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Resumo: A determinação da natureza do conhecimento jurídico tem se mostrado um dos mais re-
levantes e controversos temas em Filosofia do Direito. Este tema, dada a generalidade pertinente a
uma teoria do conhecimento, é dimensionando na perspectiva de THEODOR VIEHWEG que, em
“Tópica e Jurisprudência” e em “Tópica e Filosofia do Direito”, resgata aspectos do pensamento
jurídico que, até então, haviam ficado, por séculos, à margem da cientificidade da ciência jurídica.
Theodor Viehweg retoma a questão do método jurídico à luz da experiência grega e romana, com a
tópica aristotélica e a tópica ciceroniana, respectivamente, e, paralela à exigência de convergência
entre estabilidade e flexibilidade a partir da antinomia entre dogmática e zetética, agrega a proposta
de conciliação, de Gian Battista Vico, entre o método antigo (retórico ou tópica) e o método mo-
derno (crítico cartesiano) como uma condição indispensável para a perfeita utilização do método
crítico cartesiano. A partir de então e dadas as tessituras da contemporaneidade, busca atualizar o
método jurídico com os instrumentos contemporâneos da lógica, da teoria da comunicação e da lin-
güística. Entre muitos, THEODOR VIEHWEG, a partir da década de 50, estabeleceu as bases para
uma teoria da argumentação jurídica contemporânea. No entanto, não há uma só abordagem que
tenha por objetivo incursões mais aprofundadas no campo da lógica, da teoria da comunicação e
da lingüística, ou seja, ao que CHARLES SANDERS PEIRCE passou a chamar de lógica abdutiva
que, junto com a lógica de dedutiva e com a lógica indutiva, corresponde à semântica de Charles
Morris, cuja teoria é citada por Theodor Viehweg. E se a lógica abdutiva é invenção ou criação
e, portanto, correspondente á poética aristotélica poder-se-á afirmar que o raciocínio jurídico é a
consideração possível de um todo que abrange quatro partes diversas desde a sugestão poética até
a demonstração rigorosa e apodítica em uma escala de credibilidade, ou seja, trata-se do princípio
da sucessão dos discursos apodítico, dialético, retórico e poiético que, na perspectiva da unidade do
diverso, fundamenta a teoria da argumentação em Theodor Viehweg. Ou seja, uma coisa qualquer
na ótica do pensamento jurídico é como que por um buraco de fechadura se pretendesse descrever
todo o cômodo do outro lado da porta como o mundo inteiro.
Palavras-chave: Jurisprudência. Filosofia do direito. Lógica abdutiva. Conhecimento jurídico. Te-
oria do conhecimento. Apodítica. Dialética. Retórica. Poiética.
Abstract: The determination of the nature of juridical knowledge became one of the most relevant
and controversial themes in law philosophical theory. This theme, due the pertinent generality to the
knowledge theory, is shaped in THEODOR VIEHWEG’s perspective that in “Topic and Jurispru-
dence” and “Topic and Law Philosophy” remembers aspects of the legal thought that, until then, had
* Mestre em Direito Internacional e Comunitário pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; Mestre em Teoria do
Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; Especialista em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais; Especialista em Direito Empresarial, Direito do Trabalho e Direito Processual pela Faculdade de Direito do
Oeste de Minas – FADOM, Minas Gerais; Professor de Filosofia do Direito, Metodologia da Pesquisa Jurídica, Direito Cons-
titucional, Direito Internacional e Relações Internacionais do Comércio na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais;
Coordenador de Monografia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais em Arcos; Professor de Técnica de Redação
e Argumentação Jurídica na Faculdade de Direito de Pedro Leopoldo, Minas Gerais.
been in the margin of concept of science of legal science for centuries. Theodor Viehweg takes again
the question of the legal method in the light of the Greek and Roman experience with the Aristotelian
and the Ciceronian topic respectively and parallel the requirement of convergence between stability
and flexibility from the antinomy between dogmatic and basic investigation (zetetic). He also adds the
proposal of conciliation of Gian Battista Vico between the old method (rhetorical or topic) and the mo-
dern method (critical Cartesian) as an indispensable condition for the perfect use of the Cartesian cri-
tical method. Since then, due to the peculiarity of the contemporary world, he searches to bring up to
date the legal method with the contemporary instruments of the logic, communication theory and the
linguistics. THEODOR VIEHWEG, among others, in the 50’s, established the bases for a theorie of
the contemporary legal argument. However, there isn’t any approach aiming to deepened incursions in
the field of logic, communication’s theory and linguistics, in other words, to CHARLES SANDERS
PEIRCE passed to name abductive logic together with deductive logic and with the inductive logic
corresponds to the semantics of Charles Morris, whose theory is cited by Theodor Viehweg. If the
are invention or creation and, therefore, correspondent to the Aristotelian poetic, it would be able to
affirm that the legal reasoning is the possible consideration of the sum of everything that encloses four
diverse parts since the poetical suggestion until the rigorous and apodictical demonstration in a credi-
bility scale, in other words, this concerning the principle of the succession of the speeches apodictical,
dialectic, rhetorical and poietical that, on the perspective of the unit of the diverse, bases the theory of
the argument in Theodor Viehweg. Thus, something regarding to the juridical aproach, it is like when
we see something through a key hole and intend to describe the entire place in the other room across
the door as it would be the world.
Key Words: Jurisprudence. Law philosophical theory. Abductive logic. Juridical knowledge.
Knowledge theory. Apodictical. Dialectic. Rhetorical. Poietical.
no direito, pois, assim como a tópica está 1. Da relação dialética entre Liberdade e
para a dogmática a zetética está para evi- Determinismo na guinada para a moder-
dência (demonstração; analítica). nidade: A morte do “ser” ou a desconsti-
Esta é a hipótese que pretendemos tuição do Cogito como base fundamental
provar no decorrer da investigação, ou para o dimensionamento da contempora-
seja, a natureza do conhecimento jurídico neidade ou pós-modernidade
é, essencialmente, ciência e prudência, e
A contemporaneidade (pós-moder-
isto, equivale dizer, é tanto razão teorética
nidade) ou mesmo a modernidade não po-
como é razão prática em Theodor Viehweg.
dem ser inteligidas na perspectiva da his-
E, as respectivas virtudes de cada uma des-
tória da filosofia, mas, sim, na perspectiva
sas partes da alma racional são as formas
da filosofia da história como proposto por
perfeitas com que se apreende a verdade
Blumenberg.1 Com a filosofia da história,
prática e a verdade teorética (Ética a Nicô-
Blumenberg recusa a secularização como
maco. 1139 b, 10). A ciência e a opinião,
hermenêutica daquilo que é modernidade
que compõem a racionalidade na perspec-
e, dada a incapacidade explicativa do an-
tiva da unidade do diverso, são o princípio
tigo sistema teológico, propõe a tese da
primeiro (dianoética) da ética, dimensão
reocupação, afirmando que se trata de uma
do direito. reocupação da função e não da substância
No entanto, não há uma só aborda- (que não tem identidade), a tomada da ra-
gem que tenha por objetivo incursões mais zão como projeto da modernidade, pois,
aprofundadas no campo da lógica, da te- não se trata de uma evolução e sim de uma
oria da comunicação e da lingüística, ou revolução2.
