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DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA

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Março de 2017

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !1


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Índice

1. DEPARTAMENTO DAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS DO SUMO

PONTÍFICE Como celebrar?/2: Canto e Música (CIC 1156-1158) Página 5

2. TRA LE SOLLICITUDE DO SUMO PONTÍFICE PIO X SOBRE A

MÚSICA SACRA Página 8

3. DISCURSO DO PAPA BENTO XVI AOS PROFESSORES E ESTUDANTES

DURANTE A VISITAÇÃO AO PONTIFÍCIO INSTITUTO DE MÚSICA

SACRA Sábado, 13 de Outubro de 2007 Página 17

4. CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II AO CARDEAL JOSEPH HÖFFNER POR

MOTIVO DO VII CONGRESSO INTERNACIONAL DE MÚSICA SACRA

Página 21

5. HOMILIA DO CARDEAL TARCISIO BERTONE POR OCASIÃO DO

XXVIII CONGRESSO NACIONAL DE MÚSICA SACRA 26 de Novembro de

2006 Página 25

6. MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI AO CARDEAL FRANCIS ARINZE

POR OCASIÃO DA JORNADA DE ESTUDOS SOBRE O TEMA: «MÚSICA

SACRA: UM DESAFIO LITÚRGICO E PASTORAL» 1 de Dezembro de 2005

Página 29

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7. QUIRÓGRAFO DO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO II NO

CENTENÁRIO DO MOTU PROPRIO «TRA LE SOLLECITUDINI»

SOBRE A MÚSICA SACRA 3 de dezembro de 2003 | João Paulo II Página 31

8. CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II AOS ARTISTAS 4 de abril de 1999 Página

44

9. MENSAGEM DO PAPA PAULO VI NA CONCLUSÃO DO CONCÍLIO

VATICANO II AOS ARTISTAS 8 de Dezembro de 1965 Página 64

10. MUSICAE SACRAE DISCIPLINA ENCÍCLICA DE PIO XII 25 de dezembro

de 1955 Página 66

11. CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA DIVINI CULTUS SANCTITATEM

SOBRE LITURGIA, CANTO GREGORIANO E MÚSICA SACRA Papa Pio

XI, 1929 Página 87

12. INSTRUÇÃO "MUSICAM SACRAM" A Sagrada Congregação para os Ritos e o

Concilium publicaram a Instrução Musicam Sacram, sobre a música na sagrada

Liturgia. 5 de Março de 1967 Página 99.

13. DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NO

CONGRESSO INTERNACIONAL DE MÚSICA SACRA Sala Clementina

Sábado, 4 de março de 2017 pagina 117


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14. MISSAL ROMANO RESTAURADO POR DECRETO DO CONCÍLIO

ECUMÊNICO VATICANO II, PROMULGADO PELA AUTORIDADE DE

PAULO VI E REVISTO POR MANDADO DO PAPA JOÃO PAULO II -

Tradução portuguesa para o Brasil da separata da terceira edição típica preparada

sob os cuidados da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos

ROMA 2002 página121


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DEPARTAMENTO DAS
CELEBRAÇÕES
LITÚRGICAS
DO SUMO PONTÍFICE

Como celebrar?/2: Canto e Música (CIC 1156-1158)

De um tempo remoto, o canto e a bela música ofereceram uma interface às sublimidades e


profundidades das emoções humanas. No entanto, se foram formativas na liturgia, o seu
objetivo mais elevado é aquele de dar glória a Deus no culto que, inevitavelmente, eclipsa o
seu nobre mas limitado destino, para ir satisfazer um desejo primário de um ótimo serviço.
Sobretudo a partir do momento que é dirigida a Deus, «A tradição musical da Igreja
universal criou um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte,
sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária
ou integrante da liturgia solene» (Catecismo da Igreja Católica [CIC] 1156 e Sacrosanctum
Concilium [SC] 112. Segundo a tradição da Antiga Aliança, não somente os salmos e hinos
são centrais na liturgia hebraica e cristã, mas também a diversidade musical e dos registros
simbólicos dos vários instrumentos musicais (CIC 1156). Do ponto de vista moderno, é difícil
estabelecer quais sejam todos os instrumentos, ainda que um senso da sua sinfonia pode ser
captado graças à nossa apreciação pela versatilidade de um órgão de tubos que anuncia, de
uma forma tão amável, as atmosferas distintivas do ano litúrgico. Nunca se deveria perder de
vista o apelo de SC 120 sobre a particular estima que deveria ser garantida ao órgão de tubos,
ainda quando outros instrumentos sejam consentidos na liturgia sobre a base do fato de que
são aptos para o uso sagrado.

Os variados estados de ânimo expressos pelos diversos gêneros de instrumentos musicais na


liturgia do Antigo Testamento são indicados pela sua extensão. Entre os instrumentos de
corda, a lira, cítara ou kinnōr eram ouvidos no Templo durante as festas e os banquetes,
como indicado em 1 Crônacas 15, 16 e em Isaías 5, 12. E é o mesmo instrumento usado por
Davi para informar a Saul como indicado em 1 Samuel 16, 23. O nebel ou harpa muitas

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vezes era tocado junto com a cítara como sugerido no Salmo 108 (107). Enquanto que o
nebel com dez cordas como se encontra no Salmo 144 (143) pode ser comparado a uma
cítara e é semelhante a um alaúde. Entre os instrumentos de sopro estavam as trombetas em
Números 10 utilizada para festas e outras cerimônias importantes; a flauta, elencada no
grupo de instrumentos de Daniel 3,5 e o l'halīl ou flauta de tubo que foi usada para
simbolizar a dor em Jeremias 48, 36 e para proclamar a alegria em 1 Re 1, 40. E também
estavam presentes instrumentos de percussão como os Símbolos do Salmo 150 e as
campainhas sobre as vestes de Arão em Êxodo 28, 33-35

Os tesouros da liturgia palpitam vida quando são celebrados e enobrecem o canto e a música
de culto. O ato mesmo da troca entre nós e Deus faz presente um lugar onde Deus habita e
no qual os seres humanos são tocados pela vida única de Deus. Esta morada de Deus
encontra-se na liturgia. A liturgia não é um mero símbolo do mistério divino ou um mero
símbolo da verdade da revelação católica. Nos faz presentes a nós mesmos na e por meio da
celebração litúrgica. Estes componentes essenciais da liturgia nos mostram que as nossas
celebrações não podem ser limitadas pelos nossos sentimentos ou por um imperativo emotivo
pelo qual devemos nos sentir bem quando e como celebramos, não importa o quanto sejam
importantes estes aspectos no modo em que dirigimos uma mensagem a Deus. A liturgia deve
comunicar o significado da Igreja e, ao mesmo tempo, o seu significado entre os participantes
que, à sua vez, são alimentados no Espírito e na Verdade. Fidelidade àquilo que parece uma
relação a longa distância, na liturgia se tornará uma sensação transitória se as pessoas se
adequam à língua sacra da Missa. Não precisa subestimar as pessoas envolvidas que devem
reconhecê-la e, com o tempo, crescerá o amor pelos textos que serão conhecidos sempre mais.
Três critérios devem ser tidos em conta no canto e a música para realizar o seu potencial: “a
beleza expressiva da oração, a participação unânime da assembleia nos momentos previstos e
o carácter solene da celebração” (CIC 1157).

A liturgia descreve e forma relações. As relações têm necessidade de perseverança, com e


dentro dessas podem nascer equívocos. A liturgia é o lugar de encontro onde Deus mostra a
profundidade do pacto do seu amor, de modo que “os homens caídos possam levantar-se
sobre as asas da oração” (Stanbrook Abbey Hymnal, "Senhor Deus, a Tua luz que ofusca as
estrelas" (Lord God, your light which dims the stars), versículo 2, publicado em 1974). Na
liturgia, Deus encontra o anthropos (o homem) sobre uma terra santa. Portanto “promova-se
com esforço o canto popular religioso, de modo que nos piedosos e sagrados exercícios, e nas
mesmas ações litúrgicas”, conforme com as normas da Igreja, “possam ressoar as vozes dos
fiéis (SC 118, CIC 1158). Portanto, o nosso serviço à liturgia na celebração litúrgica não prevê
colocar os nossos gostos pessoais e as nossas escolhas particulares diante daquilo que a Igreja
transmitiu até nós. A autêntica participação litúrgica celebrará verdades transcendentes do
tempo e do espaço, porque “o Espírito Santo guia os fiéis à verdade integral e neles faz
habitar abundantemente a palavra de Cristo, e a Igreja perpetua e transmite tudo o que ela é

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e tudo o que ela crê, também quando oferece as orações de todos os fiéis a Deus, por meio de
Cristo e na potência do Espírito Santo” (SC 33; Liturgiam authenticam 19, tradução nossa).

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TRA LE SOLLICITUDE
(22 de novembro de 1903) | PIO X

MOTU PROPRIO
TRA LE SOLLICITUDE
DO SUMO PONTÍFICE
PIO X
SOBRE A MÚSICA SACRA

INTRODUÇÃO

Entre os cuidados do ofício pastoral, não somente desta Suprema Cátedra, que por
imperscrutável disposição da Providência, ainda que indigno, ocupamos, mas também de
todas as Igrejas particulares, é, sem dúvida, um dos principais o de manter e promover o
decoro da Casa de Deus, onde se celebram os augustos mistérios da religião e o povo cristão
se reúne, para receber a graça dos Sacramentos, assistir ao Santo Sacrifício do altar, adorar o
augustíssimo Sacramento do Corpo do Senhor e unir-se à oração comum da Igreja na
celebração pública e solene dos ofícios litúrgicos.

Nada, pois, deve suceder no templo que perturbe ou, sequer, diminua a piedade e a devoção
das fiéis, nada que dê justificado motivo de desgosto ou de escândalo, nada, sobretudo, que
diretamente ofenda o decoro e a santidade das sacras funções e seja por isso indigno da Casa
de Oração e da majestade de Deus.

Não nos ocupamos de cada um dos abusos que nesta matéria podem ocorrer. A nossa atenção
dirige-se hoje para um dos mais comuns, dos mais difíceis de desarraigar e que às vezes se
deve deplorar em lugares onde tudo o mais é digno de máximo encômio para beleza e
suntuosidade do templo, esplendor e perfeita ordem das cerimônias, freqüência do clero,
gravidade e piedade dos ministros do altar. Tal é o abuso em matéria de canto e Música
Sacra. E de fato, quer pela natureza desta arte de si flutuante e variável, quer pela sucessiva
alteração do gosto e dos hábitos no correr dos tempos, quer pelo funesto influxo que sobre a
arte sacra exerce a arte profana e teatral, quer pelo prazer que a música diretamente produz e
que nem sempre é fácil conter nos justos limites, quer, finalmente, pelos muitos preconceitos,
que em tal assunto facilmente se insinuam e depois tenazmente se mantêm, ainda entre
pessoas autorizadas e piedosas, há uma tendência contínua para desviar da reta norma,
estabelecida em vista do fim para que a arte se admitiu ao serviço do culto, e expressa nos

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cânones eclesiásticos, nas ordenações dos Concílios gerais e provinciais, nas prescrições várias
vezes emanadas das Sagradas Congregações Romanas e dos Sumos Pontífices Nossos
Predecessores.

Com verdadeira satisfação da alma nos apraz recordar o muito bem que nesta parte se tem
feito nos últimos decênios, também nesta nossa augusta cidade de Roma e em muitas Igrejas
da Nossa pátria, mas em modo muito particular em algumas nações, onde homens egrégios e
zelosos do culto de Deus, com aprovação desta Santa Sé e dos Bispos, se uniram em
florescentes sociedades e reconduziram ao seu lugar de honra a Música Sacra em quase todas
as suas Igrejas e Capelas. Este progresso está todavia ainda muito longe de ser comum a
todos; e se consultarmos a nossa experiência pessoal e tivermos em conta as reiteradas
queixas, que de todas as partes Nos chegaram neste pouco tempo decorrido, desde que
aprouve ao Senhor elevar a Nossa humilde Pessoa à suprema culminância do Pontificado
Romano, sem protrairmos por mais tempo, cremos que é nosso primeiro dever levantar a voz
para reprovação e condenação de tudo que nas funções do culto e nos ofícios eclesiásticos se
reconhece desconforme com a reta norma indicada.

Sendo de fato nosso vivíssimo desejo que o espírito cristão refloresça em tudo e se mantenha
em todos os fiéis, é necessário prover antes de mais nada à santidade e dignidade do templo,
onde os fiéis se reúnem precisamente para haurirem esse espírito da sua primária e
indispensável fonte: a participação ativa nos sacrossantos mistérios e na oração pública e
solene da Igreja. E debalde se espera que para isso desça sobre nós copiosa a bênção do Céu,
quando o nosso obséquio ao Altíssimo, em vez de ascender em odor de suavidade, vai pelo
contrário repor nas mãos do Senhor os flagelos, com que uma vez o Divino Redentor
expulsou do templo os indignos profanadores. Portanto, para que ninguém doravante possa
alegar a desculpa de não conhecer claramente o seu dever, e para que desapareça qualquer
equívoco na interpretação de certas determinações anteriores, julgamos oportuno indicar
com brevidade os princípios que regem a Música Sacra nas funções do culto e recolher num
quadro geral as principais prescrições da Igreja contra os abusos mais comuns em tal matéria.

E por isso, de própria iniciativa e ciência certa, publicamos a Nossa presente instrução; será
ela como que um código jurídico de Música Sacra; e, em virtude da plenitude de Nossa
Autoridade Apostólica, queremos que se lhe dê força de lei, impondo a todos, por este Nosso
quirógrafo, a sua mais escrupulosa observância.

I. Princípios gerais

1. A música sacra, como parte integrante da Liturgia solene, participa do seu fim geral, que é
a glória de Deus e a santificação dos fiéis. A música concorre para aumentar o decoro e

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esplendor das sagradas cerimônias; e, assim como o seu ofício principal é revestir de
adequadas melodias o texto litúrgico proposto à consideração dos fiéis, assim o seu fim
próprio é acrescentar mais eficácia ao mesmo texto, a fim de que por tal meio se excitem mais
facilmente os fiéis à piedade e se preparem melhor para receber os frutos da graça, próprios
da celebração dos sagrados mistérios.

2. Por isso a música sacra deve possuir, em grau eminente, as qualidades próprias da liturgia,
e nomeadamente a santidade e a delicadeza das formas, donde resulta espontaneamente
outra característica, a universalidade.

Deve ser santa, e por isso excluir todo o profano não só em si mesma, mas também no modo
como é desempenhada pelos executantes.

Deve ser arte verdadeira, não sendo possível que, doutra forma, exerça no ânimo dos ouvintes
aquela eficácia que a Igreja se propõe obter ao admitir na sua liturgia a arte dos sons. Mas
seja, ao mesmo tempo, universal no sentido de que, embora seja permitido a cada nação
admitir nas composições religiosas aquelas formas particulares, que em certo modo
constituem o caráter específico da sua música própria, estas devem ser de tal maneira
subordinadas aos caracteres gerais da música sacra que ninguém doutra nação, ao ouvi-las,
sinta uma impressão desagradável.

II. Gêneros de Música Sacra

3. Estas qualidades se encontram em grau sumo no canto gregoriano, que é por conseqüência
o canto próprio da Igreja Romana, o único que ela herdou dos antigos Padres, que conservou
cuidadosamente no decurso dos séculos em seus códigos litúrgicos e que, como seu, propõe
diretamente aos fiéis, o qual estudos recentíssimos restituíram à sua integridade e pureza.

Por tais motivos, o canto gregoriano foi sempre considerado como o modelo supremo da
música sacra, podendo com razão estabelecer-se a seguinte lei geral: uma composição
religiosa será tanto mais sacra e litúrgica quanto mais se aproxima no andamento, inspiração
e sabor da melodia gregoriana, e será tanto menos digna do templo quanto mais se afastar
daquele modelo supremo.

O canto gregoriano deverá, pois, restabelecer-se amplamente nas funções do culto, sendo
certo que uma função eclesiástica nada perde da sua solenidade, mesmo quando não é
acompanhada senão da música gregoriana.

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Procure-se nomeadamente restabelecer o canto gregoriano no uso do povo, para que os fiéis
tomem de novo parte mais ativa nos ofícios litúrgicos, como se fazia antigamente.

4. As sobreditas qualidades verificam-se também na polifonia clássica, especialmente na da


Escola Romana, que no século XVI atingiu a sua maior perfeição com as obras de Pedro Luís
de Palestrina, e que continuou depois a produzir composições de excelente qualidade musical
e litúrgica. A polifonia clássica, aproximando-se do modelo de toda a música sacra, que é o
canto gregoriano, mereceu por esse motivo ser admitida, juntamente com o canto gregoriano,
nas funções mais solenes da Igreja, quais são as da Capela Pontifícia. Por isso também essa
deverá restabelecer-se nas funções eclesiásticas, principalmente nas mais insignes basílicas, nas
igrejas catedrais, nas dos Seminários e outros institutos eclesiásticos, onde não costumam
faltar os meios necessários.

5. A Igreja tem reconhecido e favorecido sempre o progresso das artes, admitindo ao serviço
do culto o que o gênio encontrou de bom e belo através dos séculos, salvas sempre as leis
litúrgicas. Por isso é que a música mais moderna é também admitida na Igreja, visto que
apresenta composições de tal qualidade, seriedade e gravidade que não são de forma alguma
indigna das funções litúrgicas.

Todavia, como a música moderna foi inventada principalmente para uso profano, deverá
vigiar-se com maior cuidado por que as composições musicais de estilo moderno, que se
admitem na Igreja, não tenham coisa alguma de profana, não tenham reminiscências de
motivos teatrais, e não sejam compostas, mesmo nas suas formas externas, sobre o andamento
das composições profanas.

6. Entre os vários gêneros de música moderna, o que parece menos próprio para acompanhar
as funções do culto é o que tem ressaibos de estilo teatral, que durante o século XVI esteve
tanto em voga, sobretudo na Itália. Este, por sua natureza, apresenta a máxima oposição ao
canto gregoriano e à clássica polifonia, por isso mesmo às leis mais importantes de toda a boa
música sacra. Além disso, a íntima estrutura, o ritmo e o chamado convencionalismo de tal
estilo não se adaptam bem às exigências da verdadeira música litúrgica.

III. Texto Litúrgico

7. A língua própria da Igreja Romana é a latina. Por isso é proibido cantar em língua vulgar,
nas funções litúrgicas solenes, seja o que for, e muito particularmente, tratando-se das partes
variáveis ou comuns da Missa e do Ofício.

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8. Estando determinados, para cada função litúrgica, os textos que hão de musicar-se e a
ordem por que se devem cantar, não é lícito alterar esta ordem, nem substituir os textos
prescritos por outros, nem omiti-los na íntegra ou em parte, a não ser que as Rubricas
litúrgicas permitam suprir, com órgão, alguns versículos do texto, que são simplesmente
recitados no coro. É permitido somente, segundo o costume romano, cantar um motete em
honra do S. Sacramento depois do Benedictus da Missa solene. Permite-se outrossim que,
depois de cantado o ofertório prescrito, se possa executar, no tempo que resta, um breve
motete sobre palavras aprovadas pela Igreja.

9. O texto litúrgico tem de ser cantado como se encontra nos livros aprovados, sem
posposição ou alteração das palavras, sem repetições indevidas, sem deslocar as silabas,
sempre de modo inteligível.

IV. Forma externa das composições sacras

10. As várias artes da Missa e Ofício devem conservar, até musicalmente, a forma que a
tradição eclesiástica lhes deu, e que se encontra admiravelmente expressada no canto
gregoriano. É, pois, diverso o modo de compor um Intróito, um Gradual, uma Antífona, um
Salmo, um Hino, um Glória in excelsis, etc.

11. Observem-se, em particular, as normas seguintes:

a) O Kyrie, o Glória, o Credo, etc., da Missa, devem conservar a unidade de composição


própria do texto. Por conseguinte, não é lícito compô-las como peças separadas, de modo
que, cada uma destas forme uma composição musical tão completa que possa separar-se das
restantes e ser substituída por outra.

b) No ofício de Vésperas deve seguir-se, ordinariamente, a norma do Caeremoniale


Episcoporum que prescreve o canto gregoriano para a salmodia, e permite a música figurada
nos versículos do Gloria Patri e no hino.

Contudo, é permitido, nas maiores solenidades, alternar o canto gregoriano do coro com os
chamados "falsibordoni" ou com versos de modo semelhante convenientemente compostos.
Poderá também conceder-se, uma vez por outra, que cada um dos salmos seja totalmente
musicado, contanto que, em tais composições, se conserve a forma própria da salmodia, isto
é, que os cantores pareçam salmodiar entre si, já com motivos musicais novos, já com motivos
tirados do canto gregoriano, ou imitados deste.

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Ficam proibidos, nas cerimônias litúrgicas, os salmos de concerto.

c) Conserve-se, nas músicas da Igreja, a forma tradicional do hino. Não é permitido compor,
por exemplo, o Tantum ergo de modo que a primeira estrofe apresente a forma de romanza,
cavatina ou adágio e o Genitori a de allegro.

d) As antífonas de Vésperas têm de ser cantadas, ordinariamente, com a melodia gregoriana


que lhes é própria. Porém, se em algum caso particular se cantarem em música, não deverão
nunca ter a forma de melodia de concerto, nem a amplitude dum motete ou de cantata.

V. Os cantores

12. Excetuadas as melodias próprias do celebrante e dos ministros, que sempre devem ser em
gregoriano, sem acompanhamento de órgão, todo o restante canto litúrgico faz parte do coro
dos levitas. Por isso, os cantores, ainda que leigos, realizam, propriamente, as funções de coro
eclesiástico, devendo as músicas, ao menos na sua maior parte, conservar o caráter de música
de coro.

Não se entende com isto excluir, de todo, os solos; mas estes não devem nunca predominar de
tal maneira que a maior parte do texto litúrgico seja assim executada; deve antes ter o caráter
de uma simples frase melódica e estar intimamente ligada ao resto da composição coral.

13. Os cantores têm na Igreja um verdadeiro ofício litúrgico e, por isso, as mulheres sendo
incapazes de tal ofício, não podem ser admitidas a fazer parte do coro ou da capela musical.
Querendo-se, pois, ter vozes agudas de sopranos e contraltos, empreguem-se os meninos,
segundo o uso antiquíssimo da Igreja.

14. Finalmente, não se admitam a fazer parte da capela musical senão homens de conhecida
piedade e probidade de vida, os quais, com a sua devota e modesta atitude, durante as
funções litúrgicas, se mostrem dignos do santo ofício que exercem. Será, além disso,
conveniente que os cantores, enquanto cantam na igreja, vistam hábito eclesiástico e
sobrepeliz e que, se o coro estiver muito exposto à vista do público, seja resguardado por
grades.

VI. Órgão e Instrumentos

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15. Posto que a música própria da Igreja é a música meramente vocal, contudo também se
permite a música com acompanhamento de órgão. Nalgum caso particular, com as
convenientes cautelas, poderão admitir-se outros instrumentos nunca sem o consentimento
especial do Ordinário, conforme as prescrições do Caeremoniale Episcoporum.

16. Como o canto tem de ouvir-se sempre, o órgão e os instrumentos devem simplesmente
sustentá-lo, e nunca encobri-lo.

17. Não é permitido antepor ao canto extensos prelúdios, ou interrompê-lo com peças de
interlúdios.

18. O som do órgão, nos acompanhamentos do canto, nos prelúdios, interlúdios e outras
passagens semelhantes, não só deve ser de harmonia com a própria natureza de tal
instrumento, isto é, grave, mas deve ainda participar de todas as qualidades que tem a
verdadeira música sacra, acima mencionadas.

19. É proibido, na Igreja, o uso do piano bem como o de instrumentos fragorosos, o tambor, o
bombo, os pratos, as campainhas e semelhantes.

20. É rigorosamente proibido que as bandas musicais toquem nas igrejas, e só em algum caso
particular, com o consentimento do Ordinário, será permitida uma escolha limitada, judiciosa
e proporcionada ao ambiente de instrumentos de sopro, contanto que a composição seja em
estilo grave, conveniente e semelhante em tudo às do órgão.

21. Nas procissões, fora da igreja, pode o Ordinário permitir a banda musical, uma vez que
não se executem composições profanas. Seria para desejar que a banda se restringisse a
acompanhar algum cântico espiritual, em latim ou vulgar, proposto pelos cantores ou pias
congregações que tomam parte na procissão.

VII. Amplitude da Música Sacra

22. Não é licito, por motivo do canto, fazer esperar o sacerdote no altar mais tempo do que
exige a cerimônia litúrgica. Segundo as prescrições eclesiásticas, o Sanctus deve ser cantado
antes da elevação, devendo o celebrante esperar que o canto termine, para fazer a elevação. A
música da Glória e do Credo, segundo a tradição gregoriana, deve ser relativamente breve.

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23. É condenável, como abuso gravíssimo, que nas funções eclesiásticas a liturgia esteja
dependente da música, quando é certo que a música é que é parte da liturgia e sua humilde
serva.

VIII. Meios principais

24. Para o exato cumprimento de quanto fica estabelecido, os Bispos, se ainda não o fizeram,
instituam, nas suas dioceses, uma comissão especial de pessoas verdadeiramente competentes
na música sacra, à qual confiarão o cargo de vigiar as músicas que se vão executando em suas
igrejas para que sejam conformes com estas determinações. Nem atender somente a que
sejam boas as músicas, senão também a que correspondam ao valor dos cantores, para haver
boa execução.

25. Nos Seminários e nos Institutos eclesiásticos, segundo as prescrições tridentinas,


consagrem-se todos os alunos ao estudo do canto gregoriano e os superiores sejam liberais em
animar e louvar os seus súditos. Igualmente, onde for possível, promova-se entre os clérigos a
fundação de uma Schola Cantorum para a execução da sagrada polifonia e da boa música
litúrgica.

26. Nas lições ordinárias de Liturgia, Moral e Direito Canônico, que se dão aos estudantes de
teologia, não se deixe de tocar naqueles pontos que, de modo mais particular, dizem respeito
aos princípios e leis da música sacra, e procure-se completar a doutrina com alguma instrução
especial acerca da estética da arte sacra, para que os clérigos não saiam dos seminários
ignorando estas noções, tão necessária à plena cultura eclesiástica.

27. Tenha-se o cuidado de restabelecer, ao menos nas igrejas principais, as antigas Scholae
Cantorum, como se há feito já, com ótimo fruto, em muitos lugares. Não é difícil, ao clero
zeloso, instituir tais Scholae, mesmo nas igrejas de menor importância, e até encontrará nelas
um meio fácil para reunir em volta de si os meninos e os adultos, com proveito para eles e
edificação do povo.

28. Procure-se sustentar e promover, do melhor modo, as escolas superiores de música sacra,
onde já existem, e concorrer para as fundar, onde as não há. É sumamente importante que a
mesma igreja atenda à instrução dos seus mestres de música, organistas e cantores, segundo
os verdadeiros princípios da arte sacra.

IX Conclusão

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29. Por último, recomenda-se aos mestres de capela, aos cantores, aos clérigos, aos superiores
dos Seminários, Institutos eclesiásticos e comunidades religiosas, aos párocos e reitores de
igrejas, aos cônegos das colegiadas e catedrais, e sobretudo aos Ordinários diocesanos, que
favoreçam, com todo o zelo, estas reformas de há muito desejadas e por todos unanimemente
pedidas, para que não caia em desprezo a autoridade da Igreja que repetidamente as propôs
e agora de novo as inculca.

Dado em o Nosso Palácio do Vaticano, na festa da Virgem e Mártir Santa Cecília, 22 de


novembro de 1903, primeiro ano do nosso pontificado.

PAPA PIO X

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DISCURSO
DO PAPA BENTO XVI
AOS PROFESSORES E
ESTUDANTES
DURANTE A VISITA
AO PONTIFÍCIO
INSTITUTO DE
MÚSICA SACRA
Sábado, 13 de Outubro de 2007

Venerados irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Estimados Professores e Alunos
do Pontifício Instituto de Música Sacra!

No dia memorável de 21 de Novembro de 1985 o meu amado Predecessor, o


Papa João Paulo II veio visitar esta "aedes Sancti Hieronymi de Urbe", onde,
desde a fundação, em 1932, por obra do Papa Pio XI, uma eleita comunidade
de monges beneditinos tinha trabalhado alacremente na revisão da Bíblia
Vulgata. Era o momento em que, por vontade da Santa Sé, o Pontifício Instituto
de Música Sacra se tinha transferido, mesmo conservando na antiga sede do
Palácio do Apollinare a histórica Sala Gregório XIII, a Sala Académica ou Aula
Magna do Instituto, que ainda é, por assim dizer, o "santuário" no qual se
realizam as solenes academias e os concertos. O grande órgão, oferecido ao

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Papa Pio XI por M. Justine Ward em 1932, foi agora integralmente restaurado
com a contribuição generosa do Governo da "Generalitat de Catalunya". Sinto-
me feliz por saudar, neste momento os representantes do mencionado Governo
aqui presentes.

Foi com alegria que vim à sede didáctica do Pontifício Instituto de Música
Sacra, completamente renovada. Com esta minha visita são inaugurados e
abençoados os imponentes trabalhos de restauro realizados nestes últimos anos
por iniciativa da Santa Sé e com o significativo contributo de vários benfeitores,
entre os quais sobressai a "Fundação Pró-Música e Arte Sacra", que se ocupou
do restauro integral da Biblioteca. Pretendo inaugurar e abençoar idealmente os
restauros efectuados na Sala Académica onde, no palco, ao lado do mencionado
grande órgão, foi colocado um magnífico piano, oferecido pela "Telecom Italia
Mobile" ao amado Papa João Paulo II para o "seu" Instituto de Música Sacra.

Desejo agora expressar o meu reconhecimento ao Senhor Cardeal Zenon


Grocholewski, Prefeito da Congregação para a Educação Católica e vosso
Grão-Chanceler, as gentis expressões de bons votos que, também em vosso
nome, me quis dirigir. Confirmo de bom grado nesta circunstância a minha
estima e o meu apreço pelo trabalho que o Corpo académico, reunido à volta
do Reitor, desempenha com sentido de responsabilidade e com apreciada
profissionalidade. A minha saudação dirige-se a todos vós aqui presentes: aos
familiares, com as suas crianças, e aos amigos que os acompanham, aos oficiais,
ao pessoal, aos alunos e aos residentes, bem como aos representantes da
Consociatio Internationalis Musicae Sacrae e da Foederatio Internationalis
Pueri Cantores.

O vosso Pontifício Instituto está a encaminhar-se a grandes passos rumo ao


centenário da sua fundação por obra do Santo Pontífice Pio X, o qual erigiu em
1911 com o Breve Expleverunt desiderii a "Escola Superior de Música Sacra";
ela, após sucessivas intervenções de Bento XV e de Pio XI, tornou-se depois,
com a Constituição apostólica Deus scientiarum Dominus do próprio Pio XI,
Pontifício Instituto de Música Sacra, activamente comprometido também hoje
no cumprimento da sua missão originária ao serviço da Igreja universal.
Numerosos estudantes, aqui reunidos de todas as partes do mundo para se
formarem nas disciplinas da música sacra, se tornam por sua vez formadores

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !18


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nas respectivas Igrejas locais. E foram tantos no espaço de quase um século!


Neste momento, sinto-me feliz por dirigir uma grata saudação a quantos, na sua
maravilhosa longevidade, representam um pouco a "memória histórica" do
Instituto e personificam muitos outros que trabalharam aqui: o Maestro Mons.
Domenico Bartolucci.

Nesta sede, apraz-me recordar quanto predispõe, em relação à música sacra, o


Concílio Vaticano II: movendo-se na esteira de uma secular tradição, o
Concílio afirma que ela "é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as
outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente
unido com o texto, constitui parte necessária e integrante da Liturgia
solene" (Sacrosanctum Concilium, 112). Como é rica a tradição bíblica e
patrística ao ressaltar a eficiência do canto e da música sacra para mover os
corações e elevá-los a afundar, por assim dizer, na própria intimidade da vida de
Deus! Bem consciente disto, João Paulo II observava que, hoje como sempre,
três características distinguem a música sacra litúrgica: a "santidade", a "arte
verdadeira", a "universalidade", isto é, a possibilidade de ser proposta a
qualquer povo ou tipo de assembleia (cf. Quirógrafo "Impelido por um
profundo desejo", de 22 de Novembro de 2003).

Precisamente em vista disto, a Autoridade eclesiástica deve comprometer-se a


orientar sabiamente o desenvolvimento de um género e música tão exigentes,
não "congelando" o seu tesouro, mas procurando inserir na herança do passado
as novidades valiosas do presente, para chegar a uma síntese digna da alta
missão que lhe é reservada no serviço divino. Tenho a certeza de que o
Pontifício Instituto de Música Sacra, em harmoniosa sintonia com a
Congregação para o Culto Divino, não deixará de oferecer a sua contribuição
para uma "actualização" adequada aos nossos tempos das preciosas tradições de
que é rica a música sacra. Portanto, a vós caríssimos professores e alunos deste
Pontifício Instituto, confio esta tarefa exigente e ao mesmo tempo apaixonante,
na consciência de que ele constitui um valor de grande realce para a própria
vida da Igreja.

Ao invocar sobre vós a materna protecção de Nossa Senhora do Magnificat e a


intercessão de São Gregório Magno e de Santa Cecília, garanto-vos da minha
parte uma recordação constante na oração. Ao desejar que o novo ano

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !19


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académico que está para iniciar seja repleto de todas as graças, concedo a todos
uma especial Bênção Apostólica.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !20


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CARTA DO
PAPA JOÃO PAULO II
AO CARDEAL JOSEPH
HÖFFNER POR MOTIVO
DO VII CONGRESSO
INTERNACIONAL
DE MÚSICA SACRA

Na feliz ocorrência do ano jubilar da veneranda catedral de Colónia, essa


Arquidiocese receberá os participantes no VII Congresso Internacional de
Música Sacra; acontecimento que sem dúvida trará não só progresso mas
também riquezas ao tesouro musical da Igreja. Na verdade a obra, que os
dirigentes da Associação Internacional de Música Sacra realizaram nos anos
precedentes em favor da referida música, será com certeza notavelmente
confirmada no mesmo Congresso. Queremos pois que esta Nossa mensagem
não só constitua manifestação de reconhecimento pelo esforço realizado neste
campo, mas também incentivo para que o esforço seja continuado de maneira
semelhante no futuro.

O Concílio Vaticano II, na sua Constituição Sacrosanctum Concilium, exaltou


vigorosamente o papel "ministerial" que se atribui à música sacra (cf. Concílio
Vaticano II, Const. Sacrosanctum Concilium, 112). De facto, as palavras, que
tanta importância têm na celebração litúrgica, mais sublinhadas são por meio
do canto e assim recebem especial expressão de solenidade, beleza e dignidade,

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !21


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que permitem à assembleia sentir-se de alguma sorte mais próxima da santidade


do Mistério mesmo que actua na liturgia.

Com razão julgou o Concílio ser convenientíssimo prevenir que se encontra


enorme e rico tesouro de tradição musical nas diversas famílias litúrgicas
orientais e ocidentais; o qual, recolhido no andar, dos séculos, ainda agora está
em uso como reflexo da arte e da cultura dos vários povos. E ao mesmo tempo,
além disso, a todos inculca o Concílio quanto é afinal necessário aplicar energias
e actividades para se conservarem tais riquezas da Igreja; para isto, é
especialmente necessário destinar promotores e cultores da música sacra (ibid.,
n. 114).

Merece contudo especial menção o canto gregoriano que já pela sua


importância e valor é reconhecido agora, tanto pela prática quotidiana da Igreja
como pelo ensino dele, como canto próprio da Liturgia Romana e ligado por
estreitos vínculos com a língua latina (ibid., n. 116-117). Mas também o canto
polifónico é tido como excelente recurso da enunciação sagrada e litúrgica.

O próprio empenho na matéria, que leva a organizarem-se e realizarem-se


Congressos de Música Sacra, muito eficazmente pode ajudar a que se
descubram as riquezas internas da supramencionada tradição musical e a que se
defina cada uma das suas partes a fim de que a música também se conserve
cuidadosamente viva na liturgia da Igreja.

Mas o Concílio não recomenda apenas as vantagens da tradição plurissecular da


música que ainda hoje se usa. Na verdade, consciente da necessidade daquela
que sempre vigorou na Igreja, isto é, de encontrar como que a justa
incorporação dela na cultura humana e na arte dos povos que há pouco
chegaram à fé de Jesus Cristo, persuade que, para eles particularmente; "se
conserve e valorize o tesouro da Música sacra com o maior dos cuidados" (ibid.,
n. 114).

Nisto os participantes no Congresso têm com certeza a mais vasta matéria para
investigações e estudos. Na actualidade é sumamente necessário que o
património musical da Igreja seja apresentado e desenvolvido não só entre as
novas e juvenis Igrejas mas também entre aqueles que tiveram conhecimento

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !22


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dos séculos do canto gregoriano e polifónico em língua latina. Agora,


introduzido o costume das línguas vernáculas, vêem que se requerem outras
formas idóneas de música na liturgia.

Todas as vezes, porém, que tais novas melodias são julgadas, tenham-se ao
mesmo tempo, em conta, com a justa consideração, os elementos próprios
tradicionais e a natureza mesma dos diversos povos. Sobre este ponto ensinou o
Concílio: "Em certas localidades, sobretudo nas Missões, há povos com tradição
musical própria, a qual tem excepcional importância na sua vida religiosa e
social. Estime-se como se deve e atribua-se-lhe o lugar que lhe compete, tanto
na educação do sentido religioso desses povos como na adaptação do culto à
índole deles" (ibid., n. 119). Pois toda a cultura humana pôde encontrar
nobilíssimas expressões recorrendo à música; devem portanto fazer-se esforços,
tanto no campo dos conhecimentos quanto no âmbito da acção pastoral, para se
estabelecerem firmes princípios que além disso estejam em concordância com os
verdadeiros valores nas múltiplas tradições musicais.

Mas o estudo desta matéria, para que se leve a termo conforme a ciência exige,
convém do mesmo modo que encerre ainda a investigação comparativa das
formas recentes com as antigas. Porque a música sacra nova, essa que há-de
servir à celebração da liturgia das várias Igrejas, pode e deve ir buscar a sua
mais alta inspiração, a propriedade do que é sagrado e o legítimo sentimento
religioso, às melodias precedentes e sobretudo ao canto gregoriano. Com toda a
razão foi dito parecer-se o canto gregoriano com os outros cantos como uma
estátua com uma pintura.

Por último, ao mesmo tempo que Nós desejamos que os estudos do VII
Congresso de Música Sacra, cuja actividade se dirige toda para a África Central
e Oriental, se tornem para as diversas comunidades eclesiais — não só nos
países de antiga tradição cristã mas também naqueles onde o Evangelho foi
recentemente propagado — fontes de incitamento e de estímulo para copiosa e
excelente obra musical, de todo o coração transmitimos a ti, Venerável Irmão
Nosso, e também aos dirigentes e participantes do Congresso, uma especial
Bênção Apostólica como sinal da nossa imutável caridade e penhor dos dons
celestiais.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !23


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Do Palácio do Vaticano, no dia 25 do mês de Maio, na Solenidade do


Pentecostes, no ano de 1980, segundo do Nosso Pontificado.

JOÃO PAULO PP. II

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XXVIII Congresso Nacional de Música Sacra

SECRETARIA DE ESTADO

HOMILIA DO CARDEAL
TARCISIO BERTONE
POR OCASIÃO DO XXVIII
CONGRESSO NACIONAL
DE MÚSICA SACRA
Domingo, 26 de Novembro de 2006

Acabamos de ouvir este trecho do Apocalipse:

"Jesus Cristo, a Testemunha fiel, o Primogénito dos mortos e o Príncipe dos reis
da terra. Àquele que nos ama e nos libertou dos nossos pecados com o seu
sangue, que fez de nós um reino de sacerdotes para o seu Deus e Pai, a Ele
sejam dados a glória e o poder por todos os séculos. Amém!".

Com efeito, Jesus veio para libertar o homem da escravidão do pecado, daqueles
poderes do mundo que assustam o homem e o obrigam a fechar-se numa defesa
egocêntrica de si mesmo: pensemos no medo da morte ou no temor da vida, da
violência e do fracasso. O projecto de Deus é o homem livre, reconduzido para
a plenitude da verdade e do amor: vivendo no amor e morrendo por amor, Ele
venceu o medo da vida e da morte.

Todos nós sabemos o que acontece quando o homem "reina", com a pretensão
de uma autonomia absoluta, sem referência a Deus, ou até mesmo contra Ele.
Disto os noticiários televisivos oferecem-nos abundantes exemplos quotidianos.
O reino do homem é o reino da violência, do egoísmo e do predomínio.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !25


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Quando, em 1925, instituiu a festa de Cristo-Rei, Pio XI tencionava reagir aos


excessos do laicismo moderno que renuncia a Deus, mas também à atitude
daqueles que se sentem tentados a "servir-se" de Deus para as suas próprias
finalidades mundanas. Reconhecer a realeza de Cristo significa trabalhar pela
promoção da pessoa humana e animar as realidades temporais com o espírito
evangélico, para assim dar testemunho concreto de que Cristo, o Homem novo,
solidário com a comunidade humana, no seu mistério pascal eleva e aperfeiçoa
a actividade dos homens, para uma melhor convivência, na colaboração, na
fraternidade e na paz.

Também a criação, as coisas deste mundo os bens patrimoniais dos filhos (cf. Gn
1, 28 ss.) subtraídas ao domínio de Deus porque utilizadas impropriamente,
estão como que à espera ansiosa do momento em que os filhos, desfrutando-as
em todas as suas possibilidades e usando-as oportunamente, voltarão a
manifestar em si mesmos a total submissão à autoridade-realeza de Deus (cf.
Rm 8, 19-20).

A solenidade de Cristo-Rei recorda-nos que a nossa existência e a história da


nossa vida pessoal e social é um desígnio de amor eterno de Deus, que se realiza
no tempo, e que todo o universo vivo e inanimado está inserido sob a senhoria
de Cristo, "por meio de quem Deus criou também o mundo".

"Cristo, Alfa e Ómega": este é o título do parágrafo que conclui a primeira parte
da Constituição pastoral Gaudium et spes do Concílio Vaticano II, onde
podemos ler: "O Senhor é a finalidade da história humana, o ponto focal dos
desejos da história e da civilização, o fulcro do género humano, a alegria de
todos os corações, a plenitude das suas aspirações".

Hoje, esta Basílica de São Pedro constitui o sinal tangível de uma comunidade
humana rica de valores e de talentos (artísticos), que expressa a alegria da fé e da
amizade com Deus.
Por conseguinte, sinto-me particularmente feliz por receber em redor deste altar
um número tão elevado de músicos e de amantes da música litúrgica, que
participam no XXVIII Congresso Nacional da Música Sacra.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !26


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A música contribui para a libertação daquelas energias positivas, que edificam o


Reino de Deus na terra. Grandes artistas dedicaram-se principalmente à música
como deixar de recordar o Maestro Lorenzo Perosi, em cuja memória estais
reunidos e que nos deixou obras de excelsa inspiração no campo da fé. A
"beleza" conjuga-se com a "verdade" quando, através dos caminhos da arte, as
almas são enlevadas pela sensibilidade ao eterno.

Meu pai Pietro, Maestro de música, ensinou-me a amar a música de Perosi e


disse-me: "Quando eu morrer, desejo que me canteis a Missa de requiem, com o
sublime Hostias et preces...". E foi assim que 15 Coros cantaram para ele!

A liturgia não é algo feito pelos monges ou pelos fiéis. Ela já existe antes deles: é
uma entrada perene na liturgia celeste, desde sempre em acto. A liturgia celeste
é isto somente pelo facto de que se insere no que já existe, naquilo que é maior,
que dá sentido à vida. "Mens nostra concordet voci nostrae". Não é o homem
que inventa algo e depois canta, ao contrário é o canto que lhe provém dos
anjos. Ele deve elevar o seu coração a fim de que esteja em harmonia com esta
tonalidade que lhe chega do alto.

Na Liturgia da Igreja muitas vezes repetimos o versículo do salmo 137: "Na


presença dos poderosos te hei-de louvar". São Bento comenta-o assim:
"Reflictamos então sobre como se deva ser e estar diante da divindade e dos
anjos, e executemos o nosso canto de modo que o nosso coração seja um
uníssono com as nossas vozes".

Poder-se-ia dizer com São Paulino de Nola: "A nossa única arte é a fé e Cristo é
o nosso canto". De facto, há um estreito vínculo entre música e fé, entre música
e oração. A fé que se torna música é uma parte do processo de encarnação da
Palavra. A este propósito cito um belíssimo texto, denso de significado, do
Cardeal Joseph Ratzinger, actual Bento XVI:

"O transformar-se em música da Palavra é por um lado encarnação, um atrair a


si forças pré-racionais e metarracionais, que se tornam também sensíveis; o
atrair a si o som escondido da criação, o descobrir o canto que repousa no
fundo das coisas. Mas assim este mesmo transformar-se em música é já também
tornar-se movimento: não é só encarnação da Palavra, mas ao mesmo tempo,

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !27


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espiritualização da carne. A madeira e o metal tornam-se som, o inconsciente e


o indistinto tornam-se sonoridade harmoniosa, repleta de
significado" (Ratzinger J., Cantate al Signore un canto nuovo, Jaca Book 1996,
p.148).

Quando o homem louva a Deus, a palavra sozinha é insuficiente. A palavra


dirigida a Deus transcende os limites da linguagem humana. Por este motivo a
palavra pede ajuda à música, o cantar conjuga-se com a voz da criação no som
dos instrumentos. Inúmeras vezes a Palavra bíblica fez-se imagem, música,
poesia, ao evocar com a linguagem da arte o mistério do "Verbo feito carne".

Por conseguinte, é justo que cada confirmação de alegria por um evento tenha
uma sua manifestação exterior. Ela está a indicar que a Igreja se alegra pela
salvação. Convida todos à alegria e esforça-se por criar as condições a fim de
que as energias salvíficas possam ser comunicadas a cada um (cf. João Paulo II,
Tertio Millennio adveniente).

Toda a Bíblia Antigo e Novo Testamentos e não somente o livro orante dos
Salmos, inclui hinos, súplicas, acção de graças, cantos de confiança. Comecemos
pelos patriarcas, passamos através da aventura do êxodo do Egipto, penetramos
na terra prometida conquistada, vagamos com os Judeus exilados "ao longo dos
rios da Babilónia", para chegar às portas do cristianismo com o canto do
Magnificat de Maria.

Gostaria de concluir com as palavras de Bento XVI aos "Philharmonia Quartett


Berlin", pronunciadas após uma maravilhosa execução na Sala Clementina,
sábado passado, 18 de Novembro: "Vemos que a música pode conduzir-nos à
oração: ela convida-nos a elevar a mente a Deus, para encontrar nele as razões
da nossa esperança e a assistência nas dificuldades da vida.

Fiéis aos seus mandamentos e respeitosos do seu plano salvífico, podemos


construir juntos um mundo em que ressoe a melodia consoladora de uma
transcendente sinfonia de amor. Aliás, é o próprio Espírito divino que
transformará todos nós em instrumentos bem harmonizados e em
colaboradores responsáveis de uma admirável execução, em que o plano da
salvação universal está a expressar-se ao longo dos séculos".

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !28


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MENSAGEM DO
PAPA BENTO XVI
AO CARDEAL FRANCIS
ARINZE POR OCASIÃO
DA JORNADA DE ESTUDOS
SOBRE O TEMA:
«MÚSICA SACRA:
UM DESAFIO
LITÚRGICO E PASTORAL»

Venerado Irmão
Cardeal FRANCIS ARINZE
Prefeito da Congregação para o Culto Divino
e a Disciplina dos Sacramentos

Com grande satisfação, tomei conhecimento de que a Congregação para o


Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos promoveu uma Jornada de
Estudos sobre a música sacra, que terá lugar no Vaticano a 5 de Dezembro
próximo. É-me grato dirigir a Vossa Eminência, Senhor Cardeal, aos

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !29


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colaboradores dessa Congregação, como também aos ilustres Relatores e a


todos os participantes uma cordial saudação e a expressão da minha
proximidade espiritual, garantindo uma recordação particular na oração, para
que essa oportuna iniciativa produza os frutos pastorais esperados.

O Congresso pretende corresponder à vontade do Venerado Papa João Paulo II


que, no Quirógrafo emanado por ocasião do centenário do motu proprio "Tra
le sollecitudini", pediu a essa Congregação para intensificar a atenção pelo
sector da música sacra litúrgica. Fazendo minha a instância do amado
Predecessor, desejo encorajar os cultores da música sacra a prosseguir neste
caminho. É importante estimular, como é intenção do presente Simpósio, a
reflexão e o confronto sobre a relação entre música e liturgia, vigiando sempre
sobre a prática e as experimentações, em constante entendimento e colaboração
com as Conferências Episcopais das várias nações.

Faço votos, de coração, para que seja uma profícua jornada de aprofundamento
e de escuta e, enquanto invoco a celeste intercessão da Bem-Aventurada Virgem
Maria e de santa Cecília, de bom grado concedo a implorada Bênção
Apostólica a Vossa Eminência, Senhor Cardeal, e a quantos intervêm nos
trabalhos congressuais.

Vaticano, 1 de Dezembro de 2005

PAPA BENTO XVI

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !30


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QUIRÓGRAFO DO SUMO
PONTÍFICE JOÃO PAULO II
NO CENTENÁRIO DO
MOTU PROPRIO
«TRA LE SOLLECITUDINI»
SOBRE A MÚSICA SACRA

Quirógrafo pelo centenário do Motu Proprio "Tra le sollecitudini" sobre a


música sacra (3 de dezembro de 2003) | João Paulo II

1. Impelido por um profundo desejo "de manter e de promover o decoro da


Casa de Deus", o meu Predecessor São Pio X emanava, há cem anos, o Motu
proprio Tra le sollecitudini, que tinha como objecto a renovação da música
sacra nas funções do culto. Com isso, ele pretendia oferecer à Igreja indicações
concretas naquele sector vital da Liturgia, apresentando-a "quase como um
código jurídico da música sacra"[1]. Tal intervenção, igualmente, fazia parte do
programa do seu pontificado, que ele tinha resumido no dístico:"Instaurare
omnia in Christo".

A data centenária do documento oferece-me a ocasião para destacar a


importante função da música sacra, que São Pio X apresenta seja como um
meio de elevação do espírito a Deus, seja como ajuda para os fiéis na
"participação activa nos sacrossantos mistérios e na oração pública e solene da
Igreja"[2].

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !31


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A especial atenção que é necessário reservar à música sacra recorda o Santo


Pontífice, deriva do facto de que, "como parte integrante da solene liturgia, dela
faz parte a finalidade geral que é a glória de Deus e a santificação e a edificação
dos fiéis"[3]. Interpretando e expressando o sentido profundo do sagrado texto
ao qual está intimamente unida, ela é capaz de "acrescentar maior eficácia ao
mesmo texto, para que os fiéis [...] se disponham melhor para acolher em si os
frutos da graça, que são próprios da celebração dos sacrossantos mistérios"[4].

2. Este delineamento foi retomado pelo Concílio Ecuménico Vaticano II, no


capítulo VI da Constituição Sacrosanctum concilium sobre a sagrada Liturgia,
onde menciona com clareza a função eclesial da música sacra: "A tradição
musical de toda a Igreja constitui um património de inestimável valor, que
sobressai entre as outras expressões de arte, especialmente pelo facto de que o
canto sacro, unido às palavras, é uma parte necessária e integral da liturgia
solene"[5]. O Concílio recorda, ainda, que "o canto sacro é elogiado seja pela
Sagrada Escritura, seja pelos Padres, seja ainda pelos Pontífices Romanos que
recentemente, a começar por São Pio X, sublinharam com insistência a tarefa
ministerial da música sacra no serviço divino"[6].

