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O DEUS DA BÍBLIA
"Assim diz o Senhor: `Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força nem o rico em sua
riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e conhecer-me, pois eu sou o Senhor e ajo
com lealdade,com justiça e com retidão sobre a terra, pois é dessas coisas que me agrado', declara o Senhor"
(Jeremias 9.23-24).
Pergunta orientadora:
- Dá para "engolir" o Deus mostrado na Bíblia?
I. Deus escolheu um povo (Israel) que respondeu ao Seu convite, como o demonstram, por exemplo, as
histórias pessoais das "chamadas" de Noé (Gênesis 6.9), Abraão (Gênesis 12.1-4), Moisés (Êxodo 3.1),
Jeremias (Jeremias 1.4-9) e Isaías (6.8), visando, com esta escolha, a felicidade de toda a humanidade (João
3.16). O convite a Abraão era para abençoar toda a humanidade (Gênesis 12.3), não apenas sua família ou
seu povo.
II. Para levar seu povo (humanidade) à felicidade, Deus se comunicou com este povo (esta humanidade) de
uma forma progressiva, como o entendemos (imperfeitamente, no caso) pela analogia da comunicação entre
pais (predominantemente adulta-racional) e filhos (predominantemente infantil-fantasística). Assim como um
pai procura entrar no universo do seu filho, Deus fez o mesmo, embora isto traga dificuldades ao leitor de hoje,
naturalmente tributário, na tipologia (aqui adaptada) de Francis Bacon (1561-1626) no "Novum Organum", dos:
. da caverna (ou egocentrismo, que leva um indivíduo a conhecer a partir dos seus próprios interesses e de
sua história pessoal) -- uma tendência natural que deve ser combatida;
. ídolos da tribo (ou etnocentrismo, que leva um indivíduo a generalizar segundo as regras de sua cultura) --
alimentando estereótipos;
. do mercado (ou cronocentrismo, que leva o indivíduo a perceber a realidade de acordo com a visão científica,
tecnológica ou ideológica do seu tempo) -- incorrendo em Anacronismo, e/ou
. do teatro (ou cratocentrismo, que leva um indivíduo a seguir a "autoridade" do momento, seja científico,
político ou mediático), com o risco do modismo.
Isto não implica em progressividade de Deus, mas em progressividade de Sua comunicação, o que O limita. É
neste contexto que devemos entender
. as LEIS estabelecidas (cabendo-nos derivar delas os princípios eternos, embora lavradas como normas
temporalizadas);
. as ORDENS dadas, como a da punição de toda a família pelo erro de um dos seus componentes ou do
extermínio de clãs ou povos (tocando-nos ver nelas valores de uma época) ou como o comunitarismo
prevalecente em contraste com o individualismo que predominaria (e procurando nelas os propósitos
escondidos) e
. o TRATAMENTO que Jesus deu às doenças (tidas como decorrentes de um pecado específico ou mesmo de
origem demoníaca).
A comunicação Deus-homem pode ser pensada em termos assemelhados ao processo humano, em que
emissor e receptor interagem a partir de seus universos de significação.
Não estamos diante de informações contraditórias sobre Deus?Entendemos que "não" Deus, porque:
1. o caminho para o conhecimento de Deus, podemos comparar, não é feito em avião supersônico, mas num
ultraleve. Deus não Se esconde. Nós O escondemos. Nós é que O tornamos inefável.
2. Abraão não sabia que Seu filho não seria morto, mas Deus sabia; a fé de Abraão precisava conhecer sua
própria liberdade, para ser autêntica.
3. Sua preferência nacional é universalizadora (Romanos 3.29-30).
4. há outros deuses, de fabricação humana, por serem mais cômodos (Salmo115.4-7).
5. Sua ira (49 vezes referida na Bíblia) é de natureza afetiva, não moral, e é uma expressão de sua santidade e
de seu amor (Romanos 9.22-23), porque o pecado destrói, mas a santidade faz viver.
