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Quando eu criança minha mãe sempre estava levando a mim e a meu irmão para
“rezar”. Era sempre a casa de uma senhora, geralmente idosa, que segurava um
galho de arruda e fazia uma oração que eu não conseguia acompanhar, colocando a
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mão sobre a minha cabeça. Frequentar benzedeiras foi parte da minha infância e
quando adulta eu mesma tomei algumas vezes a iniciativa de procurar.
Confidencias à parte, já há algum tempo venho voltando meu olhar para a prática das
benzedeiras, buscando nessas práticas elementos da nossa cultura. Se falamos de
registro e tombamento, de preservação de lugares que guardam memórias, muitas
vezes esquecemos que pessoas podem ser consideradas também um patrimônio
cultural, especialmente quando elas se tornam depositórios de um saber, passado de
geração para geração.
É, acima de tudo, uma herança familiar. Uma benzedeira aprende o arte da “reza”
com a mãe ou com a avó. Há benzedeiras que começam bem cedo, aos 15 anos de
idade, outras um pouco mais tarde. Homens também exercem esse ofício, mas esse
tipo de curandeirismo é tipicamente feminino. E é gratuito. Uma rezadeira não pode
cobrar pelos seus serviço. É uma missão, uma doação.
Mas como toda tradição cultural, ela sobrevive graças à memória. Essas mulheres, em
outros casos homens, são um receptáculo vivo de tradições que não pode ser
perdido. O resgate das suas história de vida, do seu conhecimento prático é parte da
formação da identidade brasileira e passível de registro. Identificá-las e contar suas
histórias é uma forma de preservação que pode ser realizada sem maiores custos.
Entrevistas, filmagens e fotografias. Eis aí uma ótima sugestão para se trabalhar com
educação patrimonial, principalmente nas cidades do interior.