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DE VESTIDOS LONGOS, CABELOS ARMADOS E A

MODA DA ÉPOCA: Ângelo Agostini e suas críticas caricatas


aos padrões femininos no semanário paulista Cabrião (1866-
1867) (MUDEI AQUI PORQUE FICAVA REPETITIVO A
PALAVRA CARICATURA)

Amanda de Oliveira Santos


(Graduada em História/Centro Universitário AGES
E-mail: aos.1s2@gmail.com)
Vanessa Nascimento Souza
(Graduada em História/ Centro Universitário AGES; Pós-graduanda em
Biblioteconomia/FAVENI
E-mail: nesajuliao@gmail.com)

Resumo: A história das mulheres vem sendo palco de diferentes estudos, no qual se
debruçam em analisar sua trajetória em diferentes instâncias; seja na sociedade; na
moda; no trabalho; dentro e fora do lar; na imprensa; dentre outros espaços e situações
onde se verifica a presença da figura feminina. Nessa perspectiva, o presente trabalho
traz à tona a análise sobre a representação da mulher no semanário paulista Cabrião, o
qual tinha como redator o cartunista Ângelo Agostini. O interesse na temática surgiu
através da análise de algumas caricaturas publicadas no periódico, no qual retrata a
figura da mulher como ser inferior, sendo em muitos casos comparada com um animal
(o pavão). Desse modo, a relevância do presente estudo se efetiva por trazer para a
discussão historiográfica a temática da representação da figura feminina em semanários,
um importante veículo de informação. Para tanto, a metodologia utilizada foi a
indiciária, com abordagem qualitativa, pois foram analisadas as edições que traziam
caricaturas nas quais criticavam a moda da época. Contudo, ...

Palavras-chave: Caricatura, Mulher, Cabrião.

Universidade Federal de Sergipe - Programa de Pós-Graduação em História/– PROHIS


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INTRODUÇÃO

1 O JORNAL COMO FONTE DE PESQUISA HISTÓRICA

Os jornais como fonte de estudo trazem para o campo da pesquisa um leque


diverso de temas, auxiliando deste modo no surgimento de diferentes trabalhos que
proporciona o alargamento historiográfico.
Para além de mecanismo de informações, o reconhecimento da imprensa como
fonte e objeto de pesquisa histórica tem sido debatido desde a década de 1970, em
decorrência da revolução ocorrida no campo historiográfico em decorrência da Escola
dos Annales, no qual acabou trazendo em seu meio de estudos o alargamento de
correntes e principalmente fontes históricas. Partindo desta abordagem é que se faz
importante destacar o debate levantado por historiadores e pesquisadores brasileiros,
que tem sido peça fundamental para a fundamentação sobre o papel da imprensa no
meio historiográfico, dentre esses estudiosos vale destacar os historiadores Tânia
Regina De Luca1, Maria Helena Rolim Capelato2 e Nelson Werneck Sodré3, no qual
discute não somente sobre o surgimento da imprensa, mas principalmente sobre o seu
reconhecimento como fonte e objeto de pesquisa histórica.
Como objeto de pesquisa e estudo, os jornais assim como as revistas e panfletos
tem colaborado de modo significativo para a historiografia. É através dos periódicos que
os historiadores e pesquisadores são capazes de analisar o contexto social dos
acontecimentos ocorridos em um determinado local, a partir do estudo dos editoriais,
das seções (políticas, econômicas, social e cultural), informativos, artigos publicados,

1
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anúncios, crônicas, colunas sociais, noticiários e diversos campos ou aspectos que
podem ser encontrados nos jornais, permitindo desta maneira que o historiador analise
alguns fatos ocorridos no passado e que são de suma importância a sua compreensão
para a contemporaneidade.
Segundo a historiadora Tania Regina De Luca, os periódicos são como uma
enciclopédia do cotidiano, pelo motivo de ser neles onde é publicada diariamente os
mais diferentes acontecimentos decorrentes do dia, e em alguns casos semanalmente.
Como um diário de notícias, os periódicos são capazes de transmitir informações
importantes para o campo de pesquisas, pois, são através deles onde pode ser registado
fatos que ocorreram em uma determinada época e sua repercussão acabaram se tornando
elemento chave para a história contemporânea, principalmente dos acontecimentos
atuais. A autora acima citada ainda destaca também que

