O ANFÍBIO

Revista do Corpo de Fuzileiros Navais – no 21 – Ano XXII- 2002

Foto: Odair Amancio Freire - Concurso de Fotografias do CFN
 O ANFÍBIO Sumário
Nossa Capa .......................................................................................... 2
Editorial ............................................................................................... 2
Evacuação de não-combatentes, tarefa do conjugado anfíbio ........... 4
A nova Força de Fuzileiros da Esquadra .......................................... 13
O Comando da Tropa de Desembarque ............................................. 27
A importância do Batalhão de Controle Aerotático e Defesa Antiaérea na
formação dos GptOpFuzNav ............................................................ 35
Novos Navios Anfíbios ...................................................................... 41
A Companhia de Apoio ao Dssembarque .......................................... 49
Sensores ............................................................................................. 55
A transmissão de dados nos Grupamentos Operativos de Fuzileiros
Navais ................................................................................................ 61
O Batalhão de Blindados de Fuzileiros Navais .................................. 71
Tropas Anfíbias pelo mundo .............................................................. 77
O incremento do Apoio de Fogo Orgânico dos Batalhões de Infantaria de
Fuzileiros Navais – o morteiro 120mm é a solução? ......................... 79
Educação, formação, cultura militar e sociedade ............................. 83
Sociedade e Defesa – Passado, presente e tendências ....................... 91
O Comando do Material de Fuzileiros Navais e o Apoio Logístico aos
meios da Força de Fuzileiros da Esquadra ..................................... 101
SIGeP – modernidade na gestão de pessoal do CFN ...................... 111 BRASIL
O impacto das inovações Tecnológicas e a importância da Corpo de Fuzileiros Navais
informática para o emprego operativo do CFN ........................... 115
Trafalgar, Ülm e Midway – uma análise estratégica operacional ... 123 O ANFÍBIO – n o 21 – Ano XXII - 2002
Biografia .......................................................................................... 139 Comandante-Geral do Corpo de
Fuzileiros Navais
Almirante-de-Esquadra (FN)
Carlos Augusto Costa
Como órgão de divulgação do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), a primeira revis-
Editor Responsável
ta foi editada em setembro de 1939 com o nome de “O Naval”, circulando até 1943.
Capitão-de-Mar-e-Guerra (FN)
Em março de 1954, surgia o primeiro jornal dos Fuzileiros – “O Anfíbio” –, publi-
Fernando Cesar da Silva Motta
cado até 1977.
Aproveitando esta denominação, a partir de 1961, iniciou-se a edição da Revis-
Projeto Gráfico e Editoração
ta dos Fuzileiros Navais – O ANFÍBIO – em circulação até hoje. Destina-se a
CC (T) Yeda Lúcia Arouche Nunes
divulgar a doutrina anfíbia e o moderno emprego de Forças de FN, difundir a
Revisão
história e tradições do CFN, e constituir-se em foro para debate de idéias que
SO FN Pedro de Lima Bandeira
estimulem o aperfeiçoamento técnico-profissional.
As opiniões emitidas nos artigos deste periódico são de inteira responsabilida- Assessoria de Relações Públicas do
de de seus autores, não refletindo, necessariamente, o pensamento ou atitude do Comando-Geral do Corpo de
Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, a não ser que assim esteja expres- Fuzileiros Navais
samente declarado. Fortaleza de São José, s/n
Todos os trabalhos aqui publicados são de caráter gratuito. Ilha das Cobras – Centro
É permitida a reprodução total ou parcial das matérias. Solicita-se a citação da Rio de Janeiro – RJ – 20091-000
fonte e a remessa de um exemplar da publicação. Tel.: (21) 3870-6627

2002 - O Anfíbio - 1

Nossa Capa:
“O Anfíbio” em suas
primeira e quarta capas,
apresenta os novos
meios do CFN.
Abaixo, o Alte (FN) Sylvio de
Camargo, durante a cerimônia
de sua promoção a Contra-
Almirante, em 1945, na
Fortaleza de São José (RJ).
EDITORIAL
Este Editorial reveste-se de particular significado, pois o Anfíbio de
2002, vem prestar homenagem ao Alte (FN) Sylvio de Camargo, publi-
cando, a seguir, o que escreveu sobre este “reformador do CFN”, o Alte
(FN) Roberval Pizzarro Marques, em sua última colaboração para “O
Anfíbio”, antes de seu passamento ocorrido em setembro último.
Ficam os nossos agradecimentos e reconhecimento póstumos ao
Alte Roberval, ex-Comandante-Geral, oficial de brilhante carreira que
sempre engrandeceu o Corpo de Fuzileiros Navais.
“O Anfíbio” apresenta, ainda, a “Evacuação de não-combatentes,
tarefa do conjugado anfíbio”, com destaque de primeiro artigo, tendo
em vista a globalização que impõe repensar conceitos como soberania,
segurança e interesses nacionais, apontando o oportuno assunto como
um dos mais prováveis empregos dos Fuzileiros Navais.
Outras importantes matérias que podem extravasar as paredes da
instituição, são:”A Nova Força de Fuzileiros da Esquadra”; o “Comando
do Material de Fuzileiros Navais, e o Apoio Logístico aos Meios da Força
de Fuzileiros da Esquadra”; “O Comando da Tropa de Desembarque – o
que é e para que serve”; “Novos Navios Anfíbios”; e tantas outras de
igual importância estabelecem uma relação entre dois fatos históricos
primordiais para a trajetória do CFN: a fase pós II Guerra Mundial, ou
década Alte. Sylvio de Camargo, e o CFN do 3° Milênio.
lmirante Camargo:
Almirante amargo:
o reformador do CFN*
A Marinha comemora este ano o centenário do nas-
cimento do Almirante Sylvio de Camargo, o grande reformador do
Corpo de Fuzileiros Navais. Durante o seu longo período no
exercício do cargo de Comandante-Geral, desde novembro
de 1945 até dezembro de 1955, a corporação passou por
grandes transformações, fruto do seu idealismo, per-
severança e visão estratégica.
Por iniciativa própria, durante a sua profícua carreira,
tomou todas as medidas necessárias às grandiosas reformas
por que passou a corporação durante a segunda metade do
século passado.
Dotado de inteligência privilegiada e habilidade, ainda
como Capitão-Tenente pediu transferência voluntariamente
da Armada para o quadro de Oficiais Fuzileiros Navais,
depois de brilhante curso de aperfeiçoamento na EsAO do
EB. Após estágio no “Royal Marines” na Inglaterra, no posto
de Capitão-de-Corveta, dedicou-se principalmente ao estudo
das principais providências para a reformulação do CFN.
Com sua visão estratégica, verificou que a nossa Marinha
não possuía, em nível adequado, as indispensáveis forças de
desembarque, como componentes terrestres de uma cam-
panha naval, devidamente dotadas de equipamento moderno
e do material humano adestrado para a mais difícil das
operações militares que é o combate anfíbio.
2002 - O Anfíbio - 2
 R
e
p
r
o

O Capitão-de-Mar-e-Guerra (FN) Sylvio de Camargo, durante o desfile militar

de Sete de Setembro, na Avenida Presidente Vargas, Rio de Janeiro, em 1945.
d
u
ç
ã
o
 As vitoriosas campanhas no
Pacífico, com o emprego ade -
quado do “US MARINE CORPS”,
durante a II Guerra Mundial,
que tantas glórias trouxe à
Marinha Americana, também
contribuíram para o judicioso
estudo da modernização do CFN.
Deu os passos decisivos para
as modificações que deveriam
ocorrer na trajetória de transfor-
mação de uma tropa afeita pra-
ticamente aos serviços de guarda
de estabelecimentos navais, para
a existência de um conjunto de
unidades de elevado nível de pron-
tificação para o combate, dedi-
cadas, especialmente, às opera-
ções anfíbias, razon d´etre da
corporação. Com esse desiderato
conseguiu a aprovação de novo
Regulamento para a corporação,
em 1950, considerado verdadeira
referência histórica do CFN, por
prescrever a criação da Força de
Fuzileiros da Esquadra (FFE), so-
mente efetivamente ativada a
partir de 1957.
Durante o seu proficiente co-
mando, tomou decisões básicas
no campo da organização da tropa,
dos meios materiais e de recursos
humanos. Promoveu, assim, além
do sistema organizacional para a
FFE, a aquisição, o recebimento
e ampliação de terrenos na Ilha
do Governador, destinados princi-
palmente ao aquartelamento das
novas unidades operativas a se-
rem criadas. Para ocupar e apro-
veitar logo a área recebida para
exercícios mandou construir mo-
derna Linha de Tiro e instalou
provisoriamente o novel Centro
de Recrutas, com efetivo da an-
tiga Companhia Escola.
Como sempre esteve preocu-
pado com preparo de recursos
humanos especializados, provi-
denciou o planejamento e a cons-
trução de portentoso Centro de
Instrução – que hoje leva o seu
nome – mediante concurso de
projetos de âmbito nacional, cujas
edificações de linhas arquitetô-
nicas modernistas, após quase 50
anos, ainda representam marco
da arquitetura brasileira. Verda-
deiro laboratório de pesquisas e
estudos do emprego das forças
de desembarque nas operações
anfíbias, esse órgão tem a im-
portantíssima tarefa de preparar
os quadros do CFN e estudar e
acompanhar a evolução da sua
doutrina. Dotado de simuladores
e modernos instrumentos de en-
sino está em condições de mi-
nistrar todos os cursos especia-
lizados para os fuzileiros navais,
inclusive o de aperfeiçoamento
para oficiais.
Procurou ampliar relevante-
mente o seu quadro de oficiais,
inclusive com a criação de posto
mais elevado na hierarquia dos
seus oficiais-generais, além de
conseguir notável aumento dos
efetivos de praças e graduados do
CFN.
Melhorou de maneira muito
significativa o sistema de armas
das unidades operativas, com a
aquisição de novo armamento
portátil e coletivo, inclusive subs-
tituindo os velhos fuzis de repe-
tição por novos semi-automá-
ticos, de fabricação belga, consi-
derados os mais modernos para
a época.
Modernizou a ORDEM UNI-
DA, alterando alguns movimentos
básicos, tornando a apresentação
da tropa mais marcial, o que re-
dundou em posterior modificação
do respectivo regulamento para
as forças armadas. Valorizou a
carreira dos músicos, profissio-
nalizando-os e dotando as Ban-
das de Músicas de melhores ins-
trumentos. A Banda Marcial re-
cebeu diferenciada formatura,
evoluções inéditas e novos instru-
mentos, inclusive as famosas gai-
tas escocesas, transformando es-
sa organização musical em uni-
dade paradigma, sem paralelo nas
forças armadas.
A sua personalidade vibrante,
a persistência nas atitudes e sua
grande capacidade administrativa
davam-lhe o necessário prestígio
para superar os óbices que natu-
ralmente surgiram.
Foi esse o seu principal legado.
Legado de honradez, extrema de-
dicação ao serviço e incomum
espírito de corpo, que influencia-
ram de maneira memorável o pro-
cesso gradual e perene do desen-
volvimento da corporação, inte-
grada aos demais componentes
operativos da Marinha, nos últi-
mos cinqüenta anos.
Tendo assumido o Comando-
Geral com apenas 43 anos, teve
a oportunidade de comandá-la por
dez anos, dando o exemplo para
várias gerações de oficiais, que o
reverenciam até hoje.
Foi promovido a Almirante
(cinco estrelas) na reserva, em de-
corrência da legislação em vigor
na época, e, ainda, continuou em
plena atividade, por alguns anos,
trabalhando na iniciativa privada
como Diretor de uma importante
empresa de mineração.
O Alte. SYLVIO DE CAMAR-
GO foi o grande reformador do
Corpo de Fuzileiros Navais e é com
justiça merecedor de todas as
homenagens que a Marinha presta
a esse insigne Chefe Naval, no ano
que se comemora o centenário do
seu nascimento. O tempo, por mais
que passe, não apagará suas
memoráveis realizações.
Alte (FN) Roberval Pizarro Marques
Rio, 15.08.2002
*Este artigo foi entregue ao Comandante-
Geral pelo Alte Roberval, dois dias antes do
seu falecimento.
2002 - O Anfíbio - 3
Evacuação de não-combatentes,
tarefa do conjugado anfíbio
CF(FN) PAULO MARTINO ZUCCARO E CF (FN) JORGE ARMANDO NERY SOARES

“Nesse novo mundo de incertezas, nesse novo mundo em que o Brasil tem
um papel crescente, o desenvolvimento das Forças Armadas é o esteio da
nossa possibilidade de continuarmos no caminho que tem sido trilhado por
nós, de uma afirmação tranqüila dos nossos interesses, da nossa soberania,
sempre nesse espírito de paz e de concórdia, mas que não descuida da necessi-
dade da defesa”. – Fernando Henrique Cardoso

AS PECULIARIDADES DO ros sobre a estabilidade política-es- Hoje, o controle, em nível mundi-

CONTEXTO GLOBAL NESTE tratégica mundial. al, desenvolvido pelas potências cen-
COMEÇO DO SÉCULO XXI Esseclimademudançaatingeatudo trais sobre questões como o respei-
e a todos. Sociedade e Estado, junta- to aos direitos humanos; o narco-
Vivemos uma época de grandes mentecomsuasinstituições,aíincluin- tráfico; os conflitos étnicos-religiosos;
transformações políticas, sociais e do as Forças Armadas, precisam ajus- e a preservação ambiental e dos re-
econômicas. As incertezas, a im- tarem-se à nova realidade mundial. cursos naturais, indicam a necessida-
previsibilidade nas relações interna- Refletir sobre os caminhos do futuro de de se repensar conceitos como
cionais foram acentuadas com o fim procurando, tanto quanto possível, soberania, segurança e interesses na-
da guerra fria, dificultando, ainda enxergá-los com os olhos do presente, cionais. Aos poucos, novos valores
mais, a formação de conceitos segu- é tarefa vital para qualquer Estado. são introduzidos no relacionamento

2002 - O Anfíbio - 4
entre Estados. Expressões como di-
reito de ingerência, interesse coletivo,
patrimônio da humanidade, seguran-
ça ecológica global, respeito à sobe-
rania condicionada ao respeito aos
direitos humanos, entre outros, aca-
bam por intimidar aqueles que não
têm voz ativa e capacidade para in-
fluir no concerto das nações.
Por outro lado, com a revolução
científica e tecnológica, os Estados
viram-se impossibilitados de atende-
rem suas necessidades numa base
exclusivamenteindividualeterritorial.
As normas de mútua colaboração
provêm, por conseguinte, das exigên-
cias de cooperações decorrentes da
crescente interdependência, impulsi-
onada por avanços na comunicação,
no transporte, na indústria moderna
e no comércio, levando à diluição das
fronteiras e ao estreitamento da dife-
rença entre o “interno” e o “exter-
no”, tornando o mundo cada vez mais
interdependente, globalizado. Conse-
qüentemente, a presença de cidadãos
estrangeiros em diferentes países vem
se tornando comum, já que represen-
tam os interesses econômicos, diplo-
máticos ou mesmo cultural do seu
país. Creio útil frisar que somos uma
das 10 maiores economias do mun-
do, com empresas brasileiras atuan-
do em diferentes países, notada-
mente na África e América do Sul,
além de mantermos relações dinâmi-
cas com a maioria dos países, em to-
dos os Continentes. Dispõe o Brasil
de 92 Embaixadas, 8 Representações
junto a organismos internacionais, 43
Consulados e 19 Vice-Consulados, o
que dá a medida da intensidade de
nosso contato com o mundo.
Paradoxalmente, essa globaliza-
ção que promove oportunidades e
oferece perspectivas promissoras,
ainda não parece ser capaz de aca-
bar com as assimetrias que perpetu-
am as desigualdades entre os países
desenvolvidos e o mundo em desen-
volvimento. Há uma percepção, por
exemplo, de que o protecionismo
vem sendo condenado somente co-
mo instrumento de desenvolvimento
dos mais pobres e aceito quando se
converte em instrumento de defesa
dos privilégios dos mais ricos. Os paí-
ses em desenvolvimento deparam-se
com barreiras intransponíveis a seus
produtos, ameaçando anular o po-
tencial igualitário do comércio inter-
nacional, gerando mecanismos de
congelamento das desigualdades.
Este é o problema das assimetrias na
globalização.
Assim, como bem conceituou o
Chanceler brasileiro Celso Lafer, ve-
mos que “desde o fim da Guerra Fria,
o sistema internacional passou a mo-
ver-se de acordo com duas lógicas
contraditórias. Uma delas, baseada
em forças centrípetas, centrada na
convergência de expectativas, impul-
sionada pela globalização. A outra,
impulsionada por forças centrífugas,
indutoras de uma lógica da fragmen-
tação, entre elas a das identidades”.
A lógica da convergência pode ser
visualizada nas ações da comunida-
de internacional em encontrar solu-
ções negociadas em uma série de
áreas de interesse global: a Confe-
rência do Rio sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento, em 1992, a Con-
ferência de Viena
sobre Direitos
Humanos, a
Cúpula de
Copenhague para o Desenvolvimen-
to Social, e a própria conclusão da
Rodada Uruguai, que levou à cria-
ção da OMC.
As divergências e assimetrias ma-
nifestaram-se, por exemplo, na de-
sagregação territorial da União So-
viética e da Iugoslávia. Outros frutos
desse poder fragmentador estão pre-
sentes também nas crises financeiras
(por vezes com graves conseqüênci-
as sociais e política para os Estados
atingidos) e na proliferação de con-
tenciosos comerciais, gerando rea-
ções contrárias como os protestos
anti-globalização ocorridos em
Seattle, Washington e Gênova. Na
América Latina, episódios recentes
na Argentina e Venezuela mostraram
o quão frágil é o sistema político na
região, mesmo buscando-se fortale-
cer as instituições democráticas. Na
África a miséria e as disputas inter-
nas pelo poder continuam presentes
no dia-a-dia daquele continente, sem
que os países mais ricos pensem em
amenizar essa situação. No Oriente
Médio, o conflito entre israelenses e
palestinos surpreende o mundo a
cada dia, com sucessivos atos de vi-
olência, que renegam o próprio di-
reito humanitário. No próprio conti-
nente europeu, berço da idéia antiga
e moderna de democracia, depa-
ramo-nos com manifestações de ex-
tremismo e intolerância. O terroris-
mo internacional, por sua vez, encon-
trou na massa de miseráveis e sem
esperança, particularmente
no mundo islâmico, ter-
reno fértil e conseguiu
catalisar o sentimento
contrário a essas desi-
gualdades e atacou a
maior potência do mun-
do, símbolo do mundo
globalizado. Assim, a
paz universal parece, a
cada dia, um ideal mais
2002 - O Anfíbio - 5
difícil de ser atingido.
Nesse contexto, o
Estado brasileiro pre-
cisa entender clara-
mente às mudanças
em curso no cená-
rio mundial e adap-
tar-se para não per-
der o controle do seu
próprio rumo. O
ritmo vertiginoso
das mudanças, ine-
rente ao processo
de globalização, afeta hoje pratica-
mente todas as disciplinas e
atividades. No campo da defesa, as
alterações são marcantes. Mudaram
os fatores de tempo e espaço bem
como a natureza das ameaças e dos
atores envolvidos. Mesmo concor-
dando que a função do Estado este-
ja enfraquecida pelas tendências
transnacionais dos dias de hoje, con-
tinua sendo ele o ator principal nas
relações internacionais e, juntamente
com suas instituições, aí incluídas as
Forças Armadas, o legítimo repo-
sitório dos interesses de um povo.
Dessa forma, um Estado tem que
possuir o direito de exercer sua au-
todeterminação, conforme definido
no Pacto sobre Direitos Civis e Polí-
ticos da Organização das Nações
Unidas e não se submeter a imposi-
ções discutíveis, como as estabe-
lecidas pelas grandes potências.
Hoje, as questões de segurança e
a busca de mecanismos de gover-
nança no contexto da globalização
impõem aos Estados a perfeita iden-
tificação dos seus interesses vitais. É
dentro deste espírito que devemos
fortalecer nossa posição em matéria
de segurança e defesa, conduzindo
avaliações realistas dos cenários re-
gional e mundial. Por sua vez essas
avaliações devem balizar o preparo
e o emprego da capacitação nacio-
nal, em todos os níveis do poder. A
Política de Defesa
Nacional (PDN),
emanada do mais
alto nível do Estado,
veio respaldar o
preparo militar na-
cional, refletindo os
anseios da socieda-
de e atendendo aos
princípios e Yaqui Valley;
objetivos estabele-
cidos na Cons-
tituição Federal.
Diante desse quadro mundial bas-
tante volátil, onde o Brasil busca seu
espaço, a probabilidade de situações
inesperadas e repentinas acontece-
rem em regiões de nosso interesse,
colocando brasileiros em situação de
riscoiminenteaumentousignificativa-
mente. Caso tal hipótese se concre-
tize, o Governo brasileiro, no uso de
suas faculdades e em nome de suas
obrigações, deverá estar em condi-
ções de empregar suas capacidades
para salvaguardar a vida dos seus ci-
dadãos, dos bens e recursos nacio-
nais ou sob sua jurisdição. Ou seja,
ser capaz de planejar e executar ope-
rações que garantam a retirada do
pessoal de áreas de risco, batizada
na Marinha como Evacuação de
Não-Combatentes (ENC).
ANTECEDENTES
A história demonstra a postura de
alguns países em relação à seguran-
ça de seus cidadãos no exterior. Es-
tes Estados optaram por realizar ope-
rações de evacuação de seus nacio-
nais, de território estrangeiro, quan-
do estes foram submetidos a uma
ameaça real, seja pela escalada de
uma crise, seja pela atuação de fac-
ções dissidentes do governo legal-
mente estabelecido.
Os Estados Unidos da América Podemos citar a OPERAÇÃO
(EUA) são um bom exemplo de país SHARP EDGE na LIBÉRIA, como
que realizam este tipo de operação,
logicamente respaldados na sua ca-
pacidade de intervenção militar em
nível global. Esta capacidade ficou
demonstrada pela seqüência de ope-
rações de evacuação de não-com-
batentes realizadas por sua forças de
fuzileiros navais no século XX:
1913 – México – distúrbios civis em
1948 – China – Nanking e Xangai;
1954/1955 – China – Ilhas Tachen;
1956 – Egito – Alexandria;
1965 – República Dominicana
1974 – Chipre;
1975 – Vietnam do Sul (3 de abril);
1975 – Cambodja;
1975 – Vietnam do Sul (12 de abril)
– evacuação de 1400 cida-
dãos norte-americanos e
5500 nacionais de diversos
países amigos;
1976 – Líbano – retirada de 250 ci-
dadãos norte-americanos e
europeus;
1982 – Granada;
1982 – Líbano – retirada de mem-
bros da Organização de Li-
bertação da Palestina por for-
ças multinacionais deBeirute;
1990 – Libéria – evacuação de ci-
dadãos e funcionários da em-
baixada americana em
Monróvia;
1998 – Serra Leoa – retirada de
2500 civis e nacionais de ou-
tros países;
1998 – Etiópia – evacuação de 500
civisefetuadapor forçascom-
binadas;
1998 – Guiné Bissau – retirada de
civis e funcionários diplomá-
ticos; e
1998 – Indonésia – retirada de fa-
miliares dos funcionários di-
plomáticos.
2002 - O Anfíbio - 6
exemplo de uma ação bem sucedi-
da, que ficou conhecida pela forma
detalhada e inovadora pela qual o seu
planejamento e execução foram con-
duzidos, servindo inclusive, para con-
solidar a doutrina de emprego de for-
ças de fuzileiros navais americanas
neste tipo de operação.
As operações acima menciona-
das, realizadas com sucesso e com
um número reduzido de baixas,
exceto a ação no IRÃ, permitiram aos
norte-americanos o desenvolvimen-
to de técnicas e táticas específicas,
cujas características distintas das de-
mais operações navais, promoveram
o estabelecimento de uma doutrina,
a qual, aliada ao estado da arte de
seus meios, favorece a salvaguarda
de seus cidadãos em qualquer parte
do mundo.
Em junho de 1998, após a eclo-
são de nova guerra civil em Guiné
Bissau, cerca de 2500 estrangeiros,
entre eles 80 brasileiros viram-se em
dificuldades para deixarem aquele
país. Felizmente todo esse contingen-
te conseguiu embarcar em um navio
mercante português que demandou
o porto de Dacar, no Senegal. As-
sim, constatamos que a possibilida-
de de termos cidadãos nacionais cor-
rendo risco em terras estrangeiras é
real, podendo acontecer a qualquer
momento e sem aviso prévio.
CARACTERÍSTICAS
PRÓPRIAS DAS OPERAÇÕES
DE EVACUAÇÃO DE
NÃO-COMBATENTES
Em primeiro lugar deve-se fazer
uma correta distinção entre operação
de regate e evacuação de não-com-
batente. A primeira é uma operação
militar belicosa executada com o
propósito de libertar e retirar pessoal minuiu os espaços e acelerou o tem-
civil ou militar, submetido a confina- po. As transformações no mundo de
mento. Estas operações são carac- hoje acontecem, por isso, em dife-
terizadas por infiltrações sigilosas ou
por ações em força, seguidas de uma
rápida retirada. A dimensão da for-
ça de resgate depende das ações a
serem desenvolvidas, do número de
elementos que mantêm os nacionais
confinados, do ambiente em que se
realizará o resgate, e da possibilida-
de de reação da força oponente.
Operações de evacuação de não-
combatentes são operações militares,
em princípio não belicosas – quem a
executa não se encontra em estado
de beligerância com o país hospedei-
ro – realizadas para salvaguardar
pessoal civil ou militar, submetido à
situação de grande risco, em locais
onde a situação esteja tão compro-
metida que inviabilize a saída da re-
gião por meios convencionais, não
estando, entretanto, essas pessoas
sob confinamento.
A ENC poderá acontecer em um
ambiente permissivo, onde não são
esperadas, em princípio, oposição à
sua execução ou em ambiente hostil,
quando a evacuação se dará sob a
ameaça de atos terroristas, manifes-
tações populares violentas e até mes-
mo enfrentamento com forças orga-
nizadas.
RAZÕES QUE APONTAM
PARA O CONJUGADO
ANFÍBIO
A globalização, como vimos, di-
rentes velocidades cronológicas. Te-
mos, por exemplo, o tempo financei-
ro, on-line, instantâneo, onde os flu-
xos financeiros especulativos, na sua
volatilidade, vêm produzindo crises
sucessivas nos países de mercados
emergentes. O tempo da mídia, tam-
bém um tempo on-line, impactando
imediatamente a opinião pública, ge-
rando reações nos mercados e da
vida política.
Já o tempo diplomático é aquele
em que ocorrem as negociações po-
líticas ou econômico-comerciais. Por
considerar todos os demais tempos,
ele tende a ser mais lento, mais elás-
tico. Além disso, a Constituição, em
seu Art. 4º, declara que o Brasil
“rege-se nas suas relações internaci-
onais pelos seguintes princípios: in-
dependência nacional; prevalência
dos direitos humanos; autodetermi-
nação dos povos; não-intervenção;
igualdade entre os Estados; defesa da
paz; solução pacífica dos conflitos;
repúdio ao terrorismo e ao racismo;
cooperação entre os povos para o
progresso da humanidade; e conces-
são de asilo político”. Assim, deve-
mos esperar que, antes de realizar-
mos uma ENC, certamente serão
empregados todos os meios diplo-
máticos disponíveis para evitá-la, fa-
zendo com que as negociações pos-
sam se estender por bastante tempo.
Com a aceitação desta premissa,
cresce de importância o emprego do
Poder Naval (PN), particularmente
a constituição de uma Força Tarefa
Anfíbia (ForTarAnf). Sua mobilida-
de, associada à possibilidade de per-
manência, pré-posicionadas em
águas internacionais, por longos pe-
ríodos de tempo, conferem ao PN
características determinantes para o
seu emprego em operações de ENC.
Em paralelo, a versatilidade do PN,
ou seja, a capacidade de dosar o
poder de destruição, alterando a pos-
2002 - O Anfíbio - 7
tura militar no emprego da força, e a
sua flexibilidade, caracterizada pela
capacidade de organizar-se de acor-
do com a missão, ratificam sua vo-
cação para a realização deste tipo de
operação. Assim, se no decorrer da
operação cidadãos, por qualquer
motivo, caiam prisioneiros de forças
hostis, passando a uma condição de
confinamento, rapidamente o Co-
mandante da Força de Evacuação
poderá alterar sua postura e organi-
zação, de acordo com um planeja-
mento prévio, de uma operação ENC
para de resgate. Portanto, é funda-
mental que se disponha de elemen-
tos e meios, não envolvidos dire-
tamente na operação de ENC, em
condições de realizar operações de
resgate.
Contudo, não se descarta total-
mente a possibilidade de uso de for-
ças de outra natureza, como por
exemplo, as aerotransportadas, nota-
damente quando a operação for
conduzida em regiões muito afasta-
das do litoral. Contudo, não deve-
mos esquecer que o emprego deste
tipo de força, especificamente, é bas-
tante sensível a limitações tais como
a existência de campo de pouso
compatível com as aeronaves empre-
gadas, permissão de sobrevôo e re-
abastecimento, o que reduz, em par-
te, esta possibilidade.
ASPECTOS DO
DIREITO INTERNACIONAL
PÚBLICO E A POSIÇÃO
DA ONU
A legalidade de uma operação de
resgate/evacuação de não-comba-
tentes é função, basicamente, da con-
cordância ou não, da realização da
operação por parte do país-alvo, in-
dependentemente do ambiente de
permissividade em que se realizará tal
operação.
Se houver a anuência do governo
local, não haverá inconvenientes le-
gais, já que, a força a realizar tal ope-
ração terá seu ingresso autorizado no
território do país-alvo. Caso contrá-
rio, o enquadramento legal da ope-
ração é de difícil caracterização. O
ingresso não autorizado de forças em
outro país é uma forma de agressão
e, portanto, seria em princípio ilegal,
independentemente da natureza da
ameaça que paire sobre os nossos
cidadãos.
Este tipo de operação é funda-
mentado no argumento de que, “o
Estado tem o dever de proteger o seu
nacional e que, o Estado onde se
encontra o estrangeiro também tem
o dever de protegê-lo”. Estes deve-
res são previstos, no entanto não au-
ferem legalidade à operação, pois
existem instrumentos específicos do
Direito Internacional aplicáveis a esta
situação: a proteção diplomática e a
responsabilidade internacional.
Não obstante, este argumento
poderá obter aceitação internacional,
dependendo, naturalmente, dos Es-
tados envolvidos e dos interesses em
jogo. Em tempos de “soberania limi-
tada”, tão propalada pelas potências
centrais, possivelmente o argumento
teria boa aceitação, desde que, não
contrariasse os seus interesses e dos
países aliados.
Se a ameaça contra os nossos
nacionais advém da existência de um
conflito interno, onde o governo lo-
cal se encontra em luta contra uma
ou mais facções, a operação de res-
gate/evacuação não somente se con-
figurará como um ato de agressão,
mas também, como uma forma de
intervenção neste conflito. Todavia,
nesta situação, alguns argumentos
poderiam ser utilizados para dar à
operação alguns traços de legalida-
de. O primeiro deles é o fato de que,
ante a existência de um conflito in-
terno, onde uma facção em luta con-
segue conduzir operações militares
continuadas e controlando parcela
significativa do território do país-alvo,
caracterizar-se-ia a existência de um
conflito armado não-internacional.
Neste caso, o governo estabelecido
seria forçado a admitir, nos termos
do Protocolo Adicional II às Con-
venções de Genebra, a aplicação das
regras do Direito Internacional Hu-
manitário. Em particular, a 4ª Con-
venção de Genebra daria algum am-
paro legal ao emprego de uma força
de evacuação, já que assegura a
proteção aos civis nos territórios ocu-
pados e aos estrangeiros no territó-
rio do Estado beligerante.
Outra argumentação seria a de
que o governo estabelecido já não
mais seria o único interlocutor a ser
consultado para a evacuação dos
não-combatentes, devendo ser con-
siderada, também, a liderança da fac-
ção que disputa o poder, que teria
adquirido, nas condições acima de-
finidas, o “status” de ator beligeran-
te. Deste modo, o governo estabele-
cido não mais teria a prerrogativa de
autorizar, ou negar o acesso de for-
ças estrangeiras no território do país-
alvo, particularmente, por não mais
poder assegurar a integridade dos
estrangeiros ali estabelecidos. É, sem
dúvida, um argumento frágil, mas que
complementa o anterior relativo ao
Direito Internacional Humanitário.
Naturalmente, uma possibilidade
de dar à operação um caráter ine-
quivocamente legal é a obtenção de
um mandato da ONU, via Conselho
de Segurança, autorizando a sua re-
alização, mesmo contra a vontade do
país-alvo, amparando-se na Carta
das Nações Unidas. Não obstante,
ao atuar-se neste campo de ação di-
plomático, há que se considerar a
grande perda de tempo – tempo elás-
tico das negociações diplomáticas –
2002 - O Anfíbio - 8
já que normalmente um mandato,
deste tipo, demandaria a realização
de diversas reuniões, e, certamente,
seria precedido de resoluções instan-
do o país-alvo a garantir a segurança
dos nacionais ameaçados e/ou auto-
rizar o ingresso de forças específicas
para este fim. Além disso, antes de
autorizar o uso da força, a própria
Carta recomenda o emprego de san-
ções de variados tipos, em especial
de natureza econômica. Assim, isto
poderá resultar na perda da oportu-
nidade para a realização da opera-
ção. Não há registro de ocorrência
de operações de resgate/evacuação
de não-combatentes sob mandato da
ONU, possivelmente pelo
fator temporal aqui anali-
sado.
Em suma, pode-se afir-
mar que a realização de
uma operação de evacu-
ação/resgate de não-
combatentes, sem o
consentimento do go-
verno estabelecido e
sem um mandato da
ONU que a autorize, é
intrinsecamente uma
operação ilegal, à luz do
Direito Internacional
Público. Isto não signi-
fica que não se possa
realizá-las sem autoriza-
ção do governo do
país-alvo, ou sem mandato da ONU.
Devemos considerar, ainda, as se-
guintes características do Direito In-
ternacional Público: inexistência de
órgão legislador; inexistência de ór-
gão julgador obrigatório; e inexis-
tência de vínculo de “subordinação”
entre os sujeitos.
Mesmo constatando a ocorrência
de significativos avanços neste ramo
do Direito, verifica-se que o Direito
Internacional é apenas uma parte de
um conjunto maior que engloba as
relações internacionais. A decisão de
respeitar ou violar uma norma do
Direito Internacional continua sendo
uma questão de custo-benefício, po-
dendo a situação e os ganhos previ-
síveis tornar aceitáveis tais violações.
De qualquer modo, determinado
país, mesmo tendo cometido viola-
ções claras ao Direito Internacional
Público, tentará justificá-la à luz des-
te próprio corpo de normas, graças
à imprecisão da reduzida instru-
mentação vigente. Não se pode es-
quecer ainda que, uma ação ilegal
poderá ser aceita pela comunidade
internacional, em nome de princípios
“mais elevados”, o que lhe conferiria
um caráter legítimo, capaz de ocultar
ou minimizar o seu caráter ilegal. O
conflito do Kosovo, em 1999, foi
um excelente exemplo deste
tipo de idéia.
Enfim, apesar
de grandes pro-
gressos ocorri-
dos no Direito
Internacional
Público, o mun-
do hoje não é
muito diferente
do “estado da na-
tureza”, tal como
definido por Tho-
mas Hobbes, no
seu livro “O Levia-
than”. As relações inter-
nacionais são ainda essencialmente
relações de poder entre os diversos
atores existentes, dentre os quais se
encontram os Estados. Deste mo-
do, é aceitável a realização de ope-
rações de resgate/ENC, mesmo em
oposição ao governo estabelecido,
desde que, o desgaste político pre-
visível resulte em benefícios com-
pensadores, e que possam ser reu-
nidos argumentos capazes de, no mí-
nimo, amortecer os impactos resul-
tantes das ações a serem realizadas.
OPERAÇÕES
DE EVACUAÇÃO DE
NÃO-COMBATENTES
E A REALIDADE
BRASILEIRA
Cenários
Os cenários visualizados para a
realização de uma operação de ENC
são os seguintes: militares e/ou civis
integrantes de forças de paz, mem-
bros de representações diplomáticas
e nacionais estabelecidos em região
cuja instabilidade política possa re-
presentar uma real ameaça à sua in-
tegridade física e que não tenham tido
condições de deixarem a área por
meio de transporte convencional.
Com relação aos integrantes de
forças de paz, sempre existirá a pos-
sibilidade de recrudescimento do
conflito que deu origem à sua mis-
são. Nesta situação, um dos conten-
dores poderá não mais concordar
com os termos do acordo que de-
terminou a instalação da força de
paz e exigir a sua retirada. Outra pos-
sibilidade seria quando uma desaven-
ça local coloca em risco a segurança
da tropa brasileira em missão de paz.
Existe, ainda, a possibilidade de que
um grupo radical isolado decida pelo
confronto, o que pode colocar a si-
tuação fora de controle, obrigando à
retirada da área dos integrantes da
missão.
No caso de empresas brasileiras
executando trabalhos no exterior,
pode ser necessário evacuar seus fun-
cionários, em função de conflitos re-
gionais, sendo sua maior probabili-
dade de ocorrência em países da
África, em virtude da combinação da
forte presença brasileira e da insta-
bilidade política característica desta
região. Tal fato pode ser comprova-
do pela crescente participação de
empresas brasileiras em licitações in-
ternacionais. Como exemplo pode-
2002 - O Anfíbio - 9
mos citar a Odebrecht na África Aus-
tral, Andrade Gutierrez nos Cama-
rões e a Petrobras no “off-shore” de
Angola.
Temos ainda a possibilidade de
evacuação de participantes de mis-
sões diplomáticas brasileiras no ex-
terior, que, à luz do Direito Interna-
cional Público, teriam asseguradas
garantias de livre trânsito em segu-
rança. Entretanto, inúmeras vezes tais
garantias são per-
didas, particular-
mente em regiões
de atuação de gru-
pos guerrilheiros
organizados e for-
temente armados.
Não se deve des-
cartar, ainda, a
possibilidade de realização deste
tipo de operação na América do Sul,
em face da marcante presença de
nossos nacionais nos demais países,
como conseqüência da maior
integração regional. Como podemos
acompanhar nos noticiários, as for-
ças “centrífugas” da globalização
continuam atuandofortemente emvá-
rios países, com graves conseqüên-
cias para estabilidade política da re-
gião.
A Capacidade do Poder Naval
Brasileiro
A Marinha, apesar das constan-
tes restrições orçamentárias, deve
manter-se capacitada a executar
operações de evacuação de não-
combatentes, com o propósito de
salvaguardar vidas humanas, de
acordo com a PDN. A capacitação
para este tipo de operação deve ser
atingida em dois campos, o operativo
(que envolve a preparação do pes-
soal) e o logístico (meios modernos
e eficientes).
Quanto à preparação do pessoal,
nos últimos anos o Comando de
Operações Navais já tem enfatizado,
nas Operações UANFEX e
INCURSEX, esta hipótese de em-
prego. O Comando-Geral do CFN
por sua vez, em 2001, fruto da ex-
periência acumulada nesses exercí-
cios e do conhecimento específico de
alguns Oficiais, publicou o Manual de
Operações de Evacuação de Não-
Combatentes Executada por
Grupamentos Operativos de Fuzilei-
ros Navais. Com
essa publicação, o
CGCFN-1310, os
conceitos básicos e
os procedimentos
relativos ao pla-
nejamento e à exe-
cução das opera-
ções de ENC por
Grupamentos Operativos de Fuzilei-
ros Navais estão sendo consolidados.
Quanto à operação de evacuação
propriamente dita, o Comando de
Operações Navais possui capacida-
de limitada para executar uma ENC
de grande vulto. Entretanto, dentro
da nossa realidade, ao se organizar
uma ForTarAnf, podemos conside-
rar que:
O NAe São Paulo pode ser em-
pregado em uma primeira fase para
lançamento de tropa, e, em uma se-
gunda, como navio de recebimento
e processamento dos não-comba-
tentes.
O 1º Esquadrão de Apoio pos-
sue capacidade para o transporte de
uma Força de Desembarque tipo
Unidade Anfíbia de Fuzileiros (Uanf).
As fragatas e os contrator-
pedeiros prestariam o
Apoio de Fogo Na-
val, apoiando, caso
necessário, a mano-
bra em terra.
O apoio aéreo
aproximado poderá
ser executado pelos
AF-1 SKYHAWK e pelos helicóp-
teros.
Quanto aos meios de fuzileiros na-
vais, a Marinha mantém uma força
pronta de valor Unidade Anfíbia
(UAnf), que possui os recursos hu-
manos e materiais necessários ao
cumprimento das tarefas em terra. As
maiores limitações para a execução
desta operação são logísticas, parti-
cularmente no que tange à manuten-
ção do fluxo de suprimento para a
AOA.
Outro aspecto a ser considerado
é o raio de ação da nossa aviação de
asa rotativa. Atualmente nossa capa-
cidade de transporte e penetração
com meios helitransportados é redu-
zida. Baseando-se no alcance das
aeronaves ESQUILO (mono-turbi-
na), que fariam a escolta de uma co-
luna mecanizada ou dos helicópteros
de transporte de pessoal, os SUPER-
PUMA e SH-3, teríamos essa
proteção limitada a um afastamento
máximo 60 milhas marítimas, a partir
do ponto de lançamento. A aquisi-
ção de helicópteros de transporte
médios e pesados, incrementaria a
nossa capacidade de transporte, tan-
to de pessoal como material, permi-
tindo que uma nova dinâmica fosse
implementada na condução deste
tipo de operação.
Ressalta-se ainda que dificilmen-
te poderemos contar com uma dis-
ponibilidade de 100% para meios. A
disponibilidade média de 60% para
as aeronaves de um mesmo Esqua-
drão constitui-se num valor para
planejamento aceitável.
Quanto aos meios de su-
perfície, historicamente a
Esquadra tem operado
comumadisponibilida-
de média de 70%.
As regras de com-
portamento operativo
não devem ser esque-
2002 - O Anfíbio - 10
cidas e serão de tal ordem que
deverão proporcionar ao co-
mandante a possibilidade do
emprego das armas em pre-
sença de forças hostis para
assegurar a continuidade da
operaçãoeasegurançadesuas
tropas e pessoal evacuado.
Consideradas as limita-
ções do nosso PN, estima-se que te-
ríamos capacidade para evacuar
aproximadamente 630 não-comba-
tentes, mediante o emprego de uma
UAnf nos moldes da Força-Pronta
da Força de Fuzileiros da Esquadra,
sem considerar o emprego de outros
meios de transporte, que não os da
Marinha. Pesados todos os fatores
da decisão, em particular o ambiente
em que se realizará a operação, po-
der-se-á optar por uma força de
menor vulto, de modo a permitir um
maior número de vagas para evacu-
ados a bordo.
Diante do que foi acima descrito,
podemos constatar a capacidade,
ainda que limitada, do nosso Poder
Naval realizar uma operação de eva-
cuação de não-combatentes. Para as
ações em terra, uma UAnf tem con-
dições suficientes para executar as
suas tarefas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As peculiaridades do contexto glo-
bal neste começo do Século XXI exi-
gem formas eficazes de cooperação
em todos os campos, num firme em-
penhopelaconvivênciapacíficaepelo
respeito mútuo. Contudo, essa per-
cepçãonãodiminuiaconvicçãodeque
as assimetrias decorrentes das desi-
gualdades de ganhos com a glo-
balização nos levam a considerar que
a paz mundial ainda é uma utopia.
O emaranhado de interesses, a
interdependência econômica, faz
com que, cada vez mais nacionais
residam, mesmo que temporariamen-
te,emoutrospaíses.Comoalgunsdes-
ses estados ainda encontram-se su-
jeitos, em maior ou menor grau, aos
efeitosdasforças“centrífugas”daglo-
balização, é natural que cresça, pelo
menos no meio militar, a perspectiva
de crescente probabilidade de empre-
go de força militar no exterior, para a
salvaguarda dos nossos cidadãos. En-
tretanto, parece que este pensamento
não tem encontrado eco adequado
naqueles que são os responsáveis pela
nossa política externa.
É freqüente o comentário de que
a atividade militar e a diplomática se
contrapõem, já que um dos papéis
da diplomacia seria evitar o conflito,
enquanto que o papel das Forças Ar-
madas seria preparar-se para o con-
flito. Naturalmente, não existe essa
dicotomia. As Forças Armadas e o
Itamaraty trabalham, com freqüência
juntos, em favor do Brasil, de seu de-
senvolvimento. Entretanto, julgo fun-
damental que assuntos como as ope-
rações de ENC sejam debatidas e
exercitadas com maior intensidade e
freqüência, visando ao melhor enten-
dimento das mútuas necessidades e
limitações. Por exemplo, as represen-
tações diplomáticas devem possuir
um plano de evacuação, onde o em-
baixador ou representante diplomá-
tico local, por ser o representante do
Governo, portanto a maior autorida-
de na área, terá um papel muito ativo
e importante no desenrolar das
ações. Será que existe algum plano
pronto?
No que se refere aos as-
pectos militares do assunto
em pauta, conclui-se que, pe-
las peculiaridades abordadas,
a operação de evacuação de
não-combatentes requererá o
emprego de técnicas e pro-
cedimentos próprios, que, por
sua vez, são abordados deta-
lhadamente no manual CGCFN-
1310. A complexidade e incertezas
envolvendo a ENC exigem que te-
nhamos, em condição de pronto em-
prego, uma força adestrada e equi-
pada, capaz de fazer face às diver-
sas situações que por ventura surjam.
A Força-Pronta da Força de Fuzilei-
ros da Esquadra em função da sua mo-
bilidade, flexibilidade, prontidão, ver-
satilidade e capacidade logística, en-
quadra-se perfeitamente para a exe-
cução em terra desse tipo operação.
Por outro lado, caso a situação evo-
lua rapidamente para uma operação
de resgate de não-combatentes, a uti-
lização da organização tradicional de
uma Força de Incursão, prevista em
nossa doutrina, atenderá plenamente
à execução das tarefas requeridas.
Imaginemos que a situação em
Guiné Bissau, em 1998, não evoluís-
se favoravelmente e o Brasil tivesse
que garantir a integridade dos nos-
sos cidadãos e evacuá-los. Certa-
mente parcela do Poder Naval, o
conjugado anfíbio,em vista das ca-
racterísticas anteriormente apresen-
tadas, teria sido, naturalmente, a me-
lhor opção para a solução deste tipo
de problema - logicamente em con-
junção com medidas diplomáticas, ou
em sua continuação. Assim, vemos
que a Marinha deve estar preparada
para responder tempestivamente a
ordem de execução de uma opera-
ção de evacuação de não-combaten-
tes, mediante a rápida conformação
de uma Força capaz de realizar esta
importante e complexa missão.
2002 - O Anfíbio - 11
 A Nova Força
de Fuzileiros da Esquadra
Após a recente inva-
são do Afeganistão, ini-
ciou-se, nos Estados Uni-
dos da América (EUA),
no âmbito das Forças
Armadas, um debate so-
bre a importância de se
ter forças de assalto le-
ves, prontas, baseadas
no mar, e que não depen-
dam de bases de ope-
ração em território es-
trangeiro para se lança-
rem à ação.
De acordo com os
militares americanos, os
novos campos de batalha,
do qual o Afeganistão é um
exemplo, terão como característi-
cas dominantes a incerteza, o caos,
e a assimetria. As capacidades cres-
centes dos sensores e o grande al-
cance das armas de precisão asse-
gurarão um campo de batalha mais
fragmentado e fluído, prevendo um
grande imperativo para a manobra.
Contra este estado de incerteza, são
necessárias forças armadas moder-
nas, capazes de sustentarem-se na
ação, com flexibilidade, mobilidade,
e poder de combate flexível.
Quando analisamos estes concei-
tos, chegamos à conclusão de que o
Corpo de Fuzileiros Navais (CFN)
preenche estes requisitos. A Força
de Fuzileiros da Esquadra (FFE),
seu setor operativo, é composta to-
talmente por militares profissionais
e voluntários, tendo a capacidade de
se organizar por tarefas, combinan-
do em si uma força leve, moderna em
meios, com suficiente poder de com-
bate e com grande capacidade de
manobra. Acrescenta-se, ainda, que
seus diversos Grupamentos Opera-
tivos tem capacidade para susten-
tar-se logisticamente, embarcam com
seu próprio equipamento orgânico,
incluindo viaturas leves e pesadas,
carros de combate (CC), blindados
leves e helicópteros, além de pode-
rem ser apoiados por aeronaves A-4,
operadas a partir do Navio-Aeró-
dromo (Nae) São Paulo.
Para manter esta capacitação ao
longo de sua existência e para fazer
face aos novos desafios do cenário
mundial, o CFN procura manter a-
tualizada sua estrutura administra-
tiva e de combate, muitas vezes in-
fluenciadas pelas mais variadas cir-
cunstâncias, sejam de caráter exter-
no, com o surgimento de novas dou-
CONTRA-A LMIRANTE (FN) PAULO
CESAR STINGELIN GUIMARÃES
trinas, ou internamente,
para se adaptar às ne-
cessidades ditadas pela
evolução da Política
Nacional, sem contudo
perder de vista sua mais
importante característi-
ca: a capacidade de pro-
jetar poder sobre terra.
Rever e manter es-
truturas organizacionais
modernas, como as que
o CFN requer, demanda
um planejamento de lon-
go prazo. A construção,
a preparação e a acumulação de
meios bélicos requer um tempo tal que
impõe a necessidade de projetar for-
ças com bastante antecedência.
Quando pensamos na revisão de
estruturas de forças não podemos
deixar de considerar a influência da
aquisição de novos meios e tecno-
logias, que aumentam sua capacida-
de global. No caso do CFN, por
exemplo, como a incorporação dos
CC SK-105A2 afetará a doutrina
de Operações Anfíbias? Será que a
estrutura existente do CFN suporta-
ria o acréscimo deste novo meio e
da tecnologia que traz embutida, ou
seriam necessárias novas modifica-
ções?
Outro aspecto a ser considerado
é a crescente sofisticação dos atuais
sistemas de armas, que torna inexe-
qüível qualquer reconfiguração de
forças que não preveja um tempo de
execução ao menos “razoável”, que
2002 - O Anfíbio - 13
permita não apenas a obtenção dos recursos humanos e materiais espe- Ilha do Governador e a prontificação
meios necessários, mas também o cíficos necessários à FFE. Dentre as dos GptOpFuzNav ou outros desta-
atendimento dos trâmites administra- atividades do CGCFN estão a ad- camentos específicos, além de cons-
tivos e a mudança do perfil dos com- ministração geral e a instrução do tituir elo na estrutura administrativa e
batentes. pessoal do CFN, a gerência do ma- logística da MB.
Com o objetivo de manter atua- terial específico de fuzileiros navais, A TrRef, embora tenha em sua
lizada sua estrutura administrativa e bem como aquelas que contribuem estrutura algumas unidades de Apoio
de combate, tendo em vista o recebi- para o desenvolvimento da doutrina ao Combate (ApCmb), é o coman-
mento de novos meios pelo Corpo empregada pelo CFN. do centralizador das unidades de
de Fuzileiros Navais (CFN) nos úl- A FFE representa a parcela do Apoio de Serviços ao Combate
timos anos, a evolução das conjun- CFN que reúne os principais meios (ApSvCmb). Sua destinação é logís-
turas nacional e internacional e as úl- e efetivos que formam os Grupa- tica, com o seu comando não parti-
timas alterações introduzidas na es- mentos Operativos de Fuzileiros Na- cipando das Operações Anfíbias
trutura da Força de Fuzileiros da Es- vais (GptOpFuzNav), responsáveis (OpAnf). É um elo intermediário na
quadra (FFE), em 1995, o Coman- pela condução de Operações Anfí- cadeia de comando, fator de equilí-
do-Geral do CFN (CGCFN) fez bias e Ribeirinhas, juntamente com a brio na estrutura organizacional de-
realizar, durante o ano de 2000, o Esquadra. Cabe, ainda, à FFE, par- vido ao fato de permitir a harmonia
ticipar de Operações de Paz, propor- das relações de comando, no âmbi-
simpósio “O CFN e o 3º Milênio”.
cionando ao Brasil importante vetor to da FFE.
O propósito do simpósio foi de deli-
de projeção internacional. O BtlOpEspFuzNav tem por fi-
near, à luz dos cenários prospectivos,
Com um efetivo aproximado de nalidade a execução de operações
em um horizonte temporal de 10 anos,
6 mil homens, ela enquadra dois especiais, especificamente as ações
o futuro conceito de emprego de
grandes comandos: a Divisão Anfí- de comandos e as ações de reconhe-
Grupamento Operativos de Fuzilei-
bia (DivAnf) e a Tropa de Reforço cimento especializado, contribuindo
ros Navais (GptOpFuzNav) e outras (TrRef). A FFE conta, ainda, com um para o preparo e aplicação do po-
tarefas compatíveis com organiza- Batalhão de Operações Especiais de der naval.
ções de fuzileiros navais, principal- Fuzileiros Navais (BtlOpEspFuzNav) A BFNRM provê ao Comando
mente a FFE, bem como os requisi- e com a Base de Fuzileiros Navais da FFE e às unidades aquarteladas
tos de organização, pessoal, materi- do Rio Meríti (BFNRM). em sua área o apoio administrativo,
al e adestramento decorrentes. A DivAnf tem as tarefas de pre- envolvendo pessoal, saúde, comuni-
Ao final do simpósio, foi apresen- parar os elementos subordinados para cações, transporte e segurança.
tada uma proposta de reestruturação emprego em todos os aspectos, su- Os organogramas abaixo mos-
da FFE. Este é o enfoque do pre- pervisionar as atividades de base da tram a atual estrutura da FFE.
sente artigo. Para que o leitor possa
fazer uma comparação, apresenta-
remos de forma sucinta a atual es-
trutura, as razões que levaram à ne-
cessidade de alterá-la, a nova estru-
tura que extinguiu diversas unidades
e criou outras, as principais vanta-
gens e tarefas das novas unidades e
uma breve conclusão.
A ATUAL FFE
Dentro da estrutura do Coman-
do da Marinha, a FFE está subordi-
nada ao Comando de Operações
Navais (CON), cabendo ao Coman-
do-Geral do Corpo de Fuzileiros
Navais (CGCFN), como Órgão de
Direção Setorial (ODS), prover os
2002 - O Anfíbio - 14
 EMPREGO DA FFE
A FFE, explorando a versatilida-
de e a flexibilidade de seus meios, é
empregada através de GptOpFuzNav,
que são organizações-por-tarefas
com grande flexibilidade, tecnologi-
camente modernas, bem equipadas,
leves, ágeis, dotadas de prontidão
operacional, integradas por profissi-
onais e com caráter expedicionário,
capazes de cumprir diferentes tipos
de missões, principalmente as OpAnf.
Para o cumprimento de qualquer
missão, os GptOpFuzNav são estru-
turados em componentes, de acor-
do com a natureza das tarefas rece-
bidas: o Componente de Comando
(CCmdo), o Componente de Com-
bate Terrestre (CCT), o Componente
de Apoio de Serviços ao Combate
(CASC) e o Componente de Com-
bate Aéreo (CCA).
O Componente de Comando
(CCmdo) destina-se a supervisionar
os demais componentes e a prover
as ligações externas. Seus meios são
providos pela DivAnf.
O Componente de Combate Ter-
restre (CCT) executa as ações táti-
cas, empregando as unidades de
combate e de apoio ao combate.
Grande parte de seus meios são tam-
bém da DivAnf.
O Componente de Combate Aé-
reo (CCA) destina-se a prover todo
o apoio aéreo e a defesa antiaérea
necessários à operação, incluindo as
agências de controle aéreo. Os mei-
os aéreos são oriundos da Força
Aeronaval.
O Componente de Apoio de Ser-
viços ao Combate (CASC) é o res-
ponsável pelas tarefas logísticas da
Operação. Sua organização está nu-
cleada nos meios da TrRef.
Cabe ressaltar que esta estrutura
é meramente administrativa. Após
organizado por tarefas para o cum-
primento de uma determinada mis-
são, o CCmdo passa a ser o Coman-
do da ForDbq; o CCT (no caso de
uma Unidade Anfíbia) passa a ser o
Grupamento de Desembarque de
Batalhão (GDB); e o CASC transfor-
ma-se no Grupo de Apoio de Servi-
ços ao Combate (GASC).
Basicamente, o valor do
GptOpFuzNav é definido pelo
CCT, que pode ser uma Companhia
de Fuzileiro Navais (CiaFuzNav), um
Batalhão de Infantaria de Fuzilei-
ros Navais (BtlInfFuzNav) e uma
Brigada de Fuzileiros Navais
(BdaFuzNav). Estas unidades nu-
clearão, respectivamente, um Ele-
mento Anfíbio (ElmAnf), uma Uni-
dade Anfíbia (UAnf) e uma Briga-
da Anfíbia (BAnf), também chama-
dos de Forças de Desembarque
(ForDbq).
Atualmente, a DivAnf acumula
as atividades inerentes ao Co-
mando da Força de Desembarque
(CmdoForDbq) e do Componente
de Combate Terrestre (CmdoCCT),
quando o GptOpFuzNav for de va-
lor Brigada Anfíbia (BAnf).
Com a atual estrutura e os meios
hoje existentes na FFE, podemos
organizar, ElmAnf, Uanf e, com al-
gumas limitações, até uma BAnf, ca-
pazes de cumprir diferentes missões
em variados ambientes operacionais.
Finalmente, partindo-se da pre-
missa de que o emprego dos Fuzilei-
ros Navais se dará, em princípio, por
meio de GptOpFuzNav, o ponto de
equilíbrio entre as organizações ad-
ministrativa e de combate será ter
uma organização administrativa que
permita uma rápida transição, ou
seja, aquela que permita, em melho-
res condições, o aprestamento dos
meios em pessoal e material neces-
sários à composição daquelas orga-
nizações-por-tarefas.
No módulo seguinte, abordare-
mos as principais necessidades que
levaram o CGCFN, juntamente com
o CON, a reajustar a estrutura da
FFE.
NECESSIDADES DE
MUDANÇAS
Em 2000, O Corpo de Fuzileiros
Navais realizou o Simpósio “O CFN
e o 3° Milênio”. Ao final dos traba-
lhos, dentre as sugestões apresenta-
das, destacou-se a necessidade de
reestruturar a FFE, cuja última reor-
ganização ocorreu em 1995.
A partir de 2001, no âmbito do
CGCFN e do CON, iniciou-se um
estudo, balizado pelo princípio da
economicidade e pela preocupação
permanente com a modernização ad-
ministrativa do setor operativo do
CFN, visando atender ao requisito de
maximizar o emprego dos recursos
humanos e materiais disponíveis para
o aprestamento dos GptOpFuzNav.
Uma das componentes levada em
consideração foi a recente reestru-
turação pela qual passou o Poder
Militar Nacional, incluindo a ins-
titucionalização plena do Ministério
da Defesa. Certamente, a realização
de operações conjuntas ou combi-
nadas aumentarão, carreando novas
demandas para a seleção dos meios
e o adestramento. Isto implica que
qualquer alteração estrutural da FFE
deve manter e aprimorar os seus
meios, dispensando atenção perma-
nente às características essenciais do
Poder Naval: mobilidade, permanên-
cia, flexibilidade e versatilidade.
Outro aspecto analisado foi a ne-
cessidade da reorganização permitir
a adequação e a aproximação da sua
estrutura administrativa aos concei-
tos utilizados em sua organização de
combate, permitindo, quando neces-
sário, a rápida transição de uma para
outra.
Por outro lado, a análise dos re-
latórios dos diversos exercícios e
2002 - O Anfíbio - 15
operações mostrou que o CmdoFFE
se ressentia de um Comando de For-
ça isolado capaz de consolidar a filo-
sofia de emprego dos GptOpFuzNav,
organizados em componentes, ne-
cessários à condução das diversas
operações navais, o que retardava
sua prontificação. Esta lacuna dificul-
tava o efetivo planejamento decor-
rente das determinações emanadas
pelo CmdoFFE e o desenvolvimen-
to de planos-padrão consoantes com
o contexto atual e previsto, dificul-
tando a aproximação com as demais
Forças Singulares (FS) para o em-
prego Conjunto ou Combinado e,
ainda, a obtenção de maior agilidade
na ativação e no emprego da Força
Pronta. A existência deste elemento
organizacional na FFE, similar às Di-
visões da Esquadra, dotaria o compo-
nente de comando dos GptOpFuzNav
de elementos voltados inteiramente
ao planejamento e execução de di-
versas operações navais, tornando-
se o comando permanente de uma
UAnf e, quando necessário, desem-
penhando também o
comando do CCT
de uma BAnf.
Ainda em relação
ao CmdoFFE, ob-
servamos que o
BtlOpEspFuzNav,
unidade responsável
pela preparação dos
destacamentos de Operações Espe-
ciais (DstOpEsp), otimizaria o em-
prego de seus recursos de pessoal e
material se concentrasse as Compa-
nhias com emprego diversificado e
que integram diferentes Componen-
tes – Companhia de Reconhecimen-
to Anfíbio (CiaReconAnf), Compa-
nhia de Reconhecimento Terrestre
(CiaReconTer) e Companhia de
Operações Especiais (CiaOpEsp)-
em uma mesma Subunidade que,
para atender a variadas missões, ne-
cessita de adestramento em técnicas
muito parecidas. Estando em uma
mesma Subunidade, o adestramento
comum otimiza os recursos e facilita
o remanejamento de pessoal, à me-
dida que ocorre maior especialização
e acúmulo de mais experiências.
A organização do BtlOpEspFuzNav
com a integração das companhias
reflete a grande importância do re-
conhecimento e das operações es-
peciais no combate moderno, mor-
mente nas Operações Anfíbias
(OpAnf ). A existência de duas
CiaOpEsp permitiria a composição
de diversas equipes para a execução,
não só do reconhecimento afastado
(da LSAA à LCAF) e distante (fora
da CP), mas também das ações de
comandos na retaguarda profunda do
inimigo.
Estudando-se pontualmente a
DivAnf, constatou-se uma pesada
ingerência das fainas administrativas
sobre os Comandos, contrariando a
filosofia de criação das Bases de
Fuzileiros Navais(BFN), principal-
mente nas atividades
diárias das atuais
companhias inde-
pendentes, com se-
mi-autonomia admi-
nistrativa, não permi-
tindo que aquelas es-
truturas estivessem
especificamente vol-
tadas para suas atividades-fins. As-
sumiram tarefas administrativas que
demandam o emprego de elevados
contingentes humanos e que, hoje,
são da competência das BFN. Estes
desvirtuamentos levaram ao consen-
so de que novas estruturas, a nível
batalhão, centralizando atividades
similares e reduzindo a amplitude de
comando, trariam economicidade
administrativa, padronização de pro-
cedimentos e facilidade no adestra-
mento e na manutenção dos meios,
concorrendo diretamente para melho-
rar a prontificação da Força.
Além da carga administrativa
verificada acima, observou-se alguns
óbices para o emprego eficiente da-
quela Força Subordinada, a seguir
relacionados:
1. alguns dos elementos de apoio
ao combate (ApCmb), que atuam
basicamente em seu proveito, não
lhes são subordinados, como é o
caso das Viaturas Blindadas (VtrBld)
de transporte de pessoal, fato que di-
ficulta a integração com os Carros de
Combate (CC),meios de caracterís-
ticas semelhantes, que devem ope-
rar em conjunto;
2. presença de Subunidade Inde-
pendente com tarefa exclusiva de ins-
talação e operação do PC da Força
e, conseqüentemente, reduzida apli-
cabilidade em outras atividades;
3. restrita capacidade de controle
dos meios aéreos e de apoio ao seu
desdobramento em terra; e
4. presença de elementos de
apoio ao combate (ApCmb), com
atribuição de apoiar tropa de outras
forças e unidades, demandando co-
ordenações adicionais.
Em relação ao primeiro óbice, e
tendo em vista que dificilmente os CC
serão empregados separadamente da
tropa de Infantaria embarcada em
CLAnf ou em VtrBId e que a
CiaVtrBld também poderá operar em
conjunto com estes meios, a CiaCC
e a CiaVtrBld seriam concentradas
em uma única Unidade, a nível de
Batalhão, podendo, inclusive, nucle-
ar mais uma peça de manobra da
BAnf, quando necessário. Os
CLAnf, em face de suas caracterís-
ticas e da complexidade logística que
os envolve, devem ficar separados
sob um único comando, aliviando,
assim, o rol de preocupações do
Comandante da Unidade. A nova
OM, além de otimizar os meios de
2002 - O Anfíbio - 16
manutenção, centralizaria o plane-
jamento, a coordenação e o contro-
le das atividades de adestramento,
logísticas e administrativas de blinda-
dos e Anti-Carro (AC).
Outro aspecto ressaltado está no
fato de que esta OM, enquadrando
os novos CC SK105A2 e as VtrBld
da família M- 113, bem como uma
seção de CCL SR Cascavel, possi-
bilitaria um melhor pre-
paro e emprego dos
meios blindados pelos
GptOpFuzNav, princi-
palmente na execução
das tarefas de seguran-
ça, de reconhecimen-
to e vigilância blinda-
dos e integrando Forças de Contra-
ataque. Como exemplos destas ta-
refas, citam-se a constituição de van-
guarda, de flancoguarda e de reta-
guarda de grupos-tarefa; ações de
segurança de área de retaguarda
(SEGAR); o reconhecimento de ei-
xos, de zonas e de áreas; e o atendi-
mento dos graus de resistência de
vigiar e retardar, tarefas estas que
adquirem significado especial em fun-
ção das grandes frentes e profundi-
dades normalmente encontradas nas
operações dos GptOpFuzNav.
A criação de uma Unidade com
as características descritas acima,
além de reunir meios que demandam
a mesma filosofia e sistemas análo-
gos para a manutenção, e que exi-
gem recursos humanos com forma-
ção básica semelhante, preencheria
importante lacuna existente na FFE,
dotando seus GptOpFuzNav com
tropas de alta mobilidade, ação de
choque, capacidade de comunica-
ções, proteção blindada e grande
integração.
Quanto à presença de uma Subu-
nidade independente com a tarefa
exclusiva de operar Posto de Co-
mando (PC) de força, a Companhia
de Comando da divisão
Anfíbia(CiaCmdoDivAnf), os relató-
rios apontavam a existência de defi-
ciências no preparo e emprego dos
meios de comando e controle dos
nossos GptOpFuzNav. Verificou-se
que a ausência de um elemento
organizacional de nível Batalhão, que
permitisse a integração sistêmica des-
ses meios e sistematizasse seu em-
prego, evitando sua
dispersão, tem cau-
sado, atualmente,
algumas dificulda-
des na condução
de exercícios e
operações.
Outro aspecto a
mencionar em relação ao Comando
e Controle, era a necessidade de um
órgão que congregasse os especia-
listas destinados à análise e o
processamento dos dados coletados
pelas diversas agências de busca da
Força, quando em operação, em
apoio aos CmdoGptOpFuzNav. Esta
nova estrutura decorre da necessida-
de de integração das informações
obtidas pelas diversas agências de
busca hoje existentes, que abrangem
meios eletrônicos, Unidades de Com-
bate (UCmb), de Apoio ao Comba-
te (UApCmb), de Apoio de Serviço
ao Combate (UApSvCmb) e outras,
para garantir um desejável asses-
soramento aos CmdoGptOpFuzNav
durante seu processo decisório e no
Controle da Ação Planejada.
Atualmente, por sua inexistência,
as informações e informes obtidos
não são adequadamente utilizados,
com a perda do princípio da oportu-
nidade e com o desgaste desneces-
sário, principalmente, dos elementos
especializados na tarefa de obtenção
de dados.
Por outro lado, verificamos que,
além da CiaCmdo, a DivAnf, dispõe
atualmente de outra Unidade, nível
Companhia Independente – a Com-
panhia de Comunicações (CiaCom)-
que, junto com a Companhia de
Guerra Eletrônica (CiaGE), opera no
espectro eletromagnético. Em função
de seus equipamentos e tarefas, os
efetivos destas duas companhias pos-
suem a mesma formação básica, tan-
to para o emprego quanto para a
manutenção, e se adestram, cada
uma, utilizando-se dos recursos da
outra.
Deste modo, a união da CiaCmdo
com parcelas da CiaCom e da
CiaGE, sob um mesmo Comando,
sanaria as deficiências apresentadas
e permitiria a esta unidade desempe-
nhar as tarefas de montar, de ope-
rar, e de assegurar as facilidades de
controle e de coordenação dos mei-
os desdobrados de um PC de
GptOpFuzNav, além de garantir a
centralização dos meios de manuten-
ção orgânica, o planejamento e a
coordenação do adestramento, e,
ainda, otimizar o emprego dos re-
cursos humanos e materiais disponí-
veis, hoje dispersos na FFE. Esta
agregação de meios similares sob um
comando único proporcionaria con-
sideráveis economias de pessoal, ra-
cionalização administrativa e flexibi-
lidade na alocação de recursos hu-
manos e materiais parcialmente
intercambiáveis, ampliando conside-
ravelmente a capacidade dos
CmdoGptOpFuzNav para o exer-
cício da autoridade e a supervisão
das ações durante as operações.
Quanto à capacidade dos
GptOpFuzNav de controlar e coor-
denar os meios aéreos, foram senti-
das deficiências durante os exercíci-
os e operações, por ocasião do re-
cebimento da aviação baseada em
terra e do posterior apoio requerido,
principalmente na coordenação dos
meios aéreos e de defesa antiaérea
(DAAe) a baixa altitude, intento que
2002 - O Anfíbio - 17
cresce de importância com a intro-
dução de aeronaves de asa fixa na
aviação naval. Outra deficiência foi a
exigüidade de sensores de vigilância
aérea, impedindo a divisão de meios
de Defesa Antiaérea (DAAe) e de
Controle Aerotático (CtAetat), e
também a carência de recursos adi-
cionais para o emprego dos meios
aéreos em regiões ribeirinhas, onde
os navios que têm capacidade de con-
trole aéreo operam com restrições.
A falta de uma Unidade com as
capacidades relatadas vem dificul-
tando a coordenação eficaz entre o
emprego de vetores aéreos e dos
meios antiaéreos, a ampliação da dis-
ponibilidade de meios para reconhe-
cimento aéreo em áreas de risco para
as aeronaves convencionais, e, ain-
da, a disponibilização de uma outra
estrutura alternativa capaz de nucle-
ar o Centro de Controle Aerotático
(CCA), quando necessário.
As restrições de controle e coor-
denação dos meios aéreos pelos
GptOpFuzNav seriam corrigidas com
a criação de uma Unidade, valor Ba-
talhão, congregando os meios da
Bateria de Artilharia Antiaérea
(BiaArtAAe) com parcelas da
CiaCmdo e da CiaCom, hoje todas
Subunidades independentes da
DivAnf.
A nova Unidade, além da
BiaArtAAe, que manteria sua estru-
tura atual, seria organizada com uma
Subunidade dedicada especificamen-
te ao Controle Aéreo, dotada dos
meios necessários para executar a vi-
gilância e o controle aéreo com rada-
res de grande alcance e apoiar o es-
tabelecimento de todas as agências de
controle de aviação em terra, poden-
do, quando necessário, nucleá-las e
ao CCA também, além de prover a
defesa antiaérea dos GptOpFuzNav.
Dessa Forma, a criação de uma
Unidade, valor Batalhão, de Defesa
Antiaérea e Controle Aerotático,
otimizaria o emprego de recursos em
pessoal e material, fechando uma la-
cuna existente na estrutura orga-
nizacional da FFE, que é a limitada
capacidade de controle do espaço
aéreo pelos GptOpFuzNav.
No Comando da Tropa de Re-
forço (CmdoTrRef), as deficiências
visualizadas dizem respeito ao em-
prego da Companhia de Apoio ao
Desembarque (CiaApDbq), atual-
mente inclusa no atual Batalhão de
Engenharia de Fuzileiros Navais
(BtlEngFuzNav), e a falta de uma
Subunidade com tarefas de Defesa
Biológica, Química e Nuclear
(DQBN)
A CiaApDbq, além de ser uma
unidade ímpar nas Forças Armadas
(FFAA), tem funções específicas no
planejamento e na execução de
OpAnf, com atribuições e contatos
em diversos níveis de comando.
Sua missão numa OpAnf é, atra-
vés do Destacamento de Praia (DP)
e do Destacamento de Zona de De-
sembarque (DZD), organizações-
por-tarefas, assegurar a continuida-
de do movimento de tropas, de equi-
pamentos e de suprimentos em am-
biente descontínuo mar-terra ou
ar-superfície no momento mais críti-
co de uma operação anfíbia, onde
inicia-se a edificação do poder de
combate em terra. A existência da
CiaApDbq é fundamental para nu-
clear os diferentes níveis de DP e de
DZD.
Caso a CiaApDbq se tornasse
uma Subunidade independente, sem
autonomia administrativa, e subordi-
nada diretamente ao CmdoTrRef, seu
emprego seria otimizado, facilitando
as atividades de preparo e emprego
próprios, melhorando, conseqüen-
temente, a capacidade de ApSvCmb
aos GptOpFuzNav durante o desem-
barque.
A deficiência dos GptOpFuzNav
com a Defesa Química, Biológica e
Nuclear (DQBN) avultou de impor-
tância após os recentes acontecimen-
tos internacionais envolvendo atos
terroristas com o uso de agentes quí-
micos e biológicos e também pela
não observância de procedimentos
de descontaminação de pessoal e
equipamentos, empregados pelos
GptOpFuzNav em missões de paz
pela ONU. Acrescenta-se, ainda, a
falta de uma mentalidade de DQBN
no CFN.
Esta ameaça crescente seria sa-
nada com a criação de uma organi-
zação específica, que constituiria o
núcleo do Sistema de DQBN do
CFN, com a finalidade de prestar o
ApCmb e o ApSvCmb, nas ativida-
des relacionadas à DQBN , aos
GptOpFuzNav, nas Operações de
Fuzileiros Navais ou a outras organi-
zações-por-tarefas que venham a ser
organizadas. Suas tarefas seriam pre-
parar e manter os equipamentos es-
pecíficos, instruir e adestrar seu pes-
soal nos assuntos relacionados à
descontaminação, controlar os esto-
ques de munições e de seus vetores,
realizar a detecção e identificar os
agentes QBN, além de contribuir
para o desenvolvimento da doutrina
de DQBN, no âmbito do CFN.
Como, normalmente, as tarefas de
DQBN, principalmente a desconta-
minação, serão atividades realizadas
na retaguarda, próximo às Áreas de
Apoio Logístico (AApLog), a fração
a ser criada poderia se subordinar ao
Batalhão Logístico (BtlLog), do
CmdoTrRef.
Por outro lado, com a transfor-
mação da CiaApDbq em Subuni-
dade independente, com meios de
comando, de comunicações e de
serviços gerais fornecidos pelo
BtlEngFuzNav, surgiu a necessida-
de de reestruturá-lo.
2002 - O Anfíbio - 18
 Quando analisamos sua estrutura
organizacional, verificamos que a
Companhia de Apoio (CiaAp), com
o fim da realização de serviços re-
munerados pelo Batalhão, passou a
ser uma Subunidade sem identidade
própria, uma vez que apenas detém
e mantém os meios pesados empre-
gados pela outras Subunidades em
apoio ao movimento, não tendo a ca-
pacidade para coordenar seu empre-
go. Na prática, vem funcionando
como um depósito de equipamentos
e viaturas.
Da mesma forma, a atual Com-
panhia de Engenharia(CiaEng) tam-
bém tem em sua dotação os equipa-
mentos pesados necessários à exe-
cução de suas tarefas, havendo por-
tanto uma superposição de meios.
Assim sendo, para otimizar o em-
prego de pessoal e material e com-
pensar a perda dos elementos cedi-
dos para a transformação da
CiaApDbq em Subunidade indepen-
dente, a CiaAp e a CiaEng poderi-
am ser fundidas numa única Subu-
nidade, a qual incorporaria parte das
tarefas de ambas, já que as funções
logísticas de transporte e manuten-
ção, da atual CiaAp, passariam para
a CiaCSv. A Companhia de Pionei-
ros (CiaPion) continuaria com a mes-
ma estrutura e tarefas.
A reestruturação proposta, além de
otimizar o emprego de meios e de pes-
soal, asseguraria, pelo BtlEngFuzNav,
o ApSvCmb e o ApCmb aos
GptOpFuzNav em boas condições,
além de permitir ao BtlEngFuzNav
fornecer os elementos para compor o
Estado-Maior Especial (EM-Esp) do
CCT e do CmdoGptOpFuzNav.
Adotando-se a mesma linha de ra-
ciocínio seguida para o BtlEngFuzNav,
a saída da CiaVtrBld-M113 para
integrar uma Unidade de Blindados
requererá a reestruturação do
BtlVtrAnf.
Ainda na TrRef, os relatórios dos
exercícios e operações têm ressal-
tado as limitações do BtlLogFuzNav
em nuclear o comando do GASC de
uma ForDbq valor BAnf e, em pa-
ralelo, exercer as atividades de
ApSvCmb, o que indica a conveni-
ência de estabelecer-se elementos
para nuclear o comando do GASC
de uma BAnf.
Analisadas as principais deficiên-
cias da estrutura organizacional da
FFE e as possíveis soluções, apre-
sentaremos no tópico seguinte a
reestruturação proposta e aprovada
pelo Comandante da Marinha (CM),
bem como os fundamentos mais im-
portantes que deram embasamento
a sua adoção.
A NOVA FFE
A atual organização da FFE foi
estabelecida em 1995, quando se
pretendeu, basicamente, agrupar na
DivAnf as unidades que constituem
os CCmb – os Batalhões de Infanta-
ria – e os de ApCmb – artilharia de
campanha, artilharia antiaérea, car-
ros de combates etc – de nossos
GptOpFuzNav. Na Tropa de Refor-
ço estabeleceram-se as OM desti-
nadas ao ApSvCmb, ou seja, aque-
las de natureza logística.
A proposta de reestruturação que
será apresentada em seguida consti-
tui-se em um aperfeiçoamento da úl-
tima reorganização e procura, pri-
mordialmente, sanar as principais
deficiências observadas na estrutura
organizacional da FFE ao longo dos
exercícios e operações, analisadas no
tópico anterior, bem como atender,
particularmente, às necessidades ge-
radas pela modernização do inven-
tário da Força.
A nova organização foi recente-
mente aprovada pelo Comandante da
Marinha, com previsão de imple-
mentação total até julho de 2003.
Para se chegar a proposta final, al-
gumas premissas foram estabelecidas,
as quais tiveram influência marcante
sobre todas as alterações na estrutura
da FFE. Dentre elas estão:
Ø proporcionar, com o máximo
de facilidade, a constituição de
GptOpFuzNav;
Ø não haverá acréscimo no
efetivo da FFE;
Ø a Marinha do Brasil (MB) de-
verá continuar sendo a única Força
Singular (FS) com capacidade de
projeção de poder sobre terra, isto
é, com capacidade expedicionária
própria;
Ø a realização de OpAnf é uma
capacidade inerente à Marinha do
Brasil e imprescindível ao cumprimen-
to de diversas tarefas do Poder Na-
val (PN) decorrentes da Política de
Defesa Nacional (PDN);
Ø o CFN, em face de ser uma
força profissional e com elevada
mobilidade estratégica, deverá ter seu
emprego priorizado para as tarefas
que não impliquem na fixação de tro-
pas, valorizando suas características
intrínsecas;
Ø a situação econômica do país,
a despeito de uma projeção otimista,
deverá continuar impondo restrições
orçamentárias ao desenvolvimento
do poder militar, valorizando a ne-
cessidade de versatilidade das orga-
nizações e do adestramento;
Ø a criação do Ministério da
Defesa exigirá a intensificação do
preparo e do adestramento em ope-
rações combinadas e conjuntas, im-
plicando na adoção de meios e sis-
temas compatíveis com os demais
atores da expressão militar do Po-
der Nacional;
Ø a MB é a única FS que dispõe
e opera, normalmente, vetores navais,
aéreos e terrestres de forma combina-
da, constituindo-se em núcleo natural
de Força de Ação Rápida (FAR);
2002 - O Anfíbio - 19
 Ø necessidade de enfatizar na
versatilidade das organizações e do
adestramento e, mais ainda, no apro-
veitamento criterioso dos atuais mei-
os, otimizando o funcionamento das
atividades-meio, e carreando recur-
sos para as atividades-fim.
Ø as forças devem dispor de
mobilidade e poder de combate;
Ø o aumento da probabilidade
de efetivação da ameaça químico-
biológica;
Ø o valor da Força Pronta será,
no mínimo, uma UAnf;
Ø as OM deverão ter reduzidos
seus pesados encargos administrati-
vos;
Ø a plena institucionalização das
BFN e de sua participação no
ApSvCmb aos GptOpFuzNav;
Ø os meios congêneres devem,
na medida do possível, ser centrali-
zados de forma a otimizar o prepa-
ro, a manutenção e o emprego;
Ø as missões de paz não im-
põem, excetuando-se raras ocasiões,
o uso de equipamentos específicos;
Ø a nova organização deve fa-
cilitar a transição das organizações
administrativas básicas para as orga-
nizações por tarefas empregadas em
combate;
Ø a reestruturação deve facilitar
o preparo da força pela sua aproxi-
mação ao desenho doutrinário dos
GptOpFuzNav, buscando, dentro
das possibilidades, reunir as unida-
des segundo os Componentes de
Comando (CCmdo), de Combate
Terrestre (CCT), de Apoio de Ser-
viços ao Combate (CASC) e, quan-
do necessário, de Combate Aéreo
(CCA);
Ø foi considerado o estudo re- Comando da FFE
cém-realizado pelo Estado-Maior da a - Estado-Maior
Armada (EMA), com a participação a.1- Justificativa
do Comando de Operações Navais Sua reestruturação será necessá-
(CON) e do Comando-Geral do ria em virtude da ativação do
Corpo de Fuzileiros Navais CmdoTrDbq. O Grupo de Desenvol-
(CGCFN), referente à reformulação vimento de Tática (GDT) e o Siste-
das Tabelas de Lotação (TL) das ma de Avaliação de Exercícios (SAE)
Organizações Militares (OM); serão desativados. O GDT, junta-
Ø não haverá alteração significa- mente com a Seção de Planejamento,
tiva nos efetivos da FFE nos próxi- nucleará o Comando da Tropa de
mos dez anos; e Desembarque (CmdoTrDbq), Uni-
Ø quando novos meios forem in- dade proposta para ser criada e que
corporados ao acervo da FFE, será será detalhada a seguir. O SAE será
necessária uma avaliação sobre a ne- incorporado pela atual Seção de
cessidade de promover ajustes na Operações. Conseqüentemente, as
organização. seções remanescentes serão desig-
Da mesma forma, os documen- nadas conforme a seguir:
tos abaixo relacionados forneceram
as orientações necessárias à proposta I - Seção de Organização e Pes-
formulada: soal: F-10;
Ø a Política de Defesa Nacio- II - Seção de Inteligência: F-20;
nal (PDN); III - Seção de Operações: F-30;
Ø a proposta da Política Militar IV - Seção de Logística: F-40;
de Defesa (PMD); V - Seção de Comunicações e
Ø a proposta da Estratégia Mili- GE: F-50; e
tar de Defesa (EMD); VI - Seção de Planos e Progra-
Ø a Doutrina Básica da Mari- mas: F-60.
nha (DBM); e
Ø o Plano Estratégico da Mari- a.2- Principais Vantagens
nha (PEM). a) transferir parte do acervo so-
bre o planejamento de operações da
Vistas as premissas e os docu- atual Seção de Planejamento para o
mentos que deram o suporte neces- CmdoTrDbq;
sário à nova estrutura, faremos sua b) manter subordinada ao
apresentação tendo como modelo a CmdoFFE parte da atual estrutura da
organização da FFE, segundo suas Seção de Planejamento, visando ao
Forças e Unidades subordinadas. acompanhamento das atividades do
Serão também citadas as alterações CmdoTrDbq; e
com suas justificativas, as principais c) manutenção do SAE e do Cen-
tarefas e vantagens da nova organi- tro de Comando(CCmdo) na FFE.
zação, bem como o respectivo O organograma simplificado é o
organograma simplificado. apresentado a seguir:
2002 - O Anfíbio - 20
 b. Comando da Tropa de De- c) desenvolver e manter atuali- entre as atividades de Recon e
sembarque (CmdoTrDbq) zados planos para possível emprego OpEsp.
b.1 – Justificativa conforme determinação superior;
Será criado, nos moldes das Divi- d) manter o acompanhamento do c.2 – Principais Vantagens
sões da Esquadra, um comando per- estado de prontificação dos meios in- a) Especificidades de preparo e em-
manentemente para a UAnf em face tegrantes da Força-Pronta da FFE; prego de meios de OpEsp e de Recon;
da necessidade de dotar o CCmdo e) subsidiar os Comandantes da b) Ampliação da flexibilidade no
dos GptOpFuzNav de elementos in- DivAnf e TrRef com informações re- emprego da tropa de reconhecimen-
teiramente voltados ao planejamento lativas ao preparo dos meios subor- to pela extinção da distribuição de
e execução de diversas operações, dinados; e tarefas anteriores entre o ReconTer
ampliando a capacidade de prontifi- f) subsidiar o Comandante da e o ReconAnf;
cação da Unidade Anfíbia (UAnf) e FFE com informações visando ao de- c) Facilidade na formação básica
do (CCT) da BAnf. A Unidade não senvolvimento de procedimentos dos elementos de Recon e OpEsp;
terá autonomia administrativa e será operativos. d) Manutenção da flexibilidade do
comandada por um CMG (FN). A seguir é apresentado o orga- emprego do equipamento específico
nograma simplificado. e comum às ações de OpEsp e Recon;
b.2 – Principais e) ampliação da flexibilidade do
Vantagens BtlOpEspFuzNav; e
a) nuclear o comando de Força f) padronização do adestramento
de Desembarque (ForDbq) valor das Cias.
UAnf e o comando do CCT de uma
BAnf; c.3 – Principais Tarefas
b) desenvolver e manter atuali- a) nuclear os GptOpFuzNavforma-
zados planos para possível emprego dos especificamente para realizar
conforme orientação superior; OpEsp;
c) manter o controle do estado b) nuclear o GERR;
de prontificação dos meios integran- c) desenvolver operações espe-
tes da Força-Pronta UAnf; ciais em apoio aos GptOpFuzNav;
d) Agilidade de resposta do co- d) desenvolver a ções de reco-
mando da UAnf da Força-Pronta; nhecimento e vigilância estratégico-
e) Facilidade no acompanhamen- c. Batalhão de Operações Es- operacional; e
to da evolução da situação em cená-peciais (BtlOpEspFuzNav) e) desenvolver o reconhecimento
rios selecionados; c.1 – Justificativa e a vigilância afastados ou profundos
f) Facilidade na manutenção de Possibilitar a simplificação da sua em apoio aos GptOpFuzNav.
memória dos processos operativos
estrutura organizacional, agrupando O organograma simplificado da
relacionados ao comando da UAnf;
suas quatro companhias, duas de Unidade é o apresentado a seguir:
g) Facilidade no relacionamento
OpEsp e duas de Recon, em duas
com os comandos paralelos da Es-
CiaOpEsp que executariam tanto ta-
quadra; e refas de reconhecimento, como de
h) maior eficiência, por dispor-se
operações especiais. O Grupo Es-
de uma organização permanente, no
pecial de retomada e Resgate(GERR)
planejamento e execução de opera-
deve ser organizado em uma das
ções/exercícios. Subunidades, facilitando o adestra-
mento e o controle de seu material
b.3 – Principais Tarefas específico. Esta simplificação au-
a) nuclear o CmdoForDbq de mentará a flexibilidade do empre- Divisão Anfíbia
valor UAnf; go de pessoal do batalhão, permi- a - Batalhão de Comando e
b) nuclear o CmdoCCT de uma tindo, mediante adestramento com- Controle(BtlCmdoCt)
BAnf; plementar, intercambiar elementos a.1 – Justificativa

