Sei sulla pagina 1di 40

Vantagens e Desvantagens do uso da Hipnose na Psicologia Clínica

e na Neuropsicologia

PSICOLOGIA
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA

Vantagens e Desvantagens do uso da Hipnose na Psicologia Clínica e na


Neuropsicologia

RONILSON CORRÊA

Recife
2009
RONILSON CORRÊA

1
VANTAGENS E DESVANTAGENS DO USO DA HIPNOSE NA PSICOLOGIA
CLÍNICA E NA NEUROPSICOLOGIA

Monografia apresentada como requisito para conclusão do curso de formação


em Psicologia, pela Universidade Católica de Pernambuco, realizada sob a
orientação da Profa Dra Iaraci Advíncula.

DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia a todos aqueles que vivenciando os mistérios, as
angústias e a alegria da clínica psicológica propõe-se a buscar sentido para dor
do outro. Agradeço a uma pessoa em especial, minha esposa Adza de
Carvalho, cúmplice do meu esforço em conhecer os mistérios ainda encobertos
e companheira incondicional nesta vereda do conhecimento científico.

2
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus pela sua bondade, sua inspiração, seu amor
incondicional que proporciona a todos que nele confiam, superar as
adversidades, os sofrimentos, as limitações humanas e encontrar em sua
gratuidade um exemplo de amor e dedicação.
Aos meus pais, Rovilson Corrêa e Aparecida de Brito Corrêa, sempre
presentes em minha vida, embora a distância territorial e geográfica não
impeça o desejo de estar presente.
A minha irmã Rocilda Corrêa, símbolo de fraternidade em minha Jornada.

3
RESUMO

A Hipnose é entendida como um estado de estreitamento de consciência ou


atenção no qual a mente interpreta a imaginação como realidade. Provocado
artificialmente e parecido com o sono, mas dele se distingue fisiologicamente
pelo aparecimento de uma série de fenômenos espontâneos ou decorrentes de
estímulos verbais. Esta técnica apresenta um vertiginoso crescimento,
sobretudo na clínica Psicológica, sendo estudada em diversas áreas da saúde.
A História da hipnose e sua utilização envolve uma complexidade de
discussões a respeito de sua validade cientifica como também divergências e
convergências sobre as vantagens e desvantagens desta técnica na clínica
psicológica. O Objetivo deste trabalho é apresentar a ação do psicólogo que
utiliza a hipnose como tratamento coadjuvante em sua prática clínica.
Apresentaremos seu uso na Gestalt-terapia, na TCC e na Psicanálise, como
também por profissionais neuropsicólogos. Foi realizada uma profunda
pesquisa bibliográfica desde 2009, procurando compreender na prática
profissional desses psicólogos como a hipnose pode ser utilizada.

Palavras chaves: hipnose, clínica psicológica, neuropsicologia,


tratamento coadjuvante

4
5
SUMÁRIO

Introdução, 8

1 - A Hipnose,

1.1 – Apresentação, 11

1.2 - Os Mitos sobre a Hipnose, 12


1.3 - Aplicações da hipnose, 14
1.4 - Susceptibilidade hipnótica, 15
1.5 - Regressão em hipnose, 17
1.6 - Preparação para a hipnose, 17
1.7 - Procedimentos de hipnose, 21

2 – Especificidades que utilizam a hipnose, 23


2.1 - A Neuropsicologia e a Hipnose, 23
2.2 – A Psicanálise e a Hipnose, 26
2.2.1 – O Abandono da hipnose pela psicanálise, 27
2.3 - A Hipnose e a Gestalt-terapia, 28
2.4 - A Hipnose e a Terapia Cognitiva Comportamental, 32

3 – Convergências e Divergências sobre a hipnose, 34


3.1 Derrubando os Mitos, 34
3.2 Profissionais que utilizam e os que não utilizam da hipnose, 35
3.3 As criticas as Hipnoses de Exibição e Demonstração, 38
3.4 Estado versus não-Estado, 39
4 – Considerações finais, 41
5 – Referencias Bibliográficas, 43
6 – Anexo, 45

6
INTRODUÇÃO

A história da hipnose e da psicoterapia partilha muitos pontos em comum.


Fazendo uma pequena contextualização histórica do surgimento da Hipnose,
verificamos na obra de Alexandre de Bertrand (apud ALBUQUERQUE, 1958)
que, várias décadas antes de Wundt e Freud, efetivava na França a criação de
uma psicologia, criticando o organicismo da medicina da época. Bertrand se
proclamava um médico filósofo ou simplesmente psicólogo de modo a traçar os
esboços iniciais para a criação de uma ciência psicológica. Esse autor afastou-
se da perspectiva de Mesmer, que explicava as curas por meio de um fluido
magnético, para se centrar na imaginação, tida aqui como o processo central
da eficácia terapêutica, fosse ela física ou psíquica. Além disso, é necessário
considerar que as perspectivas de Bertrand influenciaram toda uma geração de
pensadores, opositores e simpatizantes, que mantiveram acirrados debates no
século XIX sobre este tema (ALBUQUERQUE, 1958).
Contudo, apesar da importância que se pode cogitar seu trabalho, Bertrand não
é muito conhecido por muitos dos psicólogos que concebem a origem de sua
ciência datando de pelo menos meio século após a publicação inicial de sua
obra. Ignora-se, portanto, que foi a partir dos estudos com hipnose desse autor
que, provavelmente, começou a cogitar a construção de uma ciência
psicológica. Dando continuidade a seu pensamento, Bernheim recusa-se às
explicações do magnetismo para compreender a psicoterapia como um
processo ligado ao soma e à psique. Bernheim, seguindo as idéias de
Bertrand, dava então, continuidade ao pensamento de situar a hipnose como a
mãe das terapias. (FARIA, 1959).
Na medida em que a psicoterapia se foi afirmando durante as primeiras
décadas do século XX, diferentes modelos surgiram como a psicanálise,
psicologia analítica, psicologia individual, Gestalt-terapia, entre outras. Assim, o
interesse científico pela hipnose decresceu com a criação de outras estratégias
psicoterapêuticas alternativas à hipnose (CHERTOK, 1982), da mesma forma
na Medicina, sua utilização como anestésico foi progressivamente abandonada
quando da descoberta e desenvolvimento dos anestésicos farmacológicos
(SHULTZ, 1966).
Embora demonstrasse declínio de sua utilização por décadas, à hipnose
continuou viva através do trabalho de vários psiquiatras como Pierre Janet.
Alguns psicólogos como Clark L. Hull, também permaneceram trazendo
contribuições na prática clínica tendo como objeto de estudo científico a
hipnose, proporcionando o desenvolvimento teórico-prático deste
procedimento. Um dos nomes mais importantes para o desenvolvimento da
hipnose clínica encontrada no estudo bibliográfico é o psiquiatra Milton H.
Erickson (BAUER, 2000; CHERTOK 1982; NEUBERN, 2002). Além desse
psiquiatra podemos constatar que dentro do contexto da Neuropsicologia, há
profissionais que utilizam de estudos imagiológicos (imagens do córtex
cerebral) em indivíduos hipnotizados. Estes estudos podem contribuir para a
compreensão de como as sugestões (induções) influenciam os padrões de
ativação cerebral.

7
A hipnose é também um procedimento bastante valorizado hoje em dia por
muitos profissionais de saúde como médicos e dentistas, bem como por
investigadores na área criminal. Na clínica, essa técnica vem sendo utilizada
para casos de depressão, fobias, ansiedade, perdas, assuntos relacionados a
dificuldades sexuais, terapias médicas para o câncer, pacientes aidéticos,
casos em que a pessoa não pode receber anestesia e seu uso com crianças
tem tido resultados muito positivos principalmente em tratamentos dentários.
(CHERTOK 1982; BAUER, 2000; NEUBERN, 2006).
Podemos observar também no contexto atual, a busca cada vez maior por
conhecimentos em hipnose. Seu crescimento é verificado entre os profissionais
de psicologia que atuam em abordagens como a Gestalt-terapia, Terapia
Cognitiva Comportamental, Neuropsicologia, Psicanálise, Abordagem Centrada
na Pessoa, entre outras.
Porém, a utilização de hipnose como instrumento de auxílio nas psicoterapias
carrega os seus “mal-ditos”, ou seja, sua prática é entendida com certa
desconfiança pela academia científica.
Se a hipnose é tida como um das principais bases da origem da Psicoterapia,
por que tantas de suas práticas que poderiam trazer reflexões pertinentes para
os clínicos atuais, raramente são mencionadas e discutidas nas formações de
graduação nas universidades e faculdades? Traria a hipnose mais malefícios
do que benefícios para a prática clínica em psicologia? Quais são então, esses
malefícios, e os benefícios quando se lança mão deste instrumento em
psicologia clínica?
Neste livro buscaremos proporcionar melhor clareza desta técnica para aqueles
que desejarem a utiliza-la em suas práticas clínicas como também servir de
ferramenta para estudos e pesquisas.
A fim de tranquilizá-los, a prática da Hipnose em Psicologia foi regulamentada
pelo Conselho Federal de Psicologia - CFP (Nº. 013/2000), que reconhece o
valor da Hipnose como auxílio nas pesquisas, diagnósticos e formas
terapêuticas tanto em Psicologia, Neuropsicologia, Psiquiatria, como em outras
áreas da prática médica.
O livro é composto por quatro capítulos. No primeiro é apresentado a
hipnose e os mitos que a cercam, como também sua aplicação, a
susceptibilidade hipnótica e a preparação para ser hipnotizado. No segundo
capitulo são apresentadas as especificidades que utilizam a hipnose. No
terceiro capítulo verificamos as convergências e as divergências entre as
correntes que utilizam a hipnose e os profissionais que atuam com esta
técnica. Por fim, no quarto capítulo apresentamos sua utilização na
parapsicologia. Acredita-se que foi possível compor um corpo teórico que
possa ampliar os conhecimentos desta técnica estudada, assim como auxiliar a
futuros pesquisadores que desejem compreender melhor estes aspectos aqui
abordados.

8
9
1 - A HIPNOSE

1.1 – Apresentação

A palavra Hipnose vem do grego hypnos, este termo é designado ao deus do


sono e pai dos sonhos. Este deus levava o sono aos homens e a outros
deuses, inclusive a Zeus. Sua lenda consta que apaixonado por Endimião, teria
lhe dado o dom de dormir de olhos abertos, para que pudesse contemplar, sem
cessar os olhos de seu amante. Conta à lenda que na frente de seu palácio
havia plantas soporíferas e os raios do sol não entravam. Havia também um rio
do esquecimento e muitos homens e deuses dormiam no templo de hypnos,
onde durante a noite se dava a cura.
O conceito de que hipnose é sono não é mais utilizado. Hoje sabemos que este
conceito não é verdadeiro, e a hipnose não tem nenhuma relação com o sono
ou dormir. (FARIA, 1959)
O que atualmente se chama de hipnose remonta as mais antigas civilizações,
porém a história formal desta técnica se deu por volta de 1765, com os estudos
do pesquisador Franz Anton Mesmer. Ele aliviava dores com a aplicação de
ímãs na fronte da pessoa por meio da produção de um fluído magnético
invisível, a que ele chamou de magnetismo animal. No entanto, um grupo de
pesquisadores formados por Benjamim Franklin, o químico Lavoisier e outros
descobriram que os efeitos das intervenções de Mesmer provinham da
imaginação dos pacientes e não de fluídos magnéticos (BAUER 2002;
FERREIRA, 2006).
Hoje em dia, várias definições sobre hipnose são encontradas na literatura,
contudo, apresentam um conceito bastante próximo de que a hipnose é um
estado alterado de consciência, no qual a mente interpreta a imaginação. A
hipnose então pode ser descrita como um estado de elevada percepção e
concentração sobre uns poucos estímulos relevantes ao campo perceptivo.
(DOWD apud CABALLO, 1999).
Segundo esta verificação na bibliografia utilizada, os instrumentos mais
utilizados à indução (sugestão), são de natureza linguística e psíquica. Ou seja,
a mente do paciente/cliente interpreta a imaginação como realidade. A hipnose
então é de certa forma um tipo de processo interpretativo destas induções.
Porém, podemos observar que há muita descrença e interrogativas acerca de
sua utilização, principalmente por parte da academia científica. Faz-se então
necessário, para sua compreensão, desmistificarmos o uso da hipnose
esclarecendo os mitos que estão envolta de sua história.

