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DOI: 10.5007/2175-8026.

2017v70n3p47

APRENDIZAGEM DO PORTUGUÊS POR IMIGRANTES HAITIANOS:


PERCEPÇÃO DAS CONSOANTES LIQUIDAS /L/ E /ɾ/

Susiele Machry da Silva*


Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Pato Branco, Paraná, BR
Resumo
Este artigo versa sobre a aquisição do português brasileiro como Língua Adicional por imigrantes haitianos,
mais precisamente no que tange à percepção das consoantes líquidas /l/ e /ɾ/ na posição intervocálica, em formas
como pala, mala, Sara. Participaram do estudo 14 imigrantes haitianos residentes, no momento da pesquisa, na
cidade de Pato Branco-PR, com média de idade de 30,07 (DP = 4,98), todos do sexo masculino. A discussão dos
dados é pautada nos pressupostos teóricos da Aquisição Fonológica de L2 (FLEGE, 1995; BEST; TYLER, 2007)
e os resultados mostram tendência ao processo de assimilação, ou seja, sem a categorização separada de /l/ e
/ɾ/. Veriica-se ainda um efeito positivo do tempo de curso e do fato de o informante residir no Brasil com sua
família haitiana, com melhor desempenho para aqueles que frequentam curso por mais tempo e residem no país
com sua família.
Palavras-chave: Língua Adicional; Imigrantes Haitianos; Percepção.

PORTUGUESE LANGUAGE LEARNING BY HAITIAN IMMIGRANTS:


THE PERCEPTION OF THE LIQUID CONSONANTS /L/ AND /ɾ/
Abstract
his paper deals with the acquisition of Brazilian Portuguese as an additional language by Haitian immigrants,
more precisely with regard to the perception of liquid consonants /l/ and /ɾ/ in intervocalic context, as in pala,
mala, and Sara. Fourteen Haitian immigrant men with average ages of 30,07 (SD = 4,98) who were living in
Pato Branco/PR (Brazil) participated in the study. he discussion is based on theoretical assumptions of L2
Phonological Acquisition (FLEGE, 1995; BEST; TYLER, 2007) and results revealed a tendency to the assimila-
tion process, which means that /l/ and /ɾ/ are categorized together. Besides, the participants who attended the
language classes the longest and lived in Brazil with their Haitian families showed a positive efect in perceiving
the liquids.
Key-words: Additional language; Haitian immigrants; Perception.

Introdução os haitianos procuram o Brasil, e também as condições


que permeiam tanto suas vindas quanto suas estadas
No contexto atual, o Brasil tem sido a principal por- aqui, fazem deste um grupo bastante especíico. Com a
ta de entrada de imigrantes haitianos, que têm se insta- necessidade de rapidamente se engajar no mercado de
lado em diversas regiões do país. Provenientes de dife- trabalho brasileiro, haitianos sentem a urgente demanda
rentes cidades/departamentos do Haiti, esse grupo de de aprender o idioma oicial do país, muitas vezes sem
imigrantes tem buscado no Brasil um refúgio com opor- nenhum tipo de contato anterior ou instrução formal.
tunidades de emprego e consequente geração de renda Torna-se, frente a isso, evidente a necessidade de
para o sustento de suas famílias. Os motivos pelos quais oferta da língua portuguesa aos imigrantes haitianos

*
Professora Adjunta da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Pato Branco, Paraná - BR. Doutora e Mestre em Letras pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul. Endereço de e-mail: susiele.machry@gmail.com