Continuando, de facto, a antiga tradição bíblica, à qual o mesmo Senhor e os


Apóstolos se mantiveram apegados (cf. Mt 26, 30; Ef 5, 19; Cl 3, 16), a Igreja,
ao longo de toda a sua história, favoreceu o canto nas celebrações litúrgicas,
oferecendo segundo a criatividade de cada cultura, maravilhosos exemplos de
comentário melódico dos textos sagrados, nos ritos tanto do Ocidente como do
Oriente.

Portanto, foi constante a atenção dos meus Predecessores a este delicado sector,
a propósito do qual foram evocados os princípios fundamentais que devem
animar a produção da música sacra, especialmente destinada à Liturgia. Além
do Papa São Pio X, devem ser recordados, entre outros, os Papas Bento XIV,
com a Encíclica Annus qui (19 de Fevereiro de 1749); Pio XII, com as Encíclicas
Mediator Dei (20 de Dezembro de 1947) e Musicae sacrae disciplina (25 de
Dezembro de 1955); e, finalmente, Paulo VI, com os luminosos
pronunciamentos que disseminou em múltiplas oportunidades.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !32


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Os Padres do Concílio Vaticano II não deixaram de reforçar tais princípios, em


vista da sua aplicação às condições transitórias dos tempos. Fizeram-no num
capítulo especial, o sexto, da Constituição Sacrosanctum concilium. O Papa
Paulo VI procedeu, pois, à tradução daqueles princípios em normas concretas,
sobretudo por meio da Instrução Musicam sacram, emanada com a sua
aprovação em 5 de Março de 1967, pela então Sagrada Congregação para os
Ritos. É preciso voltar constantemente àqueles princípios de inspiração
conciliar, para promover, em conformidade com as exigências da reforma
litúrgica, um desenvolvimento que esteja, também neste campo, à altura da
tradição litúrgico musical da Igreja. O texto da Constituição Sacrosanctum
concilium onde se afirma que a Igreja "aprova e admite no culto todas as formas
de verdadeira arte, dotadas das devidas qualidades"[7], encontra os critérios
adequados de aplicação nos nn. 50-53 da Instrução Musicam sacram, agora
mencionada[8].

3. Em diferentes ocasiões, também eu me referi à preciosa função e à grande


importância da música e do canto para uma participação mais activa e intensa
nas celebrações litúrgicas[9], e sublinhei a necessidade de "purificar o culto de
dispersões de estilos, das formas descuidadas de expressão, de músicas e textos
descurados e pouco conformes com a grandeza do acto que se celebra"[10],
para assegurar dignidade e singeleza das formas à música litúrgica.

Em tal perspectiva, à luz do magistério de São Pio X e dos meus outros


Predecessores, e considerando em particular os pronunciamentos do Concílio
Vaticano II, desejo repropor alguns princípios fundamentais para este
importante sector da vida da Igreja, com a intenção de fazer com que a música
sacra corresponda cada vez mais à sua função específica.

4. Em conformidade com os ensinamentos de São Pio X e do Concílio Vaticano


II, é preciso sublinhar acima de tudo que a música destinada aos sagrados ritos
deve ter como ponto de referência a santidade: ela, de facto, "será tanto mais
santa quanto mais estreitamente for unida à acção litúrgica"[11]. Por este exacto
motivo, "não é indistintamente tudo aquilo que está fora do templo (profanum)
que é apto a ultrapassar-lhe os umbrais", afirmava sabiamente o meu venerável
Predecessor Paulo VI, comentando um decreto do Concílio de Trento[12] e
destacava que "se não se possui ao mesmo tempo o sentido da oração, da

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !33


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dignidade e da beleza, a música instrumental e vocal impede por si o ingresso na


esfera do sagrado e do religioso"[13]. Por outro lado, a mesma categoria de
"música sacra" recebeu hoje um alargamento de significado, a ponto de incluir
repertórios que não podem entrar na celebração sem violar o espírito e as
normas da mesma Liturgia.

A reforma realizada por São Pio X visava especificamente purificar a música de


igreja da contaminação da música profana teatral, que em muitos países tinha
poluído o repertório e a prática musical litúrgica. Também nos nossos tempos é
preciso considerar atentamente, como evidenciei na Encíclica Ecclesia de
Eucharistia, que nem todas as expressões de artes figurativas e de música são
capazes de "expressar adequadamente o Mistério acolhido na plenitude da fé da
Igrejas"[14]. Consequentemente, nem todas as formas musicais podem ser
consideradas aptas para as celebrações litúrgicas.

5. Outro princípio enunciado por São Pio X no Motu proprio Tra le


sollecitudini, princípio este intimamente ligado ao precedente, é o da singeleza
das formas. Não pode existir uma música destinada à celebração dos sagrados
ritos que não seja, antes, "verdadeira arte", capaz de ter a eficácia "que a Igreja
deseja obter, acolhendo na sua liturgia a arte dos sons"[15].

Todavia, esta qualidade por si só não é suficiente. A música litúrgica deve, de


facto, responder aos seus requisitos específicos: a plena adesão aos textos que
apresenta, a consonância com o tempo e o momento litúrgico para o qual é
destinada, a adequada correspondência aos gestos que o rito propõe. Os vários
momentos litúrgicos exigem, de facto, uma expressão musical própria, sempre
apta a fazer emergir a natureza própria de um determinado rito, ora
proclamando as maravilhas de Deus, ora manifestando sentimentos de louvor,
de súplica ou ainda de melancolia pela experiência da dor humana, uma
experiência, porém, que a fé abre à perspectiva da esperança cristã.

6. Os cantos e as músicas exigidos pela reforma litúrgica é bom sublinhá-lo


devem corresponder também às legítimas exigências de adaptação e de
inculturação. É evidente, porém, que cada inovação nesta delicada matéria deve
respeitar os critérios peculiares, como a investigação de expressões musicais, que
correspondam à participação necessária de toda a assembleia na celebração e

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !34


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que evitem, ao mesmo tempo, qualquer concessão à leviandade e à


superficialidade. É necessário, portanto, evitar, em última análise, aquelas
formas de "inculturação", em sentido elitário, que introduzem na Liturgia
composições antigas ou contemporâneas que possuem talvez um valor artístico,
mas que induzem a uma linguagem realmente incompreensível.

Neste sentido, São Pio X indicava usando o termo universalidade um ulterior


requisito da música destinada ao culto: "...mesmo concedendo a cada nação ele
considerava de admitir nas composições religiosas formas particulares que
constituem de certo modo o carácter específico da música que lhes é própria,
elas não devem estar de tal modo subordinadas ao carácter geral da música
sacra, que ninguém de outra nação, ao ouvi-la, tenha uma impressão
negativa"[16]. Por outras palavras, o espaço sagrado da celebração litúrgica
jamais deve tornar-se um laboratório de experiências ou de práticas de
composição e de execução, introduzidas sem uma verificação atenta.

7. Entre as expressões musicais que mais correspondem à qualidade requerida


pela noção de música sacra, particularmente a litúrgica, o canto gregoriano
ocupa um lugar particular. O Concílio Vaticano II reconhece-o como "canto
próprio da liturgia romana"[17] à qual é preciso reservar, na igualdade das
condições, o primeiro lugar nas acções litúrgicas celebradas com canto em
língua latina [18]. São Pio X ressaltava que a Igreja "o herdou dos antigos
Padres", "guardando-o ciosamente durante os séculos nos seus códigos
litúrgicos" e ainda hoje o "propõe aos fiéis" como seu, considerando-o "como
supremo modelo de música sacra"[19]. O canto gregoriano, portanto, continua
a ser também hoje, um elemento de unidade na liturgia romana.

Como já fazia São Pio X, também o Concílio Vaticano II reconhece que "os
outros géneros de música sacra, e especialmente a polifonia, não estão excluídos
de modo algum da celebração dos ofícios divinos"[20]. É preciso, portanto,
avaliar com atenção as novas linguagens musicais, para recorrer à possibilidade
de expressar também com elas as inextinguíveis riquezas do Mistério reproposto
na Liturgia e favorecer assim a participação activa dos fiéis nas diversas
celebrações [21].

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !35


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8. A importância de conservar e de incrementar o património secular da Igreja


leva a ter em particular consideração uma exortação específica da Constituição
Sacrosanctum concilium:[22] "Promovam-se com empenho, sobretudo nas
Igrejas Catedrais, as "Scholae Cantorum". Por sua vez, a Instrução Musicam
sacram determina a função ministerial da schola: "É digno de particular
atenção, para o serviço litúrgico que desenvolve, o coro ou a capela musical ou
ainda schola cantorum [23]. No que se refere às normas conciliares da reforma
litúrgica, a sua tarefa tornou-se ainda mais relevante e importante: deve,
realmente, prover à execução exacta das partes que lhe são próprias, segundo os
diversos tipos de cânticos, e favorecer a participação activa dos fiéis no canto.
Portanto [...] promova-se com especial cuidado especialmente nas catedrais e
nas outras igrejas maiores, nos seminários e nas casas de formação religiosas, um
coro ou uma capela musical ou ainda uma schola cantorum". A tarefa da schola
não foi diminuída: ela, de facto, desenvolve na assembleia a função de guia e de
sustento e, nalguns momentos da Liturgia, desempenha a sua função específica.

Da boa coordenação de todos o sacerdote celebrante e o diácono, os acólitos, os


ministros, os leitores, o salmista, a schola cantorum, os músicos, o cantor e a
assembleia decorre aquele clima espiritual que torna o momento litúrgico
realmente intenso, participado e frutífero. O aspecto musical das celebrações
litúrgicas, portanto, não pode ser relegado nem à improvisação nem ao arbítrio
de pessoas individualmente, mas há-de ser confiado a uma direcção
harmoniosa, no respeito pelas normas e as competências, como significativo
fruto de uma formação litúrgica adequada.

9. Também neste campo, portanto, se evidencia a urgência de promover uma


formação sólida, quer dos pastores quer dos fiéis leigos. São Pio X insistia
particularmente sobre a formação musical do clero. Uma insistência neste
sentido foi reforçada também pelo Vaticano II: "Dê-se-lhes grande importância
nos Seminários, nos Noviciados dos religiosos e das religiosas e nas casas de
estudo, assim como noutros institutos e escolas católicas"[24]. Esta indicação
ainda deve ser plenamente realizada. Portanto, considero oportuno recordá-la,
para que os futuros pastores possam adquirir uma sensibilidade adequada
também neste campo.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !36


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Nesta obra formativa, um papel especial é desempenhado pelas escolas de


música sacra, que São Pio X exortava a apoiar e promover[25], e que o
Concílio Vaticano II recomenda a instituir onde for possível [26]. Fruto concreto
da reforma de São Pio X foi a erecção em Roma, em 1911, oito anos depois do
Motu proprio, da "Pontifícia Escola Superior de Música Sacra", que em seguida
se tornou "Pontifício Instituto de Música Sacra". Além desta instituição
académica, já quase centenária, que desempenhou e ainda desempenha um
serviço qualificado na Igreja, existem muitas outras Escolas instituídas nas
Igrejas particulares que merecem ser apoiadas e incrementadas para um melhor
conhecimento e execução da boa música litúrgica.

10. Dado que a Igreja sempre reconheceu e favoreceu o progresso das artes, não
é de se admirar que, além do canto gregoriano e da polifonia, admita nas
celebrações também a música moderna, desde que seja respeitosa do espírito
litúrgico e dos verdadeiros valores da arte. Portanto, permite-se que as Igrejas
nas diversas Nações valorizem, nas composições destinadas ao culto, "aquelas
formas particulares que constituem de certo modo o carácter específico da
música que lhes é própria"[27]. Na linha do meu Predecessor e de quanto se
estabeleceu mais recentemente na Constituição Sacrosanctum concilium [28],
também eu, na Encíclica Ecclesia de Eucharistia, procurei abrir espaço às novas
formas musicais, mencionando juntamente com as inspiradas melodias
gregorianas, "os numerosos e, frequentemente, grandes autores que se
afirmaram com os textos litúrgicos da Santa Missa"[29].

11. O século passado, com a renovação realizada pelo Concílio Vaticano II,
conheceu um desenvolvimento especial do canto popular religioso, do qual a
Sacrosanctum concilium diz: "Promova-se com grande empenhamento o canto
popular religioso, para que os fiéis possam cantar, tanto nos exercícios de
piedade como nos próprios actos litúrgicos"[30]. Este canto apresenta-se
particularmente apto para a participação dos fiéis, não apenas nas práticas
devocionais, "segundo as normas e o que se determina nas rubricas"[31], mas
igualmente na própria Liturgia. O canto popular, de facto, constitui um "vínculo
de unidade, uma expressão alegre da comunidade orante, promove a
proclamação de uma única fé e dá às grandes assembleias litúrgicas uma
incomparável e recolhida solenidade"[32].

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !37


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12. No que diz respeito às composições musicais litúrgicas, faço minha a "regra
geral" que são Pio X formulava com estes termos: "Uma composição para a
Igreja é tanto sacra e litúrgica quanto mais se aproximar, no andamento, na
inspiração e no sabor, da melodia gregoriana, e tanto menos é digna do templo,
quanto mais se reconhece disforme daquele modelo supremo"[33]. Não se trata,
evidentemente, de copiar o canto gregoriano, mas muito mais de considerar que
as novas composições sejam absorvidas pelo mesmo espírito que suscitou e,
pouco a pouco, modelou aquele canto. Somente um artista profundamente
mergulhado no sensus Ecclesiae pode procurar compreender e traduzir em
melodia a verdade do Mistério que se celebra na Liturgia[34]. Nesta
perspectiva, na Carta aos Artistas escrevo: "Quantas composições sacras foram
elaboradas, ao longo dos séculos, por pessoas profundamente imbuídas pelo
sentido do mistério! Crentes sem número alimentaram a sua fé com as melodias
nascidas do coração de outros crentes, que se tornaram parte da Liturgia ou
pelo menos uma ajuda muito válida para a sua decorosa realização. No cântico,
a fé é sentida como uma exuberância de alegria, de amor, de segura esperança
da intervenção salvífica de Deus" [35] (Ed. port. de L'Osserv. Rom. n. 18, pág.
211, n. 12).

Portanto, é necessária uma renovada e mais profunda consideração dos


princípios que devem estar na base da formação e da difusão de um repertório
de qualidade. Somente assim se poderá permitir que a expressão musical sirva
de modo apropriado a sua finalidade última, que "é a glória de Deus e a
santificação dos fiéis"[36].

Sei ainda que também hoje não faltam compositores capazes de oferecer, neste
espírito, a sua contribuição indispensável e a sua colaboração competente para
incrementar o património da música, ao serviço da Liturgia cada vez mais
intensamente vivida. Dirijo-lhes a expressão da minha confiança, unida à
exortação mais cordial, para que se empenhem com esmero em vista de
aumentar o repertório de composições que sejam dignas da excelência dos
mistérios celebrados e, ao mesmo tempo, aptas para a sensibilidade hodierna.

13. Por fim, gostaria ainda de recordar aquilo que São Pio X dispunha no plano
prático, com a finalidade de favorecer a aplicação efectiva das indicações
apresentadas no Motu proprio. Dirigindo-se aos Bispos, ele prescrevia que

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !38


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instituíssem nas suas dioceses "uma comissão especial de pessoas


verdadeiramente competentes em matéria de música sacra"[37]. Onde a
disposição pontifícia foi posta em prática, não faltaram os frutos. Actualmente,
são numerosas as Comissões nacionais, diocesanas e interdiocesanas que
oferecem a sua contribuição preciosa para a preparação dos repertórios locais,
procurando realizar um discernimento que considere a qualidade dos textos e
das músicas. Faço votos a fim de que os Bispos continuem a secundar o esforço
destas Comissões, favorecendo-lhes a eficácia no âmbito pastoral[38].

À luz da experiência amadurecida nestes anos, para melhor assegurar o


cumprimento do importante dever de regulamentar e promover a sagrada
Liturgia, peço à Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos
Sacramentos que intensifique a atenção, segundo as suas finalidades
institucionais[39], aos sectores da música sacra litúrgica, valendo-se das
competências das diversas Comissões e Instituições especializadas nesse campo,
como também da contribuição do Pontifício Instituto de Música Sacra. É
importante, de facto, que as composições musicais utilizadas nas celebrações
litúrgicas correspondam aos critérios enunciados por São Pio X e sabiamente
desenvolvidos, quer pelo Concílio Vaticano II quer pelo sucessivo Magistério da
Igreja. Nesta perspectiva, estou persuadido de que também as Conferências
episcopais hão-de realizar cuidadosamente o exame dos textos destinados ao
canto litúrgico[40], e prestar uma atenção especial à avaliação e promoção de
melodias que sejam verdadeiramente aptas para o uso sacro[41].

14. Ainda no plano prático, o Motu proprio do qual se celebra o centenário,


aborda também a questão dos instrumentos musicais a serem utilizados na
Liturgia latina. Dentre eles, reconhece sem hesitação a prevalência do órgão de
tubos, sobre cujo uso estabelece normas oportunas[42]. O Concílio Vaticano II
acolheu plenamente a orientação do meu Predecessor, estabelecendo: "Tenha-se
grande apreço, na Igreja latina, pelo órgão de tubos, instrumento musical
tradicional e cujo som é capaz de trazer às cerimónias do culto um esplendor
extraordinário e elevar poderosamente o espírito a Deus e às coisas
celestes"[43].

Deve-se, porém, reconhecer que as composições actuais utilizam


frequentemente modos musicais diversificados não desprovidos da sua

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !39


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dignidade. Na medida em que servem de ajuda para a oração da Igreja, podem


revelar-se como um enriquecimento precioso. É preciso, porém, vigiar a fim de
que os instrumentos sejam aptos para o uso sacro, correspondam à dignidade do
templo, possam sustentar o canto dos fiéis e favoreçam a sua edificação.

15. Desejo que a comemoração centenária do Motu proprio Tra le sollecitudini,


por intercessão do seu santo Autor, conjuntamente com Santa Cecília, Padroeira
da música sacra, sirva de encorajamento e estímulo para aqueles que se ocupam
deste importante aspecto das celebrações litúrgicas. Os cultores da música sacra,
dedicando-se com impulso renovado a um sector de relevância tão vital,
contribuem para o amadurecimento da vida espiritual do Povo de Deus. Os
fiéis, por sua vez, expressando de modo harmónico e solene a sua própria fé
com o canto, experimentarão cada vez mais profundamente a riqueza e
harmonizar-se-ão no esforço em vista de traduzir os seus impulsos nos
comportamentos da vida quotidiana. Poder-se-á, assim, alcançar, graças ao
compromisso concorde dos pastores de almas, dos músicos e dos fiéis, aquilo que
a Constituição Sacrosanctum concilium qualifica como verdadeira "finalidade
da música sacra", isto é, "a glória de Deus e a santificação dos fiéis"[44].

Nisto, sirva também de exemplo e modelo a Virgem Maria, que soube cantar de
modo único, no Magnificat, as maravilhas que Deus realizou na história do
homem. Com estes bons votos, concedo-vos a todos a minha afectuosa Bênção.

Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 22 de Novembro de 2003, memória


de Santa Cecília, no vigésimo sexto ano de Pontificado.

IOANNES PAULUS II

Notas

[1] Pio X, Pontificis Maximi Acta, vol. I, pág. 77.

[2] Ibidem.

[3] Ibid., n. 1, pág. 78.

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[4] Ibidem.

[5] N. 12.

[6] Ibidem.

[7] Ibidem.

[8] Cf. AAS 59 (1967), pp. 312-316.

[9] Cf., por exemplo, Discurso ao Pontifício Instituto de Música Sacra no 90


aniversário de fundação (19 de Janeiro de 2001), 1: Insegnamenti XXIV/1
(2001), pág. 194.

[10] Audiência geral de 26 de Fevereiro de 2003, 3: L'Osservatore Romano (ed.


port. de 1.3.2003), pág. 124.

[11] Concílio Ecuménico Vaticano II, Const. sobre a Liturgia Sacrosanctum


concilium, 112.

[12] Discurso aos participantes da assembleia geral da Associação Italiana Santa


Cecília (18 de Setembro de 1968), em: Insegnamenti VI (1968), pág. 479.

[13] Ibidem.

[14] N. 50, em: AAS (2003), pág. 467.

[15] N. 2, pág. 78.

[16] Ibid., pp. 78-79.

[17] Const. sobre a sagrada Liturgia Sacrosanctum concilium, 116.

[18] Cf. S. Congregação para os Ritos, Instrução sobre a música na sagrada


Liturgia Musicam sacram (5 de Março de 1967), 50, em: AAS 59 (1967), 314.

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[19] Motu proprio Tra le sollecitudini, n. 3, pág. 79.

[20] Const. sobre a sagrada Liturgia Sacrosanctum concilium, 116.

[21] Cf. Ibid., n. 30.

[22] Ibid., n. 114.

[23] N. 19, em: AAS 59 (1967), 306.

[24] Const. sobre a sagrada Liturgia Sacrosanctum concilium, 115.

[25] Cf. Motu proprio Tra le sollecitudini, n. 28, pág. 86.

[26] Cf. Const. sobre a sagrada Liturgia Sacrosanctum concilium, 115.

[27] Pio X, Motu proprio Tra le sollecitudini, n. 2, pág. 79

[28] Cf. n. 119.

[29] N. 49, em: AAS 95 (2003), pág. 466.

[30] N. 118.

[31] Ibidem.

[32] João Paulo II, Discurso no Congresso Internacional de Música Sacra (27 de
Janeiro de 2001), 4, em: Insegnamenti XXIV/1 (2001), pp. 239-240.

[33] Motu proprio Tra le sollecitudini, n. 3, pág. 79.

[34] Cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Const. sobre a sagrada Liturgia
Sacrosanctum concilium, 112.

[35] N. 12, em: Insegnamenti XXII/1 (1999), pág. 718.

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[36] Concílio Ecuménico Vaticano II, Const. sobre a sagrada Liturgia


Sacrosanctum concilium, 112.

[37] Motu proprio Tra le sollecitudini, n. 24, pág. 85.

[38] Cf. João Paulo II, Carta ap. Vicesimus quintus annus (4 de Dezembro de
1987), 20: AAS 81 (1989), pág. 916.

[39] Cf. João Paulo II, Const. ap. Pastor Bonus (28 de Junho de 1988), 65, em:
AAS 80 (1988), pág. 877.

[40] Cf. João Paulo II, Carta enc. Dies Domini (31 de Maio de 1998), 50, em:
AAS 90 (1998), pág. 745; Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos
Sacramentos, Instr. Liturgiam authenticam (28 de Março de 2001), 108, em:
AAS (2001), pág. 719.

[41] Institutio generalis Missalis Romani, editio typica III, pág. 393.

[42] Motu proprio Tra le sollecitudini, nn. 15-18, pág. 84.

[43] Concílio Ecuménico Vaticano II, Const. sobre a sagrada Liturgia


Sacrosanctum concilium, 120.

[44] Ibid., n. 112.

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CARTA DO
PAPA JOÃO PAULO II
AOS ARTISTAS

4 de abril de 1999

A todos aqueles que apaixonadamente


procuram novas « epifanias » da beleza
para oferecê-las ao mundo
como criação artística.

« Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa » (Gn 1,31).

O artista, imagem de Deus Criador

1. Ninguém melhor do que vós, artistas, construtores geniais de beleza, pode


intuir algo daquele pathos com que Deus, na aurora da criação, contemplou a
obra das suas mãos. Infinitas vezes se espelhou um relance daquele sentimento
no olhar com que vós — como, aliás, os artistas de todos os tempos —,
maravilhados com o arcano poder dos sons e das palavras, das cores e das
formas, vos pusestes a admirar a obra nascida do vosso génio artístico, quase
sentindo o eco daquele mistério da criação a que Deus, único criador de todas
as coisas, de algum modo vos quis associar.

Pareceu-me, por isso, que não havia palavras mais apropriadas do que as do
livro do Génesis para começar esta minha Carta para vós, a quem me sinto
ligado por experiências dos meus tempos passados e que marcaram
indelevelmente a minha vida. Ao escrever-vos, desejo dar continuidade àquele
fecundo diálogo da Igreja com os artistas que, em dois mil anos de história,

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !44


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nunca se interrompeu e se prevê ainda rico de futuro no limiar do terceiro


milénio.

Na realidade, não se trata de um diálogo ditado apenas por circunstâncias


históricas ou motivos utilitários, mas radicado na própria essência tanto da
experiência religiosa como da criação artística. A página inicial da Bíblia
apresenta-nos Deus quase como o modelo exemplar de toda a pessoa que
produz uma obra: no artífice, reflecte-se a sua imagem de Criador. Esta relação
é claramente evidenciada na língua polaca, com a semelhança lexical das
palavras stwórca (criador) e twórca (artífice).

Qual é a diferença entre « criador » e « artífice »? Quem cria dá o próprio ser,


tira algo do nada — ex nihilo sui et subiecti, como se costuma dizer em latim —
e isto, em sentido estrito, é um modo de proceder exclusivo do Omnipotente. O
artífice, ao contrário, utiliza algo já existente, a que dá forma e significado. Este
modo de agir é peculiar do homem enquanto imagem de Deus. Com efeito,
depois de ter afirmado que Deus criou o homem e a mulher « à sua imagem
» (cf. Gn 1,27), a Bíblia acrescenta que Ele confiou-lhes a tarefa de dominarem a
terra (cf. Gn 1,28). Foi no último dia da criação (cf. Gn 1,28-31). Nos dias
anteriores, como que marcando o ritmo da evolução cósmica, Javé tinha criado
o universo. No final, criou o homem, o fruto mais nobre do seu projecto, a
quem submeteu o mundo visível como um campo imenso onde exprimir a sua
capacidade inventiva.

Por conseguinte, Deus chamou o homem à existência, dando-lhe a tarefa de ser


artífice. Na « criação artística », mais do que em qualquer outra actividade, o
homem revela-se como « imagem de Deus », e realiza aquela tarefa, em
primeiro lugar plasmando a « matéria » estupenda da sua humanidade e depois
exercendo um domínio criativo sobre o universo que o circunda. Com amorosa
condescendência, o Artista divino transmite uma centelha da sua sabedoria
transcendente ao artista humano, chamando-o a partilhar do seu poder criador.
Obviamente é uma participação, que deixa intacta a infinita distância entre o
Criador e a criatura, como sublinhava o Cardeal Nicolau Cusano: « A arte
criativa, que a alma tem a sorte de albergar, não se identifica com aquela arte
por essência que é própria de Deus, mas constitui apenas comunicação e
participação dela ».[1]

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !45


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Por isso, quanto mais consciente está o artista do « dom » que possui, tanto mais
se sente impelido a olhar para si mesmo e para a criação inteira com olhos
capazes de contemplar e agradecer, elevando a Deus o seu hino de louvor. Só
assim é que ele pode compreender-se profundamente a si mesmo e à sua
vocação e missão.

A vocação especial do artista

2. Nem todos são chamados a ser artistas, no sentido específico do termo. Mas,
segundo a expressão do Génesis, todo o homem recebeu a tarefa de ser artífice
da própria vida: de certa forma, deve fazer dela uma obra de arte, uma obra-
prima.

É importante notar a distinção entre estas duas vertentes da actividade humana,


mas também a sua conexão. A distinção é evidente. De facto, uma coisa é a
predisposição pela qual o ser humano é autor dos próprios actos e responsável
do seu valor moral, e outra a predisposição pela qual é artista, isto é, sabe agir
segundo as exigências da arte, respeitando fielmente as suas regras específicas.
[2] Assim, o artista é capaz de produzir objectos, mas isso de per si ainda não
indica nada sobre as suas disposições morais. Neste caso, não se trata de
plasmar-se a si mesmo, de formar a própria personalidade, mas apenas de fazer
frutificar capacidades operativas, dando forma estética às ideias concebidas pela
mente.

Mas, se a distinção é fundamental, importante é igualmente a conexão entre as


duas predisposições: a moral e a artística. Ambas se condicionam de forma
recíproca e profunda. De facto, o artista, quando modela uma obra, exprime-se
de tal modo a si mesmo que o resultado constitui um reflexo singular do próprio
ser, daquilo que ele é e de como o é. Isto aparece confirmado inúmeras vezes na
história da humanidade. De facto, quando o artista plasma uma obra-prima,
não dá vida apenas à sua obra, mas, por meio dela, de certo modo manifesta
também a própria personalidade. Na arte, encontra uma dimensão nova e um
canal estupendo de expressão para o seu crescimento espiritual. Através das
obras realizadas, o artista fala e comunica com os outros. Por isso, a História da
Arte não é apenas uma história de obras, mas também de homens. As obras de

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !46


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arte falam dos seus autores, dão a conhecer o seu íntimo e revelam o contributo
original que eles oferecem à história da cultura.

A vocação artística ao serviço da beleza

3. Um conhecido poeta polaco, Cyprian Norwid, escreveu: « A beleza é para


dar entusiasmo ao trabalho, o trabalho para ressurgir ».[3]

O tema da beleza é qualificante, ao falar de arte. Esse tema apareceu já, quando
sublinhei o olhar de complacência que Deus lançou sobre a criação. Ao pôr em
relevo que tudo o que tinha criado era bom, Deus viu também que era belo.[4]
A confrontação entre o bom e o belo gera sugestivas reflexões. Em certo sentido,
a beleza é a expressão visível do bem, do mesmo modo que o bem é a condição
metafísica da beleza. Justamente o entenderam os Gregos, quando, fundindo os
dois conceitos, cunharam uma palavra que abraça a ambos: « kalokagathía »,
ou seja, « beleza-bondade ». A este respeito, escreve Platão: « A força do Bem
refugiou-se na natureza do Belo ».[5]

Vivendo e agindo é que o homem estabelece a sua relação com o ser, a verdade
e o bem. O artista vive numa relação peculiar com a beleza. Pode-se dizer, com
profunda verdade, que a beleza é a vocação a que o Criador o chamou com o
dom do « talento artístico ». E também este é, certamente, um talento que, na
linha da parábola evangélica dos talentos (cf. Mt 25,14-30), se deve pôr a render.

Tocamos aqui um ponto essencial. Quem tiver notado em si mesmo esta espécie
de centelha divina que é a vocação artística — de poeta, escritor, pintor,
escultor, arquitecto, músico, actor... —, adverte ao mesmo tempo a obrigação de
não desperdiçar este talento, mas de o desenvolver para colocá-lo ao serviço do
próximo e de toda a humanidade.

O artista e o bem comum

4. De facto, a sociedade tem necessidade de artistas, da mesma forma que


precisa de cientistas, técnicos, trabalhadores, especialistas, testemunhas da fé,
professores, pais e mães, que garantam o crescimento da pessoa e o progresso da
comunidade, através daquela forma sublime de arte que é a « arte de educar ».

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No vasto panorama cultural de cada nação, os artistas têm o seu lugar


específico. Precisamente enquanto obedecem ao seu génio artístico na
realização de obras verdadeiramente válidas e belas, não só enriquecem o
património cultural da nação e da humanidade inteira, mas prestam também
um serviço social qualificado ao bem comum.

A vocação diferente de cada artista, ao mesmo tempo que determina o âmbito


do seu serviço, indica também as tarefas que deve assumir, o trabalho duro a
que tem de sujeitar-se, a responsabilidade que deve enfrentar. Um artista,
consciente de tudo isto, sabe também que deve actuar sem deixar-se dominar
pela busca duma glória efémera ou pela ânsia de uma popularidade fácil, e
menos ainda pelo cálculo do possível ganho pessoal. Há, portanto, uma ética ou
melhor uma « espiritualidade » do serviço artístico, que a seu modo contribui
para a vida e o renascimento do povo. A isto mesmo parece querer aludir
Cyprian Norwid, quando afirma: « A beleza é para dar entusiasmo ao trabalho,
o trabalho para ressurgir ».

A arte face ao mistério do Verbo encarnado

5. A Lei do Antigo Testamento contém uma proibição explícita de representar


Deus invisível e inexprimível através duma « estátua esculpida ou fundida » (Dt
27,15), porque Ele transcende qualquer representação material: « Eu sou
Aquele que sou » (Ex 3,14). No mistério da Encarnação, porém, o Filho de
Deus tornou-Se visível em carne e osso: « Ao chegar a plenitude dos tempos,
Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher » (Gl 4,4). Deus fez-Se homem em
Jesus Cristo, que Se tornou assim « o centro de referência para se poder
compreender o enigma da existência humana, do mundo criado, e mesmo de
Deus ».[6]

Esta manifestação fundamental do « Deus-Mistério » apresenta-se como


estímulo e desafio para os cristãos, inclusive no plano da criação artística. E
gerou-se um florescimento de beleza, cuja linfa proveio precisamente daqui, do
mistério da Encarnação. De facto, quando Se fez homem, o Filho de Deus
introduziu na história da humanidade toda a riqueza evangélica da verdade e
do bem e, através dela, pôs a descoberto também uma nova dimensão da beleza:
a mensagem evangélica está completamente cheia dela.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !48


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A Sagrada Escritura tornou-se, assim, uma espécie de « dicionário imenso » (P.


Claudel) e de « atlas iconográfico » (M. Chagall), onde foram beber a cultura e a
arte cristã. O próprio Antigo Testamento, interpretado à luz do Novo, revelou
mananciais inexauríveis de inspiração. Desde as narrações da criação, do
pecado, do dilúvio, do ciclo dos Patriarcas, dos acontecimentos do êxodo,
passando por tantos outros episódios e personagens da História da Salvação, o
texto bíblico atiçou a imaginação de pintores, poetas, músicos, autores de teatro
e de cinema. Uma figura como a de Job, só para dar um exemplo, com a
problemática pungente e sempre actual da dor, continua a suscitar
conjuntamente interesse filosófico, literário e artístico. E que dizer então do
Novo Testamento? Desde o Nascimento ao Gólgota, da Transfiguração à
Ressurreição, dos milagres aos ensinamentos de Cristo, até chegar aos
acontecimentos narrados nos Actos dos Apóstolos ou previstos no Apocalipse
em chave escatológica, inúmeras vezes a palavra bíblica se fez imagem, música,
poesia, evocando com a linguagem da arte o mistério do « Verbo feito carne ».

Tudo isto constitui, na história da cultura, um amplo capítulo de fé e de beleza.


Dele tiraram proveito sobretudo os crentes para a sua experiência de oração e
de vida. Para muitos deles, em tempos de escassa alfabetização, as expressões
figurativas da Bíblia constituíram mesmo um meio concreto de catequização.[7]
Mas para todos, crentes ou não, as realizações artísticas inspiradas na Sagrada
Escritura permanecem um reflexo do mistério insondável que abraça e habita o
mundo.

Entre Evangelho e arte, uma aliança profunda

6. Com efeito, toda a intuição artística autêntica ultrapassa o que os sentidos


captam e, penetrando na realidade, esforça-se por interpretar o seu mistério
escondido. Ela brota das profundidades da alma humana, lá onde a aspiração
de dar um sentido à própria vida se une com a percepção fugaz da beleza e da
unidade misteriosa das coisas. Uma experiência partilhada por todos os artistas
é a da distância incolmável que existe entre a obra das suas mãos, mesmo
quando bem sucedida, e a perfeição fulgurante da beleza vislumbrada no ardor
do momento criativo: tudo o que conseguem exprimir naquilo que pintam,

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modelam, criam, não passa de um pálido reflexo daquele esplendor que brilhou
por instantes diante dos olhos do seu espírito.

O crente não se maravilha disto: sabe que se debruçou por um instante sobre
aquele abismo de luz que tem a sua fonte originária em Deus. Há porventura
motivo para admiração, se o espírito fica de tal modo inebriado que não sabe
exprimir-se senão por balbuciações? Ninguém mais do que o verdadeiro artista
está pronto a reconhecer a sua limitação e fazer suas as palavras do apóstolo
Paulo, segundo o qual Deus « não habita em santuários construídos pela mão do
homem », pelo que « não devemos pensar que a Divindade seja semelhante ao
ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e engenho do homem » (Act
17,24.29). Se já a realidade íntima das coisas se situa « para além » das
capacidades de compreensão humana, quanto mais Deus nas profundezas do
seu mistério insondável!

Já de natureza diversa é o conhecimento de fé: este supõe um encontro pessoal


com Deus em Jesus Cristo. Mas também este conhecimento pode tirar proveito
da intuição artística. Modelo eloquente duma contemplação estética que se
sublima na fé são, por exemplo, as obras do Beato Fra Angélico. A este respeito,
é igualmente significativa a lauda extasiada, que S. Francisco de Assis repete
duas vezes na chartula, redigida depois de ter recebido os estigmas de Cristo no
monte Alverne: « Vós sois beleza... Vós sois beleza! ».[8] S. Boaventura
comenta: « Contemplava nas coisas belas o Belíssimo e, seguindo o rasto
impresso nas criaturas, buscava por todo o lado o Dilecto ».[9]

Uma perspectiva semelhante aparece na espiritualidade oriental, quando Cristo


é designado como « o Belíssimo de maior beleza que todos os mortais ».[10]
Assim comenta Macário, o Grande, a beleza transfigurante e libertadora que
irradia do Ressuscitado: « A alma que foi plenamente iluminada pela beleza
inexprimível da glória luminosa do rosto de Cristo, fica cheia do Espírito Santo
(...) é toda olhos, toda luz, toda rosto ».[11]

Toda a forma autêntica de arte é, a seu modo, um caminho de acesso à


realidade mais profunda do homem e do mundo. E, como tal, constitui um meio
muito válido de aproximação ao horizonte da fé, onde a existência humana
encontra a sua plena interpretação. Por isso é que a plenitude evangélica da

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verdade não podia deixar de suscitar, logo desde os primórdios, o interesse dos
artistas, sensíveis por natureza a todas as manifestações da beleza íntima da
realidade.

Os primórdios

7. A arte, que o cristianismo encontrou nos seus inícios, era o fruto maduro do
mundo clássico, exprimia os seus cânones estéticos e, ao mesmo tempo,
veiculava os seus valores. A fé impunha aos cristãos, tanto no campo da vida e
do pensamento como no da arte, um discernimento que não permitia a
aceitação automática deste património. Assim, a arte de inspiração cristã
começou em surdina, ditada pela necessidade que os crentes tinham de elaborar
sinais para exprimirem, com base na Escritura, os mistérios da fé e
simultaneamente de arranjar um « código simbólico » para se reconhecerem e
identificarem especialmente nos tempos difíceis das perseguições. Quem não
recorda certos símbolos que foram os primeiros vestígios duma arte pictórica e
plástica? O peixe, os pães, o pastor... Evocavam o mistério, tornando-se quase
insensivelmente esboços de uma arte nova.

Quando, pelo édito de Constantino, foi concedido aos cristãos exprimirem-se


com plena liberdade, a arte tornou-se um canal privilegiado de manifestação da
fé. Por todo o lado, começaram a despontar majestosas basílicas, nas quais os
cânones arquitectónicos do antigo paganismo eram assumidos sim, mas
reajustados às exigências do novo culto. Como não recordar pelo menos a
antiga Basílica de S. Pedro e a de S. João de Latrão, construídas pelo imperador
Constantino? Ou, no âmbito dos esplendores da arte bizantina, a Haghia
Sophía de Constantinopla querida por Justiniano?

Enquanto a arquitectura desenhava o espaço sagrado, a necessidade de


contemplar o mistério e de o propor de modo imediato aos simples levou
progressivamente às primeiras expressões da arte pictórica e escultural. Ao
mesmo tempo surgiam os primeiros esboços de uma arte da palavra e do som; e
se Agostinho incluía também, entre as temáticas da sua produção, um De
musica, Hilário, Ambrósio, Prudêncio, Efrém da Síria, Gregório de Nazianzo,
Paulino de Nola, para citar apenas alguns nomes, faziam-se promotores de
poesia cristã, que atinge frequentemente um alto valor não só teológico mas

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também literário. A sua produção poética valorizava formas herdadas dos


clássicos, mas bebia na linfa pura do Evangelho, como justamente sentenciava o
Santo poeta de Nola: « A nossa única arte é a fé, e Cristo é o nosso canto ».[12]
Algum tempo mais tarde, Gregório Magno, com a compilação do
Antiphonarium, punha as premissas para o desenvolvimento orgânico daquela
música sacra tão original, que ficou conhecida pelo nome dele. Com as suas
inspiradas modulações, o Canto Gregoriano tornar-se-á, com o passar dos
séculos, a expressão melódica típica da fé da Igreja durante a celebração
litúrgica dos Mistérios Sagrados. Assim, o « belo » conjugava-se com o «
verdadeiro », para que, também através dos caminhos da arte, os ânimos fossem
arrebatados do sensível ao eterno.

Não faltaram momentos difíceis neste caminho. A propósito precisamente do


tema da representação do mistério cristão, a antiguidade conheceu uma áspera
controvérsia, que passou à história com o nome de « luta iconoclasta ». As
imagens sagradas, já então difusas na devoção do povo de Deus, foram objecto
de violenta contestação. O Concílio celebrado em Niceia no ano 787, que
estabeleceu a legitimidade das imagens e do seu culto, foi um acontecimento
histórico não só para a fé mas também para a própria cultura. O argumento
decisivo a que recorreram os Bispos para debelar a controvérsia, foi o mistério
da Encarnação: se o Filho de Deus entrou no mundo das realidades visíveis,
lançando, pela sua humanidade, uma ponte entre o visível e o invisível, é
possível pensar que analogamente uma representação do mistério pode ser
usada, pela dinâmica própria do sinal, como evocação sensível do mistério. O
ícone não é venerado por si mesmo, mas reenvia ao sujeito que representa.[13]

A Idade Média

8. Os séculos seguintes foram testemunhas dum grande desenvolvimento da arte


cristã. No Oriente, continuou a florescer a arte dos ícones, vinculada a
significativos cânones teológicos e estéticos e apoiada na convicção de que, em
determinado sentido, o ícone é um sacramento: com efeito, de modo análogo ao
que sucede nos sacramentos, ele torna presente o mistério da Encarnação
nalgum dos seus aspectos. Por isso mesmo, a beleza dum ícone pode ser
apreciada sobretudo no interior de um templo, com os candelabros que ardem e
suscitam na penumbra infinitos reflexos de luz. A este respeito, escreve Pavel

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Florenskij: « Bárbaro, pesado, fútil à luz clara do dia, o ouro reanima-se com a
luz trémula dum candelabro ou duma vela, que o faz cintilar aqui e ali com
miríades de fulgores, fazendo pressentir outras luzes não terrestres que enchem o
espaço celeste ».[14]

No Ocidente, são muito variadas as perspectivas e os pontos donde partem os


artistas, dependendo também das convicções fundamentais presentes no
ambiente cultural do respectivo tempo. O património artístico, que se foi
acumulando ao longo dos séculos, conta um florescimento vastíssimo de obras
sacras de alta inspiração, que deixam cheio de admiração mesmo o observador
do nosso tempo. Em primeiro plano, situam-se as grandes construções do culto,
onde a funcionalidade sempre se une ao génio artístico, e este último se deixa
inspirar pelo sentido do belo e pela intuição do mistério. Nascem daí estilos bem
conhecidos na História da Arte. A força e a simplicidade do românico, expressa
nas catedrais ou nas abadias, vai-se desenvolvendo gradualmente nas ogivas e
esplendores do gótico. Dentro destas formas, não existe só o génio dum artista,
mas a alma dum povo. Nos jogos de luzes e sombras, nas formas ora maciças
ora ogivadas, intervêm certamente considerações de técnica estrutural, mas
também tensões próprias da experiência de Deus, mistério « tremendo » e «
fascinante ». Como sintetizar em poucos traços, nas diversas expressões da arte,
a força criativa dos longos séculos da Idade Média cristã? Uma cultura inteira,
embora com as limitações humanas sempre presentes, impregnara-se de
Evangelho, e onde o pensamento teológico realizava a Summa de S. Tomás, a
arte das igrejas submetia a matéria à adoração do mistério, ao mesmo tempo
que um poeta admirável como Dante Alighieri podia compor « o poema
sagrado, para o qual concorreram céu e terra »,[15] como ele próprio classifica
a Divina Comédia.

Humanismo e Renascimento

9. A feliz estação cultural, em que tem origem o florescimento artístico


extraordinário do Humanismo e do Renascimento, apresenta também reflexos
significativos do modo como os artistas desse período concebiam o tema
religioso. Naturalmente as inspirações são tão variadas como os seus estilos, ou
pelo menos como os mais importantes deles. Mas, não é minha intenção
lembrar coisas que vós, artistas, bem conheceis. Dado que vos escrevo deste

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Palácio Apostólico, escrínio de obras-primas talvez único no mundo, quero antes


fazer-me voz dos maiores artistas que por aqui disseminaram as riquezas do seu
génio, permeado frequentemente de grande profundidade espiritual. Daqui fala
Miguel Ângelo, que na Capela Sistina de algum modo compendiou, desde a
Criação ao Juízo Universal, o drama e o mistério do mundo, retratando Deus
Pai, Cristo Juiz, o homem no seu fatigante caminho desde as origens até ao fim
da História. Daqui fala o génio delicado e profundo de Rafael, apontando, na
variedade das suas pinturas e de modo especial na « Disputa » da Sala da
Assinatura, o mistério da revelação de Deus Trinitário, que na Eucaristia Se faz
companheiro do homem, e projecta luz sobre as questões e os anelos da
inteligência humana. Daqui, da majestosa Basílica dedicada ao Príncipe dos
Apóstolos, da colunata que sai dela como dois braços abertos para acolher a
humanidade, falam ainda Bramante, Bernini, Borromini, Maderno, para citar
apenas os maiores, oferecendo plasticamente o sentido do mistério que faz da
Igreja uma comunidade universal, hospitaleira, mãe e companheira de viagem
para todo o homem à procura de Deus.

A arte sacra encontrou, neste conjunto extraordinário, uma força expressiva


excepcional, atingindo níveis de imorredoiro valor quer estético quer religioso.
O que vai caracterizando cada vez mais tal arte, sob o impulso do Humanismo
e do Renascimento e das sucessivas tendências da cultura e da ciência, é um
crescente interesse pelo homem, pelo mundo, pela realidade histórica. Esta
atenção, por si mesma, não é de modo algum um perigo para a fé cristã,
centrada sobre o mistério da Encarnação e, portanto, sobre a valorização do
homem por parte de Deus. Precisamente os maiores artistas acima mencionados
no-lo demonstram. Bastaria pensar no modo como Miguel Ângelo exprime nas
suas pinturas e esculturas, a beleza do corpo humano.[16]

Aliás, mesmo no novo clima dos últimos séculos quando parte da sociedade
parece indiferente à fé, a arte religiosa não cessou de avançar. A constatação
torna-se ainda mais palpável, se da vertente das artes figurativas se passa a
considerar o grande desenvolvimento que, neste mesmo período de tempo, teve
a música sacra, composta para as necessidades litúrgicas, ou apenas relacionada
com temas religiosos. Sem contar tantos artistas que a ela se dedicaram
amplamente (como não lembrar Pero Luís de Palestrina, Orlando de Lasso,
Tomás Luís de Victoria?), é sabido que muitos dos grandes compositores — de

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Händel a Bach, de Mozart a Schubert, de Beethoven a Berlioz, de Listz a Verdi


— nos ofereceram obras de altíssima inspiração também neste campo.

A caminho dum renovado diálogo

10. Verdade é que, na Idade Moderna, ao lado deste humanismo cristão que
continuou a produzir significativas expressões de cultura e de arte, foi-se
progressivamente afirmando também uma forma de humanismo caracterizada
pela ausência de Deus senão mesmo pela oposição a Ele. Este clima levou por
vezes a uma certa separação entre o mundo da arte e o da fé, pelo menos no
sentido de menor interesse de muitos artistas pelos temas religiosos.

Mas, vós sabeis que a Igreja continuou a nutrir grande apreço pelo valor da arte
enquanto tal. De facto esta, mesmo fora das suas expressões mais tipicamente
religiosas, mantém uma afinidade íntima com o mundo da fé, de modo que, até
mesmo nas condições de maior separação entre a cultura e a Igreja, é
precisamente a arte que continua a constituir uma espécie de ponte que leva à
experiência religiosa. Enquanto busca do belo, fruto duma imaginação que voa
mais acima do dia-a-dia, a arte é, por sua natureza, uma espécie de apelo ao
Mistério. Mesmo quando perscruta as profundezas mais obscuras da alma ou os
aspectos mais desconcertantes do mal, o artista torna-se de qualquer modo voz
da esperança universal de redenção.

Compreende-se, assim, porque a Igreja está especialmente interessada no


diálogo com a arte e quer que se realize na nossa época uma nova aliança com
os artistas, como o dizia o meu venerando predecessor Paulo VI no seu discurso
veemente aos artistas, durante um encontro especial na Capela Sistina a 7 de
Maio de 1964.[17] A Igreja espera dessa colaboração uma renovada « epifania
» de beleza para o nosso tempo e respostas adequadas às exigências próprias da
comunidade cristã.

No espírito do Concílio Vaticano II

11. O Concílio Vaticano II lançou as bases para uma renovada relação entre a
Igreja e a cultura, com reflexos imediatos no mundo da arte. Tal relação é
proposta na base da amizade, da abertura e do diálogo. Na Constituição

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pastoral Gaudium et spes, os Padres Conciliares sublinharam a « grande


importância » da literatura e das artes na vida do homem: « Elas procuram dar
expressão à natureza do homem, aos seus problemas e à experiência das suas
tentativas para conhecer-se e aperfeiçoar-se a si mesmo e ao mundo; e tentam
identificar a sua situação na história e no universo, dar a conhecer as suas
misérias e alegrias, necessidades e energias, e desvendar um futuro melhor ».
[18]

Baseados nisto, os Padres, no final do Concílio, dirigiram aos artistas uma


saudação e um apelo, nestes termos: « O mundo em que vivemos tem
necessidade de beleza para não cair no desespero. A beleza, como a verdade, é a
que traz alegria ao coração dos homens, é este fruto precioso que resiste ao
passar do tempo, que une as gerações e as faz comungar na admiração ».[19]
Neste mesmo espírito de profunda estima pela beleza, a Constituição sobre a
sagrada liturgia Sacrosanctum Concilium lembrou a histórica amizade da Igreja
pela arte e, falando mais especificamente da arte sacra, « vértice » da arte
religiosa, não hesitou em considerar como « nobre ministério » a actividade dos
artistas, quando as suas obras são capazes de reflectir de algum modo a beleza
infinita de Deus e orientar para Ele a mente dos homens.[20] Também através
do seu contributo, « o conhecimento de Deus é mais perfeitamente manifestado
e a pregação evangélica torna-se mais compreensível ao espírito dos homens ».
[21] À luz disto, não surpreende a afirmação do Padre Marie-Dominique
Chenu, segundo o qual o historiador da Teologia deixaria a sua obra
incompleta, se não dedicasse a devida atenção às realizações artísticas, quer
literárias quer plásticas, que a seu modo constituem « não só ilustrações
estéticas, mas verdadeiros “lugares” teológicos ».[22]

A Igreja precisa da arte

12. Para transmitir a mensagem que Cristo lhe confiou, a Igreja tem
necessidade da arte. De facto, deve tornar perceptível e até o mais fascinante
possível o mundo do espírito, do invisível, de Deus. Por isso, tem de transpor
para fórmulas significativas aquilo que, em si mesmo, é inefável. Ora, a arte
possui uma capacidade muito própria de captar os diversos aspectos da
mensagem, traduzindo-os em cores, formas, sons que estimulam a intuição de

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quem os vê e ouve. E isto, sem privar a própria mensagem do seu valor


transcendente e do seu halo de mistério.

A Igreja precisa particularmente de quem saiba realizar tudo isto no plano


literário e figurativo, trabalhando com as infinitas possibilidades das imagens e
suas valências simbólicas. O próprio Cristo utilizou amplamente as imagens na
sua pregação, em plena coerência, aliás, com a opção que, pela Encarnação,
fizera d'Ele mesmo o ícone do Deus invisível.

A Igreja tem igualmente necessidade dos músicos. Quantas composições sacras


foram elaboradas, ao longo dos séculos, por pessoas profundamente imbuídas
pelo sentido do mistério! Crentes sem número alimentaram a sua fé com as
melodias nascidas do coração de outros crentes, que se tornaram parte da
Liturgia ou pelo menos uma ajuda muito válida para a sua decorosa realização.
No cântico, a fé é sentida como uma exuberância de alegria, de amor, de segura
esperança da intervenção salvífica de Deus.