1.2 - Os Mitos sobre a Hipnose

10
É pertinente este tópico por se entender que a hipnose está envolta por mitos e
“mal-ditos” que comprometem sua aceitação por parte da comprovação
científica desta técnica como um recurso que ajuda no tratamento de
problemas físicos e psicológicos.
Durante muito tempo, segundo Faria (1959), a técnica hipnótica foi
utilizada de forma errônea por hipnotizadores de palco, fazendo com que ela
caísse no descrédito da sociedade e no meio científico e acadêmico. Desta
forma, antes de iniciar o processo de tratamento com o cliente é preciso
compreender o que ele sabe a respeito da hipnose. Há muitos hipnólogos que
não utilizam o nome hipnose, preferindo chamar de técnicas de relaxamento,
com o propósito de não assustar os pacientes que temem a hipnose.
O primeiro mito criado a respeito da hipnose é de que ela é o sono. Na indução
hipnótica o indivíduo ouve a voz do terapeuta e responde às instruções, o que
não se ocorre durante o sono, onde o reflexo patelar é diminuído. No estado de
sono, os membros ficam flácidos pela falta de atividade, enquanto que durante
a hipnose eles podem se tornar rígidos e firmes. Além disso, os batimentos
cardíacos e ritmo respiratório durante o transe (indução) hipnótico estão mais
próximos do estado de alerta do que o sono.
O sujeito não ser retirado do transe hipnótico é outro mito mencionado por
Faria (1959). Muitos profissionais alegam sentir este medo, mas, segundo este
autor, se a pessoa permanecer no estado de transe por muito tempo ela
acabará dormindo, e se dorme em algum momento acordará.
Outro mito apontado por Bauer (2002) diz respeito ao fato de apenas pessoas
com a “cabeça fraca” podem ser hipnotizáveis. Ao contrário deste rótulo, o
autor sugere que os sujeitos que apresentam maior facilidade para entrar em
transe são os que possuem maior capacidade de motivação e habilidade de
concentrar-se.
Existem outros mitos encontrados na bibliografia que dizem respeito à perda de
controle, revelação de segredos, e agir de forma antissocial. São estes medos
que muitas vezes, impedem ao pacientes de entrar em um estado hipnótico,
pois criam barreiras, defesas, fugas. O medo de que algum segredo seja
revelado faz com o que paciente abandone a psicoterapia ou hipnoterapia.
Bauer (2002) e Ferreira (2006) esclarecem que, durante o transe hipnótico, o
sujeito não está sob o domínio da vontade do terapeuta e sim completamente
ciente do ambiente e totalmente capaz de tomar decisões por conta própria,
não apresentando dessa forma, nenhum comportamento que possa ir contra os
seus valores morais, éticos, religiosos. Reforçam essa questão, mencionando
que se o indivíduo hipnotizado receber uma sugestão imprópria, que vá de
contra os seus valores, ou o sujeito (paciente) pode não responder à indução
(sugestão), ou sai do estado de transe imediatamente. É importante esclarecer
estas questões para os pacientes, a fim de tranquilizá-los para uma sessão de
hipnose, esclarecendo todas as dúvidas e retirando todos os medos que o
paciente crie a respeito da hipnose.
Por fim, a respeito do mito de que a hipnose pode ser prejudicial, para Bauer
(2002), essa técnica não apresenta prejuízo à integridade física ou mental das
pessoas, quando utilizada por profissionais qualificados. Ainda nesta reflexão,

11
para a American Psychological Association (APA), a hipnose pode ser definida
como um procedimento durante o qual um pesquisador ou profissional de
saúde sugere mudanças nas sensações, percepções, pensamentos ou
comportamentos sem que haja nenhum tipo de dano/prejuízo a seus
clientes/pacientes.
Bauer (2002) define a hipnose como sendo a absorção da atenção do sujeito,
ou seja, a atenção seria focalizada através de uma indução ou de uma
autoindução, absorvendo a atenção da mente consciente, dando a
oportunidade à mente inconsciente de se manifestar através dos fenômenos
hipnóticos. Essa autora considera que a hipnose é um estado de consciência
diferente do estado de vigília e pode ocorrer no dia a dia, quando se está
acordado. No entanto, é diferente de estar simplesmente em vigília. Nesse
processo, há uma focalização da atenção voltada para a realidade interna
criada pela pessoa.
A hipnose é então, um estado de consciência caracterizado por um aumento de
receptividade à sugestão, de capacidade para modificação de percepção e
memória e o potencial para o controle sistemático de uma variedade de
funções fisiológicas usualmente involuntárias. Sendo assim, os estados
alterados de consciência que ocorrem durante o transe hipnótico podem
modificar a percepção, a interpretação e a avaliação subjetiva da dor. (Ferreira,
2006).
De acordo com a abordagem ericksoniana, o transe hipnótico é um período
quando as limitações conscientes do paciente são parcialmente suspensas, de
modo que o indivíduo passa a ser receptivo às associações e meios de
funcionamento mental que são facilitadores na solução de problemas (BAUER,
2002). Além disso, o transe hipnótico pode acontecer em diferentes níveis e
apresentar distintas características.
Uma pessoa hipnotizada pode entrar em transe leve, médio ou profundo.
Durante o transe leve percebe-se sinais como: catalepsia, diminuição dos
movimentos, respiração e pulso lentos, e às vezes sinais ideomotores. No
transe médio a catalepsia é acentuada, os músculos da face ficam soltos, o
movimento de deglutição fica diminuído, há sinais ideomotores, movimentos
oculares e respiração lenta. No caso do transe profundo, este é similar ao
estágio anterior ao sono, podendo ocorrer movimento rápido dos olhos. É
possível abrir os olhos como se estivesse acordado, mas os olhos ficam
vidrados e fixos ou permanecem com um olhar vago, podendo falar ou andar,
numa atividade semelhante ao sonambulismo.
É através do esclarecimento destes procedimentos que podemos viabilizar as
aplicações da hipnose de forma segura e comprovada cientificamente para os
tratamentos tanto físicos quanto psíquicos dos clientes/pacientes.

1.3 - Aplicações da hipnose

12
A hipnose pode ser utilizada segundo Ferreira (2006) em experimentos clínicos
controlados para o tratamento da dor. Podemos citar entre tantos benefícios o
uso da hipnose em tratamentos de queimaduras, pois a hipnose tem seu efeito
através de sugestões de analgesia. A utilização da hipnose está presente
também em cirurgias médicas e odontológicas; no tratamento de dores de
lombalgia e principalmente fibromialgia. Outras dores como de cabeça e em
afecções dermatológicas podem ser amenizadas com a hipnose. A hipnose
tem sido utilizada também para tratamentos de depressão, ansiedade
generalizada, transtorno compulsivo-obsessivo e fobias. Outras indicações do
uso da hipnose servem no tratamento de claustrofobia e agorafobia; em
desordens intestinais; na disfunção sexual masculina e feminina; no controle da
náusea e vômito em crianças com câncer sob quimioterapia, dentre outras
indicações.
A hipnose quando se refere a tratamentos citados acima proporciona melhora
na qualidade de vida dos pacientes é eficaz na diminuição da percepção da
sensação dolorosa e dos níveis de tolerância à dor.
Neste sentido, há aproximadamente 200 anos iniciou-se o uso da hipnose para
o alívio de dor como anestésico durante o tratamento cirúrgico, mas a
aplicação das sugestões hipnóticas nos pacientes vem crescendo apenas nos
últimos anos devido às pesquisas sobre a dor em geral e sobre as variáveis
psicofisiológicas envolvidas na percepção e no manejo da sensação dolorosa
(CABALLO, 1999, FERREIRA, 2006).
Podemos verificar em relação à contribuição da Neuropsicofisiologia,
especialmente pelos exames PET-SCAN[1] (tomografia por emissão de
pósitrons), RMf (imagem funcional por ressonância magnética), MEG
(magnetoencefalografia) e PERE (potenciais evocados a eventos) que
proporcionam um entendimento mais integrado dos processos cerebrais
envolvidos durante o transe hipnótico no alívio da dor.
Como já mencionado, a Hipnose também é utilizada hoje em dia nos esportes,
na odontologia, na medicina e no auxílio de profissionais que atuam na área
jurídica. Nesta última especificidade, por exemplo, se é verificada sua utilização
em casos como traumas de um assalto ou de um estupro, quando é comum a
vítima esquecer o rosto de seu agressor. Então, a hipnose entra em cena para
ajudar a pessoa se caso essa desejar, recobrar a memória para fazer um
retrato auto- falado do agressor.
Segundo relatos de psicólogos jurídicos que utilizam a sessão de hipnose
envolvendo episódios violentos demora até 3 horas. Nas sessões a vítima faz
um retrato falado do agressor, ou uma testemunha é capaz de recordar a
chapa do carro que atropelou alguém, etc. Segundo estes profissionais, a
hipnose não deve ser usada na confissão de criminosos, pois eles poderiam
alegar inocência fingindo estar em transe. Para tanto se faz necessário outros
testes, como também a escala de susceptibilidade hipnótica.

1.4 - Escala de Susceptibilidade hipnótica

13
Para a hipnose ser reconhecida como ciência, foi-se necessário criar além das
comprovações citadas acima por meio de aparelhos e exames
neurorradiológicos, a utilização de escalas de susceptibilidade. Quando se
pretende testar e comprovar a eficácia de uma estratégia de intervenção que
utiliza um procedimento hipnótico, torna-se fundamental conhecer previamente
o grau de susceptibilidade hipnótica dos participantes (pacientes/clientes).
A avaliação da susceptibilidade hipnótica pode ser feita por meio de exercícios
simples. Contudo, num contexto de investigação torna-se imperativo o recurso
a técnicas estandardizadas de avaliação. Existem várias escalas para
avaliação da susceptibilidade hipnótica, sendo a mais utilizada e considerada
como a medida de eleição a Stanford Hypnotic Susceptibility Scale, Form.
(CABALLO, 1999).
Praticamente todos hipnólogos ou hipnoterapeutas como são conhecidos,
dizem que qualquer um pode ser hipnotizado, desde que queira ser hipnotizado
para algum objetivo que o satisfaça, mas, ninguém entra em transe contra a
vontade, mesmo que o hipnotizador queira (PASSOS, 1998). No entanto,
segundo este autor, mesmo querendo muito, só 10% dos indivíduos alcançam
o nível mais profundo da hipnose. Porque segundo ele, a hipnose se divide em
cinco níveis.
O primeiro é um relaxamento profundo. No segundo, o relaxamento é mais
intenso, só que ele perde a validade se o sujeito abre os olhos no meio da
sessão. No terceiro estágio, os pacientes podem deixar de sentir dor. Somente
25% das pessoas chegam ao quarto estágio, quando podem até conversar e
abrir os olhos. No quinto e último estágio, se o processo não for conduzido por
um terapeuta responsável, o indivíduo poderá ter alucinações. (PASSOS,
1998). Outros autores como Erickson, falam em três estágios, já Dowd (apud
CABALLO, 1999), fala de quatro estágios.
Neves (2003) ressalta sobre este assunto, que a diferença de um indivíduo
acordado para o indivíduo hipnotizado é de natureza quantitativa, não
qualitativa, portanto uma diferença de grau, não de natureza. Sob o efeito do
transe hipnótico na personalidade humana, cada pessoa reage à sua maneira,
de acordo com sua própria dinâmica e estruturação psíquica. Segundo ele, é
possível verificar que certos sintomas têm uma função para a organização da
psique, isto faz lembrar a Gestalt-terapia com o conceito de adaptação criativa.
Adaptação criativa se faz quando o sujeito utiliza de mecanismos de defesa
como forma criativa para lidar com suas angústias e sofrimentos.
Porém, não são em todos os casos que ocorre o sintoma como organização da
psique, muitos sintomas podem consistir em aprendizados ao longo da história
de vida do paciente. Estes sintomas podem ser modificados através da terapia
cognitiva comportamental somada ao uso da hipnose. Portanto, muitos casos
de remoção de sintoma não viriam a resultar na substituição por outro, pois
haveria através da cognição uma redefinição das causas do sintoma,
eliminando, portanto, uma perspectiva determinista.
Outra questão relacionada aos efeitos da hipnose, como já mencionado no
capítulo anterior, está relacionada ao tratamento e manejo da dor. Os
benefícios da hipnose quanto ao alívio da dor, são proporcionais ao grau de
suscetibilidade hipnótica dos indivíduos, entretanto, isso não quer dizer que

