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Série 5 solas da reforma - Sermão 2 2017

Introdução

Em todas as eras os cristãos foram chamados a expressar a sua fé e


responder às questões do espírito da sua época. Os crentes Judeus do primeiro
século tiveram que responder como deveria ser o relacionamento da antiga
aliança e a nova aliança em Cristo. A comunidade cristã do final do século
primeiro teve que ter uma resposta de como deveria ser o relacionamento com a
filosofia gnóstica. Os reformadores tiveram que dar uma resposta aos desvios da
Igreja no século XV e dizer como deveria ser seu relacionamento entre as
verdades bíblicas e as práticas pagãs. A cristandade europeia do século XIX teve
que ter uma resposta bíblica para a alta crítica das Escrituras. A nossa geração,
no Brasil e no mundo lida com uma questão, que vem se arrastando ao longo dos
anos e que tem sido tão atual no presente como fora no passado, isto é: “Cristo é
suficiente para a redenção da alma e plenitude da vida ou precisamos de algo
mais?” A fim de responder esta questão, a presente mensagem visa estudar um
dos principais lemas da reforma, isto é, Solus Christus, a partir da carta de Paulo
aos colossenses e assim evidenciar a suficiência de Cristo para redenção da nossa
vida e plenitude do nosso ser.

Mapa da mensagem

Dividiremos em mensagem em duas partes. Na primeira veremos a


suficiência de Cristo negada.” Nela serão apresentados os aditivos apresentados
pelos falsos mestres de Colossos, os quais alegavam que Cristo sozinho não era
suficiente nos aspectos espirituais ou na plenitude da vida. Consequentemente,
defendiam uma variedade de aditivos espirituais. Será visto também, que este
embrião da heresia de Colossos ganhou vida e força ao longo dos anos e continua
vivo e forte ainda hoje. Por isso, os elementos da “heresia de Colossos” (a filosofia
gnóstica, o legalismo, o misticismo e o asceticismo) que ameaçou a igreja durante toda
história, ainda têm ameaçado a igreja contemporânea. Não são poucos os falsos
mestres que têm apregoado que Evangelho de Cristo deve ser completado por
um sistema elaborado de pensamentos pseudo-filosóficos alcançados pelo
intelecto. Uma espécie de gnosticismo moderno. De igual modo, muitos mestres
legalistas estão ensinando que somente um relacionamento vital e pessoal com

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Cristo não é suficiente para satisfazer a vontade de Deus, 1 e por isso faz-se
necessário à observância da lei para conquistar o amor de Deus. Já outros,
tomados por um misticismo sincrético, se entregam a visões e êxtases e acreditam
no poder das “inúmeras correntes”, “campanhas”, “óleos de Israel”, “sal
ungido”, “descarrego” entre outras coisas. Por fim, há aqueles que defendem
práticas acéticas de abster-se de coisas lícitas para ganhar mérito com Deus. Por
isso, há proibição quanto às vestes, cortes de cabelo e outras práticas que são
aceitáveis biblicamente, mas que são proibidas na igreja por aqueles, que com
isso, se julgam mais “espirituais”.

A segunda parte será dedicada à resposta de Paulo e dos teólogos de


ontem e de hoje a estes falsos mestres. Para isso, serão estudados exegeticamente
os versos quinze a vinte do capítulo um, onde o aspóstolo defende a supremacia
e suficiência de Cristo ao dizer que: O Cristo encarnado é supremo sobre todas as
coisas, pois Ele é o criador universo, a esfera na qual tudo subsite e o agente de Deus para
trazer o cosmo em harmonia através da reconciliação. Partimos do pressuposto, que
com este texto, Paulo desejava que seus leitores entendessem que Cristo era tudo
o que eles precisavam para a redenção da alma. Aos judeus, como bem observa
Frank Thielma, Paulo mostra que “Cristo desempenhou um papel
tradicionalmente atribuído à ‘sabedoria’ na criação e, portanto, está acima de
todos os outros poderes cósmicos”.2 E aos gentios, os quais estavam sendo
influenciados fortemente pela filosofia pré-gnóstica, Paulo afirma que todos os
que “têm acesso a ele pela fé (2.12), têm acesso a todos os tesouros da sabedoria e
o conhecimento necessário para enfrentar o seu caminho através da vida.”3 (itálicos
meus). Veremos ainda, que está defesa feita por Paulo ganhou eco na história da
igreja, de maneira especial nos credos e confissões. Vejamos então, os quatro
aditivos espirituais que negavam a suficiência de Cristo e em seguida a resposta
de Paulo.

1.1. Sabedoria humana - A filosofia (2: 8-10).

Ao que parece o falso ensino não estava brotando dentro da igreja de


Colossos. Ao contrário, era um inimigo externo que estava tentando minar a

1MACARTHUR, John. Nossa suficiência em Cristo. 2. ed. São José dos Campos, SP: Editora Fiel,
2007. p. 165
2THIELMAN, Frank. Teologia do Novo Testamento: uma abordagem canônica e sintética. São Paulo:
Shedd Publicações, 2007. p. 453
3 Ibid

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igreja com ensinos filosóficos que o Apóstolo chama de “filosofia e vãs sutilezas”.
O ensino destes mestres era que a verdade pregada por Jesus não era suficiente.
O Evangelho de Cristo deveria ser completado por ideologias pseudo-filosóficas
alcançadas pelo intelecto.4 A fim de combater tal ensino, Paulo alerta os
Colossenses com as seguintes palavras: “Cuidado que ninguém vos venha a enredar
com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos
do mundo e não segundo Cristo;” (Cl. 2.8). Para entendermos melhor este verso,
analisaremos algumas palavras chaves.

O Apóstolo começa dizendo aos Colossenses que tivessem cuidado para


que ninguém viesse os συλαγωγῶν (“enredar; capturar”). Calvino obseva que
Paulo faz uso de um termo muito apropriado, pois faz alusão a saqueadores que,
quando não podem levar consigo o rebanho pela violência, afastam algumas
ovelhas de forma fraudulenta.5 Essa parece ter sido a tática de tais falsos mestres.
Eles estavam, através de sofismas, levando os cristãos de Colossos para longe da
salvação e da verdade e para perto da escravidão e do erro. Eles negavam a
suficiência de Cristo apresentando a filosofia como um aditivo sine qua non da
obra da redenção.

A filosofia6 em si não é má. Ela quando usada como serva das Escrituras é
de grande utilidade para o ser humano. Todavia, o que estava acontecendo na
igreja de Colossos era exatamente o contrário. Os falsos mestres estavam
tentando, através de argumentações racionais, mostrar a possibilidade de uma
espiritualidade à parte da revelação divina na pessoa de Cristo. Eles estavam
deixando de lado a sabedoria divina, isto é, Jesus o Filho de Deus encarnado, e
colocando no centro especulações humanas. Como assevera Viera, “o
conhecimento professado pelos mestres gnósticos era um conhecimento
designado para subordinar a revelação de Cristo às especulações da filosofia
humana”.7

4 BARCLAY, William. Colossenses. São Paulo: Vida Nova, 2000.


5CALVINO, João. Calvin's New Testament Commentaries Series, (Col. 1. 15-20). Wm. B. Eerdmans
Publishing Company, 1994. Disponível na Bíblia eletrônica E-sword.
6 A palavra Filosofia literalmente significa “o amor a sabedoria”. MacArthur assevera que no
sentido mais amplo a filosofia é a “tentativa da parte do homem para explicar a natureza do
universo, incluindo os fenômenos de existência, pensamento, ética, comportamento, estética e
assim por diante.” MACARTHUR, John. Nossa suficiência em Cristo. 2. ed. São José dos Campos,
SP: Editora Fiel, 2007. p. 161
7VIEIRA, Samuel. O império gnóstico contra-ataca: a emergência do neognosticismo no protestantismo
brasileiro. São Paulo: Cultura Cristã, c1999. p. 37

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O embrião da parte filosófica da heresia de Colossos ganhou vida e força


nos quatros primeiros séculos da era cristã. Ele recebeu outras roupagens e foi
batizado com outros nomes, mas permaneceu com o mesmo objetivo, isto é,
negar a pessoa de Cristo e consequentemente a suficiência de sua obra na
redenção humana. Essa ideia não morreu no passado, ao contrário, anda por aí
cheia de vitalidade. Aqueles que estudam a teologia liberal do século 19 devem
lembrar que não poucas vezes teólogos liberais leram a bíblia a luz de
pressupostos racionalistas. Do outro lado do pêndulo o existencialismo gospel
diz que Deus não se explica se sente! O fundamento para conhecer a Deus, além
de Cristo, é minha experiência com Deus. Em um passado não muito distante
pastores como Jay Adams e John MacArthur tiveram que lidar com teólogos que
diziam que Deus era melhor compreendido e ensinado pelas lentes da psicologia
secular. Todas essas filosofias prometem tornar a fé Cristã relevante e atualizada
para nossa época. O problema desta tese é que ela de maneira explicita ou
implícita nega a suficiência de Cristo para salvação da vida e plenitude do ser.