seja, ao que Charles Sanders Peirce pas- A secularização, como a ruptura en-
sou a chamar de lógica abdutiva que, junto tre a lei (ordem) e o ser (com um finalismo
com a lógica dedutiva e com a lógica indu- interno), não pode tomar a modernidade
tiva, corresponde à semântica de Charles como causa dessa ruptura, mas, sim, o
Morris, cuja teoria é citada por Theodor conceito de teologia cristã originária do
Viehweg. E se a lógica abdutiva é inven- nada ou criatio ex nihilo. Daí Blumenberg
ção ou criação e, portanto, correspondente afirmar não haver uma secularização3 da
à poética aristotélica poder-se-á afirmar escatologia4 e sim uma secularização pela
que o raciocínio jurídico é a consideração escatologia, ou seja, a morte do ser onto-
possível de um todo que abrange quatro lógico.
partes diversas desde a sugestão poética Se a razão é o grande projeto da mo-
até a demonstração rigorosa e apodítica em dernidade, ela o é no sentido cartesiano da
uma escala de credibilidade, ou seja, tra- dúvida metódica e/ou propedêutica. Não
ta-se do princípio da sucessão dos discur- se trata de duvidar por duvidar, mas, sim,
sos apodítico, dialético, retórico e poético do Self ou Cogito como estrutura de ra-
que, na perspectiva da unidade do diverso, cionalidade. É o Cogito como princípio de
fundamenta a teoria da argumentação em certeza, ou seja, eu penso e não posso du-
Theodor Viehweg que, a partir de então, vidar do meu próprio ato de pensar. Trata-
possibilita a cognição das eternas aporias se, ainda, do pensamento pensando, pois, o
e do caráter contraditório do pensamento sujeito empírico não pode ser a base para a
universal – a natureza da teoria constitu- universalidade. Nesta perspectiva, o Cogi-
cional do direito é, tão somente, uma pre- to descobre a autonomia do próprio Cogito
dicação. em contra-posição à heteronomia5. A auto-
nomia representa a ruptura com a raciona- cionismo imprime uma mudança paradig-
lidade antiga; é a lei de si para si mesmo mática pautada pelo pluralismo com tantas
em detrimento de uma dimensão teológica verdades quanto leitores. É o surgimento
em que Deus é o fundamento para a racio- da filosofia da linguagem, onde os jogos
nalidade. Nesta perspectiva podemos ob- de linguagem marcam a não possibilida-
servar que Descartes não chega à idéia de de de uma hermenêutica última. Trata-se
Deus pela revelação, mas, sim, pelo Cogito do retorno à poiética que, distinta da prá-
que é tão amplo e infinito que ele (finito) xis, traduz-se como techné ou arte sem a
não poderia ter criado. perspectiva de se chegar a dialética ou ao
Para se chegar ao Self como estru- apodítico, dada a não inserção da raciona-
tura de racionalidade e, por conseguinte, lidade como princípio primeiro para a ação
paradigma da modernidade, Blumenberg humana.6 A filosofia, então, não é uma ci-
firma as raízes ou origens do Self tanto na ência e sim uma figura de linguagem para
Grécia como na idade média. A ruptura retratar a realidade.
com a racionalidade antiga propicia a pro- Assim, o pensamento contemporâneo
posta do Self como um princípio de certeza é contrário à possibilidade de uma herme-
no próprio ato de pensar. No entanto, no nêutica da realidade ou de uma narrativa
próprio projeto do Self há a sua descons- dessa realidade, dada a perspectiva plura-
trução, ou seja, na perspectiva da filosofia lista da filosofia da linguagem. Se o Self,
da história, a história da subjetividade, do na modernidade, é e constitui, ele mesmo,
Self ou da consciência, só pode ser contada o paradigma da estrutura da racionalidade,
com a morte (negação e o fim) da própria o desconstrucionismo do Self, na pós-mo-
subjetividade, ou seja, se a síntese é uma dernidade ou contemporaneidade, acarreta
simbiose entre tese e antítese, a moderni- a perda de substancialidade e da autopre-
dade como síntese ou simbiose é originá- servação como estruturas da autonomia.
ria da racionalidade antiga como tese e da Na pós-modernidade, cada um (indi-
proposta do Self como princípio de certeza víduo) quer uma resposta específica a um
no próprio ato de pensar, esta última como projeto específico. A desconstituição do
antítese. Self propicia o surgimento, não do cristia-
Assim, passando de uma dialética nismo do medievo, mas, sim, de um mer-
entre determinismo heterônomo (tese) e cado religioso. O pensamento contempo-
liberdade (antítese) para uma liberdade em râneo ou pós-moderno questiona a ciência
que o determinismo é o germe determinan- e seu status privilegiado na modernidade.
te da desconstrução dessa liberdade (sín- Na pós-modernidade a consciência nada
tese ou simbiose), há a morte da própria mais é do que um termo técnico ou algo a
subjetividade. Trata-se, dado o raciocínio ser firmado.
e como veremos mais adiante, de um de- Assim, segundo DERRIDA, se o
terminismo absoluto quantitativo e não pensamento unívoco, que marca a mo-
mais qualitativo e, ainda, posteriormente, dernidade, é determinado pelo pensar que
de um indeterminismo ou acaso absoluto leva à lógica, daí à filosofia e à ciência que
que leva, necessariamente e em ambos os dá conta conceitual do ser (determinação
casos, à uma não-liberdade. conceitual de algo) ontológico (com domí-
E dada à ambivalência, se no projeto nio conceitual), é na pós-modernidade que
do Self há a desconstrução do próprio Self, ocorre a desconstituição desse ser com a
esse desconstitucionismo ou desconstru- conseqüente negação desse domínio con-
a trabalhar, não com qualidades, mas, sim, burguesia, são dimensionadas, inicialmen-
com quantidades que podem ser mensura- te, a partir das soluções radicais do no-
das. KOYRÉ fala em dessacralização do minalismo do séc. XIV. Esta perspectiva
espaço e, por conseguinte, um pressuposto nominalista culmina em uma interminável
para o mecanicismo e o determinismo de discussão que, segundo LIMA VAZ, aca-
Newton. A teoria da inércia em Newton bou degenerando no que se chamou de
coloca o cosmo como análogo à máquina. escolástica decadente que, por sua vez,
Mas, ainda, há a revolução da física marca a virada para a modernidade com a
quântica, do cálculo probabilístico, e, as- simbiose entre ciência e técnica, conver-
sim, de um determinismo absoluto ou la- gentes em uma metodologia com um cará-
placiano9, que leva necessariamente a uma ter mais rigoroso.
não liberdade, para um indeterminismo10 A convergência da ciência e da tec-
absoluto11 ou para um acaso absoluto no nicidade propicia um marco teórico para
qual não se pode prever nada. Em decor- a revolução científica em detrimento das
rência de não se poder prever nada, isto chamadas leituras instrumentalistas ou
nos leva, também, a uma não liberdade. perspectiva de uma simples evolução
A solução dada à questão está na de teorias e verdades até então aceitas.
