do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), os


fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças
de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto.

112 • capítulo 4
Não obstante, mesmo após cessar a produção ou importação do produto,
o fabricante (na fabricação), e o importador (na importação), ainda devem
cumprir o dever de assistência com peças e componentes. Só que tal obriga-
ção não é ad eternum. De duas, uma: a lei ou regulamento fixa um prazo máxi-
mo, ou o juiz, na sua carência, estabelece o período razoável de exigibilidade
do dever. Em todo caso, deve-se sempre levar em conta a vida útil do produto
(GRINOVER, 2007).

4.1.10.4  Da oferta ou venda por telefone ou reembolso postal

Segundo o artigo 33 do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), em


caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, deve constar o nome
do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em todos os impressos
utilizados na transação comercial.
©© WAVEBREAKMEDIA LTD / DREAMSTIME.COM

Essa exigência do art. 33 do CDC visa assegurar ao consumidor a informação correta


sobre o fabricante do produto e permitir-lhe poder exercer, quanto a este, os seus direi-
tos, quer no tocante às peças de reposição e às garantias, quer no tocante aos vícios e
defeitos que o produto apresente (GAMA, 2008).

capítulo 4 • 113
4.1.10.5  Da responsabilidade solidária

Segundo o artigo 34 do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), o


fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de
seus prepostos ou representantes autônomos.
Este dispositivo legal é da mais alta relevância. Não são poucos os casos
em que o consumidor lesado fica totalmente impossibilitado de acionar o
fornecedor – beneficiário de um comportamento inadequado de um de seus
vendedores – sob o argumento de que estes não estavam sob sua autoridade,
tratando-se de meros representantes autônomos. Agora, a voz do represen-
tante, mesmo o autônomo, é a voz do fornecedor e, por isso mesmo, o obriga
(GRINOVER, 2007).

4.1.10.6  Da recusa do cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade

Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apre-


sentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre
escolha (art. 35 do CDC):
I. exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apre-
sentação ou publicidade;
II. aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III. rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmen-
te antecipada, monetariamente atualizada, e perdas e danos.

Sem dúvida alguma, a responsabilidade dos arts. 30 e 35 é objetiva, pois seu


texto em nada alude à culpa do anunciante, razão pela qual não pode o intér-
prete agregá-la, muito menos num contexto em que, seja pela vulnerabilidade
da parte protegida (o consumidor), seja pelas características do fenômeno agre-
gado (a publicidade), o Direito, antes mesmo da interferência do legislador, já
se encaminhava na direção da objetivação da responsabilidade civil. Em outras
palavras, “a publicidade será exigível ainda que sua inexatidão não se deva à
culpa ou dolo do anunciante (GRINOVER, 2007).
Segundo ainda as palavras da autora Ada Pellegrini Grinover (2007), visível,
então, que nos regimes jurídicos modernos de proteção do consumidor, como
o CDC brasileiro, o equívoco inocente (= não culposo) não exclui a responsabi-
lidade civil do fornecedor. Assim, por exemplo, se o fabricante se equivoca com

114 • capítulo 4
uma fórmula ou design e lança seu produto no mercado com uma desconfor-
midade (de todo indesejada por ele), ainda assim é responsabilizado, havendo
dano.

4.1.11  Da oferta e da publicidade e as cláusulas abusivas no


contrato de consumo

O Código de Defesa do Consu-

Pupli
midor não se limitou ao regra-
mento das relações contratuais

cidade
Propa e
de consumo. A proteção do con-
sumidor tem início em momen-
to anterior ao da realização do

ganda
contrato de consumo. O legisla-
dor reconheceu, então, que a re-
lação de consumo não é apenas
a contratual. Ela surge, igual-
mente, por meio das técnicas
de estimulação do consumo,
quando, de fato, ainda sequer se
pode falar em verdadeiro consumo, e sim em expectativa de consumo. A pu-
blicidade, portanto, como a mais importante destas técnicas, recebeu especial
atenção no Código (GRINOVER, 2007).
Segundo o artigo 36 do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90),
a publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imedia-
tamente, a identifique como tal.
Essa regra praticamente repete a do art. 28 do Código Brasileiro de
Autorregulamentação Publicitária, segundo o qual o anúncio deve ser clara-
mente distinguido como tal, seja qual for a sua forma ou meio de veiculação
(SILVA, 2008).

É por isso que muitas publicidades, veiculadas em revistas e na televisão, contêm aviso
de que se trata de informe publicitário, a fim de que o público não confunda a publici-
dade com matéria jornalística. Objetiva-se com isso, proibir as publicidades clandestina
e subliminar (SILVA, 2008).

capítulo 4 • 115
O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços deve manter, em
seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, téc-
nicos e científicos que dão sustentação à mensagem (parágrafo único, art. 36,
CDC).
O parágrafo único do art. 36 traz o princípio da transparência da funda-
mentação da mensagem publicitária. O fornecedor tem ampla liberdade para
anunciar seus produtos ou serviços. Deve, contudo, fazê-lo sempre com base
em elementos fáticos e científicos: é sua fundamentação. De pouco adiantaria
exigir a fundamentação da mensagem publicitária (cuja carência está incluída
no conceito de publicidade enganosa) sem que se desse acesso aos consumido-
res. É esse dever que vem expresso no texto legal (GRINOVER, 2007).

4.1.11.1  Efeitos da publicidade enganosa ou abusiva

A publicidade enganosa sujeita o fornecedor ao cumprimento forçado da obri-


gação, nos termos da publicidade; ao oferecimento de outro produto ou serviço
equivalente; ou à rescisão do contrato, com a devolução da quantia paga e o pa-
gamento de uma indenização por perdas e danos (art. 35 do CDC). Isso ocorre
por causa do princípio da vinculação publicitária (SILVA, 2008).
Vale ressaltar que, para a caracterização da publicidade enganosa ou abusi-
va, basta a veiculação da mesma, não havendo necessidade da efetiva compro-
vação do abuso ou engano real de um consumidor. O fornecedor, como tam-
bém o anunciante, serão responsabilizados, pelo simples fato de veicular ou
criar uma publicidade enganosa ou abusiva. Por isso, muitas vezes, nos depara-
mos com as chamadas contrapropagandas nos canais publicitários.

CONEXÃO
Para maiores informações referentes às publicidades consideradas enganosas ou abusivas
pelo Código de Defesa do Consumidor, o aluno poderá acionar a Revista Jurídica Jusnave-
gandi, no site www.jus.uol.com.br, onde poderá encontrar vários artigos sobre o assunto.

116 • capítulo 4
A contrapropaganda passou a ser um dever iminente a quem divulgou o pro-
duto ou o serviço de forma enganosa ou abusiva ou que, de outra forma, deixou
de alertar acerca dos riscos que podem advir aos consumidores. A contrapro-
paganda deve ser veiculada da mesma forma e com a mesma força de como foi
difundido o produto (art. 60) (GAMA, 2008).
Não obstante, as publicidades abusiva e enganosa, geram ao fornecedor,
e, excepcionalmente, ao publicitário e ao meio de comunicação (art. 7º, pará-
grafo único, e, art. 25, parágrafo 1º, ambos do CDC), a obrigação solidária de
reparar os danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos, em
conformidade com o princípio da plena reparação dos danos (art. 6º, VI) e o
direito básico de proteção contra esse tipo de publicidade (art. 6º, IV, 1ª parte)
(SILVA, 2008).

4.1.11.2  Das cláusulas abusivas


©© NATALIA MERZLYAKOVA | DREAMSTIME.COM

É direito básico do consumidor ser


protegido contra as cláusulas abu-
sivas, ou seja, aquelas que surgem
do exercício irregular da liberdade
de contratar, tendo por fim a total
ou parcial submissão dos interesses
de uma parte econômica, técnica ou
juridicamente mais vulnerável, aos
interesses da mais forte, que as esti-
pulou, e, por efeito, o desequilíbrio
significativo entre direitos e deveres
(SILVA, 2008).
As cláusulas abusivas estão previstas no artigo 51 do Código de Defesa do
Consumidor, sendo que as estudaremos neste capítulo, em tópicos próprios.

4.1.11.3  Renúncia ao direito de indenização por benfeitoras necessárias

Por fim, estabelece o inciso XVI, do artigo 51, do CDC, que são nulas de pleno
direito as cláusulas contratuais que possibilitem a renúncia do direito de inde-
nização por benfeitorias necessárias.

capítulo 4 • 117
São benfeitorias necessárias aquelas que têm por fim conservar o bem ou
evitar que se deteriore (art. 96, parágrafo 3º, do Código Civil).

Vale ressaltar que a nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contra-
to, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus
excessivo a qualquer das partes (parágrafo 2º, do art. 51, CDC).

4.1.12  Práticas abusivas

Sem querer conduzir o tema a exaustão no que tange as práticas abusivas, elegemos
após análise perfunctória do artigo 39 e seus incisos, bem como artigo 42 do Código
de Defesa do Consumidor, alguns comportamentos dos fornecedores presentes em
nosso cotidiano e que devem ser evitados, para dar espaço a uma forma de gestão
ética e que prima pelo bom atendimento do consumidor e se evitem comportamen-
tos antijurídicos que possam trazer consequências desastrosas às corporações. No
dizer de Tupinambá Miguel Castro Nascimento, práticas abusivas “são práticas co-
merciais, nas relações de consumo, que ultrapassam a regularidade do exercício de
comércio e das relações entre fornecedor e consumidor” (ALMEIDA, 2009).

4.1.12.1  Venda casada

Artigo 39, inciso I, do CDC:

(...) condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro pro-


duto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos (...)

Objetiva-se preservar o direito básico da livre escolha do consumidor, pois,


se tem ele interesse na aquisição de determinado produto ou serviço, não pode
ser obrigado, para lograr tal intento, a adquirir o que não lhe interessa, mas lhe
é condicionalmente impingido (ALMEIDA, 2009).
É preciso, no entanto, entender que a operação casada pressupõe a exis-
tência de produtos e serviços que são usualmente vendidos separados. O lo-
jista não é obrigado a vender apenas a calça do terno. Da mesma maneira, o

118 • capítulo 4
chamado “pacote” de viagem oferecido por operadoras e agências de viagem
não está proibido. Nem fazer ofertas do tipo “compre este e ganhe aquele”. O
que não pode o fornecedor fazer é impor a aquisição conjunta, ainda que o pre-
ço global seja mais barato que a aquisição individual, o que é comum nos “pa-
cotes” de viagem. Assim, se o consumidor quiser adquirir apenas um dos itens,
poderá fazê-lo pelo preço normal (NUNES, 2009).
Também é proibido ao fornecedor estabelecer limites quantitativos à venda
de produtos, sem justa causa. Cabe ao fornecedor, nesse sentido, demonstrar o
justo motivo a ensejar a limitação quantitativa, sendo que, isso poderá ocorrer,
por exemplo, em casos de estoques limitados, ou mesmo, diante de escassez de
determinado produto no mercado.

4.1.12.2  Recusa de atendimento às demandas

Artigo 39, inciso II, do CDC:

(...) condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro pro-


duto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos (...)

O fornecedor não pode recusar-se a atender à demanda do consumidor.


Desde que tenha, de fato, em estoque os produtos ou esteja habilitado a prestar
o serviço. É irrelevante a razão alegada pelo fornecedor (GRINOVER, 2007).

4.1.12.3  Entrega de produto ou serviço sem solicitação prévia

Artigo 39, inciso III, do CDC:

(...) enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou for-
necer qualquer serviço (...)

Nesse sentido, é proibido ao fornecedor, o envio de qualquer produto ou


serviço, sem solicitação prévia do consumidor.
O fornecimento não solicitado é uma prática corriqueira – e abusiva – do mer-
cado. Uma vez que, não obstante a proibição, o produto ou serviço seja fornecido,
aplica-se o disposto no parágrafo único do dispositivo: o consumidor recebe o

capítulo 4 • 119
fornecimento como mera amostra grátis, não cabendo qualquer pagamento ou
ressarcimento ao fornecedor, nem mesmo os decorrentes de transporte. É ato
cujo risco corre inteiramente por conta do fornecedor (GRINOVER, 2007).

4.1.12.4  Abuso diante da fraqueza e ignorância do consumidor

Artigo 39, inciso IV:

(...) prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade,


saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços (...)

Busca a lei impedir que o fornecedor inescrupuloso tire proveito da situação


de fragilidade e hipossuficiência do consumidor idoso ou menor, doente, rude
ou com reduzidas condições de discernimento, com isso objetivando preservar
os direitos à higidez física e patrimonial e da livre escolha (ALMEIDA, 2009).
O Novo Código Civil também trouxe como um dos seus princípios funda-
mentais, a boa-fé entre as partes em uma relação comercial. Assim, as partes,
em qualquer relação comercial ou contratual, devem agir com boa-fé, com leal-
dade, sem qualquer prática abusiva ou ilegal.