14
quem não alcança transe hipnótico mais profundo, também não recebe
benefícios. Mesmo em vigília, se utilizamos da hipnose para transmitir
sugestões para nossa mente e aceitamos as sugestões, poderemos verificar os
benefícios deste instrumento para nossa saúde mental.
Verificam-se também nos estudos sobre a utilização da hipnose, que há vários
profissionais que recorrem à técnica para fazer uma regressão à infância do
cliente/paciente. Esta é mais uma forma de colocar a técnica a serviço da
psicologia.

1.5 Regressões em hipnose

Dentro dos assuntos referentes ao tema hipnose, este é sem dúvida o que
mais é polemizado, pois envolve desde a regressão de idade para trabalhar
repressões, conflitos e outros sofrimentos, como também, aqueles que
acreditam em regressão de vidas passadas, fazendo uma mistura de crenças e
ciência. Ou seja, a hipnose neste sentido, passa a ser de um âmbito não só
cientifico psicológico, mas psicoparanormal, pois vai além do humano físico
para o humano espiritual.
Dowd (apud CABALLO, 1999) fala que para entrar neste estado de regressão
só é possível desde que haja um nível maior de profundidade do transe.
Segundo ele, uma pessoa em transe leve não conseguiria entrar neste estado
de regressão.
Relata também que existem quatro fases do transe, são eles: o hipnoidal, o
transe ligeiro, o transe médio e o transe profundo. O intuito de se utilizar a
hipnose como regressão seria a de vencer as barreiras criadas (repressões) a
fim de que o cliente pudesse entrar em contato com aquilo que tentou esquecer
e que lhe causa forte sofrimento sem estar totalmente consciente de suas
causas. Em relação aos que acredita em regressão de vida, a proposta tem a
mesma finalidade e é muito diversificada em seguidores espíritas.
Independente das crenças ou motivos para entrar em um transe hipnótico, se
faz necessário toda uma preparação, seja do ambiente, seja dos
esclarecimentos que envolvem a técnica para o próprio cliente/paciente.

1.6 - Preparações para a hipnose

Fábio Puentes, autor conhecido principalmente por se apresentar em


programas de auditório de grandes emissoras de televisão, fala em seu livro
sobre auto-hipnose, que para um bom hipnólogo se é necessário falar de forma
diferente do costume local (linguagem cultural) utilizando de um sotaque e “ar”
misterioso. Diferentemente de sua opinião, Dowd (apud CABALLO, 1999), diz
que não a necessidade destes artifícios. Porém, ambos são da mesma opinião

15
quando defendem a necessidade da preparação do ambiente e do
cliente/paciente para esta atividade.
Para tanto, elencam passos que devem ser seguidos como:
1) A preparação do paciente, 2) a indução hipnótica, 3) o aprofundamento
da hipnose, 4) o emprego do transe hipnótico para fins terapêuticos e 5) a
finalização.
1 - No caso da preparação do paciente é preciso primeiramente estabelecer um
bom rapport e esclarecer as dúvidas e os mal-ditos (mal falados) desta técnica
para que o mesmo não se sinta ameaçado por seu próprio medo e dúvida.
Tanto no vídeo e no livro de Fábio Puentes como também em Dowd (apud
CABALLO, 1999), alguns testes podem servir para verificação inicial, a que
chamamos de susceptibilidade hipnótica, se os pacientes estão hipnotizados e
em que fase. Alguns deles envolvem exercícios como o de levitação e peso
das mãos e dos braços e o balanço do corpo enquanto este se encontra de pé.
Muitos hipnólogos não utilizam estes testes, pois acreditam que possam criar
suas próprias induções.
2 - Quanto à indução hipnótica, existem várias técnicas que podem ser
utilizadas. A criatividade do psicólogo, que utiliza a hipnose como instrumento
de apoio, ajudá-lo-á a construir embasado em sua experiência a melhor
estratégia de ação, lembrando que a hipnose é um processo de atenção
elevada.
Dentre as técnicas mais usadas pelos profissionais que utilizam da hipnose,
podemos citar: o relaxamento progressivo, principalmente para aqueles que
têm medo da hipnose.
Ressalto que esta tem sido a minha principal forma de atuar, pois acredito que
o relaxamento gradual, ajuda o paciente a ir confiando e se entregando pouco
a pouco a técnica da hipnose. Outra técnica muito utilizada é a fixação dos
olhos em um pendulo; anel; vela acesa ou até mesmo a um ponto escolhido
pelo paciente na parede ou canto da sala. O importante é que os olhos fiquem
fixos em determinado local, olhando um pouco acima da linha normal do seu
olhar, o que fará que através da indução o terapeuta possa sugerir que o
cliente está ficando cada vez mais com os olhos pesados e assim que ele
fechar os olhos estará em transe. Eu prefiro pedir ao paciente que feche os
olhos assim que iniciar a indução hipnótica. Procuro não olhar fixamente para o
paciente, pois se ele abrir os olhos e notar que está sendo analisado
fisicamente pode construir barreiras associadas a sentimentos de inferioridade.
Desta forma, busco fazer a indução hipnótica olhando para um dos lados da
sala, ou até mesmo de olhos fechados, deixando o cliente bem tranquilo e
relaxado.
Para os hipnólogos que utilizam da técnica em pedir ao cliente que fixe os
olhos sem piscar em determinado local/objeto, acreditam que com o passar do
tempo os olhos estarão muito pesados e o próprio cliente não resistirá ao
esforço de permanecer com eles abertos e fechará seus olhos. A partir desta
ação, os pacientes começarão a acreditar que isto ocorreu pela hipnose e
começará a entrar em transe.

16
3 - Em se tratando do aprofundamento no transe é importante distinguir que
este aprofundamento tenha algo a ver com o sono. Neste caso é de suma
importância o esclarecimento de que este aprofundamento no transe se dá de
forma progressiva, ou seja, alguns clientes entram com mais facilidade, outros
demoram um pouco mais até atingir mais confiança no terapeuta e na eficácia
da técnica, mas nos dois casos, o transe será feito, seja de menos intensidade
(transe leve), ou maior profundidade (transe profundo).
Para atingir estes níveis citados acima, tanto Dowd (apud Caballo, 1999)
quanto Fábio Puentes, sugerem alguns procedimentos para conseguir este
objetivo. Dentre eles citamos:
1) a técnica da escada: está técnica consiste em pedir ao paciente que imagine
(visualize) que a cada degrau que o cliente desce da escada, vai sendo
sugerido que este paciente está entrando cada vez mais em transe,
2) a técnica do mergulho, onde se é pedido que o paciente se imagine
mergulhando cada vez mais no mar. Deve-se observar, no entanto, que
algumas pessoas têm medo de água, no caso, deve-se substituir a técnica ou
trabalhar primeiramente este medo com outra técnica de transe,
3) Técnicas de levitação dos braços, pede-se ao cliente que imagine que em
uma das mãos (indica-o qual) está a um cordão amarrado com vários balões
que fazem com que este braço fique cada vez mais leve, enquanto o outro
braço há um peso em sua outra mão, cada vez mais pesado, esta técnica
consiste em medir a profundidade do transe,
4) a técnica de contar de traz para frente é sugerida por Puentes. Pode-se
pedir ao cliente que calmamente conte de 100 até 1, e a cada número, ele vai
entrando cada vez mais em transe.
Dowd (apud CABALLO, 2009) acredita que não se devem utilizar contagens
longas, indica que se deva contar de 1 a 10, sugerindo que a cada número, o
cliente vai entrando em transe cada vez mais, o mesmo processo se dá para
sair do transe,
5) Leveza do corpo. Esta técnica está associada ao cliente acreditar que o
corpo esta tão leve que pode a te flutuar, a cada vez que sente o corpo mais
leve e relaxado, mais vai entrando em transe,
6) Na respiração, o cliente pode acreditar através da imaginação que a cada
vez que respira, mais vai entrando em transe. Está é a minha preferida, pois a
respiração pode ser associada ao relaxamento mais facilmente.
Como já mencionado anteriormente, a criatividade do terapeuta é essencial,
pois pode seguir estas técnicas já mencionadas ou adaptar e até mesmo criar
novas técnicas conforme sua necessidade e adaptação.
No emprego do transe hipnótico, não há só a mudança de comportamentos e
eliminação dos sintomas. Há na indução hipnótica, instruções construtivas e
sugestões de pensamentos positivos empregado pela imaginação que leva o
cliente a um nível de vida mais satisfatório e sensação de bem estar mais
prolongado. Quando o cliente/paciente percebe que a terapia está o ajudando a
resolver seus conflitos, o próprio paciente permite crescer com mais liberdade

17
tomando consciência das repressões, angústias, e de seus comportamentos,
além das crenças negativas que tinha a respeito de si-mesmo.
Para conseguir atingir estes objetivos, através da indução hipnótica, ao invés
de dizer ao paciente, por exemplo, que este não vai mais fumar, seria
interessante e mais positivo fazer afirmações como: você deixará de fumar e
viverá de forma mais saudável e feliz. A fala do terapeuta, mais o desejo do
paciente são essenciais para o bom resultado da terapia. Dentre das várias
sugestões na indução, é importante acompanhar o progresso do cliente e
ajudá-lo para que não se sinta fracassado se não conseguir cumprir e
desenvolver-se no processo terapêutico. (BAUER, 2002; FERREIRA 2006).
Muitos pacientes acreditam que bastará uma única sessão para resolver seus
conflitos, transtornos, fobias. É necessário explicar que dependerá do processo
de assimilação e integração na hipnose. Na maioria dos casos, será necessário
fazer um número mínimo de 5 sessões. Normalmente, utilizo de 5 a 20 sessões
de hipnose além da psicoterapia.
Segundo Ferreira (2006), durante o processo de intervenção, distintos
fenômenos causados pela hipnose podem ocorrer como: rapport, catalepsia
(imobilização e/ou ausência da vontade de se mover), dissociação
(pensamento e sensação de serem duas pessoas numa só), analgesia
(diminuição da intensidade da sensibilidade à dor), anestesia (não sentir partes
do corpo), regressão de idade (recordação de algo como se estivesse vivendo
aquilo pela primeira vez), progressão de idade (ver-se no futuro realizando
coisas), distorção do tempo (falta de percepção do tempo cronológico),
alucinação positiva (ter a percepção de algum dos cinco sentidos de que algo
não está presente), alucinação negativa (falta de percepção de algum dos
cinco sentidos de algo que está presente), amnésia (não lembranças de parte
ou de tudo o que aconteceu), hipermnésia (lembrança aguçada de algo),
atividade deossensória/ideomotora (sinalizações com o corpo em resposta a
algum comando), e por fim a sugestão pós-hipnótica (execução pós-transe de
algo pedido durante o transe).
Lembro-me de em certa hipnoterapia dar a sugestão a uma paciente, que sofria
por sua obesidade, de todas as vezes que sentisse muita fome, substituísse o
alimento por água, mas apenas nos casos que sentisse muita fome, ou seja,
uma compulsão em se alimentar. Uma sessão apenas foi utilizada e a paciente
3 meses depois ainda continuava a seguir a sugestão de beber agua ao invés
de comer quando sentisse muita fome. Nestes 3 meses a cliente perdeu 5
quilos sem ter feito uso de qualquer regime alimentar. É claro que muitos
podem questionar este fato porque em um regime ela poderia ter perdido mais
peso, mas é bom esclarecer que a paciente não aceitava qualquer tipo de
regime, academia, etc. Por isso, utilizei a hipnose em uma sessão.