relação dialética entre liberdade e de- A revolução científica é pautada pelo di-
terminismo. Uma dialética concebida a mensionamento mecânico do mundo e
partir do dimensionamento tese, antítese não mais pelo dimensionamento finalista
e síntese em uma infinita correlação, ou – uma perspectiva que atende os interesses
seja, para toda síntese, tomada como tese, das então chamadas revoluções burguesas.
haverá, necessariamente, uma antítese e, Já a perspectiva de uma leitura instrumen-
conseqüentemente, uma outra síntese ou talista atende os interesses daqueles que
simbiose. E, ainda, podemos inferir argu- pretendem a manutenção das verdades
mentativamente que, dado o pressuposto fundadas nas teorias finalistas e na concep-
da não-liberdade como conseqüência tanto ção de uma ordenação que Deus, em sua
do determinismo como do indeterminismo infinitude, dá a finitude do mundo.
absoluto, qual o princípio primeiro da ra- Dada a escolástica decadente deter-
cionalidade? Ou seja, se o determinismo e minando o contexto no qual estava inseri-
o indeterminismo absoluto são a justifica- do Copérnico, a identificação do realismo
tiva racional para a não-liberdade, qual a e do neoplatonismo atribuído a Copérni-
base fundamental para esta racionalidade? co é clara com a afirmação de que “fica
Nesta perspectiva, como poderá ser o ho- evidente que os cálculos que determinam
mem dado a não-liberdade? E articular a posições e movimentos dos corpos celes-
dialética entre o determinismo ou indeter- tes não são puros e simples instrumentos
minismo absoluto e a liberdade com uma úteis, mas muito mais elementos revela-
filosofia da linguagem, que dá lugar a uma dores daquelas estruturas ordenadas e
lógica modal, como a verdade em uma daquelas imutáveis simetrias impressas ao
linguagem e em um modelo oposto a uma mundo pelo Deus que geometriza.” (REA-
hermenêutica última e universal? LE; ANTISERI, 1990:220)
A amplitude e as exigências que se Se Galileu fundamenta em Deus os
apresentam à ciência, antes mesmo de se sentidos, discursos e intelecto como os
falar em atendimento das necessidades meios pelos quais “podemos chegar àque-
práticas dado o surgimento e ascensão da las conclusões naturais que podem ser ob-
gismo como forma perfeita do raciocínio, deve cortar a secção do inteligível” (...) “a
ou seja: considerado sob um ponto de vista alma, servindo-se, como se fossem ima-
apenas de coerência formal, sem se preo- gens, dos objetos que então eram imitados,
cupar com o conteúdo, se tem o silogismo é forçada a investigar a partir de hipóteses,
geral ou analítico; se considerar o conteúdo sem poder caminhar para o princípio, mas
de verdade de suas premissas ter-se-á, en- para a conclusão; ao passo que, na outra
tão, o silogismo científico ou demonstrati- parte, a que conduz ao princípio absoluto,
vo; se as premissas não forem verdadeiras, parte da hipótese, e, dispensando as ima-
mas verossímeis e prováveis, o silogismo gens que havia no outro, faz caminho só
é dialético e, se forem as premissas ambí- com o auxílio das idéias” (...) “aqueles que
guas e enganadoras, que na aparência pa- se ocupam da geometria, da aritmética e
recem verdadeiras, o silogismo é erístico, ciências desse gênero, admitem o par e o
isto é, retórico ou poético. ímpar, as figuras, três espécies de ângulos,
Na fase do platonismo, os conceitos e outras doutrinas irmãs destas, segundo o
dogmáticos e as opiniões irredutíveis dei- campo de cada um. Estas coisas dão-nas
xavam de ser o norte para aqueles que se por sabidas, e, quando as usam como hipó-
propunham à busca da verdade, fundada na teses, não acham que ainda seja necessário
maiêutica como tradição socrática, em que prestar constas disto a si mesmos nem aos
princípios e teorias eram partilhados e o outros, uma vez que são evidentes para to-
argumento de autoridade era descartado e, dos. E, partindo daí e analisando todas as
em razão da maiêutica, a independência e o fases, e tirando as conseqüências, atingem
amadurecimento intelectual de Aristóteles o ponto a cuja investigação se tinham aba-
era determinado, também, pela denomina- lançado”. (ARISTÓTELES.REPÚBLICA.
da metáfora da linha, ou seja, um diagra- 509 d até 510 d)
ma que, exposto por Platão na República15, Para a compreensão sintética dos as-
designa a gnoseologia platônica. pectos, até então apresentados, da filosofia
A metáfora da linha consiste em: aristotélica é preciso compreender a base
“uma linha cortada em duas partes fundamental que representa a metáfora da
desiguais; cortada novamente cada um dos linha no pensamento aristotélico. Assim,
segmentos segundo a mesma proporção, o Aristóteles tomando como ponto de partida
da espécie visível e o da inteligível; e ob- ou princípio primeiro a unidade do diver-
terás, no mundo visível, segundo a sua cla- so, cujo fundamento, para ele, se encontra
ridade ou obscuridade relativa, uma sec- na contemplação dos organismos vivos,
ção, a das imagens. Chamo imagens, em e, por conseguinte, afirmando que não é
primeiro lugar, às sombras; seguidamente, o conhecimento que segue os modelos da
aos reflexos nas águas, e àqueles que se linguagem, mas, sim, esta que se apresenta
formam em todos os corpos compactos, segundo àquele, procura resolver
lisos e brilhantes, e a tudo o mais que for “todos os problemas que depara:
do mesmo gênero” (...) “a outra secção, da desde os problemas do método (como as
qual esta era imagem, a que nos abrange a famosas resoluções dialéticas segundo as
nós, seres vivos, e a todas as plantas e toda diferentes acepções de uma mesma pala-
a espécie de artefactos” (...) “o visível se vra) até os da física (segundo os diferentes
divide no que é verdadeiro e no que não pontos de vista por que se pode enfocar,
o é, e que, tal como a opinião está para o por exemplo, a alma), e até as questões
saber, assim está a imagem para o mode- supremas da metafísica”(CARVALHO.