2002 - O Anfíbio - 21
 Ativar uma unidade para prover Inteligência (CAI) dos GptOpFuzNav; terra pelos GptOpFuzNav, quando
o comando dos GptOpFuzNav com e) prover o apoio de sensores meios aéreos forem desdobrados em
o pessoal e o material necessários à ótico/eletrônicos de vigilância terres- terra; e a exigüidade de sensores de
coordenação, preparo e emprego tre aos GptOpFuzNav; vigilância aérea, impedindo a divisão
dos meios de comando, controle, co- f) montar e operar os Postos de de meios para as atividades de De-
municações, inteligência e guerra Comando dos GptOpFuzNav; fesa Antiaérea (DAAe) e de Controle
eletrônica, enquadrando meios e ta- g) Montar e operar um Centro Aerotático (CtAetat). A Unidade
refas das atuais CiaCmdo, CiaCom Controlador de Inteligência Ele- será ativada em torno da BiaArtAAe,
e CiaGE, que serão extintas. A uni- trônica (CECOIE) em apoio ao CAI com semi-autonomia administrativa,
dade, com semi-autonomia adminis- dos GptOpFuzNav; e comandada por um CF(FN).
trativa, sanará as deficiências atuais g) Prover apoio logístico sumá-
e ampliará a capacidade de coman- rio de todas as classes de suprimen- b.2 – Principais Vantagens
do e controle dos GptOpFuzNav. tos aos GptOpFuzNav; e a) facilita a integração operacional
Será comandada por um CF(FN). h) Prover apoio de transporte ao dos meios aéreos e de defesa antia-
comando dos GptOpFuzNav. érea, reduzindo as possibilidades de
a.2 – Principais Vantagens O organograma simplificado da baixas decorrentes de fogo amigo;
a) Facilidade na integração Unidade é apresentado a seguir. b) facilita a coordenação do des-
operacional dos meios de comando
e controle;
b) Facilidade na coordenação do
desdobramento e emprego dos mei-
os de comando e controle em ope-
rações;
c) Ampliação da capacidade de
análise de inteligência pela dis-
ponibilização de um núcleo base de
pessoal especializado para a ativação
do Centro de Análise de Inteli-
gência(CIA), a partir dos elementos
integrantes do Estado-Maior e Cia
do próprio Batalhão, a ser colocado
sob o controle do Oficial de Inteli-
gência do GptOpFuzNav; e
d) Ampliação da capacidade de b – Batalhão de Controle dobramento e emprego dos meios de
gerar conhecimentos dos Aerotático e Defesa Antiaérea aviação e de defesa AAe em opera-
GptOpFuzNav pela disponibilização (BtlCtAetatDAAe) ções; e
de sensores eletrônicos de vigilância b.1 – Justificativa c) otimiza o emprego dos meios
terrestre a serem concentrados no Criar uma unidade com capaci- de vigilância aérea disponíveis.
Pelotão de Vigilância Eletrônica dade de comando e controle dos
(PelVigElt), quando ativado. meios aéreos e de defesa antiaérea a b.3 – Principais Tarefas
baixa altitude dos Grupamentos a) nuclear o Comando do
a.3 – Principais Tarefas Operativos de Fuzileiros Navais, ten- Componente Aéreo (CAA) dos
a) nuclear o componente de co- do em vista a incorporação da avia- GptOpFuzNav;
mando dos GptOpFuzNav; ção de asa fixa na Marinha; a b) nuclear as agências de con-
b) prover o apoio de comunica- inexistência de elemento núcleo para trole aerotático dos GptOpFuzNav
ções aos GptOpFuzNav; o Componente de Combate Aéreo e instalar, explorar e manter as redes
c) prover o apoio de inteligência dos GptOpFuzNav; a deficiência na necessárias ao controle e coorde-
eletrônica aos GptOpFuzNav; coordenação do emprego dos mei- nação do apoio aéreo;
d) nuclear o Centro de Análise de os aéreos e de defesa antiaérea em c) prover a defesa antiaérea dos

2002 - O Anfíbio - 22
GptOpFuzNav e apoiar o desdobra-
mento em terra de meios de aviação;
d) prover o apoio de comunica-
ções para o apoio aéreo aos
GptOpFuzNav (redes externas às
Unidades relativas ao apoio aéreo);
e) Operar campos de pouso ex-
peditos para o desdobramento de
meios aéreos em terra, prestando-
lhes segurança e ApSvCmb com seus
próprios recursos, incorporando os
reforços necessários;
O organograma simplificado da
Unidade é apresentado a seguir.
c – Batalhão de Blindados
(BtlBld)
c.1 – Justificativa
Ativar uma unidade capaz de in-
tegrar os GptOpFuzNav com carros
de combate e viaturas blindadas,
conferindo a estes maior poder de
fogo, capacidade de manobra ampli-
ada, proteção blindada, melhores
condições de desenvolver a Defesa
Anti-Carro (DAC) e meios para re-
alizar ações de reconhecimento e se-
gurança blindada, ampliando a flexi-
bilidade de organização-por-tarefas
dos GptOpFuzNav. A nova OM jun-
ta, sob o mesmo comando, as atuais
CiaCC e CiaVtrBld (M-113) do
BtlVtrAnf e os Carros de Combate
Leves Sobre Rodas (CCLSR) CAS- c.3 – Principais Tarefas
CAVEL, de modo a permitir maior a) prover o apoio de CC aos elemen-
flexibilidade no emprego desses mei-tos de manobra dos GptOpFuzNav;
os, além de estabelecer os carros de b) participar da DAC dos
combate em uma unidade com mai- GptOpFuzNav;
ores possibilidades administrativas e c) quando reforçado por tropa de
operativa que a atual CiaCC. Terá infantaria, atuar como peça de ma-
semi-autonomia administrativa e seránobra dos GptOpFuzNav;
comandada por um CF(FN). d) Prover apoio de transporte blin-
dado para movimentos táticos e/ou
c.2 – Principais Vantagens apoio logístico;
a) facilidade na integração e) Suplementar os fogos das ar-
operacional dos meios blindados nos mas de apoio;
GptOpFuzNav; f) Constituir um elemento de ma-
nobra de valor Unidade, particular-
mente para o desenvolvimento de
ações que exijam as características
dos blindados; e
g) Quando reforçado, realizar
ações de reconhecimento, segurança,
vigilância e de economia de forças.
O organograma simplificado da
Unidade é apresentado abaixo.
Tropa de Reforço
a – Comando da Tropa de
Reforço
a.1- Justificativa
Atribuir ao Comando da Tropa
de Reforço (CmdoTrRef) a tarefa
de ficar em condições de nuclear o
b) facilidades logísticas pela cen- comando do GASC de uma BAnf,
tralização de meios de manutenção fazendo-a constar na OA/OC des-
de CC e VtrBld;
c) facilidade
na formação de
elementos de
manobra inte-
grando os blin-
dados e a infan-
taria ou elemen-
tos de reconheci-
mento e de vigi-
lância; e
d) similarida-
de de caracterís-
ticas dos CC e
VtrBld quanto ao
desembarque.
2002 - O Anfíbio - 23
sa Força. A inclusão decorre das
limitações do BtlLogFuzNav em
nuclear o comando do GASC de
uma ForDbq valor BAnf e, em
paralelo, exercer as atividades de
ApSvCmb. Quando ativado, o co-
mando do GASC será exercido por
um CMG (FN) da Tropa de Re-
forço. Seu Estado-Maior será com-
posto por oficiais e praças, priorita-
riamente do próprio EM/CmdoTrRef,
previamente designados por esse
comando, a quem caberá a manu-
tenção do nível de adestramento
necessário.
a.2 – Principais Vantagens
a) Facilita o planejamento, o co-
mando e o controle do GASC de
uma BAnf; e
b) Permite ao BtlLogFuzNav
concentrar todos seus esforços nas
tarefas de ApSvCmb.
a.3 – Principais Tarefas
a) nuclear o GASC de uma
ForDbq valor BAnf; e
b) ampliar a capacidade de co-
mando e controle das atividades
logísticas dos GptOpFuzNav.
b – Companhia de
Apoio ao Desembarque
(CiaApDbq)
b.1 – Justificativa
Transformar a atual CiaApDbq,
do BtlEngFuzNav, em uma Subuni-
dade independente, tendo em vista
as peculiaridades e a importância
das atividades de apoio ao desem-
barque para os GptOpFuzNav em
terra. A separação do BtlEngFuzNav
ampliará a capacidade da CiaApDbq
para preparar e empregar seus mei-
os. A OM será classificada como
OM sem autonomia administrativa,
sendo apoiada pela BFNIF, e co-
mandada por um CC(FN).
b.2 – Principais Vantagens
a) atribui a devida importância a
este elemento organizacional, facili-
tando as atividades de preparo e de
emprego próprios; e
b) amplia a capacidade de ApDbq
por superfície e/ou helicóptero aos
GptOpFuzNav.
b.3 – Principais Tarefas
a) facilitar a movimentação de
pessoal e material através das praias
de desembarque;
b) ficar em condições de nuclear
Elemento de Apoio de Serviços ao
Combate (ElmASC);
c) Preparar as praias para o de-
sembarque por superfície;
d) Delimitar as AApP;
e) Estabelecer saídas de praia;
f) Orientar as aeronaves e prepa-
rar as ZD; e
g) Controlar o pessoal e o mate-
rial desembarcados.
O organograma simplificado da
Unidade é apresentado abaixo.
c – Batalhão de Engenharia BtlEngFuzNav é mostrado abaixo.
(BtlEng)
c.1 – Justificativa
Necessidade de reorga-
nizar o BtlEngFuzNav devi-
do a perda da CiaApDbq,
que será transformada em
uma Subunidade indepen-
dente em função da sua
especificidade. O BtlEngFuzNav d - Batalhão de Viaturas An-
disponibilizará os elementos de co- fíbias (BtlVtrAnf)
mando, de comunicações e de
serviços gerais para organizar a
Subunidade independente a ser
criada. A reorganização do
BtlEngFuzNav agrupa as atuais
CiaAp e CiaEng numa única Subu-
nidade, chamada de CiaApEng.
c.2 – Principais Vantagens
a) Atribuição da devida impor-
tância à atividade de apoio ao de-
sembarque, facilitando as atividades
de preparo e emprego da CiaApDbq;
b) Facilita o desenvolvimento
das atividades de ApCmb e
ApSvCmb pelo BtlEngFuzNav; e
c) Permitirá a otimização do em-
prego de pessoal e material do
BtlEngFuzNav, ampliando sua capa-
cidade de ApCmb e ApSvCmb.
c.3 – Tarefas Principais
Suas tarefas permanecerão as
mesmas, excetuando-se as da
CiaApDbq.
O organograma simplificado do
2002 - O Anfíbio - 24
 d.1 – Justificativa
Será reorganizado em função da
transferência da CiaVtrBld (M-113)
para a criação do BtlBldFuzNav. No
mais, sua organização permanecerá
a mesma, exceto o EM, cujas Se-
ções de Inteligência e de Operações
serão fundidas em apenas uma
Seção.
O organograma simplificado será
apresentado a seguir.
e – Batalhão Logístico
e.1 – Justificativa
Necessidade de ciar na sua es-
trutura um Pelotão de Defesa Quí-
mica, Bacteriológica e Nuclear
(PelDQBN, com capacidade tam-
bém para realizar as tarefas de
descontaminação, em face da atual
incapacidade do BtlLogFuzNav em
apoiar as ações dos GptOpFuzNav
em ambientes de guerra química,
bacteriológica e nuclear, implicando,
conseqüentemente alteração da sua
organização.
e.2 – Principais Vantagens
a) proporcionará ampliação de
possibilidades de indicação dos
militares que serão qualificados para
as tarefas de descontaminação, não
vinculando a atividade tão somente
ao quadro de Engenheiros (EG), ca-
so ele estivesse no BtlEngFuzNav; e
b) Ampliará a capacidade de
atuação do GptOpFuzNav em am- BtlLogFuzNav. Completando a
bientes de guerra química, bacterio- reestruturação da FFE, e em decor-
lógica e nuclear. rência da criação das OM citadas,
serão desativadas a CiaCom, a
e.3 – Principais Tarefas CiaCmdo, a Cia CC e a BiaArtAAe,
a) realizar a descontaminação de na DivAnf; e a CiaGE, na TrRef.
química e nuclear de pessoal e mate- Finalmente, a estrutura da FFE
rial em apoio aos GptOpFuzNav; com suas FS/US, simplificadamente,
b) prover destacamentos técnicos apresentará os organogramas mos-
para o assessoramento acerca das trados na pág. 14.
operações em ambientes passíveis
CONCLUSÃO
A proposta apresentada não
introduziu mudanças radicais na atual
estrutura básica da FFE, que tem se
mostrado adequada às necessidades
do CFN. Foram sugeridos somente
alguns reajustes organizacionais
decorrentes basicamente da in-
corporação de novos meios, em
particular aqueles destinados ao
aumento da ação de choque, mo-
bilidade e da capacidade C4I dos
GptOpFuzNav, uma imposição da
guerra moderna.
de contaminação química, biológica Da mesma forma, a nova estrutu-
ou nuclear aos GptOpFuzNav. ra consagra o uso do GptOpFuzNav,
O organograma simplificado será constituído pelos componentes já
apresentado a seguir. tradicionais, como organização-por-
tarefas padrão
para o emprego
da FFE na exe-
cução das diver-
sas tarefas, não o
limitando às ope-
rações anfíbias.
Tal forma de or-
ganização per-
mite, não apenas
Resumidamente, na proposta a melhor divisão de responsabilida-
apresentada, observamos o surgimen- des no emprego da força, mas
to de cinco novas Unidades: o também a modularização do seu
CmdoTrDbq, o BtlCmdoCt, o preparo.
BtlCtAetatDAAe, o BtlBld e a A criação de um comando per-
CiaApDbq. Ainda em decorrência dos manente para os GptOpFuzNav, nos
aspectos abordados, serão reestrutu- moldes das Divisões da Esquadra, é
rados o EM do CmdoFFE, o EM do uma grande contribuição à prontidão
CmdoTrRef, o BtlOpEspFuzNav, o operativa das forças, capaz de exe-
BtlEngFuzNav, o BtlVtrAnf e o cutar os planejamentos e rapidamente
2002 - O Anfíbio - 25
receber os meios para a realização
de exercícios e operações, particu-
larmente no nível UAnf.
Com as alterações propostas, a
FFE terá uma estrutura organi-
zacional mais versátil, permitindo que
as Unidades se dediquem com mais
eficiência ao preparo para o combate,
diminuindo os encargos decorrentes
dos aspectos administrativos, oti-
mizando o emprego dos meios de
pessoal e material, além de ca-
racterizar o término da transição para
o conceito de GptOpFuzNav.
Por outro lado, a nova estrutura
da FFE não deixou de considerar o
quadro econômico que vivemos,
principalmente as restrições orça-
mentárias. As mudanças sugeridas
serão implementadas a um custo
baixíssimo, podendo ser cobertos,
basicamente, com o PAP e PANP.
As novas OM que serão criadas
surgirão da aglutinação e da desa-
tivação de unidades já existentes.
A criação do CmdoTrDbq, do
BtlCmdoCt e do BtlCtAetatDAAe
ressaltou a importância que a nova
estrutura deu aos requisitos de
comando, de controle, de comunica-
ções e de inteligência em todos os
escalões das forças.
Finalmente, a adição das novas
capacidades proporcionadas pela
reestruturação irão, sem dúvida,
constituir um incremento significati-
vo na eficácia de condução de
nossas operações e exercícios,
permitindo certamente que o setor
operativo do Corpo de Fuzileiros
Navais mantenha-se em condições
de atender às características básicas
do poder naval: versatilidade,
mobilidade, flexibilidade e per-
manência.
2002 - O Anfíbio - 26
 O Comando da
Tropa de Desembarque
CMG (FN) M AURO CEZAR DE CAMPOS PARALHOS

“A melhor forma de evitar baixas desnecessárias em combate é

proporcionar um adestramento de
primeira qualidade para os subordinados.”
Erwin Rommel

ANTECEDENTES DO CMDOTRDBQ
AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS
A idéia de ser utilizado um Comando em separado para os
GptOpFuzNav não é nova, sendo que as primeiras experiências remon-
tam ao início da década de 90 do século passado. Naquela oportunida-
de, os ensinamentos adquiridos por diversos oficiais que cursaram ou
realizaram intercâmbio no United States Marines Corps (USMC), espe-
cialmente quanto à organização para o combate de grupamentos
operativos e a uma melhor integração e emprego dos diversos elementos
de combate, apoio ao combate e apoio de serviços ao combate, convence-
ram nossas autoridades navais da necessidade de serem introduzidas
modificações na organização de nossos GptOpFuzNav, de modo a au-
mentar seu poder de combate.
Assim, nos idos de 1990, durante as operações denominadas
1
GDBEx , foi testada uma organização que já previa um comando em
separado para um GptOpFuzNav nucleado em um Batalhão de Infan-
taria (BtlInf) 2 . Contudo, não havia uma separação nítida entre o Co-
mando do GptOpFuzNav e o Comando do BtlInf, pois o primeiro era
comandado pelo próprio Comandante do Batalhão de Infantaria que
nucleava o citado grupamento operativo, passando para o seu Imediato
a tarefa de comandar o BtlInf durante a operação. Além disso, também
não havia uma separação entre os Estados-Maiores (EM), pois, em sua
grande maioria, seus componentes eram originários do BtlInf.
Posteriormente, em 1992 e 1993, foram empregados vários mo-
delos, seja com um Comando em separado ou com o Comandante do
BtlInf acumulando os dois Comandos. Quanto aos EM, oficiais e praças
de outras Organizações Militares (OM), que não os do BtlInf, começa-
ram a ser indicados para compô-los.
1
O termo é originário de Grupamento de Desembarque de Batalhão (GDB), que é a organização tática específica que o BtlInfFuzNav
adota para o desembarque (ver o CGCFN-1301).
2
O termo Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais (BtlInfFuzNav) só foi adotado em 1993.

2002 - O Anfíbio - 27
 O CONCEITO DE
COMPONENTES
Somente a partir da adoção do
conceito de componentes pela Ma-
rinha do Brasil, quando da publica-
ção em 1994 do manual CGCFN-
1301 – Manual para Instrução de
Operações de Forças de Desem-
barque, é que houve a formalização
doutrinária quanto à possibilidade de
existir um Comando em separado
para os GptOpFuzNav.
Pelo citado manual, os GptOpFN
destinados a realização de um As-
salto Anfíbio (AssAnf) podem ser os
seguintes:
r Elemento Anfíbio (ElmAnf),
caso seja nucleado em uma Com-
panhia de Fuzileiros Navais
(CiaFuzNav);
r Unidade Anfíbia (UAnf), ca-
so seja nucleado em um Batalhão
de Infantaria de Fuzileiros Navais
(BtlFuzNav); e
r Brigada Anfíbia (BAnf), caso
seja nucleado em uma Brigada de
Fuzileiros Navais (BdaFuzNav).
No caso da Incursão Anfíbia
(IncAnf), qualquer que seja o esca-
lão considerado, a Força de Desem-
barque adota o nome de Força de
Incursão (ForInc). Quanto à sua or-
ganização, seja para realizar um As-
salto Anfíbio ou uma Incursão Anfí-
bia, os GptOpFuzNav possuem a
estrutura femonstrada abaixo.
O CCmdo é formado pelo Co-
mandante com o seu Estado-Maior
e pelos meios de Comunicações e
pessoal necessários ao exercício do
comando e controle da ForDbq/
ForInc.
O CCT pode variar desde uma
CiaFuzNav (Ref) até uma BdaFuzNav,
possuindo também elementos de
apoio ao combate e de apoio de ser-
viços ao combate. Normalmente, a
ForDbq/ForInc e o CCT terão co-
mandos distintos. Contudo, depen-
dendo da situação, o ComForDbq/
ComForInc poderá acumular o co-
mando do CCT, sendo recomenda-
do, nesta situação, diferentes EM pa-
ra os componentes em questão.
Quanto ao CCA, ele é organiza-
do com os meios do Batalhão de
Controle Aerotático e Defesa Antiaé-
rea (BtlCtAetatDAAe) e da Força
Aeronaval visando à realização das
tarefas de Reconhecimento Aéreo,
Apoio de Fogo Aéreo, Guerra Ele-
trônica, Apoio ao Assalto e Contro-
le da Defesa Antiaérea. Assim como
o CCT, ele possui elementos própri-
os de apoio ao combate e de apoio
de serviços ao combate.
Por fim, o CASC congrega os ele-
mentos de apoio responsáveis pelo
apoio logístico à ForDbq/ForInc que
esteja além da capacidade dos ou-
tros componentes, sendo nucleado
em torno de elementos de apoio de
serviços ao combate.
As denominações acima são
meramente para efeitos administrati-
vos. Por exemplo, quando da mon-
tagem da Organização por Tarefa da
ForDbq/ForInc, visando ao cumpri-
mento de uma missão, o Componen-
te de Comando é sempre o Coman-
do da ForDbq/ForInc, o CCT, depen-
dendo do seu valor, passa a ser de-
nominado CiaFuzNav (Ref), GDB ou
Grupamento de Desembarque de Bri-
gada (GDBda), e o CASC é cha-
mado de Grupo de Apoio de Servi-
ços ao Combate (GASC).
A partir de 1994, coerente com
o manual já referenciado, os exercí-
cios GDBEx passaram a se denomi-
nar UANFEx (corruptela de Exercí-
cio de UAnf), sendo as ForDbq/
ForInc organizadas segundo o con-
ceito de componentes descrito aci-
ma. Entretanto, ainda persistiam al-
guns problemas, sendo o maior de-
les a inexistência de uma organiza-
ção permanente que constituísse a
base para o Comando da ForDbq/
ForInc, sendo ainda necessário re-
manejar Oficiais e Praças de diver-
sas organizações Militares (OM) para
compô-lo.
O SIMPÓSIO
DO 3º MILÊNIO
Este simpósio, ocorrido no mês
de outubro de 2000, no Centro de
Instrução Almirante Sylvio de Ca-
margo (CIASC), como salientado an-
teriormente, teve o propósito de deli-
near, num horizonte de 10 anos, o con-
ceito de emprego dos GptOpFuzNave
outras tarefas compatíveis com or-
ganizações de fuzileiros navais, além
de requisitos de organização, pesso-
al, material e adestramento decorren-
tes, à luz de cenários prospectivos.
Dois GT foram constituídos para
que, com autonomia e independên-
cia, pudessem apresentar propostas
visando a preparar o Corpo de Fu-
zileiros Navais para a primeira dé-
cada do século 21.
Em seus estudos, os dois GT le-
2002 - O Anfíbio - 28
varam em consideração o contido na
Política de Defesa Nacional (PDN),
na Estratégia Militar de Defesa
(EMD) (projeto), na Doutrina Bási-
ca da Marinha (DBM) e também a
análise das conjunturas nacional e in-
ternacional.
Ambos os GT, ao desenvolverem
seus trabalhos, chegaram à conclu-
são de que o emprego de tropas de
fuzileiros navais normalmente se
dará através da constituição de
GptOpFuzNav. Aliando tal conclusão
aos antecedentes históricos relativos
ao emprego de GptOpFuzNav, os
integrantes dos dois GT ressaltaram
a necessidade de ser criada uma Or-
ganização Militar (OM) que condu-
zisse planejamentos decorrentes das
determinações superiores, acompa-
nhasse situações potenciais de crise
e proporcionasse maior agilidade na
ativação e no emprego da Força-
Pronta (FP) tipo UAnf. Enfim, uma
OM que nucleasse o Componente de
Comando da UAnf, de modo a su-
prir sua deficiência no aspecto “pron-
tidão de comando” e controle, pos-
suindo tarefas semelhantes às atribuí-
das às 1ª e 2ª Divisões da Esquadra.
Além disso, como bem ressaltou
um dos grupos, a noção de compo-
nentes ainda não estava totalmente
difundida e aceita no seio da MB,
sendo que uma das razões para isto
residia na organização por tarefa
adotada pela ForDbq por ocasião
das Operações Dragão3 . Nestas ope-
rações não havia a separação entre
o Comando da ForDbq e o do CCT,
cabendo ao ComDivAnf acumular os
dois comandos, sendo constituído
somente um Estado-Maior, a nível de
ForDbq. Por isto, também foi pro-
posto que a mesma OM que nu-
3
Operação Anfíbia realizada anualmente, a
nível BAnf, coroando o adestramento da FFE.
cleasse o Comando da UAnf tam- real. Como exemplo, podemos citar
bém assumisse o Comando do CCT os BtlInfFuzNav.
da BAnf quando esta fosse ativada. No caso das OM Facilitadoras,
Desse modo, a par de suprir uma la- elas são responsáveis pelas atividades
cuna no estado de prontidão das tro- administrativas e gerenciais funcionais
pas de fuzileiros navais, a nova OM em tempo de paz. Sua estrutura or-
contribuiria para uma maior difusão ganizacional adota a forma depar-
do conceito de componentes no âm- tamental, buscando atender as OM
bito da MB. Preparadoras. Exemplo típico são as
Cada um dos GT atribuiu dife- Bases de Fuzileiros Navais.
rentes nomes para a OM proposta. Quanto as OM Empregadoras,
O GT Alfa propôs Comando de seriam aquelas responsáveis pelo em-
GptOpFuzNav (CmdoGptOpFuzNav), prego operativo dos GptOpFuzNav
enquanto o GT Bravo nomeou-a Co- em exercícios e combate. Também
mando da Tropa de Desembarque seriam responsáveis pelo preparo de
Anfíbio (CmdoTrDbqAnf). Quando planos/ordens de operação, pelo
posteriormente o GT constituído pelo desenvolvimento de procedimentos
ComFFE elaborou seu relatório, de operativos padronizados (POP) e
modo a detalhar a reestruturação de- pela aferição dos índices de eficácia
terminada pela ORCOM/2001 do das OM Preparadoras. Sua atividade
Comandante da Marinha, foi intro- fim é o planejamento e o controle da
duzido o nome Comando da Tropa ação planejada. Atualmente, a DivAnf
de Desembarque (CmdoTrDbq), o é a única OM Empregadora existen-
qual foi posteriormente aprovado te no âmbito da FFE.
pelas autoridades navais. Comparando os conceitos citados
acima com as propostas apresenta-
AS OM EMPREGADORAS das pelos GT do Simpósio do 3º Mi-
DA FFE lênio, fica claro que a OM a ser cria-
da, visando a nuclear o Componente
Além das conclusões já mencio- de Comando de GptOpFuzNav,
nadas, é interessante notar a proposta seria uma OM Empregadora. Assim,
apresentada por um dos grupos so- passariam a existir duas destas OM
bre os conceitos de OM Prepara- na estrutura da FFE: a DivAnf e o
dora, OM Facilitadora e OM Em- CmdoTrDbq. Voltaremos a abordar
pregadora. Estes conceitos classifi- os conceitos acima quando enfocar-
caram as OM do CFN segundo o mos o que visualizamos para o futu-
papel que cada uma delas desempe- ro do CmdoTrDbq.
nha em tempo de paz na composi-
ção dos GptOpFuzNav. O COMANDO DA TROPA DE
Assim, as OM Preparadoras se- DESEMBARQUE
riam aquelas voltadas para o ades-
tramento a nível de Unidade, não “O Princípio da Prontidão se
possuindo encargos administrativos. aplica aos campos abrangidos pelo
Elas são voltadas para a prontidão comando, inteligência, pessoal,
operativa e logística, além da manu- material, planejamento e logística.
tenção da moral, disciplina e higidez Subtende-se que as forças estão
física da tropa. Sua organização é providas dos meios essenciais e
funcional, não devendo haver altera- organizadas para operações de
ções estruturais no caso de emprego combate. Isto envolve o preparo
2002 - O Anfíbio - 29
antes das hostilidades e a contínua deria ser instalada a nova Unidade. para funcionamento do EM;
preparação no decorrer da guer- Além disso, foi proposto que ela fos- r inexistência prévia de indicativo
ra.” (Doutrina Básica da Marinha) se diretamente subordinada ao Co- naval;
mando da FFE. Quanto ao seu efe- r inexistência das facilidades ad-
AS PREMISSAS tivo, em parte seria oriundo de duas ministrativas inerentes à uma OM;
seções do EM do ComFFE a serem r falta de coesão do EM; e
O GT designado pela Portaria extintas: a Seção de Planejamento r com o aumento da informatiza-
065/2001 do ComFFE, para apro- (F-70) e o Grupo de Desenvolvimen- ção da MB, inexistência de equipa-
fundar os estudos sobre a reestru- to de Tática (GDT) (F-80). A Seção mentos de informática específicos
turação da FFE, estabeleceu algu- de Operações (F-30) absorveria al- para o trabalho do EM do CCmdo.
mas premissas básicas, além de ser gumas das tarefas atribuídas às cita- Com a criação do CmdoTrDbq,
obrigado a seguir outras tantas. As das seções, tais como a operação do isto será inteiramente resolvido, pois
referidas premissas tiveram influên- Sistema de Avaliação de Exercícios esta Força permanente possuirá to-
cia marcante não só sobre a propos- (SAE) e a realização das Avaliações das as facilidades inerentes à uma
ta de criação do CmdoTrDbq como Operacionais dos meios da FFE. OM, além de local adequado para
também sobre as demais alterações seu funcionamento e para o planeja-
na estrutura da FFE. Dentre as im- AS VANTAGENS DO mento de exercícios e operações.
postas encontravam-se: CMDOTRDBQ Contudo, um dos argumentos mais
r proporcionar, com o máximo fortes para criação do CmdoTrDbq
de facilidade, a constituição de Em seu relatório, o GT também reside na Doutrina Básica da Mari-
GptOpFuzNav; apontou várias vantagens advindas da nha (DBM), especificamente quan-
r não haver acréscimo no criação do CmdoTrDbq. Neste tó- do aborda o Princípio de Guerra da
efetivo da FFE; e pico teceremos algumas considera- Prontidão, cujo texto inícia este ca-
r tomar como base as conclu- ções sobre as mesmas: pítulo. Pelo mesmo, podemos notar
sões dos trabalhos realizados por a. Agilidade de resposta do Co- que esta nova Unidade preenche
ocasião do Simpósio do CFN do mando da UAnf (Força-Pronta) completamente o quesito de pronti-
3º Milênio. Conforme já foi mencionado, to- dão de comando citado na DBM.
Quanto às premissas assumidas, das as experiências passadas com a b. Facilidade no acompanha-
podemos citar: FP tipo UANF , nas quais foi consti- mento da situação de cenários
r ser considerado o estudo re- tuído um CCmdo em separado, de- selecionados e na manutenção de
alizado pelo EMA sobre a monstraram a necessidade de existir “memória” dos exercícios opera-
reformulação das Tabelas de Lo- organização anterior a ativação da FP tivos relacionados ao comando da
tação (TL) das OM; que pudesse agilizar sua resposta ante UAnf
r não haverá um acréscimo uma crise político-estratégica, pois a Estando permanentemente cons-
significativo nos efetivos da FFE reunião tempestiva de oficiais e pra- tituído, o CmdoTrDbq poderá acom-
nos próximos dez anos; e ças, oriundos de diversas unidades, panhar, em melhores condições, a
r quando novos meios forem para nuclear o Componente de Co- evolução de cenários de interesse
incorporados ao acervo da FFE, mando, consumia algum tempo. Além para o país, especialmente aqueles
será necessária uma avaliação so- disso, dentre outros óbices, somente onde haja possibilidade de a FP atuar.
bre a validade de serem feitos rea- a partir da designação é que estes Neste sentido, a OM deverá se ligar
justes na estrutura da FFE. militares poderiam tomar as providên- aos Centros de Comando da FFE,
O mencionado GT, ao abordar a cias necessárias visando ao embar- da Esquadra e do Comando de Ope-
criação do CmdoTrDbq, chegou a que e o cumprimento das tarefas im- rações Navais, de modo a obter da-
conclusão que a nova OM deveria postas à FP. Como exemplos bem dos e conhecimentos sobre aqueles
possuir instalações independentes, simples dos problemas que ocorri- cenários, devendo ser parte integran-
“status” de Comando de Força e ser am, podemos citar: te do Sistema Naval de Comando e
comandada por um Capitão-de- r inexistência de local adequado Controle (SISNC²). Do mesmo
Mar-e-Guerra (FN), tendo sido pré- para instalação do CCmdo; modo, sendo responsável por nucle-
selecionados quatro locais onde po- r inexistência de local adequado ar o Comando da UAnf da FP, fica

2002 - O Anfíbio - 30
claro que o CmdoTrDbq é o melhor
local para concentrar todo o acervo
relativo aos exercícios relativos àquele
tipo de ForDbq.
c. Melhor relacionamento com
os Comandos empregadores de
meios da Esquadra
Na estrutura organizacional da
Esquadra, as Divisões da Esquadra
são as OM diretamente responsáveis
pelo emprego dos meios navais e
aeronavais, especialmente aqueles
relativos à FP. A inexistência de uma
estrutura semelhante na FFE, que nu-
cleasse o comando dos GptOpFuzNav
a nível de UAnf, obrigava a forma-
ção de CCmdo “ad hoc”, o que tra-
zia alguns inconvenientes administra-
tivos no decorrer do planejamento de
exercícios e operações. Possuindo
tarefas semelhantes às das Divisões
da Esquadra e sendo considerado
também como um Comando de For-
ça, o CmdoTrDbq terá as condições
necessárias para sanar aqueles pro-
blemas.
d. Maior eficiência, por dispor-
se de uma organização permanen-
te no planejamento e execução de
operações/exercícios.
Complementarmente ao fato de
satisfazer ao quesito “prontidão de
comando”, conforme comentado aci-
ma, e de poder acompanhar a evo-
lução de cenários selecionados, o
CmdoTrDbq poderá se dedicar, co-
mo organização permanente, à ela-
boração de planos/ordens de ope-
ração visando ao cumprimento de
possíveis tarefas a serem cumpridas
nos citados cenários, assim como os
relativos aos exercícios envolvendo
GptOpFuzNav.
Apesar de não ter sido apontada
como vantagem pelo GT, a meu juízo,
também incluiria a contribuição para
a dissuasão, pois o fato de existir um
Comando de UAnf permanentemen-
te ativado, sem dúvida, redundará em
uma maior capacidade e rapidez do
Poder Naval em projetar poder so-
bre terra, em situações de crise polí-
tico-estratégica, através de uma
OpAnf. Tal fato, aliado às caracte-
rísticas do Poder Naval e ao apres-
tamento realizado anualmente pelos
meios da Marinha do Brasil, contri-
buirá para incrementar o potencial de
dissuasão.
Após o Comandante da Marinha
ter aprovado o relatório do GT su-
pramencionado, o ComFFE deter-
minou que fosse feito um estudo es-
pecífico sobre os possíveis locais de
funcionamento do ComTrDbq. Ao
analisar as vantagens e desvantagens
apresentadas pelo EM da FFE quan-
to àqueles locais, o Comandante da
FFE decidiu por instalá-lo nas depen-
dências do próprio prédio do EM da
FFE, abarcando as instalações da F-
70 e da F-50, além de um alojamen-
to de praças contíguo ao Centro de
Comando da FFE, sendo necessári-
as algumas obras de adaptação.
A PROPOSTA DE CRIAÇÃO
Dando continuidade aos trabalhos
sobre a reestruturação da FFE e em
cumprimento ao determinado pelo
ComOpNav, foram levantados os cus-
tos relativos às novas OM a serem cri-
adas e as ações a serem adotadas, além
de ser estipulado um cronograma para
a implantação daquelas OM. No caso
específico do CmdoTrDbq, o referido
cronograma previu sua criação para
junho de 2002 e a ativação em agosto
do mesmo ano. Assim, em 14 de maio,
foi encaminhado ao ComOpNav o
Ofício nº 205 propondo a criação do
CmdoTrDbq e a instalação de um
Núcleo de Implantação (NI). Segun-
do o mencionado ofício, o NI auto-
maticamente deixaria de existir quan-
do da ativação da OM em agosto de
2002. A referida proposta continha
os seguintes tópicos:
a) Tarefas e Propósito
I) Tarefas
r nuclear o comando de Força
de Desembarque valor UAnf;
r nuclear o Comando do Com-
ponente de Combate Terrestre de
uma BAnf;
r desenvolver e manter atualiza-
dos planos para possível emprego
conforme determinação superior;
r manter o acompanhamento do
estado de prontificação dos meios
integrantes da Força-Pronta da FFE;
r subsidiar o Comandante da
FFE com informações para atualizar
o repositório de conhecimentos ope-
racionais;
r subsidiar os Comandantes da
DivAnf e TrRef com informações re-
lativas ao preparo dos meios subor-
dinados; e
r subsidiar o Comandante da FFE
com informações visando o desen-
volvimento de procedimentos opera-
tivos.
II) Propósito
r dotar o Componente de Co-
mando dos GptOpFuzNav de ele-
mentos inteiramente voltados ao
planejamento e execução de diver-
sas operações.
b) Autonomia
r o CmdoTrDbq foi classificado
como OM sem autonomia adminis-
trativa, devendo ser apoiada pela
Base de Fuzileiros Navais do Rio
Meriti (BFNRM) em todas as fun-
ções logísticas.
c) Tabela de Lotação (TL)
r a proposta de TL, baseada nas
similares das Divisões da Esquadra,
previu um efetivo de 5 Oficiais Fuzi-
leiros Navais, 1 Oficial do Quadro
Técnico, 2 Suboficiais, 10 Sargen-
tos e 9 Cabos e 2 Soldados.
Após o encaminhamento da pro-
posta de criação na nova OM, foi
elaborada a sua Organização Admi-
nistrativa (OA), a ser aprovada pelo
2002 - O Anfíbio - 31

ComFFE, a qual prevê o organo-
grama acima para a Unidade:
Quando da finalização deste arti-
go, no início de julho de 2002, a pro-
posta de criação estava sendo enca-
minhada pelo ComOpNav ao Esta-
do-Maior da Armada (EMA). Do
EMA, ela seguiria para o Ministério
da Defesa , via Comando da Mari-
nha, a fim de ser apresentada ao
Excelentíssimo Sr. Presidente da Re-
pública para aprovação, pois a cria-
ção do CmdoTrDbq altera o Art. 5º
do Decreto nº 2153 de 20 de feve-
reiro de 1997, que estabelece e or-
ganiza as Forças Navais, Aeronavais
e de Fuzileiros Navais e dá outras
providências.
O FUTURO
Crise político-estratégica é
uma forma de conflito entre dois
ou mais países, em que o de-
sencadeamento proposital de uma
situação de tensão visa à conse-
cução de objetivos políticos ou
político-estratégicos, mediante
manipulações do risco de uma
guerra, com atitudes e comporta-
mento que indiquem ser a situa-
ção extrema compatível, indubita-
velmente, com as razões maiores,
quase sempre ocultas ou não
declaradas.”(Doutrina Básica da
Marinha)
Até aqui abordamos os motivos
que levaram à criação do
CmdoTrDbq e o processo como
isto ocorreu, além de descrevermos
as tarefas, o propósito e tecermos
algumas considerações sobre sua
OA. Contudo, o simples fato de ter
sido criada uma Unidade destina-
da exclusivamente ao planejamento
das diversas operações que
GptOpFuzNav podem realizar, não
significa que todos os problemas já
abordados anteriormente estejam
solucionados.
É necessário que a nova OM se
adeqüe ao ciclo de adestramento da
FFE e que realmente possa cumprir
as tarefas listadas no seu ato de cri-
ação, trazendo uma maior qualida-
de no planejamento, condução e
avaliação dos exercícios envolven-
do as unidades, subunidades e
frações componentes da FP , além
da identificação dos problemas re-
lacionados com o emprego dos mei-
os e seus respectivos procedimen-
tos operativos.
O propósito deste último tópico
é apresentar a visão do autor quanto
ao futuro do CmdoTrDbq, especifi-
camente no tocante ao relacionamen-
to com outras forças e unidades su-
bordinadas ao ComFFE, ao contro-
le da prontificação da FP da FFE e a
sua contribuição para o ciclo de ades-
tramento da FFE. Entretanto, é ne-
cessário primeiro que seja feita uma
breve comparação com estruturas si-
milares já existentes na MB: os Co-
mandos das 1ª e 2ª Divisões da Es-
quadra (ComDiv-1 e ComDiv-2).
Basicamente, o CmdoTrDbq pos-
sue as mesmas tarefas dos
ComDivEsq, ou seja, planejamento
e condução de exercícios e opera-
ções reais. Para isto, os meios são
apresentados aos ComDivEsq como
estando prontos para o desempenho
das tarefas relacionadas com o pro-
pósito do exercício/operação, não
havendo ingerência das Divisões da
Esquadra no tocante ao seu adestra-
mento prévio e ao preparo logístico.
Freqüentemente estes meios, por di-
versas razões, são reunidos próximos
a data do suspender, o que, se por
um lado acarreta um maior realismo
e preparo visando o emprego da FP,
por outro lado ressalta uma deficiên-
cia no tocante à necessária coesão
que toda força militar deve ter.
O PREPARO DA
FORÇA-PRONTA
Em qualquer unidade esta coesão
é adquirida através do convívio diá-
rio dos superiores com os subordi-
nados, na troca de experiências pro-
fissionais, no exercício da liderança
e pelo aumento da confiança mútua,
possuindo grande influência no co-
mando e controle durante a fase da
execução de uma operação, pois o
ambiente de incertezas e desordem
da guerra moderna exige que o su-
bordinado reaja de acordo com o
propósito do superior, sem perder a
iniciativa. É a coesão que faz com que
as pessoas ajam como se fosse um
time, visando a objetivos preestabele-
cidos4 . Não basta as partes consti-
4
O Comando e Controle na Guerra de Mano-
bra, O Anfíbio, edição nº 19, p.51.
2002 - O Anfíbio - 32
tuintes de uma força militar estarem
adestradas e prontas para o comba-
te, é necessário que a própria força,
como um todo, também esteja.
Em todos os exercícios do tipo
UANFEx/FP realizados até o mo-
mento, os meios também foram
alocados da mesma forma que os
exercícios das Divisões da Esquadra,
ou seja, em fase III de adestramento
e prontos sob o enfoque logístico.
Contudo, foram alocados próximo da
realização do exercício, sem ter ha-
vido nenhuma interação anterior en-
tre o Comando da UAnf e os com-
ponentes subordinados e mesmo en-
tre estes e as subunidades e frações
colocados em reforço. Assim, ape-
sar de as partes estarem prontas, o
todo não estava, pois faltava a ne-
cessária coesão.
Alguns podem argumentar que
com a criação do CmdoTrDbq esta
deficiência está sanada, o que, sob o
ponto de vista do autor, é parcialmen-
te certo, pois a nova unidade atende
ao quesito da prontidão do coman-
do. Mas ainda falta alguma coisa, algo
para forjar a coesão mencionada aci-
ma, algo que transforme as partes em
um time.
Sob o aspecto da FP, visando a
uma pronta resposta em caso de crise
político-estratégica, a necessidade de
haver esta coesão fica ressaltada,
pois a resposta deve ser tal que iniba
aventuras ou que reduza o grau de
riscos para o país. Isto é particular-
mente verdadeiro quando se verifica
como se dá a constituição e o ades-
tramento da FP de outros Corpos de
Fuzileiros Navais, como o do Esta-
dos Unidos da América do Norte,
do Reino Unido e da Itália. Em to-
dos eles, antes da FP ser considera-
da como em condições de ser em-
pregada, há uma fase de reunião e
preparação dos meios, na qual se
molda a força como um todo e quan-
do os comandantes e subordinados com o emprego de tropa ou não, en-
firmam a confiança mútua e os pro- volvendo os meios constituintes da
cedimentos operativos comuns. FP, a cargo do CmdoTrDbq. Tal
exercício poderia ser realizado no
O CASO Campo de Adestramento da Ilha da
BRASILEIRO Marambaia (CADIM), no Campo de
Instrução de Gericinó (CIG) ou no
Acreditamos que tal período tam- Campo de Instrução da Academia
bém deva existir no âmbito da FFE, Militar das Agulhas Negras. Seu pro-
havendo necessidade de compatibili- pósito seria integrar os diversos mei-
zá-lo com a sua organização admi- os e consolidar os adestramentos re-
nistrativa e o seu ciclo de adestra- alizados anteriormente, sendo o pri-
mento. Para isto, seriam adotadas as meiro passo para a Inspeção de Efi-
seguintes ações: ciência da FP;
5. Em seguida, em cumprimento
1. Ao início de cada ano, ao ser ao PGACON, a FP tipo UAnf, cons-
expedido o PGAD da FFE e de acor- tituindo uma ForDbq, tomaria parte
do com o documento específico da em uma operação anfíbia (assalto an-
FP, seriam designadas as unidades, fíbio ou incursão anfíbia). No exercí-
subunidades e frações que compori- cio, além da fase da execução pro-
am a FP tipo UAnf para um período priamente dita, poderiam ser
de 12 meses; enfatizados, dentre outros, os seguin-
2. A cargo das diversas OM tes aspectos:
preparadoras existentes na FFE, r o constante nos documentos
como por exemplo os BtlInfFuzNav, específicos sobre o tempo de reunião
BtlLogFuzNav, BtlVtrAnf e e embarque dos meios necessários
BtlEngFuzNav, e sob supervisão do para o cumprimento das tarefas atri-
ComDivAnf e ComTrRef, os ele- buídas à ForDbq;
mentos constituintes da FP, confor- r o nível de prontidão logística
me tem sido realizado anualmente, dos meios constituintes;
realizariam, nos primeiros meses do r a prontidão dos diversos ór-
ano, o adestramento desde o nível gãos de apoio da MB envolvidos
individual até o de subunidade; com a operação; e
3. Ao encerrar-se o adestramen- r o planejamento a bordo.
to nível subunidade, a FP tipo UAnf 6. Durante o citado exercício se-
seria formalmente constituída, pas- ria conduzida a Inspeção de Eficiên-
sando seus elementos ao comando cia da FP como um todo. Sob coor-
operativo do CmdoTrDbq. A partir denação da DivAnf, tal inspeção es-
de então seriam realizados, nos com- taria a cargo tanto da DivAnf quanto
plexos navais onde estão as unida- da TrRef nos aspectos específicos de
des de fuzileiros navais, sob supervi- cada uma destas forças;
são do CmdoTrDbq, adestramentos 7. Finalmente, após a elaboração
específicos sobre tarefas passíveis de do relatório final sobre a operação
serem atribuídas à FP, ministradas anfíbia e sua divulgação e análise em
palestras/estudos de casos sobre todos os níveis, a UAnf da FP pode-
planejamento militar e consolidados ria ser desmobilizada, retornando o
procedimentos operativos; pessoal e meios constituintes à subor-
4. O passo seguinte seria a reali- dinação das diversas OM prepara-
zação de um exercício no campo, seja doras da FFE;
2002 - O Anfíbio - 33
 CICLO DE ADESTRAMENTO DA FORÇA PRONTA TIPO UANF
FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET/OUT NOV
DESIGNAÇÃO ADST ADST ADST SU CONSTITUÍÇÃO INSPEÇÃO DE ANÁLISE DA OUTRAS DRAGÃO
DA FP INDIVIDUAL FRAÇÕES DA FP/ADST EFICIÊNCIA INSPEÇÃO DE ATIVIDADES
DA FP DA FP EFICIÊNCIA

8. Em situações normais, a FP r grupos de trabalho ou simpósios r interação segura on-line en-

como um todo voltaria a ser emprega- sobre procedimentos operativos co-
tre o banco de dados do ComOpNav,
da durante a Operação Dragão, en- muns à FFE e à Esquadra; e da Esquadra, da FFE e a
cerrando o ciclo de adestramento r exercícios interforças. ForTarAnf no mar; e
da FFE. Nesta oportunidade, o r integração segura on-line en-
CmdoTrDbq e os meios da FP, como Finalmente, conforme previsto na tre a ForTarAnf no mar e os Cen-
núcleo de uma ForDbq valor BAnf, es- proposta de criação da unidade, o tros de Jogos da EGN e do CIASC.
tariam subordinados a outra OM em- CmdoTrDbq poderá elaborar ou ana-
pregadora da FFE: o ComDivAnf; e lisar procedimentos operativos espe- CONCLUSÃO
9. Quanto às demais unidades da cíficos da FFE e conduzir pla-
FFE, cumpririam o ciclo normal de nejamentos preliminares sobre o em- Ao longo deste trabalho, pro-
adestramento, conforme tem sido prego da UAnf/FP em cenários de curamos mostrar as origens do
realizado. interesse do país, conforme determi- CmdoTrDbq e o processo adotado
As ações acima não a esgotam a nação superior. para que o mesmo se tornasse reali-
participação do CmdoTrDbq no ci- A criação do CmdoTrDbq abre dade. Apresentamos também algu-
clo de adestramento da FFE. Em ra- novas perspectivas para a MB, em mas idéias quanto à sua inserção no
zão de suas tarefas, a OM poderia especial no tocante ao preparo e ciclo de adestramento da FFE e a
ser também responsável pela coor- emprego de sua FP. Contudo, a par contribuição que esta nova unidade
denação e emprego de GptOpFuzNav dos tópicos e ações listados anteri- pode trazer para o aprimoramento da
durante as operações Amizade e Fra- ormente, é necessário implementar e FP tipo UAnf.
terno. O quadro acima retrata a vi- /ou aperfeiçoar algumas providênci-
são do autor sobre o ciclo de prontifi-
as complementares, mas de suma im- Conforme citado inicialmente, a
cação da UAnf/FP da FFE. portância para a eficácia da FP. Den- criação deste Comando de Força faz
Caso seja ativada a FP tipo UAnf tre elas, podemos citar: parte de uma ampla reestruturação
no período anterior ao mês de agos- por que passa a FFE, fruto do
to, a mesma seria nucleada no r equipamentos seguros de simpósio “O 3º Milênio e o Corpo
BtlInfFuzNav que realizou o adestra- transmissão de dados a longa dis- de Fuzileiros Navais”. Ao receber os
mento acima no ano anterior ao da tância, de modo a unir o meios do futuro Batalhão de Coman-
ativação. ComOpNav, a FFE, a Esquadra e do e Controle (BtlCmdoCt) 5 , o
Além do citado, o CmdoTrDbq uma ForTarAnf no mar; CmdoTrDbq poderá exercer de
também poderá ter participação r acompanhamento contínuo modo significativo a autoridade e su-
efetiva em eventos nos quais normal- de situações potencialmente ame- pervisão das ações desenvolvidas
mente a FFE está presente, tais como:açadoras aos interesses nacionais; pelos GptOpFuzNav, adequando as
r coleta contínua e análise dos capacidades do CFN ao campo de
r planejamento e jogos de guer- conhecimentos operacionais sobre batalha moderno e incrementando as
ra sobre temas didáticos da Escola áreas onde a FP possa atuar; possibilidades de resposta do Poder
de Guerra Naval (EGN) e do Cen- r coleta contínua e análise de Naval diante de uma crise político-
tro de Instrução Almirante Sylvio de dados sobre possíveis forças inimi- estratégica.
Camargo (CIASC); gas;
r elaboração e/ou análise de ma- r meios seguros que permitam
nuais do setor operativo e/ou didá- videoconferência entre os navios 5 Ver O Anfíbio nº 20, pág.53, de 2001. Artigo
ticos; de uma ForTarAnf; do CF(FN) Paulo Martins Zuccaro.