1.7 - Procedimentos de hipnose.

Mas, o que acontece em uma sessão de hipnose? Em uma sessão de hipnose


se é pedido para o cliente, que ele fique sentado ou deitado e em uma posição

18
bem confortável, se possível com as mãos em cima das pernas (cochas). Para
aqueles que utilizam o divã, seus pacientes podem deitar e relaxar.
Para deixar o paciente em transe, é preciso repetir um estímulo. No passado,
os terapeutas usavam estímulos visuais, como um pêndulo balançando. Hoje
os especialistas consideram sons repetitivos, como o tique-taque de um
relógio. A maioria dos profissionais usa a própria voz, falando frases ou
palavras sem parar, em um tom monótono. O resultado é melhor quando
pronunciada palavras associadas a relaxamento, sono, calma. Como já citei
anteriormente, este é meu procedimento, pois acredito que dá o melhor
resultado.
Segundo o psicoterapeuta Carlos Laganá, presidente da Sociedade Brasileira
de Hipnose, uma sessão completa não ultrapassa meia hora, mas não é
possível prever a duração de um tratamento baseado em hipnose, pois, pode
levar meses ou anos. (PASSOS, 1998). Em minhas sessões levo de 30 a 45
minutos, pois utilizo também a psicoterapia junto aos pacientes.
Neste sentido, na prática clínica, muitos profissionais psicólogos vêm utilizando
como tratamento coadjuvante a psicoterapia a técnica da hipnose. Estes
profissionais pertencem as mais variadas abordagens.
Estaremos apresentando neste livro mais especificamente a atuação de
neuropsicólogos, psicanalistas, gestalt-terapeutas e terapeutas cognitivos
comportamentais. Os psicólogos que atendem com outras abordagens como a
Abordagem Centrada na Pessoa (no cliente), a abordagem Sistêmica, a
Bioenergética, a terapia de Reich e outras como a analítica e grupal, não foram
contempladas neste livro, mas acredito que o conhecimento aqui proposto
pode lucidar as dúvidas em relação a seus referenciais teóricos.

19
2 – ESPECIFICIDADES QUE UTILIZAM A HIPNOSE.

Neste capítulo serão apresentadas as especificidades que utilizam a


hipnose. A proposta deste livro, no entanto, restringirá mais sua atenção à
Neuropsicologia e as abordagens psicológicas da Gestalt-terapia, Terapia
Cognitiva Comportamental e Psicanálise.

2.1 - A Neuropsicologia e a Hipnose

A Neuropsicologia tem por objetivo o diagnóstico e a reabilitação dos distúrbios


cognitivos e emocionais, bem como o estudo dos distúrbios de personalidade
provocados por lesões do cérebro (NEVES, 2003). A avaliação
neuropsicológica envolve: atenção, memória, percepção visual e auditiva,
motricidade e inteligência.
Os objetivos da Neuropsicologia segundo este autor são reconhecer e
explicar as relações entre comportamentos humanos e substrato neural; definir
e explicar as relações mútuas subjacentes entre comportamentos e processos
cognitivos e estabelecer correlações entre bases biológicas e psicológicas do
comportamento humano.
O histórico da Neuropsicologia iniciou-se com os estudos da linguagem.
As alterações da linguagem e o seu conhecimento neurológico foi o ponto de
partida para Paul Broca. Em 1861, este cientista identificou alterações da
linguagem e relacionou-as a lugares específicos no cérebro. Assim, estudiosos
propuseram para análise e interpretação de alterações funcionais, teorias
localizacionistas e associacionistas considerando o cérebro como um mosaico
de centros, cada qual responsável por uma determinada função complexa.
Conceito muitas vezes reformulado e contestado na época atual.
Ainda segundo Neves (2003), a linguagem é um complexo e dinâmico
sistema de símbolos convencionais que é utilizado de vários modos para o
pensamento e a comunicação. O aprendizado da linguagem e seu uso são
determinados pela interação de fatores biológicos, cognitivos, psicossociais e
ambientais.
É pertinente o conhecimento destes conceitos para verificar a utilização da
hipnose como técnica por profissionais neste campo de estudo para o alivio da
dor utilizando a linguagem como meio de atingir centros específicos no córtex
cerebral.
Diante estes fatos, esta especificidade (a Neuropsicologia), busca
cientificamente comprovar a eficácia através de estudos imagiológicos em
indivíduos hipnotizados e contribuir para a compreensão de como as sugestões
influenciam nos padrões de ativação cerebral. Existem também, testes que
comprovam (através de exames que registram áreas cerebrais que são

20
ativadas durante o transe) a eficácia desta técnica, considerando-a como um
instrumento prático e valioso para o exercício deste profissional. Ou seja, o
neuropsicólogo pode fazer uma indução hipnótica e ao mesmo tempo observar
através de aparelhos de exames PET-SCAN (tomografia por emissão de
pósitrons), como as áreas no córtex cerebral que estão sendo atingidas e
tratadas e seus avanços na comunicação e melhora do paciente.
Neste sentido, segundo o psiquiatra Fernando Portela Câmara, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (PASSOS, 1998, p. 108), “a formação
reticular controla a vigília e o sono e ainda seleciona em que informações
devem-se concentrar”.
A tese mais aceita pelos neuropsicólogos é a de que as palavras do
hipnotizador, daí o porquê das explicações sobre a linguagem, são
processadas pelo nervo auditivo, alcançam a ponta dessa rede, na base do
cérebro, e se espalham por toda a massa cinzenta. Por se tratar de estímulos
repetitivos na indução, quando eles chegam ao lobo frontal, a atenção do
paciente fica concentrado em um único foco, inibindo tudo o que está ao redor
(PASSOS, 1998). Se o indivíduo estivesse em um estado próximo do sono, o
que não ocorre na hipnose, o mapa cerebral visualizado nos testes
imagiológicos seria completamente diferente, com outras áreas ativadas.
Segundo Ferreira (2006), entre as fases da indução e o estado hipnótico, pode-
se perceber que a hipnose provoca um extremo relaxamento e isso diminui a
dor crescendo os níveis do neurotransmissor serotonina. Este nível de
serotonina vai se concentrar nas áreas cerebrais encarregadas de processar as
mensagens químicas da dor, atenuando a sua intensidade. Além disso, diminui
o cortisol do stress, que poderia intensificar os sinais dolorosos nos nervos
espalhados pelo corpo.
O hipnotismo também estimularia a produção de moléculas chamadas de
moduladores imunológicos que se ligam às células de defesa regulando a sua
ação. Assim, eles evitariam que as defesas comprassem briga contra tecidos
do próprio corpo. “As células imunológicas do sangue se tornariam mais
eficientes sem o cortisol, já que a dosagem da substância pelo efeito da
hipnose diminui. Isso poderia explicar por que o hipnotismo tem ajudado no
tratamento de pacientes imunodeprimidos por causa do câncer ou da AIDS”.
(FERREIRA, 2006, p. 403).
Segundo este autor, em vários países como Estados Unidos, Canadá, França,
entre outros, várias pesquisas estão sendo realizadas. Para serem
reconhecidas sua característica científica, tecnologias avançadas como Brain
Mapping (BM); Potencias Evocado (PE) e Tomografia por emissão de Pósitrons
(PET-SCAN), buscam compreender os mecanismos neuropsicofisiológicos
ativados pela hipnose.
Ferreira (2006) defende ainda que a anestesia hipnótica têm um aumento de
serotonina nos locais do encéfalo responsáveis pela percepção consciente da
sensação dolorosa e assim se é verificado a diminuição dos níveis de cortisol
(níveis de estresse) no sangue. Estas constatações podem ser evidenciadas
em estudos experimentais em pessoas hipnotizadas submetidas ao exame de
tomografia por emissão de pósitrons.

21
Ainda, na tentativa de compreender como essa técnica pode atuar no
controle e diminuição da dor, Schulz-Stübner (apud FERREIRA 2006) conduziu
um estudo que pretendia identificar por meio de ressonância magnética
funcional as áreas cerebrais que são ativadas durante o transe hipnótico e
verificar o que acontece quando um estímulo térmico doloroso é aplicado em
indivíduos hipnotizados e não hipnotizados. Os resultados em testes de
ressonância magnética em pacientes hipnotizados demonstraram que os
indivíduos com o efeito desta técnica apresentam menos ativação no córtex
sensorial primário, no giro do cingulado médio e no córtex visual, enquanto
uma ativação aumentada foi vista no gânglio basal anterior e no córtex anterior
cingulado esquerdo. Tais resultados indicam que a hipnose pode impedir que
as entradas nociceptivas alcançassem as estruturas corticais mais elevadas
responsáveis pela percepção da dor no cérebro.
Nesta mesma perspectiva Faymonville (apud FERREIRA, 2006) com o intuito
de verificar a eficácia da hipnose desenvolveu um estudo que comparou a
percepção de dor e o funcionamento cerebral de pessoas em estados
hipnóticos, de imaginação e descanso durante uma condição experimental de
estímulo doloroso aplicado na mão. O grupo de indivíduos que foi submetido à
hipnose apresentou 50% de diminuição da percepção da dor se comparado
aos grupos de imaginação mental e de descanso.
Outro aspecto que também pode colaborar para melhor compreensão a
respeito do mecanismo de ação da hipnose no cérebro pode estar relacionado
à diminuição da ativação nas regiões frontais. Segundo Mello (apud
FERREIRA, 2006), utilizando o mapeamento cerebral por EEG Digital, observa-
se que o traçado no estado hipnótico é bastante semelhante ao estado de
vigília. Com o aprofundamento (transe profundo já citado no capítulo anterior)
da hipnose é possível detectar uma lentificação progressiva. No entanto, o
efeito analgésico da hipnose parece estar associado não apenas a
mecanismos de ação do sistema nervoso central como também do sistema
periférico.
A respeito destes estudos verifica-se que a técnica de hipnose para estes
profissionais, além da comprovação científica demonstrada, tem um valor
fundamental para pacientes que demonstram reações alérgicas a anestesias.
Sendo assim, “a hipnose traz a estes beneficiados uma sensação de
relaxamento através da indução hipnótica com a diminuição do cortisol e a
ativação da serotonina que pode ser produzida pelos neurotransmissores na
região no córtex próximo ao hipocampo” (FERREIRA, 2006, p. 362).
No entanto, estes estudos são recentes e ainda necessitam de maior
aprofundamento. Porem, a discussão que envolve a hipnose consta desde o
surgimento da psicanálise, o que poderemos observar posteriormente.