lo” (...) “examina agora de que maneira se 1996. P. 129)
Como já visto, se só são suscetíveis os objetos que Aristóteles designa aos qua-
de conhecimento científico os objetos ne- tro discursos, não desqualifica a metáfora
cessários, invariáveis e que, portanto, não da linha como a base fundamental para a
podem ser de outra maneira, estando os filosofia aristotélica, embora tenha Aristó-
acidentes e as individualidades sujeitos a teles, na superação do platonismo e a partir
variações, ao contrário, fora do conheci- das críticas aos sofistas, restaurado o valor
mento científico e de qualquer possibilida- da opinião e a sua desvinculação do arqué-
de de demonstração apodíctica, nos depa- tipo da mera arbitrariedade. A assimetria
ramos com a afirmação de irredutibilidade acima indicada é, então, entendida como:
do individual ao geral. uma exata correspondência no quadro es-
Assim, a unidade do diverso como quemático16 da metáfora da linha, ou seja,
pressuposto para a irredutibilidade do in- “se as imagens são o objeto do discurso
dividual ao geral só é inteligida a partir da poético, os entes vivos não são objetos do
metáfora da linha como base fundamental discurso retórico”, pois, na concepção aris-
para a unidade do certo (apodíctico), do totélica, o são do dialético como “método
provável (dialético), do verossímil (retóri- próprio da física”; “os entes matemáticos,
co) e do possível (poético) como discursos, por sua vez, são para Aristóteles objetos
guardadas as diferenças enquanto modali-
de demonstração apodíctica” e não do dis-
dades destes mesmos discursos. Dada a
curso dialético; por fim, na seqüência de
abstração da metáfora da linha e de um
uma análise ascendente no referido quadro
quadro esquemático a ela relacionado e ar-
esquemático da metáfora da linha, os prin-
ticulado por Sócrates em “A República”,
cípios supremos ou primeiros “não são,
o professor OLAVO DA CARVALHO ex-
no sistema aristotélico, objetos de discur-
põe que:
so nenhum”, pois, o são de um “conheci-
“Na extrema esquerda e de baixo para
cima a primeira coluna diz doxa (opinião) mento intuitivo auto-evidente”, como, por
e epistéme (ciência), isto é, a modalidade exemplo, a unidade dos diversos, ao qual
inferior e a superior de conhecimento. Na se chega, pela lógica abdutiva ao discurso
extrema direita, os objetos respectivos des- dialético. (CARVALHO. 1996. P. 132).
sas modalidades de conhecimento: doxasta Daí podermos, então, afirmar que en-
e noeta. Nas colunas do meio, à esquerda tre uma lei geral e um fato particular não
aparecem as faculdades cognitivas, duas pode haver uma relação somente dedutiva,
da opinião (eikasia ou faculdade imagina- dadas as peculiaridades próprias de cada
tiva; pistis, ou faculdade de crer), duas da fato em particular. A dedução só se justi-
ciência (dianoia ou pensamento; noesis ou, fica se ambos, uma lei geral e um fato par-
digamos assim para abreviar, intuição in- ticular, forem essencialmente iguais, ou se
telectual), formando uma escala ascenden- o fato particular for uma parte da lei geral.
te. À direita, os objetos de conhecimento No entanto, entre o fato e a lei não há uma
correspondentes a essas faculdades: eiko- relação de pertinência, dada as particula-
nes ou imagens; zoa ou entidades vivas e ridades que escapam ao âmbito de abran-
moventes; mathematika ou entidades ma- gência da lei que só aponta as característi-
temáticas; e, por fim, arkhai, princípios ou cas gerais do fato.
modelos supremos”(CARVALHO. 1996. Se entre uma lei geral e um fato par-
P. 130/131). ticular não pode haver uma relação somen-
A não simetria exata entre os objetos te dedutiva, dada as peculiaridades pró-
que Platão designa às quatro faculdades e prias de cada fato em particular, é porque
viamente dado, mais ou menos explícito e Se todo problema exige uma solu-
mais ou menos abrangente, a partir do qual ção, pois, do contrário, não se configu-
se infere uma resposta. Se a este conjun- raria como uma aporia, a diferença entre
to de deduções chamamos sistema, então pensamento problemático e pensamento
podemos dizer, de um modo mais breve, sistemático só ganha clareza, segundo
que, para encontrar uma solução, problema MANUEL ATIENZA, a partir da inteli-
se ordena dentro de um sistema”(Viehweg, gibilidade de que a distinção reside em
1979: 34). uma questão, tão somente, de ênfase ou,
Se colocarmos, então, a ênfase no segundo VIEHWEG, acento. A resolução
sistema, que opera uma seleção de pro- do problema dar-se-á naturalmente através
blemas, os problemas insolúveis e não de um sistema que lhe servirá como ajuda.
selecionados serão desprezados como Assim, segundo MANUEL ATIENZA,
meros problemas aparentes. No entanto, “todo pensamento - toda disciplina
ao contrário, se colocarmos a ênfase no – surge a partir de problemas e dá lugar a
problema, cujo caráter permanece sempre algum tipo de sistema, mas a ênfase pode
confirmado, resultará em uma seleção de recair em um ou outro elemento. Se a ên-
sistemas. fase é posta no sistema, então este realiza
Assim, essa noção de problema se uma seleção dos problemas e, assim, os
contrapõe à de sistema, e VIEHWEG, na que não recaem sob ele são afastados e fi-
esteira de Nicolai Hartmann, distingue cam simplesmente sem ser resolvidos. Se,
pensamento problemático ou aporético e pelo contrário, a ênfase é posta no proble-
pensamento sistemático, ou seja: ma, então se trata de buscar um sistema que
“O modo de pensar sistemático pro- ajude a encontrar a solução; o problema
cede do todo. A concepção é nele o princi- leva assim a uma seleção de sistemas e em
pal e permanece sempre como o dominan- geral a uma pluralidade de sistemas; aqui
te. Não há que buscar um ponto de vista. O se trataria, portanto, de algo assim como
ponto de vista está adotado desde o princí- um sistema aberto no qual o ponto de vis-
pio. E a partir dele se selecionam os proble- ta não é adotado de antemão”(ATIENZA.
mas. Os conteúdos do problema que não se 2000. P. 67).
conciliam com o ponto de vista são rejeita- Se os raciocínios jurídicos tomam
dos. São considerados como uma questão como objeto os problemas práticos, a ên-
falsamente colocada. Decide-se previa- fase deve ser dada ao pensamento proble-
mente não sobre a solução dos problemas, mático e não ao pensamento sistemático,
mas sim sobre os limites dentro dos quais e, nesta perspectiva, VIEHWEG não nega
a solução pode mover-se (...) O modo de a existência de um sistema no qual o pro-
pensar aporético procede em tudo ao con- blema possa buscar uma solução, mas, sim
trário. A isto se acrescenta uma série de e tão somente, a possibilidade de conhecer
considerações, que termina com a seguinte previamente aquele sistema. A alternativa
frase: (O modo de pensar aporético) não é, então, proceder de um modo em que se
põe em dúvida que o sistema exista e que vai
para sua própria maneira de pensar talvez “rodeando o problema, mais de uma
seja latentemente o determinante. Tem cer- vez; ir iluminando as várias facetas ou ver-
teza do seu sistema, ainda que não chegue tentes do problema, ir ponderando, sope-
a ter dele uma concepção”(HARTMANN sando, apreciando, estimando os diversos
apud VIEHWEG. 1979. P. 35). componentes e as várias dimensões que no
a admissibilidade das decisões non liquet; A Tópica, como objeto desta investi-
conseguir uma ininterrupta intervenção gação, evidencia o raciocínio dialético que
de um legislador, que trabalhe com uma se caracteriza partindo de proposições con-
exatidão sistemática (ou calculadora) forme as opiniões geralmente aceitas. A
para tornar solúveis os novos casos que Tópica ou raciocínio dialético se diferen-
surgem como insolúveis, sem perturbar a cia do raciocínio apodíctico, que se carac-
perfeição lógica do sistema (ou cálculo” teriza partindo de proposições verdadeiras,
.(VIEHWEG. 1979. P. 84). e do raciocínio erístico, que se caracteriza
A referida interpretação, aplicação e por partir de opiniões que parecem ser ge-
o uso da linguagem natural são designados ralmente aceitas, quando realmente não o
como sendo três modos de irrupção da tópi- são, ou seja, quando a natureza da falácia
ca em um sistema jurídico lógico-dedutivo. é de uma evidência imediata ou de fácil
Assim, se o pensamento interpretativo se apreensão.
