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Cruzamento de linguagens

Angelita Santos da Silva1

Existe um universo a ser descoberto através da leitura. À realidade do leitor

pode ser adicionada a realidade ficcional de um universo misterioso, complexo e

enigmático. As epopéias contavam feitos heróicos, longe do alcance de qualquer

mortal. Com o passar do tempo houve uma necessidade de adequação entre o

homem e a sociedade. Desde então, parece que tudo já foi dito. O que resta é

reformular a maneira de se dizer uma mesma coisa. O homem, em diferentes

períodos, voltou-se para os deuses, para si mesmo, para o cosmos, para seu

interior, para seu exterior, para a ciência, para o belo, para o feio, etc. e assim foi

percorrendo diversos caminhos em busca de uma expressividade maior, e mais

condizente com seu período vivido.

Como tudo já foi dito, buscou-se produzir novos textos valendo-se do

cruzamento de linguagens para a (re)criação de obras únicas e vivas. Conforme

Samira Chalhub, a metalinguagem, na literatura, surgiu para “dessacralizar o mito da

criação, colocando a nu o processo de produção da obra”. Isto ocasionou a

transformação do conceito de arte que passou de forma de expressão para forma de

construção.

1
Mestranda em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do rio Grande do Sul.
e-mail: angelitassilva@terra.com.br
Diante tal transformação, a metalinguagem proporcionou algumas variações

na criação literária, tendo como focos principais a intertextualidade – (presença de

outros textos), a autotextualidade (o fazer poético) e o metapoema (o sentido crítico).

“A intertextualidade é uma forma de metalinguagem, onde se toma como

referência uma linguagem anterior” (Chalhub, p.52). A poesia de Ferreira Gullar,

Boato (1967), está recheada de elementos metalingüísticos. Encontra-se

intertextualidade, por exemplo, quando o poeta faz uma analogia da frieza da guerra

com a frieza de poemas que são apenas imagem (Espalharam pó aí que o poema/ é

uma máquina/ ou um diadema/ que o poema / repele tudo que nos fale à pele/de

Hiroxima), aludindo ao movimento concretista ao qual havia rompido por discordar

da publicação do artigo “Da psicologia da composição à matemática da

composição”.

Há intertextualidade, também, quando o poeta se refere a uma data

específica (se estamos em janeiro de 1967), período em que foi elaborada, pelo

Congresso Nacional, a Constituição Brasileira, atribuindo função de poder

constituinte originário – ilimitado e soberano – legalizando e institucionalizando a

ditadura militar (1964-1985).

Já em seus interessantíssimos contos de “Cidades Inventadas”, Gullar busca

mesclar sua fértil imaginação com fatos e cidades históricas. Nomes de cidades e de

pessoas são concebidos de maneira divertida e inusitada, mas a base histórica, por

vezes, pode ser reconhecida. Como exemplo, tem-se o conto intitulado “Tyfw” (o

próprio título denota a intenção do autor), onde há uma divertida caracterização dos

habitantes dos vilarejos como os “Budhum” e os “Al-Fhaz-Ens” que vivem numa


constante e incansável guerra por não aceitarem as diferenças que cada tribo

possui, usando como desculpa a religião e a cultura. Durante o conto, o poeta cria

índices para que o leitor se guie (a origem dos nomes, o ódio acobertado pela

religiosidade, o longo período de disputa de território), levando-o a pensar em

Palestina e Israel.

No romance “Todos os nomes”, José Saramago enriquece seu texto usando

uma variedade de metalinguagem. A intertextualidade, por exemplo, está presente

desde a analogia à mitologia grega ao citar Ariadne e o labirinto (obrigatoriedade do

uso do fio de Ariadne para quem tivesse de ir ao arquivo dos mortos) até às citações

de ditados populares ditos de forma inovadora (O vinho está servido, é preciso bebê-

lo, não disse como o outro, Tirem-me daqui este cálice, o que vocês querem é me

matar) ou inversa (Perdoada, Sim, acontece muitas vezes, perdoai-vos uns aos

outros, como é costume dizer-se, A frase conhecida não é assim, é amai-vos uns

aos outros, Dá no mesmo, perdoa-se porque se ama, ama-se porque se perdoa);

como também o uso de uma quadra popular (O que está para além da morte, nunca

ninguém viu nem verá, de tantos que para lá foram, nunca nenhum voltou cá).

