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LÓGICA I

CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD

Lógica I – Prof. Ms. Marcos José Alves Lisboa

Meu nome é Marcos José Alves Lisboa, nasci em Tietê,


interior de São Paulo, cidade que deixei para cursar
Filosofia (graduação e pós-graduação – mestrado) em
Campinas, na Puc-Campinas. Em Campinas fui professor de
Filosofia na rede particular de ensino. No ensino superior
lecionei na Universidade Metodista de São Paulo (São
Bernardo do Campo) para as disciplinas Filosofia e Ética
e Cidadania para os cursos de graduação. Atualmente, no
Centro Universitário Claretiano sou docente de Filosofia
para os cursos de licenciatura em Filosofia, Pedagogia e
Matemática e coordenador do curso de Licenciatura em
Filosofia – EAD; além de participar como pesquisador
do CNPq (área de estudo: Ética Fenomenológica e Hermenêutica) e autor de outros
materiais didáticos (Lógica I, Filosofia e História da Ciência e do conhecimento, Didática
de Filosofia e Introdução à Filosofia).
E-mail: coordfilo@claretiano.edu.br

O autor agradece a colaboração do Prof. Licenciado


em Filosofia Ricardo Bazilio Dalla Vecchia, pelas suas
contribuições aos temas desenvolvidos, bem como pela
criteriosa revisão técnica dos conteúdos deste Caderno de
Referência de Conteúdo.

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


Marcos José Alves Lisboa

LÓGICA I
Caderno de Referência de Conteúdo

Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2007 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013

160 L749l

Lisboa, Marcos José Alves


Lógica I / Marcos José Alves Lisboa – Batatais, SP : Claretiano, 2013.
140 p.

ISBN: 978-85-67425-72-6

1. Examinar a importância da Lógica enquanto disciplina filosófica e sua relação


com o discurso no processo do conhecimento. 2. Descobrir os princípios do
raciocínio, aplicando-os às situações reais e cotidianas. 3. A Lógica Clássica
Aristotélica. 4. Fundamentos do Silogismo e da Indução. I. Lógica I.

CDD 160

Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves

Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos

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SUMÁRIO
CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 7
2 ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O ESTUDO.............................................................. 9

Unidade  1 – LÓGICA, É LÓGICO!


1 OBJETIVOS........................................................................................................... 27
2 CONTEÚDOS........................................................................................................ 27
3 ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O ESTUDO DA UNIDADE........................................ 28
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 28
5 O QUE É LÓGICA AFINAL?................................................................................... 30
6 OBJETO/PROBLEMA............................................................................................ 36
7 TEXTO COMPLEMENTAR..................................................................................... 39
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................. 44
9 CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 44
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 45

Unidade  2 – RECONHECENDO O TERRENO


1 OBJETIVOS........................................................................................................... 47
2 CONTEÚDOS........................................................................................................ 47
3 ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O ESTUDO DA UNIDADE........................................ 48
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 48
5 ARGUMENTO E ENUNCIADO............................................................................... 49
6 INFERÊNCIAS INDUTIVA E DEDUTIVA ................................................................. 52
7 PREMISSA............................................................................................................ 54
8 INFERÊNCIAS....................................................................................................... 55
9 ARGUMENTO...................................................................................................... 56
10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................ 59
11 CONSIDERAÇÕES................................................................................................ 60
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 61

Unidade  3 – LÓGICA FORMAL CLÁSSICA


1 OBJETIVOS........................................................................................................... 63
2 CONTEÚDOS........................................................................................................ 63
3 ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O ESTUDO DA UNIDADE........................................ 63
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 64
5 PROPOSIÇÕES..................................................................................................... 64
6 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................. 69
7 CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 70
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 71
Unidade  4 – OPOSIÇÃO ENTRE PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS
1 OBJETIVOS........................................................................................................... 73
2 CONTEÚDOS........................................................................................................ 73
3 ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O ESTUDO DA UNIDADE........................................ 73
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 74
5 RELAÇÃO DE QUANTIDADE E QUALIDADE.......................................................... 74
6 OPOSIÇÃO ENTRE AS PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS............................................ 76
7 INFERÊNCIA IMEDIATA........................................................................................ 79
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................. 84
9 CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 86
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 86

Unidade  5 – DEDUÇÃO E INDUÇÃO E OS DIAGRAMAS DE VENN


1 OBJETIVOS........................................................................................................... 87
2 CONTEÚDOS........................................................................................................ 87
3 ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O ESTUDO DA UNIDADE........................................ 88
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 88
5 DEDUÇÃO E INDUÇÃO......................................................................................... 88
6 APLICAÇÃO DOS DIAGRAMAS DE VENN NAS FIGURAS DO SILOGISMO.............. 110
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................. 117
8 CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 119
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 119

Unidade  6 – FALÁCIAS INFORMAIS


1 OBJETIVOS........................................................................................................... 121
2 CONTEÚDOS........................................................................................................ 121
3 ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O ESTUDO DA UNIDADE........................................ 122
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 122
5 FALÁCIAS DE APELO ÀS EMOÇÕES...................................................................... 124
6 FALÁCIAS DE ATAQUES PESSOAIS E APELO À AUTORIDADE................................ 128
7 PROBLEMAS INDUTIVOS E DEDUTIVOS.............................................................. 133
8 OUTROS TIPOS DE FALÁCIAS............................................................................... 135
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................. 137
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 139
11 BIBLIOGRAFIA BÁSICA......................................................................................... 140

Claretiano - Centro Universitário


EAD
Caderno de
Referência
de Conteúdo
CRC

Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Examinar a importância da Lógica enquanto disciplina filosófica e sua relação
com o discurso no processo do conhecimento. Descobrir os princípios do racio-
cínio, aplicando-os às situações reais e cotidianas.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo aos estudos de Lógica I! Vamos juntos des-
cobrir os mais diversos caminhos de argumentação e reflexão do
conhecimento humano.
Nesta parte chamada Caderno de Referência de Conteúdo,
você encontrará o conteúdo básico das unidades em que se divide
o CRC e que será estudado ao longo das semanas.
A lógica que Aristóteles denominou Organon (instrumento)
serve para distinguir o raciocínio correto do incorreto. Para isso,
a Lógica estuda os termos e as proposições que compõem toda e
qualquer argumentação, seja ela científica, filosófica, ou qualquer
8 © Lógica I

tipo de raciocínio que façam parte de nosso cotidiano. Podemos


dizer, conjuntamente com Aristóteles, que a Lógica é a introdução
de todo o saber, nenhuma ciência pode prescindir de proceder lo-
gicamente.
Para definir o que é Lógica, torna-se indispensável explicar
seu objeto. Esta ciência não estuda a forma como pensamos nem
como raciocinamos, mas fornece as ferramentas para dirigir de
maneira sistemática os raciocínios que pretendem enunciar uma
verdade.
Com o estudo da Lógica I, você poderá conhecer e analisar
as formas de argumentação, os princípios lógicos, as proposições,
enfim, conceitos importantes e necessários ao entendimento da
Lógica.
Esteja consciente de que seu bom desempenho intelectual
dependerá de você mesmo. Na educação a distância, é fundamen-
tal que você participe ativamente das discussões no Fórum e na
Lista, discutindo e debatendo os conteúdos com seus colegas e tu-
tores ou enviando suas contribuições por fax ou pelo correio.
É nesse processo de colaboração que o conhecimento é
construído.
Como futuro educador, profissional do conhecimento, é im-
portante não apenas compreender, mas, também, saber aplicar os
conceitos fundamentais da Lógica.
Você estará apto, por exemplo, a analisar um discurso, uma
argumentação etc., além de construir você mesmo diversas espé-
cies de argumentos, proposições, enfim saberá compreender logi-
camente diversas formas de pensamento e arguição.
Nossos tutores estarão sempre ao seu lado. Você poderá
fazer perguntas e resolver suas dúvidas seja por telefone, fax ou
e-mail.
Vamos nos preparar para este desafio?
© Caderno de Referência de Conteúdo 9

2. ORIENTAÇÕES GERAIS PARA ESTUDO

Abordagem Geral
Prof. Ms. Luis Fernando Crespo

Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será es-


tudado neste CRC. Aqui, você entrará em contato com os assuntos
principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportu-
nidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade.
No entanto, esta Abordagem Geral visa a fornecer-lhe o conheci-
mento básico necessário a partir do qual você possa construir um
referencial teórico com base sólida – científica e cultural – para
que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com com-
petência cognitiva, ética e responsabilidade social. Vamos come-
çar nossa aventura pela apresentação das ideias e dos princípios
básicos que fundamentam este CRC.

Introdução à Lógica
Iremos tratar de uma área muito específica da Filosofia: a
Lógica. Não será nosso intuito, aqui, desenvolver atividades es-
miuçadas sobre como trabalhar com a Lógica; apenas farei uma
abordagem geral sobre o que o aguarda.
Pare e pense: quantas e quantas vezes, em nosso dia a dia,
dizemos: "É lógico!"?
Você vai? Tem? Pode? Entendeu? – É lógico!
Aqui está nosso problema: o que significa dizer que algo é
"lógico"?
Um exemplo:
Se eu pergunto: você saiu na chuva? E sem guarda-chuva? E
se molhou?

