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Juízos de valores.
Os juízos de valor são variáveis com o tempo.
Não existe uma obra ou um cânone que tenha valor em si. Valor é um termo
transitivo.
Há quem diga que a arte grega possua um “encanto eterno”, mas como saber se é
eterno se a história ainda não acabou? Algo pode acontecer a nos fazer deixar de
valorizar essa arte.
O nosso Homero e o nosso Shakespeare não são iguais aos de suas épocas. Toda
releitura é uma reescritura. Por isso, definir a literatura é algo instável. E não é
instável simplesmente porque os juízos de valor são subjetivos. Na verdade não
há possibilidade de se fazer uma observação totalmente neutra. A pretensão de
que o conhecimento deve ser “isento de valores” já é, em si, um juízo de valor.
Século XVIII
Na Inglaterra do século XVIII, Literatura era a escrita valorizada por uma parcela
da sociedade, podendo ser tanto poemas como filosofia, história ou ensaios. Uma
balada ou romance popular podia não ser considerados.
A Literatura na Inglaterra tinha uma função de disseminação de certos valores
sociais para aproximar a emergente burguesia da aristocracia. Não tinha nada a
ver com a vida imaginativa e experiência sentida.
Romantismo
Surgimento da palavra literatura
Valorização do imaginativo acima da ideologia utilitária do início do capitalismo.
O prosaico começa a ser visto negativamente como monótono.
Período de revoluções, França, América.
Classe média industrial pragmática x artistas românticos imaginativos
Literatura como um dos poucos enclaves nos quais os valores criativos podem ser
celebrados.
Literatura como ideologia alternativa, românticos como ativistas políticos. Poesia
não um modo técnico de escrever, mas algo com profundas implicações sociais e
filosóficas.
Obra como uma unidade orgânica sem valor de mercado.
Distanciamento da história.
Poesia como mercadoria de menor valor, poeta romântico como profeta do povo
não ouvido, relegado à sua própria mente criativa.
Sociedade justa como uma nostalgia da velha Inglaterra “orgânica”.
Mathew Arnold
Necessidade social de helenizar a classe média filistina
Necessidade de a classe média ter cultura para modelar as massas abaixo dela.
Literatura como empresa ideológica liberal e humanizadora, antídoto contra o
excesso da religião e poderoso contra o extremismo ideológico.
Literatura como algo que trata das questões humanas universais e não das
trivialidades históricas como a guerra civil ou opressão das mulheres, pode
colocar uma perspectiva cósmica ou até fazer a classe operária esquecer seus
problemas.
Inglês para promover a simpatia e sentimento de identidade entre todas as classes
Literatura habilitando as massas o saber que há outros pontos de vista, ou seja,
dos seus senhores.
Para Arnold, a literatura é inimiga do dogma ideológico. Ela diz respeito ao
sentimento e experiência, mas sentimento e experiência de quem?
Pílula da ideologia da classe média devia ser adocicada com o açúcar da literatura.
A literatura deveria falar das verdades atemporais e não de coisas paupáveis como
falar diretamente da propriedade privada, mas ao falar de tais universais,
asseguraria a manutenção da propriedade privada.
Literatura como experiência. Se a classe operária não tem dinheiro para viajar,
pode viajar o mundo através da literatura, imaginativamente. Função de
compensação.
Scrutinity e os Leavis
Inglês como atividade mais civilizadora, a essência espiritual da formação social.
Deixar o amadorismo e impressionismo para examinar as questões mais
fundamentais da existência huamana.
Lançamento da Scrutinity pelos Leavis em 1932. Centralidade moral dos estudos
ingleses.
Prestar atenção nas palavras contidas na página, importante não só por questões
estéticas ou técnicas, mas por ter relevância para a crise espiritual da sociedade.
Só na literatura ainda havia o uso criativo da linguagem em contraste com a
desvalorização filistina da linguagem e da cultura tradicional evidente na
“sociedade de massa”.
Inglês como contribuindo para fazer a Inglaterra do século XX recuar à sociedade
orgânica do século XVII.
Inglês seria a disciplina mais importante pois estava ligada ao destino cultural da
própria civilização.
Definiram o mapa da literatura inglesa. Apenas três mulheres (Austen, Woolf e
George Eliot [Mary Evans]). Todos seus autores eram conservadores.
Não buscava mudar a sociedade mecanizada mas resistir-lhe.
Buscava mudar apenas a educação. Fé na educação herdeira de Mathew Arnold.
