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Do Estado, do Direito e da Política: reflexões - 08/01/2015

Samuel Pinheiro Guimarães (*)


Introdução

Os conceitos de Estado, de Direito e de Política muitas vezes, em teoria, são apresentados e discutidos de forma
distinta. Em realidade, se encontram tão profundamente interligados que não se pode com proveito analisá-los de
forma separada.

Não há Direito sem Estado, pois a aceitação e a observância das normas jurídicas e sua eventual sanção em caso
de descumprimento dependem da existência e da força do Estado que se expressam através de suas agências,
entre elas e muito em especial sua polícia. A afirmação de que não há Direito sem Estado não significa negar a
existência de direitos humanos inalienáveis. Todavia, somente a luta política pela consagração desses direitos e
pelo seu reconhecimento pela legislação e pelo Estado é que permite impor sua observância.

Não há Direito sem Política, pois as normas jurídicas não são elaboradas, executadas e interpretadas em gabinetes
acadêmicos a partir de conceitos e de estruturas lógicas cartesianas, mas, sim, em processos conflituosos de
disputa de interesses no seio da sociedade e dos organismos do Estado, ainda que cada grupo de interesses conte
nestes processos com o auxílio precioso de seus juristas para melhor articular a defesa de seus pontos de vista.

Não há Estado sem Política, pois os dirigentes das distintas agências do Estado, isto é das múltiplas agencias que
compõem os seus três Poderes - Legislativo, Executivo e Judiciário - são escolhidos através de processos políticos,
mesmo quando esses processos são disfarçados como procedimentos de aparência tecnocrática, de reduzida
transparência e nenhuma participação popular, como ocorre em regimes ditatoriais.

Há uma tendência em certas áreas de estudos acadêmicos e de certos autores a se estabelecer uma distinção e
uma separação entre Sociedade Civil e Estado, entre Economia e Estado. A Sociedade Civil é apresentada com
uma aura e uma natureza inerentemente boa, um lugar ideal onde os cidadãos, iguais e livres, conviveriam em
harmonia se não fora pela existência do Estado, ente maléfico e autoritário que perturba e impede o desabrochar da
sociedade civil. A Economia é representada como um espaço livre, dinâmico e criativo, onde empresários,
capitalistas e investidores são responsáveis pelo progresso e pela prosperidade de todos enquanto que o Estado
aparece como uma entidade intervencionista, ineficiente, corrupta e corruptora.

Todavia, não existe Sociedade Civil sem Estado, mesmo quando este aparece como instrumento de um regime
ditatorial ou autoritário, pois sem o Estado e sem normas jurídicas, a sociedade seria tão somente um emaranhado
confuso de lutas violentas de interesses. A não ser nos territórios coloniais, onde as instituições do Estado colonial
aparecem como criaturas da potência estrangeira, alheia e opressora da sociedade local, se pode falar de
separação entre Sociedade Civil e Estado.

Por outro lado, não há Economia sem Estado, pois são as normas jurídicas que regulam as atividades econômicas
e que, através das agências do Estado, garantem a observação das relações entre trabalho e capital (lato sensu),
qualquer que seja o sistema econômico de uma determinada sociedade: agrária primitiva, antiga, feudal, capitalista,
socialista ou comunista.

Hoje há uma tendência a considerar que a expressão mais moderna da Sociedade Civil seriam as organizações não
governamentais, que representariam melhor os interesses do povo, principalmente em Estados em que as classes
hegemônicas são conservadoras e opressoras. Todavia, em muitas circunstâncias, as organizações não
governamentais que atuam em um país, em especial quando é ele subdesenvolvido, representam em realidade
interesses particulares e estrangeiros e estão longe de representar a sociedade civil. De toda forma, não têm essas
organizações representatividade e legitimidade já que seus integrantes se auto-escolheram, e assim é de estranhar
e de preocupar a tendência atual de incorporar representantes de ONGs em organismos do Estado.

Ao tratar dos temas do Estado, do Direito, da Política, da Sociedade e da Economia há sempre uma certa repetição
de ideias e de argumentos, devido à sua estreita interelação, pelo que me penitencio.

(*) Embaixador. Secretário-Geral do Itamaraty, de 2003 a 2009. Ministro para Assuntos Estratégicos, de 2009 a 2010.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Do-Estado-do-Direito-e-da-Politica-reflexoes/4/32581 >


acesso em 21.05.2017

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