2.2 – A Psicanálise e a Hipnose


Quando nos referimos a este assunto (psicanálise e hipnose) não podemos
deixar de associá-lo as experiências do fundador desta abordagem. A análise
dos textos referentes de Freud (CHERTOK, 1982) no período de 1887 a 1896
indica que o método psicanalítico foi construído gradualmente, através das

22
experiências que este psiquiatra teve na clínica. O método inicialmente usado
por ele era o método catártico de Josef Breuer (1842-1925), baseado na
hipnose, para ampliar-lhes o campo da memória, possibilitando assim o
tratamento de seus pacientes.
No método catártico de Freud, o paciente era hipnotizado e levado a lembrar-
se da história do desenvolvimento de sua doença. Era então, reconduzido até o
momento das primeiras manifestações de seu sofrimento, ou seja, até a cena
traumática. Este paciente era incentivado a reviver a cena traumática de forma
adequada, liberando a reação afetiva que na época da vivência do trauma, por
algum motivo, não fora efetivada. Esse método foi sendo gradualmente
modificado até que Freud desenvolveu o método de associação livre.
Ainda seguindo o pensamento de Chertok (1982), ao trabalhar com o método
catártico, Freud deparou-se com alguns problemas como o fato de que nem
todos os seus pacientes eram hipnotizáveis, encontrando assim, dificuldades
em obter as curas efetivas que ele buscava, já que o método catártico lidava
apenas com os sintomas, e não com a neurose.
Depois de abandonar a hipnose, Freud passou a utilizar a técnica da pressão,
que consistia em pressionar a testa do paciente e solicitar que de olhos
fechados o paciente se concentrasse a fim de recuperar a lembrança perdida.
Essa técnica simulava o estado hipnótico, que naquele momento da teorização
freudiana era visto como uma expansão da consciência. Assim, a construção
do método psicanalítico se deu a partir da adoção e modificação do método
catártico, passando pelas técnicas da pressão e concentração, até a
descoberta da associação livre.
O método utilizado anteriormente a associação livre ainda apresentava
limitações, e as pessoas que não eram hipnotizáveis ou tinham forte resistência
à hipnose não podiam ser tratadas pelo método catártico.
Como já citado na introdução, um dos grandes colaboradores na
história da hipnose foi Hyppollite Bernheim, que segundo Chertok (1982) serviu
como uma das fontes de inspiração para Freud avançar na construção de um
novo método. Isto ocorreu quando Freud passou a testar até onde ia à
capacidade de memória dos seus pacientes sem a hipnose. De início,
encontrava forte resistência de seus pacientes, mas aos poucos os pacientes
começavam a lembrar-se do passado. Para isto, Freud pedia que o paciente se
deitasse e fechasse os olhos (simulando uma hipnose), alegando que isto o
ajudaria a concentrar-se melhor. Aos poucos percebeu que a resistência
apresentada pelos pacientes tinha a mesma origem da própria neurose.
Tornou-se claro um processo de defesa, que ocorria devido ao sofrimento
psíquico que estas lembranças esquecidas traziam para a consciência.
Freud que anteriormente era inspirado em Bernheim abandona então a técnica
da pressão na testa. Esta funcionava da seguinte forma: pressionando a testa
do paciente, pede a este que lhe relate a idéia ou imagem que lhe ocorre
descrevendo-a seja qual for. Segundo Freud, este método nunca falhou,
sempre apontando um caminho para desenvolver a investigação sobre a
patologia. A pressão distraia o paciente de reflexões conscientes, já que a
associação com os fatores patogênicos parecia estar sempre à mão (pressão

23
na testa). Segundo Freud, só era preciso retirar do caminho os obstáculos
(CHERTOK, 1982).
Ao promover alterações no método catártico, Freud percebe que a hipnose não
era mais necessária no tratamento de seus pacientes abandonando a técnica
da hipnose e da pressão na testa, pois mesmo sem elas, ele conseguia
avançar sobre a memória do paciente, atingindo as cenas traumáticas. Foi
assim que este psiquiatra criou o método da associação livre abandonando o
uso da hipnose em seus atendimentos.

2.2.1 - Abandono da hipnose pela psicanálise

É preciso lembrar, antes de qualquer coisa, a despeito de todas as polêmicas


que possam surgir em torno da questão das relações entre a hipnose e a
psicanálise, o fato que historicamente ficou registrado é que a psicanálise de
Freud se funda, entre outras coisas, no abandono do emprego da técnica
hipnótica.
Estes argumentos apresentados acima sustentam a incompatibilidade teórica e
prática entre o conhecimento psicanalítico e o uso da hipnose, seja como
técnica, seja como processo. Por outro lado, há também muitos argumentos
contrários a esta visão, que defendem a plena possibilidade de associação
entre esses dois saberes.
Apesar do fato de Freud ter abandonado o uso da hipnose ao criar as bases
epistemológicas da psicanálise, observa-se pela literatura atual, que muitos
profissionais que trabalham com esta abordagem psicanalítica, utilizam da
hipnose em seus consultórios. A estes profissionais psicanalistas ficou
denominado o nome de hipnoanálise, ou seja, a psicanálise praticada com a
hipnose.
Neste sentido, podemos verificar que tanto a hipnose quanto a psicanálise
utilizam das influências das palavras que afetam os sujeitos e fazem uma
análise das recordações conflitantes. Entretanto, há também algo de
fundamentalmente distinto, entre estas duas formas de cura através da palavra.
Evidentemente não será feita um estudo profundo da psicanálise, pois não é
este o objetivo do livro. Mas, podemos observar que na psicanálise, não há um
procedimento específico e necessário de interferência no estado de
consciência do sujeito como faz a hipnose, como pré-requisito para que o
tratamento e a técnica psicanalítica possam ser iniciados. Por outro lado, na
hipnose, qualquer que seja a técnica de indução que se utilize (olhar técnicas
no capítulo sobre hipnose), é parte integrante e necessária do próprio processo
que o sujeito, através de uma intervenção proposital em seu estado de
consciência por parte do hipnotizador, seja colocado sob o chamado estado
hipnótico.
Independentemente da teoria utilizada para tentar explicar este processo, o fato
é que o transe é um pressuposto em qualquer forma de hipnose. A hipnose é
um estado que não se confunde nem com o sono e nem com a vigília,
enquanto a prática psicanalítica ocorre, em estado de vigília, isto é mais que

24
suficiente para entendermos, que há aqui, essa diferença fundamental embora
as duas perspectivas atuem sobre o inconsciente do paciente.

2.3 A Hipnose e a Gestalt-terapia.

Para fazermos uma relação do uso da técnica da hipnose com abordagem


Gestalt-terapia faz-se necessário compreendemos esta abordagem visa
orientar o cliente para uma maior autoconsciência, ou seja, tornar-se
consciente de suas fronteiras de contato, sua responsabilidade e apropriação
das emoções, pensamentos, sensações, etc. A este tornar-se consciente no
aqui e agora chamamos de awareness.
A fim de alcançar este objetivo, a Gestalt-terapia baseia-se em uma riqueza de
técnicas e habilidades. A Gestalt-terapia é uma abordagem fenomenológica e
existencial e traz em seu bojo e referencial teórico uma visão holística do
homem. Como utiliza de técnicas e experimentos em sua prática
psicoterapêutica torna-se possível incorporar a seu arsenal criativo, práticas
hipnóticas terapêuticas. Diante estas observações poderíamos pensar a
hipnose como uma técnica a mais, como um instrumento coadjuvante a um
Gestalt-terapeuta em suas sessões.
Ainda referindo-se a teoria da Gestalt-terapia, Zinker (2008) explica que muitas
das vezes o cliente desenvolvendo ajustamentos criativos para interagir com o
meio utiliza de vários mecanismos de defesa ou de evitação do contato que
podem ser saudáveis ou patológicos, ou seja, muitas vezes o sintoma é na
verdade a forma mais criativa encontrada para enfrentar o problema naquele
momento. Neste sentido, poderíamos questionar se o uso da hipnose não iria à
contramão da teoria da Gestalt-terapia para estes casos específicos. Daí a
importância de um terapeuta ser experiente em avaliar o momento e a
necessidade do uso da técnica da hipnose e em que casos seriam mais úteis.
Yontef (1998) nos apresenta em relação ao trabalho em Gestalt-terapia que
esta teoria de relação é baseada no Existencialismo Dialógico, na metodologia
de awareness baseada na Fenomenologia e na teoria científica de Campo.
Neste sentido, é preciso estabelecer entre cliente (paciente) e o psicoterapeuta
uma relação baseada em ajuda mútua. De forma fenomenológica, trabalhando
na perspectiva do aqui e agora, naquilo que surge e que emerge.
As intervenções em Gestalt-terapia chamam a atenção sobre aspectos que
façam o cliente entrar em contato com seus sentimentos, amplificando sua
capacidade de perceber suas sensações. Daí o grande valor da Gestalt-terapia
em proporcionar (através de experimentos ou simplesmente do contato
dialógico) a possibilidade do cliente (paciente) ampliar suas fronteiras de
contato.
Em resumo, sobre o referencial teórico da Gestalt-terapia, o acúmulo de
necessidades interrompidas ou Gestalten inacabadas para o organismo se
repete na busca de completar o que está inacabado ou interrompido e fechar a

25
Gestalt, ou seja, este interrompimento se daria ao fato do self ter perdido a
função de promover um ajustamento criativo.
Mas, como pode a hipnose atuar como tratamento coadjuvante por um Gestalt-
terapeuta? Pode-se pensar nesta possibilidade, desde que o terapeuta possa
ajudar o cliente a focalizar sua atenção na sensação de sua percepção ou
memória, enquanto o resto do campo perceptivo diminui em um fundo. A
hipnose privilegiaria aspectos profundos que o paciente insiste em não dar um
fechamento. Traria a consciência suas resistências, conflitos. Enviaria através
de sugestões positivas, soluções para fechar a gestalt interrompida. Por
exemplo: um paciente que ao ser demitido do emprego sofre por não ter sido
um melhor funcionário e se culpa pelo fato. Em uma psicoterapia, trabalhar-se-
ia esta culpa ampliando sua awareness de sentir-se fracassado.
Mas, e nos casos em que o cliente consciente de sua não-culpa, ou mesmo de
sua responsabilidade, ainda sofrer pela perda do emprego e estar esperando
que esta gestalt-inacabada retorne para acertar seus erros em uma outra
oportunidade neste mesmo emprego? Neste caso, para que a pessoa não fique
presa a seu passado, pode-se utilizar a hipnose como forma de sugestão para
o cliente superar a perda e focalizar em um novo emprego. Esta seria uma
forma muito indicada de superação do trauma em uma psicoterapia gestáltica
com o uso da hipnoterapia de autoajuda.
Para Freda Morris (1991), experimentos de Fritz Perls como a cadeira vazia, se
aproximam muito de um estado hipnótico, pois permite que o cliente através da
imaginação entre em um tipo de transe hipnótico. Para explicar melhor como se
dá este experimento da cadeira vazia, ele funciona da seguinte forma: um
paciente se imagina em uma cadeira vazia ou uma outra pessoa sentada a sua
frente e faz um diálogo com ela. Consegue através da imaginação, perceber o
que sente por aquela figura projetando a ela seus sentimentos e sensações. Na
percepção de suas sensações, suas experiências que não foram elaboradas,
podem auxiliar aos clientes a entrarem em contato com suas gestalts abertas
(inacabadas) e ampliarem suas fronteiras de contato, para que seu organismo
entre em homeostase (equilíbrio) com seu self (id, ego e personalidade) e
possam diante a awareness produzida fechar sua gestalt. A hipnose
funcionaria nestes casos como sugestão.
A partir destas considerações, muitos Gestaltistas estão incorporando a
hipnose em sua prática, principalmente nos Estados Unidos. Desde o
surgimento da Gestalt-terapia com Fritz Perls, as oficinas de workshops em
Gestalt-terapia e hipnose nos Estados Unidos se ampliaram buscando propor a
hipnose como mais uma ferramenta a serviço do Gestalt-terapeuta
Fazendo um link com a utilização de técnicas como a cadeira vazia., podemos
prever que o cliente ao imaginar um diálogo, reviver um cenário, uma conversa,
concentra-se em aspectos de si próprios que estavam bloqueando a sua
capacidade de resolver questões do passado. A imaginação expositiva (na
cadeira vazia) e o diálogo com a pessoa ou situação imaginada ajudam a
antecipar ou reviver sentimentos que o cliente não conseguia elaborar. Esta
técnica coloca o cliente em condições de enfrentar numa exposição ao vivo
seus conflitos e até mesmo responder a questões que podem fechar gestalts
inacabadas.