O declínio da sociedade ocidental evitado pelo close Reading. Era um projeto
radical e absurdo.
Leavis respondeu à pergunta “Por que ler literatura?”, argumentando que isso
tornaria as pessoas melhores. Mas quando alguns anos depois descobriram que os
comandantes das tropas nazistas haviam passado suas horas de lazer lendo
Goethe, essa explicação tornou-se enfraquecida.
Como seus fundadores da classe média a Scrutinity surgiu dessa ambivalência
social, crítica em relação à elite, elitista em relação às massas do povo.
A scrutinity, como os românticos, se achavam o centro, quando eram periferia, a
verdadeira Cambridge, quando eram-lhes negados cargos acadêmicos, de
vanguarda, mas louvavam os trabalhadores agrícolas explorados do século XVII.
Como os românticos, a scrutinity, incapaz de oferecer uma alternativa política à
exploração social, elegeu uma sociedade alternativa como uma “alternativa
histórica”, uma sociedade orgânica utópica em um passado impossível de ser
retornado. A consequência no campo literário tinha a ver com a linguagem.
Defendiam que na sociedade capitalista a linguagem era anêmica, porém na
linguagem da sociedade orgânica a linguagem era vigorosa, e na verdadeira
literatura inglesa havia o contato com essa linguagem. Assim, ler literatura era ter
contato com essa linguagem cheia de vida de modo que a própria literatura, em
um certo sentido, se tornava em si mesma uma sociedade orgânica. Mais uma
ideologia social.
Crença em uma inglesidade essencial, de que certos tipos de inglês eram mais
ingleses do que outros, uma versão pequeno-burguesa do chauvinismo de classe
superior Sua tarefa era defender o robusto inglês shakespeariano de alternativas
menos viris e de outras línguas infelizes como o francês, que não conseguia
representar concretamente os significados. Uma noção de linguagem ingênua, um
mimetismo tosco que acredita que as palavras são mais sadias quando se
aproximam mais das condições das coisas.
Com essa visão de linguagem, autores latinizados (Milton, Shelley) eram expulsos
e autores mais “dramaticamente concretos” (Donne, Hopkins) exaltados. O
remapeamento literário claramente formado por preconceitos ideológicos era
mascarado pela crença da inglesidade essencial.
T. S. Eliot
T.S. Eliot julga a literatura inglesa e conclui que em algum momento do século
XVII houve uma dissociação entre linguagem e experiência sensorial, cujo
Paradise Lost é um exemplo desastre literário de um inglês anestesiado. Eliot
conclui que isso levou ao romantismo e vitorianismo com suas crenças heréticas
do gênio, do individualismo e da luz interior. Eliot critica a idologia dominante da
sociedade capitalista industrial, liberalismo, romantismo, protestantismo e
individualismo e aponta como solução um autoritarismo de extrema direita em
que deveria-se sacrificar a insignificante personalidade individual em prol de uma
ordem impessoal, a tradição.
A tradição de Eliot está relacionada a seu ponto de vista político conservador que
admira o sul dos Estados Unidos, onde raça e o sangue ainda significavam algo, e
é, como qualquer tradição, seletiva.
O principio orientador de Eliot é arbitrário e não se liga simplesmente as obras do
passado, mas as que ajudarão a escrever sua própria poesia.
A tradição se move para Eliot. Os clássicos abrem espaço para a entrada de novas
obras, mas estas apenas confirmam os valores centrais dessa mesma tradição.
Toda poesia é literatura, mas só uma certa poesia impregnada pela tradição é
literatura.
Eliot é cristão e vê a tradição como tão inescrutável quanto a graça e eleição
divina.
A tradição (ou espírito europeu) desceria sobre alguns escolhidos. Não seria
mérito destes e nada se poderia fazer acerca disso, exatamente como a graça
salvadora divina.
Eliot propunha uma sociedade rural governada por grandes famílias onde a
maioria seria cristã, mas um cristianismo em grande parte inconsciente.
Diante da falha do racionalismo europeu, Eliot propõe que o poeta explore uma
linguagem sensorial que pudesse estabelecer uma comunicação direta com os
nervos. Não importava o que o poema queria dizer realmente, o significado só
servia para deixar o leitor ocupado enquanto o poema agia sobre ele de forma
física, mas inconsciente.
A tarefa do poeta selecionar palavras que alcançassem os níveis mais primitivos
das pessoas, onde todos tinham as mesmas experiências. Uma sociedade orgânica
viva no inconsciente coletivo. Talvez houvesse símbolos e ritmos nos profundos
da psique humana que poderia ser tocado pela poesia.
