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Prefácio

Renarde Freire Nobre – Professor Departamento Sociologia UFMG

Fiquei contente ao ser convidado pelo Jair para prefaciar o seu livro, oriundo do
mestrado defendida na PUCMinas, de cuja banca tive oportunidade de participar. Na
ocasião, realcei para todos os presentes que, a despeito das ponderações e
questionamentos que faria, estávamos diante de um trabalho de qualificação superior ao
padrão das dissertações. Nele alguns elementos qualificadores se encontravam em nível
elevado: a paixão pela pesquisa, a profusão de referências teóricas mobilizadas para
desenvolvimento da tese central, o vigor argumentativo e a clareza expositiva O leitor
constatará no livro todo o fôlego interpretativo do autor, com sua eloquência, ousadia e
também possíveis limitações.
A pesquisa da qual este livre é resultado constitui-se como um exercício de
confrontação: entre o “postulado teórico da centralidade do trabalho e a teoria do sujeito
reflexivo e plural”, como nos informa o próprio autor. De um lado, um “postulado” e,
do outro, uma efetiva “teoria”, diferença fundamental, pois, na compreensão de Jair, a
crítica da nomeada “centralidade do trabalho” (CT) significa a denúncia do seu caráter
ortodoxo e pouco fecundo, pois se trata, afinal, de uma concepção reducionista,
ideológica e ultrapassada, avessa à testabilidade. A rigor, portanto, uma não-teoria,
porque a validez de uma teoria depende da confrontação com teorias rivais bem como
da demonstração de consistência e fecundidade empírica. Para esclarecimento do vem a
ser o postulado da CT, com sua fragilidade e infecundidade teórica, dois autores são
selecionados como alvos da crítica: um brasileiro, Ricardo Antunes, e outro francês,
Yves Clot.
O postulado da CT se complica, primariamente, por ser mais político, ancorado
em convicções, do que científico, ancorado no diálogo reflexivo e com uma atenção
decisiva para a real composição das relações e dos processos. Jair não esconde certa
indignação, um riso sério, pelo grau de obtusidade do postulado, com as premissas
morais envolvidas, incapaz de sair do próprio umbigo (dogmatismo) e compreender a
sua patética decadência, para o que nem seria necessário deixar o campo do marxismo
ou da esquerda, uma vez que a CT é uma noção já revista e suspensa no interior desses
campos por importantes autores (Habermas, Offe, Gorz). Jair, porém, em sua crítica
penetrante e incansável ao postulado da CT, não se contenta em recuperar os
“revisionistas”. Ele se coloca mais distante, de um ponto de vista teórico rival e
incompatível, denominado “teoria do sujeito reflexivo e plural”, claramente contrário a
qualquer redução do indivíduo a um denominador comum, a um fundamento, seja o
trabalho ou à sexualidade, por exemplo. Em relação aos universos de pertinência, o
sujeito está referido e, não, definido ou significado ou determinado.
Há dois grandes equívocos cometidos pelos defensores da CT, sobretudo entre os
marxistas mais ortodoxos. Eles têm uma imagem estreita do trabalho como “emprego”,
como contratação sob regime inimigo do capital – parecem sequer saber que o trabalho
há muito extrapolou o modelo da “fábrica” –, ao mesmo tempo em que, associado a
isso, guardam uma imagem deformada do sujeito, prendendo-o em uma estrutura que
lhe massifica e nega. Neste caso, um dos sintomas do modo equivocado de se considerar
o sujeito, pecado venal da CT, é a bizarra desconfiguração identitária na concepção do
“sujeito alienado”. Ora um sujeito alienado é, por pressuposto, um não-sujeito,
destituído que está de autonomia.
Para denunciar os dois erros crassos, Jair nos oferece um texto crítico,
avolumado de referência teorias, incorporando e aliançando autores de campos e olhares
diferenciados, mas todos capazes de mostrarem que o sujeito é que deve ser o
pressuposto, porque ele sempre existe, se problematiza e atua, quer pensado em sentido
filosófico (ontológico) ou sociológico (relacional). Vale a pena realçar a presença de
extensíssima e robusta bibliografia, demonstração de uma obsessão intelectual e um
domínio teórico surpreendente por parte do autor, ainda mais se nos lembrarmos que se
trata de uma dissertação de mestrado. A reunião enciclopédica é mesmo digna de nota.
Não vou aqui recuperar nomes, mas é da miscelânea de autores e suas ideias que
Jair extrai o substrato conceitual que lhe serve de guia para a denúncia da CT: a imagem
do sujeito reflexivo e plural. Reflexivo, não alienado; plural, não unidimensional.
Certamente a junção de peças teóricas tão distintas é um ponto delicado da pesquisa. É
inevitável que, por vezes, desconfiemos da sintonia de determinados autores reunidos
ou de que certas inclusões mereceriam mais esclarecimentos. Jair, porém, teve que
pagar o preço, por assim dizer, obrigado a passar por cima das singularidades ou mesmo
contradições entre algumas referências nas quais se apoia, para poder o que de fato lhe
interessava: mostrar como diferentes teorias, associadas a distintos campos do saber, lhe
serviam ao propósito da denúncia da CT, ao se apresentarem como negadoras do
empobrecimento/anulação do sujeito e uma abertura para compreendê-lo em sua
natureza descentrada, múltipla, dinâmica. O sujeito deve ser visto como aquele que tem
