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Março de 2017
Índice
Página 21
2006 Página 25
Página 29
44
de 1955 Página 66
DEPARTAMENTO DAS
CELEBRAÇÕES
LITÚRGICAS
DO SUMO PONTÍFICE
vezes era tocado junto com a cítara como sugerido no Salmo 108 (107). Enquanto que o
nebel com dez cordas como se encontra no Salmo 144 (143) pode ser comparado a uma
cítara e é semelhante a um alaúde. Entre os instrumentos de sopro estavam as trombetas em
Números 10 utilizada para festas e outras cerimônias importantes; a flauta, elencada no
grupo de instrumentos de Daniel 3,5 e o l'halīl ou flauta de tubo que foi usada para
simbolizar a dor em Jeremias 48, 36 e para proclamar a alegria em 1 Re 1, 40. E também
estavam presentes instrumentos de percussão como os Símbolos do Salmo 150 e as
campainhas sobre as vestes de Arão em Êxodo 28, 33-35
Os tesouros da liturgia palpitam vida quando são celebrados e enobrecem o canto e a música
de culto. O ato mesmo da troca entre nós e Deus faz presente um lugar onde Deus habita e
no qual os seres humanos são tocados pela vida única de Deus. Esta morada de Deus
encontra-se na liturgia. A liturgia não é um mero símbolo do mistério divino ou um mero
símbolo da verdade da revelação católica. Nos faz presentes a nós mesmos na e por meio da
celebração litúrgica. Estes componentes essenciais da liturgia nos mostram que as nossas
celebrações não podem ser limitadas pelos nossos sentimentos ou por um imperativo emotivo
pelo qual devemos nos sentir bem quando e como celebramos, não importa o quanto sejam
importantes estes aspectos no modo em que dirigimos uma mensagem a Deus. A liturgia deve
comunicar o significado da Igreja e, ao mesmo tempo, o seu significado entre os participantes
que, à sua vez, são alimentados no Espírito e na Verdade. Fidelidade àquilo que parece uma
relação a longa distância, na liturgia se tornará uma sensação transitória se as pessoas se
adequam à língua sacra da Missa. Não precisa subestimar as pessoas envolvidas que devem
reconhecê-la e, com o tempo, crescerá o amor pelos textos que serão conhecidos sempre mais.
Três critérios devem ser tidos em conta no canto e a música para realizar o seu potencial: “a
beleza expressiva da oração, a participação unânime da assembleia nos momentos previstos e
o carácter solene da celebração” (CIC 1157).
e tudo o que ela crê, também quando oferece as orações de todos os fiéis a Deus, por meio de
Cristo e na potência do Espírito Santo” (SC 33; Liturgiam authenticam 19, tradução nossa).
TRA LE SOLLICITUDE
(22 de novembro de 1903) | PIO X
MOTU PROPRIO
TRA LE SOLLICITUDE
DO SUMO PONTÍFICE
PIO X
SOBRE A MÚSICA SACRA
INTRODUÇÃO
Entre os cuidados do ofício pastoral, não somente desta Suprema Cátedra, que por
imperscrutável disposição da Providência, ainda que indigno, ocupamos, mas também de
todas as Igrejas particulares, é, sem dúvida, um dos principais o de manter e promover o
decoro da Casa de Deus, onde se celebram os augustos mistérios da religião e o povo cristão
se reúne, para receber a graça dos Sacramentos, assistir ao Santo Sacrifício do altar, adorar o
augustíssimo Sacramento do Corpo do Senhor e unir-se à oração comum da Igreja na
celebração pública e solene dos ofícios litúrgicos.
Nada, pois, deve suceder no templo que perturbe ou, sequer, diminua a piedade e a devoção
das fiéis, nada que dê justificado motivo de desgosto ou de escândalo, nada, sobretudo, que
diretamente ofenda o decoro e a santidade das sacras funções e seja por isso indigno da Casa
de Oração e da majestade de Deus.
Não nos ocupamos de cada um dos abusos que nesta matéria podem ocorrer. A nossa atenção
dirige-se hoje para um dos mais comuns, dos mais difíceis de desarraigar e que às vezes se
deve deplorar em lugares onde tudo o mais é digno de máximo encômio para beleza e
suntuosidade do templo, esplendor e perfeita ordem das cerimônias, freqüência do clero,
gravidade e piedade dos ministros do altar. Tal é o abuso em matéria de canto e Música
Sacra. E de fato, quer pela natureza desta arte de si flutuante e variável, quer pela sucessiva
alteração do gosto e dos hábitos no correr dos tempos, quer pelo funesto influxo que sobre a
arte sacra exerce a arte profana e teatral, quer pelo prazer que a música diretamente produz e
que nem sempre é fácil conter nos justos limites, quer, finalmente, pelos muitos preconceitos,
que em tal assunto facilmente se insinuam e depois tenazmente se mantêm, ainda entre
pessoas autorizadas e piedosas, há uma tendência contínua para desviar da reta norma,
estabelecida em vista do fim para que a arte se admitiu ao serviço do culto, e expressa nos
cânones eclesiásticos, nas ordenações dos Concílios gerais e provinciais, nas prescrições várias
vezes emanadas das Sagradas Congregações Romanas e dos Sumos Pontífices Nossos
Predecessores.
Com verdadeira satisfação da alma nos apraz recordar o muito bem que nesta parte se tem
feito nos últimos decênios, também nesta nossa augusta cidade de Roma e em muitas Igrejas
da Nossa pátria, mas em modo muito particular em algumas nações, onde homens egrégios e
zelosos do culto de Deus, com aprovação desta Santa Sé e dos Bispos, se uniram em
florescentes sociedades e reconduziram ao seu lugar de honra a Música Sacra em quase todas
as suas Igrejas e Capelas. Este progresso está todavia ainda muito longe de ser comum a
todos; e se consultarmos a nossa experiência pessoal e tivermos em conta as reiteradas
queixas, que de todas as partes Nos chegaram neste pouco tempo decorrido, desde que
aprouve ao Senhor elevar a Nossa humilde Pessoa à suprema culminância do Pontificado
Romano, sem protrairmos por mais tempo, cremos que é nosso primeiro dever levantar a voz
para reprovação e condenação de tudo que nas funções do culto e nos ofícios eclesiásticos se
reconhece desconforme com a reta norma indicada.
Sendo de fato nosso vivíssimo desejo que o espírito cristão refloresça em tudo e se mantenha
em todos os fiéis, é necessário prover antes de mais nada à santidade e dignidade do templo,
onde os fiéis se reúnem precisamente para haurirem esse espírito da sua primária e
indispensável fonte: a participação ativa nos sacrossantos mistérios e na oração pública e
solene da Igreja. E debalde se espera que para isso desça sobre nós copiosa a bênção do Céu,
quando o nosso obséquio ao Altíssimo, em vez de ascender em odor de suavidade, vai pelo
contrário repor nas mãos do Senhor os flagelos, com que uma vez o Divino Redentor
expulsou do templo os indignos profanadores. Portanto, para que ninguém doravante possa
alegar a desculpa de não conhecer claramente o seu dever, e para que desapareça qualquer
equívoco na interpretação de certas determinações anteriores, julgamos oportuno indicar
com brevidade os princípios que regem a Música Sacra nas funções do culto e recolher num
quadro geral as principais prescrições da Igreja contra os abusos mais comuns em tal matéria.
E por isso, de própria iniciativa e ciência certa, publicamos a Nossa presente instrução; será
ela como que um código jurídico de Música Sacra; e, em virtude da plenitude de Nossa
Autoridade Apostólica, queremos que se lhe dê força de lei, impondo a todos, por este Nosso
quirógrafo, a sua mais escrupulosa observância.
I. Princípios gerais
1. A música sacra, como parte integrante da Liturgia solene, participa do seu fim geral, que é
a glória de Deus e a santificação dos fiéis. A música concorre para aumentar o decoro e
esplendor das sagradas cerimônias; e, assim como o seu ofício principal é revestir de
adequadas melodias o texto litúrgico proposto à consideração dos fiéis, assim o seu fim
próprio é acrescentar mais eficácia ao mesmo texto, a fim de que por tal meio se excitem mais
facilmente os fiéis à piedade e se preparem melhor para receber os frutos da graça, próprios
da celebração dos sagrados mistérios.
2. Por isso a música sacra deve possuir, em grau eminente, as qualidades próprias da liturgia,
e nomeadamente a santidade e a delicadeza das formas, donde resulta espontaneamente
outra característica, a universalidade.
Deve ser santa, e por isso excluir todo o profano não só em si mesma, mas também no modo
como é desempenhada pelos executantes.
Deve ser arte verdadeira, não sendo possível que, doutra forma, exerça no ânimo dos ouvintes
aquela eficácia que a Igreja se propõe obter ao admitir na sua liturgia a arte dos sons. Mas
seja, ao mesmo tempo, universal no sentido de que, embora seja permitido a cada nação
admitir nas composições religiosas aquelas formas particulares, que em certo modo
constituem o caráter específico da sua música própria, estas devem ser de tal maneira
subordinadas aos caracteres gerais da música sacra que ninguém doutra nação, ao ouvi-las,
sinta uma impressão desagradável.
3. Estas qualidades se encontram em grau sumo no canto gregoriano, que é por conseqüência
o canto próprio da Igreja Romana, o único que ela herdou dos antigos Padres, que conservou
cuidadosamente no decurso dos séculos em seus códigos litúrgicos e que, como seu, propõe
diretamente aos fiéis, o qual estudos recentíssimos restituíram à sua integridade e pureza.
Por tais motivos, o canto gregoriano foi sempre considerado como o modelo supremo da
música sacra, podendo com razão estabelecer-se a seguinte lei geral: uma composição
religiosa será tanto mais sacra e litúrgica quanto mais se aproxima no andamento, inspiração
e sabor da melodia gregoriana, e será tanto menos digna do templo quanto mais se afastar
daquele modelo supremo.
O canto gregoriano deverá, pois, restabelecer-se amplamente nas funções do culto, sendo
certo que uma função eclesiástica nada perde da sua solenidade, mesmo quando não é
acompanhada senão da música gregoriana.
Procure-se nomeadamente restabelecer o canto gregoriano no uso do povo, para que os fiéis
tomem de novo parte mais ativa nos ofícios litúrgicos, como se fazia antigamente.
5. A Igreja tem reconhecido e favorecido sempre o progresso das artes, admitindo ao serviço
do culto o que o gênio encontrou de bom e belo através dos séculos, salvas sempre as leis
litúrgicas. Por isso é que a música mais moderna é também admitida na Igreja, visto que
apresenta composições de tal qualidade, seriedade e gravidade que não são de forma alguma
indigna das funções litúrgicas.
Todavia, como a música moderna foi inventada principalmente para uso profano, deverá
vigiar-se com maior cuidado por que as composições musicais de estilo moderno, que se
admitem na Igreja, não tenham coisa alguma de profana, não tenham reminiscências de
motivos teatrais, e não sejam compostas, mesmo nas suas formas externas, sobre o andamento
das composições profanas.
6. Entre os vários gêneros de música moderna, o que parece menos próprio para acompanhar
as funções do culto é o que tem ressaibos de estilo teatral, que durante o século XVI esteve
tanto em voga, sobretudo na Itália. Este, por sua natureza, apresenta a máxima oposição ao
canto gregoriano e à clássica polifonia, por isso mesmo às leis mais importantes de toda a boa
música sacra. Além disso, a íntima estrutura, o ritmo e o chamado convencionalismo de tal
estilo não se adaptam bem às exigências da verdadeira música litúrgica.
7. A língua própria da Igreja Romana é a latina. Por isso é proibido cantar em língua vulgar,
nas funções litúrgicas solenes, seja o que for, e muito particularmente, tratando-se das partes
variáveis ou comuns da Missa e do Ofício.
8. Estando determinados, para cada função litúrgica, os textos que hão de musicar-se e a
ordem por que se devem cantar, não é lícito alterar esta ordem, nem substituir os textos
prescritos por outros, nem omiti-los na íntegra ou em parte, a não ser que as Rubricas
litúrgicas permitam suprir, com órgão, alguns versículos do texto, que são simplesmente
recitados no coro. É permitido somente, segundo o costume romano, cantar um motete em
honra do S. Sacramento depois do Benedictus da Missa solene. Permite-se outrossim que,
depois de cantado o ofertório prescrito, se possa executar, no tempo que resta, um breve
motete sobre palavras aprovadas pela Igreja.
9. O texto litúrgico tem de ser cantado como se encontra nos livros aprovados, sem
posposição ou alteração das palavras, sem repetições indevidas, sem deslocar as silabas,
sempre de modo inteligível.
10. As várias artes da Missa e Ofício devem conservar, até musicalmente, a forma que a
tradição eclesiástica lhes deu, e que se encontra admiravelmente expressada no canto
gregoriano. É, pois, diverso o modo de compor um Intróito, um Gradual, uma Antífona, um
Salmo, um Hino, um Glória in excelsis, etc.
Contudo, é permitido, nas maiores solenidades, alternar o canto gregoriano do coro com os
chamados "falsibordoni" ou com versos de modo semelhante convenientemente compostos.
Poderá também conceder-se, uma vez por outra, que cada um dos salmos seja totalmente
musicado, contanto que, em tais composições, se conserve a forma própria da salmodia, isto
é, que os cantores pareçam salmodiar entre si, já com motivos musicais novos, já com motivos
tirados do canto gregoriano, ou imitados deste.
c) Conserve-se, nas músicas da Igreja, a forma tradicional do hino. Não é permitido compor,
por exemplo, o Tantum ergo de modo que a primeira estrofe apresente a forma de romanza,
cavatina ou adágio e o Genitori a de allegro.
V. Os cantores
12. Excetuadas as melodias próprias do celebrante e dos ministros, que sempre devem ser em
gregoriano, sem acompanhamento de órgão, todo o restante canto litúrgico faz parte do coro
dos levitas. Por isso, os cantores, ainda que leigos, realizam, propriamente, as funções de coro
eclesiástico, devendo as músicas, ao menos na sua maior parte, conservar o caráter de música
de coro.
Não se entende com isto excluir, de todo, os solos; mas estes não devem nunca predominar de
tal maneira que a maior parte do texto litúrgico seja assim executada; deve antes ter o caráter
de uma simples frase melódica e estar intimamente ligada ao resto da composição coral.
13. Os cantores têm na Igreja um verdadeiro ofício litúrgico e, por isso, as mulheres sendo
incapazes de tal ofício, não podem ser admitidas a fazer parte do coro ou da capela musical.
Querendo-se, pois, ter vozes agudas de sopranos e contraltos, empreguem-se os meninos,
segundo o uso antiquíssimo da Igreja.
14. Finalmente, não se admitam a fazer parte da capela musical senão homens de conhecida
piedade e probidade de vida, os quais, com a sua devota e modesta atitude, durante as
funções litúrgicas, se mostrem dignos do santo ofício que exercem. Será, além disso,
conveniente que os cantores, enquanto cantam na igreja, vistam hábito eclesiástico e
sobrepeliz e que, se o coro estiver muito exposto à vista do público, seja resguardado por
grades.
15. Posto que a música própria da Igreja é a música meramente vocal, contudo também se
permite a música com acompanhamento de órgão. Nalgum caso particular, com as
convenientes cautelas, poderão admitir-se outros instrumentos nunca sem o consentimento
especial do Ordinário, conforme as prescrições do Caeremoniale Episcoporum.
16. Como o canto tem de ouvir-se sempre, o órgão e os instrumentos devem simplesmente
sustentá-lo, e nunca encobri-lo.
17. Não é permitido antepor ao canto extensos prelúdios, ou interrompê-lo com peças de
interlúdios.
18. O som do órgão, nos acompanhamentos do canto, nos prelúdios, interlúdios e outras
passagens semelhantes, não só deve ser de harmonia com a própria natureza de tal
instrumento, isto é, grave, mas deve ainda participar de todas as qualidades que tem a
verdadeira música sacra, acima mencionadas.
19. É proibido, na Igreja, o uso do piano bem como o de instrumentos fragorosos, o tambor, o
bombo, os pratos, as campainhas e semelhantes.
20. É rigorosamente proibido que as bandas musicais toquem nas igrejas, e só em algum caso
particular, com o consentimento do Ordinário, será permitida uma escolha limitada, judiciosa
e proporcionada ao ambiente de instrumentos de sopro, contanto que a composição seja em
estilo grave, conveniente e semelhante em tudo às do órgão.
21. Nas procissões, fora da igreja, pode o Ordinário permitir a banda musical, uma vez que
não se executem composições profanas. Seria para desejar que a banda se restringisse a
acompanhar algum cântico espiritual, em latim ou vulgar, proposto pelos cantores ou pias
congregações que tomam parte na procissão.
22. Não é licito, por motivo do canto, fazer esperar o sacerdote no altar mais tempo do que
exige a cerimônia litúrgica. Segundo as prescrições eclesiásticas, o Sanctus deve ser cantado
antes da elevação, devendo o celebrante esperar que o canto termine, para fazer a elevação. A
música da Glória e do Credo, segundo a tradição gregoriana, deve ser relativamente breve.
23. É condenável, como abuso gravíssimo, que nas funções eclesiásticas a liturgia esteja
dependente da música, quando é certo que a música é que é parte da liturgia e sua humilde
serva.
24. Para o exato cumprimento de quanto fica estabelecido, os Bispos, se ainda não o fizeram,
instituam, nas suas dioceses, uma comissão especial de pessoas verdadeiramente competentes
na música sacra, à qual confiarão o cargo de vigiar as músicas que se vão executando em suas
igrejas para que sejam conformes com estas determinações. Nem atender somente a que
sejam boas as músicas, senão também a que correspondam ao valor dos cantores, para haver
boa execução.