2002 - O Anfíbio - 34
 Uma das mais inovado-
ras mudanças que serão
introduzidas pela recém-
aprovada reestruturação
da Força de Fuzileiros da
Esquadra e que terá
reflexos diretos no conceito
de emprego dos gru-
pamentos operativos de
fuzileiros navais
(GptOpFuzNav) é a
criação do Batalhão de
Controle Aerotático e
Defesa Antiaérea
(BtlCtAeDAAe).
A criação desta nova
unidade representa um
passo de extrema
importância para a
consolidação dos
GptOpFuzNav como
organização padrão para o
emprego do nosso Corpo de
Fuzileiros Navais,
principalmente no que se
refere ao Componente de
Combate Aéreo (CCA),
elemento até a presente
data pouquíssimo
compreendido e explorado
em nossos exercícios e
adestramentos.
Se, por um lado, pode-se alegar
que tal lacuna é conseqüência do fato
de que, durante a execução dos
nossos adestramentos, os meios aé-
reos têm permanecido, quase que
A Importância do
Batalhão de Controle
Aerotático e Defesa
Antiaérea na formação
dos GptOpFuzNav
CC (FN) C ARLOS CHAGAS VIANNA BRAGA
invariavelmente, sob controle da For-
ça Naval (seja pela limitação da dis-
ponibilidade de meios ou quaisquer
outros fatores), o que tenderia a tor-
nar pouco eficiente dedicar grandes
estruturas de Fuzileiros Navais à
formação do CCA; por outro lado,
é fato que há uma série de fatores
que podem demandar que os meios
aéreos sejam colocados sob controle
dos GptOpFuzNav. Dentre estes fa-
tores, podem-se destacar: a existên-
cia de um número de aeronaves su-
perior ao números de plataformas na-
vais para seu lançamento; prioridades
relativas ao emprego e posicio-
namento do NAe para o emprego de
aeronaves de asa fixa e asa rotativa
durante às OpAnf; realização de
operações de interesse da Marinha
sem a presença plataformas navais;
realização de operações ribeirinhas
com estabelecimento de base de
operações aéreas (BOA); operações
de assistência humanitária; dentre
outros. Assim, pode-se concluir que
a possibilidade de que os meios
aéreos sejam colocados sob controle
dos GptOpFuzNav não deve, em hi-
pótese alguma, ser descartada, con-
forme ficou claramente demonstrado
pelo ocorrido nas duas operações
reais recentes para as quais
GptOpFuzNav foram ativados em
sua plenitude: ECO-92 e Operação
Rio (94/95), ressaltando-se que
desta última participaram parcelas
consideráveis dos meios de dois
esquadrões, inclusive seus coman-
dantes, ficando o CCA sob o co-
mando do mais antigo. Ambas as
situações resultaram na ativação de
estruturas “ad hoc”.
Neste contexto, cabe, ainda, des-
tacar a recente aquisição das aerona-
ves AF-1. Sua incorporação deverá
exigir o aprimoramento de nossas
estruturas de controle aerotático, no
sentido de aproveitar o enorme po-
tencial destas aeronaves para a exe-
cução de missões em apoio aos
GptOpFuzNav, para as quais as
AF-1 são perfeitamente apropriadas.
O grande potencial das AF-1 para
missões de ataque ao solo, princi-
palmente apoio aéreo aproximado,
ficou historicamente demonstrado
nas operações das quais essas aero-
naves participaram em apoio às
forças do USMC (A-4 Skyhawk).
2002 - O Anfíbio - 35
 Por todas estas razões, foi pro-
posta a criação do BtlCtAeDAAe
que terá por finalidade apoiar a
formação do CCA, agregando novas
possibilidades e capacidades aos
nossos GptOpFuzNav.
O BtlCtAeDAAe e o CAA
De acordo com sua definição
mais atual, o CCA é o componente
básico dos GptOpFuzNav organiza-
do por tarefas para executar opera-
ções de aviação. Cabendo a ele
prover todas ou parte das seis tarefas
de aviação necessárias ao cumpri-
mento da missão do GptOpFuzNav:
defesa aeroespacial, apoio aéreo
ofensivo, apoio ao assalto, guerra
eletrônica, reconhecimento aéreo, e
controle de aeronaves e armas antiaé-
reas. O CCA é geralmente composto
de um comando de aviação e de ou-
tras unidades de aviação ou desta-
camentos. Seu tamanho poderá variar
desde um pequeno destacamento de
aeronaves específicas até uma ou
mais unidades aéreas. O CCA, assim
como os demais componentes dos
GptOpFuzNav, não é uma organi-
zação formal.1
No caso brasileiro, onde inexiste
aviação específica de fuzileiros navais 2 ,
devem ser consideradas as duas si-
tuações genéricas já mencionadas no
início deste artigo, variando desde
uma grande quantidade de aeronaves
colocadas na organização por tarefas
do GptOpFuzNav até, em situação
oposta, poucas ou nenhuma aerona-
ve na organização por tarefas do
GptOpFuzNav. Nos dois casos, ha-
verá, também, a possibilidade do
GptOpFuzNav receber apoio de ae-
ronaves sequer pertencentes à
ForTarAnf ou mesmo à Força Aérea
do Teatro de Operações Marítimo
(FATOM). Assim sendo, cabe ressal-
tar que, independentemente das ae-
ronaves pertencerem ou não à orga-
nização por tarefas do GptOpFuzNav,
elas poderão apoiá-lo e, assim sen-
do, estruturas de coordenação e con-
trole baseadas em terra deverão exis-
tir, de modo a possibilitar eficácia na
execução deste apoio.
No primeiro caso, tenderemos a
ter o CCA nucleado no comando de
um dos esquadrões de aviação, com
reforço de outros (conforme ocorreu
durante a Operação Rio), podendo
inclusive ser nucleado no comando
da própria Força Aeronaval, no caso
de envolvimento substancial de dois
ou mais esquadrões. Neste primeiro
caso, caberia ao BtlCtAeDAAe, ou
destacamento deste, compor a orga-
nização do CCA, sendo diretamente
responsável pela execução da defesa
antiaérea, por prover as facilidades
necessárias ao comando e controle
das aeronaves em terra, além de
apoiar, quando necessário, o desdo-
bramento das aeronaves em terra.
No segundo caso, diante de um
número muito reduzido ou da ine-
xistência de aeronaves na organiza-
ção por tarefas do GptOpFuzNav, o
BtlCtAeDAAe, além de exercer as
funções mencionadas no parágrafo
anterior, poderá, eventualmente,
constituir o próprio núcleo do CCA.
De qualquer modo, independen-
temente de constituir ou não o núcleo
do CCA, em todos os casos expos-
tos, o BtlCtAeDAAe será respon-
sável por executar diretamente
algumas das seis funções do CCA já
apresentadas e viabilizar a execução
das demais.
No caso da função Defesa Aeroes-
pacial3 , o BtlCtAeDAAe, em todas
as situações, será o responsável di-
reto pela parcela defesa antiaérea,
executada basicamente por meio de
sua BiaArtAAe, podendo caber-lhe
também a coordenação e o controle
da parcela defesa aérea, exercidos
por meio dos centros de controle que,
uma vez ativados de forma unificada
ou distribuída, deverão ser mobilia-
dos pela CiaCtAe (ex.: Centro de Co-
mando Aerotático (CComAT), Cen-
tro de Direção Aerotática (CDAT) e
Centro de Operações de Defesa
Aeroespacial (CODA)).
É justamente na função Controle
de Aeronaves e Armas Antiaéreas
que o novo BtlCtAeDAAe apresen-
tará as maiores vantagens. Até o
momento, a estrutura do CFN per-
mitia apenas exercer, em boas con-
dições, o controle das armas antiaé-
reas, por meio da própria BiaArtAAe.
Com a incorporação da nova uni-
dade, tanto o controle das armas
antiaéreas como o controle de aero-
naves passarão a ser exercidos por
meio da CiaCtAetat, que deverá ser
capaz de nuclear as principais
agências de coordenação e controle:
q Centro de Comando Aerotá-
tico (CComAt) – no caso do coman-
do das atividades ser exercido pelo
GptOpFuzNav – ou Centro de Con-
trole Aerotático (CDAT) – no caso do
comando das atividades continuar a
ser exercido de bordo, cabendo ao
GptOpFuzNav apenas um setor.
q Centro de Apoio Aéreo Dire-
to (CAAD)
q Centro de Operações de
Defesa Aeroespacial (CODA)
q Centro de Operações Antiaé-
reas (COAAe)
De acordo com a complexidade
da situação, em termos de meios
aéreos e ameaça aérea, e com a dis-
ponibilidade de recursos de coorde-
1
O termo CCA não existe como organização
formal. O título formal será o constante da
organização por tarefas, sendo normalmente
função da unidade que o nucleia. Assim, por
exemplo, em determinada operação poderemos
ter HU-1 (Ref) , neste caso entende-se que o
CCA é composto por uma organização por
tarefas nucleada no HU-1.
2
A inexistência de aviação específica de
fuzileiros navais é plenamente justificada dentro
do propósito, das dimensões e das capacidades
da nossa Marinha.
3
Defesa Aeroespacial = Defesa Aérea (lançada
a partir de plataformas aéreas) + Defesa
Antiaérea (lançada a partir de plataformas
terrestres)
2002 - O Anfíbio - 36

nação e controle na dotação da
CiaCtAetat, todas as agências acima
poderão ser ativadas ou, alterna-
tivamente, apenas uma delas
(CComAT/CDAT) seria responsá-
vel pelo exercício de todas as funções.
A futura unidade deverá, por
meio de sua CiaCtAetat, ser capaz
de exercer o controle visual e/ou ra-
dar das aeronaves no seu setor de
responsabilidade.
Na situação atual, onde inicialmente
o único sensor da CiaCtAetat será o
próprio radar Giraffe, que até então
constituía o núcleo do COAAe, vi-
sualiza-se que apenas uma das agên-
cias será ativada, ficando responsável
pelo exercício de todas as funções de
controle de aeronaves (neste caso, de
forma bastante limitada) e armas
antiaéreas. Futuramente, com a
aquisição de novos sensores, podería-
mos evoluir para a ativação de um
maior número de agências, isto, é
claro, apenas quando a complexidade
da situação (meios aéreos e ameaça
aérea) assim o exigisse.
As funções de Apoio Aéreo Ofen-
sivo4 e Apoio ao Assalto continua-
rão a ser executada pelo(s) esqua-
drão(ões) de aeronaves com capaci-
dade de ataque ao solo, ou destaca-
mentos destes (principalmente aero-
naves do HU-1 e do VF-1) – apoio
aéreo ofensivo – e pelo(s) esqua-
drão(ões) de aeronaves com capaci-
dade para o transporte de tropa e
material, ou destacamentos destes
(sendo as mais apropriadas as aero-
naves do HU-2 e do HS-1) – apoio
ao assalto. As aeronaves executando
tais tarefas poderão estar em uma (ou
mais) das situações a seguir: ae-
ronaves constantes da organização
por tarefas do CCA;
aeronaves pertencentes à
Força Naval executando
missões de apoio ao
GptOpFuzNav; aero-
naves pertencentes à
FATOM; e, finalmente, aeronaves
não enquadradas em nenhuma das
situações anteriores participando de
operações de apoio, conforme
previsto na DBM. Em todos os casos,
caberá ao BtlCtAeDAAe nuclear, ou
apoiar, as agências de coordenação
e controle necessárias a garantir o
adequado funcionamento do apoio,
conforme já descrito no item anterior.
A curto prazo, o Reconhecimento
Aéreo continuará a ser executada
pelo(s) esquadrão(ões) de aerona-
ves, ou destacamentos destes (prin-
cipalmente aeronaves do HU-1 e do
VF-1), constantes da organização
por tarefas do CCA ou por aeronaves
pertencentes a Força Naval exe-
cutando missões de apoio ao
GptOpFuzNav, assim como a Guerra
Eletrônica continuará a ser executada
de forma limitada pelas aeronaves
com alguma capacidade de guerra
eletrônica e, de forma subsidiária,
pelos sensores da artilharia antiaérea
– Radar Giraffe e Radar Bophir
(Radar de DT do Canhão BOFI-R)
– e pela Companhia de Guerra Ele-
trônica, esta última quando atuando
em proveito das operações do CCA.
Entretanto, como veremos mais
adiante, a futura aquisição dos veícu-
los aéreos não-tripulados (VANT)
poderá adicionar novas capacidades
ao BtlCtAeDAAe, acarretando em
grandes vantagens e maior eficiência
no exercício de atividades ligadas às
funções Reconhecimento Aéreo e
Guerra Eletrônica.
Além da participação direta ou
indireta em cada uma das 6 funções
do CCA, conforme descrito, poderá
caber ao BtlCtAeDAAe uma tarefa
de apoio que, em determinadas situa-
ções, contribuirá para o aumento da
eficiência ou mesmo viabilizará a exe-
cução de cada uma das mencionadas
funções. Trata-se da operação de
bases de operações aéreas (BOA)5 .
Prevê-se que, a médio prazo, o
BtlCtAeDAAe, devidamente refor-
çado por destacamentos de outras
unidades, possa ser capaz de estabe-
lecer e operar tais bases. Para tanto,
visualiza-se uma organização por
tarefas com núcleo na CiaCmdoSv
da própria unidade e com o reforço
de destacamentos da ForAerNav,
BtlLogFuzNav, BtlEngFuzNav,
CiaApDbq, dentre outros.
O estabelecimento e operação de
uma BOA pelo BtlCtAeDAAe po-
derá ocorrer em apoio a uma ope-
ração anfíbia, operação ribeirinha ou
em apoio a qualquer outra operação
naval ou terrestre, quando do interes-
se da MB, ressaltando-se neste úl-
timo caso as operações de ajuda hu-
manitária6 .
Cabe aqui um pequeno parênte-
sis para destacar a importância que
tais bases têm adquirido no pla-
nejamento e nas estruturas das forças
armadas. Para o USMC, o assunto
não é novidade, uma vez que, desde
antes da II Guerra Mundial, sua
doutrina já previa o estabelecimento
de bases de operações aéreas ex-
pedicionárias. A Força Aérea Ame-
ricana (USAF), há três anos, em
1999, implantou o conceito de força
4
Apoio Aéreo Ofensivo = Apoio Aéreo
Aproximado + Apoio Aéreo Afastado.
5
Na ausência de outro termo doutrinário mais
apropriado para as bases de operações aéreas
que venham a ser estabelecidas em terra pelos
GptOptFuzNav nos diversos tipos de
operações, adotou-se no presente artigo o
termo BOA, já consagrado na doutrina de
operações ribeirinhas.
6
Dentro da realidade atual do CFN e da MB
considera-se que o BtlCtAeDAAe deverá ser
capaz de operar BOA apenas para aeronaves
de asa rotativa, uma vez que a operação de
aeronaves de asa fixa demandaria recursos
atualmente inexistentes e totalmente des-
proporcionais às nossas atuais possibilidades.
2002 - O Anfíbio - 37
aérea expedicionária (Expeditionary
Air Force – EAF), consistindo basi-
camente de esquadrões e bases ex-
pedicionárias. Conceito com o qual,
declarou seu próprio comandante,
pretendia seguir o modelo já utilizado
pelas forças navais (US Navy e
USMC) americanas para obter maior
mobilidade nos teatros de operações.
A Força Aérea Brasileira (FAB) tam-
bém caminha neste sentido, tendo
criado no início do ano de 2002, as
bases aéreas projetáveis (BAeProj)
subordinadas aos COMAR.
Detalhamento da estrutura e o
processo de formação da unidade
Inicialmente, prevê-se para o
BtlCtAeDAAe uma divisão em três
subunidades: BiaArtAAe, CiaCtAe e
CiaCmdoSv, conforme consta da pro-
posta de reestruturação aprovada.
Resultando, desta forma, na or-
ganização detalhada:
Esta estrutura detalhada, ainda
que não seja a ideal, retrata o que é
exeqüível com os recursos atualmente
disponíveis, ou seja, representa o que
pode ser feito.
Visualiza-se que estrutura deverá
ser composta da seguinte forma:
q O Estado-Maior (EM) da
unidade resultará da transformação
do EM da BiaArtAAe (ora em pro-
cesso de extinção como unidade in-
dependente), devidamente reforça-
do, de modo a tornar-se compatível
com as necessidades de uma unidade
operativa valor batalhão;
q A BiaArtAAe (SU do novo ba-
talhão) resultará da estrutura anterior
da antiga unidade, aliviada dos encar-
gos administrativos e de EM, além
da retirada de seus sensores de
vigilância (basicamente o Radar Gi-
raffe), que passarão a pertencer à
CiaCtAetat;
q A CiaCtAetat, que centralizará
o exercício de vigilância e controle
do espaço aéreo, permitindo,
assim o eficaz controle, não
só das armas antiaéreas,
como também das aero-
naves. Situação totalmente compatí-
vel com um quadro de recursos limi-
tados que necessitam ter seu emprego
otimizado. Para tanto deverá receber,
também, os recursos (pessoal e ma-
terial) destinados às redes de co-
ordenação e apoio aéreo, atualmen-
te existentes na
Companhia de
Comunicações7 ; e
7
Apesar da possível polêmica decorrente, considera-se que centralização dos meios de
comunicações destinados à coordenação e controle do apoio aéreo na CiaCtAetat é, no momento,
a solução mais apropriada por permitir uma melhor utilização destes meios, garantir maior
independência à futura unidade no desenvolvimento de suas tarefas de apoio ao CCA e por ser
a solução mais apropriada , sob o aspecto doutrinário, uma vez que serão consideradas redes
internas do CCA.
O Radar Giraffe 50AT passará à
CiaCtAetat
q A CiaCmdoSV, além de exer-
cer as tarefas comuns, típicas desta
SU em qualquer batalhão, deverá
paulatinamente concentrar as faci-
lidades e habilidades necessárias ao
apoio em terra das aeronaves. Deverá
tornar-se capaz de, quando neces-
sário, nuclear uma BOA, recebendo
e coordenando os reforços neces-
sários que venham a ser recebidos
de outras unidades para tal fim.
A Provável Evolução da Uni-
dade a Curto e Médio Prazo
Futuramente, a aquisição de no-
vos meios pelo CFN deverá resultar
em duas modificações em sua es-
trutura:
u Aquisição dos lançadores
veiculares do Míssil MISTRAL
– Demandará a divisão da BiaArtAAe
em duas SU: BiaMSA (com 16
lançadores de míssil, sendo 8 por-
táteis e 8 veiculares) e BiaCanAAe
(com os 6 CanAAe 40/70 BOFI-R).
Deve ser considerado que a
BiaArtAAe atual já se encontra no
limite de sua capacidade de controle,
uma vez que, concebida inicialmente
para dotar 6 CanAAe (dotação tra-
dicional de uma Bia), com a in-
2002 - O Anfíbio - 38
corporação dos MSA Mistral, pas-
sou a possuir, além dos CanAAe, 8
lançadores portáteis de MSA. Assim,
a aquisição dos 8 lançadores vei-
pessoal preparado e capacitado para
culares deverá resultar na divisão da
atual BiaArtAAe. Tal divisão não o exercício das novas funções deverá
ser fundamental para o sucesso da
acarretará qualquer dificuldade sob MACG - Estrutura de controle
implantação do BtlCtAeDAAe. Os
o ponto de vista operativo, uma vez aéreo do USMC
que, conforme já visto, o planeja-aspectos já discutidos durante este oficiais é grande.
artigo e a própria designação da
mento das ações será centralizado no Assim, no caso do CFN, onde a
EM do batalhão e, no que se refereunidade já induzem, de forma ge- demanda será muito pequena, não se
a comando e controle das armas nérica, aos tipos de atividades que recomenda tal especialização exces-
seu pessoal deverá estar capacitado
antiaéreas, as atividades já estarão siva, sugerindo-se que, ao preparo
centralizadas na CiaCtAe, conformea exercer: defesa antiaérea e controle dos oficiais que já exercem as ati-
prevê a estrutura da unidade. aerotático. vidades de Defesa Antiaérea, fossem
u Aquisição de veículos Como se trata de situação, até o acrescidos os conhecimentos neces-
aéreos não-tripulados (VANT), momento, inusitada no âmbito do sários à execução das atividades de
que ora começa a ser debatida, CFN, consideramos de grande valor controle aerotático, uma vez que são
ensejará na criação de uma Cia/Pela observação e análise do perfil uti- atividades correlatas (conforme
VANT. 8 Conforme já mencionado, lizado por outra força, extraindo dele claramente identificado no modelo do
o emprego dos VANT possibilita algumas lições e adaptações neces- USMC), que estariam sendo desen-
sárias. Para tanto, sugere-se consi-
sensível incremento às atividades do volvidas no âmbito da mesma uni-
CCA, principalmente àquelas re- derar o modelo de preparo de pes- dade, evitando-se assim a criação de
lacionadas às tarefas de Reconhe- soal e de fluxo de carreira adotado mais uma habilitação específica.
cimento Aéreo e Guerra Eletrônica.pelo USMC para o pessoal que atua A exemplo do que ocorre no
Suas vantagens são inúmeras, têm nas duas áreas mencionadas no USMC, o BtlCtAeDAAe não neces-
sido amplamente divulgadas nas parágrafo anterior, onde pode ser sitaria ter oficiais aviadores navais em
verificado o seguinte: no caso dos ofi-
publicações e relatórios especiali- sua tabela de lotação, uma vez que
ciais, as atividades a serem exercidas
zados, não constituindo objeto deste tratam-se de oficiais altamente es-
pelo BtlCtAeDAAe pertencem a duas
artigo. De qualquer modo, com a in- pecializados, de elevado custo de for-
corporação destes ao BtlCtAeDAAe, especialidades principais (Main mação, cuja demanda é crescente no
Occupational Specialties - MOS) –
a unidade passará a exercer parcela âmbito da MB e que, fora de sua
substancial das tarefas de Reco- Defesa Antiaérea e Controle Aéreo atividade fim, acabariam subempre-
nhecimento Aéreo e Guerra Ele- – sendo ambas pertencentes à gados. Para o planejamento e desen-
trônica, determinando, portanto a especialidade genérica de Sistemas volvimento das operações, as organi-
criação de Cia ou Pel VANT. O de Comando e Controle Aéreo zações por tarefas receberiam os re-
(MACS). Até o posto de capitão,
valor final da SU/fração será função forços, conforme necessário, sem a
do vulto e da complexidade do ma- tais especialidades funcionam iso- necessidade de comprometer perma-
terial a ser adquirido. ladamente, fundindo-se em uma única
Com as modificações mencio- a partir do posto de major. Em cada 8
Durante o Simpósio “O CFN do Terceiro
uma das 3 Forças Expedicionárias de Milênio”, discutiu-se a aquisição dos VANT.
nadas, a estrutura final para o Na ocasião, houve consenso quanto à
BtlCtAeDAAe poderá ser a seguinte:Fuzileiros Navais (MEF) existe uma necessidade de adquirí-los futuramente. O
grande unidade – mesmo não ocorreu com relação à determinação
da unidade que deveria, futuramente, recebê-
Marine Air Control los. O autor considera que, para seu
Group (MACG) – funcionamento eficaz e coordenado com os
onde a maior parte demais sistemas, deverão ficar no
BtlCtAeDAAe, principalmente devido à
dos oficiais com imperiosa necessidade de coordenação e
O Pessoal e seu Preparo estas habilitações está concentrada. controle do espaço aéreo e ao fato dos VANT
exercerem funções de aviação (reconhecimento
Como na maior parte das ati- Pode-se verificar, pelo tamanho de aéreo e guerra eletrônica), o que recomenda que
vidades técnicas, a existência de cada MACG que a demanda de estejam na esfera do CCA.

2002 - O Anfíbio - 39
nentemente tais importantes recursos
humanos.
Assim, as maiores modificações
em termos de investimentos no pre-
paro de pessoal estariam concen-
trados na introdução de cursos (rea-
lizados na MB e na FAB) visando à
sua capacitação para as atividades de
controle aerotático, uma vez que, no
caso da defesa antiaérea, não há
maiores novidades, pois já existe
longa tradição no CFN: desde a in-
corporação da antiga BiaCanAuAAe
40/60, há quase 30 anos, até a
atualização de nossa DAAe para o
estado-da-arte, há 15 anos, com a
aquisição dos sistemas BOFI-
GIRAFFE e, posteriormente, dos
MSA MISTRAL. De modo que,
hoje, o CFN possui oficiais e praças
adequadamente habilitados para o
exercícios destas atividades, com
cursos no próprio CFN, no EB e no
exterior.
Tal situação de concentração dos
oficiais em um mesmo ramo de
“habilitação” torna-se especialmente
desejável se considerarmos que a
unidade terá, é claro, apenas um
estado-maior, o qual será responsável
pelo planejamento de todas as
atividades de suas subunidades.
Deste modo, a existência de apenas
uma “habilitação” básica garantirá
maior eficiência no desempenho de
suas atividades além de contribuir
para maior coesão da unidade e
criação do seu espírito, evitando que
a mesma se torne uma “colcha de
retalhos”.
No caso das praças, a demanda
e a especificidade das atividades a
serem desenvolvidas tenderia a re-
comendar a “criação” de uma nova
habilitação. Da mesma forma que
dentro da especialidade de artilharia
(AT) existem hoje aqueles cursados
em artilharia antiaérea, visualiza-se
que nas especialidades de artilharia
(AT) e comunicações navais (CN)
deveremos passar a ter praças habi- prazo, deverá ser estudada a aquisi-
litadas para controle aéreo. Tal habi- ção de outros meios dada a complexi-
litação poderá ser obtida por meio dade das tarefas a serem exercidas
de cursos na MB e na FAB. pela unidade.
A longo prazo, teremos servindo Deve ficar claro que outras neces-
na nova unidade oficiais e praças com sidades deverão surgir no decorrer
as duas habilitações já mencionadas. do processo e, principalmente, com
o amadurecimento do novo batalhão,
O Material
uma vez que se trata de unidade com
De modo semelhante ao preparo conceito de emprego totalmente
do pessoal, visualiza-se a necessi- inédito no âmbito do CFN e da MB.
dade de aquisição, a médio e longo
prazo, de sensores específicos para Um Futuro Promissor
a execução das tarefas afetas ao
controle aéreo. No caso da defesa an- Conforme pôde ser verificado no
tiaérea, a situação já se encontra bem decorrer do presente artigo, o Ba-
encaminhada, considerando-se a talhão de Controle Aéreo e Defesa
aquisição já prevista de novos meios. Antiaérea representa um importante
Dentre os sensores e material a marco no desenvolvimento pleno das
serem oportunamente adquiridos, capacidades operacionais do Corpo
deverão ser priorizados, ainda que a de Fuzileiros Navais e da Marinha do
médio e longo prazo em função dos Brasil, como um todo. Tal unidade
custos, aqueles necessários à exe- deverá preencher a grande lacuna
cução do controle visual/radar do existente, até o momento, principal-
tráfego aéreo, controle de aproxima- mente no que se refere à plena utili-
ção visual/radar e torre de controle. zação das capacidades e poten-
A determinação mais detalhada das cialidades do espaço aéreo, durante
necessidades, assim como a espe- as operações dos GptOpFuzNav.
cificação do material, só poderá ser A organização adotada para a
realizada após a entrada em funcio- nova unidade, ainda que não seja a
namento da unidade e da conse- mais completa ou a ideal, é aquela
qüente aquisição da experiência e dos que o CFN tem condições de adotar
conhecimentos necessários. Como de nas condições atuais, até mesmo
itens que poderão ser adquiridos porque a falta de experiência anterior
futuramente podemos citar: indica que a estrutura mais apropria-
- Radar de controle aéreo; da só poderá ser determinada após
- Radar de aproximação portátil; a ativação do batalhão e do exercício
- Sistema portátil de pouso por prático de suas atividades. Pequenos
instrumentos; e ajustes poderão e deverão ser rea-
- Torre portátil “containerizável”. lizados com o passar do tempo, com
Em termos de material de comu- os ensinamentos adquiridos e com a
nicações, considera-se que, inicial- incorporação de novos meios.
mente, a unidade passará a contar O mais importante passo foi
com os equipamentos apropriados dado. A criação do Batalhão de
atualmente existentes na dotação da Controle Aéreo e Defesa Antiaérea
Companhia de Comunicações e que permitirá o desenvolvimento de uma
serão transferidos para a dotação do nova mentalidade no CFN e na MB,
BtlCtAeDAAe, conforme já discu- muito mais consciente da im-
tido anteriormente. Tais equipamen- portância do espaço aéreo para o
tos permitirão fazer face às neces- sucesso das operações que en-
sidades iniciais, contudo, a médio volvam GptOpFuzNav.
2002 - O Anfíbio - 40
 Novos Navios Anfíbios
INTRODUÇÃO
O fim da Guerra Fria ensejou gran-
des transformações em muitos as-
pectos da vida humana, particular-
mente nas relações de poder entre
os principais atores internacionais. Na
área naval, ocorreu um grande ques-
tionamento acerca do arranjo que
apresentavam as principais Marinhas
do mundo. O desmoronamento do
império soviético e de sua poderosa
Marinha impôs aos Estados Unidos
da América (EUA) e a seus principais
aliados, particularmente os da Orga-
nização do Tratado do Atlântico
Norte (OTAN), uma reavaliação de
suas Armadas, já que o embate con-
tra os principais meios navais sovié-
ticos de superfície e submarinos pas-
sou a constituir uma possibilidade
cada vez mais remota.
A poderosa US Navy, projetada
como uma transposição dos concei-
tos mahanianos para um ambiente
nuclearizado, passou a não mais cor-
responder às principais possibilidades
de emprego visualizado pelo poder
político de seu país. A grande mu-
dança estratégica necessária foi con-
substanciada em 1992 em um docu-
mento denominado “From the Sea”.
O seguinte trecho do documento
reflete bem a mudança de postura
que seria vivenciada em curto prazo:
“... uma profunda mudança
CF (FN) P AULO M ARTINO ZUCCARO
O mar, assim como o ar e
o espaço exterior, só têm
significado estratégico
quando relacionados ao
lugar onde vive a raça
humana: a terra.
C OLIN G RAY
que nos afastará do combate pu- O presente artigo tem o propósito de
ramente naval nos grandes espa- apresentar os principais projetos de
ços oceânicos e nos aproximará navios anfíbios da atualidade, além de
das operações combinadas, discorrer superficialmente sobre
conduzidas a partir do mar. A desenhos não-convencionais de cas-
Marinha e o Corpo de Fuzileiros cos, aplicáveis a meios para ope-
Navais doravante responderão às rações anfíbias. Será feita, também,
crises e poderão prover a capaci- uma breve menção ao projeto bra-
tação inicial para o desenca- sileiro do Navio-Transporte de
deamento de operações combi- Apoio e, ao final, será articulada uma
nadas para a solução de um sucinta conclusão.
conflito, bem como participarão
de qualquer esforço militar con- DESENVOLVIMENTO
tinuado. Nós seremos parte de Navios de Desembarque Doca
uma ‘equipe mar-ar-terra’, trei- (com plataforma para
nada para responder imediata- helicópteros) - NDDH
mente aos Comandos Unificados
conforme necessário para a exe- Estão em curso diversos projetos
cução da política nacional.”1 e construções de navios anfíbios
enquadráveis nesta categoria, pro-
Os anos subseqüentes testemu- vavelmente por apresentar grande
nharam as grandes transformações flexibilidade de uso e custo mode-
conduzidas nas principais Marinhas rado, fatores fundamentais para os
ocidentais e também em algumas países de média envergadura.
orientais. A tarefa de projeção de > Espanha e Holanda:
poder sobre terra passou a receber classes Galicia e Rotterdam
a mais alta prioridade. Além do de- Trata-se de um projeto comum
senvolvimento de novos meios e entre os dois países e que deu origem,
técnicas para o bombardeio aero- em cada um deles, a uma nova classe
naval e o emprego intensivo dos de navio. O Rotterdam foi construído
mísseis de cruzeiro a partir do mar, entre 1996 e 1997, enquanto o Gali-
diversos projetos e conceitos para cia foi incorporado à Marinha da Es-
novos navios anfíbios foram apresen- panha em 1998.
tados e a construção naval para tal
fim tomou grande impulso. 1
Tradução livre.
2002 - O Anfíbio - 41
 Com aproximadamente 13 mil to-
neladas de deslocamento e 166 m de
comprimento, ambas as classes são
bastante similares, se bem que há al-
gumas particularidades a diferenciá-los,
especialmente a propulsão, que no caso
dos holandeses é diesel-elétrica, uma
inovação em navios deste tipo, enquan-
to que nos espanhóis foi empregada
uma planta diesel convencional.
Esta classe de navio foi projetada
dentro de um conceito “multipropó-
sito”, segundo o qual a principal finali-
dade do meio é o emprego em ope-
rações anfíbias, mas com capacidade
de apoiar as demais ações de guerra
naval e também participar de opera-
ções de manutenção da paz e outras
de caráter humanitário. Além disso,
foram enfatizados alguns aspectos
que repercutem positivamente nos custos
de obtenção e operação do meio:
§ Elevado nível de automação,
o que permite a redução da
tripulação (aproximadamen-
te 200 homens); e
§ Emprego intensivo de equi-
pamentos comerciais ou de
base comercial (commercial
off the shelf – COTS).
Os navios foram projetados para
transportar um “Batalhão de Fuzileiros
Navais completamente equipados”.
Em termos reais, cada navio acomoda
613 militares. A capacidade de trans-
porte de suprimentos foi projetada
para o equivalente a 10 dias de con-
sumo desse suposto Batalhão.
Quanto ao transporte de viaturas,
a capacidade é de aproximadamente
170 blindados para transporte de
pessoal ou até 33 carros de combate
pesados.
Sua doca pode receber até quatro
embarcações de desembarque de
viaturas e material – EDVM – tipo 8.
O navio possui diversas instala-
ções de saúde, como por exemplo
enfermaria, laboratório e sala de
cirurgia.
O convôo possui dois “spots” para
helicópteros pesados do tipo EH101
Merlin, sendo que o seu hangar dis-
põe de espaço e meios para acolher
quatro Merlin ou seis aeronaves médias,
como o Super Puma ou o NH-90.
NDDH Galicia
Na Espanha, foram construídos o
Galicia e o Castilla, sendo que este
último incorporou algumas facilidades
para que também possa ser utilizado
como Navio-Transporte de Órgãos
de Comando (NTrOC).
Na Holanda, foi construído o
Rotterdam, “meio-irmão” dos espa-
nhóis Galicia e Castilha.
Está prevista, também, a cons-
trução de uma segunda unidade, o
Johan de Witt, o qual será incor-
porado em 2007. A um custo apro-
ximado de US$ 205 milhões, o Johan
de Witt apresentará algumas diferen-
ças em relação ao seu predecessor,
particularmente um aumento de 12
metros em seu comprimento e a
existência de instalações para receber
o comando de uma “Força-Tarefa
Combinada” de nível Divisão, com
HNLMS Rotterdam
acomodações para aproximada-
mente 400 homens.
> EUA:
classe LPD-17 San Antonio
O projeto do NDDH classe San
Antonio é fortemente influenciado pelos
novos conceitos operacionais do
United States Marine Corps (USMC),
quais sejam, a Manobra Operacional
a Partir do Mar (Operational Maneu-
ver From The Sea – OMFTS) e a
Manobra Navio para Objetivo (Ship
to Objective Maneuver – STOM).
Tais conceitos foram determinantes no
estabelecimento dos requisitos para o
navio, que o fazem inclusive mais
adaptado às expectativas de futuro
emprego do USMC que os próprios
poderosos navios da classe Wasp.
Tais requisitos estão diretamente
vinculados à capacidade de operar a
tríade de vetores da OMFTS: o
Carro-Lagarta Anfíbio – CLAnf -
Avançado (Advanced Amphibious
Assault Vehicle – AAAV), a aero-
nave “Tilt Rotor” MV-22 Osprey e
a Embarcação de Desembarque
Colchão de Ar – EDCA (Landing
Craft, Air Cushion – LCAC)2 .
Está prevista a construção de 12
unidades, ao longo dos próximos
nove anos, primordialmente para
substituir os remanescentes das
seguintes classes:
§ NDDH classe Austin;
§ navios de desembarque de
carros de combate – NDCC
– classe Newport;
§ navios de desembarque doca
–NDD – classe Anchorage; e
§ navios de transporte de car-
gas de assalto – NTrCA –
classe Charleston.
2 Na verdade, a EDCA é proveniente de
conceito anterior e menos amplo: o de
Desembarque Além do Horizonte (Over
the Horizon – OTH), que acabou sendo
abarcado e expandido pela OMFTS.
2002 - O Anfíbio - 42
 O convôo do San Antonio será
33% mais amplo que o do Austin,
capacitando-o a operar dois Osprey
ou CH-53E Sea Stallion, ou ainda um
número maior de aeronaves de menor
porte. O hangar comportará mais uma
aeronave pesada (Osprey ou CH-
53E) ou mais quatro médias, como
por exemplo o CH-46 Sea Knight.
Seu convés-doca abrigará duas
EDCA e 14 AAAV. Além disso,
possuirá capacidade para transportar
2.323 m2 de viaturas, distribuídas em
três conveses.
LPD-17 San Antonio
A capacidade normal de trans-
porte pessoal situar-se-á em 700 ho-
mens, podendo atingir um máximo de
800. Há previsão de enfermaria com
24 leitos e duas salas de cirurgia.
Um aspecto bem desenvolvido no
projeto foi a capacidade de comando
e controle para a tropa embarcada.
Ainda que não tenha sido projetado
para assumir o papel de NtrOC, o
San Antonio poderá fazê-lo sem
dificuldade. Dentre outras facilidades, poração para janeiro de 2003.
o navio disporá de computadores e
equipamentos de comunicações or-
gânicos e interligados em rede, o que
significa dizer que não será necessária
a utilização dos equipamentos da tropa
a bordo, que permanecerão carregados
prontos para o desembarque.
O projeto também incorporou
itens dedicados ao aumento da capa- Navios de Assalto Anfíbio
cidade autônoma de sobrevivência - NAAnf
do meio, o que normalmente não se
encontra nos navios anfíbios mais
antigos, os quais são dependentes da
proteção auferida pelos demais com-
ponentes navais da Força-Tarefa An-
fíbia (ForTarAnf). Dentre tais itens
estão a diminuição da seção reta ra-
dar e a incorporação de canhões de
30 mm para combate a pequenas e
velozes lanchas incursoras.
> Reino Unido:
classe Albion
Esta nova classe de NDDH foi
idealizada para substituir os NDDH
Fearless e Intrepid, que se encontram
no fim de sua vida útil. Com desloca-
mento de aproximadamente 18.000
toneladas, o navio transportará até
um máximo de 650 fuzileiros navais,
oito embarcações de desembarque
e aproximadamente 70 viaturas, in-
cluindo seis carros de combate pesa-
dos do tipo Challenger 2.
O Albion seguiu a tendência de 2
“spots”, típica para esta categoria
de navio, para helicópteros do tipo
EH 101 Merlin, porém o mesmo não
ocorreu quanto à existência de han-
gar, já que o navio não dispõe de tal
instalação.
A ré, o convés-doca acomoda
quatro embarcações do tipo LCU
Mk 10, do porte da EDVM-8.
O HMS Bulwark, a segunda
unidade da classe Albion, foi lançado
ao mar em 15 de novembro de 2001,
buscando-se acelerar a sua incor-
HMS Albion
> EUA:
classe Wasp
Os EUA continuam a construir os
grandes navios anfíbios da classe
Wasp. A sétima unidade, o Iwo Jima,
foi incorporada em 30/06/2001. Com
40.500 toneladas e um custo apro-
ximado de US$ 800 milhões por uni-
dade, a classe Wasp representa a
máxima capacidade anfíbia existente
em um único navio na atualidade,
sendo apto a transportar toda uma
UAnf. A obtenção de uma oitava
unidade já foi autorizada, prevendo-
se que seja a última da classe,
inicialmente estimada para possuir
dez exemplares. Esta redução está
vinculada com o advento dos NDDH
da classe San Antonio e da
concepção, ainda em fase embrio-
nária, de uma nova classe de navio
de assalto anfíbio, o LHA(R), o qual
deverá substituir os navios da classe
Tarawa.
LHD-7 Iwo Jima
LHA(R)
> França:
classe Mistral
No final de 2000, a França, que
não possui fuzileiros navais, porém
conta com uma “Força de Desloca-
mento Rápido” composta por uni-
dades de seu Exército, confirmou a
encomenda de dois NAAnf de 21 mil
2002 - O Anfíbio - 43
toneladas, denominados “Noveaux
Transports de Challands de Debar-
quement” (NTCD), idealizados
como “navios anfíbios multipro-
pósito”.
As duas unidades, que se deno-
minarão Mistral e Tonnerre, previstas
para incorporação em 2004 e 2005,
respectivamente, substituirão os
atuais Orage e Ouragan e comple-
mentarão a capacidade anfíbia auferi-
da pelos navios Foudre e Siroco, que
se encontram no auge de sua opera-
cionalidade.
Cada navio terá um convôo capaz
de operar seis helicópteros simulta-
neamente. Será possível também
transportar até 60 viaturas blindadas
de transporte de pessoal ou um Es-
quadrão de carros de combate do
tipo Leclerc, de 54 toneladas. Em ter-
mos de transporte de pessoal, a ca-
pacidade será de 450 homens. O na-
vio contará ainda com uma doca apta
a acomodar 2 EDCA ou 4 EDVM
tipo 8.
NTCD Mistral
> Itália:
classe Andrea Doria
Após algumas indefinições que
resultaram em seguidos atrasos, a Itá-
lia contratou, em novembro de 2000,
o estaleiro Fincantieri para a aquisição
de sua “Nuova Unità Maggiore”
(NUM) Andrea Doria. Sua constru-
ção foi iniciada em 2001 e sua in-
corporação está prevista para 2007.
Trata-se de um navio-aeródromo ao
qual foram incorporados atributos
típicos de um navio anfíbio, fazendo-
o configurar-se, portanto, como uma
unidade “multipropósito”.
Com um deslocamento aproxima-
do de 22 mil toneladas e um compri-
mento de 235 m, o navio deverá
acomodar 1.290 pessoas, sendo 450
vagas destinadas à tropa.
Em termos de convôo, será pos-
sível operar tanto helicópteros quanto
aeronaves de asa fixa dos tipos Ver-
tical Take-Off and Landing (VTOL)
e Short Take-Off & Vertical
Landing (STOVL), como por exem-
plo o Harrier e o futuro Joint Strike
Fighter (JSF).
Seu hangar de 2.500 m2 poderá re-
ceber um misto de aeronaves e viatu-
ras. Para o seu embarque e desloca-
mento a bordo, estão previstos dois
elevadores para acesso ao convôo,
uma rampa de popa para desova de
CLAnf e duas rampas laterais para o
embarque/desembarque de viaturas
no porto. O navio contará ainda com
quatro embarcações de desembarque
de viaturas e pessoal – EDVP.
Quanto ao apoio de saúde, o
navio disporá de três salas de cirurgia
e uma enfermaria de grandes di-
mensões.
NUM Andrea Doria
Navios de Desembarque de
Carros de Combate – NDCC
> Singapura:
classe Endurance
Provavelmente os únicos novos
NDCC em construção, uso ou pro-
jeto sejam os da classe Endurance,
de Singapura. Construídas em um
estaleiro local (Singapore Techno-
logies Marine), encontram-se em
operação quatro unidades: o Endu-
rance, o Resolution, o Persistance e
o Endeavour, tendo sido o primeiro
lançado em 1998 e o último incorpo-
rado em 2001.
Trata-se de um navio de 140 m
de comprimento, com as seguintes
tarefas primárias:
§ Transporte de pessoal, viaturas
e equipamentos;
§ Treinamento e instrução (navio-
escola);
§ Apoio a operações navais; e
§ Assistência humanitária (“disas-
ter relief”), em tempo de paz.
Na verdade, estes navios são hí-
bridos, pois, além de contar com a
rampa de proa típica dos NDCC, eles
também possuem um convés-doca,
de dimensões não conhecidas. Em
seu convés principal, há dois “spots”
para aeronaves de até dez toneladas
(adequados para aeronaves do porte
do Super Puma, por exemplo).
Um aspecto marcante do navio é
a sua tripulação de apenas 65 mili-
tares, bastante reduzida se compa-
rada com outros navios de mesmo
tipo e porte.
RSS Endeavour
Navios de Apoio
> Austrália
Outro navio multipropósito que se
encontra em processo de concepção
é o “Multirole Auxiliary” (MRA),
para a Marinha da Austrália. O
projeto visará a substituição de uma
série de outros navios anfíbios e
auxiliares ora em uso por aquela
Marinha, em particular o Manoora e
o Kanimbla, dois NDCC classe
2002 - O Anfíbio - 44
Newport (Mattoso Maia) adaptados.
O MRA combinará as tarefas de
navio anfíbio, de reabastecimento no
mar, de apoio logístico e também de
apoio à operação de aeronaves.
O projeto deriva de uma concep-
ção anterior denominada “Littoral
Support Ship” (LSS). A estimativa é
de que alcance 22 mil toneladas, apre-
sentando, dentre outras caracterís-
ticas, um convôo corrido de 224 m
por 40 m, possibilitando a operação
simultânea de seis helicópteros do ti-
po S-70 Black Hawk ou quatro do
tipo CH-47 Chinook.
O espaço interno admitirá uma
série de combinações de uso, possibi-
litando o embarque de aeronaves e
viaturas de diversos tipos. O navio
também possuirá dois elevadores
com capacidade para suportar a ae-
ronave MV-22 Osprey. Em termos
de viaturas, haverá uma disponibi-
lidade total de 2550 m2 , com capaci-
dade para receber carros de com-
bate do porte do Leopard.
O navio ainda possuirá dois apa-
relhos de força com capacidade de
até 70 toneladas, o que permitirá o
manuseio e desembarque de EDVP
e EDVM. Em vista da tarefa de
reabastecimento no mar, haverá uma
expressiva capacidade de transporte
de óleo diesel, combustível de avia-
ção e água destilada.
A capacidade dos alojamentos si-
tuar-se-á em torno de 1.200 homens,
sendo 400 em instalações fixas e 800
em instalações temporárias, ocupando-
se a parte dianteira do hangar. O projeto
contempla também 300 m2 de
instalações de saúde. Está prevista
ainda a existência de um pequeno
convés-doca, capaz de operar EDVM.
O custo estimado de cada unida-
de será de US$ 253 milhões, sendo
que, se o projeto for bem-sucedido,
diversas unidades deverão estar em
pleno em 2015, quando todos os na-
vios a serem substituídos pelos MRA digan Bay e Mounts Bay).
já terão dado baixa. Dentre outras características, a
> Reino Unido classe apresentará:
Além dos investimentos realizados § convôo com dois “spots”, po-
dendo operar aeronaves do
tipo Merlin, Chinook e Osprey;
§ doca para operar embarcações
de desembarque de carga geral
– EDCG Mk 10 (semelhante em
dimensões às nossas EDVM-8);
Multirole Auxiliary § transporte e operação de 2 EDVP;
§ capacidade de transporte de
para a materialização da classe Al- 350 homens;
bion, o Reino Unido também está im- § 1.200 metros lineares de viaturas;
pulsionando a construção de navios § 200 toneladas de carga geral; e
denominados “Alternative Landing § aproximadamente 500 con-
Ship Logistics” (ALSL) da classe tenedores de 20 pés.
Bay, projetados para substituir os já O custo aproximado das duas
obsoletos “Landing Ships Logistics” primeiras unidades será de US$ 162
(LSL) da classe Sir Lancelot, com- milhões e o das demais ainda está por
posta por seis unidades, que inclusive ser definido. Os quatro navios entra-
participaram da Guerra das Mal- rão em serviço entre 2004 e 2006.
vinas. Com aproximadamente 16 mil Além do HMS Ocean, dos dois
toneladas de deslocamento, mais do navios classe Albion e dos ALSL
dobro dos LSL, os ALSL foram acima descritos, o Reino Unido tam-
projetados para duas finalidades bém está promovendo a construção
básicas: de seis navios auxiliares tipo “RO-
§ Emprego em operações de RO”, de forma a complementar sua
baixa intensidade, como as de mobilidade estratégica. Quatro uni-
manutenção da paz e as de dades estão sendo construídas na
assistência humanitária; ou Alemanha e as demais na Irlanda do
§ Em complementação à ca- Norte, estimando-se que todos este-
pacidade de transporte dos jam em operação já em 2004.
NDDH da classe Albion e Os navios, na verdade, perten-
do LPH Ocean, que são con- cerão a uma empresa de armação, a
siderados pelos britânicos os Andrew Weir Shipping, a qual poderá
navios de “primeira vaga”, ou empregá-los comercialmente quando
seja, os que transportarão as não forem requisitados pelo Minis-
tropas de assalto. tério da Defesa britânico. A empresa
deverá sempre dispor de três uni-
dades para pronta requisição, sendo
uma de forma imediata e duas em
muito curto período de tempo.
Foram inicialmente contratadas
duas unidades (Largs Bay e Lyme
Bay), porém já foi confirmada a op-
ção para mais dois exemplares (Car- Navio RO-RO
2002 - O Anfíbio - 45
O NOSSO NOVO NAVIO
ANFÍBIO: O NAVIO-
TRANSPORTE DE APOIO
(NTrA)
Atenta à necessidade de pro-
porcionar ao país uma capacidade
de projeção de sobre terra com fuzi-
leiros navais, com vistas à conse-
cução de nossos objetivos nacionais,
a Marinha Brasileira está procurando
a materializar a decisão de construir
em estaleiro nacional um novo navio
anfíbio, o NTrA. Observando-se suas
principais características, não publi-
cadas neste artigo por ainda apresen-
tarem caráter sigiloso, o navio repre-
sentará um substancial incremento na
capacidade anfíbia brasileira, possuin-
do também algumas funcionalidades
que permitirão o seu emprego em
outros tipos de operações, dentro de
uma filosofia multi-propósito, encon-
trada em diversos projetos ora em
andamento.
O processo licitatório deverá ser
iniciado em curto prazo.
NOVOS RUMOS
Não se pode dizer que a área de
projeto de cascos de navios seja
propriamente afeita a grandes e rá-
pidas evoluções, como ocorre, por
exemplo, com a tecnologia da infor-
mação. Ao longo dos cem últimos
anos, salvo por raras exceções, não
se pôde observar nenhuma grande
revolução no que tange ao desenho
dos cascos dos navios, especialmente
na área militar que, diferentemente do
que ocorre na grande maioria dos
campos do conhecimento humano,
está seguindo “a reboque” dos pro-
jetos e pesquisas de natureza civil.
Impulsionadas pela necessidade de
desenvolver plataformas menos
vulneráveis a ações “assimétricas”,
como a que pode representar a amea-
ça de embarcações ligeiras, pela im-
A “embarcação” colchão de ar
classe Zubr
portância da capacidade de mover-
se sem dificuldade em águas pouco
profundas e pela conveniência de di-
minuir custos via redução de tripula-
ções, algumas Marinhas estão explo-
rando as potencialidades oferecidas
pelas exceções acima mencionadas.
Dentre outras, a tecnologia “col-
chão de ar” já pode ser considerada
como incorporada à guerra anfíbia,
devido ao uso corrente das EDCA
pelos EUA e às grandes embarca-
ções da classe Zubr, atualmente em
uso por Rússia, Ucrânia e mais re-
centemente Grécia. Por suas dimen-
sões, esta última embarcação já se
aproxima de ser um verdadeiro navio,
o qual, entretanto, tem a sua capa-
cidade de emprego limitada a águas
costeiras e arquipelágicas, devido
principalmente à sua limitada auto-
nomia e à não comprovada capaci-
dade de enfrentar mar grosso.
A outra grande e promissora “re-
volução” correria por conta dos navios
multicasco (catamarãs, trimarãs e
outros desenhos alternativos), que
começam a ser pesquisados com maior
intensidade para emprego militar.
Sobre tais meios também pairam
dúvidas acerca de sua real capaci-
dade de enfrentar condições adver-
sas típicas dos grandes oceanos, sen-
do este um dos aspectos que exigirão
maior atenção por parte de projetistas
e potenciais usuários. Ainda neste
contexto, pesquisadores afirmam
que, por melhor que possa ser o siste-
ma de governo e equilíbrio de um navio,
quando a velocidade de cruzeiro se
aproxima dos 50 nós, a incidência de
altos índices de mareio na tropa em-
barcada é praticamente inevitável.
A seguir serão apresentados al-
guns estudos e projetos em curso
baseados em belonaves multicasco,
uma área francamente liderada por
australianos e norte-americanos.
> Austrália
Como que para honrar as tradi-
ções milenares de seus nativos, que
dominavam a técnica de construção
de canoas multicasco, os australianos
vem logrando bons resultados no de-
senvolvimento e construção de navios
do tipo catamarã. O estaleiro Austal
Ships já tem no mercado um navio
comercial que possui algumas carac-
terísticas anfíbias denominado “Thea-
tre Support Vessel” (TSV), confor-
mado como um catamarã de 101 m.
Suas principais capacidades de trans-
porte são as seguintes:
§ até 100 viaturas do tipo
HMMWV;
§ 950 homens equipados;
§ 12 helicópteros do tipo UH-
1N ou um número menor de
CH-46E Sea Knight.
Em meados de 2001, foi firmado
um contrato entre o USMC e o Aus-
tal para o apoio de transporte da III
Marine Expeditionary Force (III
MEF), baseada em Okinawa, com
o propósito de, utilizando o TSV, as-
segurar o desdobramento de unida-
des valor Batalhão daquela Força na
região do Pacífico Ocidental, em par-
ticular nos principais portos do Ja-
pão. Justamente em função da po-
tencial área de operação do meio, o
TSV vem sendo apelidado pelos
norte-americanos de “Westpac Ex-
press”. As características intrínsecas
do TSV ampliaram em grande
medida a capacidade operacional da
III MEF. O número de atracadouros
utilizáveis por aquela força de elevou-
2002 - O Anfíbio - 46
se de menos de dez, no caso de
emprego de navios de transporte
convencionais, para possivelmente
algumas centenas, particularmente
em face do pequeno calado e da
flexibilidade auferida pela rampa de
popa.
Westpac Express
Operando com velocidades de
cruzeiro em torno de 35 nós, o West-
pac Express tem apresentado baixos
índices de mareio por parte da tropa
embarcada.
Um outro estaleiro australiano, o
Incat, também já alcançou dois gran-
des êxitos na construção de navios
multicasco. O primeiro deles foi o
HMAS Jervis Bay, que foi empre-
gado com sucesso no deslocamento
das forças australianas que intervie-
ram no Timor Leste, perfazendo mais
de cem viagens entre o território
australiano e o país recém-liberado.
Apesar da grande eficácia de trans-
porte alcançada, o Jervis Bay ratificou
todas as preocupações relativas às
limitações dos navios multicasco
HMAS Jervis Bay
diante de condições hidrográficas e/
ou meteorológicas adversas. O navio
não foi capaz de operar com ondas
a partir de 4 m, ou com ventos acima
de 33 nós, ou com estado de mar su-
perior a 5. Além disso, com veloci-
dades de cerca de 43 nós, foi alta a
incidência de mareio na tropa.
O segundo navio foi desenvolvido
sob encomenda dos EUA para
emprego por suas forças armadas e
derivou diretamente do Jervis Bay. O
navio foi denominado High Speed
Vessel – Experimental (HSV-X1)
Joint Venture. Apresentando um com-
primento maior (96 contra 86 m do
Jervis Bay) e um maior índice de
militarização, o Joint Venture é capaz
de transportar aproximadamente 500
toneladas de carga a uma velocidade
de cruzeiro de 35 nós, em um estado
de mar moderado. Outra caracte-
rística marcante é o seu pequeno ca-
lado (3,6 m). A autonomia foi consi-
deravelmente ampliada e a capaci-
dade de alojamento para tropa al-
cançou a ponderável marca de 363
militares.
O Joint Venture já “debutou” em
situação real, pois foi empregado na
Operação “Enduring Freedom”, na
recente campanha norte-americana
no Afeganistão.
HSV-X1 Joint Venture
> EUA
Além de encomendarem e arren-
darem navios multicasco australianos,
os EUA também estão estudando
novos desenhos de cascos para os
navios do futuro. Tais desenhos terão
grande influência na construção de
navios anfíbios, uma vez que, dentre
os requisitos a serem atingidos, estão
a elevada capacidade de transporte
e as altas velocidades a serem al-
cançadas.
Nos próximos meses deverá ser
iniciada a construção de um navio
experimental, o “Littoral Surface
Craft – Experimental” (LSC-X). Há
duas opções para o empreendimento:
ou será construída uma unidade
menor, com 750 toneladas de des-
locamento e um custo aproximado de
US$ 40 milhões, ou optar-se-á por
outra maior, com 1mil toneladas e
custo de US$ 80 milhões.
De qualquer forma, as seguintes
características estarão presentes:
§ casco tipo catamarã ou trimarã;
§ reduzida tripulação;
§ velocidade de 50 nós; e
§ calado máximo de 3 m.
Diversos itens de tecnologia de
ponta estarão presentes, tais como a
propulsão elétrica, uso de polímeros
avançados e “micro-bolhas”.
As tarefas inicialmente visuali-
zadas são:
§ medidas de contra-minagem
em águas rasas;
§ guerra anti-submarino, em
particular contra submarinos
diesel-elétricos;
§ defesa contra incursões de
grupos de pequenas embar-
cações;
§ operação de veículos não-
tripulados (aéreos e navais); e
§ lançamento e recolhimento de
elementos de operações es-
peciais.
Projeto LSC-X
2002 - O Anfíbio - 47
 Outros empreen- Ainda com relação a este aspcto, os
dimentos estão em projetos de NDDH em curso estão
curso, como por contemplando a disponibilidade de
exemplo o SLICE, hangares espaçosos e bem equipados.
que emprega quatro Exceto os EUA, todos os demais
grandes corpos sub- países vivenciam, com maior ou menor
mersos em forma de Casco SLICE Casco Midfoil intensidade, restrições orçamentárias
gota. Projetistas afirmam que este convergência de todos os empreen- para empreendimentos de defesa, o que
desenho faz com que os efeitos dimentos ora em curso. naturalmente conduz ao uso de navios
hidrodinâmicos buscados pelos “multipropósito”, como se pôde obser-
navios multicasco sejam alcançados > Reino Unido var em boa parte dos projetos aborda-
muito mais rapidamente do que no O grupo Thornycroft, Giles & Com- dos no presente artigo.
caso de um catamarã convencional. pany patenteou o projeto de um casco O alto grau de automação da maioria
Estima-se que embarcações de híbrido, conhecido como “FastShip”. dos meios descritos é, também, fator
tecnologia SLICE possam alcançar Trata-se de um monocasco, cuja ex- contribuinte à redução de seus custos
com estabilidade velocidades em tremidade de vante conforma-se co- operacionais, em vista da possibilidade
torno de 30 nós, com estado de mar mo um típico “V” e com um perfil côn- de serem conformadas tripulações
entre 5 e 7, o que certamente cavo à ré. Segundo seus responsáveis, menores.
o FastShip combinaria as vantagens O emprego crescente de itens de
representará um ponderável avanço
em relação aos multicasco ora em uso, hidrodinâmicas dos multicascos com natureza comercial – COTS – materiali-
a grande resistência a mar grosso tí- za outra forma importante de redução
como o Jervis Bay e o Joint Venture.
pica dos monocascos, o que poderia dos custos de construção e operação
A empresa Lockheed Martin está permitir a construção de grandes uni-
propondo um “Expeditionary War- dos navios mais modernos.
dades transoceânicas dotadas de ve- Quanto aos cascos não conven-
fare Support System” (EWSS), tam-
locidades superiores a 40 nós, à cus- cionais, verifica-se que a tecnologia
bém conhecido como “Dragon Fire”, o ta naturalmente de grandes plantas
qual, valendo-se da tecnologia SLICE “colchão de ar” pode ser conside-
propulsoras, em vista da maior resis- rada como já incorporada aos meios
e incorporando características furtivas tência viscosa, se comparada à dos
(“stealth”), seria capaz de transportar para a guerra anfíbia, ainda que
verdadeiros multicascos. limitada às embarcações de desem-
cargas aproximadamente 250 to-
neladas a mais de 45 nós. barque. A classe Zubr situa-se no
CONCLUSÃO limiar entre uma EDCA e um NDCC
Um outro desenho alternativo é
Ao encerrar-se o presente artigo, de de pequeno porte e mesmo assim
denominado “Midfoil”, no qual um
hidrofólio é colocado entre os dois caráter essencialmente descritivo, vale atua em um ambiente operacional
ressaltar algumas conclusões e aspec- bastante particular, não havendo
segmentos do casco tipo catamarã,
tos comuns aos diversos empreendi- qualquer expectativa de construção
combinando-se as tecnologias multi-
mentos apresentados. de meios de maior capacidade com
casco e hidrofólio.
Pode-se afirmar, de imediato, que os a mesma tecnologia.
Espera-se que os conhecimentos
navios do tipo NDDH configuram a Já no que tange aos navios multi-
auferidos possam ser aplicados em principal tendência para a construção
casco, percebe-se claramente que no-
navios de maior porte nas próximas
de navios anfíbios para início do século vos e mais ousados empreendimentos
décadas, particularmente com vistas XXI, como bem o demonstram a
deverão deslanchar mais a longo
ao programa“Littoral Combat Ship” maioria dos projetos e construções
prazo, em face dos êxitos que vêm
(LCS), o qual poderá determinar a
efetivamente em curso nos diversos sendo alcançados pelas unidades ora
países pesquisados. em uso. Entretanto, não se pode despre-
Conseqüentemente, passa a consti- zar os aspectos de suscetibilidade às
tuir tendência, também, o emprego de condições de mar e atmosféricas e
convôo para a operação simultânea de também o alto índice de mareio da
pelo menos duas aeronaves. A crescente tropa embarcada. A superação de tais
valorização do vetor aéreo para a óbices certamente constituirá o principal
projeção de poder sobre terra é fato desafio a ser vencido pelos projetistas
Dragon Fire inequívoco. navais do presente e do futuro.
2002 - O Anfíbio - 48
A Companhia de Apoio ao Desembarque:
Elo de ligação nas Operações Anfíbias
CT (FN) PAULO SERGIO C.B. TINOCO GUIMARÃES

“Depois das tropas de Assalto terem se interiorizado, a Praia Vermelho se converteu, de

alguma maneira, em algo caótico. Não se designou mão de obra suficiente para
manobrar com as quantidades de suprimentos desde as embarcações de desembarque até
a praia, e também não havia viaturas suficientes para trasladá-los da praia aos diversos
depósitos. Ao final de D+1, o desembarque teve que ser suspenso, pois não havia espaço
na Praia para que tais suprimentos fossem colocados.”
GUADALCANAL - 1942

INTRODUÇÃO despertar o interesse e difundir um

pouco das tarefas desenvolvidas
As Operações Anfíbias (OpAnf) acerca de tão singular Companhia,
exploram o elemento surpresa e ca- velha conhecida de todos nós fuzi-
pitalizam as fraquezas inimigas pela leiros, que vai assumindo o status de
projeção e aplicação de poder de uma das mais novas OM do nosso
combate no momento e local mais Corpo de Fuzileiros Navais (CFN),
vantajosos. O que confere credibi- de acordo com a reestruturação pela
lidade a uma Força de Desembar- qual vem passando a Força de Fuzi-
que (ForDbq) é sua capacidade de leiros da Esquadra (FFE).
ser projetada em terra, numa moldu-
ra temporal que atenda os efeitos A DOUTRINA DO APOIO
desejados, e de sustentar tal poder LOGÍSTICO NAS
até o cumprimento da missão. OPERAÇÕES ANFÍBIAS
Neste momento, cresce de impor-
tância o trabalho meticuloso, diuturno O Apoio logístico numa OpAnf é
e profissional realizado por uma de bastante complexo e diferente daque-
nossas subunidades especializadas, a le desenvolvido numa operação emi-
Companhia de Apoio ao Desembar- nentemente terrestre. Nela aparecem
que (CiaApDbq). Este artigo visa a dificuldades tais como:

2002 - O Anfíbio - 49
 ü Partida de um poder de com- ção, apoio ao desembarque, lavan- 3. O Batalhão de Engenharia
bate inicial zero; deria, banho e levantamento topo- de Fuzileiros Navais
ü Utilização de equipamentos e su-gráfico, entre outros. Como já men- (BtlEngFuzNav);
primentos diversificados, embarcados cionado, o apoio logístico durante a 4. A Companhia de Polícia
em diversos navios, os quais devem realização das operações de Fuzilei- (CiaPol); e
ser desembarcados de acordo com ros Navais é uma responsabilidade 5. O Batalhão de Viaturas
uma seqüência preestabelecida; e das organizações por tarefas especi- Anfíbias (BtlVtrAnf).
ü Necessidade de manutenção de almente constituídas para tal, onde
um fluxo logístico ininterrupto, a par-
cada função exige a execução de São exemplos de organizações
tir dos estágios iniciais do assalto. várias atividades que lhe são peculi- por tarefas de ApSvCmb:
ares, e é prestado a partir de uma
As Unidades de Assalto desem- Área de Apoio Logístico (AApLog), Ø Grupamento de Apoio de Ser-
barcam apenas com a sua carga pres- que dependendo das circunstâncias viços ao Combate (GASC);
crita, entretanto necessitam de uma e da natureza da operação realizada, Ø Destacamento de Praia (DP);
grande quantidade de suprimentos. pode ser de quatro tipos: Ø Destacamento de Zona de De-
As Unidades de Apoio de Serviços sembarque (DZDbq);
ao Combate são organizadas por ta- § Área de Apoio de Praia Ø Elemento de Apoio de Servi-
refas para prestarem o adequado (AApP); ços ao Combate (ElmASC); e
apoio logístico à Força de Desem- § Área de Apoio de Zona de Ø Grupo de Apoio ao Desem-
barque. Desembarque (AApZDbq); barque Administrativo (GRADA);
O Apoio de Serviços ao Com- § Área de Apoio de Serviços
bate (ApSvCmb), enquadrado na lo- ao Combate (AApSvCmb); e EMPREGO DO DP
gística militar, pode ser conceituado § Instalação Logística Sumária E DO DZDbq
como o apoio proporcionado por (ILS).
O Destacamento de Praia e o
Os recursos e as insta- Destacamento de Zona de Desem-
lações logísticas dos barque são organizações por tarefas
GptOpFuzNav são provi- formadas para facilitar o desembar-
dos por elementos de que, por superfície e por helicópte-
ApSvCmb oriundos das ros (He), de tropas, equipamentos e
diversas Unidades da FFE suprimentos, evacuar baixas e prisi-
e, eventualmente, de outros oneiros de guerra (PG), prestando o
setores da MB. Geralmen- apoio logístico inicial à ForDbq. Ve-
te integram as organizações remos a seguir que estas duas últi-
por tarefas de ApSvCmb mas tarefas deixaram de ser respon-
parcela de uma ForDbq ou Gru- dos GptOpFuzNav: sabilidade do DP e, conseqüente-
pamento Operativo de Fuzileiros mente, da CiaApDbq, em virtude de
1. O Batalhão Logístico de alterações organizacionais.
Navais (GptOpFuzNav) ao conjun-
Fuzileiros Navais No âmbito das operações e exer-
to da Força ou Grupamento, por
(BtlLogFuzNav); cícios em que hajam tarefas de apoio
meio da aplicação das funções lo-
gísticas essenciais à sua manutenção 2. A CiaApDbq; ao desembarque, atribuídas a um
em combate, cabendo a ela prover o
apoio sob condições de combate,
influenciando, assim, diretamente o
cumprimento da missão destes
GptOpFuzNav. Este apoio inclui di-
versos serviços tais como: abasteci-
mento, saúde, transporte, manuten-
ção, polícia, engenharia de constru-

2002 - O Anfíbio - 50

Pelotão de Apoio ao Desembarque,
quando nucleando uma Equipe de
Destacamento de Praia (EqDP), ou à
CiaApDbq quando nucleando o Gru-
po de Destacamento de Praia
(GpDP), pode ser organizado um
Destacamento de Apoio ao Desem-
barque (DstApDbq), de acordo com
o esquema acima.
Destacamos como principais tare-
fas das Seções deste Destacamento:
a) Coordenar, controlar e orien-
tar a EqDP;
b) Efetuar o lançamento de es-
teiras para apoio ao desem-
barque de viaturas sobre ro-
das, de todos os tipos e tone-
lagens;
c) Lançar, nos primeiros mo-
mentos do desembarque, pa-
inéis demarcadores de praia
(extremidades e centro de
praia) e de saídas de praia, pa-
ra viaturas sobre rodas e so-
bre lagartas;
d) Instalar o sistema de baliza-
mento noturno de praia;
e) Operar equipamentos pesa-
dos de engenharia na praia; e
f) Estabelecer e sinalizar locais
de pouso de helicópteros na
praia, provendo pessoal e
material para orientação final
das aeronaves.
Para assegurar o sucesso em um
Assalto Anfíbio (AssAnf), a ForDbq
deverá, como anteriormente menci-
onado, se estabelecer em terra, rá-
pida e eficazmente. O DP apóia a
ForDbq no seu Movimento Navio-
para-a-Terra (MNT), segundo o es-
tabelecido no Plano de Desembar-
que. Na praia, o DP deverá evitar a
excessiva concentração de tropas,
suprimentos e equipamentos, garan-
tindo um fluxo uniforme do material
da ForDbq.
A grande quantidade de suprimen-
tos necessários às
operações da
ForDbq, que de-
vem ser rapida-
mente recebidos
na área de opera-
ções, logo após o
assalto, é limitada
pelos espaços
existentes nos na-
vios e pela distân-
cia das fontes de
abastecimento.
Deste modo torna-se imperioso, du-
rante a fase do planejamento, o es-
tudo cuidadoso das estimativas de ne-
cessidades, eliminando-se suprimen-
tos não essenciais ou quantidades ex-
cessivas.
O sistema de apoio logístico deve
atender prontamente às necessidades
da ForDbq, provendo
um fluxo contínuo de
homens, equipamentos
e suprimentos. O DP é
o elemento destinado a
controlar e manter este
fluxo.
Quando apropria-
damente reforçada com elementos
de outras subunidades de Fuzileiros
Navais e elementos do Grupo Naval
de Praia (GNP), a CiaApDbq é ca-
paz de prover um máximo de 3 EqDP
ou DZDbq ou combinações destas,
ou 1 GpDP e 1EqDP.
O Destacamento de Zona de De-
sembarque (DZDbq), como parte da
unidade de assalto helitransportada
em uma OpAnf, executa tarefas se-
melhantes as do DP para uma unida-
de helitransportada. O DZDbq não
é um componente do DP, apesar de
suas funções serem basicamente as
mesmas.
Nos momentos iniciais do AssAnf,
o controle dos ele-
mentos do DZDbq
é descentralizado,
pois eles ficam à
disposição das uni-
dades em primeiro
escalão. Tal fato
restringe momenta-
neamente suas ati-
vidades e limita a
capacidade de apoio
2002 - O Anfíbio - 51
desses elementos, porquanto fica im-
possível reforçá-los. Essas dificulda-
des devem ser avaliadas e conside-
radas durante a elaboração da orga-
nização por tarefas.
INTEGRAÇÃO
ENTRE A CiaApDbq E O
GRUPO
NAVAL DE PRAIA
(GNP)
No cumprimento de sua missão,
os Fuzileiros Navais do DP execu-
tam tarefas, em terra, a partir da li-
nha d’água, enquanto que as demais,
partindo da linha d’água para o mar,
são executadas pelos elementos na-
vais do GNP. Analisando as atribui-
ções do DP (e portanto da CiaApDbq)
e do GNP, conforme estruturados na
MB, podemos verificar que ambas
organizações trabalham com o mes-
mo propósito de facilitar o desem-
barque por superfície e o movimento
de tropas, equipamentos e suprimen-
tos no MNT, desde o início do
planejamento e, durante a execução
da operação, no mesmo local, ou
seja, na mesma praia. É óbvio que
tais tarefas, por serem executadas ao
mesmo tempo e na mesma praia, exi-
gem íntima coordenação entre o DP
e o GNP, caracterizada por ajustes
prévios entre seus Comandantes. O
GNP é responsável por tarefas que,
naturalmente, tendem a ficar mais vo-
lumosas à medida que os meios dis-
poníveis aumentam. De maneira si-
milar, quando aumenta o volume de
suprimentos necessários à tropa, e,
conseqüentemente, o seu manuseio
através das praias, também aumen-
tará a necessidade de maior coorde-
nação e controle para o recebimen-
to, classificação, estocagem e distri-
buição à tropa, atribuições da or-
ganização nucleada pela
CiaApDbq.
BREVE HISTÓRICO E à formação dos núcleos do DP e do
EVOLUÇÃO NA DZDbq, apoiando os desembarques
ORGANIZAÇÃO por superfície e helitransportados dos
Grupamentos Operativos da FFE. A
Em abril de 1963, foi criado o Ba- Companhia também coordenava a
talhão de Serviços do Núcleo da 1ª evacuação de baixas e era parte in-
Divisão de Fuzileiros Navais, insta- tegrante do Componente de Apoio
lado no Campo da Ilha do Governa- de Serviços ao Combate (CASC)
dor. Em 1969 foi
transferido para
Duque de Caxias,
retornando em
1971 para a Ilha
do Governador.
Sua estrutura in-
terna passou a
sofrer inúmeras
alterações, de-
correntes da ati-
vação ou mudan-
ça de efetivos em
suas subunidades.
A partir de 1980,
tal unidade era
constituída por uma CiaCmdoSv, dos GptOpFuzNav até o valor BAnf.
uma CiaApLog e uma CiaApDbq, Normalmente, a CiaApDbq é em-
esta última com a tarefa básica de pregada sob o controle descentrali-
prover Comando, pessoal e equipa- zado, nas fases iniciais do Assalto
mento para os núcleos de Destaca- Anfíbio e centralizado, após o térmi-
mento de Praia e de Zona de De- no da descarga seletiva.
sembarque. Após a análise dos relatórios do
Com a extinção do Batalhão de Simpósio “O CFN do 3° Milênio”,
Serviços no final do ano de 1994, a organizado pelo Comando-Geral no
CiaApDbq foi transferida para o ano de 2000, surgiram algumas alte-
BtlEngFuzNav, permanecendo nos rações na estrutura organizacional da
aquartelamentos deste Batalhão, na FFE, dentre as quais destacamos a
região do Rio Meriti, até 2002. separação da CiaApDbq da organi-
A CiaApDbq é estruturada como zação do Batalhão de Engenharia de
uma subunidade de apoio de servi- Fuzileiros Navais, em face das acen-
ços ao combate, especialmente or- tuadas importância e peculiaridade
ganizada, equipada e adestrada para que possuem as atividades de apoio
o emprego em Operações Anfíbias e ao desembarque dos Grupamentos
Operações Ribeirinhas. Operativos em terra, passando à su-
Veja seu organograma, acima, ain- bordinação direta da Tropa de Re-
da como uma subunida de do forço.
BtlEngFuzNav. Veja, a seguir, como ficou es-
Assim estruturada, a subunidade truturada a nova Organização Mi-
estava capacitada a fornecer recur- litar.
sos humanos e materiais necessários Para a consecução de sua finali-
2002 - O Anfíbio - 52

dade, cabe à CiaApDbq as seguin-
tes tarefas:
a) Preparar as praias para o de-
sembarque por superfície;
b) Delimitar as Áreas de Apoio
de Praia (AApP);
c) Estabelecer saídas de praia;
d) Orientar as aeronaves e pre-
parar as ZDbq; e
e) Manter o registro do pessoal
e do material desembarcados.
Em relação à sua capacidade
logística, a CiaApDbq é especifica-
mente capaz de:
§ Transferir os suprimentos e os
equipamentos, dos transportes ma-
rítimos para os terrestres;
§ Executar a manutenção de 1o
escalão de todo o seu material orgâ-
nico; e
§ Auxiliar na abicagem, retração
e salvamento de Embarcações de
Desembarque e Viaturas Anfíbias,
orientada por elementos navais.
Tais mudanças já foram ratificadas lizados estudos
pelo Comandante da Marinha, de- no Comando-
vendo ser implementadas por oca- Geral do CFN
sião das trocas de comandos em visando a refor-
2003. Já foi selecionado o Encarre-
gado do Núcleo de Implementação
(NI) que está realizando o estudo so-
bre a destinação do material, arma-
mento, lançadores, viaturas e pessoal
da atual CiaApDbq do BtlEngFuzNav,
além de estar planejando as medidas
relativas a símbolos, heráldica, comu-
nicações e publicações controladas,
entre outras medidas administrativas
para, enfim, ativar a nova OM, em
março de 2003, na Ilha das Flores,
nas proximidades do Comando da
Tropa de Reforço (ComTrpRef).
NOVOS
CONCEITOS
No ano de
2002, foi organi-
zado um Grupo
de Trabalho (GT)
na FFE para es-
tudar e reavaliar
alguns conceitos
logísticos, bem
como foram rea-
mular conceitos e proceder altera-
ções referentes ao ApSvCmb, inclu-
sive nos manuais da série CGCFN
que tratam do assunto.
Vejamos algumas das principais
alterações decorrentes destes estu-
dos, e que dizem respeito aos con-
ceitos abordados por este artigo:
O DP é uma organização por ta-
refas, nucleada por elementos da
CiaApDbq, constituída e equipada
para facilitar o desembarque por su-
perfície e o movimento de tropas,
equipamentos e suprimentos através
das praias. Em geral não será res-
ponsabilizado por nenhuma outra
atividade de ApSvCmb, salvo em si-
tuações onde a interiorização dos
demais elementos organizacionais de
ApSvCmb resultar em um isolamen-
to do DP junto ao litoral e alguma
instalação logística deva também alí
permanecer, como por exemplo, o
Posto de Evacuação (PEv); nestas si-
tuações, os elementos que operam
tais instalações devem ser aditados
ao DP, passando este a receber as
tarefas por elas desenvolvidas. Cada
praia de desembarque que esteja sen-
do utilizada deverá receber uma
EqDP, nucleada em um PelApDbq,
podendo se a situação exigir, ser ne-
2002 - O Anfíbio - 53
cessária a formação de um Grupo
DP, o qual será nucleado pela
CiaApDbq. O DP somente operará
uma AApLog quando atuar isolada-
mente, tendo, genericamente, a orga-
nização apresentada na figura acima.
O Elemento de Apoio de Servi-
ços ao Combate (ElmASC) é uma
organização por tarefas, nucleada,
prioritariamente, por uma das três
Companhias do Batalhão Logístico
de Fuzileiros Navais (BtlLogFuzNav),
mas podendo ainda ser nucleada pela
CiaApDbq quando esta não for em-
pregada como um GpDP e houver a
necessidade da ativação de mais de
três ElmASC. Os ElmASC presta-
rão o ApSvCmb à Força desde o
início das operações, recebendo, no
caso das Operações Anfíbias, uma
EqDP para as atividades de apoio ao
desembarque. Cada praia de desem-
barque colorida receberá, pelo me-
nos inicialmente, um ElmASC para o
apoio as tropas que aí desembar-
quem, podendo algum ser posterior-
mente desativado quando a situação
permitir que o ApSvCmb possa fluir
de outra AApLog.
Área de Apoio de Praia é uma
AApLog localizada junto à praia de
desembarque que pode ser operada
por um ElmASC, pelo BtlLogFuzNav
(Ref) integrante de um GASC maior,
ou pelo próprio GASC. Quando o
DP atuar isoladamente esta organi-
zação também poderá operar a re-
ferida área. A AApP receberá o nome
da praia a qual estiver justaposta.
Pelo acima exposto, verificamos
que a nova subunidade de apoio ao
desembarque deverá ficar em con-
dições de assumir, principalmente, al-
gumas das seguintes tarefas:
• Nuclear um DP;
• Constituir um ElmASC; e
• Operar uma AApP.
COMENTÁRIOS FINAIS
Em uma situação que envolve a
transferência de grandes quantidades
de suprimentos de navios/ae-
ronaves para uma área em ter-
ra, com atribuição de tarefas
específicas e bem diferencia-
das de todas as tradicionais
ações militares, cresce de im-
portância a existência de ele-
mentos perfeitamente adapta-
dos à natureza anfíbia de nos-
so pessoal e material para efetuar um
controle eficaz desta transferência, e
que estejam enquadrados, pelo me-
nos, dentro do escalão subunidade
(SU).
A Missão precípua desta SU é
facilitar o movimento das tropas,
equipamentos e suprimentos no mo-
mento mais crítico de uma operação
anfíbia, o desembarque. Através dela
flui a quase totalidade de nosso po-
der de combate, de um zero ao má-
ximo e, posteriormente, em alguns
casos, de um máximo ao zero. É res-
ponsável por tudo aquilo que desem-
barca dentro da Cabeça de Praia,
atribuição ímpar e específica dentro
de nosso CFN e de nossas Forças
Armadas, caracterizando ainda mais
nossa natureza anfíbia, e sem a qual
teríamos um sério comprometimento
nas ações futuras em terra.
Finalmente, considerando a par-
ticipação específica da CiaApDbq,
no planejamento e execução de uma
OpAnf, com atribuições e contatos
em diversos níveis de comando, a alta
administração naval julgou pertinen-
te que passasse a ser uma Subuni-
dade independente, com semi-auto-
nomia administrativa, constituindo-se
em um novo Comando, apoiado ad-
ministrativamente pela Base de Fuzi-
leiros Navais da Ilha das Flores
(BFNIF).
2002 - O Anfíbio - 54
 SENSORES CF(FN) L UIZ ARTUR RODRIGUES NUNES

“Existe apenas um
meio de contornar o
desconhecimento que
nos persegue até o
instante de entrar em
ação, que
consiste em buscar,
até o último
momento, por
informação”.
FERDINAND FOCH,
PRECEPTS 1919.