Esta obra tem licença Creative Commons


48 Susiele Machry da Silva, Aprendizagem do português por imigrantes paitianos: percepção das ...

que aqui chegam. Embora seja o Brasil caracterizado explorando a aquisição do português pelos haitianos,
como um país plurilíngue, marcado pela multiplicidade mais precisamente nas áreas que englobam Fonética e
de contatos e a diversidade linguística (ALTENHOFEN; Fonologia. A escolha por trabalhar com as consoan-
OLIVEIRA, 2011; FERRAZ, 2007), a constante neces- tes líquidas partiu dos apontamentos realizados por
sidade de uso do português brasileiro (doravante PB), estudos preliminares (MARTINS, 2013; SANTOS;
língua nesse contexto majoritária nas interações sociais, BURGEILE, 2015; SILVA, 2015; PIMENTEL; COTIN-
faz com que esses imigrantes procurem adaptar-se de GUIBA; RIBEIRO, 2016), bem como do diagnóstico
forma emergencial aos usos linguísticos predominan- realizado a partir dos cursos de extensão direcionados
tes no país. A inserção social, seja por trabalho, estudo, aos haitianos na cidade de Pato Branco- PR.
religião, ou por motivos outros, requer o uso da língua A proposta deste artigo concentra-se na habilidade
portuguesa por parte do imigrante nas suas situações dos imigrantes haitianos em perceberem os sons do por-
cotidianas. Em outras palavras, seguindo a perspectiva tuguês, mais precisamente os segmentos /l/ e /ɾ/, como
apresentada em Ponso (2003), pode-se entender a pres- contrativos, ou seja, como categorias fonológicas dis-
são social como o principal fator externo a exigir do tintas. Nesse caso, a hipótese é de que a diiculdade dos
imigrante o conhecimento da língua dominante. aprendizes no reconhecimento, quando existente, decor-
No que tange aos imigrantes haitianos, há ainda re do fato de o segmento /ɾ/, não presente no crioulo hai-
outras questões que precisam ser observadas ao se rea- tiano, por similaridade, ser percebido como /l/.
lizarem estudos que se voltam para a aprendizagem de A discussão é pautada nos pressupostos teóricos
outras línguas, no caso desta pesquisa, o português. O que sustentam a aprendizagem fonológica em Segunda
crioulo haitiano pode ser caracterizado como uma lín- Língua (FLEGE, 1995; BEST; TYLER, 2007). Parte-se
gua mista, no sentido de ser formada por mais de uma do entendimento de que a pronúncia em língua não na-
base; ademais, considera-se o fato de que os imigrantes tiva, frequentemente marcada pelo sotaque estrangeiro,
haitianos, por serem oriundos de diferentes regiões do principalmente para os que adquirem a língua na fase
Haiti, falam, ou pelo menos têm contato, com mais de adulta (como é o caso dos informantes deste estudo),
uma língua, incluindo o francês, o espanhol e o inglês. pode decorrer de uma percepção inadequada dos sons
Além dessas características, o grupo é bastante da língua alvo (FLEGE, 1995; STRANGE; SHAFER,
especíico quanto aos propósitos emergentes de co- 2008). Embora nem sempre se conirme uma corre-
municação, em que o contato com o português, na lação positiva entre percepção e produção (BETTO-
maioria das vezes, acontece somente no meio social NI-TECHIO; RAUBER; KOERICH, 2007; HATTORI;
ou pela oferta de cursos gratuitos, que tem sido uma IVERSON, 2010; PEPERKAMP; BOUCHON, 2011),
iniciativa recorrente. Não obstante, pela urgente ne- entende-se que, quando não há um treinamento arti-
cessidade, os cursos muitas vezes carecem de material culatório mais direcionado, muitas das diiculdades de
mais direcionado às características do grupo e do foco pronúncia podem ser decorrentes da diiculdade de
em habilidades especíicas da língua alvo.1 Conhecer percepção/compreensão dos sons não nativos.
as necessidades desses imigrantes e contribuir com o Diante dessa possibilidade, justiica-se a importân-
aprimoramento de suas habilidades linguísticas torna- cia de direcionar a proposta para o estudo da habilida-
se uma tarefa gratiicante e necessária. de perceptual dos aprendizes, com vistas a diagnosticar
A partir do exposto e considerando a demanda possíveis diiculdades na compreensão dos segmentos
cada vez mais emergente de “recepção linguística” aos não nativos, mostrando evidências da categorização
imigrantes haitianos em Língua Adicional,2 este estu- não separada dos segmentos da língua não nativa em
do tem foco nos aspectos fonético\fonológicos, no que relação aos da língua nativa.
tange à percepção do contraste entre as líquidas do por- Mensura-se o grau de diiculdade de adequação
tuguês brasileiro, /l/ e /ɾ/. Justiica-se a escolha do tema aos padrões fonológicos da língua alvo com base na
pelo fato de ainda ser restrito o número de estudos similaridade/diferença dos sons a serem adquiridos na
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língua não nativa com os sons já existentes na língua quisas na área mencionam pelo menos três principais
nativa do aprendiz. Quanto mais semelhantes forem os dialetos no Haiti: o dialeto do sul, o dialeto do norte e o
sons da língua não nativa com os sons da língua mater- dialeto do oeste, que inclui a capital. Diferenças diale-
na, maior é a probabilidade de o aprendiz associá-los tais se espalham, assim, pelas regiões da ilha (BONEN-
a uma categoria fonológica já existente na sua língua. FANT, 2011).
Ao contrário, quando os sons da língua não nativa são De acordo com Pimentel, Cotinguiba e Ribeiro
notavelmente distintos da língua nativa, maior é a pro- (2016, p. 32) “as origens do crioulo haitiano podem
babilidade de, por um processo de dissimilação, os sons ser levantadas, mas seu início é uma incógnita e, pro-
serem alocados em categorias distintas, ou seja, reco- vavelmente, insondável”. O crioulo foi se formando
nhecidos como novos sons (FLEGE, 1995; BEST; TY- como uma língua de contatos dos escravos de origem
LER, 2007). africana com os colonos franceses e constitui-se uma
Ao explorar aspectos que compreendem Fonética língua social, conforme enfatizam os autores, fruto da
e Fonologia, o estudo pode vir a contribuir para a ela- necessidade de interação comunicativa. O francês, lín-
boração de material didático mais direcionado às reais gua base, era a língua do superstrato, dominada pela
necessidades dos imigrantes haitianos, contribuindo elite e pelos colonizadores, enquanto o crioulo haitia-
para um processo de desenvolvimento da fala não na- no conigurava-se como a língua dos então escravos
tiva mais abrangente. Nesse sentido, o artigo proposto (CAISSE, 2012). Por sua formação, Bonenfant (2011, p.
busca, com apoio da literatura de Aquisição Fonológica 28) salienta que o crioulo é frequentemente associado,
em L2 (FLEGE, 1995; BEST; TYLER, 2007; STRANGE; de forma negativa, por sua relação com pidgins, sendo
SHAFER, 2008), apresentar um diagnóstico do grupo por vezes interpretado como uma forma simpliicada
quanto à percepção de segmentos que têm se mostrado de outras línguas.
de maior diiculdade para os haitianos. O desempenho Na mesma linha, Spears (2010) ressalta que “al-
do grupo será mensurado com base em fatores indivi- gumas pessoas podem pensar equivocadamente que o
duais e de convívio social, tais como idade, tempo de crioulo é uma língua simples ou primitiva em compa-
residência no país, situação de sua residência no Brasil, ração com línguas como o francês, digamos, por não
assim como o tempo que frequenta curso de português, ter suixos de inlexões verbais para tempo pessoa e nú-
e o tempo de uso e exposição à língua em diferentes mero”3 (p. 3). No entanto, o autor ressalta que o criou-
situações cotidianas. lo tem seu próprio modo de expressar esses conceitos
e não se pode usar a gramática do francês como um
Crioulo Haitiano: origem e aspectos relaciona- modelo para o entendimento da gramática do crioulo.
dos à fonologia da língua Trata-se, portanto, de duas línguas diferentes.
Tendo o francês o status de maior prestígio em re-
O crioulo haitiano é hoje a primeira língua oicial lação ao crioulo haitiano (RODRIGUES, 2008), sua
da República do Haiti. Embora boa parte da população utilização também predomina em muitos lares, princi-
utilize também o Francês, língua com status de maior palmente das classes com maior poder aquisitivo, como
prestígio (RODRIGUES, 2008; SANTOS; BURGEILE, segunda língua em algumas escolas do Haiti e até mes-
2015), o crioulo constitui a língua materna de grande mo, como língua básica de ensino em outras escolas,
parte da ilha. Além do crioulo e do francês, boa parte principalmente as localizadas na ou próximas à capital
dos haitianos diz falar e compreender também o espa- do país. O francês, por seu status, portanto, continua a
nhol e o inglês. São observadas ainda situações de dife- ocupar uma posição importante entre os haitianos. Ao
renças dialetais; isto é, a depender da localização geo- lado do francês está o inglês, língua também utilizada em
gráica dos departamentos ou estados de origem dos boa parte das escolas e em algumas relações comerciais.
imigrantes, estão presentes na formação linguística dos Como língua prevalentemente falada desde sua
haitianos outros dialetos do crioulo haitiano. As pes- origem, o crioulo haitiano procura representar seu
50 Susiele Machry da Silva, Aprendizagem do português por imigrantes paitianos: percepção das ...

sistema gráico por sua fonologia. Segundo Rodrigues RODRIGUES, 2008), características de pronúncia mais
(2008, p. 97), cabe ressaltar, no entanto, que “o alfabe- semelhantes às Línguas Africanas do que ao francês.
to atualmente utilizado está longe de representar um O sistema fonológico do crioulo haitiano apresen-
consenso”, estando passível de modiicações. O francês, ta um número aproximado de 22 consoantes (BEAU-
segundo o autor, continua a ser a língua utilizada em BRUN, 2004). Seu sistema fonológico é em boa parte
muitos meios de comunicação escrita, de divulgação semelhante ao do português, conforme o Quadro 1,
comercial e sinalização de trânsito, a exemplo. que representa, por ponto e modo de articulação, a
Pelo difícil levantamento da origem, bem como classiicação das consoantes em comparação com o
pela formação mista, com traços do francês e das sistema do PB.
Línguas Africanas, torna-se complexo o levantamento Quadro 1 – Sistema Fonológico –Crioulo Haitiano ver-
das características do crioulo haitiano, de sua gramática sus Português Brasileiro

