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Fevereiro, 2017
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Em memória à minha avó, Arlete Hodolin
Corrêa.
AGRADECIMENTOS
minha família, sobretudo, aos meus pais pela oportunidade de estudar e por me
ensinarem bondade, honestidade e amor – à minha namorada, por todo carinho e apoio
The monograph searches for answering through doctrinal search if the precedent
fits the Brazilian jurisdiction, if the Brazilian Justice is approaching the common law and
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 10
CAPÍTULO I - O COMMON LAW E O CIVIL LAW ..................................................... 11
1.1. O common law .............................................................................................. 11
INTRODUÇÃO
ocidentais, common law e civil law, fizeram com que o precedente fosse valorizado pelo
sistema de precedentes do Código de Processo Civil, uma vez que os arts. 926 e 927
improcedência liminar do pedido (art. 332 do CPC) e na tutela de evidência (art. 311 do
CPC).
do século XII pelas decisões das jurisdições reais. 1 Sustenta-se sobre a premissa do
precedente como sendo um evento passado, em direito, quase sempre uma decisão,
importado para a maior parte de países de língua inglesa, como os Estados Unidos da
europeus até os séculos XII e XIII. A Inglaterra fez parte do Império Romano do século
vitória da batalha de Hastings; quando rei, declara querer preservar os direitos anglo-
tanto frente aos vassalos de origem normanda como aos antigos chefes anglo-
1
GILISSEN, John. Introdução histórica do direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 7ª ed,
2013, p. 207.
2
Duxbury, Neil. The nature and the authority of the precent. Cambridge, Cambridge University
Press, 2008, p. 1.
12
borough customs.
privado romanos não podiam ser utilizados no direito inglês e havia uma profunda
Lembrar ao tribunal que já se decidiu um caso em tal sentido era o grande recurso dos
common law.
3
GILISSEN, John. Introdução histórica do direito, cit., p. 210.
4
GILISSEN, John. Introdução histórica do direito, cit., p. 209.
5
GILISSEN, John. Introdução histórica do direito, cit., p. 211.
13
No princípio, se sustentou que o direito era declarado pelos juízes, seu principal
defensor foi Blackstone.6 Sob sua ótica, havia o direito não escrito, lex non scripta, que
guardava os costumes dos povos, e o direito escrito, lex scripta ou statute law; supunha-
chegou a considerá-la uma “ficção infantil”.8 De fato, a teoria declarativa peca em vários
que o direito está em constante mudança e em grande parte pelas decisões judiciais.
humanos, a exemplo, o caso National Westminster Bank v Spectrum Plus em 2005, Lord
Nicholls afirmou:
6
BLACKSTONE, William. Commentaries on the law of england (fac-símile da 1a. edição, de
1765), Chicago: The University of Chicago Press, 1979, p. 69.
7
John Austin, jurista inglês. Sua obra inclui The Province of Jurisprudence Determined e Lectures
on Jurisprudence or the Philosophy of Positive Law.
8
AUSTIN, John, Lectures on Jurisprudence, or, The Philosophy of Law (J Murray 1895) 321,
apud BEEVER, Allan. The declaratory theory of law, Oxford: Oxford Journal of Legal Studies,
2013, pp. 421–444.
9
BEEVER, Allan. The declaratory theory of law, cit. p. 423.
10
MARINONI, Luiz Guilherme. Aproximação crítica entre as jurisdições de civil e de common law
e a necessidade de respeito aos precedentes no Brasil, Curitiba: Revista da Faculdade de Direito
- UFPR, n.47, 2008, p.29-64.
14
“O common law é um direito feito pelos juízes. Por séculos juízes foram
responsabilizados de manter a lei lado a lado das atuais condições e
expectativas sociais. Essa ainda é nossa posição. O contínuo, mas
limitado desenvolvimento do common law dessa maneira é parte
integral da função constitucional do Judiciário. Os juízes não foram
exonerados dessa responsabilidade, o common law será o mesmo
agora como foi no reinado do rei Henry II. Por isso, o common law é
um instrumento vivo da lei, reagindo aos novos eventos e novas ideias,
e assim capaz de dar aos cidadãos deste país um sistema de justiça
prático ao tempo em que eles vivem”. (tradução nossa) 11
destas nações.
