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LÓGICA I
Caderno de Referência de Conteúdo
Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2007 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013
160 L749l
ISBN: 978-85-67425-72-6
CDD 160
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos
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forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Examinar a importância da Lógica enquanto disciplina filosófica e sua relação
com o discurso no processo do conhecimento. Descobrir os princípios do racio-
cínio, aplicando-os às situações reais e cotidianas.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo aos estudos de Lógica I! Vamos juntos des-
cobrir os mais diversos caminhos de argumentação e reflexão do
conhecimento humano.
Nesta parte chamada Caderno de Referência de Conteúdo,
você encontrará o conteúdo básico das unidades em que se divide
o CRC e que será estudado ao longo das semanas.
A lógica que Aristóteles denominou Organon (instrumento)
serve para distinguir o raciocínio correto do incorreto. Para isso,
a Lógica estuda os termos e as proposições que compõem toda e
qualquer argumentação, seja ela científica, filosófica, ou qualquer
8 © Lógica I
Abordagem Geral
Prof. Ms. Luis Fernando Crespo
Introdução à Lógica
Iremos tratar de uma área muito específica da Filosofia: a
Lógica. Não será nosso intuito, aqui, desenvolver atividades es-
miuçadas sobre como trabalhar com a Lógica; apenas farei uma
abordagem geral sobre o que o aguarda.
Pare e pense: quantas e quantas vezes, em nosso dia a dia,
dizemos: "É lógico!"?
Você vai? Tem? Pode? Entendeu? – É lógico!
Aqui está nosso problema: o que significa dizer que algo é
"lógico"?
Um exemplo:
Se eu pergunto: você saiu na chuva? E sem guarda-chuva? E
se molhou?
Argumento 1 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Todo homem é mortal.
Sócrates é homem.
Portanto, Sócrates é mortal.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Argumento 2 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Existem biscoitos feitos de água e sal.
O mar é feito de água e sal.
Portanto, o mar é um grande biscoito.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Argumento 3 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Deus é amor.
O amor é cego.
Steve Wonder é cego.
Portanto, Steve Wonder é Deus.
Disseram-me que eu sou ninguém.
Ninguém é perfeito.
Portanto, eu sou perfeito.
Mas só Deus é perfeito.
Portanto, eu sou Deus.
Se Steve Wonder é Deus, eu sou Steve Wonder!
Meu Deus, eu sou cego!
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Argumento 1–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Todo homem é mortal.
Sócrates é homem.
Portanto, Sócrates é mortal.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Argumento 4 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O teste com o medicamento X deu certo com o indivíduo 1.
O teste com o medicamento X deu certo com o indivíduo 2.
O teste com o medicamento X deu certo com o indivíduo 3.
O teste com o medicamento X deu certo com o indivíduo 500.
Portanto, o medicamento X dará certo com todos os indivíduos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Perceba que a conclusão dada no argumento 4 tem um con-
teúdo que excede o que foi dado pelas premissas. Como? Simples-
mente porque a conclusão diz que o medicamento dará certo com
Proposições categóricas
Pronto para prosseguirmos nossa caminhada dentro da Lógi-
ca? Eu espero que a resposta seja: "É lógico!".
© Caderno de Referência de Conteúdo 15
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados no CRC Lógica I. Veja, a seguir,
a definição dos principais conceitos (Adaptado de: ABBAGNANO,
1988):
LÓGICA FORMAL:
BASES
QUALIDADE QUANTIDADE
DEDUTIVO INDUTIVO
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem
ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertati-
vas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino de Filosofia pode ser uma
forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a re-
solução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará
se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além
disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhe-
cimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profis-
sional.
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabari-
to, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões
autoavaliativas de múltipla.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Dicas (motivacionais)
O estudo deste CRC convida você a olhar, de forma mais apu-
rada, a Educação como processo de emancipação do ser humano.
É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas
e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que observa, permite-se des-
cobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a notar
o que não havia sido percebido. Observar é, portanto, uma capaci-
dade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno dos cursos de Graduação, na modalidade
EaD, e futuro profissional da educação, necessita de uma forma-
ção conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com
a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da
interação com seus colegas. Sugerimos que organize bem o seu
tempo e realize as atividades nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
1
Para muita gente, antes morrer que pensar. E é isso
mesmo que fazem. (Bertrand Russel)
1. OBJETIVOS
• Conhecer o discurso filosófico da Lógica I.