4.1.12.5  Vantagem excessiva

Artigo 39, inciso V:

(...) exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva (...)

O próprio CDC em seu artigo 51, parágrafo primeiro, descreveu as vanta-


gens consideradas abusivas ou excessivas, como sendo as que:
I. ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;
II. restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do
contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;
III. se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-
se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circuns-
tâncias peculiares ao caso.

120 • capítulo 4
Aliás tal como ocorre nas relações regidas pelo Código Civil, não é possível se admitir,
por exemplo, cláusulas potestativas ( aquelas que comportam apenas os interesses de
uma das partes, ao passo que a outra permanece como um mero expectador daquela
relação contratual) que promovem o desequilíbrio da relação contratual.

4.1.12.6  Serviços sem orçamento e autorização do consumidor

Artigo 39, inciso VI:

(...) executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa


do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes (...)

Uma vez aprovado pelo consumidor, o orçamento obriga os contratantes e


somente pode ser alterado mediante livre negociação das partes (parágrafo 2º,
art. 40 do CDC).
Vale ressaltar, por fim, que o consumidor não responde por quaisquer ônus
ou acréscimos decorrentes da contratação de serviços de terceiros não previs-
tos no orçamento prévio (parágrafo 3º, art. 40 do CDC).

4.1.12.7  Informação depreciativa

Artigo 39, inciso VII:

(...) repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no


exercício de seus direitos (...)

Nenhum fornecedor pode divulgar informação depreciativa sobre o consumi-


dor quando tal se referir ao exercício de direito seu. Por exemplo, não é lícito ao
fornecedor informar seus companheiros de categoria que o consumidor sustou o
protesto de um título, que o consumidor gosta de reclamar da qualidade de produ-
tos e serviços, que o consumidor é membro de uma associação de consumidores
ou que já representou ao Ministério Público ou propôs ação (GRINOVER, 2007).

capítulo 4 • 121
4.1.12.8  Da Cobrança de dívidas

Artigo 42:

Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem


será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.

Ciente dos constantes abusos que se perpetravam nessa área, com ofensa
à dignidade do devedor, exposição a ridículo e utilização de práticas violentas
como ameaça e constrangimento, é que o legislador procurou restabelecer o
império do direito, ou, no dizer de um doutrinador, “o modo civilizado de se
cobrar”. Colima-se, como o tratamento legislativo da questão, fazer com que o
exercício regular do direito do credor se compreenda dentro dos limites legais,
não os extrapolando para atingir contornos abusivos. Não se procura obstar o
recebimento do crédito, o que era e continua a ser exercício regular de direito
(CC, art. 160, I), mas a utilização de métodos condenáveis e ofensivos à dignida-
de humana, que se procura extirpar do meio social (ALMEIDA, 2009).
Cabe ao Magistrado, nestes casos, analisar cada situação em específico, ou
seja, se a forma da cobrança efetuada pelo credor trouxe um constrangimento
ou expôs o devedor ao ridículo, sendo que, em caso positivo, cabe a este pleitear
indenização pelos danos morais sofridos, de acordo com o disposto no artigo
6o, inciso VI do Código de Defesa do Consumidor.

4.2  Atributos dos títulos de créditos


A expressão jurídica “título” tem o mesmo significado que documento, ou seja,
algo que comprova a existência de um fato ou de uma situação jurídica. No en-
tanto, o título de crédito não é um mero documento, mas um instrumento que
representa uma relação de crédito. Importante dizer que documento é o gênero
e o instrumento a espécie. Assim, documento é algo onde fica registrado qual-
quer fato jurídico, tendo aptidão para constituir prova, conforme o art. 225 do
Código Civil Brasileiro. Porém, o instrumento é modalidade de documento que
foi especialmente confeccionado para fazer a prova de um ato. Portanto, o ins-
trumento constitui uma prova pré-constituída do ato.

122 • capítulo 4
Em matéria de títulos de crédito, é célebre a definição de Vivante*, o qual
nos ensina que "título de crédito é um documento necessário para o exercício
do direito literal e autônomo nele mencionado". Esta definição coincide com
a adotada no art. 887 do Código Civil Brasileiro: "título de crédito, documen-
to necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente
produz efeito quando preencha os requisitos da lei.".

Cesare Vivante, professor de Direito Comercial renomado da Universidade de Roma

Com base na noção acima, podemos afirmar que títulos de crédito são ins-
trumentos representativos de obrigações pecuniárias (pagamento em dinheiro).
Vale ressaltar que uma obrigação pecuniária pode ser representada por diferen-
tes instrumentos jurídicos, como por exemplo, uma sentença judicial. Porém, os
títulos de crédito guardam em si, particularidades que os tornam especiais.
Os títulos de crédito distinguem dos demais documentos sob três aspectos:
(i) os títulos de crédito apenas representam relações de crédito, não podendo
documentar outras espécies de obrigação, tais como, de dar, de fazer ou de não
fazer; (ii) os títulos de crédito, por serem considerados títulos executivos extra-
judiciais*, segundo o artigo 585, I, do Código de Processo Civil, possuem uma
grande facilidade de cobrança do crédito em juízo e; (iii) os títulos de crédito
possuem atributos que facilitam sua negociabilidade, permitindo a circulação
do crédito que representa.

Título executivo extrajudicial é documento que representa um crédito líquido, certo e


exigível, podendo o credor exigir o cumprimento da obrigação através de um processo
de execução.

4.2.1  Princípios gerais dos títulos de crédito

Da definição legal de título de crédito adotada no artigo 887 do Código Civil


Brasileiro, podemos extrair três características ou princípios básicos do mes-
mo: cartularidade, literalidade e autonomia.

capítulo 4 • 123
A cartularidade significa que o título de crédito é um instrumento necessá-
rio para o exercício do direito, literal e autônomo, nele representado. Portanto,
ele se materializa numa cártula (papel-documento), e somente quem exibe a
cártula, no seu original, é considerado como seu possuidor, e como legítimo
titular do direito creditício pode pretender a satisfação das obrigações estabe-
lecidas no título, através do direito cambial.
Em síntese, pelo princípio da cartularidade exige que o credor do título de
crédito prove que se encontra na posse do documento para exercer o direito
nele mencionado.
A literalidade significa que o título é tido como literal, pois a sua essência
está exclusivamente vinculada ao teor do seu conteúdo, ou seja, só se leva em
consideração o que nele está contido, assim qualquer outra obrigação, embora
contida em um documento em separado, nele não se integra, produzindo-se,
desta forma, efeitos jurídicos somente os atos lançados no título de crédito.
Um bom exemplo a ser utilizado é o fato de uma pessoa pretender garantir a
dívida por aval, porém, o título não consta a assinatura deste pretenso avalista.
A garantia (aval) simplesmente não existe, pois não consta a assinatura do ga-
rantidor (avalista) no título.
Por fim, a autonomia estabelece que as obrigações estabelecidas no título
de crédito, constitui uma declaração autônoma do devedor, comprometendo-
se a pagar as obrigações nele estabelecidas, desvinculando-se, pois, do ato ou
negócio que lhe deu ensejo à sua criação. Por razoável, esta autonomia não se
opera em relação à causa de tais obrigações, mas em relação ao terceiro de boa-
fé, o qual possui um direito próprio que não lhe pode ser negado em razão das
relações existentes entre os seus antigos possuidores e o devedor.

4.2.2  Classificação dos títulos de crédito:

A classificação dos títulos de créditos seguem aos seguintes critérios:

•  Quanto à sua natureza, os títulos de crédito podem ser:


– abstratos: são aqueles nos quais não estão vinculados à causa de origem,
como, por exemplo, a nota promissória, a qual traduz apenas uma confissão da
obrigação de pagar determinado valor ao credor e o cheque que é uma ordem
de pagamento a vista;

124 • capítulo 4
– causais: estes títulos de crédito estão vinculados à sua origem, como, por
exemplo, a duplicata, a qual decorre da venda de mercadorias, considerada a
sua causa necessária.

•  Quanto ao modelo, os títulos de crédito podem ser:


– vinculados: somente produzem efeitos cambiais os documentos que aten-
dem ao padrão exigido, como são os cheques e as duplicatas;
– livres: são os de modelo livre, ou seja, podem adotar qualquer forma, des-
de que preenchidos os requisitos da lei. Exemplos desta categoria são as letras
de câmbio e a notas promissórias.

•  Quanto à estrutura, os títulos de crédito podem ser:


– ordem de pagamento: o sacador do título de crédito manda que o sacado
pague certa importância, como ocorre na emissão de cheque, duplicata e letra
de câmbio.
– promessa de pagamento: o sacador assume o compromisso de pagar o
valor do título, como ocorre na emissão de uma nota promissória.

•  Quanto à circulação, os títulos de crédito podem ser:


– ao portador: não menciona o nome do credor e a circulação se opera pela
transferência manual do título, ou seja, basta a entrega da cártula para que se
transfira a titularidade do antigo para o novo credor.
– nominativos: emitidos em favor de certa pessoa cujo nome conste na cár-
tula, devendo identificar se haverá a possibilidade de transferência de crédi-
to representado pela cártula mediante endosso, com a identificação do nome
para quem o título é transferido (endosso em preto).
– a ordem: emitidos em favor de determinada pessoa, transferindo-se por
endosso, diferenciando-se dos títulos nominativos, porque são transferíveis
pelo simples endosso, sem qualquer formalidade (endosso em branco).

4.2.3  Letra de Câmbio

As letras de câmbio e as notas promissórias são legalmente regulamentadas


pelo Decreto nº 57.663, de 24 de janeiro de 1966, conhecido como Lei Uniforme
de Genebra, pois é fruto da adesão do Brasil à Convenção de Genebra de 1930.

capítulo 4 • 125
A letra de câmbio é uma espécie de título de crédito, que representa uma
declaração unilateral de vontade de uma pessoa (sacador), o qual firmará que
determinada pessoa (sacado) pagará, pura e simplesmente à outra (tomadora),
certa quantia num local e numa data.
Trata-se de um título de modelo livre ou não vinculado, de modo que, para
que a letra de câmbio tenha valor jurídico, a cártula deve conter os seguintes
elementos, conforme o artigo 1º, do anexo 1, do Decreto 57.663/66:

•  A palavra “letra” inserta no próprio texto do título e expressa na língua


portuguesa
•  O mandato puro é simples de pagar uma quantia determinada;
•  O nome daquele que deve pagar (sacado);
•  A época do pagamento;
•  A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento;
•  O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga;
•  A indicação da data em que foi emitida e do lugar onde a letra é passada;
•  A assinatura de quem passa a letra (sacador).

Observem este exemplo de uma letra de câmbio:

Anverso da letra de câmbio

Nº 1 Vencimento:10/12/2011 Valor: R$ 10.000,00


Ilmo.(a) Sr(a)., no vencimento, pagará Vossa Senhoria, por esta LETRA DE CÂMBIO,
o valor de dez mil reais a Machado de Assis ou
à sua ordem, na praça de Rio de Janeiro / RJ
Castro Alves

Data e local do saque: Sacado: Castro Alves


Aceite do sacado

Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 2010 Endereço: Rua do Comércio, 132 - Rio


de Janeiro / RJ
Assinatura do sacador:
CPF: 101.011.010-10
José de Alencar

Neste caso, José de Alencar (sacador), emitiu uma ordem de pagamento à


Castro Alves (sacado), em favor de Machado de Assis (tomador), para que pague
a este, a quantia de dez mil reais, com vencimento em 10 de dezembro de 2011.