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10 © Lógica I

Pense que se as duas primeiras respostas forem "sim" (sair


na chuva, sem guarda-chuva), necessariamente a última também
será (se molhar). Ou seja, se você saiu na chuva e sem guarda-chu-
va, é lógico que você se molhou. Isso quer dizer que eu tinha já os
dados necessários para concluir que você se molhou, não preci-
sando perguntar. Outro exemplo simples é o chamado pleonasmo
vicioso, quando estudamos Português: "entrar para dentro" e "sair
para fora". Se entramos, é lógico que é para dentro, e se saímos, é
lógico que é para fora.
Desta maneira, entendemos que, ao dizer "é lógico", afirma-
mos não haver outra possibilidade de resposta, pois se ela existir,
não é algo lógico. Aquilo que é lógico está claro, não deixando dú-
vida alguma.
Assim, este curso pretende iniciá-lo nos estudos da Lógica,
para que você esteja apto a elaborar e analisar melhor os raciocí-
nios; espera-se que você consiga entender e transitar no âmbito
lógico com toda sua especificidade – e você verá que ele é bem
específico.
Mas, muitas vezes, os alunos têm a Lógica como sendo um
bicho-papão e, talvez, até mesmo você – sem ainda conhecer –
acaba construindo uma imagem negativa desta disciplina apenas
pelo que já ouviu por aí. De início, já digo: é muito gostoso saber
lidar com a Lógica! Mas isto somente será possível depois de muito
estudo, de muito esforço.
De início, apresento para você alguns argumentos (por ora,
entenda o argumento como sendo um conjunto de frases que tem
uma conclusão). Eles servirão para pensar (e rir) um pouco (po-
dem ser encontrados em vários sites da internet).
Vejamos:
© Caderno de Referência de Conteúdo 11

Argumento 1 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Todo homem é mortal.
Sócrates é homem.
Portanto, Sócrates é mortal.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Você poderia dizer: é claro que vamos afirmar a última frase;


é lógico. E eu digo: com certeza, este é um argumento corretamen-
te construído, perfeitamente lógico.

Argumento 2 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Existem biscoitos feitos de água e sal.
O mar é feito de água e sal.
Portanto, o mar é um grande biscoito.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

O que podemos pensar sobre esse argumento? Dizer que ele


não está correto parece óbvio, mas qual é o erro que podemos
encontrar nele?

Argumento 3 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Deus é amor.
O amor é cego.
Steve Wonder é cego.
Portanto, Steve Wonder é Deus.
Disseram-me que eu sou ninguém.
Ninguém é perfeito.
Portanto, eu sou perfeito.
Mas só Deus é perfeito.
Portanto, eu sou Deus.
Se Steve Wonder é Deus, eu sou Steve Wonder!
Meu Deus, eu sou cego!
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

O que torna esse argumento engraçado? Simplesmente por


não conseguirmos identificar qual é o seu erro. Parece que ele está
errado, mas em quê? Na verdade, sabemos que ele está errado,
pois está claro que eu não sou nem Deus nem Steve Wonder. Mas
existe uma construção que quer nos levar a acreditar na conclusão.

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12 © Lógica I

Enfim, apenas citei esses argumentos para que entenda o


que irá estudar. Os argumentos são formados por proposições e
estas são formadas por termos; se cada termo não estiver no seu
lugar (dentro das possibilidades lógicas), o argumento não pode
ser visto como correto (válido). É exatamente isso o que aconteceu
nos argumentos 2 e 3: os termos em posições erradas não podem
levar às conclusões citadas.
Você verá, então, que poderemos trabalhar com o conteúdo
de qualquer área, pois trataremos de regras e leis que regem o
raciocínio correto – e pensar corretamente é possibilidade e dever
de todas as pessoas. É muito importante saber construir os racio-
cínios corretamente!
Lembre-se sempre: se você apresentar um raciocínio bem
construído, não há quem possa invalidar seu pensamento.
Mas é preciso saber Lógica para saber pensar? É interessan-
te a resposta que Copi dá em seu livro Introdução à Lógica. Ele
compara com um atleta, um corredor, dizendo que não é neces-
sário estudar Educação Física para ser um bom esportista. Assim
também, não é necessário estudar Lógica para se raciocinar cor-
retamente; mas temos certeza que, entendendo as regras, ficará
mais fácil de construir melhores raciocínios.
Neste curso de Lógica, estudaremos um tipo de raciocínio: o
silogismo. O primeiro formulador da teoria do silogismo foi Aristó-
teles. Nos seus Analíticos Anteriores, encontramos:
O silogismo é uma locução em que, uma vez que certas suposições
sejam feitas, alguma coisa distinta delas se segue necessariamente
devido à mera presença das suposições como tais.
Ou seja, o silogismo é um conjunto de proposições no qual uma
delas deve ser necessariamente afirmada a partir das demais: é
a conclusão; em um argumento temos apenas uma única conclu-
são. Mas, e as demais proposições, como se chamam? Elas são as
premissas; as premissas oferecem conteúdo para que a conclusão
possa ser afirmada.
© Caderno de Referência de Conteúdo 13

Neste caminhar, uma verificação que faremos é a seguinte:


será que as dadas premissas oferecem condições para a verdade
da conclusão?
Vejamos novamente o argumento 1:

Argumento 1–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Todo homem é mortal.
Sócrates é homem.
Portanto, Sócrates é mortal.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Aqui temos três proposições, sendo que as duas primeiras


são premissas e a última é a conclusão. Perceba que se eu afirmar
as premissas necessariamente deverei afirmar a conclusão.
O estudo do silogismo será o conteúdo principal deste curso.
E aqui é necessário citar algo muito importante quando falamos
do raciocínio: dedução e indução, pois o silogismo é um raciocínio
dedutivo. De maneira breve, pois você terá oportunidade de apro-
fundar seus estudos nesta área, temos um argumento dedutivo
quando o conteúdo de sua conclusão vem totalmente das premis-
sas. Por exemplo, no argumento 1, o conteúdo da conclusão (Só-
crates é mortal) é totalmente extraído das premissas.
Agora, pensemos no argumento 4:

Argumento 4 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O teste com o medicamento X deu certo com o indivíduo 1.
O teste com o medicamento X deu certo com o indivíduo 2.
O teste com o medicamento X deu certo com o indivíduo 3.
O teste com o medicamento X deu certo com o indivíduo 500.
Portanto, o medicamento X dará certo com todos os indivíduos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Perceba que a conclusão dada no argumento 4 tem um con-
teúdo que excede o que foi dado pelas premissas. Como? Simples-
mente porque a conclusão diz que o medicamento dará certo com

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14 © Lógica I

todos os indivíduos, só porque foi testado com quinhentos deles; a


conclusão faz referência à classe de indivíduos inteira.
A verdade das premissas, neste caso, não garante a verdade
da conclusão. Realizou-se aqui o chamado salto lógico (testei em
um, dois, quinhentos, daí dou um salto, falando de todos os indi-
víduos). Temos aqui um processo de raciocínio chamado indução.
Perceba como a Lógica é importante em nosso dia a dia! To-
das as ações humanas são realizadas a partir da concepção que
se tem da realidade sobre cada coisa ou situação. Por sua vez, tal
concepção da realidade é sempre um raciocínio. Se o raciocínio for
correto e válido, sua vida será de determinada maneira. Mas e se
seus pensamentos sobre a realidade forem baseados em raciocí-
nios inválidos? Saiba, então, que a Lógica está totalmente ligada a
você, à sua vida e à vida da sociedade, pois qualquer possibilidade
de diálogo é apenas permitida pela Lógica.
A partir do que vimos até aqui, acredito que esteja um pou-
co claro para você o que será esta disciplina. No início, será im-
portante você aprender o que é um argumento, quando ele está
completo e como enxergar claramente as premissas e a conclusão.
Será muito interessante quando você passar a analisar seus pró-
prios raciocínios; e lembre-se: a prática será a sua melhor compa-
nheira-. Quanto mais exercícios forem realizados, mais fácil tudo
se tornará.
Encerramos esta primeira parte. Então, proponho que você
pense a respeito do que falamos:
• Qual a ideia que você tinha sobre Lógica?
• Qual a importância que podemos perceber deste estudo
para o curso todo?
• O que você espera desta disciplina?

