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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

Editorial
Essa é a terceira edição de nossa revista, e a terceira vez já não precisa mais tanto da energia
inicial, mas agora começamos a estimular a energia necessária da manutenção, cortar o desnecessário
e aí, conseguir manter o funcionamento ideal. Mas às vezes a restrição acaba sendo mais potente do
que esperamos, e, para vencer a força da inércia, aumentemos a força da vontade! Ano de 2018
começou com tristezas para a comunidade, perdemos 2 grandes autores dentro do cenário thelemita,
David Cherubim (Frater Anti-Christos) e Maggie Ingalls (Soror Nema) celebraram a Grande Festa e
agora ficam consagrados eternamente na História, nos fazendo lembrar que a Imperatriz cria a nova
vida a partir daquela que se foi, e para tal preparamos singelas homenagens em forma de tradução.
Também não foram poucos os entraves nesses janeiro e fevereiro do ano, mas, homenageando o novo
Ano do Imperador, nos mantivemos motivados, criando energia para sair da inércia e montar essa nova
edição. Uma idéia ressonante ao Tzaddi deu um oxigênio novo a revista, pedir a nossa comunidade,
poemas e peças autorais, e como se fosse a benção do próprio Imperador, nos foi agraciado diversos
materiais contemporâneos, originais e únicos, além de um poema inédito do Motta. Com a entrada do
sol em Áries celebramos não só o Equinócio Vernal assim como o Ano Novo Thelemita, agora V:IV
aproveitamos para agradecer todos aqueles que já nos ajudaram até agora e nos brindaram com seus
textos os frati QVIF, Opus e Ad Astra e os que quiseram mas não puderam, na próxima estaremos
juntos, esse sentimento de união e carinho é um laço forte para nós, que acreditamos representar bem o
que é o novo Aeon!

Esperamos que vcs gostem do material e saibam que comentários são bem-vindos, não só para os do
editorial, mas também diretamente aos nossos autores, pois só assim a rede da comunidade cria mais
nós.

Equipe 777 - AlHudHud, Amaranthus, H418, I156

Pintura: H. A. Brendekilde - A Wooded Path in Autumn

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Índice
Poema sem título …………………………………………….………..….. 04

O controle do plano astral …………………………………….…….…….. 05

Invoque Lá que eu Invoco Cá …………………………………………….. 08

Thelema com Responsabilidade: Osíris é um deus negro ……………… 13

Confessio …………………………………………………………….…… 16

A nova febre dos céus ……………………………………………….……. 17

(Des)Iterações ………………………………………….…………………. 22

Thelemagick: IAO, Morrer para Viver ……...…………………………… 23

Entre Nietzsche e Kant – o lugar da vontade na moral thelemita ………… 27

Teoria, técnica e performance …………………………………………..… 33

Thelema Contemporânea: Adeus Ano Velho Feliz Aeon Novo ….….…. 37

Poema sem título …………………………………………………………. 40

Liber Alkhemi ………………………..…………………………………… 41

Magick PanAeônica ……………………………………...……………….. 44

Palestra para o Sesame Club, de Lady Frieda Harris ………..…………… 50

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

A noite sopra em ondas de escuridão e sangue

quando o tempo é passado,

e quando a carne está fria,

O momento também passou,

a tração do abismo

foi reflexo nos olhos dela

e tremores foram seus beijos

está feito e acabado,

foi fundido;

o conto foi lançado;

O conto da noite sombria e ondulada,

de sangue vermelho e flamejante.

Livre tradução H418


Poema sem título, vindo numa invocação ao Geni do Dome de “S”, o “dragão vermelho”, por Marcelo
Ramos Motta

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O controle sobre o Plano Astral

Publicação na Classe E

Publicado por Ordem de:


Fr. Omega, D.L.
Fr. O.A.C., 4º=7▫
Fr. O.M., 2º=9▫
Fr. O.·.93, 1º=10▫

Após o trabalho na sephiroth de Malkuth, onde o Neófito trabalhou incansavelmente em “obter


um controle da natureza do meu próprio ser” no plano material, e finalmente alcançar um certo
equilíbrio, mesmo que temporário, dos 4 aspectos da sua manifestação física ou elemental, ele está apto
a percorrer o caminho de Tav, o Universo (equilíbrio imposto por Saturno) e atravessar o Véu de
Nephesh. Para isso, é exigido que o indivíduo “Deve adquirir perfeito controle sobre o Plano Astral.”
Partindo do princípio que os véus dispostos pela Árvore da Vida são camadas que nos impedem
de conhecer nossa verdadeira natureza, entendemos que a travessia deste véu implica também na
mudança da natureza do trabalho. Se no grau anterior lidamos com os aspectos manifestos e ‘mais
consistentes’ de nossa natureza, agora o trabalho reside em um plano um pouco mais sutil, ou seja, em
um terreno mais volátil e cada vez mais intangível, exceto para aqueles que ajustaram seu foco de
atenção para a natureza deste trabalho.

E nos deparamos com a seguinte pergunta: O que é este Plano Astral?


Ao procurar o significado da palavra Astral no Dicionário Houaiss, encontramos:

Astral (adjetivo de dois gêneros)


1. relativo a ou próprio dos astros; sideral.
2. adjetivo de dois gêneros e substantivo masculino
relativo a ou suposto plano intermediário entre o mundo físico e oespiritual.
3. substantivo masculino
Estado de espírito, disposição, humor, que se acredita sejam influenciados pelos
astros.
“trata-se de pessoa de muito bom astral.”
4. substantivo masculino
Fase, circunstância ou situação, cujas características crê-se que estejam influenciadas,
favorável ou desfavoravelmente, pelos astros.
“anda num astral de má sorte”
5. substantivo masculino
Conjunto de características e fatores existentes em um lugar, que parecem afetar
pessoas ou animais.
“o astral desta festa não está bom”

O Plano Astral, Yetzirah ou Formação, é composto pelas três sephiroth: Yesod, Hod e Netzach

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Em termos simples, estas sephiroth podem ser traduzidas respectivamente neste contexto como
plano Mental (Ego), Racional e Emocional.

Grande parte das nossas ações são realizadas de forma automática e reativa, sem sequer
tenhamos tempo para analisar ou refletir sobre estas ações, porém, a influência do estado mental e
emocional no qual aparentemente não temos nenhum controle, é um fator presente e determinante de
como percebemos o mundo naquele determinado momento.

O ego como consciência recebe constantemente, seja por estímulos internos ou externos, a
influência de uma mente naturalmente inquieta. Pensamentos questionadores e por muitas vezes
incessantes, a necessidade da certeza racional e lógica.

Por outro lado, da mesma forma, percebemos também um aspecto movido pelo instinto de
sobrevivência, desejos e reações emocionais, entendendo as emoções como um mecanismo automático
do organismo onde não há espaço para reflexão.

Respectivamente os cérebros racional e reptiliano e o conflito entre eles. Ambos em busca de


segurança, uma das características principais do ego. A união destes dois canais de influência torna-se
uma terceira coisa, que conhecemos como Astral.

Em meio à este turbilhão de impressões e sensações, muito bem exemplificado em um sonho no


qual não se está lúcido, tendemos a viver de forma reativa ao controle do ego, aos eventos ao nosso
redor durante a maior parte do tempo.

Porém o método científico nos permite analisar estes eventos de forma empírica, projetando-
se para fora (ou para dentro?) destas influências e permitindo uma observação imparcial.

A racionalização e emoção em excesso são desequilíbrio, como demonstrados no gráfico da


Árvore da Vida, e também exemplificado em alguns trechos de Liber ABA em Capítulo VIII —A  
Espada Mágica: “A Espada é também aquela arma com a qual aterrorizamos os Demônios e os

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dominamos. Devemos manter o Ego senhor das impressões. Não devemos permitir que o círculo seja
rompido pelo Demônio; não devemos permitir que qualquer ideia nos arrebate.”
“…a Espada livra as percepções da Teia da emoção.
As percepções são sem significado em si mesmas; mas as emoções são piores, pois elas levam sua
vítima a supor que são significativas e verdadeiras.
Toda emoção é uma obsessão; a mais horrível das blasfêmias é atribuir qualquer emoção a Deus no
macrocosmo, ou à alma pura no microcosmo.“

Encontramos no Liber 185, nas tarefas do Grau de Zelator, o seguinte: 10. Ele deverá de todos
os modos estabelecer controle perfeito de sua Consciência Automática.

Pelo poder da espada (capacidade analítica) como uma arma de destruição, pelo poder obtido
através das práticas de pranayama (controle do alento e da mente) e ásana (controle do corpo) temos o
auxilio necessário para o início do estudo da Fórmula da Rosacruz, que são os caminhos Pe (A
Torre) e Samekh (A Arte)

Que são respectivamente destruição e integração. Essencialmente como o trabalho


sobre o Ego, tais aspectos duais devem ser destruídos quando isolados, pela união dos opostos, porém
integrados à constituição do Magista. Esta integração no sentido da Seta é o único caminho por onde
transitam as aspirações da Consciência Superior, da Verdadeira Vontade, ou Tiphereth.

Opus Magnum - opus93@gmail.com

Bibliografia:
_Liber ABA —O   Livro Quatro —Copyright
  © 1913 Aleister Crowley Copyright © 1997 e.v. na língua
portuguesa de Abrahadabra Publicações
_Liber Colegii Sancti sub figura CLXXXV
_Uma Estrela à Vista
_Teoria do cérebro trino (Wikipedia)

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Invoque Lá que eu Invoco Cá

Mago, evocador de rua,


Que na cidade nasceu,
Invoque na cidade que é sua,
Que eu invoco no sertão que é meu.

Se aí Hermes lhe deu estudo,


Aqui, Exú me ensinou tudo,
Sem de grimório precisá
Por favô, não quizumbe aqui,
Que eu também não jogo catimbó aí,
Invoque lá, que eu invoco cá.

Ocê teve instrução,


Exerceu divina ciença.
Mas das coisa do sertão
Não tem boa esperiença.
Nunca fez ponto riscado no chão,
Nem com erva de chêro fez infusão,
Não pode sabê bem,
Só quem cantô pra Oxalá,
Sabe a força que ele tem.

Pra gente invocá no sertão,


Precisa nele morá
Tê terço de oração
E predizê com as conta de Ifá,
Vivê pobre, sem dinhêro,
Entranhado nos mato,
Fumando erva de pajé muleque,
Pulando fogaréu sem que se estrepe,
com patuá de unha-de-gato.

Você é muito garboso,


Sabe lê, sabe escrevê,
Pois vá evocando o seu gozo,
Que eu evoco o meu padecê.
Inquanto com facilidade,
Você invoca na cidade,
Cá no meu sertão infrento
Fome, dô e misera,
Pra sê evocadô de vera,
Precisa tê sentimento.

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Seu talismã, inda que seja


Banhado de prata e de ôro,
Para o magi sertanejo,
É perdido esse tesôro.
Com seu verso bem feito,
Sem vontade não há efeito,
Porque você não conhece
Nossa fé arretada.
E ardô da oração bem cantada,
Cantada quem de coração agradece.

Só invoca no sertão dereito,


Com tudo que ele tem,
Quem sempre fez bem feito,
Com proteção, reza, Amém,
Coberto de consagração,
Suportando as privação,
Com força de Adão,
Puxando os risco na ponta da faca,
No cruzêro e nas encruzilhada,
A arte do Rei Salomão.

Amigo, não tenha quêxa,


Veja que eu tenho razão
Em lhe dizê que não mêxa
Nas quizumba do meu sertão.
Pois, se não sabe o colega
De quá manêra se pega,
Num ebô pra trabaiá,
Por favô, não mêxa aqui,
Que eu também não mêxo aí,
Invoque lá que eu invoco cá.

Repare que a minha magia


É deferente da sua
Sua rima pulida
Nasceu no salão de rua.
Já eu sou bem deferente,
Meu ponto é como simente,
Que nasce inriba do chão;
Não tenho estudo nem arte,
Meu ponto-cantado faz parte,
Das obra da criação.

Mas porém, eu não invejo,

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O grande tesôro seu,


Os grimório de collegium,
Onde você aprendeu.
Pra aqui a gente ser macumbêro,
Não precisa professô;
Basta vê no mês de maio,
Uma reza sobre os gaio,
E do bastão brotando fulô.

Seu encanto é umas mistura,


É uma tá de Cabalá,
Que quem tem poca cultura,
Lê, mas não sabe o que há.
Tem tanta coisa incantada,
Tanta deusa, tanta fada,
Tanto mistéro e condão
E ôtros negoço incrive
Mas eu chamo as coisa visive
Das brenha do sertão.

Pego as fulô e os abróio


Com todas coisa daqui:
Pra todo ponto que eu óio
Vejo um cramunhão surgí.
Se as vêz andando nos vale
Atrás de curá meus male
Quero repará dentro da terra,
Assim que eu óio pra cima,
Vejo um Anjo cantando rima
Iluminando inriba da terra.

Mas tudo é com vela rastêra


Óleo de fruita de jatobá,
Com fôia de gamelêra
E fulô nos patuá,
Rezando de mansinho,
Inquanto atravesso caminho,
Quando exu-ventania vem,
Pois você já tá ciente:
Nossa magia é deferente,
e nosso ponto também.

Repare que deferença


Iziste na mágica nossa:
Inquanto eu tô nas bença,

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Meditando no mei das roça,


Você lá no seu descanso,
Fuma seu cachimbo manso,
Bem perfumado e sadio;
Já eu, tive aqui a sorte
De fumá charuto forte
Dado de exú a seu fio.

Você, vaidoso e facêro,


Toda vez que qué invocá,
Tira dos baú uns aparelho,
Do mais bonito metá.
Eu que não posso com isso,
Puxo por meus feitiço,
Arranjado por aqui,
Faca de chifre de gado,
Acendo capim-santo besuntado,
E co'as pedra de luzí.

Sua magia é divirtida


E a minha é de arretá.
Só numa parte do dia
Nóis dois samo bem iguá:
É no dereito sagrado,
Por Anjo invocado
Chamado a nosso encanto,
Conheço e não me confundo
Da coisa mió do mundo
Nóis goza do mesmo tanto.

Eu não posso lhe invejá


Nem ocê invejá eu,
O que Oxalá lhe deu por lá,
Aqui Olorum também me deu.
Pois com meu bom axé,
Tenho meu Anjo com munta fé,
Me protege, me qué bem
E ninguém pode negá
Que das coisa naturá
Tem ela o que a sua tem.

Aqui findo de vera esta prosa


Toda cheia de razão:
Fique na sua cidade
Que eu fico no meu sertão.

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Já lhe mostrei no negro ispeio,


Evocado com grande respeito
Que você deve anotá.
Por favô, não mêxa aqui,
Que eu também não mêxo aí,
Invoque lá que eu invoco cá.

Uma Homenagem a Patativa, macumbêro de Assaré, por “Dorje”, em 26/01/2014

Ilustração: Miro

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Thelema com Responsabilidade: OSÍRIS é um Deus Negro, e os Aeons


no Trabalho Magicko

Este assunto de Osíris ser chamado de um Deus Negro, foi o grande desafio que Euclydes
enfrentou perante Motta. Estou selecionando alguns textos do Euclydes, para deixar que ele mostre a
visão dele, que é a que adotei.

Mas, gostaria de inicialmente falar das fórmulas. O grande problema que os Aspirantes a
Thelema enfrentam hoje, é uma certa falta de entendimento da importância das fórmulas dos Aeons
anteriores, como parte de uma única fórmula. Fica difícil para um Aspirante hoje, concluir seu
processo iniciático, sem compreender plenamente a Fórmula de Osíris e de Isis.

Por exemplo: quando estamos trilhando a primeira Ordem, a GD, nossa função é transformar o
Ego em aliado, pois ele é perecível e, sabendo que sua existência é finita, tentará sobreviver, emulando
a visão de que é eterno. A vida do ego, é em essência, a união com o Eu. Não há outro Caminho. Ou
ele alcança isso nessa vida ou outro ego tentará na próxima. Este processo, que entre os Thelemitas é
chamado de Visão e Conversação do Sagrado Anjo Guardião (que alguns complicam demasiadamente
com a pergunta se é um processo externo ou interno, ao invés de deixar a busca e a vivência
responder). Notem, meus queridos irmãos, que este objetivo era o mesmo no Aeon de Osíris e de Isis,
somente as fórmulas mudaram. O que Motta esclareceu o Euclydes e este a muitos, embora muitos não
obtenham ouvido, é que para que a fórmula seja completamente vivída, precisa ser vivenciada
integralmente: Peço a meus irmãos que olhem para a árvore da vida de Assiah, e percebam uma
coisa: a G.D, se centra em Yesod. A R.R. et A.C, se centra em Tipharet e a S.S. se centrará em
Daath. Pergunta: A experiência central de tiphareth não é o sacrifício do filho?