move no estilo da tópica e se o ordenamento O raciocínio dialético prima pela
jurídico está submetido a constantes modifi- índole de suas premissas, pelas opiniões
cações temporais, a interpretação e, portan- geralmente aceitas, acreditadas e verossí-
to, também a tópica tornam-se penetrantes. meis, pois são proposições que parecem
A aplicação, que eventualmente pode con- ser verdadeiras a todos ou à maior parte ou
servar a perfeição de um sistema jurídico aos filósofos, sábios, notáveis ou eminen-
lógico-dedutivo, se depara com uma quan- tes. Assim, as demonstrações da ciência
tidade indeterminada de casos que não se são apodícticas ao passo que as argumen-
pode solucionar dentro do dito sistema, o tações retóricas são dialéticas. Esta última
que só é possível, segundo VIEHWEG, a se apresenta como uma arte de trabalhar
partir “de uma interpretação adequada que com opiniões postas e, dada a perspectiva
modifique o sistema através de uma exten- de persuasão e um procedimento crítico, é
são, redução, comparação, síntese, etc.”. instaurado entre elas um diálogo ou con-
No só uso da linguagem natural se apreende frontação ou disputa, mas não no sentido
a unificação de “uma pletora quase ilimi- contencioso ou erístico.
tada de horizontes de entendimentos, que
variam continuamente” e, por conseguinte, 2.2 Aristóteles, Theodor Viehweg e o prin-
a flexibilização na busca de novos pontos de cípio da sucessão dos discursos apodíctico,
vista que, por si só, denota a maneira tópica. dialético, retórico e poético, na perspectiva
(VIEHWEG. 1979. P. 81/82) da unidade do diverso
Segundo VIEHWEG, se “para um
observador desprevenido”, ou seja, para Da inteligibilidade da teoria de THE-
o observador desprovido de resistência a ODOR VIEHWEG, destacam-se duas di-
algo que possa abalar a segurança prove- retrizes que convergem como perspectiva
niente de um sistema jurídico lógico-dedu- crítica e como perspectiva construtiva,
tivo, “o quadro estrutural não se modifi- ambas com fundamento na lingüística. Na
cou de um modo básico, em comparação perspectiva crítica, a tópica de Viehweg
com o dos tempos pré-sistemáticos.”, este toma como pressuposto a crítica ao logi-
poderá “ver reafirmada a mesma techné cismo jurídico, à lógica formal aplicada ao
que através dos séculos foi cultivada de raciocínio jurídico ou, simplesmente, à te-
modo manifesto e reconhecido em estrei- oria do silogismo jurídico. Na perspectiva
ta conexão com a retórica.”. (VIEHWEG. construtiva com fundamento na lingüísti-
1979. P. 83) ca, a teoria de argumentação dialético-re-
acional, dialética e moderna e outro pen- acional, mas, se o ponto de partida for a
samento ou argumentação não situacional, sintaxe teremos o pensamento não situa-
restrita e dedutiva, com o objetivo de tor- cional. Daí, podemos afirmar que a argu-
nar compreensível a argumentação, como mentação retórica coincide com o pensa-
um todo, desde a situação do discurso, mento situacional, dialético e moderno, e,
THEODOR VIEHWEG, busca tornar in- portanto, com a pragmática, pois esta é o
teligível as fórmulas conceituais modernas ponto de partida. A argumentação retórica
da referida semiótica e seus aspectos sintá- é a inversão da seqüência sintaxe, semânti-
tico, semântico e pragmático. ca e pragmática, acima apresentada.
Segundo THEODOR VIEHWEG, Começar com a pragmática significa
sobre estes aspectos da semiótica moder- não perder de vista a conexão da argumen-
na, afirma que: tação em uma situação comunicativa, ou
“La sintaxis significa, pues, la cone- seja, o diálogo ou as ações lingüísticas. E,
xión de los signos entre si; la semántica, assim, se tem a concepção de uma funda-
la conexión entre signos y objetos cuya mentação completa que, determinada pela
designación se afirma, y la pragmática, el mencionada ação lingüística, se difere do
contexto situacional en el que los signos procedimento convencional ou do pensa-
son utilizados por los respectivos partici- mento não situacional, restritivo e deduti-
pantes. Se puede contatar que, en la práxis vo, que busca sua fundamentação em uma
de pensamiento hoy habitual, el aspecto teoria axiomática, como um sistema de
sintático-semántico goza de preferencia. fundamentação dedutivo.
Se entiende la sintaxis con la ayuda de THEODOR VIEHWEG, sobre as
la semántica, mientras que la pragmática peculiaridades dos aspectos da semiótica
funciona sólo como ayuda de emergen- moderna, afirma que:
cia, para corregir algunas imprecisiones “es obvio que la retórica ha tenido
que puedan haber quedado”(VIEHWEG. siempre primordialmente en mira la men-
1991. P. 177). cionada pragmática y también es fácil de
O modelo de pensamento que toma comprender que el nuevo interés en la re-
tanto a sintaxes como esta entendida com tórica há vuelto a concentrarse en esta pers-
a ajuda da semântica, como isoladas em pectiva. La consecuencia de ello es que la
um âmbito independente, recorrendo à serie convencional de reflexiones indicada
pragmática só como ajuda e se obrigado, más arriba es ahora invertida; éste es un
supõe, nesta exata seqüência, somente que cambio de fundamental importancia. Pues
a rigidez do pensamento diminui. Então, se ahora se vuelve a intentar, con nuevos me-
a pragmática é o campo da menor rigidez dios, reflexionar sobre la situación pragmá-
de pensamento e, portanto, retórico, a ar- tica, de la que procede el discurso, como
gumentação jurídica também o é, por per- situación inicial, a fin de volver compren-
tencer à este campo da menor rigidez. sible desde ella todos los demás resultados
No entanto, o pensamento situa- del pensamiento. Se remiten, pues, todos
cional, dialético e moderno, bem como o los produtos del pensamiento a su origen si-
pensamento não situacional, restritivo e tuacional para, desde allí, aclararlos nueva-
dedutivo, só são assim caracterizados por mente. Si a una tal forma de pensar – que se
indicarem o ponto de partida a partir da se- mueve dentro de la situación pragmática del
qüência relativa aos aspectos da semiótica discurso – se la llama situacional y a la que
moderna, ou seja, se o ponto de partida for no toma en cuenta la situación del discurso,
a pragmática teremos o pensamento situ- no situacional”(VIEHWEG. P. 177).
feijões são brancos. Logo, todos os feijões zos perceptivos, como já mencionado, um
daquela saca são brancos. (Indução); To- caso extremo de lógica abdutiva, pois, não
dos os feijões daquela saca são brancos. se limitam a ser um mero dado.