A Igreja precisa de arquitectos, porque tem necessidade de espaços onde


congregar o povo cristão e celebrar os mistérios da salvação. Depois das terríveis
destruições da última guerra mundial e com o crescimento das cidades, uma
nova geração de arquitectos se amalgamou com as exigências do culto cristão,
confirmando a capacidade de inspiração que possui o tema religioso
relativamente também aos critérios arquitectónicos do nosso tempo. De facto,
não raro se construíram templos, que são simultaneamente lugares de oração e
autênticas obras de arte.

A arte precisa da Igreja?

13. Portanto, a Igreja tem necessidade da arte. Pode-se dizer também que a arte
precisa da Igreja? A pergunta pode parecer provocatória. Mas, se for
compreendida no seu recto sentido, obedece a uma motivação legítima e
profunda. Na realidade, o artista vive sempre à procura do sentido mais íntimo
das coisas; toda a sua preocupação é conseguir exprimir o mundo do inefável.
Como não ver então a grande fonte de inspiração que pode ser, para ele, esta
espécie de pátria da alma que é a religião? Não é porventura no âmbito religioso

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !57


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que se colocam as questões pessoais mais importantes e se procuram as respostas


existenciais definitivas?

De facto, o tema religioso é dos mais tratados pelos artistas de cada época. A
Igreja tem feito sempre apelo às suas capacidades criativas, para interpretar a
mensagem evangélica e a sua aplicação à vida concreta da comunidade cristã.
Esta colaboração tem sido fonte de mútuo enriquecimento espiritual. Em última
instância, dela tirou vantagem a compreensão do homem, da sua imagem
autêntica, da sua verdade. Sobressaiu também o laço peculiar que existe entre a
arte e a revelação cristã. Isto não quer dizer que o génio humano não tenha
encontrado estímulos também noutros contextos religiosos; basta recordar a arte
antiga, sobretudo grega e romana, e a arte ainda florescente das vetustas
civilizações do Oriente. A verdade é que o cristianismo, em virtude do dogma
central da encarnação do Verbo de Deus, oferece ao artista um horizonte
particularmente rico de motivos de inspiração. Que grande empobrecimento
seria para a arte o abandono desse manancial inexaurível que é o Evangelho!

Apelo aos artistas

14. Com esta Carta dirijo-me a vós, artistas do mundo inteiro, para vos
confirmar a minha estima e contribuir para o restabelecimento duma
cooperação mais profícua entre a arte e a Igreja. Convido-vos a descobrir a
profundeza da dimensão espiritual e religiosa que sempre caracterizou a arte
nas suas formas expressivas mais nobres. Nesta perspectiva, faço-vos um apelo a
vós, artistas da palavra escrita e oral, do teatro e da música, das artes plásticas e
das mais modernas tecnologias de comunicação. Este apelo dirijo-o de modo
especial a vós, artistas cristãos: a cada um queria recordar que a aliança que
sempre vigorou entre Evangelho e arte, independentemente das exigências
funcionais, implica o convite a penetrar, pela intuição criativa, no mistério de
Deus encarnado e contemporaneamente no mistério do homem.

Cada ser humano é, de certo modo, um desconhecido para si mesmo. Jesus


Cristo não Se limita a manifestar Deus, mas « revela o homem a si mesmo ».
[23] Em Cristo, Deus reconciliou consigo o mundo. Todos os crentes são
chamados a dar testemunho disto; mas compete a vós, homens e mulheres que
dedicastes a vossa vida à arte, afirmar com a riqueza da vossa genialidade que,

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em Cristo, o mundo está redimido: está redimido o homem, está redimido o


corpo humano, está redimida a criação inteira, da qual S. Paulo escreveu que «
aguarda ansiosa a revelação dos filhos de Deus » (Rm 8,19). Aguarda a
revelação dos filhos de Deus, também através da arte e na arte. Esta é a vossa
tarefa. Em contacto com as obras de arte, a humanidade de todos os tempos —
também a de hoje — espera ser iluminada acerca do próprio caminho e destino.

Espírito Criador e inspiração artística

15. Na Igreja, ressoa muitas vezes esta invocação ao Espírito Santo: Veni,
Creator Spiritus..., « Vinde, Espírito Criador, as nossas mentes visitai, enchei da
vossa graça os corações que criastes ».[24]

Ao Espírito Santo, « o Sopro » (ruah), acena já o livro do Génesis: « A terra era


informe e vazia. As trevas cobriam o abismo, e o Espírito de Deus movia-Se
sobre a superfície das águas » (1,2). Existe grande afinidade lexical entre « sopro
— expiração » e « inspiração ». O Espírito é o misterioso artista do universo. Na
perspectiva do terceiro milénio, faço votos de que todos os artistas possam
receber em abundância o dom daquelas inspirações criativas donde tem início
toda a autêntica obra de arte.

Queridos artistas, como bem sabeis, são muitos os estímulos, interiores e


exteriores, que podem inspirar o vosso talento. Toda a autêntica inspiração,
porém, encerra em si qualquer frémito daquele « sopro » com que o Espírito
Criador permeava, já desde o início, a obra da criação. Presidindo às misteriosas
leis que governam o universo, o sopro divino do Espírito Criador vem ao
encontro do génio do homem e estimula a sua capacidade criativa. Abençoa-o
com uma espécie de iluminação interior, que junta a indicação do bem à do
belo, e acorda nele as energias da mente e do coração, tornando-o apto para
conceber a ideia e dar-lhe forma na obra de arte. Fala-se então justamente,
embora de forma analógica, de « momentos de graça », porque o ser humano
tem a possibilidade de fazer uma certa experiência do Absoluto que o
transcende.

A « Beleza » que salva

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16. Já no limiar do terceiro milénio, desejo a todos vós, artistas caríssimos, que
sejais abençoados, com particular intensidade, por essas inspirações criativas. A
beleza, que transmitireis às gerações futuras, seja tal que avive nelas o assombro.
Diante da sacralidade da vida e do ser humano, diante das maravilhas do
universo, o assombro é a única atitude condigna.

De tal assombro poderá brotar aquele entusiasmo de que fala Norwid na poesia,
a que me referi ao início. Os homens de hoje e de amanhã têm necessidade
deste entusiasmo, para enfrentar e vencer os desafios cruciais que se prefiguram
no horizonte. Com tal entusiasmo, a humanidade poderá, depois de cada
extravio, levantar-se de novo e retomar o seu caminho. Precisamente neste
sentido foi dito, com profunda intuição, que « a beleza salvará o mundo ».[25]

A beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente. É convite a saborear a


vida e a sonhar o futuro. Por isso, a beleza das coisas criadas não pode saciar, e
suscita aquela arcana saudade de Deus que um enamorado do belo, como S.
Agostinho, soube interpretar com expressões incomparáveis: « Tarde Vos amei,
ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! ».[26]

Que as vossas múltiplas sendas, artistas do mundo, possam conduzir todas


àquele Oceano infinito de beleza, onde o assombro se converte em admiração,
inebriamento, alegria inexprimível.

Sirva-vos de guia e inspiração o mistério de Cristo ressuscitado, em cuja


contemplação se alegra a Igreja nestes dias.

Acompanhe-vos a Virgem Santa, a « toda bela », cuja efígie inumeráveis artistas


delinearam e o grande Dante contempla nos esplendores do Paraíso como «
beleza, que alegria era dos olhos de todos os outros santos ».[27]

« Eleva-se do caos o mundo do espírito »! A partir destas palavras, que Adam


Mickiewicz escrevera numa hora de grande aflição para a pátria polaca,[28]
formulo um voto para vós: que a vossa arte contribua para a consolidação duma
beleza autêntica que, como revérbero do Espírito de Deus, transfigure a
matéria, abrindo os ânimos ao sentido do eterno!

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Com os meus votos mais cordiais!

Vaticano, 4 de Abril de 1999, Solenidade da Páscoa da Ressurreição.

JOÃO PAULO PP. II

[1] Dialogus de ludo globi, liv. II: Philosophisch-Theologische Schriften, III


(Viena 1967), p. 332.

[2] As virtudes morais, particularmente a prudência, dão ao sujeito a


possibilidade de agir de harmonia com o critério do bem e do mal moral:
segundo recta ratio agibilium (o justo critério dos comportamentos). A arte,
diversamente, é definida pela filosofia como recta ratio factibilium (o justo
critério das realizações).

[3] Promethidion, Bogumil, vv. 185-186: Pisma wybrane, II (Varsóvia 1968), p.


216.

[4] A versão grega dos Setenta exprime claramente este aspecto, ao traduzir o
termo hebraico t(o-)b (bom) por kalón (belo).

[5] Filebo, 65 A.

[6] João Paulo II, Carta enc. Fides et ratio (14 de Setembro de 1998), 80: AAS
91 (1999), 67.

[7] Este princípio pedagógico foi enunciado pela pena autorizada de S.


Gregório Magno, numa carta, do ano 599, escrita ao Bispo Sereno de Marselha:
« A pintura é usada nas igrejas, para que as pessoas analfabetas possam ler, pelo
menos nas paredes, aquilo que não são capazes de ler nos livros » (Epistulæ, IX,
209: CCL 140A, 1714).

[8] Lodi di Dio Altissimo, vv. 7 e 10: Fonti francescane, n. 261 (Pádua 1982), p.
177.

[9] Legenda maior, IX, 1: Fonti francescane, n. 1162 (Pádua 1982), p. 911.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !61


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[10] Enkomia na celebração do Orthrós do Grande Sábado Santo.

[11] Homilia I, 2: PG 34, 451.

[12] « At nobis ars una fides et musica Christus » (Carmen 20, 31: CCL 203,
144).

[13] Cf. João Paulo II, Carta ap. Duodecimum sæculum (4 de Dezembro de
1987), 8-9: AAS 80 (1988), 247-249.

[14] A perspectiva invertida e outros escritos (Roma 1984), p. 63.

[15] Paradiso XXV, 1-2.

[16] Cf. João Paulo II, Homilia da Missa celebrada na conclusão dos restauros
dos frescos de Miguel Ângelo na Capela Sistina (8 de Abril de 1994):
L'Osservatore Romano (ed. port. de 16 de Abril de 1994), p. 7.

[17] Cf. AAS 56 (1964), 438-444.

[18] N. 62.

[19] Mensagem do Concílio aos artistas (8 de Dezembro de 1965): AAS 58


(1966), 13.

[20] Cf. n. 122.

[21] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo
Gaudium et spes, 62.

[22] A teologia no século XII (Milão 1992), p. 9.

[23] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo
Gaudium et spes, 22.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !62


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[24] Hino de Vésperas, na Solenidade de Pentecostes.

[25] F. Dostoevskij, O Idiota, parte III, cap. V (Milão 1998), p. 645.

[26] « Sero te amavi! Pulchritudo tam antiqua e tam nova, sero te amavi!
» (Confessiones 10, 27: CCL 27, 251).

[27] Paradiso XXXI, 134-135.

[28] Ode à juventude, v. 69: Wybór poezji, I (Wroclaw 1986), p. 63.

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MENSAGEM
DO PAPA PAULO VI
NA CONCLUSÃO DO
CONCÍLIO VATICANO II
AOS ARTISTAS
8 de Dezembro de 1965

Aos artistas

Para todos vós, agora, artistas, que sois prisioneiros da beleza e que trabalhais
para ela: poetas e letrados, pintores, escultores, arquitectos, músicos, homens do
teatro, cineastas . . . A todos vós, a Igreja do Concílio afirma pela nossa voz: se
sois os amigos da autêntica arte, sois nossos amigos.

Desde há muito que a Igreja se aliou convosco. Vós tendes edificado e decorado
os seus templos, celebrado os seus dogmas, enriquecido a sua Liturgia. Tendes
ajudado a Igreja a traduzir a sua divina mensagem na linguagem das formas e
das figuras, a tornar perceptível o mundo invisível.

Hoje como ontem, a Igreja tem necessidade de vós e volta-se para vós. E diz-vos
pela nossa voz: não permitais que se rompa uma aliança entre todas fecunda.
Não vos recuseis a colocar o vosso talento ao serviço da verdade divina. Não
fecheis o vosso espírito ao sopro do Espírito Santo.

O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no


desespero. A beleza, como a verdade, é a que traz alegria ao coração dos

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !64


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homens, é este fruto precioso que resiste ao passar do tempo, que une as
gerações e as faz comungar na admiração. E isto por vossas mãos.

Que estas mãos sejam puras e desinteressadas. Lembrai-vos de que sois os


guardiões da beleza no mundo: que isso baste para vos afastar dos gostos
efémeros e sem valor autêntico, para vos libertar da procura de expressões
estranhas ou indecorosas.

Sede sempre e em toda a parte dignos do vosso ideal, e sereis dignos da Igreja,
que, pela nossa voz, vos dirige neste dia a sua mensagem de amizade, de
salvação, de graça e de bênção.

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MUSICAE SACRAE
DISCIPLINA
ENCÍCLICA DE PIO XII

Aos veneráveis irmãos Patriarcas, Primazes,


Arcebispos, Bispos e outros Ordinários de lugar,
em paz e comunhão com a Sé Apostólica

Pio XII

INTRODUÇÃO

1. Sempre tivemos sumamente em consideração a disciplina da música sacra;


donde haver-nos parecido oportuno tratar ordenadamente dela, e, ao mesmo
tempo, elucidar com certa amplitude muitas questões surgidas e discutidas
nestes últimos decénios, a fim de que esta nobre e respeitável arte contribua
cada vez mais para o esplendor do culto divino e para uma mais intensa vida
espiritual dos fiéis. Quisemos, a um tempo, vir ao encontro dos votos que muitos
de vós, veneráveis irmãos, na vossa sabedoria, exprimistes, e que também
insignes mestres desta arte liberal e exímios cultores de música sacra
formularam por ocasião de congressos sobre tal matéria, e ao encontro também
de tudo quanto a esse respeito têm aconselhado a experiência da vida pastoral e
os progressos da ciência e dos estudos sobre esta arte. Assim, nutrimos esperança
de que as normas sabiamente fixadas por São Pio X no documento por ele com
toda razão chamado "código jurídico da música sacra" (1) serão novamente
confirmadas e inculcadas, receberão nova luz, e serão corroboradas por novos
argumentos; de tal sorte que a nobre arte da música sacra, adaptada às
condições presentes e, de certo modo, enriquecida, corresponda sempre mais à
sua alta finalidade.

I. HISTÓRIA

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !66


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2. Entre os muitos e grandes dons de natureza com que Deus, em quem há


harmonia de perfeita concórdia e suma coerência, enriqueceu o homem, criado
à sua "imagem e semelhança", (2) deve-se incluir a música, que, juntamente com
as outras artes liberais, contribui para o gozo espiritual e para o deleite da alma.
Com razão assim escreve dela Agostinho: "A música, isto é, a doutrina e a arte
de bem modular, como anúncio de grandes coisas foi concedida pela divina
liberalidade aos mortais dotados de alma racional". (3)

No Antigo Testamento e na Igreja primitiva

3. Nada de admirar, pois, que o canto sacro e a arte musical também tenham
sido usados, conforme consta de muitos documentos antigos e recentes, para
ornamento e decoro das cerimónias religiosas sempre e em toda parte, mesmo
entre os povos pagãos; e que sobretudo o culto do verdadeiro e sumo Deus
desde a antiguidade se tenha valido dessa arte. O povo de Deus, escapando
incólume do mar Vermelho por milagre do poder divino, cantou a Deus um
cântico de vitória; e Maria, irmã do guia Moisés, dotada de espírito profético,
cantou ao som dos tímpanos, acompanhada pelo canto do povo. (4) E,
posteriormente, enquanto se conduzia a arca de Deus da casa de Abinadab para
a cidade de Davi, o próprio rei e "todo Israel dançavam diante de Deus com
instrumentos de madeira trabalhada, cítaras, liras, tímpanos, sistros e címbalos".
(5) O próprio rei Davi fixou as regras da música a usar-se no culto sagrado, e do
canto; (6) regras que foram restabelecidas após o regresso do povo do exílio, e
fielmente conservadas até a vinda do divino Redentor. Depois, que na Igreja
fundada pelo divino Salvador o canto sacro desde o princípio estivesse em uso e
honra, é claramente indicado por são Paulo apóstolo, quando aos efésios assim
escreve: "Sede cheios do Espírito Santo, recitando entre vós salmos e hinos e
cânticos espirituais" (7) e que esse uso de cantar salmos estivesse em vigor
também nas assembléias dos cristãos, indica-o ele com estas palavras: "Quando
vos reunis, alguns entre vós cantam o salmo". (8) E que o mesmo acontecesse
após a idade apostólica é atestado por Plínio, que escreve haverem os que
tinham renegado a fé afirmado que "esta era a substância da falta de que eram
inculpados, a saber: o costumarem a reunir-se num dado dia antes do aparecer
da luz e cantarem um hino a Cristo como a Deus". (9) Essas palavras do
procônsul romano da Bitínia mostram claramente que nem mesmo no tempo da
perseguição emudecia de todo a voz do canto da Igreja; isto confirma-o

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !67


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Tertuliano quando narra que nas assembléias dos cristãos "se lêem as Escrituras,
cantam-se salmos, promove-se a catequese". (10)

O canto gregoriano

4. Restituída à Igreja a liberdade e a paz, muitos testemunhos se tem, dos padres


e dos escritores eclesiásticos, que confirmam serem de usa quase diário os salmos
e os hinos do culto litúrgico. Antes, pouco a pouco se criaram mesmo novas
formas e se excogitaram novos gêneros de cantos, cada vez mais aperfeiçoados
pelas escolas de música, especialmente em Roma. O nosso predecessor, de feliz
memória, são Gregório Magno, consoante a tradição reuniu cuidadosamente
tudo o que havia sido transmitido, e deu-lhe sábia ordenação, provendo, com
oportunas leis e normas, a assegurar a pureza e a integridade do canto sacro. Da
santa cidade a modulação romana do canto aos poucos se introduziu em outras
regiões do ocidente, e não somente ali se enriqueceu de novas formas e
melodias, como também começou mesmo a ser usada uma nova espécie de
canto sacro, o hino religioso, às vezes em língua vulgar. O próprio canto coral,
que, pelo nome do seu restaurador, são Gregório, começou a chamar-se
"Gregoriano", a começar dos séculos VIII e IX, em quase todas as regiões da
Europa cristã, adquiriu novo esplendor, com o acompanhamento do
instrumento musical chamado "órgão".

O canto polifónico

5. A partir do seculo IX, pouco a pouco a esse canto coral se juntou o canto
polifónico, cuja teoria e prática se precisaram cada vez mais nos séculos
subseqüentes, e que, sobretudo no século XV e no XVI, por obra de sumos
artistas alcançou admirável perfeição. A Igreja também teve sempre em grande
honra este canto polifónico, e de bom grado admitiu-o para maior decoro dos
ritos sagrados nas próprias basílicas romanas e nas cerimónias pontifícias. Com
isso se lhe aumentaram a eficácia e o esplendor, porque à voz dos cantores se
aditou, além do órgão, o som de outros instrumentos musicais.

A vigilância da Igreja

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6. Desse modo, por impulso e sob os auspícios da Igreja, a disciplina da música


sacra no decurso dos séculos percorreu longo caminho, no qual, embora talvez
com lentidão e a custo, paulatinamente realizou contínuos progressos: das
simples e ingênuas melodias gregorianas até às grandes e magníficas obras de
arte, a que não só a voz humana, mas também o órgão e os outros instrumentos
aduzem dignidade, ornamento e prodigiosa riqueza. O progresso dessa arte
musical, ao passo que mostra claramente o quanto a Igreja se tem preocupado
com tornar cada vez mais esplêndido e agradável ao povo cristão o culto divino,
por outra parte explica como a mesma Igreja tenha tido, as vezes, de impedir
que se ultrapassem nesse terreno os justos limites, e que, juntamente com o
verdadeiro progresso, se infiltrasse na música sacra, deturpando-a, certo quê de
profano e de alheio ao culto sagrado.

7. A esse dever de solícita vigilância sempre foram fiéis os sumos pontífices; e


também o concílio de Trento sabiamente proscreveu: "as músicas em que, ou no
órgão ou no canto, se mistura algo de sensual e de impuro", (11) Deixando de
parte não poucos outros papas, o nosso predecessor de feliz memória Bento
XIV, em carta encíclica de 19 de Fevereiro de 1749, em preparação ao ano
jubilar, com abundante doutrina e cópia de argumentos exortou de modo
particular os bispos a proibirem por todos os meios, os reprováveis abusos que
indebitamente se haviam introduzido na música. (12) O mesmo caminho
seguiram os nossos predecessores Leão XII, Pio VIII, (13) Gregório XVI, Pio
IX, Leão XIII. (14) Todavia, em bom direito pode-se afirmar haver sido o nosso
predecessor, de feliz memória, são Pio X, quem realizou uma restauração e
reforma orgânica da música sacra, tornando a inculcar os princípios e as
normas transmitidos pela antiguidade, e oportunamente reordenando-os
segundo as exigências dos tempos modernos. (15) Finalmente, tal como o nosso
imediato predecessor Pio XI, de feliz memória, com a constituição apostólica
"Divini cultus sanctitatem", de 20 de dezembro de 1929, (16) também nós
mesmos, com a encíclica "Mediator Dei", de 20 de novembro de 1947,
ampliamos e corroboramos as prescrições dos pontífices precedentes. (17)

II. A ARTE E SEUS PRINCÍPIOS NA LITURGIA

8. A ninguém, certamente, causará admiração o facto de interessar-se tanto a


Igreja pela música sacra. Com efeito, não se trata de ditar leis de carácter

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !69


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estético ou técnico a respeito da nobre disciplina da música; ao contrário, é


intenção da Igreja que esta seja defendida de tudo que possa diminuir-lhe a
dignidade, sendo, como é, chamada a prestar serviço num campo de tamanha
importância como é o do culto divino.

A liberdade do artista deve estar sujeita à lei divina

9. Nisto a música sacra não obedece a leis e normas diversas das que regulam
todas as formas de arte religiosa, antes à própria arte em geral. Na verdade, não
ignoramos que nestes últimos anos alguns artistas, com grave ofensa da piedade
cristã, ousaram introduzir nas igrejas obras destituídas de qualquer inspiração
religiosa, e em pleno contraste até mesmo com as justas regras da arte.
Procuram eles justificar esse deplorável modo de agir com argumentos
especiosos, que eles pretendem fazer derivar da natureza e da própria índole da
arte. Afinal, dizem eles que a inspiração artística é livre, que não é lícito
subordiná-la a leis e normas estranhas à arte, sejam elas morais ou religiosas,
porque desse modo se viria a lesar gravemente a dignidade da arte e a criar, com
vínculos e ligames, óbices ao livre curso da acção do artista sob a sagrada
influência do estro.

10. Com argumentos tais é suscitada uma questão sem dúvida grave e difícil,
atinente a qualquer manifestação de arte e a qualquer artista; questão que não
pode ser resolvida com argumentos tirados da arte e da estética, mas que, em
vez disso, deve ser examinada à luz do supremo postulado do fim último, regra
sagrada e inviolável de todo homem e de toda ação humana. De facto, o
homem diz ordem ao seu fim último - que é Deus - por força de uma lei
absoluta e necessária, fundada na infinita perfeição da natureza divina, de
maneira tão plena e perfeita, que nem mesmo Deus poderia eximir alguém de
observá-la. Com essa lei eterna e imutável fica estabelecido que o homem e
todas as suas ações devem manifestar, em louvor e glória do Criador, a infinita
perfeição de Deus, e imitá-la tanto quanto possível. Por isso o homem, destinado
por sua natureza a alcançar esse fim supremo, deve, no seu agir, conformar-se
ao divino arquétipo, e nessa direção orientar todas as faculdades da alma e do
corpo, ordenando-as rectamente entre si, e devidamente domando-as para
alcançar o do fim. Portanto, também a arte e as obras artísticas devem ser
julgadas com base na sua conformidade, com o fim último do homem; e, por

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certo, deve a arte contar-se entre as mais nobres manifestações do engenho


humano, porque atinente ao modo de exprimir por obras humanas a infinita
beleza de Deus, de que é ela o revérbero. Razão pela qual, a conhecida
expressão "a arte pela arte" - com a qual, posto de parte aquele fim que é
ingênito em toda criatura, erroneamente se afirma que a arte não tem outras
leis senão aquelas que promanam da sua natureza, - essa expressão ou não tem
valor algum, ou importa grave ofensa ao próprio Deus, Criador e fim último.
Depois, a liberdade do artista - liberdade que não é um instinto, cego para a
ação, regulado somente pelo arbítrio ou por certa sede de novidade -, pelo facto
de estar sujeita à lei divina em nada é coarctada ou sufocada, mas, antes,
enobrecida e aperfeiçoada.

A arte religiosa exige artistas inspirados pela fé e pelo amor

11. Isso, se vale para toda obra de arte, claro é que deve aplicar-se também a
respeito da arte sacra e religiosa. Antes, a arte religiosa é ainda mais vinculada a
Deus e dirigida a promover o seu louvor e a sua glória, visto não ter outro
escopo a não ser o de ajudar poderosamente os fiéis a elevar piedosamente a sua
mente à Deus, agindo ela, por meio das suas manifestações, sobre os sentidos da
vista e do ouvido. Daí que, o artista sem fé, ou arredio de Deus com a sua alma
e com a sua conduta, de maneira alguma deve ocupar-se de arte religiosa;
realmente, não possui ele aquele olho interior que lhe permite perceber o que é
requerido pela majestade de Deus e pelo seu culto. Nem se pode esperar que as
suas obras, destituídas de inspiração religiosa - mesmo se revelam a perícia e
uma certa habilidade exterior do autor -, possam inspirar aquela fé e aquela
piedade que convêm à majestade da casa de Deus; e, portanto, nunca serão
dignas de ser admitidas no templo da Igreja, que é a guardiã e o árbitro da vida
religiosa.

12. Ao invés, o artista que tem fé profunda e leva conduta digna de um cristão,
agindo sob o impulso do amor de Deus e pondo os seus dotes a serviço da
religião por meio das cores, das linhas e da harmonia dos sons, fará todo o
esforço para exprimir a sua fé e a sua piedade com tanta perícia, beleza e
suavidade, que esse sagrado exercício da arte constituirá para ele um acto de
culto e de religião, e estimulará grandemente o povo a professar a fé e a cultivar
a piedade. Tais artistas são e sempre serão tidos em honra pela Igreja; esta lhes

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abrirá as portas dos templos, visto comprazer-se no contributo não pequeno


que, com a sua arte e com a sua operosidade, eles dão para um mais eficaz
desenvolvimento do seu ministério apostólico.

A finalidade da música sacra

13. Essas leis da arte religiosa vinculam com ligame ainda mais estreito e mais
santo a música sacra, visto estar esta mais próxima do culto divino do que as
outras belas-artes, como a arquitectura, a pintura e a literatura; estas procuram
preparar uma digna sede para os ritos divinos, ao passo que aquela ocupa lugar
de primeira importância no próprio desenvolvimento das cerimónias e dos ritos
sagrados. Por isso, deve a Igreja, com toda diligência; providenciar para remover
da música sacra, justamente por ser esta a serva da sagrada liturgia, tudo o que
destoa do culto divino ou impede os féis de elevarem sua mente a Deus.

14. E, de facto, nisto consiste a dignidade e a excelsa finalidade da música sacra,


a saber, em - por meio das suas belíssimas harmonias e da sua magnificência -
trazer decoro e ornamento às vozes quer do sacerdote ofertante, quer do povo
cristão que louva o sumo Deus; em elevar os corações dos fiéis a Deus por uma
intrínseca virtude sua, em tornar mais vivas e fervorosas as orações litúrgicas da
comunidade cristã, para que Deus uno e trino possa ser por todos louvado e
invocado com mais intensidade e eficácia. Portanto, por obra da música sacra é
aumentada a honra que a Igreja dá a Deus em união com Cristo seu chefe; e,
outrossim, é aumentado o fruto que, estimulados pelos sagrados acordes, os fiéis
tiram da sagrada liturgia e costumam manifestar por uma conduta de vida
dignamente cristã, como mostra a experiência cotidiana e como confirmam
muitos testemunhos de escritores antigos e recentes. Falando dos cânticos
"executados com voz límpida e com modulações apropriadas", assim se exprime
santo Agostinho: "Sinto que as nossas almas se elevam na chama da piedade
com um ardor e uma devoção maior por efeito daquelas santas palavras quando
elas são acompanhadas pelo canto, e todos os diversos sentimentos do nosso
espírito acham no canto uma sua modulação própria, que os desperta por força
de não sei que relação oculta e íntima". (18)

Seu papel litúrgico

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15. Por aqui, facilmente se pode compreender como a dignidade e a


importância da música sacra, seja tanto maior quanto mais de perto a sua ação
se relaciona com o acto supremo do culto cristão, isto é, com o sacrifício
eucarístico do altar. Não pode ela, pois, realizar nada de mais alto e de mais
sublime do que o oficio de acompanhar com a suavidade dos sons a voz do
sacerdote que oferece a vítima divina, do que responder alegremente às suas
perguntas juntamente com o povo que assiste ao sacrifício, e do que tornar mais
esplêndido com a sua arte todo o desenvolvimento do rito sagrado. Da
dignidade desse excelso serviço aproximam-se, pois, os ofícios que a mesma
música sacra exerce quando acompanha e embeleza as outras cerimónias
litúrgicas, e em primeiro lugar a recitação do breviário no coro. Por isso, essa
musica "litúrgica" merece suma honra e louvor.

Seu papel extralitúrgico

16. Não obstante isso, em grande estima se deve ter também a música que,
embora não sendo destinada principalmente ao serviço da sagrada liturgia,
todavia, pelo seu conteúdo e pelas suas finalidades, importa muitas vantagens à
religião, e por isso com toda razão é chamada música "religiosa". Na verdade,
também este género de música sacra - que teve origem no seio da Igreja, e que
sob os auspícios desta pôde felizmente desenvolver-se está, como o demonstra a
experiência, no caso de exercer nas almas dos fiéis uma grande e salutar
influência, quer seja usada nas igrejas durante as funções e as sagradas
cerimónias não-litúrgicas, quer fora da igreja, nas várias solenidades e
celebrações. De facto, as melodias desses cantos, compostos as mais das vezes
em língua vulgar, fixam-se na memória quase sem esforço e sem trabalho, e, ao
mesmo tempo também, as palavras e os conceitos se imprimem na mente, são
freqüentemente repetidos e mais profundamente compreendidos. Daí segue que
até mesmo os meninos e as meninas, aprendendo na tenra idade esses cânticos
sacros, são muito ajudados a conhecer, a apreciar e a recordar as verdades da
nossa fé, e assim o apostolado catequético tira deles não leve vantagem. Depois,
esses cânticos religiosos, enquanto recreiam a alma dos adolescentes e dos
adultos, oferecem a estes um casto e puro deleite, emprestam certo tom de
majestade religiosa às assembléias e reuniões mais solenes, e até às próprias
famílias cristãs trazem santa alegria, doce conforto e espiritual proveito. Razão
pela qual, também este gênero de música religiosa popular constitui uma eficaz

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ajuda para o apostolado católico, e, assim, com todo cuidado deve ser cultivado
e desenvolvido.

A música sacra é um meio eficaz de apostolado

17. Portanto, quando exaltamos as prendas múltiplas da música sacra e a sua


eficácia em relação ao apostolado, fazemos coisa que pode tornar-se de sumo
prazer e conforto para aqueles que, de qualquer maneira, se hão dedicado a
cultivá-la e a promovê-la. Afinal, todos quantos ou compõem música segundo o
seu próprio talento artístico, ou a dirigem ou a executam vocalmente ou por
meio de instrumentos musicais, todos esses, sem dúvida, exercitam um
verdadeiro e real apostolado, mesmo de modo vário e diverso, e por isso
receberão em abundância, de Cristo nosso Senhor, as recompensas e as honras
reservadas aos apóstolos, à medida que cada um houver desempenhado
fielmente o seu cargo. Por isso estimem eles grandemente essa sua incumbência,
em virtude da qual não são apenas artistas e mestres de arte, mas também
ministros de Cristo nosso Senhor e colaboradores no apostolado, e esforcem-se
por manifestar também pela conduta da vida a dignidade desse seu mister.

III. QUALIDADE DA MÚSICA SACRA E REGRAS QUE PRESIDEM À


SUA EXECUÇÃO NA LITURGIA

18. Tal sendo, como já dissemos, a dignidade e a eficácia da música sacra e do


canto religioso, grandemente necessário é cuidar-lhes diligentemente da
estrutura em toda parte, para tirar deles utilmente os frutos salutares.

Santidade, caráter artístico e universalidade da música litúrgica

19. Necessário é, antes de tudo, que o canto e a música sacra, mais intimamente
unidos com o culto litúrgico da Igreja, atinjam o alto fim a eles consignado. Por
isso - como já sabiamente advertia o nosso predecessor são Pio X - essa música
"deve possuir as qualidades próprias da liturgia, e em primeiro lugar a santidade
e a beleza da forma; por onde de per si se chega a outra característica sua, a
universalidade". (19)

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20. Deve ser "santa"; não admita ela em si o que soa de profano, nem permita se
insinue nas melodias com que é apresentada. A essa santidade se presta
sobretudo o canto gregoriano, que desde tantos séculos se usa na Igreja, a ponto
de se poder dizê-lo patrimônio seu. Pela íntima aderência das melodias às
palavras do texto sagrado, esse canto não só quadra a este plenamente, mas
parece quase interpretar-lhe a força e a eficácia, instilando doçura na alma de
quem o escuta; e isso por meios musicais simples e fáceis, mas permeados de tão
sublime e santa arte, que em todos suscitam sentimentos de sincera admiração, e
se tornam para os próprios entendedores e mestres de música sacra uma fonte
inexaurível de novas melodias. Conservar cuidadosamente esse precioso tesouro
do canto gregoriano e fazer o povo amplamente participante dele, compete a
todos aqueles a quem Jesus Cristo confiou a guarda e a dispensação das riquezas
da Igreja. Por isso, aquilo que os nossos predecessores são Pio X, com toda a
razão chamado restaurador do canto gregoriano, (20) e Pio XI , (21) sabiamente
ordenaram e inculcaram, também nós queremos e prescrevemos que se faça,
prestando-se atenção às características que são próprias do genuíno canto
gregoriano; isto é, que na celebração dos ritos litúrgicos se faça largo uso desse
canto, e se providencie com todo cuidado para que ele seja executado com
exatidão, dignidade e piedade. E, se para as festas recém-introduzidas se
deverem compor novas melodias, seja isso feito por mestres verdadeiramente
competentes, de modo que se observem fielmente as leis próprias do verdadeiro
canto gregoriano, e as novas composições porfiem, em valor e pureza, com as
antigas.

21. Se em tudo essas normas forem realmente observadas, vir-se-á outrossim a


satisfazer pelo modo devido uma outra propriedade da música sacra, isto é, que
ela seja "verdadeira arte"; e, se em todas as igrejas católicas do mundo ressoar
incorrupto e íntegro o canto gregoriano, também ele, como a liturgia romana,
terá a nota de "universalidade", de modo que os féis em qualquer parte do
mundo ouçam essas harmonias como familiares e como coisa de casa,
experimentando assim, com espiritual conforto, a admirável unidade da Igreja.
É esse um dos motivos principais por que a Igreja mostra tão vivo desejo de que
o canto gregoriano esteja intimamente ligado às palavras latinas da sagrada
liturgia.

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Somente a Santa Sé pode dispensar o uso do latim e do canto gregoriano nas


missas solenes

22. Bem sabemos que, por graves motivos, a própria Sé Apostólica tem
concedido, a esse respeito, algumas exceções bem determinadas, as quais,
entretanto, não queremos sejam estendidas e aplicadas a outros casos sem a
devida licença da mesma Santa Sé. Antes, lá mesmo onde se possam utilizar tais
concessões, cuidem atentamente os ordinários e os outros sagrados pastores, que
desde a infância os fiéis aprendam ao menos as melodias gregorianas mais fáceis
e mais em uso, e saibam valer-se delas nos sagrados ritos litúrgicos, de modo que
também nisso brilhe sempre mais a unidade e a universalidade da Igreja.

23. Todavia, onde quer que um costume secular ou imemorial permita que no
solene sacrifício eucarístico, depois das palavras litúrgicas cantadas em latim, se
insiram alguns cânticos populares em língua vulgar, permiti-lo-ão os ordinários
"quando julgarem que pelas circunstâncias de lugar e de pessoas tal (costume)
não possa ser prudentemente removido", (22) permaneça a norma de que não
se cantem em língua vulgar as próprias palavras da liturgia, como acima já foi
dito.

Para que os féis compreendam melhor os textos latinos, sejam eles explicados

24. Depois, a fim de que os cantores e o povo cristão entendam bem o


significado das palavras litúrgicas ligadas à melodia musical, fazemos nossa a
exortação dirigida pelos padres do concílio de Trento, especialmente "aos
pastores e aos que têm simples cura de almas, no sentido de, com freqüência,
durante a celebração da missa, explicarem, directamente ou por intermédio de
outros, alguma parte daquilo que se lê na missa, e, entre outras coisas,
esclarecerem algum mistério deste santo sacrifício, especialmente nos domingos
e nos dias de festa",, (23) fazendo isso sobretudo no tempo em que se explica o
catecismo ao povo cristão. Isso mais fácil e mais factível se torna hoje em dia do
que nos séculos passados, visto se terem as palavras da liturgia traduzidas em
vulgar, e a sua explicação em manuais e livrinhos que, preparados por pessoas
competentes em quase todas as nações, podem eficazmente ajudar e iluminar os
fiéis, a fim de que também eles compreendam e como que compartilhem a
dicção dos ministros sagrados em língua latina.

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A Santa Sé vigia para conservar e promover os cantos litúrgicos de outros ritos


não-romanos

25. Óbvio é que o quanto aqui expusemos acerca do canto gregoriano diz
respeito sobretudo ao rito latino romano da Igreja; mas pode respectivamente
aplicar-se aos cantos litúrgicos de outros ritos, quer do ocidente, como o
Ambrosiano, o Galicano, o Moçarábico, quer aos vários ritos orientais. De facto,
todos esses ritos, ao mesmo passo que mostram a admirável riqueza da Igreja na
ação litúrgica e nas fórmulas de oração, por outra parte, pelos diversos cantos
litúrgicos, conservam tesouros preciosos, que cumpre guardar e impedir não só
de desaparecerem, como também de sofrerem qualquer atenuação ou
deturpação. Entre os mais antigos e importantes documentos da música sacra,
têm, sem dúvida, lugar considerável os cantos litúrgicos dos vários ritos
orientais, cujas melodias tiveram muita influência na formação das da Igreja
ocidental, com as devidas adaptações à índole própria da liturgia latina. É nosso
desejo que uma seleção de cantos dos ritos sagrados orientais - na qual está
prazeirosamente trabalhando o Pontifício Instituto para os estudos orientais,
com o auxílio do Instituto Pontifício de Música Sacra - seja felizmente levada a
termo tanto na parte doutrinal como na parte prática; de modo que os
seminaristas do rito oriental, bem preparados também no canto sacro, feitos um
dia sacerdotes possam, também nisso, eficazmente contribuir para aumentar o
decoro da casa de Deus.

A música polifónica

26. Com o que havemos dito para louvar e recomendar o canto gregoriano, não
é intenção nossa remover dos ritos da Igreja à polifonia sacra, a qual, desde que
exornada das devidas qualidades, pode contribuir bastante para a magnificência
do culto divino e para suscitar piedosos afectos na alma dos fiéis. Afinal, bem
sabido é que muitos cantos polifónicos, compostos sobretudo no século XVI,
brilham por tal pureza de arte e tal riqueza de melodias, que são inteiramente
dignos de acompanhar e como que de tornar mais perspícuos os ritos da Igreja.
E, se, no curso dos séculos, a genuína arte da polifonia pouco a pouco decaiu, e
não raramente lhe são entremeadas melodias profanas, nos últimos decénios,
mercê da obra indefesa de insignes mestres, felizmente ela como que se renovou,

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mediante um mais acurado estudo das obras dos antigos mestres, propostas à
imitação e emulação dos compositores hodiernos.

27. Destarte sucede que, nas basílicas, nas catedrais, nas igrejas dos religiosos,
podem executar-se quer as obras-primas dos antigos mestres, quer composições
polifónicas de autores recentes, com decoro do rito sagrado; antes sabemos que,
mesmo nas igrejas menores, não raramente se executam cantos polifónicos mais
simples, porém compostos com dignidade e verdadeiro senso de arte: A Igreja
favorece todos estes esforços; realmente, consoante às palavras do nosso
predecessor de feliz memória são Pio X, ela "sempre favoreceu o progresso das
artes e ajudou-o, acolhendo no uso religioso tudo o que o engenho humano tem
criado de bom e de belo no curso dos séculos, desde que ficassem salvas as leis
litúrgicas".(24) Estas leis exigem que, nesta importante matéria, se use de toda
prudência e se tenha todo cuidado a fim de que se não introduzam na Igreja
cantos polifónicos que, pelo modo túrgido e empolado, ou venham a obscurecer,
com a sua prolixidade, as palavras sagradas da liturgia, ou interrompam a acção
do rito sagrado, ou, ainda, aviltem a habilidade dos cantores com desdouro do
culto divino.

O órgão

28. Devem essas normas aplicar-se, outrossim, ao uso do órgão e dos outros
instrumentos musicais. Entre os instrumentos a que é aberta a porta do templo
vem, de bom direito, em primeiro lugar o órgão, por ser particularmente
adequado aos cânticos sacros e aos sagrados ritos, por conferir às cerimónias da
Igreja notável esplendor e singular magnificência, por comover a alma dos fiéis
com a gravidade e doçura do seu som, por encher a mente de gozo quase
celeste, e por elevar fortemente à Deus e às coisas celestes.

Outros instrumentos de música que podem ser utilizados

29. Além do órgão, há outros instrumentos que podem eficazmente vir em


auxílio para se atingir o alto fim da música sacra, desde que nada tenham de
profano, de barulhento, de rumoroso, coisas essas destoantes do rito sagrado e
da gravidade do lugar. Entre eles vêm, em primeiro lugar, o violino e outros
instrumentos de arco, os quais, ou sozinhos ou juntamente com outros

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instrumentos e com o órgão, exprimem com indizível eficácia os sentimentos, de


tristeza ou de alegria, da alma. Aliás, acerca das melodias musicais inadmissíveis
no culto católico já falamos claramente na encíclica "Mediator Dei". "Quando
eles não tiverem nada de profano ou de destoante da santidade do lugar e da
ação litúrgica, e não forem em busca do extravagante e do extraordinário,
tenham também acesso nas nossas igrejas, podendo contribuir não pouco para o
esplendor dos ritos sagrados, para elevar a alma para o alto, e para afervorar a
verdadeira piedade da alma".(25) É o caso apenas de advertir que, quando
faltarem a capacidade e os meios para tanto, melhor será abster-se de
semelhantes tentativas, do que fazer coisa menos digna do culto divino e das
reuniões sacras.

Os cânticos populares e seu uso

30. A esses aspectos que têm mais estreita ligação com a liturgia da Igreja
juntam-se, como dissemos, os cantos religiosos populares, escritos as mais das
vezes em língua vulgar, os quais se originam do próprio canto litúrgico, mas,
sendo mais adaptados à índole e aos sentimentos de cada povo em particular,
diferem não pouco entre si, conforme o caráter dos povos e a índole particular
das nações. A fim de que semelhantes cânticos religiosos proporcionem fruto
espiritual e vantagem ao povo cristão, devem ser plenamente conformes ao
ensinamento da fé cristã, expô-la e explicá-la rectamente, usar linguagem fácil e
melodia simples, fugir da profusão de palavras empoladas e vazias, e, finalmente,
mesmo sendo breves e fáceis, ter uma certa dignidade e gravidade religiosa.
Quando esses cânticos sacros possuem tais dotes, brotando como que do mais
profundo da alma do povo, comovem fortemente os sentimentos e a alma, e
excitam piedosos afectos; quando se cantam como uma só voz nas funções
religiosas da multidão reunida, elevam com grande eficácia a alma dos fiéis às
coisas celestes. Por isso, embora, como dissemos, nas missas cantadas solenes
não possam eles ser usados sem especial permissão da Santa Sé, todavia nas
missas celebradas em forma não-solene podem eles admiravelmente contribuir
para que os fiéis assistam ao santo sacrifício não tanto como espectadores mudos
e quase inertes, mas de forma que, acompanhando com a mente e com a voz a
ação sacra, unam a própria devoção às preces do sacerdote, e isso desde que tais
cantos sejam bem adaptados às várias partes do sacrifício, como sabemos que já
se faz em muitas partes do mundo católico, com grande júbilo espiritual.

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31. Quanto às cerimónias não estritamente litúrgicas, tais cânticos religiosos,


uma vez que correspondam às condições supraditas, podem contribuir de modo
notável para atrair salutarmente o povo cristão, para amestrá-lo, para formá-lo
numa sincera piedade, e para enchê-lo de santo regozijo; e isso tanto nas Igrejas
como externamente, especialmente nas procissões e nas peregrinações aos
santuários, e do mesmo modo nos congressos religiosos nacionais e
internacionais. De modo especial serão eles úteis quando se tratar de instruir na
verdade católica os meninos e as meninas, como também nas associações juvenis
e nas reuniões dos pios sodalícios, tal como muitas vezes o demonstra
claramente a experiência.

32. Por isso, não podemos deixar de exortar-vos vivamente, veneráveis irmãos, a
vos dignardes, com todo cuidado e por todos os meios, de favorecer e promover
nas vossas dioceses esse canto popular religioso. Não vos faltarão homens
experientes para recolher e reunir juntos esses cânticos onde não se haja feito, a
fim de que por todos os fiéis possam eles ser mais facilmente aprendidos,
cantados com desembaraço e bem gravados na memória. Aqueles a quem está
confiada a formação religiosa dos meninos e das meninas não deixem de valer-
se, pelo modo devido, desses eficazes auxílios, e os assistentes da juventude
católica usem deles rectamente na grave tarefa que lhes foi confiada. Desse
modo pode-se esperar obter mais outra vantagem, que está no desejo de todos, a
saber: a de que sejam eliminadas essas canções profanas que, ou pela moleza do
ritmo, ou pelas palavras não raro voluptuosas e lascivas que o acompanham,
costumam ser perigosas para os cristãos, especialmente para os jovens, e sejam
substituídas por essas outras que proporcionam um prazer casto e puro, e que,
ao mesmo tempo, alimentam a fé e a piedade; de modo que já aqui na terra o
povo cristão comece a cantar aquele cântico de louvor que cantará eternamente
no céu: "Àquele que se senta no trono e ao Cordeiro seja bênção, honra, glória e
poder pelos séculos dos séculos" (Ap 5,13).

Condições especiais em países de missão

33. O que até aqui escrevemos vigora sobretudo para as nações pertencentes à
Igreja nas quais a religião católica já está solidamente estabelecida. Nos países
de missão, certamente não será possível pôr tudo isso em prática antes de haver

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crescido suficientemente o número dos cristãos, antes de se haverem construído


igrejas espaçosas, antes de serem convenientemente freqüentadas pelos filhos
dos cristãos as escolas fundadas pela Igreja, e, finalmente, antes de haver lá um
número de sacerdotes igual à necessidade. Todavia, vivamente exortamos os
obreiros apostólicos que lidam nessas vastas extensões da vinha do Senhor, entre
os graves cuidados do seu ofício, se dignarem de ocupar-se seriamente também
dessa incumbência. É maravilhoso ver o quanto se deleitam com as melodias
musicais os povos confiados aos cuidados dos missionários, e quão grande parte
tem o canto nas cerimónias dedicadas ao culto dos ídolos. Improvidente seria,
portanto, que esse eficaz subsídio para o apostolado fosse tido em pouca conta,
ou completamente descurado, pelos arautos de Cristo verdadeiro Deus. Por isso,
no desempenho do seu ministério, os mensageiros do evangelho nas regiões
pagãs, deverão fomentar largamente este amor do canto religioso que é
cultivado pelos homens confiados aos seus cuidados, de modo que, aos cânticos
religiosos nacionais, não raro admirados até mesmo pelas nações civilizadas,
esses povos contraponham análogos cânticos sacros cristãos, nos quais se
exaltam as verdades da fé, a vida de nosso Senhor Jesus Cristo, da Bem-
aventurada Virgem e dos santos na língua e nas melodias peculiares dos mesmos
povos.

34. Lembrem-se, outrossim, os missionários de que, desde os antigos tempos a


Igreja católica, enviando os arautos do evangelho a regiões ainda não
iluminadas pela luz da fé, juntamente com os ritos sagrados, quis que eles
levassem também os cantos litúrgicos, entre os quais as melodias gregorianas, e
isto no intuito de que, atraídos pela doçura do canto, os povos a chamar a fé
fossem mais facilmente movidos a abraçar as verdades da religião cristã.

IV. RECOMENDAÇÕES AOS ORDINÁRIOS

35. Para que obtenha o desejado efeito tudo quanto, seguindo as pegadas dos
nossos predecessores, nós nesta carta encíclica recomendamos ou prescrevemos,
vós, ó veneráveis irmãos, com solícito empenho adotareis todas as disposições
que vos impõe o alto encargo a vós confiado por Cristo e pela Igreja, e que,
como resulta da experiência, com grande fruto são, em muitas igrejas do mundo
cristão, postas em prática.

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Os coros dos fiéis

36. Antes de tudo tende o cuidado de que na igreja catedral e, na medida em


que as circunstâncias o permitirem, nas maiores igrejas da vossa jurisdição, haja
uma distinta "Scholae cantorum", que sirva aos outros de exemplo e de estímulo
para cultivar e executar com diligência o cântico sacro. Onde, contudo, não se
puderem ter as "Scholae cantorum" nem se puder reunir número conveniente
de "Pueri cantores", concede-se que "um grupo de homens e de mulheres ou
meninas, em lugar a isso destinado e localizado fora do balaústre, possa cantar
os textos litúrgicos na missa solene, contanto que os homens fiquem
inteiramente separados das mulheres e meninas, e todo inconveniente seja
evitado, onerada nisso a consciência dos Ordinários".(26)

Nos seminários e colégios religiosos

37. Com grande solicitude é de providenciar-se, para que todos os que nos
seminários e nos institutos missionários religiosos se preparam para as sagradas
ordens sejam rectamente instruídos, segundo as diretrizes da Igreja, na música
sacra e no conhecimento teórico e prático do canto gregoriano, por mestres
experimentados em tais disciplinas, que estimem tradições, usos e obedeçam em
tudo às normas preceptivas da Santa Sé.

38. E, se entre os alunos dos seminários e dos colégios religiosos houver algum
dotado de particular tendência e paixão por essa arte, disso não deixem de vos
informar os reitores dos seminários ou dos colégios, a fim de que possais oferecer
a esse tal ensejo de cultivar melhor tais dotes, e possais enviá-lo ao Pontifício
Instituto de música sacra nesta cidade, ou a algum outro ateneu do gênero,
contanto que ele se distinga por bons costumes e virtudes, e com isso dê motivo
a se esperar venha a ser um ótimo sacerdote.

Um perito em música sacra no seio do conselho diocesano de arte sacra

39. Além disso, convirá providenciar, para que os ordinários e os superiores


maiores dos institutos religiosos escolham alguém, de cujo auxílio se sirvam em
coisa de tanta importância a que, entre outras tantas e tão graves ocupações, por
força de circunstâncias eles não possam facilmente atender. Coisa ótima para

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esse fim é que no conselho diocesano de arte sacra haja alguém perito em
música sacra e em canto, o qual possa habilmente vigiar na diocese em tal
terreno e informar o ordinário de tudo o que se tem feito e se deva fazer,
acolhendo-se e fazendo-se executar as prescrições e disposições dele. E, se em
qualquer diocese existir alguma dessas associações que sabiamente têm sido
fundadas para cultivar a música sacra, e que têm sido louvadas e recomendadas
pelos sumos pontífices, na sua prudência poderá o ordinário ajudar-se dela para
satisfazer as responsabilidades desse seu encargo.