126 • capítulo 4
Assim, o sacador é quem dá a ordem de pagamento dirigida ao sacado para
que pague determinada quantia em favor do tomador. O saque é o ato da cria-
ção do título e, a partir disso, o tomador estará autorizado a procurar o sacado
para receber a quantia determinada na letra.
Especificamente na letra de câmbio, o saque produz um importante efei-
to, qual seja, o de vincular o sacador ao pagamento do título. A ordem, como
vimos, é para o sacado pagar; porém, se o sacado recusar a aceitar a ordem ou,
aceitando, deixa de pagar no vencimento, o tomador poderá cobrar o título do
próprio sacador.
No exemplo acima, caso Castro Alves, ao receber a ordem de José de Alencar,
a recusa ou, em aceitando, deixa de pagar Machado de Assis no vencimento,
este poderá cobrar o título do sacador, ou seja, de José de Alencar.
Como visto, o aceite na letra de câmbio não é uma obrigação, de modo que, o
sacado, ao ser procurado pelo tomador para informá-lo da ordem de pagamento,
apenas se vincula como devedor ao título se desejar, sendo ato livre de sua vontade.
O aceite será uma simples assinatura do sacado no anverso (frente) do títu-
lo. No exemplo, percebe-se claramente que Castro Alves aceitou a letra de câm-
bio, pois assinou no anverso do título.
Portanto, ao ser sacada uma letra de câmbio, haverá duas situações para o
tomador: (i) o título é aceito pelo sacado e o tomador deverá cobrar deste no ven-
cimento estipulado na cártula ou; (ii) ocorrendo a recusa do sacado, o tomador
poderá cobrar imediatamente o título do sacador. Isto porque o artigo 43, do ane-
xo 1, do Decreto 57.663/66, estabelece que o portador da letra poderá exercer o
direito de ação contra os endossantes, sacador e outros coobrigados, no venci-
mento se o pagamento não for efetuado pelo sacado ou, antes do vencimento, se
houver recusa total ou parcial de aceite, assim como a falência do sacado.
O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo a uma parte da im-
portância sacada (aceite limitativo) ou alterar as condições fixadas na cártula
(aceite modificativo). Em ambos os casos, o sacado fica obrigado nos termos
do seu aceite, mas se opera o vencimento antecipado da letra de câmbio, que
poderá ser cobrada de imediato do sacador.
Uma medida a ser adotada pelo sacador para evitar o vencimento antecipa-
do do título pela recusa de aceite é inserir a cláusula “não aceitável, sendo que
neste caso, o tomador somente poderá apresentar o título ao sacado na data do
vencimento. Do mesmo modo, é possível o sacador fixar um prazo futuro de
apresentação para aceite do sacado.

capítulo 4 • 127
Outra consideração importante é que o tomador possui o prazo de um ano
após o saque para apresentar o título para aceite do sacado e, ao ser apresenta-
do, o sacado tem o direito de pedir que lhe seja reapresentado no dia seguinte
(prazo de respiro), tempo este razoável para que faça consulta ou medite sobre
a conveniência de aceitar ou recusar o aceite.

4.2.4  O endosso

A letra de câmbio, por regra, é um título sacado com a cláusula “à ordem”. Esta
cláusula permite o titular negociar o seu crédito, transferindo-o para terceiro a
titularidade mediante endosso. Assim, endosso é ato cambiário com a finalida-
de de realizar a transferência do crédito representado por título com cláusula
“à ordem”. Na letra de câmbio, a cláusula “à ordem” já está implícita, pois so-
mente haverá impeditivo de endosso se contiver expressamente a clausula “não
à ordem”.
O credor que realiza a transferência do crédito é chamado de endossante e
o adquirente do crédito é chamado de endossatário. O endosso pode ser “em
branco” quando não identifica o endossatário e “em preto” quando o identifi-
ca. O endosso é feito através da simples assinatura do tomador no verso do títu-
lo. Aproveitando o exemplo acima de letra de câmbio, Machado de Assis, como
tomador do título, poderá transferir o seu crédito da seguinte forma:

Verso da letra de câmbio

Pague-se a Carlos Drumont de Andrade

Machado de Assis

Percebe-se que Machado de Assis realizou um endosso “em preto”, pois

128 • capítulo 4
identificou Carlos Drumont de Andrade como seu endossatário. Caso fosse um
endosso “em branco”, bastaria a simples assinatura de Machado de Assis no
verso da letra de câmbio.
O endosso produz dois efeitos: (i) transfere a titularidade do crédito do en-
dossante para o endossatário e (ii) vincula o endossante ao pagamento da le-
tra de câmbio, na condição de coobrigado, a não ser que o endosso tenha sido
dado com cláusula “sem garantia”.
Assim, ainda no exemplo que estamos trabalhando, caso o sacado Castro
Alves, não pague a letra de câmbio em 10 de dezembro de 2011, Carlos Drumont
de Andrade (endossatário) poderá exigir o crédito do próprio sacado, assim
como de José de Alencar (sacador) e de Machado de Assis (endossante), na con-
dição de coobrigados.

4.2.5  O aval

O aval é a obrigação dada em título de crédito para garantir o pagamento do


título. Assim, por este ato, uma pessoa, chamada avalista, garante o pagamen-
to da letra de câmbio em favor do devedor principal ou de qualquer um dos
coobrigados. O obrigado em favor de quem foi prestada a garantia por aval, é
denominado de avalizado.
A simples assinatura do avalista no anverso do título, acompanhada de al-
guma expressão identificadora do aval, como por exemplo, “por aval”, é o sufi-
ciente para constituir o aval. Nada obsta que se faça no verso do título, desde
que devidamente identificado que se trata de aval.

4.2.6  O pagamento da letra de câmbio

Para ser paga, a letra de câmbio deverá ser apresentada pelo credor ao sacado
para pagamento, no dia do vencimento ou, recaindo este num dia não-útil, no
primeiro dia útil seguinte.
Pelo efeito do princípio da cartularidade, o devedor que paga a letra de câm-
bio deve exigir que lhe seja entregue o título e, em virtude do princípio da lite-
ralidade, deve exigir que seja dado quitação na própria cártula. Quando ocorrer
o pagamento parcial, deverá ser anotado no título e este permanecerá na posse
do credor.

capítulo 4 • 129
4.2.7  O protesto

O protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a falta de aceite ou de paga-
mento de uma letra de câmbio. É ato formal de responsabilidade do portador
do título. O protesto por falta de aceite é extraído contra o sacador, que teve
recusada a sua ordem de pagamento. Já o protesto por falta de pagamento é
extraído contra o sacado, devedor principal do título.

CONEXÃO
Para conhecer a legislação que disciplina a atividade de protesto de títulos, acesse: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9492.htm.

Compete privativamente ao Tabelião de Protesto de Títulos, na tutela dos


interesses públicos e privados, a protocolização, a intimação, o acolhimento
da devolução ou do aceite, o recebimento do pagamento, do título e de outros
documentos de dívida, bem como lavrar e registrar o protesto ou acatar a desis-
tência do credor em relação ao mesmo, proceder às averbações, prestar infor-
mações e fornecer certidões relativas a todos os atos praticados.
Para o protesto por falta de aceite, o portador deverá entregar o título em
cartório até o fim do prazo de apresentação ao sacado ou no dia seguinte ao
término do prazo, se a letra foi apresentada no último dia para o sacado e este
solicitou o prazo de respiro. Para o protesto por falta de pagamento, a letra de
câmbio deverá ser apresentada em até dois dias úteis seguintes ao vencimento.
Se não forem observados os prazos fixados em lei para a extração do protesto,
o portador do título perderá o direito de crédito contra os coobrigados da letra,
ou seja, contra o sacador, endossantes e seus respectivos avalistas.
O cancelamento do protesto do título só é cabível na hipótese do devedor vir
a pagá-lo posteriormente.

4.2.8  A ação cambial

Caso a letra de câmbio não for paga em seu vencimento, o credor poderá pro-
mover a execução judicial de seu crédito contra qualquer devedor do título. A
ação de execução deverá ser proposta:

130 • capítulo 4
I. em três anos a contar do vencimento, para a cobrança do devedor prin-
cipal e seu avalista;
II. em um ano a contar do protesto, para a cobrança dos coobrigados, ou
seja, contra o sacador, endossantes e respectivos avalistas; e
III. em seis meses a contar do pagamento, para o exercício de direito de
regresso por qualquer um dos coobrigados.

4.2.9  A Nota Promissória

Enquanto a letra de câmbio é uma ordem de pagamento, porque através dela o


sacador do título solicita ao sacado o pagamento de uma determinada quantia,
a nota promissória é uma promessa de pagamento feita pelo próprio devedor,
que se obriga, dentro de certo prazo, ao pagamento de um valor fixado do título.
Assim, a nota promissória é uma promessa de pagamento que uma pessoa
faz em favor de outra. Como é emitida pelo próprio devedor, ela passa a ser um
título de crédito desde a sua emissão, e o seu beneficiário poderá cobrar o cré-
dito a partir do seu vencimento.
Trata-se de um título classificado como autônomo, pois independe da inda-
gação da causa que motivou a obrigação. Também podemos afirmar que a nota
promissória é um título de modelo livre, pois não está vinculada ao um modelo
predefinido. Vejamos um exemplo.

Nota Promissória nº 1 R$ R$ 10.000,00 Vencimento: 20/12/2012

Aos vinte dias de dezembro de dois mil e doze


pagarei (emos) por esta única via de NOTA PROMISSÓRIA a, Machado de
Assis ou à sua ordem, a quantia de
dez mil reais em moeda corrente nacional.

Pagável em Rio de Janeiro / RJ


Emitente Graciliano Ramos Rio de Janeiro / RJ, 10 de fevereiro de 2010
CPF: 101.011.010-10
Avalista:

Nome:

Endereço Rua do Comércio, 132 Graciliano Ramos


CPF:

Rio de Janeiro / RJ

capítulo 4 • 131
Quando a nota promissória é emitida, intervêm, necessariamente, duas pes-
soas: o emitente que é o devedor, e o beneficiário, que é o credor. Além destes,
sem as quais não haveria nota promissória, pode haver o avalista, que se obriga
com o emitente, solidariamente, ao pagamento do título e o endossatário.
A nota promissória está sujeita às mesmas normas aplicáveis às letras de
câmbios e, por conseqüência, os requisitos essenciais da nota promissória são
semelhantes aos da letra. São requisitos essenciais da Nota Promissória:

•  a expressão “nota promissória”;


•  a promessa incondicional, de pagar quantia determinada;
•  o nome do beneficiário da promessa;
•  a data e local do saque;
•  a assinatura do sacador;

Cabe lembrar que, na falta de um dos requisitos supra, o título deixa de ser
nota promissória, isto é, deixa de ser um título de crédito.
O pagamento da promissória será feito no tempo indicado no próprio títu-
lo. Se não se determina o prazo para pagamento, entende-se que se trata de pro-
missória à vista. Como são aplicadas todas as disposições da letra de câmbio
à nota promissória, a prescrição é de três anos do credor contra o emitente e o
respectivo avalista e, de um ano, a ação contra o endossante.

4.2.10  O Cheque

Cheque* é uma ordem de pagamento à vista, sacada contra um banco e com a


premissa de suficiente provisão de fundos depositados em conta-corrente de
titularidade do sacador. A sua grande característica é o fato de ser uma ordem
de pagamento à vista e, qualquer cláusula inserida no cheque com o propósito
de alterar esta natureza, é considerada não-escrita e, portanto, ineficaz.

CONEXÃO
Para maiores informações sobre o uso de cheque, acesse: http://www.febraban.org.br/ar-
quivo/servicos/dicasclientes/dicas3.asp

132 • capítulo 4
A lei que regula o cheque é a Lei nº 7.357/85, chamada Lei do Cheque. É uma
espécie de título de modelo vinculado, sendo que o cheque a ser utilizado é o
formulário que é emitido pelo próprio banco. Embora seja de natureza vincula-
da, a cártula de cheque deve conter os seguintes elementos:

•  a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na lín-


gua em que este é redigido;
•  a ordem incondicional de pagar quantia determinada;
•  o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado);
•  a indicação do lugar de pagamento;
•  a indicação da data e do lugar de emissão; e
•  a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes
especiais

A assinatura do emitente ou a de seu mandatário com poderes especiais


pode ser constituída, na forma de legislação específica, por chancela mecânica
ou processo equivalente.
O emitente deve ter fundos disponíveis em poder do sacado e estar auto-
rizado a sobre eles emitir cheque, em virtude de contrato expresso ou tácito.
A infração desses preceitos não prejudica a validade do título como cheque.
A existência de fundos disponíveis é verificada no momento da apresentação
do cheque para pagamento. Consideram-se fundos disponíveis: (i) os créditos
constantes de conta-corrente bancária não subordinados a termo; (ii) o saldo
exigível de conta-corrente contratual; e (iii) a soma proveniente de abertura de
crédito.
Pode o sacado, a pedido do emitente, lançar e assinar, no verso do cheque
não ao portador e ainda não endossado, visto, certificação ou outra declaração
equivalente, datada e por quantia igual à indicada no título. Este espécie é de-
nominada cheque vistado. A aposição de visto obriga o sacado a debitar à conta
do emitente a quantia indicada no cheque e a reservá-la em benefício do porta-
dor legitimado, durante o prazo de apresentação, sem que fiquem exonerados
o emitente, endossantes e demais coobrigados.
O cheque pagável a pessoa nomeada, com ou sem cláusula expressa ‘’ à or-
dem’’, é transmissível por via de endosso. O endosso deve ser puro e simples,
reputando-se não-escrita qualquer condição a que seja subordinado.

