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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Conceitos – Finalidades – Característica e Fontes do Processo Penal


Produção: Equipe Pedagógica Gran Cursos Online

CONCEITOS – FINALIDADES – CARACTERÍSTICA E FONTES DO


PROCESSO PENAL

Doutrina referência para a nossa aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE – Código de Processo Penal para Con-
cursos.
• Renato BRASILEIRO de Lima – Manual de Processo Penal.
• Frederico MARQUES – Elementos de Direito Processual Penal.

Conceito

Conforme o escólio de José Frederico MARQUES, pode-se conceituar Direito


Processual Penal como o conjunto de princípios e normas que regulam a apli-
cação jurisdicional do Direito Penal, bem como as atividades persecutórias da
Polícia Judiciária e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e respecti-
vos auxiliares.

De acordo com os ensinamentos de AVENA:


Basta observar que, se uma pessoa realizar determinada conduta descrita
em um tipo penal incriminador, a consequência desta prática será o surgimento
para o Estado do poder-dever de aplicar-lhe a sanção correspondente. (grifei)

Conclui AVENA:
(...)
Aqui surge, então, o processo penal, como instrumento destinado à realiza-
ção do jus puniendi do Estado e cujo desenvolvimento será regido por um con-
junto de normas, preceitos e princípios que compõem o direito processual. (grifei)
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Conceitos – Finalidades – Característica e Fontes do Processo Penal
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Finalidade do Direito Processual Penal

Há duas finalidades, ditas como clássicas, do Direito Processual Penal:


1. Finalidade imediata ou direita – fazer valer o direito de punir do Estado (jus
puniendi).
No Estado Democrático de Direito, essa finalidade é levada a efeito conside-
rando também a tutela dos direitos fundamentais do cidadão em face do summa
potestas no contexto da persecução criminal.
2. Finalidade mediata ou indireta – promover proteção da sociedade, da paz
social e a defesa dos interesses da coletividade.

Características do Direito Processual Penal

Podem ser apontadas três características básicas do Direito Processual Penal:


1. Autonomia – o DPP não é hierarquicamente subordinado ou inferior ao
Direito Penal material e tem seus princípios próprios e regras próprias.
2. Instrumentalidade – é instrumento de consecução do Direito Penal material.
3. Normatividade – é uma disciplina normativa, com codificação própria que é
o Código de Processo penal (CPP).

Fontes do Direito Processual Penal

Dizem respeito à origem das normas processuais, que podem ser apreciadas
sob dois ângulos, gerando, assim, a divisão entre as fontes que são criadoras
(materiais) e as que são de expressão da norma (formais) do processo penal.

Das Fontes Materiais

São as fontes criadoras do direito, também denominadas de fontes de cria-


ção ou de produção.
Assim, a fonte material por excelência é o Estado.
No caso do direito processual, o art. 22, I, da Constituição Federal dispõe que
a legislação sobre o assunto compete privativamente à União, que é, portanto, a
fonte material do processo penal.
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O art. 22, parágrafo único, da Carta Magna estabelece que lei complementar
(LC) poderá autorizar Estados a legislar sobre matéria processual.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáuti-
co, espacial e do trabalho; (grifei)
(…)
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre
questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. (grifei)

De outro lado, o seu art. 24, IX, ordena que é concorrente a competência da
União com os Estados e o Distrito Federal para legislar a respeito de procedi-
mentos em matéria processual, aqui encontram-se, por exemplo, as normas de
organização judiciária estadual.

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrente-
mente sobre:
(...)
XI – procedimentos em matéria processual; (grifei)

Atenção!
Por óbvio, a competência dos Estados-membros é residual, no sentido de
suprir omissões ou especificar minúcias procedimentais, posto que a legislação
estadual não pode contrariar a federal, que lhe é superior.
Ou seja, a fonte material (criadora) das leis processuais é a União e,
subsidiariamente, os Estados e o Distrito Federal.

Das Fontes Formais ou de Cognição

Fontes de revelação (de cognição), e dizem respeito aos meios pelos quais o
Direito se exterioriza.
Dividem-se em fontes formais imediatas e mediatas.
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Das Fontes Formais Imediatas


São as leis em sentido amplo, abrangendo a Lex Excelsa, a legislação infra-
constitucional, os tratados, as convenções e as regras de direito internacional
aprovados pelo Congresso Nacional.

Das Fontes Formais Mediatas


1) Costumes – cabedal de práticas sociais reiteradas que são observadas
pela sociedade com uma consciência de obrigatoriedade.
Os costumes podem ser secundum legem (de acordo com a lei), praeter
legem (suprem lacunas da lei) e contra legem (contra a lei), este último tem
vedada a aplicação.
2) Princípios Gerais do Direito – premissas éticas extraídas do ordenamento
jurídico. O CPP, no seu art. 3º, ordena expressamente que pode ser suplemen-
tado pelos princípios gerais do direito.

Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógi-


ca, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. (grifei)

3) Doutrina – opinião dos estudiosos do Direito sobre temas jurídicos. Mesmo


não possuindo força vinculativa, a doutrina exerce forte influência tanto no pro-
cesso legislativo quanto na aplicação da lei.
4) Analogia – consiste em aplicar a um determinado caso não previsto pela lei
o que o legislador aplicou a um outro caso, quando há igualdade de condições.
Isso, pois devido à infinidade de casuísticas possíveis, nunca será possível
ao ordenamento jurídico estabelecer uma previsão normativa que esgote todas
as hipóteses factuais.

Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógi-


ca, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. (grifei)

5) Jurisprudência – é o entendimento consubstanciado em decisões judiciais


reiteradas dos Pretórios sobre determinados temas levados aos tribunais para
pacificação.
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Atenção!
Sobre as Súmulas Vinculantes do STF, com previsão no art. 103-A da Carta
Magna:
O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante
decisão de dois terços de seus membros, após reiteradas decisões sobre
matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na
imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder
Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na
forma estabelecida em lei. (grifei)

Recomendo a lição de AVENA sobre a Súmula Vinculante, enquanto fonte do


Direito Processual Penal:
(...) apesar de vinculante, tal ordem de enunciado não possui força de lei,
devendo ser classificado como fonte formal mediata, mesmo porque não emana
do Poder Legislativo, apenas retratando a jurisprudência consolidada pela maio-
ria de dois terços (voto de oito Ministros) do STF. Em que pesem as divergên-
cias, este último entendimento parece dominante na doutrina. (grifei)

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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Sistemas de Processo Penal – Princípios – Princípios Constitucionais
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SISTEMAS DE PROCESSO PENAL – PRINCÍPIOS –


PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Do ponto de vista histórico do processo penal, há três sistemas de processo


penal, a saber:
–– Inquisitivo
–– Acusatório
–– Misto

SISTEMA INQUISITIVO

Teve sua origem no seio do Direito Canônico, no século XIII, com ampla difu-
são na Europa, inclusive na seara jurídica não religiosa, até o século XVIII.
O que mais o caracteriza é a concentração das funções de acusar, defender
e julgar em um único ator processual, que assumia o papel de juiz acusador, juiz
inquisidor.
Aqui, o acusado é mero objeto do processo, não sendo considerado sujeito
de direitos.
De acordo com a lição de Nucci, o sistema inquisitorial:

“É caracterizado pela concentração de poder nas mãos do julgador, que exerce,


também, a função de acusador; a confissão do réu é considerada a rainha das
provas; não há debates orais, predominando procedimentos exclusivamente escri-
tos; os julgadores não estão sujeitos à recusa; o procedimento é sigiloso; há ausên-
cia de contraditório e a defesa é meramente decorativa”.

SISTEMA ACUSATÓRIO

Caracteriza-se como um actum trium personarum (ato de três persona-


gens).
Há presença de atores processuais distintos com contraposição entre acu-
sação e defesa com paridade de armas. E com sobreposição às partes e atua-
ção equidistante e imparcial de um juiz.
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Sistemas de Processo Penal – Princípios – Princípios Constitucionais
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No sistema acusatório, há, portanto, uma separação dos papéis de acusar,


defender e julgar.
Conforme Brasileiro:

“A separação das funções processuais de acusar, defender e julgar entre sujei-


tos processuais distintos, o reconhecimento dos direitos fundamentais ao acu-
sado, que passa a ser sujeito de direitos e a construção dialética da solução do
caso pelas partes, em igualdade de condições, são, assim, as principais caracte-
rísticas desse modelo”.

SISTEMA MISTO OU FRANCÊS

Surge com o Code d’Instruction Criminelle francês, de 1808. Nesse sistema,


o processo tem duas fases:
–– Uma primeira, marcada pela inquisitoriedade, sendo secreto e sem
contraditório.
–– A segunda, uma fase em que há o contraditório e o exercício do direito
da ampla defesa.

No sistema misto, conforme Nucci:


“Num primeiro estágio, há procedimento secreto, escrito e sem contradi-
tório, enquanto, no segundo, presentes se fazem a oralidade, a publicidade, o
contraditório, a concentração dos atos processuais, a intervenção de juízes
populares e a livre apreciação das provas”.

Qual o sistema adotado no ordenamento jurídico brasileiro?

Há dois entendimentos doutrinários sobre qual sistema é adotado no Brasil


que você precisa saber:
I – Sistema misto, conforme Nucci:

“É certo que muitos processualistas sustentam que o nosso sistema é o acusatório.


(...) Entretanto, olvida-se, nessa análise, o disposto no Código de Processo Penal,
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Sistemas de Processo Penal – Princípios – Princípios Constitucionais
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que prevê a colheita inicial da prova através do inquérito policial, presidido por um
bacharel em Direito, concursado, que é o delegado, com todos os requisitos do
sistema inquisitivo (sigilo, ausência de contraditório e de ampla defesa, procedi-
mento eminentemente escrito, impossibilidade de recusa do condutor da investiga-
ção etc.).
Somente após, ingressa-se com a ação penal e, em juízo, passam a vigorar as
garantias constitucionais mencionadas, aproximando-se o procedimento do sis-
tema acusatório”.

II – Sistema acusatório, conforme Brasileiro:

“Quando o Código de Processo Penal entrou em vigor, prevalecia o entendimento


de que o sistema nele previsto era misto. A fase inicial da persecução penal, carac-
terizada pelo inquérito policial, era inquisitorial. Porém, uma vez iniciado o pro-
cesso, tínhamos uma fase acusatória.
Porém, com o advento da Constituição Federal, que prevê de maneira expressa
a separação das funções de acusar, defender e julgar, estando assegurado o con-
traditório e a ampla defesa, além do princípio da presunção de não culpabilidade,
estamos diante de um sistema acusatório”.

 Obs.: a polícia não se vincula à tese de defesa nem de acusação, ela deve
buscar a verdade histórica e factual. Dessa forma, na fase de inquérito,
não há porque se falar em ação penal.

PRINCÍPIOS

Princípio no dizer de NUCCI:


“É um postulado que se irradia por todo sistema de normas, fornecendo
um padrão de interpretação, integração, conhecimento e aplicação do direito
positivo, estabelecendo uma meta maior a seguir”.
Princípios são, metaforicamente, como bússolas.
Na Lex Excelsa, encontram-se princípios que regem o processo penal pátrio.
Desses, alguns são explícitos, outros são implícitos.
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Sistemas de Processo Penal – Princípios – Princípios Constitucionais
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No contexto dos princípios constitucionais que regem o processo penal, há


os que são princípios regentes, governantes, que coordenam o sistema de prin-
cípios.
São os mais relevantes para a efetividade do Estado Democrático de
Direito e garantia dos direitos humanos fundamentais.

PRINCÍPIOS REGENTES

I – Princípio da Dignidade da Pessoa Humana


Princípio Rei. Base sobre o qual todos os direitos e garantias individuais são
erguidos e sustentados.

II – Princípio do Devido Processo Legal


Amálgama de todos princípios processuais penais, indicativo da regularidade
do processo penal, que tem como corolários a ampla defesa e o contraditório.

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EXPLÍCITOS DO PROCESSO PENAL

Princípio da não culpabilidade ou presunção de inocência

CF, Art. 5º, LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;

Garante que o ônus da prova cabe à acusação e não à defesa. Confirma a


excepcionalidade da prisão cautelar.
Princípios consequenciais da prevalência do interesse do réu (favor rei, favor
libertatis) e da imunidade a autoacusação (nemo tenetur se detegere).

Princípio da ampla defesa

CF, Art. 5º, LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acu-
sados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes;
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Sistemas de Processo Penal – Princípios – Princípios Constitucionais
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Ao réu é garantido o direito de se valer de amplos e extensos métodos para


se defender em face da força estatal (summa potestas).

Súmula n. 523, STF: No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade


absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para
o réu.
Súmula n. 708, STF: É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação
nos autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado
para constituir outro.
Súmula Vinculante n. 14, STF: É direito do defensor, no interesse do represen-
tado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em proce-
dimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária,
digam respeito ao exercício do direito de defesa.

Princípio da plenitude de defesa

Art. 5º, XXXVIII – é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der
a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;

Atenção!
Plenitude de defesa é diferente de ampla defesa. A plenitude é só para o júri.
No tribunal do júri, busca-se garantir ao réu não somente a ampla defesa, mas
plena e completa, a mais próxima possível do perfeito. Isso, inclusive com
emprego de argumentos metajurídicos. Ampla defesa é para todo e qualquer
processo.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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Princípios Constitucionais II
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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS II

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS (CONTINUAÇÃO)

Doutrina referência para esta aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado;
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado;
• Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE – Código de Processo Penal para Con-
cursos;
• Renato BRASILEIRO de Lima – Manual de Processo Penal.

4 – Princípio do Contraditório ou da bilateralidade da audiência

LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral


são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;

A toda alegação feita (fática ou jurídica) por uma das partes, tem a outra
parte o direito de se manifestar (contra alegação) – binômio ciência e participa-
ção.
• Para cada prova, haverá uma contraprova.

Importante!
O acervo probatório que efetivamente serviu para condenação do paciente foi aque-
le obtido no inquérito policial. Segundo entendimento pacífico desta Corte não
podem subsistir condenações penais fundadas unicamente em prova produzida
na fase do inquérito policial, sob pena de grave afronta às garantias constitucionais
do contraditório e da plenitude de defesa. HC 103.660, rel. Min. Ricardo Lewando-
wski.

Atenção!
O contraditório é um dos princípios constitucionais explícitos que orientam o
processo penal.
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Princípios Constitucionais II
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5 – Princípio do Juiz Natural e Imparcial

Art. 5º, XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção;


LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade compe-
tente.

Assegura um julgamento imparcial dos indivíduos e afasta a atuação de tri-


bunais de exceção.

Súmula n. 704 do STF


Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo
legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prer-
rogativa de função de um dos denunciados.

Jurisprudência STF:
Aplicação da Súmula 704. Não viola as garantias do juiz natural e da
ampla defesa, elementares do devido processo legal, a atração, por conexão
ou continência, do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um
dos denunciados, a qual é irrenunciável. Inq. 2.424, rel. min. Cezar Peluso. No
mesmo sentido: Inq. 2.704, rel. p/ o ac. min. Dias Toffoli.

6 – Princípio da Publicidade

Art. 5º, XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de
seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas
no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a de-
fesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

Atenção!
A regra é a publicidade, mas é possível o sigilo. É importante não confundir
sigilo com segredo. Sigilo é restringir a publicidade, mas não eliminá-la. Não
existe segredo no processo penal.
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Enseja o controle social dos atos e decisões que permeiam a persecução


criminal, que admite sigilo; mas, no Estado Democrático de Direito, nunca será
secreta.

Importante!
O procedimento investigatório instaurado pelo Ministério Público deverá
conter todas as peças, termos de declarações ou depoimentos, laudos peri-
ciais e demais subsídios probatórios coligidos no curso da investigação,
não podendo o Parquet sonegar, selecionar ou deixar de juntar, aos autos, quais-
quer desses elementos de informação, cujo conteúdo, por referir-se ao objeto
da apuração penal, deve ser tornado acessível tanto à pessoa sob investigação
quanto ao seu advogado.
O regime de sigilo, sempre excepcional, eventualmente prevalecente no
contexto de investigação penal promovida pelo Ministério Público, não se
revelará oponível ao investigado e ao advogado por este constituído, que
terão direito de acesso considerado o princípio da comunhão das provas a todos
os elementos de informação que já tenham sido formalmente incorporados aos
autos do respectivo procedimento investigatório. HC 89.837, rel. min. Celso de
Mello. No mesmo sentido: HC 84.965, rel. min. Gilmar Mendes, Rcl 12.810-MC,
rel. min. Celso de Mello.

7 – Princípio da vedação das provas ilícitas

Art. 5º, LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos.
Proibição das provas ilegais e ilegítimas no processo penal.

Atenção!
A única prova, em regra, que pode ser produzida no processo penal é a prova
lícita (provas legais e provas legítimas).
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Princípios Constitucionais II
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Vedação também da prova ilícita por derivação – Teoria do fruto da árvore


envenenada.
Admissão, por exceção, da prova ilícita em face da Teoria da proporciona-
lidade.

Jurisprudência STF:
Elementos dos autos que evidenciam não ter havido investigação preliminar
para corroborar o que exposto em denúncia anônima. O STF assentou ser pos-
sível a deflagração da persecução penal pela chamada denúncia anônima,
desde que esta seja seguida de diligências realizadas para averiguar os
fatos nela noticiados antes da instauração do inquérito policial. (...) A inter-
ceptação telefônica é subsidiária e excepcional, só podendo ser determinada
quando não houver outro meio para se apurar os fatos tidos por criminosos, nos
termos do art. 2º, II, da Lei 9.296/1996. (...) Ordem concedida para se declarar
a ilicitude das provas produzidas pelas interceptações telefônicas, em razão da
ilegalidade das autorizações, e a nulidade das decisões judiciais que as decreta-
ram amparadas apenas na denúncia anônima, sem investigação preliminar. HC
108.147, rel. min. Cármen Lúcia.

Atenção!
Não se instaura inquérito mediante denúncia anônima, pois o anonimato é
proibido pela Constituição Federal.

8 – Princípios regentes do Tribunal do Júri

Art. 5º, XXXVIII – é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der
a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;
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Atenção!
A plenitude de defesa é diferente de ampla defesa, pois a primeira é apenas
para o Tribunal do Júri; já a segunda é para todo e qualquer tipo de processo.

Jurisprudência STF:
Fere o princípio da soberania dos veredictos a afirmação peremptória
do magistrado, na sentença de pronúncia, que se diz convencido da autoria do
delito. A decisão de pronúncia deve guardar correlação, moderação e come-
dimento com a fase de mera admissibilidade e encaminhamento da ação
penal ao Tribunal do Júri. HC 93.299, rel. min. Ricardo Lewandowski. No mesmo
sentido: HC 99.834, rel. min. Joaquim Barbosa.

A soberania dos veredictos do Tribunal do Júri não é absoluta, subme-


tendo-se ao controle do juízo ad quem, tal como disciplina o art. 593, III, d, do
CPP. Conclusão manifestamente contrária à prova produzida durante a instrução
criminal configura error in procedendo, a ensejar a realização de novo julgamento
pelo Tribunal do Júri. Não há afronta à norma constitucional que assegura a
soberania dos veredictos do Tribunal do Júri no julgamento pelo tribunal
ad quem que anula a decisão do Júri sob o fundamento de que ela se deu
de modo contrário à prova dos autos. (...) A decisão do Conselho de Sentença
do Tribunal do Júri foi manifestamente contrária à prova dos autos, colidindo
com o acervo probatório produzido nos autos de maneira legítima. HC 88.707,
rel. min. Ellen Gracie. No mesmo sentido: HC 103.805, rel. min. Luiz Fux. RHC
96.543, rel. min. Gilmar Mendes.

9 – Princípio da legalidade estrita da prisão cautelar

Art. 5º, LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgres-
são militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.
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Princípios Constitucionais II
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Atenção!
No atual sistema de processo penal brasileiro, a regra é a liberdade do
investigado/réu. A prisão é uma exceção e deve-se haver uma previsão legal
explicita e estrita que autorize a prisão cautelar.

A prisão de qualquer pessoa precisa observar requisitos legais e formais


estritos.

Atenção!
Relaxar a prisão em flagrante: acabar com a prisão por ilegalidade; a revogação
da flagrância se dá por desnecessidade.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS III

PRINCÍPIOS GERAIS DO PROCESSO PENAL

Doutrina referência para esta aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado;
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• Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE – Código de Processo Penal para Con-
cursos;
• Renato BRASILEIRO de Lima – Manual de Processo Penal.

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS IMPLÍCITOS DO PROCESSO PENAL

Os princípios constitucionais implícitos do processo penal são aqueles que


não estão expressa e literalmente dispostos na Lex Excelsa.
Eles são extraídos a partir dos princípios explícitos existentes, bem como
dos ideais e valores consagrados no texto constitucional.
Eles ascendem, portanto, a partir da interpretação sistemática da Carta
Magna considerando a tábua de valores eleita pelo legislador constituinte.

10 – Princípio do Duplo Grau de Jurisdição


Princípio que decorre da própria estrutura do Poder Judiciário estabele-
cido pela Constituição Federal, consistente na sua divisão em instâncias diver-
sas.

Atenção!
Instâncias são os níveis de decisão do Poder Judiciário. Em regra, existem três
instâncias:
1ª: Juízes singulares ou Tribunal do Júri;
2ª: Tribunais – órgãos de revisão das decisões de 1º grau e também acolhem
ações de pessoas que possuem o foro privilegiado;
3ª: Instância Especial – Tribunais Superiores e o STF.
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Princípios Constitucionais III
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Decorre também da natural irresignação da parte com uma decisão que


considera injusta, da necessidade de controle dos atos do Estado.

11 – Princípio do Promotor Natural


O indivíduo tem o direito de ser acusado por órgão do Estado (Estado-Acu-
sação) previamente designado por lei, sendo vedada a indicação de acusador
de conveniência para atuar em casos determinados.

12 – Princípio da Oficialidade
A persecução criminal é uma função primordial e obrigatória do Estado.
As tarefas de investigar, processar e julgar um agente criminoso cabem
aos órgãos constituídos do Estado, através da Polícia Judiciária (Estado-Inves-
tigação), MP (Estado-Acusação) e Poder Judiciário (Estado-Juiz).

Conforme o ensinamento de NUCCI:

À Polícia Judiciária cumpre investigar (...); ao Ministério Público cabe ingressar


com a ação penal e provocar a atuação da Polícia (...); ao Poder Judiciário cum-
pre a tarefa de aplicar o direito ao caso concreto.

13 – Princípio da Intranscendência
Assegura que a ação penal não deve transcender da pessoa a quem foi impu-
tada a conduta criminosa.

Atenção!
A responsabilidade penal é, em regra, subjetiva. Assim, não se transfere a
terceiros que não tenham, de alguma forma, contribuído para a prática criminosa.

Assim, a imputação da prática de um delito não pode ultrapassar a


pessoa do agente, envolvendo terceiros, mesmo que sejam considerados civil-
mente responsáveis.
ANOTAÇÕES

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Princípios Constitucionais III
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Atenção!
Não confundir responsabilidade civil com a responsabilidade penal. Esta não
se transfere, enquanto aquela, sim, uma vez que restaura o dano causado por
uma ação criminosa.

14 – Princípio da Iniciativa das Partes ou da Ação ou da Demanda


É extraído do Sistema Acusatório que vige no Brasil em que garante ao MP
ou ao querelante a iniciativa do oferecimento da ação penal. Assim, veda-se que
o Estado-Juiz deflagre a ação penal de ofício.
Decorre desse princípio o Princípio da Correlação entre acusação e a sen-
tença, que implica na perfeita correspondência entre o fato imputado ao réu na
acusação com o fato reconhecido pelo juiz na sentença.

15 – Princípio da Vedação do Duplo Processo pelo Mesmo Fato e da


Vedação da Dupla Punição
Não se pode processar alguém duas vezes com base no mesmo fato, impin-
gindo-lhe dupla punição – non bis in idem.
Seria também nitidamente lesivo à dignidade da pessoa humana se ela for
punida duas vezes pela mesma conduta, o que evidenciaria não ter fim o poder
estatal (summa potestas), firmando autêntico abuso de direito.

Jurisprudência STF:
A decisão ora questionada está em perfeita consonância com a orientação
desta Suprema Corte no sentido de que, cuidando-se de processos criminais
diversos e fatos distintos (ainda que praticados em um mesmo contexto), não
há que se falar em bis in idem. HC 80.621/DF, rel. min. Néri da Silveira e HC
103.501, rel. min. Dias Toffoli. No mesmo sentido: HC 95.985, rel. min. Gilmar
Mendes.
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Princípios Constitucionais III
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PRINCÍPIOS GERAIS DO PROCESSO PENAL

16 – Princípio da ação, demanda ou iniciativa das partes


Também conhecido como ne procedat judex ex officio. Esse princípio
orienta que, devido à inércia da jurisdição, cabe às partes (MP ou querelante) a
provocação do Poder Judiciário, levando a termo o direito de ação, com escopo
de obter a prestação jurisdicional.

17 – Princípio da oficialidade
Os órgãos incumbidos da persecução criminal, englobando o inquérito poli-
cial e a ação penal, são públicos.
Por óbvio, não se pode olvidar a titularidade da ação penal privada, em que
o particular (querelante) possui legitimidade ativa. Mas essa exceção conforma
a regra.

18 – Princípio da Oficiosidade
A regra é a atuação oficial na persecução criminal dos órgãos responsáveis
(Polícia Judiciária e MP), sem necessidade de autorização para agir, desempe-
nhando suas atividades ex officio.
Contudo, há casos em que o início da persecução penal (IPL e AP) pres-
supõe autorização do legítimo interessado, como nos casos de ação penal
pública condicionada à representação da vítima ou à requisição do MJ.

19 – Princípio da Verdade Real, Material ou Substancial


A persecução criminal não se conforma com conjecturações e ilações afas-
tadas da realidade. O delegado de polícia (em sede de IPL) e o juiz (em sede de
AP) orientam os seus labores probatórios na reconstrução da verdade factual
(FERRAJOLI).
É a busca da verdade histórica que mais se aproxima da realidade em que
o crime foi praticado.
ANOTAÇÕES

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Princípios Constitucionais III
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Atenção!
Uma das maiores preocupações do processo penal é traduzir verdades
históricas em verdades jurídicas. A principal diferença entre elas é que a
primeira se aproxima da reconstrução da história do crime, mas ainda não é
suficiente para ensejar a prosperidade de uma ação penal.

20 – Princípio da Obrigatoriedade
A persecução criminal, em regra, é de ordem pública, e não cabe juízo de
conveniência ou oportunidade em relação ao seu desencadeamento.
Com efeito, os órgãos responsáveis por ela (delegado de polícia e parquet),
presentes os requisitos legais, estão obrigados a atuar.
Não se pode olvidar a realidade jurídica da ação penal privada e a perse-
cução dos crimes de menor potencial ofensivo (Lei n. 9.099/1995), em que a
obrigatoriedade é relativizada.

21 – Princípio da Indisponibilidade
É uma consequência da obrigatoriedade. Nessa esteira, uma vez instau-
rado o IPL ou iniciada a AP, os órgãos incumbidos da persecução criminal não
podem deles dispor.
Logo, a Autoridade Policial não pode arquivar os autos do inquérito policial,
(cf. art. 17, CPP), e o MP não pode desistir da ação interposta (cf. art. 42, CPP).

22 – Princípio do Impulso Oficial


Uma vez iniciada a ação penal, com o recebimento da exordial, cabe ao juiz
garantir que ela chegue ao seu final, promovendo os devidos atos processuais,
impulsionando o andamento do processo.
Isso também vale para o inquérito policial. O delegado de polícia impulsiona
o curso do IPL com a determinação das diligências investigativas.
ANOTAÇÕES

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Princípios Constitucionais III
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23 – Princípio do Favor Réu (favor rei ou, favor inocentiae e favor liber-
tatis)
A dúvida sempre milita em favor do réu (in dubio pro reo).
No confronto entre o jus puniendi e o jus libertatis (lide penal), esse último
deve prevalecer.

Atenção!
Ao interpretar qualquer lei do processo penal, é importante lembrar que,
dentro do contexto da percepção criminal, as interpretações – em regra – são
sempre favoráveis ao réu. Além disso, sempre que houver dúvida em relação
à aplicação da norma processual penal, essa dúvida se resolve a favor do réu.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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Lei Processo Penal
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LEI PROCESSO PENAL

APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

Doutrina referência para esta aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado;
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado;
• Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE – Código de Processo Penal para Con-
cursos;
• Renato BRASILEIRO de Lima – Manual de Processo Penal.

PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE

O CPP inaugura os seus dispositivos versando sobre o princípio da territo-


rialidade, na esteira do que dispõe o seu art. 1º, caput, que ordena:

Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Có-
digo, ressalvados:

NUCCI ensina que o princípio da territorialidade é:


"Regra que assegura a soberania nacional, tendo em vista que não teria
sentido aplicar normas procedimentais estrangeiras para apurar e punir um delito
ocorrido dentro do território brasileiro".

Atenção!
A aplicação de lei processual penal é uma expressão da soberania nacional. A
lei processual penal é aplicada onde o Brasil exerce soberania, ou seja, o País
sobrepõe o seu interesse pátrio sobre qualquer outro.

Todavia, o princípio da territorialidade não é absoluto, havendo incidência de


ressalvas constitucionais e legais.
ANOTAÇÕES

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Lei Processo Penal
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Há de se ressaltar, por conseguinte, que a Lex Excelsa, com a reforma pro-


movida pela Emenda n. 45/2004, teve o § 4º do art. 5º alterado, nos seguintes
termos:

§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja cria-


ção tenha manifestado adesão.

Isso implica que, mesmo um delito sendo praticado em território nacional,


havendo interesse do Tribunal Penal Internacional (TPI), o Brasil haverá de
entregar o agente criminoso à jurisdição estrangeira, exceto, por óbvio, se
for brasileiro nato (cf. art. 5º, LI, CF).
Além da ressalva constitucional relativa à jurisdição do TPI, há também res-
salvas legais ventiladas no próprio CPP (cf. art. 1º), a saber:

I – Os Tratados, as Convenções e regras de Direito Internacional – Neste senti-


do, caso o Brasil estabeleça um Tratado Internacional que as regras internacionais
o norteiem, a lei processual penal pátria será afastada. Este é o caso da imunidade
de Diplomatas à serviço de seus países no Brasil, que tem pálio na Convenção de
Viena de 1961, referendada no Brasil pelo Decreto 56.435/1965.
II – As prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos minis-
tros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e
dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade
– É a chamada Jurisdição Política, onde para julgar determinados crimes de res-
ponsabilidade não se invoca o Poder Judiciário, mas sim órgãos do Poder Legisla-
tivo, conforme exemplo que vem do art. 52, CF:
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
I – processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos cri-
mes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes
da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos
com aqueles;
III – Os processos da competência da Justiça Especial – É o caso da atuação
da Jurisdição Militar (CPPM), da Jurisdição Eleitoral (CE), havendo neste último
caso aplicação supletiva das regras do CPP.
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Lei Processo Penal
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Atenção!
Deve-se ter cuidado ao estudar o Processo Penal apenas lendo a Lei Seca.
No Código de Processo Penal baixado pela internet, não existem as notas
marginais constantes no Vade Mecum; assim, é importante ter cuidado, pois
muitos dispositivos do CPP, apesar de possuírem a redação íntegra, não têm
mais integração no ordenamento jurídico brasileiro.

Há de se ressaltar que não mais existe no Brasil tribunais especiais, como


era o Tribunal de Segurança Nacional previsto na CF de 1937. Hoje, os crimes
contra a segurança nacional, nos termos da Lei n. 7.170/1983, são processados
e julgados pela Justiça Federal comum (ex vi art. 109, IV, CF).
Destaque-se também que a Lei n. 5.250/1967 (crimes de imprensa) foi con-
siderada inconstitucional na ADPF 130-7.

APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

A regra geral é que a norma de matiz processual penal seja de plano apli-
cada tão logo entre ela em vigor.

Atenção!
Quem criminaliza a conduta não é o processo penal, e, sim, o direito penal
(aquele que prevê crimes).

Como tal lei não implica em criminalizações de condutas, ela passa a valer
imediatamente (regra do tempus regit actum), atingindo os processos em seu
desenvolvimento, não afetando, apenas, os atos já realizados sob a vigência
de lei anterior.
É a inteligência do CPP no seu art. 2º:
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Lei Processo Penal
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Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade
dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.

Atenção!
Lei processual penal tem aplicação imediata e rege-se pelo princípio do tempus
regit actum. Essa informação pode ser cobrada em prova.

Todavia, há de se ter atenção em relação às normas que, embora sejam


processuais penais, possuem natureza material. Conforme NUCCI, essas
normas são aquelas que:
"Apesar de estarem no contexto do processo penal, regendo atos praticados
pelas partes durante a Investigação Policial ou durante o trâmite processual, têm
forte conteúdo de Direito Penal".
Essas são as normas que regulamentam institutos jurídicos híbridos; elas
têm previsão tanto no CPP, quanto no CP, como a perempção, o perdão, a
decadência.

Atenção!
Nos institutos híbridos, o teor penal possui prevalência.

Além desses institutos mistos, há as normas que versam sobre a prisão do


indiciado ou réu que avançam sobre a liberdade do indivíduo e, portanto, são
consideradas normas processuais penais materiais.
Nesse sentido, a aplicação imediata da norma processual penal, ainda que
mais gravosa, é a regra: “desde que não envolva questão de direito material ou
o status libertatis dos indivíduos” (NUCCI).
Com efeito, a lei processual penal material mais benigna (lei processual
penal mais benéfica) enseja retroatividade ou ultratividade em relação aos
atos processuais.
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Lei Processo Penal
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INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA, INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA E ANALOGIA

O CPP prescreve, conforme no seu art. 3º, que:

Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação ana-


lógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

A interpretação extensiva é uma ação exegética levada a termo pelo aplica-


dor da lei, que implica na ampliação do conteúdo da lei, toda vez que a norma
diz menos que deveria.
Assim, ela tem por fim emprestar sentido razoável de acordo com os motivos
para os quais foi criada. Exemplo: aplicação ao indiciado do que se disciplina
em relação ao réu relativo à liberdade provisória.

A interpretação analógica é um processo de interpretação que emprega a


semelhança indicada pela própria lei. O que é diferente da analogia.
É o que ocorre, por exemplo, no art. 254, CPP:

Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por
qualquer das partes:
(...)
II – se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a pro-
cesso por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;

Atenção!
Todo fato análogo que guardar relação com o processo em que um juiz esteja
atuando também será um caso de suspeição por interpretação analógica.

A analogia, por seu turno, é um processo de integração do direito utilizado


para suprir lacunas.
Aplica-se uma norma existente para determinada situação a um caso
concreto semelhante, para o qual não há qualquer previsão legal.
ANOTAÇÕES

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Lei Processo Penal
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No processo penal, a analogia pode ser usada contra ou a favor do réu, pois
não se trata de norma penal incriminadora, protegida pelo princípio da reserva
legal, que exige nítida definição do tipo em prévia lei.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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Inquérito Policial I
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INQUÉRITO POLICIAL I

HISTÓRICO, NATUREZA, CONCEITO, FINALIDADE

Doutrina referência para esta aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado;
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado;
• Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE – Código de Processo Penal para Con-
cursos;
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal;
• Bruno CABRAL e Rafael SOUZA – Manual Prático de Polícia Judiciária.

HISTÓRICO

A longa experiência jurídica demonstra a necessidade de haver uma apura-


ção prévia à ação penal (AP) que a legitime.
Verificou-se que o acusado que sofre a ação penal condenatória, ainda que
termine absolvido, padece da desestima social, que a condição de réu lhe con-
fere.
Tal pesquisa, cuja forma procedimental varia, consoante os diversos siste-
mas processuais, volta-se, assim, a duplo objetivo:
1) Diminuir, minimizar, antes de tudo, o risco das acusações infundadas e,
até caluniosas;
2) Evitar o custo, sem benefício, que tais inculpações inúteis trazem para a
justiça penal.
No Brasil, o instituto jurídico-processual que, em regra, traz à lume os ele-
mentos fáticos e de direito que justificam o início da ação penal é o Inquérito
Policial.