Os pios sodalícios consagrados à música sacra

40. Os pios sodalícios, constituídos para a instrução do povo na música sacra ou


para aprofundar a cultura desta última, os quais, com a difusão das idéias e com
o exemplo, muito podem contribuir para dar incremento ao canto sacro,
amparai-os, veneráveis irmãos, e promovei-os com o vosso favor, para que eles
floresçam de vigorosa vida e obtenham ótimos mestres idôneos, e em toda a
diocese diligentemente dêem desenvolvimento à música sacra e ao amor e ao
costume dos cânticos religiosos, com a devida obediência às leis da Igreja e às
nossas prescrições.

CONCLUSÃO

41. Tudo isso, movido por uma solicitude todo paternal, quisemos tratar com
certa amplitude; e nutrimos plena confiança de que vós, veneráveis irmãos,
dedicareis todo o vosso cuidado pastoral a tal questão de interesse religioso
muito importante para a celebração mais digna e mais esplêndida do culto
divino. Aqueles, pois, que na Igreja, sob a vossa direção, têm em suas mãos a
direção do que concerne a música, esperamos achem nesta nossa carta encíclica
incitamento para promover com novo e apaixonado ardor e com generosidade
operosamente hábil esse importante apostolado. Assim, conforme auguramos,
sucederá que essa arte tão nobre, muito apreciada em todas as épocas pela
Igreja, também nos nossos dias será cultivada de modo a ver-se reconduzida aos
lídimos esplendores de santidade e de beleza, e conseguirá perfeição sempre
mais alta, e com o seu contributo produzirá este feliz efeito: que, com fé mais
firme, com esperança mais viva, com caridade mais ardente, os filhos da Igreja
prestem nos templos a devida homenagem de louvores a Deus uno e trino, e

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !83


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que, mesmo fora dos edifícios sagrados, no seio das famílias e nas reuniões
cristãs, verifique-se aquilo que são Cipriano fazia objeto de uma famosa
exortação a Donato: "Ressoe de salmos o sóbrio banquete: e, como tens
memória tenaz e voz canora, assume esse ofício segundo o costume em moda: a
pessoas a ti caríssimas ofereces maior nutrimento se da nossa parte houver uma
audição espiritual, e se a doçura religiosa deleitar o nosso ouvido".(27)

42. Enquanto isso, na expectativa dos resultados sempre mais ricos e felizes que
esperamos tenham origem desta nossa exortação, em atestado do nosso paternal
afecto e em penhor de dons celestes, com efusão de alma concedemos a bênção
apostólica a vós, veneráveis irmãos, a quantos, tomados singular e
coletivamente, pertençam ao rebanho a vós confiado, e em modo particular
àqueles que, secundando os nossos votos, se preocupam de dar incremento à
música sacra.

Dado em Roma, junto a São Pedro, no dia 25 de dezembro, festa do Natal de


nosso Senhor Jesus Cristo, do ano de 1955, XVII do nosso pontificado.

PIO PP. XII.

Notas

(1) Motu Proprio Entre as solicitudes do múnus pastoral: Acta Pii X, vol. I, p.
77.

(2) Cf. Gn 1,26.

(3) Epist.161, De origine animae hominis, l, 2; PL 33, 725.

(4) Cf. Ex 15,1-20.

(5) 2Sm 6,5.

(6) Cf. 1Cr 23,5; 25,2-31.

(7) Ef 5,18s; cf. Col 3,16.

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(8) 1Cor 14,26.

(9) Plínio, Epist. X, 96, 7.

(10) Cf. Tertuliano, De anima, c. 9; PL 2, 701; e Apol. 39; PL 1, 540.

(11) Conc. Trid., Sess. XXII: Decretum de obseruandis et vitandis in


celebratione Missae.

(12) Cf. Bento XIV, Carta enc. Annus qui; Opera omnia, (ed. Prati, Vol.17,1, p.
16).

(13) Cf. Carta apost., Bonum est confiteri Domino, (2 de agosto de 1828). Cf.
Bullarium Romanum, ed. Prati, ed. Typ. Aldina, t. IX, p.139ss.

(14) Cf. Acta Leonis XIII,14(1895), pp. 237-247; cf. AAS 27(1894), pp. 42-49.

(15) Cf. Acta Pii X, vol. I, pp. 75-87; AAS 36(1903-04), pp. 329-339; 387-395.

(16) Cf. AAS 21(1929), pp. 33ss.

(17) Cf. AAS 39(1947), pp. 521-595.

(18) S. Agostinho, Confess., 1. X, c. 33, PL 32, 799ss.

(19) Acta Pii X, 1, p.78.

(20) Carta ao Card. Respighi, Acta Pii X,1, pp. 68-74; v pp. 73ss; AAS
36(1903-04), pp. 325-329; 395-398; v. 398.

(21) Pio XI, Const. apost. Divini cultus; AAS 21(1929}, pp. 33ss.

(22) CIC, cân. 5.

(23) Conc. Trid., Sess. XXII, De sacrificio Missae, c. VIII.

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(24) Acta Pii X ,1, p. 80.

(25) AAS 39 (1947), p. 590.

(26) Decr. S.C. Rituum, nn. 3964; 4201; 4231.

(27) S. Cipriano, Epist. ad Donatum (Epistola 1, n. XVI); PL 4, 22

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CONSTITUIÇÃO
APOSTÓLICA
DIVINI CULTUS
SANCTITATEM
SOBRE LITURGIA,
CANTO GREGORIANO
E MÚSICA SACRA
Papa Pio XI, 1929

Veneráveis Irmãos,
Saudação e Benção Apostólica.

O DOGMA, A LITURGIA E A ARTE

Autoridade da Igreja sobre assuntos litúrgicos (1)


Havendo a Igreja recebido do seu fundador Jesus Cristo o encargo de velar pela
santidade do culto divino, tem indubitavelmente autoridade, deixando sempre a
salvo o substancial do Sacrifício e dos Sacramentos, para prescrever tudo aquilo
que sirva para regular dignamente o dito augusto ministério público,
concretamente em relação às cerimónias, ritos, fórmulas, preces e canto, cujo
conjunto recebe o nome especial de Liturgia, ou seja a acção sagrada por
excelência.

A Liturgia e a sua união com o dogma e a vida


É verdadeiramente coisa sagrada a liturgia, não só como elevação e união das
almas até Deus, mas também como testemunho das nossas fé e gravíssima

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dívida que para com Deus temos pelos benefícios recebidos e dos quais sempre
necessitamos. Daqui a íntima união que há entre o dogma e a liturgia,
semelhante àquela entre o culto cristão e a sanctificação do povo. Por isso,
Celestino I ensinava já que o canon da fé se encontrava expreso nas venerandas
fórmulas da liturgia, e escrevia: «As normas da fé ficam estabelecidas pelas
normas da oração. Os pastores da grei cristã desempenham a missão que se lhes
há encomendado, e, portanto, advogam ante a divina clemência pela causa do
género humano, e quanto pedem e oram, fazem-no acompanhados dos gemidos
de toda a Igreja»(2).

Participação do povo na Liturgia e no Canto, antigamente


Estas orações colectivas, que primeiro se chamaram opus Dei(3), e depois
officium divinum, como dívida que devia ser paga diàriamente ao Senhor,
durante os primeiros séculos da Igreja, faziam-se de dia e de noite com grande
concurso de fiéis. E é indizível o quão admiravelmente ajudavam aquelas
ingénuas melodias, que acompanhavam a sagradas preces e o Santo Sacrifício, a
incendiar a piedade cristã no povo. Foi então, especialmente nas vetustas
basílicas, onde Bispos, Clero e povo se alternavam nos divinos louvores, quando,
como reza a História, muitos dos bárbaros se educaram na civilização cristã. Ali,
no templo, era onde o própio opressor da família cristã sentia melhor o valor e a
eficácia do dogma da comunhão dos santos. Assim, o Imperador ariano Valente
ficou como que anonadado [=chocado] ante a majestade com que São Basílio
celebrou os divinos mistérios; e em Milão os herejes acusavam Santo Ambrósio
de enfeitiçar as turbas com o canto dos seus himnos litúrgicos; e o certo é que
aqueles mesmos himnos comoveram tanto Santo Agostinho que o fizeram
decidir-se a abraçar a fé de Cristo. Foi também nas igrejas, onde quase todos os
cidadãos formavam como que um imenso coro, o sítio em que os próprios
artistas, arquitectos, pintores, escultores e literatos aprenderam da liturgia aquele
conjunto de conhecimentos teológicos que hoje tanto resplandecem e se
admiram nos insignes monumentos da Idade Média.

A Igreja fomentou sempre a vida litúrgica


Por aqui se acaba de ver por quê os Romanos Pontífices mostraram tão grande
solicitude em fomentar e proteger a Liturgia sagrada; e assim como puseram
tanto cuidado em expressar o dogma com palavras exactas, também se
aplicaram a pô-lo nas sagradas normas da liturgia, defendendo-as e

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !88


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preservando-as de adulteração. Por isso, também se constata que os Santos


Padres comentaram a liturgia nas suas homilias e escritos, e o Concílio de
Trento quis que aquela fosse exposta e explicada ao povo cristão.

O MOTU PROPRIO DE PIO X E O CENTENÁRIO DE GUIDO DE


AREZZO

Pio X impulsionou há 25 anos o movimento litúrgico


No que toca aos tempos modernos, o Sumo Pontífice Pio X, de feliz memória,
ao promulgar há vinte e cinco anos o Motu proprio sobre a música sacra e o
canto gregoriano, propôs-se como fim principal fazer que reflorescesse e se
conservasse nos fiéis o verdadeiro espírito cristão, tendendo com oportunas
ordens e sábias disposições a suprimir quanto pudesse opôr-se à dignidade do
templo, onde os fiéis se reúnem cabalmente para beber desse fervor de piedade
na sua primeira e indispensável fonte que é a participação activa nos
sacrossanctos mistérios e na oração solemne da Igreja. Importa, portanto,
muitíssimo que quanto seja ornamento da sagrada liturgia esteja contido nas
fórmulas e nos limites impostos e desejados pela Igreja, para que as artes, como
é seu dever essencial, sirvam verdadeiramente como nobilíssimas servas ao culto
divino; o qual não redundará em seu, mas antes bem dará maior dignidade e
esplendor ao desenvolvimento das artes elas mesmas, no lugar sagrado.

A música sacra e o canto, coadjuvantes na renovação litúrgica


Isto viu-se realizado e confirmado de maravilhosa maneira no que atem à
música e ao canto litúrgicos, posto que onde se observaram e cumpriram
integralmente as disposições de Pio X se logrou a restauração das mais dilectas
formas de arte e o consolador reflorescimento do espírito religioso, já que o povo
cristão, compenetrado por um mais profundo sentimento litúrgico, começou a
tomar parte mais activa no rito eucarístico, na oração pública e na salmodia. E
Nós mesmos fizemos uma consoladora confirmação do facto, quando no
primeiro ano do Nosso Pontificado um imenso coro de clérigos de todas as
nações acompanhou com melodias gregorianas o solene acto litúrgico celebrado
por Nós na Basílica Vaticana.

As normas de PIO X

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Fere-Nos, todavia, advertir que as sábias disposições do Nosso antecessor não


obtiveram em todas as partes a aplicação devida, e por isso não se obtiveram as
melhoras esperadas. Sabemos, com efeito, que alguns pretenderam não estar
obrigados à observância daquelas disposições e leis, não obstante a solemnidade
com que foram promulgadas; que outros, depois dos primeiros anos de feliz
emenda, voltaram insensivelmente a permitir certo género de música que deve
ser totalmente desterrado do templo; e, finalmente, que em alguns sítios, por
ocasião principalmente de comemorações centenárias de ilustres músicos,
procuraram pretextos para interpretar composições que, ainda sendo formosas
em si mesmas, não correspondem nem à majestade do lugar sagrado, nem à
santidade das normas litúrgicas, e por tanto não devem ser interpretadas nas
Igreja.

Motivo da Constituição: O Motu Proprio e o Centenário de Arezzo


Assim, pois, precisamente para que o povo e o clero obedeçam em diante com
mais exactidão às normas impostas por Pio X a toda a Igreja, agrada-nos aqui
dar algumas singulares disposições, sugeridas pela experiência de vinte e cinco
anos. E isto fazemo-lo com tanto maior gosto, quanto que este ano, ademais de
se cumprir o primeiro quarto de século da citada restauração da música sacra,
se celebra também o centenário do monge Guido De Arezzo(4), o qual,
chamado a Roma pelo Sumo Pontífice, faz hoje cerca de novecentos anos que
expôs os felizes resultados do sistema por ele habilmente inventado para fixar,
conservar e divulgar mais facilmente e com maior esplendor da Igreja e da Arte
aquela melodia litúrgica que tem a sua origem nos primeiros dias do
Cristianismo. No glorioso templo Lateranense, primeiro lugar onde São
Gregório Magno, coleccionando, ordenando e aumentando o tesouro da
monódia sagrada(5), herança e monumento dos Santos Padres [da Igreja],
instituiu a famosa Schola que haveria de perpetuar a interpretação genuína e
tradicional dos cantos litúrgicos, ali mesmo o monge Guido fez a primeira
experiência do seu invento, diante do clero de Roma, e na presença do mesmo
Sumo Pontífice, o qual, aprovando e elogiando a inovação, procurou que esta se
pudesse pouco a pouco difundir por todas as partes, com imensas vantagens
para todo o género de música.

Anúncio de novas normas

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Por isso a todos os Bispos e Ordinários, a quem corresponde de modo singular a


custódia [=guarda] da liturgia e o cuidado das artes sacras no templo, lhes
prescrevemos aqui algumas normas, como resposta aos inumeráveis votos que
de todos os Congressos de Música, e especialmente do celebrado faz pouco
tempo em Roma, nos enviaram muitos sagrados Pastores e ilustres heraldos da
restauração musical, a todos os quais tributamos aqui o merecida homenagem.
E prescrevemos que estas normas se cumpram e observem segundo os meios e
métodos mais eficazes, que em seguida descriminamos.

A PARTE DISPOSlTIVA

Cultura musical nos Seminários


I. Quem quer que deseje iniciar-se no ministério sacerdotal, não só nos
Seminários, mas também nas casas religiosas, seja instruído no canto gregoriano
e na música sacra desde os primeiros anos da sua juventude, a fim de que em tal
idade possa mais facilmente aprender quanto se refere ao canto e à melodia, e
ademais lhe seja menos dificultoso suprimir ou modificar defeitos naturais, se
por casualidade deles padecer, os quais seria impossível remediar depois, em
idade mais adulta. Iniciando-se assim esta aprendizagem do canto e da música
desde as classes elementares, e prosseguido-a no ginásio e no liceu, os futuros
sacerdotes, feitos já, sem sequer se darem conta disso, temperados cantores,
poderão receber sem fadiga nem dificuldade a cultura superior que bem pode
chamar-se de estética da melodia gregoriana e da arte musical, da polifonia e do
órgão, conhecimentos que se tornaram hoje tão convenientes à cultura do clero.

Teoria e prácticas frequentes


II. Portanto, assim nos Seminários como nos demais institutos de educação
eclesiástica, haja uma breve mas frequente e quase diária lição ou execução do
canto gregoriano e da música sacra, lição que, se é dada com espírito
verdadeiramente litúrgico, servirá mais de alívio que de pêsame para os alunos
depois das fatigantes horas de outras aulas e estudos severos. Esta mais completa
e perfeita educação litúrgico-musical do clero conseguirá, sem dúvida, que se
recupere o seu antigo esplendor e dignidade o ofício do coro [chorale officium],
que é parte principal do culto divino [quod pars est divini cultus praecipua]; e
assim mesmo conseguirá que nas Escolas e Capelas musicais [scholae et capellae
musicorum] renasça a sua antigua glória e grandeza.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !91


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O OFÍCIO CORAL

III. Todos aqueles que estejam à frente de Basílicas, Igrejas Catedrais,


Colegiatas e Conventos de religiosos, ou que de qualquer modo pertençam a
elas, devem empregar todo o seu esforço a fim de que se restaure o chorale
officium segundo as prescripções da Igreja; não só em quanto é de preceito
genérico, como rezar sempre o oficio divino com dignidade, atenção e devoção
[digne, atente et devote], mas também em quanto concerne à arte do canto:
posto que na salmódia se deve atender ora à precisão dos tons com as suas
próprias cadências médias e finais, ora à pausa conveniente do asterisco, ora,
por fim, à plena concórdia na recitação dos versículos salmódicos e das estrofes
dos hinos. Porque, se tudo isso se cumprir nos seus mínimos pontos,
salmodiando todos perfeitamente, não só demonstrarão a unidade dos seus
espíritos, aplicados aos louvores de Deus, mas também no equilibrado alternar
de ambas as alas do coro parecerão emular a laude eterna dos Serafins, que em
voz alta cantam alternadamente: "Santo, Santo, Santo" [Sanctus, Sanctus,
Sanctus].

Pessoa responsável pela Liturgia e pelo canto


IV. A fim de que em diante ninguém possa alegar desculpas ou pretextos para se
achar dispensado da obrigação de obedecer às leis da Igreja, todos os Capítulos
e Comunidades religiosas deveram tratar destas disposições em oportunas
reuniões periódicas. E, assim como noutro tempo havia um cantor ou mestre de
coro, assim também no futuro haja em todos os coros, tanto de canónicos como
de religiosos, uma pessoa competente que vele pela observância das regras
litúrgicas e do canto coral, e corrija na práctica os defeitos de todo o coro e de
cada um dos seus componentes.

Insistência no canto gregoriano autêntico


E aqui é oportuno recordar que por antiga e constante disciplina da Igreja,
como também em virtude das mesmas Constituições Capitulares, hoje todavia
vigentes, é necessário que todos quantos estejam obrigados ao ofício coral
conheçam, ao menos na medida conveniente, o canto gregoriano, ao qual hão
de ajustar-se todas as Igrejas, sem exceptuar nenhuma, entenda-se só àquilo que

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tiver sido restituído à fidelidade dos antigos códices, e já dado pela Igreja como
edição autêntica [vaticanis typis].

CAPELLAE MUSICORUM E SCHOLAE PUERORUM CANTORUM

Capelas musicais
V. Também nos queremos dirigir aqui a todos aqueles a quem as Capelas
musicais [Capellas musicorum] concernem, como sendo aquelas que sucedendo
no decurso dos tempos às antigas scholae se instituiram para este fim em
Basílicas e nas Igrejas maiores, e as quais se ajustaram especialmente à polifonia
sacra, que, a este propósito, costuma com toda a razão merecer a preferência
depois das venerandas melodias gregorianas sobre todo e qualquer outro género
de música eclesiástica. Por isso, desejamos Nós ardentemente que tais Capelas,
tal como floresceram desde o século XIV ao XVI, assim também se restaurem,
especialmente onde quer que a maior frequência e esplendor do culto divino
exijam maior número e mais requintada selecção de cantores.

As Escolas de meninos devem formar-se em todas as Igrejas


VI. Quanto às scholae puerorum, devem ser fundadas não só nas igrejas
maiores e Catedrais, mas também nas igrejas menores e paroquiais; os meninos
cantores serão educados no canto por mestres de capela, para que as suas vozes,
segundo o antigo costume da Igreja, se unam aos coros viris, sobretudo quando
na polifonia sacra lhes é confiada, como sucedeu sempre, a parte de soprano
[suprema voce], ou também do cantus. Dos meninos do coro, sobretudo no
século XVI, saíram, como é sabido, os melhores compositores de polifonia
clássica, sendo o primeiro de todo eles o grande Pier Luigi da Palestrina
[Ioannes Petrus Aloisius Praenestinus].

A MÚSICA INSTRUMENTAL E O ÓRGÃO

A voz humana deve ressoar no templo


VII. E porque sabemos ser verdade que nalguma região se tenta fomentar de
novo um género de música não de todo sagrada por causa especialmente do
imoderado uso dos instrumentos, Nós cremo-Nos aqui no dever de afirmar que
não é o canto com acompanhamento de instrumentos o ideal para a Igreja; pois
à frente do instrumento está a voz viva que deve ressoar no templo, a voz do

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clero, a dos cantores e a do povo; e não se pense que a Igreja se opõe ao


florescimento da arte musical quando procura dar a preferência à voz humana
sobre todos os outros instrumentos, porque nenhum instrumento, nem ainda o
mais delicado e perfeito, poderá alguma vez competir em vigor de expressão
com a voz humana, sobretudo quando dela se serve a alma para orar e louvar
ao Deus omnipotente.

O tradicional instrumento da Igreja: o órgão


VIII. A Igreja tem ademais o seu tradicional instrumento musical; referimo-nos
ao órgão, que pela sua maravilhosa grandiosidade e majestade foi considerado
digno de se enlaçar com os ritos litúrgicos, ora acompanhando ao canto, ora
durante os silêncios dos coros e segundo as prescrições da Igreja, difundindo
suavíssimas harmonias. Mas também nisto há que evitar essa mescla de sagrado
e de profano, que devida por um lado a modificações introduzidas pelos
constructores organeiros, e por outro a novidades musicais de alguns organistas,
vai ameaçando a pureza da santa missão a que o órgão está destinado a realizar
na Igreja.

Perigos do modernismo musical


Também Nós desejamos que, salvas sempre as normas litúrgicas, se desenvolva
cada dia mais, e receba novos aperfeiçoamentos o quão se refere ao órgão. Não
podemos contudo deixar de lamentarmo-nos de que, assim como acontecia
noutros tempos com géneros de música que a Igreja com razão reprovou, assim
também hoje se tente com moderníssimas formas voltar a introduzir no templo
o espírito de dissipação e de mundanidade. Se tais formas começassem
novamente a infiltrar-se, a Igreja não tardaria um segundo a condená-las.
Ressoem de novo nos templos só aqueles acentos do órgão que estão em
harmonia com a majestade do lugar e com o santo perfume dos ritos. Somente
assim a arte do órgão reencontrará o seu caminho e o seu novo esplendor, com
vantagem verdadeira para a liturgia sagrada.

A PARTICIPAÇÃO DO POVO

O povo de espectador deve passar a parte activa no canto litúrgico


IX. A fim de que os fiéis tomem parte mais activa no culto divino, restitua-se
para o povo o uso do canto gregoriano, no que ao povo tocar. É necessário, na

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verdade, que os fiéis, não como estranhos ou mudos espectadores, mas


verdadeiramente compreendedores e compenetrados da beleza da Liturgia,
assistam às sagradas funções de tal modo que alternem a sua voz - segundo as
devidas normas e instruções, mesmo em procissões e outros momentos solenes -,
com a voz do sacerdote e a do coro. Porque, se isto felizmente suceder, não
haverá já mais que lamentar esse triste espectáculo em que o povo nada
responde, ou apenas responde com um murmúrio fraco e confuso às orações
mais comuns expressas na língua litúrgica e até em língua vulgar.

Ensino generalizado da música litúrgica


X. Apliquem-se activamente um e outro Clero, com a guia e através do exemplo
dos Bispos e Ordinários, a fomentar, quer directamente, quer por meio de
pessoas entendidas, esta catequese [institutionem] litúrgico-musical do povo,
como coisa que está tão estreitamente unida à doutrina cristã. E isso será mesmo
fácil de obter se esta instrução no canto litúrgico se der principalmente nas
escolas, congregações piedosas e outras associações católicas. Deste modo sejam
as comunidades de religiosos, de monjas e instituições femininas zelosas por
conseguir este fim nos diversos estabelecimentos de educação que lhes estão
confiados. Igualmente confiamos que ajudarão não pouco a este fim as
associações [societates] que nalgumas regiões, e acatando sempre as autoridades
eclesiásticas, dediquem toda a sua inteligente acção a restaurar a música sagrada
segundo as normas da Igreja.

Formação musical. Institutos de música


XI. Para alcançar estes ditosos frutos, é indubitavelmente necessário que haja
maestros, e que estes sejam muitíssimos. A este propósito, não podemos deixar
de tributar as devidas exaltações àquelas Scholae e Institutos de Música
fundados em muitas partes do mundo católico, pois, ensinando com todo o
esmero e diligência as musicais disciplinas, formam sábios e meritíssimos
maestros. Mas de maneira especialíssima queremos Nós aqui recordar e
enaltecer a Escola Superior de Música Sacra(6), instituição fundada por Pio X
em Roma no ano de 1910. Esta Escola, que o nosso imediato antecessor Bento
XV fervorosamente protegeu, e à qual doou um novo e decoroso [=honroso]
domicílio, também mereceu que Nós lhe outorgássemos o nosso especial favor,
enquanto preciosa herança que nos deixaram dois Papas; e por isso a
recomendamos calorosamente a todos os Ordinários do mundo.

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Música sagrada maravilhosa do passado e vida interior


Bem sabemos quanta inteligência e trabalho requer tudo o que acima
ordenámos. Mas quem não conhecerá as insignes obras mestras que deixaram à
posteridade os Nossos Predecessores sem se deixarem arredar por dificuldade
alguma, e isso cabalmente porque estavam imbuídos do fervor da piedade e do
espírito litúrgico? E isto não é de espantar, pois tudo o que emana da vida
interior da Igreja transcende os mais perfeitos ideais desta vida terrena. A
dificuldade, pois, desta santíssima empresa, em vez de abater, deve muito mais
excitar e elevar os ânimos dos Sagrados Pastores. Todos os quais, secundando
concorde e constantemente a nossa vontade, prestarão ao Bispo supremo uma
cooperação digníssima do seu ministério episcopal.

Decreto
Tudo isto Nós proclamamos, declaramos e sancionamos, decretando que esta
Constituição Apostólica seja e permaneça sendo sempre de pleno valor e
eficácia, obtenha o seu efeito pleno, sem que obste nada em contrário. A
nenhum homem, pois, lhe será lícito infringir esta Constituição por Nós
promulgada, nem contradizê-la com temerária audácia.

Dado em São Pedro de Roma, no quinquagésimo aniversário do nosso


sacerdócio, dia 20 de Dezembro de 1928, séptimo do nosso Pontificado.

FR. ANDREAS Card. FRÜHWIRTH,


Cancellarius S. R. E. CAMILLUS Card. LAURENTI
S. R. C. Pro Praefectus

Ioseph Wilpert, Decanus Collegii Protonotariorum Apost.


Dominicus Spolverini, Protonotarius Apostolicus.

Notas (ausentes da versão latina)

(1) O Motu Proprio deve considerar-se como uma recompilação de leis já dadas
no transcurso dos séculos; a Constituição Apostólica, documento de
importância e alcance gerais, em forma de Bula, é uma nova lei, um acto
legislativo como por exemplo a erecção de um bispado, a nomeação de um

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !96


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bispo, a promulgação de uma lei, e exige o cumprimento das disposições do


Motu Proprio. Este, sendo "instrução", dirige-se principalmente às pessoas que
hão de executar a música sacra e logo aos que hão de vigiar a sua execução. A
Constituição Apostólica, não obstante, sendo lei, é dirigida directamente aos
Bispos - porquanto estes representam nas suas respectivas dioceses a autoridade,
o poder executivo, e são, em primeiro lugar, responsáveis pela aplicação das leis
eclesiásticas -, e obriga, naturalmente, também todos os fiéis, ainda que de
forma indirecta. Por conseguinte, este documento, não se ocupa tanto da música
sacra enquanto tal como dos problemas de organização, assinalando os meios
necessários e convenientes pelos quais se chega a lograr a finalidade proposta
pelo Motu Proprio de Pio X, de cuja publicação se celebrou, no ano de 1928, o
25º aniversário. (P. L.).

(2) Epist. ad Episcopos Galliarum, Migne, Patrol. lat. 50, 535.

(3) "Obra de Deus" e "Ofício Divino" são termos que se empregam para
significar as orações obrigatórias que o sacerdote deve elevar diariamente a
Deus. São Bento, o patriarca dos monges do Ocidente, consagrou esses termos
na sua Regra.

(4) Guido De Arezzo, italiano (991-1033?), Teórico da música. Conhecido


também com o nome de Guido Aretinus, foi um monge benedictino que ficou
na história da música como um dos mais importantes reformadores do sistema
de notação musical. Depois de ter terminado os estudos na abadia benedictina
de Pomposa, em Ferrara, em cerca de 1025 ingressou como maestro na escola
catedralícia de Arezzo, onde sobressaiu no ensino da arte vocal e escreveu o seu
tratado principal, o Micrologus de disciplina artis musicae. Em 1029 retirou-se
para o convento de Avellana, no qual possivelmente terá morrido em data
imprecisa. A Guido De Arezzo se deve a fórmula que permite memorizar a
entoação precisa das notas do hexacordo maior, cuja nomenclatura (Ut ou Do,
Re, Mi, Fa, Sol, La) extraído das sílabas iniciais de cada hemistíquio do hino de
São João Ut queant laxis. A nota Si formou-se quase um século e meio mais
tarde com as maiúsculas do último verso. Ut foi sustituída no século XVII por
Do, mais fácil de pronunciar (ainda que em França se continue a chamar por
igual nome).

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(5) Monódia: Mús. Canto a uma só voz.

(6) A Escola Superior de Música Sacra foi fundada sob esta denominação em
1910 pela Associação Italiana de Santa Cecília. Abriu a 3 de Janeiro e S. S. Pío
X aprovou-a com o Breve "Expleverunt" de 4 de Novembro de 1911. A 10 de
Julho de 1914, com Rescrito da Secretaria de Estado, S. S. declarou-a
"Pontifícia" e outorgou-lhe a faculdade de conferir os graus. O Sumo Pontífice
Bento XV outorgou-lhe como residência o Palácio do "Apollinare". S. S. Pío XI
confirmou a faculdade de conferir os graus académicos, com o Motu Proprio de
22 de Novembro de 1922. Hoje intitula-se Instituto Pontifício de Música Sacra.
Pio X dirigiu a "Epístola" Expleverunt desiderii Nostri, 4-XI-1911 ao Cardeal
Rampolla um ano depois da fundação da Escola Superior de Música Sagrada;
AAS. 3 (1911) 654-655; o Motu Proprio de Pio XI Ad musicae sacrae, de 22-
XI-1922 acha-se na AAS. (1920) 623-626; a faculdade de conferir títulos
académicos vai no núm. V das disposições. AAS. 14, 625.

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INSTRUÇÃO "MUSICAM
SACRAM"

No dia 5 de Março de 1967


a Sagrada Congregação para os Ritos e o Concilium
publicaram a Instrução Musicam Sacram, sobre a música na sagrada Liturgia.

Proémio
1. A Música Sacra, no que respeita à renovação litúrgica, foi objecto de atento
estudo no Concílio Vaticano II. Este esclareceu a sua função nos divinos ofícios,
promulgando princípios e leis sobre ela na Constituição sobre a Sagrada
Liturgia, onde lhe dedicou um capítulo inteiro.
2. As decisões do Concílio começaram já a ser postas em prática na renovação
litúrgica recentemente iniciada. Mas as novas normas referentes à organização
dos ritos sagrados e à participação activa dos fiéis levantaram problemas sobre a
Música Sacra e sobre a sua função ministerial, que deverão resolver-se a fim de
se conseguir uma melhor compreensão de alguns princípios da Constituição
sobre a Sagrada Liturgia.
3. Por consequência, o Consilium, instituído pelo Sumo Pontífice para levar à
prática a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, examinou cuidadosamente
estes problemas e redigiu a presente instrução. Não pretende esta reunir toda a
legislação sobre Música Sacra, mas apenas estabelecer algumas normas
principais, que parecem nais oportunas de momento; é como que a continuação
e o complemento da Instrução anterior desta Sagrada Congregação - preparada
por este mesmo Consilium - e publicada a 26 de Setembro de 1964 para regular
correctamente a aplicação da Constiuição sobre a Sagrada Liturgia.
4. É de esperar que pastores, músicos e fiéis acolham com bom espírito estas
normas e as ponham em prática, de modo que todos à uma se esforcem por
conseguir o verdadeiro fim da Música Sacra, "que é a glória de Deus e a
santificação dos fiéis".[1]
a) Entende-se por Música Sacra aquela que, criada para o culto divino, possui as
qualidades de santidade e de perfeição de forma.[2]

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b) Com o nome de Música Sacra designam-se aqui: o canto gregoriano, a


polifonia sagrada antiga e moderna nos seus vários géneros, a música sagrada
para órgão e outros instrumentos admitidos e o canto popular, litúrgico e
religioso.[3]

I. Algumas normas gerais


5. A acção litúrgica reveste-se de maior nobreza quando é celebrada com canto:
cada um dos ministros desempenha a sua função própria e o povo participa
nela.[4] Desta maneira, a oração toma uma forma mais penetrante; o Mistério
da Sagrada Liturgia e o seu carácter hierárquico manifestam-se mais
claramente; mediante a união das vozes alcança-se mais profunda união dos
corações; pela beleza do sagrado, mais facilmente o espírito se eleva ao invisível;
finalmente, toda a celebração prefigura com mais clareza a Liturgia santa da
Nova Jerusalém.
Os pastores de almas, portanto, hão-de esforçar-se por conseguir esta forma de
celebração. Também nas celebrações sem canto, mas realizadas com o povo, se
conservará de maneira apropriada a distribuição de ministérios e funções que
caracteriza as acções sagradas realizadas com canto; procurar-se-á,
principalmente, que haja os ministros necessários e capazes, assim como se
fomentará a participação activa do povo.
A preparação prática de cada celebração litúrgica far-se-á com espírito de
colaboração entre todos os que nela hão-de intervir, sob a direcção do reitor da
igreja, tanto no que se refere aos ritos, como ao seu aspecto pastoral e musical.
6. Uma organização autêntica da celebração litúrgica, para além da devida
distribuição e desempenho das funções - em que "cada um, ministro ou simples
fiel, ao desempenhar o seu oficio, fará tudo e só o que é da sua competência,
segundo a natureza do rito e as leis litúrgicas"[5] requer ainda que se observem
bem o sentido e a natureza própria de cada parte e de cada canto. Para se
conseguir isto, é preciso antes de mais que os textos que por si mesmos devem
ser cantados, se cantem efectivamente, empregando o género e a forma pedidos
pelo seu próprio carácter.
7. Entre a forma solene e mais plena das celebrações litúrgicas (em que se canta
realmente tudo quanto exige canto) e a forma mais simples em que não se
emprega o canto, pode haver vários graus, conforme o canto tenha maior ou
menor lugar. Todavia, na escolha das partes que se devem cantar, começar-se-á
por aquelas que por sua natureza são de importância maior: em primeiro lugar,

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !100


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por aquelas que devem ser cantadas pelo sacerdote ou pelos ministros, com
resposta do povo; ou pelo sacerdote juntamente com o povo; juntar-se-ão
depois, pouco a pouco, as que são próprias só do povo ou só do grupo de
cantores.
Sempre que possa fazer-se uma selecção de pessoas para a acção litúrgica que se
celebra com canto, convém dar preferência àquelas que são mais competentes
musicalmente, sobretudo se se trata de acções litúrgicas mais solenes ou
daquelas que exigem um canto mais difícil ou são transmitidas pela rádio ou
pela televisão.[6]
Se não puder fazer-se esta selecção e o sacerdote ou ministro não têm voz para
cantar bem, podem recitar sem canto, mas com voz alta e clara, uma ou outra
parte mais difícil das que lhes correspondem. Mas não se faça isto só por
comodidade do sacerdote ou do ministro.
9. Na selecção do género de Música Sacra, tanto para o grupo de cantores
como o povo, ter-se-ão em conta as possibilidades dos que hão-de cantar. A
Igreja não exclui das acções sagradas nenhum género de Música Sacra,
contanto que corresponda ao seu espírito e à natureza de cada uma das suas
partes [7] e não impeça a necessária participação activa do povo.[8]
10. A fim de que os fiéis participem activamente com mais gosto e maior fruto,
convém variar oportunamente, na medida do possível, as formas de celebração
e o grau de participação, conforme a solenidade do dia e da assembleia.
11. Tenha-se em conta que a verdadeira solenidade da acção litúrgica não
depende de uma forma rebuscada do canto ou de um desenrolar magnificente
das cerimónias, quanto daquela celebração digna e religiosa que tem em conta a
integridade da própria acção litúrgica; quer dizer, a execução de todas as suas
partes segundo a sua natureza própria. Uma forma mais rica de canto e um
desenvolvimento mais solene das cerimónias decerto que são desejáveis onde
haja meios para bem os realizar; mas tudo quanto possa contribuir para que se
omita, se mude ou se realize indevidamente algum dos elementos da acção
litúrgica é contrário à sua verdadeira solenidade.
12. Compete exclusivamente à Sé Apostólica estabelecer os grandes princípios
gerais, que são como que o fundamento da Música Sacra, em conformidade
com as normas tradicionais e especialmente com a Constituição sobre a
Sagrada Liturgia.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !101


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A regulamentação da Música Sacra pertence também, segundo os limites


estabelecidos, às competentes assembleias territoriais de bispos legalmente
constituídas, assim como ao bispo.[9]

II. Os actores da celebração litúrgica

13. As acções litúrgicas são celebrações da Igreja, isto é, do povo congregado e


ordenado, sob a presidência do bispo ou de um presbítero.[10]
Ocupam na acção litúrgica um lugar especial: o sacerdote e seus ministros por
causa da Ordem Sagrada que receberam; por causa do seu ministério, os
ajudantes, os leitores, os comentadores e os que fazem parte do grupo de
cantores.[11]
14. O sacerdote preside à assembleia em representação de Cristo. As orações
que canta ou pronuncia em voz alta, uma vez que são ditas em nome de todo o
povo santo e de todos os que estão presentes,[12] devem ser escutadas
religiosamente por todos.
15. Os fiéis cumprem a sua acção litúrgica mediante a participação plena,
consciente e activa que a própria natureza da liturgia requer; esta participação é
um direito e um dever para o povo cristão, em virtude do seu Baptismo.[13]
Esta participação:
a) Deve ser antes de tudo interior; quer dizer que, por meio dela, os fiéis se
unem em espírito ao que pronunciam ou escutam e cooperam com a graça
divina.[14]
b) Mas a participação deve ser também exterior; quer dizer que a participação
interior deve expressar-se por meio de gestos e atitudes corporais, pelas respostas
e pelo canto.[15] Eduquem-se também os fiéis no sentido de se unirem
interiormente ao que cantam os ministros ou o coro, de modo que elevem os
seus espíritos para Deus, enquanto os escutam.
16. Nada mais festivo e mais desejável nas acções sagradas do que uma
assembleia, que, toda inteira, expressa a sua fé e a sua piedade por meio do
canto. Por conseguinte, a participação activa de todo o povo a expressar-se no
canto, há-de promover-se diligentemente da seguinte maneira:
a) inclua em primeiro lugar as aclamações, as respostas à saudação do
celebrante e dos ministros e às orações litânicas; e ainda as antífonas e os salmos;
e também os; versículos intercalares ou refrão que se repete, assim como os
hinos e os cânticos;[16]

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !102


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b) por meio de uma catequese e de uma pedagogia adaptadas, levar-se-á


gradualmente o povo a participar cada vez mais nos cânticos que lhe
pertencem, até alcançar a participação plena;
c) no entanto, alguns cânticos do povo, sobretudo se os fiéis não estão ainda
suficientemente instruídos ou se se empregam composições musicais a várias
vozes, poderão confiar-se só ao coro, desde que não se exclua o povo das outras
partes que lhe correspondem. Não deve aprovar-se a prática de confiar só ao
grupo de cantores o canto de todo o Próprio e de todo o Ordinário, excluindo
totalmente o povo da participação cantada.
17. Observar-se-á também, na altura própria, um silêncio sagrado.[17] Por
meio deste silêncio, os fiéis não se vêem reduzidos a assistir à acção litúrgica
como espectadores mudos e estranhos, mas são associados intimamente ao
Mistério que se celebra, graças àquela disposição interior que nasce da Palavra
de Deus escutada, dos cânticos e das orações que se pronunciam e da união
espiritual com o celebrante nas partes por ele ditas. 18. Entre os fiéis, com
cuidado especial, sejam formados no canto sagrado os membros das associações
religiosas de leigos, de modo a que possam contribuir mais eficazmente para a
conservação e promoção da participação do povo.[18] A formação de todo o
povo no canto será desenvolvida séria e pacientemente ao mesmo tempo que a
formação litúrgica, segundo a idade dos fiéis, a sua condição, o seu género de
vida e o seu nível de cultura religiosa, começando logo nos primeiros anos de
formação nas escolas elementares.[19]
19. O coro - ou "Capela musical", ou "Schola Cantorum" - merece uma
atenção especial pelo ministério litúrgico que desempenha.
A sua função, segundo as normas do Concílio relativas à renovação litúrgica,
alcançou agora uma importância e um peso maiores. É a ele que compete
assegurar a justa interpretação das partes que lhe pertencem conforme os
distintos géneros de canto e promover a participação activa dos fiéis no canto.
Por conseguinte:
a) Ter-se-á um Coro, ou "Capella", ou "Schola Cantorum", e dele se cuidará
com diligência, sobretudo nas catedrais e outras igrejas maiores, nos Seminários
e nas Casas de Estudo dos religiosos;
b) É igualmente oportuno estabelecer tais coros, mesmo modestos, nas igrejas
pequenas. 20. As "Capelas musicais" existentes nas basílicas, catedrais, mosteiros
e demais igrejas maiores que adquiriram grande renome através dos séculos
conservando e cultivando um tesouro musical de valor incomparável, serão

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !103


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conservadas segundo as suas normas próprias e tradicionais, aprovadas pelo


Ordinário do lugar, para tornar mais solenes as acções sagradas.
Os mestres de capela e os reitores das igrejas cuidem, no entanto, de que o povo
sempre se associe ao canto, ao menos nas peças fáceis que lhe pertencem.
21. Procure-se, sobretudo onde não haja possibilidades de formar ao menos um
pequeno coro, que um ou dois cantores bem formados possam assegurar alguns
cânticos mais simples com participação do povo e dirigir e aguentar o canto dos
fiéis.
Este cantor deve igualmente existir nas igrejas que podem contar com um coro,
a fim de que nas ocasiões em que o coro não pode intervir se assegure alguma
necessária solenidade e, portanto, o canto.
22. O grupo de cantores pode constar, conforme os costumes de cada país e as
circunstâncias, quer de homens e crianças, quer só de homens ou só de crianças,
quer de homens e mulheres, quer, onde seja de verdade conveniente, só de
mulheres.
23. Os cantores, tendo em conta a disposição da igreja, situem-se de tal maneira
que:
a) apareça claramente a sua função, a saber, que fazem parte da assembleia dos
fiéis e realizam uma função peculiar;
b) a realização do seu ministério litúrgico se torne mais fácil;[20]
c) a cada um dos seus membros se torne mais possível a plena participação na
missa quer dizer, a participação sacramental.
Quando neste grupo houver mulheres, tal grupo deve ficar fora do presbitério.
24. Além da formação musical, dar-se-á aos membros do coro uma formação
litúrgica e espiritual adaptadas de modo que, ao desempenhar perfeitamente a
sua função litúrgica, não se limitem a dar maior beleza à acção sagrada e um
excelente exemplo aos fiéis mas adquiram também eles próprios um verdadeiro
fruto espiritual.
25. Para se conseguir mais facilmente esta formação, tanto técnica como
espiritual, devem prestar a sua colaboração as associações de Música Sacra
diocesana, nacionais e internacionais, sobretudo aquelas que foram aprovadas e
repetidas vezes recomendadas pela Sé Apostólica.
26. O sacerdote, os ministros sagrados e os ajudantes, o leitor, os que pertencem
ao coro e o comentador pronunciarão os textos que lhes dizem respeito de
forma bem inteligível para que a resposta do povo, quando o rito o exige, resulte
mais fácil e natural. Convém que o sacerdote e os ministros de qualquer grau

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !104


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unam a sua voz à de toda a assembleia dos fiéis nas partes que pertencem ao
povo.[21]

III. O canto na celebração da missa

27. Para a celebração da Eucaristia com o povo, sobretudo nos domingos e


festas, há-de preferir-se na medida do possível a forma de missa cantada, até
várias vezes no mesmo dia. 28. Conserve-se a distinção entre missa solene, missa
cantada e missa rezada estabelecida na Instrução de 1958 (n. 3), segundo as leis
litúrgicas tradicionais e em vigor. No entanto, para a missa cantada e por razões
pastorais propõem-se aqui vários graus de participação para que se torne mais
fácil, conforme as possibilidades de cada assembleia, melhorar a celebração da
missa por meio do canto.
O uso destes graus de participação regular-se-á da maneira seguinte: o primeiro
grau pode utilizar-se só; o segundo e o terceiro não serão empregados, íntegra
ou parcialmente, senão unidos com o primeiro grau. Deste modo, os fiéis serão
sempre orientados para uma plena participação no canto.
29. Pertencem ao primeiro grau:
a) nos ritos de entrada:
- a saudação do sacerdote com a resposta do povo;
- a oração;
b) na liturgia da Palavra:
- as aclamações ao Evangelho;
c) na liturgia eucarística:
- a oração sobre as oblatas,
- o prefácio com o respectivo diálogo e o "Sanctus",
- a doxologia final do cânone,
- a oração do Senhor - Pai nosso - com a sua admonição e embolismo,
- o "Pax Domini",
- a oração depois da comunhão,
- as fórmulas de despedida.
30. Pertencem ao segundo grau:
a) "Kyrie", "Glória" e "Agnus Dei";
b) o Credo;
c) a Oração dos Fiéis.
31. Pertencem ao terceiro grau:

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !105


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a) os cânticos processionais da entrada e comunhão;


b) o cântico depois da leitura ou Epístola;
c) o "Alleluia" antes do Evangelho;
d) o cântico do ofertório;
e) as leituras da Sagrada Escritura, a não ser que se julgue mais oportuno
proclamá-las sem canto.
32. A prática legitimamente em vigor em alguns lugares e muitas vezes
confirmada por indultos, de utilizar outros cânticos em lugar dos cânticos de
entrada, ofertório e comunhão previstos pelo "Graduale Romanum", pode
conservar-se a juízo da Autoridade territorial competente, contanto que esses
cânticos estejam de acordo com as partes da missa e com a festa ou tempo
litúrgico. Essa mesma Autoridade territorial deve aprovar os textos desses
cânticos.
33. Convém que a assembleia dos fiéis, na medida do possível, participe nos
cânticos do próprio, sobretudo com respostas fáceis ou outras formas musicais
adaptadas.
Dentro do Próprio tem particular importância o cântico situado depois das
leituras em forma de Gradual ou de Salmo responsorial. Por sua natureza é uma
parte da liturgia da Palavra: por conseguinte, deve executar-se estando todos
sentados e escutando; melhor ainda, quanto possível, tomando parte nele.
34. Os cânticos chamados "Ordinário da Missa", se forem cantados a vozes,
podem ser interpretados pelo coro, segundo as normas habituais, "a Capella",
ou acompanhamento de instrumentos, desde que o povo não fique totalmente
excluído da participação no canto. Nos outros casos, as peças do Ordinário da
missa podem distribuir-se entre o coro e o povo ou também entre duas partes do
mesmo povo; assim se pode alternar seguindo os versículos ou outras divisões
convenientes que distribuem o conjunto do texto por secções mais importantes.
Mas nestes casos, ter-se-á em conta o seguinte: o símbolo é uma fórmula de
profissão de fé e convém que o cantem todos ou que se cante de uma forma que
permita uma conveniente participação dos fiéis; o Sanctus é uma aclamação
conclusiva do prefácio e convém que habitualmente o cante a assembleia
juntamente com o sacerdote; o Agnus Dei pode repetir-se quantas vezes for
necessário, sobretudo na concelebração, quando acompanha a fracção; convém
que o povo participe neste cântico ao menos com a invocação final.
35. O Pai nosso, é bom que o diga o povo juntamente com o sacerdote.[22] Se
for cantado em latim, empreguem-se as melodias oficiais já existentes; mas se for

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !106


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cantado em língua vernácula, as melodias devem ser aprovadas pela autoridade


territorial competente.
36. Nada impede que nas missas rezadas se cante alguma parte do próprio ou
do ordinário. Mais ainda: algumas vezes pode executar-se também outro cântico
diferente ao princípio, ao ofertório, à comunhão e no final da missa; mas não
basta que este cântico seja "eucarístico"; é necessário que esteja de acordo com
as partes da missa e com a festa ou tempo litúrgico.

IV. O canto no Ofício Divino

37. A celebração cantada do oficio divino é a que mais se adapta à natureza


desta oração e indício de maior solenidade e de mais profunda união dos
corações no louvor do Senhor; conforme o desejo expresso pela Constituição da
Sagrada Liturgia,[23] recomenda-se encarecidamente esta forma aos que têm
de cumprir o ofício divino no coro ou em comum.
Convém que estes cantem ao menos alguma parte do ofício divino e antes de
tudo as horas principais, isto é, Laudes e Vésperas, principalmente aos
domingos e dias festivos.
Também os demais clérigos que vivam em comum por razão dos seus estudos
ou que se reunam para fazer exercícios espirituais ou noutras reuniões,
santifiquem oportunamente as suas assembleias mediante a celebração cantada
de algumas partes do ofício divino.
38. Na celebração cantada do ofício divino, permanecendo o direito vigente
para aqueles que têm obrigação de coro e também os indultos particulares, pode
seguir-se o princípio de uma solenização progressiva, cantando antes de mais as
partes que, por sua natureza, reclamem mais directamente o canto, como sejam
os diálogos, os hinos, os versículos e os cânticos, recitando o restante.
39. Os fiéis devem ser convidados e formados com a necessária catequese a
tomar parte em comum, aos domingos e dias festivos, nalgumas partes do ofício
divino, em especial as Vésperas, ou outras horas, segundo os costumes dos
lugares e das assembleias.
De maneira geral, conduzir-se-ão os fiéis, em especial os mais cultivados, graças
a uma boa formação, a empregar na sua oração os salmos, interpretados no seu
sentido cristão, de modo que pouco a pouco se sintam como que conduzidos
pela mão a apreciar e a praticar mais a oração pública da Igreja.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !107


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40. Esta educação deve dar-se em particular aos membros dos Institutos que
professam os conselhos evangélicos, para obterem riquezas mais abundantes e
crescerem na sua vida espiritual. E convém que, para participarem mais
plenamente na oração pública da Igreja, rezem e até - quanto possível - cantem
as horas principais.
41. Conforme a Constituição da Sagrada Liturgia e a tradição secular do rito
latino, os clérigos, na celebração do ofício divino em coro, conservem a língua
latina.[24]
Mas, visto que a mesma Constituição sobre a Sagrada Liturgia " prevê o uso da
língua vernácula no ofício divino, tanto por parte dos fiéis como das religiosas e
dos membros de outros Institutos que professam os conselhos evangélicos e não
são clérigos, procure-se preparar melodias que se utilizem no canto do ofício
divino em língua vernácula.