• Compreender o conceito de Lógica.
• Compreender os princípios da Lógica: Não contradição,
Identidade, Terceiro excluído e de Causalidade.
2. CONTEÚDOS
• Lógica.
• Conceito.
• Objeto; Problema; Princípios.
• Princípio de Não contradição, Identidade, Terceiro excluí-
do e Causalidade.
28 © Lógica I
Aristóteles
Notável filósofo grego, Aristóteles (384 - 322 a.C.) nasceu
em Estágira, colônia de origem jônica encravada no reino da
Macedônia. Filho de Nicômaco, médico do rei Amintas, go-
zou de circunstâncias favoráveis para seus estudos.
Em 367 a.C., aos seus 17 anos, foi enviado para a Acade-
mia de Platão em Atenas, na qual permanecera por 20 anos,
inicialmente como discípulo, depois como professor, até a
morte do mestre em 347 a.C.
O fato de ser filho de médico poderá ter dado a Aristóteles o
gosto pelos conhecimentos experimentais e da natureza, ao
mesmo tempo que teve sucesso como metafísico (Disponível em: <http://www4.
pucsp.br/pos/cesima/schenberg/alunos/paulosergio/biografia.html>. Acesso em:
10 ago. 2010).
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
O estudo da Lógica é fundamental para a formação do profes-
sor de Filosofia, por isso, convidamos você para estudá-la neste CRC
com empenho e dedicação, para, desta forma, ampliar ainda mais
os horizontes do pensamento.
Mas você pode estar se perguntando: O que é Lógica? Para
que ela serve? Ela serve para alguma coisa? Eu utilizo a Lógica?
Pois bem, a Lógica é um elemento muito comum em nossas
vidas. Neste momento em que nos dispomos a estudá-la pode pa-
recer algo novo, mas, efetivamente, não o é.
© U1 - Lógica, é lógico! 29
Conceito
A palavra Lógica vem do grego logós e seu significado expri-
me uma relação entre a linguagem e o conhecimento. É traduzido
como razão, discurso, linguagem, palavra, pensamento, conheci-
mento. O substantivo logós vem do verbo legein, que quer dizer
colher, reunir, juntar, calcular ou ordenar.
O verbo colher tem uma significação muito especial e mui-
to se aproxima do conceito grego, a saber: coletar, recolher, ar-
recadar, apanhar, pegar, prender, alcançar, obter, calcular, inferir,
aprender e compreender.
Assim, entendemos que falar e pensar possuem, entre si,
uma relação umbilical. Expressamos verbalmente, ou seja, por
meio da fala, o que pensamos sobre as coisas que nos cercam, o
© U1 - Lógica, é lógico! 31
Raciocínio e Proposição
A Lógica se interessa por saber se as premissas garantem o
que está sendo afirmado na conclusão. Por essa razão, definimos
a Lógica como o estudo dos métodos que servem para distinguir o
raciocínio correto do incorreto. Para definir raciocínio é necessá-
rio caracterizar o que é uma proposição. Definiremos proposição
como as expressões linguísticas que possuem uma função infor-
mativa, que afirmam ou que negam alguma coisa, e que sempre
têm sentido dizer que ou são falsas ou são verdadeiras (os com-
pêndios da gramática que a gente utilizou na escola as definem
como orações em que existe relação de sujeito e predicado). O
valor da proposição é dado como verdade e falsidade. Se uma pro-
posição é verdadeira, dizemos que seu valor de verdade é verdade
e se é falso que seu valor é falsidade.
Pinto (1981, p. 36) alerta que não existe uniformidade en-
tre os autores com relação ao emprego dos termos "proposição",
"oração", "frase", "sentença" uma vez que todas mantêm a mes-
ma estrutura básica de sujeito e predicado. Desde Aristóteles,
na Lógica, porém, existe uma distinção clara que determina que
apenas a proposição se presta para expressar um "juízo", uma vez
que ela serve para declarar algo, afirmando ou negando, ou seja,
estabelecendo relações de verdade e falsidade.