Atenção!
O Inquérito Policial não é o único instrumento de investigação criminal. Porém,
é considerado o mais relevante e o único que está regulamentado dentro do
Código de Processo Penal.
ANOTAÇÕES

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Inquérito Policial I
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Todavia, mesmo antes da menção expressa sobre o Inquérito Policial, já


havia no ordenamento jurídico brasileiro um procedimento de apuração prévia
dos fatos tidos como criminosos antes de sua persecução in juditio.
A Lei n. 261 de 03/12/1841, reformadora do então Código de Processo Cri-
minal, e seu Regulamento de n. 120, de 31/01/1842, estabeleceu que, no Muni-
cípio da Corte e em cada província, haveria um Chefe de Polícia – escolhido
dentre os Desembargadores e Juízes de Direito – e os Delegados e Subdelega-
dos necessários – Juízes e quaisquer cidadãos – nomeados pelo Imperador
ou pelos Presidentes provinciais, cf. arts. 1º e 2º.
A denominação Inquérito Policial, no Brasil, surgiu com a Lei n. 2033 de
20/09/1871, que fora regulamentada pelo Decreto n. 4.824 de 22/11/1871. O art.
22 da suso referida Lei ordenava, in verbis:

O Inquérito Policial consiste em todas as diligências necessárias para o des-


cobrimento dos fatos criminosos, de suas circunstâncias e de seus autores e
cúmplices, devendo ser reduzido a instrumento escrito.

Aos chefes de Polícia em toda província do Império e na Corte, e a seus Dele-


gados, nos respectivos distritos, passou a competir procederem eles ao auto de
corpo de delito e a formarem a culpa aos delinquentes, consoante o Código
do Processo Criminal, conforme art. 4º §§ 1º e 5º, da Lei n. 261/1841.
A elaboração do Inquérito Policial passou a ser função especializada da
Polícia Judiciária e separada da judicatura.
Podiam, também, as Autoridades Policiais, cf. art. 4º, § 9º, da Lei n. 261/1841:

Remeter, quando julgarem conveniente, todos os dados, provas e esclarecimen-


tos que houverem obtido sobre um delito, com uma exposição do caso e suas
circunstâncias aos Juízes competentes, a fim de formarem a culpa.

Também determinava o Decreto n. 4.824/1871, art. 42, § 6º que:


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Inquérito Policial I
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Todas as diligências relativas ao Inquérito Policial serão feitas no prazo improrro-


gável de cinco dias, com assistência do indiciado delinquente, se estiver preso,
podendo impugnar os depoimentos das testemunhas.

NATUREZA

Conforme CABRAL e SOUZA:

O Inquérito Policial tem natureza jurídica de um procedimento administrativo de


caráter informativo e preparatório da ação penal.

Além disso, o IP é inquisitivo, é realizado pela Polícia Judiciária e presidido


por Delegado de Polícia, nos termos da Lei n. 12.830/2013, no âmbito da perse-
cução criminal.

Atenção!
A Polícia Militar e as Polícias das Forças Armadas possuem um tipo específico
de inquérito chamado de IPM – Inquérito Policial Militar. Já o Inquérito Policial, à
luz do Código de Processo Penal, é competência exclusiva da Polícia Judiciária,
sendo a autoridade que possui essa prerrogativa o Delegado de Polícia.

CONCEITO

Segundo o escólio de NUCCI o Inquérito Policial pode ser conceituado como


sendo:

Um procedimento preparatório da ação penal, de caráter administrativo, conduzido


pela Polícia Judiciária e voltado à colheita preliminar de provas para apurar a
prática de uma infração penal e sua autoria.

Atenção!
Não existe geração de prova espontânea em sede de Processo Penal.
ANOTAÇÕES

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Inquérito Policial I
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De acordo com CABRAL e SOUZA o Inquérito Policial é:

O conjunto de atos, diligências e investigações policiais formalizadas e ordenadas


em um só procedimento, com o objetivo de comprovar a existência de uma in-
fração Penal, sua materialidade e sua autoria.

FINALIDADE

A finalidade do Inquérito tem estatura legal, vide art. 4º, caput, CPP:

Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de


suas respectivas circunscrições e terá, por fim, a apuração das infrações penais
e da sua autoria.

Atenção!
No Brasil, a autoridade policial para fins processuais penais é, apenas, o
Delegado de Polícia. A ele cabe lavrar o flagrante e instaurar o Inquérito Policial
à luz da Lei n. 12.830/2013.

O Inquérito Policial (IPL) tem, portanto, por finalidade a investigação do


crime, a descoberta do seu autor e de todas as circunstâncias que tradu-
zem a prática criminosa.
Isso com o fito de fornecer elementos para o titular da ação penal promovê-la
em juízo, seja ele o MP (nas ações penais públicas), seja o particular (nas
ações penais privadas).
O Estado-Investigação (NUCCI), realizando uma instrução prévia, através
de IPL, tem a oportunidade de reunir os elementos probatórios preliminares
que sejam necessários e suficientes para apontar, com relativa firmeza, a
ocorrência de um delito e o seu autor.

Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
ANOTAÇÕES

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Inquérito Policial II
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INQUÉRITO POLICIAL II

CARACTERÍSTICAS, FUNDAMENTOS, TITULARIDADE, GRAU DE COGNIÇÃO

Doutrina referência para esta aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado;
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado;
• Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE – Código de Processo Penal para Con-
cursos;
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal;
• Bruno CABRAL e Rafael SOUZA – Manual Prático de Polícia Judiciária.

CARACTERÍSTICAS

São características próprias do Inquérito Policial (IPL), conforme CABRAL e


SOUZA:
1) Escrito – Todas as peças do IPL serão apresentadas na forma escrita, cf.
art. 9º, CPP:

Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas


a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.

Atenção!
Lembre-se: quo non est in actis → non est in mundus. “Se não está nos autos,
não está no mundo”, ou seja, se a prova não está dentro do inquérito ela não
existe.

2) Sigiloso – O sigilo do IPL há de ser observado para fins de garantia da


apuração da verdade material (verdade real) sobre os fatos sob investigação e
para preservação da intimidade da vida privada, da honra e da imagem do
investigado, resguardando-se o princípio constitucional da presunção de não
culpabilidade (inocência), conforme o art. 5º, X e LVII, da CF.
ANOTAÇÕES

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Inquérito Policial II
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Quanto ao sigilo, ordena o art. 20 do CPP:

Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do


fato ou exigido pelo interesse da sociedade.

Atenção!
Sigilo é diferente de secreto. Não existe no ordenamento jurídico pátrio o
inquérito secreto. Ele pode ter sigilo, ou seja, ser preservado do investigado
para que esse não interfira na investigação, mas não pode ser secreto. Depois
de concluída a diligência, é dado ao investigado o acesso aos autos de inquérito.

Não há sigilo absoluto do IPL ou de qualquer outro procedimento de per-


secução criminal. O STF já decidiu em sede da Súmula Vinculante n. 14:

É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos ele-


mentos de prova que, já documentados em procedimento investigatório reali-
zado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício
do direito de defesa.

3) Inquisitivo – No IPL não há o exercício do contraditório e da ampla


defesa. Isso, pois nele não há acusação em curso e sim apuração das provas
criminais.

Atenção!
No inquérito não há ampla defesa, mas existe defesa. É a chamada defesa
relativa ou diferida, que garante direitos fundamentais do investigado e permite
que a defesa tenha acesso aos autos do inquérito policial.

Todavia, em que pese inquisitivo, no IPL há observância das garantias e


direitos fundamentais do investigado e lhe é garantido o direito de defesa,
seja autodefesa, seja defesa técnica, como ordena a Súmula Vinculante n. 14.
ANOTAÇÕES

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Inquérito Policial II
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4) Oficialidade – O IPL é um procedimento investigatório formal presidido


pelo Delegado de Polícia, que é a Autoridade Policial no sistema de persecu-
ção criminal pátrio, conforme ordem legal do CPP e da Lei n. 12.830/2013, que,
atua como representante do Estado, segundo NUCCI, o Estado-Investigação.
Ordena o art. 2º, § 1º, da Lei n. 12.830/2013:

§ 1º Ao Delegado de Polícia, na qualidade de Autoridade Policial, cabe a con-


dução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro proce-
dimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da
materialidade e da autoria das infrações penais.

5) Obrigatoriedade – O IPL é procedimento, em princípio, de iniciativa obri-


gatória em face da notícia da prática de uma infração penal. Assim, o Delegado
de Polícia mandará instaurar o IPL nos termos do § 3º do art. 5º, CPP:

§ 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração


penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la
à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, man-
dará instaurar inquérito.

Conforme o art. 5º, § 3º, in fine, CPP, se não houver elementos claros de
justa causa (fato típico e indícios indicativos de materialidade e autoria) para a
instauração de IPL (p. ex.: “denúncia anônima”), o Delegado de Polícia funda-
mentadamente (juízo de prelibação) promoverá o desenvolvimento de uma VPI
– Verificação de Procedência de Informações.
Do resultado das diligências preliminares, o Delegado de Polícia decidirá
ou não pela instauração de IPL, sempre de forma fundamentada.
Há exceção legal à obrigatoriedade em sede de IPL, vide art. 5º, §§ 4º e 5º,
CPP:

§ 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação,


não poderá sem ela ser iniciado.
§ 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a
inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.
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Inquérito Policial II
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6) Discricionário – O Delegado de Polícia possui ampla discricionariedade


na condução do IPL (mas de forma fundamentada), possuindo ampla liberdade
de agir para a apuração do fato sob investigação, com observância dos ditames
constitucionais e legais.
A Lei n. 12.830/2013, no seu art. 2º, § 2º, ordena:

§ 2º Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de


perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos.

7) Dispensável – O IPL é dispensável para oferecimento da AP. Mas sem o


IPL a AP é claudicante, pois quem detém a melhor expertise investigativa é a
Polícia Judiciária.
Havendo prova pré-constituída sobre as circunstâncias, a materialidade e a
autoria da infração penal sob exame, ela poderá servir de base ao autor da ação
penal.

FUNDAMENTO

O IPL é um procedimento preparatório e preventivo utilizado para a prote-


ção do indivíduo e para colheita célere de provas perecíveis, cf. NUCCI.
O IPL auxilia, com efeito, a Justiça Criminal a preservar inocentes de
acusações injustas e temerárias, garantindo um juízo inaugural de delibação
(admissibilidade), inclusive para verificar se se trata de fato definido como crime.
A exposição de motivos do Código de Processo Penal, item IV, faz a
seguinte menção expressa de sobre o Inquérito:

(...) há em favor do inquérito policial, como instrução provisória antecedendo à pro-


positura da ação penal, um argumento dificilmente contestável: é ele uma garantia
contra apressados e errôneos juízos, formados quando ainda persiste a trepi-
dação moral causada pelo crime ou antes que seja possível uma exata visão
de conjunto dos fatos, nas suas circunstâncias objetivas e subjetivas.
ANOTAÇÕES

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Inquérito Policial II
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TITULARIDADE

O Delegado de Polícia é o titular do Inquérito Policial. É ele quem o ins-


taura, o preside e o conduz.
Determina o CPP, no seu art. 4º, caput:

Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território


de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais
e da sua autoria.

Ordena a Lei n. 12.830/2013, no seu art. 2º:

Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exer-


cidas pelo Delegado de Polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas
de Estado.

Continua a Lei n. 12.830/2013, no seu art. 2º:

§ 1º Ao Delegado de Polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a con-


dução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro proce-
dimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da
materialidade e da autoria das infrações penais.

GRAU DE COGNIÇÃO

O conhecimento (cognição) pela Autoridade Policial da ocorrência de um


fato, em tese, criminoso se dá mediante a chamada notitia criminis.
Há três formas de cognição relativas à ocorrência de um evento em tese
criminoso junto ao Delegado de Polícia, a saber:
1) Cognição Imediata – Direta – Quando o próprio Delegado de Polícia toma
ciência e descobre o acontecimento em tese criminoso;
2) Cognição Mediata – Indireta – Quando a notícia do crime chega à Autori-
dade Policial pela vítima, pelo MP ou pelo Magistrado ou qualquer do povo;
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Inquérito Policial II
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3) Cognição Coercitiva (que também é indireta) – Quando a notícia do


crime é levada ao Delegado de Polícia através da prisão em flagrante.
Diante do conhecimento do fato com indícios (justa causa) de ser criminoso,
a Autoridade Policial instaura do IPL que representa o seu início.

Atenção!
As três formas de cognição são assunto bastante cobrado em provas. Estude-
os com atenção.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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Inquérito Policial III
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INQUÉRITO POLICIAL III

Valor Probatório, Formas de Instauração, Delatio Criminis e Notitia Criminis.

Doutrina referência para a aula:

• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.


• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Fernando Costa TOURINHO FILHO – Manual de Processo Penal.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.
• Bruno CABRAL e Rafael SOUZA – Manual Prático de Polícia Judiciária.

VALOR PROBATÓRIO

A prova angariada em sede Inquérito Policial tem validade, em regra, somente


como indício, merecendo ser confirmada em juízo sob o crivo do devido processo
penal e os auspícios do contraditório e da ampla defesa.

 Obs.: no inquérito policial, como não há contraditório e ampla defesa, a prova é


produzida de maneira inquisitorial. É o Delegado de Polícia quem coorde-
na o inquérito policial, quem determina que a prova seja feita. É óbvio que
o Delegado de Polícia não está vinculado nem à tese de acusação, nem
à tese de defesa. Mas por um contexto de persecução criminal, não é
possível a participação da defesa de maneira profícua na sede de inqué-
rito, sob pena de a defesa interferir na angariação daquelas provas que
são fundamentais para se entender o esquema criminoso, principalmente
esquema criminoso organizado.

Todavia, o próprio CPP, no seu art. 155, permite que o Juiz forme sua con-
vicção também em elementos colhidos no IPL, in literis:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautela-
res, não repetíveis e antecipadas.
ANOTAÇÕES

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Inquérito Policial III
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FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

Diante da notitia criminis, dá-se a instauração do IPL, que representa o seu


início.
Em sendo a comunicação adstrita a um crime de ação penal pública incon-
dicionada, o IPL será instaurado das seguintes formas, conforme art. 5º, caput
e § 1º, CPP:

I – De Ofício: o Delegado de Polícia, tomando conhecimento da prática de uma


infração penal, determina, por sua conta e através de Portaria, a instauração do
Inquérito.
II – Mediante Requisição: a Autoridade Policial instaura o Inquérito devido a requi-
sição, requerimento lastreado em lei, do MJ, do Juiz ou do MP.
III – Mediante Requerimento: do Ofendido ou de quem tiver qualidade para repre-
sentá-lo.

 Obs.: o Delegado de polícia sempre instaura inquérito quando tem requisição?


Não, pois essa requisição pode ser ilegal. O Delegado de Polícia, por-
tanto, diante de uma ordem manifestamente ilegal, não está obrigado a
cumprir a requisição, e o caminho é devolver essa requisição à autorida-
de que requisita, demonstrando a ela a ilegalidade e representando pela
necessidade de rever aquela requisição.

Na forma do art. 5º, CPP:

Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:


I – de ofício;
II – mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a re-
querimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
§ 1º O requerimento a que se refere o n. II conterá sempre que possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de
convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impos-
sibilidade de o fazer;
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência.
ANOTAÇÕES

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Inquérito Policial III
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A Autoridade Policial em regra não pode indeferir requisição do MP ou de


Juiz para instauração de IPL.
Isso tendo em vista que a requisição é uma exigência legal.

Atenção!
Todavia, diante de uma requisição que não fornece nenhum dado que traduza
justa causa em prol da instauração de IPL, caberá à Autoridade Policial refutar
a instauração e se manifestar (oficiar) em face da autoridade requisitante
demonstrando a impossibilidade da inauguração da persecução criminal
em vista dos dados apresentados.
Este é o posicionamento, por exemplo, de TOURINHO FILHO, NUCCI e do
STF (RE 205.473-AL).

De outro lado, a Autoridade Policial poderá indeferir requerimento de instau-


ração de IPL nas seguintes hipóteses, como ensina TOURINHO FILHO:
1. Se já estiver extinta a punibilidade;
2. Se o requerimento não fornecer o mínimo indispensável para se proceder
à investigação;
3. Se a Autoridade a quem for dirigido o requerimento não for a competente;
4. Se o fato narrado for atípico;
5. Se o requerente for incapaz.

Em face de indeferimento do requerimento de instauração pode o ofendido


interpor recurso administrativo ao Chefe de Polícia (Superintendente Regio-
nal da Polícia Federal) em petição fundamentada demonstrando a eventual falta
de razão do Delegado de Polícia, cf. o art. 5º, § 2º, CPP.

Vide o que ordena o art. 5º, § 2º, CPP:

Art. 5º (...)
§ 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá re-
curso para o chefe de Polícia.
ANOTAÇÕES

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Inquérito Policial III
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Além da instauração do IPL na forma determinada pelo art. 5º, caput e § 1º,
CPP, citado anteriormente, o Inquérito Policial pode se iniciar também, nos
crimes de ação penal pública incondicionada através de:
1. Auto de Prisão em Flagrante: nos termos do art. 301 e seguintes do CPP:

Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e


colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de
entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompa-
nharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhen-
do, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o
auto.
§ 1º Resultando das respostas fundada a suspeita contra o conduzido, a autoridade
mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança,
e prosseguirá nos atos do inquérito ou processo, se para isso for competente; se
não o for, enviará os autos à autoridade que o seja.

 Obs.: não resultando das respostas, fundada a suspeita contra o conduzido, a


autoridade não mandará recolhê-lo à prisão. Ou seja, quem decide se o
cidadão é preso ou não é a autoridade policial, e não o condutor. Quem
decide pela prisão é somente o Delegado de Polícia.

2. Delatio Criminis: Nos termos do art. 5º, § 3º, CPP, quando qualquer do
povo leva à Autoridade Policial uma notitia criminis, sendo vedado o anonimato.

Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:


(...)
§ 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração
penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la
à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará
instaurar inquérito.

Em sendo a comunicação adstrita a um crime de ação penal pública condi-


cionada, o IPL será instaurado mediante:
ANOTAÇÕES

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Inquérito Policial III
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2.1. Representação do ofendido: a vítima comunica um crime e solicita pro-


vidência do Estado para punir o seu responsável.

 Obs.: essa representação não é uma peça jurídica. Basta que a vítima se apre-
sente na delegacia, e no boletim de ocorrência ela comunique que ela
quer a investigação criminal. Isso já é acolhido pelo Delegado de Polícia
como sendo a representação.

Nos termos do art. 5º, § 4º, CPP, literis:

Art. 5º
(...)
§ 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação,
não poderá sem ela ser iniciado.

Em sendo a comunicação adstrita a um crime de ação penal privada, o IPL


somente será instaurado mediante:
2.2. Requerimento de quem tiver qualidade para intentá-la, ou seja, o ofen-
dido ou quem o represente.
Nos termos do art. 5º, § 5º, CPP, in verbis:

Art. 5º (...)
§ 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a
inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.

DELATIO CRIMINIS

 Obs.: Delatio Criminis é uma espécie de notícia de crime. Ocorre quando qual-
quer do povo comunica à autoridade policial a notícia de crime.

Há a Delatio Criminis Simples, nos termos do art. 5º, § 3º, CPP, que con-
siste na faculdade a qualquer do povo de levar à Autoridade Policial uma noti-
tia criminis, sendo vedado o anonimato. E há a Delatio Criminis Postulatória,
ANOTAÇÕES

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quando, além da comunicação de um fato supostamente criminoso, há a solici-


tação de providências do Estado-investigação para punir o seu responsável. Nos
termos do art. 5º, § 4º, CPP:

Art. 5º
(...)
§ 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração
penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la
à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará
instaurar inquérito.
§ 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação,
não poderá sem ela ser iniciado.

NOTITIA CRIMINIS

A notitia criminis é o conhecimento espontâneo ou provocado, por parte do


Delegado de Polícia, de um fato aparentemente criminoso. Pode ser classifi-
cada:
1. Notitia criminis de cognição direta, imediata, espontânea ou inqualificada –
quando o Delegado de Polícia toma conhecimento direto do ilícito através de suas
atividades de rotina.
2. Notitia criminis de cognição indireta, mediata, provocada ou qualificada –
quando o Delegado de Polícia toma conhecimento do ilícito por meio de algum
ato jurídico de comunicação formal do delito.
• A notitia criminis de cognição indireta pode dar-se por:
a. Delatio criminis, CPP, art. 5º, II nos crimes de ação penal pública Incon-
dicionada.
b. Requisição do Juiz e do MP, CPP, art. 5º, II.
c. Requisição do MJ, CP, art. 7º, § 3º, b.
d. Representação do ofendido, CPP, art. 5º, § 4º.
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3. Notitia criminis de cognição coercitiva: ocorre no caso de prisão em fla-


grante.

Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e


colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de
entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompa-
nharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhen-
do, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o
auto.
§ 1º Resultando das respostas fundada a suspeita contra o conduzido, a autoridade
mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança,
e prosseguirá nos atos do inquérito ou processo, se para isso for competente; se
não o for, enviará os autos à autoridade que o seja.

Atenção!
Conforme o STF:
"(...) (a) os escritos anônimos não podem justificar, só por si, desde que
isoladamente considerados, a imediata instauração da persecutio criminis, eis
que peças apócrifas não podem ser incorporadas, formalmente, ao processo,
salvo quando tais documentos forem produzidos pelo acusado, ou, ainda,
quando constituírem, eles próprios, o corpo de delito (como sucede com bilhetes
de resgate no delito de extorsão mediante sequestro, ou como ocorre com
cartas que evidenciem a prática de crimes contra a honra, ou que corporifiquem
o delito de ameaça ou que materializem o crimen falsi, p. ex.);
(b) nada impede, contudo, que o Poder Público provocado por delação
anônima ('disque-denúncia', p. ex.), adote medidas informais destinadas a
apurar, previamente, em averiguação sumária, “com prudência e discrição”, a
possível ocorrência de eventual situação de ilicitude penal, desde que o faça
com o objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados, em
ordem a promover, então, em caso positivo, a formal instauração da persecutio
criminis, mantendo-se, assim, completa desvinculação desse procedimento
estatal em relação às peças apócrifas; e (...) (Inq 1.957, rel. min. Carlos Velloso,
voto do min. Celso de Mello, julgamento em 11-5-2005, Plenário, DJde 11-11-
ANOTAÇÕES

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Inquérito Policial III
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2005.) No mesmo sentido: HC 106.664-MC, rel. min. Celso de Mello, decisão


monocrática, julgamento em 19-5-2011, DJE de 23-5-2011; HC 99.490, rel.
min. Joaquim Barbosa, julgamento em 23-11-2010, Segunda Turma, DJEde
1º-2-2011; HC 95.244, rel. min. Dias Toffoli, julgamento em 23-3-2010, Primeira
Turma, DJE de 30-4-2010. Vide: HC 90.178, rel. min. Cezar Peluso, julgamento
em 2-2-2010, Segunda Turma, DJE de 26-3-2010.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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Inquérito Policial IV
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INQUÉRITO POLICIAL IV

Peça Inaugural e Procedimentos Investigativos

Doutrina referência para a aula:

• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.


• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE – Código de Processo Penal para Con-
cursos.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.
• Bruno CABRAL e Rafael SOUZA – Manual Prático de Polícia Judiciária.

PEÇA INAUGURAL DO INQUÉRITO POLICIAL

 Obs.: como o inquérito policial é um procedimento formal, ele é sempre autuado


em procedimento. Autuar significa colocar em autos. E o que inicia esse
inquérito policial instaurado é uma peça jurídica do Delegado de Polícia.
Essa peça jurídica que inaugura inquérito é, portanto, a peça inaugural
do inquérito policial.

Em regra, a peça inaugural do Inquérito Policial será a Portaria da Auto-


ridade Policial em que se registra a notitia criminis, dando início à persecução
criminal.
Em havendo flagrante delito, a peça inaugural será o Auto de Prisão em Fla-
grante.

 Obs.: a portaria é uma peça administrativa da polícia judiciária que é levada a


termo pelo Delegado de Polícia.

 Obs.: na Portaria, não há flagrância; e no Auto de Prisão em Flagrante, há fla-


grância.
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Inquérito Policial IV
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Atenção!
Tratando-se de infração penal de menor potencial ofensivo, não haverá
necessidade de instauração de Inquérito Policial.
Nesses casos, o Delegado de Polícia lavrará um Termo Circunstanciado (TC),
também denominado pela doutrina de Termo Circunstanciado de Ocorrência
(TCO), nos termos da Lei n. 9.099/1995, ex vi art. 69.

 Obs.: essa regra serve apenas para flagrante.

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará ter-
mo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do
fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.

PROCEDIMENTOS (DILIGÊNCIAS) INVESTIGATIVOS

 Obs.: o inquérito policial não é como um processo, em que estão mapeados


todos os atos processuais que devem ser observados. No processo penal,
os atos processuais são regulamentados no detalhe pelo legislador pro-
cessual penal. Na investigação criminal, notadamente no inquérito poli-
cial, isso não ocorre, pois a investigação criminal é muito dinâmica. Ela
é conduzida através de diligências investigativas. E a complexidade do
crime e da investigação é que ditará o ritmo e a intensidade de diligências
investigativas.

O CPP traz, nos art. 6º e 7º, um programa (procedimentos) que a Autoridade


Policial deve levar a termo em face da comunicação de crimes que deixem ves-
tígios (delicta factis permanentis).
ANOTAÇÕES

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Inquérito Policial IV
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Deve (Poder-Dever) o Delegado de Polícia diante de tal estado de coisas:


1. Dirigir-se ao local da prática delituosa para constatação in loco do ocor-
rido, determinando a preservação do local de crime em prol de futura perícia.
2. Determinar a arrecadação e apreensão dos instrumentos do crime e de
objetos relacionados à prática da infração penal (todos aqueles que são úteis ao
estabelecimento da verdade material), que se encontram no próprio locus delicti,
após a liberação pelos peritos.

Atenção!
Se houver necessidade de busca domiciliar, será imperiosa ordem judicial para
tanto, ex vi art. 5º, XI, CF, por tratar-se de cláusula de reserva jurisdicional.

3. Promover a entrevista de pessoas que sabem dizer sobre a ação criminosa


perpetrada, bem como levar a efeito a oitiva de testemunhas do fato delituoso.

 Obs.: entrevistar pessoas que saibam falar sobre o crime é diferente de fazer a
oitiva. A entrevista é feita, em regra, pelos agentes de polícia. Os agen-
tes vão a campo fazer diligências, identificam pessoas que interessam
à elucidação do crime, e fazem a entrevista sem fazer a assentada de
audiência, pois quem faz a audiência é o delegado. Dessas entrevistas,
o delegado de polícia as lê, analisa, e identifica quem sabe falar sobre o
crime. Após isso ele formaliza os termos de depoimento das testemunhas.
Portanto, a oitiva de testemunha é em sede de termo de depoimento. A
entrevista é feita em campo – os agentes entrevistam as pessoas, tomam
nota, fazem um relatório, e enviam para o delegado. O delegado analisa
e ali ele vai escolher, por exemplo, das pessoas entrevistadas as que têm
melhor condição de falar sobre o evento criminoso, sobre a investigação.
ANOTAÇÕES

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4. Promover a oitiva da eventual vítima imediata da ação criminosa, tendo


em vista ser essa pessoa quem, em tese, pode melhor versar sobre o delito sob
investigação.

 Obs.: a vítima não presta depoimento, ela presta declarações, pois ela não é
testemunha, ela não pode ser compromissada em dizer a verdade.

5. Promover a oitiva dos suspeitos da prática delituosa e, em havendo ele-


mentos probatórios necessários, promover o devido indiciamento do investigado.

Atenção!
Indiciado é a pessoa eleita pelo Estado-Investigação, através de ato privativo
e fundamentando do Delegado de Polícia, como sendo autora da infração
penal sob investigação, vide art. 2º, § 6º, Lei n. 12.830/2013:

§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamenta-


do, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materia-
lidade e suas circunstâncias.

O indiciamento é sempre fundamentado com lastro em elementos probatórios


constantes nos autos de Inquérito e constituindo juízo de valor sobre a autoria
delitual.

6. Promover o reconhecimento de pessoas e coisas.


7. Promover, quando imprescindível, acareações entre testemunhas, entre
indiciados, entre ofendidos, entre indiciados e testemunhas, entre indiciado ou
testemunha e a pessoa ofendida todas as vezes que divergirem em suas decla-
rações sobre fatos ou circunstâncias relevantes. Tudo de acordo com os termos
do art. 229, CPP.
8. Determinar que se realizem os exames periciais necessários para o esta-
belecimento da materialidade delitual, como os exames de corpo de delito engen-
drados em relação ao conjunto de vestígios materiais deixados pelo crime.
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9. Promover a identificação do indiciado, observando o que prescreve a


Constituição Federal no art. 5º, LVIII, e a Lei n. 12.037/2009.
10. Angariar dados que traduzam a personalidade do indiciado (vida pre-
gressa), evidenciando-lhe aspectos de caráter e temperamento.
11. Promover a reprodução simulada dos fatos criminosos (reconstituição
do crime) sob investigação, com o escopo de se verificar como aconteceu a dinâ-
mica criminosa em prol da melhor formação da convicção sobre a infração penal
sob escrutínio.

Atenção!
12. Colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se
possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável
pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.
• Conforme o novo Inciso X do art. 7º, CPP, incluído pela Lei n. 13.257/2016.
• Tudo de acordo com o arts. 6º e 7º, CPP:

Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade po-
licial deverá:
I – dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conserva-
ção das coisas, até a chegada dos peritos criminais;
II – apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos pe-
ritos criminais;
III – colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas cir-
cunstâncias;
IV – ouvir o ofendido;
V – ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capí-
tulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas
testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
VI – proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII – determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quais-
quer outras perícias;
VIII – ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível,
e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
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Inquérito Policial IV
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IX – averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar


e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do
crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a aprecia-
ção do seu temperamento e caráter.
X – colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se pos-
suem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cui-
dados dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído pela Lei n. 13.257/2016)
Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determi-
nado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos,
desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública.

Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo
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INQUÉRITO POLICIAL V

Formalismo do IPL, Prazos, Indiciamento, Conclusão do IPL

Doutrina referência para a aula:

• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.


• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE – Código de Processo Penal para Con-
cursos.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.
• Bruno CABRAL e Rafael SOUZA – Manual Prático de Polícia Judiciária.

FORMALISMO DO INQUÉRITO POLICIAL

O CPP, ex vi art. 9º, exige que o IPL seja um procedimento formal e burocra-
tizado, com coleção nos autos, seja por autuação, seja por juntada, dos docu-
mentos que traduzem os elementos probatórios angariados pela investigação.

Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas


a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.

PRAZOS

O IPL, conforme a regra geral do CPP, deverá ser concluído em 10 (dez) dias
quando há indiciado preso cautelarmente.

Atenção!
Este prazo é de matiz processual penal material, pois relaciona-se com o direito
à liberdade.
Assim, deve ser contado na forma do art. 10 do CP, incluindo-se o primeiro dia
(data da prisão) e excluindo o dia final.
ANOTAÇÕES

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De outro lado, o Inquérito Policial, também como regra geral do CPP, será
encerrado em 30 (trinta) dias em caso de investigado ou indiciado solto. Esse
prazo é prorrogável. Vide art. 10, caput, CPP.

O pulo do gato
Em questões de prova, a regra do CPP é de que quem determina a prorrogação
do prazo é o juiz. Se for na esfera do inquérito policial federal, o candidato deve
fazer menção ao Conselho da Justiça Federal, que entende que é o MP que
faz esse controle de prorrogação do prazo de inquérito policial.

Na Esfera Federal, (cf. Lei n. 5.010/1966), o Delegado de Polícia Federal


possui 15 (quinze) dias para concluir as investigações se o indiciado estiver
preso e 30 (trinta) quando solto. Na “Lei de Drogas”, nos termos do art. 51 da
Lei n. 11.343/2006, o prazo é de 30 (trinta) dias se o indiciado estiver preso e 90
(noventa) se estiver solto.
Tais prazos podem ser duplicados. O prazo do IPL com investigado solto
pode ser prorrogado pelo juiz.
Nos Crimes Contra a Economia Popular, nos termos da Lei n. 1.521/1951,
o prazo para conclusão do IPL é sempre de 10 (dez) dias.
O prazo do IPL pode ser prorrogado quando o investigado estiver solto.

Atenção!
Entende o STF:
O prazo de que trata o art. 10, caput, do CPP, é impróprio, não prevendo a lei
qualquer consequência processual, máxime a preclusão, se a conclusão do
inquérito ocorrer após trinta dias de sua instauração, estando solto o réu. O
tempo despendido para a conclusão do inquérito assume relevância para o fim
de caracterizar constrangimento ilegal, apenas se o paciente estiver preso no
curso das investigações ou se o prazo prescricional tiver sido alcançado nesse
interregno e, ainda assim, continuarem as investigações. (HC 107.382, rel. min.
Cármen Lúcia, julgamento em 26-4-2011, Primeira Turma, DJE de 17-5-2011.)
ANOTAÇÕES

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Inquérito Policial V
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Indiciado Solto Indiciado Preso


30 dias 10 dias
Regra geral: art. 10, CPP
Prorrogável. Improrrogável.
IPL na Polícia Federal 30 dias 15 dias
Art. 66, Lei n. 5.010/1966 Prorrogável. Prorrogável uma vez.
IPL na Lei de Drogas 90 dias Duplicável
30 dias Duplicável.
Art. 51, Lei n. 11.343/2006 Prorrogável.
IPL na Lei dos Crimes contra a
10 dias 10 dias
Economia Popular Art. 10, 1º, Lei n.
Prorrogável. Improrrogável.
1.521/1951

INDICIAMENTO

O indiciamento é ato exclusivo do Delegado de Polícia, que é a Autoridade


Policial nos termos do art. 2º, § 6º, da Lei n. 12.830/2013:

§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamenta-


do, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materia-
lidade e suas circunstâncias.

O indiciamento é ato fundamentado e motivado do Delegado de Polícia


que exprime a sua convicção de que em face de determinado indivíduo sob
investigação (indiciado) há colecionados nos autos do Inquérito Policial elemen-
tos probatórios aptos à comprovação da materialidade, das circunstâncias e da
autoria do fato, em princípio, criminoso sob apuração policial.

Atenção!
Entende o STF:
Sendo o ato de indiciamento de atribuição exclusiva da autoridade policial, não
existe fundamento jurídico que autorize o magistrado, após receber a denúncia,
requisitar ao delegado de polícia o indiciamento de determinada pessoa. A rigor,
requisição dessa natureza é incompatível com o sistema acusatório, que impõe
a separação orgânica das funções concernentes à persecução penal, de modo
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Inquérito Policial V
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a impedir que o juiz adote qualquer postura inerente à função investigatória.


Doutrina. Lei n. 12.830/2013. HC 115.015, Rel. Min. Teori Zavascki, julgamento
em 27-8-2013, Segunda Turma, DJE de 12-9-2013.

 Obs.: não é possível indiciamento por requisição. O indiciamento é feito através


da formação de convicção do Delegado, e jamais por requisição. Tudo
isso com forte lastro na Lei n. 12.830/2013.

Atenção!
Entende o STF:
A unilateralidade das investigações preparatórias da ação penal não autoriza
a Polícia Judiciária a desrespeitar as garantias jurídicas que assistem ao
indiciado, que não mais pode ser considerado mero objeto de investigações.
O indiciado é sujeito de direitos e dispõe de garantias, legais e constitucionais,
cuja inobservância, pelos agentes do Estado, além de eventualmente induzir-
lhes a responsabilidade penal por abuso de poder, pode gerar a absoluta
desvalia das provas ilicitamente obtidas no curso da investigação policial.
(...) (HC 73.271, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 19-3-1996, Primeira
Turma, DJ de 4-10-1996.)

CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

Concluída todas as diligências, terminado, enfim, o IPL, deverá o Delegado


de Polícia engendrar Relatório, nos próprios autos de tudo quanto houver apu-
rado nas investigações.

 Obs.: o relatório, portanto, é a peça conclusiva, é aquele que exprime as conclu-


sões sobre a investigação.
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Inquérito Policial V
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Vide art. 10, §§ 1º e 2º, CPP:

Art. 10 (…)
§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos
ao juiz competente.
§ 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido
inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas.