Não se pode desprezar o peso de certa tradição, dominante durante o século


XIX e as décadas iniciais do XX, associada ao ideal de busca da verdade dos
fatos, que se julgava atingível por intermédio dos documentos, cuja natureza
estava longe de ser irrelevante.4

Partindo desta análise que se faz importante perceber que embora houver no
campo historiográfico diferentes debates sobre o papel da imprensa, ainda havia a
desconfiança pelos pesquisadores e alguns historiadores em relação ao seu valor como
documento histórico que os periódicos acabavam tendo em sua composição. Por esse
motivo que se faz importante destacar o trabalho desempenhado pela historiadora Maria
Helena Rolim Capelato5, no qual em seus estudos identificou que durante os primeiros
anos iniciais do século XX, muitos pesquisadores entre eles historiadores, tinham uma
dupla posição em relação da importância dos periódicos como fonte histórica, se
colocando com desprezo em considerar os jornais como uma fonte suspeita, sem

4
DE LUCA, Tania Regina. “História dos, nos e por meio dos periódicos”. IN: PINSKY, Carla Bassanezi
(Org.). Fontes Históricas. 2ºed, 1º reim. São Paulo: Contexto, 2008. p. 111.
5
CAPELATO, Maria Helena Rolim. Imprensa e História do Brasil. São Paulo: Contexto/ Edusp, 1988.

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validade. E por outro lado enaltecendo, considerando os periódicos como repositórios
de verdade, colocando as notícias como relatos verdadeiramente autênticos dos
acontecimentos registrados.
Porém, essas concepções acabaram sendo criticadas durante a segunda metade
do século XX, e começaram a entrar em decadência junto com a noção de documento
como espelho da realidade, de verdade absoluta e portadora de objetividade do
cotidiano ali narrado. Os novos debates sobre o uso da fonte jornalística começou a
surgir na década de 1970, período esse marcado por críticas a História tradicional e os
métodos pregados pela Nova História. E foi através desses diferentes debates que
acabou direcionando os novos rumos da historiografia contemporânea, no qual acabou
alterando não somente o modo em se fazer história, mas principalmente os métodos
sobre como deveria se analisar e criticar os novos documentos.
A terceira geração dos Annales acabou trazendo para o campo historiográfico
uma nova ruptura dos diferentes conceitos que havia em relação ao estudo histórico. Foi
através desse movimento da escola francesa, juntamente com a renovação marxista e a
contribuição de outros campos de estudo e autores como Michel Focault, que foi
possível abrir novas propostas de objetos, problemas e abordagens, abrangendo ainda
mais a noção do que seria história sendo fundamental para a composição historiográfica.
No Brasil, por volta dos anos de 1980, historiadores e pesquisadores inspirados com as
abordagens dos fundadores da Escola dos Annales começaram a aderir os pensamentos
que regiam a historiografia francesa.
De modo significativo que a historiadora Sandra Jatahy Pesavento traz em seus
estudos uma análise fundamental para a compreensão do que seria a Nova História
Cultural, e principalmente como essa nova remodelagem no campo da historiografia
acabou contribuindo para a amplitude das fontes documentais e estudos, reforçando
ainda mais a questão da importância da fonte jornalística como elemento fundamental
para o estudo histórico. Nesse sentido, Pesavento destaca que:

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Não se trata de fazer uma História do Pensamento ou de uma História
Intelectual, ou ainda mesmo de pensar uma História da Cultura nos velhos
moldes, a estudar as grandes correntes de idéias e seus nomes mais
expressivos. Trata-se, antes de tudo, de pensar a cultura como um conjunto
de significados partilhados e construídos pelos homens para explicar o
mundo.6

Fazendo um paralelo ao que foi exposto pelas historiadoras Tania Regina De


Luca e Sandra Jatahy Pesavento é importante destacar que ambas fazem uma análise no
campo da História Cultural, demonstrando como esse campo de estudo acabou trazendo
um novo olhar aos documentos construídos pelos seres humanos no decorrer dos anos.
Partindo dessa abordagem que se faz importante destacar, como a fonte periódica é de
modo significativo, um dos elementos importante para os pesquisadores e historiadores,
pois, em cada seção que é encontrada nos escritos jornalísticos acaba trazendo a tona
elementos indispensável para a compreensão de muitos acontecimentos ocorridos em
outra época.

