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Psicoterapias breves em hospitais gerais
THEREZINHA L. M. PENNA
orlde existem "boxes", estes apresentam condições de cientí~ca: Aliás,. o con.ceito de cie~tificida~e ligad~;;;-\ .
vedação acústica precárias, e doentes de leitos vizinhos atendimento psicológico é recebido frequentemen~~ '\
ou profissionais que trabalham por perto podem, even- com um ranço de preconceito na suposição de que a ~
tualmente, ouvir o que está sendo dito entre paciente ciência impeça ou macule o acesso ao afeto. .
e terapeuta, Para pessoas com dificuldade de expor sen- Outra área nebulosa, gerada pela escassez de publica-
timentos, com características esquizóides ou paranói- ções brasileiras relativas a uma teoria' geral do adoecer
des, esta falta de privacidade pode ser um obstáculo e a psicoterapias com pacientes hospitalizados, diz res-
difícil de ser vencido. peito à transposição (desastrosa) do modelo psicana-
Saber o que, daquilo que nos é confiado, deve ser lítico para dentro do hospital geral, ao invés da utilização
transmitido ao médico em benefício do enfermo requer da escuta psicodinâmica. Não é possível fazer psicanálise
reflexão. Se acreditarmos que uma boa relação médico- em hospitais gerais. As metas da psicanálise perdem
paciente é peça fundamental na recuperação, então fica seu sentido. Nem é eficaz a utilização da maior parte
sendo essencial que o médico compreenda o 'pslcodina- das técnicas psicanalíticas. Mas é possível ter uma avalia-
mismo do paciente e fatos de sua vida pessoal que sejam ção do distúrbio emocional em evidência, de suas raízes
relevantes para o tratamento. O ideal é aconselhar o psicodinâmicas, de como reflete nas relações interpes-
doente a que ele próprio divulgue certas informações soais, e fazer intervenções apropriadas com propósitos
a seu médico. Existem circunstâncias em que os fatores bein definidos. Ou seja, é possível realizar uma psicote-
emocionais do paciente precisam Ser comunicados em rapia específica, que, a não ser em raras exceções, en-
grupos de discussão de casos ou para vários médicos, quadra-se dentro do grupo das psicoterapias breves.
no intuito de facilitar a comunicação e o tratamento Como já foi dito antes, a maioria dos problemas emo-
do paciente. O que será ou não divulgado terá de ser cionais ligados à doença e à hospitalização se resolvem
cuidadosamente pesado para que não se exponha desne- através de uma boa relação médico-paciente, de uma
cessariamente a intimidade que nos foi confiada. interconsultoria médico-psicoterapeuta ou através de
O atendimento psicoterápico também deve ter um ações psicoterápicas. As indicações para intervenções.
registro escrito na papeleta. Em virtude do acesso a psicoterápicas ou psicoterapias breves constituem exce-
ela por um número imprevisível de profissionais, acha- ção se levarmos em conta o número total de pacientes
mos que neste registro só devem constar avaliações mais internados. Mas nem por isso são raras ou passíveis
genéricas sobre o estado emocional do paciente sem de serem praticadas de forma indefinida e pouco precisa.
entrar em detalhes que este não queira expor (exemplos:
promiscuidade sexual, passagem por presídios, descon-
fianças relativas à equipe, etc.). . 37.5. PSICOTERAPIAS BREVES
Existe uma área nebulosa no atendimento psicológico
em hospitais gerais que· se refere a dar nome à ação As PB se desenvolveram nas décadas de 40 e 50 a
realizada com o paciente. partir de dois conceitos teóricos principais: a teoria psi-
Todo ser humano que adoece se beneficia de ter al- canalítica e a teoria de crise. .
guém disposto a ouvi-lo e confortá-Io, a empatizar com
suas dificuldades e a lhe dar apoio. Esta disponibilidade
para compreender pode ter uma ação psicoterápica que 37.5.1. TEORIA PSICANALÍTICA
irá mobilizar a estrutura psicológica do paciente de forma
benéfica. Familiares, amigos, outros pacientes, padres É uma teoria sobre a personalidade desenvolvida por
. e profissionais. vários que trabalham na área' de saúde Freud a partir de teorias sobre o instinto e a libido,
exercem ~Q.~tªIltemente ações psicoterápic~. Mas isso assini como a partir da formulação da existência de
não é uma intervenção psicoterápica. A intervenção processos inconscientes na gênese das forças que moti-
não só reconhece a presença de uma disfunção psicoló- vam o comportamento. Os conceitos freudianos de mo- .
gica como pressupõe uma tática (técnica) baseada num tivação inconsciente, conflito e simbolismo fazem parte
corpo teórico de conhecimentos (geralmente psicodinâ- da cultura ocidental moderna.
micos) com objetivo determinado (meta) e com avalia- X A meta da psicanálise é a reorganização da estrutura l-
da personalidade através da neurose transferencial e
ção da eficácia da intervenção.