O Relatório há de trazer em seu bojo, entre outros pontos:


1. Escorço histórico dos fatos sob investigação;
2. O rol das diligências investigativas levadas a efeito que foram mais rele-
vantes;
3. A indicação do autor do crime e os elementos de evidência que susten-
tam essa indicação;
4. A materialidade delitual, dados da realidade que demonstram a existên-
cia do crime, e os elementos de evidência que dão lastro à existência do crime;
5. As circunstâncias que tocam o crime.
6. A capitulação, mesmo que provisória para o titular da ação penal, do delito
ou delitos sob investigação.

Persistindo a necessidade de realização de diligências investigativas em prol


do estabelecimento da verdade material em sede de Inquérito Policial, o Dele-
gado de Polícia solicitará ao juiz prazo para realização dessas diligências impres-
cindíveis ao deslinde do caso.
Nos termos do art. 10, § 3º, CPP.

Art. 10 (...)
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade
poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que se-
rão realizadas no prazo marcado pelo juiz.
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Concluído de forma definitiva o IPL, elaborado o Relatório, o Delegado de


Polícia determinará a sua remessa, juntamente com os instrumentos do crime e
outros objetos por acaso apreendidos e que interessarem à prova, ao Juiz com-
petente. Vide art. 11, CPP.

Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova,
acompanharão os autos do inquérito.

Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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Inquérito Policial VI
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INQUÉRITO POLICIAL VI

Dispensabilidade, Polícia Judiciária como órgão Auxiliar da Justiça, Requeri-


mento de Diligências, Medidas de Repressão ao Trafico de Pessoas.

Doutrina referência para a aula:

• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.


• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE – Código de Processo Penal para Con-
cursos.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.
• Bruno CABRAL e Rafael SOUZA – Manual Prático de Polícia Judiciária

DISPENSABILIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL

É possível dispensar o Inquérito Policial para subsidiar a Ação Penal.


Embora essa seja uma exceção. A regra é a AP se fundar no esforço investiga-
tivo do IPL.
Há hipóteses em que o IPL deixa de ser feito em face da realização de outros
apuratórios como sindicâncias, processos administrativos, inquéritos mili-
tares (IPM). Vide art. 12:

Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir
de base a uma ou outra.

POLÍCIA JUDICIÁRIA COMO ÓRGÃO AUXILIAR DA JUSTIÇA

 Obs.: a Polícia Judiciária, além de atuar em sede de inquérito promovendo as


investigações criminais, também atua ajudando o Poder Judiciário e o
Ministério Público a cumprir medida de seu interesse institucional. Pois
não basta o juiz, por exemplo, determinar a realização de alguma diligên-
cia se não tiver um órgão do Estado que, com o monopólio da força, faça
imperar a lei.
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Inquérito Policial VI
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No desenvolvimento do Inquérito Policial, a Polícia Judiciária não age exclusi-


vamente no interesse do Estado-Administração, sustentando a segurança cole-
tiva, mas, ao contrário, atua no auxílio do Poder Judiciário e também do MP,
para colher subsídios para eventual ação penal futura.
Ex vi art. 13, CPP:

Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial:


I – fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e
julgamento dos processos;
II – realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;
III – cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias;
IV – representar acerca da prisão preventiva.

MEDIDAS DE REPRESSÃO AO TRÁFICO DE PESSOAS

Inovações da Lei n. 13.344/2016.


Como forma de prover mais eficiência e eficácia à repressão ao tráfico de
pessoas, o legislador introduziu no IPL ferramentas de investigação (repressão
criminal) hábeis a ensejar com maior celeridade na localização de vítimas e dos
suspeitos do delito.
Entre essas medidas veio à lume o controle judicial a posteriori em face de
implementação de medidas investigativas alcançadas por reserva jurisdicional.
Ex vi art. 13-A e 13-B, CPP, trazidos pela Lei n. 13.344/2016.

Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e no
art. 159 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no
art. 239 da Lei n 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adoles-
cente), o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar,
de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados
e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos.
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro)
horas, conterá:
I – o nome da autoridade requisitante;
II – o número do inquérito policial; e
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Inquérito Policial VI
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III – a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação.


Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao
tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia po-
derão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de
serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os
meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam
a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso.
§ 1º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de
cobertura, setorização e intensidade de radiofrequência.
§ 2º Na hipótese de que trata o caput, o sinal:
I – não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza, que
dependerá de autorização judicial, conforme disposto em lei;
II – deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período não
superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual período;
III – para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será necessária a
apresentação de ordem judicial.
§ 3º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser instaurado
no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do registro da respectiva
ocorrência policial.
§ 4º Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a autoridade
competente requisitará às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações
e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados –
como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos
suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz.

 Obs.: para elucidar o crime, o legislador autoriza que o direito à intimidade seja
afastado, através de requisição do Delegado ou requisição do MP aberta-
mente, sem necessidade de intervenção judicial.

 Obs.: 72 horas é diferente de três dias. Quando o prazo processual penal é con-
tado em horas, ele é contado de hora a hora.
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Inquérito Policial VI
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Requerimento de Diligências em sede de Inquérito Policial

A vítima, pessoalmente ou através de seu representante legal, bem como o


indiciado (a pessoa oficialmente apontada como suspeita pela prática do crime)
podem requerer ao Delegado de Polícia a realização de diligências investigativas.
Tal pleito pode ser deferido ou indeferido a juízo do Delegado de Polícia,
tendo em vista a ausência de contraditório e ampla defesa em sede de IP. Vide
art. 14, CPP.

Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer


qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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Inquérito Policial VII
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INQUÉRITO POLICIAL VII

Direito de Defesa, Devolução ao Delegado, Arquivamento, Prosseguimento


das Investigações.

Doutrina referência para a aula:

• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.


• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE – Código de Processo Penal para Con-
cursos.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.
• Bruno CABRAL e Rafael SOUZA – Manual Prático de Polícia Judiciária.

DIREITO DE DEFESA EM SEDE DE INQUÉRITO POLICIAL

Conforme o mandamento da Súmula Vinculante 14 do STF.

É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elemen-


tos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por
órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito
de defesa.

 Obs.: prova já documentada é a prova que já está nos autos principais do inqué-
rito. Ou seja, nesse cenário, a diligência policial, que é a diligência de
busca da prova, está concluída.

DEVOLUÇÃO DO INQUÉRITO AO DELEGADO DE POLÍCIA

Trata-se de hipótese excepcional e indispensável ao oferecimento da


denúncia (formação da opinio delicti) quando as investigações forem encerra-
das pelo Delegado de Polícia, que remete os autos ao fórum acompanhado de
seu Relatório. Vide art. 16, CPP.
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Inquérito Policial VII
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Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à auto-
ridade policial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da
denúncia.

 Obs.: se a diligência não é imprescindível, não deve haver devolução do inqué-


rito policial.

ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

O MP tem a prerrogativa legal de requerer o arquivamento do IPL, dando por


encerradas as possibilidades de investigação.
O órgão jurisdicional é quem manda arquivar os autos do IPL. Conforme o
que se extrai do art. 28, CPP.

Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, re-


querer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação,
o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa
do inquérito ou peças de informação ao Procurador Geral, e este oferecerá a de-
núncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no
pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

De outra margem, a Autoridade Policial pode se manifestar em sede de


Relatório (em face do exaurimento dos esforços investigativos sem êxito quanto
ao estabelecimento da autoria e materialidade delituais, ou pela ausência de
justa causa para o IP, v.g., ascensão da prescrição pretensão punitiva) em prol
do arquivamento do IPL, e o Parquet, se for o caso, poderá requerer à Autori-
dade Judicial o arquivamento do IP. Vide art. 17, CPP.

Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.
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Inquérito Policial VII
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Atenção!
Arquivamento requerido pelo MPF sob o argumento de que a conduta
investigada é atípica. Na hipótese de existência de pronunciamento do chefe
do MPF pelo arquivamento do inquérito, tem-se, em princípio, um juízo negativo
acerca da necessidade de apuração da prática delitiva exercida pelo órgão que,
de modo legítimo e exclusivo, detém a opinio delicti a partir da qual é possível,
ou não, instrumentalizar a persecução criminal. Precedentes do STF. Apenas
nas hipóteses de atipicidade da conduta e extinção da punibilidade poderá
o Tribunal analisar o mérito das alegações trazidas pelo procurador-geral da
República. (...) Pet 3.927, rel. min. Gilmar Mendes, julgamento em 12-6-2008,
Plenário, DJ de 17-10-2008.) Vide: Pet 2.509-AgR, rel. min. Celso de Mello,
julgamento em 18-2-2004, Plenário, DJ de 25-6-2004; Inq 1.604-QO, rel. min.
Sepúlveda Pertence, julgamento em 13-11-2002, Plenário, DJ de 13-12-2002.

Atenção!
A decisão que determina o arquivamento de inquérito policial, a pedido do
Ministério Público e determinada por juiz competente, que reconhece que o
fato apurado está coberto por excludente de ilicitude, não afasta a ocorrência
de crime quando surgirem novas provas, suficientes para justificar o
desarquivamento do inquérito, como autoriza a Súmula 524/STF. HC 95.211,
rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 10-3-2009, Primeira Turma, DJE de
22-8-2011.

Obs.: se existe arquivamento por causa de excludente de ilicitude, mas depois


surgem novas provas que afastam essa excludente, pode haver desar-
quivamento, e portanto o inquérito policial pode ser reaberto. Ou seja,
essa decisão de arquivamento não gera coisa julgada material.
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Inquérito Policial VII
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Atenção!
Inquérito policial: arquivamento com base na atipicidade do fato: eficácia de coisa
julgada material. A decisão que determina o arquivamento do inquérito policial,
quando fundado o pedido do Ministério Público em que o fato nele apurado não
constitui crime, mais que preclusão, produz coisa julgada material, que – ainda
quando emanada a decisão de juiz absolutamente incompetente –, impede a
instauração de processo que tenha por objeto o mesmo episódio. (...) HC 83.346,
rel. min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 17-5-2005, Primeira Turma, DJde
19-8-2005. No mesmo sentido: Inq 2.934, rel. min. Dias Toffoli, julgamento em
25-11-2011, Plenário, DJE de 22-2-2011; Inq 2.607-QO, rel. min. Cármen Lúcia,
julgamento em 26-6-2008, Plenário, DJE de 12-9-2008; Pet 4.420, rel. min. Cezar
Peluso, julgamento em 19-12-2008, Plenário, DJE de 13-2-2009.

Atenção!
Inquérito Policial e Arquivamento Implícito. I. Alegação de ocorrência de
arquivamento implícito do inquérito policial, pois o MP estadual, apesar de já
possuir elementos suficientes para a acusação, deixou de incluir o paciente
na primeira denúncia, oferecida contra outros sete policiais civis. II. (...), o
fato é que não existe, em nosso ordenamento jurídico-processual, qualquer
dispositivo legal que preveja a figura do arquivamento implícito, devendo ser
o pedido formulado expressamente, a teor do disposto no art. 23 do CPP. III.
Incidência do postulado da indisponibilidade da ação penal pública que decorre
do elevado valor dos bens jurídicos que ela tutela. HC 104356, rel. min. Ricardo
Lewandowski, julgamento em 19/10/10, Primeira Turma.

PROSSEGUIMENTO DAS INVESTIGAÇÕES, APÓS O ENCERRAMENTO DO INQUÉ-


RITO POLICIAL

Para reavivar o IP, há de haver provas substancialmente novas, ex vi Súmula


524 do STF:

Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de


justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.
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Inquérito Policial VII
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 Obs.: se não há novas provas, não há reabertura do inquérito policial. Deve


existir o chamado fato novo que justifique a reabertura do inquérito.

Se houver arquivamento com fundamento na atipicidade da conduta sob


escrutínio, é possível gerar coisa julgada material da decisão que manda arqui-
var o IP. Vide art. 18, CPP:

Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária,


por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas
pesquisas, se de outras provas tiver notícia.

 Obs.: outras provas são as chamadas provas novas ou fatos novos, que são
fatos que surgem depois de encerrado o inquérito. Ex.: supondo que foi
instaurado inquérito policial para investigar um homicídio e as pessoas
ficaram com medo de testemunhar. Por essa razão, o Delegado de Polícia
acaba sugerindo o arquivamento, o Ministério Público concorda, requer e
o juiz decide pelo arquivamento. Passados um ou dois anos, o autor do
fato está preso, e a vítima, sabendo da prisão do criminoso, se sente
mais segura para prestar o depoimento. A vítima então procura a polícia
e afirma que presenciou e filmou o homicídio, e mostra a filmagem. Essa
nova prova será hábil para que haja a reabertura do inquérito para novas
diligências, tendo em vista que houve um evento a posteriori ao próprio
arquivamento do inquérito, que trouxe vida a esse inquérito, que demanda
reabertura. Assim, pode haver a reabertura das investigações criminais.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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Ação Penal
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AÇÃO PENAL

DIREITO DE AÇÃO PENAL, CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE AÇÃO PENAL,


CONCEITO DE AÇÃO PENAL, ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL, CRITÉRIO IDENTIFICA-
DOR E LEGITIMIDADE ATIVA CONCORRENTE

Doutrina referência para esta aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado;
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado;
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal;
• Renato BRASILEIRO de Lima – Manual de Processo Penal.

DO DIREITO DE AÇÃO PENAL

Em verdade, o direito de ação tem base na Lex Excelsa no seu art. 5º,
XXXV, que ordena:

Art. 5º, XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ame-
aça do direito.

Dessa forma, esse dispositivo constitucional garante o direito de pedir ao


Estado-Juiz a prestação jurisdicional mediante a aplicação do direito (penal
objetivo) a um caso concreto.

Como ensina NUCCI:

Do crime nasce a pretensão punitiva estatal, mas não o direito de ação, que
preexiste à prática da infração penal, aliás, como direito constitucional (art. 5º,
XXXV, CF).

Como no dizer de TÁVORA:

É o direito público subjetivo de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito pe-


nal objetivo ao caso concreto.
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Ação Penal
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CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE AÇÃO PENAL

Conforme BRASILEIRO, as principais características do direito de ação penal


são:

a) direito público: a atividade jurisdicional que se pretende provocar é de natureza


pública. Daí se dizer que a ação penal é um direito público;
b) direito subjetivo: o titular do direito de ação penal pode exigir do Estado-Juiz a
prestação jurisdicional, relacionada a um caso concreto;
c) direito autônomo: o direito de ação penal não se confunde com o direito mate-
rial que se pretende tutelar;
d) direito abstrato: o direito de ação existe e será exercido mesmo nas hipóteses
em que o juiz julgar improcedente o pedido de condenação do acusado. Ou seja,
o direito de ação independe da procedência ou improcedência da pretensão acu-
satória;
e) direito determinado: o direito de ação é instrumentalmente conexo a um fato
concreto, já que pretende solucionar uma pretensão de direito material;

Atenção!
Não existe um direito de ação exercido sem que haja uma vinculação a um fato
concreto. No direito penal, por exemplo, um fato concreto é a prática de um
crime.

f) direito específico: o direito de ação penal apresenta um conteúdo, que é o ob-


jeto da imputação, ou seja, é o fato delituoso cuja prática é atribuída ao acusado.

CONCEITO DE AÇÃO PENAL

A ação penal é fase da persecução criminal na qual se busca a satisfação


da pretensão punitiva, em contraditório e com controle judicial, em face de um
acusado que, por via de consequência, leva a termo o seu direito de ampla
defesa em suporte à sua liberdade ambulatória.
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Ação Penal
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De acordo com os ensinamentos de NUCCI:

É o direito do Estado-Acusação ou da vítima de ingressar em juízo, solicitando


a prestação jurisdicional, representada pela aplicação das normas de direito pe-
nal ao caso concreto.

Por via de consequência, a possibilidade da satisfação da pretensão punitiva


só será viável com o devido processo legal.
Assim, garantindo-se o exercício do direito da ação (acusação), seja pelo
MP, seja pelo querelante, também se garante, na mesma medida, o direito ao
contraditório e à ampla defesa.

Atenção!
Só haverá ação penal se houver o devido processo legal. É importante lembrar
dos princípios orientadores do processo penal, principalmente pelo princípio
regente da dignidade humana e do devido processo. Sem eles, não há
viabilidade processual das pretensões aduzidas em juízo.

ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL

Há duas espécies de ação penal – Summa Diviso – sob a perspectiva da


legitimação ativa:
1) Pública – quando o autor é o MP, que se subdivide em 1.1) Pública Incon-
dicionada: quando o MP age de ofício, sem a requisição ou a representação de
quem quer que seja; 1.2) Pública Condicionada: quando o MP somente está
autorizado a agir, em caso de haver representação da vítima ou requisição do
Ministro da Justiça (vide art. 24, CPP).

Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Mi-
nistério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro
da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para
representá-lo.
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Importante:
Não há rigor formal para o oferecimento da representação. Ela pode ser
apresentada oralmente ou por escrito tanto na Delegacia de Polícia, perante o
delegado de polícia, quanto perante o juiz ou MP.
O relevante é que a vítima, ou seu representante legal, revele o interesse
claro e inequívoco de ver o autor do fato investigado ou acionado judicialmente
(vide o art. 39, CPP):

Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por


procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao
juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial.

A representação pode ser retratada enquanto não oferecida a denúncia.


O limite para a retratação da representação é o do oferecimento da exordial
acusatória pelo MP.
Uma vez oferecida a denúncia, a representação torna-se irretratável (vide o
art. 25 do CPP):

Art. 25. A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia

2) Privada – quando o autor é a vítima ou o seu representante legal. A ação


penal privada também pode ser 2.1) Subsidiária da Pública (cf. art. 29, CPP):
quando o direito de agir transfere-se ao particular em face do MP, que se queda
inerte diante do seu mister. Nesse último caso, a AP inicia-se por Queixa e é tra-
tada como privada (Vide art. 30, CPP):

Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la
e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer
elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do
querelante, retomar a ação como parte principal.
Art. 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo caberá inten-
tar a ação privada.
ANOTAÇÕES

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Ação Penal
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Importante:
São entendimentos sumulares do STF sobre essa matéria:
• Súmula n. 608 – No crime de estupro, praticado mediante violência real, a
ação penal é pública incondicionada;
• Súmula n. 609 – É pública incondicionada a ação penal por crime de sone-
gação fiscal.

O STF, no bojo da ADIN 4424 em face da Lei Maria da Penha, já decidiu:

O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou procedente a ação
direta para, dando interpretação conforme aos artigos 12, inciso I, e 16, ambos da
Lei n. 11.340/2006, assentar a natureza incondicionada da ação penal em caso
de crime de lesão, pouco importando a extensão desta, praticado contra a
mulher no ambiente doméstico.

CRITÉRIO IDENTIFICADOR DA AÇÃO PÚBLICA OU PRIVADA

Tal critério é legal e ascende do CP no seu art. 100.


Quando a lei silencia, presume-se ser a ação penal pública incondicio-
nada.

Art. 100. A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara pri-
vativa do ofendido.

No caso das AP de iniciativa privada e pública condicionada, há de haver


menção expressa da lei nesse sentido.

§ 1º A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei


o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça.
§ 2º A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de
quem tenha qualidade para representá-lo.
ANOTAÇÕES

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Ação Penal
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LEGITIMIDADE ATIVA CONCORRENTE

Em regra, a AP pode ser Pública (incondicionada ou condicionada) ou pri-


vada, sendo que uma exclui a outra.
Todavia, essa divisão comporta exceções:
A primeira exceção vem do que prescreve o art. 29, CPP:

Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não
for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa,
repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do pro-
cesso, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de
negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.

A segunda é a possibilidade de o funcionário público – ofendido em sua


honra no exercício da função –, que deveria sempre, quando desejasse ver
processado o ofensor, representar ao MP para que este promova a AP pública,
(cf. o art. 145, parágrafo único, CP):

Art. 145. Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante quei-
xa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso
do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofen-
dido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do art. 140
deste Código.

Atenção!
Segundo o § 3º do art. 140 do Código Penal, a vítima é o funcionário público
no exercício da função.

O STF em sede sumular tem o seguinte entendimento sobre essa última


exceção (Súmula 714):
ANOTAÇÕES

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Ação Penal
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É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministé-


rio Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por
crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas fun-
ções.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.

ANOTAÇÕES

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Ação Penal II
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AÇÃO PENAL II

INÍCIO DA AÇÃO PENAL, FUNDAMENTAÇÃO PARA O RECEBIMENTO DA DENÚN-


CIA OU QUEIXA, RECEBIMENTO FUNDAMENTADO DA DENÚNCIA OU QUEIXA

Doutrina referência para esta aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado;
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado;
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal;
• Renato BRASILEIRO de Lima – Manual de Processo Penal.

INÍCIO DA AÇÃO PENAL

Dá-se pelo oferecimento da denúncia ou da queixa, independentemente


do recebimento pelo Estado-Juiz, vide o que prescreve o art. 24, CPP:

Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Mi-
nistério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da
Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para repre-
sentá-lo.

Por outro lado, o juiz, ao receber a denúncia ou queixa, leva a termo o reco-
nhecimento da regularidade do exercício do direito de ação, podendo-se,
então, promover a consecução da busca de uma decisão de mérito através do
devido processo legal.
Ao rejeitar a peça exordial da AP, o Estado-Juiz também responde ao
direito de ação da parte, prestando satisfação e aplicando o direito, exercendo
a jurisdição.
Há ainda de se lançar luzes sobre o início da ação penal privada que inter-
rompe o prazo de decadência, viabilizando o desenvolvimento do jus perse-
quendi do querelante, no bojo da ação penal privada.
ANOTAÇÕES

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Ação Penal II
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O juiz, ao receber a peça exordial (cf. NUCCI), promove o entendimento de


que esta “encontra-se em termos para estabelecer a relação processual
completa, chamando-se o réu a juízo para comparecer ao processo” e exercer,
por via de consequência, o seu direito de defesa.

Atenção!
O início da ação penal se dá com o oferecimento da peça acusatória, seja
ela denúncia ou queixa-crime. O aperfeiçoamento dessa relação processual
ocorrerá quando o juiz admite a exordial e determina o chamamento ao
processo do réu através de citação válida.

FUNDAMENTAÇÃO PARA O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA OU QUEIXA

Conforme o escólio de AVENA:

O recebimento da denúncia ou da queixa-crime possui natureza de decisão inter-


locutória simples. Trata-se de decisão irrecorrível, em que pese, na esteira de
consolidada jurisprudência, possa ser impugnada por meio de habeas corpus,
se o crime imputado for punido com pena de prisão, e por meio de mandado de
segurança ou correição parcial, caso se trate de infração não sujeita a pena pri-
vativa de liberdade (...), conforme se extrai da Súmula 693 do Supremo Tribunal
Federal.

Ainda acentua AVENA:

A despeito da previsão constitucional incorporada ao art. 93, IX, da CF, exigindo


a fundamentação das decisões judiciais, a jurisprudência dominante dispensa
motivação no despacho de recebimento da denúncia, eis que não vislumbra
carga decisória nessa manifestação.

Importante:
Vide o entendimento jurisprudencial consolidado no ordenamento jurídico
pátrio:
ANOTAÇÕES

2
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Ação Penal II
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A decisão de recebimento da denúncia, como regra geral, não carece ser mo-
tivada, pois o magistrado, com o recebimento, revela, em razão do inserto da de-
núncia e contido nos elementos geradores da opinio delicti ministerial, presente o
fumus autorizador da imputação, vide HC 1899.316-3/3 TJSP.

Atenção!
Conforme jurisprudência acima, essa decisão judicial possui um conteúdo
decisório que não precisa ser manifestado expressamente, pois basta a
aceitação da peça exordial.

Também conforme AVENA:

Nesse sentido, com frequência, tem decidido os Tribunais que "a falta do recebi-
mento da denúncia de forma expressa não tem o condão de macular o pro-
cesso" quando "os demais atos processuais representam o recebimento táci-
to da exordial". Nesse caso, considera-se que a interrupção da prescrição, que
deveria ocorrer com o recebimento da denúncia (art. 117, I, do CP), é considerada
ocorrente na data do primeiro ato processual que supõe prévio recebimento
da peça (...).

RECEBIMENTO FUNDAMENTADO DA DENÚNCIA OU QUEIXA

Há, todavia, exceções que demandam a fundamentação do Estado-Juiz


em relação ao recebimento da peça acusatória, a saber:

Atenção!
Em regra, o juiz não precisa fundamentar a decisão que recepciona a exordial
acusatória, mas existem, portanto, exceções que demandam do órgão judicial
fundamentação para recebimento da peça acusatória.
ANOTAÇÕES

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Ação Penal II
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1) Crimes para os quais o procedimento prevê a apresentação de defesa


preliminar, pelo denunciado, antes do recebimento da denúncia, exemplo do
art. 514, CPP, quando há processo e julgamento dos crimes de responsabili-
dade dos funcionários públicos:

Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma,
o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para responder por
escrito, dentro do prazo de quinze dias.

2) Crimes de competência originária dos tribunais superiores, estaduais


e regionais, conforme, por exemplo, o art. 6º, Lei n. 8.038/1990:

Art. 6º A seguir, o relator pedirá dia para que o Tribunal delibere sobre o recebi-
mento, a rejeição da denúncia ou da queixa, ou a improcedência da acusação,
se a decisão não depender de outras provas.

O STF, em sede sumular, tem o seguinte entendimento sobre esta última


exceção (Súmula 714):

É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério


Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime
contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
ANOTAÇÕES

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Ação Penal III
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AÇÃO PENAL III

CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL. CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL. JUSTA


CAUSA PARA A AÇÃO PENAL. CONDIÇÕES ESPECÍFICA DA AÇÃO PENAL

Doutrina referência para esta aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado;
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado;
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal;
• Renato BRASILEIRO de Lima – Manual de Processo Penal.

CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL

A ação penal se inicia com o oferecimento da peça exordial (denúncia ou


queixa). Ela é tida como ajuizada quando o juiz a recebe. E a relação proces-
sual se aperfeiçoa uma vez que o réu é validamente citado, passando a inte-
grar o processo.
Todavia, para que o recebimento da exordial ocorra, é imprescindível a
observação das condições da ação.

As condições da ação são, no dizer de NUCCI:

Os requisitos mínimos indispensáveis para a formação da relação processual


que irá, após a colheita da prova, redundar na sentença, aplicando-se a lei penal
ao caso concreto.

Conforme ensina TÁVORA:

São os requisitos necessários e condicionantes ao exercício regular do direito


de ação. Como se depreende, o exercício do direito de ação não se pode traduzir
numa aventura desmedida. É certo que a deflagração da ação implica sérias con-
sequências ao réu, exigindo-se do demandante o preenchimento de certas condi-
ções, para que o pleito jurisdicional possa ser exercido de forma legítima.
ANOTAÇÕES

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Ação Penal III
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Importante!
Oportunidade para verificação das condições da ação.
A verificação para incidência das condições da ação é de ordem pública e
pode ser reconhecida a qualquer tempo, pelo juiz.
Havendo ausência das condições da ação, ascende a carência da ação e a
consequente extinção do processo sem julgamento meritório.

CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL

As condições genéricas da ação, que hão de ser observadas em toda e


qualquer ação penal, são os parâmetros que o juiz utiliza na apreciação vesti-
bular da exordial.
Assim, se ausentes tais requisitos que dão pálio para que o processo se
aperfeiçoe, o juiz há de rejeitar a denúncia ou a queixa (cf. art. 395, II, CPP).

As condições genéricas da ação penal são:


• Possibilidade jurídica do pedido;
• Interesse de agir;
• Legitimidade de parte.

POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO

Constitui a possibilidade, ao menos em tese, da pretensão de condenação


do réu ser atendida; ou seja, a imputação carreada na peça acusatória é ads-
trita a um fato tido como delituoso.
Por consequência, a imputação feita na denúncia ou queixa diz respeito a
um (1) fato típico, (2) ilícito e (3) culpável.

Atenção!
O MP ou querelante, para oferecer a ação penal, deve possuir, diante de si, a
viabilidade da imputação, ao menos em tese; ou seja, deve estar diante de um
fato típico, ilícito e culpável.
ANOTAÇÕES

2
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Ação Penal III
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Segundo o escólio de NUCCI:

(...) para que haja Ação Penal, é fundamental existir, ao menos em tese e de acor-
do com uma demonstração prévia e provisória, uma infração penal.

INTERESSE DE AGIR

Há interesse de agir quando se observa na acusação (1) necessidade, (2)


adequação e (3) utilidade da ação penal, nos seguintes termos:
1. Interesse-Necessidade – da existência do devido processo legal para
existir uma condenação que submeta alguém a uma sanção penal;
2. Interesse-Adequação – a AP há de ser promovida nos termos estabeleci-
dos pela lei processual penal e com lastro em elementos de prova pré-constituí-
dos;
3. Interesse-Utilidade – a AP há de ser útil, mesmo que somente em tese,
em prol da realização da pretensão punitiva do Estado.

LEGITIMIDADE DE PARTE

Com o ingresso da peça exordial, o juiz verifica se há legitimidade das partes


para configurar os polos da ação penal, tanto no ativo (acusador), quanto no
passivo (acusado).
Assim, o juiz certifica se estão presentes a legitimidade ad causam e a ad
processum.

Legitimidade ad causam – para a causa – no polo ativo da AP, deve figurar o


MP (ação penal pública) ou o querelante (ação pena privada), ou representante
legal; no polo passivo, deve estar a pessoa em relação a qual pesa a imputação;
Legitimidade ad processum – para o processo – no polo ativo da AP, deve
estar um membro do MP (ação penal pública) com atribuição legal para agir, ou
o querelante (ação pena privada), ou representante legal (ofendido menor de 18
anos, por exemplo), devidamente patrocinado por advogado.
ANOTAÇÕES

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Ação Penal III
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Atenção!
Em suma, a legitimidade ad processum está relacionada com a capacidade de
exercer e de praticar atos processuais (capacidade postulatória). A legitimidade
ad causam está relacionada com a condição de compor um dos polos da ação
penal.

JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL

Conforme escólio de MARIA THEREZA Moura:

A justa causa, em verdade, espelha uma síntese das condições da ação. Inexis-
tindo uma delas, não há justa causa para a ação penal.

TÁVORA ensina:

A ação só pode ser validamente exercida se a parte autora lastrear a inicial com
um mínimo probatório que indique os indícios de autoria, da materialidade delitiva,
e da constatação da ocorrência de infração penal em tese (art. 395, I1I, CPP). É o
fumus commissi delicti (fumaça da prática do delito) para o exercício da ação
penal.

Assim, o inciso III, do art. 395, CPP, compreende os dois anteriores quando
ordena:

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:


I – for manifestamente inepta;
II – faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou
III – faltar justa causa para o exercício da ação penal.
ANOTAÇÕES

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Ação Penal III
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CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DA AÇÃO PENAL

Há de se destacar ainda que, no contexto do processo penal pátrio, existem


também condições específicas da ação penal.
Estas constituem:
• Condições de procedibilidade;
• Condições objetivas de punibilidade.

Sem as quais a persecução penal não se inicia.

1. Constituem condições de procedibilidade – (a) a representação da


vítima ou seu representante legal (vide art. 24, in fine, CPP); e (b) a requisição
do Ministro da Justiça (vide art. 145, parágrafo único, CP), nos crimes a ela
condicionados

2. Constituem condições objetivas de punibilidade – sentença anulató-


ria do casamento, no crime de induzimento a erro ao matrimônio (vide art. 236,
CP); ingresso no País, do autor de crime praticado no estrangeiro (vide art.
7º, §§ 2º, "a" e "b", e 3º, CP); declaração da procedência da acusação, pela
Câmara dos Deputados, no julgamento do Presidente da República (vide art.
86, CF); sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou
extrajudicial, nas infrações falimentares (vide art. 180, Lei n. 11.101/2005).

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa. ANOTAÇÕES

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Competências II
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COMPETÊNCIAS II

Doutrina referência para esta aula:


• Guilherme NUCCI - Código de Processo Penal Comentado;
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado;
• Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE – Código de Processo Penal para Con-
cursos;
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

Pode-se sustentar que para a determinação da fixação da Competência dos


órgãos julgadores há:
I. 03 Critérios Principais;
II. 01 Critério Alternativo;
III. 04 Critérios Secundários.

Os critérios principais são:


1. Ratione Personae – art. 69, VII, CPP.
2. Ratione Materiae – art. 69, II, CPP.
3. Ratione Loci – art. 69, I, CPP.

O critério alternativo é:
1.Domicílio ou Residência do réu – art. 69, II, CPP.

Os critérios secundários são:


1.Prevenção – art. 69, VI, CPP.
2.Normas de Organização Judiciária – art. 74, CPP.
3.Distribuição – art. 69, IV, CPP.
4.Conexão ou Continência – art. 69, V, CPP.
ANOTAÇÕES

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Competências II
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CRITÉRIOS PRINCIPAIS
Ratione Personae – art. 69, VII, CPP:
• É estabelecida indagando-se: Quem perpetrou a infração penal?
• Está adstrita à condição ou qualidade da pessoa que é acusada.
• A competência é firmada em razão da prerrogativa de função do réu
(majestade do cargo).
• É de ordem pública (absoluta) e a sua inobservância implica em nulidade
absoluta do processo, podendo ser alegada de ofício pelo órgão julgador.

Ratione Materiae – art. 69, II, CPP:


• É estabelecida indagando-se: Qual infração penal foi praticada?
• Está adstrita à natureza dos fatos imputados ao acusado.
• Enseja o estabelecimento de qual Justiça será competente para proces-
sar e julgar o caso, como, por exemplo, a Eleitoral, a Militar, a Federal.
• Também é de ordem pública (absoluta) e a sua inobservância implica
em nulidade absoluta do processo, podendo ser alegada de ofício pelo
órgão julgador.

Atenção!
No caso de cada filtro, se as respostas às questões levantadas forem positivas
é possível distribuir o processo para o juízo competente. No caso de respostas
negativas deve-se continuar a aplicar outros filtros.

Ratione Loci – art. 69, I, CPP:


• É estabelecida indagando-se: Onde a infração penal foi cometida?
• Está adstrita ao lugar onde o delito foi praticado.
• Aponta o foro que é competente para o processamento e julgamento da
causa.
• É de ordem privada (relativa) e a sua inobservância implica em nulidade
relativa do processo, devendo ser provocada pela parte interessada, cf.
Súmula 33 do STJ, sob pena de preclusão.
ANOTAÇÕES

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Competências II
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Atenção!
Conforme a súmula n. 33, STJ: A incompetência relativa não pode ser declarada
de ofício. O interesse predominante, nesse caso, não é público, mas de ordem,
privada, portanto, cabe a parte argumentar a nulidade.

O estabelecimento do órgão julgador competente para processar e julgar uma


causa criminal passa pelo filtro desses 03 critérios na seguinte ordem:
1º - A condição do réu – Quem praticou o crime.
2º - A natureza da infração penal – Qual crime foi praticado.
3º - O local do evento criminoso – Onde o crime foi perpetrado.

CRITÉRIO ALTERNATIVO

Domicílio ou Residência do réu – art. 69, II, CPP:


• É tido como Critério Alternativo quando se leva em conta o domicílio do
réu quando não for sabido o local onde foi praticado o delito, cf. art. 72,
CPP.
• Diz-se Critério Facultativo quando se leva em conta as hipóteses de
Ação Penal Exclusivamente Privada, ao alvedrio do Querelante, cf. art.
73, CPP

CRITÉRIOS SECUNDÁRIOS

Prevenção – art. 69, VI, CPP:


Conforme o art. 83, CPP, haverá a prevenção sempre que dois ou mais
juízes igualmente competentes antecederem-se na prática de atos de jurisdi-
ção:

Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo
dois ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa,
um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de
medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da quei-
xa (arts. 70, § 3º , 71, 72, § 2º, e 78, II, c).
ANOTAÇÕES

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Competências II
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NORMAS DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA – ART. 74, CPP:

Conforme o art. 74, CPP, depois de estabelecida a competência ratione personae,


ratione materiae e definido o foro competente segundo o critério ratione loci, ou cri-
tério facultativo ou por prevenção, estabelece-se dentro da Comarca qual o Juízo
competente para processar e julgar o caso.
Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de
organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri

DISTRIBUIÇÃO – ART. 69, IV, CPP E CONEXÃO OU CONTINÊNCIA – ART. 69, V,


CPP:

Distribuição:
• É empregada quando em uma mesma Comarca há mais de um juízo igual-
mente competente.

Conexão e Continência:
• São hipóteses de modificação da competência que ocorrem nos termos
legais cf. art. 76 e art. 77 do CPP.

