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CURSO DE INTRODUÇÃO À BÍBLIA

O DEUS DA BÍBLIA

"Assim diz o Senhor: `Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força nem o rico em sua
riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e conhecer-me, pois eu sou o Senhor e ajo
com lealdade,com justiça e com retidão sobre a terra, pois é dessas coisas que me agrado', declara o Senhor"
(Jeremias 9.23-24).
Pergunta orientadora:
- Dá para "engolir" o Deus mostrado na Bíblia?

I. Deus escolheu um povo (Israel) que respondeu ao Seu convite, como o demonstram, por exemplo, as
histórias pessoais das "chamadas" de Noé (Gênesis 6.9), Abraão (Gênesis 12.1-4), Moisés (Êxodo 3.1),
Jeremias (Jeremias 1.4-9) e Isaías (6.8), visando, com esta escolha, a felicidade de toda a humanidade (João
3.16). O convite a Abraão era para abençoar toda a humanidade (Gênesis 12.3), não apenas sua família ou
seu povo.

II. Para levar seu povo (humanidade) à felicidade, Deus se comunicou com este povo (esta humanidade) de
uma forma progressiva, como o entendemos (imperfeitamente, no caso) pela analogia da comunicação entre
pais (predominantemente adulta-racional) e filhos (predominantemente infantil-fantasística). Assim como um
pai procura entrar no universo do seu filho, Deus fez o mesmo, embora isto traga dificuldades ao leitor de hoje,
naturalmente tributário, na tipologia (aqui adaptada) de Francis Bacon (1561-1626) no "Novum Organum", dos:
. da caverna (ou egocentrismo, que leva um indivíduo a conhecer a partir dos seus próprios interesses e de
sua história pessoal) -- uma tendência natural que deve ser combatida;
. ídolos da tribo (ou etnocentrismo, que leva um indivíduo a generalizar segundo as regras de sua cultura) --
alimentando estereótipos;
. do mercado (ou cronocentrismo, que leva o indivíduo a perceber a realidade de acordo com a visão científica,
tecnológica ou ideológica do seu tempo) -- incorrendo em Anacronismo, e/ou
. do teatro (ou cratocentrismo, que leva um indivíduo a seguir a "autoridade" do momento, seja científico,
político ou mediático), com o risco do modismo.

Isto não implica em progressividade de Deus, mas em progressividade de Sua comunicação, o que O limita. É
neste contexto que devemos entender
. as LEIS estabelecidas (cabendo-nos derivar delas os princípios eternos, embora lavradas como normas
temporalizadas);
. as ORDENS dadas, como a da punição de toda a família pelo erro de um dos seus componentes ou do
extermínio de clãs ou povos (tocando-nos ver nelas valores de uma época) ou como o comunitarismo
prevalecente em contraste com o individualismo que predominaria (e procurando nelas os propósitos
escondidos) e
. o TRATAMENTO que Jesus deu às doenças (tidas como decorrentes de um pecado específico ou mesmo de
origem demoníaca).
A comunicação Deus-homem pode ser pensada em termos assemelhados ao processo humano, em que
emissor e receptor interagem a partir de seus universos de significação.

III. Ao Se comunicar, Deus Se revelou (mostrou) Quem Ele é.


. Deus é uma pessoa, no sentido que, embora não tendo forma conhecida, tem consciência de Si, vontade
própria e liberdade. (Toda palavra humana sobre Deus é palavra humana sobre Deus; é sempre
antropomórfica.)
. Deus criou o universo e os seres nele habitantes, inclusive o ser humano (Salmo 24.1), apresentado como
obra-prima de Sua capacidade criativa (Salmo 8.5) e completadora da criação (Gênesis 1.28).
. Deus busca Se relacionar com o ser humano, porque faz parte de Sua natureza comunicar-Se, marca que
caracteriza Sua criação, feita à Sua imagem-semelhança. (Este o sentido da adoração requerida por Jesus --
cf. João 4.2 -- dos seres humanos, que deve ser em espírito e em verdade, marcas essenciais de Deus).

