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A descoberta freudiana da fantasia fundamental*

Palavras-chave: fantasia, clínica, neurose, realidade psíquica

Laureci Nunes

A fantasia fundamental, aspecto central da vida psíquica, orienta a clínica


psicanalítica de Freud à Lacan. Na clínica freudiana a construção, em análise, da
fantasia é o limite da cura enquanto que na clínica lacaniana a direção da cura está
demarcada pela sua travessia.
Tal como se deu em Lacan, a teoria em relação à fantasia sofreu ao longo da
obra de Freud constantes reformulações. Uma decisiva mudança de curso na
compreensão dos fatores correlacionados à etiologia da neurose foi responsável pelo
início do estabelecimento das relações entre sintomas neuróticos, fantasia e
sexualidade.
Nota-se esse redirecionamento numa carta dirigida a Fliess, em 1897, onde
Freud comenta que abandonou a tese da sedução por um adulto - a teoria do trauma-,
como principal evento relacionado à etiologia e desencadeamento da neurose. Nessa
oportunidade pronuncia a frase “não acredito mais em minha neurótica”(1) (referindo-
se a teoria das neuroses). Assim é que, mais tarde, num artigo escrito em 1905, “Meus
pontos de vista sobre o papel desempenhado pela sexualidade na etiologia das
neuroses”, assinala o que ele chamou de um dos seus mais importantes erros
primitivos, considerar como fato da realidade o que era produção fantasística: “O
material de que dispunha era ainda escasso, e foi por acaso que incluí um número
desproporcionadamente grande de casos em que a sedução sexual por um adulto ou
por outras crianças desempenhava o papel principal na história da infância do paciente.
Superestimei assim, a freqüência de tais acontecimentos (...) além disso, durante
aquele período, era incapaz de distinguir com certeza falsificações fabricadas por
histéricas em suas memórias da infância e na reconstituição de fatos reais. Desde
então aprendi a explicar várias fantasias de sedução como tentativas de afastar
lembranças da própria atividade sexual do paciente”(2).
Após publicado esse novo direcionamento teórico, verifica-se que suas
produções nos anos de 1907 e 1908 giram ao redor de questões referentes à relação
entre fantasia e realidade psíquica. A partir daí Freud estabelece uma relação causal
entre as fantasias e os sintomas, assim como coloca em série as fantasias
encontradas nos ataques histéricos e aquelas relacionadas aos delírios dos
paranóicos.
Na conferência de 1907, “Escritores criativos e devaneio”, Freud concluirá que
as fantasias dos adultos são correlatas ao brincar infantil; semelhança que estabelece
através dos seguintes pontos: ambos tem a função de alterar a realidade ao gosto de
quem a produz, a tal ponto de produzir prazer; representam realizações de desejos e,
nas duas atividades, o caráter de seriedade está presente - representado pelo grande
investimento libidinal, além do que neles está feita a separação entre a referida
produção e a realidade. Por outro lado, passa a estabelecer uma importante diferença,
que é o caráter de vergonha com que o adulto reveste suas fantasias, ao contrário da
criança que não esconde dos adultos os conteúdos e os objetos que estão presentes
em suas brincadeiras. Justifica esta diferença pelo fato de que de uma criança é
esperado brincar e que os conteúdos de tais brincadeiras sempre estão relacionados a
elementos do mundo dos adultos, o qual é apreciado e até esperado, na medida em
que ajuda as crianças a se desenvolverem. Do adulto, por outro lado, é esperado que
atue em sua realidade e que não se entregue aos seus desejos infantis, gênero que
corresponde ao principal de seu fantasiar, sendo a razão pela qual é necessário
ocultar a ocorrência de tal entrega, pois está submetida ao julgamento de que é infantil,
proibitivo e de que não acontece com mais ninguém além de si próprio.
Freud também acrescenta que o adulto deixa de brincar, não porque
abandonou as gratificações oriundas de tal fonte, mas sim que estas só são
abandonadas à medida em que foi encontrado um substituto à altura, pois um homem
nunca renuncia a uma gratificação obtida na realidade. Só trocando-a por outra: deixa
de brincar e em seu lugar fantasia.
Nesta época chamará as fantasias de sonhos diurnos e apontará o desejo
como o fio condutor que reúne, nessas produções, passado, presente e futuro. Conclui
que um fato do presente desencadeia lembrança de uma experiência de satisfação
ocorrida no passado e remete para o futuro a expectativa de uma nova satisfação.
Conclui também que a fantasia, tal qual a produção de um escritor, é uma produção
egóica.
No texto “Fantasias histéricas e sua relação com a bissexualidade” manterá a
linha da fantasia como realização de desejo e relacionará a produção onírica a uma
fantasia diurna complicada. Acrescentará que as fantasias podem ser tanto
conscientes como inconscientes. Quando se tornam inconscientes, por força da
repressão primária, expressar-se-ão pelos sintomas e ataques histéricos, e que,
quando se tratam de histeria de conversão, nada mais são do que o retorno no corpo
da satisfação auto-erótica da infância, época em que esta se via acompanhada de
fantasias conscientes.
A esta relação de dois elementos heterogêneos, Miller, em “Sintoma e
fantasia”, vai apontar como sendo o modo freudiano de denotar o que aparecerá na
fórmula Lacaniana do fantasma $<> a, onde o S barrado corresponde em Freud ao
que é por ele chamado de representação do desejo que está tomada pelo domínio do
amor. Quanto à satisfação auto-erótica é o que Lacan vai denominar de mais de gozar
(a).
Ainda Freud, no artigo acima citado, fará uma orientação aos analistas para
que dirijam seus interesses na clínica menos aos sintomas relatados por seus
pacientes e mais às fantasias a estes relacionadas. Outro ponto importante presente
no texto é a constatação de que as fantasias inconscientes, nas histéricas,
correspondem a situações de satisfação que os perversos realizam conscientemente.
Quanto ao aspecto da bissexualidade inserido nas fantasias, Miller aborda
como sendo o modo freudiano de demarcar o fato de que o sexo não é estabelecido, o
que Lacan relacionou ao objeto a enquanto assexuado.
Temos então, que Freud, ao mesmo tempo em que com evidente consternação
descobre que foi enganado por suas histéricas, ao acreditar que elas realmente tinham
sido vítimas de abusos sexuais na infância, por outro lado, e talvez por isso mesmo,
continuará interessado no que Ana O chamou de seu “teatro privado” (3).