26
Relacionando com a hipnose, esta técnica faz com que o cliente volte-se mais
profundamente a si mesmo. O Hipnoterapeuta gestático pode ser capaz de
contornar certas estratégias utilizadas (mecanismos de defesa), permitindo a
este explorar certas opções que não seria possível se não estivesse em um
estado hipnótico. Os clientes também podem ser direcionados para prestar
muita atenção aos detalhes dessas novas experiências, para que possa ser
vividamente lembradas pós-hipnose, o que ocorre de forma semelhante
quando na técnica da cadeira vazia, o cliente passa a entrar em contato com as
sensações provocadas pela imaginação, visando ajudar os clientes a entrarem
em contato com suas experiências e produzir a partir desta awareness o
crescimento do cliente.
Na literatura pesquisada consta-se num diálogo de Freda Morris, (um
conhecido hipnoterapeuta americano) sobre Fritz Perls que este acredita que a
atuação do co-fundador da Gestalt-terapia tem um efeito hipnótico em seu
trabalho terapêutico.

“O estado hipnótico nem sempre pode ser facilmente reconhecido. Eu


conversei uma vez com o fundador da Gestalt terapia, Fritz Perls, sobre seu
trabalho terapêutico dizendo: “tudo é feito com a hipnose.” Ele respondeu com
um sorriso: “Por uma questão de fato, é”. Perls foi um extraordinário e eficaz
terapeuta. Ele hipnotizava seus pacientes e, em seguida, utilizava o estado
hipnótico para com o cliente encontrar e ajudá-los a mudar suas neuroses..
Muitos de seus seguidores são menos eficazes, pelo menos em parte porque
eles não sabem o papel que desempenha a hipnose”. (Morris 1979, page 3).
(MORRIS apud DUFF, 1979, p. 3).

Segundo este autor, a maioria das técnicas em diferentes tipos de


psicoterapia não é nada mais do que fenômenos hipnóticos. “Quando você
olha para uma cadeira vazia e começa a falar com sua mãe, aquele fenômeno
é chamado alucinações positivas, auditivas e visuais (MORRIS apud DUFF,
1979, Página 11).
Ainda no sentido de pensarmos o uso da hipnose por gestalt-terapeutas, pode-
se observar que os princípios dos processos de experimento da cadeira vazia
como também as técnicas de relaxamento são semelhantes as três fazes da
hipnose empregada na abordagem ericksoniana.
O cliente pode ser encorajado a falar dos aspectos conflituosos que entrou em
contato após a awareness da experiência da cadeira vazia. Neste sentido, a
hipnose produz no cliente a consciência das sensações percebidas de seus
traumas no momento presente para que possam entrar em contato com
questões inacabadas e trabalhá-las na terapia dialógica da Gestalt-terapia.
É claro que não se pretende substituir a capacidade do gestalt-terapeuta. Este
procedimento seria indicado apenas quando o cliente mesmo desejando não
conseguisse lembrar ou vivenciar questões que acreditam serem importantes
para o processo terapêutico. Daí a necessidade da avaliação do terapeuta de
quando e como usar a hipnose caso ache necessária. Podemos pensar num
caso em que o cliente, não entendendo porque mesmo aware (conciente) dos

27
motivos que o fazem sentir-se muito ansioso, os conflitos neuróticos deste
sintoma ainda permanecem. Neste caso a hipnose, seria mais uma ferramenta
a disposição do terapeuta a fim de elevar os níveis de relaxamento, reduzir o
stress e produzir como um ansiolítico natural um melhor bem estar ao cliente.
Evidentemente estas suposições necessitam de embasamento prático na
clinica em gestalt-terapia o que venho fazendo em minha prática psicológica.
Como na Gestalt-terapia há também profissionais de outras abordagens que
vêm utilizando da técnica da hipnose em suas práticas psicoterapêuticas.
Dentre estas podemos citar a Terapia Cognitiva Comportamental.

2.4 – A Hipnose e a Terapia Cognitiva Comportamental

Primeiramente para início deste tópico se faz necessário uma pequena


contextualização desta abordagem. A substituição de pensamentos negativos e
destrutivos por pensamentos mais flexíveis, construtivos e pautados na
interação entre indivíduo e seu ambiente é o principal objetivo desta
abordagem criada por Beck em um processo psicoterápico. “Atualmente é uma
das abordagens mais reconhecidas no mundo por sua eficácia e segurança”.
(NEVES, 2003, p. 49).
A combinação de outras estratégias terapêuticas no tratamento com a Terapia
Cognitivo Comportamental vem sendo apoiada por diversas correntes desta
abordagem, ampliando os limites da terapia para abranger as emoções e
demais respostas psicofisiológicas. Seu trabalho destina-se a ajudar os
Pacientes/clientes a aprenderem a controlar seus pensamentos examinando
suas crenças, assim podem se sair melhor do que aqueles que ainda não o
fazem.
Verifica-se que há dentro desta abordagem a utilização de várias técnicas,
exercícios e até experimentos o que faz nos lembrar da Gestalt-terapia. Uma
técnica que vem sendo muito utilizada em terapia Comportamental é a
Hipnose, que através de seus procedimentos são orientados para a solução de
problemas psicológicos.
É pertinente esclarecer que a hipnose não é uma terapia por si mesma, mas
uma técnica especializada que pode ser incorporada a situações terapêuticas
particulares. Assim confirma-se a possibilidade de seu uso por Terapeutas
Cognitivos Comportamentais.
A prática da hipnose em Psicologia como citada na introdução foi
regulamentada pelo CFP (Nº. 013/2000). A Hipnose consiste de um estado de
estreitamento de consciência provocado artificialmente, diferente do sono, com
alterações da atenção, memória, motricidade e das sensações (NEVES, 2003).
Segundo Dowd (apud CABALLO, 1996), a hipnose deveria ser utilizada
unicamente por profissionais bem treinados na prática de sua própria profissão.
Este terapeuta comportamental relata inclusive que tais profissionais não
deveriam empregá-la como seu único tratamento. Assim, ressalta este autor, é
incorreto falar de hipnotizador ou de hipnoterapeuta. Para ele o certo seria falar
de um psicólogo, de um terapeuta ou de um médico que estão bem treinados

28
em usar a hipnose. Ainda segundo este autor, hipnose é útil na intensificação
dos aspectos de uma experiência, orientando o cliente a prestar mais atenção
a certos detalhes. Por exemplo, alguém que deseja parar de fumar pode ser
convidado a se sentir fortemente o sentimento de alívio esclarecendo os
benefícios e levando-o a se imaginar como mais feliz e saudável. Através da
indução, o cliente passa a sentir-se livre, confiante e capaz pelos avanços que
pode perceber a cada dia.
Verificando a utilização da hipnose como coadjuvante nos tratamentos
médicos, ela aumenta significativamente o bem estar psicológico, reduz o
stress e melhora as taxas de recuperação dos pacientes sujeitos a esses
tratamentos. A eficácia da hipnose vem sendo comprovada como importante
ferramenta terapêutica quando combinada com intervenções cognitivo-
comportamentais, nas perturbações depressivas, da ansiedade, do sono,
condições psicossomáticas, tabagismo, obesidade, controle da dor, depressão
entre outras.
Como podemos observar sobre cada abordagem discutida neste livro, a
hipnose pode ser integrada como uma ferramenta a disposição do profissional
psicólogo, como também em outras áreas de atuação, seja médica, jurídica,
odontológica entre outras.
Há, no entanto, aqueles que defendem e os que são contra o uso da hipnose
em psicoterapias. Portanto, nada mais saudável que uma discussão sobre as
divergências e convergências destas opiniões a respeito da hipnose para
podermos abrir um campo fértil de reflexões que possam favorecer
principalmente aqueles que dela necessitam.

3 CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS SOBRE A HIPNOSE

3.1 Derrubando os Mitos

Para adentrarmos nas convergências e divergências sobre a hipnose,


precisamos refletir primeiramente que a hipnose foi associada durante séculos
à perda da consciência e o controle voluntário das ações do cliente, um estado
onde o hipnotizador poderia manipular o hipnotizado a fazer o que ele quisesse
inclusive revelar os segredos mais profundos do paciente. Isto talvez seja um
dos pontos que mais causam divergências entre os que defendem e os que
são contra a hipnose, pois fez surgir em alguns profissionais e também a uma
grande parte dos pacientes o medo de um controle e manipulação, tirando do
cliente sua autonomia e capacidade de crescimento individual, dependendo
unicamente das sugestões de um hipnotizador.
Neste sentido, vários profissionais buscam derrubar os mitos criados
acerca da hipnose ao alegarem que esta técnica só funciona com o desejo do
cliente. Além do que, qualquer ameaça aos valores morais deste cliente, faria
com que este saísse do transe hipnótico quase que imediatamente.

29
Ferreira (2006) em relação ao mito de que a hipnose pode ser
prejudicial, defende que a hipnose é um fenômeno científico válido, que pode
ajudar pessoas a superar seus traumas, conflitos emocionais e problemas
psicológicos. A hipnose já foi e ainda é usada por milhares de pessoas, e não
se consta em sua história sinais de prejuízo à integridade física ou psicológica
dessas pessoas. Segundo este mesmo autor, nos momentos em que um
indivíduo hipnotizado recebe uma sugestão imprópria que não condiga com
seus valores, ou o indivíduo não responde à sugestão, ou o estado em que se
encontrava pela indução, acaba voluntariamente pelo cliente.
Dentre as classes profissionais habilitadas ao uso do recurso da
Hipnose nos respectivos conselhos nacionais e regionais (medicina,
odontologia, psicologia, fonoaudiologia, neuropsicologia entre outras
especificidades), são os psicólogos os que mais efetivamente têm atuado com
o uso da Hipnose. Podemos observar que, embora as fundamentações teóricas
da Psicanálise, da Gestalt-terapia, Terapia Cognitiva Comportamental e outras
abordagens psicológicas tenham referenciais teóricos diferentes, no entanto, é
cada vez mais frequente nos consultórios de psicologia a utilização desta
técnica, que tem assegurado processos mais breves de terapia, com resultados
bastante positivos e seguros para vários tratamentos.