capítulo 4 • 133
O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou em parte, por aval
prestado por terceiro, exceto o sacado (banco). O aval é lançado no cheque e ex-
prime-se pelas palavras ‘’por aval’’, ou fórmula equivalente, com a assinatura do
avalista. Considera-se como resultante da simples assinatura do avalista, aposta
no anverso do cheque, salvo quando se tratar da assinatura do emitente. O aval
deve indicar o avalizado. Na falta de indicação, considera-se avalizado o emitente.
O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da emissão,
no prazo de trinta dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago; e de
sessenta dias, quando emitido em outro lugar do País ou no exterior.
Durante o prazo de apresentação, o emitente pode fazer sustar o pagamen-
to, manifestando ao sacado, por escrito, oposição fundada em relevante ra-
zão de direito. Não cabe ao banco julgar da relevância da razão invocada pelo
oponente.
O emitente ou o portador podem cruzar o cheque, mediante a aposição de
dois traços paralelos no anverso do título. O cruzamento é geral se entre os dois
traços não houver nenhuma indicação ou existir apenas a indicação ‘’banco’’,
ou outra equivalente. O cruzamento é especial se entre os dois traços existir a
indicação do nome do banco.
O cheque com cruzamento geral só pode ser pago pelo sacado a banco ou a
cliente do sacado, mediante crédito em conta. O cheque com cruzamento espe-
cial só pode ser pago pelo sacado ao banco indicado, ou, se este for o sacado, a
cliente seu, mediante crédito em conta. Pode, entretanto, o banco designado
incumbir outro da cobrança.
O emitente, ainda, pode proibir que o cheque seja pago em dinheiro me-
diante a inscrição transversal, no anverso do título, da cláusula ‘’para ser cre-
ditado em conta’’, ou outra equivalente. Nesse caso, o sacado só pode proceder
a lançamento contábil (crédito em conta, transferência ou compensação), que
vale como pagamento. O depósito do cheque em conta de seu beneficiário dis-
pensa o respectivo endosso.
Prescrevem em seis meses, contados da expiração do prazo de apresenta-
ção, a ação de execução para a cobrança do cheque. Pode o portador promover
a execução do cheque contra o emitente e seu avalista e contra os endossantes e
seus avalistas, se o cheque apresentado em tempo hábil e a recusa de pagamen-
to é comprovada pelo protesto ou por declaração do sacado, escrita e datada so-
bre o cheque, com indicação do dia de apresentação, ou, ainda, por declaração
escrita e datada por câmara de compensação.

134 • capítulo 4
O credor do cheque sem fundos pode exigir do sacador a importância do
cheque não pago, somados de juros legais e correção monetária desde o dia da
apresentação, assim como as despesas que fez para o recebimento do crédito.

4.2.11  A Duplicata

A duplicata é uma espécie de título de crédito que constitui o instrumento de


prova do contrato de compra e venda. Assim, no ato da emissão da fatura de
uma compra e venda mercantil a prazo, dela poderá ser extraída uma duplicata
para circulação com efeito cambial.
A duplicata é um título causal, pois se encontra vinculada à relação jurídica
que lhe dá origem, ou seja, a compra e venda mercantil a prazo. Também é tí-
tulo de forma vinculada, pois sua validade dependerá da observação de modelo
adotado pelo sacador.
Uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura. Nos casos
de venda para pagamento em parcelas, poderá ser emitida duplicata única, em
que se discriminarão todas as prestações e seus vencimentos, ou série de dupli-
catas, uma para cada prestação distinguindo-se a numeração pelo acréscimo
de letra do alfabeto, em seqüência.
A duplicata conterá:

•  a denominação "duplicata", a data de sua emissão e o número de ordem;


•  o número da fatura;
•  a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista;
•  o nome e domicílio do vendedor e do comprador;
•  a importância a pagar, em algarismos e por extenso;
•  a praça de pagamento;
•  a cláusula à ordem;
•  a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-
-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite, cambial;
•  a assinatura do emitente.

capítulo 4 • 135
Observem um modelo de duplicata:

Endereço do vendedor:
Dados relativos ao CNPJ:
vendedor Inscr. Est.:
(logomarca)
Data de emissão:
VALOR DA Nº DE ORDEM DA
FATURA Nº VENCIMENTO
DUPLICATA DUPLICATA

NOME DO SACADO:
ENDEREÇO:
PRAÇA DE PAGAMENTO:
CNPJ:
INSCR. EST.:

VALOR POR
EXTENSO
Reconheço (emos) a exatição desta duplicata de VENDA MERCANTIL na importância acima
que pagarei (emos) a VENDEDOR ou à sua ordem na praça e vencimentos indicados.

Em
DATA DO ACEITE ASSINATURA DO SACADO

A remessa de duplicata poderá ser feita diretamente pelo vendedor ou por


seus representantes, por intermédio de instituições financeiras, procuradores ou,
correspondentes que se incumbam de apresentá-la ao comprador na praça ou no
lugar de seu estabelecimento, podendo os intermediários devolvê-la, depois de as-
sinada, ou conservá-la em seu poder até o momento do resgate. O prazo para re-
messa da duplicata será de 30 (trinta) dias, contado da data de sua emissão.
A duplicata deverá ser devolvida pelo comprador ao apresentante dentro do
prazo de 10 (dez) dias, contado da data de sua apresentação, devidamente assi-
nada ou acompanhada de declaração, por escrito, contendo as razões da falta
do aceite.
O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de:
•  avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou
não entregues por sua conta e risco;
•  vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercado-
rias, devidamente comprovados;
•  divergência nos prazos ou nos preços ajustados.

É lícito ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-la ou antes da


data do vencimento. A prova do pagamento é o recibo, passado pelo legítimo
portador ou por seu representante com poderes especiais, no verso do próprio

136 • capítulo 4
título ou em documento, em separado, com referência expressa à duplicata.
Constituirá, igualmente, prova de pagamento, total ou parcial, da duplicata, a
liquidação de cheque, a favor do estabelecimento endossatário, no qual conste,
no verso, que seu valor se destina a amortização ou liquidação da duplicata nele
caracterizada.
No pagamento da duplicata poderão ser deduzidos quaisquer créditos a favor
do devedor resultantes de devolução de mercadorias, diferenças de preço, enga-
nos, verificados, pagamentos por conta e outros motivos assemelhados, desde
que devidamente autorizados. Também é admissível reforma ou prorrogação do
prazo de vencimento, mediante declaração em separado ou nela escrita, assina-
da pelo vendedor ou endossatário, ou por representante com poderes especiais.
O pagamento da duplicata poderá ser assegurado por aval, sendo o avalista
equiparado àquele cujo nome indicar; na falta da indicação, àquele abaixo de
cuja firma lançar o comprador.
A duplicata é protestável por falta de aceite, de devolução ou de pagamento.
O protesto será tirado, conforme o caso, mediante apresentação da duplicata,
da triplicata, ou, ainda, por simples indicações do portador, na falta de devolu-
ção do título.
O protesto será tirado na praça de pagamento constante do título. O porta-
dor que não tirar o protesto da duplicata, em forma regular e dentro do prazo
de trinta dias, contado da data de seu vencimento, perderá o direito de regresso
contra os endossantes e respectivos avalistas.
A cobrança judicial de duplicata será efetuada através do processo de execu-
ção, mediante a comprovação em juízo pelo credor da existência:

•  de duplicata aceita, protestada ou não;


•  de duplicata não aceita, contanto que, cumulativamente haja sido protes-
tada; esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e re-
cebimento da mercadoria e; o sacado não tenha, comprovadamente, recusado
o aceite, no prazo, nas condições e pelos motivos permitidos em lei.
Contra o sacador, os endossantes e respectivos avalistas, caberá o processo
de execução independentemente da forma e as condições do protesto.
A pretensão à execução da duplicata prescreve:

•  contra o sacado e respectivos avalistas, em três anos, contados da data do


vencimento do título;

capítulo 4 • 137
•  contra endossante e seus avalistas, em um ano, contado da data do
protesto;
•  de qualquer dos coobrigados contra os demais, em 1 um ano, contado da
data em que haja sido efetuado o pagamento do título.

Por fim, vale informar que se aplicam as mesmas regras às duplicatas de


prestação de serviço.

CONEXÃO
Para maiores informações sobre a Lei Uniforme de Genebra acesse o site: http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D57663.htm. Sobre a Lei 7357/85 - Lei do cheque
consulte o site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7357.htm. E sobre a Lei 5474/68
- Duplicatas, consulte o site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5474.htm

ATIVIDADES
01. Qual a diferença entre publicidade enganosa e abusiva para o Código de Defesa do
Consumidor?

02. Dentre as práticas abusivas, explique a chamada venda casada.

REFLEXÃO
As atividades empresariais exercidas pelas indústrias, comércios e pelas prestações de servi-
ços, tem como um dos principais suportes para seus negócios, o uso do crédito. Este crédito
normalmente decorre de operações de compra e venda a prazo, de empréstimos ou mesmo
pagamentos através de cheques. Para a representação formal dos referidos créditos são
utilizados documentos denominados de títulos de crédito.
Os títulos de crédito são de extrema utilidade para os negócios, pois promovem e faci-
litam a circulação de créditos e dos respectivos valores a estes inerentes, além de propiciar
segurança na circulação de valores.

138 • capítulo 4
LEITURA
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
MAMEDE, Gladson. Títulos de crédito; de acordo com o Novo Código civil Lei nº 10.406, de 10-1-
2002. São Paulo: Atlas, 2003.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
MAMEDE, Gladson. Títulos de crédito; de acordo com o Novo Código civil Lei nº 10.406, de 10-1-
2002. São Paulo: Atlas, 2003.
MARTINS, Fran. Títulos de crédito. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. v. 1.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 29. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
SANTOS, J. A. Penalva. Títulos de crédito e o Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004.

capítulo 4 • 139
140 • capítulo 4
5
Contratos
empresariais,
Recuperação
Judicial, Extrajudicial
e Falência da
Empresa.
Os contratos empresariais vêm ganhando destaque em nossa economia em
razão do crescente investimento de organizações, muitas, inclusive, de outros
países que enxergam o mercado brasileiro como excelente oportunidade de
crescimento com boa remuneração do capital que pretendem investir.
É importante aos gestores se preparem para gerenciarem as instituições e
atenderem esta demanda exigida pelo mercado.
Outro aspecto envolvido na gestão empresarial é a lucratividade (embo-
ra não deveria ser o único objetivo a ser atingido, pois outros valores também
devem acompanhar a lucratividade, como por exemplo, a responsabilidade
social empresarial), inegável o destaque que a ela deve ser dado no exercício
profissional.
Entretanto, nem sempre o investimento surte os resultados esperados dado
ao risco inerente a qualquer negócio. Daí a importância do profissional saber
dimensionar as ações empresariais que poderão ser desenvolvidas para a recu-
peração da saúde financeira daquele empreendimento, como por exemplo, a
recuperação judicial o que evidência a atualidade das temáticas que serão tra-
tadas neste capítulo.

OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é ministrar ao aluno conhecimentos teóricos e preliminares sobre os
contratos empresariais, recuperação judicial, extrajudicial e da falência para que, no desem-
penho de sua atividade profissional, tais conhecimentos possam habilitá-los a exercer com
domínio de conhecimento sobre o respectivo assunto, assim como desenvolver habilidade re-
lacionada à compreensão e utilização dos mecanismos jurídicos para uma gestão eficiente.

142 • capítulo 5
5.1  Princípios dos contratos
Segundo a nossa doutrina, temos alguns princípios considerados fundamen-
tais à formação dos contratos.
Apesar de existirem divergências entre autores quanto ao número de princí-
pios, podemos explicar a existência de 7 (sete) princípios considerados funda-
mentais à formação dos contratos.

5.1.1  Classificação dos contratos empresariais

Não há um consenso entre os autores quanto à classificação. Diante disso, tra-


remos aqui a classificação comum entre os autores dos contratos.

5.1.1.1  Contratos Bilaterais ou Unilaterais

Nos contratos bilaterais, as obrigações são recíprocas, ou seja, ambas as partes,


possuem direitos e deveres contratuais acordados. Em um contrato de compra
e venda, por exemplo, o vendedor tem o dever de entregar o bem pactuado, e o
comprador, pagar o valor devido e também pactuado.
Já no contrato unilateral, somente uma das partes assume obrigações con-
tratuais em face do outro. Os efeitos são ativos de um lado e passivos do outro.
(DINIZ, 2006).