Esses feijões são brancos. Logo, esses fei- Segundo a professora THEREZA
jões são daquela saca (Abdução) (PINTO. CALVET DE MAGALHÃES sobre a
1995. P. 13/14). uberdade da abdução:
A partir do exemplo dado acima e se- “Para Peirce, essa interpretatividade
gundo o professor JÚLIO PINTO, se pode do juízo perceptivo é apenas ‘o caso extre-
observar que: mo dos Juízos Abdutivos’. Os nossos juí-
“a abdução compartilha com a de- zos perceptivos – as primeira premissas de
dução o fato de ter a regra geral como todo pensamento crítico e controlado – são
premissa inicial (todos os feijões, etc). um caso extremo das inferências abduti-
Entretanto, como a indução ela arrisca um vas, das quais diferem por estar absolu-
palpite que pode dar errado. Olhada desta tamente além de toda crítica (‘A sugestão
maneira, a abdução está, portanto, entre a abdutiva advém-nos como num lampejo. É
indução e a abdução. Contudo, ela difere um ato de insight, embora ... extremamen-
das duas também pela maior possibilidade te falível’).” (...) “Os nossos juízos percep-
de erro implícita na hipótese que ela lança, tivos são as primeiras premissas de todo
porque é fácil perceber como tanto a in- pensamento crítico e controlado e ocupam,
dução quanto a dedução estão baseadas na assim, um lugar privilegiado na ordem da
experiência.” (...) “Dos tipos possíveis de investigação. O processo da investigação é
inferência, portanto, a abdução constitui o considerado por Peirce como um proces-
único que se projeta para o futuro, já que so de raciocínio, que vai da abdução, via
tanto a dedução quanto a indução dizem do dedução, à indução, e cujo objetivo é o de
passado, do já conhecido, na medida em estabelecer uma crença verdadeira. A ab-
que se referem à experiência. Como pal- dução – o primeiro estágio da investigação
pites, os processos abdutivos podem levar – consiste na invenção, seleção e conside-
a erros, mas a falibilidade de uma hipótese ração de uma hipótese. Na medida em que
não quer dizer que a abdução seja um pro- é ‘o processo de formação de uma hipótese
cesso de ensaio e erro. Fundamentalmente, explanatória’, a abdução ‘é a única opera-
o que acontece é que uma hipótese é for- ção lógica que introduz uma idéia nova’.
mulada com base na experiência, através Esta forma de argumento não oferece se-
da escolha de um interpretante logicamen- gurança (a segurança quanto à sua verdade
te possível para os signos que se oferecem é baixa), mas sua uberdade (ou o seu valor
à observação” (PINTO. 1995. P. 13/14). em produtividade) é alta; a abdução ‘sim-
Assim, podemos inferir que a lógica plesmente sugere que alguma coisa pode
abdutiva é um descobrimento, uma cria- ser’” (MAGALHÃES. 1998. P. 75).
ção ou uma invenção bem fundamentada Assim, podemos afirmar que, o
acerca de uma semiose qualquer, possibi- que é ausente na teoria de THEODOR
litando, a partir da relação do signo com VIEHWEG, ao considerar a pragmática e
o objeto, a produção de um interpretante a dialógica como lógica operativa que for-
e, dada a infinitude do processo, um repre- mula a correção e a conclusão das inferên-
sentante que é outro signo (objeto percep- cias dentro da situação discursiva, é a re-
tível pelo receptor) que produz um outro ferência à lógica abdutiva como elemento
interpretante e assim por diante. E os juí- de conexão entre a argumentação primária
uma proposição que até o momento era mática, a lógica e a retórica. Daí a relação
inquestionável ou declarar inquestionável de reciprocidade e convergência entre re-
uma proposição que até o momento era tórica e pragmática e, por conseguinte, o
questionável; trata-se da desdogmatização alcance da lógica abdutiva como elemento
e da dogmatização, respecitvamente. de conexão entre retórica e lógica ou entre
E, dada a importância desse aparato pragmática e semântica, e como inferência
investigativo crítico-lingüístico, é que, re- hipotética é uma lógica da descoberta, da
correndo a CHARLES SANDERS PEIR- invenção ou da criação.
CE e CHARLES MORRIS, podemos in- A lógica abdutiva designa a devolu-
teligir a uberdade da lógica abdutiva como ção da lógica ao contesto retórico no qual
intrínseca à uma consideração possível de foi originada e, neste sentido, é que pode-
um todo que possa abranger quatro partes mos inteligir uma convergência com a filo-
diversas desde a sugestão poética até a de- sofia aristotélica na consideração possível
monstração rigorosa e apodítica em uma de um todo que possa abranger quatro par-
escala de credibilidade, ou seja, o princí- tes diversas desde a sugestão poética até a
pio da sucessão dos discursos apodíctico, demonstração rigorosa e apodítica em uma
dialético, retórico e poético, na perspec- escala de credibilidade.
tiva da unidade do diverso ou discurso, De tudo, pudemos identificar que,
e como fundamentação de uma teoria re- o que é ausente na teoria de THEODOR
tórica da argumentação em THEODOR VIEHWEG, ao considerar a pragmática e
VIEHWEG. a dialógica como lógica operativa que for-
Assim, uma reflexão semiótica, de- mula a correção e a conclusão das inferên-
flagrada com a tópica de Theodor Viehweg, cias dentro da situação discursiva, é a re-
dada a relação de reciprocidade e conver- ferência à lógica abdutiva como elemento
gência entre retórica e pragmática lingü- de conexão entre a argumentação primária
ística, responde em todos os aspectos, a e argumentação secundária ou entre lógi-
práxis do pensamento ou da argumentação ca operativa e lógica apodítica ou, ainda,
primária na busca de uma fundamentação entre pragmática e o conjunto semântica e
completa que é determinada por ações lin- sintaxe, ou seja, a conexão entre a inven-
güísticas, e determina a possibilidade na ção comunicativa e os aspectos reflexivos
aspiração de renovados interesses e pontos que definem a dialógica.
de vista. E nesse sentido, vem atender as Assim, em princípio, podemos inferir
exigências da máxima justificação racional que a lógica abdutiva é um descobrimento,
à uma teoria constitucional do direito. uma criação ou uma invenção bem funda-
E, só o fato de Theodor Viehweg, mentada acerca de uma semiose qualquer,
para a inteligibilidade de uma fundamen- mesmo sendo esta semiose o raciocínio
tação completa e determinada por ações jurídico, pois, possibilita, a partir da rela-
lingüísticas, nos levar à uma reflexão se- ção do signo com o objeto, a produção de
miótica, cujos aspectos conceituais são a um interpretante ou uma decisão e, dada a
sintaxe, a semântica e a pragmática, na infinitude do processo, um parâmetro para
perspectiva de Charles Morris, nos possi- futuras decisões que é outro signo (obje-
bilita, dadas essas designações, chegarmos to perceptível pelo receptor), diferente do
à Charles Sanders Peirce e, por conseguin- primeiro, que produz um outro interpretan-
te, conhecer as designações conceituais te ou outra decisão e assim por diante. E
que deram origem àquelas, ou seja, a gra- nesse sentido é que podemos afirmar que
falarmos de uma coisa qualquer na ótica FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Direito, retórica
do pensamento jurídico é como que por e comunicação. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1997.
um buraco de fechadura se pretendesse FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução ao
descrever todo o cômodo do outro lado da estudo do direito. Técnica, decisão, dominação.