Aristóteles chama em grego as verdadeiras proposições
(aquelas que servem para manifestar adequação com determina-
da realidade) de protasis, sendo seu equivalente em latim propó-
sito, uma vez que serve para apresentar ou propor algo (PINTO,
1981, p. 37).
6. OBJETO/PROBLEMA
Qual é, afinal, o objeto ou problema do qual a Lógica se ocupa?
Na definição do seu conceito, conforme você pôde ver an-
teriormente, encontramos uma pista. Pode-se dizer que o lógico
debruça-se sobre a distinção entre raciocínio correto e incorreto.
O livro de Mary Haight, intitulado A serpente e a raposa,
apresenta-nos um exemplo bem interessante no prólogo:
A Serpente e a Raposa eram rivais na liderança de um bando de
ladrões. A Serpente propôs um teste: 'Noite e dia cem sacerdotes
armados de facas guardam o deus Uniocular de Zorro, numa sala
dentro de uma sala dentro de uma sala. Quem conseguir roubar o
Olho de Rubi do deus vai se tornar nosso líder'.
A Raposa concordou, mas acrescentou: 'Como minha distinta rival
sugeriu este teste, que ela seja a primeira a passar por ele'. Secre-
tamente, ela raciocinou:
'A Serpente é orgulhosa: ela vai aceitar. Será então quase certo que
morra na tentativa. Nesse caso, não terei rival e vou poder conven-
cer o bando de que mais testes são uma perda de tempo.
Ou ela vai sobreviver, mas fracassar. O resultado será o mesmo:
com a cara no chão, ela vai partir imediatamente para longe.
Ou talvez – é de presumir – tenha sucesso. Mas, tendo ela roubado
o Olho, a possibilidade de eu tê-lo feito não pode ser aventada. E
a vingança dos sacerdotes de Zorro é horrível e rápida. Ela não vai
liderar por muito tempo; e sou seu único sucessor possível. ( 1999,
p. 11)
© U1 - Lógica, é lógico! 37
Princípios
O fundamento da Lógica, que examinaremos a partir de ago-
ra, foi elaborado por Aristóteles em Organon e na Metafísica, e
serve de base para todos os outros modelos que surgiram depois.
Aristóteles adota como ponto de partida os seguintes princípios
básicos, a saber:
Princípio de identidade
"A é A", ou seja, uma coisa só pode ser conhecida ou pen-
sada, qualquer que seja a sua natureza ou forma, se percebida de
forma permanente e constante a sua identidade. Em outras pala-
vras: o que é, é.
Princípio de causalidade
Este princípio afirma que tudo o que existe ou acontece tem
uma causa (razão ou motivo) para existir ou ocorrer e que tal causa
pode ser conhecida por nosso intelecto. Por exemplo:
© U1 - Lógica, é lógico! 39
7. TEXTO COMPLEMENTAR
Antes de passar para o estudo da Unidade 2, é importan-
te que você leia o extrato de texto retirado da obra Tópicos de
Aristóteles, para se familiarizar com a utilização da Lógica no texto
filosófico.
Tópicos –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1
Passaremos agora ao exame das questões que dizem respeito ao gênero e à
propriedade. Estes são elementos das questões relativas às definições, mas os
dialéticos raras vezes procuram investigar estas coisas por si mesmas.
Se, pois, for sugerido um gênero para alguma coisa existente, devemos primeiro
considerar todos os objetos que pertencem ao mesmo gênero que a coisa men-
cionada e ver se o gênero sugerido não se predica de uma delas, como acontece
no caso de um acidente: por exemplo, se o "bem" é indicado como o gênero
de "prazer", deve-se verificar se algum prazer particular não é bom; porque, se
assim acontecer, evidentemente o bem não é o gênero de prazer, dado que o
gênero se predica de todos os membros da mesma espécie. Em segundo lugar,
devemos ver se ele não se predica na categoria de essência, mas como um aci-
dente, como "branco" se predica da neve ou "semovente" da alma. Com efeito,
"neve" não é uma espécie de "branco", e, portanto "branco" não e o gênero da
neve, nem é a alma uma espécie de "objeto em movimento": o movimento é um
acidente seu, como o é muitas vezes de um animal o andar ou estar andando.