Por hora, precisamos entender que, o que Paulo diz aos cristãos da igreja
de Colossos se confirmou na história da igreja, isto é, nenhum pensamento filosófico
pode substituir a obra de Cristo, pois, além de ser humano, ele sempre será
“κενῆς” (“vazio”). Ao falar de “vãs sutilezas”, o apostolo enfatiza que o conteúdo
dela é “sem base”, “sem verdade”, “sem poder”, e os seus efeitos são “sem
resultados”, “sem fins lucrativos”, “sem alcançar seus objetivos”. Em outras
palavras, a sabedoria humana que estes falsos mestres queriam adicionar à
mensagem de Cristo é totalmente vazia, e sem efeito algum quando se trata de
lidar com questões que envolvem o conhecimento de Deus, para a redenção da
alma e plenitude da vida. Mas este não foi o único elemento de ataque a
suficiência de Cristo. Havia também o legalismo como veremos a seguir.

1.2. OBRAS HUMANAS - O LEGALISMO (2: 11-17)

Além dos mestres do pré-gnosticismo que asseveravam que Cristo não era
suficiente para a salvação e plenitude espiritual, havia também os mestres
legalistas que ensinavam que “somente um relacionamento pessoal, vital e
pessoal com Cristo não era suficiente para satisfazer a vontade de Deus”. 8
Mascarados por uma “profunda espiritualidade” estes mestres negavam a
verdadeira fé em Cristo. Eles colocavam sua atenção mais nas formas, ritos e
cerimônias do que na pessoa e obra de Cristo. Estavam mais preocupados com a

8 MACARTHUR, John. Nossa suficiência em Cristo. p. 165

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aparência, do que com a essência.9 Alegavam que ninguém podia ser salvo e
alcançar a perfeição a não ser pela obediência de seus preceitos legalistas, tais
como o que se devia comer e beber.

O legalismo era aspecto judaico da heresia, o qual, de forma tácita, negava


a plena suficiência de Cristo. Para entendermos melhor está faceta da heresia,
consideraremos duas coisas: o que era e o que ensinava o legalismo. A palavra
“legalismo” não é encontrada na Bíblia. Quanto usada pelos estudiosos cristãos,
ela nada tem contra a dignidade da Lei moral dada por Deus. Jesus tanto se
submeteu como cumpriu a Lei em sua plenitude.

O problema do legalismo é que ele assevera que o observador da Lei pode


por seus próprios méritos, obter a salvação.10 Por isso, os mestres legalistas defendiam
que todas as exigências da Antiga Aliança deveriam ser seguidas a risca.
MacArthur observa que eles haviam acrescentado regras e requisitos que
governavam o exercício de certos deveres que eles achavam essenciais à
espiritualidade.11 Consequentemente, os preceitos que deviriam ser pedagogos
(que os conduzissem a Cristo) se tornaram algemas (que os escravizavam).

O ensino legalista presente na igreja de Colossos estava baseado em


interpretações erradas das leis do Antigo Testamento. A exortação de Paulo a
igreja foi: “Ninguém, pois, vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa de dias de
festa, ou de lua nova, ou de sábados, que são sombras das coisas vindouras; mas o corpo é
de Cristo” (Cl. 2. 16). Com base nesta exortação, percebe-se que estes legalistas
estavam preocupados com pelos mesmos dois aspectos: dietas alimentares:
“Ninguém, pois, vos julgue pelo comer, ou pelo beber”; e dias especiais: “dias de festa,
ou de lua nova, ou de sábados”.

No que se referem às dietas alimentares, estes legalistas ensinavam que


algumas comidas e bebidas contaminavam as pessoas. Eles haviam entendido
mal o simbolismo das leis dietéticas e pensavam que segui-las realmente poderia
tornar alguém justo. Estas práticas, entretanto, iam de encontro com ensino do
próprio Cristo. Jesus deixou claro, que leis dietéticas eram simbólicas e não

9Cf. LOPES, Hernandes Dias. Colossenses: a suprema grandeza de Cristo, o cabeça da Igreja. São Paulo:
Hagnos, 2008. P. 142
10 CHAMPLIN, Russell Norman; BENTES, João Marques. Enciclopédia de bíblia teologia e
filosofia. 3rd ed. São Paulo: Candeia, 1995. V. 3. P. 753
11 MACARTHUR, Nossa suficiência em Cristo. p. 165

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tinham a inerente habilidade de tornar alguém justo, quando disse que nada que
entra no homem pode contaminá-lo.12

Estes mestres ensinavam ainda que a observância de certas datas especiais


e de determinadas comemorações festivas eram o que os tornavam aceitáveis a
Deus e os conduziam a um maior aperfeiçoamento espiritual. Os festivais
mencionados são festas judaicas consideradas santas, as quais se celebravam
cada ano, mês (lua nova) e semana (o dia de repouso).13

Segundo Hendriksen, “o propósito principal de colocar tal ênfase em


todas essas regulamentações era o de convencer os colossenses que, a
observância rígida era absolutamente indispensável à salvação, e se não a essa,
pelo menos a perfeição ou plenitude dela”.14

Este legalismo rompeu as barreiras do tempo e se arrastou por toda a


história. Segundo Robert Nichols, essa tendência se desenvolveu e influenciou
poderosamente a vida dos cristãos ao longo dos séculos. A liberdade da vida
cristã ensinada pelos apóstolos foi substituída por um sistema de regras e práticas
de certas obras. Em busca de maior “santidade” estes grupos chegaram a criar
dois tipos de condutas que deveriam ser seguidas. Uma marcada por
“exigências” do evangelho (para todos os cristãos) e outra, marcada pelos
“avisos” do evangelho (seguida por aqueles que desejavam uma vida espiritual
mais perfeita).15

Talvez o maior exemplo, na história da igreja, de alguém que tentou seguir


estas regras, mas como todos os demais homens (exceto Cristo) fracassou, foi
Martinho Lutero. Este monge da idade média, tomado por um profundo
legalismo, e um desejo de por meio de suas próprias obras alcançar a justiça de
Deus, viveu em sua juventude uma vida marcada por uma submissão as regras
legalistas. Diz a história, que ele se confessava a Staupitz (seu superior) durante
horas e pouco tempo depois de ter ido embora, voltava correndo com alguma
pequena fraqueza que havia se esquecido de confessar.16

12 Ibid p. 165
13 BRUCE B., Comentarios de la Biblia del Diario Vivir (Nashville, TN: Editorial
Caribe) 1997. Disponível na Bíblia eletrônica e-sword.
14HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Colossenses e Filemon. Tradução de
Ézia Cunha de Mullins. 1. ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1993. p.388.
15 NICHOLS, Robert Hastings. História da igreja. 13. ed. rev. São Paulo: Cultura Cristã, 1997. p 45.
16 GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1994. p. 66.

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Certa vez, Staupitz, bastante exasperado, disse: “Olhe aqui, irmão


Martinho. Se você vai confessar tanto assim, por que não faz algo digno de ser
confessado? Mate sua mãe ou seu pai! Cometa adultério! Pare de vir aqui com
tais tolices e pecados falsos!”.17 Isso deixou Lutero com outra dúvida: “Será que
fui verdadeiramente contrito em minha confissão, ou meu arrependimento foi
motivado apenas pelo medo?”.18 Segundo Timothy George, a essa altura da vida,
o monge Lutero foi levado ao próprio abismo do desespero, de forma que desejou
“nunca ter sido criado como ser humano”.19

Todavia, à medida que aumentava a conscientização de Lutero acerca da


completa incapacidade do pecador de salvar-se a si mesmo ou de manter
qualquer postura justa perante Deus, ele passou a questionar seu próprio
legalismo baseado em suas obras. Diante disso ele entendeu que Deus aceita a
justiça de Cristo imputada pela fé em Cristo. Como veremos mais a frente, temos
a redenção pelos meritos de Cristo e não pelos nossos. 20 Essa verdade levou
Lutero a afirma:

Portanto, meu querido irmão, aprenda Cristo e o aprenda


crucificado; aprenda a orar a ele, perdendo toda esperança em si
mesmo, e diga: “Tu, Senhor Jesus, és a minha justiça, e eu sou o
teu pecado; tomaste em ti mesmo o que não eras e deste-me o
que não sou” .21

Este legalismo vivido na idade média é tanto uma ameaça à igreja hoje
como o foi em Colossos e ao longo dos séculos. Nunca se tentou criar tantos
atalhos para céu como nos últimos dias. Tomar a cruz e seguir a Jesus tem sido
literalmente caminhar com um madeiro. O cristianismo virou sinônimo de
legalismo para vários grupos religiosos. Em várias igrejas dos nossos dias, há
muitas pessoas cuja certeza de salvação está baseada em suas atividades
religiosas ao invés de confiarem somente no Salvador todo-suficiente. Elas
conjecturam que são cristãs porque desenvolvem atividades religiosas. Medem a
espiritualidade por meio da atuação externa em lugar do amor interno a Cristo.22

17 Apud Ibid
18 Apud Ibid
19 Ibid
20 Ibid p. 71
21 Apud Ibid
22 MACARTHUR, Nossa suficiência em Cristo. p. 169

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Tanto o legalismo de ontem como o de hoje é uma negação da suficiência


de Cristo. MacArthur nos lembra de que se “orações, jejuns, uso de vestes
especiais, presença na igreja, vários tipos de abstinência ou outros deveres
religiosos são necessários para se ganhar a salvação, então a obra de Cristo não é
verdadeiramente suficiente”23 (Destaques meus). Ordenanças humanas de costume
social ou religioso não ajudam na redenção da nossa alma nem na plenitude de
nossa vida. É apenas aparência. Não tem valor algum senão para a satisfação da
carne. Por isso, a verdade apresenta por Paulo deve ser lembrada:

20 Já que vocês morreram com Cristo para os princípios


elementares deste mundo, por que é que vocês, então, como se
ainda pertencessem a ele, se submetem a regras: 21 "Não
manuseie!" "Não prove!" "Não toque!"? 22 Todas essas coisas
estão destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em
mandamentos e ensinos humanos. 23 Essas regras têm, de fato,
aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa
humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum
para refrear os impulsos da carne.24

Como veremos no segundo capítulo deste trabalho, a obra de Cristo é


suficiente para a salvação do homem, pois Ele foi o único que conseguiu cumprir
perfeitamente toda a lei. Ele guardou perfeitamente a lei e isso foi creditado em
nossa conta. Agora, vejamos mais um aspecto da heresia de Colossos que negava
a total suficiência de Cristo: o misticismo.