6. a idolatria (seja ela politeísta ou animista) não é boa para os deuses (que não existem); só para os a
comerciam. A idolatria corrompe, aprisiona e mata. Deus quer vida. Monoteísmo é vida, apesar das práticas
dos monoteístas (que ensejam críticas mordazes do "fundamentalismo ateu" de Dawkins e companhia).
7. Deus gosta de parcerias. A Bíblia mesma é uma obra conjunta.
8. "O Senhor nosso Deus é misericordioso e perdoador, apesar de termos sido rebeldes" (Daniel 9.9).
Deus é sempre encarnado (no sentido de viver como os homens, o que se deu no Antigo Testamento através
da ação e da linguagem, e no Novo através da ação e de Jesus Cristo).
Um Deus encarnado é um Deus autolimitado, que escolheu dizer e ser compreendido, que escolheu viver
abrindo mão de sua divindade. Jesus, o Deus encarnado, por exemplo, não era onisciente (Marcos 13.31-32) e
experimentou todas as necessidades humanas, nos planos dos instintos, desejos e relacionamentos. A
encarnação onivisível de Jesus é o maior desafio à razão e à natureza humana. Que Deus onipotente é este
que pode descer da cruz, mas não desce; que pode liquidar os adversários, mas ora (e morre) por eles?
Em síntese, Deus é, ao mesmo tempo, soberano (nunca no sentido político, isto é, despótico; Sua vontade
pode ser recusada, como a da salvação de todos, uma vez que a recusa faz parte da liberdade humana), sábio
(no sentido que conhece tudo, no tempo e no espaço) e misericordioso.
IV. Para se revelar e como toda comunicação, para se realizar, precisa ser "kenótica" (auto-esvaziante), Deus
inspirou contextual (com respostas para aquele tempo) e dinamicamente (sem psicografia) homens e mulheres
(indivíduos, famílias e grupos de pessoas), que continuaram como autores autônomos nessa parceria
produtiva.
Esses autores têm sua própria história pessoal desenvolvida em diálogo com a ciência do seu tempo, com a
literatura do seu tempo e com a ideologia do seu tempo (tempo de 21 séculos, de Ur a Patmos).
Esses autores, com finalidades sobretudo informativas (preservação da memória), artísticas e didáticas,
escreveram a partir de suas observações (testemunhos de fontes oculares) e de suas pesquisas (Lucas 1.1-4;
Atos 1.1), registradas em forma de:
1. relatos intencionais (testemunhados e pesquisados), geralmente não normativos (o que explicam a não
condenação a comportamentos abomináveis narrados, como a poligamia e registros de violências
inomináveis), embora descritivos da natureza humana (Eclesiastes 7.9).
2. epístolas (como a de Jeremias 29, as cartas dos apóstolos e excertos em Apocalipse).
3. poemas (como todos os Salmos, Lamentações, parte de Eclesiastes e excertos nos proféticos e do
Apocalipse).
4. contos ou novelas (como os de Rute, Ester e parte de Jonas).
5. sermões (como os dos profetas-autores, profetas não-autores, Moisés, Jesus, Pedro, Simeãoe Paulo,
contidos nos livros proféticos, históricos, evangelhos e Atos).
6. provérbios (como os coletados em Provérbios, parte de Eclesiastes e excertos nos Salmos).
7. parábolas (inseridas nos Evangelhos e em sermões de profetas).
8. aulas (inseridas nas Epístolas).
9. orações (como a de Daniel, excertos nos livros históricos e as de Jesus nos Evangelhos)
10. peças teatrais (como Jó, Cântico dos Cânticos).
Como este caleidoscópio material não se contradiz, cremos que Deus supervisionou a escritura das
Escrituras.
5. O resultado desta obra em parceria está colecionado num livro único, chamado de Bíblia, dividida em Antigo
(ou Primeiro ou Velho) e Novo (ou Segundo) Testamento. Este livro fala de Deus, mas não O esgota, uma vez
que Ele é inesgotável.
