Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
na sociedade brasileira:
o impacto na saúde pública
e na segurança pública.
Período de realização:
Dezembro/2008 a Julho/2010.
Agosto de 2010.
FICHA TÉCNICA
COORDENAÇÃO: Prof. Luis Flavio Sapori, Curso de Ciências Sociais da PUC Minas e
coordenador do CEPESP – Centro de Pesquisas em Segurança Pública da PUC
Minas
EQUIPE DE PESQUISADORES
Regina Medeiros, Professora do Curso de Ciências Sociais da PUC Minas
Lucia Lamounier Senna, Professora do Curso de Ciências Sociais da PUC Minas
Bráulio Figueiredo, Doutorando em Sociologia pela UFMG
Antonieta Guimarães Bizzotto , Pesquisadora do Centro Mineiro de Toxicomania
Bruna de Fátima Chaves Aarão, cientista social
Gustavo Satler Cetlin, pesquisador do Centro Mineiro de Toxicomania
Oscar Antonio Cirino, pesquisador do Centro Mineiro de Toxicomania
Radamés Andrade Vieira, professor do Curso de Ciências Sociais da PUC Minas
OBJETIVOS
Geral
Compreender os mecanismos sociais e simbólicos envolvidos na relação entre
o tráfico do crack e a disseminação da violência, bem como aqueles envolvidos
no consumo compulsivo dessa substância e os tratamentos e serviços de
atenção ao usuário.
Específicos
Analisar as características do comércio do crack e da epidemia de violência
que ele tende a provocar;
Analisar as modalidades de tratamento e projetos terapêuticos –
ambulatorial, permanência dia e internação – direcionados aos pacientes
usuários do crack.
Analisar as modalidades de encaminhamento – familiar, judicial, demanda
espontânea – dos usuários do crack aos serviços especializados de
tratamento.
Analisar a aderência e a rotatividade dos pacientes durante o período de
tratamento.
METODOLOGIA
PRINCIPAIS CONCLUSÕES
O crack que chegou a Belo Horizonte naquele período era oriundo de São
Paulo. A quadrilha chefiada pela família Peixoto na favela Prado Lopes foi
a responsável pela introdução do novo produto. Nos últimos anos, contudo,
a produção do crack e sua comercialização no atacado passam a se dar no
próprio estado de Minas Gerais. Proliferam os laboratórios clandestinos que
compram a pasta base, o sulfato de cocaína, e dela extraem a cocaína em pó e
a cocaína em pedra, que é o crack.
Nesse estudo foi usado o modelo de regressão logística para medir o grau de
associação existente entre os períodos considerados e a incidência de
homicídios cuja motivação é devida a drogas ilícitas. No período de 1997 a
2004 as chances da ocorrência de homicídios devido a conflitos relacionados a
drogas ilícitas são 2,31 vezes superiores comparadas ao período de 1993 a
1996.
-5 0 5 10
temp_anos
50
45
40
Taxa por 100.000 hab.
35
30
25
20
15
10
5
0
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Uma rede é sustentada pelas suas conexões e o arranjo dessa integração não
é planejada em toda a sua extensão. Uma determinada ordem, uma estrutura
de rede, é um processo emergente, condicionado pelas relações estabelecidas
entre os indivíduos que a compõem. É dessa maneira que tem funcionado o
tráfico de drogas ilícitas, em especial o tráfico do crack, na região metropolitana
de Belo Horizonte.
Em geral, estas conexões são compostas por jovens a partir dos 12 anos,
(ainda que a pesquisa tenha identificado que nas firmas a presença de jovens
abaixo dessa idade é freqüente) que se conectam com o objetivo de obter um
trabalho e renda, benefício de acesso à droga e integração simbólica. O acesso
a um pertencimento é, também, um produto ofertado por uma Boca.
Esse movimento sustenta e estende a rede até o ponto máximo em que cada
um dos seus pontos de conexão consegue se espraiar. Nessa ampliação da
rede o usuário garante, também, o seu uso a partir do próprio produto, fator
que dinamiza a rede de comercialização.
“Agora tem nego que não fuma a pedra é a pedra que fuma o
cara. Bandido que é bandido não é viciado. Cê tá vendendo
50 bolinho, cê vai queimar 10? Aí cê queimou o lucro todo!” (
traficante entrevistado)
Muitas vezes, esse paciente se torna insuportável também para sua família que
implora ajuda dos profissionais.
“A mãe de um nos ligou e disse: “Vocês podem mandar ele pro inferno
porque aqui comigo e não quero mais”. A família não quer”
Para esse tipo “marginal travestido de paciente” a equipe de saúde não dispõe
de mecanismos adequados para tratar, pois não se trata de um caso para
instituições de saúde. Pois, nesses casos invariavelmente estamos diante de
pessoas com transtorno de personalidade, perversos, psicotapas, que não
demandam, nem querem tratamento, querem “usar” as estruturas de atenção
para conseguir auferir ganhos diretos ou indiretos. O acompanhamento
medicamentoso ou psicoterapêutico costuma não ter nenhum efeito é
necessário outros dispositivos.
O usuário e a sociedade
Ainda que não exista esse perfil definido, o fato de usar crack é suficiente para
designar o sujeito como transgressor e marginal, portanto fora de acesso aos
direitos civis e sociais. Um entrevistado explica: uma paciente do sexo
feminino, de 42 anos de idade, classe média, casada com dois filhos,
organizadora de festa infantil, usava crack há 14 anos. Explica que saía uma
ou duas vezes ao mês para comprar crack, armazenava-o na própria casa e
fazia uso rotineiro, sem que ninguém na sua casa tivesse conhecimento, nem
seu marido. O fato de usar crack não a impedia de ser mãe, esposa e
trabalhadora. Cumpria seus papeis com cuidado e administrava seu uso sem
compulsão. Um certo dia seu marido descobriu e ainda que ela tenha explicado
a forma de uso e o tempo -14 anos- ele entrou com processo, conseguiu sua
internação e a guarda dos filhos. Além disso, denunciou seu uso para a rede
familiar e em seu local de trabalho. A partir desse momento a paciente perdeu
seu direito como cidadã, até mesmo de mãe.
O que determina uma toxicomania é a maneira pela qual o sujeito vai fazer uso
de uma dada substância caracterizado por um remodelamento dos circuitos de
satisfação construídos pelo sujeito e que provoca o curto-circuito do prazer. O
uso de drogas será uma técnica de administração do prazer e da evitação da
angústia na vida. O toxicômano é aquele cuja técnica fracassou e passou a
responder não ao manejo do gozo, mas ao seu imperativo. O estabelecimento
de um diagnóstico, que deveria auxiliar na abordagem do usuário, longe de
auxiliar na construção do caso, opera na segregação do paciente entre os
serviços e nas restrições em ser acolhido em serviços reservados à saúde
mental e aos transtornos mentais severos. Esta operação de segregação torna-
se evidente quando estas duas “entidades” estão presentes no mesmo caso,
dividindo o sujeito em seu psiquismo e produzindo um ponto cego na rede de
atenção.