A distinção entre ação e intervenção psicoterápica da interpretação das resistências. O objetivo da psica-
é de extrema importância. O humanismo e a solidarie- nálise é o autoconhecimento através da compreensão
dade náo são substitutos adequados para o arendímenro das defesas e dos sintomas e não o alívio dos sintomas.
às necessidades psicológicas da pessoa, embora atendam A transferência é onde se dá ênfase interpretativa,e
às necessdades emocionais. Infelizmente vemos profis- a regressão é desejada e induzida através da neurose
sionais psi que dedicam horas a conversar com um pa- transferencial. As intervenções do psicanalista devem
ciente sem ter a clareza exata da indicação de suas inter- ser ativadoras de ansiedade, pois a ansiedade é a força
venções, do tempo alocado a elas e de critérios de res- que mobiliza o paciente em direção às mudanças.
posta terapêutica, confundindo onipotentemente empa-
tia com psicoterapia. Com isso não definem para si, )t ~7.5.2. TEORIA DE CRISE
para o paciente e para os demais 'profissionais, a essência
e extensão de seu arsenal terapêutico, levando eles pró- 1-·Utiliza a metapsicologia freudiana e a psicologia do
prios à desvalorização de uma atividade profissional \desenvolvimento para explicar como certos eventos ad-
rante um longo tempo de internação. seus problemas. Geralmente, ele acolhe com prazer al-
Àsvezes, o paciente necessita de uma ajuda emocio- guém que se interesse em saber o que o aflige e não
nal para viver, outras vezes, precisa ser ajudado a mor- somente quais os sintomas que apresenta; alguém que
rer. sente ao seu lado, demonstrando ter tempo para escu-
As etapas de PB serão as seguintes: tâ-lo.
Registro de informações - Avaliação diagnóstica -
Escolha de tãtícas - Avaliação de resultados.
37.11. TRANSFERÊNCIA
37.9. REGISTRO DE INFORMAÇÕES
Numa PB, a transferência costuma ser rápida e inten-
Em pacientes, com doença orgânica e hospitalizados, sa. Existe a tendência de ver no terapeuta uma figura
é necessário tomar conhecimento de eventos externos transferencial onipotente. A ação (potência), que o pa-
antes de ouvir o relato do paciente. Deve-se saber o ciente experimenta, como lhe sendo proibida (devido
motivo do pedido de psicoterapia e quem o solicitou, às limitações, ordens e obediências demandadas pela
obtendo-se informações sempre que possível diretamen- situação de hospitalização), 'é deslocada para o tera-
te do consulente. Por vezes, o problema emocional está peuta para que este "aja" pelo ("no lugar do") paciente.
localizado no médico ou na equipe e em menor grau A partir daí, podem surgir solicitações para que o psico-
no doente. terapeuta sirva de porta-voz do doente diante da equipe,
A papeleta (prontuário do doente) deve ser lida para ou seja, seu intermediário na obtenção da satisfação
que o psicoterapeuta se informe sobre a doença, seu de certos desejos. Este deslocamento deve ser interpre-
estado evolutivo, as medicações que o paciente está tado e "devolvido" ao paciente, estimulando-o a enfren-
recebendo, o resultado de exames complementares, en- tar medos de punição e retaliação frente à equipe médica
fim, tudo que possa ter uma influência somática ou e de enfermagem. Devemos estimular o doente a ousar
bioquímica sobre o estado mental do paciente. A enfer- atitudes mais assertivas como pedir informações, fazer
'37.14.10. USODE'MEDICAÇÃO muito 'deíereso, pois é falar de' uma despedida defini-
tiva, de um adeus sem reencontro. Outras vezes, o doen-
.Muitas vezes, é necessãrio aliviar farmacologicamente te percebe emssí-senteneatos de raiva, Te'<lolta.einveja
sintomas incapadtantesparanmtrabalho psicoterápico, que 'nãoeonsegueverbalizar com.reeeío .de .eheeare
como a ansíedade-ea 'depressão mtensas. ·'aÜjar·;osJamüiares. .
A!gunspacientes tentam convcrsar,mbre::estas.ooisas
CQm:5eUS médicos, ·SlIflcrando certasbarreíras, como o
37.15. AVALIACÃO.D.OSltESULTADOS recei? de ouvir .de}e~a.confirmaÇão de.suas_s~tas
e.assim perder.as ultunasesperanças.·
Como as metas ..em ,PB.em hospitais .gerais são No entanto, os-médicos, quedeveríam.ser.as pessoas.
mais modestas e mais bem definidas, é mais fácil com- mais propícias para manter esse-tipo de diálogo por
provar a eficácia de nossas intervenções.Perceberum estarem'numa'~roximidade distante'''e-pelao'sua:profis-
ajustamento melhor à doença ou àhespitalizaçãovou . são, são comumente os "piores interlocutores.Blo-
um relacionamentomeíhor com a 'equipe médica, além queiama possibilidade de comumcaçãoao:sanégar In-
de não ser difícil, nãodependeapenasde.umaavaliação -formaçóesou:aomentir' sobre o verdadeiro-estado de.