Proposições categóricas
Pronto para prosseguirmos nossa caminhada dentro da Lógi-
ca? Eu espero que a resposta seja: "É lógico!".
© Caderno de Referência de Conteúdo 15

Até agora, o assunto tratado era uma breve apresentação do


que vem a ser a Lógica neste curso. Falar de argumentos, premis-
sas e conclusão será algo constante, pois você deverá saber lidar
com esses conceitos e seu conteúdo.
Mas, agora, serei mais específico no trato com as proposi-
ções. De maneira especial, abordaremos as proposições chama-
das categóricas. É este tipo de proposição que Aristóteles estudou,
assim, esta Lógica se chama Lógica Clássica ou Aristotélica. Mas
o que são as proposições categóricas? Elas são declarações sobre
classes, nas quais se afirma ou se nega a inclusão de uma classe
em outra.
Por exemplo:
Todo homem é mortal.
Aqui temos uma proposição categórica. Observe que trata-
mos de duas classes: a classe homens e a classe de mortais. Neste
caso, temos uma afirmação: estamos dizendo que toda a classe de
homens está incluída na classe de mortais. Afirmamos que não há
possibilidade de haver um homem que não seja mortal, pois todos
estão incluídos na classe de mortais.
Observe o diagrama a seguir:

Tudo que está dentro da classe H (homens), necessariamen-


te está dentro da classe M (mortais).
Veja como é interessante e simples entender com o diagra-
ma. Muitas vezes, quando você estiver com alguma dúvida, monte
um diagrama para visualizar melhor a relação que existe entre as
classes.

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16 © Lógica I

Neste exemplo, nós tomamos a classe de homens em sua to-


talidade, mas poderíamos modificar a proposição, tomando ape-
nas uma parte da classe. Por exemplo:
Algum homem é mortal.
Ainda podemos modificar a proposição, pois, nos dois exem-
plos acima, tínhamos proposições afirmativas, mas podemos tam-
bém negativá-las.
Podemos dizer:
Nenhum homem é mortal.
Ou ainda:
Algum homem não é mortal.
Você percebeu como é fácil modificar essas proposições?
Então, assim temos as quatro proposições categóricas existentes:

Tipos de proposições categórica ––––––––––––––––––––––––


A - Todo homem é mortal. (Universal Afirmativa)
I - Algum homem é mortal. (Particular Afirmativa)
E - Nenhum homem é mortal. (Universal Negativa)
O - Algum homem não é mortal. (Particular Negativa)
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Grande parte do seu estudo será centrado nesses quatro


tipos de proposição. Na verdade, você aprenderá a analisá-las a
partir de sua verdade, sempre pensando na possibilidade de trans-
formá-las umas nas outras.
Cada uma delas tem um nome pelo seu tipo. Por exemplo,
a primeira "Todo homem é mortal." é chamada de universal por
tomar toda a classe do sujeito e por ser afirmativa. A segunda é
chamada particular afirmativa. A terceira é universal negativa, e a
última é particular negativa.
Veja o exemplo que vou dar:
© Caderno de Referência de Conteúdo 17

Chego à sala dos professores e digo: "A turma do primeiro


ano não tem condições de aprender Lógica". O professor X diz:
"Isso é falso". Daí, pergunto a você: é possível concluir algo do pen-
samento do professor X? Ele quer dizer que todos têm condições
ou que alguns têm condições?
Na verdade, não temos como determinar tal resposta.
Você verá que, ao se dedicar muito aos estudos, terá condi-
ções de lidar de maneira fácil com as proposições, usando regras e
tabelas. Quer ver como o princípio é simples?
Temos a proposição: "Todo gato é azul".
É uma proposição universal afirmativa (A) e eu lhe digo que
ela é verdadeira (observe que não estou pedindo para verificar na
realidade; digo que ela é verdadeira).
Caso tal proposição seja verdadeira, pergunto se as seguin-
tes são verdadeiras ou falsas.

Algum gato é azul. (I)


Nenhum gato é azul. (E)
Algum gato não é azul. (O)
Pense em cada uma das três, lembrando que a primeira é
verdadeira.
Qual a simples conclusão à qual chegamos aqui? Logicamen-
te fica claro que sempre que A for verdadeira, I também será, en-
quanto E e O serão falsas.
Outro exemplo de atividade que verá é a transformação de
um tipo em outro, avaliando sua verdade.
Por exemplo, se eu pergunto: é a mesma coisa dizer que
"todo homem é aventureiro" e "todo aventureiro é homem"? É a
mesma coisa dizer que "algum político não é homem honesto" e
"algum homem honesto não é político"?

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18 © Lógica I

Tais atividades trarão agilidade ao seu raciocínio, mas lem-


bre-se de que, sem a prática, nada conseguirá. E, depois de tra-
balhado o tema das proposições categóricas, será o momento de
estudar o silogismo formado por tais proposições: o silogismo ca-
tegórico.
No fundo, será estudado o que faz um silogismo categórico
ser válido ou não; há regras para isso. Todas as regras se baseiam
nas relações que são estabelecidas entre os termos sujeito e pre-
dicado das proposições.
Nas palavras do próprio Aristóteles:
Chamo de termo aquilo em que a premissa se resolve, a saber, tan-
to o predicado quanto o sujeito, quer com a adição do verbo ser,
quer com a remoção de não ser.

No silogismo categórico, teremos sempre três proposições


categóricas. Tomemos o célebre exemplo:

Argumento categórico –––––––––––––––––––––––––––––––––


Todo homem é mortal.
Sócrates é homem.
∴ Sócrates é mortal.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Veja como o diagrama nos mostra de maneira simples o por-
quê de ser um argumento verdadeiro:

Podemos deduzir que é lógico que a conclusão do argumento


está certa, pois, se Sócrates está dentro da classe de homens e esta
classe está inclusa na de mortais, é lógico que Sócrates também está
na classe de mortais. Assim, o argumento é logicamente válido.
© Caderno de Referência de Conteúdo 19

Só conseguimos a validade do argumento porque seus ter-


mos estão em posições que permitem tal validade. Em um argu-
mento categórico, a primeira premissa é chamada de premissa
maior enquanto a outra é a premissa menor. Isto porque também
os termos são chamados assim: observe a conclusão; o sujeito da
conclusão é o termo menor e o predicado da conclusão é o termo
maior. E termo médio será o que aparece nas duas premissas, mas
não na conclusão.
Observe melhor:

Todo homem é mortal.


Sócrates é homem.
∴ Sócrates é mortal.

Enfim, o objetivo deste CRC é o de iniciá-lo no estudo da Ló-


gica, dando condições de analisar e avaliar os raciocínios principal-
mente fundados no silogismo categórico. E quero retornar à ideia
do início da aula: não é necessário saber Lógica para se pensar
corretamente, mas este conhecimento nos leva a enxergar melhor
nossos erros, ficando, assim, mais fácil de resolvê-los ou evitá-los.
Espero ter deixado uma noção clara sobre a disciplina. Você
terá oportunidade de se aprofundar mais no decorrer dela.
A você um abraço e um ótimo curso de Lógica!

Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados no CRC Lógica I. Veja, a seguir,
a definição dos principais conceitos (Adaptado de: ABBAGNANO,
1988):

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20 © Lógica I

1) Argumento: do latim argumentum é qualquer razão,


prova, demonstração, indício que seja apto a captar o
assentimento e induzir à persuasão ou à convicção.
2) Aristotelismo: por esse termo entende-se alguns fun-
damentos da doutrina de Aristóteles, que passaram à
tradição filosófica e inspiraram todas as escolas e mo-
vimentos que mais diretamente se vinculam ao próprio
Aristóteles.
3) Asserção: sinônimo de afirmação ou também ainda mais
genericamente de enunciado.
4) Conclusão: é termo mediante o qual se demonstra o re-
sultado de um argumento.
5) Conversão: é a operação com a qual de um enunciado
se extrai outro. A conversão aparece pela primeira vez
na obra de Aristóteles, Analíticos Primeiros, Livro I, 1, 2.
6) Dedução: é a derivação do particular em relação ao uni-
versal ou como um raciocínio que vai do universal ao
particular.
7) Discurso declarativo: em grego protasis em latim propo-
sitio. É o discurso que afirma ou que nega alguma coisa
de alguma coisa.
8) Identidade, princípio de: princípio lógico ou ontológico
reconhecido primeiramente por Parmênides. Axioma da
Lógica Clássica.
9) Indução: argumento segundo o qual de premissas indivi-
duais se deduz uma conclusão que supera a informação
contida nelas.
10) Inferência: do latim inferre é utilzado para indicar o fato
de que, numa conexão de duas proposições o primeiro
implica necessariamente o segundo.
11) Lógica: no começo dos Primeiros analíticos Aristóteles de-
fine a Lógica como a ciência da demonstração e do saber
demonstrativo. Seus objetos seriam a proposição, seus
termos (sujeito e predicado) e finalmente o silogismo.
12) Não contradição, princípio de: princípio lógico ou onto-
lógico admitido pela primeira vez por Aristóteles. Axio-
ma da Lógica Clássica.
© Caderno de Referência de Conteúdo 21

13) Premissa: toda proposição da qual se infere outra pro-


posição.
14) Proposição: trata-se de um enunciado declarativo ou
aquilo que é declarado, expresso ou designado por de-
terminado enunciado.
15) Raciocínio: do latim ratiotinatio, é qualquer procedi-
mento de inferência ou de prova; portanto, qualquer
argumento, conclusão, inferência, indução, dedução,
analogia etc.
16) Semiótica: saber que analisa os sinais.
17) Signo: é qualquer objeto ou acontecimento, usado como
citação de outro objeto ou acontecimento.
18) Silogismo: termo utilizado por Aristóteles para definir
o raciocínio dedutivo correto, defino como um discurso
em que dado alguma coisa outras derivam necessaria-
mente. é um raciocínio pelo qual, dadas algumas coisas,
seguem necessariamente algumas outras pelo fato mes-
mo de que aquelas existem.
19) Silogística: desenvolvida por Aristóteles na Analytica
Priora é a teoria do silogismo dedutivo categórico e par-
te mais antiga da lógica aristotélica.
20) Terceiro excluído, princípio do: princípio lógico segundo
o qual não pode haver uma terceira alternativa. Axioma
lógico.
21) Termo: é o signo linguístico que se refere a qualquer ob-
jeto ou coisa no discurso.