Em Liber 65 Capítulo I está escrito:

2. Adonai falou para V.V.V.V.V., dizendo: Deve sempre haver divisão na palavra.
3. Pois as cores são muitas, mas a luz é só uma.
4. Portanto tu escreveste aquilo que é da mãe de esmeralda, e de lápis-lazúli, e de
turquesa, e de alexandrita.
5. Outro escreveu as palavras de topázio, de ametista profunda, e de safira cinza, e de
safira
profunda com uma cor como sangue.
6. Portanto vos atormentais a si mesmos por causa disso.
7. Não estejais satisfeitos com a imagem.
8. Eu que sou a Imagem de uma Imagem digo isto.
9. Não debateis a respeito da imagem, dizendo Além! Além! Um subiu até a Coroa
pela lua e pelo Sol, e pela flecha, e pela Fundação, e pelo lar escuro das estrelas da terra
negra.
10. De outro modo vós não poderíeis alcançar o Ponto Suave.

No Passado, nos Aeons anteriores o erro era confundir a fórmula, que sempre se repete,

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pois ela é uma "equação", isto é sempre tem dois lados. Mas, de maneira Magistral, Mestre Therion,
nos mostra no texto acima, que a realização no Plano físico da Visão do SAG, está ligado ao despertar
de uma energia que, no Plano de Discos é a união do Objeto e Objetivo (Kundalini), Shiva/Shakti, etc.,
mas, até essa consecução, há a "imagem" que é a meta do Aspirante. Ele deve atentar para imagem
como dito anteriormente, é uma sucessão de imagens que se reflete nas três Ordens, cuja iniciação é
única, vista de três aspectos.

A GD (primeira ordem da A.A), tem em sua essência a Iniciação Isíaca. Os Graus são
elementais, o centro é a Lua. O feminino é proeminente (Netzah regida por Vênus, diante do véu de
Parrokhet, cujo Caminho é a Carta 13)

A R.R.A.C (2 a ordem da A.A) tem em sua essência a Iniciação Osiriana. Há o "Sacrifício"


do Ego para que o Ser Verdadeiro possa se manifestar. É o SOL (Apolo), o masculino.

Tem-se então a superação do Sol e da Luz pelo Sol Oculto de Saturno em Daath, cuja essência
é a Gnosis (Daath é Conhecimento, que corresponde a Gnosis em Grego). Essa é a iniciação final,
onde os parâmetros construídos são entregues em sua entrega ao jogar-se no Abismo. Em Liber VII, há
a entrega do próprio SAG. Outro Sacrifício.

Destes processos, já que se falou em Osíris, podemos olhar agora para o Gólgota: Temos lá
Jesus Cristo, na Cruz ao centro, cercado por dois ladrões. Um deles, olha para Jesus e diz: "Se és o
filho de Deus, salva-te a ti próprio". O Outro diz: "lembra-te de mim quando entrares em teu paraíso".
Esta, a despeito da cena cristística, é uma poderosa alegoria Gnóstica, que mostra dois tipos de ego:
aquele que se autocentra, faltando-lhe a compreensão e outro que, tendo se arrependido e apelado para
entendimento, busca um auxílio para perpetuar-se. E Jesus diz a este: Em verdade, em verdade vos
digo, estarás comigo no paraíso. Jesus é o Eu Maior, (o Sol), o bom ladrão (o Ego - A Lua) que
morrerá como Jesus, inegavelmente. Mas o ato de ir com Jesus para o Paraíso é uma união entre
o ego (Luz) e Eu (Sol), onde todos podem dizer: Eu e meu Pai somos UM. Alguém tem dúvida que
estamos falando em uma linguagem do antigo aeon, a mesma coisa, buscada de outra forma hoje,
quando olhamos o processo de maneira diferente, com outra fórmula? Motta disse a Euclydes: "Traga-
me uma caixa preenchida com 365 seixos (pedrinhas de brita) e te darei concederei a você o grau de
Neófito”. "Perguntou Euclydes, por que preencher uma caixa com seixos me faz Neófito?". Concluiu
Motta "porque cada um tem um método de alcançar sua própria consecução, esta é a fórmula do Aeon
de Hórus... só quero ensiná-lo a persistir em alguma coisa, antes de tentar alcançar sua própria
fórmula". (São as histórias que o Euclydes contava para os membros da Loja Therion, quando o
visitávamos em Paraíba do Sul - não foi instrução pessoal dele para ninguém). Euclydes demorou
cinco anos para encher uma simples caixa com 365 seixos. Mas, quando completou e em 1973 quando
ele foi elevado a Neófito, podenotar o quanto lhe valera aquela instrução, com o tempo, rendeu seus
frutos, pois poucos anos depois foi escrito Meu Verdadeiro Nome e Deusa Negra, que considero os
melhores testemunhos da Caminhada do Euclydes.

Em resumo. Conhecer os métodos do passado (dos Aeons anteriores), nos ajuda a entender e
referenciar o aeon atual.

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Entender os aeons anteriores, permite que, com base nos parâmetros que nos são oferecidos (o
treinamento na Santa Ordem), possamos delinear os nossos próprios métodos (Note que no Juramento
do Probacionista, está que ele deve "conhecer a verdadeira natureza de seu próprio ser". Nas tarefas é
sugerido que ele delineie suas próprias práticas. Podemos deduzir, que se ele plantará bananeira e der
dez pulinho por dia e conseguir chegar a essa resposta, esse é o método válido. Ele pode fazer RPM
duas vezes por dia, Liber Samekh, Ritual da RC ou mesmo Liber Tirshab, o importante é que ele
entenda que sua prática deve levá-lo aquela resposta. O que vemos na prática é que poucos conseguem
delinear, sozinhos, quais as práticas que lhe levarão àquela resposta. E ele então, pratica qualquer
coisa, não para alcançar aquela resposta, mas para reforçar a crença em seu ego, desenvolvendo o que
é chamado materialismo espiritual, isto é, ele não está interessado em educar o ego, está interessado
em sensações e aparentes estados espirituais que reforcem sua egoidade. No Aeon de Osíris, para se
combater isso, havia os Mistérios Menores, equivalentes a nossa GD. A finalidade é a mesma, só os
métodos variam, pois no Aeon de Osíris e o de Isis (quem quiser entender o método Isíaco de maneira
detalhada, recomento a Leitura do Romance de Isha Schvaller de Lubicz, Her-Bak and the Egyptian
Initiation...)

Como então, existem ditos thelemitas que vivem fazendo "apo pantos kakodaimonos" quando
passam em porta de igreja... não seria melhor ignora-los e concentrar-se em suas vidas? Eles nem
vivem a fórmula que lhes foi legada, preferindo deturpa-la e oprimirem o ego, ao invés disso, educá-lo
e prepará-lo para a entrega, como afirma Liber Tzaddi Vel, Hamus Hermeticum.

Queridos irmãos Aspirantes. Tenham orgulho de nossa herança. Tenham orgulho de nossa
fórmula. Tenham orgulho do tempo em que vivem, pois todos têm a oportunidade de ver o todo, pois
por isso, é dito em liber al que os profetas do passado atacavam a primeira parte da fórmula e
deixavam a segunda intacta. Não cometam este mesmo erro. Osíris é um deus negro. 93

QVIF 196

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Confessio
(2016)
Nas cercanias de mim
Surpreendo- me um abismo
Debrucei-me ao ver o brilho
Ofuscado qual Narciso
No dourado noturno azul
Fui reflexo abissal
Ao invés do lusco fusco
Da safira rosa cruz
Trouxe lodo, sangue e caos
Eu carrasco em meu capuz
Me apercebo atordoado
Eram meus, a lama e a luz
H.418

(Pintura: David T. Alexander)

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A nova febre dos céus

“Mas teu local sagrado será intocado através dos séculos: embora com fogo e espada seja
incendiado & despedaçado, ainda assim uma casa invisível lá permanece de pé, e
permanecerá até a queda do Grande Equinócio, quando Hrumachis surgir e o de dupla-baqueta
assumir meu trono e lugar. Um outro profeta se levantará, e trará nova febre dos céus; uma
outra mulher despertará a luxúria e adoração da Cobra; uma outra alma de Deus e besta se
mesclarão no sacerdote globado; um outro sacrifício maculará o túmulo; um outro rei reinará;
e benção não mais será derramada Ao místico Senhor de cabeça de Falcão!” (AL III:34)

Profeta, livros sagrados, ao mundano e desavisado, a nova febre dos céus trazida por Therion
não difere em nada de uma religião revelada. Mas, é também esse mundano e desavisado o mesmo que
se diz católico “não praticante”, que não entende a eucaristia da própria religião, que celebra a semana
santa, páscoa, e natal, mais por costume do que pelo significado símbolo daquilo na tradição da sua, e
de outras religiões. Para a maioria, a religião não passa de um costume, e certos códigos morais, que
podem ser lembrados ou esquecidos à medida da conveniência; é uma forma de pertencer ao grupo.
Ah, Sim! A esse mundano eu diria sem pensar por mais de dois segundos que Thelema é uma religião,
Aleister Crowley seu profeta, e que um certo livro, ditado ao profeta por um anjo, no Cairo em 1904, é
a parte central do cânone dessa religião. Não apenas diria isso, mas se preciso fosse, para proteger
minha liberdade, iria mais longe e registraria uma religião, igreja, fundação religiosa, sem o menor
remorso ou medo de ser chamado de hipócrita. Além disso, aproveitaria as enormes vantagens que
oferece uma instituição isenta de taxação, como tantos outros já fizeram e continuam fazendo. Aos
cristãos, os leões. Aos hipócritas... Religiões? Ficamos assim acertados, e Thelema trata-se de mais
uma religião?

Eu prefiro acreditar que não. Não quero dar “a resposta” a essa pergunta, talvez nem mesmo
será a resposta correta se analisarmos a teologia, ou o conceito sociológico de classificação de
movimentos religiosos. Apenas gostaria de analisar mais de perto alguns termos como “profeta”,
“livro sagrado”, “novo éon”, aos olhos de um iniciado. Porém antes disso, vou lhe dizer porque
provavelmente o tal “católico não praticante”, nem mesmo católico é, pois no caso, a religião possui
dogmas aos quais é necessária adesão total para que ele seja considerado um partícipe. Dificilmente tal
católico não terá dúvida, mesmo que interna, quando perguntado se tem como verdade absoluta e
inquestionável que:

• Um homem, Jesus, nasceu de uma mulher virgem, e é o filho de Deus, e essa mulher
continuou virgem após o parto.
• O pecado original se propaga por geração.
• Um homem, Jesus, ressuscitou fisicamente após a morte, e ascendeu aos céus com o
corpo (físico, carne e osso) e a alma.
• A igreja foi fundada por Jesus Cristo.
• A igreja/Papa é infalível quando faz definição em matéria de fé e costumes.

Para citar apenas os pontos mais extravagantes, a meu ver. Sim, dificilmente alguém com um
pouco de conhecimento de história, anatomia, biologia básicos e uma certa dose de bom senso levaria

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esses dogmas da igreja católica como verdade absoluta, literal, e inquestionável. Então, esse
“católico”, que não é nem praticante, nem religioso, e nem “católico”, é que deve definir o que é
religião para o iniciado? Mais do que isso, Thelema é além de religião, dogmática? Caso contrário,
como caracterizar uma religião que não possui dogmas?

Claro que há entre nós thelemitas, aqueles que dizem ser os únicos, os verdadeiros, os
possuidores das chaves, e que ainda perseguem os “concorrentes”, num comportamento bem
semelhante ao de uma igreja, e afirmariam sem pestanejar que Thelema é uma religião. Evidente que
para beneficiar a própria sede destes pelo domínio, das mentes, corações e carteiras dos seus
seguidores. Como bem descreve Gerard Del Campo, no manifesto de sua OTK (Order of Thelemic
Knights), “quando Crowley, morreu centenas de livros foram escritos, por pessoas que tinham tudo a
ganhar, e nada a perder, deturpando suas palavras para que a bela filosofia, e poderosa fórmula, que
foi especialmente projetada para libertação e emancipação de todas as pessoas, apenas beneficiasse
um pequeno grupo de párias”.

Gosto do uso que frater Aossic-Aiwass (Kenneth Grant) fez da palavra “culto”, para se referir
as várias encarnações do que ele chama de corrente ofidiana, embora eu não concorde com a forma
criativa em que ele conta essa história. A palavra culto diz respeito a um grupo, ou prática, que pode
ter religião, filosofia, costumes, espiritualidade ou mesmo um objetivo em comum. Faze o que tu
queres há de ser tudo da lei. Amor é a lei, Amor sob Vontade. É a máxima da lei, todo o resto, por
melhor que seja, não passa de um comentário, com maior ou menos grau de precisão, as vezes com
objetivos mais amplos e frequentemente para graus de esclarecimento diferentes, “pois nela há Três
Graus”. Entendo que o que torna Thelema um culto é o uso da corrente solar… aliásnão, vou usar um
termo melhor: é o objetivo que temos em comum de descobrir nossa Vontade, e realizá-la com
propósito único, desprendimento e em paz, como nos explica Mestre Therion em seu comentário,
Liber II. E esse é o nosso propósito em comum, independente de qual organização pertençamos, qual
tradição sigamos; é a nossa lei e a alegria do mundo, o que nos une num culto: O Culto de Therion.
Chamar isso de religião daria a mesma margem a chamar o tantra de religião, o que para mim soaria
no mínimo esquisito, se viesse da boca de um iniciado. Muito embora se possa falar de budismo
tântrico, caracterizar o tantra como religião seria como caracterizar thelema como religião, ainda que
se possa dizer que esse ou aquele grupo pratique uma religião baseada em thelema. Sendo bem
sincero, só porque o ser humano consegue transformar virtualmente qualquer coisa em religião,
devemos considerar essa coisa uma religião?

O próprio Crowley, parece ter uma opinião um pouco confusa sobre o tema, ao olhar mais
incauto. É interessante ver alguns pontos onde Crowley toca no tema religião, relacionado a lei de
thelema, exponho alguns dos mais famosos a seguir:

Ano de 1919 e.v.

- “A Lei de Thelema oferece uma religião que agrupa todas as condições necessárias. A filosofia e
metafísica de Thelema é o som, e oferece solução para os mais profundos problemas da humanidade.
A ciência de Thelema é ortodoxa; não existem falsas teorias da Natureza, não existem fábulas sobre a
origem das coisas. A psicologia e ética de Thelema são perfeitas. Destroem a condenável ilusão do

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

Pecado Original, fazendo com que cada um seja único, independente, supremo e suficiente.”
(Editorial Equinox Vol III. N°1)

Ano de 1920 e.v.

- “Logo a nossa religião, para o Povo, é o Culto do Sol, que é a nossa estrela particular do Corpo de
Nuit, de quem, no mais estrito sentido científico, surgiu esta terra, uma fria faísca d’Ele, e toda a
nossa Luz e Vida.” (Comentários AL III:22)

- “Portanto nós consideramos o Amor sagrado, religião do nosso coração, ciência da nossa mente.”
(Comentários AL III:22)

Ano de 1924 e.v.

“Thelema implica não meramente numa nova religião, mas numa nova cosmologia, uma nova
filosofia, uma nova ética. Ela coordena as descobertas desconexas da ciência, da física à psicologia,
em um sistema coerente e consistente.” (Confessions – Cap. 72)

“Eu afirmo quanto ao meu sistema que ele satisfaz a todas as exigências possíveis da verdadeira
maçonaria. Ele oferece uma base racional para a fraternidade universal e para a religião universal.”
(Confessions – Cap. 73)

Ano de 1945 e.v.

“Chame-a de uma nova religião, então, se isto assim agrada a Sua Graciosa Majestade; mas eu
confesso que não consigo entender o que você terá ganhado fazendo assim, e me sinto obrigado a
adicionar que você poderia facilmente provocar um grande mal-entendido, e criar um tipo bem
estúpido de maldade.” (…) “A palavra não ocorre em O Livro da Lei.” (Magick Without Tears –
Carta 31)

Contraditórios que possam parecer entre si, em especial levando em conta esta última e hilária
resposta, nada nos trechos sugere que a visão religiosa que Crowley possa ter proposto para Thelema
seja a visão de uma religião dogmática, e menos ainda sectária. Muito pelo contrário, ele diz: é a
religião do nosso coração, o amor sagrado, ou o Amor sob Vontade. A visão de religião como algo
particular, tão diferente daquela do profano que precisa de costumes, códigos éticos e morais
padronizados e homogêneos. Ora, se essa “religião” é tão particular, com valores tão únicos de cada
estrela, não deveria emergir então uma nova significação dos termos religião, e sagrado ?