Resolveria a crise da sociedade se voltando da historia para mitologia.
Tecnicas de vanguarda de Eliot em the waste land para fins retrógados ligados ao
sangue e entranhas.
Opinião de linguagem se tornado velha na sociedade industrial, afinidade com
formalismo russo.
Poesia tinha se tornado afeminada e sentimentaloide com os românticos. A
linguagem deveria ser restaurada, endurecida, o poema ideia imagista seria de três
versos como os comandos de um militar.
Essa posição crítica era política, o liberalismo da classe media terminara e seria
substituído por essa versão de disciplina mais dura, masculina, a qual Erza Pound
encontraria no facismo.
Close Reading
Proposta como antídoto ao palavrório esteticista
Atenção as palavras contidas na página, não ao contexto fora delas
Sugestão de que as críticas anteriores não haviam lido as palavras com atenção
Ilusão de que qualquer texto da linguagem, literária ou não, pode ser
compreendido isoladamente.
I. A. Richards
Crítico de Cambridge, buscava dar bases sólidas ao estudo literário nos princípios
da psicologia rigorosamente cientifica.
Cria que a ciência desnudara a mitologia e perturbara os valores tradicionais pelos
quais os homens viviam. Esse equilíbrio perturbado poderia ser reequilibrado pela
literatura. A poesia como salvação. Literatura como ideologia para reconstrução
da ordem social.
A ciência era o modelo verdadeiro de conhecimento, mas deixava a desejar no
emocional. Não respondia o porque e o que, apenas ao como.
Não acredita que as perguntas o quê e por quê sejam auténticas, mas que a
sociedade precisa delas. Como pseudo-perguntas que precisam de pseudo-
respostas para a sociedade não desmoronar. A poesia tem papel de prover essas
pseudo-respostas.
Poesia é linguagem mais emotiva do que referencial. Poesia ideal organiza o maior
numero possível de impulsos com mínimo de conflito. Fala mais de nosso
sentimento para o mundo do que do mundo em si.
Subscreve a fantasia positivista de que a ciência é um modelo puramente
instrumental, neutramente referencial.
Se as contradições históricas não podem ser solucionadas, podem ser
reconciliadas harmoniosamente como impulsos psicológicos dentro da mente
contemplativa pela literatura.
Visão de Richards é semelhante a visão vitoriana de que a organização das classes
inferiores assegurará a manutenção das classes superiores.
Empson
Empson insiste no discurso racional e contexto social, na intenção do autor e tenta
interpretar tudo da forma mais generosa, decente e inglesa possível.
Racionalista do iluminismo ao estilo antigo com simpatia pela decência e
racionalidade humana
CAPÍTULO 2 FENOMENOLOGIA, HERMENÊUTICA E TEORIA DA
RECEPÇÃO
Heidegger
Entende que o significado é histórico, então rompe com seu mestre, Husserl.
Sua obra é existencialista em oposição ao essencialismo de Husserl.
Heidegger se ocupa do próprio ser, mais particularmente do ser que é
propriamente humano. Para Heidegger, a existência humana é de um ser-no-
mundo: só somos sujeitos humanos porque estamos ligados ao nosso próximo e
ao mundo material e essas relações são constitutivas de nossa vida, não apenas
acidentais a ela.
O mundo não existe fora de nós a ser analisado racionalmente, o mundo não é
algo a que se possa escapar.
Surgimos em uma realidade que abarca tanto sujeito quanto objeto, inesgotável
em seus significados, que tanto nos gera quanto é gerada por nós.
Existência humana é um diálogo com o mundo.
O ser humano é constituído pela história, ou pelo tempo. O entendimento é
radicalmente histórico.
O conhecimento se move dentro do “pré-entendimento”. Antes de pensar
sistematicamente, já partilhamos de diversos pressupostos, e a teoria são as
abstrações dessas preocupações concretas, como um mapa é uma abstração de um
terreno real.
A existência humana é também constituída pela linguagem. A linguagem é a
própria dimensão na qual se move a vida humana, aquilo que faz o mundo ser. Só
há mundo, no sentido humano, onde há linguagem.
A linguagem tem existência própria e os humanos nela participam.
A linguagem sempre pré-existe ao sujeito individual.
Ponto central de Heidegger não é o indivíduo, mas o ser. Tenta retornar ao
pensamento pré-socrático, que separou o sujeito do objeto, e ver o ser como
abrangendo a ambos.