Por outro lado, "mover-se" não parece indicar a essência, mas antes um estado
de atividade ou passividade. E analogamente no que se refere a "branco", pois
este termo não indica a essência da neve, mas uma certa qualidade desta. Logo,
nem o movimento, nem a brancura se predicam na categoria de essência.
Deve-se prestar uma atenção especial à definição de acidente e ver se ela se
ajusta ao gênero mencionado, como no caso dos exemplos que acabamos de
mencionar. Pois é possível que uma coisa seja e não seja semovente, como
também que seja e não seja branca. E assim, nenhum destes atributos é o gê-
nero, mas sim um acidente, pois já dissemos que um acidente é um atributo que
tanto pode pertencer como não pertencer a uma coisa. Veja-se, também, se o
gênero e a espécie não se encontram na mesma divisão, mas um deles é uma
substância e o outro uma qualidade, ou um deles é um relativo enquanto o outro
é uma qualidade, como, por exemplo, "neve" e "cisne" são ambos substâncias
ao passo que "branco" não é uma substância e sim uma qualidade, de modo
que "branco" não é o gênero nem de "neve", nem de "cisne". E, por outro lado,
"conhecimento" é um relativo, enquanto "bom" e "nobre" são ambos qualidades,
e, por conseguinte, nenhum deles é o gênero de conhecimento. Porquanto os
gêneros de relativos devem ser eles mesmos também relativos, como sucede
com "duplo": pois "múltiplo", que é o gênero de "duplo", é, ele próprio, também
um relativo. Em termos gerais, o gênero deve incluir-se na mesma divisão que
a espécie, de modo que, se a espécie é uma substância, também deve sê-lo o
gênero, e se a espécie é uma qualidade, também o gênero será uma qualidade:
por exemplo, se o branco é uma qualidade, também o será a cor. E de maneira
análoga nos outros casos.
Veja-se, também, se o gênero participa necessária ou possivelmente do objeto
que nele foi classificado. "Participar" significa "admitir a definição" daquilo de que
se participa. É evidente, pois, que as espécies participam do gênero, porém não
os gêneros das espécies, já que a espécie admite a definição do gênero, mas
este não admite a definição daquela. Deve-se, pois, verificar se o gênero indica-
do participa ou pode talvez participar da espécie, como, por exemplo, se alguém
propusesse alguma coisa como sendo o gênero de "ser" ou de "unidade", pois
daí resultaria que o gênero participa da espécie, uma vez que de tudo que existe
se predicam o "ser" e a "unidade", e, por conseguinte, também as respectivas
definições.
Veja-se, além disso, se há alguma coisa de que a espécie indicada seja verda-
deira, mas não o seja o gênero: como, por exemplo, se alguém afirmasse que
"ser" ou "objeto de conhecimento" e o gênero de "objeto de opinião". Com efeito,
"objeto de opinião" também se predica do que não existe, pois muitas coisas que
não existem são objetos de opinião, enquanto é evidente que nem "ser", nem
"objeto de conhecimento" se predicam do que não existe. Por conseguinte, nem
"ser", nem "objeto de conhecimento" são o gênero de "objeto de opinião", pois o
gênero deve predicar-se também dos objetos de que se predica a espécie.
Examine-se, também, se o objeto incluído no gênero é totalmente incapaz de par-
ticipar de qualquer espécie deste, pois é impossível que ele participe do gênero
se não participa de alguma de suas espécies, salvo quando se trata de uma das
espécies obtidas na primeira divisão: estas, com efeito, participam unicamente
do gênero. Se, portanto, "movimento" for indicado como o gênero de prazer,
deve-se verificar se o prazer não é nem locomoção, nem alteração, nem qual-
quer outra das modalidades de movimento que enumeramos: porque, evidente-
mente, se pode afirmar então que não participa de nenhuma das espécies e, em
consequência, não participa tampouco do gênero, já que aquilo que participa do
gênero deve necessariamente participar também de uma das espécies; de modo
que o prazer não poderia ser uma espécie de movimento, nem tampouco ser um
dos fenômenos individuais compreendidos sob o termo "movimento". Porque os
indivíduos também participam do gênero e da espécie, como, por exemplo, um
indivíduo humano participa tanto de "homem" como de "animal".