Bilabial Labiodental Inderdental Alveolar Pal. Alveolar Palatal Velar


Obstruintes p b t d k g
Fricativas f v s z ʃ ʒ X* ɣ**
Africadas tʃ***dʒ***
Nasais m n ɲ
Tepe ɾ*
Lateral l ʎ
Vibrante r*
Glide w ɥ** J

e de sua fonologia. Ainda há carência de pesquisas so- Fonte: com base em Beaubrun (2004, p. 46) - CH e Mattoso
Câmara (2009) - PB
bre a fonologia do crioulo haitiano, e as poucas pesqui-
sas que existem envolvem opiniões diferenciadas acer-
ca da classiicação dos fonemas. Além disso, conforme No quadro, as consoantes não marcadas com asteris-
Caisse (2012), há poucos registros escritos no crioulo co (*, ** ou ***) estão presentes nas duas línguas; as con-
haitiano, que por muitos anos prevaleceu como língua soantes marcadas por dois asteriscos (**) estão presentes
falada, sem uma ortograia uniicada. De acordo com no crioulo haitiano apenas; por sua vez, as consoantes
Rodrigues (2008), boa parte do léxico do crioulo deri- marcadas por um único asterisco (*) fazem parte somen-
va ou vem diretamente do francês, mas o crioulo difere te do sistema consonantal do PB. Ainda faz-se referência
consideravelmente desta língua na sintaxe, na morfo- às consoantes tʃ e dʒ, marcadas como (***), que no PB
logia e na semântica, mantendo ainda traços de inva- constituem alofones (CRISTÓFARO SILVA, 2005),
riabilidade e nasalização não característicos do francês, uma vez que não apresentam na língua valor contras-
estando nesses aspectos o crioulo mais próximo das tivo, estando presentes somente diante de “i”, como re-
Línguas Africanas. sultado do processo de palatalização (BISOL, 2010). Vale
O crioulo é considerado atualmente uma língua a ressalva de que o sistema consonantal do PB, por sua
independente, tendo como língua de base o francês, variabilidade, pode apresentar diferentes pronúncias de
em maior parte de sua origem, mas com considerá- acordo com a variedade dialetal. Os fonemas /l/ e /ɾ/, a
veis características fonológicas, morfológicas e sintá- exemplo, de acordo com a posição na sílaba, são na lín-
ticas das línguas da África Ocidental (BONENFANT, gua suscetíveis de variação, podendo apresentar outras
2011; HALL, 1971 apud BEAUBRUN, 2004). Ou seja, pronúncias, a depender da variedade dialetal (CRISTÓ-
o crioulo preserva, segundo estudos (MARTINS, 2013; FARO SILVA, 2005; MONARETTO, 2009).
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O número e a classiicação das consoantes do sexo masculino, com idade entre 18 e 50 anos, média
crioulo haitiano ainda encontram controvérsias entre de idade 30,07 (DP = 4,98). A inclusão de informantes
os estudos sobre a língua. Alguns autores classiicam, somente do sexo masculino, assim como com a idade
por exemplo, o /r/ como uma fricativa velar /ɣ/ (CA- de até 50 anos, deve-se ao propósito de adequar a pes-
DELY, 2004), enquanto outros o classiicam como uma quisa às características do grupo que, em sua maioria,
aproximante velar (VERNET, 1980). Não há registro no é constituído por adultos jovens do sexo masculino. O
crioulo haitiano do contraste entre a vibrante /r/ e o tepe tempo de residência desses imigrantes no Brasil com-
/ɾ/, contrastivo no português brasileiro (caro – carro), preende um período entre quatro meses e dois anos. Ao
assim como o contraste que se forma entre o tepe /ɾ/ e o serem contados e informados sobre os objetivos da pes-
/l/ (cala - cara). Os registros decorrentes do trabalho em quisa, os informantes foram convidados a assinar um
aula e os resultados de estudos sobre a língua apontam Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.5
que a substituição na pronúncia dos fonemas /l/ e /ɾ/, No primeiro contato, com os participantes que
objeto de estudo deste artigo, tende a ser frequente en- aceitaram participar da pesquisa, foi aplicado um ques-
tre o grupo (MARTINS, 2013), com registros de trocas tionário que buscou explorar as características do gru-
de amarelo por amalelo, por exemplo. Além disso, ocor- po. Nesse questionário, além de questões individuais,
rem outros fenômenos como a supressão de fonemas foram coletadas informações dos participantes sobre
(ex.: telefone – telefon) e a troca da posição no acento suas condições de exposição, a partir de indagações
em proparoxítonas (‘onibus – oni’bus).4 com aspectos simples: se faz uso da internet em seu co-
Embora a líquida vibrante /r/ também não esteja tidiano; as condições em que vive no Brasil (quem são
presente no crioulo haitiano, na observação prévia e seus companheiros de residência); se trabalha e o tipo
nos pilotos realizados por este estudo, a diiculdade de de trabalho que realiza; se usa o português no traba-
produção do [r], vibrante, em casos como carro - carri- lho; se costuma interagir a maior parte do tempo em
nho, não tende a ser recorrente, acontecendo apenas em português ou em crioulo; se costuma assistir televisão
casos isolados. Tampouco há registro da diiculdade de ou ouvir rádio em português. No caso dos fatores de
diferenciação do contraste entre a vibrante /r/ e o tepe exposição, as informações foram consideradas a partir
/ɾ/ (ex.: caro - carro). Tal fato pode ser explicado pela do número de horas, estabelecendo um tempo de 0 até
própria característica de formação da língua, com di- 06 horas diárias para cada atividade. O questionário
ferentes bases, e das características do grupo, havendo foi preenchido com o auxílio da pesquisadora e de um
conhecimento de outros idiomas. monitor que assessorou na escrita e na compreensão
O grupo de informantes que faz parte deste estu- de todas as perguntas. Realizou-se, primeiro, a pergun-
do, conforme será discutido no método apresentado na ta oralmente, a exemplo de: Você assiste televisão em
próxima seção, é proveniente de diferentes regiões do português? Em caso de resposta positiva, se questiona-
Haiti, mas todos possuem como língua nativa o crioulo va aproximadamente quantas horas. Assim sucessiva-
haitiano, informando, terem apenas conhecimento do mente, procurando ao máximo minimizar os efeitos da
francês, com alguns casos que apresentam também co- compreensão da língua e a consequente atribuição de
nhecimento do inglês e do espanhol. respostas aleatórias.
Sobre a região de origem, os dados coletados jun-
Metodologia to ao grupo pesquisado revelam que grande parte dos
haitianos é proveniente de diferentes departamentos/es-
O estudo foi desenvolvido a partir da coleta de tados do Haiti, sendo a maioria dos espaços geográicos
dados de percepção com imigrantes haitianos domi- mais atingidos pelo terremoto de 2010, incluindo a capi-
ciliados no Brasil. Para participar da pesquisa o infor- tal, Porto Príncipe. Grande parte desses imigrantes relata
mante deveria estar residindo na cidade de Pato Bran- viver já no Haiti em condições de vulnerabilidade social.
co – PR. Ao todo foram selecionados 14 imigrantes do Outros manifestam ter realizado cursos de formação pro-
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issional ou de graduação no Haiti, com conhecimento biam instruções e tinham a liberdade de tentar quantas
nas diferentes áreas proissionais. A Figura 1 representa o vezes desejassem desenvolver a tarefa.
mapa e as regiões do Haiti, sinalizando os departamentos A instrução inicial com teste também serviu para
de onde são provenientes os participantes deste estudo, avaliar a qualidade dos estímulos, que foram previamen-
conforme informações coletadas com o grupo. te gravados por três locutores falantes nativos do por-
tuguês brasileiro, sendo dois do sexo feminino e um do
Figura 1 - Mapa das regiões de origem dos haitianos sexo masculino. Na gravação utilizou-se gravador digital
Zoom H4N com a coniguração da taxa de amostragem
para 22.050 HZ e 16bits. As palavras a serem gravadas
foram inseridas em uma frase veículo do tipo “Digo X
com cuidado”, alocando sempre a palavra alvo na posição