Por prover conhecimentos críti-
cos às Forças Militares, detalhando
a posição de tropas, localizando al-
vos e fornecendo as condições do
campo de batalha, os sensores e o pro-
cessamento das informações por ele
geradas formam um conjunto de sis-
temas com a capacidade de aumen-
tar significativamente as possibili-
dades de combate, tornando-se um
verdadeiro multiplicador de forças.
Os sensores permitem monitorar a
direção e velocidade de movimentos
e, também, proporcionam uma van-
tagem psicológica, uma vez que mes-
mo que alguns sensores sejam desco-
bertos, restará ao inimigo a dúvida
sobre até que ponto suas atividades
foram comprometidas e sobre a exis-
tência de outros sensores na região.
Atuando como os “olhos e ouvi-
dos” de quase todos os sistemas de
armas em uso pelas Forças Armadas
da atualidade, assim como de seus
elementos de inteligência, os senso-
res apóiam efetivamente o processo
decisório dos comandantes em uma
operação, sendo elementos funda-
mentais para alcançar a correta com-
preensão da situação corrente no
campo de batalha e vencer a guerra
de informações.
Cada vez mais presentes nas for-
ças militares, integrados a sistemas
de armas ou empregados nas mais di-
versas tarefas, devemos conhecer os
tipos de sensores existentes, como são
empregados e as novas tecnologias
que despontam para seu aperfeiçoa-
mento, sendo o propósito desse arti-
go apresentar ao leitor algumas in-
formações sobre esses que são vitais
para a sobrevivência de combaten-
tes e sistemas de armas no campo de
batalha: os sensores.
A IMPORTÂNCIA DOS
SENSORES
Pegando carona em um tema mui-
to em voga atualmente, irei me re-
portar à Guerra de Manobra para
apresentar a importância do empre-
go de sensores. Não entrarei em de-
talhes sobre essa fascinante teoria,
visto que já foi bem explorada em
artigos nesta mesma publicação, li-
mitando a referência ao que pode-
mos chamar de principal ferramenta
ou, até mesmo, de principal funda-
mento teórico dessa nova filosofia de
combate: o ciclo de Boyd.
Esse ciclo encerra quatro fases:
observação, orientação, decisão e
ação, sendo por isso também conhe-
cido como ciclo OODA. Inicialmen-
te um comandante observa suas for-
ças e seu inimigo, orienta-se e de-
senvolve um entendimento da situa-
ção, para, então, decidir sobre que
linha de ação adotar e, por fim, im-
plementar sua decisão. Esse processo
se dá em um ciclo fechado, um “loop”
sem fim. A vantagem sobre o inimigo
será alcançada sempre que, ao impor
um ritmo decisório intenso, conseguir-
mos empreender uma maior veloci-

2002 - O Anfíbio - 55
dade no ciclo OODA. Isso fará com
que o inimigo desencadeie suas ações
com base em uma situação que já
não é válida, uma vez que, ao com-
pletarmos o ciclo com maior rapidez,
já tê-la-emos alterado. A conseqüên-
cia de sucessivos ciclos mais rápi-
dos em relação ao inimigo faz com
que esse último venha a perder a
coesão e deixar de combater como
uma força organizada e eficaz, levan-
do-o à derrota.
Conseqüentemente, deve-se bus-
car todos os meios para atingir um
ritmo superior ao inimigo. Para tan-
to, devemos aprimorar a integração
entre as fases, assim como a execu-
ção de cada uma delas isoladamen-
te. É exatamente nesse ponto onde
se insere o emprego de sensores,
mais precisamente nas fases de ob-
servação e orientação. A utilização
de sensores contribui para alcançar
o que podemos chamar de “superi-
oridade de informações”, que signi-
fica criar uma disparidade entre o que
as forças amigas conhecem sobre o
campo de batalha e as operações que
nele se desenvolvem e o que o inimi-
go conhece. Se esta diferença for
grande o suficiente, as forças amigas
estarão decidindo baseadas em in-
formações corretas, enquanto que o
inimigo estará apenas tentando adivi-
nhar o que está ocorrendo. Ou seja,
estaremos contribuindo para uma
maior velocidade de execução do ci-
clo OODA, ao passo que um maior
ritmo nesse ciclo auxilia a obtenção
da superioridade de informações.
Seria esse o moto-contínuo da Guer-
ra de Manobra? Nem tudo é tão per-
feito, podem existir perdas de efici-
ência no processamento da informa-
ção e não podemos esquecer que ain-
da existem mais duas fases nesse ci-
clo: decisão e ação.
Para alcançar essa superioridade,
uma força deve possuir sensores
aperfeiçoados para impedir que o ini-
migo faça uso de condições climáti-
cas adversas a seu favor, ou simples-
mente negar que faça uso de cobertas
naturais do terreno. Deve ser capaz,
também, de disseminar as informações
coletadas a altas taxas de transmissão
e com precisão, desde os sensores até
os sistemas de armas e aos centros de
comando e controle.
Em outras palavras, a superiorida-
de de informação compreende a ob-
tenção e distribuição da informação
certa à pessoa certa e no momento
oportuno, ao mesmo tempo em que
nega ao inimigo as mesmas vantagens.
Uma deficiência notada na Ope-
ração “Desert Storm” diz respeito à
inabilidade das Forças de Coalizão
em gerenciar, integrar e prover a in-
formação necessária às peças de ma-
nobra em tempo oportuno. A quan-
tidade de informação tática disponí-
vel pode vir a exceder a capacidade
de seu processamento e distribuição.
Portanto, não adianta em nada espa-
lhar uma grande quantidade de
sensores pelo campo de batalha se
não possuirmos uma estrutura bem
aparelhada e adestrada para fazer uso
da quantidade de dados coletados.
TIPOS DE SENSORES
De uma forma geral, os sensores
podem ser classificados em passivos
e ativos. Os ativos são aqueles que,
para seu funcionamento, emitem al-
guma forma de energia, como, por
exemplo, o radar, ao passo que os
passivos contam apenas com a ener-
gia induzida pelo alvo para detecção.
SENSORES ACÚSTICOS, M AGNÉ-
TICOS E SÍSMICOS: são sensores pas-
sivos e possibilitam a identificação de
alvos e o seu acompanhamento em
tempo real.
Os avanços nos dispositivos digi-
tais de processamento de sinais e em
seus algoritmos conduziram a aper-
feiçoamentos significativos nos sen-
sores acústicos, tornando-os mais
factíveis e popularizando seu uso. Es-
ses são utilizados para a detecção de
sinais contínuos (como o ruído de um
motor) e sinais intermitentes (como
o disparo de armas), envolvendo o uso
de arranjos de microfones para a
detecção, localização, acompanha-
mento e identificação de alvos ter-
restres e aéreos. Os dados obtidos pe-
los sensores acústicos são, normal-
mente, transmitidos digitalmente para
uma central, possibilitando, assim, o
monitoramento do campo de bata-
lha em tempo real. Uma nova área de
aplicação é o uso de sensores acús-
ticos individuais, que serão utilizados
pelos combatentes, aumentando sua
acuidade auditiva em termos de qua-
lidade – melhor definição e identifi-
cação do som, incluindo faixas de
freqüência normalmente inaudíveis –
e alcance. A maioria das forças mo-
dernas possui pesquisas no campo de
sensores acústicos, não havendo um
país que possua domínio de tal
tecnologia. Os esforços atuais estão
voltados para a criação de algoritmos
que possibilitem microfones de direção
adaptável, técnicas de supressão de
som e algoritmos de redes neurais
para a identificação de alvos.
Os sensores magnéticos, por sua
vez, são capazes de detectar viaturas e
pessoal, desde que este último esteja
transportando material ferroso. Provê-
em, também, dados a partir dos quais
pode-se avaliar o número de objetos
passando por sua zona de detecção e
reportar suas direções de deslocamento
em relação à sua posição.
Dentre todos os sensores, os sís-
micos são os que menos dados po-
dem nos fornecer. Além da detecção
de um alvo, a única informação possí-
vel de ser obtida é sua classificação,
em termos genéricos e, algumas ve-
zes, pouco precisa. Normalmente,
2002 - O Anfíbio - 56

esse tipo de sensor pode classificar um
alvo detectado apenas como tropa a
pé, viatura sobre rodas ou sobre la-
garta, além da classificação “desco-
nhecido”, para quando não for possí-
vel identificar o tipo de alvo. Seu em-
prego se dará, normalmente, em con-
junto com outros tipos de sensores.
Esses três tipos de sensores – a-
cústicos, magnéticos e sísmicos – são
amplamente empregados como ele-
mentos de detecção primários, cuja
função é a de realizar a primeira
detecção e, posteriormente, acionar
e/ou orientar outros tipos de sensores,
além de, após a identificação de um
alvo, manter seu acompanhamento.
SENSORES ELETROÓPTICOS (EO):
os sensores EO podem realizar a
aquisição de alvos (detecção, classi-
ficação e identificação) nos modos
passivo ou ativo e também possibili-
tam a realização de operações mili-
tares sob quaisquer condições do
campo de batalha, por meio de sis-
temas de visão noturna e termal. Esse
tipo de sensor vem desempenhando
um papel cada vez mais importante
nos sistemas de armas de toda natu-
reza, tanto que quase todas as prin-
cipais plataformas militares são (ou
serão em futuro próximo) equipadas
com sensores eletroópticos e infraver-
melhos. Um bom exemplo é o nosso
carro de combate SK-105 A2S, do-
tado de câmera e visor termais, além
do sistema de mísseis anticarro Bill,
que também possui equipamento de
mira com visão termal.
Imagem termal
Os sensores eletroópticos podem
cobrir toda a faixa desde o ultra-
violeta (UV) até o infravermelho
(IR) e a faixa sub-milimétrica, con-
forme a figura ao pé da página.
O processamento em tempo
real dos dados provenientes dos
sensores EO/IR será uma ferra-
menta importante no aprimora-
mento dos futuros sensores. Fa-
cilitados pelo rápido avanço tec-
nológico na área eletrônica, os
sensores “formadores” de imagens
podem ser aprimorados por téc-
nicas voltadas para o melhoramento
da qualidade das imagens (para o ope-
rador), assim como apoiando, ou
mesmo substituindo, o operador por
meio de algoritmos automáticos para
a detecção e classificação de objetos.
Com exceção dos lasers, todos os
sensores EO e IR, assim como os sen-
sores acústicos, sísmicos e magnéticos,
são passivos: não emitem energia
eletromagnética. São, portanto, muito
difíceis de detectar, uma importante van-
tagem para o reconhecimento e vigi-
lância em cenários onde a própria as-
sinatura precisa ser controlada.
SENSORES LASER: A aquisição de
dados precisos, como alcance (distân-
cia) e localização, não pode ser reali-
zada por sensores EO/IR passivos.
Nesse caso são empregados sistemas
ativos a laser, que podem medir dis-
tância e posição com precisão, por
meio do emprego de telêmetros e
designadores laser. No CFN, já em-
pregamos sensores laser desde 1987,
2002 - O Anfíbio - 57
quando o Batalhão de Artilharia re-
cebeu os primeiros telêmetros laser,
empregados nas tarefas de levanta-
mento topográfico, localização de al-
vos e condução do tiro. Hoje, já con-
tamos com outros sistemas de armas
que empregam esses sensores, como
o carro de combate SK-105 A2S.
Os futuros sistemas laser incluirão a
detecção vibrométrica. Essa técnica
mede o espectro de vibração de uma
plataforma a distância e tem sido utili-
zada, em fase de desenvolvimento e
testes, na identificação de plataformas
amigas (similar a um IFF1 , porém sem
a necessidade de um transponder) ou
para definição da assinatura vibratória
de alvos para seu acompanhamento.
Outra aplicação militar do laser é a
perturbação de sensores eletroópticos
passivos por meio da saturação do
sensor por uma forte fonte de laser.
SENSORES RADAR: o radar é o
sensor ativo primário para a detecção
de alvos aéreos, terrestres e sob a
superfície, sob quaisquer condições
climáticas. Esses podem ser de diver-
sos tipos, como: radares de vigilância
em larga frente, radares de reconhe-
cimento tático e radares de controle
de tiro. No CFN são empregados, a-
tualmente, três tipos de radares: O
radar de velocidade inicial – empre-
gado pelas artilharias de campanha e
antiaérea para aprimorar o cálculo dos
elementos de tiro para essas armas,
conferindo-lhes maior precisão; o ra-
dar de vigilância (Giraffe), emprega-
do no sistema de defesa antiaérea para
alerta antecipado da ameaça aérea; e
o radar de tiro, empregado para o
acompanhamento do alvo pela peça
de canhão antiaéreo.
SENSORES DE IDENTIFICAÇÃO AU-
TOMÁTICA DE ALVO S (IAA): o pro-
pósito da identificação automática de
1
Identifier Friend or Foe: equipamento empre-
gado para a identificação de aeronaves amigas
por meio da emissão de um sinal codificado.
alvos é a de prover sensores capa-
zes de reconhecer e identificar alvos
sob condições de um ambiente real
de batalha. Esses sensores permiti-
rão que os sistemas de armas reali-
zem a distinção automática entre um
alvo que pode ser atacado e forças
amigas, sem o uso de equipamentos
IFF específicos. O desafio técnico
para tal tecnologia é a necessidade
de alcançar altas taxas de identifica-
ção com baixos índices de alarmes
falsos, para uma grande variedade de
tipos de alvos.
Além dos tipos apresentados aci-
ma, existem, ainda, sensores destina-
dos à detecção de campos minados
– normalmente baseados em sensores
magnéticos – e à detecção de agentes
QBN.
FUSÃO DE SENSORES
Essa nova tecnologia compreen-
de a fusão de dados oriundos de múl-
tiplos sensores, aumentando a confia-
bilidade do processo de identificação
de alvos e possíveis ameaças, ao mes-
mo tempo em que provê uma visão
aprimorada do campo de batalha.
Imagem gerada a partir da fusão de
sensores LIDAR (Light Detection and
Ranging) e Radar de Abertura Sintética
Freqüentemente, a especificação
do melhor sensor para aplicações em
vigilância é muito difícil. Por essa ra-
zão, a combinação de sensores pode
levar a um sistema melhor do que a-
quele baseado em um único tipo de
sensor. É importante considerar que a
performance de um sistema de detec-
ção não se baseia na taxa de detecção
apresentada, mas, sim, pela taxa ob-
tida entre o número total de detecções
e o número de alarmes falsos apre-
sentados. É entendimento comum que
os sistemas baseados na fusão de
sensores devem, não somente, ser ca-
pazes de aumentar o número de detec-
ções, como também diminuir o núme-
ro de ocorrências de falso alarme.
A existência de diferenças relati-
vas entre as performances dos sen-
sores conduz a distintos conceitos de
fusão. Exemplos típicos são:
• Performance similar, onde todos
os sensores comportam-se de modo
igual em todas as condições: esse é o
clássico arranjo da fusão de sensores,
em que cada sensor fornece dados pa-
ra a solução do problema e todos os
dados devem ser incorporados para
chegar a uma solução.
• Performance similar, com cada
sensor possuindo seu próprio ajuste
ótimo: nesse caso, a fusão de senso-
res resulta na determinação das con-
dições atuais e na seleção de quais
sensores terão melhor per-
formance.
• Performance distinta:
situação muito comum na
prática. Ocorre, por exem-
plo, quando um sensor pos-
sui excelente performance
na detecção de um objeto
enquanto outros sensores
são melhores na sua iden-
tificação. Tal situação con-
duz a um sistema onde o
primeiro sensor é utilizado
para detecção e orientação
dos demais sensores, que irão, en-
tão, realizar a identificação ou con-
firmação da primeira detecção.
A “Fusão de Sensores” é um cam-
po emergente que pode ser utiliza-
do, também, para a obtenção da
2002 - O Anfíbio - 58

O sistema OASIS (Optical Acoustic Satcom
Integrated Sensor) baseia-se na fusão de
sensores EO e acústicos, podendo, ainda,
ser integrado a sensores magnéticos,
sísmicos, QBN e meteorológicos.
melhor resolução de imagens ou para
a identificação automática de alvos,
permitindo a visualização da fusão de
dados oriundos de diferentes senso-
res óticos e não-óticos em uma úni-
ca imagem. Uma aplicação dessa tec-
nologia está voltada para a detecção
de campos-minados, por meio do
uso de sistemas de sensores EO (ima-
gens) com sistemas de sensores não-
imagem, como detectores de metais
e radares de penetração no solo
(GPR - Ground Penetrating Radar).
Um dos resultados dessa nova
técnica são as imagens hiperes-
pectrais. A imagem hiperespectral,
também chamada de multiespectral,
é a imagem de um objeto obtida si-
multaneamente em um certo número
de bandas espectrais diferentes. É
uma técnica que combina imagem e
espectroscopia 2 (dados do alvo em
diferentes faixas do espectro desde
2
Método de obtenção e análise dos espectros de radiação luminosa. Empregado em análise química, no estudo de estruturas atômicas e
moleculares e em investigações sobre os corpos celestes.
o ultravioleta até o infravermelho –
0.2 a 12 µm) em um sensor. Dentre
suas aplicações destacam-se:
Ø Vigilância: a imagem hiperes-
pectral permite a classificação de
objetos com maior precisão. Os
algoritmos de processamento de
imagens convencionais levam em
consideração apenas a forma dos
objetos para classificá-los. A ima-
gem hiperespectral, por sua vez,
permite a determinação das propri-
edades do material (ao nível de píxel
– ponto de representação da ima-
gem, é o menor elemento que a com-
põe), convertendo-se em uma po-
derosa ferramenta para a identifica-
ção de objetos de interesse.
Ø Detecção de gases tóxicos:
gases suspeitos, vazamentos de
gasodutos e gases provenientes de
exaustão podem ser examinados a
distância utilizando-se técnicas pas-
sivas de imagem hiperespectral.
EMPREGO
Os sensores compõem a linha de
frente da obtenção de dados para a
criação de informação. Conhecer, co-
nhecer mais e conhecer antes que o
inimigo significa uma grande vanta-
gem. O espectro de dados e infor-
mação obtidos a partir dos sensores
abrange a compreensão situacional,
a aquisição, discriminação e identifi-
cação de alvos, definindo, assim, seu
principal escopo de emprego, ou se-
ja, como auxiliares nas tarefas de re-
conhecimento, vigilância e busca de
alvos para os sistemas de armas.
O uso de sensores possibilita am-
pliar a visão que o comandante de um
GptOpFuzNav terá sobre sua área de
interesse. Operando autonomamente
e equipados com GPS, os sensores
podem ser empregados em posições
cujas coordenadas são conhecidas
com precisão e produzir dados confiá-
veis sobre alvos em sua área de cober-
tura, reduzindo, dessa forma, a neces-
sidade de emprego de outros elemen-
tos de combate para efetuar a vi-
gilância em uma determinada região,
proporcionando economia de forças,
bem como reduzindo o risco associa-
do a esse tipo de operação.
Nas operações em áreas urbanas,
grande parte do espaço encontrado
é interior – o espaço existente no in-
terior de construções sobre ou sob o
solo. Nesse caso, o uso de sensores
aprimora a obtenção de conhecimen-
tos, permitindo a coleta de dados in-
dependentemente da presença de
obstáculos ao campo de visão dos
combatentes. Essa capacidade tor-
2002 - O Anfíbio - 59
na-se fundamental, permitindo que um
combatente individual ou uma fração
venha a coletar e avaliar com preci-
são dados a respeito do terreno e da
presença de forças amigas, inimigas
ou de não-combatentes.
Um emprego especial dos sensores
diz respeito à contra-camuflagem, por
meio da qual busca-se a contraposição
ao uso da camuflagem como meio de
ocultação e/ou dissimulação. É
alcançada por meio da execução de
amostragens multiespectrais, exploran-
do o fato de que é muito difícil de obter
uma camuflagem em todas as fre-
qüências sensíveis. A respeito do as-
sunto, vale citar as palavras de Dennis
M. Bushnell, cientista-chefe do Centro
de Pesquisas da NASA:
“Dados os modernos sistemas de
sensores disponíveis em todo o mundo
e as capacidades de ataque de preci-
são, considera-se que, em futuro muito
próximo – 10 a 15 anos –, os seguintes
itens não sobreviverão em uma situa-
ção de conflito armado, devido ao seu
tamanho e suas assinaturas multies-
pectrais e multifísicas: ferrovias, navi-
os de superfície, aeronaves tripuladas
e veículos terrestres tripulados”.
Outro campo crescente no empre-
go de sensores é o de munições. A
cada conflito novos tipos de munições
“inteligentes” permitem ataques cada
vez mais “cirúrgicos”. Tal precisão é
fruto do uso de sensores. A seguir são
apresentados alguns exemplos da uti-
lização de sensores em munições:
• Espoleta VT (Variable Time) –
emprega sensores rádio ou laser para
determinar, por telemetria, sua altura
de acionamento.
• BRILLIANT ANTI-ARMOR
SUBMUNITION (BAT) – sub-
munição do tipo “fire-and-forget” pro-
jetada para a destruição de carros de
combate e outros veículos blindados
em movimento, cuja guiagem baseia-
se em sensores acústicos e infra-
vermelho (IR).
• SENSE AND DESTROY
ARMOR (SADARM) – submunição
utilizada por granadas de artilharia 155
mm com o propósito de destruir veí-
culos blindados leves, primariamente
os obuseiros autopropulsados, cuja
detecção é realizada por meio de
sensores rádio e IR.
Existem, ainda, sensores especiais
que são empregados para a detecção
de campos minados – há sistemas de
sensores capazes de identificar e lo-
calizar os limites de um campo minado
– e para a detecção de agentes QBN.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na Era da Informação as opor-
tunidades de alcançar os objetivos de
segurança nacional freqüentemente
serão de natureza informacional. A
disponibilidade de informação e a ha-
bilidade em distribuí-la aumenta sig-
nificativamente a eficiência de uma
operação. Os benefícios incluem:
maior velocidade de comando, um
maior ritmo de operações, maior le-
talidade, menores fratricídio e dano
colateral, aumento da capacidade de
sobrevivência, aperfeiçoamento do
apoio ao combate e um sincronismo
mais efetivo das ações da Força co-
mo um todo.
A efetividade de combate de uma
plataforma – seja ela terrestre, aérea
ou naval – não mais será determina-
da pelo alcance e capacidade de seus
sensores orgânicos. Ao invés disso,
as informações disponibilizadas por
sistemas de sensores desdobrados no
teatro de operações irão designar os
alvos para as plataformas ou siste-
mas de armas mais indicados para a
tarefa em questão. Resultados deci-
sivos serão alcançados por meio do
uso de redes de alta capacidade, en-
globando sensores, sistemas de ar-
mas e centros de comando, na bus-
ca de um esforço integrado, tornan-
do-se essas redes elemento crítico
para o aprimoramento da efetividade
de combate. A base dessa arquitetura
é uma rede C4IVR (Comando, Con-
trole, Coordenação, Computação,
Inteligência, Vigilância e Reconheci-
mento) que proporcionará aos co-
mandantes em todos os escalões uma
visão adequada da situação e possi-
bilitará uma avaliação e planejamento
contínuo em todos os níveis, possi-
bilitando, desse modo, o melhor uso
dos dados obtidos a partir dos
sensores. Esse será, ao meu ver, um
dos desafios de uma de nossas mais
novas unidades: o Batalhão de Co-
mando e Controle, que considero
como a organização que melhor se
adapta à centralização dos dados dis-
poníveis, seu processamento e pos-
terior disseminação, por meio do
Centro de Análise de Inteligência.
A habilidade em dispor a infor-
mação rapidamente onde essa é ne-
cessária e de criar um compartilha-
mento sobre a compreensão da situa-
ção como um todo provê uma opor-
tunidade de desenvolver novos con-
ceitos aplicáveis às operações, que
possibilitarão uma resposta mais rá-
pida, maior flexibilidade e aumenta-
rão o poder de combate.
Desse modo, o uso intensivo de
dispositivos de inteligência, reconhe-
cimento e vigilância interligados em
uma rede de multisensores, todos es-
ses com uma referência geo-espaci-
al comum, isto é, compartilhando de
uma mesma referência topográfica
para sua orientação, possibilitará uma
descrição dinâmica, abrangente, com-
partilhada e com qualidade de todo o
campo de batalha, permitindo aos
comandantes imprimir um maior rit-
mo às suas ações – na verdade ala-
vancando seu ciclo OODA –, uma
vez que dispõem de perfeita compre-
ensão situacional, sendo mister que
nosso CFN, em seu constante pro-
cesso de modernização, venha a dis-
por de sistemas de sensores volta-
dos para o reconhecimento, vigilân-
cia e busca de alvos.
2002 - O Anfíbio - 60
 A TRANSMISSÃO DE DADOS NOS
GRUPAMENTOS OPERATIVOS DE
FUZILEIROS NAVAIS
CC (FN) S AMUEL NOGUEIRA LEAL

“Poucos comandantes Este extrato data de 1989. Ao ob-

conhecem o suficiente
para saber o que a
tecnologia pode fazer
por eles ou até mesmo
dizer a um projetista o
que eles realmente
querem.”
Lieutenant General Sir David
Ramsbotham
Exército Inglês, 1989
“Antes do advento dos
computadores no campo de
batalha, o processo de co-
mando e controle era apoia-
do por uma combinação de
procedimentos manuais e
sistemas de comunicações
baseados em mensagens de
voz e escritas. A herança dos
sistemas de comunicações
por voz nos acompanhará
por um longo período ainda,
durante o redirecionamento
servarmos a realidade dos nossos
Postos de Comando e dos processos
de comando e controle dos grupa-
mentos operativos, vemos o quanto
ainda temos que caminhar a fim de
levarmos a automação de que já des-
frutamos em nossos sistemas admi-
nistrativos, sistemas de jogos de guer-
ra e em alguns sistemas de armas iso-
lados, para uma realidade de coman-
do e controle digna da importância Emprego do Megafone TRS-6 durante a
Operação Dragão VI
de nosso Corpo de Fuzileiros Na-
Foto: Museu da CiaCom
vais. Acreditamos que o primeiro pas-
so para tal seja o conhecimento das
potencialidades da digitalização apli-
cada ao campo de batalha. Este arti-
go buscará abordar uma das ferra-
mentas fundamentais para isto: a
transmissão de dados.
Para tanto, faremos um apanhado
dos equipamentos e procedimentos uti-
lizados no CFN, além de uma breve
análise do nosso quadro atual. “Apro-
veitando o êxito”, levantaremos algu-
mas perspectivas futuras para a apli-
cação desta importante ferramenta.
Rádio AN-PRC-6 e Antena AT-249/GRD.
ANTECEDENTES
Foto: Museu da CiaCom

destes sistemas para aqueles

baseados nas transmissões
de dados. Nos últimos anos,
entretanto, a crescente de-
manda por sistemas de in-
formação baseados em com-
putadores têm levado ao de-
senvolvimento e desdobra-
mento de sistemas especifi-
camente desenhados para a
transmissão de dados.” 1
As comunicações surgiram da ne-
cessidade dos chefes militares exer-
cerem o comando sobre suas tro-
pas. Mensageiros, sinais de fumaça,
pombos-correio, balões, telégrafo,
holofotes e semáforas, dentre outros,
serviram (e servem) como canais am-
1
M. A. Rice, Communications and Informations
Systems for Battlefield Command and Control
plamente utilizados para mudar os
rumos da história.
Diversos fatores combinaram-se
para dar às comunicações um grande
impulso: a demanda por máquinas bé-
licas cada vez mais eficazes para aten-
der às nações em conflito; a velocida-
de vertiginosa da evolução tecnológica,
principalmente no ramo da eletrônica;
e o desenvolvimento do comércio mun-
dial, estreitando relações e aumentan-
2002 - O Anfíbio - 61
do a necessidade de troca de um mai- ela é representada. Assim, informa- to e endereçamento. Conforme vi-
or volume de informações à distânciasção é o conhecimento que se tem de mos, para enviar uma informação de
cada vez maiores. determinado fato ou pessoa e a uni- um ponto a outro é preciso, inicial-
Em 1960, os americanos se per- dade básica para representar a infor- mente, convertê-la em pulsos elé-
guntavam como manter a comunica- mação num sistema digital é o bit. Ao tricos. Estes sim, são capazes de “vi-
ção entre computadores mesmo sob agruparmos e combinarmos bits de ajar” por fios condutores e outros
um ataque nuclear. Esta pergunta acordo com um código, teremos en- meios de transmissão.
daria origem à chamada “Rede In- tão representados números, letras, Quando transmitimos dados no in-
tergalática” e, mais tarde, à Internet.
palavras etc. terior do computador, como do
O estudo do eletromagnetismo, O Prof. André Moreira2 nos en- processador central para a memória,
aliado à matemática, permitiu o de- sina que transmissão de dados ou de por exemplo, não é surpresa encon-
senvolvimento de diferentes formas informação consiste na utilização de trarmos taxas de transferência de da-
de modulação e tratamento do sinal um suporte para transportar esta in- dos na casa das centenas de megabits
irradiado. formação entre dois pontos fisica- por segundo. Qual a dificuldade, en-
O amplo emprego do avião deu mente distantes. tão, quando saímos para o “espec-
ao campo de batalha uma nova di- Um método possível é guardar a tro”? As diferenças são infinitas. Den-
mensão, rapidamente ampliada em informação num suporte físico amo- tro da máquina, as comunicações
direção ao espaço. vível (disquete, por exemplo) e trans- dão-se invariavelmente por meio de
O emprego da transmissão de portar fisicamente esse suporte para cabos paralelos. Por isso bytes intei-
dados como ferramenta de coman- o ponto de destino. Outra alternativa ros ou números cada vez maiores de
do e controle, só tornou-se possível consiste em utilizar um suporte que bits (32, 64 etc) são transmitidos, si-
graças ao avanço espantoso da tec- se encarregue ele próprio do trans- multaneamente, utilizando-se peque-
nologia e da capacidade dos com- porte. Para tanto, utiliza-se um fenô- nos cabos múltiplos. Lá fora, entre-
putadores. Enquanto a performance meno físico capaz de se propagar tanto, descobrimos que a comunica-
dos transceptores e radares foi e con-
desde a origem até o destino. Este ti- ção é em série, ou seja, um bit de
tinua a ser incrementada, computa- po de suporte é chamado de sinal. cada vez, formando uma enorme fila
dores pequenos e leves o bastante Como fenômeno físico que é, um que “anda” numa velocidade – taxa
para serem transportados em mochi- sinal possui diversas grandezas físi- de transmissão – relativamente baixa
las ou utilizados em aeronaves vêm cas mensuráveis. Se o emissor pro- e sujeita a todo tipo de interferência.
tornando possível a utilização efetiva
duzir variações nestas grandezas de Neste mundo real, algumas ações
das informações que os sensores são modo a traduzir a informação a trans- melhoram a qualidade do sinal e, con-
capazes de gerar. Novos equipamen- mitir, então o receptor pode detectar seqüentemente, aumentam a taxa de
tos de comunicações, com largura de estas variações e obter a informação transmissão de dados: aumento da
banda e capacidade de transmissão que foi transmitida. potência de transmissão, emprego de
compatíveis com esta nova realida- Outro fator a considerar é que este postos de retransmissão, utilização de
de, tornam possível dividir esta infor-
sinal será transmitido num determinado antenas direcionais, correção do
mação com outros atores no Teatro meio. Este meio de transmissão pode azimute de transmissão, busca de
de Operações (TO). variar entre um pedaço de fio de cobre pontos elevados do terreno, dentre
até um link rádio envolvendo um saté- outros.
TRANSMISSÃO lite geo-estacionário de comunicações,
DE DADOS conforme veremos a seguir. MEIOS DE TRANSMISSÃO
Ao longo deste artigo, estaremos Mais um complicador: a transmis- Voltando à questão do meio de
considerando equivalentes as ex- são de dados normalmente envolve transmissão, temos, basicamente, o
pressões “transmissão de dados” e uma rede e não apenas dois pontos. par trançado, o cabo coaxial, a fibra
“transmissão de informação”. Desta forma, a transmissão deve ótica, e o espectro eletromagnético;
A questão de como transmitir in- considerar os aspectos de roteamen- este último nas diversas faixas de
formação de um ponto a outro só 2 freqüência, utilizando o multicanal, os
Professor Adjunto do Departamento de En-
pode ser bem entendida quando sa- genharia Informática do ISEP. satélites e os equipamentos-rádio de
bemos o que é informação e como (andre@dei.isep.ipp.pt) U/V/HF.

2002 - O Anfíbio - 62
 O par trançado, conhecido entre
nós como “cabo 207”, tem como van-
tagem a adaptação à quase totalida-
de dos sistemas e o baixo custo. As
desvantagens ficam por conta da
suscetibilidade à interferência ele-
tromagnética e da baixa capacidade
de transmissão.
O cabo coaxial apresenta uma ca-
pacidade de transmissão elevada,
além de permitir o emprego de um
maior número de canais num único
cabo. Entretanto, o emprego de di-
versos canais pode gerar interferên-
cia entre eles. Além disso, as distân-
cias em que o cabo pode ser utiliza-
do são reduzidas nas aplicações mi-
litares.
A fibra ótica é o meio que apre-
senta grande vantagem tanto em ter-
mos de capacidade de transmissão –
dez vezes maior que o cabo coaxial –
como em resistência à interferência.
Apesar disso, tanto a fibra como os
conversores eletroóticos ainda possu-
em custo relativamente elevado.
As ligações em microondas, tam-
bém conhecidas como multicanal, ga-
nharam espaço tanto nas aplicações
civis como nas militares, pela rapi-
dez da instalação, alta direcionalidade
do sinal e elevado número de canais.
O emprego de sistemas de microon-
das, porém, exige linha-de-visada
entre as antenas. Devido às suas ca-
racterísticas, o sinal pode interferir em
sistemas de comunicação por satéli-
te. Outra limitação é a sua sensibili-
dade às variações de umidade e tem-
peratura, vez que estes fenômenos al-
teram a direção de propagação do
sinal.
Os satélites, por sua vez, têm co-
mo grande vantagem, além da eleva-
da capacidade de canais e velocida-
de de transmissão de dados, as liga-
ções a longas distâncias. Um único
satélite pode cobrir 1/3 da superfície
da terra. Além disso, o estabeleci-
mento da ligação independe das ca- um certo fluxo de rotina, como rela-
racterísticas do terreno. A “disputa tórios periódicos e “SITREP” cujo ta-
pelos céus”, entretanto, revelou que manho e horário sejam previsíveis, os
há espaço de menos e satélites de- maiores picos de tráfego resultam de
mais. O ruído e as características da eventos imprevistos, como o primeiro
atmosfera reduzem a faixa de fre- contato com o inimigo. É paradoxal,
qüência utilizável entre 1 e 10 GHz, mas é nos momentos em que a rapi-
o que limita a largura de banda e a dez torna-se vital que encontraremos
quantidade de freqüências disponí- todos os assinantes da rede gerando
veis. O retardo entre transmissão e grande volume de mensagens.
recepção – devido à distância da ter-
ra – eleva a sofisticação dos trans- – TEMPO DE RESPOSTA
É a medida do tempo que um sis-
ceptores de dados e, obviamente,
seu custo. Finalmente, e não menos tema de comunicações necessita para
importante, é o custo de lançamen- transmitir uma informação entre dois
to/manutenção de um satélite. assinantes. É lógico que ela varia de
As faixas de freqüência de U/V/ acordo com a quantidade de dados
HF possibilitam o emprego de equi- a serem transmitidos e com a locali-
zação das estações. Esta caracterís-
pamentos de elevada mobilidade e
facilidade de expansão da capacida- tica é especialmente importante para
de instalada. Encontram-se sujeitos, sistemas em que o tempo é crítico,
entretanto, aos mais variados tipos de como os sistemas de armas, por
interferência, o que acarreta baixas exemplo.
taxas de transmissão de dados. – CONEXÃO E
Analisemos, a seguir, alguns as- ENDEREÇAMENTO
pectos técnicos que facilitarão ainda Um sistema de comunicações
mais a compreensão do assunto. deve ser capaz de conectar usuários
que desejarem estabelecer uma liga-
REQUISITOS ção. Além disso, é preciso identifi-
Além dos requisitos fundamentais car com precisão o usuário correto
das comunicações, que já conhece- dentre uma variedade deles, ou seja,
mos3 , um sistema de transmissão de o correto endereçamento.
dados deve reunir outros atributos.
– CONTROLE
– CAPACIDADE Da mesma forma que as comuni-
Um sistema de comunicações cações por voz possuem procedimen-
deve atender à demanda de transmis- tos pré-definidos, como a chamada
são de dados exigida pelos sistemas da estação de destino antes da ori-
de informação que dele se utilizam. gem e o uso da palavra “câmbio” para
A definição desta demanda, entretan- indicar o fim da transmissão, a comu-
to, não é tarefa fácil. É incomum nicação automatizada também obede-
depararmo-nos com um sistema de ce a um conjunto de procedimentos.
informação cuja taxa de transmissão São os chamados “protocolos”.
de dados seja constante. Normalmen-
te ela é altamente variável. Assim, a SENSORES
definição do projeto buscará sempre Um tipo interessante de transmis-
um meio termo. Embora haja sempre são de dados é feito pelos sensores.
Eles têm o propósito de recolher in-
3
DGMM-0500, Cap. 3 formações sobre o inimigo (parte
2002 - O Anfíbio - 63
passiva) e, em seguida, transmitir
estes dados para uma estação de
coleta. A informação produzida pode
assumir diversas formas, de acordo
com a técnica empregada.4
Sensores de área produzem nor-
malmente uma imagem relativa à sua
área de cobertura. Podem utilizar a
luz visível ou o infra-vermelho e ain-
da uma das diversas técnicas radar.
Apesar da eficiência, o “custo” para
transmitir os dados colhidos é muito
alto devido à quantidade de informa-
ção produzida.
Sensores de ponto – são empre-
gados para detectar a presença ou
ocorrência – num determinado nível
– de um fenômeno numa área próxi-
ma. Um exemplo é o sensor sísmico,
que detecta as vibrações no solo cau-
sadas pela passagem de viaturas ou
pessoal. Sensores mais modernos
possuem processadores capazes de
diferenciar, por exemplo, passos hu-
manos dos passos de animais, além
de identificar qual o tipo de viatura
detectada.
Seja qual for o sensor, ele irá pro-
duzir um sinal elétrico a ser transmiti-
do, objeto de nosso artigo.
EVOLUÇÃO DA
TRANSMISSÃO DE DADOS
Em 1986 chegaram ao Brasil os
equipamentos-rádio da família
TADIRAN. Por se tratarem de rádi-
os com tecnologia digital, com capa-
cidade de transmissão de dados,
operar em salto de freqüência e
criptofonia, representaram verdadei-
ro salto tecnológico para nossas co-
municações. Além disso, serviram
para disseminar, no âmbito do Cor-
po, a importância das Contra-Con-
tramedidas Eletrônicas de comunica-
ções e da Guerra Eletrônica.
Em 1988 foram adquiridos os
transmissores digitais de mensagens,
4
Ibid. 1
TMD. Em conjunto com transcep-
tores nas faixas de V/U/HF – digitais
ou não – estes equipamentos são ca-
pazes de enviar mensagens pré-
formatadas em alta velocidade. Para
dificultar ainda mais a interceptação
inimiga, os sinais são transmitidos por
“pacotes”, ou seja, a mensagem é di-
gitalizada, codificada, separada em
segmentos denominados “pacotes” e
enviada em pulsos (burst). Isto tor-
na particularmente difícil a interferên-
cia intencional ou não.
Esta capacidade de enviar infor-
mações de forma segura, rápida e
acurada, permite seu emprego por
observadores avançados de artilha-
ria, controladores aéreos avançados,
equipes de reconhecimento, missões
de resgate e grupos de comandos
anfíbios operando na retaguarda ini-
miga.
A chegada dos equipamentos de
guerra eletrônica, em 1989, traria
mais uma novidade em termos de
transmissão de dados: o TACTER-
10. Seu princípio de funcionamento
é o mesmo do TMD, envolvendo
transmissão em alta velocidade de
mensagens digitais codificadas e por
pacotes. Ele apresenta-se, entretan-
to, como um computador militarizado,
possuindo tela e teclado. Assim, po-
demos redigir uma mensagem em tex-
to livre ou tabela com maior rapi-
dez. Além disso, a interface homem-
máquina é bem melhor que nos TMD.
Nesta mesma época, o então Gru-
po de Artilharia recebeu um equipa-
mento semelhante ao TACTER-10,
mas de uma geração anterior: o
SACU (Stand Alone Communica-
tions Unit ou unidade de comunica-
ções isolada). Ele foi empregado por
longo tempo na rede de comando da
Artilharia. A confiabilidade e a segu-
rança do equipamento permitiram, in-
clusive, seu emprego na transmissão
de ordens de tiro. Atualmente ele vem
sendo empregado pela CiaCom nas
redes logísticas.
OUTROS PAÍSES
Neste período, países mais desen-
volvidos já aplicavam outros meios e
técnicas de transmissão de dados.
A utilização de equipamentos de
comunicações multi-canal pelos Fu-
zileiros americanos, já possibilitava o
emprego de computadores de cam-
panha em rede, além de equipamen-
tos de fac-símile.
O Sistema de Comunicação e
Determinação de Posição (PLRS) –
Position Locating Reporting System,
em uso desde a década de 70, é um
sistema capaz de prover dados de
posição e navegação em tempo real
em todos os níveis até o escalão Di-
visão. Sua versão atual, permite a
transmissão de mensagens pré-for-
matadas e faz soar um alarme quan-
do da entrada em zonas não-autori-
zadas. Nossos Observadores Milita-
res na Bósnia comprovaram sua efi-
cácia na orientação das patrulhas
norte-americanas.
O sistema é composto por uma
rede-rádio de transceptores UHF
trabalhando sincronizados. Os equi-
pamentos transmitem, de forma con-
tínua, mensagens pré-formatadas de
curta duração. Os dados transmitidos
são processados, a partir de uma es-
tação mestre, e retransmitidos. Des-
ta forma, todos os assinantes são ca-
pazes de determinar a sua posição e
das tropas amigas, rapidamente, den-
tro do Sistema Militar de Quadrícu-
las (MGR) – Military Grid Reference
– com uma precisão de 15 metros.
Além disso, o PLRS permite aos co-
mandantes ter o controle do posi-
cionamento de suas tropas em tem-
po real, a plotagem de campos mi-
nados, a orientação do apoio de fogo
aéreo e de artilharia, de comboios,
frações e unidades de carros-de-
combate etc.
2002 - O Anfíbio - 64
 O emprego de estações-mestre sistema brasileiro, batizado de R-99A
aerotransportadas permite seu em- (vigilância do espaço aéreo e moni-
prego além do horizonte. toragem de comunicações) e R99B
O sistema também foi amplamente (sensoriamento remoto para vigilân-
utilizado na Guerra do Golfo, per- cia ambiental, territorial e de monito-
mitindo o deslocamento rápido e ramento), que entrou recentemente
O AWACS, tendo como plataforma o
coordenado de forças num terreno de em operação, contará com um total
Boeing 737. Foto: Boeing
navegação extremamente difícil. de oito aeronaves. Serão integradas
É usado tanto por tropas a pé como ção amigo-inimigo (IFF), criação de a coleta, utilização e difusão das in-
por veículos, viaturas e aeronaves. um retrato da situação, execução de formações, em tempo real, envolven-
procedimento para alvos que não se do, além das três Forças, o IBAMA,
AWACS identifiquem, tomada de decisão e INPE, IBGE, Polícia Federal,
A grande quantidade e varieda- transmissão da situação às agências FUNAI, INMET, o DPNM, a Agên-
de de meios empregados por esses interessadas. Suas antenas com ar- cia Nacional de Águas, a ANATEL,
países, obrigou o desenvolvimento de ranjo por fases, permitem a rápida a ANEEL, etc), e capacitando-as
amplos e complexos sistemas de co- recepção de enormes quantidades de para estabelecer e conduzir políticas
mando e controle. Estes deveriam in- dados e a ligação simultaneamente a públicas, de forma integrada para a
tegrar os dados colhidos pelos diver- satélites e estações móveis. Desta região.
sos sensores, analisá-los, tomar uma forma, é possível à tripulação rece- O R-99A supera sua menor ca-
decisão e enviar este produto aos as- ber dados para a missão durante o pacidade em relação ao AWACS
sinantes apropriados. deslocamento para a cena da ação. com um custo operacional bastante
Uma das primeiras e mais impor- Assim, os operadores do AWACS inferior, além de comprovada efici-
tantes aplicações deste conceito foi podem tomar decisões e disseminar ência na detecção de pequenos avi-
o Sistema de Controle e Alarme Aé- dados os mais atualizados possíveis. ões num alcance de até 350km e na
reo Antecipado (AWACS) – Airbor- continuidade do acompanhamento
ne Warning and Control System. Há RESPOSTA BRASILEIRA do alvo. Aos três operadores cabe-
mais de vinte anos que o AWACS é Outras nações, cientes da impor- rá a tarefa de avaliar dados e coorde-
um dos primeiros meios desdobra- tância destes sensores, desenvolveram nar ações táticas, além de realizar co-
dos na cena da ação em situações soluções que se adequassem às suas leta e transferência de dados.
de crise. Mesmo os primeiros E-3 – necessidades, incluindo o Brasil. O sistema venceu o americano E-
que utilizavam os jatos comerciais O radar Phalcon, empregado pelo 2C Hawkeye em concorrência inter-
707 da Boeing – já garantiam enor- Chile e pela África do Sul – monta- nacional na Grécia.
me vantagem sobre os oponentes. A do num Boeing 707 – possibilita o A MB já estuda, há algum tem-
marinha americana vem utilizando o processamento de até cem alvos. Seu po, a aquisição de aeronaves de alar-
E-2C Hawkeye, considerado por custo aproximado, segundo consta, me aéreo antecipado. Seu emprego
muitos como mais do que os “olhos” é a metade de um AWACS. Além deverá incluir a busca de superfície,
da força, mas seus “ouvidos” e até dos onze operadores a bordo, uma vigilância aérea radar, acompanha-
mesmo o próprio “cérebro”. Dada a seção da aeronave é separada para mento de alvos e controle dos AF-1
evolução destas plataformas, inclu- o PC aerotransportado, com termi- nas missões de interceptação das a-
indo a extensão de seu raio de ação, nais de dados, amplas facilidades de meaças aéreas.
o alcance de seus sensores e a capa- comunicação além de links de longo Como vimos, as aeronaves de a-
cidade de transmissão/recepção e alcance para voz e dados, ligando larme aéreo antecipado representam
processamento de dados, elas tor- outras aeronaves, forças navais e ter- muito mais que um sistema dotado
naram-se mais do que sensores, restres. de grande quantidade de sensores.
transformando-se em verdadeiros Para atender às complexas de- A evolução tecnológica, que trouxe
centros de comando. mandas do Sistema de Vigilância da enorme capacidade de processa-
O conceito de emprego do Amazônia (SIVAM), o Brasil dotou mento de dados e comunicações em
AWACS envolve a deteção de alvos, o Embraer EMB-145 com o sistema banda larga, possibilitou que dados
sua aquisição (tracking), identifica- Erieye, da empresa sueca Ericsson. O oriundos de fontes situadas ou não a

2002 - O Anfíbio - 65

O R-99A, com a antena do Erieye. As
antenas de sensoriamento do R-99B,
foram posicionadas parte inferior da
bordo sejam compilados e que a in-
formação final produzida seja en-
tregue a uma gama de usuários em
todo TO. O propósito é claro: fazer
com que os conhecimentos produzi-
dos cheguem às mãos dos comba-
tentes em tempo-real.
TACTER - 31
No CFN, continuamos a empre-
gar os TMD e o TACTER-10, con-
forme já descrito.
Recentemente, entretanto, o Cor-
po adquiriu algumas unidades do
TACTER-31 (ver O Anfíbio nº 20).
Na verdade, trata-se apenas de um
computador portátil robusto que uti-
liza o sistema operacional Windows
e possui o GPS embutido. O “segre-
do” do TACTER-31 está nos seus
softwares. Ele possui um software
para transmissão e recepção de men-
sagens e outro para navegação, em-
pregando cartas digitalizadas. Suas
possibilidades incluem ainda a pre-
paração e o envio de mensagens à
grande velocidade; preparação e en-
vio de calcos/desenhos; envio de car-
tas digitalizadas com dados de GPS;
indicação (em tempo real) do posicio-
namento dos assinantes da rede; im-
portar/exportar
imagens de câ-
meras digitais; e
transmitir/rece-
ber imagens de
vídeo em tempo
real.
O software
de navegação Possível configuração de uma rede utilizando o TACTER-31. Os dados
NEGEV, permi- podem ser transmitidos desde um elemento de reconhecimento, no
terreno, até o Comando da Força, em Duque de Caxias – RJ,
te ao operador
inserir símbolos milita- Comando da FFE. Finalmente, esta
res na carta digitalizada informação poderia ser disponibilizada
e incluir e associar infor- na rede de computadores da Força.
mações adicionais aos
SISCOMIS
O Sistema de Comunicações Mi-
litares Via Satélite – SISCOMIS –
brasileiro permite o estabelecimento
de ligações utilizando os satélites
BRASILSAT, na faixa de freqüências
da banda X. Parte do sistema encon-
tra-se instalado numa rede fixa em
todo o país e a outra parte opera a partir
Os segredos do TACTER-31 estão nos
das chamadas Estações Táticas Mó-
softwares de navegação e de comunicações.
veis. Ao todo são oito estações mó-
símbolos. O equipamento apresenta as veis, sendo cinco do Exército, duas da
coordenadas de pontos selecionados FAB e uma do CFN. Existe ainda uma
e calcula distâncias em linha reta e estação para uso em navios.
curva. As estações móveis permitem a
Outro ponto alto do TACTER é utilização de dois canais, tanto para
a elevada conectividade, ou seja, a voz como para dados. Os equipa-
capacidade de conectar-se, simulta- mentos vêm sendo empregados com
neamente, a diferentes tipos de equi- sucesso nos exercícios militares rea-
pamentos. Assim, um elemento de re- lizados, incluindo a Operação Tapuru,
conhecimento, empregando um realizada recentemente.
TACTER, poderia transmitir um es-
boço para o Posto de Comando (PC) EB
de um GDB, por meio de uma rede O Exército Brasileiro (EB) vem
em VHF. O PC poderia acrescentar desenvolvendo um sistema de Pro-
outros conhecimentos disponíveis e cessamento Automático de Mensa-
retransmitir a informação ao Coman- gens Operacionais (PAMO), que
do da Força de Desembarque no na- visa eliminar a estrutura do centro
vio, utilizando o mesmo TACTER li- de mensagens de campanha medi-
gado a outro equipamento-rádio. O ante a implantação de um sistema de
Comando da Força, por sua vez, po- correio eletrônico militar. As men-
deria disponibilizar esta imagem em sagens, com opção de criptografia,
diferentes pontos do navio utilizando deverão ser escoadas por meio de
seu TACTER e, ainda, enviá-la ao redes rádio, Internet, rede telefôni-
ca, fio duplo telefônico ou ainda o
SISCOMIS. Os equipamentos-rádio
são da marca Harris, EID e YAESU.
PROJETO RUVICHÁ
O EB está desenvolvendo tam-
bém um sistema operacional de C 3 I,
o chamado Projeto Ruvichá. Ele de-
verá interfacear com os Sistemas de
C2 dos Órgãos Setoriais e do Coman-
e vice-versa.
do do Exército, por meio da RITEX,
2002 - O Anfíbio - 66
da EBNET, das Redes Rádio Fixas, gement Capability. Este sistema,
do SISCOMIS e do Sistema Naci- quando totalmente desenvolvido, irá
onal de Telecomunicações (SNT). integrar cada unidade de um Grupo-
Tarefa num sistema único, capaz de
JTDIS E CEC engajar alvos a partir de um retrato
As Forças Armadas Americanas comum da situação tática. O concei- A OTAN vem empregando equipamentos-
estão utilizando o Sistema de Distri- to do CEC é aproveitar os sensores rádio com maior capacidade anti-CME,
buição de Informações Táticas para existentes – como o radar de um na- prevendo cenários mais difíceis em termos
de guerra eletrônica. Os modelos mais
Ações Combinadas (JTIDS) – Joint vio ou o E-2C – e interligá-los utili- recentes possuem metade das dimensões dos
Tactical Information Distribution zando um processador e um sistema modelos antigos, possuem GPS embutido e
são capazes de operar tanto por voz como
de transmissão de por dados simultaneamente. (Thales photo –
dados de alta capa- JOD Nov 2001)
cidade (10Mbits/s).
O resultado é que ricanos decidiram prover apoio seme-
cada plataforma es- lhante às operações terrestres, ou se-
tará transmitindo a ja, a detecção, identificação e ras-
sua figura radar en- treamento de alvos em terra, além da
quanto recebe o coordenação das ações para sua des-
conjunto das figuras truição. Nasceu, então o Sistema
radares de todas as Conjunto de Vigilância e Ataque
plataformas navais e (JSTARS) – Joint Surveillance Target
aéreas equipadas Attack Radar System – o E-8C. Seu
com o CEC, possi- conceito de emprego, entretanto, di-
bilitando ao grupo- fere do AWACS. Enquanto este “li-
Tela do PAMO tarefa detectar e mita-se” às funções de vigilância aé-
rea e ao comando e controle de
System – tam- ações aéreas, o JSTARS é uma
bém chamado fonte primária de dados de inteli-
“Link 16”. Este gência para o comando, além de
sistema tem prover dados sobre alvos para sis-
como propósito temas de artilharia e dados para
aumentar a capa- orientação de aeronaves de ata-
cidade de coleta que e sistemas de mísseis. Além
de informação e disso, o JSTARS auxilia no ras-
redistribuí-la pe- treamento de forças inimigas e
las plataformas apóia a destruição da reserva e das
navais, aéreas e instalações logísticas do inimigo.
terrestres, postos As estações terrestres solici-
e centros de co- tam informações ao JSTARS, que
mando, além dos 3
Tela do Sistema de C I do EB. busca a informação, processa a
AWACS. Além solicitação e envia o resultado ao
disso, o Link 16 reúne elevada ca- rastrear simultaneamente grande assinante. Tudo em tempo real.
pacidade de transmissão de dados, variedade de ameaças aéreas, des-
criptografia, resistência às CME ini- de mísseis até aeronaves inimigas. GUERRA DE MANOBRA
migas e dados de navegação. Sem dúvida alguma, a principal
A Marinha americana interliga os JSTARS contribuição da transmissão de da-
dados de suas plataformas utilizando A partir do sucesso do AWACS em dos é para os sistemas de Comando
a Sistema de Engajamento Coope- prol das operações aéreas e do E-2C e Controle. Isto deve-se ao fato de
rativo (CEC) – Cooperative Enga- para as operações navais, os ame- que os Comandantes poderão ter à

2002 - O Anfíbio - 67
sua disposição dados que possibili-
tarão o conhecimento da situação
praticamente em tempo real. Um sis-
tema de transmissão de dados efici-
ente reduz o tempo decorrente da
execução do tempo decisório – Ci-
clo OODA (Observação, Orienta-
ção, Decisão e Ação), aumentando
a vantagem sobre o inimigo (ver O
Anfíbio no 20, pág. 69).
Um paradoxo que surge com o
emprego da tecnologia da informa-
ção, entretanto, é o da centralização
das decisões. Se por um lado a inici-
ativa dos comandantes de pequenas
frações tem sido valorizada – des-
centralização – o conhecimento de-
talhado da situação pelo escalão
superior tende à intervenção sobre as
ações dos subordinados.
Além da centralização, outro pro-
blema é o da gerência da informação.
Quando aumentamos a velocidade de
produção e de transmissão das infor-
mações, é preciso que o destinatário
seja capaz de “digeri-las”. Um Posto
de Comando ou Comando de Força
deverá ser capaz de gerenciar os da-
dos que lhe forem endereçados.
No dia-a-dia administrativo, so-
mos sufocados por um volume de in-
formações muito maior que a nossa
capacidade de administrá-lo. Nor-
mas, memorandos, regras, diretivas
são produzidos numa velocidade que
demanda uma completa assessoria
para analisá-los, implementá-los e fis-
calizar sua execução.
Já vimos a importância da dimi-
nuição da duração do ciclo decisório.
Devemos observar, então, a existên-
cia de etapas desnecessárias no pro-
cesso de análise; o tempo de entra-
da de dados nos sistemas de apoio à
decisão; seu processamento; e, final-
mente, a formatação e transmissão da
decisão. Temos que cuidar para não
piorar um processo manual ou semi-
digital já existente.
Um dos fatos evidentes após a compactado poderão exacerbar a
catástrofe de 11 de setembro de incerteza e a ambigüidade – a confu-
2001, nos EUA, foi que os órgãos são da guerra.”6
de inteligência americanos não foram
O FUTURO
capazes de identificar, dentro da gama
Em linhas gerais, caminhamos
de informações de que dispunham, a
para a interligação total. O JTDIS e
preparação da manobra dos terro-
o CEC americanos constituem bons
ristas do Al Qaeda. Imediatamente
exemplos desta tendência.
após o incidente, estes órgãos cla-
O desenvolvimento da capacida-
mavam por aumento de seus quadros
de dos sensores, da velocidade e vo-
de analistas.
lume de transmissão de dados e da
Este aspecto deve ser especial-
capacidade dos sistemas de coman-
mente analisado no momento em que
do, controle e informação, bem como
o CFN reestrutura a Força de Fuzi-
dos sistemas de apoio à decisão, nos
leiros da Esquadra, criando o Bata-
aproximam cada vez mais dos filmes
lhão de Comando e Controle. Aos
de ficção em que, a partir de uma
nossos olhos, a estrutura que hoje
tela, grandes batalhas são ganhas e
compõe o Centro de Análise de In-
perdidas. Não devemos nos esque-
teligência (CAI), bem como os pro-
cer de que, integrados a esses siste-
cessos de apoio à tomada de deci-
mas, encontram-se os já digitalizados
são, necessitam ser revistos diante da
sistemas de armas, de defesa anti-mís-
busca do CFN de incorporar efeti-
seis, de mísseis de ataque, lançadores
vamente as ferramentas disponíveis
de foguetes etc.
nesta era da informação.
Acreditamos que as plataformas
Os americanos relacionaram5 qua-
aéreas, empregadas como sensores
tro conceitos operacionais para que
e estações de comando, poderão
suas Forças Armadas mantenham a
evoluir para verdadeiros centros de
supremacia militar até o final desta dé-
comando. Os dados enviados pelos
cada (Visão Conjunta 2010 – Joint
sensores e plataformas de todo TO
Vision 2010): domínio da manobra,
seriam fundidos nestes centros, apoi-
engajamento preciso, proteção em to-
ando o processo decisório e, final-
das as dimensões e logística focaliza-
mente, acionando contramedidas por
da. Para que isto seja alcançado, es-
meio de sistemas de armas, envio de
pera-se um aperfeiçoamento das es-
tropas, apoio de fogo naval, aéreo e
truturas de comando, controle e inte-
de campanha.
ligência, principalmente no que tange
O desenvolvimento da capacida-
à transmissão de dados e a conse-
de de transmissão de dados poderá
qüente superioridade de informação.
Diversos autores, entretanto, a- levar a um aumento do emprego de
sistemas não-tripulados, como os
pontam para um aumento do atrito
VANT, bombardeiros, embarcações
no combate devido ao maior domí-
nio da situação, o que implica a di- e carros-de-combate.
minuição do período do processo Outra aplicação7 , já testada com
decisório e o aumento da velocidade sucesso, é o uso de espoletas de ar-
de reação. “Essa nova era de enten- tilharia com dispositivo que calcula a
dimento situacional aumenta o volu-
me de informações; mas o campo de 5
Major (R/1) Anthony R. Garret, A
batalha amplificado, o ritmo de com- Superioridade de Informação e o Futuro das
Ordens de Missão, Military Review
bate acelerado e o ciclo decisório 6
Ibid. 1
2002 - O Anfíbio - 68

Equipamento Multi-canal GRC-2000
Foto: TADIRAN
posição do impacto pelo GPS e a
transmite à Bateria. Isto permite a
ajustagem imediata dos fogos e o
desencadeamento da eficácia. Além
do aumento da letalidade da arma,
este sistema reduz a demanda lo-
gística de munição, reduzindo a ne-
cessidade de espaço de carga nos
navios e nas viaturas.
A chamada telemedicina 8 , sempre
registrada como tema do futuro, pos-
sibilita a interferência de especialistas
nos mais diversos casos, salvando vi-
das e diminuindo sobremaneira os
custos de deslocamento de pessoal.
Sua eficiência foi demonstrada na
Somália, Croácia e Macedônia.
Outra tendência observada é o em-
prego de PalmTops e PDA (Personal
Digital Assistant) que caibam no bol-
so, e que incorporem recursos de na-
vegação (cartas digitais, GPS etc). Eles
são capazes de transmitir dados a pe-
quenas distâncias (até 300m), mas a
velocidade de transmissão surpreende:
1Mbps, utilizando o protocolo de co-
municação “bluetooth”. Para maiores
distâncias, entretanto, eles devem ser
acoplados a um equipamento rádio.
AWE
O Exército americano vem reali-
zando adestramentos chamados de
“Experimento Avançado de Comba-
te” (Advanced Warfighting Experi-
ment – AWE) 9 , empregando a trans-
missão de dados em diversos siste-
mas de comando e controle e de
apoio à decisão no escalão Batalhão
de Infantaria, dentre eles:
w Sistema de Comando e Con-
trole Tático do Exército (ATCCS)
–Army Tactical Command and
Control Systems – que serve ao
Comandante e seu EM;
w Sistema de Controle de Mano-
bras PHOENIX (MCS/P) – Ma-
neuver Control System/ PHOE-
NIX, utilizado pelo S-3;
w Sistema de Análise de Inteli-
gência (All-Source Analysis System
– ASAS) empregado pelo S2;
w Sistema de Difusão de Inteli-
gência/Sistema de Distribuição de
Dados do Campo de Batalha (Glo-
bal Broadcast System-Battlefield
Awareness Data Distribution Sys-
tem – GBS-BADD), que faz a inte-
gração/distribuição das imagens
dos Veículos Aéreos Não-Tripula-
dos (VANT), com o Sistema Con-
junto Aerotransportado de Rada-
res de Vigilância e Ataque de Al-
vos (Joint Surveillance Target
Attack Radar Systems – JSTARS)
e com outras fontes de inteligên-
cia disponíveis;
w Sistema de Dados para Arti-
lharia de Campanha (AFATDS) –
Advanced Field Artillery Tactical
Data System – empregado pelo
Oficial de apoio de fogo, que pos-
sibilita a ligação com a rede de
apoio de fogo da brigada;
w Internet Tática (TI) – Tactical
Internet, conecta todos os elemen-
tos do EM;
w Sistema Soldado Desembar-
cado (DSS) – Dismounted Soldier
System – sistema de comunicações
digital para as redes internas de
batalhão de infantaria.
7
Gen. Gordon R. Sullivan, Uma visão do
Futuro, Military Review, 1st Quarter 2000
8
Ibid. 7
9
Tenente-Coronel James E. Harris III, Exér-
cito dos EUA, Combater Digital ou Ana-
logicamente?, Military Review, 2 nd Quarter
2000
O PDA já é empregado nas versões mais
modernas de vários fabricantes.
Foto: TADIRAN
SEGURANÇA
Na chamada Guerra da Informa-
ção, como ficam as medidas de segu-
rança? Como assegurar as vantagens
advindas da superioridade de informa-
ção? A expressão Confiança da Infor-
mação (Information Assurance – IA)
reúne os procedimentos e tecnologias
que buscam fazer face às ameaças ao
trânsito de dados no TO. Segundo
Clarence A. Robinson10 , a proteção
dos sistemas de informação requer um
novo tipo de soldado: o guerreiro
cibernético, com qualidades voltadas
para a área técnica, além de outros
conhecimentos não-tradicionais.
Na defesa dos sistemas de infor-
mação, as tecnologias de segurança
envolvem mecanismos e algoritmos
de criptologia, espalhamento espec-
tral, salto de freqüência e formas de
onda de baixa probabilidade de
deteção e interceptação. São tam-
bém utilizadas as “firewalls” e os sis-
temas de deteção de intrusos.
É preciso lembrar que o conceito
de Confiança da Informação não
atinge somente a Força desdobrada
e seus apoios. Todos os sistemas de
retaguarda, incluindo, no nosso caso,
o CINDACTA, o EBNET,a Intranet-
MB, MB-Mail, SINGRA, BDI,
SISCOMIS, RECIM etc, constituem-
se alvos altamente compensadores.
Imaginemos os prejuízos causados
por um ataque aos nossos sistemas
10
Clarence A. Robinson Jr, Geks in the wire,
JOD Outubro 2000
2002 - O Anfíbio - 69
de controle de tráfego aéreo e marí-
timo, previsão do tempo, controle de
estoques e sobressalentes, combus-
tível, medicamentos, pessoal e tele-
fonia.
Como na Guerra de Guerrilha, os
países em desvantagem – aqui tec-
nológica – tendem a explorar estas e
outras vulnerabilidades como armas
importantes. O GPS, por exemplo,
elemento fundamental em diversas
aplicações, conforme vimos, apre-
senta pontos extremamente sensíveis.
O Coronel Thomas Adams 11 , do
Exército americano nos mostra que
um transmissor de apenas 100W
(potência do nosso rádio de HF ins-
talado na Vtr ½ Ton Com) é capaz
de interferir em receptores de GPS
a uma distância de 20Km. Da mes-
ma forma, emissores descartáveis de
menor potência poderiam ser lança-
dos por aeronave com o mesmo pro-
pósito. Ou ainda, alguns VANT equi-
pados com emissores semelhantes
disseminariam a dúvida sobre a lo-
calização dos elementos de uma For-
ça de tecnologia digital. Podemos
imaginar ainda que emissores cuida-
dosamente posicionados seriam ca-
pazes de desviar ou até mesmo
redirecionar mísseis que empregam
GPS para sua orientação. O Coro-
nel nos mostra ainda que foguetes
meteorológicos são capazes de co-
locar em órbita até 44kg de chum-
binhos – os mesmos das carabinas
esportivas – com uma pequena car-
ga explosiva. Estes mini-asteróides
atingiriam a incrível velocidade de
mais de 20.000km/h, destruindo os
satélites que encontrassem pelo ca-
minho. Segundo o Coronel Adams,
a antiga URSS teria desenvolvido
com sucesso uma versão operacional
deste artifício.
Ao imaginarmos a diferença de
custo entre o desenvolvimento, lan-
çamento e manutenção de sistemas
espaciais e as contramedidas que
acabamos de descrever, identifica-
mos a importância da pesquisa, da
criatividade e da inventividade neces-
sárias às Forças Armadas de qual-
quer país, independente do seu or-
çamento.
CONCLUSÃO
No contexto do moderno campo
de batalha a transmissão de dados é
uma das mais importantes tecnologias
para multiplicação do poder de com-
bate de uma Força, ou seja, o au-
mento de sua letalidade.
A aplicação no CFN destas e de
outras tecnologias, proporcionará um
“entendimento comum do ambiente
operacional” tanto no tempo como
no espaço. Isto capacitará nossos
Grupamento Operativos a agir e re-
agir rápida e corretamente, intensifi-
cando o ritmo do combate a um ní-
vel que exceda a capacidade do opo-
nente, o que significa vencer a guerra
da informação – a chave para domi-
nar a manobra, conduzir ataques pre-
cisos, manter e proteger a força.12
O CFN já dispõe de meios que
aproveitam algumas das facilidades
proporcionadas pela era da informa-
ção. O TACTER-31 veio nos mos-
trar, entretanto, como ainda estamos
longe de contar com sistemas digi-
tais de apoio à decisão. Por outro
lado, este meio nos mostra que o
caminho é o desenvolvimento de
softwares, sejam eles de navegação,
transmissão de mensagens etc, pois
o hardware é facilmente adquirido
“nas prateleiras”.
A era da informação nos inspira a
lutar contra a dependência despro-
porcional da tecnologia desenvolvi-
da por outros países. A excelência da
formação de nossos Oficiais, em
renomados centros nacionais e inter-
nacionais, nas diversas áreas do co-
nhecimento, nos permite, com toda
certeza, adquirir equipamentos off-
the-shelf e desenvolver procedimen-
tos e softwares adequados. Projetos
nacionais como o Mercúrio, Sistema
de Jogos Didáticos, MAGE, SIVAM,
e a integração alcançada com a
Intranet e RETELMA, apenas para
citar alguns, nos mostra que o cami-
nho a seguir é verde e amarelo. A
digitalização exige grandes cérebros -
matéria-prima abundante no Brasil e
produto de exportação nacional.
Além das restrições orçamentári-
as, talvez o maior dos desafios que
teremos diante da era da informação
seja o de vencer os paradigmas que
habitam as mentes de nossos homens.
O CFN “manobrou”, com o primeiro
passo dado em 1996, ao incluir a
informática nos cursos de carreira de
Oficiais e Praças. Conforme já comen-
tamos, serão necessários homens ca-
pacitados nesta área para operar no
Estado-Maior e nos PC dos diversos
escalões. Lembremo-nos da máxima
de que “nenhum navio será melhor que
seus homens”.
Outra questão crucial é a da in-
teroperabilidade. Não faz sentido que
tenhamos um transceptor de última
geração, com salto de freqüência,
criptofonia etc, que proporcione uma
proteção relativa tanto da localização
inimiga como do conteúdo das men-
sagens, se somos obrigados a mudar
seu modo de operação para “claro”,
numa única freqüência, para solicitar
apoio naval ou aéreo.
Bancos de dados de informações
sobre alvos, redes inimigas intercep-
tadas e suas características, sobres-
salentes, enfim, nossos sistemas pre-
cisam “falar” entre si. Quem sabe po-
deríamos começar dizendo “sim” da
mesma maneira, ao invés de “afirmati-
vo”, “positivo” e “Ok”. O advento do
Ministério da Defesa certamente con-
templará esta importante questão.
11
TC (Res) Thomas K. Adams, Vulne-
rabilidades do Sistema de Posicionamento
Global, Military Review
12
Ibid. 7
2002 - O Anfíbio - 70
O Batalhão de Blindados de Fuzileiros Navais
CMG (FN) N ÉLIO DE ALMEIDA e CC (FN) R OGÉRIO RAMOS LAGE