O homem deve dar lugar ao “Ser”, entregar-se a ele, voltar-se para a mãe terra,
fonte primária de todo o significado. Mais um expoente romântico da sociedade
orgânica. Sua filosofia de celebração da passividade prudente, da vida-na-morte
como superior à vida das massas sem rosto, o levou a apoiar Hitler (babaca).
O que tem valor dessa filosofia é o entendimento de que o conhecimento teórico
sempre surge de um contexto de interesses sociais práticos. Não conhecemos o
mundo pela contemplação, mas como um sistema de coisas inter-relacionadas.
Compartilha com os formalistas a convicção de que a arte é uma
desfamiliarização. Quando Van Gogh pinta um par de sapatos, ele os torna
estranhos, permitindo que se revele sua “condição de sapato”.
Para Heidegger, só na arte se manifesta a verdade fenomenológica, como para
Leavis, a literatura substitui um modo de ser que a sociedade moderna
supostamente perdeu.
Lukács argumenta que a historicidade de Heidegger não se distingue de a
historicidade. A história concreta não interessa a Heidegger, sua obra é o ser e o
tempo e não o ser e a história, e o tempo é uma categoria metafísica. Para
Heidegger, a verdadeira história é uma história voltada para o interior, ou
existencial, uma atitude resoluta para com a morte, uma reunião de minhas forças,
algo que substitui a história.
O facismo é a tentativa do capitalismo monopolista de eliminar contradições
intoleráveis, oferecendo toda uma história alternativa, uma narrativa de sangue e
raça autênticas. A filosofia de Heidegger não é uma justificativa lógica para o
facismo, mas ela oferece uma solução imaginária para a crise da história moderna
tal como fazia o facismo, e ambos, o facismo e a filosofia de Heidegger, possuem
aspectos em comum.
Heidegger descreve seu empreendimento filosófico como hermenêutica do ser.
E. D. Hirsch Jr.
Gadamer
O significado de uma obra literária não se esgota nunca pelas intenções de seu
autor.
Hirsch admitia a mudança de interpretação de acordo com os diferentes contextos
históricos, mas chamava isso de significação, para Gadamer, contudo, a
instabilidade é parte do caráter da própria obra.
Toda interpretação é situacional, modelada e limitada pelos critérios
historicamente relativos de uma determinada cultura. Assim, não há como se
conhecer o texto literário “como ele realmente é” (algo desanimador para Hirsch)
Toda interpretação de uma obra do passado consiste num diálogo entre o passado
e o presente.
Ouvimos a obra com a passividade heideggeriana, permitindo que ela questione
nossas preocupações atuais; mas aquilo que a obra nos diz, depende de nossa
capacidade de lhe fazer perguntas, de nosso ponto de vista na história. Dependerá,
também, de nossa capacidade de reconstruir a pergunta para a qual a obra é
resposta, pois a obra também é um diálogo com sua própria história.
O entendimento ocorre quando nosso horizonte de significados e suposições
históricas se funde com o horizonte dentro do qual a obra está colocada.
Para Gadamer é tudo fácil, pode-se entregar-se a si e à literatura, aos ventos da
história, porque essas folhas espalhadas por fim chegarão em casa, chegarão
porque sob toda a história, flui uma essência unificadora conhecida como tradição.
Como para Eliot, passado e presente, sujeito e objeto, o estranho e o íntimo, estão
unidos por um Ser que os abrange.
Gadamer não se preocupa com a possibilidade de que nossos preconceitos
culturais possam prejudicar a nossa recepção da obra do passado, já que eles vem
da própria tradição, da qual a obra literária é parte.
O preconceito, assim, é um fator positivo e não negativo.
A autoridade da própria tradição junto com nossa relfexão diligente determinará
quais de nossos preconceitos são legítimos.
A teoria de Gadamer só é válida se aceitarmos que só há uma tradição. De que
tradição ele fala?
Gadamer vê a história como um fluxo contínuo, livre de rompimentos decisivos,
de conflitos e contradições; e que os preconceitos herdados por nós (quem?) pela
tradição (qual?) devem ser recebidos.
Uma teoria goresseira da história, complacente, uma atitude sobre o mundo em
geral de que a arte significa principalmente os monumentos clássicos da alta
tradição alemã.
A história para Gamader não é uma arena de luta, descontinuidade e exclusão,
mas uma cadeia constante, um rio que flui sem parar, um clube de pessoas que
pensam da mesma maneira. As diferenças hsitóricas são admitidas com tolerância,
mas só porque são efetivamente liquidadas por um entendimento vindo da
tradição.