11
“The common law is judge-made law. For centuries judges have been charged with the
responsibility of keeping this law abreast of current social conditions and expectations. That is
still the position. Continuing but limited development of the common law in this fashion is an
integral part of the constitutional function of the judiciary. Had the judges not discharged this
responsibility, the common law would be the same now as it was in the reign of King Henry II. It
is because of this that the common law is a living instrument of law, reacting to new events and
new ideas, and so capable of providing the citizens of this country with a system of practical
justice relevant to the times in which they live.”. (tradução nossa). Disponível em
http://swarb.co.uk/national-westminster-bank-plc-v-spectrum-plus-limited-and-others-hl-30-jun-
2005/ acessado em 17/01/2017.
12
Suprema Corte inglesa.
13
“We do not believe in fairy tales any more. So we must accept the fact that for better or worse
judges do make law – and tackle the question how do they approach their task and how they
should approach it.” (tradução nossa). apud Genn, Hazel. Common law reasoning and
institutions, Londres: University of London, 2015, p. 48.
15
nasceu com o common law, este sobreviveu e desenvolveu-se por muitos séculos até
obrigatórios na Inglaterra.14
stare decisis pode ser aplicado em um sistema jurídico já existente, assim como se deu
originariamente.
Nos séculos XVIII e XIX, o statute law, como sendo as normas positivadas e
regulamentadas pelo Poder Legislativo, existe mas não figura como fonte superior no
PERDOMO, não é a codificação das leis que distingue o sistema inglês do sistema
Os códigos existem na maioria dos sistemas de civil law, como também existem
que qualquer país de sistema civil law, embora esteja em jurisdição do common law.16
14
GILISSEN, John. Introdução histórica do direito, cit., p. 211.
15
GILISSEN, John. Introdução histórica do direito, cit., p. 215.
16
“Nor is the existence of something called a code a distinguishing criterion. California has more
codes than any civil law nation, but California is not a civil law jurisdiction. Codes exist in most
civil law systems, but bodies of systematic legislation covering broad areas of te law and
indistinguishable in appearance from European or Latin American codes also exist in a number
of common law nations. Conversely, a civil law system need not have codes. Hungary and Greece
were civil law countries even before they enacted their civil codes” MERRYMANN, John Henry e
PEREZ-PERDOMO, Rogelio,The civil law tradition, Stanford: Stanford Press University,
California, 1969, p. 27.
16
XII. O estudo deste direito é quase inteiramente baseado no estudo do direito romano e
até então, era consuetudinário, sempre cercado das incertezas e das inseguranças de
um direito não-escrito.
Esse direito nascente, o direito erudito, era muito mais completo que os direitos
mas que eram vitais para o desenvolvimento econômico. Com isso, tornou-se finalmente
o direito comum à Europa continental (ius commune), atuando como direito supletivo ao
Já no século XVI, esse novo direito já aparecia como fonte mais ou menos
oficial de muitos países europeus, a romanização foi maior na Alemanha, na Itália, nas
Na França, o direito erudito chegou com menos intensidade, mas foi aceito
tendo menor influência. Por fim, a Inglaterra esquivou-se de sua aplicação em função
17
GILISSEN, John. Introdução histórica do direito, cit., p. 203.
17
herdada, o cargo era visto como propriedade privada e seu uso podia ser direcionado
ao lucro pessoal.18
separação das funções dos poderes, limitando, sobretudo, o poder dos juízes para que
servissem apenas como bouche de la loi19, a boca da lei. Montesquieu em sua obra
“Os juízes da nação não são, como nos foi dito, senão a boca que
pronuncia as palavras da lei; são seres inanimados que não podem
moderar nem a força nem o rigor”20 (tradução nossa)
mecânico sem margens à inovação da lei, visto que seus cargos não haviam sido
outorgados pelo povo. O poder de decidir deveria ser limitado sempre àquilo que o
Para que houvesse a validação desta ideia, os códigos deveriam ser claros e
reservar ao juiz somente a função de aplicador da lei para solucionar o caso concreto
18
CAPPELLETTI, Mauro. ¿Renegar de montesquieu? la expansion y la legitimidad de la justicia
constitucional, tradução de Pablo de Luis Durán, Madri: Revista Española de Derecho
Constitucional, 1986, p. 21.
19
MARINONI, Luiz Guilherme. Aproximação crítica entre as jurisdições de civil e de common
law e a necessidade de respeito aos precedentes no Brasil, cit., p. 10.