de X. Após a gravação, realizada em sala silenciosa, as pa-
lavras a serem utilizadas como estímulos foram segmen-
tadas, transferidas para o computador e editadas para a
normalização da intensidade de voz dos locutores.
Os dois testes, discriminação do tipo AX e identi-
icação, foram elaborados com o auxílio do sotware TP
(RAUBER et al., 2012). Para o teste de discriminação
Fonte: Mapas do Haiti/geograia do Haiti foram selecionados vinte (20) pares de palavras com o
contraste /l/ - /ɾ/ em posição intervocálica, preferen-
A maioria dos informantes revela ser provenien- cialmente pares mínimos do tipo caro – calo, pula -
te das regiões de Les Cayes, Port-au-Prince (capital), pura, falo - faro. Além dos 20 pares contrastivos, foram
Hinche, Gonaïves e Anso-à-Galets. Todos relatam ter o incluídos no teste oito pares não contrastivos, do tipo
francês como segunda língua e apenas dois informantes bula – pula, pera – cera, mínimos ou análogos, e ou-
provenientes das regiões Gonaïves e Anse-à-Galets di- tros seis pares de palavras distratoras, nesse caso, com
zem ter o conhecimento do espanhol. Quatro dos infor- a presença de outros segmentos. Cada par de palavra
mantes informaram ter conhecimento básico do inglês, foi repetido duas vezes na aplicação do teste, totalizan-
tendo tido contato com a língua nas escolas primárias. do sessenta e oito estímulos. O teste foi conigurado de
Pelas características do grupo e dada a diiculdade forma que, ao ouvir um par de palavras, com um in-
relacionada tanto ao uso do computador, como tam- tervalo de silêncio de 1,2 segundos entre uma e outra
bém com a compreensão das tarefas, antes da aplicação palavra, o informante deveria identiicar se a consoante
dos testes deste estudo foram realizados momentos de em início de sílaba era semelhante nas duas palavras ou
treinamento. Nesses treinamentos, realizados no labo- diferente. Na tela do experimento apareciam apenas as
ratório de informática da Universidade Tecnológica opções “semelhante” e “diferente”. Salienta-se que todas
Federal do Paraná, os informantes realizavam os mes- as palavras incluídas no teste continham duas sílabas e
mos tipos de testes incluídos no estudo: discriminação sempre a consoante alvo ocupava o onset da segunda
e identiicação, não obstante, contemplando outros ti- sílaba da palavra (ex.: pala - para).
pos de segmentos e palavras (ex.: pata - bata; mata, lata, O teste de identiicação foi composto por quarenta
tapa, bicicleta), não aqueles que são alvos deste estu- (40) palavras, sendo vinte (20) com a líquida /l/ (ex.:
do. Na oportunidade, foram realizadas também tarefas sala, solo, pala, pila) e vinte com a líquida /ɾ/ (ex.: pira,
para identiicar a posição da consoante na sílaba, se no para, pura). Nesse caso, foram incluídas outras doze
início, segunda ou terceira sílaba, procurando assim palavras distratoras com outros segmentos (ex.: pata,
minimizar diiculdades na compreensão da tarefa a ser dado). O informante, ao ouvir uma palavra de cada
proposta. Durante o treinamento, os informantes rece- vez, deveria marcar a consoante com o som mais pró-
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ximo ao ouvido na pronúncia da consoante inicial da Na análise dos dados foram incluídas variáveis re-
segunda sílaba da palavra. Nesse caso, a tela do teste lacionadas ao indivíduo, tais como tempo de residência
apresentada aos informantes continha seis consoantes, (em meses), tempo de curso na UTFPR (em meses) e
sendo as duas que são objetos de análise (/l/ e /ɾ/) e as com quem vive no Brasil (sozinho, com amigos brasi-
demais correspondentes às palavras distratoras (/p/, /t/, leiros ou com companheiros de seu país). O tempo de
/s/, /d/). Da mesma forma que o teste anterior, o teste curso foi observado a partir da indicação de que todos
de identiicação foi constituído por palavras dissílabas, os haitianos estão inseridos em cursos de idiomas na
com a consoante alvo ocupando a posição de onset da cidade de Pato Branco, por meio de iniciativas religio-
segunda sílaba. O total para o teste foi de cento e quatro sas ou de cursos de extensão. Normalmente, o ingresso
(104) estímulos apresentados, considerando uma repe- nos cursos se dá nos primeiros meses da chegada do
tição para cada estímulo. imigrante no Brasil e compreende, no caso dos parti-
Na aplicação de ambos os testes, o informante tinha cipantes deste estudo, um tempo entre 02 meses e 18
a opção de repetir o áudio do estímulo por uma única meses. Ressalta-se que todos os sujeitos envolvidos na
vez, assim como utilizar o botão “ops”, que permitia vol- pesquisa são adultos e não tiveram contato com o por-
tar à tela anterior e responder novamente, caso sentisse tuguês antes de suas vindas para o Brasil, fato que le-
equívoco em sua resposta. Justiica-se a escolha por li- vou a desconsiderar qualquer interferência da idade de
berar o uso do botão “ops” pelo fato de se ter observado aquisição ou idade do primeiro contato com o idioma.
a diiculdade dos informantes na realização dos testes Além dessas variáveis relacionadas ao indivíduo,
de treinamento inicial. Nas instruções que eram dadas foram incluídas variáveis relacionadas ao tempo de uso
no treinamento, chamou-se a atenção dos informantes e de exposição ao PB, nesse caso, divididas de acordo
tanto para a oportunidade de ouvir os estímulos por com o tipo de atividade em dois grupos: a) exposição à
uma segunda vez, quanto de voltar, caso percebesse fala – tempo estimado em que o informante usa o Por-
equívoco em sua resposta anterior. Por questões tam- tuguês na fala (interação com amigos, uso do português
bém relacionadas à diiculdade dos informantes com o no trabalho, entre outros; b) exposição à escuta – tem-
próprio computador, não se mediu o tempo de resposta po que o informante revela icar exposto em situações
e todos os informantes realizaram individualmente as de áudio em Português (ouvir rádio, música, televisão,
tarefas, dentro do seu tempo. Na realização dos testes os entre outros). Essas informações foram levantadas por
informantes utilizaram um computador portátil, dispo- meio do questionário aplicado aos informantes, a partir
nibilizado pela pesquisadora, e fone de ouvido, com o da contabilização das horas informadas nas diferentes
volume ajustado individualmente. atividades (ex.: assistir televisão, ouvir música, falar com
Para o levantamento dos dados foram considera- colegas de trabalho, falar com amigos, entre outras) e a
dos no teste de discriminação somente os pares con- posterior conversão dos valores em percentuais.
trastivos, resposta para os estímulos diferentes, os quais
eram objeto de análise. Os pares iguais (ex.: bula – pula), Descrição e discussão dos dados
também incluídos no teste, serviram como um contro-
le do experimento, evitando respostas tendenciosas, O levantamento dos dados para a descrição e aná-
a exemplo, de o informante marcar a opção diferente lise, conforme o exposto na seção anterior, foi realizado
para todos os pares ou mesmo de perceber o propósito com o auxílio do SPSS. Para o teste de discriminação
da tarefa. O levantamento inicial contabilizou o núme- buscou-se veriicar a habilidade dos aprendizes em
ro de acertos para cada teste em termos percentuais, diferenciar o contraste /l/ - /ɾ/ em pares de palavras
considerando as duas respostas dadas pelo informante. (ex.: pira – pila). A hipótese é de que, pelo fato de a
Os dados foram lançados no SPSS, considerando o re- consoante liquida /ɾ/ não estar presente na língua
sultado de média percentual obtida por cada informan- nativa dos aprendizes, o crioulo haitiano, há tendência
te, em cada tipo de teste. de ocorrer o processo de assimilação; ou seja, sugere-se
54 Susiele Machry da Silva, Aprendizagem do português por imigrantes paitianos: percepção das ...

