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Miranda 1
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Coordenação editorial
Cristian Fernandes
Revisão
Eliana Haddad e Izabel Vitusso
Projeto gráfico
André Stenico
Viagem de volta....................................................... 6
Os espíritos escrevem um livro.............................16
Mediunidade, território não mapeado.................. 19
Evangelho – o ‘código divino’................................23
O céu e o inferno.................................................. 26
A gênese – incursões pela ciência da época........28
A permanência e a transitoriedade...................... 29
Para concluir........................................................... 33
O autor....................................................................45
Herminio C. Miranda 5
VIAGEM DE VOLTA
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o que fez ele para identificar e separar com nitidez
o que teria de ser permanente, nuclear, inegociável,
em contraste com a transitoriedade característica e
necessária à dinâmica da evolução. Sem o que não
teria reservado espaço suficiente para acomodação
das imprevisíveis e imponderáveis surpresas do
futuro. No seu modo de ver, a doutrina teria de
estar preparada até mesmo para modificar-se
naquilo em que, porventura, viesse a chocar-se
com descobertas científicas e com novos aspectos
da verdade.
Essa corajosa atitude me impressionou fortemente
quando de minhas primeiras explorações em
O livro dos espíritos. O que, exatamente, significava
isso? – me perguntava. Entendia-se minha
perplexidade porque, na visão ignara do neófito,
a afirmativa me parecia algo temerária. Seria o
espiritismo um corpo amorfo e invertebrado de
ideias, pronto para modificar-se ao sabor dos
ventos e dos eventos?
Logo, porém, me rendi ao óbvio. Com aquela
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a origem dos tempos...” (Itálicos meus.)
Estamos lidando, portanto, com leis naturais, que
não exigem adesão em termos de fé ou crença;
tanto faz você crer como não, é desse modo que
elas operam. Ninguém se reencarna porque crê ou
morre porque não crê.
Não há, portanto, o que temer quanto à pureza e à
estabilidade das leis, elas são puras e estáveis.
Por outro lado, ao caracterizar a reencarnação
como dogma, Kardec a situa no centro mesmo
da realidade espiritual, componente aglutinador e
ordenador do sistema de ideias elaborado a partir
dos ensinamentos dos Espíritos. Se reencarnamos,
somos seres preexistentes e sobreviventes,
ficando sem espaço ideológico fantasias
como céu, inferno, purgatório, exclusividade
salvacionista, unicidade da vida e ressurreição
da carne. Além disso, destaca-se a inutilidade de
ritos, sacramentos, celebrações e intermediação
sacerdotal entre o ser humano e Deus. Em outras
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movimento gnóstico surgiu para tentar repor as
coisas nos seus devidos lugares. Fracassou, como
fracassariam outros impulsos restauradores: o
dos cátaros no Languedoc, entre os séculos 12 e
14, o idealismo de Francisco de Assis, também no
século 13, e a Reforma Protestante, no século 16,
para citar apenas os mais importantes.
O espiritismo retomou a tarefa no século 19 e seu
êxito ou malogro dependem, como sempre, de
nós. Léon Denis alerta em seu livro No invisível,
que “o espiritismo será o que o fizerem os
homens”. Atenção para a sutileza da advertência –
o ilustrado continuador de Kardec distingue, neste
ponto, doutrina espírita de espiritismo. Ele não diz
que a doutrina será o que dela fizermos, mas que
o espiritismo, sim, estaria exposto a deturpações
promovidas por nossa incúria e deformações
culturais e de caráter.
Temos sobre isso o fato de que, a despeito de
tudo, preservou-se a doutrina de comportamento
pregada e exemplificada pelo Cristo, ao passo que
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nasceu aberta para o futuro, mas é necessário
que o espiritismo se mantenha ligado ao que
ocorre à nossa volta, atento à sábia advertência de
Léon Denis.
Muito tenho meditado sobre tais aspectos e sobre
alguns deles alinhei umas tantas reflexões.