Diante de uma questão de prova, seja ela discursiva ou objetiva, caso o exa-
minador deseje saber qual é o juiz competente para julgar uma causa, é neces-
sário aplicar os filtros legais sobre esse raciocínio:
• 1º filtro – em razão da pessoa: quem cometeu o crime possui foro privile-
giado (prerrogativa de função)? Se sim é necessário verificar o Tribunal
competente para processar e julgar essa pessoa;
• 2º filtro – em razão da matéria: qual o crime foi praticado? Foi um crime mili-
tar? Eleitoral? Crime doloso contra a vida? De acordo com o tipo de crime
há um Tribunal competente;
• 3º filtro – onde o crime foi praticado? É necessário verificar qual é a comarca
e também se há conflito entre comarcas;
• 4º filtro – critério alternativo: pode-se eleger o domicílio ou residência do
réu;
ANOTAÇÕES

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Competências II
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• Critérios secundários: prevenção – existem dois juízes competentes em


relação a matéria e ao lugar, se um deles já houver praticado algum ato
de jurisdição no inquérito policial ou na ação penal será considerado o juiz
prevento;
• Normas de organização judiciária;
• Critérios eletrônicos de distribuição dos juízos;
• Critérios de conexão e continência.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
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Competência III
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COMPETÊNCIA III

DA CONEXÃO

Doutrina referência para a aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE – Código de Processo Penal para Con-
cursos.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

Introdução

Na verdade, a conexão e a continência não são critérios para a fixação da


competência. Elas constituem formas de modificação da competência, ense-
jando a sua prorrogação.
Assim, quando se observa um vínculo entre dois delitos (conexão) ou
quando uma conduta está contida na outra (continência), estabelece o CPP que
deve haver um só processo.

 Obs.: Isso, para evitar que haja mais de um julgamento relacionado ao mesmo
crime.

Em tais casos, como deve haver uma só ação penal e julgamento, o CPP
estabelece algumas regras para que a competência de um juízo prevaleça
sobre os demais, julgando o delito que seria de sua competência e também as
outras. Por isso, em relação a essa infração penal, estará havendo prorrogação
da competência.

 Obs.: conexão e continência são critérios de prorrogação de competência. Pror-


roga-se a competência para um juízo a fim de que ele prevaleça em rela-
ção aos demais que em tese também são competentes, e assim haja jul-
gamento apenas por um juízo, para evitar julgados conflitantes, trazendo
assim segurança jurídica para o jurisdicionado.
ANOTAÇÕES

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Competência III
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CONEXÃO

Para a incidência da conexão deve-se estar diante de duas ou mais infra-


ções penais, evento que não ocorre na continência.
Essas duas ou mais infrações devem estar enlaçadas por um dos vínculos
trazidos no art. 76 do CPP.

Art. 76. A competência será determinada pela conexão:


I – se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo
tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora
diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras;
II – se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as
outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;
III – quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias ele-
mentares influir na prova de outra infração.

Conexão Intersubjetiva

Conexão Intersubjetiva – art. 76, I, CPP.

I – se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo


tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora
diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras;

Nessa modalidade, as duas ou mais infrações são praticadas por duas ou


mais pessoas, sendo que o vínculo entre os delitos reside justamente nisso.
A conexão intersubjetiva pode se dar em razão da simultaneidade, do con-
curso ou da reciprocidade.

Conexão intersubjetiva por simultaneidade ou ocasional – Art. 76, I, CPP.

I – se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo


tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora
diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras;
ANOTAÇÕES

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Aqui os criminosos praticam os delitos ao mesmo tempo, porém, sem que


haja prévio ajuste entre eles. Exemplo clássico: torcedores, inconformados
com a marcação de pênalti contra seu time, invadem o campo e praticam agres-
sões contra a equipe de arbitragem.

 Obs.: nesse caso, não há concurso de pessoas, e sim uma conexão ocasional.

Conexão Intersubjetiva por Concurso – Art. 76, I, CPP

I – se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo


tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora
diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras;

Sempre que duas ou mais pessoas praticam dois ou mais delitos em con-
curso, pouco importando que ocorram em momento e locais diversos. Exemplo
clássico: integrantes de uma facção criminosa com liame subjetivo promovem
orquestradamente diversos roubos em diferentes bairros de uma cidade.

Conexão intersubjetiva por reciprocidade – Art. 76, I, CPP

I – se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo


tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora
diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras;

É o que ocorre, por exemplo, no caso de lesões corporais recíprocas. Exem-


plo: indivíduo agride outro causando-lhe lesões e é contido. Em seguida, a vítima
desfere-lhe um soco pelas costas, provocando-lhe também lesões. Em tal cená-
rio há dois crimes perpetrados por duas pessoas, uma contra a outra.

Atenção!
O crime de rixa não se adéqua a essa hipótese de conexão intersubjetiva por
reciprocidade.
O delito do art. 137, CP, é crime único praticado ao mesmo tempo por três ou
mais pessoas, configurando exemplo de continência.
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Competência III
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O pulo do gato
Se uma questão de prova versar sobre o crime de rixa, dispondo que a ele, em
relação aos rixosos, aplica-se o critério da conexão, a questão estará incorreta,
por que o crime de rixa é um crime único. Não há mais de uma ação criminosa.
O que poderá configurar nesse cenário criminoso é a continência, mas não a
conexão.

Conexão Objetiva

Conexão Objetiva, Material ou Lógica – art. 76, II, CPP.

II – se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as
outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;

O vínculo de uma infração está na motivação de uma delas que a relaciona


à outra. Tal conexão pode ser teleológica ou consequencial.

Conexão Objetiva Teleológica

II – se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as
outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;

Nessa hipótese, o vínculo encontra-se na motivação do primeiro delito em


relação ao segundo. Exemplo: matar o segurança para sequestrar o dignitário.

Conexão Objetiva Consequencial

Abrange três hipóteses e em todas elas o vínculo está na motivação do


segundo delito em relação ao primeiro.
ANOTAÇÕES

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Competência III
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1. Quando uma infração for cometida visando ocultar outra

II – se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as
outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;

A finalidade do agente delituoso é que as autoridades não descubram a exis-


tência do delito anterior. Exemplo: após matar uma pessoa, o agente joga o
corpo em um rio amarrado a uma pedra. Em tal caso, o crime de ocultação de
cadáver, cf. art. 211, CP, foi levado a efeito para ocultar o delito de homicídio.

2. Quando uma infração for praticada para conseguir a impunidade


de outra

II – se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as
outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;

A intenção é afastar a aplicação da lei penal referente à infração anterior.


Exemplo: ameaçar testemunha para que não seja reconhecido em juízo pelo crime
de roubo que está sendo processado. Em tal caso, o delito de coação no curso do
processo, cf. art. 344, CP, foi praticado a fim de obter a impunidade do roubo.

3. Quando uma infração for realizada para assegurar a vantagem de outra

II – se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as
outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;

A finalidade é garantir o proveito auferido com a prática delituosa anterior.


Exemplo: o autor do furto de um carro o deixa estacionado em local proibido.
Incontinenti, percebe que um agente de trânsito está guinchando o veículo. O
criminoso, então, mata o agente de trânsito para recuperar o carro furtado.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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Competências IV
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COMPETÊNCIAS IV

Continência: efeitos da Conexão e Continência

Doutrina referência para a aula:

• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.


• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE – Código de Processo Penal para Con-
cursos.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

Introdução

Segundo o escólio de TOURINHO FILHO, apud AVENA:

Na continência (art. 77 do CPP), como o próprio nome indica, uma causa


está contida na outra, não sendo possível a cisão. Como a continência se verifica
na hipótese de concurso de pessoas (coautoria e participação) – e aí a causa
petendi – e nos casos em que se aplique a regra contida na primeira parte do
art. 70 do CP – arts. 73, segunda parte, e 74 – conclui-se que, como o fato é o
mesmo (no caso de coautoria e participação) ou a conduta é uma só (é a hipó-
tese do concurso formal), podemos afirmar que a continência está em função da
identidade da causa petendi ou da unidade da conduta.

Nesta esteira, ensina BRASILEIRO:


Configura-se a continência quando uma demanda, em face de seus elemen-
tos (partes, pedido e causa de pedir), estiver contida em outra. Cuida-se, pois,
de ‘um vínculo jurídico entre duas ou mais pessoas, ou entre dois ou mais fatos
delitivos, de forma análoga a continente e conteúdo, de tal modo que um fato
delitivo contém as duas ou mais pessoas, ou uma conduta humana contém dois
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ou mais fatos delitivos, tendo como consequência jurídica, salvo causa impedi-
tiva a reunião das duas ou mais pessoas, ou dos dois ou mais fatos delitivos, em
um único processo penal, perante o mesmo órgão jurisdicional.

 Obs.: em uma hipótese de continência, existe uma causa maior abrangendo


causa menor. E, portanto, elas não podem ser julgadas por juízes diferen-
tes. Por essa razão que, no caso da continência, o mesmo juiz que julga
causa maior, julga causa menor, pois as partes, o pedido e a causa de
pedir são coincidentes – estão umas contidas nas outras.

Hipóteses de Continência

O CPP prevê a existência de continência por cumulação subjetiva ou obje-


tiva, nos termos do art. 77:

Art. 77. A competência será determinada pela continência quando:


I – duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;
II – no caso de infração cometida nas condições previstas nos *arts. 51, § 1º, 53,
segunda parte, e 54 do Código Penal.

*Atuais arts. 70, 73 e 74. CP.

Continência por Cumulação Subjetiva

Hipótese do art. 77, I, CPP – Concurso (eventual ou necessário) de Pes-


soas

Ocorre quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infra-
ção penal. Trata-se aqui de crime único cometido por duas ou mais pessoas em
coautoria ou participação.
ANOTAÇÕES

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De todas as formas de conexão e continência, na prática, esta é a mais


comum. Exemplo clássico: homicídio praticado por dois agentes.

Continência por Cumulação Objetiva

Hipótese do art. 77, II, CPP.

Ocorre nos casos de:


1. Concurso formal de crimes;
2. Aberratio ictus complexa;
3. Aberratio criminis com duplo resultado.

 Obs.: esses três fenômenos jurídicos também implicam na continência, e por


via de consequência também implicam em prorrogação de competência,
e fazem com que seja o mesmo juiz a julgar as pessoas envolvidas em
concurso formal, aberratio ictus complexa e aberratio criminis com duplo
resultado.

Continência por cumulação objetiva – art. 77, II, CPP – Concurso Formal

Há concurso formal quando o agente, com uma só ação ou omissão, pratica


duas ou mais infrações, idênticas ou não.
A continência se mostra presente porque a conduta é uma só, embora o
agente responda por dois ou mais crimes.

Conforme o CP:

Concurso formal

Art. 70. Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se
iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até
metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão
é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o
disposto no artigo anterior.
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Continência por cumulação objetiva – art. 77, II, CPP – Aberratio Ictus
Complexa

O erro na execução – aberratio ictus complexa – aberratio ictus com resul-


tado duplo ou múltiplo – traduz a hipótese em que o agente, por erro na execu-
ção, atinge não apenas a pessoa que desejava, mas, também, outra que não
pretendia atingir.
Exemplo clássico: desejando matar Mévio, Tício desfere-lhe um tiro, o qual,
além de Mévio, atinge, também, o transeunte João.

Conforme o CP:

Erro na execução

Art. 73. Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao
invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde
como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no §3º
do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente
pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

Continência por cumulação objetiva – art. 77, II, CPP – Aberratio delicti

No aberratio criminis – resultado diverso do pretendido – o agente obje-


tiva determinado resultado, vindo a alcançá-lo, e, também, outro que não estava
nos seus planos.
Exemplo clássico: pedra desferida contra uma vitrine, visando a danificá-la
(crime de dano), mas que atinge, também, uma pessoa que no momento pas-
sava pelo local (crime de lesões corporais).
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Conforme o CP:

Resultado diverso do pretendido

Art. 74. Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execu-
ção do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por
culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pre-
tendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

Atenção!
O STF tem o seguinte entendimento sumular sobre esta matéria:
Súmula 704:

Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a
atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa
de função de um dos denunciados.

Precedente:

Inquérito. 2. Competência originária. 3. Penal e Processual Penal. 4. Cone-


xão e continência. Réus sem foro originário perante o Supremo Tribunal Federal.
'Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo
legal, a atração, por continência ou conexão, do processo do corréu ao foro por
prerrogativa de função de um dos denunciados' (Súmula 704). Eventual sepa-
ração dos processos e consequente declinação do julgamento a outra instância
deve ser analisada pelo Supremo Tribunal, com base no art. 80 do CPP. Tra-
tando-se de delitos praticados em concurso de agente, não havendo motivo rele-
vante, o desmembramento não se justifica." (Inq 2688, Relatora Ministra Cármen
Lúcia, Redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgamento
em 02/12/2014, DJe de 12/02/2015).
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 Obs.: se existe atração por conexão e continência em relação aos corréus, e um


deles tem prerrogativa de foro, essa prerrogativa se estende aos demais,
e todos são julgados pelo mesmo tribunal, para evitar que haja julgamen-
tos diversos, pondo a salvo a segurança jurídica da prestação jurisdicio-
nal.

EFEITOS DA CONEXÃO E DA CONTINÊNCIA

De acordo com BRASILEIRO, são efeitos jurídicos da Conexão e Conti-


nência:

1. Processo e julgamento único (simultaneus processus): dispõe o art. 79


do CPP que a conexão e a continência importarão unidade de processo e julga-
mento, salvo no concurso entre a jurisdição comum e a militar, ou no concurso
entre a jurisdição comum e a do juízo de menores. Essa modificação de compe-
tência não viola a garantia do juiz natural: não viola as garantias do juiz natural,
da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou cone-
xão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denun-
ciados (Súmula 704 do STF). Caso haja conexão e continência entre crimes de
ação penal pública e privada, estabelecer-se-á litisconsórcio ativo entre o Minis-
tério Público e o titular do jus querelandi.

2. Força atrativa (forum attractionis ou vis attractiva): o juízo competente


vai trazer para si o processo e julgamento único. Tem-se aí uma hipótese de
prorrogação de competência, tornando-se competente o juízo que, em abstrato,
não o seria, caso se levasse em consideração o lugar da infração, o domicílio do
réu, a natureza da infração e a distribuição. Seu efeito é a sujeição dos acusa-
dos ou dos diversos fatos delituosos a um só juízo, a fim de serem julgados por
uma única sentença, sem que disso resulte qualquer alteração da natureza das
infrações penais cometidas.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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COMPETÊNCIAS V

DOUTRINA REFERÊNCIA PARA A AULA:

• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.


• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE – Código de Processo Penal para Con-
cursos.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

INTRODUÇÃO

Regras de prevalência de foro nos casos de conexão ou continência

 Obs.: deve haver um juiz que prevaleça; caso contrário, haverá um conflito de
competência. E o conflito de competência não é benéfico pois ele implica
em não decisão da causa.

O art. 79, caput, CPP, estabelece que, em casos de conexão e continên-


cia, deve haver um só processo para apuração dos crimes que se enquadrem
em suas hipóteses, para se estabelecer o juízo que deve prevalecer sobre os
demais quando os delitos forem de competências distintas.
Em tais casos, o prevalente terá sua competência prorrogada, pois julgará um
delito que, pelas regras gerais, seria de competência de outro, cf. o art. 78, CPP.

Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento,


salvo:
(…)
Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão ob-
servadas as seguintes regras:
I – no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum,
prevalecerá a competência do júri;
Il – no concurso de jurisdições da mesma categoria:
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a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;


b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se
as respectivas penas forem de igual gravidade;
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;
III – no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior
graduação;
IV – no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.

CONCURSO DE JURISDIÇÕES DE CATEGORIAS DIVERSAS

No concurso de jurisdições de categorias diversas, predominará a de


maior graduação – art. 78, III, CPP.
Diz respeito à hierarquia jurisdicional. Assim, se um Deputado Federal for
acusado da prática de crime de corrupção em concurso com um Prefeito, ambos
serão julgados pelo STF. A Corte Excelsa é competente para julgar membros
do Congresso Nacional pela prática de crimes comuns, que, devido à conexão,
julgará também o Prefeito, por ser órgão jurisdicional de maior graduação em
relação aos Tribunais de Justiça (aos quais normalmente incumbe julgar um Pre-
feito).

 Obs.: o Prefeito é julgado pelo Tribunal de Justiça, e o Deputado Federal é


julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Mas como o Supremo Tribunal
Federal é de hierarquia superior ao Tribunal de Justiça, o juízo prevalente
nesse caso, de maior hierarquia, é o STF.

Atenção!
Em relação a essa regra, o STF tem entendimento consolidado Súmula 704
STF:

Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a
atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa
de função de um dos denunciados.
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CONCURSO ENTRE A JURISDIÇÃO COMUM E A ESPECIAL

No concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá a espe-


cial – art. 78, IV, CPP.
Essa regra se limita às hipóteses de conexão entre crime eleitoral e crime
comum, quando ambos serão julgados pela Justiça Eleitoral.
A outra justiça especial é a militar, mas o art. 79, I, CPP, estabelece que,
quando houver conexão entre crime militar e delito comum, haverá cisão de pro-
cessos, ou seja, a justiça castrense julgará o crime militar e a Justiça Comum o
outro delito.

Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento,


salvo:
I – no concurso entre a jurisdição comum e a militar;
(…)

 Obs.: a Justiça Militar julga o crime militar, mas não julga crime comum. Somen-
te a Justiça Militar da União julga civil. A justiça militar estadual não julga
os civis. Em relação ao crime eleitoral, havendo conexão probatória, por
exemplo, a Justiça Eleitoral mesmo sendo especial julga os dois crimes –
o eleitoral e o não eleitoral.

CONCURSO ENTRE A COMPETÊNCIA DO JÚRI E A DE OUTRO ÓRGÃO DA


JURISDIÇÃO COMUM

No concurso entre a competência do Júri e a de outro órgão da jurisdi-


ção comum, prevalecerá a competência do Júri – art. 78, I, CPP.

Com efeito, se for cometido um homicídio em Salvador conexo com crime de


tortura em Feira de Santana, o julgamento dos dois delitos será no Júri de Sal-
vador.
Todavia, havendo casos de conexão, por exemplo, entre crime eleitoral e
delito de competência do Júri, haverá separação dos processos. Isso, pois, tanto
os crimes eleitorais, quanto os crimes dolosos contra a vida têm competên-
cia estabelecida Lex Excelsa.
ANOTAÇÕES

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Obs.: os crimes eleitorais também têm status constitucional. Havendo status


constitucional, assim como é do Tribunal do Júri, separam-se os processos. O Tri-
bunal do Júri, portanto, prevalece quando é em relação a uma jurisdição comum.
Se o outro crime é de jurisdição especial e tem status constitucional, então existe
a cisão dos processos.

Atenção!
Se houver concurso entre a competência do Júri e a competência originária de
Tribunal devido à prerrogativa de função, a autoridade com foro privilegiado
será julgada pelo Tribunal competente e o cidadão sem foro privilegiado será
julgado pelo Júri. Assim, não se aplica a regra da Súmula 704 STF.

 Obs.: os tribunais têm a sua competência originária dentro da Constituição. E o


Tribunal do Júri também tem a sua competência dentro da Constituição.
Portanto, são dois órgãos jurisdicionais com competência constitucional.
Quando existem corréus que praticam crime doloso contra a vida, em con-
curso com pessoas que não têm foro privilegiado, há em relação a cada
um deles, juízes naturais com competência estabelecida na Constituição.
Nesse caso, não há foro prevalente e os processos são separados.

CONCURSO DE JURISDIÇÕES DA MESMA CATEGORIA

1. No Concurso de Jurisdições da mesma categoria, preponderará a do


lugar da infração à qual for cominada a pena mais grave – art. 78, II, a, CPP.
Entende-se por mais grave a maior pena máxima em abstrato.
Ex.: conexão entre furto qualificado cometido em Ilhéus e receptação em Ita-
buna. Prevalece a competência de Ilhéus porque a pena máxima do furto quali-
ficado é de oito anos, enquanto a da receptação é quatro.

Atenção!
A regra em questão não se aplica quando há conexão entre um crime da esfera
federal com outro da estadual. Em tal caso, há de se observar a orientação da
Súmula 122 STJ:
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Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos


de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do
Código de Processo Penal.

2. No Concurso de Jurisdições da mesma categoria, prevalecerá a do


lugar em que ocorreu o maior número de infrações, se as respectivas penas
forem de igual gravidade – art. 78, II, b, CPP.
Por exemplo: se o agente entra em uma loja em Camaçari e furta quatro cola-
res de diamantes, vendendo-os, posteriormente, a quatro receptadores diversos
(não comerciantes) na cidade de Dias Dávila, a competência será firmada nesta
última, pois ali ocorreram quatro crimes de receptação, enquanto, na primeira,
houve apenas um furto. A pena da receptação simples é idêntica à do furto sim-
ples (1 a 4 anos de reclusão, e multa).

3. No Concurso de Jurisdições da mesma categoria, se as penas forem


idênticas e em igual número, firmar-se-á a competência por prevenção –
art. 78, II, c, CPP.

É o que ocorre, por exemplo, quando há conexão entre um furto simples


cometido em uma comarca e uma receptação simples praticada em outra.

AVOCAÇÃO

Se apesar da conexão e continência, por equívoco ou desconhecimento,


forem instauradas ações penais diversas, uma para cada crime, a autoridade
de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante
outros juízes (art. 82, CPP).
Em tal caso, o juiz prevalente encaminha ofício aos demais, solicitando a
remessa dos autos e justificando a providência.
É claro que os outros juízes podem discordar e suscitar conflito positivo de
competência.
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Art. 82. Se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos
diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que
corram perante os outros juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva.
Neste caso, a unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de
soma ou de unificação das penas.

Atenção!
A avocação, nos termos do art. 82, CPP, só é possível se nenhuma das
ações penais tiver sentença definitiva, conforme art. 593, I, do CPP. Esta é a
inteligência da Súmula 235 do STJ:

A conexão não determina a reunião de processos, se um deles já foi julgado.

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COMPETÊNCIAS VI

Rito Processual na Conexão, Separação de Processos e Perpetuação da


Jurisdição.

DOUTRINA REFERÊNCIA PARA A AULA:

• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.


• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA e Fábio ROQUE – Código de Processo Penal para Con-
cursos.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

RITO PROCESSUAL A SER OBSERVADO QUANDO HÁ CONEXÃO

Nos casos de conexão entre crimes que possuam ritos processuais diver-
sos, deverá ser observado o rito mais amplo, assim entendido aquele que
conferir maiores oportunidade de defesa ao réu, ainda que se refira, origina-
riamente, ao crime de menor gravidade.

O pulo do gato
No processo penal democrático, a liberdade tem espaço privilegiado. Em
provas, quando o candidato tiver algum tipo de dúvida entre duas alternativas,
uma dica importante é promover a escolha da questão que esteja em prol de
uma interpretação melhor para o direito de liberdade, melhor para o réu. O
sistema processual penal brasileiro é de matiz garantista, fortemente orientado
e influenciado pela Constituição de 1988. Nos casos em que há crimes conexos
e com ritos processuais diferentes, será sempre aplicado pelo juiz competente
aquele que tem o rito mais exauriente, mais amplo e que garanta maiores
oportunidades para o réu se defender.
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SEPARAÇÃO DE PROCESSOS

Apesar da existência da conexão ou continência, a lei estabelece algumas


hipóteses em que deverá ocorrer a separação de processos.
Essa separação pode ser obrigatória ou facultativa.

Separação Obrigatória

As hipóteses encontram-se no art. 79, CPP.

Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento,


salvo:
I – no concurso entre a jurisdição comum e a militar;
II – no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.
§ 1º Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum
corréu, sobrevier o caso previsto no art. 152.
§ 2º A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver corréu fora-
gido que não possa ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461.

• No concurso entre a jurisdição comum e a militar – Inciso I, art. 79.

A Justiça Militar não julga crime comum conexo, quer cometido pelo militar,
quer por terceiro.
O crime militar é sempre julgado na Justiça Especial e o comum na Jus-
tiça Comum.

• No concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores –


Inciso II, art. 79.

É o que ocorre quando um adulto e um adolescente cometem infração penal


em conjunto.
O maior é julgado na Justiça Comum e o menor na Vara da Infância e da
Juventude, aplicando-se a este, quando pertinente, medida socioeducativa à
luz do ECA, Lei n. 8.069/1990.
ANOTAÇÕES

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Competências VI
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Nas hipóteses dos incisos I e II, art. 79, a separação dá-se desde o início da
persecução criminal, ou seja, são instauradas ações autônomas.
Nos casos dos §§ 1º e 2º do art. 79, o processo inicia-se uno, havendo pos-
terior desmembramento pela superveniência de situação que torna inviável
o prosseguimento em conjunto.

• Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a


algum corréu, sobrevier o caso previsto no art. 152 – § 1º, art. 79.

Assim, havendo dois ou mais réus, se sobrevier doença mental a qualquer


deles durante o tramitar da ação, ficará esta suspensa em relação ao doente,
prosseguindo em relação aos demais.

• A unidade do processo não importará a do julgamento – § 2º, art. 79.

a) Se houver corréu foragido que não possa ser julgado à revelia.


Se o acusado for citado por edital e não comparecer em juízo para oferecer
resposta escrita, nem nomear defensor, o processo ficará suspenso em relação
a ele, nos termos do art. 366 do Código de Processo Penal. O processo, porém,
prosseguirá em relação aos demais que tenham comparecido.

b) Quando ocorrer a hipótese do art. 461, CPP.


Após a reforma de 2008, que alterou o procedimento do júri, a regra do
antigo art. 461 foi substituída pela do art. 469, § 1º.
Assim, no rito do júri, havendo dois ou mais réus com defensores diversos,
caso não coincida a escolha dos jurados, e não seja obtido o número mínimo
de sete deles para formar o Conselho de Sentença, torna-se impossível o julga-
mento de todos na mesma data.
Assim, o processo será desmembrado, julgando-se apenas um deles de
acordo com a ordem estabelecida no art. 469, § 2º, CPP.

Atenção!
Ocorre também separação obrigatória do processo quando há dois ou mais réus e
é aplicada a suspensão condicional do processo em relação a um deles, hipótese
em que a instrução continua quanto aos demais, cf. art. 89, Lei n. 9.099/1995.
ANOTAÇÕES

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Competências VI
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Separação Facultativa

As hipóteses de separação facultativa estão localizadas no art. 80, CPP.

Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem
sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo
excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou
por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.

a. Quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de


tempo ou de lugar diferentes.
Desde que tal fato possa prejudicar o tramitar da ação.

 Obs.: ou seja, as infrações penais são conectadas, mas elas são praticadas
em lugares diferentes, e o processo e julgamento delas por um mesmo
juízo teria que se dar, por exemplo, com instrução por precatória, com um
grande número de diligências a serem realizadas em sede de instrução.
O juiz pode entender que, para a celeridade e eficácia do processo, é
melhor separar os processos e assim eles serem julgados por juízes dife-
rentes.

b. Em razão do número excessivo de réus.


Essa circunstância pode prejudicar substancialmente o andamento regular
do feito, bastando imaginar, por exemplo, que cada um dos 30 acusados pode
arrolar até 8 testemunhas.

c. Para não prolongar a prisão provisória de qualquer dos réus.


Se, por exemplo, for instaurado incidente de dependência toxicológica em
relação a um dos réus, a realização do exame pode ser demorada e prejudicar
a prolação de sentença relativa ao comparsa em relação ao qual a instrução já
poderia ter sido encerrada.

d. Por qualquer outro motivo relevante.


O juiz decidirá a respeito da separação levando em conta a conveniência
para o bom andamento da ação penal.
ANOTAÇÕES

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Competências VI
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PERPETUAÇÃO DA JURISDIÇÃO

Na lição de AVENA:
Conforme ensina José Frederico Marques, consubstancia-se a perpetuatio
jurisdictionis na ideia de que a competência adquirida por um juiz, em razão da
conexão de causas, se perpetua e subsiste, ainda que a lide que pertencia origi-
nariamente a sua competência e que atraiu seu poder de julgar o litígio desapa-
reça por um motivo qualquer.

Ordena o CPP:

Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que
no processo da sua competência própria venha o Juiz ou tribunal a proferir senten-
ça absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua
competência, continuará competente em relação aos demais processos.

 Obs.: caso um juiz esteja julgando originalmente um crime e ele deixe de ser
competente para julgá-lo, os demais continuam sendo de sua competên-
cia. É por isso que existe a perpetuação da jurisdição. Se ele inicia com-
petente, ele permanece competente até o final.

Ensina BRASILEIRO:
Logo, verificada a reunião de processos por conexão ou continência, o juiz ou
tribunal continuará competente em relação às demais infrações penais atraídas,
ainda que no processo da sua competência própria venha a: 1) absolver o acu-
sado daquela que promoveu a atração; 2) desclassificar a infração que promo-
veu a atração para outra que não se inclua na sua competência; 3) por interpre-
tação extensiva, declarar a extinção da punibilidade em relação à infração que
promoveu a atração (por exemplo, em razão da morte do corréu).

Continua BRASILEIRO:
Exemplificando, caso haja conexão probatória entre um roubo simples prati-
cado na comarca “A” e um crime de receptação qualificada cometido na comarca
ANOTAÇÕES

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Competências VI
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“B”, prevalece a competência do juízo da comarca “A”, na medida em que a pena


cominada para o delito de roubo simples é mais grave (CPP, art. 78, II, “a”). Caso,
ao final do processo, conclua o magistrado pela desclassificação de roubo para
furto simples, ainda assim continuará competente para o fato desclassificado e
para a receptação, nos exatos termos do art. 81, caput, do CPP.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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Conceito, Objetivo, Classificação e Sistemas
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CONCEITO, OBJETIVO, CLASSIFICAÇÃO E SISTEMAS

PROVAS I

Conceito, objeto, classificação e sistemas de avaliação.

Doutrina referência para a nossa aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

Conceito e sentido da prova, segundo NUCCI:

“O termo prova origina-se do latim probatio , que significa ensaio, verificação,


inspeção, exame, argumento, razão, aprovação ou confirmação. Dele deriva o
verbo provar – probare –, significando ensaiar, verificar, examinar, reconhecer
por experiência, aprovar, estar satisfeito com algo, persuadir alguém a alguma
coisa ou demonstrar”.

Atenção!
A persuasão da matéria probatória é direcionada ao juiz. Quando o delegado
de polícia desenvolve a matéria probatória, faz um esforço para apurar se
determinado fato existiu ou não, mas ao fim é o juiz quem decide se haverá
condenação ou absolvição.

Conforme NUCCI, há três sentidos para o termo prova no contexto do pro-


cesso penal, a saber:
1. Ato de provar – processo pelo qual se verifica a exatidão ou a verdade do fato
alegado pela parte no processo.
2. Meio – como instrumento pelo qual se demonstra a verdade de algo.
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Conceito, Objetivo, Classificação e Sistemas
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3. Resultado da ação de provar – enquanto produto extraído da análise dos


meios de prova oferecidos, demonstrando a verdade relativa a um determi-
nado fato.

Sistemas de avaliação das provas

O destinatário da prova é o órgão julgador (magistrado), sendo assim o


escopo da produção probatória é a formação do convencimento do juiz.

Atenção!
O destinatário da prova também pode ser o juiz de segundo grau, pois também
é possível ser exame de matéria probatória, notadamente quando se tem a
competência originária.

Nessa esteira, há três sistemas de avaliação de prova que orientam o


órgão julgador na apreciação das provas, a saber:
1. Íntima convicção, livre convicção ou certeza moral do juiz – nesse sistema,
não há a necessidade de motivação das decisões judiciais, como é o caso
dos vereditos do Conselho de Sentença do Tribunal do Júri.

Atenção!
No sistema brasileiro, há um exemplo clássico, que é o Tribunal do Júri, no qual há
os chamados juízes leigos, que são os jurados. O voto dos jurados é inviolável e,
inclusive, se dá em uma sala secreta onde avançam sobre a matéria a ser julgada, e
não pode haver a exteriorização das razões dos votos dos jurados. Os juízes leigos
não devem, por mandamento legal, manifestar qual é o voto deles, que vai na urna
do Conselho de Sentença do Tribunal do Júri. Também há, por exceção, o sistema
da íntima convicção, que é a decisão judicial sem a necessidade de fundamento.
A Constituição, quando previu o Tribunal do Júri, formulou um dos princípios que
regem tal Tribunal, que é o sigilo da votação, para que não haja a violação da
convicção do jurado e para que seja permitida sua ação fora de pressões.
ANOTAÇÕES

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Conceito, Objetivo, Classificação e Sistemas
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2. Prova legal, regras legais, sistema tarifário ou certeza moral do legislador – a


valoração das provas é taxada (tarifada) pela lei, ficando o juiz vinculado ao
valor probatório estabelecido pelo legislador para cada meio de prova. No
ordenamento jurídico pátrio ainda há meio de prova que é regido pelo sistema
tarifário, por exemplo, o exame de corpo de delito (cf. o art. 158, CPP):

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Atenção!
É importante saber que a tortura é crime equiparado a crime hediondo. O
investigador criminal que utiliza de tortura é criminoso, devendo responder
disciplinar e administrativamente.

3. Persuasão racional, convencimento racional, livre convencimento motivado,


apreciação fundamentada ou prova fundamentada – é o sistema adotado
como regra no Brasil que exige que toda decisão judicial seja motivada.

Assim, o juiz decide a causa, ou seja, forma o seu convencimento, a partir da


apreciação das provas produzidas no curso do processo submetidas ao contra-
ditório e à ampla defesa.

Não obstante isso, pode o juiz também formar a sua convicção levando em
conta também a apreciação da prova (elementos informativos) que nasce no
bojo do inquérito policial.

Atenção!
Não é possível afirmar que o juiz só pode formar convicção de apreciação da
prova sob contraditório e ampla defesa dentro da ação penal, pois a própria
lei reconhece a relevância da investigação criminal em sede de inquérito e
autoriza o juiz a formar sua livre convicção com as provas nascidas também
no inquérito.
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Conceito, Objetivo, Classificação e Sistemas
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A ressalva se dá quando essas provas são:


• cautelares;
• não repetíveis; e
• antecipadas.

Atenção!
Um exemplo de prova cautelar é a interceptação telefônica; a prova antecipada
é aquela que só tem condições de acontecer uma vez, como uma testemunha
em seu leito de morte.

Nesse contexto, a força probatória desses elementos se agiganta, podendo


o juiz formar sua convicção somente com lastro nessas provas angariadas na
investigação criminal, leia-se IPL.
É o que ordena o art. 155, caput, CPP:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida
em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamen-
te nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas.

De outro lado, há de se frisar que toda prova lícita será admitida no processo
penal, existindo limitação apenas no que se refere à prova do estado da pessoa,
nos termos do parágrafo único do art. 155, CPP:

Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as res-
trições estabelecidas na lei civil.

Classificação das Provas

A prova pode ser classificada levando em consideração quatro critérios, a


saber:
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Conceito, Objetivo, Classificação e Sistemas
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1. Quanto ao objeto – esse critério leva em conta a relação que a prova tem com
o fato a ser provado, podendo ser:
a) Direta – quando se relaciona diretamente ao fato a ser provado, v.g., teste-
munha ocular;
b) Indireta – quando ela se refere a outro fato que por ilação leva ao fato prin-
cipal, v.g., os indícios.

2. Quanto ao efeito ou valor– esse critério considera o grau de certeza gerado


pela apreciação da prova, podendo ser:
a) Plena – que é imprescindível à formação de convencimento do juiz, ense-
jando um juízo de certeza;
b) Não plena ou indiciária – a que prova de forma limitada quanto à formação
do juízo de certeza do magistrado, como são as provas que instrumentalizam
medidas cautelares.

3. Quanto ao sujeito ou causa – esse critério aborda a avaliação do material


probatório produzido, podendo ser:
a) Real – que é a que emerge de um fato, v.g., filmagem, fotografia, impres-
sões digitais;
b) Pessoal – prova que decorre do conhecimento de alguém sobre o thema
probandum, v.g., o testemunho, a confissão.

4. Quanto à forma ou aparência – é critério que considera como a prova se


revela na persecução criminal, podendo ser:
a) Testemunhal – a que se expressa pela afirmação de uma pessoa, v.g.,termo
de depoimento das testemunhas;
b) Documental – aquela que expressa graficamente um pensamento, uma
ideia, v.g., um contrato;
c) Material – aquela que simboliza qualquer elemento que materializa a
demonstração de um fato, v.g., o exame de corpo de delito.
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Conceito, Objetivo, Classificação e Sistemas
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Objeto das Provas

O objeto da prova, também conforme escólio de NUCCI, são "os fatos que as
partes pretendem demonstrar".
Mais ainda, devem ser objeto de prova apenas os fatos o exame de corpo
de delito relevantes para o deslinde da persecução criminal.