O grande mal-entendido, a que a Crowley se refere, é de fato confundir Thelema com uma
religião no sentido que conhecemos, um conjunto de comemorações, cerimônias e valores morais, que
não passam de um costume de um grupo específico, sem qualquer espírito ou sentido real. Seria
realmente um tipo estúpido de maldade, penso, se fossemos equiparados a religiões do deus
moribundo, do velho éon. Então, se assim Thelema é tão diferente, o que significa ser um profeta?
Como é “homem santo” de Thelema?

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

“Esta é a tarefa essencial de todo homem; nenhum outro trabalho possui a mesma importância quer
para o progresso pessoal, quer para a capacidade de auxiliar o próximo. Sem isto, o homem não é
mais que o mais infeliz e mais cego dos animais. Ele tem consciência de sua incompreensível
calamidade e é desajeitadamente incapaz de repará- la. Com isto, ele é nada menos que o coerdeiro
de deuses, um Senhor de Luz. Ele está cônscio de seu próprio caminho consagrado, e confidentemente
pronto a percorrê-lo.” - (Uma Estrela a Vista – J. C. Fuller)

No meu ponto vista, é essa a forma e significado que deve ter a palavra profeta, ou homem
santo. A citação acima está na parte que descreve brevemente o grau de Adeptus Minor na Santa
Ordem, onde é dito que é a Grande Obra em si o Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo
Guardião. Mais adiante Fuller continua maravilhosamente: “ele deve manter silêncio enquanto prega
seu corpo à árvore de sua vontade criadora, na atitude daquela Vontade, deixando que sua cabeça e
braços formem o símbolo de Luz, como que para jurar que todo o seu pensamento, palavra ou ato
expressaria a Luz derivada do Deus com o qual ele identificou sua vida, seu amor e sua liberdade”.
Seja o profeta o homem que fala do futuro, o homem que fala a Verdade, ou o homem que fala com
Deus, essa definição de Fuller tudo abarca. Todo homem que atinge tal consecução, todo homem
verdadeiramente dedicado a ela, é um Adepto, e é um profeta.

Muitas de nossas irmãs e irmãos em Thelema, se apressam em condenar o termo “profeta”


usado por Therion, ou mesmo Ankh-f-n-khonsu, quando se referia a si mesmo. Fazem-no dizendo que
Aleister Crowley, possuía um ego inflado, que só queria mesmo era mandar e ser adorado, quando em
verdade esquecem que quem fala muitas vezes, em verdade, é To Mega Therion, ou talvez Aiwass, que
é justamente o Deus com o qual ele (Crowley) se identificou, sendo assim cada palavra e ato, uma
expressão desse Deus e portanto divinos, santos, proféticos! Isso também é mais do que suficiente para
explicar porque os livros inspirados (ora, inspirados por quem?) são ditos sagrados, e de fato, o são
pois são a expressão da divindade de uma estrela específica, e falam uma Verdade.

Sendo assim, que outro profeta é esse que se levantará? Estão os thelemitas esperando um
grande rei, um novo messias, um salvador que virá trazer a nova febre dos céus? Entre esses que
dizem ser da religião de Thelema, como é chamada por eles, há uma restrição tão grande em que só há
espaço para um profeta ? Foi um erro comum das religiões do passado, entender que a mensagem do
“filho de Deus”, ou do Deus encarnado, era restrição e excluía os outros demais da mesma realização.

“(…) pois vede! tu, ó profeta, não vereis todos estes mistérios aqui ocultados. O filho das tuas
entranhas, ele os verá.” (AL I:54-55)

Não há um homem declarando ser Deus. Há um Deus falando através de um homem, e sua
mensagem é universal e alinhada a natureza, pois também os “filhos de Therion” podem ser como ele,
Therion. Se Thelema propõe não somente uma religião, mas também uma nova forma de ver a
religião, como algo individual, pessoal, a expressão de um deus específico de um politeísmo que diz
que todo homem e toda mulher é uma estrela, que essa visão não cometa o pecado da restrição, ao
menos. Ou então o que teria ela assim de tão nova? Aliás, porque Thelema fala de um novo éon, e o
que isso significa?

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

“Desde a época quando esse Ritual de Sacrifício e Morte foi concebido e declarado, nós, através da
observação de nossos cientistas, viemos a saber que não é o Sol que se ergue e põe; mas a Terra
sobre a qual vivemos gira de tal forma que sua sombra nos separa da luz solar durante aquilo que
nós chamamos a noite. O Sol não morre, como pensavam os antigos; Ele está sempre fulgindo,
sempre irradiando a Luz e Vida. Parai por um momento, e adquiri uma concepção clara deste Sol:
como Ele está fulgindo de manhã cedo, fulgindo ao meio-dia, fulgindo à tarde, e fulgindo a meia-
noite. Tendes esta idéia claramente formulada em vossa mente? Então passastes do velho ao novo
aeon.” (Passando do Velho ao Novo Éon – Charles Stansfield Jones)

“(…) virá o Equinócio de Ma, a Deusa da Justiça, que pode ser daqui a cem, ou dez mil, anos;
Pois o Computo do Tempo não está aqui ou Lá” (O Velho Comento – A. Crowley)

Nestas duas citações, uma de Crowley, e outra de seu “filho mágicko”, frater Achad,
absolutamente nada nos diz que éons estão ligados a precessão dos equinócios, talvez um dos maiores
exageros associativos de Crowley. Assim como o éon de Ísis, majoritariamente de sociedades
matriarcais, não tem nenhum registro histórico, embora sua fórmula seja real e aplicável. Apesar do
equívoco dos “religiosos de thelema”, legalistas no meu entender, há muito pouco o que explicar
aqui… Os éons tratam de processos internos, que podemos vez por outra, com a ajuda dos axiomas
herméticos, associar a processos sociais, “evolutivos”, da própria humanidade. E nesse ponto Achad
faz um belo trabalho em fechar a teoria do seu querido papai, também adotada por outro dos filhos de
Crowley, Aossic, e sua neta Nema (Margaret C. Ingalls), dos éons correndo um do dentro do outro
(Não somos todos uma grande família feliz?). Tal como a voz dupla dentro do liber do AL, que hora é
Hórus e hora é Harpócrates, os éons correm simultaneamente pois representam correntes mágickas
vivas, que podem ser experimentadas e vivenciadas. E assim o são pois são estágios da nossa própria
consciência, escritas no nosso DNA espiritual. Nesta mesma edição da revista está inclusa uma
tradução do “Magick PanAeônica”, um texto de Soror Nema, que não só explica essa visão que adotei,
como apresenta uma forma ritualística de vivenciar estas correntes/éons. Além disso, Nema oferece
uma solução bem mais elegante do que os três, ou quatro éons, habitualmente usados por Crowley ou
Jones, influência inegável de Aossic.

Se você quer tomar banho de chapéu, ou discutir Carlos Gardel, ou esperar o próximo profeta,
vá e Faze o Que Tu Queres. Talvez numa análise aos olhos da sociologia, ou da teologia, Thelema
talvez caia sobre a classificação de religião. Mas como repeti, Thelema propõe não apenas uma “nova
religião”, mas uma nova filosofia, e um novo modo de encarar a ciência, e assim talvez aos olhos da
velha filosofia, da velha religião, e da velha visão cientificista, Thelema não escape mesmo do rótulo
de religião. Ainda assim, não consigo ver outro motivo para associar Thelema a religião, a não ser para
jogar areia nos olhos daqueles que são deuses, mas que dormem e dormindo sonham, pois não há lugar
para massificação entre aqueles que almejam a aurora dourada de suas almas.

I. 156

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

Des(Iterações)

O Vazio,
que preenche
a roda,
que está em tudo
e em nenhum lugar.
Que vibra em inércia,
transcende a tudo
em que é imanente
e é imanente em tudo a que transcende.
Progride sem caminhar
e caminha em si mesmo
parado.
Não é, não foi,
nem será.
Sem todavia,
jamais ter deixado de Ser.
O movimento no Vazio
é o Vazio,
o movimento do Vazio
é o Vazio.
O tempo
é movimento
no Vazio.
O movimento do Vazio
não é o movimento no Vazio.
[Este final, um Koan.]

Laureano Nogueira

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

Thelemagick: IAO, Morrer para Viver

“Nada será ouvido além deste teu rugido de êxtase; sim, este teu rugido de êxtase.”
Liber Stellae Rubae

Vários autores, de Eliphas Levi a Aleister Crowley, tentaram definir o que é Magia (k) ou a
Verdadeira Vontade. Muitos escreveram grandes livros transmitindo conhecimentos sobre elas; outros
resumiram ou tentaram em obras de arte. Mas uma definição clara e única é praticamente inexistente
em todo o corpo literário mágico. A impressão que dá é que um iniciante em magia fica longos anos à
deriva num grande oceano, até que ache um navio que o leve à terra firme - que pode ser um livro, um
sistema, uma pessoa. E o pior: dada a diversidade de linhas de trabalho, o trabalho de comparação e
correlação de todos é exaustivo. Não são poucos os que desistem da Magia(k) nesse período, e não há
como culpar alguém ou algo por isso. Não estamos acostumados ao caos advindo da liberdade
irrestrita. Esse ensaio busca fazer algo ousado: dar uma definição de Magia(k) com base na
experiência do autor. Isso não é de se espantar: é algo que acontece até com tópicos da magia, de
elementos a planetas. Termos incertos, muitas vezes ambíguos, até mesmo oriundos de mitos, populam
o ocultismo e a magia; essa incerteza e falta de objetividade - praticamente um Caos - acaba por gerar
algo que eu creio ser o objetivo supremo da magia: o poder criativo.
Acredito, pela minha experiência, na definição que aqui proponho. E poderiam me perguntar
porque eu a exporia em tal meio - querer definir algo passível de tantos significados - , dada a
liberdade interpretativa das Artes Mágicas. Uma razão clara é dada ao longo do texto: se a minha
definição estiver correta ou fazer sentido, será bastante produtivo alertar meus colegas da Arte nessa
direção - ou seja, ajudar os que tem dificuldades em realizar a Grande Obra. E certamente alguém com
maior capacidade e melhor preparo que eu poderá expandir essas definições. O resultado esperado?
Fazer aqueles que tem definições engessadas e conceitos antigos pararem um pouco para questionar,
romper com o passado da literatura oculta e buscar novos significados pra Arte que para muitos é a
coisa mais importante da Vida. Magia(k) é ação e todos concordamos. Diferentemente do misticismo,
implica em movimento. E o motor desse movimento é Thelema - a Vontade. É ciência e arte, embora
esses termos também impliquem uma infinidade de significados e conceituações possíveis. Essa
definição de magia como ação é um tanto quanto intuitiva. Não nos diz muita coisa de cara.
Eu vejo Magia(k) como mais do que um conhecimento ou legado. Magia(k) para mim é uma
necessidade, como beber e transar. Se Magia(k) é fruto da vontade, e se somente estrela (nós) podemos
ter Vontade, então Magia(k) não existe sem o homem. Magia(k) só pode ser vista num sentido global
como uma ação inserida na vida humana. E se ela é inserida na vida humana, está dependente dos
fatores culturais do homem. E de que ação estamos? Uma ação é um movimento e todo movimento é
uma mudança, seja do objeto ou do espaço. Agir é dar forma à existência. E o que mais trabalha a
forma à exaustão? A Arte. Magia é Arte. A forma é uma estruturação. Não é um som, odor, imagem. A
Magia(k) enquanto ação tem um valor de realização mas também de comunicação (a ação interior
impacta de certa forma o exterior). Magia(k) é um fazer progressivo, e nesse fazer há expressões da
Vontade e da maturação dessa Vontade no homem.
O ser humano tem uma aspiração e essa aspiração, enquanto força motriz, produz movimento -
Magia(k). Essa aspiração, como tudo na vida, matura e se transforma, evolui e reforça. Magia(k) é
evoluir interiormente e gritar ao mundo o resultado dessa evolução ou desenvolvimento. E se criação
tem como pre-requisito uma percepção consciente, Magia(k) também o terá, por analogia. Há as
escolas mágicas que pregam que o consciente deve estar cem por cento ligado enquanto ato mágico, e

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

outras que dizem o oposto. Eu creio que não há contrariedade. O fato de muitas escolas hoje, a meu
ver, refutarem o consciente não é devido ao consciente em si, mas sim ao fato de ele estar engessado
com o modelo de existir atual. Petrificado por sistemas e conceitos que nos marcam mesmo antes de
nascermos. E por mais que a sociedade seja natural a muitos mamíferos, diversos eventos da sociedade
civilizada não me parecem muito naturais, como o fato de trabalhar exaustivamente em prol de uma
empresa que não necessariamente gera algo positivo à mesma sociedade ou então certos distúrbios
psicossociais causados pelo estilo de vida baseado na dependência do Capital. Nosso consciente tão
enrigecido por uma civilização reducionista, onde tudo é superficial e básico, não me parece apto à
realização da Magia(k) - do ato mágico.
A preocupação maior que tenho ao discutir a definição de Magia(k) é justamente a capacidade
de ato mágico do neófito contemporâneo. Somos bombardeados por estímulos auditivos e visuais do
primeiro minuto que acordamos até nos deitarmos. Formas, cores mais ou menos parecidas de uma
natureza substituídas por um Caos de coisas e formas e cheiros e sons e imagens. E já nos levantamos
pensando nas vinte e cinco tarefas de uma agenda corrida. Pensando se devemos pedir um lanche no
almoço para que a refeição seja feita de forma mais rápida. E como fica Magia(k) nesse monte todo?
Não adianta simplesmente dizer que o ato mágico feito nessas condições tem efeitos melhores do que
os feitos em condições melhores. E quantos de nós tiveram oportunidade de ter um outro estilo de
vida? Suponho que nenhum. Este ensaio busca discutir também a influência da alienação no
sabotamento da ação mágica. O condicionamento imposto pela sociedade só esmaga nosso potencial
criativo e mágico. Essa mesma sociedade que nos esmaga nos dá técnica e método: se soubermos unir
a capacidade que as “corporações” tem de atingir metas/concluir projetos com as nossas metas
mágicas, será certamente uma grande experiência.
O ato mágico associado à terra pode se referir à realização concreta e material da Vontade.
Como disse, para mim Magia(k) é uma necessidade de vivência e expressão: não basta para mim que a
experiência seja vivida. Ela precisa ser compartilhada e comunicada, não importa a quem. A realização
por si só é meta. E a realização tem dentro de si uma forma de comunicação dessa realização. É o he
final do Tetragrammaton. Visto do ponto de vista do ar, é o pensamento, a ideia. Quanto mais subimos
as letras do Nome, mais sutileza encontramos, até que chegamos ao YOD que foi início de tudo. O ato
mágico é presente em toda a história do ocultismo, em todas as fórmulas, desenhos e escritos.
Magia(K) não existe sem o elemento comunicador. Esse elemento comunicador é também o Omega
em IAO: o fim de tudo, a ressurreição, a existência perfeita, que passará novamente pelo processo de
reciclagem e virá diferente.
Todos os processos que enfrentamos nessa caminhada que é a Magia(k) segue a lei da vida e da
morte, da criação e da dissolução. E essa lei - aqui digo lei porque começo e fim é um arquétipo
compreensível para 99% dos humanos - é representada por IAO - as iniciais de Ísis, Apophis e Osíris.
Grande parte das religiões do velho aeon segue essa fórmula: algo se cria, morre ou é destruído, e
depois renasce. É assim, por exemplo, nos mitos de Ísis e Osíris ou então de Jesus, o Cristo. IAO
também, através dos símbolos de Nascimento, Morte e Renascimento, é relacionado aos estágios que
se busca com a prática do Yoga: o prazer inicial da prática é o nascimento: raramente alguém tem
dificuldades nessa parte. Todos temos disposição de sobra para nosso Yoga. Vem então a agonia. O
desconforto inevitável. E por fim, vencido o sofrimento e a dor, temos um novo estado: e esse estado
não é igual ao prazer inicial. É, também, um prazer, porém diferente e muito mais expressivo.
A maior parte das cerimônias de iniciação das Ordens mais conhecidas tratam de IAO quando
tratam dessa fórmula da destruição e do renascimento. IAO é um processo de destruição que traz algo
MELHOR e mais ESPECIALIZADO. É relacionada, então, ao processo de Thipareth: conhecimento e

