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Para Meyer (2007), Breton (2003), dentre outros, deve-se distinguir Retórica de Argumentação. Grosso
modo,
1. A Retórica estaria mais associada às técnicas que levam mais à persuasão do que ao convencimento,
independente da legitimidade do raciocínio discursivamente (im)posto;
2. A Argumentação deveria ser pautada por critérios éticos, raciocínios legítimos, estando mais associada
ao convencimento do que à persuasão.
Para Reboul (2004), trata-se de uma distinção irrelevante no domínio retórico-argumentativo, pois persuadir
sem convencer recai, de alguma forma, no campo da violência. Como sempre, há controvérsias...
Seriam, então, tais fronteiras fantasiosas, utópicas, idealistas? Ou não?
Introdução às teorias sobre argumentação e retórica
Também devemos distinguir o domínio demonstrativo do domínio argumentativo.
1. O raciocínio demonstrativo pretende-se universal; trabalha com o necessário,
com saberes e raciocínios que devem se impor pela verdade de suas premissas
e conclusões. Para os estudiosos da área, consiste, especialmente, no domínio
das Ciências Exatas e Naturais corrente de pensamento cartesiana.
2. O raciocínio argumentativo pretende-se local; trabalha no domínio do
verossímil, com crenças e raciocínios embasados em valores e conhecimentos
partilhados e esperados. Para os estudiosos, consiste, especialmente, no
domínio das Ciências Humanas, das práticas cotidianas e de distintas esferas,
como o jornalismo, a publicidade, a religião, dentre outras.
Ou (COMBO: 1 + 2)
Paulo Maluf estudou na Poli.
Logo, ele é um bom engenheiro.
Dedução e Indução; Silogismo e Entimema
Silogismo: esquema de raciocínio dedutivo composto de três proposições -
duas premissas (a maior e a menor) e uma conclusão – e três termos – o maior,
o médio e o menor.
Silogismo – ou entimema? – (“da humildade”, claro!)
Todo professor da USP é um bom pesquisador. <Premissa Maior>
Paulo é professor da USP. <Premissa Menor>
Logo, Paulo é um bom pesquisador. <Conclusão>
E se...?
Todos professor da USP é um bom pesquisador.
Paulo é um bom pesquisador.
Logo, Paulo é professor da USP.
<Não rola. Fere a regra 3>
Dedução e Indução; Silogismo e Entimema
Silogismo: esquema de raciocínio dedutivo composto de três proposições - duas premissas (a maior
e a menor) e uma conclusão – e três termos – o maior, o médio e o menor.
Silogismo (“da humildade”, claro!)
Todo professor da USP é um bom pesquisador. <Premissa Maior>
Paulo é professor da USP. <Premissa Menor>
Logo, Paulo é um bom pesquisador. <Conclusão>
Garantia Refutação
(W) (R)
por conta de
Apoio
(B)
O modelo argumentativo de Stephen Toulmin
a. Dados (D): Os Dados consistem nos “fatos aos quais recorremos como fundamentos para a
alegação” (Toulmin, 2006: 140); em outros termos, trata-se de “declarações que especificam fatos
particulares sobre uma situação” (Toulmin, Rieke e Janik, 1984: 37), aceitas como verdadeiras por
determinados grupos sociais, constituindo-se, portanto, no ponto de partida para que uma
alegação seja proposta.
b. Alegação (C): Alegações podem ser definidas como “asserções apresentadas publicamente para a
aceitação geral”, o que implica “haver ‘razões’ subjacentes para que se possa mostrar que são
‘bem fundamentadas’ e, portanto, passíveis de ser aceitas de modo geral”.
c. Garantia (W): Garantias são proposições gerais que estabelecem raciocínios hipotéticos que
permitem legitimar o passo de D para C.
d. Apoio (B): Apoios são considerações de suporte, de caráter campo-dependente, que tornam
explícito o conjunto de experiências e de conhecimentos que nos permite confiar na garantia.
e. Refutação (R): Refutações são “tipos de circunstâncias excepcionais que, em casos específicos,
podem refutar as suposições criadas pela garantia” (Toulmin, 2006: 153). Entretanto, a Refutação
pode também se aplicar a outros componentes do modelo, como D e B. O que parece defini-la é a
possibilidade de minar a força do argumento como um todo, invalidando, parcial ou totalmente, a
Alegação.
f. Qualificação (Q): A Qualificação refere-se ao grau de comprometimento ou validação autoral
sobre a Alegação, tendo em vista a força de convencimento da garantia para estabelecer o vínculo
D-C.
Análise de Dados
César Tralli – O senhor concorda com o presidente Lula quando ele diz que o mensalão não existiu?
Fernando Haddad – Eu penso que o presidente Lula está fazendo referência a um aspecto que é a questão da coalizão da base aliada,
ele está fazendo referência a esse aspecto especificamente. Porque, na visão dele, não é razoável imaginar que um parlamentar do PT
precisasse receber recursos para votar com o governo. Essa é a consideração que ele faz.
Fonte: Entrevista concedida por Fernando Haddad, no jornal SPTV, transmitido pela Rede Globo (22.09.2012).