2 HISTÓRIA DAS MULHERES: novos campos de


pesquisa

A História das mulheres é um campo de pesquisa recente, pois, ao longo da


história, esta fora exclusivamente restrita ao espaço doméstico, sendo-lhe imposta uma
educação tardia e somente com um único objetivo: “boa mãe, boa esposa”. Além disso,
os historiadores sempre encontraram muitas dificuldades para ter acesso a documentos
que abordassem a vida cotidiana das mulheres.
De acordo com a historiadora Michelle Perrot:

6
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e História cultural. 2º ed. 2º reimp. Belo Horizonte: Autêntica,
2008. p. 15.

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[...] os materiais que esses historiadores utilizavam (arquivos diplomáticos ou
administrativos, documentos parlamentares, biografias ou publicações
periódicas...) são produtos de homens que têm o monopólio do texto e da
coisa públicos. Muitas vezes observou-se que a história das classes populares
era difícil de ser feita a partir de arquivos provenientes do olhar dos senhores
– prefeitos, magistrados, padres, policiais... Ora, a exclusão feminina é ainda
mais forte. Quantitativamente escasso, o texto feminino é estritamente
especificado: livros de cozinha, manuais de pedagogia, contos recreativos ou
morais constituem a maioria. Trabalhadora ou ociosa, doente, manifestante, a
mulher é observada e descrita pelo homem. Militante, ela tem dificuldade em
se fazer ouvir pelos seus camaradas masculinos, que consideram normal
serem seus porta-vozes. A carência de fontes diretas, ligada a essa mediação
perpétua e indiscreta, constitui um tremendo meio de ocultamento. Mulheres
enclausuradas, como chegar até vocês?7.

Daí, então, se verifica a dificuldade dos estudos voltados para essa temática, pois
como analisá-la a partir do olhar masculino? Serão analisadas as atribuições e
imposições sofridas por estas nas relações familiares, na vida conjugal e no ambiente
das fábricas? Como ouvir os silêncios impostos por seus pais, maridos? Segundo
Michelle Perrot8, esse silêncio se efetiva durante muito tempo por serem os espaços
políticos e profissionais voltados para o poder masculino, impossibilitando assim que as
mulheres pudessem falar ou escrever sua própria história.
Alguns estudos apontam que o interesse pela História das mulheres é novo,
datam dos anos 1980 as primeiras pesquisas sobre a temática. Segundo as historiadoras
Rachel Soihet e Joana Maria Pedro, os trabalhos pioneiros que abordam a História das
mulheres antecedem a publicação dedicada “A mulher no espaço público”, da RBH
(Revista Brasileira de História):

Maria Odila Leite da Silva Dias já havia publicado, em 1984, o seu livro
Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX, e nele a
categoria‘mulheres’ estava presente. Além dela, Luzia Margareth Rago

7
PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. 4ª ed. Rio de janeiro:
Paz e terra, 1988, p. 186.
8
Ibidem.

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publicou, em1985, Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar, Brasil
1890-1930; Miriam Moreira Leite tinha organizado, em 1984, também, A
condição feminina no Rio de Janeiro, século XIX: antologia de textos de
viajantes estrangeiros. E, no mesmo ano do citado número da RBH (1989),
outras autoras estavam publicando,como por exemplo Martha de Abreu
Esteves, em Meninas perdidas:os populares e o cotidiano do amor no Rio de
Janeiro da Belle Époque; Rachel Soihet, em Condição feminina e formas de
violência: mulheres pobres e ordem urbana, 1890-1920; Eni de Mesquita
Samara, As mulheres, o poder e a família: São Paulo século XIX; Magali
Engel, Meretrizes e doutores: saber médico e prostituição no Rio de Janeiro.2
Portanto, o número da RBH emergiu no interior de várias pesquisas que
estavam tematizando aquelas categorias9.