1.3. EXPERIÊNCIAS HUMANAS - O MISTICISMO (2:18-19)

A cidade Colossos era, devido a grande mistura étnica, uma cidade


cosmopolita, na qual, diversos elementos culturais e religiosos se encontravam e
se misturavam. Essa talvez seja a razão do misticismo sincrético que ameaçava a
igreja dos Colossenses. Os falsos mestres apregoavam que Deus estava muito
longe e que os homens só poderiam se aproximar dele através de vários níveis
de anjos. Assim, os crentes que queriam chegar a Deus diretamente ou através de
um mediador, Cristo, eram presunçosos e precisavam de uma medida de auto-
humilhação que lhes permita começar nos primeiros degraus da “escada”. Por

23 Ibid p. 168
24 Colossenses 2. 20 – 23.

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isso, ensinavam que o povo tinha que adorar aos anjos progressivamente até
alcançar a Deus.25

Misticismo, de acordo com sua etimologia, implica uma relação


de mistério. Na filosofia, misticismo é tanto uma tendência religiosa como uma
vontade da alma humana de ter uma íntima união com a divindade.26 Assim, por
misticismo, devemos entender como o contato, real ou imaginário, com algum
ser ou entidade superior, maior que o próprio indivíduo, podendo envolver-se
com seres ou coisas.

Como já foi disto a “heresia dos Colossos” era uma eclética mistura de
legalismo judaico, especulação filosófica grega e misticismo oriental combinados
com um sabor cristão.27 Por isso, ao que parece os mestres que negavam a
suficiência de Cristo ensinavam um sincretismo, que objetivava ensinar que era
possível, por meio de um mistério sem Cristo, subir para a sala do trono celestial.
Percebe-se, que este misticismo usava a máscara do cristianismo, mas não tinha
nada de Cristo. Usava palavras e frases cristãs, mas com significados
diferentes. Era em sua essência era uma combinação do judaísmo e do paganismo
filosófico, com o rótulo do cristianismo.

O misticismo teve seu ponto mais alto na idade média. Neste período a
prática contemplação aliada a ritos de purificação assumiram o lugar dos dogmas
ortodoxos cristocêntricos. Segundo a The Catholic Encyclopedia, para o misticismo
medieval, o perfeito conhecimento de Deus é possível nesta vida, para além das
realizações da razão, onde a alma contempla diretamente os mistérios da luz
divina. Refletindo um desejo de se elevar acima das amarras deste mundo,
almejavam uma aproximação imediata com a pessoa de Deus.

O problema é que o caminho para esta comunhão com Deus não era
somente Cristo. Assim, os místicos medievais objetivavam atingir a certeza da
salvação e chegar à verdade não pela dedução lógica revelada na palavra divina,

25 BRUCE B., Comentarios de la Biblia del Diario Vivir (Nashville, TN: Editorial
Caribe) 1997. Disponível na Bíblia eletrônica e-sword.
26SAUVAGE, George. Mysticism in: The Catholic Encyclopedia. Vol. 10. New York: Robert
Appleton Company, 1911. Disponível em: <http://www.newadvent.org/cathen/10663b.htm>.

WALLACE, Colossians: Introduction, Argument, Outline. Disponível na Bíblia Eletrônica The


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Word versão 9.

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mas pela experiência subjetiva e humana.28 Consequentemente, como observa


Timothy George, neste período a igreja era marcada por práticas de indulgências,
peregrinações, adoração a relíquias, veneração de santos, crenças no rosário, dias
de festa, adoração da hóstia consagrada e reza do “pai-nosso”.29 Tudo isso
assegurava uma maneira apropriada de estar perante Deus, criam muitos.

Timothy diz ainda que os estudiosos identificaram pelo menos duas


tradições da teologia mística na Idade Média. A primeira é o misticismo
voluntarista. Segundo ele, neste que era mais popular, a ênfase era “na
conformidade da vontade humana com a vontade de Deus, mediante os
sucessivos estágios de purgação, iluminação e contemplação”.30 A segunda era o
misticismo ontológico, o qual enfatizava muito mais “intensamente a desconexão
entre Deus e a alma”.31 O grande nome deste tipo de misticismo foi Meister
Eckhart. As ideias heterodoxas deste teólogo dominicano foram desenvolvidas
numa série de sermões. 32 Segundo Timothy, ele “proclamava que bem no íntimo
de cada indivíduo havia um ‘abismo da alma’ (Seelenabgrund), uma centelha da
vida divina que mantinha a possibilidade de união com Deus ou a absorção
nele”.33 Somente pelo processo doloroso de desligamento de si mesmo e de todas
as outras criaturas era possivel conhecer plenamente o divino.

Assim, os místicos afirmavam que contemplação na vida presente só é


possível para poucas almas privilegiadas. Somente os iluminados contemplavam
os mistérios da divindade. Segundo o Dr. Solano Portela, Tomás A. Kempis
(1380-1471) foi outro grande exemplo do misticismo deste período. Tomás
ocupou toda a sua vida em três atividades: copiar a Bíblia; meditação devocional;
e escrever vários livros. O mais famoso foi “A imitação de Cristo”. Escrito
originalmente em Latim, em quatro volumes, foi traduzido depois para várias
línguas.34 O teólogo Charles Hodge classificou este livro como “... a pérola do

28 SAUVAGE, George. "Mysticism." The Catholic Encyclopedia. Vol. 10. New York: Robert
Appleton Company, 1911. Disponível <http://www.newadvent.org/cathen/10663b.htm>.
29 Cf. GEORGE, Teologia dos reformadores. p. 28
30 Ibid p. 46
31 Ibid
32 Ibid p. 47
33 Ibid
34 NETO, Solano Portela. Religiosidade e o Misticismo da Idade Média. Disponível em
<http://www.ipb.org.br/portal/artigos/61-artigos/428-religiosidade-e-o-misticismo-da-id

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misticismo germânico-holandês”.35 Para Tomás uma vida de isolamento e a


busca por experiências místicas era o ideal do cristão.

Nos dias atuais o misticismo tem adentrado à igreja e tomado o lugar de


Cristo por meio de alguns movimentos carismático-pentecostais e
principalmente neopentecostais. Não são poucos os pastores que induzem
pessoas a acreditarem no poder das “inúmeras correntes”, “campanhas
subjetivas”, “óleos de Israel”, “sal ungido”, também, “flores”, “sapatilhas”,
“tapetes”, “roupas”, “lenços” e até “travesseiros” ungidos. Isso sem contar os
“exorcismos” e os “descarregos”. A experiência subjetiva tomou o lugar da
revelação objetiva.

Todavia, apesar de se autodenominarem espirituais, estes mestres são na


verdade carnais. Pois é carnal toda esperança da salvação que fique aquém ou vá
além de Cristo. Estes falsos mestres tinham o rótulo do cristianismo, mas nem
conteúdo de Cristo. Estavam no meio do corpo da igreja, mas não conheciam o
cabeça que é Cristo.

Como vimos até aqui, em Colossos e ao longo da história a igreja foi


progressivamente se afastando de Cristo, não somente pelo mundanismo
filosófico e legalismo religioso, mas também pela incorporação do misticismo
pagão. Porém, estas não foram às únicas ameaças. O ascetismo também negou a
suficiência de Cristo, como veremos a baixo.