De acordo com NUCCI:


“O objeto da prova são, primordialmente, os fatos que as partes preten-
dem demonstrar. Excepcionalmente, a parte deve fazer prova quanto à exis-
tência e ao conteúdo de um preceito legal, desde que se trate de norma interna-
cional, estadual ou municipal (nestes últimos dois casos, caso se trate de unidade
da Federação diversa daquela onde está o magistrado), bem como no que toca
a estatutos e regras internas de pessoas ou personalidades jurídicas. Provam-
-se, ainda, regras de experiência, porque, na essência, são fatos reiterados”.

De outra forma entende BRASILEIRO:


“Costuma-se dizer que o objeto da prova são os fatos que interessam à solu-
ção de uma controvérsia submetida à apreciação judicial. A nosso ver, contudo,
o objeto da prova não são os fatos, pois jamais será possível se atingir a
reconstrução integral do que efetivamente ocorreu. Na verdade, o objeto da
prova é a verdade ou falsidade de uma afirmação sobre um fato que inte-
ressa à solução do processo. São as asserções feitas pelas partes que interes-
sam à solução de controvérsia submetida à apreciação judicial”.
Todavia, há fatos que independem de prova:

1. Fatos notórios – verdade sabida – que os amplamente conhecidos, v.g., os


dias dos feriados nacionais.

2. Fatos que contêm uma presunção legal absoluta (iuris et de iuri) – são fatos
que não admitem contraditório, v.g., a imputabilidade dos menores de 18 anos.
Há de se ressaltar que as presunções iuris tantum (relativa) necessitam ser
provadas por quem as alega.
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Conceito, Objetivo, Classificação e Sistemas
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3. Fatos impossíveis – fatos que, no dizer de NUCCI, “causam aversão ao espírito


da pessoa”, v.g., a firmação de que no momento do crime o réu encontrava-se
em órbita.
4. Fatos irrelevantes ou impertinentes ou inúteis – fatos que não se relacionam
com a solução da causa, v.g., as que dizem respeito ao suco preferido do réu

5. Fatos axiomáticos ou intuitivos – fatos que se auto demonstram, neles a ver-


dade salta aos olhos, v.g., art. 162, parágrafo único, CPP:

Art. 162 (…)


Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo
do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões
externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de
exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante.

Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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Provas – Princípios e Procedimentos
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PROVAS – PRINCÍPIOS E PROCEDIMENTOS

Princípios gerais da prova, procedimento probatório, valoração

Doutrina referência para a nossa aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

Princípios Gerais da Prova

Segundo AVENA, regem a produção probatória os seguintes princípios:

1. Princípio do contraditório: significa que toda prova realizada por uma das
partes admite a produção de uma contraprova pela outra. O contraditório
consubstancia-se na expressão audiatur et altera parte (ouça-se também a
parte contrária), o que importa em conferir ao processo uma estrutura dia-
lética. Assim, se uma das partes arrolou testemunhas, tem a outra o direito
de contraditá-las, de inquiri-las e também de arrolar as suas.

Atenção!
O princípio do contraditório, na seara probatória, traz equilíbrio à relação
processual. Para toda alegação cabe uma contra-alegação, para toda prova
cabe uma contraprova.

2. Princípio da comunhão: uma vez trazidas aos autos, as provas não mais
pertencem à parte que as acostou, mas sim ao processo, podendo, desse
modo, ser utilizadas por quaisquer dos intervenientes, seja o juiz, sejam as
ANOTAÇÕES

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Provas – Princípios e Procedimentos
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demais partes. Em nome dessa sistemática, por exemplo, é que não se pode,
em tese, admitir a desistência da oitiva de testemunha arrolada por um dos
polos sem a anuência do outro, pouco importando se quem a arrolou foi a
acusação ou a defesa.

Atenção!
Prova de acusação e prova de defesa servem como ilustração, mas do ponto
de vista processual não têm valor. A prova é do juízo.

Segundo AVENA:
“(...) na disciplina conferida ao procedimento comum ordinário pela Lei n.
11.719/2008, dispôs o art. 401, § 2º, que as partes poderão desistir da inqui-
rição de qualquer das testemunhas arroladas, sem exigir, para tanto, a aquies-
cência da parte ex adversa. Apesar dessa normatização, cremos que, em
função do principio da comunhão da prova, a concordância da outra
parte com a desistência de prova oral levada a efeito pela parte contrária
deve sim ser uma condição para que possa o magistrado homologá-la”.

3. Princípio da oralidade: tanto quanto possível, as provas devem ser realiza-


das oralmente, na presença do juiz. Isso existe para que, nos momentos
relevantes do processo, predomine a palavra falada, possibilitando-se ao
magistrado participar dos atos de obtenção da prova. (...) A oralidade, mais do
que um princípio, traduz-se como uma forma de conduzir o processo, impli-
cando dois subprincípios: a concentração e a imediação.

4. Princípio da publicidade: considerando a importância das questões ati-


nentes ao processo penal, nada mais correto do que serem elas tratadas
publicamente. Por isso, os atos que compõem o procedimento, inclusive
a produção de provas, não devem ser efetuados secretamente. Visa-se,
aqui, a garantir ao cidadão comum acesso e confiança no sistema de admi-
nistração da justiça.
ANOTAÇÕES

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Provas – Princípios e Procedimentos
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Atenção!
Não existe processo secreto. Ele pode até ser sigiloso, porém o sigilo nunca
é absoluto, principalmente em sede de ação penal na qual, necessariamente,
existem o contraditório e a ampla defesa. Existem limites para essa publicidade,
principalmente quando é um ato que pode gerar constrangimento para a vítima
ou para o réu.

5. Princípio da autorresponsabilidade das partes: (...) as partes assumirão as


consequências de sua inatividade, erro ou negligência relativamente à
prova de suas alegações. Logo, se na ação penal pública não providenciar
o Ministério Público a prova da autoria da infração e de sua materialidade, a
consequência será a absolvição do acusado.

Atenção!
Ninguém é obrigado a produzir prova, mas se a parte não produz a prova, arca
com o ônus de sua inação.

6. Princípio da não autoincriminação (nemo tenetur se detegere): significa que


o acusado não poderá ser obrigado a produzir provas contra si. Em face
desse privilégio que lhe é assegurado, não está o acusado, por exemplo, obri-
gado a responder as perguntas que lhe forem formuladas por ocasião de seu
interrogatório, tampouco a fornecer padrões vocais ou letra de próprio punho
visando a subsidiar prova pericial requerida pelo Ministério Público.
ANOTAÇÕES

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Provas – Princípios e Procedimentos
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Atenção!
O princípio da não autoincriminação, que põe a salvo a dignidade humana, é
expressão de autodefesa. A ampla defesa se manifesta através de dois exercícios
de defesa: a técnica – através de advogado constituído com capacidade
postulatória para atuar em juízo e produzir tecnicamente uma defesa em prol
do réu – ; a autodefesa – onde há a prerrogativa do réu de produzir prova a seu
favor ou contra si.

Procedimento Probatório

Há quatro fases do ponto de vista doutrinário (didático) que compõem o pro-


cedimento de produção probatória no processo penal pátrio, a saber:

1. Proposição: momento em que a produção das provas é requerida pelas


partes ou por elas são trazidas à sua admissão.
Em verdade, há, por assim dizer, duas espécies de momentos de proposição
das provas:
1.1) momentos ordinários, os quais correspondem, para a acusação, à
denúncia e à queixa-crime, e, para a defesa, à fase da resposta à acusação
ou defesa prévia; e
1.2) momentos extraordinários, que se traduzem como todas aquelas opor-
tunidades de requerimento de provas depois de já iniciada ou encerrada a
instrução criminal.

2. Admissão: momento no qual as provas requeridas pelas partes serão


deferidas ou não pelo juiz. Provas propostas nos momentos ordinários somente
podem ser indeferidas quando impertinentes ao processo, fundamentadamente.
Em outro giro, as provas solicitadas nos momentos extraordinários poderão
ser indeferidas a partir da consideração pelo juiz de que são impertinentes para
a formação de seu convencimento, também fundamentadamente.
ANOTAÇÕES

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Provas – Princípios e Procedimentos
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3. Produção: atos processuais destinados a trazer para dentro do processo


as provas requeridas pelas partes e aceitas pelo juiz.

4. Valoração: É o momento da própria sentença, no qual o juiz fundamentada-


mente aprecia as provas produzidas, conferindo-lhes o valor que julgar pertinente.

Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.

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Provas – Ônus da Prova e Provas Ilícitas
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PROVAS – ÔNUS DA PROVA E PROVAS ILÍCITAS

Doutrina referência para a nossa aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

Ônus da prova

Segundo NUCCI:

“O termo ônus provém do latim – onus – e significa carga, fardo ou peso. Assim, ônus
da prova quer dizer encargo de provar. Ônus não é dever, em sentido específico,
pois este é uma obrigação, cujo não cumprimento acarreta uma sanção. Quanto ao
ônus de provar, trata-se do interesse que a parte que alega o fato possui de pro-
duzir prova ao juiz, visando fazê-lo crer na sua argumentação”.

Conforme AVENA:

“Já quanto ao ônus, possui natureza diversa, representando, ‘simplesmente, um


arbítrio relegado à parte onerada, que, realizado, é capaz de conduzi-la ou
deixá-la em condição favorável dentro do processo. Descumprido pela defesa
o ônus da prova quanto aos fatos que lhe incumbe comprovar, a consequência será
uma possibilidade maior de condenação, embora esta não seja uma consequência
certa ou provável”.

Atenção!
Ninguém é obrigado a produzir prova, mas é importante saber que a parte
contrária produzirá. O juiz não pode julgar fora dos autos, portanto, ele seguirá
aquele que apresentar a prova da melhor maneira, seja a defesa, seja a
acusação.
ANOTAÇÕES

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Provas – Ônus da Prova e Provas Ilícitas
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Ordena o CPP:

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado
ao juiz de ofício:

Atenção!
Se há um álibi, é preciso comprovação de todos os elementos envolvidos para
solidificar o álibi. Caso não haja elementos suficientes, o álibi não servirá de
prova. Para cada tese apresentada por uma parte, haverá uma antítese.

Das Provas Ilícitas


A Carta Magna determina:

Art. 5º, LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos.

Ensina NUCCI:

“O processo penal deve formar-se em torno da produção de provas legais e


legítimas, inadmitindo-se qualquer prova obtida por meio ilícito”.

Ainda, segundo o escólio de NUCCI:

“(...) o gênero é a ilicitude – assim em Direito Penal, quanto nas demais discipli-
nas, inclusive porque foi o termo utilizado na Constituição Federal – significando
o que é contrário ao ordenamento jurídico, contrário ao Direito de um modo
geral, que envolve tanto o ilegal quanto o ilegítimo, isto é, tanto a infringência às
normas legalmente produzidas, de direito material e processual, quanto aos
princípios gerais de direito, aos bons costumes e à moral”.

Nesse sentido, é possível sustentar que a prova ilícita – que é contrária ao


ordenamento jurídico – é gênero que abrange as espécies:
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Provas – Ônus da Prova e Provas Ilícitas
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1. Prova ilegal, que compreende a prova cuja captação ofende o direito mate-
rial, v.g., interceptação telefônica sem autorização judicial; e
2. Prova ilegítima, que diz respeito à prova produzida com inobservância da
norma processual, v.g., prova da morte da vítima através de mera confissão
do réu.

Ordena o CPP:

Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas


ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.

Atenção!
Há, no contexto das provas ilícitas, a teoria alemã da proporcionalidade – ou
Teoria da Razoabilidade ou Teoria do Interesse Predominante. Esta tem por
escopo equilibrar os direitos individuais com os interesses da coletividade,
não implicando em uma rejeição prima facie e contumaz das provas ilícitas.
Assim, sustenta-se que é necessário ponderar os interesses postos em baila
(notadamente pro réu) quando se viola uma garantia constitucional em prol da
produção probatória.

Ensina AVENA:

“(...) a doutrina e a jurisprudência majoritárias há longo tempo têm considerado


possível a utilização das provas ilícitas em favor do réu quando se tratar da
única forma de absolvê-lo ou de comprovar um fato importante à sua defesa.
Para tanto, é aplicado o princípio da proporcionalidade, também chamado de prin-
cípio do sopesamento, o qual, partindo da consideração de que "nenhum direito
reconhecido na Constituição pode revestir-se de caráter absoluto", possibilita que
se analise, diante da hipótese de colisão de direitos fundamentais, qual é o que
deve, efetivamente, ser protegido pelo Estado”.
ANOTAÇÕES

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Provas – Ônus da Prova e Provas Ilícitas
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Atenção!
No Brasil, a admissão de prova ilícita em processo penal é possível. No entanto,
ela só é admissível em benefício da defesa, em prol do direito de liberdade.
A própria relativização da inadmissibilidade de provas ilícitas é limitada em prol
da defesa – é o chamado princípio da proporcionalidade.

A Prova Ilícita por Derivação

São aquelas que, embora lícitas de per si, decorrem exclusivamente de uma
outra prova, considerada ilícita, ou de uma situação de ilegalidade, restando, por-
tanto, contaminadas.

Ensina AVENA:

“Trata-se, enfim, da aplicação da teoria norte-americana dos frutos da árvore


envenenada (fruits of the poisonous tree), segundo a qual o defeito existente no
tronco contamina os frutos. (...) Transpondo-se essa disposição para o tema de
provas, resultava que a ilicitude de uma prova, uma vez reconhecida, causará a
ilicitude das provas que dela diretamente decorram”.

Ordena o CPP:

Art. 157 (…), § 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo
quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as
derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.

Atenção!
Imaginando que um cidadão, sob tortura, confessa um crime e diz onde estão os
objetos do crime, o agente de estado de posse dessa informação consegue um
mandado de busca e apreensão para pegar a prova. Essa tortura é considerada
prova ilícita; e a busca e apreensão é resultante dessa tortura, ilícita também.
ANOTAÇÕES

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Provas – Ônus da Prova e Provas Ilícitas
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Com efeito, se a prova, mesmo em um contexto de ilicitude probatória, provier


de fonte independente (prova separada), como tal considerada aquela que por si
só, seguindo as diligências ordinárias investigativas em sede de IPL, por exemplo
não ocorrerá a contaminação.

Percebe-se que a validação do elemento probatório em razão da fonte inde-


pendente exige que não haja qualquer nexo de causalidade entre a prova que se
quer utilizar e a situação de ilicitude.

Além das provas advindas de fonte independente, AVENA ensina que outras
duas exceções à teoria da prova ilícita por derivação:

• O fenômeno da limitação da contaminação expurgada ("purged taint limi-


tation"), também conhecido como limitação da conexão atenuada ("atte-
nuated connection limitation"). Trata-se da hipótese em que, apesar de já
estar contaminado um determinado meio de prova em face da ilicitude da
prova ou da ilegalidade da situação que o gerou, um acontecimento pos-
terior expurga (afasta, elide) esta contaminação, permitindo-se o apro-
veitamento da prova.

É o caso da confissão ratificada em juízo que primeiro foi feita em sede de fla-
grante ilegal.

• O fenômeno da descoberta inevitável ("inevitable discovery"), isto é, hipó-


tese na qual a prova será considerada admissível se evidenciado que ela
seria, inevitavelmente, descoberta por meios legais.

Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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Provas – Meios de Prova e Perícias
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PROVAS – MEIOS DE PROVA E PERÍCIAS

REFERÊNCIA PARA A AULA

• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.


• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

MEIOS DE PROVA

• Segundo Nucci, são: “Todos os recursos, diretos ou indiretos, utilizados


para alcançar a verdade dos fatos no processo”.
• Segundo Clariá Olmedo: “É o método ou procedimento pelo qual chegam
ao espírito do julgador os elementos probatórios que geram um conheci-
mento certo ou provável a respeito de um objeto do fato criminoso”.
• São formas pelas quais as provas se manifestam dentro dos autos, demons-
trando a verdade dos fatos e influenciando o julgador.

DAS PERÍCIAS

• O primeiro meio de prova a ser estudado, na seara das perícias, é o exame


de corpo de delito, que constitui a verificação da existência material do
crime perpetrado. Ou seja, ele revela a materialidade do delito.
• O exame é levado a efeito em face dos vestígios do crime. Os corpos são
marcas, pistas ou rastros, deixados pela prática de uma infração penal.
• Os cadáveres não são os únicos a serem considerados corpos de delito.
Em um furto qualificado por arrombamento, por exemplo, a porta arrom-
bada tem essa classificação.
• Conforme Rogério Tucci, apud Nucci, o corpo de delito é: “Conjunto dos
elementos físicos ou materiais, principais ou acessórios, permanentes ou
temporários, que corporificam a prática criminosa".
ANOTAÇÕES

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Provas – Meios de Prova e Perícias
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• Esse exame é uma espécie de prova pericial constatatória da materiali-


dade e do crime investigado, realizada, em regra, por perito oficial.
• Quando o crime deixa vestígios (facti permanentis), é necessário que haja
o exame direto do corpo de delito (prova tarifada), conforme o que pres-
creve o art. 158, do CPP:

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Atenção!
Admite-se, em caráter excepcional, que a materialidade do crime seja provada
de forma indireta, através de exames de outros elementos e provas, quando
os vestígios já tiverem se perdido. O exame de corpo de delito indireto será
realizado em fotografias, vídeos ou documentos, como prontuários médicos.
Contudo, de forma alguma a confissão do investigado ou do réu poderá suprir
a materialidade do crime sob análise.

• Há ainda o corpo de delito indireto, o qual não se confunde com o exame


de corpo de delito indireto. O corpo de delito indireto se trata dos elementos
de prova que suprem a ausência dos vestígios do crime praticado.
• Mesmo com a ausência de um corpo, é possível que um homicídio seja
provado, com base nos corpos de delito indiretos.
• Segundo o escólio de Sérgio Pitombo: “O corpo de delito indireto produz-se
mediante a prova pessoal, quer dizer, interrogatório do réu, perguntas ao
ofendido e depoimento de testemunhas”. Essas provas suprirão a ausência
dos elementos materiais.
• Quando não for possível se realizar o exame de corpo de delito direto ou
indireto, permite-se a prova de existência do crime por intermédio da prova
subjetiva (testemunhos).
• A perícia é levada a termo pelo perito, que é o especialista (experto) em
dado assunto. Ele é oficial quando investido nessa função por lei.
ANOTAÇÕES

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Provas – Meios de Prova e Perícias
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• Os peritos são auxiliares da autoridade policial (delegado de polícia) e da


autoridade judicial (magistrado) no estabelecimento da existência material
dos crimes sob escrutínio.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito
oficial, portador de diploma de curso superior.

• Basta apenas um perito oficial.

§ 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idône-
as, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica,
dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

• A lei admite que haja a substituição dos peritos oficiais, quando houver
ausência de auxiliar no local de interesse probatório.
• Para a substituição, exige-se que a intervenção de duas pessoas (subs-
titutos do perito oficial), escolhidas pelo delegado de polícia (em sede de
inquérito policial) ou pelo juiz (em sede de ação penal), levando em consi-
deração as suas aptidões e conhecimentos específicos sobre a matéria que
lhes é apresentada. Os escolhidos assinam um termo comprometendo-se
a bem servir o interesse público.

§ 2º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempe-


nhar o encargo.

• Os peritos ad hoc (não oficiais) prestarão compromisso perante o delegado


de polícia ou o juiz, conforme o caso, com lavratura de termo nos autos, de
bem desempenhar o encargo que lhe é confiado pela autoridade.

§ 3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendi-


do, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente
técnico.
§ 4º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a con-
clusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes
intimadas desta decisão.
ANOTAÇÕES

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Provas – Meios de Prova e Perícias
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• Durante a ação penal, as partes (MP, querelante e o réu) poderão formular


quesitos ao perito oficial e valerem-se de assistentes técnicos, admitidos
pelo juiz, para exame dos vestígios (material para contraprova), depois de
realizado os trabalhos do perito oficial. Isso é permitido para que haja o
direito da ampla defesa e do contraditório.
• O assistente técnico atua apenas na ação penal.

§ 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia:


I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a
quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem
esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, po-
dendo apresentar as respostas em laudo complementar;

• Os peritos podem ser questionados.

II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser


fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência.

• Inquirição do perito em audiência para fins de esclarecimentos imprescin-


díveis sobre a prova (laudo pericial).

§ 6º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à


perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua
guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for
impossível a sua conservação.

• O material probatório fica à disposição das partes para o contraditório.

§ 7º Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conheci-


mento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e
a parte indicar mais de um assistente técnico.

Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente


o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados.
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias,
podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos
peritos.
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Provas – Meios de Prova e Perícias
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• O perito expressa as suas conclusões sobre o exame feito nos vestígios do


crime através do laudo pericial, de forma técnica e fundamentada.
• Será possível também a realização de nova perícia se assim decidir a auto-
ridade policial (em sede de inquérito policial) ou a autoridade judicial (na
ação penal).
• Na ação penal, cabe ao juiz julgar sobre a eficácia ou ineficácia dos laudos
periciais.
• A perícia não vincula autoridade.

Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer
hora.

• As perícias poderão realizar o exame de corpo de delito a qualquer momento.

Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os
peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes da-
quele prazo, o que declararão no auto.

• Para evitar que a autópsia ou necrópsia seja feita em um corpo vivo, a lei
dispõe sobre o Período de Segurança.

Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do
cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões ex-
ternas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame
interno para a verificação de alguma circunstância relevante.

Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providencia-


rá para que, em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual
se lavrará auto circunstanciado.

• Exumar significa desenterrar ou tirar o cadáver da sepultura.


• Recusa do administrador do cemitério na indicação do local:
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Provas – Meios de Prova e Perícias
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Parágrafo único. O administrador de cemitério público ou particular indicará o lugar


da sepultura, sob pena de desobediência. No caso de recusa ou de falta de quem
indique a sepultura, ou de encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a inu-
mações, a autoridade procederá às pesquisas necessárias, o que tudo constará do
auto.

• Fotografia dos cadáveres:

Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem en-
contrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios
deixados no local do crime.

• Provas fotográficas:

Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando


possível, juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos,
devidamente rubricados.

• Dúvida quanto à identidade do cadáver e lavratura de auto de reconheci-


mento e de identidade:

Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á


ao reconhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição con-
gênere ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e
de identidade, no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações.

• Arrecadação dos objetos encontrados:

Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os


objetos encontrados, que possam ser úteis para a identificação do cadáver.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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Provas – Perícias e Interrogatórios
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PROVAS – PERÍCIAS E INTERROGATÓRIOS

REFERÊNCIA PARA A AULA

• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.


• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

DAS PERÍCIAS

Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido in-
completo,
proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou
judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do
acusado, ou de seu defensor.
§ 1º No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito,
a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.
§ 2º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1º, I,
do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da
data do crime.
§ 3º A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

• No caso de lesão corporal, havendo um primeiro exame pericial incom-


pleto, é necessária a realização de um exame complementar por determi-
nação do delegado de polícia ou juiz, visando à apuração da extensão da
lesão corporal.
• As lesões corporais são classificadas em leve, grave ou gravíssima. As
lesões gravíssimas não estão dispostas na lei.

Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a
autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coi-
sas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias,
desenhos ou esquemas elucidativos.
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Provas – Perícias e Interrogatórios
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• Para realização do exame do local em que foi praticada a infração, o Dele-


gado de Polícia determinará imediatamente que não se altere o estado das
coisas até a chegada dos peritos.
• Havendo mudança do local do crime:

Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coi-


sas e discutirão, no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos
fatos.

• Exame laboratorial:

Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para
a eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustra-
dos com provas fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.

Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente


o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados.
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias,
podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos
peritos.

• O perito expressa as suas conclusões sobre o exame feito nos vestígios do


crime através do laudo pericial, de forma técnica e fundamentada.
• Os peritos não fazem juízo de valor jurídico.

Art. 171. Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a


subtração da coisa, ou por meio de escalada, os peritos, além de descrever os ves-
tígios, indicarão com que instrumentos, por que meios e em que época presumem
ter sido o fato praticado.

• A perícia em furto qualificado visa demonstrar a incidência das qualificado-


ras de destruição, rompimento de obstáculo e escalada.
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Art. 172. Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coisas destruídas, de-


terioradas ou que constituam produto do crime.
Parágrafo único. Se impossível a avaliação direta, os peritos procederão à avalia-
ção por meio dos elementos existentes nos autos e dos que resultarem de diligên-
cias.

• Em crimes contra o patrimônio, quando necessário, deve ser confeccio-


nado o laudo de avaliação das coisas destruídas, deterioradas ou que
constituam produto do crime. Essa avaliação pode ser direta ou indireta.

Art. 250. Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patri-
mônio de outrem:
Pena – reclusão, de três a seis anos, e multa.

Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que hou-
ver começado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio
alheio, a extensão do dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessa-
rem à elucidação do fato.

• Para verificação do crime de incêndio, previsto no art. 250 do CP, é cabível


a realização de exame de local.

Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra,


observar-se-á o seguinte:
I – a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o
ato, se for encontrada;
II – para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa
reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou
sobre cuja autenticidade não houver dúvida;
III – a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os documentos
que existirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a dili-
gência, se daí não puderem ser retirados;
IV – quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os exi-
bidos, a autoridade mandará que a pessoa escreva o que Ihe for ditado. Se estiver
ausente a pessoa, mas em lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por
precatória, em que se consignarão as palavras que a pessoa será intimada a es-
crever.
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Provas – Perícias e Interrogatórios
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• Para determinação da autoria em crimes envolvendo fraudes e falsifica-


ções, é realizado o exame de reconhecimento de escritos, grafotécnicos
ou caligráficos.

Art. 175. Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da


infração, a fim de se Ihes verificar a natureza e a eficiência.

• O exame dos instrumentos utilizados para a perpetração do crime sob


escrutínio verificará a natureza e a eficiência do instrumento.

Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão consignadas no auto do


exame as declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá sepa-
radamente o seu laudo, e a autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de
ambos, a autoridade poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos.

• Se a perícia for feita por dois peritos não oficiais, havendo divergência entre
eles, cada um dos peritos poderá apresentar, no mesmo laudo, as suas
opiniões. Ademais, em qualquer circunstância o juiz poderá nomear um
terceiro perito, chamado de “perito desempatador”.

Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo
ou em parte.

• O juiz, no sistema do livre convencimento motivado, não está adstrito ao


laudo pericial, podendo rejeitá-lo, no todo ou em parte, desde que sempre
fundamente a sua decisão à luz do conjunto probatório.

DO INTERROGATÓRIO

Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acu-


sação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu
direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem formu-
ladas.
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser inter-
pretado em prejuízo da defesa.
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Provas – Perícias e Interrogatórios
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Sob a perspectiva garantista do processo penal, no contexto do sistema acu-


satório, o interrogatório, além de ser um meio de prova, é um meio de defesa.
No interrogatório, o indiciado ou o réu pode levar a termo a sua versão sobre
os fatos sob escrutínio, exercendo o seu direito de autodefesa.
Assim, o indiciado ou o réu, no exercício da sua autodefesa, pode silenciar,
sem ter o silêncio interpretado em seu desfavor. Pode, inclusive, mentir quanto
ao mérito do seu interrogatório.

Art. 187. O interrogatório será constituído de duas partes: sobre a pessoa do acu-
sado e sobre os fatos.
§ 1º Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre a residência, meios de
vida ou profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua atividade, vida
pregressa, notadamente se foi preso ou processado alguma vez e, em caso afir-
mativo, qual o juízo do processo, se houve suspensão condicional ou condenação,
qual a pena imposta, se a cumpriu e outros dados familiares e sociais.

• O direito ao silêncio está adstrito à segunda fase do interrogatório, refe-


rente aos fatos delitivos sob exame, e não à primeira, que diz respeito à
individualização do indiciado ou réu.

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do


processo penal, será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, cons-
tituído ou nomeado.
§ 5º Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de
entrevista prévia e reservada com o seu defensor; se realizado por videoconferên-
cia, fica também garantido o acesso a canais telefônicos reservados para comuni-
cação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de
audiência do Fórum, e entre este e o preso.

• O interrogatório judicial precisa ser acompanhado por defensor (defesa


técnica) sob pena de nulidade absoluta. Além disso, o réu tem direito a
entrevista prévia com o seu advogado, para que seja orientado sobre o ato
processual no interrogatório.
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Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acu-


sação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu
direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem formu-
ladas.
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser inter-
pretado em prejuízo da defesa.

• O interrogatório se inicia com uma fase preliminar, em que o interrogado é


advertido sobre seu direito ao silêncio.
• Em seguida, realiza-se o procedimento do interrogatório propriamente dito,
com a primeira fase de qualificação do interrogado e a segunda fase, que
diz respeito aos fatos de interesse, momento que lhe é garantido o silêncio
ou a mentira, desde que não seja autoacusação falsa e imputação falsa
a terceiro. Em relação ao mérito da causa, será indagado minimamente o
que está prescrito no art. 187, § 2º, do CPP:

Art. 187. O interrogatório será constituído de duas partes: sobre a pessoa do acu-
sado e sobre os fatos.
§ 2º Na segunda parte será perguntado sobre:
I – ser verdadeira a acusação que lhe é feita;
II – não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que atribuí-
-la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem deva ser imputada a prática do crime,
e quais sejam, e se com elas esteve antes da prática da infração ou depois dela;
III – onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia desta;
IV – as provas já apuradas;
V – se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, e desde quan-
do, e se tem o que alegar contra elas;
VI – se conhece o instrumento com que foi praticada a infração, ou qualquer objeto
que com esta se relacione e tenha sido apreendido;
VII – todos os demais fatos e pormenores que conduzam à elucidação dos antece-
dentes e circunstâncias da infração;
VIII – se tem algo mais a alegar em sua defesa.

Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou al-
gum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o en-
tender pertinente e relevante.
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• Como também constitui meio de defesa, o interrogatório deixou de ser ato


privativo do juiz, possibilitando a participação das partes mediante formula-
ção de perguntas dirigidas ao interrogado.

Art. 189. Se o interrogando negar a acusação, no todo ou em parte, poderá prestar


esclarecimentos e indicar provas.

• Em resposta às perguntas formuladas, se o interrogado negar a acusação,


poderá prestar esclarecimentos e indicar provas.

Art. 190. Se confessar a autoria, será perguntado sobre os motivos e circunstân-


cias do fato e se outras pessoas concorreram para a infração, e quais sejam.

• Se confessar a autoria, o interrogado será indagado sobre as circunstân-


cias do fato sob análise.

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Provas – Interrogatórios, Confissão e Testemunhas
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PROVAS – INTERROGATÓRIOS, CONFISSÃO E TESTEMUNHAS

REFERÊNCIA PARA A AULA

• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.


• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processual Penal.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

DO INTERROGATÓRIO

O interrogatório pode ser realizado no estabelecimento penal ou por video-


conferência.

Art. 185, § 1º O interrogatório do réu preso será realizado, em sala própria, no es-
tabelecimento em que estiver recolhido, desde que estejam garantidas a segurança
do juiz, do membro do Ministério Público e dos auxiliares bem como a presença do
defensor e a publicidade do ato.

• Em regra, o interrogatório do preso será feito em sala própria do estabe-


lecimento prisional, desde que haja condições necessárias de segurança.
• O parágrafo acima trata da regra legal, mas, na prática, o juiz sempre con-
voca o preso no prédio da vara.

§ 2º Excepcionalmente, o Juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requeri-


mento das partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de vide-
oconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em
tempo real, desde que a medida seja necessária para atender a uma das seguintes
finalidades:

• Apenas quando não estão presentes os requisitos do § 1º do art. 185, do


CPP, o interrogatório do réu (somente na fase judicial da persecução crimi-
nal) poderá ser feito por videoconferência, meio virtual, on-line ou eletrô-
nico.
ANOTAÇÕES

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• A decisão por videoconferência deverá ser fundamentada conforme os inci-


sos do § 2º.

I – prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o


preso integre organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir duran-
te o deslocamento;
II – viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja rele-
vante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra
circunstância pessoal;
III – impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que
não seja possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do
art. 217 deste Código;
IV – responder à gravíssima questão de ordem pública.

• Para definir uma gravíssima questão de ordem pública, o juiz levará em


conta o contexto social em que está inserido o ato processual penal.

§ 7º Será requisitada a apresentação do réu preso em juízo nas hipóteses em que


o interrogatório não se realizar na forma prevista nos §§ 1º e 2º deste artigo.

• Não havendo a possibilidade de realização do interrogatório no estabeleci-


mento penitenciário ou por videoconferência, ele deverá ser feito por meio
de requisição do réu preso em juízo. Nessa hipótese, o Estado providencia
o encaminhamento do réu.

DA CONFISSÃO

• Segundo Avena: “Trata-se a confissão do reconhecimento pelo réu da impu-


tação que lhe foi feita por meio da denúncia ou da queixa-crime. Segundo
dispõe o art. 190 do CPP, se o réu confessar a autoria, deverá ser pergun-
tado sobre os motivos e circunstâncias do fato, bem como se outras pes-
soas concorreram para a infração, declinando-as, em caso positivo".
• Portanto, é o meio de prova que consiste no reconhecimento por parte do
indiciado ou réu dos fatos que lhe são imputados.
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Art. 200. A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo do livre convencimen-
to do juiz, fundado no exame das provas em conjunto.

• A confissão é divisível, pode ser considerada apenas em parte, e é retratá-


vel, pois o réu pode voltar atrás de forma tempestiva.

Art. 199. A confissão, quando feita fora do interrogatório, será tomada por termo
nos autos, observado o disposto no art. 195.

• A confissão pode ser extraprocessual, não necessitando ser em sede de


interrogatório, mas deverá ser tomada por termo nos autos. Quo no est in
actis, non est in mundus: o que não está nos autos, não está no mundo.
• Todas as provas devem estar presentes nos autos, sob pena de perderem
a validade.

Atenção!
A confissão é relevante, mas não é a “rainha das provas”. Com efeito, a simples
confissão não enseja condenação e não obsta a produção probatória de outros
elementos de prova.
O sistema do livre convencimento (vide art. 155, do CPP) exige que o juiz
fundamente sua decisão no conjunto probatório trazido aos autos.

Art. 197. O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros
elementos de prova, e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as
demais provas do processo, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade
ou concordância.

• A confissão precisa ser pertinente no contexto criminal, sob pena de haver


uma contradição.

Art. 198. O silêncio do acusado não importará confissão.


ANOTAÇÕES

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O silêncio do indiciado, e mais particularmente do réu, não implica em confis-


são. É a expressão de autodefesa do interrogado, afasta a autoincriminação e,
considerando que ninguém é obrigado a produzir prova contra si, não pode influir
na formação de convencimento do juiz.

DAS TESTEMUNHAS

• Segundo o escólio de Avena: “Conforme ensina Mirabete, testemunha é


a pessoa que, perante o Juiz, declara o que sabe acerca dos fatos sobre
os quais se litiga no processo penal, ou as que são chamadas a depor,
perante o Juiz, sobre as suas percepções sensoriais a respeito dos fatos
imputados ao acusado”.
• As testemunhas não dão opinião, apenas descrevem o que ouviram, viram,
sentiram etc.
• As testemunhas classificam-se em:
1) Testemunha referida – é a que é citada por uma outra, chamada de re-
ferente, não sendo contada no rol para contagem do número máximo de
testemunhas.
2) Testemunha judicial – inquirida pelo juiz ex officio, fundamenta-se no "po-
der-dever" que assiste ao magistrado de buscar a verdade material.
3) Testemunha própria – é a testemunha chamada para ser ouvida sobre o
fato do litígio, seja porque tenha presenciado, seja porque dele ouviu dizer.
4) Testemunha imprópria ou instrumental – é a que prestará depoimento so-
bre fatos que não se referem diretamente ao mérito da ação penal.
5) Testemunha numerária – é regularmente compromissada, na forma da lei.
6) Testemunha não compromissada ou informante – são as dispensadas do
compromisso. Prestam apenas declarações.
7) Testemunha direta – trata-se da testemunha que presenciou os fatos por
meio dos sentidos, possuindo melhores condições de elementos referen-
tes ao fato criminoso.
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8) Testemunha indireta – é aquela que declara ao magistrado sobre o que


não presenciou, mas soube ou ouviu dizer.