V.A música sacra na celebração dos sacramentos e sacramentais, em acções


especiais do ano litúrgico, nas sagradas celebrações da palavra de Deus e nos
exercícios de piedade

42. Como declarou o Concílio, sempre que os ritos comportam, segundo a


natureza particular de cada um, uma celebração comunitária, caracterizada
pela presença e activa participação dos fiéis, esta deve preferir-se a uma
celebração individual e como que privada desses ritos.[26] Deste princípio se
deduz logicamente que se deve dar grande importância ao canto, já que põe em
especial relevo este carácter "eclesial" da celebração.
43. Assim, na medida do possível, celebrar-se-ão com canto os sacramentos e
sacramentais que têm particular importância na vida de toda a comunidade
paroquial, como sejam as confirmações, as ordenações, os casamentos, as
consagrações de igrejas ou altares, os funerais, etc. Esta festividade dos ritos
permitirá a sua maior eficácia pastoral. No entanto, cuidar-se-á especialmente
que, a título de solenidade, não se introduza na celebração nada que seja
puramente profano ou pouco compatível com o culto divino; isto se aplica em
especial à celebração do matrimónio.
44. Igualmente se solenizarão com o canto aquelas celebrações a que a Liturgia
concede especial relevo ao longo do Ano Litúrgico. Mas sobretudo, solenizem-se
os sagrados ritos da Semana Santa; mediante a celebração do Mistério Pascal,

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !108


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os fiéis são conduzidos como que ao coração do Ano Litúrgico e da própria


Liturgia.
45. Para a Liturgia dos sacramentos e sacramentais e para as demais celebrações
particulares do Ano Litúrgico, hão-de preparar-se melodias apropriadas que
permitam dar à celebração, mesmo em língua vernácula, solenidade maior.
Seguir-se-ão para isso as orientações dadas pela autoridade competente e ter-se-
ão em conta as possibilidades de cada assembleia.
46. A música sacra é também de grande eficácia para alimentar a piedade dos
fiéis nas celebrações da Palavra de Deus e nos "pia et sacra exercitia".
Nas celebrações da Palavra de Deus [27] tomar-se-á como modelo a Liturgia da
Palavra da missa;[28] nos "pia et sacra exercitia" serão muito úteis, sobretudo,
os salmos, as obras de música sacra do tesouro antigo e moderno, os cânticos
religiosos populares, assim como o toque de órgão e de outros instrumentos
apropriados.
Nestes mesmos "pia et sacra exercitia" e principalmente nas celebrações da
Palavra poderão muito bem admitir-se certas obras musicais que já não
encontram lugar na Liturgia, mas que podem, entretanto, desenvolver o espírito
religioso e ajudar à meditação do Mistério Sagrado.[29]

VI. A língua a empregar nas acções litúrgicas celebradas com canto e a


conservação do tesouro da música sacra

47. Conforme a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, conservar-se-á o uso da


língua latina nos ritos latinos, salvo direito particular.[30]
Mas como o "uso da língua vernácula é muito útil ao povo em não poucas
ocasiões",[31] "será da incumbência da competente autoridade eclesiástica
territorial determinar se deve usar-se a língua vernácula e em que extensão;
estas decisões têm de ser aceites, isto é, confirmadas pela Sé Apostólica".[32]
Observando exactamente estas normas, empregar-se-á, pois, a forma de
participação que melhor corresponda às possibilidades de cada assembleia. Os
pastores de almas cuidarão de que, além da língua vernácula, os fiéis sejam
capazes também de recitar ou cantar juntos em latim as partes do Ordinário da
missa que lhes pertencem.[33]
48. Onde já se introduziu o uso do vernáculo na celebração da missa, os
Ordinários julgarão se é oportuno manter uma ou mais missas celebradas em

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !109


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latim - especialmente a missa cantada - em algumas igrejas, sobretudo nas


grandes cidades, que reúnam suficiente número de fiéis de línguas diversas.
49. No que se refere ao uso da língua latina ou da vernácula nas sagradas
celebrações dos Seminários observem-se as normas da Sagrada Congregação
dos Seminários e Universidades sobre a formação litúrgica dos alunos.
Os membros dos Institutos que professam os conselhos evangélicos observem
nisto as normas das letras apostólicas "Sacrificium Laudis" de 15 de Agosto de
1966 e da instrução sobre a língua a usar pelos religiosos na celebração do ofício
divino e da missa conventual ou comunitária, dada por esta Sagrada
Congregação dos Ritos em 23 de Novembro de 1965.
50. Nas acções litúrgicas com canto que se celebram em latim:
a) O canto gregoriano, como próprio da Liturgia romana, em igualdade de
circunstâncias ocupará o primeiro lugar.[34] Empreguem-se oportunamente
para isso as melodias que se encontram nas edições típicas.
b) "Convém preparar uma edição com melodias mais simples para uso das
igrejas menores".[35]
c) As outras composições musicais escritas a uma ou várias vozes, sejam do
tesouro musical tradicional ou novas, serão tratadas com honra, favorecidas e
utilizadas conforme se julgue oportuno.[36]
51. Tendo em conta as condições locais, a utilidade pastoral dos fiéis e o carácter
de cada língua, os pastores de almas julgarão se as peças do tesouro de Música
Sacra compostas no passado para textos latinos, além da sua utilização nas
acções litúrgicas celebradas em latim podem sem inconveniente ser utilizadas
também naquelas que se realizam em vernáculo. Com efeito, nada impede que
numa mesma celebração algumas peças se cantem em língua diferente.
52. Para conservar o tesouro da Música Sacra e promover devidamente novas
criações, "dê- se grande importância nos Seminários, Noviciados e casas de
estudo de religiosos de ambos os sexos, bem como noutros institutos e escolas
católicas, à formação e prática musical", mas, sobretudo, nos Institutos
Superiores especialmente destinados a isto.[37] Deve promover-se antes de mais
o estudo e a prática do canto gregoriano, já que, pelas suas qualidades próprias,
continua a ser uma base de grande valor para o cultivo da Música Sagrada.
53. As novas composições de Música Sagrada devem adequar-se plenamente
aos princípios e às normas expostos acima. Por isso, "devem apresentar as
características da verdadeira música sacra e não estar só ao alcance das maiores

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !110


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"Schola Cantorum", mas poder também ser cantadas pelos coros mais modestos
e favorecer uma participação activa de toda a assembleia dos fiéis".[38]
No que se refere ao tesouro musical tradicional, pôr-se-ão em relevo em
primeiro lugar as obras que respondam às exigências da renovação litúrgica.
Depois, os peritos especialmente competentes neste assunto estudarão
cuidadosamente se outras peças podem adaptar-se a estas mesmas exigências.
Quanto às composições que não respondam à natureza da Liturgia ou à
celebração Pastoral da Acção Litúrgica serão oportunamente trasladadas para
os "pia exercitia" e, melhor ainda, para as celebrações da Palavra de Deus.[39]

VII. A preparação de melodias para os textos elaborados em vernáculo

54. Ao estabelecer as traduções populares que hão-de ser musicadas -


especialmente a tradução do saltério - os peritos cuidarão de assegurar bem a
fidelidade ao texto latino com a aptidão para o canto do texto em língua
vernácula. Respeitar-se-ão o carácter e as leis de cada língua; ter-se-ão em conta
também os costumes e o carácter peculiar de cada povo: na preparação das
novas melodias, os músicos hão-de ter muito presentes estes dados, juntamente
com as leis da Música Sacra.
A autoridade territorial competente cuidará, pois, de que na Comissão
encarregada de elaborar as traduções populares, haja peritos nas disciplinas
citadas, em língua latina, como em língua vernácula; a sua colaboração deve
principiar logo nos começos do trabalho.
55. Pertencerá à autoridade territorial competente decidir se podem utilizar-se
ainda determinados textos em língua vernácula procedentes de épocas
anteriores, aos quais estejam ligadas melodias tradicionais, mesmo que
apresentem algumas variantes em relação às traduções litúrgicas oficiais em
vigor.
56. Entre as melodias que devem preparar-se para os textos em vernáculo têm
uma especial importância aquelas que pertencem ao sacerdote e aos ministros,
quer as executem sós, quer as cantem com a assembleia dos fiéis ou as
dialoguem com ela. Ao elaborá-las, os músicos devem verificar se as melodias
tradicionais da língua latina, já utilizadas para o mesmo fim, podem sugerir
soluções para executar estes mesmos textos em língua vernácula.
57. As novas melodias destinadas ao sacerdote e aos ministros devem ser
aprovados pela autoridade territorial competente.[40]

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58. As Conferências Episcopais interessadas cuidarão que haja uma tradução


apenas para uma mesma língua, a ser utilizada nas diversas regiões onde se fala
essa língua. Convém também que existam, na medida do possível, um ou vários
tons comuns para as peças que dizem respeito ao sacerdote e aos ministros,
assim como para as respostas e aclamações do povo: assim se facilitará a
participação comum dos que falam um mesmo idioma.
59. Os músicos abordarão este novo trabalho com o desejo de continuar uma
tradição que proporcionou à Igreja um verdadeiro tesouro para a celebração do
culto divino. Examinarão as obras do passado, os seus géneros e as suas
características, mas considerarão também com atenção as novas leis e as novas
necessidades da liturgia: deste modo "as novas formas como que surgirão
organicamente a partir das já existentes",[41] e as obras novas, de modo
nenhum indignas das antigas obterão, por sua vez, o seu lugar no tesouro
musical.
60. As novas melodias que se hão-de compor para os textos em língua
vernácula, necessitam evidentemente da experiência para chegar a uma
suficiente maturidade e perfeição. Não obstante, deve evitar-se que, sob pretexto
de ensaiar, se façam nas igrejas coisas que desdigam da santidade do lugar, da
dignidade da acção litúrgica e da piedade dos fiéis.
61. A adaptação da música nas celebrações, naquelas regiões que possuam
tradição musical própria, sobretudo nos países de missão, exigirá dos peritos
uma preparação especial:[42] trata-se, com efeito, de associar o sentido das
realidades sagradas com o espírito, as tradições e o carácter simbólico de cada
um destes povos. Os que se consagram a este trabalho devem conhecer
suficientemente, tanto a Liturgia e a tradição musical da Igreja, como a língua, o
canto popular e o carácter simbólico do povo para o qual trabalham.

VIII. A música sacra instrumental

62. Os instrumentos musicais podem ser de grande utilidade nas celebrações


sagradas, quer acompanhem o canto, quer intervenham sós.
"Tenha-se em grande apreço na Igreja latina o órgão de tubos, como
instrumento musical tradicional e cujo som é capaz de dar às cerimónias do
culto um esplendor extraordinário e elevar poderosamente o espírito para Deus
e para as realidades celestiais."

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"Podem utilizar-se no culto divino outros instrumentos, segundo o parecer e


com o consentimento da autoridade territorial competente, contanto que esses
instrumentos estejam adaptados ou sejam adaptáveis ao uso sacro, não
desdigam da dignidade do templo e favoreçam realmente a edificação dos fiéis".
63. No admitir de instrumentos e na sua utilização ter-se-ão em conta o carácter
e os costumes de cada povo. Os instrumentos que, segundo o comum sentir e o
uso normal, só são adequados para a música profana, serão excluídos de toda a
acção litúrgica, assim como dos "pia et sacra exercitia".[44]
Todo o instrumento admitido no culto se utilizará de forma que corresponda às
exigências da acção litúrgica, sirva à beleza do culto e à edificação dos fiéis.
64. O emprego de instrumentos no acompanhamento dos cânticos pode ser
bom para sustentar as vozes, facilitar a participação e tornar mais profunda a
unidade da assembleia. Mas o som dos instrumentos jamais deve cobrir as vozes
ou dificultar a compreensão do texto. Todo o instrumento se deve calar quando
o sacerdote ou um ministro pronunciam em voz alta um texto que lhes pertença
por sua função própria.
65. Nas missas cantadas ou rezadas pode utilizar-se o órgão, ou qualquer outro
instrumento legitimamente admitido para acompanhar o canto do coro e do
povo. Pode tocar-se em solo antes da chegada do sacerdote ao altar, ao ofertório,
durante a comunhão e no final da missa.
A mesma regra se pode aplicar, adaptando-a correctamente, nas demais acções
sagradas.
66. O toque a solo destes instrumentos não é permitido durante o tempo do
Advento e da Quaresma, durante o Tríduo Sagrado e nos ofícios ou missas de
defuntos.
67. É muito para desejar que os organistas e demais instrumentistas não sejam
apenas peritos no instrumento que lhes é confiado, mas conheçam e estejam
intimamente penetrados pelo espírito da Liturgia para que, ao exercer o seu
ofício, mesmo ao improvisar, enriqueçam a celebração segundo a verdadeira
natureza de cada um aos seus elementos e favoreçam a participação dos fiéis.
[45]

IX. As comissões erectas para desenvolvimento da música sacra

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68. As Comissões Diocesanas de Música Sacra trazem uma contribuição de


grande valor para o progresso na diocese da música sacra de acordo com a
pastoral litúrgica.
Assim, pois, e na medida do possível, deverão existir em cada diocese;
trabalharão, unindo os seus esforços aos da Comissão de Liturgia.
Frequentemente interessará inclusive que as duas comissões estejam reunidas
numa só; neste caso será constituída por peritos em ambas as disciplinas; assim
se facilitará o progresso desejado. Recomenda-se vivamente que onde pareça de
maior utilidade várias dioceses de uma mesma região constituam uma comissão
única, que possa realizar um plano de acção comum e agrupar as forças em
ordem a um melhor resultado.
69. A Comissão de Liturgia que as Conferências Episcopais devem estabelecer
para ser consultada conforme as necessidades,[46] velará também pela música
sacra; por conseguinte, constará também de músicos peritos. Interessará que
esta Comissão esteja em relação não só com as Comissões Diocesanas, como
com as demais associações que se ocupem da música na mesma região e o
mesmo se diz do Instituto de Pastoral Litúrgica, de que se fala no artigo 44 da
Constituição.
O Sumo Pontífice Paulo VI aprovou a presente Instrução na audiência
concedida ao Em.mo. Sr. Cardeal Arcádio Maria Larraona, Prefeito desta
Sagrada Congregação, no dia 9 de Fevereiro de 1967, confirmou com a sua
autoridade e mandou publicá-la, estabelecendo ao mesmo tempo que entraria
em vigor no dia 14 de Maio de 1967, Domingo de Pentecostes.

Referências
[1] Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 112.
[2] Cf. S. Pio X, Motu próprio Tra le sollecitudini, n. 2 (22. Nov. 1903): AAS 36
(1903-1904) 332.
[3] Cf. S. Congr. dos Ritos, Inst. Musica sacra et sacra Liturgia, n. 4 (3. Set.
1958).
[4] Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 113.
[5] Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 28.
[6] S. Congr. dos Ritos, Inst. Musica sacra et sacra Liturgia, n. 95 (3. Set. 1958).
[7] Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 116.
[8] Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 28.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !114


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[9] Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 22.


[10] Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, nn. 26 e 41-42; Const.
Lumen gentium, n. 28. [11] Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n.
29.
[12] Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 33.
[13] Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 14.
[14] Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 11.
[15] Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Conciliam, n. 30.
[16] Cf. Conc. Vat. U, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 30.
[17] Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 30.
[18] Cf. S. Congr. dos Ritos, Inst. Inter oecumenici, nn. 19 e 59.
[19] Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 19; S. Congr. dos
Ritos, Inst. Musica sacra et sacra Liturgia, nn. 106-108 (3. de Set. 58).
[20] S. Congr. dos Ritos, Inst. Inter oecumenici, n. 97.
[21] Cf. ibid., n. 48 b.
[22] Cf. ibid., n. 48 g.
[23] Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 99.
[24] Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 101, § 1; S. Congr.
dos Ritos, Inst. Inter oecumenici, n. 85.
[25] Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 101, § 2 e 3.
[26] Cf. ibid., n. 27.
[27] Cf. S. Congr. dos Ritos, Inst. Inter oecumenici, nn. 37-39. [28] Cf. ibid., n.
37.
[33] Ibid., n. 54; S. Congr. dos Ritos, Inst. Inter oecumenici, n. 59. [34] Conc.
Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 116.
[35] Ibid.,n. 117.
[36] Cf. ibid., n. 116.
[37] Cf. ibid., n. 115.
[38] Cf. ibid., n. 121.
[39] Cf. n. 46 desta Instrução.
[40] S. Congr. dos Ritos, Inst. Inter oecumenici, n. 42. [41] Conc. Vat. II,
Const. Sacrosanctum Conciliam, n. 23. [42] Cf. ibid., n. 119.
[46] Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 44.
[29] Cf. n. 53 desta Instrução.
[30] Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 36, § 1.
[31] Ibid., n. 36 § 2.

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[32] Ibid., n. 36 § 3.
[43] Ibid., n. 120.
[44] Cf. S. Congr. dos Ritos, Inst. Musica sacra et sacra Liturgia, n. 70 (3. de
Set 58).
[45] Cf. nn. 24-25 desta Instrução.

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DISCURSO DO PAPA
FRANCISCO
AOS PARTICIPANTES NO
CONGRESSO
INTERNACIONAL DE
MÚSICA SACRA
Sala Clementina Sábado, 4 de março de 2017

Estimados irmãos e irmãs!

É com prazer que me encontro com todos vós, vindos a Roma de vários países
para participar no Congresso sobre «Música e Igreja: culto e cultura cinquenta
anos depois da Instrução Musicam sacram», organizado pelo Pontifício
Conselho para a Cultura e pela Congregação para a Educação Católica, em
colaboração com o Pontifício Instituto de Música Sacra e o Pontifício Instituto
Litúrgico do Ateneu Santo Anselmo. Saúdo cordialmente todos vós, a começar
pelo Cardeal Gianfranco Ravasi, a quem agradeço a sua introdução. Faço votos
a fim de que a experiência de encontro e de diálogo vivida nestes dias, na
reflexão comum sobre a música sacra e particularmente sobre os seus aspetos
culturais e artísticos, seja frutuosa para as comunidades eclesiais.

Meio século depois da Instrução Musicam sacram, este congresso quis


aprofundar, numa ótica interdisciplinar e ecuménica, a relação atual entre a
música sacra e a cultura contemporânea, entre o repertório musical adotado e
utilizado pela comunidade cristã e as tendências musicais predominantes. De
grande relevo foi também a reflexão sobre a formação estética e musical, tanto

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !117


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do clero e dos religiosos, como dos leigos comprometidos na vida pastoral, e


mais diretamente nas scholae cantorum.

O primeiro documento emanado pelo Concílio Vaticano ii foi exatamente a


Constituição sobre a Liturgia Sacrosanctum concilium. Os Padres conciliares
conheciam bem a dificuldade que os fiéis tinham em participar numa liturgia da
qual já não compreendiam plenamente a linguagem, as palavras e os sinais.
Para concretizar as linhas fundamentais traçadas pela Constituição, foram
emanadas algumas Instruções, entre as quais precisamente uma sobre a música
sacra. Desde

então, embora não tenham sido redigidos novos documentos magisteriais sobre
esta temática, houve diversas e significativas intervenções pontifícias que
orientaram a reflexão e o compromisso pastoral.

Ainda é de grande atualidade a premissa da mencionada Instrução: «A ação


litúrgica reveste-se de maior nobreza quando é celebrada com o canto: cada um
dos ministros desempenha a função que lhe é própria e o povo participa. Desta
maneira, a oração adquire uma forma mais jubilosa; o Mistério da sagrada
Liturgia e a sua natureza hierárquica manifestam-se mais claramente; mediante
a união das vozes alcança-se uma união mais profunda dos corações; através do
esplendor das realidades sagradas, o espírito eleva-se mais facilmente até às
realidades celestiais; finalmente, toda a celebração prefigura com maior clareza
a sagrada Liturgia que se celebra na Jerusalém celeste» (n. 5).

Seguindo as indicações conciliares, o Documento salienta várias vezes a


importância da participação de toda a assembleia dos fiéis, definida «ativa,
consciente e plena», realçando também de maneira muito clara que a
«verdadeira solenidade da ação litúrgica não depende tanto de uma forma
rebuscada do canto ou de uma celebração magnificente das cerimónias, quanto
de uma celebração digna e religiosa» (n. 11). Por conseguinte, trata-se antes de
tudo de participar intensamente no Mistério de Deus, na «teofania» que se
realiza em cada celebração eucarística, na qual o Senhor se torna presente no

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !118


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meio do seu povo, chamado a participar realmente na salvação atuada por


Cristo morto e ressuscitado. Portanto, a participação ativa e consciente consiste
em conseguir entrar profundamente neste Mistério, em saber contemplá-lo,
adorá-lo e recebê-lo, em compreender o seu sentido, de forma particular graças
ao silêncio religioso e à «musicalidade da linguagem com que o Senhor nos fala»
(Homilia em Santa Marta, 12 de dezembro de 2013). É nesta perspetiva que se
desenvolve a reflexão sobre a renovação da música sacra e a sua preciosa
contribuição.

A tal propósito, sobressai a dúplice missão que a Igreja é chamada a cumprir


especialmente através de quantos, de vários modos, trabalham neste setor. Sob
um certo ponto de vista, trata-se de salvaguardar e de valorizar a rica e
variegada herança legada do passado, utilizando-a com equilíbrio no presente e
evitando o risco de uma visão nostálgica ou «arqueológica». Por outro lado, é
necessário fazer com que a música sacra e o canto litúrgico sejam plenamente
«inculturados» nas linguagens artísticas e musicais da atualidade; ou que saibam
encarnar e traduzir a Palavra de Deus em cânticos, sons e harmonias que façam
vibrar o coração dos nossos contemporâneos, criando inclusive um oportuno
clima emotivo, que predisponha para a fé e suscite o acolhimento e a plena
participação no Mistério que se celebra.

Sem dúvida, o encontro com a modernidade e a introdução das línguas faladas


na Liturgia suscitou numerosos problemas: de linguagens, de formas e de
géneros musicais. Às vezes chegou a predominar uma certa mediocridade,
superficialidade e banalidade, em detrimento da beleza e da intensidade das
celebrações litúrgicas. Por isso, os vários protagonistas deste setor,

músicos e compositores, maestros e coristas das scholae cantorum e animadores


da liturgia podem oferecer uma contribuição preciosa para a renovação,
sobretudo qualitativa, da música sacra e do canto litúrgico. Para favorecer este
percurso, é necessário promover uma adequada formação musical, inclusive em
quantos se preparam para se tornar sacerdotes, no diálogo com as correntes

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !119


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musicais da nossa época, com as instâncias das diferentes áreas culturais e em


atitude de ecumenismo.

Caros irmãos e irmãs, agradeço-vos mais uma vez o vosso compromisso no


âmbito da música sacra. Que vos acompanhe a Virgem Maria, a qual no
Magnificat decantou a santidade misericordiosa de Deus. Encorajo-vos a não
perder de vista este objetivo importante: ajudar a assembleia litúrgica e o povo
de Deus a experimentar e a participar, com todos os sentidos físicos e espirituais,
no Mistério de Deus. A música sacra e o canto litúrgico têm a tarefa de nos
conferir o sentido da glória de Deus, da sua beleza e da sua santidade, que nos
envolve como uma «nuvem luminosa».

Peço-vos, por favor, que rezeis por mim. E concedo-vos de coração a Bênção
apostólica.

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MISSAL ROMANO
RESTAURADO POR
DECRETO DO CONCÍLIO
ECUMÊNICO VATICANO II,
PROMULGADO PELA
AUTORIDADE DE PAULO VI
E REVISTO POR MANDADO
DO PAPA JOÃO PAULO II
Tradução portuguesa para o Brasil
da separata da terceira edição típica
preparada sob os cuidados da
Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
ROMA
2002

INSTRUÇÃO GERAL
SOBRE O MISSAL ROMANO
PROÊMIO
1.         Quando ia celebrar com seus discípulos a ceia pascal, onde instituiu o
sacrifício do seu Corpo e Sangue, o Cristo Senhor mandou preparar uma sala
ampla e mobiliada (Lc 22,12). A Igreja sempre julgou dirigida a si esta ordem,
estabelecendo como preparar as pessoas, os lugares, os ritos e os textos, para a

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !121


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celebração da Santíssima Eucaristia. Assim, as normas atuais, prescritas segundo


determinação do Concílio Vaticano II, e o Novo Missal, que a partir de agora
será usado na Igreja de Rito romano para a celebração da Missa, são provas da
solicitude da Igreja, manifestando sua fé e amor imutáveis para com o supremo
mistério eucarístico, e testemunhando uma contínua e ininterrupta tradição,
ainda que algumas novidades sejam introduzidas.
Testemunho de fé inalterada
2.         A natureza sacrifical da Missa, que o Concílio de Trento solenemente
afirmou1, em concordância com a universal tradição da Igreja, foi de novo
proclamada pelo Concílio Vaticano II que proferiu sobre a Missa estas
significativas palavras: "O nosso Salvador na última Ceia instituiu o sacrifício
eucarístico do seu Corpo e Sangue para perpetuar o sacrifício da cruz através
dos séculos até a sua volta, e para confiar à Igreja, sua esposa muito amada, o
memorial de usa morte e ressurreição"2.
            O que o Concílio ensinou com estas palavras encontra-se expresso nas
fórmulas da Missa. Com efeito, a doutrina já expressa concisamente nesta frase
de antigo Sacramentário, conhecido como Leoniano: "Todas as vezes que se
celebra a memória deste sacrifício, renova-se a obra da nossa redenção"3, é
desenvolvida clara e cuidadosamente nas Orações eucarísticas; nestas preces, ao
fazer a anamnese, dirigindo-se a Deus em nome de todo o povo, dá-lhe graças e
oferece o sacrifício vivo e santo, ou seja, a oblação da  Igreja e a vítima por cuja
imolação Deus quis ser aplacado4, e ora também para que o Corpo e Sangue
de Cristo sejam um sacrifício agradável ao Pai e salutar para todo o mundo5.
            Assim, no novo Missal a regra da oração da Igreja corresponde à regra
perene da fé, que nos ensina a identidade, exceto quanto ao modo de oferecer,
entre o sacrifício da cruz e sua renovação sacramental na Missa, que o Cristo
Senhor instituiu na última Ceia e mandou os Apóstolos fazerem em sua
memória. Por conseguinte a Missa é simultaneamente sacrifício de louvor, de
ação de graças, de propiciação e de satisfação.
3.         Igualmente, o admirável mistério da presença real do Senhor sob as
espécies eucarísticas foi confirmado pelo Concílio Vaticano II6 e por outros
documentos do Magistério Eclesiástico7, no mesmo sentido e na mesma forma
com que fora proposto à nossa fé pelo Concílio de Trento8. Este Mistério é
proclamado na celebração da Missa, não apenas nas palavras da consagração,
pelas quais o Cristo se torna presente através da transubstanciação, mas
também no espírito e manifestação de sumo respeito e adoração que ocorrem

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !122


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na Liturgia eucarística. Por este mesmo motivo, o  povo cristão é levado a


prestar a este admirável Sacramento na Quinta-feira da Ceia do Senhor e na
solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo um culto especial de
adoração.
4.         A natureza do sacerdócio ministerial, próprio do bispo e do presbítero
que oferecem o Sacrifício na pessoa de Cristo e presidem a assembléia do povo
santo, se evidencia no próprio rito, pela eminência do lugar e da função do
sacerdote. As razões desta função são enunciadas e explicadas mais
profusamente na ação de graças da Missa Crismal da Quinta-feira da Semana
Santa, dia em que se comemora a instituição do sacerdócio. Aquele texto
celebra a transmissão, pela imposição das mãos, do poder sacerdotal que é a
continuação do poder de Cristo, Sumo Pontífice do Novo Testamento, e
enumera todas as suas funções.
5.         Esta natureza do sacerdócio ministerial esclarece ainda outra realidade
de grande importância: o sacerdócio régio dos fiéis, cujo sacrifício espiritual
atinge a plena realização pelo ministério do Bispo e dos presbíteros, em união
com o sacrifício de Cristo, único Mediador9. Com efeito, a celebração da
Eucaristia é uma ação de toda a Igreja, onde cada um deve fazer tudo e só o
que lhe compete, segundo o lugar que ocupa no Povo de Deus. Por isso se deve
prestar maior atenção a certos aspectos da celebração que, no decurso dos
séculos, foram negligenciados. Na verdade, este povo é o Povo de Deus,
adquirido pelo Sangue de Cristo, reunido pelo Senhor, alimentado por sua
palavra; povo chamado para elevar a Deus as preces de toda a família humana,
e dar graças em Cristo pelo mistério da salvação, oferecendo o seu sacrifício;
povo enfim que cresce na unidade pela comunhão do Corpo e Sangue de
Cristo. Este povo, embora santo por sua origem, cresce continuamente em
santidade pela participação consciente e frutuosa do mistério eucarístico10.
Testemunho de uma tradição ininterrupta
6.         Ao enunciar as normas segundo as quais o Ordinário da Missa deveria
ser reformado, o Concílio Vaticano II ordenou, entre outras coisas, que alguns
ritos fossem restaurados "segundo a forma primitiva dos Santos Padres"11,
retomando assim as mesmas palavras com que S. Pio V, na Constituição
Apostólica "Quo primum" de 1570, promulgou o Missal Tridentino. Por esta
coincidência de palavras pode-se observar como ambos os Missais Romanos,
ainda que separados por quatro séculos, conservam uma única e mesma

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !123


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tradição. Porém, ponderando-se os elementos internos desta tradição, verificam-


se a sabedoria e a felicidade com que o segundo missal completa o primeiro.
7.         Naqueles tempos, verdadeiramente difíceis, em que a fé católica corria
perigo em relação à índole sacrifical da Missal, o sacerdócio ministerial e a
presença real e permanente do Cristo sob as espécies eucarísticas, era necessário
que S. Pio V conservasse uma tradição mais recente, injustamente impugnada,
introduzindo o mínimo de modificações nos ritos sagrados. Na verdade, aquele
Missal de 1570 pouco difere do primeiro Missal impresso em 1474, que por sua
vez reproduz com fidelidade o do tempo do Papa Inocêncio III. Além disso, os
manuscritos da Biblioteca Vaticana, ainda que sugerissem algumas correções,
não permitiam que se fosse além dos comentários litúrgicos medievais, na
investigação dos "antigos e provados autores".
8.         Hoje, pelo contrário, aquela "norma dos Santos Padres" seguida pelos
que corrigiram o Missal de São Pio V foi enriquecida por inúmeros trabalhos de
eruditos. Depois do Sacramentário Gregoriano, editado pela primeira vez em
1571, os antigos Sacramentários romanos e ambrosianos foram publicados em
numerosas edições críticas, assim como os antigos livros litúrgicos espanhóis e
galicanos, trazendo assim à luz muitas preces de grande valor espiritual até
então ignoradas.
            Igualmente as tradições dos primeiros séculos, anteriores à formação dos
ritos do Oriente e do Ocidente, são agora melhor conhecidas, depois que se
descobriram tantos documentos litúrgicos.
            Além disso, o progresso dos estudos patrísticos lançou sobre a teologia do
mistério eucarístico a luz da doutrina dos Padres mais eminentes da antigüidade
cristã, como Santo Irineu, Santo Ambrósio, São Cirilo de Jerusalém e São João
Crisóstomo.
9.         Por isso, "a norma dos Santos Padres" não exige apenas que se conserve
o que os nossos antepassados mais recentes nos legaram, mas também que se
assuma e se julgue do mais alto valor todo o passado da Igreja e todas as
manifestações de fé, em formas tão variadas de cultura humana e civil como as
semitas, gregas e latinas. Esta visão mais ampla nos permite perceber como o
Espírito Santo concede ao povo de Deus uma admirável fidelidade na
conservação do imutável depósito da fé, apesar da enorme variedade de orações
e ritos.
Adaptação às novas condições

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !124


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10.       O novo Missal, portanto, dando testemunho da norma de oração da


Igreja romana e conservando o depósito da fé legado pelos concílios mais
recentes, constitui por sua vez uma etapa de grande importância na tradição
litúrgica.
            Quando os Padres do Concílio Vaticano II reafirmaram os dogmas do
Concílio Tridentino, falaram numa época da história bastante diferente; por isso
formularam, em matéria pastoral, desejos e conselhos que há quatro séculos não
se podiam prever.
11.       O Concílio de Trento já reconhecera o grande valor catequético da
celebração da Missa, mas não pudera tirar todas as suas conseqüências para a
vida prática. Muitos, na verdade, pediam que se permitisse o uso da língua
vernácula na celebração do Sacrifício Eucarístico. Porém, por ocasião deste
pedido, o Concílio, tendo em conta as circunstâncias daquele tempo, julgou
dever reafirmar a doutrina tradicional da Igreja, segundo a qual o Sacrifício
Eucarístico é antes de tudo uma ação do próprio Cristo, cuja eficácia não
depende do modo de participação dos fiéis. Por isso, ele se exprimiu com estas
palavras firmes e moderadas: "Ainda que a Missa contenha um grande
ensinamento para o povo fiel, os Padres não julgaram oportuno que seja
celebrada em língua vernácula indistintamente"12. E condenou quem julgasse
ser reprovável "o rito da Igreja romana, onde parte do Cânon e as palavras da
consagração são proferidas em voz baixa; ou que a Missa devesse ser celebrada
somente em língua vernácula"13. Contudo, ao proibir o uso da língua vernácula
na Missa, ordenou aos pastores de almas que o substituíssem pela catequese em
momento oportuno: "Para que as ovelhas de Cristo não sintam fome ..., ordena
o Santo Sínodo aos pastores e a todos os que têm cura de almas que
freqüentemente, durante a celebração da Missa, por si mesmos ou por outrem,
expliquem alguns dos textos que se lêem na Missa e ensinem entre outras coisas
algo sobre o mistério do Santíssimo Sacrifício, principalmente nos Domingos e
festas"14.
12.       O Concílio Vaticano II, reunido para adaptar a Igreja às necessidades de
seu múnus apostólico nos nossos dias, examinou em profundidade, como o
Concílio de Trento, o aspecto catequético e pastoral da sagrada Liturgia15. E,
como nenhum católico negue a legitimidade e a eficiência de um rito sagrado
realizado em língua latina, ele pôde reconhecer que "não raro o uso da língua
vernácula seria muito útil para o povo" e conceder a licença para usá-la16. O
ardente entusiasmo com que esta deliberação foi acolhida por toda parte fez

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !125


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com que logo, sob a direção dos Bispos e da própria Sé Apostólica, todas as
celebrações litúrgicas participadas pelo povo pudessem realizar-se em língua
vernácula, para que mais plenamente se compreendesse o mistério celebrado.
13.       Contudo, como o uso da língua vernácula na sagrada Liturgia é apenas
um instrumento, embora de grande importância, pelo qual mais claramente se
realiza a catequese do mistério contido na celebração, o Concílio Vaticano II
ordenou que algumas prescrições do Concílio de Trento, ainda não cumpridas
em todos os lugares, fossem postas em prática, com a homilia nos domingos e
dias de festa17, ou a introdução de algumas explicações durante os ritos
sagrados18.
            Mas o Concílio Vaticano II, aconselhando "aquela participação mais
perfeita na missa, em que os fiéis, depois da comunhão do sacerdote, recebem o
Corpo do Senhor consagrado no mesmo sacrifício"19, urgiu que se pusesse em
prática um outro desejo dos Padres de Trento, ou seja, que, para participar mais
plenamente na sagrada Eucaristia, "os fiéis presentes em cada Missa não
comunguem apenas espiritualmente, mas também pela recepção sacramental da
Eucaristia"20.
14.       Movido pelo mesmo desejo e zelo pastoral, o Concílio Vaticano II pôde
reexaminar o que o Tridentino determinara a respeito da Comunhão sob as
duas espécies. Com efeito, como hoje já não se põem mais em dúvida os
princípios doutrinários quanto à plena eficácia da Comunhão recebida apenas
sob a espécie de pão, permitiu ele que se dê algumas vezes a Comunhão sob as
duas espécies, a fim de que, através de uma apresentação mais elucidativa do
sinal sacramental, haja uma oportunidade para se compreender melhor o
mistério de que os fiéis participam21.
15.       Deste modo, enquanto permanece fiel ao seu múnus de mestra da
verdade, a Igreja, conservando "o que é antigo", isto é, o depósito da tradição,
cumpre também o seu dever de julgar e de prudentemente assumir "o que é
novo" (cf. Mt 13, 52).
            Na verdade, certa parte do novo Missal relaciona mais claramente as
preces da Igreja com as necessidades do nosso tempo. Isto acontece sobretudo
com as Missas rituais e as Missas "para as diversas circunstâncias", nas quais a
tradição e a inovação harmoniosamente se associam. Por isso, enquanto muitos
textos hauridos na mais antiga tradição da Igreja e divulgados pelas diversas
edições do Missal Romano permanecem inteiramente intactos, outros foram
adaptados às aspirações e condições hodiernas. Outros, finalmente, como as

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !126


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orações pela Igreja, pelos leigos, pela santificação do trabalho humano, pela
comunidade de todos os povos e por algumas necessidades do nosso tempo,
foram integralmente compostas a partir de pensamentos, e, muitas vezes, das
próprias palavras dos documentos conciliares.
            Igualmente, devido à consciência da nova situação do mundo de hoje,
não se julgou comprometer o venerável tesouro da tradição, modificando-se
algumas expressões de textos antiquíssimos, para que melhor se adaptassem à
atual linguagem teológica e correspondessem melhor à atual disciplina
eclesiástica. Assim, foram mudadas algumas expressões referentes à estima e ao
uso dos bens terrenos, como também algumas fórmulas que acentuavam certas
modalidades de penitência externa, mais apropriadas a outros tempos da Igreja.
            Deste modo, as normas litúrgicas do Concílio Tridentino foram em
muitos pontos completadas e aperfeiçoadas pelas normas do Vaticano II, que
levou a bom termo os esforços que visavam a aproximar os fiéis da sagrada
Liturgia, empreendidos nos quatro últimos séculos, principalmente nos últimos
tempos, graças sobretudo à estima pelos estudos litúrgicos, promovidos por S.
Pio X e seus sucessores.

Capítulo I
IMPORTÂNCIA E DIGNIDADE
DA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

16.       A celebração da Missa, como ação de Cristo e do povo de Deus


hierarquicamente ordenado, é o centro de toda a vida cristã tanto para a Igreja
universal como local e também para cada um dos fiéis22. Pois nela se encontra
tanto o ápice da ação pela qual Deus santifica o mundo em Cristo, como o do
culto que os homens oferecem ao Pai, adorando-o pelo Cristo, Filho de Deus23.
Além disso, nela são de tal modo relembrados, no decorrer do ano, os mistérios
da redenção, que eles se tornam de certo modo presentes24. As demais ações
sagradas e todas as atividades da vida cristã a ela estão ligadas, dela decorrendo
ou a ela sendo ordenadas25.
17.       É por isso de máxima conveniência dispor a celebração da Missa ou
Ceia do Senhor de tal forma que os ministros sagrados e os fiéis, participando
cada um conforme sua condição, recebam mais plenamente aqueles frutos26
que o Cristo Senhor quis prodigalizar, ao instituir o sacrifício eucarístico de seu

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !127


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Corpo e Sangue, confiando-o à usa dileta esposa, a Igreja, como memorial de


sua paixão e ressurreição27.
18.       Isto se conseguirá de modo adequado se, levando em conta a natureza e
as circunstâncias de cada assembléia litúrgica, toda a celebração for disposta de
tal modo que leve os fiéis à participação consciente, ativa e plena do corpo e do
espírito, animada pelo fervor da fé, da esperança e da caridade. Esta é a
participação ardentemente desejada pela Igreja e exigida pela própria natureza
da celebração; ela constitui um direito e um dever do povo cristão em virtude do
seu batismo28.
19.       Embora às vezes não se possa contar com a presença dos fiéis e sua
participação ativa, que manifestam mais claramente a natureza eclesial da
celebração29, a celebração eucarística conserva sempre sua eficácia e dignidade,
uma vez que é ação de Cristo e da Igreja, na qual o sacerdote cumpre seu
múnus principal e age sempre pela salvação do povo.
            Por isso, recomenda-se que ele, na medida do possível, celebre mesmo
diariamente o sacrifício eucarístico30.
20.       Realizando-se a celebração da Eucaristia, como também toda a Liturgia,
por meio de sinais sensíveis que alimentam, fortalecem e exprimem a fé31, deve-
se escolher e dispor com o maior cuidado as formas e elementos propostos pela
Igreja que, em vista das circunstâncias de pessoas e lugres, promovam mais
intensamente a participação ativa e plena dos fiéis, e que melhor respondam às
suas necessidades espirituais.
21.       A presente Instrução, portanto, visa apresentar as linhas gerais segundo
as quais se deve ordenar a celebração da Eucaristia, bem como expor as regras
para cada forma particular de celebração32.
22.       De máxima importância é a celebração da Eucaristia na Igreja
particular. O Bispo diocesano, o principal dispenseiro dos mistérios de Deus na
Igreja particular a ele confiada, é o moderador, o promotor e guarda de toda a
vida litúrgica33. Nas celebrações que se realizam sob a sua presidência,
sobretudo na celebração eucarística realizada por ele, com a participação do
presbitério, dos diáconos e do povo, manifesta-se o mistério da Igreja. Por isso,
tais celebrações da Missa devem ser tidas como modelares para toda a diocese.
É, pois, seu dever esforçar-se para que os presbíteros, os diáconos e os féis
cristãos leigos compreendam sempre mais profundamente o sentido autêntico
dos ritos e dos textos litúrgicos e assim sejam levados a uma celebração ativa e
frutuosa da Eucaristia. Com a mesma finalidade cuide que cresça sempre a

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !128


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dignidade das próprias celebrações, para cuja promoção muito contribui a


beleza do espaço sagrado, da música e da arte.
23.       Além disso, para que a celebração atenda mais plenamente às normas e
ao espírito da sagrada Liturgia e aumente sua eficácia pastoral, apresentam-se
neste Instrução Geral e no Ordinário da Missa alguns ajustes e adaptações.
24.       Estas adaptações, na maioria, consistem na escolha de alguns ritos ou
textos, ou seja, de cantos, leituras, orações, munições e gestos mais
correspondentes às necessidades, preparação e índole dos participantes,
atribuídas ao sacerdote celebrante. Contudo o sacerdote deve estar lembrado de
que ele é servidor da sagrada Liturgia e de que não lhe é permitido, por própria
conta, acrescentar, tirar ou mesmo mudar qualquer coisa na celebração da
Missa34.
25.       Além disso, no Missal são indicadas, no devido lugar, certas adaptações
que, conforme a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, competem
respectivamente ao Bispo diocesano ou à Conferência dos Bispos35. (cf. infra, n.
387, 388-293).
26.       No que se refere, porém, às diversidades e adaptações mais profundas,
que atendam às tradições e à índole dos povos e regiões, a serem por utilidade
ou necessidade introduzidas à luz do art. 40 da Constituição sobre a Sagrada
Liturgia, observe-se o que se expõe na Instrução "De Liturgia Romana et
inculturatione"36 que vem exposto (n. 395-399) mais adiante.
CAPÍTULO II
ESTRUTURA, ELEMENTOS E PARTES
DA MISSA
I.          ESTRUTURA GERAL DA MISSA
27.       Na Missa ou Ceia do Senhor, o povo de Deus é convocado e reunido,
sob a presidência do sacerdote que representa a pessoa de Cristo, para celebrar
a memória do Senhor ou sacrifício eucarístico37. Por isso, a esta reunião local
da santa Igreja aplica-se, de modo eminente, a promessa de Cristo: "Onde dois
ou três estão reunidos no meu nome, eu estou no meio deles" (Mt 18, 20). Pois,
na celebração da Missa, em que se perpetua o sacrifício da cruz38, Cristo está
realmente presente tanto na assembléia reunida em seu nome, como na pessoa
do ministro, na sua palavra, e também, de modo substancial e permanente, sob
as espécies eucarísticas39.
28.       A Missa consta, por assim dizer, de duas partes, a saber, a liturgia da
palavra e a liturgia eucarística, tão intimamente unidas entre si, que constituem

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !129


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um só ato de culto40. De fato, na Missa se prepara tanto a mesa da Palavra de


Deus como a do Corpo de Cristo, para ensinar e alimentar os fiéis41. Há
também alguns ritos que abrem e encerram a celebração.

II.        OS DIVERSOS ELEMENTOS DA MISSA

Leitura e explanação da Palavra de Deus


29.       Quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja, o próprio Deus fala a
seu povo, e Cristo, presente em sua palavra, anuncia o Evangelho.
            Por isso todos devem escutar com veneração as leituras da Palavra de
Deus, elemento de máxima importância da Liturgia. Embora a palavra divina
contida nas leituras da Sagrada Escritura se dirija a todos os homens de
qualquer época, e seja entendida por eles, a sua mais plena compreensão e
eficácia é aumentada pela exposição viva, isto é, a homilia, que é parte da ação
litúrgica42.
Orações e outras partes próprias do sacerdote
30.       Entre as partes que competem ao sacerdote ocupa o primeiro lugar a
Oração eucarística, cume de toda a celebração. A seguir, vêm as orações, isto é,
a oração do dia (coleta), a oração sobre as oferendas e a oração depois da
Comunhão. O sacerdote, presidindo a comunidade como representante de
Cristo, dirige a Deus estas orações em nome de todo o povo santo e de todos os
circunstantes43. É com razão, portanto, que são chamadas "orações
presidenciais".
31.       Da mesma forma cabe ao sacerdote, no desempenho da função de
presidente da assembléia, proferir certas admoestações previstas no próprio rito.
Quando estiver estabelecido pelas rubricas, o celebrante pode adaptá-las um
pouco para que atendam à compreensão dos participantes; cuide, contudo, o
sacerdote de manter sempre o sentido da exortação proposta no Missal e a
expresse em poucas palavras. Cabe ao Sacerdote presidente também moderar a
palavra de Deus e dar a bênção final. Pode, além, disso, com brevíssimas
palavras, introduzir os fiéis na missa do dia, após a saudação inicial e antes do
ato penitencial, na liturgia da palavra, antes das leituras; na Oração eucarística,
antes do Prefácio, nunca, porém, dentro da própria Oração; pode ainda
encerrar toda a ação sagrada antes da despedida.
32.       A natureza das partes "presidenciais" exige que sejam proferidas em voz
alta e distinta e por todos atentamente escutadas44. Por isso, enquanto o

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !130


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sacerdote as profere, não haja outras orações nem cantos, e calem-se o órgão e
qualquer outro instrumento.
33.       Na verdade, o sacerdote, como presidente, reza em nome da Igreja e de
toda a comunidade reunida e, por vezes, também somente em seu nome para
cumprir o seu ministério com atenção e piedade. Estas orações, propostas antes
da proclamação do Evangelho, na preparação das oferendas e antes e depois da
Comunhão do sacerdote, são rezadas em silêncio.
Outras fórmulas que ocorrem na celebração
34.       Sendo a celebração da Missa, por sua natureza, de índole
"comunitária"45, assumem grande importância os diálogos entre o sacerdote e
os fiéis reunidos, bem como as aclamações46, pois não constituem apenas sinais
externos da celebração comum, mas promovem e realizam a comunhão entre o
sacerdote e o povo.
35.       As aclamações e respostas dos fiéis às orações e saudações do sacerdote
constituem o grau de participação ativa que os fiéis congregados, em qualquer
forma de Missa, devem realizar, para que se promova e exprima claramente a
ação de toda a comunidade47.
36.       Outras partes, muito úteis para manifestar e fomentar a participação
ativa dos fiéis e que competem a toda a assembléia convocada, são
principalmente o ato penitencial, a profissão de fé, a oração universal e a oração
do Senhor.
37.       Por fim, dentre as outras fórmulas:
            a) algumas constituem um rito ou ato independente, como o hino do
Glória, o salmo responsorial, o Aleluia e o versículo antes do Evangelho, o
Sanctus, a aclamação da anamnese e o canto depois da Comunhão;
b) algumas, porém, acompanham um rito, tais como o canto da entrada, das
oferendas, da fração (Agnus Dei) e da Comunhão.
Maneiras de proferir os diversos textos
38.       Nos textos que o sacerdote, o diácono, o leitor ou toda a assembléia
devem proferir em voz alta e distinta, a voz corresponda ao gênero do próprio
texto, conforme se trate de leitura, oração, exortação, aclamação ou canto;
como também à forma de celebração e à solenidade da assembléia. Além disso,
levem-se em conta a índole das diversas línguas e o gênio dos povos.
            Nas rubricas, portanto, e nas normas que se seguem, as palavras "dizer"
ou "proferir" devem aplicar-se tanto ao canto como à recitação, observados os
princípios acima propostos.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !131


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Importância do canto
39.       O Apóstolo aconselha os fiéis, que se reúnem em assembléia para
aguardar a vinda do Senhor, a cantarem juntos salmos, hinos e cânticos
espirituais (cf. Cl 3, 16), pois o canto constitui um sinal de alegria do coração (cf.
At 2, 46). Por isso, dizia com razão Santo Agostinho: "Cantar é próprio de
quem ama"48, e há um provérbio antigo que afirma: "Quem canta bem, reza
duas vezes".
40.       Portanto, dê-se grande valor ao uso do canto na celebração da Missa,
tendo em vista a índole dos povos e as possibilidades de cada assembléia
litúrgica. Ainda que não seja necessário cantar sempre todos os textos de per si
destinados ao canto, por exemplo nas Missas dos dias de semana, deve-se zelar
para que não falte o canto dos ministros e do povo nas celebrações dos
domingos e festas de preceito.
            Na escolha das partes que de fato são cantadas, deve-se dar preferência
às mais importantes e sobretudo àquelas que o sacerdote, o diácono, o leitor
cantam com respostas do povo; ou então àquelas que o sacerdote e o povo
devem proferir simultaneamente49.
41.       Em igualdade de condições, o canto gregoriano ocupa o primeiro lugar,
como próprio da Liturgia romana. Outros gêneros de música sacra,
especialmente a polifonia, não são absolutamente excluídos, contanto que se
harmonizem com o espírito da ação litúrgica e favoreçam a participação de
todos os fiéis50.
            Uma vez que se realizam sempre mais freqüentemente reuniões
internacionais de fiéis, convém que aprendam a cantar juntos em latim ao
menos algumas partes do Ordinário da Missa, principalmente o símbolo da fé e
a oração do Senhor, empregando-se melodias mais simples51.
Gestos e posições do corpo
42.       Os gestos e posições do corpo tanto do sacerdote, do diácono e dos
ministros, como do povo devem contribuir para que toda a celebração
resplandeça pelo decoro e nobre simplicidade, se compreenda a verdadeira e
plena significação de suas diversas partes e se favoreça a participação de
todos52. Deve-se, pois, atender às diretrizes desta Instrução geral e da prática
tradicional do Rito romano e a tudo que possa contribuir para o bem comum
espiritual do povo de Deus, de preferência ao próprio gosto ou arbítrio.
            A posição comum do corpo, que todos os participantes devem observar é
sinal da unidade dos membros da comunidade cristã, reunidos para a sagrada

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Liturgia, pois exprime e estimula os pensamentos e os sentimentos dos


participantes.
43.       Os fiéis permaneçam de pé, do início do canto da entrada, ou enquanto
o sacerdote se aproxima do altar, até a oração do dia inclusive; ao canto do
Aleluia antes do Evangelho; durante a proclamação do Evangelho; durante a
profissão de fé e a oração universal; e do convite Orai, irmãos antes da oração
sobre as oferendas até o fim da Missa, exceto nas partes citadas em seguida.
            Sentem-se durante as leituras antes do Evangelho e durante o salmo
responsorial; durante a homilia e durante a preparação das oferendas; e, se for
conveniente, enquanto se observa o silêncio sagrado após a Comunhão.
            Ajoelhem-se, porém, durante da consagração, a não ser que, por motivo
de saúde ou falta de espaço ou o grande número de presentes ou outras causas
razoáveis não o permitam. Contudo, aqueles que não se ajoelham na
consagração, façam inclinação profunda enquanto o sacerdote faz genuflexão
após a consagração.
            Compete, porém, à Conferência dos Bispos adaptar, segundo as normas
do direito, à índole e às legitimas tradições dos povos, os gestos e posições do
corpo descritos no Ordinário da Missa53. Cuide-se, contudo, que
correspondam ao sentido e à índole de cada parte da celebração. Onde for
costume o povo permanecer de joelhos do fim da aclamação do Santo até ao
final da Oração eucarística e antes da Comunhão quando o sacerdote diz Eis o
Cordeiro de Deus, é louvável que ele seja mantido.
            Para se obter a uniformidade nos gestos e posições do corpo numa
mesma celebração, obedeçam os fiéis aos avisos dados pelo diácono, por um
ministro leigo ou pelo sacerdote, de acordo com o que vem estabelecido no
Missal.
44.       Entre os gestos incluem-se também as ações e as procissões realizadas
pelo sacerdote com o diácono e os ministros ao se aproximarem do altar; pelo
diácono antes da proclamação do Evangelho ou ao levar o Livro dos evangelhos
ao ambão; dos fiéis, ao levarem os dons e enquanto se aproximam da
Comunhão. Convém que tais ações e procissões sejam realizadas com
dignidade, enquanto se executam cantos apropriados, segundo as normas
estabelecidas para cada uma.
O silêncio
45.       Oportunamente, como parte da celebração deve-se observar o silêncio
sagrado54. A sua natureza depende do momento em que ocorre em cada

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celebração. Assim, no ato penitencial e após o convite à oração, cada fiel se


recolhe; após uma leitura ou a homilia, meditam brevemente o que ouviram;
após a comunhão, enfim, louvam e rezam a Deus no íntimo do coração.
            Convém que já antes da própria celebração se conserve o silêncio na
igreja, na sacristia, na secretaria e mesmo nos lugares mais próximos, para que
todos se disponham devota e devidamente para realizarem os sagrados
mistérios.