Saramago é um escritor que dispensa apresentações, visto que sua escrita

leve, objetiva e falsamente simples nos leva a uma viagem reflexiva acerca da vida e

da morte. Sua obra está repleta de digressões constantes em valiosos e divertidos

exercícios de autotextualidade (Se isto fosse um romance, murmurou enquanto abria

o caderno, só a conversa com a senhora do rés-do-chão direito daria um capitulo),

em que o autor discute com o leitor sobre a construção da própria obra. Por outro

lado, sua forma de construir seus personagens e narrador denota um comovente


sentimento de melancolia e comiseração pela humanidade em um jogo de amor e

ódio, espanto e agonia, pusilanimidade e sublimação.

“O imaginário e metafísico diálogo com o tecto servira-lhe para encobrir


a total desorientação do seu espírito, a sensação de pânico que lhe
vinha da ideia de que já não teria mais nada para fazer na vida, se,
como havia razões para recear, a busca da mulher desconhecida havia
terminado, Sentia um nó duro na garganta, como quando lhe ralhavam
em criança e queriam que ele chorasse, e ele resistia, resistia, até que
por fim as lágrimas saltavam, como também começaram a saltar agora
por fim. Afastou o prato, deixou pender a cabeça sobre os braços
cruzados e chorou sem vergonha, ao menos desta vez não havia
ninguém ali para se rir dele. Este é um daqueles casos em que os
tectos nada podem fazer para ajudar as pessoas aflitas, têm de limitar-
se a esperar lá em cima que a tormenta passe, que a alma se
desafogue, que o corpo se canse. Assim aconteceu ao Sr. José.”

A autotextualidade, ou seja, o fazer poético na poesia “Boato”, de Ferreira

Gullar, é apresentada para praticar contentamento e proporcionar exultação (Ora eu

sei muito bem que a poesia não muda (logo) o mundo. Mas é por isso mesmo que

se faz poesia: porque falta alegria. E quando há alegria se quer mais alegria!). A

poesia não é somente imagem, é a palavra vestida de significados e beleza, para

consumar seu valor informativo e comunicacional. Neste poema, o autor expressa a

necessidade moral de lutar contra a injustiça social e a opressão.

Quanto ao metapoema, Gullar faz uma crítica ao movimento concretista, o

qual havia sido filiado, censurando a rigidez da forma e a falta de sentido das

palavras (Espalharam por ai que o poema é uma máquina ou um diadema... que o

poema só acerta a palavra perfeita ou quando muito acerta a palavra neutra, pois
quem faz o poema é um poeta e quem lê o poema, um hermeneuta). Continua sua

crítica ao poema neutro, imparcial, por não refletir as angústias de uma nação

aprisionada e distanciada de seus direitos (Como ser neutro, fazer um poema neutro

se há uma ditadura no país e eu estou infeliz?).

Existe, hoje, a possibilidade de se escrever sobre qualquer coisa, até mesmo

sobre a arte, ou a dificuldade, de criar. A própria dificuldade de criação é tema de

verso ou prosa. A metalinguagem é a mensagem centrada no código. O metapoema

é um poema que fala do ato criativo, da dificuldade de seu objeto (a palavra), do

conflito lapidoso diante do papel em branco, da palavra que é de uso de todos e que,

no poema, necessita ser única e exata para significar, para exprimir-se. A

metalinguagem é a propriedade que tem a língua de voltar-se para si mesma,

proporcionando, desta forma, um olhar-se, um sentir-se verdadeiramente.

Linguagem e emoção se cruzam e se relacionam mostrando a beleza que existe na

(re)criação de obras, e porque não dizer de vidas, que mesclam-se originado novos

sentidos e sensações.

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