1.4. PROIBIÇÕES HUMANAS - O ASCETICISMO (2:20-23)

O asceticismo é uma filosofia de vida na qual são refreados os “prazeres”


considerados “mundanos”. A palavra “ascetismo” deriva do termo
grego “askesis” (prática, treinamento ou exercício). Originalmente associado com
qualquer forma de disciplina, normalmente no âmbito moral. Em outras
palavras, era aplicado a alguém que pratica uma renúncia aos “prazeres” (mesmo
que permitidos pela Bíblia e sociedade) com objetivo de adquirir um alto intelecto
e espírito.36

Na igreja de Colossos, os mestres ascetas ensinavam que por meio da


autonegação, do autoflagelo e da mortificação do corpo e de seus prazeres, era

35 HODGE, Charles Apud NETO, Solano Portela. Religiosidade e o Misticismo da Idade Média.
36 CHAMPLIN, Enciclopédia de bíblia teologia e filosofia. V. 1. p. 338

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possível obter a redenção e crescer em espiritualidade. Como os “ismos”


anteriores, a base para este pensamento se encontrava na filosofia dualista grega.
Como fora dito supra, para os gregos a matéria em sua totalidade era má. Por
essa razão, o corpo deveria ser vencido, golpeado e reduzido. Para eles, como
obseva Viera, “tudo o que é produzido na terra é mau e não deve ser preservado;
somente a alma dos iluminados, oposta ao corpo será preservada da destruição.”
Cada uma de suas necessidades deveria então ser ignorada e cada impulso
reprimido a fim de transcender o mundo físico e subir para o espiritual.

O ensino vinha por meio de uma linguagem contundente e proverbial:


“Não manuseie!”, “Não prove!”, “Não toque!” (Cl. 2.21, NVI). Observe que o
asceticismo é a religião do NÃO. Deve-se notar, que está negação não era apenas
às coisas proibidas, as quais Paulo também combaterá ao longo carta aos
Colossenses, mas e acima de tudo, às coisas permitidas.37 F. F. Bruce, assevera
que o contexto deixa bem claro que essas proibições se referiam as coisas que são
eticamente neutras, e não às coisas que são
inerentemente pecaminoso. Alimentos, segundo Paulo, são eticamente neutros,
observa Bruce.38

O que estava tácito nesta negação era a ideia de que a voluntária


abnegação em de certos prazeres permitidos poderia ser um exercício de ajuda
espiritual e um garantia da redenção do homem. Entretanto, Paulo mais uma vez
afirma que estas ordenanças são meramente humanas. Ele afirma que estes
preceitos são “ordens de homens!” Esses tabus de origem humana frustram o
ensino puro da palavra de Deus com sua mensagem libertadora, observa O’
Brien.39 Corretamente afirma Barclay que “a liberdade cristã não provém da
repressão dos desejos mediante regra e prescrições, mas sim da morte aos desejos
maus e o ressurgimento de desejos bons, porque Cristo está no cristão e o cristão em
Cristo”40 (destaques meus).

Esse ensino ganhou eco na história da igreja de modo especial através da


vida monástica. Nos tempos pós-apostólicos este tipo de vida ganhou
considerável poder na vida da igreja, tornando-se uma prática oficial em vários

37 Cf. LOPES, Colossenses: a suprema grandeza de Cristo, o cabeça da Igreja. p. 142


38 BRUCE, F. F. The Colossian Heresy. Bibliotheca sacra 141, (1984). pp. 195-208
39O'BRIEN, Peter T.: Word Biblical Commentary: Colossians-Philemon. Dallas: Word, Incorporated,
2002 (Word Biblical Commentary 44 – Cl. 1. 15-20). Disponível na Bíblia eletrônica Logos
40 BARCLAY, William. Colossenses

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ramos da cristandade tanto a oriental como a ocidental. Influenciados pelas ideias


pré-gnósticas muitos viveram uma vida ascética dedicada aos estudos, jejuns,
esmolas e à contemplação. Suas obras humanas eram levadas a um estágio maior
que as obras de Cristo. Walker observa, que para os grupos ascetas “o mero
arrependimento era insuficiente para obtenção do perdão. Devia haver também
satisfação pelo perdão. O Cristão pode fazer mais do que Deus pode exigir”,41
diziam os ascetas. Eles viam no exemplo do sacrifício de Jesus (sua morte
dolorosa) e nas atitudes dos mártires o grande meio de salvação e plenitude da
vida. Walker descreve esta verdade com as seguintes palavras:

Desde o início, portanto, as igrejas tinham conhecido seus


ascetas, os quais, se individualmente ou em grupos domésticos,
buscavam, na imitação de Cristo e seus mártires, viver a vida
cristã em sua plenitude através da sistemática renúncia a todas
as conexões com o mundo. Abandonando a busca e posse de
riquezas, comprometidos com a continência sexual e dedicados
à oração, ao jejum e ao estudo das Escrituras, tais pessoas
buscavam viver na presente era como cidadãos da era
vindoura.42

O ascetismo do segundo século e da primeira metade do século terceiro


desembocou no surgimento do movimento monástico cristão que se estendeu ao
longo da história. Estes ascetas abandonaram o mundo e foram para os desertos
e montanhas. Como assevera Duchesne, “a igreja da multidão não é mais
suficientemente a cidade santa para estes puros, pois eles saem a construir
no deserto a Jerusalém que eles anseiam”.43

Segundo Warren Wiersbe, essas práticas acéticas se tornaram comuns na


idade média. Neste período, muitas pessoas passaram a usar roupas de pêlos,
dormir em camas duras, a flagela-se, passar dias e anos sem falar, fazer longos
jejuns e ficarem dias sem dormir.44 Timothy George afirma que havia também

41 WALKER, Wiliston. História da Igreja Cristã. Volumes 1. São Paulo: ASTE, 2006.
42 Ibid p. 181

Apud CAMPBELL, Thomas. "ascetismo". A Enciclopédia Católica. vol. 1. New York: Robert
43

Appleton Companhia, 1907. Disponível <http://www.newadvent.org/cathen/01767c.htm>.


44 Apud LOPES, Colossenses: a suprema grandeza de Cristo, o cabeça da Igreja. p. 152

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várias companhias de flagelantes composta por ascetas rigorosos que “viajavam


de cidade em cidade, açoitando-se publicamente com chicotes de couro, na
esperança de expiar pecados seus e da sociedade”.45 Tudo isso era parte de um
sistema de penitências mediante o qual assegurava-se uma maneira apropriada
de estar perante Deus.46 Em alguns lugares, a admiração pela vida ascética estava
aliada com a condenação direta do matrimônio.47 Outros grupos, propuseram
leis que impuseram uma série de restrições individuais e coletivas.48

O asceticismo atravessou as barreiras do tempo e chegou até nós. Hoje ele


está tão presente na igreja contemporânea como esteve em Colossos e ao longo
da história da igreja. Muitos cristãos, das mais variadas denominações, têm
praticado um ascetismo extremado em suas comunidades. Principalmente na
linha pentecostal e neopentecostal, há uma série de normas e proibições quanto
às vestes, cortes de cabelo e participação em atividades culturais.

O ascetismo vai de encontro com a obra de Cristo tanto no que se refere


aos motivos como nos resultados que ele produz. Além disso, ele conduz a uma
soberba espiritual que rouba a glória de Cristo. Ralph Martin falando sobre o
ascetiscismo dos Colossenses assevera:

Paulo Reconhece que o ascetismo possa produzir visões, mas a


condenação dele recai sobre os motivos e os resultados. O motivo
é o desejo de ter uma experiência que passe por cima de Cristo e
procure a gratificação numa exaltação sensual. O resultado final
é um senso de orgulho espiritual, o que Paulo chama de uma
capitulação à sensualidade à “satisfação da carne”, ou seja, da
natureza não regenerada do homem.

Em suma, todas essas práticas acabam diretamente ou indiretamente


negando a total suficiência de Cristo na redenção do homem e na sua plenitude
de vida. Além disso, qualquer sistema religioso que não aceite a Jesus como único
e suficiente salvador e tenta aperfeiçoar a obra de Cristo além de ser herético,
sempre será fruto de carnalidade humana e de sua cegueira espiritual. Como
corretamente afirma Calvino:

45 GEORGE, Teologia dos reformadores. p. 28


46 Ibid
47 WALKER, Wiliston. História da Igreja Cristã. Volumes 1. São Paulo: ASTE, 2006. P. 140
48 CAMPBELL, Thomas. "ascetismo". A Enciclopédia Católica. vol. 1. New York: Robert Appleton
Companhia, 1907. Disponível <http://www.newadvent.org/cathen/01767c.htm>

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Não é de admirar que, neste ponto, se haja transviado, de


maneira profundamente danosa, a maioria esmagadora dos
homens. Ora, uma vez que é ingênito a todos os mortais mais do
que cego amor de si mesmos, de muito bom grado se persuadem
de que nada neles existe que, com justiça, deva ser abominado.
Destarte, mesmo sem influência de fora, por toda parte obtém
crédito esta opinião de todo vã: que o homem é a si amplamente
suficiente para viver bem e venturosamente (...). Daí, porque tem
sido, destarte, acolhido com o grande aplauso de quase todos os
séculos cada um que, com seu encômio, haja mui favoravelmente
exaltado a excelência da natureza humana (...). Portanto, se
alguém dá ouvido a tais mestres que nos detêm em somente
mirarmos nossas boas qualidades, não avançará no
conhecimento de si próprio, ao contrário, precipitar-se-á na mais
ruinosa ignorância.49