26. Nas lições ordinárias de Liturgia, Moral e Direito Canônico, que se dão aos estudantes de
teologia, não se deixe de tocar naqueles pontos que, de modo mais particular, dizem respeito
aos princípios e leis da música sacra, e procure-se completar a doutrina com alguma instrução
especial acerca da estética da arte sacra, para que os clérigos não saiam dos seminários
ignorando estas noções, tão necessária à plena cultura eclesiástica.
27. Tenha-se o cuidado de restabelecer, ao menos nas igrejas principais, as antigas Scholae
Cantorum, como se há feito já, com ótimo fruto, em muitos lugares. Não é difícil, ao clero
zeloso, instituir tais Scholae, mesmo nas igrejas de menor importância, e até encontrará nelas
um meio fácil para reunir em volta de si os meninos e os adultos, com proveito para eles e
edificação do povo.
28. Procure-se sustentar e promover, do melhor modo, as escolas superiores de música sacra,
onde já existem, e concorrer para as fundar, onde as não há. É sumamente importante que a
mesma igreja atenda à instrução dos seus mestres de música, organistas e cantores, segundo
os verdadeiros princípios da arte sacra.
IX Conclusão
29. Por último, recomenda-se aos mestres de capela, aos cantores, aos clérigos, aos superiores
dos Seminários, Institutos eclesiásticos e comunidades religiosas, aos párocos e reitores de
igrejas, aos cônegos das colegiadas e catedrais, e sobretudo aos Ordinários diocesanos, que
favoreçam, com todo o zelo, estas reformas de há muito desejadas e por todos unanimemente
pedidas, para que não caia em desprezo a autoridade da Igreja que repetidamente as propôs
e agora de novo as inculca.
PAPA PIO X
DISCURSO
DO PAPA BENTO XVI
AOS PROFESSORES E
ESTUDANTES
DURANTE A VISITA
AO PONTIFÍCIO
INSTITUTO DE
MÚSICA SACRA
Sábado, 13 de Outubro de 2007
Venerados irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Estimados Professores e Alunos
do Pontifício Instituto de Música Sacra!
Papa Pio XI por M. Justine Ward em 1932, foi agora integralmente restaurado
com a contribuição generosa do Governo da "Generalitat de Catalunya". Sinto-
me feliz por saudar, neste momento os representantes do mencionado Governo
aqui presentes.
Foi com alegria que vim à sede didáctica do Pontifício Instituto de Música
Sacra, completamente renovada. Com esta minha visita são inaugurados e
abençoados os imponentes trabalhos de restauro realizados nestes últimos anos
por iniciativa da Santa Sé e com o significativo contributo de vários benfeitores,
entre os quais sobressai a "Fundação Pró-Música e Arte Sacra", que se ocupou
do restauro integral da Biblioteca. Pretendo inaugurar e abençoar idealmente os
restauros efectuados na Sala Académica onde, no palco, ao lado do mencionado
grande órgão, foi colocado um magnífico piano, oferecido pela "Telecom Italia
Mobile" ao amado Papa João Paulo II para o "seu" Instituto de Música Sacra.
académico que está para iniciar seja repleto de todas as graças, concedo a todos
uma especial Bênção Apostólica.
CARTA DO
PAPA JOÃO PAULO II
AO CARDEAL JOSEPH
HÖFFNER POR MOTIVO
DO VII CONGRESSO
INTERNACIONAL
DE MÚSICA SACRA
Nisto os participantes no Congresso têm com certeza a mais vasta matéria para
investigações e estudos. Na actualidade é sumamente necessário que o
património musical da Igreja seja apresentado e desenvolvido não só entre as
novas e juvenis Igrejas mas também entre aqueles que tiveram conhecimento
Todas as vezes, porém, que tais novas melodias são julgadas, tenham-se ao
mesmo tempo, em conta, com a justa consideração, os elementos próprios
tradicionais e a natureza mesma dos diversos povos. Sobre este ponto ensinou o
Concílio: "Em certas localidades, sobretudo nas Missões, há povos com tradição
musical própria, a qual tem excepcional importância na sua vida religiosa e
social. Estime-se como se deve e atribua-se-lhe o lugar que lhe compete, tanto
na educação do sentido religioso desses povos como na adaptação do culto à
índole deles" (ibid., n. 119). Pois toda a cultura humana pôde encontrar
nobilíssimas expressões recorrendo à música; devem portanto fazer-se esforços,
tanto no campo dos conhecimentos quanto no âmbito da acção pastoral, para se
estabelecerem firmes princípios que além disso estejam em concordância com os
verdadeiros valores nas múltiplas tradições musicais.
Mas o estudo desta matéria, para que se leve a termo conforme a ciência exige,
convém do mesmo modo que encerre ainda a investigação comparativa das
formas recentes com as antigas. Porque a música sacra nova, essa que há-de
servir à celebração da liturgia das várias Igrejas, pode e deve ir buscar a sua
mais alta inspiração, a propriedade do que é sagrado e o legítimo sentimento
religioso, às melodias precedentes e sobretudo ao canto gregoriano. Com toda a
razão foi dito parecer-se o canto gregoriano com os outros cantos como uma
estátua com uma pintura.
Por último, ao mesmo tempo que Nós desejamos que os estudos do VII
Congresso de Música Sacra, cuja actividade se dirige toda para a África Central
e Oriental, se tornem para as diversas comunidades eclesiais — não só nos
países de antiga tradição cristã mas também naqueles onde o Evangelho foi
recentemente propagado — fontes de incitamento e de estímulo para copiosa e
excelente obra musical, de todo o coração transmitimos a ti, Venerável Irmão
Nosso, e também aos dirigentes e participantes do Congresso, uma especial
Bênção Apostólica como sinal da nossa imutável caridade e penhor dos dons
celestiais.
SECRETARIA DE ESTADO
HOMILIA DO CARDEAL
TARCISIO BERTONE
POR OCASIÃO DO XXVIII
CONGRESSO NACIONAL
DE MÚSICA SACRA
Domingo, 26 de Novembro de 2006
"Jesus Cristo, a Testemunha fiel, o Primogénito dos mortos e o Príncipe dos reis
da terra. Àquele que nos ama e nos libertou dos nossos pecados com o seu
sangue, que fez de nós um reino de sacerdotes para o seu Deus e Pai, a Ele
sejam dados a glória e o poder por todos os séculos. Amém!".
Com efeito, Jesus veio para libertar o homem da escravidão do pecado, daqueles
poderes do mundo que assustam o homem e o obrigam a fechar-se numa defesa
egocêntrica de si mesmo: pensemos no medo da morte ou no temor da vida, da
violência e do fracasso. O projecto de Deus é o homem livre, reconduzido para
a plenitude da verdade e do amor: vivendo no amor e morrendo por amor, Ele
venceu o medo da vida e da morte.
Todos nós sabemos o que acontece quando o homem "reina", com a pretensão
de uma autonomia absoluta, sem referência a Deus, ou até mesmo contra Ele.
Disto os noticiários televisivos oferecem-nos abundantes exemplos quotidianos.
O reino do homem é o reino da violência, do egoísmo e do predomínio.
Também a criação, as coisas deste mundo os bens patrimoniais dos filhos (cf. Gn
1, 28 ss.) subtraídas ao domínio de Deus porque utilizadas impropriamente,
estão como que à espera ansiosa do momento em que os filhos, desfrutando-as
em todas as suas possibilidades e usando-as oportunamente, voltarão a
manifestar em si mesmos a total submissão à autoridade-realeza de Deus (cf.
Rm 8, 19-20).
"Cristo, Alfa e Ómega": este é o título do parágrafo que conclui a primeira parte
da Constituição pastoral Gaudium et spes do Concílio Vaticano II, onde
podemos ler: "O Senhor é a finalidade da história humana, o ponto focal dos
desejos da história e da civilização, o fulcro do género humano, a alegria de
todos os corações, a plenitude das suas aspirações".
Hoje, esta Basílica de São Pedro constitui o sinal tangível de uma comunidade
humana rica de valores e de talentos (artísticos), que expressa a alegria da fé e da
amizade com Deus.
Por conseguinte, sinto-me particularmente feliz por receber em redor deste altar
um número tão elevado de músicos e de amantes da música litúrgica, que
participam no XXVIII Congresso Nacional da Música Sacra.
A liturgia não é algo feito pelos monges ou pelos fiéis. Ela já existe antes deles: é
uma entrada perene na liturgia celeste, desde sempre em acto. A liturgia celeste
é isto somente pelo facto de que se insere no que já existe, naquilo que é maior,
que dá sentido à vida. "Mens nostra concordet voci nostrae". Não é o homem
que inventa algo e depois canta, ao contrário é o canto que lhe provém dos
anjos. Ele deve elevar o seu coração a fim de que esteja em harmonia com esta
tonalidade que lhe chega do alto.
Poder-se-ia dizer com São Paulino de Nola: "A nossa única arte é a fé e Cristo é
o nosso canto". De facto, há um estreito vínculo entre música e fé, entre música
e oração. A fé que se torna música é uma parte do processo de encarnação da
Palavra. A este propósito cito um belíssimo texto, denso de significado, do
Cardeal Joseph Ratzinger, actual Bento XVI:
Por conseguinte, é justo que cada confirmação de alegria por um evento tenha
uma sua manifestação exterior. Ela está a indicar que a Igreja se alegra pela
salvação. Convida todos à alegria e esforça-se por criar as condições a fim de
que as energias salvíficas possam ser comunicadas a cada um (cf. João Paulo II,
Tertio Millennio adveniente).
Toda a Bíblia Antigo e Novo Testamentos e não somente o livro orante dos
Salmos, inclui hinos, súplicas, acção de graças, cantos de confiança. Comecemos
pelos patriarcas, passamos através da aventura do êxodo do Egipto, penetramos
na terra prometida conquistada, vagamos com os Judeus exilados "ao longo dos
rios da Babilónia", para chegar às portas do cristianismo com o canto do
Magnificat de Maria.
MENSAGEM DO
PAPA BENTO XVI
AO CARDEAL FRANCIS
ARINZE POR OCASIÃO
DA JORNADA DE ESTUDOS
SOBRE O TEMA:
«MÚSICA SACRA:
UM DESAFIO
LITÚRGICO E PASTORAL»
Venerado Irmão
Cardeal FRANCIS ARINZE
Prefeito da Congregação para o Culto Divino
e a Disciplina dos Sacramentos
Faço votos, de coração, para que seja uma profícua jornada de aprofundamento
e de escuta e, enquanto invoco a celeste intercessão da Bem-Aventurada Virgem
Maria e de santa Cecília, de bom grado concedo a implorada Bênção
Apostólica a Vossa Eminência, Senhor Cardeal, e a quantos intervêm nos
trabalhos congressuais.
QUIRÓGRAFO DO SUMO
PONTÍFICE JOÃO PAULO II
NO CENTENÁRIO DO
MOTU PROPRIO
«TRA LE SOLLECITUDINI»
SOBRE A MÚSICA SACRA
Portanto, foi constante a atenção dos meus Predecessores a este delicado sector,
a propósito do qual foram evocados os princípios fundamentais que devem
animar a produção da música sacra, especialmente destinada à Liturgia. Além
do Papa São Pio X, devem ser recordados, entre outros, os Papas Bento XIV,
com a Encíclica Annus qui (19 de Fevereiro de 1749); Pio XII, com as Encíclicas
Mediator Dei (20 de Dezembro de 1947) e Musicae sacrae disciplina (25 de
Dezembro de 1955); e, finalmente, Paulo VI, com os luminosos
pronunciamentos que disseminou em múltiplas oportunidades.
Como já fazia São Pio X, também o Concílio Vaticano II reconhece que "os
outros géneros de música sacra, e especialmente a polifonia, não estão excluídos
de modo algum da celebração dos ofícios divinos"[20]. É preciso, portanto,
avaliar com atenção as novas linguagens musicais, para recorrer à possibilidade
de expressar também com elas as inextinguíveis riquezas do Mistério reproposto
na Liturgia e favorecer assim a participação activa dos fiéis nas diversas
celebrações [21].
10. Dado que a Igreja sempre reconheceu e favoreceu o progresso das artes, não
é de se admirar que, além do canto gregoriano e da polifonia, admita nas
celebrações também a música moderna, desde que seja respeitosa do espírito
litúrgico e dos verdadeiros valores da arte. Portanto, permite-se que as Igrejas
nas diversas Nações valorizem, nas composições destinadas ao culto, "aquelas
formas particulares que constituem de certo modo o carácter específico da
música que lhes é própria"[27]. Na linha do meu Predecessor e de quanto se
estabeleceu mais recentemente na Constituição Sacrosanctum concilium [28],
também eu, na Encíclica Ecclesia de Eucharistia, procurei abrir espaço às novas
formas musicais, mencionando juntamente com as inspiradas melodias
gregorianas, "os numerosos e, frequentemente, grandes autores que se
afirmaram com os textos litúrgicos da Santa Missa"[29].
11. O século passado, com a renovação realizada pelo Concílio Vaticano II,
conheceu um desenvolvimento especial do canto popular religioso, do qual a
Sacrosanctum concilium diz: "Promova-se com grande empenhamento o canto
popular religioso, para que os fiéis possam cantar, tanto nos exercícios de
piedade como nos próprios actos litúrgicos"[30]. Este canto apresenta-se
particularmente apto para a participação dos fiéis, não apenas nas práticas
devocionais, "segundo as normas e o que se determina nas rubricas"[31], mas
igualmente na própria Liturgia. O canto popular, de facto, constitui um "vínculo
de unidade, uma expressão alegre da comunidade orante, promove a
proclamação de uma única fé e dá às grandes assembleias litúrgicas uma
incomparável e recolhida solenidade"[32].
12. No que diz respeito às composições musicais litúrgicas, faço minha a "regra
geral" que são Pio X formulava com estes termos: "Uma composição para a
Igreja é tanto sacra e litúrgica quanto mais se aproximar, no andamento, na
inspiração e no sabor, da melodia gregoriana, e tanto menos é digna do templo,
quanto mais se reconhece disforme daquele modelo supremo"[33]. Não se trata,
evidentemente, de copiar o canto gregoriano, mas muito mais de considerar que
as novas composições sejam absorvidas pelo mesmo espírito que suscitou e,
pouco a pouco, modelou aquele canto. Somente um artista profundamente
mergulhado no sensus Ecclesiae pode procurar compreender e traduzir em
melodia a verdade do Mistério que se celebra na Liturgia[34]. Nesta
perspectiva, na Carta aos Artistas escrevo: "Quantas composições sacras foram
elaboradas, ao longo dos séculos, por pessoas profundamente imbuídas pelo
sentido do mistério! Crentes sem número alimentaram a sua fé com as melodias
nascidas do coração de outros crentes, que se tornaram parte da Liturgia ou
pelo menos uma ajuda muito válida para a sua decorosa realização. No cântico,
a fé é sentida como uma exuberância de alegria, de amor, de segura esperança
da intervenção salvífica de Deus" [35] (Ed. port. de L'Osserv. Rom. n. 18, pág.
211, n. 12).
Sei ainda que também hoje não faltam compositores capazes de oferecer, neste
espírito, a sua contribuição indispensável e a sua colaboração competente para
incrementar o património da música, ao serviço da Liturgia cada vez mais
intensamente vivida. Dirijo-lhes a expressão da minha confiança, unida à
exortação mais cordial, para que se empenhem com esmero em vista de
aumentar o repertório de composições que sejam dignas da excelência dos
mistérios celebrados e, ao mesmo tempo, aptas para a sensibilidade hodierna.
13. Por fim, gostaria ainda de recordar aquilo que São Pio X dispunha no plano
prático, com a finalidade de favorecer a aplicação efectiva das indicações
apresentadas no Motu proprio. Dirigindo-se aos Bispos, ele prescrevia que
Nisto, sirva também de exemplo e modelo a Virgem Maria, que soube cantar de
modo único, no Magnificat, as maravilhas que Deus realizou na história do
homem. Com estes bons votos, concedo-vos a todos a minha afectuosa Bênção.
IOANNES PAULUS II
Notas
[2] Ibidem.
[4] Ibidem.
[5] N. 12.
[6] Ibidem.
[7] Ibidem.
[13] Ibidem.
[30] N. 118.
[31] Ibidem.
[32] João Paulo II, Discurso no Congresso Internacional de Música Sacra (27 de
Janeiro de 2001), 4, em: Insegnamenti XXIV/1 (2001), pp. 239-240.
[34] Cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Const. sobre a sagrada Liturgia
Sacrosanctum concilium, 112.
[38] Cf. João Paulo II, Carta ap. Vicesimus quintus annus (4 de Dezembro de
1987), 20: AAS 81 (1989), pág. 916.
[39] Cf. João Paulo II, Const. ap. Pastor Bonus (28 de Junho de 1988), 65, em:
AAS 80 (1988), pág. 877.
[40] Cf. João Paulo II, Carta enc. Dies Domini (31 de Maio de 1998), 50, em:
AAS 90 (1998), pág. 745; Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos
Sacramentos, Instr. Liturgiam authenticam (28 de Março de 2001), 108, em:
AAS (2001), pág. 719.
[41] Institutio generalis Missalis Romani, editio typica III, pág. 393.
CARTA DO
PAPA JOÃO PAULO II
AOS ARTISTAS
4 de abril de 1999
« Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa » (Gn 1,31).