Se durante muito tempo a escrita da história dava lugar somente a escrever a


história dos homens, no século XX há uma mudança nos interesses historiográficos,
dando-se ênfase aos estudos da história das mulheres, isso tudo devido à Nova História
ou História das mentalidades, como abordam os historiadores George Duby e Michelle
Perrot:

Durante muito tempo a história foi a história dos homens, vistos como
representantes da humanidade. Múltiplos trabalhos – só para o período
contemporâneo eles contam-se por milhares – mostraram que também as
mulheres têm uma história e são actores históricos de pleno direito. [...] 10

Porém, como bem ressaltam os autores, não é um estudo da história isolada, mas
que se proponha em uma escala global uma abordagem das relações de gênero, no
contexto das relações familiares, considerando, assim, as mulheres como atores sociais
responsáveis por sua própria história. Portanto, foi devido à aproximação da história
com a antropologia que se deu ênfase a aspectos antes não explorados pelos
historiadores, como, por exemplo: o cotidiano, as emoções, a vida privada, a vida
pública e a individual, em decorrência da História das mentalidades, a qual se propôs a

9
SOIHET, Rachel. PEDRO, Joana Maria. A emergência da pesquisa da História das Mulheres e das
Relações de Gênero. São Paulo: Revista Brasileira de História, vol. 27, nº 54, 2007.
10
DUBY, Georges. PERROT, Michelle. História das Mulheres no Ocidente: o século XX. Vol. 5, São
Paulo: Edições Afrontamento, 1991, p. 12.

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analisar as relações intersubjetivas, relações estas que fogem do registro documental,
como é o caso dos sentimentos em diferentes épocas e espaços11.
A partir de então, com o crescimento das mulheres nas universidades cresce o
número de pesquisas acerca de suas “antepassadas”, muitas perguntas eram feitas na
tentativa de compreender por que durante muito tempo foram sujeitas as dominações e
subordinações masculinas “através do tempo e do espaço12”. É possível que as mulheres
construam suas identidades e tenham mais autonomia para movimentarem-se e
decidirem por si mesmas a sua história.
Neste cenário de reconhecimento das identidades femininas, estas passam a
ganhar seu espaço na sociedade a partir da sua própria valorização e controle de si,
quebrando as barreiras dos preconceitos. Porém, a imagem veiculada em filmes, vídeos
traz uma representação de feminilidade que ainda segue modelos antigos. Segundo
afirma Françoise Thébaud, as mulheres veem com o advento da guerra possibilidades de
liberdade, saem do espaço privado e ganham lugar no espaço público, no campo do
trabalho, começam a conhecer novos horizontes e ter novas experiências, sentem-se
úteis.

É verdade que, para as mulheres, a guerra constitui uma experiência de


liberdade e de responsabilidade sem precedentes. Em primeiro lugar, pela
valorização do trabalho feminino ao serviço da pátria e pela abertura de
novas oportunidades profissionais, em que as mulheres descobrem,
geralmente com prazer, o manuseamento de utensílios e técnicas que
desconheciam. A guerra destrói, por necessidade, as barreiras que opunham
trabalhos masculinos e trabalhos femininos e que vedavam às mulheres
numerosas profissões superiores. [...]13.

Diante disso, as mulheres começam a perceber que podem migrar de um


trabalho para outro que melhor lhes recompense financeiramente, e isso faz com que os

11
THÉBAUD, Françoise. A grande guerra: o triunfo da divisão sexual. In: DUBY, Georges. PERROT,
Michelle. História das Mulheres no Ocidente: o século XX. Vol. 5, São Paulo: Edições Afrontamento,
1991, p. 07.
12
Ibidem, p. 07.
13
Ibidem. p, 49.