“Aptidão para a Guerra é aptidão para

movimento.”
Napoleão I: “Maxims of War”, 1831

Como parte da reestruturação da Força

de Fuzileiros da Esquadra (FFE) de 2002,
está sendo ativado o Batalhão de Blinda-
dos de Fuzileiros Navais (BtlBldFuzNav).
Tal unidade teve sua concepção iniciada
com o Simpósio “O Corpo de Fuzileiros
Navais do Terceiro Milênio”, realizado no
ano de 2000, sendo proposta, com algu-
mas diferenças de constituição, por am-
bos os Grupos de Trabalhos (GT) que es-
tudaram o assunto.
No decorrer dos estudos conduzidos pelos citados GT, a idéia de criação deste bata-
lhão buscou aperfeiçoar o preparo e emprego dos meios blindados na FFE, bem como
ampliar a flexibilidade de organização por tarefas de Grupamentos Operativos de Fu-
zileiros Navais (GptOpFuzNav).
Este artigo pretende apresentar os principais aspectos considerados na criação do
BtlBldFuzNav, além das concepções básicas de emprego que, acreditamos, devem nortear
as ações da Unidade, ou seus destacamentos, sendo, para tanto, abordados a sua orga-
nização, as formas de emprego tático e o apoio de serviços ao combate (ApSvCmb) no
Batalhão.
Tratando-se de uma Unidade que representará significativo acréscimo de poder de
combate aos GptOpFuzNav, o BtlBldFuzNav certamente oferecerá aos comandantes
táticos novas opções, mostrando que o resultado da nova estrutura constitui muito mais
que a soma de meios anteriormente disponíveis na FFE. Deste modo, o conhecimento
dos temas que aqui serão apresentados deve ser de especial interesse profissional dos
Fuzileiros Navais.
Afinal ..... , serão 50 blindados reunidos !
A ORGANIZAÇÃO

O BtlBldFuzNav será estruturado conforme apre-

sentado no organograma apresentado na Fig.1.
Com um comando de um CF(FN), a Unidade es-
tará organizada com uma Companhia de Comando
e Serviços (CiaCSv), uma Companhia de Carros de
Combate (CiaCC) e uma Companhia de Viaturas
Blindadas (CiaVtrBld), além do comando do Bata-
lhão propriamente dito.
O Comando possuirá, para assessoramento do Co-
mandante, uma Seção de Pessoal, uma Seção de In-
teligência, uma Seção de Operações e uma Seção de
Logística, possibilitando integralmente que este possa
2002 - O Anfíbio - 71

Fig. 1
desenvolver atividades operativas
como “empregador de meios”1 .
A CiaCC será organizada
com uma Seção de Comando
(SecCmdo) e quatro Pelotões de
Carros de Combate (PelCC), de
modo a permitir ao Comando nível
Brigada alocar um PelCC em apoio
a cada uma das duas unidades de as-
salto e ainda dispor da CiaCC(-) com
duas peças de manobra, para cum-
prir outras missões com maior flexi-
bilidade. Seus PelCC serão consti-
tuídos por duas Seções, onde o co-
mando de uma das seções acumula
com o comando do pelotão, a dois
CC cada, utilizando o “WINGMAN
CONCEPT”2 . Tal conceito prevê
que um CC orienta o outro, estando
à sua direita ou à esquerda, devendo
o ala, na ausência de instruções es-
pecíficas, movimentar-se, parar e
atirar, quando o seu líder assim o fi-
zer. De forma geral, esta organiza-
ção redundará em ganhos em termos
do comando e controle intrapelotão.
A CiaVtrBld será organizada com
uma SecCmdo, dois Pelotões de Via-
1
Conforme definido pelo GT-Bravo do
Simpósio do CFN do III Milênio.
2
Conceito do ala.
3
Habitualmente mediante a atribuição de uma
zona de ação ou de responsabilidade tática.
turas Blindadas
(PelVtrBld) e uma
Seção de Viaturas
Blindadas de Apoio
(SecVtrBldAp). Os
PelVtrBld possui-
rão três Seções de
Viaturas Blindadas
(SecVtrBld), cada
uma com quatro
viaturas blindadas
de transporte de
pessoal (VBTP)
M-113A1, além do
comando do pelo-
tão. A organização
das VBTP em dois
pelotões, ao invés
dos três atualmente
existentes, visou a
facilitar as relações
de comando entre a
tropa apoiada e as
frações de blindados, conforme será
abordado quando se tratar do seu em-
prego. A SecVtrBldAp contará com
as Vtr M-125 e as Vtr M-577 (VtrBld
Comando).
A CiaCSv estará organizada com
uma SecCmdo, uma Seção de Co-
municações (SecCom), um Pelotão
de Manutenção (PelMnt), um Pelo-
tão de Serviços Gerais (PelSvG) e
uma Seção de Carros de Combate
Leves sobre rodas (SecCCLSR). A
SecCom terá a capacidade de apoi-
ar o Comando do Batalhão, inclusi-
ve estabelecendo as ligações internas
necessárias quando a Unidade esti-
ver sendo empregada como um todo.
O PelMnt possuirá as seções de ma-
nutenção auto, de torre e de comuni-
cações/ótico/optrônicos, estando em
sua dotação as VtrBld XM806E1
(Socorro), M113A1G “Fitter” e a Vtr
blindada socorro da família dos CC
SK. O PelSvG é composto pelas Se-
ções de Material e de Saúde. A
SecCCLSR é constituída por dois
CCLSR Cascavel remanescentes da
antiga família de CC do CFN.
O EMPREGO
Os elementos integrantes do
BtlBldFuzNav organizar-se-ão para
prover apoio de CC aos elementos
de manobra, participar da defesa
anticarro, reforçar os fogos das ar-
mas de apoio, prover mobilidade e
proteção blindada à tropa apoiada
para ações táticas ou atividades lo-
gísticas. Poderão ainda o Batalhão,
a CiaCC, a CiaVtrBld, ou seus res-
pectivos pelotões ser empregados
como elemento de manobra, desde
que adequadamente reforçados, con-
forme será aqui posteriormente expli-
citado.
Assim sendo, o BtlBldFuzNav,
suas companhias e pelotões “de li-
nha” poderão realizar ações de com-
bate, de apoio ao combate e de apoio
de serviços ao combate.
Ficará caracterizado o emprego
como elemento de combate nas oca-
siões em que a Unidade, subunidade
ou fração do BtlBldFuzNav, sendo
o núcleo de uma organização por ta-
refas que incluirá os reforços neces-
sários ao cumprimento da missão a
ela atribuída, constituir-se em elemen-
to de manobra do escalão enqua-
drante, normalmente recebendo res-
ponsabilidade por parcela da frente
de combate3 .
Tal emprego, talvez uma das prin-
cipais contribuições resultantes da cri-
ação do Batalhão, será particularmen-
te desejável quando as tarefas a se-
rem desenvolvidas exijam as caracte-
rísticas dos meios blindados, bem
como de suas potencialidades. Entre
essas, destacam-se especialmente as
seguintes ações táticas: junções; ata-
que coordenado em terreno franca-
mente favorável aos carros; ataques
profundos “balizados” por eixos de
progressão; reconhecimento de eixos,
2002 - O Anfíbio - 72

áreas ou zonas; cobertura ou proteção
de outro elemento; vigilância4 ; van-
guarda, flancoguarda ou retaguarda de
colunas em movimento; segurança de
área de retaguarda (SEGAR); esta-
belecimento de postos avançados de
combate (PAC); retardamento; defe-
sa em larga frente como medida de
economia de força; contra-ataques de
desorganização ou destruição; e se-
gurança de comboios logísticos.
É importante observar-se que es-
tas possibilidades representam uma
flexibilidade adicional da organização
para o combate pela disponibilidade
de mais um elemento de comando e
controle sem degradação de outros
elementos. Além disto, é fundamen-
tal lembrarmo-nos da necessidade
da presença de elementos de in-
fantaria em reforço aos elementos do
BtlBldFuzNav, quando a estes forem
atribuídas tarefas que redundem em
controle de terreno ou quando a na-
tureza deste apresentar ameaça aos
blindados5.
Por outro lado, ficará caracterizado
o emprego dos meios do BtlBldFuzNav
como elemento de apoio ao comba-
te quando, não sendo o núcleo de
uma peça de manobra, estes refor-
çarem as ações da infantaria com
carros de combate6 , transporte blin-
dado para movimentos táticos, de-
fesa anticarro e apoio de fogo adici-
onais. De modo semelhante, estará
caracterizada a atuação como elemen-
to de apoio de serviços ao combate,
quando for provido transporte blinda-
do para apoio logístico.
Como vimos, o BtlBldFuzNav e
suas companhias poderão empregar,
de modo centralizado, seus elemen-
tos subordinados ou serem estes des-
centralizados, tanto para atuar como
elemento de manobra quanto para as
tarefas de apoio ou um misto dessas
possibilidades. Para tanto, poderão
ser empregados os tradicionais mé-
todos de controle e situação de co-
mando – apoio ao conjunto; apoio
direto; e à disposição. Acreditamos
que, nas situações onde o elemento
do BtlBldFuzNav for empregado em
ações de apoio ao combate ou apoio
de serviços ao combate, poderão ser
utilizados qualquer um dos métodos
ou situação apresentados, entretan-
to, quando for necessário o empre-
go como elemento de combate, a co-
locação do meio blindado à disposi-
ção permitirá mais facilmente que este
formule o seu planejamento7 . Nas
situações onde o peso adicional do
ApSvCmb aos meios blindados for
incompatível com o elemento en-
quadrante, instruções adicionais po-
deriam manter parcela das respon-
sabilidades logísticas com a organi-
zação de origem dos citados meios.
Como ponto de partida inicial, su-
gerimos que, até que as experiências
futuramente acumuladas permitam
uma análise mais profunda do assun-
to, a dosagem básica de blindados seja
a seguinte: BtlBldFuzNav para uma
Brigada Anfíbia (BAnf); um Grupa-
mento Blindado, formado por um co-
mando de companhia8 , um PelCC, um
PelVtrBld (a quatro seções) e um
DstVtrBldAp, para a UAnf; e um
DstBld para o ElmAnf com um co-
mando de pelotão e seções de CC e
VtrBld. Esta proposta mantém as do-
sagens tradicionalmente usadas e bus-
ca propiciar possibilidade da formação
de elementos de manobra adicionais.
Como exemplo da grande flexi-
bilidade organizacional emprestada
pela nova Unidade, a seguir serão
apresentadas algumas das possibili-
dades de emprego dos meios blin-
dados como elemento adicional de
manobra:
q O BtlBldFuzNav (Ref) co-
mo peça de manobra do CCT da
BAnf para a realização de uma
junção.
Recebendo uma Companhia de
Fuzileiros Navais (CiaFuzNav) e um
Pelotão de Carros de Lagarta Anfí-
bios (PelCLAnf), a unidade poderia
organizar-se com uma CiaCC (a dois
pelotões) reforçada por um Pelotão
de Fuzileiros Navais (PelFuzNav)
embarcados em uma SecVtrBld, uma
CiaFuzNav (-) reforçada pelo
PelCLAnf e de um PelCC, ambas para
as ações principais, e uma CiaVtrBld
reforçada por um PelCC e elemen-
tos da CiaFuzNav para atuar como
elementos de reconhecimento, segu-
rança e economia de força ou reser-
va fraca. Note-se que, mesmo tendo
a Unidade cedido elementos de CC
ou VtrBld e não tendo recebido re-
forço de CLAnf, ainda assim será pos-
sível organizar-se pelo menos duas
peças de manobra para o Batalhão.
Além da infantaria e dos CLAnf, ou-
tros reforços de apoio ao combate e
ApSvCmb poderão ser necessários,
de acordo com a tarefa atribuída.
q A CiaCC (Ref) como peça
de manobra do CCT da BAnf
para um contra-ataque de desor-
ganização.
Recebendo um PelFuzNav em-
barcado em uma SecVtrBld ou em
4
Em atendimento a requisitos defensivos e/ou
de inteligência.
5
Terrenos cujas características restringem a
observação e campos de tiro.
6
Ampliando-lhes o poder de fogo, mobilida-
de, proteção e ação de choque.
7
Especialmente para a organização por tare-
fas e transcrição de ordens nos diversos pla-
nos.
8
Da CiaCC ou da CiaVtrBld.
2002 - O Anfíbio - 73
CLAnf, a Cia CC teria seus PelCC
e o PelFuz como elemento de mano-
bra. Semelhante à situação anterior,
a CiaCC, ainda que cedendo dois de
seus pelotões, poderia atuar com
flexibilidade.
q A CiaVtrBld (Ref) como
peça de manobra do CCT da
BAnf para a vigilância de um
flanco exposto.
Recebendo um PelFuzNav e um
PelCC, a CiaVtrBld poderia organi-
zar até quatro “pelotões blindados”,
mesclando CC, infantaria e VBTP,
enquadrados sob os quatro coman-
dos de pelotão então disponíveis.
q O Grupamento Blindado
(GptBld) da UAnf como peça de
manobra no reconhecimento em
zona.
Recebendo um PelFuzNav, o
GptBld poderia organizar até três “pe-
lotões blindados”, mesclando CC, in-
fantaria e VBTP, enquadrados sob os
três comandos de pelotão então dis-
poníveis.
q O PelVtrBld (Ref) da
UAnf como peça de manobra na
SEGAR.
Recebendo elementos de infantaria,
o pelotão organizaria até quatro “seções
blindadas” para o patrulhamento da re-
taguarda ou escolta de comboios.
q O PelCC (Ref) da UAnf co-
mo peça de manobra de uma
CiaFuzNav embarcada em CLAnf
na conquista de objetivo profundo.
Recebendo um Grupo de Com-
bate embarcado em CLAnf, o PelCC
poderia constituir a vanguarda da co-
luna da companhia e, no objetivo fi-
nal, realizar uma manobra desbordante
em terreno favorável aos carros.
Além dos exemplos acima descri-
tos, permanecem sempre disponíveis
as opções clássicas de emprego dos
blindados nas tarefas de apoio con-
forme anteriormente mencionado, sen-
do importante enfatizar-se que, em
função da estrutura do BtlBldFuzNav,
mesmo destacando elementos para
tarefas de apoio, o Batalhão e suas
subunidades ainda podem brindar
seus comandantes superiores com pe-
ças de manobra adicionais.
Não possuindo meios orgânicos de
apoio de fogo indireto, o BtlBldFuzNav
ou seus elementos subordinados
deverão receber os observadores
dos diversos sistemas de fogo quan-
do este for empregado como peça
de manobra. Especial acréscimo na
capacidade de combate da unida-
de seria, dependendo da organiza-
ção para o combate visualizada para
a artilharia, o reforço da unidade
pela BiaMrt120mm do Batalhão de
Artilharia de Fuzileiros Navais
(BtlArtFuzNav), cujo material pode-
ria ser rebocado pelas VBTP, que
também proveria o transporte do pes-
soal e dotação básica de munição.
Em adição ao que já foi aborda-
do em termos do emprego, faz-se
necessário os seguintes comentários
adicionais no tocante à CiaVtrBld:
w uma SecVtrBld apoiará um Pe-
lotão de Fuzileiros Navais embarcan-
do um GC em cada VBTP e o co-
mando do pelotão na quarta viatura,
sendo necessário, entretanto, que o
GC seja reduzido para até 11 milita-
res; o SG comandante da seção as-
sessorará o comandante do PelFuzNav
no emprego de suas Vtr.
w para o apoio a uma CiaFuzNav
deverá ser empregado um PelVtrBld,
reforçado por uma ou mais SecVtrBld,
de modo a garantir-se a unidade de
comando dos Bld e facilitar as relações
de comando com a tropa apoiada9 .
w de especial utilidade para o co-
mandante tático é a organização por
tarefas do “Destacamento de Reco-
nhecimento Blindado” (DstRecBld),
tendo como núcleo o PelVtrBld com
reforços diversos, para ações de re-
conhecimento, segurança e economia
de força. A Fig. 2 apresenta uma
idéia de sua estrutura básica.
w as VtrBld Comando tanto po-
derão ser empregadas em reforço a
unidades de infantaria ou em provei-
to do BtlBldFuzNav ou de suas com-
panhias, sendo necessário dois para
elemento de valor batalhão e uma
para subunidades.
w semelhante, as VtrBld morteiro
tanto poderão reforçar a infantaria
como, recebendo-se o reforço de uma
seção de morteiros, serem empregadas
em proveito do BtlBldFuzNav ou de
suas companhias.
w Os CCLSR Cascavel poderão
ser usados em ações complementa-
res até o encerramento de seu perío-
do de utilização.
Nas operações anfíbias (OpAnf)
o BtlBldFuzNav poderia ter seus ele-
mentos orgânicos inicialmente empre-
gados da seguinte maneira, obvia-
mente dependendo de cada situação:
q os CC deveriam estar nas pri-
meiras vagas, para, em conjunto com
os CLAnf, ampliar a potência do es-
calão de assalto da Força, devendo,
para tanto, serem pré-carregados em
embarcações de desembarque;
q as VtrBld, atuando como ele-
mento de manobra com os reforços
necessários, poderiam ser emprega-
das para a segurança de um flanco
ou para cobrir, com ações de reco-
nhecimento de zona, os intervalos
normalmente significativos entre os
elementos de manobra, para isto de-
sembarcando à retaguarda dos ele-
mentos de assalto e antes da reser-
va; de qualquer maneira, é fundamen-
tal que as VtrBld voltem a possuir es-
paços nos meios de desembarque em
nossas OpAnf; e
q tanto os CC quanto as VtrBld,
devidamente organizados por tarefas,
9
Não devendo ser empregados dois PelVtrBld
ou toda a CiaVtrBld embora possam ser ne-
cessários todos os VBTP.
2002 - O Anfíbio - 74
poderiam, precedendo os ele-
mentos de infantaria, também
ser empregados em primeiro
escalão para, efetuando ações
de reconhecimento de zona e/
ou reconhecimento em força,
buscar os pontos fracos do
dispositivo inimigo por onde
seriam empregados decisiva-
mente fortes elementos de
manobra nucleados pela infantaria.
Após estas ações iniciais, os mei-
os orgânicos do BltBldFuzNav exe-
cutariam as tarefas de combate, apoio
ao combate e apoio de serviços ao
combate anteriormente descritas.
De suma importância para o ade-
quado emprego de todas as poten-
cialidades que serão oferecidas pela
nova Unidade, será a presença de
uma adequada assessoria ao seu co-
mandante enquadrante. Deste modo
visualizamos a seguinte forma de de-
signar esta assessoria.
w na BAnf, sendo empregado o
Batalhão como um todo10 – o pró-
prio Comandante da Unidade;
w na BAnf, sendo empregadas as
subunidades isoladamente – o oficial
de operações do Batalhão;
w na UAnf – o comandante do
GptBld; e
w no ElmAnf – o comandante do
DstBld.
Em qualquer dos casos, o oficial
responsável pela assessoria sobre o
emprego dos blindados também se-
ria o assessor de Defesa Anticarro
(DAC) do elemento enquadrante.
O APOIO DE SERVIÇOS AO
COMBATE
O BtlBldFuzNav terá
limitada capacidade de
ApSvCmb, necessitando
de apoio externo para re-
forçar sua CiaCSv, de
Fig. 2
modo a poder durar em combate. A
capacidade logística do Batalhão
prevê:
w efetuar o abastecimento interno
da Unidade quando atuando como
um todo, por meio de uma Instalação
Logística Sumária (ILS);
w montar e operar locais de refu-
gio de feridos nas subunidades e na
ILS da Unidade;
w efetuar a manutenção preventi-
va e corretiva de seu material con-
forme determinado pelas normas em
vigor; e
w prover limitada capacidade de
transporte leve sobre rodas.
O ApSvCmb será prestado ao
BtlBldFuzNav por sua ILS, a qual se-
rá operada pelo PelSvG da CiaCSv,
devidamente reforçado. Um Proce-
dimento Operativo Padronizado
(POP) da Unidade definirá sua cons-
tituição e a forma de desdobramen-
to, entretanto, normalmente, a sua
principal característica deverá ser
uma grande mobilidade. O posicio-
namento da ILS atenderá aos requisi-
tos comuns aos de um BtlInfFuzNav,
segundo os fatores manobra, terre-
no, segurança e situação logística. A
ILS do Batalhão geralmente operará
sobre viaturas providas pelo Bata-
lhão Logístico de Fuzileiros Navais
(BtlLogFuzNav), somente desdo-
brando meios de estacionamento em
situações especiais e seu desloca-
mento, habitualmente, será realizado
de uma só vez.
Todo o esforço logístico feito pela
ILS do BtlBldFuzNav visará a for-
necer o suprimento de que a SU ne-
cessita, oportunamente e com um mí-
nimo de esforço para o elemento
apoiado, reduzindo o número de des-
locamentos dos elementos da SU à
ILS. Com essa finalidade, serão mon-
tados comboios, destacados da ILS
do Batalhão, denominados pacotes
logísticos (PACLOG), contendo o
suprimento indispensável a uma SU
para um determinado período de
tempo e para uma operação especí-
fica. O comandante da subunidade,
baseado nas ordens emiti-
das pelo comandante do
Batalhão, proporá: a com-
posição do PACLOG; o
horário de chegada no
Ponto de Recebimento do
10
Incluindo o seu comando.
2002 - O Anfíbio - 75
PACLOG e o intervalo de recebi- do e itens críticos de suprimentos. No
mento para os demais PACLOG caso da CiaCC, esta VBTP também
ao longo das operações. A Fig. 3 servirá de transporte para o Imedia-
apresenta a constituição de um to da companhia e possíveis obser-
PACLOG, o qual deverá ser vadores, além do pessoal e material
acompanhado de elementos de se- destinado ao ApSvCmb.
gurança ditados pelo nível da ame- Fig.3
aça esperada. COMENTÁRIOS FINAIS
Em termos de saúde, o belecidas pelo escalão superior. Em
BtlBldFuzNav não possuirá o pes- combate, a manutenção continuará Como visto, as possibilidades
soal necessário à montagem e ope- sendo uma preocupação de todos na apresentadas pela nova unidade tra-
ração de seu Posto de Socorro (PS), Unidade, enquanto a atividade de re- rão significativo incremento de flexi-
devendo a Unidade ser reforçada paro será restrita às ações que de- bilidade para os GptOpFuzNav. Den-
pessoal de saúde das BFN para ope- mandem pouco tempo de trabalho. tre as principais vantagens decorren-
rar o PS, o qual, entretanto, somente O material que não puder ser repa- tes do BtlBldFuzNav explicitamos a
será empregado quando a unidade for rado deverá ser enviado para a área facilidade na integração operativa dos
empregada como um todo. Caso de apoio à retaguarda, sendo substi- meios blindados, facilidades logísticas
tuído sempre que possível (sistema pela centralização da manutenção de
de troca direta). CC e VtrBld e flexibilidade de orga-
Quanto à manutenção, a existên- nização por tarefas.
cia das viaturas especializadas de so- Com o adestramento e desenvol-
corro e manutenção proverá grande vimento dos POP, a unidade certa-
flexibilidade à sua execução, permi- mente constituir-se-á em importante
tindo o emprego de equipamentos e ferramenta para o comandante tático
ferramentas especiais com grande ra- particularmente para as ações dinâ-
pidez e em condições de combate. micas do combate, conforme se ve-
As Vtr Bld SL (SK e M113) possu- rificou no emprego de Fuzileiros Na-
em sistemas análogos, com filosofias vais na recente Guerra do Golfo.
contrário, cada uma de suas compa- de manutenção semelhantes de ma- Ressalte-se também que as faci-
nhias operará o seu Local de Refú- nutenção, possibilitando o emprego lidades geradas pelo novo conceito
gio de Feridos (LocRefgFer), a ser de recursos humanos com a mesma de emprego de blindados serão de
guarnecido pelos enfermeiros da Uni- formação básica, bem como de ofi- fundamental importância para aumen-
dade. cinas com elevado quantitativo de tar o controle dos espaços no cam-
Os padioleiros são normalmente ferramental comum. po de batalha, aspecto considerado
elementos externos ao BtlBldFuzNav, As companhias do BtlBldFuzNav como uma constante preocupação da
que o reforçam. No entanto, a Uni- deverão também operar suas respec- tropa anfíbia devido aos grandes es-
dade poderá ser forçada a recorrer tivas ILS de SU. Para tanto, normal- paços normalmente decorrentes de
aos seus próprios padioleiros, deven- mente será empregada por cada uma sua missão.
do selecioná-los dentre seu pessoal delas uma VBTP, com elementos de Em suma, o BtlBldFuzNav, cuja
de apoio administrativo. Somente em suas respectivas seções de coman- ativação definitiva deverá ocorrer no
última instância deverão ser designa- início de 2003, colocará o
dos militares das PçMan e dos mei- CFN em melhores condições
os de ApCmb para essa tarefa. de cumprir suas tarefas em um
O BtlInfFuzNav executa somen- “combate moderno” tendo ca-
te o reparo e a manutenção de pri- pacidade tanto de conduzir
meiro escalão de todo o seu materi- suas ações dentro dos precei-
al, por meio dos próprios usuários e tos da chamada “guerra de
do pessoal especializado disponível, manobra”, como participar de
de acordo com as normas esta- combates de atrição.

2002 - O Anfíbio - 76
 Recentemente, em julho de
2002, ocorreu nos Estados Uni-
dos da América a primeira
Conferência Mundial de Líde-
res de Fuzileiros Navais (World-
wide Commandants’ Conferen-
ce). Tratou-se de um encontro
inédito entre os representantes
dos vários Corpos de Fuzileiros
Navais e de Infantes de Mari-
nha de todos os continentes, que
tinha como propósito promover
um fórum de debates com in-
tercâmbios de idéias e conheci-
mentos sobre DOUTRINA,
ORGANIZAÇÃO, ADESTRA-
MENTO e EQUIPAMENTOS
para condução de operações de
Fuzileiros Navais, enfocando os
desafios deste século. Há que se
considerar também os recentes
acontecimentos mundiais que,
certamente, terão influência
em nossos planejamentos mili-
tares. Sem dúvida, tratou-se de
uma oportunidade inigualável
de ampliar e aprofundar o co-
nhecimento recíproco entre os
participantes, com uma intensa
troca de experiências pro-
fissionais.
De um total de 39 países que
se tem conhecimento de possuir
tropa anfíbia, 32 comparece-
ram ao evento. Destes, somente
dois países – França e Nicará-
gua – possuem tropas subor-
dinadas ao Exército de suas
Forças Armadas, apesar de
possuírem características e
meios predominantemente an-
fíbios. Os demais países estão
enquadrados, de uma forma ou
de outra, dentro de suas Ma-
rinhas de Guerra.
De uma maneira geral as
tropas de Fuzileiros Navais com-
partilham:
Tropas Anfíbias pelo Mundo
CT (FN) PAULO SERGIO C. B. TINOCO GUIMARÃES
ü Missão e Metas – adotam os
mesmos princípios e se or-
gulham de pertencer às suas
respectivas Marinhas, dan-
do a estas flexibilidade de
emprego e uma força de
combate com elevado grau
de prontidão, provendo ao
poder político de cada Na-
ção uma eficaz ferramenta
militar, capaz de cumprir
extensa gama de tarefas,
que dificilmente estariam ao
alcance de outros segmentos
do seu poder militar;
ü Ideais Comuns – Apóiam-se
nos pilares da Honra, Inte-
gridade e Profissionalismo,
que embasam de forma in-
delével o nosso “Espírito de
Corpo”;
ü Futuro semelhante – por
apresentarem desafios se-
melhantes, buscam trocar
informações, apoiar-se mu-
tuamente, visando adaptar-
se as constantes mudanças
do século XXI. Procuram
trabalhar em comum acor-
do, visando a tornarem-se
mais eficientes, tática e tec-
nicamente, para um prová-
vel emprego em conjunto. Tal
tendência já é observada em
muitos países europeus, com
a formação de Forças Tare-
fas Anfíbias que englobam
meios e tropas de dois ou
mais países.
Durante a Conferência, ca-
da país teve a oportunidade de
realizar uma apresentação de
cerca dez minutos sobre seu
respectivo Corpo de Fuzileiros.
Este artigo fará um breve
resumo de quatro destas apre-
sentações, por julgar que são
pouco conhecidos de nossa
parte, no aspecto de organi-
zação e meios de fuzileiros na-
vais: FINLÂNDIA, PAQUIS-
TÃO, TAILÂNDIA, e UCRÂNIA.
FINLÂNDIA
Possui, na or-
ganização de suas
Forças Navais,
uma Brigada An-
fíbia conhecida
como UUSIMA/
N Y L A N D
BRIGADE, diretamente subordina-
da ao Comandante-em-chefe da
Marinha Finlandesa. Desde o ano de
1998, é a parte da Marinha respon-
sável pelo treinamento das novas
unidades costeiras da marinha, dentre
as quais os Batalhões Coastal Jaeger,
especializados e adestrados para o
combate nas áreas do arquipélago
finlandês, com suas lanchas rápidas
“G-boats”, e por unidades de infan-
taria, artilharia de costa e engenharia.
A língua oficial de treinamento nesta
Brigada é o sueco, visto que o ob-
jetivo é consolidar a Força Tarefa
Anfíbia Sueco-Finlandesa, a partir de
2002 - O Anfíbio - 77
2006. A Brigada está organizada nhia Anticarro, entre outras unidades.
com duas unidades de treinamento, A maior parte dos equipamentos
nível Batalhão, um Batalhão Coastal e armamentos utilizados pelo Royal
Jaeger e um Batalhão de Artilharia Thai Marine Corps são os mesmos,
de Costa. ou pelo menos compatíveis, com os
utilizados pelo USMC, com os quais
PAQUISTÃO realizam anualmente uma Operação
Os Fuzileiros Navais paquista- de grande vulto, o “COBRA GOLD
neses (PAK Marines) foram conce- EXERCISE”.
bidos com capacidade para realizar
uma gama variada de tarefas, que UCRÂNIA
incluem segurança de autoridades, Na missão da Infantaria Naval
reconhecimento e vigilância, ajuda Ucraniana estão incluídas algumas
humanitária e defesa do litoral. Tal
– RTMC) foi criado durante o domí- das seguintes tarefas: conduzir de-
diversidade proporcionou experiên- nio do Rei RAMA-III (1824 – sembarques anfíbios independentes,
cia suficiente para que participassem
1851). realizar operações de desembarque
de qualquer Operação de Manuten- Em 1951, como resultado de tur- conjuntamente com unidades do
ção de Paz, a cargo da ONU. bulências políticas internas, o mesmo exército, participar em Operações de
O primeiro Batalhão de Fuzileiros
foi dissolvido. Em julho de 1955 foi Paz, ações antiterrorismo, propor-
da Marinha do Paquistão foi consti-restabelecido e organizado nos mol-
cionar segurança e defesa de Bases
tuído em setembro de 1971 para des do USMC, marcando assim, o
Navais, ilhas, zonas do litoral, portos,
concretizar um sonho de operar na começo da era moderna do RTMC
campos de pouso e outros objetivos
parte oriental do país. Continuou a(notamos tal influência constatando a
julgados importantes.
existir de forma rudimentar até 1988,
semelhança no próprio símbolo dos
Criada no segundo semestre de
basicamente para proporcionar respectivos Corpos).
segurança às instalações de unidades Os impactos negativos da crise 1993, atualmente possui um efetivo
da Marinha Paquistanesa, naquela econômica pelo qual passou a de 2 mil fuzileiros, agrupados em uma
região. Devido a gradual expansão Tailândia em 1997 tiveram reflexos Brigada Anfíbia com dois Batalhões
de sua Marinha, o Batalhão foi em seu Corpo de Fuzileiros Navais, de Infantaria, subunidades de apoio
reativado em 1990, e a Força que conseguiu com habilidade ao combate e de apoio de serviços
acrescida de mais um Batalhão no preservar os seus equipamentos. ao combate.
ano de 1998, o “Creek Batallion”, Após este período buscou imple-
especializado em combater os mentar o sistema de “compradores
chamados crimes internacionais, inteligentes e usuários inteligentes”, o
como tráfico de drogas e armas, que permitiu prover uma Força de
entrada de imigrantes ilegais e o ter-
pronto-emprego para defesa dos
rorismo na região do Rio Indo, prin-
interesses do Reino da Tailândia.
cipal rio do país, e seus afluentes. Em 1999 possuía um Corpo de
Os PAK Marines recentemente Fuzileiros Navais com cerca de 20
incrementaram seus conhecimentos mil militares. Atualmente, o Corpo de
e experiências profissionais, graças
Fuzileiros Navais da Tailândia possui
a oportunidade de operar conjunta- um efetivo de cerca de 25 mil milita-
mente com o USMC na Guerra con- res, organizado em UMA DIVISÃO Cada Batalhão possui, além de
tra o Terrorismo, no vizinho Afega-ANFÍBIA que inclui dois regimentos duas Companhias de Fuzileiros, uma
nistão. de Infantaria, um regimento de Companhia de Pára-quedistas e um
Artilharia, um regimento de Apoio, Pelotão de Reconhecimento, este
TAILÂNDIA além de Batalhões de Reconhecimen- último com capacidade de desen-
O Corpo de Fuzileiros Navais da to, Engenharia, Comunicações e volver operações em áreas monta-
Tailândia (Royal Thai Marine Corps Viaturas Anfíbias, e de uma Compa- nhosas.

2002 - O Anfíbio - 78
 O Incremento do Apoio de Fogo Orgânico dos
Batalhões de Infantaria de Fuzileiros Navais –
O Morteiro 120mm é a Solução?*
CMG (FN-RRM) ARMANDO S. DE ANDRADE DA COSTA
CC (FN) WLADIMIR SOARES FRANCO
CC (FN) JÚLIO CÉSAR FRANCO DA COSTA
CC (FN) FRANCISCO ROZENDO DE ANDRADE NETO
CC (FN) PAULO JOSE PINHEIRO FILHO
CT (FN) MARCIO ROBERTO MOREIRA DA SILVA
CT (QC-FN) HAROLDO JOSÉ M. BUENO PAIVA
CT (FN) CLAUDIO VICENTE ISSA VIEIRA
CT (FN) FLÁVIO DOS SANTOS NASCIMENTO

“Há cinco maneiras de atacar com fogo. A primeira é queimar os soldados em

seus acampamentos; a segunda é queimar armazéns; a terceira é queimar comboios
de mantimentos; a quarta é queimar arsenais e paióis; a quinta é lançar fogo,
continuamente, sobre o inimigo”.
(Sun Tzu, a Arte da Guerra)

A história militar tem comprovado
a flexibilidade de emprego e o poder
de destruição dos morteiros nos
diversos ambientes operacionais.
Seus fogos, desencadeados com
elevada cadência, são eficazes contra
tropas inimigas bem posicionadas no
terreno e contra alvos desenfiados,
pouco vulneráveis aos fogos das ar-
mas de tiro tenso. Os morteiros pos-
suem características específicas
como leveza, robustez e simplicidade.
No Corpo de Fuzileiros Navais
(CFN) o Pelotão de Morteiros 81mm
(PelMrt81mm) e a Seção de Mor-
teiros 60mm (SecMrt60mm) são os
únicos meios orgânicos dos Coman-
dantes do Batalhão de Infantaria de
Fuzileiros Navais (BtlInfFuzNav) e
da Companhia de Fuzileiros Navais
(CiaFuzNav) capazes de apoiar com
fogos indiretos suas manobras táticas
ofensivas. Além desses, o CFN pos-
sui o morteiro 120mm, orgânico do
Batalhão de Artilharia de Fuzileiros
Navais (BtlArtFuzNav), empregado
para o apoio de fogo aos Grupa- O Apoio de Fogo
mentos Operativos de Fuzileiros
Navais (GptOpFuzNav), particular- O componente básico do poder
mente, nas ações de tropa isolada ou de combate é a tropa de Fuzileiros
que necessite de apoio de fogo Navais, à qual serão acrescidos o
adicional. apoio de fogo, a mobilidade, a
O BtlInfFuzNav tem sido alvo de proteção e a liderança, com a fina-
diversos estudos, dentre estes, o in- lidade de que esta obtenha a eficácia
cremento do seu apoio de fogo or- no fragor da batalha. Por sua vez, o
gânico. Neste enfoque, é debatido se poder de combate tem significado
dotá-lo com o Mrt120mm seria uma mediante a comparação de forças,
boa solução, considerando os aspec- sendo o apoio de fogo essencial para
tos táticos e logísticos que afetam esta destruir a capacidade e a vontade de
decisão. Este artigo não pretende lutar do inimigo. O emprego do apoio
propor uma solução definitiva para
este debate, tendo em vista as di-
versas situações de emprego dos
BtlInfFuzNav e as constantes ino-
vações tecnológicas dos armamentos
utilizados nos campos de batalha. A
proposta é abordar hipóteses de in-
cremento para o apoio de fogo or-
gânico do BtlInfFuzNav, com base em
suas características, possibilidades e
limitações; e evidencia a importância O morteiro 81mm durante a
execução do tiro contra uma posição
do emprego tático dos morteiros. inimiga

*Trabalho apresentado no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais do CFN - CIASC

2002 - O Anfíbio - 79
de fogo facilita a manobra, des- fogo orgânico dos BtlInfFuzNav de- perdas ao inimigo e favorecer a mo-
truindo, suprimindo ou neutralizando vemos estar atentos para as carac- bilidade da tropa apoiada.
armas e formações táticas inimigas, terísticas de emprego destas unida- No emprego tático desses mor-
desorganizando o seu movimento. des e suas tarefas básicas. O teiros, deve-se observar os princípios
Os fogos podem ser transferidos BtlInfFuzNav é a unidade básica de da iniciativa, profundidade, agilidade
rapidamente de um local para outro, combate capaz de planejar, ser re- e sincronização com a manobra.
dentro de uma área de operações, forçado e cumprir várias missões. Iniciativa – os morteiros contri-
batendo o inimigo nos flancos e na Suas tarefas básicas são localizar, buem para a obtenção e manutenção
retaguarda. cerrar sobre o inimigo e destruí-lo pe- da iniciativa, provendo fogos ime-
Para o seu emprego, o BtlInfFuzNav lo fogo e pela manobra e repelir o diatos de modo a interferir na ma-
pode valer-se de um sistema de ataque pelo fogo e combate aproxi- nobra planejada pelo inimigo e
apoio de fogo, portanto; além dos mado. O adestramento realizado é destruir suas forças, seja na ofensiva
morteiros, o Batalhão pode empre- baseado para o seu emprego a pé, ou na defensiva. Por sua vez, a ele-
gar em seu proveito o apoio de fogo com a finalidade de que atue em vada cadência de tiro mantida pelos
naval, os fogos de aviação e os fogos qualquer ambiente operacional. Pode morteiros e os efeitos desses fogos
de artilharia. Cada meio de apoio de ser empregado utilizando meios mo- dificultam a tomada de iniciativa pelo
fogo tem suas características parti- torizados, aéreos e blindados. inimigo. Morteiros são capazes de
culares que melhor o indica para O BtlInfFuzNav participa de O- apoiar ações bem próximo aos obje-
bater determinado alvo. Este sistema perações Anfíbias (OpAnf), Opera- tivos, de modo a atender às flutua-
de apoio de fogo, quando aplicado ções Terrestres (OpTer), Operações ções do combate e bater alvos não
sobre um alvo compensador, pode Aerotransportadas (OpAetrnp), atingidos por outras armas.
contribuir de forma significativa para Operações Ribeirinhas (OpRib), Profundidade – os morteiros pos-
que o BtlInFuzNav obtenha resulta- Operações de Segurança Interna sibilitam aprofundar o combate. São
dos decisivos. O Comandante do (OpSegInt) e daquelas ligadas à aju- capazes de bater posições inimigas
BtlInfFuzNav e os Comandantes das da humanitária, estando apto para fora do alcance das armas de tiro
CiaFuzNav devem empregar o apoio organizar-se para o embarque e o direto e em posições desenfiadas. As
de fogo disponível de forma coorde- desembarque em navios e aeronaves. granadas iluminativas empregadas
nada e integrada à idéia de manobra, Entretanto, seus elementos orgânicos concomitantemente com as alto-
de modo a assegurar a correta apli- lhe conferem apenas limitada mo- explosivas ampliam a profundidade
cação do poder de combate para o bilidade veicular e reduzidas capa- no combate noturno. Transportando
cumprimento da missão. A escolha cidades de defesa anticarro, de e- seus morteiros, elementos podem
da melhor arma de apoio de fogo é massar fogos com armas de tiro movimentar-se à retaguarda das
baseada na localização, natureza e curvo e de apoio de serviços ao posições inimigas com a finalidade de
características do alvo e na análise combate. Estas limitações são mini- atacar pontos vulneráveis e essenciais
comparativa das possibilidades das mizadas ou eliminadas quando o para o cumprimento da missão.
armas de apoio disponíveis. BtlInfFuzNav participa de organi- Agilidade – o reduzido peso dos
No combate moderno, o propó- zações por tarefas, recebendo o morteiros e sua simplicidade garan-
sito principal do apoio de fogo está apoio específico de outras unidades. tem rápidos deslocamentos e o en-
relacionado ao apoio ao movimento. gajamento imediato com elevado vo-
O apoio de fogo empregado de O Emprego Tático dos lume de fogos. Os morteiros atiram
forma adequada contra as vulne- Morteiros Orgânicos do a partir de qualquer terreno ocupado
rabilidades inimigas, numa aplicação BtlInfFuzNav pela tropa e podem transferir seus
sistemática da concentração de fo- fogos rapidamente. O BtlInfFuzNav,
Em termos de morteiros, o
gos, rápida e decisiva, pode contribuir quando empregado em terreno res-
BtlInfFuzNav possui organicamente
para o sucesso da manobra. trito, emprega o princípio da agilidade
o morteiro 81mm e o morteiro 60mm.
para adicionar poder de combate às
O Batalhão de Infantaria Estes executam fogos em apoio ao
Fuzileiro Naval durante suas ações e suas frações. O tiro vertical do mor-
de Fuzileiros Navais
permitem neutralizar o inimigo, ne- teiro e a capacidade de lançar fogos
Antes de analisar qualquer hi- gando-lhe o fogo e o movimento. Seus em 360º garantem ao Comandante
pótese de incremento do apoio de fogos são desencadeados para impor movimentar suas tropas rapidamente,

2002 - O Anfíbio - 80
sem a perda do efetivo apoio de fogo.
Os fogos fumígenos do morteiro li-
mitam a observação e dificultam a
agilidade das ações desencadeadas
pelo inimigo.
Sincronização com a manobra –
os fogos dos morteiros orgânicos
dos BtlInfFuzNav podem ser em-
pregados em sincronismo com as
outras armas e com a manobra, de
modo a maximizar as perdas sobre o
inimigo. A integração do morteiro
com as metralhadoras, armas anticar-
ro (AC) e armas leves dos PelFuzNav
produz um efeito combinado sobre
o inimigo maior que o simples soma-
tório destes fogos.
Os BtlInfFuzNav possuem uma
Companhia de Apoio de Fogo
(CiaApF), composta por um
PelMrt81mm, um Pelotão Anticarro
(PelAC) e um Pelotão de Me-
tralhadoras Pesadas (PelMtrP). O
PelMrt81mm é constituído de três
SecMrt81mm, a duas peças, que
podem ser transportadas a braço ou
por meio de viaturas leves. Seus
fogos, em princípio, são realizados
em proveito do BtlInfFuzNav.
Para garantir maior flexibilidade,
normalmente, o Comte do BtlInfFuzNav
emprega o PelMrt81mm de forma
centralizada. Entretanto, quando esta
centralização for inviável, devido a
condicionantes do terreno e ampli-
tudes das frentes estabelecidas, esse
poderá empregar este Pelotão (ou
suas Seções) sob o controle das
Organização da Companhia de
Apoio de Fogo
CiaFuzNav. Esta decisão depende da
análise da situação e da necessidade
de emassar fogos.
O ataque visa destruir a capa-
cidade de combater do inimigo,
momento em que o PelMrt81mm e
as SecMrt60mm participam como
um componente decisivo para o
sucesso das operações ofensivas.
No ataque, os morteiros são empre-
gados nas seguintes tarefas: neutra-
lizar ou destruir o inimigo; negar a
posse de terreno; limitar o movimento
inimigo; despistar; limitar a obser-
vação inimiga e iluminar a zona de
ação.
Na defesa, os morteiros são em-
pregados nas seguintes tarefas: di-
ficultar a organização e o posicio-
namento dos veículos blindados ini-
migos; desorganizar concentrações
de tropa inimiga; reduzir a mobi-
lidade; canalizar forças inimigas para
áreas favoráveis ao engajamento;
negar a ocupação de posições de-
senfiadas levando o inimigo para
áreas batidas por armas de tiro direto;
neutralizar armas de apoio inimigas;
dificultar a coordenação das armas
de apoio inimigas com a manobra e
apoiar a realização de contra-ata-
ques.
As CiaFuzNav dos BtlInFuzNav
possuem, em seus Pelotões de Pe-
trechos (PelPtr), uma SecMrt60mm,
a três peças, capazes de serem trans-
portados pelo homem através de
qualquer terreno.
Organização da CiaFuzNav
Os Morteiros
As armas pesadas incluem as de
calibre superior a 0.6 polegadas
(15,24mm). Os morteiros 60 mm, 81
mm e 120 mm são armas pesadas,
empregadas em apoio à infantaria,
com grande eficiência para bater
alvos desenfiados, com o tiro de
trajetória curva.
Os morteiros podem realizar o
tiro sobre tropa a partir de posições
próximas aos elementos avançados,
o que permite, em melhores
condições, concentrar e coordenar os
fogos em apoio à tropa de infantaria.
Os morteiros orgânicos podem
apoiar continuamente a idéia de
manobra do Comandante, indepen-
dente da situação das outras armas
de apoio. É possível seu embarque
em viaturas blindadas, sobre largatas,
sobre rodas ou seu transporte a
braço.
O CFN possui três modelos de
morteiro:
> o morteiro 60mm, M-60
BRANDT, de origem francesa, pro-
vê um apoio efetivo, eficaz e flexível.
As limitações inerentes a esta arma
(curto alcance
e pequena car-
ga explosiva)
podem ser mi-
nimizadas por
um planeja-
mento cuida-
doso e pelo
conhecimento
de suas pos-
sibilidades.
2002 - O Anfíbio - 81
 > o morteiro 81mm, M-29A1, Recentes inovações tecnológicas do apoio do fogo? Para o incremento
de origem norte-americana, possui têm permitido o desenvolvimento de do apoio de fogo devemos possuir
maior alcance e munições e armas com maior poder um armamento de maior alcance, de
utiliza cargas de destruição e alcance, sem alterar cadência de tiro mais elevada e que
de alto grau de as características básicas do arma- possua munição com maior poder de
letalidade. É mento (raiamento, calibre e outras). destruição.
leve e pode ser Atualmente, o uso de granadas es-
transportado a peciais permite que um mesmo mor- 1ª Hipótese – substituição do
braço por lon- teiro tenha o seu alcance máximo atual morteiro 81mm por morteiro
gas distâncias, com a opção de ser
desmontado em partes para facilitar
o transporte.
> o morteiro 120mm, K6A3, de
origem israelense, pode ser auto-re-
bocado ou transportado em viaturas
e reboques, supera em alcance e
poder de des-
truição os mor-
teiros 81mm e
60 mm. Seus
fogos podem
penetrar cons-
truções e destruir fortificações ini-
migas não muito resistentes, pre-
parando o terreno para os elementos
de assalto.

Granadas padrão e de
longo alcance.

O emprego de
granadas de significativamente incrementado. 120mm auto-rebocado nos Pelo-
longo alcance A seguir encontram-se listadas tões de Morteiros orgânicos dos
permite ao
morteiro 81mm, opções de fabricantes de morteiros BtlInfFuzNav.
m-8 Vektor, 81mm e 60mm com os respectivos
atingir alvos a
até 7.600m. modelos e alcances máximos. Com a substituição do morteiro
81mm pelo morteiro 120mm, nos
Hipóteses de Incremento PelMrt do BtlInfFuzNav, é possível
a utilização de um armamento com
Qual é o significado do incremento maior alcance e uma granada de
Dados técnicos dos morteiros existentes no CFN.
Mrt Alc Min (m) Alc Max (m) Cad.Max/Normal (TPM) Peso (Kg) Transporte Dotação Orgânica
60mm 100 1850 35/8 19 a braço 3/PelPtr
81mm 90 4512 12/10 38,60 a braço 6/PelMrt
120mm 180 7200 15/4 144/418 (*) auto-rebocado 6/PelMrt
(*) com transportador.

2002 - O Anfíbio - 82
maior calibre, que confere maior po-
der de destruição sobre o alvo. O au-
mento da capacidade de o Coman-
dante do Batalhão em intervir na
manobra por fogos e a possibilidade
de emprego centralizado do Pelotão
em larga frente, em apoio às ações
ofensivas e defensivas, são as prin-
cipais vantagens auferidas desta hi-
pótese. O aumento do alcance confe-
rido pelo morteiro 120mm garante
ainda maior flexibilidade.
Entretanto, a obrigatoriedade do
emprego de viaturas para o desloca-
mento das peças de morteiro 120mm
impõe uma séria limitação ao seu
posicionamento em qualquer tipo de
terreno. Particularmente, para a
realização das Operações Anfíbias,
em função dos meios de desembar-
que, o apoio às peças de manobra
do Batalhão, nos momentos iniciais
do assalto anfíbio, pode ser seria-
mente prejudicado.
O manuseio da munição 120mm,
envolvendo maior volume e peso,
exigirá do Fuzileiro Naval maior
esforço físico e do BtlInfFuzNav um
relativo aumento da capacidade das
funções logísticas abastecimento e
transporte.
2ª Hipótese - substituição do
atual morteiro 81mm por morteiro
120mm auto-rebocado nos Pe-
lotões de Morteiros orgânicos dos
BtlInfFuzNav; e a substituição do
atual morteiro 60mm pelo mortei-
ro 81mm nas Seções de Morteiros
orgânicas das CiaFuzNav.
O significativo incremento da
capacidade de os Comandantes do
BtlInfFuzNav e da CiaFuzNav em
intervir por fogos nas ações ofensivas
e defensivas, permitindo o aprofun-
damento dos fogos em melhores con-
dições, são as principais vantagens
desta hipótese. Os morteiros 120mm
e 81mm são armamentos que pos-
sibilitam atingir com fogos um inimigo
mais distante e suas granadas são de
maior poder de destruição, confe-
rindo maior grau de letalidade por
ocasião do impacto no alvo. Nesta
hipótese é possível consolidar os ob-
jetivos conquistados em melhores
condições e eficácia contra as ações
dinâmicas da defesa inimiga.
É importante ressaltar que dotar
a CiaFuzNav com morteiro 81mm,
de peso superior ao morteiro 60mm,
exigirá dos Fuzileiros Navais maior
esforço físico, o que pode compro-
meter a continuidade do apoio de fo-
go durante as ações ofensivas e por
ocasião do fogo e movimento. Além
do que, o emprego do morteiro 81mm
requer o trabalho de observadores
avançados (tiro indireto) e de uma
central de tiro, exigindo que o Fuzi-
leiro Naval, que pertence a um es-
calão essencialmente voltado para o
combate, desenvolva atividades com-
plexas, quando comparadas àquelas
relativas ao emprego do morteiro
60mm. No combate aproximado, as
flutuações do combate requerem
rapidez para o posicionamento das
peças do morteiro, visando à reali-
zação de fogos eficazes contra o ini-
migo, nesta situação verificamos que
o morteiro 60mm presta um impor-
tante apoio de fogo à CiaFuzNav.
Caso adotada esta solução, ha-
verá um significativo aumento das ati-
vidades de abastecimento de itens
classe III (quando a Seção estiver
apoiada por viaturas) e classe V.
Permanecem válidas as demais
considerações apresentadas na aná-
lise da hipótese anterior, relativas ao
PelMrt120mm, no tocante ao maior
alcance e poder de destruição, ca-
pacidade de intervir na manobra por
fogos e de emprego centralizado,
bem como as restrições à mobilidade
e à logística.
3ª Hipótese – a substituição do
atual morteiro 81mm por morteiro
81mm de maior alcance nos
Pelotões de Morteiros orgânicos
dos BtlInfFuzNav; e a substitui-
ção do atual morteiro 60mm por
morteiro 60mm de maior alcance
nas Seções de Morteiros orgânicas
da CiaFuzNav.
O incremento do apoio de fogo
orgânico sem prejuízo à mobilidade,
sem alterações das tarefas básicas e
das características de emprego do
BtlInfFuzNav e da CiaFuzNav, são as
principais vantagens auferidas por esta
hipótese. Nesta é possível manter a
atual capacidade do PelMrt81mm e
da SecMrt60mm de efetuar desloca-
mentos em qualquer terreno ou re-
giões que imponham limitada trafe-
gabilidade (áreas edificadas, alaga-
diças, ambientes ribeirinhos e outras).
A CiaFuzNav, que cumpre tarefas
essencialmente de combate, terá o in-
cremento do seu apoio de fogo sem
que seja necessária a realização de
operações complexas por parte do
Fuzileiro Naval durante o fragor da
batalha.
Nas Operações Anfíbias é comum
que logo após o desembarque o
BtlInfFuzNav e a CiaFuzNav neces-
sitem que seus morteiros estabeleçam
posições em terreno de difícil acesso.
No prosseguimento para o interior,
muitas vezes são exigidos desloca-
mentos, sem a possibilidade de em-
prego de viaturas, por terrenos alaga-
diços ou de mata densa; e não são
raras as transposições de rios ou obs-
táculos, sem o devido apoio da enge-
nharia; ou ações em áreas densa-
mente povoadas, com grandes quan-
tidades de escombros e de difícil
acesso. Essas eventualidades ocor-
rem durante o combate e irão reque-
rer que o Fuzileiro Naval guarneça o
morteiro 81 mm (ou o morteiro
2002 - O Anfíbio - 83
60mm) a braço e se desloque para
assumir uma posição favorável para
o apoio de fogo eficaz à manobra do
BtlInfFuzNav (ou da CiaFuzNav).
Esta hipótese contempla com o apoio
de fogo as circunstâncias inopinadas
descritas.
A princípio, esta hipótese não
exigirá novas necessidades relativas
ao apoio de serviços ao combate
prestado ao BtlInfFuzNav ou à
CiaFuzNav.
Considerações
Finais
A artilharia era, outrora, co-
nhecida como a “Ultima Ratio
Regis” – O último Argumento dos
Reis . Para a infantaria, o último ar-
gumento do mais moderno Fuzileiro
Naval é a arma que porta: o fuzil, a
baioneta, a metralhadora e o mor-
teiro. Depois que os Comandantes e
os Estados-Maiores planejaram, que
a Força de Desembarque foi or-
ganizada, reunida e embarcada, que
o apoio de fogo naval realizou a
preparação da praia de desembarque
e bateu as primeiras linhas de alturas,
que a aviação empregou seus fogos
contra o inimigo, é o Fuzileiro Naval
que com suas armas nas mãos
“arranca da trincheira o inimigo”.
Logo, são as armas orgânicas da in-
fantaria que a grande maioria dos
Fuzileiros Navais maneja, amaldiçoa,
traz na lembrança e mais tarde
recordações saudosas.
A infantaria é das armas a rainha
e a Operação Anfíbia a operação
mais complexa realizada. Nesta, o
poder de combate parte do zero
inicial e, paulatinamente, vão sendo-
lhe acrescidos meios até chegar ao
máximo. Neste processo gradual, o
Fuzileiro Naval dispõe princi-
palmente de suas armas orgânicas e
os fogos dos morteiros são funda-
mentais, pois conferem aos Co-
mandantes do BtlInfFuzNav e da
CiaFuzNav, flexibilidade para o
emprego de suas frações de forma
ofensiva e decisiva. No combate
moderno o apoio de fogo está intrin-
secamente relacionado ao movimento
da tropa que apóia e os Fuzileiros
Navais transportando seus morteiros
podem movimentar-se à retaguarda
ou para os flancos das posições
inimigas, com a finalidade de atacar
seus pontos vulneráveis e vitais.
Durante o fragor do combate apro-
ximado, quando as flutuações do
combate exigem rapidez e precisão
dos fogos, os morteiros são es-
senciais, pois com sua elevada ca-
dência de tiro, garantem agres-
sividade, impetuosidade e proteção
às ações dos Fuzileiros Navais.
Comparando as hipóteses de
incremento, verificamos que a pri-
meira, com a substituição do
morteiro 81mm pelo 120mm, a-
carreta maior alcance do apoio de
fogo prestado às ações ofensivas e
defensivas. A granada 120mm, de
maior calibre, confere também maior
poder de destruição. Entretanto, a
obrigatoriedade do emprego de
viaturas para o deslocamento das
peças impõe uma séria limitação ao
posicionamento de suas frações em
terrenos de difícil trafegabilidade.
Para a realização das Operações
Anfíbias, em função dos meios de
desembarque, o apoio de fogo do
morteiro aos elementos em primeiro
escalão, durante os momentos
iniciais do assalto, pode ser pre-
judicado.
Na segunda hipótese há sig-
nificativo incremento da capacidade
de os Comandantes do BtlInfFuzNav
e da CiaFuzNav em intervirem por
fogos nas ações ofensivas e de-
fensivas. Para a CiaFuzNav é
possível maior aprofundamento dos
fogos e a granada 81mm possibilita
maior poder de destruição sobre o
inimigo que a granada 60mm.
Entretanto, dotar a CiaFuzNav com
morteiros 81mm é imputá-la com
diversos outros fatores limitativos.
Para a segunda hipótese, serão
acrescidas ainda, as limitações des-
critas na primeira.
Com a substituição dos morteiros
81mm e 60mm por outros de iguais
calibres e de maiores alcances, como
abordado na terceira hipótese, é
possível o incremento do apoio de
fogo com a grande vantagem de não
serem alteradas as características de
emprego e as tarefas básicas de o
BtlInfFuzNav e da CiaFuzNav. Esse
incremento é decorrente das diversas
inovações tecnológicas dos morteiros
81mm e 60mm, que lhe conferiram
significativos aumentos em seus
alcances e granadas com maior poder
de destruição.
Este artigo tratou da importância
dos fogos dos morteiros em apoio às
ações dos Fuzileiros Navais e
apresentou hipóteses de incremento
do apoio de fogo do BtlInfFuzNav.
Não é o seu enfoque apresentar uma
solução definitiva para esse in-
cremento. Entretanto, qualquer so-
lução adotada deve contemplar um
morteiro que possa ser empregado
por uma tropa leve, versátil e com
grande mobilidade, como é o caso
dos Fuzileiros Navais.
2002 - O Anfíbio - 84
Educação, Formação, Cultura
Militar e Sociedade*
VICE-A LMIRANTE ARNANDO AMORIM FERREIRA VIDIGAL
1. A Evolução Tecnológica e
a Arte da Guerra
As transformações tecno-
lógicas, desde os tempos
mais primitivos, estão asso-
ciadas à arte da guerra: as
idades da pedra polida, do
bronze, do ferro correspon-
deram ao emprego de ar-
mas cada vez mais sofis-
ticadas, de crescente efi-
cácia, e à adoção de novas
técnicas para emprego des-
sas armas.
A partir, porém, da revolução
tecnológica, que teve início no fim do
século XVIII, as transformações se
multiplicaram e aprofundaram e,
conseqüentemente, se multiplicaram
e aprofundaram os seus efeitos sobre
a guerra. A partir da segunda metade
do século XIX, há uma nítida ace-
leração desse processo: o HMS
“Victoria”, lançado ao mar em 1859,
era uma fragata de três conveses, to-
talmente de madeira, propulsionada
apenas pela força do vento, armada
com 121 pequenos canhões de ferro,
sem conteira, alinhados ao longo dos
seus conveses, e que carregavam
pela boca projetis esféricos – sóli-
dos, de estilhaços, incendiários ou
explosivos (carregados com pól-
vora); já o HMS “Dreadnought”,
lançado ao mar em 1906, era um
navio de 18.000 toneladas, construí-
do em aço e com couraças do
mesmo material, provido de energia
elétrica, propulsionado por quatro
turbinas a vapor que lhe imprimiam
uma velocidade de 21 nós, e armado
com uma bateria principal de 10
canhões de 12 polegadas e com uma
bateria secundária de canhões de 12-
pounder1 e canhões de 3 polegadas
de tiro rápido, todos os canhões de
aço, alma raiada e carregamento pela
culatra, atirando projetis cilíndricos
com ogiva carregados com alto
explosivo.2 Uma extraordinária
evolução em apenas 47 anos.
Nesse mesmo período, novas
armas foram desenvolvidas: em 1867
Whitehead e Luppis inventaram o
torpedo auto-propulsado, que deu
origem às torpedeiras, pequenas
embarcações velozes e armadas com
esses torpedos, para atacar a linha
de batalha inimiga; para se contrapor
a essa nova ameaça surgiram os
contra-torpedeiros e a bateria se-
cundária dos grandes navios de linha;
aperfeiçoaram-se as minas marítimas,
evoluindo das minas de impacto para
as minas de fundo; apareceram os
primeiros submarinos; o carro de
combate fez a sua aparição nos
campos de batalha da 1ª GM, assim
como o avião; a metralhadora trouxe
a sua contribuição para o que se
chamou “guerra de trincheiras”; o
telégrafo sem-fio, permitindo comu-
nicações seguras a distâncias cada vez
maiores, levou a maior extensão
geográfica dos combates, tanto no
teatro de operações terrestre como
no marítimo; a 1ª GM viu ainda o
início da guerra química, com gases
tóxicos sendo empregados em larga
escala pelos dois lados.3
Posteriormente, prosseguiram, em
especial durante e após a 2ª GM, os
aperfeiçoamentos de alguns sistemas
de armas e sensores: o radar e o so-
nar que ampliaram a capacidade de
detecção de alvos na superfície, no
ar e até mesmo abaixo da superfície
do mar; os submarinos passaram a
usar o esnorquel, que permitia o
carregamentos das baterias mesmo
com o submarino mergulhado, e
adotaram a propulsão nuclear, que
lhes assegurava a capacidade de
permanecerem mergulhados por
longos períodos de tempo e uma
*
Palestra proferida na Comissão de
Defesa Nacional e Relações Exteriores
da Câmara dos Deputados – Agosto de
2002.
1 Que atiravam projetis pesando 12
libras.
2 A Evolução Tecnológica no Setor
Naval na Segunda Metade do Século
XIX e as Conseqüências para a
Marinha do Brasil”, Armando Vidigal,
Revista Marítima Brasileira - RMB 120
(10/12): 131-197, out/dez 2000.
3 Ibidem.
2002 - O Anfíbio - 85
excepcional velocidade, tornaram-se
verdadeiramente embarcações sub-
marinas e não apenas submersíveis;
os aviões, de simples plataformas
para observação do tiro da artilharia,
tornaram-se num dos mais po-
derosos instrumentos da guerra, com
maior raio de ação e maior capa-
cidade de transportar carga e, por-
tanto, melhores e mais sofisticados
sistemas de armas, e com maior
velocidade graças ao uso da pro-
pulsão a jato; os satélites artificiais,
em sua extraordinária capacidade de
obter informações; etc, etc.
Novas armas foram desen-
volvidas, como os foguetes alemães
V-1 e V-2, as famosas bombas
voadoras que arrasavam Londres
durante a 2ª GM; os revolucionários
mísseis, para todo o tipo de emprego,
e para distâncias até intercon-
tinentais; o armamento nuclear tático
e estratégico; as bombas inteligentes,
guiadas até o alvo com enorme
precisão; as armas biológicas; as
aeronaves sem piloto que assinalam
o início do emprego da robótica no
campo de batalha; e assim por
diante.
A micro-eletrônica e a informá-
tica, associadas aos satélites, estão
revolucionando as comunicações e
os sistemas de comando e controle,
criando uma nova dimensão: a
eletromagnética.
Não é apenas o hardware que
está mudando. A maneira de em-
pregar os novos meios disponíveis –
tanto tática como estrategicamente -
está em constante evolução embora,
é forçoso reconhecer, os princípios
da guerra pouco tenham mudado. A
revolucionária “blitzkrieg” alemã da
2ª GM – emprego conjugado de
carros de combate e aviões de
mergulho e um eficiente sistema de
comunicações (não muito diferente
do emprego que Napoleão fez da
cavalaria em Marengo, Wagram,
Ansterlitz, etc) – deu lugar ao con-
ceito estratégico empregado por
Israel na Guerra dos Seis Dias (1967)
e na do Yom Kippur (1973), que
consiste no emprego integrado das
forças terrestres e aéreas (batalha
aeroterrestre, assim numa única
palavra para ressaltar a integração
entre os dois elementos), mantendo
o inimigo permanentemente sob
pressão de modo que ele não possa
reagir, deixando as unidades
terrestres com ampla liberdade para
a exploração das oportunidades que
possam surgir no transcurso da
batalha. O conceito israelense,
modificado, é hoje o conceito es-
tratégico dos EUA. Com o propósito
de evitar ao máximo baixas ame-
ricanas (efeito da síndrome do Viet-
nã), os americanos fazem preceder a
ação terrestre por um bombardeio
estratégico intenso e prolongado.
A Guerra do Golfo é o primeiro
confronto de uma nova era tec-
nológica:
“Sensores e atuadores,
operando em espectros
eletromagnéticos, interfe-
riram nas comunicações,
neutralizando sistemas de
defesa e garantindo uma
supremacia eletromagné-
tica, com vistas à anulação
de pontos vitais de defesa e
do sistema logístico. O re-
sultado foi o envolvimento
quadridimensional (carac-
terizado pelo domínio das
três dimensões espaciais e
da dimensão eletromagné-
tica) estabelecido pelos alia-
dos, que inibiu o poder mi-
litar de Saddam Hussein e
que reduziu o Iraque a um
contendor cego, surdo,
mudo, imobilizado e des-
provido de vontade de lu-
tar ...”4
A Guerra do Golfo demonstrou,
sem sombra de dúvida, que a
supremacia tecnológica é decisiva no
campo de batalha, tornando inevi-
tável a derrota do tecnologicamente
atrasado.
2. Do cidadão-soldado ao
soldado profissional
A sofisticação das novas armas e
a maior liberdade do soldado para
tomar decisões ad-hoc tornaram
evidente a necessidade de preparar
os homens que fazem a guerra para
esse novo cenário de alta tecnologia
e complexidade.
A substituição do soldado mer-
cenário por conscritos – cidadãos-
soldados – que ocorreu nas Guerras
da Revolução Francesa (1789 –
1802)5 que precederam as guerras
napoleônicas, criou os primeiros
exércitos nacionais. O sucesso des-
ses exércitos, que enfrentaram toda
a Europa, deveu-se não a qualquer
superioridade tecnológica mas à sua
incontestável superioridade moral:
4 “Guerreiros Técnicos são
necessários?”, Gal. José Carlos Albano
de Amarante, Revista do Clube Militar,
Junho 2002, p. 14 e 15.
5 “The Art of War of Revolutionay
France – 1789 – 1802”, Paddy Griffith,
Greenhill Books, London & Stackpole
Books, Pennsylvania, 1998, 304 p.
2002 - O Anfíbio - 86
eles lutavam para levar a todos os
homens os ideais de igualdade,
liberdade e fraternidade formulados
pela revolução. Lutando sob esta
bandeira, apesar das suas deficiências
de ordem militar (a elite do exército
francês estava exilada), tornaram-se
invencíveis.
Hoje, porém, a conscrição já não
parece a melhor solução. O soldado
profissional é a melhor resposta para
os desafios trazidos pela tecnologia
aplicada à guerra.
A Guerra das Malvinas (1982)6
demonstrou, de forma inequívoca, a
superioridade dos soldados profis-
sionais britânicos sobre os bisonhos
e despreparados recrutas argentinos,
conforme reconheceram os próprios
argentinos depois do conflito.
Apesar dos custos mais elevados
para a manutenção de forças arma-
das profissionais – maiores investi-
mentos na formação e necessidade
de oferecer mais vantagens para
disputar no mercado o pessoal de
melhor nível – sob o ponto de vista
exclusivamente militar não há mais
lugar no exército de hoje para
conscritos. É uma realidade da qual
não se pode fugir.
No Brasil, a Marinha e a Força
Aérea são constituídas basicamente
por profissionais, com um pequeno
percentual de conscritos. O caso do
Exército é diferente, já que depende
fundamentalmente dos conscritos
para a constituição da tropa, embora
disponha de quadros nos diversos sionais deve ser revista à luz das
escalões de comando formados experiências recentes. Trata-se de
essencialmente por profissionais.
Há, entretanto, algumas conside- incerteza, um cenário em que a prin-
rações que devem ser feitas antes de cipal característica é a permanente
se concluir que, por interesse militar, mudança.
o serviço militar obrigatório deva ser Na verdade, essa realidade não
extinto. se aplica apenas na área militar mas
em todos os campos de atividade.
Num país com a nossa extensão
territorial, o nível de desenvolvimento É por essa razão que os países
não é igual em toda a parte. Há mais desenvolvidos voltaram-se para
regiões do país em que a conscrição a economia do conhecimento, que
é o único instrumento que dá a uma procura difundir o conhecimento pa-
legião de jovens a possibilidade de ra todos os setores da economia e
acesso à instrução, à profissio- da população (revolução da infor-
nalização e, conseqüentemente, de mação, no sentido de dar acesso a
ascensão na escala social. Se na todos os segmentos da população das
cidade grande a prestação do serviço novas tecnologias, como o compu-
militar obrigatório parece um es- tador), de forma a acelerar o desen-
torvo 7 , no interior do país é visto co- volvimento tecnológico do país. A
mo uma benção, uma oportunidade integração entre empresas, univer-
(a possibilidade de restringir o sidades e militares torna-se um ele-
serviço militar àqueles que queiram mento essencial para o rápido de-
fazê-lo é uma possibilidade que deve senvolvimento do capital humano,
ser discutida).8 através da educação, dentro do
espírito da reeducação permanente.
O papel social das forças ar- Nos países mais desenvolvidos, as
madas, tão pouco conhecido por atividades ligadas à geração e trans-
certos formadores de opinião que só missão de conhecimento já res-
conhecem o ambiente das grandes pondem por mais 50% do PIB.
cidades, é importante para o país e Países emergentes, como a Coréia e
em grande parte ele é exercido a China, que hoje crescem às mais
através do serviço militar obri- altas taxas, já têm programas para
gatório. desenvolver a economia do co-
nhecimento.9
Somente depois que o desen-
volvimento tenha alcançado esses 6
“Conflito no Atlântico Sul”, Armando
pontos isolados do território nacional Vidigal, RMB 107 (10/12): 9-50, out/
poderemos pensar em pôr fim à dez 87.
conscrição e profissionalizar, como é 7 Na atualidade, devido à crise
do interesse militar, as forças ar- econômica, isso já não é mais verdade,
sendo crescente o interesse dos jovens,
madas.
certamente os mais pobres, de fazer o
serviço militar.
3. A Única Certeza, é a 8 A “regionalização” do Exército,
Incerteza tornando-o menos “nacional”, pode
ser um obstáculo. Deve-se também
considerar que o voluntariado para a
A própria formação de profis-
prestação do serviço militar carreará
para as forças armadas apenas os
menos capazes, com sérios prejuízos
preparar o homem para atuar num para a eficácia dessas forças. O
cenário em que a única certeza, é a voluntariado com a profissionalização
já é outra coisa
9 “A economia do conhecimento”, João
Paulo dos Reis Velloso, O Globo, 30/
05/2002.
2002 - O Anfíbio - 87
 No âmbito das forças armadas,
trata-se de enfatizar a formação e o
preparo do pessoal com vistas a um
processo permanente de educação.
Isso de certa forma já ocorre na
prática atual, já que os militares, após
o período de formação inicial, vão
tendo acesso aos postos mais altos
da carreira através de uma série
sucessiva de cursos que os qualificam
para as novas funções e respon-
sabilidades, num processo contínuo,
de acordo com os princípios da
economia do conhecimento.
Isto, porém, ainda não é o sufi-
ciente. A conquista de graus uni-
versitários – pós-graduação, mestra-
do, doutorado – pelos oficiais, é
prática comum nos países mais avan-
çados, para atender às exigências
criadas pela “revolução em assuntos
militares” no que diz respeito ao
preparo do pessoal, em perfeita
consonância com a economia do
conhecimento.
4. Humanizando a tecnologia
O processo permanente de re-
educação militar está de acordo com
as exigências de um mundo em
constante mudança em função da
evolução tecnológica. Há, entretanto,
necessidade de uma revisão de certos
aspectos do processo para que ele
possa transcender o nível meramente
tecnológico, apesar de toda im-
portância que , indubitavelmente,
ele tem.
Há necessidade de temperar a
formação tecnológica com uma certa
dose de humanismo (tecnologia
humanística), de forma que o novo
soldado possa transcender as suas
limitações atuais em termos de visão
estratégica e tomar decisões em
ambiente de permanente mudança,
que é o ambiente com que ele vai mais avançado nos estágios iniciais
conviver. Quanto mais alta for a sua de projeto – enquanto a ciência evolui
posição hierárquica, mais importante de maneira muito mais lenta.
é a sua capacitação para além do
nível puramente tecnológico. É comum que no período de
formação se aprendam diversas
Distinguimos três importantes técnicas que, por razões óbvias, não
segmentos na formação e preparo do podem ser imediatamente aplicadas
militar: o cívico-moral, o técnico- pelo aluno e por não o serem, serão
científico e o humanístico. rapidamente esquecidas, já que a
técnica só se mantém quando
A formação cívico-moral é, sem fazemos uso dela. Com os princípios
sombra de dúvida, o mais importante científicos não ocorre a mesma coisa.
segmento na formação militar. Ele é
responsável pela retidão do caráter Há ainda que considerar que é
e o patriotismo que, com poucas fácil adquirir uma dada tecnologia
exceções, são características da quando se necessita dela: durante a
classe militar, embora, evidentemente, 2ª GM, lançando mão de homens
não sejam exclusivas delas. O com uma boa formação acadêmica
sucesso obtido até agora nesse mas sem experiência prática es-
segmento não significa, entretanto, pecífica, os americanos, em pouco
que ele não possa ser melhorado. mais de três meses, foram capazes
de preparar pessoal para o exercício
Seria importante complementar o de inúmeras tarefas militares que
que já é feito com a introdução de exigiam o domínio de técnicas de
certas noções de ciência política, certa complexidade, obtendo ex-
valorizando-se os princípios da celentes resultados.
democracia, em especial a sua
capacidade de um constante auto- Conhecimentos sólidos de física,
aperfeiçoamento; a independência e mecânica, eletricidade, termo-
cooperação entre os três poderes; e dinâmica, etc, devem ser transmitidos
a subordinação do poder militar aos nos cursos de formação, mesmo que
poderes constituídos (uma con- se tenha de sacrificar conhecimentos
seqüência do princípio de Clausewitz puramente técnicos – que serão
de subordinação da estratégia à facilmente aprendidos e fixados mais
política). Essa medida contribuirá tarde quando o exercício das funções
para consolidar os ideais da de- o exigir.
mocracia multipartidária entre os
homens de armas. É nos cursos de especialização ou
aperfeiçoamento que se dará ênfase
O segundo segmento – a à tecnologia, já que sua aplicação será
formação técnico-científica – deve imediata e aplicável aos equi-
valorizar mais a ciência do que a pamentos então existentes, pos-
tecnologia, já que a tecnologia está sivelmente diversos dos que existiam
em permanente mudança – a rapidez à época da formação.
das mudanças é de tal ordem que,
tão logo deixa a prancheta do O estudo do processo decisório,
projetista, o produto já está se da tática e da estratégia militares, e
tornando obsoleto porque há um outros semelhantes – embora
2002 - O Anfíbio - 88
algumas noções possam ter sido
vistas durante os cursos de formação
– terá lugar nos cursos de estudos
superiores nas escolas de comando
e estado-maior e de guerra naval, em
dois níveis: o de Comando e Estado-
Maior e o de Política e Estratégia (um
curso de altos estudos que prepara
os oficiais para os mais elevados
postos na carreira).
O primeiro desses níveis é
ministrado na fase em que o oficial
subalterno, voltado especialmente
para as funções técnicas, começa a
se preparar para uma etapa superior
da carreira em que vai exercer
funções em estado-maior ou co-
mandar, quando o até então fiel
executor de ordens inicia uma
transformação que o preparará para
ser o responsável pela emissão das
ordens e sua execução pelos
escalões subordinados. Ele se
prepara para não ser apenas o re-
transmissor de ordens mas o que as
formula.
O terceiro segmento – a formação
humanista – é aquele do qual estamos
mais carentes. A nossa omissão
decorre de uma visão errônea de que
os conhecimentos técnico-científicos
são, junto com a formação cívico-
moral, os únicos indispensáveis para
a formação de chefes militares.
Eu discordo desta visão e tenho a
convicção de que as dificuldades que
temos encontrado no nosso re-
lacionamento com a sociedade
decorrem, em boa parte, da falta de
“humanização” da carreira militar (não
que o outro lado não necessite
também de alguma correção).
considerar que nenhum curso é
Acredito que a História – não a suficientemente longo para transmitir
história dos reis e das batalhas mas a tudo o que é realmente necessário
análise da permanente adaptação do para formar um chefe militar (isso
homem às circunstâncias que o certamente é também válido em
envolvem – e a Filosofia – não a qualquer carreira civil). O papel dos
história da filosofia mas a discussão que atuam na formação dos futuros
das questões transcendentais para chefes é o de estimular o interesse
todo o homem nas suas relações com deles para que, por sua própria
outros homens e com o universo em iniciativa, procurem aumentar o nível
que se encontra – são matérias de seu conhecimento, através da
básicas, essenciais para a formação leitura e da reflexão.
de qualquer pessoa, mormente para
aquelas que precisam desenvolver a A noção paternalista de que tudo
capacidade de liderar homens em deve ser ensinado é falsa: o grande
situações limites, como são as papel do educador é estimular o
situações de guerra. Noções de aprendiz a procurar respostas para
psicologia, sociologia são também as suas indagações, através do seu
necessárias. próprio esforço. Nas nossas escolas
de formação precisamos criar o
Creio que estes acréscimos ambiente propício para isso.
podem ser feitos sem a necessidade
de aumentar os cursos de formação: 5. As Limitações da Tec-
o tempo ganho com a eliminação de nologia
certas matérias técnicas, conforme
sugerido anteriormente, poderia ser As nossas justas preocupações
usado com essa finalidade. com os avanços da tecnologia não
devem, porém, levar-nos a esquecer
Devemos nos lembrar que a as limitações da tecnologia.
apresentação oral numa sala de aula
não é a única forma de transmissão A derrota dos EUA no Vietnã, o
de conhecimento: conferências, fracasso da União Soviética no
simpósios, discussões dirigidas, Afeganistão e parcialmente na
filmes comentados, etc, são recursos Chechênia, são exemplos de que a
válidos e devem ser largamente superioridade tecnológica, mesmo
empregados. O intercâmbio entre as quando absoluta, não é o único fator
escolas militares e as universidades é determinante do resultado do conflito.
um magnífico recurso, e serve de
base para um futuro relacionamento Quando a organização política e
entre civis e militares sem as atuais social tem um razoável grau de
mútuas incompreensões. flexibilidade, por não estar muito
avançada – caso do Vietnã,
A presença de oficiais nas uni- Afeganistão e Chechênia – a guer-
versidades para os cursos de pós- ra de guerrilha é uma possibilidade e
graduação, mestrado e doutorado este é um tipo de guerra que elimina
contribuirá, significativamente, para a praticamente as vantagens de-
“humanização”. correntes de uma superior tecnologia.
Finalmente, é importante Na atualidade, Israel não con-
segue alcançar seus objetivos
políticos e militares no conflito com
os palestinos, apesar de sua absoluta
hegemonia em equipamentos e
2002 - O Anfíbio - 89
tecnologia. O terrorismo como
método de ação política, espe-
cialmente se conta com elementos
suicidas como é o caso, torna-se
invencível, como Ariel Sharon teima
em não compreender.
O fim da invulnerabilidade dos
EUA a agressões externas, com os
atentados às duas torres gêmeas do
World Trade Center e ao Pentágono,
é uma prova eloqüente das li-
mitações da tecnologia. Os ter-
roristas não necessitaram de so-
fisticadas armas de destruição em
massa para atingir os seus objetivos:
aviões civis carregados de com-
bustível, seqüestrados em pleno
vôo, conduzidos por terroristas
suicidadas foram suficientes para
provocar uma tragédia que abalou
os EUA e o mundo. O mais para-
doxal é que mesmo que estivesse
pronto o mais poderoso e complexo
escudo antimíssil ora em desen-
volvimento, construído com a mais
sofisticada tecnologia que se possa
imaginar, a um custo assustador,
mesmo assim nem uma única vítima
teria sido poupada do desastre de
11 de setembro de 2002.
6. Os Militares e a Sociedade
A partir de 1964, quando os
militares assumiram o poder político,
criou-se um fosso entre os militares
e certos setores da sociedade, em
especial o acadêmico e o dos homens
de imprensa. Como estes setores são
poderosos e controlam as cátedras
e os meios de comunicação, há uma
falsa impressão de que a sociedade
repudia as forças armadas. Essa idéia
é falsa porque em qualquer pesquisa
de opinião, quando se pergunta qual
o segmento mais confiável para a
população, as forças armadas têm
sido invariavelmente indicadas à
frente de todos os demais segmentos, restres, marítimas e aéreas; a
igrejas inclusive. sociedade sabe que pode contar com
os militares nas situações de cala-
Para um país que desde 1870 midade pública e aprova a maneira
não se envolve em conflitos externos como eles atuam.
– a intervenção na 1ª e 2ªGMs, só
envolveu alguns contingentes das Entretanto, a minha autocrítica faz-
forças armadas sem que a nação me acreditar que essas relações po-
participasse – só se pode explicar a derão ser ainda melhores se fizermos
confiança da sociedade nas forças o esforço de “humanização” que pro-
armadas pela sintonia dos militares pusemos.
com parcelas significativas da
sociedade. Uma das principais razões Há algumas medidas de ordem
para isso é o fato de que a carreira prática, já em curso, que trazem uma
militar é aberta para todos os seg- importante contribuição para a melhor
mentos sociais, ricos e pobres, inde- interação entre civis e militares:
pendente de credo, raça ou cor. Nes-
Ä as forças armadas vêm ad-
se aspecto, os militares são um dos
mitindo nos seus quadros
segmentos mais democráticos da
de oficiais um certo contin-
sociedade e com maior consciência
gente de pessoal prove-
social (em nenhum outro setor, a
niente, não de suas escolas
razão entre o vencimento do mais alto
de formação, mas das uni-
e mais baixo posto é menor). O
versidades, o que poderá
acesso por mérito é não só justo mas
servir como um contra-
democrático.
ponto à nossa formação
tecnológica; e
De uma maneira geral, a so-
ciedade, embora – o que é temerário Ä a presença da mulher nas
– não acredite em ameaças externas, forças armadas representa
conhece e aprova o papel das forças uma evolução bem-vinda,
armadas na integração do país, trazendo uma contribuição
guarnecendo postos nas regiões mais importante para a “huma-
isoladas e inóspitas, afastadas de todo nização”, graças a certas
o conforto da civilização, onde dão características do sexo fe-
assistência às populações mais de- minino que são, apenas
sassistidas do país, cujo único vínculo aparentemente, incompa-
com a cidadania é através das forças tíveis com a natureza militar:
armadas; a sociedade conhece e a fragilidade física associa-
aprova o esforço das forças armadas da à extraordinária força
para o desempenho de tarefas não- moral, a ternura, a capaci-
militares, mas essenciais para o país, dade de compreender e
como a manutenção de uma extensa perdoar; essas caracterís-
rede de auxílios à navegação ticas, em contraponto com
aquaviária e aérea, a prestação de as virtudes masculinas,
socorro marítimo na enorme região enriquecerão a experiência
onde essa atividade é da respon- militar, em nada afetando a
sabilidade do Brasil; a atuação para sua eficiência em combate
a prevenção do contrabando e do até, pelo contrário, contri-
descaminho em nossas fronteiras ter- buindo para torná-la maior.
2002 - O Anfíbio - 90
 SOCIEDADE E
DEFESA
PASSADO, PRESENTE E TENDÊNCIAS
CF (FN) P AULO M ARTINO ZUCCARO