Pareceu-me, por isso, que não havia palavras mais apropriadas do que as do
livro do Génesis para começar esta minha Carta para vós, a quem me sinto
ligado por experiências dos meus tempos passados e que marcaram
indelevelmente a minha vida. Ao escrever-vos, desejo dar continuidade àquele
fecundo diálogo da Igreja com os artistas que, em dois mil anos de história,
Por isso, quanto mais consciente está o artista do « dom » que possui, tanto mais
se sente impelido a olhar para si mesmo e para a criação inteira com olhos
capazes de contemplar e agradecer, elevando a Deus o seu hino de louvor. Só
assim é que ele pode compreender-se profundamente a si mesmo e à sua
vocação e missão.
2. Nem todos são chamados a ser artistas, no sentido específico do termo. Mas,
segundo a expressão do Génesis, todo o homem recebeu a tarefa de ser artífice
da própria vida: de certa forma, deve fazer dela uma obra de arte, uma obra-
prima.
arte falam dos seus autores, dão a conhecer o seu íntimo e revelam o contributo
original que eles oferecem à história da cultura.
O tema da beleza é qualificante, ao falar de arte. Esse tema apareceu já, quando
sublinhei o olhar de complacência que Deus lançou sobre a criação. Ao pôr em
relevo que tudo o que tinha criado era bom, Deus viu também que era belo.[4]
A confrontação entre o bom e o belo gera sugestivas reflexões. Em certo sentido,
a beleza é a expressão visível do bem, do mesmo modo que o bem é a condição
metafísica da beleza. Justamente o entenderam os Gregos, quando, fundindo os
dois conceitos, cunharam uma palavra que abraça a ambos: « kalokagathía »,
ou seja, « beleza-bondade ». A este respeito, escreve Platão: « A força do Bem
refugiou-se na natureza do Belo ».[5]
Vivendo e agindo é que o homem estabelece a sua relação com o ser, a verdade
e o bem. O artista vive numa relação peculiar com a beleza. Pode-se dizer, com
profunda verdade, que a beleza é a vocação a que o Criador o chamou com o
dom do « talento artístico ». E também este é, certamente, um talento que, na
linha da parábola evangélica dos talentos (cf. Mt 25,14-30), se deve pôr a render.
Tocamos aqui um ponto essencial. Quem tiver notado em si mesmo esta espécie
de centelha divina que é a vocação artística — de poeta, escritor, pintor,
escultor, arquitecto, músico, actor... —, adverte ao mesmo tempo a obrigação de
não desperdiçar este talento, mas de o desenvolver para colocá-lo ao serviço do
próximo e de toda a humanidade.
modelam, criam, não passa de um pálido reflexo daquele esplendor que brilhou
por instantes diante dos olhos do seu espírito.
O crente não se maravilha disto: sabe que se debruçou por um instante sobre
aquele abismo de luz que tem a sua fonte originária em Deus. Há porventura
motivo para admiração, se o espírito fica de tal modo inebriado que não sabe
exprimir-se senão por balbuciações? Ninguém mais do que o verdadeiro artista
está pronto a reconhecer a sua limitação e fazer suas as palavras do apóstolo
Paulo, segundo o qual Deus « não habita em santuários construídos pela mão do
homem », pelo que « não devemos pensar que a Divindade seja semelhante ao
ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e engenho do homem » (Act
17,24.29). Se já a realidade íntima das coisas se situa « para além » das
capacidades de compreensão humana, quanto mais Deus nas profundezas do
seu mistério insondável!
verdade não podia deixar de suscitar, logo desde os primórdios, o interesse dos
artistas, sensíveis por natureza a todas as manifestações da beleza íntima da
realidade.
Os primórdios
7. A arte, que o cristianismo encontrou nos seus inícios, era o fruto maduro do
mundo clássico, exprimia os seus cânones estéticos e, ao mesmo tempo,
veiculava os seus valores. A fé impunha aos cristãos, tanto no campo da vida e
do pensamento como no da arte, um discernimento que não permitia a
aceitação automática deste património. Assim, a arte de inspiração cristã
começou em surdina, ditada pela necessidade que os crentes tinham de elaborar
sinais para exprimirem, com base na Escritura, os mistérios da fé e
simultaneamente de arranjar um « código simbólico » para se reconhecerem e
identificarem especialmente nos tempos difíceis das perseguições. Quem não
recorda certos símbolos que foram os primeiros vestígios duma arte pictórica e
plástica? O peixe, os pães, o pastor... Evocavam o mistério, tornando-se quase
insensivelmente esboços de uma arte nova.
A Idade Média
Florenskij: « Bárbaro, pesado, fútil à luz clara do dia, o ouro reanima-se com a
luz trémula dum candelabro ou duma vela, que o faz cintilar aqui e ali com
miríades de fulgores, fazendo pressentir outras luzes não terrestres que enchem o
espaço celeste ».[14]
Humanismo e Renascimento
Aliás, mesmo no novo clima dos últimos séculos quando parte da sociedade
parece indiferente à fé, a arte religiosa não cessou de avançar. A constatação
torna-se ainda mais palpável, se da vertente das artes figurativas se passa a
considerar o grande desenvolvimento que, neste mesmo período de tempo, teve
a música sacra, composta para as necessidades litúrgicas, ou apenas relacionada
com temas religiosos. Sem contar tantos artistas que a ela se dedicaram
amplamente (como não lembrar Pero Luís de Palestrina, Orlando de Lasso,
Tomás Luís de Victoria?), é sabido que muitos dos grandes compositores — de
10. Verdade é que, na Idade Moderna, ao lado deste humanismo cristão que
continuou a produzir significativas expressões de cultura e de arte, foi-se
progressivamente afirmando também uma forma de humanismo caracterizada
pela ausência de Deus senão mesmo pela oposição a Ele. Este clima levou por
vezes a uma certa separação entre o mundo da arte e o da fé, pelo menos no
sentido de menor interesse de muitos artistas pelos temas religiosos.
Mas, vós sabeis que a Igreja continuou a nutrir grande apreço pelo valor da arte
enquanto tal. De facto esta, mesmo fora das suas expressões mais tipicamente
religiosas, mantém uma afinidade íntima com o mundo da fé, de modo que, até
mesmo nas condições de maior separação entre a cultura e a Igreja, é
precisamente a arte que continua a constituir uma espécie de ponte que leva à
experiência religiosa. Enquanto busca do belo, fruto duma imaginação que voa
mais acima do dia-a-dia, a arte é, por sua natureza, uma espécie de apelo ao
Mistério. Mesmo quando perscruta as profundezas mais obscuras da alma ou os
aspectos mais desconcertantes do mal, o artista torna-se de qualquer modo voz
da esperança universal de redenção.
11. O Concílio Vaticano II lançou as bases para uma renovada relação entre a
Igreja e a cultura, com reflexos imediatos no mundo da arte. Tal relação é
proposta na base da amizade, da abertura e do diálogo. Na Constituição
12. Para transmitir a mensagem que Cristo lhe confiou, a Igreja tem
necessidade da arte. De facto, deve tornar perceptível e até o mais fascinante
possível o mundo do espírito, do invisível, de Deus. Por isso, tem de transpor
para fórmulas significativas aquilo que, em si mesmo, é inefável. Ora, a arte
possui uma capacidade muito própria de captar os diversos aspectos da
mensagem, traduzindo-os em cores, formas, sons que estimulam a intuição de
13. Portanto, a Igreja tem necessidade da arte. Pode-se dizer também que a arte
precisa da Igreja? A pergunta pode parecer provocatória. Mas, se for
compreendida no seu recto sentido, obedece a uma motivação legítima e
profunda. Na realidade, o artista vive sempre à procura do sentido mais íntimo
das coisas; toda a sua preocupação é conseguir exprimir o mundo do inefável.
Como não ver então a grande fonte de inspiração que pode ser, para ele, esta
espécie de pátria da alma que é a religião? Não é porventura no âmbito religioso
De facto, o tema religioso é dos mais tratados pelos artistas de cada época. A
Igreja tem feito sempre apelo às suas capacidades criativas, para interpretar a
mensagem evangélica e a sua aplicação à vida concreta da comunidade cristã.
Esta colaboração tem sido fonte de mútuo enriquecimento espiritual. Em última
instância, dela tirou vantagem a compreensão do homem, da sua imagem
autêntica, da sua verdade. Sobressaiu também o laço peculiar que existe entre a
arte e a revelação cristã. Isto não quer dizer que o génio humano não tenha
encontrado estímulos também noutros contextos religiosos; basta recordar a arte
antiga, sobretudo grega e romana, e a arte ainda florescente das vetustas
civilizações do Oriente. A verdade é que o cristianismo, em virtude do dogma
central da encarnação do Verbo de Deus, oferece ao artista um horizonte
particularmente rico de motivos de inspiração. Que grande empobrecimento
seria para a arte o abandono desse manancial inexaurível que é o Evangelho!
14. Com esta Carta dirijo-me a vós, artistas do mundo inteiro, para vos
confirmar a minha estima e contribuir para o restabelecimento duma
cooperação mais profícua entre a arte e a Igreja. Convido-vos a descobrir a
profundeza da dimensão espiritual e religiosa que sempre caracterizou a arte
nas suas formas expressivas mais nobres. Nesta perspectiva, faço-vos um apelo a
vós, artistas da palavra escrita e oral, do teatro e da música, das artes plásticas e
das mais modernas tecnologias de comunicação. Este apelo dirijo-o de modo
especial a vós, artistas cristãos: a cada um queria recordar que a aliança que
sempre vigorou entre Evangelho e arte, independentemente das exigências
funcionais, implica o convite a penetrar, pela intuição criativa, no mistério de
Deus encarnado e contemporaneamente no mistério do homem.
15. Na Igreja, ressoa muitas vezes esta invocação ao Espírito Santo: Veni,
Creator Spiritus..., « Vinde, Espírito Criador, as nossas mentes visitai, enchei da
vossa graça os corações que criastes ».[24]
16. Já no limiar do terceiro milénio, desejo a todos vós, artistas caríssimos, que
sejais abençoados, com particular intensidade, por essas inspirações criativas. A
beleza, que transmitireis às gerações futuras, seja tal que avive nelas o assombro.
Diante da sacralidade da vida e do ser humano, diante das maravilhas do
universo, o assombro é a única atitude condigna.
De tal assombro poderá brotar aquele entusiasmo de que fala Norwid na poesia,
a que me referi ao início. Os homens de hoje e de amanhã têm necessidade
deste entusiasmo, para enfrentar e vencer os desafios cruciais que se prefiguram
no horizonte. Com tal entusiasmo, a humanidade poderá, depois de cada
extravio, levantar-se de novo e retomar o seu caminho. Precisamente neste
sentido foi dito, com profunda intuição, que « a beleza salvará o mundo ».[25]
[4] A versão grega dos Setenta exprime claramente este aspecto, ao traduzir o
termo hebraico t(o-)b (bom) por kalón (belo).
[5] Filebo, 65 A.
[6] João Paulo II, Carta enc. Fides et ratio (14 de Setembro de 1998), 80: AAS
91 (1999), 67.
[8] Lodi di Dio Altissimo, vv. 7 e 10: Fonti francescane, n. 261 (Pádua 1982), p.
177.
[9] Legenda maior, IX, 1: Fonti francescane, n. 1162 (Pádua 1982), p. 911.
[12] « At nobis ars una fides et musica Christus » (Carmen 20, 31: CCL 203,
144).
[13] Cf. João Paulo II, Carta ap. Duodecimum sæculum (4 de Dezembro de
1987), 8-9: AAS 80 (1988), 247-249.
[16] Cf. João Paulo II, Homilia da Missa celebrada na conclusão dos restauros
dos frescos de Miguel Ângelo na Capela Sistina (8 de Abril de 1994):
L'Osservatore Romano (ed. port. de 16 de Abril de 1994), p. 7.
[18] N. 62.
[21] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo
Gaudium et spes, 62.
[23] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo
Gaudium et spes, 22.
[26] « Sero te amavi! Pulchritudo tam antiqua e tam nova, sero te amavi!
» (Confessiones 10, 27: CCL 27, 251).
MENSAGEM
DO PAPA PAULO VI
NA CONCLUSÃO DO
CONCÍLIO VATICANO II
AOS ARTISTAS
8 de Dezembro de 1965
Aos artistas
Para todos vós, agora, artistas, que sois prisioneiros da beleza e que trabalhais
para ela: poetas e letrados, pintores, escultores, arquitectos, músicos, homens do
teatro, cineastas . . . A todos vós, a Igreja do Concílio afirma pela nossa voz: se
sois os amigos da autêntica arte, sois nossos amigos.
Desde há muito que a Igreja se aliou convosco. Vós tendes edificado e decorado
os seus templos, celebrado os seus dogmas, enriquecido a sua Liturgia. Tendes
ajudado a Igreja a traduzir a sua divina mensagem na linguagem das formas e
das figuras, a tornar perceptível o mundo invisível.
Hoje como ontem, a Igreja tem necessidade de vós e volta-se para vós. E diz-vos
pela nossa voz: não permitais que se rompa uma aliança entre todas fecunda.
Não vos recuseis a colocar o vosso talento ao serviço da verdade divina. Não
fecheis o vosso espírito ao sopro do Espírito Santo.
homens, é este fruto precioso que resiste ao passar do tempo, que une as
gerações e as faz comungar na admiração. E isto por vossas mãos.
Sede sempre e em toda a parte dignos do vosso ideal, e sereis dignos da Igreja,
que, pela nossa voz, vos dirige neste dia a sua mensagem de amizade, de
salvação, de graça e de bênção.
MUSICAE SACRAE
DISCIPLINA
ENCÍCLICA DE PIO XII
Pio XII
INTRODUÇÃO
I. HISTÓRIA
3. Nada de admirar, pois, que o canto sacro e a arte musical também tenham
sido usados, conforme consta de muitos documentos antigos e recentes, para
ornamento e decoro das cerimónias religiosas sempre e em toda parte, mesmo
entre os povos pagãos; e que sobretudo o culto do verdadeiro e sumo Deus
desde a antiguidade se tenha valido dessa arte. O povo de Deus, escapando
incólume do mar Vermelho por milagre do poder divino, cantou a Deus um
cântico de vitória; e Maria, irmã do guia Moisés, dotada de espírito profético,
cantou ao som dos tímpanos, acompanhada pelo canto do povo. (4) E,
posteriormente, enquanto se conduzia a arca de Deus da casa de Abinadab para
a cidade de Davi, o próprio rei e "todo Israel dançavam diante de Deus com
instrumentos de madeira trabalhada, cítaras, liras, tímpanos, sistros e címbalos".
(5) O próprio rei Davi fixou as regras da música a usar-se no culto sagrado, e do
canto; (6) regras que foram restabelecidas após o regresso do povo do exílio, e
fielmente conservadas até a vinda do divino Redentor. Depois, que na Igreja
fundada pelo divino Salvador o canto sacro desde o princípio estivesse em uso e
honra, é claramente indicado por são Paulo apóstolo, quando aos efésios assim
escreve: "Sede cheios do Espírito Santo, recitando entre vós salmos e hinos e
cânticos espirituais" (7) e que esse uso de cantar salmos estivesse em vigor
também nas assembléias dos cristãos, indica-o ele com estas palavras: "Quando
vos reunis, alguns entre vós cantam o salmo". (8) E que o mesmo acontecesse
após a idade apostólica é atestado por Plínio, que escreve haverem os que
tinham renegado a fé afirmado que "esta era a substância da falta de que eram
inculpados, a saber: o costumarem a reunir-se num dado dia antes do aparecer
da luz e cantarem um hino a Cristo como a Deus". (9) Essas palavras do
procônsul romano da Bitínia mostram claramente que nem mesmo no tempo da
perseguição emudecia de todo a voz do canto da Igreja; isto confirma-o
Tertuliano quando narra que nas assembléias dos cristãos "se lêem as Escrituras,
cantam-se salmos, promove-se a catequese". (10)
O canto gregoriano
O canto polifónico
5. A partir do seculo IX, pouco a pouco a esse canto coral se juntou o canto
polifónico, cuja teoria e prática se precisaram cada vez mais nos séculos
subseqüentes, e que, sobretudo no século XV e no XVI, por obra de sumos
artistas alcançou admirável perfeição. A Igreja também teve sempre em grande
honra este canto polifónico, e de bom grado admitiu-o para maior decoro dos
ritos sagrados nas próprias basílicas romanas e nas cerimónias pontifícias. Com
isso se lhe aumentaram a eficácia e o esplendor, porque à voz dos cantores se
aditou, além do órgão, o som de outros instrumentos musicais.
A vigilância da Igreja
9. Nisto a música sacra não obedece a leis e normas diversas das que regulam
todas as formas de arte religiosa, antes à própria arte em geral. Na verdade, não
ignoramos que nestes últimos anos alguns artistas, com grave ofensa da piedade
cristã, ousaram introduzir nas igrejas obras destituídas de qualquer inspiração
religiosa, e em pleno contraste até mesmo com as justas regras da arte.
Procuram eles justificar esse deplorável modo de agir com argumentos
especiosos, que eles pretendem fazer derivar da natureza e da própria índole da
arte. Afinal, dizem eles que a inspiração artística é livre, que não é lícito
subordiná-la a leis e normas estranhas à arte, sejam elas morais ou religiosas,
porque desse modo se viria a lesar gravemente a dignidade da arte e a criar, com
vínculos e ligames, óbices ao livre curso da acção do artista sob a sagrada
influência do estro.