• No Processo Penal, toda e qualquer pessoa tem capacidade para ser tes-
temunha, todavia cabe à autoridade (policial ou judicial) valorar o teor do
depoimento de cada testemunha, vide art. 202, CPP:

Art. 202. Toda pessoa poderá ser testemunha.

• Como regra, toda testemunha tem o compromisso de dizer a verdade e não


tem direito ao silêncio. Apenas o réu pode silenciar.
• Nesse sentido, o silêncio não pode ser exercido pela testemunha nem
mesmo em relação aos dados qualificativos:

Art. 203. A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a verdade
do que souber e Ihe for perguntado, devendo declarar seu nome, sua idade, seu
estado e sua residência, sua profissão, lugar onde exerce sua atividade, se é pa-
rente, e em que grau, de alguma das partes, ou quais suas relações com qualquer
delas, e relatar o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência ou as
circunstâncias pelas quais possa avaliar-se de sua credibilidade.

A testemunha pode ser responsabilizada pelo crime de falso testemunho, nos


termos do art. 342, CP:

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha,
perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, in-
quérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena – reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.

Atenção!
Há de se registrar, outrossim, que a testemunha poderá se calar em relação
aos fatos que possam lhe incriminar, considerando que ninguém é obrigado a
produzir prova contra si.
ANOTAÇÕES

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• O art. 211 do CPP determina que o juiz, reconhecendo a prática do falso


testemunho, encaminhará ao delegado de polícia uma cópia do testemu-
nho eivado de falsidade, para a devida apuração em sede de Inquérito
Policial:

Art. 211. Se o Juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer que alguma testemu-
nha fez afirmação falsa, calou ou negou a verdade, remeterá cópia do depoimento
à autoridade policial para a instauração de inquérito.

• Além disso, o próprio CPP, em seu art. 211, parágrafo único, autoriza
expressamente a prisão em flagrante da testemunha que prestou falso tes-
temunho com sua apresentação ao delegado de polícia, no caso de ocor-
rência de tal crime no Plenário do Tribunal do Júri:

Parágrafo único. Tendo o depoimento sido prestado em plenário de julgamento, o


Juiz, no caso de proferir decisão na audiência (art. 538, § 2º), o tribunal (art. 561),
ou o conselho de sentença, após a votação dos quesitos, poderão fazer apresentar
imediatamente a testemunha à autoridade policial.

• Não obstante o dever de depor da testemunha, a lei processual penal prevê


dispensa do dever de depor de algumas pessoas, em face dos laços de afi-
nidade que elas guardam com o réu, nos termos do art. 206, CPP:

Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, en-
tretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o
cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusa-
do, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova
do fato e de suas circunstâncias.

• Todavia, as pessoas apresentadas acima podem ser ouvidas na persecu-


ção criminal sem o compromisso de dizer a verdade, sem possibilidade de
praticar, portanto, o crime de falso testemunho. Serão ouvidas como infor-
mantes.
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• O CPP, em seu art. 208, dispensa o compromisso de dizer a verdade das


pessoas nestas condições:

Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 aos doentes e de-
ficientes mentais e aos menores de 14 (quatorze) anos, nem às pessoas a que se
refere o art. 206.

• De outro lado, a lei processual penal traz o rol das pessoas que estão
proibidas de depor. Isso, em razão da função, ministério, ofício ou profis-
são que implicam em guarda de segredo como os psicólogos, psiquiatras,
médicos, padres e pastores, nos termos do art. 207, do CPP:

Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério,
ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte inte-
ressada, quiserem dar o seu testemunho.

• Contudo, há de se ressaltar que elas poderão servir como testemunhas


quando desobrigadas pela parte interessada, caso queiram.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.

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Provas – Testemunhas II
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PROVAS – TESTEMUNHAS II

REFERÊNCIA PARA A AULA

• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.


• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

DAS TESTEMUNHAS

As testemunhas, em regra, devem ser arroladas na peça exordial da ação


penal (inaugura a acusação) ou na resposta escrita do réu, sob pena de preclu-
são. Considerando a ampla defesa e o contraditório, o juiz também pode admitir
elementos de provas temporâneos (após o período definido).
As testemunhas arroladas na peça de acusação e de defesa são denomina-
das de testemunhas numerárias, pois estão no rol de testemunhas apresenta-
das no momento adequado. No bojo do procedimento ordinário, por exemplo, o
número de testemunhas é 8.

Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além
das indicadas pelas partes.
§ 1º Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a que as testemu-
nhas se referirem.

• Há também as testemunhas extranumerárias, as quais são ouvidas ex offi-


cio pelo Juiz, como testemunhas referidas ou referenciais (aquelas citadas
por outra testemunha).

§ 2º Não será computada como testemunha a pessoa que nada souber que inte-
resse à decisão da causa.
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• As testemunhas referidas e as inócuas (aquelas que nada sabem sobre os


fatos de interesse) não integram o quantitativo legal de testemunhas.
• A quantidade máxima de testemunhas que podem ser arroladas pelas
partes:

contra a honra
ANOTAÇÕES

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Provas – Testemunhas II
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Art. 222/STF. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo
juiz do lugar de sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com
prazo razoável, intimadas as partes.
§ 1º A expedição da precatória não suspenderá a instrução criminal.

• A testemunha que reside fora do juízo será ouvida por carta precatória.

Atenção!
Súmula n. 155/STF. É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intima-
ção da expedição de precatória para inquirição de testemunha.

• A nulidade do processo pode ser saneada.

Súmula 273/STJ. Intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se


desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado.

• A parte precisa acompanhar, junto ao juízo deprecado, a marcação da


data da audiência.

§ 2º Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo tempo, a


precatória, uma vez devolvida, será junta aos autos.
§ 3º Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de testemunha poderá
ser realizada por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de trans-
missão de sons e imagens em tempo real, permitida a presença do defensor e
podendo ser realizada, inclusive, durante a realização da audiência de instrução e
julgamento.

• A possibilidade de videoconferência, em regra, faz com que a carta preca-


tória sirva apenas para fins de intimação.

Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem mo-
tivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou
determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da
força pública.
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Provas – Testemunhas II
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• Se a testemunha devidamente intimada não comparece injustificadamente


à audiência de instrução e julgamento, o juiz pode determinar a sua condu-
ção coercitiva (condução sob vara).

Art. 458. Se a testemunha, sem justa causa, deixar de comparecer, o juiz presiden-
te, sem prejuízo da ação penal pela desobediência, aplicar-lhe-á a multa prevista
no § 2º do art. 436 deste Código.
Art. 436, § 2º A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa no valor de
1 (um) a 10 (dez) salários-mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição
econômica do jurado.

• A testemunha faltante está sujeita a multa.


• O § 2º, do artigo 436, dispõe sobre a recusa injustificada de jurado, mas
também se aplica à testemunha faltante.
• A testemunha tem obrigação de comparecer à audiência e dizer a verdade.

Art. 214. Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão contraditar a testemu-


nha ou arguir circunstâncias ou defeitos, que a tornem suspeita de parcialidade, ou
indigna de fé. O juiz fará consignar a contradita ou arguição e a resposta da teste-
munha, mas só excluirá a testemunha ou não Ihe deferirá compromisso nos casos
previstos nos arts. 207 e 208.

Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério,
ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte inte-
ressada, quiserem dar o seu testemunho.
Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 aos doentes e de-
ficientes mentais e aos menores de 14 (quatorze) anos, nem às pessoas a que se
refere o art. 206.

• As testemunhas podem ser contraditadas quando há circunstâncias que as


tornem suspeitas ou indignas de fé, como as que não podem depor ou as
que estão dispensadas de prestar compromisso de dizer a verdade.
• As testemunhas dispostas no rol do artigo 206 são aquelas que têm um
grau de afinidade com o réu.
ANOTAÇÕES

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Art. 205. Se ocorrer dúvida sobre a identidade da testemunha, o juiz procederá à


verificação pelos meios ao seu alcance, podendo, entretanto, tomar-lhe o depoi-
mento desde logo.

• A verificação é necessária para qualificar a testemunha, podendo, assim,


ser responsabilizada caso falte com a verdade.

Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e depu-


tados federais, os ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios,
os secretários de Estado, os prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os de-
putados às Assembleias Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judiciário,
os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito
Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em local, dia e hora
previamente ajustados entre eles e o juiz.

• Há autoridades públicas que possuem prerrogativas em relação aos seus


depoimentos, na condição de testemunha.

§ 1º O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presidentes do Senado


Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal poderão optar
pela prestação de depoimento por escrito, caso em que as perguntas, formuladas
pelas partes e deferidas pelo juiz, Ihes serão transmitidas por ofício.
§ 2º Os militares deverão ser requisitados à autoridade superior.
§ 3º Aos funcionários públicos aplicar-se-á o disposto no art. 218, devendo, porém,
a expedição do mandado ser imediatamente comunicada ao chefe da repartição
em que servirem, com indicação do dia e da hora marcados.

Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma de per si, de modo que umas
não saibam nem ouçam os depoimentos das outras, devendo o juiz adverti-las das
penas cominadas ao falso testemunho.
Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante a sua realização, serão
reservados espaços separados para a garantia da incomunicabilidade das teste-
munhas.

Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha,


não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação
com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida.
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Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a


inquirição.

• As perguntas às testemunhas serão formuladas diretamente pelas partes,


com fiscalização do juiz, que poderá indeferi-las.

Art. 204. O depoimento será prestado oralmente, não sendo permitido à testemu-
nha trazê-lo por escrito.
Parágrafo único. Não será vedada à testemunha, entretanto, breve consulta a
apontamentos.

• O depoimento da testemunha, em regra, é oral, sendo permitido que alguns


apontamentos sejam consultados de forma breve.

Art. 213. O juiz não permitirá que a testemunha manifeste suas apreciações pesso-
ais, salvo quando inseparáveis da narrativa do fato.

• A testemunha apenas descreve, não podendo emitir juízo de valor.

Art. 215. Na redação do depoimento, o juiz deverá cingir-se, tanto quanto possível,
às expressões usadas pelas testemunhas, reproduzindo fielmente as suas frases.

• O juiz deve se preocupar em reproduzir fielmente o depoimento da teste-


munha.

Art. 405. Do ocorrido em audiência será lavrado termo em livro próprio, assinado
pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes nela ocorridos.

• O depoimento da testemunha será reduzido a termo e sempre que possível


o registro deverá ser feito por meio tecnológico.

§ 1º Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado,


ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética,
estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior
ANOTAÇÕES

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Provas – Testemunhas II
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fidelidade das informações.


§ 2º No caso de registro por meio audiovisual, será encaminhado às partes cópia
do registro original, sem necessidade de transcrição.

Art. 220. As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por velhice, de compa-


recer para depor, serão inquiridas onde estiverem.

• As pessoas impossibilitadas de comparecer para depor podem ser ouvidas


no local em que se encontram.

Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou


por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o
juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe anteci-
padamente o depoimento.

Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, te-
mor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que preju-
dique a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente
na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na
inquirição, com a presença do seu defensor.
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo
deverá constar do termo, assim como os motivos que a determinaram.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
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PROVAS – DO RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS

REFERÊNCIA PARA A AULA

• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.


• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

DO RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS

Trata-se de meio de prova (procedimento) para identificação de pessoas de


alguma maneira envolvidas com o fato criminoso sob análise, bem como de
coisas relevantes para o deslinde da persecução criminal.
Tal meio de prova pode ser levado a efeito tanto na fase de inquérito policial
quanto na fase de ação penal. Tanto o réu como as testemunhas e o próprio
ofendido podem ser reconhecidos.

Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-


-se-á pela seguinte forma:
I – a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que
deva ser reconhecida;
Il – a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de
outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o
reconhecimento a apontá-la;
III – se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito
de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser
reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela;
IV – do ato de reconhecimento lavrar-se-á autopormenorizado, subscrito pela autoridade,
pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presen-
ciais.
Parágrafo único. O disposto no III deste artigo não terá aplicação na fase da instrução cri-
minal ou em plenário de julgamento.
ANOTAÇÕES

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• Essa ressalva do parágrafo único é levada a efeito em respeito aos prin-


cípios do contraditório, da ampla defesa e da publicidade. Em relação ao
reconhecimento de coisas, aplica-se o mesmo rito, como disposto no art.
227, do CPP:

Art. 227. No reconhecimento de objeto, proceder-se-á com as cautelas estabelecidas no


artigo anterior, no que for aplicável.

• O reconhecimento é necessário para que haja a possibilidade de vincula-


ção entre o fato criminoso e as pessoas ou os objetos presentes na inves-
tigação.

DA ACAREAÇÃO

A acareação é meio de prova admitido e pode ser realizada entre acusa-


dos, entre acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado e ofendido,
entre testemunha e ofendido e entre pessoas ofendidas, sempre que divergirem
em suas declarações sobre fatos ou circunstâncias relevantes.
Ela pode ser feita tanto na fase do inquérito policial quanto na fase da ação
penal da persecução criminal.

Art. 229. A acareação será admitida entre acusados, entre acusado e testemunha, en-
tre testemunhas, entre acusado ou testemunha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas
ofendidas, sempre que divergirem, em suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias
relevantes.
Parágrafo único. Os acareados serão reperguntados, para que expliquem os pontos de
divergências, reduzindo-se a termo o ato de acareação.

• Para realizar a acareação, colocam-se as duas pessoas divergentes senta-


das uma em frente a outra e as mesmas perguntas são feitas para ambas.

Art. 230. Se ausente alguma testemunha, cujas declarações divirjam das de outra, que
esteja presente, a esta se darão a conhecer os pontos da divergência, consignando-se no
auto o que explicar ou observar. Se subsistir a discordância, expedir-se-á precatória à auto-
ANOTAÇÕES

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ridade do lugar onde resida a testemunha ausente, transcrevendo-se as declarações desta


e as da testemunha presente, nos pontos em que divergirem, bem como o texto do referido
auto, a fim de que se complete a diligência, ouvindo-se a testemunha ausente, pela mesma
forma estabelecida para a testemunha presente. Esta diligência só se realizará quando não
importe demora prejudicial ao processo e o juiz a entenda conveniente.

DOS DOCUMENTOS

Art. 232. Consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos


ou particulares.
Parágrafo único. À fotografia do documento, devidamente autenticada, se dará o mesmo
valor do original.

O sentido de "documento" na seara no processo penal é flexível. A sua carac-


terização importa apenas em originalidade.
Fotografias ou prints são exemplos de documentos, pois são instrumentos
que demonstram a realização de uma conduta ou a existência de determinado
evento.

Art. 231. Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apresentar documentos em
qualquer fase do processo.

• A juntada de documentos no processo é possível em qualquer fase da ação


penal. Isso, desde que submetidos ao crivo do contraditório e da ampla
defesa.
• Há, todavia, a exceção referente ao Tribunal do Júri, conforme disposto no
art. 479, do CPP:

Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição
de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias
úteis, dando-se ciência à outra parte.

Art. 236. Os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada imediata,
serão, se necessário, traduzidos por tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea no-
meada pela autoridade.
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• O documento deve ser traduzido mesmo que o juiz conheça o idioma.

Art. 233. As cartas particulares, interceptadas ou obtidas por meios criminosos, não serão
admitidas em juízo.

• Todavia, quando ocorrer em favor do réu, a prova ilícita poderá ser utili-
zada, por aplicação do princípio da proporcionalidade.

Parágrafo único. As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo respectivo destinatário, para
a defesa de seu direito, ainda que não haja consentimento do signatário.

Art. 234. Se o juiz tiver notícia da existência de documento relativo a ponto relevante da
acusação ou da defesa, providenciará, independentemente de requerimento de qualquer
das partes, para sua juntada aos autos, se possível.

• O juiz, em nome da busca da verdade material (real), pode determinar ex


officio a requisição de documento, para saneamento de dúvida relevante
sobre a matéria probatória.

Art. 235. A letra e firma dos documentos particulares serão submetidas a exame pericial,
quando contestada a sua autenticidade.

Art. 237. As públicas-formas só terão valor quando conferidas com o original, em presença
da autoridade.

• As públicas-formas, que constituem a cópia autêntica de um documento,


feita e reconhecida por tabelião e que substitui o original, terão valor apenas
quando conferidas com o original, em presença da autoridade.

DOS INDÍCIOS

Os indícios (sinais ou fatos que deixam entrever alguma coisa, sem a des-
cobrir completamente, mas constituindo princípio de prova) são circunstâncias
conhecidas e provadas que mantêm relação com um fato ou circunstância, sob
escrutínio que por lógica dedutiva conduza à conclusão de sua existência.
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Provas – Do Reconhecimento de Pessoas e Coisas
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Segundo Pacelli: “Trata-se (…) da utilização de um raciocínio dedutivo, para,


a partir da valoração da prova de um fato ou de uma circunstância, chegar-se à
conclusão da existência de um outro ou de uma outra”.
Os álibis são exemplos de indícios.

Art. 239. Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação
com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstân-
cias.

• Os indícios são meios de prova legais e, portanto, aptos a serem utilizados


como prova no processo penal, inclusive para sustentar condenação do
réu.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.

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PROVAS – BUSCA E APREENSÃO

REFERÊNCIA PARA A AULA

• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado


• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal

DA BUSCA E APREENSÃO

A Busca e Apreensão é meio de prova que acautela a persecução criminal,


pois busca tirar do âmbito do indiciado as provas importantes para a investiga-
ção criminal, tanto na fase do inquérito policial, quanto na fase da ação penal.
Devido à sua natureza cautelar e invasiva é meio de prova excepcional, sendo
levada a termo, em regra, com a devida autorização judicial fundamentada, nota-
damente quando domiciliar.

1. Da Busca Domiciliar

A busca domiciliar é levada a termo na residência de um indivíduo. Para fins


penais, o conceito de “casa” é o do art. 150, do CP:

Art. 150, § 4º A expressão “casa” compreende:


I – qualquer compartimento habitado;
II – aposento ocupado de habitação coletiva;
III – compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou ativi-
dade.
§ 5º Não se compreendem na expressão “casa”:
I – hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta,
salvo a
restrição do n.º II do parágrafo anterior;
II – taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
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CPP

Art. 246. Aplicar-se-á também o disposto no artigo anterior, quando se tiver de pro-


ceder a busca em compartimento habitado ou em aposento ocupado de habitação
coletiva ou em compartimento não aberto ao público, onde alguém exercer profis-
são ou atividade.

• A busca domiciliar também pode ser levada a termo na extensão do domi-


cílio.

Art. 241. Quando a própria autoridade policial ou judiciária não a realizar pessoal-


mente, a busca domiciliar deverá ser precedida da expedição de mandado.

• A busca domiciliar somente será realizada mediante ordem judicial expressa


e escrita.
• Em que pese o texto do art. 241, do CPP, in limine, mesmo com a presença
do Delegado de Polícia, a busca somente será feita por mandado judicial.
Não houve recepção desta parte do dispositivo pela Carta Magna.

Art. 242. A busca poderá ser determinada de ofício ou a requerimento de qualquer


das partes.

• A ordem judicial pode ser expedida de ofício, pela representação do Dele-


gado de Polícia ou requerimento das partes (MP, querelante ou réu).
• As hipóteses de cabimento da Busca e Apreensão domiciliar estão previs-
tas no art. 240, do CPP, de forma não taxativa:

§ 1º Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem, para:


a) prender criminosos;
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados
ou contrafeitos;
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou
destinados a fim delituoso;
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e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;


f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder,
quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à
elucidação do fato;
g) apreender pessoas vítimas de crimes;
h) colher qualquer elemento de convicção.

• No cumprimento do mandado de Busca e Apreensão, será necessário


haver as devidas cautelas legais, as quais estão previstas nos termos do
art. 243, do CPP:

Art. 243. O mandado de busca deverá:


I – indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência
e o nome do respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o
nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem;
II – mencionar o motivo e os fins da diligência;
III – ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer expedir.

A busca domiciliar será cumprida de dia, salvo se o morador consentir que


seja realizada durante a noite.
Não se pode olvidar que, havendo situação de flagrante no interior da resi-
dência, a busca será possível a qualquer tempo (dia ou noite) e sem mandado.
Conforme disposto no artigo 5º, XI, da Constituição Federal:

XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem


consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

CPP

Art. 245. As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o morador con-


sentir que se realizem à noite, e, antes de penetrarem na casa, os executores mos-
trarão e lerão o mandado ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em
seguida, a abrir a porta.
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Provas – Busca e Apreensão
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§ 1º Se a própria autoridade der a busca, declarará previamente sua qualidade e o


objeto da diligência.
§ 2º Em caso de desobediência, será arrombada a porta e forçada a entrada.
§ 3º Recalcitrando o morador, será permitido o emprego de força contra coisas exis-
tentes no interior da casa, para o descobrimento do que se procura.
§ 4º Observar-se-á o disposto nos §§ 2º e 3º, quando ausentes os moradores, de-
vendo, neste caso, ser intimado a assistir à diligência qualquer vizinho, se houver
e estiver presente.
§ 5º Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procurar, o morador será inti-
mado a mostrá-la.
§ 6º Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será imediatamente apreendida
e posta sob custódia da autoridade ou de seus agentes.
§ 7º Finda a diligência, os executores lavrarão autocircunstanciado, assinando-o
com duas testemunhas presenciais, sem prejuízo do disposto no § 4º.

Art. 250. A autoridade ou seus agentes poderão penetrar no território de jurisdição


alheia, ainda que de outro Estado, quando, para o fim de apreensão, forem no
seguimento de pessoa ou coisa, devendo apresentar-se à competente autoridade
local, antes da diligência ou após, conforme a urgência desta.

• Não há impedimento para que a autoridade policial e seus agentes pene-


trem em jurisdição alheia para fins de apreensão.

§ 2º Não será permitida a apreensão de documento em poder do defensor do acu-


sado, salvo quando constituir elemento do corpo de delito.

DA BUSCA PESSOAL

Art. 240, § 2º Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de


que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas letras b a f
e letra h do parágrafo anterior.

• A busca pessoal, por seu turno, não exige ordem judicial e é realizada
quando estão presentes fundadas razões da necessidade acautelatória.
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Provas – Busca e Apreensão
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Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando


houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de
objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determi-
nada no curso de busca domiciliar.

Art. 249. A busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar retarda-
mento ou prejuízo da diligência.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.

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Sujeitos do Processo
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SUJEITOS DO PROCESSO

Doutrina referência para a aula:


–– Guilherme Nucci: Código de Processo Penal Comentado.
–– Norberto Aven: Processo Penal Esquematizado.
–– Nestor Távora: Curso de Direito Processual Penal.
–– Renato Brasileiro: Manual de Processo Penal.

SUJEITOS DO PROCESSO

Conforme ensina Brasileiro:

A existência de uma relação processual pressupõe o actum trium personarum: ju-


dicis, actoris e et rei. Em sede processual penal, a parte autora oferece a peça
acusatória e invoca a prestação jurisdicional; o acusado é aquele contra quem se
pretende o exercício da pretensão punitiva; ao juiz compete aplicar o direito obje-
tivo ao caso concreto. Durante o curso dessa relação processual penal, diversas
pessoas são chamadas a intervir, no exercício de uma profissão ou em defesa
de um interesse, umas de maneira obrigatória, sem as quais sequer se pode
cogitar da existência de um processo – juiz, autor e acusado –, outras de maneira
facultativa, que podem (ou não) existir, mas cuja ausência não tem o condão de
afetar a validade da relação.

Com efeito, os sujeitos processuais podem ser considerados:


1. Principais ou Essenciais – cuja ausência torna impossível a existência ou
a complementação da relação jurídico-processual – juiz e partes.
2. Secundários, Colaterais ou Acessórios – possuem algum direito proces-
sual, mas não são indispensáveis ao processo e nele intervêm ou não de alguma
forma – ofendido, seu representante legal ou herdeiros.
Há, ainda, os terceiros que não têm direitos processuais, porém colaboram
com o processo, podendo ser:
1. Interessados – MJ, quando da requisição da ação penal pública condicio-
nada a sua própria requisição.
2. Desinteressados ou não interessados – testemunhas, peritos, traduto-
res, funcionários da justiça.
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Sujeitos do Processo
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DO JUIZ

O juiz exerce o poder jurisdicional e a presidência dos autos, tem poderes


necessários para zelar pelo processo e solucionar a lide. É apaziguador de con-
flitos.
No dizer de Nucci:

Desempenha o magistrado a função de aplicar o direito ao caso concreto, provido


que é do poder jurisdicional, razão pela qual, na relação processual, é sujeito, mas
não parte.

No exercício da jurisdição, o juiz precisa ser imparcial. Se o juiz se aproximar


de uma das pretensões, ele poderá, inclusive, tornar-se suspeito.
Nesse diapasão, ascende o escólio de Brasileiro:

Recai sobre o juiz, portanto, o poder-dever de aplicar o direito objetivo ao caso


concreto, de maneira imparcial, substituindo-se à vontade das partes, pondo fim ao
conflito entre a pretensão punitiva do Estado e o interesse do acusado na preserva-
ção de sua liberdade individual.

A lide processual desenvolve-se ao redor do jus puniendi versus o jus liber-


tatis.
Sobre esse assunto, ordena o CPP:

Art. 251. Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo e manter a ordem


no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública.

CAPACIDADES RELATIVAS À FUNÇÃO DE JUIZ

1) Investidura – capacidade subjetiva especial – a jurisdição é exercida por


quem tenha sido regularmente investido na autoridade de juiz, pela aprovação
em concurso público, além das formas derivadas para os tribunais.
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Sujeitos do Processo
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Além da prestação de concurso, no ordenamento jurídico brasileiro, é possí-


vel haver o quinto constitucional, que é a forma pela qual os membros do Minis-
tério Público e da Advocacia compõem o quadro dos tribunais.
2) Imparcialidade – capacidade subjetiva especial – o juiz está no processo,
acima e equidistante das partes – super et inter pars.
3) Competência – capacidade objetiva – o juiz deve ser competente para
julgar os autos, consoante regras processuais de competência.

FUNÇÕES DO JUIZ NO PROCESSO PENAL PÁTRIO

1) De ordem jurisdicional – prover à regularidade da marcha processual,


seja quando determina o que deve ser feito, seja quando retifica condutas pro-
cessuais levadas a termo por seus auxiliares, pelas partes ou por terceiros que
intervêm no processo.
2) De natureza administrativa – caracteriza-se pela manutenção da ordem
no curso dos atos processuais, podendo, para tanto, requisitar a força pública.
Em síntese, por força dessa atividade administrativa, o juiz pratica atos de polí-
cia com o objetivo de assegurar a ordem no decorrer do processo, podendo
requisitar o concurso da polícia, encarregada de manter a ordem pública.

DA ACUSAÇÃO

A parte incumbida de formular a acusação (legitimidade ativa ad causam) é


o MP, no caso de ação penal pública e o querelante, no caso de ação penal
privada.
Há de se ressaltar que o MP atuará sempre na ação penal, seja como parte
propriamente dita na ação penal pública, seja como custus legis na ação
penal privada.
O MP atua ainda como substituto processual em sede de ação civil ex
delicto nos termos do CPP:
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Sujeitos do Processo
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Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§1º e
2º), a execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será
promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público.
Ordena o CPP em relação às atribuições do MP na ação penal:

Art. 257. Ao Ministério Público cabe:


I – promover, privativamente, a ação penal pública, na forma estabelecida neste
Código; e
II – fiscalizar a execução da lei.

DO ACUSADO

É aquele em face de quem se formula a ação penal (legitimidade passiva ad


causam). É o sujeito passivo da relação jurídico-processual.
O acusado há de possuir capacidade para ser parte, ou seja, ser sujeito
de direitos e obrigações (pessoa física e pessoa jurídica nos casos dos crimes
ambientais no bojo da Lei n. 9.605/1998) e capacidade para estar em juízo
como autor do fato (maior de 18 anos).
A Lex Excelsa ordena a observância de uma série de direitos e garantias
no bojo do processo penal ao réu, como: respeito à integridade física, devido
processo legal, contraditório, ampla defesa, autodefesa, defesa técnica.
A dignidade do réu é observada de maneira inafastável.

Atenção!
Ensina Nucci:
A indisponibilidade do direito de defesa é uma decorrência da indisponibilidade do
direito à liberdade, razão pela qual o réu, ainda que não queira, terá nomeado um defen-
sor, habilitado para a função, para o patrocínio de sua defesa (art. 261, CPP). E tal medida
ainda não é o bastante. Torna-se fundamental que o magistrado zele pela qualidade da
defesa técnica, declarando, se for preciso, indefeso o acusado e nomeando outro advo-
gado para desempenhar a função.
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Sujeitos do Processo
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No processo civil, quando o réu não responde à petição inicial ou a contestação


é precária, haverá consequências de cunho civil. Já no processo penal, o
Estado não pode deixar o cidadão sem defesa.

DO DEFENSOR

Não se encaixa propriamente como um sujeito processual. Revela-se, em


verdade, como representante do réu atuando em seu nome e no seu interesse.
Exerce a defesa técnica do acusado e constitui múnus público, devendo ser
necessariamente advogado e podendo ser levada a efeito mesmo contra a
vontade do acusado ou na sua ausência.
A todos os litigados é assegurada a faculdade de constituir defensor de
sua confiança.
Mas, caso o réu não possua condições ou não queira contratar advogado,
será nomeado um pelo juiz (defensor dativo). Pode ainda o réu em seu interro-
gatório indicar ao juiz quem é o seu defensor (constituição apud acta, Cf., art.
266, CPP).
Ordena o CPP:

Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou
julgado sem defensor.
Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo,
será sempre exercida através de manifestação fundamentada.

Determina ainda o CPP:

Art. 263. Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz, ressalva-
do o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo
defender-se, caso tenha habilitação.

Não pode haver ausência de defesa, pois isso fere o direito de liberdade.
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DO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO

Somente atua na ação pública e constitui parte contingente do processo.

Atenção!
Não cabe assistente técnico no inquérito policial, somente na ação penal
pública.

As pessoas legitimadas são o ofendido, seu representante legal, ou na


falta, o cônjuge (por analogia o companheiro(a)), ascendente, descendente ou
irmão (C-AD-I) do ofendido, por intermédio de advogado para reforçar a acusa-
ção e eventual reparação civil.
O assistente de acusação intervém em todos os termos da ação penal,
mas não intervém no inquérito policial, nem na execução da pena. Ele age
desde o recebimento da denúncia até o trânsito em julgado, ingressando nos
autos no estado em que se encontra.
Ordena também o CPP:

Art. 268. Em todos os termos da ação pública, poderá intervir, como assistente do
Ministério Público, o ofendido ou seu representante legal, ou, na falta, qualquer das
pessoas mencionadas no Art. 31.
Art. 269. O assistente será admitido enquanto não passar em julgado a sentença e
receberá a causa no estado em que se achar.
Art. 270. O corréu no mesmo processo não poderá intervir como assistente do Mi-
nistério Público.

Os poderes do assistente no processo estão arrolados no CPP:

Art. 271. Ao assistente será permitido propor meios de prova, requerer perguntas
às testemunhas, aditar o libelo e os articulados, participar do debate oral e arrazoar
os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele próprio, nos casos dos
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arts. 584, §1º, e 598.


Art. 584. (...) §1º Ao recurso interposto de sentença de impronúncia ou no caso do
n. VIII do art. 581, aplicar-se-á o disposto nos arts. 596 e 598.
Art. 598. Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se
da sentença não for interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o
ofendido ou qualquer das pessoas enumeradas no art. 31, ainda que não se tenha
habilitado como assistente, poderá interpor apelação, que não terá, porém, efeito
suspensivo.

Atenção!
O STF tem os seguintes entendimentos jurisprudenciais em sede de súmula
sobre a atuação do assistente:

Súmula n. 208. O assistente do Ministério Público não pode recorrer, extraordina-


riamente, de decisão concessiva de habeas corpus.
Súmula n. 210. O assistente do Ministério Público pode recorrer, inclusive extra-
ordinariamente, na ação penal, nos casos dos arts. 584, §1º, e 598 do Código de
Processo Penal.

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SUJEITOS DO PROCESSO II

AUXILIARES DA JUSTIÇA

Conforme ensina Nucci:

Serventuários e funcionários da justiça são termos correlatos, que designam os


funcionários públicos, ocupando cargos criados por lei, percebendo vencimentos
pagos pelo Estado, a serviço do Poder Judiciário. São os escrivães-diretores, es-
creventes, oficiais de justiça, auxiliares judiciários, dentre outros.

Prescreve o CPP em relação aos auxiliares da Justiça:

Art. 274. As prescrições sobre suspeição dos juízes estendem-se aos serventuá-
rios e funcionários da justiça, no que Ihes for aplicável.

Os serventuários devem ter a mesma imparcialidade e o mesmo nível de


comprometimento que os juízes.

PERITOS E INTÉRPRETES

Conforme Nucci, o perito:

É o especialista em determinada matéria, encarregado de servir com o auxiliar


da justiça, esclarecendo pontos específicos distantes do conhecimento jurídico do
magistrado.

O perito não substitui o juiz. O juízo de valor que o perito realiza, seja no
inquérito, seja na ação penal, é técnico para auxiliar a autoridade. Este pode ser
oficial, quando exerce cargo público, ou nomeado pela autoridade, devendo ser
compromissado para desempenhar a função.
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Sujeitos do Processo II
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Conforme Nucci, o intérprete:

É a pessoa conhecedora de determinados idiomas estrangeiros ou linguagens es-


pecíficas, que serve de intermediário entre pessoa a ser ou vida em juízo e o ma-
gistrado e as partes.

As partes têm o direito de conhecer os autos, sob pena de ferir a ampla


defesa e o contraditório, por isso o intérprete deve ter compromisso ao desem-
penhar sua função.
Os peritos e os intérpretes podem ser oficiais ou ad hoc. Os peritos e os
intérpretes oficiais são servidores públicos, possuindo fé pública. Onde não
existem peritos e intérpretes oficiais, ao juiz cabe a nomeação, nos termos do
CPP:

Art. 275. O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à disciplina judiciária.

O perito atua como auxiliar da autoridade e em prol do juízo.

Art. 276. As partes não intervirão na nomeação do perito.

O perito é nomeado no interesse do juízo, e não no interesse das partes. As


partes podem contratar assistência técnica para compor análises com base em
teses.

Art. 277. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob
pena de multa de cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível.
Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada
imediatamente:
a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade;
b) não comparecer no dia e local designados para o exame;
c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos esta-
belecidos.
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Se o perito não atuar como auxiliar, ele é responsabilizado.

Art. 278. No caso de não comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade
poderá determinar a sua condução.

A condução é coercitiva e também pode ser denominada “sob vara”.

Art. 279. Não poderão ser peritos:


I – os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos ns. I e IV do
art. 69 do Código Penal;
II – os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente
sobre o objeto da perícia;
III – os analfabetos e os menores de 21 anos. (18 anos).

A lei aborda a idade de 21 anos porque, embora o Código de Processo Penal


(CPP) seja de 1941, o Código Civil atual não o reformou.
Atualmente, a maioridade ocorre aos 18 anos.

Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for aplicável, o disposto sobre sus-
peição dos juízes.

Do perito, espera-se também a imparcialidade na produção do laudo.

Art. 281. Os intérpretes são, para todos os efeitos, equiparados aos peritos.

IMPEDIMENTOS

No dizer de Nucci:

Considera-se impedido de atuar o juiz que é parcial, situação presumida pela lei,
em casos específicos. Logo, as hipóteses previstas no art. 252 do CPP, de caráter
objetivo, indicam a impossibilidade de exercício jurisdicional em determinado pro-
cesso. A sua infração implica inexistência dos atos praticados.
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Se o juiz sob auspícios de casuística prevista no art. 252 do CPP exercer


jurisdição em processo estando impedido de exercê-lo, consideram-se inexisten-
tes os atos por ele praticados.
O CPP ordena que:

Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:


I – tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta
ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do
Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
II – ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como
testemunha;
III – tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de
direito, sobre a questão;

Se o juiz já se pronunciou, por exemplo, no primeiro grau, não é possível


observar novamente a mesma questão.

IV – ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou


colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.

Nucci ensina que:

O rol do referido art. 252 é, como regra, taxativo, não podendo ser ampliado. Outras
situações, no entanto, a nosso ver, demonstrativas da parcialidade do juiz na apre-
ciação da causa, devem ser incluídas no contexto da suspeição.