Neste projeto, somos, para exemplos, informados na Bíblia que Ele:


1. se revela e se esconde (Êxodo 3.14).
2. sacrifica um ventre envelhecido para gestar um filho e depois o pede em sacrifício de morte (o caso de
Isaque).
3. ama a todos os seres humanos, mas prefere um povo, a partir de um homem -- Abraão (Cf. Gênesis 35.15).
4. é o único Deus (Isaías 46.9-10), embora existam outros (2Crônicas 2.5).
5. é completamente santo e padrão de santidade para os seres humanos (Levítico 11.44) mas se ira (Romanos
1.18) com os seres humanos (Romanos 1.18).
6. ama, mas castiga os que não o adoram (Êxodo 20.5).
7. é absolutamente poderoso (Deuteronômio 32.39; Jó 12.13-14) mas pede ao homem de aja para libertar um
povo da opressão (Juízes 6.14).
8. é gracioso (Efésios 2.8) e justo (Jeremias 17.10).

Não estamos diante de informações contraditórias sobre Deus?Entendemos que "não" Deus, porque:
1. o caminho para o conhecimento de Deus, podemos comparar, não é feito em avião supersônico, mas num
ultraleve. Deus não Se esconde. Nós O escondemos. Nós é que O tornamos inefável.
2. Abraão não sabia que Seu filho não seria morto, mas Deus sabia; a fé de Abraão precisava conhecer sua
própria liberdade, para ser autêntica.
3. Sua preferência nacional é universalizadora (Romanos 3.29-30).
4. há outros deuses, de fabricação humana, por serem mais cômodos (Salmo115.4-7).
5. Sua ira (49 vezes referida na Bíblia) é de natureza afetiva, não moral, e é uma expressão de sua santidade e
de seu amor (Romanos 9.22-23), porque o pecado destrói, mas a santidade faz viver.
6. a idolatria (seja ela politeísta ou animista) não é boa para os deuses (que não existem); só para os a
comerciam. A idolatria corrompe, aprisiona e mata. Deus quer vida. Monoteísmo é vida, apesar das práticas
dos monoteístas (que ensejam críticas mordazes do "fundamentalismo ateu" de Dawkins e companhia).
7. Deus gosta de parcerias. A Bíblia mesma é uma obra conjunta.
8. "O Senhor nosso Deus é misericordioso e perdoador, apesar de termos sido rebeldes" (Daniel 9.9).

Deus é sempre encarnado (no sentido de viver como os homens, o que se deu no Antigo Testamento através
da ação e da linguagem, e no Novo através da ação e de Jesus Cristo).
Um Deus encarnado é um Deus autolimitado, que escolheu dizer e ser compreendido, que escolheu viver
abrindo mão de sua divindade. Jesus, o Deus encarnado, por exemplo, não era onisciente (Marcos 13.31-32) e
experimentou todas as necessidades humanas, nos planos dos instintos, desejos e relacionamentos. A
encarnação onivisível de Jesus é o maior desafio à razão e à natureza humana. Que Deus onipotente é este
que pode descer da cruz, mas não desce; que pode liquidar os adversários, mas ora (e morre) por eles?
Em síntese, Deus é, ao mesmo tempo, soberano (nunca no sentido político, isto é, despótico; Sua vontade
pode ser recusada, como a da salvação de todos, uma vez que a recusa faz parte da liberdade humana), sábio
(no sentido que conhece tudo, no tempo e no espaço) e misericordioso.

IV. Para se revelar e como toda comunicação, para se realizar, precisa ser "kenótica" (auto-esvaziante), Deus
inspirou contextual (com respostas para aquele tempo) e dinamicamente (sem psicografia) homens e mulheres
(indivíduos, famílias e grupos de pessoas), que continuaram como autores autônomos nessa parceria
produtiva.
Esses autores têm sua própria história pessoal desenvolvida em diálogo com a ciência do seu tempo, com a
literatura do seu tempo e com a ideologia do seu tempo (tempo de 21 séculos, de Ur a Patmos).
Esses autores, com finalidades sobretudo informativas (preservação da memória), artísticas e didáticas,
escreveram a partir de suas observações (testemunhos de fontes oculares) e de suas pesquisas (Lucas 1.1-4;
Atos 1.1), registradas em forma de:

1. relatos intencionais (testemunhados e pesquisados), geralmente não normativos (o que explicam a não
condenação a comportamentos abomináveis narrados, como a poligamia e registros de violências
inomináveis), embora descritivos da natureza humana (Eclesiastes 7.9).
2. epístolas (como a de Jeremias 29, as cartas dos apóstolos e excertos em Apocalipse).
3. poemas (como todos os Salmos, Lamentações, parte de Eclesiastes e excertos nos proféticos e do
Apocalipse).
4. contos ou novelas (como os de Rute, Ester e parte de Jonas).
5. sermões (como os dos profetas-autores, profetas não-autores, Moisés, Jesus, Pedro, Simeãoe Paulo,
contidos nos livros proféticos, históricos, evangelhos e Atos).
6. provérbios (como os coletados em Provérbios, parte de Eclesiastes e excertos nos Salmos).
7. parábolas (inseridas nos Evangelhos e em sermões de profetas).
8. aulas (inseridas nas Epístolas).
9. orações (como a de Daniel, excertos nos livros históricos e as de Jesus nos Evangelhos)
10. peças teatrais (como Jó, Cântico dos Cânticos).

Como este caleidoscópio material não se contradiz, cremos que Deus supervisionou a escritura das
Escrituras.

5. O resultado desta obra em parceria está colecionado num livro único, chamado de Bíblia, dividida em Antigo
(ou Primeiro ou Velho) e Novo (ou Segundo) Testamento. Este livro fala de Deus, mas não O esgota, uma vez
que Ele é inesgotável.
A Bíblia é uma prova material que Deus caminha com o homem. Misterioso (não O conhecemos de todo), sem
ser inefável -- eis o Deus que toma o ser humano como Seu parceiro no Livro e na vida.
Por isto, este livro deve ser lido com a cabeça (razão) e com o coração (fé). Quem a lê com a razão nota que a
razão dela se apropria, procura lê-la com os instrumentos que estabelece e também nota que dela o essencial
escapa, uma vez que é livro capaz de tornar o leitor "sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus"
(2Timóteo 3.15). Quem a lê com fé permite que ela seja o que ela pretende ser, como neste tomado com
liberdade porque não se refere à Biblia: "a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada
de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e
intenções do coração" (Hebreus 4.12). Quem a lê com inteligência e dependência percebe que ela "é inspirada
por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o
homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra" (2Timóteo 3.16-17).

A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
Pergunta orientadora: Como posso aceitar que a Bíblia é a Palavra de Deus, se foi escrita por homens?

PARTE 1
UM LIVRO QUE IMPORTA EM DECISÃO
A dificuldade de recebimento da Bíblia como Palavra de Deus tem três vetores: sua mensagem (tida como
contraria aos ditames da razão), a humanidade de seus autores (naturalmente falíveis) e a natureza do
material (visto como não confiável).

O DESAFIO DA MENSAGEM BÍBLICA


O Deus que emerge da Bíblia depende dos pressupostos do seu leitor.
Se, para o leitor, a razão é rainha plena, como aceitará ele a idéia de que o temor (reverência) do Senhor é o
princípio (caminho) da sabedoria?
Se, para o leitor, não pode haver verdade absoluta, porque cada um tem o direito de chamar de verdade o que
acha que é, como concederá ele que haja um livro inspirado por Deus e com a capacidade de levar alguém "a
salvação mediante a fé em Jesus Cristo" (cf. 2Timóteo 4.15, 16)?
Se, para o leitor, a moralidade é produto do consenso entre seres humanos de determinada comunidade ou
povo, como tomará ele os mandamentos de Deus, apresentados na Bíblia, como absolutos e atemporais para
si e para os povos?
Se, para o leitor, o homem é capaz de encontrar seu próprio caminho para a felicidade, como admitirá ele a
idéia de que todos os seres humanos carecem de salvação e de que há um Salvador único para toda a
humanidade (Jesus Cristo)?