10. Com argumentos tais é suscitada uma questão sem dúvida grave e difícil,
atinente a qualquer manifestação de arte e a qualquer artista; questão que não
pode ser resolvida com argumentos tirados da arte e da estética, mas que, em
vez disso, deve ser examinada à luz do supremo postulado do fim último, regra
sagrada e inviolável de todo homem e de toda ação humana. De facto, o
homem diz ordem ao seu fim último - que é Deus - por força de uma lei
absoluta e necessária, fundada na infinita perfeição da natureza divina, de
maneira tão plena e perfeita, que nem mesmo Deus poderia eximir alguém de
observá-la. Com essa lei eterna e imutável fica estabelecido que o homem e
todas as suas ações devem manifestar, em louvor e glória do Criador, a infinita
perfeição de Deus, e imitá-la tanto quanto possível. Por isso o homem, destinado
por sua natureza a alcançar esse fim supremo, deve, no seu agir, conformar-se
ao divino arquétipo, e nessa direção orientar todas as faculdades da alma e do
corpo, ordenando-as rectamente entre si, e devidamente domando-as para
alcançar o do fim. Portanto, também a arte e as obras artísticas devem ser
julgadas com base na sua conformidade, com o fim último do homem; e, por
11. Isso, se vale para toda obra de arte, claro é que deve aplicar-se também a
respeito da arte sacra e religiosa. Antes, a arte religiosa é ainda mais vinculada a
Deus e dirigida a promover o seu louvor e a sua glória, visto não ter outro
escopo a não ser o de ajudar poderosamente os fiéis a elevar piedosamente a sua
mente à Deus, agindo ela, por meio das suas manifestações, sobre os sentidos da
vista e do ouvido. Daí que, o artista sem fé, ou arredio de Deus com a sua alma
e com a sua conduta, de maneira alguma deve ocupar-se de arte religiosa;
realmente, não possui ele aquele olho interior que lhe permite perceber o que é
requerido pela majestade de Deus e pelo seu culto. Nem se pode esperar que as
suas obras, destituídas de inspiração religiosa - mesmo se revelam a perícia e
uma certa habilidade exterior do autor -, possam inspirar aquela fé e aquela
piedade que convêm à majestade da casa de Deus; e, portanto, nunca serão
dignas de ser admitidas no templo da Igreja, que é a guardiã e o árbitro da vida
religiosa.
12. Ao invés, o artista que tem fé profunda e leva conduta digna de um cristão,
agindo sob o impulso do amor de Deus e pondo os seus dotes a serviço da
religião por meio das cores, das linhas e da harmonia dos sons, fará todo o
esforço para exprimir a sua fé e a sua piedade com tanta perícia, beleza e
suavidade, que esse sagrado exercício da arte constituirá para ele um acto de
culto e de religião, e estimulará grandemente o povo a professar a fé e a cultivar
a piedade. Tais artistas são e sempre serão tidos em honra pela Igreja; esta lhes
13. Essas leis da arte religiosa vinculam com ligame ainda mais estreito e mais
santo a música sacra, visto estar esta mais próxima do culto divino do que as
outras belas-artes, como a arquitectura, a pintura e a literatura; estas procuram
preparar uma digna sede para os ritos divinos, ao passo que aquela ocupa lugar
de primeira importância no próprio desenvolvimento das cerimónias e dos ritos
sagrados. Por isso, deve a Igreja, com toda diligência; providenciar para remover
da música sacra, justamente por ser esta a serva da sagrada liturgia, tudo o que
destoa do culto divino ou impede os féis de elevarem sua mente a Deus.
16. Não obstante isso, em grande estima se deve ter também a música que,
embora não sendo destinada principalmente ao serviço da sagrada liturgia,
todavia, pelo seu conteúdo e pelas suas finalidades, importa muitas vantagens à
religião, e por isso com toda razão é chamada música "religiosa". Na verdade,
também este género de música sacra - que teve origem no seio da Igreja, e que
sob os auspícios desta pôde felizmente desenvolver-se está, como o demonstra a
experiência, no caso de exercer nas almas dos fiéis uma grande e salutar
influência, quer seja usada nas igrejas durante as funções e as sagradas
cerimónias não-litúrgicas, quer fora da igreja, nas várias solenidades e
celebrações. De facto, as melodias desses cantos, compostos as mais das vezes
em língua vulgar, fixam-se na memória quase sem esforço e sem trabalho, e, ao
mesmo tempo também, as palavras e os conceitos se imprimem na mente, são
freqüentemente repetidos e mais profundamente compreendidos. Daí segue que
até mesmo os meninos e as meninas, aprendendo na tenra idade esses cânticos
sacros, são muito ajudados a conhecer, a apreciar e a recordar as verdades da
nossa fé, e assim o apostolado catequético tira deles não leve vantagem. Depois,
esses cânticos religiosos, enquanto recreiam a alma dos adolescentes e dos
adultos, oferecem a estes um casto e puro deleite, emprestam certo tom de
majestade religiosa às assembléias e reuniões mais solenes, e até às próprias
famílias cristãs trazem santa alegria, doce conforto e espiritual proveito. Razão
pela qual, também este gênero de música religiosa popular constitui uma eficaz
ajuda para o apostolado católico, e, assim, com todo cuidado deve ser cultivado
e desenvolvido.
19. Necessário é, antes de tudo, que o canto e a música sacra, mais intimamente
unidos com o culto litúrgico da Igreja, atinjam o alto fim a eles consignado. Por
isso - como já sabiamente advertia o nosso predecessor são Pio X - essa música
"deve possuir as qualidades próprias da liturgia, e em primeiro lugar a santidade
e a beleza da forma; por onde de per si se chega a outra característica sua, a
universalidade". (19)
20. Deve ser "santa"; não admita ela em si o que soa de profano, nem permita se
insinue nas melodias com que é apresentada. A essa santidade se presta
sobretudo o canto gregoriano, que desde tantos séculos se usa na Igreja, a ponto
de se poder dizê-lo patrimônio seu. Pela íntima aderência das melodias às
palavras do texto sagrado, esse canto não só quadra a este plenamente, mas
parece quase interpretar-lhe a força e a eficácia, instilando doçura na alma de
quem o escuta; e isso por meios musicais simples e fáceis, mas permeados de tão
sublime e santa arte, que em todos suscitam sentimentos de sincera admiração, e
se tornam para os próprios entendedores e mestres de música sacra uma fonte
inexaurível de novas melodias. Conservar cuidadosamente esse precioso tesouro
do canto gregoriano e fazer o povo amplamente participante dele, compete a
todos aqueles a quem Jesus Cristo confiou a guarda e a dispensação das riquezas
da Igreja. Por isso, aquilo que os nossos predecessores são Pio X, com toda a
razão chamado restaurador do canto gregoriano, (20) e Pio XI , (21) sabiamente
ordenaram e inculcaram, também nós queremos e prescrevemos que se faça,
prestando-se atenção às características que são próprias do genuíno canto
gregoriano; isto é, que na celebração dos ritos litúrgicos se faça largo uso desse
canto, e se providencie com todo cuidado para que ele seja executado com
exatidão, dignidade e piedade. E, se para as festas recém-introduzidas se
deverem compor novas melodias, seja isso feito por mestres verdadeiramente
competentes, de modo que se observem fielmente as leis próprias do verdadeiro
canto gregoriano, e as novas composições porfiem, em valor e pureza, com as
antigas.
22. Bem sabemos que, por graves motivos, a própria Sé Apostólica tem
concedido, a esse respeito, algumas exceções bem determinadas, as quais,
entretanto, não queremos sejam estendidas e aplicadas a outros casos sem a
devida licença da mesma Santa Sé. Antes, lá mesmo onde se possam utilizar tais
concessões, cuidem atentamente os ordinários e os outros sagrados pastores, que
desde a infância os fiéis aprendam ao menos as melodias gregorianas mais fáceis
e mais em uso, e saibam valer-se delas nos sagrados ritos litúrgicos, de modo que
também nisso brilhe sempre mais a unidade e a universalidade da Igreja.
23. Todavia, onde quer que um costume secular ou imemorial permita que no
solene sacrifício eucarístico, depois das palavras litúrgicas cantadas em latim, se
insiram alguns cânticos populares em língua vulgar, permiti-lo-ão os ordinários
"quando julgarem que pelas circunstâncias de lugar e de pessoas tal (costume)
não possa ser prudentemente removido", (22) permaneça a norma de que não
se cantem em língua vulgar as próprias palavras da liturgia, como acima já foi
dito.
Para que os féis compreendam melhor os textos latinos, sejam eles explicados
25. Óbvio é que o quanto aqui expusemos acerca do canto gregoriano diz
respeito sobretudo ao rito latino romano da Igreja; mas pode respectivamente
aplicar-se aos cantos litúrgicos de outros ritos, quer do ocidente, como o
Ambrosiano, o Galicano, o Moçarábico, quer aos vários ritos orientais. De facto,
todos esses ritos, ao mesmo passo que mostram a admirável riqueza da Igreja na
ação litúrgica e nas fórmulas de oração, por outra parte, pelos diversos cantos
litúrgicos, conservam tesouros preciosos, que cumpre guardar e impedir não só
de desaparecerem, como também de sofrerem qualquer atenuação ou
deturpação. Entre os mais antigos e importantes documentos da música sacra,
têm, sem dúvida, lugar considerável os cantos litúrgicos dos vários ritos
orientais, cujas melodias tiveram muita influência na formação das da Igreja
ocidental, com as devidas adaptações à índole própria da liturgia latina. É nosso
desejo que uma seleção de cantos dos ritos sagrados orientais - na qual está
prazeirosamente trabalhando o Pontifício Instituto para os estudos orientais,
com o auxílio do Instituto Pontifício de Música Sacra - seja felizmente levada a
termo tanto na parte doutrinal como na parte prática; de modo que os
seminaristas do rito oriental, bem preparados também no canto sacro, feitos um
dia sacerdotes possam, também nisso, eficazmente contribuir para aumentar o
decoro da casa de Deus.
A música polifónica
26. Com o que havemos dito para louvar e recomendar o canto gregoriano, não
é intenção nossa remover dos ritos da Igreja à polifonia sacra, a qual, desde que
exornada das devidas qualidades, pode contribuir bastante para a magnificência
do culto divino e para suscitar piedosos afectos na alma dos fiéis. Afinal, bem
sabido é que muitos cantos polifónicos, compostos sobretudo no século XVI,
brilham por tal pureza de arte e tal riqueza de melodias, que são inteiramente
dignos de acompanhar e como que de tornar mais perspícuos os ritos da Igreja.
E, se, no curso dos séculos, a genuína arte da polifonia pouco a pouco decaiu, e
não raramente lhe são entremeadas melodias profanas, nos últimos decénios,
mercê da obra indefesa de insignes mestres, felizmente ela como que se renovou,
mediante um mais acurado estudo das obras dos antigos mestres, propostas à
imitação e emulação dos compositores hodiernos.
27. Destarte sucede que, nas basílicas, nas catedrais, nas igrejas dos religiosos,
podem executar-se quer as obras-primas dos antigos mestres, quer composições
polifónicas de autores recentes, com decoro do rito sagrado; antes sabemos que,
mesmo nas igrejas menores, não raramente se executam cantos polifónicos mais
simples, porém compostos com dignidade e verdadeiro senso de arte: A Igreja
favorece todos estes esforços; realmente, consoante às palavras do nosso
predecessor de feliz memória são Pio X, ela "sempre favoreceu o progresso das
artes e ajudou-o, acolhendo no uso religioso tudo o que o engenho humano tem
criado de bom e de belo no curso dos séculos, desde que ficassem salvas as leis
litúrgicas".(24) Estas leis exigem que, nesta importante matéria, se use de toda
prudência e se tenha todo cuidado a fim de que se não introduzam na Igreja
cantos polifónicos que, pelo modo túrgido e empolado, ou venham a obscurecer,
com a sua prolixidade, as palavras sagradas da liturgia, ou interrompam a acção
do rito sagrado, ou, ainda, aviltem a habilidade dos cantores com desdouro do
culto divino.
O órgão
28. Devem essas normas aplicar-se, outrossim, ao uso do órgão e dos outros
instrumentos musicais. Entre os instrumentos a que é aberta a porta do templo
vem, de bom direito, em primeiro lugar o órgão, por ser particularmente
adequado aos cânticos sacros e aos sagrados ritos, por conferir às cerimónias da
Igreja notável esplendor e singular magnificência, por comover a alma dos fiéis
com a gravidade e doçura do seu som, por encher a mente de gozo quase
celeste, e por elevar fortemente à Deus e às coisas celestes.
30. A esses aspectos que têm mais estreita ligação com a liturgia da Igreja
juntam-se, como dissemos, os cantos religiosos populares, escritos as mais das
vezes em língua vulgar, os quais se originam do próprio canto litúrgico, mas,
sendo mais adaptados à índole e aos sentimentos de cada povo em particular,
diferem não pouco entre si, conforme o caráter dos povos e a índole particular
das nações. A fim de que semelhantes cânticos religiosos proporcionem fruto
espiritual e vantagem ao povo cristão, devem ser plenamente conformes ao
ensinamento da fé cristã, expô-la e explicá-la rectamente, usar linguagem fácil e
melodia simples, fugir da profusão de palavras empoladas e vazias, e, finalmente,
mesmo sendo breves e fáceis, ter uma certa dignidade e gravidade religiosa.
Quando esses cânticos sacros possuem tais dotes, brotando como que do mais
profundo da alma do povo, comovem fortemente os sentimentos e a alma, e
excitam piedosos afectos; quando se cantam como uma só voz nas funções
religiosas da multidão reunida, elevam com grande eficácia a alma dos fiéis às
coisas celestes. Por isso, embora, como dissemos, nas missas cantadas solenes
não possam eles ser usados sem especial permissão da Santa Sé, todavia nas
missas celebradas em forma não-solene podem eles admiravelmente contribuir
para que os fiéis assistam ao santo sacrifício não tanto como espectadores mudos
e quase inertes, mas de forma que, acompanhando com a mente e com a voz a
ação sacra, unam a própria devoção às preces do sacerdote, e isso desde que tais
cantos sejam bem adaptados às várias partes do sacrifício, como sabemos que já
se faz em muitas partes do mundo católico, com grande júbilo espiritual.
32. Por isso, não podemos deixar de exortar-vos vivamente, veneráveis irmãos, a
vos dignardes, com todo cuidado e por todos os meios, de favorecer e promover
nas vossas dioceses esse canto popular religioso. Não vos faltarão homens
experientes para recolher e reunir juntos esses cânticos onde não se haja feito, a
fim de que por todos os fiéis possam eles ser mais facilmente aprendidos,
cantados com desembaraço e bem gravados na memória. Aqueles a quem está
confiada a formação religiosa dos meninos e das meninas não deixem de valer-
se, pelo modo devido, desses eficazes auxílios, e os assistentes da juventude
católica usem deles rectamente na grave tarefa que lhes foi confiada. Desse
modo pode-se esperar obter mais outra vantagem, que está no desejo de todos, a
saber: a de que sejam eliminadas essas canções profanas que, ou pela moleza do
ritmo, ou pelas palavras não raro voluptuosas e lascivas que o acompanham,
costumam ser perigosas para os cristãos, especialmente para os jovens, e sejam
substituídas por essas outras que proporcionam um prazer casto e puro, e que,
ao mesmo tempo, alimentam a fé e a piedade; de modo que já aqui na terra o
povo cristão comece a cantar aquele cântico de louvor que cantará eternamente
no céu: "Àquele que se senta no trono e ao Cordeiro seja bênção, honra, glória e
poder pelos séculos dos séculos" (Ap 5,13).
33. O que até aqui escrevemos vigora sobretudo para as nações pertencentes à
Igreja nas quais a religião católica já está solidamente estabelecida. Nos países
de missão, certamente não será possível pôr tudo isso em prática antes de haver
35. Para que obtenha o desejado efeito tudo quanto, seguindo as pegadas dos
nossos predecessores, nós nesta carta encíclica recomendamos ou prescrevemos,
vós, ó veneráveis irmãos, com solícito empenho adotareis todas as disposições
que vos impõe o alto encargo a vós confiado por Cristo e pela Igreja, e que,
como resulta da experiência, com grande fruto são, em muitas igrejas do mundo
cristão, postas em prática.
37. Com grande solicitude é de providenciar-se, para que todos os que nos
seminários e nos institutos missionários religiosos se preparam para as sagradas
ordens sejam rectamente instruídos, segundo as diretrizes da Igreja, na música
sacra e no conhecimento teórico e prático do canto gregoriano, por mestres
experimentados em tais disciplinas, que estimem tradições, usos e obedeçam em
tudo às normas preceptivas da Santa Sé.
38. E, se entre os alunos dos seminários e dos colégios religiosos houver algum
dotado de particular tendência e paixão por essa arte, disso não deixem de vos
informar os reitores dos seminários ou dos colégios, a fim de que possais oferecer
a esse tal ensejo de cultivar melhor tais dotes, e possais enviá-lo ao Pontifício
Instituto de música sacra nesta cidade, ou a algum outro ateneu do gênero,
contanto que ele se distinga por bons costumes e virtudes, e com isso dê motivo
a se esperar venha a ser um ótimo sacerdote.
esse fim é que no conselho diocesano de arte sacra haja alguém perito em
música sacra e em canto, o qual possa habilmente vigiar na diocese em tal
terreno e informar o ordinário de tudo o que se tem feito e se deva fazer,
acolhendo-se e fazendo-se executar as prescrições e disposições dele. E, se em
qualquer diocese existir alguma dessas associações que sabiamente têm sido
fundadas para cultivar a música sacra, e que têm sido louvadas e recomendadas
pelos sumos pontífices, na sua prudência poderá o ordinário ajudar-se dela para
satisfazer as responsabilidades desse seu encargo.