É preciso ver, além disso, se o termo incluído no gênero tem uma extensão mais
ampla do que este, como tem, por exemplo, "objeto de opinião" comparado com
"ser", pois tanto o que existe como o que não existe são objetos de opinião: logo,
© U1 - Lógica, é lógico! 41
"objeto de opinião" não pode ser uma espécie de ser, dado que o gênero tem
sempre uma extensão mais ampla do que a espécie. Veja-se, igualmente, se a
espécie e o seu gênero têm igual extensão: se, por exemplo, dos atributos que
se encontram em todas as coisas, um fosse apresentado como uma espécie e
outro como o seu gênero, "ser" e "unidade"; porquanto todas as coisas possuem
ser e unidade, de modo que nenhum destes dois é gênero do outro, tendo eles,
como têm, uma igual extensão. E do mesmo modo se do "primeiro" de uma série
e do "começo", um fosse subordinado ao outro, pois o primeiro é o começo e o
começo é o primeiro, de modo que ou ambas estas expressões são idênticas, ou,
de qualquer forma, nenhuma é o gênero da outra. O princípio elementar referente
a todos os casos deste tipo é que o gênero tem uma extensão mais vasta do que
a espécie e sua diferença, pois a diferença tem, igualmente, uma extensão mais
restrita do que o gênero.
Veja-se também se o gênero mencionado não se aplica, ou pode admitir-se ge-
ralmente que não se aplique, a algum objeto que não difira especificamente da
coisa em questão; ou, pelo contrário, se o nosso argumento é construtivo, veja-
-se se ele se aplica dessa maneira. Porquanto todas as coisas que não diferem
especificamente pertencem ao mesmo gênero. Se, por conseguinte, se demons-
tra que este se aplica a uma delas, então é evidente que se aplica a todas; e se
não se aplica a uma, é claro que não se aplica a nenhuma: por exemplo, se al-
guém que admitisse as "linhas indivisíveis" dissesse que "indivisível" é o gênero
delas. Porque o termo mencionado não é o gênero das linhas divisíveis, e estas
não diferem das indivisíveis quanto à espécie: com efeito, as linhas retas nunca
diferem umas das outras no que diz respeito à espécie.
2
Examine-se também se existe algum outro gênero da espécie dada que nem
abarque o gênero apresentado, nem, tampouco, se inclua nele. Suponha-se, por
exemplo, que alguém afirmasse que "conhecimento" é o gênero de justiça. Por-
quanto a virtude é também o gênero desta, e nenhum destes gêneros abarca o
outro, de forma que o conhecimento não pode ser o gênero da justiça, pois se
admite geralmente que, sempre que uma espécie se inclui em dois gêneros, um
destes é abrangido pelo outro. Entretanto, um princípio desta classe dá margem
a que se suscite em certos casos uma dificuldade. Há, por exemplo, quem afirme
que a justiça tanto é uma virtude como um conhecimento e que nenhum destes
gêneros é abarcado pelo outro - embora, por certo, nem todos admitam que a
prudência seja conhecimento. Se, todavia, alguém admitisse a verdade dessa
asserção, haveria, por outro lado, o consenso geral de que os gêneros do mesmo
objeto devem necessariamente ser subordinados um ao outro ou ambos a um
terceiro, como em verdade sucede com a virtude e o conhecimento. Com efeito,
ambos se incluem no mesmo gênero, sendo como é cada um deles um estado
e uma disposição. Deve-se verificar, portanto, se nenhuma dessas coisas é ver-
dadeira do gênero apresentado; porque, se nem os gêneros são subordinados
um ao outro, nem ambos a um mesmo gênero, o que foi proposto não pode ser
o gênero verdadeiro.