Até aqui, vimos como os falsos profetas de Colossos e os seus discípulos


ao longo da história tentaram negar a suficiência de Cristo, por meio de um forte
ataque à sua pessoa e obra. Neste capítulo ver-se-á como Paulo defendeu a
supremacia de Cristo por meio do hino Cristológico contido em sua carta aos
Colossenses (1.15-20) e como essas verdades expressas nesse texto foram usadas
nos concílios que lidaram com as controvérsias Cristológicas e pelos teólogos
posteriores. Vejamos o texto:

15Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a


criação, 16pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na
terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias,
poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e
para ele. 17Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste. 18Ele
é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito
dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia. 19Pois
foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude, 20e
por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que
estão na terra quanto as que estão no céu, estabelecendo a paz
pelo seu sangue derramado na cruz.50

49CALVINO, João. As Institutas, II.1.2. Cf. também: COSTA, Hermisten Maia Pereira. Igreja
Reformada e os Desafios Teológicos e Litúrgicos na “Pós Modernidade”. Material não publicado
50 Colossenses 1. 15 – 20

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2.1. CRISTO A ÚNICA REVELAÇÃO DE DEUS

O texto começa com uma contundente afirmação sobre a divindade do


Filho: “O qual é imagem de Deus o invisível”. Neste verso a palavra “imagem”
implica em um arquétipo que incorpora a verdade essencial (ontológica) de seu
protótipo.51 Raph P. Martin assevera que “no pensamento antigo acreditava-se
que eikon não era apenas uma representação plástica dos objetos assim retratados,
como também se pensava que participava de alguma da substância do objeto que
o simbolizava”.52 Sendo assim, se deve entender que, diferente do ser humano
Cristo é a imagem de Deus no sentido ontológico.

Segundo muitos estudiosos, a εἰκὼν τοῦ θεοῦ (“imagem de Deus”) aqui


aponta para um pano de fundo diferente, a saber, a sabedoria. No Antigo
Testamento, e principalmente em provérbios, parece haver uma identificação da
“sabedoria” ou “a palavra” com a “imagem de Deus”. Em provérbios 8: 22, 23, o
sábio diz: “O Senhor me criou [referindo-se a sabedoria] como o de seu caminho, antes
das suas obras mais antigas; fui formada desde a eternidade [divindade da sabedoria],
desde o princípio, antes de existir a terra”. O Dr. Daniel Santos, em um recente artigo
sobre Calvino e a literatura sapiencial, assevera que o exegeta genebrino também
via uma íntima ligação entre a sabedoria e Cristo. Suas palavras são: “Calvino
parece não ter a menor dúvida de que o texto de Provérbios 8 esteja falando
realmente do Verbo de Deus...”53

Sendo assim, ao que parece, Paulo em comum com outros escritores do


AT e NT, identifica Cristo com a Sabedoria de Deus ao atribuir-lhe certas
atividades que são atribuídas à personificação da Sabedoria.54 Nas palavras de
Douglas Moo, este texto afirma que a imagem original (sabedoria personificada)
pode ser encontrada na pessoa de Jesus Cristo, Filho de Deus. 55 Esta sabedoria

VINCENT, M.R. Word Studies in the New Testament. Wilmington: Associated Publishers and
51

Authors, 1972. Disponível na Bíblia eletrônica e-sword


52 MARTIN, Ralph P. Colossenses e Filemom. Edições vida nova. São Paulo. 1984. p. 67
53 SANTOS, Daniel, O Interesse de Calvino pela Literatura Sapiencial. FIDES REFORMATA XIV, Nº
2 (2009): pp. 39, 40.
54O'BRIEN, Peter T.: Word Biblical Commentary: Colossians-Philemon. Dallas : Word, Incorporated,
2002 (Word Biblical Commentary 44), Disponível na Bíblia eletrônica Logos
55MOO, Douglas J.: The Letters to the Colossians and to Philemon. Grand Rapids, MI: William B.
Eerdmans Pub. Co., 2008 (The Pillar New Testament Commentary), Disponível na Bíblia
eletrônica Logos

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buscada pelos judeus, segundo Bruce, é em Cristo uma pessoa viva, aquele que
alguns deles encontraram face a face.56

Nesse mesmo sentido, o autor de Hebreus, diz que Jesus é o “resplendor


da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra
do seu poder...” (Hb. 1.3). Dr. Grudem, analisando este texto diz que, Jesus é “a
duplicada exata da natureza de Deus, que se torna igualmente a Deus em seus
atributos”.57 Philip Edgcumbe Hughes afirmar que: “não é tanto… a glória da
deidade do Filho brilhando por meio de sua humanidade, mas… a glória de Deus
sendo manifesta na perfeição de sua humanidade, completamente harmonizada
com a vontade de Deus.”58

Esta verdade foi defendida na história da igreja. Combatendo a Arianismo,


os Concílios da Igreja apresentaram Cristo como sendo homoosuios (Gr. homos -
mesmo e ousia - essência) de Deus. O termo homoousion do patri (mesma essência
do Pai) significa que Cristo está unido intimamente com o Pai. O Filho, embora
distinto em existência está essencialmente unido a ele.59 Esta posição foi
oficialmente adotada pelo Concilio de Nicéia, em 325, onde se ler que Jesus Cristo
é o “unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Deus de
Deus, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não feito, de
uma só substância com o Pai; pelo qual todas as coisas foram feitas...”60

A confissão de fé de fé de Westminster expressa a mesma verdade ao dizer


que “o Filho de Deus, a segunda Pessoa da Trindade, sendo vero e eterno Deus,
de uma só substância com o Pai e igual a ele...”61 Todos estes credos e confissões
afirmam que o Jesus histórico, que se fez um de nós e esteve entre nós, era
verdadeiramente Deus. Aquele que tem a mesma essência e substancia com o
Pai. Ele é o Emanuel (Deus conosco).

56BRUCE, F. F. Colossian Problems, Pt 4 : Christ as Conqueror and Reconciler, Bibliotheca sacra 141, no.
564 (1984). 291–302, deals with the cosmic reconciliation of Christ.
57 GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999. p. 451
58Apud COELHO, Ricardo Moura Lopes; CAMPOS, Heber Carlos de. UNIVERSIDADE
PRESBITERIANA MACKENZIE (Orient.). A superioridade de Cristo no exercício de seu tríplice ofício
em relação ao realizado pelos oficiais do Antigo Testamento. 2007. 158 f. Dissertação (Mestrado) -
Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper - Universidade Presbiteriana
Mackenzie, São Paulo, 2007
59 CAMPOS, As duas naturezas do redentor: a pessoa de cristo. p. 182
60 BETTENSON, H. Documentos da igreja cristã. 3. ed. São Paulo: Aste Simpósio, 1998. p. 62.
61 HODGE, Archibald Alexander. A confissão de fé. p. 191.

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2.2. CRISTO O ÚNICO CRIADOR DE TODAS AS COISAS.

Paulo enfatiza ainda a divindade de Jesus apresentando-o como o


personagem central na obra da criação. A obra da salvação centralizada em
Cristo, na verdade, teve início antes da criação. Paulo diz que Cristo é o
“primogênito de toda a criação” (Cl. 1. 15). Como corretamente observa Keathley,
“primogênito”, neste texto, significa duas coisas: Ele precedeu toda a Criação, e
Ele é soberano sobre toda a criação.62 O’ Brien observa que o contexto da
passagem deixa claro que o título não pode se referir a ele como o primeiro de
todos os seres criados, pois as palavras imediatamente a seguir, que fornecem um
comentário sobre o título, enfatizaram o ponto que ele é o único por quem a
criação toda veio a existir.63

Dos versos 15b a 16, Paulo fala da Supremacia e centralidade de Cristo em


relação à criação, e mostra que o universo foi criado no Filho (ἐν αὐτῷ - a esfera da
criação) por meio dele (ἐν αὐτῷ - como o agente divino), para ele (εἰς αὐτόν - como
o objetivo ou alvo da criação). 64 “NEle foram criadas todas as coisas”. Cristo
como a “esfera” dentro da qual a obra da criação ocorre. Segundo Haupt, a
palavra “nele” tem a mesma força como em Efésios 1:4. Nesse sentido a criação
de Deus, como a sua eleição, ocorre em Cristo e não a parte dele.65 Vaughan segue
este mesmo caminho e diz que a criação em relação a Cristo estava condicionada
a sua causa, o seu centro de origem, a sua localização espiritual.66 Sendo assim, a
criação foi feita “em sua esfera de influência e responsabilidade”. Praticamente,

62KEATHLEY, J. Hampton, III. The Supremacy of the Person of Christ (Col. 1. 15-18). Artigo
disponível em: <http://bible.org/seriespage/supremacy-person-christ-col-115-18>
63 Cf. O’ BRIEN, Peter T.: Word Biblical Commentary: Colossians-Philemon. Dallas: Word,
Incorporated, 2002 (Word Biblical Commentary 44 - Col. 1. 15-20), Disponível na Bíblia eletrônica
Logos.
64 Ibid
65Apud LANGE, John Peter; Schaff, Philip; Braune, Karl ; Riddle, M. B.: A Commentary on the Holy
Scriptures: Colossians (Col. 1. 15-20). Bellingham, WA: Logos Research Systems, Inc., 2008,
Disponível na Bíblia eletrônica Logos.
66VAUGHAN, Curtis: Colossians. In: Gaebelein, Frank E. (Hrsg.): The Expositor's Bible
Commentary, Volume 11: Ephesians Through Philemon (Col. 1. 15-20). Grand Rapids, MI : Zondervan
Publishing House, 1981, Disponível na Bíblia eletrônica Logos.