Posição irracionalista “a tradição tem uma justificativa que foge aos argumentos
da razão”.
A hermenêutica vê a história como um diálogo vivo entre o passado, presente e o
futuro, e busca eliminar os obstáculos a essa comunicação interminável. Ela não
pode tolerar a possibilidade de não comunicação. Não pode entrar em um acordo
com o problema da ideologia – com o fato de que o interminável diálogo da
história humana, é, frequentemente, o monólogo dos poderosos dirigidos aos
impotentes, ou com a questão de que, em es tratando realmente de um diálogo, os
interlocutores tenham diferentes posição (exemplo: homens e mulheres).
A Hermenêutica recusa-se a reconhecer que o discurso está sempre relacionado
com um poder que pode não ser sempre benigno.
Teoria da Recepção
Examina o papel do leitor na literatura.
História da moderna teoria literária, ênfase no autor (romantismo e sec. XIX),
texto (Nova Crítica) e leitor (estética da recepção).
Para que a literatura aconteça, o leitor é tão vital quanto o autor. Os textos não
estão nas estantes, são processos de significação que só se materializam na prática
da leitura.
O leitor estabelece conexões, preenche lacunas, faz deduções, comprova
suposições. O texto não passa de uma série de “dicas” para o leitor.
Não haveria obra literária sem a participação ativa do leitor, é o leitor que
concretiza a obra literária.
Qualquer obra, por mais sólida que pareça, compõe-se de hiatos que o leitor deve
preencher com uma conexão inexistente.
.O leitor aborda a oba com certos “pré-entendimentos”, um vago contexto de
crenças e expectativas dentro dos quais a obra será avaliada. Com o processo de
leitura, essas expectativas vão se modificar e o circulo hermenêutico (da parte para
o todo e retornando para a parte) começará a se solucionar.
O leitor irá selecionar e organizar elementos, destacar alguns e excluir outros,
concretizando certos itens de certas maneiras.
A leitura não é um movimento linear progressivo, nossas especulações iniciais
geram um quadro de referencias para a interpretação do que vem a seguir, mas o
que vem a seguir pode transformar retrospectivamente o nosso entendimento
original, ressaltando certos aspectos e colocando outros em segundo plano,
Cada frase abre um horizonte que é confirmado, questionado ou destruído pelo
seguinte.
Lemos simultaneamente para trás e para frente, prevendo e recordando.
A complicada atividade de leitura é realizada em muitos níveis ao mesmo tempo,
pois o texto possui segundos e primeiros planos, diferentes pontos de vista
narrativos, camadas e alternativas de significado, entre as quais nos movemos
constantemente.
Wolfgang Iser
Os textos possuem estratégias e repertórios temáticos. Para ler, precisamos estar
familiarizados com as técnicas e convenções literárias adotadas pela obra;
devemos ter certa compreensão de seus códigos.
As obras mais inspiradoras são as que mais forçam o leitor a uma nova consciência
crítica de seus códigos e expectativas habituais. Ao invés de apenas confirmar
nossas percepções, a obra, quando valiosa, violenta, transgride esses modos
normativos de ver e com isso nos ensina novos códigos de entendimento (paralelo
com os formalistas russos).
A função da leitura é levar-nos a uma autoconsciência mais profunda, catalisar
uma visão crítica de nossas próprias identidades. É como se aquilo que lemos, ao
avançarmos por um livro, seja nós mesmos.
Teoria de Iser baseia-se em uma ideologia liberal humanista: na convicção de que
na leitura devemos ser flexíveis e ter uma mente aberta, preparados para
questionar nossas crenças e deixar que sejam modificadas.
Ideologia liberal não tão liberal assim. Diz que o leitor com compromissos
ideológicos fortes não será adequado, pois não deixará que as obras o
transformem.
O leitor ideal também teria de ser um liberal e o ato de ler apenas produz a espécie
de sujeito que esse ato pressupõe. Além disso, se nossas crenças são tão
superficiais, a transformação sofrida não terá sido nada demais.
Tudo em relação ao sujeito leitor é passível de questionamento no ato de leitura,
exceto que tipo de sujeito (liberal) ele é: esses limites ideológicos não podem ser
criticados, pois o modelo de Iser cairia.
A pluralidade e abertura do processo de leitura são possíveis porque pressupõem
um certo tipo de unidade fechada que sempre permanece: a unidade do sujeito
leitor, que é violada e transgredida apenas para ser devolvida, de modo mais
completo, a si mesma.