No entanto, se, para o leitor, a razão não é perfeita, porque humana, logo passível de erro, e porque
condicionada culturalmente (os argumentos nazistas, por exemplo, eram todos racionais, mas todos hoje os
achamos irracionais, por seus resultados e tambem porque perderam...), faz sentido aceitar a idéia, proposta
na Bíblia (Salmo 19.9, Provérbios 1.7, 14.27, 19.23, 2Coríntios 10.5) de que a razão é aperfeiçoada (não
negada) pela fé.
Se, para o leitor, Deus existe e se comunica, Ele usou os recursos disponíveis (revelação e inspiração) para
orientar o ser humano em sua caminhada, resultando num Livro totalmente atípico que, embora escrito ao
longo de séculos e por distintas pessoas em diferentes comunidades e culturais, mantém uma unidade.
Se, para o leitor, as evidências da incompetência humana para a construção de uma sociedade justa são
claras, em função dos instintos, desejos e interesses, tanto individuais quanto coletivos (como demonstrados
na guerra), é prova de sabedoria tomar os mandamentos de Deus, apresentados na Bíblia, como sendo os
seus absolutos para nós, independentemente de condicionantes temporais ou regionais (o que demanda
separar princípios, atemporais e a-regionais, e normas (válidas mas extinguiveis no tempo e no espaço).
Se, para o leitor, Deus existe e se relaciona amorosamente com os seres criados, é admissível que Ele tenha
enviado, como relata a Bíblia, um Salvador singular (plenamente divino, plenametne humano), como Sua
providëncia para o resgate da dignidade humana.
O QUE FAZEMOS COM O QUE LEMOS
Uma prova de que precisamos de um Salvador (como admitiu em 1966 o filósofo Martin Heidegger: "A filosofia
não poderá conseguir uma mudança imediata do atual estado do mundo. Isto não vale apenas para a filosofia,
mas para todos os sentidos e costumes humanos. Somente um Deus ainda pode nos salvar. A única
alternativa que nos resta é preparar, no pensamento e na poesia, uma disposição para a aparição deste Deus,
ou aceitar a ausência deste Deus no declínio; aceitar que estamos sucumbindo na presença deste Deus
ausente". Entrevista reproduzida no jornal Valor Econômico, de 28.9.2001, caderno Fim de Semana, p. 5) é o
que fazemos com a Bíblia, ao lê-la.
Nossos instintos, desejos e interesses são muito fortes, podendo condicionar nossas práticas, mesmo que a
Bíblia nos sugira outras perspectivas. Muitas vezes a Bíblia é julgada pelo que os seus leitores fazem com
ela.Um caso emblemático é da escravidão, que (no caso, de negros) foi lamentavelmente justificada assim, por
alguns cristãos do século 19:
. "A escravidão foi estabelecida por decreto do Todopoderoso Deus, sancionada na Bíblia, em ambos os
Testamentos, de Gênesis a Apocalipse" (Jefferson Davis, presidente dos Estados Confederados da América).
"Não um verso sequer na Bíblia inibindo a escravidão, mas muitos regulamentando-a. Concluímos então que
ela não é imoral" (Rev. Alexander Campbell)
. "O direito de manter escravos está claramente estabelecido nas Sagradas Escrituras, por preceito e por
exemplo". (Rev. R. Furman) A condenação de Cão marcou seus descendentes africanos. A mão do destino
uniu sua cor e destino. O homem não pode separar o que Deus ajuntou (James Henry Hammond) (Ontario
Consultants on Religious Tolerance. Slavery in the Bible. Disponível
em http://www.religioustolerance.org/sla_bibl.htm).
Como se vê, nos séculos 18 e 19, nos Estados Unidos, "o texto de Gênesis 9.18-27 transformou a maldição de
Cão no mito fundamental da degradação coletiva, demonstrada como uma razão divina para a condenação de
geração de pessoas de pele escura da África à escravidão" (LEE, Felicia R. From Noah's Curse to Slavery's
Rationale. Disponível em http://www.racematters.org/noahscurseslaverysrationale.htm
Hoje podemos nos perguntar como se fez isto com a Bíblia, se nela lemos que em Cristo não há livre, nem
escravo, e se vemos o preceito e o exemplo do apóstolo Paulo ao falar de Onésimo a Filemon.
A lista de equívocos (crimes até) cometidos em nome de Deus e de Palavra não é pequena, podendo ser
empobrecida com as atitudes manifestas contras as mulheres (tidas biblicamente como inferiores, não
podendo, por exemplo, em certos círculos, ser ordenadas ao ministério pastoral), a defesa do Estado moderno
de Israel (que é idolatrado como ainda povo eleito e como se o Messias Jesus já não tivesse vindo)
independentemente das razões de seus ataques aos palestinos e toda a forma de violência usada para
"defender" Deus (embora seja para defender territórios e ideologias próprios).
Nossos instintos, desejos e interesses são muito fortes, podendo condicionar nossas práticas, mesmo que a
Bíblia nos sugira outras perspectivas.
Deus não pode ser responsabilizado pelo que fazem os que crêem (até mesmo sinceramente) nEle. A Bíblia
não pode ser responsabilizada pelo que fazem os que a lêem (mesmo sinceramente). É por isto que a Bíblia
deve ser lida com a coragem, coragem para confrontar nossa ideologia.