Esquema dos Conceitos-chave


Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais
importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um
Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você
mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o
seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de construir o seu
conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas
próprias percepções.

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22 © Lógica I

É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos


Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en-
tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais
complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você
na ordenação e na sequencia hierarquizada dos conteúdos de en-
sino.
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-
-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em
esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co-
nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe-
dagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendiza-
gem.
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim,
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem
pontos de ancoragem. 
Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno É preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais
de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-
tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez
que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-
nitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é
você o principal agente da construção do próprio conhecimento,
por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações
internas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por
© Caderno de Referência de Conteúdo 23

objetivo tornar significativa a sua aprendizagem, transformando


o seu conhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou
seja, estabelecendo uma relação entre aquilo que você acabou
de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de
mundo (adaptado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.
br/edutools/mapasconceituais/utilizamapasconceituais.html>.
Acesso em: 11 mar. 2010).
PARMENEDES E ARISTÓTELES
(A=)

LÓGICA FORMAL:
BASES

PRINCÍPIO DE NÃO PRINCÍPIO DO TERCEIRO


PRINCÍPIO DE IDENTIDADE
CONTRADIÇÃO EXCLUÍDO

LÓGICA I PARTES DA LÓGICA

PROPOSIÇÃO JUÍZO TERMO IDEIA

QUALIDADE QUANTIDADE

PREMISSAS E CONCLUSÃO ARGUMENTO FALÁCIAS NÃO FORMAIS

DEDUTIVO INDUTIVO

SILOGISMO FALÁCIAS FORMAIS

Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo Lógica I.

Como você pode observar, esse Esquema oferece a você,


como dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos
mais importantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar
entre um e outro conceito deste CRC e descobrir o caminho para
construir o seu processo de ensino-aprendizagem.

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24 © Lógica I

O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de


aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien-
te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como
àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realiza-
das presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD,
deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio co-
nhecimento.

Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem
ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertati-
vas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino de Filosofia pode ser uma
forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a re-
solução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará
se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além
disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhe-
cimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profis-
sional.
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabari-
to, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões
autoavaliativas de múltipla.

As questões de múltipla escolha são as que têm como respos-


ta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por
questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos
matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada,
inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por res-
posta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso,
normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito.
Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus
colegas de turma.
© Caderno de Referência de Conteúdo 25

Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.

Figuras (ilustrações, quadros...)


Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte dos
conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustrativas, pois es-
quematizam e resumem conteúdos explicitados no texto. Não dei-
xe de observar a relação dessas figuras com os conteúdos do CRC,
pois relacionar aquilo que está no campo visual com o conceitual
faz parte de uma boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)
O estudo deste CRC convida você a olhar, de forma mais apu-
rada, a Educação como processo de emancipação do ser humano.
É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas
e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que observa, permite-se des-
cobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a notar
o que não havia sido percebido. Observar é, portanto, uma capaci-
dade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno dos cursos de Graduação, na modalidade
EaD, e futuro profissional da educação, necessita de uma forma-
ção conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com
a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da
interação com seus colegas. Sugerimos que organize bem o seu
tempo e realize as atividades nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.

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26 © Lógica I

Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie


seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discu-
ta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoau-
las.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a
este CRC, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para
ajudar você.
EAD
Lógica, é lógico!

1
Para muita gente, antes morrer que pensar. E é isso
mesmo que fazem. (Bertrand Russel)

1. OBJETIVOS
• Conhecer o discurso filosófico da Lógica I.
• Compreender o conceito de Lógica.
• Compreender os princípios da Lógica: Não contradição,
Identidade, Terceiro excluído e de Causalidade.

2. CONTEÚDOS
• Lógica.
• Conceito.
• Objeto; Problema; Princípios.
• Princípio de Não contradição, Identidade, Terceiro excluí-
do e Causalidade.
28 © Lógica I

3. ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O ESTUDO DA UNI-


DADE
1) Interlocutor: cada uma das pessoas que participam
de uma conversa, de um diálogo (Dicionário Eletrônico
Houaiss da Língua Portuguesa).
2) Aluno off-line: sua participação é imprescindível para o
bom andamento do curso, por isso participe ativamente
das discussões e atividades propostas.
3) A seguir, apresentamos uma breve biografia de Aristóte-
les que é o principal teórico da Lógica como está sendo
abordada neste CRC:

Aristóteles
Notável filósofo grego, Aristóteles (384 - 322 a.C.) nasceu
em Estágira, colônia de origem jônica encravada no reino da
Macedônia. Filho de Nicômaco, médico do rei Amintas, go-
zou de circunstâncias favoráveis para seus estudos. 
Em 367 a.C., aos seus 17 anos, foi enviado para a Acade-
mia de Platão em Atenas, na qual permanecera por 20 anos,
inicialmente como discípulo, depois como professor, até a
morte do mestre em 347 a.C.
O fato de ser filho de médico poderá ter dado a Aristóteles o
gosto pelos conhecimentos experimentais e da natureza, ao
mesmo tempo que teve sucesso como metafísico (Disponível em: <http://www4.
pucsp.br/pos/cesima/schenberg/alunos/paulosergio/biografia.html>. Acesso em:
10 ago. 2010).

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
O estudo da Lógica é fundamental para a formação do profes-
sor de Filosofia, por isso, convidamos você para estudá-la neste CRC
com empenho e dedicação, para, desta forma, ampliar ainda mais
os horizontes do pensamento.
Mas você pode estar se perguntando: O que é Lógica? Para
que ela serve? Ela serve para alguma coisa? Eu utilizo a Lógica?
Pois bem, a Lógica é um elemento muito comum em nossas
vidas. Neste momento em que nos dispomos a estudá-la pode pa-
recer algo novo, mas, efetivamente, não o é.
© U1 - Lógica, é lógico! 29

Diariamente fazemos uso dela quando pronunciamos ex-


pressões do tipo: "É lógico!". É como se disséssemos: "Isto é evi-
dente!". Porque, para nós, trata-se de uma conclusão óbvia, extra-
ída de um raciocínio absolutamente correto.
Em outras situações, por exemplo, esse termo aparece
quando, no trabalho, tentamos convencer os colegas, mediante
argumentos, que a melhor estratégia para escoar a produção é x e
não y, ou ainda, quando temos uma opinião a respeito da pena de
morte ou sobre política, amor, amizade, dentre outras.
Outras vezes, ainda, buscamos uma explicação para o que
aconteceu, como por exemplo: "Por que ocorreu x?".
Ou quando dizemos: "Isto é razoável".
Temos a confiança de que o argumento é racional.
No entanto, no cotidiano da maioria das pessoas, o uso da
Lógica é apenas intuitivo (o que nos parece, a princípio, um para-
doxo), ou seja, não é sistemático ou rigoroso como pretendemos
fazer neste curso.
A palavra "LÓGICA" ou "LÓGICO" é de uso corrente no nosso
cotidiano e equivale a "admissível", a 'razoável", a um raciocínio
compatível com a ideia que tenho da realidade. Mas não é só isso,
para compreender o que é a Lógica e seu alcance é necessário co-
nhecer os MÉTODOS utilizados para distinguir o raciocínio correto
do incorreto.
A conhecida frase: "quem pensa bem, vive bem; quem pen-
sa mal vive mal!" é adjudicada a Sócrates, um dos grandes sábios
da filosofia grega. Ela reflete o grande objetivo da Lógica pensada
por Aristóteles: raciocinar corretamente, segundo as leis do pen-
samento para ter uma compreensão correta da realidade.
Por que é importante a Lógica na Filosofia?
É comum perceber que entre os professores de Filosofia sub-
siste a imagem de que a Lógica é coisa de matemáticos. É bom

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30 © Lógica I

lembrar nesse momento que a argumentação é o coração da Filo-


sofia. Na Filosofia, entendida como um saber sem supostos, o pen-
sador pode defender suas teorias com total liberdade, mas deve
sustentar o que defende com bons argumentos. E não é possível
desenvolver uma arguição filosófica correta sem compreender o
que é a argumentação; como não é possível compreender o que
é a argumentação sem dominar os elementos básicos da Lógica
formal. A Lógica é uma disciplina essencialmente filosófica, e seu
conteúdo está intimamente interligado com os de outras discipli-
nas filosóficas, como a ontologia, a metafísica e gnoseologia ou
teoria do conhecimento.
Em outras palavras, pensar logicamente segue certos crité-
rios, regras ou princípios.
Convido você, agora, para iniciar definitivamente nossos es-
tudos sobre Lógica, a partir do exame dos seus conceitos básicos e
um pouco do contexto em que se desenvolveu.