CONCLUSÃO
41. Tudo isso, movido por uma solicitude todo paternal, quisemos tratar com
certa amplitude; e nutrimos plena confiança de que vós, veneráveis irmãos,
dedicareis todo o vosso cuidado pastoral a tal questão de interesse religioso
muito importante para a celebração mais digna e mais esplêndida do culto
divino. Aqueles, pois, que na Igreja, sob a vossa direção, têm em suas mãos a
direção do que concerne a música, esperamos achem nesta nossa carta encíclica
incitamento para promover com novo e apaixonado ardor e com generosidade
operosamente hábil esse importante apostolado. Assim, conforme auguramos,
sucederá que essa arte tão nobre, muito apreciada em todas as épocas pela
Igreja, também nos nossos dias será cultivada de modo a ver-se reconduzida aos
lídimos esplendores de santidade e de beleza, e conseguirá perfeição sempre
mais alta, e com o seu contributo produzirá este feliz efeito: que, com fé mais
firme, com esperança mais viva, com caridade mais ardente, os filhos da Igreja
prestem nos templos a devida homenagem de louvores a Deus uno e trino, e
que, mesmo fora dos edifícios sagrados, no seio das famílias e nas reuniões
cristãs, verifique-se aquilo que são Cipriano fazia objeto de uma famosa
exortação a Donato: "Ressoe de salmos o sóbrio banquete: e, como tens
memória tenaz e voz canora, assume esse ofício segundo o costume em moda: a
pessoas a ti caríssimas ofereces maior nutrimento se da nossa parte houver uma
audição espiritual, e se a doçura religiosa deleitar o nosso ouvido".(27)
42. Enquanto isso, na expectativa dos resultados sempre mais ricos e felizes que
esperamos tenham origem desta nossa exortação, em atestado do nosso paternal
afecto e em penhor de dons celestes, com efusão de alma concedemos a bênção
apostólica a vós, veneráveis irmãos, a quantos, tomados singular e
coletivamente, pertençam ao rebanho a vós confiado, e em modo particular
àqueles que, secundando os nossos votos, se preocupam de dar incremento à
música sacra.
Notas
(1) Motu Proprio Entre as solicitudes do múnus pastoral: Acta Pii X, vol. I, p.
77.
(12) Cf. Bento XIV, Carta enc. Annus qui; Opera omnia, (ed. Prati, Vol.17,1, p.
16).
(13) Cf. Carta apost., Bonum est confiteri Domino, (2 de agosto de 1828). Cf.
Bullarium Romanum, ed. Prati, ed. Typ. Aldina, t. IX, p.139ss.
(14) Cf. Acta Leonis XIII,14(1895), pp. 237-247; cf. AAS 27(1894), pp. 42-49.
(15) Cf. Acta Pii X, vol. I, pp. 75-87; AAS 36(1903-04), pp. 329-339; 387-395.
(20) Carta ao Card. Respighi, Acta Pii X,1, pp. 68-74; v pp. 73ss; AAS
36(1903-04), pp. 325-329; 395-398; v. 398.
(21) Pio XI, Const. apost. Divini cultus; AAS 21(1929}, pp. 33ss.
CONSTITUIÇÃO
APOSTÓLICA
DIVINI CULTUS
SANCTITATEM
SOBRE LITURGIA,
CANTO GREGORIANO
E MÚSICA SACRA
Papa Pio XI, 1929
Veneráveis Irmãos,
Saudação e Benção Apostólica.
dívida que para com Deus temos pelos benefícios recebidos e dos quais sempre
necessitamos. Daqui a íntima união que há entre o dogma e a liturgia,
semelhante àquela entre o culto cristão e a sanctificação do povo. Por isso,
Celestino I ensinava já que o canon da fé se encontrava expreso nas venerandas
fórmulas da liturgia, e escrevia: «As normas da fé ficam estabelecidas pelas
normas da oração. Os pastores da grei cristã desempenham a missão que se lhes
há encomendado, e, portanto, advogam ante a divina clemência pela causa do
género humano, e quanto pedem e oram, fazem-no acompanhados dos gemidos
de toda a Igreja»(2).
As normas de PIO X
A PARTE DISPOSlTIVA
O OFÍCIO CORAL
tiver sido restituído à fidelidade dos antigos códices, e já dado pela Igreja como
edição autêntica [vaticanis typis].
Capelas musicais
V. Também nos queremos dirigir aqui a todos aqueles a quem as Capelas
musicais [Capellas musicorum] concernem, como sendo aquelas que sucedendo
no decurso dos tempos às antigas scholae se instituiram para este fim em
Basílicas e nas Igrejas maiores, e as quais se ajustaram especialmente à polifonia
sacra, que, a este propósito, costuma com toda a razão merecer a preferência
depois das venerandas melodias gregorianas sobre todo e qualquer outro género
de música eclesiástica. Por isso, desejamos Nós ardentemente que tais Capelas,
tal como floresceram desde o século XIV ao XVI, assim também se restaurem,
especialmente onde quer que a maior frequência e esplendor do culto divino
exijam maior número e mais requintada selecção de cantores.
A PARTICIPAÇÃO DO POVO
Decreto
Tudo isto Nós proclamamos, declaramos e sancionamos, decretando que esta
Constituição Apostólica seja e permaneça sendo sempre de pleno valor e
eficácia, obtenha o seu efeito pleno, sem que obste nada em contrário. A
nenhum homem, pois, lhe será lícito infringir esta Constituição por Nós
promulgada, nem contradizê-la com temerária audácia.
(1) O Motu Proprio deve considerar-se como uma recompilação de leis já dadas
no transcurso dos séculos; a Constituição Apostólica, documento de
importância e alcance gerais, em forma de Bula, é uma nova lei, um acto
legislativo como por exemplo a erecção de um bispado, a nomeação de um
(3) "Obra de Deus" e "Ofício Divino" são termos que se empregam para
significar as orações obrigatórias que o sacerdote deve elevar diariamente a
Deus. São Bento, o patriarca dos monges do Ocidente, consagrou esses termos
na sua Regra.
(6) A Escola Superior de Música Sacra foi fundada sob esta denominação em
1910 pela Associação Italiana de Santa Cecília. Abriu a 3 de Janeiro e S. S. Pío
X aprovou-a com o Breve "Expleverunt" de 4 de Novembro de 1911. A 10 de
Julho de 1914, com Rescrito da Secretaria de Estado, S. S. declarou-a
"Pontifícia" e outorgou-lhe a faculdade de conferir os graus. O Sumo Pontífice
Bento XV outorgou-lhe como residência o Palácio do "Apollinare". S. S. Pío XI
confirmou a faculdade de conferir os graus académicos, com o Motu Proprio de
22 de Novembro de 1922. Hoje intitula-se Instituto Pontifício de Música Sacra.
Pio X dirigiu a "Epístola" Expleverunt desiderii Nostri, 4-XI-1911 ao Cardeal
Rampolla um ano depois da fundação da Escola Superior de Música Sagrada;
AAS. 3 (1911) 654-655; o Motu Proprio de Pio XI Ad musicae sacrae, de 22-
XI-1922 acha-se na AAS. (1920) 623-626; a faculdade de conferir títulos
académicos vai no núm. V das disposições. AAS. 14, 625.
INSTRUÇÃO "MUSICAM
SACRAM"
Proémio
1. A Música Sacra, no que respeita à renovação litúrgica, foi objecto de atento
estudo no Concílio Vaticano II. Este esclareceu a sua função nos divinos ofícios,
promulgando princípios e leis sobre ela na Constituição sobre a Sagrada
Liturgia, onde lhe dedicou um capítulo inteiro.
2. As decisões do Concílio começaram já a ser postas em prática na renovação
litúrgica recentemente iniciada. Mas as novas normas referentes à organização
dos ritos sagrados e à participação activa dos fiéis levantaram problemas sobre a
Música Sacra e sobre a sua função ministerial, que deverão resolver-se a fim de
se conseguir uma melhor compreensão de alguns princípios da Constituição
sobre a Sagrada Liturgia.
3. Por consequência, o Consilium, instituído pelo Sumo Pontífice para levar à
prática a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, examinou cuidadosamente
estes problemas e redigiu a presente instrução. Não pretende esta reunir toda a
legislação sobre Música Sacra, mas apenas estabelecer algumas normas
principais, que parecem nais oportunas de momento; é como que a continuação
e o complemento da Instrução anterior desta Sagrada Congregação - preparada
por este mesmo Consilium - e publicada a 26 de Setembro de 1964 para regular
correctamente a aplicação da Constiuição sobre a Sagrada Liturgia.
4. É de esperar que pastores, músicos e fiéis acolham com bom espírito estas
normas e as ponham em prática, de modo que todos à uma se esforcem por
conseguir o verdadeiro fim da Música Sacra, "que é a glória de Deus e a
santificação dos fiéis".[1]
a) Entende-se por Música Sacra aquela que, criada para o culto divino, possui as
qualidades de santidade e de perfeição de forma.[2]
por aquelas que devem ser cantadas pelo sacerdote ou pelos ministros, com
resposta do povo; ou pelo sacerdote juntamente com o povo; juntar-se-ão
depois, pouco a pouco, as que são próprias só do povo ou só do grupo de
cantores.
Sempre que possa fazer-se uma selecção de pessoas para a acção litúrgica que se
celebra com canto, convém dar preferência àquelas que são mais competentes
musicalmente, sobretudo se se trata de acções litúrgicas mais solenes ou
daquelas que exigem um canto mais difícil ou são transmitidas pela rádio ou
pela televisão.[6]
Se não puder fazer-se esta selecção e o sacerdote ou ministro não têm voz para
cantar bem, podem recitar sem canto, mas com voz alta e clara, uma ou outra
parte mais difícil das que lhes correspondem. Mas não se faça isto só por
comodidade do sacerdote ou do ministro.
9. Na selecção do género de Música Sacra, tanto para o grupo de cantores
como o povo, ter-se-ão em conta as possibilidades dos que hão-de cantar. A
Igreja não exclui das acções sagradas nenhum género de Música Sacra,
contanto que corresponda ao seu espírito e à natureza de cada uma das suas
partes [7] e não impeça a necessária participação activa do povo.[8]
10. A fim de que os fiéis participem activamente com mais gosto e maior fruto,
convém variar oportunamente, na medida do possível, as formas de celebração
e o grau de participação, conforme a solenidade do dia e da assembleia.
11. Tenha-se em conta que a verdadeira solenidade da acção litúrgica não
depende de uma forma rebuscada do canto ou de um desenrolar magnificente
das cerimónias, quanto daquela celebração digna e religiosa que tem em conta a
integridade da própria acção litúrgica; quer dizer, a execução de todas as suas
partes segundo a sua natureza própria. Uma forma mais rica de canto e um
desenvolvimento mais solene das cerimónias decerto que são desejáveis onde
haja meios para bem os realizar; mas tudo quanto possa contribuir para que se
omita, se mude ou se realize indevidamente algum dos elementos da acção
litúrgica é contrário à sua verdadeira solenidade.
12. Compete exclusivamente à Sé Apostólica estabelecer os grandes princípios
gerais, que são como que o fundamento da Música Sacra, em conformidade
com as normas tradicionais e especialmente com a Constituição sobre a
Sagrada Liturgia.
unam a sua voz à de toda a assembleia dos fiéis nas partes que pertencem ao
povo.[21]
40. Esta educação deve dar-se em particular aos membros dos Institutos que
professam os conselhos evangélicos, para obterem riquezas mais abundantes e
crescerem na sua vida espiritual. E convém que, para participarem mais
plenamente na oração pública da Igreja, rezem e até - quanto possível - cantem
as horas principais.
41. Conforme a Constituição da Sagrada Liturgia e a tradição secular do rito
latino, os clérigos, na celebração do ofício divino em coro, conservem a língua
latina.[24]
Mas, visto que a mesma Constituição sobre a Sagrada Liturgia " prevê o uso da
língua vernácula no ofício divino, tanto por parte dos fiéis como das religiosas e
dos membros de outros Institutos que professam os conselhos evangélicos e não
são clérigos, procure-se preparar melodias que se utilizem no canto do ofício
divino em língua vernácula.
"Schola Cantorum", mas poder também ser cantadas pelos coros mais modestos
e favorecer uma participação activa de toda a assembleia dos fiéis".[38]
No que se refere ao tesouro musical tradicional, pôr-se-ão em relevo em
primeiro lugar as obras que respondam às exigências da renovação litúrgica.
Depois, os peritos especialmente competentes neste assunto estudarão
cuidadosamente se outras peças podem adaptar-se a estas mesmas exigências.
Quanto às composições que não respondam à natureza da Liturgia ou à
celebração Pastoral da Acção Litúrgica serão oportunamente trasladadas para
os "pia exercitia" e, melhor ainda, para as celebrações da Palavra de Deus.[39]
Referências
[1] Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 112.
[2] Cf. S. Pio X, Motu próprio Tra le sollecitudini, n. 2 (22. Nov. 1903): AAS 36
(1903-1904) 332.
[3] Cf. S. Congr. dos Ritos, Inst. Musica sacra et sacra Liturgia, n. 4 (3. Set.
1958).
[4] Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 113.
[5] Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 28.
[6] S. Congr. dos Ritos, Inst. Musica sacra et sacra Liturgia, n. 95 (3. Set. 1958).
[7] Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 116.
[8] Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 28.
[32] Ibid., n. 36 § 3.
[43] Ibid., n. 120.
[44] Cf. S. Congr. dos Ritos, Inst. Musica sacra et sacra Liturgia, n. 70 (3. de
Set 58).
[45] Cf. nn. 24-25 desta Instrução.
DISCURSO DO PAPA
FRANCISCO
AOS PARTICIPANTES NO
CONGRESSO
INTERNACIONAL DE
MÚSICA SACRA
Sala Clementina Sábado, 4 de março de 2017
É com prazer que me encontro com todos vós, vindos a Roma de vários países
para participar no Congresso sobre «Música e Igreja: culto e cultura cinquenta
anos depois da Instrução Musicam sacram», organizado pelo Pontifício
Conselho para a Cultura e pela Congregação para a Educação Católica, em
colaboração com o Pontifício Instituto de Música Sacra e o Pontifício Instituto
Litúrgico do Ateneu Santo Anselmo. Saúdo cordialmente todos vós, a começar
pelo Cardeal Gianfranco Ravasi, a quem agradeço a sua introdução. Faço votos
a fim de que a experiência de encontro e de diálogo vivida nestes dias, na
reflexão comum sobre a música sacra e particularmente sobre os seus aspetos
culturais e artísticos, seja frutuosa para as comunidades eclesiais.
então, embora não tenham sido redigidos novos documentos magisteriais sobre
esta temática, houve diversas e significativas intervenções pontifícias que
orientaram a reflexão e o compromisso pastoral.
Peço-vos, por favor, que rezeis por mim. E concedo-vos de coração a Bênção
apostólica.
MISSAL ROMANO
RESTAURADO POR
DECRETO DO CONCÍLIO
ECUMÊNICO VATICANO II,
PROMULGADO PELA
AUTORIDADE DE PAULO VI
E REVISTO POR MANDADO
DO PAPA JOÃO PAULO II
Tradução portuguesa para o Brasil
da separata da terceira edição típica
preparada sob os cuidados da
Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
ROMA
2002
INSTRUÇÃO GERAL
SOBRE O MISSAL ROMANO
PROÊMIO
1. Quando ia celebrar com seus discípulos a ceia pascal, onde instituiu o
sacrifício do seu Corpo e Sangue, o Cristo Senhor mandou preparar uma sala
ampla e mobiliada (Lc 22,12). A Igreja sempre julgou dirigida a si esta ordem,
estabelecendo como preparar as pessoas, os lugares, os ritos e os textos, para a
com que logo, sob a direção dos Bispos e da própria Sé Apostólica, todas as
celebrações litúrgicas participadas pelo povo pudessem realizar-se em língua
vernácula, para que mais plenamente se compreendesse o mistério celebrado.
13. Contudo, como o uso da língua vernácula na sagrada Liturgia é apenas
um instrumento, embora de grande importância, pelo qual mais claramente se
realiza a catequese do mistério contido na celebração, o Concílio Vaticano II
ordenou que algumas prescrições do Concílio de Trento, ainda não cumpridas
em todos os lugares, fossem postas em prática, com a homilia nos domingos e
dias de festa17, ou a introdução de algumas explicações durante os ritos
sagrados18.
Mas o Concílio Vaticano II, aconselhando "aquela participação mais
perfeita na missa, em que os fiéis, depois da comunhão do sacerdote, recebem o
Corpo do Senhor consagrado no mesmo sacrifício"19, urgiu que se pusesse em
prática um outro desejo dos Padres de Trento, ou seja, que, para participar mais
plenamente na sagrada Eucaristia, "os fiéis presentes em cada Missa não
comunguem apenas espiritualmente, mas também pela recepção sacramental da
Eucaristia"20.
14. Movido pelo mesmo desejo e zelo pastoral, o Concílio Vaticano II pôde
reexaminar o que o Tridentino determinara a respeito da Comunhão sob as
duas espécies. Com efeito, como hoje já não se põem mais em dúvida os
princípios doutrinários quanto à plena eficácia da Comunhão recebida apenas
sob a espécie de pão, permitiu ele que se dê algumas vezes a Comunhão sob as
duas espécies, a fim de que, através de uma apresentação mais elucidativa do
sinal sacramental, haja uma oportunidade para se compreender melhor o
mistério de que os fiéis participam21.