A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA, parte 3


"A inspiração da Bíblia não implica que todas os acontecimentos relatados nela têm a aprovação divina ou que
todas as palavras registradas têm uma divina autoridade. Não estamos obrigados a defender o engano de Jacó
para com seu pai ou o pedido de Elias para que o fogo descesse dos céus ou a aceitar como provenientes do
Altíssimo os argumentos dos amigos de Jó ou os elogios de Débora a Jael. Estas ações e palavras não são
parte da revelação de Deus, mas são parte do contexto em que a revelação foi dada e foram registradas para
nos advertir. O isolamento de partes isoladas da Bíblia tem feito grandes estragos. O Antigo Testamento é
para ser lido e compreendido à luz do Novo Testamento; os primeiros estágios da revelação aparecem na
devida perspectiva quando vistos no contexto da revelação completa em Cristo".
(F.F. Bruce)
TRANSMISSÃO, CANONIZAÇÃO E TRADUÇÃO
Há algumas perguntas que precisam de respostas.
(TRANSMISSÃO)
1. Se não há originais (autógrafos), como posso confiar na fidedignidade do texto bíblico?
R.: De fato, não há originais, o que se aplica a todas as obras da antiguidade. Há, no entanto, cópias bem
preservadas, razoavelmente antigas e com textos idênticos quando cotejados.
O quadro, a seguir, mostra a antiguidade dos manuscristos do Novo Testamento em comparação com obras
antigas.
AUTOR OBRA VIDA EVENTOS ESCRITO MS Evento Evento
+ antigo ao Escrito ao MS
em anos em anos
ESCRITOS DO NOVO TESTAMENTO
Mateus Evangelho 0-70 4a.C.-30d.C. 50-65/75 200 50 200
Marcos Evangelho 15-90? 27 - 30 65/70 225 50 200
Lucas Evangelho 10-80? 5 a.C. -30d.C. 60/75 200 50 200
João Evangelho 10-100 27-30 90-110 130 80 100
Paulo Cartas 0-65 30 50-65 200 20-30 200
OUTROS ESCRITOS
Josefo Guerra 37-100 200 a.C.- 70d.C. 80 950 10-300 900-1200
Josefo Antiguidades 37-100 200 a.C.- d.C. 65 95 1050 30-300 1000-1300
Tácito Anais 56-120d.C. 14-68 100-120 850 30-100 800-850
Suetônio Vidas 69-130 50 a.C. -95d.C. 120 850 25-170 750-900
Plínio Cartas 60-115 97-112 1 0-112 850 0-3 725-750
Plutarco Vidas 50-120 500 a.C.- 70d.C. 100 950 30-600 850-1500
Heródoto História 485-425a.C. 546-478a.C. 430-425a.C. 900 50-125 1400-1450
Tucídides História 460-400a.C. 431-411a.C. 410-400a.C. 900 0-30 1300-1350
Xenofonte Anabasis 430-355a.C. 401-399a.C. 385-375a.C. 1350 15-25 1750
Políbio História 200-120a.C. 220-168a.C. 150a.C. 950 20-7 1100-1150<CP=10>
O mundo conhece 8 cópias das obras de Heródoto, 5 de Aristóteles e 7 de Plínio contra 24 mil cópias
manuscritas do Novo Testamento, dos quais 230 são anteriores ao século 6 d.C.
Com relação ao Antigo Testamento, sua fidedignidade é atestada ilustrativamente pelos manuscritos da
comunidade de Qumran (no Mar Morto), descobertos em 1947. Entre os 930 fragmentos de manuscritos
hebraicos, aramaicos e gregos, datados de 250 a.C. ao século I da Era Cristã, havia uma cópia do livro inteiro
de Isaias foi descoberto em Qumran; confrontada com a cópia mais antiga disponível, que era de 980 d.C.,
mostrou-se idêntica palavra por palavra em 95% do texto. (E os 5% eram basicamente trocas involuntárias de
letras; nada significativo). Eis um texto, para fins de cotejo com qualquer versão moderna:
<CP=12><II>Lembrai-vos das primeiras coisas dos tempos antigos,
pois Eu sou Deus, e não há outro;
eu sou Deus e outro não há como eu.
Narro o fim desde o princípio
e conto desde a antiguidade as coisas que acontecerão.
Meu conselho permanecerá e eu farei o que me agrada.
Chamo do oriente a ave de rapina
e da terra distante chamo o homem do meu conselho.
O que tenho dito, farei cumprir;