5. O QUE É LÓGICA AFINAL?

Conceito
A palavra Lógica vem do grego logós e seu significado expri-
me uma relação entre a linguagem e o conhecimento. É traduzido
como razão, discurso, linguagem, palavra, pensamento, conheci-
mento. O substantivo logós vem do verbo legein, que quer dizer
colher, reunir, juntar, calcular ou ordenar.
O verbo colher tem uma significação muito especial e mui-
to se aproxima do conceito grego, a saber: coletar, recolher, ar-
recadar, apanhar, pegar, prender, alcançar, obter, calcular, inferir,
aprender e compreender.
Assim, entendemos que falar e pensar possuem, entre si,
uma relação umbilical. Expressamos verbalmente, ou seja, por
meio da fala, o que pensamos sobre as coisas que nos cercam, o
© U1 - Lógica, é lógico! 31

mundo da cultura e dos valores. Embora, muitas vezes, não pense-


mos cuidadosamente no que falamos.
Exprimimos um pensamento mediante um discurso, mas,
para que haja um entendimento entre seus interlocutores, a men-
sagem deve ser clara, coerente, inteligível, ou seja, para dizer e
pensar as coisas tais como são é necessário: ordem, organização,
medida e proporção (isto não nos lembra da matemática?). Em
outras palavras, ainda, é indispensável o rigor.
Por essa razão, a relação de diálogo é fundamental na Filoso-
fia. Cabe ressaltar, no entanto, que esta simples e modesta expli-
cação é apenas uma primeira aproximação.
Devemos considerar que a língua grega é, em si mesma, filo-
sófica; por isso, é importante nos familiarizarmos um pouco com
sua estrutura e, também, com o contexto histórico e cultural no
qual se desenvolveu. Assim, gradualmente nos aproximaremos do
seu conceito sem, contudo, esgotar o seu significado.
A Lógica, do grego clássico λογική = logos, que significa pala-
vra, pensamento, ideia, argumento, razão ou relato lógico, é uma
ciência de índole Filosófica. Como explica Benson Mates:
Ao abordar a história da lógica deve-se ter presente que o termo
Lógica fora aplicado a muitos objetos diferentes. Tópicos da episte-
mologia, metafísica, psicologia, sociologia e filologia foram coloca-
dos em alguma ocasião sob a epígrafe: Lógica. [...] Deve se acentuar
que o interesse de um lógico é a investigação e formulação de prin-
cípios gerais relativos ao algo que se segue de algo ( 1968, p. 256).

O estudo da Lógica, que trata das condições em que se pode


afirmar de um raciocínio que ele é correto ou, caso contrário, fal-
so, foi desenvolvido na Grécia, com a participação de Parmênides
e Platão. Mas foi Aristóteles quem sistematizou e definiu a Lógica
como a conhecemos. Esses pensadores gregos demonstraram in-
teresse por determinar quais poderiam ser os caminhos corretos
da argumentação.
As obras onde Aristóteles trata da Lógica são:

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32 © Lógica I

Categorias, Sobre a interpretação, Primeiros analíticos, Ana-


líticos posteriores e Tópicos e Refutações Sofistas, todas agrupadas
num conjunto chamado Organon (instrumento em grego), que na
filosofia é tido como uma propedêutica ou uma organização para
o pensamento filosófico. A silogística, que é o núcleo essencial da
obra de Aristóteles, está contida nos Primeiros analíticos (MATES,
1968, p. 257)
A história da Lógica se desenvolve em três momentos princi-
pais: o primeiro ocorre nos séculos 3 a 4 a.C.; o segundo, do século
7 ao século 14; e o terceiro iniciou-se ao final do século 19. Neste
CRC, trataremos da produção lógica dos dois primeiros períodos
referidos.
Lógica aristotélica corresponde ao período denominado an-
tigo. A obra de Aristóteles, junto com a de Crísipo (280 a 220 a.C.),
com as produções sobre Lógica dos pensadores estoicos modela-
ram a Lógica antiga e desenvolveram teorias que possibilitaram o
surgimento da Lógica proposicional.
A Lógica de Aristóteles tinha um objetivo eminentemente
metodológico, ou seja, seu objetivo era mostrar o caminho correto
para o conhecimento e a demonstração científica.
A Lógica aristotélica se ocupa do estudo dos conceitos (de-
dicando especial atenção aos predicáveis), das categorias (o pre-
dicamento) e se completa com a análise dos juízos e das formas
de razoamento.
Prestando especial atenção aos razoamentos dedutivos, os
modos do silogismo, como formas de demonstração especialmen-
te adequadas ao conhecimento científico, são agrupados por Aris-
tóteles nas três denominadas figuras.
Para provar que, através do silogismo, A pertence ou não
pertence a B, podemos atuar de três maneiras:
Predicando A de C e C de B, ou C de ambos e ambos de C. As-
sim, o silogismo deve responder a alguma destas três figuras (ver
silogismo na Unidade 5).
© U1 - Lógica, é lógico! 33

Apesar dos enormes avanços que possibilitou, a Lógica aris-


totélica tinha limitações quanto a apresentação de problemas se-
mânticos. A principal crítica está baseada no uso dos símbolos e
o que estes designam já que em algumas ocasiões apresentam
problemas de ambiguidade. Posteriormente a Aristóteles, o es-
toicismo fez uma contribuição importante para a Lógica. Mas foi
na Lógica Clássica, também denominada Lógica Tradicional, por
implicar em métodos de lógica dedutiva, que essas limitações da
Lógica aristotélica foram definitivamente superadas. A Lógica Clás-
sica abrange a Lógica proposicional e a Lógica de predicados.
Comparado com o período clássico antigo, o período me-
dieval não assinalou grandes progressos, nem se criaram novos
sistemas de axiomas, sua grande contribuição consiste em uma
investigação exploratória da semântica. A primeira grande figura
da Lógica medieval ou clássica foi Pedro Abelardo (1079-1142); e,
no século 14, podemos citar, entre outros, Guilherme de Ockham
(1295-1349), Jean Buridan (morto em 1358), Duns Scotus, etc.
O Renascimento veio acompanhado de uma baixa produção
lógica. Somente quatro séculos depois, com as obras de Boole,
Morgan, Frege etc., a Lógica recobra seu impulso. (MATES, 1968,
p. 265-273).
Esse intervalo improdutivo levou o filósofo alemão E. Kant
(1724-1808) a afirmar no histórico prefácio da obra Crítica à razão
pura que a Lógica era de absoluta responsabilidade de Aristóteles.
Foi recentemente no século 19, a partir da obra de George
Boole, Investigação sobre as leis do pensamento, na qual apresen-
ta seu cálculo lógico que consiste em um número grande de formas
válidas de argumento, que a Lógica retoma seu desenvolvimento.
A Lógica tradicional foi cultivada desde Aristóteles até Kant.
A Lógica formal, a partir do século 19, sofre um processo de trans-
formação e toma a forma de lógica simbólica, matemática e logís-
tica e álgebra lógica.

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34 © Lógica I

Para distinguir os raciocínios corretos dos incorretos, a Lógica


opera de maneira formal, ou seja, considera a forma ou estrutura
do raciocínio, não tendo tanto peso seu conteúdo. A formalidade
da Lógica coincide com a da Aritmética; se somamos mamíferos e
aves, não interessa a realidade ontológica destes, e sim sua rela-
ção aritmética formal. Para ser exata, a adição deve atender à fór-
mula: a + b = b + a, e essa relação formal deve servir para qualquer
objeto que possa substituir a e b. O procedimento para passar de
um raciocínio formulado na linguagem natural (português, inglês,
etc.) à forma lógica ou aritmética, como no exemplo formulado,
denomina-se: abstração.
A Lógica está dividida em Lógica formal e Lógica material.
A Lógica formal, também denominada Lógica pura, é a "ci-
ência" que determina quais são as formas corretas e válidas que
devemos obedecer para construir um bom raciocínio. Trata-se da
relação entre as premissas e a conclusão, sua preocupação não
está em indicar a verdade das premissas, interessa-lhe fornecer as
regras do pensamento correto.
A Lógica material, também denominada Lógica aplicada, é
a que analisando o pensamento em relação ao conteúdo real das
premissas deve conduzir à verdade material, que concorda com a
realidade. É também chamada metodologia. Consiste em um con-
junto de regras que devemos seguir para ordenar bem os atos de
inteligência, a fim de obter um conhecimento verdadeiramente
científico.