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isso significa que Jesus concebeu a criação e as suas complexidades.67


Hendriksen, ilustrou esta verdade, dizendo que Jesus é a pedra angular de todo
o edifício que leva a sua orientação e direção.68 Sendo assim, o fato de Jesus ser o
criador de todas as coisas criadas evidencia a sua divindade e prova sua
capacidade de ser o único poderoso redentor.

Após falar sobre o criador, Paulo passa a tratar sobre a extensão da criação.
Ele afirma categoricamente que Cristo criou todas as coisas, as visíveis e as
invisíveis. O Dr. Heber Campos, falando sobre a divindade do Redentor neste
texto, assevera que “a divindade de Cristo também é provada nesta passagem
pelo fato de todas as autoridades existentes neste universo terem vindo à
existência através do seu ato criador”.69 Todos os seres criados “procedem da
agência criadora do Deus Filho”70 e devem a ele toda honra e glória.

2.3. CRISTO O ÚNICO SUSTENTADOR DO UNIVERSO.

Após falar da supremacia e centralidade de Cristo em relação à criação,


Paulo passa a exaltá-lo como sendo o Sustentador de todas as coisas. (Cl. 1. 17).
Bruce assevera que o ensinamento da primeira parte do texto é recapitulado neste
verso em uma dupla reafirmação da preexistência e do significado cósmico de
Cristo:71 “E ele é antes de todas as coisas”, e, “as coisas todas nele se postaram
juntas e permanecem juntas” (v. 17). Na primeira parte, Paulo destaca a Primazia
de Cristo. “E ele é antes de todas as coisas” (v. 17a). Cristo tem prioridade sobre
todas as coisas e está antes delas.72

67MELICK, Richard R.: Philippians, Colissians, Philemon. electronic ed. Nashville : Broadman &
Holman Publishers, 2001, c1991 (Logos Library System; The New American Commentary 32 -
Col. 1. 15-20), Disponível na Bíblia eletrônica Logos.
68HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Colossenses e Filemon. Tradução de
Ézia Cunha de Mullins. 1. ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1993. p.95.
69 CAMPOS, As duas naturezas do redentor: a pessoa de cristo. p. 241.
70 CARSON D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. 6. reimpressão
São Paulo: Vida Nova, 2004. p. 373
71BRUCE, F. F. The ‘Christ Hymn’ of Colossians 1. 15-20. Bibliotheca sacra 141, no. 564 (1984). p.
104.
72 WALLACE, Gramática grega: uma sintaxe exegética do novo testamento. p. 379.

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Em seguida afirma que Ele é o sustentador de todas as coisas: “As coisas


todas nele se postaram juntas e permanecem juntas” (v. 17b). O verbo συνέστηκεν
significa, neste contexto, “manter juntos”, “coerentes”.73 O tempo perfeito,
aponta para o fato que, o universo teve e continua tendo sua coerência contínua
em Cristo. Heber Campos lembra que, “Ele é o Deus sustentador de Tudo o que
há, porque tudo o que há não existe fora dele”.74 Já Calvino, afirma que o Criador
não esqueceu a criação. Ele diariamente mantém o equilíbrio no universo.75
Lightfoot, vai além ao afirma que, Cristo é “o princípio da coesão”, que faz o
universo um cosmos em vez de um caos.76 Sem ele, a gravidade deixaria de
funcionar, os planetas não permaneceriam em suas órbitas.

Assim a obra da criação aponta para a suficiência de Cristo. O intento dos


judaizantes de introduzir os ritos veterotestamentários conforme pode ser visto
na igreja de Colossos e na história da igreja, não faria sentido diante do Filho, que
é Criador e, mais do que isso, é sustentador, de modo que ele é o referencial, e
não mais a lei.

2.4. CRISTO O ÚNICO SENHOR DA IGREJA

Após falar sobre o domínio de Cristo sobre todas as coisas ele agora fala
de maneira mais particular sobre seu senhorio na igreja. Com a menção de Cristo
como a cabeça da igreja, o texto passa a partir de uma perspectiva cosmológica
para uma soteriológica e escatológica.

Paulo enfaticamente mostra que, “Ele é a cabeça do corpo, a igreja” (v.


18a). Em todo o texto, e principalmente aqui, o pronome “ele” é usado a fim de
dar ênfase e possivelmente envolvendo uma antítese. Paulo começa dizendo
novamente que, Ele e nenhum outro é a cabeça do corpo. A analogia feita por Paulo
lança luz nesta ideia. A igreja (o corpo) e a cabeça (Cristo) formam um organismo
vivo, composto por membros vitais um para o outro. Juntos, eles constituem uma

73 A única ocorrência NT outras com um significado semelhante é 2 Pet. 3:5.


74 CAMPOS, As duas naturezas do redentor: a pessoa de cristo. p. 241.
75CALVINO, João. Calvin's New Testament Commentaries Series, (Col. 1. 15-20). Wm. B. Eerdmans
Publishing Company, 1994. Disponível na Bíblia eletrônica E-sword.
76VAUGHAN, Curtis: Colossians. In: Gaebelein, Frank E. (Hrsg.): The Expositor's Bible
Commentary, Volume 11: Ephesians Through Philemon (Col. 1. 15-20). Grand Rapids, MI : Zondervan
Publishing House, 1981, Disponível na Bíblia eletrônica Logos.

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unidade viva. Um sem o outro será incompleto. Os hereges diziam que era
possível viver plenamente sem Cristo. Paulo afirma veementemente que somente
Ele é a cabeça que dá vida ao corpo.

Neste sentido, Cristo é a esfera na qual a igreja foi criada, a fonte de


sustento e a direção. Contra as pessoas que estavam discutindo que a experiência
espiritual final tinha que ser encontrado em lugares além de Cristo, tais como
filosofia (2: 8-10); legalismo (2: 11-17); misticismo (2:18-19); asceticismo (2:20-23);
Paulo mostra que Cristo é o único Senhor da igreja.

A Confissão de fé Westminster diz que a Igreja “consta do número total


dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em
um só corpo sob Cristo, seu cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele
que cumpre tudo em todas as coisas”.77 Mais a frente afirma veementemente:
“Não há outra Cabeça da Igreja senão o Senhor Jesus Cristo.”78 Todo poder está
nas mãos do Filho de Deus, nos céus e na terra ( Mt 28. 18 ). Ele é o único Senhor
da igreja. Assim, tudo que os cristãos de Colossos e de todas as eras precisam
reside Nele. O corpo (a igreja) depende dele para tanto para a salvação como para
a plenitude da vida. Com ele não precisamos de mais nada e sem ele não somos
nada!

2.5. CRISTO O ÚNICO SENHOR DA NOVA CRIAÇÃO

“Ele é o princípio, o primogênito dentre os mortos”. (Cl. 18b). A pessoa que é a


cabeça do corpo, a igreja, é o Cristo ressuscitado. A ideia de ἀρχή (“princípio”)
deve ser entendida em um aspecto cronológico. Por essa razão, “princípio” aqui
implica, em “fundador” ou o que “abriu o caminho”. Esse entendimento lança
luz na compreensão do termo πρωτότοκος (“Primogênito”). Ele é um eco do
verso v. 15b. “o primogênito de toda criação”. No verso quinze πρωτότοκος
(“Primogênito”) sugere tanto a precedência no tempo como a supremacia na
categoria. Ao que parece aqui a ideia de precedência é a mais proeminente.

O significado é que Cristo foi o primeiro a ressuscitar sem voltar a morrer.


Ele é o que inicia a ressurreição escatológica (cf. 1Co. 15.20). Como observa

77 HODGE, Archibald Alexander. A confissão de fé. p. 421


78 Ibid. p. 427

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Ridderbos, aquele que se tornou o “inaugurador da nova humanidade”.79 É bom


lembrar, por outro lado, que essa ideia não exclui a sua soberania, como vemos
no verso 15, pois o fato dele ser primeiro a nascer dos mortos lhe concede a
dignidade e a soberania pertencente ao Primogênito. Sendo assim, Cristo não
apenas ocupa um lugar e tem dignidade especial, mas vai adiante de sua igreja
abrindo o caminho para unir o futuro dela ao seu próprio.80

Ele tem supremacia sobre tudo. O texto já havia afirmado a primazia de Cristo
na criação, mas agora menciona sua primazia na ressurreição. Em ambas, criação
e nova criação, tudo vem dele e é para ele. O verbo πρωτεύω (“tendo primazia”)
ocorre apenas aqui no Novo Testamento e traz a ideia de “ter o primeiro posto”.
Moule traduz como: “que ele possa ficar sozinho supremo entre todos” ou
“cabeça única de todas as coisas”.81 Já a frase ἐν πᾶσιν (“em todas as coisas”),
poderia também ser traduzida como “entre todos os povos”. Este senhorio
universal de Cristo não é apenas uma afirmação teórica sobre a forma como o
mundo é, mas tem uma série de implicações que se estendem para a vida toda.82
A soberania de Deus aponta para o fato de ele pode nos suprir com tudo que
precisamos.