“Procurei o que constituía a especificidade das relações internacionais

e julgo ter encontrado este traço específico na legalidade e na legitimidade
do recurso à força armada por parte dos atores”
Raymond Aron - 1967

Desde que assumiu o papel de criatura dominante do planeta Terra, o homem vem
utilizando-se de outras espécies para sua alimentação, transporte, experimentação científica
e muitas outras finalidades.
Além disso, tem tido o ser humano uma relação bastante conflituosa com os demais
exemplares de sua própria espécie. Mesmo avançando constantemente no aprimoramento
de suas estruturas sociais, têm ocorrido conflitos tanto intra como inter-grupos, em um
amplo espectro de intensidades, variando desde disputas puramente comerciais até alguns
casos de extermínio.
O propósito do presente artigo é fazer uma sucinta resenha acerca das relações entre as
formas de organização social que a humanidade vem adotando e os correspondentes
arranjos bélicos, procurando-se, ao final, conduzir uma síntese conclusiva, de modo a
evidenciar traços constantes ao longo do tempo e a apontar ensinamentos úteis para o
nosso país.
O artigo tratará apenas dos arranjos bélicos voltados aos conflitos inter-grupos,
considerando que, normalmente, os casos de conflitos internos aos grupos ou violações ao
seu direito interno sejam de natureza policial ou, no máximo, constabular*.

DESENVOLVIMENTO do muito antes, é

As Primeiras Organizações apenas a partir do fim
Sociais e seus Mecanismos de da última era glacial
Defesa que o homem tem
deixado rastros mais
Certamente os primeiros com- significativos de sua
batentes foram os humanóides pri- vida em grupo, o que
mitivos. Nem sempre socialmente lutava unicamente pela defesa de sua nos remete para aproximadamente
organizados, aquelas criaturas tinham vida. 11.000 AC.
que caçar e lutar para não serem ca- É difícil precisar o momento em Conforme foi tomando cons-
çados. Suas armas eram também que surgiram as primeiras formas de ciência de que a sua maior oponente,
suas ferramentas. O caçador-com- organização social. Ainda que a his- a morte, era imbatível e sempre pre-
batente era desprovido de valores e tória da humanidade tenha começa- valeceria, o homem pouco a pouco
* veja quadro na pág. seguinte

2002 - O Anfíbio - 91

*O termo “constabular”,
não consagrado no uso cor-
rente da Língua Portuguesa,
procura definir uma forma de
transição entre a ação policial
e a militar. Aparentemente,
trata-se de um conceito de
origem norte-americana,
vinculado históricamente à
manutenção da ordem nas
colônias ao final do século
XIX e também nas zonas
recém-ocupadas pelos alia-
dos na 2a Guerra Mundial,
justamente, para preencher o
vácuo de poder produzido
pelo deslocamento da frente
de combate para diante,
deixando para trás um ter-
ritório onde foi extinta a au-
toridade policial original.
Atualmente, chama-se
constabular a ação do Estado
na proteção de fronteiras, na
luta contra o terrorismo e na
imposição da lei em zonas ins-
táveis, principalmente. São
consideradas tipicamente
constabulares: o Royal Ulster
Constabulary (Irlanda do
Norte), o Corpo de Carabi-
neiros da Itália, a Gendarme-
ria da Holanda e a Real Polícia
Montada do Canadá, dentre
outros. No Brasil, a ação
constabular é conduzida fun-
damentalmente pela Polícia
Federal. (Fonte: painel “Re-
laciones Cívico-Militares en
Operaciones de Paz: Identi-
ficando una Nueva Filosofia
para las Fuerzas Armadas”,
proferido por Ricardo Enrique
Neeb Cantarero, no evento
“Research and Education in
Defense and Security Studies”
– Brasília, 07 a de 10 de
agosto de 2002).
passou a valorizar conscientemente subjugo definitivo, conformando-se
a sua prole e, portanto, a sua família, um sistema bastante similar ao
já que deixar descendentes seria a conceito doutrinário atual de defesa
única maneira possível de ludibriar a de área na variante de defesa
sua eterna inimiga. Com isso, surgi- circular.
ram novas boas razões para lutar: Os Impérios
da Antiguidade
filhos, reprodutoras, utensílios e
territórios.
Com o desdobramento das famí- Ainda na antiguidade, a huma-
lias em estruturas maiores, tais como nidade conheceu os primeiros gran-
os clãs e as tribos, novas necessi- des impérios, tais como o romano e
dades de defesa foram surgindo, o egípcio. Conformavam organiza-
ções sociais sofisticadas e altamente
uma vez que passaram a existir cada
militarizadas.
vez mais bens materiais de uso
comum e, tão ou mais importante do Sua constituição teve como base
que isso, vínculos de afinidades a o desenvolvimento da agricultura e
serem ameaçados por outros agru- pecuária, abandonando-se o simples
pamentos humanos dotados de di- extrativismo. A existência de exce-
dentes agrícolas permitiu o sustento
ferentes características físicas, neces-
de cientistas, escribas, políticos e mi-
sidades conflitantes e, porque já não
dizer, valores culturais dissonantes litares, já que deixava de ser neces-
(hábitos, crenças, costumes...). sário que cada indivíduo cuidasse de
Em termos mínimos, estes orga-
nismos sociais deveriam preparar-
se para defender seus pertences e
crias, salvaguardando, depurando e
consolidando, na passagem de uma
geração a outra, aqueles valores que
tornariam aquele grupo coeso inter-
namente e nitidamente diferente dos
demais. Assim é que surgiram as pri-
meiras “fortificações” e a estratifi-
cação da defesa em uma área ex-
terna de vigilância, uma área des-
tinada ao combate propriamente
dito e finalmente o núcleo vital da
tribo ou clã, que, uma vez con-
quistado, caracterizaria o seu
2002 - O Anfíbio - 92
sua alimentação, tal como ocorria nas
organizações extrativistas.
A existência de uma escrita de-
senvolvida também foi condição
fundamental para sua constituição,
servindo como elemento aglutinador
e propagador de idéias e valores.
Seu crescimento estava fundamen-
tado na obtenção sistemática de
colônias e escravos. Para tanto, bus-
cando atender à necessidade de con-
quistar novas terras e garantir rotas
de navegação apropriadas ao rece-
bimento de matérias-primas e ao co-
mércio de seus produtos, possuíam
forças armadas poderosas: grandes
exércitos regulares e marinhas expe-
dicionárias.
A Idade Média:
um Retrocesso
Sob diversos aspectos, dentre os
quais o militar, a Idade Média e o sis-
tema feudal representaram um re-
trocesso no desenvolvimento hu-
mano. A morte de Carlos Magno sig-
nificou o fracasso da tentativa de
unificação do Ocidente. Guerras e in-
vasões esfacelaram o poder, obrigan-
do o soberano a repartir a terra entre
os vassalos, os senhores da terra,
que por sua vez a subdividiam com
outros vassalos,
de quem seriam
os suseranos, e
assim indefinida-
mente até que se
atingissem uni-
dades de terra
indivisíveis, as
quais pertenciam
aos cavaleiros.
Estes, por sua
vez, eram procu-
rados pela população, em busca de
trabalho e proteção.
Com base nesta forma de orga-
nização social, delineava-se, então,
o correspondente sistema defensivo.
Os exércitos eram formados em cor-
respondência às relações de susera-
nia e vassalagem. Ou seja, um senhor
de terra era obrigado a contribuir
com a formação do exército para a
defesa dos interesses de seu
suserano. Desta forma, os exércitos
e as guerras eram sazonais, uma vez
que os vassalos não podiam dedicar-
se permanentemente à guerra, de-
vendo atender também ao o ciclo da
produção agrícola. Os exércitos eram
normalmente reunidos por um pe-
ríodo limitado de tempo e para rea-
lizar uma campanha específica.
As cidadelas, para onde conver-
giam os camponeses e vassalos, no
afã de proteger-se a si próprios e a
seus senhores, constituíam os centros
de gravidade dos conflitos de então.
Dentro delas, acotovelavam-se com-
batentes e não-combatentes, bus-
cando sobreviver ao ataque do in-
vasor, à falta de alimentos e às en-
fermidades que ali grassariam. Deste
modo, voltava-se fundamentalmente
para as técnicas de ataque e defesa
das fortalezas, ou seja, a guerra de
sítio. Esta foi o traço militar marcante
da Idade Média, ressaltando-se
porém que não foi exclusiva dessa
época, já que há registro de cercos a
núcleos fortifi-
cados desde
tempos imemo-
riais, como o
famoso cerco a
Tróia, e que, por
outro lado, exis-
tiram outras for-
mas de combate
no período, co-
mo por exemplo
as “cargas de
cavalaria”.
O Renascimento e sua
Influência na
Questão Militar
O surgimento dos exércitos per-
manentes está intimamente rela-
cionado com a decadência do siste-
ma feudal e com a expansão comer-
cial que a ela se seguiu. A conso-
lidação da moeda como principal
meio de troca também teve uma in-
fluência marcante no redesenho dos
“sistemas de combate”. O serviço
militar do vassalo era de certo modo
uma forma de escambo: trocava-se
a posse da terra e das benesses dela
advindas por um serviço de proteção
ao suserano. No alvorecer do perío-
do renascentista, a mesma acumu-
lação de riqueza que permitiu o flo-
rescimento das artes e da cultura
2002 - O Anfíbio - 93
também livrou os detentores do po-
der da necessidade de depender de
combatentes-agricultores, pois pas-
saram a dispor de um meio de re-
tribuir os serviços de proteção. Não
por mera coincidência, os principais
exércitos permanentes deste período
foram constituídos nas cidades-re-
públicas da Península Itálica.
Não obstante, assim como as ci-
dades-repúblicas constituíram orga-
nizações sociais ainda embrionárias
em relação ao que hoje conhecemos
como Estado-nação, os mencionados
“exércitos permanentes” tampouco
poderiam ser considerados como um
arranjo defensivo plenamente cons-
tituído, já que em geral eram com-
postos de mercenários.
Nicolau Maquiavel, um grande
pensador florentino daquela época,
foi capaz de perceber a pouca con-
fiabilidade que um exército de mer-
cenários deve merecer, pois, na au-
sência de valores de ordem superior
a motivá-los e guiá-los, poderiam
vacilar nos momentos de maior risco
ou mesmo passar para o lado do
oponente em busca de melhor remu-
neração. Precocemente em relação
ao seu tempo, Maquiavel tentou
constituir exércitos confiáveis com
homens provenientes das áreas cam-
pestres sob influência de Veneza.
As Grandes
Navegações
As Grandes Navegações levaram
a humanidade a tomar consciência da
imensa desigualdade em que vinha
ocorrendo o desenvolvimento huma-
no. Por volta do século XVI, encon-
trava-se a Eurásia em pleno uso da
agricultura, da metalurgia, da escrita
e da organização político-social,
enquanto que no chamado “Novo
Mundo”, os nativos americanos, afri-
canos e os nativos da Oceania viviam
ainda na Idade da Pedra, com a hon-
rosa exceção de alguns povos sul e
meso-americanos, como os Incas,
Astecas e Maias.
O contato entre o Velho e o No-
vo Mundo constituiu, talvez, o maior
choque entre civilizações já ocorrido
na história da humanidade. Os povos
Sequestro e assassinato do
Imperador Inca Atahualpa em
Cajamarca, por Francisco Pizzarro,
que resultou na
desorganização e
destruição do Império.
mais desenvolvidos exerceram todas
as formas possíveis de dominação,
indo desde a mera imposição cultural
até o extermínio, passando pela co-
lonização e pela escravização. Assim
o permitiram as melhores armas, em
vista da capacidade de produzir aço,
o uso de cavalos e a disponibilidade
de outros recursos tecnológicos que,
como sempre, são decisivos nos
campos de batalha.
Também cumpriu papel decisivo
o efeito desastroso produzido pela
contaminação dos povos do Novo
Mundo por uma série de microorga-
nismos trazidos incidentalmente nas
expedições. Àquela época, como re-
sultado do aumento da densidade
populacional e da domesticação de
diversos animais, as cidades e as á-
reas rurais mais desenvolvidas eram
grandes “incubadoras” de varíola, sa-
rampo, gripe, tifo e peste bubônica,
contra os quais os habitantes do
Velho Mundo já haviam desenvolvi-
do defesas apropriadas.
Uma vez mais o ciclo de domina-
ção dos mais desenvolvidos sobre os
menos favorecidos ocorria em sua
plenitude. A vantagem inicial de uma
organização social sobre as demais
se traduzia em uma drenagem de
riquezas que aumentava cada vez
mais a superioridade econômica, tec-
O Leviathan,
de Thomas Hobbes
nológica e militar dos povos mais po-
derosos, que se impunham com cada
vez maior facilidade aos povos menos
desenvolvidos.
O Estado-Nação
e a Guerra
Sem dúvida, a forma de organi-
zação social mais desenvolvida em
2002 - O Anfíbio - 94
uso pela humanidade desde há apro- 800 mil homens, os exércitos com- áreas de influência, mercados e
ximadamente quatrocentos anos é a postos por alguns países nas duas matérias-primas a baixo ou nenhum
do Estado-Nação. Embalados por Guerras Mundiais e o atual exército custo.
obras como o Leviathan de Thomas dos Estados Unidos da América A conseqüência natural de uma
Hobbes e o Contrato Social de Rous- (EUA). guerra que ceifou milhões de vidas
seau, organizam-se os Estados, onde, foi a abertura de um ciclo “teórico”
mais do que em qualquer outra épo- A Revolução de pacifismo, durante o qual foi
ca, os valores coletivos se sobre- Industrial criada a Organização das Nações
põem às vontades particulares. Em
troca, o indivíduo passa a contar com A Revolução Industrial não re-
um ordenamento jurídico e uma ca- presentou nenhuma quebra na ten-
pacidade de defesa interna e externa,
dência que se estabeleceu na orga-
deixando de estar, ao menos em par-nização social humana com o adven-
te, à sanha de “alienígenas” que po-
to dos Estados-Nação. Ao contrá-
deriam subjugá-lo, escravizá-lo ou rio, ela não só a ratificou como ace-
eliminá-lo fisicamente. lerou ainda mais o processo de mi-
Não por acaso se verifica a maior
litarização das sociedades. A indus-
estabilidade dos Estados que cor- trialização não influenciou apenas a
respondem a Nações, pois dessas logística de obtenção de meios bé-
últimas os Estados retiram o po- licos e de transporte, mas também Unidas (ONU), me diante a sua
deroso amálgama da existência de levou para o campo de batalha o es- conhecida Carta das Nações Uni-
valores comunitários, consubstan- das. É deste período a mudança de
ciados por um passado de glórias e denominação, na maioria dos países,
vicissitudes em comum, por um pre- dos ministérios e demais órgãos de
sente vivido em busca da satisfação “Guerra” para “defesa”, como con-
das mesmas necessidades e pelo seqüência direta da citada Carta,
desejo de permanecerem unidos no que proscreve todas as formas de
futuro. guerra, exceto as decorrentes da
São justamente tais valores co- defesa da soberania, de libertação
muns e a profundidade de tal coesão nacional e as conduzidas sob
social que permitiram e ainda per- mandato da ONU.
mitem ao Estado-Nação conformar tilo “industrial” de condução do Na prática, não se observou ne-
combate, mediante o em- nhuma alteração significativa no
prego de crescentes efetivos comportamento dos Estados. Po-
e da guerra de atrito, tendo der-se-ia afirmar que, na grande
como conseqüência direta a maioria dos casos, tratou-se apenas
diminuição do valor da vida de uma mudança de nomenclatura,
humana. mantendo-se inalterados o poder
O auge deste processo foi militar e a postura geoestratégica de
a Segunda Guerra Mundial, cada país, tendo o mundo con-
uma continuação natural da tinuado a ser um planeta bastante
Primeira. Uma vez mais conflituoso.
esteve presente a busca de
formidáveis exércitos, baseados ou dominação por parte de alguns A Guerra Fria
não na conscrição, como por exem- povos sobre outros, inspirados em
plo o exército de Napoleão, que teorias geopolíticas que justificavam O fim da Segunda Guerra Mun-
chegou a possuir aproximadamente a também sempre presente busca de dial marca o início de um novo pe-

2002 - O Anfíbio - 95
ríodo na história da humanidade, armamento nuclear dava- do-se ao máximo do processo de
período esse marcado pelo fenôme- se por bombardeio aéreo, descolonização, e em menor medida
no denominado Guerra Fria, que, havia a necessidade de na América Latina (Brasil incluído).
talvez, tenha constituído apenas uma construir e manter aviões
breve fase de transição para o status de bombardeio e de escol- A “Nova Ordem
quo atual. ta, bases aéreas e meios Mundial”
A era nuclear tem afins; e e as Tendências
início com o lan-
çamento das bom- § posteriormente, O fim da Guerra Fria enseja a
bas atômicas de Hi- com o surgimento conformação de uma suposta “Nova
roshima e Nagasaki, Ordem Mundial”, amparada no
de novos vetores,
conformando um fenômeno da “Globalização”, que,
como os mísseis
marco tecnológico em verdade, nada tem de nova,
lançados de sub-
dentro de um pro- como veremos a seguir.
marinos, os mísseis
cesso político de O enfrentamento político-ideoló-
táticos e os balís-
divisão do mundo gico-militar entre EUA e URSS ter-
ticos intercontinen-
em áreas de in- mina com a exaustão do modelo so-
tais, foi necessário
fluência (uma vez viético e a vitória plena do modelo
erigir todo um po-
mais...), cujas se- liberal capitalista. A URSS se esfa-
der militar con-
mentes remontam às cela e deixa órfãos em todas as
vencional em nome
Conferências de partes do globo, desde suas re-
da defesa e do em-
Yalta e Potsdam, públicas-satélite, algumas das quais
prego de tais vetores.
ocorridas ainda antes do término da aderem quase que imediatamente à
Segunda Guerra. Organização do Tratado do Atlân-
Além disso, não foi necessário
Os EUA e a, então, União das tico Norte (OTAN), até diversos
muito tempo para que ambos os
Repúblicas Socialistas Soviéticas partidos políticos da Europa e
contendores chegassem à conclusão
(URSS), as duas potências ven- América Latina, que são compelidos
de que pouco ou nenhum sentido
cedoras do conflito que acabara por a rever suas bases ideológicas.
fazia a “estratégia” de mútua des-
extenuar as grandes metrópoles Os EUA passam a ser os maiores
truição assegurada (“mutual
coloniais européias, dão início a uma beneficiados desse processo e emer-
assured destruction” – MAD),
disputa pela hegemonia no mundo, gem da Guerra Fria como potência
talvez a mais representativa da era
lançando-se de imediato em uma hegemônica, passando-se da bipola-
nuclear, e que seria fundamental
corrida nuclear. A confiança naquele ridade para a unipolaridade. Esse é
buscar meios de se enfrentarem
novo armamento era tal que em justamente o momento de perplexi-
mutuamente sem o risco de uma
pouco tempo o investimento em hecatombe, o que também ensejou dade em que nos encontramos.
forças armadas convencionais haviaa reconstrução de forças conven- Quase todos os países encontram-
caído ao mínimo. cionais. se, na atualidade, reavaliando os seus
Entretanto, além de terem cons- Além disso ocorreu, mais do que sistemas defensivos.
truído um arsenal nuclear capaz deem qualquer época, o amplo uso da Para os EUA, tudo parece ser
permitir-lhes que se destruíssem mu-
guerra revolu- bastante óbvio.
tuamente várias vezes, ambas as po-
cionária e contra- Conquistaram
tências chegaram à conclusão de que
revolucionária na uma posição tal
não poderiam prescindir de forças periferia das áreas que só será man-
convencionais, por vários motivos,de influência de tida à custa prin-
dentre os quais os seguintes: EUA e URSS, cipalmente de pe-
particularmente sados investi-
§ inicialmente, tendo em na Ásia e na Á- mentos em pode-
vista que o lançamento do frica, aproveitan- rio bélico. Por

2002 - O Anfíbio - 96
outro lado, a maioria
dos países da Europa
Ocidental, hoje reu-
nidos na União Euro-
péia (UE), um bloco
econômico de pro-
fundidade organi-
zacional e amplitude
econômica sem pre-
cedentes, considera
esgotado o modelo
de defesa em que
podiam contar com o
apoio total dos EUA
contra seus inimigos
comuns reunidos em
torno do Pacto de
Varsóvia.
Ao menos nos
planos econômico e ecológico, a UE
vem se posicionando de modo
desafiador frente aos EUA e, talvez
por este motivo, venha buscando uma
cada vez maior independência em
relação à potência hegemônica.
Entretanto, a inexistência de uma clara
ameaça comum faz com que os
esforços de unificação dos assuntos
de defesa ainda se encontrem em si-
tuação bastante embrionária. Mesmo
considerando-se a existência de
alguns empreendimentos isolados,
tais como as diversas forças anfíbias
multinacionais européias, o poder
militar da UE é muito inferior ao
norte-americano, mesmo ostentando
um poder econômico similar (da or-
dem de 8 trilhões de dólares de Pro-
duto Bruto).
Enquanto isso, na Ásia, a China
toma consciência de seu peso geo-
político e cresce econômica e mi-
litarmente a taxas espantosas. A
Índia prossegue investindo consi-
deráveis somas no crescimento de
sua capacidade militar, mesmo
porque não tem outra opção diante
de seu conflito latente com o Pa-
quistão. A Rússia aparenta ter
iniciado um longo e penoso processo
de recuperação e começa a buscar
uma fatia maior do mercado mundial
de armamentos.
Na “Nova Ordem Mundial”, a
periferia continua relegada ao tercei-
ro ou quarto plano. A África segue
abandonada à
própria sorte, ain-
da pagando as
conseqüências dos
processos trau-
máticos de colo-
nização e descolo-
nização, tendo
também que lidar
com lutas tribais
crônicas, com escassez de alimentos
e com uma epidemia de AIDS que
já atinge proporções catastróficas.
A América do Sul continua ator-
doada com o fim da Guerra Fria, pois
deixou de merecer qualquer atenção
especial por parte dos EUA após o
fim da ameaça comunista no sub-
continente. Está aparentemente des-
provida de inimigos, alguns países
sendo facilmente convencidos de que
podem prescindir de uma defesa con-
vencional porque têm um “Grande
Irmão do Norte” a zelar por sua se-
gurança, muitos crendo também que
devem voltar suas forças armadas ao
combate ao narcotráfico e a outras
tarefas de ordem policial ou consta-
bular, quando apenas a Colômbia
teria justificativa para fazê-lo, devido
à associação
tráfico-guerrilha na-
quele país.
Estas diferentes
perspectivas se
refletem claramente
nos orçamentos de
defesa, tal como
demonstra a tabela
apresentada acima,
na qual se buscou selecionar países
que possam produzir algum efeito de
comparação com o Brasil.
Os dados não deixam dúvidas de
2002 - O Anfíbio - 97
que reduções nos gastos militares em 2001, não apenas por se tratar de
relação ao Poder Nacional (aqui re- fato recente, mas também pela justa
presentado pelo PIB) não necessa- comoção mundial diante dos milha-
riamente se refletirão em benefício res de vítimas.
econômico palpável. Ao contrário: Não obstante, ao menos há que
como se pode observar, Brasil e Ar- se avaliar se existe tendência a novos
gentina, que têm mantido seus gastos atos de mesma natureza contra os
militares relativos em patamares con- EUA e outros países ou se as repu-
sideravelmente inferiores aos dos paí- diáveis ações daquela ensolarada
ses desenvolvidos, têm enfrentado manhã de setembro seriam agressões
significativos problemas econômicos isoladas que não mais se repetiriam.
e ostentaram baixo crescimento eco- Lamentavelmente, pareceria ser
nômico em relação à média mundial. que se está conformando uma nova
Dentre outras razões, está o fato e perigosa tendência, segundo a qual
de que tão baixos orçamentos inibem ações terroristas passam a ser ple-
qualquer empreendimento nacional namente justificáveis na busca da
em termos de produção bélica e de consecução de objetivos de deter-
desenvolvimento científico-tecnoló- minados povos ou civilizações. Os
gico, fazendo com que inexoravel- EUA alcançaram um poder militar
mente tenhamos de recorrer a forne-
cedores estrangeiros, contribuindo
para a transferência de empregos e
recursos financeiros para os países
mais desenvolvidos, tal como nos inú-
meros ciclos de dominação ex-
perimentados pela humanidade.
Os Atentados
de 11 de Setembro de 2001:
uma Ratificação
ou Retificação da tal que não há qualquer outro país
Linha de Tendência? capaz de oferecer uma resistência de
vulto. Tal disparidade de poder
enseja o que se está de-
nominando “guerra assi-
métrica”, na qual o partido
mais fraco lança mão de to-
dos os recursos, legítimos ou
pérfidos, para atingir o
oponente sem enfrentá-lo
de igual para igual.
A própria China, uma
expressiva potência militar,
com assento permanente no
Conselho de Segurança da
ONU, em uma recente rea-
Naturalmente, é difícil analisar valiação estratégica, chegou à
friamente os atentados terroristas conclusão de que não tem como ri-
perpetrados em 11 de setembro de valizar diretamente o poder militar
norte-americano e que, se levada a
enfrentá-lo em nome dos diversos
interesses conflitantes que tem em
relação aos EUA, fá-lo-ia em um
contexto de assimetria, onde seriam
admissíveis todas as formas de en-
gajamento, dando a entender que
haveria margem para ações ter-
roristas.
A confirmação, ou não, de tal
tendência dependerá, em grande me-
dida, da postura a ser adotada pelos
EUA. É certo que qualquer potência
que alcance a condição hegemônica
tem todo o direito de esforçar-se
para mantê-la. Entretanto, há mar-
gem para alguma divisão de poder,
para o papel de justo mediador en-
tre partes em conflito e para o res-
peito a valores culturais
dissonantes em relação ao
modelo ocidental. Outros
impérios do passado termi-
naram por ruir justamente ao
não admitirem a
sobrevivência das culturas
subjugadas, levando-as ao
que se poderia chamar de
guerra absoluta, em nome de
sua sobrevivência.
CONCLUSÃO
Desde suas mais primitivas ori-
gens, o homem vem travando uma
luta constante contra a morte, seja
ela material, espiritual ou ideológica.
Ele procura defender a continuidade
de si próprio como ser vivo, de seus
descendentes, de seu espírito e de
suas idéias e valores, em diferentes
ordens de prioridade, conforme uma
escala individual, ainda que for-
temente influenciada por aspectos
culturais. Isto explica tanto a razão
pela qual a maioria de nós daria a
própria vida em nome da sobre-
2002 - O Anfíbio - 98
vivência de nossos filhos ou da
segurança da pátria, como a exis-
tência de terroristas dispostos a
conduzir um avião contra um edifício,
com 100% de probabilidade de fa-
lecimento, em nome da glória de seu
espírito e dos valores que constituem
a sua causa.
A primeira conclusão imediata é
a de que a forma de defesa adotada
por uma organização social é função
direta de seus interesses, das amea-
ças a estes interesses e do patamar
tecnológico por ela alcançado. Pode-
se considerar também a capacidade
econômica como um fator decisivo.
Entretanto, como poderíamos ex-
plicar que alguns países economica-
mente limitados realizem gastos de
defesa muitas vezes superior aos
gastos de outros muito mais ricos? A
explicação fica por conta da exis-
tência, para os primeiros, de con-
cretas ameaças aos seus interesses
mais vitais. Assim, o fator econômi-
co existe, porém não deve ser con-
siderado isoladamente, mas na
verdade como um elemento in-
fluente na caracterização dos de-
mais (interesses, ameaças e tec-
nologia).
Como corolário, verifica-se que
são ineficazes arranjos defensivos
baseados em alianças puramente
econômicas, como poderia ser o caso
do Mercosul. A inexistência de
ameaças ou objetivos comuns fará
com que eventuais alianças militares
sejam de tal modo frágeis que, ante
quaisquer dificuldades ou mesmo
seduções externas, venham a
romper-se com facilidade. Vejamos
alguns indícios:
§ Conforme já mencionado,
a UE, um bloco econô-
mico de grande enver-
gadura e profundidade,
fruto de um processo de
unificação que foi desen-
cadeado há aproxima-
damente meio século,
possui um arranjo defen-
sivo comum de muito
pouca relevância, o qual
não deve ser confundido
com a OTAN, que presen-
temente serve apenas
para legitimar a ação
estratégica norte-ameri-
cana na Europa;
§ Qual seria a disposição
que pode ser esperada de
um argentino de morrer
pela Amazônia? Possivel-
mente será a mesma de
um brasileiro morrer pela
recuparação das Malvi-
nas; e
§ Em campanha conduzida
pelos EUA objetivando o
afastamento do brasileiro
José Bustani da direção-
geral da Organização pa-
ra a Proscrição de Armas
Químicas (OPAQ), aparen-
temente em um movi-
mento preparatório para
uma segunda guerra con-
tra o Iraque, o Brasil viu-
se praticamente isolado
na defesa do referido
funcionário, sendo apoia-
do apenas por Rússia,
Bielorrússia, China, Cuba,
Irã e, surpreendentemen-
te, México. Os países da A-
mérica Latina se absti-
veram em peso, em um
assunto que não lhes im-
punha alianças militares,
nem perdas de vidas, nem
gastos materiais. O que
poderemos esperar de
nossos potenciais aliados
quando tais elementos
críticos estiverem em jo-
go?
A segunda conclusão é a de que,
para tristeza dos pacifistas, não há,
no horizonte próximo, qualquer
perspectiva de redução dos conflitos
armados de diversas naturezas. Se no
passado remoto o homem lutava
exclusivamente pela sua sobrevi-
vência e depois pela de sua des-
cendência, no passado recente e nos
dias de hoje ele tem lutado e morrido
por valores e crenças (religião, ca-
pitalismo, comunismo, democracia,
liberdade, dominação, preço do
petróleo, modo de vida, etc.). Ou
seja, quanto mais evoluída uma
sociedade, maior será a quantidade
de “causas justas” ou “bons motivos”
para combater.
Assim, qualquer redução de
gastos com defesa em nome do
desenvolvimento humano não
encontra respaldo na análise das
tendências em curso. Os EUA, ainda
que não sejam um primor de or-
ganização social, mas decerto
superiores ao nosso país neste e em
diversos outros aspectos, cada vez
mais incrementam e diversificam seu
arsenal, às custas de gastos muito
expressivos, considerados inclusive
como um dos grandes motores de
sua economia.
Os países europeus e o Japão,
quando realizavam cortes acentuados
de gastos com defesa, o faziam
confiando na capacidade norte-
americana de prover-lhes um ade-
quado escudo contra ameaças ex-
ternas ou de resolver “querelas” entre
seus próprios aliados. Hoje, investem
para obter maior independência em
2002 - O Anfíbio - 99
relação ao seu protetor, disputando
inclusive com ele o espaço eco-
nômico mundial.
É importante ressaltar também
que, tanto no passado como no pre-
sente, combatentes e não-com-
batentes são elementos inseparáveis
na defesa de uma organização social.
Assim como ocorria no interior de
cidades sitiadas, onde todos lutavam
sofregamente pela sua sobrevivência
contra as armas do inimigo e as
vicissitudes da fome e das en-
fermidades, nos dias de hoje são
submetidos às mesmas conse-
qüências dos bombardeios aéreos ou
dos ataques por mísseis, por mais
“cirúrgicos” que possam ser. No
mínimo, as provações decorrentes
da destruição da infra-estrutura civil
serão compartilhadas entre com-
batentes e não-combatentes, in-
clusive com mais peso para estes
últimos.
Outra conclusão importante é a
de que, ainda que se mudem os
métodos e o discurso, as sociedades
oprimidas ainda lutam por sua
liberdade e as poderosas pela
dominação das demais. Assim tem
sido nas guerras do Império Ro-
mano, no processo de colonização
do “Novo Mundo”, nas guerras de
descolonização dos séculos XIX e
XX, na fragmentação dos Bálcãs, no
conflito árabe-israelense e em outros
eventos da história remota e recente.
Algumas vezes muda-se o campo de
batalha, transladando-o para o
âmbito econômico, no qual empre-
gam-se armas tais como o avilta-
mento dos preços dos produtos
primários, o mascaramento de sub-
sídios estatais e o protecionismo
contra as importações como forma
de proteger a atividade econômica
interna de cada Estado, mas no
fundo continua presente uma
questão de liberdade versus
dominação. Conseqüentemente, a
postura de dominador ou de
dominado é decisiva na formulação
do arranjo defensivo do Estado.
O Brasil, um país emergente que
se encontra em um momento de
transição, deve decidir se quer ser
apenas um mercado emergente, tal
como vem sendo tratado, ou uma
verdadeira potência emergente. Nas
palavras do saudoso e genial Al-
mirante PAULO DE CASTRO
MOREIRA DA SILVA, “não existe
desenvolvimento autêntico sem
invenção e o desenvolvimento
postiço não faz uma nação, mas
um mercado”. Para cumprir o
papel de mercado emergente, que
o mundo desenvolvido nos tem
reservado, é tudo muito fácil. Basta
não fazer nada e deixar a história
seguir o seu curso. Hoje ainda so-
mos um grande fornecedor de
matérias-primas e um grande
importador de produtos de alta
tecnologia, exceto por raras e hon-
rosas exceções.
No passado, eram toneladas de
pau-brasil e cana-de-açúcar em
troca de espelhos e miçangas. No
presente, são toneladas de ferro,
café, laranja e outras “commodities”
em troca de carros luxuosos,
aparelhos eletrônicos e calçados
esportivos. Não é mera fatalidade a
grande dificuldade que o país tem
enfrentado para obter saldos
positivos em sua balança comercial.
Mais ainda: para o país do ferro, do
café e da laranja (e naturalmente do
samba, do futebol e outros ícones
do “tropicalismo exótico”, este-
reótipos que nos são impostos para
diminuir nossa credibilidade...), o
atual vulto, equipamento e ades-
tramento de nossas forças armadas
é mais do que suficiente, pois é
adequado à dissuasão regional (o
que gera estabilidade) e insuficiente
para contrapor-se à persuasão
global exercida pelas potências de
primeira e segunda grandezas. Ou
seja, mantidas as atuais condições,
não somos nem seremos capazes de
influenciar nas principais questões
mundiais e nos restará aguardar por
novos agentes e formas de do-
minação.
Por outro lado, para o país que
fabrica aviões (ainda que com 85%
de seus componentes impor-
tados...), que exporta automóveis e
auto-peças (de tecnologia estran-
geira...), computadores (montados
com componentes importados...) e
software (criados com ferramentas
de desenvolvimento e em ambientes
operacionais importados...), que
deseja romper o ciclo de cinco
séculos de dominação, há muito o
que fazer, a começar por maciços
investimentos em educação, ciência
& tecnologia, melhoria da qualidade
de vida da população e certamente
também uma evolução significativa
de suas forças armadas, tanto em
termos quantitativos como quali-
tativos, sem o que não seremos
dignos de atenção no concerto das
nações.
Estamos vivendo, portanto, um
momento de decisão. Cabe-nos
decidir qual papel almejamos. Se
nos decidirmos pelo de potência,
então mãos à obra. Comecemos
agora e quem sabe dentro de algum
tempo poderemos chegar a uma
posição mais digna no mundo,
compatível com a grandeza deste
nosso belo país e com as virtudes
de nosso povo.
2002 - O Anfíbio - 100
 A modernização do ma-
terial de Fuzileiros Navais, O Comando do Material de
que obrigou ao aprimo-
ramento do preparo do Fuzileiros Navais e o Apoio
homem e à evolução tecno-
lógica do maquinário de-
Logístico aos Meios da Força de
dicado à sua manutenção,
levou, no início de 1997, ao
Fuzileiros da Esquadra
desmembramento do, então, CALTE (FN) A LVARO AUGUSTO DIAS M ONTEIRO
CC (FN) C ÉZAR SIMPLICIO FERNADES
Comando de Apoio do CFN
em duas Organizações Mi- zos bastante exíguos, sua operação, quado de disponibilidade é aquele
litares distintas: Comando dentro das concepções de apoio lo- que atende às necessidades do seu
do Material de Fuzileiros gístico, até então, vigentes, provavel- emprego operativo. Resulta óbvio
Navais (CMatFN) e Coman- mente, estaria comprometida pela que, se a concepção de emprego de
do do Pessoal de Fuzileiros impossibilidade de assegurar-se determinado meio exigir para sua
Navais (CPesFN). Desta índices de disponibilidade aceitáveis consecução elevados índices de
forma, o CMatFN assumiu para tais meios, não só pela escassez disponibilidade cresce a probabili-
a responsabilidade pelas de recursos (cada vez mais acen- dade de fracasso de seu ALI.
tuada) para obtenção dos sobres- Matematicamente, a disponibili-
atividades inerentes ao ma-
salentes necessários, mas, sobretudo, dade ( D ) é calculada:
terial específico de Fuzilei-
pela falta de parâmetros gerenciais Onde,
ros Navais. que indiquem os principais óbices a
Nesses cinco anos de exis- serem vencidos na condução do seu
tência do CMatFN, novos meios Apoio Logístico Integrado (ALI).
de extraordinária complexidade O equacionamento e a solução
tecnológica, tais como, os Carros de desse problema, cujos benefícios, PMEM = período médio entre
Combate SK 105 A2S, as viaturas obviamente, não se restringem a tais manutenções; e
UNIMOG e os obuseiros 105mm meios, constitui a tarefa maior do PMI = período médio de in-
LIGHT GUN, vieram juntar-se CMatFN disponibilidade.
aos Carros de Lagarta Anfíbios
(CLAnf) e outros meios, igual- O CMatFN e o apoio logístico Logo, elevados índices de dis-
aos meios de Fuzileiros Navais
mente, complexos, no acervo da ponibilidade pressupõem reduzidos
Força de Fuzileiros da Esquadra A finalidade de um sistema de períodos médios de indisponibilidade
(FFE). apoio logístico é a de garantir um (PMI) o que significa um esforço
Se, contudo, os respectivos pro- nível adequado de disponibili- que, muitas vezes, está acima da ca-
cessos de obtenção foram conduzi- dade aos meios empregados. pacidade do sistema de apoio logís-
dos com sucesso, inclusive, em pra- Para cada meio, o nível ade- tico envolvido.

2002 - O Anfíbio - 101

 Isto porque:
Onde,
TEL = tempo de espera logístico,
que representa o tempo de para-
lisação debitado a deficiências na
estrutura de apoio (falta de insta-
lações, equipamentos, sobressalen-
tes, pessoal qualificado, etc);
TEA = tempo de espera admi-
nistrativo, que representa o tempo
de paralisação debitado a problemas
administrativos (rotina, faltas, mo-
vimentações do pessoal qualificado,
etc); e
TMM = tempo médio de ma-
nutenção, que representa o tempo,
efetivamente, empregado na ma-
nutenção (levando-se em conside-
ração que todos os recursos neces-
sários estejam disponíveis).
Se a inexistência de parâmetros de
controle impossibilitava o CMatFN de
identificar, corretamente, os proble-
mas envolvidos na manutenção dos
meios empregados pela Força de Fu-
zileiros da Esquadra, o que dizer das
medidas que pudessem resolvê-los?
Se, por exemplo, o PROGEM de um
determinado meio durasse dez meses,
o que fazer para abreviá-lo? Colocar
mais mecânicos no processo? Mas,
há ferramental disponível para esses
mecânicos? Adquirir mais sobressa-
lentes? Mas, que sobressalentes
adquirir para o PROGEM desse
meio? Seria, realmente, a falta de so-
bressalentes a causa desse PROGEM
demasiado longo? Por que conside-
rá-lo demasiado longo? A disponibi-
lidade do meio, ainda que realizando
seu PROGEM em dez meses, aten-
de às necessidades do setor opera-
tivo? Se atende, por que empenhar
recursos que são escassos (pessoal,
material, verbas, etc) no aprimora-
mento desse processo. Qual o nível
adequado de disponibilidade desse
meio?
Deste modo, o primeiro passo pa-
ra o aprimoramento do sistema de
apoio logístico conduzido pelo
CMatFN é determinar o nível ade-
quado de disponibilidade de cada
meio empregado pelo setor opera-
tivo; tarefa que se encontra em curso,
com a participação da FFE, que se
pretende concluir até o final de 2002.
Com isso, será possível elaborar
a Política de Manutenção do
CMatFN; em síntese, a definição de
índices de disponibilidade de
controle para cada meio apoiado.
Tais índices (estabelecidos apli-
cando-se uma margem de segurança
aos níveis adequados de disponibi-
lidade) atuarão como limites de con-
trole dos respectivos processos; es-
senciais, não só para sua avaliação
(verificação se os processos são es-
táveis e capazes), mas, sobretudo,
para indicar as variações anormais de
processos que indiquem a neces-
sidade de interferências externas,
imediatas e urgentes, a fim de não
comprometer os requisitos opera-
cionais da FFE.
Contudo, não se pode eliminar va-
riações anormais de processos, sem
se distinguir aquelas motivadas por
causas assinaláveis das provoca-
das por causas aleatórias, uma vez
que estas, por estarem presentes em
todos os processos, em princípio, não
é factível, técnica e economicamente,
eliminar.
Já as causas assinaláveis são fa-
tores relevantes, decorrentes do des-
cumprimento de padrões estabele-
cidos ou da adoção de padrões ina-
dequados, que podem ser evitados,
já que deles seremos senhores, se
conhecermos e compreendermos os
padrões de procedimento.
Portanto, a existência de padrões
de procedimento para os períodos de
manutenção de cada meio é essencial
às suas atividades gerenciais, razão
porque seu estabelecimento, tornou-
se outra frente prioritária a engajar.
O CMatFN e a manutenção
dos meios de Fuzileiros Navais
Todo o meio tem uma vida útil que
compreende períodos de disponi-
bilidade e de indisponibilidade, este
último denominado período de ma-
nutenção (PM). Os PM visam a res-
taurar as especificações técnicas
originais do material; portanto, as
ações de manutenção são planejadas,
executadas e controladas de acordo
2002 - O Anfíbio - 102
com o período de sua aplicação. A
execução sistemática da manutenção,
além de ampliar os períodos de dis-
ponibilidade, fornece indicadores que
realimentarão o sistema, tanto na de-
terminação de necessidades quanto
no planejamento da modernização,
na conversão e, até mesmo, na de-
sativação dos meios apoiados.
Para tanto, é necessário conhecer
os fatores que contribuem para as
flutuações do processo e evitar mu-
danças anormais desses fatores o
que só é possível mediante a padro-
nização dos procedimentos e mé-
todos (seqüência) da execução da
manutenção. A padronização deve
indicar, além dos meios necessários
(em pessoal e material), os eventos
que constituem os caminhos críticos
do processo cujo percurso deve ser
acompanhado cuidadosamente.
EXTRATO DO ANEXO “B “ DO CMatBoTec Nº MAR 31000-006 / 2002 (VtrBld M-113-A1)
10- CAIXA DE TRANSMISSÃO AUTOMÁTICA
Para atender tal propósito, o
CMatFN adotou como ferramenta para
o planejamento e o gerenciamento da
manutenção dos meios de Fuzileiros
Navais de seu símbolo de jurisdição o
programa MS-PROJECT.
O MS-PROJECT é uma fer-
ramenta de gerenciamento de pro-
jetos eficaz e flexível, que pode ser
usada para controlar projetos simples
ou complexos. O “software” ajuda a
programar e controlar as atividades
para que se possa acompanhar de
perto os progressos realizados.
Quando se cria um plano de
projeto, o MS-PROJECT calcula
e cria uma agenda de trabalho ba-
seada nas informações fornecidas
sobre as tarefas a serem realizadas
e os recursos humanos utilizados,
assim como, os equipamentos e os
suprimentos usados para concluí-
las, além dos custos envolvidos.
Quanto ao gerenciamento, o pro-
grama monitora os elementos do tri-
ângulo componente de um projeto,
quais sejam: tempo, recursos finan-
ceiros aplicados e escopo (metas e ta-
refas do projeto, adicionadas do tra-
balho necessário a realizá-las).
O CMatFN pretende definir para
o PROGEM e para as manutenções
planejadas (semestrais) de cada meio,
sistemas que integram pessoal, insta-
lações, equipamentos, sobressalentes,
ferramental, procedimentos e normas
técnicas, visando a manter o material
pronto para utilização, dentro de suas
características de projeto e da maneira
mais econômica, divulgando-os por
meio deCMatBotec (Boletim Técnico).
As figuras 1, 2 e 3 apresentam ex-
tratos do CMatBoTec do PROGEM
das Vtr M-113.
2002 - O Anfíbio - 103
 EXTRATO DO ANEXO “E” DO CMatBoTec Nº MAR 31000-006 / 2002 (VtrBld M-113-A1)
GRÁFICO DE GANTT DO PROGEM
Dessa forma, será possível acom-
panhar, em tempo real, se as tarefas
estão ocorrendo de acordo com o
planejado; o que possibilitará nivelar
(redistribuir) os recursos emprega-
dos, particularmente, os humanos,
sempre que necessário, a fim de obter
a máxima economia dos recursos apli-
cados. Será possível, também, ve-
rificar se os custos envolvidos estão
consistentes com os planejados, se
os sobressalentes necessários foram
adquiridos tempestivamente e, se
efetivamente, foram empregados nas
manutenções.
Contudo, a mera definição dos
sobressalentes necessários à reali-
zação da manutenção de determinado
meio não garante sua obtenção
tempestiva nas quantidades desejadas.
O CMatFN e o abastecimento
de sobressalentes do Símbolo de
Jurisdição OSCAR
Atualmente, o CMatFN ocupa um
lugar de destaque no SAbM, na ge-
rência do material do SJ “OSCAR”,
desempenhando diversos papéis nas
suas fases básicas: determinação de
necessidades; obtenção; e distribuição.
2002 - O Anfíbio - 104
EXTRATO DO ANEXO “C” DO CMatBoTec Nº MAR 31000-006 / 2002 (VtrBld M-113-A1)
SOBRESSALENTES PARA O PROGEM
10 – CAIXA DE TRANSMISSÃO AUTOMÁTICA

2002 - O Anfíbio - 105

 As fases básicas do abastecimen-
to são desdobradas em várias ativi-
dades as quais, em virtude de suas
características e requisitos, são agru-
padas em dois tipos: atividades téc-
nicas e gerenciais. As atividades téc-
nicas são aquelas relativas à orien-
tação especializada pertinente às
características qualitativas, funcio-
nais e de utilização do material, va-
riando conforme a natureza do ma-
terial. As atividades gerenciais são as
de caráter administrativo, diretamen-
te relacionadas com a manutenção
do fluxo do material e desenvolvi-
das com base nos padrões fixados,
através do prévio desempenho das
atividades técnicas. Essas ativi- sidades correntes: inexistam quais-
dades, são desempenhadas pelo quer metas para a distribuição dos
CMatFN em conjunto com o Cen- sobressalentes, fossem elas físicas ou
tro de Reparos e Suprimentos Espe- financeiras; o controle do estoque do
ciais do CFN (CRepSupEspCFN), CRepSupEspCFN era executado
no que diz respeito ao material do SJ por meio manual, nem sempre con-
“OSCAR”. fiável; os inventários existentes no
A figura 4 apresenta as atividades CRepSupEspCFN (Órgão de Dis-
de abastecimento, relacionando-as com tribuição ) e no CMatFN (Órgão de
o CMatFN e o CRepSupEspCFN. Obtenção e de Controle) que eram
As atividades de abastecimento atualizados, mensalmente, por meio
do material do SJ “OSCAR” vinham de listas, tornavam-se inconsistentes
sendo conduzidas, com pequenas al- entre as atualizações, em face das
terações, segundo métodos de con- autorizações e do fornecimento do
trole adotados, ainda, no antigo Co- material; e, não havia qualquer
mando de Apoio do CFN, os quais controle de estoque nos paióis das
já não mais respondiam às neces- OM Consumidoras (OMC), me-
dida, absolutamente,
necessária para o
adequado geren-
ciamento dos recur-
sos alocados no res-
pectivo Projeto do
Plano Básico CHAR-
LIE.
O desenvolvi-
mento pelo CMatFN
de um sistema capaz
de atender tais ne-
cessidades seria ina-
ceitável, não só pelos
elevados recursos
envolvidos, mas, so-
bretudo, porque a
Diretoria de Abas-
tecimento da Ma-
rinha (DAbM) já a-
dotara, com pleno
sucesso, o SINGRA
– Sistema de Infor-
mações Gerenciais
de Abastecimento.
Ora, como o
CMatFN integra o
SAbM, embora seja
importante ressaltar
que suas tarefas não
se limitam ao abas-
tecimento, não seria
Figura 4
2002 - O Anfíbio - 106
razoável a adoção de qualquer outro
sistema, até mesmo, porque, as OM
do CFN já empregam o SINGRA
para a obtenção de material de outros
Símbolos de Jurisdição, como o pró-
prio CMatFN já dele faz uso para as
obtenções no exterior.
O propósito do SINGRA é ge-
renciar, dentro do escopo do SAbM,
a estruturação dos meios, dos equi-
pamentos e equipagens, dos itens de
suprimento (suas características, for-
mas de classificação) e dos fabri-
cantes e fornecedores desses itens de
suprimentos, estabelecendo uma lin-
guagem única entre os elementos
envolvidos no Sistema de Abasteci-
mento através de métodos padroni-
zados para identificação, classifi-
cação e atribuição de símbolos a itens
de material de interesse da Marinha,
facilitando a administração desse
material.
Tendo em vista a especificidade
do material dos Fuzileiros Navais e
as demais tarefas do CMatFN que
empregam o mesmo pessoal em-
penhado no abastecimento, seria de
todo conveniente que, dentro do
SINGRA, o CMatFN permanecesse
como Centro de Obtenção e de Con-
trole do Material do SJ “OSCAR”,
pleito que a DAbM acolheu e ajudou
a implementar.
Após um período de seis meses
de testes, em 03/JUN/2002, o
CMatFN passou a adotar o SINGRA
como ferramenta gerencial do abas-
tecimento do material do SJ “OS-
CAR”.
Desta forma, a obtenção e a mo-
vimentação desse material são rea-
lizadas através do SINGRA. Nesse
contexto, as OM do CFN nele atuam
da seguinte forma: o CMatFN como
Órgão de Obtenção e de Controle
do material do SJ “OSCAR”, o
CRepSupEspCFN como Órgão de
Distribuição e as demais OMCFN
como OM Consumidoras. O SINGRA
disponibiliza os seguintes módulos:
movimentação, gerência de projetos,
catalogação, obtenção e planeja-
mento e controle.
Visando à estabelecer metas fi-
nanceiras para a distribuição do ma-
terial do SJ “OSCAR” às OM que
dele possuem dotação, o CMatFN
passou a adotar uma Fonte de Re-
cursos – a FR 189. Esta FR é utiliza-
da no abastecimento das seguintes
categorias de material do SJ “OS-
CAR”: sobressalentes, instrumentos
musicais e itens de equipagens, sendo
aplicada, única e exclusivamente, à
Requisição de Material de Consumo
(RMC) para o CRepSupEspCFN,
não servindo, portanto, para requisi-
ções aos outros depósitos da MB.
Esse limite financeiro induz uma
avaliação criteriosa por parte das
OM solicitantes, que lhes permite
priorizar o atendimento às suas ne-
cessidades correntes.
Os limites financeiros destina-
dos ao fornecimento de sobressa-
lentes para o recompletamento das
dotações de bordo das OM são
provisionados pelo CMatFN aos
COMARE, diretamente no SINGRA.
Os COMARE redistribuem ou re-
manejam os créditos às suas OM. Já
os limites financeiros destinados ao
fornecimento de sobressalentes para
o cumprimento do PROGEM são
distribuídos pelo CmatFN, direta-
mente, ao CRepSupEspCFN, de a-
cordo com o calendário estabelecido
pelo Comando de Operações Na-
vais.
Todas essas inovações só foram
possíveis com a adoção do SINGRA.
Restava, contudo, ainda, um
grande desafio: controlar o estoque
nos paióis das OM consumidoras que
o SINGRA não executa, pois con-
sidera o sobressalente consumido tão
logo é distribuído às OMC, o que,
na prática, não corresponde à rea-
lidade, pois, tais sobressalentes ainda
permanecem no sistema de abas-
tecimento, estocados nos paióis das
OMC, até sua efetiva aplicação.
Para tanto, foi desenvolvido o
Sistema de Controle de Material do
CFN (SisCoMat).
O SisCoMat foi desenvolvido
pelo CMatFN com a finalidade de
apoiar a tomada de decisões sobre
as atividades de abastecimento, ma-
nutenção e reparo não abrangidas
pelo SINGRA, e de gerência de pro-
jetos do material do SJ “OSCAR”,
bem como, apoiar outras Diretorias
Especializadas no cumprimento de
suas missões, no que diz respeito ao
meios de Fuzileiros Navais de suas
jurisdições.
Esse sistema foi desenvolvido
para utilizar modernas tecnologias de
banco de dados e comunicações via
Web, visando a estabelecer o con-
trole do material nas Organizações
Militares Consumidoras (OMC).
O SisCoMat efetua o controle
sobre as quantidades existentes em
estoque nos paióis das OM do CFN,
permitindo uma visão hierarquizada
dos dados. Assim, os setores de
logística da FFE, Divisão Anfíbia e
Tropa de Reforço poderão consultar
a posição atual dos estoques de suas
próprias Unidades, bem como, as
Seções de Logística das Unidades
poderão fazê-lo em relação aos
paióis de suas Companhias ou Fra-
ções.
Esta facilidade é gerenciada
através do controle do nível de aces-
so, que leva em consideração a OM
e as funcionalidades atribuídas ao
usuário.
A figura 5 apresenta uma visão
consolidada do estoque de cantis nas
diversas OM do CFN.
O controle hierarquizado permite,
não só ao CMatFN como, também,
2002 - O Anfíbio - 107
 Figura 5

Figura 6

às Forças a ação direta sobre os itens dente, a equalização dos estoques ou, operativa, caso a mesma se encontre
em estoque em suas Unidades, pos- ainda, privilegiar determinada Unida- em estado de pronto emprego, por
sibilitando o remanejamento do exce- de em função de sua prontificação exemplo.