Como em Gadamer, podemos incursionar por território estrangeiro porque
estamos secretamente em nosso próprio território.
O tipo de leitor que a literatura mais afetará é aquele que menos precisa, o que já
é “transformado” desde o início, que é eficiente em operar certas técnicas de
crítica e reconhecer certas convenções literárias.
O que consideramos como “obra literária” estará sempre definida de acordo com
aquilo que se considera “técnicas de crítica adequadas”.
O círculo hermenêutico é vicioso, em que obtemos da obra grandemente parte
daquilo que nela colocamos. Para poder romper os códigos, a literatura dependerá
desse leitor já dado, que reconhece as técnicas e é aberto às mudanças.
O circuito fechado entre o leitor e a obra reflete a condição fechada da instituição
acadêmica da Literatura, à qual só podem recorrer certos tipos de textos e leitores.
Diferentes leitores têm liberdade de concretizar a obra de diferentes maneiras, mas
o leitor deve construir o texto de modo a torna-lo internamente coerente. Modelo
funcionalista: as partes devem ser capazes de se adaptar coerentemente ao todo.
Essa visão do todo coerente é dogmática. Não há nada na obra literária que nos
faça acreditar que nela deva sempre haver um todo coerente. Essa percepção de
coerência é um preconceito arbitrário, tem por trás a psicologia da Gestalt
preocupada em integrar as percepções isoladas num todo inteligível.
As indeterminações textuais devem ser normatizadas (expressão autoritária de
Iser). Iser fala ainda em redução do potencial polissêmico da obra, uma maneira
estranha para um crítico pluralista falar.
Essa escolha da negatividade da arte é questionável, pois boa parte da literatura
não desafia e sim confirma os valores sociais hegemônicos. Além disso, localizar
o poder da arte na negação, transgressão, estranhamento, tanto para Iser como para
os formalistas deixa implícita uma atitude definida para com os sistemas social e
cultural de nossa época, atitude essa que, no liberalismo moderno, equivale a
suspeitar dos sistemas de pensamento como tais.
Ingarden
Supóe dogmaticamente que as obras literárias formam um todo orgânico e que o
leitor ao completar suas indeterminações, completa também essa harmonia.
O leitor deve completar os diferentes segmentos e camadas de modod adequado,
a maneira dos livros infantis que trazem figuras para serem coloridas de acordo
com as instruções do fabricante.
O texto já vem com suas indeterminações e o leitor deve concretizá-lo
“corretamente”.
Barthes
Contrasta com Iser como um hedonista francês e um racionalista alemão.
Exige uma atitude mais erótica do que hermenêutica do texto.
O leitor conhece o prazer do texto na exuberância da linguagem, deliciando-se
com a tessitura das palavras (ou seja, visão babaca punheteira da literatura).
Longe de devolver o leitor a si mesmo, o texto modernista detona a identidade
cultural segura do leitor, numa mistura de benção da letura e orgasmo sexual
(coisa de zé droguinha).
Hedonismo indulgente de vanguarda de Barthes é escroto frente a um mundo em
que tantos tem necessidade não só do livro.
Enquanto Iser nos oferece um modelo normativo e autoritário que freia o potencial
da linguagem, Barthes nos apresenta uma experiência privada, a-social,
essencialmente anárquica.
Tanto Iser e Barthes ignoram que o leitor não se encontra com o texto no vácuo;
todos estão inseridos em contextos sociais e historicamente situados, e a maneira
pela qual interpretam as obras literárias está profundamente condicionada por
esses fatos. Iser até tem consciência da dimensão social da leitura, mas prefere
concentrar-se em seus aspectos estéticos.
Jauss
Procura situar a obra em um horizonte histórico para então explorar as relações
entre tal horizonte com os variáveis horizontes dos próprios leitores históricos.
Objetivo de criar uma história literária não focada nos autores, tendências ou
influencias literárias, mas na literatura, tal como definida e interpretada pelos seus
vários momentos de “recepção” histórica.
As obras não permanecem constantes, enquanto suas interpretações se modificam;
os próprios textos e tradições literárias sofrem modificações ativas, de acordo com
os vários horizontes históricos nos quais elas são recebidas.
Sartre
Produziu um estudo histórico mais detalhado sobre a recepção literária (O que é
literatura? 1948).
A recepção de uma obra nunca é um fato exterior, uma questão congencial de
resenhas e vendas de livros. A recepção é uma dimensão construtiva da própria
obra.