5.1.1.2  Contratos gratuitos e onerosos

Nos contratos gratuitos, também chamados de benéficos, a vantagem benefi-


cia apenas uma das partes, enquanto a outra suporta o sacrifício. No contrato
oneroso, há uma relação entre vantagem e sacrifício (VIANA, 2008). Uma das
partes se sacrifica, em benefício de outra.
O código civil reconhece esta classificação de contratos, quando dispõe em
seu artigo 392 que, “nos contratos benéficos, responde por simples culpa o con-
tratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça;
nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exce-
ções previstas na lei”.

capítulo 5 • 143
5.1.1.3  Contratos comutativos e aleatórios

Contrato comutativo é aquele em que as partes já conhecem todo o conteúdo


do contrato, bem como suas respectivas prestações. Aleatório, é o contrato
em que, ao menos o conteúdo da prestação de uma das partes é desconhecido
quando de sua elaboração. O conhecimento ocorrerá no decorrer do contrato,
ou mesmo, quando do cumprimento da prestação. Temos como exemplo de
contratos aleatórios, os contratos de seguro, jogos de loteria, rifas, lotos e simi-
lares (VENOSA, 2008).
O Código Civil dispõe sobre os contratos aleatórios, referentes ao contrato
de compra e venda.
Segundo o artigo 458 do Código Civil, “se o contrato for aleatório, por dizer
respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos con-
tratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi
prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que
nada do avençado venha a existir”.
Por outro lado, se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, toman-
do o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá tam-
bém direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concor-
rido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada
(art. 459, CC/02). Vale ressaltar neste caso, porém, que se da coisa nada vier a
existir, alienação não haverá e o alienante restituirá o preço recebido (parágrafo
único, art. 459, CC/02).
Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas
a risco, assumido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo
o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do con-
trato (art. 460, CC/02). Referida alienação poderá ser anulada como dolosa pelo
prejudicado, se provar que o outro contratante não ignorava a consumação do
risco a que no contrato se considerava exposta a coisa (art. 461, CC/02).

5.1.1.4  Contratos típicos e atípicos – nominados e inominados

Os contratos típicos ou nominados são aqueles cujas regras estão previstas em


nosso ordenamento jurídico. Estão disciplinados no Código Civil, sendo estes,
o de compra e venda, doação, troca, empréstimo, locação, prestação de serviço,
dentre outros.

144 • capítulo 5
Os contratos atípicos ou inominados são aqueles que não são disciplinados
expressamente pelo Código Civil, ou por lei extravagante, sendo, porém, permi-
tidos legalmente, desde que não contrariem a ordem pública, a moral e os bons
costumes, ante o princípio da autonomia da vontade (DINIZ, 2006).
Segundo o artigo 425 do Código Civil, “é lícito às partes estipular contratos
atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código”.

São muito comuns na sociedade os contratos atípicos de garagem, publicidade, excur-


são turística, espetáculos, feiras, serviços de Buffet, manutenção de equipamentos e
sites, dentre outros (VENOSA, 2008).

Para alguns autores, há também o contrato misto, onde as partes iniciam


um contrato típico, porém, acrescentam cláusulas segundo seus interesses,
desfigurando o modelo legal (VIANA, 2008).

5.1.1.5  Contratos consensuais e reais

Os contratos consensuais são aqueles que se tornam definitivos ou cumpridos


a partir do consenso ou consentimento das partes. Já os contratos reais são
aqueles que só se aperfeiçoam quando da entrega do bem, objeto do contra-
to. No contrato real, o acordo de vontades, é insuficiente para ter-se o contrato
como cumprido (VENOSA, 2008).

5.1.1.6  Contratos solenes e não solenes

Os contratos solenes, também chamados de formais, são aqueles cujo formato


já se encontra preestabelecido pela legislação vigente. A escritura pública é um
contrato solene, pois, há um formato preestabelecido. Já os contratos não sole-
nes ou informais, são aqueles, cuja forma não se encontra preestabelecida pela
legislação vigente.

capítulo 5 • 145
5.1.1.7  Contratos principais e acessórios

Os contratos principais são os que existem por si mesmos, não dependendo de


outro para exercer sua finalidade. Já os contratos acessórios são aqueles que de-
pendem, para sua existência, o contrato principal, pois, visam assegurar a sua
execução. A fiança é um contrato acessório existente para assegurar o contrato
de locação, que é o principal (DINIZ, 2006).

5.1.1.8  Contrato de execução imediata ou continuada

Contrato de execução imediata ou instantânea é aquele em que o seu cumpri-


mento ocorre no momento da assinatura do contrato. O contrato de compra e
venda à vista, é um exemplo de contrato de execução imediata.
Contrato de execução continuada ou sucessiva é aquele em que o seu cum-
primento se prolonga no tempo. Há prestações sucessivas e continuadas que
se prolongam no tempo, ocorrendo o seu cumprimento em um prazo futuro,
determinado ou indeterminado.
©© UROS KOVANDZIC | DREAMSTIME.COM

146 • capítulo 5
Há também o contrato de execução diferida ou retardada. Neste tipo de con-
trato, a sua execução é acordada para um momento posterior à sua assinatura.
Tal ocorre na compra e venda, quando o pagamento ou a entrega da coisa é fixa-
do para outra data, que não a da realização da avença. Assim ocorre também na
venda com condição suspensiva (VENOSA, 2008).

5.1.1.9  Contrato por prazo determinado ou indeterminado

No contrato por prazo determinado, há um prazo certo, fixo, para o seu térmi-
no, sendo que, no contrato por prazo indeterminado, não há um prazo fixo para
sua conclusão.

5.1.1.10  Contratos individuais e coletivos

No contrato individual, ainda que tenhamos várias partes, as vontades são con-
sideradas individualmente, como em um contrato de compra e venda, locação,
dentre outros. No contrato coletivo, temos a vontade de um grupo de pessoas
que buscam a criação de normas, que irão presidir a criação de um contrato
individual. Temos como exemplo, os contratos coletivos de trabalho (VIANA,
2008).

5.1.1.11  Contrato definitivo e preliminar

O contrato definitivo tem por objeto, a criação de direitos e deveres para os con-
tratantes. Já o contrato preliminar, tem como objeto, a realização de um contra-
to definitivo (VIANA, 2008).

5.1.2  Modalidades dos contratos empresariais

Segundo o artigo 481 do Código Civil, pelo contrato de compra e venda, um dos
contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-
lhe certo preço em dinheiro.

capítulo 5 • 147
Quanto à estrutura, a compra e venda é um contrato oneroso (porque ambas
as partes obtêm vantagem econômica), translativo (porque é instrumento para a
transferência e aquisição da propriedade), bilateral ou sinalagmático (prestações
correspectivas porque cada parte assume respectivamente obrigações) e geral-
mente comutativo (no momento de sua conclusão, as partes conhecem o conteúdo
de sua prestação) (VENOSA, 2004).
A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde
que as partes acordarem no objeto e no preço (art. 482, CC). Também, a compra
e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará sem efeito o
contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de concluir
contrato aleatório (art. 483, CC).

5.1.2.1  Da Fiança

Segundo o artigo 818 do Código Civil, pelo contrato de fiança, uma pessoa ga-
rante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não
a cumpra.
A fiança deve ser realizada por escrito, por instrumento público ou particu-
lar, no contrato principal, ou em separado (GONÇALVES, 2007), não se admi-
tindo, porém, qualquer interpretação extensiva.

5.1.2.2  Do mandato

Segundo o artigo 653 do Código Civil, opera-se o


©© ROBERT KNESCHKE | DREAMSTIME.COM

mandato quando alguém recebe de outrem po-


deres para, em seu nome, praticar atos ou admi-
nistrar interesses.
As partes são chamadas de mandante e man-
datário. O mandante outorga poderes para que
o mandatário realize negócios em seu nome. O
mandato se opera através de uma procuração,
que poderá ser pública ou particular.
Todas as pessoas capazes são aptas para dar
procuração mediante instrumento particular,
que valerá desde que tenha a assinatura do ou-
torgante (art. 654, CC). O instrumento particular

148 • capítulo 5
deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação do outorgante
e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão
dos poderes conferidos (parágrafo primeiro).
Poderá ocorrer o substabelecimento, conforme disposto no artigo 655 do
Código Civil, podendo o mesmo ser com ou sem reserva de poderes.
O mandato pode ser realizado de forma expressa ou tácita, e ainda, verbal
ou escrito. Porém, não se admite mandato verbal, quando o ato deve ser cele-
brado por escrito.

5.1.2.3  Características do Mandato

São características do mandato (GONÇALVES, 2007):


a) contrato personalíssimo ou intuitu personae – se baseia na confiança,
lealdade e probidade do mandatário;
b) consensual – se aperfeiçoa com o consenso das partes;
c) não solene – é admitido o mandato tácito e o verbal;
d) gratuito (em regra) – se o mandato for oneroso, caberá ao mandatário a
retribuição prevista em lei ou no contrato (parágrafo único, art. 658, CC);
e) unilateral (em regra) – gera obrigações somente para o mandatário;

O mandato poderá ser em termos gerais ou específicos para um ou mais ne-


gócios. O mandato em termos gerais, só confere poderes de administração (art.
661, CC). Para alienar, hipotecar, transigir, ou praticar outros quaisquer atos
que exorbitem da administração ordinária, depende a procuração de poderes
especiais e expressos (parágrafo primeiro).
O mandato com poderes especiais só autoriza a prática de um ou mais ne-
gócios jurídicos especificados na procuração, sem possibilidade de estendê-lo
por analogia (GONÇALVES, 2007).

5.1.2.4  Da responsabilidade das partes

Segundo o artigo 663 do Código Civil, sempre que o mandatário estipular negó-
cios expressamente em nome do mandante será este o único responsável. Po-
rém, o mandatário ficará pessoalmente obrigado, se agir no seu próprio nome,
ainda que o negócio seja de conta do mandante.

capítulo 5 • 149
O mandatário tem o direito de reter, do objeto da operação que lhe foi come-
tida, quanto baste para pagamento de tudo que lhe for devido em consequência
do mandato (art. 664, CC).

Para maiores informações sobre o Código Civil, o aluno poderá acessar o site www.pla-
nalto.gov.br, onde o mesmo encontrará na íntegra a Lei 10.406/02 (Novo Código Civil)

5.1.2.5  Das obrigações do mandatário

São obrigações do mandatário (GONÇALVES, 2007):


a) agir em nome do mandante, dentre dos poderes conferidos na
procuração;
b) aplicar toda sua diligência habitual na execução do mandato, e a inde-
nizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem substabele-
cer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente (art. 667, CC);
c) prestar contas de sua gerência ao mandante, transferindo-lhes as van-
tagens provenientes do mandato, por qualquer título que seja (art. 668, CC);
d) apresentar o instrumento do mandato às pessoas, com quem tratar em
nome do mandante;
e) concluir o negócio já começado. Neste caso, embora ciente da morte,
interdição ou mudança de estado do mandante, deve o mandatário concluir o
negócio já começado, se houver perigo na demora (art. 674, CC).

5.1.2.6  Das obrigações do mandante

São obrigações do mandante:


a) satisfazer todas as obrigações contraídas pelo mandatário, na confor-
midade do mandato conferido e adiantar a importância das despesas necessá-
rias à execução dele, quando o mandatário lhe pedir (art. 675, CC);
b) pagar ao mandatário a remuneração ajustada e as despesas da execu-
ção do mandato, ainda que o negócio não surta o esperado efeito, salvo tendo o
mandatário culpa (art. 676, CC);
c) ressarcir ao mandatário as perdas que este sofrer com a execução do
mandato, sempre que não resultem de culpa sua ou de excesso de poderes;

150 • capítulo 5
5.1.2.7  Da extinção do mandato

Segundo o artigo 682 do Código Civil, cessa o mandato:


I. pela revogação (por parte do mandante) ou pela renúncia (por parte do
mandatário);
II. pela morte ou interdição de uma das partes;
III. pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes
ou o mandatário para os exercer;
IV. pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio.

5.1.2.8  Franquia ou “Franchising”

A franquia é um contrato pelo qual um comerciante detentor de uma marca


ou produto (chamado de franqueador), concede o seu uso a outra pessoa (cha-
mada de franqueado), mediante uma remuneração, e lhe presta serviços de or-
ganização empresarial. Esse contrato especial está previsto na Lei n. 8.955/94
(GONÇALVES, 2007).
Segundo o artigo 2º da Lei n. 8.955/94, franquia empresarial é o sistema
pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou
patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de
produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia
de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvi-
do ou detido pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem
que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício.
Trata-se de um contrato oneroso, pois, envolve uma determinada remune-
ração e, bilateral, pois, envolve duas partes: o franqueador, que é a pessoa que
cede a sua marca, seus produtos e serviços; e o franqueado, que é a pessoa que
adquire o direito de comercializar esta marca, produtos e serviços.