o que formei, eu completarei.<FI><FI>
(Isaías 46.9-11 -- Manuscritos de Qumran)
(CANONIZAÇÃO)
2. Quem me garante que não há outros textos também inspirados, mas relegados premeditadamente ao
ostracismo?
Resposta 2.1 -- Tanto para o Antigo quanto para o Novo Testamento, os livros foram se tornando sagrados
(isto é, recebidos como inspirados) com o tempo. A nenhum autor foi encomendado um livro inspirado. O
processo de produção, preservação e canonização foi longo.
O processo de produção foi pluriverso. Nos dois extremos, há conteúdos que foram ditados por Deus e
gravados em pedra, como no caso dos Dez Mandamentos, e há textos que foram escritos na prisão para
instrução e aconselhamento, como no caso das cartas de Paulo.
A partir do uso intensivo da memória individual (Jeremias 30.2) e comunitária (oral e escrita -- Êxodo 17.14;
Isaías 30.8), o material (individual e comunitário) foi sendo guardado, lido e recebido (obedecido) como
palavra(s) de Deus. No caso do Antigo Testamento, homens e mulheres de fé do antigo Israel começaram a ler
coletivamente esses textos (Neemias 8.1-3), uma vez que as cópias eram das comunidades e não de
indivíduos. No caso do Novo, deu-se o mesmo (Apocalipse 1.3), com diferença que já havia uma história de
preservação e canonização. Primeiramente surgiram os pronunciamentos (a Moisés e aos profetas, por
exemplo), que foram preservados oralmente (Êxodo 24.3) e em forma escrita quase simultaneamente
(Jeremias 36) ou posteriormente. Depois, foram surgindo as coleções ou livros; a coleção dos salmos levou
500 anos para ficar completa. Por fim, fixou-se consensualmente a lista canônica.
O processo de preservação incluiu o uso de diferentes materiais, como, possivelmente, tabuinhas de madeira
(Ezequiel 37.16) e óstracos (fragmentos de cerâmica) e, certamente, tábuas/paredes de pedra (Êxodo
32.15,16; cf. Josué 8.32; Hc 2.2) e rolos de papiro (uma planta -- cf. Jó 8.11 -- que tinha amplo uso, inclusive na
navegação -- Isaias 8.2) e de pergaminho (pele curtida de animal, logo mais caros), que permitiam a formação
de uma biblioteca pessoal (2Timóteo 4.13).
Nem todos os textos produzidos contemporaneamente (alguns mencionados na própria Bíblia -- Números
21.14; Josué 10.13) aos que acabaram incorporados na Bíblia foram canonizados (aceitos como inspirados).
As comunidades foram usando critérios para separar este material, como autoria (um profeta, um apóstolo, ou
alguém do seu círculo?), coerência com os demais textos em circulação e uso nos cultos (Lucas 4.14-21).
O material foi, então, organizados em livros (66). Só mais tarde apareceram as divisões editoriais em capítulos
por Stephen Langon (século 13 a.C.) e em versículos por Ário Montano (1555).
Resposta 2.2 -- No caso do Antigo Testamento, são conhecidos vários livros, considerados apócrifos ("ocultos")
e pseudepígrafos (com autoria atribuída a outras pessoas). Os apócrifos fazem parte da lista canônica
empregada pela Igreja Católica Romana, embora não estejam na Bíblia hebraica; foram escritos entre os anos
200 a.C. e 100 a.C., quando o cânon judaico já estava definido.
Os pseudepígrafos (como Livro dos Jubileus, Carta de Aristéia, Livro de Adão e Eva,1Enoque, A Ascensão de
Moisés, Salmos de Salomão, Salmo 151, etc.) foram escritos entre 200 a.C e 200 d.C.)
No caso do Novo Testamento, há vários livros fora do cânon, como "Evangelho de Judas", "Pseudo-epístola de
Barnabé", " Apocalipse de Pedro", "Evangelho de Tomé", etc. Todos estes livros foram escritos a partir do
século 2 d.C. Eles tiveram uma circulação limitada (e ainda assim por ser atribuído a um apóstolo) no tempo e