Examine-se, também, o gênero do gênero proposto, passando depois ao gênero
próximo mais alto, para ver se todos se predicam da espécie, e se predicam
na categoria de essência: pois todos os gêneros mais altos devem predicar-se
das espécies nessa categoria. Se, portanto, houver algures uma discrepância,
é evidente que o que se propôs não é o gênero verdadeiro. (Veja-se também
se o próprio gênero ou um dos gêneros mais altos participa da espécie, pois o
gênero superior não participa de nenhum dos que lhe são inferiores.) Se, pois,
estamos rebatendo uma opinião, deve-se seguir a regra conforme foi dada; se,
pelo contrário, se trata de estabelecer o nosso ponto de vista, então - na hipótese
de que se admita que o gênero proposto pertence à espécie, porém não como
gênero - basta demonstrar que um dos seus gêneros superiores se predica da
espécie na categoria de essência. Porque, se um deles predica nessa categoria,
todos os demais, tanto os superiores como os inferiores a ele, se de algum modo
se predicam da espécie, há de ser na categoria de essência: e assim, o que se
propôs como gênero também se predica na categoria de essência. A premissa de
que, quando um gênero se predica na categoria de essência, todos os demais,
se de algum modo se predicarem, será nessa categoria, deve ser estabelecida
por indução.
Supondo-se, por outro lado, que se conteste que aquilo que foi proposto como
gênero pertença em absoluto à espécie, não basta demonstrar que um dos gê-
neros superiores se predica desta na categoria de essência: por exemplo, se
alguém propôs "locomoção" como gênero de "passeio", não basta demonstrar
que passear é um "movimento" para provar que é "locomoção", visto existirem
também outras formas de movimento; mas é preciso demonstrar igualmente que
o passear não participa de nenhuma das outras espécies de movimento obtidas
pela mesma divisão, exceto a locomoção. Porque necessariamente o que par-
ticipa do gênero também participa de uma das espécies obtidas pela primeira
divisão deste. Se, portanto, o passear não participa do aumento, nem do decrés-
cimo, nem das demais espécies de movimento, é evidente que deve participar da
locomoção, e a locomoção será o gênero do passear.
Examinem-se também as coisas de que a espécie dada se predica como gêne-
ro para ver se o que é proposto como seu gênero se predica, na categoria de
essência, das mesmas coisas de que a espécie é assim predicada, e também
se todos os gêneros superiores a esse se predicam também assim. Porque, se
houver alguma discrepância, evidentemente o que se propôs não é o verdadeiro
gênero; com efeito, se o fosse, tanto os gêneros superiores a ele quanto ele
próprio se predicariam todos na categoria de essência daqueles objetos de que
a própria espécie é predicada em tal categoria. Se, pois, estamos rebatendo um
ponto de vista, é útil verificar se o gênero não se predica na categoria de essên-
cia daquelas coisas de que também se predica a espécie. Se, por outro lado,
estamos estabelecendo uma opinião, é útil verificar se ele se predica na catego-
ria de essência, pois nesse caso teremos que o gênero e a espécie se predicam
do mesmo objeto na categoria de essência, de modo que o mesmo objeto fica
incluído em dois gêneros; por conseguinte, os gêneros devem necessariamente
subordinar-se um ao outro; e, se de mostrarmos que aquele que desejamos esta-
belecer como gênero não está subordinado à espécie, evidentemente a espécie
estará subordinada a ele, e pode dar-se como demonstrado que esse é o gênero.
É preciso considerar também as definições dos gêneros e ver se ambas se apli-
cam à espécie dada e aos objetos que participam da espécie. Porquanto as
definições dos seus gêneros devem necessariamente predicar-se da espécie e
dos objetos que dela participam. Se, pois, houver algures uma discrepância, é
evidente que o que se propôs não é o gênero.
Veja-se, por outro lado, se o adversário apresentou como gênero a diferença: por
exemplo, "imortal" como gênero de "deus". "Imortal", com efeito, é uma diferença
de "ser vivente", uma vez que dos viventes alguns são mortais e outros imortais.
É evidente, pois, que se cometeu aí um erro grave, dado que a diferença de uma
coisa nunca é o seu gênero. E a verdade disto entra pelos olhos, pois a diferen-
© U1 - Lógica, é lógico! 43
ça de uma coisa jamais significa a sua essência, mas antes alguma qualidade,
como "semovente" ou "bípede".
Veja-se também se o contendor colocou a diferença dentro do gênero, tomando,
por exemplo, "ímpar" como diferença de número, e não uma espécie. E tampou-
co se admite geralmente que a diferença participe do gênero, pois o que deste
participa é sempre uma espécie ou um indivíduo, ao passo que a diferença não
é uma espécie nem um indivíduo. Evidentemente, pois, a diferença não participa
do gênero, de modo que "ímpar" tampouco é uma espécie, mas sim uma diferen-
ça, visto que não participa do gênero.