1 – Estrutura da Fantasia Fundamental

Ao começar a incluir as fantasias dos seus pacientes como elementos


fundamentais de construção da realidade psíquica, Freud abandona a teoria do trauma,
e o fará retornar – o trauma, com um aporte teórico completamente modificado, nos
textos que escreve a partir de 1919. Nesta época, já contava com o saber obtido de
uma clínica vasta e a psicanálise, enquanto corpo teórico tinha obtido fundamentais
avanços: já havia escrito os textos metapsicológicos, e os cinco casos clínicos - as
cinco psicanálises- já estavam analisados.
Assim, ao constatar que o núcleo das fantasias estava referido à forma que se
esboçava através da frase “uma criança é espancada”, Freud reuniu os elementos que
lhe permitiram concluir de uma só vez a “gênese das perversões em geral e do
masoquismo em particular e avaliar papel desempenhado pela diferença de sexo na
dinâmica da neurose” (4).
Tratava-se da descoberta a partir da análise, inicialmente de seis pacientes,
sendo depois universalizada, pela constatação de que essa mesma estrutura da
fantasia estava presente em todos os seus casos clínicos, assim como nos de outros
analistas. Uma fantasia, que não podia ser falada mais do que com essas poucas
palavras “uma criança é espancada”, e nada mais. Fantasia, segundo observou,
construída em três tempos.
No primeiro tempo dessa fantasia, o paciente que a relata não é a vítima do
espancamento, a ação recai sobre um rival, estando, o primeiro, normalmente, na
posição de espectador. No segundo e mais importante dos três tempos, é a própria
criança que está colocada na condição de vítima do espancamento pelo pai. É sempre
inconsciente, nunca surge como lembrança, é fruto de construção em análise e é
responsável principal pelas resistências no tratamento. O terceiro tempo está
constituído por meninos que apanham, a criança que relata retorna à posição de
espectador e o adulto que bate está na linha de personagens masculinos que ocupam
posição de autoridade, um professor, por exemplo.
Ao incluir estes três tempos na construção da fantasia, Freud provoca
importantes transformações em relação às conclusões da inserção da fantasia na vida
psíquica. A primeira delas é que esta construção fantasística se dá após a criança
entrar na trama trazida pela conjuntura do Édipo, sendo a fantasia masoquista que aí
se origina conseqüência da solução que lhe é possível, por ocasião de sua primeira
desilusão amorosa. Por repressão e por regressão do amor da criança pelo pai, ocorre
uma torção da frase do segundo tempo: de ‘eu amo meu pai’ para ‘meu pai me bate’.
É também em decorrência desse efeito proibitivo da relação genital que a excitação
libidinal se ligará à fantasia e terá escoamento em atos masturbatórios. Inverte-se em
uma outra tese freudiana de que a fantasia era herança da culpa pela satisfação
infantil auto-erótica para ser a propulsora da mesma.
As questões edipianas que estão em jogo e que culminam com a instalação
dessas fantasias são derivadas da precoce escolha de objeto de amor da criança. As
frases em relação ao amor incestuoso, ao qual estas fantasias estão relacionadas são:
‘meu pai não ama meu irmão rival, ele só ama a mim’, o que gratifica o ciúme da
criança, reforçado por seu interesse egoísta. A fantasia do segundo tempo ‘meu pai só
ama a mim e não a outra criança’, que, por sentimento de culpa do amor incestuoso é
transformada em ‘não, ele não ama a mim, pois está me batendo’. Passagem em que
a fantasia adquire o caráter puramente masoquista. Ao terceiro tempo Freud diz que é
como se a frase estivesse se transformado em ‘O meu pai está batendo na criança,
ele só ama a mim’, sendo que a ênfase está deslocada para a primeira parte da frase,
pois a segunda sucumbiu em repressão. Assim, nesse último tempo o que parece se
reverter numa fantasia sádica, Freud descarta, como já havia feito com o primeiro
tempo, pois neste último a criança que esta sendo espancada é um mero substituto da
criança que fantasia. Ser espancado nos três tempos está ligado à privação de amor e
humilhação.
Em “uma criança é espancada” pode-se constatar a torção dos postulados
iniciais de Freud, em relação à tese da causalidade do sintoma pela fantasia. Neste
texto, que praticamente abre o que é conhecido como a última fase das suas
descobertas, assinala que a fantasia não é o que cria a neurose e sim o que responde
de forma fixa, com uma significação absoluta aos enigmas que se apresentam ao
sujeito em relação a sua traumática entrada na linguagem e na sexualidade;
considerando que essa entrada acontece, necessariamente, a partir do investimento
libidinal de um adulto, que, ao retirá-lo da apatia, permitirá elevar seu corpo ao
estatuto de corpo erógeno, pulsional e inscrito através de significantes. Marcas que lhe
darão acesso ao mundo da cultura e que lhe permitirão fazer laços. Isso, no entanto,
condenará a submissão de seu desejo ao desejo do Outro e a se defrontar com o
horror implícito da posição de objeto, masoquista, a cada momento em que o Outro se
apresenta como o Outro gozador. Dessa forma, vemos que a ficção em que se
constitui a fantasia fundamental permite ao sujeito ter um lugar no campo do Outro,
fixando-o aí, fazendo um desmentido à castração e estabelecendo a relação sexual.
Por outro lado, vamos encontrar na fantasia fundamental, tal qual foi isolada
por Freud a incidência dos três registros: simbólico, imaginário e real (formulação
Lacaniana para o que incide no psíquico). Miller salienta, em seu curso “Sintoma e
fantasia”, que somente quando Lacan em ‘Posição do inconsciente’ formaliza os
conceitos de Alienação e Separação é que teoriza o equivalente ao que Freud
constatou no artigo Uma criança é espancada.