III. AS PARTES DA MISSA

A)         RITOS INICIAIS


46.       Os ritos que precedem a liturgia da palavra, isto é, entrada, saudação,
ato penitencial, Kýrie, Glória e oração do dia, têm o caráter de exórdio,
introdução e preparação.
            Sua finalidade é fazer com que os fiéis, reunindo-se em assembléia,
constituam uma comunhão e se disponham para ouvir atentamente a palavra de
Deus e celebrar dignamente a Eucaristia.
            Em certas celebrações que, de acordo com as normas dos livros litúrgicos
se ligam com a Missa, omitem-se os ritos iniciais ou são realizados de um modo
próprio.
Entrada
47.       Reunido o povo, enquanto o sacerdote entra com o diácono e os
ministros, começa o canto da entrada. A finalidade desse canto é abrir a
celebração, promover a união da assembléia, introduzir no mistério do tempo
litúrgico ou da festa, e acompanhar a procissão do sacerdote e dos ministros.
48.       O canto é executado alternadamente pelo grupo de cantores e pelo
povo, ou pelo cantor e pelo povo, ou só pelo grupo de cantores. Pode-se usar a
antífona com seu salmo, do Gradual romano ou do Gradual simples, ou então
outro canto condizente com a ação sagrada55 e com a índole do dia ou do
tempo, cujo texto tenha sido aprovado pela Conferência dos Bispos.
            Não havendo canto à entrada, a antífona proposta no Missal é recitada
pelos fiéis, ou por alguns deles, ou pelo leitor; ou então, pelo próprio sacerdote,
que também pode adaptá-la a modo de exortação inicial (cf. n. 31).
Saudação ao altar e ao povo reunido
49.       Chegando ao presbitério, o sacerdote, o diácono e os ministros saúdam o
altar com uma inclinação profunda.

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            Em seguida, em sinal de veneração o sacerdote e o diácono beijam o


altar; e o sacerdote, se for oportuno, incensa a cruz e o altar.
50.       Executado o canto da entrada, o sacerdote, de pé junto à cadeira, junto
com toda a assembléia faz o sinal da cruz; a seguir, pela saudação, expressa à
comunidade reunida a presença do Senhor. Esta saudação e a resposta do povo
exprimem o mistério da Igreja reunida.
            Feita a saudação do povo, o sacerdote, o diácono, ou um ministro leigo,
pode com brevíssimas palavras introduzir os fiéis na Missa do dia.
Ato penitencial
51.       Em seguida, o sacerdote convida para o ato penitencial, que após breve
pausa de silêncio, é realizado por toda a assembléia através de uma fórmula de
confissão geral, e concluído pela absolvição do sacerdote, absolvição que,
contudo, não possui a eficácia do sacramento da penitência.
            Aos domingos, particularmente, no tempo pascal, em lugar do ato
penitencial de costume, pode-se fazer, por vezes, a bênção e aspersão da água
em recordação do batismo56.
Senhor, tende piedade
52.       Depois do ato penitencial inicia-se sempre o Senhor, tende piedade, a
não ser que já tenha sido rezado no próprio ato penitencial. Tratando-se de um
canto em que os fiéis aclamam o Senhor e imploram a sua misericórdia, é
executado normalmente por todos, tomando parte nele o povo e o grupo de
cantores ou o cantor.
            Via de regra, cada aclamação é repetida duas vezes, não se excluindo,
porém, um número maior de repetições por causa da índole das diversas
línguas, da música ou das circunstâncias. Quando o Senhor é cantado como
parte do ato penitencial, antepõe-se a cada aclamação uma
"invocação"("tropo").
Glória a Deus nas alturas
53.       O Glória, é um hino antiquíssimo e venerável, pelo qual a Igreja,
congregada no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus Pai e ao Cordeiro. O
texto deste hino não pode ser substituído por outro. Entoado pelo sacerdote ou,
se for o caso, pelo cantor ou o grupo de cantores, é cantado por toda a
assembléia, ou pelo povo que o alterna com o grupo de cantores ou pelo próprio
grupo de cantores. Se não for cantado, deve ser recitado por todos juntos ou por
dois coros dialogando entre si.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !135


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            É cantado ou recitado aos domingos, exceto no tempo do Advento e da


Quaresma, nas solenidades e festas e ainda em celebrações especiais mais
solenes.
Oração do dia (coleta)
54.       A seguir, o sacerdote convida o povo a rezar; todos se conservam em
silêncio com o sacerdote por alguns instantes, tomando consciência de que estão
na presença de Deus e formulando interiormente os seus pedidos. Depois o
sacerdote diz a oração que se costuma chamar "coleta", pela qual se exprime a
índole da celebração. Conforme antiga tradição da Igreja, a oração costuma ser
dirigida a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo57 e por uma conclusão
trinitária, isto é com uma conclusão mais longa, do seguinte modo:
            - quando se dirige ao Pai: Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na
unidade do Espírito Santo;
            - quando se dirige ao Pai, mas no fim menciona o Filho: Que convosco
vive e reina, na unidade do Espírito Santo;
            - quando se dirige ao Filho: Vós, que sois Deus com o Pai, na unidade
do Espírito Santo.
            O povo, unindo-se à súplica, faz sua a oração pela aclamação Amém.
            Na Missa sempre se diz uma única oração do dia.

B)         LITURGIA DA PALAVRA

55.       A parte principal da liturgia da palavra é constituída pelas leituras da


Sagrada Escritura e pelos cantos que ocorrem entre elas, sendo desenvolvida e
concluída pela homilia, a profissão de fé e a oração universal ou dos fiéis. Pois
nas leituras explanadas pela homilia Deus fala ao seu povo58, revela o mistério
da redenção e da salvação, e oferece alimento espiritual; e o próprio Cristo, por
sua palavra, se acha presente no meio dos fiéis59. Pelo silêncio e pelos cantos o
povo se apropria dessa palavra de Deus e a ela adere pela profissão de fé;
alimentado por essa palavra, reza na oração universal pelas necessidades de
toda a Igreja e pela salvação do mundo inteiro.
O silêncio
56.       A liturgia da palavra deve ser celebrada de tal modo que favoreça a
meditação; por isso deve ser de todo evitada qualquer pressa que impeça o
recolhimento. Integram-na também breves momentos de silêncio, de acordo
com a assembléia reunida, pelos quais, sob a ação do Espírito Santo, se acolhe

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !136


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no coração a Palavra de Deus e se prepara a resposta pela oração. Convém que


tais momentos de silêncio sejam observados, por exemplo, antes de se iniciar a
própria liturgia da palavra, após a primeira e a segunda leitura, como também
após o término da homilia60.
Leituras bíblicas
57.       Mediante as leituras é preparada para os fiéis a mesa da palavra de Deus
e abrem-se para eles os tesouros da Bíblia61. Por isso, é melhor conservar a
disposição das leituras bíblicas pela qual se manifesta a unidade dos dois
Testamentos e da história da salvação; nem é permitido trocar as leituras e o
salmo responsorial, constituídos da palavra de Deus, por outros textos não
bíblicos62.
58.       Na celebração da Missa com povo, as leituras são sempre proferidas do
ambão.
59.       Por tradição, o ofício de proferir as leituras não é função presidencial,
mas ministerial. As leituras sejam pois proclamadas pelo leitor, o Evangelho seja
anunciado pelo diácono ou, na sua ausência, por outro sacerdote. Na falta,
porém, do diácono ou de outro sacerdote, o próprio sacerdote celebrante leia o
Evangelho; igualmente, na falta de outro leitor idôneo, o sacerdote celebrante
proferirá também as demais leituras.
            Depois de cada leitura, quem a leu profere a aclamação; por sua
resposta, o povo reunido presta honra à palavra de Deus, acolhida com fé e de
ânimo agradecido.
60.       A leitura do Evangelho constitui o ponto alto da liturgia da palavra. A
própria Liturgia ensina que se lhe deve manifestar a maior veneração, uma vez
que a cerca mais do que as outras, de honra especial, tanto por parte do
ministro delegado para anunciá-la, que se prepara pela bênção ou oração; como
por parte dos fiéis que pelas aclamações reconhecem e professam que o Cristo
está presente e lhes fala, e que ouvem de pé a leitura; ou ainda pelos sinais de
veneração prestados ao Evangeliário.
Salmo responsorial
61.       À primeira leitura segue-se o salmo responsorial, que é parte integrante
da liturgia da palavra, oferecendo uma grande importância litúrgica e pastoral,
por favorecer a meditação da palavra de Deus.
            O Salmo responsorial deve responder a cada leitura e normalmente será
tomado do lecionário.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !137


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            De preferência, o salmo responsorial será cantado, ao menos no que se


refere ao refrão do povo. Assim, o salmista ou cantor do salmo, do ambão ou
outro lugar adequado profere os versículos do salmo, enquanto toda a
assembléia escuta sentada, geralmente participando pelo refrão, a não ser que o
salmo seja proferido de modo contínuo, isto é, sem refrão. Mas, para que o povo
possa mais facilmente recitar o refrão salmódico, foram escolhidos alguns textos
de refrões e de salmos para os diversos tempos do ano e as várias categorias de
Santos, que poderão ser empregados em lugar do texto correspondente à
leitura, sempre que o salmo é cantado. Se o salmo não puder ser cantado, seja
recitado do modo mais apto para favorecer a meditação da palavra de Deus.
            Em lugar do salmo proposto no lecionário pode-se cantar também um
responsório gradual do Gradual romano ou um salmo responsorial ou
aleluiático do Gradual Simples, como se encontram nesses livros.
Aclamação antes da proclamação do Evangelho
62.       Após a leitura que antecede imediatamente o Evangelho, canta-se o
Aleluia ou outro canto estabelecido pelas rubricas, conforme exigir o tempo
litúrgico. Tal aclamação constitui um rito ou ação por si mesma, através do qual
a assembléia dos fiéis acolhe o Senhor que lhe vai falar no Evangelho, saúda-o e
professa sua fé pelo canto. É cantado por todos, de pé, primeiramente pelo
grupo de cantores ou cantor, sendo repetido, se for o caso; o versículo, porém, é
cantado pelo grupo de cantores ou cantor.
            a) O Aleluia é cantado em todo o tempo, exceto na Quaresma. O
Versículo é tomado do lecionário ou do Gradual.
b) No Tempo da Quaresma, no lugar do Aleluia, canta-se o versículo antes do
Evangelho proposto no lecionário. Pode-se cantar também um segundo salmo
ou trato, como se encontra no Gradual.
63.       Havendo apenas uma leitura antes do Evangelho:
            a) no tempo em que se diz o Aleluia, pode haver um salmo aleluiático,
ou um salmo e o Aleluia com seu versículo;
b) no tempo em que não se diz o Aleluia, pode haver um salmo e o versículo
antes do Evangelho ou somente o salmo;
            c) O Aleluia ou o versículo antes do Evangelho podem ser omitidos
quando não são cantados.
64.       A seqüência que, exceto nos dias da Páscoa e de Pentecostes, é
facultativa, é cantada antes do Aleluia.
Homilia

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65.       A homilia é uma parte da liturgia e vivamente recomendada63, sendo


indispensável para nutrir a vida cristã. Convém que seja uma explicação de
algum aspecto das leituras da Sagrada Escritura ou de outro texto do Ordinário
ou do Próprio da Missa do dia, levando em conta tanto o mistério celebrado,
como as necessidades particulares dos ouvintes64.
66.       A homilia, via de regra é proferida pelo próprio sacerdote celebrante ou
é por ele delegada a um sacerdote concelebrante ou, ocasionalmente, a um
diácono, nunca, porém, a um leigo65. Em casos especiais e por motivo razoável
a homilia também pode ser feita pelo Bispo ou presbítero que participa da
celebração sem que possa concelebrar.
            Aos domingos e festas de preceito haja homilia, não podendo ser omitida
a não ser por motivo grave, em todas as Missas celebradas com participação do
povo; também é recomendada nos outros dias, sobretudo nos dias de semana do
Avento, Quaresma e Tempo pascal, como ainda em outras festas e ocasiões em
que o povo acorre à igreja em maior número66.
            Após a homilia convém observar um breve tempo de silêncio.
Profissão de fé
67.       O símbolo ou profissão de fé tem por objetivo levar todo o povo reunido
a responder à palavra de Deus anunciada da sagrada Escritura e explicada pela
homilia, bem como, proclamando a regra da fé através de fórmula aprovada
para o uso litúrgico, recordar e professar os grandes mistérios da fé, antes de
iniciar sua celebração na Eucaristia.
68.       O símbolo deve ser cantado ou recitado pelo sacerdote com o povo aos
domingos e solenidades; pode-se também dizer em celebrações especiais de
caráter mais solene.
            Quando cantado, é entoado pelo sacerdote ou, se for oportuno, pelo
cantor ou pelo grupo de cantores; é cantado por todo o povo junto, ou pelo
povo alternando com o grupo de cantores.
            Se não for cantado, será recitado por todos juntos, ou por dois coros
alternando entre si.
Oração universal
69.       Na oração universal ou oração dos fiéis, o povo responde de certo modo
à palavra de Deus acolhida na fé e exercendo a sua função sacerdotal, eleva
preces a Deus pela salvação de todos. Convém que normalmente se faça esta
oração nas Missas com o povo, de tal sorte que se reze pela Santa Igreja, pelos

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !139


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governantes, pelos que sofrem necessidades, por todos os seres humanos e pela
salvação do mundo inteiro67.
70.       Normalmente serão estas as séries de intenções:
            a) pelas necessidades da Igreja;
            b) pelos poderes públicos e pela salvação de todo o mundo;
            c) pelos que sofrem qualquer dificuldade;
            d) pela comunidade local.
            No entanto, em alguma celebração especial, tal como Confirmação,
Matrimônio, Exéquias, as intenções podem referir-se mais estreitamente àquelas
circunstâncias.
71.       Cabe ao sacerdote celebrante, de sua cadeira, dirigir a oração. Ele a
introduz com breve exortação, convidando os fiéis a rezarem e depois a conclui.
As intenções propostas sejam sóbrias, compostas por sábia liberdade e breves
palavras e expressem a oração de toda a comunidade.
            As intenções são proferidas, do ambão ou de outro lugar apropriado,
pelo diácono, pelo cantor, pelo leitor ou por um fiel leigo68.
            O povo, de pé, exprime a sua súplica, seja por uma invocação comum
após as intenções proferidas, seja por uma oração em silêncio.

C)        LITURGIA EUCARÍSTICA

72.       Na última Ceia, Cristo instituiu o sacrifício e a ceia pascal, que tornam
continuamente presente na Igreja o sacrifício da cruz, quando o sacerdote,
represente do Cristo Senhor, realiza aquilo mesmo que o Senhor fez e entregou
aos discípulos para que o fizessem em sua memória69.
            Cristo, na verdade, tomou o pão e o cálice, deu graças, partiu o pão e
deu-o a seus discípulos dizendo: Tomai, comei, bebei; isto é o meu Corpo; este é
o cálice do meu Sangue. Fazei isto em memória de mim. Por isso a Igreja dispôs
toda a celebração da liturgia eucarística em partes que correspondem às
palavras e gestos de Cristo. De fato:
            1) Na preparação dos dons levam-se ao altar o pão e o vinho com água,
isto é, aqueles elementos que Cristo tomou em suas mãos.
            2) Na Oração eucarística rendem-se graças a Deus por toda a obra da
salvação e as oferendas tornam-se Corpo e Sangue de Cristo.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !140


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            3) Pela fração do pão e pela Comunhão os fiéis, embora muitos, recebem
o Corpo e o Sangue do Senhor de um só pão e de um só cálice, do mesmo
modo como os Apóstolos, das mãos do próprio Cristo.
Preparação dos dons
73.       No início da liturgia eucarística são levadas ao altar as oferendas que se
converterão no Corpo e Sangue de Cristo.
            Primeiramente prepara-se o altar ou mesa do Senhor, que é o centro de
toda a liturgia eucarística70, colocando-se nele o corporal, o purificatório, o
missal e o cálice, a não ser que se prepare na credência.
            A seguir, trazem-se as oferendas. É louvável que os fiéis apresentem o
pão e o vinho que o sacerdote ou o diácono recebem em lugar adequado para
serem levados ao altar. Embora os fiéis já não tragam de casa, como outrora, o
pão e o vinho destinados à liturgia, o rito de levá-los ao altar conserva a mesma
força e significado espiritual.
            Também são recebidos o dinheiro ou outros donativos oferecidos pelos
fiéis para os pobres ou para a igreja, ou recolhidos no recinto dela; serão, no
entanto, colocados em lugar conveniente, fora da mesa eucarística.
74.       O canto do ofertório acompanha a procissão das oferendas (cf. n. 37, b)
e se prolonga pelo menos até que os dons tenham sido colocados sobre o altar.
As normas relativas ao modo de cantar são as mesmas que para o canto da
entrada (cf. n. 48). O canto pode sempre fazer parte dos ritos das oferendas,
mesmo sem a procissão dos dons.
75.       O pão e o vinho são depositados sobre o altar pelo sacerdote, proferindo
as fórmulas estabelecidas; o sacerdote pode incensar as oferendas colocadas
sobre o altar e, em seguida, a cruz e o próprio altar, para simbolizar que a oferta
da Igreja e sua oração sobem, qual incenso, à presença de Deus. Em seguida,
também o sacerdote, por causa do ministério sagrado e o povo, em razão da
dignidade batismal, podem ser incensados pelo diácono ou por outro ministro.
76.       Em seguida, o sacerdote lava as mãos, ao lado do altar, exprimindo por
esse rito o seu desejo de purificação interior.
Oração sobre as oferendas
77.       Depositadas as oferendas sobre o altar e terminados os ritos que as
acompanham, conclui-se a preparação dos dons e prepara-se a Oração
eucarística com o convite aos fiéis a rezarem com o sacerdote, e com a oração
sobre as oferendas.

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Na Missa se diz uma só oração sobre as oferendas, que termina com a conclusão
mais breve, isto é: Por Cristo, nosso Senhor; se, no fim, se fizer menção do Filho,
a conclusão será: Que vive e reina para sempre.
            O povo, unindo-se à oração, a faz sua pela aclamação Amém.
Oração eucarística
78.       Inicia-se agora a Oração eucarística, centro e ápice de toda a celebração,
prece de ação de graças e santificação. O sacerdote convida o povo a elevar os
corações ao Senhor na oração e ação de graças e o associa à prece que dirige a
Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo, em nome de toda a comunidade. O
sentido desta oração é que toda a assembléia se una com Cristo na proclamação
das maravilhas de Deus e na oblação do sacrifício. A oração eucarística exige
que todos a ouçam respeitosamente e em silêncio.
79.       Podem distinguir-se do seguinte modo os principais elementos que
compõem a Oração eucarística:
            a) Ação de graças (expressa principalmente no Prefácio) em que o
sacerdote, em nome de todo o povo santo, glorifica a Deus e lhe rende graças
por toda a obra da salvação ou por um dos seus aspectos, de acordo com o dia,
a festividade ou o tempo.
            b) A aclamação pela qual toda a assembléia, unindo-se aos espíritos
celestes canta o Santo. Esta aclamação, parte da própria Oração eucarística, é
proferida por todo o povo com o sacerdote.
            c) A epiclese, na qual a Igreja implora por meio de invocações especiais a
força do Espírito Santo para que os dons oferecidos pelo ser humano sejam
consagrados, isto é, se tornem o Corpo e Sangue de Cristo, e que a hóstia
imaculada se torne a salvação daqueles que vão recebê-la em Comunhão.
            d) A narrativa da instituição e consagração, quando pelas palavras e
ações de Cristo se realiza o sacrifício que ele instituiu na última Ceia, ao
oferecer o seu Corpo e Sangue sob as espécies de pão e vinha, e entregá-los aos
apóstolos como comida e bebida, dando-lhes a ordem de perpetuar este
mistério.
            e) A anamnese, pela qual, cumprindo a ordem recebida do Cristo
Senhor através dos Apóstolos, a Igreja faz a memória do próprio Cristo,
relembrando principalmente a sua bem-aventurada paixão, a gloriosa
ressurreição e a ascensão aos céus.
            f) A oblação, pela qual a Igreja, em particular a assembléia atualmente
reunida, realizando esta memória, oferece ao Pai, no Espírito Santo, a hóstia

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !142


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imaculada; ela deseja, porém, que os fiéis não apenas ofereçam a hóstia
imaculada, mas aprendam a oferecer-se a si próprios71, e se aperfeiçoem, cada
vez mais, pela mediação do Cristo, na união com Deus e com o próximo, para
que finalmente Deus seja tudo em todos72.
            g) As intercessões, pelas quais se exprime que a Eucaristia é celebrada
em comunhão com toda a Igreja, tanto celeste como terrestre, que a oblação é
feita por ela e por todos os seus membros vivos e defuntos, que foram chamados
a participar da redenção e da salvação obtidas pelo Corpo e Sangue de Cristo.
            h) A doxologia final que exprime a glorificação de Deus, e é confirmada
e concluída pela aclamação Amém do povo.
Ritos da Comunhão
80.       Sendo a celebração eucarística a ceia pascal, convém que, segundo a
ordem do Senhor, o seu Corpo e Sangue sejam recebidos como alimento
espiritual pelos fiéis devidamente preparados. Esta é a finalidade da fração do
pão e os outros ritos preparatórios, pelos quais os fiéis são imediatamente
encaminhados à Comunhão.
A Oração do Senhor
81.       Na Oração do Senhor pede-se o pão de cada dia, que lembra para os
cristãos antes de tudo o pão eucarístico, e pede-se a purificação dos pecados, a
fim de que as coisas santas sejam verdadeiramente dadas aos santos. O
sacerdote profere o convite, todos os fiéis recitam a oração com o sacerdote, e o
sacerdote acrescenta sozinho o embolismo, que o povo encerra com a doxologia.
Desenvolvendo o último pedido do Pai-nosso, o embolismo suplica que toda a
comunidade dos fiéis seja libertada do poder do mal.
            O convite, a própria oração, o embolismo e a doxologia com que o povo
encerra o rito são cantados ou proferidos em voz alta.
Rito da paz
82.       Segue-se o rito da paz no qual a Igreja implora a paz e a unidade para si
mesma e para toda a família humana e os fiéis se exprimem a comunhão eclesial
e a mútua caridade, antes de comungar do Sacramento.
            Quanto ao próprio sinal de transmissão da paz, seja estabelecido pelas
Conferências dos Bispos, de acordo com a índole e os costumes dos povos, o
modo de realizá-lo*.
            Convém, no entanto, que cada qual expresse a paz de maneira sóbria
apenas aos que lhe estão mais próximos.
Fração do pão

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !143


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83.       O sacerdote parte o pão eucarístico, ajudado, se for o caso, pelo diácono
ou um concelebrante. O gesto da fração realizado por Cristo na última ceia, que
no tempo apostólico deu o nome a toda a ação eucarística, significa que muitos
fiéis pela Comunhão no único pão da vida, que é o Cristo, morto e ressuscitado
pela salvação do mundo, formam um só corpo ( 1Cor 10, 17). A fração se inicia
terminada a transmissão da paz, e é realizada com a devida reverência,
contudo, de modo que não se prolongue desnecessariamente nem seja
considerada de excessiva importância. Este rito é reservado ao sacerdote e ao
diácono.
            O sacerdote faz a fração do pão e coloca uma parte da hóstia no cálice,
para significar a unidade do Corpo e do Sangue do Senhor na obra da salvação,
ou seja, do Corpo vivente e glorioso de Cristo Jesus. O grupo dos cantores ou o
cantor ordinariamente canta ou, ao menos, diz em voz alta, a súplica Cordeiro
de Deus, à qual o povo responde. A invocação acompanha a fração do pão; por
isso, pode-se repetir quantas vezes for necessário até o final do rito. A última vez
conclui-se com as palavras dai-nos a paz.
Comunhão
84.       O sacerdote prepara-se por uma oração em silêncio para receber
frutuosamente o Corpo e Sangue de Cristo. Os fiéis fazem o mesmo, rezando
em silêncio.
            A seguir, o sacerdote mostra aos fiéis o pão eucarístico sobre a patena ou
sobre o cálice e convida-os ao banquete de Cristo; e, unindo-se aos fiéis, faz um
ato de humildade, usando as palavras prescritas do Evangelho.
85.       É muito recomendável que os fiéis, como também o próprio sacerdote
deve fazer, recebam o Corpo do Senhor em hóstias consagradas na mesma
Missa e participem do cálice nos casos previstos (cf. n. 283), para que, também
através dos sinais, a Comunhão se manifeste mais claramente como participação
no sacrifício celebrado atualmente73.
86.       Enquanto o sacerdote recebe o Sacramento, entoa-se o canto da
comunhão que exprime, pela unidade das vozes, a união espiritual dos
comungantes, demonstra a alegria dos corações e realça mais a índole
"comunitária" da procissão para receber a Eucaristia. O canto prolonga-se
enquanto se ministra a Comunhão aos fiéis74. Havendo, porém, um hino após a
Comunhão, encerre-se em tempo o canto da Comunhão.
            Haja o cuidado para que também os cantores possam comungar com
facilidade.

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87.       Para o canto da comunhão pode-se tomar a antífona do Gradual


romano, com ou sem o salmo, a antífona com o salmo do Gradual Simples ou
outro canto adequado, aprovado pela Conferência dos Bispos. O canto é
executado só pelo grupo dos cantores ou pelo grupo dos cantores ou cantor com
o povo.
            Não havendo canto, a antífona proposta no Missal pode ser recitada
pelos fiéis, por alguns dentre eles ou pelo leitor, ou então pelo próprio sacerdote,
depois de ter comungado, antes de distribuir a Comunhão aos fiéis.
88.       Terminada a distribuição da Comunhão, ser for oportuno, o sacerdote e
os fiéis oram por algum tempo em silêncio. Se desejar, toda a assembléia pode
entoar ainda um salmo ou outro canto de louvor ou hino.
89.       Para completar a oração do povo de Deus e encerrar todo o rito da
Comunhão, o sacerdote profere a oração depois da Comunhão, em que implora
os frutos do mistério celebrado.
            Na Missa se diz uma só oração depois da Comunhão, que termina com
a conclusão mais breve, ou seja:
            - se for dirigida ao Pai: Por Cristo, nosso Senhor;
            - se for dirigida ao Pai, mas no fim se fizer menção do Filho: Que vive e
reina para sempre;
            se for dirigida ao Filho: Que viveis e reinais para sempre.
            O povo pela aclamação Amém faz sua a oração.
D)        RITOS DE ENCERRAMENTO
90.       Aos ritos de encerramento pertencem:
            a) breves comunicações, se forem necessárias;
            b) saudação e bênção do sacerdote, que em certos dias e ocasiões é
enriquecida e expressa pela oração sobre o povo, ou por outra fórmula mais
solene;
            c) despedida do povo pelo diácono ou pelo sacerdote, para que cada qual
retorne às suas boas obras, louvando e bendizendo a Deus;
            d) o beijo ao altar pelo sacerdote e o diácono e, em seguida, a inclinação
profunda ao altar pelo sacerdote, o diácono e os outros ministros.
CAPÍTULO III
FUNÇÕES E MINISTÉRIOS NA MISSA
91.       A Celebração eucarística constitui uma ação de Cristo e da Igreja, isto é,
o povo santo, unido e ordenado sob a direção do Bispo. Por isso, pertence a todo
o Corpo da Igreja e o manifesta e afeta; mas atinge a cada um dos seus

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membros de modo diferente, conforme a diversidade de ordens, ofícios e da


participação atual75. Desta forma, o povo cristão, "geração escolhida,
sacerdócio real, gente santa, povo de conquista", manifesta sua organização
coerente e hierárquica76. Todos, portanto, quer ministros ordenados, quer fiéis
leigos, exercendo suas funções e ministérios, façam tudo e só aquilo que lhes
compete77.

I.          FUNÇÕES DE ORDEM SACRA

92.       Toda celebração legítima da Eucaristia é dirigida pelo Bispo,


pessoalmente ou através dos presbíteros, seus auxiliares78.
            Quando o Bispo está presente à Missa com afluência do povo, é de
máxima conveniência que ele celebre a Eucaristia e associe a si os presbíteros na
sagrada ação como concelebrantes. Isto se faz, não para aumentar a solenidade
exterior do rito, mas para manifestar mais claramente o mistério da Igreja,
"sacramento da unidade"79.
            Se o Bispo não celebra a Eucaristia, mas delega outro para fazê-lo,
convém que ele próprio, de cruz peitoral, de estola e revestido do pluvial sobre a
alva, presida a liturgia da palavra, e no fim da Missa, dê a bênção80.
93.       O presbítero, que na Igreja tem o poder sagrado da Ordem para
oferecer o sacrifício em nome de Cristo81, também está à frente do povo fiel
reunido, preside à sua oração, anuncia-lhe a mensagem da salvação, associa a si
o povo no oferecimento do sacrifício a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo,
dá aos seus irmãos o pão da vida eterna e participa com eles do mesmo
alimento. Portanto, quando celebra a Eucaristia, ele deve servir a Deus e ao
povo com dignidade e humildade, e, pelo seu modo de agir e proferir as palavras
divinas, sugerir aos fiéis uma presença viva de Cristo.
94.       Depois do presbítero, o diácono, em virtude da sagrada ordenação
recebida, ocupa o primeiro lugar entre aqueles que servem na celebração
eucarística. A sagrada Ordem do diaconado, realmente, foi tida em grande
apreço na Igreja já desde os inícios da era apostólica82. Na Missa, o diácono
tem partes próprias no anúncio do Evangelho e, por vezes, na pregação da
palavra de Deus, na proclamação das intenções da oração universal, servindo o
sacerdote na preparação do altar e na celebração do sacrifício, na distribuição
da Eucaristia aos fiéis, sobretudo sob a espécie do vinho e, por vezes, na
orientação do povo quanto aos gestos e posições do corpo.

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II.        FUNÇÕES DO POVO DE DEUS

95.       Na celebração da Missa os fiéis constituem o povo santo, o povo


adquirido e o sacerdócio régio, para dar graças a Deus e oferecer o sacrifício
perfeito, não apenas pelas mãos do sacerdote, mas também juntamente com ele,
e aprender a oferecer-se a si próprios83. Esforcem-se, pois, por manifestar isto
através de um profundo senso religioso e da caridade para com os irmãos que
participam da mesma celebração.
            Por isso, evitem qualquer tipo de individualismo ou divisão,
considerando sempre que todos têm um único Pai nos céus e, por este motivo,
são todos irmãos entre si.
96.       Formem um único corpo, seja ouvindo a palavra de Deus, seja tomando
parte nas orações e no canto, ou sobretudo na oblação comum do sacrifício e na
comum participação da mesa do Senhor. Tal unidade se manifesta muito bem
quando todos os fiéis realizam em comum os mesmos gestos e assumem as
mesmas atitudes externas.
97.       Os fiéis não se recusem a servir com alegria ao povo de Deus, sempre
que solicitados para algum ministério particular ou função na celebração.

III.       MINISTÉRIOS PARTICULARES

O ministério do acólito e do leitor instituídos


98.       O acólito é instituído para o serviço do altar e auxiliar o sacerdote e o
diácono. Compete-lhe principalmente preparar o altar e os vasos sagrados, e, se
necessário, distribuir aos fiéis a Eucaristia, da qual é ministro extraordinário84.
            No ministério do altar, o acólito possui partes próprias (cf. n. 187-193)
que ele mesmo deve exercer.
99.       O leitor é instituído para proferir as leituras da sagrada Escritura, exceto
o Evangelho. Pode igualmente propor as intenções para a oração universal, e
faltando o salmista, proferir o salmo entre as leituras.
            Na celebração eucarística, o leitor tem uma função própria (cf. n.
194-198), que ele mesmo deve exercer.
As demais funções
100.     Não havendo acólito instituído, podem ser delegados ministros leigos
para o serviço do altar e ajuda ao sacerdote e ao diácono, que levem a cruz, as

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velas, o turíbulo, o pão, o vinho e a água, ou também sejam delegados como


ministros extraordinários para a distribuição da sagrada Comunhão85.
101.     Na falta de leitor instituído, sejam delegados outros leigos, realmente
capazes de exercerem esta função e cuidadosamente preparados, para proferir
as leituras da Sagrada Escritura, para que os fiéis, ao ouvirem as leituras divinas,
concebam no coração um suave e vivo afeto pela Sagrada Escritura86.
102.     Compete ao salmista proclamar o salmo ou outro cântico bíblico
colocado entre as leituras. Para bem exercer a sua função é necessário que o
salmista saiba salmodiar e tenha boa pronúncia e dicção.
103.     Entre os fiéis, exerce sua função litúrgica o grupo dos cantores ou coral.
Cabe-lhe executar as partes que lhe são próprias, conforme os diversos gêneros
de cantos, e promover a ativa participação dos fiéis no canto87. O que se diz do
grupo de cantores vale também, com as devidas ressalvas, para os outros
músicos, sobretudo para o organista.
104.     Convém que haja um cantor ou regente de coro para dirigir e sustentar
o canto do povo. Mesmo não havendo um grupo de cantores, compete ao
cantor dirigir os diversos cantos, com a devida participação do povo88.
105.     Exercem também uma função litúrgica:
            a) O sacristão, que dispõe com cuidado os livros litúrgicos, os
paramentos e outras coisas necessárias na celebração da Missa.
            b) O comentarista, que, oportunamente, dirige aos fiéis breves
explicações e exortações, visando a introduzi-los na celebração e dispô-los para
entendê-la melhor. Convém que as exortações do comentarista sejam
cuidadosamente preparadas, sóbrias e claras. Ao desempenhar sua função, o
comentarista fica em pé em lugar adequado voltado para os fiéis, não, porém,
no ambão.
            c) Os que fazem as coletas na igreja.
            d) Os que, em certas regiões, acolhem os fiéis às portas da igreja e os
levam aos seus lugares e organizam as suas procissões.
106.     É conveniente, ao menos nas igrejas catedrais e outras igrejas maiores,
que haja algum ministro competente ou mestre de cerimônias, a fim de que as
ações sagradas sejam devidamente organizadas e exercidas com decoro, ordem
e piedade pelos ministros sagrados e os fiéis leigos.
107.     As funções litúrgicas, que não são próprias do sacerdote ou do diácono e
das quais se trata acima (n. 100-106), podem ser confiadas também pelo pároco
ou reitor da igreja a leigos idôneos89 com bênção litúrgica ou designação

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temporária. Quanto à função de servir ao sacerdote junto ao altar, observem-se


as normas dadas pelo Bispo para sua diocese.

IV.        A DISTRIBUIÇÃO DAS FUNÇÕES


E A PREPARAÇÃO DA CELEBRAÇÃO

108.     Um e o mesmo sacerdote deve exercer a função presidencial sempre em


todas as suas partes, com exceção daquelas que são próprias da Missa com a
presença do Bispo (cf. acima, n. 92).
109.     Achando-se presentes várias pessoas aptas a exercerem o mesmo
ministério, nada impede que distribuam entre si e exerçam as diversas partes do
mesmo ministério ou ofício. Por exemplo, um diácono pode ser destinado a
proferir as partes cantadas e outro, ao ministério do altar; havendo várias
leituras, é bom que sejam distribuídas entre diversos leitores; e assim por diante.
Mas não convém de modo algum que várias pessoas dividam entre si um único
elemento da celebração, por exemplo, a mesma leitura feita por dois, um após o
outro, a não ser se trate da Paixão do Senhor.
110.     Se na Missa com o povo houver apenas um ministro, ele mesmo exerça
diversas funções.
111.     A preparação prática de cada celebração litúrgica, com espírito dócil e
diligente, de acordo com o Missal e outros livros litúrgicos, seja feita de comum
acordo por todos aqueles a quem diz respeito, seja quanto aos ritos, seja quanto
ao aspecto pastoral e musical, sob a direção do reitor da igreja e ouvidos
também os fiéis naquilo que diretamente lhes concerne. Contudo, ao sacerdote
que preside a celebração, fica sempre o direito de dispor sobre aqueles
elementos que lhe competem90.

CAPÍTULO IV
AS DIVERSAS FORMAS DE
CELEBRAÇÃO DA MISSA

112.     Na Igreja local deve-se dar o primeiro lugar, por causa de sua
significação, à Missa presidida pelo Bispo, cercado de seu presbitério, diáconos e
ministros leigos91, e na qual o povo santo de Deus participa plena e ativamente,
visto que aí se dá a principal manifestação da Igreja.

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            Na Missa celebrada pelo Bispo, ou à qual ele se faz presente sem que
celebre a Eucaristia, observem-se as normas que se encontram no Cerimonial
dos Bispos92.
113.     Dê-se igualmente grande valor à Missa celebrada com uma comunidade,
sobretudo a paroquial, uma vez que esta representa a Igreja universal, em
determinado tempo e lugar, principalmente quando se trata da celebração
comunitária do dia do Senhor93.
114.     Entre as Missas celebradas em certas comunidades, possui dignidade
particular a Missa conventual, que faz parte do Ofício cotidiano, ou a Missa
chamada "da comunidade". Embora estas Missas nada tenham de especial em
sua celebração, é de suma conveniência que sejam celebradas com canto, e
sobretudo com a plena participação de todos os membros da comunidade,
religiosos ou cônegos. Nessas Missas, cada um exerça a sua função segundo a
Ordem ou o ministério que recebeu. Convém ainda que todos os sacerdotes,
não obrigados a celebrar individualmente por motivo pastoral, concelebrem na
medida do possível. Além disso, todos os membros da comunidade, isto é, os
sacerdotes obrigados a celebrar individualmente para o bem pastoral dos fiéis,
podem também concelebrar a Missa conventual ou "da comunidade" no mesmo
dia94. Convém que os presbíteros que participam da celebração eucarística, a
não ser que estejam escusados por justa causa, exerçam normalmente a função
da própria Ordem, participando de preferência como concelebrantes, revestidos
das vestes sagradas. Caso contrário, portam a veste coral própria ou sobrepeliz
sobre a veste talar.

I. A MISSA COM POVO


115.     Entende-se por Missa com povo a que é celebrada com participação de
fiéis. Convém, na medida do possível, que a celebração, sobretudo nos
domingos e festas de preceito, se realize com canto e conveniente número de
ministros95, pode, porém, ser realizada sem canto e com um ministro apenas.
116.     Na celebração de qualquer Missa em que esteja presente o diácono, este
exerça a sua função. Convém, entretanto, que o sacerdote celebrante seja
assistido normalmente por um acólito, um leitor e um cantor. O rito descrito em
seguida prevê, porém, a possibilidade de maior número de ministros.
O que é necessário preparar
117.     O altar seja coberto ao menos com uma toalha de cor branca. Sobre ele
ou ao seu redor, coloquem-se, em qualquer celebração, ao menos dois castiçais

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !150


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com velas acesas, ou então quatro ou seis, sobretudo quando se trata de Missa
dominical ou festiva de preceito, ou quando celebrar o Bispo diocesano,
colocam-se sete. Haja também sobre o altar ou em torno dele, uma cruz com a
imagem do Cristo crucificado. Os castiçais e a cruz, ornada com a imagem do
Cristo crucificado, podem ser trazidos na procissão de entrada. Pode-se também
colocar sobre o altar o Evangeliário, distinto do livro das outras leituras.
118.     Preparem-se também:
            a) junto à cadeira do sacerdote: o missal e, se for oportuno, um livro de
cantos;
            b) no ambão: o Lecionário;
            c) na credência: cálice, corporal, purificatório e, se for oportuno, pala;
patena e, se necessário, cibórios; pão para a Comunhão do sacerdote que
preside, do diácono, dos ministros e do povo; galhetas com vinho e água, a não
ser que todas estas coisas sejam apresentadas pelos fiéis na procissão das
oferendas; recipiente com água a ser abençoada se houver aspersão; patena para
a Comunhão dos fiéis; e o que for necessário para lavar as mãos.
            O cálice, como convém, seja coberto com um véu, que pode ser da cor
do dia ou de cor branca.
119.     Na sacristia, conforme as diversas formas de celebração, preparem-se as
vestes sagradas (cf. n. 337-341) do sacerdote, do diácono e dos demais ministros:
            a) para o sacerdote: alva, estola e casula ou planeta;
            b) para o diácono: alva, estola e dalmática, que pode ser dispensada em
sua falta, como também em celebrações menos solenes;
            c) para os demais ministros: alva ou outras vestes legitimamente
aprovadas96.
            Quando se realiza a procissão da entrada preparem-se também o
Evangeliário; nos domingos e dias festivos, o turíbulo e a naveta com incenso,
quando se usa incenso; cruz a ser levada na procissão e castiçais com velas
acesas.

A)         MISSA SEM DIÁCONO

Ritos iniciais
120.     Reunido o povo, o sacerdote e os ministros, revestidos das vestes
sagradas, dirigem ao altar na seguinte ordem:
            a) o turiferário com o turíbulo aceso, quando se usa incenso;

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !151


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            b) os ministros que portam as velas acesas e, entre eles, o acólito ou outro
ministro com a cruz;
            c) os acólitos e os outros ministros;
            d) o leitor, que pode conduzir um pouco elevado o Evangeliário, não,
porém, o lecionário;
            e) o sacerdote que vai celebrar a Missa.
            Quando se usa incenso, antes de iniciar a procissão, o sacerdote põe
incenso no turíbulo, abençoando-o com o sinal da cruz, sem nada dizer.
121.     Enquanto se faz a procissão para o altar, canta-se o canto da entrada (cf.
n. 47-48).
122.     Chegando ao altar, o sacerdote e os ministros fazem inclinação
profunda.
            A cruz, ornada com a imagem do Cristo crucificado trazida
eventualmente na procissão, pode ser colocada junto ao altar, de modo que se
torna a cruz do altar, que deve ser uma só; caso contrário, ela será guardada em
lugar adequado; os castiçais são colocados sobre o altar ou junto dele; o
Evangeliário seja colocado sobre o altar.
123.     O sacerdote sobe ao altar e beija-o em sinal de veneração. Em seguida,
se for oportuno, incensa a cruz e o altar, contornando-o.
124.     Em seguida, o sacerdote dirige-se à cadeira. Terminado o canto da
entrada, e estando todos de pé, o sacerdote e os fiéis fazem o sinal da cruz. O
sacerdote diz: Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. O povo
responde: Amém.
            Voltado para o povo e abrindo os braços, o sacerdote saúda-o com uma
das fórmulas propostas. Ele mesmo ou outro ministro, pode, com brevíssimas
palavras, introduzir os fieis na Missa do dia.
125.     Segue-se o ato penitencial. Em seguida, é cantado ou recitado o Senhor,
tende piedade, conforme as rubricas (cf. n. 52).
126.     Nas celebrações previstas, canta-se ou se recita o Glória (cf. n. 53).
127.     Em seguida, o sacerdote convida o povo a rezar, dizendo, de mãos
unidas: Oremos. E todos, juntamente com ele, oram um momento em silêncio.
Então o sacerdote, abrindo os braços, diz a oração do dia. Ao terminar, o povo
aclama: Amém.
Liturgia da Palavra
128.     Concluída a oração do dia, todos se assentam. O sacerdote pode, com
brevíssimas palavras, introduzir os fiéis na liturgia da Palavra. O leitor, por sua

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !152


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vez, dirige-se ao ambão, e do Lecionário já aí colocado antes da Missa,


proclama a primeira leitura, que todos escutam. No fim, o leitor profere a
aclamação Palavra do Senhor, respondendo todos Graças a Deus.
            Se for oportuno, pode-se, então, observar um breve espaço de silêncio,
para que todos meditem o que ouviram.
129.     Em seguida, o salmista ou o próprio leitor, profere os versículos do salmo
ao que o povo normalmente responde com o refrão.
130.     Se houver uma segunda leitura antes do Evangelho, o leitor a proclama
do ambão, enquanto todos escutam, respondendo, no fim, com a aclamação,
como se disse acima (n. 128). Em seguida, se for oportuno, pode-se observar um
breve espaço de silêncio.
131.     Depois, todos se põem de pé e canta-se o Aleluia ou outro canto,
conforme as exigências do tempo litúrgico (cf. n. 62-64).
132.     Enquanto se canta o Aleluia ou outro canto, o sacerdote, se usar incenso,
coloca-o no turíbulo e o abençoa. A seguir, com as mãos unidas, e
profundamente inclinado diante do altar, diz em silêncio: Ó Deus todo-
poderoso, purificai-me.
133.     Toma, então, o Evangeliário, se estiver no altar e, precedido dos
ministros leigos, que podem levar o turíbulo e os castiçais, dirige-se para o
ambão, conduzindo o Evangeliário um pouco elevado. Os presentes voltam-se
para o ambão, manifestando uma especial reverência ao Evangelho de Cristo.
134.     No ambão, o sacerdote abre o livro e, de mãos unidas, diz: O Senhor
esteja convosco, respondendo o povo: Ele está no meio de nós e, a seguir,
Proclamação do Evangelho, fazendo com o polegar o sinal da cruz sobre o livro
e sobre si mesmo, na fronte, na boca e no peito, acompanhado nisso por todos.
O povo aclama, dizendo: Glória a vós, Senhor. O sacerdote incensa o livro, se
usar incenso (cf. n. 276-277). A seguir, proclama o Evangelho e, ao terminar,
profere a aclamação: Palavra da Salvação, respondendo todos: Glória a vós,
Senhor. O sacerdote beija o livro, dizendo em silêncio: Pelas palavras do Santo
Evangelho.
135.     Se não houver leitor, o próprio sacerdote, de pé ao ambão, diz todas as
leituras bem como o salmo. Também aí, se usar incenso, ele o coloca e abençoa
e, profundamente inclinado, diz: Ó Deus todo-poderoso, purificai-me.
136.     O sacerdote, de pé junto à cadeira ou no próprio ambão, ou ainda, se for
oportuno, em outro lugar adequado, profere a homilia; ao terminar, pode-se
observar um tempo de silêncio.

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137.     O símbolo é cantado ou recitado pelo sacerdote com o povo (cf. n. 68),
estando todos de pé. Às palavras E se encarnou pelo Espírito Santo, todos se
inclinam profundamente, mas nas solenidades da Anunciação do Senhor e do
Natal do Senhor todos se ajoelham.
138.     Terminado o símbolo, o sacerdote, de pé junto à cadeira e de mãos
unidas, com breve exortação convida os fiéis à oração universal. A seguir, o
cantor, o leitor ou outra pessoa, do ambão ou de outro lugar apropriado e
voltado para o povo propõe as intenções, às quais o povo, por sua vez, responde
suplicante. Por fim, o sacerdote, de mãos estendidas, conclui a prece por uma
oração.
Liturgia eucarística
139.     Terminada a oração universal, todos se assentam e tem início o canto do
ofertório (cf. n. 74).
            O acólito ou outro ministro leigo coloca sobre o altar o corporal, o
purificatório, o cálice, a pala e o missal.
140.     Convém que a participação dos fiéis se manifeste através da oferta do
pão e vinho para a celebração da Eucaristia, ou de outras dádivas para prover às
necessidades da igreja e dos pobres.
            As oblações dos fiéis são recebidas pelo sacerdote, ajudado pelo acólito
ou outro ministro. O pão e o vinho para a Eucaristia são levados para o
celebrante, que as depõe sobre o altar, enquanto as outras dádivas são colocadas
em outro lugar adequado (cf. n. 73).
141.     Ao altar, o sacerdote recebe a patena com pão, e a mantém levemente
elevada sobre o altar com ambas as mãos, dizendo em silêncio: Bendito sejais,
Senhor. E depõe a patena com o pão sobre o corporal.
142      Em seguida, de pé, no lado do altar, derrama vinho e um pouco d'água
no cálice, dizendo em silêncio: Por esta água, enquanto o ministro lhe apresenta
as galhetas. Retornando ao centro do altar, com ambas as mãos mantém um
pouco elevado o cálice preparado, dizendo em silêncio: Bendito sejais, Senhor; e
depõe o cálice sobre o corporal, cobrindo-o com a pala, se julgar oportuno.
Contudo, se não houver canto de preparação das oferendas ou não houver
música de fundo do órgão, na apresentação do pão e do vinho, o sacerdote pode
proferir em voz alta as fórmulas de bendição, respondendo o povo: Bendito seja
Deus para sempre.
143.     Depois de colocado o cálice sobre o altar, o sacerdote, profundamente
inclinado, diz em silêncio: De coração contrito.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !154


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144.     A seguir, se usar incenso, o sacerdote o coloca no turíbulo, abençoa-o


sem nada dizer e incensa as oferendas, a cruz e o altar. O ministro, de pé, ao
lado do altar, incensa o sacerdote e, sem seguida, o povo.
145.     Após a oração De coração contrito, ou depois da incensação, o
sacerdote, de pé ao lado do altar, lava as mãos, dizendo em silêncio: Lavai-me,
Senhor, enquanto o ministro derrama a água.
146.     Outra vez no centro do altar, o sacerdote, de pé e voltado para o povo,
estendendo e unindo as mãos, convida o povo a rezar, dizendo: Orai, irmãos e
irmãs etc. O povo põe-se de pé e responde, dizendo: Receba o Senhor. Em
seguida, o sacerdote, de mãos estendidas, diz a Oração sobre as oferendas. No
fim o povo aclama: Amém.
147.     O sacerdote inicia a Oração eucarística. Conforme as rubricas (cf. n.
365) ele escolhe uma das Orações eucarísticas do Missal Romano, ou aprovadas
pela Sé Apostólica. A Oração eucarística, por sua natureza, exige que somente o
sacerdote, em virtude de sua ordenação, a profira. O povo, por sua vez, se
associe ao sacerdote na fé e em silêncio e por intervenções previstas no decurso
da Oração eucarística, que são as respostas no diálogo do Prefácio, o Santo, a
aclamação após a consagração, e a aclamação Amém, após a doxologia final,
bem como outras aclamações aprovadas pela Conferência dos Bispos e
reconhecidas pela Santa Sé.
            É muito conveniente que o sacerdote cante as partes da Oração
eucarística, enriquecidas pela música.
148.     Iniciando a Oração eucarística, o sacerdote, estendendo as mãos, canta
ou diz: O Senhor esteja convosco, e o povo responde: Ele está no meio de nós.
Enquanto prossegue: Corações ao alto, eleva as mãos. O povo responde: O
nosso coração está em Deus. O sacerdote, de mãos estendidas, acrescenta:
Demos graças ao Senhor, nosso Deus, e o povo responde: É nosso dever e nossa
salvação. Em seguida, o sacerdote, de mãos estendidas, continua o Prefácio;
terminado este, une as mãos e com todos os presentes, canta ou diz em voz alta:
Santo (cf. n. 79,b).
149.     O sacerdote continua a Oração eucarística conforme as rubricas, que se
encontram em cada uma dessas Orações.
            Se o celebrante é Bispo, nas Preces, após as palavras: pelo vosso servo o
Papa N., acrescenta: e por mim, vosso indigno servo. Quando o Bispo celebra
fora de sua diocese, após as palavras: pelo vosso servo o Papa N., acrescenta: por
mim, vosso indigno servo e por meu irmão N., Bispo desta Igreja N., ou após as

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !155


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palavras: de nosso Papa N., acrescenta: de mim, vosso indigno servo e de meu
irmão N., Bispo desta Igreja N.
            O Bispo diocesano, ou quem for de direito equiparado a ele, deve ser
nomeado com esta fórmula: com o Papa N., com o nosso Bispo (ou: Vigário,
Prelado, Prefeito, Abade) N.
            O Bispo Coadjutor e os Auxiliares, não, porém, outros bispos,
eventualmente, presentes, podem ser nomeados na Oração eucarística. Quando
vários devem ser nomeados, pode-se fazê-lo em forma geral: e o nosso Bispo N.
e seus Bispos auxiliares.
            Em cada Oração eucarística, estas fórmulas se usam conforme exigirem
as normas gramaticais.
150.     Um pouco antes da consagração, o ministro, se for oportuno, adverte os
fiéis com um sinal da campainha. Faz o mesmo em cada elevação, conforme o
costume da região.
            Se for usado incenso, ao serem mostrados ao povo a hóstia e o cálice
após a consagração, o ministro os incensa.
151.     Após a consagração, tendo o sacerdote dito: Eis o mistério da fé, o povo
profere a aclamação, usando uma das fórmulas prescritas.
            No fim da Oração eucarística, o sacerdote, tomando a patena com a
hóstia e o cálice ou elevando ambos juntos profere sozinho a doxologia: Por
Cristo. Ao término, o povo aclama: Amém. Em seguida, o sacerdote depõe a
patena e o cálice sobre o corporal.
152.     Concluída a Oração eucarística, o sacerdote, de mãos unidas, diz a
exortação que precede a Oração do Senhor e, a seguir, de mãos estendidas,
proclama-a juntamente com o povo.
153.     Terminada a Oração do Senhor, o sacerdote, de mãos estendidas, diz
sozinho, o embolismo: Livrai-nos de todos os males, no fim do qual o povo
aclama: Vosso é o reino.
154.     Em seguida, o sacerdote, de mãos estendidas, diz em voz alta a oração
Senhor Jesus Cristo, dissestes; terminada esta, estendendo e unindo as mãos,
voltado para o povo, anuncia a paz, dizendo: A paz do Senhor esteja sempre
convosco. O povo responde: O amor de Cristo nos uniu. Depois, conforme o
caso, o sacerdote acrescenta: Meus irmãos e minhas irmãs, saudai-vos em Cristo
Jesus.
            O sacerdote pode dar a paz aos ministros, mas sempre permanecendo
no âmbito do presbitério, para que não se perturbe a celebração. Faça o mesmo

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !156


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se por motivo razoável quiser dar a paz para alguns poucos fiéis. Todos, porém,
conforme as normas estabelecidas pela Conferência dos Bispos, expressam
mutuamente a paz, a comunhão e a caridade. Enquanto se dá a paz, pode-se
dizer: A paz do Senhor esteja sempre contigo, sendo a resposta: Amém.
155.     A seguir, o sacerdote toma a hóstia, parte-a sobre a patena e deixa cair
uma partícula no cálice, dizendo em silêncio: Esta união. Enquanto isso, o coral
e o povo cantam ou dizem o Cordeiro de Deus (cf. n. 83).
156.     Em seguida, o sacerdote, em silêncio, e com as mãos juntas, diz a oração
da Comunhão: Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, ou Senhor Jesus Cristo,
o vosso Corpo.
157.     Terminada a oração, o sacerdote faz genuflexão, toma a hóstia
consagrada na mesma missa e segurando-a um pouco elevada sobre a patena ou
sobre o cálice, diz voltado para o povo: Felizes os convidados etc, e, juntamente
com o povo, acrescenta uma só vez: Senhor, eu não sou digno.
158.     De pé e voltado para o altar, o sacerdote diz em silêncio: O Corpo de
Cristo me guarde para a vida eterna, e comunga com reverência o Corpo de
Cristo. A seguir, segura o cálice e diz em silêncio: Que o Sangue de Cristo me
guarde para a vida eterna, e com reverência bebe o Sangue de Cristo.
159.     Enquanto o sacerdote comunga o Sacramento, entoa-se o canto da
Comunhão (cf. n. 86).
160.     O sacerdote toma, então, a patena ou o cibório e se aproxima dos que
vão comungar e que normalmente se aproximam em procissão.
            Não é permitido aos fiéis receber por si mesmos o pão consagrado nem
o cálice consagrado e muito menos passar de mão em mão entre si. Os fiéis
comungam ajoelhados ou de pé, conforme for estabelecido pela Conferência
dos Bispos. Se, no entanto, comungarem de pé, recomenda-se que, antes de
receberem o Sacramento, façam devida reverência, a ser estabelecida pelas
mesmas normas.
161.     Se a Comunhão é dada sob a espécie do pão somente, o sacerdote
mostra a cada um a hóstia um pouco elevada, dizendo: O Corpo de Cristo.
Quem vai comungar responde: Amém, recebe o Sacramento, na boca ou, onde
for concedido, na mão, à sua livre escolha. O comungante, assim que recebe a
santa hóstia, consome-a inteiramente.
Quando a Comunhão se fizer sob as duas espécies, observe-se o rito descrito no
lugar próprio (cf. n. 284-287).