Figura 1 Tipos de Lógica.


© U1 - Lógica, é lógico! 35

Pode-se dizer, ainda, que é um instrumento para habilitar o


pensamento e a linguagem para a realização do conhecimento e
do discurso, ou seja, para pensar e falar bem sobre a realidade
circundante.

Raciocínio e Proposição
A Lógica se interessa por saber se as premissas garantem o
que está sendo afirmado na conclusão. Por essa razão, definimos
a Lógica como o estudo dos métodos que servem para distinguir o
raciocínio correto do incorreto. Para definir  raciocínio é necessá-
rio caracterizar o que é uma proposição. Definiremos proposição
como as expressões linguísticas que possuem uma função infor-
mativa, que afirmam ou que negam alguma coisa, e que sempre
têm sentido dizer que ou são falsas ou são verdadeiras (os com-
pêndios da gramática que a gente utilizou na escola as definem
como orações em que existe relação de sujeito e predicado). O
valor da proposição é dado como verdade e falsidade. Se uma pro-
posição é verdadeira, dizemos que seu valor de verdade é verdade
e se é falso que seu valor é falsidade.
Pinto (1981, p. 36) alerta que não existe uniformidade en-
tre os autores com relação ao emprego dos termos "proposição",
"oração", "frase", "sentença" uma vez que todas mantêm a mes-
ma estrutura básica de sujeito e predicado. Desde Aristóteles,
na Lógica, porém, existe uma distinção clara que determina que
apenas a proposição se presta para expressar um "juízo", uma vez
que ela serve para declarar algo, afirmando ou negando, ou seja,
estabelecendo relações de verdade e falsidade.
Aristóteles chama em grego as verdadeiras proposições
(aquelas que servem para manifestar adequação com determina-
da realidade) de protasis, sendo seu equivalente em latim propó-
sito, uma vez que serve para apresentar ou propor algo (PINTO,
1981, p. 37).

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36 © Lógica I

Um raciocínio é um conjunto de proposições (duas ou mais)


em que uma delas é chamada de conclusão que pretende estar
justificada ou inferida das premissas (tanto premissas como con-
clusão podem ser afirmadas ou negadas). As premissas são as
proposições (podem ser duas ou mais) usadas no argumento para
defender a conclusão. A conclusão é a proposição que sintetiza a
ideia que se defende. O raciocínio é uma fórmula na qual se deri-
vam conclusões a partir de premissas ou se realizam inferências.

6. OBJETO/PROBLEMA
Qual é, afinal, o objeto ou problema do qual a Lógica se ocupa?
Na definição do seu conceito, conforme você pôde ver an-
teriormente, encontramos uma pista. Pode-se dizer que o lógico
debruça-se sobre a distinção entre raciocínio correto e incorreto.
O livro de Mary Haight, intitulado A serpente e a raposa,
apresenta-nos um exemplo bem interessante no prólogo:
A Serpente e a Raposa eram rivais na liderança de um bando de
ladrões. A Serpente propôs um teste: 'Noite e dia cem sacerdotes
armados de facas guardam o deus Uniocular de Zorro, numa sala
dentro de uma sala dentro de uma sala. Quem conseguir roubar o
Olho de Rubi do deus vai se tornar nosso líder'.
A Raposa concordou, mas acrescentou: 'Como minha distinta rival
sugeriu este teste, que ela seja a primeira a passar por ele'. Secre-
tamente, ela raciocinou:
'A Serpente é orgulhosa: ela vai aceitar. Será então quase certo que
morra na tentativa. Nesse caso, não terei rival e vou poder conven-
cer o bando de que mais testes são uma perda de tempo.
Ou ela vai sobreviver, mas fracassar. O resultado será o mesmo:
com a cara no chão, ela vai partir imediatamente para longe.
Ou talvez – é de presumir – tenha sucesso. Mas, tendo ela roubado
o Olho, a possibilidade de eu tê-lo feito não pode ser aventada. E
a vingança dos sacerdotes de Zorro é horrível e rápida. Ela não vai
liderar por muito tempo; e sou seu único sucessor possível. ( 1999,
p. 11)
© U1 - Lógica, é lógico! 37

Então, você acha que o raciocínio da Raposa está correto?


Pode parecer difícil neste momento solucionar a questão,
mas à medida que você se dedicar aos estudos de Lógica logo es-
tará apto e munido de instrumentos para analisar melhor este pro-
blema.

Princípios
O fundamento da Lógica, que examinaremos a partir de ago-
ra, foi elaborado por Aristóteles em Organon e na Metafísica, e
serve de base para todos os outros modelos que surgiram depois.
Aristóteles adota como ponto de partida os seguintes princípios
básicos, a saber:

Princípio de não contradição


"A é A" não pode, ao mesmo tempo e na mesma relação, ser
"não A".
Veja outro exemplo:
Os cães são mamíferos. (verdadeiro)
Os cães não são mamíferos. (falso)
Segundo o Princípio de não contradição, nenhum enunciado
pode ser, simultaneamente, verdadeiro e falso.
Assim, diz Aristóteles, na Metafísica:
É impossível que o mesmo convenha e não convenha ao mesmo
ente ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto (Livro. III, 2, 996b).

Princípio de identidade
"A é A", ou seja, uma coisa só pode ser conhecida ou pen-
sada, qualquer que seja a sua natureza ou forma, se percebida de
forma permanente e constante a sua identidade. Em outras pala-
vras: o que é, é.

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38 © Lógica I

Uma das grandes indagações filosóficas é saber: Quem so-


mos? Quem sou eu? Embora o tempo passe e nos tornemos mais
velhos o que faz com que eu seja quem sou? Qual é a minha essên-
cia? De certo ponto de vista, alguém pode identificá-lo pelos do-
cumentos que traz consigo ou por suas características físicas que o
distingue dos outros.
Outro exemplo é a forma geométrica do quadrado. Todos
sabem o que é um quadrado porque sua identidade já foi estabe-
lecida. Possui quatro lados e quatro ângulos retos e a matemática
se vale de sua forma para examinar cálculos, equações, etc.
Em outros termos, pode-se dizer que conhecemos as coisas a
partir de suas definições, como por exemplo: Todo homem é mortal.

Princípio do terceiro excluído


"A é X ou é Y" e não há outra possibilidade. Por exemplo:
Ou este homem é Sócrates ou não é Sócrates.
Neste sentido, lembra-nos da brilhante poeta Cecília Meireles:
Ou se tem chuva e não se tem sol
Ou se tem sol e não tem chuva!
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
(MEIRELES, 1981, p. 57).

No âmbito das experiências humanas, vivemos sempre pos-


sibilidades de escolha, uma "certa" (isto está certo) e outra "erra-
da" (isto está errado), não há uma terceira alternativa. Ou isto está
certo ou está errado; ou isto é verdadeiro, ou é falso.

Princípio de causalidade
Este princípio afirma que tudo o que existe ou acontece tem
uma causa (razão ou motivo) para existir ou ocorrer e que tal causa
pode ser conhecida por nosso intelecto. Por exemplo:
© U1 - Lógica, é lógico! 39

O deslocamento de placas tectônicas no Oceano Índico ne-


cessariamente acarretou o Tsunami na Costa da Ásia e África.
Outro exemplo:
Se for declarada guerra neste ou naquele país, ocorrerão
mortes.
Podemos afirmar que no princípio de causalidade há cone-
xões, relações de causa e efeito entre fatos, fenômenos e aconte-
cimentos.

7. TEXTO COMPLEMENTAR
Antes de passar para o estudo da Unidade 2, é importan-
te que você leia o extrato de texto retirado da obra Tópicos de
Aristóteles, para se familiarizar com a utilização da Lógica no texto
filosófico.