2 – Fantasia e Repetição

Derivado também da pesquisa freudiana até essa época, vamos entrar,


sumariamente, nos importantes elementos contidos no texto Além do princípio do
prazer. Com ele Freud abandona a idéia de que um único e exclusivo princípio
comanda a vida mental dos sujeitos- o princípio do prazer. Apresenta o dualismo entre
pulsão de vida e pulsão de morte. Conclui que uma satisfação pode ser obtida,
independente de seus fins estarem ou não ligados ao prazer e ao menor dispêndio de
energia. Esta dedução, que é retirada principalmente da análise dos sonhos dos
neuróticos de guerra, se agrega ao que Freud observa em uma cena de sua vida
cotidiana. Ao ver o envolvimento de seu neto num jogo que ficou conhecido como Fort-
Da, Freud vai concluir que esse brincar se dá para elaborar uma situação, inicialmente
sentida como desprazerosa – a saída da mãe, e que é a própria repetição do jogo o
que produz satisfação, tendo sido esta satisfação inicialmente adiada, na renúncia
pulsional, ao não reclamar, para mostrar-se como um bom menino. Introduz o conceito
de compulsão à repetição, que vai ser o correlato do gozo na concepção de Lacan. Às
resistências encontradas nos pacientes em análise, Freud relacionará a esta condição
do sujeito, que ele já identificara ser de estrutura, e que, diante da qual, assinala que o
analista não deve retroceder, pois significa uma detenção em relação à cura.
Fica evidente que Freud, a essa altura, ainda mantém a relação entre o brincar
infantil e as fantasias, só que se abala a afirmação da origem puramente egóica da
mesma. É nessa época que vai incluir a teorização sobre o superego.
Em seu percurso, vemos a persistência de Freud, que manteve a pesquisa
em pontos cruciais, mesmo naquele considerado inicialmente como seu erro
primitivo. Abria mão de postulados em nome da verdade que se impunha a partir da
escuta de seus pacientes. Dava menor acento ao que era considerado um sucesso e
mais importância ao que para ele se apresentava como impasse. Suas conclusões
teóricas significaram verdadeiros saltos em relação ao universo teórico em que estava
inserido.
Se com o texto de 1919 Freud já aponta para o que será chamado de “os três
registros” implicados na estrutura da fantasia, nem por isso as coisas ficaram tão
facilitadas para as formulações teóricas de Lacan. Vemos que, em seus primeiros
seminários, a fantasia fundamental está totalmente inserida no imaginário.
Posteriormente, quando sua lógica está regida pelo eixo significante, a fantasia passa
a representar um furo na rede simbólica. Após, contando com a formalização em
relação ao real (que se inicia no Seminário 7 e se consolida no Seminário 11), inclui
também esse terceiro registro como inerente à estrutura fantasística.
Porém, em relação à direção da cura, a contribuição de Lacan vai além do “Pai
da psicanálise”, sem, no entanto, prescindir do ponto limite do ensinamento freudiano.