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !157


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162.     Outros presbíteros eventualmente presentes podem ajudar o sacerdote


na distribuição da Comunhão. Se não houver e se o número dos comungantes
for muito grande, o sacerdote pode chamar ministros extraordinários para
ajudá-lo, ou seja, o acólito instituído bem como outros fiéis, que para isso foram
legitimamente delegados97. Em caso de necessidade, o sacerdote pode delegar
fiéis idôneos para o caso particular98.
            Estes ministros não se aproximem do altar antes que o sacerdote tenha
tomado a Comunhão, recebendo sempre o vaso que contém as espécies da
Santíssima Eucaristia a serem distribuídas aos fiéis, da mão do sacerdote
celebrante.
163.     Terminada a distribuição da Comunhão, o próprio sacerdote, no altar,
consome imediatamente todo o vinho consagrado que tenha sobrado; as hóstias
que sobram, ele as consome ao altar ou as leva ao lugar destinado à conservação
da Eucaristia.
            Tendo voltado para o altar, o sacerdote recolhe os f
164.     Em seguida, o sacerdote pode voltar à cadeira. Pode-se guardar durante
algum tempo um sagrado silêncio, ou entoar um salmo ou outro canto ou hino
de louvor (cf. n. 88).
165.     A seguir, de pé, junto à cadeira ou ao altar, voltado para o povo, o
sacerdote diz, de mãos unidas Oremos, e de mãos estendidas, recita a Oração
depois da Comunhão, que pode ser precedida de um momento de silêncio, a
não ser que já se tenha guardado silêncio após a Comunhão. No fim da oração
o povo aclama: Amém.
Ritos finais
166.     Terminada a oração depois da comunhão, façam-se, se necessário,
breves comunicações ao povo.
167.     Em seguida, o sacerdote, estendendo as mãos, saúda o povo, dizendo: O
Senhor esteja convosco, e o povo responde: Ele está no meio de nós. E o
sacerdote, unindo novamente as mãos, acrescenta logo, recolhendo a mão
esquerda sobre o peito e elevando a mão direita: Abençoe-vos Deus todo-
poderoso, e traçando o sinal da cruz sobre o povo, prossegue: Pai, e Filho, e
Espírito Santo. Todos respondem: Amém.
            Em certos dias e ocasiões, esta bênção é enriquecida e expressa,
conforme as rubricas, pela oração sobre o povo ou outra fórmula mais solene.
            O Bispo abençoa o povo com fórmula apropriada, traçando três vezes o
sinal da cruz sobre o povo99.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !158


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168.     Logo após a bênção, o sacerdote, de mãos unidas, acrescenta: Ide em


paz e o Senhor vos acompanhe e todos respondem: Graças a Deus.
169.     O sacerdote beija o altar, como de costume e, feita a ele com os ministros
leigos profunda inclinação, com eles se retira.
170.     Se houver depois da Missa alguma ação litúrgica, omitem-se os ritos
finais, isto é, a saudação, a bênção e a despedida.

B) MISSA COM DIÁCONO

171.     Quando está presente à celebração eucarística, o diácono, revestido das


vestes sagras, exerça seu ministério. Assim, o diácono:
            a) assiste o sacerdote e caminha a seu lado;
            b) ao altar, encarrega-se do cálice e do livro;
            c) proclama o Evangelho e, por mandado do sacerdote celebrante, pode
fazer a homilia (cf. n. 66);
            d) orienta o povo fiel através de oportunas exortações e enuncia as
intenções da oração universal;
            e) auxilia o sacerdote celebrante na distribuição da Comunhão e purifica
e recolhe os vasos sagrados;
            f) se não houver outros ministros, exerce as funções deles, conforme a
necessidade.
Ritos iniciais
172.     Conduzindo o Evangeliário, pouco elevado, o diácono precede o
sacerdote que se dirige ao altar; se não, caminha a seu lado.
173.     Chegando ao altar, se conduzir o Evangeliário, omitida a reverência,
sobe ao altar. E, tendo colocado o Evangeliário com deferência sobre o altar,
com o sacerdote venera o altar com um ósculo.
            Se, porém, não conduzir o Evangeliário, faz, como de costume, com o
sacerdote profunda inclinação ao altar e, com ele, venera-o com um ósculo.
            Por fim, se for usado incenso, assiste o sacerdote na colocação do incenso
e na incensação da cruz e do altar.
174.     Incensado o altar, dirige-se para a sua cadeira com o sacerdote,
permanecendo aí ao lado do sacerdote e servindo-o quando necessário.
Liturgia da palavra
175.     Enquanto é proferido o Aleluia ou outro canto, o diácono, quando se usa
incenso, serve o sacerdote na imposição do incenso. Em seguida, profundamente

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !159


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inclinado diante do sacerdote, pede, em voz baixa a bênção, dizendo: Dá-me a


tua bênção. O sacerdote o abençoa, dizendo: O Senhor esteja em teu coração.
O diácono faz o sinal da cruz e responde: Amém. Em seguida, feita uma
inclinação ao altar, toma o Evangeliário, que louvavelmente se encontra
colocado sobre o altar e dirige-se ao ambão, levando o livro um pouco elevado,
precedido do turiferário com o turíbulo fumegante e dos ministros com velas
acesas. Ali, ele saúda o povo, dizendo de mãos unidas: O Senhor esteja convosco
e, em seguida, às palavras Proclamação do Evangelho, traça o sinal da cruz com
o polegar sobre o livro e, a seguir, sobre si mesmo, na fronte, sobre a boca e o
peito, incensa o livro e proclama o Evangelho. Ao terminar, aclama: Palavra da
Salvação, respondendo todos: Glória a vós, Senhor. Em seguida, beija o livro,
dizendo em silêncio: Pelas palavras do santo Evangelho, e volta para junto do
sacerdote.
            Quando o diácono serve ao Bispo, leva-lhe o livro para ser osculado ou
ele mesmo o beija, dizendo em silêncio: Pelas palavras do santo Evangelho. Em
celebrações mais solenes o Bispo, conforme a oportunidade, abençoa o povo
com o Evangeliário.
            Por fim, o Evangeliário pode ser levado para a credência ou outro lugar
adequado e digno.
176.     Não havendo outro leitor preparado, o diácono profere também as
outras leituras.
177.     Após a introdução do sacerdote, o diácono propõe, normalmente do
ambão, as intenções da oração dos féis.
Liturgia eucarística
178.     Terminada a oração universal, enquanto o sacerdote permanece em sua
cadeira, o diácono prepara o altar com a ajuda do acólito; cabe-lhe ainda cuidar
dos vasos sagrados. Assiste o sacerdote na recepção das dádivas do povo.
Entrega ao sacerdote a patena com o pão que vai ser consagrado; derrama
vinho e um pouco d'água no cálice, dizendo em silêncio: Pelo mistério desta
água e, em seguida, apresenta o cálice ao sacerdote. Ele pode fazer esta
preparação do cálice também junto à credência. Quando se usa incenso, serve o
sacerdote na incensação das oferendas, da cruz e do altar, e depois ele mesmo
ou o acólito incensa o sacerdote e o povo.
179.     Durante a Oração eucarística, o diácono permanece de pé junto ao
sacerdote, mas um pouco atrás, para cuidar do cálice ou do missal, quando
necessário.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !160


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            A partir da epiclese até a apresentação do cálice o diácono normalmente


permanece de joelhos. Se houver vários diáconos, um deles na hora da
consagração pode colocar incenso no turíbulo e incensar na apresentação da
hóstia e do cálice.
180.     À doxologia final da Oração eucarística, de pé ao lado do sacerdote,
eleva o cálice, enquanto o sacerdote eleva a patena com a hóstia, até que o povo
tenha aclamado: Amém.
181.     Depois que o sacerdote disse a oração pela paz e: A paz do Senhor esteja
sempre convosco, o povo responde: O amor de Cristo nos uniu, o diácono, se for
o caso, faz o convite à paz, dizendo, de mãos juntas e voltado para o povo: Meus
irmãos e minhas irmãs, saudai-vos em Cristo Jesus. Ele, por sua vez, recebe a
paz do sacerdote e pode oferecê-la aos outros ministros que lhe estiverem mais
próximos.
182.     Tendo o sacerdote comungado, o diácono recebe a Comunhão sob as
duas espécies do próprio sacerdote e, em seguida, ajuda o sacerdote a distribuir
a Comunhão ao povo. Sendo a Comunhão ministrada sob as duas espécies,
apresenta o cálice aos comungantes e, terminada a distribuição, consome logo
com reverência, ao altar, todo o Sangue de Cristo que tiver sobrado, com a
ajuda, se for o caso, dos demais diáconos e dos presbíteros.
183.     Concluída a distribuição da Comunhão, o diácono volta com o
sacerdote ao altar e reúne os fragmentos, se os houver. A seguir, leva o cálice e os
outros vasos sagrados para a credência, onde os purifica e compõe como de
costume, enquanto o sacerdote regressa à cadeira. Podem-se deixar
devidamente cobertos na credência, sobre o corporal, os vasos a purificar e
purificá-los imediatamente após a Missa, depois da despedida do povo.
Ritos finais
184.     Após a Oração depois da Comunhão, o diácono faz breves
comunicações que se fizerem necessárias ao povo, a não ser que o próprio
sacerdote prefira fazê-lo.
185.     Se for usada a oração sobre o povo ou a fórmula da bênção solene, o
diácono diz: Inclinai-vos para receber a bênção. Dada a bênção pelo sacerdote,
o diácono despede o povo, dizendo de mãos unidas e voltado para o povo: Ide
em paz e o Senhor vos acompanhe.
186.     A seguir, junto com o sacerdote, venera com um ósculo o altar e, feita
uma inclinação profunda, retira-se como à entrada.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !161


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C)        FUNÇÕES DO ACÓLITO

187.     As funções que o acólito pode exercer são de diversos tipos; alguns deles
podem ocorrer simultaneamente. Convém, por isso, que sejam oportunamente
distribuídas entre várias pessoas; mas se estiver presente um único acólito, este
execute o que for mais importante, distribuindo-se as demais entre outros
ministros.
Ritos iniciais
188.     Na procissão para o altar, o acólito pode levar a cruz, entre dois
ministros que levam velas acesas. Depois de chegar ao altar, depõe a cruz perto
do altar, de modo que se torne a cruz do altar; se não, guarda-a em lugar digno.
Em seguida, ocupa o seu lugar no presbitério.
189.     Durante toda a celebração, cabe ao acólito aproximar-se do sacerdote ou
do diácono, para lhes apresentar o livro e ajudá-los em outras coisas necessárias.
Convém, portanto, que, na medida do possível, ocupe um lugar do qual possa
comodamente cumprir o seu ministério, quer junto à cadeira quer junto ao
altar.
Liturgia eucarística
190.     Não havendo diácono, depois de concluída a oração universal, enquanto
o sacerdote permanece junto à cadeira, o acólito põe sobre o altar o corporal, o
purificatório, o cálice, a pala e o missal. A seguir, se for o caso, ajuda o sacerdote
a receber os donativos do povo e, oportunamente, leva para o altar o pão e o
vinho e os entrega ao sacerdote. Usando-se incenso, apresenta ao sacerdote o
turíbulo e o auxilia na incensação das oferendas, da cruz e do altar. Em seguida,
incensa o sacerdote e o povo.
191.     O acólito legalmente instituído, como ministro extraordinário, pode, se
for necessário, ajudar o sacerdote a distribuir a Comunhão ao povo100.Se a
Comunhão for dada sob as duas espécies, na ausência do diácono, o acólito
ministra o cálice aos comungantes, ou segura o cálice, se a comunhão for dada
por intinção.
192.     Do mesmo modo, o acólito legalmente instituído, terminada a
distribuição da Comunhão, ajuda o sacerdote ou o diácono a purificar e
arrumar os vasos sagrados. Na falta de diácono, o acólito devidamente instituído
leva os vasos sagrados para a credência e ali, como de costume, os purifica, os
enxuga e os arruma.

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193.     Terminada a Missa, o acólito e os demais ministros, junto com o


sacerdote e o diácono, voltam processionalmente à sacristia, do mesmo modo e
na mesma ordem em que vieram.

D)        FUNÇÕES DO LEITOR

Ritos iniciais
194.     Na procissão ao altar, faltando o diácono, o leitor, revestido de vestes
aprovadas, pode levar o Evangeliário um pouco elevado; neste caso, caminha à
frente do sacerdote; do contrário, com os demais ministros.
195.     Ao chegar ao altar, faz com os outros profunda inclinação. Se levar o
Evangeliário, sobe ao altar e depõe o Evangeliário sobre ele. A seguir, ocupa,
com os demais ministros, seu lugar no presbitério.
Liturgia da palavra
196.     O acólito profere, do ambão, as leituras que precedem o Evangelho. Não
havendo salmista, pode proferir também o salmo responsorial depois da
primeira leitura.
197.     Na falta de diácono, depois que o sacerdote fez a introdução, pode
proferir, do ambão, as intenções da oração universal.
198.     Se não houver canto à Entrada e à Comunhão, e os fiéis não recitarem
as antífonas propostas no missal, o leitor as pode proferir no momento oportuno
(cf. n. 48 e 87).

II. MISSA CONCELEBRADA

199.     A concelebração, que manifesta convenientemente a unidade do


sacerdócio e do sacrifício, bem como a unidade de todo o povo de Deus, é
prescrita pelo próprio rito: na ordenação de Bispo e de Presbíteros, na bênção
de Abade e na Missa do Crisma.
            Além disso, se recomenda, a não ser que o bem pastoral dos fiéis exija ou
aconselhe outra coisa:
            a) na Missa vespertina na Ceia do Senhor;
            b) na Missa de Concílios, Reuniões de Bispos e de Sínodos;
            c) na Missa conventual e na Missa principal nas igrejas e oratórios;
            d) nas Missas de reuniões sacerdotais de qualquer tipo, seja de seculares
seja de religiosos101.

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            Contudo, a cada sacerdote é permitido celebrar a Eucaristia de forma


individual, mas não no mesmo tempo, em que na mesma igreja ou oratório, se
realiza uma concelebração. No entanto, na Quinta-feira, na Ceia do Senhor e
na Missa da Vigília pascal, não é permitido oferecer o sacrifício de modo
individual.
200.     Os presbíteros em peregrinação, sejam acolhidos de bom grado para a
concelebração eucarística, contanto que seja reconhecida sua condição
sacerdotal.
201.     Onde houver grande número de sacerdotes, a concelebração pode
realizar-se várias vezes no mesmo dia, onde a necessidade ou utilidade pastoral
o aconselhar; mas deve ser feita em momentos sucessivos ou em lugares
sagrados diversos102.
202.     Compete ao Bispo, segundo as normas do direito, dirigir a disciplina da
concelebração em todas as igrejas e oratórios de sua diocese.
203.     Tenha-se em particular apreço a concelebração em que os presbíteros de
uma diocese concelebram com o próprio Bispo, na Missa estacional,
principalmente nas maiores solenidades do ano litúrgico, na Missa de ordenação
de um novo Bispo da diocese ou do seu Coadjutor ou Auxiliar, na Missal do
Crisma, na Missa vespertina, na Ceia do Senhor, nas celebrações do Santo
Fundador da Igreja local ou Patrono da diocese, nos aniversários do Bispo e por
ocasião de um Sínodo ou visita pastoral.
            Pelo mesmo motivo, recomenda-se a concelebração todas as vezes que os
presbíteros se reúnem com o seu Bispo, por ocasião dos exercícios espirituais ou
de algum encontro. Nesses casos se manifesta de forma ainda mais clara a
unidade do sacerdócio e da Igreja, que caracteriza cada concelebração103.
204.     Por motivo especial, quer pela significação do rito, quer pela
importância da festa, é permitido celebrar ou concelebrar mais vezes no mesmo
dia, nos seguintes casos:
            a) se alguém, na Quinta-feira Santa, celebrou ou concelebrou a Missa do
Crisma, pode celebrar ou concelebrar a Missa vespertina, na Ceia do Senhor;
            b) se alguém celebrou ou concelebrou a Missa da Vigília pascal pode
celebrar ou concelebrar a Missa no dia da Páscoa;
            c) no Natal do Senhor, todos os sacerdotes podem celebrar ou
concelebrar três Missas, contanto que sejam celebradas em suas horas próprias;
            d) na Comemoração de todos os fiéis defuntos, todos os sacerdotes
podem celebrar ou concelebrar três Missas, contanto que as celebrações se

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !164


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façam em momentos diversos, e observado o que é prescrito a respeito da


aplicação da segunda e da terceira Missa104;
            e) se alguém concelebra com o Bispo ou seu delegado no Sínodo, na
visita pastoral ou em reuniões de sacerdotes, pode, para o bem dos fiéis, celebrar
outra Missa. O mesmo vale, com as devidas ressalvas, para os encontros de
religiosos.
205.     A Missa concelebrada, nas suas diversas modalidades, segue as normas
previstas (cf. n. 112-198), observando-se, ou mudando-se o que vem exposto a
seguir.
206.     Ninguém se associe nem seja admitido a concelebrar, depois de já
iniciada a Missa.
207.     Preparem-se no presbitério:
            a) cadeiras e livretes para os sacerdotes concelebrantes;
            b) na credência: cálice de tamanho suficiente ou vários cálices.
208.     Se não houver diácono suas funções serão desempenhadas por alguns
dos concelebrantes.
            Se também não houver outros ministros, partes que lhes são próprias
podem ser confiadas a outros fiéis capacitados; caso contrário, serão
desempenadas por alguns dos concelebrantes.
209.     Os concelebrantes vestem na secretaria ou noutro lugar adequado, os
paramentos que usam normalmente ao celebrarem a Missa. Se houver motivo
justo, como, por exemplo, grande número de concelebrantes e escassez de
paramentos, podem os concelebrantes, exceto sempre o celebrante principal,
dispensar a casula ou planeta, e usar apenas a estola sobre a alva.
Ritos iniciais
210.     Estando tudo preparado, faz-se como de costume a procissão pela igreja
até o altar. Os sacerdotes concelebrantes seguem à frente do celebrante
principal.
211.     Ao chegarem ao altar, os concelebrantes e o celebrante principal, feita
profunda inclinação, veneram o altar com um ósculo, e se encaminham para as
suas cadeiras. O celebrante principal, se for oportuno, incensa a cruz e o altar e,
em seguida, vai até a cadeira.
Liturgia da palavra
212.     Durante a liturgia da Palavra, os concelebrantes ocupam os seus lugares
e levantam-se com o celebrante principal.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !165


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            Iniciado o Aleluia, todos se levantam, exceto o Bispo, que coloca


incenso, sem nada dizer e dá a bênção ao diácono ou, na sua ausência, ao
concelebrante que vai proclamar o Evangelho. Contudo, na concelebração
presidida por um presbítero, o concelebrante que, na ausência do diácono
proclama o Evangelho, não pede nem recebe a bênção do celebrante principal.
213.     A homilia normalmente será feita pelo celebrante principal ou por um
dos concelebrantes.
Liturgia eucarística
214.     A preparação dos dons (cf. n. 139-146) é feita pelo celebrante principal,
enquanto os outros concelebrantes permanecem nos respectivos lugares.
215.     Depois que o celebrante principal concluiu a oração sobre as oferendas,
os concelebrantes aproximam-se do altar e colocam-se em torno dele, mas de tal
forma que não dificultem a realização dos ritos e a visão das cerimônias
sagradas por parte dos fiéis, nem impeçam o acesso do diácono ao altar ao
exercer a sua função.
            O diácono exerce o sua função junto ao altar, ministrando, quando
necessário, o cálice e o Missal. Contudo, quanto possível, permanece de pé, um
pouco atrás, após os sacerdotes concelebrantes, colocados em torno do
celebrante principal.
O modo de proferir a Oração eucarística
216.     O Prefácio é cantado ou proclamado somente pelo sacerdote celebrante
principal; mas o Santo é cantado ou recitado por todos os concelebrantes junto
com o povo e o grupo de cantores.
217.     Terminado o Santo, os sacerdotes concelebrantes prosseguem a Oração
eucarística na maneira como se determina a seguir. Só o celebrante principal
fará os gestos indicados, caso não se determine outra coisa.
218.     As partes que são proferidas conjuntamente por todos os concelebrantes
e, sobretudo as palavras da consagração, que todos devem expressar, quando
forem recitadas, sejam ditas em voz tão baixa de tal modo que se ouça
claramente a voz do celebrante principal. Dessa forma as palavras são mais
facilmente entendidas pelo povo.
            As partes a serem proferidas por todos os concelebrantes juntos, ornadas
com notas no missal, são de preferência cantadas.
Oração eucarística I, ou Cânon romano
219.     Na Oração eucarística I, ou Cânon romano, o Pai de misericórdia é dito
somente pelo celebrante principal, de mãos estendidas.

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220.     O Lembrai-vos, ó Pai e o Em comunhão convém que sejam confiados a


um ou dois sacerdotes concelebrantes, que, cada um, em voz alta e de mãos
estendidas, diz sozinho a sua parte.
221.     O Recebei, ó Pai, é dito novamente apenas pelo celebrante principal de
mãos estendidas.
222. Do Dignai-vos, ó Pai, aceitar até o Nós vos suplicamos, o celebrante
principal realiza os gestos, enquanto todos os concelebrantes dizem tudo juntos,
da seguinte forma:
            a) O Dignai-vos, ó Pai, aceitar, com as mãos estendidas para as
oferendas;
            b) Na noite e Do mesmo modo, de mãos unidas;
            c) as palavras do Senhor, com a mão direita estendida para o pão e o
cálice, se parecer oportuno; à apresentação, olham para a hóstia e o cálice e
depois se inclinam profundamente;
            d) o Celebrando, pois, a memória e o Recebei, ó Pai, esta oferenda, de
mãos estendidas;
            e) o Nós vos suplicamos, inclinados e de mãos unidas até as palavras
recebendo o Corpo e o Sangue e erguem-se fazendo o sinal da cruz às palavras
sejamos repletos de todas as graças e bênçãos do céu.
223.     O Lembrai-vos, ó Pai e o E a todos nós pecadores convém que sejam
confiados a um ou dois sacerdotes concelebrantes, que, cada um, em voz alta e
de mãos estendidas, diz sozinho a sua parte.
224.     Às palavras E a todos nós pecadores todos os concelebrantes batem no
peito.
225.     O Por ele não cessais de criar é dito apenas pelo celebrante principal.
Oração eucarística II
226.     Na Oração eucarística II, o Na verdade, ó Pai, vós sois santo é proferido
apenas pelo celebrante principal, de mãos estendidas.
227.     Desde o Santificai pois até o E nós vos suplicamos os concelebrantes
proferem tudo juntos, da seguinte forma:
            a) o Santificai pois, de mãos estendidas em direção às oferendas;
            b) o Estando para ser entregue e Do mesmo modo, de mãos unidas;
            c) as palavras do Senhor, com a mão direita estendida para o pão e o
cálice, se parecer oportuno; à apresentação, olham para a hóstia e o cálice e
depois se inclinam profundamente;

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !167


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            d) o Celebrando, pois, a memória e o E nós vos suplicamos, de mãos


estendidas.
228.     As intercessões pelos vivos: Lembrai-vos, ó Pai, e pelos falecidos:
Lembrai-vos também dos nossos irmãos, convém que sejam confiados a um ou
dois sacerdotes concelebrantes, que, cada um, em voz alta e de mãos estendidas,
diz sozinho a sua parte.
Oração eucarística III
229.     Na Oração eucarística III, o Na verdade, vós sois santo é proferido
apenas pelo celebrante principal, de mãos estendidas.
230.     Do Por isso, nós vos suplicamos até o Olhai com bondade, todos os
concelebrantes proferem tudo juntos, da seguinte maneira:
            a) o Por isso, nós vos suplicamos, com as mãos estendidas para as
oferendas;
            b) o Na noite em que ia ser entregue e o Do mesmo modo, de mãos
unidas;
            c) as palavras do Senhor, com a mão direita estendida para o pão e o
cálice, se parecer oportuno; à apresentação, olham para a hóstia e o cálice e
depois se inclinam profundamente;
            d) o Celebrando agora e o Olhai com bondade, de mãos estendidas.
231.     As intercessões: Que ele faça de nós, o E agora nós vos suplicamos e o
Acolhei com bondade, convém que sejam confiados a um ou dois sacerdotes
concelebrantes, que, cada um, em voz alta e de mãos estendidas, diz sozinho a
sua parte.
Oração eucarística IV
232.     Na Oração eucarística IV, Nós proclamamos até levando à plenitude a
sua obra é proferido apenas pelo celebrante principal, de mãos estendidas.
233.     Do Por isso, nós vos pedimos, até o Olhai com bondade, todos os
concelebrantes recitam tudo juntos, da seguinte maneira:
            a) o Por isso, nós vos pedimos, de mãos estendidas para as oferendas;
            b) o Quando, pois, chegou a hora e o Do mesmo modo, de mãos unidas;
            c) as palavras do Senhor, com a mão direita estendida para o pão e o
cálice, se parecer oportuno; à apresentação, olham para a hóstia e o cálice e
depois se inclinam profundamente;
            d) o Celebrando agora e o Olhai com bondade, de mãos estendidas.

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234.     Intercessões: o E agora, ó Pai, lembrai-vos de todos, o Lembrai-vos


também e o E a todos nós, convém que sejam confiados a um mais
concelebrantes, que as recita sozinho, em voz alta, de mãos estendidas.
235.     Quanto a outras Orações eucarísticas aprovadas pela Sé Apostólica,
observem-se a normas estabelecidas para cada uma delas.
236.     A doxologia final da Oração eucarística é proferida somente pelo
sacerdote celebrante principal e, se se preferir, junto com os demais
concelebrantes, não, porém, pelos fiéis.
Rito da Comunhão
237.     A seguir, o celebrante principal, de mãos unidas, diz a exortação que
precede a Oração do Senhor e, com as mãos estendidas, reza a Oração do
Senhor com os demais concelebrantes, também de mãos estendidas e com todo
o povo.
238.     O Livrai-nos é dito apenas pelo celebrante principal, de mãos
estendidas. Todos os concelebrantes dizem com o povo a aclamação final: Vosso
é o reino.
239.     Depois do convite do diácono ou, na sua ausência, de um dos
concelebrantes: Meus irmãos e minhas irmãs, saudai-vos em Cristo Jesus, todos
se cumprimentam. Os que se encontram mais próximos do celebrante principal
recebem a sua saudação antes do diácono.
240.     Durante o Cordeiro de Deus, os diáconos ou alguns dos concelebrantes
podem auxiliar o celebrante principal a partir as hóstias para a Comunhão dos
concelebrantes e do povo.
241.     Após depositar no cálice a fração da hóstia, só o celebrante principal, de
mãos juntas, diz em silêncio a oração Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo,
ou Senhor Jesus Cristo, o vosso Corpo e o vosso Sangue.
242.     Terminada a oração antes da Comunhão, o celebrante principal faz
genuflexão e afasta-se um pouco. Um após os outros, os concelebrantes se
aproximam do centro do altar, fazendo genuflexão e tomam do altar, com
reverência, o Corpo de Cristo; segurando-o com a mão direita e colocando por
baixo a esquerda, retornam a seus lugares. Podem, no entanto, permanecer nos
respectivos lugares e tomar o Corpo de Cristo da patena que o celebrante
principal, ou um ou vários dos concelebrantes seguram, passando diante deles;
ou então passam a patena de um a outro até o último.
243.     A seguir, o celebrante principal toma a hóstia, consagrada na própria
Missa, e, mantendo-a um pouco elevada sobre a patena ou sobre o cálice,

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voltado para o povo, diz: Felizes os convidados, e continua com os


concelebrantes e o povo, dizendo: Senhor, eu não sou digno.
244.     Em seguida, o celebrante principal, voltado para o altar, diz em silêncio:
Que o Corpo de Cristo me guarde para a vida eterna, e comunga com
reverência o Corpo de Cristo. Os concelebrantes fazem o mesmo, tomando a
Comunhão. Depois deles, o diácono recebe das mãos do celebrante principal o
Corpo do Senhor.
245.     O Sangue do Senhor pode ser tomado diretamente do cálice, ou por
intinção, ou ainda com uma cânula ou uma colher.
246.     Quando a Comunhão é feita diretamente do cálice, pode-se usar um dos
seguintes modos:
            a) O celebrante principal, de pé ao meio do altar, toma o cálice e diz em
silêncio: Que o Sangue de Cristo me guarde para a vida eterna, bebe um pouco
do Sangue e entrega o cálice ao diácono ou a um concelebrante. A seguir,
distribui a Comunhão aos fiéis (cf. n. 160-162).
            Os concelebrantes aproximam-se do altar, um a um, ou dois a dois
quando se usam dois cálices, fazem genuflexão, tomam do Sangue, enxugam a
borda do cálice e voltam para a respectiva cadeira.
            b) O celebrante principal, de pé, no centro do altar, toma normalmente
o Sangue do Senhor.
            Os concelebrantes podem tomar o Sangue do Senhor nos seus
respectivos lugares, bebendo do cálice que o diácono, ou um dos concelebrantes
lhes apresenta; ou também passando sucessivamente o cálice uns aos outros. O
cálice é sempre enxugado, seja por aquele que bebe, seja por aquele que
apresenta o cálice. Cada um, depois de ter comungado, volta à sua cadeira.
247.     O diácono, junto ao altar, consome, com reverência, todo o Sangue que
restar, ajudado, se for preciso, por alguns dos concelebrantes; leva-o, em seguida,
à credência, onde ele mesmo ou um acólito legitimamente instituído, como de
costume, o purifica, enxuga e compõe (cf. n. 183).
248.     A Comunhão dos concelebrantes pode também realizar-se de modo que
um depois do outro comunguem, no altar, do Corpo e, logo em seguida, do
Sangue de Cristo.
            Neste caso, o celebrante principal toma a Comunhão sob as duas
espécies, como de costume (cf. n. 158), observando-se o rito escolhido, em cada
caso, para a Comunhão do cálice, que os demais concelebrantes hão de seguir.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !170


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            Assim, terminada a Comunhão do celebrante principal, coloca-se o


cálice num lado do altar, sobre outro corporal. Um depois do outro, os
concelebrantes aproximam-se do centro do altar, fazem genuflexão e comungam
o Corpo do Senhor; passam em seguida para o lado do altar e tomam o Sangue
do Senhor, conforme o rito escolhido para a Comunhão do cálice, como se disse
acima.
            A Comunhão do diácono e a purificação do cálice se realizam também
como foi descrito acima.
249.     Se a Comunhão dos concelebrantes se faz por intinção, o celebrante
principal comunga como de costume, o Corpo e o Sangue do Senhor, cuidando
que fique ainda bastante do precioso Sangue para a Comunhão dos
concelebrantes. A seguir, o diácono, ou um dos concelebrantes, dispõe o cálice,
de modo conveniente, no meio do altar ou num dos lados sobre outro corporal,
junto com a patena com as partículas.
            Os concelebrantes, um depois do outro, aproximam-se do altar, fazem
genuflexão, tomam a partícula, mergulham-na parcialmente no cálice e, com a
patena sob a boca, tomam a partícula embebida e voltam aos seus lugares como
no início da Missa.
            O diácono também comunga por intinção, respondendo Amém ao
concelebrante que lhe diz: O Corpo e o Sangue de Cristo.
            O diácono, junto ao altar, consome, com reverência, todo o Sangue que
restar, ajudado, se for preciso, por alguns dos concelebrantes; leva-o, em seguida,
à credência, onde ele mesmo ou um acólito legitimamente instituído, como de
costume, o purifica, enxuga e compõe.
Ritos finais
250.     O celebrante principal procede ao mais como de costume até o final da
Missa (cf. n. 166-168), permanecendo os concelebrantes em suas cadeiras.
251.     Os Concelebrantes, antes de se afastarem do altar, fazem-lhe uma
profunda inclinação. O celebrante principal, com o diácono, porém, como de
costume, beija o altar em sinal de veneração.

III. MISSA COM ASSISTÊNCIA DE UM SÓ MINISTRO

252.     Na Missa celebrada por um sacerdote, ao qual assiste e responde um só


ministro, observa-se o rito da Missa com povo (cf. n. 120-169), proferindo o
ministro, quando for o caso, as partes do povo.

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253.     Se o ministro for diácono, ele exerce as funções que lhe são próprias (cf.
n. 171-186), e desempenha outrossim, as outras partes do povo.
254.     A celebração sem ministro ou ao menos de um fiel, não se faça a não ser
por causa justa e razoável. Neste caso, omitem-se as saudações, as exortações e a
bênção no final da Missa.
255.     Os vasos sagrados necessários são preparados antes da Missa, seja na
credência perto do altar, seja sobre o altar, do lado direito.
Ritos iniciais
256.     O sacerdote, aproxima-se do altar e, feita profunda inclinação, o venera
pelo ósculo e ocupa seu lugar na cadeira. Se preferir, o sacerdote pode
permanecer ao altar; neste caso, prepara-se aí também o missal. Em seguida, o
ministro ou o sacerdote diz a antífona da entrada.
257.     A seguir, o sacerdote com o ministro, de pé, faz o sinal da cruz, dizendo:
Em nome do Pai; voltado para o ministro, saúda-o com uma das fórmulas
propostas.
258.     Em seguida, realiza-se o ato penitencial e, conforme as rubricas, se
dizem o Senhor e o Glória.
259.     A seguir, de mãos unidas, diz Oremos e, fazendo uma pausa
conveniente, profere a oração do dia, com as mãos estendidas. Ao terminar, o
ministro aclama: Amém.
Liturgia da palavra
260.     As leituras, na medida do possível, são proferidas do ambão ou da
estante.
261.     Depois da oração do dia, o ministro lê a primeira leitura e o salmo e,
quando prescrita, a segunda leitura e o versículo do Aleluia ou outro canto.
262.     Depois, inclinado, o sacerdote diz: Ó Deus todo-poderoso, purificai-me,
e, em seguida, lê o Evangelho. Ao terminar diz: Palavra da Salvação, e o
ministro responde: Glória a vós, Senhor. Em seguida, o sacerdote venera o livro,
beijando-o e dizendo em silêncio: Pelas palavras do santo Evangelho.
263.     A seguir, o sacerdote recita com o ministro o símbolo, de acordo com as
rubricas.
264.     Segue-se a oração universal, que também pode ser dita nesta Missa. O
sacerdote introduz e conclui a oração, ao passo que o ministro profere as
intenções.
Liturgia eucarística

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265.     Na liturgia eucarística tudo é feito como na Missa com povo, exceto o
que se segue.
266.     Feita a aclamação no final do embolismo, que segue a Oração do
Senhor, o sacerdote diz a oração Senhor Jesus Cristo, dissestes; em seguida,
acrescenta: A paz do Senhor esteja sempre convosco, a que o ministro responde:
O amor de Cristo nos uniu. Se for oportuno, o sacerdote saúda o ministro.
267.     A seguir, enquanto diz com o ministro o Cordeiro de Deus, o sacerdote
parte a hóstia sobre a patena. Terminado o Cordeiro de Deus, depõe no cálice a
fração da hóstia, dizendo em silêncio: Esta união.
268.     Em seguida, o sacerdote diz em silêncio a oração Senhor Jesus Cristo,
Filho do Deus vivo ou Senhor Jesus Cristo, o vosso Corpo; depois, faz
genuflexão, toma a hóstia e, se o ministro comungar, diz, voltado para ele e
segurando a hóstia um pouco elevada sobre o cálice: Felizes os convidados e diz
com ele uma só vez: Senhor, eu não sou digno.  Em seguida, voltado para o
altar, comunga o Corpo de Cristo. Se o ministro não receber a Comunhão, o
sacerdote, tendo feito a genuflexão, toma a hóstia e, voltado para o altar, diz
uma vez em silêncio: Senhor, eu não sou digno e O Corpo de Cristo me guarde
e comunga o Corpo de Cristo. Depois toma o cálice e diz em silêncio: O Sangue
de Cristo me guarde para a vida eterna, e toma o Sangue.
269.     Antes de ser dada a Comunhão ao ministro, é dita a antífona da
Comunhão pelo ministro ou pelo próprio sacerdote.
270.     O sacerdote purifica o cálice na credência ou ao altar ou. Se o cálice for
purificado no altar, pode ser levado para a credência pelo ministro ou ser
colocado a um lado, sobre o altar.
271.     Após a purificação do cálice, convém que o sacerdote observe algum
tempo de silêncio; a seguir, diz a Oração depois da Comunhão.
Ritos finais
272.     Os ritos finais são realizados como na Missa com povo, omitindo-se,
porém, o Ide em paz. O sacerdote, como de costume, venera o altar com um
beijo e, feita inclinação profunda, retira-se com o ministro.

CAPÍTULO IV
ALGUMAS NORMAS MAIS GERAIS
PARA TODAS AS FORMAS DE MISSA

Veneração do altar e do Evangeliário

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273.     Conforme uso consagrado, a veneração do altar e do Evangeliário é feita


pelo ósculo. Mas, onde esse sinal não se coadunar com as tradições ou a índole
da região, compete à Conferência dos Bispos estabelecer outro sinal para
substituí-lo, com o consentimento da Sé Apostólica.
Genuflexão e inclinação
274.     A genuflexão, que se faz dobrando o joelho direito até o chão, significa
adoração; por isso, se reserva ao Santíssimo Sacramento, e à santa Cruz, desde a
solene adoração na Ação litúrgica da Sexta-feira na Paixão do Senhor até o
início da Vigília pascal.
            Na Missa o sacerdote celebrante faz três genuflexões, a saber: depois da
apresentação da hóstia, após a apresentação do cálice e antes da Comunhão. As
particularidades a serem observadas na Missa concelebrada, vêm indicadas nos
respectivos lugares (cf. n. 210-251).
            Se, porém, houver no presbitério tabernáculo com o Santíssimo
Sacramento, o sacerdote, o diácono e os outros ministros fazem genuflexão,
quando chegam ao altar, e quando dele se retiram, não, porém, durante a
própria celebração da Missa.
            Também fazem genuflexão todos os que passam diante do Santíssimo
Sacramento, a não ser que caminhem processionalmente.
            Os ministros que levam a cruz processional e as velas, em vez de
genuflexão, fazem inclinação da cabeça.
275.     Pela inclinação se manifesta a reverência e a honra que se atribuem às
próprias pessoas ou aos seus símbolos. Há duas espécies de inclinação, ou seja,
de cabeça e de corpo:
            a) Faz-se inclinação de cabeça quando se nomeiam juntas as três Pessoas
Divinas, ao nome de Jesus, da Virgem Maria e do Santo em cuja honra se
celebra a Missa.
            b) Inclinação de corpo, ou inclinação profunda, se faz: ao altar; às
orações Ó Deus todo-poderoso, purificai-me e De coração contrito; no símbolo
às palavras E se encarnou; no Cânon Romano, às palavras Nós vos suplicamos.
O diácono faz a mesma inclinação quando pede a bênção antes de proclamar o
Evangelho. Além disso, o sacerdote inclina-se um pouco quando, na
consagração, profere as palavras do Senhor.
Incensação
276.     A turificação ou incensação exprime a reverência e a oração, como é
significada na Sagrada Escritura (cf. Sl 140, 2; Ap 8,3).

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            O incenso pode ser usado facultativamente em qualquer forma de


Missa:
            a) durante a procissão de entrada;
            b) no início da Missa, para incensar a cruz e o altar;
            c) à procissão e à proclamação do Evangelho;
            d) depostos o pão e o cálice sobre o altar, para incensar as oferendas, a
cruz e o altar, bem como o sacerdote e o povo.
            e) à apresentação da hóstia e do cálice, após a consagração.
277.     Ao colocar o incenso no turíbulo, o sacerdote o abençoa com o sinal da
cruz, sem nada dizer.
            Antes e depois da turificação faz-se inclinação profunda à pessoa ou à
coisa que é incensada, com exceção do altar e das oferendas para o sacrifício da
Missa.
            São incensados com três ductos do turíbulo: o Santíssimo Sacramento,
as relíquias da santa Cruz e as imagens do Senhor expostas para veneração
pública, as oferendas para o sacrifício da Missa, a cruz do altar, o Evangeliário,
o círio pascal, o sacerdote e o povo.
            Com dois ductos são incensadas as relíquias e as imagens dos Santos
expostas à veneração pública, mas somente uma vez no início da celebração,
após a incensação do altar.
            O altar é incensado, cada vez com um só icto, da seguinte maneira:
            a) se o altar estiver separado da parede, o sacerdote o incensa, andando
ao seu redor;
            b) se, contudo, o altar não estiver separado da parede, o sacerdote,
caminhando, incensa primeiro a parte direita do altar, depois a parte esquerda.
            Se a cruz estiver sobre o altar ou junto dele, é turificado antes da
incensação do altar; caso contrário, quando o sacerdote passa diante dele.
            As oferendas são incensadas pelo sacerdote com três ductos do turíbulo,
antes da incensação da cruz e do altar, ou traçando com o turíbulo o sinal da
cruz sobre as oferendas.
Purificação
278.     Sempre que algum fragmento da hóstia aderir aos dedos, principalmente
após a fração ou a Comunhão dos fiéis, o sacerdote limpe os dedos sobre a
patena ou, se necessário, lave-os. Da mesma forma recolha os fragmentos, se os
houver fora da patena.

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279.     Os vasos sagrados são purificados pelo sacerdote ou pelo diácono ou


pelo acólito instituído depois da Comunhão ou da Missa, na medida do possível
junto à credência. A purificação do cálice é feita com água, ou com água e
vinho, a serem consumidos por aquele que purifica o cálice. A patena seja limpa
normalmente com o sanguinho.
            Cuide-se que a sobra do Sangue de Cristo que eventualmente restar
após a distribuição da Comunhão seja tomado logo integralmente ao altar.
280.     Se a hóstia ou alguma partícula cair no chão, seja recolhida com
reverência; se for derramado um pouco do Sangue, lave-se com água o lugar
onde caiu, e lance-se depois esta água na piscina construída na sacristia.
Comunhão sob as duas espécies
281.     A Comunhão realiza mais plenamente o seu aspecto de sinal, quando
sob as duas espécies. Sob esta forma se manifesta mais perfeitamente o sinal do
banquete eucarístico e se exprime de modo mais claro a vontade divina de
realizar a nova e eterna Aliança no Sangue do Senhor, assim como a relação
entre o banquete eucarístico e o banquete escatológico no reino do Pai105.
282.     Cuidem os pastores de lembrar, da melhor forma possível, aos fiéis que
participam do rito ou a ele assistem, a doutrina católica a respeito da forma da
Sagrada Comunhão, segundo o Concílio Ecumênico Tridentino. Antes de tudo
advirtam os fiéis de que a fé católica ensina que, também sob uma só espécie, se
recebe Cristo todo e inteiro, assim como o verdadeiro sacramento; por isso, no
que concerne aos frutos da Comunhão, aqueles que recebem uma só espécie
não ficam privados de nenhuma graça necessária à salvação106.
            Ensinem ainda que a Igreja, na administração dos sacramentos, tem o
poder de determinar e mudar, salva a sua substância, o que julgar conveniente à
utilidade dos que os recebem e à veneração dos mesmos sacramentos, em razão
da diversidade das coisas, dos tempos e dos lugares107. Ao mesmo tempo
exortem os fiéis a desejarem participar mais intensamente do rito sagrado, pelo
qual se manifesta do modo mais perfeito o sinal do banquete eucarístico.
283.     Além dos casos previstos nos livros rituais, a Comunhão sob as duas
espécies é permitida nos seguintes casos:
            a) aos sacerdotes que não podem celebrar ou concelebrar o santo
sacrifício;
            b) ao diácono e a todos que exercem algum ofício na Missa;
            c) aos membros das comunidade na Missa conventual ou na Missa
chamada "da comunidade", aos alunos dos Seminários, a todos os que fazem

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exercícios espirituais ou que participam de alguma reunião espiritual ou


pastoral.
            O Bispo diocesano pode baixar normas a respeito da Comunhão sob as
duas espécies para a sua diocese, a serem observadas inclusive nas igrejas dos
religiosos e nos pequenos grupos. Ao mesmo Bispo se concede a faculdade de
permitir a Comunhão sob as duas espécies, sempre que isso parecer oportuno
ao sacerdote a quem, como pastor próprio, a comunidade está confiada,
contanto que os fiéis tenham boa formação a respeito e esteja excluído todo
perigo de profanação do Sacramento, ou o rito se torne mais difícil, por causa
do número de participantes ou por outro motivo.
            Contudo, quanto ao modo de distribuir a sagrada Comunhão sob as
duas espécies aos fiéis, e à extensão da faculdade, as Conferências dos Bispos
podem baixar normas, a serem reconhecidas pela Sé Apostólica*.
284.     Quando a Comunhão é dada sob as duas espécies:
            a) quem serve ao cálice é normalmente o diácono, ou, na sua ausência, o
presbítero; ou também o acólito instituído ou outro ministro extraordinário da
sagrada Comunhão; ou outro fiel a quem, em caso de necessidade, é confiado
eventualmente este ofício;
            b) o que por acaso sobrar do precioso Sangue é consumido ao altar pelo
sacerdote, ou pelo diácono, ou pelo acólito instituído, que serviu ao cálice e,
como de costume, purifica, enxuga e compõe os vasos sagrados.
            Aos fiéis que, eventualmente, queiram comungar somente sob a espécie
de pão, seja-lhes oferecida a sagrada Comunhão dessa forma.
285.     Para distribuir a Comunhão sob as duas espécies, preparem-se:
            a) quando a Comunhão do cálice é feita tomando diretamente do cálice,
prepare-se um cálice de tamanho suficiente ou vários cálices, tendo-se sempre o
cuidado de prever que não sobre mais do Sangue de Cristo do que se possa
tomar razoavelmente no fim da celebração;
            b) quando a Comunhão se realiza por intinção, as hóstias não sejam
demasiado finas nem pequenas, mas um pouco mais espessas que de costume,
para que possam ser distribuídas comodamente depois de molhadas
parcialmente no Sangue.
286.     Se a Comunhão do Sangue se faz bebendo do cálice, o comungando,
depois de ter recebido o Corpo de Cristo, aproxima-se do ministro do cálice e
fica de pé diante dele. O Ministro diz: O Sangue de Cristo; o comungando
responde: Amém, e o ministro lhe estende o cálice, que o próprio comungando,

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com as mãos, leva à boca. O comungando toma um pouco do cálice, devolve-o


ao ministro e se retira; o ministro, por sua vez, enxuga a borda do cálice com o
purificatório.
287.     Se a Comunhão do cálice é feita por intinção, o comungando, segurando
a patena sob a boca, aproxima-se do sacerdote, que segura o vaso com as
sagradas partículas e a cujo lado tem o ministro sustentando o cálice. O
sacerdote toma a hóstia, mergulha-a parcialmente no cálice e, mostrando-a, diz:
O Corpo e o Sangue de Cristo; o comungando responde: Amém, recebe do
sacerdote o Sacramento, na boca, e se retira.