A Bíblia é uma prova material que Deus caminha com o homem. Misterioso (não O conhecemos de todo), sem
ser inefável -- eis o Deus que toma o ser humano como Seu parceiro no Livro e na vida.
Por isto, este livro deve ser lido com a cabeça (razão) e com o coração (fé). Quem a lê com a razão nota que a
razão dela se apropria, procura lê-la com os instrumentos que estabelece e também nota que dela o essencial
escapa, uma vez que é livro capaz de tornar o leitor "sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus"
(2Timóteo 3.15). Quem a lê com fé permite que ela seja o que ela pretende ser, como neste tomado com
liberdade porque não se refere à Biblia: "a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada
de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e
intenções do coração" (Hebreus 4.12). Quem a lê com inteligência e dependência percebe que ela "é inspirada
por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o
homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra" (2Timóteo 3.16-17).
A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
Pergunta orientadora: Como posso aceitar que a Bíblia é a Palavra de Deus, se foi escrita por homens?
PARTE 1
UM LIVRO QUE IMPORTA EM DECISÃO
A dificuldade de recebimento da Bíblia como Palavra de Deus tem três vetores: sua mensagem (tida como
contraria aos ditames da razão), a humanidade de seus autores (naturalmente falíveis) e a natureza do
material (visto como não confiável).
No entanto, se, para o leitor, a razão não é perfeita, porque humana, logo passível de erro, e porque
condicionada culturalmente (os argumentos nazistas, por exemplo, eram todos racionais, mas todos hoje os
achamos irracionais, por seus resultados e tambem porque perderam...), faz sentido aceitar a idéia, proposta
na Bíblia (Salmo 19.9, Provérbios 1.7, 14.27, 19.23, 2Coríntios 10.5) de que a razão é aperfeiçoada (não
negada) pela fé.
Se, para o leitor, Deus existe e se comunica, Ele usou os recursos disponíveis (revelação e inspiração) para
orientar o ser humano em sua caminhada, resultando num Livro totalmente atípico que, embora escrito ao
longo de séculos e por distintas pessoas em diferentes comunidades e culturais, mantém uma unidade.
Se, para o leitor, as evidências da incompetência humana para a construção de uma sociedade justa são
claras, em função dos instintos, desejos e interesses, tanto individuais quanto coletivos (como demonstrados
na guerra), é prova de sabedoria tomar os mandamentos de Deus, apresentados na Bíblia, como sendo os
seus absolutos para nós, independentemente de condicionantes temporais ou regionais (o que demanda
separar princípios, atemporais e a-regionais, e normas (válidas mas extinguiveis no tempo e no espaço).
Se, para o leitor, Deus existe e se relaciona amorosamente com os seres criados, é admissível que Ele tenha
enviado, como relata a Bíblia, um Salvador singular (plenamente divino, plenametne humano), como Sua
providëncia para o resgate da dignidade humana.
O QUE FAZEMOS COM O QUE LEMOS
Uma prova de que precisamos de um Salvador (como admitiu em 1966 o filósofo Martin Heidegger: "A filosofia
não poderá conseguir uma mudança imediata do atual estado do mundo. Isto não vale apenas para a filosofia,
mas para todos os sentidos e costumes humanos. Somente um Deus ainda pode nos salvar. A única
alternativa que nos resta é preparar, no pensamento e na poesia, uma disposição para a aparição deste Deus,
ou aceitar a ausência deste Deus no declínio; aceitar que estamos sucumbindo na presença deste Deus
ausente". Entrevista reproduzida no jornal Valor Econômico, de 28.9.2001, caderno Fim de Semana, p. 5) é o
que fazemos com a Bíblia, ao lê-la.
Nossos instintos, desejos e interesses são muito fortes, podendo condicionar nossas práticas, mesmo que a
Bíblia nos sugira outras perspectivas. Muitas vezes a Bíblia é julgada pelo que os seus leitores fazem com
ela.Um caso emblemático é da escravidão, que (no caso, de negros) foi lamentavelmente justificada assim, por
alguns cristãos do século 19:
. "A escravidão foi estabelecida por decreto do Todopoderoso Deus, sancionada na Bíblia, em ambos os
Testamentos, de Gênesis a Apocalipse" (Jefferson Davis, presidente dos Estados Confederados da América).