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patrões verifiquem formas de aumentar o salário para não ficarem sem empregadas, pois
até mesmo as domésticas passam a ter “consciência” de sua condição e buscam
melhores condições de salário, ou seja, neste período começam as novas relações de
trabalho feminino, mais autonomia e liberdade, causando conflitos com os homens, que
se veem ameaçados em perder seu espaço para as mulheres.
Desse modo, muitas mulheres pesquisadoras se debruçaram sobre as fontes do
espaço público e privado, para desvendar os silêncios que há muito se fizeram presentes
no campo da escrita histórica, analisando cartas, correspondências, diários e, com a
entrada da mulher no mundo do trabalho, começa-se a estudar fontes documentais das
fábricas onde estas foram operárias e suas relações as mais variadas no ambiente
fabril14.
Além de outras fontes, a exemplo das revistas femininas15, as quais buscavam
atender e influenciar com suas dicas de boas maneiras, comportamento esperado pela
sociedade, bem como arrumar ou segurar o amado, de como ficar em forma, de boa
educação e tantas outras. Claro que este público que os periódicos pretendem alcançar
está voltado para a dama intelectual, que teve acesso à escolarização, ou seja, mulheres
de classe média e alta, pois as mulheres com menos condições financeiras não tinham
acesso à educação, principalmente de cidades interioranas.
A historiografia contemporânea ressalta a mulher como ator histórico e social
capaz de produzir e controlar as relações familiares e profissionais no campo público e
privado. Segundo a historiadora Mary Del Priore, “o século XXI será das mulheres!”,
pois, se no passado viviam em casa destinadas a cuidar do lar e dos filhos, sendo o
matrimônio seu único objetivo para alcançar a felicidade duradoura, a partir de então
saem para trabalhar, quebram tabus, sustentam-se e sustentam a família, cuidam do

14
Idem.
15
PINSKY, Carla Bassanezi. Mulheres dos anos dourados. São Paulo: Contexto: 2014.

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corpo e podem ir e vir sendo notadas em grande número em espaços antes dito
masculinos16.
Na atualidade, “elas estão em toda parte” ativas e cada vez mais presentes,
buscando sempre novas conquistas, no que se refere à quebra de preconceitos e valores
tradicionais, como por exemplo, o casamento de antigamente em que a noiva casara-se
com o rapaz escolhido pelos pais, sendo esta destinada somente à procriação e aos
afazeres domésticos. De acordo com Mary Del Priore, esta “[...] tinha de se comportar
como uma santa”. Os constrangimentos para ganhar dinheiro – coisa de homem – eram
enormes. A rua? Lugar de mulher “fácil” 17.
Entretanto, ressalta ainda que, mesmo em meio a tantas mudanças devido aos
avanços tecnológicos e educacionais, ainda há enraizadas nas mentes e nos corações
concepções antigas. As relações conjugais ainda prezam, em muitos dos casos, a
hierarquia do chefe da casa – o homem, sendo que muitas vezes este usa da violência,
seja ela doméstica ou sexual, para se impor como superior, não aceitando a
independência feminina. Afirma ainda que, se vivemos em uma sociedade machista, é
porque cultivamos essa tradição:

Estudiosos de revistas femininas, letras de músicas e imagens publicitárias


demonstram que “uma mulher livre” não é, absolutamente, aquela que faz
escolhas, e sim a que se conforma aos modelos da mídia; que só se enxerga
através da visão do homem. Ou seja, as leis mudam, mas o essencial continua
intocado: mulheres continuam a educar seus filhos e tratar os maridos,
reforçando a ideia de superioridade do sexo masculino. Filhos não lavam
louça. Maridos não fazem a cama. Em casa, elas devem agradá-los. Só
gostam de ser chamadas do que for comestível, tipo “gostosa” e “docinho”.
Mulher inteligente? “É sapatona!” Mulher fruta? “Linda” – as outras querem
ser iguais a ela. Palavrões e pancadas? Algumas acham que tal forma de
demonstrar zelo e ciúmes “é boa”; que, quando Nelson Rodrigues afirmou
que “mulher gosta é de apanhar”, estava certo18.