Todo texto literário é construído a partir de um certo sentimento em relação ao
seu público potencial e inclui uma imagem daqueles a quem se destina; encerra
em si mesmo o que Iser chama de leitor implícito.
O consumo da produção literária, como em qualquer outra, é parte do processo de
produção.
Não é apenas a questão de que o autor tem necessidade de um público, mas que a
linguagem em si já considera implícita uma gama de possíveis públicos.
Mesmo que o autor seja indiferente a quem irá ler sua obra, há um certo tipo de
leitor já implícito no ato de escrever, funcionando como uma estrutura interna do
texto.
O estudo de Sartre propõe a pergunta “para quem se escreve?” de um ponto de
vista mais histórico do que existencial. Seu estudo começa com o destino do
escritor francês no século XVII até a consciência inata da literatura do século XIX,
dirigida a uma burguesia que a desprezava. Termina com o dilema do escritor
moderno que não pode dirigir sua obra nem à burguesia e nem à classe operária,
nem a algum mito do “homem em geral”.
Fish
A teoria da recepção tem o problema do como falar das possibilidades de
concretização sem já tê-las concretizado? Ingarden leva em conta a dificuldade
mas não a responde. Iser permite ao leitor boa dose de liberdade, mas não total,
pois as palavras devem exercer um grau determinado sobre as reações do leitor
para não cair na anarquia total. Se a obra não tiver uma estrutura determinada que
delimita certas indeterminações, então a obra seria o que o leitor quisesse
construir? Stanley Fish não vê problema nisso.
Não há obra literária objetiva. Bleak House, de Dickens, é apenas todas as
explicações possíveis do romance, que já foram, ou serão, dadas.
O verdadeiro escritor é o leitor. Descontente com a co-participação Iseriana, os
leitores agora derrubam os patrões e se instalam no poder.
A leitura não é descobrir o que diz um texto, mas um processo de sentir aquilo
que ele nos faz.
Noção pragmática da linguagem: uma inversão linguística pode causar um
sentimento (surpresa, por exemplo), e o papel do crítico é explicar as reações
experimentadas pelo leitor a uma sucessão de palavras na página. Mas o que o
texto nos faz é uma questão do que fazemos ao texto, uma questão de
interpretação.
Objeto da crítica é a estrutura da experiência do leitor, não uma estrutura
“objetiva” a ser encontrada na própria obra.
Tudo no texto (gramática, significados, unidades formais) é produto da
interpretação.
Para evitar a anarquia total, recorre as “estratégias de interpretação” que os leitores
tem em comum e que governarão suas reações pessoais. Seus leitores são
informados ou familiarizados, formados em instituições acadêmicas, por isso as
interpretações não divergirão tanto entre si. Ainda assim, admite, que não há na
implícito no texto, nada imanente à linguagem do texto esperando ser liberado
pela interpretação. Para Fish, Iser se deixou levar por uma ilusão.
Northrop Frye
Na década de 1950 a sociedade norte-americana se tornava rigidamente científica
e empresarial. Logo a Nova Crítica passou a parecer demasiadamente modesta
para ser considerada uma disciplina acadêmica rígida.
O crítico canadense Northrop Frye lança Anatomy of Criticism em 1957 que tanto
trazia a noção formalista da literatura como objeto estético como organizava todos
os gêneros literários.
Frye defende um sistema objetivo formado pela própria literatura. Cria que a
literatura funcionava com certas leis objetivas que a crítica poderia estudar. Essas
leis eram os vários modos, arquétipos, mitos e gêneros a partir dos quais todas as
obras literárias se estruturavam.
Para estabelecer seu sistema literário, Frye elimina os subjetivos juízos de valor.
Seu sistema também exclui toda a história que não seja a literária, argumentando
que obras literárias são feitas de outras obras literárias e não de qualquer coisa
fora do próprio sistema literário.
Os Novos Críticos argumentavam que a literatura proporcionava algum
conhecimento de mundo, Frye insiste em que a literatura é uma “estrutura verval
autônoma”, totalmente isolada de qualquer referência além de si mesma. Tudo o
que o sistema faz é reformular suas unidades simbólicas em suas relações mútuas,
e não em relação a qualquer tipo de realidade exterior a ela.
A literatura não deve ser vista como forma de auto-expressão de autores isolados,
ela nasce do sujeito coletivo da raça humana, razão pela qual materializa os
“arquétipos” ou figuras de significação universal.