que os informantes tendem a não perceber a distinção incluindo /l/, corrobora a hipótese de que os aprendizes
entre os segmentos /l/ e /ɾ/ (FLEGE, 1995; BEST; TY- não separam ainda completamente as duas categorias,
LER, 2007). Não obstante, o desempenho dos aprendi- com tendência a confundir e fazer a substituição do tepe
zes deve estar associado a questões individuais, incluin- /ɾ/ do PB pelo som existente na sua língua, o segmen-
do o tempo de exposição e de uso da língua alvo. to /l/. Nesse caso, seguindo a proposta de Flege (1995)
Na análise foram considerados somente os pa- e Best e Tyler (2007), na percepção dos aprendizes as
res contrastivos, isto é, aqueles em que as consoantes duas categorias fonológicas tendem a se sobrepor, não
iniciais da segunda sílaba eram diferentes. No teste de havendo a formação de categorias independentes para
identiicação, os indivíduos foram testados quanto a cada som, resultando em um processo de equivalência
sua habilidade para identiicar tanto /l/ quanto /ɾ/ em entre o /l/ presente também na LM e o /ɾ/ presente
posição de onset da segunda sílaba. A tabela 1, a seguir, apenas na língua alvo.
apresenta os resultados do grupo, considerando a mé- Nota-se que os resultados não se aplicam de for-
dia percentual obtida em cada teste. ma categórica a todos os indivíduos. O alto desvio
padrão e os valores em média máxima, de 85,00 para
Tabela 1 – Resultado dos testes de percepção o teste de discriminação e de 88,10 para o teste de
Média Pontuação Pontuação identiicação, sugerem que alguns sujeitos apresentam
Tipo de teste do mínima máxima DP habilidade para o reconhecimento dos sons e suas di-
grupo (grupo) (grupo) ferenças. Nesse sentido, fatores individuais tais como
Teste de o tempo de residência do aprendiz no Brasil, tempo
41,84 10,00 85,00 26,66
discriminação
que está frequentando curso, uso e exposição à língua
Identiicação /l/ 53,88 20,83 88,10 16,75
alvo, pela hipótese de que parte este estudo, podem
Identiicação /ɾ/ 49,65 11,90 80,95 20,31 explicar possíveis diferenças de comportamento entre
os informantes que compõem a amostra. Nesse caso,
Fonte: Elaboração da autora tratou-se de realizar a análise a partir das observações
desses correlatos.
De acordo com os resultados expressos na tabela O tempo de residência no Brasil dos sujeitos que
anterior, a média do grupo para o teste de discrimina- participaram da pesquisa varia em um mínimo de qua-
ção AX foi de 41,84 (DP = 26,66). No teste de identii- tro meses até o máximo de dois anos. Ao testar a corre-
cação observa-se a média de 53,88 (DP = 16,75) para /l/ lação da variável com o desempenho na discriminação
e de 49,65 para /ɾ/ (DP = 20,31). Por estes resultados, (rs = ,147, p > 0,05) do contraste e na identiicação de /l/
veriica-se que há melhor desempenho dos aprendizes (r = ,273, p > 0,05) e // (r = ,030, p > 0,05) , observou-
na habilidade de identiicação dos segmentos em rela- se, em ambas as situações, uma associação positiva, mas
ção à habilidade de discriminação dos pares contras- não signiicativa. Tal resultado revela não haver, pelo
tivos. Esse resultado sugere possível sensibilidade dos menos de forma direta, inluência do Tempo de Resi-
aprendizes ao detalhe fonético, mas sem haver ainda a dência no desempenho dos informantes na percepção.
dissimilação dos dois fonemas como categorias inde- A atuação da variável Tempo de Residência na
pendentes (BEST; TYLER, 2007; ANTONIOU, TYLER, aquisição de Segunda Língua por imigrantes adultos,
BEST, 2012). A identiicação de /l/ (53,88) e a identii- em alguns casos não tende a apresentar efeito, uma vez
cação de /ɾ/ (49,65) mostram resultados muito próxi- que não há, normalmente, progresso no desempenho
mos, sem diferença entre as médias, conforme o teste T com o aumento dos anos de residência (AOYAMA et
para amostras emparelhadas (t(13) = 0,485, p = 636).6 al, 2008; OH et al, 2011). A variável tende a apresen-
O fato de os aprendizes apresentarem diiculdade tar efeito quando está atrelada à alta exposição; nesse
na tarefa de discriminação do contraste e valores pró- caso, há possibilidade de os indivíduos apresentarem
ximos para a identiicação dos dois segmentos, /l/ e /ɾ/, uma melhora nas habilidades de perceber e produzir
Ilha do Desterro v. 70, nº 3, p. 047-062, Florianópolis, set/dez 2017 55

os sons da língua alvo com o decorrer do tempo, se


estes tiverem acesso ao input de qualidade (FLEGE;
LIU, 2001). O progresso observado, especialmente
dos aprendizes de uma segunda língua em imersão
no contexto da L2, revela haver uma associação posi-
tiva entre desempenho na L2 e condições de acesso ao
input adequado.
A exposição à língua alvo, neste estudo, conforme
descrito na seção metodológica, foi medida com base
em questões relacionadas a atividades de fala e escuta
da língua em situações cotidianas. Com base na média
percentual de acordo com as horas de exposição rela-
tadas pelos informantes, procedeu-se à divisão de dois
grupos, a saber: Grupo A - exposição cotidiana à fala
e escuta com percentual inferior a 50% (inferior a 03
horas por dia); Grupo B - exposição cotidiana à fala e
escuta com percentual superior a 50% (superior a 03
horas por dia). O Gráico 1 apresenta a média obtida
para cada grupo na tarefa de discriminação.