CAPÍTULO V
DISPOSIÇÃO E ORNAMENTAÇÃO DAS IGREJAS
PARA A CELEBRAÇÃO DA EUCARISTIA

I.          PRINCÍPIOS GERAIS


288.     Para celebrar a Eucaristia o povo de Deus se reúne geralmente na igreja,
ou na falta ou insuficiência desta, em outro lugar conveniente, digno de tão
grande mistério. As igrejas e os demais lugares devem prestar-se à execução das
ações sagradas e à ativa participação dos féis. Além disso, os edifícios sagrados e
os objetos destinados ao culto sejam realmente dignos e belos, sinais e símbolos
das coisas divinas108.
289.     Por isso, a Igreja não cessa de solicitar a nobre contribuição das artes e
admite as expressões artísticas de todos os povos e regiões109. Ainda mais, assim
como se esforça por conservar as obras e tesouros artísticos legados pelos séculos
precedentes110 e, na medida do necessário, adaptá-las às novas necessidades,
também procura promover formas novas que se adaptem à índole de cada
época111.
            Portanto, nos programas propostos aos artistas, bem como na seleção de
obras a serem admitidas na igreja, procure-se uma verdadeira qualidade
artística, para que alimentem a fé e a piedade e correspondam ao seu verdadeiro
significado e ao fim a que se destinam112.
290.     Todas as igrejas sejam dedicadas ou ao menos abençoadas. Contudo, as
igrejas catedrais e paroquiais sejam solenemente dedicadas.
291.     Para edificar, reformar e dispor convenientemente os edifícios sagrados,
consultem os responsáveis a Comissão diocesana de Liturgia e Arte Sacra. O
Bispo diocesano recorra também ao parecer e auxílio da mesma Comissão,

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !178


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quando se tratar de estabelecer normas nesta matéria, de aprovar projetos de


novos edifícios sagrados ou resolver questões de certa importância113.
292.     A ornamentação da igreja deve visar mais a nobre simplicidade do que a
pompa. Na escolha dessa ornamentação, cuide-se da autenticidade dos
materiais e procure-se assegurar a educação dos fiéis e a dignidade de todo o
local sagrado.
293.     Para corresponder às necessidade de nossa época, a organização da
igreja e de suas dependências requer que não se tenha em vista apenas o que se
refere às ações sagradas, mas também tudo o que contribua para uma justa
comodidade dos fiéis, como se costuma providenciar nos lugres onde se realizam
reuniões.
294.     O povo de Deus, que se reúne para a Missa, constitui uma assembléia
orgânica e hierárquica que se exprime pela diversidade de funções e ações,
conforme cada parte da celebração. Por isso, convém que a disposição geral do
edifício sagrado seja tal que ofereça uma imagem da assembléia reunida,
permita uma conveniente disposição de todas as coisas e favoreça a cada um
exercer corretamente a sua função.
            Os fiéis e o grupo dos cantores ocuparão lugares que lhes favoreçam
uma participação ativa114.
            O sacerdote celebrante, o diácono e demais ministros tomarão lugar no
presbitério. Aí se prepararão as cadeiras dos concelebrantes; se, porém, seu
número for grande, as cadeiras serão dispostas em outro lugar da igreja, mas
próximo do altar.
            Tudo isso, além de exprimir a ordenação hierárquica e a diversidade das
funções, deve constituir uma unidade íntima e coerente pela qual se manifeste
com evidência a unidade de todo o povo de Deus. A natureza e beleza do local e
de todas as alfaias alimentem a piedade dos fiéis e manifestem a santidade dos
mistérios celebrados.

II.        DISPOSIÇÃO DO PRESBITÉRIO PARA A ASSEMBLÉIA


SAGRADA

295.     O presbitério é o lugar, onde se encontra localizado o altar, é


proclamada a palavra de Deus, e o sacerdote, o diácono e os demais ministros
exercem o seu ministério. Convém que se distinga do todo da igreja por alguma
elevação, ou por especial estrutura e ornato. Seja bastante amplo para que a

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celebração da Eucaristia se desenrole comodamente e possa ser vista por


todos115.
O altar e sua ornamentação
296.     O altar, onde se torna presente o sacrifício da cruz sob os sinais
sacramentais, é também a mesa do Senhor na qual o povo de Deus é convidado
a participar por meio da Missa; é ainda o centro da ação de graças que se
realiza pela Eucaristia.
297.     A celebração da Eucaristia, em lugar destinado ao culto, deve ser feita
num altar; fora do lugar sagrado, pode se realizar sobre uma mesa apropriada,
sempre, porém, com toalha e corporal, cruz e castiçais.
298.     Convém que em toda igreja exista um altar fixo, que significa de modo
mais claro e permanente Jesus Cristo, Pedra vida (1Pd 2,4; cf. Ef 2, 20); nos
demais lugares dedicados às sagradas celebrações, o altar pode ser móvel.
            Chama-se altar fixo quando é construído de tal forma que esteja unido
ao pavimento, e não possa ser removido; móvel, quando pode ser removido.
299.     O altar seja construído afastado da parede, a fim de ser facilmente
circundado e nele se possa celebrar de frente para o povo, o que convém fazer
em toda parte onde for possível. O altar ocupe um lugar que seja de fato o
centro para onde espontaneamente se volte a atenção de toda a assembléia dos
fiéis116. Normalmente seja fixo e dedicado.
300.     Tanto o altar fixo como o móvel seja dedicado conforme o rito
apresentado no Pontifical Romano; contudo, o altar móvel pode também ser
apenas abençoado.
301.     Segundo tradicional e significativo costume da Igreja, a mesa do altar
fixo seja de pedra, e mesmo de pedra natural. Contudo, pode-se também usar
outro material digno, sólido e esmeradamente trabalhado, a juízo da
Conferência dos Bispos. Os pés ou a base de sustentação da mesa, podem ser
feitos de qualquer material, contanto que digno e sólido.
            O altar móvel pode ser construído de qualquer material nobre e sólido,
condizente com o uso litúrgico e de acordo com as tradições e costumes das
diversas regiões.
302.     Se for oportuno, mantenha-se o uso de depositar sob o altar a ser
dedicado relíquias de Santos, ainda que não sejam mártires. Cuide-se, porém,
de verificar a autenticidade de tais relíquias.
303.     Nas novas igrejas a serem construídas, convém erigir um só altar, que na
assembléia dos fiéis signifique um só Cristo e uma só Eucaristia da Igreja.

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            Contudo, nas igrejas já construídas, quando o altar antigo estiver


colocado de tal maneira que torne difícil a participação do povo, nem puder ser
transferido sem detrimento de seu valor artístico, construa-se outro altar fixo
com valor artístico e a ser devidamente dedicado; e somente nele se realizem as
sagradas celebrações. Para não distrair a atenção dos fiéis, do novo altar, o altar
antigo não seja ornado de modo especial.
304.     Em reverência para com a celebração do memorial do Senhor e o
banquete em que se comungam o seu Corpo e Sangue, ponha-se sobre o altar
onde se celebra ao menos uma toalha de cor branca, que combine, por seu
formato, tamanho e decoração, com a forma do mesmo altar.
305.     Na ornamentação do altar observe-se moderação.
No Tempo do Advento se ornamente o altar com flores com moderação tal que
convenha à índole desse tempo, sem contudo, antecipar aquela plena alegria do
Natal do Senhor. No Tempo da Quaresma é proibido ornamentar com flores o
altar. Excetuam-se, porém, o domingo "Laetare" (IV na Quaresma), solenidades
e festas.
            A ornamentação com flores seja sempre moderada e, ao invés de se
dispor o ornamento sobre o altar, de preferência seja colocado junto a ele.
306.     Sobre a mesa do altar podem ser colocadas somente aquelas coisas que
se requerem para a celebração da Missa, ou seja: o Evangeliário, do início da
celebração até a proclamação do Evangelho; desde a apresentação das
oferendas até a purificação dos vasos sagrados, o cálice com a patena, o cibório,
se necessário, e, finalmente, o corporal, o purificatório, a pala e o missal.
            Além disso, se disponham de modo discreto os aparelhos que possam
ajudar a amplificar a voz do sacerdote.
307.     Os castiçais requeridos pelas ações litúrgicas para manifestarem a
reverência e o caráter festivo da celebração (cf. n. 117), sejam colocados, como
parecer melhor, sobre o altar ou junto dele, levando em conta as proporções do
altar e do presbitério, de modo a formarem um conjunto harmonioso e que não
impeça os fiéis de verem aquilo que se realiza ou se coloca sobre o altar.
308.     Haja também sobre o altar ou perto dele uma cruz com a imagem do
Cristo crucificado que seja bem visível para o povo reunido. Convém que tal
cruz que serve para recordar aos fiéis a paixão salutar do Senhor, permaneça
junto ao altar também fora das celebrações litúrgicas.
O ambão

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !181


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309.     A dignidade da palavra de Deus requer na igreja um lugar condigno de


onde possa ser anunciada e para onde se volte espontaneamente a atenção dos
fiéis no momento da liturgia da Palavra117.
            De modo geral, convém que esse lugar seja uma estrutura estável e não
uma simples estante móvel. O ambão seja disposto de tal modo em relação à
forma da igreja que os ministros ordenados e os leitores possam ser vistos e
ouvidos facilmente pelos fiéis.
            Do ambão são proferidas somente as leituras, o salmo responsorial e o
precônio pascal; também se podem proferir a homilia e as intenções da oração
universal ou oração dos fiéis. A dignidade do ambão exige que a ele suba
somente o ministro da palavra.
            Convém que o novo ambão seja abençoado antes de ser destinado ao
uso litúrgico conforme o rito proposto no Ritual Romano118.
A cadeira para o sacerdote celebrante e outras cadeiras
310.     A cadeira do sacerdote celebrante deve manifestar a sua função de
presidir a assembléia e dirigir a oração. Por isso, o seu lugar mais apropriado é
de frente para o povo no fundo do presbitério, a não ser que a estrutura do
edifício sagrado ou outras circunstâncias o impeçam, por exemplo, se a
demasiada distância torna difícil a comunicação entre o sacerdote e a
assembléia, ou se o tabernáculo ocupar o centro do presbitério atrás do altar.
Evite-se toda espécie de trono119. Antes de ser destinada ao uso litúrgico,
convém que se faça a bênção da cadeira da presidência segundo o rito descrito
no Ritual Romano120.
            Disponham-se também no presbitério cadeiras para os sacerdotes
concelebrantes, bem como para presbíteros que, revestidos de veste coral,
participem da concelebração, sem que concelebrem.
            A cadeira para o diácono esteja junto da cadeira do celebrante. Para os
demais ministros, as cadeiras sejam dispostas de modo que se distingam
claramente das cadeiras do clero e eles possam exercer com facilidade a função
que lhes é confiada121.

III. A DISPOSIÇÃO DA IGREJA

O lugar dos fiéis


311.     Disponham-se os lugares dos fiéis com todo o cuidado, de sorte que
possam participar devidamente das ações sagradas com os olhos e o espírito.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !182


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Convém que haja habitualmente para eles bancos ou cadeiras. Mas, reprova-se
o costume de reservar lugares para determinadas pessoas122. Sobretudo nas
novas igrejas que são construídas, disponham-se os bancos ou as cadeiras de tal
forma que os fiéis possam facilmente assumir as posições requeridas pelas
diferentes partes da celebração e aproximar-se sem dificuldades da sagrada
Comunhão.
            Cuide-se que os fiéis possam não só ver o sacerdote, o diácono ou os
leitores, mas também, graças aos instrumentos técnicos modernos, ouvi-los com
facilidade.
O lugar do grupo de cantores e dos instrumentos musicais
312.     O grupo dos cantores, segundo a disposição de cada igreja, deve ser
colocado de tal forma que se manifeste claramente sua natureza, isto é, que faz
parte da assembléia dos fiéis, onde desempenha um papel particular; que a
execução de sua função se torne mais fácil; e possa cada um de seus membros
facilmente obter uma participação plena na Missa, ou seja, participação
sacramental123.
313.     O órgão e outros instrumentos musicais legitimamente aprovados sejam
colocados em tal lugar que possam sustentar o canto do grupo de cantores e do
povo e possam ser facilmente ouvidos, quando tocados sozinhos. Convém que o
órgão seja abençoado antes de ser destinado ao uso litúrgico, segundo o rito
descrito no Ritual Romano124.
            No Tempo do Advento o órgão e outros instrumentos musicais sejam
usados com moderação tal que convenha à índole desse tempo, sem contudo,
antecipar aquela plena alegria do Natal do Senhor.
            No Tempo da Quaresma o toque do órgão e dos outros instrumentos é
permitido somente para sustentar o canto. Excetuam-se, porém, o domingo
"Laetare" (IV na Quaresma), as solenidades e as festas.
O lugar de conservação da Santíssima Eucaristia
314.     De acordo com a estrutura de cada igreja e os legítimos costumes locais,
o Santíssimo Sacramento seja conservado num tabernáculo, colocado em lugar
de honra da igreja, suficientemente amplo, visível, devidamente decorado e que
favoreça a oração125.
Normalmente o tabernáculo seja um único, inamovível, feito de material sólido
e inviolável não transparente, e fechado de tal modo que se evite ao máximo o
perigo de profanação126. Convém, além disso, que seja abençoado antes de ser
destinado ao uso litúrgico, segundo o rito descrito no Ritual Romano127.

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !183


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315.     Em razão do sinal é mais conveniente que no altar em que se celebra a


Missa não haja tabernáculo onde se conserva a Santíssima Eucaristia128.
            É preferível, pois, a juízo do Bispo diocesano, colocar o tabernáculo:
            a) no presbitério, fora do altar da celebração, na forma e no lugar mais
convenientes, não estando excluído o altar antigo que não mais é usado para a
celebração (n. 306);
            b) ou também numa capela apropriada para a adoração e oração
privada dos fiéis129, que esteja organicamente ligada com a igreja e visível aos
fiéis.
316.     Conforme antiga tradição mantenha-se perenemente acesa uma
lâmpada especial junto ao tabernáculo, alimentada por óleo ou cera, pela qual
se indique e se honre a presença de Cristo130.
317.     Além disso, de modo algum se esqueça tudo o mais que se prescreve,
segundo as normas do direito, sobre a conservação da Santíssima Eucaristia131.
As imagens sagradas
318.     Na liturgia terrena, antegozando, a Igreja participa da liturgia celeste,
que se celebra na cidade santa de Jerusalém, para a qual, peregrina, se
encaminha, onde Cristo está sentado à direita de Deus, e venerando a memória
dos Santos, espera fazer parte da sociedade deles132.
            Por isso, segundo antiquíssima tradição da Igreja, as imagens do Senhor,
da Bem-aventurada Virgem Maria e dos Santos sejam legitimamente
apresentadas à veneração dos fiéis nos edifícios sagrados133 e sejam aí dispostas
de modo que conduzam os fiéis aos mistérios da fé que ali se celebram. Por isso,
cuide-se que o seu número não aumente desordenadamente, e sua disposição se
faça na devida ordem, a fim de não desviarem da própria celebração a atenção
dos fiéis134. Normalmente, não haja mais de uma imagem do mesmo santo. De
modo geral, procure-se na ornamentação e disposição da igreja, quanto às
imagens, favorecer a piedade de toda a comunidade e a beleza e a dignidade das
imagens.

CAPÍTULO VI
REQUISITOS
PARA A CELEBRAÇÃO DA MISSA

I.          O PÃO E O VINHO PARA A CELEBRAÇÃO DA EUCARISTIA

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !184


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319.     Seguindo o exemplo de Cristo, a Igreja sempre utilizou pão e vinho com
água para celebrar o banquete do Senhor.
320.     O pão para a celebração da Eucaristia deve ser de trigo sem mistura,
recém-feito e ázimo conforme antiga tradição da Igreja latina.
321.     A verdade do sinal exige que a matéria da celebração eucarística pareça
realmente um alimento. Convém, portanto, que, embora ázimo e com a forma
tradicional, seja o pão eucarístico de tal modo preparado que o sacerdote, na
Missa com povo, possa de fato partir a hóstia em diversas partes e distribuí-las
ao menos a alguns dos fiéis. Não se excluem, porém, as hóstia pequenas, quando
assim o exigirem o número dos comungantes e outras razões pastorais. O gesto,
porém, da fração do pão, que por si só designava a Eucaristia nos tempos
apostólicos, manifestará mais claramente o valor e a importância do sinal da
unidade de todos num só pão, e da caridade fraterna pelo fato de um único pão
ser repartido entre os irmãos.
322.     O vinho para a celebração eucarística deve ser de uva (cf. Lc 22, 18),
natural e puro, isto é, sem mistura de substâncias estranhas.
323.     Cuide-se atentamente que o pão e o vinho destinados à Eucaristia sejam
conservados em perfeito estado, isto é: que o vinho não azede, nem o pão se
corrompa ou se torne demasiado duro, difícil de partir.
324.     Se depois da consagração ou quando vai comungar, o sacerdote percebe
que no cálice não foi colocado vinho, mas água, derrame a água em algum
recipiente, coloque vinho com água no cálice, consagrando-o com a parte da
narração da instituição correspondente à consagração do cálice, sem ser
obrigado a consagrar novamente o pão.

II.        AS SAGRADAS ALFAIAS EM GERAL

325.     Como na construção de igrejas, também em relação a todas as alfaias, a


Igreja admite a expressão artística de cada região, aceitando adaptações que
concordem com a índole e as tradições de cada povo, contanto que tudo
corresponda devidamente ao uso a que se destinam as alfaias135.
            Também neste ponto cuide-se atentamente de obter a nobre
simplicidade que se coadune perfeitamente com a verdadeira arte.
326.     Na escolha dos materiais para as alfaias, admitem-se igualmente, além
dos tradicionais, aqueles que são considerados nobres pela mentalidade atual,

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !185


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são duráveis e se prestam bem para o uso sagrado. Compete à Conferência dos
Bispos de cada região decidir a esse respeito (cf. n. 390).

III.       OS VASOS SAGRADOS

327.     Entre as coisas necessárias para a celebração da Missa, honram-se


especialmente os vasos sagrados e, entre eles, o cálice e a patena, onde se
oferecem, consagram e consomem o vinho e o pão.
328.     Os vasos sagrados sejam feitos de metal nobre. Se forem de metal
oxidável ou menos nobres do que o ouro sejam normalmente dourados por
dentro.
329.     A juízo da Conferência dos Bispos, com aprovação da Sé Apostólica, os
vasos sagrados podem ser feitos também de outros materiais sólidos e
considerados nobres em cada região, por exemplo, o ébano ou outras madeiras
mais duras, contanto que convenham ao uso sagrado. Neste caso, prefiram-se
sempre materiais que não se quebrem nem se alterem facilmente. Isso vale para
todos os vasos destinados a receber as hóstias como patena, cibório, teca,
ostensório e outros do gênero.
330.     Os cálices e outros vasos destinados a receber o Sangue do Senhor,
tenham a copa feita de matéria que não absorva líquidos. O pé pode ser feito de
outro material sólido e digno.
331.     Para consagrar as hóstias, é conveniente usar uma patena de maior
dimensão, onde se coloca tanto o pão para o sacerdote e o diácono, bem como
para os demais ministros e fiéis.
332.     Quanto à forma dos vasos sagrados, o artista tem a liberdade de
confeccioná-los de acordo com os costumes de cada região, contanto que
coadunem com o uso litúrgico a que são destinados e se distingam claramente
daqueles destinados ao uso cotidiano.
333.     Quanto à bênção dos vasos sagrados, observem-se os ritos prescritos nos
livros litúrgicos136.
334.     Conserve-se o costume de construir na sacristia uma piscina, em que se
lance a água da purificação dos vasos sagrados e da lavagem das toalhas de
linho (cf. n. 280).

IV.        AS VESTES SAGRADAS

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335.     Na Igreja, que é o Corpo de Cristo, nem todos os membros


desempenham a mesma função. Esta diversidade de funções na celebração da
Eucaristia manifesta-se exteriormente pela diversidade das vestes sagradas, que
por isso devem ser um sinal da função de cada ministro. Importa que as próprias
vestes sagradas contribuam também para a beleza da ação sagrada. As vestes
usadas pelos sacerdotes, os diáconos, bem como pelos ministros leigos são
oportunamente abençoados antes que sejam destinados ao uso litúrgico,
conforme o rito descrito no Ritual Romano137.
336.     A alva é a veste sagrada comum a todos os ministros ordenados e
instituídos de qualquer grau; ela será cingida à cintura pelo cíngulo, a não ser
que o seu feitio o dispense. Antes de vestir a alva, põe-se o amito, caso ela não
encubra completamente as vestes comuns que circundam o pescoço. A alva não
poderá ser substituída pela sobrepeliz, nem sobre a veste talar, quando se deve
usar casula ou dalmática, ou quando, de acordo com as normas, se usa apenas a
estola sem a casula ou dalmática.
337.     A não ser que se disponha de outro modo, a veste própria do sacerdote
celebrante, tanto na Missa como em outras ações sagradas em conexão direta
com ela, é a casula ou planeta sobre a alva e a estola.
338.     A veste própria do diácono é a dalmática sobre a alva e a estola;
contudo, por necessidade ou em celebrações menos solenes a dalmática pode ser
dispensada.
339.     Os acólitos, os leitores e os outros ministros leigos podem trajar alva ou
outra veste legitimamente aprovadas pela Conferência dos Bispos em cada
região (cf. n. 390).
340.     A estola é colocada pelo sacerdote em torno do pescoço, pendendo
diante do peito; o diácono usa a estola a tiracolo sobre o ombro esquerdo,
prendendo-a do lado direito.
341.     A capa ou pluvial é usada pelo sacerdote nas procissões e outras ações
sagradas, conforme as rubricas de cada rito.
342.     Quanto à forma das vestes sagradas, as Conferências dos Bispos podem
definir e propor à Sé Apostólica as adaptações que correspondam às
necessidades e costumes da região138*.
343.     Na confecção das vestes sagradas, podem-se usar, além dos tecidos
tradicionais, os materiais próprios de cada região e mesmo algumas fibras
artificiais que se coadunem com a dignidade da ação sagrada e da pessoa, a
juízo da Conferência dos Bispos139.

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344.     Convém que a beleza e nobreza de cada vestimenta decorram não tanto
da multiplicidade de ornatos, mas do material usado e da forma. Os ornatos
apresentem figuras ou imagens ou então símbolos que indiquem o uso sagrado,
excluindo-se os que não se prestam bem a esse uso.
345.     As diferentes cores das vestes sagradas visam manifestar externamente o
caráter dos mistérios celebrados, e também a consciência de uma vida cristã que
progride com o desenrolar do ano litúrgico.
346.     Com relação à cor das vestes sagradas, seja observado o uso tradicional,
a saber:
            a) O branco é usado nos Ofícios e Missas do Tempo pascal e do Natal do
Senhor; além disso, nas celebrações do Senhor, exceto as de sua Paixão, da
Bem-aventurada Virgem Maria, dos Santos Anjos, dos Santos não Mártires, nas
solenidades de Todos os Santos (1º de novembro), de São João Batista (24 de
junho), nas festas de São João Evangelista (27 de dezembro), da Cátedra de São
Pedro (22 de fevereiro) e da Conversão de São Paulo (25 de janeiro).
            b) O vermelho é usado no domingo da Paixão e na Sexta-feira da
Semana Santa, no domingo de Pentecostes, nas celebrações da Paixão do
Senhor, nas festas natalícias dos Apóstolos e Evangelistas e nas celebrações dos
Santos Mártires.
            c) O verde se usa nos Ofícios e Missas do Tempo comum.
            d) O roxo é usado no tempo do Advento e da Quaresma. Pode também
ser usado nos Ofícios e Missas dos Fiéis defuntos.
            e) O preto pode ser usado, onde for costume, nas Missas dos Fiéis
defuntos.
            f) O rosa pode ser usado, onde for costume, nos domingos Gaudete (III
do Advento) e Laetare (IV na Quaresma).
            g) Em dias mais solenes podem ser usadas vestes sagradas festivas ou
mais nobres, mesmo que não sejam da cor do dia.
            No que se refere às cores litúrgicas, as Conferências dos Bispos podem
determinar e propor à Sé Apostólica adaptações que correspondam à
necessidades e ao caráter de cada povo.
347.     As Missas rituais são celebradas com a cor própria, a branca ou a festiva;
as Missas por diversas necessidades, com a cor própria do dia ou do Tempo, ou
com a cor roxa, se tiverem cunho penitencial, por exemplo, n. 31, 33 e 38; as
Missas votivas, com a cor que convém à Missa a ser celebrada, ou também com
a cor própria do dia ou do tempo.

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V.         OUTROS OBJETOS USADOS NA IGREJA

348.     Além dos vasos e das vestes sagradas, para os quais se prescreve
determinado material, as demais alfaias destinadas ao culto litúrgico140 ou a
qualquer uso na igreja, sejam dignas e condizentes com o fim a que se destinam.
349.     Deve-se cuidar de modo especial que os livros litúrgicos,
particularmente, o Evangeliário e o lecionário, destinados à proclamação da
palavra de Deus, gozando, por isso, de veneração peculiar, sejam na ação
litúrgica realmente sinais e símbolos das realidades celestes, e, por conseguinte,
verdadeiramente dignos, artísticos e belos.
350.     Além disso, deve-se atender com todo o cuidado às coisas que estão
ligadas diretamente com o altar e a celebração eucarística, como sejam, por
exemplo, a cruz do altar e a cruz que é levada em procissão.
351.     Tenha-se o cuidado de observar as exigências da arte também em coisas
de menor importância, e de sempre aliar uma nobre simplicidade a um apurado
asseio.

CAPÍTULO VII
A ESCOLHA DA MISSA E DE SUAS PARTES

352.     A eficácia pastoral da celebração aumentará certamente, se os textos das


leituras, das orações e dos cantos corresponderem, na medida do possível, às
necessidades, à preparação espiritual e à mentalidade dos participantes. Isto se
obterá mais facilmente usando-se a múltipla possibilidade de escolha que se
descreve adiante.
            Por conseguinte, na organização da Missa, o sacerdote levará mais em
conta o bem espiritual de toda a assembléia do que o seu próprio gosto.
Lembre-se ainda de que a escolha das diversas partes deve ser feita em comum
acordo com os que exercem alguma função especial na celebração, sem excluir
absolutamente os fiéis naquilo que se refere a eles de modo mais direto.
            Sendo muito grande a possibilidade de escolha para as diversas partes da
Missa, é necessário que antes da celebração, o diácono, os leitores, o salmista, o
cantor, o comentarista, o grupo dos cantores, saibam exatamente cada um quais
os textos que lhes competem, para que nada se faça de improviso, pois a

DOCUMENTOS SOBRE MÚSICA !189


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harmoniosa organização e execução dos ritos muito contribuem para dispor os


fiéis à participação da Eucaristia.

I.          A ESCOLHA DA MISSA

353.     Nas solenidades o sacerdote deve seguir o calendário da igreja em que


celebra.
354.     Nos domingos, nos dias de semana do Advento, do Natal, da Quaresma
e da Páscoa, nas festas e nas memórias obrigatórias:
            a) se a Missa é celebrada com povo, o sacerdote siga o calendário da
igreja em que celebra;
            b) se a Missa é celebrada com a participação de um só ministro, o
sacerdote pode escolher tanto o calendário da igreja como o calendário próprio.
355.     Nas memórias facultativas:
            a) Nos dias de semana do Advento, de 17 a 24 de dezembro, nos dias da
Oitava da Páscoa e nos dias de semana da Quaresma, exceto Quarta-feira de
Cinzas e os dias de semana da Semana Santa, diz-se a Missa do dia litúrgico
ocorrente; mas se poderá tomar a oração do dia da memória que conste no
calendário geral para aquele dia, exceto na Quarta-feira de Cinzas ou num dia
de semana da Semana Santa. Nos dias de semana do Tempo pascal a memória
dos Santos pode realizar-se integralmente conforme as rubricas.
            b) Nos dias de semana do Advento anteriores a 17 de dezembro, nos dias
de semana do Tempo do Natal desde o dia 2 de janeiro e nos dias de semana do
Tempo pascal, pode-se escolher tanto a Missa do Santo ou de um dos Santos
cuja memória se celebra, ou ainda de qualquer outro que conste do
Martirológio naquele dia.
            c) Nos dias de semana do Tempo comum, pode-se escolher entre a Missa
do dia de semana, a da memória facultativa ocorrente, a de algum Santo que
conste do Martirológio naquele dia, uma das Missas para diversas necessidades
ou votiva.
            Se o sacerdote celebra com povo, cuidará de não omitir muitas vezes e
sem razão suficiente, as leituras indicadas no lecionário cada dia para os dias de
semana, pois a Igreja deseja que a mesa da palavra de Deus seja oferecida aos
fiéis com maior riqueza141.

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            Pela mesma razão não tome com freqüência as Missas dos Fiéis
defuntos, pois qualquer Missa é oferecida tanto pelos vivos como pelos falecidos,
e há um memento para eles em cada Oração eucarística.
            Onde os fiéis tiverem grande estima pelas memórias facultativas da
Virgem Maria ou dos Santos, satisfaça-se a legítima piedade do povo.
            Quando houver liberdade de optar entre a memória do calendário
universal e a do calendário diocesano ou religioso, dê-se preferência, em pé de
igualdade e segundo a tradição, à memória particular.

II.        A ESCOLHA DAS PARTES DA MISSA

356.     Ao escolher os textos das diversas partes da Missa, tanto do Tempo


como dos Santos, observem-se as normas que se seguem.
Leituras
357.     Para os domingos e solenidades estão marcadas três leituras, isto é, do
Profeta, do Apóstolo e do Evangelho, que levam o povo cristão a compreender a
continuidade da obra da salvação, segundo a admirável pedagogia divina. Estas
leituras sejam realmente feitas. No Tempo pascal, conforme a tradição da
Igreja, em lugar do Antigo Testamento, a leitura tomada dos Atos dos
Apóstolos.
            Para as festas são previstas duas leituras. Mas, se a festa, segundo as
normas, for elevada ao grau de solenidade, acrescenta-se uma terceira leitura,
tirada do Comum.
            Na memória dos Santos, a não ser que haja próprias, lêem-se
normalmente as leituras indicadas para o dia de semana. Em alguns casos
propõem-se leituras apropriadas, ou seja, que realçam um aspecto peculiar da
vida espiritual ou da atividade do Santo. O uso destas leituras não deve ser
urgido, a não ser que uma razão pastoral realmente o aconselhe.
358.     No Lecionário semanal propõem-se leituras para cada dia da semana
durante todo o ano. Por isso, via de regra, tais leituras serão tomadas nos dias
em que estão marcadas, a não ser que ocorra uma solenidade ou festa ou
memória que tenha leituras próprias do Novo Testamento, ou seja, nas quais se
faça menção do Santo celebrado.
            Se, no entanto, a leitura contínua da semana for interrompida por
alguma solenidade, festa ou celebração particular, poderá o sacerdote,

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considerando a disposição das leituras de toda a semana, juntar às outras as


leituras omitidas, ou então decidir quais os textos que deverão ser preferidos.
            Nas Missas para grupos particulares, poderá o sacerdote escolher textos
mais adaptados àquela celebração, contanto que sejam selecionados entre os
que constem do lecionário aprovado.
359.     Existe também uma seleção especial de textos da Sagrada Escritura no
lecionário para as Missas rituais em que ocorra a celebração de algum
Sacramento ou Sacramental ou para as Missas que são celebradas por alguma
necessidade.
            Estes lecionários foram compostos para levar os fiéis, por uma audição
mais adequada da palavra de Deus, a compreender mais plenamente o mistério
de que participam, e estimar cada vez mais a palavra de Deus.
            Por isso, ao determinar os textos a serem proferidos na celebração,
levem-se em conta as razões de ordem pastoral e a faculdade de opção
concedida nesta matéria.
360.     Por vezes se apresenta uma forma mais longa ou outra mais breve de um
mesmo texto. Na escolha entre as duas formas tenha-se em vista o critério
pastoral. No caso, é preciso atender à capacidade dos fiéis de ouvir com fruto a
leitura mais ou menos longa; à sua capacidade de ouvir um texto mais completo
a ser explicado pela homilia142.
361.     Quando se concede a faculdade de escolher entre um ou outro texto já
determinado, ou quando se deixa à escolha, será mister atender à utilidade dos
que participam. Isso pode acontecer quando se trata de usar um texto que seja
mais fácil ou mais adequado à assembléia reunida, ou de um texto a ser repetido
ou reposto, indicado como próprio em alguma celebração ou seja leitura de livre
escolha, sempre que a utilidade pastoral o aconselhe143.
            Isso pode acontecer quando o mesmo texto deva ser proclamado de
novo dentro de alguns dias, por exemplo, no domingo e num dia de semana que
se segue imediatamente, ou quando se teme que algum dos textos escolhidos
apresente dificuldades para a assembléia reunida. Cuide-se, porém, que na
escolha dos textos da Sagrada Escritura, algumas de suas partes sejam
permanentemente excluídas.
362.     Além das faculdades de escolher textos mais apropriados, conforme foi
exposto acima, dá-se às Conferências dos Bispos, em circunstâncias peculiares, a
faculdade de indicar algumas adaptações relativas às leituras, mantendo-se, no

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entanto, o princípio de que os textos sejam escolhidos do lecionário


devidamente aprovado.
Orações
363.     Em cada Missa, a não ser que se indique outra coisa, dizem-se as
orações que lhe são próprias.
            Nas memórias dos Santos, diz-se a oração do dia própria ou, em sua
falta, do Comum correspondente; as orações sobre as oferendas e depois da
Comunhão, não sendo próprias, podem ser tomadas do Comum ou dos dias de
semana do Tempo comum.
            Nos dias de semana do Tempo comum, porém, além das orações do
domingo precedente, podem tomar-se as orações de outro domingo do Tempo
comum ou uma das orações para diversas necessidades consignadas o Missal.
Mas será sempre lícito tomar apenas a oração do dia das mesmas Missas.
            Desta maneira se oferece maior riqueza de textos, capazes de nutrir com
maior abundância as preces dos fiéis.
            Nos tempos mais importantes do ano, essa adaptação já é feita pelas
orações que lhes são próprias, contidas no Missal para cada dia da semana.
Oração eucarística
364.     O grande número de prefácios com que o Missal Romano foi
enriquecido tem por objetivo pôr em plena luz os temas da ação de graças na
Oração eucarística e realçar os vários aspectos do mistério da salvação.
365.     A escolha entre as várias Orações eucarísticas, que se encontram no
Ordinário da Missa, segue, oportunamente, as seguintes normas:
            a) A Oração eucarística I, ou Cânon romano, que sempre pode ser
usada, é proclamada mais oportunamente, nos dias em que a Oração eucarística
tem o Em comunhão próprio ou nas Missas enriquecidas com o Recebei, ó Pai,
próprio, como também nas celebrações dos Apóstolos e dos Santos
mencionados na mesma Oração; também nos domingos, a não ser que por
motivos pastorais se prefira a Terceira Oração eucarística.
            b) A oração eucarística II, por suas características particulares, é mais
apropriadamente usada nos dias de semana ou em circunstâncias especiais.
Embora tenha Prefácio próprio, pode igualmente ser usada com outros
prefácios, sobretudo aqueles que de maneira sucinta  apresentem o mistério da
salvação, por exemplo, os prefácios comuns. Quando se celebra a Missa por um
fiel defunto, pode-se usar a fórmula própria proposta no respectivo lugar, a saber
antes do Lembrai-vos também.

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            c) A Oração eucarística III pode ser dita com qualquer Prefácio. Dê-se
preferência a ela nos domingos e festas. Se, contudo, esta Prece for usada nas
Missas pelo fiéis defuntos, pode-se tomar a fórmula especial pelo falecido, no
devido lugar, ou seja, após as palavras: Reuni em vós, Pai de misericórdia todos
os vossos filhos e filhas dispersos pelo mundo inteiro.
            d) A Oração eucarística IV possui um Prefácio imutável e apresenta um
resumo mais completo da história da salvação. Pode ser usada quando a Missa
não possui Prefácio próprio, bem como nos domingos do Tempo comum. Não
se pode inserir nesta Oração, devido à sua estrutura, uma fórmula especial por
um fiel defunto.
Cantos
366.     Não é lícito substituir os cantos colocados no Ordinário da Missa, por
exemplo, o Cordeiro de Deus, por outros cantos.
367.     Na seleção dos cantos interlecionais e dos cantos da Entrada, das
Oferendas e da Comunhão, observem-se as normas estabelecidas nos
respectivos lugares (cf. n. 40-41, 47-48, 61-64, 74, 87-88).

CAPÍTULO VIII
MISSAS E ORAÇÕES PARA DIVERSAS CIRCUNSTÂNCIAS
E MISSAS DOS FIÉIS DEFUNTOS

I.          MISSAS E ORAÇÕES


PARA DIVERSAS CIRCUNSTÂNCIAS

368.     Como a liturgia dos Sacramentos e Sacramentais obtém para os fiéis


devidamente preparados que quase todos os acontecimentos da vida sejam
santificados pela graça divina que flui do mistério pascal144, e como a
Eucaristia é o sacramento dos sacramentos, o Missal fornece formulários de
Missas e orações que, nas diversas ocasiões da vida cristã, podem ser usadas
pelas necessidades do mundo inteiro, da Igreja universal e da Igreja local.
369.     Tendo em vista a mais ampla faculdade de escolher leituras e orações,
convém que as Missas para as diversas circunstâncias sejam empregadas
moderadamente, isto é, quando a oportunidade o exigir.
370.     Em todas as Missas para as diversas circunstâncias, a não ser que se
disponha de outro modo, é permitido usar as leituras dos dias de semana bem
como os seus cantos interlecionais, se combinarem com a celebração.

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371.     Entre essas Missas contam-se as Missas rituais, para diversas


necessidades, para as diversas circunstâncias e votivas.
372.     As Missas rituais estão unidas à celebração de certos Sacramentos e
Sacramentais. São proibidas nos domingos do Advento, da Quaresma e da
Páscoa, nas solenidades, nos dias da oitava da Páscoa, na Comemoração de
Todos os Fiéis defuntos, na Quarta-feira de Cinzas e nos dias de semana da
Semana Santa, observando-se, além disso, as normas contidas nos livros rituais e
nas próprias Missas.
373.     As Missas para várias necessidades ou para diversas circunstâncias são
usadas em algumas circunstâncias, que ocorrem de tempos em tempos, ou em
épocas estabelecidas. Dentre elas a autoridade competente pode escolher as
Missas para as rogações, cuja celebração, no decorrer do ano, será decidida pela
Conferência dos Bispos*.
374.     Ao ocorrer uma necessidade mais grave ou por utilidade pastoral, pode
celebrar-se em qualquer dia a Missa conveniente com ordem ou permissão do
Bispo diocesano, exceto nas solenidades, nos domingos do Advento, da
Quaresma e da Páscoa, nos dias da oitava da Páscoa, na Comemoração de
Todos os Fiéis Defuntos, na Quarta-feira de Cinzas e nos dias de semana da
Semana Santa.
375.     As Missas votivas sobre os mistérios do Senhor ou em honra da Bem-
aventurada Virgem Maria, dos Anjos, de algum Santo ou de todos os Santos,
podem ser celebradas para favorecer a devoção dos fiéis nos dias de semana do
Tempo comum, mesmo que ocorra uma memória facultativa. Contudo não
podem ser celebradas como votivas as Missas que se referem aos mistérios da
vida do Senhor ou da Bem-aventurada Virgem Maria, com exceção da Missa de
sua Imaculada Conceição, pelo fato de a sua celebração estar unida ao círculo
do ano litúrgico.
376.     Nos dias em que ocorra uma memória obrigatório ou um dia de semana
do Advento até ao dia 16 de dezembro, do Tempo de Natal desde o dia 2 de
janeiro, e do Tempo pascal depois da oitava da Páscoa, de per si são proibidas as
Missas para diversas necessidades e votivas. Se, porém, verdadeira necessidade
ou utilidade pastoral o exigir, poderá ser usada na celebração com povo a Missa
que corresponda a tal necessidade ou utilidade, a juízo do reitor da igreja ou do
próprio sacerdote celebrante.
377.     Nos dias de semana do Tempo comum em que ocorra uma memória
facultativa ou se celebra o Ofício semanal, é permitido celebrar qualquer Missa

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ou usar qualquer oração para diversas circunstâncias, excetuando-se as Missas


rituais.
378.     Recomenda-se de modo particular a memória de Santa Maria no
Sábado, pelo fato de se tributar na Liturgia da Igreja à Mãe do Redentor uma
veneração acima e de preferência a todos os Santos145.
II.        MISSAS PELOS FIÉIS DEFUNTOS
379.     A Igreja oferece o Sacrifício eucarístico da Páscoa de Cristo pelos
defuntos, a fim de que, pela comunhão de todos os membros de Cristo entre si,
o que obtém para uns o socorro espiritual traga aos outros a consolação da
esperança.
380.     Entre as Missas dos fiéis defuntos ocupa o primeiro lugar a Missa de
exéquias, que pode ser celebrada todos os dias, exceto nas solenidades de
preceito, na Quinta-feira da Semana Santa, no Tríduo pascal e nos domingos
do Advento, da Quaresma e da Páscoa, observado, além disso, tudo o que é de
direito146.
381.     A Missa dos fiéis defuntos ao receber-se a notícia da morte, ou por
ocasião da sepultura definitiva, ou no dia do primeiro aniversário, pode ser
celebrada também nos dias dentro da oitava de natal, nos dias em que ocorrer
uma memória obrigatória ou um dia de semana, exceto Quarta-feira de Cinzas
e os dias de semana da Semana Santa.
            As outras Missas dos fiéis defuntos, ou Missas "cotidianas", podem ser
celebradas nos dias de semana do Tempo comum, quando ocorre uma memória
facultativa ou é rezado o Ofício semanal, contanto que realmente sejam
celebradas em intenção dos falecidos.
382.     Nas Missas exequiais haja, normalmente, uma breve homilia, excluindo-
se no entanto qualquer tipo de elogio fúnebre.
383.     Os fiéis, sobretudo os da família do falecido, sejam convidados a
participar também pela sagrada Comunhão do sacrifício eucarístico oferecido
por um falecido.
384.     Se a Missa exequial é imediatamente seguida pelo rito dos funerais,
terminada a oração depois da Comunhão e omitidos os ritos finais, realiza-se a
última encomendação ou despedida. Este rito é celebrado apenas quando
estiver presente o corpo.
385.     Na organização e escolha das partes da Missa dos fiéis defuntos,
principalmente da Missa exequial, que podem variar (por exemplo, orações,

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leituras e oração universal), convém levar-se em conta, por motivos pastorais, as


condições do falecido, de sua família e dos presentes.
Além disso, os pastores levem especialmente em conta aqueles que por ocasião
das exéquias comparecem às celebrações litúrgicas e escutam o Evangelho,
tanto os não católicos, como católicos que nunca ou raramente participam da
Eucaristia, ou parecem ter perdido a fé, pois os sacerdotes são ministros do
Evangelho de Cristo para todos.

CAPÍTULO IX
ADAPTAÇÕES QUE COMPETEM AOS BISPOS
E ÀS SUAS CONFERÊNCIAS

386.     A renovação do Missal Romano, realizada segundo as exigências do


nosso tempo, de acordo com as normas do Concílio Vaticano II, teve o máximo
cuidado para que todos os fiéis pudessem garantir, na celebração eucarística,
aquela plena, consciente e ativa participação que a própria natureza da Liturgia
exige e à qual os próprios fiéis, por força de sua condição, têm direito e
obrigação147.
            Para que a celebração corresponda mais plenamente às normas e ao
espírito da sagrada Liturgia, propõem-se nesta Instrução e no Ordinário da
Missa algumas adaptações, confiadas ao critério do Bispo diocesano ou às
Conferências dos Bispos.
387.     O Bispo diocesano, que deve ser tido como o sumo sacerdote de sua
grei, do qual, de algum modo, deriva e depende a vida de seus fiéis em
Cristo148, deve fomentar, coordenar e vigiar a vida litúrgica em sua diocese.
Conforme esta instrução, cabe a ele orientar a disciplina da concelebração (cf. n.
202, 374), estabelecer normas para o serviço do sacerdote ao altar (cf. n. 107),
sobre a distribuição da sagrada Comunhão sob as duas espécies (cf. n. 283) e
sobre a construção e restauração de igrejas (cf. n. 291). Mas, cabe-lhe antes de
tudo alimentar o espírito da sagrada Liturgia nos sacerdotes, diáconos e fiéis.
388.     As adaptações, de que se trata abaixo, que pedem uma coordenação
mais ampla, devem ser especificadas, conforme as normas do direito, na
Conferência dos Bispos.
389.     Compete às Conferências dos Bispos antes de tudo preparar e aprovar a
edição deste Missal Romano nas diversas línguas vernáculas, para que,
reconhecidas pela Sé Apostólica, sejam usadas nas respectivas regiões149.

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            O Missal Romano deve ser publicado integralmente tanto no texto


latino como nas versões em vernáculo legitimamente aprovadas.
390.     Compete às Conferências dos Bispos definir as adaptações, e introduzi-
las no próprio Missal, com a aprovação da Sé Apostólica, pontos indicados nesta
Instrução geral e no Ordinário da Missa, como:
            - gestos e posições do corpo dos fiéis (cf. acima, n. 43);
            - gestos de veneração ao altar e ao Evangeliário (cf. acima, n. 273);
            - textos dos cantos da Entrada, da Preparação das oferendas e da
Comunhão (cf. acima, n. 48, 74 e 87);
            - a escolha de leituras da Sagrada Escritura a serem usadas em
circunstâncias peculiares (cf. acima, n. 362);
            - a forma de dar a paz (cf. acima, n. 82);
            - o modo de receber a sagrada Comunhão (cf. acima, n. 160 e 283);
            - o material para a confecção do altar e das sagradas alfaias, sobretudo
dos vasos sagrados, bem como a forma e a cor das vestes litúrgicas (cf. acima, n.
301, 326, 329, 339, 342-346).
            Contudo, Diretórios ou Instruções pastorais, consideradas úteis pelas
Conferências dos Bispos, após prévia aprovação da Sé Apostólica, poderão ser
introduzidas, em lugar apropriado, no Missal Romano.
391.     Às mesmas Conferências compete cuidar com especial atenção das
traduções dos textos bíblicos usados na celebração da Missa. Pois, da Sagrada
Escritura são lidas as lições e explicadas na homilia, e cantam-se os salmos, e é
de sua inspiração e bafejo que surgiram as preces, orações e hinos litúrgicos, de
modo que é dela que os atos e sinais recebem a sua significação150.
Use-se uma linguagem que corresponda à compreensão dos fiéis e que se adapte
à proclamação em público, considerando, porém, as características próprias aos
diversos modos de falar usados nos livros sagrados.
392.     Compete, igualmente, às Conferências dos Bispos preparar com muito
cuidado a versão dos demais textos, para que, garantida a índole de cada língua,
se transmita plenamente e com fidelidade o sentido do texto original latino. Na
execução deste empreendimento é preciso considerar os diversos gêneros
literários usados no Missal, como as orações presidenciais, as antífonas, as
aclamações, as respostas, as preces litânicas etc.
            Deve-se ter em mente que a tradução dos textos não visa primeiramente
à meditação, mas, antes, à proclamação ou ao canto no ato da celebração.

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            Faça-se uso de uma linguagem adaptada aos fiéis da respectiva região,
mas que seja nobre e dotada de valor literário, permanecendo sempre a
necessidade de alguma catequese sobre o sentido bíblico e cristão de certas
palavras ou frases.
            É melhor que nas regiões em que se fala a mesma língua, se tenha, na
medida do possível, uma só versão para os textos litúrgicos, sobretudo para os
textos bíblicos e para o Ordinário da Missa151.
393.     Tendo em vista o lugar proeminente que o canto recebe na celebração,
como parte necessária ou integrante da liturgia152, compete às Conferências
dos Bispos aprovar melodias adequadas, sobretudo para os textos do Ordinário
da Missa, para as respostas e aclamações do povo e para celebrações peculiares
que ocorrem durante o ano litúrgico.
            Cabe-lhes igualmente decidir quanto aos gêneros musicais, melodias e
instrumentos musicais, que possam ser admitidos no culto divino e, até que
ponto realmente são adequados ou poderão adaptar-se ao uso sagrado.
394.     Convém que cada diocese tenha o seu calendário e o próprio das Missas.
A Conferência dos Bispos, por sua vez, prepare o calendário próprio da nação,
ou, em colaboração com outras Conferências um calendário mais amplo, a ser
aprovado pela Sé Apostólica153.
            Nesta iniciativa deve-se considerar e defender ao máximo o dia do
Senhor, como dia de festa primordial, de modo que outras celebrações, a não
ser que sejam de máxima importância, não se lhe anteponham154. Igualmente
se cuide que o ano litúrgico renovado por decreto do Concílio Vaticano II não
seja obscurecido por elementos secundários.
            Na elaboração do Calendário do país, sejam indicados (cf. n. 373) os dias
das Rogações e das Quatro Têmporas do ano, bem como as formas e os textos
para celebrá-las155; e tenham-se em vista outras determinações peculiares.
            Convém que, na edição do Missal, as celebrações próprias de toda a
nação ou de uma região mais ampla sejam inseridas no devido lugar entre as
celebrações do calendário geral, ao passo que as celebrações próprias de uma
região ou de uma diocese tenham lugar em Apêndice particular.
395.     Finalmente, se a participação dos fiéis e o seu bem espiritual exigirem
variações e adaptações mais profundas, para que a sagrada celebração responda
à índole e às tradições dos diversos povos, as Conferências dos Bispos podem
propô-las à Sé Apostólica, segundo o art. 40 da Constituição sobre a sagradas
Liturgia, para introduzi-las com o seu consentimento, sobretudo em favor de

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povos a quem o Evangelho foi anunciado mais recentemente156. Observem-se


atentamente as normas peculiares emanadas pela Instrução "A Liturgia
Romana e a Inculturação"157.
            Quanto ao modo de proceder neste ponto, observe-se o seguinte:
            Primeiramente se apresente um projeto pormenorizado à Sé Apostólica,
para, com a devida autorização, proceder à elaboração de cada uma das
adaptações.
            Depois de estas propostas serem devidamente aprovadas pela Sé
Apostólica, realizem-se as experimentações nos períodos de tempos e lugares
estabelecidos. Se for o caso, esgotado o tempo de experimentação, a
Conferência dos Bispos determinará a continuação das adaptações,
apresentando à apreciação da Sé Apostólica uma formulação madura sobre o
assunto158.
396.     Contudo, antes que se dê início a novas adaptações, sobretudo, mais
profundas, dever-se-á ter o grande cuidado de promover sábia e ordenadamente
a devida formação do clero e dos fiéis; que as faculdades já previstas sejam
levadas a efeito e as normas pastorais, correspondentes ao espírito da
celebração, sejam plenamente aplicadas.
397.     Observe-se também o princípio, segundo o qual cada Igreja particular
deve estar de acordo com a Igreja universal não só quanto à doutrina da fé e os
sinais sacramentais, mas também quanto aos usos universalmente aceitos pela
tradição apostólica e ininterrupta, que devem ser observados não só para evitar
os erros, mas também para transmitir a integridade da fé, visto que a regra da
oração da Igreja corresponde à sua regra da fé159.
            O Rito Romano constitui uma parte notável e preciosa do tesouro
litúrgico e do patrimônio da Igreja católica, cujas riquezas contribuem para o
bem da Igreja universal, a tal ponto que sua perda gravemente a prejudicaria.
            Tal rito no decorrer dos séculos não só conservou os usos litúrgicos
originários da cidade de Roma, mas de modo profundo, orgânico e harmonioso
integrou também em si muitos outros que se derivavam dos costumes e da
índole de povos diversos e de diferentes Igrejas particulares tanto do Ocidente
como do Oriente, adquirindo assim um certo caráter supra-regional. Nos
tempos atuais, a identidade e a expressão unitária deste rito encontra-se nas
edições típicas dos livros litúrgicos promulgados pela autoridade do Sumo
Pontífice e nos correspondentes livros litúrgicos aprovados pelas Conferências
dos Bispos para suas dioceses e confirmados pela Sé Apostólica160.

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398.     A norma estabelecida pelo Concílio Vaticano II, segundo a qual as


inovações na reforma litúrgica não se façam a não ser que a verdadeira e certa
utilidade da Igreja o exija e tomando a devida cautela de que as novas formas de
um certo modo brotem como que organicamente daquelas que já existiam161,
também devem aplicar-se à inculturação do próprio Rito Romano162. Além
disso, a inculturação necessita de um tempo prolongado para que, na
precipitação e imprudência, não se prejudique a autêntica tradição litúrgica.
            Finalmente, a busca da inculturação não leva, de modo algum, à criação
de novas famílias rituais, mas ao tentar dar resposta às necessidades de
determinada cultura o faz de tal modo que as adaptações introduzidas no Missal
ou nos outros livros litúrgicos não prejudiquem o caráter proporcionado, típico
do Rito romano163.
399.     Assim pois, o Missal Romano, ainda que na diversidade de línguas e em
certa variedade de costumes164, para o futuro, deverá ser conservado como
instrumento e sinal preclaro da integridade e unidade do Rito romano165.
 

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