15. Deste modo, enquanto permanece fiel ao seu múnus de mestra da
verdade, a Igreja, conservando "o que é antigo", isto é, o depósito da tradição,
cumpre também o seu dever de julgar e de prudentemente assumir "o que é
novo" (cf. Mt 13, 52).
Na verdade, certa parte do novo Missal relaciona mais claramente as
preces da Igreja com as necessidades do nosso tempo. Isto acontece sobretudo
com as Missas rituais e as Missas "para as diversas circunstâncias", nas quais a
tradição e a inovação harmoniosamente se associam. Por isso, enquanto muitos
textos hauridos na mais antiga tradição da Igreja e divulgados pelas diversas
edições do Missal Romano permanecem inteiramente intactos, outros foram
adaptados às aspirações e condições hodiernas. Outros, finalmente, como as
orações pela Igreja, pelos leigos, pela santificação do trabalho humano, pela
comunidade de todos os povos e por algumas necessidades do nosso tempo,
foram integralmente compostas a partir de pensamentos, e, muitas vezes, das
próprias palavras dos documentos conciliares.
Igualmente, devido à consciência da nova situação do mundo de hoje,
não se julgou comprometer o venerável tesouro da tradição, modificando-se
algumas expressões de textos antiquíssimos, para que melhor se adaptassem à
atual linguagem teológica e correspondessem melhor à atual disciplina
eclesiástica. Assim, foram mudadas algumas expressões referentes à estima e ao
uso dos bens terrenos, como também algumas fórmulas que acentuavam certas
modalidades de penitência externa, mais apropriadas a outros tempos da Igreja.
Deste modo, as normas litúrgicas do Concílio Tridentino foram em
muitos pontos completadas e aperfeiçoadas pelas normas do Vaticano II, que
levou a bom termo os esforços que visavam a aproximar os fiéis da sagrada
Liturgia, empreendidos nos quatro últimos séculos, principalmente nos últimos
tempos, graças sobretudo à estima pelos estudos litúrgicos, promovidos por S.
Pio X e seus sucessores.
Capítulo I
IMPORTÂNCIA E DIGNIDADE
DA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA
sacerdote as profere, não haja outras orações nem cantos, e calem-se o órgão e
qualquer outro instrumento.
33. Na verdade, o sacerdote, como presidente, reza em nome da Igreja e de
toda a comunidade reunida e, por vezes, também somente em seu nome para
cumprir o seu ministério com atenção e piedade. Estas orações, propostas antes
da proclamação do Evangelho, na preparação das oferendas e antes e depois da
Comunhão do sacerdote, são rezadas em silêncio.
Outras fórmulas que ocorrem na celebração
34. Sendo a celebração da Missa, por sua natureza, de índole
"comunitária"45, assumem grande importância os diálogos entre o sacerdote e
os fiéis reunidos, bem como as aclamações46, pois não constituem apenas sinais
externos da celebração comum, mas promovem e realizam a comunhão entre o
sacerdote e o povo.
35. As aclamações e respostas dos fiéis às orações e saudações do sacerdote
constituem o grau de participação ativa que os fiéis congregados, em qualquer
forma de Missa, devem realizar, para que se promova e exprima claramente a
ação de toda a comunidade47.
36. Outras partes, muito úteis para manifestar e fomentar a participação
ativa dos fiéis e que competem a toda a assembléia convocada, são
principalmente o ato penitencial, a profissão de fé, a oração universal e a oração
do Senhor.
37. Por fim, dentre as outras fórmulas:
a) algumas constituem um rito ou ato independente, como o hino do
Glória, o salmo responsorial, o Aleluia e o versículo antes do Evangelho, o
Sanctus, a aclamação da anamnese e o canto depois da Comunhão;
b) algumas, porém, acompanham um rito, tais como o canto da entrada, das
oferendas, da fração (Agnus Dei) e da Comunhão.
Maneiras de proferir os diversos textos
38. Nos textos que o sacerdote, o diácono, o leitor ou toda a assembléia
devem proferir em voz alta e distinta, a voz corresponda ao gênero do próprio
texto, conforme se trate de leitura, oração, exortação, aclamação ou canto;
como também à forma de celebração e à solenidade da assembléia. Além disso,
levem-se em conta a índole das diversas línguas e o gênio dos povos.
Nas rubricas, portanto, e nas normas que se seguem, as palavras "dizer"
ou "proferir" devem aplicar-se tanto ao canto como à recitação, observados os
princípios acima propostos.
Importância do canto
39. O Apóstolo aconselha os fiéis, que se reúnem em assembléia para
aguardar a vinda do Senhor, a cantarem juntos salmos, hinos e cânticos
espirituais (cf. Cl 3, 16), pois o canto constitui um sinal de alegria do coração (cf.
At 2, 46). Por isso, dizia com razão Santo Agostinho: "Cantar é próprio de
quem ama"48, e há um provérbio antigo que afirma: "Quem canta bem, reza
duas vezes".
40. Portanto, dê-se grande valor ao uso do canto na celebração da Missa,
tendo em vista a índole dos povos e as possibilidades de cada assembléia
litúrgica. Ainda que não seja necessário cantar sempre todos os textos de per si
destinados ao canto, por exemplo nas Missas dos dias de semana, deve-se zelar
para que não falte o canto dos ministros e do povo nas celebrações dos
domingos e festas de preceito.
Na escolha das partes que de fato são cantadas, deve-se dar preferência
às mais importantes e sobretudo àquelas que o sacerdote, o diácono, o leitor
cantam com respostas do povo; ou então àquelas que o sacerdote e o povo
devem proferir simultaneamente49.
41. Em igualdade de condições, o canto gregoriano ocupa o primeiro lugar,
como próprio da Liturgia romana. Outros gêneros de música sacra,
especialmente a polifonia, não são absolutamente excluídos, contanto que se
harmonizem com o espírito da ação litúrgica e favoreçam a participação de
todos os fiéis50.
Uma vez que se realizam sempre mais freqüentemente reuniões
internacionais de fiéis, convém que aprendam a cantar juntos em latim ao
menos algumas partes do Ordinário da Missa, principalmente o símbolo da fé e
a oração do Senhor, empregando-se melodias mais simples51.
Gestos e posições do corpo
42. Os gestos e posições do corpo tanto do sacerdote, do diácono e dos
ministros, como do povo devem contribuir para que toda a celebração
resplandeça pelo decoro e nobre simplicidade, se compreenda a verdadeira e
plena significação de suas diversas partes e se favoreça a participação de
todos52. Deve-se, pois, atender às diretrizes desta Instrução geral e da prática
tradicional do Rito romano e a tudo que possa contribuir para o bem comum
espiritual do povo de Deus, de preferência ao próprio gosto ou arbítrio.
A posição comum do corpo, que todos os participantes devem observar é
sinal da unidade dos membros da comunidade cristã, reunidos para a sagrada
governantes, pelos que sofrem necessidades, por todos os seres humanos e pela
salvação do mundo inteiro67.
70. Normalmente serão estas as séries de intenções:
a) pelas necessidades da Igreja;
b) pelos poderes públicos e pela salvação de todo o mundo;
c) pelos que sofrem qualquer dificuldade;
d) pela comunidade local.
No entanto, em alguma celebração especial, tal como Confirmação,
Matrimônio, Exéquias, as intenções podem referir-se mais estreitamente àquelas
circunstâncias.
71. Cabe ao sacerdote celebrante, de sua cadeira, dirigir a oração. Ele a
introduz com breve exortação, convidando os fiéis a rezarem e depois a conclui.
As intenções propostas sejam sóbrias, compostas por sábia liberdade e breves
palavras e expressem a oração de toda a comunidade.
As intenções são proferidas, do ambão ou de outro lugar apropriado,
pelo diácono, pelo cantor, pelo leitor ou por um fiel leigo68.
O povo, de pé, exprime a sua súplica, seja por uma invocação comum
após as intenções proferidas, seja por uma oração em silêncio.
72. Na última Ceia, Cristo instituiu o sacrifício e a ceia pascal, que tornam
continuamente presente na Igreja o sacrifício da cruz, quando o sacerdote,
represente do Cristo Senhor, realiza aquilo mesmo que o Senhor fez e entregou
aos discípulos para que o fizessem em sua memória69.
Cristo, na verdade, tomou o pão e o cálice, deu graças, partiu o pão e
deu-o a seus discípulos dizendo: Tomai, comei, bebei; isto é o meu Corpo; este é
o cálice do meu Sangue. Fazei isto em memória de mim. Por isso a Igreja dispôs
toda a celebração da liturgia eucarística em partes que correspondem às
palavras e gestos de Cristo. De fato:
1) Na preparação dos dons levam-se ao altar o pão e o vinho com água,
isto é, aqueles elementos que Cristo tomou em suas mãos.
2) Na Oração eucarística rendem-se graças a Deus por toda a obra da
salvação e as oferendas tornam-se Corpo e Sangue de Cristo.
3) Pela fração do pão e pela Comunhão os fiéis, embora muitos, recebem
o Corpo e o Sangue do Senhor de um só pão e de um só cálice, do mesmo
modo como os Apóstolos, das mãos do próprio Cristo.
Preparação dos dons
73. No início da liturgia eucarística são levadas ao altar as oferendas que se
converterão no Corpo e Sangue de Cristo.
Primeiramente prepara-se o altar ou mesa do Senhor, que é o centro de
toda a liturgia eucarística70, colocando-se nele o corporal, o purificatório, o
missal e o cálice, a não ser que se prepare na credência.
A seguir, trazem-se as oferendas. É louvável que os fiéis apresentem o
pão e o vinho que o sacerdote ou o diácono recebem em lugar adequado para
serem levados ao altar. Embora os fiéis já não tragam de casa, como outrora, o
pão e o vinho destinados à liturgia, o rito de levá-los ao altar conserva a mesma
força e significado espiritual.
Também são recebidos o dinheiro ou outros donativos oferecidos pelos
fiéis para os pobres ou para a igreja, ou recolhidos no recinto dela; serão, no
entanto, colocados em lugar conveniente, fora da mesa eucarística.
74. O canto do ofertório acompanha a procissão das oferendas (cf. n. 37, b)
e se prolonga pelo menos até que os dons tenham sido colocados sobre o altar.
As normas relativas ao modo de cantar são as mesmas que para o canto da
entrada (cf. n. 48). O canto pode sempre fazer parte dos ritos das oferendas,
mesmo sem a procissão dos dons.
75. O pão e o vinho são depositados sobre o altar pelo sacerdote, proferindo
as fórmulas estabelecidas; o sacerdote pode incensar as oferendas colocadas
sobre o altar e, em seguida, a cruz e o próprio altar, para simbolizar que a oferta
da Igreja e sua oração sobem, qual incenso, à presença de Deus. Em seguida,
também o sacerdote, por causa do ministério sagrado e o povo, em razão da
dignidade batismal, podem ser incensados pelo diácono ou por outro ministro.
76. Em seguida, o sacerdote lava as mãos, ao lado do altar, exprimindo por
esse rito o seu desejo de purificação interior.
Oração sobre as oferendas
77. Depositadas as oferendas sobre o altar e terminados os ritos que as
acompanham, conclui-se a preparação dos dons e prepara-se a Oração
eucarística com o convite aos fiéis a rezarem com o sacerdote, e com a oração
sobre as oferendas.
Na Missa se diz uma só oração sobre as oferendas, que termina com a conclusão
mais breve, isto é: Por Cristo, nosso Senhor; se, no fim, se fizer menção do Filho,
a conclusão será: Que vive e reina para sempre.
O povo, unindo-se à oração, a faz sua pela aclamação Amém.
Oração eucarística
78. Inicia-se agora a Oração eucarística, centro e ápice de toda a celebração,
prece de ação de graças e santificação. O sacerdote convida o povo a elevar os
corações ao Senhor na oração e ação de graças e o associa à prece que dirige a
Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo, em nome de toda a comunidade. O
sentido desta oração é que toda a assembléia se una com Cristo na proclamação
das maravilhas de Deus e na oblação do sacrifício. A oração eucarística exige
que todos a ouçam respeitosamente e em silêncio.
79. Podem distinguir-se do seguinte modo os principais elementos que
compõem a Oração eucarística:
a) Ação de graças (expressa principalmente no Prefácio) em que o
sacerdote, em nome de todo o povo santo, glorifica a Deus e lhe rende graças
por toda a obra da salvação ou por um dos seus aspectos, de acordo com o dia,
a festividade ou o tempo.
b) A aclamação pela qual toda a assembléia, unindo-se aos espíritos
celestes canta o Santo. Esta aclamação, parte da própria Oração eucarística, é
proferida por todo o povo com o sacerdote.
c) A epiclese, na qual a Igreja implora por meio de invocações especiais a
força do Espírito Santo para que os dons oferecidos pelo ser humano sejam
consagrados, isto é, se tornem o Corpo e Sangue de Cristo, e que a hóstia
imaculada se torne a salvação daqueles que vão recebê-la em Comunhão.
d) A narrativa da instituição e consagração, quando pelas palavras e
ações de Cristo se realiza o sacrifício que ele instituiu na última Ceia, ao
oferecer o seu Corpo e Sangue sob as espécies de pão e vinha, e entregá-los aos
apóstolos como comida e bebida, dando-lhes a ordem de perpetuar este
mistério.
e) A anamnese, pela qual, cumprindo a ordem recebida do Cristo
Senhor através dos Apóstolos, a Igreja faz a memória do próprio Cristo,
relembrando principalmente a sua bem-aventurada paixão, a gloriosa
ressurreição e a ascensão aos céus.
f) A oblação, pela qual a Igreja, em particular a assembléia atualmente
reunida, realizando esta memória, oferece ao Pai, no Espírito Santo, a hóstia
imaculada; ela deseja, porém, que os fiéis não apenas ofereçam a hóstia
imaculada, mas aprendam a oferecer-se a si próprios71, e se aperfeiçoem, cada
vez mais, pela mediação do Cristo, na união com Deus e com o próximo, para
que finalmente Deus seja tudo em todos72.
g) As intercessões, pelas quais se exprime que a Eucaristia é celebrada
em comunhão com toda a Igreja, tanto celeste como terrestre, que a oblação é
feita por ela e por todos os seus membros vivos e defuntos, que foram chamados
a participar da redenção e da salvação obtidas pelo Corpo e Sangue de Cristo.
h) A doxologia final que exprime a glorificação de Deus, e é confirmada
e concluída pela aclamação Amém do povo.
Ritos da Comunhão
80. Sendo a celebração eucarística a ceia pascal, convém que, segundo a
ordem do Senhor, o seu Corpo e Sangue sejam recebidos como alimento
espiritual pelos fiéis devidamente preparados. Esta é a finalidade da fração do
pão e os outros ritos preparatórios, pelos quais os fiéis são imediatamente
encaminhados à Comunhão.
A Oração do Senhor
81. Na Oração do Senhor pede-se o pão de cada dia, que lembra para os
cristãos antes de tudo o pão eucarístico, e pede-se a purificação dos pecados, a
fim de que as coisas santas sejam verdadeiramente dadas aos santos. O
sacerdote profere o convite, todos os fiéis recitam a oração com o sacerdote, e o
sacerdote acrescenta sozinho o embolismo, que o povo encerra com a doxologia.
Desenvolvendo o último pedido do Pai-nosso, o embolismo suplica que toda a
comunidade dos fiéis seja libertada do poder do mal.
O convite, a própria oração, o embolismo e a doxologia com que o povo
encerra o rito são cantados ou proferidos em voz alta.
Rito da paz
82. Segue-se o rito da paz no qual a Igreja implora a paz e a unidade para si
mesma e para toda a família humana e os fiéis se exprimem a comunhão eclesial
e a mútua caridade, antes de comungar do Sacramento.
Quanto ao próprio sinal de transmissão da paz, seja estabelecido pelas
Conferências dos Bispos, de acordo com a índole e os costumes dos povos, o
modo de realizá-lo*.
Convém, no entanto, que cada qual expresse a paz de maneira sóbria
apenas aos que lhe estão mais próximos.
Fração do pão
83. O sacerdote parte o pão eucarístico, ajudado, se for o caso, pelo diácono
ou um concelebrante. O gesto da fração realizado por Cristo na última ceia, que
no tempo apostólico deu o nome a toda a ação eucarística, significa que muitos
fiéis pela Comunhão no único pão da vida, que é o Cristo, morto e ressuscitado
pela salvação do mundo, formam um só corpo ( 1Cor 10, 17). A fração se inicia
terminada a transmissão da paz, e é realizada com a devida reverência,
contudo, de modo que não se prolongue desnecessariamente nem seja
considerada de excessiva importância. Este rito é reservado ao sacerdote e ao
diácono.
O sacerdote faz a fração do pão e coloca uma parte da hóstia no cálice,
para significar a unidade do Corpo e do Sangue do Senhor na obra da salvação,
ou seja, do Corpo vivente e glorioso de Cristo Jesus. O grupo dos cantores ou o
cantor ordinariamente canta ou, ao menos, diz em voz alta, a súplica Cordeiro
de Deus, à qual o povo responde. A invocação acompanha a fração do pão; por
isso, pode-se repetir quantas vezes for necessário até o final do rito. A última vez
conclui-se com as palavras dai-nos a paz.
Comunhão
84. O sacerdote prepara-se por uma oração em silêncio para receber
frutuosamente o Corpo e Sangue de Cristo. Os fiéis fazem o mesmo, rezando
em silêncio.