2002 - O Anfíbio - 108

 O SisCoMat atua, ainda, com o
conceito de Célula de Estoque
(Paiol), permitindo a cada Unidade
criar novos paióis e, assim, controlar
os itens de material de acordo com
sua realidade. Esses paióis poderão
ser operados por pessoal cadastra-
do, a fim de realizar as tarefas ro-
tineiras de controle de estoque.
Dentre as possibilidades destacam-
se: a emissão de cautelas; a trans-
ferência de material entre OM e entre
paióis dentro das Unidades; a arre-
cadação e a saída de material. A
figura 6 apresenta a visão de uma
emissão de cautela por um deter-
minado Paiol.
O banco de dados do SisCoMat
encontra-se centralizado no
CMatFN, e seu acesso é realizado
através da INTRANET, utilizando-
se qualquer navegador Web. Essa
centralização permite a consulta em
tempo real dos níveis de estoque das
diversas OM do CFN. Por ser uma
aplicação totalmente voltada para a
Web, sua utilização não exige uma
estação de trabalho com configuração
de última geração. Qualquer com-
putador com acesso à INTRANET é
capaz de acessar o SisCoMat. Outra
vantagem decorrente é que, por não
necessitar de outro programa além do
navegador Web, os usuários podem
acessá-lo de qualquer estação
conectada à INTRANET, indepen-
dentemente da localização geo-
gráfica.
Outro aspecto relevante é a cria-
ção de uma base de dados histórica
que facilite a análise da demanda de
material, permitindo que possam ser
feitas projeções e subsídios para os
planejamentos futuros com maior
precisão, baseados em consumos
reais ocorridos nas diversas OM.
Esta demanda pode ser obtida por
item de material, por OM, em um
determinado período.
O catálogo do SisCoMat é atua-
lizado a partir do SINGRA, evitando
desta forma o retrabalho e substi-
tuindo, assim, a Lista de Dotação
Integrada (LISDIN).
Resumindo, o propósito do
SisCoMat é o de apoiar as tarefas
gerenciais não abrangidas pelo
SINGRA.
Para tal, implementa as seguintes
funcionalidades:
• consultas gerenciais do material
compreendendo:
Ø consulta ao catálogo de ma-
terial; por códigos ou descrição;
Ø consulta aos componentes de
equipamentos e equipagens;
Ø consulta às referências (fa-
bricantes) dos itens de material;
Ø consulta ao estoque, por cé-
lulas de estoques (paiol ou OM), in-
formando as dotações, necessidades
de substituição, existente, acaute-
lados, preço, níveis máximo, mínimo
e de ressuprimento; e
Ø consulta ao movimento do
material (empréstimos, arrecadações,
cargas, transferência e baixas no
estoque).
• manutenção de usuários.
Ø criação e exclusão de usuários;
Ø alteração de nível de acesso;
Ø alteração de senhas; e
Ø alteração de permissões.
• manutenção de células de
estoques.
Ø criação de OM e paióis;
Ø exclusão de OM e paióis; e
Ø alteração de dados de OM e
paióis.
• movimentação de material;
Ø empréstimos;
Ø cautelas;
Ø arrecadações;
Ø cargas;
Ø transferência;
Ø baixas no estoque; e
Ø alteração da necessidade de
substituição.
• controle de acesso hierárquico.
Ø o nível de acesso é realizado a
partir de funções autorizadas a cada
usuário, sendo este, vinculado à uma
célula de estoque (OM ou paiol).
Ø a visão dos dados é limitada
às células de estoque subordinadas
ao usuário em questão.
• Comunicação com o SINGRA
Ø Permite a atualização do ca-
tálogo de material do SisCoMat a
partir da Base de Dados dos itens
catalogados no SINGRA.
Com a implantação do SINGRA
e do SisCoMat, o fluxo do abas-
tecimento dos itens destinados ao
recompletamento das dotações de
bordo das OM é executado da
seguinte forma:
• A OM emite a Requisição do
Material (SINGRA), observando os
limites financeiros e a dotação do
material.
• O CMatFN analisa a RM e ve-
rifica o estoque no CRepSupEspCFN
(SINGRA), verifica, ainda, o estoque
da OM através do SisCoMat. Então,
poderá: autorizar total ou parcial-
mente a requisição, não autorizar ou
registrar dívida (obrigação), no caso
da indisponibilidade do item soli-
citado.
• Uma vez autorizado pelo
CMatFN, o CRepSupEspCFN for-
necerá o material requisitado.
• Os itens em obrigação serão,
dependendo da disponibilidade de
recursos, obtidos e, posteriormente,
entregues à OM.
A figura 7 apresenta uma visão
simplificada do fluxo do abasteci-
mento.
Esta sistemática permite o controle
efetivo dos sobressalentes e itens de
material do SJ “OSCAR” existentes
no sistema e, particularmente, a
construção de uma base de dados
histórica que beneficiará a deter-
minação de futuras necessidades.
2002 - O Anfíbio - 109

Fluxo de abastecimento do material do SJ “OSCAR”
Todos esses procedimentos
encontram-se em fase de implan-
tação. Até sua total consolidação, há
um longo caminho a percorrer, re-
pleto de novos desafios.
A consolidação da FR-189 é o
primeiro deles.
O total de recursos da FR-189,
que apoia o SINGRA no que con-
cerne ao SJ “OSCAR”, foi calculado
pelo valor global do estoque do
CRepSupEspCFN acrescido dos
valores destinados ao Plano Básico
CHARLIE, nos projetos C-02.2051,
C-07.6090 e C-07.6089, tendo sido
distribuídos 20% do total apurado.
No entanto, como não há registro
histórico do consumo das OMC, o
CMatFN deverá realizar um acom-
panhamento da evolução e emprego
dos recursos da FR-189, de modo a
possibilitar o registro do patamar his-
tórico para uso no planejamento da
distribuição dos recursos nos anos
vindouros, com base em dados os
mais realistas possíveis.
A revisão das dotações das OM
é o segundo.
O SisCoMat apontou que há, em
Figura 7
todas as Unidades da FFE, diversos
sobressalentes de primeiro escalão,
como radiadores de Toyota, por
exemplo, que são de emprego e-
ventual. Sendo assim, é desperdício
distribuí-los para todas as Unidades.
O ideal é que fiquem estocados, em
pequeno número, em paióis cen-
tralizados, sendo recompletados na
medida de sua utilização efetiva.
Onde ficariam esses paióis é outra
história...
A propósito, no CMatFN, dia-
riamente, há histórias para serem
decididas.
Conclusão
O CMatFN vem, ao longo de sua
curta existência, procurando conferir
às suas atividades um cunho técnico-
gerencial, na certeza de que a plena
operação dos meios da FFE só será
alcançada com a irrestrita observação
de suas rotinas sistemáticas de ma-
nutenção, para cuja execução faz-se
essencial a compreensão de que tais
meios requerem minucioso plane-
jamento das tarefas inerentes
à sua manutenção.
As medidas, até agora,
tomadas, constituem, ape-
nas, os primeiros passos
nesse sentido. Seu prossegui-
mento requererá desmedido
esforço de todos, não só pa-
ra aprimorá-las e para de-
senvolver outras, ainda
necessárias, mas, sobretudo,
para conscientizar as Uni-
dades de Fuzileiros Navais
que o poder de combate só
se desenvolve a partir de
uma logística adequada.
*****
Bibliografia.
KUME, Hitoshi. Métodos Es-
tatísticos para Melhoria da Qua-
lidade. São Paulo: Editora Gente,
1993.
DELLARETTI FILHO, Os-
mário. Itens de Controle e Avaliação
de Processos. Belo Horizonte:
Fundação Christiano Ottoni, UFMG,
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STONNER, Rodolfo. Ferra-
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o MS Project para Gerenciar
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Suplemento Especial da Revista
Marítima Brasileira. Rio de Janeiro:
Serviço de Documentação da Ma-
rinha, outubro de 2001.
2002 - O Anfíbio - 110
 SIGeP
Modernidade na
Gestão de pessoal do CFN
CMG (FN) J OSÉ HENRIQUE SALVI ELKFURY

A Marinha, ao decidir pela obtenção

das Fragatas classe Niterói nos anos 60,
promoveu valioso avanço na tecnologia
naval nacional e contribuiu de forma
inequívoca com o desenvolvimento da in-
formática no Brasil. O conhecimento obtido
na automação de sistemas operativos expan-
diu-se para aplicações administrativas,
originando sistemas corporativos nas áreas
de finanças, material e pessoal. Os avanços
prosseguiram, aproveitando-se da revolução
da microinformática e da oferta das pos-
sibilidades da telemática, criando-se condi- Fig. 1
ções para a aplicação de sistemas descen-
tralizados. Esta evolução do conhecimento
refletiu-se na administração de pessoal e, no âmbito do CFN, em 1985, foi iniciado o
desenvolvimento do Sistema de Pessoal do CFN (SisPFN).
Embora tenha sido reformulado em 1990, o SisPFN, com dezessete anos, já está
alcançando sua maioridade – não se pode esquecer que o assunto é informática. Embora
ainda possa contribuir com a administração do pessoal do CFN, está na Fase 3 da
Curva S (ver Fig. 1), que bem representa o ciclo da vida de organizações, produtos,
serviços, projetos e mesmo de seres vivos – fase em que a inovação se faz necessária. A
linguagem utilizada, antiga, já se ressente de profissionais que a conheçam, o que,
combinado com a ausência de documentação apropriada, dificulta a manutenção e os
aprimoramentos necessários, como, por exemplo, o acesso por qualquer OM ou pelos
militares em geral. Além disso, verifica-se inconsistências nos dados armazenados,
gerando falta de confiança nas informações produzidas e necessidade de retrabalho.

Assim, em 2001 o CPesFN sub- ü facilidade de manutenção

meteu à apreciação do CGCFN a
proposta de substituir o SisPFN por
uma nova ferramenta, que atendesse,
principalmente, os seguintes re-
quisitos:
ü desempenho e funcionali-
dades compatíveis com exigências
do serviço;
ü modernos ambientes de
computação;
JUN de 2001 foi designada uma
Comissão Especial de Licitação para
(tecnologia atual, documentação e
acesso aos códigos-fonte); escolher um prestador do serviço de
ü compatibilidade com osdesenvolvimento e instalação do
padrões técnicos ora adotados pela
novo sistema. Tendo em vista que
Marinha; e apenas uma empresa apresentou
ü acesso de Oficiais e Pra-
proposta, com valor acima do limite
ças a seus dados de carreira, emprevisto para Convite, o processo
terminais das respectivas OM. licitatório foi anulado em 11JUL2001.
Em AGO2001, com base em dis-
Aprovada a proposta, em 18 de pensa de licitação prevista na Lei nº

2002 - O Anfíbio - 111

8.666/93, conforme termo expedido
pelo CPesFN, o Batalhão Naval
celebrou contrato com a Fundação
Padre Leonel Franca – da PUC do
Rio de Janeiro e que desde o início
de 1998 mantém atualizado o Centro
de Jogos Didáticos do CIASC –
para, no prazo de um ano, desen-
volver e instalar o sistema espe-
cificado. Aquela Fundação contra-
tou, então, uma de suas empresas
“incubadas”, a firma EasyCAE.
Na escolha da denominação do
produto – Sistema Integrado de
Gestão de Pessoal (SIGeP) – pro-
curou-se mostrar suas principais
características. A “Gestão”, atividade
administrativa de nível estratégico nas
grandes corporações, está caracte-
rizada pela abrangência do sistema –
todo pessoal do CFN – e pelo nível
decisório de seus principais usuários
– o CGCFN e o CPesFN. A ex-
pressão “Integrado” decorre da co-
participação de todos os setores do
CPesFN na auditoria e operação dos
dados fornecidos pelas OM, da
descentralização da operação para
todas OM da MB e da possibilidade
de consulta e verificação de registros
por todos militares do CFN.
Desenvolvimento
A execução do contrato seguiu as
fases típicas do desenvolvimento de
um sistema. Na Análise, re-
presentantes da EasyCAE mantive-
ram estreito contato com todos se-
tores do CPesFN e com a legislação
pertinente, detalhando cada rotina e
tabela de dados, em conjunto com
os militares responsáveis por sua
operação. Ao final desta fase, a
empresa obteve uma ampla e
completa visão de como é realizada
a administração de pessoal do CFN,
o que permitiu prosseguir com o
Projeto, Construção dos Objetos e
Integração. Estas fases, eminente-
mente técnicas, foram acompanhadas
pelo Gerente do Projeto – En-
carregado da Divisão de Sistemas do
CPesFN. Para coordenar a conclu-
são da Integração e a condução das
fases seguintes – Migração dos
Dados, Implantação e Avaliação
Operacional – foi constituído um
Grupo de Trabalho, tendo em vista
a necessária interação dos De-
partamentos e Assessorias do
CPesFN com os analistas e pro-
gramadores da EasyCAE.
Em JUL2002 o SIGeP entrou em
Avaliação Operacional, fase
conduzida em três etapas, inter-
caladas com períodos de ajustes e
correções:
ü Etapa 1: avaliação interna
pelo CPesFN;
ü Etapa 2: participação de
sete OM piloto, representando os
principais tipos de OM (ComTrRef;
BFNIF; BtlArtFuzNav e Btl
Tonelero; CiaCom; CIASC; e
CRepSupEspCFN); e
ü Etapa 3: contribuições de
todas OM do CFN.
Concluído o desenvolvimento, em
27AGO2002 foi expedida a Circular
nº 5/2002 do CPesFN, implantando
o SIGeP em toda MB, com início da
operação a partir de 02SET2002.
Para isso, na última semana de
AGO2002 foi realizada a migração
definitiva dos dados do SisPFN,
trabalho meticuloso, realizado em
conjunto pela EasyCAE e pelo
CPesFN, em que os registros
existentes no sistema antigo foram
criticados e formatados segundo as
especificações do SIGeP.
Vantagens
comparativas
O SIGeP, entregue com do-
cumentação completa – o que
permite a quem não trabalhou no seu
desenvolvimento entender como
funciona, quais tabelas utiliza e a
finalidade de cada rotina – emprega
o conceito de bancos de dados
relacionais, que garante consistência
entre os dados das diferentes tabelas
que compõem o sistema. Além disso,
apresenta algumas características que
o diferenciam do SisPFN e permitem
um melhor aproveitamento das
facilidades oferecidas pela moderna
tecnologia de sistemas gerenciadores
de banco de dados e pela Intranet
da MB. O acesso remoto por todas
OM da Marinha, utilizando-se
interface moderna, fácil de usar e com
telas feitas “sob medida” para os
usuários, gera duas vantagens
comparativas: descentralização da
inserção de dados e verificação dos
registros pelos militares.
Atualmente, o CPesFN recebe,
por diversos métodos, subsídios das
OM para inserir no SisPFN, tais
como arquivos elaborados com a
utilização do SisDPMM, Ordens de
Serviço (OS) com resultados de
cursos e de provas de tiro, ofícios,
mensagens etc. Com o SIGeP, as
OM é que farão a inserção da maioria
dos dados, diretamente no sistema.
Ao CPesFN caberá a verificação dos
dados inseridos, realizando auditorias
com base nos documentos remetidos
pelas OM. Em alguns casos, como
prova de tiro e TAF, a ratificação dos
registros pelo CPesFN ocorrerá
após análise estatística da pontuação
obtida – caso sejam identificados
resultados atípicos numa turma de
tiro, por exemplo, será determinado
que nova prova seja aplicada. Além
disso, considerando-se que o sistema
conta com filtros para a captação dos
dados, a ocorrência de erros de
digitação será reduzida. Portanto, os
registros feitos para cada militar serão
2002 - O Anfíbio - 112
conferidos pela OM e pelo CPesFN,
além de passar por mecanismos
automáticos de verificação e de
segurança, expostos a seguir, o que
proporciona maior confiabilidade nos
cadastros dos militares.
Após os lançamentos feitos,
todos militares do CFN poderão
consultar os respectivos dados,
diretamente no SIGeP, a partir de
qualquer terminal da sua OM que
esteja conectado à Intranet. Atual-
mente, para cada processo seletivo
o CPesFN elabora uma relação com
os pontos dos militares participantes,
envia para as OM ou publica em
BONO, para verificações e cor-
reções, e, após o retorno das OM,
define os selecionados. Ora, com o
SIGeP, uma vez que cada militar, a
qualquer momento, estará conferindo
seus registros (Fig. 2), este re-
trabalho será desnecessário,
resultando em menor necessidade de
homens-hora nos processos seletivos
e, o que é mais importante, asse-
gurando ao CPesFN e ao próprio
militar a confiabilidade na pontuação
que serviu de base para a seleção.
Esta co-participação das OM e dos
próprios militares – agora co-res-
ponsáveis pelos respectivos registros
– representará economia de tempo e
maior precisão nos processos, re-
duzirá o trâmite de mensagens e
Fig.2
requerimentos de recurso e, espera- trador de Banco de Dados, Oficial
se, diminuirá a quantidade de ações da Divisão de Sistemas do CPesFN,
judiciais decorrentes do desco- identifique quem realizou toda e
nhecimento ou mesmo de eventuais qualquer manipulação em dados, pois
erros administrativos. estas ficam registradas em tabela
específica que armazena o data-hora
Segurança e, a partir da senha registrada, o autor
da manipulação. Para isso, nos
Tendo em vista que o SIGeP acessos ao SIGeP, pede-se o NIP e
guarda no seu interior registros a senha de quem está fazendo o
pessoais e que os dados inseridos são “login”.
na realidade pontos que podem
decidir a carreira dos militares que Recuperação
participam de processos seletivos – de dados
com repercussões que, às vezes,
transcendem a própria carreira, pois A recuperação de dados no
podem mudar o futuro do militar e, SIGeP pode ser feita de três maneiras:
por conseqüência, de todos os que extrações, consultas e relatórios. As
dele dependem – o requisito segu- extrações consistem em arquivos que
rança recebeu tratamento especial. são gerados para servirem como
Contribuem para a segurança do “input” de outros sistemas. É o caso,
sistema, primeiramente, os controles por exemplo, da extração de dados
e conferências feitos na inserção de de Oficiais e Praças que são for-
dados. Assim, toda inserção de matados e remetidos à DPMM, para
registro é associada a um documento inserção no SISBOL. As consultas
– OS, mensagem, ofício etc – que é são acessos para verificar na própria
conferido, no CPesFN. tela determinados registros. É o caso,
A seguir vem a compartimen- por exemplo, da consulta que todo e
tação. Mesmo levando-se em conta qualquer FN, Oficial ou Praça,
que os militares que acessam o SIGeP poderá fazer para verificar seus
para inserir, alterar ou excluir dados dados. Não será permitido realizar
são selecionados pelas OM e alteração, inserção ou exclusão, mas,
devidamente credenciados pelo uma vez identificado algum erro, o
CPesFN, filtros limitam seu acesso, militar poderá procurar seu Sar-
compartimentando assim sua visão genteante que acionará o setor de
aos militares que estão sob Pessoal da OM. A correção será,
administração da respectiva então, providenciada – no caso de
OM. Portanto, um Sar- funcionalidade operada pela OM –
genteante cadastrado pelo ou será solicitado que o CPesFN
Batalhão Paissandu poderá faça a alteração, indicando o do-
manipular apenas registros cumento que dá amparo ao pedido.
de militares daquele Btl. Os Os relatórios podem ser arquivos
Oficiais e SG credenciados ou cópias em papel que reproduzem
pelo G-10 do ComDivAnf variados tipos de dados, tais como o
acessarão apenas os dados Mapa de Contagem de Pontos
dos militares das OM da (MCP) de militares de determinada
DivAnf – e assim por diante. faixa, para apreciação visando Re-
O SIGeP permite, engajamento ou Seleção para Es-
também, que o Adminis- pecialização. Também pode ser a
2002 - O Anfíbio - 113
relação de cursos realizados por um sores para identificar, em qualquer
SG, as comissões anteriores de um momento, em que ponto da curva
está situada sua organização como
Oficial ou, ainda, militares da OM que
estejam em LESM. No caso dos um todo, seus componentes e mesmo
SDP, poderão ser emitidos relatórios as ferramentas de apoio à decisão.
de ORDMOV em aberto – militares Isto é importante pois, mesmo que a
que receberam determinação para Curva S ainda esteja ascendente,
serem movimentados mas que ainda pode haver o impacto de inovações
não foram desligados da OM de que venham a acelerar o advento do
origem. ponto de inflexão e o conseqüente
Inicialmente, o SIGeP oferece declínio. Assim, sinais de mudança na
“atitude” da curva devem ser con-
vários tipos de relatórios específicos
às OM da MB FN, aos SDP e tinuamente avaliados.
Comandos de Força e ao CGCFN. A introdução do SIGeP como
ferramenta de apoio à administração Fig.3
Todavia, espera-se que, após co-
nhecerem melhor as facilidades do pessoal do CFN é um bom
oferecidas, sejam solicitadas novas exemplo de como uma corporação CPesFN e as OM da MB, que pas-
funcionalidades, as quais repre- deve evoluir. Da “pré-história” dos sam a dispor de moderna ferramenta
sentarão tarefas de manutenção do registros manuscritos e das fichas em de apoio à administração de pessoal,
SIGeP, atribuição dos programa- papel chegou-se à Era da Infor- e, principalmente, os Fuzileiros
dores da Divisão de Sistemas do mação, com plena utilização da in- Navais, que passarão a contar com
CPesFN. Isto será possível porque formática, passando pelas máquinas um sistema que prima pela
o sistema foi projetado para ser de escrever, mimeógrafo, fotocopia- transparência dos dados utilizados
construído em módulos, permitindo doras etc. Mas a informática também nos processos seletivos, sem perda
sua expansão. Algumas destas evolui – e de forma muito mais rápi- da necessária segurança.
necessidades já foram identificadas da – por isso, até os sistemas in- Vale registrar que o SIGeP é
durante a Avaliação Operacional. formatizados tornam-se obsoletos. exemplo de sucesso na substituição
Assim, poderão tanto os CmtOM Assim, as antigas – e enormes – de sistemas legados, pois cerca de
como os Comandantes de Força ou máquinas Cobra (Fig. 3) se foram, oitenta por cento deste tipo de
de SDP, para melhor exercício do mas o SisPFN, depois de anos de empreendimento sofre atrasos na
seu comando, dispor de consultas relevantes serviços prestados, já entrada em o operação e/ou aumento
que permitam apontar, entre os emite sinais de que o ponto máximo nos custos previamente estipulados
militares de sua OM, aqueles que do “S” está próximo. Daí sua – o que não ocorreu com o SIGeP.
possuam qualificação específicas – “agregação” e, ainda que disposto a Este sucesso deve-se, em grande
curso realizado na MB ou mesmo trabalhar, o início do seu Licen- parte, ao comprometimento direto de
uma habilitação adquirida extra-MB, ciamento do Serviço Ativo na Ma- todos integrantes do CPesFN com
como um curso de informática, de rinha. o êxito do projeto. Também deve ser
pedreiro, de pintura automotiva etc. O SisPFN será “desligado” do mencionado que a substituição de
SAM com todas homenagens que sistemas que ainda estejam na fase
Exemplo de merece. O SIGeP ainda percorrerá ascendente da Curva S por outro,
evolução o trecho inicial da curva, com baixa inovador, exige, por parte da go-
inclinação, até alcançar Fase 2, onde vernança corporativa, decisão au-
Conforme mencionado no início espera-se incremento acelerado no daciosa e vontade política, atitudes
deste artigo, todo sistema – e mesmo seu desempenho. Todavia, o im- típicas de lideranças transformado-
todos seres vivos – possuem um ciclo portante é que iniciou sua jornada – ras – o que também não faltou ao
de vida, bem representado pela toda grande marcha inicia com o SIGeP, ferramenta pioneira, pois sua
Curva S. Os responsáveis pela primeiro passo. Os beneficiados com operação chega ao nível OM e, na
gestão estratégica de grandes esta evolução modelar de Gestão verificação dos dados, torna os
corporações devem dispor de sen- Contemporânea são o próprio próprios militares co-responsáveis.

2002 - O Anfíbio - 114

 O Impacto das Inovações Tecnológicas e a Importância
da Informática para o emprego Operativo do CFN.
CMG (FN-RRM) ARMANDO S. DE ANDRADE DA COSTA
CC (FN) WLADIMIR SOARES FRANCO
CC (FN) JÚLIO CÉSAR FRANCO DA COSTA
CC (FN) FRANCISCO ROZENDO DE ANDRADE NETO
CC (FN) PAULO JOSE PINHEIRO FILHO
CT (FN) MARCIO ROBERTO MOREIRA DA SILVA
CT (QC-FN) HAROLDO JOSÉ M. BUENO PAIVA
CT (FN) CLAUDIO VICENTE ISSA VIEIRA
CT (FN) FLÁVIO DOS SANTOS NASCIMENTO

“A destruição das forças inimigas possui um

valor superior a todos os outros meios.
É compreensível que o meio utilizado tenha
que ser custoso, porque em igualdade de
circunstância o nosso próprio dispêndio de
forças há de ser tanto maior quanto o for nossa
intenção de aniquilamento das forças do
inimigo.”
(Carl von Clausewitz, in da Guerra) Fig. 1

Introdução O campo de batalha moderno

Para que tipo de guerra o Corpo
de Fuzileiros Navais (CFN) deverá
estar preparado neste novo milênio?
Esta é uma questão que parece estar
presente na mente dos Fuzileiros
Navais. O estado da arte militar, em
constante evolução, indica uma nova
filosofia de combate, com ênfase no
militar profissional, no uso de sistemas
computadorizados de alta tecnologia
e em uma doutrina mais flexível.
O conflito, provavelmente, será
travado em um cenário regional,
conseqüência de serem transgredidos
os interesses estratégicos e econô-
micos de determinado Estado. Sofis-
ticados sistemas computadorizados
serão empregados e influenciarão
decisivamente no campo de batalha.
Diversas lições serão colhidas e
rapidamente disseminadas para o
restante do mundo e dentre estas,
uma certamente prevalecerá: a ine-
vitável necessidade de investir-se em
pesquisa, desenvolvimento e im-
plementação de tecnologia de ponta
nas Forças Armadas.
Os ataques serão rápidos, silen-
ciosos e mortíferos. A tradicional
“linha de frente” não deverá existir
nos moldes atuais e todos os com-
batentes serão de primeira linha,
vulneráveis aos ataques provenientes
de diversas origens e direções.
Invisíveis ações de guerra eletrônica
(GE) e de informações serão cons-
tantes. Vírus de computadores serão
disseminados e paralisarão a vida
cotidiana do cidadão comum, por
meio de colapso da eletricidade, da
telefonia, da Internet, do rádio e da
televisão. Não existirá lugar seguro e
a área de retaguarda estará vul-
nerável.
O CFN estuda e pesquisa a
implementação de diversos sistemas
computadorizados para as suas
unidades operativas, com a finalidade
de dotá-las com tecnologia no estado
da arte. O presente artigo tem o pro-
pósito de ressaltar o impacto das
inovações tecnológicas e a im-
portância da Informática para o
emprego operativo do CFN no
contexto do combate moderno. Para
tanto, abordará as idades segundo o
emprego da tecnologia nas guerras;
as tendências decorrentes das ino-
vações tecnológicas na condução do
combate terrestre; os novos con-
ceitos doutrinários genéricos de-
correntes das inovações tecnológicas;
o guerreiro cibernético; O CFN, a
tecnologia e o futuro; e a tecnologia,
a origem e a natureza da guerra.
As Idades Segundo o
Emprego da Tecnologia na
Guerra
No decorrer da história, a tec-
nologia, ou o aparecimento de
inovações em produtos e processos,
se confunde com o progresso. A
guerra, como expressão extrema do
choque de interesses, é inerente à
2002 - O Anfíbio - 115
condição humana e constitui uma militar. O processo tecnológico torna- Força Armada, e depois, entre For-
atividade que lança mão dos produtos se mais acelerado. ças Armadas. A Guerra Eletrônica
e dos processos criados pelo engenho Idade dos sistemas (de 1830 a (GE) surge na Guerra Russo-Japone-
humano. Na guerra a superioridade 1945) – ocorre o emprego militar de sa, porém, após a 2ª Guerra Mundial,
tecnológica é, normalmente, deter- sistemas pioneiros como a ferrovia e esta foi usada na maior parte dos
minante para o conflito e vantajosa o telégrafo. As máquinas que antes conflitos, tornando-se notável a partir
para o lado que a detém. operavam isoladas são integradas em da Guerra do Vietnã, onde aparece-
A guerra Irã-Iraque, por exemplo, grupos complexos e interativos, que ram diversas inovações tipo: bloqueio
prolongou-se sem definição para dependem de coordenação precisa. de escolta; mísseis anti-radiação;
qualquer um dos contendores, devido A tecnologia é objeto de organi- varreduras passivas; tecnologia
aos países envolvidos no conflito zação, a matéria- “STEALTH”2 ;
estarem equivalentes em seus níveis prima predomi- etc. Atualmente,
tecnológicos, não havendo desequi- nante é o aço e é integração é a pa-
líbrio de poder de combate. A guer- instituída a ino- lavra de ordem
rilha é, normalmente, empregada por vação dos sis- das atividades
quem não possui vantagem tecno- temas. militares. Inte-
lógica e, desta forma, procura tirar Idade da au- gração entre sen-
vantagens das circunstâncias ambien- tomação (a par- sores, entre uni-
tais (população, características da tir de 1945) – a dades, entre u-
área de operações, ideologia, etc.). guerra é travada nidades e seus
O terrorismo é beneficiado pela ca- com sistemas comandos supe-
pacidade de seus agentes explorarem capazes de de- riores e, até mes-
com surpresa a tecnologia disponível. tectar mudanças mo, entre unida-
Tecnologia1 é a transformação ra- no ambiente e des táticas e os
cional em processos e produtos do co- reagir a elas auto- A tecnologia e a Guerra comandos de mais
nhecimento científico, aplicável a maticamente. A alto nível.
todas as épocas e lugares. Encontram- matéria-prima passa do aço para
se abaixo listados as idades segundo ligas sofisticadas, cerâmicas e As Tendências Decorrentes
o emprego da tecnologia nas guerras: materiais sintéticos. O processo das Inovações Tecnológicas
Idade das ferramentas (até tecnológico torna-se cada vez mais na Condução do Combate
1500) – a tecnologia militar usava a acelerado. Terrestre
energia muscular de homens e ani- Na idade da automação a tecno-
mais. A matéria-prima mais impor- logia militar aumenta de comple- As inovações tecnológicas, muitas
tante era a madeira e o processo tec- xidade e para processar a rapidez do apresentadas de forma pioneira na
nológico era tão lento que muitos fluxo de informações faz-se neces- Guerra do Golfo, foram progressiva-
utensílios existentes no início da idade sário o uso de sistemas computa- mente tornando-se mais sofisticadas,
pouco mudaram até o final. dorizados, conseqüência direta da no que está sendo denominada a
Idade das máquinas (de 1500 tecnologia já existente. Inicialmente, “revolução tecnológico-militar”. Esta
a 1830) – houve predominância de os computadores eram utilizados “revolução” está ocasionando um im-
fontes de energia não orgânicas como para os aspectos administrativos da pacto muito significativo no combate
o vento e a pólvora. A arma de fogo guerra. O impacto dos computado- terrestre, principalmente, em relação a
possibilitou grande impacto na tática, res logo passou para as comunicações cinco tendências3 : dispersão e leta-
pouco na estratégia, e o metal substi- e na Guerra do Vietnã, pela primeira lidade; volume e precisão do apoio de
tuiu a madeira como a matéria-prima vez, foram integradas as redes de fogo; integração tecnológica; massa e
mais importante para a tecnologia comunicações militares dentro da efeitos; e invisibilidade e detecção.
1
Definição de tecnologia e classificação segundo Van Creveld, “Technology and War”, 156-70.
2
Tecnologia avançada que alia estrutura angular com pintura especial, tornando o meio de guerra invisível aos radares e sistemas de
detecção inimigo.
3
Essas tendências são apresentadas pelo General Gordon Sullivan, Chefe do Estado-Maior do US ARMY, em seu artigo “Land Warfare in
the 21 st Century”, “Military Review”, Set 1993,13-32.

2002 - O Anfíbio - 116


A dispersão e letalidade no
campo de batalha moderno
Dispersão e letalidade – o fuzil
dotado com aparelho de pontaria,
introduzido em grandes proporções
no século XIX, aumentou a distância
em que o soldado poderia influenciar
no combate. De forma gradual, os
fuzis, as metralhadoras e a artilharia
foram tornando-se mais eficazes e
letais, conseqüentemente, as unida-
des passaram a dispersar-se no ter-
reno. Naquela época, essas inova-
ções tecnológicas acarretaram mu-
danças no emprego das unidades
militares, como por exemplo, a tática
de marchar ombro-a-ombro, uti-
lizada na era do mosquetão, passou
a ser ultrapassada.
A inovação tecnológica está tor-
nando os sistemas de armas cada vez
mais letais e as unidades cada vez
mais dispersas no campo de batalha.
A cada mudança de padrão em
A expansão do campo de batalha4 em diferentes épocas
Área ocupada pelo
posicionamento de uma
Antigüidade
força composta de
100.000 soldados
Em km quadrado 1 20,12
Frente de
combate (km) 6,67
Profundidade (km) 0,15
Combatentes
por km quadrado 100.000
4
Tabela especificada no artigo “Land Warfare in the 21st Century” , “Military Review”, Set 1993, 13.Os dados são proveniente do livro “
The Evolution of weapons and Warfare”, COL T. N. DuPuy e do livro “ Moving Mountains”, LTG Pagonis”.
termos de tecnologia
militar induz em
mudanças na tática, na
organização das For-
ças, na doutrina, nos
equipamentos e nos
métodos de Comando,
Controle, Computa-
dores e Inteligência
(C4I) para a condução
do combate terrestre.
Na Guerra do Golfo
a tendência “dispersão e letalidade”
foi constatada pela dispersão das
Forças, que envolveu distâncias
nunca antes observadas; e pela
letalidade das armas, principalmente,
as de longo alcance. Foram em-
pregados sistemas Lançadores
Múltiplos de Foguetes, helicópteros
APACHE, mísseis PATRIOT, CC
ABRAMS, sistemas de posicio-
namento global e de direção, etc.
No futuro, esta tendência resultará
em uma nova mudança da tática, da
organização das Forças, da doutrina,
dos equipamentos e dos métodos
C4I, da mesma maneira como já
ocorreu no passado. As Forças tor-
nar-se-ão cada vez mais móveis,
criarão inovações para tornar as co-
municações mais eficazes, mano-
brarão com maior rapidez e utilizarão
os fogos de plataformas posicionadas
Guerra de Guerra Civil
Napoleão Norte-
americana
25,75
8,05 8,58
2,50 3,0
4.790 3.883
a grandes distâncias. Mudanças que
irão requerer os seguintes requisitos:
¨ Do Comandante, habilidade
para tomar decisões rápidas;
¨ Do Estado-Maior, capacidade
de planejar o sincronismo das ações
para Forças dispersas em largas frentes
e em grandes profundidades; e
¨ Do Comandante de frações, a
responsabilidade de tomar decisões
rápidas, em posições isoladas, ba-
seadas no efeito desejado do superior
imediato.
Esses requisitos influenciarão di-
retamente nos aspectos mais diversos
de emprego da Força, que deverá
dispor cada vez mais de militares com
maior iniciativa e de melhor qualidade
profissional.
Volume e precisão do apoio de
fogo – na era do mosquetão, quando
o armamento era carregado pela
boca, a cadência de tiros era baixa,
o carregamento lento e o tiro impre-
ciso. As inovações do fuzil de re-
petição, do carregador metálico, das
metralhadoras automáticas, das fitas
metálicas para projéteis e do aparelho
de pontaria para as armas de in-
fantaria, conferiram um significativo
aumento do volume dos fogos e os
disparos foram realizados com maior
precisão. Inovações que produziram
maior volume de fogos, constatado
Na
1ª Guerra 2ª Guerra
Guerra do
Mundial Mundial
Golfo
248 2.750 213.200
14 48 400
17 57 533
404 36 2,34
2002 - O Anfíbio - 117
com maior freqüência no campo de
batalha. Desta forma, o campo de ba-
talha tornou-se altamente letal, pela
conjunção dos seguintes fatores:
aumento do volume de fogos; maior
alcance e maior precisão dos tiros.
Outras inovações surgiram para con-
trabalançar tais como trincheiras,
posições fortificadas e proteção blin-
dada.
A tendência “volume e precisão
do apoio de fogoӎ , atualmente,
comprovada pelo emprego de mísseis
teleguiados, de arma com desig-
nador-laser, de munição inteligente,
de lançador múltiplo de foguetes, etc.
Esta tendência modificará os fatores
de planejamento no combate mo-
derno, adotando parâmetros dife-
rentes daqueles observados no
passado.
Integração Tecnológica – a
Guerra de Napoleão introduziu um
telégrafo visual chamado Chapped5 ,
com a finalidade de que as ordens
emanadas fossem transmitidas ra-
pidamente de um extremo ao outro
do campo de batalha. Em condições
ideais, as mensagens transmitidas
pelo Exército de Napoleão poderiam
percorrer 200 km em aproximada-
mente uma hora. Esta inovação con-
feriu a Napoleão melhor Comando e
Controle (C2) de suas tropas. No iní-
cio do século XX, a rede de estradas
de ferro e o telégrafo representaram
um marco da era contemporânea na
integração tecnológica. Naquela
época, o uso do telégrafo (para agili-
zar as comunicações) integrado ao
uso de redes de estrada de ferro (pa-
ra o rápido deslocamento de grandes
contingentes de tropas) revolucionou
o C2 e a capacidade de deslocar For-
ças na condução da guerra terrestre.
5
Gunther E. Rothenberg, “The Art of Warfare in the Age of Napoleon”.
6
Segundo a teoria de Clausewitz, fricção é àquilo que distingue a guerra real da guerra na teoria. Na teoria tudo é muito simples, mas a
realidade é bem diferente e, na guerra, a ausência de verdade e o exagero com o qual as coisas se apresentam revela-se instantaneamente.
No fragor da batalha, porém, o
combate se processa de maneira
diferente. A natureza da guerra pres-
supõe medo, perigo, incerteza e fric-
ção6 . Os relatórios que os Coman-
dantes recebem, em sua grande
maioria, são incompletos e incorretos.
As informações colhidas precisam
ser interpretadas para se tornarem
documentos de inteligência, porém,
estas se deterioram com a fricção, que
se agrava na medida que o tempo
passa. O uso de tecnologia avançada
atenua a fricção do combate, pois os
sistemas computadorizados de coleta
e de processamento de informações
tornaram-se mais confiáveis e velo-
zes, transmitindo as informações em
tempo real, conferindo ao Coman-
dante e ao Estado-Maior dados de
inteligência que representam uma
inestimável ferramenta de apoio à
decisão.
Atualmente, a busca pela integra-
ção tecnológica na condução da
guerra terrestre é constante e em
todos os níveis: entre os observa-
dores avançados e os sistemas de
apoio de fogo; entre os escalões su-
bordinados e os superiores; entre as
equipes de reconhecimento e o Es-
tado-Maior; entre as equipes de
ligação; etc. A integração tecnológica
permitirá o enlace de toda a Força,
em níveis não observados até hoje.
Em futuro próximo, os sistemas
computadorizados irão integrar a
Força Naval, Aérea e Terrestre, per-
mitindo o emprego destas como
Força combinada, com qualidade
muito superior quando comparado ao
emprego de uma Força singular. Para
implementar toda essa mudança
tecnológica serão necessárias, como
ocorreu no passado, mudanças na
doutrina, na organização tática e no
C4I das Forças. Sistemas compu-
tadorizados e de inteligência criarão
uma percepção comum do campo de
batalha por todas as unidades da
Força combinada, que possibilitará
o emprego sincronizado das unidades
no campo de batalha moderno.
Na tendência “integração tec-
nológica” ocorrerão, porém, fatores
limitativos, não provenientes dos
sistemas computadorizados, mas sim
do fator humano, que terá que pro-
cessar uma quantidade de dados
nunca antes observada. O desafio
que acompanha esta tendência
permanecerá como sempre foi: au-
mento na capacidade de integração
tecnológica pode, uma vez mais, criar
uma falsa impressão de que a tecno-
logia avançada suplanta a capacidade
decisória do homem.
Os efeitos criados pelas três pri-
meiras tendências – dispersão e le-
talidade, volume de fogos e precisão
e integração tecnológica – somar-
se-ão e serão reforçadas pela quarta
tendência: a capacidade de pe-
quenas unidades em criar efeitos
decisivos.
Massa e efeitos – as pequenas
unidades estarão aptas a criar efeitos
decisivos nas forças inimigas de três
maneiras:
¨ A primeira é simplesmente
física e caracteriza-se pela soma dos
efeitos da utilização das armas
individuais de infantaria, do emprego
das armas coletivas e do emprego
dos sistemas de apoio de fogo
diretos e indiretos. A soma desses
efeitos permite que pequenas
unidades concentrem poder de
combate de grandes proporções em
pontos decisivos. Esta conclusão é
2002 - O Anfíbio - 118
conseqüência direta das duas pri-
meiras tendências, grande volume de
fogos e precisão ocasionam disper-
são e letalidade no campo de bata-
lha, em compensação, os sistemas de
apoio de fogo estão se tornando cada
vez mais eficazes, permitindo maior
efeito destrutivo e decisivo no alvo.
¨ A segunda caracteriza-se pelo
emprego de unidades integradas por
meios de diversas naturezas. O
Exército de Campanha, no século
XIX, integrava toda natureza de
armas e foi separado fisicamente em
Divisões. Em seguida, a separação
física desceu de escalão e atingiu as
Divisões e Regimentos, que forma-
ram as Brigadas e os Batalhões, nos
mesmos moldes de emprego da 2ª
Guerra Mundial. Atualmente, as pe-
quenas unidades incorporam, em
uma única estrutura, componentes
de diversas naturezas. Esta estrutura
denomina-se Força-Tarefa 7 (FT) e
é capaz de empregar os sistemas de
fogos diretos e indiretos. Quando
dotada de aeronaves de asa fixa e
rotativa, caracteriza-se pelo alto
grau de mobilidade e grande poder
de combate. A FT com o auxílio de
dados de inteligência pode ser em-
pregada de forma eficaz no campo
de batalha, obtendo resultados de-
cisivos.
¨ A terceira caracteriza-se pelo
emprego das manobras táticas ofen-
sivas. Inicialmente, a manobra era
simples resultado de esforço físico (a
pé e a cavalo). As inovações dos sis-
temas de armas terrestres, dos meios
de apoio aéreos e da proteção blin-
dada, permitiram que as unidades
fossem capazes de executar diversos
tipos de manobras ofensivas. Gra-
dualmente, as manobras estão sendo
7
A Força-Tarefa possui conceito semelhante ao de Organização por Tarefas, adotado no CFN.
8
David Alexander, “Tomorrow’s Soldier”, 1999, 45 e 46.
9
Os níveis de condução da guerra são: o político, o estratégico-militar, o operacional e o tático.
aperfeiçoadas concomitante aos
sistemas C4I, o que permite a rápida
dispersão e concentração de Forças
em pontos decisivos.
Invisibilidade e detecção – no
início do século XX os movimentos
eram feitos preferencialmente à noite,
ou em trincheiras, ou usando a ve-
getação e o terreno como coberta.
A detecção era feita de forma física
e o limite era a acuidade visual do
combatente. A inovação do uso de
balões em combate aliada ao uso de
binóculos aumentou a capacidade de
detecção em combate.
Invisibilidade e detecção com-
põem a última tendência que con-
figurará o cenário do campo de ba-
talha moderno. Atualmente, o uso de
medidas eletrônicas permite que
uma Força se torne invisível para o
inimigo, concomitante com o au-
mento de sua capacidade de detec-
ção. Paulatinamente, a tecnologia
avançada e os sistemas de inteli-
gência continuarão a se aperfeiçoar,
tornando o campo de batalha cada
vez mais transparente para nossas
Forças e mais obscuro para o ini-
migo. Medidas preventivas irão con-
figurar este cenário, que inclui siste-
mas de alerta antecipado para o
posicionamento de Forças durante
as crises.
Todas essas medidas concorrem
para a dissuasão, que tem relação
direta com a tecnologia avançada e
com a habilidade de empregá-la, em
condições adversas.
Os Novos Conceitos
Doutrinários Genéricos
Decorrentes das
Inovações
Tecnológicas
O combate terrestre mudou e é
natural que as Forças Anfíbias, como
Forças de pronto emprego, estudem
mudanças para se adequarem à
realidade do combate moderno. Por-
tanto, novos conceitos doutrinários8
genéricos estão sendo analisados:
Operações multidimensionais
– o campo de batalha excedeu as
tradicionais dimensões de largura,
profundidade e altura. A zona do
espaço orbital está sendo deno-
minada a quarta dimensão do campo
de batalha. A comunicação celular
ampliou o campo de batalha, propa-
gando informações da frente de
combate para a retaguarda. O nível
político e o nível estratégico-militar9
podem acompanhar e interferir dire-
tamente em nível operacional e, até
mesmo, em nível tático. Invisíveis
ondas de guerra eletrônica impreg-
nam as comunicações no espectro
eletromagnético, buscando neutra-
lizar e monitorar o sistema C4I ad-
versário.
Operações cirúrgicas e sin-
cronizadas – precisão e sincroniza-
ção são vitais no campo de batalha
moderno. O ataque de diversos sis-
temas de armas, executado com
O nível político e o nível
estratégico-militar podem
interferir no nível operacional e
até no nível tático.
2002 - O Anfíbio - 119
agressão e precisão, de maneira sin-
cronizada, contra o Centro de Gra-
vidade 1 0 conceituado por Clau-
sewitz, será essencial para alcançar
a vitória. O propósito é evitar o en-
gajamento decisivo com o inimigo,
derrotando-o com o mínimo de per-
das para as nossas Forças. Sistemas
de Jogos de Guerra simularão as
operações e depurarão o planeja-
mento, visando maximizar os fatores
de força e reduzir as influências dos
fatores de fraqueza e das incertezas.
Sensores instalados no campo po-
derão mostrar a configuração do ini-
migo e avançados sistemas comu-
nicações digitais poderão disseminar
as informações no espectro eletro-
magnético com eficácia.
Operações não-lineares e dis-
tribuídas – os combates deverão
ser executados simultaneamente em
várias partes do campo de batalha.
Não é simplesmente o emprego da
massa, como princípio de guerra,
tampouco a concentração de esfor-
ços em um único ponto. As opera-
ções deverão ser fluidas, com cons-
tante mudança de objetivos e quase
sempre voltadas contra o sistema
C4I do Inimigo. Forças serão con-
centradas em pontos decisivos, de
acordo com a evolução tática, modi-
ficando, sistematicamente, o planeja-
mento preconizado inicialmente. Se-
rão comuns as demonstrações e fin-
tas, com a finalidade de iludir o inimigo
quanto ao real propósito da operação.
Operações integradas em uma
doutrina combinada – uma dou-
trina voltada para operações combi-
nadas e conjuntas1 1 será necessária
para o emprego vitorioso no campo
de batalha moderno. Poderá ocorrer
10
Centro de Gravidade - conceito emanado por Clausewitz . Define Centro de Gravidade como o ponto do inimigo onde a aplicação de força
pode produzir melhores resultados. Ponto onde a aplicação bem sucedida de Força induz ao sucesso na guerra, Isto é, atende ao propósito
político.
11
Operações Combinadas - operações realizadas pela integração de componentes de Forças singulares sob um comando único. Operações
Conjuntas - operações realizadas pela integração de componentes de Forças singulares, sem o estabelecimento de um comando único.
o emprego de uma Força Singular em
nível tático, porém, acima do nível
operacional, predominará o planeja-
mento integrado das Forças. O pla-
nejamento e as ações no campo de
batalha estarão direcionados para um
objetivo estratégico-militar comum.
Não deverá existir a predominância
de um Teatro de Operações único,
coexistindo ambientes aéreos, maríti-
mos e terrestres.
O Guerreiro Cibernético
Apesar de todas as inovações
descritas até o presente momento,
pouca tecnologia foi especificamente
implementada para as tarefas do
soldado de infantaria. O soldado utili-
za hoje, basicamente, a equipagem e
o armamento similar aos das últimas
décadas. A lentidão das inovações
tecnológicas para o combatente ter-
restre cria exagerada defasagem en-
tre a tropa e os meios que normal-
mente apóiam suas ações em terra,
especificamente em termos de leta-
lidade, sobrevivência e coordenação
e controle.
Hoje existem diversos projetos
para sofisticar e melhorar o poder de
combate e a sobrevivência do com-
batente. Um desses projetos futuristas
identifica-se como “guerreiro ciber-
nético” e estabelece três prioridades:
1ª - prover ao combatente capa-
cidade de infligir maior poder de
letalidade.
2ª - prover ao combatente meios
para aumentar sua capacidade de
sobreviver, em qualquer ambiente
hostil.
3ª - maximizar o C4I das peque-
nas frações.
Comunicações digitais, imagens
de vídeo, tela de cristal líquido e
equipamentos de visão noturna per-
mitirão que o combatente terrestre
obtenha uma noção precisa do cam-
po de batalha nos mais diversos
ambientes, contribuindo em sua ca-
pacidade de decisão. O armamento
e o equipamento individual básico de
combate também devem ter seu peso
reduzido, aumentando a autonomia
do soldado em combate. Fazem par-
te ainda as seguintes inovações:
¨ Armamento com pontaria laser
integrada à câmera de vídeo e
dispositivos de visão térmica e ótica
para o combate aproximado.
¨ Terminal de computador digital
com processador, rádio, GPS e re-
ceptores de imagens.
¨ Capacete leve balístico com
proteção ocular, monóculo de exibi-
ção de imagens digitais recebidas,
sensores de alvos diurno e noturno e
máscara contra substâncias químicas
e biológicas.
¨ Colete leve de proteção e e-
quipagem contra ataques conven-
cionais e de agentes químicos ou
biológicos.
O “guerreiro cibernético” tem co-
mo base o seu emprego em rede, em
nível esquadra de tiro ou grupo de
combate, sendo composto por dois
módulos: o modulo combatente e o
módulo líder, que se distingue por
possuir rádio, painel e teclado adi-
cional. O módulo combatente possui
rádio capaz de transmitir informações
digitais e enviar sinais de vídeo para
assessorar as decisões do líder. O
sistema empregará rede local sem fio
para conectar os membros das equi-
pes. Para os escalões superiores as
2002 - O Anfíbio - 120
ligações serão estabelecidas por meio
de sinais via satélite. Deverá contar,
além do sistema de localização por
satélite, com um sistema de nave-
gação inercial, este composto por
bússola eletrônica e contador auto-
mático da distância.
Em breve, o nosso combatente
terá sistemas computadorizados que
permitirão aos comandantes saber
precisamente sua posição, disposi-
tivo e até mesmo seus batimentos
cardíacos, dando uma completa
dimensão do campo de batalha.
O CFN, a Tecnologia e o Futuro
Neste contexto de combate mo-
derno, o CFN está desenvolvendo
sua doutrina e equipando-se com
sistemas computadorizados de alta
tecnologia. O surgimento das pu-
blicações da série CGCFN, coleção
de manuais doutrinários do Corpo de
Fuzileiros Navais, alicerçaram e
padronizaram os conceitos minis-
trados nos Centros de Instrução e
Escolas, permitindo uma linguagem
única e elucidando as diversas formas
de emprego dos Grupamentos Ope-
rativos de Fuzileiros Navais. A série
CGCFN, os sistemas computa-
dorizados e os sistemas de armas
incorporados possibilitaram manter o
CFN em consonância com as mu-
danças impostas pelos recentes
episódios da história militar.
Para o futuro, em termos de
tecnologia, o CFN poderá dotar suas
unidades com as seguintes confi-
gurações genéricas de sistemas
computadorizados:
Artilharia – poderá contar com
um Sistema de Direção de Tiro
(SDT) com um potente processador,
capaz de executar rapidamente os
comandos de tiro para os seus arma-
mentos. Atuará no C2, na coorde-
nação do apoio de fogo e na topo-
grafia. O SDT terá como caracte-
rística principal possuir unidades e
componentes compactos e leves,
principalmente, o utilizado pelo ob-
servador avançado. Poderá utilizar o
recurso de cartas digitalizadas.
C4I – o C4I terá como principal
componente o Sistema de Comu-
nicações (SC), que poderá utilizar
recursos da fonia, de criptofonia e de
salto de freqüência. A grande ino-
vação atual em termos de equi-
pamentos rádios é o GPS interna-
mente, integrado ao rádio, possibi-
litando a localização e a transmissão
instantânea do posicionamento do
rádio-operador para os demais assi-
nantes da rede. O SC será provido
de capacetes com alto-falantes e
microfones, permitindo liberdade
para o combatente em utilizar o seu
armamento individual. Contará com
terminais de computador para
comunicações digitais, utilizará o
recurso de cartas digitalizadas e das
comunicações via satélite.
Guerra Eletrônica – o Sistema
de Guerra Eletrônica (SGE) poderá
contar com processadores potentes,
capazes de executar a varredura do
espectro eletromagnético com grande
rapidez e possibilitar a marcação da
posição inimiga instantânea e au-
tomaticamente. Os postos de inter-
ferência operarão com alta potência
para a ação de interferência das
comunicações inimigas. O SGE po-
derá ser composto por unidades
veiculares e equipamentos portáteis,
possibilitando seu uso nos mais
diversos ambientes operacionais, e
utilizar o recurso de cartas digita-
lizadas.
Artilharia Antiaérea – o
Sistema Antiaéreo (SAAe) poderá
ser expandido e totalmente integrado
por meio de comunicações digitais.
Esta expansão deverá contar com
inovações devido a recente incorpo-
ração das aeronaves de asa fixa na
MB. Serão previstos mísseis an-
tiaéreos montados em plataforma
veiculares.
Jogos Didáticos – O Sistema de
Jogos Didáticos (SJD) poderá ter um
grande incremento em meios de
informática, visando a sua maximi-
zação como ferramenta de apoio à
decisão. A simulação deverá ser bem
mais abrangente e incluir: combate
aéreo entre aeronaves; interações
entre tropas e aeronaves; interações
entre tropas e meios navais; inte-
rações entre armamento AC e CC/
Blindados; e observação (detecção)
de pontos de passagens e de OT.
Demais inovações poderão ser
implementadas do tipo: navegadores
de Internet/Intranet; diversos am-
bientes operacionais (ribeirinho, ur-
bano, campo, montanha, selva e
etc.); regras de engajamento; guerra
eletrônica; etc.
Simuladores – a utilização dos
simuladores deverá ser maximizada
com as mais diversas finalidades.
Serão utilizados simuladores para
todos os tipos de sistemas, princi-
palmente, os que utilizam mísseis
como munição, pois avaliam o de-
sempenho do atirador com custo
mínimo.
A tropa de infantaria utilizará um
simulador laser para as armas de
infantaria, que permite o adestra-
mento da tropa de Fuzileiros Navais,
pela simulação de combate real nos
mais diversos ambientes operacio-
nais. O sistema consiste de suspen-
sórios com sensores para os comba-
tentes e sensores removíveis para as
viaturas leves e CC. O sensor ao ser
atingindo por feixe laser coloca o
soldado na condição de “morto” ou
“ferido”, e a viatura indisponível, não
permitindo mais a sua utilização. O
simulador permite o registro de dados
para posterior avaliação. É capaz de
2002 - O Anfíbio - 121
simular o emprego de minas, de essência da guerra. A tecnologia As incorporações dos sistemas
artilharia e de canhão, com efeitos avançada contribuirá fortemente para computadorizados que está ocorren-
pirotécnicos para maior realismo. a vitória, porém, em iguais condições do no CFN são mais do que simples
de tecnologia prevalecerá a enge- substituições de equipamentos, essas
A Tecnologia, a Origem e a nhosidade do combatente. simbolizam a integração do CFN a
Natureza da Guerra esta “revolução tecnológico-militar”
Considerações Finais e visa prepará-lo para absorver o
Para a condução do combate processo que está em andamento em
terrestre no futuro, ocorrerão muitas A Estratégia1 2 é a arte de dispor termos de sistemas computadoriza-
inovações tecnológicas, porém, os as batalhas para a consecução do dos no campo de batalha moderno.
estrategistas não apostam em mudan- objetivo político-estratégico e a Tá- Esta “revolução” não é composta so-
ças nas origens e na natureza da guerra. tica é a arte de dispor forças para a mente pela incorporação de equi-
A origem da guerra não deverá batalha. Entretanto, as batalhas de- pamentos computadorizados de
sofrer mutações. Os povos, líderes e vem ter como propósito mais amplo última geração, encontra-se com-
as nações guerrearão, dentre outros a vitória, ou de outra forma todo es- pactuada com uma série de modifica-
motivos, como resultado da inveja, da forço despendido no campo de bata- ções no CFN. A importância da
ambição, da cobiça e da vingança. lha terá sido em vão, sendo assim, a informática para o emprego operativo
Usarão o que possuem de mais forte Estratégia depende da tecnologia do CFN se traduz pela incorporação
em termos de poder de combate por indiretamente, por meio da Tática. desses sistemas computadorizados
não conseguirem atingir seus objetivos A avançada tecnologia introduziu que trazem: mudança na mentalidade
por outros meios. Em outras palavras, uma nova dimensão à incerteza da do Fuzileiro Naval, que necessitou se
as pessoas lutarão por que não guerra. No século XIX, os planeja- especializar e maximizar o seu grau
conseguiram atingir seus desejos mais dores militares consideravam as ar- de profissionalismo; otimização dos
fundamentais. mas existentes quase como um dado sistemas de apoio de fogo, que au-
Sua natureza permanecerá imutá- fixo. Hoje em dia, ao contrário, o pla- mento de precisão e na rapidez para
vel. Incerteza, ambigüidade, fricção, nejador deve considerar todas as va- a execução dos fogos; implemen-
perigo e medo, da mesma forma que riantes e, principalmente, a tecnologia tação da sistemática de ferramentas
a liderança, a coragem, o sacrifício e que o inimigo detém. Cada uma das de apoio à decisão, que pode depurar
a honra, estarão presentes no campo cinco tendências descritas neste o planejamento, maximizar os fatores
de batalha do futuro. Morte e des- artigo, decorrentes das inovações de força e reduzir as influências dos
truição continuaram a dominar no tecnológicas, é importante por si só fatores de fraquezas e das incertezas;
campo de batalha moderno da mes- para a condução do combate terres- eficácia dos sistemas C4I dos Gru-
ma maneira que no passado e a tec- tre. Entretanto, o impacto e a sinergia pamentos Operativos de Fuzileiros
nologia avançada e os sistemas criada por estas tendências integra- Navais para a realização de Opera-
computadorizados servirão somente das está implementando significativas ções Terrestre de Caráter Naval, que
para maximizar seus efeitos. mudanças na doutrina, na tática, na auferiu um avanço sem precedentes.
O combate moderno permanece- organização das Forças, nos equi- Entretanto, independente dos
rá com a mesma essência: guerra é pamentos e nos métodos de C4I das sistemas computadorizados e sis-
ciência e arte, e sem a engenhosidade unidades para a condução do temas de armas empregados no
do homem não é possível obter re- combate terrestre. Essas projeções combate pelo Fuzileiro Naval, a
sultados positivos no combate. A tec- identificadas para cada uma dessas origem e a natureza da guerra perma-
nologia avançada será importante, tendências não são meras especula- necem e permanecerão imutáveis. A
mas não o suficiente, pois, continuará ções ou previsões, são fatos com- guerra é ciência e arte e como tal, a
a prevalecer o lado subjetivo da provados por meio de episódios engenhosidade do homem é que
guerra. Criatividade, intuição, lide- históricos e pelos sistemas computa- possibilitará vencer no campo de
rança, motivação e capacidade de dorizados avançados em uso nas batalha de hoje e do futuro. Portanto,
decisão sempre irão fazer parte da diversas Forças Armadas. criatividade, intuição, liderança e
12
Definições de Clausewitz _ general prussiano, teórico da guerra e defensor da concepção capacidade de decisão serão sempre
que colocava os valores morais acima das forças materiais, segundo sua teoria, a guerra não imprescindíveis, independente da
pode ser considerado um fato isolado na história, uma vez que ela está estritamente ligada à
consciência do povo. época e da tecnologia utilizada.

2002 - O Anfíbio - 122

 TRAFALGAR, ÜLM E MIDWAY
UMA ANÁLISE ESTRATÉGICA
OPERACIONAL
INTRODUÇÃO
Em trabalho publicado ante-
riormente nessa mesma revista(1)
teve início uma aproximação com
o tema estratégia operacional
(EO). O presente artigo pretende
dar continuidade às idéias apresen-
tadas sobre o assunto, dessa vez,
por meio de três exemplos históri-
cos, os quais procuram dar um
caráter mais prático àquelas for-
mulações teóricas.
Os exemplos históricos consta-
rão de duas articulações estraté-
gicas operacionais navais (EON)
e uma articulação estratégica
operacional terrestre (EOT), estan-
do representados pelos eventos que
culminaram com a Batalha de
TRAFALGAR, com a derrota dos
austríacos em ÜLM e com a Bata-
lha de MIDWAY, escolhidos em face
dos seus conteúdos didáticos.
Antes da explanação dos casos,
será apresentado um resumo dos
principais conceitos expostos no
artigo anterior, assim como, será
abordada a questão das interferên-
cias mútuas entre as denominadas
concepções e as perspectivas, vi-
sando a facilitar a leitura do pre-
sente artigo. Os argumentos que
levaram à síntese constante do re-
sumo encontram-se naquele arti-
go e, embora não sejam essenciais,
são importante base para o enten-
dimento deste tema.
Após a apresentação dos casos
históricos, será efetuada a análise
de cada um deles, a partir dos fa-
tos relatados e em face dos elemen-
tos teóricos apresentados, as quais
CF(FN) J OSÉ CIMAR RODRIGUES PINTO
envolverão uma certa futurologia
do pretérito, conforme a expressão
do General Sérgio Coutinho, na
medida em que expandem as op-
ções adotadas na época para con-
siderar outras alternativas e seus
possíveis resultados. As noções
consideradas como essenciais para
a abordagem da EO e constantes
no resumo, entretanto, não esgo-
tam os conceitos que podem ser
nela inseridos. Algumas são cita-
das, como as próprias concepções,
as alternativas de um dilema e as
assimetrias. Muitos não são, uma
vez que as suas inclusões sobrecar-
regariam demasiadamente a aná-
lise dos eventos históricos. Nada
impede, todavia, que o leitor co-
nhecedor de outros conceitos de
interesse(2) para a EO venha a utilizá-
los nas suas próprias análises.
Outro aspecto importante a res-
saltar nas análises, diz respeito à
equivalência adotada no artigo an-
terior, sem caráter rígido, entre a
estratégia operacional e a mano-
bra estratégica operacional (MEO)
e entre as táticas e os esforços es-
tratégicos operacionais (EEO). Ao
realizar a leitura das análises, en-
tão, poderá ser extraído um enten-
dimento paralelo entre esses con-
ceitos equivalentes, considerando-
se a EO e a(s) tática(s) representadas
(operacionalizadas) na MEO e nos
EEO ou vice-versa.
Ao final do presente artigo, será
feita uma conclusão, na qual pro-
curar-se-á sintetizar as principais
lições extraídas das análises e, ao
mesmo tempo, extrair dessa pe-
quena amostra subsídios que pos-
sam contribuir para uma estraté-
gia operacional brasileira.
RESUMO DOS
PRINCIPAIS CONCEITOS
ANTERIORMENTE
APRESENTADOS
A estratégia operacional, dentre
as várias perspectivas estratégicas,
é a maior herdeira do significado da
estratégia clássica. Desde a Antigüi-
dade, diz respeito ao preparo e ao
emprego dos meios para alcançar fi-
nalidades de caráter político.
Para CLAUSEWITZ, a estraté-
gia (operacional) é o “uso dos enga-
jamentos para o propósito da guer-
ra” e a tática é “o uso das forças ar-
madas nos engajamentos”, tanto o
aceitando quanto o negando. A defi-
nição (adaptada) de tática é: o uso
dos meios nos engajamentos (com-
bates/batalhas). A estratégia opera-
cional, então, é aquela que faz uso
das táticas(3) – (stricto senso) (4) – e
(1)
Revista O ANFÍBIO, n o 20.
(2)
São encontrados, por exemplo, na “Joint
Pub 7 – Operational Art” (T.A.): Sinergia, Si-
multaneidade e Profundidade, Equilíbrio de
Forças, Alavancagem da Força, Oportunidade
e Ritmo, Alcance e Abordagem, Forças e Fun-
ções, Articulação, Centros de Gravidade, Apro-
ximação (Direta x Indireta), Locais Decisivos,
Culminância e Terminação. Devem ser consi-
derados como uma prova “dos nove” à solu-
ção obtida pelo Processo de Planejamento
Militar (PPM).
(3)
Entendidas como os engajamentos, os com-
bates e as batalhas. Neste texto, sempre que
citada, obedece a esta noção.
(4)
A noção de tática, lato senso,corresponde a
qualquer procedimento em face do inimigo
(real ou virtual).
2002 - O Anfíbio - 123
de suas vitórias para obter o propó-
sito (político) da guerra.
A EO trata do que cerca a(s) tá-
tica(s) e visa aquém e além da pri-
meira batalha, onde a dimensão tem-
poral tem a mesma importância da
espacial, utilizando o espaço para ob-
ter tempo e vice-versa, resultado da
possibilidade de articular de forma
planejada, seqüenciada em simulta-
neidade e sucessividade, a ofensiva,
a defensiva, o retardamento, a fixa-
ção e a manutenção de reservas, en-
tre outras, induzindo dispersão para
obter concentração (tática e estra-
tégica) e visando a um fim. Essa arti-
culação da EO contém, intrinseca-
mente, a dissimulação e a surpresa e
é consubstanciada na MEO. Tal arti-
culação pode ser concebida para
um evento único ou cuja continui-
dade imediata deriva dele, diferen-
temente da sua essência, situação na
qual aproxima-se das concepções
da blitzkrieg e da guerra de ma-
nobra.
A presente EO privilegia a pos-
sibilidade do detentor da superiori-
dade em meios totais (potencialmen-
te superior) vir a ser derrotado pelo
adversário potencialmente inferior,
de forma planejada, na medida em
que este último, por meio da MEO,
pode obter a superioridade tática,
em parcelas, manipulando espaço,
tempo, indução de dispersão(5) e
obtenção de concentração. Nesse
sentido, a capacidade de obter con-
centração tática e estratégica dos
meios, principalmente com o
preposicionamento, representa as-
pecto fundamental na obtenção das
vitórias táticas e das finalidades po-
líticas (EO). A interferência dos no-
vos meios (como a bomba nuclear
tática), capazes de obter os resul-
tados semelhantes aos alcançados
por grandes enfrentamentos, não al-
terou essa noção, apenas incluiu um
novo fator que pode ser inserido na
articulação EO e considerado como
mais um engajamento (tática). A
ótica da fraqueza é apresentada por
ser a de resolução mais difícil, den-
tre as combinações possíveis entre
a força e a fraqueza.
A MEO operacionaliza os efei-
tos desejados da política com o es-
tabelecimento de objetivos estra-
tégicos operacionais (OEO). É de-
composta nos EEO, os quais visam
a alcançar tais objetivos. Para cada
OEO, sem caráter rígido, é realiza-
do um esforço. Os EEO, normal-
mente, são consubstanciados nas
táticas (engajamentos, combates e
batalhas) e, ainda, são decompos-
tos em ações táticas (dar comba-
te) – constituídas pelas operações e
ações de guerra (navais, aeroes-
paciais e terrestres) – ou omissões
táticas (negar combate). A estra-
tégia operacional combina táticas
da mesma forma que a tática com-
bina as armas (suas possibilidades
e limitações) nas ações, nas nega-
ções às ações e nas operações de
guerra.
A noção clausewitzeana de Cen-
tros de Gravidade (CG) em muito
auxilia na formulação da EO, mais
particularmente na atividade funda-
mental de designar objetivos e orien-
tar esforços. Para CLAUSEWITZ os
CG são “o centro de todo o poder e
movimento, do qual tudo depende”.
Em sua obra inacabada, CLAUSE-
WITZ refere-se, inicialmente, ser a
primeira tarefa no planejamento de
uma guerra “identificar os centros de
gravidade do inimigo e, se possível,
reduzi-los a um só” (6). O conceito
de CG abarcaria extensa explanação,
merecendo artigo à parte, entretan-
to, para não deixar o tema em aber-
to, entende-se que pode haver CG(s)
político (em todos os desdobramen-
tos), estratégico operacional e, até,
tático, devendo tal entendimento es-
tar inserido na articulação EO. Em
caráter genérico, a identificação do
CG, no âmbito EO, deverá procurar
características militares no mesmo e
contribuir para a EO como um todo,
particularmente na orientação dos
EEO e da MEO, devendo servir para
alcançar as finalidades políticas da
guerra.
Outro importante conceito a con-
siderar diz respeito à noção de vul-
nerabilidade crítica. O conceito
desenvolvido pelos norte-americanos
complementa a noção de CG, uma
vez que uma vulnerabilidade crítica
está diretamente relacionada com
o(s) CG(s) visado(s) e, somente é
uma vulnerabilidade crítica, caso afete
o CG. Ambos os conceitos, de CG
e vulnerabilidade crítica, são impor-
tantes balizas para orientar a EO, no
sentido de protegê-los ou atingi-los,
e devem ser considerados no esta-
belecimento dos objetivos/ esforços.
O espaço natural onde se desen-
cadeia a atividade estratégica ope-
racional, sem caráter rígido, é o dos
Teatros de Operações (TO), onde o seu
comandante operacionaliza os obje-
(5)
Um exemplo pode ser encontrado na EO de
MAO TSÉ TUNG, o qual utilizava diversas
colunas (normalmente 5) em avanço ofensivo;
em seguida aplicava as “retiradas centrípetas”
das colunas, para finalmente aplicar (na tática)
cinco contra um do inimigo atraído pela apa-
rente fuga.
(6)
Sobre os CG, ora afirma que o mesmo “en-
contra-se sempre onde há maior concentração
de tropa”, ora que é a capital (nos países sujei-
tos à luta interna), os exércitos dos países pa-
trocinadores (dos países pequenos e depen-
dentes), a comunidade de interesses (das alian-
ças), a personalidade dos líderes e a opinião
pública (nas insurreições populares) (6). Ape-
sar de marcadamente EO terrestre (T), o livro
de CLAUSEWITZ sobe algumas vezes para
níveis mais altos da estratégia, podendo-se
depreender que a primeira referência é tática e
EOT, sendo as demais pertencentes ao campo
estratégico político.
2002 - O Anfíbio - 124
tivos políticos/militares, tornando-os
objetivos táticos, encadeados na(s)
campanha(s). O teatro pode ser, por
enquanto, preponderantemente naval
ou terrestre. Em qualquer caso, a EO
integra as diversas ações (de guerra e
operações) ou omissões táticas das
forças singulares.
Conforme ainda a lição dos sovié-
ticos, a EO exige que, no mínimo, o
profissional militar identifique os ob-
jetivos estratégicos operacionais, vi-
sualize o teatro em três dimensões(7)
e determine a seqüência de ações
militares para alcançar tais objetivos.
Aos Comandantes de Teatro, por-
tanto, cabe a concepção, o desenho,
o vislumbre, a distribuição dos mei-
os e a atribuição dos objetivos aos
subordinados, entre outras atividades,
cuja estratégia consiste na articula-
ção das táticas, aplicando-as, com
vantagem, em locais (CG) e momen-
tos decisivos, planejados para obter
vantagem e com a máxima potência,
sobre as maiores vulnerabilidades do
oponente, de forma a obter os efei-
tos desejados da política. O valor
estético atribuído a sua concepção
poderá (vir a) ser reconhecido como
arte. Entretanto, vale ressaltar que
arte é um resultado e, portanto, não
pode receber esta denominação a
priori. Embora possa ser ensinada,
não guarda relação direta com o
aprendizado ou a inteligência-cog-
nitiva, emocional ou psicomotora –
de quem a aplica, sempre foi privilé-
gio de quem possui dom – uma mis-
tura dessas inteligências voltada para
uma ou mais atividades.
As concepções (EO) geométricas
do “ponto único” e da “linha contí-
nua” tenderam a ser ultrapassadas,
embora a história seja eternamente
recorrente. A concepção EOT so-
viética, por volta da década de vinte,
alterou tais concepções para inserir,
em profundidade (até 300 km), di-
versos vetores, concatenando-os por FRE) da ação direta (CLAUSE-
meio de operações tridimensionais, WITZ) e da aproximação indireta
contínuas e simultâneas. Na década (LIDDEL HART); a estratégia da
de setenta, os EUA adotaram a con- ação indireta, da lassidão e da dis-
cepção soviética e, mais recentemen- suassão (BEAUFRE); a batalha de-
te, estenderam o campo de batalha cisiva (MAHAN), a “jeune école”
para uma profundidade de até 500 (AUBE), a esquadra em potência, o
km. O sucesso geral depende da ca- bloqueio; a guerra de atrito e de ma-
pacidade de integrar a tática, a estra- nobra.
tégia e a logística. Como exemplo, São consideradas como perspec-
na Guerra do GOLFO, o planejamen- tivas: políticas estratégicas – a nacio-
to logístico obteve tal eficácia, con- nal (total), a diplomática, a econô-
tornando as imposições dos pontos mica, a psicossocial (informacional),
culminantes da ofensiva(8), com o a científica e tecnológica e a militar.
preposicionamento, em profundida- A perspectiva militar se desdobra
de, de entrepostos logísticos capa- nas perspectivas estratégicas naval,
zes de manter a continuidade da ofen- terrestre, aeroespacial e operacional.
siva. A EO, como corte horizontal na ver-
As noções introduzidas neste tra- ticalidade das perspectivas estraté-
balho somente ganham alcance com- gicas singulares, integra essas pers-
pleto quando compostas com o Pro- pectivas estratégicas (naval, terres-
cesso de Planejamento Militar tre e aeroespacial), no segmento on-
(PPM), o qual permanece como a de há preponderância do emprego,
ferramenta fundamental
para a solução dos pro-
blemas militares.
AS
PERSPECTIVAS
E AS
CONCEPÇÕES
No artigo anterior
foram citadas superfici-
almente as concepções.
Todavia, as concepções
interferem com as pers-
pectivas e, por isso,
Fig. 1
faz-se necessário abor-
dar o tema. A presente
abordagem do assunto não tem a ve- ou seja, onde há a necessidade de
leidade de adentrar no terreno alcançar as finalidades políticas por
polêmico das divisões da estratégia, meio da operacionalização das mes-
apenas pretende delimitar o campo
de interesse do tema.
São consideradas como concep- (7) N.A. - A terceira dimensão deverá incluir,
ções, entre outras: a estratégia geo- caso
(8)
necessário, a profundidade submarina.
Clausewitz – Situação na qual decresce a
métrica (VON BÜLOW); as estraté- capacidade ofensiva, em virtude de diversos
gias diretas (denominadas por BEAU- fatores, entre os quais o logístico.
2002 - O Anfíbio - 125
mas em objetivos militares (v. Fig. 1).
Caso haja marcada preponderân-
cia de um dos meios, poderá vir a
ser uma perspectiva EO que leve o
nome desse meio, como a perspec-
tiva EO naval (N), significando que
se restringe ou tem preponderância
do segmento naval e, subsidiaria-
mente, permitindo abordá-la sob es-
se nome em fatos históricos anterio-
res ao advento dos meios aeroes-
paciais. Por último, considera-se tam-
bém como perspectiva, a tática.
Ressalta-se que as concepções
originam-se de fatos históricos, ocor-
ridos em enfrentamentos anteriores,
que se configuraram em modelos de
sucesso e não apenas em rótulos.
Por exemplo, a concepção da bata-
lha decisiva origina-se da tradição
grega do choque, por ocasião das
batalhas entre as falanges. Esses
modelos que representam soluções
extraídas da história, para problemas
que envolvem desde altíssima es-
pecificidade até altíssima complexi-
dade, são necessários, de modo que
a solução, tática ou estratégica, para
o problema militar apresentado, pos-
sa se valer dos mesmos em situações
que se assemelham, apesar de nunca
serem iguais. Alguns desses mode-
los, em face da sua consagração no
meio militar, foram aqui chamados de
concepções, seja porque já recebem
da literatura militar essa denomina-
ção seja para facilitar a abordagem
das perspectivas, uma vez que tais
enfoques apresentam visões comple-
mentares sobre o mesmo tema, a
guerra.
Outros modelos de sucesso, não
menos importantes para a EO, ape-
sar de não serem considerados como
concepções, foram sintetizados da
história, como é o caso dos tipos de
operações ofensivas, das formas de
manobra ofensivas e defensivas,
dos princípios de guerra, dos fun-
damentos da ofensiva e da defen- luta contra NAPOLEÃO e, em co-
siva (9) e tantos outros que permeiam
ordenação, com a perspectiva (po-
a atividade militar. lítica) estratégica militar (naval)
Para o interesse deste artigo, im-
bloqueou os portos sob o controle
porta considerar a relevância que to-
francês no continente Europeu, inter-
dos esses modelos têm para as di- ferindo com o comércio marítimo;
versas perspectivas, nas quais po- dentro da perspectiva (política) es-
dem ser inseridos harmonicamente, tratégica militar, em coordenação
como ocorre, por exemplo, com com seus aliados planejou atacar a
uma EON onde o bloqueio, a bata- FRANÇA, simultaneamente, a par-
lha decisiva, a esquadra em potên- tir de várias frentes, com efetivos dos
cia, a poeira do mar, a guerra de países continentais que superavam
atrito e a guerra de manobra, ape- 500 mil combatentes e, em seu des-
nas para citar algumas, podem ter dobramento na perspectiva estraté-
que conviver. Uma determinada gica operacional (preponderante-
perspectiva deverá traduzir a ação mente naval), conforme já ex-
visualizada por meio de um concei- plicitado, mantinha o bloqueio dos
to, o qual pode vir expresso em uma portos continentais e buscava um
doutrina, uma diretriz, um conceito desfecho naval para o impasse, im-
estratégico, de operação ou de em- possibilitada que estava de contribuir,
prego, entre outras formas, o qual com tropas, para a ação estratégia
virá a ser, também, uma concepção dos aliados na EUROPA, em face da
(final) que revela a maneira de solu-
ameaça de invasão em seu próprio
cionar o problema visualizado. É o território. A situação das esquadras
caso já citado da concepção estra- francesa e britânica, em março de
tégica operacional soviética, refe- 1805, pode ser vista na Fig. 2.
rida no título anterior. NAPOLEÃO, cujo efetivo dis-
ponível era de pouco mais da meta-
TRAFALGAR (10 ) de dos efetivos aliados, estava con-
(11 )
Albion era victo de que, sem a derrota da sua
uma Esfinge principal inimiga, a sua situação no
continente ficaria permanentemente
O contexto que conduziu ao de- indefinida. Apenas a anulação dessa
senlace em TRAFALGAR era muito
maior do que o seu desdobramento
no mar. Em 1803, a GRÃ-BRETA-
NHA declarou guerra à França e, por (9) Vale a pena registrar que os fundamentos da
meio do seu Primeiro-Ministro ofensiva e da defensiva, embora menos famo-
sos que os princípios de guerra, constituem-se
WILLIAN PITT, estabeleceu a cha- em modelos extraordinários para serem segui-
mada Estratégia Periférica, a qual, dos pelos comandantes de operações terres-
entre outras, adotou as seguintes tres, podendo mesmo ser considerados como a
prova dos nove de qualquer operação militar e,
ações: dentro da perspectiva (polí- ao contrário dos princípios de guerra, não pos-
tica) estratégica diplomática, en- suem qualquer contradição intrínseca.
(10)
gendrou a chamada Terceira Coali- A parte histórica do relato baseia-se, em
grande parte, em História do Poderio Marí-
zão (com a ÁUSTRIA, a RÚSSIA, timo, de A. STEVENS e W. O & WESTCOTT,
a SUÉCIA e alguns estados ale- Companhia e Editora Nacional, São Paulo,
mães); dentro da perspectiva (po- 1944.
(11)
Nome da BRITANIA, anterior às invasões
lítica) estratégica econômica, romanas (desde PTOLOMEU), e da nova clas-
apoiou economicamente os países em se de NDD britânicos.
2002 - O Anfíbio - 126
 cisiva, podendo
persistir um misto
das duas concep-
ções. A esquadra
protegia a GRÃ-
BRETANHA não
somente contra
uma concentração
no MANCHA co-
mo, também, con-
tra incursões em
outras regiões do
seu interesse. Ao
mesmo tempo,
obrigava NAPO-
LEÃO a manter
consideráveis
efetivos na costa,
em face da amea-
ça de desembar-
que no continente,
impedindo-os de
serem utilizados na
guerra terrestre. A
esquadra francesa
mantinha-se em
potência, negan-
do combate ao ad-
versário, apesar de
mantê-lo disperso
pela sua própria
dispersão.