2.6. CRISTO O ÚNICO QUE POSSUI A PLENITUDE DE DEUS.

Paulo passa a dizer que o Filho do amor de Deus é a esfera da


reconciliação: “Porque nele pareceu bem toda a plenitude habitar” (V. 19.). A
palavra ὅτι (“porque”) é uma conjunção de subordinação causal, que introduz a
razão pela qual o Filho é supremo na igreja. Sua supremacia é encontrada não
apenas em quem ele é em sua pessoa declarada em (15-18a), mas também no
propósito eterno de Deus de que unicamente “nele” (note a posição enfática do ἐν
αὐτῷ) “toda plenitude” habitasse. Watson Comentando Colossenses 1.19 à luz da

79RIDDERBOS, Herman N. A teologia do apóstolo Paulo: a obra definitiva sobre o pensamento do


apóstolo aos gentios. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 58
80 Ibid
81Apud VAUGHAN, Curtis: Colossians. In: Gaebelein, Frank E. (Hrsg.): The Expositor's Bible
Commentary, Volume 11: Ephesians Through Philemon (Col. 1. 15-20). Grand Rapids, MI : Zondervan
Publishing House, 1981.
82 Ibid

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confissão de fé assevera que, “nosso mediador é um arranjo, uma loja, um


deposito de todos os tesouros de celestiais, uma plenitude”.83

A Confissão de fé Westminster mostra este propósito de Deus quando diz:

Aprouve a Deus em seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor


Jesus, seu Filho Unigênito, para ser o Mediador entre Deus e o
homem, o Profeta, Sacerdote e Rei, o Cabeça e Salvador de sua
Igreja, o Herdeiro de todas as coisas e o Juiz do Mundo; e deu-
lhe desde toda a eternidade um povo para ser sua semente e
para, no tempo devido, ser por ele remido, chamado, justificado,
santificado e glorificado.84

Paulo afirma ainda que nele habita a “plenitude da divindade” (Cl. 2.9).
Nesse sentido o Filho encarnado, era e é a plenitude de Deus, isto é, possui todas
as qualidades da essência divina. A confissão de Fé de Westminster expressa essa
verdade da seguinte maneira:

Aprouve ao Pai que nele habitasse toda a plenitude, a fim de que,


sendo santo, inocente, incontaminado e cheio de graça e verdade,
estivesse perfeitamente preparado para exercer o ofício de
Mediador e Fiador. Este ofício ele não tomou para si, mas para
ele foi chamado pelo Pai, que lhe pôs nas mãos todo o poder e
todo o juízo e lhe ordenou que os exercesse.85

Os falsos mestres em Colossos estavam convidando os cristãos para


experimentar “plenitude” verdadeira, seguindo sua filosofia (2:8) e regras
humanas (cf. 2:16-23), a que Paulo responde: a “plenitude” que você está
procurando só é encontrada em Cristo. O Apostolo reforça esta ideia com o uso
da palavra “pan” (“todos”). Uma leitura atenta revela uma “tautologia”86, pois

83WATSON, Thomas. A fé cristã estudos: baseados no Breve Catecismo de Wetminster. São Paulo:
Cultura Cristã, 2009. p. 198.
84 HODGE, A confissão de fé. p. 185.
85 Ibid p. 197, 197.
86 A tautologia (do grego ταὐτολογία “dizer o mesmo”) é, na retórica, um termo ou texto que
expressa a mesma ideia de formas diferentes. Como um vício de linguagem pode ser considerada
um sinônimo de pleonasmo ou redundância. A origem do termo vem de do grego tautó, que
significa “o mesmo”, mais logos, que significa “assunto”. Portanto, tautologia é dizer sempre a
mesma coisa em termos diferentes. Cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Tautologia

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como observa Douglas Moo, “plenitude” em si indica totalidade.87 Assim, Paulo


propositalmente usa este recurso para enfatizar que somente Cristo tem tudo que
precisamos.

Paulo diz, também, que Cristo é a fonte permanente da plenitude. Ele é o


“lugar,” no qual o Pai em toda sua plenitude teve o prazer de fazer a sua
residência, a qual é uma casa de habitação permanente, e não temporária, como o
tempo presente no verso nove do capítulo dois deixa claro (κατοικεῖ - habita em
contraste com “παροικέω”, “peregrinar”). Assim, Cristo era a única coisa que os
cristãos de Colossos precisavam. Nele habita permanentemente toda a plenitude
da vida. Unido a ele os cristãos de todas as épocas tem tudo que precisam para
uma vida plena.

2.7. CRISTO É O ÚNICO DEUS-HOMEM

A plenitude de Deus habita no homem histórico Jesus. Somente Jesus é


uma pessoa com duas naturezas, pois era necessário que ele assim fosse. Se ele
fosse apenas um ser humano, jamais teria suportado os sofrimentos enquanto
esteve entre nós. Por outro lado, se ele possuísse apenas a natureza divina, não
poderia ser o nosso mediador. Falando sobre a necessidade da deidade do Filho
o Catecismo maior de Westminster assevera que:

Era necessário que o Mediador fosse Deus para poder sustentar


a natureza humana e guardá-la de cair debaixo da ira infinita de
Deus e do poder da morte; para dar valor e eficácia aos seus
sofrimentos, obediência e intercessão; e para satisfazer a justiça
de Deus, conseguir o seu favor, adquirir um povo peculiar, dar a
este povo o seu Espírito, vencer todos os seus inimigos e
conduzi-lo à salvação eterna.88

Era necessário que ele fosse verdadeiramente Deus para que obedecesse
perfeitamente a Lei e se tornasse redentor do homem. Sendo verdadeiramente
divino, ele foi forte e poderoso o suficientemente para como o segundo Adão não

87MOO, Douglas J.: The Letters to the Colossians and to Philemon (Col. 1. 15-20). Grand Rapids, MI:
William B. Eerdmans Pub. Co., 2008 (The Pillar New Testament Commentary), Disponível na
Bíblia eletrônica Logos.
88WESTMINSTER ASSEMBLY. O catecismo maior de Westminster. 12. ed. São Paulo: Cultura
Cristã, 2002. (pergunta 38).

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pecar. Ele precisava ser Deus para “suportar o peso da culpa do pecado de seu
povo, bem como a ira de Deus que cairia sobre ele como representante dos eleitos,
libertando, assim, os seus da maldição decorrente do não comprimento da lei”.89
Era necessário que Cristo fosse divino a fim de apresentar-se como sacrifício
perfeito e aplicasse de forma eterna seus méritos ao seu povo redimido e assim
vencesse nosso maior inimigo, isto é, satanás. 90 As palavras de Calvino são
esclarecedoras: “Cristo sofreu como homem, no entanto, a fim de que sua morte
pudesse efetuar nossa salvação, sua eficácia fluiu do poder do Espírito. O
sacrifício que produziu a expiação eterna foi muito mais que uma obra
meramente humana”.91

Já no que se refere a sua plena humanidade o mesmo catecismo afirma:

Era necessário que o Mediador fosse homem para poder levantar


a nossa natureza e obedecer à lei, sofrer e interceder por nós em
nossa natureza, e simpatizar com as nossas enfermidades; para
que recebêssemos a adoção de filhos, e tivéssemos conforto e
acesso com confiança ao trono da graça. 92

Se por um lado Jesus tinha que ser Deus, por outro ele deveria ser
plenamente homem. Sua humanidade fora necessário, pois somente como
homem ele podia se submeter à Lei de Deus (obediência passiva) e obedecê-la
(obediência ativa). Também, para “arcar moral, física e espiritualmente com as
consequências do pecado de seu povo”.93 Como homem sem pecado ele pode
apresentar a si mesmo como oferta santa e imaculada (Hb 7:26-27; 9:14) e morrer
pelos pecadores eleitos, visto que somente a carne pode morrer (IPe 1:18-20).94

Assim, ele tinha que ser homem para pagar a dívida humana e ser Deus
para pagá-la perfeitamente e para sempre. Calvino esclarece este ponto ao dizer:

89COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Eu creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo. São Paulo:
Parakletos, 2002. p. 224.
90 Ibid
91 CALVINO, João. Exposição de Hebreus. São Paulo: Paracletos, 1997. (Hb 9.14), pp. 231-232
92 WESTMINSTER ASSEMBLY. O catecismo maior de Westminster. (pergunta 39).
93 COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Eu creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo. São Paulo:
Parakletos, 2002. p. 225.
94 Ibid

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Visto, então, que Deus por Si só não poderia provar a morte, e


que o homem por si só não poderia vencê-Ia, Ele tomou sobre Si
a natureza humana em união com a natureza divina, para que
sujeitasse a fraqueza daquela a uma morte expiatória, e que
pudesse, pelo poder da natureza divina, entrar em luta com a
morte e ganhar para nós a vitória sobre ela.95

2.8. CRISTO O ÚNICO RECONCILIADOR DE TODAS AS COISAS.

No último verso do texto Paulo apresenta Cristo como o reconciliador de


todas as coisas: “E através dele reconciliar todas as coisas para ele, tendo feito paz através
do sangue dele, através dele, quer as coisas sobre a terra, quer as coisas no céu”. (v. 20)
“Através dele” é mais uma vez enfático. Ele aponta para Cristo como o único
agente de reconciliação. Os falsos mestres estavam dizendo que os anjos
e emanações poderiam de alguma forma aproximar os homens de Deus. Em
contrapartida, Paulo diz que, Jesus Cristo é o único meio de reconciliação e sua
morte na cruz o único método que Deus escolheu para usar. Mais uma vez foi o
Pai que soberanamente, quis reconciliar todas as coisas através (δι') do Filho.