4º edição. São Paulo: Editora Atlas, 2003.
porta ou mesmo o mundo. E, neste sentido,
FILHO, Willis Santiago Guerra. Autopoiese do
só a indeterminação ou relativização dos direito na sociedade pós-moderna. Introdução
termos “teoria constitucional do direito” à uma teoria social sistêmica. Porto Alegre: Li-
possibilitaria a transcendência ou supera- vraria do advogado, 1997.
ção do buraco da fechadura ou predicações GARCIA AMADO, Juan Antonio. Tópica, de-
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conduzir a própria razão e procurar a verdade biológicas da compreensão humana. 2º Edição.
nas ciências. São Paulo: Editora Paulus, 2002. São Paulo: Editora Pala Athena. 2002
dição é dimensionado dentre duas proposições mine”) e rebate pela dialética. Quando quer de-
contrárias, ou seja, que uma delas seja a nega- monstrar, por exemplo, que não há pluralidade
ção da outra e que uma delas deve ser falsa. Por das coisas, argumenta: se as coisas são plurali-
exemplo, dado um certo número natural “n” e dade (uma premissa pitagórica), elas devem ser
o dimensionamento dentre duas proposições te- grandes e pequenas. Pequenas a ponto de não
mos: o número “n” é par e o número “n” não é terem qualquer grandeza e grandes a ponto de
par, mas uma delas deve ser falsa. Em outros não serem infinitas. E sendo estas as premissas
termos, temos que proposições contrárias não para conhecer a pluralidade, nos deparamos
podem ser verdadeiras simultaneamente; uma com o que acaba por ser uma contradição, pois,
contradição, ou seja, uma proposição que é a a pluralidade implica divisibilidade. E se são as
conjunção de duas proposições contraditórias, coisas, então, infinitamente divisíveis, de forma
como por exemplo o número “n” é par e o nú- que aquilo de que fazem parte é infinitamente
mero “n” não é par, não pode ser verdadeira. grande, logo: não pode haver pluralidade das
Aristóteles atribui a Zenão (490 A.C.) a dialé- coisas. Neste caso, a soma dos elementos em
tica, pois, a usa, pela primeira vez na história, grandeza não poderá dar qualquer coisa que te-
em defesa de seu mestre Parmênedis (540-470 nha uma grandeza (Por exemplo: dois mais dois
A.C.) que expõe uma filosofia diametralmente já não são quatro, dado o princípio de contradi-
oposta à de Heráclito (546-480 A.C.). Zenão ção, ou seja, 2+2 ≠ 4.).
formula a idéia de que uma coisa é, ou não é. 21
Os sofistas, que surgem no período de Pé-
Quanto ao vir-a-ser é de todo impossível, pois,
ricles, conhecem e dimensionam a dialética
não se pode dimensionar ou conceber uma mis-
como um “trunfo”, cujo objetivo é fazer com
tura de ser e não ser, ou seja, uma coisa que é
que seus discípulos vençam na vida política e
preta e vira branca, não é nem preta nem branca;
tomem conta do poder. A dialética não é mais
uma coisa, no caso, tem que ser preta ou branca.
um método em que se busca a verdade, mas
Assim, se pode inferir que a experiência parece
retórica e artística. Apenas uma habilidade em
indicar que tudo muda, mas, é um engano dos
sentidos; trata-se do campo da opinião que se se servir de argumentos aparentemente válidos
contenta com a aparência. Assim, entre opinião para iludir o adversário.
e verdade, o filósofo afirma que esta última não No entanto, à Sócrates (468 A.C.) coube o
pode ser se não una e imutável, pois, o ser é grande mérito de restabelecer a dialética, já
unidade e imobilidade. Zenão não se preocupa não tanto no sentido de uma dialética negativa
em provar uma tese, mas, sim, destruir a tese do como em Zenão, mas, como uma dialética po-
adversário. Esta dialética negativa só procura sitiva ou maiêutica, ou seja, criando um clima
demonstrar que a tese daquele com quem se ar- de cordialidade e dispondo o discípulo a aceitar
gumenta vai contra o princípio de contradição, um ponto de partida comum com o mestre, em
e, por isto, sua tese é absurda. Com o célebre vez de dar a resposta de uma vez , Sócrates fin-
paradoxo de Aquiles, Zenão ilustra bem o caso, ge desconhecer o que o discípulo lhe perguntou.
ou seja: perseguindo uma tartaruga, Aquiles A resposta de Sócrates é uma pergunta, o que
percorre uma infinidade de pontos que o separa leva o interlocutor, aos poucos, a descobrir, por
da tartaruga. Quando atinge o lugar de onde ela si mesmo, as verdades que indagou. Sócrates
havia partido, deve tornar a partir para atingir dá exemplos fáceis ao discípulo, obrigando-o a
o lugar onde ela está agora e assim por diante. um raciocínio que o leva do particular para o
Se ficarmos no mundo da razão, Aquiles nun- universal, ou seja, pela indução chega-se a uma
ca chegaria a apanhar a tartaruga. Entretanto, definição universal.
ele a alcança e, neste sentido, o movimento tal Platão (427 A.C.), discípulo de Sócrates,
como é demonstrado no mundo da experiência conservando, em parte, a arte do diálogo e da
é um absurdo. Zenão pouco se interessa pela discussão socrática, dimensiona, com a teoria
veracidade das premissas daquele com quem sobre as idéias, uma outra dialética que lhe é
argumenta, pois, certas ou erradas, o importan- própria, ou seja, pela dialética é possível que
te é que sejam admitidas. Zenão, então, parte certos homens ultrapassem o mundo das apa-
do mesmo ponto de vista (argumento “ad ho- rências. Mais especificamente, trata-se da alma
examinado. Já a segunda parte do método era a “o que de fato existe?” Tales afirma: “a água”.
construtiva, pela qual Sócrates procurava, atra- Anaxímenes: “o ar”. Anaximandro: “a maté-
vés da maiêutica ou dialética bem conduzida, ria informe”. Pitágoras: “o número”. Empédo-
levar seu interlocutor a uma aproximação da cles: “os quatro elementos”. E dado o exame da
verdade sobre o problema posto, qualquer que filosofia, Heráclito afirma que nenhuma respos-
seja ele. ta lhe satisfaz, pois, nenhuma atinge a solução
Neste sentido, as pesquisas, as oitivas e as dis- final da grande questão. Então, examinando a
putas praticadas por Aristóteles eram direcio- natureza, descobre um elemento que é comum
nadas, a partir das críticas aos sofistas, para a à todas as coisas: o vir-a-ser ou devir, ou seja,
restauração do valor da opinião e a sua desvin- o ser é essencialmente movimento, tudo flui e
culação do arquétipo da mera arbitrariedade. nada permanece. O vir-a-ser é a única realidade
Aristóteles distinguindo raciocínio dialético, universal, e tudo o mais é apenas aparência. A
raciocínio apodíctico e raciocínio erístico, es- inteligência deve penetrar o âmago das coisas
tabelece a dessemelhança entre verdade e opi- e perceber o que o ser não é e que não-ser é
nião; e restaura o valor da opinião que fundada não-ser.