16
DEL PRIORE, Mary. Histórias e conversas de mulher. São Paulo: Planeta, 2013.
17
Ibidem, p. 03.
18
Ibidem, p. 04.

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Nesta perspectiva, aborda que a mulher, por ter sido criada em um “mundo
patriarcal e machista”, está submersa em rupturas que as ajudam a prosperar e buscar
sempre novas vitórias, mas, por outro lado, permanências que “apontam fragilidades”
no século XXI, que de certa forma trazem-na de volta ao passado, pois vivem presas a
valores e desejos masculinos:

[...] vivem pelo olhar do homem, do “outro”. Independentes, querem uma


única coisa: encontrar um príncipe encantado. Têm filhos, mas se sentem
culpadas por deixá-los em casa. Em casa, querem sair para trabalhar. Se
cheinhas, querem emagrecer. Se magras, desejam seios, nádegas e o que mais
tiverem direito... em silicone. Desejam o real e o sonho, de mãos dadas. São
várias mulheres em uma. Buscar o próprio rosto entre tantos outros é o
desafio. Mas o maior desafio mesmo é mostrar que elas podem ter um rosto
só19.

A historiadora Mary Del Priore busca, de forma clara, abordar as mudanças e


permanências no que se refere à condição feminina na sociedade ao longo da história,
que, mesmo tendo conquistado seu espaço, ainda está presa a concepções de outrora e
que acaba deixando-a em uma encruzilhada, sempre seguindo modelos impostos
socialmente, seja pela mídia, como também as próprias relações familiares tradicionais
que ainda prezam pela mulher dona de casa.
De acordo com a historiadora Michelle Perrot20, no passado as mulheres eram
objetos da submissão masculina, não tinham direito sobre seu próprio corpo, eram-lhe
impostas regras na forma de olhar, de andar, de falar, gesticular e até mesmo sorrir ou
chorar, ou seja, por muito tempo a mulher era submetida ao silêncio corporal. Hoje já se
vê um avanço em relação a essas questões, porém muito se tem ainda que conquistar,
visto que diversos casos em que a mulher é violentada se justificam por estar usando
uma roupa mais curta ou frequentar lugares “propícios”, a exemplo de baile funk, dentre
outros espaços em que é vista de outra forma.

19
Ibidem, p. 05.
20
PERROT, Michelle. Os silêncios do corpo da mulher. In: MATOS, Maria Izilda Santos de. SOIHET,
Rachel. (orgs.). O corpo feminino em debate. São Paulo: Editora UNESP, 2003, p. 22.

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Diante disso, o discurso jornalístico muito tem contribuído por reforçar valores
antigos enraizados na sociedade. Adriana Oliveira da Silva, em seu artigo intitulado
Itabuna no trono da beleza nacional: discursos de progresso e idealização feminina na
imprensa itabunense, 1950-1962, aponta uma contribuição de Joana Maria Pedro em
seu livro “Mulheres honestas e mulheres faladas: uma questão de classe”, a qual
ressalta que “os jornais ajudaram a compor, de diferentes maneiras e em diferentes
expressões de linguagem, a rede discursiva definidora de um feminino ideal. [...]21”.
Além dessa abordagem, a historiadora Denise Bermuzzi Sant’anna, em seu
artigo “sempre bela”, vem contribuir com uma análise do padrão de beleza, ideal
propagandeado em centros urbanos. Quando menciona a imagem feminina veiculada na
imprensa no século XX, traz uma análise sobre as indumentárias utilizadas por damas
da alta sociedade, suas roupas elegantíssimas, suas joias sofisticadas, os chapéus
volumosos, os sapatos e o uso de espartilho, para apertar a barriga, dentre outros
adereços que as faziam mais belas, para se distinguir das demais mulheres do povo.
Aborda também as dietas para alcançar um corpo com formas mais arredondadas, pois
magreza era sinônimo de feiura, estava subentendido que mulheres magras ou eram
pobres ou doentes22.
Na atualidade, de acordo com Joana de Vilhena Novaes, em meio a uma
sociedade valorizada pela imagem, aparência como símbolo de beleza, a feiura está
intimamente relacionada com gordura e velhice, sendo assim, é válida a exclusão social
destas mulheres. Entretanto, estas vêm se tornando cada vez mais “escravas” de
produtos de cosméticos e centros clínicos em busca de atingir um padrão ideal de
beleza, a exemplo das modelos que sofrem fazendo dietas, para manterem o corpo
magro e continuarem na profissão, no padrão esperado para as passarelas da moda, o