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

conversação do Sagrado Anjo Guardião, sendo esse acontecimento também uma “morte” para uma
ressurreição como “adepto”. A fórmula de IAO é do velho aeon e rege todos aqueles que ainda não
aceitaram a Lei de Thelema. Na lenda, Apep ou Apophis, o destruidor, transforma o Osíris - antes
homem comum - em deus. Crowley criou, a partir de IAO, a fórmula de VIAOV, que representa a
passagem do velho Aeon para o Aeon de Horus - sendo Hórus também uma das fórmulas
representativas do Novo Aeon: o aeon do filho. O ritual da Estrela Rubi tem estreita associação com
essa passagem, e é uma recomendação minha para quem tem interesse em “adentrar” nas correntes do
Novo Aeon e não sabe por onde começar. No Liber Stellae Rubae, Crowley trabalha a fórmula de IAO
e sua oposição, retirada da Visão e da Voz, OAI. E o que isso tem a ver com toda a definição de Magia
que demos?
IAO representa o processo de criação e destruição, e portanto é o objetivo próprio da Magia(k)
em relação a Thelema: começar com a exploração da aspiração, para depois de armazenada uma certa
quantidade de experiências, por tese e antítese como num filtro de “gostos” e “amores”, chegar à
verdadeira vontade. IAO nos resume isso: a criação (ou inspiração), que vai sendo modelada
(Apophis) até que surge mais pura e clara. E no Liber Stellae Rubae Crowley parece dar conselhos
precisos sobre a aplicação dessa fórmula, através da masturbação (“sacrifício da criança”, ou sexo
anal, ao que parece). O texto parece descrever duas pessoas em ato real de consagração, onde o corpo
de uma se torna o altar enquanto outro aplica a operação.
O processo mágico, e mesmo de percepção da Verdadeira Vontade e da Aspiração, requer um
certo trabalho inicial que requer pura e simples observação - porque ela aflora apenas, sem muito
esforço (que talvez demore se apenas “esperarmos” - mas certamente vem). Podemos usar a fórmula
de IAO para fortalecer esse processo de expressão da aspiração. Essa Aspiração surge em momentos
especiais em que nos sentimos mais criativos e produtivos - é o que acho que represente a Aspiração.
Nesse início de jornada, cabe ao estudante ficar atento aos seus instintos e principalmente às suas
intuições. Aqui é importante diferenciar: o instinto, enquanto herança genética, é menor nos humanos
do que nos outros animais. E graças a isso somos tão adaptáveis. Ligados sistematicamente, a Intuição
é justamente resultado de milhões de percepções que tivemos durante toda a vida e que nos fizeram
em certos momentos rejeitar, aceitar ou manipular o instinto. Quando estamos diante de situações
desconhecidas, é bem provável que no começo de nossas existências utilizemos nossos instintos. A
intuição, porém, permite que além dos impulsos, utilizemos toda a nossa experiência e conhecimento
de outras experiências para fazer um filtro altamente meticuloso e personalizado que nos permite lidar
com situações NOVAS de forma totalmente coerente e segura. A intuição é um processo cognitivo, e
por isso a considero racional.
O estudante, utilizando seus instintos e sua intuição para a criação de sua Aspiração (ou
percepção dela), é o “I” de IAO. Segue-se então o processamento disso tudo: Apophis. A qualidade
nova de cada percepção nos faz ter cada vez mais intuições mais precisas. Quando nossas intuições -
frutos de nossas experiências, vivênvias, conhecimentos, desejos - são analisadas pela nossa
percepção, temos a segmentação dessas intuições e a reformulação - Osíris renascido. O processo de
descoberta da Verdadeira Vontade, para mim, é inteiramente racional e emocional, passando por esses
estágios de instinto e intuição para cuminar com a criação. A visualização e a imaginação ajudam
nesse processo e muito. A criação mental de situações hipotéticas ajuda a aumentar a gama de
possibilidades intuitivas. Quando fazemos uma imaginação livre, nossa intuição entra em pleno vapor
já que todas as possibilidades estão ali. Imaginar é um exercício de inspiração e na minha opinião
deveria ser fortemente recomendado àqueles que buscam conhecer suas aspirações.

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

Aos que buscam conhecer suas Verdadeiras Vontades: experimentem ativamente o mundo e
vida. Passivamente também. Usem suas percepções para receber os dados do mundo e de si mesmo, e
apliquem a intuição como processo regulador dessas percepções. Dentro de cada um de nós existe uma
Natureza formada por nossos desejos, vontades, por nossa história, pelos valores que temos, pelo que
amamos. Essa Natureza se manifesta na forma de intuição. Aquelas respostas que nos dão prazer mais
intensos e constantes serão as intuições mais fortes a cada minuto. Nossa Aspiração está ordenada em
nossas intuições - é preciso torná-la cada vez mais consciente. E como percebemos a manifestação da
Aspiração?
Resposta: Quando começamos a ordenar o mundo de acordo com nossas intuições. Surge uma
ordem no mundo estranha, quase que caótica - mas tão óbvia pra gente. Nessas ordenações, o que é
relevante sempre se manifestará primeiro: daí a importância de criar. Criar é muito menos aleatório do
que a maioria das pessoas pensam que é. Quando achamos nossa Aspiração, parece que estamos tendo
uma vida extremamente única e original! As conclusões a que chegamos pela nossa Intuição são
surpreendentes e confirmam essa visão. É como se tivessemos alcançado o verdadeiro sentido de algo.
Nos sentimos até um pouco especiais.
Se você tem dúvidas sobre sua Aspiração e sua Verdadeira Vontade, foque na sua percepção.
Olhe para as formas do mundo. Olhe para tudo que circunda você. Que magnífico é um lápis de cor!
Que curvas suaves faz uma lixa de unha! A textura do vidro, tão sutil. Perceba essa pequena sombra ao
seu lado. As luzes do dia. Como um piso claro reflete tanto a luz do sol. Perceba o som! As vozes das
pessoas. Aquela mulher sentada do seu lado no ônibus que é praticamente uma Fritzgerald e não
percebeu. Perceba o que é barulhento. O que é agradável. Sinta o cheiro da comida, da bebida. Da
pele! Já percebeu como tem pessoas com bons odores cutâneos? Perceba o tempo! Perceba as pessoas.
Os movimentos. A dinâmica. O silêncio, e seu ritmo. E depois deixe que a Natureza, Ísis, a Intuição,
faça seu trabalho complexo e puro. E não tenha pressa: a verdadeira vontade é algo dinâmico. E se sua
Aspiração parece se associar a algo cultural, não fique com medo de estar errado: eu tenho também
essa ideia. A Verdadeira Vontade brota de algo intensamente profundo e verdadeiro, tendo uma
manifestação íntima e pessoal - mas sua manifestação no mundo (ou externa) dependerá do meio - em
suma, o ato é a Verdadeira Vontade, e esse ato tem um meio onde é realizado. Perceba, ativamente.
Não se restrinja. Deixe-se refinar por IAO. Bom outono, moçada!

Frater Amaranthus
frater.amaranthus@gmail.com

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Entre Nieztsche e Kant – o lugar da vontade na moral Thelemita

- Leia Nietzsche!, ordena o Irmão da Estrela de Prata no conto The Ordeals of Ida Pendragon
(Equinox, vol I, n°6, p.144, 1911). Esta não é uma citação isolada ao filósofo alemão na literatura de
Aleister Crowley. Nietzsche aparece diversas outras vezes em obras de grande importância na
literatura thelemita, chegando a ser considerado por Crowley um dos profetas no Novo Aeon
(CROWLEY, 1954). Os motivos para esta posição de destaque, equiparando-o junto a si como
portador da palavra do proclamado “Aeon de Hórus”, a nova era anunciada pelos escritos thelemitas,
tornam-se bastante evidentes quando se observam os diversos paralelos entre a obras do filósofo e do
ocultista.

Aleister Crowley, nascido Alexander Edward Crowley, em 1875, cresceu em uma família de cristãos
conservadores para se tornar o avesso de tudo que o havia rodeado na infância. Após a morte do pai,
um influente ministro religioso da Irmandade Plymouth, em 1887, Crowley distancia-se dos
ensinamentos bíblicos e vive uma adolescência conflituosa com sua mãe, que passa a chamá-lo de
Besta, em referência à figura apocalíptica.

Aos vinte anos, ingressa no Trinity College, em Cambridge, onde cursa Filosofia e Literatura, mas não
chega a se formar por alegar que sabia mais que seus professores. (CROWLEY, 1976, pp. 42-43).
Neste mesmo período, começa a interessar-se por literatura esotérica e misticismo prático, vindo a
filiar-se em diversas ordens e fraternidades, com maior destaque à Ordem Hermética da Aurora
Dourada, fraternidade que reuniu nomes famosos da época como o Nobel de literatura William Butler
Yeats e a estrela do teatro Florence Farr. Lá, ascendeu rapidamente aos graus mais elevados, tornando-
se hábil em práticas como viagem astral, tarot e magia cerimonial.

Em 1904, enquanto viajava em lua de mel pelo Cairo, sua esposa, Rose Edith Kelly, diz ter recebido
instruções de uma inteligência não-humana incumbindo-o a realizar determinadas práticas. Nos dias 8,
9 e 10 de abril daquele ano, ao realizar as cerimônias prescritas, Crowley ouve uma voz ditar sobre seu
ombro esquerdo cada um dos três capítulos do que viria a ser batizado como o Livro da Lei, ou Liber
AL vel Legis. Pelo menos, é assim que é narrada a história.

Posteriormente, Crowley identifica o texto recebido como algo profético que veio não apenas para
anunciar uma nova espiritualidade humana, mas toda uma “...Nova Lei para a Humanidade”
(CROWLEY, 2004, p. 70). Das alegorias do texto, saem conceitos como “Vontade”, “Lei”,
“Liberdade” e a ideia de uma sociedade guiada por “Reis”, na qual não resta mais nada aos “Escravos”
senão servir; entre outras questões que viriam a ser o trabalho de toda a sua vida e fundamento de uma
escola de pensamento esotérico identificada como Thelema1, com seus próprios valores morais, em
total oposição à cristandade encarnada da Inglaterra vitoriana onde vivia. Crowley afirmou de modo
definitivo sua oposição à fé cristã ao tomar para si o nome mágico de To Mega Therion, a versão em
grego, idioma original do Apocalipse de João, da mesma “Besta” que sua mãe o apelidara na infância.

Friedrich Nietzsche nasceu em 1844, trinta e um anos antes de Crowley e também cresceu em uma
família de forte tradição cristã. Ainda jovem, chegou a compor hinários para os familiares, mas após o
primeiro semestre em teologia na Universidade de Bonn, onde estudou com intenção de tornar-se
ministro religioso como seu pai, Nietzsche abandona o curso e diz ter perdido sua fé. Posteriormente,

1θέλημα: “vontade” em grego.

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

acaba por tornar-se um forte crítico do cristianismo, que considerava um entrave ao que entendia como
pleno desenvolvimento humano.

Sua obra filosófica buscou romper completamente com seus antecessores, propondo uma nova ideia de
indivíduo e uma ética adequada aos novos tempos que anunciava. Chamou seu método de Filosofia do
Martelo por estar voltado à desconstrução das certezas convencionais. A própria forma de apresentar
seu pensamento já foi em si uma manifestação de sua filosofia, ao romper com o formalismo
tradicional acadêmico, expressando-se em forma de aforismas e textos diretos, ao invés dos modelos
sistemáticos até então vigentes.

Não foi possível no escopo deste trabalho precisar quando Crowley teve contato com o pensamento do
filósofo alemão ou o quanto teria consumido de suas obras. Embora Nietzsche tenha ganhado a
atenção de anarquistas americanos e franceses ainda no final do século XIX, com publicação de
traduções de trechos de sua obra em periódicos como Liberty, de Benjamin Tucker, a primeira
publicação sobre sua obra escrita em língua inglesa só surgiria em 1907. De todo modo, os paralelos
entre as propostas éticas de ambos são tantas que parece bastante provável que o desenvolvimento da
teoria thelemita tenha ocorrido ao menos com influência de alguns conceitos chaves de Nietzsche.

O primeiro e mais óbvio paralelo é a primazia da vontade. A ideia de vontade já havia sido objeto de
reflexão de outros pensadores e Schopenhauer havia recentemente tratado o conceito como um mal a
ser combatido por uma postura ascética e pela castidade. A “Vontade de Vida” para Schopenhauer seria
a fonte do sofrimento, pois equivale ao desejo que jamais haveria de ser completamente saciado.
Nietzsche, embora sob grande influência de Schopenhauer, rejeita esta ideia de vontade de vida e a
reformula como “Vontade de Poder”, dando a ela um lugar não apenas de destaque em sua filosofia,
mas conferindo também um valor central na realização ética humana. A vontade de poder torna-se
então a própria força da vida, não mais aquilo que gera sofrimento, mas aquilo que dele se liberta. A
felicidade, portanto, deixa de ser entendida como um fim, mas como consequência da realização da
vontade.

Crowley trabalha de modo similar sua ideia de vontade, considerada pedra fundamental de sua
proposta filosófica, ao ponto de batizar sua escola de pensamento com o termo grego Thelema
conforme fora recebido no Livro da Lei em seu versículo 39 do primeiro capítulo: “The word of the
Law is θέλημα”. A realização da vontade em Crowley é a própria realização humana, libertando o
Homem de todas as convenções sociais, especialmente (mas não exclusivamente) representadas pela
moral cristã.

O anticristianismo, enquanto negação da moral cristã, une Nietzsche e Crowley em suas críticas como
a atitude necessária em direção a tornar-se um idealizado ser superior. Ambos referem-se aos que
vivem a moral cristã como “escravos”, pois são submissos a um poder alheio e vivem limitados de
realizar sua vontade plenamente. O Livro da Lei é amplo em referências a “senhores” e “escravos” e à
luz de Nietzsche, poderíamos entender que os papéis propostos, observadas as aproximações de
termos em ambos, equivalem àqueles que respectivamente exercem e não exercem sua vontade
plenamente, com especial observância ao paradigma cristão.

Definição similar surge em Nietzsche quando separa os fortes e os fracos, sendo os primeiros aqueles
que são movidos por forças ativas, ou seja, que existem em si mesmas, sem influências externas, e os

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

últimos como os que são movidos por forças reativas, aquelas que se interpõem contra as forças ativas
impedido sua ação, reagindo à ação dos fortes, criando barreiras à sua realização.

No versículo 21 do segundo capítulo do Livro da Lei é dito:


We have nothing with the outcast and the unfit: let them die in their misery. For they feel not. Compassion is the vice of kings:
stamp down the wretched & the weak: this is the law of the strong: this is our law and the joy of the world. (...)

Aqui também surge o par de opostos “forte vs. fraco”. A lei do forte é a autoproclamada lei dos
thelemitas e “alegria do mundo”, enquanto o fraco é “desgraçado”, “incapaz” e “inadequado”. Em
síntese, os fortes vivem na alegria da realização da vontade, enquanto os fracos, tolhidos por crenças e
temores, não alcançam sua plenitude.

A consequência desta dicotomia encontra um terceiro paralelo na obra de ambos. O Livro da Lei
declara abertamente que os poucos e secretos governarão os muitos e conhecidos 2. Nietzsche também
acreditava que a verdadeira virtude, esta que se contrasta ao modelo então vigente de submissão e
castidade, seria restrita a uma minoria aristocrática. Esta virtude de viver como um forte entre fracos,
na plenitude da realização da vontade, acaba por isolar o indivíduo, tornando-o solitário. Não fica
claro em Nietzsche na sua apologia a uma aristocracia, se esta virtude seria natural e hereditária ou
transmissível pela formação. Em todo caso, há a ideia de que “homens nobres” dão descendência a
“homens nobres”, estes entendidos como aqueles com mais força de vontade e ânsia de poder. Talvez
Crowley tenha respondido a esta questão ao propor que “The main ethical principle is that each
human being has his own definite object in life. (...) It is the business of the community to help each of
its members to achieve this aim;” (CROWLEY, 1969). Se a comunidade deve se ocupar de ajudar
cada um de seus membros a alcançar seu próprio objetivo de vida, é razoável supor que esta
aristocracia thelemita é transmissível através das relações entre pares, independente de suas
características sociais, raciais ou de gênero.