SUSPEIÇÕES

Segundo Nucci:

A suspeição é causa de parcialidade do juiz, viciando o processo, caso haja sua


atuação. Ofende, primordialmente, o princípio constitucional do juiz natural e im-
parcial. Pode dar-se a suspeição pelo vínculo estabelecido entre o juiz e a parte ou
entre o juiz e a questão discutida no feito. Note-se que não se trata de vínculo entre
o magistrado e o objeto do litígio – o que é causa de impedimento – mas de mero
interesse entre o julgador e a matéria em debate.
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Ordena o CPP:

Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por
qualquer das partes:
I – se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
II – se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a pro-
cesso por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III – se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau,
inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado
por qualquer das partes;
IV – se tiver aconselhado qualquer das partes;
V – se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
Vl – se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.

Nucci ensina que:

O rol estabelecido no art. 254 do Código de Processo Penal, embora muitos sus-
tentem ser taxativo, é, em verdade, exemplificativo. Afinal, este rol não cuida dos
motivos de impedimento, que vedam o exercício jurisdicional, como ocorre com o
disposto no art. 252, mas, sim, da enumeração de hipóteses que tornam o juiz não
isento.

De acordo com o art. 252, o juiz não pode exercer jurisdição nem considerar
o ato praticado.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Prisão
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PRISÃO

• Prisão I
–– Conceito, espécies, mandado de prisão e cumprimento.

Doutrina referência para a aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

Da Prisão

Prisão, conforme NUCCI, é a:


"Privação de liberdade, tolhendo-se o direito de ir e vir, através do recolhi-
mento da pessoa humana no cárcere".

No dizer de TÁVORA:
"A prisão é o cerceamento da liberdade de locomoção, é o encarceramento.
Pode advir de decisão condenatória transitada em julgado, que é a chamada
prisão pena, regulada pelo Código Penal, com o respectivo sistema de cumpri-
mento, que é verdadeira prisão satisfativa, em resposta estatal ao delito ocor-
rido, tendo por título a decisão judicial definitiva".

Por outro lado, acrescenta TÁVORA:


"No transcorrer da persecução penal, contudo, é possível que se faça neces-
sário o encarceramento do indiciado ou do réu, mesmo antes do marco final do
processo. Isso se deve a uma necessidade premente devidamente motivada por
hipóteses estritamente previstas em lei, traduzidas no risco demonstrado de que
a permanência em liberdade do agente é um mal a ser evitado".
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Prisão
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Há, portanto, 2 espécies de prisões no ordenamento jurídico pátrio:

1. Prisão Pena: Consiste em uma sanção penal (pena privativa de liberdade)


aplicada apenas no caso do trânsito em julgado de sentença condenatória.
2. Prisão Provisória, Cautelar, Processual – prisão sem pena: Decretada
antes do trânsito em julgado da sentença condenatória com o escopo de acau-
telar a persecução criminal.
• Flagrante.
• Temporária.
• Preventiva.

Determina o CPP:

Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita
e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença
condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo,
em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.

Há de se destacar que, após a reforma do CPP pela Lei n. 12.403/2011, a


prisão cautelar passou a ser apenas uma das espécies do gênero Medidas Cau-
telares, que são, em verdade, medidas decretadas de forma antecipada com o
fim de resguardar determinado resultado útil futuro quando presentes os requisi-
tos do fumus boni iuris (fumus comissi delicti) e do periculum in mora (periculum
in libertatis).
Assim, para a decretação das medidas cautelares, inclusive as prisões provi-
sórias, é necessário que se observem os requisitos legais da NECESSIDADE e
da ADEQUAÇÃO.

1. NECESSIDADE – para a aplicação da lei penal, para a investigação cri-


minal (Inquérito Policial) ou para a instrução criminal (Ação Penal) e em casos
expressamente previstos para evitar a prática de infrações penais.
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2. ADEQUAÇÃO – da medida em relação à gravidade da infração penal, suas


circunstâncias e condições pessoais do Indiciado ou Réu. Traduz proporcionali-
dade.

Vide art. 282, CPP:

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas ob-
servando-se a:
I – necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução
criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações
penais;
II – adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições
pessoais do indiciado ou acusado.

Das medidas cautelares previstas no CPP, a prisão provisória é a mais gra-


vosa e extrema, pois avança sobre o direito fundamental da liberdade do indiví-
duo, devendo ser decretada somente como ultima ratio.

Regra = liberdade.
Exceção = prisão.

Não se pode olvidar que a nossa Carta Política contempla o Princípio da


presunção de não culpabilidade (Princípio da presunção de inocência). Assim,
a prisão cautelar deve ser a exceção e não a regra em nosso ordenamento jurí-
dico. Vide:

Art. 5º, LVII, CF: LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória;

Nesta esteira, determina o CPP:

§ 6º do art. 282, A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua
substituição por outra medida cautelar (art. 319).
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Prisão
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Ainda nesse viés de extrema ratio da prisão cautelar, ordena o CPP:

§ 4º do art. 282, No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impos-


tas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu assis-
tente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou,
em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, parágrafo único).

Na condição de medida cautelar, o juiz pode revogar a prisão provisória, como


também as demais medidas, quando não mais subsistam as razões legais que
a ensejaram. De outro lado, ressurgindo motivos legais que autorizem a neces-
sidade de acautelamento da persecução criminal, esta poderá ser novamente
decretada (cf. art. 282, § 5º, CPP):

§ 5º O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta


de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões
que a justifiquem.

Do Mandado de Prisão

Conforme TAVÓRA:
"O mandado judicial é o título a viabilizar a realização da prisão, ressalvadas
as hipóteses que o dispensam, devendo atender aos seguintes requisitos:

Art. 285. A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o respectivo mandado.
Parágrafo único. O mandado de prisão:
a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade;
b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome, alcunha ou sinais
característicos;
c) mencionará a infração penal que motivar a prisão;
d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afiançável a infração;
e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execução".
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Prisão
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Sobre a execução do Mandado sustenta ainda TÁVORA:


"Considera-se realizada a prisão em virtude de mandado quando o executor,
identificando-se, apresenta o mandado e intima a pessoa a acompanhá-lo. Nada
impede, contudo, em se tratando de infração inafiançável, que a prisão seja reali-
zada sem a apresentação do mandado, sendo que, nessa hipótese, o preso será
imediatamente apresentado à autoridade que tenha expedido a ordem".

Sobre a execução do mandado de prisão, ordena o CPP:

Art. 286. O mandado será passado em duplicata, e o executor entregará ao preso,


logo depois da prisão, um dos exemplares com declaração do dia, hora e lugar da
diligência. Da entrega deverá o preso passar recibo no outro exemplar; se recusar,
não souber ou não puder escrever, o fato será mencionado em declaração, assina-
da por duas testemunhas.

Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável no caso de
resistência ou de tentativa de fuga do preso.

No caso de uso de algemas, há de observar o que prescreve a Súmula Vin-


culante 11 do STF:

Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga


ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de ter-
ceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do
ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

Atenção!
O STF admite execução da pena após condenação em segunda instância.
Por maioria, o Plenário do STF entendeu que o art. 283 do CPP não impede o
início da execução da pena após condenação em segunda instância e indeferiu
liminares pleiteadas nas Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs)
43 e 44.
ANOTAÇÕES

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Prisão
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O Partido Nacional Ecológico (PEN) e o Conselho Federal da OAB, autores das


ações, pediam a concessão da medida cautelar para suspender a execução
antecipada da pena de todos os acórdãos prolatados em segunda instância em
face do julgado no bojo do Habeas Corpus (HC) 126292, de fevereiro de 2016.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barboza.
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Prisão II
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PRISÃO II

Doutrina referência para a nossa aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

Da Prisão em Flagrante

Conforme ensina NUCCI, a prisão em flagrante é:


"Modalidade de prisão cautelar, de natureza administrativa, realizada no ins-
tante em que se desenvolve ou termina de se concluir a infração penal".
Essa espécie de prisão cautelar tem natureza administrativa, pois não
demanda intervenção judicial para sua decretação.
É a Autoridade Policial (Delegado de Polícia) quem promove a sua decreta-
ção (lavratura) – APF (auto de prisão em flagrante) – em face da apresentação
do conduzido (investigado preso) que, em relação a si, há elementos probatórios
(fumus commissi delicti) que indicam uma prática criminosa flagrada.
De outro lado, o periculum in libertatis, no contexto da prisão em flagrante, é
presumido em face da flagrância que caracteriza a lesão da ordem pública e a
inobservância da lei penal.
Além disso, a prisão em flagrante enseja de plano a colheita de provas relati-
vas à materialidade e à autoria do crime sob escrutínio que dão pálio à verdade
material.
Conforme o que prescreve o CPP:

Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deve-
rão prender 1 quem quer que seja encontrado em flagrante delito.

1
Entende-se como conduzir, pois somente o delegado pode formalizar o ato a prisão, na delegacia.
ANOTAÇÕES

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Prisão II
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Assim, há:
1. Flagrante facultativo – exercício regular de direito –, quando o condutor do
flagrante é qualquer do povo.
2. Flagrante obrigatório – estrito cumprimento do dever legal –, quando o con-
dutor do flagrante é a própria Autoridade Policial ou seus Agentes, incluindo os
Policiais que atuam na ordem pública (PM).
A prisão em flagrante tem lastro constitucional no art. 5º, LXI, da Lex Excelsa:

LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fun-
damentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

Todavia, há exceções relativas a pessoas que em razão do cargo ou da


função que exercem, ou não podem ser presas em flagrante ou que a flagrância
é levada a efeito de forma diferenciada:
1. Diplomatas – não são submetidos à prisão em flagrante devido à imuni-
dade diplomática por força de tratado internacional (Convenção de Viena).
2. Parlamentares Federais e Estaduais – somente podem ser presos em fla-
grante por crime inafiançável e devem, logo após a lavratura da flagrância, ser
encaminhados à respectiva Casa Parlamentar.
3. Juízes e Membros do MP – somente podem ser presos em flagrante por
crime inafiançável e devem, logo após a lavratura da flagrância, ser encaminha-
dos ao Presidente da Corte ou ao Procurador-Geral.
4. Presidente da República – não estará sujeito a prisão enquanto não sobrevier
sentença condenatória na seara das infrações penais comuns (cf. art. 86, § 3º, CF/88).

Atenção!
Os crimes de ação penal privada ou pública condicionada à representação en-
sejam a lavratura da Prisão em Flagrante. Todavia, nesses casos somente será
lavrada a Prisão em Flagrante pelo Delegado de Polícia se o ofendido conferir a
pertinente autorização para a lavratura. Essa autorização não precisa ser forma-
lizada em instrumento próprio, basta a sua aquiescência (mesmo que informal).
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Espécies de Prisão em Flagrante

São espécies de Prisão em Flagrante:


1. Flagrante próprio, propriamente dito, perfeito, real ou verdadeiro: quando
verdadeiramente existe uma situação flagrancial, ocorre quando ou o agente
delituoso está em pleno desenvolvimento dos atos executórios da infração penal,
ou quando terminou de concluir a perpetração do ato delituoso, nos termos CPP:

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:


I – está cometendo a infração penal;
II – acaba de cometê-la;

2. Flagrante impróprio, imperfeito, irreal ou quase flagrante: o agente conclui


a ação criminosa ou é interrompido na sua execução e consegue fugir do local
do crime, sendo perseguido em ato contínuo (imediatamente), com incontinente
prisão, nos termos do art. 302, III:

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:


III – é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pes-
soa, em situação que faça presumir ser autor da infração;

3. Flagrante Presumido: o agente logo depois da prática do crime, embora


não tenha sido perseguido, é encontrado portando instrumentos, armas, objetos,
ou papéis que demonstrem por presunção ser ele o autor da infração penal, nos
termos do art. 302, IV:

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:


IV – é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que
façam presumir ser ele autor da infração.

4. Flagrante preparado, provocado: é, no dizer de NUCCI, um “arremedo de


flagrante que vem à tona quando um agente provocador induz ou instiga alguém
a cometer uma infração penal, somente para assim poder prendê-lo”.
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Atenção!
Em verdade, trata-se de Crime Impossível, nos termos do art. 17, CP, conforme
entendimento do STF na sua Súmula 145:
"Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível
a sua consumação".

Por óbvio, também haverá crime impossível quando a flagrância é preparada


ou provocada por particular.
Todavia, há uma exceção no que se refere à atuação de agente provocador
que não enseja crime impossível. Isso ocorre quando polícia utiliza um agente
provocador, “induzindo ou instigando o autor a praticar determinada ação, mas
somente para descobrir a real autoria e materialidade de um crime” (NUCCI).
O exemplo clássico da doutrina é o caso do crime de tráfico de drogas, nos
termos do art. 33, Lei n. 11.343/2006.
Nesse cenário, haverá o dito Flagrante Comprovado, que preexiste à ação do
agente provocador, sendo uma espécie de flagrante legal e legítimo.

5. Flagrante forjado, urdido, criminoso: é, segundo o escólio de NUCCI, um


“flagrante totalmente artificial, pois integralmente composto por terceiros.” Ele
vem a termo quando há a colocação artificial de um elemento material de um
falso crime para incriminar terceiro inocente. Trata-se ação criminosa devendo a
prisão em flagrante ser de todo relaxada.

6. Flagrante Esperado: por meio desta espécie de flagrância, a Polícia toma


conhecimento de uma ação criminosa que está na iminência de ser perpetrada.
Nesse cenário, a Polícia se dirige até o local de interesse e intervém por ocasião
da ocorrência do fato criminoso. É espécie de flagrante válido considerando que
não há qualquer tipo de provocação ou preparação.
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Prisão II
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7. Flagrante Diferido, Retardado, Prorrogado, Postergado ou Ação Contro-


lada: é levado a termo pela Polícia Judiciária que retarda a realização da prisão
em flagrante com o fim de obter elementos probatórios mais robustos sobre a
ação criminosa em curso praticado por organização criminosa. Aguarda-se,
portanto, nesse contexto, o momento mais eficaz do ponto de vista da pro-
dução probatória sobre o esquema delituoso para a intervenção do Estado
Investigação. Essa modalidade está consagrada em lei como no art. 53, II,
da Lei n. 11.343/2006; art. 4º-B, da Lei n. 9.613/1998; e arts. 8º e 9º, da Lei n.
12.850/2013.

De outro lado, há a prisão em flagrante no contexto dos crimes permanentes


(crimes cuja consumação se prolonga no tempo – sequestro) que poderá ser
executada a qualquer momento enquanto não cessar a permanência do crime
(cf. art. 303, CPP):

Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito en-
quanto não cessar a permanência.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barboza.

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PRISÃO III

Prisão em Flagrante II

Doutrina referência para a nossa aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

Formalidades legais para a formalização (lavratura) da Prisão em Fla-


grante

A formalização da flagrância é feita pelo Delegado de Polícia que promove


exame de pertinência da admissibilidade (juízo de prelibação) da Prisão em Fla-
grante.
A Autoridade Policial verifica se há legalidade material relativa à prisão e pro-
move a aplicação das formalidades processuais do art. 304, CPP.

CPP, Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o con-
dutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e
recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o
acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita,
colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade,
afinal, o auto.

É o Delegado de Polícia a Autoridade competente para lavrar o Auto de Prisão


em Flagrante (APF) que formaliza essa medida cautelar.
Ele ouve em sede de depoimento o Condutor, que é a pessoa que detém o
suspeito, e as Testemunhas da detenção feita em flagrante, se houver. Inconti-
nente, a Autoridade Policial ouve em sede de Interrogatório o Conduzido sobre
as imputações que lhes são feitas.
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Ordena ainda o CPP sobre a lavratura da flagrância pelo Delegado de Polícia:

§ 1º Resultando das respostas, fundada a suspeita contra o conduzido, a autorida-


de mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fian-
ça, e prosseguirá nos atos do inquérito ou processo, se para isso for competente;
se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja.

Por interpretação a contrario sensu, se o Delegado de Polícia entender (juízo


de prelibação) que das respostas do condutor, das testemunhas e do conduzido
não ascendem fundadas suspeitas que deem pálio à prisão em flagrante, a Auto-
ridade Policial não mandará recolher o conduzido à prisão.

CPP, Art. 304 § 2º A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de pri-
são em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos
duas pessoas que hajam testemunhado a apresentação do preso à autoridade.
§3º Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o
auto de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas, que tenham ou-
vido sua leitura na presença deste.

Controle Jurisdicional da Prisão em Flagrante

Além das formalidades do art. 304, levadas a termo pelo Delegado de Polícia,
há ainda a necessidade legal de que o juiz verifique o cumprimento de algumas
formalidades constantes nos arts. 306 a 308, CPP:

Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunica-
dos imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso
ou à pessoa por ele indicada.
§ 1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminha-
do ao juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe
o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.
§ 2º No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa,
assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das
testemunhas.
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Prisão III
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Há a entrega da Nota de Culpa e na Polícia Federal há ainda a previsão de


Nota de Direitos Constitucionais ao indiciado preso em flagrante.

Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentada-


mente:

O Juiz deve necessariamente decidir sobre a prisão em flagrante efetivada


pelo Delegado de Polícia.

I – relaxar a prisão ilegal; ou

A prisão ilegal será relaxada e a prisão desnecessária será revogada.

II – converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos


constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes
as medidas cautelares diversas da prisão; ou

Ao apreciar a Prisão em Flagrante, deve o magistrado determinar se haverá


manutenção da segregação cautelar do indiciado nos termos dos requisitos e
fundamentos da Prisão Preventiva.

III – conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.

Se o juiz entender que não há necessidade de prisão provisória, para acau-


telamento da persecução criminal, poderá ser concedida liberdade provisória,
mediante fiança ou sem ela, bem como a decretação de medidas cautelares
diversas da prisão.

Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente
praticou o fato nas condições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do
Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, poderá, fun-
damentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de
comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação.
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Em havendo elementos probatórios que ascendem do Auto de Prisão em


Flagrante que indicam que o conduzido agiu sob o pálio de uma excludente de
ilicitude, nos termos do art. 23, I (Estado de Necessidade), II (Legítima Defesa)
e III (Estrito cumprimento de dever legal ou Exercício regular de direito), CP, o
juiz poderá conceder liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a
todos os atos processuais.

Audiência de Custódia

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) engendrou a Resolução n. 213 de


15/12/2015, que dispõe sobre a apresentação de toda pessoa presa à autori-
dade judicial no prazo de 24 horas.
Tal resolução incrementa o controle judicial em relação à prisão em Flagrante
na esteira do que determina o art. 9º, item 3, do Pacto Internacional de Direitos
Civis e Políticos das Nações Unidas, bem como o art. 7º, item 5, da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica).

Art. 1º Determinar que toda pessoa presa em flagrante delito, independentemente


da motivação ou natureza do ato, seja obrigatoriamente apresentada, em até 24
horas da comunicação do flagrante, à autoridade judicial competente, e ouvida so-
bre as circunstâncias em que se realizou sua prisão ou apreensão.
§ 1º A comunicação da prisão em flagrante à autoridade judicial, que se dará por
meio do encaminhamento do auto de prisão em flagrante, de acordo com as rotinas
previstas em cada Estado da Federação, não supre a apresentação pessoal deter-
minada no caput.
§ 2º Entende-se por autoridade judicial competente aquela assim disposta pelas
leis de organização judiciária locais, ou, salvo omissão, definida por ato normativo
do Tribunal de Justiça ou Tribunal Federal local que instituir as audiências de apre-
sentação, incluído o juiz plantonista.
§ 3º No caso de prisão em flagrante delito da competência originária de Tribunal,
a apresentação do preso poderá ser feita ao juiz que o Presidente do Tribunal ou
Relator designar para esse fim.
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Prisão III
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§ 4º Estando a pessoa presa acometida de grave enfermidade, ou havendo circuns-


tância comprovadamente excepcional que a impossibilite de ser apresentada ao
juiz no prazo do caput, deverá ser assegurada a realização da audiência no local
em que ela se encontre e, nos casos em que o deslocamento se mostre inviável,
deverá ser providenciada a condução para a audiência de custódia imediatamente
após restabelecida sua condição de saúde ou de apresentação.
Art. 8º Na audiência de custódia, a autoridade judicial entrevistará a pessoa presa
em flagrante, devendo:
I – esclarecer o que é a audiência de custódia, ressaltando as questões a serem
analisadas pela autoridade judicial;
II – assegurar que a pessoa presa não esteja algemada, salvo em casos de re-
sistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou
alheia, devendo a excepcionalidade ser justificada por escrito;
III – dar ciência sobre seu direito de permanecer em silêncio;
IV – questionar se lhe foi dada ciência e efetiva oportunidade de exercício dos
direitos constitucionais inerentes à sua condição, particularmente o direito de con-
sultar-se com advogado ou defensor público, o de ser atendido por médico e o de
comunicar-se com seus familiares;
V – indagar sobre as circunstâncias de sua prisão ou apreensão;
VI – perguntar sobre o tratamento recebido em todos os locais por onde passou
antes da apresentação à audiência, questionando sobre a ocorrência de tortura e
maus tratos e adotando as providências cabíveis;
VII – verificar se houve a realização de exame de corpo de delito, determinando sua
realização nos casos em que:
a) não tiver sido realizado;
b) os registros se mostrarem insuficientes;
c) a alegação de tortura e maus tratos referir-se a momento posterior ao exame
realizado;
d) o exame tiver sido realizado na presença de agente policial, observando-se a
Recomendação CNJ 49/2014 quanto à formulação de quesitos ao perito;
VIII – abster-se de formular perguntas com finalidade de produzir prova para a in-
vestigação ou ação penal relativas aos fatos objeto do auto de prisão em flagrante;
IX – adotar as providências a seu cargo para sanar possíveis irregularidades;
X – averiguar, por perguntas e visualmente, hipóteses de gravidez, existência de
filhos ou dependentes sob cuidados da pessoa presa em flagrante delito, histórico
de doença grave, incluídos os transtornos mentais e a dependência química, para
analisar o cabimento de encaminhamento assistencial e da concessão da liberdade
provisória, sem ou com a imposição de medida cautelar.
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Prisão III
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§ 1º Após a oitiva da pessoa presa em flagrante delito, o juiz deferirá ao Ministério


Público e à defesa técnica, nesta ordem, reperguntas compatíveis com a natureza
do ato, devendo indeferir as perguntas relativas ao mérito dos fatos que possam
constituir eventual imputação, permitindo-lhes, em seguida, requerer:
I – o relaxamento da prisão em flagrante;
II – a concessão da liberdade provisória sem ou com aplicação de medida cautelar
diversa da prisão;
III – a decretação de prisão preventiva;
IV – a adoção de outras medidas necessárias à preservação de direitos da pessoa
presa

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barboza.
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Prisão IV
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PRISÃO IV

PRISÃO TEMPORÁRIA

Segundo o escólio de Nucci, a prisão temporária é:


“Modalidade de prisão cautelar, cuja finalidade é assegurar uma eficaz inves-
tigação policial, quando se tratar de apuração de infração penal de natureza
grave”.
Ela, portanto, somente tem pertinência no curso do inquérito policial, não
podendo ser decretada em sede de ação penal.

Obs.:
Gênero: prisão cautelar (processual)
Espécies:
–– flagrante
–– temporária
–– preventiva

Segundo TÁVORA:

“A temporária é a prisão de natureza cautelar, com prazo preestabelecido de dura-


ção, cabível exclusivamente na fase do inquérito policial – ou de investigação
preliminar equivalente, consoante art. 283, CPP, com redação dada pela Lei n.
12.403/2011 –, objetivando o encarceramento em razão das infrações seletamente
indicadas na legislação. A Lei n. 7.960/1989 só indica o cabimento de prisão tem-
porária durante a tramitação de inquérito policial, porém o CPP ampliou o âmbito
de incidência da medida cautelar ao disciplinar o seu cabimento durante as
investigações, sem restringir-se ao inquérito policial (art. 282, § 2º, CPP)”.

Prescreve o art. 282, § 2º, CPP:

§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento


das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da au-
toridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público.
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A decretação da prisão temporária só é pertinente nos seguintes termos:


quando há a incidência de uma das hipóteses do inciso I ou do inciso II do art. 1º
da Lei n. 7.960/1989 combinado com uma das hipóteses do inciso III da lei.

Inciso I
Prisão
= Inciso III + ou
temporária
Inciso II

Art. 1º Caberá prisão temporária:


I – quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II – quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos neces-
sários ao esclarecimento de sua identidade;
III – quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na
legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2º);
b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1º e 2º);
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1º , 2º e 3º);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1º e 2º);
e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1º , 2º e 3º);
f) estupro (art. 213) (vide Lei n. 12.015/2009)
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1º);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualifica-
do pela morte (art. 270, caput, combinado com art. 285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal; (vide a nova rubrica do art.
288, CP, que trata de Associação Criminosa, cf. Lei n. 12.850/2013)
m) genocídio (arts. 1º , 2º e 3º da Lei n° 2.889, de 1º de outubro de 1956), em qual-
quer de sua formas típicas;
n) tráfico de drogas (vide a nova Lei de Drogas, Lei n. 11.343/2006);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n. 7.492, de 16 de junho de 1986).
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo. (alínea incluída pela Lei Antiterrorismo, Lei
n. 13.260/2016)

A prisão temporária não pode ser decretada de ofício pelo juiz, somente
podendo ser imposta mediante:
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–– Representação da autoridade policial – delegado de polícia.


–– Requerimento do Parquet.

Na hipótese de representação da autoridade policial, o juiz, antes de decidir,


ouvirá o MP.
O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser fundamentado
e prolatado dentro do prazo de 24 horas, contadas a partir do recebimento da
representação (delegado) ou do requerimento (membro do MP).
O prazo para a prisão temporária será, em regra de 5 dias, podendo ser
prorrogado por mais 5 dias, em caso de extrema e comprovada necessi-
dade.
Não há, portanto, a possibilidade de prorrogação automática.
De outro lado, nos casos de inquérito policial que aponta indícios de prá-
tica de crime hediondo, nos termo da Lei n. 8.072/1990, o indiciado poderá
permanecer preso em razão de prisão temporária por 30 dias prorrogáveis
por mais 30 dias.
Decorrido o prazo da prisão temporária, seja de 5 dias, seja de 30 dias, o
preso deverá ser posto imediatamente em liberdade.
Isso, independentemente de alvará de soltura, sob pena de ascender a
prática do crime de abuso de autoridade, nos termos do art. 4º, i, da Lei n.
4.898/1965.
Todavia, permanecerá preso, por óbvio, se já tiver sido decretada sua prisão
preventiva.

PRISÃO PREVENTIVA

A prisão preventiva é modalidade de medida cautelar (prisão provisória) que,


segundo Nucci, é:
“Constrição à liberdade do Indiciado ou Réu, por razões de necessidade, res-
peitados os requisitos estabelecidos por lei”.
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A prisão preventiva é a modalidade de medida cautelar que sustenta o edi-


fício da prisão processual. Os seus pressupostos e requisitos são fundamen-
tais ao encarceramento cautelar (mitigando o princípio da não culpabilidade).

Momento da decretação da prisão preventiva

Ela pode ser decretada em qualquer fase do processo penal, seja na sua fase
de inquérito policial, seja na sua fase de ação penal.
Ela tem cabimento seja no âmbito da ação penal privada, seja no da ação
penal pública (incondicionada ou condicionada).
A preventiva pode ainda ser decretada:
1. Ex officio: pelo próprio juiz no curso da ação penal.
2. Mediante representação (capacidade postulatória): do delegado de polí-
cia em sede de inquérito policial.
3. Em face de requerimento das partes: MP, querelante ou assistente.
Vide o art. 311, CPP:

Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá


a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a
requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por repre-
sentação da autoridade policial.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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PRISÃO V

REQUISITOS PARA A DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA

São três os requisitos legais exigidos, no âmbito do fumus boni iuris e pericu-
lum in mora, e de acordo com o art. 312, CPP, a saber:

Fumus comissi delicti (indício que um crime foi praticado por determi-
nada pessoa)
1) Prova da existência do crime – materialidade: certeza de que de fato ocor-
reu uma infração penal.
2) Indícios suficientes de autoria – autoria: não é exigido, por assim dizer,
prova plena da “culpa” do indiciado ou réu, basta (GOMES FILHO) “um prognós-
tico de um julgamento positivo sobre a autoria ou participação”.

Periculum in libertatis
3) Um dos requisitos que evidenciem a necessidade da prisão preventiva,
quais sejam:
• Garantia da ordem pública
–– Conforme Nucci, “é a indispensabilidade se manter a ordem na socie-
dade, que como regra, é abalada pela prática de um delito”.
–– Nucci entende ainda que a preventiva em prol da garantia da ordem
pública implica na presença de um binômio do seguinte trinômio:

Gravidade Repercussão
Periculosidade do agente
concreta criminoso (probabilidade de
Social tornar a cometer delitos)
da infração

–– Dessa forma, o juiz pode decretar a prisão preventiva fundamentada na garan-


tia da ordem pública quando houver incidência de dois desses três elementos.
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• Garantia da ordem econômica


–– É espécie da garantia da ordem pública. Refere-se à necessidade de
evitar, conforme Nucci, que “o agente causador de seríssimo abalo à
situação econômico-financeira de uma instituição financeira ou mesmo
de órgão do Estado, permaneça em liberdade, demonstrando à socie-
dade a impunidade reinante nesta área”.
–– A criminalidade de “colarinho branco” é alcançada da mesma forma que
os outros tipos de delinquentes.
–– Garantia da ordem econômica é uma garantida específica da ordem
pública.
–– Demanda da mesma forma presença de um binômio do seguinte trinô-
mio:

Gravidade Periculosidade do agente


concreta Repercussão
criminoso (probabilidade de
da infração Social
tornar a cometer delitos)

• Conveniência da instrução criminal


–– Conforme Nucci, é “motivo resultante da garantia de existência do devido
processo legal, no seu aspecto procedimental.” Nucci ensina ainda que
“a conveniência de todo processo é que a instrução criminal seja reali-
zada de maneira escorreita, equilibrada e imparcial, na busca da ver-
dade real (...)”.
–– Condutas do indiciado ou réu que impliquem em ameaças a testemu-
nhas, manobras para fazer desaparecer as evidências, ameaças à vítima
ao MP, ao juiz etc.

• Garantia de aplicação da lei penal


–– Segundo Nucci, esse requisito visa garantir “a finalidade útil do processo
penal, que é proporcionar ao Estado o exercício do seu direito de punir,
aplicando a sanção devida a quem é autor de infração”.
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–– Tem cabimento, por exemplo, quando o indiciado ou réu promove mano-


bras para a sua fuga.

• Descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras


medidas cautelares
–– Notadamente as do art. 319, CPP, conforme o CPP:

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem públi-
ca, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegu-
rar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria.
Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de
descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas
cautelares (art. 282, § 4°).

FUNDAMENTAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA

A decretação da prisão preventiva deve ser expressamente fundamentada,


vide art. 93, IX, CF, não sendo suficiente a mera repetição dos termos legais dos
requisitos autorizadores.
Ordena o art. 315, CPP:

Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será
sempre motivada.

CIRCUNSTÂNCIAS LEGITIMADORAS DA PRISÃO PREVENTIVA

As circunstâncias legitimadoras da prisão preventiva são expressamente pre-


vistas no art. 313, CPP.
Assim, a decretação da prisão preventiva terá cabimento nos seguintes casos:

1) Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima


superior a 4 anos.
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2) Se o indiciado ou réu tiver sido condenado por outro crime doloso, em


sentença transitada em julgado, ressalvado o “prazo depurador” do inciso I do
caput do art. 64, CP:

Art. 64. Para efeito de reincidência:


I – não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou ex-
tinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5
(cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condi-
cional, se não ocorrer revogação;

3) Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher,


criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para
garantir a execução das medidas protetivas de urgência.
4) Quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando
esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o indi-
ciado ou réu preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identifica-
ção, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida.

Assim ordena o art. 313, CPP:

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da pri-
são preventiva:
I – nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a
4 (quatro) anos;
II – se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em jul-
gado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei n. 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal;
III – se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução
das medidas protetivas de urgência;
IV – Revogado pela Lei 12.403/2011.
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida
sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficien-
tes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade
após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida.
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CIRCUNSTÂNCIAS IMPEDITIVAS DA PRISÃO PREVENTIVA

As circunstâncias que impedem a decretação desta Medida Cautelar, são as


que agregam a presença de causa de excludente da ilicitude:
• Legítima defesa.
• Estado de necessidade.
• Estrito cumprimento do dever legal.
• Exercício regular do direito.

Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar
pelas provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato nas condições
previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 23 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 – Código Penal.

CARÁTER PROVISÓRIO DA DECISÃO SOBRE A PRISÃO PREVENTIVA

Caso as circunstâncias fáticas que ensejaram a decretação da prisão preven-


tiva sejam alteradas, evidenciando que ela não mais se torna necessária, o juiz
poderá (deverá) revogá-la.
Do mesmo modo, se houver nova alteração das circunstâncias fáticas e a
prisão preventiva voltar a ser necessária, o juiz poderá novamente decretá-la.
Tais decisões de decretação e revogação da prisão preventiva são, portanto,
provisórias submetidas à cláusula rebus sic stantibus. Ou seja, a decisão que a
decreta é válida enquanto há a necessidade da custódia cautelar, a que a revoga
persiste enquanto não houver mais essa necessidade.

Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do processo,
verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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PRISÃO VI

Referência bibliográfica para a aula:

• Guilherme Nucci – Código de Processo Penal Comentado.


• Norberto Avena – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor Távora – Curso de Direito Processo Penal.
• Renato Brasileiro – Manual de Processo Penal.

DA LIBERDADE PROVISÓRIA

De acordo com Guilherme Nucci, “é a liberdade concedida, em caráter pro-


visório, ao indiciado ou réu, preso em decorrência prisão em flagrante, que, por
não necessitar ficar segregado, em homenagem ao princípio da presunção de
inocência, deve ser liberado, sob determinadas condições”.
A liberdade provisória se dá durante a persecução criminal, daí, seu caráter
provisório. Além disso, a medida cautelar deve ser adequada e necessária ao
fato.

FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL DA LIBERDADE PROVISÓRIA

Estabelece a Carta Magna:

Art. 5º, LXVI – Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir
a liberdade provisória, com ou sem fiança.

Portanto, cabe a prisão preventiva quando a lei não admitir a liberdade pro-
visória.
Conforme Nucci, “quer o preceito indicar que a prisão, no Brasil, é a exceção
e a liberdade, enquanto o processo não atinge o seu ápice com a condenação
com trânsito em julgado, a regra”.
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Atenção!
A regra é a liberdade; a prisão é a exceção.

Segundo Renato Brasileiro:

Com a entrada em vigor da Lei n. 12.403/11, a liberdade provisória deixa de funcio-


nar tão somente como medida de contracautela substitutiva da prisão em flagran-
te. Isso porque, apesar de o legislador não se valer dessa expressão no art. 319
do CPP, fica evidente que a liberdade provisória agora também pode ser adotada
como providência cautelar autônoma, com a imposição de uma ou mais das medi-
das cautelares diversas da prisão ali elencadas.

Com a reforma de 2011, buscou-se acautelar sem prisão. Ao juiz, foram con-
feridas alternativas de garantir a persecução criminal sem necessariamente
prender o indiciado ou o réu.

Continua o autor:

Veja-se que tais medidas cautelares são alternativas à prisão, podendo ser impos-
tas mesmo se o acusado estiver em liberdade desde o início da persecução penal,
como condição para que assim permaneça. Essa liberdade provisória, aliás, pode
ser convertida em prisão preventiva, ex vi do art. 312, parágrafo único, em caso de
descumprimento de qualquer das obrigações impostas ao acusado.

Conforme o CPP:

Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preven-


tiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as
medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios
constantes do art. 282 deste Código.
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A liberdade provisória surge no âmbito das cautelares que não são encarce-
radoras. Nesse sentido, a liberdade provisória substitui a prisão preventiva, mas
com a capacidade de garantir a persecução criminal, sobretudo quando asso-
ciada a uma cautelar diversa da prisão.

MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

Conforme Nucci: “as medidas cautelares alternativas à prisão não podem ser
impostas pelo juiz sem necessidade e adequação. Não são medidas automá-
ticas, bastando que haja investigação ou processo”.
Assim, o juiz deverá fundamentar as medidas cautelares, estando presentes
a necessidade e a adequação.