Tópicos –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1
Passaremos agora ao exame das questões que dizem respeito ao gênero e à
propriedade. Estes são elementos das questões relativas às definições, mas os
dialéticos raras vezes procuram investigar estas coisas por si mesmas.
Se, pois, for sugerido um gênero para alguma coisa existente, devemos primeiro
considerar todos os objetos que pertencem ao mesmo gênero que a coisa men-
cionada e ver se o gênero sugerido não se predica de uma delas, como acontece
no caso de um acidente: por exemplo, se o "bem" é indicado como o gênero
de "prazer", deve-se verificar se algum prazer particular não é bom; porque, se
assim acontecer, evidentemente o bem não é o gênero de prazer, dado que o
gênero se predica de todos os membros da mesma espécie. Em segundo lugar,
devemos ver se ele não se predica na categoria de essência, mas como um aci-
dente, como "branco" se predica da neve ou "semovente" da alma. Com efeito,
"neve" não é uma espécie de "branco", e, portanto "branco" não e o gênero da
neve, nem é a alma uma espécie de "objeto em movimento": o movimento é um
acidente seu, como o é muitas vezes de um animal o andar ou estar andando.
Por outro lado, "mover-se" não parece indicar a essência, mas antes um estado
de atividade ou passividade. E analogamente no que se refere a "branco", pois
este termo não indica a essência da neve, mas uma certa qualidade desta. Logo,
nem o movimento, nem a brancura se predicam na categoria de essência.
Deve-se prestar uma atenção especial à definição de acidente e ver se ela se
ajusta ao gênero mencionado, como no caso dos exemplos que acabamos de
mencionar. Pois é possível que uma coisa seja e não seja semovente, como
também que seja e não seja branca. E assim, nenhum destes atributos é o gê-

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40 © Lógica I

nero, mas sim um acidente, pois já dissemos que um acidente é um atributo que
tanto pode pertencer como não pertencer a uma coisa. Veja-se, também, se o
gênero e a espécie não se encontram na mesma divisão, mas um deles é uma
substância e o outro uma qualidade, ou um deles é um relativo enquanto o outro
é uma qualidade, como, por exemplo, "neve" e "cisne" são ambos substâncias
ao passo que "branco" não é uma substância e sim uma qualidade, de modo
que "branco" não é o gênero nem de "neve", nem de "cisne". E, por outro lado,
"conhecimento" é um relativo, enquanto "bom" e "nobre" são ambos qualidades,
e, por conseguinte, nenhum deles é o gênero de conhecimento. Porquanto os
gêneros de relativos devem ser eles mesmos também relativos, como sucede
com "duplo": pois "múltiplo", que é o gênero de "duplo", é, ele próprio, também
um relativo. Em termos gerais, o gênero deve incluir-se na mesma divisão que
a espécie, de modo que, se a espécie é uma substância, também deve sê-lo o
gênero, e se a espécie é uma qualidade, também o gênero será uma qualidade:
por exemplo, se o branco é uma qualidade, também o será a cor. E de maneira
análoga nos outros casos.
Veja-se, também, se o gênero participa necessária ou possivelmente do objeto
que nele foi classificado. "Participar" significa "admitir a definição" daquilo de que
se participa. É evidente, pois, que as espécies participam do gênero, porém não
os gêneros das espécies, já que a espécie admite a definição do gênero, mas
este não admite a definição daquela. Deve-se, pois, verificar se o gênero indica-
do participa ou pode talvez participar da espécie, como, por exemplo, se alguém
propusesse alguma coisa como sendo o gênero de "ser" ou de "unidade", pois
daí resultaria que o gênero participa da espécie, uma vez que de tudo que existe
se predicam o "ser" e a "unidade", e, por conseguinte, também as respectivas
definições.
Veja-se, além disso, se há alguma coisa de que a espécie indicada seja verda-
deira, mas não o seja o gênero: como, por exemplo, se alguém afirmasse que
"ser" ou "objeto de conhecimento" e o gênero de "objeto de opinião". Com efeito,
"objeto de opinião" também se predica do que não existe, pois muitas coisas que
não existem são objetos de opinião, enquanto é evidente que nem "ser", nem
"objeto de conhecimento" se predicam do que não existe. Por conseguinte, nem
"ser", nem "objeto de conhecimento" são o gênero de "objeto de opinião", pois o
gênero deve predicar-se também dos objetos de que se predica a espécie.
Examine-se, também, se o objeto incluído no gênero é totalmente incapaz de par-
ticipar de qualquer espécie deste, pois é impossível que ele participe do gênero
se não participa de alguma de suas espécies, salvo quando se trata de uma das
espécies obtidas na primeira divisão: estas, com efeito, participam unicamente
do gênero. Se, portanto, "movimento" for indicado como o gênero de prazer,
deve-se verificar se o prazer não é nem locomoção, nem alteração, nem qual-
quer outra das modalidades de movimento que enumeramos: porque, evidente-
mente, se pode afirmar então que não participa de nenhuma das espécies e, em
consequência, não participa tampouco do gênero, já que aquilo que participa do
gênero deve necessariamente participar também de uma das espécies; de modo
que o prazer não poderia ser uma espécie de movimento, nem tampouco ser um
dos fenômenos individuais compreendidos sob o termo "movimento". Porque os
indivíduos também participam do gênero e da espécie, como, por exemplo, um
indivíduo humano participa tanto de "homem" como de "animal".
É preciso ver, além disso, se o termo incluído no gênero tem uma extensão mais
ampla do que este, como tem, por exemplo, "objeto de opinião" comparado com
"ser", pois tanto o que existe como o que não existe são objetos de opinião: logo,
© U1 - Lógica, é lógico! 41

"objeto de opinião" não pode ser uma espécie de ser, dado que o gênero tem
sempre uma extensão mais ampla do que a espécie. Veja-se, igualmente, se a
espécie e o seu gênero têm igual extensão: se, por exemplo, dos atributos que
se encontram em todas as coisas, um fosse apresentado como uma espécie e
outro como o seu gênero, "ser" e "unidade"; porquanto todas as coisas possuem
ser e unidade, de modo que nenhum destes dois é gênero do outro, tendo eles,
como têm, uma igual extensão. E do mesmo modo se do "primeiro" de uma série
e do "começo", um fosse subordinado ao outro, pois o primeiro é o começo e o
começo é o primeiro, de modo que ou ambas estas expressões são idênticas, ou,
de qualquer forma, nenhuma é o gênero da outra. O princípio elementar referente
a todos os casos deste tipo é que o gênero tem uma extensão mais vasta do que
a espécie e sua diferença, pois a diferença tem, igualmente, uma extensão mais
restrita do que o gênero.
Veja-se também se o gênero mencionado não se aplica, ou pode admitir-se ge-
ralmente que não se aplique, a algum objeto que não difira especificamente da
coisa em questão; ou, pelo contrário, se o nosso argumento é construtivo, veja-
-se se ele se aplica dessa maneira. Porquanto todas as coisas que não diferem
especificamente pertencem ao mesmo gênero. Se, por conseguinte, se demons-
tra que este se aplica a uma delas, então é evidente que se aplica a todas; e se
não se aplica a uma, é claro que não se aplica a nenhuma: por exemplo, se al-
guém que admitisse as "linhas indivisíveis" dissesse que "indivisível" é o gênero
delas. Porque o termo mencionado não é o gênero das linhas divisíveis, e estas
não diferem das indivisíveis quanto à espécie: com efeito, as linhas retas nunca
diferem umas das outras no que diz respeito à espécie.

2
Examine-se também se existe algum outro gênero da espécie dada que nem
abarque o gênero apresentado, nem, tampouco, se inclua nele. Suponha-se, por
exemplo, que alguém afirmasse que "conhecimento" é o gênero de justiça. Por-
quanto a virtude é também o gênero desta, e nenhum destes gêneros abarca o
outro, de forma que o conhecimento não pode ser o gênero da justiça, pois se
admite geralmente que, sempre que uma espécie se inclui em dois gêneros, um
destes é abrangido pelo outro. Entretanto, um princípio desta classe dá margem
a que se suscite em certos casos uma dificuldade. Há, por exemplo, quem afirme
que a justiça tanto é uma virtude como um conhecimento e que nenhum destes
gêneros é abarcado pelo outro - embora, por certo, nem todos admitam que a
prudência seja conhecimento. Se, todavia, alguém admitisse a verdade dessa
asserção, haveria, por outro lado, o consenso geral de que os gêneros do mesmo
objeto devem necessariamente ser subordinados um ao outro ou ambos a um
terceiro, como em verdade sucede com a virtude e o conhecimento. Com efeito,
ambos se incluem no mesmo gênero, sendo como é cada um deles um estado
e uma disposição. Deve-se verificar, portanto, se nenhuma dessas coisas é ver-
dadeira do gênero apresentado; porque, se nem os gêneros são subordinados
um ao outro, nem ambos a um mesmo gênero, o que foi proposto não pode ser
o gênero verdadeiro.
Examine-se, também, o gênero do gênero proposto, passando depois ao gênero
próximo mais alto, para ver se todos se predicam da espécie, e se predicam
na categoria de essência: pois todos os gêneros mais altos devem predicar-se
das espécies nessa categoria. Se, portanto, houver algures uma discrepância,
é evidente que o que se propôs não é o gênero verdadeiro. (Veja-se também
se o próprio gênero ou um dos gêneros mais altos participa da espécie, pois o