Nestes parâmetros, a solidão do indivíduo virtuoso torna-se o ápice do individualismo do sujeito


moderno, configurado desde a Renascença e idealizado pelo Iluminismo. O indivíduo virtuoso, tanto
para Crowley quanto para Nietzsche não é imerso na coletividade, mas isolado em “sua verdadeira
órbita” (CROWLEY, 2004), como poeticamente exemplifica o mago inglês na introdução ao Livro da
Lei.

Ao declarar que a virtude reside na realização da vontade, não entregar-se a isto torna-se novamente
aprisionamento. O Livro da Lei é enfático ao declarar que não há direito senão realizar a própria
vontade3, de modo similar ao que Nietzsche vê que a entrega à vontade deve ser absoluta, sem
reservas, ou, de outro modo, surge o medo e a autopreservação, como um sistema de segurança que
restringe a liberdade. Crowley chega a usar quase exatamente estas palavras ao definir o escravo como
aquele que diz “segurança em primeiro lugar”4 Aí, reside conceito de niilismo em Nietzsche: a
negação ao mundo da vida, característica por ele entendida como central na cristandade. O indivíduo
potente de vontade deve portanto entregar-se ao mundo sem medo e sem medida. É curioso, portanto,
que, embora a Thelema anuncie-se como uma espiritualidade solar, e portanto sugestivamente
apolínea, dentro da perspectiva que Nietzsche apresentada em “O Nascimento da Tragédia”, Thelema
é uma lei fundamentalmente dionisíaca. Liber Tzaddi anuncia isso em seus versos:
2Liber CCXX I,1. “Let my servants be few & secret: they shall rule the many & the known.”
3Liber CCXX I,42. “Let it be that state of manyhood bound and loathing. So with thy all; thou hast no right but to do thy
will.”
4Magick Without Tears, Ch. 48

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32. Only your mouths shall drink of a delicious wine --- the wine of Iacchus; they shall reach ever to the heavenly kiss of the
Beautiful God.

33. I reveal unto you a great mystery. Ye stand between the abyss of height and the abyss of depth.

34. In either awaits you a Companion; and that Companion is Yourself.

35. Ye can have no other Companion.

36. Many have arisen, being wise. They have said "Seek out the glittering Image in the place ever golden, and unite yourselves
with It."

37. Many have arisen, being foolish. They have said, "Stoop down unto the darkly splendid world, and be wedded to that Blind
Creature of the Slime."

38. I who am beyond Wisdom and Folly, arise and say unto you: achieve both weddings! Unite yourselves with both!

Vinho é oferecido àqueles vivem sua vontade e propõe-se um caminho de excessos, sem limites entre
o mais elevado e o mais abissal, de certo modo, em conformidade com o anteriormente anunciado no
Livro da Lei que exclama “Excede! Excede!”5, assim como com a própria ideia dionisíaca de entrega,
embriaguez e ruptura proposta por Nietzsche em o “Nascimento da Tragédia”.

Há, entretanto, limites no confrontamento entre as obras de Nietzsche e Crowley. Em A Gaia Ciência,
Nietzsche diz “Melhorar a Humanidade, eis a última coisa que vou prometer”. Nietzsche anunciava
a vinda do übermensch, mas estava certo de que vivíamos ainda entre os últimos homens, aqueles
acomodados pelas convenções da sociedade e refreados em sua vontade em nome da segurança e da
autopreservação. Por outro lado, Crowley abertamente declara ter “a Chave para a resolução de todos
os problemas humanos, tanto filosóficos, quanto práticos.”6 Ademais, dificilmente Nietzsche
concordaria com a ideia de uma verdadeira vontade, expressão que embora não esteja presente no
Livro da Lei, foi amplamente usada por Crowley em comentários e textos posteriores para distinguir
uma hipotética vontade superior das demais vontades mundanas. Para Nietzsche, o que importava era
a Vontade de Poder. Restringir este poder a uma única vontade soaria como um novo grilhão. Mais um
sistema estabelecendo força reativa contra o impulso da vontade criando novamente escravos de um
determinado modelo mental.

Neste ponto, Thelema parece encontrar amparo na obra de outro filósofo, um século anterior e
diametralmente oposto ao ideal nietzschiano: Immanuel Kant.

Kant foi o fundador do idealismo alemão, o que significa que acreditava que a crítica do conhecimento
era o meio adequado para chegar a conclusões filosóficas, ressaltando a importância da mente em
oposição à matéria. Tinha por princípio de sua filosofia que cada indivíduo é um fim em si mesmo e,
filósofo de grande importância que era, certamente não escapou das leituras de Crowley em sua
formação.

Assim como Crowley, Kant acreditava que nada havia de mais terrível que estar sujeito à vontade de
outro7 e esta preocupação levou-o a criticar qualquer sistema que situe a moral em lugar externo a ela
mesma. Em seu complexo sistema filosófico, a moral deveria ser a priori, ou seja independente de
qualquer influência, enraizada na própria razão do indivíduo e desinteressada de qualquer devir
5Liber CCXX I, 70-71. “There is help & hope in other spells. Wisdom says: be strong! Then canst thou bear more joy. Be
not animal; refine thy rapture! If thou drink, drink by the eight and ninety rules of art: if thou love, exceed by delicacy; and
if thou do aught joyous, let there be subtlety therein! But exceed! exceed!”
6Magick., p. 445
7apud. RUSSEL, 1969, p. 254

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

daquele ato, senão o irrestrito cumprimento do dever. E mesmo este dever não deve estar situado fora
de si, como aquele que faz a caridade por medo do inferno ou o soldado que obedece uma hierarquia
porque cumpre ordens.

De acordo com Kant, o dever deve ser autônomo, pois quando agimos com finalidades externas, para
cumprir prescrições, agimos como meros instrumentos, e não como verdadeiros autores de nossos
atos. A autonomia é portanto uma lei que estabelecemos para nós mesmos. Sendo autônomos,
deixamos de ser coisas e passamos a ser pessoas.

Pensando moralmente, o valor de cada ação não está no seu resultado, mas na sua motivação. De certa
forma, esta proposta parece levar a um caminho que resulta na ideia de verdadeira vontade abordada
por Crowley. Kant, não considera moralmente motivada qualquer ação mundana, como a satisfação
dos desejos e preferências, as quais chama de “motivos de inclinação”. A ação moral é aquela que age
de acordo uma lei própria que orienta o dever, e não porque haverá qualquer benefício vindo dela.

Se a ação não for moralmente motivada, ou seja, movida por um senso de dever autônomo, então esta
não é uma ação livre. Assim, de certo modo como Crowley, Kant não crê que a liberdade está em fazer
o que se quer, mas fazer aquela única coisa de acordo com a própria lei cujo fundamento é a razão.

Sendo a ação moral aquela que age de acordo com uma lei própria fundamentada na razão, Kant não
vê oposição entre Lei a Liberdade. Para ele, embora a razão pura forme a ideia de liberdade, ela não
pode provar sua realidade, pois o uso puramente intelectual da razão leva a enganos. Portanto, apenas
dirigindo a razão a fins práticos, ou seja, morais, é possível fazer seu uso adequado. Pela prática da
razão, ser livre é cumprir sua própria lei, ou seja, a Vontade.

Arguir que a Lei de Thelema possui uma moral parece contraintuitivo à maioria daqueles que se
entendem como alinhados à Lei de Thelema. Crowley baseia-se diretamente em Nietzsche para
romper com a ideia de moral, mas essa ruptura não foi absoluta. Thelema traz em si uma nova
proposta moral a qual aquele ou aquela que decide orientar-se por ela deve seguir uma lei que embora
seja a epítome da liberdade é também “a mais estrita das injunções”8 que é fazer a vontade “e nada
mais”9.

Deste modo, se podemos afirmar que Thelema é a Lei do Novo Aeon expressa através do axioma
“faze o que tu queres” e que esta lei é uma lei de liberdade, o paralelo entre Crowley e Kant torna-se
evidente.

Ao atribuir à razão a faculdade de orientar a vontade, Kant observa que a ação de um indivíduo pode
ser categórica ou hipotética. A ação hipotética é aquela que age sob influência externa ou interesse. Por
outro lado, de modo similar às noções de dever e de autonomia, a razão age categoricamente quando
sob imperativos independentes de qualquer propósito, sem objetivo ou interesse em resultados. O
imperativo categórico é portanto guiado apenas por “uma lei prática que detenha o comando
absoluto, sem qualquer outro motivo”10. E para Kant, este valor absoluto além de qualquer interesse
pode ser apenas um: a humanidade. Afinal, se todo homem e mulher existem como fins em si mesmos,
seu coletivo deve respeitar as mesmas leis que se aplicam individualmente.

8v. Liber II
9v. Liber II
10apud SANDEL, 2012, p. 152).

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Deste modo, o imperativo categórico, que em primeira análise é fruto de uma vontade própria
direcionada pela razão prática, jamais causará em conflito entre as vontades diversas. Se a razão
reconhece todo indivíduo como um fim em si, ela é incapaz de legislar contra outro indivíduo. Diz
Kant (1993, p.440):
“A dignidade do Homem consiste precisamente em sua capacidade de criar leis universais, embora apenas sob a condição de
estar, ele também, sujeito às leis que criou”.11

Deste modo, torna-se sugestivo o encontro direto com o conceito de que a realização da vontade
segundo as interpretações de Crowley da Lei de Thelema jamais entrará em conflito com outra
vontade, pois o imperativo categórico exclui todas os interesses e desejos que poderiam ser razão de
colisão entre “diferentes estrelas”.

Assim, embora em seu aspecto mais exterior, a Lei de Thelema apresentada pelo Livro da Lei e
desenvolvida por Aleister Crowley ao longo da primeira metade do século XX encontre um forte eco
das ideias de Friedrich Nietzsche e aparente buscar nelas inspirações para derrubar as convenções de
seu tempo, é em Immanuel Kant que encontramos fortes elementos para subsidiar sua proposta ética e
moral como uma fórmula de realização da vontade.

Frater Ad Astra (frater.ad.astra@gmail.com)

Bibliografia

CROWLEY, Aleister. CROWLEY, Rose Edith. The book of the law: liber al vel legis. USA: Ed. Red Wheel Weiser, 2004.

CROWLEY, Aleister. The confessions of aleister crowley: an Autohagiography. USA: Ed. Bantam Book, 1969.

_________________. Magick without tears. USA: New Falcon Publicantions, 1991.

_________________. Gems from the equinox. Arizona: Ed. Falcom Press, 1986.

_________________. Magick: liber aba - book 4. USA: Ed. Weiser, 1997b

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Ed. Edições 70, 2007

NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2001.

_________________. O nascimento da tragédia. São Paulo: Ed. Escala, 2011.

RUSSEL, Bertrand. Obras filosóficas livro quatro, São Paulo: Ed. Companhia Editora Nacional, 1969.

SANDEL, Michael J. Justiça: o que é fazer a coisa certa? Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2012.

11apud SANDEL, 2012, p. 158).

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

Teoria, Técnica e Performance

Se você tem um certo tempo de convívio na comunidade ocultista, certas questões e dúvidas vão
aparecer; mais vezes do que você gostaria de ter que debater. Há muita confusão entre: a diferença de
nomeação de práticas parecidas, usar ou não psicotrópicos, se é certo mudar o idioma original de um
ritual ou não. Acredito que isso decorre de um problema basilar no formato de transmissão de nossas
publicações: a falta de divisão entre Teoria, Técnica e qual é a Performance da instrução. Muitos dos
livros começam explicando algo, citam uma operação mágica ou um procedimento, e justificam parte
do procedimento com dizeres típicos da parte mais abstrata da Teoria.

Na minha experiência, o início dessa necessidade de separação entre teoria, técnica e performance
surgiu durante debates com colegas de Arte. Ao ouvir experiências e depoimentos referentes a magia
de diferentes pessoas, sentia um estranhamento e confusão sobre as aplicações. Durante o primeiro
Simpósio de Hermetismo, evento que ocorre anualmente em São Paulo, essa pulga atrás da orelha
voltou a coçar quando dois palestrantes que haviam estudado teorias diferentes explicavam aplicações
divergentes e cada um garantia que a sua dava certo (não preciso dizer que ambos os palestrantes
sabiam muito bem o que falavam em suas áreas de atuação). Mas foi apenas ao ler o livro “Modern
Sexual Magick”, de Donald Kraig, especialmente um trecho em que ele ressalta a relevância da
distinção entre esses três termos para explicar a diferença de abordagem de seu livro, se comparado a
textos tântricos, que entendi o que me incomodava.

Como esses três termos têm diversos significados, irei usar as seguintes explicações. Teoria, de acordo
com o site significados.com.br, é “o conjunto de princípios fundamentais de uma arte ou de uma
ciência. Teoria é uma opinião sintetizada, é uma noção geral. Do grego theoria que no contexto
histórico significava observar ou examinar. Sendo assim a teoria é a grande explicação geral da arte
em si”. Sobre o termo técnica, temos no mesmo site: “A palavra técnica vem do grego téchne, que se
traduz por “arte” ou “ciência”. Uma técnica é um procedimento que tem como objetivo a obtenção de
um determinado resultado (...). A técnica supõe que, em situações semelhantes, uma mesma conduta
ou um mesmo procedimento produzirão o mesmo efeito”, ou seja, ela é específica, é o que faz chegar
ao resultado. E performance, ainda na mesma fonte é “A palavra (...) que significa realizar, completar,
executar ou efetivar”, isto é, o como foi realizado o feito. Desta forma, temos de uma forma simplista,
respectivamente, porque, o que e como.

Numa linha cronológica, alguém nos ensina uma prática, e ao copiarmos, acabamos por mimetizar a
sua performance (como se faz). Conforme vamos praticando, observamos sucessos e fracassos e, com
isso, modificamos uma parte ou outra até entender do que se trata aquela técnica (o que estamos
fazendo), para debater as teorias em volta (porque se faz). No início não temos as ferramentas para
separar o que é cada parte deste triângulo (teoria, técnica e performance); compramos a prática como
um todo e com a nossa experiência vamos separando o que é cada elemento. Vale ressaltar que,
dependendo da cultura da ordem/guru/líder, esta separação não é estimulada. Isso é comumente visto
em posturas e falas que seguem a linha “é assim e pronto” ou “nunca mude uma vírgula do ritual
você; pode se dar mal”.

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

Nossa área do conhecimento humano tem especificidades que dificultam ainda mais esse debate, pois
sabemos de antemão que a teoria vem carregada da cosmovisão do autor, e que dois operadores podem
usar a mesma técnica e discordar absurdamente de todos os pontos da teoria. Por exemplo: se eu
chamo para minha magia hipotética três excelentes operadores sendo um psicomago, uma benzedeira e
um hermetista, cada um vai saber trafegar na cerimônia com proficiência e cada um irá usar uma teoria
para explicar o que aconteceu. Os magistas do caos versam bastante sobre essa diferença, chamando
de paradigmas as diferentes cosmovisões. Ao pontuarmos que há paradigmas, facilitamos, de um lado,
a criação de discursos na comunidade mas, por outro, nos distanciamos do fenômeno em si, por vezes
diminuindo o acesso à publicação que traz um determinado conteúdo (este assunto foi tratado num
texto anterior).

É provável que esta confusão entre teoria, técnica e performance venha dos autores clássicos. Os
textos antigos sempre advertem o leitor de que nada deve ser mudado, que somente seguindo à risca o
tratado é que seria alcançado o objetivo desejado. Tendo como premissa a necessidade de acuracidade,
não haveria motivo para distinguir essas três partes, tornando-as quase uma única parte do processo.

Eliphas Levi começa a mudar esse modo de comunicação no seu livro seminal “Dogma e Ritual da
Alta Magia”. Nele, encontramos um espaço para teoria e um para técnica/performances. Porém, Levi
ainda comenta bastante, na parte teórica, sobre questões da prática, ao mesmo tempo em que explicita
teoria na parte prática. Os livros que, hoje, seguem esse formato tendem a deixar mais clara a
separação entre cada elemento. E poucos livros sobre técnicas não caem na armadilha de jogar teoria
no meio da explicação prática.