A seguir, o sacerdote mostra aos fiéis o pão eucarístico sobre a patena ou
sobre o cálice e convida-os ao banquete de Cristo; e, unindo-se aos fiéis, faz um
ato de humildade, usando as palavras prescritas do Evangelho.
85. É muito recomendável que os fiéis, como também o próprio sacerdote
deve fazer, recebam o Corpo do Senhor em hóstias consagradas na mesma
Missa e participem do cálice nos casos previstos (cf. n. 283), para que, também
através dos sinais, a Comunhão se manifeste mais claramente como participação
no sacrifício celebrado atualmente73.
86. Enquanto o sacerdote recebe o Sacramento, entoa-se o canto da
comunhão que exprime, pela unidade das vozes, a união espiritual dos
comungantes, demonstra a alegria dos corações e realça mais a índole
"comunitária" da procissão para receber a Eucaristia. O canto prolonga-se
enquanto se ministra a Comunhão aos fiéis74. Havendo, porém, um hino após a
Comunhão, encerre-se em tempo o canto da Comunhão.
Haja o cuidado para que também os cantores possam comungar com
facilidade.
CAPÍTULO IV
AS DIVERSAS FORMAS DE
CELEBRAÇÃO DA MISSA
112. Na Igreja local deve-se dar o primeiro lugar, por causa de sua
significação, à Missa presidida pelo Bispo, cercado de seu presbitério, diáconos e
ministros leigos91, e na qual o povo santo de Deus participa plena e ativamente,
visto que aí se dá a principal manifestação da Igreja.
Na Missa celebrada pelo Bispo, ou à qual ele se faz presente sem que
celebre a Eucaristia, observem-se as normas que se encontram no Cerimonial
dos Bispos92.
113. Dê-se igualmente grande valor à Missa celebrada com uma comunidade,
sobretudo a paroquial, uma vez que esta representa a Igreja universal, em
determinado tempo e lugar, principalmente quando se trata da celebração
comunitária do dia do Senhor93.
114. Entre as Missas celebradas em certas comunidades, possui dignidade
particular a Missa conventual, que faz parte do Ofício cotidiano, ou a Missa
chamada "da comunidade". Embora estas Missas nada tenham de especial em
sua celebração, é de suma conveniência que sejam celebradas com canto, e
sobretudo com a plena participação de todos os membros da comunidade,
religiosos ou cônegos. Nessas Missas, cada um exerça a sua função segundo a
Ordem ou o ministério que recebeu. Convém ainda que todos os sacerdotes,
não obrigados a celebrar individualmente por motivo pastoral, concelebrem na
medida do possível. Além disso, todos os membros da comunidade, isto é, os
sacerdotes obrigados a celebrar individualmente para o bem pastoral dos fiéis,
podem também concelebrar a Missa conventual ou "da comunidade" no mesmo
dia94. Convém que os presbíteros que participam da celebração eucarística, a
não ser que estejam escusados por justa causa, exerçam normalmente a função
da própria Ordem, participando de preferência como concelebrantes, revestidos
das vestes sagradas. Caso contrário, portam a veste coral própria ou sobrepeliz
sobre a veste talar.
com velas acesas, ou então quatro ou seis, sobretudo quando se trata de Missa
dominical ou festiva de preceito, ou quando celebrar o Bispo diocesano,
colocam-se sete. Haja também sobre o altar ou em torno dele, uma cruz com a
imagem do Cristo crucificado. Os castiçais e a cruz, ornada com a imagem do
Cristo crucificado, podem ser trazidos na procissão de entrada. Pode-se também
colocar sobre o altar o Evangeliário, distinto do livro das outras leituras.
118. Preparem-se também:
a) junto à cadeira do sacerdote: o missal e, se for oportuno, um livro de
cantos;
b) no ambão: o Lecionário;
c) na credência: cálice, corporal, purificatório e, se for oportuno, pala;
patena e, se necessário, cibórios; pão para a Comunhão do sacerdote que
preside, do diácono, dos ministros e do povo; galhetas com vinho e água, a não
ser que todas estas coisas sejam apresentadas pelos fiéis na procissão das
oferendas; recipiente com água a ser abençoada se houver aspersão; patena para
a Comunhão dos fiéis; e o que for necessário para lavar as mãos.
O cálice, como convém, seja coberto com um véu, que pode ser da cor
do dia ou de cor branca.
119. Na sacristia, conforme as diversas formas de celebração, preparem-se as
vestes sagradas (cf. n. 337-341) do sacerdote, do diácono e dos demais ministros:
a) para o sacerdote: alva, estola e casula ou planeta;
b) para o diácono: alva, estola e dalmática, que pode ser dispensada em
sua falta, como também em celebrações menos solenes;
c) para os demais ministros: alva ou outras vestes legitimamente
aprovadas96.
Quando se realiza a procissão da entrada preparem-se também o
Evangeliário; nos domingos e dias festivos, o turíbulo e a naveta com incenso,
quando se usa incenso; cruz a ser levada na procissão e castiçais com velas
acesas.
Ritos iniciais
120. Reunido o povo, o sacerdote e os ministros, revestidos das vestes
sagradas, dirigem ao altar na seguinte ordem:
a) o turiferário com o turíbulo aceso, quando se usa incenso;
b) os ministros que portam as velas acesas e, entre eles, o acólito ou outro
ministro com a cruz;
c) os acólitos e os outros ministros;
d) o leitor, que pode conduzir um pouco elevado o Evangeliário, não,
porém, o lecionário;
e) o sacerdote que vai celebrar a Missa.
Quando se usa incenso, antes de iniciar a procissão, o sacerdote põe
incenso no turíbulo, abençoando-o com o sinal da cruz, sem nada dizer.
121. Enquanto se faz a procissão para o altar, canta-se o canto da entrada (cf.
n. 47-48).
122. Chegando ao altar, o sacerdote e os ministros fazem inclinação
profunda.
A cruz, ornada com a imagem do Cristo crucificado trazida
eventualmente na procissão, pode ser colocada junto ao altar, de modo que se
torna a cruz do altar, que deve ser uma só; caso contrário, ela será guardada em
lugar adequado; os castiçais são colocados sobre o altar ou junto dele; o
Evangeliário seja colocado sobre o altar.
123. O sacerdote sobe ao altar e beija-o em sinal de veneração. Em seguida,
se for oportuno, incensa a cruz e o altar, contornando-o.
124. Em seguida, o sacerdote dirige-se à cadeira. Terminado o canto da
entrada, e estando todos de pé, o sacerdote e os fiéis fazem o sinal da cruz. O
sacerdote diz: Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. O povo
responde: Amém.
Voltado para o povo e abrindo os braços, o sacerdote saúda-o com uma
das fórmulas propostas. Ele mesmo ou outro ministro, pode, com brevíssimas
palavras, introduzir os fieis na Missa do dia.
125. Segue-se o ato penitencial. Em seguida, é cantado ou recitado o Senhor,
tende piedade, conforme as rubricas (cf. n. 52).
126. Nas celebrações previstas, canta-se ou se recita o Glória (cf. n. 53).
127. Em seguida, o sacerdote convida o povo a rezar, dizendo, de mãos
unidas: Oremos. E todos, juntamente com ele, oram um momento em silêncio.
Então o sacerdote, abrindo os braços, diz a oração do dia. Ao terminar, o povo
aclama: Amém.
Liturgia da Palavra
128. Concluída a oração do dia, todos se assentam. O sacerdote pode, com
brevíssimas palavras, introduzir os fiéis na liturgia da Palavra. O leitor, por sua
137. O símbolo é cantado ou recitado pelo sacerdote com o povo (cf. n. 68),
estando todos de pé. Às palavras E se encarnou pelo Espírito Santo, todos se
inclinam profundamente, mas nas solenidades da Anunciação do Senhor e do
Natal do Senhor todos se ajoelham.
138. Terminado o símbolo, o sacerdote, de pé junto à cadeira e de mãos
unidas, com breve exortação convida os fiéis à oração universal. A seguir, o
cantor, o leitor ou outra pessoa, do ambão ou de outro lugar apropriado e
voltado para o povo propõe as intenções, às quais o povo, por sua vez, responde
suplicante. Por fim, o sacerdote, de mãos estendidas, conclui a prece por uma
oração.
Liturgia eucarística
139. Terminada a oração universal, todos se assentam e tem início o canto do
ofertório (cf. n. 74).
O acólito ou outro ministro leigo coloca sobre o altar o corporal, o
purificatório, o cálice, a pala e o missal.
140. Convém que a participação dos fiéis se manifeste através da oferta do
pão e vinho para a celebração da Eucaristia, ou de outras dádivas para prover às
necessidades da igreja e dos pobres.
As oblações dos fiéis são recebidas pelo sacerdote, ajudado pelo acólito
ou outro ministro. O pão e o vinho para a Eucaristia são levados para o
celebrante, que as depõe sobre o altar, enquanto as outras dádivas são colocadas
em outro lugar adequado (cf. n. 73).
141. Ao altar, o sacerdote recebe a patena com pão, e a mantém levemente
elevada sobre o altar com ambas as mãos, dizendo em silêncio: Bendito sejais,
Senhor. E depõe a patena com o pão sobre o corporal.
142 Em seguida, de pé, no lado do altar, derrama vinho e um pouco d'água
no cálice, dizendo em silêncio: Por esta água, enquanto o ministro lhe apresenta
as galhetas. Retornando ao centro do altar, com ambas as mãos mantém um
pouco elevado o cálice preparado, dizendo em silêncio: Bendito sejais, Senhor; e
depõe o cálice sobre o corporal, cobrindo-o com a pala, se julgar oportuno.
Contudo, se não houver canto de preparação das oferendas ou não houver
música de fundo do órgão, na apresentação do pão e do vinho, o sacerdote pode
proferir em voz alta as fórmulas de bendição, respondendo o povo: Bendito seja
Deus para sempre.
143. Depois de colocado o cálice sobre o altar, o sacerdote, profundamente
inclinado, diz em silêncio: De coração contrito.
palavras: de nosso Papa N., acrescenta: de mim, vosso indigno servo e de meu
irmão N., Bispo desta Igreja N.
O Bispo diocesano, ou quem for de direito equiparado a ele, deve ser
nomeado com esta fórmula: com o Papa N., com o nosso Bispo (ou: Vigário,
Prelado, Prefeito, Abade) N.
O Bispo Coadjutor e os Auxiliares, não, porém, outros bispos,
eventualmente, presentes, podem ser nomeados na Oração eucarística. Quando
vários devem ser nomeados, pode-se fazê-lo em forma geral: e o nosso Bispo N.
e seus Bispos auxiliares.
Em cada Oração eucarística, estas fórmulas se usam conforme exigirem
as normas gramaticais.
150. Um pouco antes da consagração, o ministro, se for oportuno, adverte os
fiéis com um sinal da campainha. Faz o mesmo em cada elevação, conforme o
costume da região.
Se for usado incenso, ao serem mostrados ao povo a hóstia e o cálice
após a consagração, o ministro os incensa.
151. Após a consagração, tendo o sacerdote dito: Eis o mistério da fé, o povo
profere a aclamação, usando uma das fórmulas prescritas.
No fim da Oração eucarística, o sacerdote, tomando a patena com a
hóstia e o cálice ou elevando ambos juntos profere sozinho a doxologia: Por
Cristo. Ao término, o povo aclama: Amém. Em seguida, o sacerdote depõe a
patena e o cálice sobre o corporal.
152. Concluída a Oração eucarística, o sacerdote, de mãos unidas, diz a
exortação que precede a Oração do Senhor e, a seguir, de mãos estendidas,
proclama-a juntamente com o povo.
153. Terminada a Oração do Senhor, o sacerdote, de mãos estendidas, diz
sozinho, o embolismo: Livrai-nos de todos os males, no fim do qual o povo
aclama: Vosso é o reino.
154. Em seguida, o sacerdote, de mãos estendidas, diz em voz alta a oração
Senhor Jesus Cristo, dissestes; terminada esta, estendendo e unindo as mãos,
voltado para o povo, anuncia a paz, dizendo: A paz do Senhor esteja sempre
convosco. O povo responde: O amor de Cristo nos uniu. Depois, conforme o
caso, o sacerdote acrescenta: Meus irmãos e minhas irmãs, saudai-vos em Cristo
Jesus.
O sacerdote pode dar a paz aos ministros, mas sempre permanecendo
no âmbito do presbitério, para que não se perturbe a celebração. Faça o mesmo
se por motivo razoável quiser dar a paz para alguns poucos fiéis. Todos, porém,
conforme as normas estabelecidas pela Conferência dos Bispos, expressam
mutuamente a paz, a comunhão e a caridade. Enquanto se dá a paz, pode-se
dizer: A paz do Senhor esteja sempre contigo, sendo a resposta: Amém.
155. A seguir, o sacerdote toma a hóstia, parte-a sobre a patena e deixa cair
uma partícula no cálice, dizendo em silêncio: Esta união. Enquanto isso, o coral
e o povo cantam ou dizem o Cordeiro de Deus (cf. n. 83).
156. Em seguida, o sacerdote, em silêncio, e com as mãos juntas, diz a oração
da Comunhão: Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, ou Senhor Jesus Cristo,
o vosso Corpo.
157. Terminada a oração, o sacerdote faz genuflexão, toma a hóstia
consagrada na mesma missa e segurando-a um pouco elevada sobre a patena ou
sobre o cálice, diz voltado para o povo: Felizes os convidados etc, e, juntamente
com o povo, acrescenta uma só vez: Senhor, eu não sou digno.
158. De pé e voltado para o altar, o sacerdote diz em silêncio: O Corpo de
Cristo me guarde para a vida eterna, e comunga com reverência o Corpo de
Cristo. A seguir, segura o cálice e diz em silêncio: Que o Sangue de Cristo me
guarde para a vida eterna, e com reverência bebe o Sangue de Cristo.
159. Enquanto o sacerdote comunga o Sacramento, entoa-se o canto da
Comunhão (cf. n. 86).
160. O sacerdote toma, então, a patena ou o cibório e se aproxima dos que
vão comungar e que normalmente se aproximam em procissão.
Não é permitido aos fiéis receber por si mesmos o pão consagrado nem
o cálice consagrado e muito menos passar de mão em mão entre si. Os fiéis
comungam ajoelhados ou de pé, conforme for estabelecido pela Conferência
dos Bispos. Se, no entanto, comungarem de pé, recomenda-se que, antes de
receberem o Sacramento, façam devida reverência, a ser estabelecida pelas
mesmas normas.
161. Se a Comunhão é dada sob a espécie do pão somente, o sacerdote
mostra a cada um a hóstia um pouco elevada, dizendo: O Corpo de Cristo.
Quem vai comungar responde: Amém, recebe o Sacramento, na boca ou, onde
for concedido, na mão, à sua livre escolha. O comungante, assim que recebe a
santa hóstia, consome-a inteiramente.
Quando a Comunhão se fizer sob as duas espécies, observe-se o rito descrito no
lugar próprio (cf. n. 284-287).
187. As funções que o acólito pode exercer são de diversos tipos; alguns deles
podem ocorrer simultaneamente. Convém, por isso, que sejam oportunamente
distribuídas entre várias pessoas; mas se estiver presente um único acólito, este
execute o que for mais importante, distribuindo-se as demais entre outros
ministros.
Ritos iniciais
188. Na procissão para o altar, o acólito pode levar a cruz, entre dois
ministros que levam velas acesas. Depois de chegar ao altar, depõe a cruz perto
do altar, de modo que se torne a cruz do altar; se não, guarda-a em lugar digno.
Em seguida, ocupa o seu lugar no presbitério.
189. Durante toda a celebração, cabe ao acólito aproximar-se do sacerdote ou
do diácono, para lhes apresentar o livro e ajudá-los em outras coisas necessárias.
Convém, portanto, que, na medida do possível, ocupe um lugar do qual possa
comodamente cumprir o seu ministério, quer junto à cadeira quer junto ao
altar.
Liturgia eucarística
190. Não havendo diácono, depois de concluída a oração universal, enquanto
o sacerdote permanece junto à cadeira, o acólito põe sobre o altar o corporal, o
purificatório, o cálice, a pala e o missal. A seguir, se for o caso, ajuda o sacerdote
a receber os donativos do povo e, oportunamente, leva para o altar o pão e o
vinho e os entrega ao sacerdote. Usando-se incenso, apresenta ao sacerdote o
turíbulo e o auxilia na incensação das oferendas, da cruz e do altar. Em seguida,
incensa o sacerdote e o povo.
191. O acólito legalmente instituído, como ministro extraordinário, pode, se
for necessário, ajudar o sacerdote a distribuir a Comunhão ao povo100.Se a
Comunhão for dada sob as duas espécies, na ausência do diácono, o acólito
ministra o cálice aos comungantes, ou segura o cálice, se a comunhão for dada
por intinção.
192. Do mesmo modo, o acólito legalmente instituído, terminada a
distribuição da Comunhão, ajuda o sacerdote ou o diácono a purificar e
arrumar os vasos sagrados. Na falta de diácono, o acólito devidamente instituído
leva os vasos sagrados para a credência e ali, como de costume, os purifica, os
enxuga e os arruma.
Ritos iniciais
194. Na procissão ao altar, faltando o diácono, o leitor, revestido de vestes
aprovadas, pode levar o Evangeliário um pouco elevado; neste caso, caminha à
frente do sacerdote; do contrário, com os demais ministros.
195. Ao chegar ao altar, faz com os outros profunda inclinação. Se levar o
Evangeliário, sobe ao altar e depõe o Evangeliário sobre ele. A seguir, ocupa,
com os demais ministros, seu lugar no presbitério.