3.2 Profissionais que utilizam e os que não utilizam da hipnose

Dentre as divergências entre os profissionais que utilizam e os que não


utilizam a hipnose, podemos citar o questionamento de que a hipnose seria
uma técnica apenas superficial sem aprofundar nos aspectos mais relevantes
do sofrimento psíquico do cliente. Quanto a esta dúvida, os defensores do uso
da hipnose reafirmam que sua utilização não impede que a terapia possa
acontecer. Esclarecendo melhor, a hipnose só seria utilizada em determinado
tempo e ocasião na terapia dependendo da necessidade e da vontade do
cliente, não abdicando, porém da continuidade da terapia seguindo a
abordagem da qual o profissional utiliza (analítica, gestalt-terapêutica,
cognitivo-comportamental, etc.). Então, para que a técnica da hipnose pudesse
ser usada no setting terapêutico, necessitaria primeiramente o esclarecimento
ao cliente de suas vantagens, respeitando o desejo do cliente em aceitar ou
não esta proposta tendo sua permissão verbal ou por escrita.
Na hipnose ericksoniana (ERICKSON, 1995) o hipnotista (como é assim
chamado por ele), permite que o paciente faça as suas escolhas, ou seja,
qualquer pessoa pode ser induzida ao transe desde que deseje e permita as
induções do terapeuta. No entanto, para isto ocorrer busca-se encontrar um
meio que faça com que a pessoa responda à indução de forma tranquila para
poder ser hipnotizada. Na abordagem ericksoniana o terapeuta utiliza o que a
pessoa já traz como pedido de intervenção. Assim, seu uso na terapia é
chamado de Abordagem da Utilização. O terapeuta na indução do transe
hipnótico dá sugestões onde o cliente tem a escolha de permitir fazer ou não,
sentir ou não a indução (sugestão). Erickson denominava suas técnicas de
hipnose de naturalistas, pois acreditava que as pessoas têm dentro de si as

30
aptidões necessárias para superar dificuldades, resolver problemas, entrar em
transe e experenciar todos os fenômenos que este possa proporcionar.
Buscando estabelecer as convergências entre a psicologia clinica e a
hipnose, podemos verificar esta técnica como forma de tratamento coadjuvante
observando os benefícios que ela produz para o cliente. Ferreira (2006) faz um
levantamento minucioso das intervenções hipnóticas numa psicoterapia tendo
como referencial sua prática clínica e de outros colegas profissionais. Elenca o
uso desta técnica atuando como tratamento coadjuvante numa psicoterapia em
casos de depressão, controle ou diminuição da ansiedade e do stress em
síndrome do pânico, estresse pós-traumático, fobias e traumas psicológicos.
Sendo que nestes casos de traumas o processo indicado em hipnose pode ser
pela regressão para se descobrir onde o trauma se originou. É por meio de
sugestões (induções) que se tenta modificar o significado desse fato e assim
mudar o comportamento não inibindo simplesmente a fobia.
A hipnose também é utilizada em casos de transtornos sexuais
masculinos e femininos, casos de timidez excessiva, no tratamento de impulsos
ou compulsões de condutas dependentes como o jogo patológico e outros
impulsos suicidas e as alterações de comportamento alimentar (obesidade,
anorexia e bulimia).
Lembro também que em muitos casos destes citados acima, se é
recomendado além da psicoterapia que utiliza a hipnose, o acompanhamento
de profissionais psiquiatras na indicação de medicamentos apropriados. Outra
contribuição desta técnica na psicoterapia é o aumento da auto-estima e a
autoconfiança através do trabalho hipnótico. É possível, portanto na condução
do relaxamento e através da linguagem, facilitar ao cliente a descoberta de
novas opções na vida e a quebra de padrões de sentimentos e comportamento
indesejáveis como complexos de inferioridade por exemplo.
Segundo Ferreira (2006), muitos pacientes procuram hoje em dia a
hipnose conjuntamente com a psicoterapia na crença e desejo que esta possa
ajudá-los (ou a algum membro da família) nos casos de distúrbios da
aprendizagem ou até mesmo para melhorar na concentração e propor alívio do
nervosismo na hora de provas em concursos e vestibulares.
Como se pode observar a utilização da hipnose como tratamento
coadjuvante em psicoterapia é das mais diversas, pois vai desde a terapia
infantil em casos de hiperatividade e para crianças autistas até como auxílio
nos conflitos do relacionamento conjugal e familiar, nas perdas emocionais
(luto, rompimentos); em casos psicopatológicos.
Quanto às críticas ao uso da hipnose que deixaria o paciente/cliente em
um estado de completa passividade, sem direito ao questionamento e de certa
forma conduzido à vontade do terapeuta. Ferreira (2006) afirma neste sentido
que muitos pacientes/clientes quando chegam ao consultório para uma sessão
de hipnose ficam temerosos, achando que a hipnose é algo sobrenatural,
fincando inclusive nas mãos e na vontade do hipnotizador. O autor ressalta que
este é um dos conceitos mais equivocados existentes em relação à hipnose.
Para ele quem hipnotiza não é o hipnotizador, pois ele apenas dará dentro de
seu conhecimento científico sugestões de relaxamento que produzirá (se aceita
pelo paciente/cliente) uma auto-hipnose, ou seja, requer do cliente/paciente, o

31
desejo, vontade, entrega e confiança naquele que o conduzirá a este
relaxamento. É diante a resposta do cliente/paciente que o psicólogo
(hipnoterapeuta) o ajudará a ressignificar seus conflitos obtendo a ajuda que
veio buscar. Somente com a aceitação o processo de hipnose funciona, caso
contrário sua resistência impedirá entrar em um estado chamado por muitos de
transe o que pode resultar por parte do cliente/paciente a falsa impressão que
ninguém pode hipnotizá-lo.
Outra divergência entre os profissionais que utilizam a hipnose está no
medo de que ao fazer o cliente/paciente entrar em transe ou numa regressão, o
profissional possa não conseguir fazer com que ele retorne ao estado normal.
É necessário esclarecer as dúvidas e conhecer bem os procedimentos da
hipnose para acalmar com boa argumentação a seus pacientes/clientes. É
preciso compreender que se a pessoa entrar em um transe muito profundo,
uma hora vai dormir e se dorme também acorda. De uma forma geral, tudo o
que se tem dito e escrito a respeito dos perigos da hipnose pertence ao reino
da fantasia segundo Ferreira (2006). Os efeitos adversos sejam fisiológicos ou
psicológicos, não são comuns, e na maioria das vezes, são de curta duração.
Ainda neste sentido, embora haja autores que defendem não haver
nenhuma contradição quanto ao uso da hipnose, há, no entanto, profissionais
que temem utiliza – lá principalmente em casos que envolvem fazer regressão.
Estes profissionais acreditam que o cliente/paciente pode entrar em um período
traumatizante da infância e por algum motivo repressor não conseguir mais
voltar a sua idade cronológica e mental. Ferreira (2006) ressalta que isto é
apenas mais um medo criado para atingir a credibilidade desta técnica, pois
nunca ficou provado que alguém ficasse fixado em uma fase de vida sem voltar
a sua realidade. Testes neurorradiológicos demonstram esta impossibilidade
fisiológica atentando-se para o cuidado em casos de demência que
naturalmente sem a hipnose, é típico de regressão de idade ficando em alguns
casos fixado na infância. Estes casos estão mais associados aos distúrbios da
memória do que a um dano causado pela hipnose.
Outros casos de contraindicação do uso da hipnose por alguns profissionais
estão relacionados às situações que removam sintomas como a febre e a dor
de cabeça, por que servem para alertar o organismo de uma infecção ou objeto
estranho a sua natureza. Faz-se necessário uma avaliação médica nestes
casos. Outra condição onde o uso da hipnose não é recomendado é em
estados emocionais que o paciente percebe uma agitação mental e emocional,
como a esquizofrenia e transtornos bipolares, pois o efeito da hipnose pode
alterar estes estados amplificando os sintomas.
Uma atenção importante se é dado quando no atendimento de mulheres
grávidas especialmente nos últimos meses de gestação. É recomendado por
alguns profissionais que não se utilize a hipnose, porém verifica-se que há
profissionais que a utilizam na prática do parto sem dor, recomendando o uso
da hipnose desde o início da gravidez. Supõe-se que o transe induzido apenas
em fase final do período possa trazer algum tipo de confusão para o bebê no
útero, devido às alterações metabólicas introduzidas pelo processo.
Ainda dentre as divergências observadas, alguns profissionais alertam ao fato
de que se requer certo cuidado ao lidar com pacientes cardíacos e hipertensos,
pois eventuais emoções fortes vividas durante o transe podem prejudicar mais
32
que ajudar. Por outro lado os que defendem o uso da hipnose em qualquer
situação, diz que em tais casos, podem-se usar as sugestões hipnóticas para
auxiliar na manutenção da pressão fazendo com que esta fique o mais próximo
possível dos níveis normais, não requerendo então, receio de tratar pessoas
com problemas de pressão. Há ainda aqueles profissionais que admitem que
em psicoses latentes, taras e perversões, estas possam vir à tona e tornarem-
se efetivas em virtude da ação hipnótica. Para Ferreira (2006) é um perigo tão
remoto que a literatura específica carece de dados estatísticos a esse respeito.
Ainda neste sentido, uma das críticas verificadas feitas ao uso da Hipnose é a
de que ela mobiliza a erotização. No entanto, ela pode aumentar qualquer
coisa que seja policiada e reprimida.

3.3 As criticas as Hipnoses de Exibição e Demonstração

A convergência principal encontrada entre a maioria dos profissionais que


utilizam a hipnose como também aqueles que não a utilizam estão nas
consequências que ocorrem na denominada hipnose de entretenimento. Há
alguns hipnólogos que ao fazerem uso deste tipo de demonstração, esquecem
que por não fazerem uma anamnese da pessoa que esta sendo exposta, pode
trazer dela profundos traumas e piorar seus sofrimentos. Imaginemos por
exemplo numa demonstração que sugestione o expectador a não ter mais
medo de nada, ou que não sentirá mais triste, ou a ficar sorrindo por muito
tempo até o hipnotizador pedir que pare. Este tipo de demonstração pública da
hipnose causou entre outras coisas um medo profundo entre as pessoas e
muitos profissionais por acreditarem que suas vidas poderão estar sendo
expostas, além do que, com o exagero anunciado de que a hipnose tenha um
controle absoluto sobre a pessoa, cria-se um medo de que o terapeuta possa
em algum momento utilizar do cliente/paciente para usá-lo de forma imprópria.
Em geral devido à inexperiência clínica de seus operadores, os mecanismos
psíquicos acionados no palco, não são devidamente trabalhados como quando
acionados na clínica. Num tratamento psicoterapêutico há um
acompanhamento histórico e social do cliente. Muitas vezes os hipnólogos de
palco se deparam com questões psicopatologias crônicas, ataques, estupor,
episódios espontâneos de dissociação e ressurgimento de lembranças de
traumas anteriores. Devido a estas possibilidades, os profissionais
competentes na prática clínica alertam pedindo para que este tipo de exibição
não ocorra mais, sendo usada apenas por profissionais experientes e treinados
para uma atuação clínica.
Assim, ressalta Ferreira (2006), os profissionais clínicos que utilizam a hipnose
devem buscar conquistar seu espaço de confiança que fora abalado pela
exposição na mídia e nos palcos, seguindo a rigor e adotando sempre uma
conduta ética e de respeito aos direitos humanos junto aos clientes observando
os critérios das resoluções de seus Conselhos Federais de Ética. Segundo este
mesmo autor, diante os malefícios que as exposições em hipnose de exibição

33
fizeram surgir entre as pessoas, pesquisas tem demonstrado que se é mais
eficaz para os clientes não utilizar palavras como transe hipnótico, sugestão
hipnótica e até mesmo hipnose. Sugere que para os clientes sentirem-se mais
confortáveis, pode-se utilizar de palavras que evitem pré-contatos com os
vários mitos em volta da hipnose, ou seja, poderíamos chamar a hipnose de
relaxamento profundo, relaxamento saudável, etc.
No caso dos clientes perceberem o estratagema, se é então necessário
desmistificar os medos que envolvem a palavra hipnose antes de começar a
utilizá-la junto ao cliente. Dentre este panorama é imprescindível também que
as discussões do estado hipnótico convirjam no mesmo rumo, pois quando os
clientes tomam contato com as explicações do terapeuta sobre a hipnose, pode
haver diferentes explicações da técnica, confundindo o cliente e colocando em
risco a confiabilidade no terapeuta.
Existem várias teorias a respeito da hipnose. Neste livro falaremos um pouco
sobre as correntes teóricas Estado e não-Estado.