Mesmo nos textos atuais, a separação entre técnica e performance é complicada. É comum até mesmo
que não haja essa separação; autores tratam técnica e performance como se fossem apenas uma peça
só, indissociável e indiscutível. Em outros casos, a discussão sobre performance só aparece quando o
autor escreve sobre apenas uma técnica, o que dá mais liberdade para que ele verse sobre formatos de
aplicação da técnica. Alguns magos, como Phil Hine e Donald Kraig, pontuam bem essa diferença
entre técnica e performance, mas como eles são guiados pelo resultado, não encontrei muitas
discussões sobre performance especificamente; há mais uma estimulação para prática individual e
criativa do que textos que versam exatamente sobre tipos de performance. Sendo assim, quando o
resultado é encontrado, o discurso se encerra. Um livro muito interessante que separa bem esses dois
pontos é o “The Book Of Ordinary Oracles”, de Milo Lon Duquette, onde ele foca menos em teoria,
dá sua opinião sobre o que é a técnica oracular e a (maior) parte restante do livro apresenta diversas
ideias de como fazer propriamente um oráculo (uso de moedas, dados e até com uma televisão!).

A falta de definição de cada elemento, e a consequente falta de uso, associada à ausência de debate
entre categorias equivalentes (teoria vs. teoria, técnica vs. técnica, performance vs. performance) gera
confusões entre pares, dúvidas e inseguranças nos recém chegados, tais como receio de que mudar
uma performance possa afetar essencialmente a técnica ou receio de uma técnica não funcionar por
não ser coerente ou congruente com com uma determinada teoria.

Vamos aos exemplos.


O caso mais simples de demonstrar isso é com o jogo de Tarot. Temos duas teorias recorrentes: a
ocultista, que afirma que as cartas têm relação com a cabala, com os planetas, com a alquimia etc., e a

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

simbólica, que afirma que as cartas por si só têm imagens o suficiente para uma análise simbólica
pessoal. Essas duas teorias, embora distintas, podem ser usadas como explicação para o uso de uma
técnica ou outra do jogo.

Existem também diversas técnicas de como jogar e “traduzir” o significado as cartas: ler o manual que
vem junto, usar os significados herméticos para ler o que saiu na jogada, intuir possíveis significados
daqueles símbolos naquele momento, etc. Já no quesito performance, há uma série de opções: jogar
um arcano maior e um menor, misturar tudo, usar o jogo da cruz celta, péladan ou árvore da vida; usar
dezenas de cartas, usar um número mínimo de cartas, cortar o baralho em três partes, contar as cartas
e separar em montes, fazer uma reza antes, ouvir a pergunta do consulente, etc.

O que vejo comumente em debates internéticos é o uso de uma parte da teoria para justificar uma
crítica à performance ou, se uma técnica utilizada não tem relação com a teoria predileta do crítico,
prontamente coloca-se em dúvida a eficiência da técnica utilizada. Exemplo: Frater X gosta da Golden
Dawn, faz um RMP no início da tiragem, joga dez cartas, uma para cada esfera da árvore da vida e lê
as cartas relacionando-as às esferas onde se encontram; Frater Y, mago solitário, joga a cruz celta e diz
que “deixa a mente solta” para responder. Frater Y disse que Frater X está errado ao fazer uma leitura
racional, usando como argumento que as esferas da Árvore da Vida são emanações divinas. Nesse
exemplo, ele usou um ponto da teoria que pode ou não ser verdade, para explicar algo da técnica que
pode ou não funcionar. Frater X diz para Frater Y que sem RMP sua leitura sairá “confusa”. Ou seja,
ele está pegando parte da performance que ele próprio faz para justificar um possível erro na técnica
de Frater Y, ignorando que o outro operador não utiliza desse modelo teórico da Golden Dawn e que,
portanto o banimento do pentagrama não fará parte das opções de performance dele.

Em meu entendimento, ao discriminarmos o que é cada elemento, o debate fica mais fluido e sem
interrupções abruptas que podem impedir o desenvolvimento de novos saberes. A técnica que Frater X
usou funcionaria com a performance que Frater Y fez? Se não, como ele adaptaria a própria técnica
para adaptá-la ou incorporá-la à performance de Frater Y? Frater Y leu um artigo do Frater X, quer
testar a técnica mas não gosta da performance; como ele incorporaria a técnica de Frater X a sua
performance? Dúvidas como “Se eu eu não cortar o baralho três vezes vai dar certo?”, “Se eu não fizer
uma reza pra Hru, tô lascado?”, “Tarot é técnica ou mediunidade pura?” passam a ter resultados mais
interessantes e uma replicação de resultado mais útil.

Outro exemplo é a confusão entre os termos viagem astral, viagem nos tatwas, visão do espírito,
scryng, espelho negro/branco e o uso dessas técnicas e outras similares. Se separamos esses três
elementos (teoria, técnica e performance), conseguimos trafegar melhor por entre essas habilidades, e
podemos, então, compreender e debater como comunidade qual expectativa temos de cada técnica, e
temos mais possibilidade de avançar o debate após coletar dados, verificando se estes, por meio da
técnica usada, condizem ou não com uma determinada teoria, por exemplo, ao invés de só validar ou
não o teste de acordo com uma crença pessoal. Um aparte: esta questão fica ainda mais obscura
quando alguns magos, com expertise no “ocultismarketing”, mudam a performance de uma técnica
estabelecida e só trocam o nome para vender uns livros a mais.

Outro exemplo da falta que esta distinção faz, pela qual eu mesmo estou passando: recentemente li
alguns textos sobre entidades bem sui generis., Nesses textos não são apresentadas informações sobre

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

performance ou técnica de invocação. O que me fez preencher as lacunas do material com uma técnica
que eu confio e já que testei à exaustão, aliada à teoria GD (Liber 777). Poderia ser que a performance
a princípio ficasse estranha, mas pelos resultados que já tenho obtido, posso entender o que estou
acertando e o que estou errando. Com sorte, este meu processo poderá se tornar outro artigo.

Em suma: quando não temos bem distinguidas as diferenças entre teoria, técnica e performance, é
comum que abordagens diferentes sejam invalidadas a priori, seja por diferir do “original”, seja
porque caminho traçado não é o usual de uma técnica estabelecida por uma determinada cultura.
Porém, se entendemos e usamos a diferença entre esses elementos, o debate sobre a prática fica mais
profundo. Por exemplo, poderíamos questionar qual outra técnica seria possível usar e o procedimento
que será aplicado a esta técnica (performance) e com qual base (teoria), ampliando e aprofundando o
debate e o conhecimento da comunidade.

Conectando meu primeiro texto, sobre a necessidade de um discurso mais fenomênico, descritivo,
aberto a todos da comunidade, a esse modelo de três elementos distintos aqui apresentado, creio que
teremos um terreno mais interessante para o debate. Surgirão novos debates; se um termo é técnica ou
se é perfomance, quando é um e quando é outro, até chegarmos em algum acordo. Até seria possível ir
além do discurso, propondo teses pra saber se um assunto específico (por exemplo, sigilização, uso de
enteógenos, anjos enoquianos) é técnica, performance ou parte do núcleo teórico.

Uma comunidade em busca do Saber deve desmistificar o conhecimento e desengessar textos


consagrados, facilitando o debate e abrindo espaço para possíveis mudanças de curso de pesquisas,
criando ferramentas também no discurso para debate de resultados, replicação de procedimentos e,
principalmente, para atualização da Arte.

AlHudhud
www.astrumargentum.org.br

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Thelema Contemporânea: Adeus Ano Velho Feliz Aeon Novo

É isso ai minha gente, muita festa, vinho e drogas estranhas, fogos na praia de Copacabana, contagem
regressiva na Times Square em NY no Japão já comemoraram o Ano Novo Thelêmico, a passagem do
Equinócio a data do Grande Ritual onde as vibrações de Heru Ra Há se fizeram presente como febre
vinda dos céus na cidade vitoriosa em 1904, teve batucada, oferendas de flores pra Nuit, festa, show
da Ivete (????) ZzzzzZZzzzzzZZZZz.
-(apneia) Ahn? O que? (apneia) Como?
- Ivete? Copacabana? Fogos de Artifício? Ufa...
Que saco! Acordei do meu sonho, se bem que estava mais pra pesadelo mesmo, deve ser pelo fato de
eu estar vindo de uma maratona de trabalhos sobre a obra do Motta, mais especificamente o
Chamando os Filhos do Sol, e o Liber 231 o trabalho sobre as qliphots, além de um par de manuscritos
do mesmo, talvez daí a natureza do sonho Thelemita ao invés de sonhos mais comuns como ganhar
sozinho na Mega Sena(e como gastar a bufunfa...) , uma goleada do Vasco (cada vez mais sonho
mesmo), ou um show maravilhoso reunindo Frank Zappa, Piazzolla e a minha pessoa (os dois
primeiros se não conhecem procurem saber...).
Mas voltando ao Motta, apelidado por muitos como General de Thelema, inflexível, tirano e toda a
sorte de “elogios” que todos conhecemos bem, seu temperamento chega a ser previsível em alguns
casos, de toda a forma não estou aqui para fazer uma apologia à sua personalidade, nem tão pouco um
acerto de contas. Vamos aos fatos. Pensei o quanto ele que foi o promulgador primeiro da Lei em
terras Tupiniquins deve ter tido esse sonho. Não de um ano novo Thelemita, mas de uma sociedade
com valores Thelêmicos. Parece piada ou brincadeira de mau gosto, mas quem estuda a fundo seus
escritos longe de certas derrapadas personalistas, ele mostra e muito esse lado sonhador de uma
sociedade assim, e deixou muito material da SOTO dele nesse sentido. “Sonhar não custa nada...”,

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

bom qualquer um tem o direito de sonhar mas pra quem se esqueceu ou tá nesse caminho lindo e voraz
chamado Thelema, a relativo pouco tempo, sempre vale a lembrança:
“Agora seja primeiramente compreendido que Eu sou um deus de Guerra e de Vingança. Eu lidarei
duramente com eles” AL III:3
Me tornando um foco de pestilência momentâneo e fazendo um comentário sintético desse verso,
escrevo:
- “O couro vai comer, o pau vai cantar, a onça vai beber agua e nem pedra sobre pedra vai restar”
O capitulo III trata-se do estabelecimento do reino de RaHoorKhuit na Terra, por isso mesmo Motta
recomendava a seus estudantes e aqui recomendo a todos que deem especial atenção ao 3º capitulo,
considerando o como o primeiro, pois o primeiro trabalho é do homem da terra.
Mas que “Terra” é essa? Te garanto que bradar no peito: Faze o que tu queres, ou cantar o mantra
Akadua mil vezes ou mais, não te farão um Thelemita, quando muito um aspirante à.... Ok é natural o
movimento de ao jogar luz na escuridão para vermos coisas antes diáfanas e escondidas virem à tona,
isso fede muito, fede igual quando se dá a inversão de correntes numa lagoa e rola uma mortandade
bizarra de peixes na mesma, é um processo longo e doloroso, porém de coragem, de força. O aspirante
a Thelema apegado as suas convicções pode naufragar fácil como um capitão agarrado ao mastro do
seu navio que soçobra, num mar de lama da personalidade, o enredo é o mesmo, as vezes ele passa por
adaptações, mas é tão velho quanto um Bhagavad Gita, um reino foi usurpado, seu governante está
dormindo, ou em cárcere, ali há um regente que não possui o direito ao trono, cabe ao rei acordar, ao
guerreiro lutar, ao Thelemita fazer com que RHK se manifesta em sua terra. Claro que durante o
processo coisas legais acontecem, assim quando remexemos com a concha o caldeirão da sopa de
entulho de legumes e vemos à tona os legumes mais pesados e saborosos do fundo da panela. O
trabalho é ativo e dinâmico e Crowley o comparou como um verbo, ou seja, essa ideia de algo
acontecendo e o movimento sempre contínuo, o trabalho da Santa Ordem é diferenciado, por isso
insistimos que graus não são tão meramente estados de consciência mas também tipos específicos de
trabalho. O trabalho diria até amoral:
“Salva-nos do Bem e do Mal
Leva nos através da meia noite até o Sol”
Muitas vezes, e isso é muito comum, estudantes que por sua história pregressa temem qualquer coisa
relacionada à NOX assim como aqueles que gostam mais de magia do caminho da mão esquerda, do
Caos, das tradições Afro tenham alguma restrição ou dificuldades com as práticas LUX ou até práticas
corriqueiras como o diário magicko. Saibam que são nessas dificuldades que as vezes negligenciamos
que estará a ruina da base de nossa pirâmide, conheço alguns “thelemitas” que tem “receio” em
praticar o Liber V – o ritual da Marca da Besta – seja por “receio” aos pentagramas invertidos, seja por
receio ao nome ou aos símbolos traçados nesse importante ritual teúrgico. Não estou aqui para julgar
quem é ou não Thelemita, mas é bom lembrar que “Com minha cabeça de Falcão eu bico os olhos de
Jesus, enquanto ele se dependura da cruz” na edição passada teci longo comentário sobre esse verso,
que aqui sintetizo, jogue sua bagagem fora, seja ela cristã, espirita, budista. Rosa cruz, maçônica, what
ever...se entregue ao sistema thelêmico, as filosofias e ensinamentos contidos nos Libri e claro
pratique, pratique muito, Liber E, Liber O, Liber Resh, Liber 44, Liber 5, Liber 25, Liber 36, Liber
HHH, Samekh, 271 etc..etc., via de regra o aspirante sincero a Thelema é aquele que aceitou Liber Oz

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

e Liber II – então, pra que não seguir os passos dentro do seu ritmo? Ah tai o “X” da questão! O ano
velho não cabe no aeon novo, ou melhor, “não se pode servir vinho novo em odres velhos” (Sim é
bíblia, está lá em Mateus? Ou Marcos? Ou Lucas? Ou nos três!!!) Agora se analise se você tem
vocação para Odre velho? Todos temos um pouco de resistências, uns mais outros menos, então dica
prática. Quebre-se, se arrebente no chão! Como? Siga as instruções, siga a sua intuição, temos um par
de escritos e rituais para essa quebra, porque se você não se quebrar, a natureza vai, ou então
simplesmente vai desistir o que é pior. Podendo te deixar num estado insano de Pseudo Iniciação. Mas
como é isso? Se olharmos nessa miríade maravilhosa da internet veremos Mestres, salvadores,
professores e especialistas em Thelema, bem Faze o que tu queres, lembrem se que há muito espaço no
corpo de Nuit para todas as estrelas brilharem, e o choque de estrelas sempre é um incêndio! Agora
Thelemitas trabalham no silêncio, não necessariamente com silêncio, mas com um discurso interior,
pautado em muito trabalho, não tentam mudar regras dentro de Thelema, eles já aceitaram Liber Oz e
Liber II se lembram? Trabalham dentro de parâmetros descritos no Liber 185. Não se enganem os
Neófitos e chancelarias de todas as linhagens se conhecem e mantém uma relação amistosa, vide a
Revista 777 como exemplo. Em hipótese alguma eles cobram algum dinheiro por serviços na A∴A∴
tampouco realizam vendas casadas com a Santa Ordem. Não é regra, mas a grande maioria tem os
seus trabalhos fora do ambiente Thelêmico e são relativamente bem sucedidos tirando o fator Brasil,
mais ai são outros quinhentos mesmo. Claro que há um âmbito mais social de ordens de trabalho
coletivo que aceitam a lei de Thelema e sempre vale uma visita e uma pesquisa naquelas que lhe
interessarem. Não cabe agora no tocante a Santa Ordem da A∴A∴ as brigas de um passado distante,
nem fazer um conflito Hatfeld x McCoy, não existe tampouco a indiferença, estamos atentos a tudo.
Então esse momento de estabelecimento do reino de Ra-Hoor-Khuit na Terra segue e se expande como
ondas de uma pedrinha lançada no lago, depois do âmbito individual para o âmbito social e cultural e
nos demais. Therion deixou um belo roteiro escondido em seu vasto material, que foi explorado por
alguns como Adjuvo que também nos deu pistas sobre estes tesouros, então além disso tudo somos
exploradores que experimentam coisas e anotamos com rigor quase acadêmico nosso roteiro pessoal
para que o Sucesso nos dê provas. Provas do trabalho que realizamos. Adeus ano velho! Feliz Aeon
Novo, que tudo se realize no Odre que vai nascer.
Não há culpa, não há salvação!
Força e fogo são de nós
H.418 - abadiahetheru@gmail.com
Sugestões para ouvir:
Frank Zappa – Inca Roads / Astor Piazzolla – Fuga Y Misterio / Moreira da Silva – Acertei no Milhar

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

Três palmos de morte preenchem meus pés:

Sobremesa do diabo,

Que debocha, angustiado,

Pelo meu fim que não chega.

Ainda ardo dia após dia

Com a esperança que me fora enfiada na nascença;

Espirro o vírus da truculência

Tendo apenas uma Vontade Divina,

Que faz dessa busca uma sina,

Que faz da pureza, concubina,

Jogando o peso das almas penadas

Sobre meu futuro caixão.