Fonte: Elaboração da autora

Os resultados expressos nos Gráicos 2 e 3 revelam


que o grupo B, com maior tempo de exposição à lín-
gua, tende a apresentar melhor desempenho na identi-
icação dos dois segmentos, /l/ e /ɾ/. A diferença entre
as médias mostra-se mais saliente na identiicação de
Fonte: Elaboração da autora /l/, 57,09 para o Grupo B e 50,59 para o Grupo A, com
diferença signiicativa (U = ,258, p = 0,050). Na identi-
Observa-se no gráico anterior que o grupo B, mé- icação de /ɾ/ a diferença entre as médias, 50,59 para o
dia de 43,52, apresenta leve favorecimento na habilida- Grupo B e 48,4 para o Grupo A, não se mostra signii-
de de discriminação em relação ao grupo A, média 39, cativa (U = -,326, p > 0,05).
59. Essa diferença entre as médias, não obstante, não Diante dos resultados, não se pode conirmar o
se mostra signiicativa (U = -,065, p > 0,05), indicando efeito positivo e uniforme da exposição à língua nas ha-
não haver inluência da variável no que tange à discri- bilidades de discriminação e identiicação, contrarian-
minação do contraste. O mesmo agrupamento foi reali- do as hipóteses previstas inicialmente. Salienta-se que o
zado para a tarefa de identiicação de /ɾ/ e identiicação não efeito da variável no grupo, nesse caso consideran-
de /l/, conforme observa-se nos Gráicos 2 e 3, com a do a divisão realizada, pode estar relacionado à própria
apresentação da média percentual de cada grupo. particularidade desses imigrantes e, também, à forma
como a variável foi estruturada nas atividades contem-
pladas e a possíveis generalizações de respostas.7 Rei-
56 Susiele Machry da Silva, Aprendizagem do português por imigrantes paitianos: percepção das ...

tera-se, ainda, como discutido na parte introdutória, (2004) e Alves; Zimmer (2005), a instrução explícita é
que os imigrantes haitianos representam ser um grupo tomada aqui em um sentido mais amplo, estando rela-
peculiar em relação a outros grupos não nativos. Há, cionada às possibilidades que o informante encontra de
nesse caso, necessidade de olhar para aspectos outros, usar a língua no contexto formal de sala de aula.
individuais, que possam estar inluenciando no com- Informantes que possuem acesso à instrução ex-
portamento. Julgou-se, por conseguinte, pertinente plícita formal, além de terem a oportunidade de in-
levantar outros aspectos, tais como o tempo em que teragir no idioma não nativo, não somente com seus
informantes estão frequentando curso de português no pares, mas também com outros estrangeiros e nativos
Brasil e também a condição em que residem no país. da língua alvo, professores e monitores, recebem maior
Na avaliação da variável curso, considerou-se o quantidade de input e também um feedback de sua fala,
tempo, em meses, que o informante está frequentando compreensão e escrita. No caso dos informantes haitia-
curso de português. Ressalta-se que todos os partici- nos, pelas características inerentes ao grupo, em que há
pantes estavam, no momento da pesquisa, participando contato mais próximo entre seus pares e, consequente-
de cursos, sendo alguns iniciantes e outros com maior mente, a comunicação cotidiana ocorre, na maior par-
tempo, sem, no entanto, haver treinamento especíico te do tempo, em crioulo haitiano, o acesso à instrução
para a percepção e pronúncia de sons. A Tabela 2, a se- explícita em sala de aula torna-se ainda mais signiica-
guir, apresenta os resultados da correlação entre tempo tivo. Entende-se que o espaço da aula é uma forma de
de curso e o desempenho nas tarefas de discriminação socialização com o uso predominante da língua portu-
e identiicação. guesa, além de proporcionar o acesso ao texto escrito,
que muitos não possuem, e também propiciar o acesso
Tabela 2 - Tempo de Curso versus Habilidades de Dis- a diferentes usos da língua na mídia: vídeos, músicas,
criminação e Identiicação entre outros, não corriqueiros e familiares para todos
os haitianos.
Tarefa Resultado do teste Signiicância Além do tempo de curso, foram levantadas ques-
Discriminação (rs = + 0,30) p = 0,026 tões relacionadas à condição de moradia dos infor-
Identiicação /l/ (r = + 0,26) p = 0,297 mantes no Brasil, mais diretamente quanto ao convívio
Identiicação /ɾ/ (r = + 0,46) p = 0,003 cotidiano com outras pessoas. As opções, nesse caso,
eram relativas aos possíveis companheiros com quem o
Fonte: Elaboração da autora
informante reside no Brasil, isto é, se com amigos bra-
Os resultados revelam haver uma correlação po- sileiros, com amigos de seu país, com família haitiana,
sitiva entre tempo de curso e o desempenho nas tare- família brasileira, ou mesmo, sozinho. Pelas condições
fas de discriminação e identiicação. Observa-se, nesse com que os haitianos vieram ao Brasil, ocorrendo na
sentido, a tendência a um aumento na habilidade de maioria dos casos a vinda de apenas um membro do
percepção, na medida em que há o aumento do tempo grupo familiar, muitos deles, pelo menos no início de
de curso. Essa correlação entre desempenho e tempo de seu processo migratório, vieram a residir com os pró-
curso apresenta-se signiicativa para a tarefa de discri- prios colegas, situação que, com o tempo, tende a se
minação e para a tarefa de identiicação para o segmen- modiicar, com a oportunidade de trazer outras pessoas
to /ɾ/. As evidências, portanto, apontam para um papel da família, ou mesmo de passar a conviver com brasi-
positivo da variável tempo de curso, o que está em con- leiros, criando laços de amizade. Não se mostra muito
formidade com as hipóteses previstas, tendo em conta frequente, mesmo com o passar do tempo, haitianos
que aqueles que estão frequentando curso, embora não constituírem família com brasileiros, e raros são os ca-
diretamente com o treinamento especíico dos aspectos sos em há divisão de espaço com amigos brasileiros.
fonético-fonológicos, possuem tempo maior de instru- Dos fatores controlados, apenas dois foram preen-
ção explícita à língua. Seguindo a concepção de Alves chidos pelos informantes deste estudo, possibilitando a
Ilha do Desterro v. 70, nº 3, p. 047-062, Florianópolis, set/dez 2017 57