Por exemplo:
• Qual a leitura espiritual a ser feita do
autismo? Existe espaço na doutrina dos
espíritos para conceitos contemporâneos
como o do inconsciente?
• Que diferença – se é que há – pode ser
detectada entre alma e espírito?
• Que entendimento devemos ter do
fenômeno da personalidade múltipla?
• O que temos a dizer sobre as experiências de
quase morte?
• Que contribuições pode (e deve) a doutrina
das vidas sucessivas oferecer à psicologia?
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OS ESPÍRITOS
ESCREVEM UM LIVRO
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Na edição primitiva, temos o ensinamento espírita
direto, imediato, genuíno, espontâneo, puro de
origem e vivo como água de rocha, inteiramente
novo ou renovado para a época, dado por Espíritos
Prepostos através de médiuns inconscientes.
Este ensinamento era providencial e visava a “...
estabelecer os fundamentos da verdadeira doutrina
espírita, imune de erros e prejuízos.” (Destaque meu.)
Isso não quer dizer, obviamente, que os instrutores
espirituais tenham abandonado a tarefa logo
após concluído o texto inicial no qual ficaram
registrados os princípios fundamentais da doutrina
espírita. O codificador ficou com liberdade
suficiente para dar prosseguimento à parte que
lhe competia, mas, ainda e até o fim, assistido de
perto pelos seus amigos invisíveis.
A etapa seguinte começa, portanto, com a
elaboração da segunda edição de O livro dos
espíritos. E o codificador explica que razões o
levaram a essa decisão e que critérios adotou no
desenvolvimento de seu trabalho.
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Em mais de uma ocasião, ele expõe sua
opinião, oferece sugestões, mas adverte para a
possibilidade de opções e alternativas que só o
tempo seria capaz de definir com maior precisão.
Uma vez mais, é necessário lembrar:
ele não dogmatiza.
A mediunidade é um dos componentes do
bloco central da doutrina, mas ainda não se
sabe tudo sobre seus mecanismos operacionais.
A qualquer momento – até hoje é assim – ela
pode surpreender com aspectos inusitados de
difícil enquadramento num rígido esquema de
categorias preestabelecidas, que necessitam ser
mais trabalhadas pela observação atenta e pela
experiência. Isto é particularmente válido para a
interação mediunidade/animismo, por exemplo.
Demonstração explícita dessa postura,
encontramos, entre outras passagens, no Capítulo
VI, “Das manifestações visuais”, de O livro
dos médiuns.
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da verdade’; mas não apenas isso, deixa aberta a
questão a futuros estudos, contentando-se com
a satisfação de ter dado a sua contribuição, ainda
que incompleta, ao seu esclarecimento.”4
O livro dos médiuns saiu em 1861.
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qualquer espécie de discussão, muito menos de
contestação e, menos ainda, de reformulação.
Não se tratava mais do Deus bíblico,
antropomórfico, interferindo pessoalmente nos
menores detalhes da vida de cada um de nós, para
punir ou premiar. Em vez de tentar o incongruente
– uma ‘definição’ para a Divindade – a doutrina
dos espíritos, em suas palavras de abertura,
situava Deus como “... inteligência suprema, causa
primária de todas as coisas”. Significativamente,
Kardec não pergunta QUEM é Deus, mas QUE
é Deus.
É nesse momento que Kardec tem significativas
escolhas a fazer. Deixa de lado o que hoje
chamaríamos de biografia de Jesus – seus atos e
os milagres –, bem como o conteúdo profético
de algumas passagens evangélicas e os aspectos
que a Igreja tomou para montar suas estruturas
dogmáticas, para se fixar no ‘ensino moral’, que ele
caracteriza como um ‘código divino’, ponto pacífico
em torno do qual poderiam, eventualmente, reunir-
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O CÉU E O INFERNO
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A GÊNESE –
INCURSÕES PELA
CIÊNCIA DA ÉPOCA
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as leis naturais não são dogmáticas, são o que
são; existem.