20
“les juges de la nation ne sont, comme nous avons dit, que la bouche qui prononce les paroles
de la loi ; des êtres inanimés qui n’en peuvent modérer ni la force ni la rigueur“ MONTESQUIEU,
De l'Esprit des lois, oeuvres complètes édition édouard laboulaye garnier frères, Paris: Institut
Des Libertés, Livre XI, Chapitre VI.
21
MARINONI, Luiz Guilherme. Aproximação crítica entre as jurisdições de civil e de common
law e a necessidade de respeito aos precedentes no Brasil, cit. p. 28.
18
Esta concepção foi largamente difundida como paradigma aos países que
não questionadas à aplicação do direito.22 A este respeito, ensina Nelson Nery Junior:
22
““O paradigma liberal do direito expressou, até as primeiras décadas do século XX, um
consenso de fundo muito difundido entre os especialistas em direito, preparando, assim, um
contexto de máximas de interpretação não questionadas para a aplicação do direito. Essa
circunstância explica por que muitos pensavam que o direito podia ser aplicado a seu tempo,
sem o recurso a princípios necessitados de interpretação ou a ‘conceitos-chave’ duvidosos”
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, p. 313.
19
Portanto, hoje não se vê mais o juiz como a “boca da lei”, pois a interpreta e a
analisa em função dos valores sociais que constituem sua sociedade, atentando sempre
França, exigiu-se do juiz uma postura criativa e um papel social muito mais firme e
Na França, por sua vez, o juiz foi limitado a mero aplicador da lei e dele tolhida
existente, como também limitar os poderes estatais, Coke, em sua célebre passagem,
declara:
23
NERY JUNIOR, Nelson. Comentários ao código de processo civil, São Paulo: Revista dos
Tribunais 2015, p. 1836.
24
“…And it appears in our books, that in many cases, the common law will control acts of
Parliament, and sometimes adjudge them to be utterly void: for when an act of Parliament is
against common right and reason, or repugnant, or impossible to be performed, the common law
will control it and adjudge such act to be void” (tradução nossa) Disponível em <http://press-
pubs.uchicago.edu/founders/print_documents/amendV_due_processs1.html>.
Acessado em 18/01/2017.
20
Estado espalhando-se pela extensa maioria dos Estados modernos, uma ideologia que
A Constituição americana, de fato, foi o grande marco jurídico moderno por ter
incertezas institucionais.
nomeações a cargos oficiais no Distrito de Columbia, que foram aprovadas pelo Senado,
mas não foram nomeados até a posse do novo presidente. Quando Thomas Jefferson
assumiu a presidência, ele ordenou a John Madison, seu secretário de Estado, que não
legalmente apontado ao cargo de juiz de paz e que, portanto, possuía direito de ação.
Quanto à segunda, porque Marbury tinha direito à sua nomeação, a lei deveria garantir-
lhe um remédio. Assim, resolveu-se que cabiam às cortes garantir os direitos individuais,
de constitucionalidade aos seus sistemas jurídicos herdaram para si esta nova visão do
25
Disponível em
http://www.pbs.org/wnet/supremecourt/democracy/landmark_marbury.html. Acessado
em 18/01/2017.
26
Disponível em http://law2.umkc.edu/faculty/projects/ftrials/conlaw/marbury.HTML.
Acessado em 18/01/2017.
22
por dois modelos: o controle preventivo, passando a norma infraconsticional pelo crivo
Executivo (art. 66, §1º, da CF/88); e o controle repressivo, realizado tanto pelo Poder
garantindo, assim, tanto à Corte Superior, quanto a todos os demais juízes, o dever de
proteção da Constituição.28
realizado por ação direta, lato sensu, ao Supremo Tribunal Federal (controle
difuso).
27
BARROSO, Luís Roberto. A Americanização dos Direito Constitucionais e Seus Paradoxos:
Teoria e Jurisprudência Constitucional no Mundo Contemporâneo. Disponível em
http://www.editoraforum.com.br/ef/index.php/noticias/a-americanizacao-do-direito-
constitucional-e-seus-paradoxos-teoria-e-jurisprudencia-constitucional-no-mundo-
contemporaneo/ acessado em 19/01/2017.
28
MENDES, Gilmar. Direito constitucional, módulo V, Escola da Magistratura do Tribunal
Regional Federal da 4ª região, 2006 p. 27.