formação de apenas dois grupos8: (i) - informantes que o grupo que reside com família haitiana, sem diferença
residem com colegas amigos/haitianos (08 integrantes); signiicativa (t(11) = 0,883, p > 0,05) entre as médias.
(ii) - informantes que residem com família haitiana (5 Observa-se, não obstante, uma diferença marginal-
integrantes). O desempenho desses informantes na ta- mente signiicativa dos grupos na identiicação de /ɾ/,
refa de discriminação é apresentado no Gráico 4. com uma média de 43,08 para o grupo que reside com
amigos haitianos e, de 54,46, para o grupo que reside
com família haitiana (t(11) = 0, 462, p = 0,067).
O papel favorável da variável, com indicação positiva
para o fato de o informante residir no Brasil com sua fa-
mília, sugere-se estar relacionado a outras questões, como
maior identiicação com o país e, consequentemente, ati-
tudes positivas perante o idioma. Muitos dos imigrantes
haitianos que ainda tem sua família no Haiti, pensam em
retornar ao seu país e acabam, mesmo de que forma in-
Fonte: Elaboração da autora consciente, não apresentando motivação suiciente para
a aprendizagem do idioma. Por outro lado, aqueles in-
Observa-se um melhor desempenho do grupo de formantes que estão aqui com suas famílias mostram o
informantes que reside com família haitiana, média de desejo de permanecer no país e, por tal razão, apresentam
53,33, em relação ao grupo que reside com amigos hai- atitude mais positiva frente ao idioma. O tempo de uso do
tianos, 38,63. Tais resultados, com diferença comprova- idioma português em casa também se tem por hipótese
da (t(11) = ,899, p < 0,05), demonstram que o fato de o de que seja maior para o grupo que reside com a famí-
informante residir no Brasil com sua família tem uma lia, uma vez que muitos desses informantes relatam falar
inluência positiva em seu processo de aquisição da lín- português em casa com os ilhos e sentem essa necessida-
gua não nativa. Comportamento semelhante é observa- de para tentar aprender o idioma e se inserir nos espaços
do no papel da variável para os testes de identiicação, sociais.
mais precisamente na identiicação de /ɾ/, representa- A partir das análises até aqui apresentadas e frente ao
dos nos Gráicos 5 e 6. fato de não ser possível apontar, a partir do desempenho

Fonte: Elaboração da autora


do grupo como um todo, fatores que mais diretamente
De acordo com os resultados, no que se refere à poderiam estar respondendo por diferenças de compor-
identiicação do segmento /l/, os dois grupos apresen- tamento, pelo menos não de forma uniforme, optou-se
tam comportamento semelhante, média de 52,23 para o por realizar ainda uma observação de cada informante. A
grupo que reside com amigos haitianos e de 53,04 para proposta permite visualizar de maneira mais transparente
58 Susiele Machry da Silva, Aprendizagem do português por imigrantes paitianos: percepção das ...

a relação do peril do participante com o desempenho nas Observa-se nos resultados descritos na tabela,
tarefas. Possíveis diferenças de comportamento entre in- conforme esperado, uma visível heterogeneidade dos
divíduos no processo de aquisição são esperadas, uma vez integrantes do grupo quanto ao peril e ao desempenho
que se entende, de acordo com Best e Tyler (2007), que se logrado nas tarefas de percepção, AX e identiicação.
trata de um processo individual e que depende tanto de Com melhor desempenho em ambos os testes, pode-se
fatores relacionados aos anos de residência quanto aos fa- observar os informantes de número 1, 2, e 7, marcados
tores relacionados à exposição. Pela especiicidade e ca- por (*). Em comum esses informantes possuem tempo
racterísticas do grupo de haitianos que compõem o cor- de residência igual ou superior a 18 meses, tempo de
pus de estudo, essa hipótese se reforça, pelo entendimento curso de 12 meses e o fato de residirem no Brasil com
da forma como esses imigrantes chegaram ao Brasil, das família haitiana. Esse resultado sugere haver uma atua-
suas características individuais e dos fatores sociais que ção conjunta de fatores que contribuem para a melhora
permeiam suas estadas no país. de desempenho desses participantes na dissimilação
São expostas no Quadro 2 possíveis caracterís- das categorias fonológicas.
ticas de cada participante, coletadas no questionário Quanto ao tempo de exposição e uso do português
de informações sociais, que possam contribuir para a em situações de fala e escuta, revelam ter maior tem-
compreensão das diferenças de desempenho nas ta- po os informantes de número 2 e 7. Curiosamente, o
refas propostas por este estudo. Procurou-se seguir as informante de número 1, com altos índices de desem-
mesmas variáveis veriicadas estatisticamente no gru- penho, assinala ter um tempo de exposição menor ao
po, apontando, a partir destas, o peril e o desempenho português; não obstante, a análise de seu peril social
individual de cada participante. indica que o mesmo frequenta curso de graduação no
Brasil e trabalha em uma empresa com atendimento ao
Quadro 2 - Peril dos informantes versus desempenho público, dados que direcionam para um contato com o

*** Informante que revela morar com família brasileira


Ilha do Desterro v. 70, nº 3, p. 047-062, Florianópolis, set/dez 2017 59

português em situações de leitura e fala maior do que o na tarefa de identiicação e de 69% na identiicação de
tempo informado em sua autoavaliação. /ɾ/. As diferenças que esses informantes apresentam de
Nota-se, ainda, um desempenho mediano do in- acordo com o tipo de teste, por hipótese, podem estar
formante de número 14, com média de 62% na tarefa relacionadas à maior diiculdade encontrada para reali-
AX e de 54% na identiicação de /ɾ/. Esse informante, zar uma ou outra tarefa.
de acordo com sua icha social, está no Brasil por um Aspectos em comum a grande parte dos informan-
tempo de 14 meses, frequenta curso há 12 meses e in- tes que tendem a apresentar menores índices de pon-
formou, no momento da pesquisa, estar residindo com tuação estão relacionados com a rotina de trabalho e
família brasileira, por um tempo de 03 meses. Entende- práticas sociais cotidianas. Praticamente todos ocupam
se que nesse caso a tendência à melhora de desempe- cargos de trabalho manual, com pouco uso do idioma
nho está relacionada ao fato de o participante residir português e, além do curso que frequentam, não estão
com brasileiros e ter consequentemente maior tempo engajados em outros grupos sociais em que se use o
de uso da língua nas situações cotidianas, bem como português, tais como igreja, cursos, treinamentos, entre
uma relação positiva com o idioma. outros. Embora alguns tenham apontado ter razoável
No que tange aos demais informantes, observa-se índice de uso e exposição ao português em situações de
maior diiculdade nos testes, com tendência ainda a fala e escuta, as práticas sociais cotidianas e o fato de a
não dissociar as categorias de /l/ e /ɾ/. Tal fato se re- convivência prevalecer em grupos de amigos haitianos
vela nos resultados para o teste de discriminação, no contribuem para que prevaleça ainda o uso do Crioulo.
qual, em geral, os informantes tendem a apresentar
menores índices em relação à identiicação. Ao verii- Considerações Finais
car os dados da tabela para o teste de identiicação das
categorias /l/ e /ɾ/, faz-se importante observar que as O presente estudo buscou veriicar a aprendizagem
taxas de identiicação de /l/, segmento presente tanto do português como Língua Adicional por imigrantes
no português quanto no crioulo, não tendem a ser tão haitianos, investigando a habilidade de identiicar e
elevadas em grande parte dos casos, o que corrobora, discriminar o contraste entre as líquidas /l/ - /ɾ/, não
conforme discutido anteriormente, o entendimento de presente no crioulo haitiano. Com apoio dos pressupos-
que ainda não há dissimilação das duas categorias, /l/ tos teóricos voltados para aprendizagem fonológica em
e /ɾ/ (FLEGE, 1995; BEST; TYLER, 2007). Para haver L2 (FLEGE, 1995; BEST; TYLER, 2007), a observação
a dissimilação das duas categorias, o esperado seria o empírica por testes de percepção permitiu observar a
informante apresentar alto índice de identiicação em tendência de os informantes assimilarem os sons da L2
ambos os segmentos, ou seja, sem haver a substituição com base em sua língua nativa. Nesse caso, não sendo
em nenhum dos casos. a consoante /ɾ/ categorizada como categoria indepen-
Quanto ao peril desses informantes com menores dente de /l/, são recorrentes os casos de não diferencia-
pontuações, em comum, se pode observar, com exceção ção de formas contrastivas como caro - calo, para - pala.
dos informantes de número 3, 6 e 10, um tempo de re- Observou-se, não obstante, que o comportamento
sidência inferior a um ano e o tempo de curso inferior a do grupo não se mostrou uniforme e que há um papel
8 meses. Exceto o informante de número 03, os demais positivo de o informante estar ou não frequentando cur-
airmam residir com amigos haitianos. Os informantes so de português no Brasil. As características peculiares
de número 4 e 5, marcados por (**), chamam a aten- do grupo, evidenciadas ao longo do texto, tais como as
ção por apresentarem pontuações díspares nas tarefas condições de vinda para o Brasil, as condições de resi-
de discriminação e de identiicação. O informante de dência, se com a família ou com amigos haitianos, tam-
número 5 apresenta pontuação de 85% na tarefa de dis- bém são fatores que mostram estar relacionados com
criminação e de apenas 33% na identiicação de /ɾ/. Já o o desempenho dos participantes na aprendizagem do
informante de número 4, apresenta pontuação de 30% idioma. As discussões levantadas, embora não de forma
60 Susiele Machry da Silva, Aprendizagem do português por imigrantes paitianos: percepção das ...