A partir de O livro dos médiuns, Kardec passa a
explorar áreas de conhecimento que, a seu ver,
precisavam de uma leitura espírita, a fim de ampliar
as fronteiras da doutrina dos espíritos. Isto se
evidencia com clareza em títulos explícitos, como em
O evangelho segundo o espiritismo e em A gênese,
os milagres e as predições segundo o espiritismo.
Implicitamente, porém, está nessa mesma
categoria o próprio O livro dos médiuns, que trata
da mediunidade segundo o espiritismo, e o céu e o
inferno como visão espírita da realidade póstuma.
Atitude semelhante adotaram seus continuadores
imediatos – Gabriel Delanne, Léon Denis,
Alexandre Aksakof, Ernesto Bozzano, Paul Gibier,
Camille Flammarion e outros.
A tarefa continuaria, já em nosso tempo, com a
série André Luiz, que demonstrou mais uma vez
que se pode (e se deve) empreender esse tipo de
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espiritual, ou, no mínimo, menos reservadas.
É bom que se navegue pelos textos nos quais
Kardec enfrentou esse problema a seu tempo. Os
argumentos com os quais analisa as estruturas
teológicas e as práticas religiosas, as posições
materialistas continuam válidos e dignos de
atenção, pela simples razão de que, século e meio
depois, temos gente ainda falando em céu, inferno,
salvação, ressurreição, unicidade da vida e dogmas,
como se fossem intocáveis verdades eternas.
Gente que ainda não tomou conhecimento, não
se convenceu ou rejeita e até combate a realidade
espiritual na qual estamos todos inseridos.
Portanto, nada envelheceu nem se tornou
obsoleto na doutrina dos espíritos. Reiteramos:
ela não se fundamenta em especulações teóricas
e sim em leis naturais. Se alguma correção
ou modificação tiver de ser feita em aspectos
subsidiários e complementares, que se faça, sem
temores quanto à sua integridade. Kardec deixou-a
preparada para tal eventualidade.
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As ideias nucleares nela contidas não resultam
de especulações teóricas meramente intelectuais
mais ou menos ociosas; são expressão textual de
leis naturais, não impostas e nem colocadas como
objeto de fé ou crença – são pura e simplesmente
realidades cósmicas. É bom lembrar a esta altura,
que Paulo entendia a fé como antecipação do
conhecimento.6 Também recomendou que nos
ocupássemos das coisas invisíveis, que são eternas
e não das passageiras coisas visíveis.7 Estava certo
o grande pensador cristão do primeiro século.
Há, na verdade, a fé que crê e a que sabe. Como
lembrou Kardec, a fé tem que passar pelo teste da
racionalidade, diante da qual nada tem a perder;
ao contrário, tem tudo a ganhar em confiabilidade
e convicção.
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“Conhecereis a verdade – disse ele – e a verdade
vos libertará.”
A dicotomia permanência e transitoriedade impõe
um desafio que necessita ser definido com clareza,
a fim de ficar bem resolvida em nós a posição a
ser assumida. As leis são definitivas, acabadas,
irretocáveis, insuscetíveis de modificação ou
aperfeiçoamento; o conhecimento, não – ele
é móvel, progressivo, crescente e sujeito à
obsolescência em alguns de seus aspectos, a
fim de que se possa renovar e expandir-se. Tais
diretrizes foram claramente explicitadas pelas
entidades instrutoras quando anunciaram a Kardec
que ele teria de voltar em nova existência para dar
continuidade ao seu trabalho.
Voltar para quê, se viesse apenas para repetir o
que já dissera?
Não há o que temer, portanto, pela doutrina
espírita em si mesma e nos seus fundamentos
– eles são puros e estáveis. Deve-se temer, sim,
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Podemos alinhar alguns deles:
As ciências de radical psi, por exemplo –
psicologia, psiquiatria, psicanálise –, necessitam
de criativos e fecundos inputs já instalados
na doutrina, como existência, preexistência e
sobrevivência do ser à morte corporal e, por
conseguinte, reencarnação.