Além disso, convém verificar se ele colocou o gênero dentro da espécie, supon-
do, por exemplo, que "contato" seja uma "união", que "mistura" seja uma "fusão",
ou, como na definição platônica, que "locomoção" seja o mesmo que "transpor-
te". Pois não é forçoso que um contato seja uma união; antes pelo contrário, a
união é que deve ser um contato: pois o que está em contato nem sempre se une,
embora o que se une esteja sempre em contato. E de maneira análoga quanto
aos outros exemplos: pois a mistura nem sempre é uma "fusão" (se misturarmos
coisas secas, por exemplo, não as fundiremos), nem tampouco a locomoção é
sempre "transporte". Com efeito, não se pensa geralmente que caminhar seja um
transporte: este termo é empregado de preferência com relação ao que muda de
lugar involuntariamente, como acontece no caso das coisas inanimadas. É evi-
dente, pois, que a espécie, os exemplos dados acima, tem uma extensão mais
ampla do que o gênero, quando o contrário é que devia acontecer.
É preciso ver também se ele colocou a diferença dentro da espécie, tomando,
por exemplo, "imortal" no significado de "um deus". Pois o resultado será que a
espécie tem uma extensão igual ou mais ampla; e isso é impossível, pois acon-
tece sempre que a diferença tenha uma extensão igual ou mais ampla que a
da espécie. Veja-se, além disso, se ele colocou o gênero dentro da diferença,
fazendo com que a "cor", por exemplo, seja uma coisa que "traspassa", ou o
"número" algo que é "ímpar". Ou, então, se ele mencionou o gênero como sendo
a diferença, pois é possível que alguém formule também um juízo desta espécie,
dizendo, por exemplo, que "mistura" é a diferença de "fusão", ou que "mudança
de lugar" é a diferença de "transporte". Todos os casos desta espécie devem ser
examinados à luz dos mesmos princípios, pois dependem de regras ou tópicos
comuns: o gênero deve ter um campo de predicação mais amplo do que a sua
diferença, e, ao mesmo tempo, não deve participar dela; ao passo que, se for
apresentado dessa maneira, nenhum dos requisitos mencionados será satisfeito,
pois o gênero terá ao mesmo tempo um campo de predicação mais estreito do
que a sua diferença e participará dela.
Por outro lado, se nenhuma diferença pertencente ao gênero se predicar da es-
pécie dada, tampouco se predicará dela o gênero: por exemplo, se de "alma" não
se predica "par" nem "ímpar", tampouco se predica "número". Veja-se, igualmen-
te, se a espécie é naturalmente anterior ao gênero e o anula ao ser anulada, pois
o ponto de vista geralmente admitido é o contrário. Além disso, se é possível que
o gênero proposto ou a sua diferença estejam ausentes da espécie alegada, por
exemplo, que "movimento" esteja ausente da "alma", ou "verdade e falsidade"
de "opinião", então nenhum dos gêneros propostos pode ser o seu gênero ou a
sua diferença; pois a opinião geral é que o gênero e a diferença acompanham a
espécie enquanto esta existe (Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/cv000069.pdf>. Acesso em: 7 out. 2010).
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8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar
as questões a seguir que tratam da temática desenvolvida nesta
unidade, ou seja, da possibilidade do ensino de Filosofia, da sín-
tese desses problemas e do estabelecimento dos paralelos entre
algumas correntes filosóficas.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-
dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que
você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-
cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-
bertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Compreensão:
a) Baseado no que você estudou, como definiria a Lógica?
b) Qual é o problema ou objeto da Lógica?
c) Quais são os princípios básicos da Lógica?
d) Em que consiste cada um desses princípios?
e) Dê pelo menos dois exemplos de cada um desses princípios observados
no seu cotidiano.
2) Interpretação
a) Qual lição pode-se tirar da epígrafe desta unidade?
b) A partir do seu senso comum, o que você achou do raciocínio da Raposa?
É bom ou não? Por quê?
9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você teve a oportunidade de conhecer os
princípios constitutivos da Lógica, ou seja, Identidade, Não Con-
tradição, Terceiro Excluído e Causalidade. Também, pôde conhecer
as etapas históricas do desenvolvimento da Lógica e as divisões
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