3.4 Estado versus não-Estado

A divergência entre considerar ou não a hipnose como um estado


alterado da consciência se é chamada pelos teóricos de estado versus não-
estado. A corrente teórica chamada Estado são aqueles que defendem que o
estado hipnótico se dá através da alteração da consciência da mente. A
corrente teórica do não-Estado são os profissionais de uma posição sócio-
cognitiva que explicam os comportamentos em hipnose como o resultado de
uma complexa matriz de influências envolvendo desde as expectativas dos
participantes, às suas atitudes e crenças em relação à hipnose, bem como as
suas interpretações das sugestões e de outros aspectos do contexto hipnótico.
Embora haja esta divergência, novas investigações no campo da
neuropsicologia têm vindo-lhes dar argumentos que podem ser utilizados por
ambas as partes (MELIKIAN apud FERREIRA, 2006). Segundo ainda esta
autora, vários estudos têm demonstrado que indivíduos altamente
sugestionáveis têm padrões de atividade cerebral específicos durante a
situação de hipnose.
Estes resultados têm sido utilizados pelos defensores da ideia de que a
hipnose é um estado alterado de consciência para defender a sua posição.
Contudo, é importante notar que estes mesmos resultados demonstram que é
mais útil ver a hipnose a partir de uma perspectiva
dinâmica de padrões cerebrais complexos que se sucedem e que se
transformam do que tentar
procurar um local estático que caracterize o estado de transe.
Melikian (2008) defende que chegou o momento de transcender esta
discussão de estado versus não-estado e optar para uma perspectiva mais
construtiva que permita integrar os aspectos válidos das teorias existentes
sobre a hipnose.

34
Todas estas discussões em volta das teorias e conceitos da hipnose
geradoras de convergências e divergências são no intuito de pensar em como
utiliza-lás como técnica coadjuvante na clínica psicológica, pois construir
ciência é construir visões de mundo (Figueiredo, 1999), é realizar novas
descobertas, compartilhar, cada qual com seu referencial teórico, seus
métodos e discuti-los. Faz parte natural do modo de ser ciência da psicologia
ter posicionamentos contra e a favor. Pensamos por exemplo, como na história
da filosofia e por seguinte da psicologia, o conhecimento se dá numa
construção e desconstrução de teorias. Numa relação tanto dialética (tese-
antítese-síntese), como também dialógica. Entendo, portanto, que se faz
necessário as diferenças de idéias, pois são as discussões que promovem um
maior conhecimento sobre a temática discutida. Tudo isso creio, apenas
credibiliza através de comprovações, o uso da hipnose na clinica psicológica.

4 CONSIDERAÇÕS FINAIS

Dentre os estudos feitos para a elaboração deste livro chego à


conclusão de que a Hipnose é basicamente um processo e um procedimento
de intervenção psíquica no que visa à saúde do cliente, ou seja, ao equilíbrio
das funções psíquicas e orgânicas do ser humano. Esta técnica tem um
processo histórico de uma longa e complexa série de acontecimentos e
desenvolvimentos, que foram utilizados e manipulados por inúmeras
civilizações há milhares de anos até o momento atual. Este conhecimento já
foi, ao longo do tempo, considerado de origem mística, divina ou demoníaca e
em tempos modernos, científico.
Ainda hoje, há quem não acredite na verdade deste conhecimento,
assim como há quem creia cegamente. Entretanto, há inúmeros relatos,
pesquisas e infindáveis casos descritos que demonstram os benefícios efetivos
desse saber.
Ao investigar a utilização desta técnica por profissionais que trabalham
em abordagens psicológicas como a Gestalt-terapia, a TCC, a Psicanálise e a
Neuropsicologia, verifiquei que a hipnose é de grande contribuição para
aqueles que se especializaram nela como tratamento coadjuvante na
clínica. Mesmo encontrando divergências entre a teoria das abordagens em
relação ao uso da hipnose, isto não impede que os profissionais adaptem em
seu trabalho prático a utilização da hipnose como mais uma ferramenta a
serviço do cliente. Em relação aos estudos de neuropsicólogo, verifica-se
através de testes neurorradiológicos a validação científica investida na hipnose,
conferindo-a credibilidade para seu uso. Outro dado relevante é a apreciação
da hipnose pelos Conselhos Nacionais de várias especificidades como a
Medicina a Psicologia entre outras.
Ao investigar a utilização da Hipnose na Psicologia Clínica, me propus
através deste livro, tirar várias dúvidas e estimular a curiosidade sobre a
hipnose tanto a nível teórico como prático.

35
Concluo diante isto que atualmente não existe um consenso sobre qual é a
teoria que melhor explica a hipnose e os fenômenos a ela associados, não
impedido, porém, o desenvolvimento de vasta investigação que têm vindo a
fornecer confirmação empírica para o tratamento de perturbações quer no
âmbito da Medicina, quer na Psicologia.
Acrescento ainda o fato de que graças às interligações que continuam a
ocorrer entre a hipnose, a psicoterapia, e a investigação em psicologia
científica, bem como os avanços nas técnicas de imagiologia cerebral pela
neuropsicologia, podemos esperar novos desenvolvimentos de interesse no
futuro próximo.
Na área da neuropsicologia os estudos imagiológicos em indivíduos
hipnotizados podem também contribuir para a compreensão de como as
sugestões influenciam os padrões de ativação cerebral. Finalmente, todos
estes avanços poderão ajudar a construir novas e mais satisfatórias teorias
sobre a hipnose.
Com o intuito de chamar a atenção para as divergências e
convergências relacionadas à temática e conhecendo os benefícios e contra
indicações da técnica, acredito que a falta de informação e as crenças
negativas criaram um afastamento e medo da hipnose quando se fala em
utilizá-la na clínica psicológica. Posso estar equivocado, porém percebo que ao
se falar de hipnose para profissionais de psicologia causam-lhes o temor de
perder campo de trabalho caso não estejam preparados para o uso da técnica
da hipnose. Outro medo é o fato de que a hipnose possa garantir resultados
mais rápidos e práticos e ser usada por qualquer pessoa sem ter a formação
apropriada em psicologia. A estes receios, acredito que o livro foi de essencial
importância, devido ao fato que explica que o uso na clínica deve ser feito por
profissionais qualificados como também seguir as normas estabelecidas da
ética e dos conselhos federais de suas especificidades.
Finalizo, portanto este livro na confiança de ter atingido os objetivos
esperados, porém acrescento que se necessita de mais estudos e pesquisas
sobre esta temática a fim de atingir credibilidade maior entre os profissionais da
academia científica.

36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, M. Hipnotismo. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Conquista 1958.

BAUER, S. M. F. Hipnoterapia ericksoniana passo a passo. Campinas: Livro


Pleno, 2000.

CABALLO, V. E. Manuel de Técnicas de Terapia e Modificação do


Comportamento. São Paulo: Santos, 1999.

CHAUI, M. Convite a Filosofia. São Paulo: Ática, 2002.

CHERTOK, Léon. A hipnose entre a psicanálise e a biologia. Trad. de


Roberto Cortes de Lacerda. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1982.

DUFF, Simon. Gestalt Terapia e Hipnose. Gestalt Terapia e


Hipnose EzineArticles.com. Http://ezinearticles.com/?Gestalt- Therapy- Terapia
- And- E - Hypnosis&id=13588 Hipnose & id = 13588. Acesso em 12 Mai, 2009.
Clarkson, P. (1996). Gestalt Counselling in Action .MLA Style Citation:
FARIA, O. A. Hipnose e Letargia. Rio de Janeiro: Atheneu, 1959.

___________. O Que É Hipnotismo: um falso arco-íris. São Paulo:


Brasiliense, 1985.

FERREIRA, M. V. C. Hipnose na prática clínica. São Paulo: Atheneu, 2003.

MENDES, E. C. Parapsicologia Clínica: psicotranse: terapia dos distúrbios


mentais e psicossomáticos. São Paulo: Pensamento, 1980.

NEVES. N. A. R. A importância da avaliação neuropsicológica para a


prática psicoterapêutica: estudo de caso. São Paulo: Esetec, 2003.

_________________. Psicoterapia Cognitivo-


Comportamental: Possibilidades em Clínica e Saúde. Santo André: Esetec,
2003.

37
NEUBERN, M. Hipnose e psicologia clínica. Retomando a história não
contada. Brasília: Psicologia Reflexão e Crítica, 2006.

_____________. Milton Erickson e o Cavalo de Tróia: Brasília: Psicologia


Reflexão e Crítica, 2006.

PASSOS, A. C. M. Aspectos Atuais da HIPNOLOGIA. São Paulo: Linográfica,


1961.

_______________. Hipnose: Considerações Atuais. São Paulo: Atheneu,


1998.

PUENTES, F. Guia da Auto Hipnose Intensivo: Manual do usuário. Rio de


Janeiro, Cena Um, 2001.

SHULTZ, J. H. Técnica da Hipnose: instruções práticas para médicos. Trad.


de Lycurgo Gomes da Motta. São Paulo: Mestre Jou. 1966.

38
Anexo 1

RESOLUÇÃO CFP N.º 013/00


DE 20 DE DEZEMBRO DE 2000
Aprova e regulamenta o uso da Hipnose como recurso auxiliar de
trabalho do Psicólogo.

O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais


e regimentais, que lhe são conferidas pela Lei nº 5.766, de 20 de dezembro de
1971 e;

CONSIDERANDO o valor histórico da utilização da Hipnose como técnica de


recurso auxiliar no trabalho do psicólogo e;

CONSIDERANDO as possibilidades técnicas do ponto de vista terapêutico


como recurso coadjuvante e;

CONSIDERANDO o avanço da Hipnose, a exemplo da Escola Ericksoniana no


campo psicológico, de aplicação prática e de valor científico e;

CONSIDERANDO que a Hipnose é reconhecida na área de saúde, como um


recurso técnico capaz de contribuir nas resoluções de problemas físicos e
psicológicos e;

CONSIDERANDO ser a Hipnose reconhecida pela Comunidade Científica


Internacional e Nacional como campo de formação e prática de psicólogos,

RESOLVE:

Art. 1º – O uso da Hipnose inclui-se como recurso auxiliar de trabalho do


psicólogo, quando se fizer necessário, dentro dos padrões éticos, garantidos a
segurança e o bem estar da pessoa atendida;

Art. 2º - O psicólogo poderá recorrer a Hipnose, dentro do seu campo de


atuação, desde que possa comprovar capacitação adequada, de acordo com o
disposto na alínea “a” do artigo 1º do Código de Ética Profissional do
Psicólogo.

39
Art. 3º - É vedado ao psicólogo a utilização da Hipnose como instrumento de
mera demonstração fútil ou de caráter sensacionalista ou que crie situações
constrangedoras às pessoas que estão se submetendo ao processo hipnótico.

Art. 4° - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 5° - Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília (DF), 20 de dezembro de 2000


ANA MERCÊS BAHIA BOCK
Conselheira-Presidente

[1] Estes exames aplicados por neurorradiologistas estão referidos na


Dissertação de mestrado em psicologia da saúde, na Universidade Metodista
de São Paulo no ano de 2000 pelo psicólogo Paulo de Mello que aborda por
meio de revisão de literatura os aspectos neuropsicológicos da hipnose. Para
tanto utilizou de um livro embasado em evidências científicas que reúne
estudos internacionais as possibilidades de intervenção hipnótica aplicada a
diversas situações desenvolvidas pelo neurorradiologista Marlus Vinícius Costa
da Ferreira, editado em 2006 pela editora Atheneu.

40

Potrebbero piacerti anche