21
SILVA, Adriana Oliveira da. Itabuna no trono da beleza nacional: discursos de progresso e idealização
feminina na imprensa itabunense, 1950-1962. In: CARVALHO, Philipe Murilo Santana de. SOUSA,
Erahsto Felício de. Entre o fruto e o ouro: escritos de história social do sul da Bahia. Ilhéus:
Mondrongo, 2014, p. 189.
22
SANT’ANNA, Denise Bermuzzi de. Corpo e beleza: “sempre bela”. In. PINSKY, Carla Bassanezi.;
PEDRO, Joana Maria. (orgs). Nova história das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2013.

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que não significa que seja saudável. Percebe-se que ao longo da história a concepção de
beleza vai sendo moldada e construída a depender dos interesses econômicos em
pauta23.
A moda em vigor leva as mulheres a se adequarem e modificarem o corpo, para
serem aceitas na sociedade e sentirem-se bem. De acordo com NOVAES:
Da moda do corpo ao corpo da moda, o corpo natural se desnaturaliza ao
entrar em cena, conforme as exigências impostas pelos modelos vigentes ou
pelo poder das normas organizadoras do ethossócio-cultural. Mas esse corpo
não é apenas passivo: ele transgride, cria, rebela-se porque fala24.

A historiadora Joana Maria Pedro, em seu livro Mulheres honestas e mulheres


faladas: uma questão de classe, contribui para esta pesquisa por também ter trabalhado
com análise de jornais e os papéis femininos da alta sociedade em Desterro, abordando
a questão da honra feminina, a qual seguiam modelos e regras ditados pelos homens,
que eram os principais agentes transformadores e modeladores da civilidade e do
comportamento social das mulheres, que se restringia a papéis familiares, ideal que
circulava em forma de imagens em nível local e nacional25.
De um modo geral, os estudos no plano da História das mulheres traz uma
inovação historiográfica, mas não uma história isolada e das mulheres de elite como
rainhas e princesas, mas sim uma história de mulheres do povo, operárias, violentadas,
submissas ao pai e ao marido ao longo da história, que seguem as regras de uma boa
moça, para serem integradas e aceitas no meio social como dignas de respeito e
construtoras de sua própria história.
Nesta perspectiva, a historiadora Carla Bassanezi Pinsky ressalta que “[...] as
revistas são capazes de formar gostos, opiniões, padrões de consumo e de conduta. Para
suas leitoras fiéis, acabam servindo como companheiras de lazer, mas também como

23
NOVAES, Joana de Vilhena. Beleza e feiura: corpo feminino e regulação social. In: DEL PRIORE,
Mary.; AMANTINO, Márcia. (org.). História do corpo no Brasil. São Paulo: Ed. Unesp, 2011.
24
Ibidem., p. 478.
25
PEDRO, Joana Maria. Mulheres honestas e mulheres faladas: uma questão de classe. Florianópolis:
Ed. Da UFSC, 1994.

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guias de ações e conselheiras persuasivas26”. Ou seja, as revistas têm o poder de guiar e
convencer as leitoras sobre como se comportarem, o que devem consumir e qual padrão
ideal de corpo e beleza, além disso, as mulheres da classe média brasileira tinham as
revistas femininas como fontes de informação.
Desse modo, a partir dos referenciais aqui discutidos, busca-se analisar a
representação feminina no jornal Cabrião através das notas que abordam a mulher e a
moda, sendo criticada através de caricaturas.

26
PINSKY, Carla Bassanezi. Op. Cit., p. 10.

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