4. Os fenômenos referentes à supressão de fonemas e à


exaustiva, indicam passos para outras pesquisas com o troca na posição do acento não são abordados por este
grupo, incluindo haitianos domiciliados em outras re- estudo, uma vez que a proposta centra-se na percepção
giões do Brasil, buscando medir, talvez de uma forma do contraste entre as liquidas /l/ e /ɾ/.
mais direta, aspectos individuais, quanto à percepção 5. Projeto de pesquisa previamente aprovado pelo Comitê
dos imigrantes sobre o idioma e sobre o país, que se de Ética em Pesquisa da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná – CAAE - 55244716.3.0000.5547
sugere podem inluenciar no processo de aquisição.
Reitera-se a importância de pesquisas que se vol- 6. A decisão pela aplicação de testes paramétricos ou
não paramétricos neste estudo foi tomada após o teste
tem para os diferentes aspectos relacionados com a de normalidade pelos testes Kolmogorov-Sminrnov
aquisição do português por imigrantes haitianos. Di- e Shapiro-Wilk. Em caso de comparação de grupos
ferente de outros processos migratórios, as condições considerou-se também o teste de homogeneidade das
vulneráveis do grupo de haitianos apontam para a ne- variâncias.
cessidade de um acolhimento pedagógico diferenciado 7. A generalização de respostas a que nos referimos está
relacionada à possibilidade de o informante responder
no ensino/aprendizagem da língua. No âmbito social
de forma genérica o número de horas de exposição em
esses imigrantes, muitas vezes, não desfrutam das mes- cada atividade, sem avaliar e pensar no real tempo em
mas oportunidades de outros grupos, não há facilidade que desenvolve e ica exposto em cada tarefa. Muitas
de inserção social e realizam trabalhos manuais, com vezes, sua resposta pode ter um caráter muito subjetivo,
o que diiculta um levantamento preciso do tempo em
uso da força física que, por vezes, não demandam a
cada atividade, gerando apenas uma estimativa.
utilização direta do idioma. Com isso, esses imigrantes
8. Neste estudo, apenas 01 informante revelou ter família
passam a viver em ilhas, por assim dizer, com seus pa- brasileira pelo tempo de 03 meses. O desempenho
res, utilizando como base para a comunicação seu idio- deste informante foi avaliado separadamente e
ma nativo. Temos, portanto, um grupo bastante pecu- mostrou percentuais medianos nas tarefas realizadas,
entre 50% e 60%.
liar e que merece o olhar de nossas pesquisas, de nosso
entendimento da língua.
Referências
Por im, embora este trabalho tenha se detido prio-
ritariamente nos aspectos fonético-fonológicos com um ALVES, Ubiratã Kickhöfel. O papel da instrução explícita
na aquisição fonológica do inglês como L2: evidências
grupo pequeno de haitianos, o estudo lança contribui-
fornecidas pela Teoria da Otimidade. Pelotas:
ções para a continuidade de outras pesquisas que já estão Dissertação de Mestrado, UCPel, 2004.
sendo realizadas com esses imigrantes, incluindo futu- ALVES, Ubiratã Kickhöfel; ZIMMER, Márcia Cristina.
ramente testes de produção que possam observar se há A instrução explícita na aprendizagem da L2: uma
diiculdade na produção dos segmentos aqui em estudo. abordagem conexionista. Nonada: Letras em Revista,
Porto Alegre, n. 8, p. 221-232, 2005.
Notes ALTENHOFEN, Cléo Vilson;OLIVEIRA, Gilvan Müller
1. Neste quesito, faz-se menção ao estudo de Silva de. O in vitro e o in vivo na política da diversidade
(2015) com a proposta de uma ferramenta didática linguística do Brasil. In: ALTENHOFEN, Cléo V.;M
para o ensino do PB para falantes nativos do Crioulo ELLO, Heliana; RASO, Tommaso (Orgs.). Os contatos
Haitiano, com foco no acento primário das palavras do linguísticos no Brasil. Belo Horizonte: Editora UFM G,
português. 2011. p. 187-216.

2. Utilizamos o termo Língua Adicional com base em ANTONIOU, Mark; TYLER, Michael; BEST, Catherine.
Santos & Burgeile (2015), com o entendimento de Two ways to listen: do L2-dominant bilinguals perceive
que os imigrantes haitianos são todos bilíngues e o stop voicing according to language mode? Journal of
português é para esses imigrantes segunda, terceira ou phonetics, v. 40, p. 582 - 594, 2012.
quarta língua. AOYAMA, Guion et al. he irst years in a L2 speaking
3. Some people may think in error that Creole is simple or environment: a comparison of Japanese children
primitive compared to a language like French because, and adults learning American English. International
say, Creole, does not have verb inlection suixes for Journal of Applied Linguistics, 46, p.61 – 90, 2008.
tense, person, and number [tradução nossa].
Ilha do Desterro v. 70, nº 3, p. 047-062, Florianópolis, set/dez 2017 61

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Recebido em: 29/03/2017
Aceito em: 10/07/2017

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