Liturgia da palavra
196. O acólito profere, do ambão, as leituras que precedem o Evangelho. Não
havendo salmista, pode proferir também o salmo responsorial depois da
primeira leitura.
197. Na falta de diácono, depois que o sacerdote fez a introdução, pode
proferir, do ambão, as intenções da oração universal.
198. Se não houver canto à Entrada e à Comunhão, e os fiéis não recitarem
as antífonas propostas no missal, o leitor as pode proferir no momento oportuno
(cf. n. 48 e 87).
253. Se o ministro for diácono, ele exerce as funções que lhe são próprias (cf.
n. 171-186), e desempenha outrossim, as outras partes do povo.
254. A celebração sem ministro ou ao menos de um fiel, não se faça a não ser
por causa justa e razoável. Neste caso, omitem-se as saudações, as exortações e a
bênção no final da Missa.
255. Os vasos sagrados necessários são preparados antes da Missa, seja na
credência perto do altar, seja sobre o altar, do lado direito.
Ritos iniciais
256. O sacerdote, aproxima-se do altar e, feita profunda inclinação, o venera
pelo ósculo e ocupa seu lugar na cadeira. Se preferir, o sacerdote pode
permanecer ao altar; neste caso, prepara-se aí também o missal. Em seguida, o
ministro ou o sacerdote diz a antífona da entrada.
257. A seguir, o sacerdote com o ministro, de pé, faz o sinal da cruz, dizendo:
Em nome do Pai; voltado para o ministro, saúda-o com uma das fórmulas
propostas.
258. Em seguida, realiza-se o ato penitencial e, conforme as rubricas, se
dizem o Senhor e o Glória.
259. A seguir, de mãos unidas, diz Oremos e, fazendo uma pausa
conveniente, profere a oração do dia, com as mãos estendidas. Ao terminar, o
ministro aclama: Amém.
Liturgia da palavra
260. As leituras, na medida do possível, são proferidas do ambão ou da
estante.
261. Depois da oração do dia, o ministro lê a primeira leitura e o salmo e,
quando prescrita, a segunda leitura e o versículo do Aleluia ou outro canto.
262. Depois, inclinado, o sacerdote diz: Ó Deus todo-poderoso, purificai-me,
e, em seguida, lê o Evangelho. Ao terminar diz: Palavra da Salvação, e o
ministro responde: Glória a vós, Senhor. Em seguida, o sacerdote venera o livro,
beijando-o e dizendo em silêncio: Pelas palavras do santo Evangelho.
263. A seguir, o sacerdote recita com o ministro o símbolo, de acordo com as
rubricas.
264. Segue-se a oração universal, que também pode ser dita nesta Missa. O
sacerdote introduz e conclui a oração, ao passo que o ministro profere as
intenções.
Liturgia eucarística
265. Na liturgia eucarística tudo é feito como na Missa com povo, exceto o
que se segue.
266. Feita a aclamação no final do embolismo, que segue a Oração do
Senhor, o sacerdote diz a oração Senhor Jesus Cristo, dissestes; em seguida,
acrescenta: A paz do Senhor esteja sempre convosco, a que o ministro responde:
O amor de Cristo nos uniu. Se for oportuno, o sacerdote saúda o ministro.
267. A seguir, enquanto diz com o ministro o Cordeiro de Deus, o sacerdote
parte a hóstia sobre a patena. Terminado o Cordeiro de Deus, depõe no cálice a
fração da hóstia, dizendo em silêncio: Esta união.
268. Em seguida, o sacerdote diz em silêncio a oração Senhor Jesus Cristo,
Filho do Deus vivo ou Senhor Jesus Cristo, o vosso Corpo; depois, faz
genuflexão, toma a hóstia e, se o ministro comungar, diz, voltado para ele e
segurando a hóstia um pouco elevada sobre o cálice: Felizes os convidados e diz
com ele uma só vez: Senhor, eu não sou digno. Em seguida, voltado para o
altar, comunga o Corpo de Cristo. Se o ministro não receber a Comunhão, o
sacerdote, tendo feito a genuflexão, toma a hóstia e, voltado para o altar, diz
uma vez em silêncio: Senhor, eu não sou digno e O Corpo de Cristo me guarde
e comunga o Corpo de Cristo. Depois toma o cálice e diz em silêncio: O Sangue
de Cristo me guarde para a vida eterna, e toma o Sangue.
269. Antes de ser dada a Comunhão ao ministro, é dita a antífona da
Comunhão pelo ministro ou pelo próprio sacerdote.
270. O sacerdote purifica o cálice na credência ou ao altar ou. Se o cálice for
purificado no altar, pode ser levado para a credência pelo ministro ou ser
colocado a um lado, sobre o altar.
271. Após a purificação do cálice, convém que o sacerdote observe algum
tempo de silêncio; a seguir, diz a Oração depois da Comunhão.
Ritos finais
272. Os ritos finais são realizados como na Missa com povo, omitindo-se,
porém, o Ide em paz. O sacerdote, como de costume, venera o altar com um
beijo e, feita inclinação profunda, retira-se com o ministro.
CAPÍTULO IV
ALGUMAS NORMAS MAIS GERAIS
PARA TODAS AS FORMAS DE MISSA
CAPÍTULO V
DISPOSIÇÃO E ORNAMENTAÇÃO DAS IGREJAS
PARA A CELEBRAÇÃO DA EUCARISTIA
Convém que haja habitualmente para eles bancos ou cadeiras. Mas, reprova-se
o costume de reservar lugares para determinadas pessoas122. Sobretudo nas
novas igrejas que são construídas, disponham-se os bancos ou as cadeiras de tal
forma que os fiéis possam facilmente assumir as posições requeridas pelas
diferentes partes da celebração e aproximar-se sem dificuldades da sagrada
Comunhão.
Cuide-se que os fiéis possam não só ver o sacerdote, o diácono ou os
leitores, mas também, graças aos instrumentos técnicos modernos, ouvi-los com
facilidade.
O lugar do grupo de cantores e dos instrumentos musicais
312. O grupo dos cantores, segundo a disposição de cada igreja, deve ser
colocado de tal forma que se manifeste claramente sua natureza, isto é, que faz
parte da assembléia dos fiéis, onde desempenha um papel particular; que a
execução de sua função se torne mais fácil; e possa cada um de seus membros
facilmente obter uma participação plena na Missa, ou seja, participação
sacramental123.
313. O órgão e outros instrumentos musicais legitimamente aprovados sejam
colocados em tal lugar que possam sustentar o canto do grupo de cantores e do
povo e possam ser facilmente ouvidos, quando tocados sozinhos. Convém que o
órgão seja abençoado antes de ser destinado ao uso litúrgico, segundo o rito
descrito no Ritual Romano124.
No Tempo do Advento o órgão e outros instrumentos musicais sejam
usados com moderação tal que convenha à índole desse tempo, sem contudo,
antecipar aquela plena alegria do Natal do Senhor.
No Tempo da Quaresma o toque do órgão e dos outros instrumentos é
permitido somente para sustentar o canto. Excetuam-se, porém, o domingo
"Laetare" (IV na Quaresma), as solenidades e as festas.
O lugar de conservação da Santíssima Eucaristia
314. De acordo com a estrutura de cada igreja e os legítimos costumes locais,
o Santíssimo Sacramento seja conservado num tabernáculo, colocado em lugar
de honra da igreja, suficientemente amplo, visível, devidamente decorado e que
favoreça a oração125.
Normalmente o tabernáculo seja um único, inamovível, feito de material sólido
e inviolável não transparente, e fechado de tal modo que se evite ao máximo o
perigo de profanação126. Convém, além disso, que seja abençoado antes de ser
destinado ao uso litúrgico, segundo o rito descrito no Ritual Romano127.
CAPÍTULO VI
REQUISITOS
PARA A CELEBRAÇÃO DA MISSA
319. Seguindo o exemplo de Cristo, a Igreja sempre utilizou pão e vinho com
água para celebrar o banquete do Senhor.
320. O pão para a celebração da Eucaristia deve ser de trigo sem mistura,
recém-feito e ázimo conforme antiga tradição da Igreja latina.
321. A verdade do sinal exige que a matéria da celebração eucarística pareça
realmente um alimento. Convém, portanto, que, embora ázimo e com a forma
tradicional, seja o pão eucarístico de tal modo preparado que o sacerdote, na
Missa com povo, possa de fato partir a hóstia em diversas partes e distribuí-las
ao menos a alguns dos fiéis. Não se excluem, porém, as hóstia pequenas, quando
assim o exigirem o número dos comungantes e outras razões pastorais. O gesto,
porém, da fração do pão, que por si só designava a Eucaristia nos tempos
apostólicos, manifestará mais claramente o valor e a importância do sinal da
unidade de todos num só pão, e da caridade fraterna pelo fato de um único pão
ser repartido entre os irmãos.
322. O vinho para a celebração eucarística deve ser de uva (cf. Lc 22, 18),
natural e puro, isto é, sem mistura de substâncias estranhas.
323. Cuide-se atentamente que o pão e o vinho destinados à Eucaristia sejam
conservados em perfeito estado, isto é: que o vinho não azede, nem o pão se
corrompa ou se torne demasiado duro, difícil de partir.
324. Se depois da consagração ou quando vai comungar, o sacerdote percebe
que no cálice não foi colocado vinho, mas água, derrame a água em algum
recipiente, coloque vinho com água no cálice, consagrando-o com a parte da
narração da instituição correspondente à consagração do cálice, sem ser
obrigado a consagrar novamente o pão.
são duráveis e se prestam bem para o uso sagrado. Compete à Conferência dos
Bispos de cada região decidir a esse respeito (cf. n. 390).
344. Convém que a beleza e nobreza de cada vestimenta decorram não tanto
da multiplicidade de ornatos, mas do material usado e da forma. Os ornatos
apresentem figuras ou imagens ou então símbolos que indiquem o uso sagrado,
excluindo-se os que não se prestam bem a esse uso.
345. As diferentes cores das vestes sagradas visam manifestar externamente o
caráter dos mistérios celebrados, e também a consciência de uma vida cristã que
progride com o desenrolar do ano litúrgico.
346. Com relação à cor das vestes sagradas, seja observado o uso tradicional,
a saber:
a) O branco é usado nos Ofícios e Missas do Tempo pascal e do Natal do
Senhor; além disso, nas celebrações do Senhor, exceto as de sua Paixão, da
Bem-aventurada Virgem Maria, dos Santos Anjos, dos Santos não Mártires, nas
solenidades de Todos os Santos (1º de novembro), de São João Batista (24 de
junho), nas festas de São João Evangelista (27 de dezembro), da Cátedra de São
Pedro (22 de fevereiro) e da Conversão de São Paulo (25 de janeiro).
b) O vermelho é usado no domingo da Paixão e na Sexta-feira da
Semana Santa, no domingo de Pentecostes, nas celebrações da Paixão do
Senhor, nas festas natalícias dos Apóstolos e Evangelistas e nas celebrações dos
Santos Mártires.
c) O verde se usa nos Ofícios e Missas do Tempo comum.
d) O roxo é usado no tempo do Advento e da Quaresma. Pode também
ser usado nos Ofícios e Missas dos Fiéis defuntos.
e) O preto pode ser usado, onde for costume, nas Missas dos Fiéis
defuntos.
f) O rosa pode ser usado, onde for costume, nos domingos Gaudete (III
do Advento) e Laetare (IV na Quaresma).
g) Em dias mais solenes podem ser usadas vestes sagradas festivas ou
mais nobres, mesmo que não sejam da cor do dia.
No que se refere às cores litúrgicas, as Conferências dos Bispos podem
determinar e propor à Sé Apostólica adaptações que correspondam à
necessidades e ao caráter de cada povo.
347. As Missas rituais são celebradas com a cor própria, a branca ou a festiva;
as Missas por diversas necessidades, com a cor própria do dia ou do Tempo, ou
com a cor roxa, se tiverem cunho penitencial, por exemplo, n. 31, 33 e 38; as
Missas votivas, com a cor que convém à Missa a ser celebrada, ou também com
a cor própria do dia ou do tempo.
348. Além dos vasos e das vestes sagradas, para os quais se prescreve
determinado material, as demais alfaias destinadas ao culto litúrgico140 ou a
qualquer uso na igreja, sejam dignas e condizentes com o fim a que se destinam.
349. Deve-se cuidar de modo especial que os livros litúrgicos,
particularmente, o Evangeliário e o lecionário, destinados à proclamação da
palavra de Deus, gozando, por isso, de veneração peculiar, sejam na ação
litúrgica realmente sinais e símbolos das realidades celestes, e, por conseguinte,
verdadeiramente dignos, artísticos e belos.
350. Além disso, deve-se atender com todo o cuidado às coisas que estão
ligadas diretamente com o altar e a celebração eucarística, como sejam, por
exemplo, a cruz do altar e a cruz que é levada em procissão.
351. Tenha-se o cuidado de observar as exigências da arte também em coisas
de menor importância, e de sempre aliar uma nobre simplicidade a um apurado
asseio.
CAPÍTULO VII
A ESCOLHA DA MISSA E DE SUAS PARTES
Pela mesma razão não tome com freqüência as Missas dos Fiéis
defuntos, pois qualquer Missa é oferecida tanto pelos vivos como pelos falecidos,
e há um memento para eles em cada Oração eucarística.
Onde os fiéis tiverem grande estima pelas memórias facultativas da
Virgem Maria ou dos Santos, satisfaça-se a legítima piedade do povo.
Quando houver liberdade de optar entre a memória do calendário
universal e a do calendário diocesano ou religioso, dê-se preferência, em pé de
igualdade e segundo a tradição, à memória particular.
c) A Oração eucarística III pode ser dita com qualquer Prefácio. Dê-se
preferência a ela nos domingos e festas. Se, contudo, esta Prece for usada nas
Missas pelo fiéis defuntos, pode-se tomar a fórmula especial pelo falecido, no
devido lugar, ou seja, após as palavras: Reuni em vós, Pai de misericórdia todos
os vossos filhos e filhas dispersos pelo mundo inteiro.
d) A Oração eucarística IV possui um Prefácio imutável e apresenta um
resumo mais completo da história da salvação. Pode ser usada quando a Missa
não possui Prefácio próprio, bem como nos domingos do Tempo comum. Não
se pode inserir nesta Oração, devido à sua estrutura, uma fórmula especial por
um fiel defunto.
Cantos
366. Não é lícito substituir os cantos colocados no Ordinário da Missa, por
exemplo, o Cordeiro de Deus, por outros cantos.
367. Na seleção dos cantos interlecionais e dos cantos da Entrada, das
Oferendas e da Comunhão, observem-se as normas estabelecidas nos
respectivos lugares (cf. n. 40-41, 47-48, 61-64, 74, 87-88).
CAPÍTULO VIII
MISSAS E ORAÇÕES PARA DIVERSAS CIRCUNSTÂNCIAS
E MISSAS DOS FIÉIS DEFUNTOS
CAPÍTULO IX
ADAPTAÇÕES QUE COMPETEM AOS BISPOS
E ÀS SUAS CONFERÊNCIAS
Faça-se uso de uma linguagem adaptada aos fiéis da respectiva região,
mas que seja nobre e dotada de valor literário, permanecendo sempre a
necessidade de alguma catequese sobre o sentido bíblico e cristão de certas
palavras ou frases.
É melhor que nas regiões em que se fala a mesma língua, se tenha, na
medida do possível, uma só versão para os textos litúrgicos, sobretudo para os
textos bíblicos e para o Ordinário da Missa151.
393. Tendo em vista o lugar proeminente que o canto recebe na celebração,
como parte necessária ou integrante da liturgia152, compete às Conferências
dos Bispos aprovar melodias adequadas, sobretudo para os textos do Ordinário
da Missa, para as respostas e aclamações do povo e para celebrações peculiares
que ocorrem durante o ano litúrgico.
Cabe-lhes igualmente decidir quanto aos gêneros musicais, melodias e
instrumentos musicais, que possam ser admitidos no culto divino e, até que
ponto realmente são adequados ou poderão adaptar-se ao uso sagrado.
394. Convém que cada diocese tenha o seu calendário e o próprio das Missas.
A Conferência dos Bispos, por sua vez, prepare o calendário próprio da nação,
ou, em colaboração com outras Conferências um calendário mais amplo, a ser
aprovado pela Sé Apostólica153.
Nesta iniciativa deve-se considerar e defender ao máximo o dia do
Senhor, como dia de festa primordial, de modo que outras celebrações, a não
ser que sejam de máxima importância, não se lhe anteponham154. Igualmente
se cuide que o ano litúrgico renovado por decreto do Concílio Vaticano II não
seja obscurecido por elementos secundários.
Na elaboração do Calendário do país, sejam indicados (cf. n. 373) os dias
das Rogações e das Quatro Têmporas do ano, bem como as formas e os textos
para celebrá-las155; e tenham-se em vista outras determinações peculiares.
Convém que, na edição do Missal, as celebrações próprias de toda a
nação ou de uma região mais ampla sejam inseridas no devido lugar entre as
celebrações do calendário geral, ao passo que as celebrações próprias de uma
região ou de uma diocese tenham lugar em Apêndice particular.
395. Finalmente, se a participação dos fiéis e o seu bem espiritual exigirem
variações e adaptações mais profundas, para que a sagrada celebração responda
à índole e às tradições dos diversos povos, as Conferências dos Bispos podem
propô-las à Sé Apostólica, segundo o art. 40 da Constituição sobre a sagradas
Liturgia, para introduzi-las com o seu consentimento, sobretudo em favor de