intencionalidade e é por excelência um ser reflexivo e atuante, como aquele que, afinal,
busca construir a si mesmo. É esse entendimento, tão simples quanto fundamental,
ancorado em razões filosófica e históricas, o que falta decisivamente à CT.
Há uma explícita inversão de valores em relação ao marxismo e sua díade
dominação/alienação, uma visão não marxista do trabalho e do sujeito que trabalha,
quando o autor argumenta pela positividade do mundo do trabalho, objeto de
intervenções políticas e sociais muito importantes que podem perfeitamente fazer do
ambiente de trabalho um cenário favorável às experiências de subjetivação. O trabalho
concebido como “atividade autointeressada”, “ato responsável”, “uma realidade a ser
reivindicada”. A condição do trabalho não é apenas não necessariamente central do
ponto de vista dos sujeitos, suas vivências, desejos e aprendizados, mas constitui-se
como um espaço a mais de reflexividade e de possível crescimento pessoal.
“O ideal de trabalho decente foi uma conquista dos trabalhadores e está
institucionalizado no maior número das sociedades desenvolvidas ocidentais”. O
postulado da CT é completamente cego ao processo. E o problema da sua carga
ideológica é que ela não só obscurece uma visão científica da realidade, mas igualmente
afasta o conhecimento dos seus compromissos com a melhoria das condições de vida e
existência. No final do texto, Jair faz a defesa de uma sociologia que, mais do que
rigorosa, deve ser atuante e “propositiva” (uma “ciência atuarial”), que valorize a
timidez do possível em lugar da radicalidade do ideal.
Os interessados na temática sociológica do mundo trabalho, em especial, como
todos aqueles interessados na discussão mais ampla a respeito do sujeito e seus modos
de subjetivação encontrarão neste livro um bom material de pesquisa. Não é o caso de
me alongar na apresentação do conteúdo do texto, para além da síntese acima. Aqui não
é tanto lugar de fazer uma apresentação quanto de externar livres considerações. No
mais, valho-me da aposta de que a leitura não será em vão.
Também não é o caso de refazer o debate que travei com o autor quando da
defesa da sua dissertação. Vou, contudo, destacar dois pontos polêmicos mais
relevantes, atitude que parte do compromisso com a honestidade e tem a intenção de
interrogar mais do que retificar. O primeiro ponto diz respeito ao estatuto da crítica
empreendida por Jair ao postulado da CT, relacionado a um exercício de “refutação”,
como se tratasse da substituição de uma teoria falsa por uma teoria verdadeira. Todavia,
ao meu juízo, trata-se mais precisamente de um confronto entre modos de percepção e
regimes de discursividade sobre determinados fenômenos, uma luta que envolve
pressupostos valorativos. Certamente a força argumentativa, com o apoio em autores
exemplares, confere aos pressupostos do autor uma validez teórica substancial. E o
resultado é devastador para o postulado da CT. De todo modo, na raiz da luta, a disputa
é mais do que conceitual, visando acusar os malefícios da carga ideológica da CT.
Assim, o que se processa com a pesquisa é uma inversão de perspectiva, com forte
capacidade de impacto, não exatamente uma refutação. A confrontação teórica não
deixa de conter uma componente decisivamente valorativa, referida a modos da
apreciação do mundo.
Outro questionamento se dirige à própria imagem-mestra, ponto teórico de
ancoragem de todo o trabalho de pesquisa: a noção do sujeito reflexivo e plural.
Certamente uma imagem bastante forte e já consolidada, ao menos na sociologia
contemporânea, invadida pelo primado do “agente” e sua “agência”. Na cruzada contra
a CT, o autor pende, com ênfase, para o estatuto da autonomia do sujeito, alçado à
condição de “centro” ou “variável independente” nas situações de vida, associado a
noções como as de intencionalidade, de self, de responsabilidade, de cálculo estratégico,
dentre outras. Esse modo de apresentação do sujeito, que remete ao ideal do indivíduo
autônomo e passível de esclarecimento, não deixa de soar um tanto parcial. Poder-se-ia
indagar: a busca por uma teoria do sujeito não constituiria uma idealização, a
formalização, ainda que conceitual, de uma dimensão indefinível? Isso não se faria à
custa de um esquecimento dos efeitos coercitivos subjetivadores advindos do mundo
exterior? Seria mesmo “ínfimo” o “peso” do trabalho na “determinação psíquica dos
sujeitos”? Seria o sujeito realmente o centro ou ele gravitaria sobre um centro
descentrado sem jamais se definir ou mesmo ganhar autonomia? O sujeito não seria por
demais escorregadio, inconsistente e discursivo para poder ser objeto de uma definição
contorno racional, vindo de que ciência for?
São questões para as quais não tenho resposta segura. Obviamente também não
cabe cobrar que Jair as tivesse enfrentado em seu todo. Lanço-as porquanto me foram
suscitadas pelo seu trabalho e o faço na intenção de um feedback (provocativo). Quem
sabe contribuam para uma leitura mais cuidadosa do texto. Porque a crítica é o coração
do trabalho intelectual. E é o exercício da crítica que governa este livro de grande fôlego
intelectual. O leitor poderá ajuizar. No mais, boa leitura.

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