23
inconstitucionalidade), seja por ação direta ou de modo incidental (art. 28, parágrafo
8º e 9º).
alíneas a e b.30
29
MARINONI, Luiz Guilherme. Aproximação crítica entre as jurisdições de civil e de common
law e a necessidade de respeito aos precedentes no Brasil, cit. p. 42.
30
MENDES, Gilmar. Direito constitucional, cit., p. 9.
24
modelo foi claramente influenciado pelo exemplo norte-americano. Rui Barbosa chega
a afirmar:
Poder Judiciário”, empregando efeito erga omnes à decisão proferida pelo Supremo
31
BARBOSA, Rui. Os actos Inconstitucionaes do Congresso e do Executivo ante a Justiça
Federal, Rio de Janeiro, Companhia Impressora, 1893, p. 83. Disponível em
http://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/21512/Os_actos_inconstitucionaes.pdf acessado em
01/02/2017.
32
MENDES, Gilmar. Direito constitucional, cit., p. 11.
25
extraordinários quando:
provocar o Supremo Tribunal Federal para fins de interpretação de lei ou ato normativo
federal ou estadual. 33
constitucionalidade brasileiro.
33
MENDES, Gilmar. Direito constitucional, cit. p. 18.
26
constitucionalidade.
incidental.35
especiais repetitivos.
34
MENDES, Gilmar. Direito constitucional, cit. 19.
35
LENZA, Pedro. Direito Constitucional, São Paulo: editora Saraiva, 6ª ed., 2012, p.120.
27
Isto é considerado pela doutrina uma “convergência evolutiva” do common law e do civil
law.36
2.4. Neoconstitucionalismo
36
CAPPELLETTI, Mauro. Juízes Legisladores?, Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor,
1993, p. 123.
37
CAPPELLETTI, Mauro. cit. p. 126.
38
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo, O Triunfo Tardio do Direito Constitucional
no Brasil, artigo, 2006, p. 7. Disponível em http://www.conjur.com.br/2006-abr-
26/triunfo_tardio_direito_constitucional_brasil
39
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo, O Triunfo Tardio do Direito Constitucional
no Brasil, cit. p. 6.
28
constitucional, não trazendo somente uma inovação de cunho técnico, mas um símbolo
Isso fez com que o STF e outras cortes nacionais se pronunciassem sobre os
mais variados temas sociais e políticos nos quase trinta anos de vigor da Constituição
40
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo, O Triunfo Tardio do Direito Constitucional
no Brasil, cit. p. 44.
41
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo, O Triunfo Tardio do Direito Constitucional
no Brasil, cit. p. 4.
29
DE 2015
material. A lei continua a ser sua fonte principal. Todavia, problemas decorrentes da
e é a lei processual ordinária que autoriza o julgamento pelos tribunais com fundamento
afirme não se tratar de fonte primária de direito. Nesse sentido, THEODORO JR.:
ser construída a partir da lei ou do direito positivo lato sensu mesmo quando vislumbra-
42
THEODORO JR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito
processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum, vol. I, São Paulo: Editora
Forense, 56ª edição, versão digital, 2015, p.58
43
THEODORO JR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito
processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum, cit. p.62.
31
precedente, jurisprudência e súmula. Ensina o prof. José Rogério Cruz e Tucci que
O precedente stricto sensu, por sua vez, é um caso anterior julgado que revela
uma regra de julgamento, com potencial para tornar-se um leading case. As súmulas
sucessivos.45
assunção de competência.
988 do Novo Código de Processo Civil, visto não haver na Constituição Federal
44
THEODORO JR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito
processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum, cit., p.62
45
CRUZ E TUCCI, José Rogério. Súmula, Precedente e Jurisprudência na Experiência do Novo
CPC, Ciclo de Palestras sobre o Novo CPC, 2016, p. 23. Disponível em
http://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/103108/S%C3%BAmula,%20precedente%20e%20juri
sprud%C3%AAncia%20na%20experi%C3%AAncia%20jur%C3%ADdica%20brasileira%20e%2
0no%20novo%20CPC.pdf acessado em 29/01/2017.
32
tese que forma o julgado47, já o obiter dictum são passagens presentes na decisão que,
46
CRUZ E TUCCI, José Rogério. Súmula, Precedente e Jurisprudência na Experiência do Novo
CPC, Ciclo de Palestras sobre o Novo CPC, cit. p. 25.