no consenso, dada a persuasão e a crítica, é des- O vir-a-ser dos seres é devido a um conflito dos
vinculada do arquétipo da mera arbitrariedade. contrários, que se opõem e se mantêm entre si,
Mas o que é, essencialmente, a natureza do co- pois, todo o vir-a-ser está ligado a uma destas
nhecimento jurídico? vias que na realidade não passam de uma só. Os
23
Mesmo os catálogos de topói ou pontos de
contrários, como duas forças cósmicas antagô-
vista satisfazem “tão pouco nosso espírito sis-
nicas, seguem a gênese e as destruições perió-
temático que nos sentimos impelidos a fazer
dicas das coisas. Uma desagrega: a discórdia e
urgentemente o trabalho dedutivo-sistemático.
a guerra, que é a causa e origem da pluralidade;
Sentimos o desejo de começar a estabelecer, por
A outra agrega: a concórdia e a paz, que reduz
uma parte, uma série de conceitos fundamentais,
todas as coisas à unidade.
com o fim de obter definições em cadeia, e, por
outra parte, a fixar proposições centrais, com a O vir-a-ser é colocado entre os contrastes e são
finalidade de fazer deduções em cadeia ou algo justamente as oposições que formam a fonte
parecido ao que aprendemos no que se relacio- desta dinâmica que produz o movimento. Os
na com uma investigação de princípios. Com contrários são, pois, a coisa fecunda, cheia de
isto, não obstante, alteramos a peculiar função vida. E assim, é a sucessão das coisas que nos
dos topói. Desligamo-los progressivamente de deixa, então, apreciar os contrastes, ou seja,
sua orientação para o problema quando tiramos sem a doença não haveria saúde; sem o mal, o
conclusões extensas e absolutamente corretas. bem; sem a fome, a abundância; sem a fadiga,
E, finalmente, notamos que estas conclusões se o repouso; sem o escuro, o claro; etc. E assim,
encontram muito longe já da situação inicial e Heráclito pôde afirmar que todas as antíteses
são, apesar de sua correção, inadequadas, razão são só aparentes. TUDO É NADA E NADA É.
pela qual somos levados a afirmar que entre o 25
Na tópica, o ponto de partida ou consenso so-
sistema que havíamos projetado e o mundo do bre o exame de uma premissa é mais importante
problema, que apesar de tudo não perdeu nada do que o ponto de chegada ou decisão. Trata-
de sua problemática, se abriu uma notável fissu- se do consenso sobre o ponto de partida e, por
ra” (VIEHWEG. 1979. P. 39). conseguinte, a fundamentação da racionalidade
24
A história da nova dialética, a partir de He- para posterior decisão ou solução do problema.
gel, tem Heráclito (546 – 480 A.C.) e Aristó- A tópica coleciona pontos de vista e os reúne
teles (384 A.C.) como seus precursores e Karl em catálogos que, não estando organizados por
Marx (com a dialética da alternativa) como um um nexo dedutivo, são especialmente fáceis de
expoente contemporâneo desta nova dialética. serem ampliados e completados.
Esta linha da dialética busca seu fundamento 26
A Escola da Exegese francesa e a Pandectísti-
na síntese dos opostos e não mais no princípio ca alemã, já no século XIX e dada a axiomática
da contradição. Heráclito que buscando desco- na determinação do raciocínio sistemático-de-
brir a razão última das coisas serem, pergunta: dutivo, foram tentativas fracassadas de recha-
çar a tópica do Direito, mas, o espírito tanto pondente à tradição européia e iniciada por
sistematizante quanto tópico, já no século XX, SAUSSURE, e a Semiótica, correspondente à
culminou no normativismo de Hans Kelsen tradição anglo-saxónica e iniciada por CHAR-
que, contrariando os fracassos daqueles que o LES SANDERS PEIRCE. As duas palavras
antecedeu, teoriza o Direito como um sistema traduzem duas maneiras diferentes de enten-
fechado que, embora dinâmico, é uma ciência der a ciência dos signos, ou seja, como parte
avessa a quaisquer valorações ou considerações da psicologia social e geral para SAUSSURE
extra-lógicas. Daí se dizer que Hans Kelsen e como lógica para CHARLES SANDERS
afasta o político de sua teoria. Embora, nesse PEIRCE. (PEIRCE. 1977. P. 45/46 e NÖTH.
período tenham atravessado fases diversas, de 1998. P. 23/24)
apogeu e declínio, essas escolas podem ser ca- 30
Assim, se alguém acreditar que um determi-
racterizadas, em linhas gerais, por seu positivis- nado objeto é uma colher, então a utilizará para
mo legalista. levar alimentos à boca; mas, se for esse alguém
27
O topos ou fórmula, variável no tempo e no chinês, por exemplo, e acreditar que se trata de
espaço, dotado de força persuasiva, é usado mes- uma pazinha, a utilizará para tratar de flores.
mo nas argumentações não técnicas das discus- 31
O estabelecimento de uma ponte entre o mun-
sões cotidiana, como, por exemplo, o topos do do prático e o ideal. A opinião como uma pos-
tipo “a vontade da maioria decide”. Neste senti- sível verdade.
do, no direito, há o topos do interesse, legalida- 32
Segundo a professora THEREZA CALVET
de, legitimidade, soberania, direito individuais, DE MAGALHÃES, “uma teoria ‘semiótica’ do
autonomia da vontade, capacidade etc. conhecimento (essa teoria, segundo a qual todo
28
Esta distinção é necessária para uma análi- conhecimento é mediato, inferencial e articula-
se profunda do proposto princípio da sucessão do no tempo, envolve a rejeição não apenas de
dos discursos apodíctico, dialético, retórico e racionalismo cartesiano mas também do empi-
poético, na perspectiva da unidade do diverso, rismo inglês).” (MAGALHÃES. 1998. P. 72)
ou seja, da escala de credibilidade que, por sua 33
Ao contrário do que pretendia Descartes, a
vez, do possível ao verossímil, deste para o pro- clareza das idéias não resulta das idéias inatas,
vável e finalmente para o apodíctico, busca a mas da aplicação de uma máxima pragmatista,
demonstração, o certo ou o verdadeiro. Daí, a como formulada por CHARLES SANDERS
imersão no conhecimento científico e na teoria PEIRCE, ou seja, a idéia de um objeto é a idéia
aristotélica do silogismo. dos efeitos sensíveis que concebemos que esse
29
A semiótica moderna ou ciência dos signos objeto tem. A concepção de certos aspectos prá-
tem sua origem em duas diferentes vertentes ticos do objeto constitui a nossa concepção do
que, sintetizada, são a Semiologia, corres- objeto.