no espaço e foram abandonados porque não eram apostólicos, eram recentes demais, nada acrescentavam
teológica ou informativamente aos canônicos (o mais lindo deles, que é a anônima Carta a Diogneto, não
passa na maioria de seus versículos de uma coletânea de citações da própria Bíblia, o que só faz atestar a
legitimidade do cânon).
Inexiste uma conspiração para esconder livros que mostrariam doutrinas e informações que não interessaram à
igreja. O cristianismo não teve um centro decisório antes do final do século 5, quando o cânon já estava
definido e difundido.
(TRADUÇÕES)
3. Se há tantas traduções, quem me garante que não são tendenciosas?
Resposta -- A existência de tantas traduções tem razões mercadológicas, científicas e kerigmáticas.
A Bíblia toda (Antigo e Novo Testamento) foi traduzida primeiramente para o latim, por Jerônimo, no século 4
("Vulgata" -- para o "vulgo", que não sabia grego).
Com o surgimento das nações-estado, com suas línguas, começaram a surgir traduções para a leitura desses
povos. Para o inglês o pioneiro foi Wyclif (1383), a partir da Vulgata. A versão do rei Jaime ou Tiago ("King
James version"), de 1611, empreendida por uma equipe de 50 tradutores, tornou-se padrão nesse idioma.
Lutero traduziu (1534) a Bíblia para o alemão, a partir dos originais.
Para o português, a primeira tradução foi preparada, fora do seu país, pelo pastor português João Ferreira A.
d’Almeida. Ele traduziu, a partir do grego, todo o Novo Testamento, publicado em 1681, em Amsterdam.
Quanto ao Antigo, ele chegou, a partir do Hebraico, até Ezequiel, cabendo a seus amigos o restante, publicada
em 1753. A partir de 1819, a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, de Londres, começou a publicar a
tradução de Almeida, a partir de Londres. No Brasil, a primeira tradução ("Tradução brasileira"), feita por uma
equipe, foi publicada em 1917; por falta de atualização, caiu em desuso. a Imprensa Bíblica Brasileira publicou
a primeira revisão, conhecida como Almeida Revista e Corrigida (ARC), em 1951. Em 1958, Sociedade Bíblica
do Brasil publicou a Ameida Revisa e Atualizada (ARA). Em 1972, a IBB publicou outra ("segundo os melhores
manuscritos"). Em todas as diferenças são apenas estilísticas.
Os católicos têm sua versão desde 1790, feita pelo padre Antonio Pereira de Figueiredo, em Portugal. No
Brasil, há também a de Matos Soares, desde 1946. A Bíblia de Jerusalém foi feita por uma equipe de católicos
e protestantes, com predominância dos primeiros.
Todas estas versões são tradicionais, no sentido de priorizarem formalmente o texto original (numa
metodologia de equivalência forma). Surgiram outras traduções com outra metodologia, de equivalência
dinâmica (como, Bíblia Viva [New Living Translation], Bíblia na Linguagem de Hoje [Good News Bible] e The
Message). No meio termo, há as que buscam equilibrar a equivalência formal com a dinâmica (como a Nova
Versão Internacional [New International Version] e a New Revised Standard Version).
Têm surgido versões mais ideologizadas (feministas, homossexuais), com pouca aceitação.
Essas versões têm aparecido, em diferentes idiomas, pela motivação legítima, de colocar a Bíblia ao alcance
do povo, em termos de estilo e vocabulário. Todas usam o mesmo conjunto de manuscritos aceitos
universalmente e não têm diferenças de conteúdo. Todas procuram ser fiéis aos originais grego, hebraico e
aramaico. O que muda é o público mirado e a metodologia de tradução empregada. O ideal é que o leitor tenha
mais de uma versão, porque o sentido fica mais claro para quem lê dependendo de onde ele está, seja em
termos existenciais, espirituais e educacionais.