V.V.V.

Pintura: Ezra Cohen – Vessels

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

Liber Alkhemi

Ilustração: V.V.V.

(Recebido por frater Aurora Aureae – David Cherubim em 1988,


Livro Sagrado oficial da Thelemic Order of the Golden Dawn)

1. O Grande Obra é Unica: Alcance isso! Todas as coisas são modos de expressão de coisa Única e sua
busca eterna pela unidade com ela própria na Luz Imensurável de Sua Santidade Universal.

2. Esta é a maior vontade de todas: União com aquilo!

3. Aquilo sozinho é Verdade; e isso que você conhece é um necessário complemento do mesmo.

4. Por isso, nos cobramos a conhecer a verdadeira natureza daquela coisa.

5. Portanto, nós também cobramos para conhecer o Único significado dessa Única coisa, como
aprenderás no curso das tuas iniciações, através das muitas vidas do seu karma fabricado, ao Final
Ilustre Cimo da Tua Verdadeira Vontade na Eterna e Secreta morada de L.V.X .; sim, na Eterna Morada
secreta de L.V.X.

6. A Grande Obra do Sol é proclamada: alcance a coroa mística das idades!

7. Aqui está uma profecia da divindade, a mais sublime para muitos futuros Adeptos.
Este livro real da nossa ciência transcendental permanecerá entre os homens desta pequena terra por
muitas gerações vindouras. Muitos adeptos no futuro compreenderão esse Livro Sagrado e aplicarão
sua gnose secreta a realização da Grande Obra; e assim eles participarão secretamente do Inefável
Mistério da Verdadeira Pedra do Sábio que está escondido no Sanctum Sanctorum do Templo Eterno
da Santa Magia da Luz.

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

8. Pela sabedoria eterna de Hermes Trimegistus, três vezes maior, Que é o Senhor da nossa Ciência
Real e Arte Sacerdotal, este Santo Livro é possibilitado para os filhos dos homens.

9. Os que tem uma ouvidos para ouvir, que ouçam o maravilhoso e melodioso Esplendor de alta
sabedoria, imanente, mas escondido dentro dessas doces palavras celestiais da vasta sutileza da Coroa
da Criação.

10. Você discernirá os imperecíveis esplendores dourados dessas santos runas da magia na Eterna
Visão da Sabedoria, e com o ouvido Interno do Seu Espírito, e também em virtude de uma certa chave
de conhecimento que é imprevisível e não reconhecida entre os homens deste pequeno mundo de
existência corpórea.

11. Estes esplendores secretos revelam a maior glória para a perfeita realização da Verdade Única no
homem.

12. Pois tudo aqui registrado é um verdadeiro testemunho de coisas vistas com O Olho Interno de
Nossa Alma, e das coisas ouvidas com o ouvido interno de nossa Espírito.

13. Este Livro Sagrado é uma fonte de verdade, pela qual você virá a compreender as agências
invisíveis que direcionam as operações ocultas do Grande Trabalho através dos infinitos espaços do
Infinito, com mundos sem fim, acima e abaixo, para a esquerda e para a direita, para frente e para trás.

14. Estas agências sutis são três em número, capazes de grandes e vastas transformações através da
pura multiplicação e exaltação de seus infinitos e elementos elásticos de vir a ser

15. No entanto, há apenas um Conhecimento da Fórmula verdadeira única daqueles


Três Agências Arcanas que constituem a realização da Grande Obra, que foi comunicado parcialmente
de diversas maneiras ao longo dos eons do tempo, com cada maneira declarando-se Uma Verdade
absoluta.

16. Mas aqui está um grande e poderoso infortúnio que ligou muitos Candidatos não iniciados de
Nossa Arte Real às estratagemas de ignorância e a morte.

17. Pois muitos são os caminhos que levaram ao Grande Palácio de Ouro de Nossa Magnum Opus, e
em cada maneira você encontrará uma fórmula menor de conhecimento aplicável a Única Finalidade;
ainda são todas essas maneiras menores, meros reflexos da única forma de realização verdadeira e
desconhecida.

18. Existem também três agências menores que se concentram e sintetizam as Três Agências mais
elevadas nos mundos inumeráveis de Nosso Infinito

19. Se você puder descobrir as operações exotéricas desses três menores princípios da natureza, você
também obterá um vislumbre sagrado dos três Princípios mais elevados dos quais falamos.

20. Cada princípio menor é um sinal do mais alto, mas depois de uma certa maneira
mais secreto e misterioso.

21. Na Terra, você encontrará esses princípios refletidos e especialmente manifestados em suas obras
de união física.

22. Há fogo, e há água, e então há ar: há enxofre, e há sal, e depois há o Mercúrio.

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

23. Não percebes a verdadeira natureza dessas coisas?

24. Ah! Você ainda não treinou sua mente para compreender os tesouros de Terra, que não são riquezas
materiais, nem bens materiais; mas, em vez disso, são tesouros sagrados que, quando encontrados,
fazem o homem vender tudo que ele tem para possuir eles.

25. Mas os Três Princípios Superiores do Universo estão além disso, sendo sutil, inefável e soberano.
Os três desses princípios maiores são iguais em essência um ao outro; não há diferença entre eles na
medida do infinito que eles contêm dentro de si mesmos: cada um desses Princípios Superiores é
igualmente infinito. 26. Agora, seja entendido entre o círculo sagrado dos Iniciados que em o seu
próprio Jardim das Rosas Sagradas domina estes Três Mais Elevados Princípios do Vasta
Desconhecido do Celestial Além.

27. Primeiro você segura o entendimento; então alcançarás a Sabedoria; e assim você obterá a Coroa
de eterno esplendor eterno. Estes são os três mistérios inefáveis do palácio das estrelas!

28. São também os segredos eternos da Grande Lâmpada da Sabedoria: existe a luz, o óleo e a própria
lâmpada.

29. Estuda bem este ensinamento triplo de Hermes-Mercurius-Thoth, Três vezes maior, mestre do
Opus do Sol; e então você vai realize a Grande Obra do Aeon.

30. Você também saberá que os Três Princípios mais Elevados dos quais nós falar são revelações
misteriosas de uma Trindade Inefável de Inconciliável Unidade.

31. Agora, o trabalho interno é triplo; e o trabalho externo é triplo. Cada um é uma Unidade Tripartida
de Alma, Mente e Corpo.

32. A Pedra Oculta das Idades é assim obtida, mesmo aqui e agora. Deixei o Sol e a Lua se unirem;
Deixe-os suportar um Hermafrodita! Deixe uma criança nascer: deve ser a Pedra dos Sábios, a
Medicina dos Metais e o Elixir da vida.

33. Também a Unidade Tripartida Acima é expandida para uma camada de pétalas de sete pétalas da
Rosa; e em cada pétala há inscrito no fogo uma das sete letras de VITRIOL.

34. Também cada pétala da rosa é de uma cor diferente; quatro pétalas são misturadas e as outras três
são virgens. Além disso, cada pétala tem um perfume, sabor e toque nisso. Tudo isso vem do Centro da
Cruz, isto é, de O Lugar do Palácio das Estrelas no meio de tudo.

35. E em cada letra de fogo sobre as sete pétalas da Sagrada Rosa lá está escondida uma visão e uma
voz. E em cada visão e voz existem escondidos um esplendor divino de transmutações indescritíveis
de inefável mistério e maravilha. Todos estes esplendores interiores são diferentes estágios de Nossos
Opus da Divina Transmutação que pode ser interpretado em muitos caminhos, em muitas terras.

36. Então, diz Hermes Trismegistus, Senhor de Nossa Arte Real e Sacerdotal de Alkhemi, que é
também a sabedoria dos deuses e os logos do Desconhecido Inefável. Os mistérios revelados são
mistérios escondidos; e ninguém que não seja o sábio pode decifrá-los. Este livro sagrado da Magia de
Hermes está selado hermeticamente; e ninguém além do sábio pode desvendar seu sublime Esplendor
da Alta Sabedoria para a realização da Grande Obra do Sol; sim, para a realização da Grande Obra do
Sol

Tradução: H418

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

Magick PanAeônica

Ilustração: Libero .˙.

Sobre Hórus:
“Sua fórmula ainda não foi inteiramente compreendida.”
“Depois dele emergirá o Equinócio de Ma, a Deusa da Justiça, pode ser daqui cem ou dez mil
anos; pois a Computação do Tempo não está aqui ou Lá.” (Aleister Crowley, Comentário do AL, Cap.
III, v. 34)

Nos escritos de Aleister Crowley, Kenneth Grant e outros Magos, há um sistema de divisão do
tempo, como medida humana, em Éons. Essas divisões têm sido úteis em demonstrar as diferenças
entre uma Fórmula Mágicka predominante e sua sucessora, tal como o Éon de Hórus substituindo o
Éon de Osíris. A demonstração ajuda o Mago a entender as mudanças em percepção, perspectiva, e
atitude que deve ser alcançada para que o praticante esteja apto a usar o mais avançado da evolução da
Corrente Mágicka.

O Éon Sem Nome engloba toda a pré história. Kenneth Grant, em “Aleister Crowley e o Deus
Oculto”, lista três Éons pré-históricos (0 o do Vazio, 1 o do Caos, e 2 o da Terra). Para fins práticos,
estes podem ser combinados em um único, sem nome, Éon, que teria a visão de mundo do animismo,
sonho, e Magick do espírito. Todas as coisas são animadas por espíritos; há um Submundo onde
conhecimento e poder podem ser obtidos. Comida era obtida por caça, pesca, e coleta. A forma-deus
desse Éon é Bes.

O Éon de Ísis traz força Feminina para o foco como a Deusa: Mãe Criadora, Terra fértil, Lua

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

alternante. A mudança de consciência representada é ter que cuidar das criaturas das quais se depende;
em vez de simplesmente se tornar o melhor caçador de animais e coletor de plantas selvagens, o pastor
e o fazendeiro assumiram a responsabilidade de cuidar em troca do controle das fontes de nutrição. Os
Magos desse Éon tomaram a Deusa, a Mãe, como o exemplo mais claro do tipo de atitude para se ter
perante a vida. A forma-deus é a Mãe Tríplice.

O Éon de Osíris mudou a consciência humana focando sobre a autoridade do Pai-Criador,


aquele que dita a lei e impõe ordem hierárquica em populações crescentes. Agricultura gerou
especialização do trabalho que trouxe as cidades como centros de trocas e comércio. A pressão
populacional impulsionou a migração e conquistas territoriais, o que fez emergir as guerras e líderes
dos homens. Força como coerção, permitiu a escravidão e servidão, onde a produção de comida podia
ser comandada e demandada ao fraco pelo forte. A eficácia desta fórmula garantiu sua continuidade até
que o desenvolvimento da ciência e indústria proporcionaram uma eficácia superior de produção. A
fórmula Osiriana do Deus Moribundo funciona como uma ponta entre a realidade agrária de plantar e
colher, e a realidade industrial de “conquista” e de “domínio” sobre a Natureza, despojo de recursos e
a poluição do ambiente.

Em sua degeneração, a fórmula do Deus Moribundo é pervertida em motivação para um número de


insanidades: resistência a Mudança, uso da força de um jeito ou de outro para atingir e manter o poder
sobre indivíduos, aquisição compulsiva de bens materiais, e a noção de que outra entidade provê
Salvação para alguém em particular, e pecado Original, o último de acordo com os relatos Bíblicos
foram um evidente caso de uma armadilha maquiavélica.

Nesse sistema Aeônico, o Éon de Hórus começou em 1904 com a escrita do Liber AL vel
Legis. A fórmula é esta da Criança Coroada e Conquistadora, o Príncipe que ascende ao trono após a
morte (transformação) do Rei, seu pai. O monumento do Éon Osiriano, o complexo industrial-militar
do Ocidente e Oriente, atingiu sua apoteose no arsenal nuclear capaz de esterilizar o planeta. É a
missão de Hórus representar esse ultimato existencial como Senhor da Força e Fogo.

A necessidade na base da fórmula não é subsistência nem soberania: ela é sobrevivência. A criança é o
ponto do Éon: continuação da raça humana. A lei do Éon é Amor sob Vontade; a aplicação dessa Lei
destrói o veneno remanescente de Osíris enquanto ao mesmo tempo coloca poder e responsabilidade
nas mãos do indivíduo.

Correndo conjuntamente com o Éon de Hórus desde 1974 está o Éon de Maat. Ela é a Filha,
gêmea de Hórus, e sua fórmula é Verdade e Equilíbrio. Ela complementa a natureza guerreira de Hórus
com sua medição e justiça. Ela garante a sobrevivência que Hórus estabelece iniciando uma mudança
fundamental na humanidade: o despertar do Inconsciente Racial para a Consciência Racial. Como
Hórus significa a Era Atômica, Maat significa a Era da Informação; sua palavra é IPSOS, “pela mesma
boca”. No Éon Duplo, a produção de comida se torna ao mesmo tempo mais automatizada e mais
caseira e orgânica, como negócio ou crença. Pesquisa de recombinação de DNA e teoria de clonagem
promete mudanças nessa área.

A transformação bem-sucedida da humanidade numa espécie duplamente cônscia trará o Éon


Sem Palavra, cuja forma-deus em particular é Harpócrates. Discurso físico é desnecessário com uma
Consciência compartilhada; assim é o Éon Sem Palavra.

Há outros conjuntos de Éons “a frente” de nós no tempo, mas eles estão além do escopo do
presente escrito.

Em 1986 , no encontro Winterstar no Lago Atwood, Ohio, foi conduzido um grande ritual em
grupo chamado “O Circo dos Éons”. O intento e resultado deste rito era de aterrar todas seis fórmulas

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

Aeônicas no presente. O propósito desse escrito é estender o evento para o nível individual de
Trabalho. Para fazer isso, nós consideraremos as semelhanças e diferenças entre os Éons, com o
propósito de desenvolver a Magick PanAeônica. O poder e eficácia de tal Magick pode, não apenas
ajudar, mas será maior que o uso de qualquer fórmula de um Éon particular. A primeira semelhança
que emerge é a antiga lei Hermética: “Assim como é acima, é embaixo; e como embaixo, é acima”.
Mudança no Microcosmos do indivíduo afeta mudança no Macrocosmo do mundo – e vice-versa.
Todas as formas-deus envolvidas são antropomórficas: mesmo o Hórus Cabeça de Falcão tem aspectos
humanos. Os quatro Éons do meio representam a relação familiar, e os outros Éons externos são
ancestral e descente. A segunda semelhança é o contexto social humano. As imagens do mago
solitário, ou o retiro da Operação de Abramelin tem impacto apenas no contraste. A maior parte da
Magick é feita através de, e com outras pessoas. A terceira semelhança é a aspiração da transformação.
Todas as coisas vivas almejam desenvolver potencialidade em efetividade, e produzir um rebento
viável. As Crianças Mágickas de cada Éon devem ser entendidas a luz da fórmula envolvida; evolução
é evidente. A aspiração é comum a todos, e é alinhada com a Natureza e o Tao. Como quarta
semelhança, há a remoção de obstáculos a manifestação da Corrente ou Vontade. Mesmo quando um
Mago afina o ritual para obter um fim específico, o resultado líquido é uma abertura na matéria-
energia através do qual a Corrente pode fluir mais facilmente. A quinta, e mais importante, semelhança
é a necessidade de aterrar as energias Mágickas empregadas. Se põe a mudança em ação no plano
físico – já que desejar não faz acontecer. Isso inclui ambos, o real fazer do ritual (“experimentos
mentais” não contam), e a aplicação da energia/informação/insight na vida quotidiana.

Para considerar os contrastes entre os Éons para o propósito ritual, vamos comparar as
seguintes tabelas:

Éon Esteriótipo social Cores Forma-deus Ferramenta


Sem Nome Caçador Preto Anão Percussão
Ísis Fazendeiro Azul Mãe Cálice
Osíris Soldado Verde Pai Espada
Hórus Guerreiro Vermelho Jovem Baqueta
Maat Testemunha Prata Donzela Pantáculo
Sem Palavra Embaixador Ouro Hermafrodita Incenso

Éon Atos Mágickos Essências Talismãs Símbolos Práticas


Sem Nome Dança, sonhos Pinho Osso, Cobre Cajado Xamanismo e
Vodu
Ísis Benzeduras, Rosa Sangue, Prata Trono Wicca, Kali
Maldições Puja
Osíris Banimento Mirra Chifre, Ferro Cetro Cristianismo,
Mitraismo
Hórus Invocação Olíbano Garras, Ouro Olho de Hórus Magick
Thelemita
Maat Vibração de Jasmim Pluma, Pluma Magick de
Palavra Mercúrio Maat
Sem Palavra Mudra, Gestual Sándalo Cabelo, liga: Criança Silêncio, Tao
Latão, Aço

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

Um Trabalho PanAeônico pode ser usado para alimentar os fins usuais da magia; pode ser
usado para adquirir conhecimento do espectro completo da experiência humana. Pode ser usado para
acelerar a transformação da nossa espécie, e pode ser usado para acelerar a transformação individual.
O magista experimentado prontamente verá como aplicar o básico a sua necessidade individual. É
melhor se estabelecer na fórmula combinada de uma forma balanceada antes de entrar em
empreendimentos mais especializados. Para este propósito, é proposto um ritual a seguir.