subjetiva - todos.apercebem, Oahvio.éemedes.ansie- saéde.do.pacienteno intuito de "peupã-lo". Não é raro
dades e depressões-é reiatado diretamente -pelos .-pró- que-se sintamdesconfortáveisquando o pacienteos
prios pacientes e.indiretamente.por mé.dicoseiamilia- .confranta.com,o .conhecimento do fimpróxiino,e"litan-
res. Eventualmente na relação .terapeuta-paciente, é do .estetípo de "conversa mórbida". Não sabendo o
possível registrar.mudançaspsicodinâmicas.maisexten-que dizer, usam frases.como: "Deixa disso, você vai
.sas; as mais duradouras não têm. como ser avaliadas melhorar" , ou "Que morrer, que nada", ou ainda "Não
a não ser-em programas de acompanhamento específicos quero ouvir você falar destas bobagens" . Não o fazem
para mensurar critérios.decuta, ou por eventuais infor- 'por mal, masporque lhes é difícil aceitar·perder a batalha
mes indiretos. pela vida dopaciente e sofrer os significadosemocionais
Finalmente, resta mencionar a questão .da morte x desta derrota. Temem emocionar-se e, sobretudo, te-
psicoterapia. mem reconhecer na morte do paciente suaprõpriamor-
Nos hospitais, a 'morte é uma presença constante, te.
e todos, pacientes e profissionais, compartilham o temor A psicoterapia com pacientes terminais. é antes de
a ela. mais nada uma tentativa de abrir um canal de comuni-
No entanto, uma observaçãomaísarenta nos anestra oação que ameaíze- a sensação de iselamentc.Este.eaaal
que o processo temporal demorrer émaisaterrorizante .deverá.permitir ao. paciente falar sobre seus temores,
do que o evento da morte em si. Ou seja, a extinção preocupações e fantasias.
da vida é menos temida do que.a dissolução progressiva Cada indivíduo confronta este último estágio da vida
da vida. Como escreveu Oliveira Neto (1990), "O curso com as características específicas de sua cultura, de sua
'da morte envolve a perda progressiva do controle. sobre personalidade e de seu estilo de vida. Não existem eta-
a própria vida". Assim é que pacientes terminais costu- pas no processo terminal. .O que Kübler-Ross (1975)
mam temer a morte sim, mas também, ou mais, as coisas 'descreveu foram reações emocionais diante da' morte
que poderão lhes acontecer enquanto vivos: o sofri- pessoal. Nem todos os pacientes desejam falar sobre
mento físico, a depéndência :física, os sentimentos de a morte ou o conseguem fazer de forma direta e clara.
impotência e de perdas,as limitações de vida, o aban- -Aconduta.do terapeuta deverá sera de-manter.íivre
dono e o isolamento. e ..aberto o canal de comunicação e deseguir.es-passos
A sensação de isolamento éa .caraeterística "funda- do paciente- este indicará de que ferma.deseja falar
mental da fase terminal. Tanto que as .pessoas porta- sobre o assunto e em que circunstâncias. Se o terapeuta
doras de uma doença.fatal referem com freqüência uma se mantiveratento,.perceberá as formas.indiretas.e sutis
. sensação de que foi traçada.uma linha divisória onde com que o doente se exprime,como, por exemplo, per-
de um lado estão elas, sós, e .do .outro lado todas as guntando- "Será que terei alta antes do Carnaval?"
demais pessoas. O isolamento "é interior. É diferente quando sabe que não tem as menores condições de sair
da ansiedade de separação sempre reativada.diante. da do 'hospital. ~
'possibilidade de uma -morteprõxíma. A ansiedade de Mas.para que o terapeuta saiba perceber o que é
separação e o medoda-morte·.provocam.uDLdesejo de dito e saiba o que dizer, é antesneeessãrioque tenha
ter pessoas pr6ximas'DOsentido·físico. Já o isolamento encontrado dentro.de si uma aceitaçãoda.morte.como
é a dificuldade de teralguémprõximo "do ponto de evento natural da vida. Deverá.encarar aeerdade sobre
vista emocional. sua própria mortalidade. Só assimestarãpreperadopara
Compartilharas:emoções geradaspélaconsciência transmitir ao paciente, de forma verbal-e não-verbal,
da morte que estáachegatIiãnê:fácil, ainda mais porque a tranqüilidade, o respeito e a compaixão necessários
os indivíduos tendem.a.evítar o.assunto no. desejo. de à ajuda para incentivar opaciente a que viva.de maneira
poupar os entes queridos do.sofrimento provocado pelo mais.plena possível, esta última fase de vida, ao invés
tema. Por outro lado, falar sobre a própria morte é de ficar à espera da.chegada da morte.