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1VAFAZPUB
1ª Vara da Fazenda Pública do DF
SENTENÇA
Vistos etc.,
Defende o autor da ação que a conduta configura hipótese flagrante de burla ao concurso público,
à moralidade administrativa, ao princípio da impessoalidade e à Lei Distrital nº 4.502/2010.
Requer, ao final, a condenação dos réus RODRIGO SOBRAL ROLLEMBERG e LEANY BARREIRO DE
SOUSA LEMOS pela prática dos atos de improbidade previstos no art. 11, caput e inciso V, da Lei n.º
8.429/92; aplicando-lhes as sanções do art. 12, inc. III, da Lei 8.429/92.
Em seguida, o primeiro réu trouxe aos autos notícia de julgamento da Apelação Cível sob n.
20150111182815APC, na qual foi afastada a tese de ato de improbidade do Governador e Secretário da
gestão anterior com relação a fatos similares.
Por meio da decisão de Id 10069592 foram rejeitadas as questões preliminares e recebida a inicial.
Inicia afirmando que a Secretária de Planejamento, Orçamento e Gestão não poderia ter dado
causa ao ato ímprobo, pois somente o Governador tem atribuição para nomear servidores (Art. 100, XXVII
da LODF). Assim, o resultado “nomeações para cargos em comissão” ou “ausência de nomeações para
cargos efetivos” de que depende a existência do ato ímprobo não pode ser imputado à ré.
Discorre sobre a ausência de elemento subjetivo na conduta, diante das orientações emanadas
em Pareceres da PGDF e decisões do TCDF. Menciona, então, o Parecer n.º 631/2015, da Procuradoria
Especial da Atividade Consultiva da PGDF, o qual opina pela impossibilidade de nomeação dos servidores
aprovados no concurso do PROCON dentro do número de vagas previsto no Edital n.º 1/2011-
SEAP/PROCON. Acrescenta que, na Decisão nº 392/2016 do TCDF, proferida no Processo nº 9947/2012, o
voto do relator manifestou entendimento de que a substituição dos servidores comissionados por efetivos
pode gerar uma despesa adicional de pessoal, impactando mais na LRF, tendo em conta que as obrigações
e a remuneração do pessoal ocupante de cargo efetivo são, normalmente, mais rígidas e maiores que a do
pessoal comissionado.
Defende que as nomeações para os cargos em comissão no PROCON não poderiam ser ilegais, já
que os cargos foram criados por lei anterior e constavam no quadro de pessoal da entidade, mormente
quando a contratação visa à continuidade do serviço público. Aduz que a nomeação de servidores
comissionados ocorrida em junho de 2016 (ID 7525551) decorreu de mera reestruturação dos cargos em
comissão e significou apenas renomeação dos anteriores ocupantes dos cargos antigos transformados e o
documento juntado à inicial de ID 7525537 e 7525538 revela que, em junho de 2015, a grande maioria
destes servidores ocupava cargos de chefia e direção
Informa que todos os aprovados no concurso do PROCON dentro das vagas previstas já foram
nomeados, bem como que a gestão dos requeridos reduziu o número de cargos comissionados ocupados
no PROCON/DF de 89 (oitenta e nove) cargos ocupados em dezembro de 2014 para 50 (cinquenta) cargos
comissionados ocupados por servidores sem vínculo no mês de junho de 2017.
Finaliza noticiando que, na data de 23.10.2017, portanto, após o último relatório de gestão fiscal
que indicou ter o DF saído do limite prudencial, o Governador do DF, ora requerido, nomeou os servidores
remanescentes do concurso para o PROCON, conforme revela a cópia anexa das folhas 15 a 17 do DODF
nº. 203 de 23.10.2017
Réplica de Id 11068577.
É o relato do necessário.
Decido.
Procedo ao julgamento antecipado do mérito (art. 355, I, CPC), pois as provas documentais
acostadas aos autos são suficientes para elucidação da controvérsia.
CONEXÃO
O Ministério Público, autor da ação, aventou, na petição de Id 14203295, eventual conexão com o
processo n. 2012.01.1.183711-6, ao argumento de que poderiam ocorrer decisões contraditórias e,
portanto, seria necessária a reunião dos feitos (art. 55, §3º, do CPC).
A conexão pressupõe a reunião de ações com pedido ou causa de pedir comum (art. 55 do CPC).
No mais, os pressupostos de direito para acolhimento dos pedidos formulados em cada ação
também são distintos, razão pela qual não há verdadeiro risco de decisões contraditórias.
MÉRITO
Trata-se, sem dúvida, de uma nefasta prática de indicações políticas (vide Id 7525514), que rendem
dividendos eleitorais e vinculação àqueles que orientam as indicações, em detrimento dos princípios
constitucionais da Administração e do devido concurso público.
Ressalte-se que a própria Constituição Federal prescreve, no art. 37, §2º, que “§ 2º A não
observância do disposto nos incisos II e III implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade
responsável
responsável, nos termos da lei.”
Feito esse necessário registro, cabe, então, investigar o elemento subjetivo da conduta que, no
caso do art. 11 da Lei n. 8429/1992, somente pode ser o dolo, ainda que genérico.