"Não um verso sequer na Bíblia inibindo a escravidão, mas muitos regulamentando-a. Concluímos então que
ela não é imoral" (Rev. Alexander Campbell)
. "O direito de manter escravos está claramente estabelecido nas Sagradas Escrituras, por preceito e por
exemplo". (Rev. R. Furman) A condenação de Cão marcou seus descendentes africanos. A mão do destino
uniu sua cor e destino. O homem não pode separar o que Deus ajuntou (James Henry Hammond) (Ontario
Consultants on Religious Tolerance. Slavery in the Bible. Disponível
em http://www.religioustolerance.org/sla_bibl.htm).
Como se vê, nos séculos 18 e 19, nos Estados Unidos, "o texto de Gênesis 9.18-27 transformou a maldição de
Cão no mito fundamental da degradação coletiva, demonstrada como uma razão divina para a condenação de
geração de pessoas de pele escura da África à escravidão" (LEE, Felicia R. From Noah's Curse to Slavery's
Rationale. Disponível em http://www.racematters.org/noahscurseslaverysrationale.htm
Hoje podemos nos perguntar como se fez isto com a Bíblia, se nela lemos que em Cristo não há livre, nem
escravo, e se vemos o preceito e o exemplo do apóstolo Paulo ao falar de Onésimo a Filemon.
A lista de equívocos (crimes até) cometidos em nome de Deus e de Palavra não é pequena, podendo ser
empobrecida com as atitudes manifestas contras as mulheres (tidas biblicamente como inferiores, não
podendo, por exemplo, em certos círculos, ser ordenadas ao ministério pastoral), a defesa do Estado moderno
de Israel (que é idolatrado como ainda povo eleito e como se o Messias Jesus já não tivesse vindo)
independentemente das razões de seus ataques aos palestinos e toda a forma de violência usada para
"defender" Deus (embora seja para defender territórios e ideologias próprios).
Nossos instintos, desejos e interesses são muito fortes, podendo condicionar nossas práticas, mesmo que a
Bíblia nos sugira outras perspectivas.
Deus não pode ser responsabilizado pelo que fazem os que crêem (até mesmo sinceramente) nEle. A Bíblia
não pode ser responsabilizada pelo que fazem os que a lêem (mesmo sinceramente). É por isto que a Bíblia
deve ser lida com a coragem, coragem para confrontar nossa ideologia.
A fé me livra do
. doutrinarismo
. ceticismo
. historicismo
. relativismo
6. Preciso saber que devo a Bíblia em quatro níveis, que me levam a conhecer (nível da INFORMAÇÃO),
entender (nível da COMPREENSÃO), aplicar (nível da APLICAÇÃO) e me envolver (nível da IMPLICAÇÃO ou
da ATITUDE). Se tomo a história de Barzilai (2Samuel 17.27-29; 2Samuel 19.31-40ª), sou informado de seu
gesto (INFORMAÇÃO), com implicações de ordem pessoal e política; posso compreender suas motivações,
bem como as de Davi (COMPREENSÃO); devo aplicar a história ao meu próprio contexto, relacionando-a com
outros textos que me convidam à generosidade (APLICAÇÃO), e preciso decidir que a atitude será minha e ver
como isto se dará, permitindo que a Bíblia faça parte da minha vida (IMPLICAÇÃO).
7. Preciso reconhecer que a razão e a fé me ajudam a construir a ponte entre o mundo da Bíblia e o meu
mundo, entre a mente da Biblia e a minha mente. Feliz serei se a minha mente for bíblica; felizes seremos se o
nosso mundo se apropriar dos valores bíblicos.
8. Sempre preciso decidir o que fazer com a Bíblia. O que farei dela depende do que penso dela e do Deus que
nela se revela.