5.1.2.9  Obrigações das partes

5.1.2.9.1  Franqueador
Em primeiro lugar, cabe ao franqueador, estabelecer a forma de instalação e
operação de sua marca e produtos, bem como tem a obrigação de prestar orien-
tações e assistências durante o prazo de duração do contrato.

capítulo 5 • 151
Essa orientação abrange: a) o contrato de engineering, pelo qual o franquea-
dor planeja e orienta a montagem do estabelecimento do franqueado; b) o ma-
nagement, relativo ao treinamento dos funcionários e à estruturação da admi-
nistração do negócio; c) o marketing, pertinente às técnicas de colocação dos
produtos ou serviços junto aos seus consumidores (GONÇALVES, 2007).
Segundo o artigo 3º da Lei n. 8.955/94, sempre que o franqueador tiver interes-
se na implantação de sistema de franquia empresarial, deverá fornecer ao interes-
sado em tornar-se franqueado uma circular de oferta de franquia, por escrito e em
linguagem clara e acessível, contendo obrigatoriamente as seguintes informações:

•  histórico resumido, forma societária e nome completo ou razão social do


franqueador e de todas as empresas a que esteja diretamente ligado, bem como
os respectivos nomes de fantasia e endereços;
•  balanços e demonstrações financeiras da empresa franqueadora relativos
aos dois últimos exercícios;
•  indicação precisa de todas as pendências judiciais em que estejam envol-
vidos o franqueador, as empresas controladoras e titulares de marcas, patentes
e direitos autorais relativos à operação, e seus subfranqueadores, questionan-
do especificamente o sistema da franquia ou que possam diretamente vir a im-
possibilitar o funcionamento da franquia;
•  descrição detalhada da franquia, descrição geral do negócio e das ativida-
des que serão desempenhadas pelo franqueado;
•  perfil do franqueado ideal no que se refere a experiência anterior, ní-
vel de escolaridade e outras características que deve ter, obrigatória ou
preferencialmente;
•  requisitos quanto ao envolvimento direto do franqueado na operação e na
administração do negócio.

Especificações quanto ao:

•  total estimado do investimento inicial necessário à aquisição, implanta-


ção e entrada em operação da franquia;
•  valor da taxa inicial de filiação ou taxa de franquia e de caução e
•  valor estimado das instalações, equipamentos e do estoque inicial e suas
condições de pagamento.

152 • capítulo 5
•  informações claras quanto a taxas periódicas e outros valores a serem pagos
pelo franqueado ao franqueador ou a terceiros por este indicados, detalhando as res-
pectivas bases de cálculo e o que as mesmas remuneram ou o fim a que se destinam;
•  relação completa de todos os franqueados, subfranqueados e subfran-
queadores da rede, bem como dos que se desligaram nos últimos doze meses,
com nome, endereço e telefone.

Com relação ao território, onde deverá ser estabelecida a franquia, dispõe


ainda o artigo 3º, inciso X, da Lei 8.955/94, algumas especificações, tais como:
a) se é garantida ao franqueado exclusividade ou preferência sobre deter-
minado território de atuação e, caso positivo, em que condições o faz e
b) possibilidade de o franqueado realizar vendas ou prestar serviços fora
de seu território ou realizar exportações.

5.1.2.9.2  Franqueado
Quanto ao franqueado, cabe ao mesmo, arcar com os custos e despesas com a
instalação e operação do seu estabelecimento (GONÇALVES, 2007).

5.1.2.10  Características

Podemos destacar duas características principais em um contrato de franquia:


a) contrato atípico – as cláusulas de um contrato de franquia possuem
características diferenciadas, em razão por exemplo, da marca, do produto ou
serviço oferecido;
b) autonomia relativa – o franqueado possui uma autonomia como em-
presário, não havendo entre as partes, qualquer vínculo empregatício. Porém,
esta autonomia é relativa, já que, o empresário deverá cumprir as regras estabe-
lecidas no contrato.

5.1.2.11  Extinção da Franquia

A franquia poderá extinguir-se (GONÇALVES, 2007):


a) pelo término do prazo contratual;
b) por inadimplemento de uma das partes;
c) por distrato;
d) pela conduta do franqueado, capaz de comprometer a marca, ou o con-
ceito do produto.

capítulo 5 • 153
5.1.2.12  Arrendamento mercantil (leasing)

O contrato de arrendamento mercantil ou leasing, como é mais conhecido, en-


contra-se previsto na Lei n. 6.099/74. Segundo o artigo 1º (parágrafo único), de
referida lei,

considera-se arrendamento mercantil, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurí-


dica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arren-
datária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora,
segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta.

O contrato de leasing tradicional envolve três agentes: o arrendante ou arrenda-


dor, que é a empresa de leasing, pessoa jurídica constituída sob a forma de sociedade
anônima e fiscalizada pelo Banco Central; o arrendatário, indivíduo que pretende ad-
quirir um bem móvel ou imóvel; e o fornecedor do bem, que consiste no vendedor do
bem, encomendado pelo arrendatário ao arrendador (VENOSA, 2004).
O arrendatário é quem escolhe o bem a ser arrendado, mas é o arrendador
quem o adquire, celebrando contrato de compra e venda com o vendedor. Ao
final do prazo estipulado, o primeiro poderá optar por: a) adquiri-lo pelo valor
residual; b) restituí-lo ao arrendador ou c) renovar o contrato, sendo que, neste
caso, a prestação será menor, porque as inicialmente contratadas foram fixa-
das para um bem novo (GONÇALVES, 2007).

Para conhecer os demais artigos da Lei n. 6.099/74 (Lei do Arrendamento Mercantil),


o aluno poderá acessar o site www.planalto.gov.br.

Segundo o artigo 5º da Lei n. 6.099/74, os contratos de arrendamento mer-


cantil conterão as seguintes disposições:
1. prazo do contrato;
2. valor de cada contraprestação por períodos determinados, não superio-
res a um semestre;
3. opção de compra ou renovação de contrato, como faculdade do
arrendatário;

154 • capítulo 5
4. preço para opção de compra ou critério para sua fixação, quando for
estipulada esta cláusula.

O contrato de arrendamento mercantil pode ter por objeto, bens móveis ou


imóveis.

5.1.2.13  Características

Trata-se de um contrato bilateral e sinalagmático, pois, envolve obrigações de


ambos os contrantes; oneroso, pois, envolve o pagamento de prestações; con-
sensual, entretanto, não exige uma forma determinada; de execução diferen-
ciada, pois, oferece três opções ao final do contrato; e pessoal (VENOSA, 2004).

5.1.2.14  Espécies de arrendamento mercantil

Temos duas espécies de arrendamento mercantil (GONÇALVES, 2007):


I. Leasing financeiro (financial leasing ou leasing puro): é aquele que en-
volve as três partes: a) a arrendatária, que é quem indica o bem a ser comprado
e que fará uso do objeto mediante pagamentos periódicos, com opção final de
compra, devolução ou renovação; b) a empresa arrendadora, que é quem com-
pra o bem e o aluga à arrendatária e c) a empresa fornecedora do bem, de quem
a arrendadora adquire o objeto.
II. Leasing operacional (ou renting): é uma espécie de leasing em que o
objeto já pertence à empresa arrendadora, que o aluga à arrendatária e assume
os riscos da coisa, sofrendo a sua absolência.

5.1.2.15  Obrigação das partes

O arrendatário tem a obrigação de pagar o preço periódico ao arrendador, além


da obrigação de conservar e proteger o bem que pertence a outrem, salvo o des-
gaste natural de uso. Quanto ao arrendante, o mesmo deve garantir a posse
mansa e pacífica do bem ao arrendador, no prazo de vigência do contrato (VE-
NOSA, 2004).

capítulo 5 • 155
5.1.2.16  Extinção do Arrendamento mercantil

A extinção do contrato de arrendamento mercantil poderá ocorrer pelos se-


guintes motivos (GONÇALVES, 2007):
a) término do prazo convencionado, momento em que o arrendatário rea-
lizará uma das três opções acima descritas;
b) inadimplemento de qualquer uma das partes;
c) distrato;
d) falência da empresa arrendadora.
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5.1.2.17  Alienação Fiduciária

A alienação fiduciária encontra-se regulamentada nos arts. 1.361 a 1.368 do


novo Código Civil e no Decreto – Lei n. 911/69.
Segundo o art. 66º do Decreto – Lei 911/69,

a alienação fiduciária em garantia transfere ao credor o domínio resolúvel e a posse


indireta da coisa móvel alienada, independentemente da tradição efetiva do bem, tor-
nando-se o alienante ou devedor em possuidor direto ou depositário com todas as
responsabilidades e encargos que lhe incumbem de acordo com a lei civil e penal.

156 • capítulo 5
Na alienação fiduciária em garantia, temos a transferência do domínio do
bem dado como garantia para o credor (fiduciário), que lhe tem a posse indire-
ta, ficando o devedor (fiduciante), com a posse direta. O domínio e posse indire-
ta da coisa funcionam como garantia do pagamento da obrigação a que acede.
Não se dá a tradição do objeto. O direito do adquirente, neste caso fiduciante,
resolve-se com a satisfação da dívida garantida (VIANA, 2008).
O bem, que se encontra na posse direta do fiduciante, é considerado uma
modalidade de garantia real, visto que, há um empréstimo e o bem é dado
como garantia do pagamento da dívida.
Segundo a Súmula 28 do Superior Tribunal de Justiça, o contrato de aliena-
ção fiduciária em garantia pode ter por objeto bem que já integrava o patrimô-
nio do devedor.

5.1.2.18  Características

Segundo o artigo 1361, parágrafo primeiro, do Código Civil, constitui-se a pro-


priedade fiduciária com o registro do contrato, celebrado por instrumento pú-
blico ou particular, que lhe serve de título no Registro de Títulos e Documentos
do domicílio do devedor ou em se tratando de veículos, na repartição compe-
tente para o licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado de registro.
O contrato, que serve de título à propriedade fiduciária, conterá (art. 1362, CC):
a) o total da dívida, ou sua estimativa;
b) o prazo, ou a época do pagamento;
c) a taxa de juros, se houver;
d) a descrição da coisa objeto da transferência, com os elementos indis-
pensáveis à sua identificação.

5.1.2.19  Direitos e obrigações das partes

Antes de vencida a dívida, o devedor, a suas expensas e risco, pode usar a coisa
segundo sua destinação, sendo obrigado, como depositário (art. 1363, CC):
•  a empregar na guarda da coisa a diligência exigida por sua natureza;
•  a entregá-la ao credor, se a dívida não for paga no vencimento.

capítulo 5 • 157
Não poderá o fiduciante (devedor), dispor do bem alienado, porque este não
mais lhe pertence, mas sim ao fiduciário. Tem também o fiduciante, o dever de
entregar o bem, no caso de inadimplemento da sua obrigação, sujeitando-se às
penas impostas ao depositário infiel (VIANA, 2008).
Vencida a dívida e não paga, fica o credor obrigado a vender, judicial ou ex-
trajudicialmente, a coisa a terceiros, a aplicar o preço no pagamento de seu cré-
dito, das despesas de cobrança e a entregar o saldo, se houver, ao devedor (art.
1364, CC). Quando, vendida a coisa, o produto não bastar para o pagamento da
dívida e das despesas de cobrança, continuará o devedor obrigado pelo restante
(art. 1366, CC).
Terá, porém, o fiduciante, direito ao saldo remanescente, após a venda do
bem e o pagamento das despesas, se houver.
Quanto ao fiduciário, cabe (VIANA, 2008):
a) respeitar o direito de uso regular do fiduciante;
b) restituir o domínio do bem gravado, após o pagamento do
financiamento;
c) responder por perdas e danos, quando se recusar a dar quitação;
d) exercer a posse indireta do bem e seu domínio;
e) reivindicar o bem alienado em caso de inadimplência do fiduciante.
f) Da busca e apreensão

A mora e o inadimplemento de obrigações contratuais garantidas por alie-


nação fiduciária facultarão ao credor considerar, de pleno direito, vencidas
todas as obrigações contratuais, independentemente de aviso ou notificação
judicial ou extrajudicial (parágrafo terceiro, art. 2º, Dec. Lei n. 911/69).
O Proprietário Fiduciário ou credor poderá requerer contra o devedor ou
terceiro a busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente, a qual será con-
cedida Iiminarmente, desde que comprovada a mora ou o inadimplemento do
devedor (art. 3º, Dec. Lei n. 911/69). Porém, neste caso, poderá o fiduciante pur-
gar a mora, se tiver pago 40% do preço financiado.

Se o bem alienado fiduciariamente não for encontrado ou não se achar na posse do


devedor, o credor poderá requerer a conversão do pedido de busca e apreensão, nos
mesmos autos, em ação de depósito (art. 4º, Dec. Lei n. 911/69).