47
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. São Paulo, Editora Revista dos
Tribunais, 2011, p. 222.
48
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios, cit., p. 327.
33
íntegra e coerente.
econômicas da sociedade.50
49
“Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e
coerente.
§ 1o Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais
editarão enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante.
§ 2o Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas dos
precedentes que motivaram sua criação.”.
50
NERY JUNIOR, Nelson. Comentários ao Código de Processo Civil, cit. p. 1832.
51
NERY JUNIOR, Nelson. Comentários ao Código de Processo Civil, cit p. 1832.
34
Por fim, as circunstâncias fáticas de que trata o parágrafo 2º do art. 926 do CPC
reforçadas pelo atual código, criou a figura do precedente à brasileira, nome adotado
por Julio Cesar Rossi como sendo: a) súmula vinculante; b) incidente de resolução de
O art. 927 do Código de Processo Civil52 é, sem dúvidas, uma grande inovação
obrigatoriedade.53
princípio do le juge est la bouche de la loi. À época, o juiz era visto como a boca da lei
52
“Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:
I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas
repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do
Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.
§ 1o Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489, § 1o, quando
decidirem com fundamento neste artigo.
§ 2o A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em julgamento de casos
repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas e da participação de pessoas, órgãos ou
entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese.
§ 3o Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos
tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver
modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica.
§ 4o A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese adotada
em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de fundamentação adequada e
específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da
isonomia.
§ 5o Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por questão jurídica
decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede mundial de computadores.”.
53
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim e outros. Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo
Civil, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1º ed., 2015, p. 927.
35
O texto do art. 927 usa o verbo observar ao referir-se à postura a ser tomada
STF, que vem expressamente prevista na Constituição Federal em seu art. 103-A.
54
NERY JUNIOR, Nelson. Comentários ao Código de Processo Civil, cit., p. 1836.
36
gigantismo litigioso.
jurídica.57
Processo Civil).
decisão liminar do mérito para julgar improcedente o pedido quando este contrariar: a)
55
NERY JUNIOR, Nelson. Comentários ao Código de Processo Civil, cit., p. 1837.
56
DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Salvador: Editora Jus Podivm, 13ª ed.,
versão digital, 2015, p. 625
57
DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, cit, 605.
58
Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação
do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;
37
assunção de competência.
Profere-se, aqui, uma decisão contra o réu antes de sua citação, sendo uma
CPC.59
ao art. 273, II, do CPC/73. Comparando-a com a tutela de urgência, igualmente se exige
Contudo, não basta somente demonstrar o direito – seu inciso II reforça o novo
sistema de precedentes dizendo que o pedido poderá ser julgado liminarmente se a tese
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção
de competência;
IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.
§ 1o O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo,
a ocorrência de decadência ou de prescrição.
§ 2o Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença, nos
termos do art. 241.
§ 3o Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.
§ 4o Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a citação do
réu, e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para apresentar contrarrazões, no
prazo de 15 (quinze) dias.
59
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. cit. p. 560.
60
“Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de
perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando:
(...)
II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese
firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante;”
61
NERY JUNIOR, Nelson. Comentários ao Código de Processo Civil, cit., p. 871.
38
decisão, mas também por estar em concordância com a ideia de respeito aos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde o século XVI, o stare decisis foi amplamente adotado pelo sistema inglês
e, a partir do século XIX, muitos países de jurisdição civil law, de algum modo,
inovações, os arts. 926 e 927 criaram o dever de observância dos precedentes pelos
Judiciário a legislar, como em seu art. 103-A que traz a possibilidade do Supremo
REFERÊNCIAS
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School Faculty Scholarship Press, 1997. Disponível em
http://digitalcommons.law.yale.edu/fss_papers. Acessado em 05/02/2017.
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DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Salvador: Editora Jus Podivm, 13ª
Duxbury, Neil. The nature and the authority of the precent. Cambridge, Cambridge
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LENZA, Pedro. Direito Constitucional, São Paulo: editora Saraiva, 6ª ed., 2012
43
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Genn, Hazel. Common law reasoning and institutions, Londres: University of London,
2015
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44
THEODORO JR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito
NERY JUNIOR, Nelson. Comentários ao código de processo civil, São Paulo: Revista