Endereço da página:
http://g1.globo.com/sao-paulo/eleicoes/2012/noticia/2012/09/fernando-haddad-do-pt-e-entrevistado-pelo-sptv.html
Análise de Dados – Sugestão de Análise
D1: W1: já que R: a menos que Q [C1]:
Membros do PT já <Membros da base Não é razoável/é
integram a coalizão aliada do governo improvável [que um
da base aliada do votam, via de parlamentar desse
governo regra, a favor partido precise receber
deste> recursos para votar a
favor do governo]
B1: por conta de <favorecer governabilidade, permanência no
poder, aprovação de projetos, etc.> : MCI/domínio POLÍTICA
D2 = C1: W2: já que R: a menos que Q [C2]:
É improvável que <Apenas membros Modalidade categórica
membros da base de partidos de vigente na pergunta de
aliada precisem oposição teriam CT. Notações:
receber recursos para razões para exigir [O mensalão não [ ] = conteúdo qualificado da
votar a favor do dinheiro para votar existiu]. alegação;
governo com o governo> < > = conteúdo implícito de
B2: por conta de <todo o conhecimento prévio que se tem qualquer elemento do modelo;
sobre a conjuntura política, alianças, dissensões e interesses Fonte Normal = formulado por CT;
partidários> : MCI/domínio POLÍTICA Itálico = formulado por FH.
Análise de Dados – exercícios
1. Não acredito que o rolezinho ameace o mundo idealizado dos shoppings. Mas hoje, infelizmente, uma aglomeração, mesmo legítima, com
mais de 50 pessoas, sofre com a infiltração de "black blocs", arruaceiros e pivetes. Então há de se preservar as instituições, o comércio e as
pessoas.
Fonte: Carta do leitor, Folha de S. Paulo, A3, 27 jan. 2014.
Por mais que nos solidarizemos com nossa juventude humilde que busca espaços para se relacionar e dar vazão ao seu amor e alegria, não é
possível apoiá-la nessa onda recente de "rolezinhos" marcados em shoppings centers e outros locais privados com destinação específica.
É triste a ausência de opção de lazer para nossos jovens de camadas mais pobres. No entanto, os "rolezinhos", tais como vêm sendo marcados,
atentam contra os direitos individuais e coletivos assegurados pela Constituição Federal.
Isso sem falar no direito também constitucionalmente garantido à propriedade e à livre iniciativa (arts. 1º, inc. IV, 5º, "caput" e 170). Daí
porque estão corretas as liminares concedidas pelo Judiciário aos shoppings - que estabeleceram multa aos participantes.
Endereço da página:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/147663-tais-como-sao-os-rolezinhos-atentam-contra-direitos-coletivos.shtml
3. Tralli: O senhor lançou o projeto da Nova Luz em 2005. Só que, de lá para cá, pouca coisa avançou. Alguns prédios foram demolidos, a
situação do crack ainda é muito preocupante, o consumo da droga se espalhou pela cidade. O projeto da Nova Luz fracassou?
Serra: Não. O projeto da Nova Luz não fracassou. O projeto da Nova Luz se revelou muito difícil, porque tem problemas legais, problemas legais
de aprovar lei, de mudança, porque é uma coisa muito radical que você tem que fazer lá. No final, eles chegaram a uma fórmula. Agora, outras
coisas andaram, por exemplo, a Praça Roosevelt já vai ser inaugurada. Então você tem uma desigualdade no andamento das coisas que às vezes
acontecem por questões burocráticas, legais, do Ministério Público, do Tribunal de Contas, etc., às vezes difíceis de serem mostradas. Mas o
importante é que se avançou muito no caso do bairro da Luz, já vai se chegar agora ao leilão e eu creio que, eu sendo eleito, na Prefeitura eu
vou poder entregar.
O ethos, o pathos e o logos – componentes retóricos (Meyer; Amossy; Maingueneau)
Para Meyer (2007: 25), “A Retórica é a negociação da diferença entre os indivíduos sobre uma questão dada”. Nesse
sentido, o autor examina os três componentes retóricos fundamentais – ethos, pathos e logos – a partir dessa concepção.
O ethos representa a imagem de si, o caráter, a personalidade, comportamento, as escolhas de vida e os fins do orador.
Nesse sentido, o orador é tomado como alguém que deve ser capaz de responder às perguntas que suscitam debate e que
são aquilo sobre o que negociamos.
A autoridade do orador é conferida pelas virtudes morais, pela boa conduta e pela confiança no orador. “O ethos é o ponto
final do questionamento” (MEYER, 2007: 35, itálicos do autor).
Meyer propõe pensar em dois ethé: um ethos efetivo, relativo ao que ele é para si mesmo, e um ethos projetivo, aquilo
que ele é para o auditório, um ethos imaginado pelo outro, ao qual ele se adapta. Assim, defende o autor, o bom orador é
aquele que, consciente dessa defasagem, consegue fazer coincidir o ethos projetivo no efetivo, criando a ilusão de que é
aquilo que o auditório acredita.
Ethos Adaptado de
Maingueneau (2011:
83).
Ethos pré-discursivo Ethos discursivo
Para maiores detalhes
sobre ethos, ler:
Ethos dito Ethos mostrado AMOSSY, Ruth (org.)
Imagens de si no
discurso: a construção
do ethos. São Paulo:
Estereótipos
Contexto, 2011.
O ethos, o pathos e o logos – componentes retóricos (Meyer; Amossy; Maingueneau)
Logos
O logos consiste na dimensão da esquematização e da construção da
argumentação propriamente dita, ou seja, dos tipos de raciocínio mobilizados
para a execução dos objetivos de convencimento e persuasão.
A partir de agora, o foco do curso estará no logos. Relações com o ethos e o
pathos serão tecidas quando pertinente.