O verbo aqui utilizado para “reconciliação” (ἀποκαταλλάξαι) ocorre


apenas mais duas vezes no Novo Testamento (v. 22; Ef 2.16.). Seu uso aqui parece
similar aos demais usados pelo Apóstolo e traz a ideia de “mudança de inimizade
para amizade”, “nova harmonia” e “nova paz”. (cf. Rm 5.10, 11; 2 Cor 5.18-20;).
Segundo Vaughan, a maneira que ele foi colocado aqui, provavelmente tem a
força intensiva: “para mudar completamente”, ou, “mudar de modo a remover
toda a inimizade”. 96 Em nós que outrora éramos inimigos de Deus em Cristo nos
tornamos amigos. John Murray falando sobre a obra de Cristo na reconciliação
do homem afirma:

O pecado envolve culpa e a morte de Cristo é a provisão por


nossa culpa. Pecado evoca a ira de Deus e propiciação é o que
concilia a ira de Deus. Pecado aliena-nos de Deus e reconciliação
é dirigida à exigência surgida do pecado. O pecado nos confia à

95 WILES, Joseph Pitts. Ensino sobre o Cristianismo: uma edição abreviada de as institutas da
religião cristã. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1984. p. 182
96VAUGHAN, Curtis: Colossians. In: Gaebelein, Frank E. (Hrsg.): The Expositor's Bible
Commentary, Volume 11: Ephesians Through Philemon (Col. 1. 15-20). Grand Rapids, MI : Zondervan
Publishing House, 1981.

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servidão dele mesmo e a de Satanás. Redenção é a provisão para


esta servidão, a morte de Cristo é nosso resgate.97

Deve-se notar também que, há outros verbos que Paulo usa na Bíblia (que
também são usados na literatura secular) que possibilita a reconciliação por meio
da ação bilateral, ou seja, duas pessoas que trabalham juntas em favor da
reconciliação. Todavia, o verbo ἀποκαταλλάξαι aponta para uma reconciliação
unilateral. Em suma, a reconciliação é a obra acabada e toda de Deus através de
Jesus Cristo, pelo qual o homem é levado da posição de inimizade para a posição
de harmonia e paz com Deus.

Nesse sentido nenhuma obra legalista e ascética pode nos aproximar de


Deus e nos fazer merecedores da redenção. É Deus que por meio da obra de Cristo
vem até nós e não nós através de nosso labor, como acreditavam os falsos mestres
de Colossos e seus discípulos ao longo da história. A base da nossa justificação é
a obra completa de Cristo e não a nossa obediência a Lei. A Bíblia ensina
claramente que estar bem com Deus não é questão de guardar a lei. “Ninguém
será justificado diante dele por obras da lei” (Rm 3.20). “O homem não é
justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus” (Gl. 2.16). Não
existe esperança de estar em paz com Deus por guardar a lei. A única esperança
está no sangue e na justiça de Cristo, que é nossa somente pela fé. “Concluímos,
pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei”,
diz o Paulo (Rm. 3.28).98

2.9. CRISTO O ÚNICO MÉTODO DE DEUS

Paulo assevera ainda que, a cruz é o lugar, e uma parte vital e necessário
da reconciliação. Isto é evidente nas palavras, “tendo feito paz através do sangue
dele” (Col. 1:20 , cf. também Ef. 2:14-18 ). É na cruz que Cristo se tornou o
substituto do corpo que é a igreja e pagou o preço pelos pecados de cada membro
eleito. Essa mensagem da Cruz, que para os filósofos era loucura, para os
legalistas era escândalo, sempre foi o método de Deus para a reconciliação e
salvação dos que creem.

97MURRAY, John. Collected writings, p. 38. Apud COELHO, A superioridade de Cristo no exercício
de seu tríplice ofício em relação ao realizado pelos oficiais do Antigo Testamento.
98 Lição 13 da revista Nossa Fé - Atualidade, pp. 46-48, editora Cultura Cristã.

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Como dissemos no capítulo anterior, os mestres legalistas ensinavam que


“somente um relacionamento pessoal, vital e pessoal com Cristo não era
suficiente para satisfazer a vontade de Deus”.99 Mascarados por uma “profunda
espiritualidade” estes mestres negavam a verdadeira fé em Cristo. Eles
colocavam sua atenção mais nas formas, ritos e cerimônias do que na Pessoa e
obra de Cristo. Entretanto, a incapacidade humana de prover o seu destino reside
no fato dele ser incapaz se cumprir em sua completude a Lei de Deus.

Paulo, claramente, retira todo o mérito do homem, e mostra que ele não
pode satisfazer a justiça de Deus com os símbolos do Antigo Testamento. O
homem sem Cristo carece da glória de Deus (Rm 3.23) e que tudo o que ele
consegue por si só é a morte como salário de seu pecado (6.21-23).100 Sem Cristo
está totalmente perdido!

Se a ação do homem não é capaz de levá-lo a Deus, a obra de Cristo é


suficiente para redimi-lo, pois, Cristo foi o único que conseguiu cumprir
perfeitamente toda a lei. É por meio de sua obediência ativa e passiva da Lei, que
somos reconciliados com Deus. Os teólogos de Westminster asseveram que:

O Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício de


si mesmo, sacrifício que pelo Eterno Espírito, ele ofereceu a Deus
uma só vez, satisfez plenamente à justiça do Pai, e, para todos
aqueles que o Pai lhe deu adquiriu não só a reconciliação, como
também uma herança perdurável no Reino dos Céus.101

Como nosso Sumo Sacerdote, Cristo ofereceu seu sacrifício uma vez por
todas. Ele satisfez plenamente e para sempre a justiça de Deus. Ele é suficiente e
qualquer sacrifício extra é supérfluo. A suficiência soteriológica absoluta do
Salvador e a insuficiência do pecador de conquistar a salvação estão nitidamente
expressas nas seguintes palavras de Oscar Cullman:

É precisamente sacrificando-se, indo, portanto, ao mais fundo da


humilhação, que Jesus exerce a função mais divina que se
conhece em Israel: a de mediador sacerdotal. Daí o elo estreito
que aparece na Epístola aos Hebreus entre a ideia de Soberano

99 MACARTHUR, Nossa suficiência em Cristo. p. 165.


100 COELHO, A superioridade de Cristo no exercício de seu tríplice ofício em relação ao realizado pelos
oficiais do Antigo Testamento.

Westminster Assembly. A confissão de fé de Westminster. 17. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2005.
101

VII § V

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Sacerdote e a de Filho de Deus. A dialética própria do Novo


Testamento, que descobre a majestade mais alta na humilhação
mais profunda, se manifesta, graças à noção de sumo sacerdote,
na morte expiatória de Jesus. Aí reside a grande importância
desta concepção cristológica. Jesus realiza de uma vez o antigo
sacerdócio judaico e, cumprindo-o, o torna supérfluo.102

Assim, temos de acreditar na suficiência do Filho de Deus na Redenção da


alma e na plenitude da vida; e descrer na capacidade do homem de resolver o
seu destino eterno ou de alcançar uma vida plena em Deus.103 Como
corretamente assevera Watson, “o sangue de Cristo é a âncora de nossa fé, a fonte
da nossa alegria, a coroa de nossos desejos e o único apoio tanto da vida como da
morte”.

2.10. Solus Christus

À luz de tudo que vimos, devemos concluir que Cristo é tudo que
precisamos. Não há nada que possa ser acrescentado à sua obra, pois ela é
completa e foi feita de uma vez por todas. Não há nenhum sacrifício humano que
seja válido no que se refere à redenção da alma ou plenitude da vida. Além disso,
um novo sacrifício implicaria a não suficiência e eficácia da obra de Cristo.
Calvino, mais uma vez estava certo ao dizer que o fato de nos acharmos sujeitos
à ira divina, qualquer remédio para livrar-nos teria resultado em nada, se Cristo,
ao sofrer de uma vez por todas, não sofresse o suficiente para reconciliar os
homens com a graça de Deus, desde o princípio do mundo e até ao fim.104 Somos
incapazes de decidir o nosso destino eterno. Cristo todo-suficiente é tudo que
precisamos. Declaremos sem medo: SOLUS CHRISTUS!

102 CULLMAN, Oscar. Cristologia do Novo Testamento, p. 124.


103FIGUEIREDO, Onezio. CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER: Texto e comentário.
Disponível: <http://www.ebenezer.org.br/Download/Onezio/ConfissaoFeWestminster.pdf>
104 CALVINO, Exposição de Hebreus. pp. 245-246.

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