158 • capítulo 5
5.1.2.20  Seguro
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O artigo 757 do Código Civil, traz o


conceito de contrato de seguro, dis-
pondo que, “pelo contrato de segu-
ro, o segurador se obriga, mediante
o pagamento do prêmio, a garantir
interesse legítimo do segurado, rela-
tivo a pessoa ou a coisa, contra riscos
predeterminados”.
O contrato de seguro gera obri-
gações para ambas as partes: para o
segurado, as de pagar o prêmio, não
agravar o risco do contrato e cumprir
as demais obrigações previstas no contrato; para o segurador, a de efetuar o pa-
gamento da indenização prevista no contrato. Por isso, é chamado de contrato
bilateral ou sinalagmático (GONÇALVES, 2007).
Trata-se também, de um contrato oneroso, pois, envolve o pagamento de
determinada quantia, por ambas as partes e aleatório, porque o segurado as-
sume uma obrigação certa e determinada, que consiste no pagamento de uma
mensalidade, e o segurador, assume uma obrigação incerta, pois, dependerá
da ocorrência ou não de um dano (ou sinistro).
O contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do
seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do res-
pectivo prêmio (art. 758, CC).

5.1.2.21  Dos riscos

Um dos principais elementos característicos do contrato de seguro é o risco,


ou seja, a possibilidade de ocorrer ou não o evento contra o qual se quer ga-
rantir o segurado (COELHO, 2009). Nesse sentido, o risco constitui o objeto do
contrato.
Diante disso, segundo o artigo 763 do Código Civil, não terá direito a inde-
nização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o
sinistro antes de sua purgação.

capítulo 5 • 159
Não obstante, salvo disposição especial, o fato de se não ter verificado o ris-
co, em previsão do qual se faz o seguro, não exime o segurado de pagar o prêmio
(art. 764, CC).
Quanto às informações existentes no contrato de seguro, o segurado e o
segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a
mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circuns-
tâncias e declarações a ele concernentes (art. 765, CC).
Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou
omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa
do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio ven-
cido (art. 766, CC). Vale ressaltar, porém, que, neste caso, se a inexatidão ou
omissão nas declarações não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá
direito a resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do
prêmio (parágrafo único).
O segurado também perderá o direito à garantia se agravar intencionalmen-
te o risco objeto do contrato (art. 768, CC).
O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo in-
cidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de
perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé (art. 769, CC).
Quanto ao pagamento do prêmio, o segurador é obrigado a pagar em di-
nheiro o prejuízo resultante do risco assumido, salvo se convencionada a repo-
sição da coisa (art. 766, CC).

5.1.2.22  Espécies de seguro

Temos duas espécies de seguro: seguro de dano e seguro de pessoa.

5.1.2.23  Seguro de dano

Os seguros de danos, também conhecido como seguro de ramos elementares,


envolvem os seguros cujo fim é a cobertura de riscos de fato, transporte, aci-
dentes e outros eventos que podem causar dano a coisas (VIANA, 2008). São
os seguros de veículos automotores, residências, motos, barcos, dentre outros.
Nos seguros de dano, a garantia prometida não poderá ultrapassar o valor
do interesse segurado no momento da conclusão do contrato (art. 778, CC).
Diante disso, o risco do seguro compreenderá todos os prejuízos resultantes

160 • capítulo 5
ou consequentes, como sejam os estragos ocasionados para evitar o sinistro,
minorar o dano, ou salvar a coisa (art. 779, CC).
Com relação ao seguro de coisas transportadas, a vigência da garantia co-
meça no momento em que são pelo transportador recebidas, cessando com a
sua entrega ao destinatário (art. 780, CC).
Não se inclui na garantia o sinistro provocado por vício intrínseco da coisa
segurada, não declarado pelo segurado (art. 784, CC). Entende-se por vício in-
trínseco o defeito próprio da coisa, que se não encontra normalmente em ou-
tras da mesma espécie (parágrafo primeiro).
Segundo o artigo 787 do Código Civil, no seguro de responsabilidade civil,
o segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado
a terceiro. Compreende a cobertura ao segurado pelas indenizações que ele
eventualmente seja obrigado a pagar por danos causados a terceiros, resul-
tantes de atos ilícitos, independentemente de ter ou não agido culposamente
(GONÇALVES, 2007).

5.1.2.24  Seguro de pessoa

O seguro de pessoa, também chamado de seguro de vida, visa garantir a pessoa


humana contra os riscos a que ficam expostos a sua existência, sua integridade
física e sua saúde. Diante disso, temos o seguro de vida, como também, o segu-
ro contra acidentes pessoais (VIANA, 2008).
Nos seguros de pessoas, o capital segurado é livremente estipulado pelo
proponente, que pode contratar mais de um seguro sobre o mesmo interesse,
com o mesmo ou diversos seguradores (art. 789, CC).
Temos várias modalidades de seguro de vida. Podemos ter o seguro da vida
inteira, mediante pagamento de prêmio anual, beneficiando terceiros indicados
com a morte do segurado. Podemos ter um seguro onde o pagamento é fixado
para certo e determinado período, após o qual o segurado libera-se do pagamen-
to, beneficiando também terceiros após a sua morte. Pode também consistir na
formação de capital para ser usufruído pelo segurado após certo tempo ou quan-
do atingir determinada idade. Pode ser ainda, individual e em grupo. Enfim,
constantemente, surgem novas modalidades (GONÇALVES, 2007).
O Código Civil, em seu artigo 796, traz duas modalidades de seguro de vida,
ao dispor que, “o prêmio, no seguro de vida, será conveniado por prazo limita-
do, ou por toda a vida do segurado”.

capítulo 5 • 161
Vale destacar que, em qualquer hipótese, no seguro individual, o segurador
não terá ação para cobrar o prêmio vencido, cuja falta de pagamento, nos pra-
zos previstos, acarretará, conforme se estipular, a resolução do contrato com a
restituição da reserva já formada ou a redução do capital garantido proporcio-
nalmente ao prêmio pago (parágrafo único).
No seguro de vida para o caso de morte, é lícito estipular-se um prazo de
carência, durante o qual o segurador não responde pela ocorrência do sinistro
(art. 797, CC). No caso deste artigo, o segurador é obrigado a devolver ao benefi-
ciário o montante da reserva técnica já formada (parágrafo único).
Vale destacar que, o beneficiário não tem direito ao capital estipulado quan-
do o segurado se suicida nos primeiros dois anos de vigência inicial do contrato,
sendo, porém, devido o capital, em período superior a dois anos (art. 798, CC).
Neste caso, em relação ao seguro de acidentes pessoais, o suicídio ou mes-
mo a tentativa são riscos excluídos. Se o segurado tenta se suicidar, isso não é
considerado acidente, porque, não é evento externo à vontade dele. Por isso, o
segurado no seguro de acidentes pessoais não terá direito ao capital se sobre-
viver inválido; nem seus beneficiários, caso venha a falecer (COELHO, 2009).
O segurador não pode eximir-se ao pagamento do seguro, ainda que da apó-
lice conste a restrição, se a morte ou a incapacidade do segurado provier da uti-
lização de meio de transporte mais arriscado, da prestação de serviço militar, da
prática de esporte, ou de atos de humanidade em auxílio de outrem (art. 799, CC).
No seguro de vida o estipulante pode escolher livremente os beneficiários, pre-
terindo, se desejar, os próprios parentes em favor de terceiros sem qualquer pa-
rentesco, como pode também, não indicar qualquer pessoa (GONÇALVES, 2007).
Na falta, porém, de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se por qualquer
motivo não prevalecer a que for feita, o capital segurado será pago por metade
ao cônjuge não separado judicialmente e o restante aos herdeiros do segurado,
obedecida a ordem da vocação hereditária (art. 792, CC).

5.1.3  Outros Contratos Empresariais

Quanto aos contratos empresarias é importante destacar sua característica


principal: todas as pessoas que ocupam o seu polo ativo como o polo passivo
da relação jurídica tem em sua motivação contratual relações empresariais,
distinguindo-se dos contratos cíveis em geral que envolvem as demais pes-
soas que não empresários (Nascimento, 2014). Quanto a temática contratos

162 • capítulo 5
empresariais é bom registrar que há o debate acirrado para definir se os con-
tratos empresariais merecem uma teoria própria ou se submetem a teoria dos
contratos em geral. Não vamos nos alongar nesta discussão, porque é descabi-
da para os objetivos colimados neste trabalho.
Dito isso, passaremos a considerar breves noções além dos contratos em-
presariais já vistos, outras modalidades, sem a pretensão de querer levar a te-
mática a sua exaustão.

5.1.3.1  Compra e Venda Mercantil

Nascimento (2014) faz alguns apontamentos interessantes sobre essa


modalidade:

contratos de Compra e Venda Mercantis, diferentemente dos contratos de compra e


venda gerais, são caracterizados por conter pessoa jurídica que pratique atividades co-
merciais na posição de vendedor. Por outro lado, assim como nos contratos de compra
e venda gerais, nos contratos mercantis a perfeição é alcançada com o acordo entre as
partes sobre preço, forma de pagamento e objeto do contrato. O objeto pode constituir
grande quantidade de mercadoria, hipótese em que o contrato será caracterizado como
compra e venda em atacado ou poucas unidades de uma mesma mercadoria, hipótese
em que o contrato será considerado varejista. O preço, por sua vez, pode ser pago à
vista ou a prazo conforme seja combinado entre comprador e vendedor

5.1.3.2  Contrato de agência ou de representação comercial

Nascimento (2014) define o contrato de agência ou de representação comercial


como sendo:

instrumento pelo qual uma das partes (representante comercial autônomo) se obriga, em
localidade delimitada, a obter pedidos de compra e venda de mercadorias fabricadas ou
comercializadas pela outra parte (representado ou preponente). Na representação comer-
cial, não há, em regra, vínculo societário e/ou empregatício entre o representado e o repre-
sentante comercial autônomo, sendo esta a principal característica desse tipo de contrato.

capítulo 5 • 163
5.1.3.3  Contrato de Distribuição

Esta modalidade contratual tem a sua previsão estabelecida através do artigo


710 do Código Civil Brasileiro, o qual prescreve:

Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual e sem vínculos
de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a
realização de certos negócios, em zona determinada, caracterizando-se a distribuição
quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada. Parágrafo único. O
proponente pode conferir poderes ao agente para que este o represente na conclusão
dos contratos

Em linhas gerais uma determinada pessoa realiza negócios em nome de ou-


tra de certos negócios mediante retribuição numa região determinada, e tendo
em seu poder as coisas a serem negociadas.

5.1.3.4  Contrato de Comissão Mercantil

Nascimento (2014) define o contrato de comissão mercantil como sendo:

vínculo contratual em que um empresário (comissário) se obriga a realizar negócios


mercantis por conta de outro (comitente), mas em nome próprio, assumindo, portanto,
responsabilidade pessoal pelos atos praticados.

5.1.3.5  Contrato de Mútuo

O contrato de mutuo financeiro tem a sua previsão no artigo 586 do Código Ci-
vil Brasileiro, o qual prescreve:

O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutu-


ante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade.

164 • capítulo 5
No mutuo há a transferência efetiva da coisa fungível ( que pode ser substi-
tuída por outra da mesma espécie e em mesma quantidade) a ser restituída ao
mutuante na mesma quantidade e espécie a qual recebeu ( Nascimento, 2014).

5.2  Recuperação judicial


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Não obstante as empresas sejam constituídas para gerarem lucros àqueles


que buscam pela remuneração do capital que investiram, em algumas circuns-
tâncias e situações poderão apresentar problemas que levem a contabilizar
prejuízos ao invés de lucro.
Entrementes, em algumas circunstâncias é possível que se proceda a re-
cuperação dessas empresas, cujo efeito prático é preservar as suas atividades,
beneficiando sobremaneira toda a sociedade: trabalhadores, consumidores e
o próprio Estado (Mamede,2009). Assim, é inegável a função social que as em-
presas desempenham diante de toda a nossa economia.
Diante do enorme interesse público sobre o tema, o Estado criou meca-
nismos que possibilitam a recuperação dessas empresas a fim de impedir os
malefícios que a falência normalmente reproduz.
Tanto a recuperação judicial e extrajudicial, assim como a falência foram
regulamentadas através da Lei 11.101/05.

capítulo 5 • 165
Logo em sua introdução o legislador preocupou-se em esclarecer quem es-
taria fora do seu alcance:

Art. 1o – Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falên-


cia do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como
devedor. Art. 2o Esta Lei não se aplica a:
I – empresa pública e sociedade de economia mista;
II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade
de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde,
sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outra entidades legalmente equi-
paradas às anteriores.
Art. 3o É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a
recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento
do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.