O Gênio
enfrenta a
Esfinge

ameaça permitiria o pleno desenvol-
vimento dos seus planos em terra.
Entretanto, para alcançar a GRÃ-
BRETANHA, o Imperador sabia
que deveria enfrentar a sua maior
defesa, a esquadra inglesa, em uma
batalha decisiva, da qual sonhava sair
vencedor.
A GRÃ-BRETANHA, por sua
vez, havia estabelecido como seu
perímetro de segurança a própria
costa do continente europeu. A ar-
ticulação EO (N) britânica tinha por
finalidade impedir a concentração
francesa para a travessia do canal
e, para tanto, adotou a concepção
do bloqueio naval em torno dos
portos onde se abrigavam os vasos
de guerra franceses. Caso NAPO-
LEÃO decidisse levar adiante o seu
intento, tal concepção estratégica
deveria evoluir para a batalha de-
O Plano de Na-
poleão para enfrentar o desafio im-
posto pela Inglaterra consistia na sua
invasão por um exército de 130 mil
homens, 400 canhões e abas-
tecimento para 20 dias. O embarque
estava previsto para ser feito em qua-
tro portos da região de BOLONHA.
A travessia seria realizada do Passo
de CALAIS até a costa britânica (50
km), devendo o desembarque ser
realizado entre DOVER e HAS-

2002 - O Anfíbio - 127

TINGS, a aproximadamente 110 km
de LONDRES. O desafio era seme-
lhante ao de CAESAR e de GUI-
LHERME, com uma grande diferen-
ça, dessa vez existia a esquadra bri-
tânica e, por causa dela, a expedi-
ção deveria obter o controle do mar
a fim de possibilitar a realização da
empreitada. Sobre o assunto, NA-
POLEÃO, em evidente arroubo, es-
creveu a LATOUCHE TRÉVILLE,
então comandante da esquadra
francesa: “Fazei-nos senhores do es-
treito durante seis horas que sere-
mos senhores do mundo”.
Do ponto de vista EO, todas as
combinações de NAPOLEÃO para
a invasão da Inglaterra convergiam
para a concentração da esquadra
francesa no Canal da MANCHA e
para uma batalha decisiva. O primeiro
plano consistia em LATOUCHE
TRÉVILLE escapar do bloqueio de
NÉLSON em TOULON, reunir
mais alguns navios no caminho e pe-
netrar no Canal com pelo menos 16
navios de linha, enquanto GAN-
TEAUME fixava CORNWALLIS
deixando seu porto. Essa manobra de
GANTEAUME se afigurava possível
em função da concepção formalista
da batalha naval, a qual, somente em
aproximações para o desfecho, po-
dia consumir dias. Entretanto, não so-
lucionava o fato de ter que enfrentar a
esquadra britânica na travessia do ca-
nal. A morte de LATOUCHE TRÉ-
VILLE, o almirante francês mais com-
petente e enérgico, em agosto de
1804, assim como a entrada da
ESPANHA em aliança com os fran-
ceses, desfez esse plano.
O segundo plano foi feito sob a
orientação do Almirante VILLE-
NEUVE, o novo comandante da es-
quadra francesa, o qual mantinha a
idéia de escapar ao bloqueio de NÉL-
SON em TOULON e alterava a con-
centração da esquadra para as AN-
TILHAS, onde, além do próprio
VILLENEUVE, incluiria os navios de
GRAVINA (CÁDIZ), de MISSIE-
SSY (12) (ROCHEFORT) e de GAN-
TEAUME (BREST). Tais forças reu-
nidas representariam mais de quaren-
ta navios de linha. O plano de con-
centração dos franceses, conforme
admitiam, induziria a dispersão dos
ingleses, uma vez que os mesmos,
preocupados com as suas colônias(13),
tenderiam a buscar protegê-las, fa-
cilitando a consecução do intento
francês. Nesse sentido, o plano con-
tinha em si mesmo dissimulação e
surpresa.
A Esfinge
devorou o Gênio,
no mar
VILLENEUVE conseguiu o seu
intento de rumar para as ANTI-
LHAS. Partiu a 30 de março de
1805, incorporou parte da esquadra
de GRAVINA, em CÁDIZ (sendo
que os demais navios logo o seguiri-
am) e causou forte emoção no Almi-
rantado Inglês ao irromper no
ATLÂNTICO. Ao final reunia 18
navios. Os navios ingleses que blo-
queavam CÁDIZ dirigiram-se para
o seu local de concentração no Ca-
nal da MANCHA e os bloqueios de
FERROL e de BREST foram aler-
tados.
NÉLSON, após suas fragatas
perderem contato com VILLENEU-
VE, estabeleceu vigilância entre a
SARDENHA e a CÓRSEGA, uma
vez que, subsidiariamente, tinha a ta-
refa de proteger as linhas de comu-
nicação com NÁPOLES, a SICÍ-
LIA e o EGITO. Tendo recebido
notícias do movimento da esquadra
francesa em 18 de abril e conside-
rando que não podia “correr para as
Antilhas, sem outro motivo além de
uma simples suposição”, somente al-
cançou GIBRALTAR em 5 de maio,
após informes mais precisos. Em se-
guida partiu em perseguição aos fran-
ceses, chegando a BARBADOS em
4 de junho.
O Almirante francês, após incor-
porar mais dois navios, não recebeu
o reforço da esquadra de GAN-
TEAUME, a qual jamais se fez ao
mar, comprimida pelo bloqueio de
CORNWALLIS e, ao mesmo tem-
po, não pôde se reunir à Esquadra
de MISSIESSY que partira em con-
seqüência de um erro de transmis-
são das inúmeras ordens de NA-
POLEÃO. Nesse ínterim, recebeu
a notícia da chegada de NÉLSON
no seu encalço, ocasião em que de-
cidiu regressar à EUROPA, em 9 de
junho, esperando prosseguir com o
seu projeto, juntando-se à Esqua-
dra de FERROL.
NÉLSON regressou ao MEDI-
TERRÂNEO e enviou um navio à In-
glaterra, o qual, deparou-se com a es-
quadra francesa a 300 milhas do con-
tinente, navegando em direção a
FERROL. Lorde BARHAM, Primei-
ro-Lorde do Almirantado, ao tomar
conhecimento do fato, em 9 de julho,
determinou a CALDER que enfrentas-
se os franceses, o que foi feito em ba-
talha indecisa, ocorrida em 21 de ju-
lho, próxima ao Cabo FINISTERRA.
Após a batalha, as esquadras perma-
(12)
Uma pequena esquadra britânica bloquea-
va MISSIESSY em ROCHEFORT e, tendo
este escapado ao bloqueio, dirigindo-se às
ANTILHAS, foi seguido pelos ingleses, don-
de pode-se inferir a adoção, pelo Almiranta-
do Inglês, do modelo histórico deestabelecer
e manter o contato (primeiro fundamento da
ofensiva), a fim de não correr riscos.
(13)
Pouco menos de trinta anos antes, um plano
semelhante havia contribuído decisivamente
para a libertação das colônias norte-america-
nas, cujo golpe fatal foi dado contra o Gene-
ral CORNWALLIS, em CHESAPEAKE
BAY.
2002 - O Anfíbio - 128
neceram por mais três dias à vista
uma da outra, sem que nenhuma das
duas tomasse a ofensiva. Por isso,
CALDER respondeu, posteriormen-
te, a Conselho de Guerra, sendo cen-
surado por “não ter feito o possível
para recomeçar o combate e destruir
todos os vasos inimigos”(14). NÉL-
SON, dirigiu-se de GIBRALTAR
para o Canal da MANCHA, deixan-
do com CORNWALLIS, 11 navios,
aos quais foram acrescidos os navi-
os de CALDER, perfazendo um to-
tal de 39 navios sob suas ordens.
VILLENEUVE, após breve es-
tada em VIGO, dirigiu-se a FER-
ROL. As ordens do Imperador eram
para que a esquadra rumasse para
BREST e depois para BOLONHA,
acrescentando: “Conto com o vosso
zelo pelo meu serviço, com o vosso
amor à pátria e com o vosso ódio a
uma nação que nos oprime há 40
gerações, e que um pouco de perse-
verança de vossa parte pode agora
fazer voltar para sempre à escala das
pequenas potências” Em 13 de agos-
to o almirante francês dirigiu-se a
CÁDIZ. Reunia, então, 29 navios,
aos quais vieram se juntar os 21 de
BREST.
CORNWALLIS, em 16 de agos-
to dividiu suas forças, permanecen-
do com 18 navios e determinando a
CALDER que permanecesse defron-
(14)
A confiança britânica devia-se: a melhor
capacidade combativa de seus marinheiros e
de seus navios, em realizar duasbordadaspara
cada uma dos franceses (duplicando o seu po-
der de fogo) e numa cuidadosa comparação re-
lativa dos poderes combatentes em termos de
canhões. Por exemplo, cada “três pontes” de
CALDER considerava-se que valia dois “74”
dos franceses e os seis navios espanhóis não
valiam três dos navios de linha ingleses. Esta
cuidadosa medida era empregada com
CORNWALLIS que sempre possuía, pelo
menos, 18 navios para bloquear os 21 de
BREST.
te as costas espanholas. A sorte no-
vamente apresentava-se a VILLE-
NEUVE que dela não se aproveitou,
uma vez que poderia ter atacado uma
ou outra das esquadras divididas,
com superioridade (29x18 ou
29x21). Ao chegar em CÁDIZ, ime-
diatamente, recebeu o bloqueio da
esquadra britânica.
Em 28 de setembro, NÉLSON,
de regresso da Inglaterra, assume o
comando de toda a esquadra, ex-
pede o seu famoso memorando,
com o plano de batalha, definindo o
que ele chamava de “Nélson Touch”,
recebido com entusiasmo pelos co-
mandantes. Em 21 de outubro de
1805, livra-se a Batalha de TRA-
FALGAR, entre 40 navios britâni-
cos e 46 navios franceses e espa-
nhóis, cujo resultado conhecido foi
a derrota francesa e o sepultamento
dos planos de invasão de NAPO-
LEÃO.
A sorte
já estava
decidida
A estratégia “maior” de WILLIAN
PITT vinha dando resultados, o que
irritava NAPOLEÃO. Os exércitos
aliados estavam mobilizados e já ti-
nham iniciado seus movimentos para
cumprir a sua parte dessa estratégia.
NAPOLEÃO sabia que uma deci-
são no mar, a seu favor, jogaria um
balde de água fria em toda essa es-
tratégia.
A EO britânica, por sua vez, era
essencialmente naval (EON) e con-
sistia em bloquear os franceses em
seus portos, enfrentá-los e destruí-
los (caso se aventurassem no mar)
e, aproveitando-se da ausência de
alternativas, em impedir a traves-
sia do Canal da MANCHA pela
esquadra francesa. Para isso, per-
manecia com as suas esquadras em
permanente contato com os adver-
sários.
Ao constatar tal óbice aos seus
propósitos, NAPOLEÃO conven-
ceu-se da necessidade de enfrentar
os britânicos. Para isso, planejou a
EO, apresentada pela primeira vez na
articulação que envolvia LATOU-
CHE TREVILLE, dividida em três
táticas (esforços) navais e uma ou
mais terrestres: a fixação do inimigo
em um setor (pela tentativa de ruptu-
ra do bloqueio, por GANTEAU-
ME), a batalha na frente decisiva do
Canal e, simultaneamente, com a tra-
vessia da esquadra, o desembarque
anfíbio na costa britânica; e o pros-
seguimento das operações terrestres
até a derrota britânica.
Todavia, esse plano não resolvia
a questão do enfrentamento inevitá-
vel no canal, ao contrário, constituía-
se em pressuposto. Ao mesmo tem-
po, não apresentava um planeja-
mento para compensar a evidente
superioridade dos britânicos, induzin-
do-os à dispersão para obter a ne-
cessária concentração. A dispersão
francesa, efetivada por suas esqua-
dras em potência, não visava a ob-
tenção de concentração, sendo mais
uma medida defensiva do que qual-
quer outra coisa. Assim sendo, em
que pese o dinamismo do comandante
francês, suas chances eram mínimas
de obter resultados positivos.
O Plano de VILLENEUVE, por
sua vez, procurava contornar tais
óbices evidentes. Além da adesão
espanhola, alterou a seqüência das
táticas, procurando primeiro a con-
centração nas ANTILHAS, induzin-
do a dispersão dos britânicos, preo-
cupados que eram com as suas
colônias, ao mesmo tempo em que
dissimulava seus verdadeiros propó-
sitos e podia obter surpresa. Teve,
pelo menos, quatro chances de di-
minuir a sua desvantagem EO: a pri-
2002 - O Anfíbio - 129
meira quando poderia ter rumado
diretamente para o Canal, enfrenta-
do CORNWALLIS com GAN-
TEAUME ao seu lado, uma vez que
parte da esquadra britânica tinha
mordido a isca das ANTILHAS, en-
contrando-se, portanto, dividida, e
sucessivamente KEITH, caso este
não lhe negasse combate (opção
melhor para o francês). Mesmo as-
sim, teria que embarcar a tropa, o que
demandaria tempo e teria ainda
KEITH (caso tivesse negado com-
bate, opção melhor para os ingleses),
NÉLSON e CALDER para enfren-
tar. A segunda oportunidade de
VILLENEUVE, embora menos van-
tajosa, ocorreu ao enfrentar CAL-
DER. A terceira e a quarta ocorre-
ram por ocasião da divisão da es-
quadra de CORNWALLIS.
Qualquer que fosse a seqüência
da articulação obtinha um resultado
semelhante em termos de oponentes
e um único lugar para encontrá-los:
o canal da MANCHA. De tudo isso
devia saber VILLENEUVE, razão
pela qual queria deixar tudo como es-
tava antes de sair de TOULON. A
sua derrota era EO e já estava confi-
gurada desde antes de deixar seu por-
to. Não fosse a impaciência e a ig-
norância de NAPOLEÃO em assun-
tos navais, a esquadra francesa po-
deria permanecer em potência (ne-
gando o combate), a GRÃ-BRETA-
NHA continuaria sem poder desem-
barcar no continente, até resolver o
problema do empate francês, e NA-
POLEÃO a utilizar seu gênio no seu
metier, a guerra terrestre.
TRAFALGAR foi o prelúdio da
grande ópera que levaria à derrota
da Terceira Coalizão. Seus efeitos,
entretanto, foram muito mais dura-
douros e tiveram conseqüências na
derrota final da política de NA-
POLEÃO, algumas coalizões de-
pois. No mesmo dia de TRAFAL-
GAR, entretanto, NAPOLEÃO cap-
turava aproximadamente 60 mil
austríacos em ÜLM, vitória prati-
camente sem luta, decorrente de
brilhante estratégia operacional ter-
restre.
ÜLM
Uma Vitória
com as Pernas
NAPOLEÃO era um gênio mili-
tar em guerra terrestre. A estética das
suas articulações EO operacionais e
as táticas utilizadas para efetivá-las
podem ser consideradas como arte
(operacional). Até que seus adver-
sários aprendessem com ele, por
volta de 1810, foi absoluto em seus
Fig. 3
embates. Contrariando a tendência do
ser humano para conservar, soube
criar e inovar sobre os pilares pouco
firmes das novas idéias da guerra de
sua época e, nesse campo movediço
e enevoado do saber nascente, sou-
be escolher as idéias que iriam dar
firmeza ao conhecimento e a prática
da guerra e, principalmente, alcançar
as vitórias.
Atuava com os Corpos de Exér-
cito (CE), independentemente, arti-
culava-os para separar e dividir seus
inimigos, em batalhas sucessivas, até
a vitória final. Este procedimento EO
era secundado pela aplicação das
táticas, nas batalhas, onde possuía
semelhante espírito. Sempre procu-
rava a indução da dispersão e a ob-
tenção de concentração. Para isso
a marcha dos seus exércitos era pla-
nejada e, para ganhar tempo, na a-
proximação e no combate, alterou
o próprio ritmo do passo dos seus
soldados. No campo de batalha,
apresentava-se com um quadrado
de exércitos que utilizava conforme
se apresentava o inimigo, para ali,
também dividi-lo e derrotá-lo (v. a
Fig 3).
ÜLM é considerada como uma
das ações decisivas da campanha
realizada contra a Terceira Coalizão.
A escolha desse evento extraordi-
nário, para fazer parte desse artigo,
não se deve à coincidência de datas
mas, principalmente,
por ser uma vitória de-
bitada a articulação EO
(T) de NAPOLEÃO.
Em meados de agos-
to, poucos dias depois
da Batalha próxima ao
Cabo FINISTERRA, en-
tre CALDER e VILLE-
NEUVE, NAPOLEÃO
tomou conhecimento
que as tropas da Tercei-
ra Coalizão – formadas
por austríacos, russos e de alguns Es-
tados alemães independentes – con-
vergiam para a junção no sul da ALE-
MANHA a fim de enfrentá-lo, aten-
dendo aos desígnios da Estratégia
Periférica. O Imperador da ÁUS-
TRIA decidiu invadir, preliminarmen-
te, a BAVÁRIA, aliada de NA-
POLEÃO, tendo no comando do
flanco norte de suas tropas o Gene-
ral MACK e no flanco sul o Ar-
quiduque JOÃO, o mais novo de seus
irmãos. Pressupunha que os france-
ses não conseguiriam reagir antes da
chegada dos russos. O total das tro-
pas aliadas, naquele teatro, era de
aproximadamente 100 mil austríacos
2002 - O Anfíbio - 130
 tropas francesas efetivaram a tra-
vessia do Rio RENO e, em 7 de
outubro, do Rio DANÚBIO.
MACK percebeu, então, o seu en-
volvimento.(v. a Fig. 5)
NAPOLEÃO enviou o I CE de
BERNADOTTE, o III CE de
DAVOUT e o Exército da BA-
VÁRIA (DEROI) para cobrir seu
flanco esquerdo, provável direção
dos russos, e o IV CE DE SOULT
para cobrir a direção de aproxima-
ção das forças sob o comando do
Arquiduque JOÃO. Então, com os
seus II, V e VI CE, a Guarda Impe-
Fig. 4
rial e a cavalaria de MURAT dire-
e 120 mil russos e um número me- tinha por tarefa, nessa fase, a reali- cionou o seu ataque contra MACK.
nor de aliados, perfazendo um total zação de ataques através da flores- Os austríacos, presos na armadilha
aproximado de 300 mil homens. No ta NEGRA, com a finalidade de des- de NAPOLEÃO, ainda tentaram
teatro ao norte da atual ITÁLIA po- pistar e fixar as tropas austríacas co- escapar através do Rio RENO, de-
sicionava-se o Arquiduque CHAR- mandadas pelo General MACK, parando-se com o VI CE de NEY,
LES, irmão mais novo do Imperador vanguarda das tropas aliadas. (v. a o qual deteve o movimento de
FRANCISCO FERDINANDO da Fig 4) MACK para o norte, recalcando-o
ÁUSTRIA, onde fazia frente ao Exér- Em 20 de setembro, a cavala- em direção a ÜLM. No dia 14 de
cito do General MASSENA. A for- ria de MURAT já estava cumprin- outubro, NEY realizou a travessia
ça que mantinha a BAVÁRIA para do a sua missão e o General MA- do Rio RENO, em ELCHINGEN,
os franceses era comandada pelo Ge- CK havia entrado no jogo de NA- dirigindo-se para a posição de
neral DEROI que, ao ser pressiona- POLEÃO. Em 26 de setembro as MACK, a fim de manter o contato
do, retraiu para o Norte.
NAPOLEÃO reagiu rápi-
do. Antes que se efetivasse
a junção dos russos e austrí-
acos, as tropas francesas,
com aproximadamente 210
mil homens, e previstas para
compor o centro e a ala di-
reita da Grand Armée du
Terre, deixaram as suas áre-
as de estacionamento no
Canal da MANCHA e inici-
aram a marcha para as suas
áreas de reunião pré-deter-
minadas, no RENO, entre
MAINZ e STRASBOURG.
A ala esquerda proveniente
de HANOVER dirigiu-se
para o WÜRTTENBERG. A
cavalaria de MURAT, à
frente de STRASBOURG, Fig. 5
2002 - O Anfíbio - 131
estabelecido, sendo que no dia 15 flancos em torno de MACK impedi- CO, cujo último herdeiro era FRAN-
de outubro alcançou as alturas de ram qualquer possibilidade de refor- CISCO FERDINANDO.
MICHELSBERG, de onde podia ço e o emprego judicioso de suas for-
divisar ÜLM. NAPOLEÃO, então, ças concedeu a NAPOLEÃO a su- MIDWAY (15)
moveu o II CE de MARMONT, perioridade necessária sobre austría- A Gibraltar
através da ponte de ELCHINGEN, co, no momento e no local decisivos. do Pacífico
de sua posse, e o V CE de LANNES A combinação espaço/tempo
para ÜLM, apertando o cerco so- permitiu a NAPOLEÃO aproximar- A relativa facilidade e o sucesso
bre MACK. se para o combate sem que o gros- obtido pelos japoneses na conquis-
Em face da derrota evidente de so do exército austro-russo pudes- ta dos seus objetivos estratégicos na
MACK, essencialmente EO (quase se interferir na sua EO. A combina- primeira ofensiva (dez41 – jan42)
ausente de combate), iniciaram-se as ção da ofensiva limitada de MURAT, fez surgir a idéia de uma expansão
negociações. Pretendendo ganhar com a possibilidade de retardamen- do perímetro conquistado, apesar
tempo, a fim de permitir a chegada tos, a serem realizados em seus do plano original ter previsto uma
dos russos e do Arquiduque JOÃO, flancos, garantia-lhe o isolamento do atitude defensiva para ele e de ne-
MACK informou aos franceses que local destinado à vitória pela ofen- nhum plano ter sido formulado para
deveria se render até o dia 25 de ou- siva geral. Não obteria este desíg- o prosseguimento das operações. O
tubro, caso não recebesse os refor- nio se não tivesse, convenientemen- argumento era a maior segurança do
ços esperados. NAPOLEÃO, em te, induzido à dispersão dos seus país, proporcionada por uma defe-
face de sua articulação EO, demons- adversários, colocando-os, de acor- sa aprofundada. Os partidários con-
trou aos austríacos essa impossibili- do com LIDDLE HART, nas alter- trários alegavam que uma nova ex-
dade, razão pela qual o general aus- nativas de um dilema, ou seja a pansão agravaria os problemas en-
tríaco rendeu-se em 20 de outubro, possibilidade de ir para qualquer lu- tão existentes (16), implicando no des-
sem luta, motivando um de seus sol- gar, ou pelo menos dois. Dessa for- vio e até na suspensão do esforço
dados a dizer que “O Imperador ga- ma obteve a necessária concentra- de prontificação das defesas.
nhou com as nossas pernas e não com ção para apertar MACK em sua O Quartel-General Imperial
as nossas armas”. tenaz. (QGI) era responsável pelo pla-
A campanha prosseguiria na bus- nejamento e a direção das operações.
A Raposa ca do objetivo político da guerra. O Estado-Maior Geral da Marinha
e o Cordeiro Diversos engajamentos foram re- (EMGM), seção do QGI, tinha a
gistrados e NAPOLEÃO, ainda, in- função, em teoria, de formular a es-
ÜLM é uma obra acabada da boa vadiu VIENA. Pouco mais de um tratégia naval. A Esquadra Combi-
EO. Precedido de informações so- mês depois, a Terceira Coalizão era nada, entretanto, muitas vezes, de-
bre os exércitos adversários, NA- derrotada fragorosamente em sempenhava um papel preponderante
POLEÃO começou a sua campanha AUSTERLITZ, privada que foi da na formulação da estratégia
visando à derrota, por partes, des- importante parcela de combatentes operacional naval, como ocorreu no
ses exércitos. Escolheu a vanguarda derrotada em ÜLM. Com ela seguiu planejamento do ataque a PEARL
deles e, em manobra magistral, iso- para o túmulo o milenar SACRO IM- HARBOR e como ocorreria com a
lou-os de suas outras partes. A mar- PÉRIO ROMANO-GERMÂNI- segunda fase da expansão japonesa,
cha dos seus CE, para as suas zonas
de reunião, não indicava os seus re-
ais propósitos, mantendo os adver-
sários convenientemente dispersos e (15) MIDWAY baseia-se nos livro A Segunda Guerra Mundial, de Raymond CARTIER, Ed.
seguros, em face da possibilidade de Primer, Rio de Janeiro; Fleet Tactics : theory and practice, de Wayne P. HUGHES JUNIOR.
MACK de retardar NAPOLEÃO 2.ed. Annapolis : Naval Institute Press, 1987; e no GT, sobre o mesmo tema, realizado na EGN-
98 tendo como componentes os CF(FN) Emanoel, CF(FN) Ivson, CC Wall, CC Kroeber, CC
até a chegada do grosso dos outros Cezar, CC(IM) Janito e este autor.
exércitos aliados. O despistamento de (16) O JAPÃO, fruto da falta de compreensão quanto às implicações logísticas de sua empreita-
MURAT permitiu, ao mesmo tempo, da, havia formulado estimativas errôneas da necessidade de navios mercantes e já tinha enorme
dificuldade para abastecer o perímetro em que se encontrava, o que era agravado pela necessida-
a fixação de seu exército e o seu de de que as matérias-primas e o petróleo tinham de ser levados primeiro para o JAPÃO – onde
envolvimento. As manobras nos eram manufaturados e refinados - para depois serem distribuídos.

2002 - O Anfíbio - 132

em ambas contrariando as intenções
do EMGM.
O EMGM propôs, inicialmente,
que as operações deveriam se dire-
cionar para as Ilhas SALOMÃO e a
NOVA GUINÉ, de posse das quais
poderia controlar o acesso à AUS-
TRÁLIA, bloquear suas comunica-
ções marítimas e retirar a possibili-
dade de uma base de contra-ofensi-
va, a partir das mesmas.
O plano do Almirante YAMA-
MOTO, ComemCh da Esquadra
Combinada, ao contrário, pretendia
engajar com a esquadra norte-ame-
ricana onde pudesse utilizar não so-
mente seus NAe, mas, também, os
aviões baseados em terra. Para ele,
os objetivos visualizados pelo
EMGM somente seriam alcançados
com a destruição daquela esquadra.
Para isso, visualizava conquistar a ilha
de MIDWAY de onde poderia ope-
rar suas bases aérea e naval. A cap-
tura de MIDWAY permitiria alcan-
çar os objetivos visualizados pelo
EMGM, principalmente porque pos-
sibilitaria a realização de uma bata-
lha decisiva, em condições favoráveis
ao JAPÃO. Subsidiariamente, visua-
lizava, ainda, invadir as Ilhas ALEU-
TAS, que, além de ser “uma espada,
apontada diretamente para o cora-
ção do JAPÃO”, atrairia forças nor-
te-americanas para a sua defesa.
O referido plano foi acolhido ime-
diatamente pelo QGI, notadamente
pelo Estado-Maior Geral do Exér-
cito (EMGE), uma vez que as ope-
rações em MIDWAY-ALEUTAS
seriam predominantemente navais e
o Exército teria que fornecer ape-
nas uma pequena parcela de tropas
para reforçar as forças navais de de-
(17)
Primeira batalha naval da história sem enfrentamento direto de navios, apenas de aviões. De resultado tático favorável ao JAPÃO, recebeu da
história, posteriormente, a consagração como vitória estratégica norte-americana, uma vez que marcou o primeiro limite à expansão japonesa, logo
seguida das vitórias norte-americanas em MIDWAY e em GUADALCANAL que inflexionaram a balança a favor dos norte-americanos.
sembarque. O QGI, provavelmente
para não desagradar o EMGM,
acolheu, também, o seu plano para
a realização das operações nas Ilhas
SALOMÃO e na NOVA GUINÉ.
Originalmente planejadas em janei-
ro, essas operações deveriam ser le-
vadas a efeito no início de março,
entretanto, por diversas razões so-
freram atraso e, por ocasião da exe-
cução das mesmas, em 7 de maio,
ocorreu a Batalha do MAR DE
CORAL (17).
O comando norte-americano,
por sua vez, havia percebido as in-
tenções expansionistas dos japone-
ses. No PACÍFICO, um comando
combinado, chefiado pelo Coman-
dante-em-Chefe da Esquadra do
Pacífico (CincPac), harmonizava as
decisões da política com a EO da-
quele TO. A esquadra, embora
inferiorizada, não havia ficado inerte,
como demonstrara a Batalha do
MAR DE CORAL. O problema ime-
diato era prever, com a máxima
exatidão possível, qual o próximo
movimento do adversário, após a
Batalha do MAR DE CORAL. Com
a descoberta do sistema de código
japonês, os norte-americanos soube-
ram que o próximo objetivo seria
MIDWAY (assim como haviam sa-
bido da operação que levou à Bata-
lha do MAR DE CORAL) e prepa-
raram-se para deter os japoneses,
reforçando as defesas da ilha com
navios, tropas e aviões e não permi-
tindo que os japoneses se aprovei-
tassem do princípio da surpresa.
De acordo com o planejamento
japonês, todos os navios deveriam
participar da operação em MID-
WAY, porém, após a Batalha do
MAR DE CORAL, dois NAe japo-
neses, o SHOKAKU e o ZUIKA-
KO, ficaram avariados. Os japone-
ses acreditando que dois NAe ame-
ricanos haviam sido afundados na-
quele embate admitiam que a pro-
porção de NAe, disponíveis para
MIDWAY, ainda lhes era muito fa-
vorável.
No dia 26 de maio de 1942, a
mais formidável armada da história
naval japonesa deixou seus portos.
O primeiro objetivo eram as Ilhas
ALEUTAS (ATTU, KISKA e
ADAK) e o segundo objetivo era
MIDWAY. Para as ALEUTAS, sob
o comando do Almirante HOSO-
GAYA, foram alocados dois NAeL,
o RYUJO e o JUNYO, cinco cruza-
dores (C) e dois comboios de assal-
to com a ForDbq.
Para MIDWAY, a GIBRALTAR
do PACÍFICO, foi designada a es-
magadora maioria dos meios. A For-
ça de Ataque era comandada pelo
Almirante NAGUMO e possuía qua-
tro NAe – o AKAGI, o KAGA, o
HIRYU e o SORYU – dois Encou-
raçados (E) e 12 contratorpedeiros
(CT). Era capaz de lançar 250 avi-
ões. Possuía missão com tarefas que
exigiam escolha: neutralizar MID-
WAY e destruir a esquadra norte-
americana (esta última com priorida-
de sobre a primeira se a esquadra
estivesse por perto) para permitir o
desembarque e a conquista da ilha.
É verdade que, por ocasião da reali-
zação de jogos de guerra, foi verifi-
cado que o Plano não reagia bem à
possibilidade da esquadra norte-
americana interferir com o desembar-
que em MIDWAY. Confiantes na sur-
presa, os japoneses concluíram ser
2002 - O Anfíbio - 133
possível atender ao cumprimento da
primeira tarefa.
O Corpo Principal da esquadra
era composto por 7 E, o NAeL HO-
SHO, 2 Porta-Aviões (como Ten-
ders), 3 CL, 2 divisões de CT e na-
vios transporte de hidroaviões. A
Forca-Tarefa Anfíbia foi subdividi-
da em um grupo de cobertura, um
grupo de apoio direto, um grupo de
desembarque, um grupo de transpor-
te de hidroaviões e um grupo de
caça-minas. Possuía 2 E, 1 NAeL, 9
C, 20 CT e navios de Tr e Ap.
Os quadros abaixo apresentam os
principais elementos combatentes.
No dia 4 de junho, às 0430h, NA-
GUMO deu a ordem de ataque so-
bre MIDWAY para os seus aviões.
Permaneceram, em reserva, torpedei-
ros e bombardeiros de mergulho. Nu-
merosos caças faziam a proteção da
esquadra. Os hidroaviões de esclare-
cimento partiram para os seus reco-
nhecimentos, exceto um com o mo-
tor avariado, aquele que estava de-
signado para o setor de onde vinha a
esquadra norte-americana.
Pouco depois das 0525h, travou-
se um combate desigual, onde a su-
perioridade dos aviões e, prin-
cipalmente, dos pilotos japone-
ses fez a diferença, praticamen-
te destruindo a defesa aérea
norte-americana. Apesar disso,
os bombardeiros não obtiveram
sucesso no seu ataque, perma-
necendo as defesas e as pistas
intactas. O Capitão-Tenente
JOISHI informou: “Necessário se- para um segundo ataque a MID-
gundo ataque...”. WAY. Na dúvida determinou a subs-
Às 0710h os bombardeiros nor- tituição dos torpedos por bombas.
te-americanos baseados em terra e No HIRYU e no SORYU, onde a
previamente afastados da área de ordem demorou a ser cumprida, ain-
combate, guiados pelos hidroaviões da estavam 42 Bombardeiros, arma-
PBY, realizam seu ataque à esqua- dos de torpedos, a espera de um si-
dra japonesa, sucessivamente e não nal para decolar. O respeitado Con-
simultaneamente como o planejado. tra-Almirante (CA) YAMAGUCHI,
NAGUMO com seus ZEROS, suces- do HIRYU, sugeriu atacar a esqua-
sivamente, neutralizou o ataque. dra norte-americana, com os aviões
Às 0715h, sem alerta sobre pre- disponíveis. Os caças de regresso de
sença inimiga dos NAe, NAGUMO MIDWAY apontavam no horizonte
determinou que os 93 bombardeiros, e os caças de proteção, também,
em reserva, descessem para os seus solicitavam pousar pois estavam sem
hangares a fim de receber os aviões combustível. GENDA, o CEM de
de regresso de MIDWAY. Às NAGUMO, sugeriu reabastecer pri-
0728h, o hidroavião que partiu atra- meiro, para atacar com todas as for-
sado para o seu reconhecimento aé- ças depois. Às 0820h, pela primeira
reo, reportou a presença da esqua- vez, o piloto do hidroavião informou
dra norte-americana, sem informar a ter avistado um NAe.
presença dos NAe. NAGUMO ti- À frente dos japoneses, sem que
nha, então, três Linhas de Ação. A NAGUMO soubesse, estavam três
primeira imposta: receber os aviões NAe em rota para OESTE: o HOR-
de regresso; as outras duas para de- NET e o ENTERPRISE, atrasados
cidir: mandar subir os aviões arma- para a Batalha do MAR DO CO-
dos de torpedos para a eventualida- RAL, e o YORKTOWN, sobrevi-
de de atacar a esquadra inimiga ou vente dela, com sérios danos, e re-
substituir seus torpedos por bombas parado no tempo recorde de dois
NAVIOS JAPONESES NORTE-AMERICANOS
NAE..........................................................04 ........................................ 03
ENCOURAÇADOS ...............................11 ........................................ 02
CRUZADORES PESADOS ..................12 ........................................ 09
CRUZADORES LEVES ........................10 ..........................................-
CONTRATORPEDEIROS ...................63 ........................................ 30
SUBMARINOS ......................................15 ........................................ 15
NAEL .......................................................02 ..........................................-
PORTA-AVIÕES ....................................03 ..........................................-
TOTAL .................................................. 110 ...................................... 5 9

AVIÕES JAPONESES NORTE-AMERICANOS

EMBARCADOS EM TERRA
CAÇAS -------------------------96 - ZEROS ...... 58 –WILDCATS ...................27 -WILDCATS E BUFFALOS
BOMBARDEIROS -----------– ........................ 55 ...........................................23 -MARAUDERS (B-26) E FLYING FORTRESSES (B-17)
BOMB.DE MERGULHO ----84 - VALS ......... 87 –DAUNTLESS ................27 -DAUNTLESS e VINDICATORS
BOMB.TORPEDEIROS ----95 - KATES ...... 47 -AVENGERS ....................06 –AVENGERS
HIDROAVIÕES(RECON) --26 ...................... 30 -PBY/CATALINA ...........37 -PBY/CATALINA
TOTAL --------------------------307.................... 277 ........................................120

2002 - O Anfíbio - 134

dias (27 a 29 de maio), por 2 mil
funcionários, quando a previsão era
de ficar pronto em três meses. Às
0702h, os aviões norte-americanos
haviam decolado dos NAe HOR-
NET e do ENTERPRISE. NAGU-
MO que navegava SSE, desde que
tomou conhecimento da presença
inimiga, guinou para o NORTE.
Com isso, um quarto da força aero-
naval atacante não o encontraria. Os
três grupos de torpedeiros norte-
americanos que se dirigiam para
noroeste tiveram mais sorte e encon-
traram a esquadra japonesa. Dos 41
torpedeiros que participaram desse
primeiro ataque, apenas 5 escaparam
aos caças japoneses e nenhum acer-
tou seu alvo. Às 1020h, a decisão
estava tomada: atacar a esquadra ini-
miga. Os aviões bombardeiros e tor-
pedeiros do HIRYU e do SORYU,
aguardavam, apenas, a prontificação
dos aviões do AKAGI e do KAGA,
para realizar o ataque com toda a
força, conforme as ordens de
NAGUMO.
Às 1024h ao soar a ordem de ata-
que, assomaram no horizonte os bom-
bardeiros de mergulho DAUNTLESS,
os quais, após voarem boa parte do
tempo sem encontrar a esquadra ja-
ponesa, ao guinarem para regressar,
avistaram a esteira de um navio japo-
nês. Os ZEROS não puderam re-
cuperar altitude em tempo, após a de-
vastação praticada contra os aviões
inimigos. Foram atingidos mortalmen-
te, o AKAGI, o SORYU e o KAGA.
O CA YAMAGUCHI não esperou or-
dens para lançar os aviões do HIRYU
contra os norte-americanos: 18 bom-
bardeiros, 18 torpedeiros e 12 caças
voaram em direção ao YORKTOWN
e o atingiram mortalmente. Seria afun-
dado, posteriormente, assim como o
AKAGI, por torpedo amigo.
Às 0500h, o que restou dos aviões
norte-americanos, 24 bombardeiros,
foram lançados do ENTERPRISE e
do HORNET contra a esquadra ja-
ponesa. O HIRYU, último dos NAe,
sucumbiu a esse ataque. Os norte-
americanos assenhoraram-se do ar e
a esquadra nipônica restava, somen-
te, o caminho de casa. O resultado es-
tava de acordo com a previsão dos
analistas norte-americanos: lançado
o primeiro ataque contra os japone-
ses, com três alas aéreas, três NAe
seriam destruídos; o segundo ataque,
da ala aérea japonesa, destruiria um
dos seus NAe; e no terceiro ataque
o último dos NAe japonês sucumbi-
ria. Duzentos e cinqüenta e três aviões
japoneses foram derrubados ou per-
didos, contra 150 norte-americanos.
O Dia
era da Caça
O propósito político dos japone-
ses, no contexto de uma guerra que
pretendia ser limitada, era o de ex-
pandir o seu perímetro defensivo, in-
terferindo com as comunicações para
a AUSTRÁLIA, criando a possibili-
dade de destruição da esquadra nor-
te-americana e constituindo uma
ameaça ao território norte-america-
no. Os locais dos confrontos esta-
vam definidos: as ALEUTAS,
MIDWAY, as Ilhas SALOMÃO e o
Sul da NOVA GUINÉ (PORT
MORESBY). A própria configura-
ção geográfica dos mesmos implica-
va em enorme dispersão. Naquele
momento, o poder combatente nor-
te-americano era extremamente frá-
gil e a superioridade japonesa em
meios era esmagadora.
A articulação japonesa, em estra-
tégia militar desintegrada e, em gran-
de parte, para acomodar os interes-
ses dos membros das forças singula-
res no QGI, optou por realizar o ata-
que as Ilhas SALOMÃO e a NOVA
GUINÉ, em esforço EO preponde-
rantemente terrestre e, sucessivamen-
te, em esforço EO preponderante-
mente naval e independente, atacar,
simultaneamente, as ALEUTAS e
MIDWAY. Na realização desses es-
forços, a EO japonesa deixou de
obter a sua máxima possibilidade de
geração de dispersão, ao realizar su-
cessivamente o movimento para as
Ilhas SALOMÃO e depois para as
ALEUTAS e MIDWAY, permitindo
ao adversário, também sucessiva-
mente, aparar seus golpes. Tal for-
mulação EO designou dois NAe para
o primeiro movimento (no sul) e re-
teve nas ALEUTAS, área absoluta-
mente secundária do teatro, mais
dois NAeL, que provaram ser neces-
sários em MIDWAY.
Se os japoneses tivessem articu-
lado a EO(N) em harmonia com a
EM, em simultaneidade completa, os
norte-americanos seriam apanhados
por EO superior e teriam de ceder
algum dos anéis para salvar seus de-
dos, mesmo sabendo dos planos ja-
poneses, como ocorria. Melhor, ain-
da, os japoneses poderiam alterar a
simultaneidade de MIDWAY com as
ALEUTAS para MIDWAY com as
Ilhas SALOMÃO e o resultado po-
deria ser totalmente diferente, uma
vez que colocaria os norte-america-
nos nas alternativas de um dilema,
bem ao gosto de LIDDELL HART.
Poderiam, ainda, ter enfrentado o
desafio sucessivamente, como foi fei-
to, apenas que deveriam ter inverti-
do a ordem dos meios para ter o
máximo poder de combate nas
SALOMÃO e depois em MID-
WAY, ou ainda melhor, MIDWAY e
depois SALOMÃO. Entretanto, os
interesses particulares das forças sin-
gulares dificilmente permitiriam tal
articulação com grandes chances de
ser vencedora. No final, mesmo com
a EO mal formulada dos japoneses,
os norte-americanos ainda tiveram
2002 - O Anfíbio - 135
que ceder o objetivo menos impor-
tante, as ALEUTAS, por absoluta
impossibilidade de seus meios em
enfrentar tal simultaneidade.
Ressalta-se que a dualidade de
objetivos e a dispersão de forças,
tanto na perspectiva tática quanto
na EO, caracterizaram as operações
japonesas nas batalhas da primeira
ofensiva, travadas na Campanha do
PACÍFICO, cujos resultados alcan-
çaram pleno sucesso. Tais condições
foram obtidas, em face da judiciosa
distribuição dos meios, da surpresa
e, principalmente, por uma divisão
de forças que funcionou como
indutora de dispersão, em estraté-
gia bem articulada, para gerar a con-
centração necessária, no local pre-
tendido. A batalha de MIDWAY é
o exemplo clássico deste padrão de
dispersão de objetivos e de forças.
Entretanto, o padrão dessa vez não
funcionou bem, porque a EO foi mal
formulada, em sua sucessividade e
simultaneidade, principalmente na
alocação dos meios.
Se na perspectiva EO, confor-
me já explicitado acima, houve má
concatenação das táticas, dentro da
perspectiva tática isso também
ocorreu. Especificamente para
MIDWAY, em face das alternati-
vas do dilema, a Esquadra Combi-
nada estava dividida em três partes,
com tarefas de conquistar a ilha e/
ou engajar a esquadra norte-ameri-
cana numa batalha decisiva, em
sucessividade cambiante, uma vez
que ora poderia ser a própria Ilha
de MIDWAY o principal objetivo,
ora a esquadra norte-americana,
caso fosse detectada.
Essa contradição intrínseca do
planejamento japonês para MID-
WAY, imposta pelas alternativas
do dilema, implicou na estruturação
dispersa da esquadra, de forma que
o Almirante YAMAMOTO, no Cor-
po Principal, ficou numa posição na
qual não pôde contribuir nem para
a conquista de MIDWAY e nem
para empregar sua força superior
para reforçar a proteção dos NAe
de NAGUMO. Essa dispersão afi-
gurava-se sem sentido, uma vez que
desprovida da intenção de obter
concentração, embora fosse coeren-
te com a estrutura tática articulada
para cumprir duas tarefas alternati-
vamente, de acordo com o dilema
imposto.
O fato ocorrido de a Esquadra
do PACÍFICO se apresentar após
o início das Operações Preparató-
rias para a conquista de MIDWAY,
apenas pôs a nu a contradição exis-
tente. Mesmo sem poder alcançar
as condições planejadas para a con-
quista de MIDWAY primeiro e, de-
pois, para o engajamento da esqua-
dra norte-americana (contando com
a aviação baseada em terra), a Es-
quadra Combinada poderia ter sido
bem sucedida se estivesse concen-
trada para reforçar a proteção anti-
aérea aos NAe de NAGUMO e
realizar, em qualquer seqüência a
conquista da ilha.
Do ponto de vista norte-ameri-
cano, nessa segunda ofensiva, o qua-
dro tinha mudado. Os EUA, em face
de sua opção estratégica militar pelo
ATLÂNTICO e, portanto, devido à
exigüidade de meios disponíveis, ti-
nham adotado, até então, uma pos-
tura estratégica militar defensiva para
o PACÍFICO. Os EUA, todavia,
não podiam negociar a interrupção
das comunicações com a AUS-
TRÁLIA nem uma eventual amea-
ça direta a PEARL HARBOR. As-
sim, embora inferiorizados em seu
poder naval, em face da articulação
EO dos japoneses e do conheci-
mento dela, passaram a possuir con-
dições de enfrentá-los em decorrên-
cia da realização sucessiva das ope-
rações no MAR DE CORAL e em
MIDWAY, desde que não houves-
se envolvimento direto dos navios e
pudessem contar com o apoio de
aviação de terra.
Nesse sentido surge o importan-
te conceito de assimetria e da sua
utilização na EO. No caso, os nor-
te-americanos, além da imposição
das alternativas de um dilema para
os japoneses e da sucessividade
vantajosa para eles nos enfrenta-
mentos, usaram na sua EO a vanta-
gem exclusiva em meios aéreos (a
superioridade em aeronaves), evi-
tando o combate mortal (para eles)
entre os navios de suas esquadras,
no que foram auxiliados pelos japo-
neses em sua desastrada EO, pela
ausência dos NAe japoneses - do
MAR DO CORAL e das ALEU-
TAS – e por terem recuperado em
tempo recorde o navio-aeródromo
YORKTOWN, aumentando o seu
poder de combate. Antes da exis-
tência da noção de vulnerabilidade
crítica aplicaram esse conceito, ao
atacar a parcela da Esquadra Com-
binada que, caso neutralizada,
inviabilizava o prosseguimento de
toda a gigantesca operação (o CG
tático) para o cumprimento da mis-
são como um todo.
Após MIDWAY, o encouraçado
rendeu-se à nova força de combate
das esquadras: os NAe. Nunca mais
se abandonou um NAe ou uma for-
ça de NAe a sua própria mercê.
CONCLUSÃO
Ao encerrar essa aproximação
com a EO, efetivada em dois arti-
gos, pretende-se que o leitor tenha
obtido uma visão panorâmica sobre
o assunto. No primeiro artigo, fo-
2002 - O Anfíbio - 136
ram apresentados aspectos evo-
lutivos históricos que permitiram tra-
çar os desdobramentos das diver-
sas perspectivas estratégicas, in-
clusive desta EO de inspiração
clausewitzeana, além da perspecti-
va tática. Foram, ainda, abordadas
as noções similares à EO: a arte e o
nível operacional, tendo sido ex-
plicitadas as razões para a sua não
adoção como conceitos.
Em face do conteúdo marca-
damente teórico do artigo anterior,
fez-se necessário uma abordagem
mais prática, alicerçada sobre alguns
casos históricos considerados
didáticos, a qual pretendeu-se rea-
lizar neste trabalho.
Apesar de encontrar inspiração
em outras formulações teóricas, pro-
curou-se estabelecer um entendi-
mento próprio sobre os conceitos
apresentados, a fim de se permane-
cer fiel à afirmativa constante na in-
trodução do artigo anterior de que
se pode (e até se deve) buscar idéi-
as próprias para a nossa realidade,
em vez de encontrá-las prontas em
soluções alienígenas, adaptadas que
são as necessidades de onde se ori-
ginam.
Além deste artigo ter, prio-
ritariamente, tentado demonstrar
as assertivas constantes no resu-
mo dos conceitos, apresentados no
início, das análises dos eventos his-
tóricos narrados, pode-se extrair al-
gumas conclusões:
q A EO faz parte de um con-
texto maior, hoje incluindo
diversas perspectivas, civis
e militares, todas a serem in-
tegradas na perspectiva es-
tratégica nacional e deven-
do atuar umas em proveito
das outras;
q Deve existir plena harmonia
entre as diversas perspecti-
vas, notadamente entre as
perspectivas EM e a EO, e
dessa última com a(s) táti-
ca(s), mesmo quando há
preponderância de uma es-
tratégia singular;
q Embora óbvio, uma EO an-
tecipadamente perdedora
não vale a pena ser im -
plementada; e
q Assim como a EO depende
das vitórias, essas têm de-
pendência umbelical da ar-
ticulação EO, onde a supe-
rioridade (bem avaliada,
como nas esquadras britâ-
nicas, e incluindo as forças
morais), planejada para ser
aplicada em local e momen-
to decisivos, permanece
como paradigma para a ob-
tenção das mesmas.
Em relação à possibilidade de
extrair subsídios para uma EO bra-
sileira, voltada para qualquer um dos
possíveis teatros, também podem ser
obtidas algumas conclusões dessa
pequena amostra histórica:
q Em face do decréscimo evi-
dente de ameaças (externas)
oriundas do continente sul-
americano (exceção à ame-
aça guerrilheira, perfeita-
mente controlável do nosso
lado) e, até, das possibilida-
des crescentes de maior co-
operação militar, qualquer
EO brasileira, mesmo volta-
da para o cenário ama-
zônico, deverá enfatizar a
existência de um poder na-
val capaz de controlar áre-
as marítimas, negar o uso
do mar ao inimigo e proje-
tar poder sobre terra, cuja
resultante deverá ser igual
ou superior ao número de
perdas aceitáveis, humanas
e materiais, do eventual
oponente, contribuindo pa-
ra a dissuassão. Como refe-
rência, os cientistas políti-
cos estimam que para os
EUA a perda(18) aceitável,
em termos humanos, seria
de até 20 mil pessoas;
q Existe consenso, desde a dé-
cada de cinqüenta, de que
um poder naval de primei-
ra linha baseia-se em três
paradigmas: deve possuir
navio(s)-aeródro mo(s), o
navio capital das esquadras,
que permite o controle de
áreas marítimas; deve pos-
suir submarino(s), notada-
mente nuclear(es), para a
negação do uso do mar; e
deve ter forças anfíbias,
para a projeção de poder so-
bre terra; para a proteção
de bases e de interesses (in-
clusive envolvendo bens, re-
presentações e cidadãos na-
cionais) e para ameaçar áre-
as vitais;
q O uso da terra é um fator
fundamental a somar na ar-
ticulação das táticas e, de
tanta importância, merece-
ria trabalho à parte. A qua-
se totalidade das batalhas
navais na história ocorreu
próximo da terra. Os últi-
mos dez grandes conflitos
da humanidade confirma-
ram tal fato. Não era sem
propósito que os japoneses
e norte-americanos, sempre,
apoiavam-se ou buscavam
se apoiar em bases terres-
(18)
V. artigo “O problema da Defesa” de Hélio
Jaguaribe, no Jornal do Brasil de 10/01/99.
2002 - O Anfíbio - 137
 tres para desfechar as suas
ofensivas. Como exemplo
sugere-se realizar um jogo
de guerra mental na foz do
Rio AMAZONAS (19), apenas
com uma esquadra, com
uma esquadra e bases aére-
as terrestres e com uma es-
quadra bases aéreas e de
foguetes e/ou mísseis em ter-
ra. Não precisa rodar o jogo
para saber a diferença. Vale
ressaltar que a necessária
ponte física entre o mar e a
terra é feita, quase que ex-
clusivamente, pelas forças
anfíbias;
q A definição de um períme-
tro defensivo a partir das
ilhas oceânicas brasileiras,
capaz de ser apoiado do ter-
ritório, proporciona maior
profundidade para a defesa
e maior proteção para as ri-
quezas minerais oceânicas.
A possibilidade de utilização
de aeródromo nessas ilhas
capacita à realização de es-
clarecimento, reconheci-
mento, interceptação e ata-
que. Tais acidentes geográ-
ficos constituem-se em NAe
naturais e impõem, a even-
tual oponente, as alternati-
vas de um dilema, como
ocorreu em MIDWAY, no-
tadamente se considerarmos
as dificuldades para a
detecção da ameaça subma-
rina;
q Há necessidade de uma es-
cola militar que privilegie o
estudo de operações combi-
nadas e de um processo de
planejamento militar co-
mum entre as forças arma-
das brasileiras, capaz de ser
utilizado em planejamentos
continuados, a ser con-
substanciado nas campa-
nhas;
q Uma estrutura militar de
guerra, com comandos
operacionais bem definidos,
nos moldes dos grandes co-
mandos operacionais com-
binados norte-americanos,
a serem ativados permanen-
temente ou temporariamen-
te para fins de exercício,
permite um melhor pla-
nejamento das forças, das
suas possíveis tarefas e, con-
seqüentemente, dos obje-
tivos envolvidos; facilita o
estabelecimento de uma EO
apropriada a cada ambien-
te; e possibilita a tomada de
decisões integradas pelo co-
mando unificado.
q A indefinição quanto a um
inimigo potencial impõe o
estabelecimento de forças
com capacidades múltiplas,
apoiadas por um adequado
planejamento de mobi li-
zação. O poder naval é um
fator determinante no su-
porte dessas capacidades,
em face das suas caracte-
rísticas de flexibilidade e
versatilidade, notadamente,
pela adoção do conceito de
força-pronta, por ser pos-
suidor de capacidade anfí-
bia e aeroespacial, que mul-
tiplicam as possibilidades de
articulação das táticas, e
por se organizar por tarefas.
Fora da Marinha, assoma
com tais possibilidades a Bri-
gada de Paraquedistas, em-
bora, assim como a Briga-
da Anfíbia, esteja limitada
em seu potencial EO (de
multiplicação de opções
táticas e rápido emprego),
pela capacidade de trans-
porte, a qual deve ser objeto
de interesse da estratégia
militar, em face das limita-
ções econômicas evidentes
que as forças singulares pos-
suem para priorizar tais áre-
as estratégicas;
q O desenvolvimento da capa-
cidade de criptoanálise, de
análise em inteligência, de
avaliações operacionais,
pesquisa operacional e jo-
gos não deve ser negligen-
ciado. Apesar dos modelos
teóricos nem sempre se ade-
quarem à realidade, em vir-
tude da infinita capacidade
humana de alterá-la, cons-
tituem-se em importantes
referências para as formu-
lações e aplicações, em
exercícios, das táticas e es-
tratégias.; e
q Não pode haver dúvidas
quanto à importância da
logística integrada às tá-
ticas e à EO.
Todo o arcabouço de idéias, apre-
sentadas nos dois artigos publicados
sobre o presente tema, para a solu-
ção dos problemas militares, deve
estar inserido no Processo de Pla-
nejamento Militar, o qual permane-
ce como a ferramenta básica a ser
utilizada na solução dos mesmos.
(19)
Uma interessante comparação, mantidas as
devidas proporções, pode ser feita entre o Rio
AMAZONAS e o Estreito de DARDA-
NELOS, notadamente considerando as opera-
ções navais, anfíbias e de defesa ali realizadas
pelos ingleses, turcos e alemães na Primeira
Guerra Mundial, as quais podem trazer im-
portantes subsídios para eventual EO a ser
adotada na AMAZÔNIA.
2002 - O Anfíbio - 138

Luiz Carlos da Silva Cantídio
O ALMIRANTE-DE -E SQUADRA
(FN) L UIZ CARLOS DA SILVA CAN-
TÍDIO nasceu em 23 de fevereiro
de 1935, na cidade de Mossoró
no Estado do Rio Grande do
Norte, filho de João Cantídio
de Oliveira e Ildérica da Silva
Cantídio, casou-se com Mag-
dalena Antonietta Tavares da
Rocha Cantídio, com quem teve
três filhos: Luiz Carlos da Sil-
va Cantídio Júnior, Luiz Ri-
cardo Rocha da Silva Cantídio
e Lúcia Beatriz Rocha da Silva
Cantídio.
Formou-se na Escola Naval
no ano de 1955, partindo em
viagem de instrução no Navio-
Escola “Almirante Saldanha”.
Foi promovido ao posto de Se-
gundo-Tenente em 10 de ja-
neiro de 1956, ao de Primeiro-
Tenente em 26 de julho de 1957,
ao de Capitão-Tenente em 24
de setembro de 1959, ao de Ca-
pitão-de-Corveta em 13 de
agosto de 1963, ao de Capitão-
de-Fragata em 2 de outubro de
1968, ao de Capitão-de-Mar-e-
Guerra em 30 de abril de 1975,
ao de Contra-Almirante em 31
de março de 1983, ao de Vice-
Almirante em 25 de novembro
BIOGRAFIA DO
ALMIRANTE-DE-ESQUADRA (FN)
CF(T)P AULO ROBERTOMARCOS QUINTÃO
de 1986 e ao de Almirante-de-
Esquadra em 25 de novembro
de 1990.
Exerceu as seguintes comis-
sões: Instrutor de Estágio de
Adaptação dos Segundos-Te-
nentes da Reserva remunerada
no Centro de Instrução do
Corpo de Fuzileiros Navais
(CICFN); Comandante da
Companhia de Comando e
Serviços e Ajudante de Pessoal
do CICFN; Encarregado da
Secretária do Comando do
CICFN; Encarregado e Ins-
trutor da Escola de Educação
Física do CICFN; Ajudante de
Ordens do Comandante da
Guarnição do Quartel-Central
do Corpo de Fuzileiros Navais
e Encarregado do Serviço de
Comunicações do Quartel-
Central do CFN; Ajudante de
Ordens do Ministro da Ma-
rinha; Adjunto de Adminis-
tração do Material do Serviço
Especial do Material Bélico;
Comandante do Posto Ocea-
nográfico da Ilha da Trindade;
Imediato do Grupamento de
Fuzileiros Navais de Uru-
guaiana; Instrutor de Curso
Complementar de Operações
Anfíbias, no CICFN; Encar-
regado do Recebimento de Ar-
mamento Portátil na Bélgica –
Comissão Naval Brasileira em
Paris e Haia; Adjunto da
Subseção de Material Bélico da
4ª Seção do Estado-Maior do
Corpo de Fuzileiros Navais;
Oficial de Relações Públicas do
CFN, responsável pelo “O
ANFÍBIO”; Adjunto da Divisão
de Assuntos Militares da Escola
Superior de Guerra; Chefe da
Subseção Padrão GE4/SNI no
Estado Maior do Comando
Naval de Brasília; Comandante
do Grupamento de Fuzileiros
Navais de Brasília; Adjunto e
Encarregado da Subseção de
Assuntos Internacionais da
Seção de Operações do Estado-
Maior das Forças Armadas;
Delegado do Brasil na Junta
Interamericana de Defesa;
Encarregado da Seção de
2002 - O Anfíbio - 139
Organização do Estado-Maior
do CFN; Chefe do Departa-
mento de Recursos Humanos
do Comando-Geral do CFN;
Chefe de Planejamento e
Coordenação do Comando-
Geral do CFN; Chefe de Ga-
binete do Comandante-Geral
do CFN; Comandante da Tropa
de Reforço; Comandante do
Centro de Instrução e Ades-
tramento do CFN; Comandante
da Força de Fuzileiros da
Esquadra; Comandante de
Apoio do CFN; e Comandante-
Geral do Corpo de Fuzileiros
Navais.
Realizou os seguintes cur-
sos: Curso de Técnica de En-
sino para Oficiais, no Centro de
Instrução Almirante Wanden-
kolk; Curso Básico de Material
Bélico, no Exército Brasileiro;
O Curso “Officer Basic Exten-
sion”; “Comunication Officers
Extension”; Curso de Aper-
feiçoamento de Infantaria da
Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais (EsAO), no Exército
Brasileiro; Curso Básico de
Comando para Fuzileiros Na-
vais da Escola de Guerra Na-
val; Curso de Comando e Esta-
do-Maior, na Escola de Guerra
Naval; Curso Elementar de
Inglês, da Diretoria de Pessoal
Militar da Marinha; Curso
Avançado de Inglês (USAF), na
Diretoria de Ensino da Ma-
rinha; Curso de Comando e
Estado-Maior das Forças Ar-
madas na Escola Superior de
Guerra; Curso Superior de
Guerra (ESG); Curso Superior
de Guerra Naval (EGN); Curso
do Colégio Interamericano de
Defesa; e o Curso Básico de
Pára-quedistas.
Durante seu Comando, o
Almirante Cantídio publicou
“O Combatente Anfíbio”, im-
plementou a reestruturação do
Corpo de Fuzileiros Navais
com a criação do Comando do
Pessoal de Fuzileiros Navais
(CPesFN) e do Comando do
Material de Fuzileiros Navais
(CMatFN), além do Sistema
de Bases, recebeu viaturas
operativas, equipamentos veí-
culares lançadores de esteira
e outros materiais de en-
genharia, tais como pá me-
cânica 3 ton e motoperfu-
ratrizes, Lanchas- Patrulhas e
capacetes balísticos. Alterou
o Uniforme do grupo 4.0 e o
5.3, através da portaria Mi-
nisterial n° 0391, de 17 de
junho de 1993, e implantou a
Gestão da Qualidade Total
(GQT) no setor do Comando-
Geral do Corpo de Fuzileiros
Navais.
Estas determinações muito
contribuíram, para a moder-
nização do Material, bem como
o Aprimoramento Profissional
do Pessoal do Corpo de Fuzi-
leiros Navais.
Teve sua vida militar assina-
lada com muitos elogios e
louvores.
Recebeu as seguintes
condecorações:
> Ordem do Mérito Na-
val, no grau de Comen-
dador;
> Ordem do Mérito Mi-
litar, no grau de Oficial;
> Ordem do Mérito
Aeronáutico, no grau de Co-
mendador;
> Ordem do Rio Branco,
no grau de Oficial;
> Ordem do Mérito
Judiciário Militar, na cate-
goria de distinção;
> Ordem do Mérito de
Brasília, no grau Grande
Oficial;
> Medalha do Mérito
Tamandaré;
> Medalha do Pacifica-
dor;
> Medalha Militar de
Ouro;
> Medalha do Mérito
Santos Dumont;
> Medalha do Mérito
Anhanguera, do Estado de
Goiás;
> Mérito Naval, no grau
de Grande Oficial;
> Ordem do Mérito
Militar, no grau de Comen-
dador;
> Ordem do Mérito Na-
val, no grau de Grã-Cruz;
> Ordem do Mérito das
Forças Armadas, no grau de
Grande-Oficial,
> Medalha Militar de
Platina;
> Ordem do Mérito Ae-
ronáutico no grau de Gran-
de-Oficial.
2002 - O Anfíbio - 140
 Acima, Cerimônia de
Passagem de Comando,
Fortaleza de São José, Ilha
das Cobras (RJ), em 1945.
O Contra-Almirante (FN)
Sylvio de Camargo, assume
o Comando-Geral do Corpo
de Fuzileiros Navais.

Ao lado, a atual Fortaleza

de São José. Cerimônia em
homenagem a Batalha
Naval do Riachuelo, 11 de
junho de 2002.