A obra de Frye possui aversão ao mundo social real, à própria história. Para ele, a
história é um determinismo e só na literatura é que se pode ser livre.
Abordagem de Frye: esteticismo extremado com classificação eficiente de
“cientificidade”.
Frye é, por um lado, anti-humanismo pois descentraliza o sujeito individual
humano e centraliza tudo no próprio sistema literário, por outro lado, é o trabalho
de um humanista cristão dedicado (Frye é clérigo), para quem a dinâmica que
impulsiona tanto a literatura como a civilização – o desejo – só encontrará
realização plena em Deus.
Como Arnold, Leavis, Eliot, Husserl e outros, Frye apresenta a literatura como
uma versão deslocada da religião; um paliativo para a falência da ideologia
religiosa que proporciona vários mitos relevantes para a vida social.
Eagleton avalia que toda a literatura, de uma forma ou outra, é capaz de nos dizer
como devemos votar. Frye situa-se na tradição humanista liberal de Arnold e
deseja uma sociedade livre, sem classes e urbana. A sociedade que que é
interessante para seus próprios valores liberais de classe média.
Frye é, em certo sentido estruturalista, pois busca ocupar-se das estruturas e das
leis gerais pelas quais essas estruturas funcionam. Mas o estruturalismo
propriamente dito defende que as unidades individuais de qualquer sistema só têm
significado em virtude de suas relações mútuas, algo que Frye não defende.
O Estruturalismo
Não basta ver as coisas estruturalmente, o estruturalismo defende que o
significado de cada imagem só existe em relação às outras imagens. As imagens
não tem um significado substancial, apenas relacional. Para explicar um poema,
não deve-se sair do poema, as suas imagens se explicam e se definem mutuamente.
A semelhança do Formalismo Russo, o Estruturalismo separa o conteúdo real da
história e se concentra totalmente na forma. Ou seja, enquanto a estrutura de
relações entre unidades em uma obra for preservada, não importa quais itens
selecionados (um exemplo seria fazer uma animação de Romeu e Julieta com
animais falantes. Não importa que não são mais homens e mulheres, o conteúdo,
o que importa é que a estrutura da narrativa seja mantida. Num poema não importa
os sentimentos e o conteúdo, mas apenas as estruturas, os paralelismos, as
oposições, etc).
As relações entre os vários tópicos da história podem ser de paralelismo, oposição,
inversão, equivalência, etc. Desde que a estrutura de relações permanece intacta,
as unidades individuais são substituíveis.
3 pontos: 1) Para o estruturalismo não importa que a história seja o que se
considera grande literatura. Neste método não importa o valor cultural de seu
objeto. O método é analítico e não avaliativo. 2) O estruturalismo rejeita o
significado óbvio de uma história e em seu lugar procura isolar certas estruturas
profundas que não são evidentes à superfície (afronta o bom senso). 3) Sendo que
o conteúdo específico de um texto é substituível, em um certo sentido, o conteúdo
da narrativa é a sua estrutura. Isso equivale a afirmar que a narrativa refere-se, de
certo modo, a si mesma; que seu assunto são suas próprias relações internas.
O Esturutralismo literário floresceu na década de 960 como uma tentativa de
aplicar à literatura os métodos e interpretações da linguística de Saussure. Mas o
estruturalismo não se limita a literatura. O estruturalismo é uma tentativa de
aplicar a teoria linguística de Saussure a outros objetos que não a própria língua.
Pode-se analisar um mito, uma luta livre, um sistema de parentesco tribal, um
quadro a óleo, até mesmo o menu de um restaurante. A análise estruturalista
tentará ressaltar a série de leis pelas quais os signos se combinam em significados
nessas áreas diversas. Tal análise deixará de lado boa parte daquilo que os signos
realmente dizem e em lugar disso se concentrará em suas relações mútuas internas.
Para Frederic Jameson o Estruturalismo é uma tentativa de “repensar tudo em
termos linguísticos”.
Saussure influenciou o Formalismo Russo, mas este não era um estruturalismo,
pois embora ambos vejam o texto literário estruturalmente e transfiram a atenção
do referente para o signo em si mesmo, o estruturalismo não se interessa pela
significação como um elemento diferencial (estranhamento).
Roman Jakobson
Influenciou tanto o Formalismo Russo como o Estruturalismo.
Formulou a noção de que a linguagem poética consistia acima de tudo de uma
certa relação autoconsciente da linguagem para consigo mesma.
Ressalta a distinção implícita em Saussure entre o metafórico e o metonímico.