Com efeito, conforme se observa estão fora do alcance do comando norma-


tivo as empresas públicas e sociedade de economia mista; instituição financei-
ra púbica e privada; cooperativa de crédito; consórcio; entidade de previdência
complementar; sociedade operadora de plano de assistência a saúde; socieda-
de seguradora; sociedade de capitalização e outras que possuem regulamenta-
ção própria na hipótese de insolvência.
Destarte, falência e recuperação judicial são procedimentos exclusivamen-
te aplicáveis aos empresários (no caso de firma individual) e sociedades empre-
sárias (firma social).
O objetivo da recuperação judicial não é outro senão manter em plena ati-
vidade a fonte produtora, emprego dos trabalhadores e atender também aos in-
teresses dos credores (Mamede,2009). É a ilação que se faz pela leitura do artigo
47 do citado diploma legal:

A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise eco-
nômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do
emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a pre-
servação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.”

166 • capítulo 5
Outrora havia instituto semelhante que procurava a plena recuperação das nossas em-
presas denominado por concordata, cuja legislação veio a ser revogada e sendo suce-
dida pelo instituto da recuperação judicial.

Ao contrário do que se pensa, o objetivo da recuperação judicial não é a pre-


servação do empresário, ou sociedade empresária e nem do seu interesse eco-
nômico, mas sim, conforme já dito, manter a sua função social.
O plano de recuperação permite ao devedor desde prazos especiais e mais
elásticos para pagamento das obrigações vencidas e vincendas (tempo maior e
sem a incidências de juros e correção monetária), além de cisão, alteração de
controle societário, etc.., conforme regulação do artigo 50:

“Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada


caso, dentre outros: I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento
das obrigações vencidas ou vincendas; II – cisão, incorporação, fusão ou transforma-
ção de sociedade, constituição de subsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações,
respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legislação vigente; III – alteração do
controle societário; IV – substituição total ou parcial dos administradores do devedor
ou modificação de seus órgãos administrativos; V – concessão aos credores de direito
de eleição em separado de administradores e de poder de veto em relação às matérias
que o plano especificar; VI – aumento de capital social; VII – trespasse ou arrenda-
mento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos próprios emprega-
dos; VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante
acordo ou convenção coletiva; IX – dação em pagamento ou novação de dívidas do
passivo, com ou sem constituição de garantia própria ou de terceiro; X – constituição
de sociedade de credores; XI – venda parcial dos bens; XII – equalização de encargos
financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como termo inicial a data
da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos contratos
de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica; XIII – usufruto da
empresa; XIV – administração compartilhada; XV – emissão de valores mobiliários; XVI
– constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos
créditos, os ativos do devedor.

capítulo 5 • 167
§ 1o Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua subs-
tituição somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da
respectiva garantia. § 2o Nos créditos em moeda estrangeira, a variação cambial será
conservada como parâmetro de indexação da correspondente obrigação e só poderá
ser afastada se o credor titular do respectivo crédito aprovar expressamente previsão
diversa no plano de recuperação judicial.”

5.2.1  Atores envolvidos no processo de recuperação judicial

Na relação processual em que se fundamenta o pedido de recuperação judicial será


presidia pelo juiz competente, bem como contará ainda com a intervenção do minis-
tério público e das seguintes partes: devedor (empresário ou sociedade empresária)
e credores aonde seus créditos possam ser alcançados pelo juízo universal (atração
dos créditos e dos credores ao procedimento de recuperação judicial ou de falência).
Além disso, o juiz contará com três órgãos que poderão ser de auxílio na
condução do procedimento, sendo eles:

•  Administrador judicial, que conduz os atos não jurisdicionais do processo;


•  Assembleia de credores, que congrega a totalidade de titulares de crédito
submetido ao juízo universal e por ele exigíveis;
•  Comitê de credores, ente que atua junto ao procedimento com o objetivo
de assegurar os interesses da assembleia de credores (Mamede, 2009).

Os requisitos para pedir a recuperação judicial se resumem a ser empresá-


rio com inscrição regular exercendo a sua função há mais de dois anos regu-
larmente e que não tenha obtido recuperação judicial ordinária há menos de
cinco anos ou recuperação judicial especial há menos de oito anos para micro-
empresas e empresas de pequeno porte, conforme o artigo 48:

168 • capítulo 5
Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regu-
larmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos,
cumulativamente: I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença
transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; II – não ter, há menos de
5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; III – não ter, há menos de 8
(oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que
trata a Seção V deste Capítulo; IV – não ter sido condenado ou não ter, como adminis-
trador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta
Lei. § 1o A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente,
herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente. § 2o Tratando-se de exercí-
cio de atividade rural por pessoa jurídica, admite-se a comprovação do prazo estabelecido
no caput deste artigo por meio da Declaração de Informações Econômico-fiscais da Pes-
soa Jurídica - DIPJ que tenha sido entregue tempestivamente.

5.2.2  Recuperação extrajudicial

Com propriedades semelhantes à recuperação judicial, a recuperação extraju-


dicial na visão de Mamede (2009, p.467 ) tem por objetivo assegurar ao devedor
outra alternativa para a sua recuperação, pois ao

(...) empresário ou sociedade empresária que preencha os requisitos para o pedido


de recuperação judicial da empresa poderá propor e negociar com credores plano de
recuperação extrajudicial (...) O plano de recuperação extrajudicial produz efeitos após
a sua homologação judicial.

Com efeito, a recuperação extrajudicial se distingue da recuperação judi-


cial, na medida em que há a iniciativa do empresário ou sociedade empresá-
ria devedora procurar pelos seus respectivos credores e entabularem um acor-
do em relação ao plano de recuperação extrajudicial, reportando-se ao Poder
Judiciário apenas para a sua respectiva homologação passando a produzir os
seus efeitos jurídicos daí decorrentes.

capítulo 5 • 169
5.3  Falência
Ocorre a falência quando o passivo da empresa é muito maior se comparado
ao seu ativo, e ainda, a preocupação necessária em assegurar condições e trata-
mento de igualdade entre os credores. É a conclusão que se extrai do magistério
de Mamede (2009, p. 472):

Quando não é possível manter a empresa, pois o seu passivo (as suas dívidas) supera - e
muito, normalmente - o seu ativo ( os seus bens e créditos), coloca-se um problema: com
o pouco que se tem, em contraste com o volume do que se deve, o que fazer? (...) Como se
não bastasse o problema de haver mais dívidas do que dinheiro para pagar, outros desafios
específicos decorrem dessa desproporção. Não se poderia permitir que os que fossem
mais ágeis na cobrança recebessem tudo e os que fossem mais lentos não recebessem
nada; se assim fosse, quem tem créditos vencidos levaria vantagem, sobre quem tem crédi-
tos por vencer ou que ainda precisa ver seus direitos reconhecidos pelo Judiciário.

As hipóteses que foram tipificadas pela legislação a justificar a decretação da


falência se resumem à inadimplência injustificada; execução frustrada e os atos de
falência. Com maestria Mamede (2009, p.475) define cada uma dessas hipóteses:

Inadimplência injustificada: será decretada a falência do devedor que, sem relevante ra-
zão de direito, não paga no vencimento, obrigação liquida materializada em título ou títulos
executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários mínimos na data
do pedido de falência. Permite-se que credores diversos se reúnam em litisconsórcio a
fim de perfazer tal limite mínimo. Execução frustrada: o empresário ou sociedade empre-
sária que, executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia
à penhora bens suficientes dentro do prazo legal, terá sua falência decretada. Atos de
falência: há um rol de atos que, se forem praticados pelo devedor empresário, exceto se
fizerem parte do plano de recuperação judicial, dão margem ao pedido de falência.

Em relação aos atos de falência, é interessante para o tema o inciso III, do


artigo 94 da Lei 11.101/05, que define comportamentos empresariais que o
Direito Falimentar procura desestimular:

170 • capítulo 5
a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou
fraudulento para realizar pagamentos;
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamen-
tos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de
seu ativo a terceiro, credor ou não;
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos
os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;
d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a
legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com
bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;
f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pa-
gar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do
local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recupera-
ção judicial.”

ATIVIDADES
01. Qual é a diferença entre a recuperação judicial e a recuperação extrajudicial?

02. Qual é a diferença entre falência e recuperação judicial?

REFLEXÃO
As atividades empresariais exercidas pela indústria, comércio e prestação de serviço têm
como principal suporte os contratos empresariais, tratando-se de um instituto muito pre-
sente na vida dos futuros gestores e que merecem detida atenção em qualquer cotidiano
profissional, principalmente, as suas novas modalidades (franquias, consórcios, etc...).
Por outro lado, a atividade empresarial é sempre de risco e em algumas circunstâncias
tem o amparo do Poder Público dada a sua inegável função social (maiores empregadores,
contribuintes e responsáveis pela produção de riqueza do País).

capítulo 5 • 171
Cada vez mais se espera do gestor preparo para lidar com circunstâncias inesperadas
desenvolvendo ações que busquem alternativas para recuperação da saúde financeira do
empreendimento - daí o papel da recuperação judicial, evitando-se o caminho tortuoso da
falência que reproduz efeitos danosos na vida de todos os atores envolvidos.

LEITURA
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
MAMEDE, Gladson. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2009.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 8 ed. São Paulo: Atlas, 2008, p. 419.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1.
MAMEDE, Gladson. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2009.
NASCIMENTO, João Pedro Barroso do . Acesso ao sitio em 13/02/2014: https://direitorio.fgv.br/
sites/direitorio.fgv.br/files/u100/contratos_empresariais_2014-2.pdf
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 29. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. v.

GABARITO
Capítulo 1

01. O Direito pode ser conceituado como um sistema de normas ou regras jurídicas que
traça aos homens determinadas formas de comportamento, conferindo-lhes possibilidades
de agir de acordo com estas normas.
02. O Direito Público consiste em um conjunto de normas referentes à organização do Estado.
São de direito público aquelas normas e atuações em que o Estado ou entidades públicas se
encontram presentes como tais, ou seja, exercendo seu poder. Do mesmo modo, as normas
de direito público podem regular ações dentro de um mesmo país, ou as relações do país com
indivíduos. Assim, o que caracteriza essas normas é a especial presença do poder estatal. Em
contrapartida, o Direito Privado representa as normas que regulam as relações entre pessoas.
Consiste em um conjunto de normas que envolvem os particulares, e as relações entre si.

172 • capítulo 5
03. Direito financeiro, em síntese, dispõe de um conjunto de normas referentes a utilização
do dinheiro público, ou seja, a atividade financeira do Estado. Direito Econômico é considera-
do um ramo do direito público, que dispõe sobre um conjunto de normas referentes à inter-
venção do Estado na economia. Direito Tributário, pode ser considerado como um conjunto
de princípios e normas, referentes à instituição, arrecadação e fiscalização dos tributos.

Capítulo 2

01. c
02. a
03. d

Capítulo 3

01. c
02. a
03. d
04. a

Capítulo 4

01. É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário,


inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de
induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade,
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços (parágrafo
1º, art. 37, do CDC). É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer na-
tureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência
de julgamento e experiência da criança, desrespeite valores ambientais, ou que seja capaz
de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou
segurança (parágrafo 2º, art. 37 do CDC).
02. Objetiva-se preservar o direito básico da livre escolha do consumidor, pois, se tem ele
interesse na aquisição de determinado produto ou serviço, não pode ser obrigado, para lograr
tal intento, a adquirir o que não lhe interessa, mas lhe é condicionalmente impingido (ALMEI-
DA, 2009).É preciso, no entanto, entender que a operação casada pressupõe a existência
de produtos e serviços que são usualmente vendidos separados. O lojista não é obrigado a
vender apenas a calça do terno.

capítulo 5 • 173
Capítulo 5

01. Com efeito, a recuperação extrajudicial se distingue da recuperação judicial, na medi-


da em que há a iniciativa do empresário ou sociedade empresária devedora procurar pelos
seus respectivos credores e entabularem um acordo em relação ao plano de recuperação
extrajudicial, reportando-se ao Poder Judiciário apenas para a sua respectiva homologação
passando a produzir os seus efeitos jurídicos daí decorrentes.
02. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise eco-
nômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do empre-
go dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da
empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. Ocorre a falência quando o
passivo da empresa é muito maior se comparado ao seu ativo,e ainda, a preocupação neces-
sária em assegurar condições e tratamento de igualdade entre os credores.

174 • capítulo 5
ANOTAÇÕES

capítulo 5 • 175
ANOTAÇÕES

176 • capítulo 5

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