Em idênticas condições de expectativa estão os
ramos do conhecimento que trabalham com o ser
biológico/como a genética, em busca de melhor
entendimento de funções e disfunções orgânicas
e mentais. É inegável a falta que faz neste vetor
científico o conceito de perispírito na sua função
de organizador e administrador do corpo físico
no processo da interação espírito e matéria, bem
como na continuidade da vida após a morte.
Ao escrever isto, testemunhamos o grande debate
em torno do projeto genoma que conseguiu,
afinal, mapear o sistema genético. Persiste, no
entanto, a grande questão: o que fazer desse novo
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sanguíneas, ósseas ou musculares? E depois do
pronto o corpo, como ele se desenvolve, mantém-
se e se renova num contínuo processo de troca
com o ambiente em que vive?
E mais: demonstrada como está a sobrevivência
do ser à morte corporal – por mais que ainda se
relute em aceitá-la – como explicar a continuidade
do pensamento e da vida se o cérebro físico
se desintegra?
Preservar a doutrina dos espíritos é,
decididamente, nosso compromisso. O
espiritismo está apoiado nela e seus postulados
fundamentais estão documentados em O livro dos
espíritos. Temos nela um instrumento de busca,
aprendizado e alargamento de fronteiras, não uma
finalidade em si mesma.
O que desejamos ou pretendemos, afinal, fazer
do espiritismo?
Essa é uma das perguntas que a nós mesmos
podemos e devemos formular, num momento
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expressões das leis naturais e teve o bom senso de
deixar bem claro que nada de novo estava sendo
inventado para compor o corpo doutrinário que
lhe foi confiado. As leis naturais contidas na física
ou na astronomia foram confirmadas; o que nelas
não se enquadrava eram suposições e hipóteses e
foi superado.
A essência do conhecimento sobre a realidade
espiritual está à nossa disposição nas estruturas
doutrinárias, mas temos de entender que a busca
em torno desses preceitos nucleares não termina
com aquela etapa de trabalho; ao contrário,
começa ali.
Foi o que ele, Kardec, fez do espiritismo, como
também o fizeram seus continuadores imediatos
– Denis, Delanne, Aksakof, Bozzano, Geley – e
outros tantos que a estes sucederam ao longo de
quase século e meio.
E nós, o que estamos fazendo? E o que farão os
que vierem depois de nós? E o que faremos nós
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o sol, a pesca, as estações do ano.
Há que entender-se, portanto, que preservar a
doutrina dos espíritos é uma coisa – imobilizá-la
é outra. Ela precisa exercer sua função de irrigar
áreas cada vez mais amplas do conhecimento,
a fim de nos proporcionar uma leitura da
vida em toda a sua plenitude, segundo seus
postulados básicos.
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filosófico e técnico. Escreveu um romance inédito,
a despeito da opinião elogiosa de Érico Veríssimo, e
publicou outro chamado Resposta a Josué, em 1946.
Posteriormente, escreveu sua primeira obra
espírita, Os procuradores de Deus, um estudo
de natureza filosófica acerca do problema da
vida e da morte, lançado em março de 1967 pela
Edição Calvário.
Autor de mais de 40 livros, dentre eles diversos
clássicos obrigatórios da literatura espírita, como
Diálogo com as sombras, Diversidade dos carismas
e Nossos filhos são espíritos.
Dialogando por décadas com espíritos, suas obras
relatam vivências, fatos e casos reais, a exemplo
da singular coleção “Histórias que os espíritos
contaram”.
Originário de família católica, aproximou-se do
espiritismo por curiosidade, mas sobretudo pela
insatisfação com a falta de respostas das religiões.
Tendo por guias a razão e a paixão pela pesquisa
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O que desejamos
fazer do espiritismo?
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