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42 © Lógica I

gênero superior não participa de nenhum dos que lhe são inferiores.) Se, pois,
estamos rebatendo uma opinião, deve-se seguir a regra conforme foi dada; se,
pelo contrário, se trata de estabelecer o nosso ponto de vista, então - na hipótese
de que se admita que o gênero proposto pertence à espécie, porém não como
gênero - basta demonstrar que um dos seus gêneros superiores se predica da
espécie na categoria de essência. Porque, se um deles predica nessa categoria,
todos os demais, tanto os superiores como os inferiores a ele, se de algum modo
se predicam da espécie, há de ser na categoria de essência: e assim, o que se
propôs como gênero também se predica na categoria de essência. A premissa de
que, quando um gênero se predica na categoria de essência, todos os demais,
se de algum modo se predicarem, será nessa categoria, deve ser estabelecida
por indução.
Supondo-se, por outro lado, que se conteste que aquilo que foi proposto como
gênero pertença em absoluto à espécie, não basta demonstrar que um dos gê-
neros superiores se predica desta na categoria de essência: por exemplo, se
alguém propôs "locomoção" como gênero de "passeio", não basta demonstrar
que passear é um "movimento" para provar que é "locomoção", visto existirem
também outras formas de movimento; mas é preciso demonstrar igualmente que
o passear não participa de nenhuma das outras espécies de movimento obtidas
pela mesma divisão, exceto a locomoção. Porque necessariamente o que par-
ticipa do gênero também participa de uma das espécies obtidas pela primeira
divisão deste. Se, portanto, o passear não participa do aumento, nem do decrés-
cimo, nem das demais espécies de movimento, é evidente que deve participar da
locomoção, e a locomoção será o gênero do passear.
Examinem-se também as coisas de que a espécie dada se predica como gêne-
ro para ver se o que é proposto como seu gênero se predica, na categoria de
essência, das mesmas coisas de que a espécie é assim predicada, e também
se todos os gêneros superiores a esse se predicam também assim. Porque, se
houver alguma discrepância, evidentemente o que se propôs não é o verdadeiro
gênero; com efeito, se o fosse, tanto os gêneros superiores a ele quanto ele
próprio se predicariam todos na categoria de essência daqueles objetos de que
a própria espécie é predicada em tal categoria. Se, pois, estamos rebatendo um
ponto de vista, é útil verificar se o gênero não se predica na categoria de essên-
cia daquelas coisas de que também se predica a espécie. Se, por outro lado,
estamos estabelecendo uma opinião, é útil verificar se ele se predica na catego-
ria de essência, pois nesse caso teremos que o gênero e a espécie se predicam
do mesmo objeto na categoria de essência, de modo que o mesmo objeto fica
incluído em dois gêneros; por conseguinte, os gêneros devem necessariamente
subordinar-se um ao outro; e, se de mostrarmos que aquele que desejamos esta-
belecer como gênero não está subordinado à espécie, evidentemente a espécie
estará subordinada a ele, e pode dar-se como demonstrado que esse é o gênero.
É preciso considerar também as definições dos gêneros e ver se ambas se apli-
cam à espécie dada e aos objetos que participam da espécie. Porquanto as
definições dos seus gêneros devem necessariamente predicar-se da espécie e
dos objetos que dela participam. Se, pois, houver algures uma discrepância, é
evidente que o que se propôs não é o gênero.
Veja-se, por outro lado, se o adversário apresentou como gênero a diferença: por
exemplo, "imortal" como gênero de "deus". "Imortal", com efeito, é uma diferença
de "ser vivente", uma vez que dos viventes alguns são mortais e outros imortais.
É evidente, pois, que se cometeu aí um erro grave, dado que a diferença de uma
coisa nunca é o seu gênero. E a verdade disto entra pelos olhos, pois a diferen-
© U1 - Lógica, é lógico! 43

ça de uma coisa jamais significa a sua essência, mas antes alguma qualidade,
como "semovente" ou "bípede".
Veja-se também se o contendor colocou a diferença dentro do gênero, tomando,
por exemplo, "ímpar" como diferença de número, e não uma espécie. E tampou-
co se admite geralmente que a diferença participe do gênero, pois o que deste
participa é sempre uma espécie ou um indivíduo, ao passo que a diferença não
é uma espécie nem um indivíduo. Evidentemente, pois, a diferença não participa
do gênero, de modo que "ímpar" tampouco é uma espécie, mas sim uma diferen-
ça, visto que não participa do gênero.
Além disso, convém verificar se ele colocou o gênero dentro da espécie, supon-
do, por exemplo, que "contato" seja uma "união", que "mistura" seja uma "fusão",
ou, como na definição platônica, que "locomoção" seja o mesmo que "transpor-
te". Pois não é forçoso que um contato seja uma união; antes pelo contrário, a
união é que deve ser um contato: pois o que está em contato nem sempre se une,
embora o que se une esteja sempre em contato. E de maneira análoga quanto
aos outros exemplos: pois a mistura nem sempre é uma "fusão" (se misturarmos
coisas secas, por exemplo, não as fundiremos), nem tampouco a locomoção é
sempre "transporte". Com efeito, não se pensa geralmente que caminhar seja um
transporte: este termo é empregado de preferência com relação ao que muda de
lugar involuntariamente, como acontece no caso das coisas inanimadas. É evi-
dente, pois, que a espécie, os exemplos dados acima, tem uma extensão mais
ampla do que o gênero, quando o contrário é que devia acontecer.
É preciso ver também se ele colocou a diferença dentro da espécie, tomando,
por exemplo, "imortal" no significado de "um deus". Pois o resultado será que a
espécie tem uma extensão igual ou mais ampla; e isso é impossível, pois acon-
tece sempre que a diferença tenha uma extensão igual ou mais ampla que a
da espécie. Veja-se, além disso, se ele colocou o gênero dentro da diferença,
fazendo com que a "cor", por exemplo, seja uma coisa que "traspassa", ou o
"número" algo que é "ímpar". Ou, então, se ele mencionou o gênero como sendo
a diferença, pois é possível que alguém formule também um juízo desta espécie,
dizendo, por exemplo, que "mistura" é a diferença de "fusão", ou que "mudança
de lugar" é a diferença de "transporte". Todos os casos desta espécie devem ser
examinados à luz dos mesmos princípios, pois dependem de regras ou tópicos
comuns: o gênero deve ter um campo de predicação mais amplo do que a sua
diferença, e, ao mesmo tempo, não deve participar dela; ao passo que, se for
apresentado dessa maneira, nenhum dos requisitos mencionados será satisfeito,
pois o gênero terá ao mesmo tempo um campo de predicação mais estreito do
que a sua diferença e participará dela.
Por outro lado, se nenhuma diferença pertencente ao gênero se predicar da es-
pécie dada, tampouco se predicará dela o gênero: por exemplo, se de "alma" não
se predica "par" nem "ímpar", tampouco se predica "número". Veja-se, igualmen-
te, se a espécie é naturalmente anterior ao gênero e o anula ao ser anulada, pois
o ponto de vista geralmente admitido é o contrário. Além disso, se é possível que
o gênero proposto ou a sua diferença estejam ausentes da espécie alegada, por
exemplo, que "movimento" esteja ausente da "alma", ou "verdade e falsidade"
de "opinião", então nenhum dos gêneros propostos pode ser o seu gênero ou a
sua diferença; pois a opinião geral é que o gênero e a diferença acompanham a
espécie enquanto esta existe (Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/cv000069.pdf>. Acesso em: 7 out. 2010).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

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44 © Lógica I

8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar
as questões a seguir que tratam da temática desenvolvida nesta
unidade, ou seja, da possibilidade do ensino de Filosofia, da sín-
tese desses problemas e do estabelecimento dos paralelos entre
algumas correntes filosóficas.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-
dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que
você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-
cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-
bertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Compreensão:
a) Baseado no que você estudou, como definiria a Lógica?
b) Qual é o problema ou objeto da Lógica?
c) Quais são os princípios básicos da Lógica?
d) Em que consiste cada um desses princípios?
e) Dê pelo menos dois exemplos de cada um desses princípios observados
no seu cotidiano.
2) Interpretação
a) Qual lição pode-se tirar da epígrafe desta unidade?
b) A partir do seu senso comum, o que você achou do raciocínio da Raposa?
É bom ou não? Por quê?

9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você teve a oportunidade de conhecer os
princípios constitutivos da Lógica, ou seja, Identidade, Não Con-
tradição, Terceiro Excluído e Causalidade. Também, pôde conhecer
as etapas históricas do desenvolvimento da Lógica e as divisões
© U1 - Lógica, é lógico! 45

deste saber. Na próxima unidade, você irá conhecer o que é um


argumento (premissas, conclusões) e uma inferência.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


COPI, I. Introdução à lógica. São Paulo: Mestre Jou, 1978.
HAIGHT, M. A serpente e a raposa: uma introdução a lógica. Tradução de Adail Ubirajara
Sobral. São Paulo: Loyola, 2003. 
MATES, B. Introdução à lógica. São Paulo: Edusp, 1982.
PINTO, M. Elementos básicos de lógica. 4. ed. Belo Horizonte: PUC-MG, 1984. 

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