Invocação PanAeônica

Prepare um lugar privado como Templo, interior ou ao ar livre. Nas pontas do compasso coloque o
seguinte:

Leste: Espada, ferro, vela verde.


Sul: Baqueta, ouro, vela vermelha.
Oeste: Cálice, prata, vela azul, vinho.
Norte: Pantáculo, mercúrio, vela prata/cinza.
Centro: percussão, incenso, cobre, latão/aço, vela dourada ou preta.

Após suficiente meditação e conscientização dos ítens ao redor, seus significados e posições, bata a
percussão e dance ao redor do Círculo, em sentido horário, e anti-horário. Invoque Bes com cantos
como a inspiração te direcionar, em ritmo com a percussão. Quando a energia tiver atingido a sintonia
adequada, caia completamente e chame pelo Mundo Subterrâneo.

“Eu Invoco a ti, Bes, ancestral dos meus ossos. Perdida nas névoas do Tempo, tu vives em mim, nos
padrões de minhas células, e partes mais profundas do meu cérebro. Acordes para a nova vida dentro
de mim; deixe o poder de tuas paixões e medos dirigir minha Magick para o propósito devido.”

Pare aqui. E após cada invocação, até que você tenha se tornado o deus(a) e visto de sua perspectiva.
Erga-se e aproxime-se do Oeste. Ponha vinho no cálice, então ande o círculo em sentidos horário, e
anti-horário, aspergindo com seus dedos o vinho. Pare no Oeste e eleve o cálice, dizendo:

“Eu Invoco a ti, Isis, Deusa Tríplice; donzela, mãe e anciã. Pois Eu vim de ti, e retornarei a ti, tu vive
em mim, em amor e compaixão por todas as coisas. Acorde para uma nova vida em mim; deixe que o
poder de sua paciência e persistência sustentem minha Magick para o propósito devido.”

Beba o vinho, e recoloque o cálice. Aproxime-se do Leste; pegue a espada e comande-a em torno do
círculo no sentido horário, e no sentido anti-horário. Branda a espada como se lutasse com um
inimigo. Para no Leste, foque na espada e diga:

“Eu invoco a Ti. Osiris, Senhor Morto e Renascido. Pois tu és a semente que me deu vida, e dá vida a
toda Natureza, e tu vives em mim como a lógica e o controle das ações. Desperta para uma nova e
purificada vida em mim; deixe que teu poder de comandar direcione minha Magick para o propósito
devido.”

Saúde com a espada para cima, então recoloque a espada. Aproxime-se do Sul. Mire a baqueta, eleve-
a, então trace espirais abaixo e a sua volta, enquanto você caminha no círculo em sentido horário e
anti-horário. Pare no Sul e diga:

“Eu invoco a Ti, Hórus, Criança Coroada e Conquistadora. Tu és o Senhor da Força e Fogo, vivendo
em mim como Verdadeira Vontade e suas manifestações. Desperta para a vida em mim; deixe que o
poder de sua invencibilidade acelere minha Magick para o propósito devido.”

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

Toque com a baqueta, seus genitais, coração e terceiro olho, então recoloque-a.

Aproxime-se do Norte, pegue o pantáculo, eleve-o, então gire em torno dele como um centro enquanto
move-se no círculo em sentido horário, e anti-horário. Pare no Norte, e diga:

“Eu invoco a Ti, Maat, Testemunha da Verdade em todas as coisas. Tu és Aquela Que Move, que é ela
própria a vida, em todos os meus vários corpos. Desperte minha percepção de ti, dentro de mim;
deixa que o poder do seu equilíbrio manifeste minha Magick para o propósito devido.”

Beije o pantáculo, e recoloque-o. Aproxime-se do centro, acenda o incenso, então sinta o círculo em
sentido anti-horário e horário. Retorne ao centro e recoloque o incenso. Erga teus braços para cima e
levante seu olhar, dizendo:

“Eu invoco a Ti, Harpócrates, infante Senhor do Silêncio. Tu és aquilo dentro de mim do qual eu não
devo falar. Desperte-me para o possuir da sua completude; que o poder da sua inocência adorne
minha Magick para o propósito devido.”

Imagine-se como sendo dos dois sexos. Alcance com sua percepção ao Universo; ao mesmo tempo
conecte-se ao Vazio Interior. Estique seu senso do Eu, para englobar a Terra, para tornar-se ela e todas
as criaturas vivas.

Quando a completude da consciência for alcançada, pronuncie as Palavras de Poder. Se for a sua
Vontade, comece o VIII e use as palavras como mantra, mudando para a voz de comando no clímax.
Tenha o pantáculo pronto para receber o Elixir. Se o uso do VIII não é a sua Vontade, vibre cada
Palavra uma vez em voz de comando, pausando entre elas para seguir sua vibração na Corrente. Diga:

LASHTAL

BABALON

VIAOV

ABRAHADABRA

IPSOS

Ponha seus dedos nos lábios em sinal de Silêncio. Se o VIII foi utilizado, unja as velas, ferramentas, e
metais, e consuma o restante. Sente-se em meditação no centro do círculo, até que seu corpo esteja em
equilíbrio com as forças, então extingua as velas, e parta do Templo.

A Invocação PanAeônica será efetiva na direta proporção do estado de consecução do Mago,


para possibilitar ao Mago fazer uso dos meios de todos os Éons. Para aqueles que estabeleceram e
estão trabalhando com um Vortex TransAeônico, esse rito estenderá o Vortex para o passado, assim
incrementando seu alcance e alavancagem. Os Trabalhos de Viagem no Tempo ao passado, são bons
para recolher informação; mudar o passado por intervenção Magicka é, no entanto, problemático.
Embora comunicar informações ao passado seja possível, a receptividade dos indivíduos receptores
será condicionada por suas visões particulares de mundo. Nós temos histórias de gênios que estavam
“a frente de seu tempo”, mas estes são raros; contatos passados são mais susceptíveis a ficar
aterrorizados e bani-lo como um demônio. Trabalhar com o futuro também é bom para obter
informação, se sua visão de mundo permiti-lo entender o que encontrar.

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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

Esteja atento para o fato de que o único tempo em que você pode mudar eventos e situações é
Agora. As dimensões de Agora são flexíveis em termos do entendimento humano, embora alguns
vejam Agora como uma interface sem dimensão entre Passado e Futuro. Alguns já vêm “Agoras” mais
longos que outros; o Agora de uma gravidez humana normal é de nove meses, em contraste, quatro
minutos é o tempo do Agora da morte ou dano cerebral por falta de oxigênio. Ao trazer os poderes de
todos os Éons para o Agora, Magick PanAeônica permite que o Mago incremente a efetividade e
prontidão de suas ações. Isso também permite ao Mago agir mais sabiamente, de um ponto de vista
mais alto, e amplo, do que o Trabalho com apenas um único Éon pode prover. O terceiro benefício é a
ligação mágicka entre a Magick PanAeônica e os Iniciados de todas as muitas Tradições baseadas
numa fórmula aeônica particular. Tal Ligação Magicka é a base do sistema neural de alcance global
que manifesta nossa Consciência Racial; quanto mais variados e numerosos os indivíduos
participantes, mais inteligente a Consciência Racional se torna.

Soror NEMA (Maggie Ingalls, R.I.P.)


Tradução: I. 156

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Palestra para o Sesame Club, de Lady Frieda Harris
circa 1942

Ao contrário da impressão de todos, as cartas do tarô não eram destinados para a adivinhação. Eles
são um Mapa do Universo e podem ser facilmente comparadas com os símbolos da matemática.
Considerados como tais, eles representam um meio conveniente para afirmar problemas cósmicos,
como o agrupamento e o reagrupamento de forças, elementos e assim por diante, que no passado
foram responsáveis pelo curso da história do universo e provavelmente continuarão a moldá-lo no
futuro. Como a matemática também, que admite numerosas interpretações diferentes e assim como
tem havido diferentes formas de pensamento matemático, então os projetos usados para as cartas do
tarot diferiram muito ao longo dos tempos. De fato, a diferença entre Euclides e Einstein não é
maior do que as diferenças entre os dois conjuntos de cartões de tarô. Esses pacotes de cartas de
Tarô foram descritos como o Tarô dos egípcios e os boêmios, ou seja, os ciganos

Agora os cartões de tarô que eu vi pareciam representar o pensamento do período em que foram
projetados. Os séculos XVII e XVIII têm um selo definitivo do barroco e estão decorados com rolos
e curvas. Mantegna12 fez 5 ou 6 que eu vi no Museu Britânico - são fotos clássicas, contidas e
dignas de deusas. Os mais primitivos e mais primitivos são muito mais simples e afirmam o
símbolo grosseiramente, mas francamente; Alguns deles são bem alegres e infantis, mas o
significado é claro. Eu fiz um esforço neste pacote atual (Thoth tarot) para encarnar este modo atual
do século. Por isso tentei introduzir entre as cartas o elemento do Tempo. Em quase todos os
projetos, as linhas retas dos cartões anteriores - como os padrões de checagem, os raios do sol, o
gráfico do Universo e as estrelas - são expressas em uma curva. Espero transmitir a idéia de
movimento. A "morte" no atu XIII tem que sugerir a idéia de reencarnação, em oposição à
putrefação, ele está tecendo com sua foice uma rede geométrica de novas formas. É preciso lembrar
ao olhar para estes cartões, que eles devem transmitir à mente o contínuo jogo de opostos. A
concepção era que a Terra é o lar de duas forças opostas - ativas e passivas. Isso realmente significa
que você pode olhar para qualquer uma das imagens, pensando no que eu posso descrever como
quatro dimensões. Isso requer grande concentração e é um incentivo à meditação. Neste momento
de grande atividade material, é necessário que possamos fazer o máximo esforço durante todo o dia
para continuar a existir. Pode ser que possamos encontrar alívio e equilíbrio na contemplação
passiva dos cartões, durante os quais podemos aprender a entender e submeter-se às leis cósmicas
de Deus. Assim, levando os quatro ternos que representam os quatro elementos, terra, ar, fogo e
água, começamos a pensar assim.

As Varinhas(wands) representam o Fogo e expressam sua natureza contraditória, que é ao mesmo


tempo destrutiva, purificadora, criativa e a fonte de todo poder mágico. Neste pacote há três graus, a
Varinha de Mercúrio ou o Adepto de Varinha, a Varinha de Ló e a Varinha da Fênix. A água, que é o
segundo terno, é contraditória para o Fogo. Representa o lado negativo das recompensas que podem
ser apreciadas; É o elemento feminino, seus poderes reflexivos e receptivos que tipificam o
elemento de Mulher em oposição ao poder gerador do Homem. Também contém o contrário,
embora tipifique idéias apaixonantes e receptivas, a abundância é uma doação abundante que
destrói o esforço e leva a uma luxúria em que a autoconciência criativa é perdida. O As de copas
mostra a Taça do Santo Graal, onde a individualidade pessoal está completamente perdida em
êxtase. O ar é representado pelo terno de Espadas. O ar representa o intelecto e, como uma espada,

12O Mantegna Tarocchi, também conhecido como Tarocchi Cards, Tarocchi no estilo de Mantegna, Baldini Cards, são
dois conjuntos diferentes, cada um de cinquenta impressões antigas de mestres italianos do século 15 em gravuras, por
dois artistas desconhecidos. Os conjuntos são conhecidos como os cartões Tarocchi da série E e os cartões Tarocchi da
série S (ou série E, série eletrônica, etc.) e seus artistas são conhecidos como o "Mestre dos Tarocchi da Série E" e o
"Mestre" dos tarocchi da série S ". Há também uma série de cópias e versões posteriores
Revista 777 – A ponta de lança da Thelema Brasileira

pode ser exercida por qualquer mão; O ar, o intelecto é impessoal e está ao serviço de qualquer força,
bem ou mal. O intelecto divorciado da consciência não se preocupa em distinguir entre o bem eo mal.

Podemos ver no As o intelecto usado para simbolizar a maior forma de intelecto cintilante. O “2 de
Espadas” ainda mostra que o intelecto combinado com a beleza é uma força controlada, mas depois
disso mostramos claramente, pela antiga tradição, uma imagem de inteligência destrutiva. O quarto
terno é o Disco. Eles representam a receptividade passiva, além de putrefação com sua geração
subseqüente. Aqui novamente podemos obter o melhor aspecto no As de Discos e, a partir disso,
através dos números, vemos uma deterioração da constante elaboração de material até chegar ao 10,
no qual vemos o disco se tornar uma enorme pilha de moedas.

No que diz respeito aos cartas de corte em todos esses trajes, o Cavaleiro representa o Pai, a Rainha
representa a Mãe, o Príncipe e as Princesas, os filhos, e representam a união de 2 elementos e a
geração subseqüente de um terceiro elemento diferente. Os Príncipes podem ter sido introduzidos
pelos Adeptos como a geração do calor e eletricidade que ocorre no nascimento do novo elemento e o
retorno do ardor original. Antes de chegar aos Trunfos, gostaria de falar da tradição de que a
Commedia dell'Arte se originou no Tarot. A sugestão é que Harlequin seja encontrado no cartão
Trunfo chamado 'Justiça', seu nome agora mudado para 'Ajustamento' e é o significado francês de La
Justesse. Esta Justiça segura uma espada e está de ponta para o pé. As balanças são suspensas de seu
toque e contêm a bolha de ilusão ou Maya.

Agora, na Commedia dell'Arte, o Harlequin possui uma Varinha (pode ter sido uma espada) ele ajusta,
julga ou resolve todos os incidentes na comédia. Seu traje de verificação de diamante pode ter sido
retirado dos quatro pontos do diamante na carta do Tarot e tipificaria, suponho, os quatro elementos
que estão no comando dele. O primeiro Trunfo, o Tolo (Fool), é suposto ser o Pierrot da Commedia
dell'Arte, e eu posso imaginar sua deriva alegremente, ou desagradável, através de toda a literatura,
inconsciente ou inocentemente correta. Quando eu estava assistindo um show de Punch e Judy 13 no
outro dia, os fantoches me fizeram pensar nas cartas do Tarot e, enquanto uma borboleta flutuava no
Palco, eu descobri o símbolo que está no carta antigo, e parece patente que esses cartas do Tarot eram
a fonte de muitas histórias de fadas e reconhecível na literatura antiga e moderna.

Existe alguma tradição sobre a forma como estas cartas foram numeradas, mas na verdade não posso
entrar nisso, porque em diferentes idades eles foram numerados de forma bastante diferente. A Posição
do Imperador costumava ser No 17 e agora ele foi reintegrado em seu lugar como No 4. A valia das
cartas de trunfo devem ser arranjadas de acordo com as circunstâncias de sua posição. Isso é
claramente mostrado no Atu XIX o Sol, porque a força e a natureza da influência do Sol dependem de
sua posição em relação à Terra. Mais uma vez, empregar analogia matemática, a fixação de seu valor é
algo como o símbolo "Pi", que é determinado pelo uso o qual é colocado. Isso precisaria de muito
mais tempo, e devemos estar aqui durante todo o dia e ficar entediados, para dar uma descrição
adequada das cartas do Tarô. Elas realmente devem ser amadas e estudadas, para cada pessoa um novo
significado deve ser descoberto o que o ajuda a resolver seus próprios problemas e o treina na arte da
meditação e do pensamento disciplinado. Na busca do auto estudo, ela estará emulando Prospero de
Shakespeare "Desprezando os fins mundanos, todos dedicados à proximidade e a melhoria da minha
mente" e ganhando a recompensa da Prospero - "Pela minha presciência. Acho que o meu zênite
depende de Uma estrela mais auspiciosa, cuja influência Se agora eu não cortei, mas omito, minhas
fortunas Será para sempre depois de cair "

Tradução de H418

13Show de fantoches muito popular na Europa. Seu inicio data de 1662 é comum ser encenado até os dias atuais.

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