Como bem delimita o STJ, "o dolo que se exige para a configuração de improbidade administrativa
é a simples vontade consciente de aderir à conduta, produzindo os resultados vedados pela norma
jurídica - ou, ainda, a simples anuência aos resultados contrários ao Direito quando o agente público ou
privado deveria saber que a conduta praticada a eles levaria -, sendo despiciendo perquirir acerca de
finalidades específicas" (STJ, AgRg no REsp 1.539.929/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, DJe de 02/08/2016)
Pois bem.
Vejamos, primeiramente, se os réus aderiram à situação antijurídica por não solicitar ou não
nomear candidatos aprovados em concurso.
A gestão do atual Governador teve início em janeiro de 2015 e, logo no mês seguinte, em 25 de
fevereiro de 2015, foi editado o Parecer n. 0092/2015 – PRCON/PGDF.
O mencionado Parecer foi elaborado tendo como contexto a extrapolação do limite prudencial de
gastos com pessoal fixado na Lei de Responsabilidade Fiscal, apresentando, ao final, a seguinte conclusão:
“...Pelo exposto, conclui-se que atingido o limite prudencial de gasto com pessoal, aplicam-se
imediatamente as vedações contidas no art. 22, parágrafo único, da Lei Complementar n. 101/00,
havendo a possibilidade de "relativização" do rigor da norma para atender ao interesse público,
em situações excepcionais nas quais a ponderação de valores indique preponderância e relevo do
ato a ser praticado, de modo a evitar a quebra de continuidade dos serviços essenciais à
população, resguardados pela Constituição Federal, que deve ser tida como parâmetro para a
interpretação da Lei de Responsabilidade Fiscal....”
Nesse contexto, em que assentada orientação do órgão consultivo quanto à vedação imediata de
novas contratações, não seria exigível da autoridade administrativa máxima do ente político postura
diversa, até porque o descumprimento das medidas de contenção de despesas determinadas na Lei de
Responsabilidade Fiscal também conduziria a ato de improbidade administrativa.
Melhor explicitando, não pode um agente público ou político ser penalizado por cumprir as
normas de responsabilidade na gestão fiscal.
Não por outra razão, qual seja, impossibilidade temporária de novas nomeações quando atingido
o limite da LRF, o Tribunal de Contas do Distrito Federal, na Decisão n. 392/2016, reputou adequada
medida de suspensão do prazo de validade do concurso público regulado pelo Edital nº 01/11 –
SEAP/PROCON, já que não seria juridicamente viável a imediata substituição dos comissionados.
De fato, parece pertinente a consideração do Conselheiro da Corte de Contas, uma vez que a
substituição pura e simples não teria repercussão econômica neutra.
As tabelas de Id 8829172 Pag. 1/4, que apresentam demonstrativo das despesas com folha de
efetivos e comissionados sem vínculo corroboram tal conclusão.
É bem verdade que a regularização da força de trabalho por servidores efetivos não deve estar
pautada apenas pela lógica dos valores brutos de despesa com pessoal, na medida em que pode
proporcionar ganhos de eficiência, qualidade e continuidade do serviço, bem como homenagear a
impessoalidade, todavia, diante da grave crise fiscal constatada, a contenção de despesas no período era
motivo relevante a justificar a medida.
Daí porque, ao não acolher recomendação do Ministério Público do Distrito Federal, que orientava
a efetivação das nomeações dos candidatos aprovados, e seguir, noutro passo, a recomendação da
Procuradoria-Geral do Distrito Federal – de não substituir, naquele momento, os comissionados pelos
efetivos-, não se vislumbra qualquer omissão dolosa ou ato de improbidade a ensejar a responsabilização
dos réus.
Por outro lado, ainda resta investigar se a manutenção dos servidores comissionados, “Assessores
Técnicos”, no exercício da função, ou mesmo as novas nomeações efetivadas em junho de 2016, poderiam
configurar anuência com a situação vedada pela Constituição.
Ora, a manutenção dos “Assessores Técnicos”, ao menos no período em que o Distrito Federal
estava impedido de realizar nomeações, por força do cumprimento da LRF, também não configura omissão
dolosa do Governador.
Com efeito, tal preservação, de todo indesejável, era justificável durante o óbice fiscal, sob a
perspectiva de continuidade do serviço então desempenhado.
A rigor, não se pode falar nem mesmo em manutenção pura e simples do quadro de
irregularidade, uma vez que restou demonstrado que houve redução ao longo do mandato do atual
governador no número de comissionados sem vínculo efetivo com a entidade.
Sobre o mesmo tema, ainda que sob a premissa de fatos transcorridos na gestão governamental
anterior, concluiu a 5ª Turma Cível deste TJDFT:
Ressalto, por fim, que, no presente estágio processual, é certo que o quadro fático é
substancialmente diverso, pois o Distrito Federal efetivamente saiu do limite prudencial, razão pela qual,
neste momento, em tese, não se poderia mais vislumbrar a escusa para manutenção dos “Assessores
Técnicos” em preterição de candidatos aprovados.
De qualquer sorte, tal provimento escapa ao objeto delimitado na presente ação de improbidade,
razão pela qual não pode ser utilizado para fundamentar a responsabilização pretendida pelo parquet.
DISPOSITIVO
Resolvo o mérito, com apoio no art. 487, I, do CPC c/c art. 17, §8, da Lei n. 8429/92.
P.R.I.
18032313341435500000014553324
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