Unidade 4: DA INFORMAÇÃO À IMPLICAÇÃO


Pergunta orientadora: Como posso ler a Bíblia de modo a torná-la parte da minha vida?
“Assim como a chuva e a neve descem dos céus e não voltam para eles sem regarem a terra e fazerem-na brotar e florescer,
para ela produzir semente para o semeador e pão para o que come, assim também ocorre com a palavra que sai da minha
boca: ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei” (Isaías 55.10-11).
1. Preciso aceitar que, em relação a outras obras literárias, a literatura bíblica tem duas especificidades. A
primeira é que a Bíblia é sempre obra de dois autores, porque nela estão presentes o Inspirador (porque todos
os seus textos são Deus Se revelando) e o autor (porque os homens e mulheres que a escrevem continuam
sendo homens e mulheres em toda a sua humanidade). A segunda especificidade é que o texto, para ser
Palavra de Deus, demanda implicação por parte do leitor, tornado autor, ao encarnar esta Palavra. A Bíblia é,
portanto, uma obra aberta (na expressão de Umberto Eco, cunhada para outro tipo de literatura).
2. Preciso me lembrar que a Bíblia tem diferentes tipos de textos, quanto à sua intenção: uns são narrativos e
outros são imperativos.
3. Preciso compreender que há várias maneiras (e não apenas uma) de me aproximar da Bíblia, em função da
forma como o autor se expressou e em função da minha condição no momento da leitura. Se mente e coração
são os dois destinos do pêndulo, alojáveis nos nichos da crítica (razão) e da entrega (devoção), ele percorre os
espaços, pouco demarcados, da interpretação, da imaginação, da meditação e da fruição.
4. Preciso admitir que a Bíblia é uma obra aberta, no sentido que o seu sentido está na interpretação, uma vez
que sua narrativa é, muitas vezes, de sentido indeterminado (como no quase-sacrifício de Isaque por Abraão).
Não tenho como dispensar a interpretação, já que a Bíblia não é um livro de moral (como a leitura de Juízes
evidencia). Nela nem todo o texto tem sentido pleno, que é dado a partir da leitura. A Bíblia, portanto, exige
interpretação, o que reforça os princípios protestantes da autoridade normativa da Bíblia e do sacerdócio
universal de cada cristão.
5. Preciso ler a Biblia usando todas os recursos dos instrumentos que a razão me confere, se quero
compreendê-la (pelo que todo empenho é indispensável), e suspendendo voluntária e conscientemente a
razão, para vivê-la. Minhas perguntas/dúvidas não podem me impedir de alcançar o essencial, que é ser
conduzido pelo Espírito de Deus. A razão me afasta de uma leitura escrava do
. literalismo
. atomismo
. devocionalismo
. alegorismo (ou tipologismo)
. amuletismo
. iluminacionismo

A fé me livra do
. doutrinarismo
. ceticismo
. historicismo
. relativismo

6. Preciso saber que devo a Bíblia em quatro níveis, que me levam a conhecer (nível da INFORMAÇÃO),
entender (nível da COMPREENSÃO), aplicar (nível da APLICAÇÃO) e me envolver (nível da IMPLICAÇÃO ou
da ATITUDE). Se tomo a história de Barzilai (2Samuel 17.27-29; 2Samuel 19.31-40ª), sou informado de seu
gesto (INFORMAÇÃO), com implicações de ordem pessoal e política; posso compreender suas motivações,
bem como as de Davi (COMPREENSÃO); devo aplicar a história ao meu próprio contexto, relacionando-a com
outros textos que me convidam à generosidade (APLICAÇÃO), e preciso decidir que a atitude será minha e ver
como isto se dará, permitindo que a Bíblia faça parte da minha vida (IMPLICAÇÃO).
7. Preciso reconhecer que a razão e a fé me ajudam a construir a ponte entre o mundo da Bíblia e o meu
mundo, entre a mente da Biblia e a minha mente. Feliz serei se a minha mente for bíblica; felizes seremos se o
nosso mundo se apropriar dos valores bíblicos.
8. Sempre preciso decidir o que fazer com a Bíblia. O que farei dela depende do que penso dela e do Deus que
nela se revela.

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