Atenção!
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas ob-
servando-se a: (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011).
I – necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução
criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações
penais; (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011).
II – adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições
pessoais do indiciado ou acusado. (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011).

Ainda segundo Nucci:

Elas restringem a liberdade individual, motivo pelo qual precisam ser funda-
mentadas. Há dois requisitos genéricos:
a) necessariedade;
b) adequabilidade.
Esses são cumulativos, ou seja, ambos precisam estar presentes para autorizar a
imposição de medidas cautelares (art. 319, CPP).

 Obs.: necessariamente, toda decisão judicial deve ser fundamentada.


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A Lei n. 12.403/2011 introduziu no ordenamento jurídico pátrio medidas cau-


telares que, embora sejam restritivas da liberdade, são diversas da prisão.
São previstas no art. 319, CPP:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:


I – comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo
juiz, para informar e justificar atividades;
II – proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por cir-
cunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer dis-
tante desses locais para evitar o risco de novas infrações;

 Obs.: pode incluir o local do trabalho, local social etc.

III – proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circuns-
tâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer dis-
tante;

 Obs.: por exemplo, pessoas que foram afetadas pela ação criminosa do sujeito
ativo.

IV – proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conve-


niente ou necessária para a investigação ou instrução;
V – recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o in-
vestigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;

 Obs.: não confundir com prisão domiciliar. No recolhimento domiciliar, a


pessoa não fica proibida de se ausentar de sua residência, mas obrigado
a se recolher em determinados períodos do dia e em determinados dias.

VI – suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza eco-


nômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática
de infrações penais;
VII – internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com
violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou se-
mi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;
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VIII – fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a


atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência
injustificada à ordem judicial;
IX – monitoração eletrônica.

 Obs.: trata-se da “tornozeleira”.

§ 1º (Revogado pela Lei n. 12.403/2011).


§ 2º (Revogado pela Lei n. 12.403/2011).
§ 3º (Revogado pela Lei n. 12.403/2011).

FIANÇA

§ 4º A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Tí-


tulo, podendo ser cumulada com outras medidas cautelares.
Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autori-
dades encarregadas de fiscalizar as saídas do território nacional, intimando-se o
indiciado ou acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro)
horas.

Ensina BRASILEIRO:

de acordo com Júlio Fabbrini Mirabete, “a palavra fiança vem de fidare, corrupte-
la de fidere, que significa ‘fiar-se’, ‘confiar em alguém’. Nesse sentido, fiança é a
fidejussória, isto é, prestada por pessoa idônea, que se obrigava a pagar a deter-
minada quantia se o réu, ao ser condenado, fugisse, furtando-se ao processo e à
execução da pena.

Conclui o professor:

Nos termos legais, porém, fiança é caução, decavere, que quer dizer ‘acautelar ’,
servindo para designar qualquer meio que sirva para assegurar o cumprimento de
uma obrigação. Destarte, fiança é uma garantia real de cumprimento das obriga-
ções processuais do réu. É garantia real porque tem por objeto coisas (art. 330),
não existindo mais a fiança fidejussória no processo penal comum.
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Já Távora ensina que “a liberdade provisória mediante fiança é o direito sub-


jetivo do beneficiário, que atenda aos requisitos legais e assuma as respectivas
obrigações, de permanecer em liberdade durante a persecução penal”.

 Obs.: trata-se de uma forma de garantir que o beneficiário da fiança compareça


ao processo.

E conclui o professor:

É a contracautela destinada ao combate de algumas prisões processuais, imprimin-


do uma implementação financeira e condicionando o beneficiário a uma série de
imposições. Pode haver cumulação, inclusive, com as demais medidas cautelares
diversas da prisão (art. 319, CPP). Com isso, se ele está preso, será libertado; se
está na iminência do cárcere, a prisão não se estabelece. Negada arbitrariamente,
dá ensejo a constrangimento ilegal sanável pelo remédio heroico do HC, além de
se constituir em abuso de autoridade (art. 4° , alínea "e", da Lei nº 4.898/1965).

CONCESSÃO DA FIANÇA

Segundo determina o CPP:

Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infra-
ção cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos.
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá
em 48 (quarenta e oito) horas.

Atenção!
O delegado de polícia e o juiz são as únicas autoridades que o processo penal
brasileiro autoriza a cobrar fiança.
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CRIMES INAFIANÇÁVEIS

O CPP, entretanto, elenca as hipóteses em que não se concede fiança,


(crimes inafiançáveis):

Art. 323. Não será concedida fiança:


I – nos crimes de racismo;
II – nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terro-
rismo e nos definidos como crimes hediondos;
III – nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático;
IV – (Revogado pela Lei n. 12.403, de 2011).
V – (Revogado pela Lei n. 12.403, de 2011).

Atenção!
Nos crimes inafiançáveis, observa-se que o juiz poderá conceder liberdade
provisória sem fiança.

Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança:


I – aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente conce-
dida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem
os arts. 327 e 328 deste Código;
II – em caso de prisão civil ou militar;
III – (Revogado pela Lei n. 12.403, de 2011).
IV – quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preven-
tiva (art. 312).

 Obs.: com incidência dos arts. 312 e 313, o indivíduo é preso.

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PRISÃO VII

Referência bibliográfica para a aula:

• Guilherme Nucci – Código de Processo Penal Comentado.


• Norberto Avena – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor Távora – Curso de Direito Processo Penal.
• Renato Brasileiro – Manual de Processo Penal.

DA PRISÃO ESPECIAL

Ensina Távora: “Algumas pessoas, em razão da função desempenhada, terão


direito a recolhimento em quartéis ou a prisão especial, enquanto estiverem na
condição de presos provisórios, leia-se, antes do trânsito em julgado da
sentença condenatória”.

 Obs.: a prisão especial é vinculada à prisão cautelar. Trata-se de uma forma de


recolhimento do indiciado ou do réu quando lhe foi imposta uma prisão
cautelar. Observa-se que não existe prisão especial no âmbito da prisão
pena.

Conclui o professor: “O status de preso especial confere ao detento o reco-


lhimento em local distinto da prisão comum, e não havendo estabeleci-
mento específico para o preso especial, este ficará em cela separada dentro
do estabelecimento penal comum (art. 295, §§ 1º e 2°, CPP)”.
Observa-se um tratamento privilegiado aos presos cautelares para que cum-
pram a medida cautelar em ambiente diverso do estabelecimento penal comum.

Conforme Nucci:

(...) associando-se aos casos de foro privilegiado, cria-se uma categoria diferen-
ciada de brasileiros, aqueles que, presos, devem dispor de um tratamento es-
pecial, ao menos até o trânsito em julgado da sentença condenatória. Men-
ciona-se, na doutrina, para justificar a distinção, levar a lei em consideração não a
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pessoa, mas o cargo ou a função por ela exercida. Não vemos, com a devida vênia,
o menor sentido nisso. Quem vai preso é o indivíduo e não seu cargo ou sua
função.

Quem sofre os males do cárcere antecipado e cautelar é o ser humano e não o


seu título. Em matéria de liberdade individual, devemos voltar os olhos à pessoa e
não aos seus padrões sociais ou econômicos, que a transformem em alguém dife-
renciado. O correto seria garantir prisão especial – leia-se, um lugar separado
dos condenados – a todo e qualquer brasileiro que, sem ter experimentado a
condenação definitiva, não deve misturar-se aos criminosos, mormente os pe-
rigosos. Entretanto, faz a lei uma discriminação injusta e elitista.

 Obs.: o cárcere antecipado e cautelar se refere às prisões cautelares ou provi-


sórias.

O CPP, ex vi arts. 295 e 296, traz o rol de pessoas que gozam da prisão espe-
cial, sem prejuízo da previsão legislativa esparsa como a LOMAN e a LOMP:

Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à disposição da au-


toridade competente, quando sujeitos a prisão antes de condenação definitiva:
I – os ministros de Estado;
II – os governadores ou interventores de Estados ou Territórios, o prefeito do Distri-
to Federal, seus respectivos secretários, os prefeitos municipais, os vereadores e
os chefes de Polícia;
III – os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Economia Nacional e
das Assembleias Legislativas dos Estados;
IV – os cidadãos inscritos no "Livro de Mérito";
V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados, do Distrito Federal
e dos Territórios;

 Obs.: inclui o Corpo de Bombeiros e os policiais militares.

VI – os magistrados;
VII – os diplomados por qualquer das faculdades superiores da República;
VIII – os ministros de confissão religiosa;
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IX – os ministros do Tribunal de Contas;


X – os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função de jurado, salvo
quando excluídos da lista por motivo de incapacidade para o exercício daquela
função;
XI – os Delegados de Polícia e os guardas-civis dos Estados e Territórios, ativos e
inativos.

Atenção!
A prisão especial se caracteriza pela forma de recolhimento do preso, recolhido
a quartéis ou a prisão especial (dentro do sistema penitenciário, mas separado
da massa carcerária).

Continua o CPP:

§ 1º A prisão especial, prevista neste Código ou em outras leis, consiste exclusi-


vamente no recolhimento em local distinto da prisão comum.
§ 2º Não havendo estabelecimento específico para o preso especial, este será
recolhido em cela distinta do mesmo estabelecimento.
§ 3º A cela especial poderá consistir em alojamento coletivo, atendidos os requi-
sitos de salubridade do ambiente, pela concorrência dos fatores de aeração, inso-
lação e condicionamento térmico adequados à existência humana.
§ 4º O preso especial não será transportado juntamente com o preso comum.

 Obs.: o preso especial não é um preso que se difere apenas do preso condena-
do. O preso especial também se diferencia do preso provisório não espe-
cial, aquele que não é alcançado pelo privilégio do art. 295 do CPP.

§ 5º Os demais direitos e deveres do preso especial serão os mesmos do preso


comum.

 Obs.: preso especial se diferencia quanto ao recolhimento e transporte.

Art. 296. Os inferiores e praças de pré, onde for possível, serão recolhidos à pri-
são, em estabelecimentos militares, de acordo com os respectivos regulamentos.
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Atenção!
O STF, segundo a Súmula n. 717, entende-se:

Não impede a progressão de regime de execução de pena, fixada em sentença não


transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão especial.

Ou seja, uma vez preclusa a sentença para o MP, e só a defesa tendo


recorrido, nada impede a aplicação de benefícios da execução da pena,
conforme a LEP, ainda que o preso cautelar tenha direito prisão especial.

ATENÇÃO USO DA FORÇA – EMPREGO DE ALGEMAS

 Obs.: caberá o uso da força quando estiver presente a resistência – violência ou


grave ameaça contra o cumprimento de uma ordem legal. Cabe ressaltar
que a violência é a malversação do uso da força, configurando uma ação
ilegítima.

Conforme Távora:

O uso da força deve ser evitado, salvo quando indispensável no caso de re-
sistência ou tentativa de fuga do preso (art. 284, CPP). O uso desnecessário da
força, ou os excessos, podem caracterizar abuso de autoridade, lesões corporais,
homicídio etc.
Já quanto ao preso, pode incorrer em resistência (art. 329, CP), desobediência (art.
330, CP) ou até mesmo evasão mediante violência contra a pessoa (art. 352, CP).

O CPP, sobre o uso da força, dispõe:

Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em fla-
grante ou à determinada por autoridade competente, o executor e as pessoas que
o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-se ou para
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vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por duas
testemunhas.

A resistência é composta de violência (vis absoluta) ou grave ameaça (vis


compulsiva).

Atenção!
A Lei n. 13.434/2017 acrescentou parágrafo único ao art. 292, CPP:

Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grávidas durante os


atos médico-hospitalares preparatórios para a realização do parto e durante
o trabalho de parto, bem como em mulheres durante o período de puerpério
imediato.

 Obs.: momentos em que é proibido o uso de algemas em mulheres grávidas:

• Atos preparatórios do parto;


• durante o parto; e
• logo após o parto.

Atenção!
O STF também disciplinou o uso da força, na porção do emprego de algemas:

Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de


fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de
terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabili-
dade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão
ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do
Estado. (Súmula Vinculante n. 11)
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PRISÃO DOMICILIAR

Ensinam Távora e Roque:

O grande mérito da Lei n. 12.403/2011 foi transplantar para a persecução penal


o instituto da prisão domiciliar. Muito embora já houvesse uma predisposição
jurisprudencial para o reconhecimento da prisão domiciliar em fase anterior ao trân-
sito em julgado da sentença penal condenatória, a expressa previsão legal espanca
quaisquer dúvidas que porventura remanescessem acerca de seu cabimento. Atu-
almente, portanto, é possível a decretação da prisão domiciliar, seja durante a
investigação criminal, seja durante a instrução processual penal.

 Obs.: cabe prisão domiciliar durante inquérito ou ação penal.

Conforme Nucci:

Entretanto, não se deve vulgarizar a prisão cautelar, a ponto de estender a to-


dos os acusados, mesmo fora das hipóteses deste artigo, a prisão em domicílio,
sob pena de se desacreditar, por completo, o sistema penal repressivo. Nota-se ser
da essência da prisão cautelar a eficiente segregação do indiciado ou réu do
convívio social, afinal, estaria ele perturbando a ordem pública ou econômi-
ca, prejudicando a instrução ou pretendendo fugir. São hipóteses graves, me-
recedoras da pronta tutela do Estado, incompatíveis com a prisão domiciliar, salvo
para os casos particulares descritos pelo art. 318.

Ordena o CPP:

Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado


em sua residência, só podendo dela ausentar-se com autorização judicial.

Obs.:
• acusado: inquérito
• indiciado: ação penal
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Ainda de acordo com o CPP:

Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o
agente for:
I – maior de 80 (oitenta) anos;
II – extremamente debilitado por motivo de doença grave;
III – imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos
de idade ou com deficiência;

Atenção!
A Lei n. 13.257/2016 inclui os incisos IV, V e VI no art. 318:

IV – gestante;
V – mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos;
VI – homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12
(doze) anos de idade incompletos.

Por fim,

Art. 318. (...)


Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requisitos
estabelecidos neste artigo.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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HABEAS CORPUS

Doutrina referência para a aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado.
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processual Penal.
• Nestor TÁVORA e ROQUE – Código de Processo Penal para Concursos.
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

Do Habeas Corpus

Segundo AVENA: “O habeas corpus é ação autônoma de impugnação, cons-


titucionalmente estabelecida, objetivando preservar ou restabelecer a liberdade
de locomoção ilegalmente ameaçada ou violada.”
O habeas corpus (HC) é, antes de tudo, uma garantia constitucional que
tem por escopo pôr a salvo a liberdade ambulatória contemplada na Carta
Magna no art. 5º, XV:

XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer


pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

Nesse sentido, o HC é uma ação autônoma de impugnação, de natureza


penal, que visa proteger a liberdade de locomoção quando ameaçada ou quando
violada por ato ilegal ou por abuso de poder, conforme o inciso LXVIII do art. 5º
da Lex Excelsa:

LXVIII – conceder-se-á "habeas corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar


ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ile-
galidade ou abuso de poder;

Por via de consequência, o HC pode ser:


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1. Preventivo – quando há iminência de privação de liberdade do indivíduo.


2. Repressivo, Liberatório – quando já houver privação da liberdade de loco-
moção.
3. Suspensivo – é impetrado quando já há constrangimento, mas a pessoa
ainda não foi presa, ascendendo o HC como uma contraordem à prisão.

Espécies de Habeas Corpus

Conforme o escólio de AVENA, classifica-se o habeas corpus em duas espé-


cies:

Habeas corpus repressivo ou liberatório: cabível na hipótese de já ter sido


consumado o constrangimento ilegal à liberdade de locomoção. Nesse caso,
concedida a ordem, será expedido alvará de soltura com o intuito de restabele-
cimento da liberdade (art. 660, § 1º, do CPP).
Habeas corpus preventivo: impetrado quando houver fundado receio de
constrangimento ilegal à liberdade de locomoção. Necessário referir que a
ameaça de prisão que justifica a concessão da ordem não pode se caracteri-
zar como um temor remoto ou mera suspeita. É preciso que seja, efetivamente,
ameaça séria e concreta, devidamente demonstrada, quanto à iminência de
prisão ilegal. Não basta a possibilidade, sendo preciso a probabilidade do cons-
trangimento à liberdade. Deferido, expede-se salvo conduto, impedindo-se, pelo
fato objeto do habeas corpus, que ocorra a segregação (art. 660, § 4º, do CPP).

Atenção!
O STF tem o seguinte entendimento sobre essa matéria:

A simples notitia criminis não caracteriza, por si só, constrangimento ilegal ao direito de
locomoção do paciente, sanável via habeas corpus, especialmente quando não há qualquer
informação de que o paciente esteja na iminência de ser preso.
HC 119.172, rel. min. Teori Zavascki, julgamento em 1º-42014, Segunda Turma, DJE de
05/05/2014.
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Todavia, além das hipóteses mencionadas, tem sido admitida uma terceira
modalidade, denominada parcela doutrinária de habeas corpus profilático,
destinado a suspender atos processuais ou impugnar medidas que possam
importar em prisão futura com aparência de legalidade, porém intrinsecamente
contaminada por ilegalidade anterior. Nesse caso, a impugnação não visa ao
constrangimento ilegal à liberdade de locomoção já consumado ou à ameaça
iminente de que ocorra esse constrangimento, mas, sim, à potencialidade de que
esse constrangimento venha a ocorrer.

Princípios que orientam o HC

São princípios que orientam o HC:


1. Celeridade – qualquer do povo pode impetrar o HC, mesmo sem capaci-
dade postulatória (atuação sem advogado);
2. Gratuidade – não há necessidade de recolhimento de custas para o pro-
cessamento do HC;
3. Informalidade – o HC não possui uma forma processual específica,
podendo ser impetrado livremente.

Fundamento para a Impetração

A causa de pedir do HC (fundamento principal da impetração do habeas


corpus) é a violação ou ameaça de violação da liberdade de locomoção.
O art. 648, CPP, traz rol de situações que caracterizam a coação ilegal que
incide sobre a liberdade ambulatória do indivíduo:

Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:


I – quando não houver justa causa;
II – quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;
III – quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
IV – quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
V – quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a
autoriza;
VI – quando o processo for manifestamente nulo;
VII – quando extinta a punibilidade.
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O STF tem entendimento consolidado sobre essa matéria:

Súmula n. 695 – STF


Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de liberdade.

Súmula n. 694 – STF


Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de
perda de patente ou de função pública.

Súmula n. 693 – STF


Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo
a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única comi-
nada.

Súmula n. 692 – STF


Não se conhece de habeas corpus contra omissão de relator de extradição, se fun-
dado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não constava dos autos, nem foi ele
provocado a respeito.

De outro lado, há de haver prova pré-constituída relativa à coação ilegal


que atinge o direito de locomoção que é ônus do impetrante.
Nesse sentido, não há dilação probatória em sede de HC.
Não obstante o art. 648, CPP, fazer ressalva de pertinência de impetração de
HC em face de “punição disciplinar”, há de se frisar que o ordenamento jurídico
pátrio, à luz da Constituição Federal de 1988, autoriza a instrumentalização
do remédio heroico quando a punição disciplinar é ilegal.
Vide art. 647, CPP:

Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na imi-
nência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos
casos de punição disciplinar.
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Sujeitos do HC

Há três sujeitos processuais envolvidos no HC:


1. Impetrante – é aquele ator processual que intenta a ação penal. Este pode
ser qualquer do povo, seja pessoa física ou pessoa jurídica, inclusive o MP, e
sem exigência de capacidade postulatória, conforme o previsto no art. 654, CPP:

Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu fa-
vor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.

2. Paciente – é o beneficiado pelo HC que pode, inclusive, coincidir com a


figura do impetrante.
3. Impetrado – Coator – é a parte passiva da ação que é responsável pela
prática da coação. Não há exigência de que seja autoridade pública, podendo
ser um particular.

Atenção!
O HC pode, ainda, ser concedido de ofício pela autoridade judicial, sendo uma
exceção ao princípio da inércia jurisdicional, conforme o § 2º do art. 654, CPP:

§ 2º Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de ha-


beas corpus, quando no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está
na iminência de sofrer coação ilegal.

Forma de Proposição

O HC poderá ser proposto de forma livre, podendo ser escrito, por qualquer
meio, ou até mesmo oral.
Sendo escrito, o HC observará o que prescreve o art. 654, § 1º, CPP:

§ 1º A petição de habeas corpus conterá:


a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação e
o de quem exercer a violência, coação ou ameaça;
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b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de


coação, as razões em que funda o seu temor;
c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não
puder escrever, e a designação das respectivas residências.

Rito Processual

O rito processual do HC será nos termos do art. 664, CPP, em regra, mas terá
seu rito nos termos da Lei n. 8.038/1990 quando interposto no STJ e STF.
Vide art. 664, CPP:

Art. 664. Recebidas as informações, ou dispensadas, o habeas corpus será julga-


do na primeira sessão, podendo, entretanto, adiar-se o julgamento para a sessão
seguinte.
Parágrafo único. A decisão será tomada por maioria de votos. Havendo empate, se
o presidente não tiver tomado parte na votação, proferirá voto de desempate; no
caso contrário, prevalecerá a decisão mais favorável ao paciente.

O julgamento do HC se dará nos termos do art. 660, CPP:

Art. 660. Efetuadas as diligências, e interrogado o paciente, o juiz decidirá, funda-


mentadamente, dentro de 24 (vinte e quatro) horas.
§ 1° Se a decisão for favorável ao paciente, será logo posto em liberdade, salvo se
por outro motivo dever ser mantido na prisão.
§ 3º Se a ilegalidade decorrer do fato de não ter sido o paciente admitido a prestar
fiança, o juiz arbitrará o valor desta, que poderá ser prestada perante ele, remeten-
do, neste caso, à autoridade os respectivos autos, para serem anexados aos do
inquérito policial ou aos do processo judicial.
§ 4º Se a ordem de habeas corpus for concedida para evitar ameaça de violência
ou coação ilegal, dar-se-á ao paciente salvo-conduto assinado pelo juiz.
§ 5º Será incontinenti enviada cópia da decisão à autoridade que tiver ordenado a
prisão ou tiver o paciente à sua disposição, a fim de juntar-se aos autos do proces-
so.
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§ 6º Quando o paciente estiver preso em lugar que não seja o da sede do juízo ou
do tribunal que conceder a ordem, o alvará de soltura será expedido pelo telégrafo,
se houver, observadas as formalidades estabelecidas no art. 289, parágrafo único,
in fine, ou por via postal.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.

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Disposições Gerais CPP
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DISPOSIÇÕES GERAIS CPP

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS DO CPP

Doutrina referência para esta aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado;
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado;
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal;
• Nestor TÁVORA e ROQUE – Código de Processo penal para Concursos;
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

Trata-se do último livro do CPP, que traz institutos aplicáveis a todo processo
penal, ou seja, dizem respeito a diferentes ritos processuais.

AUDIÊNCIAS EXTRAORDINÁRIAS

Ensinam ROQUE e TÁVORA:

Em homenagem à estrita necessidade e a razoável duração do processo (art. 5°,


inc. LXXVIII, CF), audiências extraordinárias podem ser marcadas, antecipando-se
a solução do procedimento (sem atropelos), e adequando a estrutura procedimen-
tal à necessidade do fato objeto do julgamento (princípio da adequação).

De acordo com o CPP:

Art. 791. Em todos os juízos e tribunais do crime, além das audiências e sessões
ordinárias, haverá as extraordinárias, de acordo com as necessidades do rápido
andamento dos feitos.

A celeridade não implica em inobservância de garantias, principalmente dos


direitos das partes que podem fulminar o devido processo.
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PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

Ordena o CPP:

Art. 792. As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, pú-


blicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos escri-
vães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos,
ou previamente designados.

A limitação da publicidade é uma exceção. A regra é que as audiências, ses-


sões e atos processuais sejam públicos. Entre as exceções estão os processos
que envolvam menores de idade, pessoas que foram vítimas de crimes violen-
tos, pessoas que de alguma forma precisam ter a sua identidade preservada
para evitar um maior escândalo do processo e também a incolumidade pública.

§ 1º Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resul-


tar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz,
ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou
do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas,
limitando o número de pessoas que possam estar presentes.
§ 2º As audiências, as sessões e os atos processuais, em caso de necessidade,
poderão realizar-se na residência do juiz, ou em outra casa por ele especialmen-
te designada.

ORDEM, SOLENIDADE E PODER DE POLÍCIA NAS AUDIÊNCIAS

De acordo com o CPP:

Art. 793. Nas audiências e nas sessões, os advogados, as partes, os escrivães e


os espectadores poderão estar sentados. Todos, porém, se levantarão quando
se dirigirem aos juízes ou quando estes se levantarem para qualquer ato do
processo.
Parágrafo único. Nos atos da instrução criminal, perante os juízes singulares, os
advogados poderão requerer sentados.
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Manda o CPP:

Art. 794. A polícia das audiências e das sessões compete aos respectivos juízes
ou ao presidente do tribunal, câmara, ou turma, que poderão determinar o que for
conveniente à manutenção da ordem. Para tal fim, requisitarão força pública,
que ficará exclusivamente à sua disposição.

Art. 795. Os espectadores das audiências ou das sessões não poderão mani-
festar-se.
Parágrafo único. O juiz ou o presidente fará retirar da sala os desobedientes,
que, em caso de resistência, serão presos e autuados.

Art. 796. Os atos de instrução ou julgamento prosseguirão com a assistência do


defensor, se o réu se portar inconvenientemente.

Atenção!
Na situação em que o réu apresente comportamento inadequado, poderá ser
retirado da sala de julgamento, porém o seu defensor permanece para que
lhe seja assegurado o direito ao contraditório e à ampla defesa. Nesse caso,
haverá a chamada defesa técnica, que é inalienável.

Segundo TÁVORA e ROQUE:

A postura inconveniente do réu na audiência pode lhe trazer consequências, com a


sua retirada da sala. Naturalmente, o procedimento prossegue com a presença
do defensor, que é obrigatória, sob pena de nulidade absoluta do ato (súmula
n. 523 do STF).
(...)
Por sua vez, se o comportamento inadequado é do defensor (advogado) ou do
membro do parquet, o ato será adiado, sem prejuízo da comunicação aos órgãos
correicionais das respectivas carreiras.

O STF tem o seguinte entendimento consolidado:


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Súmula n. 523, STF


No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua defi-
ciência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.

Atenção!
A falta de defesa gera nulidade absoluta e a deficiência de defesa gera nulidade
relativa.

DIAS DE REALIZAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS

De acordo com o CPP:

Art. 797. Excetuadas as sessões de julgamento, que não serão marcadas para
domingo ou dia feriado, os demais atos do processo poderão ser praticados em
período de férias, em domingos e dias feriados. Todavia, os julgamentos inicia-
dos em dia útil não se interromperão pela superveniência de feriado ou domingo.

 Obs.: para todos os efeitos, o que é levado em consideração é o início da prá-


tica do ato.

PRAZOS

De acordo com o CPP:

Art. 798. Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptó-


rios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado.
§1º Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do venci-
mento.
§2º A terminação dos prazos será certificada nos autos pelo escrivão; será, porém,
considerado findo o prazo, ainda que omitida aquela formalidade, se feita a prova
do dia em que começou a correr.

• Dies a quo: não é computado;


• Dies ad quem: é computado.
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§ 3º O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado


até o dia útil imediato.
§ 4º Não correrão os prazos, se houver impedimento do juiz, força maior, ou obstá-
culo judicial oposto pela parte contrária.
§ 5º Salvo os casos expressos, os prazos correrão:
a) da intimação;
b) da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver presente
a parte;
c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença ou
despacho

O STF tem o seguinte entendimento consolidado:

Súmula n. 310, STF


Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intima-
ção for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo
se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir.

A Súmula n. 310 do STF desenvolve a ideia contida no art. 798, § 3º, do CPP.

Súmula n. 710, STF


No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada
aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.

Mais uma vez, o STF ratifica o dispositivo legal (art. 798, § 5º, CPP) não dei-
xando, assim, qualquer dúvida sobre o assunto. Assim, a juntada do mandado
não gera o início da contagem dos prazos, mas, sim, do ato da intimação.

Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Adriano Barbosa.
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DISPOSIÇÕES GERAIS CPP II

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS DO CPP

Doutrina referência para esta aula:


• Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado;
• Norberto AVENA – Processo Penal Esquematizado;
• Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal;
• Nestor TÁVORA e ROQUE – Código de Processo penal para Concursos;
• Renato BRASILEIRO – Manual de Processo Penal.

PRAZOS DE ATOS CARTORÁRIOS, JUDICIAIS E DO MP

De acordo com o CPP:

Art. 799. O escrivão, sob pena de multa de cinquenta a quinhentos mil-réis e, na


reincidência, suspensão até 30 (trinta) dias, executará dentro do prazo de dois dias
os atos determinados em lei ou ordenados pelo juiz.

Apesar de existir previsão legal, o dispositivo acima pode ser considerado


“letra morta”, pois atualmente, com o volume de processos que há em curso,
é humanamente impossível que o técnico/analista judiciário que trabalha junto
ao foro leve a termo esse prazo para a prática do ato. É importante haver bom
senso, pois se o servidor trabalha de forma displicente, poderá responder disci-
plinarmente, inclusive na forma da lei.
Contudo, é importante saber que há a previsão legal da punição do técnico/
analista judiciário quando há negligência ou inobservância das obrigações em
termo de prazo.

De acordo com o CPP:

Art. 800. Os juízes singulares darão seus despachos e decisões dentro dos prazos
seguintes, quando outros não estiverem estabelecidos:
I – de dez dias, se a decisão for definitiva, ou interlocutória mista;
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II – de cinco dias, se for interlocutória simples;


III – de um dia, se se tratar de despacho de expediente.
§ 1º Os prazos para o juiz contar-se-ão do termo de conclusão.
§ 2º Os prazos do Ministério Público contar-se-ão do termo de vista, salvo para a
interposição do recurso (art. 798, § 5º).

Atenção!
Os prazos judiciais são prazos impróprios. A inobservância desses prazos não
traz consequências processuais para as partes. A consequência que pode
haver para o juiz é disciplinar.

§ 3º Em qualquer instância, declarando motivo justo, poderá o juiz exceder por igual
tempo os prazos a ele fixados neste Código.
§ 4º O escrivão que não enviar os autos ao juiz ou ao órgão do Ministério Público
no dia em que assinar termo de conclusão ou de vista estará sujeito à sanção es-
tabelecida no art. 799.

Observa-se no CPP:

Art. 801. Findos os respectivos prazos, os juízes e os órgãos do Ministério Público,


responsáveis pelo retardamento, perderão tantos dias de vencimentos quantos fo-
rem os excedidos. Na contagem do tempo de serviço, para o efeito de promoção e
aposentadoria, a perda será do dobro dos dias excedidos.
Art. 802. O desconto referido no artigo antecedente far-se-á à vista da certidão
do escrivão do processo ou do secretário do tribunal, que deverão, de ofício, ou a
requerimento de qualquer interessado, remetê-la às repartições encarregadas do
pagamento e da contagem do tempo de serviço, sob pena de incorrerem, de pleno
direito, na multa de quinhentos mil réis, imposta por autoridade fiscal.

Atenção!
Os artigos 801 e 802 não foram recepcionados pela Constituição Federal
de 1988. Não existe a possibilidade de redução de vencimento por parte de
magistrado.
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RETIRADA DE AUTOS DO CARTÓRIO

Ensinam TÁVORA e ROQUE:

A retirada dos autos do cartório viabiliza o exercício do contraditório e da am-


pla defesa, possibilitando a manifestação técnica e a depuração mais acurada
do registro dos atos processuais. Como o MP, de regra, recebe os autos com
vistas, nada mais adequado do que oportunizar, notadamente se está correndo
prazo, a carga dos autos pelo advogado, fazendo-se o competente registro em
livro específico, para que se tenha o devido controle. A respeito, os incisos XV e
XVI do art. 7° do Estatuto da OAB (Lei n. 8.906/94), consagrando como direito
do advogado:

Observa-se no CPP:

Art. 803. Salvo nos casos expressos em lei, é proibida a retirada de autos do cartó-
rio, ainda que em confiança, sob pena de responsabilidade do escrivão.

Atenção!
O art. 803 também não foi recepcionado pela CF/1988, pois acaba com o direito
ao contraditório e à ampla defesa.

CUSTAS E ESCRIVÃO AD HOC

Ensinam TÁVORA e ROQUE:

As custas remuneram as despesas com os atos processuais, e devem ser


pagas pelo vencido. Tratando-se de ação pública, sendo o MP órgão do Es-
tado, não há de se falar em custas quando a acusação sucumbir. Nas ações
privadas, as custas são imputadas ao querelante. Havendo pluralidade de
réus, deve haver o respectivo rateio. Na hipótese de assistência judiciária
gratuita, notadamente aos que são assistidos pela Defensoria Pública, haverá
isenção.
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De acordo com o CPP:

Art. 804. A sentença ou o acórdão, que julgar a ação, qualquer incidente ou recur-
so, condenará nas custas o vencido.
Art. 805. As custas serão contadas e cobradas de acordo com os regulamentos
expedidos pela União e pelos Estados.
Art. 806. Salvo o caso do art. 32, nas ações intentadas mediante queixa, nenhum
ato ou diligência se realizará, sem que seja depositada em cartório a importância
das custas.
§ 1º Igualmente, nenhum ato requerido no interesse da defesa será realizado, sem
o prévio pagamento das custas, salvo se o acusado for pobre.
§ 2º A falta do pagamento das custas, nos prazos fixados em lei, ou marcados pelo
juiz, importará renúncia à diligência requerida ou deserção do recurso inter-
posto.
§ 3º A falta de qualquer prova ou diligência que deixe de realizar-se em virtude do
não-pagamento de custas não implicará a nulidade do processo, se a prova de po-
breza do acusado só posteriormente foi feita.
Art. 807. O disposto no artigo anterior não obstará à faculdade atribuída ao juiz de
determinar de ofício inquirição de testemunhas ou outras diligências.

Atenção!
O juiz e o delegado de polícia, na condição de inquérito policial, buscam a
chamada verdade dos fatos, também chamada de verdade material. Assim,
o juiz, por via de consequência, terá o poder de instrução, ou seja, poderá
determinar de ofício a inquirição de testemunhas.

Art. 808. Na falta ou impedimento do escrivão e seu substituto, servirá pessoa idô-
nea, nomeada pela autoridade, perante quem prestará compromisso, lavrando o
respectivo termo.

 Obs.: o juiz e o delegado poderão nomear escrivão ad hoc.


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ESTATÍSTICA JUDICIÁRIA CRIMINAL

De acordo com o CPP:

Art. 809. A estatística judiciária criminal, a cargo do Instituto de Identificação e Es-


tatística ou repartições congêneres, terá por base o boletim individual, que é parte
integrante dos processos e versará sobre:
I – os crimes e as contravenções praticados durante o trimestre, com especificação
da natureza de cada um, meios utilizados e circunstâncias de tempo e lugar;
II – as armas proibidas que tenham sido apreendidas;
III – o número de delinquentes, mencionadas as infrações que praticaram, sua nacio-
nalidade, sexo, idade, filiação, estado civil, prole, residência, meios de vida e condi-
ções econômicas, grau de instrução, religião, e condições de saúde física e psíquica;
IV – o número dos casos de codelinquência;
V – a reincidência e os antecedentes judiciários;
VI – as sentenças condenatórias ou absolutórias, bem como as de pronúncia ou de
impronúncia;
VII – a natureza das penas impostas;
VIII – a natureza das medidas de segurança aplicadas;
IX – a suspensão condicional da execução da pena, quando concedida;
X – as concessões ou denegações de habeas corpus.
§ 1º Os dados acima enumerados constituem o mínimo exigível, podendo ser acres-
cidos de outros elementos úteis ao serviço da estatística criminal.
§ 2º Esses dados serão lançados semestralmente em mapa e remetidos ao Serviço
de Estatística Demográfica Moral e Política do Ministério da Justiça.
§ 3º O boletim individual a que se refere este artigo é dividido em três partes desta-
cáveis, conforme modelo anexo a este Código, e será adotado nos Estados, no Dis-
trito Federal e nos Territórios. A primeira parte ficará arquivada no cartório policial;
a segunda será remetida ao Instituto de Identificação e Estatística, ou repartição
congênere; e a terceira acompanhará o processo, e, depois de passar em julgado a
sentença definitiva, lançados os dados finais, será enviada ao referido Instituto ou
repartição congênere.

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