Assim, se para Freud o rochedo da castração era o limite da cura, para Lacan é
possível ir além. À medida que vai seguindo e formalizando as descobertas da clínica,
vai ficando evidente para Lacan que o fim da análise passava pela relação entre
sujeito e gozo. A partir do Seminário 20 o ponto de basta deixa de ser a fantasia e
passa a ser o sintoma. Citando Bernardino Horne: “a fantasia na condição de defesa
fundamental ante o gozo leva o sujeito a supor o gozo como resposta ao desejo do
Outro. A clínica para além da metáfora paterna faz ruir a formulação de que a fantasia
é o suporte do desejo e a faz aparecer como defesa fundamental, que, ao realizar o
desejo, eclipsa sua estrutura radical” (5).
Lacan cria uma escola e um dispositivo – O Passe. E, para o qual, convida a
todos, cuja análise foi levada até o final, a darem o depoimento desse percurso.
Propondo que produzam um saber sobre seu próprio caso, e o transmitam à Escola
como contribuição à teoria, da particular passagem de analisante à analista.

NOTAS

1 FREUD, S. “Carta 69”, Obras Completas, Vol. I, Rio de Janeiro, Imago,1977, p.350
2 FREUD, S., “Meus Pontos de Vista Sobre o Papel Desempenhado pela Sexualidade
na Etiologia das Neuroses”, Obras Completas, Vol. VII, Rio de Janeiro, Imago, 1977,
p. 286.
3 FREUD, S., “Casos Clínicos”, Obras Completas, Vol. II, Rio de Janeiro, Imago, 1977.,
p.64
4 FREUD, S., “Uma Criança é Espancada”, Obras Completas, Vol. XVII, Rio de
Janeiro, Imago, 1977.
5 BERNARDINO, H., “A Função da Fantasia”, Os Circuitos do Desejo na Vida e na
Análise, Rio de Janeiro, ContraCapa Livraria, 2000, p.58.

Bibliografia
BERNARDINO, H., “A Função da Fantasia”, Os Circuitos do Desejo na Vida e na
Análise, Rio de Janeiro, ContraCapa Livraria, 2000, p.58.
FREUD, S. “Carta 69”, Obras Completas, Vol. I, Rio de Janeiro, Imago,1977, p.350
FREUD, S., “Meus Pontos de Vista Sobre o Papel Desempenhado pela Sexualidade
na Etiologia das Neuroses”, Obras Completas, Vol. VII, Rio de Janeiro, Imago, 1977, p.
286.
FREUD, S., “Casos Clínicos”, Obras Completas, Vol. II, Rio de Janeiro, Imago, 1977.,
p.64
FREUD, S., “Escritores Criativos e Devaneios”, Obras Completas, Vol. IX, Rio de
Janeiro, Imago, 1977.
FREUD, S., “Fantasias Histéricas e sua Relação com a Bissexualidade”, Obras
Completas, Vol. IX, Rio de Janeiro, Imago, 1977.
FREUD, S., “Uma Criança é Espancada”, Obras Completas, Vol. XVII, Rio de Janeiro,
Imago, 1977.
FREUD, S., “Além do Princípio do Prazer”, Obras Completas, Vol. XVIII, Rio de
Janeiro, Imago, 1977 MILLER, J-A., Sintoma e Fantasia, curso inédito, cópia
mimiografada, 1982/1983.
* Trabalho foi apresentado em Encontro promovido pela Delegação-PR da EBP – CEM ANOS DA
“INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS”, realizado em Curitiba em maio de 2000.

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